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CIÊNCIAS JURÍDICAS
PSICOLOGIA APLICADA AO DIREITO (CCJ 0004)
PROFESSOR: ADELMO SENRA GOMES
(adelmoprof@bol.com.br)
TÓPICOS A SEREM ABORDADOS EM SALA DE AULA
(edireito2012@bol.com.br – senha: psidir12)
2012.2
2
Plano de Ensino - Temas a serem abordados
Noções de epistemologia: o que é conhecimento; o que é ciência; a científica – objetos de estudo
e pesquisa e métodos de pesquisa; a pluralidade da pesquisa psicológica.
Hans Kelsen – Direito e Ciências Jurídicas; as relações inter e multidisciplinares entre a , as
ciências jurídicas e o direito.
As práticas psicológicas e suas aplicações no contexto jurídico; principais atividades do no
judiciário (assessoria, orientação e acompanhamento dos jurisdicionados, pesquisador, perito
psicológico); as principais áreas de atuação da no campo jurídico (Penal, Civil, Família, Sistema
Penitenciário, Justiça da Infância e da Juventude, Trabalho e Idoso).
Ética e Moral; a ética profissional do profissional de .
Personalidade. Principais conceitos (traços, estados, temperamento e caráter); e genética. A teoria
do desenvolvimento psicossocial, de Erik Erikson – Teoria epigenética. Comportamento antissocial,
agressividade e violência; tipos de violência (física, ou moral, sexual, privação ou negligência,
estrutural); comportamento agressivo e a lei (estado de necessidade e legítima defesa). Violência e
aprendizagem social (a teoria de Albert Bandura); a teoria da FrustruaçãoAgressão (de John
Dollard a Leonard Berkowitz). O desenvolvimento do comportamento antissocial; maldade na
infância e na adolescência: “bullying” e “cyberbullying”.
Lei Jurídica & Lei Simbólica; o gozo pela violação da lei: o traço perverso.
Personalidade e doutrina jurídica; o dano psicológico.
O processo de avaliação psicológica no judiciário; testes psicológicos; perícia psicológica;
documentos exarados pelos jurídicos (atestados, relatórios – ou laudos -, parecer, declarações).
A família. Família e sociedade; e família; a família no ocidente (o surgimento da família
nuclear); as famílias pós-modernas (monoparental e homoafetiva); critérios para o estabelecimento
da paternidade no direito brasileiro (legal, biológico e o socioafetivo). Alienação parental e
síndrome de alienação parental (SAP); guarda compartilhada.
A questão de gênero. Diferença entre sexo, gênero e identificação sexual. O processo de construção
dos papéis de gênero (sexualidade, reprodução, divisão sexual do trabalho, espaço público e
reconhecimento da cidadania); violência contra mulher como uma questão de gênero; a lei e a
questão de gênero.
Sociedade, grupos, organizações e instituições sociais; grupos sociais; principais características dos
grupos sociais; tipos de grupos sociais (primários e secundários); posição social, papel social e
desempenho de papel. Instituições sociais; tipos de instituições sociais (leis, normas e pautas); o
indivíduo e os processos de institucionalização e de desinstitucionalização. Organizações sociais;
relações entre as instituições e as organizações sociais. Análise do poder das instituições sociais -
Michel Foucault e o poder disciplinar.
Exclusão social. Principais teorias: O individualismo e o liberalismo; o darwinismo social de
Herbert Spencer; o pensamento da Karl Marx. Exclusão social – articulações possíveis (econômica,
social, cultural, patológica, comportamentos autodestrutivos). O conformismo como estratégia de
dominação.
Aspectos das relações humanas. Pressão social e mudança de julgamentos; conformismo social.
O que são atitudes? Mudança de atitude. Atitude negativa: preconceito; discriminação; estereótipos;
“pessoas invisíveis”.
Justiça restaurativa e mediação de conflitos; justiça restaurativa e legislação brasileira. O que é
conflito? Métodos tradicionais e alternativos de solução de conflitos: julgamento, arbitragem,
conciliação, mediação. O método da negociação.
3
CALENDÁRIO ACADÊMICO 2012.2 (1º PERÍODO)
DIAS DA SEMANA
2ª FEIRA 3ª FEIRA 4ª FEIRA 5ª FEIRA 6ª FEIRA
AGO
06 (Início) 07 08 09 10
13 14 15 16 17
20 21 22 23 24
27 28 29 30 31
SET
03 04 05 06 07 (Indep.)
10 11 12 13 14
17 18 19 20 21
24 25 26 27 28
OUT
01 02 03 (AV1) 04 (AV1) 05 (AV1)
08(AV1) 09 (AV1) 10 11 12 (Nª Srª)
15 (Mestre) 16 17 18 19
22 23 24 25 26
29 30 31
NOV
01 02 (Finad)
05 06 07 08 09
12 13 14 15 (Repúb.) 16
19 20 (Zumbi) 21 22 23
26 27 28 (AV2) 29 (AV2) 30 (AV2)
DEZ
03 (AV2) 04 (AV2) 05 (Vista) 06 (Vista) 07 (Vista)
10 (Vista) 11(Vista) 12 (AV3) 13 (AV3) 14 (AV3)
17 (AV3) 18 (AV3) 19 (Fim)
Humor...
Think about...
4
NOÇÕES DE EPISTEMOLOGIA
1
O QUE É O CONHECIMENTO?
Em sentido amplo um conhecimento caracteriza um sistema
2
de informações. Por seu turno, uma informação refere-se a
uma representação ideativa (mental) de algo real ou de algo
racional. O conhecimento, portanto, é uma tentativa humana,
racional e estruturada, de apreensão, de apropriação, pelo
pensamento (sujeito) de algum objeto (real ou racional).
“Atualmente recebemos uma enxurrada de “informações” que não
nos propiciam construir conhecimentos...” Por quê?
REFLEXÃO
“VENDE-SE CONHECIMENTO”
Vivemos atualmente num mundo em que quase tudo (pessoas,
relações interpessoais, a natureza etc) é transformado em
“coisa”, reificado; transformado em mercadoria cobiçável,
comprável. Somos alienados pelas diversas
mídias de massa a valores mercantilistas, a
um “ethos” estúpido e egoísta do tipo: “o
dinheiro compra tudo”; “não existem limites para quem pode pagar”; “o sentido
da vida é ter ou parecer que tem, e não ser”; “o prazer, seja ele qual for, deve ser
imediato e ilimitado”; “o certo é pensar e agir de forma individualista e não
coletivamente”; “liberdade absoluta: sem responsabilidade e
sem limites”; “se desejo tenho direito e posso” etc. Neste sentido, então, é
imprescindível perceber que o conhecimento não é uma coisa, não é uma
mercadoria que se compra, que se possa adquirir em “suaves prestações
mensais”... O conhecimento é fruto de um esforço pessoal, de uma atitude
honesta, dedicada e disciplinada de construção, de busca e
de crescimento. Lembre-se: vivemos a era do
conhecimento e esse mesmo mercado que nos aliena de tal forma a nos
transformar/deformar em “adoradores(as) ávidos(as) de coisas, de fetiches
compráveis irá também, sinicamente, cobrar-nos conhecimentos (e não apenas
diplomas - coisas) quando de nossas tentativas de nele nos inserir. Pense nisso...
“Se Deus criou as pessoas para amar, e as coisas para cuidar, por que amamos as coisas e
usamos as pessoas?” (Bob Marley - 1945-1981)
1
Epistemologia, Teoria do Conhecimento ou Filosofia da Ciência: Conjunto de conhecimentos que têm por objeto o
conhecimento científico, visando a explicar os seus condicionamentos (sejam eles técnicos, históricos, ou sociais, sejam
lógicos, matemáticos, ou linguísticos), sistematizar as suas relações, esclarecer os seus vínculos, e avaliar os seus
resultados e aplicações. (AURÉLIO)
2 Um sistema é um “conjunto de elementos, materiais ou ideais, entre os quais se possa encontrar ou definir alguma
relação; disposição das partes ou dos elementos de um todo, coordenados entre si, e que funcionam como estrutura
organizada.”(AURÉLIO)
5
O QUE É CIÊNCIA?
“Em sentido lato, ciência (do latim “scientia”, traduzido por
"conhecimento")
refere-se a qualquer conhecimento ou prática
sistemáticos. Em sentido stricto, ciência refere-se a um sistema de
adquirir conhecimentos baseado no método científico
3
, assim
como ao corpo organizado de conhecimentos conseguido através
desse método. [...] A ciência é o esforço para descobrir e
aumentar o conhecimento humano de como a realidade funciona.”4. Analise o
quadro a seguir:
DIVISÕES DO CONHECIMENTO
3 “Método científico é uma forma de investigação da natureza. Para isso, não leva em consideração superstições
[acrescentaríamos, opiniões pessoais] ou sentimentos religiosos, mas a lógica e a observação sistemática dos fenômenos
estudados.” (SAIZ, F.)
(a) Valorativo significa que estabelece um valor ao que se está avaliando. Por ex., verdadeiro ou falso, justo ou injusto,
belo ou feio etc.
4 Adaptado de Wikipedia.
6
QUADRO COMPARATIVO
C R I T É R I O S Senso Comum Religioso Filosófico CIENTÍFICO
Fonte Experiências pessoais,
tradições, costumes etc.
Sobrenatural5 Razão Os fatos
(Contingencial)
Atitude mental básica Justificatória Dogmática Reflexiva Dúvida
Posição diante do erro Infalível Infalível Infalível Falível
Proposta de exatidão Exato Exato Exato Quase exato
Teste de consistência Normalmente,
inverificável
Normalmente,
inverificável
Normalmente,
Inverificável
Verificável
INFORMAÇÃO/REFLEXÃO
Na história da humanidade alguns referenciais
foram (ou, ainda são) utilizados no que pese o ideal
e a busca por justiça. São eles: o senso comum
(p.ex., entre as aldeias germânicas da antiguidade),
o religioso (p.ex., nos Estados teocráticos) e o
filosófico-científico (p.ex., nos Estados laicos
ocidentais atuais).
DISCUSSÃO
PORTO ALEGRE - A 1ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio Grande do
Sul decidiu, em sessão realizada nesta quarta-feira, não haver motivos para que fosse
determinado novo julgamento no caso em que uma carta psicografada foi apresentada
entre as provas da defesa. Dessa forma, passa valer o entendimento de que cartas
escritas por médiuns podem ser adotadas como prova no Tribunal de Justiça gaúcho.
O Ministério Público e a assistência da acusação recorreram da absolvição de Iara
Marques Barcelos pelo Tribunal do Júri de Viamão. Durante o julgamento, ocorrido
em maio de 2006, foi apresentada como prova a favor da ré uma carta psicografada.
Para os julgadores, não há elementos no processo para concluir que o julgamento do
Tribunal do Júri foi absolutamente contrário às provas dos autos, devendo ser
mantida a decisão que absolveu Iara. Iara foi acusada de ser a mandante de um crime,
em 2003. O tabelião Ercy da Silva Cardoso morreu atingido por disparos de arma de
fogo. Iara Marques Barcelos e Leandro da Rocha Almeida foram acusados como
autores do fato. Leandro foi condenado pelo crime em processo que correu separado
na Justiça.
O advogado de Iara, Lúcio de Constantino, disse que entre os documentos que foram
entregues aos integrantes do júri popular pela defesa estava a carta psicografada,
5 A partir de uma perspectiva teológica haveria duas possibilidades para este tipo: a inspiracional, que ocorre quando
na mente dos seres humanos surgiriam informações oriundas do sobrenatural e, a revelacional quando algum ser
sobrenatural surgiria no plano físico e comunicaria diretamente aos homens alguma informação (epifania).
7
escrita por um médium de um centro espírita. A carta teria sido ditada pelo próprio
Ercy e não indica quem seria o autor dos disparos, mas daria a entender que Iara era
inocente. De acordo com a Federação Espírita do Rio Grande do Sul, a psicografia é
uma ciência reconhecida e pode ter valor jurídico.
(Fonte: <http://oglobo.globo.com/cidades/mat/2009/11/11/justica-do-rio-grande-do-sul-mantem-absolvicao-de-mulher-
que-apresentou-carta-psicografada-como-defesa-914713036.asp> Acesso em 17/06/11)
A PSICOLOGIA CIENTÍFICA
A PSICOLOGIA É UMA CIÊNCIA?
1ª RESPOSTA: SIM, pois os conhecimentos construídos pela pesquisa psicológica
possuem todas as características do conhecimento científico. Os conhecimentos da
psicologia, p.ex., baseiam-se em FATOS! Mas, que fatos seriam esses?
1º FATO: O comportamento dos seres vivos.
Definição de comportamento: O comportamento
é um fenômeno objetivo e pode ser definido
como sendo “toda forma de “[...] resposta ou
atividade observável realizada por um ser vivo.”
(WEITEN, 2002, p. 520)
DÚVIDAS
1ª. O COMPORTAMENTO É UM FENÔMENO OBJETIVO?
RESPOSTA: SIM, porque podemos observá-lo
6
.
2ª. QUAIS SÃO, ENTÃO, AS CAUSAS DO COMPORTAMENTO?
RESPOSTA: Os eventos que desencadeiam comportamentos são
chamados de estímulos pela psicologia. Logo, toda forma de
comportamento é, portanto, produzida por algum (ou, alguns) tipo(s) de
estímulo(s). Analise o diagrama abaixo da chamada “causalidade
comportamental”.
6
Observar, em ciência, significa estabelecer, via sentidos/percepção, alguma forma de contato mental com o fato. A
observação pode ser “armada” (aquela que utiliza algum instrumento) ou “desarmada” a que não utiliza instrumentos.
8
Um estímulo corresponde a qualquer evento interno ou externo ao sujeito
capaz de provocar um desequilíbrio em seus sistemas constituintes (quais
sejam, o fisiológico e/ou psicológico) de forma a lhe determinar algum
tipo de ação (no caso, reação) que objetive restaurar a homeostase
7
perdida. Analise o quadro a seguir:
TIPOS DE ESTÍMULOS
(Instinto)
8
TIPOS DE COMPORTAMENTOS
1º) Motores (movimentos e expressões);
2º) Sonoros (ruídos ou discursos – este último, somente nos seres humanos).
2º FATO: Os processos mentais dos seres vivos.
Definição de processo mental: São todas as nossas experiências
mentais subjetivas. Por exemplo, sensações, percepções, sonhos,
memórias, pensamentos, sentimentos, inteligência etc.
DÚVIDA
Como podemos estudar cientificamente uma “experiência subjetiva”?
RESPOSTA: A psicologia constrói seus conhecimentos sobre os processos mentais a
partir de três possibilidades:
1. Inferindo-os pela observação do próprio comportamento;
2. Inferindo-os a partir de dados colhidos por algum tipo de
instrumento de avaliação/mensuração
psicológica considerado válido cientificamente
(por exemplo, os testes psicológicos);
3. Por ambos os recursos, anteriormente citados.
7 Homeostase – Tendência dos organismos vivos a buscar o equilíbrio, a estabilidade.
8 Instinto – Será proposta uma definição bastante ampla sobre este conceito: instinto refere-se a toda forma de
comportamento não aprendida, proveniente da herança genética de uma espécie animal, destinada à adaptação e à
sobrevivência.
9
A partir, então, desses dados objetivos os psicólogos são capazes de inferir, e, por
conseguinte, estudar, os processos subjetivos da mente dos seres vivos. Tais
inferências recebem o nome de CONSTRUÇÕES (ou, CONSTRUCTOS)
PSICOLÓGICOS.
SÍNTESE
A PSICOLOGIA É UMA CIÊNCIA?
RESPOSTA: SIM, pois seus instrumentos de
pesquisa são rigorosamente científicos. Por exemplo, a
experimentação, as pesquisas de campo, os
levantamentos etc.
A PLURALIDADE DAS PESQUISAS PSICOLÓGICAS
Embora a psicologia tenha como objetos de estudo e pesquisa o comportamento e os
processos mentais dos seres vivos, tais objetos poderão se manifestar
em diferentes
circunstâncias. Isto impõe à psicologia certas “especializações”, o que, na prática,
criaria várias “psicologias”. Analise o quadro a seguir:
COMPORTAMENTOS e PROCESSOS MENTAIS
Nas relações de trabalho
e produção.
Considerados patológicos,
suas causas e formas de
tratamento.
Nas relações de interesse
do Judiciário e do Direito.
Etc.
Psicologia do
Trabalho
Psicologia
Clínica
Psicologia
Jurídica
FIXAÇÃO
Texto de Apoio – Caderno
de Introdução à Psicologia
– p. 2 a 5.
FIXAÇÃO - Texto de Apoio – Caderno de Introdução à Psicologia – p. 7, 23 a 29
10
Hans Kelsen (1881-1973) – Direito e Ciências Jurídicas
Humor...
11
AS RELAÇÕES INTER E MULTIDISCIPLINARES ENTRE A , AS
CIÊNCIAS JURÍDICAS E O DIREITO
Na busca pelo ideal de justiça e por uma melhor compreensão do
que é o “justo”, por vezes, tanto o direito quanto as ciências
jurídicas socorrem-se de várias outras disciplinas científicas.
O direito e as ciências jurídicas necessitam, por exemplo, de
informações a respeito do comportamento e dos processos
mentais (suas causas, consequências para o sujeito e para a sociedade, seus
transtornos psíquicos etc). A ciência, portanto, que poderá fornecer tais informações é
a psicologia. Analise os quadros a seguir:
RELAÇÕES INTERDISCIPLINARES
(ÂMBITO EPISTEMOLÓGICO - PESQUISA)
RELAÇÕES MULTIDISCIPLINARES
(ÂMBITO DO JUDICIÁRIO - PROCESSO)
CIÊNCIAS
JURÍDICAS
MEDICINA SOCIOLOGIA PSICOLOGIAFILOSOFIA ETC.
JUSTIÇA
OPERADORES
DO DIREITO
PSICÓLOGOS
JURÍDICOS
MÉDICOS
Etc.
ASSISTENTES
SOCIAIS
ENGENHEIROS
CONTABILISTAS
(1)VIDE AS ATIVIDADES PROPOSTAS PARA ESSES CONTEÚDOS!
12
AS PRÁTICAS PSICOLÓGICAS E SUAS APLICAÇÕES NO CONTEXTO
JURÍDICO
ATUALIDADE DA PSICOLOGIA JURÍDICA
SÔNIA ALTOÉ
Instituto de Psicologia da UERJ
A história nos mostra que a primeira
aproximação da Psicologia com o Direito
ocorreu no final do século XIX e fez surgir o
que se denominou “psicologia do
testemunho”. Esta tinha como objetivo
verificar, através do estudo experimental dos
processos psicológicos, a fidedignidade do
relato do sujeito envolvido em um processo
jurídico. Como diz Brito (1993), o que se
pretende é verificar se os “processos internos
propiciam ou dificultam a veracidade do
relato”. Sobretudo através da aplicação de
testes, buscava-se a compreensão dos
comportamentos passíveis de ação jurídica.
Esta fase inicial foi muito influenciada pelo
ideário positivista, importante nesta época,
que privilegiava o método científico
empregado pelas ciências naturais (JACÓ-
VILELA, 1999; FOUCAULT, 1996). Mira y
Lopes, defensor da cientificidade da
psicologia na aplicação de seu saber e de seus
instrumentos junto às instituições jurídicas,
escreveu o “Manual de Psicologia Jurídica”
(1945), que teve grande repercussão no ensino
e na prática profissional do psicólogo, até
recentemente.
Dar relevância a este dado histórico é
importante para desenvolvermos uma reflexão
sobre a prática profissional de psicologia
junto às instituições do direito e sobre as
mudanças que têm ocorrido principalmente
após 1980, indicando novas perspectivas para
o século XXI.
Desta história inicial decorreu uma prática do
profissional de psicologia voltada quase que
exclusivamente para a realização de perícia,
exame criminológico e parecer psicológico
baseado no psicodiagnóstico, feitos a partir de
algumas entrevistas e nos resultados dos
testes psicológicos aplicados. Segundo
estudos da psicóloga e psicanalista Rauter
(1994), esses pareceres e exames, quando
realizados dentro das penitenciárias e
hospitais psiquiátricos penais, servem “para
instruir processos de livramento condicional,
comutação de penas, indulto e,
frequentemente, para avaliar se um detento
pode sair da cadeia ou não, se ele pode
retornar ao chamado convívio social, se ele
merece uma progressão de regime etc.” Seus
estudos revelaram que “a maior parte do
conteúdo destes laudos era bastante
preconceituosa, bem estigmatizante, e nada
tinha de científico... Os laudos repetiam os
preconceitos que a sociedade já tem com
relação ao criminoso, com relação a alguém
que vai para a prisão” (RAUTER,1994:21).
