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E:\UFRJ\GestaoRH\CapituloPCCRosman.doc CCuurrssoo ddee GGeessttããoo AAmmbbiieennttaall ddee BBaacciiaass HHiiddrrooggrrááffiiccaass SSeeççããoo IIII :: AA BBaacciiaa HHiiddrrooggrrááffiiccaa ccoommoo UUnniiddaaddee ddee GGeessttããoo AAmmbbiieennttaall TTééccnniiccaa ee MMooddeellooss ddee SSuuppoorrttee àà GGeessttããoo:: MMOODDEELLOOSS PPAARRAA RREECCUURRSSOOSS HHÍÍDDRRIICCOOSS Prof. Paulo Cesar Colonna Rosman Departamento de Recursos Hídricos e Meio Ambiente / EE Área de Engenharia Costeira e Oceanográfica / COPPE-PenO 1. Introdução............................................................................................................................ 1 2. O processo de modelagem................................................................................................... 3 3. O processo de modelagem em recursos hídricos................................................................. 5 3.1. Modelos de interesse .................................................................................................. 10 3.1.1. Tipos de modelos computacionais mais usuais............................................ 11 3.1.2. Sobre o pré e o pós-processamento .............................................................. 12 4. Fundamentos dos modelos hidrodinâmicos e de transporte de escalares .......................... 13 4.1. Escalas de interesse .................................................................................................... 13 4.2. Movimentos e transportes resolvíveis e não resolvíveis - Advecção e Difusão 14 4.2.1. A água natural e seus constituintes – Equação de Estado ............................ 15 4.3. Transporte de contaminantes – Princípio da conservação da massa .......................... 16 4.4. Movimento da água – Princípio de conservação da quantidade de movimento 17 4.5. Escoamento e transporte de grande escala ................................................................. 17 5. Exemplos de aplicação de modelos ................................................................................... 19 1. Introdução Nesta seção apresenta-se uma visão geral de algumas técnicas de modelagem e uso de alguns modelos computacionais para suporte à gestão de Recursos Hídricos. Embora se apresente as- pectos de caráter geral, o enfoque da seção está em modelos computacionais para previsão do escoamento ou movimento das águas, e em modelos computacionais para previsão da quali- dade das águas ou transporte de grandezas escalares qualificadoras. Tais modelos são ferra- mentas usuais na gestão ambiental de recursos hídricos, isto é, uma forma de gestão que con- sidera conjuntamente os aspectos de quantidade e qualidade dos recursos hídricos. Em geral os modelos para previsão do movimento das águas (quantidade) são denominados “modelos hidrodinâmicos”, por sua vez, os modelos de transporte de escalares (qualidade) são comu- mente chamados de “modelos de dispersão”. Com maior freqüência tais modelos são empre- gados para simulações de cenários em águas costeiras, baías, estuários, rios, reservatórios, la- gos e lagoas. Ressalte-se na lista a indistinta presença de corpos de água continentais e costei- ros, o que merece a reflexão seguinte. No Brasil quando se refere a Recursos Hídricos ou a Bacia Hidrográficas há a tendência a se considerar apenas os recursos continentais e os rios, sem incluir-se os recursos hídricos da zona costeira das bacia hidrográficas, que incluem estuários, baías e a zona costeira adjacente. Entretanto, grande parte dos desafios à gestão ambiental de recursos hídricos no Brasil encon- tra-se justamente na zona costeira das bacias hidrográficas. Basta correr o litoral de Sul a Nor- E:\UFRJ\GestaoRH\CapituloPCCRosman.doc te, selecionando apenas alguns exemplos de áreas que colocam sérios desafios à gestão ambi- ental de recursos hídricos: • Rio Grande do Sul !"Complexo da Lagoa dos Patos, com o estuário do Rio Guaíba ao Norte, em cu- jas margens está a cidade de Porto Alegre. Ao Sul da Lagoa, próximo à sua embocadura encontra-se o porto de Rio Grande. • Santa Catarina !"Estuário do Rio Itajaí, que passa por passa pelas cidades de Blumenau e Itajaí, com importante porto. !"Região da Ilha de Florianóplolis, capital do Estado. !"Complexo da Baía de Babitonga, com o porto de São Francisco do Sul, e na extremidade Oeste a cidade de Joinville. • Paraná !"Complexo da Baía de Paranaguá, porto de Paranaguá, e ao Norte o Parque Na- cional do Superagui . • São Paulo !"Região de Cananéia. !"Estuário de Santos, com o maior porto do Brasil, e costa adjacente, Guarujá, etc. !"Região da Ilha e do estreito de São Sebastião. • Rio de Janeiro !"Complexo das Baías de Ilha Grande e Sepetiba. Vários portos e cidades, prin- cipalmente parte da zona metropolitana do Rio de Janeiro. !"Região da Baía de Guanabara. Vários portos e cidades, principalmente parte da zona metropolitana do Rio de Janeiro. !"Região dos Lagos. !"Região do Estuário do Paraíba do Sul. • Espírito Santo !"Região da Baía de Vitória, porto e cidade de Vitória, além dos portos de Tuba- rão e Praia Mole. • Bahia !"Região de Ilhéus, porto e cidade de Ilhéus. !"Região da Baia de Todos os Santos, porto e cidade de Salvador. Muitos outros terminais portuários, zonas industriais etc. !"Região do Estuário do Rio São Francisco. • Sergipe !"Região do Estuário do Rio Sergipe, com o porto e cidade de Aracajú • Alagoas !"Lagoas de Mundaú e Manguaba, cidade de Maceió. • Pernambuco !"Complexo de Suape. !"Região de metropolitana de Recife. • Paraíba !"João Pessoa • Rio Grande do Norte !"Região do estuário do rio Potengi, com o porto e a região metropolitana da ci- dade de Natal. • Ceará E:\UFRJ\GestaoRH\CapituloPCCRosman.doc !"Região metropolitana de Fortaleza • Piauí e Maranhão !"Região do delta do Parnaíba, e a região da Baía de São Marcos. • Pará, Amazonas e Amapá !"A região do delta do rio Amazonas, incluindo as zonas metropolitanas de Be- lém a Leste e de Macapá a Oeste. Em todos os exemplos acima, a necessidade da aplicação de modelos é inquestionável, face à complexidade do ambiente nos trechos costeiros das bacias hidrográficas. Modelos são ferramentas integradoras, sem os quais não se consegue uma visão de processos do sistema ambiental. Usualmente quando se levantam dados ambientais para planejamento, gestão ou geren- ciamento, obtêm-se séries temporais em uns poucos pontos distribuídos na área de interesse. Através de modelos pode-se interpolar as informações obtidas nestes poucos pontos para toda a área de interesse. E, se os modelos, uma vez calibrados, são capazes de bem reproduzir situ- ações para as quais se fez levantamentos, não há porque duvidar que possam ser usados para prever impactos de modificações a serem introduzidas no meio, ou prever situações com cená- rios diferentes dos que ocorreram nas situações de medições. Além disso, a análise de medições em pontos isolados por vezes fica dificultada se não se tiver uma idéia clara da dinâmica do sistema. Por exemplo, pode-se interpretar muito me- lhor as medição de concentrações de um contaminante obtidas em diversos pontos, sabendo- se de onde vêm e para onde vai o contaminante medido. A dinâmica espacial da dispersão de um contaminante é difícil de se obter através de medições pontuais, mas é facilmente obtida através de modelos. O mesmo vale para a maioria das grandezas relevantes à gestão em bacias hidrográficas. Desta forma, em linhas gerais, modelos são ferramentas indispensáveis à gestão e ao ge- renciamento de bacias hidrográficas, pois permitem integrar informações espacialmente dis- persas, interpolar informações para regiões nas quais não há medições, ajudar a interpretação de medições feitas em estações pontuais, prever situações simulando cenários futuros, etc. O uso de modelos como ferramentas de previsão inclusive pode ser feito quase em tempo real, para planejar operações de limpeza ambiental em decorrência de derrames acidentais de con- taminantes tóxicos como óleos e solventes. 