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Fundamentos de Comércio Exterior - Prof. Ms. Marco A. Arbex 1 Liberalismo, protecionismo e acordos internacionais sobre o comércio exterior Prof. Ms. Marco A. Arbex Introdução • A discussão entre os defensores de atuações mais liberalizadas e aqueles que defendem a imposição de regras que protejam as importações tem sido uma constante no comércio internacional há muito tempo. • De qualquer forma, políticas comerciais de protecionismo ou liberalização devem e ser criteriosamente adotadas para não gerar distorções. Possíveis distorções causadas por políticas comerciais • A entrada de determinados produtos ou componentes em um país pode prejudicar a indústria interna, gerando desemprego e contribuindo para o desenvolvimento de crises econômicas; • Já a proibição da entrada de determinados produtos ou componentes em um país pode prejudicar a concorrência, contribuindo para elevar o preço dos produtos (inflação) e dificultando a elevação da qualidade na indústria Possíveis distorções causadas por políticas comerciais • A proibição da entrada de determinados produtos ou componentes em um país pode prejudicar o relacionamento entre países, dificultando o comércio entre estes (exportações e importações futuras) e o estabelecimento de acordos bilaterais ou multilaterais • A ausência de políticas públicas que restrinjam as importações ou que regulem o comércio internacional em geral podem dificultar a atuação eficiente de países com baixo poder econômico relativo (em relação aos seus parceiros comerciais) Acordos Internacionais • Para auxiliar os países a decidir como gerenciar o comércio com outros países, surgiram organizações de atuação global (de âmbito privado ou supranacional) • Suas principais funções são a promoção do equilíbrio do comércio global e a resolução de disputas resultantes das práticas comerciais entre os países membros. O acordo GATT e a origem da OMC • O principal organismo de características supranacionais interveniente no comércio internacional e do qual o Brasil é parte interessada e integrante desde a sua fundação é a OMC (Organização Mundial do Comércio), criada em 1995, derivada do acordo GATT47 (Acordo Geral de Tarifas e Comério) , criado em 1948. • O GATT47 visava impulsionar a liberalização comercial e combater práticas protecionistas adotadas desde a década de 1930. Fundamentos de Comércio Exterior - Prof. Ms. Marco A. Arbex 2 O acordo GATT e a origem da OMC • Em 1º de janeiro de 1995 entrou em função a Organização Mundial do Comércio (OMC), mantendo as bases do GATT47 e atualizando-o para o GATT94. • Embora o GATT não fosse uma organização internacional, seu poder pode ser verificado pela realização de oito rodadas de negociação, desde a sua criação, sobre a liberalização comercial no mundo. • A Rodada Uruguai (1986-1994) foi a mais ambiciosa das negociações, de forma que desta resultou a criação da OMC. O acordo GATT e a origem da OMC • A OMC refinou o mecanismo de resolução de disputas comerciais, de monitoramento das respectivas políticas e incentivou a assistência técnica aos países menos desenvolvidos. Em geral, os princípios básicos da OMC são os mesmos do GATT. • A OMC é a única organização internacional encarregada de supervisionar o comércio internacional e implementar os acordos negociados nas rodadas multilaterais, além de coordenar a negociação de novas regras de comércios. O acordo GATT e a origem da OMC • O seu funcionamento se dá através de acordos estabelecidos e assinados por representantes dos países-membros, posteriormente, ratificados por seus respectivos governos. • O objetivo da organização é auxiliar aos produtores, exportadores e importadores de bens e serviços na condução de suas negociações. O acordo GATT e a origem da OMC • A organização é regida por princípios básicos, a saber: – harmonização através de normas internacionais; – não criação de obstáculos desnecessários ao comércio; – não discriminação e tratamento nacional; – Transparência – equivalência de regulamentos técnicos. A OMC é composta, atualmente, por 153 países, os quais estão, desde a Rodada Uruguai, obrigados a aceitar e respeitar os acordos celebrados no âmbito da Organização como um todo, não tendo mais a possibilidade