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Jorge Braz Torres Reginaldo Barros Herbert A. A. de Siqueira Manejo de Pragas das Plantas Cultivadas Ênfase Nordeste UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENTOMOLOGIA AGRÍCOLA RECIFE, 2006 PREFÁCIO Não é nossa pretensão abordar os assuntos aqui apresentados na sua total complexidade. Inúmeras publicações existem para o contexto geral bem como para cada cultura ou sistema específico. Assim, o único objetivo aqui é reunir e guiar os estudantes da disciplina Entomologia Agrícola nos seus estudos e, havendo maiores interesses são recomendados alguns títulos que poderão ser consultados ao final de cada tópico. As principais culturas aqui abordadas se assemelham em muito das demais regiões bem como as práticas fundamentais para o manejo integrado das pragas. Entretanto, existem algumas situações particulares que devemos ter atenção para obtermos sucesso no uso das práticas de manejo visando reduzir as populações de artrópodes pragas. Muitas das práticas de manejo recomendadas são oriundas de estudos de diversos autores que para facilidade de leitura são omitidas de citação dos padrões usualmente utilizadas em texto de revisões de literatura. Também, vale ressaltar que algumas das práticas de manejo mencionadas já se tornaram em desuso por surgimento de outras mais eficientes. Portanto, é recomendada aos estudantes e usuários uma criteriosa avaliação antes de tomar sua decisão. J.B.T. R.B. Recife, 2006 Fotos Capa: Autoria Jorge Braz Torres. Lado esquerdo superior – armadilha de feromônio do bicudo do algodoeiro. Lado esquerdo inferior: planta de mandioca atacada pelo ácaro verde, Mononychelus tanajoa; Lado direito superior – Barreira com flores em plantio orgânico de alface/Chã-Grande, PE. ii CONTEÚDO PARTE I INTRODUÇÃO À ENTOMOLOGIA ECONÔMICA Páginas Nomenclatura zoológica .............................................................. 01 Desenvolvimento dos insetos ...................................................... 05 Introdução ao manejo integrado de pragas ................................. 12 Filosofia do controle de pragas ................................................... 23 Guia prático para confecção do MIP ........................................... 24 PARTE II PRAGAS GERAIS Formigas cortadeiras ................................................................... 31 Cupins.......................................................................................... 37 Gafanhotos .................................................................................. 42 PARTE III PRAGAS DAS GRANDES LAVOURAS E MANEJO MIP do algodoeiro ...................................................................... 48 MIP da cana-de-açúcar ............................................................... 74 MIP do feijoeiro: Phaseolus e Vigna ........................................... 83 MIP da mandioca ........................................................................ 94 MIP do milho ............................................................................... 102 MIP das pastagens ...................................................................... 110 MIP do sorgo ............................................................................... 116 iii PARTE III PRAGAS DAS FRUTÍFERAS E MANEJO MIP do abacaxizeiro .................................................................... 120 MIP da aceroleira........................................................................ 124 MIP da bananeira ...................................................................... 129 MIP dos citros .............................................................................. 134 MIP do coqueiro .......................................................................... 146 MIP da goiabeira ......................................................................... 153 MIP da graviola e pinha .............................................................. 158 MIP da mangueira ....................................................................... 164 MIP do maracujazeiro ................................................................. 170 PARTE IV PRAGAS DAS HORTÍCOLAS MIP do alho e cebola ................................................................... 174 MIP da batata-doce ..................................................................... 178 MIP da berinjela, pimentão e jiló ................................................. 182 MIP das brássicas ...................................................................... 188 MIP das curcubitáceas ................................................................ 194 MIP do tomateiro ......................................................................... 201 iv PARTE I INTRODUÇÃO À ENTOMOLOGIA ECONÔMICA NOMENCLATURA ZOOLÓGICA A unidade fundamental da sistemática é a espécie, a qual é definida no conceito biológico como sendo um grupo de indivíduos ou populações que na natureza são capazes de cruzarem entre si e produzir descendentes férteis e, que são isolados reprodutivamente de outros grupos. O fluxo gênico ocorre apenas entre membros de uma espécie, sendo de uma espécie para outra, evitado por processos pré-copulatórios (ecológico, temporal e etológico) e pós-copulatório (mecânico, gamético, F1 estéril e F2 não viável). A constatação da espécie deve ser realizada cuidadosamente, sendo fundamental o isolamento reprodutivo, através dos caracteres morfológicos, encontrados devido às variações geográficas, especialmente como coloração, forma do corpo e distribuição geográfica que são referidas como subespécie. No entanto, existem indivíduos que não possuem estes caracteres geográficos definidos, sendo morfologicamente idênticos, porém apresentam alterações fisiológicas, comportamentais e com particularidades ecológicas, constituindo as categorias de biótipo, raça fisiológica e espécie críptica, demandando estudos nestas áreas para serem reconhecidos, sendo fundamental o isolamento reprodutivo. A classificação formal abrange as principais categorias taxonômicas: Filo, Classe, Ordem, Família, Gênero e Espécie que de acordo com as relações entre essas categorias, são organizados de forma hierárquica. Todavia, outras categorias intermediárias são estabelecidas como segue: Reino Filo Subfilo Classe Subclasse Ordem Subordem Superfamília Família Subfamília Tribo 1 Gênero Subgênero Espécie Subespécie A padronização para a nomenclatura zoológica foi iniciado com o médico sueco Carolous Linnaeu, que atribuía nomes em latim ao material zoológico do museu de Estocolmo e publicava-o sob o título de “Systema Naturae”. Na 