2. O processo de modelagem Modelagem é um processo de traduções em diferentes etapas, no qual o sucesso de uma etapa nunca supera o da etapa anterior. Em cada etapa, a realidade traduzida nunca é mais verdadei- ra que a realidade da etapa anterior. Considerando um fenômeno qualquer na natureza, a pri- meira e mais fundamental modelagem é a conceptual. Se ouvimos uma melodia complexa apenas uma vez é pouco provável que consigamos “modelá-la” mentalmente. Entretanto, com a repetida escuta da melodia, “observação do fe- nômeno”, acabamos por compreendê-la, e assim desenvolvendo um modelo conceptual em nossas mentes. Dizemos então que entendemos o fenômeno, ou conhecemos a melodia. Par- tindo desta compreensão ou conhecimento pode-se traduzir o fenômeno, em diferentes mode- lagens. Por exemplo, um leigo em teoria musical com uma melodia na cabeça, pode traduzi-la em modelos analógicos através de canto ou assobio. Entretanto, alguém versado na linguagem musical pode traduzir o modelo conceptual da melodia para uma partitura, obtendo assim um modelo escrito. Por sua vez, alguém que não conhece a melodia, mas conhece os princípios da teoria musical e sabe ler a partitura, pode “modelar a melodia” em um instrumento capaz de E:\UFRJ\GestaoRH\CapituloPCCRosman.doc tocar as notas da partitura escrita. A idéia é clara, o processo de modelagem não é muito dife- rente quer se trate de músicas, sistemas hídricos, ou de outros sistemas quaisquer. E:\UFRJ\GestaoRH\CapituloPCCRosman.doc 3. O processo de modelagem em recursos hídricos O processo de modelagem para suporte à gestão e ao gerenciamento de recursos hídricos pode ser sintetizado com o diagrama apresentado na Figura 1. Figura 1. Diagrama do processo de modelagem em recursos hídricos. A parte realçada é a rota usual. Analisando o diagrama, pode-se dizer que para a maior parte das pessoas que lidam com gestão ambiental de recursos hídricos o que realmente importa é o último quadro. De fato para a gestão, o que vale são as informações que podem auxiliar no processo de tomada de deci- sões. Os modelos são apenas ferramentas que propiciam a obtenção de tais informações em forma adequada. Usualmente em forma de relatórios com mapas, gráficos e tabelas, incluindo respectivas análises, e por vezes usa-se técnicas multimídia para gerar animações por exem- plo. Entretanto, para poder entender e fazer bom uso das informações, é imperativo que o gestor conheça o que ele está gerindo. Dentro do diagrama do processo de modelagem, isso implica nos três primeiros quadros. Portanto, para o gestor fazer pleno uso das informações apresentadas, é fundamental que ele tenha para si modelos conceptuais dos fenômenos sob sua gestão. Inclusive para poder julgar a qualidade das informações recebidas e rejeita-las se ne- cessário. Este processo é paralelo ao da apreciação de uma música. Só se pode apreciar e avaliar uma música (fenômeno de interesse) se tivermos a mode- lagem conceptual da mesma. Mesmo desconhecendo teoria musical (modelagem matemática), ou não sabendo tocar qualquer instrumento (outras modelagens abaixo da matemática) uma pessoa pode avaliar a qualidade de uma interpretação musical (resultados de modelos), se tiver E:\UFRJ\GestaoRH\CapituloPCCRosman.doc um bom conhecimento (modelagem conceptual) da música sendo interpretada. E, para conhe- cer bem uma música é necessário ouvi-la repetidas vezes (observação+medição). Como na música, o gestor não necessita conhecer o modelo matemático ou o modelo computacional de um dado fenômeno, para poder avaliar os resultados que lhe são apresentados. Mas não saberá criticar ou bem aproveitar tais resultados, se não uma tiver uma boa concepção dos fenômenos modelados. Comenta-se a seguir, seguindo de cima para baixo, os diversos quadros e rotas do dia- grama do processo de modelagem: Fenômeno de interesse : no caso de corpos de água, em geral os fenômenos de interesse es- tão relacionados à quantidade e à qualidade da água, e por vezes também dos sedimentos. Em outras palavras pode-se dizer que os fenômenos de interesse são os movimentos ou os trans- portes de substâncias e propriedades nos corpos de água a serem geridos. Observação e medição : em geral a observação inicial de um dado fenômeno é qualitativa, tendo por intuito propiciar um entendimento das causas, efeitos e agentes intervenientes. Em uma segunda etapa, parte-se para observações quantitativas, fazendo-se medições das grande- zas das causas, efeitos e agentes intervenientes inferidos na etapa de observação qualitativa. Através das observações e medições desenvolvem-se modelos conceptuais dos fenômenos de interesse. Modelo conceptual : a modelagem conceptual corresponde a formar na mente a concepção do fenômeno observado, conhecer suas causas e efeitos, compreender as interações e relevân- cia dos agentes intervenientes na sua ocorrência. Voltando ao paralelo musical da introdução, ter um modelo conceptual é semelhante a “ouvir” a música na cabeça. Por exemplo, basta ler as palavras “Parabéns pra Você” que a conhecida música vem à mente1. Quando se atinge uma compreensão profunda de um fenômeno, a modelagem conceptu- al é em geral boa o bastante para propiciar modelos de caráter muito amplo. Neste caso é co- mum que os modelos conceptuais sejam chamados de “leis” ou “princípios”. Por exemplo, as “Leis de Newton”, que explicam muito bem a dinâmica dos movimentos nas escalas mais u- suais2, inclusive a dinâmica dos fluidos, o que permite descrever os escoamentos ou padrões de circulação hidrodinâmica em corpos de água. Entretanto, por vezes não se consegue um entendimento suficientemente abrangente para conceber “Leis”, e obtêm-se apenas modelos conceptuais correlacionando magnitudes de efeitos com magnitudes de supostos agentes cau- sadores. Neste caso obtêm-se modelos empíricos. E, claro, entre “Leis” e “empíricos” há uma vasta variedade de modelos conceptuais, como os semi empíricos por exemplo. Como indica o diagrama, a partir do modelo conceptual existem duas rotas. A mais co- mum é a tradução para um modelo matemático, mas por vezes o entendimento não é suficien- te para isso, a recorre-se diretamente a um modelo físico. Como exemplo deste caso, recorre- se novamente à música. Há músicas que usam sons para os quais não há notas musicais, por- tanto não há como traduzi-los adequadamente em um modelo formal via teoria musical. Em aplicações de recursos hídricos tal caso é cada vez mais raro, pois quando o entendimento do fenômeno é falho quase sempre se desenvolve um modelo conceptual empírico. Modelo matemático : a modelagem matemática consiste na tradução para a linguagem ma- temática do modelo conceptual do fenômeno de interesse. Os diferentes modelos matemáticos são diferentes arranjos, incluindo um número maior ou menor de causas e efeitos, e de agentes 1 Se o leitor não conhece a música, não a “ouvirá” mentalmente. Isso só ocorre nos que já desenvolveram um modelo conceptual de tal música. 2 As Leis de Newton são imperfeitas em escalas cósmicas e em escalas quânticas. E:\UFRJ\GestaoRH\CapituloPCCRosman.doc intervenientes em diferentes formas. Para tanto há regras e princípios formais a serem segui- dos. De certo modo, a modelagem matemática é semelhante escrever a partitura de uma músi- ca, em diferentes arranjos. Nesta etapa do processo de modelagem ocorre um paradoxo. É de certo modo paradoxal que, em geral, quanto melhor e mais completo o modelo conceptual, mais complexo é o mo- delo matemático, e menor é a nossa capacidade em obter uma solução geral. Os modelos con- ceptuais empíricos quando traduzidos para os modelos matemáticos freqüentemente o são em equações relativamente fáceis de resolver. Por sua vez, os modelos mais gerais, freqüentemen- te ao serem traduzidos em modelos matemáticos são escritos em termos de equações diferen- ciais. E, na grande maioria dos casos, não se consegue obter uma solução geral para tais equa- ções. Por esta razão o modelo matemática é a grande encruzilhada do processo de modelagem, pois dependendo da possibilidade de resolve-lo, quatro rotas são possíveis, levando respecti- vamente aos modelos físico, numérico, analítico e analógico. Os modelos matemáticos para representar a hidrodinâmica e a qualidade das águas em corpos de água são bastante abrangentes, e são baseados em “leis” e “princípios” expressos em termos de equações diferenciais e condições de contorno adequadas. Por outro lado, é co- mum que modelos matemáticos envolvendo detalhes do escoamento ao redor de estruturas hidráulicas, ou modelos matemáticos de transporte de sedimentos em corpos de água, sejam semi-empíricos. Modelo analítico : As equações diferencias que regem o escoamento e o transporte de esca- lares qualificadores em corpos de água só propiciam soluções gerais para situações bastante simplificadas e idealizadas. E por isso, só nestas situações é que se obtêm os chamados mode- los analíticos. Nas demais situações, que compreendem a grande maioria das de interesse prá- tico, não há solução geral conhecida. Neste caso, resta recorrer aos modelos físicos e aos modelos numéricos. Na prática há pouquíssimos casos de modelos matemáticos traduzíveis em modelos ana- líticos aplicáveis, entretanto nestes casos, os modelos analíticos são incrivelmente