Prévia do material em texto
Resumo do Problema do Consumidor Autor: Murilo Ferreira de Moraes∗ Mestrado em Economia Faculdade de Economia, Administrac¸a˜o e Contabilidade Universidade de Sa˜o Paulo Prof. Ricardo Madeira Monitores: Murilo Ferreira de Moraes e Paula R. Kasmirski Revisado em 16 de abril de 2011 Suma´rio 1. Problema de Maximizac¸a˜o de Utilidade 1 1.1 Func¸a˜o de utilidade indireta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2 2. Problema de Minimizac¸a˜o do Dispeˆndio 3 2.1 Func¸a˜o de dispeˆndio mı´nimo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 3. Dualidade 4 3.1 Equac¸a˜o de Slustky . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 4. Variac¸a˜o de bem estar 6 5. Exemplo: Utilidade Stone–Geary 9 6. Soluc¸a˜o da provinha III 11 6.1 Problema de Maximizac¸a˜o de Utilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11 6.2 Problema de Minimizac¸a˜o do Dispeˆndio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13 A Apeˆndice 1 15 B Apeˆndice 2 16 Resumo Este resumo procura cobrir alguns resultados importantes do problema de consumidor. Vamos nos concentrar em um problema gene´rico com apenas dois bens, ignorando soluc¸o˜es de canto para facilitar o entendimento. 1. Problema de Maximizac¸a˜o de Utilidade Temos que resolver o seguinte problema Max x,y U(x, y) s.a. xpx + ypy = I. ∗murilofmoraes@gmail.com 1 Ou seja, maximizamos uma determinada func¸a˜o de utilidade sujeita a uma restric¸a˜o orc¸amenta´ria. O Lagrangeano associado a esse problema e´ L = U(x, y) + λ(I − xpx − ypy). com condic¸o˜es de primeira ordem dadas por ∂L ∂x = ∂U(x, y) ∂x − λpx = 0⇒ ∂U(x, y) ∂x = λpx ∂L ∂y = ∂U(x, y) ∂y − λpy = 0⇒ ∂U(x, y) ∂y = λpy ∂L ∂λ = I − xpx − ypy = 0⇒ I = xpx + ypy Dividindo a primeira pela segunda temos TMSx,y = ∂U(x, y)/∂x ∂U(x, y)/∂y = px py A partir da relac¸a˜o entre a TMS e a raza˜o de prec¸os podemos encontrar uma relac¸a˜o entre x e y em func¸a˜o dos prec¸os1. Dada essa relac¸a˜o, podemos substituir x por alguma func¸a˜o f(y, px, py) na restric¸a˜o orc¸amenta´ria de maneira que encontraremos a demanda marshaliana de y. Ou seja, TMSx,y = px py ⇒ x = f(y, px, py) ⇓ f(y, px, py)px + ypy = I ⇓ y∗ = y(px, py, I) Analogamente, podemos definir x∗ = f(y∗, px, py) = f(y(px, py, I), px, py) = x(px, py, I) 1.1 Func¸a˜o de utilidade indireta A func¸a˜o de utilidade indireta determina o n´ıvel de utilidade alcanc¸ado, no problema de maximizac¸a˜o de utilidade, para determinados valores de px, py e I. Do problema de maximizac¸a˜o de utilidade encontramos as demandas marshalianas x(px, py, I) e y(px, py, I) que sa˜o func¸o˜es apenas dos prec¸os e da renda. Logo, V (px, py, I) = U ( x(px, py, I), y(px, py, I) ) representa justamente o n´ıvel de utilidade alcanc¸ado quando consumimos essas quantidades de x e y, ou seja, representa a func¸a˜o de utilidade indireta. 