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._-----------------------_._------_._------------ momento é de prudência "ustavo Loyola teto de tolerância do regime demetas (6,5%). Nesse contexto, os novos estí- mulos anunciados pelo ministro Mantega podem se revelar exa- gerados, levando a economia pa- ra um ritmo de crescimento in- sustentável em 2012, repetin- do-se, assim, o mesmo equívoco acontecido em 2010. Vale recor- dar que naquele ano o PIB cres- ceu 7,5% em termos reais, numa recuperação cíclica que logo se mostraria não sustentável, tanto que exigiu medidas restritivas no ano seguinte, provocando uma parada súbita da atividade eco- nômica no segundo semestre de 2011. O erro em 201 O foi a não re- tirada tempestiva dos estímulos , adotados (a maioria deles corre- tamente) em resposta à crise que se seguiu à quebra da Lehman Brothers em setembro de 2008. Aparentemente, naquele mo- mento, falaram mais alto os obje- tivos eleitorais do governo. Como temos insistido, o cres- cimento econômico deve ser sus- tentável, com a menor volatilida- de possível. Os ciclos econômicos são uma realidade da vida, mas cabe à política econômica suavi- zá-Ias e não acentuar seus vales e picos com ações do tipo "stop-and-go" que acabam pre- judicando o desempenho da eco- nomia no longo prazo. Houvesse a economia brasileira crescido menos em 2010, provavelmente não teria sido necessária a para- da súbita de 2011 e nem teria a inflação se acelerado para 6,5% naquele ano. A sustentabilidade do cresci- mento econômico, por sua vez, exige políticas públicas que vão muito além das medidas de estí- mulo da demanda agregada. Ao contrário, o que importa mesmo é o crescimento da oferta agrega- da que depende basicamente do estoque de capital físico e huma- no, assim como da produtivida- de dos fatores de produção. Vale ressaltar que muito embora as decisões de investimento sejam influenciadas pelas expectativas em relação à demanda futura, es- se canal somente funciona quan- do os empresários acreditam na sustentabilidade do crescimen- to, pouco adiantando medidas de estímulo de efeitos efêmeros. A expansão da capacidade de oferta exige a presença de insti- tuições favoráveis ao funciona- mento de uma economia de mer- cado, entre as quais se destacam o bom ambiente regulatório e a segurança jurídica. Ademais, a estabilidade macroeconômica é fundamental, o que deveria afas- tar qualquer tipo de tolerância com a inflação, ainda que esta se situe em níveis moderados. Além disso, são necessárias medidas persistentes que elevem o cresci- mento da produtividade ao lon- go do tempo, notadamente polí- ticas educacionais que melho- rem a qualidade do ensino e au- mentem o foco nas carreiras as- sociadas ao conhecimento cien- tífico e tecnológico. Por sua vez, num país como o Brasil, que exi- be uma baixa taxa de poupança e de investimento, torna-se indis- pensável aumentar a poupança do governo, por meio da redução da proporção entre as despesas correntes e o PIB,o que somente ocorrerá com políticas de longo prazo orientadas a este objetivo. As medidas já adotadas são mais do que suficientes para fazer o PIBvoltar a crescer em linha com seu potencial Dessa maneira, as desonera- ções tributárias temporárias, o aumento da oferta de crédito ba- rato via BNDES e outros bancos públicos, a expansão dos gastos do governo, no contexto de um processo longo de afrouxamento monetário pelo Banco Central, são ações que elevam o cresci- mento do PIBno curtíssimo pra- zo, mas podem se mostrar con- traproducentes quanto à eleva- ção do PIBpotencial do país, no- tadamente se delas decorrerem maiores incertezas dos agentes econômicos em relação ao am- biente macroeconômico futuro. s medidas adicionais de estímulo à deman- da anunciadas pelo ministro da Fazenda , ! semana passada coincidiram c'~m a divulgação pelo Banco Central de uma nova redução da taxa Selic, desta vez acompanha- da por uma mudança de tom em seu comunicado, sinalizando que provavelmente tenha chega- do ao fim o ciclo atual de baixa \ de taxa básica de juros. Por outro lado, a pesquisa Fo- cus segue indicando que a expec- tativa média dos agentes econô- micos é de não cumprimento da meta de inflação neste ano e tam- ':m nos dois anos seguintes. 