de escolher os acordos aos quais desejam aderir. O acordo GATT e a origem da OMC • Após a Rodada Uruguai, iniciou-se uma nova rodada de negociações: a Rodada Doha, que se estende há quase 10 anos • Esta rodada iniciou-se no Qatar, em novembro de 2001, durante a IV Conferência Ministerial da OMC, com a expectativa de ser finalizada em três anos. • A Rodada Doha, também conhecida como Rodada do Desenvolvimento, tem como motivação inicial a abertura de mercados agrícolas e industriais com regras que favoreçam a ampliação dos fluxos de comércio dos países em desenvolvimento. O acordo GATT e a origem da OMC • A Rodada de Doha tem como alguns objetivos: - redução de tarifas, e barreiras não-tarifárias em bens não-agrícolas; - discutir temas relacionados à agricultura – subsídios, apoio interno, redução de tarifas e crédito à exportação; - conduzir negociações que aprimorem as disciplinas dos acordos antidumping, subsídios e medidas compensatórias, preservando seus conceitos básicos. Fundamentos de Comércio Exterior - Prof. Ms. Marco A. Arbex 3 O acordo GATT e a origem da OMC • Todas as relações comerciais estabelecidas entre dois ou mais membros da OMC são regidos pelas normas do GATT • Já os países que não fazem parte da OMC, como é o caso do Afeganistão, da Líbia e do Iraque, ao negociarem com um País-Membro, não podem invocar a incidência de tais regras em suas relações comerciais a fim de gozarem benefícios fiscais, como redução de impostos e imunidades, uma vez que tais vantagens se restringem aos países integrantes da OMC. Barreiras comerciais • O Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio define barreiras comerciais como qualquer lei, regulamento, política, medida ou prática governamental que imponha restrições ao comércio exterior. • Dois tipos de barreiras: – Barreiras tarifárias: tarifas de importações ou taxas diversas aplicadas a produtos importados; – Barreiras não-tarifárias: restrições quantitativas às importações (quotas), procedimentos alfandegários burocráticos, medidas antidumping, medidas compensatórias, salvaguarda e medidas sanitárias e fitossanitárias Barreiras comerciais • De acordo com o INMETRO, a maneira mais usual é a utilização de tarifas. • Contudo, com as negociações internacionais sobre comércio, que geralmente resultam em reduções nas tarifas que os países podem utilizar, foram sendo desenvolvidos novos artifícios para dificultar as importações: as chamadas barreiras não-tarifárias, em especial as barreiras técnicas. Barreiras comerciais • Barreiras Técnicas são barreiras comerciais derivadas da utilização de normas ou regulamentos técnicos não transparentes ou que não se baseiem em normas internacionalmente aceitas ou, ainda, decorrentes da adoção de procedimentos de avaliação da conformidade não transparentes e/ou demasiadamente dispendiosos, bem como de inspeções excessivamente rigorosas. • No Brasil, as normas são elaboradas no âmbito da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Os regulamentos são estabelecidos pelo governo nas áreas de saúde, segurança, meio ambiente, proteção ao consumidor e outras. Barreiras comerciais • Uma barreira técnica pode vir a se estabelecer a partir de diferentes situações, como por exemplo: – ausência de transparência das normas ou regulamentos aplicados; – imposição de procedimentos morosos ou dispendiosos para avaliação da conformidade; – regulamentos excessivamente rigorosos impostos pelas legislações estrangeiras. Nota-se que no Brasil as normas e regulamentos são aplicados igualmente aos produtos nacionais e importados, conforme princípio do TRATAMENTO NACIONAL, da OMC. Como identificar uma barreira técnica? • É preciso analisar o regulamento técnico relativo ao produto de interesse para identificar se está de acordo com as regras do comércio internacional. • O Inmetro fornece os textos dos regulamentos estrangeiros para que o exportador conheça as exigências que deve atender. • Caso ele considere alguma exigência descabida, deve informar para que o Inmetro tome as medidas cabíveis. • Não existe uma lista de barreiras técnicas pronta. Para consultas amplas, desvinculadas de um processo de exportação específico, não existe uma pronta resposta. Fundamentos de Comércio Exterior - Prof. Ms. Marco A. Arbex 