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Curso de Direito Turma A – Manhã - 2012.1 Fundamentos das Ciências Sociais Prof.: Tiago Jorge Fernandes de Albuquerque Maranhão Disciplina: CCJ0001 Aula: 005 Assunto: A Contribuição de Max Weber Folha: 1 de 27 Data: 22/03/2012 MD/Direito/Estácio/Período-01/CCJ0001/Aula-005/WLAJ/DP Plano de Aula: 5 - Modelos clássicos da análise e compreensão da sociedade e das instituições sociais e políticas. FUNDAMENTOS DAS CIÊNCIAS SOCIAIS Título 5 - Modelos clássicos da análise e compreensão da sociedade e das instituições sociais e políticas. Número de Aulas por Semana 1 Número de Semana de Aula 5 Tema Contexto histórico da formação da Sociologia e da Antropologia. Objetivos Descrever o contexto histórico do surgimento das primeiras análises antropológicas e sociológicas. Analisar o darwinismo social como expressão das concepções positivistas do século XIX. Explicar as categorias de ordem e progresso social a partir do pensamento de Augusto Comte. Demonstrar a importância e influência da corrente positivista na sociedade brasileira. Estrutura do Conteúdo 1. O contexto histórico do surgimento da Sociologia 1.1. Revolução Industrial e Neocolonialismo O século XIX foi marcado pela Revolução Industrial e pelo Neocolonialismo, cujas conseqüências se projetaram para os séculos XX e XXI. No plano político e econômico o termo revolução é usado para expressar um movimento de transformação que, na visão dos seus protagonistas, traz transformações significativas, positivas e benéficas para a sociedade. De fato, as revoluções trazem grandes transformações e com a revolução industrial não poderia ter sido diferente. Tais transformações já se fizeram presentes na transição do feudalismo para o capitalismo. O desenvolvimento industrial se fez acompanhar pelo desenvolvimento científico, que por sua vez impulsionou ainda mais a indústria em função de descobertas e invenções. Nos centros urbanos europeus respirava-se desenvolvimento e acreditava-se que a tecnologia e a máquina resolveriam todos os problemas do homem. A indústria cresceu e com esse crescimento vieram as crises de produção porque a superprodução não era acompanhada pelo consumo. A solução para a crise de consumo foi encontrada no neocolonialismo, ou imperialismo do século XIX. Diferente do colonialismo dos séculos XV e XVI, o neocolonialismo representou nova etapa do capitalismo, do momento em que as nações européias saíram em busca de matérias-primas para sustentar as indústrias, de mercados consumidores para os produtos europeus e de mão-de-obra barata. Esse colonialismo se direcionou para a África e a Ásia, que foi partilhada entre as nações européias. A América escapou desse colonialismo porque se tornara independente pouco antes. Porém, se não foi dominada politicamente pela Europa e pelos EUA, o foi economicamente, pois dependia dos banqueiros e do capital industrial europeu. Naquela época, por exemplo, grupos franceses e ingleses iniciaram a exploração da borracha na região amazônica porque era mais barato produzir aqui e exportar para a Europa e para os EUA: afinal, aqui se encontrava a matéria-prima, a mão-de-obra barata e o favorecimento governamental. A África e a Ásia foram o cenário onde atuou uma infinidade de cientistas e religiosos que assumiram o fardo do homem branco. Na Índia, por exemplo, qualquer membro da raça branca era tido como membro da classe dos amos e senhores, respeitado e reverenciado. Situações semelhantes fizeram o fundador da República do Quênia, na segunda metade do século XX, referir-se assim à dominação imperialista: "Quando os brancos chegaram, nós tínhamos as terras e eles a Bíblia; depois eles nos ensinaram a rezar; quando abrimos os olhos, nós tínhamos a Bíblia e eles as terras". Todas as tentativas de reação por parte das nações dominadas pelos impérios europeus foram enfrentadas com o uso das armas por parte das nações européias. Nem a China ficou de fora da corrida imperialista: foi dominada economicamente e teve territórios ocupados pelos japoneses. 1.2. O cientificismo e o darwinismo social O cientificismo esteve presente em tudo. Foi também nessa época que se desenvolveu a teoria de Charles Darwin sobre a evolução e adaptação das espécies. O autor colocou em xeque as idéias da imutabilidade das espécies. Assim, a formação dos sistemas vivos começou a ser entendida não como criação simultânea, mas como decorrência de etapas sucessivas. Na sua obra A origem das espécies, publicada em 1859, em consonância com o espírito da época, Darwin defendeu a noção de variação gradual dos seres vivos graças ao acúmulo de modificações pequenas, sucessivas e favoráveis, e não por modificações extraordinárias, surgidas repentinamente. Nessa obra Darwin apresentou o núcleo da sua concepção evolutiva: a seleção natural, ou a persistência do mais capaz; com o passar dos séculos, a seleção natural eliminaria as espécies antigas e produziria novas espécies. Logo as teses de Darwin estavam sendo discutidas em todo o meio científico e o próprio liberalismo econômico adotou o pressuposto da competição. Ao defender a propriedade privada, o liberalismo postula que todo homem compete em igualdade no acesso à propriedade privada. Aquele que não a conquista, não o faz porque é vicioso ou preguiçoso. É claro que essa tese, presente em nossas mentes até hoje, interessava e interessa à manutenção do domínio da classe burguesa. Se o Curso de Direito Turma A – Manhã - 2012.1 Fundamentos das Ciências Sociais Prof.: Tiago Jorge Fernandes de Albuquerque Maranhão Disciplina: CCJ0001 Aula: 005 Assunto: A Contribuição de Max Weber Folha: 2 de 27 Data: 22/03/2012 MD/Direito/Estácio/Período-01/CCJ0001/Aula-005/WLAJ/DP liberalismo apropriou-se do conceito de competição, de Charles Darwin, não foi o único. Logo surgiu o Darwinismo Social. Segundo o Darwinismo Social, as sociedades se modificam e se desenvolvem como os seres vivos. As transformações nas sociedades representam a passagem de um estágio inferior para outro superior, onde o organismo social se mostra mais evoluído, adaptado e complexo. Se na natureza a competição gera a sobrevivência do mais forte, também na sociedade favorece a sobrevivência de sociedades e indivíduos mais fortes e evoluídos. As expressões: “luta pela existência” e “sobrevivência do mais capaz”, tomadas de Darwin, apoiaram o individualismo liberal e justificaram o lugar ocupado pelos bem sucedidos nos negócios. Por outro lado, as sociedades foram divididas em raças superiores e inferiores, cabendo aos mais fortes dominar os mais fracos e, conseqüentemente, aos mais desenvolvidos levar o desenvolvimento aos não desenvolvidos. A civilização deveria ser levada a todos os homens. É claro que o Darwinismo Social serviu para justificar a ação imperialista das nações européias. Foi nesse cenário de constantes conflitos sociais, políticos, econômicos e religiosos, cenário marcado pela industrialização e pelo cientificismo, que a Antropologia e a Sociologia produziram suas primeiras explicações. 3. O evolucionismo social Os evolucionistas formaram a primeira escola antropológica. Tendo como paradigma principal a sistematização do conhecimento acumulado sobre os “povos primitivos” e o predomínio do trabalho de gabinete, a análise desses antropólogos era feita a partir dos relatos de viajantes e colonizadores lhes chegavam às mãos. Defendiam a idéia de que a história da Humanidade se dava através de um processo evolutivo que ia da selvageria à civilização, passando pela barbárie. Utilizavam o chamado método comparativo, em que tomavam como parâmetro a sociedade européia do século XIX para descrever e classificar formas culturais de outros povos, numa postura que, como vimos na aula 3, mostrava-se extremamente etnocêntrica, tratando os povos não europeus como primitivos, exóticos e incivilizados. 4. O Positivismo O positivismo foi uma diretriz filosófica criada por Augusto Comte na segunda metade do século XIX. O tema central de sua obra é a Lei dos Três Estados, em que ele divide a evolução histórica e cultural da humanidade em três fases, de acordo com seu desenvolvimento; a classificação e a hierarquização das ciências, da mais simples à mais complexa, já que para ele a ordem é necessária ao progresso; e a reforma da sociedade, com mudanças intelectuais, morais e políticas destinadas principalmente a restabelecer a ordem na sociedade capitalista industrial. A hostilidade dirigida ao pensamento tradicional foi especialmente forte em Comte, que negava a possibilidade do conhecimento metafísico, que ele considerava ser estagnante e uma forma de pesquisa desnecessária. Ele exigia uma “sociocracia” dirigida por cientistas para a unificação, conformidade e progresso de toda a humanidade. Logo, o Positivismo redefiniu o propósito da filosofia, limitando-a à análise e definição da linguagem científica. Comte devotou-se a Sociologia, uma palavra que ele elaborou para descrever a ciência da sociedade. Ele acreditava que sua principal contribuição foi a teoria de que a humanidade passou por três estágios de desenvolvimento intelectual: o teológico, o metafísico e o positivo. No primeiro estágio, o universo era explicado em termos de deuses, demônios e seres mitológicos. No segundo estágio, a realidade era explicada em termos de abstrações como a essência, existência, substância e acidente. De acordo com Comte, o estágio metafísico estava só terminando, dando lugar ao científico ou estágio positivo. Neste estágio final, explicações somente poderiam ser baseadas em leis científicas descobertas através da experimentação, observação ou lógica. Matemática, astronomia, física, química e biologia, classificadas por ele na base crescente de complexidade, já eram científicas; Comte procurou completar o estágio positivo ao criar a mais complexa de todas, a sociologia como ciência. Os traços mais marcantes do Positivismo são certamente a excessiva valorização das ciências e dos métodos científicos, a exaltação do homem e suas capacidades e o otimismo em relação ao desenvolvimento e progresso da humanidade. Para reformar a sociedade, Comte propôs: (i) Reconhecer a existência de princípios reguladores; (ii) Estudar os processos e estrutura social; (iii) Reconhecer a existência de dois movimentos: estático (fator de permanecia e harmonia) e dinâmico (fator de progresso). Desta forma a análise comtiana propõe: : (i) a negação da luta de classes – harmonia entre as classes sociais. (ii) a necessidade de um Estado forte, centralizador, mantenedor da ordem. Essa corrente filosófica foi muito influente no pensamento da época. Prova disso é o lema da bandeira brasileira - "ordem e progresso" -, um dos principais preceitos do Positivismo, que afirma que, para que haja progresso, é preciso que a sociedade esteja organizada. Aplicação Prática Teórica Questão discursiva: Leia o caso concreto e responda as perguntas apresentadas: O ganhador do prêmio Nobel de Medicina James Watson, pioneiro no trabalho de deciframento do genoma humano, causou espanto ao reacender com força total uma polêmica que parecia definitivamente superada pelos próprios geneticistas. O pesquisador americano, de 79 anos, declarou ao jornal "The Sunday Times" ser pessimista sobre a África porque as políticas ocidentais para os países africanos eram, erroneamente, baseadas na presunção de que os negros seriam tão inteligentes quanto os brancos quando, na verdade "testes" sugerem o contrário. Watson não apresentou argumentos científicos para embasar suas idéias nem especificou que "testes" seriam esses. Afirmou apenas que os genes responsáveis pelas diferenças na inteligência humana devem ser descobertos dentro de 10 a 15 anos. Curso de Direito Turma A – Manhã - 2012.1 Fundamentos das Ciências Sociais Prof.: Tiago Jorge Fernandes de Albuquerque Maranhão Disciplina: CCJ0001 Aula: 005 Assunto: A Contribuição de Max Weber Folha: 3 de 27 Data: 22/03/2012 MD/Direito/Estácio/Período-01/CCJ0001/Aula-005/WLAJ/DP Essas afirmações constam em um livro que será publicado na semana que vem, e no qual Watson escreve que não há motivo algum para crer que "as capacidades intelectuais de povos separados em sua evolução tiveram que evoluir de modo idêntico". Para o geneticista Sergio Pena, professor titular do Departamento de Bioquímica e Imunologia da UFMG, há uma relação genealógica entre todas as populações do mundo, incluindo a européia, e a África. A Humanidade moderna emergiu na África há menos de 200 mil anos e só nos últimos 60 mil anos saiu deste continente para habitar os outros: - Do ponto de vista evolucionário, somos todos africanos, vivendo na África ou em exílio recente de lá. Não faz sentido haver diferenças biológicas entre africanos e povos de outros continentes. Na opinião do geneticista, nos últimos 500 anos a África tem sido vítima de um imperialismo europeu impiedoso e selvagem, que criou dissensões entre grupos étnicos e manteve o continente economicamente de joelhos. (O Globo, 19/10/2007). 