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PODER, CIDADANIA E DEMOCRACIA PODER, CIDADANIA E DEMOCRACIA Não basta ter direitos, é preciso exercê- los plenamente. Por isso, trataremos hoje de cidadania ativa e de práticas avançadas de democracia. Sabemos que a democracia é uma das mais antigas formas de governo. A tradição política da Grécia Antiga concebia a democracia como o governo de muitos, contrapondo-se à monarquia – governo de um só – e à aristocracia – governo de poucos (BOBBIO, 1994). A democracia representa a satisfação, sem ordem de prioridades, dos anseios – infinitamente distintos - de todos os grupos sociais: locais, regionais, nacionais ou mundiais. A democracia contemporânea não deve reconhecer ordem de prioridades. A democracia contemporânea pauta- se pelo respeito às diferenças. Todos os problemas presentes na sociedade devem ser tratados com o mesmo respeito e empenho para resolvê-los. As prioridades – reservam-se ao campo das ideologias que orientam as ações políticas de governo. A democracia contemporânea respeita as prioridades que são estabelecidas programaticamente no jogo democrático pelo poder: cobrando apenas dos governantes a obediência às instituições democráticas e o exercício da ética da responsabilidade. ATENÇÃO!!! Ética da responsabilidade é um termo cunhado pelo cientista social alemão Max Weber (1864-1920). É uma modalidade de ética que cobra dos governantes plataformas e ações políticas possíveis de serem realizadas: o político deve preocupar- se com aquilo que é possível fazer e não com o que seria ideal realizar. Características da cidadania e da democracia contemporâneas Nem sempre a existência formal de um direito representa a existência concreta, real, desse direito. Nem sempre podemos afirmar que a liberdade civil pode ser exercida de forma plena, livre de cerceamentos e imposições sociais, embora seja um direito civil (1° Geração). Estilo pessoal (homem de cabelo longo, tatuagens, piercings, roupas e estilos diferentes do “padrão”). Orientação sexual. Algumas doenças. Na prática cotidiana, não respeitamos os direitos de liberdade individual, apenas estabelecemos limites de tolerância que dizem: você pode ser negro até certo ponto; você pode ser homossexual até certo ponto... NÃO CONFUNDA!!! Respeitar: aceitar sem restrições as diferenças que caracterizam peculiarmente os seres humanos. Tolerar: suportar até certo limite as diferenças que caracterizam peculiarmente os seres humanos. FIQUE ANTENADO!!! Preconceito é uma manifestação da moral social que segrega e marginaliza os seres humanos que não se enquadram nos padrões impostos pela sociedade. Preconceito de Estado é quando essa moral social que segrega e marginaliza as diferenças é adotada como política de governo. UM EXEMPLO DE PRECONCEITO... Na realidade, somente o fato de os Estados Unidos da América - considerados a grande referência da democracia liberal - terem adotado o voto universal apenas em 1964 é, por si só, essencialmente negativo à cultura democrática. Antes de 1964, havia impostos eleitorais que vedavam a participação política e eleitoral de uma significativa parcela da sociedade americana: principalmente, a população negra. OUTRO EXEMPLO... No Brasil, as mulheres, por exemplo, conquistaram o direito ao voto somente em 1932. Contudo, o direito de votar não proporcionou às mulheres brasileiras a cultura de participação ativa no processo político decisório. A lei diz que 30% das vagas devem ser reservadas às minorias de gênero – para ambos os sexos: pode ser 70% de homens e 30% de mulheres ou o contrário, 70% de mulheres e 30% de homens. Todavia, nós sabemos que essa lei existe apenas para impulsionar a participação política da mulher, visto que não precisamos de uma lei para obrigar a candidatura de homens. FIQUE ANTENADO! Iniciativas políticas e jurídicas convencionalmente chamadas de ações afirmativas são benéficas à democracia, no caso eleitoral das mulheres brasileiras, porque impulsionam a cultura de participação política. Porém, o maior problema para a consolidação do Estado Democrático de Direito, no que tange a real cidadania de participação política, parece residir no fato de que o voto continua sendo moeda de troca, principalmente, em localidades menos desenvolvidas econômica, política e socialmente. Geralmente, as pessoas vêem o voto como um instrumento que pode, em períodos eleitorais, resolver problemas individuais momentâneos. Desse modo, o voto deixa de ser um instrumento de poder voltado ao bem-estar coletivo: essência da cidadania eleitoral. ATENÇAO!!! A cidadania eleitoral concebe o voto como um instrumento de poder que pode transformar a realidade de uma coletividade social: por representar ideais, sentimentos e desejos coletivos do cidadão, ele não pode ser vendido ou trocado. Quando mencionamos que a venda do voto, além da questão política, também se condiciona a fatores econômicos e sociais, efetivamente estamos dizendo que a pobreza contribui essencialmente para agravar os problemas que servem de entrave à consolidação do Estado democrático de Direito. Em países europeus, como Alemanha, França, Inglaterra e Itália, onde a cidadania de participação eleitoral apresenta níveis de problemas considerados aceitáveis, sabemos que as diferenças econômicas que separam socialmente as pessoas são infinitamente inferiores às