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CIÊNCIAS JURÍDICAS 
PSICOLOGIA APLICADA AO DIREITO (CCJ 0004) 
PROFESSOR: ADELMO SENRA GOMES 
(adelmoprof@bol.com.br) 
 
 
 
 
 
 
 
 
TÓPICOS A SEREM ABORDADOS EM SALA DE AULA 
(edireito2012@bol.com.br – senha: psidir12) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2012.2 
 
2 
Plano de Ensino - Temas a serem abordados 
Noções de epistemologia: o que é conhecimento; o que é ciência; a  científica – objetos de estudo 
e pesquisa e métodos de pesquisa; a pluralidade da pesquisa psicológica. 
Hans Kelsen – Direito e Ciências Jurídicas; as relações inter e multidisciplinares entre a , as 
ciências jurídicas e o direito. 
As práticas psicológicas e suas aplicações no contexto jurídico; principais atividades do  no 
judiciário (assessoria, orientação e acompanhamento dos jurisdicionados, pesquisador, perito 
psicológico); as principais áreas de atuação da  no campo jurídico (Penal, Civil, Família, Sistema 
Penitenciário, Justiça da Infância e da Juventude, Trabalho e Idoso). 
Ética e Moral; a ética profissional do profissional de . 
Personalidade. Principais conceitos (traços, estados, temperamento e caráter);  e genética. A teoria 
do desenvolvimento psicossocial, de Erik Erikson – Teoria epigenética. Comportamento antissocial, 
agressividade e violência; tipos de violência (física,  ou moral, sexual, privação ou negligência, 
estrutural); comportamento agressivo e a lei (estado de necessidade e legítima defesa). Violência e 
aprendizagem social (a teoria de Albert Bandura); a teoria da FrustruaçãoAgressão (de John 
Dollard a Leonard Berkowitz). O desenvolvimento do comportamento antissocial; maldade na 
infância e na adolescência: “bullying” e “cyberbullying”. 
Lei Jurídica & Lei Simbólica; o gozo pela violação da lei: o traço perverso. 
Personalidade e doutrina jurídica; o dano psicológico. 
O processo de avaliação psicológica no judiciário; testes psicológicos; perícia psicológica; 
documentos exarados pelos  jurídicos (atestados, relatórios – ou laudos -, parecer, declarações). 
A família. Família e sociedade;  e família; a família no ocidente (o surgimento da família 
nuclear); as famílias pós-modernas (monoparental e homoafetiva); critérios para o estabelecimento 
da paternidade no direito brasileiro (legal, biológico e o socioafetivo). Alienação parental e 
síndrome de alienação parental (SAP); guarda compartilhada. 
A questão de gênero. Diferença entre sexo, gênero e identificação sexual. O processo de construção 
dos papéis de gênero (sexualidade, reprodução, divisão sexual do trabalho, espaço público e 
reconhecimento da cidadania); violência contra mulher como uma questão de gênero; a lei e a 
questão de gênero. 
Sociedade, grupos, organizações e instituições sociais; grupos sociais; principais características dos 
grupos sociais; tipos de grupos sociais (primários e secundários); posição social, papel social e 
desempenho de papel. Instituições sociais; tipos de instituições sociais (leis, normas e pautas); o 
indivíduo e os processos de institucionalização e de desinstitucionalização. Organizações sociais; 
relações entre as instituições e as organizações sociais. Análise do poder das instituições sociais - 
Michel Foucault e o poder disciplinar. 
Exclusão social. Principais teorias: O individualismo e o liberalismo; o darwinismo social de 
Herbert Spencer; o pensamento da Karl Marx. Exclusão social – articulações possíveis (econômica, 
social, cultural, patológica, comportamentos autodestrutivos). O conformismo como estratégia de 
dominação. 
Aspectos  das relações humanas. Pressão social e mudança de julgamentos; conformismo social. 
O que são atitudes? Mudança de atitude. Atitude negativa: preconceito; discriminação; estereótipos; 
“pessoas invisíveis”. 
Justiça restaurativa e mediação de conflitos; justiça restaurativa e legislação brasileira. O que é 
conflito? Métodos tradicionais e alternativos de solução de conflitos: julgamento, arbitragem, 
conciliação, mediação. O método da negociação. 
3 
 
 
 
 
 
 
 
CALENDÁRIO ACADÊMICO 2012.2 (1º PERÍODO) 
 
 DIAS DA SEMANA 
2ª FEIRA 3ª FEIRA 4ª FEIRA 5ª FEIRA 6ª FEIRA 
 
 
AGO 
06 (Início) 07 08 09 10 
13 14 15 16 17 
20 21 22 23 24 
27 28 29 30 31 
 
 
SET 
03 04 05 06 07 (Indep.) 
10 11 12 13 14 
17 18 19 20 21 
24 25 26 27 28 
 
 
OUT 
01 02 03 (AV1) 04 (AV1) 05 (AV1) 
08(AV1) 09 (AV1) 10 11 12 (Nª Srª) 
15 (Mestre) 16 17 18 19 
22 23 24 25 26 
29 30 31 
 
 
NOV 
 01 02 (Finad) 
05 06 07 08 09 
12 13 14 15 (Repúb.) 16 
19 20 (Zumbi) 21 22 23 
26 27 28 (AV2) 29 (AV2) 30 (AV2) 
 
DEZ 
03 (AV2) 04 (AV2) 05 (Vista) 06 (Vista) 07 (Vista) 
10 (Vista) 11(Vista) 12 (AV3) 13 (AV3) 14 (AV3) 
17 (AV3) 18 (AV3) 19 (Fim) 
 
 
Humor... 
 
Think about... 
4 
NOÇÕES DE EPISTEMOLOGIA
1
 
 
O QUE É O CONHECIMENTO? 
 
Em sentido amplo um conhecimento caracteriza um sistema
2
 
de informações. Por seu turno, uma informação refere-se a 
uma representação ideativa (mental) de algo real ou de algo 
racional. O conhecimento, portanto, é uma tentativa humana, 
racional e estruturada, de apreensão, de apropriação, pelo 
pensamento (sujeito) de algum objeto (real ou racional). 
 
“Atualmente recebemos uma enxurrada de “informações” que não 
nos propiciam construir conhecimentos...” Por quê? 
 
 
REFLEXÃO 
“VENDE-SE CONHECIMENTO” 
 
Vivemos atualmente num mundo em que quase tudo (pessoas, 
relações interpessoais, a natureza etc) é transformado em 
“coisa”, reificado; transformado em mercadoria cobiçável, 
comprável. Somos alienados pelas diversas 
mídias de massa a valores mercantilistas, a 
um “ethos” estúpido e egoísta do tipo: “o 
dinheiro compra tudo”; “não existem limites para quem pode pagar”; “o sentido 
da vida é ter ou parecer que tem, e não ser”; “o prazer, seja ele qual for, deve ser 
imediato e ilimitado”; “o certo é pensar e agir de forma individualista e não 
coletivamente”; “liberdade absoluta: sem responsabilidade e 
sem limites”; “se desejo tenho direito e posso” etc. Neste sentido, então, é 
imprescindível perceber que o conhecimento não é uma coisa, não é uma 
mercadoria que se compra, que se possa adquirir em “suaves prestações 
mensais”... O conhecimento é fruto de um esforço pessoal, de uma atitude 
honesta, dedicada e disciplinada de construção, de busca e 
de crescimento. Lembre-se: vivemos a era do 
conhecimento e esse mesmo mercado que nos aliena de tal forma a nos 
transformar/deformar em “adoradores(as) ávidos(as) de coisas, de fetiches 
compráveis irá também, sinicamente, cobrar-nos conhecimentos (e não apenas 
diplomas - coisas) quando de nossas tentativas de nele nos inserir. Pense nisso... 
 
“Se Deus criou as pessoas para amar, e as coisas para cuidar, por que amamos as coisas e 
usamos as pessoas?” (Bob Marley - 1945-1981) 
 
1
 Epistemologia, Teoria do Conhecimento ou Filosofia da Ciência: Conjunto de conhecimentos que têm por objeto o 
conhecimento científico, visando a explicar os seus condicionamentos (sejam eles técnicos, históricos, ou sociais, sejam 
lógicos, matemáticos, ou linguísticos), sistematizar as suas relações, esclarecer os seus vínculos, e avaliar os seus 
resultados e aplicações. (AURÉLIO) 
2 Um sistema é um “conjunto de elementos, materiais ou ideais, entre os quais se possa encontrar ou definir alguma 
relação; disposição das partes ou dos elementos de um todo, coordenados entre si, e que funcionam como estrutura 
organizada.”(AURÉLIO) 
5 
O QUE É CIÊNCIA? 
 
“Em sentido lato, ciência (do latim “scientia”, traduzido por 
"conhecimento")
refere-se a qualquer conhecimento ou prática 
sistemáticos. Em sentido stricto, ciência refere-se a um sistema de 
adquirir conhecimentos baseado no método científico
3
, assim 
como ao corpo organizado de conhecimentos conseguido através 
desse método. [...] A ciência é o esforço para descobrir e 
aumentar o conhecimento humano de como a realidade funciona.”4. Analise o 
quadro a seguir: 
 
DIVISÕES DO CONHECIMENTO 
 
 
 
3 “Método científico é uma forma de investigação da natureza. Para isso, não leva em consideração superstições 
[acrescentaríamos, opiniões pessoais] ou sentimentos religiosos, mas a lógica e a observação sistemática dos fenômenos 
estudados.” (SAIZ, F.) 
(a) Valorativo significa que estabelece um valor ao que se está avaliando. Por ex., verdadeiro ou falso, justo ou injusto, 
belo ou feio etc. 
4 Adaptado de Wikipedia. 
6 
QUADRO COMPARATIVO 
 
 
 
 
C R I T É R I O S Senso Comum Religioso Filosófico CIENTÍFICO 
Fonte Experiências pessoais, 
tradições, costumes etc. 
Sobrenatural5 Razão Os fatos 
(Contingencial) 
Atitude mental básica Justificatória Dogmática Reflexiva Dúvida 
Posição diante do erro Infalível Infalível Infalível Falível 
Proposta de exatidão Exato Exato Exato Quase exato 
Teste de consistência Normalmente, 
inverificável 
Normalmente, 
inverificável 
Normalmente, 
Inverificável 
Verificável 
 
INFORMAÇÃO/REFLEXÃO 
 
Na história da humanidade alguns referenciais 
foram (ou, ainda são) utilizados no que pese o ideal 
e a busca por justiça. São eles: o senso comum 
(p.ex., entre as aldeias germânicas da antiguidade), 
o religioso (p.ex., nos Estados teocráticos) e o 
filosófico-científico (p.ex., nos Estados laicos 
ocidentais atuais). 
 
DISCUSSÃO 
 
PORTO ALEGRE - A 1ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio Grande do 
Sul decidiu, em sessão realizada nesta quarta-feira, não haver motivos para que fosse 
determinado novo julgamento no caso em que uma carta psicografada foi apresentada 
entre as provas da defesa. Dessa forma, passa valer o entendimento de que cartas 
escritas por médiuns podem ser adotadas como prova no Tribunal de Justiça gaúcho. 
O Ministério Público e a assistência da acusação recorreram da absolvição de Iara 
Marques Barcelos pelo Tribunal do Júri de Viamão. Durante o julgamento, ocorrido 
em maio de 2006, foi apresentada como prova a favor da ré uma carta psicografada. 
Para os julgadores, não há elementos no processo para concluir que o julgamento do 
Tribunal do Júri foi absolutamente contrário às provas dos autos, devendo ser 
mantida a decisão que absolveu Iara. Iara foi acusada de ser a mandante de um crime, 
em 2003. O tabelião Ercy da Silva Cardoso morreu atingido por disparos de arma de 
fogo. Iara Marques Barcelos e Leandro da Rocha Almeida foram acusados como 
autores do fato. Leandro foi condenado pelo crime em processo que correu separado 
na Justiça. 
O advogado de Iara, Lúcio de Constantino, disse que entre os documentos que foram 
entregues aos integrantes do júri popular pela defesa estava a carta psicografada, 
 
5 A partir de uma perspectiva teológica haveria duas possibilidades para este tipo: a inspiracional, que ocorre quando 
na mente dos seres humanos surgiriam informações oriundas do sobrenatural e, a revelacional quando algum ser 
sobrenatural surgiria no plano físico e comunicaria diretamente aos homens alguma informação (epifania). 
7 
escrita por um médium de um centro espírita. A carta teria sido ditada pelo próprio 
Ercy e não indica quem seria o autor dos disparos, mas daria a entender que Iara era 
inocente. De acordo com a Federação Espírita do Rio Grande do Sul, a psicografia é 
uma ciência reconhecida e pode ter valor jurídico. 
(Fonte: <http://oglobo.globo.com/cidades/mat/2009/11/11/justica-do-rio-grande-do-sul-mantem-absolvicao-de-mulher-
que-apresentou-carta-psicografada-como-defesa-914713036.asp> Acesso em 17/06/11) 
 
A PSICOLOGIA CIENTÍFICA 
 
A PSICOLOGIA É UMA CIÊNCIA? 
 
1ª RESPOSTA: SIM, pois os conhecimentos construídos pela pesquisa psicológica 
possuem todas as características do conhecimento científico. Os conhecimentos da 
psicologia, p.ex., baseiam-se em FATOS! Mas, que fatos seriam esses? 
 
1º FATO: O comportamento dos seres vivos. 
Definição de comportamento: O comportamento 
é um fenômeno objetivo e pode ser definido 
como sendo “toda forma de “[...] resposta ou 
atividade observável realizada por um ser vivo.” 
(WEITEN, 2002, p. 520) 
 
DÚVIDAS 
 
1ª. O COMPORTAMENTO É UM FENÔMENO OBJETIVO? 
RESPOSTA: SIM, porque podemos observá-lo
6
. 
 
2ª. QUAIS SÃO, ENTÃO, AS CAUSAS DO COMPORTAMENTO? 
RESPOSTA: Os eventos que desencadeiam comportamentos são 
chamados de estímulos pela psicologia. Logo, toda forma de 
comportamento é, portanto, produzida por algum (ou, alguns) tipo(s) de 
estímulo(s). Analise o diagrama abaixo da chamada “causalidade 
comportamental”. 
 
 
 
 
6
 Observar, em ciência, significa estabelecer, via sentidos/percepção, alguma forma de contato mental com o fato. A 
observação pode ser “armada” (aquela que utiliza algum instrumento) ou “desarmada” a que não utiliza instrumentos. 
 
 
 
8 
Um estímulo corresponde a qualquer evento interno ou externo ao sujeito 
capaz de provocar um desequilíbrio em seus sistemas constituintes (quais 
sejam, o fisiológico e/ou psicológico) de forma a lhe determinar algum 
tipo de ação (no caso, reação) que objetive restaurar a homeostase
7
 
perdida. Analise o quadro a seguir: 
 
TIPOS DE ESTÍMULOS 
(Instinto)
 8
 
 
TIPOS DE COMPORTAMENTOS 
 
1º) Motores (movimentos e expressões); 
2º) Sonoros (ruídos ou discursos – este último, somente nos seres humanos). 
 
2º FATO: Os processos mentais dos seres vivos. 
Definição de processo mental: São todas as nossas experiências 
mentais subjetivas. Por exemplo, sensações, percepções, sonhos, 
memórias, pensamentos, sentimentos, inteligência etc. 
 
DÚVIDA 
 
Como podemos estudar cientificamente uma “experiência subjetiva”? 
RESPOSTA: A psicologia constrói seus conhecimentos sobre os processos mentais a 
partir de três possibilidades: 
1. Inferindo-os pela observação do próprio comportamento; 
2. Inferindo-os a partir de dados colhidos por algum tipo de 
instrumento de avaliação/mensuração 
psicológica considerado válido cientificamente 
(por exemplo, os testes psicológicos); 
3. Por ambos os recursos, anteriormente citados. 
 
 
7 Homeostase – Tendência dos organismos vivos a buscar o equilíbrio, a estabilidade. 
8 Instinto – Será proposta uma definição bastante ampla sobre este conceito: instinto refere-se a toda forma de 
comportamento não aprendida, proveniente da herança genética de uma espécie animal, destinada à adaptação e à 
sobrevivência. 
9 
A partir, então, desses dados objetivos os psicólogos são capazes de inferir, e, por 
conseguinte, estudar, os processos subjetivos da mente dos seres vivos. Tais 
inferências recebem o nome de CONSTRUÇÕES (ou, CONSTRUCTOS) 
PSICOLÓGICOS. 
 
SÍNTESE 
 
A PSICOLOGIA É UMA CIÊNCIA? 
RESPOSTA: SIM, pois seus instrumentos de 
pesquisa são rigorosamente científicos. Por exemplo, a 
experimentação, as pesquisas de campo, os 
levantamentos etc. 
 
 
 
 
A PLURALIDADE DAS PESQUISAS PSICOLÓGICAS 
Embora a psicologia tenha como objetos de estudo e pesquisa o comportamento e os 
processos mentais dos seres vivos, tais objetos poderão se manifestar
em diferentes 
circunstâncias. Isto impõe à psicologia certas “especializações”, o que, na prática, 
criaria várias “psicologias”. Analise o quadro a seguir: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
COMPORTAMENTOS e PROCESSOS MENTAIS
Nas relações de trabalho
e produção.
Considerados patológicos,
suas causas e formas de
tratamento.
Nas relações de interesse
do Judiciário e do Direito.
Etc.
Psicologia do
Trabalho
Psicologia
Clínica
Psicologia
Jurídica
 
FIXAÇÃO 
Texto de Apoio – Caderno 
de Introdução à Psicologia 
– p. 2 a 5. 
FIXAÇÃO - Texto de Apoio – Caderno de Introdução à Psicologia – p. 7, 23 a 29 
 
 
10 
Hans Kelsen (1881-1973) – Direito e Ciências Jurídicas 
 
 
 
 
Humor... 
11 
AS RELAÇÕES INTER E MULTIDISCIPLINARES ENTRE A , AS 
CIÊNCIAS JURÍDICAS E O DIREITO 
 
Na busca pelo ideal de justiça e por uma melhor compreensão do 
que é o “justo”, por vezes, tanto o direito quanto as ciências 
jurídicas socorrem-se de várias outras disciplinas científicas. 
O direito e as ciências jurídicas necessitam, por exemplo, de 
informações a respeito do comportamento e dos processos 
mentais (suas causas, consequências para o sujeito e para a sociedade, seus 
transtornos psíquicos etc). A ciência, portanto, que poderá fornecer tais informações é 
a psicologia. Analise os quadros a seguir: 
 
RELAÇÕES INTERDISCIPLINARES
(ÂMBITO EPISTEMOLÓGICO - PESQUISA)
RELAÇÕES MULTIDISCIPLINARES
(ÂMBITO DO JUDICIÁRIO - PROCESSO)
CIÊNCIAS
JURÍDICAS
MEDICINA SOCIOLOGIA PSICOLOGIAFILOSOFIA ETC.
JUSTIÇA
OPERADORES
DO DIREITO
PSICÓLOGOS
JURÍDICOS
MÉDICOS
Etc.
ASSISTENTES
SOCIAIS
ENGENHEIROS
CONTABILISTAS
 
 
 
 
 
 
 
(1)VIDE AS ATIVIDADES PROPOSTAS PARA ESSES CONTEÚDOS! 
 