10a edição publicada em 1758, o autor propôs a “nomenclatura binomial”, da qual se faz uso até hoje. A nomenclatura binomial consiste de um nome (epíteto) genérico (gênero) e outro para a unidade fundamental, o epíteto específico (espécie). Ambos em latim, sempre escritos de forma diferente do texto corrente (negrito, itálico, grifado) e com o nome do gênero sempre iniciando em LETRA MAIÚSCULA e da espécie minúsculo. Além disso, propôs a reunião dos gêneros afins em Família e Ordem e, estas em Classe. Já as categorias intermediárias como subfamília e tribo foram propostas por Latreille. Sabendo-se da importância desta organização para a ciência, vários debates foram promovidos e, sendo a regra anteriormente proposta por Carolous Linnaeu eternizada no 5o Congresso Internacional de Zoologia, realizado em Berlim, em 1901. Existem regras que são encontradas no Código Internacional de Nomenclatura Zoológica, para o nome científico, Família, Gênero, Espécie e Subespécie. Os insetos possuem, na maioria, dois tipos de nomes: comum e o científico. Nome comum São nomes populares tanto no meio científico como na sociedade em geral, pela facilidade de pronúncia. Assim, são atribuídos às espécies de maior expressão, devido ao grande número de indivíduos por grupo ao qual referimos baseados no nome dado ao grupo complementado pela distribuição geográfica, tipo de injúria, comportamento, localização no hospedeiro/planta, tipo de presa ou hospedeiro (inimigos naturais), etc.: joaninhas, Col.: Coccinellidae; vaquinhas, Col.: Chrysomelidae; moscas, Dip.: Muscidae; percevejos, Heteroptera, etc. - brocas, minadores, desfolhadores, etc. - mosca-do-chifre, Hematobia irritans irritans; pulgão das gramíneas, Schizaphis graminum; parasitóides de ovos de percevejo, Telenomus podisi (Hym.: Scelionidae), etc. Salienta-se, ainda, que são regionais e que não devem ser empregados como base para tomada de decisão para estudos ou, mesmo para controle, pois devido à ampla distribuição geográfica, a mesma espécie pode possuir 2 diversos nomes comuns. Assim, deve-se conferir a identificação junto a um especialista. LAGARTA ROSCA, nome comum amplamente empregado para a lagarta Agrotis ipsilon (Lepidoptera: Noctuidae), devido ao seu comportamento de se enroscar próximo a planta atacada. Porém inúmeras outras lagartas apresentam o mesmo comportamento quando perturbadas e podem ser encontradas no solo junto à planta. Nome científico O nome científico é latinizado, mas pode ser derivado do local de coleta, pessoa que identificou a espécie, característica do grupo, etc. Quando empregar o nome em homenagem a pessoa do sexo masculino, acrescenta-se i e, se for feminino, acrescenta-se ae. No caso do nome feminino terminar em a, acrescenta-se somente e - Agraulis vanillae vanillae (L., 1758), Trichogramma galloi Zucchi, 1988. O nome científico da espécie é binomial e consta de gênero e espécie. As vezes, trinomial quando possui subespécie. Estes sempre são grafados em destaque do resto do texto, sendo o nome genérico iniciado com letra maiúscula e da espécie e subespécie minúscula - Ex.: Atta sexdens sexdens. Os nomes da espécie e subespécie são seguidos pelo nome do autor e ano de descrição, separado por vírgula e grafados de mesma forma do texto - Atta sexdens rubropilosa Forel, 1908. Se o nome do autor estiver entre parênteses, isto significa que ele descreveu a espécie (ou subespécie) em um outro gênero diferente daquele que a espécie encontra-se atualmente. Assim, pode-se deparar com as seguintes situações e, que geralmente deixam dúvidas aos estudantes. Quando um autor cria um novo gênero e este já havia sido utilizado, o nome mais recente é invalidado, sendo considerado homônimo do mais antigo. Também, não pode haver duas espécies no mesmo gênero. Assim, um novo nome deve ser dado a espécie para substituir o nome mais recente, tendo que ser único no mundo. Deste modo, têm-se o princípio da prioridade, sendo o nome válido (gênero ou espécie) o mais antigo, e aquele atribuído posteriormente são considerados sinonímias. • Podisus sculptus Distant, 1889 - percevejo predador - significa que a espécie sculptus foi descrita por Distant em 1889 no gênero Podisus; • Podisus nigrispinus (Dallas, 1851) - percevejo predador - significa que a espécie nigrispinus foi descrita por Dallas em outro gênero que não Podisus, tendo sido posteriormente transferida para este gênero. 3 As categorias taxonômicas possuem terminações padronizadas sem necessidade de citação da categoria quando mencionada como: Superfamília (oidea), Família (idae), Subfamília (inae), Tribo (ini). Outras composições são usadas, como quando referimos a uma espécie do gênero, mas não determinada - Brontocoris sp. - ou quando referimos a mais de uma espécie de mesmo gênero - Podisus spp., Atta spp. Categorias taxonômicas • Reino - caracteriza-se por seres animados (vivos ou orgânicos), compreendendo as plantas (reino vegetal ou flora) e os animais (reino animal ou fauna); • Filo - Arthropoda - origina-se do grego (Arthron = articulação e, Podes = pernas); correspondem pela maior parte do Reino Animal, sendo caracterizados por possuirem: corpo segmentado em anéis ou metâmeros e com duas ou três regiões distintas - heteronomia (cabeça, tórax e abdome ou fundidos cefalotórax e abdome); apêndices em pares; simetria bilateral; exoesqueleto quitinizado e renovado por ocasião da muda (cresce); ausência de epitélio ciliado em todas as fases de desenvolvimento e aparelho circulatório aberto (cavidade do corpo formado por hemocele); musculatura formada por fibras musculares estriadas; • Subfilo - nesta categoria encontram-se os Chelicerata (presença de quatro pares de apêndices, sem antenas e corpo dividido em duas partes - cefalotórax (prosoma) e abdome (opistosomia), aranhas, ácaros, etc. - e Atelocerata ou mandibulata, possui um par de antenas; • Classe - Insecta, corpo dividido em três partes, possui um par de antenas e três pares de pernas (Hexápoda) e aparelho bucal ectognato (peças bucais livres); mandíbulas e maxilas; • Subclasse - Apterygota – sem asas, metamorfose simples (Thysanura) e Pterygota com adultos possuindo, geralmente, dois pares de asas e sem pernas abdominais e metamorfose completa; • Ordem - Os insetos estão agrupados segundo Borror et al. (1989), em 26 ordens, especialmente, pelas características morfológicas. • Subordem - A Ordem Hymenoptera, compreende duas subordens: Apocrita e Symphyta. APOCRITA - compreendem aqueles indivíduos com abdome pedunculado ou peciolado e larva tipo vermiforme. SYMPHYTA - possuem abdome séssil e larva do tipo eruciforme, porém diferem