Ela completa dizendo que eles têm
contribuído sobretudo para prolongar as penas
do criminoso. E em relação às crianças e
jovens que eram levados para os centros de
triagem para serem observados,
diagnosticados, e enviados aos internatos e
reformatórios, escreve o desembargador
Amaral: “época em que, na prática, de útil,
nada se fazia além de estatística. Eram laudos
e informações que acabavam facilitando a
segregação, a exclusão, dos mais vulneráveis”
(SILVA, 1994). E, como diz de forma
contundente o professor de direito, Verani, os
instrumentos oferecidos pela psicologia
tinham um uso que favorecia a eficácia do
controle social e reforçava a natureza
repressora que está inserida no direito, ao
invés de garantir as liberdades e os direitos
fundamentais dos indivíduos (VERANI,
1994:14).
Os psicólogos, procurando atender a demanda
do poder judiciário, buscaram se especializar
nas técnicas de exame. E foi a Universidade
do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), em
1980, que atendeu a esta reivindicação
criando, pela primeira vez no Rio de Janeiro,
uma área de concentração, dentro do curso de
especialização em psicologia clínica,
denominada “Psicodiagnóstico para Fins
Jurídicos” (BRITO, 1999). Em 1986 passou
por uma reformulação, tornando-se um curso
13
de especialização independente do
departamento de clínica, ficando ligado ao
departamento de psicologia social.
Voltaremos mais adiante a estas
reformulações.
No Brasil, em particular no eixo Rio - São
Paulo - Belo Horizonte, nos anos 80, junto
com a abertura política, após longo período de
regime militar, intensificou-se uma discussão
importante sobre a cidadania e os direitos
humanos impulsionada pela votação da nova
Constituição brasileira. As mudanças que nos
interessam aqui se referem às leis que tratam
dos direitos e deveres das crianças e
adolescentes. Em 1927 foi criada a primeira
lei, que sofreu algumas modificações em
1979, mas foi somente em 1990 que as
crianças e jovens foram contemplados com
uma lei, inspirada na Doutrina da Proteção
Integral e que “reconhece a criança e o
adolescente como sujeitos plenos de direitos,
gozando de todos os direitos fundamentais e
sociais, inclusive a prioridade absoluta,
decorrência da peculiar situação como
pessoas em desenvolvimento” (SILVA, 1999:
46). Uma discussão importante ocorreu então,
mobilizando a sociedade civil, organizada por
diversos grupos – muitos ligados às
universidades - perplexos com as denúncias
de maus-tratos e mortes ocorridas dentro dos
internatos da FEBEM (Fundação Estadual do
Bem -Estar do Menor), e pela ação da polícia,
feitas por jornais de grande circulação,
especialmente os da capital paulista, por
ocasião da comemoração do I Ano
Internacional da Criança, em 1979.
A lei que veio substituir o Código de Menores
(1927-1990) é denominada Estatuto da
Criança e do Adolescente, e foi promulgada
em 1990, marcando uma diferença
fundamental (RIZZINI,2000). O novo texto
da lei não contempla somente a criança e o
jovem em “situação de risco”, “situação
irregular”, ou “perigoso”, denominado como
“abandonado”, “carente”, “perambulante” ou,
ainda, de “conduta antissocial”,
que o antigo
Código de Menores contemplava. O Estatuto
trata dos direitos de todas as crianças e jovens
brasileiros considerando-os “sujeitos de
direitos”. Esta mudança de paradigma
regulamenta e chama a atenção para a
responsabilidade do Estado, da sociedade, dos
estabelecimentos de atendimento e dos pais
para com estes “sujeitos em
desenvolvimento”. O artigo 227 da
Constituição da República Federativa do
Brasil sintetiza os preceitos da nova lei nos
seguintes termos:
“É dever da família, da sociedade e do Estado
assegurar à criança e ao adolescente, com
absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde,
à alimentação, à educação, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao
respeito, à liberdade e à convivência familiar
e comunitária, além de colocá-los a salvo de
toda forma de negligência, discriminação,
exploração, violência, crueldade e opressão.”
Quando vigorava o Código, as crianças e
jovens considerados “perigosos” e em
“situação de risco” eram passíveis de ser
apreendidos pela polícia e pelos juízes da 1a.
e 2a. Varas, sendo levados para delegacias ou
para internatos. E como escreve Arantes
(1999) “na prática isto significava que o
Estado podia, através do juiz de menor,
destituir determinados pais do pátrio poder
através da decretação da sentença de ‘situação
irregular’ do menor. Sendo a carência uma
das hipóteses de ‘situação irregular’, podemos
ter a ideia do que isto poderia representar em
um país onde já se estimou em 36 milhões o
número de crianças pobres” (ARANTES,
1999: 258).
As inovações do Estatuto da Criança e do
Adolescente, por força de lei, impulsionaram
mudanças na prática profissional do psicólogo
no âmbito da Justiça na 1a. e 2a. Vara da
Infância e Juventude, exercendo também forte
influência nas outras áreas de trabalho do
psicólogo junto ao poder judiciário, ou seja,
na vara de família e junto ao sistema penal.
Surgiu um rico debate e novos
posicionamentos dos psicólogos que,
questionando uma prática que era
prioritariamente voltada para a elaboração do
psicodiagnóstico, ou, como diz Jacó-Vilela
(1999), para uma atuação de “estrito avaliador
da intimidade” das pessoas, buscaram então
novas formas de atuação junto ao poder
judiciário. Isto influenciou também o ensino
universitário.
Atentos a esta realidade, professores da UERJ
(Universidade do Estado do Rio de Janeiro),
reformularam a proposta existente,
14
constituindo-se num curso de especialização
em “psicologia jurídica”, não sendo mais uma
área de concentração dentro do departamento
de clínica, ligando-se então ao departamento
de psicologia social. Esta mudança favoreceu
uma ênfase muito menor às preocupações da
clínica (ao psicodiagnóstico, em particular),
voltando-se para questões pertinentes à
psicologia social. Esteve à frente, de 1986 a
1996, a professora Leila Torraca de Brito,
sendo um dos primeiros cursos, no país, a
formar especialistas. O que passou a nortear
esta formação é um dos indicadores dispostos
no Código de Ética Profissional dos
Psicólogos. No capítulo que trata “Das
responsabilidades e relações com instituições
empregadoras e outras”, artigo 4, parágrafo
1o., define este Código:
O psicólogo atuará na instituição de forma a
promover ações para que esta possa se tornar
um lugar de crescimento dos indivíduos,
mantendo uma posição crítica que garanta o
desenvolvimento da instituição e da
sociedade.
Este novo campo de atuação que se abre,
inclusive no sentido de novos cargos, novos
empregos, é cheio de inquietações,
indagações e descobertas. Favorece e amplia
o campo da pesquisa e do ensino
universitário. E quando me refiro à pesquisa,
é não somente aquela realizada na academia,
mas também na prática cotidiana de trabalho,
onde o espírito de pesquisador é fundamental
para manter o constante questionamento dos
caminhos a serem abertos ou seguidos numa
prática tão nova e cheia de desafios. As
questões humanas tratadas no âmbito do
direito e do judiciário são das mais
complexas. E, devido às dificuldades que se
colocam, é que as pessoas buscam ou são
levadas a recorrer ao poder judiciário. E o que
está em questão é como as leis que regem o
convívio dos homens e das mulheres de uma
dada sociedade podem facilitar a resolução de
conflitos. Aqueles que têm alguma
experiência na área se dão conta que as
questões não são meramente burocráticas ou
processuais. Elas revelam questões delicadas,
difíceis e dolorosas. A título de exemplo
vejamos alguns dos motivos pelos quais as
pessoas recorrem ao judiciário: pais que
disputam a guarda de seus filhos ou que
reivindicam direito de visitação, pois não
conseguem fazer um acordo amigável com o
pai ou a mãe de seu filho; maus-tratos e
violência sexual contra criança, praticado por
um dos pais ou pelo (a) companheiro(a) deste;
casais que anseiam adotar uma criança por
terem dificuldades de gerar filhos; pais que
adotam e não ficam satisfeitos com o
comportamento da criança e devolvem -na ao
Juizado; jovens que se envolvem com
drogas/tráfico, ou, passam a ter outros
comportamentos que transgridem a lei, e seus
pais não sabem como fazer para ajudá-los
uma vez que não contam com o apoio de
outras instituições do Estado (de educação e
de saúde, por exemplo).
Frente às mudanças que aqui abordamos, e
pensando em alguns exemplos citados acima,
é importante levantarmos a questão sobre a
função e atribuições do psicólogo na área
jurídica. Se, por um lado, o trabalho implica
numa parceria com os outros profissionais,
em particular, aqueles do campo do direito,
por outro, com certeza favorece que o
psicólogo, com a legitimidade que lhe confere
seu campo específico de saber, tenha
autonomia para definir suas funções dentro do
sistema judiciário. E isto em relação direta
com uma prática situada dentro de um
contexto histórico e cultural, em contínua
transformação.
Vejamos então como, principalmente, a partir
dos anos 90, esta prática se diversificou e
ampliou o seu campo de ação junto ao sistema
judiciário. Se, antes da década de 90, o
trabalho do psicólogo quase que se restringia
a fazer perícia e parecer, desde então ganhou
novas modalidades. Seu trabalho tem sido
também o de informar, apoiar, acompanhar e
dar orientação pertinente a cada caso atendido
nos diversos âmbitos do sistema judiciário.
Há uma preocupação praticamente inexistente
antes com a promoção de saúde mental dos
que estão envolvidos em causas junto à
Justiça, como também de criar condições que
visem a eliminar a opressão e a
marginalização.
Tem-se priorizado a formação de equipe
interdisciplinar, o grupo de estudo (para
aprofundamento de questões teóricas que a
prática cotidiana coloca), o estudo de caso, o
acompanhamento psicológico, as atividades
15
de integração e de intercâmbio com outros
profissionais (da Justiça, e também de
instituições externas, como a saúde e a
educação - neste caso, a escola, mas também
o meio acadêmico) para permitir uma visão
mais ampliada dos diferentes serviços
disponíveis e estabelecer parcerias e
procedimentos de encaminhamento. Na Vara
de Família, Brito, especialista em questões
referentes a esta área, defende que a equipe de
psicólogos deve priorizar o trabalho com os
pais com o objetivo de chegar a um acordo
sobre os cuidados e a guarda dos filhos,
auxiliando-os na procura por respostas
próprias dentro de suas possibilidades e
história familiar. Isto porque, quando os pais
não chegam
a um acordo sobre a guarda de
filhos, o juiz “deve deferir a guarda ao
responsável que reúna condições mais
apropriadas para educar as crianças, cabendo
ao outro o direito de visitação”
(BRITO,1999). E como saber quem tem mais
condições? Quais os critérios para esta
avaliação, que é feita pelos psicólogos? Ela
defende também que a equipe de psicologia
assessore o atendimento à criança e ao jovem
envolvidos numa disputa judicial. Ou seja,
que o trabalho do psicólogo auxilie na
resolução dos conflitos que fazem com que a
família recorra ao poder judiciário, ao invés
de ser um profissional que se limita a fazer
parecer para o juiz aplicar a lei, que muitas
vezes não é cumprida, expressando a
repetição de problemas familiares não
elaborados, e o caso retorna à Justiça, num
processo que se alonga por vários anos, sem
diminuir o conflito e a dor dos envolvidos.
Maria de Fátima da Silva Teixeira e Ruth C.
da Costa Belém, psicólogas com longa
experiência nas Varas da Infância e
Juventude, em artigo em que falam de
maneira muito interessante sobre o
desenvolvimento do Núcleo de Psicologia,
defendem também, junto ao Juizado da
Comarca do Rio de Janeiro, a importância de
se fazer grupo de adolescentes, de pais e de
casais guardiões e adotantes. No trabalho na
2a. Vara, junto aos adolescentes a quem se
atribui a prática de atos infracionais, elas
atentam para a função do psicólogo como
sendo, não mais de investigador, e daquele
que faz um laudo que pode funcionar como
um “pré-veredicto judicial”, mas o de
construir, junto ao adolescente uma
possibilidade de escuta, “desconstruindo
lugares já marcados para cada parte
envolvida” lugar de adolescente ‘infrator’,
‘perigoso’, ‘marginal’, ‘vítima da sociedade’;
‘lugar de mãe ou pai negligente’, ‘abusador’;
lugar de criança ‘incapaz’, ‘abusada’,
difícil’”. Estes adjetivos funcionam como
estigmas fortes, “parecendo muitas vezes
como um sobrenome, tal a carga
identificatória que adquirem”, escrevem ainda
estas psicólogas (TEIXEIRA e BELÉM,
1999: 66). A psicóloga jurídica do Tribunal
de Justiça de São Paulo Dayse C. F. Bernardi
resume de maneira clara a importância da
atuação do psicólogo na instância judiciária -
“repousa na possibilidade desse profissional
abordar as questões da subjetividade humana,
as particularidades dos sujeitos e das relações
nos problemas psicossociais, expressos nas
Varas da Infância e Juventude, com o
contexto social e político que as definem”
(BERNARDI, 1999: 108). Construir novas
referências teóricas para um trabalho que na
sua rotina cotidiana pode ser muito
intervencionista na vida dos sujeitos é um
desafio onde a ética profissional se impõe. A
psicanalista Gondar faz uma reflexão
importante no seu artigo “Ética, Moral e
Sujeito”, sobre o trabalho dos psicólogos
mostrando a diferença que existe, se este
profissional atua considerando que trabalha
com objetos ou com sujeitos, ou seja,
anulando subjetividades ou levando-se em
conta sua existência (GONDAR,1999). Sair
do lugar de “técnico” ou de “perito” implica
num exercício profissional crítico e na busca
de alternativas. A mudança tem trazido a
valorização do trabalho do psicólogo que se
mostra de maneira objetiva pelo número
crescente desses profissionais junto aos
operadores do direito. Recorre-se aos
psicólogos sobretudo nas situações difíceis e
cuja solução não se tem parâmetros claros, o
que certamente aumenta nossa
responsabilidade.
E para terminar, gostaria de chamar a atenção
para a formação do especialista nesta área e
sobre a colaboração que as universidades
públicas podem dar nesta fase de construção
de um atendimento a criança pobre que por
16
força da lei, desde 1990, tem direitos que
devem ser respeitados. No Rio de Janeiro,
uma parceria inédita, objetivando a pesquisa e
a qualificação profissional, ocorreu através de
convênio firmado, em 1998, entre a UERJ
(Psicologia, Pedagogia, Direito, Enfermagem,
Letras, Ciências Sociais) e o Departamento de
Ações Socioeducativas (DEGASE). O
resultado do trabalho foi muito produtivo
(BRITO, 2000) e nova cooperação está sendo
firmada a partir de 2001. Quanto a formação
do psicólogo na área de psicologia jurídica, na
UERJ (faço parte da equipe de professores
desde 1992), busca-se, em primeiro lugar,
oferecer um curso que favoreça a formação de
espírito crítico do profissional; considera-se
que a formação clínica seja muito importante,
sem entretanto, visar o aprendizado do
psicodiagnóstico como ocorreu em 1986.
Atualmente, os professores privilegiam uma
formação que leve em conta o estudo dos
fundamentos do direito (o conhecimento das
leis, sobretudo no campo de sua atuação), da
teoria de análise institucional (para
compreensão e possibilidade de intervenção
institucional), da sociologia e da psicologia
social para se refletir sobre a violência, a
identidade, a formação de grupos, e como o
contexto social influencia a formação de
subjetividades; considera-se importante
também o conhecimento da teoria
psicanalítica, que permita pensar a questão da
Lei e das leis, para compreender a
constituição do sujeito do desejo humano e os
avatares dessas construções (LEGENDRE,
1999; MOUGIN, 1999).
17
PRINCIPAIS ATIVIDADES DO NO JUDICIÁRIO
1ª: ASSESSORIA - Funções: Assessorar os órgãos judiciais e
administrativos, na esfera de sua competência profissional, nas
questões próprias da disciplina de cada profissional;
Participar, quando solicitado, das audiências, a fim de
esclarecer aspectos técnicos em Psicologia;
Participar de reuniões multidisciplinares.
2ª. ORIENTAÇÃO E ACOMPANHAMENTO DOS
JURISDICIONADOS – Funções: Prestar orientação e
acompanhamento ao jurisdicionado, articulando recursos da
comunidade que possam contribuir para o encaminhamento de
situações psicológicas a ele referentes, nos limites do
processo;
Empreender ações de aconselhamento e orientação junto a problemas psicológicos
evidenciados, utilizando metodologia específica das áreas de atuação;
Desenvolver trabalhos de intervenção, tais como: apoio, mediação, encaminhamento
e prevenção, próprios aos seus contextos de trabalho.
3ª. PESQUISADOR – Funções: Realizar e colaborar com
pesquisas, programas e atividades relacionadas à prática
profissional dos Psicólogos, no âmbito do Poder Judiciário,
objetivando seus aperfeiçoamentos técnicos e a produção de
conhecimentos.
4ª PERITO PSICOLÓGICO – Funções – Vide página 41.
18
AS PRINCIPAIS ÁREAS DE ATUAÇÃO DA NO CAMPO JURÍDICO
Direito Penal: avaliações psicológicas no que pese a sanidade
mental das partes envolvidas com fatos criminosos; violência
doméstica contra a mulher, intervenções junto às famílias
vitimadas; perfil psicológico de criminosos etc.
Direito Civil: avaliação psicológica em casos de interdições; em
casos de indenizações por dano psicológico (ou, psíquico) em
diversas circunstâncias (p.ex., em acidentes).
Direito de Família: intervenção em casos de separação, divórcio,
regulamentação de visitas, pensão alimentícia, destituição do poder,
disputa de guarda, assessoria em relação aos tipos de guarda
(unilateral ou compartilhada) não obstante os interesses dos filhos,
acompanhamento de visitas, síndrome de alienação parental.
Sistema Penitenciário: avaliação psicológica do recluso;
estudos e pesquisas sobre os processos de ressocialização;
intervenções junto ao recluso e ao egresso no que pese os
objetivos de ressocialização, saúde
mental e
“desinstitucionalização” em relação ao sistema penitenciário
quando do fim da pena; trabalho com os agentes de segurança
(p. ex. estresse, violência etc.), estudos sobre penas alternativas (p.ex., prestação de
serviço à comunidade etc.); trabalho junto aos parentes dos reclusos
(aconselhamento).
Justiça da Infância e da Juventude: avaliação psicológica
nos casos de violência contra criança e adolescente; trabalhos
com os Conselhos Tutelares (p.ex., treinamento de
conselheiros); adoção, destituição do poder familiar, estágio de
convivência; intervenção junto a crianças abrigadas e seus pais;
estudos, pesquisas e intervenções junto a adolescentes com práticas infratoras,
medidas socioeducativas, prevenção.
Direito do Trabalho: avaliação psicológica em questões
trabalhistas, como acidentes de trabalho, indenizações; avaliação
do dano psicológico em perícias acidentárias.
19
Direito do Idoso: REDE DE PROTEÇÃO AO IDOSO
Segundo o Estatuto do Idoso (Lei nº 10.741/03), idosas são todas
as pessoas com idade igual ou superior a 60 anos. Em seu art. 3º,
são assegurados à pessoa idosa os seguintes direitos: à vida, à
saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer,
ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à
convivência familiar e comunitária.
Avaliação psicológica nos casos de violência contra o idoso (física, psicológica –
“definidas como as diversas formas de privação ambiental, social ou verbal; a
negação de direitos, as humilhações ou o uso de palavras e expressões que insultam
ou ofendem; os preconceitos e a exclusão do convívio social [...]; abusos financeiros
ou a exploração econômica, definidos como a apropriação de rendimentos ou o uso
ilícito de fundos, propriedades e outros ativos que pertençam ao idoso [...] e, a
negligência, entendida como a situação na qual o responsável permite que o idoso
experimente sofrimento. A negligência é caracterizada como ativa quando o ato é
deliberado, e como passiva quando resulta de conhecimento inadequado das
necessidades do idoso ou de estresses do cuidador, resultante da necessidade de
ministrar cuidados prolongados”. (os negritos são meus)) (FONSECA; M.M.;
GONÇALVES, H.S., 2003).
ÉTICA e MORAL
9
Professor e Filósofo Mario Sérgio Cortella
Ética - Conjunto de valores e princípios que as pessoas utilizam para
decidir três questões básicas da vida: quero, devo, posso. Ora, tem
coisa que quero mas não devo, que devo mas não posso ou que posso
mas não devo. Não existe ninguém sem uma ética própria. O que existe são pessoas
com valores e princípios contrários à ética vigente. Essas são chamadas de antiéticas.