poderosos, pois permitem cálculos diretos em qualquer posição e instante do domínio espaço-tempo re- presentado no modelo. Em contraponto, os modelos numéricos podem resolver praticamente qualquer modelo matemático, e portanto são aplicáveis a quase tudo. Mas, mas só fazem con- tas passo a passo, não têm o poder dos modelos analíticos. Em vários casos há eficientes modelos analítico-numéricos. Isto é, parte do modelo ma- temático é resolvida através de um modelo numérico, e parte através de um modelo analítico. Modelo analógico : Os modelos analógicos de fato só são usados em situações muito peculi- ares e em geral de cunho mais acadêmico do que prático, por exemplo, fazendo-se a analogia entre o fluxo das correntes elétricas e o fluxo das correntes hidráulicas pode-se desenvolver alguns modelos de circuito hidráulico em analogia a modelos de circuitos elétricos. Modelo físico : em geral são modelos que reproduzem em escala reduzida modelos concep- tuais de fenômenos de interesse, chamados de protótipos. Uma etapa de modelagem matemá- tica prévia é necessária, já que a modelagem conceptual por trás do modelo físico reduzido é a hipótese de semelhança entre os fenômenos em diferentes escalas. Assim, através de um mo- delo matemático de semelhança, define-se as escalas de semelhança entre o protótipo e mode- lo físico reduzido. Tal necessidade está indicada no diagrama pela rota ligando o modelo ma- temático ao modelo físico. A modelagem física foi vastamente utilizada até meados dos anos 70, pois era pratica- mente a única alternativa viável para se obter soluções para inúmeros problemas práticos. À medida que foram surgindo computadores mais capazes, os modelos físicos foram sendo subs- E:\UFRJ\GestaoRH\CapituloPCCRosman.doc tituídos por modelos numéricos, e a tendência continua. Hoje em dia os modelos físicos estão restritos a casos muito especiais, pois sempre que possível recorre-se a modelos numéricos por serem incomparavelmente mais baratos. No passado a rota dos modelos matemáticos para os modelos numéricos era freqüente- mente inviável para muitos casos práticos. A tradução de modelos matemáticos em modelos numéricos é conhecida há mais de um século. Entretanto, na grande maioria dos casos, os mo- delos numéricos para serem resolvidos exigem a realização de um número incrivelmente gran- de de contas e o armazenamento de imensos bancos de dados. Por isso, na medida em que os computadores vão ficando mais rápidos e tendo maior capacidade de memória, a realização de um número cada vez maior de contas vai se tornando viável, e os modelos numéricos vão substituindo os modelos físicos. Por conta disso muitos modelos físicos foram desenvolvidos com o intuito de gerenciar corpos de água de grande complexidade. Exemplos notáveis são os enormes modelos reduzi- dos do estuário do Rio Tejo em Portugal, e da baía de São Francisco nos Estados Unidos. Este último continua funcionando mais como uma ferramenta didática freqüentemente visitado por estudantes, como se fosse uma exposição viva de um museu, do que como efetiva ferramenta de gestão ambiental. Os modelos físicos envolvem enorme patrimônio imobiliário, enormes gastos em equi- pamentos eletromecânicos, alto consumo de energia, e grande número de técnicos especializa- da, por isso são incomparavelmente mais lentos e custosos que os modelos numéricos. Por conta desta enorme desvantagem econômica em relação aos modelos numéricos, hoje em dia os modelos físicos só são utilizados de forma muito otimizada, e cada vez mais restritos a ca- sos muito específicos. Mas, enquanto houver fenômenos de interesses mal compreendidos, haverá modelos conceptuais empíricos ou semi empíricos e, conseqüentemente, modelos ma- temáticos falhos. Nestes casos, embora seja possível fazer modelos numéricos, estes terão em si inexoravelmente as falhas do modelo matemático, e a alternativa dos modelos físicos per- manecerá necessária e muito importante. Tal fato é indicado no diagrama pela rota que liga diretamente o modelo conceptual ao modelo físico. Os modelos físicos têm uma enorme vantagem sobre quaisquer outros: por serem físi- cos, são prontamente reconhecíveis por pessoas leigas no assunto. Isso é um aspecto altamente relevante em gestão de recursos hídricos. E, por conta disso, em vários casos na atualidade, ainda que sejam os modelos numéricos e computacionais os efetivamente usados para estudos, projetos e obtenção de informações quantitativas, constrói-se um modelo físico ilustrativo. Em tal situação, o modelo físico não é feito para funcionar como ferramenta de obtenção de in- formações quantitativas, mas sim como meio de divulgação de um dado trabalho em desen- volvimento. Modelagem numérica : são traduções dos modelos matemáticos adaptados para diferentes métodos de cálculo, por exemplo, diferenças finitas, volumes finitos e elementos finitos, além de modelos estocásticos. Com a viabilização de se fazer um grande número de contas muito rapidamente através dos computadores, esta se tornou a rota mais comum para resolver os modelos matemáticos. Praticamente qualquer modelo matemático pode ser resolvido através de um modelo numérico, e em geral há relativamente pouca perda de informação na tradução de um para o outro. Hoje em dia praticamente não é possível se fazer adequadamente a gestão ambiental de bacias hidrográficas sem modelos numéricos para previsão da quantidade e da qualidade dos recursos hídricos da bacia. O mesmo é verdade para se projetar obras e intervenções em cor- pos de água, bem como no processo de licenciamento ambiental da maioria dos empreendi- mentos em bacias hidrográficas. No item ?? apresenta-se alguns exemplos de aplicações. E:\UFRJ\GestaoRH\CapituloPCCRosman.doc Os modelos numéricos permitem a solução de uma gama de problemas muitíssimo mais abrangente que qualquer outra modalidade de modelos. Há muito mais casos que podem ser adequadamente modelados numericamente e que são inviáveis em modelos físicos, que o o- posto. Montagem, pré-processamento, definição de parâmetros e similares : esta etapa do pro- cesso de modelagem poderia ser resumida por “pré-processamento”. Trata-se de uma etapa comum a qualquer tipo modelo usado para obter informações quantitativas do modelo concep- tual e do modelo matemático. De fato, qualquer que seja o modelo usado para obter-se infor- mações quantitativas, antes de obtê-las será preparar o modelo e organizar os dados de entra- da. Evidentemente o tipo de pré-processamento a ser feito depende do modelo adotado. Rotas para obtenção de informações quantitativas: Conforme indica o diagrama na Figura 1, após a etapa de pré-processamento, para cada do tipo de modelo haverá uma rota diferente para se obter os resultados quantitativos desejados. Para os modelos físicos, as informações quantitativas são obtidas através de medição direta, através de diversos equipamentos especí- ficos. Para os modelos numéricos, os resultados quantitativos desejados serão obtidos via um modelo computacional, que é a tradução de um modelo numérico para uma linguagem com- putacional que possa ser compilada e executada em um computador por um operador experi- ente. Os computadores estão para os modelo numérico como os equipamentos de medição es- tão para os modelos físicos. No caso dos modelos analíticos, as informações quantitativas são obtidas diretamente através de cálculo. E, por fim, no caso de modelos analógicos podem ser obtidos por meio de cálculo e medição. Pós-processamento : esta etapa do processo de modelagem é também comum a todos os modelos. O fato é que o cérebro humano é incapaz de assimilar um grande número de infor- mações quantitativas, se estas não forem organizadas ou “modeladas” de maneira adequada. Por isso a etapa de pós processamento é uma importantíssima etapa de modelagem na qual faz-se a tradução da massa de informações quantitativas saída dos modelos, em formas que possam mais facilmente ser assimiladas. Mapas, gráficos e tabelas : Tradicionalmente na etapa de pós-processamento os resultados quantitativos dos modelos são transformados em mapas, gráficos e tabelas. Mais recentemen- te, resultados de modelos computacionais têm sido apresentados também através de anima- ções. Dependendo do fenômeno sendo modelado, a animação ajuda na compreensão da dinâ- mica do fenômeno. Hoje em dia os modelos computacionais são prevalecentes em quase todos os campos ligados à gestão ambiental de recursos hídricos. Mas, via de regra os modelos computacionais são áridos, e dificilmente seus resultados são facilmente compreendidos por pessoas leigas, ainda que expressos através de mapas, gráficos e tabelas. Os modelos