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Microeconomia II Resolução da Provinha 1 Maximiliano Barbosa da Silva Universidade de São Paulo 22 de Agosto de 2011 Questão 1 (40 pontos) Considere uma economia com 2 bens e N indiví- duos indexados por i onde a utilidade do indivíduo i é dada por ui ( xi1, x i 2 ) =( 2 √ xi1 + x i 2 )i , onde xij denota a quantidade consumida do bem j ∈ {1, 2} pelo indivíduo i ∈ {1, 2, . . . , N}. A renda do indivíduo i é dada por mi > 0, onde mi ≥ ( p2 p1 )2 para qualquer i ∈ {1, 2, . . . , N} onde pj é o preço do bem j. i) (20 pontos) Para denotar a renda agregada da economia use M = N∑ i=1 mi. Encontre as expressões das demandas agregadas pelos bens 1 e 2. Para encontrar a demanda agregada de cada bem, primeiramente, é necessário calcular as demandas individuais. Como se pode perceber, todos os indivíduos possuem a mesma relação preferência, pois as suas funções utilidade são apenas transformações monotônicas umas das outras. Sendo assim, todos os indivívuos terão a mesma função demanda que é obtida resolvendo o seguinte problema: max xi1,x i 2 v ( xi1, x i 2 ) = 2 √ xi1 + x i 2 sujeito a : p1x i 1 + p2x i 2 ≤ mi; xi1, x i 2 ≥ 0. As utilidades marginais, calculadas sobre v ( xi1, x i 2 ) , (abaixo) são estrita- mente positivas, indicando que as preferências são (estritamente) monotônicas, e, por este motivo, sabe-se que a restrição orçamentária vale com igualdade. ∂v ( xi1, x i 2 ) ∂xi1 = 1√ xi1 > 0; 1 ∂v ( xi1, x i 2 ) ∂xi2 = 1 > 0. Vale notar também que lim xi1→0 ∂v(xi1,x i 2) ∂xi1 = +∞. Nestas condições, os indiví- duos sempre demandam uma quantidade estritamente positiva deste bem. A função Lagrangeana é a seguinte: L (xi1, xi2, λ) = 2√xi1 + xi2 − λ (p1xi1 + p2xi2 −mi) . As condições de primeira ordem são: 1√ xi1 = λp1; (1) 1 ≤ λp2, com igualdade se xi2 > 0. (2) Além destas condições, a restrição orçamentária também deve ser respeitada. Pela equação (1), obtém-se que λ = 1 p1 √ xi1 , que substituindo na inequação (2), diz que: 1 ≤ p2 p1 √ xi1 . (3) Suponha que xi2 = 0. Pela restrição orçamentária, tem-se que x i 1 = mi p1 . Substituindo na inequação (3), encontra-se que: 1 ≤ p2 p1 √ mi p1 ⇔ mi ≤ p 2 2 p1 . (4) Logo, existem dois casos: (1) mi ≤ p 2 2 p1 , em que xi2 = 0 e (2) mi > p22 p1 , em que xi2 > 0. No caso (1), as demandas individuais são: x i 1 = mi p1 e xi2 = 0. Já no caso (2), as demandas individuais são: xi1 = ( p2 p1 )2 e xi2 = mi p2 − p2p1 . Denote por P o conjunto de indivíduos com renda menor ou igual a p22p1 e por R o conjunto de indivíduos com renda estritamente superior a p22 p1 , ou seja: P:= { i : mi ≤ p 2 2 p1 } e R := { i : mi > p22 p1 } . Então as demandas agregadas são: X1 = 1 p1 ∑ i∈P mi + |R| ( p2 p1 )2 ; (5) X2 = 1 p2 ∑ i∈R mi − |R|p2 p1 . (6) ii) (20 pontos) Suponha agora que a renda dos indivíduos é redistribuída de forma que o indivíduo com a menor renda, depois da redistribuição, ainda possui 2 uma renda maior ou igual a ( p2 p1 )2 . As demandas agregadas por 1 e 2 irão se alterar? Justifique sua resposta. Seja m′i a renda do indivíduo i ∈ {1, 2, . . . , N} após uma redistribuição de renda que atenda à condição imposta no enunciado. Defina P ′:= { i : m′i ≤ p 2 2 p1 } e R′ := { i : m′i > p22 p1 } . As demandas agregadas não se alterarão desde que∑ i∈P′ m′i = ∑ i∈P mi, o que implica que ∑ i∈R′ m′i = ∑ i∈R mi, e |R| = |R′|. Questão 2 (20 pontos) Suponha que x∗1 (α) e x ∗ 2 (α) são a solução do problema: max x1,x2 f (x1, x2, α) sujeito a g (x1, x2, α) = 0. Defina H (α) ≡ f (x∗1 (α) , x∗2 (α) , α)+λ∗ [0− g (x∗1 (α) , x∗2 (α) , α)], isto é, H (α) é o valor máximo do problema acima para um dado α. Mostre que ∂H(α)∂α = ∂f(x∗1(α),x ∗ 2(α),α) ∂α − λ∗ ∂g(x ∗ 1(α),x ∗ 2(α),α) ∂α . (Dica: Utiliza as condições de primeira ordem do problema acima). Como se sabe, resolver o problema original é equivalente a resolver o seguinte problema: max