A ética não é relativa. Ela busca a universalidade, o que não significa que ela não
possa mudar com o tempo.
Moral – É a prática de uma ética. É a ação de decidir, escolher e julgar segundos
valores e princípios éticos vigentes. Neste sentido, portanto, imoral é todo aquele que
decide, escolhe e julga contrariamente aos valores e princípios vigentes (ou seja, à
ética vigente). Amoral, por sua vez, são todas aquelas pessoas que não podem
decidir, escolher e julgar. Por exemplo, as crianças e os loucos (no direito chamados
de incapazes). A moral, esta sim, é relativa, pois enquanto exteriorização de uma
ética, depende de uma série de injunções e circunstâncias reais.
9 Texto elaborado a partir da entrevista concedida pelo prof. Sergio Cortella ao programa Jô em 14/06/2010.
20
A ÉTICA PROFISSIONAL DO PROFISSIONAL DE
A Resolução nº 010/05, de 21/07/05, do Conselho Federal de Psicologia, instituiu no
Brasil o Código de Ética Profissional do Psicólogo.
PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS
I. O psicólogo baseará o seu trabalho no respeito e na promoção da liberdade, da
dignidade, da igualdade e da integridade do ser humano, apoiado nos valores que
embasam a Declaração Universal dos Direitos Humanos.
II. O psicólogo trabalhará visando promover a saúde e a qualidade de vida das
pessoas e das coletividades e contribuirá para a eliminação de quaisquer formas de
negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
IV. O psicólogo atuará com responsabilidade, por meio do contínuo aprimoramento
profissional, contribuindo para o desenvolvimento da Psicologia como campo
científico de conhecimento e de prática.
V. O psicólogo contribuirá para promover a universalização do acesso da população
às informações, ao conhecimento da ciência psicológica, aos serviços e aos padrões
éticos da profissão.
VI. O psicólogo zelará para que o exercício profissional seja efetuado com dignidade,
rejeitando situações em que a Psicologia esteja sendo aviltada.
Art. 1º – São deveres fundamentais dos psicólogos:
b) Assumir responsabilidades profissionais somente por atividades para as quais
esteja capacitado pessoal, teórica e tecnicamente;
c) Prestar serviços psicológicos de qualidade, em condições de trabalho dignas e
apropriadas à natureza desses serviços, utilizando princípios, conhecimentos e
técnicas reconhecidamente fundamentados na ciência psicológica, na ética e na
legislação profissional;
f) Fornecer, a quem de direito, na prestação de serviços psicológicos, informações
concernentes ao trabalho a ser realizado e ao seu objetivo profissional;
g) Informar, a quem de direito, os resultados decorrentes da prestação de serviços
psicológicos, transmitindo somente o que for necessário para a tomada de decisões
que afetem o usuário ou beneficiário;
h) Orientar a quem de direito sobre os encaminhamentos apropriados, a partir da
prestação de serviços psicológicos, e fornecer, sempre que solicitado, os documentos
pertinentes ao bom termo do trabalho;
Art. 2º – Ao psicólogo é vedado:
b) Induzir a convicções políticas, filosóficas, morais, ideológicas, religiosas, de
orientação sexual ou a qualquer tipo de preconceito, quando do exercício de suas
funções profissionais;
c) Utilizar ou favorecer o uso de conhecimento e a utilização de práticas psicológicas
como instrumentos de castigo, tortura ou qualquer forma de violência;
g) Emitir documentos sem fundamentação e qualidade técnico-científica;
k) Ser perito, avaliador ou parecerista em situações nas quais seus vínculos pessoais
ou profissionais, atuais ou anteriores, possam afetar a qualidade do trabalho a ser
realizado ou a fidelidade aos resultados da avaliação;
21
l) Desviar para serviço particular ou de outra instituição, visando benefício próprio,
pessoas ou organizações atendidas por instituição com a qual mantenha qualquer tipo
de vínculo profissional;
n) Prolongar, desnecessariamente, a prestação de serviços profissionais;
q) Realizar diagnósticos, divulgar procedimentos ou apresentar resultados de serviços
psicológicos em meios de comunicação, de forma a expor pessoas, grupos ou
organizações.
Art. 6º – O psicólogo, no relacionamento com profissionais não psicólogos:
b) Compartilhará somente informações relevantes para qualificar o serviço prestado,
resguardando o caráter confidencial das comunicações, assinalando a
responsabilidade, de quem as receber, de preservar o sigilo.
Art. 9º – É dever do psicólogo respeitar o sigilo profissional a fim de proteger, por
meio da confidencialidade, a intimidade das pessoas, grupos ou organizações, a que
tenha acesso no exercício profissional.
Art. 10 – Nas situações em que se configure conflito entre as exigências decorrentes
do disposto no Art. 9º e as afirmações dos princípios fundamentais deste Código,
excetuando-se os casos previstos em lei, o psicólogo poderá decidir pela quebra de
sigilo,
baseando sua decisão na busca do menor prejuízo.
Parágrafo único – Em caso de quebra do sigilo previsto no caput deste artigo, o
psicólogo deverá restringir-se a prestar as informações estritamente necessárias.
Art. 11 – Quando requisitado a depor em juízo, o psicólogo poderá prestar
informações, considerando o previsto neste Código.
Art. 12 – Nos documentos que embasam as atividades em equipe multiprofissional, o
psicólogo registrará apenas as informações necessárias para o cumprimento dos
objetivos do trabalho.
Art. 18 – O psicólogo não divulgará, ensinará, cederá, emprestará ou venderá a leigos
instrumentos e técnicas psicológicas que permitam ou facilitem o exercício ilegal da
profissão.
(2)VIDE AS ATIVIDADES PROPOSTAS PARA ESSES CONTEÚDOS!
22
PERSONALIDADE
O QUE É PERSONALIDADE?
O vocábulo personalidade tem como principal afixo
a expressão “persona”. “Persona, no uso coloquial,
é um papel social ou personagem vivido por um
ator. É uma palavra italiana derivada do latim para
um tipo de máscara feita para ressoar com a voz do ator (per
sonare significa "soar através de"), permitindo que fosse bem
ouvida pelos espectadores, bem como para dar ao ator a aparência que o papel exigia
(Wikipedia).
Em psicologia, no entanto, personalidade é definida como uma “[...] totalidade
relativamente estável e previsível dos traços emocionais e comportamentais que
caracterizam a pessoa na vida cotidiana, sob condições normais.” (KAPLAN;
SADOCK, 1993).
Principais características da personalidade
CONCEITOS
1º) Estados - “[...] característica momentânea, episódica na personalidade. Um estado
está diretamente relacionado com fatores circunstanciais.” O luto e o estresse são
exemplos de estados.
2º) Traços - “Os traços de personalidade são padrões persistentes no modo de
perceber a realidade, relacionar-se consigo próprio e com os outros e, sobretudo, de
pensar.”
3º) Temperamento – (do latim temperare que significa “equilíbrio”) – corresponde
aos aspectos (traços) geralmente inconscientes da personalidade relacionados às
reações emocionais bem como de sua rapidez e intensidade. O temperamento poderá
ser alterado, até certos limites, por influências médicas (medicações, tratamentos etc)
bem como no decurso da aprendizagem e das experiências de vida. A impulsividade,
a sensibilidade, a intempestividade etc. são características de temperamento.
FIXAÇÃO
Texto de Apoio – Caderno de
Psicologia – Personalidade –
p.432 a 435.
23
4º) Caráter – Conjunto de traços de personalidade e valores éticos, aprendidos e/ou
desenvolvidos a partir das experiências e/ou estimulações recebidas ao longo da vida,
conscientes, que irão determinar a conduta e a moral de um determinado indivíduo.
A empatia, a responsabilidade, o egoísmo, a honestidade etc. são características de
caráter.
e GENÉTICA
“Até bem pouco tempo, a genética do comportamento se
preocupava em compreender até que ponto o material genético,
transmitido hereditariamente, poderia explicar suficientemente a
enorme diversidade do comportamento humano. Em outras
palavras, na tentativa de atribuir valor explicativo ao
comportamento, os pesquisadores se perguntavam até que
momento poderiam utilizar a informação genética, considerando sua base molecular e
bioquímica, sem cair em modelos simplistas ou meramente organicistas de explicação
do comportamento humano.
Atualmente, reconhece-se que o papel da experiência e da aprendizagem é
exatamente o de propiciar a leitura de informações já impressas nos genes, fazendo
com que o comportamento seja compreendido como uma atividade codificada a partir
de uma sequência de nucleotídios
10
, cuja tradução pode ser deflagrada por diferentes
e determinadas condições do ambiente (Lima, 1997; Plomin, 1989; Vogel &
Motulsky, 1996).” (apud COSTA Jr., UnB, 2000)
CURIOSIDADE
O CASO DAS MENINAS LOBO DA ÍNDIA
10 Nucleotídeo: Unidade constituinte dos ácidos ribonucleicos (RNA) e desoxirribonucleicos (DNA).
Think about...
24
A teoria do desenvolvimento psicossocial, de Erik Erikson (1902-1994) – Teoria
Epigenética
11
Para Erikson, a personalidade é um conceito dinâmico que vai se
modificando ao longo de toda a vida. Personalidade, segundo Erikson,
é o resultado da interação contínua de três grandes sistemas:
CONCEITO
A formação da identidade psicossocial
12
- “[...] em termos
psicológicos, a formação da identidade emprega um
processo de reflexão e observação simultâneas, um processo
que ocorre em todos os níveis do funcionamento mental,
pelo qual o indivíduo se julga a si próprio à luz daquilo que
percebe ser a maneira como os outros o julgam, em
comparação com eles próprios e com uma tipologia que é
significativa para eles; enquanto que ele julga a maneira
como eles o julgam, à luz do modo como se percebe a si
próprio em comparação com os demais e com os tipos que se tornaram importantes
para ele.[...]”
(ERIKSON, E.H. Identidade: juventude e crise. 2 ed. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1976, p.21.)
Erikson identificou oito etapas do desenvolvimento psicossocial que vão desde o
nascimento até à morte. Cada uma delas se define mediante uma tarefa de
desenvolvimento em que o indivíduo deve enfrentar crises e conflitos específicos. O
indivíduo deve chegar a uma solução entre duas demandas opostas, equilibrando-as
ou integrando-as. “Cada etapa e crise sucessivas têm uma relação especial com um
dos elementos básicos da sociedade, e isso pela simples razão de que o ciclo da vida
humana e as instituições do homem têm evoluído juntos.” (ERIKSON, 1976, p.230)
Analise o quadro a seguir:
11 Epigenesia: Teoria segundo a qual a constituição dos seres se inicia a partir de célula sem estrutura e se faz mediante
sucessiva formação e adição de novas partes que, previamente, não existem no ovo fecundado; epigênese. (AURÉLIO)
12 Identidade Psicossocial – corresponde a ideia de singularidade, de papel na sociedade.
25
DUAS FASES DO DESENVOLVIMENTO PSICOSSOCIAL
IDADE DEMANDAS
OPOSTAS
DESCRIÇÃO
1ª FASE
Do nascimento até 1
anos.
CONFIANÇA
X
DESCONFIANÇA
Durante o primeiro ano de vida a
criança é substancialmente
dependente das pessoas que
cuidam dela requerendo cuidados
quanto a alimentação, higiene,
locomoção, aprendizado de
palavras e seus significados, bem
como estimulação para perceber
que existe um mundo em
movimento ao seu redor. O
amadurecimento ocorrerá de
forma equilibrada se a criança
sentir que tem segurança e afeto,
adquirindo confiança nas pessoas
e no mundo.
5ª FASE
Dos 12 aos 18
anos.
IDENTIDADE
X
CONFUSÃO DE
PAPÉIS
O jovem experimenta uma série
de desafios que envolvem suas
atitudes para consigo, com seus
amigos, com pessoas do sexo
oposto, amores e a busca de uma
carreira e de profissionalização.
Na medida em que as pessoas à
sua volta ajudam na resolução
dessas questões desenvolverá o
sentimento de identidade pessoal,
caso não encontre respostas para
suas questões pode se
desorganizar, perdendo a
referência. Esta é fase mais
importante do desenvolvimento
psicossocial, segundo Erikson.
Quem é mais humano?
26
COMPORTAMENTO ANTISSOCIAL, AGRESSIVIDADE E VIOLÊNCIA
DÚVIDA
Qual a diferença entre violência e agressividade?
Jurandir Freire Costa (1986) estabelece a diferença entre
agressividade e violência, pontuando que na primeira existe
o fator necessidade, enquanto que a segunda é permeada pela
gratuidade de sua expressão, isto é, não está vinculada à
defesa do agressor nem à manutenção de seu bem-estar ou
desenvolvimento, como ocorre na agressividade. A violência
gera em sua vítima um desprazer desnecessário, violando o
direito da mesma de ocupar um lugar no meio social, ferindo sua identidade, bem
como as regras estabelecidas (leis). A violência é fruto de um desejo de destruir
ou, como afirma Costa, é o emprego desejado da agressividade. Sendo uma
manifestação da vontade, a violência é exclusivamente humana, porque só os
homens desejam. Os animais não desejam; eles somente necessitam, ou seja, seu
caminho tem uma determinação exclusivamente biológica.
Por sua vez, a Organização Mundial da Saúde (OMS) define
violência como “[...] o uso intencional da força física ou o poder,
real ou por ameaça, contra a pessoa mesma, contra outra pessoa,
ou contra um grupo ou comunidade, que possa resultar em ou
tenha alta probabilidade de resultar em morte, lesão, dano
psicológico, problemas de desenvolvimento ou privação.”
(Relatório Mundial sobre a Violência e a Saúde – OMS/2002).
27
TIPOS DE VIOLÊNCIA
13
FÍSICA PSICOLÓGICA ou
MORAL
SEXUAL PRIVAÇÃO ou
NEGLIGÊNCIA
ESTRUTURAL
“[...] significa o uso
da força física para
produzir lesões,
traumas, feridas,
dores ou
incapacidades em
outra pessoa.”
“[...] diz respeito a
agressões verbais ou
gestuais com o
objetivo de
aterrorizar, rejeitar,
humilhar a vítima,
restringir a liberdade
ou ainda isolá-la do
convívio social.”
“[...] diz respeito ao
ato ou jogo sexual
que ocorre nas
relações hetero ou
homossexuais e visa
estimular a vítima ou
a utilizá-la para obter
excitação sexual e
práticas eróticas,
pornográficas e
sexuais, impostas por
meio de aliciamento,
violência física ou
ameaças. O abuso
sexual é a utilização
da violência, do
poder, da autoridade
ou da diferença de
idade para obtenção
de prazer sexual.
Esse prazer não é
obtido apenas por
meio de relações
sexuais propriamente
ditas; pode ocorrer
em forma de carícias,
de manipulação dos
órgãos genitais,
voyeurismo, ou
atividade sexual com
ou sem penetração
vaginal, anal ou
oral.”
“[...] ato de omissão em
prover as necessidades
básicas para
desenvolvimento de
uma pessoa, incluindo
comida, casa,
segurança e educação.”
“[...] se aplica tanto
às estruturas
organizadas
e institucionalizadas
da família como aos
sistemas econômicos,
culturais e políticos
que
conduzem à opressão
de determinadas
pessoas
a quem se negam
vantagens da
sociedade, tornando-
as mais vulneráveis
ao sofrimento e à
morte. Essas
estruturas
determinam
igualmente
as práticas de
socialização que
levam os indivíduos
a aceitar ou a infligir
sofrimentos, de
acordo com o papel
que
desempenham.14”
COMPORTAMENTO AGRESSIVO E A LEI
Estado de necessidade
Art. 24 - Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de
perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar,
direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-
se.
13 MINAYO, apud Governo do Estado de São Paulo, 2009. Manual de Proteção Escolar e Promoção da Cidadania.
14 BOULDING (1981)
28
§ 1º - Não pode alegar estado de necessidade quem tinha o dever legal de enfrentar o
perigo.
Legítima defesa
Art. 25 - Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios
necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem.
VIOLÊNCIA E APRENDIZAGEM SOCIAL
O psicólogo canadense Albert Bandura (1925-), pesquisador da
universidade de Stanford, “sustenta que os padrões de comportamento
característicos das pessoas são formados por modelos aos quais elas
estão expostas. Em aprendizagem por observação, um modelo é uma
pessoa cujo comportamento é observado por outra. [...] Tanto as
crianças como os adultos tendem a imitar prioritariamente as pessoas
de que gostam e a que respeitam. As pessoas também são
particularmente inclinadas a imitar o comportamento daquelas que consideram
atraentes e poderosas (como ídolos da música ou atletas). Além disso, é mais
provável que exista a imitação quando elas veem semelhanças entre os modelos e elas
mesmas. [...] Finalmente, é mais provável que as pessoas copiem um modelo se
observam que o comportamento deste modelo produz resultados positivos.”
(WEITEN, 2002, p. 359)
Fases da Aprendizagem Social
1. Observação;
2. Imitação;
3. Modelação do comportamento.
REFLEXÃO
Violência e mídia
“a representação da violência “se funde” cada
vez mais com a realidade.”
(Leitura Complementar – Caderno de Psicologia – Psicologia Social - da p. 269 à 290).
29
A TEORIA DA FRUSTRAÇÃORAIVAAGRESSÃO
John Dollard (1900-1980). A frustração “ocorre quando
obstáculos interferem na capacidade do organismo de dar
uma resposta ligada a um objetivo, ou seja, de obter uma
redução do impulso.” Particularmente também identificamos como
estímulos frustrantes quaisquer experiências de perda (quer real ou
imaginária) de algo ou alguém considerado promotor de prazer. Tais
perdas suscitariam um acúmulo de tensão (raiva e ódio) que, secundariamente,
poderiam extravasar-se na forma de comportamentos agressivos ou violentos.
Leonard Berkowitz (1926-), contudo, compreendeu que a teoria original
de Dollard exagerava o laço frustração-agressão, e, por isso, tratou de
revisá-la. Teorizou que a frustração produziria raiva, uma disposição
emocional para agredir. Ou seja: FrustraçãoRaiva(possível agressão).
“Na ausência de emoções negativas, a frustração não produz agressão.”
(BERKOWITZ, 1978, 1988, 1989 apud CLONINGER, 1999, p. 362) Berkowitz,
inclusive, irá enfatizar que estímulos ambientais, e não apenas o impulso
agressivo, serão necessários para que a agressividade se expresse. Cita, por
exemplo, os filmes de violência, determinantes culturais etc. Contrariamente às
proposições de Lorenz e Freud de uma catarse da agressividade pelas competições
esportivas, Berkowitz (1962, 1989 apud CLONINGER, 1999) concluiu que essas
competições tendem mais a aumentar a agressão do que reduzi-la, porém, as
evidências empíricas a esse respeito são contraditórias.
REFLEXÃO
Estímulos frustrantes pessoais e sociais:
Identifique alguns.
(Leitura Complementar – Caderno de Psicologia – Psicologia Social – p. 275 e 276)
30
O DESENVOLVIMENTO DO COMPORTAMENTO ANTISSOCIAL
O comportamento antissocial pode ser definido como um
padrão de resposta cuja consequência é maximizar
gratificações imediatas e evitar ou neutralizar as exigências
do ambiente social.
PRÓ-SOCIAIS
(Competência Social)
ANTISSOCIAIS
(Incompetência Social)
Solidariedade
Altruísmo
Cooperação
Empatia
Compaixão
Respeito às normas sociais
Individualismo/Egoísmo paroxísticos
Competitividade destrutiva
Insensibilidade/Frieza
Crueldade
Violação das normas sociais
Fingir/Mentir/Trapacear/Explorar
Fuga da escola e de casa
Debochar/Humilhar/Implicar/Ofender
“Bullying”
Vandalismo
Comportamento Violento/Ameaçar
Roubar/Furtar
Usar drogas
Destruir/Matar
Um aspecto importante para a definição de comportamento
antissocial é que este exerce uma função na relação do indivíduo
com o ambiente social (PATTERSON & cols., 1992). Embora
seja uma forma primitiva de enfrentamento, este comportamento é
efetivo para modificar o ambiente. Indivíduos antissociais
utilizam comportamentos aversivos para modelar e manipular as pessoas à sua volta
e, devido a sua efetividade, esse padrão pode se tornar a principal forma desses
indivíduos interagirem e lidarem com as outras pessoas (PATTERSON & cols.,
1992).
A efetividade do comportamento antissocial está relacionada principalmente às
características da interação familiar, à medida que os membros da família treinam
diretamente esse padrão comportamental na criança. Os pais, em geral, não são
contingentes no uso de reforçadores positivos para iniciativas pró-sociais e fracassam
no uso efetivo de técnicas disciplinares para enfraquecer os comportamentos
desviantes. Além disso, essas famílias se caracterizam pelo uso de uma disciplina
severa e inconsistente com pouco envolvimento parental e pouco monitoramento e
supervisão do comportamento da criança.