12 
AS PRÁTICAS PSICOLÓGICAS E SUAS APLICAÇÕES NO CONTEXTO 
JURÍDICO 
 
ATUALIDADE DA PSICOLOGIA JURÍDICA 
SÔNIA ALTOÉ 
Instituto de Psicologia da UERJ 
 
A história nos mostra que a primeira 
aproximação da Psicologia com o Direito 
ocorreu no final do século XIX e fez surgir o 
que se denominou “psicologia do 
testemunho”. Esta tinha como objetivo 
verificar, através do estudo experimental dos 
processos psicológicos, a fidedignidade do 
relato do sujeito envolvido em um processo 
jurídico. Como diz Brito (1993), o que se 
pretende é verificar se os “processos internos 
propiciam ou dificultam a veracidade do 
relato”. Sobretudo através da aplicação de 
testes, buscava-se a compreensão dos 
comportamentos passíveis de ação jurídica. 
Esta fase inicial foi muito influenciada pelo 
ideário positivista, importante nesta época, 
que privilegiava o método científico 
empregado pelas ciências naturais (JACÓ-
VILELA, 1999; FOUCAULT, 1996). Mira y 
Lopes, defensor da cientificidade da 
psicologia na aplicação de seu saber e de seus 
instrumentos junto às instituições jurídicas, 
escreveu o “Manual de Psicologia Jurídica” 
(1945), que teve grande repercussão no ensino 
e na prática profissional do psicólogo, até 
recentemente. 
Dar relevância a este dado histórico é 
importante para desenvolvermos uma reflexão 
sobre a prática profissional de psicologia 
junto às instituições do direito e sobre as 
mudanças que têm ocorrido principalmente 
após 1980, indicando novas perspectivas para 
o século XXI. 
Desta história inicial decorreu uma prática do 
profissional de psicologia voltada quase que 
exclusivamente para a realização de perícia, 
exame criminológico e parecer psicológico 
baseado no psicodiagnóstico, feitos a partir de 
algumas entrevistas e nos resultados dos 
testes psicológicos aplicados. Segundo 
estudos da psicóloga e psicanalista Rauter 
(1994), esses pareceres e exames, quando 
realizados dentro das penitenciárias e 
hospitais psiquiátricos penais, servem “para 
instruir processos de livramento condicional, 
comutação de penas, indulto e, 
frequentemente, para avaliar se um detento 
pode sair da cadeia ou não, se ele pode 
retornar ao chamado convívio social, se ele 
merece uma progressão de regime etc.” Seus 
estudos revelaram que “a maior parte do 
conteúdo destes laudos era bastante 
preconceituosa, bem estigmatizante, e nada 
tinha de científico... Os laudos repetiam os 
preconceitos que a sociedade já tem com 
relação ao criminoso, com relação a alguém 
que vai para a prisão” (RAUTER,1994:21). 
Ela completa dizendo que eles têm 
contribuído sobretudo para prolongar as penas 
do criminoso. E em relação às crianças e 
jovens que eram levados para os centros de 
triagem para serem observados, 
diagnosticados, e enviados aos internatos e 
reformatórios, escreve o desembargador 
Amaral: “época em que, na prática, de útil, 
nada se fazia além de estatística. Eram laudos 
e informações que acabavam facilitando a 
segregação, a exclusão, dos mais vulneráveis” 
(SILVA, 1994). E, como diz de forma 
contundente o professor de direito, Verani, os 
instrumentos oferecidos pela psicologia 
tinham um uso que favorecia a eficácia do 
controle social e reforçava a natureza 
repressora que está inserida no direito, ao 
invés de garantir as liberdades e os direitos 
fundamentais dos indivíduos (VERANI, 
1994:14). 
Os psicólogos, procurando atender a demanda 
do poder judiciário, buscaram se especializar 
nas técnicas de exame. E foi a Universidade 
do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), em 
1980, que atendeu a esta reivindicação 
criando, pela primeira vez no Rio de Janeiro, 
uma área de concentração, dentro do curso de 
especialização em psicologia clínica, 
denominada “Psicodiagnóstico para Fins 
Jurídicos” (BRITO, 1999). Em 1986 passou 
por uma reformulação, tornando-se um curso 
13 
de especialização independente do 
departamento de clínica, ficando ligado ao 
departamento de psicologia social. 
Voltaremos mais adiante a estas 
reformulações. 
No Brasil, em particular no eixo Rio - São 
Paulo - Belo Horizonte, nos anos 80, junto 
com a abertura política, após longo período de 
regime militar, intensificou-se uma discussão 
importante sobre a cidadania e os direitos 
humanos impulsionada pela votação da nova 
Constituição brasileira. As mudanças que nos 
interessam aqui se referem às leis que tratam 
dos direitos e deveres das crianças e 
adolescentes. Em 1927 foi criada a primeira 
lei, que sofreu algumas modificações em 
1979, mas foi somente em 1990 que as 
crianças e jovens foram contemplados com 
uma lei, inspirada na Doutrina da Proteção 
Integral e que “reconhece a criança e o 
adolescente como sujeitos plenos de direitos, 
gozando de todos os direitos fundamentais e 
sociais, inclusive a prioridade absoluta, 
decorrência da peculiar situação como 
pessoas em desenvolvimento” (SILVA, 1999: 
46). Uma discussão importante ocorreu então, 
mobilizando a sociedade civil, organizada por 
diversos grupos – muitos ligados às 
universidades - perplexos com as denúncias 
de maus-tratos e mortes ocorridas dentro dos 
internatos da FEBEM (Fundação Estadual do 
Bem -Estar do Menor), e pela ação da polícia, 
feitas por jornais de grande circulação, 
especialmente os da capital paulista, por 
ocasião da comemoração do I Ano 
Internacional da Criança, em 1979. 
A lei que veio substituir o Código de Menores 
(1927-1990) é denominada Estatuto da 
Criança e do Adolescente, e foi promulgada 
em 1990, marcando uma diferença 
fundamental (RIZZINI,2000). O novo texto 
da lei não contempla somente a criança e o 
jovem em “situação de risco”, “situação 
irregular”, ou “perigoso”, denominado como 
“abandonado”, “carente”, “perambulante” ou, 
ainda, de “conduta antissocial”,
que o antigo 
Código de Menores contemplava. O Estatuto 
trata dos direitos de todas as crianças e jovens 
brasileiros considerando-os “sujeitos de 
direitos”. Esta mudança de paradigma 
regulamenta e chama a atenção para a 
responsabilidade do Estado, da sociedade, dos 
estabelecimentos de atendimento e dos pais 
para com estes “sujeitos em 
desenvolvimento”. O artigo 227 da 
Constituição da República Federativa do 
Brasil sintetiza os preceitos da nova lei nos 
seguintes termos: 
“É dever da família, da sociedade e do Estado 
assegurar à criança e ao adolescente, com 
absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, 
à alimentação, à educação, ao lazer, à 
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao 
respeito, à liberdade e à convivência familiar 
e comunitária, além de colocá-los a salvo de 
toda forma de negligência, discriminação, 
exploração, violência, crueldade e opressão.” 
Quando vigorava o Código, as crianças e 
jovens considerados “perigosos” e em 
“situação de risco” eram passíveis de ser 
apreendidos pela polícia e pelos juízes da 1a. 
e 2a. Varas, sendo levados para delegacias ou 
para internatos. E como escreve Arantes 
(1999) “na prática isto significava que o 
Estado podia, através do juiz de menor, 
destituir determinados pais do pátrio poder 
através da decretação da sentença de ‘situação 
irregular’ do menor. Sendo a carência uma 
das hipóteses de ‘situação irregular’, podemos 
ter a ideia do que isto poderia representar em 
um país onde já se estimou em 36 milhões o 
número de crianças pobres” (ARANTES, 
1999: 258). 
As inovações do Estatuto da Criança e do 
Adolescente, por força de lei, impulsionaram 
mudanças na prática profissional do psicólogo 
no âmbito da Justiça na 1a. e 2a. Vara da 
Infância e Juventude, exercendo também forte 
influência nas outras áreas de trabalho do 
psicólogo junto ao poder judiciário, ou seja, 
na vara de família e junto ao sistema penal. 
Surgiu um rico debate e novos 
posicionamentos dos psicólogos que, 
questionando uma prática que era 
prioritariamente voltada para a elaboração do 
psicodiagnóstico, ou, como diz Jacó-Vilela 
(1999), para uma atuação de “estrito avaliador 
da intimidade” das pessoas, buscaram então 
novas formas de atuação junto ao poder 
judiciário. Isto influenciou também o ensino 
universitário. 
Atentos a esta realidade, professores da UERJ 
(Universidade do Estado do Rio de Janeiro), 
reformularam a proposta existente, 
14 
constituindo-se num curso de especialização 
em “psicologia jurídica”, não sendo mais uma 
área de concentração dentro do departamento 
de clínica, ligando-se então ao departamento 
de psicologia social. Esta mudança favoreceu 
uma ênfase muito menor às preocupações da 
clínica (ao psicodiagnóstico, em particular), 
voltando-se para questões pertinentes à 
psicologia social. Esteve à frente, de 1986 a 
1996, a professora Leila Torraca de Brito, 
sendo um dos primeiros cursos, no país, a 
formar especialistas. O que passou a nortear 
esta formação é um dos indicadores dispostos 
no Código de Ética Profissional dos 
Psicólogos. No capítulo que trata “Das 
responsabilidades e relações com instituições 
empregadoras e outras”, artigo 4, parágrafo 
1o., define este Código: 
O psicólogo atuará na instituição de forma a 
promover ações para que esta possa se tornar 
um lugar de crescimento dos indivíduos, 
mantendo uma posição crítica que garanta o 
desenvolvimento da instituição e da 
sociedade. 
Este novo campo de atuação que se abre, 
inclusive no sentido de novos cargos, novos 
empregos, é cheio de inquietações, 
indagações e descobertas. Favorece e amplia 
o campo da pesquisa e do ensino 
universitário. E quando me refiro à pesquisa, 
é não somente aquela realizada na academia, 
mas também na prática cotidiana de trabalho, 
onde o espírito de pesquisador é fundamental 
para manter o constante questionamento dos 
caminhos a serem abertos ou seguidos numa 
prática tão nova e cheia de desafios. As 
questões humanas tratadas no âmbito do 
direito e do judiciário são das mais 
complexas. E, devido às dificuldades que se 
colocam, é que as pessoas buscam ou são 
levadas a recorrer ao poder judiciário. E o que 
está em questão é como as leis que regem o 
convívio dos homens e das mulheres de uma 
dada sociedade podem facilitar a resolução de 
conflitos. Aqueles que têm alguma 
experiência na área se dão conta que as 
questões não são meramente burocráticas ou 
processuais. Elas revelam questões delicadas, 
difíceis e dolorosas. A título de exemplo 
vejamos alguns dos motivos pelos quais as 
pessoas recorrem ao judiciário: pais que 
disputam a guarda de seus filhos ou que 
reivindicam direito de visitação, pois não 
conseguem fazer um acordo amigável com o 
pai ou a mãe de seu filho; maus-tratos e 
violência sexual contra criança, praticado por 
um dos pais ou pelo (a) companheiro(a) deste; 
casais que anseiam adotar uma criança por 
terem dificuldades de gerar filhos; pais que 
adotam e não ficam satisfeitos com o 
comportamento da criança e devolvem -na ao 
Juizado; jovens que se envolvem com 
drogas/tráfico, ou, passam a ter outros 
comportamentos que transgridem a lei, e seus 
pais não sabem como fazer para ajudá-los 
uma vez que não contam com o apoio de 
outras instituições do Estado (de educação e 
de saúde, por exemplo). 
Frente às mudanças que aqui abordamos, e 
pensando em alguns exemplos citados acima, 
é importante levantarmos a questão sobre a 
função e atribuições do psicólogo na área 
jurídica. Se, por um lado, o trabalho implica 
numa parceria com os outros profissionais, 
em particular, aqueles do campo do direito, 
por outro, com certeza favorece que o 
psicólogo, com a legitimidade que lhe confere 
seu campo específico de saber, tenha 
autonomia para definir suas funções dentro do 
sistema judiciário. E isto em relação direta 
com uma prática situada dentro de um 
contexto histórico e cultural, em contínua 
transformação. 
Vejamos então como, principalmente, a partir 
dos anos 90, esta prática se diversificou e 
ampliou o seu campo de ação junto ao sistema 
judiciário. Se, antes da década de 90, o 
trabalho do psicólogo quase que se restringia 
a fazer perícia e parecer, desde então ganhou 
novas modalidades. Seu trabalho tem sido 
também o de informar, apoiar, acompanhar e 
dar orientação pertinente a cada caso atendido 
nos diversos âmbitos do sistema judiciário. 
Há uma preocupação praticamente inexistente 
antes com a promoção de saúde mental dos 
que estão envolvidos em causas junto à 
Justiça, como também de criar condições que 
visem a eliminar a opressão e a 
marginalização. 
Tem-se priorizado a formação de equipe 
interdisciplinar, o grupo de estudo (para 
aprofundamento de questões teóricas que a 
prática cotidiana coloca), o estudo de caso, o 
acompanhamento psicológico, as atividades 
15 
de integração e de intercâmbio com outros 
profissionais (da Justiça, e também de 
instituições externas, como a saúde e a 
educação - neste caso, a escola, mas também 
o meio acadêmico) para permitir uma visão 
mais ampliada dos diferentes serviços 
disponíveis e estabelecer parcerias e 
procedimentos de encaminhamento. Na Vara 
de Família, Brito, especialista em questões 
referentes a esta área, defende que a equipe de 
psicólogos deve priorizar o trabalho com os 
pais com o objetivo de chegar a um acordo 
sobre os cuidados e a guarda dos filhos, 
auxiliando-os na procura por respostas 
próprias dentro de suas possibilidades e 
história familiar. Isto porque, quando os pais 
não chegam
a um acordo sobre a guarda de 
filhos, o juiz “deve deferir a guarda ao 
responsável que reúna condições mais 
apropriadas para educar as crianças, cabendo 
ao outro o direito de visitação” 
(BRITO,1999). E como saber quem tem mais 
condições? Quais os critérios para esta 
avaliação, que é feita pelos psicólogos? Ela 
defende também que a equipe de psicologia 
assessore o atendimento à criança e ao jovem 
envolvidos numa disputa judicial. Ou seja, 
que o trabalho do psicólogo auxilie na 
resolução dos conflitos que fazem com que a 
família recorra ao poder judiciário, ao invés 
de ser um profissional que se limita a fazer 
parecer para o juiz aplicar a lei, que muitas 
vezes não é cumprida, expressando a 
repetição de problemas familiares não 
elaborados, e o caso retorna à Justiça, num 
processo que se alonga por vários anos, sem 
diminuir o conflito e a dor dos envolvidos. 
Maria de Fátima da Silva Teixeira e Ruth C. 
da Costa Belém, psicólogas com longa 
experiência nas Varas da Infância e 
Juventude, em artigo em que falam de 
maneira muito interessante sobre o 
desenvolvimento do Núcleo de Psicologia, 
defendem também, junto ao Juizado da 
Comarca do Rio de Janeiro, a importância de 
se fazer grupo de adolescentes, de pais e de 
casais guardiões e adotantes. No trabalho na 
2a. Vara, junto aos adolescentes a quem se 
atribui a prática de atos infracionais, elas 
atentam para a função do psicólogo como 
sendo, não mais de investigador, e daquele 
que faz um laudo que pode funcionar como 
um “pré-veredicto judicial”, mas o de 
construir, junto ao adolescente uma 
possibilidade de escuta, “desconstruindo 
lugares já marcados para cada parte 
envolvida” lugar de adolescente ‘infrator’, 
‘perigoso’, ‘marginal’, ‘vítima da sociedade’; 
‘lugar de mãe ou pai negligente’, ‘abusador’; 
lugar de criança ‘incapaz’, ‘abusada’, 
difícil’”. Estes adjetivos funcionam como 
estigmas fortes, “parecendo muitas vezes 
como um sobrenome, tal a carga 
identificatória que adquirem”, escrevem ainda 
estas psicólogas (TEIXEIRA e BELÉM, 
1999: 66). A psicóloga jurídica do Tribunal 
de Justiça de São Paulo Dayse C. F. Bernardi 
resume de maneira clara a importância da 
atuação do psicólogo na instância judiciária - 
“repousa na possibilidade desse profissional 
abordar as questões da subjetividade humana, 
as particularidades dos sujeitos e das relações 
nos problemas psicossociais, expressos nas 
Varas da Infância e Juventude, com o 
contexto social e político que as definem” 
(BERNARDI, 1999: 108). Construir novas 
referências teóricas para um trabalho que na 
sua rotina cotidiana pode ser muito 
intervencionista na vida dos sujeitos é um 
desafio onde a ética profissional se impõe. A 
psicanalista Gondar faz uma reflexão 
importante no seu artigo “Ética, Moral e 
Sujeito”, sobre o trabalho dos psicólogos 
mostrando a diferença que existe, se este 
profissional atua considerando que trabalha 
com objetos ou com sujeitos, ou seja, 
anulando subjetividades ou levando-se em 
conta sua existência (GONDAR,1999). Sair 
do lugar de “técnico” ou de “perito” implica 
num exercício profissional crítico e na busca 
de alternativas. A mudança tem trazido a 
valorização do trabalho do psicólogo que se 
mostra de maneira objetiva pelo número 
crescente desses profissionais junto aos 
operadores do direito. Recorre-se aos 
psicólogos sobretudo nas situações difíceis e 
cuja solução não se tem parâmetros claros, o 
que certamente aumenta nossa 
responsabilidade. 
E para terminar, gostaria de chamar a atenção 
para a formação do especialista nesta área e 
sobre a colaboração que as universidades 
públicas podem dar nesta fase de construção 
de um atendimento a criança pobre que por 
16 
força da lei, desde 1990, tem direitos que 
devem ser respeitados. No Rio de Janeiro, 
uma parceria inédita, objetivando a pesquisa e 
a qualificação profissional, ocorreu através de 
convênio firmado, em 1998, entre a UERJ 
(Psicologia, Pedagogia, Direito, Enfermagem, 
Letras, Ciências Sociais) e o Departamento de 
Ações Socioeducativas (DEGASE). O 
resultado do trabalho foi muito produtivo 
(BRITO, 2000) e nova cooperação está sendo 
firmada a partir de 2001. Quanto a formação 
do psicólogo na área de psicologia jurídica, na 
UERJ (faço parte da equipe de professores 
desde 1992), busca-se, em primeiro lugar, 
oferecer um curso que favoreça a formação de 
espírito crítico do profissional; considera-se 
que a formação clínica seja muito importante, 
sem entretanto, visar o aprendizado do 
psicodiagnóstico como ocorreu em 1986. 
Atualmente, os professores privilegiam uma 
formação que leve em conta o estudo dos 
fundamentos do direito (o conhecimento das 
leis, sobretudo no campo de sua atuação), da 
teoria de análise institucional (para 
compreensão e possibilidade de intervenção 
institucional), da sociologia e da psicologia 
social para se refletir sobre a violência, a 
identidade, a formação de grupos, e como o 
contexto social influencia a formação de 
subjetividades; considera-se importante 
também o conhecimento da teoria 
psicanalítica, que permita pensar a questão da 
Lei e das leis, para compreender a 
constituição do sujeito do desejo humano e os 
avatares dessas construções (LEGENDRE, 
1999; MOUGIN, 1999). 
17 
PRINCIPAIS ATIVIDADES DO  NO JUDICIÁRIO 
 
1ª: ASSESSORIA - Funções: Assessorar os órgãos judiciais e 
administrativos, na esfera de sua competência profissional, nas 
questões próprias da disciplina de cada profissional; 
Participar, quando solicitado, das audiências, a fim de 
esclarecer aspectos técnicos em Psicologia; 
Participar de reuniões multidisciplinares. 
 
2ª. ORIENTAÇÃO E ACOMPANHAMENTO DOS 
JURISDICIONADOS – Funções: Prestar orientação e 
acompanhamento ao jurisdicionado, articulando recursos da 
comunidade que possam contribuir para o encaminhamento de 
situações psicológicas a ele referentes, nos limites do 
processo; 
Empreender ações de aconselhamento e orientação junto a problemas psicológicos 
evidenciados, utilizando metodologia específica das áreas de atuação; 
Desenvolver trabalhos de intervenção, tais como: apoio, mediação, encaminhamento 
e prevenção, próprios aos seus contextos de trabalho. 
 
3ª. PESQUISADOR – Funções: Realizar e colaborar com 
pesquisas, programas e atividades relacionadas à prática 
profissional dos Psicólogos, no âmbito do Poder Judiciário, 
objetivando seus aperfeiçoamentos técnicos e a produção de 
conhecimentos. 
 
 
4ª PERITO PSICOLÓGICO – Funções – Vide página 41. 
 
18 
AS PRINCIPAIS ÁREAS DE ATUAÇÃO DA  NO CAMPO JURÍDICO 
 
Direito Penal: avaliações psicológicas no que pese a sanidade 
mental das partes envolvidas com fatos criminosos; violência 
doméstica contra a mulher, intervenções junto às famílias 
vitimadas; perfil psicológico de criminosos etc. 
 
 
Direito Civil: avaliação psicológica em casos de interdições; em 
casos de indenizações por dano psicológico (ou, psíquico) em 
diversas circunstâncias (p.ex., em acidentes). 
 
 
 
 
 
Direito de Família: intervenção em casos de separação, divórcio, 
regulamentação de visitas, pensão alimentícia, destituição do poder, 
disputa de guarda, assessoria em relação aos tipos de guarda 
(unilateral ou compartilhada) não obstante os interesses dos filhos, 
acompanhamento de visitas, síndrome de alienação parental. 
 
Sistema Penitenciário: avaliação psicológica do recluso; 
estudos e pesquisas sobre os processos de ressocialização; 
intervenções junto ao recluso e ao egresso no que pese os 
objetivos de ressocialização, saúde
mental e 
“desinstitucionalização” em relação ao sistema penitenciário 
quando do fim da pena; trabalho com os agentes de segurança 
(p. ex. estresse, violência etc.), estudos sobre penas alternativas (p.ex., prestação de 
serviço à comunidade etc.); trabalho junto aos parentes dos reclusos 
(aconselhamento). 
 
Justiça da Infância e da Juventude: avaliação psicológica 
nos casos de violência contra criança e adolescente; trabalhos 
com os Conselhos Tutelares (p.ex., treinamento de 
conselheiros); adoção, destituição do poder familiar, estágio de 
convivência; intervenção junto a crianças abrigadas e seus pais; 
estudos, pesquisas e intervenções junto a adolescentes com práticas infratoras, 
medidas socioeducativas, prevenção. 
 
Direito do Trabalho: avaliação psicológica em questões 
trabalhistas, como acidentes de trabalho, indenizações; avaliação 
do dano psicológico em perícias acidentárias. 
 
19 
Direito do Idoso: REDE DE PROTEÇÃO AO IDOSO 
 
Segundo o Estatuto do Idoso (Lei nº 10.741/03), idosas são todas 
as pessoas com idade igual ou superior a 60 anos. Em seu art. 3º, 
são assegurados à pessoa idosa os seguintes direitos: à vida, à 
saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, 
ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à 
convivência familiar e comunitária. 
Avaliação psicológica nos casos de violência contra o idoso (física, psicológica – 
“definidas como as diversas formas de privação ambiental, social ou verbal; a 
negação de direitos, as humilhações ou o uso de palavras e expressões que insultam 
ou ofendem; os preconceitos e a exclusão do convívio social [...]; abusos financeiros 
ou a exploração econômica, definidos como a apropriação de rendimentos ou o uso 
ilícito de fundos, propriedades e outros ativos que pertençam ao idoso [...] e, a 
negligência, entendida como a situação na qual o responsável permite que o idoso 
experimente sofrimento. A negligência é caracterizada como ativa quando o ato é 
deliberado, e como passiva quando resulta de conhecimento inadequado das 
necessidades do idoso ou de estresses do cuidador, resultante da necessidade de 
ministrar cuidados prolongados”. (os negritos são meus)) (FONSECA; M.M.; 
GONÇALVES, H.S., 2003). 
 
