Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original
Roteiro 01 Roteiro 02 Roteiro 03 Roteiro 04 Roteiro 05 Roteiro 06 Roteiro 07 Roteiro 08 Roteiro 09 Roteiro 10 Roteiro 11 Roteiro 12 Roteiro 13 Roteiro 14 Roteiro 15 Roteiro 16 Roteiro 17 Roteiro 18 Roteiro 19 Roteiro 20 Roteiro 21 Roteiro 22 Roteiro 23 Roteiro 24 Roteiro 25 Roteiro 26 Roteiro 27 Roteiro 28 Roteiro 29 Roteiro 30 Roteiro 31 Roteiro 32 Roteiro 33 Roteiro 34 Roteiro 35 Roteiro 36 Roteiro 1: Introdução ao Direito Penal 1. O conceito de Direito Penal 2. Características gerais 3. Finalidade 4. Legitimidade 5. Tendências contemporâneas 6. Direito Penal e outros ramos do Direito Introdução ao Direito Penal 1. O Conceito de Direito Penal 1.1. Direito Penal é o conjunto de normas jurídicas com base nas quais o Estado proíbe determinadas ações ou omissões, sob a ameaça da pena. 1.2. Contribuiu para a prevalência da expressão “Direito Penal” – em substituição a “Direito Criminal” – o fato de representar, de forma imediata, a característica principal desse ramo do Direito: a pena. Introdução ao Direito Penal 2. O Conceito de Direito Penal 2.1. Embora em todos os ramos do Direito a proibição de condutas ocorra por meio da ameaça de uma sanção, o Direito Penal distingue-se em razão do meio de coação e tutela com o qual atua, que é a pena. 2.2. A pena é a perda de um direito imposta pelo Estado como consequência do cometimento de uma infração penal. Enquanto a sanção civil (penalidade) tem caráter de reparação, a sanção penal caracteriza-se pela retribuição. Introdução ao Direito Penal 3. Finalidade 3.1. Afirma-se que a missão do Direito Penal é a proteção da convivência humana em sociedade. 3.2. O Direito Penal é compreendido como um dos instrumentos de convivência e controle social, sendo um conjunto de normas jurídicas, as quais podem ser divididas em incriminadoras e não incriminadoras, editadas pelo Estado. Introdução ao Direito Penal 4. Legitimidade 4.1. De maneira geral, a justificação do Direito Penal tem sido feita a partir da justificação da pena. 4.2. Existem, fundamentalmente, três orientações quanto à legitimidade da pena, as quais se expressam por meio das chamadas teorias da pena: 4.2.1. A pena é um mal que se converte em um bem, por negar o mal (delito) e restaurar o direito e a justiça; 4.2.2. A pena é um mal menor ou socialmente útil; 4.2.3. A pena e o Direito Penal são ilegítimos, devendo haver a abolição de ambos. Introdução ao Direito Penal 4. Legitimidade 4.3. Em síntese, as teorias da pena gravitam em torno de duas premissas fundamentais: a retribuição e a prevenção. 4.4. Teorias absolutas: a pena se funda na justa retribuição. É um fim em si mesma e não serve a qualquer outro propósito que não seja o de recompensar o mal com o mal. Introdução ao Direito Penal 4. Legitimidade 4.5. Teorias relativas: a finalidade da pena não seria a punição de todos os crimes, mas sim a sua prevenção. Distingue-se aqui a prevenção geral e a prevenção especial. 4.5.1. Prevenção geral é a intimidação que se supõe alcançar por meio da ameaça da pena e de sua efetiva imposição, atemorizando os possíveis infratores. 4.5.2. A prevenção especial atua sobre o autor do crime, para que não volte a delinquir. 4.6. Teorias mistas ou unitárias: combinam as teorias absolutas e as relativas, que não seriam excludentes entre si. A pena é retribuição, mas deve, por igual, perseguir os fins de prevenção geral e especial. Introdução ao Direito Penal 5. Tendências Contemporâneas 5.1. Existem três posturas político-criminais básicas que procuram compreender e dirigir as funções, os limites e os fins do Direito Penal contemporâneo: a) abolicionista; b) ressocializadora; e c) garantista. 5.1.1. Abolicionismo: postula a eliminação do Direito Penal, por ser sistema gerador da criminalidade. 5.1.2. Ressocialização: centra-se na obtenção de uma autêntica reinserção dos apenados, a partir de mecanismos que eliminem, ou ao menos reduzam, taxas de reincidência. 5.1.3. Garantismo: propugna fundamentalmente as garantias formais, buscando conciliar a prevenção geral dos delitos com exigências formais dos princípios de proporcionalidade e humanidade, limitando a intervenção penal ao estritamente necessário e não violando valores fundamentais consagrados em quase todas as sociedades modernas. Introdução ao Direito Penal 6. Direito Penal e outros ramos do Direito 6.1. Direito Constitucional: todo o ordenamento infraconstitucional, inclusive as normas de Direito Penal, deve ser interpretado a partir da Constituição Federal. Mais do que isso: os próprios bens jurídicos penalmente tutelados estão nela consagrados. 6.2. Direito Administrativo: uma vez que a imposição de pena criminal é um monopólio estatal, há íntima relação entre Direito Penal e Direito Administrativo. Por outra vertente, as normas jurídicas relativas à administração pública influenciam a aplicação das normas penais, tanto na prevenção como na repressão do delito. Introdução ao Direito Penal 6. Direito Penal e outros ramos do Direito 6.3. Direito Processual Penal: é por meio do processo que o Estado exerce o jus puniendi. O Direito Processual Penal pode ser definido como o complexo de normas destinadas a regular a atuação da jurisdição penal, na constatação da existência de um fato punível e na aplicação das penas e medidas de segurança previstas na lei penal. 6.4. Direito Civil: há, de certa forma, uma complementaridade das normas penais às normas de Direito Privado (Civil e Empresarial). Isto porque algumas normas penais incriminadoras dependem, para sua compreensão, de definições que emanam desses ramos jurídicos. Roteiro 2: A Ciência Conjunta do Direito Penal 1. Ciência do Direito Penal 2. Método de estudo 3. Política Criminal 4. Criminologia 5. A necessária integração entre Criminologia e o Direito Penal 6. Direito de Execução Penal 7. Ciências Auxiliares A Ciência Conjunta do Direito Penal 1. Ciência do Direito Penal 1.1. A Ciência do Direito Penal é chamada também de Dogmática do Direito Penal. 1.2. Trata da interpretação, sistematização e desenvolvimento das normas contidas na lei, bem como das opiniões doutrinárias no âmbito do Direito Penal. 1.3. Estuda o crime como fato jurídico, para determinar as características do fato punível e suas formas especiais de aparecimento. A Ciência Conjunta do Direito Penal 2. Método de Estudo do Direito Penal 2.1. Método dedutivo / dogmático / normativo / especulativo. 2.2. A partir da interpretação das normas, faz-se a construção científica das instituições que servirão de base para a edificação dos sistemas penais. 2.3. Metodologia basicamente hermenêutica, sistemática e crítica: interpretação e construção do ordenamento penal positivo, sempre por meio do pensamento crítico. A Ciência Conjunta do Direito Penal 3. Política Criminal 3.1. Disciplina jurídica constituída por dois eixos: a crítica e a reforma do Direito Penal. 3.2. Estratégia de combate à criminalidade que auxilia na aferição da eficácia das normas penais, no que diz respeito à distribuição da Justiça e aos interesses sociais. 3.3. Objetivos: a melhora e a racionalização do direito vigente, por meio de fórmulas legislativas adaptáveis às necessidades sociais. A Ciência Conjunta do Direito Penal 4. Criminologia 4.1. Concepção clássica (Sutherland): conjunto de conhecimentos que se referem ao delito como fenômeno social, incluindo-se o processo de elaboração e infração das leis e de reação à referida infração. 4.2. Objetos de estudo: 4.2.1. O crime (contemplado como fenômeno individual e como problema social); 4.2.2. O criminoso; 4.2.3. A vítima; 4.2.4. Os mecanismos de reação social. A Ciência Conjunta do Direito Penal 4. Criminologia 4.3. Ciência empírica e interdisciplinar que visa apresentar uma informação válida, contrastada e confiável sobre o surgimento, a dinâmica e as variáveis do crime. 4.4. Método indutivo, empírico, por meio do qual se fundamentam suas conclusões. A Ciência Conjunta do Direito Penal 5. A Necessária Integração entre a Criminologia e o Direito Penal 5.1. Não existe problema jurídico-dogmático que não requeira um conhecimento acerca de suas bases criminológicas. 5.2. Apesar de conservar suas respectivas autonomias e seus respectivos métodos científicos, deve haver entre ambos uma relação de respeito e recíproca troca de informações. 5.3. Jescheck: “o Direito Penal sem a Criminologia é cego e esta sem aquele carece de limites”. A Ciência Conjunta do Direito Penal 6. Direito de Execução Penal 6.1. Desdobramento do Direito Penal ao qual compete efetivar o dispositivo contido na sentença condenatória (art. 1º da Lei de Execução Penal). 6.2. Objetiva concretizar um dos fins da pena criminal: a prevenção especial, por meio da reinserção social do condenado. 6.3. Engloba o que se convencionou chamar de Direito Penitenciário Ramo mais restrito, uma vez que trata apenas da questão do cárcere: funcionamento dos estabelecimentos penitenciários, descrição das condições de detenção, direitos e deveres do condenado, regime disciplinar, manutenção de seus laços familiares, entre outros aspectos. A Ciência Conjunta do Direito Penal 7. Ciências Auxiliares 7.1. Disciplinas que servem à aplicação prática do Direito Penal, bem como à investigação criminal. 7.1.1. Medicina legal: conjunto de conhecimentos médicos utilizados na aplicação do direito, sendo útil tanto ao Direito Penal quanto a outros ramos. 7.1.2. Psicologia judiciária/forense: psicologia aplicada em relação às pessoas que participam do processo penal, sendo especialmente utilizada para avaliar a credibilidade do testemunho. 7.1.3. Criminalística: técnica que resulta da aplicação de várias ciências na investigação criminal, na descoberta de crimes e na identificação de criminosos. Roteiro 3: História Geral do Direito Penal 1. Pena e vingança 2. Direito Penal da Antiguidade 3. Direito Penal na Idade Média 4. Direito Penal na Idade Moderna 5. O Período Reformador 6. Escolas e Tendências História Geral do Direito Penal 1. Pena e Vingança 1.1. O Direito Penal surgiu quando o agrupamento social não reagiu a um fato de forma irracional, por mera vingança. Ao contrário, por intermédio de uma modalidade institucionalizada de reação, buscou-se o retorno à tranquilidade social. 1.2. As primeiras modalidades de pena de que se tem registro são a perda da paz e a vingança de sangue. 1.2.1. Perda da paz: aplicada ao membro do grupo que infringisse determinada norma, consistindo na sua exclusão do convívio coletivo. 1.2.2. Vingança de sangue: destinava-se ao estranho que vinha de fora e infringia a norma do agrupamento social primitivo, caracterizando- se como uma luta contra o estrangeiro. História Geral do Direito Penal 2. Direito Penal na Antiguidade 2.1. Lei do talião: “olho por olho, dente por dente”, estabeleceu pela primeira vez a ideia de proporcionalidade entre crime e pena, limitando a vingança privada. 2.2. Enquanto na Grécia Antiga preponderava a pena de morte, Roma Antiga contava com uma variedade de sanções, que eram estabelecidas de acordo com a natureza do crime e do processo. 2.3. Lei das Doze Tábuas (451 a. C.): contemplava formas severas de punição, com a tônica voltada para a pena de morte. 2.4. Vestígios jurídicos comprovam, portanto, que o Direito Penal da Antiguidade marcou-se pela aplicação, em larga escala, da pena capital. A prisão (em condições subumanas) era simplesmente o local de custódia do réu. História Geral do Direito Penal 3. Direito Penal na Idade Média 3.1. Com início em meados do século V, a Idade Média foi um período no qual houve o retorno à aplicação da pena de perda da paz. Caracterizou-se por um ilimitado arbítrio judicial, bem como pela desigualdade de punição entre nobres e plebeus. 3.2. Principais fontes de influência: 3.2.1. Direito Germânico; 3.2.2. Direito Canônico; 3.2.3. Direito Romano. História Geral do Direito Penal 4. Direito Penal na Idade Moderna 4.1. Surgimento dos Estados Nacionais Modernos, expansão colonial, guerras religiosas, miséria e fome. 4.2. Criação das casas de correção (século XVI): estabelecimentos para abrigar os condenados por delitos menores. 4.3. Surgimento das workhouses (1697): substituindo com sucesso as houses of corretion, foram especificamente concebidas para o fim de reformar o condenado por meio do trabalho constante e ininterrupto e da instrução religiosa. 4.4. Sistema de penas: penas pecuniárias, penas corporais e pena capital. História Geral do Direito Penal 4. Direito Penal na Idade Moderna 4.5. O surgimento da pena privativa de liberdade moderna foi marcado pela função de emenda do delinquente exercida pelas houses of corretion e workhouses. 4.6. A ascensão da burguesia ao poder deu força a uma nova estratégia de controle social: a disciplina. Desta forma, houve a paulatina substituição da pena de morte pela pena de prisão como epicentro do sistema penal. História Geral do Direito Penal 5. O Período Reformador 5.1. Três importantes nomes se propugnaram por mudanças no magistério punitivo e nas péssimas condições de trabalho: a) Cesare Beccaria; b) John Howard; e c) Jeremy Bentham. 5.1.1. Beccaria: proposta de abrandamento e racionalidade das leis penais e dos seus meios interpretativos, criticando de forma contundente as arbitrárias práticas judiciais da época. 5.1.2. Howard: tornou popular o debate sobre a reformulação das práticas punitivas e das possíveis alternativas. Com ele, ainda, nasce o Direito Penitenciário, pela primeira vez separado do Direito Penal. 5.1.3. Bentham: descreveu os fins da pena por meio da teoria da utilidade Uma ação será aprovável ou reprovável de acordo com a tendência que pareça ter para aumentar ou diminuir a felicidade da parte cujo interesse está em questão. História Geral do Direito Penal 6. Escolas e Tendências Escolas Método Imputabilidade Delito Função da pena Clássica Especulativo Baseada no livre arbítrio do indivíduo Ente jurídico que violava um direito subjetivo de outrem Tutela jurídica Positiva Experimental Derivada do determinismo e temibilidade do delinquente Fenômeno natural e social produzido pelo homem Meio de defesa social História Geral do Direito Penal 6. Escolas e Tendências 6.1. Século XX: 6.1.1. Tendência ao unitarismo e ao recrudescimento dos estudos filosófico-penais. 6.1.2. Propostas não radicais de modificação do Direito Penal. 6.2. Século XXI: 6.2.1. Incremento do fenômeno da internacionalização do Direito Penal, com a decorrente harmonização dos sistemas penais. 6.2.2. Adoção de novas tecnologias como fontes de incriminação e como medidas de controle e punição dos delinquentes. 6.2.3. Utilização, em larga escala, das penas privativas de liberdade. Roteiro 4: História do Direito Penal Brasileiro 1. Direito Penal indígena 2. Brasil Colonial 3. Código Criminal de 1830 4. Direito Penal da Primeira República 5. Código Penal de 1940 6. Movimento de reforma penal 7. Século XXI História Direito Penal Brasileiro 1. Direito Penal Indígena 1.1. Não havia uma estrutura jurídico-social, e sim a aplicação de regras meramente consuetudinárias transmitidas verbalmente entre as gerações. 1.2. As normas indígenas tinham forte caráter místico. 1.3. Entre as normas de caráter penal, predominava a vingança privada, sem qualquer proporção entre infração e sanção. História Direito Penal Brasileiro 2. Brasil Colonial 2.1. O Direito Penal vigente constituiu mera importação do conjunto de leis então vigente em Portugal. 2.2. Ordenações Afonsinas (1446): 2.2.1. Primeiro código completo da Europa; 2.2.2. Fixou o magistério punitivo estatal apesar da forte influência do Clero; 2.2.3. Não havia proporcionalidade entre a finalidade da pena e o delito praticado; 2.2.4. Manteve a desigualdade entre ricos e pobres. História Direito Penal Brasileiro 2. Brasil Colonial 2.3. Ordenações Manuelinas (1521): seguiram, em larga medida, as disposições precedentes, com alguns acréscimos e poucas correções. 2.4. Ordenações Filipinas (1603): 2.4.1. Verdadeiro Código Penal do período colonial, gerando efeitos até mesmo no Brasil independente; 2.4.2. Previsão de penas bárbaras e cruéis; 2.4.3. Diferenças no tratamento dispensado a nobres e plebeus; História Direito Penal Brasileiro 3. Código Criminal de 1830 3.1. Com a Proclamação da Independência (1822) e o advento da Constituição Imperial (25 de março de 1824), cristalizou-se a necessidade de ser criada legislação penal específica e mais adequada aos novos tempos. 3.2. 16/12/1830: sancionado o primeiro Código autônomo da América Latina. 3.3. Principais características do Estatuto criminal do Império: 3.3.1. Exclusão da pena de morte para crimes políticos; 3.3.2. Imprescritibilidade das penas; História Direito Penal Brasileiro 3. Código Criminal de 1830 3.3.3. Reparação do dano causado pelo delito; 3.3.4. Agravar pelo ajuste prévio para delinquir; 3.3.5. Antecipação do sistema dos dias-multa. 3.4. Penas cominadas: 3.4.1. Morte na forca; 3.4.2. Galés (excluídos: mulheres, menores de 21 anos e maiores de 60); 3.4.3. Prisão com trabalho e prisão simples; História Direito Penal Brasileiro 3. Código Criminal de 1830 3.4.4. Banimento; 3.4.5. Degredo; 3.4.6. Desterro; 3.4.7. Multa; 3.4.8. Suspensão e perda do emprego; 3.4.9. Açoites (para os escravos). História Direito Penal Brasileiro 4. Direito Penal da Primeira República 4.1. A disparidade entre os dispositivos da Constituição, os do Código Criminal do Império e a realidade carcerária fez iniciar um movimento no sentido de reforma do aparato prisional herdado da era colonial. 4.2. Decreto nº 847, de 11 de outubro de 1890: cria o Código Penal Brasileiro. 4.3. Penas previstas: 4.3.1. Prisão celular (que era a base do sistema de penas da época); 4.3.2. Reclusão (somente para delitos políticos); 4.3.3. Prisão com trabalhos; História Direito Penal Brasileiro 4. Direito Penal da Primeira República 4.3.4. Prisão disciplinar (para os menores até 21 anos de idade). 4.4. Entendido como mera atualização da legislação penal do Império, o Código de 1890 foi alvo de críticas demolidoras, as quais abalaram seu prestígio e dificultaram sua aplicação. História Direito Penal Brasileiro 5. Código Penal de 1940 5.1. A partir do golpe de Estado de 1937, que instituiu o Estado Novo, foi criada uma nova ordem nacional. A reforma da legislação penal passou a fazer-se necessária. 5.2. 7 de dezembro de 1940: promulgação do novo Código Penal brasileiro. Na mesma data, também entraram em vigor a Lei das Contravenções Penais, a Lei de Introdução ao Código Penal e o Código de Processo Penal. 5.3. Em vigor até os dias de hoje, o Código Penal de 1940 inovou ao fazer as medidas de segurança entrarem na órbita da lei penal. A suspensão condicional da pena e o livramento condicional passaram a integrar definitivamente o Código Penal. História Direito Penal Brasileiro 5. Código Penal de 1940 5.4. Penas previstas: 5.4.1. Privativa de liberdade – era a prioridade, sendo cumprida em regimes de reclusão e detenção (para crimes e delitos) ou em prisão simples (para contravenções penais); 5.4.2. Pena de multa; 5.4.3. Penas acessórias (ex: interdição temporária). História Direito Penal Brasileiro 6. Movimento de Reforma Penal 6.1. O projeto de Nelson Hungria foi promulgado pelo Decreto-Lei nº 1.004, de 21 de outubro de 1969. 6.2. Previsto para entrar em vigor em 1º de agosto de 1970, o projeto teve seu prazo de vacância sucessivamente prorrogado pelo alegado motivo de haver necessidade de aguardar a aprovação do novo Código de Processo Penal. 6.3. Em 11 de novembro de 1978 a lei nº 6.578 restou por revogar o Código Penal de 1969, uma vez que já não mais correspondia às necessidades do país. 6.4. O problema da superpopulação carcerária deu origem à criação dos regimes de cumprimento da pena de prisão: fechado, semiaberto e aberto. História Direito Penal Brasileiro 6. Movimento de Reforma Penal 6.5. A partir de 1980, comissões foram criadas com o intuito de se encarregarem da reforma da Parte Geral do Código Penal, a qual foi extensa e realizada em clima de ampla discussão teórica e democrática. 6.6. Além de mudanças na Teoria do Delito – especialmente referentes à culpabilidade – a reforma penal foi bastante expressiva. História Direito Penal Brasileiro 7. Século XXI 7.1. A partir de 1984 e, especificamente, após o advento da Constituição de 1988, viveu-se um novo modelo punitivo no Brasil. A partir do Preâmbulo da Carta Política, seu texto fora impregnado por valores como a dignidade da pessoa humana e a vedação de qualquer natureza de discriminação. 7.2. Diante das determinações do texto constitucional, a partir de 1990 passou a haver a promulgação de leis penais especiais, tais como: 7.2.1. Lei nº 8.072/90: Lei dos Crimes Hediondos. 7.2.2. Lei nº 9.099/95: Lei dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais (sobre as infrações de menor potencial ofensivo). 7.2.3. Lei nº 9.714/98: Lei das Penas Alternativas. 7.3.4. Lei nº 10.259/01: Regulamentou os juizados especiais no âmbito federal. Roteiro 5: Princípios Fundamentais do Direito Penal 1. Noções introdutórias 2. Princípio da culpabilidade 3. Princípio da Lesividade ou Ofensividade 4. Princípio da Humanidade 5. Outros princípios Princípios Fundamentais do Direito Penal 1. Noções introdutórias 1.1. No Direito Penal, a distinção entre normas e princípios tem raízes históricas. 1.2. Os princípios condicionam aquilo que se convencionou denominar de dogmática jurídico-penal, tanto na sua vertente teórica quanto na prática. 1.3. O Direito Penal está lastreado em quatro princípios fundamentais, os quais se desdobram em diversos outros. Princípios Fundamentais do Direito Penal 2. Princípio da culpabilidade 2.1. Culpabilidade: juízo de reprovação que recai sobre o agente autor da conduta reprovável. 2.2. A responsabilidade penal é estritamente pessoal e subjetiva, somente sendo apenado aquele que, por sua conduta, tenha dado causa a um resultado criminoso. 2.3. A pena criminal somente se justifica se o agente devia e podia evitar o ilícito praticado. Princípios Fundamentais do Direito Penal 2. Princípio da culpabilidade 2.4. Duas funções são atribuídas a este princípio: 2.4.1. Pressuposto de toda punição, uma vez que afasta a responsabilidade penal objetiva, exigindo que o resultado seja causado culposa ou dolosamente. 2.4.2. Limite de toda punição, já que a pena não pode ser superior à culpa do agente. Princípios Fundamentais do Direito Penal 3. Princípio da Lesividade ou Ofensividade 3.1. Somente poderá ser considerada merecedora de tutela penal a conduta apta a expor a risco ou a causar dano a um bem jurídico penalmente relevante. 3.2. É vedado o estabelecimento de delitos que sejam meras infrações de obrigações ou de deveres, pois isso representaria uma excessiva intervenção estatal. Princípios Fundamentais do Direito Penal 4. Princípio da Humanidade 4.1. Também chamado de princípio da humanização da pena. 4.2. As necessidades de prevenção e repressão à delinquência não podem autorizar o emprego de medidas que gerem excessivo e desnecessário sofrimento ao indivíduo. 4.3. É proibida a imposição de sanções penais infamantes ou cruéis. 4.4. Entende-se que este princípio também interdita a adoção de pena de morte ou de caráter perpétuo, já que ambas são modalidades de penas eliminatórias do ser humano. Princípios Fundamentais do Direito Penal 5. Outros Princípios 5.1. Além dos princípios mencionados, os doutrinadores reconhecem a existência de outros princípios fundamentais que foram, inclusive, consagrados jurisprudencialmente. 5.1.1. Dignidade humana: 5.1.1.1. Reconhecimento do ser humano não como coisa, mas como pessoa; não como meio, mas como fim da atividade estatal; 5.1.1.2. Nas alternativas penais à prisão, as atividades a serem desempenhadas pelo condenado não podem consistir na realização de atividades atentatórias à sua dignidade. Princípios Fundamentais do Direito Penal 5. Outros Princípios 5.1.2. Intervenção mínima: 5.1.2.1. Nega que o Direito Penal possa proteger bens jurídicos que não são essenciais; 5.1.2.2. Determina que o Direito Penal proteja os bens jurídicos considerados essenciais. 5.1.3. Fragmentaridade: o Direito Penal irá tutelar apenas algumas das condutas em que existe violação de um bem jurídico. 