1ver o Apeˆndice 1 para uma discussa˜o mais detalhada sobre a relac¸a˜o da TMS com a raza˜o de prec¸os. 2 2. Problema de Minimizac¸a˜o do Dispeˆndio Temos que resolver o seguinte problema Min x,y xpx + ypy s.a. U(x, y) = u¯ cujo lagrangeano e´ L = xpx + ypy + γ(u¯− U(x, y)). As condic¸o˜es de primeira ordem desse problema sa˜o ∂L ∂x = px − γ ∂U(x, y) ∂x = 0⇒ px = γ ∂U(x, y) ∂x ∂L ∂y = py − γ ∂U(x, y) ∂y = 0⇒ py = γ ∂U(x, y) ∂y ∂L ∂λ = u¯− U(x, y) = 0⇒ U(x, y) = u¯ Dividindo a primeira pela segunda temos TMSx,y = ∂U(x, y)/∂x ∂U(x, y)/∂y = px py Observe que obtemos a mesma condic¸a˜o exposta no problema de maximizac¸a˜o da utilidade. A dualidade entre os problemas impo˜e que, se u¯ = U(x∗, y∗), enta˜o a demanda obtida no problema de minimizac¸a˜o sera´ igual a`quela obtida no problema de maximizac¸a˜o de utilidade. Novamente, a partir da relac¸a˜o entre a TMS e a raza˜o de prec¸os podemos encontrar uma relac¸a˜o entre x e y em func¸a˜o dos prec¸os. Dada essa relac¸a˜o, podemos substituir x por alguma func¸a˜o fˆ(y, px, py) na func¸a˜o de utilidade para obter a demanda hicksiana de y. Ou seja, TMSx,y = px py ⇒ x = fˆ(y, px, py) ⇓ U(fˆ(y, px, py), y) = u¯ ⇓ y∗c = yc(px, py, u¯) em que a passagem acima considera poss´ıvel isolar o y e deixa´-lo em func¸a˜o dos prec¸os e de u. Assim, temos que x∗c = fˆ(y∗c, px, py) = fˆ(y c(px, py, u¯), px, py) = xc(px, py, u¯) 2.1 Func¸a˜o de dispeˆndio m´ınimo Analogamente a` func¸a˜o de utilidade indireta, temos que a func¸a˜o de dispeˆndio determina o menor n´ıvel de gasto que garante uma determinada utilidade, dados px e py. Do problema de minimizac¸a˜o 3 de gasto encontramos as demandas hicksianas (ou compensadas) xc(px, py, u¯) e y(px, py, u¯) que sa˜o func¸o˜es apenas dos prec¸os e da utilidade u¯. Logo, E(px, py, u¯) = x c(px, py, u¯)px + y c(px, py, u¯)py representa justamente o custo mı´nimo para alcanc¸ar u¯, ou seja, representa a func¸a˜o de dispeˆndio mı´nimo. 3. Dualidade Vamos supor que no problema de maximizac¸a˜o de utilidade temos V (px, py, I) = u¯ ou seja, a utilidade ma´xima dados px, py e I e´ u¯. Do problema de minimizac¸a˜o temos E(px, py, u¯) = I ′. Vamos argumentar que I ′ = I. Imagine que E(px, py, u¯) = I ′ > I, ou seja, o gasto mı´nimo para conseguir u¯ seja maior que I. Isso contradiz o problema de maximizac¸a˜o, uma vez que para um n´ıvel de renda I conseguimos obter u¯ (ou seja, podemos gastar menos que I ′ e garantir a mesma utilidade). Analogamente, imagine que E(px, py, u¯) = I ′ < I, ou seja, o gasto mı´nimo para obter u¯ e´ menor que I. Temos novamente