dos lepidópteros por terem mais de cinco pares de pernas abdominais, representado pelos Hymenoptera fitófagos como Tenthredionidae; • Superfamília - Apoidea representa abelhas da Subordem Apocrita; • Família - Apidae; • Subfamília - Apinae; 4 • Tribo - Apini; • Gênero - Apis; • Subgênero - • Espécie - mellifera; • Subespécie - scutellata. DESENVOLVIMENTO DOS INSETOS Desenvolvimento pós-embrionário Os insetos se deparam com num “problema” para realizar o crescimento, pois a parede do seu corpo é rígida - quitinizada (exoesqueleto) não permitindo expansão contínua. Assim, seu crescimento é por etapa, entre a liberação do velho exoesqueleto e a formação de um novo. O processo de troca é chamado de muda ou ecdise, que consiste na digestão da velha endocutícula, propriamente dito, síntese de uma nova, como veremos. A muda não envolve somente a endocutícula (da cutícula), mas a parede interna da traquéia e do proctodéu e exoesqueleto. A parede da traquéia permanece presa à parede do corpo por ocasião da muda. A camada interna do estomodéu e proctodéu é quebrada e eliminada pelo ânus. Um molde da “pele”, chamada de exúvia, freqüentemente, retêm a forma do inseto que a originou, especialmente os que desenvolvem por paurometabolia. O controle da metamorfose (ecdises) é feito por três hormônios - hormônio do cérebro ou protoracicotrófico (PTTH), o ecdisônio e o neotenin ou hormônio juvenil (HJ). O PTTH é produzido por células neurosecretoras (Fig. 1.1), por isso chamado de hormônio do cérebro; este estimula as glândulas protorácicas, também conhecidas como glândulas da muda, a produzirem o ecdisônio, lançando-o na hemolinfa, que por sua vez estimula a separação da velha cutícula da epiderme, fenômeno de início da ecdise conhecido como apólise. Por outro lado, o hormônio juvenil é produzido pelo corpo alata e inibe a metamorfose (ecdise), promovendo a permanência do desenvolvimento larval ou ninfal (Fig. 1.1). A remoção do corpo alata, promove à formação de pupa nas larvas e adultos nas ninfas, quando o ecdisônio estiver presente, induzindo, assim, a metamorfose. No entanto, se introduzirmos HJ na pupa com a presença do ecdisônio, causará a formação de uma segunda pupa, pois o HJ suprime a formação de órgãos para transformar-se em adultos. Por isso, são explorados como inseticidas conhecidos como reguladores de crescimento. 5 O corpo alata é altamente ativo nos ínstares iniciais de desenvolvimento de ninfa e larva e, cessa sua produção no último instar, pré-pupa. A ausência do HJ resulta na metamorfose. A metamorfose é relativamente suave e gradual, sendo mais marcante de larva → pupa → adulto, quando há consideráveis alterações internas no inseto. Por outro lado, algumas estruturas como cabeça, sistema nervoso, sistema traqueal, muda muito pouco. Entretanto, outras estruturas rudimentares estão presentes na fase jovem, algumas sofrem histólises e outras desenvolvem em estruturas ainda não presentes, durante a fase de pupa. A histogênese de partes, principalmente, apêndices, não presentes na fase jovem, origina-se do disco imaginal da epiderme, com componentes da hemolinfa, corpos gordurosos e partes digeridas pela histólise. Esta ocorre com auxílio de proteases de quitinases do fluído da ecdise, na digestão da endocutícula, sendo quase totalmente reabsorvida. Quando na forma jovem, estes tecidos exercem funções diferentes, que com estímulo hormonal formam estruturas de adultos e são paralisados na fase de pupa. No entanto, estas funções podem permanecer, nos adultos, nas partes que sofrem regenerações. O crescimento nos insetos pode ser medido pela regra de “Dyar”, através de medições de cápsula cefálica de lagartas, mandíbulas de larvas, pernas e antenas de ninfas, e outras partes altamente quitinizadas que crescem somente durante o processo de ecdise. Como anteriormente descrito, o hormônio do cérebro (PTTH) estimula as glândulas protorácicas a produzir o ecdisônio e com a separação da endocutícula da epiderme - apólise - começa a ecdise. Primeiramente, as células epidérmicas secretam enzimas (quitinases e proteases), denominados de fluído da ecdise, que digere a velha endocutícula, mas não afeta a exocutícula e a epicutícula que serão eliminadas como exúvia (Fig. 1.2), com o formato do corpo nos casos de ninfas. Como uma nova cutícula está em processo de formação o produto digerido é reabsorvido servindo de substrato para vários outros processos bioquímicos e formação de novas partes da nova cutícula (Fig. 1.2) Os enócitos secretam a camada de cuticulina. Neste momento, eles se tornam grandes e lobulados, retornando a forma normal após a deposição da cuticulina. A camada de polifenóis e de ceras são produzidas diretamente pelas células epidérmicas, transportadas pelos canais de poro e se depositam nesta ordem: cuticulina, camada de polifenóis e de cêra e “cimento”. A camada de cimento é descarregada pelas glândulas dérmicas e colocada sobre a superfície de cêra, logo após o início da muda. Enquanto a formação da epicutícula esta sendo completada, a procutícula está sendo formada. Tanto a exocutícula como a endocutícula são produzidas diretamente pelas células epidérmicas a partir de reservas dos tecidos 6 gordurosos na forma de glicogênio e proteínas, de hemolinfa e parte do material digerido da velha endocutícula. O mecanismo pelo qual o inseto escapa da velha cutícula - exúvia - e expande o corpo - cresce - é descrito como sendo devido às contrações dos músculos abdominais, que mantêm a concentração de hemolinfa e ar no tórax e cabeça, forçando a linha da ecdise, que situa ao longo do dorso (Fig. 1.2). Da mesma forma quando os adultos, recém emergidos, expandem as asas e pernas. Maturação do óvulo Secreção da glândula acessória Diapausa pupal e larval Acasalamento Metabolismo em geral Células neurosecretoras Cérebro Corpo cardíaco Corpo alata BHEstimula Mantêm Glândula protorácica Larva Pupa Adulto PTTHPTTH PTTH HJHJ Cromossomos RNA (L) Cromossomos RNA (A) Cromossomos RNA (P) Escamas Fig. 1.1. Diagrama da ação dos principais hormônios envolvidos no desenvolvimento e metamorfose dos insetos. HJ, hormônio juvenil; PTTH, hormônio protoracicotrófico; BH, hormônio do cérebro; e GPT, glândula protorácica (Atkins, 1978). 