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O que se defronta diretamente ao possuidor de dinheiro, no mer- cado, não é, de fato, o trabalho, mas o trabalhador. O que este último vende é sua força de trabalho. Tão logo seu trabalho realmente começa esta já deixou de pertencer-lhe e portanto não pode mais ser vendida por ele. O trabalho é a substância e a medida imanente dos valores, mas ele mesmo não tem valor.353 Na expressão “valor do trabalho”, o conceito de valor não está apenas inteiramente apagado, mas convertido em seu contrário. É uma expressão imaginária como, por exemplo, valor da terra. Essas expres- sões imaginárias surgem, entretanto, das próprias condições de pro- dução. São categorias para formas em que se manifestam condições essenciais. Que na aparência as coisas se apresentam freqüentemente invertidas, é conhecido em quase todas as ciências, exceto na Economia Política.354 A Economia Política clássica tomou de empréstimo à vida coti- diana, sem maior crítica, a categoria “preço do trabalho”, para pergun- tar-se, depois, como se determina esse preço. Reconheceu logo que a variação da relação entre procura e oferta nada esclarece a respeito do preço do trabalho, assim como do que qualquer outra mercadoria, além de sua variação, isto é, a oscilação dos preços de mercado abaixo ou acima de certa grandeza. Se procura e oferta coincidem, cessa, per- manecendo as demais circunstâncias constantes, a oscilação de preço. Mas, então, procura e oferta cessam também de explicar qualquer coisa. O preço do trabalho, quando procura e oferta coincidem, é seu preço natural, determinado independentemente da relação entre procura e oferta, preço que, desse modo, se tornou o objeto que, na verdade, deveria ser analisado. Ou se tomou um período mais longo de oscilações do preço de mercado, por exemplo, um ano, e verificou-se, então, que suas altas e baixas se compensam, produzindo uma grandeza média, uma grandeza constante. Essa grandeza tinha, naturalmente, de ser MARX 167 353 "O trabalho, medida exclusiva do valor (...) o criador de toda riqueza, não é mercadoria." (HODGSKIN, Th. Op. cit., p. 186.) 354 Explicar tais expressões como mera licentia poetica apenas revela a impotência da análise. Contra a frase de Proudhon: “Diz-se do trabalho que ele tem valor não como mercadoria propriamente dita, mas com vista aos valores que se supõem potencialmente nele contidos. O valor do trabalho é uma expressão figurada etc.”, observo, por isso: “Na mercadoria trabalho, que é uma terrível realidade, ele vê apenas uma elipse gramatical. Em confor- midade com isso, toda a sociedade hodierna, baseada sobre o caráter mercantil do trabalho, é a partir de agora uma licença poética, baseada sobre uma expressão figurada. Se a sociedade quiser eliminar todos os ‘inconvenientes’ sob os quais tem de sofrer, pois que elimine as expressões malsonantes, que mude a linguagem, e para isso só precisa dirigir-se à Academia pedindo nova adição de seu dicionário”. (MARX, K. Misère de la Philosophie. pp. 34-35.) Mais cômodo ainda, naturalmente, é não entender de valor coisa alguma. Pode-se então sem dificuldade incluir nessa categoria tudo. Assim, por exemplo, J.-B. Say. O que é Valeur? Resposta: “O valor de uma coisa expresso em dinheiro”. E por que tem “o trabalho da terra (...) um valor? Porque se lhe reconhece um preço”. Portanto, valor é o que uma coisa vale, e a terra tem “valor”, porque se “expressa” seu valor “em dinheiro”. Esse é, em todo caso, um método muito simples de se entender sobre o why e wherefore das coisas.