uma contradic¸a˜o com o problema de maximizac¸a˜o: se gasto menos que I para obter u¯ enta˜o poderia aumentar o consumo de algum dos bens e obter uma utilidade maior. Portanto, u¯ na˜o poderia ser a utilidade ma´xima obtida com px, py e I. Dessa maneira temos que V (px, py, E(px, py, u¯)) = u¯ e E(px, py, V (px, py, I)) = I 3.1 Equac¸a˜o de Slustky A partir da relac¸a˜o acima, temos que xc(px, py, u¯) = x(px, py, E(px, py, u¯)), 4 ou seja, a dualidade entre os problemas implica que a soluc¸a˜o para os mesmos valores de u¯ e de renda I sera´ a mesma. Derivando em relac¸a˜o a px, obtemos ∂xc ∂px = ∂x ∂px + ∂x ∂E ∂E ∂px . Do problema de minimizac¸a˜o, temos que ∂E ∂px = ∂L ∂px = x; substituindo x pela soluc¸a˜o minimizadora (Teorema do Envelope)2, ∂E ∂px = xc(px, py, u¯) = x(px, py, I). Rearranjando os termos da segunda equac¸a˜o, temos ∂x ∂px = ∂xc ∂px − ∂x ∂I x ou ∂x ∂px = ∂x ∂px ∣∣∣∣ U=u¯ − ∂x ∂I x O primeiro termo da direita representa o efeito substituic¸a˜o: para um mesmo valor de utilidade, mos- tra como a demanda de x e´ afetada frente uma variac¸a˜o no prec¸o. Representa, portanto, movimento em x ao longo da mesma curva de utilidade. O segundo termo representa o efeito renda. Quando temos uma variac¸a˜o no prec¸o temos uma reduc¸a˜o da renda real, i.e., a renda nominal e´ capaz de comprar uma menor quantidade de bens. Logo, isso afeta diretamente o consumo dos bens pela reduc¸a˜o do orc¸amento real. Pore´m, essa variac¸a˜o e´ proporcional a` quantidade consumida de x: se a quantidade de x e´ muito elevada, variac¸o˜es no seu prec¸o devera˜o afetar mais o consumo do que quando tal bem e´ consumido em quantidades pequenas. Graficamente, temos (considerando prefereˆncias convexas e uma mudanc¸a de p1’ para p1”) ESER I / p1” I / p1’ U´ U´´ x1 x2 Veja que a reta orc¸amenta´ria que cruza o eixo x1 em I/p ′ 1 representa a restric¸a˜o orc¸amenta´ria original. O aumento do prec¸o para p′′1 faz com que a reta cruze esse eixo em um ponto inferior: como o prec¸o e´ mais alto, se alocartoda a renda no bem 1 consigo consumir uma menor quantidade desse 2ver o apeˆndice 2 5 bem. Para encontrar o efeito substituic¸a˜o e´ necessa´rio encontrar a quantidade de x1 consumida, aos novos prec¸os, mas que garanta a mesma utilidade anterior (ou seja, encontrar a demanda hicksiana aos novos prec¸os que garanta U ′). Para isso basta deslocar a nova restric¸a˜o ate´ que ela tangencie a curva de indiferenc¸a anterior (ou seja, ate´ a reta pontilhada). O efeito renda e´ dado pelo res´ıduo da variac¸a˜o na demanda de x1, descontando o efeito substituic¸a˜o. A partir da equac¸a˜o de Slustky e´ poss´ıvel entender a relac¸a˜o entre a inclinac¸a˜o da demanda marshaliana e da