7 Cérebro Células neurosecretoras Hormônio do cérebro Glândula protorácica 20-hidroxiecdisônio Cutícula Epiderme Velha cutícula Epiderme •Separação da velha cutícula •Secreção do flúido da ecdise pela epiderme •Início da nova cutícula Flúido da ecdise Nova cutículaVelha cutícula Epiderme Nova cutícula •Absorção e digestão de partes da velha cutícula •Complementação da nova cutícula •Contração muscular •Pressão da hemolinfa •Pressão do ar •Ruptura da velha cutícula •Nova cutícula tenra e incolor Epiderme •Nova cutícula endurecida •Impermeabilizada e pigmentada Fig. 1.2. Diagrama mostrando os principais passos na ecdise dos insetos com as atividades e hormônios envolvidos. Tipos de metamorfose As mudanças que ocorrem nos insetos durante o desenvolvimento pós-embrionário (metamorfoses) podem ser mínimas, diferenciando apenas no tamanho, como podemos observar nos pulgões (ninfa-adulto), ou mudanças abruptas como em lepidópteros (ovo-lagarta-pupa-adulto). De modo geral, podemos encontrar dois tipos de metamorfoses: simples e completa. Na metamorfose simples, a fase jovem assemelha-se aos adultos e já apresentam proeminências das asas (tecas alares), quando os adultos as possuem. Já a metamorfose completa, as asas desenvolvem-se internamente na fase de larva e pupa. Na metamorfose simples, também conhecida como hemimetabolia, o inseto recém-eclodido assemelha-se ao adulto, com diferença externa de tamanho, ausência de asas e órgãos genitais imaturos (Fig. 1.3A). Caracteriza-se pela ausência da fase de pupa e as formas imaturas são denominadas ninfas. Pode ocorrer das seguintes formas: 8 • Paurometabolia - insetos com ninfas terrestres, que vivem em habitat e apresentam dieta semelhantes aos dos adultos (Fig. 1.3B), como ocorre em Orthoptera, Phasmida, Mantódea, Blattodea, Isoptera, Dermaptera, Embioptera, Zoraptera, Phthiraptera, Psocoptera e Hemiptera. • Batmedometabolia - insetos com a fase jovem aquáticas, náiade, como ocorre em Ephemeroptera, Odonata e Plecoptera. • Hipometabolia - desenvolvimento particular das cigarras, em que a ninfa é subterrânea e tem longevidade muito acentuada e antes de se transformarem em adultos há um estágio de imobilidade. A metamorfose completa é definida pela presença das fases em seqüência de ovo, larva, pupa e adulto. As fases de larva e pupa são totalmente diferentes dos adultos e, freqüentemente, com desenvolvimento em "habitats" diferentes. A fase de larva possui forma similar durante os ínstares, mas de tamanho diferente. Nesta fase, a alimentação é muito acentuada e em muitos casos diferente da dos adultos. Após a fase larval, dá-se a fase de pupa (Fig. 4.9) que não se alimenta e, em seguida dá-se à emergência do adulto. As asas desenvolvem-se durante a fase de larva, mas não são aparentes. Pode ocorrer das seguintes formas: • Holometabolia - indivíduos na fase de larva e pupa são totalmente diferentes dos adultos e, freqüentemente, com desenvolvimento em habitats diferentes (Fig. 1.3C). A fase de larva possui forma similar durante os instares, mas de tamanho diferente (Fig. 1.3C). Após a fase larval, dá-se a fase de pupa que não se alimenta e, em seguida a emergência do adulto. As asas desenvolvem-se durante a fase de larva, mas não são aparentes. • Hipermetabolia - a fase jovem de hipermetábolos desenvolvem-se em diferentes formas de larvas ou ínstares, encontrados em Mantispidae, Meloidae, etc. - Epicauta sp. (Col.: Meloidae), possui o primeiro ínstar com larva do tipo campodeiforme. Larvas A larva corresponde à primeira fase de desenvolvimento pós- embrionário dos insetos de metamorfose completa (Fig. 1.4). Caracteriza- se como sendo de intenso crescimento, portanto com alto poder de consumo, sendo uma das fases que causam grandes injúrias às plantas e, consequentemente, prejuízos ao homem. Comumente, para aquelas de Lepidoptera, as quais são denominadas de lagartas. 9 OvoN infa 1Ninfa 2 Ninfa 3 Ninfa 4 Ninfa 5 Adulto Postura Ovo Lagarta Pupa (crisálida) Adulto Adulto Postura (ovos) Imaturo Imaturo OvoN infa 1Ninfa 2 Ninfa 3 Ninfa 4 Ninfa 5 Adulto Postura Ovo Lagarta Pupa (crisálida) Adulto Adulto Postura (ovos) Imaturo Imaturo Fig. 1.3. Representação das principais formas de desenvolvimento da fase jovem encontrados nos insetos. Tipos de larvas • Eruciforme - são larvas de corpo cilíndrico, cabeça desenvolvida e com antenas curtas, pernas torácicas e abdominais, sendo representadas pelas “lagartas” - Lepidoptera e Hymenoptera da subordem Symphyta (Fig. 1.4A); • Escarabeiforme - usualmente curvadas em “C” com a cabeça e último segmento abdominal bem desenvolvido, pernas torácicas. São pouco ativas, sendo as larvas dos coleópteros escarabeídeos (Fig. 1.4G); • Campodeiforme - corpo alongado com pernas torácicas bem desenvolvidas e bastante ativas. Típicas de predadores como larvas de Coccinellidae, Neuroptera, etc. (Fig. 1.4D); • Elateriforme - corpo alongado, achatado e bastante quitinizado e, com pernas curtas, sendo comumente denominadas de “larva arame” - larvas de Elateridae (Fig. 1.4H); • Vermiforme - ausência de pernas, cabeça pouco diferenciada e aspecto de verme, sendo encontrada na maioria dos dípteros e Hymenoptera da subordem Apocrita (Fig. 1.4C); • Curculioniforme - larva ápoda, cabeça diferenciada e com anéis característicos, no corpo - Curculionidae (Fig. 1.4E); • Limaciforme - são ápodas com corpo achatado e mole - larvas de Syrphidae (Fig. 1.4I). 10 Chave simplificada para os principais tipos de larvas apresentado pelos insetos (Zucchi et al., 1992). 1'.Pernas abdominais presentes (Fig. 4.10A) -------------------- Eruciforme 1''.Pernas abdominais ausentes ----------------------------------- 2 2'.Cabeça não diferenciando do corpo --------------------------- 3 2''.Cabeça diferenciando-se do corpo ---------------------------- 4 3'.Larva afilada e de aspecto de verme (Fig. 4.10G) ------------ Vermiforme 3''.Larva de aspecto achatado semelhante à lesma (Fig.4.10I) Limaciforme 4'.Larva de aspecto natural semi-curvada ou encurvada ---- 5 4''.Larva de aspecto natural retilíneo ----------------------------- 6 5'.Larva ápoda com segmentação pronunciada (Fig. 4.10E) - Curculioniforme 5''.Larva com pernas torácicas (Fig. 4.10G) --------------------- Escarabeiforme 6'.Larvas com protórax não expandido -------------------------- 7 6''.Protórax expandido lateralmente nos segmentos anteriores (Fig. 4.10B) ------------------------------------------- Buprestiforme 7'.Pernas torácicas curtas, vestigiais ou ausentes ------------- 8 7''.Pernas torácicas longas (Fig. 4.10D) -------------------------- Campodeiforme 8'.Larva de egmentação acentuada e de espessura mais ou menos re 8'.Larva de 9'.Pernas to 9''.Pernas t Figura 1.4. s gular em todo o corpo (Fig. 4.10F) ----------------- Cerambiciforme segmentação não tão nítida e corpos afilados ---- 9 rácicas com 4 segmentos (Fig. 4.10H) ------------- Elateriforme orácicas com 5 segmentos (Fig. 4.10J) ------------- Carabiforme A B C D E F G H I J Principais tipos de larvas dos insetos. 