computacionais carecem da enorme vantagem visual intrínseca aos modelos físicos. Por isso, muitas vezes faz-se um grande esforço em computação gráfica, para gerar animações com os resultados de modelos computacionais, pois deste modo em geral as informações são muito mais facilmente entendi- das por pessoa leigas. E, a compreensão pelas pessoas em geral, a respeito do que está sendo feito em um determinado estudo ou projeto é fundamental na gestão ambiental de recursos hídricos. Calibração e Validação : é nesta imprescindível etapa do processo de modelagem que está a “hora da verdade” para qualquer modelo. É nesta etapa que se pode de fato verificar e validar um dado modelo através da pergunta: Os resultados obtidos conferem com o que se observa e E:\UFRJ\GestaoRH\CapituloPCCRosman.doc se mede a respeito do fenômeno de interesse? Para esta pergunta há duas respostas levando a duas rotas em respectivamente: Não : neste caso o modelo não está validado e entra-se no processo de calibração efeti- vamente, com duas rotas possíveis. Note que no diagrama da Figura 1, as duas são rotas circulares pois seguindo o processo volta-se à caixa de “calibração e validação”. A mais comum é a rota circular curta que leva à caixa do pré processamento, o que corresponde ao usual procedimento de calibração via ajuste de parâmetros, acertos de dados de en- trada e coeficientes em qualquer tipo de modelo. A menos comum, é a rota circular lon- ga levando novamente para o modelo conceptual. A rota longa é seguida apenas no caso de repetidos insucessos de validação do modelo com a rota curta. Neste caso há que se questionar coisas mais fundamentais, e verificar se não há erro de concepção. Por exem- plo: por vezes se imagina que um determinado agente, entre os vários identificados em um dado fenômeno de interesse, pode ser pouco relevante na determinação de causas e efeitos. E, no modelo conceptual utilizado tal agente é desprezado, o que pode ter que ser repensada se não se conseguir validar o modelo. Sim : neste caso o modelo está validado e o processo de modelagem termina na efetiva incorporação dos resultados do modelo ao acervo de informações a serem consideradas no processo de tomada de decisão. Relatório para auxílio no processo de tomada de decisões : é o objetivo final do processo de modelagem, ou seja, produzir informações organizadas para auxiliar um processo de toma- da de decisões. Por ser o procedimento mais amplamente utilizado na atualidade, o que segue foca na seqüência central do processo de modelagem, que está realçada no diagrama da Figura 1, pas- sando pelos modelos numérico e computacional. Vale repetir que, embora se aborde alguns outros casos, o enfoque principal está em modelos computacionais para previsão do escoa- mento ou movimento das águas, e em modelos computacionais para previsão da qualidade das águas ou transporte de grandezas escalares qualificadoras. 3.1. Modelos de interesse Quando se diz “modelagem do movimento” ou “modelagem do transporte de escalares quali- ficadores” em corpos de água, uma questão primária é a definição das variáveis, isto é, as substâncias e propriedades de interesse. Estas são muitas, mas sem dúvida a principal é a que denominamos “água”. A “água” de corpos d’água naturais é uma mistura de muitas substâncias, na qual a con- centração3 de H2O é vastamente predominante. A qualidade desta “água” é definida pela con- centração de outras substâncias e propriedades além de H2O e sua massa. Portanto, conhecer o movimento da massa de H2O e da massa de outras substâncias, ou outras propriedades rele- vantes, é fundamental em estudos ambientais e em projetos de engenharia em corpos d’água. Algumas das principais substâncias e propriedades de interesse são: • Massa, volume e quantidade de movimento da “água”. • Massa e concentração de sal (NaCl). • Massa, concentração e volume de sedimentos. • Massa e concentração de contaminantes diversos, e.g., hidrocarbonetos, agrotóxi- cos, demandas química e bioquímica de oxigênio, oxigênio dissolvido, componen- 3 Entenda-se por “concentração” de uma dada substância a razão entre a massa da substância e o volume da mis- tura. Como em um estuário na mistura fluida que vulgarmente denominamos “água”, a massa de H2O é responsá- vel por quase 100% do volume (e da massa) da mistura, a concentração de H2O é vastamente predominante. E:\UFRJ\GestaoRH\CapituloPCCRosman.doc tes dos ciclos do nitrogênio e do fósforo, coliformes, metais pesados, microorga- nismos, etc. • Quantidade de calor, ou distribuição de temperaturas. Usualmente dá-se o nome de modelagem hidrodinâmica à determinação da quantidade de movimento da água4, entendendo-se por “água” a mistura natural, resultando na definição dos padrões de correntes ou circulação hidrodinâmica, níveis de água e vazões. Chama-se de modelagem do transporte de escalares à determinação da concentração de substâncias, ou ou- tras propriedades escalares, por exemplo quantidade de calor ou temperatura. O termo mode- lagem de qualidade da água em geral é adotado quando os escalares de interesse são parâme- tros que qualificam a água. Comumente também chama-se o modelos de transporte de escala- res incluindo os de qualidade de água de “modelos de dispersão”5. Uma classe dos modelos dos transporte ou de qualidade de água, são também chamados de modelos de eutroficação, nos quais os escalares de interesse são as concentrações dos nutrientes relevantes no corpo de água em questão (em geral componentes dos cilcos do nitrogênio e do fósforo, além de micro- organismos como plâncton). 3.1.1. Tipos de modelos computacionais mais usuais Os modelos computacionais relevantes para gestão ambiental de bacias hidrográficas cobrem uma vasta gama de características, com metodologias específicas a diferentes classes de modelos. Dentre as metodologias mais usadas estão os métodos de diferenças finitas, elementos finitos, elementos de contorno, volumes finitos, métodos espectrais, elementos móveis, etc. Em face à grande complexidade numérica e quantidade de equações a serem resolvidas, metodologias de otimização numérica são freqüentemente assuntos em constante evolução. Cita-se a seguir algumas classes de modelos computacionais relevantes para o gerencia- mento ambiental e bacias hidrográficas: !"Modelos sistêmicos: são modelos integradores e relacionais, tendo um caráter mais generalista. Em geral resolvem sistemas de equações ordinárias, segmentando o “espaço” da bacia hidrográfica em regiões homogêneas, mas heterogêneas entre si, nas quais admite-se afluxos e efluxos. Geralmente são modelos que lidam com grandes escalas, utilizados para avaliar tendências de longo prazo. !"Modelos Estocásticos: são modelos típicos por exemplo da área de hidrologia, possibili- tando a previsão e simulação do comportamento de variáveis ambientais aleatórias, como o regime de chuvas e vazões em bacias hidrográficas, regime de ondas, variação de marés meteorológicas, transporte sólido, entre outros. !"Modelos de propagação de ondas geradas por ventos: são modelos de refração-difração de ondas, que são os principais agentes geradores da morfologia de praias oceânicas, ou prai- as lacustres como as que ocorrem em vários reservatórios de barragens no Brasil.. Tais modelos são básicos para estudos morfológicos em regiões costeiras, e usualmente envol- vem de dezenas a centenas de milhares de pontos de cálculo. Metodologias de cálculo u- suais empregam elementos finitos, diferenças finitas etc. !"Modelos hidrodinâmicos, de transporte de escalares e de qualidade de água: !"Modelos hidrodinâmicos em fluido homogêneo: são modelos para determinação do padrão de correntes, níveis de água e vazões em diferentes partes de uma bacia hidro- 4 Neste capítulo, ao se mencionar “água”, deve-se entender não apenas H2O, mas a mistura natural. 