5.1.4. Subsidiariedade: o Direito Penal somente irá ser utilizado para a proteção de bens jurídicos quando os demais ramos do Direito não tiverem se mostrado suficientes para fazê-lo. Princípios Fundamentais do Direito Penal 5. Outros Princípios 5.1.5. Insignificância ou bagatela: devem ser excluídas da abrangência do Direito Penal as condutas provocadoras de ínfima lesão ao bem jurídico tutelado. 5.1.6. Proporcionalidade: objetiva uma justa correlação entre a gravidade do fato perpetrado pelo agente e a sanção penal correspondente. 5.1.7. Individualização da pena: 5.1.7.1. Possui previsão constitucional, no artigo 5º, XLV e XLVI, da Constituição Federal; 5.1.7.2. Preconiza que a pena não poderá passar da pessoa do condenado; Princípios Fundamentais do Direito Penal 5. Outros Princípios 5.1.7.3. Determina que a individualização da sanção penal há de pressupor três fases distintas: a) Legislativa; b) Judiciária; e c) Administrativa. 5.1.7.4. Adequação social: se, com uma modificação social, determinado comportamento penalmente reprovado passar a ser socialmente aceito, não se justifica a intervenção penal. Roteiro 6: Lei Penal e Norma Penal 1. Estrutura e Finalidades 2. Classificação e Técnica Legislativa 3. Fontes 4. Princípio da Legalidade 5. Analogia 6. Costume 7. Jurisprudência 8. Princípios Gerais do Direito 9. Interpretação da Lei Penal Lei Penal e Norma Penal 1. Estrutura e Finalidades 1.1. As normas penais são compostas de duas partes: 1.1.1. Na primeira, encontra-se o comando ou preceito; 1.1.2. Na segunda, a consequência do seu descumprimento, a sanção. 1.2. Finalidades da norma jurídico-penal: 1.2.1. A definição das infrações penais; 1.2.2. O estabelecimento das respectivas consequências jurídicas (imposição de penas ou de medidas de segurança); 1.2.3. Os pressupostos de cominação, aplicação e execução das suas disposições gerais. Lei Penal e Norma Penal 2. Classificação e Técnica Legislativa 2.1. Classificação doutrinária: normas incriminadoras e normas não incriminadoras. 2.1.1. Normas incriminadoras: estabelecem as infrações penais, descrevendo a conduta proibida e cominando a respectiva espécie e quantidade de pena. 2.1.2. Normas não incriminadoras: não estabelecem delito ou pena, mas regulam seus pressupostos de aplicabilidade. 2.2. Técnica adotada: a primeira parte do dispositivo discrimina o comportamento desvalioso, e a segunda parte descreve sua respectiva pena. Lei Penal e Norma Penal 3. Fontes 3.1. Correspondem aos fatos ou atos dos quais se originam as normas jurídicas. 3.2. Dentre as diversas fontes de produção normativa, no Direito Penal prepondera a lei penal, em decorrência do princípio da legalidade. Secundariamente encontram-se a analogia, os costumes e os princípios gerais do Direito. Lei Penal e Norma Penal 4. Princípio da Legalidade 4.1. Encontrado em todos os sistemas jurídicos do mundo, o princípio da reserva legal é o mais importante dentre os princípios fundamentais do ordenamento jurídico brasileiro. 4.2. São quatro as importantes consequências deste princípio para a dogmática penal – são proibidas: 4.2.1. A analogia para definição de crimes ou para o estabelecimento de sanções ou medidas de segurança; 4.2.2. A utilização do costume para fundamentar ou agravar uma pena; 4.2.3. A retroatividade da lei penal; 4.2.4. As incriminações vagas e indeterminadas. Lei Penal e Norma Penal 5. Analogia 5.1. Parte-se da premissa de que a lei não pode prever todas as hipóteses fáticas, havendo, portanto, lacunas no ordenamento jurídico. 5.2. A analogia visa suprir esta lacuna, solucionando um caso concreto por intermédio da solução adotada em uma hipótese legal assemelhada. 5.3. No Direito Penal, não se admite a analogia in malam partem (isto é, em desfavor do réu, para a integração de normas penais incriminadoras). Só é possível a analogia in bonam partem. Lei Penal e Norma Penal 6. Costume 6.1. Trata-se da regra de conduta criada espontaneamente pela consciência comum do povo, que a observa por modo constante e uniforme e sob a convicção de corresponder a uma necessidade jurídica. 6.2. Aquele que viola uma norma consuetudinária sofre sanção imposta pela coletividade. 6.3. O costume pode ser tido como fonte secundária de normas penais, auxiliando a aplicação da lei ou suprindo determinada lacuna ou alcance da lei penal. Lei Penal e Norma Penal 7. Jurisprudência 7.1. Embora não conste como fonte produtora de normas penais, a jurisprudência tem cada vez mais importância no âmbito jurídico-penal. 7.2. Instrumentos formais de interpretação, os precedentes jurisprudenciais podem ser materialmente considerados importantes fontes secundárias de produção de normas jurídico-penais, uma vez que acarretam inequívocos efeitos práticos. Lei Penal e Norma Penal 8. Princípios Gerais do Direito 8.1. São premissas ou valores de natureza ética ou moral que constituem o fundamento de determinada organização social. 8.2. De forma secundária – excluídos a lei, a analogia e os costumes –, podem ser invocados como modelo de solução de um caso concreto. 8.3. Operam sobre todo o ordenamento jurídico, conferindo-lhe racionalidade e coesão. Lei Penal e Norma Penal 9. Interpretação da Lei Penal 9.1. Toda norma, por mais simples e clara que pareça ser, deve ser objeto de interpretação, pois trata-se da busca pela sua intenção ou pelo seu sentido. 9.2. Silogismo jurídico: a lei penal é a premissa maior, o caso concreto é a premissa menor, e a pena é o resultado ou a síntese deste silogismo. 9.3. A atividade desempenhada pelo intérprete compreende dois momentos: 9.3.1. A interpretação da norma; 9.3.2. A subsunção da norma ao caso concreto. Lei Penal e Norma Penal 9. Interpretação da Lei Penal 9.4. A interpretação da lei penal é objeto de três espécies de classificação: 9.4.1. Quanto ao sujeito que a realiza: 9.4.1.1. Interpretação autêntica, quando a exegese provem do mesmo órgão de onde emanou a norma a ser interpretada; 9.4.1.2. Interpretação doutrinária, correspondente ao trabalho acadêmico dos professores, pareceres dos consultores e demais trabalhos científicos do Direito; 9.4.1.3. Interpretação judicial, baseada nos precedentes harmonicamente observados pelos juízes e tribunais. Lei Penal e Norma Penal 9. Interpretação da Lei Penal 9.4.2. Quanto ao meio utilizado: 9.4.2.1. Interpretação lógica; 9.4.2.2. Interpretação teleológica. 9.4.3. Quanto ao resultado a que se chega: 9.4.3.1. Interpretação declarativa, quando o produto da atividade hermenêutica faz coincidir a letra da lei com a vontade da lei; 9.4.3.2. Interpretação restritiva, que ocorre quando, por um defeito gramatical, a letra da lei disse mais do que a vontade da lei; 9.4.3.3. Interpretação extensiva, que ocorre quando a letra da lei disse menos do que a vontade da lei. Lei Penal e Norma Penal 9. Interpretação da Lei Penal 9.5. Interpretação analógica: consiste em se estender a atividade hermenêutica para abranger os casos semelhantes aos que foram exemplificados no texto legal. 9.6. Regra do in dubio pro reo: significa que os casos que remanescerem duvidosos devem ser decididos em favor do acusado. Roteiro 7: Lei Penal no Tempo 1. Noções Introdutórias 2. Conflitos da Lei Penal no Tempo 3; Lei Intermediária 4. Conjugação de Leis 5. Lei Excepcional ou Lei Temporária 6. Lei Penal em Branco 7. Tempo do Crime 8. Contagem dos Prazos no Direito Penal Lei Penal no Tempo 1. Noções Introdutórias 1.1. Salvo disposição em contrário, a lei começa a vigorar no país quarenta e cinco dias após sua publicação oficial, isto é, após o período de sua vacatio legis. 1.2. A lei permanece em vigor até que outra posterior a modifique ou revogue, salvo as leis excepcionais ou as temporárias. 1.3. A revogação será total (abrogação) ou parcial (derrogação), bem como expressa ou tácita. Lei Penal no Tempo 1. Noções Introdutórias 1.4. O princípio basilar que domina a sucessão de leis e sua aplicação é o tempus regit actum – consequências: 1.4.1. Os fatos são regulados pela lei que estava em vigor quando eles se verificaram; 1.4.2. Em regra, uma lei não retroage para regular um fato havido antes de sua vigência. 1.5. Em decorrência do princípio da legalidade, no Direito Penal prepondera o princípio da irretroatividade das normas incriminadoras. Lei Penal no Tempo 2. Conflitos da Lei Penal no Tempo 2.1. Trata-se da análise da sucessão de leis penais, ou seja, uma lei revoga a outra anteriormente existente. 2.2. No âmbito intertemporal das leis penais, podem existir quatro situações jurídicas: 2.2.1. Novatio legis incriminadora: lei posterior incrimina fato que era anteriormente lícito. Neste caso, o agente não sofrerá a incidência da lei nova, uma vez que é mais severa. 2.2.2. Abolitio criminis: lei posterior deixa de considerar ilícito fato que anteriormente o era. Nesta hipótese, a retroatividade é indiscutível, pois beneficia o agente. Lei Penal no Tempo 2. Conflitos da Lei Penal no Tempo 2.2.3. Novatio legis in mellius: sem suprimir a incriminação do fato, lei posterior beneficia o agente de qualquer forma. A nova lei retroage. 2.2.4. Novatio legis in pejus: lei posterior que, mantendo a incriminação do fato, torna-o mais grave. O sistema constitucional brasileiro impede que sejam aplicadas leis supervenientes mais gravosas. Lei Penal no Tempo 3. Lei Intermediária 3.1. É a lei que, na sucessão das leis penais, situa-se entre a lei anterior ao fato e a lei posterior a este. Há, portanto, três leis que se sucedem na regulação do mesmo fato. 3.2. Caso seja mais benéfica à situação do acusado, a lei intermediária irá retroagir – alcançando o fato ocorrido ao tempo da lei anterior – e também ultragir – continuando a regular tal fato ao tempo da lei posterior. Lei Penal no Tempo 4. Conjugação de Leis 4.1. Método que consiste na utilização das partes que forem consideradas benéficas, tanto da lei anterior ao fato criminoso como da lei posterior a este, visando favorecer o réu. 4.2. Argumento contrário: isso transformaria o aplicador da lei em uma espécie de “legislador do caso concreto”. 4.3. Argumento a favor: quem pode “o mais” – aplicar por inteiro uma ou outra lei, pode “o menos” – aplicar a parte mais benéfica de cada qual. Lei Penal no Tempo 5. Lei Excepcional ou Lei Temporária 5.1. Leis excepcionais: compreendem aquelas que visam atender a situações anormais da vida social (epidemia, guerra etc.). 5.2. Leis temporárias: vigoram durante certo tempo, fixado por elas próprias. 5.3. Artigo 3º CP: tais leis serão aplicadas aos fatos havidos no tempo de sua vigência, mesmo depois de decorrido o tempo de sua duração ou cessada a situação de excepcionalidade. Lei Penal no Tempo 6. Lei Penal em Branco 6.1. Também chamada de lei incompleta, trata-se da norma cujo preceito primário é formulado de maneira genérica, precisando ser complementado por outra norma. 6.2. Enquanto não for expedido seu complemento, tal lei carecerá de efetividade. 6.3. A discussão sobre os efeitos acarretados pela alteração ou revogação do referido complemento normativo deu ensejo a duas teorias: 6.3.1. Teoria minoritária: sustenta que a simples modificação do complemento não gera mudança da lei penal. Dessa forma, não haverá conflito de leis penais no tempo, não havendo que se discutir sobre retroatividade de lei. Lei Penal no Tempo 6. Lei Penal em Branco 6.3.2. Teoria majoritária: existiriam dois grupos de normas penais em branco: 6.3.2.1. O complemento serviria para permitir que a norma tivesse eficácia. Logo, sua modificação não acarretaria efeitos benéficos ao acusado. 6.3.2.2. O complemento integra-se à norma penal, sendo a essência da proibição, de forma que sua modificação importaria em efetiva mudança na lei penal. Lei Penal no Tempo 7. Tempo do Crime 7.1. Trata-se do instante em que se considera aperfeiçoada a infração penal. 7.2. Existem três diferentes critérios apontados pela doutrina: 7.2.1. Teoria da atividade, segundo a qual o crime está praticado no momento da ação ou omissão do agente; 7.2.2. Teoria do resultado, segundo a qual o crime está praticado no momento em que ocorre o evento desvalioso; 7.2.3. Teoria mista (ou unitária), segundo a qual o crime estará praticado tanto no momento da ação ou omissão quanto no momento do resultado (total ou parcial). 7.3. O Artigo 4º CP: o Brasil adota a teoria da atividade. Lei Penal no Tempo 8. Contagem dos Prazos no Direito Penal 8.1. Artigo 10 CP: o dia do começo inclui-se no cômputo do prazo. Contam-se os dias, meses e anos pelo calendário comum. 8.2. Um dia acaba à meia-noite, começando a partir daí o outro dia. 8.3. Um mês começa a ser contado de determinado dia e vai até a meia-noite do dia anterior no mês seguinte. Por exemplo, se a contagem iniciou-se no dia 14 de novembro, considerar-se-á um mês completo no dia 13 de dezembro. 8.4. Um ano começa a correr a partir de determinado dia e se completa no dia anterior do mesmo mês correspondente ao ano seguinte. Lei Penal no Tempo 8. Contagem dos Prazos no Direito Penal 8.5. Pouco importa saber se trata-se de mês com 29, 30 ou 31 dias. Igualmente, despreza-se a circunstância de ser ano bissexto. 8.6. O objetivo da regra do artigo 10 CP foi o de trazer clareza e facilidade à contagem dos prazos do Direito Penal. Roteiro 8: Lei Penal no Espaço 1. Noções Introdutórias 2. Princípios Gerais 3. Território Nacional 4. Lugar do Delito 5. Extraterritorialidade 6. Pena Cumprida no Estrangeiro 7. Eficácia da Sentença Penal Estrangeira 8. Transferência de Condenados entre Países 9. Extradição 10. Tribunal Penal Internacional 11. Imunidades Lei Penal no Espaço 1. Noções Introdutórias 1.1. Para que a lei possa cumprir sua função, é preciso determinar em quais locais o judiciário brasileiro poderá exercer sua competência. 1.2. Pretende-se evitar que ocorram lacunas de impunidade a respeito de ilícitos que atinjam bens jurídicos tutelados, direta ou indiretamente, pelo ordenamento jurídico brasileiro. 1.3. Trata-se de uma questão concernente especificamente ao ramo do Direito chamado Direito Penal Internacional. Lei Penal no Espaço 2. Princípios Gerais 2.1. Territorialidade (artigo 5º CP): princípio preponderante na lei brasileira, afirma que a lei penal aplica-se no território onde é exercida a soberania do Estado. 2.2. Personalidade ou nacionalidade: a lei penal nacional pode ser aplicada ao cidadão onde quer que se encontre, devendo ser considerada apenas a nacionalidade do agente (personalidade ativa) ou da vítima (personalidade passiva). 2.3. Defesa, real ou de proteção: a lei penal deve incidir tutelando bens jurídicos de suma relevância para o Estado, onde quer que se encontrem. Lei Penal no Espaço 2. Princípios Gerais 2.4. Justiça universal: os Estados acordam em reprimir os fatos que mais atentam contra uma ideia de consciência universal. 2.5. Representação ou bandeira: a lei penal do Estado ao qual pertença a aeronave ou embarcação deve ser aplicada a todo e qualquer fato praticado no seu interior. Lei Penal no Espaço 3. Território Nacional 3.1. O conceito jurídico de território decorre das normas de Direito Público e do Direito Internacional. 3.2. O conceito não é geográfico, e sim político: território é todo espaço onde se exerce a soberania do Estado. 3.2. §§ 1º e 2º do artigo 5º CP: território por equiparação. Lei Penal no Espaço 4. Lugar do Delito 4.1. Teoria da ubiquidade (artigo 6º CP): considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado. 4.2. Crime à distância: a ação ou omissão ocorre no território de um Estado e o resultado ocorre no território de outro. Trata-se do conflito positivo de leis penais no espaço, acarretando na aplicação em duplicidade de leis penais. Lei Penal no Espaço 5. Extraterritorialidade 5.1. Hipóteses nas quais se estende a incidência da lei penal brasileira para alcançar condutas que ocorrem fora do território nacional. 5.1.1. Extraterritorialidade incondicionada (artigo 7º, I, CP): nestes casos, a aplicabilidade da lei penal brasileira é irrestrita. 5.1.2. Extraterritorialidade condicionada (artigo 7, II, §§ 2º e 3º, CP): nestas hipóteses, a incidência extraterritorial da lei penal brasileira depende do concurso de alguns pressupostos. Lei Penal no Espaço 6. Pena Cumprida no Estrangeiro 6.1. Nas hipóteses de extraterritorialidade incondicionada, a lei penal brasileira poderá incidir sobre o fato ainda que este tenha sido submetido à lei penal de outro Estado. 6.2. De forma a abrandar o rigor deste dispositivo, o artigo 8º CP afirma que a pena cumprida no estrangeiro irá amenizar os efeitos penais da lei penal brasileira: 6.2.1. Atenuando a pena a ser executada no Brasil, quando de diferentes espécies; 6.2.2. Subtraindo a quantidade de pena já cumprida na pena imposta no Brasil, quando de idênticas espécies. Lei Penal no Espaço 7. Eficácia da Sentença Penal Estrangeira 7.1. Quando o fato também for crime no Brasil, a sentença penal estrangeira poderá ser homologada se tiver uma das finalidades elencadas no artigo 9º CP. 7.2. A competência para homologação de sentença penal estrangeira no Brasil é do STJ, obedecendo aos requisitos do parágrafo único do artigo 9º CP. Lei Penal no Espaço 8. Transferência de Condenados entre Países 8.1. Ato de colaboração penal internacional por meio do qual a fase de cumprimento de determinada pena é transportada do país onde se encontra o condenado pela Justiça estrangeira para o país de sua nacionalidade. 8.2. Dependente da concordância do indivíduo que será transferido, este instituto almeja conciliar os interesses dos Estados na repressão dos delitos com a necessária reintegração social do apenado. Lei Penal no Espaço 9. Extradição 9.1. Ato pelo qual um Estado – denominado “Requerido” – procede a captura e a entrega de um indivíduo procurado pela justiça de outro Estado – denominado “Requerente” –, para que seja julgado ou para que cumpra a pena que lhe foi imposta. 9.2. Os requisitos que autorizam a extradição encontram-se discriminados na Constituição Federal, em tratados bi ou multilaterais, bem como na legislação interna. Lei Penal no Espaço 10. Tribunal Penal Internacional 10.1. A eclosão de conflitos étnicos, nacionais e religiosos, bem como os recentes conflitos armados e o registro de ataques terroristas de grandes proporções permitiram e requereram o estabelecimento de um arcabouço jurídico na esfera internacional como jamais fora possível. 10.2. 25 de setembro de 2002: Brasil promulga a ratificação ao Estatuto de Roma, instrumento legal que rege a competência e o funcionamento do TPI. Lei Penal no Espaço 11. Imunidades 11.1. Exceções quanto à aplicação da lei penal a certas pessoas que praticam fatos delituosos no território nacional. 11.2. As imunidades são de duas naturezas: 11.2.1. Imunidades diplomáticas: concessão de privilégios a representantes diplomáticos relativamente aos atos ilícitos por eles praticados. 11.2.2. Imunidades parlamentares: visam a garantir a liberdade do parlamentar no exercício do mandato, evitando toda coação sobre o Poder Legislativo. Refere-se tanto à imunidade material (ou penal) como à imunidade formal (ou processual). Roteiro 9: Conflito Aparente de Normas Penais 1. Noções Introdutórias 2. Critérios de Solução 3. Conclusão Conflito Aparente de Normas Penais 1. Noções Introdutórias 1.1. Conflito ou concurso aparente de normas: circunstância em que duas ou mais normas penais incriminadoras regulam, em tese, o mesmo caso concreto – sendo que, efetivamente, somente uma delas deverá ser aplicada. 1.2. De forma a não violar o princípio do ne bis in idem, é preciso definir qual norma irá se sobrepor às demais. 1.3. O Código Penal brasileiro não prevê (ao menos não de forma direta) critérios de preponderância entre as normas hipoteticamente incidentes ao caso concreto. 1.4. O concurso aparente se refere, portanto, à unidade de aplicação das normas penais, consoante os critérios doutrinários discriminados a seguir. Conflito Aparente de Normas Penais 2. Critérios de Solução 2.1. Princípio da especialidade: 2.1.1. Parte do pressuposto da existência de normas gerais e especiais tratando do mesmo assunto; 2.1.2. Isso ocorre quando uma norma possua, em sua definição, todos os elementos típicos de outra, mais alguns elementos especializantes; 2.1.3. Se o caso concreto se amoldar a todas as características da norma especial, fica afastada a incidência da norma geral. Conflito Aparente de Normas Penais 2. Critérios de Solução 2.2. Princípio da subsidiariedade: 2.2.1. Neste caso, a relação que se estabelece é de exclusão entre normas de natureza primária e secundária; 2.2.2. A não subsunção de um fato à norma que o tutela de forma mais direta não importará em atipicidade, pois a norma auxiliar (subsidiária) poderá ser aplicada; 2.2.3. A aplicabilidade da norma subsidiária e a inaplicabilidade da norma principal não resultam da relação lógica e abstrata de uma com a outra, e sim do juízo de valor do fato em face delas. Conflito Aparente de Normas Penais 2. Critérios de Solução 2.3. Princípio da consunção ou absorção: 2.3.1. A relação neste caso será entre contingente e conteúdo; 2.3.2. Em termos gerais, haverá consunção quando a conduta definida em uma norma penal estiver também abrangida por outra norma mais ampla; 2.3.3. A norma definidora de um crime, cuja execução atravessa fases em si representativas de crime previsto em outra norma, exclui – por absorção – a aplicabilidade desta. Conflito Aparente de Normas Penais 3. Conclusão 3.1. O critério fundamental para a solução da problemática do conflito aparente de normas é, de fato, o princípio da especialidade; 3.2. Trata-se do critério mais adotado doutrinária e jurisprudencialmente, uma vez que possui maior rigor científico; 3.3. Desta forma, os demais princípios são subsidiários ao da especialidade, e somente devem ser lembrados quando o primeiro não resolver de forma satisfatória o conflito. Roteiro 10: Teoria do Crime 1. Noções introdutórias 2. Método utilizado 3. Desenvolvimento 4. Conceito de Delito 5. Sujeitos do Crime 6. Objetos 7. Classificações Teoria do Crime 1. Noções Introdutórias 1.1. Trata-se da parte do Direito Penal destinada ao estudo do crime como fato punível, do ponto de vista jurídico, para estabelecer e analisar suas características gerais e suas formas de aparecimento. 1.2. No Direito Penal brasileiro, trabalha-se com uma ampla designação acerca do fato punível, o qual compreende tanto o crime (ou delito) quanto a contravenção. 1.3. O conceito de crime não foi estabelecido pela lei penal, mas apenas pela doutrina. 1.4. Crime, portanto, é a conduta (ação ou omissão) típica, antijurídica e culpável. Teoria do Crime 2. Método utilizado 2.1. O método utilizado para a conceituação de crime é denominado método analítico, o qual cuida da decomposição do objeto de estudo em partes, de forma a permitir sua compreensão. 2.2. Mediante a análise dos pressupostos do conceito de crime, permite-se chegar a um resultado final adequado e justo. Teoria do Crime 3. Desenvolvimento 3.1. Uma vez concebidas pela doutrina de Direito Penal as três matrizes básicas do conceito de delito (tipicidade, antijuridicidade e culpabilidade), passou- se a identificar quatro fases deste conceito dogmático de delito: 3.1.1. Conceito clássico de delito (Liszt-Beling); 3.1.2. Conceito neoclássico ou neokantista de delito (Frank, Mayer, Radbruch e Mezger); 3.1.3. Conceito finalista de delito (Welzel); 3.1.4. Conceito funcionalista ou pós finalista de delito (Roxin e Jakobs). Teoria do Crime 3. Desenvolvimento 3.2. Em linhas gerais, o conceito de delito segue o estágio evolutivo das ciências em geral e o momento ideológico de cada sociedade – não raro, sempre surge uma nova teorização que se propõe suplantar outra anterior. 3.3. Jescheck: “Não há nenhuma teoria do delito que possa ser mais do que um projeto passageiro”. Teoria do Crime 4. Conceito de Delito 4.1. No Brasil, o atual Código Penal não traz uma definição de crime. 4.2. Definições legais revelaram-se contraproducentes, e foram abandonadas justamente para que fossem evitadas dificuldades ao intérprete ou julgador, particularmente em razão da evolução teórica e social. 