11 INTRODUÇÃO AO MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS • ORGANISMO PRAGA: São organismos que competem direta ou indiretamente com o homem por alimento, matéria prima ou prejudicam a saúde e o bem-estar do homem e animais. Entre os mais comuns estão alguns pássaros, mamíferos como ratos e morcegos, plantas invasoras, patógenos (fitopatologia) e os artrópodos (insetos e ácaros) (Entomologia e Acarologia). • CONCEITO DE PRAGA: Convencional - um organismo é considerado praga, quando é constatada sua presença no agroecossistema; MIP - um organismo só é considerado praga quando causa danos econômicos. • TIPOS DE PRAGAS De acordo com a parte da planta atacada Praga direta - ataca a parte comercializada (Ex.: broca pequena do tomateiro, Neoleucinodes elegantalis, que ataca os frutos de tomate); Praga indireta - ataca determinada parte da planta que afeta indiretamente a parte comercializada (lagarta do cartucho do milho, Spodoptera frugiperda, que reduz a produção pela destruição das folhas). De acordo com sua importância Organismo não-praga - é aquele que sua densidade populacional nunca atinge o NC. Corresponde à maioria das espécies de herbívoros nos agroecossistemas; Pragas secundárias ou ocasionais - são aquelas que raramente atingem o NC. (Ex.: curuquerê dos capinzais, Mocis latipes em canaviais ou pastos); Pragas-chave - são aquelas que frequentemente ou sempre atingem o NC. Considerando a diversidade de espécies de herbívoros que podem ocorrem em um agroecossistema, são poucas as espécies de pragas-chave, sendo que em muitas culturas só ocorre uma ou duas espécies de pragas-chave (Ex.: moleque da bananeira, Cosmopolites sordidus); 12 Pragas severas - são aquelas cuja flutuação populacional está acima do NC. (Ex.: formigas cortadeiras nas diversas lavouras, cupins em instalações rurais, etc.). TempoD en si da de p op ul ac io n a l PE NC ND TempoD en si da de p op ul ac io na l PE NC ND Não-praga Praga secundária ou ocasional TempoD en s i da de p op ul ac i o na l PE NC ND TempoD en si da d e p op u l ac io na l PEM NC ND Praga chave Praga severa PE ND - nível de dano NC - nível de controle PE - ponto de equilíbrio PEM - ponto de equilíbrio modificado • NÍVEL DE CONTROLE - NC É talvez o melhor termo usado no MIP. Expresso em número ou equivalente em injúria provocada pelas pragas, auxilia a tomada de decisão de controle, portanto, sendo também conhecido como nível de ação. Esta distância dependerá da velocidade do método de controle. Produção com ataque das pragas (danos) NC ND Injúria aceitável Risco de perdas Região de controle Produção sem perdas Esta distância dependerá da velocidade do método de controle. Produção com ataque das pragas (danos) NC ND Injúria aceitável Risco de perdas Região de controle Produção sem perdas 13 O emprego do NC como sendo o número de insetos, proporciona facili NC - é a densidade populacional da praga em que devemos adotar medidas de controle, para que as injúrias ocasionadas as plantas não causem danos econômicos. Sendo que a diferença de densidades entre o NC e o ND (nível de dano), deve-se a velocidade de ação dos métodos de controle. Portanto, é o número mínimo de insetos que reduziria a produção igual ao ganho com o controle. • FLEXIBILIDADE DO NC O NC varia em função do custo de controle, valor da produção esperada e “ambiente” (época do ano, variedade, inimigos naturais, etc.). No entanto, os fatores de maior efeito são: custo do manejo, valor da cultura, grau de injúria por inseto e suscetibilidade da cultura à injúria. O emprego na medida do NC como número de insetos, proporciona facilidade de coleta dos dados por parte do amostrador (“pragueiro”) ou produtor, comparado à medição da área foliar, redução de crescimento, etc. No entanto, essas variáveis difíceis de serem medidas podem ser empregadas para a determinação do NC como equivalência de injúria (injúria versus número de insetos). Entretanto, na ausência ou dificuldade de determinação do valor numérico de insetos (localização interna ao órgão - raízes, caules, frutos, etc.) e, consequentemente, do número de insetos, a injúria ainda deve ser utilizada. Um exemplo, é a quantificação do número de canas brocadas denominada de índice de infestação por ocasião do levantamento do ataque da broca comum da cana-de-açúcar, Diatraea saccharalis. Resumidamente, o NC é variável pela variação do preço do produto (> preço < NC); custo de controle (> custo > NC); capacidade da praga em danificar a cultura (> capacidade < NC) e susceptibilidade da planta (cultura) à praga (> suscetibilidade < NC). • DETERMINAÇÃO DO NC e ND Basea-se no custo de controle (CC) CC = Vp x I x P x D Vp = valor esperado estimado da produção (R$/ha); I = injúria por inseto/área (% desfolha/inseto/ha); P = densidade do inseto/ha; D = dano por unidade de injúria do inseto/ha (% desfolha/redução na produção); 14 Mão-de-obra + materiais + equipamentos C us to d e co nt ro le (C C ) CC N C Demanda Va lo r c om er ci a l d a pr od uç ão V N C Tempo NC Infestação In jú ria I N C Injúria D an o Nível de controle (NC) N C D NC = CC/VID A determinação do NC, além do custo de controle, adiciona-se a eficiência do método de controle. Como a principal tática de controle da praga, quando essa atinge o NC, é o controle químico. Assim, considera-se essa eficiência (K) > 80%. CC NC = x K Vp Ex.: Uma cultura com valor da produção estimado em R$ 12.000,00/ha (Vp), está sendo atacada por um inseto que causa 0,05% de desfolha das plantas quando na densidade de 1,0 inseto/planta/ha. Sabendo-se que 0,05% de desfolha reduz a produção em 15 sacas/ha. O NC e ND estimado serão, considerando 90% de eficiência do método de controle: CC = R$ 12.000,00 x 0,05% x 1,0 inseto x 15 = 9.000,00 9.000,00 NC = x 0,90 ≅ 0,7 inseto/planta 12.000,00 15 • NÍVEL DE DANO (ND) Corresponde a densidade populacional do organismo praga na qual ele causa prejuízo de igual valor ao custo de seu controle. Dano - é a perda em valor (R$), devido à utilização daquele hospedeiro, sendo mais frequente em campo como: quantitativa e qualitativa ou estética (focaliza a cultura e sua resposta às injúrias). Dano econômico - é a quantidade de injúria a qual justifica o custo da medida adotada para o controle da praga; Teoricamente, baseando-se em uma margem de segurança (Figura anterior), o NC é 70% do ND, isto é, se o NC = 0,8 inseto/planta; o ND é ≅ 1,0 inseto/planta. Outra forma para a obtenção do ND, pode ser através do custo de manejo: Se o custo de aplicação do MIP em determinada cultura atinge uma cifra de R$500,00/ha, a implantação desse só será viável se proporcionar uma redução de perda do produto equivalente a este valor. Considerando uma cultura que seu produto é vendido por R$0,50/Kg, a perda aceitável na cultura seria de: Perda = R$500,00/ha ÷ R$ 0,50/Kg = 1000 Kg/ha Baseado no experimento abaixo, uma população média de 2,5 insetos/planta causa o equivalente em perdas (1000 Kg), portanto o ND = 2,5 insetos/planta e, NC = 1,75 insetos/planta (70%). Em um experimento, obtemos: Infestação do inseto-praga (inseto/planta) Redução da produção (Kg/ha) 1 250 1,5 400 2,0 700 2,5 1000 3,0 2000 16 Também, podemos mediante os dados hipotéticos abaixo, determinar o ND para a lagarta-do-cartucho do milho (Spodoptera frugiperda): Idade da planta (dias) % de infestação % de redução na produção 30 100 30 45 100 20 60 100 10 Considerando que o custo de controle dessa praga corresponde a ≈ 3% da produção, teremos o ND aos 45 dias de idade de plantas, sendo: 100% de infestação (45 dias) ............ 