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P2_Questionário IV (Aulas 18 a 23)

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Enviado por Cristiano Martins em

ALUNO: João Paulo B alloni (NºUSP 51467 32)
EAE 416
FORMAÇÃO ECONÔ MICA E SOCIA L DO BRASIL I
Prof. Dr. José Flávio M otta QUESTIONÁRIO IV
(Aulas 17 a 23)
Tratado de Methuen - 1703
Transferência da corte portuguesa para o Brasil - 1808 - 1820
Tratados de 1810
Independência do Brasil - 1822 (7 de Setembro)
1. Na etapa em que se process ou a gênese do capit alismo na Eu ropa Ocidental , escreve Fernando
Novais, houve “... a necessidade de po ntos de apoio fora do sist ema , induzindo um a acumulação
que, por se gerar f ora do sistem a, Marx chamou de or iginária ou prim itiva. Daí as tensões soci ais e
políticas provocadas p ela m ontagem de todo um complexo s istema de estím ulos. O mercantilism o foi, na
essência, a m ontagem de tal sistem a, e o sistema col onial mercantilista , sua peç a fundamental, a
principal alavanca na g estação do capitalism o moderno”. Exp lique, seguindo a interpretaç ão de Novais,
as razões pelas quai s a referida peça fundament al transform a -se em obstácu lo para o
desenvolvimento capitalista, do qu e decorre a cri se do antigo sist ema colonial.
**NOVAIS - Caracte rização e crise do Antigo Sistema Colon ial
Retomando o concei to de “sentido profundo da colo nização” , Novais desenvolve o argumento de que
a colonização foi um mecanismo pa ra a acumulação primit iva do c apital necessá rio à
consolidação do capit alismo moderno . A colonizaç ão surge como um desdobram ento da expansão
comercial européia: desenvolvem -se na Am érica estruturas m ais complexas que aquelas basead as
simplesm ente na circulação de merc adorias, mas o obj etivo pr ecípuo desta m aior complexidade
permanece sem pre o mesm o, a saber, o de atender ao m ercado europeu, prom ovendo ali a acum ulação
do capital com ercial.
O Antigo Sistema Colonia l, desenvolvido a part ir do “exclusivo com ercial” e do esc ravismo, é part e de
um sistem a mais amplo, o Antigo R egime. As peças constituintes deste, entr e as quais está,
obviamente, o própr io sistem a colonial, coadunam -se harm onicamente neste perí odo da Idade Modern a.
No plano político, vigora o Estado Absolutista; eco nom icamente, temos o capitalismo comercial, com
as relações m ercadológicas sendo desenvo lvidas mas ainda não dom inando com pletamente todos os
campos de ação dos indivíduos; socialm ente, há uma soc iedade ainda estam ental, mas que já tem
desenvolvido em seu terceiro es tado uma diferenc iação de classes, dentre as quais está a
preponderante figura d a burguesia.
Essas características do Antigo Regime complementam -se em diversos sentidos: o Estado a bsolutista
faz-se necessário p ara levar adiante o cap italism o comercial, s endo ess encial no processo de
estabelecimento das práticas colonialista.
No entanto, as contradições também surgem começam a brotar das caracterís ticas apontadas. O
desenvolvim ento com ercial tende a fortalecer a i nfluência b urguesa; no entant o, estando a sociedade
baseada em estam entos, o b urguês não pode experimentar m aior poder político. Além disso,
permanecendo a soc iedade es tamental, não raro tende o Estado a prote ger elem entos da nobreza a
expensas dos interess es burgueses.
Assim, à m edida que s e desenvolve, o sistema colonial cria e forta lece co ntradições. Pelo lado das
colônias, estas contradições também acirram -se continuam ente. Para potencializar o processo de
colonização, cujo o bjetivo precípuo, co nforme tantas vezes sa lientado, é a acumulação pr im itiva de
capital, as metrópoles têm de desenvolver nas co lônias estruturas sócio -ec onômicas e políticas cada ve z
mais complexas. Assim , mesm o que se assum a um crescimento puram ente extensivo das c olônias, tem -
se que novos interesses são criados nestas e não necess ariamente c oadunam-s e perfeitam ente com
aqueles ex istentes na metrópole. Pelas p alavras de Novais: “[...] a pouco e pouco se vão re velando
oposições de interesse entre colô nia e m etrópole, e quanto m ais o sistema funciona, m as o fosso se
aprofunda”.