x1,x2,λ H (x1, x2, α, λ) = f (x1, x2, α) + λ [0− g (x1, x2, α)] . Assumindo que f (·) e g (·) são diferenciáveis, as condições de primeira ordem estabelecem que: ∂f (x∗1, x ∗ 2, α) ∂x1 − λ∗ ∂g (x ∗ 1, x ∗ 2, α) ∂x1 = 0; (7) ∂f (x∗1, x ∗ 2, α) ∂x2 − λ∗ ∂g (x ∗ 1, x ∗ 2, α) ∂x2 = 0; (8) g (x∗1, x ∗ 2, α) = 0. (9) Resolvendo este sistema encontram-se x∗1 = x ∗ 1 (α), x ∗ 2 = x ∗ 2 (α) e λ ∗ = λ∗ (α) como funções implícitas de α, que, pelo teorema da função implícita, são difer- enciáveis em torno de α. Sendo assim, derivando H (α) ≡ f (x∗1 (α) , x∗2 (α) , α)+ λ∗ (α) [0− g (x∗1 (α) , x∗2 (α) , α)] em relação a α, obtém-se que: ∂H (α) ∂α = [ ∂f (x∗1 (α) , x ∗ 2 (α) , α) ∂x1 + λ∗ (α) ∂g (x∗1 (α) , x ∗ 2 (α) , α) ∂x1 ] ∂x∗1 (α) ∂α + + [ ∂f (x∗1 (α) , x ∗ 2 (α) , α) ∂x2 + λ∗ (α) ∂g (x∗1 (α) , x ∗ 2 (α) , α) ∂x2 ] ∂x∗2 (α) ∂α + + ∂λ∗ (α) ∂α g (x∗1 (α) , x ∗ 2 (α) , α)+ + ∂f (x∗1 (α) , x ∗ 2 (α) , α) ∂α − λ∗ (α) ∂g (x ∗ 1 (α) , x ∗ 2 (α) , α) ∂α . (10) 3 Pelas condições de primeira ordem, obtém -se que: ∂H (α) ∂α = ∂f (x∗1 (α) , x ∗ 2 (α) , α) ∂α + λ∗ (α) ∂g (x∗1 (α) , x ∗ 2 (α) , α) ∂α . (11) Questão 3 (40 pontos) Considere uma firma que possui uma função de pro- dução dada por y = f (x1, x2) = x 1 2 1 x 1 2 2 , onde xi denota a quantidade de insumo i ∈ {1, 2} empregado na produção do bem final y. O preço do insumo i ∈ {1, 2} é denotado por wi. i) (20 pontos) Suponha que no curto prazo a firma está comprometida com 4 unidades do insumo 2, i.e. x2 = 4. Suponha ainda que w1 = 1 e w2 = 2. Monte o problema de minimização de custo da firma no curto prazo e encontre as funções custo, custo médio e custo marginal de curto prazo desta firma. Nas condições do enunciado, o problema que define a função custo de curto prazo é o seguinte: Ccp = min x1 x1 + 8 sujeito a: f (x1, 4) = 2x 1 2 1 ≥ y; x1 ≥ 0. Como o custo e a produção são estritamente crescentes em x1, a solução deste problema é: x1 = 1 4 y2. (12) e, portanto, a função custo de curto prazo é dada por: Ccp (y) = 1 4 y2 + 8. (13) Sendo assim, a função custo médio de curto prazo é: CMecp (y) := Ccp (y) y = 1 4 y + 8 y . (14) Já a função custo marginal de curto prazo é: CMgcp (y) := dCcp (y) dy = 1 2 y. (15) Os gráficos destas funções são apresentados abaixo: 4 ii) (20 pontos) Mostre que quando p = 1, w1 = 1 e w2 = 2 o custo de longo prazo é sempre menor ou igual ao custo de curto prazo. Para quais níveis de produto final os custos de curto e longo prazo seriam iguais? Justifique sua resposta. O custo de longo prazo é obtido resolvendo o seguinte problema: Clp = min x1,x2 x1 + 2x2 sujeito a: f (x1, x2) = x 1 2 1 x 1 2 2 ≥ y; x1, x2 ≥ 0. Como o custo e a produção são estritamente crescentes tanto em x1 quanto em x2, a primeira restrição vale com igualdade. Além disto, x1, x2 = 0 se y = 0 e x1, x2 > 0 se y > 0. Sendo assim, para y > 0, o problema de minimização de custo no longo prazo pode ser escrito da seguinte maneira: Ccp = min x1,x2 x1 + 2 y2 x1 . A condição de primeira ordem impõe que: 1− 2 ( y x1 )2 = 0⇔ x1 = √ 2y. (16) 5 Logo: Clp (y) = √ 2y + 2 y2√ 2y =2 √ 2y. (17) Subtraindo a função custo de longo prazo da função custo de curto prazo, obtém-se que: Ccp (y)− Clp (y) = 1 4 y2 − 2 √ 2y + 8. (18) Denote por y˜ o nível de produção tal que Ccp (y)− Clp (y) = 0. Então: 1 4 y˜2 − 2 √ 2y˜ + 8 = 0. (19) Resolvendo esta equação de segundo grau pela fórmula de Bhaskara: y˜ = 2 √ 2± √( 2 √ 2 )2 − 4 · 14 · 8 2 14 = 4 √ 2. (20) Portanto, o custo de curto prazo é igual ao custo de longo prazo apenas quando o nível de produção é y˜ = 4 √ 2. Como Ccp (y) − Clp (y) = 8 > 0, segue-se que Ccp (y) > Clp (y) para todo y 6= 4 √ 2 porque d [Ccp (y)− Clp (y)] dy = 1 2 y − 2 √ 2 > 0⇔ y > 4 √ 2. (21) Isto significa que a diferença entre custo de curto prazo e o custo de longo prazo diminui para y ∈ [0, 4√2) até atingir o mínimo em y = 4√2 e, então, aumenta para y > 4 √ 2. Graficamente: 6 7