1. O cientista James Watson estaria inspirado nas concepções positivistas (neste caso o Darwinismo Social) para explicar as diferenças de evolução entre os povos e raças? Justifique. 2- É correto, do ponto de vista socioantropológico, afirmar que as características biológicas determinariam a superioridade de uns povos e inferioridade de outros? Explique. Questão de múltipla escolha: Muitos antropólogos do século XIX, da tendência evolucionista, interpretavam as transformações das sociedades humanas dentro de uma visão linear: A) Do exótico para o familiar B) Do social para o individual C) Do primitivo para o civilizado D) Do social para o cultural E) Do natural para o cultural. ==XXX== RESUMO DE AULA (WALDECK LEMOS) 5ª AULA – A Contribuição de Max Weber Maximilan Carl Emil Weber (1864/1920): Ekfurt/Alemanha. Origem Burguesa, origem Protestante e religiosa, família de comerciantes de linho e indústria têxteis. “A Ética Protestante e o Espírito Capitalista” 1904 – Busca estabelecer os efeitos da religião sobre a conduta humana. Ambiente intelectualmente estimulante. Formado em direito, atuou também como professor, jornalista, filósofo, historiador, economista e sociólogo. Um dos fundadores da Sociologia (Karl Max, Emile Durkheim). Origem <= Fato Social => Consequência Contexto: 1830 – Alemanha - o país mais atrasado da Europa. 1880 – Alemanha – país europeu de maior poder econômico. -Aliança da grande burguesia, detentora de forte poder econômico apoiad na Burocracia e no exército Prussiano de Bismark. -Interesse no estudo da Política, do papel do Estado e das Estruturas de Poder, Dominação e Obediência. Max Weber (Estado): Estado – Comunidade humana que preendende com êxito, o monopólio do uso legítimo da força física, dentro de um determinado território (Weber 1971). O Estado só existe, se a Autoridade for obedecida pela consideração de sua Legitimidade.. Curso de Direito Turma A – Manhã - 2012.1 Fundamentos das Ciências Sociais Prof.: Tiago Jorge Fernandes de Albuquerque Maranhão Disciplina: CCJ0001 Aula: 005 Assunto: A Contribuição de Max Weber Folha: 4 de 27 Data: 22/03/2012 MD/Direito/Estácio/Período-01/CCJ0001/Aula-005/WLAJ/DP “Na base de todo domínio público existe relação fundamental do Mando e da Obediência”. Administração Racionalmente, orientada, cujo exercício de funções depende de Autoridade Central. Regulamentos explícitos (Burocracia: expressão da Racionalidade Formal). Weber aponta o desenvolvimento de um Estado Moderno como uma “Entidade política”, com uma “Constituição” racionalmente redigida, um Direito racionalmente ordenado, e uma Administração orientada por regras racionais, as Leis, e administrado por funcionários especializados. Max Weber (Poder X Dominação X Obediência): Poder: Probabilidade de impor a própria vontade numa relação social, ainda que sob resistência. Dominação – Probabilidade de encontrar obediência a uma ordem entre pessoas específicas. Obediência: Relação entre Dominadores e Dominados. Por que se Obedece? -Interesses, Razão (Reconhecimento da Legitimidade Ordem). -Reconhecimento formal da necessidade da Ordem (Legitimidade) independente da opnião própria sobre o valor da Ordem. “Nenhum domínio se contenta com a obediência que não passa de submissão exterior pela razão, por oportunidade ou respeito; procura também despertar nos membros a Fé em sua Legitimidade, ou seja, transformar a disciplina em adesão à verdade que ele representa”. (Freund, 1980). VER-001 Max Weber. WIKIPÉDIA: (http://pt.wikipedia.org/wiki/Max_Weber): Karl Emil Maximilian Weber Max Weber em 1894 Nascimento 21 de abril de 1864 Erfurt, Alemanha Morte 14 de junho de 1920 (56 anos) Munique, Alemanha Nacionalidade Alemã Cônjuge Marianne Schnitger Ocupação Jurista, economista e sociólogo Principais trabalhos Economia e sociedade Curso de Direito Turma A – Manhã - 2012.1 Fundamentos das Ciências Sociais Prof.: Tiago Jorge Fernandes de Albuquerque Maranhão Disciplina: CCJ0001 Aula: 005 Assunto: A Contribuição de Max Weber Folha: 5 de 27 Data: 22/03/2012 MD/Direito/Estácio/Período-01/CCJ0001/Aula-005/WLAJ/DP A ética protestante e o espírito do capitalismo Maximilian Carl Emil Weber (Erfurt, 21 de Abril de 1864 — Munique, 14 de Junho de 1920) foi um intelectual alemão, jurista, economista e considerado um dos fundadores da Sociologia. Seu irmão foi o também famoso sociólogo e economista Alfred Weber. A esposa de Max Weber, Marianne Weber, biógrafa do marido, foi uma das alunas pioneiras na universidade alemã e integrava grupos feministas de seu tempo. É considerado um dos fundadores do estudo moderno da sociologia, mas sua influência também pode ser sentida na economia, na filosofia, no direito, na ciência política e na administração. Começou sua carreira acadêmica na Universidade Humboldt, em Berlim e, posteriormente, trabalhou na Universidade de Freiburg, na Universidade de Heidelberg, na Universidade de Viena e na Universidade de Munique. Personagem influente na política alemã da época, foi consultor dos negociadores alemães no Tratado de Versalhes (1919) e da Comissão encarregada de redigir a Constituição de Weimar. Grande parte de seu trabalho como pensador e estudioso foi reservado para o chamado processo de racionalização e desencantamento que provém da sociedade moderna e capitalista. Mas seus estudos também deram contribuição importante para a economia. Sua obra mais famosa é o ensaio A ética protestante e o espírito do capitalismo, com o qual começou suas reflexões sobre a sociologia da religião. Weber argumentou que a religião era uma das razões não-exclusivas do porque as culturas do Ocidente e do Oriente se desenvolveram de formas diversas, e salientou a importância de algumas características específicas do protestantismo ascético, que levou ao nascimento do capitalismo, a burocracia e do estado racional e legal nos países ocidentais. Em outro trabalho importante, A política como vocação, Weber definiu o Estado como "uma entidade que reivindica o monopólio do uso legítimo da força física", uma definição que se tornou central no estudo da moderna ciência política no Ocidente. Em suas contribuições mais conhecidas são muitas vezes referidas como a “Tese de Weber". Seu pai, Sr. Max Weber, público e político liberal; a mãe, Helene Fallenstein, uma calvinista moderada. Max foi o primeiro de sete filhos, incluindo seu irmão Alfred Weber, quatro anos mais jovem, também sociólogo, mas, sobretudo, um economista, que também desenvolveu uma importante sociologia da cultura. A família estimulou intelectualmente os jovens Weber desde a tenra idade. Em 1882 Max Weber matriculou-se na Faculdade de Direito da Universidade de Heidelberg, onde seu pai havia estudado, frequentando também cursos de economia política, história e teologia. Em 1884 voltou para casa paterna e se transferiu para a Universidade de Berlim, onde obteve em 1889 o doutorado em Direito e em 1891 a tese de habilitação, ambos com escritos da história do direito e da economia. Depois de completar estudos jurídicos, econômicos e históricos em várias universidades, se distingue precocemente em algumas pesquisas econômico-sociais com a Verein für Sozialpolitik, a associação fundada em 1873 pelos economistas associados à Escola Histórica Alemã em que Weber já tinha aderido em 1888. Em 1893 casou-se com Marianne Schnitger, mais tarde uma feminista e estudiosa, bem como curadora póstuma das obras de seu marido. Foi nomeado professor de Economia nas universidades de Freiburg em 1894 e de Heidelberg em 1896. Entre 1897, ano em que seu pai morreu, e 1901 sofreu de uma aguda depressão, de modo que do final de 1898 ao final de 1902 não poderia realizar atividades regulares de ensino ou científicas. Curado, no Outono de 1903 renunciou ao cargo de professor e aceitou uma posição como diretor-associado do recém-nascido Archiv für und Sozialwissenschaft Sozialpolitik (Arquivos de Ciências Sociais e Política Social), com Edgar Jaffé e Werner Sombart como colegas: nesta revista publicaram em duas partes, em 1904 e 1905, o artigo-chave A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo. Naquele mesmo ano, visitou os Estados Unidos. Graças a uma enorme renda privada derivada de uma herança em 1907, ainda conseguiu se dedicar livremente e em tempo integral aos seus estudos, passando da economia ao direito, da filosofia à história comparativa e à sociologia, sem ser forçado a retornar à docência. Sua pesquisa científica abordou questões teórico-metodológicas cruciais e tratou complexos estudos histórico-sociológicos sobre a origem da civilização ocidental e seu lugar na história universal. Durante a Primeira Guerra Mundial, serviu como diretor de hospitais militares de Heidelberg e ao término do conflito, voltou ao ensino da disciplina de economia, primeiro em Viena e em 1919 em Munique, onde dirigiu o primeiro instituto Curso de Direito Turma A – Manhã - 2012.1 Fundamentos das Ciências Sociais Prof.: Tiago Jorge Fernandes de Albuquerque Maranhão Disciplina: CCJ0001 Aula: 005 Assunto: A Contribuição de Max Weber Folha: 6 de 27 Data: 22/03/2012 MD/Direito/Estácio/Período-01/CCJ0001/Aula-005/WLAJ/DP universitário de sociologia na Alemanha. Em 1918 ele estava entre os delegados da Alemanha em Versalhes para a assinatura do tratado de paz e foi conselheiro para os redatores da Constituição da República de Weimar. Encontra-se sepultado em Bergfriedhof de Heidelberg em Baden-Württemberg na Alemanha. Escritos e obras A ética protestante e o espírito do capitalismo, 1. ed., 1904. Dentre as influências que a obra de Weber manifesta, podemos enxergar também seu diálogo com filósofos como Immanuel Kant e Friedrich Nietzsche e com alguns dos principais sociólogos de seu tempo, como Ferdinand Tönnies, Georg Simmel e Werner Sombart, entre outros. Dentre as principais obras do autor - organizadas postumamente pela sua esposa Marianne Weber - constam os seguintes títulos: 1889: A história das companhias comerciais na idade média 1891: O direito agrário romano e sua significação para o direito público e privado 1895: O Estado Nacional e a Política Econômica 1904: A objetividade do conhecimento na ciência política e na ciência social 1904: A ética protestante e o espírito do capitalismo 1905: A situação da democracia burguesa na Rússia 1905: A transição da Rússia a um regime pseudoconstitucional 1906: As seitas protestantes