4 Acordos de reconhecimento mútuo • Uma das razões pela qual produtos exportados estão sujeitos a avaliações da conformidade repetidas é justamente a falta de confiança dos usuários do sistema de avaliação da conformidade do país importador em relação a competência de organismos que avaliam a conformidade no país exportador • Acordos de Reconhecimento Mútuo são os instrumentos que trazem elementos e procedimentos práticos para o estabelecimento e manutenção de tais cooperações para aceitação de resultados de calibração, ensaios e certificações produzidos pelos organismos acreditados pelos signatários. Notícia de: 20/06/12: Brasil aceita cláusula que rejeita barreiras comerciais “A contragosto, o Brasil acatou ontem decisão da maioria dos parceiros do G-20 de manter, até 2014, o compromisso mútuo de não criar novas barreiras comerciais e de reduzir as existentes. A presidente Dilma Rousseff havia insistido até o último minuto do encontro dos líderes das maiores economias do mundo, no México, em acabar com essa cláusula neste ano. Essa cláusula foi adotada como meio de impedir uma escalada protecionista no auge da crise financeira. Sua prorrogação foi qualificada pelo presidente do México e anfitrião do encontro, Felipe Calderón, como uma espécie de vitória contra forças favoráveis ao protecionismo...” “...Se prorrogar, não tem Rodada Doha ''never more'' (nunca mais, em inglês)", disse Dilma ontem, pouco antes de embarcar para o Brasil. Desde a suspensão da Rodada de Doha, em 2007, o Brasil repete que só aceitará sua retomada se os seus objetivos de promover o desenvolvimento, definidos seis anos antes, forem mantidos. Isso significa não excluir das conversas a eliminação dos subsídios às exportações agrícolas e a redução das subvenções à produção do setor pelos países desenvolvidos. Os EUA, porém, insistem na redefinição das metas da negociação multilateral de comércio.” Notícia de 05/06/12: Barreiras comerciais da Argentina reduzem interesse de empresários “A Argentina, terceiro país que mais compra do Brasil, atrás de EUA e China, intensificou as barreiras comerciais. A partir deste ano, as empresas devem avisar ao governo o que querem importar e aguardar uma autorização. Sem esperanças numa mudança, empresários brasileiros buscam outros mercados. No início de 2011 o governo argentino passou a atrasar as licenças para livre circulação de doces importados do Brasil. Os produtos entravam no país, mas apodreciam nos armazéns. Em 2012, com as novas barreiras, as exportações do setor para lá já caíram 24%. Na indústria de móveis, a situação é parecida (o volume de vendas do Brasil para Argentina caiu 60% em menos de três anos)... “...Marcelo Elizondo, da consultoria argentina de comércio exterior DNI, diz que o governo aumenta as barreiras na tentativa de contornar a perda de competitividade nacional devido à inflação alta. A taxa acumulada em 12 meses está em 25%, segundo estimativas extraoficiais. Sem acesso ao mercado externo de crédito, desde que suspendeu os pagamentos de sua dívida em 2002, a Argentina depende do comércio exterior para se financiar e tentar controlar a saída de dólar”. Notícia de 29/06/12: Brasil e Argentina discutem fim das barreiras comerciais “Mais uma rodada de reuniões está sendo realizada entre os governos brasileiro e argentino para discutir o fim das barreiras às entradas de produtos brasileiros no País. Se, de fato, eles destravarem as barreiras contra a carne suína, como estão anunciando, nós poderemos fazer um gesto e, por exemplo, destravar algumas importações de carros argentinos, que estão paradas há mais de 60 dias", comentou uma autoridade do governo brasileiro. "Mas, se isso não se efetivar, não poderemos liberar nada... Fundamentos de Comércio Exterior - Prof. Ms. Marco A. Arbex 5 ...Algumas empresas tiveram que suspender suas linhas de produção porque 75% do que produz são exportados ao Brasil. A província exporta vinhos, azeitonas, azeite de oliva, maças, peras e queijo, que estão impedidos de entrar no mercado brasileiro, como resposta às barreiras argentinas a quase todos os produtos brasileiros, especialmente, a carne suína, minérios, máquinas agrícolas, têxteis, calçados”. Cláusula da Nação Mais Favorecida (CN+F) • A base do acordo GATT é a sua