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1 http://www.euvoupassar.com.br Eu Vou Passar – e você? Ricardo Resende – Direito do Trabalho – Aulas 28 a 36 Material escrito referente às vídeo-aulas do tema Marcador: Aula 28 2 - PRINCÍPIOS 1. Generalidades Princípios são os elementos de sustentação do ordenamento jurídico, elementos estes que lhe dão coerência interna. Funções dos princípios: a) função informativa ou construtiva, pela qual os princípios servem de referencial para o legislador quando da criação da norma jurídica. Os princípios constituem, portanto, fonte material do direito; b) função intepretativa, à medida que os princípios auxiliam na interpretação do sentido da norma jurídica. Havendo dúvidas sobre o sentido da norma, deve-se interpretá-la da maneira mais coerente com os princípios; c) função normativa, pois os princípios aplicam-se na solução de casos concretos, seja de forma direta, através da derrogação de uma norma por um princípio, seja de forma indireta, pela integração do sistema jurídico na hipótese de lacuna. Aliás, de acordo com a moderna doutrina pós-positivista, cujos maiores expoentes são o alemão Robert Alexy e o norte-americano Ronald Dworkin, a norma jurídica é composta de princípios e de regras de direito, superando assim a doutrina clássica que não atribuía caráter normativo aos princípios. Esquematicamente, ficaria assim: NORMA JURÍDICA = PRINCÍPIO(S) + REGRA DE DIREITO 2 http://www.euvoupassar.com.br Eu Vou Passar – e você? � Doutrina tradicional: jusnaturalistas e positivistas Princípios e normas não se confundem � Doutrina pós-positivista - norma é gênero, do qual são espécies os princípios e as regras - os princípios são dotados de força normativa - os princípios são mais abstratos que as regras - os princípios estão ligados aos valores que o direito busca alcançar Conflito entre normas => “lógica do tudo ou nada” Conflito entre princípios => ponderação de interesses (lógica do “mais ou menos”) Marcador: Aula 29 2. Princípios Constitucionais relevantes para o estudo do Direito do Trabalho 2.1. Princípio da dignidade humana 2.2. Outros princípios constitucionais relevantes - Valores sociais do trabalho - Inviolabilidade da intimidade e da privacidade - Liberdade - profissional - de reunião - de crença - de associação - Função social da propriedade (importante na questão da flexibilização, que deve estar vinculada à função social da empresa e à sua manutenção) - busca do pleno emprego 3 http://www.euvoupassar.com.br Eu Vou Passar – e você? Marcador: Aula 30 3. Princípios gerais do direito relevantes ao ramo justrabalhista 3.1. Princípio da boa-fé 3.2. Princípio da razoabilidade 4. Princípios do Direito do Trabalho a) Princípio da proteção a.1) Princípio da norma mais favorável a.2) Princípio da condição mais benéfica a.3) Princípio in dubio pro operario b) Princípio da primazia da realidade c) Princípio da irrenunciabilidade d) Princípio da continuidade e) Princípio da inalterabilidade contratual lesiva f) Princípio da intangibilidade salarial Marcador: Aula 31 4.1. Princípio da Proteção Também chamado de princípio protetor ou tutelar, consiste na utilização da norma e da condição mais favorável ao trabalhador, de forma a tentar compensar juridicamente a condição de hipossuficiente (parte mais fraca na relação jurídica) do empregado. 4 http://www.euvoupassar.com.br Eu Vou Passar – e você? 4.1.1) Princípio da norma mais favorável Segundo este princípio não prevalece necessariamente, no Direito do Trabalho, o critério hierárquico de aplicação das normas, isto é, existindo duas ou mais normas aplicáveis ao mesmo caso concreto, dever-se-á aplicar a que for mais favorável ao empregado, independentemente do posicionamento da mesma na escala hierárquica1. Critérios de identificação da norma mais favorável: a) Entre uma fonte heterônoma e uma fonte autônoma: Aplica-se integralmente a norma heterônoma (norma imperativa, de ordem pública), e o que for mais benéfico da norma coletiva (fonte autônoma); b) Entre duas fontes autônomas (duas normas coletivas, portanto): Aplica-se uma dentre as seguintes teorias: - Teoria do conglobamento: toma-se a norma mais favorável a partir do confronto em bloco das normas objeto de comparação, isto é, busca-se o conjunto normativo mais favorável; - Teoria da acumulação: seleciona-se, em cada uma das normas comparadas, os dispositivos mais favoráveis ao trabalhador; - Teoria do conglobamento orgânico ou por instituto: extrai a norma aplicável a partir de comparação parcial entre grupos homogêneos de matérias, de uma e de outra norma. Esta teoria é mencionada por Alice Monteiro de Barros como a utilizada pelo ordenamento brasileiro. - Teoria da adequação: deveria ser considerado o diploma normativo mais adequado à realidade concreta. Ex.: uma convenção coletiva prevê grandes vantagens a determinada categoria, dada a existência, na base territorial, de grandes empresas atuando no ramo. Diante da insuficiência econômica de uma pequena empresa do mesmo ramo, a mesma firma com o sindicato da categoria profissional um ACT com vantagens adequadas à sua realidade. Neste caso, dever-se-ia escolher o ACT, pois é adequado ao fato social. 1 A escala hierárquica das normas foi inspirada na teoria de Hans Kelsen e, em apertada síntese, equivaleria a considerar que a Constitituição é o fundamento último de validade em um dado ordenamento jurídico, a partir do qual emergem todas as outras normas. Na pirâmide hierárquica kelseniana as normas jurídicas seriam classificadas, tendo em vista sua importância, respectivamente em normas constitucionais, leis (ordinárias e complementares), decretos, e por último os demais atos normativos infralegais. 5 http://www.euvoupassar.com.br Eu Vou Passar – e você? - Teoria da escolha da norma mais recente: advoga que a negociação coletiva se dá a partir do fato social, que muda constantemente. Dessa forma, a norma aplicável seria sempre a mais recente, pois consentânea com o fato social atual. Alice Monteiro de Barros menciona como indicativo de que o legislador tenha adotado o critério do conglobamento orgânico ou por institutos o art. 3º, II, da Lei nº 7.064/1982, o qual dispõe que caberá “a aplicação da legislação brasileira de proteção ao trabalho, naquilo que não for incompatível com o disposto nesta Lei, quando mais favorável do que a legislação territorial, no conjunto de normas e em relação a cada matéria”. Marcador: Aula 32 4.1.2) Princípio in dubio pro operario Também denominado in dubio pro misero, informa que se uma determinada regra permite duas ou mais interpretações possíveis, estaria o intérprete vinculado à escolha daquela que se mostrasse mais favorável ao empregado. Não se aplica no âmbito do processo do trabalho, notadamente em questão probatória. 4.1.3) Princípio da condição mais benéfica Impõe que as condições mais benéficas previstas no contrato de trabalho ou no regulamento de empresa deverão prevalecer diante da edição de normas que estabeleçam patamar protetivo menos benéfico ao empregado. Liga-se, portanto, à idéia de direito adquirido, nos termos preconizados na CRFB (art. 5º, XXXVI). Base legal: art. 468 da CLT: Art. 468. Nos contratos individuais de trabalho só é lícita a alteração das respectivas condições por mútuo consentimento, e, ainda assim, desde que não resultem, direta ou indiretamente, prejuízos ao empregado, sob pena de nulidade da cláusula infringente desta garantia. Base jurisprudencial: Súmula 51, TST I - As cláusulas regulamentares, que revoguem ou alterem vantagens deferidas anteriormente, só atingirão os trabalhadores admitidos após a revogação ou alteração do regulamento. (ex- Súmula nº 51 - RA 41/1973, DJ 14.06.1973) Súmula 288, TST 6 http://www.euvoupassar.com.br Eu Vou Passar – e você? A complementação dos proventos da aposentadoria é regida pelas normas em vigor na data da admissão do empregado, observando-se as alterações posteriores desde que mais favoráveis ao beneficiário do direito. Se a vantagem é concedida de forma tácita: incorporação da vantagem pressupõe habitualidade. O princípio é limitado pelas normas de ordem pública. Marcador: Aula 33 4.2. Princípio da primazia da realidade É o princípio segundo o qual os fatos, para o direito do trabalho, serão sempre mais relevantes que os ajustes formais Base legal: art. 9º da CLT, segundo o qual “serão nulos de pleno direito os atos praticados com o objetivo de desvirtuar, impedir ou fraudar a aplicação dos preceitos contidos na presente Consolidação”. 