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DEPARTAMENTO DE ECONOMIA / PUC-Rio Microeconomia II Prof. Marcos Antonio C. da Silveira Nota de Aula 15: Teoria do Equilíbrio Geral em Concorrência Perfeita (Trocas Puras) Bibliografia: Varian, cap. 31 1 Introdução • Modelos de equilíbrio geral X Modelos de equilíbrio parcial • Modelos de equilíbrio parcial: determinação do preço e da quantidade de equilíbrio em apenas um mercado, permanecendo os precos nos outros mercados constantes • Modelos de equilíbrio geral: determinação dos preços e das quantidades de equilíbrio em todos os mercados simultaneamente • Motivação: interdependência dos mercados ( bens são complementares e substitutos) • Economia competitiva (mercados de concorrência perfeita): agentes comportam-se competitivamente — Consumidores tomam como dados os preços dos bens que consomem — Produtores tomam como dados os preços dos bens que produzem e os preços dos insumos e fatores que empregam na produção • Modelos de equilíbrio geral sem produção (economia de trocas puras): — Indivíduos são apenas consumidores e recebem uma dotação dos bens — Oferta agregada de cada bem é uma variável exógena do modelo — Embora bastante simplificado, a maior parte dos resultados importantes da teoria de equilíbrio geral podem ser derivados e bem ilustrados • Modelo de equilíbrio geral com produção: — Modelo mais completo e portanto mais realista — Indivíduos são consumidores e produtores (proprietários das firmas) simultanea- mente 1 2 Descrição do Modelo e Definições Básicas • N indivíduos (consumidores): i = 1, 2, ..., N • M bens: j = 1, 2, ...,M • Resultados do modelo generalizados para número qualquer de bens e indivíduos • Uma economia de trocas puras é inteiramente descrita... — pelas dotações iniciais dos indíviduos e... — pelas preferências dos indivíduos 2.1 Dotações Iniciais: Lado da Oferta • Não há produção • Cada indivíduo recebe uma dotação inicial exógena de cada bem • Dotação inicial do bem j para o indivíduo i: ωji ≥ 0 • Cesta de dotação inicial do indivíduo i (i=1,2,...,N): Wi = ¡ ω1i , ω 2 i , ..., ω M i ¢ • Vetor de cestas de dotações iniciais, uma para cada indivíduo: W = (W1,W2, ...,WN) onde W1 = ¡ ω11, ω 2 1, ..., ω M 1 ¢ W2 = ¡ ω12, ω 2 2, ..., ω M 2 ¢ ... WN = ¡ ω1N , ω 2 N , ..., ω M N ¢ • Dotação inicial total (agregada) do bem j: ωj = ωj1 + ω j 2 + ...+ ω j N = NX i=1 ωji 2 2.2 Preferências: Lado da Demanda Alocação • Quantidade do bem j consumida pelo indivíduo i: xji • Cesta de consumo do indivíduo i: Xi = ¡ x1i , x 2 i , ..., x M i ¢ • Alocação de bens X : vetor de cestas de consumo, uma para cada indivíduo, ou seja, X = (X1,X2, ...,XN) onde X1 = ¡ x11, x 2 1, ..., x M 1 ¢ X2 = ¡ x12, x 2 2, ..., x M 2 ¢ ... XN = ¡ x1N , x 2 N , ..., x M N ¢ Em suma, uma alocação de bens X especifica a quantidade de cada bem consumida por cada indivíduo • Caso particular de alocação: alocacão das dotações iniciais Xiz }| {¡ x1i , x 2 i , ..., x M i ¢ = Wiz }| {¡ ω1i , ω 2 i , ..., ω M i ¢ para i=1,2,...,N =⇒ Xz }| { (X1,X2, ..., XN) = Wz }| { (ω1, ω2, ..., ωN) Na alocação W , todo indivíduo consome exatamente sua dotação inicial de cada bem 3 Alocação Factível • Seja a alocacão das dotações iniciais W = (W1,W2, ...,WN) , onde W1 = ¡ ω11, ω 2 1, ..., ω M 1 ¢ W2 = ¡ ω12, ω 2 2, ..., ω M 2 ¢ ... WN = ¡ ω1N , ω 2 N , ..., ω M N ¢ Então, uma alocação de bens qualquer X = (X1,X2, ...,XN) onde X1 = ¡ x11, x 2 1, ..., x M 1 ¢ X2 = ¡ x12, x 2 2, ..., x M 2 ¢ ... XN = ¡ x1N , x 2 N , ..., x M N ¢ é dita factível quando, para todo bem j=1,2,...,M, segue que NX i=1 xji = x j 1 + x j 2 + ...