hicksiana. Suponha um bem normal, i.e., ∂x ∂I > 0. Logo, temos que ∂x ∂px = ∂xc ∂px <0︷ ︸︸ ︷ − ∂x ∂I︸︷︷︸ >0 x⇒ ∂x ∂px < ∂xc ∂px ou seja, a demanda marshaliana e´ mais horinzontal que a hicksiana (veja que quando desenhamos as demandas colocamos o prec¸o no eixo vertical e por isso a demanda marshaliana e´ mais horizontal; caso o prec¸o ficasse no eixo horizontal ter´ıamos que essa e´ mais inclinada). Assim, para um aumento de prec¸o a queda na demanda marshaliana supera a queda na demanda hicksiana (e´ a soma da substituic¸a˜o decorrente do bem cujo prec¸o aumentou pelos demais e da reduc¸a˜o do consumo ocasionada pela reduc¸a˜o da renda real). Graficamente (considerando um exemplo ana´logo aos valores do gra´fico anterior), p1” p1’ x1 p1 x1* xc1(U’) xc1(U” ) ESER A notac¸a˜o xc1(U ′) representa a demanda hicksiana quando mantemos a mesma utilidade antes da mudanc¸a de prec¸o (corresponde ao deslocamento da restric¸a˜o ate´ a restric¸a˜o pontilhada no gra´fico anterior). 4. Variac¸a˜o de bem estar Uma das importantes aplicac¸o˜es dos conceitos definidos no problema do consumidor e´ a ana´lise da variac¸a˜o do bem estar frente a variac¸o˜es nos paraˆmetros do problema (prec¸os e renda). A definic¸a˜o de uma medida moneta´ria capaz de expressar a variac¸a˜o na utilidade e´ de extrema importaˆncia se considerarmos casos pra´ticos como criac¸a˜o de impostos ou subs´ıdios, por exemplo. Considere a 6 func¸a˜o dispeˆndio definida como E(ptx, p t y, U t) = xc(ptx, p t y, U t)ptx + y c(ptx, p t y, U t)pty representando justamente o custo mı´nimo para alcanc¸ar U t, ou seja, representa a func¸a˜o de dispeˆndio mı´nimo. xc e yc correspondem a`s demandas hicksianas associada ao problema de minimizac¸a˜o do dispeˆndio e o ı´ndice t associado ao prec¸os e a utilidade correspondem a um per´ıodo no tempo. Suponha que em t = 0 temos E(p0x, p 0 y, U 0) e em t = 1 temos uma mudanc¸a de p0x para p 1 x, de maneira que o gasto mı´nimo para atingir a mesma utilidade fica E(p1x, p 0 y, U 0). Logo, V C = E(p1x, p 0 y, U 0)− E(p0x, p0y, U0). representa o que denominamos de Variac¸a˜o Compensadora; i.e., a variac¸a˜o na renda do indiv´ıduo necessa´ria para deixa´-lo no mesmo n´ıvel de utilidade anterior. Como na pra´tica a func¸a˜o dispeˆndio na˜o e´ observada (uma vez que na˜o temos o n´ıvel de utilidade), uma maneira adequada de obter a Variac¸a˜o Compensadora seria atrave´s do lema de Sheppard: xc(px, py, U) = ∂E(px, py, U) ∂px ⇒ ∫ xc(px, py, U)dpx = ∫ ∂E(px, py, U) ∂px dpx = E(px, py, U). Portanto, V C = E(p1x, p 0 y, U 0)− E(p0x, p0y, U0) = ∫ p1x 0 xc(px, py, U 0)dpx − ∫ p0x 0 xc(px, py, U 0)dpx = ∫ p1x p0x xc(px, py, U 0)dpx. ESER p1xp1x px xc(U0) xc(U1) p0x x x* No entanto, podemos pensar nesse problema com uma visa˜o diferente. Considere, por exemplo, que o consumidor frente a variac¸a˜o de prec¸o, otimiza novamente sua func¸a˜o de utilidade e atinge U1. 