e o espírito do capitalismo 1913: Sobre algumas categorias da sociologia compreensiva 1917/1920: Ensaios Reunidos de Sociologia da Religião 1917: Parlamento e Governo na Alemanha reordenada 1917: A ciência como vocação 1918: O sentido da neutralidade axiológica nas ciências políticas e sociais 1918: Conferência sobre o Socialismo Curso de Direito Turma A – Manhã - 2012.1 Fundamentos das Ciências Sociais Prof.: Tiago Jorge Fernandes de Albuquerque Maranhão Disciplina: CCJ0001 Aula: 005 Assunto: A Contribuição de Max Weber Folha: 7 de 27 Data: 22/03/2012 MD/Direito/Estácio/Período-01/CCJ0001/Aula-005/WLAJ/DP 1919: A política como vocação 1919: História Geral da Economia 1910/1921: Economia e Sociedade Dentre seus escritos mais conhecidos destacam-se A ética protestante e o espírito do capitalismo (1904), a obra póstuma Economia e Sociedade (1920), A ciência como vocação (1917) e A política como vocação (1919). Primeiros trabalhos Os primeiros textos acadêmicos de Weber estão ligados a trabalhos desenvolvidos em sua formação na estrutura universitária alemã. O primeiro trabalho propriamente dito foi sua tese de doutoramento intitulada A história das companhias comerciais da idade média. Esta tendência para combinar análise jurídica com análise histórica continua com seu próximo trabalho (tese de habilitação), chamado A história agrária romana. Aqui ele analisa a estrutura da propriedade agrária de Roma em sua fase tardia e suas repercussões na legislação pública e privada. Ainda que seja um escrito bastante técnico, ele procura contextualizar sua pesquisa no âmbito histórico, o que já demonstra a preocupação social de suas investigações. Durante seu período como professor universitário, Weber dedicou-se ao ensino da economia política e de questões agrárias, uma de suas especialidades. Como professor de economia, ele debateu os valores e limite das principais correntes de pensamento de seu tempo: a Escola Histórica de Economia, a Escola Marginalista (predominante na Austria) e a Escola Marxista. Neste período Weber também publicou um texto introdutório chamado "A bolsa", para divulgar e promover o entendimento do funcionamento econômico do capital financeiro. A aproximação com os temas sociais está ligada à pesquisa empírica de Weber na região do Leste do rio Elba. Analisando processo migratório de poloneses na fronteira da Alemanha, Weber destacou as tendências da introdução do capitalismo no campo e deu especial atenção às consequências políticas daquele processo. Aplicando diversos questionários e levantando inúmeros dados ele concluiu que o acelerado processo de modernização econômica da Alemanha estava minando a estrutura de poder da classe dirigente: a aristocria agrária (denominada de classe Junker). Tal visão foi especialmente apresentada em uma Aula Inaugural pronunciada em 1895 e denominada O Estado Nacional e a Política Econômica. Neste período Weber notabilizou-se como um dos grandes especialistas de questões e problemas agrários, refletindo sobre as consequências com os reflexos do capitalismo na esfera rural. Profundamente envolvido com a vida acadêmica, a produção de Weber sofre uma interrupção a partir de 1897. É somente depois desta fase que a produção sociológica de Weber começa a delinear-se. A objetividade do conhecimento Em 1903, junto com Werner Sombart e Edgar Jaffé, Weber funda o Arquivo para a Ciência Social e a Ciência Política. No texto que escreveu para a revista, intitulado A objetividade do conhecimento na ciência política e social (de 1904) ele apresentou sua posição na discussão sobre os métodos das ciências econômicas, polêmica que sacudia o mundo universitário da época. A tradição alemã de filosofia social tinha suas origens em Immanuel Kant. Mas, a tentativa de fundamentar as ciências históricas com o pensamento kantiano só teve início com o trabalho de Wilhelm Dilthey, em 1883. A reivindicação fundamental do seu trabalho foi mostrar o estatuto ontológico diferenciado das ciências históricas e sociais diante das ciências da natureza. Na Alemanha este esforço continuou com os trabalhos de Wilhelm Windelband e Heinrich Rickert. No campo da economia, esta tendência também era representada por Gustav von Schmoller. Rivalizando com esta escola, os seguidores da visão austríaca de pensamento econômico entendiam que a função das ciências humanas era formular leis que explicassem os fenômenos sociais. Esta posição, chamada de "positivismo" era defendida por Carl Menger. Max Weber não se enquadrava diretamente em nenhuma destas posições. Com a escola neo-kantiana, ele concorda com o fato de que as ciências humanas lidam com o fenômeno do valor. Só analisamos aqueles elementos da realidade que tem algum Curso de Direito Turma A – Manhã - 2012.1 Fundamentos das Ciências Sociais Prof.: Tiago Jorge Fernandes de Albuquerque Maranhão Disciplina: CCJ0001 Aula: 005 Assunto: A Contribuição de Max Weber Folha: 8 de 27 Data: 22/03/2012 MD/Direito/Estácio/Período-01/CCJ0001/Aula-005/WLAJ/DP sentido para nós, a partir de nossas referências de valor. Tal posição fora retirada por Weber de Heinrich Rickert. Mas, nem por isso ele rejeitava o valor da imputação causal nas ciências humanas, pois eram um instrumento indispensável para a explicação dos mecanismos de entendimento da vida social. Em síntese, Weber propunha a unificação das ciências humanas integrando a "verstehen" (compreensão) e a "erklären" (explicação) em uma visão unitária de ciência. O principal problema desta posição, contudo, é que elas colocavam em questão o valor objetivo da ciência. Weber reconheceu que toda pesquisa tem um ponto de partida subjetivo (ligado a referência de valor do pesquisador), mas entendeu que este dado não destruía a objetividade da ciência. O valor cognitivo da ciência social reside na sua capacidade de controlar a pesquisa mediante métodos sistemáticos e padronizados de trabalho. O ponto de partida da investigação até pode ser subjetivo, mas seu ponto de chegada deverá se rigorosamente objetivo. Alicerçado na noção kantiana de "''a priori''", Weber também desenvolveu a noção de "tipo ideal" . Tal conceito mostra que as categorias da ciência social são uma construção subjetiva do pesquisador, feita a partir de seus interesses. Como tais, eles selecionam na realidade, sempre complexa e caótica, certos elementos que serão aglutinados como um tipo idealmente perfeito. Conceitos não emanam diretamente da realidade (visão hegeliana), nem são formados apenas por abstração de elementos comuns e genéricos (visão aristotélica), pois eles implicam acentuar determinados elementos para que eles possam ser compreendidos. Trata-se de reunir o caos inesgotável da realidade em conceito compreensíveis. Ainda que Weber não tenha defendido uma visão rigorosamente dualista da ciência, o escrito "A objetividade do conhecimento na ciência política e na ciência social" constitui ainda hoje o principal texto para quem defende uma visão não naturalista de ciência, ou seja, que defende a tese de que as ciências humanas são essencialmente diferenciadas das demais ciências de corte empírico-natural. A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo A ética protestante e o 'espírito' do capitalismo é considerada a grande obra de Max Weber e é o seu texto mais lido e conhecido. A primeira parte desta obra foi publicada em 1904 e a segunda veio a público em 1905, depois da viagem do autor e de sua esposa aos Estados Unidos. A temática das relações entre religião e capitalismo foi uma questão central do pensamento social alemão. Do ponto de vista da análise do capitalismo, o estudo de Weber foi precedido pela obra de Georg Simmel - A filosofia do dinheiro (1900) -, sem esquecer do escrito de Karl Marx, intitulado O Capital (1867). Dois anos antes da publicação do livro de Weber, seu colega Werner Sombart também publicou um livro sobre esse problema, intitulado O capitalismo moderno (1902) . Neste criativo e rico espírito acadêmico, Weber procurou mostrar que o protestantismo de caráter ascético dos séculos XVI e XVII tinha um influxo direto com o conceito de vocação profissional, base motivacional do moderno sistema econômico capitalista. Vejamos como a tese do livro é apresentada. No capítulo introdutório, Weber mostra a preferência educacional dos católicos por uma formação humanista, enquanto os protestantes preferiam formação técnica. Ao mesmo tempo, mostrou as diferenças profissionais entre ambos os segmentos. Weber rejeita a explicação (superficial e aparente) de que a espiritualidade católica, fundada no ascetismo, predisporia o indivíduo para o estranhamento do mundo e, desta forma, para a indiferença para com os bens deste mundo; enquanto os protestantes seriam materialistas. Alega que os puritanos se caracterizavam pelo oposto da alegria para com o mundo. Ao contrário, ele sugere que há um íntimo parentesco entre estranhamento do mundo, ascese e participação na vida aquisitiva. O capítulo posterior trata do objeto da pesquisa, ou seja, é neste momento que ele desenvolve o tipo ideal de "espírito do capitalismo", entendido como uma individualidade histórica. Tomando como exemplo máximas colhidas de escritos de Benjamin Franklin, tais como "tempo é dinheiro" ou "dinheiro gera mais dinheiro" ou ainda "o bom pagador é dono da bolsa alheia", Weber mostra que o espírito do capitalismo não é caracterizado pela busca desenfreada do prazer e pela busca do dinheiro por si mesmo. O espírito do capitalismo deve ser entendido como uma ética de vida, uma orientação na qual o indivíduo vê a dedicação ao trabalho e a busca metódica da riqueza como um dever moral. Weber acentua claramente que o 'espírito' do capitalismo não deve ser confundido com a 'forma' do capitalismo. Por forma, Weber entende o capitalismo enquanto sistema econômico, cujo centro é representado pela empresa capitalista, reunião de meios de produção, trabalho organizado e gestão racional. Ele esclarece que as variáveis tratadas no seu livro tem a ver com a moral protestante e a dimensão atitudinal (habitus) que serve de base ao sistema. O espírito do capitalismo só pôde triunfar ao vencer as formas tradicionalistas de comportamento econômico. Curso de Direito Turma A – Manhã - 2012.1 Fundamentos das Ciências Sociais Prof.: Tiago Jorge Fernandes de Albuquerque Maranhão Disciplina: CCJ0001 Aula: 005 Assunto: A Contribuição de Max Weber Folha: 9 de 27 Data: 22/03/2012 MD/Direito/Estácio/Período-01/CCJ0001/Aula-005/WLAJ/DP Passo seguinte, ele dedicou-se a analisar a contribuição do luteranismo. Na tradução de Martinho Lutero, ao contrário da concepção católica, "vocação" deixa de ter o sentido de um chamado para a vida religiosa ou sacerdotal e passa a ter o sentido do chamado de Deus para o exercício da profissão no mundo do trabalho. Com Lutero o ascetismo praticado pelos monges fora do mundo é transferido das celas dos mosteiros para o mundo secular, nasce daí o ascetismo intramundano. Todavia, o próprio Max Weber reconheceu que o luteranismo ainda possui uma visão tradicionalista da vida econômica: apesar da ênfase no trabalho, a vida aquisitiva ainda não possui um valor em si mesma e o indivíduo está acomodado no seu círculo social. Após, Weber destaca que o ponto de partida da ética econômica subjacente ao capitalismo está no protestantismo pós-luterano, nas chamadas igrejas e seitas do protestantismo ascético, tanto na sua versão calvinista (derivada de João Calvino) quanto anabatista. Do calvinismo emana a célebre tese da predestinação, dogma que afirma que apenas Deus escolhe - independente dos méritos do indivíduo - quem será salvo e quem será condenado. Diante da angústia religiosa sofrida pelo