4.3. Princípio da continuidade No âmbito do Direito do Trabalho presume-se que os contratos tenham sido pactuados por prazo indeterminado, somente se admitindo por exceção os contratos a prazo determinado. Súmula 212 do TST: Súmula nº 212. DESPEDIMENTO. ÔNUS DA PROVA (mantida) - Res. 121/2003, DJ 19, 20 e 21.11.2003 O ônus de provar o término do contrato de trabalho, quando negados a prestação de serviço e o despedimento, é do empregador, pois o princípio da continuidade da relação de emprego constitui presunção favorável ao empregado. Relação com o instituto da sucessão de empregadores, prevista nos artigos 10 e 448 da CLT. Marcador: Aula 34 4.4. Princípio da inalterabilidade contratual lesiva - Princípio civilista da inalteralibilidade contratual (pacta sunt servanda) - Direito do Trabalho => adaptação mediante a idéia de vedação apenas das alterações prejudiciais (a alteração favorável ao trabalhador é permitida). 7 http://www.euvoupassar.com.br Eu Vou Passar – e você? - não se aplica, no âmbito trabalhista, a cláusula de revisão dos contratos por onerosidade excessiva (rebus sic stantibus), em razão da assunção dos riscos do empreendimento pelo empregador (art. 2º da CLT). Base legal: artigos 444 e 468 da CLT: Art. 444 - As relações contratuais de trabalho podem ser objeto de livre estipulação das partes interessadas em tudo quanto não contravenha às disposições de proteção ao trabalho, aos contratos coletivos que lhes sejam aplicáveis e às decisões das autoridades competentes. Art. 468 - Nos contratos individuais de trabalho só é lícita a alteração das respectivas condições por mútuo consentimento, e ainda assim desde que não resultem, direta ou indiretamente, prejuízos ao empregado, sob pena de nulidade da cláusula infringente desta garantia. Exceções ao princípio: jus variandi e outras expressamente previstas em lei 4.5. Princípio da intangibilidade salarial É o princípio segundo não se admite o impedimento ou restrição à livre disposição do salário pelo empregado. Tal princípio tem como pedra de toque a natureza alimentar do salário. Mecanismos de proteção ao salário (exemplos): - irredutibilidade salarial, salvo o disposto em convenção ou acordo coletivo, conforme previsto no art. 7º, VI, da CRFB; - prazo para pagamento dos salários (art. 459 e 466 da CLT da CLT); - modo e local para pagamento dos salários (art. 465 da CLT); - vedação a descontos indevidos (art. 462 da CLT); - impenhorabilidade dos salários como regra (art. 649, IV, do CPC); - a preferência dos créditos trabalhistas no caso de falência do empregador (Lei 11.101/05). Marcador: Aula 35 4.6. Princípio da irrenunciabilidade Este princípio é também denominado princípio da indisponibilidade de direitos ou princípio da inderrogabilidade, e informa que os direitos trabalhistas são, em regra, irrenunciáveis, indisponíveis e inderrogáveis. Dado o caráter de imperatividade das normas trabalhistas, estas são, em regra, de ordem pública (também chamadas cogentes), pelo que os direitos por elas assegurados não se incluem no âmbito da livre disposição pelo empregado. Em outras palavras, é a mitigação do princípio civilista de cunho liberal consistente na autonomia da vontade. Base legal: art. 9º da CLT. 8 http://www.euvoupassar.com.br Eu Vou Passar – e você? Súmula 276 do TST: Súmula nº 276. AVISO PRÉVIO. RENÚNCIA PELO EMPREGADO O direito ao aviso prévio é irrenunciável pelo empregado. O pedido de dispensa de cumprimento não exime o empregador de pagar o