A aplicação das políticas m ercantilistas também gera um c aráter cada vez m ais belicista entre as nações
e a grande contrad ição que gerou a desagreg ação não apenas do sistem a colonial, mas de todo o Antigo
Regime, foi justamente a consolidação do capitalis mo industrial a partir do c apital acumulado pelas
vias do colonialism o.
Tendo sido consolidada a forma mais avançada do capitalism o, ou s eja, tendo -se proc essado a
Revolução Industrial, o exclusivo comerc ial” e o escravism o teriam de dar lugar a um regime de livres
forças de m ercado. O u sej a, para ab sorver o nov o tipo de produção, as estruturas determinadas
pelo sistema co lonial não pod eriam mais ser mantidas, justam ente elas, que haviam tornad o
possível aquele desen volvim ento.
Por últim o, Novais obser va que um s istema não precis a esgotar c ompletam ente suas possibil idades para
entrar em cr ise. “Assim, não foi indispensável que se c ompletasse a industrializaçã o (no sentido da
revolução industrial) de toda a eco nomia central par a que o sistem a se desag regasse; bastou que o
processo de passag em para o c apitalismo industria l se iniciasse num a das m etrópoles para que as
tensões se agravassem de form a insuportável”.
2. A partir das cons iderações avançadas por Mirc ea B uescu, critique o tr echo a seguir: “Dif icilmente um
observador que estud asse a econom ia brasileira pela m etade do s éculo XIX chegaria a perceber a
amplitude das tr ansformações que nela se operaria m no correr do m eio século que se iniciava. Ha viam
decorrido três quartos de século em que a característ ica dom inante fora a estagnação o u a decadência.
... As fases de progress o, com o a que conheceu o Mar anhão, haviam s ido de efeitos locais, sem chegar
a afetar o panoram a geral. A instalação de um rudimentar sistem a adm inistrativo, a criação de um banc o
nacional e umas poucas outras iniciat ivas governam entais constituíam ... o resultado líquido desse longo
período de dificuldades ” (FURTADO, Celso. For mação econôm ica do Brasil. 17.ed. São Pa ulo: Ed.
Nacional, 1980, p. 1 10).
** FURTADO - Capít ulo XVI
O Maranhão seria a única região a experim entar um rápido, ainda que não perm anente,
desenvolvim ento econômico em fins do período colonial, enquanto as dem ais regiões enfrentavam sérias
dificuldades.
observam os que o des envolvimento regi onal deu -se a partir da exploraçã o da m ão-de-obra
indígena par a a coleta das drogas do sertão e com o houve, a partir desta busca pelo indígena, um forte
conflito d e interes ses entre jesuítas e colonos. Tendo Pombal alcançado a proem inência po lítica em
Portugal (notar que F urtado ass ume o caráter de personalism o contra o qual tão veem entemente opõe -
se Jorge de Macedo) e in iciado a conten da contra os jesuítas, não é de se adm irar que os colonos
fossem grandem ente beneficiados, não pela captura dos indí genas, que foi proibida du r ante a
administração pom balina, m as pela criação de uma g rande com panhia com ercial que fom entou um f orte
desenvolvim ento daquela região, pobre ao longo de toda sua história.
Algumas outras características f omentariam o desenvolvim ento do Maranhão em fins do período
colonial. A G uerra de Independência dos EUA fez com que o suprimento d e algodão par a a nasc ente
indústria inglesa f osse c ortado, o que estim ulou a oferta brasileira deste produto desenvol vido na região
maranhense (para o que contribuiu largamen te a c ompanhia c omercial pombalina, sobretudo pelo
importante financiam ento de escravos n egros). Posteriorm ente, a Revolução Francesa e as G uerras
Napoleônicas estimulariam a exportação de outros produt os tropicais brasileiros que haviam estado em
baixa no últim o quartel do séc ulo XVIII. No entanto, esta prosperidade fundam entava -se apenas em uma
conjuntura especi al que não tard aria a pass ar; daí as sérias dificulda des econômicas por q ue passaria o
país quando de sua recém independência.