indivíduo, o trabalho e o sucesso na vida econômica surgem como compromissos do crente e como indícios (embora não meio) de certeza da salvação. Apesar desta rígida tese estar atenuada no pietismo e no metodismo, que são mais sentimentais, nas igrejas de origem calvinista a riqueza recebe uma sanção positiva da esfera religiosa. O mesmo processo pode ser verificado no âmbito das seitas que surgem do movimento anabatista (rebatizados) - como os batistas, menonitas e quakers, por exemplo - que, organizados em forma de seita, estimulam uma vida ordenada, disciplina e regida por rígidas normas éticas. Analisando todo o processo em seu conjunto, Weber verifica que dos dogmas e, em especial, dos impulsos morais do protestantismo, derivados após a reforma de Lutero, surge uma forma de vida de caráter metódico, disciplinado e racional. Da base moral do protestantismo surge não só a valorização religiosa do trabalho e da riqueza, mas também uma forma de vida que submete toda a existência do indivíduo a uma lógica férrea e coerente: uma personalidade sistemática e ordenada. Sem estes impulsos morais não seria possível compreender a ideia de vocação profissional, concepção que subjaz as figuras modernas do operário e do empresário. A moral específica dos círculos protestantes possuem uma relação de afinidade eletiva com o comportamento (espírito) que subjaz ao sistema econômico moderno e, ainda que este não derive apenas deste fator,trata-se de um impulso vital para o entendimento do mundo moderno contemporâneo. No final da Ética Protestante, Weber destaca que, apesar de secularizada, ou seja, desprovida de fundamentos religiosos, a vida aquisitiva da economia moderna generalizou-se para todo conjunto da vida social: os puritanos queriam tornar-se monges, hoje todos temos que segui-los. Esta avaliação também ganha contornos críticos, pois Weber constata que a lógica da produção, do trabalho e da riqueza envolve o mundo moderno como uma "jaula de ferro" e se pergunta qual o destino dos tempos modernos: o ressurgimento de velhas ideias ou profecias ou uma realidade petrificada, até que a última tonelada de carvão fóssil seja queimada? Em tons que lembram Nietzsche, ele dirá ainda sobre os homens dos tempos atuais: especialistas sem espírito, gozadores sem coração! Esta visão crítica do capitalismo encorajou certos pensadores marxistas (como Georg Lukács, Karl Löwith, Michael Löwy a ressaltarem algumas afinidades do seu pensamento com a visão marxista, corrente que, sem menosprezar as sensíveis diferenças entre as duas formas de pensamento, foi sendo denominada de webero-marxismo. No entanto, diferente da visão marxista, que privilegia apenas os fatores econômicos, Weber, coerente com uma visão multicausal dos fenômenos sociais, destaca seus fatores culturais e, mais tarde, enfatizará também a importância dos fatores materiais no surgimento das instituições modernas. A ética econômica das religiões mundiais Após a década de 1910, os estudos de Weber na área da sociologia religiosa foram ampliados e ele passou a aprofundar seu conhecimento das religiões de caráter universal. Ao contrário de Durkheim, que partiu das religiões primitivas (totemismo), Weber dedica-se à análise do confucionismo e do taoísmo, do hinduísmo e do budismo, do islamismo e da religião judaica, ou seja, dos grandes sistemas religiosos da humanidade. Conforme ele esclarece no Prólogo (Vorbemerkung) escrito para introduzir, em termos globais, seus "Ensaios Reunidos de Sociologia da Religião", seu objetivo primordial consiste em entender os fenômenos centrais do racionalismo ocidental, como a ciência, a técnica, a universidade, a contabilidade, o direito, a gestão racional das empresas, a música, o Estado Burocrático e, em especial, o capitalismo moderno. Conforme explicou sua esposa Marinne Weber, a descoberta da especificidade do racionalismo moderno foi a grande inovação sociológica de Weber e ele procurou desvendar suas origens e características, destacando o papel da religião neste processo. Introdução O estudo de Weber dedicado às religiões universais possui um escrito preliminar de caráter metodológico, no qual Curso de Direito Turma A – Manhã - 2012.1 Fundamentos das Ciências Sociais Prof.: Tiago Jorge Fernandes de Albuquerque Maranhão Disciplina: CCJ0001 Aula: 005 Assunto: A Contribuição de Max Weber Folha: 10 de 27 Data: 22/03/2012 MD/Direito/Estácio/Período-01/CCJ0001/Aula-005/WLAJ/DP ele explica que, diferente do que fez na pesquisa sobre o protestantismo (em que contemplou apenas um lado da relação causal entre ideias e interesses), nestes estudos ele mostraria a vinculação existente entre fatores materiais e fatores ideais nos processos sociais. Por isso, ao analisar os grandes sistemas religiosos e suas diferentes teodicéias, ele levaria em conta também os interesses e o papel de suas principais camadas portadoras, sejam elas populares (camadas urbanas, rurais, etc.), sejam elites políticas (burocracias), religiosas (sacerdotes) ou mesmo guerreiros. A religião da China O primeiro grande sistema analisado por Weber é a milenar civilização chinesa. Ele revisa os pressupostos econômicos e político do mundo chinês, o papel do imperador e das províncias e, em especial, a função dos mandarins (burocratas), o que introduz um caráter ritualista e tradicional no confucionismo, voltado para a culto dos antepassados familiares e do imperador: o universo é entendido como uma ordem eterna - Tao - que não pode ser contestada e ao qual o indivíduo se adapta. Na China desenvolveu-se uma tendência mística chamada taoísmo, cujo fundador é Lao-Tsé, mas que foi tragada pela poderosa força da magia, razão pela qual a religião chinesa ficou imersa em um jardim mágico. Desta forma, ele não desenvolveu um potencial de racionalização prática das condutas. Consideraçâo Intermediária Após analisar a religião chinesa, Weber passa ao exame das religiões de salvação, nas quais existe uma relação de tensão com o mundo: daí a necessidade de um texto intermediário que explique as diferenças entre o misticicismo (predominante do mundo oriental) e o ascetismo (predominante no mundo ocidental. Neste texto ele também examina as tensões entre a ordem religiosa (regida por normas) e as ordens sociais do mundo moderno que são regidas por uma racionalidade formal e que, portanto, possuem sua legalidade própria. As esferas analisadas por Weber são a economia, a política, a arte, o erotismo e a ciência. A religião da Índia O sistema de castas vigente na Índia demonstra que também se trata de uma religião - chamada de hinduísmo - com fortes elementos tradicionais. As castas criam uma ordem hierárquica, no topo da qual estão os sacerdotes brahmanes, seguidos pelos guerreiros, depois os comerciantes e agricultores e, por fim, os demais trabalhadores. O intercâmbio entre os grupos sociais não é permitido e a única forma de evoluir na escala social é a roda das encarnações. O caráter sagrado das castas indianas foi rompido pela pregação de Buda. O Budismo conservou a ideia de reencarnação, mas ela se torna completamente individual e voltada para a dissolução do eu. Tal crença difundiu-se por todo Oriente e constitui a grande matriz dos sistemas religiosos orientais, que possuem um componenente acentuadamente místico. O Judaísmo Antigo O grande processo de desencantamento religioso do mundo, ou seja, a eliminação da magia como meio de salvação, tem aqui o seu ponto de partida. O judaísmo é uma religião pária, ou seja, há um vínculo exclusivo entre o povo eleito e seu Deus Javé, isolando a religião judaica do contexto social mais amplo. A elaboração de uma lei sacerdotal, sistematizada pelos levitas e a pregação dos profetas, exigindo o cumprimento das normas, abriu caminho para uma religião de caráter prático e ético, expurgando o papel das crenças mágicas no sistema religioso. O judaísmo foi a fonte do racionalismo prático da dominação do mundo que permeia o mundo ocidental e suas diferentes instituições sociais. Economia e Sociedade Em 1913, Weber publicou um escrito intitulado "Sobre algumas categorias da sociologia compreensiva", primeiro esboço de seu método sociológico. Ele continuou a trabalhar sua visão de sociologia durante os próximos anos em escrito encomendado para uma ampla coleção de textos econômicos e que, por esta razão, recebeu o nome de "Economia e Sociedade". Weber trabalhou neste volume até o final de sua vida, mas ele só foi publicado postumamente por sua esposa, Marianne Weber. A versão mais conhecida deste volume póstumo e a quarta edição, organizada por Johannes Winckelmann, em 1956. No primeiro capítulo desta obra, aparece como conceito fundante da teoria sociológica de Weber a categoria ação, considerado por ele o objeto da sociologia. A ação é um comportamento humano ao qual os indivíduos vinculam um significado subjetivo e a ação é social quando está relacionada com outro indivíduo. A análise da teoria weberiana como ciência tem como ponto de partida a distinção entre quatro tipos de ação social: A ação racional com relação a um objetivo é determinada por expectativas no comportamento tanto de objetos do mundo exterior como de outros homens e utiliza essas expectativas como condições ou meios para alcance de fins próprios racionalmente avaliados e perseguidos. É uma ação concreta que tem um fim especifico, por exemplo: o engenheiro que constrói uma ponte. A ação racional com relação a um valor é aquela definida pela crença consciente no valor - interpretável como ético, Curso de Direito Turma A – Manhã - 2012.1 Fundamentos das Ciências Sociais Prof.: Tiago Jorge Fernandes de Albuquerque Maranhão Disciplina: CCJ0001 Aula: 005 Assunto: A Contribuição de Max Weber Folha: 11 de 27 Data: 22/03/2012 MD/Direito/Estácio/Período-01/CCJ0001/Aula-005/WLAJ/DP estético, religioso ou qualquer outra forma - absoluto de uma determinada conduta. O ator age racionalmente aceitando todos os riscos, não para obter um resultado exterior, mas para permanecer fiel a sua honra, qual seja, à sua crença consciente no valor, por exemplo, um capitão que afunda com o seu navio. A ação afetiva é aquela ditada pelo estado de consciência ou humor do sujeito, é definida por uma reação emocional do ator em determinadas circunstâncias e não em relação a um objetivo ou a um sistema de valor, por exemplo, a mãe quando bate em seu filho por se comportar mal. A ação tradicional é aquela ditada pelos hábitos, costumes, crenças transformadas numa segunda natureza, para agir conforme a tradição o ator não precisa conceber um objeto, ou um valor nem ser impelido por uma emoção, obedece a reflexos adquiridos pela prática. Na ótica weberiana, a sociologia é essencialmente hermenêutica, ou seja, ela está em busca do significado e dos motivos últimos que os próprios indivíduos atribuem as suas ações: é neste sentido que a sociologia é sempre "compreensiva" (verstehen). O principal objetivo de Weber é compreender o sentido que cada pessoa dá a sua conduta e perceber assim a sua estrutura inteligível e não a análise das instituições sociais como propunha Durkheim. A análise weberiana propõe que se deve compreender, interpretar e explicar respectivamente, o significado, a organização e o sentido, bem como evidenciar regularidade das condutas. Cabe a sociologia entender como acontecem e se estabilizam as relações sociais, os grupos organizados e as estruturas coletivas da vida social. Com este pensamento, não possuía a ideia de negar a existência ou a importância dos fenômenos sociais globais, dando importância à necessidade de entender as intenções e motivações dos indivíduos que vivenciam essas situações sociais. Ou seja, a sua ideia é que a sociedade como totalidade social é o resultado das formas de relação entre seus sujeitos constituintes. Tomando como ponto de partida da compreensão da vida social o papel do sujeito, a teoria de Max Weber é denominada individualismo metodológico. 