 
ÉTICA e MORAL
9
 
 
Professor e Filósofo Mario Sérgio Cortella 
Ética - Conjunto de valores e princípios que as pessoas utilizam para 
decidir três questões básicas da vida: quero, devo, posso. Ora, tem 
coisa que quero mas não devo, que devo mas não posso ou que posso 
mas não devo. Não existe ninguém sem uma ética própria. O que existe são pessoas 
com valores e princípios contrários à ética vigente. Essas são chamadas de antiéticas. 
A ética não é relativa. Ela busca a universalidade, o que não significa que ela não 
possa mudar com o tempo. 
Moral – É a prática de uma ética. É a ação de decidir, escolher e julgar segundos 
valores e princípios éticos vigentes. Neste sentido, portanto, imoral é todo aquele que 
decide, escolhe e julga contrariamente aos valores e princípios vigentes (ou seja, à 
ética vigente). Amoral, por sua vez, são todas aquelas pessoas que não podem 
decidir, escolher e julgar. Por exemplo, as crianças e os loucos (no direito chamados 
de incapazes). A moral, esta sim, é relativa, pois enquanto exteriorização de uma 
ética, depende de uma série de injunções e circunstâncias reais. 
 
9 Texto elaborado a partir da entrevista concedida pelo prof. Sergio Cortella ao programa Jô em 14/06/2010. 
20 
A ÉTICA PROFISSIONAL DO PROFISSIONAL DE  
A Resolução nº 010/05, de 21/07/05, do Conselho Federal de Psicologia, instituiu no 
Brasil o Código de Ética Profissional do Psicólogo. 
 
PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS 
 
I. O psicólogo baseará o seu trabalho no respeito e na promoção da liberdade, da 
dignidade, da igualdade e da integridade do ser humano, apoiado nos valores que 
embasam a Declaração Universal dos Direitos Humanos. 
II. O psicólogo trabalhará visando promover a saúde e a qualidade de vida das 
pessoas e das coletividades e contribuirá para a eliminação de quaisquer formas de 
negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. 
IV. O psicólogo atuará com responsabilidade, por meio do contínuo aprimoramento 
profissional, contribuindo para o desenvolvimento da Psicologia como campo 
científico de conhecimento e de prática. 
V. O psicólogo contribuirá para promover a universalização do acesso da população 
às informações, ao conhecimento da ciência psicológica, aos serviços e aos padrões 
éticos da profissão. 
VI. O psicólogo zelará para que o exercício profissional seja efetuado com dignidade, 
rejeitando situações em que a Psicologia esteja sendo aviltada. 
Art. 1º – São deveres fundamentais dos psicólogos: 
b) Assumir responsabilidades profissionais somente por atividades para as quais 
esteja capacitado pessoal, teórica e tecnicamente; 
c) Prestar serviços psicológicos de qualidade, em condições de trabalho dignas e 
apropriadas à natureza desses serviços, utilizando princípios, conhecimentos e 
técnicas reconhecidamente fundamentados na ciência psicológica, na ética e na 
legislação profissional; 
f) Fornecer, a quem de direito, na prestação de serviços psicológicos, informações 
concernentes ao trabalho a ser realizado e ao seu objetivo profissional; 
g) Informar, a quem de direito, os resultados decorrentes da prestação de serviços 
psicológicos, transmitindo somente o que for necessário para a tomada de decisões 
que afetem o usuário ou beneficiário; 
h) Orientar a quem de direito sobre os encaminhamentos apropriados, a partir da 
prestação de serviços psicológicos, e fornecer, sempre que solicitado, os documentos 
pertinentes ao bom termo do trabalho; 
Art. 2º – Ao psicólogo é vedado: 
b) Induzir a convicções políticas, filosóficas, morais, ideológicas, religiosas, de 
orientação sexual ou a qualquer tipo de preconceito, quando do exercício de suas 
funções profissionais; 
c) Utilizar ou favorecer o uso de conhecimento e a utilização de práticas psicológicas 
como instrumentos de castigo, tortura ou qualquer forma de violência; 
g) Emitir documentos sem fundamentação e qualidade técnico-científica; 
k) Ser perito, avaliador ou parecerista em situações nas quais seus vínculos pessoais 
ou profissionais, atuais ou anteriores, possam afetar a qualidade do trabalho a ser 
realizado ou a fidelidade aos resultados da avaliação; 
21 
l) Desviar para serviço particular ou de outra instituição, visando benefício próprio, 
pessoas ou organizações atendidas por instituição com a qual mantenha qualquer tipo 
de vínculo profissional; 
n) Prolongar, desnecessariamente, a prestação de serviços profissionais; 
q) Realizar diagnósticos, divulgar procedimentos ou apresentar resultados de serviços 
psicológicos em meios de comunicação, de forma a expor pessoas, grupos ou 
organizações. 
Art. 6º – O psicólogo, no relacionamento com profissionais não psicólogos: 
b) Compartilhará somente informações relevantes para qualificar o serviço prestado, 
resguardando o caráter confidencial das comunicações, assinalando a 
responsabilidade, de quem as receber, de preservar o sigilo. 
Art. 9º – É dever do psicólogo respeitar o sigilo profissional a fim de proteger, por 
meio da confidencialidade, a intimidade das pessoas, grupos ou organizações, a que 
tenha acesso no exercício profissional. 
Art. 10 – Nas situações em que se configure conflito entre as exigências decorrentes 
do disposto no Art. 9º e as afirmações dos princípios fundamentais deste Código, 
excetuando-se os casos previstos em lei, o psicólogo poderá decidir pela quebra de 
sigilo,
baseando sua decisão na busca do menor prejuízo. 
Parágrafo único – Em caso de quebra do sigilo previsto no caput deste artigo, o 
psicólogo deverá restringir-se a prestar as informações estritamente necessárias. 
Art. 11 – Quando requisitado a depor em juízo, o psicólogo poderá prestar 
informações, considerando o previsto neste Código. 
Art. 12 – Nos documentos que embasam as atividades em equipe multiprofissional, o 
psicólogo registrará apenas as informações necessárias para o cumprimento dos 
objetivos do trabalho. 
Art. 18 – O psicólogo não divulgará, ensinará, cederá, emprestará ou venderá a leigos 
instrumentos e técnicas psicológicas que permitam ou facilitem o exercício ilegal da 
profissão. 
 
 
 
 
 
(2)VIDE AS ATIVIDADES PROPOSTAS PARA ESSES CONTEÚDOS! 
 
22 
PERSONALIDADE 
 
O QUE É PERSONALIDADE? 
 
O vocábulo personalidade tem como principal afixo 
a expressão “persona”. “Persona, no uso coloquial, 
é um papel social ou personagem vivido por um 
ator. É uma palavra italiana derivada do latim para 
um tipo de máscara feita para ressoar com a voz do ator (per 
sonare significa "soar através de"), permitindo que fosse bem 
ouvida pelos espectadores, bem como para dar ao ator a aparência que o papel exigia 
(Wikipedia). 
 
Em psicologia, no entanto, personalidade é definida como uma “[...] totalidade 
relativamente estável e previsível dos traços emocionais e comportamentais que 
caracterizam a pessoa na vida cotidiana, sob condições normais.” (KAPLAN; 
SADOCK, 1993). 
Principais características da personalidade 
 
 
CONCEITOS 
 
1º) Estados - “[...] característica momentânea, episódica na personalidade. Um estado 
está diretamente relacionado com fatores circunstanciais.” O luto e o estresse são 
exemplos de estados. 
2º) Traços - “Os traços de personalidade são padrões persistentes no modo de 
perceber a realidade, relacionar-se consigo próprio e com os outros e, sobretudo, de 
pensar.” 
3º) Temperamento – (do latim temperare que significa “equilíbrio”) – corresponde 
aos aspectos (traços) geralmente inconscientes da personalidade relacionados às 
reações emocionais bem como de sua rapidez e intensidade. O temperamento poderá 
ser alterado, até certos limites, por influências médicas (medicações, tratamentos etc) 
bem como no decurso da aprendizagem e das experiências de vida. A impulsividade, 
a sensibilidade, a intempestividade etc. são características de temperamento. 
 
FIXAÇÃO 
Texto de Apoio – Caderno de 
Psicologia – Personalidade – 
p.432 a 435. 
23 
4º) Caráter – Conjunto de traços de personalidade e valores éticos, aprendidos e/ou 
desenvolvidos a partir das experiências e/ou estimulações recebidas ao longo da vida, 
conscientes, que irão determinar a conduta e a moral de um determinado indivíduo. 
A empatia, a responsabilidade, o egoísmo, a honestidade etc. são características de 
caráter. 
 
 e GENÉTICA 
 
“Até bem pouco tempo, a genética do comportamento se 
preocupava em compreender até que ponto o material genético, 
transmitido hereditariamente, poderia explicar suficientemente a 
enorme diversidade do comportamento humano. Em outras 
palavras, na tentativa de atribuir valor explicativo ao 
comportamento, os pesquisadores se perguntavam até que 
momento poderiam utilizar a informação genética, considerando sua base molecular e 
bioquímica, sem cair em modelos simplistas ou meramente organicistas de explicação 
do comportamento humano. 
Atualmente, reconhece-se que o papel da experiência e da aprendizagem é 
exatamente o de propiciar a leitura de informações já impressas nos genes, fazendo 
com que o comportamento seja compreendido como uma atividade codificada a partir 
de uma sequência de nucleotídios
10
, cuja tradução pode ser deflagrada por diferentes 
e determinadas condições do ambiente (Lima, 1997; Plomin, 1989; Vogel & 
Motulsky, 1996).” (apud COSTA Jr., UnB, 2000) 
 
CURIOSIDADE 
O CASO DAS MENINAS LOBO DA ÍNDIA 
 
 
 
10 Nucleotídeo: Unidade constituinte dos ácidos ribonucleicos (RNA) e desoxirribonucleicos (DNA). 
 Think about... 
24 
A teoria do desenvolvimento psicossocial, de Erik Erikson (1902-1994) – Teoria 
Epigenética
11
 
 
Para Erikson, a personalidade é um conceito dinâmico que vai se 
modificando ao longo de toda a vida. Personalidade, segundo Erikson, 
é o resultado da interação contínua de três grandes sistemas: 
 
 
CONCEITO 
 
A formação da identidade psicossocial
12
 - “[...] em termos 
psicológicos, a formação da identidade emprega um 
processo de reflexão e observação simultâneas, um processo 
que ocorre em todos os níveis do funcionamento mental, 
pelo qual o indivíduo se julga a si próprio à luz daquilo que 
percebe ser a maneira como os outros o julgam, em 
comparação com eles próprios e com uma tipologia que é 
significativa para eles; enquanto que ele julga a maneira 
como eles o julgam, à luz do modo como se percebe a si 
próprio em comparação com os demais e com os tipos que se tornaram importantes 
para ele.[...]” 
(ERIKSON, E.H. Identidade: juventude e crise. 2 ed. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1976, p.21.) 
 
Erikson identificou oito etapas do desenvolvimento psicossocial que vão desde o 
nascimento até à morte. Cada uma delas se define mediante uma tarefa de 
desenvolvimento em que o indivíduo deve enfrentar crises e conflitos específicos. O 
indivíduo deve chegar a uma solução entre duas demandas opostas, equilibrando-as 
ou integrando-as. “Cada etapa e crise sucessivas têm uma relação especial com um 
dos elementos básicos da sociedade, e isso pela simples razão de que o ciclo da vida 
humana e as instituições do homem têm evoluído juntos.” (ERIKSON, 1976, p.230) 
Analise o quadro a seguir: 
 
 
11 Epigenesia: Teoria segundo a qual a constituição dos seres se inicia a partir de célula sem estrutura e se faz mediante 
sucessiva formação e adição de novas partes que, previamente, não existem no ovo fecundado; epigênese. (AURÉLIO) 
12 Identidade Psicossocial – corresponde a ideia de singularidade, de papel na sociedade. 
25 
DUAS FASES DO DESENVOLVIMENTO PSICOSSOCIAL 
 
IDADE DEMANDAS 
OPOSTAS 
DESCRIÇÃO 
 
1ª FASE 
Do nascimento até 1 
anos. 
 
 
 
 
 
CONFIANÇA 
X 
DESCONFIANÇA 
Durante o primeiro ano de vida a 
criança é substancialmente 
dependente das pessoas que 
cuidam dela requerendo cuidados 
quanto a alimentação, higiene, 
locomoção, aprendizado de 
palavras e seus significados, bem 
como estimulação para perceber 
que existe um mundo em 
movimento ao seu redor. O 
amadurecimento ocorrerá de 
forma equilibrada se a criança 
sentir que tem segurança e afeto, 
adquirindo confiança nas pessoas 
e no mundo. 
 
 
5ª FASE 
Dos 12 aos 18 
anos. 
 
 
 
 
 
IDENTIDADE 
X 
CONFUSÃO DE 
PAPÉIS 
O jovem experimenta uma série 
de desafios que envolvem suas 
atitudes para consigo, com seus 
amigos, com pessoas do sexo 
oposto, amores e a busca de uma 
carreira e de profissionalização. 
Na medida em que as pessoas à 
sua volta ajudam na resolução 
dessas questões desenvolverá o 
sentimento de identidade pessoal, 
caso não encontre respostas para 
suas questões pode se 
desorganizar, perdendo a 
referência. Esta é fase mais 
importante do desenvolvimento 
psicossocial, segundo Erikson. 
 
 
 
Quem é mais humano? 
26 
COMPORTAMENTO ANTISSOCIAL, AGRESSIVIDADE E VIOLÊNCIA 
 
 
 
DÚVIDA 
 
Qual a diferença entre violência e agressividade?
Jurandir Freire Costa (1986) estabelece a diferença entre 
agressividade e violência, pontuando que na primeira existe 
o fator necessidade, enquanto que a segunda é permeada pela 
gratuidade de sua expressão, isto é, não está vinculada à 
defesa do agressor nem à manutenção de seu bem-estar ou 
desenvolvimento, como ocorre na agressividade. A violência 
gera em sua vítima um desprazer desnecessário, violando o 
direito da mesma de ocupar um lugar no meio social, ferindo sua identidade, bem 
como as regras estabelecidas (leis). A violência é fruto de um desejo de destruir 
ou, como afirma Costa, é o emprego desejado da agressividade. Sendo uma 
manifestação da vontade, a violência é exclusivamente humana, porque só os 
homens desejam. Os animais não desejam; eles somente necessitam, ou seja, seu 
caminho tem uma determinação exclusivamente biológica. 
Por sua vez, a Organização Mundial da Saúde (OMS) define 
violência como “[...] o uso intencional da força física ou o poder, 
real ou por ameaça, contra a pessoa mesma, contra outra pessoa, 
ou contra um grupo ou comunidade, que possa resultar em ou 
tenha alta probabilidade de resultar em morte, lesão, dano 
psicológico, problemas de desenvolvimento ou privação.” 
(Relatório Mundial sobre a Violência e a Saúde – OMS/2002). 
 
27 
TIPOS DE VIOLÊNCIA
13
 
FÍSICA PSICOLÓGICA ou 
MORAL 
SEXUAL PRIVAÇÃO ou 
NEGLIGÊNCIA 
ESTRUTURAL 
“[...] significa o uso 
da força física para 
produzir lesões, 
traumas, feridas, 
dores ou 
incapacidades em 
outra pessoa.” 
 
 
“[...] diz respeito a 
agressões verbais ou 
gestuais com o 
objetivo de 
aterrorizar, rejeitar, 
humilhar a vítima, 
restringir a liberdade 
ou ainda isolá-la do 
convívio social.” 
 
“[...] diz respeito ao 
ato ou jogo sexual 
que ocorre nas 
relações hetero ou 
homossexuais e visa 
estimular a vítima ou 
a utilizá-la para obter 
excitação sexual e 
práticas eróticas, 
pornográficas e 
sexuais, impostas por 
meio de aliciamento, 
violência física ou 
ameaças. O abuso 
sexual é a utilização 
da violência, do 
poder, da autoridade 
ou da diferença de 
idade para obtenção 
de prazer sexual. 
Esse prazer não é 
obtido apenas por 
meio de relações 
sexuais propriamente 
ditas; pode ocorrer 
em forma de carícias, 
de manipulação dos 
órgãos genitais, 
voyeurismo, ou 
atividade sexual com 
ou sem penetração 
vaginal, anal ou 
oral.” 
“[...] ato de omissão em 
prover as necessidades 
básicas para 
desenvolvimento de 
uma pessoa, incluindo 
comida, casa, 
segurança e educação.” 
“[...] se aplica tanto 
às estruturas 
organizadas 
e institucionalizadas 
da família como aos 
sistemas econômicos, 
culturais e políticos 
que 
conduzem à opressão 
de determinadas 
pessoas 
a quem se negam 
vantagens da 
sociedade, tornando- 
as mais vulneráveis 
ao sofrimento e à 
morte. Essas 
estruturas 
determinam 
igualmente 
as práticas de 
socialização que 
levam os indivíduos 
a aceitar ou a infligir 
sofrimentos, de 
acordo com o papel 
que 
desempenham.14” 
 
COMPORTAMENTO AGRESSIVO E A LEI 
 
Estado de necessidade 
Art. 24 - Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de 
perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, 
direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-
se. 
 
13 MINAYO, apud Governo do Estado de São Paulo, 2009. Manual de Proteção Escolar e Promoção da Cidadania. 
14 BOULDING (1981) 
28 
§ 1º - Não pode alegar estado de necessidade quem tinha o dever legal de enfrentar o 
perigo. 
Legítima defesa 
Art. 25 - Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios 
necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem. 
 
VIOLÊNCIA E APRENDIZAGEM SOCIAL 
 
O psicólogo canadense Albert Bandura (1925-), pesquisador da 
universidade de Stanford, “sustenta que os padrões de comportamento 
característicos das pessoas são formados por modelos aos quais elas 
estão expostas. Em aprendizagem por observação, um modelo é uma 
pessoa cujo comportamento é observado por outra. [...] Tanto as 
crianças como os adultos tendem a imitar prioritariamente as pessoas 
de que gostam e a que respeitam. As pessoas também são 
particularmente inclinadas a imitar o comportamento daquelas que consideram 
atraentes e poderosas (como ídolos da música ou atletas). Além disso, é mais 
provável que exista a imitação quando elas veem semelhanças entre os modelos e elas 
mesmas. [...] Finalmente, é mais provável que as pessoas copiem um modelo se 
observam que o comportamento deste modelo produz resultados positivos.” 
(WEITEN, 2002, p. 359) 
 
Fases da Aprendizagem Social 
1. Observação; 
2. Imitação; 
3. Modelação do comportamento. 
 
REFLEXÃO 
 
Violência e mídia 
“a representação da violência “se funde” cada 
vez mais com a realidade.” 
 
 
 
 
(Leitura Complementar – Caderno de Psicologia – Psicologia Social - da p. 269 à 290). 
29 
A TEORIA DA FRUSTRAÇÃORAIVAAGRESSÃO 
 
John Dollard (1900-1980). A frustração “ocorre quando 
obstáculos interferem na capacidade do organismo de dar 
uma resposta ligada a um objetivo, ou seja, de obter uma 
redução do impulso.” Particularmente também identificamos como 
estímulos frustrantes quaisquer experiências de perda (quer real ou 
imaginária) de algo ou alguém considerado promotor de prazer. Tais 
perdas suscitariam um acúmulo de tensão (raiva e ódio) que, secundariamente, 
poderiam extravasar-se na forma de comportamentos agressivos ou violentos. 
 
Leonard Berkowitz (1926-), contudo, compreendeu que a teoria original 
de Dollard exagerava o laço frustração-agressão, e, por isso, tratou de 
revisá-la. Teorizou que a frustração produziria raiva, uma disposição 
emocional para agredir. Ou seja: FrustraçãoRaiva(possível agressão). 
“Na ausência de emoções negativas, a frustração não produz agressão.” 
(BERKOWITZ, 1978, 1988, 1989 apud CLONINGER, 1999, p. 362) Berkowitz, 
inclusive, irá enfatizar que estímulos ambientais, e não apenas o impulso 
agressivo, serão necessários para que a agressividade se expresse. Cita, por 
exemplo, os filmes de violência, determinantes culturais etc. Contrariamente às 
proposições de Lorenz e Freud de uma catarse da agressividade pelas competições 
esportivas, Berkowitz (1962, 1989 apud CLONINGER, 1999) concluiu que essas 
competições tendem mais a aumentar a agressão do que reduzi-la, porém, as 
evidências empíricas a esse respeito são contraditórias. 
 
REFLEXÃO 
 
Estímulos frustrantes pessoais e sociais: 
Identifique alguns. 
 
 
 
 
(Leitura Complementar – Caderno de Psicologia – Psicologia Social – p. 275 e 276) 
30 
O DESENVOLVIMENTO DO COMPORTAMENTO ANTISSOCIAL 
 
O comportamento antissocial pode ser definido como um 
padrão de resposta cuja consequência é maximizar 
gratificações imediatas e evitar ou neutralizar as exigências 
do ambiente social. 
 