31
Patterson e colaboradores (1989) afirmam que em algumas ocasiões o
comportamento é reforçado positivamente, através de atenção ou aprovação, mas a
principal forma de manutenção deste padrão ocorre por meio de reforçamento
negativo, ou condicionamento de esquiva. Em geral, a criança utiliza-se de
comportamentos aversivos para interromper a solicitação ou a exigência de um outro
membro da família. Ainda segundo os autores, a aprendizagem do comportamento
antissocial ocorreria paralelamente a um déficit na aquisição de habilidades pró-
sociais. Desta forma, essas famílias parecem desenvolver crianças com dois
problemas: alta frequência de comportamentos antissociais e pouca habilidade social
(BOLSONI-SILVA & MARTURANO, 2002; PATTERSON & cols., 2000).
Dessa forma, os comportamentos antissociais que ocorrem na
infância são protótipos de comportamentos delinquentes que
poderão acontecer mais tarde. A delinquência, então, representa
um agravamento de um padrão antissocial que inicia na infância
e, normalmente, persiste na adolescência e na vida adulta
(FARRINGTON, 1995; VEIRMEIREN, 2003).
REFLEXÃO
O ATO INFRACIONAL E AS DEPENDÊNCIAS RELACIONAIS AFETIVAS
“[...] Podemos continuar nossa reflexão, abordando uma outra dimensão traçada neste
estudo, que se refere às dependências de contexto. Os adolescentes apontam uma estreita
relação entre o contexto e as práticas infracionais.
Quanto às dependências relacionais afetivas, existe um potencial afetivo importante na
família. Os adolescentes entrevistados descrevem um forte vínculo com a mãe, revelando
o seu papel protetivo, acolhedor e de defesa, valorizando seu vínculo emocional com ela.
Este é, muitas das vezes, o vínculo mais forte apresentado pelo adolescente em conflito com a lei em relação
à sua rede social. Ao passo que a mãe protege o adolescente, este também age no mesmo sentido, procurando
mostrar sua admiração, confiança, lealdade e proteção em relação a ela. Por isso, a atuação da mãe neste
contexto infracional pode trazer grandes contribuições para as possíveis mudanças de comportamento e
desenvolvimento emocional adequado do filho.
No entanto, existe o duplo vínculo aditivo (Colle, 1996) que se estabelece na relação mãe-filho. As mães são
permissivas ao comportamento transgressor do filho, chegando a negar a situação ou a guardar segredo do
problema, fingindo não ver o que está acontecendo, com a intenção de minimizar os riscos e resolver o
problema sozinhas. Esta já não é somente uma proteção, mas uma superproteção. Os filhos acabam por não
se responsabilizarem por seus atos, pois contam com o apoio delas. Podemos ainda inferir a ausência de
autoridade parental na vida destes jovens, quando falam sobre a atitude dos pais diante de seus
comportamentos transgressores. A presença parental deixa de existir quando os pais perdem sua voz ativa
perante o adolescente (Omer, 2002). Muitas vezes a permissividade e a superproteção da mãe podem levar a
esta falta de autoridade perante seus filhos.
Os adolescentes também falam sobre a falta do pai. Em 20 entrevistas surgiram relatos acerca da perda
(falecimento), desconhecimento (mora longe, não tem contato, o abandonou na infância) ou desqualificação
do pai (característica esta representada pelo alcoolismo, violência, ausência de autoridade e não ser o
provedor da família).
A desestruturação de uma família, seja através do divórcio, da morte de algum membro, seja por razões
socioeconômicas, pela ação direta da pobreza ou pela falta de cultura, não são fenômenos que, por si sós,
levam à droga dição. Mas a ausência de afetividade dentro de um sistema familiar, esta sim, é a grande
responsável pelo fenômeno da droga dição, pois, como afirma Kalina e cols.(1999), "a única coisa
impossível de ser substituída é o amor" (p.182).
Neste sentido, um outro aspecto que chama a atenção presente nas falas dos adolescentes, refere-se ao
alcoolismo do pai, seguido de atos violentos. O adolescente sente a frustração pela falta de atenção, rejeição
32
ou abandono deste pai; sente a falta de uma qualidade no vínculo pai-filho: o pai sempre distante: a falta de
intimidade e de disponibilidade dele em estar com o filho. Esta conduta do pai pode estar relacionada ao
alcoolismo do mesmo, o que não elimina o sofrimento, a mágoa, a decepção do adolescente, que ainda não
tem uma compreensão clara da influência do consumo de álcool do pai sobre a dinâmica familiar. O filho
sente-se vitimado pelo pai e identificado com a mãe, como quando um adolescente coloca: "Estragou minha
vida, estragou a vida da minha mãe..." Caberia melhor investigar como se explica esta situação do pai
alcoolista na visão destes adolescentes. A figura paterna pode estar aparecendo como co-geradora do
fenômeno aditivo e delituoso (Kalina & Cols., 1999). A função paterna fica comprometida, fazendo com que
o jovem permaneça no vazio e procure "fora" a autoridade que não encontra "dentro" de casa (Omer, 2002).
O ato infracional surge, então, como a busca deste pai, de uma autoridade, de uma lei que seja capaz de
colocar limites, que "proíba" o adolescente de agir, mas que favoreça, em contrapartida, algum tipo de
aproximação pai-filho.
Do mesmo modo, há nas falas destes adolescentes a denúncia de usuários de drogas e antecedentes criminais
na família como mediadores do vínculo. É interessante observar que 13 adolescentes entrevistados falaram
sobre o alcoolismo do pai e/ou a presença de antecedentes criminais ou outros usuários de drogas na família.
Esta questão nos leva a pensar no significado simbólico para o adolescente do comprometimento de algum
membro da família com o álcool, as drogas ou os atos infracionais. Aparecem contradições nos relatos dos
adolescentes, mostrando novamente aqui a questão do duplo vínculo aditivo que se estabelece na dinâmica
familiar. Por um lado, veem as condutas "alcoolistas", aditivas, delituosas no sistema familiar como modelo
(não há críticas em relação ao pai) e é o próprio sistema que os introduz na criminalidade e na adição
(aprendem com o pai a beber, a traficar). Por outro lado, os adolescentes denunciam os membros do sistema,
que se tornam inconvenientes quando perdem o controle. A falta de coerência no contexto familiar torna a
relação ambivalente: abandono e regresso, aproximação e distanciamento, provocando nestes adolescentes
sentimentos, por sua vez, também bastante contraditórios. Se em determinados momentos odeiam, rejeitam,
estigmatizam seus familiares, em outros, amam, são cúmplices e os têm como exemplo. Podemos pensar
que
toda esta situação é conflituosa e pode estar deixando o adolescente mais vulnerável para ficar fora de casa.”
(PEREIRA; SUDBRACK, 2005)
33
MALDADE NA INFÂNCIA E NA ADOLESCÊNCIA: “BULLYING”
Caracteriza atos de violência física ou psicológica, intencionais
e repetidos, geralmente contra pessoas em desvantagem de
poder, sem motivação aparente e que causa dor, angústia e
humilhação a quem sofre.
Os agressores no “bullying” são, comumente, pessoas
antipáticas, arrogantes e desagradáveis. Alguns trabalhos
sugerem que essas pessoas vêm de famílias pouco estruturadas,
com pobre relacionamento afetivo entre seus membros, são
debilmente supervisionados pelos pais e vivem em ambientes onde o modelo para
solucionar problemas recomenda o uso de comportamento agressivo ou explosivo.
Há fortes suspeitas de que as crianças ou jovens que praticam o “bullying” têm
grande probabilidade de se tornarem adultos com comportamentos antissociais,
psicopáticos e/ou violentos, tornando-se, inclusive, delinquentes ou criminosos.
Normalmente o agressor acha que todos devem atender seus desejos de imediato e
demonstra dificuldade de colocar-se no lugar do outro.
Os meninos estão mais envolvidos com o “bullying” com uma frequência muito
maior, tanto como autores quanto como alvos. Já entre as meninas, embora com
menor frequência, o “bullying” também ocorre e se caracteriza, principalmente, como
prática de exclusão ou difamação. [...] o conceito de “bullying” pode também ser
aplicado na relação de pais e filhos e entre professor e aluno,
citando como exemplos, aqueles adultos que ironizam, ofendem,
expõe as dificuldades perante o grupo, excluem, fazem chantagens,
colocam apelidos preconceituosos e têm a intenção de mostrar sua
superioridade e poder, usando deste comportamento
frequentemente.
“CYBERBULLYING”
“O ‘cyberbullying’ é uma variação da violência infligida a
colegas por um grupo dominante, em geral na escola. Nessas
situações, a tecnologia pode ser usada de várias formas. Por e-
mail, ‘twitter’, mensagens de celular ou outras mídias
eletrônicas, crianças ou adolescentes são ofendidos e
discriminados de forma cruel – e, muitas vezes, a humilhação é
amplamente divulgada pela rede. Há casos em que os agressores conseguem acesso
ao e-mail da vítima, fingem ser ela e enviam em seu nome mensagens desagradáveis
para outras pessoas.
Alguns sinais podem ser importantes para que adultos fiquem alertas, pois as vítimas
muitas vezes não contam aos mais velhos seus problemas. É importante observar, por
exemplo, se, depois de acessar a internet ou ler um SMS, o jovem parece mudado ou
emocionado, se distancia de outros da mesma idade e seu desempenho escolar piora.”
(Revista MenteCérebro, nº 210)
34
LEI JURÍDICA & LEI SIMBÓLICA
“As pessoas estão confundindo desejo com direito!” (M.S.Cortella)
Existem regras que servem para regular as relações dos homens entre si.
Essas são chamadas de normas sociais ou leis jurídicas. Porém, poderá
haver, ou não, no indivíduo uma lei estruturante que funcionará para lhe
dar limites ao gozo. De forma simplificada, essa será chamada de Lei
simbólica. “A Constituição, carta magna de um Estado, as leis, os
estatutos e os regimentos institucionais são modalidades de expressão da
Lei simbólica na cultura e visam ao enquadramento e a limitação do
gozo de uma relação aos demais.” (QUINET, 2008)
Freud (1856-1939), por exemplo, escreve que cada nova
criança que chega ao mundo dos humanos está diante do dever
de ter que dar conta do Complexo de Édipo
15
. Isso faz com que
o complexo de Édipo, com a questão da barreira contra o
incesto, se torne, de uma maneira simples,
mas na verdade muito complexa, o que a
psicanálise chama de Lei. Lei, portanto, que proíbe o incesto e que
proíbe o parricídio, ou seja, o assassinato do pai.
Assim, porque o ser humano é um ser que se organiza e se
desenvolve intelectual e emocionalmente a partir do simbólico
16
, é
pelo simbólico que a Lei será transmitida, via cultura. Estruturar emocionalmente o
sentido fundamental da Lei (ou seja, o da interdição aos impulsos básicos), ocorrerá,
principalmente, na infância mais tenra e dependerá das primeiras relações sociais da
criança (ou seja, com a mãe e com o pai). O registro estruturante da Lei é o que
possibilitará, futuramente, à adaptação e o desenvolvimento sadio às posteriores
relações civilizadas (escola, grupos, sociedade etc.).
A AUTORIDADE DOS PAIS
“A autoridade não é um atributo individual das figuras
paternas. A autoridade dos pais - e da escola, que também anda
em apuros [...] - deriva de uma lei simbólica que interdita os
excessos de gozo. Uma lei que deve valer para todos. O pai que
“tem moral” com seus filhos é aquele que também se submete
à mesma lei, traduzida em regras de civilidade, de respeito e da
chamada boa educação.” (KEHL, M.R.)
15 Para um maior aprofundamento sobre o complexo de Édipo, sugiro a leitura do seguinte texto: Configurações
edípicas da contemporaneidade: reflexões sobre as novas formas de filiação, de Paulo Roberto Ceccarelli. Disponível
em < http://www.editoraescuta.com.br/pulsional/161_07.pdf>.
16 Simbólico, neste contexto, significa a capacidade humana de representar a realidade por signos linguísticos.
(Leitura Complementar – Caderno de Psicologia – Psicologia – p. 422 a 429)
35
O GOZO PELA VIOLAÇÃO DA LEI: O TRAÇO PERVERSO
Para o pensamento psicanalítico, o que se chama “perverso” é, no
âmbito dos impulsos sexuais e de suas consequentes fantasias, a
tendência a buscar a permanência de um gozo absoluto e ilimitado.
De um gozo (primitivo, incestuoso e, portanto, infantil) que irá
negar quaisquer restrições ou limites (ou seja, que irá negar a Lei).
“O desafio e a transgressão são o exercício de buscar, incessantemente,
garantir e esticar o usufruto do gozo, além de todos os limites que a
cultura e o pacto civilizatório impõem ao Outro.” Perverso em
psicanálise toma o sentido de desvio ou perturbação das formas consideradas
“normais” (maduras, adultas, satisfatórias para o sujeito etc.) do gozo sexual.
O sentido da negação, neste contexto, significa que o sujeito perverso reconhece a
existência da lei, porém, a nega, ou seja, não a aceita, não a estrutura em sua
personalidade. Analise a classificação a seguir:
REFLEXÕES
“O apelo capitalista ao consumo que sugere, pela mídia, valores e
atitudes de não limite ao gozo e ao prazer imediato.”
“A lei da palmada, atualmente em tramitação no
Congresso Nacional.”
36
TEXTO COMPLEMENTAR
Cariocas gostam de bandalha
(ZUENIR VENTURA (O GLOBO, 26/11/08)
A pesquisa publicada domingo pelo GLOBO, mostrando que só
9% dos motoristas respeitam sinal de trânsito, confirma o que
já se sabia observando o nosso dia-a-dia e o que Adriana
Calcanhotto cantou na sua canção de amor ao Rio e ao seu
povo: "Cariocas não gostam de sinal fechado." Gaúcha, ela foi
generosa. Ao defeito apontado, contrapôs 15 qualidades positivas que enumera em
graciosos versos: "Cariocas são bonitos/Cariocas são bacanas/Cariocas são
sacanas/Cariocas são dourados" e por aí vai. Ela os chama ainda de modernos,
espertos, diretos, alegres, sexy, que não gostam de dias nublados etc. Talvez por
delicadeza de forasteira, ela não quis apontar uma verdade incômoda que explica todo
o comportamento transgressor dos cariocas. Eles gostam de bandalha.
E não apenas no trânsito, embora nesse quesito eles sejam imbatíveis. Gostam de
fechar os cruzamentos, de debruçar sobre a buzina sem necessidade, de estacionar
nas
calçadas, de parar em lugar proibido, de excesso de velocidade, de falar ao celular
enquanto dirigem, de andar na contramão e de xingar quem insiste em se manter
dentro da lei (me lembro da senhora ao volante esperando a luz verde, e um sujeito
histérico gritando atrás: "Pensa que tá na Suécia, perua?")
Assim, além de responsáveis por um dos mais caóticos trânsitos do planeta, os
cariocas também são especialistas em delitos menores, para não falar nos grandes,
como assaltos e homicídios. Costumam urinar em lugares públicos, desrespeitar filas
("quem gosta de fila é paulista", já ouvi um furão dizer, sem esperar a vez), levar o
cachorro para fazer cocô no calçadão, e gostam de falar alto e atender o celular no
cinema, enquanto comentam o filme com o vizinho.
Outro dia uma leitora mandou carta ao jornal relatando a cena que presenciou: um
garoto estava chutando a cadeira da frente, quando a senhora virou-se e pediu que ele
parasse. Sabe o que fez o acompanhante, provavelmente pai ou avô do menino?
Passou, ele mesmo, a repetir o que o neto ou filho fazia antes. Não sem chamar a
queixosa de maluca. Há pouco tempo assisti a coisa parecida numa sessão à tarde.
Quando alguém fez psiu para um grupo de cafajestes que discutiam aos gritos, um
deles revidou: "Psiu é a p..., os incomodados que se mudem." Essa é a nossa
realidade: há cada vez menos lugares para os incomodados. Em matéria de civilidade,
os sinais foram trocados. O desvio virou norma e a exceção, regra.
37
PERSONALIDADE E DOUTRINA JURÍDICA
DÚVIDA
Qual a diferença entre um “bem jurídico”
e um “direito”?
Bem jurídico – “Diz-se da coisa, material (quanto ao valor econômico) ou imaterial
(quanto a um interesse moral), que constitui ou pode constituir o objeto de um
direito.” Ex.: A vida, a honra, o patrimônio.
(SIDOU, J.M.O. Dicionário Jurídico: Academia Brasileira de Letras Jurídicas. 10 ed. Rio de
Janeiro: Forense Universitária, 2009.)
Direito – “Faculdade legal de praticar ou deixar de praticar um ato. Prerrogativa, que
alguém possui, de exigir de outrem a prática ou abstenção de certos atos, ou o
respeito a situações que lhe aproveitam; jus. Faculdade concedida pela lei; poder
legítimo.” (AURÉLIO).
Personalidade “exprime a aptidão genérica para adquirir direitos e
contrair obrigações.” (DINIZ, 2007, p. 114)
“A personalidade consiste no conjunto de caracteres próprios da pessoa. A
personalidade não é um direito, de modo que seria errôneo afirmar que o ser humano
tem direito à personalidade. A personalidade é que apoia os direitos e deveres que
dela irradiam, é o objeto de direito, é o primeiro bem da pessoa, que lhe pertence
como primeira utilidade, para que ela possa ser o que é, para sobreviver e se adaptar
às condições do ambiente em que se encontra, servindo-lhe de critério para aferir,
adquirir e ordenar outros bens.” (GODOFFREDO TELLES JR. apud DINIZ, 2002, p.
154)
[...] “pode-se afirmar, que os direitos da personalidade são direitos subjetivos, que
tem por objeto os elementos que constituem a personalidade do seu titular,
considerada em seus aspectos físico, moral e intelectual. São direitos inatos e
permanentes, nascem com a pessoa e a acompanham durante toda sua existência,
tendo como finalidade primordial à proteção das qualidades e dos atributos essenciais
da pessoa humana, de forma a salvaguardar sua dignidade e a impedir apropriações e
agressões de particulares ou mesmo do poder público.” (NOCOLODI, 2003)
38
DANO PSICOLÓGICO (OU, PSÍQUICO)
Por definição, o Dano Psíquico seria “uma Doença Psíquica nova na
biografia de uma pessoa, relacionada causalmente com um evento
traumático (acidente, doença, delito), que tenha resultado em um
prejuízo das aptidões psíquicas prévias e que tenha caráter irreversível
ou, ao menos durante longo tempo”.
No direito penal o Dano Psíquico corresponde às “lesões graves que
resultaram em prejuízo emocional provavelmente ou certamente
incurável ou, menos drasticamente, em doença que incapacita por
mais de trinta dias.”
Em princípio, todo prejuízo emocional ocasionado por um acontecimento expressivo,
seja uma doença profissional, acidente, delito, ou injúria emocional onde haja um
responsável legal, pode ser susceptível de ressarcimento pecuniário (indenização).
No dano psíquico há que se verificar o nexo causal entre o fato ocorrido e as
alterações na personalidade do sujeito. Tal verificação se fará através de exame
pericial (psiquiátrico ou psicológico). Neste caso, deverá ser verificado pela perícia se
em função do ocorrido o sujeito tornou-se incapaz para 1. desempenhar suas tarefas
habituais; 2. para trabalhar; 3. para ganhar dinheiro; 4. para relacionar-se; 5. para ser
feliz. (adaptado de www.psiqweb.med.br) Analise o esquema abaixo:
EVENTO
TRAUMÁTICO
PERSONALIDADE
ANTES DO EVENTO
TRAUMÁTICO
PERSONALIDADE
APÓS O EVENTO
TRAUMÁTICO
NEXO CAUSAL
ALTERAÇÃO PREJUDICAL DA PERSONALIDADE
PERÍCIA PSIQUIÁTRICA OU PSICOLÓGICA NO DANO PSÍQUICO
(3)VIDE AS ATIVIDADES PROPOSTAS PARA ESSES CONTEÚDOS!
39
O PROCESSO DE AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA NO JUDICIÁRIO
A avaliação psicológica é entendida como o processo
técnico-científico de coleta de dados, estudos e
interpretação de informações a respeito dos fenômenos
psicológicos, que são resultantes da relação do indivíduo
com a sociedade, utilizando-se, para tanto, de estratégias
psicológicas – métodos, técnicas e instrumentos.