1. Sociologia Econômica Durante a maior parte de sua vida acadêmica, Max Weber foi docente de disciplinas da área econômica. Aliás, seu último livro, um conjunto de notas de aula publicados por seus alunos, chama-se justamente História Geral da Economia. Desta forma, não é surpresa que Weber elabore uma sofisticada abordagem sociológica da vida econômica. Por esta razão, há até teóricos[7] que defendem que, em última instância, toda obra de Weber não passa de uma teoria econômica, qual seja, uma visão sócio-histórica da vida aquisitiva. Na sua primeira fase, seguindo a tradição marxista, Weber tendia a ver o capitalismo como um fenômeno específicamente moderno. Já em sua " Ética Protestante" (de 1904), apesar de colocar em relevo os fatores culturais da gênese da conduta capitalista, era esta visão que predominava. Mas, nas décadas seguintes, ele romperá com estas noções. Em primeiro lugar, ele insere o capitalismo (na sua fase "moderna") em um amplo processo de racionalização da cultura e da sociedade. Ou seja, enquanto fênômeno social, o capitalismo é uma das expressões da vida racionalizada da modernidade Ocidental e é similar, em sua forma racional, ao campo da política, do direito, da ciência, etc. Outra mudança importante é que Weber rompe com a definição marxista de que o capitalismo é um fenômeno exclusivo da era moderna: daí a expressão capitalismo "moderno". Para Weber, o capitalismo é um fenômeno que atravessa a história, pois a busca do lucro já pode ser localizada nas sociedades primitivas e antigas, nas grandes civilizações e mesmo nas sociedade não-ocidentais. O núcleo estruturante da atividade capitalista é a ''empresa'', pois a separação da esfera individual da esfera impessoal da produção permite a racionalização da organização do trabalho e mesmo das atividades de gestão destas organizãções. Com base nestas premissas, Weber construiu diferentes tipos ideais de capitalismo, como a capitalismo aventureiro, o capitalismo de Estado, o capitalismo mercantil, capitalismo comercial, etc. As principais análises de Weber sobre o campo econômico podem ser encontradas no segundo capítulo de Economia e Sociedade, tópico em que ele discute a ordem social econômica. Ali ele destaca que o processo de racionalização da atividade econômica também envolve a passagem de uma racionalidade material - na qual a vida econômica está submetida a valores de ordem ética ou política - para uma racionalidade formal, ou seja, na qual a lógica impessoal das atividades econômicase e lucrativas se torna predominante. Por estas razões, Max Weber é considerado, atualmente, um dos precursores da sociologia econômica, conjunto de autores que se recusa a entender a vida econômica como relacionada apenas com o mercado, concebido de forma abstrata, separado de Curso de Direito Turma A – Manhã - 2012.1 Fundamentos das Ciências Sociais Prof.: Tiago Jorge Fernandes de Albuquerque Maranhão Disciplina: CCJ0001 Aula: 005 Assunto: A Contribuição de Max Weber Folha: 12 de 27 Data: 22/03/2012 MD/Direito/Estácio/Período-01/CCJ0001/Aula-005/WLAJ/DP suas condições históricas, culturais e sociais. 2. Sociologia Política Max Weber desenvolveu um importante trabalho de sociologia política através da sua teoria dos tipos de dominação. Dominação é a possibilidade de um determinado grupo se submeter a um determinado mandato. Isso pode acontecer por motivos diversos, como costumes e tradição. Weber define três tipos de dominação que se distinguem pelo caráter da dominação (pessoal ou impessoal) e, principalmente, pela diferença nos fundamentos da legitimidade. São elas: legal, tradicional e carismática. Dominação legal: a obediência está fundamentada na vigência e aceitação da validade intrínseca das normas e seu quadro administrativo é mais bem representado pela burocracia. A ideia principal da dominação legal é que deve existir um estatuto que pode ou criar ou modificar normas, desde que esse processo seja legal e de forma previamente estabelecido. Nessa forma de dominação, o dominado obedece à regra, e não à pessoa em si, independente do pessoal, ele obedece ao dominante que possui tal autoridade devido a uma regra que lhe deu legitimidade para ocupar este posto, ou seja, ele só pode exercer a dominação dentro dos limites pré-estabelecidos. Assim o poder é totalmente impessoal, onde se obedece à regra estatuída e não à administração pessoal. Como exemplo do uso da dominação legal podemos citar o Estado Moderno, o município, uma empresa capitalista privada e qualquer outra organização em que haja uma hierarquia organizada e regulamentada. A forma mais pura de dominação legal é a burocracia. Dominação tradicional: Se dá pela crença na santidade de quem dá a ordem e de suas ordenações, sua ordem mais pura se dá pela autoridade patriarcal onde o senhor ordena e os súditos obedecem e na forma administrativa isso se dá pela forma dos servidores. O ordenamento é fixado pela tradição e sua violação seria um afronto à legitimidade da autoridade. Os servidores são totalmente dependentes do senhor e ganham seus cargos seja por privilégios ou concessões feitas pelo senhor, não há um estatuto e o senhor pode agir com livre arbítrio. Dominação carismática: nesta forma de dominação os dominados obedecem a um senhor em virtude do seu carisma ou seja, das qualidades execpcionais que lhe conferem especial poder de mando. A palavra carisma é de inspiração religiosa e, no contexto cristão, lembra os dons conferidos pelo Espírito Santo aos cristãos. A palavra foi reinterpretada em sentido sociológico como dons e carismas do próprio indivíduo e, foi nesta forma que Weber a adotou. Weber considerou o carisma uma força revolucionária na história, pois ele tinha o poder de romper as formas normais de exercício do poder. Por outro lado, a confiança dos dominados no carisma do líder é volúvel e esta forma de dominação tende para a via tradicional ou legal. A tipologia weberiana das formas de poder político diferente claramente da tradição clássica, orientada pela discussão da teoria das formas de governo, oriunda do mundo antigo (Platão e Aristóteles). Filiado à tradição realista de pensamento, Weber também rejeita os pressupostos normativos e éticos da teoria do poder e procura descrevê-lo em suas formas efetivas de exercício. Ao demonstrar que o exercício do poder envolve a necessidade de legitimação da ordem política e, ao mesmo tempo, sua institucionalização por meio de um quadro administrativo, Weber apresentou os fundamentos básicos da sociologia política da era contemporânea. Além de uma rigorosa e sistemática sociologia política - alicerçada em seus tipos de dominação - Max Weber foi um dos mais argutos analistas da política alemã, que analisou durante o Segundo Império Alemão e durante os anos iniciais da República de Weimar. Crítico da política de Bismarck, líder que, ao monopolizar o poder, deixou a nação sem qualquer nível de sofisticação política, Weber sempre apontou a necessidade de reconstrução da liderança política. No escrito O Estado Nacional e a Política Econômica, de 1895, já mostrava como as diferentes classes sociais não se mostravam aptar a dirigir a nação, seja pela sua decadência social (caso dos Junkers), seja pela sua imaturidade política (caso da burguesia e do proletariado). 3. Sociologia da estratificação social Estratificação social é a área da sociologia que se ocupa da pesquisa sobre a posição dos indivíduos na sociedade e explicitação dos mecanismos que geram as distinções sociais entre os indivíduos. Ao contrário de Marx, que explicava estas diferenças apenas com base em fatores econômicos, Weber mostrou que as hierarquias e distinções sociais obedecem à lógicas diferentes na esfera econômica, social e política. Sob o aspecto econômico as classes sociais são diferenciadas conforme as chances de oportunidades de vida, escalonando os indíviduos em grupos positiva ou negativamente privilegiados. Do ponto de vista social, indivíduos e agrupamentos sociais são valorizados conforme atributos de valor, dando origens a diversos tipos de grupos de status. Diferente também é a lógica do poder, em que os indivíduos agregam-se em diferentes partidos políticos. A análise weberiana demonstra que existem diferentes mecanismos sociais de distribuição dos Curso de Direito Turma A – Manhã - 2012.1 Fundamentos das Ciências Sociais Prof.: Tiago Jorge Fernandes de Albuquerque Maranhão Disciplina: CCJ0001 Aula: 005 Assunto: A Contribuição de Max Weber Folha: 13 de 27 Data: 22/03/2012 MD/Direito/Estácio/Período-01/CCJ0001/Aula-005/WLAJ/DP bens sociais, como a riqueza (classe), a honra ou prestígio social (grupos de status) e o poder (partidos) e que cada um deles cria diferentes tipos de ordenamento, hierarquização e diferenciação social. 4. Sociologia do Direito Jurista de formação, a análise da esfera jurídica não ficou de fora das preocupações de Max Weber[11]. Ele dedicou um amplo capítulo de Economia e Sociedade a este tema. O pano de fundo de toda sua reflexão sobre a esfera das normas jurídicas é a tese da racionalização da vida social, da qual o próprio direito é uma das expressões. Ao compreender historicamente a evolução do direito, Weber destaca o crescente processo de racionalização que lhe é inerente. A racionalização do direito pode ser compreendida a partir de duas variáveis: seu caráter material ou formal ou seu caráter racional e irracional. São racionais todas as formas de legislação que seguem padrões fixos, ao contrário do caráter aleatório dos métodos irracionais. Por outro lado, o conteúdo do direito pode ser determinado por valores concretos, especialmente de caráter ético, ou obedecer a critérios de ordem interna, ligados a sistemática e ao processo jurídico em si mesmo, ou seja, a sua forma. A apreciação weberiana do setor jurídico da vida social não se dedica apenas a entender esta esfera de forma isolada. O direito possui uma ligação direta tanto com a ordem política quanto com a ordem econômica. A evolução do direito formal é um aspecto essencial do progressivo processo de burocratização do Estado, bem como a estabilidade das normas jurídicas foi fundamental para a consolidação de uma economia de mercado, pois esta requer uma ordem de obrigações previsível. Direito, economia e política são ordens sociais de vida que estão conectados e entrelaçados de forma direta[12]. Como teórico da evolução sócio-histórica do direito, Weber é um dos precursores do chamado direito positivista, pois ele concebia o direito formal como a forma mais avançada historicamente do sistema jurídico. Desta forma, Max Weber está na raiz de importantes teóricos como o próprio Hans Kelsen, por exemplo, condiderado o maior teórico do positivismo jurídico. Neutralidade axiológica Nos anos finais de sua carreira, uma nova discussão dividiu os membros da intelectualidade alemã no campo das ciências humanas: o papel dos valores na atividade científica. Para os partidários mais antigos da Escola Alemã de Economia, a ciência social deveria ser uma atividade orientada para a defesa de pontos de vista fundamentados em normas, capazes de orientar a política estatal e governamental. Para os membros mais jovens da escola econômica alemã, ao contrário, a ciência não poderia ser a base para a escolha de valores que, em última instância, são escolha dos próprios indivíduos. Max Weber era partidário desta segunda posição e a defendeu no escrito intitulado O sentido