 
PRÓ-SOCIAIS 
(Competência Social) 
ANTISSOCIAIS 
(Incompetência Social) 
Solidariedade 
Altruísmo 
Cooperação 
Empatia 
Compaixão 
Respeito às normas sociais 
 
Individualismo/Egoísmo paroxísticos 
Competitividade destrutiva 
Insensibilidade/Frieza 
Crueldade 
Violação das normas sociais 
Fingir/Mentir/Trapacear/Explorar 
Fuga da escola e de casa 
Debochar/Humilhar/Implicar/Ofender 
“Bullying” 
Vandalismo 
Comportamento Violento/Ameaçar 
Roubar/Furtar 
Usar drogas
Destruir/Matar 
 
Um aspecto importante para a definição de comportamento 
antissocial é que este exerce uma função na relação do indivíduo 
com o ambiente social (PATTERSON & cols., 1992). Embora 
seja uma forma primitiva de enfrentamento, este comportamento é 
efetivo para modificar o ambiente. Indivíduos antissociais 
utilizam comportamentos aversivos para modelar e manipular as pessoas à sua volta 
e, devido a sua efetividade, esse padrão pode se tornar a principal forma desses 
indivíduos interagirem e lidarem com as outras pessoas (PATTERSON & cols., 
1992). 
A efetividade do comportamento antissocial está relacionada principalmente às 
características da interação familiar, à medida que os membros da família treinam 
diretamente esse padrão comportamental na criança. Os pais, em geral, não são 
contingentes no uso de reforçadores positivos para iniciativas pró-sociais e fracassam 
no uso efetivo de técnicas disciplinares para enfraquecer os comportamentos 
desviantes. Além disso, essas famílias se caracterizam pelo uso de uma disciplina 
severa e inconsistente com pouco envolvimento parental e pouco monitoramento e 
supervisão do comportamento da criança. 
31 
Patterson e colaboradores (1989) afirmam que em algumas ocasiões o 
comportamento é reforçado positivamente, através de atenção ou aprovação, mas a 
principal forma de manutenção deste padrão ocorre por meio de reforçamento 
negativo, ou condicionamento de esquiva. Em geral, a criança utiliza-se de 
comportamentos aversivos para interromper a solicitação ou a exigência de um outro 
membro da família. Ainda segundo os autores, a aprendizagem do comportamento 
antissocial ocorreria paralelamente a um déficit na aquisição de habilidades pró-
sociais. Desta forma, essas famílias parecem desenvolver crianças com dois 
problemas: alta frequência de comportamentos antissociais e pouca habilidade social 
(BOLSONI-SILVA & MARTURANO, 2002; PATTERSON & cols., 2000). 
Dessa forma, os comportamentos antissociais que ocorrem na 
infância são protótipos de comportamentos delinquentes que 
poderão acontecer mais tarde. A delinquência, então, representa 
um agravamento de um padrão antissocial que inicia na infância 
e, normalmente, persiste na adolescência e na vida adulta 
(FARRINGTON, 1995; VEIRMEIREN, 2003). 
 
REFLEXÃO 
 
O ATO INFRACIONAL E AS DEPENDÊNCIAS RELACIONAIS AFETIVAS 
 
“[...] Podemos continuar nossa reflexão, abordando uma outra dimensão traçada neste 
estudo, que se refere às dependências de contexto. Os adolescentes apontam uma estreita 
relação entre o contexto e as práticas infracionais. 
Quanto às dependências relacionais afetivas, existe um potencial afetivo importante na 
família. Os adolescentes entrevistados descrevem um forte vínculo com a mãe, revelando 
o seu papel protetivo, acolhedor e de defesa, valorizando seu vínculo emocional com ela. 
Este é, muitas das vezes, o vínculo mais forte apresentado pelo adolescente em conflito com a lei em relação 
à sua rede social. Ao passo que a mãe protege o adolescente, este também age no mesmo sentido, procurando 
mostrar sua admiração, confiança, lealdade e proteção em relação a ela. Por isso, a atuação da mãe neste 
contexto infracional pode trazer grandes contribuições para as possíveis mudanças de comportamento e 
desenvolvimento emocional adequado do filho. 
No entanto, existe o duplo vínculo aditivo (Colle, 1996) que se estabelece na relação mãe-filho. As mães são 
permissivas ao comportamento transgressor do filho, chegando a negar a situação ou a guardar segredo do 
problema, fingindo não ver o que está acontecendo, com a intenção de minimizar os riscos e resolver o 
problema sozinhas. Esta já não é somente uma proteção, mas uma superproteção. Os filhos acabam por não 
se responsabilizarem por seus atos, pois contam com o apoio delas. Podemos ainda inferir a ausência de 
autoridade parental na vida destes jovens, quando falam sobre a atitude dos pais diante de seus 
comportamentos transgressores. A presença parental deixa de existir quando os pais perdem sua voz ativa 
perante o adolescente (Omer, 2002). Muitas vezes a permissividade e a superproteção da mãe podem levar a 
esta falta de autoridade perante seus filhos. 
Os adolescentes também falam sobre a falta do pai. Em 20 entrevistas surgiram relatos acerca da perda 
(falecimento), desconhecimento (mora longe, não tem contato, o abandonou na infância) ou desqualificação 
do pai (característica esta representada pelo alcoolismo, violência, ausência de autoridade e não ser o 
provedor da família). 
A desestruturação de uma família, seja através do divórcio, da morte de algum membro, seja por razões 
socioeconômicas, pela ação direta da pobreza ou pela falta de cultura, não são fenômenos que, por si sós, 
levam à droga dição. Mas a ausência de afetividade dentro de um sistema familiar, esta sim, é a grande 
responsável pelo fenômeno da droga dição, pois, como afirma Kalina e cols.(1999), "a única coisa 
impossível de ser substituída é o amor" (p.182). 
Neste sentido, um outro aspecto que chama a atenção presente nas falas dos adolescentes, refere-se ao 
alcoolismo do pai, seguido de atos violentos. O adolescente sente a frustração pela falta de atenção, rejeição 
32 
ou abandono deste pai; sente a falta de uma qualidade no vínculo pai-filho: o pai sempre distante: a falta de 
intimidade e de disponibilidade dele em estar com o filho. Esta conduta do pai pode estar relacionada ao 
alcoolismo do mesmo, o que não elimina o sofrimento, a mágoa, a decepção do adolescente, que ainda não 
tem uma compreensão clara da influência do consumo de álcool do pai sobre a dinâmica familiar. O filho 
sente-se vitimado pelo pai e identificado com a mãe, como quando um adolescente coloca: "Estragou minha 
vida, estragou a vida da minha mãe..." Caberia melhor investigar como se explica esta situação do pai 
alcoolista na visão destes adolescentes. A figura paterna pode estar aparecendo como co-geradora do 
fenômeno aditivo e delituoso (Kalina & Cols., 1999). A função paterna fica comprometida, fazendo com que 
o jovem permaneça no vazio e procure "fora" a autoridade que não encontra "dentro" de casa (Omer, 2002). 
O ato infracional surge, então, como a busca deste pai, de uma autoridade, de uma lei que seja capaz de 
colocar limites, que "proíba" o adolescente de agir, mas que favoreça, em contrapartida, algum tipo de 
aproximação pai-filho. 
Do mesmo modo, há nas falas destes adolescentes a denúncia de usuários de drogas e antecedentes criminais 
na família como mediadores do vínculo. É interessante observar que 13 adolescentes entrevistados falaram 
sobre o alcoolismo do pai e/ou a presença de antecedentes criminais ou outros usuários de drogas na família. 
Esta questão nos leva a pensar no significado simbólico para o adolescente do comprometimento de algum 
membro da família com o álcool, as drogas ou os atos infracionais. Aparecem contradições nos relatos dos 
adolescentes, mostrando novamente aqui a questão do duplo vínculo aditivo que se estabelece na dinâmica 
familiar. Por um lado, veem as condutas "alcoolistas", aditivas, delituosas no sistema familiar como modelo 
(não há críticas em relação ao pai) e é o próprio sistema que os introduz na criminalidade e na adição 
(aprendem com o pai a beber, a traficar). Por outro lado, os adolescentes denunciam os membros do sistema, 
que se tornam inconvenientes quando perdem o controle. A falta de coerência no contexto familiar torna a 
relação ambivalente: abandono e regresso, aproximação e distanciamento, provocando nestes adolescentes 
sentimentos, por sua vez, também bastante contraditórios. Se em determinados momentos odeiam, rejeitam, 
estigmatizam seus familiares, em outros, amam, são cúmplices e os têm como exemplo. Podemos pensar
que 
toda esta situação é conflituosa e pode estar deixando o adolescente mais vulnerável para ficar fora de casa.” 
(PEREIRA; SUDBRACK, 2005) 
 
33 
MALDADE NA INFÂNCIA E NA ADOLESCÊNCIA: “BULLYING” 
 
Caracteriza atos de violência física ou psicológica, intencionais 
e repetidos, geralmente contra pessoas em desvantagem de 
poder, sem motivação aparente e que causa dor, angústia e 
humilhação a quem sofre. 
Os agressores no “bullying” são, comumente, pessoas 
antipáticas, arrogantes e desagradáveis. Alguns trabalhos 
sugerem que essas pessoas vêm de famílias pouco estruturadas, 
com pobre relacionamento afetivo entre seus membros, são 
debilmente supervisionados pelos pais e vivem em ambientes onde o modelo para 
solucionar problemas recomenda o uso de comportamento agressivo ou explosivo. 
Há fortes suspeitas de que as crianças ou jovens que praticam o “bullying” têm 
grande probabilidade de se tornarem adultos com comportamentos antissociais, 
psicopáticos e/ou violentos, tornando-se, inclusive, delinquentes ou criminosos. 
Normalmente o agressor acha que todos devem atender seus desejos de imediato e 
demonstra dificuldade de colocar-se no lugar do outro. 
Os meninos estão mais envolvidos com o “bullying” com uma frequência muito 
maior, tanto como autores quanto como alvos. Já entre as meninas, embora com 
menor frequência, o “bullying” também ocorre e se caracteriza, principalmente, como 
prática de exclusão ou difamação. [...] o conceito de “bullying” pode também ser 
aplicado na relação de pais e filhos e entre professor e aluno, 
citando como exemplos, aqueles adultos que ironizam, ofendem, 
expõe as dificuldades perante o grupo, excluem, fazem chantagens, 
colocam apelidos preconceituosos e têm a intenção de mostrar sua 
superioridade e poder, usando deste comportamento 
frequentemente. 
 
“CYBERBULLYING” 
 
“O ‘cyberbullying’ é uma variação da violência infligida a 
colegas por um grupo dominante, em geral na escola. Nessas 
situações, a tecnologia pode ser usada de várias formas. Por e-
mail, ‘twitter’, mensagens de celular ou outras mídias 
eletrônicas, crianças ou adolescentes são ofendidos e 
discriminados de forma cruel – e, muitas vezes, a humilhação é 
amplamente divulgada pela rede. Há casos em que os agressores conseguem acesso 
ao e-mail da vítima, fingem ser ela e enviam em seu nome mensagens desagradáveis 
para outras pessoas. 
Alguns sinais podem ser importantes para que adultos fiquem alertas, pois as vítimas 
muitas vezes não contam aos mais velhos seus problemas. É importante observar, por 
exemplo, se, depois de acessar a internet ou ler um SMS, o jovem parece mudado ou 
emocionado, se distancia de outros da mesma idade e seu desempenho escolar piora.” 
(Revista MenteCérebro, nº 210) 
 
34 
LEI JURÍDICA & LEI SIMBÓLICA 
 
“As pessoas estão confundindo desejo com direito!” (M.S.Cortella) 
 
Existem regras que servem para regular as relações dos homens entre si. 
Essas são chamadas de normas sociais ou leis jurídicas. Porém, poderá 
haver, ou não, no indivíduo uma lei estruturante que funcionará para lhe 
dar limites ao gozo. De forma simplificada, essa será chamada de Lei 
simbólica. “A Constituição, carta magna de um Estado, as leis, os 
estatutos e os regimentos institucionais são modalidades de expressão da 
Lei simbólica na cultura e visam ao enquadramento e a limitação do 
gozo de uma relação aos demais.” (QUINET, 2008) 
Freud (1856-1939), por exemplo, escreve que cada nova 
criança que chega ao mundo dos humanos está diante do dever 
de ter que dar conta do Complexo de Édipo
15
. Isso faz com que 
o complexo de Édipo, com a questão da barreira contra o 
incesto, se torne, de uma maneira simples, 
mas na verdade muito complexa, o que a 
psicanálise chama de Lei. Lei, portanto, que proíbe o incesto e que 
proíbe o parricídio, ou seja, o assassinato do pai. 
Assim, porque o ser humano é um ser que se organiza e se 
desenvolve intelectual e emocionalmente a partir do simbólico
16
, é 
pelo simbólico que a Lei será transmitida, via cultura. Estruturar emocionalmente o 
sentido fundamental da Lei (ou seja, o da interdição aos impulsos básicos), ocorrerá, 
principalmente, na infância mais tenra e dependerá das primeiras relações sociais da 
criança (ou seja, com a mãe e com o pai). O registro estruturante da Lei é o que 
possibilitará, futuramente, à adaptação e o desenvolvimento sadio às posteriores 
relações civilizadas (escola, grupos, sociedade etc.). 
 
A AUTORIDADE DOS PAIS 
 
“A autoridade não é um atributo individual das figuras 
paternas. A autoridade dos pais - e da escola, que também anda 
em apuros [...] - deriva de uma lei simbólica que interdita os 
excessos de gozo. Uma lei que deve valer para todos. O pai que 
“tem moral” com seus filhos é aquele que também se submete 
à mesma lei, traduzida em regras de civilidade, de respeito e da 
chamada boa educação.” (KEHL, M.R.) 
 
 
 
 
15 Para um maior aprofundamento sobre o complexo de Édipo, sugiro a leitura do seguinte texto: Configurações 
edípicas da contemporaneidade: reflexões sobre as novas formas de filiação, de Paulo Roberto Ceccarelli. Disponível 
em < http://www.editoraescuta.com.br/pulsional/161_07.pdf>. 
16 Simbólico, neste contexto, significa a capacidade humana de representar a realidade por signos linguísticos. 
 
(Leitura Complementar – Caderno de Psicologia – Psicologia – p. 422 a 429) 
35 
O GOZO PELA VIOLAÇÃO DA LEI: O TRAÇO PERVERSO 
 
Para o pensamento psicanalítico, o que se chama “perverso” é, no 
âmbito dos impulsos sexuais e de suas consequentes fantasias, a 
tendência a buscar a permanência de um gozo absoluto e ilimitado. 
De um gozo (primitivo, incestuoso e, portanto, infantil) que irá 
negar quaisquer restrições ou limites (ou seja, que irá negar a Lei). 
“O desafio e a transgressão são o exercício de buscar, incessantemente, 
garantir e esticar o usufruto do gozo, além de todos os limites que a 
cultura e o pacto civilizatório impõem ao Outro.” Perverso em 
psicanálise toma o sentido de desvio ou perturbação das formas consideradas 
“normais” (maduras, adultas, satisfatórias para o sujeito etc.) do gozo sexual. 
O sentido da negação, neste contexto, significa que o sujeito perverso reconhece a 
existência da lei, porém, a nega, ou seja, não a aceita, não a estrutura em sua 
personalidade. Analise a classificação a seguir: 
 
REFLEXÕES 
 
“O apelo capitalista ao consumo que sugere, pela mídia, valores e 
atitudes de não limite ao gozo e ao prazer imediato.” 
 
“A lei da palmada, atualmente em tramitação no 
Congresso Nacional.” 
 
36 
TEXTO COMPLEMENTAR 
 
Cariocas gostam de bandalha 
 
(ZUENIR VENTURA (O GLOBO, 26/11/08) 
 
A pesquisa publicada domingo pelo GLOBO, mostrando que só 
9% dos motoristas respeitam sinal de trânsito, confirma o que 
já se sabia observando o nosso dia-a-dia e o que Adriana 
Calcanhotto cantou na sua canção de amor ao Rio e ao seu 
povo: "Cariocas não gostam de sinal fechado." Gaúcha, ela foi 
generosa. Ao defeito apontado, contrapôs 15 qualidades positivas que enumera em 
graciosos versos: "Cariocas são bonitos/Cariocas são bacanas/Cariocas são 
sacanas/Cariocas são dourados" e por aí vai. Ela os chama ainda de modernos, 
espertos, diretos, alegres, sexy, que não gostam de dias nublados etc. Talvez por 
delicadeza de forasteira, ela não quis apontar uma verdade incômoda que explica todo 
o comportamento transgressor dos cariocas. Eles gostam de bandalha. 
E não apenas no trânsito, embora nesse quesito eles sejam imbatíveis. Gostam de 
fechar os cruzamentos, de debruçar sobre a buzina sem necessidade, de estacionar
nas 
calçadas, de parar em lugar proibido, de excesso de velocidade, de falar ao celular 
enquanto dirigem, de andar na contramão e de xingar quem insiste em se manter 
dentro da lei (me lembro da senhora ao volante esperando a luz verde, e um sujeito 
histérico gritando atrás: "Pensa que tá na Suécia, perua?") 
Assim, além de responsáveis por um dos mais caóticos trânsitos do planeta, os 
cariocas também são especialistas em delitos menores, para não falar nos grandes, 
como assaltos e homicídios. Costumam urinar em lugares públicos, desrespeitar filas 
("quem gosta de fila é paulista", já ouvi um furão dizer, sem esperar a vez), levar o 
cachorro para fazer cocô no calçadão, e gostam de falar alto e atender o celular no 
cinema, enquanto comentam o filme com o vizinho. 
Outro dia uma leitora mandou carta ao jornal relatando a cena que presenciou: um 
garoto estava chutando a cadeira da frente, quando a senhora virou-se e pediu que ele 
parasse. Sabe o que fez o acompanhante, provavelmente pai ou avô do menino? 
Passou, ele mesmo, a repetir o que o neto ou filho fazia antes. Não sem chamar a 
queixosa de maluca. Há pouco tempo assisti a coisa parecida numa sessão à tarde. 
Quando alguém fez psiu para um grupo de cafajestes que discutiam aos gritos, um 
deles revidou: "Psiu é a p..., os incomodados que se mudem." Essa é a nossa 
realidade: há cada vez menos lugares para os incomodados. Em matéria de civilidade, 
os sinais foram trocados. O desvio virou norma e a exceção, regra. 
37 
PERSONALIDADE E DOUTRINA JURÍDICA 
 
DÚVIDA 
 
Qual a diferença entre um “bem jurídico” 
e um “direito”? 
 
Bem jurídico – “Diz-se da coisa, material (quanto ao valor econômico) ou imaterial 
(quanto a um interesse moral), que constitui ou pode constituir o objeto de um 
direito.” Ex.: A vida, a honra, o patrimônio. 
(SIDOU, J.M.O. Dicionário Jurídico: Academia Brasileira de Letras Jurídicas. 10 ed. Rio de 
Janeiro: Forense Universitária, 2009.) 
 
Direito – “Faculdade legal de praticar ou deixar de praticar um ato. Prerrogativa, que 
alguém possui, de exigir de outrem a prática ou abstenção de certos atos, ou o 
respeito a situações que lhe aproveitam; jus. Faculdade concedida pela lei; poder 
legítimo.” (AURÉLIO). 
 
Personalidade “exprime a aptidão genérica para adquirir direitos e 
contrair obrigações.” (DINIZ, 2007, p. 114) 
 
 
 
“A personalidade consiste no conjunto de caracteres próprios da pessoa. A 
personalidade não é um direito, de modo que seria errôneo afirmar que o ser humano 
tem direito à personalidade. A personalidade é que apoia os direitos e deveres que 
dela irradiam, é o objeto de direito, é o primeiro bem da pessoa, que lhe pertence 
como primeira utilidade, para que ela possa ser o que é, para sobreviver e se adaptar 
às condições do ambiente em que se encontra, servindo-lhe de critério para aferir, 
adquirir e ordenar outros bens.” (GODOFFREDO TELLES JR. apud DINIZ, 2002, p. 
154) 
 
[...] “pode-se afirmar, que os direitos da personalidade são direitos subjetivos, que 
tem por objeto os elementos que constituem a personalidade do seu titular, 
considerada em seus aspectos físico, moral e intelectual. São direitos inatos e 
permanentes, nascem com a pessoa e a acompanham durante toda sua existência, 
tendo como finalidade primordial à proteção das qualidades e dos atributos essenciais 
da pessoa humana, de forma a salvaguardar sua dignidade e a impedir apropriações e 
agressões de particulares ou mesmo do poder público.” (NOCOLODI, 2003) 
 
 
38 
DANO PSICOLÓGICO (OU, PSÍQUICO) 
 
Por definição, o Dano Psíquico seria “uma Doença Psíquica nova na 
biografia de uma pessoa, relacionada causalmente com um evento 
traumático (acidente, doença, delito), que tenha resultado em um 
prejuízo das aptidões psíquicas prévias e que tenha caráter irreversível 
ou, ao menos durante longo tempo”. 
No direito penal o Dano Psíquico corresponde às “lesões graves que 
resultaram em prejuízo emocional provavelmente ou certamente 
incurável ou, menos drasticamente, em doença que incapacita por 
mais de trinta dias.” 
Em princípio, todo prejuízo emocional ocasionado por um acontecimento expressivo, 
seja uma doença profissional, acidente, delito, ou injúria emocional onde haja um 
responsável legal, pode ser susceptível de ressarcimento pecuniário (indenização). 
No dano psíquico há que se verificar o nexo causal entre o fato ocorrido e as 
alterações na personalidade do sujeito. Tal verificação se fará através de exame 
pericial (psiquiátrico ou psicológico). Neste caso, deverá ser verificado pela perícia se 
em função do ocorrido o sujeito tornou-se incapaz para 1. desempenhar suas tarefas 
habituais; 2. para trabalhar; 3. para ganhar dinheiro; 4. para relacionar-se; 5. para ser 
feliz. (adaptado de www.psiqweb.med.br) Analise o esquema abaixo: 
 
EVENTO
TRAUMÁTICO
PERSONALIDADE
ANTES DO EVENTO
TRAUMÁTICO
PERSONALIDADE
APÓS O EVENTO
TRAUMÁTICO
NEXO CAUSAL
ALTERAÇÃO PREJUDICAL DA PERSONALIDADE
PERÍCIA PSIQUIÁTRICA OU PSICOLÓGICA NO DANO PSÍQUICO
 
 
 
 
 
(3)VIDE AS ATIVIDADES PROPOSTAS PARA ESSES CONTEÚDOS! 
 
39 
O PROCESSO DE AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA NO JUDICIÁRIO 
 
A avaliação psicológica é entendida como o processo 
técnico-científico de coleta de dados, estudos e 
interpretação de informações a respeito dos fenômenos 
psicológicos, que são resultantes da relação do indivíduo 
com a sociedade, utilizando-se, para tanto, de estratégias 
psicológicas – métodos, técnicas e instrumentos. 
Os psicólogos, ao realizarem avaliações psicológicas, 
devem se basear exclusivamente nos instrumentais técnicos (entrevistas, testes, 
observações, dinâmicas de grupo, escuta, intervenções verbais) que se configuram 
como métodos e técnicas psicológicas para a coleta de dados, estudos e interpretações 
de informações a respeito da pessoa ou grupo atendidos. Esses instrumentais técnicos 
devem obedecer às condições mínimas requeridas de qualidade e de uso, devendo ser 
adequados ao que se propõem a investigar. 
 