3. Comente, basea ndo-se na interpre tação de Celso Furtado , a seguinte citação: “É verdade que,
conforme cálculos a inda precários, porém aceitáveis, a renda “per c apita” ficou e stacionária entre 1800 e
1850, mas é justamente este fenôm eno que é im portante: depois de um a queda secular desta renda,
ela deixa de cair ent re 1800 e 1850, pa ra começar a subir n a segunda meta de do século . O m esmo
fato, apresentado d entro de um a perspectiva global, tom a outra significação: não é mais um a simples
estagnação, m as sim, o marco da muda a de direçã o. (...) A época de Mauá só foi possível graças à
de Cairu.” (BUES CU, Mircea. Hist ória econômica do B rasil: pesquisas e aná lises. Rio de Janeiro: APE C,
1970, p. 231).
4. Explique as seguint es afirmaç ões, de Olga Pantaleão: a) sob re a abertura d os portos: “A decisão,
cuja importância não é preciso encarecer ─ bastando notar que el a quebrava o exc lusivismo colonial e
abria nova fase na h istória do Brasil ─ f avorecia as naç ões amigas, em especial a Grã -Bretanha ...”
(PANTALEÃO, Olga. A presença in glesa no Bras il. In: HOLANDA, Sérg io Buarque de, org. H istória Geral
da Civilização Brasile ira. 6.ed. São Paulo: DIF EL, 1985, vol. 3, p. 72); b) sobre o tratado de com ércio e
navegação de 1810 : “O tratado de 1810 foi o preço pa go por Portugal à Inglat erra pelo auxílio q ue dela
recebera na Europa. Segundo Cannin g, por esse tratado, os in gleses recebiam “importantes concessões
comerciais às expens as do Brasil”, em troca de “benefícios polít icos marc antes conferidos à Mãe Pátria”.
... O governo portug uês tinha os o lhos no territór io europeu da Mo narquia ao negociar o tr atado. Mas a
Inglaterra tinha-os voltados para o Brasil” (ID EM, p. 80 -81).
5. Baseando-se n a interpretação de Celso Furtado e tomando com o ponto de partida as citaçõ es que se
seguem, analise os efeitos, para a econ omia brasileira, do Tratado de Comércio e Nav egação f irmado,
em 1810, entre Portug al e Inglaterra: a) “ O tratado de 1810 aniquilava ainda o surto manufatu reiro
que se ia verificando no país, após a revogaçã o, em 1808, do célebr e decret o de D. Maria I, que proib ia
as indústrias no Bras il” (ROBERTO C. SIMONSEN); b) “... o privilégio aduane iro concedido à
Inglaterra e a pos terior unif ormização da tarifa ao nível d e 15% ad valorem , numa etapa de est agnação
do comérc io exterior, criaram sérias dificuldades financeiras ao governo bras ileiro” (CELSO FURT ADO).
6. Elabore uma com paração entre a c rítica à política metropolitan a constante do “libelo” do
desembargador Rodrigu es de Brito , escrito em 1807, e os dizeres do manifesto do Príncipe Regent e,
redigido no palácio do Rio de Janeiro aos 7 de março de 1 810, a seguir transcr itos: “(...) para criar um
Império nascente, f ui servido adotar os princípios mais dem onstrados de sã econom ia política, quais o
da liberdade e f ranqueza do comérc io, o da dim inuição dos dire itos das Alfândegas, uni dos aos
princípios m ais liberais, e de m aneira que promovendo -se o com ércio, pudessem os cultivadores do
Brasil achar o m elhor consum o para os seus produtos , e que daí resultasse o m aior adiantamento na
geral cultura, e po voação deste vasto terr itório do Brasil, que é o essencial modo de o fazer prosperar, e
de muito superior ao s istema res trito e mercantil, pouco aplicá vel a um país, ond e mal podem c ultivar -se
por ora as m anufaturas, exceto as m ais grosseiras, e as q ue seguram a navegação, e a def esa do
Estado.”