Os psicólogos, ao realizarem avaliações psicológicas,
devem se basear exclusivamente nos instrumentais técnicos (entrevistas, testes,
observações, dinâmicas de grupo, escuta, intervenções verbais) que se configuram
como métodos e técnicas psicológicas para a coleta de dados, estudos e interpretações
de informações a respeito da pessoa ou grupo atendidos. Esses instrumentais técnicos
devem obedecer às condições mínimas requeridas de qualidade e de uso, devendo ser
adequados ao que se propõem a investigar.
A avaliação psicológica no judiciário
“Ao psicólogo perito cabe fornecer um laudo [ou
parecer] psicológico com informações pertinentes ao
processo judicial e à problemática diagnosticada,
visando auxiliar o magistrado na formação de seu
convencimento sobre a decisão judicial a ser tomada,
como forma de realização do direito objetivo das partes
em oposição.[...]
Para tanto, o psicólogo estabelece um planejamento de
avaliação dos aspectos psicológicos implicados no caso atendido, com base no
estudo dos autos, isto é, de todos os documentos e provas que compõem o processo
judicial. Os instrumentos utilizados para fins de diagnósticos são escolhidos com base
no conhecimento técnico sobre técnicas de exame psicológico, na formação teórica,
nas condições institucionais para a realização do trabalho e na situação emocional dos
implicados no processo judicial. Considera-se a especificidade da situação judicial,
em que as pessoas não escolheram a intervenção do psicólogo e estão numa posição
defensiva, procurando fazer prevalecer seus interesses sobre terceiros, com quem, em
geral, mantém vínculos afetivos conflituosos.[...]
Na atuação judiciária, a adequação dos instrumentos está relacionada à natureza do
processo judicial (verificatório, contencioso), da natureza e gravidade das questões
tratadas no processo (criança e adolescentes em situação de risco), do tempo
institucional (urgência, data de audiência já fixada, número de casos agendados) e da
livre escolha do profissional, conforme seu referencial técnico, filosófico e
científico.[...]
(BERNARDES In: CRUZ, MACIEL, RAMIREZ, 2005, p.71-80)
40
Testes psicológicos
“Testes psicológicos são uma medida padronizada de uma amostra
do comportamento de uma pessoa. Eles são instrumentos de
mensuração utilizados para medir as diferenças individuais entre
as pessoas com relação a capacidades, aptidões, interesses e
aspectos da personalidade.” (WEITEN, 2002, p. 251)
Quanto à finalidade, os testes podem ser: testes de capacidade mental ou escalas de
personalidade (escalas e não testes, pois nessas últimas não há uma resposta certa).
Analise o gráfico a seguir:
Resolução CFP Nº 002/2003 – “Art. 1º - Os Testes Psicológicos são instrumentos de
avaliação ou mensuração de características psicológicas, constituindo-se um método
ou uma técnica de uso privativo do psicólogo, em decorrência do que dispõe o § 1º do
Art. 13 da Lei nº 4.119/62.”
No Brasil, os Testes Psicológicos são regidos pela Res. Nº 002/2003, do Conselho
Federal de Psicologia. Nessa Resolução são definidos critérios científicos rígidos à
elaboração desses instrumentos de avaliação. O CFP mantém, inclusive, um Sistema
de Avaliação de Testes Psicológicos (SATEPSI), sistema esse que submete os vários
testes psicológicos disponíveis no mercado brasileiro a uma rigorosa avaliação
científica. No site do CFP é publicada e atualizada constantemente a relação dos
testes aprovados (= permitidos) e rejeitados (= proibidos) pelo SATEPSI.
Por fim, há que se ter clareza sobre o seguinte ponto: um teste psicológico, por ser
ater a uma amostra do comportamento, tal amostra pode não ser representativa,
naquele momento, do comportamento característico de uma pessoa. Lembremo-nos,
neste sentido, dos estados psicológicos. “Muitos testes psicológicos são mecanismos
precisos de mensuração. No entanto, devido ao eterno problema da amostragem, os
seus resultados não devem ser considerados como a palavra definitiva sobre a
personalidade e as capacidades de uma pessoa.” (WEITEN, 2002, p. 251)
41
Perícia psicológica
O exame pericial psicológico é uma espécie de avaliação
psicológica “com a finalidade de elucidar fatos do interesse de
autoridade judiciária, policial, administrativa ou,
eventualmente, particular. Constitui-se, pois, em meio de
prova, devendo o examinador proceder com permanente
cautela devido a essa singularíssima condição.” (TABORDA,
2004, p.43).
“Conceitua-se perícia, pois, como o conjunto de procedimentos técnicos que tenha
como finalidade o esclarecimento de um fato de interesse da Justiça; e, perito, o
técnico incumbido pela autoridade de esclarecer fato da causa, auxiliando, assim, na
formação de convencimento do juiz.
Cabe ao psicólogo, portanto, enquanto perito, elaborar relatórios (Res. CFP nº 08/10)
sobre os aspectos psicológicos dos jurisdicionados, os quais deverão ser apresentados
à autoridade judicial.
Perícia e dinâmica psicológica
DOCUMENTOS EXARADOS PELOS JURÍDICOS
(De acordo com a Res. CFP nº 07/03)
a) Atestado
É um documento expedido pelo psicólogo que certifica uma determinada situação ou
estado psicológico, tendo como finalidade afirmar sobre as condições psicológicas de
quem, por requerimento, o solicita, com fins de:
a) Justificar faltas e/ou impedimentos do solicitante;
b) Justificar estar apto ou não para atividades específicas, após realização de um
processo de avaliação psicológica, dentro do rigor técnico e ético que subscreve esta
Resolução;
c) Solicitar afastamento e/ou dispensa do solicitante, subsidiado na afirmação
atestada do fato, em acordo com o disposto na Resolução CFP nº 015/96. (Res. que
regulamenta a concessão de Atestado Psicológico para tratamento de saúde por
problemas psicológicos).
b) Relatório (ou, Laudo Psicológico)
O relatório ou laudo psicológico é uma apresentação descritiva acerca de situações
e/ou condições psicológicas e suas determinações históricas, sociais, políticas e
culturais, pesquisadas no processo de avaliação psicológica. Como todo documento,
42
deve ser subsidiado em dados colhidos e analisados, à luz de um instrumental técnico
(entrevistas, dinâmicas, testes psicológicos, observação, exame psíquico, intervenção
verbal), consubstanciado em referencial técnico-filosófico e científico adotado pelo
psicólogo.
A finalidade do relatório psicológico será a de apresentar os procedimentos e
conclusões gerados pelo processo da avaliação psicológica, relatando sobre o
encaminhamento, as intervenções, o diagnóstico, o prognóstico e evolução do caso,
orientação e sugestão de projeto terapêutico, bem como, caso necessário, solicitação
de acompanhamento psicológico, limitando-se a fornecer somente as informações
necessárias relacionadas à demanda, solicitação ou petição.
c) Parecer psicológico
Parecer é um documento fundamentado e resumido sobre uma questão focal do
campo psicológico cujo resultado pode ser indicativo ou conclusivo.
O parecer tem como finalidade apresentar resposta esclarecedora, no campo do
conhecimento psicológico, através de uma avaliação especializada, de uma “questão-
problema”, visando a dirimir dúvidas que estão interferindo na decisão, sendo,
portanto, uma resposta a uma consulta, que exige de quem responde competência no
assunto.
O psicólogo parecerista deve fazer a análise do problema apresentado, destacando os
aspectos relevantes e opinar a respeito, considerando os quesitos apontados e com
fundamento em referencial teórico-científico.
Havendo quesitos, o psicólogo deve respondê-los de forma sintética e convincente,
não deixando nenhum quesito sem resposta. Quando não houver dados para a
resposta ou quando o psicólogo não puder ser categórico, deve-se utilizar a expressão
“sem elementos de convicção”. Se o quesito estiver mal formulado, pode-se afirmar
“prejudicado”, “sem elementos” ou “aguarda evolução”.
d) Declarações
É um documento que visa a informar a ocorrência de fatos ou situações objetivas
relacionados ao atendimento psicológico, com a finalidade de declarar:
a) Comparecimentos do atendido e/ou do seu acompanhante, quando necessário;
b) Acompanhamento psicológico do atendido;
c) Informações sobre as condições do atendimento (tempo de acompanhamento, dias
ou horários).
Neste documento não deve ser feito o registro de sintomas, situações ou estados
psicológicos.
Obs.: Os Atestados e os Laudos são documentos exarados a partir de Avaliações
Psicológicas. Já os Pareceres e as Declarações, não. Um Parecer, p.ex., pode ser
exarado a partir de uma consulta sobre alguma questão pontual, o que não implica,
necessariamente, a realização de uma Avaliação Psicológica.
(4)VIDE AS ATIVIDADES PROPOSTAS PARA ESSES CONTEÚDOS!
43
A FAMÍLIA
Família – do latim “famulus”, que significa um conjunto de
servos e dependentes de um chefe ou senhor.
Família = Instituição Social = Funções: 1. proteger as novas
gerações; 2. reproduzir os “status quo17” social a partir dos
processos de socialização.
DÚVIDA!
As mudanças internas na constituição das famílias promoveriam mudanças sociais
posteriores, ou são as mudanças sociais (valores, costumes etc) que promoveriam
mudanças nas famílias? Justifique.
e FAMÍLIA
“Do ponto de vista psicológico, podemos dizer que a
família humana é uma estrutura de cuidado. E cuidar não
se limita a alimentar e proteger; implica também
socializar, permitir que alguém se desenvolva como um
membro do seu grupo social. A função do cuidador
consiste primeiro em estar disponível e pronto a atender
quando solicitado e, segundo, intervir quando aquele a
quem se cuida parece estar prestes
a se meter em apuros,
além de impor também limites e normas de convivência social e familiar. (LASTA,
S. 2003)
17 Status quo – Expressão latina. Significa o estado em que se achava anteriormente certa questão. (AURÉLIO)
Família e Sociedade
44
RECORDAÇÃO
PERÍODOS DA HISTÓRIA
Pré-história
(até 4. 000 a.C.)
Compreende os períodos Paleolítico (até
10.000 a.C.) quando os homens viviam da
caça e da coleta, eram nômades (não tinham
habitação fixa) e viviam coletivamente; e o
período Neolítico (10.000 - 4.000 a.C.):
quando ocorre a revolução agrária: o homem
tornou-se sedentário (tem habitação fixa).
Teve início a transição do coletivismo para o
individualismo. Agrupados em comunidade,
firmaram os rudimentos (primeiras noções)
das trocas, da propriedade e da urbanidade.
Idade Antiga
(de 4.000 a.C. – 476 d.C.)
Abrange o desenvolvimento das antigas
civilizações orientais e clássicas (egípcia,
mesopotâmica, hebraica, persa, grega, romana
etc.) terminando na queda do Império Romano
do Ocidente (476 d.C.)
Idade Média
(de 476 d.C. – 1453)
Compreendida entre a queda do Império
Romano do Ocidente e a
tomada de Constantinopla
pelos turcos (1453).
Sistema econômico
feudal.
Século XI – Surgimento
da classe burguesa (Ideias
de “Individualidade,
Liberdade e Privacidade”).
Idade Moderna
(1453 – 1789)
Que principia com a queda de Constantinopla
e termina com a Revolução Francesa de 1789.
“Liberdade, Igualdade e Fraternidade.”
Século XVI (31/10/1517) Reforma
Protestante: Lutero afixou 95 teses na Catedral
de Wittenberg na Alemanha contra diversos
pontos da doutrina católica. “O justo viverá da
fé” – Rom. 1:17; Gal. 3:11; Heb. 10:38 (Bíblia
Sagrada) –“Sola Fide, Sola Gratia, Sola
Scriptura, Solus Christus, Soli Deo Gloria.”
Idade Contemporânea
(1789 – até os dias atuais)
Na transição do século XVII para o século
XVIII, a Revolução Industrial, na Inglaterra, o
desenvolvimento da Ciência e das
Tecnologias.
(Martinho Lutero – 1483-1546)
45
TEXTO DE APOIO
A família no ocidente
Philippe Ariès (1914-1984) foi um dos mais importantes historiadores
europeus da atualidade. Em seu livro “História Social da Criança e da
Família” (1986) postula que o sentimento de família era desconhecido
na Idade Média (período histórico que vai do ano 476 d.C. até 1453) à
semelhança do que ocorria quando do período romano. Na Idade Média
as pessoas de posse e os nobres percebiam-se solidariamente como oriundos de uma
mesma linhagem, linhagem essa determinada pelo vínculo sanguíneo entre elas. Tal
percepção servia, principalmente, a preservação e a indivisão do patrimônio dessas
linhagens. Seus laços intrafamiliares não eram estreitos pois desfrutavam das
proteções e licenciosidades das instituições públicas de poder (os Estados). De forma
diversa, quando uma família se constituía essa não se estendia a toda linhagem
(“compreendia, entre os membros que residiam juntos, vários elementos, e, às vezes,
vários casais, que viviam numa propriedade que eles se haviam recusado dividir,
segundo um tipo de posse chamado frereche ou fraternitas. A frereche agrupava em
torno dos pais os filhos que não tinham bens próprios, os sobrinhos ou os primos
solteiros.” - 1986, p. 211) Segundo Ariès, as fraternitas tendiam a não passar das
segundas gerações.
Os aldeões, no entanto, despossuídos que eram de
riquezas e das benesses dos Estados organizavam-se
solidaria e cooperativamente em comunidades maiores
onde viviam não só com parentes
18
, mas também
amigos, vizinhos etc. Tais aldeias atendiam tanto as
necessidades de sobrevivência como de segurança
daqueles aldeões.
A partir do século XIV desenvolve-se com mais intensidade o padrão de família que
hoje conhecemos: a família moderna – ou seja, pai, mãe, filhos naturais e,
eventualmente, adotivos. Um dos fatores implicados com o surgimento desse novo
padrão de família é a “[...] degradação progressiva e lenta da situação da mulher no
lar. Ela perde o direito de substituir o marido ausente ou louco... Finalmente, no
século XVI, a mulher casada torna-se uma incapaz, e todos os atos que faz sem ser
autorizada pelo marido ou pela justiça tornam-se radicalmente nulos. Essa evolução
reforça os poderes do marido, que acaba por estabelecer uma espécie de monarquia
doméstica.” (1986, p.214)
Outro ponto importante que caracterizou o surgimento da família moderna foram as
mudanças de atitude das famílias em relação às crianças. Ariés postula que no
período medieval era costume que os filhos permanecessem com seus pais até por
volta dos sete a nove anos de idade. Atingidas essas idades eram cedidos a outras
casas ou organizações (ateliês de artes, oficinas, manufaturas, estalagens etc) por um
período que durava em média de oito a dez anos, para que lá trabalhassem de forma
18
Essas grandes grupos familiares são chamados, pela antropologia, de “famílias extensas”, ou seja, um grande grupo
familiar constituído por várias células familiares.
46
dura em todos os serviços domésticos e profissionais. O objetivo desse costume era o
de aprendizagem: aprendizagem de boas maneiras bem como de uma determinada
profissão (a dos hospedeiros e mestres). Da mesma forma, as famílias que cediam
seus filhos, acolhiam os filhos de outras famílias com a mesma finalidade. “Era
através do serviço doméstico que o mestre transmitia a uma criança, não ao seu filho,
mas ao filho de outro homem, a bagagem de conhecimentos, a experiência prática e o
valor humano que pudesse possuir.” (1986, p. 228) “De modo geral, a transmissão do
conhecimento de uma geração a outra era garantida pela participação familiar das
crianças na vida dos adultos. [...] Em suma, em toda parte onde se trabalhava, e
também em toda parte onde se jogava ou brincava, mesmo nas tavernas mal-
afamadas, as crianças se misturavam aos adultos. [...] Nessas condições, a criança
desde muito cedo escapava a sua própria família, mesmo que voltasse a ele mais
tarde, depois de adulta, o que nem sempre ocorria. A família não podia, portanto,
nessa época, alimentar um sentimento existencial profundo entre pais e filhos. Isso
não significava que os pais não amassem seus filhos: eles se ocupavam de suas
crianças menos por elas mesmas, pelo apego que lhes tinham, do que pela
contribuição que essas crianças podiam trazer à obra comum, ao estabelecimento da
família. A família era uma realidade moral e social, mais do que sentimental.” (1986,
p. 230-231)
Foi somente a partir do século XV que os sentimentos familiares ganham maior
ênfase. Ariés postula que o principal fator a demonstrar tais mudanças foi a maior
frequência escolar das crianças. “Dessa época em diante, ao contrário, a educação
passou a ser fornecida cada vez mais pela escola. A escola deixou de ser reservada
aos clérigos para se tornar instrumento normal da iniciação social, da passagem do
estado da infância ao do adulto. [...] A substituição da aprendizagem pela escola
exprime também uma aproximação da família e das crianças, do sentimento da
família e do sentimento da infância, outrora separados. A família concentrou-se em
torno da criança. [...] O clima sentimental era agora diferente, mais próximo ao nosso,
como se a família moderna tivesse nascido ao mesmo tempo que a escola, ou, ao
menos, que o hábito geral de educar as crianças na escola. (1986, p. 231-232)
A FAMÍLIA NUCLEAR (ou, MODERNA)
Constituída
por pai, mãe, filhos naturais e adotados residentes na
mesma casa e ausência de outros parentes.
A família nuclear está associada ao isolamento social e à falta de
contato com parentes e, como resultado, a uma grande variedade
de problemas, como a sobrecarga de papéis.
A família nuclear é fruto da influência dos princípios e
aspirações burguesas quais sejam, o valor à individualidade, o
direito à liberdade do indivíduo e o direito à vida privada.
47
PRINCIPAIS MUDANÇAS NA FAMÍLIA NUCLEAR
O casamento a partir da livre escolha dos cônjuges (ênfase ao amor romântico entre o
casal);
A família enquanto núcleo de afeto e proteção;
A definição clara de papéis: o homem como provedor do lar (destinado ao espaço
público) e a mulher como cuidadora, encarregada da vida particular (destinada,
portanto, ao espaço particular).
AS FAMÍLIAS PÓS-MODERNAS
As famílias monoparentais.
As famílias homoafetivas (ou,
homossexuais
19
)
INFORMAÇÕES
Quinta-feira, 05 de maio de 2011 – SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
Supremo reconhece união homoafetiva.
Os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), ao julgarem a Ação Direta de
Inconstitucionalidade (ADI) 4277 e a Arguição de Descumprimento de Preceito
Fundamental (ADPF) 132, reconheceram a união estável para casais do mesmo sexo. As
ações foram ajuizadas na Corte, respectivamente, pela Procuradoria-Geral da República e
pelo governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral.
O julgamento começou na tarde de ontem (4), quando o relator das ações, ministro Ayres
Britto, votou no sentido de dar interpretação conforme a Constituição Federal para excluir
qualquer significado do artigo 1.723 do Código Civil que impeça o reconhecimento da
união entre pessoas do mesmo sexo como entidade familiar.
O ministro Ayres Britto argumentou que o artigo 3º, inciso IV, da CF veda qualquer
discriminação em virtude de sexo, raça, cor e que, nesse sentido, ninguém pode ser
19 Para um maior aprofundamento sobre este tema, sugiro a leitura do seguinte texto: Configurações edípicas da
contemporaneidade: reflexões sobre as novas formas de filiação, de Paulo Roberto Ceccarelli. Disponível em <
http://www.editoraescuta.com.br/pulsional/161_07.pdf>.
48
diminuído ou discriminado em função de sua preferência sexual. “O sexo das pessoas, salvo
disposição contrária, não se presta para desigualação jurídica”, observou o ministro, para
concluir que qualquer depreciação da união estável homoafetiva colide, portanto, com o
inciso IV do artigo 3º da CF. [...]
Ações
A ADI 4277 foi protocolada na Corte inicialmente como ADPF 178. A ação buscou a
declaração de reconhecimento da união entre pessoas do mesmo sexo como entidade
familiar. Pediu, também, que os mesmos direitos e deveres dos companheiros nas uniões
estáveis fossem estendidos aos companheiros nas uniões entre pessoas do mesmo sexo.
Já na Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 132, o governo do
Estado do Rio de Janeiro (RJ) alegou que o não reconhecimento da união homoafetiva
contraria preceitos fundamentais como igualdade, liberdade (da qual decorre a autonomia da
vontade) e o princípio da dignidade da pessoa humana, todos da Constituição Federal. Com
esse argumento, pediu que o STF aplicasse o regime jurídico das uniões estáveis, previsto
no artigo 1.723 do Código Civil, às uniões homoafetivas de funcionários públicos civis do
Rio de Janeiro.
(Fonte: http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=178931)
Terça-feira, 25 de Outubro de 2011 – SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
DECISÃO
Quarta Turma admite casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Em decisão inédita, a Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ), por maioria,
proveu recurso de duas mulheres que pediam para ser habilitadas ao casamento civil.
