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Enviado por Mauricio Aquilante Policarpo em

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Como ao dinheiro não se pode notar o que se transformou nele,
converte-se tudo, mercadoria ou não, em dinheiro. Tudo se torna ven-
dável e comprável. A circulação torna-se a grande retorta social, na
qual lança-se tudo, para que volte como cristal monetário. E não es-
capam dessa alquimia nem mesmo os ossos dos santos nem as res
sacrosanctae, extra commercium hominum.192, 193 Como no dinheiro é
apagada toda diferença qualitativa entre as mercadorias, ele apaga
por sua vez, como leveller194 radical, todas as diferenças.195 O dinheiro
mesmo, porém, é uma mercadoria, uma coisa externa, que pode con-
verter-se em propriedade privada de qualquer um. O poder social tor-
na-se, assim, poder privado da pessoa privada. A sociedade antiga o
denuncia, portanto, como elemento dissolvente de sua ordem econômica
e moral. A moderna sociedade, que já em seus anos de infância arranca
Plutão pelos cabelos das entranhas da Terra,196 saúda no Graal de ouro
a resplandecente encarnação de seu mais autêntico princípio de vida.
A mercadoria, como valor de uso, satisfaz a uma necessidade
particular e constitui um elemento específico da riqueza material. Mas
o valor da mercadoria mede o grau de sua força de atração sobre todos
os elementos da riqueza material, portanto mede a riqueza social de
OS ECONOMISTAS
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192 Coisas sacrossantas, excluídas do comércio humano. (N. dos T.)
193 Henrique III, rei cristianíssimo da França, rouba aos mosteiros etc. suas relíquias para
convertê-las em prata. Sabe-se qual o papel que desempenhou o roubo dos tesouros do
templo de Delfos pelos fócios, na história grega. Para o deus das mercadorias, o templo,
na Antiguidade, servia de moradia. Eles eram “bancos sagrados”. Aos fenícios, um povo
comerciante par excellence, o dinheiro valia como a figura alienada de todas as coisas. Era,
entretanto, lógico que as virgens que se entregavam aos estranhos por ocasião da festa da
deusa do amor ofertassem à deusa a moeda recebida em pagamento.
194 Nivelador. (N. dos T.)
195 "Ouro! Ouro vermelho, fulgurante, precioso!
 Uma porção dele faz do preto, branco, do feio, bonito;
 Do ruim, bom, do velho, jovem, do covarde, valente, do vilão, nobre.
 ... Ó deuses! Por que isso? Por que isso, deuses;
 Ah, isso vos afasta o sacerdote e do altar;
 E arranca o travesseiro do que nele repousa;
 Sim, esse escravo vermelho ata e desata
 Vínculo sagrados; abençoa o amaldiçoado;
 Faz a lepra adorável; honra o ladrão,
 Dá-lhe títulos, genuflexões e influência,
 No conselho dos senadores;
 Traz à viúva carregada de anos pretendentes;
 ... Metal maldito,
 És da humanidade a comum prostituta."
 (SHAKESPEARE. Timão de Atenas.)
 "Nada suscitou nos homens tantas ignomínias
 Como o ouro. É capaz de arruinar cidades,
 De expulsar os homens de seus lares;
 Seduz e deturpa o espírito nobre
 Dos justos, levando-os a ações abomináveis;
 Ensina aos mortais os caminhos da astúcia e da perfídia,
 E os induz a cada obra amaldiçoada pelos deuses."
 (SÓFOCLES. Antígona.)
196 "A avareza espera arrancar o próprio Plutão do interior da Terra." (ATHEN[AEUS].
Deipnos.)

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