da neutralidade axiológica nas ciências políticas e sociais. Embora a atividade científica esteja intrinsecamente ligada ao mundo dos valores - pois toda pesquisa nasce das escolhas pessoais do pesquisador - a autoridade da ciência não pode ser invocada para impor valores aos indivíduos. Na visão weberiana, a modernidade está atravessada por um conflito valorativo irredutível - a guerra dos deuses e o politeísmo de valores -. Seguindo a orientação neo-kantiana, Weber isola do Sein do Sollen - ou seja, diferencia a dimensão do ser da dimensão do dever ser - e entende que teoria e prática são domínios separados. Na pesquisa social, o cientista deve isolar seus pontos de vista subjetivos - seus juízos de valor - e orientar-se pela exposição dos fatos, qual seja, deve expor juízos de fato. A ciência social deve estar livre de juízos de valores (Wertfreiheit). Separar pensamento e ação, contudo, não implica sacrificar o caráter crítico da atividade científica. Ao cientista social cabe mostrar a íntima vinculação de meios e fins, mostrando como os fins determinam a escolha dos meios e, no sentido inverso, certos meios assentam-se em juízos valorativos. Sem aderir a uma posição positivista (que sobredetermina a dimensão da teoria) ou a uma posição marxista (que sobredetermina a dimensão da prática), a ciência social na ótica weberiana respeita a autonomia da dimensão do saber e do fazer sem perder o caráter crítico do conhecimento científico-social. A ciência como vocação As análises de Weber também contemplam o papel do conhecimento científico no mundo moderno. Na famosa conferência A ciência como vocação, pronunciada em 7 de novembro de 1917, em Munique, o pensador entendeu que a ciência era um dos fatores fundamentais do processo de desencantamento do mundo. Ele comparou a situação da universidade alemã com a realidade dos Estados Unidos e advertiu seus ouvintes de que no futuro haveria um processo de americanização da vida universitária, que seria cada vez mais parecida com empresas estatais: Curso de Direito Turma A – Manhã - 2012.1 Fundamentos das Ciências Sociais Prof.: Tiago Jorge Fernandes de Albuquerque Maranhão Disciplina: CCJ0001 Aula: 005 Assunto: A Contribuição de Max Weber Folha: 14 de 27 Data: 22/03/2012 MD/Direito/Estácio/Período-01/CCJ0001/Aula-005/WLAJ/DP professores assalariados e separação entre o produtor e os meios de produção. De qualquer forma, a vida do cientista e suas suas chances de promoção profissional, ainda são bastante determinadas pelo papel do acaso e da contingência. Ao mesmo tempo, os acadêmicos acabam sendo pressionados para conciliar a difícil vocação para a pesquisa e para o ensino, o que abre espaço para demagogos e diletantes. Do ponto de vista pessoal, ele ressaltou que a vocação científica exige dedicação: quem não se especializa em alguma área jamais pode almejar sucesso. Contudo, mais do que dedicação, a vocação para a ciência também exige paixão (dedicação à causa) e, além disso, inspiração para fazer uma obra relevante. Somente quem vive voltado para a ciência pode ser chamado uma personalidade. Do ponto de vista sociológico, Weber mostrou que a ciência faz parte de um processo histórico geral de racionalização e intelectualização da vida. Através da visão científica, a realidade é expurgada de seus elementos mágicos e o sentido último da realidade é retirado do mundo, ficando a cargo das religiões ou da própria consciência do indivíduo. Muitos autores apontam neste escrito os ecos da tese da morte de Deus, apresentada pelo filósofo Friedrich Nietzsche. Para Weber, a modernidade achava-se dilacerada por um conflito de valores - na linguagem de Weber, pela guerra dos deuses - e a escolha do sentido último da vida era uma responsabilidade pessoal que não poderia ser credita à ciência. Ao saber científico cabe a explicação dos mecanismos de funcionamento do mundo, e não a determinação do ser verdadeiro, da verdadeira arte, da verdadeira natureza, do verdadeiro Deus ou mesmo da verdadeira felicidade. Mas, apesar de retirar o sentido último do mundo, Weber destacou que a ciência contribui com a vida do indivíduo, ao oferecer-lhe meios de domínio prático da realidade, a capacidade de avaliar meios e fins e, acima de tudo, clareza: ou seja, meios para pensar de forma lógica, sistemática e clara. O destino de nosso tempo é marcado pela intelectualização e pelo desencantamento do mundo. Diante desta realidade, cabe ao indivíduo escolher se quer permanecer imerso na esfera religiosa (o que exige o sacrifício do intelecto) ou se prefere arcar com as consequências de uma visão científica do mundo, na qual não existe qualquer sentido último para a vida, o mundo e o indivíduo. No mundo desencantando, o indivído deve dedicar-se às tarefas do dia e assumir suas responsabilidades diante da vida: esta é a única forma de dar sentido à própria existência. Seguidores Dentre os principais teóricos influenciados pelo pensamento weberiano, podemos citar: Max Scheler Karl Jaspers Leopold von Wiese Karl Mannheim Alfred Schütz Ervin Goffman Norbert Elias Ernest Gellner David Landes Anthony Giddens Nos Estados Unidos, algumas obras de Weber foram traduzidas já na década de 30, pelo eminente sociólogo Talcott Parsons. Este pensador também incorporou algumas idéias weberianas em sua "teoria voluntarista da ação" (desenvolvida em 1937). Nas décadas posteriores, contudo, a leitura parsoniana de Weber foi sendo fortemente criticada, com destaque para a coletânea Curso de Direito Turma A – Manhã - 2012.1 Fundamentos das Ciências Sociais Prof.: Tiago Jorge Fernandes de Albuquerque Maranhão Disciplina: CCJ0001 Aula: 005 Assunto: A Contribuição de Max Weber Folha: 15 de 27 Data: 22/03/2012 MD/Direito/Estácio/Período-01/CCJ0001/Aula-005/WLAJ/DP de textos existentes em From Max Weber (1946), organizada por Charles Wright Mills e Hans Gerth. Na França, o pensamento weberiano foi difundido por Raymond Aron e Julien Freund e, mais recentemente, uma estudiosa destacada é Catherine Colliot-Thélene.Na Alemanha, Jürgen Habermas concede a Weber um papel fundamental em sua "Teoria da ação comunicativa", descrevendo a sociologia weberiana da racionalização. Outro comentador especializado e com muitas obras dedicadas ao tema é Wolfgang Schluchter. No Brasil, além de autores clássicos como Sérgio Buarque de Holanda e Raymundo Faoro, o pensamento weberiano é descrito por estudiosos como Gabriel Cohn, Maurício Tragtenberg, José Guilherme Merquior e, atualmente, Antônio Flávio Pierucci e Jessé Souza. Cronologia 21 de Abril de 1864 - Max Weber nasce em Erfurt. Os pais são o jurista e mais tarde deputado do parlamento imperial (Reichstag) pelo partido nacional-liberal, Max Weber e Helene (nascida na família Fallenstein) 1882 - 1886 - estudos de Direito, Economia Nacional, Filosofia e História 1889 - doutoramento em Direito 1892 - habilitação em direito canónico romano e direito comercial (em Berlim) 1893 - obteve uma posição temporária na Universidade de Berlim. Casamento com Marianne Schnitger (1870 - 1954), que será mais tarde activista pelos direitos da mulher e socióloga 1894 - assume a posição de professor de Economia na Universidade de Freiburg 1897 - professor de Economia Nacional na Universidade de Heidelberg 1898 - em virtude de uma crise familiar, Weber sofre um colapso nervoso e abandona o trabalho académico, sendo internado periodicamente até 1903 1904 - regressa à actividade profissional. Actividade redactorial no jornal "Archiv für Sozialwissenschaft und Sozialpolitik", que se tornou o jornal líder da ciência social alemã. Weber fez neste ano uma viagem aos Estados Unidos, onde deu aulas 1907 - recebe uma herança que o liberta de quaisquer preocupações financeiras 1909 - é cofundador da sociedade Alemã de Sociologia 1914 - 1918 - Primeira guerra mundial, em 1914, Weber acolhe entusiasticamente o início da Guerra (um nacionalismo militarista muito comum na altura, partilhado entre outros por Thomas Mann). Inscreveu-se como voluntário no exército (Reichswehr). Em 1915 mudou de ideias, tornando-se um pacifista 1917 - nos Colóquios de Lauenstein apela à continuação da guerra, ao mesmo tempo defendendo o retorno ao parlamentarismo 1918 - cofundador do partido democrático alemão (Deutsch-Demokratische Partei; o DDP) 1919 - convocado como conselheiro para a delegação alemã na conferência do Tratado de Versalhes. Foi também nomeado professor de economia nacional na Universidade de Munique 14 de Junho de 1920 - morre em Munique vítima de uma pneumonia. Curso de Direito Turma A – Manhã - 2012.1 Fundamentos das Ciências Sociais Prof.: Tiago Jorge Fernandes de Albuquerque Maranhão Disciplina: CCJ0001 Aula: 005 Assunto: A Contribuição de Max Weber Folha: 16 de 27 Data: 22/03/2012 MD/Direito/Estácio/Período-01/CCJ0001/Aula-005/WLAJ/DP ==XXX== Capítulo 6: Sociologia Alemã: A contribuição de Max Weber, do livro: Sociologia – Introdução à ciência da sociedade (Cristina Costa). Sociologia alemã: A contribuição de Max Weber Introdução França e Inglaterra desenvolveram o pensamento social sob a influência do desenvolvimento industrial e urbano, que tornou esses países potências emergentes nos séculos XVII e XVIII e sedes do pensamento burguês da Europa. A indústria e a expansão marítima e comercial colocaram esses países em contato com outras culturas e outras sociedades, obrigando seus pensadores a um esforço interpretativo da diversidade social. O sucesso alcançado pelas ciências físicas e biológicas, impulsionadas pela indústria e pelo desenvolvimento tecnológico, fizeram com que as primeiras escolas sociológicas fossem fortemente influenciadas pela adaptação dos princípios e da metodologia dessas ciências à realidade social. Na Alemanha, entretanto, a realidade é distinta. O pensamento burguês se organiza tardiamente e quando o faz, já no século XIX, é sob influência de outras correntes filosóficas e da sistematização de outras ciências humanas, como a história e a antropologia. A expansão econômica alemã se dá, por outro lado, numa época de capitalismo concorrencial, no qual os países disputam com unhas e dentes os mercados mundiais, submetendo a seu imperialismo as mais diferentes culturas, o que torna a especificidade das formações sociais uma evidência e um conceito da maior importância. A Alemanha se unifica e se organiza como Estado nacional mais tardiamente que o conjunto das nações européias, o que atrasa seu ingresso na corrida industrial e imperialista iniciada na segunda metade do século XIX. Esse descompasso estimulou no país o interesse pela história como ciência da integração, da memória e do nacionalismo. Por tudo isso, o pensamento alemão se volta para a diversidade, enquanto o francês e o inglês, para a universalidade. Weber não era apenas um homem de ciência. Desde cedo, ele pensava em seguir uma carreira política. Seu interesse pela coisa pública o leva a refletir sobre as relações entre as ações científicas e políticas. Nas conferências que dá em 1918, na Universidade de Munique, sobre a prof issão e a vocação do homem de ciências e do homem público (Geistige Arbeit als Beruf, 1919), ele se declara a favor de uma clara cisão entre os dois tipos de atividade e procura, para tanto, separar ciência de opinião. Devemos distinguir no pensamento alemão, portanto, a preocupação com o estudo da diferença, característica de sua formação política e de seu desenvolvimento econômico. Adicione-se a isso a herança puritana com seu apego à interpretação das escrituras e livros sagrados. Essa associação entre história, esforço interpretativo e facilidade em discernir diversidades caracterizou o pensamento alemão e influenciou muitos cientistas, de Gabriel