diferenças encontradas em países - de desenvolvimento econômico tardio - como o Brasil. SAIBA!!! Países de desenvolvimento econômico tardio são àqueles considerados não ricos. Também já foram - ou ainda podem ser – chamados de países periféricos, não desenvolvidos ou em desenvolvimento. Sabemos que os direitos sociais – 2ª geração de direitos – são assegurados a todo cidadão brasileiro pela Constituição de nosso país. Todavia, isso não significa que os direitos sociais são garantidos, na prática, a todos os cidadãos do Brasil. FIQUE ATENTO!!! De acordo com o art. 6º da Constituição da República Federativa do Brasil, são direitos sociais: a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados. Se o Poder Judiciário condenar o Estado a cumprir todos os seus deveres constitucionais, como fez o magistrado mineiro, provavelmente, o Poder Executivo federal ficaria totalmente inviabilizado política e economicamente. Essa é uma discussão polêmica que, provavelmente, nos remeteria, novamente, à discussão da ética da responsabilidade nas decisões judiciais. O FUTURO DA CIDADANIA E DA DEMOCRACIA NÃO CONFUNDA... Representação política direta: o cidadão toma as decisões políticas pessoalmente, não precisando de representantes intermediários para decidir em seu nome. Representação política indireta ou democracia representativa: o cidadão delega poderes à outra pessoa – deputado - que irá representá-lo nas instituições decisórias - parlamentos. O advento da Globalização promoveu significativas mudanças na vida econômica, política, social e cultural das últimas duas décadas de nosso tempo. As barreiras políticas e ideológicas que impediam a livre circulação de capitais pelo mundo desapareceram. Também se iniciou um processo de mundialização da cultura que padronizou planetariamente, até certa medida, os estilos de vida: independentemente de viver em Tóquio, Nova Iorque, Cidade do México, São Paulo etc., todos vestem jeans, comem hambúrguer e bebem coca-cola. Provavelmente, todos nós já vimos programas de TV nos quais o cidadão participa votando por telefone ou Internet em opções sugeridas pelos apresentadores. Seguindo por esse caminho, alguns autores defendem que, no futuro, as pessoas poderiam possuir em seus computadores aparelhos que detectassem sua identidade através da impressão digital, permitindo o voto via computador. Nesse estágio de desenvolvimento social e tecnológico, o cidadão poderia assistir aos debates sobre os temas municipais, estaduais e nacionais e decidir pessoalmente – diretamente – sobre suas preferências: seria o retorno político à democracia direta. É claro que o problema para chegarmos a essa realidade não é tecnológico - aparelhos para identificar digitais por computador, inclusive, já existem -, mas sim, social. A maioria das pessoas ainda não possui computadores ou não sabe manuseá- los. Na verdade, a Era da Informática produziu mais uma modalidade de segregação: a segregação digital. Hoje, falamos em analfabetismo digital. SERÁ QUE SERIA BOM? Além disso, a falta de cultura de cidadania ativa (BENEVIDES, 1998) facilitaria o mercado do voto numa sociedade que eliminasse a fiscalização individual do processo eleitoral. PENSE!!! • Cidadania ativa: participação constante no jogo de poder político. Cultura de participação política. • Anthony Giddens (2001), por exemplo, defende que o futuro da democracia associa-se à ação dos partidos políticos que podem criar novos canais de participação para propiciar ao cidadão maiores possibilidades de atuar no jogo decisório de poder. Norberto Bobbio (1987), por sua vez, acredita que o futuro da democracia relaciona-se com a possibilidade de o cidadão decidir diretamente apenas nas instâncias de poder ligadas ao seu convívio cotidiano. Assim, as pessoas decidiriam como deve funcionar a escola do filho, a empresa em que trabalham e, até mesmo, decidir quais as prioridades de investimentos de recursos municipais no bairro onde moram. Os cidadãos decidiriam em todas as instâncias de poder nas quais, efetivamente, pudessem se representar, deixando as demais para os representantes políticos. Embora as teorias de Giddens e Bobbio sobre o futuro da democracia sejam divergentes, na prática, elas são um misto de democracia direta e representativa. Isso parece bem mais razoável – no momento atual de nossa democracia – do que fazer projeções excessivamente otimistas sobre o futuro das ações participativas. Na realidade, ainda precisamos solidificar nossa cultura de participação ativa: e isso leva tempo. Os problemas reais relacionados aos direitos civis, políticos e sociais presentes em nossa sociedade são exemplos da morosidade que caracteriza os processos de consolidação democrática: não podemos nos esquecer disso. PENSANDO SOBRE O ASSUNTO Você sabe quais são os itens da cesta básica que o salário mínimo brasileiro deveria ser suficiente para comprar? Vejamos: produtos de alimentação, higiene pessoal, pagamento de tarifas de água, luz, aluguel, telefone, gastos com vestuário, transporte, lazer e cultura. Enfim, todos aqueles bens necessários à nossa vida cotidiana que não são proporcionados integralmente ou na proporção necessária pelo Estado. SAIBA MAIS... Leia, nas férias, os livros de Norberto Bobbio: O futuro de democracia (Editora Paz e Terra) e de Anthony Giddens: A terceira via e seus críticos (Editora Record).