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SEMANA 1: DIREITO POSITIVO E SOCIEDADE Direito objetivo ou positivo (norma de agir) e Direito subjetivo (faculdade de agir) Como nasce o Direito Direito presente na sociedade O Direito tem a sua origem nos fatos sociais, entendendo-se como tais os acontecimentos da vida em sociedade. A sociedade humana é o meio em que o Direito surge e se desenvolve, pois a idéia de direito liga-se à idéia de conduta e de organização, provindo da consciência das relações entre os indivíduos. Função social do Direito (prevenir e compor conflitos) O Direito previne conflitos através de um conveniente disciplinamento social, estabelecendo regras de conduta na sociedade. A Sociologia Jurídica e Judiciária no Campo das Ciências Sociais Origem da Sociologia Jurídica ( Émile Durkheim e Max Weber) - Sociologia Jurídica nasce como disciplina específica no início do século XX Os trabalhos partem da tese que o direito é um fato social ou uma função da sociedade. Os sociólogos do direito consideram que o direito possui uma única fonte: a vontade do grupo social. A sociologia jurídica deve pesquisar o fato do direito, cuja manifestação não depende da lei escrita, mas sim da sociedade, que produz estes fatos e cria relações jurídicas. Partindo desta premissa, foram desenvolvidas duas abordagens da sociologia jurídica: sociologia do direito sociologia no direito Cada uma realiza uma opção metodológica diferente e tem uma visão própria sobre a finalidade e os objetivos da disciplina. Sociologia do Direito (abordagem positivista) - Niklas Luhmann (1927 -1998) na Alemanha; Renato Treves (1907 – 1992) na Itália – outros - A Sociologia Jurídica não pode ter uma participação ativa dentro do direito. Se o direito é “a lei e as relações entre as leis”, tudo o que não for “lei e relações entre leis” fica fora da ciência jurídica. A sociologia jurídica pode estudar e criticar o direito, mas não pode ser parte integrante desta ciência. A sua tarefa é a de ser um observador neutro do sistema jurídico. Sociologia no Direito (abordagem evolucionista) - Seus adeptos contestam a exclusividade de um método jurídico tradicional, afirmando que a sociologia jurídica deve interferir ativamente na elaboração, no estudo dogmático e inclusive na aplicação do direito. Trata- se de uma ruptura com o conceito Kelsiano de que o direito é a norma e as relações entre as normas. Isto porque se aceita que os conceitos elaborados pela sociologia jurídica integrem a ciência jurídica. Outras concepções da Sociologia Jurídica Nos últimos anos (do século passado) desenvolveram-se tentativas de unificar a perspectiva interna da sociologia jurídica com aquela externa (sociologia no ou do direito) – permitindo ao pesquisador observar aquilo que os juristas consideram como direito. Segundo esta opinião, o sociólogo do direito realiza uma análise externa daquilo que é considerado como direito pelo ponto de vista da dogmática jurídica. Outros estudiosos insistem no fato de que a sociologia jurídica tem necessariamente dois aspectos, o interno e o externo, sendo que o pesquisador não pode ignorar nenhum dos dois, ou seja, deve trabalhar ao mesmo tempo como jurista e como sociólogo. Outro dilema: se a sociologia jurídica constitui ramo do direito ou da sociologia, ou se existem duas formas diferentes de trabalhar na sociologia do direito (a perspectiva do sociólogo e a do jurista). Nesta perspectiva: Sociologia do direito indica o ramo da sociologia que tem como objeto de estudo o direito – feita preferencialmente por sociólogos. Já os juristas que estudam as dimensões sociológicas das normas jurídicas, fazem uma sociologia jurídica, permanecendo dentro do sistema jurídico e contribuindo para sua melhoria. Nada impedindo que as duas abordagens se desenvolvam em paralelo. O certo é que a forma de analisar e os resultados da pesquisa são diferentes em cada caso ( Sabadell) Ainda segundo Sabadell: A sociologia jurídica examina a influência dos fatores sociais sobre o direito e as incidências deste último na sociedade, ou seja, os elementos de interdependência entre o social e o jurídico, realizando uma leitura externa do sistema jurídico. A sociologia jurídica examina as causas (sociais) e os efeitos (sociais) das normas jurídicas. Objetivo de análise é a realidade jurídica, na tentativa de responder três questões fundamentais: Por que se cria uma norma ou um inteiro sistema jurídico? Quais são as conseqüências do direito na vida social? Quais são as causas sociais da decadência do direito, que se manifesta por meio do desuso e da abolição de certas normas ou mesmo mediante a extinção de determinado sistema jurídico? 