cláusula primeira, designada cláusula da nação mais favorecida (CN+F), que determina: “Qualquer vantagem, favor, privilégio ou imunidade concedida por uma parte contraente a um produto originário de outro país ou a ele destinado será imediata e incondicionalmente extensiva a outros produtos similares originários dos territórios de qualquer outra parte contraente ou a elas destinadas”. Cláusula da Nação Mais Favorecida (CN+F) • Exemplo: se os EUA concedem um benefício aduaneiro (redução de impostos de importação) à laranja originária do Brasil, este mesmo benefício deve ser concedido à laranja de outros países que eventualmente podem exportar laranja aos EUA. • O propósito da CN+F é o de estabelecer e de manter a não- discriminação e a igualdade fundamental entre os países envolvidos. • Em outras palavras, pela Cláusula da Nação Mais Favorecida qualquer país membro tem direito de ser tratado com igualdade em relação ao país que recebeu um tratamento mais privilegiado, isto é, mais favorecido. Distorções da CN+F a) Free riders • Uma parcela dos países participantes poderão não querer obrigações e concessões, ―pegando carona nos resultados obtidos na negociação de outros países • Esses países receberão benefícios aduaneiros sem terem assumido nenhuma obrigação – é a chamada prática das free riders. • O benefício ao país que não fez concessões se dá, em geral, via aplicação da cláusula da CN+F. Distorções da CN+F b) Má definição do conceito de “produto similar” (like products) • O acordo não explica especificamente, o que seriam tais produtos. Conceitualmente, para que um produto seja similar a outro é necessário que sejam concorrentes diretos ou que haja a possibilidade de substituição de um pelo outro. • O termo “like” deve ser interpretado como similar ou idêntico, considerando-se a destinação final do produto, os gostos e hábitos dos consumidores, bem como suas propriedades e a qualidade. Classificação Fiscal de Mercadorias • Para auxiliar a dirimir as dúvidas sobre o conceito de produto similar, foi desenvolvida a Classificação Fiscal de Mercadorias • Essa padronização é conhecida como Sistema Harmonizado – HS e é adotada por 177 países, nos quais se incluem os países do Mercosul. • O HS é composto por um sistema de códigos com 6 dígitos, divididos em 21 seções e 96 capítulos. O sistema foi desenvolvido para permitir atualizações à medida que novos produtos necessitem de classificação. Fundamentos de Comércio Exterior - Prof. Ms. Marco A. Arbex 6 Classificação Fiscal de Mercadorias • Os países do Mercosul entenderam ser necessária a adoção de um sistema específico de classificação para os países membros do bloco. • A ideia central da iniciativa era a busca por vantagens e benefícios mútuos, a saber: – Eliminação gradual de direitos e restrições alfandegárias entre os membros; – Adoção de uma política comum entre os países membros, aplicáveis a parceiros comerciais não pertencentes ao bloco. Exemplo de classificação de mercadoria no sistema harmonizado Código: 0401.30.21 • Capítulo 04: leite e laticínios, ovos e aves, mel natural, produtos comestíveis de origem animal não especificados nem compreendidos em outros capítulos • Posição 0401: leite e creme de leite, não concentrados, nem adicionados de açúcar ou de outros edulcorantes • Subposição 0401.30: com teor, em peso, de matérias gordas superior e 6% • Item 0401.30.2: creme de leite • Subitem: 0401.30.21: UHT Sistema Harmonizado: classificação do parafuso • O site da Receita Federal possui um sistema de busca no sistema harmonizado do Mercosul: http://www4.receita.fazenda.gov.br/simulador/PesquisarNC M.jsp • Ao realizar uma busca com a palavra “parafuso”, teremos como retorno 8 códigos que mencionam esse termo. Desses, cita-se como exemplo, o código “73181400” - PARAFUSOS PERFURANTES DE FERRO FUNDIDO OU DE FERRO/AÇO. Sistema Harmonizado: classificação do parafuso • Se meu parafuso é para madeira, o código escolhido deveria ser “73181200”, ao invés do anterior. • Se considerarmos que este parafuso será utilizado em aeronaves, não seria o caso de analisar o capítulo 88, que trata das aeronaves, aparelhos espaciais e suas partes? • Neste capítulo não encontraremos especificamente o parafuso, mas temos o código 8803.30.00, cuja descrição é “Outras partes de aviões ou de helicópteros”. Sistema Harmonizado: classificação do parafuso • No entanto, analisando o sistema, notaremos que este capítulo compreende as partes e acessórios reconhecíveis como exclusiva ou principalmente destinados aos veículos que engloba. Esse não é o caso de parafuso procurado, que também serve para outras finalidades. • Se consideramos que o parafuso procurado é de alumínio, veremos que o alumínio e suas obras constam do capítulo 76 e parafuso, mais precisamente, no código 7616.10.00, que abrange “tachas, pregos, escápulas, parafusos, pinos ou pernos roscados, porcas, ganchos roscados, rebites, chavetas, cavilhas, contrapinos, arruelas e artefatos semelhantes”. Sistema Harmonizado: classificação do parafuso • Na classificação de um simples parafuso é necessário verificar inúmeras regras de classificação, e sua inobservância pode levar o contribuinte a sérios prejuízos. Em relação ao IPI, por exemplo, em nossa pesquisa retornaram produtos com alíquota de 0% e 10%. Quanto ao II (impostos sobre importação), foram relacionadas alíquotas de 14%, 16% e 18%. • Isso comprova a importância de uma correta classificação, pois esses erros poderiam levar ao recolhimento incorreto de tributos. Fundamentos de Comércio Exterior - Prof. Ms. Marco A. Arbex 7 Exceções à CN+F • Existem exceções quanto à aplicabilidade da CN+F, dadas as profundas diferenças existentes entre os membros da OMC e às mudanças de circunstâncias na economia mundial. • As exceções envolvem também aspectos específicos, que serão abordados a seguir: – Cláusulas de salvaguarda – Medidas Antidumping – Medidas compensatórias – Uniões aduaneiras e zonas de livre comércio – Cláusula de habilitação (enabling clause) Exceções à CN+F: salvaguarda • Normalmente, a salvaguarda é utilizada em casos de dificuldades enfrentadas pela indústria nacional frente a um surto de crescimento das importações do produto estrangeiro • Os acordos internacionais permitem que, nestes casos, seja imposta uma salvaguarda contra essas importações por um período determinado (estabelecimento de quotas ou tarifas de importação). Exceções à CN+F: salvaguarda • Ao longo desse prazo a indústria nacional deve se reorganizar e garantir competitividade frente às importações quando retirada a salvaguarda. • Nesse período, portanto, a indústria local terá de investir para garantir a competitividade. Em média, o processo da salvaguardas dura entre três e quatro anos e o prazo máximo é de dez anos. Exceções à CN+F: salvaguarda • As cláusulas de salvaguarda facilitam a execução dos acordos celebrados e, portanto, sua sobrevivência, colaborando para o bom andamento do processo de integração. • Com o apoio da salvaguarda, os países se sentem mais propensos a aceitar os acordos de comércio, uma vez que terão a possibilidade de reverter eventuais efeitos não desejados ou não previstos inicialmente. Exceções à CN+F: salvaguarda • Exemplos de situações em que a cláusula de salvaguarda poderá ser acionada: – Proteção à saúde da população – Proteção à fauna e flora – Proteção dos direitos autorais e patentes – Segurança pública – Patrimônio artístico, histórico ou arqueológico – Proteção às principais matérias-primas nacionais e à indústria nacional ou outra situação que possa provocar prejuízo grave à economia. Notícia de 07/10/2008: Brasil abre seu 3º processo de salvaguarda “A pedido da indústria de CD-R e DVD-R, o governo brasileiro abriu um processo de salvaguarda (proteção temporária contra um volume grande de importações) para esse mercado. A investigação, que pode durar até um ano, começou no fim de setembro. No pedido de salvaguardas feito na Secretaria de Comércio Exterior (Secex), do MDIC, a indústria local afirma que no período de julho de 2006 a junho de 2007, a participação da indústria doméstica foi de 14% em CD-R e de 30%, em DVD-R. O objetivo do processo de salvaguardanão é proibir a importação de produtos, mas o governo pode impor imposto adicional de importação ou determinar quotas de volume importados”. Fundamentos de Comércio Exterior - Prof. Ms. Marco A. Arbex 8 Notícia de 23/03/2012: medida de salvaguarda à importação de vinho gera preocupação “O Governo brasileiro está elaborando uma medida de salvaguarda que, em termos