7. Explore as implic ações, para a emancipação polít ica brasileira, d os moviment os revolucionários
pré-independência, t omando com o ponto de partida o trecho seguinte, ex traído de carta escrita em
Pernambuco, p or João Lopes Cardoso, em 15 de junh o de 1817: “os cabras, m ulatos e crioulos an davam
tão atrevidos que diziam que éram os todos iguais e não haviam de casar senão c om brancas das
melhores. (...) Vossa M ercê não suportava c hegasse a Vossa Mercê um cabra, co m o chapéu na cabeç a
e bater-lhe no om bro e dizer- lhe: ─ Adeus Patriota, co mo estais, dá cá tabaco, ora tom ais do meu, com o
fez um cativo do Bredero des ao Ouvidor Af onso. [Cativo este que já r ecebera o jus to castigo pela
insolência:] já se rega lara com 500 açoites.”
8. Comente a citaçã o seguinte e, através d ela, o process o de nossa em ancipação política, com
fundamento na caracterização dos lim ites do liberali smo e do nacionalismo n o Brasil , efetu ada por
Emília Viotti da Costa : “na m etáfora predileta dos pe riodistas e ora dores patriótic os, representava -se o
Brasil com o escravo de Portugal. Os escr avos parecem haver compreendido a hi pocrisia do discurso
patriótico. Se era para libertar o país da fig urada escra vidão portuguesa, por que não libertá -los tam bém
da autêntica esc ravidão brasileira?” Em junho de 1822, obser vou o “... barão de Roussin em
correspondência para o ministro da Marin ha francesa: „É já c erto que não som ente os brasileiros livr es e
crioulos desejam a independência polít ica, mas mesm o os escra vos, nascidos no país ou importados h á
vinte anos, pretendem -se crioulos brasi leiros e falam de seus d ireitos à liberdade‟ ” (REIS, João José &
SILVA, Eduardo. N egociação e conflito: a res istência negra no Brasil escravista. São Paul o: Companhia
das Letras, 1989, p. 93-94).
9. Tomando com o ponto de partida o texto se guinte, exponha os distint os interesses presentes no
processo que teve por corolário nossa independência polític a: “s e d. Pedro n ão pode ser taxado de
lento nas decisões, iss o aponta para o f ato de q ue ele soube absorver o esp írito de sua época,
encarnando perfeitam ente o novo papel que cabia ao chef e de Estado. Contudo, apesar de sua trajetória
posterior em Portugal, tais caracterís ticas não o tornam um liberal. Desde as pri meiras notícias do
movimento constituciona l, as opiniões que m anifestou, ou que deixou escritas, re velam -no indignado
com a usurpação da so berania a seu pa i que as Cortes haviam prom ovido. Posteriormente, em bora
hesitante, por breve i ntervalo, entre obedecer a o Congress o ou perm anecer no Br asil, logo aprendeu a
jogar com os interesses
de coimbrãos e bras ilienses, vendo no Im pério americano não só a possibilidade im ediata de livrar - se do
jugo da Assem bléia, como a perspect iva futura de um Império dual, sobre o q ual reinaria, ap ó s a morte
de d. João VI, com redobrada autoridade e aut onomia, de acord o com concepçõe s derivadas ainda na
maior parte do un iverso do Antigo Reg ime. Com o resultado dessas contradições, o Império do Brasil n ão
brotou das inspiraç ões liberais que o período da I ndependência coloco u em circulação, m as nasceu e foi
calentado, m ais propriamente, sob o signo do mesm o absolutismo ilustrado que f orjara a idéia d e império
para conservar o qu e supunha sempre ha ver sido” (NEVES , Lúcia Maria Bastos Pereira das. Corc und as
e constitucionais: a cultura política da independê ncia, 1820 -182 2. Rio de Janeiro: Revan / FAPERJ,
2003, p. 418).
10. Discuta a citação s eguinte: “A rigor, o que se origina do confronto entre o partido aut onomista , de
um lado, e o imper ador e os centr alistas locais, de outro, não é a m era oposição de um a província
isolada, que insiste em manter seu auto governo a des peito das m edidas adotadas a partir de um centro
qualquer de peregrinaç ão. Antes, trata -se de um confronto entre dois p rojetos de nação para o q ue
fora outrora o conjunt o do território d a América portug uesa.” (SILVA, Luiz Gera ldo Santos da. O avesso
da independência: Pern ambuco, 1817- 1824. In: M ALERBA, Jurandir, or g. A Independência Bras ileira:
novas dimensões. R io de Janeiro: Editora FG V, 20 06, p. 343 -384).com redobrada autoridade e
autonomia, de acordo com concepções d erivadas ainda na m aior parte do uni verso do Antigo Re gime.