20% de perdas ND .................................................... 3% de perdas (CC) ND = 15% de plantas atacadas nesta idade. Assim, o NC que corresponde a 70% do ND, será de 10,5% de plantas atacadas. Quando a praga é indireta, isto é, o ataque ocorre em uma das partes da planta provocando redução da produção (Ex.: desfolhadores), o cálculo do ND é: Infestação (inseto/m. linear) Produção (Kg/ha) 1 3.000 1,5 2.500 2,0 1.000 2,5 800 Considerando que o custo de controle (CC) para esta praga é R$ 250,00/ha e o preço do produto a ser comercializado é R$ 0,50/Kg. O limiar de controle (LC) será: LC = (CC/valor produção, Kg) = 250,00/ 0,50 = 500 Como a unidade de ataque não corresponde a uma perda, o ND é dado pela relação do LC e o coeficiente angular da reta que representa a perda na produção causada pelo número de insetos atacando a planta (y = α + βx), em que x é o número de insetos. 17 LC ND = -(- β) Portanto, para o experimento acima, podemos determinar: Σ x.y - (Σx . Σy)/N β = ; onde: Σ x2 - (Σ x)2/N x, é o número de insetos; y, a produção e; N, o número de amostras. Realizando os cálculos, encontraremos β = - 357, 45. Assim, o ND será: ND = [LC/-(- β)] = [500 / -(-357,45)] ≅ 1, 40 insetos/ metro linear. Como o NC representa 70% do ND teremos então, para esta cultura e praga um NC ≅ 1,0 inseto/ metro linear. Outro Exemplo do ND para pragas indiretas Limiar de prejuízo = (C.C./Valor da cultura no mercado) Relação entre ataque ∼ prejuízo Prejuízo indireta indireta ÿ = a + bx Linear : ↑ infestação ∼ ↑ prejuízo Infestação 18 Produção ÿ = produção x = densidade da praga ÿ = a - bx Infestação b = [Σxy-(ΣxΣy)/N] / Σx2 -(Σx)2/N b = - 225,49 Preço: R$ 70,00 / sc de 60 Kg = R$ 1,16 Kg C. C. ∴ ? 3 pulverizações ∴ R$ 50,00 x 3 = C.C. R$ 150,00 Limiar de prejuízo (Kg) = (CC/Valor) = (R$150,00/R$ 1,16) = 129,3 (Kg) N. D. = Lp / - b [Σxy-(ΣxΣy)/N] b = = - 225,49 Σx2 -(Σx)2/N N.D. = [129,3/-(-225,49)] = 0,57 insetos/ m linear Outra Forma para Cálculo do ND para Pragas Diretas Custo de controle é fixo, pois queremos eficiência 100% (≈ próximo) 1% de frutos atacados = 1% de prejuízo ND = [(C.C. / Vp)*K] : C.C. = custo de controle. Vp = valor da produção K = eficiência da tática (C.Q.) Ataque - % Prejuízo - % Prod./ha Valor produção Prejuízo R$ C.C. 1% 1% 500 cx 1 cx = R$ 5,0 (2500) 25,00 60,00 N.D. = [(60,00 ÷2.500,00)*90] = 2,16% ∴ 30% de segurança NC = 0.7*ND = 1,5% 19 • QUANDO “NÃO SE APLICA O NC E O ND” 1. A amostragem é inviável economicamente; 2. A prática de controle não funciona em tempo hábil (alto potencial biótico); 3. Uma vez presente à injúria, não tem controle eficiente (transmissores de viroses); 4. ND muito baixo, praticamente não possível adoção de NC (pragas de grãos armazenados, pragas causando perdas qualitativas); 5. Quando a população é intensa (praga severa), flutuando sempre acima do ND (saúvas, barbeiro, etc.) LEMBRETE: qualquer tática de controle não aumenta a produção e sim reduz as perdas por qualquer fator. • NÍVEL DE NÃO-AÇÃO (NÑA) Corresponde a densidade populacional do inimigo natural capaz de controlar a população da praga. Na cultura do café quando, na amostragem, encontrarmos 60% das minas do bicho-mineiro, Perileucoptera coffeella (Lepidoptera: Lyonetidae), com sinais de predação por vespas (rasgaduras), não se aplica controle químico. Também, na cultura do algodão quando encontrarmos 70% das folhas amostradas com pulgão apresentando-se múmias (ninfas parasitadas), não se aplica o controle da praga, etc. • CONSEQUÊNCIAS DO ATAQUE DE PRAGAS ÀS PLANTAS Injúrias Injúria - é o efeito da atividade do organismo que é prejudicial ao hospedeiro (focaliza o inseto e sua ação); Dano – é a resposta da planta ao ataque da praga e, usualmente relacionado a perdas (valor monetário). Exemplos: A desfolha ocasionada pela lagarta do cartucho do milho, Spodoptera frugiperda caracteriza uma injúria – 5, 10, 20% de desfolha. Por outro lado, a redução na produção de 5% (em kilograma de milho) ocasionado por 20% de desfolha ocasionado pela lagarta, caracteriza o dano provocado pela infestação da praga. 20 Lesões ou alterações deletéricas causadas por insetos-praga nos órgãos ou tecidos das plantas: Aparelho bucal mastigador .Lesões em órgãos subterrâneos; .Roletamento de plantas; .Broqueamento (confecção de galerias em caules, frutos e grãos); .Surgimento de galhas; .Desfolha; .Confecção de minas (galerias surgidas nas folhas devido a destruição do mesófilo); .Vetores de doenças (viroses - alguns Chrysomelidae). Aparelho bucal picador sugador (fitossucívoras) .Sucção de seiva; .Introdução de toxinas; .Vetores de doenças (especialmente viroses). Resposta da planta aos sugadores .Retorcimento; .Amaralecimento; .Anormalidade no crescimento e desenvolvimento; .Secamento; .Mortalidade; .Queda de produção (especialmente aborto de partes reprodutivas); .Queda precoce de folhas e partes reprodutivas, etc. Fatores favoráveis à ocorrência de pragas 1. Descaso com as táticas preventinvas de controle; 2. Plantio de variedades suscetíveis ao ataque de pragas; 3. Uso de monoculturas, reduzindo a diversidade no agroecossistema; 4. Falta de rotação de culturas nos agroecossistemas; 5. Plantio em regiões e épocas favoráveis à ocorrência das pragas, especialmente das pragas-chave da cultura; 6. Plantio direto, em locais com histórico de infestação por insetos que atacam o sistema radicular; 7. Adubação desequilibrada; 8. Uso inadequado de agrotóxicos (dosagem, produto, época e metodologia de aplicação); 9. Introdução de espécies de pragas exóticas; 10. Manipulação do meio ambiente. 