5 Neste caso o termo “dispersão” deve ser entendido como sinônimo de espalhamento ou mistura no meio. E:\UFRJ\GestaoRH\CapituloPCCRosman.doc gráfica, indo desde as águas costeiras, baías, sistemas estuarinos e subindo aos rios, la- gos, reservatórios, etc. Tais modelos variam grandemente em complexidade indo des- de modelos unidimensionais (1D) até modelos tridimensionais (3D), passando por modelos bidimensionais em planta ou promediados verticalmente (2DH), bidimensio- nais em perfil ou promediados lateralmente (2DV), modelos quase-3D, etc... !"Modelos hidrodinâmicos em fluidos não homogêneos: são semelhantes aos descritos acima mas por incluírem gradientes de densidade são acoplados a modelos de transporte advectivo-difusivo dos escalares constituintes da equação de estado, usualmente salinidade, temperatura, e por vezes concentração de sedimentos finos em suspensão. !"Modelos de transporte de escalares e de qualidade de água: são modelos que descre- vem o transporte advectivo-difusivo e possíveis reações cinéticas de grandezas escala- res. Quando tais grandezas são utilizadas como parâmetros qualificadores da água os modelos são chamados de modelos de qualidade de água. Algums dos escalares co- mumente relevantes são temperatura, salinidade, concentração de metais pesados, con- tagem de coliformes, oxigênio dissolvido, demanda bioquímica de oxigênio, componentes do ciclo do nitrogênio e do fósforo, etc...Usualmente tais modelos são resolvidos desacoplados dos modelos hidrodinâmicos, sendo a circulação hidrodinâmica um conjunto de dados de entrada fundamental. Tais modelos também têm dimensionalidade variada em função do corpo d’água de interesse, indo desde modelos 1D até 3D como exemplificado acima. !"Modelos de processos sedimentológicos e evolução morfológica: !"Modelos de evolução de linha de costa ou margens: são modelos para previsão dos processos sedimentológicos de erosão transporte e deposição de sedimentos ao longo de costas e margens, indo desde modelos unidimensionais até modelos tridimensio- nais. Tem como uma das entradas básicas os dados de onda e correntes obtidos dos modelos de propagação de ondas e de circulação hidrodinâmica citados acima. As me- todologias empregadas na modelação variam com a dimensionalidade do problema e com a escalas temporais e espaciais de interesse. !"Modelos de transporte de sedimentos: são modelos que visam a simular os processos sedimentológicos, ou seja, erosão, transporte e deposição de sedimentos em corpos d’água. Têm como entrada básica os resultados de modelos hidrodinâmicos, e opr ve- zes funcionam acoplados aos modelos hidrodinâmicos. As metodologias empregadas variam em função do tipo de sedimentos, coesivos ou não, forma do corpo d’água, es- calas temporais e espaciais de interesse. 3.1.2. Sobre o pré e o pós-processamento Modelos computacionais do ambiente envolvem freqüentemente grande quantidade de dados de entrada e geram uma quantidade ainda maior de resultados numéricos. Tais dados e resul- tados são virtualmente intratáveis se não forem organizados em mapas, gráficos e tabelas. Freqüentemente há necessidade de interação com sistemas de informação geográfica (SIG), visto que os muitos modelos ambientais têm como dados básicos de entrada dados de geogra- fia física. Usualmente a análise de consistência dos dados de entrada e a assimilação dos resul- tados é extremamente difícil sem uma visualização gráfica, e ferramentas de pré e pós proces- samento, como indicam alguns exemplos abaixo: !"modelos de refração-difração de ondas se propagando em direção à costa são usados para determinação do padrão de agitação numa dada região costeira, gerando como resultado E:\UFRJ\GestaoRH\CapituloPCCRosman.doc dezenas (às vezes centenas) de milhares de valores de altura e fase de onda distribuídos espacialmente na região modelada. A análise dos resultados é praticamente impossível sem uma boa visualização. !"modelos de padrões de correntes e dispersão de contaminantes em corpos d’água geram vários milhares de resultados a cada passo de tempo, cuja visualização é imprescindível. !"modelos hidrodinâmicos e de qualidade de água em corpos d’água multidimensionais, u- sualmente necessitam de malhas de discretização com milhares de pontos. Ferramentas de geração e otimização de grades e malhas numéricas são básicas. !"modelos de sistemas estuarinos, baías e áreas costeiras envolvem extensas áreas cujos da- dos e resultados são de difícil análise sem ferramentas de visualização. !"a base de dados de entrada para os modelos supra exemplificados são enormes e sua pre- paração necessita de sistemas digitalizadores, e ferramentas de visualização e análise de consistência para detecção de erros. 4. Fundamentos dos modelos hidrodinâmicos e de transporte de escalares Apresenta-se neste item uma discussão sobre os fundamentos da modelagem matemática de corpos d’água naturais. Como o objetivo do modelo matemático é determinar o movimento da água natural e o transporte de substância pelo escoamento resultante, utiliza-se como base fundamental os princípios de conservação da quantidade de movimento e da massa. Os princí- pios são aplicados a parcelas de água e substâncias no corpo d’água que dependem da escala de interesse, conforme se define a seguir. 4.1. Escalas de interesse A questão das escalas de interesse é um dos pontos geradores de confusão na gestão de recur- sos hídricos. Especialmente na aplicação de modelos. É imprescindível haver uma coerência nas escalas de interesse dos diversos profissionais que possam vir a participar em um processo de modelagem. Mesmo para aqueles que apenas medem e observam, e para aqueles que ape- nas recebem os relatórios com mapas gráficos e tabelas. Alguns princípios fundamentais devem ficar patentes. Em primeiro lugar, sabe-se que toda substância é composta por moléculas discretas, entretanto, na nossa menor escala de inte- resse, qualquer “substância” será sempre contínua. Assim, a menor parcela de substância à qual podemos referenciar é uma “partícula”, e qualquer propriedade, (e.g. massa, velocidade, temperatura, salinidade, etc.) ou princípio de conservação se aplica no mínimo a uma partícu- la. Na modelagem conceptual a matéria é contínua, e os princípios a serem empregados são os da mecânica do meio contínuo6. Uma partícula de “água” é definida por sua massa e seu vo- lume, que pode ser de qualquer forma. Imaginando que a partícula tenha dimensões δx, δy e δz, sua massa, m, é o produto de sua massa específica, ρ, por seu volume, δxδyδz: zyxm δδρδ= (1) O fato de se definir a escala do contínuo como a escala mínima para o volume de uma partícu- la7, não implica no interesse estar neste mínimo. De fato, na prática as escalas de interesse são 6 Se fôssemos considerar moléculas de substâncias, acabaríamos tendo que partir de princípios de mecânica quântica, e físico-química. 7 A escala do contínuo, obriga que uma partícula tenha um volume mínimo que seja maior que o cubo do máximo deslocamento livre entre as moléculas das substâncias, que constituem a partícula. E:\UFRJ\GestaoRH\CapituloPCCRosman.doc muito maiores, pois o que se busca é o conhecimento do movimento de um conjunto de partí- culas em escoamento, e no transporte que tal escoamento faz, levando as diversas substâncias e propriedades das partículas para diferentes lugares de um corpo d’água. 4.2. Movimentos e transportes resolvíveis e não resolvíveis - Advecção e Difusão Os movimentos e transportes resolvíveis são aqueles que podem ser observados e medidos na escala de interesse. É fácil mostrar que para ser resolvível o fenômeno tem que ter dimensões pelo menos duas vezes maiores que as menores escalas de interesse, (teorema de Nyquist). A limitação das escalas de interesse impõe paradoxos, pois inexoravelmente haverá movimentos e transportes em escalas menores, e portanto, não resolvíveis. Todos os fenômenos em esca- las não resolvíveis têm que ser modelados de algum modo através de variáveis resolvíveis na escala de interesse. Considere por exemplo um recipiente com partículas de água pura em repouso. Em se- guida, suponha que da forma mais controlada e suave possível sejam colocadas umas gotas de corante. O paradoxo resultante é conhecido: embora a “água” esteja parada, e portanto não exista movimento algum na escala de interesse, observa-se que o corante é transportado len- tamente e acaba por se misturar pelo recipiente todo. Na realidade as partículas contínuas que definem a mínima escala de interesse no caso, tem velocidade resolvível nula. Mas, existe um “escoamento molecular” não resolvível, associado a escalas sub-partículas ou moleculares, que transporta o corante. Considere outra vez o mesmo recipiente com água pura, mas suponha que há uma gra- de oscilando em seu interior cerca de dez vezes por segundo. Em uma escala temporal de inte- resse mínima de um segundo, a velocidade resolvível do escoamento no recipiente será nula. De fato, na escala de interesse a velocidade resolvível seria o valor médio das velocidades ins- tantâneas ao longo de pelo menos dois segundos, o qual tenderia a ser zero devido ao caráter oscilatório do movimento da grade. Portanto, tem-se estabelecido no recipiente, um escoamento com velocidade resolvível nula. O paradoxo agora fica mais forte pois, apesar de, na escala de interesse, o fluido estar em repouso, é evidente que se agora fosse colocado no recipiente umas gotas com corante, este se misturaria rapidamente. Como no caso anterior, apesar da velocidade resolvível ser nula, há movimento e transporte em escalas inferiores às resolvíveis, pois há uma turbulência devida à agitação da grade. Existe portanto um escoamento turbulento, não resolvível, que transporta o corante. Todo movimento ou transporte RESOLVÍVEL é denominado ADVECÇÃO, e é refe- renciado como movimento ou transporte ADVECTIVO8. E, todo movimento ou transporte NÃO RESOLVÍVEL é denominado DIFUSÃO, e é referenciado como movimento ou transpor- te DIFUSIVO9. O transporte advectivo está sempre associado ao campo de velocidades resolví- vel na escala de interesse. O transporte difusivo sempre leva um adjetivo indicativo da maior escala não resolvível. Por exemplo, no primeiro caso do recipiente com corante antes mencionado, tem-se difusão molecular, ou transporte difusivo molecular, e zero advecção, ou zero transporte advectivo. No segundo caso tem-se difusão turbulenta, ou transporte difusivo turbulento, também com advecção nula. 8 O termo “convectivo” também é por vezes empregado com o mesmo significado, entretanto é mais usual em movimentos verticais decorrentes de gradientes de temperatura. 