Como res ultado dessas contradições, o Im pério do Br asil não brotou das insp irações liberais qu e o
período da Indepen dência colocou em circulação, m as nasceu e foi acalenta do, mais propriam ente, sob
o signo do m esmo absolutismo ilustrado qu e forjara a idéia de império para conservar o que supunha
sempre haver
sido” (NEVES, Lúci a Maria Bastos Pereir a das. Corcundas e cons t itucionais: a cultura polít ica da
independência, 1820 -1822. Rio de Ja neiro: Revan / FAPERJ , 2003, p. 418).

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ALUNO: João Paulo Balloni (NºUSP 5146732)
EAE – 416
FORMAÇÃO ECONÔMICA E SOCIAL DO BRASIL I
Prof. Dr. José Flávio Motta
QUESTIONÁRIO IV
(Aulas 17 a 23)
Tratado de Methuen - 1703
Transferência da corte portuguesa para o Brasil - 1808 - 1820
Tratados de 1810
Independência do Brasil - 1822 (7 de Setembro)
1. Na etapa em que se processou a gênese do capitalismo na Europa Ocidental, escreve Fernando Novais, houve “... a necessidade de pontos de apoio fora do sistema, induzindo uma acumulação que, por se gerar fora do sistema, Marx chamou de originária ou primitiva. Daí as tensões sociais e políticas provocadas pela montagem de todo um complexo sistema de estímulos. O mercantilismo foi, na essência, a montagem de tal sistema, e o sistema colonial mercantilista, sua peça fundamental, a principal alavanca na gestação do capitalismo moderno”. Explique, seguindo a interpretação de Novais, as razões pelas quais a referida peça fundamental transforma-se em obstáculo para o desenvolvimento capitalista, do que decorre a crise do antigo sistema colonial.
**NOVAIS - Caracterização e crise do Antigo Sistema Colonial
Retomando o conceito de “sentido profundo da colonização”, Novais desenvolve o argumento de que a colonização foi um mecanismo para a acumulação primitiva do capital necessário à consolidação do capitalismo moderno. A colonização surge como um desdobramento da expansão comercial européia: desenvolvem-se na América estruturas mais complexas que aquelas baseadas simplesmente na circulação de mercadorias, mas o objetivo precípuo desta maior complexidade permanece sempre o mesmo, a saber, o de atender ao mercado europeu, promovendo ali a acumulação do capital comercial.
O Antigo Sistema Colonial, desenvolvido a partir do “exclusivo comercial” e do escravismo, é parte de um sistema mais amplo, o Antigo Regime. As peças constituintes deste, entre as quais está, obviamente, o próprio sistema colonial, coadunam-se harmonicamente neste período da Idade Moderna. No plano político, vigora o Estado Absolutista; economicamente, temos o capitalismo comercial, com as relações mercadológicas sendo desenvolvidas mas ainda não dominando completamente todos os campos de ação dos indivíduos; socialmente, há uma sociedade ainda estamental, mas que já tem desenvolvido em seu terceiro estado uma diferenciação de classes, dentre as quais está a preponderante figura da burguesia.
Essas características do Antigo Regime complementam-se em diversos sentidos: o Estado absolutista faz-se necessário para levar adiante o capitalismo comercial, sendo essencial no processo de estabelecimento das práticas colonialista.
No entanto, as contradições também surgem começam a brotar das características apontadas. O desenvolvimento comercial tende a fortalecer a influência burguesa; no entanto, estando a sociedade baseada em estamentos, o burguês não pode experimentar maior poder político. Além disso, permanecendo a sociedade estamental, não raro tende o Estado a proteger elementos da nobreza a expensas dos interesses burgueses.