4.3. Conceito formal: crime é toda ação ou omissão proibida pela lei, sob a ameaça da pena. Teoria do Crime 4. Conceito de Delito 4.4. Conceito material: crime é um desvalor da vida social, uma ação ou omissão que se proíbe e se procura evitar com a ameaça da pena, pois constitui ofensa a um bem ou valor da vida social. 4.5. Conceito analítico: crime é a ação ou omissão típica, antijurídica e culpável. Teoria do Crime 5. Sujeitos do Crime 5.1. O crime compreende dois protagonistas: 5.1.1. O sujeito ativo, isto é, o autor; 5.1.2. O sujeito passivo, ou seja, a vítima. 5.2. Com relação à responsabilidade penal da pessoa jurídica, entende-se que é a lei de cada país que decidirá pela sua punição diante de condutas perpetradas por seus prepostos e em seu benefício. Teoria do Crime 6. Objetos 6.1. Objeto jurídico do crime é o bem ou interesse protegido pela norma penal incriminadora. 6.2. Objeto material do crime é a pessoa ou a coisa sobre a qual incide a conduta delituosa, isto é, para onde converge a ação ou omissão descrita em cada tipo penal. Teoria do Crime 7. Classificações 7.1. Ilícito penal: tem como sanção a imposição de uma pena ou medida de segurança. Ilícito civil: sua violação acarreta outra penalidade, qual seja, a obrigação de compor o prejuízo. 7.2. Não há diferença substancial entre crime (ou delito) e contravenção. Esta constitui apenas a infração penal de menor gravidade, o que se caracteriza pela pena cominada ao fato. 7.3. Crime comum: pode ser praticado por qualquer pessoa. Crime próprio: o tipo exige uma condição ou qualidade especial ao autor. Crime de mão própria: só pode ser praticado pelo autor pessoalmente (não há possibilidade de autoria mediata). Teoria do Crime 7. Classificações 7.4. Crime doloso: há consciência e vontade na direção do resultado. Crime culposo: o resultado desvalioso decorre da violação de um dever de cautela ante sua previsibilidade. Crime preterdoloso: há dolo na conduta inicial e culpa no resultado subsequente. 7.5. Crime consumado: há conduta e resultado. Crime tentado: há conduta e início da execução da ação delituosa, mas não ocorre o resultado, por fatores alheios à vontade do agente. 7.6. Crime comissivo: crime de ação. 7.7. Crime omissivo: crime de inação. Teoria do Crime 7. Classificações 7.8. Crime instantâneo: a consumação se dá em um único momento. 7.9. Crime permanente: a consumação se prolonga no tempo. Crime instantâneo de efeitos permanentes: ocorre a perpetuação das consequências do crime. 7.10. Crime de dano: há efetiva lesão ao bem jurídico. Crime de perigo: se contentam em meramente expor a perigo o bem jurídico, podendo ser perigo concreto ou abstrato. 7.11. Crime material: conduta e resultado naturalístico. 7.12. Crime formal: a consumação não exige a ocorrência do resultado. Teoria do Crime 7. Classificações 7.13. Crime de mera conduta: tipos penais que descrevem somente a conduta. 7.14. Crime unissubjetivo: concurso eventual. 7.15. Crime plurissubjetivo: concurso necessário. 7.16. Crime unissubsistente: ocorre em um único ato. 7.17. Crime plurissubsistente: admitem o fracionamento da conduta em diversos atos. Roteiro 11: Teoria da Conduta 1. Funções 2. Teorias da Conduta 3. Modalidades 4. Ausência de Conduta 5. Resultado Teoria da Conduta 1. Funções 1.1. A análise dogmática do crime deve necessariamente começar pelo enfrentamento do conceito de conduta. 1.2. Constatada a existência de uma conduta penalmente relevante, passar- se-á a análise das demais categorias do conceito de crime. 1.3. A noção de conduta penalmente relevante cumpre três funções básicas: classificação dos delitos, definição dos delitos e exclusão de indiferentes penais. Teoria da Conduta 2. Teorias da Conduta 2.1. Não há uma noção unívoca acerca do conceito de conduta. Cada sistema penal define e analisa a conduta de um modo particular. 2.2. Teoria causalista: 2.2.1. Ação é comportamento humano que causa um resultado; 2.2.2. Os elementos psicológicos (dolo e culpa) não integram a conduta e devem ser analisados dentro da culpabilidade; 2.2.3. Foi objeto de críticas por motivos como não admitir a punibilidade da tentativa e dos comportamentos omissivos. Teoria da Conduta 2. Teorias da Conduta 2.3. Teoria neokantista: foi responsável por apontar os defeitos da teoria anterior. 2.4. Teoria finalista: 2.4.1. Conduta é uma ação ou omissão humana, consciente e voluntariamente dirigida a um fim; 2.4.2. Até hoje é a teoria mais adotada no Brasil; 2.4.3. O elemento psicológico deixou de integrar a culpabilidade e passou a fazer parte da tipicidade, a qual passou a constituir-se de tipo objetivo (o que se exterioriza da conduta) e tipo subjetivo (a finalidade). Teoria da Conduta 2. Teorias da Conduta 2.5. Teoria social da ação: ação é o comportamento socialmente relevante (crítica: a falta de clareza do conceito de relevância social). 2.6. Funcionalismo: 2.6.1. Roxin (funcionalismo penal racional-teleológico) ação é toda conduta positiva ou negativa que expresse a personalidade do sujeito. 2.6.2. Jakobs (funcionalismo penal sistêmico) ação é a produção individual do resultado evitável. A pessoa é aquela que cumpre seu papel social de respeitador das normas. Teoria da Conduta 2. Teorias da Conduta 2.7. Teoria significativa da conduta: 2.7.1. Sugere-se um novo modelo de análise e solução dos problemas da teoria do delito, partindo da premissa normativa de que ação não é algo que os homens fazem, mas sim o significado do que fazem. Teoria da Conduta 3. Modalidades 3.1. Existem duas modalidades de conduta penalmente relevantes: a conduta comissiva e a conduta omissiva. 3.1.1. Ação: conduta comissiva, aquela que exige um fazer. 3.1.2. Omissão: trata-se de não realizar um comportamento esperado, quando no caso concreto havia a possibilidade e o dever de fazê-lo. A omissão será própria ou imprópria. Teoria da Conduta 3. Modalidades 3.2. Omissão própria (ou pura): a conduta se perfaz com a simples não realização da atividade determinada pelo tipo penal incriminador. Os crimes omissivos puros são classificados como crimes de mera conduta. 3.3. Omissão imprópria: corresponde às hipóteses em que o agente (omitente) se coloca em uma posição especial de proteção para com o bem jurídico (ele será o agente garantidor da não ocorrência do resultado criminoso). Trata-se dos crimes chamados de comissivos por omissão. Teoria da Conduta 4. Ausência de Conduta 4.1. Inexiste conduta quando o agente atua sem voluntariedade. 4.2. A consequência da ausência de conduta é a desnecessidade dogmática de se perquirir acerca dos demais pressupostos do crime (tipicidade, antijuridicidade e culpabilidade). 4.3. São três as hipóteses de excludentes de ação: 4.3.1. Coação física irresistível: trata-se da força física superior que retira a voluntariedade do agir humano. O hipotético “autor do fato” (o coato) torna-se mero instrumento do verdadeiro autor (o coator). Teoria da Conduta 4. Ausência de Conduta 4.3.2. Atos reflexos: aqueles em que a inervação muscular ou sua ausência é acarretada por estímulos dirigidos diretamente ao sistema nervoso autônomo. 4.3.3. Estados de inconsciência: estado do organismo humano que igualmente anula a voluntariedade da conduta, como o que ocorre com o sonambulismo ou a hipnose. Teoria da Conduta 5. Resultado 5.1. A dogmática penal compreende a ideia de resultado sob dois enfoques: o resultado jurídico e o resultado material. 5.2. Resultado jurídico: do ponto de vista jurídico ou normativo, resultado compreende a lesão ou perigo de lesão do bem jurídico. 5.3. Resultado material: é a consequência da conduta realizada, a alteração do mundo exterior. 5.4. Sob o enfoque material, a doutrina sustenta que há delitos sem resultado, como ocorre com os chamados delitos formais ou de mera conduta. Nestes casos, o tipo somente descreve a conduta ou, descrevendo conduta e resultado, prescinde deste último. Roteiro 12: Causalidade e Imputação Objetiva 1. Noções Introdutórias 2. Teoria da Equivalência dos Antecedentes 3. Teoria da Causalidade Adequada 4. Superveniência Causal 5. Teoria da Imputação Objetiva Causalidade e Imputação Objetiva 1. Noções Introdutórias 1.1. Nos crimes materiais, deve ser estabelecida a relação de causalidade entre ação e resultado. Para determinar quando o autor deu causa ao resultado, existem diversas teorias. 1.2. A relevância da matéria reside no fato de a causalidade constituir limitação à responsabilidade penal: o crime não pode ser atribuido a quem não deu causa a ele. Causalidade e Imputação Objetiva 2. Teoria da Equivalência dos Antecedentes 2.1. Também denominada teoria da conditio sine qua non. 2.2. Sustenta que são causas de um resultado todas as condições que colaboram para a sua produção, independentemente de sua maior ou menor proximidade ou do grau de importância. 2.3. O método da eliminação hipotética resolve a questão de saber quando uma conduta funciona como causa de um resultado. Causalidade e Imputação Objetiva 2. Teoria da Equivalência dos Antecedentes 2.4. Eliminação hipotética: 2.4.1. Uma conduta causou o resultado quando, eliminada mentalmente, faz desaparecer também o resultado; 2.4.2. Criticada essencialmente em razão do regresso ao infinito, por não se ter como limitar a extensão desta eliminação. Causalidade e Imputação Objetiva 3. Teoria da Causalidade Adequada 3.1. Procurou corrigir as limitações da equivalência das condições, sobrepondo-lhe um juízo de valor para além da constatada causalidade natural. 3.2. Considera-se causa a condição que for mais adequada à produção do resultado. 3.3. Para tanto, utiliza-se do chamado juízo de prognose objetivo-posterior, ou seja, o juiz deve se colocar, objetivamente, na posição de alguém que estivesse de posse das informações disponíveis sobre determinado episódio. Causalidade e Imputação Objetiva 3. Teoria da Causalidade Adequada 3.4. Entende que não é razoável retroceder para além do fator adequado à produção do resultado, na busca pela sua causa. 3.5. Esta teoria introduz o critério da previsibilidade, antecipando a questão da responsabilidade. Causalidade e Imputação Objetiva 4. Superveniência Causal 4.1. Diante das limitações da teoria da equivalência dos antecedentes – prevista no caput do artigo 13 CP – o legislador tratou de prever a teoria da causalidade adequada nos termos do § 1º deste mesmo artigo. 4.2. Quanto ao processo físico de sucessão de causas naturais, somente as concausas absolutamente independentes rompem o nexo de causalidade. Causalidade e Imputação Objetiva 4. Superveniência Causal 4.3. As concausas relativamente independentes não rompem o nexo de causalidade. Isto porque, se de um lado, elas são relativamente independentes, do outro, elas são relativamente dependentes da causa originária. Estão, assim, parcialmente atreladas aos fatores naturais originais. 4.4. Pelo fator cronológico, as concausas podem ser preexistentes, concomitantes ou supervenientes. Pelo fator origem, podem ser absoluta ou relativamente independentes. Causalidade e Imputação Objetiva 5. Teoria da Imputação Objetiva 5.1. Teorias por meio das quais se pretende reduzir o alcance, por vezes considerado excessivo, da equivalência dos antecedentes. 5.2. Roxin: 5.2.1. Teoria do risco ou sistema racional-teleológico; 5.2.2. Exclusão da imputação do resultado diante da diminuição do risco ao bem jurídico ou diante da falta de criação de perigo para este. Causalidade e Imputação Objetiva 5. Teoria da Imputação Objetiva 5.3. Jakobs: 5.3.1. Teoria dos papéis; 5.3.2. O comportamento humano está vinculado a determinados papeis sociais, desconsiderando a causalidade nas hipóteses em que não houver a frustração destes; 5.3.3. Quatro critérios de imputação: risco permitido, princípio da confiança, proibição de regresso e competência ou capacidade da vítima. Roteiro 13: Teoria do Tipo Doloso 1. Noções Introdutórias 2. Bem Jurídico e Elemento do Delito 3. Tipicidade Penal 4. Classificações 5. Elementos do Tipo Objetivo 6. Elementos do Tipo Subjetivo 7. Elemento Subjetivo do Tipo Teoria do Tipo Doloso 1. Noções Introdutórias 1.1. Tipo: conjunto dos elementos objetivos e subjetivos contidos na norma penal incriminadora. 1.2. Funções do tipo: 1.2.1. Sistemática: o tipo abarca o conjunto dos elementos que possibilitam informar se e qual delito ocorreu no caso concreto; 1.2.2. Dogmática: consiste em descrever os elementos cujo desconhecimento exclui-se o dolo; 1.2.3. Político-criminal: função de garantia com assento constitucional, sendo a tradução dogmática do postulado da reserva legal. Teoria do Tipo Doloso 2. Bem Jurídico e Elemento do Delito 2.1. Todo tipo penal tutela um ou mais bens jurídicos, não devendo haver um tipo penal sem que haja um bem jurídico a ele conectado. 2.2. Um longo caminho foi percorrido pela teoria do tipo penal até que passasse a integrar a estrutura do crime. A evolução do tipo contou com as seguintes fases: 2.2.1. Tipo objetivado e livre de valor; 2.2.2. O descobrimento do tipo subjetivo; 2.2.3. O caráter valorativo do tipo; Teoria do Tipo Doloso 2. Bem Jurídico e Elemento do Delito 2.2.4. O tipo como ratio essendi da antijuridicidade; 2.2.5. A teoria dos elementos negativos do tipo; 2.2.6. O finalismo. Teoria do Tipo Doloso 3. Tipicidade Penal 3.1. É a conformidade do fato praticado pelo agente com a moldura abstratamente descrita na lei penal. 3.2. Correspondência entre o fato praticado pelo agente e a descrição de cada espécie de infração contida na lei penal incriminadora. Teoria do Tipo Doloso 3. Tipicidade Penal 3.3. O processo de adequação típica pode se dar de duas formas: 3.3.1. Adequação típica imediata ou direta, quando o fato concreto se subsume ao modelo descrito no tipo penal, sem necessidade do concurso de qualquer outra norma; 3.3.2. Adequação típica mediata ou indireta, quando existe uma conduta que, embora não se amolde imediatamente a um crime descrito na lei penal, é tida como típica em razão da incidência de uma norma (chamada de norma de extensão). Teoria do Tipo Doloso 4. Classificações 4.1. O tipo penal é objeto de algumas naturezas de classificações. 4.1.1 Tipo fechado: a conduta pode ser perfeitamente individualizada, sem a necessidade de recorrer-se a outros elementos além dos fornecidos pela própria lei no tipo penal. 4.1.2. Tipo aberto: não existe por completo a descrição da conduta ilícita, é preciso que o juiz a complemente. 4.1.3. Tipo básico: é a forma fundamental da figura delituosa, geralmente prevista no caput do dispositivo legal; compreende as elementares do crime. Teoria do Tipo Doloso 4. Classificações 4.1.4. Tipo derivado: é o desdobramento da forma básica, a ela sendo agregados elementos ou circunstâncias que tornam a conduta mais ou menos grave. 4.1.5. Tipo simples: contém uma só espécie de conduta punível, isto é, somente um verbo núcleo. 4.1.6. Tipo misto: apresenta mais de uma forma de realização do fato delituoso, prevendo mais de uma conduta e, portanto, contendo mais de um verbo núcleo. Teoria do Tipo Doloso 5. Elementos do Tipo Objetivo 5.1. O tipo objetivo representa a exteriorização da vontade que concretiza o tipo subjetivo. Contém sempre elementos descritivos e, em alguns casos, elementos normativos. 5.2. Elementos descritivos: expressões do tipo que são compreendidas de imediato, pela simples constatação sensorial. 5.3. Elementos normativos: expressões cuja exata compreensão demanda uma atividade valorativa no próprio campo da tipicidade, podendo compreender um conceito cultural ou mesmo uma expressão jurídica. Teoria do Tipo Doloso 6. Elementos do Tipo Subjetivo 6.1. O conhecimento e a identificação da intenção (vontade e consciência) do agente são indispensáveis para que se classifique um comportamento como típico. 6.2. O tipo subjetivo é constituído de um elemento geral – o dolo –, o qual, por vezes, é acompanhado de elementos especiais – intenções e tendências –, que são elementos acidentais. 6.3. O dolo como elemento subjetivo geral é a consciência e vontade (saber e querer) da realização da conduta descrita no tipo penal. Compreende um aspecto cognitivo (a consciência) e um aspecto volitivo (a vontade). Teoria do Tipo Doloso 6. Elementos do Tipo Subjetivo 6.4. São três as espécies de dolo: 6.4.1. Dolo direto de primeiro grau o agente quer o resultado criminoso como fim de sua ação; 6.4.1. Dolo direto de segundo grau o fim proposto e os meios escolhidos são abrangidos imediatamente, pela vontade consciente do agente, mas os efeitos colaterais necessários em face da natureza do fim proposto ou dos meios empregados são abrangidos mediatamente; 6.4.2. Dolo eventual o agente não quer diretamente a realização do tipo, mas aceita como possível ou até provável a sua realização, demonstrando indiferença com relação a isto. Teoria do Tipo Doloso 7. Elemento Subjetivo do Tipo 7.1. Também chamado de dolo específico, consiste no especial fim de agir. 7.2. O dolo é o elemento subjetivo geral dos comportamentos dolosos, mas não é o único componente subjetivo destes. Teoria do Tipo Doloso 7. Elemento Subjetivo do Tipo 7.3. São três as principais espécies classificadas pela doutrina. 7.3.1. Delitos de intenção: situações caracterizadas por uma intenção que ultrapassa o tipo objetivo para se fixar em resultados que não precisam ser concretamente realizados, mas que devem existir no psiquismo do autor. 7.3.2. Delitos de tendência: há uma tendência afetiva do autor que impregna a ação típica (por exemplo, nos crimes sexuais, a tendência voluptuosa adere à ação típica, atribuindo o caráter sexual ao comportamento do autor). 7.3.3. Delitos de atitude: existência de estados anímicos que informam a dimensão subjetiva do tipo e intensificam ou agravam o conteúdo do injusto, mas não representam um desvalor social independente, como a crueldade, a má-fé e a traição. Roteiro 14: Teoria do Tipo Culposo 1. Noções Introdutórias 2. Elementos do Tipo Culposo 3. Espécies de Culpa 4. Culpa Imprópria 5. Dolo Eventual e Culpa Consciente 6. Concorrência e Compensação de Culpa 7. Crimes Qualificados pelo Resultado Teoria do Tipo Culposo 1. Noções Introdutórias 1.1. No Brasil, os crimes, em regra, são punidos a título de dolo. Artigo 18, parágrafo único CP: a modalidade culposa tem que estar expressamente prevista em lei. 1.2. A definição de crime culposo é mais complexa do que a previsão legal: trata-se dos casos em que o agente, violando o cuidado a que estava adstrito, causa o resultado que podia prever, ou que previu, supondo, levianamente, que não ocorreria. Teoria do Tipo Culposo 2. Elementos do Tipo Culposo 2.1. Diferentemente da estrutura relativa ao crime doloso, a do crime culposo engloba conduta humana, resultado e nexo de causalidade, além de compreender a imputação objetiva. 2.2. São quatro os elementos que precisam estar presentes na conduta praticada para que se esteja diante de um crime culposo: 2.2.1. Conduta lícita por si só, a conduta não é reprovável, somente adquirindo o status de ilícita em razão do resultado a que deu causa; 2.2.2. Previsibilidade o resultado deve ser previsível de forma objetiva (isto é, para o “homem médio”) e de forma subjetiva (para o agente nas circunstâncias concretas); Teoria do Tipo Culposo 2. Elementos do Tipo Culposo 2.2.3. Inobservância das normas de atenção, cuidado ou diligência pode ocorrer por meio de imprudência (comportamento comissivo), negligência (comportamento omissivo) ou imperícia (falta de capacidade, despreparo ou insuficiência de conhecimento técnico para exercício de arte, profissão ou ofício); 2.2.4. Resultado lesão do bem jurídico, a qual deve estar em relação de causalidade com a ação ou omissão contrária ao dever de cuidado. Teoria do Tipo Culposo 3. Espécies de Culpa 3.1. Culpa consciente (culpa com previsão): 3.1.1. Ocorre a efetiva previsão do resultado, sem que se aceite o risco de produzi-lo; 3.1.2. O agente crê, por confiança em si próprio ou por leviandade, que poderá evitar o previsível resultado. 3.2. Culpa inconsciente (culpa sem previsão): 3.2.1. O agente não previu o resultado que poderia e deveria ter previsto; 3.2.2. Apesar da previsibilidade, não há previsão, por descuido, desatenção ou simples desinteresse. Teoria do Tipo Culposo 4. Culpa Imprópria 4.1. Trata-se, na verdade, de uma conduta dolosa à qual a lei reservou pena de um crime culposo, já que este é sancionado de forma mais branda que um crime doloso. 4.2. É o que ocorre com as descriminantes putativas: o agente erra sobre a ilicitude de seu comportamento, sabendo perfeitamente que realiza a conduta típica, tanto do ponto de vista objetivo como subjetivo. Ele sabe o que faz, mas supõe erroneamente que estaria permitido. Exclui-se não a tipicidade, mas sim a reprovabilidade da ação. Teoria do Tipo Culposo 5. Dolo Eventual e Culpa Consciente 5.1. Dolo eventual e culpa consciente apresentam um traço em comum: em ambos os casos o agente previu o resultado. No primeiro caso, não se importou com ele, e no segundo, não acreditou na sua ocorrência. 5.2. Para diferenciá-los, é preciso recorrer às chamadas teorias do dolo eventual. 5.2.1. Teorias cognitivas: teorias nas quais prepondera o aspecto da previsão, isto é, a consciência sobre o resultado. As mais importantes são a Teoria da Possibilidade e a Teoria da Probabilidade. 5.2.2. Teorias volitivas: deve preponderar a vontade sobre a previsão, ou seja, a distinção entre dolo eventual e culpa consciente é feita com base no aspecto volitivo (na postura que o agente adota frente à perspectiva do resultado). Teoria do Tipo Culposo 5. Dolo Eventual e Culpa Consciente 5.3. O Código Penal brasileiro optou pelas correntes volitivas, uma vez que é o aspecto volitivo que demarca o dolo, seja direto, seja eventual, apartando-o da culpa consciente ou inconsciente 5.4. Quanto à diferença entre dolo eventual e culpa consciente, deve-se optar pelas teorias volitivas (do consentimento ou da indiferença). Elas concluem que se o agente tolera a produção do resultado, se o resultado lhe é indiferente, terá operado com dolo eventual. Teoria do Tipo Culposo 6. Concorrência e Compensação de Culpa 6.1. Havendo concorrência de culpas, isto é, cada um violando o seu dever de cuidado, haverá a punição isolada de cada autor (autoria colateral). 6.2. Não se admite a chamada compensação de culpas, ficando cada um responsável pelo dever de cuidado inobservado. Da mesma forma, eventual culpa concorrente da vítima não exclui a do agente. Só há a exclusão quando ocorrer a culpa exclusiva da vítima. Teoria do Tipo Culposo 7. Crimes Qualificados pelo Resultado 7.1. Crime preterdoloso (ou preterintencional) é aquele em que a conduta produz um resultado mais grave do que o pretendido pelo sujeito. 7.2. Trata-se de uma espécie do gênero crimes qualificados pelo resultado. O resultado que agrava a pena pode se dar a título de dolo ou culpa. Roteiro 15: Teoria do Tipo Omissivo 1. Noções Introdutórias 2. Causalidade na Omissão 3. Tipos Omissivos Próprios 4. Tipos Omissivos Impróprios 5. A posição de Garantidor 6. Particularidades da Omissão Imprópria Teoria do Tipo Omissivo 1. Noções Introdutórias 1.1. Omissão é a abstenção de atividade que o agente podia e devia realizar. Trata-se de não fazer algo que, nas circunstâncias, era ao agente imposto pelo direito e que lhe era possível submeter ao seu poder final de realização. 1.2. A omissão penalmente relevante é aquela que desatende ao comando normativo que espera a ação para proteger determinado bem jurídico. 1.3. O mero não fazer desvinculado da norma jurídica, ainda que afrontoso de preceitos morais, éticos ou religiosos, é penalmente irrelevante. Teoria do Tipo Omissivo 2. Causalidade na Omissão 2.1. Não se considera apropriado falar na existência de uma relação de causalidade física (material) entre a omissão e o resultado, visto que, como é de conhecimento geral, do nada, nada surge. 2.2. Na omissão, não há o nexo de causalidade, há o nexo de não- impedimento. A omissão se relaciona com o resultado pelo seu não-impedimento e não pela sua causação. Teoria do Tipo Omissivo 3. Tipos Omissivos Próprios 3.1. Também chamados de crimes omissivos puros, trata-se daquele que se perfaz com a simples abstenção que viola o dever legal de agir previsto na norma penal incriminadora. 