9 Nesta definição supõe-se um escoamento tridimensional (3D). Em modelos de escoamentos com menos dimen- sões (2D ou 1D) obtêm valores médios em uma dada dimensão. Na dimensão promediada, a escala de interesse é infinita, e ao escoamento ou transporte não resolvível pela perda da dimensão, chama-se dispersão. E:\UFRJ\GestaoRH\CapituloPCCRosman.doc Como dito, todo movimento ou transporte não resolvível tem que ser modelado em termos de grandezas resolvíveis. Quando se está na escala instantânea pontual das partículas, essa modelagem advém de observações e medições através da física experimental, gerando “leis da física”. Por exemplo, a difusão molecular de massa é explicada pela Lei de Fick, a difusão molecular de quantidade de movimento leva às tensões viscosas. E, quando a escala de interesse é superior à das partículas, como é usual, há que se modelar a difusão turbulenta. E aí é que está um grande desafio, pois ao contrário da difusão molecular, não há uma “Lei” para a difusão turbulenta. 4.2.1. A água natural e seus constituintes – Equação de Estado A princípio a massa de uma partícula de “água” pode mudar tanto por variações em sua massa específica ρ quanto em seu volume δxδyδz. Para um dado volume, ρ pode variar com a con- centração de algumas substâncias, nomeadamente o sal e sedimentos finos no caso de corpos de água em bacias hidrográficas. O volume de uma partícula de água por sua vez pode mudar por variações na pressão ou na temperatura. Entretanto, verifica-se que nos escoamentos natu- rais as variações de volume por variação de pressão são desprezíveis. Assim, diz-se que é in- compressível o escoamento de partículas de água com uma dada massa específica, função da temperatura e da concentração de algumas substâncias. Esta última frase traduz-se matemati- camente em duas equações extremamente importantes. A primeira é a que define a massa específica da “água”; explicitando que nos escoamen- tos de interesse a massa específica não depende da pressão, através da chamada Equação de Estado ou Equação Constituinte que, para o caso de corpos de água naturais pode ser conve- nientemente escrita como: ( )nCCCT ,....,,, 21ρ=ρ (2) onde T representa a temperatura da partícula e C1 a Cn as concentrações das “n” substâncias constituintes de sua massa. A segunda equação é a chamada Equação da Continuidade, e vem da imposição da condição de incompressibilidade. O fato da pressão não constar na Equação de Estado, e portanto do escoamento ocorrer como se o fluido fosse incompressível, precisa ser imposto como uma condição para definir as classes de escoamento nos quais é válida a equação (2).. Tal equação exprime que o volume de um conjunto de partículas, ∆x∆y∆z, em um dado escoamento, sem- pre continua o mesmo10. Tal equação exprime que o volume de um conjunto de partículas, ∆x∆y∆z, em um dado escoamento, sempre continua o mesmo11. Em termos matemáticos po- de-se escrever que a variação do volume ∆x∆y∆z no tempo é nula: ( ) 0=∆∆∆ dt zyxd (3) 10 Repare que a continuidade do volume, ou condição de incompressibilidade, é uma condição estritamente geo- métrica, e não uma conseqüência da conservação de massa. De fato, em corpos d’água naturais, nomeadamente em estuários, a massa específica da “água” não é constante mas o escoamento é incompressível. Entretanto, é comum apresentar-se a incompressibilidade como conseqüência da conservação de massa. O inverso é o correto, isto é, se um fluido for homogêneo e seu escoamento incompressível, como conseqüência, sua massa específica é constante. 11 Repare que a continuidade do volume, ou condição de incompressibilidade é uma condição estritamente geo- métrica, e não uma conseqüência da conservação de massa. De fato, em corpos d’água naturais, nomeadamente em estuários, a massa específica da “água” não é constante mas o escoamento é incompressível. Entretanto, é comum apresentar-se a incompressibilidade como conseqüência da conservação de massa. O inverso é o correto, isto é, se um fluido for homogêneo e seu escoamento incompressível, como conseqüência, sua massa específica é constante. E:\UFRJ\GestaoRH\CapituloPCCRosman.doc Entretanto esta forma da equação da continuidade não é adequada, pois não é fácil medir o volume de um grupo de partículas em escoamento. É mais fácil medir a velocidade com que as partículas estão escoando, ou a velocidade do escoamento. Assim após uma manipulação algébrica chega-se à conhecida forma da Equação da Continuidade: 0= ∂ ∂ + ∂ ∂ + ∂ ∂ z w y v x u (4) onde u, v e w são as componentes da velocidade do escoamento respectivamente nas direções x, y e z. A equação (4), é a condição a ser satisfeita pelo escoamento para validade da equação (2). Em termos matemáticos a condição de escoamento incompressível equivale a dizer que o divergente da velocidade do escoamento é nulo. Em outras palavras, as partículas de um con- junto em escoamento não estão convergindo nem divergindo, o volume do conjunto permane- ce constante, independente da forma que assuma ao escoar12. Na maioria dos corpos d’água naturais, é conveniente modelar a “água” como um siste- ma binário, composto pela água propriamente dita e por outra substância genérica. Isso não quer dizer que não se possa tratar simultaneamente do transporte de várias substâncias, decor- rentes do escoamento da água natural. A única implicação é que o transporte advectivo e difu- sivo de cada substância pode ser tratado independentemente em conjunto com a água apenas, como se fosse um sistema binário. A aproximação de sistema binário será sempre válida quando a concentração das substâncias for muito pequena em relação à concentração de H2O. A grande maioria das substância presentes na água natural não é relevante na definição de sua massa especifica. Quando a concentração de uma substância é relevante para o cálculo de ρ, esta é chamada de contaminante ativo, caso contrário de contaminante passivo. Dentro deste contexto, o calor contido em uma partícula, embora não seja uma substância, pode ser tratado como um contaminante ativo, cuja concentração é expressa pela temperatura T. Todo contaminante ativo interfere na hidrodinâmica do corpo d água. 4.3. Transporte de contaminantes – Princípio da conservação da massa O transporte de contaminantes presentes na constituição da massa de uma partícula de água de qualquer corpo d’água natural, pode ser determinado a partir do princípio da conservação da massa do contaminante. Para modelagem conceptual do princípio da conservação da massa, suponha um volume de controle, no qual se possa medir os fluxos de entrada e de saída da massa de contaminante. Considere também que se pode medir, as possíveis reações que porventura ocorram produzin- do ou consumindo massa do contaminante, enquanto este está dentro do volume de controle. O modelo conceptual do princípio da conservação de massa pode então ser escrito como: “A variação por unidade de tempo da massa de contaminante dentro do volume de con- trole, é igual ao fluxo de entrada menos o fluxo de saída, mais a massa resultante das reações de produção ou consumo no interior do volume na unidade de tempo13.” Para o modelo matemático de tal princípio suponha que o volume de controle seja um cubo com dimensões ∆x, ∆y e ∆z. Em um dado instante a massa de contaminante no interior 12 Em oceano profundo, o escoamento também é localmente incompressível, mas a densidade da água é maior devido à pressão. 