Assim, à medida que se desenvolve, o sistema colonial cria e fortalece contradições. Pelo lado das colônias, estas contradições também acirram-se continuamente. Para potencializar o processo de colonização, cujo objetivo precípuo, conforme tantas vezes salientado, é a acumulação primitiva de capital, as metrópoles têm de desenvolver nas colônias estruturas sócio-econômicas e políticas cada vez mais complexas. Assim, mesmo que se assuma um crescimento puramente extensivo das colônias, tem-se que novos interesses são criados nestas e não necessariamente coadunam-se perfeitamente com aqueles existentes na metrópole. Pelas palavras de Novais: “[...] a pouco e pouco se vão revelando oposições de interesse entre colônia e metrópole, e quanto mais o sistema funciona, mas o fosso se aprofunda”.
A aplicação das políticas mercantilistas também gera um caráter cada vez mais belicista entre as nações e a grande contradição que gerou a desagregação não apenas do sistema colonial, mas de todo o Antigo Regime, foi justamente a consolidação do capitalismo industrial a partir do capital acumulado pelas vias do colonialismo.
Tendo sido consolidada a forma mais avançada do capitalismo, ou seja, tendo-se processado a Revolução Industrial, o “exclusivo comercial” e o escravismo teriam de dar lugar a um regime de livres forças de mercado. Ou seja, para absorver o novo tipo de produção, as estruturas determinadas pelo sistema colonial não poderiam mais ser mantidas, justamente elas, que haviam tornado possível aquele desenvolvimento.
Por último, Novais observa que um sistema não precisa esgotar completamente suas possibilidades para entrar em crise. “Assim, não foi indispensável que se completasse a industrialização (no sentido da revolução industrial) de toda a economia central para que o sistema se desagregasse; bastou que o processo de passagem para o capitalismo industrial se iniciasse numa das metrópoles para que as tensões se agravassem de forma insuportável”.
2. A partir das considerações avançadas por Mircea Buescu, critique o trecho a seguir: “Dificilmente um observador que estudasse a economia brasileira pela metade do século XIX chegaria a perceber a amplitude das transformações que nela se operariam no correr do meio século que se iniciava. Haviam decorrido três quartos de século em que a característica dominante fora a estagnação ou a decadência. ... As fases de progresso, como a que conheceu o Maranhão, haviam sido de efeitos locais, sem chegar a afetar o panorama geral. A instalação de um rudimentar sistema administrativo, a criação de um banco nacional e umas poucas outras iniciativas governamentais constituíam ... o resultado líquido desse longo período de dificuldades” (FURTADO, Celso. Formação econômica do Brasil. 17.ed. São Paulo: Ed. Nacional, 1980, p. 110).
** FURTADO - Capítulo XVI
O Maranhão seria a única região a experimentar um rápido, ainda que não permanente, desenvolvimento econômico em fins do período colonial, enquanto as demais regiões enfrentavam sérias dificuldades.
	Já observamos que o desenvolvimento regional deu-se a partir da exploração da mão-de-obra indígena para a coleta das drogas do sertão e como houve, a partir desta busca pelo indígena, um forte conflito de interesses entre jesuítas e colonos. Tendo Pombal alcançado a proeminência política em Portugal (notar que Furtado assume o caráter de personalismo contra o qual tão veementemente opõe-se Jorge de Macedo) e iniciado a contenda contra os jesuítas, não é de se admirar que os colonos fossem grandemente beneficiados, não pela captura dos indígenas, que foi proibida durante a administração pombalina, mas pela criação de uma grande companhia comercial que fomentou um forte desenvolvimento daquela região, pobre ao longo de toda sua história.
	Algumas outras características fomentariam o desenvolvimento do Maranhão em fins do período colonial. A Guerra de Independência dos EUA fez com que o suprimento de algodão para a nascente indústria inglesa fosse cortado, o que estimulou a oferta brasileira deste produto desenvolvido na região maranhense (para o que contribuiu largamente a companhia comercial pombalina, sobretudo pelo importante financiamento de escravos negros). Posteriormente, a Revolução Francesa e as Guerras Napoleônicas estimulariam a exportação de outros produtos tropicais brasileiros que haviam estado em baixa no último quartel do século XVIII. No entanto, esta prosperidade fundamentava-se apenas em uma conjuntura especial que não tardaria a passar; daí as sérias dificuldades econômicas por que passaria o país quando de sua recém independência.