3.2. Trata-se de delito de mera conduta, geralmente crime de perigo, nos quais o legislador se contenta com a desobediência à norma mandamental, sendo desnecessária a verificação material de qualquer evento. Teoria do Tipo Omissivo 3. Tipos Omissivos Próprios 3.3. Está categoricamente afastada a possibilidade de tentativa nesta espécie de delito, uma vez que trata-se de delito unissubsistente. Da mesma maneira, não há coautoria ou participação punível nos crimes omissivos próprios. 3.4. Se alguém, pela violência ou ameaça, impede a ação devida, praticará crime comissivo, tendo em vista o resultado. Por fim, não há autoria mediata em crime omissivo. Teoria do Tipo Omissivo 4. Tipos Omissivos Impróprios 4.1. Também denominados comissivos por omissão ou de omissão qualificada, são aqueles que se perfazem quando o omitente, pela posição especial em que se colocou, não evita a produção do resultado que estava obrigado a impedir. 4.2. Enquanto na omissão própria a tipicidade se opera por meio de uma única norma penal (incriminadora), no delito comissivo por omissão faz-se necessária uma segunda norma para a aferição da tipicidade de determinada inação. Teoria do Tipo Omissivo 5. A posição de Garantidor 5.1. Artigo 13, § 2º, CP: o dever de agir incumbe a quem: 5.1.1. Tenha, por lei, obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; 5.1.2. De outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado; 5.1.3. Com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado. Teoria do Tipo Omissivo 6. Particularidades da Omissão Imprópria 6.1. O dever de impedir o resultado, que incumbe àqueles que se encontram nas circunstâncias relacionadas nas alíneas “a”, “b” e “c”, do citado § 2º, exige aptidões físicas e proximidade espacial entre o sujeito e a vítima. 6.2. O tipo subjetivo requer a consciência da posição de garantidor. O erro quanto a esse estado é o erro de tipo, que exclui o dolo. 6.3. No crime comissivo por omissão culposo, o agente viola duas ordens normativas: a primeira corresponde ao referido dever de agir; a segunda, ao dever objetivo de cuidado. Teoria do Tipo Omissivo 6. Particularidades da Omissão Imprópria 6.4. A tentativa é perfeitamente possível nos crimes de omissão imprópria. Como se trata de um delito material, o resultado poderá não se verificar por circunstâncias alheias à vontade do garantidor. 6.5. O delito de omissão imprópria requer do sujeito uma qualidade especial. Em razão disso, não cabe falar em coautoria ou em participação Roteiro 16: Antijuridicidade 1. Noções introdutórias 2. Terminologia 3. Aspectos Formal e Material 4. Causas de Exclusão 5. Elemento Subjetivo nas Causas de Justificação 6. Excesso nas Causas Justificantes 7. Estado de Necessidade e Legítima Defesa 8. Estrito Cumprimento de Dever Legal e Exercício Regular de Direito Antijuridicidade 1. Noções Introdutórias 1.1. Antijuridicidade é o juízo de contrariedade entre a conduta típica e o ordenamento jurídico no conjunto de suas proibições e permissões. 1.2. O legislador faz uma eleição dos comportamentos que violam os bens jurídicos mais relevantes, selecionando, assim, as condutas ilícitas. Se, no entanto, a conduta estiver coberta por uma causa justificante, resta afastada a antijuridicidade. Antijuridicidade 2. Terminologia 2.1. A doutrina brasileira utiliza, indistintamente, as expressões antijuridicidade e ilicitude. 2.2. A antijuridicidade é noção de contrariedade para com o ordenamento jurídico, e o injusto é a conduta em si avaliada como antijurídica. A antijuridicidade é uma qualidade do injusto. 2.3. Antinormatividade é a contradição do fato realizado para com a norma proibitiva do tipo pena pertinente. A realização da conduta típica acarreta sua antinormatividade. Mas, para que haja antijuridicidade, é preciso comparar o fato com o conjunto das normas proibitivas e permissivas 2.4. Teoria da tipicidade conglobante (Zaffaroni): a tipicidade penal pressupõe a tipicidade legal, exigindo, porém, que a conduta seja antinormativa. Antijuridicidade 3. Aspectos Formal e Material 3.1. A antijuridicidade formal consiste na contradição do fato para com o conjunto de normas jurídicas. 3.2. A antijuridicidade material, é a consideração desse mesmo fato, sob o aspecto do desvalor da lesão ou perigo acarretado ao bem jurídico. 3.2.1. Quanto à antijuridicidade material, além da contradição da conduta praticada com a previsão da norma, é necessário que o bem jurídico protegido sofra a ofensa ou a ameaça potencializada pelo comportamento desajustado. Antijuridicidade 4. Causas de Exclusão 4.1. Pode ocorrer a incidência de uma causa que exclua a antijuridicidade do fato, mantendo-se apenas sua tipicidade. Quando isto ocorre, não há o crime. 4.2. Assim, pode-se dizer que os comportamentos típicos são, em regra, ilícitos, salvo se estiver presente uma causa de justificação. 4.3. Podem ser classificadas em três grandes grupos: 4.3.1. Causas que defluem de situação de necessidade (legítima defesa e estado de necessidade); 4.3.2. Causas que defluem da atuação do direito (exercício regular de direito, estrito cumprimento de dever legal); Antijuridicidade 4. Causas de Exclusão 4.3.3. Causa que deflui de situação de ausência de interesse (consentimento do ofendido). 4.4. Consentimento do ofendido – requisitos: 4.4.1. Ofendido com capacidade jurídica para consentir, ou seja, com maturidade e sanidade mental; 4.4.2. Manifestação de vontade idônea, isto é, não obtida por coação, simulação, fraude, erro e outros defeitos previstos na lei civil; 4.4.3. Consentimento para lesão de bens disponíveis (ex: liberdade de locomoção, patrimônio, honra, etc.); 4.4.4. Que o consentimento ocorra antes ou durante a realização da conduta por parte do agente. Antijuridicidade 5. Elemento Subjetivo nas Causas de Justificação 5.1. É preciso que o agente conheça a situação justificante e que atue amparado pelo Direito. 5.2. Como as justificações excluem não somente o desvalor do resultado, mas o próprio desvalor da ação típica, a ausência dos elementos subjetivos das justificações significa dolo não justificado de realização do injusto. 5.3. As condutas justificantes devem ser finais como todas as condutas humanas. Antijuridicidade 6. Excesso nas Causas Justificantes 6.1. Hipóteses em que, embora agindo, inicialmente, acobertado por uma justificante, o agente extrapola a autorização legal, lesionando desarrazoadamente bem jurídico alheio. 6.2. Excesso é a intensificação desnecessária da conduta inicialmente justificada. Pode ocorrer de forma culposa ou dolosa. Antijuridicidade 7. Estado de Necessidade e Legítima Defesa 7.1. A diferença fundamental entre estado de necessidade e legítima defesa (que é uma espécie do estado de necessidade) é que, no primeiro, há uma ação e, na segunda, uma reação. 7.2. No estado de necessidade há o ataque a um bem jurídico protegido em razão de uma situação de perigo, enquanto que, na legítima defesa, ocorre uma reação a uma agressão humana injusta. Antijuridicidade 7. Estado de Necessidade e Legítima Defesa 7.3. Estado de Necessidade: Bem jurídico sacrificado de Bem jurídico protegido de Estado de Necessidade Menor Valor Maior Valor Justificante Igual Valor Igual Valor Justificante Maior valor Menor valor Exculpante Antijuridicidade 7. Estado de Necessidade e Legítima Defesa 7.4. Espécies: 7.4.1. Real (legítima defesa propriamente dita); 7.4.2. Putativa (decorrente de erro acerca da existência dos elementos objetivos); 7.4.3. Sucessiva (quando há excesso no exercício da legítima defesa pelo originalmente agredido); 7.4.4. Recíproca (hipotética presença de duas legítimas defesas reais, o que é inadmissível; é a chamada legítima defesa da legítima defesa, e é inadmissível). Antijuridicidade 8. Estrito Cumprimento de Dever Legal e Exercício Regular de Direito 8.1. Estrito cumprimento de dever legal: situações em que a lei determina que seus executores realizem atos que lesionam bens jurídicos alheios 8.2. Exercício regular de direito: será regular o direito subjetivo exercitado dentro dos parâmetros legais ou consoante as prescrições do Poder Público, já que o exercício jurídico não pode ser ao mesmo tempo, antijurídico. Ofendículas: defesas predispostas, que significam dispositivos ou instrumentos objetivando impedir ou dificultar a ofensa ao bem jurídico protegido. Roteiro 17: Culpabilidade 1. Noções introdutórias 2. Evolução Dogmática 3. Elementos 4. Imputabilidade 5. Potencial Conhecimento da Antijuridicidade 6. Exigibilidade de Conduta Diversa 7. Emoção e Paixão 8. Embriaguez 9. Estado de Necessidade Exculpante Culpabilidade 1. Noções Introdutórias 1.1. Culpabilidade é o último elemento da Teoria do Crime. Refere-se à reprovabilidade do indivíduo, isto é, é a capacidade de ser culpável, de condicionar o comportamento do indivíduo de acordo com o Direito. 1.2. A maioria da doutrina pátria considera que o fato típico e antijurídico somente se converte em delito quando se reprova o seu autor. Haveria, dessa maneira, uma dupla função da culpabilidade: elemento do delito e critério mensurador da aplicação da pena. Culpabilidade 2. Evolução Dogmática 2.1. Teoria Causalista (Liszt e Beling): culpabilidade era sinônimo de dolo ou culpa. 2.2. Teoria Neokantista: formulou as críticas à concepção puramente psicológica da teoria anterior. Culpabilidade passou a ser entendida como reprovabilidade, sendo composta ainda pelo dolo e culpa, junto a outros requisitos normativos. Culpabilidade 2. Evolução Dogmática 2.3. Teoria Finalista (Welzel): passou-se a distinguir, de maneira mais técnica, a vontade de ação como objeto de valoração (que foi remetida para o tipo subjetivo) da valoração do objeto, consistente no juízo de reprovabilidade ante a motivação do autor. 2.4. Teoria da atitude interna deficiente: o juízo de reprovabilidade possui um objeto próprio, que é a atitude interna juridicamente deficiente do autor, a partir da qual se originou a resolução do cometimento do fato. Culpabilidade 3. Elementos 3.1. A culpa passa a consistir na reprovabilidade da conduta ilícita (típica e antijurídica) de quem tem capacidade genérica de entender e querer (imputabilidade) e podia, nas circunstâncias em que o fato ocorreu conhecer a sua ilicitude, sendo-lhe exigível comportamento que se ajuste ao direito. 3.2. São três os elementos ou requisitos da culpabilidade: a) imputabilidade; b) potencial conhecimento da ilicitude; e c) Exigibilidade de Conduta Diversa. Culpabilidade 4. Imputabilidade 4.1. Conjunto de condições pessoais que dão ao agente a capacidade livre de autodeterminação. 4.2. Pressupõe a existência de dois requisitos: 4.2.1. Maturidade, que para o Direito Penal brasileiro, se inicia aos 18 anos de idade; 4.2.2. Sanidade, aferida pelo critério biopsicológico, o qual afasta a imputabilidade se o agente sofrer de enfermidade ou retardo mental e se, no momento da prática da conduta criminosa, era incapaz de entendimento ou de controle de seus impulsos antijurídicos. Culpabilidade 4. Imputabilidade 4.3. Imputabilidade diminuída ou semi-imputabilidade: instâncias intermediárias que figuram entre a plena capacidade penal e a inimputabilidade. Em tais situações, prepondera, ainda, o critério biopsicológico. 4.4. Assim, em razão da perturbação mental ou de desenvolvimento mental incompleto ou retardado, que o agente não pudesse entender completamente o caráter antijurídico do fato ou, embora detendo tal percepção, não pudesse se determinar de acordo com a norma. Culpabilidade 5. Potencial Conhecimento da Antijuridicidade 5.1. O juízo de censura pressupõe que o agente saiba ou possa atingir a percepção de que o fato que praticou era antijurídico. 5.2. A ausência ou errônea compreensão da ilicitude do fato acarreta aquilo que se denomina de erro sobre o que é proibido (erro de proibição). 5.3. Se o agente não sabia e nem poderia atingir aquele conhecimento, tratar- se-á de um erro invencível ou escusável. Ao revés, se o agente, com um pouco de cuidado ou diligencia, pudesse atinar para a antijuridicidade do fato, o erro de proibição passará a ser vencível ou inescusável. Culpabilidade 6. Exigibilidade de Conduta Diversa 6.1. Constatação de que o agente deveria e poderia ter agido de outro modo, isto é, que ele poderia ter adotado uma resolução de vontade de acordo com o ordenamento jurídico e não a resolução de vontade antijurídica. 6.2. Existem duas figuras que excluem este elemento: 6.2.1. Coação moral irresistível, mediante a promessa de mal sério (ameaça); 6.2.2. Obediência hierárquica (artigo 22 CP), uma vez que o servidor público não pode questionar a determinação recebida da instância superior, salvo se manifestamente ilegal. Culpabilidade 7. Emoção e Paixão 7.1. Emoção: estado afetivo que produz momentânea perturbação da personalidade e afeta o equilíbrio psíquico, acarretando alterações somáticas, com fenômenos neurovegetativos e motores. 7.2. Paixão é a emoção-sentimento, ou seja, um processo afetivo duradouro. 7.3. Embora não excluam a culpabilidade, tais estados de afetação humana podem incidir como causas de diminuição de pena. Culpabilidade 8. Embriaguez 8.1. Intoxicação aguda causada pelo álcool ou substância de efeito análogo. 8.2. O suporte teórico para a reprovabilidade penal repousa na teoria da actio libera in causa, segundo a qual antecipa-se o juízo de reprovação para alcançar o momento anterior ao estado de embriaguez, quando o agente era livre para determinar-se conforme o Direito. 8.3. Fala-se em três estágios da embriaguez: excitação, depressão e sono. O primeiro constitui a chamada embriaguez incompleta e os demais a embriaguez completa. Culpabilidade 8. Embriaguez 8.4. São quatro as espécies de embriaguez, a saber: 8.4.1. Fortuita ou acidental decorre de caso fortuito (não previsível para a generalidade das pessoas) ou força maior (involuntário e inevitável). Se completa, exclui a imputabilidade (artigo 28, §§ 1º e 2º, CP). 8.4.2. Voluntária ou culposa na primeira, há consciência e vontade da ingestão da substância; na segunda, violando o dever de cuidado, o agente imprudentemente ingere a substância vindo, a ficar embriagado. A lei penal equipara as duas hipóteses, não lhes retirando o juízo de reprovabilidade caso venha a ser praticado algum fato delituoso (art. 28, II, CP). Culpabilidade 8. Embriaguez 8.4.3. Preordenada o agente dolosamente ingere álcool ou substância de efeito análogo, para criar coragem para a prática de delito comissivo. Existe, para esta, a previsão legal de uma maior reprovabilidade (artigo 62, II, “e”, CP). 8.4.4. Patológica decorrente do alcoolismo, isto é, cuida-se de doença incurável, embora passível de controle. O alcoólatra poderá vir a ser isento de pena caso a perícia comprove a sua doença mental (artigo 26 CP). Culpabilidade 9. Estado de Necessidade Exculpante 9.1. A lei penal brasileira reconhece, apenas, a figura do estado de necessidade justificante (artigo 24 CP). Aquilo que corresponderia ao estado de necessidade exculpante – o sacrifício de bem maior valor do que aquele salvaguardado – funciona, somente, como atenuação da reprovabilidade (artigo 24, § 2º, CP). 9.2. Parte da doutrina sustenta que a teoria diferenciadora entre os estados de necessidade justificante e exculpante pode ser aplicada como causa supralegal de exclusão da culpabilidade, quando não puder ser exigido do agente, no caso concreto, um comportamento conforme o Direito. Roteiro 18: Teoria do Erro Jurídico-Penal 1. Noções introdutórias 2. Classificações 3. Evolução Dogmática 4. Erro de Tipo 5. Erro de Proibição 6. Descriminantes Putativas 7. Erro sobre a Pessoa 8. Erro sobre o Objeto 9. Erro provocado por Terceiro Teoria do Erro Jurídico-Penal 1. Noções Introdutórias 1.1. Para fins penais, considera-se como erro a falsa representação da realidade. Ao erro equipara-se a ignorância, ou seja, a ausência daquela representação. 1.2. Reconhece-se duas situações nas quais a formação equivocada da ideia no agente pode repercutir na caracterização do fato criminoso: 1.2.1. Pode excluir o dolo do agente, configurando erro de tipo (equívoco quanto às elementares do tipo); 1.2.2. Ou pode afetar somente a sua culpabilidade, configurando erro de proibição (incidente sobre a compreensão da antijuridicidade do fato). Teoria do Erro Jurídico-Penal 2. Classificações 2.1. Além da divisão entre erro de tipo e erro de proibição, outras classificações devem ser apresentadas. 2.1.1. Erro invencível (ou inevitável, ou escusável): equívoco que qualquer indivíduo, quando colocado no lugar do agente, também cometeria. 2.1.2. Erro vencível (ou evitável, ou escusável): poderia ser contornado por uma pessoa diligente que estivesse no lugar do agente. 2.1.3. Erro essencial: traz consequências para a tipicidade e para a antijuridicidade. 2.1.4. Erro acidental: não o faz, pois diz respeito a pequenos desvios no processo de representação. Teoria do Erro Jurídico-Penal 3. Evolução Dogmática 3.1. Teoria extremada do dolo: 3.1.1. Concebia o dolo na culpabilidade e a consciência da antijuridicidade no próprio dolo; 3.1.2. Caso o agente soubesse o que estava realizando, mas ignorasse, no momento da ação, a antijuridicidade do seu atuar, todo o dolo seria excluído. 3.2. Teoria limitada do dolo: 3.2.1. Segue-se a disposição precedente, mas substitui-se o conhecimento atual da antijuridicidade, acima mencionado, pelo conhecimento potencial; Teoria do Erro Jurídico-Penal 3. Evolução Dogmática 3.2.2. Caso o agente não soubesse, mas demonstrasse desprezo ou indiferença para com as leis, continuaria a responder pela culpabilidade dolosa. 3.3. Teoria extremada da culpabilidade: 3.3.1. O dolo e a culpa passaram a ser analisados no tipo penal, permanecendo a consciência da antijuridicidade (atual ou potencial) na culpabilidade; 3.3.2. Feitas tais modificações dogmáticas na estrutura do crime, surgiram as categorias do erro de tipo e do erro de proibição. Teoria do Erro Jurídico-Penal 3. Evolução Dogmática 3.4. Teoria limitada da culpabilidade: 3.4.1 Concorda com as premissas da teoria anterior; 3.4.2. Há que se distinguir o erro que recai sobre os pressupostos fáticos de uma causa de justificação do erro que incide sobre a existência ou os limites jurídicos de uma causa justificante. 3.5. A divergência basilar entre as duas correntes restringe-se unicamente ao tratamento da descriminante putativa, pois, para a primeira teoria (extremada), constitui-se erro de proibição, ao passo que, para a segunda (limitada), constitui- se erro de tipo permissivo, com o mesmo efeito do erro de tipo propriamente considerado. Teoria do Erro Jurídico-Penal 3. Evolução Dogmática 3.6. Teoria dos elementos negativos do tipo: 3.6.1. Concebe o tipo total de injusto, inserindo, no tipo penal, as causas de justificação; 3.6.2. O erro, nas descriminantes putativas fáticas, seria erro de tipo e como tal excluiria o dolo. Teoria do Erro Jurídico-Penal 4. Erro de Tipo 4.1. Incide sobre as elementares ou circunstâncias da figura típica, incluindo as formas qualificadas ou privilegiadas, bem como as circunstâncias legais agravantes. 4.2. Artigo 20, caput, CP. O erro invencível exclui, além da tipicidade dolosa, a possível tipicidade culposa. Por sua vez, o erro vencível não exclui a punição a título de culpa, se prevista, para a conduta sob consideração. Teoria do Erro Jurídico-Penal 5. Erro de Proibição 5.1. Incide sobre o juízo de antijuridicidade de um comportamento típico. O agente tem perfeitamente formada a representação (parte cognitiva) da sua conduta, mas acredita, erroneamente, que a mesma não é contrária ao ordenamento jurídico. 5.2. Artigo 21, 2ª parte, CP. O erro sobre a ilicitude do fato, se inevitável, isenta de pena; se evitável, poderá diminuí-la de um sexto a um terço. 5.3. Não há que confundir ignorância ou erro sobre a vigência da lei com ignorância ou erro sobre a antijuridicidade do fato. O desconhecimento da lei é inescusável (artigo 21, 1ª parte, CP). Teoria do Erro Jurídico-Penal 5. Erro de Proibição 5.4. As principais modalidades de erro de proibição são: 5.4.1. Erro de proibição direto: erro de proibição propriamente dito, isto é, o agente se engana a respeito da contradição entre o fato praticado e a norma proibitiva; 5.4.2. Erro mandamental: erro de proibição que ocorre nos crimes omissivos, próprios ou impróprios; 5.4.3. Erro de proibição indireto: erro de permissão, que ocorre se o agente desconhecer a ilicitude do seu fato, por causa de suposição errônea de uma causa de justificação. Teoria do Erro Jurídico-Penal 6. Descriminantes Putativas 6.1. Ao lado das hipóteses de erro de tipo e de erro de proibição, figuram as descriminantes putativas. 6.2. O equívoco ocorre não naquilo que o agente ignora que realiza, ou na equivocada suposição de agir de forma permitida, mas sim, na irreal avaliação da situação concreta justificante. 6.3. Artigo 20, § 1º, CP. É isento de pena quem, por erro plenamente justificado pelas circunstâncias, supõe situação de fato que, se existisse, tornaria a ação legítima. Não há isenção de pena quando o erro deriva de culpa – erro vencível – e o fato é punível como crime culposo. Teoria do Erro Jurídico-Penal 7. Erro sobre a Pessoa 7.1. Em razão do engano, ao invés da conduta dirigir-se contra determinado indivíduo, atinge-se outro. 7.2. Artigo 20, § 3º, CP. Prevalecendo o desvalor da ação sobre o desvalor do resultado, determina a lei que o agente deva responder como se tivesse atingindo a vítima que pretendia atingir. 7.3. Não deve ser confundido com o erro na execução (aberratio ictus). Neste, por acidente ou erro no uso dos meios de execução, o agente, que pretendia atingir determinada pessoa, atinge pessoa diversa. A solução é a mesma dada ao erro sobre a pessoa (artigo 73 CP). Teoria do Erro Jurídico-Penal 8. Erro sobre o Objeto 8.1. Processa-se sobre o objeto material do crime, ou seja, sobre a coisa sobre qual recai a ação criminosa. 8.2. Essa modalidade de erro acidental pode ser considerada por ocasião da dosimetria da pena, tendo em vista que um dos fatores que guiam o processo de individualização é, justamente, a motivação do crime. Teoria do Erro Jurídico-Penal 9. Erro provocado por Terceiro 9.1. Trata-se de uma das modalidades de autoria mediata. 9.2. Aquele que dá causa ao resultado por ter sido induzido a erro por terceiro, não age com dolo. Portanto, para ele, cuida-se de um erro de tipo essencial. 9.3. Artigo 20, § 2º, CP. Responde pelo erro o terceiro que o determinou. 9.4. Pode o executor imediato operar em erro vencível, o que permite a sua punição a título de culpa. Roteiro 19: Etapas de Realização do Delito 1. Noções introdutórias 2. Cogitação e Atos Preparatórios 3. Atos Executórios, Consumação e Exaurimento 4. Distinção entre Atos Preparatórios e Executórios 5. Tentativa 6. Desistência Voluntária e Arrependimento Eficaz 7. Arrependimento Posterior 8. Crime Impossível Etapas de Realização do Delito 1. Noções Introdutórias 1.1. Também conhecidas como iter criminis, as etapas de realização do delito são o itinerário percorrido até que se chegue à vulneração de determinado bem jurídico-penal. 1.2. Os presentes apontes teóricos permitem estabelecer, penalmente, a partir de que momento o crime foi praticado (consumado ou tentado), bem como fundamentam a responsabilização dos participantes. 1.3. O iter criminis compreende as seguintes etapas: 1º cogitação; 2º atos preparatórios; 3º atos executórios; e 4º consumação. Etapas de Realização do Delito 2. Cogitação e Atos Preparatórios 2.1. A cogitatio corresponde à fase interna do iter criminis. A mera antecipação mental do crime é irrelevante para o Direito. 2.2. Os atos preparatórios (conatus remotus) compreendem o externar daquele propósito, com a adoção das providências preliminares à prática delituosa. Em regra, não são puníveis. Excepcionalmente, há normas que se antecipam e tipificam comportamentos que, a rigor, seriam preparatórios. Etapas de Realização do Delito 3. Atos Executórios, Consumação e Exaurimento 3.1. Os atos executórios (conatus proximus) são as ações ou omissões diretamente dirigidas à concretização do propósito criminoso. A partir deste momento, o fato é punível, no mínimo, a título de tentativa. 