7 Logo, poder´ıamos pensar em outra medida de variac¸a˜o de bem estar, dada por V E = E(p1x, p 0 y, U 1)− E(p0x, p0y, U1) denominada Variac¸a˜o Equivalente. Tal medida representa a quantidade moneta´ria que tornaria o consumidor indiferente entre uma mudanc¸a na sua renda nesse montante e a variac¸a˜o no prec¸o. Ou seja, se o consumidor atinge no ma´ximo U1 aos prec¸os p1x e p 0 y e renda m, quando precisamos variar a renda dele aos prec¸os p0x e p 0 y para que ele atinja no ma´ximo U 1. Analogamente, temos V E = E(p1x, p 0 y, U 1)− E(p0x, p0y, U1) = ∫ p1x 0 xc(px, py, U 1)dpx − ∫ p0x 0 xc(px, py, U 1)dpx = ∫ p1x p0x xc(px, py, U 1)dpx. ESER p1xp1x p0x px xc(U0) xc(U1) x x* Por fim, uma terceira alternativa para o ca´lculo da variac¸a˜o no bem estar do consumidor, e´ o uso da demanda marshaliana para calcula a Variac¸a˜o no Excendente do Consumidor, dada por V EC = ∫ p1x p0x x(px, py,m)dpx. x x* ESER p1xp1x p0x xc(U0) xc(U1) px Veja que no caso de bens inferiores, a relac¸a˜o entre a inclinac¸a˜o das demandas marshalianas sera´ 8 distinta e isso afetara´ a relac¸a˜o entre as variac¸o˜es compensadora, equivalente e do excendente do consumidor (use o mesmo racioc´ınio para a equac¸a˜o de Slutsky com bens inferiores para derivar esse resultado). 5. Exemplo: Utilidade Stone–Geary Pensando em uma extensa˜o do modelo Coob-Douglas para n bens ter´ıamos: U(x1, . . . , xN ) = n∏ i=1 xβii com ∑n i=1 βi = 1 (ou seja, n bens com o expoente somando 1; o caso simples e´ quando temos apenas dois bens, x e y). O problema de maximizac¸a˜o associado a essa utilidade sera´ Max x1,...,xn ∏n i=1 x βi i s.a. p1x1 + . . .+ pnxn = ∑n i=1 pixi = m com lagrangeano L = n∏ i=1 xβii + λ ( m− n∑ i=1 pixi ) . As condic¸o˜es de primeira ordem desse problema sa˜o ∂L ∂x1 = β1 ∏n i=1 x βi i x1 − λp1 = 0 ... ∂L ∂xj = βj ∏n i=1 x βi i xj − λpj = 0 ... ∂L ∂xn = βn ∏n i=1 x βi i xn − λpn = 0 ∂L ∂λ = m− n∑ i=1 pixi = 0. Tomando duas condic¸o˜es de primeira ordem k, l e dividindo uma pela outra temos: βk βl xl xk = pk pl ⇒ xl = βl pl pk βk xk. Podemos separar a restric¸a˜o entre k e os demais bens; ou seja, n∑ i=1 pixi = pkxk + n∑ i=1 i 6=k pixi = m 9 e substituindo xi pela expressa˜o anterior, pkxk + n∑ i=1 i 6=k pi ( βi pi pk βk xk ) = pkxk + pkxk βk 1−βk︷ ︸︸ ︷ n∑ i=1 i 6=k βi = βkpkxk + (1− βk)pkxk = βkm e, portanto, ∀k = 1, . . . , n xk = βkm pk . E´ poss´ıvel notar que esse e´ justamente o resulta quando temos apenas 2 bens; por exemplo, para a func¸a˜o de utilidade U(x, y) = xβy(1−β) as demandas marshalianas