de Tarde a Ferdinand Tõnnies. Mas foi Max Weber o grande sistematizador da sociologia na Alemanha. Jean-Gabriel de Tarde (1843-1904) Nasceu em Sarlat, França, de uma família de origem nobre Iniciou os seus estudos em Sarlat, obtendo um bacharelado em letras. Depois estudou direito em Toulouse, terminando o curso em Paris. Iniciou a sua carreira no judiciário como secretário-assistente até chegar a juiz de Instrução. Especializou-se em pesquisa na criminologia, uma ciência nova desenvolvida pela escola antropológica italiana, no final do século XIX. Polemizou muito com Durkheim a respeito da definição de sociologia e do modelo de método de trabalho. Ele defendia uma sociologia feita a partir do comportamento e das ações do indivíduo, sustentando assim a análise social da Curso de Direito Turma A – Manhã - 2012.1 Fundamentos das Ciências Sociais Prof.: Tiago Jorge Fernandes de Albuquerque Maranhão Disciplina: CCJ0001 Aula: 005 Assunto: A Contribuição de Max Weber Folha: 17 de 27 Data: 22/03/2012 MD/Direito/Estácio/Período-01/CCJ0001/Aula-005/WLAJ/DP subjetividade, cômoda relação entre emoção e sociedade. Ferdinand Tõnnies (1855-1936) Nasceu em Oldenswort, uma pequena província do ducado de Hannover, atual Alemanha, no seio de uma família camponesa. Ele estudou em várias universidades alemãs até concluir o curso de ciências sociais na cidade de Tübingen. Por ser considerado um social-democrata pelo governo prussiano, ele não pôde assumir um cargo de professor na universidade de Kiel, após se formar. Só obteve o cargo em 1913. Em 1933, por conta das críticas que fez aos nazistas em ascensão, foi por eles posto para fora da universidade. Tõnnie contribuiu em muitas áreas da sociologia e da filosofia. Muitos dos seus escritos, principalmente il suo capo lavoro Comunidade e Sociedade, deram um amplo alcance à análise sociológica. Ele teve um papel de destaque na contribuição aos estudos das mudanças sociais, particularmente sobre a opinião púbica, dos costumes e da tecnologia, do crime e do suicídio. O mesmo interesse ele mostrou pela metodologia, desenvolvendo seu próprio método. Sua principal obra foi Comunidade e sociedade, até hoje um marco da análise das diferenças entre os modos de vida rural e urbano. A sociedade sob uma perspectiva histórica O contraste entre o positivismo e o idealismo se expressa, entre outros elementos, nas maneiras diferentes como cada uma dessas correntes encara a história. Para o positivismo, a história é o processo universal de evolução da humanidade, cujos estágios o cientista pode perceber pelo método comparativo, capaz de aproximar sociedades humanas de todos os tempos e lugares. A história particular de cada sociedade desaparece, diluída nessa lei geral que os pensadores positivistas tentaram reconstruir. Essa forma de pensar torna insignificantes as particularidades históricas, e as individualidades são dissolvidas em meio a forças sociais impositivas. Ao definir o que é uma espécie social, Durkheim, em nota de pé de página de seu livro As regras do método sociológico, alerta para que não se confunda uma espécie social com as fases históricas pelas quais ela passa. Diz ele: Desde suas origens, passou a França por formas de civilização muito diferentes: começou por ser agrícola, passou em seguida pelo artesanato e pelo pequeno comércio, depois pela manufatura e, finalmente, chegou à grande indústria. Ora, é impossível admitir que uma mesma individualidade coletiva possa mudar de espécie três ou quatro vezes. Uma espécie deve definir-se por caracteres mais constantes. O estado econômico tecnológico etc. apresenta fenômenos por demais instáveis e complexos para fornecer a base para uma classificação. DURKHEIM. Émile. As regras do método sociológico, op. cit. p. 82. NOTA: Uma das diferenças existentes entre positivismo o idealismo é a importância que o segundo dá à historia. Fica claro que essa posição anula a importância dos processos históricos particulares, valorizando apenas a lei da evolução, a generalização e a comparação entre formações sociais. Max Weber, figura dominante na sociologia alemã, com formação histórica consistente, se oporá a essa concepção. Para ele, a pesquisa histórica é essencial para a compreensão das sociedades. Essa pesquisa, baseada na coleta de documentos e no esforço interpretativo das fontes, permite o entendimento das diferenças sociais, que seriam, para Weber, de gênese e formação, e não de estágios de evolução. Portanto, segundo a perspectiva de Weber, o caráter particular e específico de cada formação social e histórica deve ser respeitado. O conhecimento histórico, entendido como a busca de evidências, torna-se um poderoso instrumento para o cientista social. Weber consegue combinar duas perspectivas: a histórica, que respeita as particularidades de cada sociedade, e a sociológica, que ressalta os elementos mais gerais de cada fase do processo histórico. Na obra As causas sociais do declínio da cultura antiga, por exemplo, Weber analisou, com base em textos e documentos, as transformações da sociedade romana em função da utilização da mão-de-obra escrava e do servo de gleba, mostrando a passagem da Antiguidade para a sociedade medieval. Curso de Direito Turma A – Manhã - 2012.1 Fundamentos das Ciências Sociais Prof.: Tiago Jorge Fernandes de Albuquerque Maranhão Disciplina: CCJ0001 Aula: 005 Assunto: A Contribuição de Max Weber Folha: 18 de 27 Data: 22/03/2012 MD/Direito/Estácio/Período-01/CCJ0001/Aula-005/WLAJ/DP Weber, entretanto, não achava que uma sucessão de fatos históricos fizesse sentido por si mesma. Para ele, todo historiador trabalha com dados esparsos e fragmentários. Por isso, propunha para suas análises o método compreensivo, isto é, um esforço interpretativo do passado e de sua repercussão nas características peculiares das sociedades contemporâneas. Essa atitude de compreensão é que permite ao cientista atribuir aos fatos esparsos um sentido social e histórico. Max Weber, um dos principais expoentes da sociologia alemã. Max Weber (1864-1920 Max Weber nasceu na cidade de Erfurt (Alemanha), numa família de burgueses liberais. Desenvolveu estudos de direito, filosofia, história e sociologia, constantemente interrompidos por uma doença que o acompanhou por toda a vida. Iniciou a carreira de professor em Berlim e, em 1895, foi catedrático na universidade de Heidelberg. Manteve contato permanente com intelectuais de sua época, como Simmel Sombart, Tõnnies e Georg Lukács. Na política, defendeu ardorosamente seus pontos de vista liberais e parlamentaristas e participou da comissão redatora da Constituição da República de Weimar. Sua maior influência nos ramos especializados da sociologia foi no estudo das religiões, estabelecendo relações entre formações políticas e crenças religiosas. Suas principais obras foram: Artigos reunidos de teoria da ciência: economia e sociedade (obra póstuma) e A ética protestante e o espírito do capitalismo. A ação social: uma ação com sentido Cada formação social adquiriu, para Weber, especificidade e importância próprias. Mas o ponto de partida da sociologia de Weber não estava nas entidades coletivas, grupos ou instituições. Seu objeto de investigação é a ação social, a conduta humana dotada de sentido, isto é, de uma justificativa subjetivamente elaborada. Assim, o homem passou a ter como indivíduo, na teoria weberiana, significado e especificidade. É o agente social que dá sentido à sua ação: estabelece a conexão entre o motivo da ação, a ação propriamente dita e seus efeitos. Para a sociologia positivista, a ordem social submete os indivíduos como força exterior a eles. Para Weber, ao contrário, não existe oposição entre indivíduo e sociedade: às normas sociais só se tornam concretas quando se manifestam em cada indivíduo sob a forma de motivação. Cada sujeito age levado por um motivo que é dado pela tradição, por interesses racionais ou pela emotividade. O motivo que transparece na ação social permite desvendar o seu sentido, que é social na medida em que cada indivíduo age levando em conta a resposta ou a reação de outros indivíduos. Para Weber, a tarefa do cientista é descobrir os possíveis sentidos das ações humanas presentes na realidade social que lhe interesse estudar. O sentido, por um lado, é expressão da motivação individual, formulado expressamente pelo agente ou implícito em sua conduta. O caráter social da ação individual decorre, segundo Weber, da interdependência dos indivíduos. Um ator age sempre em função de sua motivação e da consciência de agir em relação a outros atores. Por outro lado, a ação social gera efeitos sobre a realidade em que ocorre. Tais efeitos escapam, muitas vezes, ao controle e à previsão do agente. Ao cientista compete captar, pois, o sentido produzido pelos diversos agentes em todas as suas conseqüências. As conexões que se estabelecem entre motivos e ações sociais revelam as diversas instâncias da ação social — políticas, econômicas ou religiosas. O cientista pode, portanto, descobrir o nexo entre as várias etapas em que se decompõe a ação social. Por exemplo, o simples ato de enviar uma carta é composto de uma série de ações sociais com sentido - escrever, selar, enviar e receber —, que terminam por realizar um objetivo. Por outro lado, muitos agentes ou atores estão relacionados a essa ação social - o Curso de Direito Turma A – Manhã - 2012.1 Fundamentos das Ciências Sociais Prof.: Tiago Jorge Fernandes de Albuquerque Maranhão Disciplina: CCJ0001 Aula: 005 Assunto: A Contribuição de Max Weber Folha: 19 de 27 Data: 22/03/2012 MD/Direito/Estácio/Período-01/CCJ0001/Aula-005/WLAJ/DP atendente, o carteiro etc. Essa interdependência entre os sentidos das diversas ações - mesmo que orientadas por motivos diversos - é que dá a esse conjunto de ações seu caráter social. E o indivíduo que, por meio dos valores sociais e de sua motivação, produz o sentido da ação social. Isso não significa que cada sujeito possa prever com certeza todas as conseqüências de determinada ação. Como dissemos, cabe ao cientista perceber isso. Não significa também que a análise sociológica se confunda com a análise psicológica. Por mais individual que seja o sentido da minha ação, o fato de agir levando em consideração o outro dá um caráter social a toda ação humana. Assim, o social só se manifesta em indivíduos, expressando-se sob forma de motivação interna e pessoal. Por outro lado, Weber distingue a ação da relação social. Para que se estabeleça uma relação social é preciso que o sentido seja compartilhado. Por exemplo, um sujeito que pede uma informação a outro estabelece uma ação social: ele tem um motivo e age em relação a outro indivíduo, mas tal motivo não é compartilhado. Numa sala de aula, em que o objetivo da ação dos vários sujeitos é compartilhado, existe uma relação social. Pela freqüência com que certas ações sociais se manifestam, o cientista pode conceber as tendências gerais que levam os indivíduos, em dada sociedade, a agir de determinado modo. NOTA: Segundo Weber, cada indivíduo age levado por motivos que resultam da influencia da tradição, dos interesses racionais e da emotividade. NOTA: A tarefa do cientista para Weber; era descobrir os possíveis sentidos da ação humana A tarefa do cientista Weber rejeita a maioria das proposições positivistas: o evolucionismo, a exterioridade do cientista social em relação ao objeto de estudo e a recusa em aceitar a importância dos indivíduos e dos diferentes momentos históricos na análise da sociedade. Para esse sociólogo, o cientista, como todo indivíduo em ação, também age guiado por seus motivos, sua cultura e suas tradições, sendo impossível descartar-se de suas prenoções