3.2. A consumação (meta optata) é a fase conclusiva do iter criminis. Segundo o artigo 14, I, CP, o delito está consumado quando estão reunidas todas as suas elementares. 3.3. O exaurimento (post factum) não integra o iter criminis. Trata-se do momento posterior à consumação do delito, a realização completa do ilícito em vista do qual foi realizada a incriminação. Pode influenciar na quantificação da pena. Etapas de Realização do Delito 4. Distinção entre Atos Preparatórios e Executórios 4.1. Teorias subjetivas: 4.1.1. O fundamental é levar-se em conta o propósito do agente ou caracteres relacionados com o seu estilo de vida; 4.1.2. Teoria do dolo e teoria sintomática. 4.2. Teorias objetivas: 4.2.1. Preconizam a construção segura de uma linha divisória entre preparação impunível e crime tentado; 4.2.2. Teoria objetivo-material, teoria objetivo-formal, teoria objetivo- individual (teoria do plano do autor). Etapas de Realização do Delito 4. Distinção entre Atos Preparatórios e Executórios 4.3. Direito brasileiro: 4.3.1. A teoria objetivo individual (ou do plano do autor), que procede à síntese entre as teorias formal e material, é a que conta, na atualidade, com o maior número de adeptos, tanto na doutrina estrangeira como na brasileira; 4.3.2. No entanto, especula-se que deveria ser adotada exclusivamente a teoria objetivo-formal, já que é a que mais se vincula ao princípio da reserva legal. Etapas de Realização do Delito 5. Tentativa 5.1. Prevista no artigo 14, II, CP (causa geral de diminuição de pena), trata- se de um tipo ampliador de normas penais incriminadoras – as quais, em regra, não preveem a forma tentada. 5.2. Requisitos: 5.2.1. Início de execução da ação que constitui o crime; 5.2.2. Não superveniência do resultado por circunstâncias alheias à vontade do agente; 5.2.3. Dolo e outros eventuais elementos subjetivos correspondentes ao tipo subjetivo. Etapas de Realização do Delito 5. Tentativa 5.3. Espécies: 5.3.1. Tentativa perfeita (ou acabada): também denominada crime falho, ocorre quando o agente esgota todo o processo executório a que se propôs, não sobrevindo a consumação por fatores involuntários. 5.3.2. Tentativa imperfeita: ocorre quando o agente não consegue levar adiante todo o plano criminoso, tendo seu processo executório interrompido antes de sua completa realização. 5.4. A lei brasileira não prevê tratamento diferenciado para uma ou outra espécie, podendo haver, no máximo, distinção quanto à dosimetria da pena. Etapas de Realização do Delito 5. Tentativa 5.5. Crimes que não admitem tentativa: 5.5.1. Crimes culposos a tentativa pressupõe que o agente queira o resultado ou assuma o risco de produzi-lo. Se, do contrário, por uma violação do dever de cuidado, o agente não prevê o resultado decorrente de uma conduta ou, prevendo-o, não o tolera, não há que falar de incidência da regra do conatus. 5.5.2. Crimes preterdolosos já que pressupõem dolo no antecedente e culpa no consequente. Como este decorre da violação do dever de cuidado, não há que se falar de tentativa. 5.5.3. Crimes omissivos próprios (ou puros) nestes, ou bem o agente deixa de realizar a conduta esperada e o crime se consuma, ou a realiza até o último instante possível e não haverá crime algum. Etapas de Realização do Delito 5. Tentativa 5.5.4. Crimes unissubsistentes já que são crimes de ato único. A etapa do início da execução se funde, por completo, com a etapa da consumação. 5.5.5. Crimes habituais já que pressupõem a reiteração de atos que, isoladamente, não têm relevância penal. 5.5.6. Contravenções penais não há que falar de tentativa de contravenção penal, tendo em vista expressa proibição legal (artigo 4º do Decreto-lei nº 3.688/41). Etapas de Realização do Delito 6. Desistência Voluntária e Arrependimento Eficaz 6.1. Também denominados de “tentativa abandonada”, consistem em um estímulo do legislador em benefício do agente que voluntariamente não leva o delito até a fase de consumação. 6.2. Quando o crime não atinge a fase de consumação pela força de vontade do agente, não incide a norma de extensão da tentativa. 6.3. Cuida-se da distinção entre querer e poder: podendo prosseguir, o agente muda seu querer. Etapas de Realização do Delito 6. Desistência Voluntária e Arrependimento Eficaz 6.4. Desistência voluntária significa a livre e consciente abstenção do prosseguimento da atividade criminosa. O desistente não esgota todo o processo executivo, pois o interrompe em um determinado ponto anterior a fase consumativa. 6.5. O arrependimento eficaz – ou anterior à consumação – pressupõe que a mudança de atitude ocorra após ultimado o processo de execução do crime, mas antes da completa consumação. 6.6. Os efeitos da desistência e do arrependimento são os mesmos: o agente responde apenas pelos atos já praticados, desde que puníveis (artigo 15 CP). Etapas de Realização do Delito 7. Arrependimento Posterior 7.1. O arrependimento posterior (post factum), verifica-se na fase de exaurimento, logo, em nada influencia na caracterização dos pressupostos delitivos. No máximo, o agente poderá ser beneficiado com um abrandamento punitivo (artigo 16 CP). 7.2. Para que possa diminuir a pena a ser aplicada, o referido dispositivo legal exige que o arrependimento se dê em crimes sem violência ou grave ameaça à pessoa, bem como que a reparação do dano ou a restituição da coisa ocorra até o recebimento da denúncia ou queixa (peça inicial da ação penal). Etapas de Realização do Delito 8. Crime Impossível 8.1. Considera-se impossível o crime quando não se pode passar, em absoluto, da fase do início da execução para a fase de consumação. 8.2. Para que haja a impunidade do agente (artigo 17 CP), faz-se necessário verificar se o meio ou o objeto do delito era absolutamente inidôneo. E essa verificação sempre se processa com o exame do caso concreto. 8.3. Diante da absoluta impropriedade do objeto da suposta ação criminosa, aplica-se a regra do artigo 17 CP, descabendo a punição para as situações de flagrante provocado ou preparado. Nesse sentido, o teor da Súmula 145, do STF: “Não há crime, quando a preparação do flagrante pela polícia torna impossível a sua consumação.” Roteiro 20: Concurso de Pessoas 1. Noções introdutórias 2. Teorias 3. Requisitos 4. Teorias sobre Autoria e Participação 5. Institutos Incidentes 6. Participação 7. Crime Culposo e Crime Omissivo 8. Artigo 29, § § 1º e 2º, CP 9. Artigos 30 e 31 CP Concurso de Pessoas 1. Noções Introdutórias 1.1. Trata-se da volitiva interveniência de várias pessoas no cometimento de um delito. 1.2. Crime unissubjetivo: crime de concurso eventual, cujo tipo penal pressupõe seu cometimento por apenas um agente. 1.4. Crime plurissubjetivo: crime de concurso necessário, no qual o tipo incriminador exige a pluralidade de agentes. 1.3. O concurso de pessoas pode ocorrer desde a fase da cogitação até a consumação, não sendo possível no exaurimento. Concurso de Pessoas 2. Teorias 2.1. Acerca da dúvida sobre se cada concorrente deve responder por um único delito ou se tratar-se-ia de injustos distintos, (com carga de punição diferenciada), existem três teorias. 2.2. Teoria pluralista: cada concorrente realiza um injusto próprio, punindo- se, portanto, de forma diferenciada. 2.3. Teoria dualística (ou da acessoriedade): existe uma atividade principal – respondendo, quem a pratica, como autor ou coautor –, e uma atividade acessória, para qual se responde a título de partícipe. Concurso de Pessoas 2. Teorias 2.4. Teoria monística (ou unitária): rejeita a distinção entre autor e partícipe, afirmando que, se o delito é único, todos que para ele convergem devem ser considerados seus responsáveis 2.5. Com a Reforma Penal de 1984, mitigou-se a teoria monística do Código de 1940, permitindo a punição dos codelinquentes na medida das suas culpabilidades (artigo 29, caput, parte final, CP). Explicitou-se, portanto, um solução intermediária entre as correntes unitária e dualista. 2.6. Pode-se, dessa forma, concluir que, na atualidade, o Direito Penal brasileiro acolhe a teoria monística temperada ou teoria eclética. Concurso de Pessoas 3. Requisitos 3.1. O concurso de pessoas pressupõe a voluntária interveniência de duas ou mais pessoas para o mesmo fato delituoso. Não basta, no entanto, a presença de somente estes dois requisitos. 3.2. O concurso de pessoas restará configurado, portanto, quando estiverem presentes os seguintes requisitos: 3.2.1 Pluralidade de indivíduos e de condutas; 3.2.2. Relevância causal de cada conduta; 3.2.3. Liame subjetivo entre os participantes; 3.2.4. Identidade de infração penal. Concurso de Pessoas 4. Teorias sobre Autoria e Participação 4.1. Teoria objetivo-material: inexiste qualquer distinção entre autor e partícipe, pois, do ponto de vista material, qualquer um que contribua para o fato delituoso deve ser considerado o seu autor. 4.2. Teoria subjetivo-material: como regra, deve ser considerado autor aquele que toma o resultado como obra, sendo partícipe aquele que concorre para o crime como obra alheia. 4.3. Teoria objetivo-formal: autor é aquele que realiza o verbo-núcleo do tipo penal. O partícipe, por sua vez, concorre de alguma forma para o delito, mas sem realizar a conduta típica. Concurso de Pessoas 4. Teorias sobre Autoria e Participação 4.4. Teoria do Domínio do Fato (Roxin): autor é aquele que está no centro do acontecimento; é aquele que, senhor do fato, domina a realização do delito, controlando o atuar criminoso. 4.5. A teoria do domínio do fato propiciou o surgimento de algumas variantes, tais como a teoria do domínio funcional do fato e a teoria do domínio da organização. Concurso de Pessoas 5. Institutos Incidentes 5.1. Autoria individual: autor individual é o anônimo que realiza a conduta descrita no verbo contido na figura típica. 5.2. Autoria mediata: autor mediato é aquele que pratica o crime por intermédio de alguém que não detém capacidade para responder pelo delito (terceiro impunível), utilizando-o como instrumento. 5.3. Coautoria: realização conjunta, por mais de uma pessoa, da mesma infração penal. 5.4. Coautoria sucessiva: hipótese em que, na coautoria, não ocorre um acordo preordenado de vontades. A convergência de ações se dá no curso da execução do crime, até sua consumação. Concurso de Pessoas 5. Institutos Incidentes 5.5. Coautoria mediata: quando dois ou mais agentes se valem, cada qual a seu modo, de interpostas pessoas que executam materialmente o delito de maneira não punível. 5.6. Autoria colateral (ou paralela): é a isolada execução de um fato delituoso por duas ou mais pessoas que desconhecem as condutas umas das outras. 5.7. Autoria incerta: quando há impossibilidade de se identificar qual das condutas, isoladamente consideradas, causou a consumação do crime. 5.8. Multidão criminosa: o agente que pratica crime sob a influência de multidão em tumulto, se não a provocou, acarreta a diminuição da reprovabilidade (artigo 65, III, “e”, CP). Concurso de Pessoas 6. Participação 6.1. Espécies: 6.1.1. Moral, por instigação ou induzimento; 6.1.2. Material, pela contribuição física ao plano delituoso do autor. 6.2. Requisitos: 6.2.1. Relevância causal; 6.2.2. Vontade de participar na conduta do concorrente. 6.3. No âmbito da análise do delito (conduta típica, antijurídica e culpável), qual ou quais destes pressupostos faz-se necessário para a punição do partícipe – questão respondida pelas teorias da acessoriedade: mínima; limitada; extrema; e hiperacessoriedade. Concurso de Pessoas 7. Crime Culposo e Crime Omissivo 7.1. A participação em sentido estrito está categoricamente afastada nos crimes culposos; alguns autores admitem a hipótese da coautoria, tão somente para a criação da situação de violação conjunta do dever de cuidado. 7.2. É possível a participação em crime omissivo, mas sempre por intermédio de um fazer positivo. A instigação ou a cumplicidade pressupõe comportamento comissivo, sendo inconcebível a participação omissiva em crime omissivo. Concurso de Pessoas 8. Artigo 29, § § 1º e 2º, CP 8.1. Artigo 29, § 1º, CP: participação de menor importância. A diminuta relevância da contribuição do partícipe importa em um menor desvalor da sua reprovabilidade. 8.2. Artigo 29, § 2º, CP: cooperação dolosamente distinta. Pressupõe hipóteses nas quais o partícipe pretendeu contribuir para um injusto menos grave do que o efetivamente cometido pelo autor. Concurso de Pessoas 9. Artigos 30 e 31 CP 9.1. Artigo 30 CP: comunicabilidade das elementares do tipo. Para os concorrentes da ação criminosa, não são comunicáveis as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo quando elementares do tipo. 9.2. Artigo 31 CP: participação impunível. a relevância penal da ação do partícipe depende do ingresso do autor na fase do início de execução, ou seja, da tentativa punível. Por isso, a participação (moral ou material), salvo disposição expressa em contrário, não é punível, se o crime não chega, ao menos, a ser tentado. Roteiro 21: Crimes Internacionais 1. Noções introdutórias 2. Conceito 3. Classificações 4. Estrutura e Imputação Crimes Internacionais 1. Noções Introdutórias 1.1. O Direito Penal Internacional e, por extensão, os crimes internacionais tem sido desenvolvidos conforme orientação preponderante do sistema da common law. 1.2. A consequência disso é que os conceitos relativos ao crime internacional, bem como sua estrutura estabelecida pela jurisprudência dos tribunais internacionais, apresentam particularidades. Crimes Internacionais 2. Conceito 2.1. Considera-se crimes internacionais somente as seguintes figuras delitivas: 2.1.1. Crimes de guerra; 2.1.2. Crimes contra a humanidade; 2.1.3. Genocídio; 2.1.4. Tortura; 2.1.5. Agressão; 2.1.6. Algumas formas extremas de terrorismo (quando patrocinado pelo Estado ou, ao menos, tolerado por este). Crimes Internacionais 3. Classificações 3.1. A expressão “crimes internacionais” pode ser tomada em, pelo menos, dois sentidos, embora haja quem sustente a possibilidade de existência de uma terceira classificação. 3.1.1. Primeira: refere-se aos crimes cometidos pelos representantes do Estado, que ofenderiam a ordem, a legalidade e a segurança internacional; seriam infrações internacionais os crimes contra a paz, os crimes de guerra e os crimes contra a humanidade. 3.1.2. Segunda: infrações internacionais cometidas por particulares, que seriam, por exemplo, a pirataria, o tráfico internacional de entorpecentes e falsificação de moeda. 3.1.3. Assim, enquanto a primeira categoria teria, fundamentalmente, objetivos políticos, na segunda tal fato não ocorreria. Crimes Internacionais 3. Classificações 3.2. Em um terceiro sentido, ainda mais amplo, seria aplicável à delinquência internacional por contaminação ou difusão: conjunto daqueles crimes, convencionais ou não, que passam de um Estado a outro de forma epidêmica graças à rapidez dos meios de transporte, à instantaneidade das comunicações e à atividade dos mass media. 3.3. Este último aspecto transformou o crime na notícia por excelência e, com isso, o potencializou. Crimes Internacionais 4. Estrutura e Imputação 4.1. A construção de uma teoria do crime no Direito Penal Internacional enfrenta algumas dificuldades, em razão de suas particularidades. 4.2. Há diferenças importantes entre o Direito Penal interno e o Direito Penal Internacional, que se manifestam em questões básicas, como, por exemplo, no caso do princípio da reserva legal. 4.3. Se, na esfera interna, o princípio da legalidade é admitido e incorporado à imensa maioria das legislações contemporâneas, no Direito Penal Internacional, ainda existem dúvidas quanto à sua real significação e o seu alcance. Crimes Internacionais 4. Estrutura e Imputação 4.4. Espera-se que a implantação do Tribunal Penal Internacional permanente seja responsável pela adoção de regras mais claras e concretas. 4.5. A partir das fontes do Direito Penal Internacional, foi construída uma estrutura de crime basicamente bipartida, fazendo referência a responsabilidade individual e suas causa de exclusão, também conhecidas como defences. 4.6. Distingue-se o modelo encontrado na esfera do Direito Penal Internacional do modelo comumente aceito, que faz referência a injusto e a culpabilidade. Roteiro 22: Teoria da Pena 1. Noções introdutórias 2. Conceitos 3. Princípios Constitucionais 4. Penas Admitidas 5. Penas Proibidas Teoria da Pena 1. Noções Introdutórias 1.1. Sanção penal o gênero do qual pena e medida de segurança são as espécies existentes no ordenamento jurídico brasileiro. 1.2. A imposição de pena, enquanto consequência jurídica do fato, legitima-se diante da culpabilidade. 1.3. Sem culpabilidade ou com a responsabilidade penal diminuída, a pena cede ou pode vir a ceder para a medida de segurança. Teoria da Pena 2. Conceitos 2.1. Pena: perda de um direito imposta pelo Estado em razão da prática de uma infração penal. 2.2. Medidas de segurança: medidas terapêuticas aplicáveis aos inimputáveis e semi-imputáveis, caso pratiquem conduta definida como crime, por lhes faltar sanidade. Teoria da Pena 3. Princípios Constitucionais 3.1. Personalidade da pena (artigo 5º, XLV, CF88): a pena não passará da pessoa do condenado. 3.2. Individualização da pena (artigo 5º, XLVI, CF88): todo indivíduo tem o direito de ter a pena a ele aplicada individualmente, consideradas todas as suas características e condições pessoais, além de se valorar o que efetivamente fez (mesmo em caso de concurso de pessoas). Teoria da Pena 4. Penas Admitidas 4.1. No Brasil, as penas que são admitidas são tradicionalmente previstas nos respectivos diplomas constitucionais. 4.2. Na legislação atual, encontram-se dispostas no artigo 5º, XLVI, CF88, bem como no artigo 32 CP. 4.3. O rol constitucional das penas admitidas é apenas exemplificativo, e as hipóteses indicadas se mostram bastante amplas. Teoria da Pena 4. Penas Admitidas 4.4. Apesar de certa discrepância entre o texto constitucional e o texto do Código Penal, tem-se que as penas admitidas no Brasil são as seguintes: 4.4.1. Privativas de liberdade; 4.4.2. Restritivas de direitos; 4.4.3. Multa. 4.5. O Código Penal prevê que as primeiras serão cumpridas nas modalidades de reclusão e detenção (artigo 33 CP). Teoria da Pena 4. Penas Admitidas 4.6. Por fim, as penas restritivas de direitos serão cumpridas por meio de uma das seguintes modalidades: 4.6.1. Prestação pecuniária; 4.6.2. Perda de bens e valores; 4.6.3. Prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas; 4.6.4. Interdição temporária de direitos; 4.6.5 Limitação de fim de semana. 4.7. A pena de multa, por sua vez, adota o sistema dos dias-multa, nos termos do artigo 49 CP. Teoria da Pena 5. Penas Proibidas 5.1. O artigo 5º, XLVII, CF88, proíbe as seguintes penas: 5.1.1. De morte, salvo em caso de guerra externa declarada; 5.1.2. De caráter perpétuo; 5.1.3. De trabalhos forçados; 5.1.4. De banimento; 5.1.5. Penas cruéis. 5.2. As penas proibidas se relacionam com a adoção de conceitos oriundos do Período Humanizador. Roteiro 23: Penas Privativas de Liberdade 1. Noções introdutórias 2. Espécies de Penas de Prisão 3. Regime prisional 4. Exame Criminológico 5. Detração Penal 6. Regulamentação Geral do Sistema Penitenciário e Direitos dos Presos 7. Trabalho Prisional 8. Remição Penal 9. Superveniência de Doença Mental 10. Monitoramento Eletrônico Penas Privativas de Liberdade 1. Noções Introdutórias 1.1. É elementar que exista, no sistema penal, uma modalidade mais gravosa de sanção do que as dos demais ramos do Direito. 1.2. Efetivamente, no ordenamento jurídico brasileiro, como em muitos outros, a pena de prisão figura como esse último instrumento punitivo (extrema ratio). 1.3. A prisão-pena significa a legítima privação do direito de liberdade do condenado. Penas Privativas de Liberdade 1. Noções Introdutórias 1.4. A prisão se tornou a principal referência do sistema penal brasileiro. Mais que isso, pode-se dizer que a pena privativa da liberdade e a prisão em geral passaram a simbolizar a ideia de punição no Brasil. 1.5. Um dado que chama a atenção contemporaneamente é, nos últimos anos, houve uma mudança estatística importante no sistema penal brasileiro: o número de pessoas submetidas a penas e medidas alternativas ultrapassou o número de pessoas presas. Penas Privativas de Liberdade 2. Espécies de Penas de Prisão 2.1. O ordenamento jurídico brasileiro prevê três espécies de pena de prisão: 2.1.1. Reclusão para delitos, de forma isolada, alternativa ou cumulativa com a pena de multa. 2.1.2. Detenção para delitos, de forma isolada, alternativa ou cumulativa com a pena de multa. 2.1.3. Prisão simples (para as contravenções penais, também isolada, alternativa ou cumulativamente com a sanção pecuniária). Penas Privativas de Liberdade 2. Espécies de Penas de Prisão 2.2. O artigo 33 CP assinala que a reclusão é a pena cujo cumprimento pode ser iniciado em qualquer um dos três regimes prisionais: fechado, semiaberto ou aberto. A pena de detenção, por sua vez, pressupõe que o início do seu cumprimento se dê no regime semiaberto ou aberto. 2.3. Com relação às medidas de segurança, de acordo com os artigos 96 e 97 CP: 2.3.1. Pena de reclusão, imposição da internação em hospital de tratamento e custódia; 2.3.2. Pena de detenção, em regra, a medida de segurança será cumprida em liberdade, ou seja, tratamento ambulatorial. Penas Privativas de Liberdade 2. Espécies de Penas de Prisão 2.4. A LEP dispõe sobre os estabelecimentos prisionais, quais sejam: 2.4.1. Penitenciária; 2.4.2. Colônia agrícola, industrial ou similar; 2.4.3. Casa de albergado; 2.4.4. Cadeia pública; 2.4.5. Centro de observação; 2.4.6. Hospital de custódia e tratamento psiquiátrico. 2.5. Existem diferenças quanto aos estabelecimentos no que concerne ao tipo de pena imposta. Penas Privativas de Liberdade 3. Regime prisional 3.1. Trata-se da forma por intermédio da qual se dará o cumprimento da pena imposta na sentença condenatória. 3.2. O Código Penal adotou um sistema progressivo, que se destina a estimular o bom comportamento do preso, mantendo a disciplina e a ordem nas prisões (artigo 33, § 2º, CP). 3.3. São três as espécies de regime: fechado; semiaberto; e aberto (artigos 34, 35 e 36, CP). 3.4. O Regime Disciplinar Diferenciado constitui uma alteração recente na Lei de Execuções Penais. Será aplicado nas hipóteses previstas no artigo 52, § § 1º e 2º, da LEP. Penas Privativas de Liberdade 3. Regime prisional 3.5. A fixação do regime prisional inicial deve ser feita na sentença condenatória (artigo 59, III, CP), devendo ser analisados, além da espécie de pena (reclusão ou detenção), três fatores: 1º quantidade de pena, 2º primariedade ou reincidência, e 3º circunstâncias judiciais. 3.6. A progressão deve ser feita para o regime imediatamente seguinte. Tal fato não ocorre com a regressão de regime prisional, ou seja, com a transferência do regime menos para o mais rigoroso. Penas Privativas de Liberdade 4. Exame Criminológico 4.1. Trata-se de espécie do gênero exame de personalidade. Tem por finalidade a investigação médica, psicológica e social da pessoa do infrator, de forma a detectar sua propensão para a prática de novos crimes. 4.2. A Lei nº 10.792/03 deu nova redação ao artigo 112 da LEP. A partir de então, consolidou-se o entendimento jurisprudencial no sentido da perda da obrigatoriedade de realização do referido exame. Penas Privativas de Liberdade 5. Detração Penal 5.1. Artigo 42 CP. Consiste no desconto ou abatimento, no tempo definitivo da pena ou da medida de segurança imposta na sentença, do período em que o agente esteve privado da liberdade em virtude de prisão processual, prisão administrativa ou internação cautelar em hospital de tratamento e custódia. 5.2. Há de pressupor a existência de vínculo fático entre a pena privativa de liberdade ou a medida de segurança e a privação da liberdade que lhes antecedeu. Penas Privativas de Liberdade 6. Regulamentação Geral do Sistema Penitenciário e Direitos dos Presos 6.1. A regulamentação geral do sistema penitenciário e os direitos dos presos, no ordenamento jurídico brasileiro, estão estabelecidos na Lei n° 7.210/84 (Lei de Execução Penal) e na Resolução nº 14/1994, do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNPCP), que fixou as regras mínimas para o tratamento do preso no Brasil. 