13 Tais reações são usualmente denominadas “reações cinéticas”, e podem envolver fenômenos químicos, bioló- gicos e físicos. E:\UFRJ\GestaoRH\CapituloPCCRosman.doc do volume de controle será o produto da concentração de contaminante C pelo volume ∆x∆y∆z. Em termos matemáticos pode-se escrever: ( ) somatório das reações d variação da massa fluxo de entrada menos fluxo de saídapor unidade de tempo nas direções , , . ( ) ( ) ( )c c c c x y z C x y z u C v C w C x y z R x y z t x y z ∂ ∆ ∆ ∆ ∂ ∂ ∂ = − + + ∆ ∆ ∆ + Σ ∆ ∆ ∆ ∂ ∂ ∂ ∂ !""#""$ !"""""""#"""""""$ e produção ou consumo de contaminante !"#"$ Os fluxos acima estão representados de forma global, mas sempre terão uma parte re- solvível, e outra não resolvível. O fluxo resolvível ou fluxo advectivo está associado ao pa- drão de correntes ou circulação hidrodinâmica do corpo de água. O fluxo não resolvível está associado à turbulência, pois as escalas de interesse quase sempre são muito maiores que uma partícula fluida. Por isso pode-se dizer que os fluxos não resolvíveis são fluxos difusivos tur- bulentos, estando associados à turbulência do escoamento. Se a escala de interesse fosse a das partículas, ter-se-ia fluxos difusivos moleculares. 4.4. Movimento da água – Princípio de conservação da quantidade de movimento Conhecer o escoamento, o padrão de correntes, os níveis d’água ou vazões em um corpo de água, depende de se conhecer como as águas se movimentam. E para isso, é necessário conhe- cer a quantidade de movimento de cada partícula, ou seja, a sua massa e a sua velocidade. A massa das partículas é definida pela equação de estado ou equação constituinte. Resta calcular a velocidade e o movimento estará resolvido. Na escala da mecânica do contínuo, qualquer movimento resolvível de uma partícula é re- gido pelo princípio da conservação da quantidade de movimento (2a Lei de Newton)14, cujo modelo conceptual é: “A variação temporal da quantidade de movimento de uma partícula é igual à resultante das forças atuantes”. O modelo matemático de tal princípio pode ser escrito como: 3,2,1;)()( = δδδ Σ = ρ ∴Σ= i zyx F dt udF dt mud ii i i %% (3.5) onde m é a massa da partícula, ui e ΣFi são as componentes na direção xi, respectivamente da velocidade e da soma das forças atuantes na partícula. 4.5. Escoamento e transporte de grande escala Todos os modelos hidrodinâmicos e de transporte de escalares ou qualidade de água em cor- pos de água de bacias hidrográficas são desenvolvidos com base nos princípios de conserva- ção de massa e de quantidade de movimento, incluído a equação de estado e a da continuida- de. Em geral aplica-se tais princípios para o escoamento principal ou de grande escala, dei- xando-se para ser modelado como turbulência os fenômenos de menor escala. O termo “grande escala” significa de fato a menor escala de interesse que se deseja re- solver na modelagem de um dado fenômeno. O escoamento e transporte de escalares em cor- 14 Uma forma simplificada, válida quando a massa é constante, e mais popular da 2a. Lei de Newton é a que diz “A soma das forças é igual à massa vezes a aceleração, ou ΣF=ma.” E:\UFRJ\GestaoRH\CapituloPCCRosman.doc pos d’água são resultado da soma de fenômenos em uma miríade de escalas. Tais escalas vari- am continuamente, desde as diminutas em escala sub-partículas, associadas às tensões visco- sas e às difusões moleculares, até as maiores, que são limitadas pela geometria do corpo d’água. Os fenômenos com escalas maiores que as “grandes escalas” serão tão melhor resolvi- dos em detalhes quanto maior seu comprimento ou período característico. Já os fenômenos inferiores às grandes escalas, não são resolvíveis e têm que ser modelados. É similar ao que o artista faz ao pintar uma paisagem, o que está em primeiro plano é bem resolvido e detalhado, mas a vegetação do fundo não é resolvível, apenas seus efeitos aparecem no quadro através de diferentes tons de verde. Ao se medir uma variável instantânea de um escoamento em corpos d’água naturais, como a velocidade da corrente por exemplo, obtêm-se um resultado como ilustrado pela curva no topo da Figura 2. O aspecto confuso e irregular da curva tipifica o registro que usualmente se obtêm nos chamados escoamentos turbulentos. Claramente, na escala de resolução dos nos- sos olhos trata-se de um registro muito irregular. Através de métodos matemáticos, como aná- lise de Fourier por exemplo, pode-se decompor o fenômeno registrado em uma soma de parce- las simples. De fato, a curva no topo da Figura 2 foi artificialmente construída somando-se as componentes harmônicas simples que aparecem abaixo. Cada componente tem sua identidade definida por seu período ou comprimento de onda, sua amplitude e sua fase. Na curva irregu- lar da Figura 2, as menores escalas resolvíveis correspondem ao período e ao comprimento de onda da menor componente ilustrada. Se passássemos as diversas componentes por um filtro que removesse as de menor escala e deixa-se passar apenas as maiores, o resultado seria uma curva mais suave, como a indicada também no topo da Figura 2. Tal curva corresponderia à parte resolvível se o fenômeno fosse modelado tendo como grande escala apenas as quatro primeiras, e maiores, componentes. O efeito das compo- nentes não resolvíveis teria que ser modelado em termos de variáveis nas escalas resolvíveis e incluído no resulta- do final. O que se deseja então é filtrar as variáveis presentes nas equações do modelo matemático geral, de modo que as equações representem bem apenas fenômenos de gran- de escala. Posteriormente, ter-se-á que incluir de alguma forma nas equações, o efeito geral dos fenômenos que ocorrem nas escalas não resolvíveis, ou seja, modelar a turbulência. Figura 2. Ilustração da decomposição de um sinal complexo em componentes harmônicas simples. A linha fina irregular da parte superior é formada pela soma das senóides regulares que estão abaixo. A linha grossa da parte superior seria a parte re- solvível, se apenas as quatro primeiras componentes de grande escala fossem consideradas. A maneira de se filtrar algo matematicamente é a- través de um processo de média ponderada, dando-se um peso de ponderação grande para as escalas que se quer resolver, e um peso muito pequeno ou nulo para as esca- las que se deseja eliminar. Generalizando a média ponde- E:\UFRJ\GestaoRH\CapituloPCCRosman.doc rada da aritmética para funções continuas da álgebra, chega-se à integral de convolução. Tal integral corresponde a uma soma de parcelas infinitesimais do produto de uma função filtro, ou peso de ponderação, pela função que se quer filtrar. 5. Exemplos de aplicação de modelos Os tipos de modelos mais adequados para um dado caso, dependem fortemente das caracterís- ticas do corpo de água de interesse, do nível de detalhamento desejado, e das variáveis alvo. Quanto à características do corpo de água, especificamente deve-se observar a estrutura típica da coluna de água e se existem padrões significativos de estratificação. Existem vários sistemas de modelos disponíveis no mercado internacional. Como e- xemplo de um sistema de modelos aplicável a uma vasta de situações em bacias hidrográficas, cita-se o Sistema BAse de HIdrodinâmica Ambiental, SisBAHIA, em contínuo desenvolvi- mento na COPPE/UFRJ desde 1988. Em linhas gerais o SisBAHIA contém: 1. Um modelo hidrodinâmico, chamado FIST3D, para simular a circulação hidrodinâmica sob diferentes cenários em corpos de água de uma bacia hidrográfica. Tal modelo é otimi- zado para aplicações em corpos de água sem estratificação significativa, como é o caso de várias baías, estuários, sistemas lagunares, águas costeiras, da maioria dos rios, e de boa parte dos lagos e reservatórios. Para vários casos práticos a simulação de campos de cor- rentes promediadas na vertical, bidimensional na horizontal (2DH), é adequada. Contudo, em alguns casos, por exemplo, para geração de padrões de correntes para transporte de manchas de óleo, ou para plumas de emissários, o conhecimento de perfis verticais de ve- locidade de natureza tridimensional, se torna necessário. Para isso, o sistema de modela- gem hidrodinâmica do SisBAHIA também é capaz de simular campos de correntes tridi- mensionais (3D). 2. Um modelo de transporte Euleriano advectivo-difusivo do tipo 2DH, promediado na verti- cal, para simular o transporte de escalares, isto é, substâncias dissolvidas ou em suspensão, contaminantes ou parâmetros de qualidade da água que estejam bem misturados na coluna de água. Em geral, este modelo é mais útil para problemas de grande escala, pois funciona acoplado à malha do módulo 2DH do modelo hidrodinâmico. 