1. Importância do estudo das ciências sociais e da sociologia jurídica e judiciária em particular 2. Autonomia científica e didática da sociologia jurídica e judiciária e suas relações com outras ciências sociais 3. A abordagem da sociologia jurídica e judiciária da Teoria Tridimensional do Direito: Fato social e Direito objetivo 1. Autonomia da SJJ A autonomia da sociologia jurídica hoje é reconhecida, pois tem objeto próprio, métodos e leis. No passado a referida autonomia foi controvertida, alguns autores a enquadravam como uma parte especial integrante da sociologia enquanto outros a confundiam com a própria ciência do direito. Autonomia da Ciência: não se confunde o objeto da SJJ com o de qualquer outra ciência que também se relaciona com o direito, por isso que se preocupa apenas com o direito como um fato social concreto, integrante de uma superestrutura social. A finalidade da SJJ é estabelecer uma relação funcional entre a realidade social e as diferentes manifestações jurídicas, sob forma de regulamentação da vida social, fornecendo subsídios para suas transformações no tempo e no espaço. 2. Teoria Tridimensional do Direito Onde quer que haja um fenômeno jurídico, há, sempre e necessariamente, um fato subjacente (fato econômico, geográfico, demográfico, de ordem técnica etc.); um valor, que confere determinada significação a esse fato, inclinando ou determinando a ação dos homens no sentido de atingir ou preservar certa finalidade ou objetivo; e, finalmente uma regra ou norma, que representa a relação ou medida que integra um daqueles elementos ao outro, o fato ao valor. Tais elementos ou fatores (fato, valor e norma) não existem separadamente uns dos outros, mas coexistem numa unidade concreta. Segundo Miguel Reale, o fenômeno jurídico pode ser considerado sob três aspectos distintos a saber: fato, norma e valor. Sociologia Fato Eficácia Ser Cência do direito Norma Vigência Dever ser Filosofia do direito Valor Fundamento Poder ser Aspectos do fenômeno jurídico segundo a Teoria Tridimensional do Direito Os filósofos do direito costumam afirmar que o sistema jurídico tem três dimensões: justiça, validade, eficácia. Trata-se da teoria tridimensional do direito desenvolvida pelo jurista Miguel Reale, assim vejamos: Justiça = a questão da justiça interessa aos filósofos do direito, que examinem a justificação do sistema jurídico atual; relação entre direito e moral e entre normas positivas e idéias de justiça ( idealidade do direito); Validade = aos dogmáticos ou intérpretes do direito interessa o estudo das normas formalmente válidas e buscar o sentido de cada elemento do ordenamento jurídico, solucionar os conflitos entre normas e adaptá-las aos casos concretos; Eficácia = a questão da eficácia das normas jurídicas interessa ao sociólogo do direito. A função do sociólogo do direito é analisar a realidade social do direito, tendo em vista que a finalidade da sociologia jurídica é estabelecer uma relação funcional entre a realidade social e as diferentes manifestações jurídicas, sob a forma de regulamentação da vida social, fornecendosubsídios para suas transformações no tempo e no espaço. Contudo, cumpre ressaltar, que as três dimensões enfocadas do conhecimento jurídico, não se encontram isoladas, pelo contrário, estão relacionadas entre si. Assim, por exemplo, se a sociedade considera que uma lei é injusta, esta provavelmente será revogada ou permanecerá sem efeitos práticos, e, portanto, ineficaz. Desta forma, o intérprete do direito não pode ignorar que a falta de legitimação de uma lei em vigor pode levar à sua revogação ou à sua ineficácia. Não obstante, o sociólogo e o filósofo do direito não são indiferentes ao tema da interpretação do direito positivo, uma vez que necessita conhecer o conteúdo das normas vigentes para poder analisar a realidade e a idealidade do direito. Para fins de ilustração, tomemos como exemplo as leis sobre a união estável, caberá ao intérprete trabalhar com as respectivas normas indicando quais são as condições para o reconhecimento da união e os efeitos decorrentes desta relação, segundo a Lei Substantiva vigente. Por sua vez compete ao filósofo do direito analisar a justificativa e as conseqüências morais e políticas da união estável, e tentará oferecer uma avaliação acerca do seu significado, tal como é configurado pelo direito em vigor, por fim, o sociólogo do direito vai examinar se, p. ex. à análise do grau de conhecimento e de aceitação destas normas pela população. 4- Direito Objetivo e a SJJ DIREITO NATURAL: São princípios imanentes à razão do homem, independentes da sua vontade, atuando como fonte de inspiração, de orientação e de complementação ao ordenamento jurídico de todos os povos, e aos seus direitos positivos. Na realidade, os princípios que constituem o chamando DIREITO NATURAL formam a idéia do que seja, segundo a razão humana, o “justo por natureza”. DIREITO POSITIVO: São normas de conduta, legislada ou proveniente dos costumes, que estando em vigor ou tendo vigorado em certa época, disciplinam ou disciplinaram o inter-relacionamento, a convivência do homem. O DIREITO POSITIVO é o direito que depende da vontade humana, seja na forma legislada seja na consuetudinária, em ambas, objetivamente estabelecido, enquanto o DIREITO NATURAL é o que independe de ato de vontade, por refletir exigências sociais de natureza humana, comuns a todos os homens, razão pela qual o direito positivo seria histórico e válido em espaços geográficos determinados ou determináveis, isto é, para determinado Estado (direito brasileiro) ou para vários Estados (direito internacional), podendo perde a sua validade por decisão legislativa do governo, enquanto o direito natural seria válido no espaço social cuja