sa˜o x∗(px, py,m) = βm px e y∗(px, py,m) = (1− β)m py . Uma extensa˜o desse modelo seria U(x1, . . . , xN ) = n∏ i=1 (xi − γi)βi que seria ideˆntico ao problema anterior, se γi = 0, ∀i = 1, . . . , n. Vamos definir xˆi = xi − γi de maneira que podemos fazer a seguinte modificac¸a˜o na restric¸a˜o orc¸amenta´ria n∑ i=1 pixi = m n∑ i=1 pixi − n∑ i=1 piγi = m− n∑ i=1 piγi n∑ i=1 pi(xi − γi) = m− n∑ i=1 piγi n∑ i=1 pixˆi = mˆ Dessa maneira, temos que o problema do consumidor fica ideˆntico ao caso da Cobb-Douglas: Max xˆ1,...,xˆn ∏n i=1 xˆ βi i s.a. ∑n i=1 pixˆi = mˆ 10 de maneira que a soluc¸a˜o do problema ∀k = 1, . . . , n xˆ∗k = βkmˆ pk x∗k − γk = βk(m− ∑n i=1 piγi) pk x∗k = γk + βk(m− ∑n i=1 piγi) pk em que apenas usamos as definic¸o˜es de xˆ e mˆ. O uso comum desse tipo de modelo e´ para situac¸o˜es em que o consumo dos bens esta´ restrito a algum n´ıvel de subsisteˆncia. Podemos ver na demanda marshaliana que γk corresponde justamente a esse n´ıvel de subsisteˆncia; para todo k o consumo de xk parte de γk mais uma parcela da renda. Essa parcela da renda e´ dada pelo termo βk(m− ∑ni=1 piγi) pk . Analisando por partes temos que m − ∑ni=1 piγi corresponde a quanto “sobra” da renda apo´s o consumo de subsisteˆncia de todos os bens. Como em uma Cobb-Douglas a parcela dessa renda gasta com xk dependera´ do expoente βk, ou seja, consome-se uma parcela βk (lembre-se que 0 < βk < 1) da renda discriciona´ria (aquela que sobra apo´s o consumo de subsisteˆncia). 6. Soluc¸a˜o da provinha III 6.1 Problema de Maximizac¸a˜o de Utilidade O problema do indiv´ıduo e´ Max x1,x2 2 √ x1 + x2 s.a. p1x1 + p2x2 = m cujo lagrangeano e´ L = 2√x1 + x2 + λ(m− xp1 − yp2). As condic¸o˜es de primeira ordem desse problema sa˜o ∂L ∂x1 = 1√ x1 − λp1 = 0⇒ 1√ x1 = λp1 ∂L ∂x2 = 1− λp2 = 0⇒ 1 = λp2 ∂L ∂λ = m− xp1 − yp2 = 0⇒ m = xp1 + yp2 Dividindo a primeira pela segunda temos TMSx1,x2 = 1√ x1 = p1 p2 ⇒ x∗1 = ( p2 p1 )2 . Logo, vemos que no o´timo o consumo de x1 independe da renda. O consumo o´timo de x2 e´ encontrado a partir da restric¸a˜o orc¸amenta´ria: p1x ∗ 1 + p2x ∗ 2 = m⇒ p1 ( p2 p1 )2 + p2x ∗ 2 = m⇒ x∗2 = m− p22 p1 p2 11 Como o consumo de x∗1 independe da renda, temos que o consumo de x2 corresponde ao res´ıduo da restric¸a˜o orc¸amenta´ria. No entanto, e´ importante perceber a existeˆncia de uma restric¸a˜o adicional sobre o consumo dos bens: nenhum dos bens pode ser consumidor em quantidade negativa. Portanto, o consumo de x∗2 se divide em dois casos: x∗2 = m− p22 p1 p2 , se m > p22 p1 0, se m ≤ p 2 2 p1 . Por essa restric¸a˜o, a demanda por x1 tambe´m se divide em dois casos: caso o consumo de x ∗ 2 seja nulo, enta˜o toda a renda e´ gasta em x∗1 e, portanto, x∗1 = ( p2 