3. Comente, baseando-se na interpretação de Celso Furtado, a seguinte citação: “É verdade que, conforme cálculos ainda precários, porém aceitáveis, a renda “per capita” ficou estacionária entre 1800 e 1850, mas é justamente este fenômeno que é importante: depois de uma queda secular desta renda, ela deixa de cair entre 1800 e 1850, para começara subir na segunda metade do século. O mesmo fato, apresentado dentro de uma perspectiva global, toma outra significação: não é mais uma simples estagnação, mas sim, o marco da mudança de direção. (...) A época de Mauá só foi possível graças à de Cairu.” (BUESCU, Mircea. História econômica do Brasil: pesquisas e análises. Rio de Janeiro: APEC, 1970, p. 231).
4. Explique as seguintes afirmações, de Olga Pantaleão: a) sobre a abertura dos portos: “A decisão, cuja importância não é preciso encarecer ─ bastando notar que ela quebrava o exclusivismo colonial e abria nova fase na história do Brasil ─ favorecia as nações amigas, em especial a Grã-Bretanha ...” (PANTALEÃO, Olga. A presença inglesa no Brasil. In: HOLANDA, Sérgio Buarque de, org. História Geral da Civilização Brasileira. 6.ed. São Paulo: DIFEL, 1985, vol. 3, p. 72); b) sobre o tratado de comércio e navegação de 1810: “O tratado de 1810 foi o preço pago por Portugal à Inglaterra pelo auxílio que dela recebera na Europa. Segundo Canning, por esse tratado, os ingleses recebiam “importantes concessões comerciais às expensas do Brasil”, em troca de “benefícios políticos marcantes conferidos à Mãe Pátria”. ... O governo português tinha os olhos no território europeu da Monarquia ao negociar o tratado. Mas a Inglaterra tinha-os voltados para o Brasil” (IDEM, p. 80-81).
5. Baseando-se na interpretação de Celso Furtado e tomando como ponto de partida as citações que se seguem, analise os efeitos, para a economia brasileira, do Tratado de Comércio e Navegação firmado, em 1810, entre Portugal e Inglaterra: a) “O tratado de 1810 aniquilava ainda o surto manufatureiro que se ia verificando no país, após a revogação, em 1808, do célebre decreto de D. Maria I, que proibia as indústrias no Brasil” (ROBERTO C. SIMONSEN); b) “... o privilégio aduaneiro concedido à Inglaterra e a posterior uniformização da tarifa ao nível de 15% ad valorem, numa etapa de estagnação do comércio exterior, criaram sérias dificuldades financeiras ao governo brasileiro” (CELSO FURTADO).
6. Elabore uma comparação entre a crítica à política metropolitana constante do “libelo” do desembargador Rodrigues de Brito, escrito em 1807, e os dizeres do manifesto do Príncipe Regente, redigido no palácio do Rio de Janeiro aos 7 de março de 1810, a seguir transcritos: “(...) para criar um Império nascente, fui servido adotar os princípios mais demonstrados de sã economia política, quais o da liberdade e franqueza do comércio, o da diminuição dos direitos das Alfândegas, unidos aos princípios mais liberais, e de maneira que promovendo-se o comércio, pudessem os cultivadores do Brasil achar o melhor consumo para os seus produtos, e que daí resultasse o maior adiantamento na geral cultura, e povoação deste vasto território do Brasil, que é o essencial modo de o fazer prosperar, e de muito superior ao sistema restrito e mercantil, pouco aplicável a um país, onde mal podem cultivar-se por ora as manufaturas, exceto as mais grosseiras, e as que seguram a navegação, e a defesa do Estado.”
7. Explore as implicações, para a emancipação política brasileira, dos movimentos revolucionários pré-independência, tomando como ponto de partida o trecho seguinte, extraído de carta escrita em Pernambuco, por João Lopes Cardoso, em 15 de junho de 1817: “os cabras, mulatos e crioulos andavam tão atrevidos que diziam que éramos todos iguais e não haviam de casar senão com brancas das melhores. (...) Vossa Mercê não suportava chegasse a Vossa Mercê um cabra, com o chapéu na cabeça e bater-lhe no ombro e dizer-lhe: ─ Adeus Patriota, como estais, dá cá tabaco, ora tomais do meu, como fez um cativo do Brederodes ao Ouvidor Afonso. [Cativo este que já recebera o justo castigo pela insolência:] já se regalara com 500 açoites.”