'iás, espera-se mesmo a acelera- 'o da inflação no próximo ano, ultaneamente ao maior cres- ento do PIB.Por causa disso, a - laioria dos analistas já antevê a' W~cessidade de subida das taxasde juros em 2012, com vistas a evitar que a inflação ultrapasse o Mais positivas para as perspec- tivas de crescimento elo Brasil fo- ram as medidas anunciadas pelo governo na semana anterior, com relação a concessões e par- cerias público-privadas no setor de transportes. O anúncio de ou- tras iniciativas dessa natureza 'foi prometido, o que indica que o governo despertou para a neces- sidade de cuidar do crescimento do investimento nos próximos anos. Se tais medidas vingarem, o estímulo para o crescimento do PIEvirá nos próximos anos, sem a necessidade de estímulos artifi- ciais ao consumo. Por tudo isso, o momento exi- ge prudência e paciência do go- verno no que diz respeito à gestão da política econômica. As medi- das já adoradas são mais do que suficientes para fazer o PlBvoltar a crescer em linha com o seu po- tencial e quaisquer abusos po- dem ser contraproducentes, ace- lerando a inflação para patama- res elevados e exigindo, em futu- ro muito próximo, a aplicação ele freios monetários e creditícios se- melhantes ao ocorrido no pri- meiro semestre do ano passado. ( .lI p n t I p rr n o: n te di cí cc ll1 UI CC Gustavo Loyola, doutor em economia pela EPGE/FGV, foi presidente do Banco Central e é sócio-diretor da Tendências Consultoria Integrada, em São Paulo. Escreve mensalmente às segundas-feiras. gloyola@tcndencias_com.br A14 I Valor! Terça-feira, 18 de setembro de 2012 • • Opinião \)éê- 1-1.-- V~'L C<>.-~K-tJo - ;) é:CJ:>~SMl~ \JO ç••-k- Le>!-Z, V810r Jornal econômico de circulação nacional, publicado desde 2 de maio de 2000 pela Valor Econômico SA Diretora de Redação: Vera Brandimarte Conselho Editorial: Alexandre Caldini Neto, Aluizio Maranhão Gomes da Silva, Antonio Manuel Teixeira Mendes, Celso Pinto, João Roberto Marinho, Luiz Frias, Otavio Frias Filho, Roberto lrineu Marinho e Vera Brandimarte Diretor-presidente: Alexandre Caldini Neto Conselho de Administração: Antonio Manuel Teixeira Mendes, Luiz Frias, Marcello Henrique Monleiro de Moraes, Roberto Irineu Marinho Amudança no compulsório e o crédito de longo prazo Banco Central (BC)deu mais um passo rio desmonte de medidas macroprudenciais de aperto monetário tomadas no passado, O objetivo declarado é reduzir o custo do crédito e aumentar a oferta de recursos para estimular a economia, que vem patinando. Asmedidas vão injetar R$30 bilhões no mercado. R$ 16 bilhões virão da eliminação ou redução de recolhimentos compulsórios adicionais criados há nada menos do que dez anos, em um momento de necessidade de contenção da liquidez para evitar a especulação cambial contra o real. Naquela época, foram criados adicionais aos compulsórios já existentes sobre depósitos a vista e à prazo. Outros R$ 14 bilhões serão liberados com a mudança nas regras de cumprimento da parte principal do compulsório, que segue sendo de 20%no caso dos depósitos à prazo e de 44%dos depósitos à vista. Uma parcela desse compulsório já podia ter um destino alternativo: em vez de o dinheiro ser recolhido ao Banco Central, os bancos podiam direcionar 36%dos recursos para comprar carteiras de crédito e letras financeiras de bancos menores ou, ainda, financiar a venda de veículos. Esse percentual agora subiu para 50%. Desde o fim do ano passado, o BCtinha liberado cerca de R$70 bilhões em compulsórios, volume que sobe para R$ 100 bilhões com as novasregras. O desmonte de compulsório foi uma estratégia usada também na primeira fase da crise financeira internacional, em2008 e 2009, para amenizar o aperto de liquidez, estimular o crédito e a economia. Posteriormente, quando a economia deslanchou e a inflação ameaçou sair dos trilhos da meta, o BCvoltou a restringir a expansão monetária. Apesar de ser um colchão de liquidez bastante importante ao longo da crise, o estoque de compulsórios recolhidos pelo sistema financeiro brasileiro atingiu volumes despropositados. No fim de 2011, somava quase meio trilhão, mais precisamente R$448,5 bilhões. Com as liberações feitas e mudanças nos instrumentos de captação dos bancos, estava em R$383,4 bilhões no fim de julho. As novas liberações devem reduzir o estoque para cerca de R$350 bilhões, volume ainda muito grande. Aperspectiva de que o espaço para novas reduções do juro básico é exíguo e que