p1 )2 , se m > p22 p1 m p1 , se m ≤ p 2 2 p1 . i) As demandas marshalianas para m > p22 p1 sa˜o x∗1 = ( p2 p1 )2 e x∗2 = m− p22 p1 p2 ii) A func¸a˜o de utilidade indireta neste caso sera´ V (x1, x2) = U(x ∗ 1, x ∗ 2) = 2 √ x∗1 + x ∗ 2 = 2 √( p2 p1 )2 + m− p22 p1 p2 = p2 p1 + m p2 iii) As demandas marshalianas para m ≤ p22 p1 sa˜o x∗1 = m p1 e x∗2 = 0 iv) A func¸a˜o de utilidade indireta neste caso sera´ V (x1, x2) = U(x ∗ 1, x ∗ 2) = 2 √ x∗1 + x ∗ 2 = 2 √ m p1 v) vi) Se m = p22 p1 temos, pelo item (iv), que a utilidade e´ dada por V (x1, x2) = 2 √ m p1 ⇒ m = p 2 2 p1 ⇒ 2 √√√√ p22p1 p1 = 2 √( p2 p1 )2 = 2 p2 p1 12 6.2 Problema de Minimizac¸a˜o do Dispeˆndio Temos que resolver o seguinte problema Min x,y x1p1 + x2p2 s.a. 2 √ x1 + x2 = u¯ cujo lagrangeano e´ L = x1p1 + x2p2 + γ(u¯− 2√x1 − x2). As condic¸o˜es de primeira ordem desse problema sa˜o ∂L ∂x = p1 − γ√ x1 = 0⇒ p1 = γ√ x1 ∂L ∂y = p2 − γ = 0⇒ p2 = γ ∂L ∂λ = u¯− 2√x1 − x2) = 0⇒ 2√x1 + x2) = u¯ Dividindo a primeira pela segunda temos TMSx,y = 1√ x1 = p1 p2 ⇒ xc1 = ( p2 p1 )2 . Novamente, vemos que no o´timo o consumo de xc1 independe da renda. O consumo o´timo de x2 e´ encontrado a partir da restric¸a˜o sobre a utilidade: 2 √ xc1 + x c 2 = u¯⇒ 2 √( p2 p1 )2 + xc2 = u¯⇒ xc2 = u¯− 2p2 p1 Analogamente ao problema de maximizac¸a˜o de utilidade, e´ importante perceber a existeˆncia de uma restric¸a˜o adicional sobre o consumo dos bens: nenhum dos bens pode ser consumidor em quantidade negativa. Portanto, o consumo de xc2 se divide em dois casos: xc2 = u¯− 2p2 p1 , se u¯ > 2 p2 p1 0, se u¯ ≤ 2p2 p1 . Por essa restric¸a˜o, a demanda por x1 tambe´m se divide em dois casos: caso o consumo de x c 2 seja nulo, enta˜o toda a utilidade corresponde ao consumo de xc1 (2 √ xc1 = u¯⇒ xc1 = u¯ 2 4 ) e, portanto, xc1 = ( p2 p1 )2 , se u¯ > 2 p2 p1 u¯2 4 , se u¯ ≤ 2p2 p1 . vii) As demandas hicksianas para u¯ > 2 p2 p1 sa˜o xc1 = ( p2 p1 )2 e xc2 = u¯− 2p2 p1 . 13 viii) As demandas hicksianas para u¯ ≤ 2 p2 p1 sa˜o xc1 = u¯2 4 e xc2 = 0. Os efeitos renda e substituic¸a˜o podem ser obtidos atrave´s da equac¸a˜o de Slutsky, dada por ∂x1 ∂p1 = Efeito substituic¸a˜o︷︸︸︷ ∂xc1 ∂p1 Efeito renda︷ ︸︸ ︷ −∂x1 ∂m x1 ix) Substituindo pelos valores encontrados, temos para u¯ > 2 p2 p1 ∂xc1 ∂p1 = ∂ (( p2 p1 )2) ∂p1 = −2p 2 2 p31 e − ∂x ∂m x = 0 x) Para u¯ ≤ 2 p2 p1 ∂xc1 ∂p1 = 0 e − ∂x ∂m x = − ∂ ( m p1 ) ∂m m p1 = −m p21 14 A Apeˆndice 1 Da definic¸a˜o de Taxa Marginal de Substituic¸a˜o (TMS), temos TMS = − dy dx ∣∣∣∣ U=cte , ou seja, a raza˜o diz respeito a taxa que o agente esta´ disposto a trocar um bem pelo outro, de maneira a permanecer na mesma curva de indiferenc¸a. A raza˜o de prec¸o py px por sua vez, diz respeito a taxa de