A avaliação psicológica no judiciário 
 
“Ao psicólogo perito cabe fornecer um laudo [ou 
parecer] psicológico com informações pertinentes ao 
processo judicial e à problemática diagnosticada, 
visando auxiliar o magistrado na formação de seu 
convencimento sobre a decisão judicial a ser tomada, 
como forma de realização do direito objetivo das partes 
em oposição.[...] 
Para tanto, o psicólogo estabelece um planejamento de 
avaliação dos aspectos psicológicos implicados no caso atendido, com base no 
estudo dos autos, isto é, de todos os documentos e provas que compõem o processo 
judicial. Os instrumentos utilizados para fins de diagnósticos são escolhidos com base 
no conhecimento técnico sobre técnicas de exame psicológico, na formação teórica, 
nas condições institucionais para a realização do trabalho e na situação emocional dos 
implicados no processo judicial. Considera-se a especificidade da situação judicial, 
em que as pessoas não escolheram a intervenção do psicólogo e estão numa posição 
defensiva, procurando fazer prevalecer seus interesses sobre terceiros, com quem, em 
geral, mantém vínculos afetivos conflituosos.[...] 
Na atuação judiciária, a adequação dos instrumentos está relacionada à natureza do 
processo judicial (verificatório, contencioso), da natureza e gravidade das questões 
tratadas no processo (criança e adolescentes em situação de risco), do tempo 
institucional (urgência, data de audiência já fixada, número de casos agendados) e da 
livre escolha do profissional, conforme seu referencial técnico, filosófico e 
científico.[...] 
(BERNARDES In: CRUZ, MACIEL, RAMIREZ, 2005, p.71-80)
40 
Testes psicológicos 
 
“Testes psicológicos são uma medida padronizada de uma amostra 
do comportamento de uma pessoa. Eles são instrumentos de 
mensuração utilizados para medir as diferenças individuais entre 
as pessoas com relação a capacidades, aptidões, interesses e 
aspectos da personalidade.” (WEITEN, 2002, p. 251) 
Quanto à finalidade, os testes podem ser: testes de capacidade mental ou escalas de 
personalidade (escalas e não testes, pois nessas últimas não há uma resposta certa). 
Analise o gráfico a seguir: 
 
 
Resolução CFP Nº 002/2003 – “Art. 1º - Os Testes Psicológicos são instrumentos de 
avaliação ou mensuração de características psicológicas, constituindo-se um método 
ou uma técnica de uso privativo do psicólogo, em decorrência do que dispõe o § 1º do 
Art. 13 da Lei nº 4.119/62.” 
 
No Brasil, os Testes Psicológicos são regidos pela Res. Nº 002/2003, do Conselho 
Federal de Psicologia. Nessa Resolução são definidos critérios científicos rígidos à 
elaboração desses instrumentos de avaliação. O CFP mantém, inclusive, um Sistema 
de Avaliação de Testes Psicológicos (SATEPSI), sistema esse que submete os vários 
testes psicológicos disponíveis no mercado brasileiro a uma rigorosa avaliação 
científica. No site do CFP é publicada e atualizada constantemente a relação dos 
testes aprovados (= permitidos) e rejeitados (= proibidos) pelo SATEPSI. 
Por fim, há que se ter clareza sobre o seguinte ponto: um teste psicológico, por ser 
ater a uma amostra do comportamento, tal amostra pode não ser representativa, 
naquele momento, do comportamento característico de uma pessoa. Lembremo-nos, 
neste sentido, dos estados psicológicos. “Muitos testes psicológicos são mecanismos 
precisos de mensuração. No entanto, devido ao eterno problema da amostragem, os 
seus resultados não devem ser considerados como a palavra definitiva sobre a 
personalidade e as capacidades de uma pessoa.” (WEITEN, 2002, p. 251) 
 
41 
Perícia psicológica 
 
O exame pericial psicológico é uma espécie de avaliação 
psicológica “com a finalidade de elucidar fatos do interesse de 
autoridade judiciária, policial, administrativa ou, 
eventualmente, particular. Constitui-se, pois, em meio de 
prova, devendo o examinador proceder com permanente 
cautela devido a essa singularíssima condição.” (TABORDA, 
2004, p.43). 
“Conceitua-se perícia, pois, como o conjunto de procedimentos técnicos que tenha 
como finalidade o esclarecimento de um fato de interesse da Justiça; e, perito, o 
técnico incumbido pela autoridade de esclarecer fato da causa, auxiliando, assim, na 
formação de convencimento do juiz. 
Cabe ao psicólogo, portanto, enquanto perito, elaborar relatórios (Res. CFP nº 08/10) 
sobre os aspectos psicológicos dos jurisdicionados, os quais deverão ser apresentados 
à autoridade judicial. 
 
Perícia e dinâmica psicológica 
 
 
 
DOCUMENTOS EXARADOS PELOS  JURÍDICOS 
(De acordo com a Res. CFP nº 07/03) 
 
a) Atestado 
É um documento expedido pelo psicólogo que certifica uma determinada situação ou 
estado psicológico, tendo como finalidade afirmar sobre as condições psicológicas de 
quem, por requerimento, o solicita, com fins de: 
a) Justificar faltas e/ou impedimentos do solicitante; 
b) Justificar estar apto ou não para atividades específicas, após realização de um 
processo de avaliação psicológica, dentro do rigor técnico e ético que subscreve esta 
Resolução; 
c) Solicitar afastamento e/ou dispensa do solicitante, subsidiado na afirmação 
atestada do fato, em acordo com o disposto na Resolução CFP nº 015/96. (Res. que 
regulamenta a concessão de Atestado Psicológico para tratamento de saúde por 
problemas psicológicos). 
 
b) Relatório (ou, Laudo Psicológico) 
O relatório ou laudo psicológico é uma apresentação descritiva acerca de situações 
e/ou condições psicológicas e suas determinações históricas, sociais, políticas e 
culturais, pesquisadas no processo de avaliação psicológica. Como todo documento, 
42 
deve ser subsidiado em dados colhidos e analisados, à luz de um instrumental técnico 
(entrevistas, dinâmicas, testes psicológicos, observação, exame psíquico, intervenção 
verbal), consubstanciado em referencial técnico-filosófico e científico adotado pelo 
psicólogo. 
A finalidade do relatório psicológico será a de apresentar os procedimentos e 
conclusões gerados pelo processo da avaliação psicológica, relatando sobre o 
encaminhamento, as intervenções, o diagnóstico, o prognóstico e evolução do caso, 
orientação e sugestão de projeto terapêutico, bem como, caso necessário, solicitação 
de acompanhamento psicológico, limitando-se a fornecer somente as informações 
necessárias relacionadas à demanda, solicitação ou petição. 
 
c) Parecer psicológico 
Parecer é um documento fundamentado e resumido sobre uma questão focal do 
campo psicológico cujo resultado pode ser indicativo ou conclusivo. 
O parecer tem como finalidade apresentar resposta esclarecedora, no campo do 
conhecimento psicológico, através de uma avaliação especializada, de uma “questão-
problema”, visando a dirimir dúvidas que estão interferindo na decisão, sendo, 
portanto, uma resposta a uma consulta, que exige de quem responde competência no 
assunto. 
O psicólogo parecerista deve fazer a análise do problema apresentado, destacando os 
aspectos relevantes e opinar a respeito, considerando os quesitos apontados e com 
fundamento em referencial teórico-científico. 
Havendo quesitos, o psicólogo deve respondê-los de forma sintética e convincente, 
não deixando nenhum quesito sem resposta. Quando não houver dados para a 
resposta ou quando o psicólogo não puder ser categórico, deve-se utilizar a expressão 
“sem elementos de convicção”. Se o quesito estiver mal formulado, pode-se afirmar 
“prejudicado”, “sem elementos” ou “aguarda evolução”. 
 
d) Declarações 
É um documento que visa a informar a ocorrência de fatos ou situações objetivas 
relacionados ao atendimento psicológico, com a finalidade de declarar: 
a) Comparecimentos do atendido e/ou do seu acompanhante, quando necessário; 
b) Acompanhamento psicológico do atendido; 
c) Informações sobre as condições do atendimento (tempo de acompanhamento, dias 
ou horários). 
Neste documento não deve ser feito o registro de sintomas, situações ou estados 
psicológicos. 
 
Obs.: Os Atestados e os Laudos são documentos exarados a partir de Avaliações 
Psicológicas. Já os Pareceres e as Declarações, não. Um Parecer, p.ex., pode ser 
exarado a partir de uma consulta sobre alguma questão pontual, o que não implica, 
necessariamente, a realização de uma Avaliação Psicológica. 
 
(4)VIDE AS ATIVIDADES PROPOSTAS PARA ESSES CONTEÚDOS! 
 
43 
A FAMÍLIA 
 
Família – do latim “famulus”, que significa um conjunto de 
servos e dependentes de um chefe ou senhor. 
 
 
Família = Instituição Social = Funções: 1. proteger as novas 
gerações; 2. reproduzir os “status quo17” social a partir dos 
processos de socialização. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
DÚVIDA! 
 
As mudanças internas na constituição das famílias promoveriam mudanças sociais 
posteriores, ou são as mudanças sociais (valores, costumes etc) que promoveriam 
mudanças nas famílias? Justifique. 
 
 e FAMÍLIA 
 
“Do ponto de vista psicológico, podemos dizer que a 
família humana é uma estrutura de cuidado. E cuidar não 
se limita a alimentar e proteger; implica também 
socializar, permitir que alguém se desenvolva como um 
membro do seu grupo social. A função do cuidador 
consiste primeiro em estar disponível e pronto a atender 
quando solicitado e, segundo, intervir quando aquele a 
quem se cuida parece estar prestes
a se meter em apuros, 
além de impor também limites e normas de convivência social e familiar. (LASTA, 
S. 2003) 
 
 
17 Status quo – Expressão latina. Significa o estado em que se achava anteriormente certa questão. (AURÉLIO) 
Família e Sociedade 
44 
RECORDAÇÃO 
PERÍODOS DA HISTÓRIA 
Pré-história 
(até 4. 000 a.C.) 
 
Compreende os períodos Paleolítico (até 
10.000 a.C.) quando os homens viviam da 
caça e da coleta, eram nômades (não tinham 
habitação fixa) e viviam coletivamente; e o 
período Neolítico (10.000 - 4.000 a.C.): 
quando ocorre a revolução agrária: o homem 
tornou-se sedentário (tem habitação fixa). 
Teve início a transição do coletivismo para o 
individualismo. Agrupados em comunidade, 
firmaram os rudimentos (primeiras noções) 
das trocas, da propriedade e da urbanidade. 
 
Idade Antiga 
(de 4.000 a.C. – 476 d.C.) 
 
Abrange o desenvolvimento das antigas 
civilizações orientais e clássicas (egípcia, 
mesopotâmica, hebraica, persa, grega, romana 
etc.) terminando na queda do Império Romano 
do Ocidente (476 d.C.) 
 
 
Idade Média 
(de 476 d.C. – 1453) 
 
 
Compreendida entre a queda do Império 
Romano do Ocidente e a 
tomada de Constantinopla 
pelos turcos (1453). 
Sistema econômico 
feudal. 
Século XI – Surgimento 
da classe burguesa (Ideias 
de “Individualidade, 
Liberdade e Privacidade”). 
 
 
Idade Moderna 
(1453 – 1789) 
 
 
Que principia com a queda de Constantinopla 
e termina com a Revolução Francesa de 1789. 
“Liberdade, Igualdade e Fraternidade.” 
Século XVI (31/10/1517) Reforma 
Protestante: Lutero afixou 95 teses na Catedral 
de Wittenberg na Alemanha contra diversos 
pontos da doutrina católica. “O justo viverá da 
fé” – Rom. 1:17; Gal. 3:11; Heb. 10:38 (Bíblia 
Sagrada) –“Sola Fide, Sola Gratia, Sola 
Scriptura, Solus Christus, Soli Deo Gloria.” 
 
 
 
 
Idade Contemporânea 
(1789 – até os dias atuais) 
 
Na transição do século XVII para o século 
XVIII, a Revolução Industrial, na Inglaterra, o 
desenvolvimento da Ciência e das 
Tecnologias. 
 
(Martinho Lutero – 1483-1546) 
 
45 
TEXTO DE APOIO 
 
A família no ocidente 
Philippe Ariès (1914-1984) foi um dos mais importantes historiadores 
europeus da atualidade. Em seu livro “História Social da Criança e da 
Família” (1986) postula que o sentimento de família era desconhecido 
na Idade Média (período histórico que vai do ano 476 d.C. até 1453) à 
semelhança do que ocorria quando do período romano. Na Idade Média 
as pessoas de posse e os nobres percebiam-se solidariamente como oriundos de uma 
mesma linhagem, linhagem essa determinada pelo vínculo sanguíneo entre elas. Tal 
percepção servia, principalmente, a preservação e a indivisão do patrimônio dessas 
linhagens. Seus laços intrafamiliares não eram estreitos pois desfrutavam das 
proteções e licenciosidades das instituições públicas de poder (os Estados). De forma 
diversa, quando uma família se constituía essa não se estendia a toda linhagem 
(“compreendia, entre os membros que residiam juntos, vários elementos, e, às vezes, 
vários casais, que viviam numa propriedade que eles se haviam recusado dividir, 
segundo um tipo de posse chamado frereche ou fraternitas. A frereche agrupava em 
torno dos pais os filhos que não tinham bens próprios, os sobrinhos ou os primos 
solteiros.” - 1986, p. 211) Segundo Ariès, as fraternitas tendiam a não passar das 
segundas gerações. 
Os aldeões, no entanto, despossuídos que eram de 
riquezas e das benesses dos Estados organizavam-se 
solidaria e cooperativamente em comunidades maiores 
onde viviam não só com parentes
18
, mas também 
amigos, vizinhos etc. Tais aldeias atendiam tanto as 
necessidades de sobrevivência como de segurança 
daqueles aldeões. 
A partir do século XIV desenvolve-se com mais intensidade o padrão de família que 
hoje conhecemos: a família moderna – ou seja, pai, mãe, filhos naturais e, 
eventualmente, adotivos. Um dos fatores implicados com o surgimento desse novo 
padrão de família é a “[...] degradação progressiva e lenta da situação da mulher no 
lar. Ela perde o direito de substituir o marido ausente ou louco... Finalmente, no 
século XVI, a mulher casada torna-se uma incapaz, e todos os atos que faz sem ser 
autorizada pelo marido ou pela justiça tornam-se radicalmente nulos. Essa evolução 
reforça os poderes do marido, que acaba por estabelecer uma espécie de monarquia 
doméstica.” (1986, p.214) 
Outro ponto importante que caracterizou o surgimento da família moderna foram as 
mudanças de atitude das famílias em relação às crianças. Ariés postula que no 
período medieval era costume que os filhos permanecessem com seus pais até por 
volta dos sete a nove anos de idade. Atingidas essas idades eram cedidos a outras 
casas ou organizações (ateliês de artes, oficinas, manufaturas, estalagens etc) por um 
período que durava em média de oito a dez anos, para que lá trabalhassem de forma 
 
18
 Essas grandes grupos familiares são chamados, pela antropologia, de “famílias extensas”, ou seja, um grande grupo 
familiar constituído por várias células familiares. 
 
46 
dura em todos os serviços domésticos e profissionais. O objetivo desse costume era o 
de aprendizagem: aprendizagem de boas maneiras bem como de uma determinada 
profissão (a dos hospedeiros e mestres). Da mesma forma, as famílias que cediam 
seus filhos, acolhiam os filhos de outras famílias com a mesma finalidade. “Era 
através do serviço doméstico que o mestre transmitia a uma criança, não ao seu filho, 
mas ao filho de outro homem, a bagagem de conhecimentos, a experiência prática e o 
valor humano que pudesse possuir.” (1986, p. 228) “De modo geral, a transmissão do 
conhecimento de uma geração a outra era garantida pela participação familiar das 
crianças na vida dos adultos. [...] Em suma, em toda parte onde se trabalhava, e 
também em toda parte onde se jogava ou brincava, mesmo nas tavernas mal-
afamadas, as crianças se misturavam aos adultos. [...] Nessas condições, a criança 
desde muito cedo escapava a sua própria família, mesmo que voltasse a ele mais 
tarde, depois de adulta, o que nem sempre ocorria. A família não podia, portanto, 
nessa época, alimentar um sentimento existencial profundo entre pais e filhos. Isso 
não significava que os pais não amassem seus filhos: eles se ocupavam de suas 
crianças menos por elas mesmas, pelo apego que lhes tinham, do que pela 
contribuição que essas crianças podiam trazer à obra comum, ao estabelecimento da 
família. A família era uma realidade moral e social, mais do que sentimental.” (1986, 
p. 230-231) 
Foi somente a partir do século XV que os sentimentos familiares ganham maior 
ênfase. Ariés postula que o principal fator a demonstrar tais mudanças foi a maior 
frequência escolar das crianças. “Dessa época em diante, ao contrário, a educação 
passou a ser fornecida cada vez mais pela escola. A escola deixou de ser reservada 
aos clérigos para se tornar instrumento normal da iniciação social, da passagem do 
estado da infância ao do adulto. [...] A substituição da aprendizagem pela escola 
exprime também uma aproximação da família e das crianças, do sentimento da 
família e do sentimento da infância, outrora separados. A família concentrou-se em 
torno da criança. [...] O clima sentimental era agora diferente, mais próximo ao nosso, 
como se a família moderna tivesse nascido ao mesmo tempo que a escola, ou, ao 
menos, que o hábito geral de educar as crianças na escola. (1986, p. 231-232) 
 
A FAMÍLIA NUCLEAR (ou, MODERNA) 
 
Constituída
por pai, mãe, filhos naturais e adotados residentes na 
mesma casa e ausência de outros parentes. 
A família nuclear está associada ao isolamento social e à falta de 
contato com parentes e, como resultado, a uma grande variedade 
de problemas, como a sobrecarga de papéis. 
A família nuclear é fruto da influência dos princípios e 
aspirações burguesas quais sejam, o valor à individualidade, o 
direito à liberdade do indivíduo e o direito à vida privada. 
 
47 
PRINCIPAIS MUDANÇAS NA FAMÍLIA NUCLEAR 
 
O casamento a partir da livre escolha dos cônjuges (ênfase ao amor romântico entre o 
casal); 
A família enquanto núcleo de afeto e proteção; 
A definição clara de papéis: o homem como provedor do lar (destinado ao espaço 
público) e a mulher como cuidadora, encarregada da vida particular (destinada, 
portanto, ao espaço particular). 
 
AS FAMÍLIAS PÓS-MODERNAS 
 
As famílias monoparentais. 
 
 
 
 
 
 
 
 
As famílias homoafetivas (ou, 
homossexuais
19
) 
 
 
 
 
 
INFORMAÇÕES 
 
Quinta-feira, 05 de maio de 2011 – SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL 
Supremo reconhece união homoafetiva. 
Os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), ao julgarem a Ação Direta de 
Inconstitucionalidade (ADI) 4277 e a Arguição de Descumprimento de Preceito 
Fundamental (ADPF) 132, reconheceram a união estável para casais do mesmo sexo. As 
ações foram ajuizadas na Corte, respectivamente, pela Procuradoria-Geral da República e 
pelo governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral. 
O julgamento começou na tarde de ontem (4), quando o relator das ações, ministro Ayres 
Britto, votou no sentido de dar interpretação conforme a Constituição Federal para excluir 
qualquer significado do artigo 1.723 do Código Civil que impeça o reconhecimento da 
união entre pessoas do mesmo sexo como entidade familiar. 
O ministro Ayres Britto argumentou que o artigo 3º, inciso IV, da CF veda qualquer 
discriminação em virtude de sexo, raça, cor e que, nesse sentido, ninguém pode ser 
 
19 Para um maior aprofundamento sobre este tema, sugiro a leitura do seguinte texto: Configurações edípicas da 
contemporaneidade: reflexões sobre as novas formas de filiação, de Paulo Roberto Ceccarelli. Disponível em < 
http://www.editoraescuta.com.br/pulsional/161_07.pdf>. 
48 
diminuído ou discriminado em função de sua preferência sexual. “O sexo das pessoas, salvo 
disposição contrária, não se presta para desigualação jurídica”, observou o ministro, para 
concluir que qualquer depreciação da união estável homoafetiva colide, portanto, com o 
inciso IV do artigo 3º da CF. [...] 
Ações 
A ADI 4277 foi protocolada na Corte inicialmente como ADPF 178. A ação buscou a 
declaração de reconhecimento da união entre pessoas do mesmo sexo como entidade 
familiar. Pediu, também, que os mesmos direitos e deveres dos companheiros nas uniões 
estáveis fossem estendidos aos companheiros nas uniões entre pessoas do mesmo sexo. 
Já na Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 132, o governo do 
Estado do Rio de Janeiro (RJ) alegou que o não reconhecimento da união homoafetiva 
contraria preceitos fundamentais como igualdade, liberdade (da qual decorre a autonomia da 
vontade) e o princípio da dignidade da pessoa humana, todos da Constituição Federal. Com 
esse argumento, pediu que o STF aplicasse o regime jurídico das uniões estáveis, previsto 
no artigo 1.723 do Código Civil, às uniões homoafetivas de funcionários públicos civis do 
Rio de Janeiro. 
(Fonte: http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=178931) 
 
Terça-feira, 25 de Outubro de 2011 – SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA 
DECISÃO 
Quarta Turma admite casamento entre pessoas do mesmo sexo. 
Em decisão inédita, a Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ), por maioria, 
proveu recurso de duas mulheres que pediam para ser habilitadas ao casamento civil. 
Seguindo o voto do relator, ministro Luis Felipe Salomão, a Turma concluiu que a 
dignidade da pessoa humana, consagrada pela Constituição, não é aumentada nem 
diminuída em razão do uso da sexualidade, e que a orientação sexual não pode servir de 
pretexto para excluir famílias da proteção jurídica representada pelo casamento. [...] 
“Por consequência, o mesmo raciocínio utilizado, tanto pelo STJ quanto pelo Supremo 
Tribunal Federal (STF), para conceder aos pares homoafetivos os direitos decorrentes da 
união estável, deve ser utilizado para lhes franquear a via do casamento civil, mesmo porque 
é a própria Constituição Federal que determina a facilitação da conversão da união estável 
em casamento”, concluiu Salomão. 
Em seu voto-vista, o ministro Marco Buzzi destacou que a união homoafetiva é reconhecida 
como família. Se o fundamento de existência das normas de família consiste precisamente 
em gerar proteção jurídica ao núcleo familiar, e se o casamento é o principal instrumento 
para essa opção, seria despropositado concluir que esse elemento não pode alcançar os 
casais homoafetivos. Segundo ele, tolerância e preconceito não se mostram admissíveis no 
atual estágio do desenvolvimento humano. [...] 
O recurso foi interposto por duas cidadãs residentes no Rio Grande do Sul, que já vivem em 
união estável e tiveram o pedido de habilitação para o casamento negado em primeira e 
segunda instância. A decisão do tribunal gaúcho afirmou não haver possibilidade jurídica 
para o pedido, pois só o Poder Legislativo teria competência para insituir o casamento 
homoafetivo. No recurso especial dirigido ao STJ, elas sustentaram não existir impedimento 
no ordenamento jurídico para o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Afirmaram, 
também, que deveria ser aplicada ao caso a regra de direito privado segundo a qual é 
permitido o que não é expressamente proibido. 
(Fonte: STJ, 25/10/2011) 
 
49 
CRITÉRIOS PARA O ESTABELECIMENTO DA PATERNIDADE NO 
DIREITO BRASILEIRO 
 
CONCEITO 
 
PATERNIDADE – “Condição do pai em relação aos filhos, quanto aos direitos e 
obrigações. Obs.: O vocábulo é comum tanto ao pai como à mãe, dado que o 
feminino etimológico maternidade tem outro sentido.” (DICIONÁRIO JURÍDICO) 
 
CRITÉRIOS 
 
1º) Presunção legal – Somente para os filhos havidos no casamento. Por 
esse critério excluíam-se os chamados “filhos bastardos”, ou seja, os 
havidos fora do casamento. 
 