6.2. Existem, ainda, dispositivos em outros diplomas – tais como a LEP e o Código Penal –, além de, naturalmente, haver previsão constitucional. Penas Privativas de Liberdade 7. Trabalho Prisional 7.1. O Código Penal e Lei de Execução Penal referem-se ao trabalho como mecanismo crucial ao processo de reintegração social do apenado. 7.2. Constitui não somente um dever social, mas, igualmente, uma expressão da dignidade humana. 7.3. Porém, na prática, apenas uma pequena parcela da população carcerária nacional efetivamente trabalha. A grande maioria vive na ociosidade, por não lhe ser oferecida tal oportunidade ou por se rejeitar a cumprir as que lhes forem apresentadas. Penas Privativas de Liberdade 8. Remição Penal 8.1. Refere-se ao o direito daquele que cumpre pena, no regime fechado ou semiaberto, de abater, pelo trabalho, parte do tempo de pena que tem que cumprir. 8.2. O abatimento se processa a razão de 1 (um) dia de pena a cada 3 (três) dias de trabalho (artigo 126, § 1º, II, LEP). 8.3. No caso de estudo, a contagem de tempo deve ser feita à razão de 1 (um) dia de pena a cada 12 (doze) horas de frequência escolar. Penas Privativas de Liberdade 9. Superveniência de Doença Mental 9.1. Artigo 41 CP. Se, durante o cumprimento da pena, sobrevier, ao condenado, doença mental, deve o mesmo ser recolhido a hospital de custódia e tratamento psiquiátrico ou, à falta, a outro estabelecimento adequado. 9.2. Embora convertida em medida de segurança, o tempo de duração da pena inicialmente imposta continuará a ser observado. Penas Privativas de Liberdade 10. Monitoramento Eletrônico 10.1. No dia 16 de junho de 2010, entrou em vigor a Lei nº 12.258, que alterou o Código Penal e a Lei de Execução Penal para possibilitar a utilização de equipamento de vigilância indireta pelo condenado. 10.2. Esta lei é passível de inúmeras críticas, principalmente se se considerar que poderíamos ter aprovado uma legislação que realmente utilizasse o monitoramento eletrônico de presos para reduzir o contingente carcerário e os custos do aprisionamento. 10.3. O monitoramento eletrônico de presos constitui, hoje, instrumento indispensável aos sistemas de justiça criminal. Roteiro 24: Penas Restritivas de Direitos 1. Noções introdutórias 2. Características 3. Gerações 4. Requisitos 5. Multa Substitutiva 6. Espécies 7. Conversão de Penas 8. Detração do Tempo de Cumprimento da Pena Alternativa 9. Crimes Hediondos Penas Restritivas de Direitos 1. Noções Introdutórias 1.1. Trata-se das alternativas penais, que compreendem os institutos de Direito Penal, Processual Penal e de Execução Penal, tendentes a impedir ou abreviar o encarceramento do infrator. 1.2. A Parte Geral do Código Penal e a LEP objetivaram restringir a pena privativa de liberdade às hipóteses estritamente necessárias, determinando, quando possível, a sua substituição por estas sanções. Penas Restritivas de Direitos 2. Características 2.1. Na atualidade, as penas restritivas de direito têm natureza jurídica autônoma de sanção penal. 2.2. As penas restritivas são substitutivas da pena privação da liberdade – pois, em regra, elas não estão previstas nos tipos penais incriminadores. 2.3. Natureza condicional: o descumprimento injustificado das condições estipuladas à pena restritiva de direito condicionalmente imposta pode acarretar a sua conversão na pena privativa de liberdade que fora fixada (artigo 44, § 4º, CP). Penas Restritivas de Direitos 3. Gerações 3.1. Primeira geração: veio com a Reforma Penal de 1984, com a adoção da sistemática de substituição da privação da liberdade; esta substituição passou a ser admitida tanto por ocasião da sentença condenatória como no curso da execução penal. 3.2. Segunda geração: positivada nos anos 1990, quando os diplomas legais passaram a admitir a aplicação direta da pena restritiva, antes mesmo de haver processo instaurado contra o autor do fato delituoso. 3.3. Terceira geração: consiste na previsão de penas alternativas no próprio preceito secundário dos tipos penais. Penas Restritivas de Direitos 4. Requisitos 4.1. Objetivos (artigo 44, I, CP): 4.1.1. São aqueles em que a lei condiciona o deferimento da medida a fatores relacionados ao delito praticado ou às qualidades da vítima; 4.1.2. A pena imposta ao crime doloso deve ser inferior a 4 anos; 4.1.3. Delito sem violência ou grave ameaça à pessoa. 4.2. Subjetivos: 4.2.1. Não se tratar de reincidente em crime doloso; 4.2.2. Contar com circunstâncias judiciais favoráveis. Penas Restritivas de Direitos 5. Multa Substitutiva 5.1. Pode o magistrado optar, fundamentadamente, pela substituição da pena privativa de liberdade pela multa, de forma isolada ou cumulada, conforme o caso, com outra pena restritiva de direitos. 5.2. A multa é válida, portanto, para a generalidade das condenações que admitem penas alternativas. 5.3. O Código Penal contempla a pena de multa sob duas vertentes: 5.3.1. Multa propriamente dita (artigo 49 CP); 5.3.2. Multa substitutiva (artigos 44 § 2º e 60 § 2º, CP). Penas Restritivas de Direitos 6. Espécies 6.1. O artigo 43 CP elenca as espécies de penas alternativas admitidas no ordenamento jurídico-penal brasileiro: 6.1.1. Prestação pecuniária (artigo 45, § 1º, CP). 6.1.2. Perda de bens e valores pertencentes ao condenado (artigo 44, § 3º, CP). 6.1.3. Prestação de serviços à comunidade ou a entidade assistencial (artigo 43, IV, CP). 6.1.4. Interdições temporárias de direitos (artigo 43, V, CP). 6.1.5. Limitação de fim de semana (artigo 48 CP). Penas Restritivas de Direitos 7. Conversão de Penas 7.1. De um lado, converter significa revogar a pena alternativa, com a imediata aplicação da pena privativa de liberdade; de outro, o inverso, ou seja, transformar o cumprimento da prisão em restritiva de direito ou multa. 7.2. O artigo 180 da LEP prevê a possibilidade de que a pena privativa da liberdade, que não tenha sido substituída na sentença penal condenatória, seja convertida, durante o cumprimento da pena, em restritiva de direitos. 7.3. O artigo 181 da LEP admite hipótese inversa, na qual pena restritiva de direitos poderá ser convertida em privativa de liberdade. Penas Restritivas de Direitos 8. Detração do Tempo de Cumprimento da Pena Alternativa 8.1. Decretada, pelo juiz da execução penal, a conversão da pena restritiva de direitos em privativa de liberdade, cumpre ser expedida guia de recolhimento do condenado para fins de ingresso no sistema penitenciário, interrompendo, assim, a prescrição da pretensão executória. 8.2. No cálculo da pena privativa de liberdade a executar será detraído o tempo cumprido da pena restritiva, respeitado o saldo mínimo de trinta dias de detenção ou reclusão. Penas Restritivas de Direitos 9. Crimes Hediondos 9.1. A questão que ora se apresenta diz respeito a possibilidade ou não de substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos, nas hipóteses de crimes hediondos e os constitucionalmente assemelhados. 9.2. Foram consideradas inconstitucionais a parte final do artigo 44 da Lei nº. 11.343/06, bem como a expressão análoga “vedada a conversão em penas restritivas de direitos”, constante do § 4º, do artigo 33, do mesmo diploma legal, determinando-se, dessa feita, que, para crimes hediondos, o Juízo da Execução Penal avaliasse o preenchimento das condições objetivas e subjetivas do paciente para fins de concessão da referida substituição. Roteiro 25: Pena de Multa 1. Noções introdutórias 2. Sistema dos Dias-Multa 3. Pagamento e Execução 4. Competência para a Execução 5. Peculiaridades Pena de Multa 1. Noções Introdutórias 1.1. No texto do artigo 49 CP, existe uma impropriedade, pois a pena de multa não consiste no pagamento: esta é a sua execução. 1.2. A pena de multa é sempre cominada, na hipótese de crime, de forma alternativa ou cumulativa. Aparece, por vezes, isoladamente, nas contravenções. 1.3. Nas cominações da pena de multa na Parte Especial do CP não aparecem os limites a serem observados. Esses limites estão previstos na Parte Geral (artigo 49 CP). 1.4. A conversibilidade da multa em privação da liberdade deixou de existir no Brasil, mas sua natureza personalíssima continua presente. Pena de Multa 2. Sistema dos Dias-Multa 2.1. A multa não mais importa em um quantum fixo em dinheiro. Ao contrário, fica atrelada ao valor do salário mínimo nacional, oscilando de acordo com renda ou patrimônio do condenado. Trata-se do sistema dos dias-multa. 2.2. Artigo 49 CP. A pena de multa se consubstancia em dias-multa, a ser recolhida ao Fundo Penitenciário Nacional (FUNPEN), sendo calculada, na sentença, em quantidade que varia entre o mínimo de 10 (dez) e o máximo de 360 (trezentos e sessenta) dias-multa. Pena de Multa 2. Sistema dos Dias-Multa 2.3. O artigo 49, § 1º, dispõe sobre a seguinte mecânica jurídica: 2.3.1. Fixação da quantidade de dias-multa (entre 10 e 360), guiando- se, o magistrado, pela gravidade do delito perpetrado e pela culpabilidade do réu; 2.3.2. Fixação do valor de cada dia-multa (entre 1/30 e 5 vezes o valor do salário mínimo), levando-se em conta a capacidade econômica do réu. 2.3.3. Elevação até do triplo do montante calculado nas etapas anteriores, quando o máximo fixado revelar-se ineficaz frente à capacidade econômica do condenado. Pena de Multa 3. Pagamento e Execução 3.1. Artigo 50 CP. a multa deve ser paga dentro de 10 dias depois de transitada em julgado a sentença condenatória. 3.2. Faculta-se, ainda, o seu pagamento em prestações mensais, podendo, eventualmente, vir a ser descontada do salário ou dos vencimentos do condenado. Pena de Multa 3. Pagamento e Execução 3.3. Com a Lei nº. 9.268/96, o não pagamento da multa, por parte do condenado solvente, não mais acarreta sua conversão em pena privativa de liberdade – diferentemente do que ocorria no regime anterior, onde a quantidade de dias-multa se convertia, respectivamente, em dias de detenção, alcançando, portanto, um limite máximo de quase um ano de encarceramento do inadimplente. 3.4. O fundamento jurídico para a referida mudança foi o de que a conversão em prisão consistia em uma inconstitucional prisão civil por dívidas ou, ainda, uma prisão por pobreza. Pena de Multa 4. Competência para a Execução 4.1. Os tribunais superiores já pacificaram o entendimento no sentido de que, com o advento da Lei nº. 9.268/96, a legitimidade para executar a pena de multa passou a ser dos órgãos fazendários, não subsistindo a atribuição antes conferida ao Ministério Público. Pena de Multa 5. Peculiaridades 5.1. O exíguo prazo prescricional de dois anos (artigo 114 CP) também contribui para a perda da efetividade prática da pena de multa no Brasil. 5.2. Na atualidade, a pena de multa está muito aquém dos propósitos que conduziram a sua adoção generalizada pelo legislador. A sua força cogente remanesce fundamentalmente para efeitos de revogação da suspensão condicional da pena, conforme disposto no artigo 81, II, CP. Roteiro 26: Aplicação da Pena 1. Noções introdutórias 2. Elementares e Circunstâncias 3. Causas de Aumento ou Diminuição de Pena 4. Tipos Qualificados e Privilegiados 5. Método Trifásico 6. Pena de multa Aplicação da Pena 1. Noções Introdutórias 1.1. O processo de determinação da pena é aquele que o juiz realiza para fixar a sanção aplicável ao agente pelo ilícito penal praticado declarando merecimento de determinada pena em concreto. 1.2. Individualização da pena (artigo 5º, XLVI, CF88) – três etapas: 1.2.1. Cominação (feita pelo legislador); 1.2.2. Aplicação (feita pelo juiz criminal); 1.2.3. Execução (feita pelo juiz de execução penal). Aplicação da Pena 2. Elementares e Circunstâncias 2.1. Para distinguir uma elementar de uma simples circunstância do crime, basta que seja feita uma eliminação hipotética. Se o crime desaparecer ou der causa a outro tipo penal, significa que se trata de uma elementar; caso contrário, será uma circunstância. 2.2. Espécies de circunstâncias: 2.2.1. Qualificadoras; 2.2.2. Judiciais; 2.2.3. Legais (genéricas ou específicas). Aplicação da Pena 2. Elementares e Circunstâncias 2.3. Judiciais (artigo 59 CP): servem para formar a pena-base a partir do preceito cominado em abstrato. 2.4. Legais genéricas (artigos 61 a 66 CP): trata-se das agravantes e atenuantes. 2.5. Uma vez constatada a presença de uma destas, o magistrado deve levá- la em consideração na segunda etapa do cálculo da pena (fixação da pena provisória). Aplicação da Pena 2. Elementares e Circunstâncias 2.6. A lei não fixa o quantum desse aumento ou diminuição, que é entregue, por completo, ao poder discricionário do juiz. 2.7. Na hipótese de concurso entre agravantes e atenuantes, rol do artigo 67 CP, contempla três modalidades, todas cunho subjetivo ou pessoal: os motivos determinantes, a personalidade do agente e a reincidência. Aplicação da Pena 3. Causas de Aumento ou Diminuição de Pena 3.1. Também chamadas de majorantes ou minorantes, são fatores de elevação ou de redução, a serem também observados no cálculo da pena definitiva, em quantidade fixa ou em patamar variável. Encontram-se na Parte Geral e na Parte Especial. 3.2. Outra distinção entre estas e as agravantes e atenuantes é que para as causas de aumento e diminuição a pena aplicada pode ultrapassar, respectivamente, o limite máximo e mínimo cominado para o delito, o que não se verifica com as circunstâncias legais genéricas. Aplicação da Pena 4. Tipos Qualificados e Privilegiados 4.1. Meio-termo entre elementares e circunstâncias: de um lado, a ausência de um elemento que qualifique ou privilegie o fato concreto não importa na sua atipicidade absoluta – mas, sim, relativa, porque ele irá se amoldar ao tipo básico. 4.2. De outro, a sua presença acarreta num novo patamar punitivo, isto é, numa cominação abstrata mínima e máxima de pena, diversa, daquela cominada na forma básica do delito. Aplicação da Pena 5. Método Trifásico 5.1. A aplicação ou individualização judicial da pena privativa de liberdade pressupõe a observância da metodologia legal extraída da conjugação dos artigos 59 e 68, CP. 5.2. Três fases do método de Nelson Hungria: 5.2.1. Fase primária fixação da pena-base; 5.2.2. Fase secundária fixação da pena provisória; 5.2.3. Fase terciária fixação da pena definitiva. Aplicação da Pena 6. Pena de multa 6.1. A individualização da pena de multa obedece, em regra, ao critério bifásico dos dias-multa, qual seja, da fixação dois momentos: quantidade e valor de dias-multa. Excepcionalmente, é possível uma “terceira fase”. 6.1.1. Fixação da quantidade de dias-multa. 6.1.2. Fixação do valor de cada dia-multa. 6.1.3. Etapa facultativa: elevação ao triplo. Roteiro 27: Concurso de Crimes 1. Noções introdutórias 2. Princípios Reguladores 3. Concurso Material 4. Concurso Formal 5. Crime Continuado 6. Erro na Execução e Resultado Diverso do Pretendido 7. Limite Máximo de Cumprimento de Pena Concurso de Crimes 1. Noções Introdutórias 1.1. É possível que, caso concreto, haja a necessidade de serem aplicadas ou mesmo executadas mais de uma pena. Quando isso ocorre, surge o chamado concurso de delitos (concursus delictorum). 1.2. O concurso de crimes não se confunde com concurso aparente de normas, crime progressivo, crime complexo ou com crime permanente. 1.3. No concurso de crimes, com a mesma conduta ou com condutas paralelas ou sucessivas, há a realização de mais de um crime, o que exige a aplicação conjunta de sanções ao mesmo infrator. Concurso de Crimes 2. Princípios Reguladores 2.1. Cúmulo material: as penas referentes aos vários delitos devem ser calculadas em separado e, em seguida, somadas. 2.2. Cúmulo jurídico: deve haver a aplicação de sanção mais severa do que a prevista para cada infração isoladamente, mas sem que se chegue ao somatório global. 2.3. Absorção: deve-se aplicar a sanção de um só dos delitos, em regra a mais grave, que irá absorver as penas dos demais. Concurso de Crimes 2. Princípios Reguladores 2.4. Exasperação: determina a aplicação da pena de um dos delitos, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, aumentada em certa quantidade (proporcional ao número dos delitos perpetrados pelo agente). 2.5. Cumprimento unificado e progressivo da pena: no momento em que iniciar a execução penal todas as penas devem ser unificadas perante o Juízo da Execução Penal, obedecendo, ainda, ao método progressivo. 2.6. Vedação da pena de caráter perpétuo: o tempo de cumprimento efetivo de pena ou das penas unificadas, não poderá ultrapassar o teto máximo que, no Brasil, é de trinta anos. Concurso de Crimes 3. Concurso Material 3.1. Artigo 69 CP. Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, prática dois ou mais crimes, idênticos ou não, aplicam-se cumulativamente as penas privativas de liberdade em que haja incorrido. 3.2. Trata-se da forma mais rigorosa de tratamento do concurso de crimes. Concurso de Crimes 4. Concurso Formal 4.1. Artigo 70 CP. Quando o agente, por intermédio da mesma ação ou omissão, infringe várias normas penais ou uma mesma norma repetidas vezes. 4.2. Parágrafo único: no concurso formal, a pena aplicada não poderá exceder a que seria cabível pela regra do cúmulo material. 4.3. O sistema da exasperação importa, em regra, em um tratamento penal mais brando ao infrator em razão da menor reprovabilidade do fato pois praticou- se uma, e não várias condutas. Concurso de Crimes 5. Crime Continuado 5.1. Ocorre quando o agente, mediante condutas múltiplas, pratica dois ou mais crimes, da mesma espécie, que devem ser considerados como se único fossem, haja vista a semelhança das circunstâncias objetivas de tempo, lugar e forma de execução. 5.2. Neste caso, a reprimenda penal há de ser aplicada não com penas cumuladas, mas, sim, com uma pena única exasperada. Concurso de Crimes 6. Erro na Execução e Resultado Diverso do Pretendido 6.1. Hipótese em que o agente, por acidente ou erro no uso dos meios de execução, ao invés de atingir a pessoa que pretendia ofender, atinge pessoa diversa. 6.2. Artigo 73 CP. Quando isso se verifica, o agente deverá ser apenado como se tivesse praticado o delito contra aquela pessoa que pretendia atingir, conforme a regra do artigo 20, § 3º, CP (erro sobre a pessoa). Concurso de Crimes 6. Erro na Execução e Resultado Diverso do Pretendido 6.3. Ocorre quando, fora dos casos de ofensa à pessoa, o agente, por acidente ou erro na execução do crime, vem a atingir bem jurídico de outra natureza. 6.4. Artigo 74 CP. O agente responde por culpa, se o fato é previsto como crime culposo. Se ocorre também o resultado pretendido, aplica-se à regra do artigo 70 CP. Concurso de Crimes 7. Limite Máximo de Cumprimento de Pena 7.1. Atendendo ao postulado do artigo 5º, XLVII, CF88, o caput do artigo 75 CP determina que o tempo de cumprimento das penas privativas de liberdade não pode ser superior a 30 (trinta) anos. Tal regra é extensível à legislação penal especial, bem como às medidas de segurança. 7.2. Na hipótese do agente ser condenado a penas privativas de liberdade cuja soma ultrapassem 30 (trinta) anos, devem elas ser unificadas para atender ao limite máximo em questão (artigo 75, § 1º, CP). Concurso de Crimes 7. Limite Máximo de Cumprimento de Pena 7.3. Esta unificação determinada pelo artigo 75, § 1º, CP, vale tão-somente para efeitos de cumprimento das penas privativa de liberdade, não sendo aplicável para obtenção de benefícios prisionais. 7.4. Súmula 715 do STF: “A pena unificada para atender ao limite de trinta anos de cumprimento, determinada pelo art. 75, do CP, não é considerada para a concessão de outros benefícios, como o livramento condicional ou regime mais favorável de execução.” Roteiro 28: Transação Penal 1. Noções introdutórias 2. Infrações de Menor Potencial Ofensivo 3. Conceito 4. Requisitos 5. Período de Prova 6. Descumprimento Injustificado 7. Revogação 8. Cumprimento Integral e Extinção da Punibilidade Transação Penal 1. Noções Introdutórias 1.1. Denominam-se alternativas penais todos os institutos voltados para impedir ou substituir a pena privativa de liberdade, bem como abreviar o seu tempo de duração. 1.2. Trata-se de um conceito amplo, que enfeixa, como espécies, as penas alternativas, a multa, a transação penal, a suspensão condicional do processo, a suspensão condicional da pena e o livramento condicional Transação Penal 1. Noções Introdutórias 1.3. A Constituição Federal de 1988, instaurando uma nova ordem jurídica, determinou, no seu art. 98, I, que fossem criados Juizados Especiais destinados ao julgamento de causas cíveis de menor complexidade e de infrações penais de menor potencial ofensivo. 1.4. A previsão contida no art. 98, I, da CF/1988, foi implementada pela Lei nº. 9.099/95. Dentre outras disposições, a chamada Lei dos Juizados Especiais definiu o que seria infração de menor potencial ofensivo, bem como em que consistiria o instituto da transação penal. Transação Penal 2. Infrações de Menor Potencial Ofensivo 2.1. A Lei nº. 11.313/06 uniformizou a matéria, dando nova redação ao artigo 61, da Lei 9.099/95: 2.1.1. “Consideram-se infrações penais de menor potencial ofensivo, para os efeitos desta Lei, as contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena máxima não superior a 2 (dois) anos, cumulada ou não com multa”. 2.2. Segundo a modelagem atual, o conceito de menor potencial ofensivo engloba todo o ordenamento jurídico-penal, inclusive os delitos eleitorais, falimentares etc. Transação Penal 3. Conceito 3.1. Artigo 76 da Lei nº 9.099/95. Havendo representação ou tratando-se de crime de ação penal pública incondicionada, não sendo caso de arquivamento, o Ministério Público poderá propor a aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou multas, a ser especificada na proposta. 3.2. É necessário que o autor do fato manifeste sua concordância com a transação penal de forma consciente e voluntária. Não basta, portanto, que ele subscreva uma procuração a alguém com poderes para transigir, já que o que está sendo renunciado é uma parcela da sua liberdade individual. Ele deve, portanto, estar presente ao ato. Transação Penal 4. Requisitos 4.1. A transação penal somente poderá ser proposta pelo Ministério Público diante da constatação, no caso concreto, dos seguintes pressupostos. 4.2. Que se trata de infração de menor potencial ofensivo. 4.3. Que o autor da infração não tenha sido condenado, pela prática de crime, à pena de prisão, por sentença definitiva. Transação Penal 4. Requisitos 4.4. Que o agente não tenha sido beneficiado anteriormente, no prazo de cinco anos, pela aplicação de pena restritiva de direitos ou multa, nos termos da Lei nº 9.099/95. 4.5. Que os antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias, indicarem a necessidade e a suficiência da adoção da medida. Transação Penal 5. Período de Prova 5.1. No terreno das alternativas penais, período de prova significa o espaço de tempo dentro do qual devem ser atendidas as condições impostas àquele que recebeu a medida substitutiva da privação da liberdade. 5.2. No caso da transação penal, o seu período de prova importa no cumprimento da pena restritiva de direitos ou multa, pactuada pelas partes e homologada judicialmente(artigo 76, § 4º, da Lei nº. 9.099/95). Transação Penal 6. Descumprimento Injustificado 6.1. Iniciado o período de prova, pode ocorrer do beneficiado não cumprir as condições impostas pela transação penal. Em tal hipótese, deve-se perquirir o motivo do descumprimento, via de regra por intermédio de uma audiência especial. 6.2. Caso as razões sejam reputadas injustificadas ou, ainda, caso a parte sequer compareça àquela audiência, a consequência será a revogação da medida. Transação Penal 7. Revogação 7.1. Os efeitos da revogação dependerão da natureza da pena aplicada na transação penal. 7.2. Na hipótese de ter sido aplicada uma pena de multa, caso não seja paga, a multa será considerada dívida de valor, aplicando-se-lhe as normas da legislação relativa à dívida ativa da Fazenda Pública. 7.3. Na hipótese da transação redundar na obrigação do cumprimento de pena restritiva de direito, a Lei nº. 9.099/95 não disciplinou qual seria a respectiva consequência jurídica. Transação Penal 7. Revogação 7.4. Inúmeras foram as teses propugnadas, tanto pela doutrina como pela jurisprudência. Dentre elas, as principais são: 7.5. O retorno ao status quo ante com a deflagração da ação penal pelo Ministério Público. 