validade não pode ser afetada por qualquer lei. - DIREITO OBJETIVO E DIREITO SUBJETIVO; à luz da moderna ciência jurídica, devem ser tratados conjuntamente, por se tratar de uma mesma coisa vista por ângulos diferentes. Há entre ambos total correspondência, porque são na realidade posições distintas do direito e este é um único sistema lógico e normativo. O direito sob o ponto de vista objetivo é a norma ou o conjunto de normas de conduta, enquanto que sob o ponto de vista subjetivo é o conjunto de relações jurídicas, aí implícitos o dever jurídico e a faculdade de agir. O direito objetivo é o conjunto de normas em vigor e que constituem o ordenamento jurídico. Sendo normas, é ele – Direito Objetivo – que dispõe acerca da conduta de cada um, regulando-a, disciplinando-a. Assim, Direito Objetivo, como os romanos chamavam, é a norma agendi (norma de ação, norma de conduta). O direito subjetivo é uma faculdade jurídica porque caracteriza uma possibilidade do seu titular de exigir o cumprimento de um dever, mas não impõe, absolutamente, que assim proceda. Dá a possibilidade de agir, mas não exige tal ação. É, assim, opcional, faculdade; daí a terminologia usual. A falta de interesse do titular em agir não acarreta como se possa presumir a extinção do DIREITO SUBJETIVO, o qual persiste. Até porque, há casos em que esse direito prevalece mesmo contra a vontade do titular, a exemplo do que ocorre com o empregado que trabalha em um horário noturno e que não se interessa por receber a sua remuneração acrescida de vinte por cento, pelo menos, sobre a hora diurna, como dispõe a respeito à CLT, no artigo 73. Se o empregado não deseja receber esse acréscimo, não tem vontade ou não tem interesse, ainda assim o seu direito subsiste, não perece. 5. Diferença entre a Sociologia Jurídica, a Ciência do Direito e a Filosofia do Direito. A sociologia jurídica descreve a realidade social do direito sem levar em conta sua normatividade. Detêm-se com a existência do direito como produto ou fenômeno social, decorrente da inter-relação social, e não como foi concebido e equacionado pelo legislador. Vale dizer, sociólogo do direito estuda o fenômeno jurídico como um fato social, procurando descrever e analisar os múltiplos aspectos da realidade jurídica, em sua interação com os demais fatores sociais. Já a ciência do direito enfoca o direito pelo seu aspecto estritamente normativo, pelo conjunto de leis e regras escritas emanadas do Estado, eliminando qualquer elemento não jurídico. A tarefa do jurista é a de conhecer, interpretar e aplicar a norma jurídica com exatidão, aos casos concretos, atuando como técnico da norma jurídica. Por sua vez, cabe á filosofia do direito determinar a formação e desenvolvimento do direito em relação aos elementos infra-estruturais da sociedade, ressaltando a dependência de suas modificações. Preocupam-se com correntes filosóficas e ideológicas, que conceberam o direito desta ou daquela forma (como norma, poder, realidade, valor ou conhecimento), e com a escala de valoração jurídica dos bens existentes na sociedade, tais como a justiça, o bem comum, o interessa social, a liberdade etc. Em síntese: A sociologia jurídica estuda o direito como fato social. A dogmática jurídica (ciência do direito em sentido estrito) se ocupa da norma jurídica e sua aplicação aos casos particulares. E a filosofia jurídica investiga os princípios fundamentais do direito, como norma, poder, realidade, valor ou conhecimento. A sociologia, ciência e filosofia do direito correspondem, assim, a três perspectivas diferentes, que não se excluem, mas, ao contrário se completam. E contribuem para o melhor conhecimento da realidade jurídica em suas múltiplas dimensões. 6.. Importância da Sociologia Jurídica Para o legislador – fornece os elementos necessários para a elaboração das leis. Sem conhecer os fatos que estão ocorrendo no grupo, as relações que necessitam de melhor disciplinamento, os conflitos que se travam, nenhum legislador logrará elaborar leis eficazes. Igualmente, mister se faz ajustar a lei às novas realidades sociais, posto que sendo a lei estática e a sociedade dinâmica, com o passar do tempo ela acaba se tornando ultrapassada obsoleta. Para o Juiz – possibilita aplicar o direito de modo compatível com as necessidades sociais, pois as conhecendo poderá, sem inobservar as regras da hermenêutica, valendo-se de uma interpretação ora extensiva, ora restritiva ou mesmo através da analogia, fazer o direito acompanhar as evoluções sociais. Para o advogado – proporciona uma visão mais ampla e real do fenômeno jurídico. Demonstrando-lhe que o direito não é somente um conjunto de normas estáticas que devem ser aplicadas independentemete de qualquer finalidade ou objetivo, mas também um fato, a realidade social dinâmica em permanente transformação, à qual as normas deverão se ajustar sob pena de perderem a finalidade, tornando-se ineficazes e obsoletas. Bibliografia CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de Sociologia Jurídica. 11 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2004. SABADELL, Ana Lucia. Manual de Sociedade Jurídica. 3. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2005. � PAGE \* MERGEFORMAT �1