2º) Biológico – Critério que estabelece a paternidade a partir da 
constatação científica (via exames de DNA, p.ex.) da descendência 
biológica, ou, laço consanguíneo. 
 
3º) Socioafetivo – Critério que poderá estabelecer a paternidade a partir 
dos vínculos de afinidade e afetividade, independentemente de qualquer 
laço consanguíneo. 
 
Obs.: No direito brasileiro estão positivados somente os dois primeiros critérios 
(quais sejam, o legal e o biológico). Porém, em processos de adoção, por exemplo, o 
critério afetivo é largamente aceito. 
 
DÚVIDA 
Os vínculos de paternidade, uma vez estabelecidos legalmente, são inextinguíveis. 
Porém, discute-se atualmente no direito a seguinte questão: Caso o vínculo legal de 
paternidade tenha sido estabelecido a partir do critério afetivo (p. ex., numa adoção), 
extinta essa afetividade e afinidade entre “pais” e “filhos”, pelo motivo que for, deve 
também o vínculo legal de paternidade ser extinto? JUSTIFIQUE: 
 
50 
ALIENAÇÃO PARENTAL e SÍNDROME DE ALIENAÇÃO PARENTAL 
 
A Síndrome de Alienação Parental (SAP) é um distúrbio 
psicológico de crianças e adolescentes que aparece quase 
exclusivamente no contexto de disputas de custódia quando em 
processos de separação (importante não confundir com 
Alienação Parental, pura e simplesmente,
que caracteriza as 
ações caluniadoras e difamatórias do genitor alienador em 
relação ao genitor alienado). 
Sua manifestação preliminar é a campanha denegritória contra 
um dos genitores, uma campanha feita pelo próprio filho e que 
não tenha nenhuma justificação. Resulta da combinação das instruções de um genitor 
(o que faz a “lavagem cerebral, programação, doutrinação”) e contribuições do 
próprio filho para caluniar o genitor-alvo. Importante: quando o abuso e/ou a 
negligência parentais verdadeiros estão presentes, a animosidade da criança pode ser 
justificada, e assim a explicação de SAP para a hostilidade do filho não é aplicável 
 
SAP – PRINCIPAIS SINTOMAS 
Sintomas Característica 
Campanha de descrédito Esta campanha se manifesta verbalmente e nas atitudes. 
Justificativas fúteis 
O filho dá pretextos fúteis, com pouca credibilidade ou absurdos, 
para justificar a atitude. 
Situações fingidas 
O filho conta casos que manifestadamente não viveu, ou que 
ouviu contar (“memória implantada”). 
Ausência de 
ambivalência 
O filho está absolutamente seguro de si, e seu sentimento 
exprimido pelo genitor alienado é maquinal e sem equívoco: é o 
ódio. 
Ausência de culpa 
O filho não sente nenhuma culpa por denegrir ou explorar o 
genitor alienado. 
Fenômeno de 
independência 
O filho afirma que ninguém o influenciou e que chegou sozinho 
a esta conclusão. 
Sustentação 
deliberada. 
O filho adota, de uma forma racional, a defesa do genitor 
alienador no conflito. 
Generalização a outros 
membros da família do 
alienado. 
O filho estende sua animosidade para a família e amigos do 
genitor alienado. 
 
51 
SAP - CONSEQUÊNCIAS PSICOLÓGICAS PARA OS FILHOS 
 
Os efeitos nos jovens vítimas da SAP podem ser uma depressão crônica, 
incapacidade de adaptação em ambiente psicossocial normal, desespero, 
sentimento incontrolável de culpa, sentimento de isolamento, 
comportamento hostil, falta de organização, dupla personalidade e às 
vezes suicídio. Esses jovens podem tornar-se mentirosos e 
manipuladores, como os genitores de que foram 
vítimas. Isto porque desde muito cedo são treinados 
para falar apenas uma parte da verdade. Estudos têm mostrado 
que, quando adultas, as vítimas da Alienação Parental têm 
inclinação ao álcool e às drogas, e apresentam outros sintomas de 
profundo mal-estar. 
 
DICA CINEMATOGRÁFICA 
 
Assista o documentário “A morte inventada: 
alienação parental”, direção de Alan Minas. 
(www.amorteinventada.com.br) 
 
 
DICA DE PESQUISA 
 
1. Para maiores informações sobre Alienação Parental visite o site 
www.alienacaoparental.com.br; 
2. Faça uma leitura da LEI Nº 12.318, de 26/08/2010 que dispõe sobre a 
alienação parental e altera o art. 236 da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. 
 
52 
GUARDA COMPARTILHADA 
 
LEI Nº 11.698, de 13/06/08 
Altera os arts. 1.583 e 1.584 da Lei no 10.406, de 10 de 
janeiro de 2002 – Código Civil, para instituir e 
disciplinar a guarda compartilhada. 
 
Art. 1
o
 Os arts. 1.583 e 1.584 da Lei n
o
 10.406, de 10 de 
janeiro de 2002 – Código Civil, passam a vigorar com a 
seguinte redação: 
Art. 1.583. A guarda será unilateral ou compartilhada. 
§ 1
o
 Compreende-se por guarda unilateral a atribuída a um só dos genitores ou a 
alguém que o substitua (art. 1.584, § 5
o
) e, por guarda compartilhada a 
responsabilização conjunta e o exercício de direitos e deveres do pai e da mãe que 
não vivam sob o mesmo teto, concernentes ao poder familiar dos filhos comuns. 
§ 2
o
 A guarda unilateral será atribuída ao genitor que revele melhores condições para 
exercê-la e, objetivamente, mais aptidão para propiciar aos filhos os seguintes fatores: 
I – afeto nas relações com o genitor e com o grupo familiar; 
II – saúde e segurança; 
III – educação. 
§ 3
o
 A guarda unilateral obriga o pai ou a mãe que não a detenha a supervisionar os 
interesses dos filhos. 
Art. 1.584. A guarda, unilateral ou compartilhada, poderá ser: 
§ 2
o
 Quando não houver acordo entre a mãe e o pai quanto à guarda do filho, 
será aplicada, sempre que possível, a guarda compartilhada. 
§ 3
o
 Para estabelecer as atribuições do pai e da mãe e os períodos de convivência sob 
guarda compartilhada, o juiz, de ofício ou a requerimento do Ministério Público, 
poderá basear-se em orientação técnico-profissional ou de equipe interdisciplinar. 
 
DISCUSSÃO 
 
O instituto da Guarda Compartilhada poderá ser um instrumento contra potenciais 
processos de alienação parental, quando das dissoluções conjugais? Justifique: 
 
 
 
 
FIXAÇÃO - Caderno de Psicologia – Introdução à Psicologia – p. 19 a 20 e, 
Psicologia Social – p. 200, 205, 281 e 282) 
53 
A QUESTÃO DE GÊNERO 
 
 
 
 
 
 
CONCEITOS 
 
1º) SEXO - refere-se às características biológicas de homens e 
mulheres, ou seja, às características específicas dos aparelhos 
reprodutores femininos e masculinos, ao seu funcionamento e aos 
caracteres sexuais secundários decorrentes dos hormônios. 
 
2º) GÊNERO - refere-se às relações sociais desiguais de poder entre 
homens e mulheres que são o resultado de uma construção social do 
papel do homem e da mulher a partir das diferenças sexuais. 
 
3º) IDENTIFICAÇÃO SEXUAL – a partir do referencial psicanalítico 
tal conceito se referiria à constituição do desejo sexual de um indivíduo. 
Ou seja, ao gênero sexual objeto do gozo sexual. Neste sentido, um 
indivíduo pode desejar o seu mesmo gênero (homo), o gênero oposto 
(hetero) ou ambos os gêneros (bi). 
 
 
REFLEXÃO 
 
O papel do homem e da mulher é constituído 
histórica e culturalmente; portanto, muda 
conforme a sociedade e o tempo. 
 
 
 
54 
O PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DOS PAPÉIS DE GÊNERO 
 
Mulheres 
 
Desde meninas as mulheres são incentivadas a serem 
passivas, sensíveis, frágeis, dependentes e todos os 
brinquedos e jogos infantis reforçam o seu papel de mãe, 
dona de casa, e consequentemente responsável por todas as 
tarefas relacionadas ao cuidado dos filhos e da casa. Ou 
seja, as meninas brincam de boneca, de casinha, de fazer 
comida, de limpar a casa, tudo isto dentro do lar. 
 
Homens 
Os meninos brincam em espaços abertos, na rua. Eles jogam 
bola, brincam de carrinho, de guerra etc. Ou seja, desde 
pequenos eles se dão conta que 
pertencem ao grupo que tem poder. Até 
nos jogos os meninos comandam. 
Ninguém os manda arrumar a cama, ou 
lavar a louça, eles são incentivados a 
serem fortes, independentes, valentes. 
 
INFORMAÇÃO 
 
As relações de gênero são, portanto, produto de um processo pedagógico que se inicia 
no nascimento e continua ao longo de toda a vida, reforçando a desigualdade 
existente entre homens e mulheres, principalmente em torno de quatro eixos: 
 
1º) Sexualidade 
Mulheres 
 
A sexualidade na mulher tem sido relacionada com a 
reprodução, ou seja, para a mulher o centro da sexualidade é a 
reprodução e não o prazer. A sexualidade reduzida à 
genitalidade se apresenta para as mulheres como algo 
vergonhoso, proibido. 
De um modo geral podemos dizer 
que as mulheres desde que nascem 
são educadas para serem mães, para 
cuidar dos outros, para “dar prazer ao outro”. A sua 
sexualidade é negada, reprimida e temida. 
 
 
 
55 
VOCÊ SABIA? 
 
A mutilação sexual consiste na extração do clitóris. É uma 
prática comum em certas comunidades, geralmente para inibir o 
prazer sexual. A mutilação pode ser permanente ou temporária. 
 
Homens 
 
Os homens, ao contrário das mulheres, recebem mensagens e 
são preparados para viver o prazer
da sexualidade através do seu 
corpo, já que socialmente o exercício da sexualidade no homem 
é sinal de masculinidade. 
 
 
2º) Reprodução 
 
A mulher pode gerar um filho, e isto que em si é uma fonte de 
poder tem sido controlado e tem determinado outros papéis 
diminuindo as possibilidades e limitando a vida das mulheres em 
outros âmbitos, como por exemplo, no campo do trabalho. 
 
 
 
3º) Divisão sexual do trabalho 
 
Provavelmente pelo fato biológico que a mulher é 
quem engravida e dá de mamar, tem sido atribuído 
a ela a totalidade do trabalho reprodutivo. Às 
mulheres, portanto, se atribui o ficar em casa, 
cuidar dos filhos e realizar o trabalho doméstico, 
desvalorizado pela sociedade e que deixava as 
mulheres “donas de casas” limitadas ao mundo do 
lar; com menos possibilidade de educação, menos acesso à informação, menos acesso 
à formação profissional etc. 
 
4º) Espaço público e reconhecimento da cidadania 
 
Embora nos dias de hoje, uma grande proporção de 
mulheres trabalhe e muitas delas sejam a principal fonte 
para o sustento da família, isto não tem significado um 
maior desenvolvimento e reconhecimento de sua cidadania. 
Em todos os países da América Latina, incluindo o Brasil, 
os dados mostram que existe uma grande diferença entre 
homens e mulheres e que a falta de equidade prejudica as mulheres. É muito difícil 
56 
ter mulheres em altos cargos, como diretoras de empresas, de hospitais, reitoras de 
universidades etc. Em geral, é muito difícil ter mulheres nos lugares de tomada de 
decisões. Isto se explica pelo processo de socialização que ao determinar o trabalho 
reprodutivo (casa e filhos) para a mulher, cria condições que a marginalizam do 
espaço público, e pelo contrário, o homem é quem assume o trabalho produtivo e as 
decisões da sociedade. 
 
REFLEXÃO 
 
As várias jornadas de trabalho da mulher 
 
 
 
 
OS “NOVOS” MALES DAS MULHERES 
 
 O tabagismo e drogas O estresse O infarto 
 
 
57 
FATOS E FOTOS 
 
“Em muitas regiões muçulmanas, onde prevalece a Sharia (lei 
islâmica), as mulheres acusadas de adúlteras são apedrejadas 
até a morte. Um dos exemplos mais comentados em 2002, e 
que foi motivo de campanhas internacionais, é o caso de Amina 
Lawal (foto), de 31 anos, que no norte da Nigéria foi 
condenada à pena máxima porque engravidou de outro homem, 
após a separação do marido. 
Em 2003, um tribunal de apelações na mesma região considerou 
procedente a apelação, considerando que o outro tribunal havia se 
equivocado. Na realidade, a pressão internacional, que transformou 
Amina Lawal em um símbolo da luta pelos direitos humanos, com 
diversos governos se manifestando contra a sua condenação e 
intercedendo junto ao presidente nigeriano, é que fizeram com que 
houvesse mudança na sua situação.” (DIAS, 2005, p. 192) 
 
Violência contra mulher como uma questão de gênero 
 
A Lei nº 11.340/06 – Lei Maria da Penha 
Acesse: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm 
 
Sra. Maria da Penha Maia 
Ficou paraplégica por causa de um tiro dado pelo seu ex-
companheiro, que não satisfeito, ainda tentou matá-la, 
posteriormente, eletrocutando-a. 
 
 
 
58 
CRIMES DE ESTUPRO – ESTADO DO RJ 
De 2007 até Maio de 2012 
 
 
Estupros por regiões do Estado do RJ - De 2007 até Maio de 2012 
 
 Fonte: ISP/SSP/RJ 
 
Os municípios do Estado do RJ onde ocorreram, em 2010, as maiores incidências de 
estupro são: Belford Roxo, Nova Iguaçu e São João de Meriti, nesta ordem. Logo em 
seguida, os municípios de Itaboraí e Tanguá. Para maiores detalhes faça o download 
do Dossiê Mulher, 2011, ISP: 
Acesse: http://urutau.proderj.rj.gov.br/isp_imagens/Uploads/DossieMulher2011.pdf 
 
0
1000
2000
3000
4000
5000
6000
0
1000
2000
3000
4000
5000
6000
Capital Baixada Grande Niterói Interior
2007 2008 2009 2010 2011 Até Mai/2012 
1376 1461 
2338 
4529 
4871 
2432 
Total = 17007 
59 
REFLEXÕES 
 
O homossexualismo como um possível “terceiro gênero” em nossa 
sociedade! 
 
 
 
Projeto de Lei Complementar nº 122/2006 – “Altera a Lei nº 7.716 de 5 de janeiro de 
1989, que define os crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor, dá nova 
redação ao § 3º do art. 140 do Decreto-Lei nº 2,848, de 7 de dezembro de 1940 – 
Código Penal, e ao art. 5º da CLT, aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio 
de 1943, e dá outras providências.” 
 
Para conhecer esse PLC acesse: 
(http://www.naohomofobia.com.br/lei/PROJETO%20DE%20LEI%20plc122-06.pdf) 
 
 
 
A lei e a questão de gênero 
Código Civil de 1916, revogado em 2002 
 
Art. 36. Os incapazes têm por domicílio o dos seus representantes. 
Parágrafo único. A mulher casada tem por domicílio o do marido, salvo se estiver desquitada (art. 
315), ou lhe competir a administração do casal (art. 251). 
Art. 178. Prescreve: 
§ 1º Em 10 (dez) dias, contados do casamento, a ação do marido para anular o matrimônio contraído 
com a mulher já deflorada (arts. 218, 219, IV, e 220). (Parágrafo alterado pela Lei nº 13, de 
29.1.1935 e restabelecido pelo Decreto-lei nº 5.059, de 8.12.1942) 
Art. 233. O marido é o chefe da sociedade conjugal, função que exerce com a colaboração da 
mulher, no interesse comum do casal e dos filhos (arts. 240, 247 e 251). (Redação dada pela Lei nº 
4.121, de 27.8.1962) 
Art. 240. A mulher, com o casamento, assume a condição de companheira, consorte e colaboradora 
do marido nos encargos de família, cumprindo-lhe velar pela direção material e moral desta. 
(Redação dada pela Lei nº 6.515, de 26.12.1977) 
Art. 1.299. A mulher casada não pode aceitar mandato sem autorização do marido. 
 
(5) VIDE AS ATIVIDADES PROPOSTAS PARA ESSES CONTEÚDOS 
 
60 
SOCIEDADE, GRUPOS, ORGANIZAÇÕES E INSTITUIÇÕES SOCIAIS 
ANÁLISE DO PODER DAS INSTITUIÇÕES SOCIAIS 
 
REFLEXÕES 
 
 
 
“O Homem é um ser social. O comportamento humano 
se dá num ambiente social, é decorrência dele, ao mesmo 
tempo que o determina.” 
 
 
 
 
 
“O sentido da existência de um ser humano é construído, 
para esse mesmo ser humano, pela sociedade na qual ele se 
socializou.” 
 
 
 
 
REVISÃO DA MATÉRIA 
Qual teoria já estudada da psicologia corroboraria as afirmações 
acima? Justifique. 
 
 
GRUPOS SOCIAIS 
 
CONCEITO 
 
“[...] pluralidade de indivíduos que estão em contato uns com os 
outros, que se consideram mutuamente e que estão conscientes 
que têm algo significativamente importante em comum.” 
 
 
 
 
 
 
FIXAÇÃO - Caderno de Psicologia – Psicologia Social – p. 196 e 202 a 204). 
61 
POR QUE EXISTEM GRUPOS SOCIAIS? 
 
Segundo os autores diferentes grupos sociais existiriam no contexto macrossocial 
face às diferentes necessidades dos indivíduos que os compõem. Tais necessidades 
poderiam ser: de afeição, de prestígio, de poder; necessidades espirituais, de lazer etc. 
Um indivíduo, por exemplo, que possua diferentes necessidades (afeição, poder 
espirituais etc.) pode, inclusive, fazer parte de vários grupos sociais ao longo de sua 
existência. Analise a figura abaixo: 
 
GRUPO DE
AMIGOS
GRUPO
POLÍTICO
GRUPO
RELIGIOSO
FAMÍLIA
 
 
PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DOS GRUPOS SOCIAIS 
 
Todos os grupos sociais possuem: 
a) Valores (razões, crenças, justificativas, aspirações 
ideológicas) e, a partir desses valores são produzidas 
b) Normas (regras de conduta,
de vestimenta, de linguajar 
etc). As normas, por conseguinte, produzem expectativas de 
desempenho. Quando um indivíduo, pertencente a um 
determinado grupo social, frustra os demais componentes 
daquele grupo em relação ao cumprimento das normas, o 
grupo pode reagir em relação a esse indivíduo de diferentes 
formas: punindo-o, excluindo-o, agredindo-o, colocando esse 
indivíduo no ostracismo
20
 etc. Analise o esquema a seguir: 
 
 
 
 
20 Ostracismo – Aqui, no sentido de exílio, repúdio, repulsa. 
62 
TIPOS DE GRUPOS 
 
Quanto ao tipo, os grupos são classificados de primários e 
secundários. Grupos primários são grupos constituídos a 
partir de necessidades e/ou objetivos afetivos, pessoais 
(aceitação, amizade etc). Exemplos de grupos primários são a 
família e os grupos de amigos. 
Grupos secundários são grupos 
constituídos a partir de 
necessidades e/ou objetivos não afetivos, impessoais 
(normalmente tais grupos são constituídos para realizar 
tarefas ou para produzir algo). Exemplos de grupos 
secundários são os grupos e as equipes de trabalho. 
Analise os esquemas abaixo: 
 
DISCUSSÃO 
RELAÇÕES PRIMÁRIAS e RELAÇÕES SECUNDÁRIAS NOS GRUPOS 
SOCIAIS – E QUANDO AS COISAS SE CONFUNDEM? 
 