Seguindo o voto do relator, ministro Luis Felipe Salomão, a Turma concluiu que a
dignidade da pessoa humana, consagrada pela Constituição, não é aumentada nem
diminuída em razão do uso da sexualidade, e que a orientação sexual não pode servir de
pretexto para excluir famílias da proteção jurídica representada pelo casamento. [...]
“Por consequência, o mesmo raciocínio utilizado, tanto pelo STJ quanto pelo Supremo
Tribunal Federal (STF), para conceder aos pares homoafetivos os direitos decorrentes da
união estável, deve ser utilizado para lhes franquear a via do casamento civil, mesmo porque
é a própria Constituição Federal que determina a facilitação da conversão da união estável
em casamento”, concluiu Salomão.
Em seu voto-vista, o ministro Marco Buzzi destacou que a união homoafetiva é reconhecida
como família. Se o fundamento de existência das normas de família consiste precisamente
em gerar proteção jurídica ao núcleo familiar, e se o casamento é o principal instrumento
para essa opção, seria despropositado concluir que esse elemento não pode alcançar os
casais homoafetivos. Segundo ele, tolerância e preconceito não se mostram admissíveis no
atual estágio do desenvolvimento humano. [...]
O recurso foi interposto por duas cidadãs residentes no Rio Grande do Sul, que já vivem em
união estável e tiveram o pedido de habilitação para o casamento negado em primeira e
segunda instância. A decisão do tribunal gaúcho afirmou não haver possibilidade jurídica
para o pedido, pois só o Poder Legislativo teria competência para insituir o casamento
homoafetivo. No recurso especial dirigido ao STJ, elas sustentaram não existir impedimento
no ordenamento jurídico para o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Afirmaram,
também, que deveria ser aplicada ao caso a regra de direito privado segundo a qual é
permitido o que não é expressamente proibido.
(Fonte: STJ, 25/10/2011)
49
CRITÉRIOS PARA O ESTABELECIMENTO DA PATERNIDADE NO
DIREITO BRASILEIRO
CONCEITO
PATERNIDADE – “Condição do pai em relação aos filhos, quanto aos direitos e
obrigações. Obs.: O vocábulo é comum tanto ao pai como à mãe, dado que o
feminino etimológico maternidade tem outro sentido.” (DICIONÁRIO JURÍDICO)
CRITÉRIOS
1º) Presunção legal – Somente para os filhos havidos no casamento. Por
esse critério excluíam-se os chamados “filhos bastardos”, ou seja, os
havidos fora do casamento.
2º) Biológico – Critério que estabelece a paternidade a partir da
constatação científica (via exames de DNA, p.ex.) da descendência
biológica, ou, laço consanguíneo.
3º) Socioafetivo – Critério que poderá estabelecer a paternidade a partir
dos vínculos de afinidade e afetividade, independentemente de qualquer
laço consanguíneo.
Obs.: No direito brasileiro estão positivados somente os dois primeiros critérios
(quais sejam, o legal e o biológico). Porém, em processos de adoção, por exemplo, o
critério afetivo é largamente aceito.
DÚVIDA
Os vínculos de paternidade, uma vez estabelecidos legalmente, são inextinguíveis.
Porém, discute-se atualmente no direito a seguinte questão: Caso o vínculo legal de
paternidade tenha sido estabelecido a partir do critério afetivo (p. ex., numa adoção),
extinta essa afetividade e afinidade entre “pais” e “filhos”, pelo motivo que for, deve
também o vínculo legal de paternidade ser extinto? JUSTIFIQUE:
50
ALIENAÇÃO PARENTAL e SÍNDROME DE ALIENAÇÃO PARENTAL
A Síndrome de Alienação Parental (SAP) é um distúrbio
psicológico de crianças e adolescentes que aparece quase
exclusivamente no contexto de disputas de custódia quando em
processos de separação (importante não confundir com
Alienação Parental, pura e simplesmente,
que caracteriza as
ações caluniadoras e difamatórias do genitor alienador em
relação ao genitor alienado).
Sua manifestação preliminar é a campanha denegritória contra
um dos genitores, uma campanha feita pelo próprio filho e que
não tenha nenhuma justificação. Resulta da combinação das instruções de um genitor
(o que faz a “lavagem cerebral, programação, doutrinação”) e contribuições do
próprio filho para caluniar o genitor-alvo. Importante: quando o abuso e/ou a
negligência parentais verdadeiros estão presentes, a animosidade da criança pode ser
justificada, e assim a explicação de SAP para a hostilidade do filho não é aplicável
SAP – PRINCIPAIS SINTOMAS
Sintomas Característica
Campanha de descrédito Esta campanha se manifesta verbalmente e nas atitudes.
Justificativas fúteis
O filho dá pretextos fúteis, com pouca credibilidade ou absurdos,
para justificar a atitude.
Situações fingidas
O filho conta casos que manifestadamente não viveu, ou que
ouviu contar (“memória implantada”).
Ausência de
ambivalência
O filho está absolutamente seguro de si, e seu sentimento
exprimido pelo genitor alienado é maquinal e sem equívoco: é o
ódio.
Ausência de culpa
O filho não sente nenhuma culpa por denegrir ou explorar o
genitor alienado.
Fenômeno de
independência
O filho afirma que ninguém o influenciou e que chegou sozinho
a esta conclusão.
Sustentação
deliberada.
O filho adota, de uma forma racional, a defesa do genitor
alienador no conflito.
Generalização a outros
membros da família do
alienado.
O filho estende sua animosidade para a família e amigos do
genitor alienado.
51
SAP - CONSEQUÊNCIAS PSICOLÓGICAS PARA OS FILHOS
Os efeitos nos jovens vítimas da SAP podem ser uma depressão crônica,
incapacidade de adaptação em ambiente psicossocial normal, desespero,
sentimento incontrolável de culpa, sentimento de isolamento,
comportamento hostil, falta de organização, dupla personalidade e às
vezes suicídio. Esses jovens podem tornar-se mentirosos e
manipuladores, como os genitores de que foram
vítimas. Isto porque desde muito cedo são treinados
para falar apenas uma parte da verdade. Estudos têm mostrado
que, quando adultas, as vítimas da Alienação Parental têm
inclinação ao álcool e às drogas, e apresentam outros sintomas de
profundo mal-estar.
DICA CINEMATOGRÁFICA
Assista o documentário “A morte inventada:
alienação parental”, direção de Alan Minas.
(www.amorteinventada.com.br)
DICA DE PESQUISA
1. Para maiores informações sobre Alienação Parental visite o site
www.alienacaoparental.com.br;
2. Faça uma leitura da LEI Nº 12.318, de 26/08/2010 que dispõe sobre a
alienação parental e altera o art. 236 da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990.
52
GUARDA COMPARTILHADA
LEI Nº 11.698, de 13/06/08
Altera os arts. 1.583 e 1.584 da Lei no 10.406, de 10 de
janeiro de 2002 – Código Civil, para instituir e
disciplinar a guarda compartilhada.
Art. 1
o
Os arts. 1.583 e 1.584 da Lei n
o
10.406, de 10 de
janeiro de 2002 – Código Civil, passam a vigorar com a
seguinte redação:
Art. 1.583. A guarda será unilateral ou compartilhada.
§ 1
o
Compreende-se por guarda unilateral a atribuída a um só dos genitores ou a
alguém que o substitua (art. 1.584, § 5
o
) e, por guarda compartilhada a
responsabilização conjunta e o exercício de direitos e deveres do pai e da mãe que
não vivam sob o mesmo teto, concernentes ao poder familiar dos filhos comuns.
§ 2
o
A guarda unilateral será atribuída ao genitor que revele melhores condições para
exercê-la e, objetivamente, mais aptidão para propiciar aos filhos os seguintes fatores:
I – afeto nas relações com o genitor e com o grupo familiar;
II – saúde e segurança;
III – educação.
§ 3
o
A guarda unilateral obriga o pai ou a mãe que não a detenha a supervisionar os
interesses dos filhos.
Art. 1.584. A guarda, unilateral ou compartilhada, poderá ser:
§ 2
o
Quando não houver acordo entre a mãe e o pai quanto à guarda do filho,
será aplicada, sempre que possível, a guarda compartilhada.
§ 3
o
Para estabelecer as atribuições do pai e da mãe e os períodos de convivência sob
guarda compartilhada, o juiz, de ofício ou a requerimento do Ministério Público,
poderá basear-se em orientação técnico-profissional ou de equipe interdisciplinar.
DISCUSSÃO
O instituto da Guarda Compartilhada poderá ser um instrumento contra potenciais
processos de alienação parental, quando das dissoluções conjugais? Justifique:
FIXAÇÃO - Caderno de Psicologia – Introdução à Psicologia – p. 19 a 20 e,
Psicologia Social – p. 200, 205, 281 e 282)
53
A QUESTÃO DE GÊNERO
CONCEITOS
1º) SEXO - refere-se às características biológicas de homens e
mulheres, ou seja, às características específicas dos aparelhos
reprodutores femininos e masculinos, ao seu funcionamento e aos
caracteres sexuais secundários decorrentes dos hormônios.
2º) GÊNERO - refere-se às relações sociais desiguais de poder entre
homens e mulheres que são o resultado de uma construção social do
papel do homem e da mulher a partir das diferenças sexuais.
3º) IDENTIFICAÇÃO SEXUAL – a partir do referencial psicanalítico
tal conceito se referiria à constituição do desejo sexual de um indivíduo.
Ou seja, ao gênero sexual objeto do gozo sexual. Neste sentido, um
indivíduo pode desejar o seu mesmo gênero (homo), o gênero oposto
(hetero) ou ambos os gêneros (bi).
REFLEXÃO
O papel do homem e da mulher é constituído
histórica e culturalmente; portanto, muda
conforme a sociedade e o tempo.
54
O PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DOS PAPÉIS DE GÊNERO
Mulheres
Desde meninas as mulheres são incentivadas a serem
passivas, sensíveis, frágeis, dependentes e todos os
brinquedos e jogos infantis reforçam o seu papel de mãe,
dona de casa, e consequentemente responsável por todas as
tarefas relacionadas ao cuidado dos filhos e da casa. Ou
seja, as meninas brincam de boneca, de casinha, de fazer
comida, de limpar a casa, tudo isto dentro do lar.
Homens
Os meninos brincam em espaços abertos, na rua. Eles jogam
bola, brincam de carrinho, de guerra etc. Ou seja, desde
pequenos eles se dão conta que
pertencem ao grupo que tem poder. Até
nos jogos os meninos comandam.
Ninguém os manda arrumar a cama, ou
lavar a louça, eles são incentivados a
serem fortes, independentes, valentes.
INFORMAÇÃO
As relações de gênero são, portanto, produto de um processo pedagógico que se inicia
no nascimento e continua ao longo de toda a vida, reforçando a desigualdade
existente entre homens e mulheres, principalmente em torno de quatro eixos:
1º) Sexualidade
Mulheres
A sexualidade na mulher tem sido relacionada com a
reprodução, ou seja, para a mulher o centro da sexualidade é a
reprodução e não o prazer. A sexualidade reduzida à
genitalidade se apresenta para as mulheres como algo
vergonhoso, proibido.
De um modo geral podemos dizer
que as mulheres desde que nascem
são educadas para serem mães, para
cuidar dos outros, para “dar prazer ao outro”. A sua
sexualidade é negada, reprimida e temida.
55
VOCÊ SABIA?
A mutilação sexual consiste na extração do clitóris. É uma
prática comum em certas comunidades, geralmente para inibir o
prazer sexual. A mutilação pode ser permanente ou temporária.
Homens
Os homens, ao contrário das mulheres, recebem mensagens e
são preparados para viver o prazer
da sexualidade através do seu
corpo, já que socialmente o exercício da sexualidade no homem
é sinal de masculinidade.
2º) Reprodução
A mulher pode gerar um filho, e isto que em si é uma fonte de
poder tem sido controlado e tem determinado outros papéis
diminuindo as possibilidades e limitando a vida das mulheres em
outros âmbitos, como por exemplo, no campo do trabalho.
3º) Divisão sexual do trabalho
Provavelmente pelo fato biológico que a mulher é
quem engravida e dá de mamar, tem sido atribuído
a ela a totalidade do trabalho reprodutivo. Às
mulheres, portanto, se atribui o ficar em casa,
cuidar dos filhos e realizar o trabalho doméstico,
desvalorizado pela sociedade e que deixava as
mulheres “donas de casas” limitadas ao mundo do
lar; com menos possibilidade de educação, menos acesso à informação, menos acesso
à formação profissional etc.
4º) Espaço público e reconhecimento da cidadania
Embora nos dias de hoje, uma grande proporção de
mulheres trabalhe e muitas delas sejam a principal fonte
para o sustento da família, isto não tem significado um
maior desenvolvimento e reconhecimento de sua cidadania.
Em todos os países da América Latina, incluindo o Brasil,
os dados mostram que existe uma grande diferença entre
homens e mulheres e que a falta de equidade prejudica as mulheres. É muito difícil
56
ter mulheres em altos cargos, como diretoras de empresas, de hospitais, reitoras de
universidades etc. Em geral, é muito difícil ter mulheres nos lugares de tomada de
decisões. Isto se explica pelo processo de socialização que ao determinar o trabalho
reprodutivo (casa e filhos) para a mulher, cria condições que a marginalizam do
espaço público, e pelo contrário, o homem é quem assume o trabalho produtivo e as
decisões da sociedade.
REFLEXÃO
As várias jornadas de trabalho da mulher
OS “NOVOS” MALES DAS MULHERES
O tabagismo e drogas O estresse O infarto
57
FATOS E FOTOS
“Em muitas regiões muçulmanas, onde prevalece a Sharia (lei
islâmica), as mulheres acusadas de adúlteras são apedrejadas
até a morte. Um dos exemplos mais comentados em 2002, e
que foi motivo de campanhas internacionais, é o caso de Amina
Lawal (foto), de 31 anos, que no norte da Nigéria foi
condenada à pena máxima porque engravidou de outro homem,
após a separação do marido.
Em 2003, um tribunal de apelações na mesma região considerou
procedente a apelação, considerando que o outro tribunal havia se
equivocado. Na realidade, a pressão internacional, que transformou
Amina Lawal em um símbolo da luta pelos direitos humanos, com
diversos governos se manifestando contra a sua condenação e
intercedendo junto ao presidente nigeriano, é que fizeram com que
houvesse mudança na sua situação.” (DIAS, 2005, p. 192)
Violência contra mulher como uma questão de gênero
A Lei nº 11.340/06 – Lei Maria da Penha
Acesse: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm
Sra. Maria da Penha Maia
Ficou paraplégica por causa de um tiro dado pelo seu ex-
companheiro, que não satisfeito, ainda tentou matá-la,
posteriormente, eletrocutando-a.
58
CRIMES DE ESTUPRO – ESTADO DO RJ
De 2007 até Maio de 2012
Estupros por regiões do Estado do RJ - De 2007 até Maio de 2012
Fonte: ISP/SSP/RJ
Os municípios do Estado do RJ onde ocorreram, em 2010, as maiores incidências de
estupro são: Belford Roxo, Nova Iguaçu e São João de Meriti, nesta ordem. Logo em
seguida, os municípios de Itaboraí e Tanguá. Para maiores detalhes faça o download
do Dossiê Mulher, 2011, ISP:
Acesse: http://urutau.proderj.rj.gov.br/isp_imagens/Uploads/DossieMulher2011.pdf
0
1000
2000
3000
4000
5000
6000
0
1000
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5000
6000
Capital Baixada Grande Niterói Interior
2007 2008 2009 2010 2011 Até Mai/2012
1376 1461
2338
4529
4871
2432
Total = 17007
59
REFLEXÕES
O homossexualismo como um possível “terceiro gênero” em nossa
sociedade!
Projeto de Lei Complementar nº 122/2006 – “Altera a Lei nº 7.716 de 5 de janeiro de
1989, que define os crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor, dá nova
redação ao § 3º do art. 140 do Decreto-Lei nº 2,848, de 7 de dezembro de 1940 –
Código Penal, e ao art. 5º da CLT, aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio
de 1943, e dá outras providências.”
Para conhecer esse PLC acesse:
(http://www.naohomofobia.com.br/lei/PROJETO%20DE%20LEI%20plc122-06.pdf)
A lei e a questão de gênero
Código Civil de 1916, revogado em 2002
Art. 36. Os incapazes têm por domicílio o dos seus representantes.
Parágrafo único. A mulher casada tem por domicílio o do marido, salvo se estiver desquitada (art.
315), ou lhe competir a administração do casal (art. 251).
Art. 178. Prescreve:
§ 1º Em 10 (dez) dias, contados do casamento, a ação do marido para anular o matrimônio contraído
com a mulher já deflorada (arts. 218, 219, IV, e 220). (Parágrafo alterado pela Lei nº 13, de
29.1.1935 e restabelecido pelo Decreto-lei nº 5.059, de 8.12.1942)
Art. 233. O marido é o chefe da sociedade conjugal, função que exerce com a colaboração da
mulher, no interesse comum do casal e dos filhos (arts. 240, 247 e 251). (Redação dada pela Lei nº
4.121, de 27.8.1962)
Art. 240. A mulher, com o casamento, assume a condição de companheira, consorte e colaboradora
do marido nos encargos de família, cumprindo-lhe velar pela direção material e moral desta.
(Redação dada pela Lei nº 6.515, de 26.12.1977)
Art. 1.299. A mulher casada não pode aceitar mandato sem autorização do marido.
(5) VIDE AS ATIVIDADES PROPOSTAS PARA ESSES CONTEÚDOS
60
SOCIEDADE, GRUPOS, ORGANIZAÇÕES E INSTITUIÇÕES SOCIAIS
ANÁLISE DO PODER DAS INSTITUIÇÕES SOCIAIS
REFLEXÕES
“O Homem é um ser social. O comportamento humano
se dá num ambiente social, é decorrência dele, ao mesmo
tempo que o determina.”
“O sentido da existência de um ser humano é construído,
para esse mesmo ser humano, pela sociedade na qual ele se
socializou.”
REVISÃO DA MATÉRIA
Qual teoria já estudada da psicologia corroboraria as afirmações
acima? Justifique.
GRUPOS SOCIAIS
CONCEITO
“[...] pluralidade de indivíduos que estão em contato uns com os
outros, que se consideram mutuamente e que estão conscientes
que têm algo significativamente importante em comum.”
FIXAÇÃO - Caderno de Psicologia – Psicologia Social – p. 196 e 202 a 204).
61
POR QUE EXISTEM GRUPOS SOCIAIS?
Segundo os autores diferentes grupos sociais existiriam no contexto macrossocial
face às diferentes necessidades dos indivíduos que os compõem. Tais necessidades
poderiam ser: de afeição, de prestígio, de poder; necessidades espirituais, de lazer etc.
Um indivíduo, por exemplo, que possua diferentes necessidades (afeição, poder
espirituais etc.) pode, inclusive, fazer parte de vários grupos sociais ao longo de sua
existência. Analise a figura abaixo:
GRUPO DE
AMIGOS
GRUPO
POLÍTICO
GRUPO
RELIGIOSO
FAMÍLIA
PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DOS GRUPOS SOCIAIS
Todos os grupos sociais possuem:
a) Valores (razões, crenças, justificativas, aspirações
ideológicas) e, a partir desses valores são produzidas
b) Normas (regras de conduta,
de vestimenta, de linguajar
etc). As normas, por conseguinte, produzem expectativas de
desempenho. Quando um indivíduo, pertencente a um
determinado grupo social, frustra os demais componentes
daquele grupo em relação ao cumprimento das normas, o
grupo pode reagir em relação a esse indivíduo de diferentes
formas: punindo-o, excluindo-o, agredindo-o, colocando esse
indivíduo no ostracismo
20
etc. Analise o esquema a seguir:
20 Ostracismo – Aqui, no sentido de exílio, repúdio, repulsa.
62
TIPOS DE GRUPOS
Quanto ao tipo, os grupos são classificados de primários e
secundários. Grupos primários são grupos constituídos a
partir de necessidades e/ou objetivos afetivos, pessoais
(aceitação, amizade etc). Exemplos de grupos primários são a
família e os grupos de amigos.
Grupos secundários são grupos
constituídos a partir de
necessidades e/ou objetivos não afetivos, impessoais
(normalmente tais grupos são constituídos para realizar
tarefas ou para produzir algo). Exemplos de grupos
secundários são os grupos e as equipes de trabalho.
Analise os esquemas abaixo:
DISCUSSÃO
RELAÇÕES PRIMÁRIAS e RELAÇÕES SECUNDÁRIAS NOS GRUPOS
SOCIAIS – E QUANDO AS COISAS SE CONFUNDEM?