8. Comente a citação seguinte e, através dela, o processo de nossa emancipação política, com fundamento na caracterização dos limites do liberalismo e do nacionalismo no Brasil, efetuada por Emília Viotti da Costa: “na metáfora predileta dos periodistas e oradores patrióticos, representava-se o Brasil como escravo de Portugal. Os escravos parecem haver compreendido a hipocrisia do discurso patriótico. Se era para libertar o país da figurada escravidão portuguesa, por que não libertá-los também da autêntica escravidão brasileira?” Em junho de 1822, observou o “... barão de Roussin em correspondência para o ministro da Marinha francesa: „É já certo que não somente os brasileiros livres e crioulos desejam a independência política, mas mesmo os escravos, nascidos no país ou importados há vinte anos, pretendem-se crioulos brasileiros e falam de seus direitos à liberdade‟” (REIS, João José & SILVA, Eduardo. Negociação e conflito: a resistência negra no Brasil escravista. São Paulo: Companhia das Letras, 1989, p. 93-94).
9. Tomando como ponto de partida o texto seguinte, exponha os distintos interesses presentes no processo que teve por corolário nossa independência política: “se d. Pedro não pode ser taxado de lento nas decisões, isso aponta para o fato de que ele soube absorver o espírito de sua época, encarnando perfeitamente o novo papel que cabia ao chefe de Estado. Contudo, apesar de sua trajetória posterior em Portugal, tais características não o tornam um liberal. Desde as primeiras notícias do movimento constitucional, as opiniões que manifestou, ou que deixou escritas, revelam-no indignado com a usurpação da soberania a seu pai que as Cortes haviam promovido. Posteriormente, embora hesitante, por breve intervalo, entre obedecer ao Congresso ou permanecer no Brasil, logo aprendeu a jogar com os interesses
de coimbrãos e brasilienses, vendo no Império americano não só a possibilidade imediata de livrar-se do jugo da Assembléia, como a perspectiva futura de um Império dual, sobre o qual reinaria, após a morte de d. João VI, com redobrada autoridade e autonomia, de acordo com concepções derivadas ainda na maior parte do universo do Antigo Regime. Como resultado dessas contradições, o Império do Brasil não brotou das inspirações liberais que o período da Independência colocou em circulação, mas nasceu e foi calentado, mais propriamente, sob o signo do mesmo absolutismo ilustrado que forjara a idéia de império para conservar o que supunha sempre haver sido” (NEVES, Lúcia Maria Bastos Pereira das. Corcundas e constitucionais: a cultura política da independência, 1820-1822. Rio de Janeiro: Revan / FAPERJ, 2003, p. 418).
10. Discuta a citação seguinte: “A rigor, o que se origina do confronto entre o partido autonomista, de um lado, e o imperador e os centralistas locais, de outro, não é a mera oposição de uma província isolada, que insiste em manter seu autogoverno a despeito das medidas adotadas a partir de um centro qualquer de peregrinação. Antes, trata-se de um confronto entre dois projetos de nação para o que fora outrora o conjunto do território da América portuguesa.” (SILVA, Luiz Geraldo Santos da. O avesso da independência: Pernambuco, 1817-1824. In: MALERBA, Jurandir, org. A Independência Brasileira: novas dimensões. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2006, p. 343-384).com redobrada autoridade e autonomia, de acordo com concepções derivadas ainda na maior parte do universo do Antigo Regime. Como resultado dessas contradições, o Império do Brasil não brotou das inspirações liberais que o período da Independência colocou em circulação, mas nasceu e foi acalentado, mais propriamente, sob o signo do mesmo absolutismo ilustrado que forjara a idéia de império para conservar o que supunha sempre haver
sido” (NEVES, Lúcia Maria Bastos Pereira das. Corcundas e constitucionais: a cultura política da independência, 1820-1822. Rio de Janeiro: Revan / FAPERJ, 2003, p. 418).