63 
POSIÇÃO SOCIAL, PAPEL SOCIAL E DESEMPENHO DE PAPEL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
INSTITUIÇÕES SOCIAIS 
 
DEFINIÇÕES 
 
As estruturas sociais estáveis (ou formas de organização) 
baseadas em regras e procedimentos padronizados, socialmente 
reconhecidos, aceitos, sancionados e seguidos pela sociedade 
são denominadas Instituições Sociais. 
 
 
Em um plano formal, uma sociedade não é mais que isso: um tecido de instituições 
que se interpenetram e se articulam entre si para regular a produção e a reprodução da 
vida humana sobre a terra e a relação entre homens. 
 
As instituições, portanto, são formadas para atender as diversas e diferentes 
necessidades de uma sociedade. Elas servem como instrumento de regulação e 
controle da vida e das atividades dos membros dessa sociedade. 
 
O processo de socialização também pode significar a assimilação das instituições 
sociais por parte de um indivíduo. As instituições “moldam” as subjetividades, de 
sorte a estabelecer o papel, a posição, as funções, a visão de mundo etc. de todos os 
indivíduos pertencentes a uma dada sociedade. 
 
64 
TIPOS DE INSTITUIÇÕES 
 
 
 
O INDIVÍDUO E OS PROCESSOS DE INSTITUCIONALIZAÇÃO E DE 
DESINSTITUCIONALIZAÇÃO 
 
Ao vivermos numa dada sociedade (cultura) assimilamos e, por 
conseguinte, nos estruturamos psicológica e socialmente, em 
função das instituições sociais que encontramos. Tal processo, 
chamado de institucionalização, é fundamental na vida e no 
desenvolvimento de um indivíduo por dois motivos principais: 
 
 
1º) A partir da assimilação dessas instituições podemos encontrar um sentido a nossa 
própria existência dentro daquele grupo social; 
2º) A assimilação das instituições sociais nos permitirá estabelecer vínculos com os 
demais indivíduos. Ou seja, poderemos nos integrar à sociedade. Não seremos 
rejeitados e nem colocados no isolamento social. Isto será de fundamental 
importância para o nosso desenvolvimento psíquico e social. 
De igual forma, quando nos envolvemos, ou passamos a viver, em função de uma 
determinada instituição (p.ex., uma religião, a prisão etc.), lentamente “introjetamos” 
aquela instituição. Esse processo, normalmente, é capaz de nos modificar (valores, 
atitudes e comportamentos). Por um outro lado, a saída, pelo motivo que seja, dessa 
instituição também poderá ser um processo lento e difícil (desinstitucionalização). 
Em alguns casos poderá nem mesmo ocorrer! Nesses casos o indivíduo enfrentará 
65 
graves dificuldades de se adaptar as suas novas e atuais experiências e/ou 
instituições. 
 
DICA CINEMATOGRÁFICA 
 
Assista ao filme “Um sonho de liberdade”, com Tim Robbins e 
Morgan Freeman, de 1994. Direção de Frank Darabont. 
 
 
 
 
ORGANIZAÇÕES SOCIAIS 
 
DEFINIÇÕES 
 
“[...] uma unidade social conscientemente coordenada, composta 
de duas ou mais pessoas, que funciona de maneira relativamente 
contínua, para atingir um objetivo comum.” (ROBBINS, 2002, 
p.2) 
 
“A civilização moderna depende em grande parte das 
organizações que constituem a forma mais racional e eficiente de agrupamento social 
que se conhece.” (JONHSON, 192, p. 31 apud BRAGHIROLLI; PEREIRA; 
RIZZON, 1994, p. 124) 
 
MODELO DAS ORGANIZAÇÕES FORMAIS 
 
 
 
 
HIERARQUIA 
DIVISÃO DE 
TRABALHO E 
FUNÇÃO 
GRUPO DE 
PESSOAS 
OBJETIVOS 
COMUNS, 
EXPLÍCITOS 
COORDENAÇÃO 
E 
PLANEJAMENTO 
 
66 
RELAÇÕES ENTRE AS INSTITUIÇÕES E AS ORGANIZAÇÕES SOCIAIS 
 
 
 
 
ANÁLISE DO PODER NAS INSTITUIÇÕES SOCIAIS 
 
A questão do poder disciplinar em Foucault
21
 
 
O presente trabalho pretende fazer uma breve análise sobre a teoria do poder 
disciplinar presente no livro “Vigiar e Punir” de Michel Foucault (1926-1984). 
 
O filósofo francês nos trás de forma polêmica e inovadora o nascimento de uma 
nova forma de poder coercitivo: o poder disciplinar que surgiu no Ocidente no 
século XVIII. 
De acordo com a teoria de Foucault, esta forma de poder nasce a partir de uma nova 
concepção da sociedade com a queda do chamado poder soberano predominante nos 
regimes absolutistas da Europa. 
A nova sociedade, filha das revoluções liberais, governada pela ideologia burguesa, vê o poder 
disciplinar como a forma mais cabível e eficaz de garantir a ordem, substituindo os suplícios e 
espetáculos de execução pública. 
 
A teoria de Foucault sobre o poder 
 
A proposta filosófica de Michel Foucault é com certeza revolucionária e original, 
tendo como objeto de estudo o poder e suas formas de manifestação. 
Este filósofo de nosso tempo concebe o poder não de maneira vertical ou mesmo 
maniqueísta em uma dialética entre “opressores” ou aqueles que exercem o poder 
e “oprimidos” aqueles que sofrem com a coerção do mesmo. 
 
A polêmica teoria sobre o poder proposta por Foucault torna-se original, pois para 
o filósofo, não existe uma teoria geral ou mesmo axiomática do poder, suas 
análises não o consideram a realidade com característica universal. 
De acordo com Roberto Machado, para Foucault não existe algo unitário ou global que chamamos 
de poder, mas sim, formas díspares, heterogêneas em constante transformação, o poder é uma 
 
21
 Adaptado de CAMACHO, V.M. Disponível em: http://fabiopestanaramos.blogspot.com.br/2011/05/questao-do-
poder-disciplinar-em.html>. Acesso em 19.06.12 
67 
prática social e, como tal, constituída historicamente. Logo, as práticas ou manifestações de 
poder variam em cada época ou sociedade. 
Para Foucault toda teoria é provisória, acidental e dependente do estado de desenvolvimento da 
pesquisa, aceitando seus limites. Poderíamos entender que as teorias propostas anteriormente sobre 
o exercício do poder não são falsas ou errôneas, mas deram conta de explicar a sociedade de seu 
tempo. O próprio filósofo aceita que suas teorias também são provisórias e possíveis de serem 
refutadas ou mesmo derrubadas. 
Segundo Foucault, o poder não emana unicamente do sujeito, mas de uma rede de relações de 
poder que formam o sujeito, dentre outros elementos, tal como o discurso, a arquitetura ou mesmo 
a própria arte. O poder é concebido como uma rede, não nasce por si só, mas de relações 
sociais. 
Outro aspecto inovador
da teoria de Foucault é observar este mesmo poder como algo muitas vezes 
positivo, inerente à natureza humana, manifestado em pequenas coisas, através de pequenos 
dispositivos. Em seu livro “Vigiar e Punir”, que trata sobre o nascimento da prisão e outras 
instituições disciplinares, o filósofo discorre de forma minuciosa e instigante sobre a questão do 
poder disciplinar. 
Na terceira parte de sua obra, Foucault explica que a partir dos séculos XVII e XVIII o poder foi 
exercido através de dispositivos disciplinares, o Estado ou mesmo a sociedade se utilizou do corpo, 
da vigilância e do adestramento para garantir a obediência e disciplinar os indivíduos. 
 
O desaparecimento dos suplícios e a disciplina sobre o corpo 
 
Foucault analisa e discute uma profunda metamorfose quanto à forma de punição e condenação dos 
presos e criminosos na Europa. 
Anteriormente, o espetáculo de execução publica de condenados a morte era utilizado como 
instrumentos disciplinar. 
 
A execução em praça pública, desde a Idade Média, com os Atos de Fé da 
Inquisição, gerava nos expectadores não somente o terror, mas também o 
medo de cometer algum tipo de crime contra a fé. 
Tais formas de punição estão estreitamente ligadas ao chamado poder de 
soberania que consiste no exercício do poder de um governante sobre um 
território. 
Modelo comum aos déspotas e monarcas da Europa entre os séculos XV a 
XVIII. 
O poder era, portanto, exercido e representado através dos suplícios, da força 
e da violência. Aos poucos, esta forma de condenação desapareceu cedendo espaço a uma nova 
forma de punição. Uma nova concepção filosófica, a partir do iluminismo e das revoluções liberais, 
bem como as novas teorias sobre o direito, fizeram a morte em público começar despertar terror e 
repúdio na população o que levou a novas formas de condenação. O espetáculo da execução passou 
a ser condenado pela grande parte da sociedade. 
O novo modelo disciplinar de punição do criminoso consistia em não tocar ou aproximar-se do 
corpo do individuo. Obviamente, algumas práticas ainda persistiram como o uso do chicote ou do 
cassetete. A condenação dos indivíduos passou a se dar de forma mais velada e sutil. A violência 
não foi assumida como carro chefe da justiça, porém utilizada em último caso de forma indecorosa 
e indesejável. 
O poder de soberania cedeu espaço ao chamado poder disciplinar. Discorrendo sobre a questão 
do poder disciplinar, Foucault identificou o corpo como objeto e alvo de poder. 
Citou o exemplo do soldado que reflete sua disciplina através de sua postura e do 
próprio corpo, como percebemos no fragmento abaixo: 
“O poder sobre o corpo, por outro lado, tampouco deixou de existir totalmente 
ate meados do século XIX. Sem dúvida, a pena não mais se centralizava no 
68 
suplicio como técnica de sofrimento; tomou como objeto a perda de um bem ou de um direito. 
Porem castigos como trabalhos forçados ou prisão - privação pura e simples da liberdade – nunca 
funcionaram sem certos complementos punitivos referentes ao corpo: redução alimentar, privação 
sexual, expiação física, masmorra. Consequências não tencionadas mas inevitáveis da própria 
prisão? Na realidade, a prisão, nos seus dispositivos mais explícitos, sempre aplicou certas 
medidas de sofrimento físico. 
A critica ao sistema penitenciário, na primeira metade do século XIX (a prisão não e bastante 
punitiva: em suma, os detentos tem menos fome, menos frio e privações que muitos pobres ou 
operários), indica um postulado que jamais foi efetivamente levantado: e justo que o condenado 
sofra mais que os outros homens? A pena se dissocia totalmente de um complemento de dor física. 
Que seria então um castigo incorporal? Permanece, por conseguinte, um fundo "suplicante" nos 
modernos mecanismos da justiça criminal - fundo que não esta inteiramente sob controle, mas 
envolvido, cada vez mais amplamente, por uma penalidade do incorporal. (FOUCAULT, 2004, 
p.18)” 
 
Nos perguntemos qual seria o objetivo de se disciplinar o corpo? Foucault responde ao tratar dos 
chamados corpos dóceis. A disciplina sobre o corpo tem por finalidade produzir indivíduos dóceis 
e submissos a determinados sistemas, ao mesmo tempo, estes devem oferecer uma mão-de-obra de 
qualidade que ajude o desenvolvimento econômico da sociedade. A disciplina tem seu aspecto 
político ao produzir indivíduos submissos ao poder do Estado, garantindo o “equilíbrio” e a 
“ordem”. O poder e a disciplina sobre o corpo possibilitam o funcionamento de instituições e 
grupos sociais. 
Desta forma, Foucault nos mostra que o corpo passa a ser considerado um objeto possível do 
controle disciplinar. 
A nova organização política e social, exige também novas formas de disciplina. A experiência 
decorrente dos movimentos de revolução ocorridos na Europa, demonstrou que o exercício do poder 
através da violência se tornou ineficaz. O controle sobre o corpo e sobre o modo de vida dos 
indivíduos, de forma sutil, evitava possíveis levantes e protestos, mostrando-se mais eficiente. 
 
A organização do espaço 
Outro aspecto do poder disciplinar se relaciona também com o espaço 
através das disposições e organizações do mesmo. 
 
Através da disposição dos objetos e estrutura dos prédios, o poder disciplinar 
é exercido através da observação vigilante e a sensação de estar sempre sob a 
presença do poder maior coercitivo. 
A prisão não mais será um ambiente escuro e sombrio, mas sim um espaço 
iluminado que possibilite a vigilância da vida e das atitudes dos detentos. 
Um simples olhar ou mesmo a vigilância sobre os presos garantem a 
disciplina e a submissão dos indivíduos. 
O novo modelo de construção utilizado nas prisões (o pan-óptico) 
acabou servindo para outras instituições que pretendiam obter a 
disciplina e obediência como foi o caso das fábricas, a começar pela 
Inglaterra no século XVIII estendendo-se pela Europa no século XIX. 
De acordo com Michele Perrot, o espaço de produção era organizado de 
forma circular, no centro situava-se, geralmente, as peças ou a matéria prima para a confecção 
de produtos. Desta forma, o indivíduo que tivesse a responsabilidade de cuidar do andamento 
da produção poderia ver todos os operários a sua volta, evitando possíveis furtos ou 
indisciplina. A dinâmica do novo modelo de organização espacial, como já fora dito, foi 
estendida outras instituições e espaços, como escolas, hospitais, dentre outros. 
Os espaços fechados eram, ao mesmo tempo, arejados e amplos, permitindo a vigilância dos 
diversos indivíduos ali presentes. O nascimento de uma nova sociedade, a partir dos ideais 
69 
iluministas e das revoluções burguesas, a privação da liberdade que se tornara tão preciosa à 
sociedade contemporânea, tornou-se uma forma de punição mais incisiva, substituindo os 
suplícios, uma vez que os direitos do homem e do cidadão passam a ser centrais na 
organização social. 
A detenção em prisões priva o indivíduo da liberdade e de seus direitos colocando-o a 
margem da sociedade. A punição, novamente, se daria sem o recurso da violência contra o 
corpo. 
 
O controle do tempo 
 
Assim como o espaço será determinante para a formação de uma sociedade 
disciplinar, outro aspecto analisado por Foucault será a nova concepção de 
tempo bem como a sua organização. 
A nova sociedade regida pelo poder disciplinar utiliza-se do tempo como um 
de seus mecanismos de controle. 
A começar novamente pelo exemplo dos presídios, em um modo de vida quase 
monástico, todas as horas do dia dos detentos são preenchidas com diversas atividades como 
refeições e trabalho. Oração com horários bem delimitados e previamente determinados. Tais 
horários são anunciadas por algum tipo de sinal
sonoro; desta forma os indivíduos voltam suas 
mentes para as atividades impostas pela instituição da qual estão ligados. O controle de todas 
as horas do dia, enquanto dispositivo do poder disciplinar, evitava qualquer tipo de 
organização ou mesmo de um pensamento rebelde uma vez que o foco eram as tarefas a serem 
realizadas. 
A possibilidade de uma ação de resistência deste modo é coibida, da mesma forma, os 
indivíduos que estiverem em tal situação estavam sob constante vigilância, o que inibia 
levantes. A vigilância por seu turno é acompanhada de rigorosas punições, o que exerce o 
medo sobre o indivíduo, na maioria das vezes sem o apelo da violência, utilizando-se de 
outras formas de castigo, como a chamada solitária. 
Isolando o indivíduo dos outros, além da diminuição da alimentação ou da atividade sexual, o 
indivíduo é conduzido a momentos de forte pressão psicológica. A prisão nada mais é do que 
um local de privações, a perda da liberdade e do direito de ir e vir tornam-se agora os maiores 
receios da sociedade. 
 
Concluindo 
 
A partir das teorias sobre o poder disciplinar de Foucault, percebemos como o 
exercício deste poder se deu através de diversos disposit ivos e elementos que 
elencamos. 
 
Primeiramente, o poder sobre o corpo representou o controle sobre os indivíduos 
e suas necessidades biológicas. 
Uma vez adestrado, este será útil e submisso ao sistema que se impõe, 
contribuindo para o equilíbrio e a ordem. 
O aspecto da construção se mostrou como forma de punição eficaz através da privação dos 
direitos de liberdade, bem como o ir e vir, excluindo o sujeito de um determinado grupo 
social. 
Estendendo-se para outros espaços que não necessariamente pretendem punir, esta forma de 
poder também se manifesta através da vigilância e eminência de formas de punição que 
castigam o corpo não de forma física, mas psicológica e biológica. 
Por fim, o controle do tempo garante a disciplina dos indivíduos e seu adestramento, evitando 
atitudes de rebeldia. 
70 
Tais dispositivos essenciais para o funcionamento do poder disciplinar estão presentes em 
nossa sociedade até os nossos dias, muitas vezes de forma sutil, mas que ainda garantem a 
ordem e a manutenção do meticuloso funcionamento da sociedade ocidental contemporânea. 
 
 
71 
EXCLUSÃO SOCIAL 
 
REFLEXÕES 
 
 
Os excluídos não são simplesmente rejeitados física, 
geográfica ou materialmente, não apenas do mercado e 
de suas trocas, mas de todas as riquezas espirituais, seus 
valores não são reconhecidos, ou seja, há também uma 
exclusão cultural. 
 
 
 
DÚVIDA 
 
É O PRÓPRIO INDIVÍDUO QUE SE EXCLUI DA SOCIEDADE OU É A 
SOCIEDADE QUE EXCLUI O INDIVÍDUO? 
 
PRINCIPAIS TEORIAS 
 
1º. O Individualismo e o liberalismo - A situação social de um indivíduo depende em 
grande parte das escolhas que o próprio indivíduo faz ao longo de sua vida. Tais 
ideias sustentam-se nos valores burgueses: liberdade, individualismo, propriedade 
privada e limitação do poder do Estado
22
. 
 
(Herbert Spencer – 1820 – 1903) 
2º. Darwinismo social – Teoria oriunda das ideias sobre os processos de 
evolução da vida, de Charles Darwin, que estendeu a aplicação do 
conceito de seleção natural para as sociedades humanas, essas, por 
conseguinte, concebidas como sistemas que evoluem por competição entre 
indivíduos, grupos e nações. “Somente sobrevivem os mais aptos.” (Spencer) 
 
(Karl Marx – 1818 – 1883) 
3º. O pensamento de Karl Marx - A situação social de um indivíduo é 
resultado de um processo de construção, baseado numa lógica de classes. 
“O modo de produção da vida material é que condiciona o processo da 
vida social, política e espiritual. Não é a consciência dos homens que 
determina o seu ser, mas, inversamente, o seu ser social que determina a sua 
consciência.” (MARX; Prefácio de Para a Crítica da Economia Política) 
 
 
 
 
22 Sugiro a leitura do texto INDIVIDUALISMO E LIBERALISMO: VALORES FUNDADORES DA SOCIEDADE 
MODERNA, de João Batista Damasceno. Disponível em http://www.achegas.net/numero/doze/damasceno_12.htm. 
72 
 
 
INFORMAÇÃO 
 
Um conceito importante relacionado à exclusão social é o de 
minorias sociais. Tal conceito reflete uma “categoria de 
indivíduos considerados merecedores de tratamento desigual e 
humilhante simplesmente porque são identificados como a ela 
pertencentes. (JOHNSON, 1997, p. 149) 
 
Exclusão Social: articulações possíveis 
 
1º. ECONÔMICA - trata-se basicamente da “pobreza”, situação de 
privação de recursos. Caracterizada geralmente por más condições de 
vida, baixos níveis de instrução e qualificação profissional, emprego 
precário etc. 
 
 
 
2º. SOCIAL - a causa está atrelada ao domínio dos laços sociais. 
Situação de privação do tipo relacional, caracterizada pelo isolamento. 
Como exemplo citamos os idosos, deficientes. Este tipo de exclusão 
pode não ter qualquer tipo de relação com a pobreza, mas sim ser 
consequência de distintos modos de vida familiar. Entretanto, ela 
também pode estar atrelada ao aspecto econômico, sendo a questão social decorrente 
da econômica. 
 
3º. CULTURAL - as formas deste tipo de exclusão estão relacionadas 
com os fatores culturais, como o racismo, a xenofobia, dificultando a 
integração social entre os diferentes. 
 
73 
4º. PATOLÓGICA - as situações de exclusão se devem a casos de 
origem patológica, especialmente de ordem psicológica ou mental. Tal 
situação é a causa da maioria dos casos de ruptura familiar. 
 
 
5º. COMPORTAMENTOS AUTODESTRUTIVOS - trata-se de 
comportamentos relacionados com a toxicodependência, o alcoolismo 
etc., gerando a exclusão desses indivíduos. Geralmente, estes casos têm 
origem na pobreza, o que não significa, evidentemente, que em outras 
classes econômicas tais comportamentos não possam ocorrer, neste caso, 
por outros fatores (p.ex., desagregação familiar, falta de afeto etc.). 
 
REFLEXÃO 
 
Na prática, vários tipos de exclusão podem aparecer de formas sobrepostas, um sendo 
consequência do outro. 
 
DÚVIDA 
 
Os homossexuais são vítimas de algum tipo de exclusão? Se sim, 
qual? 
 
REFLEXÕES 
 
Até onde o Direito estaria engajado, cooptado, conivente com as 
estratégias sociais de poder e de manutenção das desigualdades e 
injustiças sociais? 
Exemplo: Por que o Código Penal comina pena de detenção, de 3 
meses a 1 ano para o crime de Lesão Corporal (Art. 129), e, para o 
crime de Furto (Art. 155) comina pena de reclusão, de 1 a 4 anos, e 
multa? 
 