respectivo valor, salvo comprovação de haver o prestador dos serviços obtido novo emprego. (Res. 9/1988, DJ 01.03.1988) Neste mesmo sentido, são irrenunciáveis, por exemplo, as regras relativas à jornada e aos descansos trabalhistas, bem como aquelas que pertinem à segurança e saúde do trabalhador. Como exceções ao princípio da irrenunciabilidade temos, por exemplo, os casos em que cabe negociação coletiva, expressamente mencionados no art. 7º, incisos VI, XIII e XIV da CRFB. 4.6.1. Renúncia vs. Transação Resumidamente trataremos da distinção entre renúncia e transação e da possibilidade de aplicação de ambos os institutos no Direito Individual do Trabalho. A aplicação no Direito Coletivo será tratada minuciosamente no capítulo próprio do nosso curso. Renúncia é ato unilateral da parte, através do qual ela se despoja de um direito de que é titular, sem correspondente concessão pela parte beneficiada pela renúncia. Transação é ato bilateral, pelo qual se acertam direitos e obrigações entre as partes acordantes, mediante concessões recíprocas, envolvendo questões fáticas ou jurídicas duvidosas. A renúncia não é, em regra, admitida no âmbito do Direito Individual do Trabalho. Neste sentido, os artigos 9º, 444 e 468 da CLT. Art. 9º - Serão nulos de pleno direito os atos praticados com o objetivo de desvirtuar, impedir ou fraudar a aplicação dos preceitos contidos na presente Consolidação. Art. 444 - As relações contratuais de trabalho podem ser objeto de livre estipulação das partes interessadas em tudo quanto não contravenha às disposições de proteção ao trabalho, aos contratos coletivos que lhes sejam aplicáveis e às decisões das autoridades competentes. Art. 468 - Nos contratos individuais de trabalho só é lícita a alteração das respectivas condições por mútuo consentimento, e ainda assim desde que não resultem, direta ou indiretamente, prejuízos ao empregado, sob pena de nulidade da cláusula infringente desta garantia. Somente será admitida a renúncia nos casos (raros, diga-se de passagem) em que esteja expressamente prevista em lei. Exemplo: art. 14, §2º e 4º da Lei nº 8.036/1990, que prevê a opção retroativa pelo regime do FGTS e a renúncia à estabilidade decenal. 9 http://www.euvoupassar.com.br Eu Vou Passar – e você? Marcador: Aula 36 Quanto à transação, somente será admitida, em regra, quanto aos direitos de ordem privada (previstos em cláusula contratual ou regulamento empresarial), e ainda assim se não causar prejuízo ao trabalhador (art. 468), salvo quando a própria lei autorizar a transação. Também é importante ressaltar que só se pode admitir a transação de direitos duvidosos, e nunca de direito líquido e certo, pois neste caso não haveria qualquer concessão por parte do empregador, e sim renúncia pelo empregado. Questão de concurso anterior: (ADVOGADO DO IRB – ESAF – 2004) 51- Sobre os princípios que informam o direito do trabalho, assinale a opção incorreta. a) O princípio in dubio pro operario determina que o julgador, em caso de colisão probatória, deve proferir decisão a favor do trabalhador, a quem se dirige toda a proteção social do estado. b) O princípio da proteção, pilar de sustentação do direito do trabalho, estabelece que, em havendo conflito de normas jurídicas, deve prevalecer aquela que melhor atenda aos interesses do trabalhador. c) Como forma de evitar fraudes contra o trabalhador, o princípio da irrenunciabilidade prevê a nulidade de qualquer ato de despojamento praticado antes e durante a vigência da relação de emprego. d) O princípio da primazia da realidade preconiza que os dados efetivamente observados pelos litigantes, no dia a dia da execução do contrato, devem prevalecer sobre ajustes formais ou escritos, quando mais favoráveis ao trabalhador. e) O princípio da continuidade da relação de emprego autoriza a presunção de que os contratos são celebrados por prazo indeterminado, pois há interesse do trabalhador na permanência do contrato, fonte de sua subsistência. Gabarito oficial: letra “A”.