+ x j N ≤ ω j 1 + ω j 2 + ...+ ω j N ωj = z }| { NX i=1 ωji • A alocação da dotação W = (W1,W2, ...,WN) inicial é factível 4 Preferências • Cada indivíduo possui uma relação de preferências % sobre o conjunto das alocações, representada por uma função utilidade ui = ui Xz }| { (X1,X2, ..., Xi, ...,XN) • Não existência de externalidades no consumo implica que, para todo indivíduo i=1,2,...,N, segue que: ui Xz }| { (X1,X2, ..., Xi, ...,XN) = ui(Xi) • Esta nota de aula supõe ausência de externalidade 5 3 Caixa de Edgeworth • Suponha uma economia sem externalidades • Quando existem apenas dois indivíduos e dois bens, o modelo pode ser representado graficamente através da Caixa de Edgeworth • Comprimento e a altura da caixa dadas por ω1e ω2 respectivamente • Toda alocação factível ((x1A, x2A) , (x1B, x2B)) que esgota os recursos, ou seja, x1A + x 1 B = ω 1 A + ω 1 B x2A + x 2 B = ω 2 A + ω 2 B é representada por um único ponto da caixa. A recíproca tb é verdadeira: todo ponto da caixa representa uma única alocação factível que esgota os recursos • Uma alocação de bens factível ((x1A, x2A) , (x1B, x2B)) que esgota os recursos encontra-se no interior da Caixa de Edgeworth quando x1A > 0, x 2 A > 0, x 1 B > 0, x 2 B > 0 Caso contrário, a alocação encontra-se na fronteira da caixa • Considere a alocação factível ((x1A, x2A) , (x1B, x2B)) representada por um ponto M da caixa: — existe uma única curva de indiferença de A que passa por M e uma única curva de indiferença de B que passa por M — estas duas curvas de indiferença podem se tangenciar ou se cruzar em M 6 4 Eficiência no Sentido de Pareto (Pareto-Eficiência) 4.1 Pareto-Eficiência • Suponha duas alocações X = (X1,X2, ..., XN) e Y = (Y1, Y2, ..., YN) . Por definição, X é Pareto superior a Y quando ui(Xi) ≥ ui(Yi) para todo i = 1, 2, ..., N e, além disso, existe pelo menos um indivíduo ı˜ tal que uı˜(Xı˜) > uı˜(Yı˜) • Uma alocação factível qualquer X é, por definição, Pareto-eficiente quando não existe nenhuma outra alocação factível Y tal que Y é Pareto superior a X 7 4.2 Curva de contrato ou curva de Pareto • Curva de contrato ou curva de Pareto: conjunto de todas as alocações Pareto-eficientes Exercício 1 Represente na Caixa de Edgeworth a curva de contrato da economia do ex.1 • Curva de contrato determinada exclusivamente pelas: — a) estruturas de preferências dos indivíduos (funções utilidades): uA (x1A, x2A) , uB (x1B, x2B) — b) oferta agregada dos bens: ω1 = ω1A + ω1B , ω2 = ω2A + ω2B • Curva de contrato depende da alocação da dotação inicial W = ((ω1A, ω2A) , (ω1B, ω2B)) apenas na medida em que esta alocação determina a oferta agregada de cada bem da economia • Conceito de Pareto-eficiência independe de qualquer julgamento de valor quanto à distribuição da riqueza de economia (dotação total dos bens) entre os indivíduos • Pergunta: Seja Y uma alocação Pareto-ineficiente e X uma alocação Pareto-eficiente. Então, a alocação X proporciona a todos os indíviduos um bem-estar maior ou igual à alocação Y? 8 4.3 Interpretação Matemática da Curva de Contrato com Preferências Bem