práticos, poderá resultar no estabelecimento de quotas máximas de importação por origem. O Executivo passará a exigir uma licença de importação para os vinhos importados de países europeus. Uma medida que agravará ainda mais a burocracia e o custo final a que os vinhos chegam ao consumidor (no presente, mais de 80% desse valor representa carga fiscal). Essa licença de importação deverá ser solicitada previamente ao embarque da mercadoria, ficando o Governo brasileiro com um prazo de 60 dias para responder (por norma, a análise dessas licenças demora entre 5 a 8 dias)... ...Quem desembarcar a mercadoria antes da licença atribuída incorrerá numa multa que poderá representar cerca de 40 a 50% do valor. A medida protecionista resulta da forte pressão que os produtores de vinho no Brasil estão a exercer junto ao, sendo que também não há certezas, por exemplo, sobre o período temporal em que vigorará. A medida foi solicitada por três anos, podendo ser renovada. Os produtores europeus devem mobilizar-se e agir rapidamente. Sem qualquer resistência, o governo brasileiro seguirá a tendência de adotar a medida tal como solicitada pela indústria local. Por exemplo, existem vinhos em Portugal (caso do Vinho do Porto) que não podem ser produzidos no Brasil”. Exceções à CN+F: Antidumping • Existe dumping quando uma empresa exporta para um país um produto a preço (valor de exportação) inferior àquele que aplica a produto similar nas vendas para seu mercado interno (valor “normal”). • A aplicação de uma medida antidumping requer que, no âmbito de um processo administrativo, seja realizada uma investigação, com a participação de todas as partes interessadas, por meio da qual dados e informações são conferidos e opiniões são confrontadas (ver estrutura legal no Brasil). Exceções à CN+F: Antidumping • Alguns críticos das medidas antidumping entendem que estas são utilizadas como um refúgio protecionista, por grupos de pressão, para eliminar a concorrência estrangeira. • Nesse sentido, as normas antidumping, paradoxalmente, poderiam se tornar um poderoso instrumento de protecionismo. Veja a seguir, algumas notícias sobre a prática de dumping. Notícia de 19/05/2010: exportações chinesas são acusadas de dumping. “A indústria chinesa figura nos jornais como alvo de constantes acusações de dumping. O país é o principal alvo de denúncias brasileiras sobre essa prática. As acusações de dumping partem das empresas concorrentes, prejudicadas pelos baixos preços dos produtos chineses. No momento, a atenção do governo brasileiro está voltada para a entrada de caminhões com guindastes nos nossos mercados. Segundo reportagem do Valor Econômico, com base em informações do governo, o preço do caminhão chinês chega ao Brasil menor do que o custo de produção dos nossos veículos... ...O resultado, em caso de dumping, dá-se no longo prazo: quando eliminar os concorrentes, prejudicados pela competição desleal, a empresa estrangeira pode dominar o mercado nacional e, assim, definir seus próprios preços. A confirmação do dumping não é fácil, já que nem sempre é possível conhecer os custos da empresa. Por fim, é sempre necessário considerar a possibilidade de que a empresa que denuncia tenha lucros exagerados e utilize a acusação de dumping para proteger o próprio mercado.” Fundamentos de Comércio Exterior - Prof. Ms. Marco A. Arbex 9 Notícia de 13/02/2012: África do Sul adota medidas antidumping contra o frango brasileiro “Segundo o Diário Oficial sul-africano, as medidas atingem as exportações de frango inteiro e cortes desossados, com sobretaxas de 62,93% e 46,59%, respectivamente. Estas sobretaxas se somam às tarifas normais de importação, que são de 5% para o frango inteiro e 27% para os cortes desossados. O setor avícola, juntamente com os órgãos governamentais, irá recorrer da decisão do governo da África do Sul, que afeta várias agroindústrias brasileiras exportadoras de carne de frango. A estimativa do setor é que os prejuízos cheguem a US$ 70 milhões anuais. A África do Sul importa 16% de todo o frango consumido no país (70% deste volume são provenientes do Brasil)”. Notícia de 02/11/2011: Papeleiras chinesas vão acusar Brasil de dumping “A indústria papeleira da China prepara uma acusação de dumping contra as fábricas de