3. Um modelo de transporte Lagrangeano advectivo-difusivo, para simular o transporte de escalares, tais como substâncias dissolvidas ou em suspensão, contaminantes ou parâme- tros de qualidade da água que possam estar bem misturados, ocupando apenas uma cama- da, ou flutuando na coluna d’água. Esse tipo de modelo é, na maioria das vezes, utilizado no estudo do transporte, relativamente local, de plumas ou nuvens de contaminantes origi- nados a partir de fontes de pequena escala em relação ao domínio do modelo hidrodinâmi- co. Este modelo permite também que se marque a água de diferentes setores do corpo de água para estudos de misturas de massas de água. Uma série de atributos de vêm sendo incluídos nestes modelos à medida que são formulados e desenvolvidos. Isso inclui características necessárias à modelagem adequada de diversos cor- pos de água naturais, facilidades para exibição dos resultados, características que aumentam a confiabilidade e aceitação dos modelos, e que permitam que tais modelos sejam aperfeiçoados para estudos futuros. Dessa forma, destaca-se algumas características que vêm sendo conside- radas no continuado desenvolvimento do SisBAHIA: !"Tensões e difusividades turbulentas estão sendo modeladas de modo a tornar o processo de calibragem dos modelos o mais possível baseada em variáveis naturais. E:\UFRJ\GestaoRH\CapituloPCCRosman.doc !"Isso se dá através do emprego de sofisticados modelos de turbulência, auto-ajustáveis às escalas da malha de discretização e à hidrodinâmica local, o que minimiza o processo de calibragem.. !"De modo a manter os dados do modelo o mais natural possível, e também visando à mi- nimização da calibragem dos modelos, o campo de ventos e as condições de atrito no fun- do podem ser variáveis no espaço e no tempo. !"Respeitando os pontos acima, mesmo se não de dispuser de medições que possibilitem uma calibração refinada, pode-se obter resultados acurados se a topo-hidrografia do corpo de água e os forçantes do escoamento forem bem definidos. !"O modelo hidrodinâmico do SisBAHIA, (FIST3D), é capaz de calcular campos de veloci- dade promediado na vertical, 2DH, e campos de velocidades tridimensionais, 3D, gerando assim os perfis de velocidade ao longo da profundidade (ao longo do eixo vertical). Isso pode ser obtido de duas maneiras: através de um eficiente método analítico-numérico que funciona muito bem na maioria dos casos, ou diretamente através de uma formulação completa de modelo numérico 3D. A primeira maneira é mais rápida e gera resultados a- curados, se o interesse estiver voltado para regiões com acelerações advectivas ao longo da coluna de água pouco variáveis, isto é, os efeitos da advecção 2DH predominam. A se- gunda alternativa requer um maior esforço computacional, mas pode fornecer resultados precisos para uma grande variedade de situações, respeitando a validade das equações go- vernantes. Embora possa-se computar apenas o módulo 2DH do modelo hidrodinâmico, quando se computa escoamento 3D por qualquer dos dois métodos, as soluções 2DH e 3D passam a ser interdependentes. Desta forma, em alguns casos a solução puramente 2DH pode diferir um pouco da solução 2DH+3D. !"Varias opções para resultados de formato gráfico já estão incluídas no SisBAHIA. Entre- tanto, os resultados dos modelos podem ser exportados e usados em qualquer programa gráfico. Especificamente, as muitas opções de apresentação gráfica já embutidas no Sis- BAHIA para visualização e impressão usam de forma automática em os conhecidos pro- gramas Surfer e Grapher. !"Os modelos são baseados em esquemas numéricos bem estabelecidos, para aumentar a validade e a aceitação. Como dito, os diferentes modelos que compõem o SisBAHIA estão sendo continuamente de- senvolvidos na COPPE/UFRJ, e têm sido utilizados em várias aplicações práticas, projetos de engenharia e de pesquisa e também em gestão ambiental. Algumas aplicações recentes dos modelos são exemplificadas a seguir: 1. Aplicação do módulo hidrodinâmico 2DH do FIST3D para o estudo de possíveis ações a fim de diminuir as inundações na cidade de Joinville causadas por marés e tempesta- des na Baia da Babitonga - SC. Interessado: Município de Joinville no Estado de Santa Catarina. Relatório ET-150693, 03/97, Fundação Coppetec - COPPE/UFRJ. 2. Aplicação do modelo FIST3D completo e dos modelos de transporte para o estudo do impacto ambiental associado à construção de um poliduto para o transporte de álcool, diesel e gasolina, na Baía da Guanabara. Interessado: empresa Habtec S.A., companhia responsável pela elaboração do EIA/RIMA para a construção do poliduto. Relatório ET-170305, 05/97, Fundação Coppetec - COPPE/UFRJ. 3. Aplicação do modelo FIST3D completo e dos modelos de transporte para avaliar a efi- ciência do emissário submarino e as condições de balneabilidade da praia de Ipanema. E:\UFRJ\GestaoRH\CapituloPCCRosman.doc Interessada: CEDAE, Companhia Estadual de Águas e Esgotos, Rio de Janeiro. Rela- tório ET150663, 08/97 e 02/98. Fundação Coppetec - COPPE/ UFRJ. 4. Aplicação do módulo 2DH do FIST3D e dos modelos de transporte para um estudo da hidrodinâmica geral e dos padrões de transporte na baía de Sepetiba - RJ, com objetivo de auxiliar na definição do Plano Diretor Econômico e Ecológico da bacia da baía de Sepetiba. Interessado: empresa ETEP S.A., companhia responsável pelo desenvolvi- mento do Plano Diretor para o governo do Estado do Rio de Janeiro. Relatório ET- 170334, 03/98. Fundação Coppetec - COPPE/ UFRJ. 5. Aplicação do módulo 2DH do FIST3D para estudar possíveis ações para restabelecer a circulação em torno da Ilha do Fundão, obstruída pelo assoreamento do canal do Fun- dão na Baía da Guanabara - RJ. Interessado: Fundação SERLA no âmbito do Plano de Despoluição da Baía de Guanabara, Governo do Estado do Rio de Janeiro. Relatório ET-150786, 05/98. Fundação Coppetec - COPPE/ UFRJ. 6. Aplicação do módulo 2DH do FIST3D para estudar a dragagem e disposição de sedi- mentos no sistema Lagunar da Tijuca. Interesado: Prefeitura da Cidade do Rio de Ja- neiro. Relatório ET-150849, 11/98. Fundação Coppetec - COPPE/ UFRJ. 7. Desde Março de 1999, o SisBAHIA vem sendo aplicado à região da Baía de Todos os Santos, BTS, Além de parte integrante dos estudos de diagnóstico e prognóstico ambi- entais para a BTS, desde Junho de 2000, o SisBAHIA está instalado no Centro de Re- cursos Ambientais (CRA), órgão do Governo da Bahia, e vem sendo usado como fer- ramenta de gestão ambiental da BTS. O SisBAHIA já foi usado para diversas simula- ções pertinentes a estuários na região, especialmente em estudos referentes ao Estuário do Rio Vermelho. A título ilustrativo apresenta-se algumas figuras relativas ao uso do SisBAHIA na Baía de Todos os Santos. Figura 3. Exemplo de malha de discretização em elementos finitos aplicada à região da Baía de Todos os Santos, BA. E:\UFRJ\GestaoRH\CapituloPCCRosman.doc Figura 4. Exemplos de representação da batimetria do fundo da região da Baía de Todos os Santos, BA, como representada no modelo. Figura 5. Exemplo de resultados de previsão de níveis de água. As linhas representam resultados simula- dos e os pontos representam os valores medidos. Baía de Todos os Santos, BA. E:\UFRJ\GestaoRH\CapituloPCCRosman.doc Figura 6. Exemplo de resultados de previsão de correntes, confrontados com valores medidos nas esta- ções assinaladas. Baía de Todos os Santos, BA. Figura 7. Exemplo de padrão de correntes na Baía de Todos os Santos, BA. É de se esperar que se os resultados são bons nos pontos indicados nas duas figuras anteriores, também serão bons nas demais áreas cobertas pelo modelo. E:\UFRJ\GestaoRH\CapituloPCCRosman.doc Figura 8. Exemplo de resultados de previsão de correntes detalhadas nas cercanias do emissário do Rio Vermelho, visando a modelo de transporte de contaminantes, como apresentado a seguir. Situa- ção de máximas velocidades de vazante em maré de sizígia com frente fria. Baía de Todos os Santos, BA. E:\UFRJ\GestaoRH\CapituloPCCRosman.doc Figura 1. Exemplo de plumas de contaminação de colimetria com T90 = 1½ horas, no mesmo instante do padrão de correntes da Figura anterior. Baía de Todos os Santos, BA. Modelos para Recursos Hídricos Introdução O processo de modelagem O processo de modelagem em recursos hídricos Modelos de interesse Tipos de modelos computacionais mais usuais Sobre o pré e o pós-processamento Fundamentos dos modelos hidrodinâmicos e de transporte de escalares Escalas de interesse Movimentos e transportes resolvíveis e não resolvíveis - Advecção e Difusão A água natural e seus constituintes – Equação de Estado Transporte de contaminantes – Princípio da conservação da massa Movimento da água – Princípio de conservação da quantidade de movimento Escoamento e transporte de grande escala Exemplos de aplicação de modelos