21 Problemas advindos do uso inadequado de inseticidas 1. Redução da população dos inimigos naturais em níveis superiores ao das pragas: .Inimigos naturais possuem maior mobilidade do que as pragas, tornando-os mais expostos aos agrotóxicos; .Maior consumo de pragas contaminadas, pela facilidade de capturá-las (moribundas); .Concentração da substância em níveis mais elevados na cadeia trófica; .Sistema enzimático deficiente. Consequências da redução da população dos inimigos naturais .Resurgência de pragas (reaparecimento da praga nas safras subsequentes, oriunda de refúgios e de indivíduos sobreviventes, em níveis populacionais superiores aos da safra anterior); .Erupção de pragas (mudança de “status” de praga secundária, tornando-se praga chave). 2. Quebra da cadeia alimentar. Consiste na redução da população de espécies fitófagas não pragas, que servem como fonte inicial de alimentação de predadores, os quais posteriormente serão essenciais no controle de pragas-chave. Exemplo disso é o que acontece na cultura do algodão quando se usa tratamento de sementes com inseticidas sistêmicos, diminuindo a população inicial de pulgões nas lavouras. Os pulgões abaixo do nível de controle funciona como fonte de alimento para a colonização de inimigos naturais de pragas- chave (joaninhas, percevejos, bichos lixeiros, etc.) que irão posteriormente reduzir os problemas com as pragas-chave como o curuquerê-do- algodoeiro, Alabama argilaceae e a lagarta-da-maçã, Heliothis virescens. 3. Resistência de insetos aos inseticidas Consiste no aumento da tolerância das pragas a doses de um inseticida anteriormente considerado eficiente no seu controle. Isto ocorre devido a eliminação de indivíduos susceptíveis da população, fato que fará com que haja seleção de indivíduos que possuem carga genética para resistência à ação desse inseticida que antes exercia controle eficiente. Os mecanismos de resistência podem ser: .Alterações no alvo de ação do inseticida; 22 .Aumento da taxa de desintoxicação (degradação ou excreção) pelo inseto; .Redução da taxa de penetração do inseticida no corpo do inseto; .Resistência por comportamento (modificação no comportamento devido repelência do inseticida); Também pode ocorrer: .Resistência cruzada - quando a resistência induzida por um inseticida se estende a outro inseticida de igual modo de ação; .Resistência múltipla - quando a resistência se estende a inseticidas de modo de ação distintos. 4. Alterações induzidas na fisiologia da planta, tornando-a mais susceptível à praga; 5. Bioacumulação (acumulação no corpo de um organismo); 6. Biomagnificação (acúmulo ao longo da cadeia alimentar); 7. Resíduos no solo, água, ar e alimentos; 8. Intoxicações agudas para o homem, fauna, flora e microorganismos. FILOSOFIA DO CONTROLE DE PRAGAS Tradicional Segundo essa filosofia, as medidas de controle (geralmente controle químico) devem ser adotadas seguindo um calendário de aplicação após plantio ou quando o organismo praga está presente, independentemente de outros fatores. Esta filosofia, e o seu uso, se deve entre outros fatores a falta de informações disponíveis para a maioria dos agroecossistemas e a simplicidade de sua adoção por técnicos e agricultores. Manejo Integrado de Pragas E uma filosofia de controle de pragas que procura preservar e incrementar os fatores de mortalidade natural, através do uso integrado dos métodos de controle selecionados com base em parâmetros econômicos, ecológicos e sociológicos. 23 GUIA PRÁTICO PARA CONFECÇÃO DO MIP I. Avaliação do Agroecossistema: I.1. Reconhecimento das pragas-chave e potencias pragas; I.2. Reconhecimento dos inimigos naturais ocorrendo na lavoura; I.3. Avaliação dos elementos climáticos associados a ocorrência de pragas e inimigos naturais; I.4. Acompanhamento da dinâmica populacional das pragas; I.5. Acompanhamento da dinâmica populacional dos inimigos naturais; I.6. Monitoramento da fenologia da planta versus a ocorrêcia das pragas e inimigos naturais. Ö Avaliação do agroecossistema 9 Avaliação da população da praga (amostragem para previsão da densidade populacional da praga); 9 Avaliação das populações dos inimigos naturais das pragas (amostragem para verificação de suas densidades populacionais); 9 Estágio fenológico das plantas (verificação da suscetibilidade da cultura em cada estágio); 9 Avaliação das condições climáticas (as quais podem determinar aumento ou decréscimo da população das pragas, inimigos naturais e eficiência dos métodos de controle). Agrossistema : manejo durante a safra Agroecossistema : manejo pleno (antes + durante + depois) Agroecossistema do Algodão Agrossistema Antes do Plantio Durante Pós-Colheita • Preparo do solo • Cultura armadilha • Escolha da variedade ou cultivar • Tratamento de sementes • Tubo mata bicudo • Manipulação ambiental • Amostragem - NC e ÑÃ • Catação de botões florais e maçãs no solo • Reguladores de crescimento • Pulverizações químicas • Uso de feromônios • Controle biológico aplicado • Cultura soqueira • Vara isca • Destruição dos restos culturais • Tubo mata bicudo 24 II. Tomada de Decisão Nesta fase, tomaremos a decisão de controlar ou não as pragas com base nos seguintes componentes: Controlar ou Não ⇒ Baseia-se nos componentes do agroecossistema 9 População da praga, quando iguais ou maiores que o NC; 9 População de inimigos naturais - só tomaremos decisão de controlar as pragas se a densidade dos inimigos naturais estiver abaixo do NÑA; 9 Estágio fenológico da cultura, considerar o grau de susceptibilidade daquele estágio; 9 Condições climáticas, considerar o efeito das condições do clima (chuva, temperatura, insolação, etc.), afetando as populações da praga, inimigo natural e cultura; III. Escolha do Método de Controle É importante considerar os fatores técnicos, econômicos, ecológicos e sociológicos. 