troca do mercado entre y e x. E´ natural, portanto, que no ponto o´timo a taxa de substituic¸a˜o em termos de utilidade se iguale a taxa de subtituic¸a˜o moneta´ria (a raza˜o de prec¸os). Imagine que esse na˜o fosse o caso; por exemplo, imagine que a TMS seja inferior a raza˜o de prec¸o. Ou seja, seria poss´ıvel abrir ma˜o de uma quantidade de y e com esse valor comprar x de maneira a obter um n´ıvel de utilidade maior, violando a hipo´tese de que estamos em um ponto o´timo. Outra forma de enxergar isso seria atrave´s do multiplicador de Lagrange. Para isso suponha o seguinte problema Max x,y U(x, y) s.a. pxx+ pyy = I de maneira que o Lagrangeano de tal equac¸a˜o seria L = U(x, y) + λ(I − pxx− pyy). Resolvendo, obtemos as seguintes condic¸o˜es de primeira ordem ∂L ∂y = ∂U ∂y − λpy = 0 ∂L ∂x = ∂U ∂x − λpx = 0 ∂L ∂λ = I − pxx− pyy = 0. Das duas primeiras condic¸o˜es obtemos a seguinte relac¸a˜o, dada pelo multiplicador de Lagrange: λ = ∂U/∂x px = ∂U/∂y py . Essa equac¸a˜o diz que por unidade moneta´ria gasta, a contribuic¸a˜o em termos de utilidade marginal tem que ser igual para todos os bens. Logo, ∂U/∂y ∂U/∂x < py px ⇒ ∂U/∂y py < ∂U/∂x px implica que a utilidade marginal por unidade moneta´ria gasta em x e´ maior que por unidade mone- ta´ria gasta em y. 15 (x*,y*) y x B Apeˆndice 2 Considere a seguinte versa˜o gene´rica do teorema do envelope. Seja f(x, a) uma func¸a˜o do vetor de varia´veis x e do vetor de paraˆmetros a. Suponha que a restric¸a˜o para a maximizac¸a˜ (ou minimizac¸a˜o) o dessa func¸a˜o seja g(x, a) = 0. Logo, temos que resolver o seguinte problema: Max x f(x, a) s.a. g(x, a) = 0. com lagrangeano dado por L(x, a) = f(x, a)− λ · g(x, a). A formulac¸a˜o geral do teorema do envelope e´ df∗(a) dai = ∂L(x, a) ∂ai ∣∣∣∣∣ x=x∗(a),λ=λ(a) Ou seja, podemos calcular a variac¸a˜o da func¸a˜o objetivo no o´timo em func¸a˜o de uma variac¸a˜o nos paraˆmetros calculando a derivada do lagrangeano e avaliando tal derivada no ponto o´timo. Pensando no problema de minimizac¸a˜o de dispeˆndio do consumidor temos Max x n∑ i=1 pixi s.a. g(x, u) = u− U(x) = 0. O lagrangeano desse problema e´ dado por L(x, p,m) = n∑ i=1 pixi + λg(x, u) = n∑ i=1 pixi + λ (u− U(x)) . Sendo xc(p, u) o vetor de demanda hicksiana que resolve problema e E(p, u) = ∑n i=1 pix c i (p, u) a func¸a˜o dispeˆndio mı´nimo (ou seja, o gasto mı´nimo que garante u) temos que o teorema do envelope 16 nos diz que dE(p, u) dpi = ∂L(x, p, u) ∂pi ∣∣∣∣∣ x=xc(p,u),λ=λ(p,u) = xci (p, u) pois os prec¸os so´ entram no problema afetando o gasto (e, portanto, a derivada e´ igual ao bem associado a esse prec¸o3). 3derive a restric¸a˜o orc¸amenta´ria em func¸a˜o do prec¸o e voceˆ encontrara´ esse resultado 17