63
POSIÇÃO SOCIAL, PAPEL SOCIAL E DESEMPENHO DE PAPEL
INSTITUIÇÕES SOCIAIS
DEFINIÇÕES
As estruturas sociais estáveis (ou formas de organização)
baseadas em regras e procedimentos padronizados, socialmente
reconhecidos, aceitos, sancionados e seguidos pela sociedade
são denominadas Instituições Sociais.
Em um plano formal, uma sociedade não é mais que isso: um tecido de instituições
que se interpenetram e se articulam entre si para regular a produção e a reprodução da
vida humana sobre a terra e a relação entre homens.
As instituições, portanto, são formadas para atender as diversas e diferentes
necessidades de uma sociedade. Elas servem como instrumento de regulação e
controle da vida e das atividades dos membros dessa sociedade.
O processo de socialização também pode significar a assimilação das instituições
sociais por parte de um indivíduo. As instituições “moldam” as subjetividades, de
sorte a estabelecer o papel, a posição, as funções, a visão de mundo etc. de todos os
indivíduos pertencentes a uma dada sociedade.
64
TIPOS DE INSTITUIÇÕES
O INDIVÍDUO E OS PROCESSOS DE INSTITUCIONALIZAÇÃO E DE
DESINSTITUCIONALIZAÇÃO
Ao vivermos numa dada sociedade (cultura) assimilamos e, por
conseguinte, nos estruturamos psicológica e socialmente, em
função das instituições sociais que encontramos. Tal processo,
chamado de institucionalização, é fundamental na vida e no
desenvolvimento de um indivíduo por dois motivos principais:
1º) A partir da assimilação dessas instituições podemos encontrar um sentido a nossa
própria existência dentro daquele grupo social;
2º) A assimilação das instituições sociais nos permitirá estabelecer vínculos com os
demais indivíduos. Ou seja, poderemos nos integrar à sociedade. Não seremos
rejeitados e nem colocados no isolamento social. Isto será de fundamental
importância para o nosso desenvolvimento psíquico e social.
De igual forma, quando nos envolvemos, ou passamos a viver, em função de uma
determinada instituição (p.ex., uma religião, a prisão etc.), lentamente “introjetamos”
aquela instituição. Esse processo, normalmente, é capaz de nos modificar (valores,
atitudes e comportamentos). Por um outro lado, a saída, pelo motivo que seja, dessa
instituição também poderá ser um processo lento e difícil (desinstitucionalização).
Em alguns casos poderá nem mesmo ocorrer! Nesses casos o indivíduo enfrentará
65
graves dificuldades de se adaptar as suas novas e atuais experiências e/ou
instituições.
DICA CINEMATOGRÁFICA
Assista ao filme “Um sonho de liberdade”, com Tim Robbins e
Morgan Freeman, de 1994. Direção de Frank Darabont.
ORGANIZAÇÕES SOCIAIS
DEFINIÇÕES
“[...] uma unidade social conscientemente coordenada, composta
de duas ou mais pessoas, que funciona de maneira relativamente
contínua, para atingir um objetivo comum.” (ROBBINS, 2002,
p.2)
“A civilização moderna depende em grande parte das
organizações que constituem a forma mais racional e eficiente de agrupamento social
que se conhece.” (JONHSON, 192, p. 31 apud BRAGHIROLLI; PEREIRA;
RIZZON, 1994, p. 124)
MODELO DAS ORGANIZAÇÕES FORMAIS
HIERARQUIA
DIVISÃO DE
TRABALHO E
FUNÇÃO
GRUPO DE
PESSOAS
OBJETIVOS
COMUNS,
EXPLÍCITOS
COORDENAÇÃO
E
PLANEJAMENTO
66
RELAÇÕES ENTRE AS INSTITUIÇÕES E AS ORGANIZAÇÕES SOCIAIS
ANÁLISE DO PODER NAS INSTITUIÇÕES SOCIAIS
A questão do poder disciplinar em Foucault
21
O presente trabalho pretende fazer uma breve análise sobre a teoria do poder
disciplinar presente no livro “Vigiar e Punir” de Michel Foucault (1926-1984).
O filósofo francês nos trás de forma polêmica e inovadora o nascimento de uma
nova forma de poder coercitivo: o poder disciplinar que surgiu no Ocidente no
século XVIII.
De acordo com a teoria de Foucault, esta forma de poder nasce a partir de uma nova
concepção da sociedade com a queda do chamado poder soberano predominante nos
regimes absolutistas da Europa.
A nova sociedade, filha das revoluções liberais, governada pela ideologia burguesa, vê o poder
disciplinar como a forma mais cabível e eficaz de garantir a ordem, substituindo os suplícios e
espetáculos de execução pública.
A teoria de Foucault sobre o poder
A proposta filosófica de Michel Foucault é com certeza revolucionária e original,
tendo como objeto de estudo o poder e suas formas de manifestação.
Este filósofo de nosso tempo concebe o poder não de maneira vertical ou mesmo
maniqueísta em uma dialética entre “opressores” ou aqueles que exercem o poder
e “oprimidos” aqueles que sofrem com a coerção do mesmo.
A polêmica teoria sobre o poder proposta por Foucault torna-se original, pois para
o filósofo, não existe uma teoria geral ou mesmo axiomática do poder, suas
análises não o consideram a realidade com característica universal.
De acordo com Roberto Machado, para Foucault não existe algo unitário ou global que chamamos
de poder, mas sim, formas díspares, heterogêneas em constante transformação, o poder é uma
21
Adaptado de CAMACHO, V.M. Disponível em: http://fabiopestanaramos.blogspot.com.br/2011/05/questao-do-
poder-disciplinar-em.html>. Acesso em 19.06.12
67
prática social e, como tal, constituída historicamente. Logo, as práticas ou manifestações de
poder variam em cada época ou sociedade.
Para Foucault toda teoria é provisória, acidental e dependente do estado de desenvolvimento da
pesquisa, aceitando seus limites. Poderíamos entender que as teorias propostas anteriormente sobre
o exercício do poder não são falsas ou errôneas, mas deram conta de explicar a sociedade de seu
tempo. O próprio filósofo aceita que suas teorias também são provisórias e possíveis de serem
refutadas ou mesmo derrubadas.
Segundo Foucault, o poder não emana unicamente do sujeito, mas de uma rede de relações de
poder que formam o sujeito, dentre outros elementos, tal como o discurso, a arquitetura ou mesmo
a própria arte. O poder é concebido como uma rede, não nasce por si só, mas de relações
sociais.
Outro aspecto inovador
da teoria de Foucault é observar este mesmo poder como algo muitas vezes
positivo, inerente à natureza humana, manifestado em pequenas coisas, através de pequenos
dispositivos. Em seu livro “Vigiar e Punir”, que trata sobre o nascimento da prisão e outras
instituições disciplinares, o filósofo discorre de forma minuciosa e instigante sobre a questão do
poder disciplinar.
Na terceira parte de sua obra, Foucault explica que a partir dos séculos XVII e XVIII o poder foi
exercido através de dispositivos disciplinares, o Estado ou mesmo a sociedade se utilizou do corpo,
da vigilância e do adestramento para garantir a obediência e disciplinar os indivíduos.
O desaparecimento dos suplícios e a disciplina sobre o corpo
Foucault analisa e discute uma profunda metamorfose quanto à forma de punição e condenação dos
presos e criminosos na Europa.
Anteriormente, o espetáculo de execução publica de condenados a morte era utilizado como
instrumentos disciplinar.
A execução em praça pública, desde a Idade Média, com os Atos de Fé da
Inquisição, gerava nos expectadores não somente o terror, mas também o
medo de cometer algum tipo de crime contra a fé.
Tais formas de punição estão estreitamente ligadas ao chamado poder de
soberania que consiste no exercício do poder de um governante sobre um
território.
Modelo comum aos déspotas e monarcas da Europa entre os séculos XV a
XVIII.
O poder era, portanto, exercido e representado através dos suplícios, da força
e da violência. Aos poucos, esta forma de condenação desapareceu cedendo espaço a uma nova
forma de punição. Uma nova concepção filosófica, a partir do iluminismo e das revoluções liberais,
bem como as novas teorias sobre o direito, fizeram a morte em público começar despertar terror e
repúdio na população o que levou a novas formas de condenação. O espetáculo da execução passou
a ser condenado pela grande parte da sociedade.
O novo modelo disciplinar de punição do criminoso consistia em não tocar ou aproximar-se do
corpo do individuo. Obviamente, algumas práticas ainda persistiram como o uso do chicote ou do
cassetete. A condenação dos indivíduos passou a se dar de forma mais velada e sutil. A violência
não foi assumida como carro chefe da justiça, porém utilizada em último caso de forma indecorosa
e indesejável.
O poder de soberania cedeu espaço ao chamado poder disciplinar. Discorrendo sobre a questão
do poder disciplinar, Foucault identificou o corpo como objeto e alvo de poder.
Citou o exemplo do soldado que reflete sua disciplina através de sua postura e do
próprio corpo, como percebemos no fragmento abaixo:
“O poder sobre o corpo, por outro lado, tampouco deixou de existir totalmente
ate meados do século XIX. Sem dúvida, a pena não mais se centralizava no
68
suplicio como técnica de sofrimento; tomou como objeto a perda de um bem ou de um direito.
Porem castigos como trabalhos forçados ou prisão - privação pura e simples da liberdade – nunca
funcionaram sem certos complementos punitivos referentes ao corpo: redução alimentar, privação
sexual, expiação física, masmorra. Consequências não tencionadas mas inevitáveis da própria
prisão? Na realidade, a prisão, nos seus dispositivos mais explícitos, sempre aplicou certas
medidas de sofrimento físico.
A critica ao sistema penitenciário, na primeira metade do século XIX (a prisão não e bastante
punitiva: em suma, os detentos tem menos fome, menos frio e privações que muitos pobres ou
operários), indica um postulado que jamais foi efetivamente levantado: e justo que o condenado
sofra mais que os outros homens? A pena se dissocia totalmente de um complemento de dor física.
Que seria então um castigo incorporal? Permanece, por conseguinte, um fundo "suplicante" nos
modernos mecanismos da justiça criminal - fundo que não esta inteiramente sob controle, mas
envolvido, cada vez mais amplamente, por uma penalidade do incorporal. (FOUCAULT, 2004,
p.18)”
Nos perguntemos qual seria o objetivo de se disciplinar o corpo? Foucault responde ao tratar dos
chamados corpos dóceis. A disciplina sobre o corpo tem por finalidade produzir indivíduos dóceis
e submissos a determinados sistemas, ao mesmo tempo, estes devem oferecer uma mão-de-obra de
qualidade que ajude o desenvolvimento econômico da sociedade. A disciplina tem seu aspecto
político ao produzir indivíduos submissos ao poder do Estado, garantindo o “equilíbrio” e a
“ordem”. O poder e a disciplina sobre o corpo possibilitam o funcionamento de instituições e
grupos sociais.
Desta forma, Foucault nos mostra que o corpo passa a ser considerado um objeto possível do
controle disciplinar.
A nova organização política e social, exige também novas formas de disciplina. A experiência
decorrente dos movimentos de revolução ocorridos na Europa, demonstrou que o exercício do poder
através da violência se tornou ineficaz. O controle sobre o corpo e sobre o modo de vida dos
indivíduos, de forma sutil, evitava possíveis levantes e protestos, mostrando-se mais eficiente.
A organização do espaço
Outro aspecto do poder disciplinar se relaciona também com o espaço
através das disposições e organizações do mesmo.
Através da disposição dos objetos e estrutura dos prédios, o poder disciplinar
é exercido através da observação vigilante e a sensação de estar sempre sob a
presença do poder maior coercitivo.
A prisão não mais será um ambiente escuro e sombrio, mas sim um espaço
iluminado que possibilite a vigilância da vida e das atitudes dos detentos.
Um simples olhar ou mesmo a vigilância sobre os presos garantem a
disciplina e a submissão dos indivíduos.
O novo modelo de construção utilizado nas prisões (o pan-óptico)
acabou servindo para outras instituições que pretendiam obter a
disciplina e obediência como foi o caso das fábricas, a começar pela
Inglaterra no século XVIII estendendo-se pela Europa no século XIX.
De acordo com Michele Perrot, o espaço de produção era organizado de
forma circular, no centro situava-se, geralmente, as peças ou a matéria prima para a confecção
de produtos. Desta forma, o indivíduo que tivesse a responsabilidade de cuidar do andamento
da produção poderia ver todos os operários a sua volta, evitando possíveis furtos ou
indisciplina. A dinâmica do novo modelo de organização espacial, como já fora dito, foi
estendida outras instituições e espaços, como escolas, hospitais, dentre outros.
Os espaços fechados eram, ao mesmo tempo, arejados e amplos, permitindo a vigilância dos
diversos indivíduos ali presentes. O nascimento de uma nova sociedade, a partir dos ideais
69
iluministas e das revoluções burguesas, a privação da liberdade que se tornara tão preciosa à
sociedade contemporânea, tornou-se uma forma de punição mais incisiva, substituindo os
suplícios, uma vez que os direitos do homem e do cidadão passam a ser centrais na
organização social.
A detenção em prisões priva o indivíduo da liberdade e de seus direitos colocando-o a
margem da sociedade. A punição, novamente, se daria sem o recurso da violência contra o
corpo.
O controle do tempo
Assim como o espaço será determinante para a formação de uma sociedade
disciplinar, outro aspecto analisado por Foucault será a nova concepção de
tempo bem como a sua organização.
A nova sociedade regida pelo poder disciplinar utiliza-se do tempo como um
de seus mecanismos de controle.
A começar novamente pelo exemplo dos presídios, em um modo de vida quase
monástico, todas as horas do dia dos detentos são preenchidas com diversas atividades como
refeições e trabalho. Oração com horários bem delimitados e previamente determinados. Tais
horários são anunciadas por algum tipo de sinal
sonoro; desta forma os indivíduos voltam suas
mentes para as atividades impostas pela instituição da qual estão ligados. O controle de todas
as horas do dia, enquanto dispositivo do poder disciplinar, evitava qualquer tipo de
organização ou mesmo de um pensamento rebelde uma vez que o foco eram as tarefas a serem
realizadas.
A possibilidade de uma ação de resistência deste modo é coibida, da mesma forma, os
indivíduos que estiverem em tal situação estavam sob constante vigilância, o que inibia
levantes. A vigilância por seu turno é acompanhada de rigorosas punições, o que exerce o
medo sobre o indivíduo, na maioria das vezes sem o apelo da violência, utilizando-se de
outras formas de castigo, como a chamada solitária.
Isolando o indivíduo dos outros, além da diminuição da alimentação ou da atividade sexual, o
indivíduo é conduzido a momentos de forte pressão psicológica. A prisão nada mais é do que
um local de privações, a perda da liberdade e do direito de ir e vir tornam-se agora os maiores
receios da sociedade.
Concluindo
A partir das teorias sobre o poder disciplinar de Foucault, percebemos como o
exercício deste poder se deu através de diversos disposit ivos e elementos que
elencamos.
Primeiramente, o poder sobre o corpo representou o controle sobre os indivíduos
e suas necessidades biológicas.
Uma vez adestrado, este será útil e submisso ao sistema que se impõe,
contribuindo para o equilíbrio e a ordem.
O aspecto da construção se mostrou como forma de punição eficaz através da privação dos
direitos de liberdade, bem como o ir e vir, excluindo o sujeito de um determinado grupo
social.
Estendendo-se para outros espaços que não necessariamente pretendem punir, esta forma de
poder também se manifesta através da vigilância e eminência de formas de punição que
castigam o corpo não de forma física, mas psicológica e biológica.
Por fim, o controle do tempo garante a disciplina dos indivíduos e seu adestramento, evitando
atitudes de rebeldia.
70
Tais dispositivos essenciais para o funcionamento do poder disciplinar estão presentes em
nossa sociedade até os nossos dias, muitas vezes de forma sutil, mas que ainda garantem a
ordem e a manutenção do meticuloso funcionamento da sociedade ocidental contemporânea.
71
EXCLUSÃO SOCIAL
REFLEXÕES
Os excluídos não são simplesmente rejeitados física,
geográfica ou materialmente, não apenas do mercado e
de suas trocas, mas de todas as riquezas espirituais, seus
valores não são reconhecidos, ou seja, há também uma
exclusão cultural.
DÚVIDA
É O PRÓPRIO INDIVÍDUO QUE SE EXCLUI DA SOCIEDADE OU É A
SOCIEDADE QUE EXCLUI O INDIVÍDUO?
PRINCIPAIS TEORIAS
1º. O Individualismo e o liberalismo - A situação social de um indivíduo depende em
grande parte das escolhas que o próprio indivíduo faz ao longo de sua vida. Tais
ideias sustentam-se nos valores burgueses: liberdade, individualismo, propriedade
privada e limitação do poder do Estado
22
.
(Herbert Spencer – 1820 – 1903)
2º. Darwinismo social – Teoria oriunda das ideias sobre os processos de
evolução da vida, de Charles Darwin, que estendeu a aplicação do
conceito de seleção natural para as sociedades humanas, essas, por
conseguinte, concebidas como sistemas que evoluem por competição entre
indivíduos, grupos e nações. “Somente sobrevivem os mais aptos.” (Spencer)
(Karl Marx – 1818 – 1883)
3º. O pensamento de Karl Marx - A situação social de um indivíduo é
resultado de um processo de construção, baseado numa lógica de classes.
“O modo de produção da vida material é que condiciona o processo da
vida social, política e espiritual. Não é a consciência dos homens que
determina o seu ser, mas, inversamente, o seu ser social que determina a sua
consciência.” (MARX; Prefácio de Para a Crítica da Economia Política)
22 Sugiro a leitura do texto INDIVIDUALISMO E LIBERALISMO: VALORES FUNDADORES DA SOCIEDADE
MODERNA, de João Batista Damasceno. Disponível em http://www.achegas.net/numero/doze/damasceno_12.htm.
72
INFORMAÇÃO
Um conceito importante relacionado à exclusão social é o de
minorias sociais. Tal conceito reflete uma “categoria de
indivíduos considerados merecedores de tratamento desigual e
humilhante simplesmente porque são identificados como a ela
pertencentes. (JOHNSON, 1997, p. 149)
Exclusão Social: articulações possíveis
1º. ECONÔMICA - trata-se basicamente da “pobreza”, situação de
privação de recursos. Caracterizada geralmente por más condições de
vida, baixos níveis de instrução e qualificação profissional, emprego
precário etc.
2º. SOCIAL - a causa está atrelada ao domínio dos laços sociais.
Situação de privação do tipo relacional, caracterizada pelo isolamento.
Como exemplo citamos os idosos, deficientes. Este tipo de exclusão
pode não ter qualquer tipo de relação com a pobreza, mas sim ser
consequência de distintos modos de vida familiar. Entretanto, ela
também pode estar atrelada ao aspecto econômico, sendo a questão social decorrente
da econômica.
3º. CULTURAL - as formas deste tipo de exclusão estão relacionadas
com os fatores culturais, como o racismo, a xenofobia, dificultando a
integração social entre os diferentes.
73
4º. PATOLÓGICA - as situações de exclusão se devem a casos de
origem patológica, especialmente de ordem psicológica ou mental. Tal
situação é a causa da maioria dos casos de ruptura familiar.
5º. COMPORTAMENTOS AUTODESTRUTIVOS - trata-se de
comportamentos relacionados com a toxicodependência, o alcoolismo
etc., gerando a exclusão desses indivíduos. Geralmente, estes casos têm
origem na pobreza, o que não significa, evidentemente, que em outras
classes econômicas tais comportamentos não possam ocorrer, neste caso,
por outros fatores (p.ex., desagregação familiar, falta de afeto etc.).
REFLEXÃO
Na prática, vários tipos de exclusão podem aparecer de formas sobrepostas, um sendo
consequência do outro.
DÚVIDA
Os homossexuais são vítimas de algum tipo de exclusão? Se sim,
qual?
REFLEXÕES
Até onde o Direito estaria engajado, cooptado, conivente com as
estratégias sociais de poder e de manutenção das desigualdades e
injustiças sociais?
Exemplo: Por que o Código Penal comina pena de detenção, de 3
meses a 1 ano para o crime de Lesão Corporal (Art. 129), e, para o
crime de Furto (Art. 155) comina pena de reclusão, de 1 a 4 anos, e
multa?
O CONFORMISMO COMO ESTRATÉGIA DE DOMINAÇÃO
Naturalizar um fato social e conferir-lhe a condição de
rotineiro, comum, banal, natural. Isto faz com que o fato perca
a sua dinâmica enquanto um processo que implicaria diversos
fatores (históricos, econômicos, culturais, políticos etc.). A
naturalização de um fato social gera, como uma de suas
consequências psicológicas, o conformismo: “isso é assim,
mesmo!”