9 Método cultural Emprego de práticas agrícolas, normalmente utilizadas no cultivo das plantas (práticas fitotécnicas), mas voltadas para o controle de pragas; 9 Controle biológico Favorecer a ação de inimigos naturais na manutenção da densidade das pragas em nível inferior àquele que ocorreria na ausência desses atvavés de populações naturalmente ocorrendo nas lavouras ou através de liberações inoculativas ou inundativas; 9 Controle químico Aplicação de substâncias químicas no controle de pragas (inseticidas, acaricidas, formicidas, fungicidas, raticidas, etc.); 9 Controle por comportamento 25 Consiste no uso de substâncias (hormônios, feromônios, atraentes, repelentes, etc), que modifiquem o comportamento da praga de tal forma a reduzir sua população; 9 Resistência de plantas Uso de plantas que devido as suas características hereditárias sofrem menor dano por pragas que outras em igualdade de condições (tolerância, não-preferência ou antibiose). Ou, plantando variedades geneticamente modificadas para resistência a pragas (Ex.: algodoeiro geneticamente modificado “Bollgard” resistente a lagartas); 9 Métodos legislativos Leis e portarias relacionados a adoção de medidas de prevenção e controle de pragas; 9 Controle mecânico Uso de técnicas que possibilitem a eliminação direta das pragas; 9 Controle físico Consiste no uso de fogo, drenagem, inundação, temperatura e radiação eletromagnética, armadilha luminosa no controle de pragas; 9 Método genético Esterelização (técnica do macho estéril). Métodos para avaliação da população de pragas e IN Para avaliação correta, das populações de pragas e inimigos naturais é necessário realizar amostragens. Para tanto, é necessário o desenvolvimento de pesquisas que permitem o uso de metodologia de avaliação populacional, plano de amostragem e tipo de caminhamento a ser adotado na amostragem. Absoluto Consistem na avaliação da população total existente em determinada área. Praticamente não é usado em entomologia agrícola devido ao tempo, mão-de-obra e gastos para a sua realização. Relativo Estima-se a população existente na lavoura através de uma amostra. 26 9 A estimativa pode ser feita através da contagem de indivíduos existentes numa amostra (Ex.: número de ácaros da falsa ferrugem, Phyllocptruta oleivora (Acari: Eriophyidae) por 1 cm2 de fruto; 9 Uso de armadilhas, como é feito para moscas-das-frutas com frascos caça-moscas; pano de batida de 1m de comprimento estendido entre fileiras de soja para estimar a população de percevejos, etc. Ö Índices populacionais São realizadas avaliações a partir de produtos metabólicos (fezes, exúvias) e injúrias provocadas nas plantas. Como pode ser aplicado na contagem de minas de bicho mineiro do café, Leucoptera coffeella e traça-do- tomateiro, Tuta absoluta. Plano de Amostragem Comum ou Convencional Baseia-se em número fixo de amostras a serem realizadas por unidade de área. Neste plano, para a amostragem ser representativa da realidade, tem que ocorrer uma distribuição espacial dos organismos semelhante à distribuição daqueles, na pesquisa, quando o plano foi estabelecido. Como exemplo, podemos mencionar o plano estabelecido para pragas da soja. Unidade Amostral Área N o de pontos amostrados Lagartas e percevejos Broca das axilas 1 - 9 ha 10 - 29 ha 30 - 99 ha 6 8 10 Uma amostragem colocando-se o pano de batida entre as fileiras Exame de 10 plantas em cada ponto de amostragem Sequencial • O número de amostras a ser tomado é variável de tal forma a garantir uma boa precisão da amostragem; • Para tanto, são confeccionadas tabelas que possuem quatro colunas: a primeira coluna contêm o número de amostras, a segunda o limite inferior, a terceira a coluna para as anotações e a quarta coluna o limite superior (ver tabela abaixo); • A tomada de decisão depende da população da praga amostrada e, quando o valor acumulado for superior ou igual ao limite superior, a decisão é de controlar, se estiver num valor intermediário aos limites inferior e superior, deve-se continuar tomando amostras até que o 27 valor assume um dos limites ou atingem o número máximo de amostras determinado previamente. Por outro lado, se o valor encontrar-se no limite inferior, a decisão é de não controlar. • Este plano de amostragem além de trazer uma economia de tempo e esforço, em torno de 50%, em relação ao método anterior, apresenta maior precisão. Componentes de um sistema de amostragem 1. Tipos de caminhamento 2. Tamanho da amostra 3. Tamanho da sub-amostra ou unidade amostral. Plano de amostragem sequêncial para o bicudo do algodoeiro, Anthonomus grandis (tabela com o número de amostras reduzidos de cinco em cinco amostras para simplificação didática). No de botões atacados (contagem acumulativa) No de amostras Limite inferior (LI) Dados coletados1 Limite superior (LS) 1 - - 5 - - 10 9 12 15 13 16 20 18 21 25 23 26 30 28 30 34 31 34 1Os valores são acumulativos. DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DA POPULAÇÃO * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * ** * * * * Regular Ao Acaso Agregada Iδ < 1 Iδ = 1 Iδ > 1 28 O tipo de distribuição pode ser caracterizado através do Índice de Morisita: Iδ = N [Σx2 - Σx / (Σx)2 - Σx] N = total de amostras e, x = número de indivíduos nas amostras. Iδ = 1 ∼ distribuição é ao acaso (Poisson) Iδ > 1 ∼ distribuição agregada (Binomial negativa) Iδ < 1 ∼ distribuição regular ou uniforme (Binomial) O valor de Iδ deve ser testado pelo valor de “Fc” e “Ft” unilateral, com n1 = N - 1 e n2 = ∞ gl Fc = [Iδ (Σx - 1) + N - Σx]/ (N-1) Dependendo do tipo de dispersão, escolherá o tipo de caminhamento. ⌦ Tipo de caminhamento Representa a forma de deslocamento para se fazer a amostragem. Os tipos mais usados para amostrar pragas e IN são: em Zig-Zag em U em X por pontos Técnicas usadas na amostragem de insetos de importância agrícola a. Observações direta: .Contagem do número de indivíduos ou injúrias (Ex.: ácaros, pulgões, cochonilhas, cigarrinhas, minas e furos de oviposição ou alimentação, etc.); .Peneiramento e caladores em sacarias (pragas de grãos armazenados); .Lavagem do sistema radicular e contagem de insetos e larvas (sistema radicular); .Ensacamento da parte atacada a ser amostrada (mosca do sorgo, tripes em liliáceas, etc.). 29 b. Rede de varredura ou entomológica (puçá): .Captura e contagem (Ex.: cigarrinhas das pastagens, cigarrinhas dos citros, vaquinhas do feijoeiro, etc.); c. Iscas e armadilhas atrativas: .Parte da planta (Ex.: pseudocaule - moleque da bananeira; estipe - broca do olho do coqueiro; tolete de cana - cupins, etc.); .Alimento (frascos caça-moscas, taiuiá para vaquinhas, etc.); .Feromônio sexual (bicudo do algodoeiro, lagartas das maças e rosada, etc.); .Armadilha adesiva colorida (cigarrinhas, mosca-branca, etc.); d. Flotação: .Percevejo das gramíneas, grãos armazenados (diferença de densidade dos grãos atacados); e. Torrão de solo e trado: .Pragas de viveiros e lavouras (cupins, percevejo castanho, etc.); f. Pano de batida: .Pano branco de 1 m de comprimento e largura dependendo do espaçamento entre fileiras adotado para a cultura (lagartas, percevejos, etc.); g. Bandeja: .Sem água - insetos pequenos das partes superiores das plantas (pulgões, tripes, etc.); .Com água e fundo amarelo - atrai e captura insetos em vôo (tripes, pulgões, etc.); h. Armadilha luminosa: .Captura de insetos adultos fototrópicos positivos, principalmente, usadas para determinação da flutuação populacional; i. Coloração e RX: .Pragas internas às plantas ou partes dessas (pragas dos frutos, grãos armazenados, etc.). 30