7.6. A conversão da restritiva de direito em privativa de liberdade. 7.7. A homologação da transação somente após o cumprimento das condições. Transação Penal 7. Revogação 7.8. A execução civil do título homologado. 7.9. Efeitos da Repercussão Geral e encerramento da controvérsia: o STF, em questão de ordem, reconheceu a Repercussão Geral da matéria e, no mérito, reafirmou a sua jurisprudência no sentido de que, em caso de descumprimento das medidas estabelecidas na transação penal, “deve-se proceder à remessa dos autos ao Ministério Público a fim do prosseguimento da ação penal”. Transação Penal 8. Cumprimento Integral e Extinção da Punibilidade 8.1 Homologada a transação penal, inicia-se o respectivo período de prova. Devidamente cumprida a pena restritiva de direito ou a multa, há de ser declarada extinta a punibilidade do autor da infração. 8.2. Trata-se de uma das causas de extinção da punibilidade não previstas no rol do artigo 107 CP, não gerando efeitos da reincidência, maus antecedentes ou obrigação de reparação civil do dano, guardando-se o registro tão-somente para fins de obstar nova transação penal no prazo de cinco anos Roteiro 29: Suspensão Condicional do Processo 1. Noções introdutórias 2. Pressupostos 3. Não Formulação da Proposta pelo MP 4. Cumprimento das Condições e Período de Prova 5. Descumprimento das Condições 6. Cumprimento Integral das Condições Suspensão Condicional do Processo 1. Noções Introdutórias 1.1. A suspensão condicional do processo integra um conjunto de iniciativas político-criminais que, desde o final do século XIX, visam restringir os efeitos negativos da pena de prisão de curta duração. 1.2. Ao contrário da transação penal (que se limita às infrações de menor potencial ofensivo), a suspensão condicional do processo pode ser aplicada para todas as infrações penais, desde que se observe o limite de pena mínima igual ou inferior a 1 ano. Suspensão Condicional do Processo 1. Noções Introdutórias 1.3. O dispositivo que regula a suspensão do processo (artigo 89), está nas disposições finais da Lei nº. 9.099/95, não se limitando, assim, à competência dos Juizados Especiais Criminais. 1.4. Conceito: trata-se do acordo judicial pelo qual a ação penal é paralisada pela aceitação, por parte do acusado, do cumprimento das condições estipuladas na proposta formulada pelo Ministério Público. Suspensão Condicional do Processo 2. Pressupostos 2.1. O caput do art. 89, da Lei nº. 9.099/95 elenca os requisitos para a aplicação do sursis processual. São eles: 2.1.1. Que o crime tenha pena mínima igual ou inferior a um ano. 2.1.2. Que o acusado não esteja sendo processado por outro crime. 2.1.3. Que o acusado não tenha sido condenado por outro crime. 2.1.4. Que o acusado atenda aos requisitos do artigo 77 CP. Suspensão Condicional do Processo 3. Não Formulação da Proposta pelo MP 3.1. O artigo 89, da Lei nº. 9.099/95, dispõe que somente o órgão ministerial poderá propor a suspensão do processo. 3.2. Na atualidade, existe entendimento pacífico acerca da solução dada na hipótese de o Ministério Público optar por não formular a proposta de suspensão condicional no processo. 3.3. Entende-se que, de fato, o Ministério Público pode deixar de elaborar a referida proposta, desde que o faça de forma fundamentada. 3.4. Súmula 696, do STF: “Reunidos os pressupostos legais permissivos da suspensão condicional do processo, mas se recusando o Promotor de Justiça a propô-la, o Juiz, dissentindo, remeterá a questão ao Procurador-Geral, aplicando- se por analogia o art. 28 do Código de Processo Penal”. Suspensão Condicional do Processo 4. Cumprimento das Condições e Período de Prova 4.1. As condições que devem ser observadas, durante o período de prova da suspensão condicional do processo, dividem-se em duas espécies: legais e judiciais. 4.2. Condições legais (artigo 89, § 1º, Lei 9.099/95): 4.3. Reparação do dano, salvo impossibilidade de fazê-lo. 4.4. Proibição de frequentar determinados lugares. 4.5. Proibição de se ausentar da comarca onde reside, sem autorização do Juiz. Suspensão Condicional do Processo 4. Cumprimento das Condições e Período de Prova 4.6. Comparecimento pessoal e obrigatório a juízo, mensalmente, para informar e justificar suas atividades. 4.7. Condições judiciais: além das condições legais anteriormente mencionadas, o juiz deve impor outras que lhe pareçam adequadas ao fato e à situação pessoal do acusado, desde que respeitados os direitos individuais. 4.8. Artigo 89 da Lei nº 9.099/95. O período de prova da suspensão do processo varia de dois a quatro anos. Suspensão Condicional do Processo 5. Descumprimento das Condições 5.1. O injustificado descumprimento do que fora pactuado, evidentemente, acarreta consequências negativas ao apenado, ou seja, a revogação do benefício e o retorno à regular marcha processual. 5.2. As causas de revogação da suspensão do processo dividem-se em obrigatórias e facultativas. 5.3. Obrigatórias: 5.3.1. Se, no curso do prazo, o réu vier a ser processado por outro delito, independentemente deste ter sido praticado antes ou durante a vigência daquele (artigo 89, § 3º, Lei 9.099/95); 5.3.2. Descumprimento, sem justa causa, do dever de reparar o dano. Suspensão Condicional do Processo 5. Descumprimento das Condições 5.4. Facultativas: 5.4.1. Se o acusado, durante o período de prova, vier a ser processado por contravenção penal; 5.4.2. Não observar, injustificadamente, quaisquer das condições judicialmente impostas (artigo 89, § 4º, da Lei 9.099/95). Suspensão Condicional do Processo 6. Cumprimento Integral das Condições 6.1. O cumprimento integral, sem revogação, das condições da suspensão condicional do processo, acarreta a extinção da punibilidade do acusado (artigo 89, § 5º, da Lei nº. 9.099/95). 6.2. Trata-se de sentença declaratória de extinção da punibilidade, baseada em causa não contemplada no rol do artigo 107 CP. Roteiro 30: Suspensão Condicional da Pena 1. Noções introdutórias 2. Conceito 3. Espécies 4. Pressupostos 5. Cumprimento das Condições e Período de Prova 6. Descumprimento das Condições 7. Prorrogação do sursis 8. Cumprimento Integral das Condições Suspensão Condicional da Pena 1. Noções Introdutórias 1.1. Corresponde a uma das primeiras iniciativas político-criminais voltadas para minimizar os efeitos negativos da pena de prisão de curta duração. 1.2. Por suas próprias características, a suspensão condicional atinge somente as penas privativas de liberdades (reclusão, detenção e prisão simples), não abrangendo, pois, as penas de multa ou restritivas de direitos (artigo 80 CP). Suspensão Condicional da Pena 2. Conceito 2.1. Consiste na decisão do juiz, por ocasião da publicação da sentença condenatória, deixar de executar a pena privativa de liberdade, submetendo o acusado – agora condenado – ao cumprimento das condições estabelecidas na própria decisão. 2.2. No Direito brasileiro, a doutrina majoritária confere-lhe a natureza jurídica de direito público subjetivo de liberdade. Suspensão Condicional da Pena 3. Espécies 3.1. Formalmente, a doutrina reconhece a existência das seguintes espécies: simples, especial, etário e humanitário. 3.2. Simples (ou comum): o condenado, no primeiro ano da sua vigência, fica sujeito ao dever de prestar serviços comunitários ou de submeter-se à limitação de fim de semana (artigos 78, § 1º, e 79, CP). 3.3. Especial: destina-se ao condenado não reincidente em crime doloso, que tenha reparado o dano e cujas circunstâncias judiciais tenham sido todas favoráveis (artigo 78, § 2º, CP). Suspensão Condicional da Pena 3. Espécies 3.4. Etário e humanitário (artigo 77, § 2º, CP): 3.4.1. Voltadas para o condenado maior de setenta anos de idade ou com razões de saúde que justifiquem a suspensão de um prazo maior de punição, ou seja, pena privativa de liberdade fixada até o patamar de quatro anos de reclusão ou detenção; 3.4.2. No caso do septuagenário ou do seriamente enfermo, as condições serão as mesmas do sursis simples, mas com o período de prova dilatado para quatro a seis anos. Suspensão Condicional da Pena 3. Espécies 3.5. Em síntese, da análise das respectivas modalidades apresentadas, conclui-se que, na realidade, existem duas formas de suspensão da pena: 3.5.1. Aquela em que a lei impõe, ao beneficiário, a obrigação de cumprir, no primeiro ano, uma verdadeira pena restritiva de direitos; 3.5.2. Aquela em que, em razão da situação privilegiada do condenado, a lei lhe destina, no primeiro ano, o cumprimento de medidas menos rigorosas. Suspensão Condicional da Pena 4. Pressupostos 4.1. Os requisitos objetivos e subjetivos necessários à obtenção da suspensão condicional da pena estão descritos no artigo 77 CP. 4.2. Em sua maioria, tais requisitos são extensíveis à suspensão condicional do processo (artigo 89 da Lei n 9.099/95). 4.3. Que a pena privativa de liberdade seja igual ou inferior a dois anos. Suspensão Condicional da Pena 4. Pressupostos 4.4. Que o condenado não seja reincidente em crime doloso. 4.5. Que as circunstâncias judiciais autorizem a concessão do benefício. 4.6. Que não seja indicada ou cabível a substituição por pena restritiva de direitos. Suspensão Condicional da Pena 5. Cumprimento das Condições e Período de Prova 5.1. As condições que devem ser observadas no período de prova se dividem em legais e judiciais. 5.1.1. Denominam-se “legais” aquelas que o próprio Código discrimina a natureza e conteúdo; 5.1.2. “Judiciais” são aquelas a serem especificadas segundo a prudente avaliação do juiz, desde que adequadas ao fato e ao condenado. 5.2. As condições legais devem ser obrigatoriamente impostas ao condenado, bem como são idênticas às analisadas na suspensão condicional do processo. Suspensão Condicional da Pena 5. Cumprimento das Condições e Período de Prova 5.3. As condições judiciais (artigo 79 CP) devem ser escolhidas pelo magistrado, de forma proporcional à gravidade do fato, bem como à condição pessoal do apenado. 5.4. O período de prova compreende o lapso de tempo em que o condenado tem a execução da pena privativa de liberdade suspensa, a mercê do cumprimento das condições legais e judiciais. 5.4.1. Para as modalidades simples e especial, o período de prova varia entre dois e quatro anos; 5.4.2. Para o sursis etário ou humanitário, entre quatro e seis anos. Suspensão Condicional da Pena 6. Descumprimento das Condições 6.1. Durante o período de prova, será aferido se o condenado efetivamente faz jus à liberdade que lhe foi mantida, 6.2. As causas de revogação podem ser obrigatórias ou facultativas. 6.2.1. Obrigatórias: artigo 81, I a III, CP. 6.2.2. Facultativas: artigo 81, § 1º, CP. Suspensão Condicional da Pena 7. Prorrogação do sursis 7.1. Além das hipóteses anteriormente analisadas, o sursis terá ter seu prazo automaticamente prorrogado se o beneficiário está sendo processado por outro crime ou contravenção, dilação esta que se estende até o julgamento definitivo (artigo 81, § 2º, CP). 7.2. A prorrogação automática não decorre da prática de outro delito; tampouco do fato de estar respondendo a inquérito policial ou procedimento investigatório conduzido pelo MP, mas de processo penal formalmente deflagrado, isto é, de denúncia judicialmente recebida. Suspensão Condicional da Pena 8. Cumprimento Integral das Condições 8.1. Decorrido o período de prova sem que se tenha havido revogação, considerar-se-á extinta a pena privativa de liberdade (artigo 82 CP). 8.2. Trata-se de causa de extinção da punibilidade não contemplada no rol do artigo 107 CP. Roteiro 31: Livramento Condicional 1. Noções introdutórias 2. Conceito 3. Pressupostos 4. Unificação das Penas 5. Cumprimento das Condições e Período de Prova 6. Descumprimento das Condições 7. Suspensão 8. Prorrogação 9. Cumprimento Integral Livramento Condicional 1. Noções Introdutórias 1.1. O livramento condicional é concebido e aplicado como uma etapa intermediária entre o aprisionamento e a plena liberdade. 1.2. Trata-se de uma medida utilizada pelos países que adotam o sistema progressivo de cumprimento de pena. Livramento Condicional 2. Conceito 2.1. Consiste na liberação antecipada, mediante determinadas condições, do condenado que cumpriu uma parte da pena que lhe foi imposta. 2.2. Verificação empírica da aptidão do condenado para abreviar, ainda que precariamente, o tempo de prisão, saindo do estabelecimento para reintegrar-se socialmente. 2.3. Não há consenso doutrinário sobre sua natureza. No Brasil, a doutrina majoritária entende que trata-se de direito subjetivo do apenado, desde que atendidos os pressupostos legais. Livramento Condicional 3. Pressupostos 3.1. Segundo o artigo 131 da LEP, o livramento condicional poderá ser concedido ao condenado que vier a atender aos requisitos do artigo 83 CP. 3.1.1. Pena privativa de liberdade seja igual ou superior a dois anos; 3.1.2. Cumprimento de mais de um terço da pena, se o condenado não for reincidente em crime doloso e tiver bons antecedentes; 3.1.3. Cumprimento de mais da metade da pena, em caso de reincidência em crime doloso; 3.1.4. Cumprimento de mais de dois terços da pena, em caso de condenação por crime hediondo ou assemelhados, salvo se reincidente específico em crimes desta natureza; Livramento Condicional 3. Pressupostos 3.1.5. Comprovação de comportamento satisfatório durante a execução da pena, bom desempenho no trabalho que lhe foi atribuído e aptidão para prover a própria subsistência mediante trabalho honesto; 3.1.6. Reparação do dano, salvo efetiva impossibilidade de fazê-lo; 3.1.7. Submissão a exame criminológico, em caso de condenado por crime doloso, cometido com violência ou grave ameaça à pessoa. 3.2. O artigo 83, III, CP, arrola, ainda, três fatores de natureza subjetiva que visam aferir se o apenado responde satisfatoriamente às expectativas relacionadas com a sua reinserção social: 3.2.1. Comportamento satisfatório no curso da execução penal; Livramento Condicional 3. Pressupostos 3.2.2. Bom desempenho no trabalho que lhe foi atribuído; 3.2.3. Aptidão para prover a própria subsistência mediante trabalho honesto. Livramento Condicional 4. Unificação de Penas 4.1. Artigo 84 CP. As penas que correspondam a infrações diversas devem ser somadas para efeito do livramento. 4.2. O artigo 75, § 1º, CP, e o artigo 111 da LEP, cuidam da questão da unificação, para atender, respectivamente, ao limite máximo de cumprimento de pena (trinta anos), bem assim à fixação do regime inicial de cumprimento de pena. Livramento Condicional 5. Cumprimento das Condições e Período de Prova 5.1. As condições a serem observadas pelo liberado, durante o período de prova, devem estar especificadas na sentença que concede o benefício (artigo 85 CP). 5.2. O artigo 132 da LEP disciplina os termos da sentença concessiva do livramento, prevendo um rol de condições obrigatórias e facultativas que deverão ser observadas pelo liberado. 5.3. As condições obrigatórias são: 5.3.1. Obter ocupação lícita, dentro de prazo razoável se for apto para o trabalho; Livramento Condicional 5. Cumprimento das Condições e Período de Prova 5.3.2. Comunicar periodicamente ao juiz sua ocupação; 5.3.3. Não mudar do território da comarca do Juízo da Execução, sem prévia autorização deste. 5.4. Por seu turno, as condições facultativas são: 5.4.1. Não mudar de residência, no território da comarca, sem comunicação ao juiz e à autoridade incumbida da assistência ou fiscalização da medida (Patronato); 5.4.2. Recolher-se à habitação em hora fixada; 5.4.3. Não frequentar determinados lugares. Livramento Condicional 6. Descumprimento das Condições 6.1. As condições impostas ao liberado devem ser estritamente observadas, sob pena de cancelamento do benefício e regressão ao regime anteriormente fixado. 6.2. As causas de revogação podem ser obrigatórias ou facultativas. 6.2.1. Obrigatórias (artigo 86 CP): condenação irrecorrível por crime cometido durante o benefício. Condenação irrecorrível por crime cometido antes do benefício. 6.2.2. Facultativas (artigo 87 CP): deixar de cumprir qualquer das obrigações constantes da sentença. Superveniência de sentença condenatória irrecorrível, por crime ou contravenção, a pena que não seja privativa de liberdade. Livramento Condicional 7. Suspensão 7.1. Trata-se de medida cautelar que visa resguardar os interesses da sociedade, em razão da natural demora até se chegar a uma sentença condenatória irrecorrível que acarrete, só então, a revogação definitiva do benefício. 7.2. Artigo 145 da LEP. Diferentemente da revogação, que é definitiva, a suspensão se dá a título provisório, ou seja, pendente da decisão final que selará o destino do apenado que tenha praticado outra infração enquanto liberado. Livramento Condicional 8. Prorrogação 8.1. A prorrogação do livramento ou do seu período de prova efetivamente não existe. Isso porque, o artigo 89 CP contempla norma impeditiva da extinção da pretensão punitiva estatal, visto que, se houver condenação, será revogado o livramento que estava suspenso, desprezando-se o tempo correspondente ao período de prova para fins de cômputo de pena cumprida. 8.2. A jurisprudência do STF e do STJ apontam no sentido de rejeitar a hipótese de prorrogação do livramento, reconhecendo-se, tão-somente, as medidas de suspensão, de caráter cautelar, e de revogação, como decisão final. Livramento Condicional 9. Cumprimento Integral 9.1. Decorrido o prazo referente ao período de prova – sem suspensão ou revogação –, considerar-se-á extinta a pena privativa de liberdade (artigo 90 CP e artigo 146 da LEP). 9.2. Trata-se de causa de extinção da pretensão punitiva do Estado não prevista no rol do artigo 107 CP. Roteiro 32: Efeitos da Condenação e Reabilitação 1. Noções introdutórias 2. Efeitos Secundários de Natureza Penal 3. Efeitos Secundários de Natureza Extrapenal 4. Reabilitação Penal Efeitos da Condenação e Reabilitação 1. Noções Introdutórias 1.1. Artigos 91 a 95 CP: regulam questões atinentes aos efeitos da sentença penal condenatória, bem como ao instituto da reabilitação penal. 1.2. A imposição de uma sanção penal é o efeito primário de toda condenação penal. Existem, ainda, os efeitos secundários – de natureza penal ou extrapenal. Efeitos da Condenação e Reabilitação 2. Efeitos Secundários de Natureza Penal 2.1. Encontram-se regulados em diversos pontos da legislação penal, bem como no Código de Processo Penal e na Lei de Execução Penal. 2.2. São efeitos secundários de natureza penal: 2.2.1. Gerar a reincidência; 2.2.2. Impedir a concessão de substitutivos penais: a) na transação penal; b) na suspensão condicional do processo; e c) na suspensão condicional da pena; 2.2.3. Acarretar a revogação do sursis; 2.2.4. Acarretar a revogação do livramento condicional; Efeitos da Condenação e Reabilitação 2. Efeitos Secundários de Natureza Penal 2.2.5 Influir na contagem do prazo prescricional; 2.2.6. Impedir o reconhecimento do privilégio: a) no furto; b) na apropriação indébita; c)no estelionato; e d) na receptação; 2.2.7. Impedir a propositura da exceção da verdade no crime de calúnia; 2.2.8. Impedir a extinção da punibilidade pela reparação do dano no peculato culposo; 2.2.9 Impedir a extinção da punibilidade pela retratação ou declaração da verdade no falso testemunho; 2.2.10 Ser expedida guia de recolhimento para execução; Efeitos da Condenação e Reabilitação 2. Efeitos Secundários de Natureza Penal 2.2.11. Ser o réu preso ou conservado na prisão, tanto nas infrações inafiançáveis, como nas afiançáveis enquanto não prestar fiança; 2.2.12. Ser o nome do réu lançado no rol dos culpados. Efeitos da Condenação e Reabilitação 3. Efeitos Secundários de Natureza Extrapenal 3.1. Há duas sortes de efeitos: 3.1.1. Genéricos (artigo 91 CP), que valem para todos os delitos e têm incidência automática; 3.1.2. Específicos (artigo 92 CP), que se encontram relacionados com determinados ilícitos e cuja aplicabilidade exige motivação expressa na sentença. 3.2. Dois exemplos de efeitos genéricos de toda condenação penal são a obrigação de reparar o dano e a perda dos instrumentos ou proveitos do crime. 3.3. Os efeitos específicos da condenação, diferentemente dos anteriores, não são automáticos, devendo constar expressamente mencionados na sentença condenatória. São eles: Efeitos da Condenação e Reabilitação 3. Efeitos Secundários de Natureza Extrapenal 3.3.1. Perda do cargo, função pública ou mandato eletivo; 3.3.2. Incapacidade para o exercício do poder familiar, tutela ou curatela; 3.3.3. Inabilitação para dirigir veículo utilizado em crime doloso; 3.3.4. Inabilitação do empresário nos delitos falimentares. Efeitos da Condenação e Reabilitação 4. Reabilitação Penal 4.1. Significa recobramento de crédito ou do bom conceito perante os concidadãos. Trata-se, assim, do retorno, tanto quanto possível, à normalidade do convívio social, das atividades laborativas, de estudo, lazer, enfim, da estima pública. 4.2. Na atualidade, a reabilitação penal aproxima-se mais da noção de ressocialização, podendo, de certa maneira, ser entendida como a plena reinserção social do apenado. 4.3. Artigo 93 CP. A reabilitação somente alcança alguns dos efeitos secundários da condenação, sendo inadmissível para reaver o cargo, função pública ou mandato eletivo perdido por decisão do juízo criminal, bem assim o poder familiar, tutela ou curatela do filho, tutelado ou curatelado. Efeitos da Condenação e Reabilitação 4. Reabilitação Penal 4.4. Além dos pressupostos presentes no artigo 94 CP, é preciso que outros estejam presentes, tais como: 4.4.1. Domicílio no país no prazo de dois anos; 4.4.2. Demonstração efetiva e constante de bom comportamento público ou privado; 4.4.3. Reparação do dano causado pelo crime ou comprovação da absoluta impossibilidade de fazê-lo, até a data do pedido, ou comprovação da renúncia expressa da vítima ou novação da dívida. 4.5. Revogação da reabilitação: artigo 95 CP. Requisitos: 4.5.1. Que o reabilitado venha a ser condenado, como reincidente, a pena diversa da multa; Efeitos da Condenação e Reabilitação 4. Reabilitação Penal 4.5.2. Condenação superveniente a uma pena privativa de liberdade ou restritiva de direitos. 4.6. O juízo competente para a dedução do pedido é o da condenação – e não o da execução penal (artigo 743 CPP). 4.7. A reabilitação é pessoal e intransferível. Dessa maneira, falecendo o condenado, o seu exercício não pode se transferir aos herdeiros. Roteiro 33: Medidas de Segurança 1. Noções introdutórias 2. Conceito 3. Objetivo e Natureza Jurídica 4. Sistemas do Duplo Binário e Vicariante 5. Diferenças entre Pena e Medida de Segurança 6. Pressuposto e Espécies 7. Suspensão, Extinção e Limite Máximo 8. Conversão da Pena em Medida de Segurança Medidas de Segurança 1. Noções Introdutórias 1.1. No Brasil, embora fundadas nas antigas penas correcionais da Primeira República, as medidas de segurança foram alardeadas como uma nova tecnologia de punição, formalmente introduzidas pelo Código Penal de 1940. 1.2. Conforme a Exposição de Motivos do Código Penal de1940, o Projeto fez ingressar na órbita da lei penal as medidas de segurança, classificando-as como “ações de prevenção e de assistência social aos portadores de estado de periculosidade. 1.3. Supostamente, não tinham caráter repressivo, e se destinavam a proteger a sociedade contra as ações da “legião cinzenta dos inadaptáveis”. Medidas de Segurança 1. Noções Introdutórias 1.4. Na ocasião, o Código Penal de 1940 dividiu as medidas de segurança entre patrimoniais e pessoais, subdividindo as últimas, em detentivas e não- detentivas. Ainda, eram destinadas não somente aos inimputáveis, mas, igualmente, aos imputáveis considerados como presumidos perigosos, consoante o sistema do duplo binário ou dupla via (pena e medida de segurança). 1.5. A Reforma Penal de 1984 procurou corrigir tais excessos, extinguindo as medidas de segurança patrimoniais e as pessoais não-detentivas. 1.6. Mantiveram-se, contudo, as medidas de segurança privativa e restritiva, vale dizer, a internação em hospital de tratamento ou custódia e a sujeição a tratamento ambulatorial (artigo 96 CP). 