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Sobre a formação da Formação Econômica do Brasil de C. Furtado. Tamás Szmrecsányi. Neste artigo, o autor busca brevemente demonstrar a evolução do pensamento de Celso Furtado ao longo de sua produção e, portanto, discorre sobre sua contribuição à historiografia econômica brasileira (afirmando a necessidade de que tais obras sejam analisadas em conjunto para compreender-se a efetiva importância do autor). Seu livro de maior prestígio, “Formação Econômica do Brasil”, apresenta um aspecto desafiador: a quase ausência de bibliografia. Dada a importância e a extensão, inclusive prática, da obra, faz-se necessário encontrar sobre quais arcabouços apoiou-se Furtado. Para encontrar-los Szmrecsányi recorre à tese de doutorado de Furtado, defendida na França, em 1948. Nesta, o autor fez uso de autores nacionais como Capistrano de Abreu, Caio Prado Jr. (destaque especial à obra Formação do Brasil Contemporâneo), Nelson Werneck Sodré e destaca grandemente Roberto Simonsen; vale ressaltar, ainda, a menção do autor à Louis Couty, mencionado pelo próprio Prado na obra supracitada. Os temas da tese eram: a) a evolução da burguesia comercial e marítima portuguesa frente à expansão; b) a constituição da sociedade colonial brasileira à luz dos documentos disponíveis; c) observar a relação entre a evolução do modo de produção capitalista e a formação de novas elites dirigentes. Com seu retorno ao Brasil e seu ingresso na CEPAL, Furtado adquiriu uma postura cada vez mais voltada à economia. Apesar de não abandonar seu arcabouço teórico, as questões que o preocupavam agora haviam sido ligeiramente alteradas. Em 1950, publica um artigo, “Características Gerais da Economia Brasileira” no qual discutirá temas centrais à sua produção ulterior: a organização estrutural da sociedade e da economia brasileira, a dificuldade em implantar-se no país uma mentalidade de firma, o processo de industrialização da nação, como o país lidou com a crise de 1929 e a depressão da década de 1930 e, finalmente, uma digressão sobre as perspectivas futuras da economia brasileira. Por fim, sua obra é essencialmente a de um economista com viés cepalino-keynesiano sobre questões históricas: “o estudante de Ciências Sociais que ele fora naquele tempo cedeu lugar ao profissional especializado em Economia e ao alto funcionário governamental em que se havia transformado nos anos 50. Mas, como também sabemos, essa evolução acabaria não sendo definitiva e irreversível. Devido às contingências políticas do golpe militar de 1964, Celso Furtado deu uma nova guinada em sua carreira, transformando-se novamente, a partir daquela época, num cientista social e num acadêmico”. 1