celulose do Brasil. A indústria nacional está sendo acusada de adotar preços menores na China do que os praticados no Brasil. É a primeira vez que uma indústria chinesa irá pedir medidas de antidumping contra um setor industrial brasileiro. Caso aceite a acusação, Pequim deve impor tarifa sobre a celulose brasileira de 20% a 200%. Hoje, o produto brasileiro entra na China sem imposto, segundo os chineses. A China importa 5 milhões de toneladas dessa fibra, dos quais 1,8 milhão de toneladas do Brasil - hoje, o maior fornecedor”. Exceções à CN+F: medidas compensatórias • Caso uma indústria esteja sendo prejudicada comercialmente por subsídios concedidos a uma indústria específica de outro país, um país poderá demandar que a norma que estabelece a concessão do subsídio seja revogada ou adotar medidas compensatórias, na medida do prejuízo sofrido, com o objetivo de neutralizar um subsídio outorgado pelo país exportador. • Em outras palavras, a OMC pode autorizar o país prejudicado a retaliar comercialmente o outro país. Exemplos de subsídios Tarifas de transporte interno e fretes para exportação em condições mais favoráveis do que as aplicadas ao transporte doméstico; Concessão de financiamentos governamentais a empresas em função de seu desempenho nas exportações; Fornecimento pelo governo de produtos ou serviços importados para uso na produção de mercadorias exportadas; Isenção ou redução de impostos ou encargos sociais em função das exportações; Concessão de prêmios às exportações. Exceções à CN+F: medidas compensatórias • Se uma empresa chinesa vende internamente uma mercadoria por US$ 10,00, mas cobra US$ 8,00 para vender ao Brasil, pode-se se configurar caso de dumping. • Mas se vende a US$ 8,00 porque está recebendo US$ 2,00 do seu governo, por exemplo, configura-se um caso de subsídio. Notícia de 31/08/2009: OMC autoriza Brasil a retaliar EUA por subsídio ao algodão “A Organização Mundial do Comércio (OMC) autorizou o Brasil, na manhã desta segunda-feira, 31, a impor retaliações sobre o governo americano em resposta aos subsídios ilegais que a Casa Branca distribui aos produtos de algodão. Dados preliminares da decisão da entidade apontam que o Brasil teria o direito de retaliar os EUA em cerca de US$ 300 milhões, valor muito inferior aos US$ 2, 5 bilhões pleiteados pelo Brasil. Mesmo assim, a retaliação autorizada pela OMC é a segunda maior já dada pela entidade a um país. A disputa entre Brasil e Estados Unidos já dura sete anos e apesar de várias condenações, o governo americano jamais cumpriu a determinação da OMC de retirar os subsídios ilegais ao algodão”. Fundamentos de Comércio Exterior - Prof. Ms. Marco A. Arbex 10 Notícia de 02/07/2007: caso Embraer x Bombardier “O caso teve início em meados da década de 90. Após bem- sucedido processo de privatização, a Embraer tornou-se uma empresa bem mais competitiva, mas, ainda assim, precisava de algum tipo de apoio governamental para poder concorrer em melhores condições com os grandes players do mercado de aviões de médio porte. Com os incentivos recebidos por meio de um programa de exportação do governo brasileiro denominado Proex, a Embraer venceu, em 1996, uma concorrência internacional para a venda de um número significativo de aeronaves para companhias aéreas dos Estados Unidos. A grande derrotada nessa concorrência foi a Bombardier, detentora na ocasião de mais de 50% do mercado mundial dessas aeronaves de porte médio... ...Inconformada com a derrota, a Bombardier pressionou o governo canadense a iniciar consultas junto ao governo brasileiro, com o objetivo de apurar se, de fato, como alegava a empresa canadense, a Embraer havia recebido subsídios governamentais do tipo “apoio à exportação”. O Brasil, em sua defesa, não contestou se tratar o Proex de um tipo de subsídio. Um subsídio, porém, perfeitamente de acordo para um país em desenvolvimento. Em linhas gerais, o Proex consistia em um programa de equalização das taxas de juros cobradas por instituições financeiras internacionais em contratos de financiamento à importação de produtos de países emergentes, em virtude de seus riscos e instabilidades políticas e econômicas... ...Pelo mecanismo de equalização, o governo brasileiro comprometia-se a cobrir essa diferença na taxa de