a Selic está perto do piso tornam importante o uso de medidas macroprudenciais, como a redução dos compulsórios, para induzir novos recuos nos juros do crédito, que têm cedido muito lentamente. Aoferta de recursos também tende a aumentar. O estoque de crédito cresceu apenas 0,7%em julho e 17,7%em 12 meses, atingindo R$2,183 trilhões. A concessão média diária de crédito livre, excluindo aplicações obrigatórias dos bancos como o financiamento habitacional, caiu 10,1%. Amudança realizada no compulsório ainda tem o efeito colateral benéfico, embora negado pelo Banco Central, de incentivar as compras de letras financeiras emitidas por bancos menores, especialmente importante após a liquidação de mais duas instituições pequenas, o que sempre reduz a liquidez dos negócios interbancários. As letras financeiras vêm ganhando espaço como instrumento de captação dos bancos, com um estoque ao redor de R$200 bilhões, ou 20%das emissões de papéis bancários, perdendo apenas para os tradicionais certificados de depósito bancários (CDB). Uma de suas principais vantagens é ser isenta de recolhimento de compulsôrio, Sua característica m . ;':'" . ~iB.;{3Jalio;de vencimento ',' :i5'an05, Tanto os compi uanto as letras financeiras fazem' b'qtiebra-cabeçado desenvolvimento de um mercado de financiamento de longo prazo privado no país. Mas o ponto principal é certamente a estrutura de remuneração dos títulos, que faz com que aplicações de curto prazo tenham o mesmo retorno dasde longo prazo. Isso aCOITeporque tanto as operações "overnight" quanto as compromissadas são remuneradas pela taxa Selic, que também corrige títulos públicos longos. Essa prática antiga, que remonta à época em que a inflação mensal estava na casa dos dois dígitos, induz a poupança a estacionar nas aplicações de curto prazo, esvaziando o impacto benéfico da redução dos compulsórios e do estímulo às letras financeiras. U~*-Çb.~S#\} ~Çj -1'B o "~"" "' -(). nrvé ~. as a}iicâÇões ~ mais em aumentar o nível depoupança d Análise . 29;oez ':;~ií, Fonte: IBGE. êtabcraçâc: Valor Data Pense JamesSaft Reuters Poucos consultores estão dis- postos a dizer, e nenhum cliente quer ouvir, mas a melhor aposta para o investidor não é a obses- são por fundos e estratégias, mas, sim, o aumento de sua taxa de poupança. A indústria dos inves- timentos - e seus clientes - con- centra-se intensamente em co-. mo maximizar os retornos, com muita tinta, poder cerebral e lá- grimas sendo gastos na tentativa de adivinhar em qual fundo apli- car e qual estratégia adotar. ' Embora isso seja totalmente apropriado e às vezes até renda frutos, também é, de muitas ma- neiras, uma manobra decepcio- nante. A verdade é que o princi- pal gerador de riqueza, e o único que realmente conta, é quanto dinheiro, em vez de gastar, você consegue poupar para investir. Adiar o consumo é uma tarefa muito mais difícil do que a "alqui- mia"do processo de escolha de um fundo. Por isso, o setor de investi- mentos, com a cumplicidade dos clientes e dos consultores, gasta muito mais tempo pensando na escolha de aplicações que na ela- boração de estratégias para au- mentar a capacidade de poupar. a Putnam Institute, centro de pesquisas em finanças, realizou um estudo que analisa o impacto sobre o crescimento do patrimõ- nio provocado por fatores como: escolha dos fundos, alocação de ativos, rebalanceamento de car- teiras e aumento do nível de pou- pança. A constatação foi que, no longo prazo, adiar a satisfação proporcionada pelo consumo imediato é o nome do jogo. O estudo do Putnam Institute analisou planos de aposentado- ria com contribuições definidas patrocinados por empresas. Nes- ses planos, os funcionários de uma empresa aplicam seu di- nheiro em uma variedade de fundos com diferentes estraté- gias e perfis. Embora o estudo tenha sido feito com planos de aposentadoria, acredito que as constatações se aplicam a qual- quer pessoa que estiver poupan- do e investindo por meio de qualquer veículo ou plano. "Colocar o desempenho do fundo no topo da lista de priori- dades é um erro, com implica- ções amplas. Isso não quer dizer que o desempenho do fundo não importa. Mas nossas análises su- gerem que a rentabilidade é uma variável muito menos poderosa quando comparada com o reba- lanceamento da carteira e, mais do que tudo, com o aumento do nível de poupança", escreve