1.7. Ainda, o sistema do duplo binário foi substituído pelo sistema vicariante ou da única via (artigo 97 CP). Medidas de Segurança 2. Conceito 2.1. As medidas de segurança são consequências jurídicas da prática de fato definido como crime, por indivíduos que não possuam culpabilidade, por lhes faltar sanidade. 2.2. São medidas tratamentais (internação e tratamento ambulatorial), impostas compulsoriamente por um juiz criminal nas hipóteses em que se revelar a periculosidade do indivíduo, em razão da prática de um injusto penal. Medidas de Segurança 3. Objetivo e Natureza Jurídica 3.1. Objetivo: impedir que a pessoa volte a delinquir, a fim de que possa levar uma vida sem conflitos com a sociedade (excepcionalmente, pode ser imposta ao semi-responsável que necessitar de especial tratamento curativo). 3.2. Natureza jurídica: tem inequívoca natureza de sanção penal. A internação em hospital de custódia ou a sujeição a tratamento ambulatorial devem ser consideradas, ao lado das penas, como manifestações do magistério punitivo estatal. Medidas de Segurança 4. Sistemas do Duplo Binário e Vicariante 4.1. O Código Penal de 1940 adotava o sistema do duplo binário ou da dupla via: 4.1.1. Estabelecia que o indivíduo era submetido à medida de segurança, depois de cumprida a pena privativa de liberdade; 4.1.2. A reunião de ambas as sanções penais pareceu contraditória, pois era necessário avaliar se o indivíduo necessitava realmente de tratamento ou se a sanção penal era suficiente. 4.2. A Reforma Penal de 1984 então o substituiu pelo sistema vicariante ou da única via: o juiz deve escolher entre a imposição de uma pena ou de uma medida de segurança. Medidas de Segurança 4. Sistemas do Duplo Binário e Vicariante 4.3. A sistemática que passou a ser adotada foi a seguinte: 4.3.1. Para o imputável, somente caberá a imposição de pena; 4.3.2. Para o inimputável (artigo 26, caput, CP), há a aplicação de medida de segurança; 4.3.3. Para o semi-responsável (artigo 26, parágrafo único, CP) aplica- se pena ou, alternativamente, medida de segurança. 4.4. O que irá fundamentar a decisão judicial no caso do semi-imputável será a necessidade de especial tratamento curativo (artigo 98 CP). 4.5. Em suma, pela sistemática atual, o imputável jamais sofrerá medida de segurança, o inimputável jamais receberá pena e o semi-imputável receberá uma ou outra sanção, jamais as duas. Medidas de Segurança 5. Diferenças entre Pena e Medida de Segurança 5.1. Pena e medida de segurança são espécies do gênero sanções penais. A doutrina tem apontado, entre elas, as seguintes distinções: 5.1.1. A pena tem caráter retributivo-preventivo (artigo 59, caput, CP), ao passo que a medida de segurança tem caráter preventivo (artigo 96 CP); 5.1.2. O fundamento para a imposição da pena é a prática de fato típico, antijurídico e culpável. Para a medida de segurança, basta a perpetração de fato típico e antijurídico; 5.1.3. A pena tem tempo de duração determinada na sentença, e a medida de segurança vigora por tempo indeterminado, enquanto não constatada, por perícia médica, a cessação da periculosidade do agente; Medidas de Segurança 5. Diferenças entre Pena e Medida de Segurança 5.1.4. A pena destina-se ao imputável e, em regra, ao semi- responsável. A medida de segurança é destinada ao inimputável e, excepcionalmente, ao semi-responsável que necessitar de especial tratamento curativo; 5.1.5. A pena privativa de liberdade é cumprida em estabelecimento de segurança máxima ou média, em colônia agrícola, industrial ou estabelecimento similar ou em casa de albergado, enquanto que a medida de segurança é cumprida em hospital de tratamento psiquiátrico ou com o comparecimento ao posto de saúde adequado; Medidas de Segurança 6. Pressupostos e Espécies 6.1. Artigo 97 CP: periculosidade presumida como pressuposto para aplicação da medida de segurança para o inimputável. 6.2. Artigo 98 CP: periculosidade real como pressuposto para aplicação da medida de segurança para o semi-imputável. 6.3. Espécies: 6.3.1. Internação em hospital psiquiátrico; 6.3.2. Tratamento ambulatorial. Medidas de Segurança 7. Suspensão, Extinção e Limite Máximo 7.1. A desinternação ou liberação gradual se dará, conforme o § 3º do artigo 97 CP, sempre a título provisório, ou seja, durante um período de prova de um ano, aplicando-se ao agente, durante este prazo, as condições previstas para o livramento condicional (artigo 178 da LEP). 7.2. Posiciona-se no sentido de que para os inimputáveis a medida não pode perdurar por mais de trinta anos (artigo 75, caput, CP). O Decreto de Indulto Natalino, a partir de proposta do CNPCP, tem estabelecido que, no caso de inimputável, a duração máxima da medida de segurança não deve ser trinta anos, mas, sim, do tempo máximo cominado, em abstrato, no tipo penal em que o agente restou incurso. Medidas de Segurança 8. Conversão da Pena em Medida de Segurança 8.1. Em duas hipóteses a pena aplicada poderá ser substituída por medida de segurança: 8.1.1. A primeira se dá no caso de semi-imputável que necessitar de especial tratamento curativo (artigo 98 CP); 8.1.2. A segunda hipótese ocorre em razão de superveniência de doença mental de quem já se encontrava cumprindo a pena (artigo 41 CP e artigo 183 da LEP). 8.2. O STJ determinou que, se no curso da execução da pena de prisão sobrevier doença mental ou perturbação da saúde mental do condenado, o juiz poderá determinar a substituição da pena por medida de segurança. Roteiro 34: Ação Penal 1. Noções Introdutórias 2. Espécies 3. Ação Penal Pública 4. Ação Penal Privada 5. Decadência do Direito de Queixa ou de Representação 6. Renúncia ao Direito de Queixa 7. Perdão do Ofendido 8. Extinção da Punibilidade Ação Penal 1. Noções Introdutórias 1.1. Quando uma pessoa transgride a norma penal, o poder de punir sai do plano abstrato, surgindo, concretamente, a denominada pretensão punitiva estatal, que é a pretensão da sociedade (representada pelo Estado) de impor sanção penal ao autor da conduta típica, antijurídica e culpável. 1.2. Ação penal consiste no direito de obter o pronunciamento do Judiciário sobre a procedência da pretensão punitiva estatal. Trata-se do meio pelo qual se inicia o processo penal, com o fito de ser aplicada a pena contra determinado infrator. Ação Penal 2. Espécies 2.1. Sendo monopólio estatal, é possível que, por razões de política criminal, a lei condicione a atuação do órgão acusador à prévia manifestação de vontade do lesado ou de outro órgão público. 2.2. Pode-se classificar a ação penal da seguinte forma: 2.2.1. Ação penal pública incondicionada; 2.2.2. Ação penal pública condicionada a representação do ofendido ou a requisição do Ministro da Justiça; 2.2.3. Ação penal privada (exclusivamente privada e personalíssima); 2.2.4. Ação penal privada subsidiária da pública. Ação Penal 2. Espécies 2.3. É o legislador que irá definir qual modalidade de ação se submeterá cada modalidade de crime previsto no Código Penal ou na legislação penal especial. Ação Penal 3. Ação Penal Pública 3.1. A ação penal pública, incondicionada ou condicionada, é aquela promovida pelo Ministério Público (artigos 100, caput ou § 1º, CP; 24 CPP; e 129, I, CF/1988). 3.2. Em alguns casos, embora pública, a ação penal dependerá de representação do ofendido ou de requisição do Ministro da Justiça (artigo 100, § 1º, CP). 3.2.1 Representação significa a manifestação de vontade do ofendido ou seu representante legal, no sentido de ser movida a acusação pública; 3.2.2. Requisição do Ministro da Justiça é, igualmente, uma manifestação de vontade, pautada, no caso, por razões de conveniência política. Ação Penal 3. Ação Penal Pública 3.3. A lei prevê a possibilidade do ofendido se retratar, ou seja, mudar de ideia depois de ter formulado a representação, desde que o MP ainda não tenha oferecido a denúncia (artigo 102 CP). 3.4. A doutrina indaga se seria admissível a retratação da retratação. A rigor, trata-se de formulação de nova representação, em tese perfeitamente possível, desde que não tenha se operado o respectivo lapso decadencial. Ação Penal 4. Ação Penal Privada 4.1. Segundo a doutrina, a ação penal privada compreende as seguintes categorias: 4.1.1. Ação penal exclusivamente privada; 4.2.1. Ação penal privada subsidiária da pública; 4.2.3. Ação penal privada personalíssima. 4.2. Exclusivamente privada: situações nas quais o interesse do ofendido se sobrepõe ao interesse público, razão pela qual a lei confere ao lesado a prerrogativa da deflagração da ação penal, por intermédio da queixa. Ação Penal 4. Ação Penal Privada 4.3. Privada subsidiária da pública (artigos 100, § 3º, CP, e 5º, LIX, CF/88): surge hipótese em que o Ministério Público não oferece a denúncia no prazo legal. 4.4. Privada personalíssima (artigo 31 CPP): falecendo o querelante, extinguir-se-á a punibilidade do querelado, ante a impossibilidade de se prosseguir na ação penal, por não ser possível a “sucessão do direito de queixa”. Ação Penal 5. Decadência do Direito de Queixa ou de Representação 5.1. Se o legislador, por razões político-criminais, concede, em determinadas situações, ao ofendido o direito de representar ou ofertar a queixa-crime, por outro lado estipula-se um prazo para que o faça, sob pena de incidirem os efeitos da decadência. 5.2. O artigo 103 CP não permite que a parte lesada pondere o tempo que quiser sobre a representação ou a queixa. 5.3. Decadência pode ser definida como o escoamento do prazo previsto na lei sem que tenha havido a representação ou o oferecimento da queixa. Ação Penal 5. Decadência do Direito de Queixa ou de Representação 5.4. O ofendido decai do direito de queixa ou de representação se não o exerce dentro do prazo de seis meses, contado do dia em que veio a saber que é o autor do crime ou, no caso do § 3º do artigo 100 CP, do dia em que se esgota o prazo para oferecimento da denúncia. Ação Penal 6. Renúncia ao Direito de Queixa 6.1. Renunciar é não exercer alguma faculdade legal. No caso, a renúncia ao direito de queixa significa que o lesado, apesar de poder iniciar a ação penal privada, não a deflagra. 6.2. A renúncia só cabe na ação penal privada, bem como só pode ocorrer antes do início desta. 6.3. Segundo o artigo 104 CP, a renúncia pode ser: 6.3.1. Expressa, quando for feita por escrito; 6.3.2. Tácita, quando houver a prática de ato incompatível com a vontade de exercer o direito de queixa. Ação Penal 7. Perdão do Ofendido 7.1. Segundo o artigo 105 CP, o perdão do ofendido, nos crimes em que somente se procede mediante queixa, obsta o prosseguimento da ação penal. 7.2. Pode ocorrer após o exercício do direito de queixa, isto é, depois de formalmente iniciada a ação penal privada. Só pode ser admissível até o trânsito em julgado da sentença condenatória. 7.3. Segundo o artigo 106 CP, o perdão também poderá ocorrer nas modalidades expressa ou tácita. 7.4. Peculiaridades: 7.4.1. O perdão concedido a qualquer dos querelados, a todos aproveita; Ação Penal 7. Perdão do Ofendido 7.4.2. Se concedido por um dos ofendidos, não prejudica o direito dos demais ofendidos; 7.4.3. Se o querelado recusa, não produz efeito. Ação Penal 8. Extinção da Punibilidade 8.1. Têm natureza de causas de extinção da punibilidade: 8.1.1. Decadência; 8.1.2. Prescrição; 8.1.3. Renúncia ao direito de queixa ou de representação; 8.1.4. Perdão do ofendido; 8.1.5. Perempção. Roteiro 35: Extinção da Punibilidade 1. Noções Introdutórias 2. Condições Objetivas de Punibilidade e Escusas Absolutórias 3. Classificação das Causas Extintivas da Punibilidade 4. Causas de Extinção da Punibilidade 5. Extinção e Suspensão da Punibilidade nos Crimes Previdenciários e Tributários Extinção da Punibilidade 1. Noções Introdutórias 1.1. A punibilidade compreende tanto a pretensão de punir, que surge com a prática do fato e vai até o trânsito em julgado da sentença condenatória, como a pretensão executória, que se verifica após a sentença definitiva e vai até o cumprimento de todas as obrigações penais do apenado. 1.2. O caminho normal para a extinção da punibilidade passa pelo cumprimento integral da pena imposta ao infrator da lei penal. Cumprida a pena, resta exaurida a pretensão punitiva. Extinção da Punibilidade 2. Condições Objetivas de Punibilidade e Escusas Absolutórias 2.1. Algumas condições objetivas de punibilidade: 2.2. O ingresso do agente no território nacional; 2.3. A sentença declaratória de falência, concessória de recuperação judicial ou de recuperação extrajudicial; 2.4. A decisão judicial de invalidação de licitação ou contrato etc. 2.2. Escusas absolutórias também diferenciam-se das causas gerais de exclusão da punibilidade, por se tratarem de causas pessoais de isenção de pena, estando reguladas nos artigos 181 e 348, § 2º, CP. Extinção da Punibilidade 3. Classificação das Causas Extintivas da Punibilidade 3.1. A doutrina costuma classificar as causas extintivas de punibilidade consoante os efeitos que distintamente produzem. 3.2. Causas extintivas da pretensão punitiva e da pretensão executória: ocorrem respectivamente antes do trânsito em julgado da sentença condenatória e após este. 3.3. Causas gerais e específicas: são as que valem para todos os delitos (ex: morte do agente) e aquelas que só cabem em certas hipóteses legais (ex: retratação no crime de calúnia). 3.4. Causas comunicáveis e incomunicáveis: se comunicam-se ou não entre os concorrentes da prática delituosa. Extinção da Punibilidade 4. Causas de Extinção da Punibilidade 4.1. O artigo 107 CP elenca, de forma exemplificativa, quais são as causas que extinguem a punibilidade. 4.2. Ao rol do referido artigo devem ser acrescentadas, dentre outras hipóteses, as alternativas penais (transação, suspensão do processo, suspensão da pena e livramento condicional), quando o período de prova é integralmente cumprido e não há revogação do benefício. 4.2.1 Morte do agente: vincula-se ao postulado constitucional da personalidade da pena (artigo 5º, XLV, CF88); 4.2.2. Anistia: é o esquecimento do crime, isto é, o ato de vontade da lei que retira a punição de certos fatos que, antes, eram considerados delituosos. Existe uma tendência a não mais se admitir a anistia em casos de prática de graves violações aos direitos humanos. Extinção da Punibilidade 4. Causas de Extinção da Punibilidade 4.2.3. Indulto e graça: atos de clemência ou indulgência que se perdem na história da disciplina. Assim como a anistia, também não cabem para delitos hediondos ou assemelhados. A graça (ou indulto individual) guarde pertinência com situações de cunho humanitário, e o indulto (coletivo) tem raízes culturais e religiosas, e possui, na atualidade, conotação político-penitenciária; 4.2.4. Abolição do crime (abolitio criminis): sinônimo de descriminalização, ou seja, revogação integral, por força de lei, de determinada figura delitiva; 4.2.5. Prescrição, decadência e perempção: Prescrição é a extinção do direito de punir pelo seu não exercício durante determinado lapso de tempo. Decadência é a perda do direito de representação ou de oferecimento de queixa (respectivamente, na ação penal pública condicionada à manifestação de vontade do ofendido e na ação penal privada). Perempção é a perda do direito de prosseguir na ação em virtude da inércia, do desinteresse ou da emulação do seu titular; Extinção da Punibilidade 4. Causas de Extinção da Punibilidade 4.2.6. Renúncia ou perdão do ofendido: renunciar (artigo 104 CP) significa deixar de exercer algum direito, podendo ocorrer de forma expressa ou tácita. O perdão do ofendido (artigo 106 CP) pode ocorrer de forma expressa ou tácita, extra ou intraprocessual, após o oferecimento da queixa e até o trânsito em julgado da ação; 4.2.7. Retratação do agente: quando ele retira o que foi dito, manifestando-se de forma contrária àquela anteriormente emitida (artigo 143 CP); 4.2.8. Perdão judicial: possibilidade de o juiz deixar de aplicar a pena, nas hipóteses expressamente previstas na lei. São situações em que, embora reconhecida a prática do delito, circunstâncias de cunho moral ou social justificam a não imposição da sanção penal. Não se trata de excludente de antijuridicidade ou de culpabilidade, pois há o crime. Extinção da Punibilidade 5. Extinção e Suspensão da Punibilidade nos Crimes Previdenciários e Tributários 5.1. Em se tratando de delitos previdenciários ou tributários (artigos 168-A e 337-A, CP, e artigos 1º e 2º, da Lei nº. 8.137/90), o legislador tem adotado regra mais benéfica para o infrator que adota iniciativa reparatória do dano causado ao erário público. 5.2. Na atualidade, a questão encontra-se regulada no artigo 83, e §§, da Lei nº. 9.430/96. 5.3. Consoante sucessivos diplomas legais, atrelados a planos governamentais arrecadatórios, o pagamento integral ou o parcelado do débito previdenciário ou fiscal referente àqueles delitos, causa reflexos na órbita penal, com a extinção ou suspensão, respectivamente, da pretensão punitiva estatal. Extinção da Punibilidade 5. Extinção e Suspensão da Punibilidade nos Crimes Previdenciários e Tributários 5.4. Caso aquela pessoa física ou jurídica efetue o pagamento integral dos débitos oriundos dos tributos, inclusive acessórios, que tiverem sido objeto de concessão de parcelamento, deverá ser extinta a punibilidade do respectivo infrator, conforme dispõe o § 4º, do artigo 83, da Lei nº. 9.430/96. Roteiro 36: Prescrição Penal 1. Noções introdutórias 2. Razões político criminais 3. Crimes que nunca prescrevem 4. Espécies de prescrição 5. Termo inicial 6. Causas impeditivas ou suspensivas 7. Interrupção do prazo prescricional 8. Contagem do prazo prescricional Prescrição Penal 1. Noções Introdutórias 1.1. O fenômeno da prescrição penal acarreta tanto a aquisição (ou manutenção) do direito de liberdade como, inversamente, a extinção do direito de punir estatal. 1.2. Para as infrações mais graves, os legisladores se mostram mais rigorosos, preponderando, assim, dois grandes modelos: a) da prescrição somente após um longo período de tempo; e b) da imprescritibilidade. Prescrição Penal 2. Razões Político Criminais 2.1. Com exceção dos positivistas, os demais doutrinadores reconhecem que os efeitos da prescrição são justos e adequados, pelos seguintes motivos: 2.1.1. Pacificação social; 2.1.2. Punição ao Estado por sua ineficácia; e 2.1.3. Regeneração do infrator. 2.2. Natureza penal ou processual penal? A prescrição obedece à regra do artigo 10 CP, ou seja, o dia do começo inclui-se no cômputo do seu prazo, ao invés da regra do artigo 798, § 1º, CPP, que exclui do prazo o dia do começo, incluindo, porém, o do vencimento. Prescrição Penal 3. Crimes que Nunca Prescrevem 3.1. Alguns delitos jamais prescrevem, porque atentam mais profundamente contra os valores da comunidade interna e internacional. 3.2. O ordenamento jurídico brasileiro prevê poucas hipóteses de imprescritibilidade na CF/88 – são elas: 3.2.1. A prática do racismo (criminalizada na Lei nº. 7.716/89; 3.2.2. A ação de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático (artigo 5º, XLII e XLIV, CF88). Prescrição Penal 4. Espécies de Prescrição 4.1. Existem duas grandes modalidades de prescrição, reconhecidas pela generalidade dos ordenamentos jurídicos: a) prescrição da pretensão punitiva; e b) prescrição da pretensão executória. 4.1.1. Prescrição da pretensão punitiva (artigo 109 CP): a) regula-se pelo máximo da pena privativa de liberdade cominada ao crime; b) na hipótese de concurso de crimes (material, formal ou crime continuado), a prescrição é analisada em relação a cada infração de forma isolada (artigo 119 CP); c) deve levar em consideração as causas de aumento e de diminuição de pena, previstas tanto na Parte Geral como na Parte Especial ou na legislação especial; e d) as circunstâncias agravantes e atenuantes, bem como as circunstâncias judiciais, não interferem na contagem do prazo da prescrição da pretensão punitiva. Prescrição Penal 4. Espécies de Prescrição 4.1.2. Prescrição da pretensão executória (artigo 110, caput, CP): regula-se pela pena imposta e tem como referencial os mesmos prazos fixados no artigo 109 CP, que aumentam de um terço se o condenado é reincidente. 4.2. Para ambas as espécies de prescrição, na hipótese de substituição da pena privativa por uma ou duas restritivas de direitos, a prescrição continuará a ser regulada pela quantidade de pena de prisão inicialmente fixada, conforme disposto no parágrafo único, do artigo 109 CP. 4.3. Além das sistemáticas prescricionais acima referidas, há a possibilidade da prescrição intercorrente ou superveniente à sentença condenatória, quando a acusação não recorra ou cujo recurso não for acolhido (artigo 110, § 1º, CP). Prescrição Penal 4. Espécies de Prescrição 4.4. Intercorrente: a) não é regulada pela pena em abstrato, mas pela pena aplicada; b) será passível de ocorrência nos casos em que exista o trânsito em julgado para a acusação ou, caso tenha apelado, quando haja improvimento do seu recurso. 4.5. Retroativa: a) teve por finalidade o alcance prescricional da sentença para trás; b) com a Lei nº. 12.234/10, não existe mais, no ordenamento jurídico brasileiro, a figura da prescrição retroativa da pretensão punitiva referente ao lapso de tempo anterior ao recebimento da denúncia. Prescrição Penal 4. Espécies de Prescrição 4.6. Prescrição em perspectiva ou prescrição pela pena virtual: a) regula-se pela pena que seria concretizada na sentença vindoura; b) premissa da teoria da pena mínima, ou seja, a constatação, na fase de inquérito ou no curso da ação penal, de que o acusado, se condenado, receberia, em razão das circunstâncias judiciais e legais favoráveis, pena no mínimo cominado. 4.7. Prescrição da pena de multa: artigo 114 CP. 4.8. Artigo 96, parágrafo único, CP: extinta a punibilidade, não se impõe medida de segurança nem subsiste a que tenha sido imposta. Prescrição Penal 5. Termo Inicial 5.1. Prescrição da pretensão punitiva: em regra, a contagem da prescrição da pretensão punitiva inicia-se a partir do momento em que o crime se consuma (artigo 111, I, CP). Há exceção (artigo 111, II, CP) para o crime tentado, cuja contagem começa a correr do dia em que cessou a atividade criminosa. 5.2. Prescrição da pretensão executória: 5.2.1. Segundo o artigo 112 CP, começa a correr: a) na data em que transita em julgado a sentença condenatória para a acusação; b) na data em que se revoga a suspensão condicional da pena ou o livramento condicional; e c) na data em que se interrompe a execução, salvo quando o tempo da interrupção deva computar-se na pena. Prescrição Penal 6. Causas Impeditivas ou Suspensivas 6.1. Compreendem situações nas quais a pretensão punitiva ou executória não pode ser exercitada, não por conta de desídia ou desinteresse estatal, mas sim devido a circunstâncias que obstam o regular prosseguimento do ius puniendi ou ius punitionis. 6.2. O Código Penal arrola três hipóteses, duas relacionadas com a pretensão punitiva (artigo 116, I e I, CP) e, a terceira, com a pretensão executória (artigo 116, parágrafo único, CP). Com relação a todas elas, aplica-se a Súmula 415, do STJ: “O período de suspensão do prazo prescricional é regulado pelo máximo da pena cominada”. As causas elencadas no artigo 116 CP não são exaustivas, e sim exemplificativas. Prescrição Penal 7. Interrupção do Prazo Prescricional 7.1. Nos casos de interrupção, contemplados no artigo 117 CP, torna-se inútil o lapso de tempo decorrido, começando um novo curso, como se o crime tivesse sido praticado naquele dia. 7.2. Este efeito não se aplica à interrupção pelo início ou continuação do cumprimento da pena (artigo 117, V, CP). Prescrição Penal 8. Contagem do Prazo Prescricional 8.1. A contagem do prazo prescricional obedece à regra do artigo 10 CP, ou seja, o dia do começo inclui-se no cômputo final. Além disso, os dias, meses e anos observam o calendário comum. 8.2. O artigo 115 CP prevê que os prazos da prescrição da pretensão punitiva devem ser reduzidos de metade quando o infrator for menor de 21 (vinte e um) anos, ao tempo do crime, ou maior de 70 (setenta) anos, na data da sentença.