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CHINA: a tragédia do filho único 
Conforme os resultados do recenseamento publicado em Pequim, a população da China teria 
chegado a 1 bilhão e 265 milhões de habitantes no fim do ano 2000. Teria havido um aumento populacional 
de 132, 12 milhões em relação ao recenseamento de 1990. A taxa de crescimento populacional - após o 
plano do filho único imposto pelo governo comunista em 1980, para frear o aumento da população - ter-se-
ia estabilizado em torno de 1,07 ao ano, (-0,4% em comparação à década de 80); enquanto a taxa de 
fecundidade por mulher em idade fértil caiu para 1,8 filho contra os 4 filhos dos anos 70. Todavia, o que 
criou graves problemas foi a diferença entre as meninas e os meninos recém-nascidos, que se agravou com 
esse plano do filho único. 
Pela lei biológica de sobrevivência da humanidade, a diferença entre os sexos deveria ser de 102-
106 meninos para 100 meninas. 
A média nacional na China é de 117 meninos para 100 meninas, chegando, em certas províncias do 
interior, a 163,8 meninos. 
As conseqüências são graves porque, na idade de casar, não há um número suficiente de moças 
para todos os rapazes. Para amenizar essa situação, as famílias em boa situação financeira tentam 
importar, ilegalmente, mulheres de países vizinhos, mas existe o perigo de as noivas clandestinas 
receberem multas e serem repatriadas, após um período nas prisões chinesas. 
Se os moços não tiverem dinheiro suficiente para arrumar alguma moça chinesa ou para importar 
dos países vizinhos, não podem formar família, o que se transforma numa tragédia nas tradições culturais 
chinesas fundadas sobre o confucionismo. 
O menino na China de sempre 
O número de moças que falta já estaria na casa de milhões e as causas são facilmente 
identificáveis: elas foram vítimas de infanticídios, de abortos provocados pelos pais quando descobriam que 
o feto era uma menina ou foram abandonadas nas encruzilhadas das ruas quando recém-nascidas. Alguns 
pais as escondem e não as declaram ao Estado, correndo perigos de sanções e prisão, se forem 
descobertos. 
Na China, a preferência dos pais pelo filho de sexo masculino é uma tradição profundamente 
arraigada, desde a idade feudal. No filho homem, concentra-se a responsabilidade de manter os pais 
quando idosos, de possibilitar-lhes um enterro solene, de fazer as oferendas sobre os túmulos deles para as 
necessidades após morte, conforme a tradição confuciana. Somente o filho homem é o único herdeiro dos 
bens da família. 
A menina, pelo contrário, é destinada a se casar, pouco importa se gostar ou não, se for amada ou 
desrespeitada pelo marido. O divórcio ou separação está fora de discussão. Uma vez casada, ela está 
casada para sempre e pertence à família do marido, exatamente como na sociedade feudal. Ela deve gerar 
filhos, possivelmente homens, para o marido e fazer sua vontade. 
Até pouco anos atrás, o símbolo da submissão da mulher era a prática de impedi-la que 
desenvolvesse pés normais, por meio de bandagens que lhes eram impostas desde os primeiros anos de 
vida. Esta prática iniciou-se nos anos da dinastia dos Tangs (618 - 907) e foi eliminada pelo regime maoísta. 
Os pés pequenos eram uma maneira de tolher-lhes a liberdade de movimento, de modo que a mulher 
ficasse praticamente presa em casa e a moça que não tivesse pés pequenos não era aceita como esposa. 
A mulher após o regime maoísta (1949- 1979) 
A China maoísta tentou libertar a mulher dessas discriminações dando-lhe, teoricamente, os 
mesmos direitos políticos, econômicos e socioculturais que os homens. Pela atual lei, teoricamente, estão 
proibidos os matrimônios arranjados, a mulher pode pedir o divórcio ou se separar, pode herdar e receber 
um salário em paridade de trabalho com os homens. 
Apesar disso, as desigualdades continuam ainda em todas as fases de sua vida. A preferência 
ligada ao sexo é mais forte que a lei, especialmente no interior e nas regiões mais pobres da China. De fato, 
a lei e as conseqüências demográficas cedem diante do pragmatismo e da tradição que ainda preferem 
filhos homens e desconsideram a mulher na organização familiar. 
As nefastas conseqüências do filho único 
Em janeiro de 1980, quando a população chinesa já passava de um bilhão, o governo central lançou 
o "Documento nº 1" que tentava planificar os nascimentos com um conjunto de medidas para limitar a um 
único filho por casal. Havia uma série de vantagens para quem se limitasse a um único filho, de multas e 
restrições civis para quem tivesse mais de um filho. Esse documento, com suas promessas e ameaças, fez 
baixar a natalidade nas cidades e na zona rural. Promovendo a política do filho único, o governo certamente 
não tinha a intenção de ressuscitar os conceitos feudais sobre a inferioridade da mulher, mas acabou por 
reforçar sua inferioridade e é isso que está acontecendo na China de hoje. Se um casal pode ter somente 
um filho, conseqüentemente vai querer um filho homem, sendo esta uma exigência cultural ainda 
profundamente arraigada no povo chinês. Se, por acaso, o bebê é menina, surge para o casal um 
gravíssimo problema ético e cultural: se ficar com ela, não pode mais ter o filho homem. A triste realidade é 
normalmente a morte ou o abandono da menina recém-nascida. 
O infanticídio de recém-nascidas ou sua exposição nas ruas vêm de longa data e, nas cartas que os 
missionários enviavam, era denunciado como o pecado hediondo dos chineses. Hoje, quem visitar os 
orfanatos do governo ou da Igreja patriótica perceberá que lá existem somente meninas e raríssimos 
meninos, geralmente deficientes mentais. 
O menino excepcional, não podendo cumprir seus deveres filiais, conforme os preceitos 
confucianos, é equiparado à menina, considerado inútil e um peso para os pais e portanto será abandonado 
a sua triste sorte: Morte ou orfanatos oficiais. 
Uma denúncia da Comissão dos Direitos Humanos da Ásia, composta por católicos, budistas e 
islâmicos, registra que, nos anos 80, em regiões rurais e do interior, já faltavam 800 mil mulheres para 
casamento. Essa situação tornou-se cada vez mais grave, tanto que as autoridades do Comitê Central do 
Partido Comunista da China com o Conselho dos Negócios do Estado, em 7 de maio de 2000, publicaram 
algumas notas, tentando esclarecer certos pontos do Documento nº 1, sem negar, porém, a política do filho 
único: "O governo autoriza uma certa flexibilidade na aplicação da política do filho único" e o porta-voz do 
governo da Comissão do planejamento familiar, Chen Shengli, explica que "o modelo familiar com um único 
filho jamais foi uma política de planejamento imposta aos casais ... mas somente um modelo de uma linha 
diretora de comportamento". 
Diante da previsão de que, em 2010, a população da China vai ultrapassar um bilhão e 400 milhões 
de habitantes, um estudo atento dos novos documentos revela porém, que a política do filho único será 
retomada com força, como confessa o mesmo porta-voz, quando afirma que "este objetivo de manter 
aquém o número dos habitantes, será conseguido somente com a política do filho único por casal, política 
que iniciou em 1980". 
 
 
 
 
Resumo do documento publicado pela Eglise d'Asie, em abril de 2001

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