no estudo W.VanHarlow, diretor de pesquisas do Putnam Institute, que é patrocinado por adminis- tradoras de fundos. Ao olhar para as variáveis, o estudo apresenta um indivíduo hipotético que começou a eco- nomizar por meio de um plano de contribuição definida em 1982, aos 25 anos. Esse indiví- duo recebeu aumentos anuais de salário de 3% e optou por contribuir para o plano com 3% de sua renda. A empresa deposi- ta no plano 50%do valor aplica- do pelo funcionário, até o limite de 6%da renda dele. No caso do estudo, o poupa- dor escolhe um mix conservador de ativos, com 60% em bônus, 30%em ações e 10%em ativos de altíssirna liquidez. Esses recursos são aplicados em fundos que es- , tão na lista dos 25%menos ren- táveis em um grupo selecionado pela Lipper, empresa fornecedo- ra de dados sobre fundos. Além disso, ao longo do tempo, não há rebalanceamento da carteira nem migração entre classes de ativos. Os resultados foram de- sanimadores. Em 2011, nosso poupador se vê com 57 anos, com uma renda anual de US$ 57.198 e um saldo no plano 401(k) - ou seja, patrocinado pela empresa - de US$136.400. Agora, vamos assumir que nos- so poupador fez sua pesquisa e escolheu apenas fundos que esta- vam, no momento da aplicação inicial, entre os 25%mais rentá- veis,também segundo ogrupo da Lipper. Infelizmente, os fundos vencedores no início se mostra- ram perdedores no fim, No longo prazo, o patrimônio atingiu ape- nas US$126.700. Se o investidor, além de escolher os fundos entre os 25% melhores (quartil supe- rior da amostra), fizesseum rodí- zio entre os fundos desse quartil, ele se sairia ligeiramente melhor, acabando com US$130.600. Adiar O consumo imediato é uma tarefa muito mais difícil que a "alquimia" do processo de seleção de um fundo Na verdade, mesmo que você conseguisse ver o futuro e esco- lhesse, adiantadamente, os fun- dos que, de três em três anos, fi- gurariam entre os 25%melhores (no quartil superior), os resulta- dos não seriam mais vistosos.Vo- cê iria apenas ter um desempe- nho, ao longo dos 29 anos, 22% superior, terminando o período com US$166.200. Aumentar o risco em sua car- teira- coin o uso de um mix ba- lanceado de ativos (60% ações) ou de um mix agressivo (80% ações) - melhora bem mais os retornos. No fim, você teria US$ 150 mil e US$159 mil, respecti- vamente. É claro que o custo dis- so é a volatilidade, que nos toma todos covardes e sempre leva os participantes de planos a dei- xâ-los exatamente na pior hora. O rebalanceamento periódi- co, segundo constatouo estudo, de maio .. pode melhorar ligeiramente os retornos e também amenizar a volatilidade, o que significa que nosso investidor consegue um retomo muito maior pelo risco que está assumindo. Mais uma vez, foram usados fundos do quartil inferior (entre os 25~ menos rentáveis) escolhidos ng começo. É importante observar que o estudo construiu os port- fólios usando fundos que exis- Itiam ao longo de todo o período e, quando possível, optou pelo fundo mais comumente oferec~ do nos planos 401(k) dentro di uma determinada categoria. ,. Até aí, tudo muito bem, ma§ os ganhos realmente signifícati- vos ocorrem quando nosso pou; pador simplesmente aumentá sua taxa de contribuição ao pla- no. Se a contribuição do indiví- duo aumenta de 3%para 4%,se~ saldo final salta de US$ 136.40g para US$ 181 mil. Aumente issR para 6% ou 8%e você terá US$ 272 mil e US$334 mil, respecti- vamente. "O interessante é quJ um aumento de um ponto per~ centual na taxa de poupança te~ ria um impacto no acümulo d.~ riqueza muito maior que o d~ estratégia de escolha de fundó.s usando uma bola de cristal~ afirma VanHarlow. . Na verdade, a importância desse tipo de matemática pod~ rá crescer na próxima década se, conforme muitos antecipam, 3 cenário pós-crise financeira l~: var a um período prolongado dç retornos baixos. Para atend~1 melhor os clientes, a indúst:ri..i dos investimentos precisa mu- dar, deixando principalmentj de vender esperanças, parapas- sar cada vez mais a aconselhar 8 adiamento do consumo e taxás mais altas de poupança. (Tradú~ ção Mario Zamarian) :~ J~ Safté colunista da Reuters. Este,I artigo expressa as opiniões do autor, e ,t não as do jornal Valor Econômico '.. I ! I .. - -• : ';-1 + é a política cambial i " lançamento do novo programa de afrouxamento monetário dos Estados Unidos colocou o Banco Central (BC) em estado de alerta. As autoridades econômicas receiam que desencadeie mais um tsunami de capital internacional em direção ao país, solapando o patamar cuidadosamente erigido de uma taxa de câmbio acima de R$,2,00. Não há consenso a respeito desse impacto, mas o governo já começou a agir. É o terceiro programa de afrouxamento monetário a que o Federal Reserve (Fed, banco central americano) recorre para amenizar os efeitos sobre a economia da crise financeira que estourou no fim de 2007 e, por isso, é chamado dei'quantitative easing 3" (~3). Ao longo desse tempo, o Fed já aumentou o seu balanço em cerca de US$2 trilhões, adquirindo títulos para dar liquidez ao mercado, abrir espaço para a desalavancagem das famílias, incentivar o crédito e estimular a economia. Quando a crise estourou, o balanço do Fed era de US$ 800 bilhões; em fevereiro, atingiu o pico de US$2,9 trilhões; atualmente, está em US$2,8 trilhões. Apesar disso, a economia americana permaneceu anêmica e o desemprego elevado, estacionado em 8,1%.Com o governo politicamente impossibilitado de recorrer aos estímulos fiscais, especialmente agora quase nas vésperas da eleição presidencial, o Fed reçorreu ao esperado QE3, que trouxe características inéditas. Em primeiro lugar, o programa envolve a compra de US$40 bilhões por mês em títulos lastreados em hipótecas, até que as perspectivas para o mercado de trabalho melhorem "substancialmente" - o que, para algumas fontes, seria reduzir o desemprego para 6%a 7%.O duplo mandato legal do Fed é promover o "máximo emprego e máxima estabilidade de preços". Até o fim do ano, o Fed também continuará comprando títulos de longo prazo do Tesouro com recursos originários da quitação de dívidas mobiliârias em seu poder e a venda de papéis de curto prazo, o que significa cerca de US$45 bilhões por mês. Além disso, garantiu não elevar os juros até meados de 2015, além, portanto, do mandato de seu presidente, Ben Bernanke, que se encerra em 2014. 'Aexpectativa do Fed ao tentar desanuviar o mercado imobiliário é facilitar a • desalavancagem desse setor, pivô da crise internacional, para abrir espaço para a recuperação da economia e, naturalmente, do emprego. Foi uma grande cartada porque, na prática, promete continuar inundando o mercado de dinheiro até que a economia melhore. O próprio Fed reduziu a previsão de crescimento econômico deste ano de 1,9%a 2,4%para 1,7%a 2%,mas elevou a de 2013 de 1,9%a 2,4%para 2,5%a 3%.A produção industrial americana teve, em agosto, a maior queda desde março de 2009, de 1,2%,depois de ter subido 0,5%em julho; e a utilização da capacidade instalada caiu de 79,2% para 78,2%. Já as vendas no varejo subiram 0,9%,pelo segundo mês consecutivo. Bancos centrais ao redor do mundo, inclusive o brasileiro, estão apelando ao afrouxamento monetário para estimular a economia. Ontem mesmo oJapão ampliou em volume e prazo seu programa de compra de ativos, entre os quais títulos corporativos, papéis do governo, fundos negociáveis em bolsa e fundos imobiliários, além de manter os juros perto de zero, em um sinal de que também conta com o prolongamento da crise. Aeficiência dessas medidas tem sido questionada, mas certamente a situação seria pior se não fossem postas em prática. Ehá ainda o impacto cambial, porque parte do dinheiro injetado busca melhores retornos em mercados emergentes como o Brasil, efeito constatado pelo Banco para Compensações Internacionais (BIS).A entrada desse dinheiro acaba apreciando as moedas dos mercados emergentes, com efeito perverso em suas balanças comerciais. Há dúvidas se o impacto no Brasil terâa mesma intensidade dos outros QE.De fato, várias medidas foram tomadas pelo governo para limitar o espaço dos especuladores no mercado financeiro. A queda do juro e o baixo crescimento econômico também afastam o capital que busca alto retomo. De toda forma, o Banco Central vem realizando vários leilões de venda de swap cambial reverso, que têm o efeito de compra de dólar no mercado futuro, desde a reunião do Fed, quinta-feira, aparentemente para sustentar a cotação da moeda americana acima dos R$2,00. Mas ainda é cedo para um fluxo maior de capital externo bater ) às portas do mercado brasileiro, assim como o I arsenal à disposição do governo vai bem além dos i swaps reversos. O embate está nas preliminares. í ,I \ ~j ~ ( 1