Comportadas • Suponha uma economia sem externalidades • Suponha N=2 (indivíduos A e B) • Suponha preferências bem comportadas e forte monotonicidade, representadas pelas funções de utilidade uA = uA(x1A, x 2 A) uB = uB(x1B, x 2 B) • Seja X = ((x1A, x2A) , (x1B, x2B)) uma alocação Pareto-eficiente no interior da caixa de Edge- worth, ou seja, x1A > 0, x 2 A > 0, x 1 B > 0, x 2 B > 0 • A taxa marginal de substituição na cesta (x1A, x2A) é o valor absoluto da inclinação da curva de indiferença do indivíduo A que passa por (x1A, x2A) : TMSA ¡ x1A, x 2 A ¢ = ∂uA(x1A,x 2 A) ∂x1A ∂uA(x1A,x 2 A) ∂x2A • A taxa marginal de substituição na cesta (x1B, x2B) é o valor absoluto da inclinação da curva de indiferença do indivíduo B que passa por (x1B, x2B) : TMSB ¡ x1B, x 2 B ¢ = ∂uB(x1B ,x 2 B) ∂x1B ∂uB(x1B ,x 2 B) ∂x2B • Consequentemente, a alocação factível X é Pareto-eficiente quando TMSA ¡ x1A, x 2 A ¢ = TMSB ¡ x1B, x 2 B ¢ (1) • Qual a intuição deste resultado? • E se X = ((x1A, x2A) , (x1B, x2B)) é uma alocação Pareto-eficiente na fronteira da caixa de Edgeworth? 9 4.4 Derivação Matemática da Curva de Contrato • Vamos provar formalmente o resultado (1) Proposition 1 • Suponha uma economia sem externalidades • Suponha N=2 (indivíduos A e B) • Suponha preferências bem comportadas e forte monotonicidade • Seja ((y1A, y2A) , (y1B, y2B)) uma alocação Pareto-eficiente no interior da caixa de Edgeworth, ou seja, y1A > 0, y 2 A > 0, y 1 B > 0, y 2 B > 0 • Esta alocação ((y1A, y2A) , (y1B, y2B)) é Pareto-eficiente se e somente se¡¡ y1A, y 2 A ¢ , ¡ y1B, y 2 B ¢¢ = arg max ((x1A,x2A),(x1B ,x2B)) uA(x1A, x 2 A) (2) sujeito às restrições: uB(x1B, x 2 B) ≥ uB ¡ y1B, y 2 B ¢ (3) x1A + x 1 B = ω 1 = ω1A + ω 1 B (4) x2A + x 2 B = ω 2 = ω2A + ω 2 B (5) • Alocação ((y1A, y2A) , (y1B, y2B)) resolve o problema de max.(2) =⇒ Alocação ((y1A, y2A) , (y1B, y2B)) satisfaz cond. marg deste problema. Que condição? • Primeiro, observe que, com forte monotonicidade, solução do prob. de max.(2) fica inalterada com igualdade na restrição (3) • Lagrangeano do prob. de max.(2): L ¡ x1A, x 2 A, x 1 B, x 2 B, λ, µ1, µ2 ¢ = uA(x 1 A, x 2 A)− λ ¡ uB(x 1 B, x 2 B)− uB ¡ y1B, y 2 B ¢¢ −µ1 ¡ x1A + x 1 B − ω1 ¢ − µ2 ¡ x2A + x 2 B − ω2 ¢ onde λ, µ1 e µ2 são multiplicadores de Lagrange • Condições marginais de primeira ordem: ∂L (y1A, y 2 A, λ) ∂x1A = ∂uA(y1A, y 2 A) ∂x1A − µ1 = 0 (6) ∂L (y1A, y 2 A, λ) ∂x2A = ∂uA(y1A, y 2 A) ∂x2A − µ2 = 0 (7) ∂L (y1A, y 2 A, λ) ∂x1B = −λ∂uB(y 1 B, y 2 B) ∂x1B − µ1 = 0 (8) ∂L (y1A, y 2 A, λ) ∂x2B = −λ∂uB(y 1 B, y 2 B) ∂x2B − µ2 = 0 (9) 10 • De (6) e (7), segue que ∂uA(y1A, y 2 A) ∂x1A Á ∂uA(y1A, y 2 A) ∂x2A = µ1 µ2 (10) • De (8) e (9), segue que ∂uB(y1B, y 2 B) ∂x1B Á ∂uB(y1B, y 2 B) ∂x2B = µ1 µ2 (11) • Igualando (10) e (11) e usando a definição de taxa marginal de substituição, segue que TMSA ¡ y1A, y 2 A ¢ = ∂uA(y1A, y 2 A) ∂x1A Á ∂uA(y1A, y 2 A) ∂x2A (12) = ∂uB(y1B, y 2 B) ∂x1B Á ∂uB(y1B, y 2 B) ∂x2B = TMSB ¡ y1B, y 2 B ¢ • Com preferêcias bem comportadas, se ((y1A, y2A) , (y1B, y2B)) é Pareto-eficiente, então esta alocação satisfaz as condições de factibilidade (4) e (5) e a condição marginal (12) • A recíproca também é verdadeira com preferências bens comportadas: se ((y1A, y2A) , (y1B, y2B)) satisfaz as condições de factibilidade (4) e (5) e a condição marginal (12), então ela é Pareto-eficiente 11