O CONFORMISMO COMO ESTRATÉGIA DE DOMINAÇÃO 
 
Naturalizar um fato social e conferir-lhe a condição de 
rotineiro, comum, banal, natural. Isto faz com que o fato perca 
a sua dinâmica enquanto um processo que implicaria diversos 
fatores (históricos, econômicos, culturais, políticos etc.). A 
naturalização de um fato social gera, como uma de suas 
consequências psicológicas, o conformismo: “isso é assim, 
mesmo!” 
Assim entendido, o conformismo é uma ideologia que nos orienta cotidianamente. 
Que nos faz imaginar que as causas desses fatos possam ser atribuídas ao indivíduo, 
isoladamente, e não ao processo social no qual ele está inserido e é produto. A partir 
74 
de uma lógica eminentemente neoliberal, por exemplo, a questão do desemprego 
estrutural é, comumente, explicada como uma questão de “empregabilidade”, ou 
mesmo em função dos avanços das tecnologias de produção. Ou seja, o indivíduo é o 
único responsável pelas suas possibilidades de estar ou não empregado. 
 
RESPONDA 
 
Qual o papel das diferentes mídias
(notadamente da TV) nesse 
processo de naturalização das questões sociais, bem como de 
produção de uma “atitude conformista de massa”? Dê 
exemplos. 
 
 
(6) VIDE AS ATIVIDADES PROPOSTAS PARA ESSES 
CONTEÚDOS 
 
75 
ASPECTOS PSICOLÓGICOS DAS RELAÇÕES HUMANAS 
INFLUÊNCIAS SOCIAIS 
 
Quando falamos em influência social estamos nos referindo ao 
fato de uma pessoa poder ter seus comportamentos, seus 
pensamentos ou mesmo as suas atitudes influenciados ou 
modificados por outras pessoas (p.ex., um grupo social). 
 
 
PRESSÃO SOCIAL E MUDANÇA DE JULGAMENTOS 
 
Salomon Asch (1907-1996) projetou um teste simples (1955) para 
verificar o grau médio de conformismo das pessoas (comportamentos, 
pensamentos, atitudes etc) em relação às pressões grupais: 
 
 
 
Como um participante de uma pesquisa, você chega no local do experimento a tempo 
de sentar na extremidade de uma fila em que já há cinco pessoas sentadas. O 
experimentador pergunta qual das três linhas de comparação é idêntica à linha padrão 
(figura abaixo): 
 
Você verifica claramente que a resposta é a linha 2 e aguarda a sua vez para dizer 
isso, depois dos outros. Seu tédio com esse experimento começa a transparecer 
quando o conjunto seguinte de linhas é igualmente fácil. 
Agora vem a terceira prova, e a resposta correta também parece evidente, mas a 
primeira pessoa dá o que você acha ser uma resposta errada: “Linha 3”. Quando a 
segunda pessoa, depois a terceira e a quarta também dão a mesma resposta errada, 
você se empertiga e contrai os olhos. Quando a quinta pessoa concorda com as três 
primeiras, você sente seu coração começar a bater forte. O pesquisador olha para 
você, à espera de sua resposta. 
 
 
76 
 
Dividido entre a unanimidade dos outros cinco sujeitos e a evidência de seus olhos, 
você se sente confuso e muito menos seguro de si do que era momentos antes. Hesita 
antes de responder, imaginando se deve sofrer o constrangimento de ser encarado 
como alguém diferente. Que resposta você dá? 
Asch relata que em mais de um terço das vezes seus sujeitos universitário “inteligente 
e bem-intencionados” se mostraram dispostos a acompanhar o grupo” (adaptado de 
Myers,D., 1999, pp 391-2). 
 
Razões do conformismo 
 
1. Fazemos isso para evitar a rejeição social ou ganhar aprovação social. Nesse 
caso, estamos reagindo ao que os psicólogos sociais chamam de “influência social 
normativa”; 
2. Mas o respeito às normas não é o único motivo pelo qual nos conformamos: o 
grupo pode fornecer informações valiosas. Só uma pessoa muito obstinada nunca vai 
ouvir os outros. Quando aceitamos as opiniões dos outros sobre a realidade, estamos 
reagindo à “influência social informativa.” 
 
 
 
 
 
O QUE SÃO ATITUDES? 
 
Uma atitude é “uma organização duradoura de crenças e 
cognições em geral, dotada de carga afetiva pró ou contra um 
objeto social definido, que predispõe a uma ação coerente com 
as cognições e afetos relativos a este objeto. 
 
Uma distinção importante é a de que “todas as atitudes incorporam crenças, mas que 
nem todas as crenças fazem parte, necessariamente, das atitudes.” [...] “as crenças 
têm apenas um componente cognitivo enquanto as atitudes têm tanto o 
componente cognitivo quanto o afetivo.”. Em termos mais simples, podemos então 
dizer que quando uma crença polariza sobre si componentes afetivos e ambos, crença 
 
(Leitura Complementar – Caderno de Psicologia – Processos de Grupo – p. 195 a 200) 
77 
e afeto, agem no sentido de influenciar o comportamento, aí, então, temos uma 
atitude. Analise a figura abaixo: 
 
Característica de uma atitude 
 
 
 
Mudança de atitude 
 
Apesar de serem relativamente estáveis, as atitudes 
são passíveis de mudança. [...] Como vimos 
anteriormente, os componentes cognitivo, afetivo e 
comportamental que integram as atitudes sociais 
influenciam-se mutuamente em direção a um estado 
de harmonia. Qualquer mudança num destes três 
componentes é capaz de modificar os outros, de vez 
que todo o sistema é acionado quando um de seus 
componentes é alterado, tal como num campo de forças eletromagnético. 
Consequentemente, uma informação nova, uma nova experiência ou um novo 
comportamento emitido em cumprimento as normas sociais, ou outro tipo de agente 
capaz de prescrever comportamento, pode criar um estado de inconsistência entre os 
três componentes atitudinais de forma a resultar numa mudança de atitude. 
 
Atitude negativa: o preconceito 
 
Teoricamente, os preconceitos podem ficar incluídos na 
classe das atitudes, exibindo, em consequência dessa 
inserção, os três elementos acima descritos (quais sejam, 
cognições, afetos e tendências comportamentais); 
apresentam, porém, em adição e em contraste com elas, 
duas características que lhes são específicas: a de que se 
formam sempre em torno de um núcleo afetivamente 
negativo e a de que são dirigidos contra grupos de pessoas. 
78 
Discriminação 
 
Uma ação qualquer ensejada por algum preconceito 
caracterizaria o que se chama discriminação. Porém, 
“preconceito e discriminação nem sempre ocorrem 
juntos. É possível ter preconceito contra um 
determinado grupo sem se portar abertamente de 
maneira hostil ou discriminatória em relação a ele. Por 
exemplo: um lojista racista pode sorrir para um cliente 
negro para disfarçar opiniões que poderiam prejudicar 
seu negócio. Do mesmo modo, muitas práticas institucionais 
podem ser discriminatórias, embora não se baseiem no 
preconceito. Por exemplo: as normas que estabelecem uma 
altura mínima para policiais podem discriminar mulheres e 
determinados grupos étnicos – cuja altura é inferior ao padrão 
arbitrário -, embora essas normas não se originem em atitudes 
sexistas ou racistas. 
 
INFORMAÇÃO: 
 
LEI Nº 7.716, DE 5 DE JANEIRO DE 1989 
Define os crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor. 
(Alterada pelas Leis nº 8.081/90 e 9.459 / 97 já incluídas no texto) 
(http://www.planalto.gov.br/CCivil_03/LEIS/L7716.htm) 
 
Estereótipos 
 
De fato, um estereótipo não é uma crença mas um tipo de associação 
mental simplista que fazemos entre duas coisas que visa facilitar a nossa 
vida cotidiana. Tais associações podem ser conscientes (explícitas) ou 
inconscientes (implícitas). “Muitas pessoas vinculam, involuntariamente, 
deficiência com fraqueza, árabe com terrorismo ou pobre com 
inferioridade, mesmo que tais estereótipos contrariem a racionalidade e 
até mesmo valores que lhes são caros, como o de justiça ou igualdade. 
 
Estereótipos podem gerar uma percepção seletiva dos outros: “Por exemplo: uma vez 
que você classificou alguém como homem ou mulher, talvez conte mais com seu 
estereótipo daquele gênero que com suas próprias observações sobre as atitudes da 
pessoa. Pelo fato de as mulheres serem estereotipadas tradicionalmente como mais 
emotivas e submissas, e os homens como mais racionais e assertivos [...] talvez você 
veja mais esses traços em homens e mulheres do que eles realmente existem.” 
 
79 
“Pessoas invisíveis” 
 
“Em novembro de 1994, o então estudante do 2º ano de Psicologia da 
Universidade de São Paulo (USP) Fernando Braga tornou-se invisível. 
'Fiquei atordoado, não conseguia sentir o gosto da comida, perdi meu centro', 
lembra. Nem loucura nem ficção científica. Braga atingiu a invisibilidade ao 
vestir um uniforme de gari. Como parte de um estágio solicitado por uma das 
disciplinas que cursava, ele resolveu acompanhar, de duas a três vezes por 
semana, a rotina dos garis da Cidade Universitária - pegando no pesado junto 
com eles. Ao vestir calça, camisa e boné como seus colegas de 'varreção',
esperava causar espanto, curiosidade ou até mesmo indignação em seus 
amigos, professores, companheiros de futebol e conhecidos da USP. No 
entanto, não conseguiu nem mesmo receber um bom-dia. 'Atravessei o andar 
térreo da Psicologia de ponta a ponta. Estava atento, buscava a expressão de 
surpresa em alguém. Mas nada acontecia', conta. 'Deixei de esperar perguntas intrigadas, 
mas ainda seria capaz de responder a algum cumprimento. Nada.' Os professores com quem 
havia conversado pela manhã passaram por ele e nem perceberam sua presença. Não é que 
tenha sido ignorado, menosprezado, rejeitado. Pior: nem foi visto. Era como não estar lá; 
como 'não ser'. 
O mal-estar experimentado por Braga jamais o abandonou. Ele 
passou os nove anos seguintes trabalhando com os garis da USP 
e transformou em tese de mestrado o indigesto tema da 
'invisibilidade pública' - o desaparecimento de um homem no 
meio de outros homens. Concluída em 2002, a tese agora vira 
livro lançado pela editora Globo. 
Ironicamente, o psicólogo ganhou visibilidade falando da 
invisibilidade, que, segundo ele, está relacionada à divisão social do trabalho e afeta até 
mesmo quem não é totalmente excluído economicamente. Ela seria uma espécie de 
cegueira psicossocial, que elimina do campo de visão da maioria da população aqueles 
que são condenados a exercer uma atividade subalterna, desqualificada, 
desumanizante e degradante o dia inteiro, às vezes uma vida inteira. É uma situação 
diferente da contada pelo escritor americano Ralph Ellison, que nos anos 50 lançou seu 
romance O Homem Invisível. Ellison, negro, contava a história de um descendente de 
escravos que ao percorrer os Estados Unidos descobriu apenas que, por ser negro, era 
ignorado - segundo ele, algo muito pior que ser confrontado ou desprezado. Braga mostra 
que, independentemente do preconceito racial, o preconceito social também é tão 
incrível que leva a simplesmente apagar pessoas do campo de visão. 'Nem na Suécia 
uma criança é incentivada pelos pais a ser gari, faxineiro ou coveiro', provoca. 'Não tem a 
ver com salário, mas com a simbologia.' 
Todo mundo se sente invisível em algum momento da vida - numa festa de gente de outra 
tribo, no emprego novo em que não se conhece ninguém. Mas essas são outras 
invisibilidades, circunstanciais, e portanto passageiras, reversíveis. O estudo de Braga é 
sobre uma invisibilidade tão automatizada na sociedade que muitas vezes nem mesmo 
o ser invisível se dá conta de sua degradante situação. 'Se ele percebe, 
carece de armas para o combate. Depois de ser ignorado a vida inteira 
ou, no máximo, maltratado, ninguém anda de cabeça erguida.' 
De fato, na maioria das vezes, o gari que limpa nossa cidade só é notado 
quando falta ao serviço. O ascensorista é tratado como uma máquina que 
80 
funciona por comando de voz, sem direito a 'por favor' nem 'obrigado'. A 
empregada doméstica põe o avental, alimenta a família e deixa a casa 
organizada anos a fio, mas os patrões mal sabem seu sobrenome, se tem 
filhos, se está com algum problema. Os únicos cidadãos que vestem 
uniforme para servir aos outros e ganham visibilidade e 
reconhecimento são os que estão em situação de poder sobre o 
interlocutor - médicos, enfermeiros, policiais. 'Algumas profissões estão num nível de 
rebaixamento absoluto', reforça Braga. 'As pessoas estão habituadas a passar pelos garis 
como quem passa por objetos', assinala. 
Nilce de Paula, mineiro de 61 anos, confirma. Desde que chegou a São Paulo, aos 18 anos, 
trabalhou em bar, restaurante, fez salgadinhos para vender, foi ascensorista - de terno e 
gravata, orgulha-se - e carregou contêineres de veneno. Já tinha experimentado o 
preconceito racial, mas a indiferença mesmo só conheceu quando virou gari. 'Às vezes estou 
trabalhando na avenida e passa uma pessoa. Mesmo que ela não me cumprimente, eu 
cumprimento, porque um bom-dia não custa nada', afirma. 'O pior é quando os carros quase 
passam por cima da gente, sem nem tentar desviar. A gente tem de trabalhar de frente para a 
avenida e se cuidar.' 
A invisibilidade pública vem sempre na companhia da humilhação social, o sofrimento 
pelo rebaixamento político, social e psicológico experimentado continuamente por 
cidadãos de classes D e E. O conceito é recente e foi cunhado por José Moura Gonçalves 
Filho, orientador de Braga. Afeta o raciocínio, a visão e o afeto de quem é discriminado. 
'O invisível não tem voz, seu discurso não é levado em conta, sua opinião sobre o 
mundo não importa. Ele aparece apenas como ferramenta', diz o psicólogo. Funcionária 
de uma empresa terceirizada de limpeza, a baiana Sônia Aragão, de 34 anos, veio para São 
Paulo em 1996, depois de ter passado pela lavoura, por restaurantes e casas de família. Ter 
de usar uniforme foi um choque: 'Tem gente que passa reto e faz de conta que não me vê. 
Eu mesma me sinto estranha com esta roupa, porque parece que não sou eu. Quando não 
estou de uniforme, pelo menos as pessoas me olham, mesmo que não falem comigo', diz.”23 
 
23 Fonte: http://revistaepoca.globo.com/Epoca/0,6993,EPT764232-1664,00.html. Acesso em 03/07/12. 
 
Vide texto “Estereótipos de gênero” –Caderno Introdução à psicologia, p. 19.) 
(7) VIDE OS EXERCÍCIOS PROPOSTOS PARA ESSES CONTEÚDOS. 
81 
JUSTIÇA RESTAURATIVA E MEDIAÇÃO DE CONFLITOS 
 
A Justiça Restaurativa é um "processo colaborativo que 
envolve aqueles afetados mais diretamente por um 
crime, chamados de ‘partes interessadas principais’, para 
determinar qual a melhor forma de reparar o dano 
causado pela transgressão". 
[...] "a essência da justiça restaurativa é a resolução de 
problemas de forma colaborativa. Práticas restaurativas proporcionam, àqueles que 
foram prejudicados por um incidente, a oportunidade de reunião para expressar seus 
sentimentos, descrever como foram afetados e desenvolver um plano para reparar os 
danos ou evitar que aconteça de novo. A abordagem restaurativa é reintegradora e 
permite que o transgressor repare danos e não seja mais visto como tal. [...] O 
engajamento cooperativo é elemento essencial da justiça restaurativa". Trata-se, 
enfim, de suprir as necessidades emocionais e materiais das vítimas e, ao mesmo 
tempo, fazer com que o infrator assuma responsabilidade por seus atos, mediante 
compromissos concretos. (http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=7359) 
O conceito de Justiça Restaurativa coloca a sua ênfase no dano causado à vitima 
assim como à própria comunidade onde esta se encontra inserida. Procura estabelecer 
um reconhecimento geral de que o crime é tanto uma violação das relações entre um 
conjunto específico de pessoas; como uma violação contra todos – e logo contra o 
Estado. Sempre que seja considerado apropriado, a vitima e o arguido tem a hipótese 
de se confrontar num ambiente controlado, dando desta 
forma a oportunidade a ambos de explicar as causas e as 
consequências pessoais do crime. O objetivo central passa 
pela revalorização do papel da desculpa e da tentativa real 
da reparação do dano causado. De forma simplificada, o 
conceito de Justiça Restaurativa baseia-se na teoria dos três 
R: 
a) Atuar para que o arguido assuma a sua Responsabilidade; 
b) Permitir uma melhor Reintegração do arguido na Comunidade; 
c) Estimular a Reparação do dano causado; 
(http://justicarestaurativa.wordpress.com/2007/05/01/definicao-de-justica-
restaurativa/) 
 
Benefícios da Justiça Restaurativa 
Celeridade e economia de recursos na resolução das lides judiciais; 
“Compensações psicológicas” às vítimas; 
Possibilidade de os autores reconhecerem os danos causados por suas ações e de 
agirem no sentido da restauração
ou reparação do dano causado (ressocialização); 
Participação da comunidade no Judiciário. 
 
82 
Justiça Restaurativa e Legislação Brasileira 
 
Deve-se assinalar, de início, que não há na legislação brasileira 
dispositivos com práticas totalmente restaurativas. Existem, 
contudo, determinados diplomas legais os quais podem ser 
utilizados para sua implementação, ainda que parcial. De 
acordo com Pedro Scuro Neto, um programa efetivo de Justiça 
Restaurativa requer que sejam estabelecidos, "por via 
legislativa, padrões e diretrizes legais para a implementação dos 
programas restaurativos, bem como para a qualificação, 
treinamento, avaliação e credenciamento de mediadores, administração dos 
programas, níveis de competência e padrões éticos, salvaguardas e garantias 
individuais. 
 
CONFLITO 
 
O QUE É UM CONFLITO? 
 
1. “Simplificadamente, as diferenças não compreendidas, em 
muitos casos, geram conflitos.” 
2. “[...] é resultado de um conjunto de condições 
psicossocioculturais que determinam colisão de interesses.” 
 
 
REFLEXÃO 
 
“[...] o conflito não é destrutivo em si, nem bom em si, e pode ser entendido como um 
dos elementos da própria vida, portanto, parte integral do meio no qual nascemos, 
vivemos e morremos, fazendo parte de nossas interações; por isso não pode se 
extirpado. A questão é saber como manejá-lo de forma a que ambas as partes saiam 
ganhando, ou seja, eficaz e produtivamente.” 
Para alguns autores, um conflito é uma excelente oportunidade de crescimento e 
desenvolvimento. 
 
Métodos tradicionais e alternativos de solução de conflitos 
 
1º) JULGAMENTO (Método Tradicional) – De competência 
do poder Judiciário que, inicialmente, aprecia os fatos 
(processo) e, posteriormente, impõe sentença em harmonia 
com a ordem jurídica vigente. Neste método, tipicamente 
adversarial, uma das partes perde e a outra ganha. Às vezes, 
ambas perdem. 
 
83 
2º) ARBITRAGEM (Método Extrajudicial) – Neste método a 
decisão será tomada por um terceiro neutro, o árbitro, 
escolhido pelas partes. Caracteriza-se por ser adversarial. 
A Lei n. 9.307, de 1996, retirou a obrigatoriedade de 
homologação do Laudo Arbitral pelo Poder Judiciário. 
 
3º) CONCILIAÇÃO – “O objetivo da conciliação é colocar 
fim ao conflito manifesto, isto é, a questão trazida pelas partes. 
O conciliador envolve-se segundo sua visão do que é justo ou 
não; na busca de soluções, interfere e questiona os litigantes. O 
conciliador, entretanto, não tem poder de decisão, que deve ser 
tomada, cooperativamente, pelas partes. 
Na conciliação, não há interesse em buscar ou identificar razões ocultas que levaram 
ao conflito e outras questões pessoais dos envolvidos.” (FIORELLI; MANGINI, 
2010). 
É prevista pelo Código de Processo Civil a prática da conciliação, como forma de 
resolução de conflitos em processos de separação. Essa prática é bastante prestigiada 
pelo magistrado brasileiro, podendo ocorrer em qualquer tempo durante o processo, 
quando se oferece às partes uma oportunidade de conciliação sobre o assunto em 
pauta, extinguindo total ou parcialmente o litígio.” Principais áreas: criminal, família 
e trabalho.” 
 
4º) MEDIAÇÃO - Segundo Grunspun (2000), a mediação 
pode ser compreendida como um processo no qual uma 
terceira pessoa, neutra, o mediador, facilita a resolução de 
uma controvérsia ou disputa entre duas partes. “Na 
mediação, (o mediador), atua para promover a solução do 
conflito por meio do realinhamento das divergências entre 
as partes, os mediandos. 
Para isso, o mediador explora o conflito para identificar os interesses que se 
encontram além ou ocultos pelas queixas manifestas (as posições). O mediador não 
decide, não sugere soluções, mas trabalha para que os mediandos as encontre e se 
comprometam com eles. 
Reconhecer o ponto de vista do outro é fundamental e o mediador empenha-se para 
que isso aconteça. A pedra de toque é a cooperação e são diversas as técnicas 
empregadas. (FIORELLI; MANGINI, 2010). 
 
O MÉTODO DA NEGOCIAÇÃO (Método Extrajudicial) 
 
Nesta modalidade a resolução do conflito caberá as partes. Não se caracteriza como 
adversarial pois os envolvidos deverão se dispor a buscar uma solução que 
contemple, na medida do possível, a maior parte dos seus interesses. 
“A negociação, por outro lado, está presente nos métodos (da conciliação e da 
mediação), como parte integrante da condução dos trabalhos. Ela também pode 
84 
acontecer no transcorrer da arbitragem ou do julgamento, com a participação 
promotores, advogados e árbitros.” (FIORELLI; MANGINI, 2010). 
 
(8) VIDE OS EXERCÍCIOS PROPOSTOS PARA ESSES CONTEÚDOS. 
 
 
 
 
***

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