Assim entendido, o conformismo é uma ideologia que nos orienta cotidianamente.
Que nos faz imaginar que as causas desses fatos possam ser atribuídas ao indivíduo,
isoladamente, e não ao processo social no qual ele está inserido e é produto. A partir
74
de uma lógica eminentemente neoliberal, por exemplo, a questão do desemprego
estrutural é, comumente, explicada como uma questão de “empregabilidade”, ou
mesmo em função dos avanços das tecnologias de produção. Ou seja, o indivíduo é o
único responsável pelas suas possibilidades de estar ou não empregado.
RESPONDA
Qual o papel das diferentes mídias
(notadamente da TV) nesse
processo de naturalização das questões sociais, bem como de
produção de uma “atitude conformista de massa”? Dê
exemplos.
(6) VIDE AS ATIVIDADES PROPOSTAS PARA ESSES
CONTEÚDOS
75
ASPECTOS PSICOLÓGICOS DAS RELAÇÕES HUMANAS
INFLUÊNCIAS SOCIAIS
Quando falamos em influência social estamos nos referindo ao
fato de uma pessoa poder ter seus comportamentos, seus
pensamentos ou mesmo as suas atitudes influenciados ou
modificados por outras pessoas (p.ex., um grupo social).
PRESSÃO SOCIAL E MUDANÇA DE JULGAMENTOS
Salomon Asch (1907-1996) projetou um teste simples (1955) para
verificar o grau médio de conformismo das pessoas (comportamentos,
pensamentos, atitudes etc) em relação às pressões grupais:
Como um participante de uma pesquisa, você chega no local do experimento a tempo
de sentar na extremidade de uma fila em que já há cinco pessoas sentadas. O
experimentador pergunta qual das três linhas de comparação é idêntica à linha padrão
(figura abaixo):
Você verifica claramente que a resposta é a linha 2 e aguarda a sua vez para dizer
isso, depois dos outros. Seu tédio com esse experimento começa a transparecer
quando o conjunto seguinte de linhas é igualmente fácil.
Agora vem a terceira prova, e a resposta correta também parece evidente, mas a
primeira pessoa dá o que você acha ser uma resposta errada: “Linha 3”. Quando a
segunda pessoa, depois a terceira e a quarta também dão a mesma resposta errada,
você se empertiga e contrai os olhos. Quando a quinta pessoa concorda com as três
primeiras, você sente seu coração começar a bater forte. O pesquisador olha para
você, à espera de sua resposta.
76
Dividido entre a unanimidade dos outros cinco sujeitos e a evidência de seus olhos,
você se sente confuso e muito menos seguro de si do que era momentos antes. Hesita
antes de responder, imaginando se deve sofrer o constrangimento de ser encarado
como alguém diferente. Que resposta você dá?
Asch relata que em mais de um terço das vezes seus sujeitos universitário “inteligente
e bem-intencionados” se mostraram dispostos a acompanhar o grupo” (adaptado de
Myers,D., 1999, pp 391-2).
Razões do conformismo
1. Fazemos isso para evitar a rejeição social ou ganhar aprovação social. Nesse
caso, estamos reagindo ao que os psicólogos sociais chamam de “influência social
normativa”;
2. Mas o respeito às normas não é o único motivo pelo qual nos conformamos: o
grupo pode fornecer informações valiosas. Só uma pessoa muito obstinada nunca vai
ouvir os outros. Quando aceitamos as opiniões dos outros sobre a realidade, estamos
reagindo à “influência social informativa.”
O QUE SÃO ATITUDES?
Uma atitude é “uma organização duradoura de crenças e
cognições em geral, dotada de carga afetiva pró ou contra um
objeto social definido, que predispõe a uma ação coerente com
as cognições e afetos relativos a este objeto.
Uma distinção importante é a de que “todas as atitudes incorporam crenças, mas que
nem todas as crenças fazem parte, necessariamente, das atitudes.” [...] “as crenças
têm apenas um componente cognitivo enquanto as atitudes têm tanto o
componente cognitivo quanto o afetivo.”. Em termos mais simples, podemos então
dizer que quando uma crença polariza sobre si componentes afetivos e ambos, crença
(Leitura Complementar – Caderno de Psicologia – Processos de Grupo – p. 195 a 200)
77
e afeto, agem no sentido de influenciar o comportamento, aí, então, temos uma
atitude. Analise a figura abaixo:
Característica de uma atitude
Mudança de atitude
Apesar de serem relativamente estáveis, as atitudes
são passíveis de mudança. [...] Como vimos
anteriormente, os componentes cognitivo, afetivo e
comportamental que integram as atitudes sociais
influenciam-se mutuamente em direção a um estado
de harmonia. Qualquer mudança num destes três
componentes é capaz de modificar os outros, de vez
que todo o sistema é acionado quando um de seus
componentes é alterado, tal como num campo de forças eletromagnético.
Consequentemente, uma informação nova, uma nova experiência ou um novo
comportamento emitido em cumprimento as normas sociais, ou outro tipo de agente
capaz de prescrever comportamento, pode criar um estado de inconsistência entre os
três componentes atitudinais de forma a resultar numa mudança de atitude.
Atitude negativa: o preconceito
Teoricamente, os preconceitos podem ficar incluídos na
classe das atitudes, exibindo, em consequência dessa
inserção, os três elementos acima descritos (quais sejam,
cognições, afetos e tendências comportamentais);
apresentam, porém, em adição e em contraste com elas,
duas características que lhes são específicas: a de que se
formam sempre em torno de um núcleo afetivamente
negativo e a de que são dirigidos contra grupos de pessoas.
78
Discriminação
Uma ação qualquer ensejada por algum preconceito
caracterizaria o que se chama discriminação. Porém,
“preconceito e discriminação nem sempre ocorrem
juntos. É possível ter preconceito contra um
determinado grupo sem se portar abertamente de
maneira hostil ou discriminatória em relação a ele. Por
exemplo: um lojista racista pode sorrir para um cliente
negro para disfarçar opiniões que poderiam prejudicar
seu negócio. Do mesmo modo, muitas práticas institucionais
podem ser discriminatórias, embora não se baseiem no
preconceito. Por exemplo: as normas que estabelecem uma
altura mínima para policiais podem discriminar mulheres e
determinados grupos étnicos – cuja altura é inferior ao padrão
arbitrário -, embora essas normas não se originem em atitudes
sexistas ou racistas.
INFORMAÇÃO:
LEI Nº 7.716, DE 5 DE JANEIRO DE 1989
Define os crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor.
(Alterada pelas Leis nº 8.081/90 e 9.459 / 97 já incluídas no texto)
(http://www.planalto.gov.br/CCivil_03/LEIS/L7716.htm)
Estereótipos
De fato, um estereótipo não é uma crença mas um tipo de associação
mental simplista que fazemos entre duas coisas que visa facilitar a nossa
vida cotidiana. Tais associações podem ser conscientes (explícitas) ou
inconscientes (implícitas). “Muitas pessoas vinculam, involuntariamente,
deficiência com fraqueza, árabe com terrorismo ou pobre com
inferioridade, mesmo que tais estereótipos contrariem a racionalidade e
até mesmo valores que lhes são caros, como o de justiça ou igualdade.
Estereótipos podem gerar uma percepção seletiva dos outros: “Por exemplo: uma vez
que você classificou alguém como homem ou mulher, talvez conte mais com seu
estereótipo daquele gênero que com suas próprias observações sobre as atitudes da
pessoa. Pelo fato de as mulheres serem estereotipadas tradicionalmente como mais
emotivas e submissas, e os homens como mais racionais e assertivos [...] talvez você
veja mais esses traços em homens e mulheres do que eles realmente existem.”
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“Pessoas invisíveis”
“Em novembro de 1994, o então estudante do 2º ano de Psicologia da
Universidade de São Paulo (USP) Fernando Braga tornou-se invisível.
'Fiquei atordoado, não conseguia sentir o gosto da comida, perdi meu centro',
lembra. Nem loucura nem ficção científica. Braga atingiu a invisibilidade ao
vestir um uniforme de gari. Como parte de um estágio solicitado por uma das
disciplinas que cursava, ele resolveu acompanhar, de duas a três vezes por
semana, a rotina dos garis da Cidade Universitária - pegando no pesado junto
com eles. Ao vestir calça, camisa e boné como seus colegas de 'varreção',
esperava causar espanto, curiosidade ou até mesmo indignação em seus
amigos, professores, companheiros de futebol e conhecidos da USP. No
entanto, não conseguiu nem mesmo receber um bom-dia. 'Atravessei o andar
térreo da Psicologia de ponta a ponta. Estava atento, buscava a expressão de
surpresa em alguém. Mas nada acontecia', conta. 'Deixei de esperar perguntas intrigadas,
mas ainda seria capaz de responder a algum cumprimento. Nada.' Os professores com quem
havia conversado pela manhã passaram por ele e nem perceberam sua presença. Não é que
tenha sido ignorado, menosprezado, rejeitado. Pior: nem foi visto. Era como não estar lá;
como 'não ser'.
O mal-estar experimentado por Braga jamais o abandonou. Ele
passou os nove anos seguintes trabalhando com os garis da USP
e transformou em tese de mestrado o indigesto tema da
'invisibilidade pública' - o desaparecimento de um homem no
meio de outros homens. Concluída em 2002, a tese agora vira
livro lançado pela editora Globo.
Ironicamente, o psicólogo ganhou visibilidade falando da
invisibilidade, que, segundo ele, está relacionada à divisão social do trabalho e afeta até
mesmo quem não é totalmente excluído economicamente. Ela seria uma espécie de
cegueira psicossocial, que elimina do campo de visão da maioria da população aqueles
que são condenados a exercer uma atividade subalterna, desqualificada,
desumanizante e degradante o dia inteiro, às vezes uma vida inteira. É uma situação
diferente da contada pelo escritor americano Ralph Ellison, que nos anos 50 lançou seu
romance O Homem Invisível. Ellison, negro, contava a história de um descendente de
escravos que ao percorrer os Estados Unidos descobriu apenas que, por ser negro, era
ignorado - segundo ele, algo muito pior que ser confrontado ou desprezado. Braga mostra
que, independentemente do preconceito racial, o preconceito social também é tão
incrível que leva a simplesmente apagar pessoas do campo de visão. 'Nem na Suécia
uma criança é incentivada pelos pais a ser gari, faxineiro ou coveiro', provoca. 'Não tem a
ver com salário, mas com a simbologia.'
Todo mundo se sente invisível em algum momento da vida - numa festa de gente de outra
tribo, no emprego novo em que não se conhece ninguém. Mas essas são outras
invisibilidades, circunstanciais, e portanto passageiras, reversíveis. O estudo de Braga é
sobre uma invisibilidade tão automatizada na sociedade que muitas vezes nem mesmo
o ser invisível se dá conta de sua degradante situação. 'Se ele percebe,
carece de armas para o combate. Depois de ser ignorado a vida inteira
ou, no máximo, maltratado, ninguém anda de cabeça erguida.'
De fato, na maioria das vezes, o gari que limpa nossa cidade só é notado
quando falta ao serviço. O ascensorista é tratado como uma máquina que
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funciona por comando de voz, sem direito a 'por favor' nem 'obrigado'. A
empregada doméstica põe o avental, alimenta a família e deixa a casa
organizada anos a fio, mas os patrões mal sabem seu sobrenome, se tem
filhos, se está com algum problema. Os únicos cidadãos que vestem
uniforme para servir aos outros e ganham visibilidade e
reconhecimento são os que estão em situação de poder sobre o
interlocutor - médicos, enfermeiros, policiais. 'Algumas profissões estão num nível de
rebaixamento absoluto', reforça Braga. 'As pessoas estão habituadas a passar pelos garis
como quem passa por objetos', assinala.
Nilce de Paula, mineiro de 61 anos, confirma. Desde que chegou a São Paulo, aos 18 anos,
trabalhou em bar, restaurante, fez salgadinhos para vender, foi ascensorista - de terno e
gravata, orgulha-se - e carregou contêineres de veneno. Já tinha experimentado o
preconceito racial, mas a indiferença mesmo só conheceu quando virou gari. 'Às vezes estou
trabalhando na avenida e passa uma pessoa. Mesmo que ela não me cumprimente, eu
cumprimento, porque um bom-dia não custa nada', afirma. 'O pior é quando os carros quase
passam por cima da gente, sem nem tentar desviar. A gente tem de trabalhar de frente para a
avenida e se cuidar.'
A invisibilidade pública vem sempre na companhia da humilhação social, o sofrimento
pelo rebaixamento político, social e psicológico experimentado continuamente por
cidadãos de classes D e E. O conceito é recente e foi cunhado por José Moura Gonçalves
Filho, orientador de Braga. Afeta o raciocínio, a visão e o afeto de quem é discriminado.
'O invisível não tem voz, seu discurso não é levado em conta, sua opinião sobre o
mundo não importa. Ele aparece apenas como ferramenta', diz o psicólogo. Funcionária
de uma empresa terceirizada de limpeza, a baiana Sônia Aragão, de 34 anos, veio para São
Paulo em 1996, depois de ter passado pela lavoura, por restaurantes e casas de família. Ter
de usar uniforme foi um choque: 'Tem gente que passa reto e faz de conta que não me vê.
Eu mesma me sinto estranha com esta roupa, porque parece que não sou eu. Quando não
estou de uniforme, pelo menos as pessoas me olham, mesmo que não falem comigo', diz.”23
23 Fonte: http://revistaepoca.globo.com/Epoca/0,6993,EPT764232-1664,00.html. Acesso em 03/07/12.
Vide texto “Estereótipos de gênero” –Caderno Introdução à psicologia, p. 19.)
(7) VIDE OS EXERCÍCIOS PROPOSTOS PARA ESSES CONTEÚDOS.
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JUSTIÇA RESTAURATIVA E MEDIAÇÃO DE CONFLITOS
A Justiça Restaurativa é um "processo colaborativo que
envolve aqueles afetados mais diretamente por um
crime, chamados de ‘partes interessadas principais’, para
determinar qual a melhor forma de reparar o dano
causado pela transgressão".
[...] "a essência da justiça restaurativa é a resolução de
problemas de forma colaborativa. Práticas restaurativas proporcionam, àqueles que
foram prejudicados por um incidente, a oportunidade de reunião para expressar seus
sentimentos, descrever como foram afetados e desenvolver um plano para reparar os
danos ou evitar que aconteça de novo. A abordagem restaurativa é reintegradora e
permite que o transgressor repare danos e não seja mais visto como tal. [...] O
engajamento cooperativo é elemento essencial da justiça restaurativa". Trata-se,
enfim, de suprir as necessidades emocionais e materiais das vítimas e, ao mesmo
tempo, fazer com que o infrator assuma responsabilidade por seus atos, mediante
compromissos concretos. (http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=7359)
O conceito de Justiça Restaurativa coloca a sua ênfase no dano causado à vitima
assim como à própria comunidade onde esta se encontra inserida. Procura estabelecer
um reconhecimento geral de que o crime é tanto uma violação das relações entre um
conjunto específico de pessoas; como uma violação contra todos – e logo contra o
Estado. Sempre que seja considerado apropriado, a vitima e o arguido tem a hipótese
de se confrontar num ambiente controlado, dando desta
forma a oportunidade a ambos de explicar as causas e as
consequências pessoais do crime. O objetivo central passa
pela revalorização do papel da desculpa e da tentativa real
da reparação do dano causado. De forma simplificada, o
conceito de Justiça Restaurativa baseia-se na teoria dos três
R:
a) Atuar para que o arguido assuma a sua Responsabilidade;
b) Permitir uma melhor Reintegração do arguido na Comunidade;
c) Estimular a Reparação do dano causado;
(http://justicarestaurativa.wordpress.com/2007/05/01/definicao-de-justica-
restaurativa/)
Benefícios da Justiça Restaurativa
Celeridade e economia de recursos na resolução das lides judiciais;
“Compensações psicológicas” às vítimas;
Possibilidade de os autores reconhecerem os danos causados por suas ações e de
agirem no sentido da restauração
ou reparação do dano causado (ressocialização);
Participação da comunidade no Judiciário.
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Justiça Restaurativa e Legislação Brasileira
Deve-se assinalar, de início, que não há na legislação brasileira
dispositivos com práticas totalmente restaurativas. Existem,
contudo, determinados diplomas legais os quais podem ser
utilizados para sua implementação, ainda que parcial. De
acordo com Pedro Scuro Neto, um programa efetivo de Justiça
Restaurativa requer que sejam estabelecidos, "por via
legislativa, padrões e diretrizes legais para a implementação dos
programas restaurativos, bem como para a qualificação,
treinamento, avaliação e credenciamento de mediadores, administração dos
programas, níveis de competência e padrões éticos, salvaguardas e garantias
individuais.
CONFLITO
O QUE É UM CONFLITO?
1. “Simplificadamente, as diferenças não compreendidas, em
muitos casos, geram conflitos.”
2. “[...] é resultado de um conjunto de condições
psicossocioculturais que determinam colisão de interesses.”
REFLEXÃO
“[...] o conflito não é destrutivo em si, nem bom em si, e pode ser entendido como um
dos elementos da própria vida, portanto, parte integral do meio no qual nascemos,
vivemos e morremos, fazendo parte de nossas interações; por isso não pode se
extirpado. A questão é saber como manejá-lo de forma a que ambas as partes saiam
ganhando, ou seja, eficaz e produtivamente.”
Para alguns autores, um conflito é uma excelente oportunidade de crescimento e
desenvolvimento.
Métodos tradicionais e alternativos de solução de conflitos
1º) JULGAMENTO (Método Tradicional) – De competência
do poder Judiciário que, inicialmente, aprecia os fatos
(processo) e, posteriormente, impõe sentença em harmonia
com a ordem jurídica vigente. Neste método, tipicamente
adversarial, uma das partes perde e a outra ganha. Às vezes,
ambas perdem.
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2º) ARBITRAGEM (Método Extrajudicial) – Neste método a
decisão será tomada por um terceiro neutro, o árbitro,
escolhido pelas partes. Caracteriza-se por ser adversarial.
A Lei n. 9.307, de 1996, retirou a obrigatoriedade de
homologação do Laudo Arbitral pelo Poder Judiciário.
3º) CONCILIAÇÃO – “O objetivo da conciliação é colocar
fim ao conflito manifesto, isto é, a questão trazida pelas partes.
O conciliador envolve-se segundo sua visão do que é justo ou
não; na busca de soluções, interfere e questiona os litigantes. O
conciliador, entretanto, não tem poder de decisão, que deve ser
tomada, cooperativamente, pelas partes.
Na conciliação, não há interesse em buscar ou identificar razões ocultas que levaram
ao conflito e outras questões pessoais dos envolvidos.” (FIORELLI; MANGINI,
2010).
É prevista pelo Código de Processo Civil a prática da conciliação, como forma de
resolução de conflitos em processos de separação. Essa prática é bastante prestigiada
pelo magistrado brasileiro, podendo ocorrer em qualquer tempo durante o processo,
quando se oferece às partes uma oportunidade de conciliação sobre o assunto em
pauta, extinguindo total ou parcialmente o litígio.” Principais áreas: criminal, família
e trabalho.”
4º) MEDIAÇÃO - Segundo Grunspun (2000), a mediação
pode ser compreendida como um processo no qual uma
terceira pessoa, neutra, o mediador, facilita a resolução de
uma controvérsia ou disputa entre duas partes. “Na
mediação, (o mediador), atua para promover a solução do
conflito por meio do realinhamento das divergências entre
as partes, os mediandos.
Para isso, o mediador explora o conflito para identificar os interesses que se
encontram além ou ocultos pelas queixas manifestas (as posições). O mediador não
decide, não sugere soluções, mas trabalha para que os mediandos as encontre e se
comprometam com eles.
Reconhecer o ponto de vista do outro é fundamental e o mediador empenha-se para
que isso aconteça. A pedra de toque é a cooperação e são diversas as técnicas
empregadas. (FIORELLI; MANGINI, 2010).
O MÉTODO DA NEGOCIAÇÃO (Método Extrajudicial)
Nesta modalidade a resolução do conflito caberá as partes. Não se caracteriza como
adversarial pois os envolvidos deverão se dispor a buscar uma solução que
contemple, na medida do possível, a maior parte dos seus interesses.
“A negociação, por outro lado, está presente nos métodos (da conciliação e da
mediação), como parte integrante da condução dos trabalhos. Ela também pode
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acontecer no transcorrer da arbitragem ou do julgamento, com a participação
promotores, advogados e árbitros.” (FIORELLI; MANGINI, 2010).
(8) VIDE OS EXERCÍCIOS PROPOSTOS PARA ESSES CONTEÚDOS.
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