juros. Enquanto o Canadá acusava o Brasil de conceder subsídios ilegais, estava fazendo exatamente o mesmo com relação a Bombardier. Por meio de algumas instituições de fomento, repassava recursos àquela empresa, o que a levou, inclusive, a superar a Embraer em nova concorrência internacional. O Brasil conseguiu reunir algumas provas e iniciou processo contra o Canadá na OMC. Argumentou que, por meio dessas instituições de fomento, a Bombardier havia recebido subsídios ilegais. ...O Painel deu razão parcial ao Brasil e determinou que parte dos subsídios fosse retirada pelo governo canadense. O Canadá não apelou, mas se recusou a retirar os subsídios, razão pela qual o governo brasileiro foi autorizado a adotar medidas compensatórias contra aquele país no valor aproximado de U$ 270 milhões. Da mesma forma que o Canadá, o governo brasileiro não adotou nenhuma medida compensatória. Ao longo dos últimos três ou quatro anos, os governos dos dois países e os setores interessados, especialmente os da indústria aeronáutica, têm negociado as condições que devem ser aplicadas ao financiamento de importação”. Notícia de 16/09/2010: Decisão da OMC pode prejudicar Embraer “A Organização Mundial do Comércio (OMC) condenou os subsídios dos Estados Unidos à Boeing, abrindo precedente que ameaçaria os interesses da Embraer. A entidade máxima do comércio concluiu, a pedido dos europeus, que a empresa americana teria recebido recursos ilegais do Departamento de Defesa e da Nasa. Já a brasileira é acusada pela canadense Bombardier de receber o mesmo tipo de incentivo do setor militar brasileiro. A decisão deve abrir caminho para novo acordo sobre subsídios que vai definir como empresas de todo o setor, inclusive a Embraer, poderão atuar na próxima década. A negociação viria em um momento crucial, no qual surgem novos concorrentes, como chineses, canadenses e brasileiros.” Exceções à CN+F: zonas de livre comércio e união aduaneira • Países que fazem parte de alguma forma de integração regional como zonas de livre comércio e união aduaneira estão livres de seguir a CN+F. • Esses acordos regionais são tratados como exceção no GATT porque as restrições internas da região são abolidas, mas permanecem as restrições em relação a terceiros países (não-membros), fazendo com que estes fiquem numa posição de desvantagem em relação aos países- membros, o que claramente entra em conflito com a CN+F. Em breve conheceremos com mais detalhes as formas de integração regional Fundamentos de Comércio Exterior - Prof. Ms. Marco A. Arbex 11 Exceções à CN+F: cláusula de habilitação • Consiste na decisão do GATT, através da qual é permitido celebrar acordos regionais ou gerais entre países em desenvolvimento com a finalidade de reduzir ou eliminar mutuamente as travas a seu comércio recíproco, excetuando-se da aplicação da CN+F. • Na prática, verifica-se a possibilidade de concessão de preferências aos países em desenvolvimento sem que os mesmos precisem respeitar o princípio da reciprocidade • Da mesma forma verifica-se a possibilidade dos países em desenvolvimento concederem preferências entre si sem a necessidade de estendê-las aos países desenvolvidos. Exceções à CN+F: cláusula de habilitação • A criação da Cláusula de Habilitação parte da verificação de que se todos os Países-Membros têm os mesmo direitos, haveria de ser reconhecida a diversidade de desenvolvimento econômico e social entre eles, o que desaconselhava o tratamento idêntico para todos • A Cláusula de Habilitação é uma faculdade dada aos países desenvolvidos, não constituindo uma obrigação de acordar tal tratamento diferenciado e mais favorável aos países em desenvolvimento Textos base BONATO, A. B. Cláusula da nação mais favorecida: um estudo sobre as principais controvérsias que a envolvem no âmbito da OMC. Disponível em: www3.pucrs.br/pucrs/files/.../trabalhos2009_2/adriana_bonato.pdf. Acesso em 01/07/2012. INMETRO – Barreiras técnicas. Disponível em: http://www.inmetro.gov.br/barreirastecnicas/barreirastecnicas.asp. Acesso em 05/07/2012. MDIC – Comércio Exterior. Disponível em http://www.desenvolvimento.gov.br/sitio/interna/index.php?area=5. Acesso em 15/07/2012. SOUSA, José Manuel Meireles de. Fundamentos do Comércio Internacional. Editora Saraiva. Ano: 2009.