como propunha Durkheim. Existe sempre certa parcialidade na análise sociológica, intrínseca à pesquisa, como a toda forma de conhecimento. As preocupações do cientista orientam a seleção e a relação entre os elementos da realidade a ser analisada. Os fatos sociais não são coisas, mas acontecimentos que o cientista percebe e cujas causas procura desvendar. A neutralidade durkheimiana se torna impossível nessa visão. Entretanto, uma vez iniciado o estudo, este deve se conduzir pela busca da maior objetividade na análise dos acontecimentos. A realização da tarefa científica não deveria ser dificultada pela defesa das crenças e das idéias pessoais do cientista. Portanto, para a sociologia weberiana, os acontecimentos que integram o social têm origem nos indivíduos. O cientista parte de uma preocupação com significado subjetivo, tanto para ele como para os demais indivíduos que compõem a sociedade. Sua meta é compreender, buscar os nexos causais que dêem o sentido da ação social. Explicar um fenômeno social supõe sempre que se dê conta das ações individuais que o compõem. Mas que é "dar conta" de uma ação? Pode-se continuar seguindo Weber nesse ponto. Dar conta de uma ação, diz ele, é "compreendê-la" (Verstehen). O que significa que o sociólogo deve poder ser capaz de colocar-se no lugar dos agentes por quem ele se interessa. BOUDON, R. e BOURRICAUD, F. Dicionário crítico de sociologia. São Paulo: Ática, 1993. p. 4. Qualquer que seja a perspectiva adotada pelo cientista, ela sempre resultará numa explicação parcial da realidade. Um mesmo acontecimento pode ter causas econômicas, políticas e religiosas, sem que nenhuma dessas causas seja superior à outra em significância. Todas elas compõem um conjunto de aspectos da realidade que se manifesta, necessariamente, nos atos individuais. O que garante a cientificidade de uma explicação é o método de reflexão, não a objetividade pura dos fatos. Weber relembra que, embora os acontecimentos sociais possam ser quantificáveis, a análise do social envolve sempre uma questão de qualidade, interpretação, subjetividade e compreensão. Assim, para entender como a ética protestante interferia no desenvolvimento do capitalismo, Weber analisou os livros sagrados e interpretou os dogmas de fé do protestantismo. A compreensão da relação entre valor e ação permitiu-lhe entender a relação entre religião e economia. Curso de Direito Turma A – Manhã - 2012.1 Fundamentos das Ciências Sociais Prof.: Tiago Jorge Fernandes de Albuquerque Maranhão Disciplina: CCJ0001 Aula: 005 Assunto: A Contribuição de Max Weber Folha: 20 de 27 Data: 22/03/2012 MD/Direito/Estácio/Período-01/CCJ0001/Aula-005/WLAJ/DP NOTA: Weber dizia que o cientista, como todo indivíduo em ação, age guiado por seus motivos, sua cultura, sua tradição. NOTA: . Qualquer que seja a perspectiva adotada por um cientista, ela será sempre parcial. O tipo ideal Para atingir a explicação dos fatos sociais, Weber propôs um instrumento de análise que chamou de "tipo ideal". Assim, por exemplo, em As causas sociais do declínio da cultura antiga, ele procura entender o que teria sido o patrício romano no auge do império, o aristocrata dono de terras que constituía a elite política e econômica de Roma: “O tipo do grande proprietário de terra romano não é o do agricultor que dirige pessoalmente a empresa, mas é o homem que vive na cidade, pratica a política e quer, antes de tudo, perceber rendas em dinheiro. A gestão de suas terras está nas mãos dos servos inspetores (villici)”. WEBER, Max. As causas sociais do declínio da cultura antiga. In: COHN, Gabriel (org.). Sociologia. São Paulo:Ática, 1979 Trata-se de uma construção teórica abstrata a partir dos casos particulares analisados. O cientista, pelo estudo sistemático das diversas manifestações particulares, constrói um modelo acentuando aquilo que lhe pareça característico ou fundante. Nenhum dos exemplos representará de forma perfeita e acabada o tipo ideal, mas manterá com ele uma grande semelhança e afinidade, permitindo comparações e a percepção de semelhanças e diferenças. Constitui-se em um trabalho teórico indutivo que tem por objetivo sintetizar aquilo que é essencial na diversidade das manifestações da vida social, permitindo a identificação de exemplares em diferentes tempos e lugares. O tipo ideal não é um modelo perfeito a ser buscado pelas formações sociais históricas nem mesmo em qualquer realidade observável. E um instrumento de análise científica, numa construção do pensamento que permite conceituar fenômenos e formações sociais e identificar na realidade observada suas manifestações. Permite ainda comparar tais manifestações. É preciso deixar claro que o tipo ideal nada tem a ver com as espécies sociais de Durkheim, que pretendiam ser exemplos de sociedades observadas em diferentes graus de complexidade num continuum evolutivo. O tipo ideal O tipo ideal de Max Weber corresponde ao que Florestan Fernandes definiu como conceitos sociológicos construídos interpretativamente enquanto instrumentos de ordenação da realidade. O conceito, ou tipo ideal, é previamente construído e testado, depois aplicado a diferentes situações em que dado fenômeno possa ter ocorrido. À medida que o fenômeno se aproxima ou se afasta de sua manifestação típica, o sociólogo pode identificar e selecionar aspectos que tenham interesse à explicação, como, por exemplo, os fenômenos típicos "capitalismo" e "feudalismo". A ética protestante e o espírito do capitalismo Um dos trabalhos mais conhecidos e importantes de Weber é A ética protestante e o espírito do capitalismo, no qual ele relaciona o papel do protestantismo na formação do comportamento típico do capitalismo ocidental moderno. Weber parte de dados estatísticos que lhe mostraram a proeminência de adeptos da Reforma Protestante entre os grandes homens de negócios, empresários bem-sucedidos e mão-de-obra qualificada. A partir daí, procura estabelecer conexões entre a doutrina e a pregação protestante, seus efeitos no comportamento dos indivíduos e sobre o desenvolvimento capitalista. Weber descobre que os valores do protestantismo — como a disciplina ascética, a poupança, a austeridade, a vocação, o dever e a propensão ao trabalho — atuavam de maneira decisiva sobre os indivíduos. No seio das famílias protestantes, os filhos eram criados para o ensino especializado e para o trabalho fabril, optando sempre por atividades mais adequadas à obtenção do lucro, preferindo o cálculo e os estudos técnicos ao estudo humanístico. Weber mostra a formação de uma nova mentalidade, um ethos - conjunto dos costumes e hábitos fundamentais — propício ao capitalismo, em flagrante oposição ao "alheamento" e à atitude contemplativa do catolicismo, voltado para a oração, sacrifício e renúncia da vida prática. Curso de Direito Turma A – Manhã - 2012.1 Fundamentos das Ciências Sociais Prof.: Tiago Jorge Fernandes de Albuquerque Maranhão Disciplina: CCJ0001 Aula: 005 Assunto: A Contribuição de Max Weber Folha: 21 de 27 Data: 22/03/2012 MD/Direito/Estácio/Período-01/CCJ0001/Aula-005/WLAJ/DP Um dos aspectos importantes desse trabalho, no seu sentido teórico, está em expor as relações entre religião e sociedade e desvendar particularidades do capitalismo. Além disso, nessa obra, podemos ver de que maneira Weber aplica seus conceitos e posturas metodológicas. Alguns dos principais aspectos da análise: 1 . A relação entre a religião e a sociedade não se dá por meios institucionais, mas por intermédio de valores introjetados nos indivíduos e transformados em motivos da ação social. A motivação do protestante, segundo Weber, é o trabalho, enquanto dever e vocação, como um fim absoluto em si mesmo, e não o ganho material obtido por meio dele. 2. O motivo que mobiliza internamente os indivíduos é consciente. Entretanto, os atos individuais vão além das metas propostas e aceitas por eles. Buscando sair-se bem na profissão, mostrando sua própria virtude e vocação e renunciando aos prazeres materiais, o protestante puritano se adapta facilmente ao mercado de trabalho, acumula capital e o reinveste produtivamente. 3. Ao cientista cabe, segundo Weber, estabelecer conexões entre a motivação dos indivíduos e os efeitos de sua ação no meio social. Procedendo assim, Weber analisa os valores do catolicismo e do protestantismo, mostrando que os últimos revelam a tendência ao racionalismo econômico, base da ação capitalista. 4. Para constituir o tipo ideal de capitalismo ocidental moderno, Weber estuda as diversas características das atividades econômicas em várias épocas e lugares, antes e após o surgimento das atividades mercantis e da indústria. E, conforme seus preceitos, constrói um tipo gradualmente estruturado a partir de suas manifestações particulares tomadas à realidade histórica. Assim, diz ser o capitalismo, na sua forma típica, uma organização econômica racional assentada no trabalho livre e orientada para um mercado real, não para a mera especulação ou rapinagem. O capitalismo promove a separação entre empresa e residência, a utilização técnica de conhecimentos científicos e o surgimento do direito e da administração racionalizados. Nessa pintura holandesa podemos perceber a valorização do trabalho, própria da ética protestante analisada por Weber. O vendedor de peixes, pintura de Adrien Van Ostade, de 1672. Análise histórica e método compreensivo Weber teve uma contribuição importantíssima para o desenvolvimento da sociologia. Em meio a uma tradição filosófica peculiar, a alemã, e vivendo os problemas de seu país, diversos dos da França e da Inglaterra na mesma época, pôde trazer uma nova visão, não influenciada pelos ideais políticos nem pelo racionalismo positivista de origem anglo-francesa. Sua contribuição para a sociologia tornou-o referência obrigatória. Mostrou, em seus estudos, a fecundidade da análise histórica e da compreensão qualitativa dos processos históricos e sociais. Embora polêmicos, seus trabalhos abriram as portas para as particularidades históricas das sociedades e para a descoberta do papel da subjetividade na ação e na pesquisa social. Weber desenvolveu suas Curso de Direito Turma A – Manhã - 2012.1 Fundamentos das Ciências Sociais Prof.: Tiago Jorge Fernandes de Albuquerque Maranhão Disciplina: CCJ0001 Aula: 005 Assunto: A Contribuição de Max Weber Folha: 22 de 27 Data: 22/03/2012 MD/Direito/Estácio/Período-01/CCJ0001/Aula-005/WLAJ/DP análises de forma mais independente das ciências exatas e naturais. Foi capaz de compreender a especificidade das ciências humanas como aquelas que estudam o homem como um ser diferente dos demais e, portanto, sujeito a leis de ação e comportamento próprios. Outra novidade do pensamento weberiano no desenvolvimento da sociologia foi a idéia do indeterminismo histórico. Ao contrário de seus predecessores, ele não admitia nenhuma lei preexistente que regulasse o desenvolvimento da sociedade ou a sucessão de tipos de organização social. Isso permitiu que ele se aprofundasse no estudo das particularidades, procurando entender as formações sociais em suas singularidades, especialmente a jovem nação alemã que ele via despontar como potência. Nesse sentido, contribuiu também para a formação de um pensamento alemão, crítico, histórico e consoante com sua época. Outros sociólogos alemães puseram em prática o método compreensivo de Weber, como Sombart, igualmente um estudioso do capitalismo ocidental. Weber desenvolveu também trabalhos na área de história econômica, buscando as leis de desenvolvimento das sociedades. Estudou ainda, com base em fontes históricas, as relações entre o meio urbano e o agrário e o acúmulo de capital auferido pelas cidades por meio dessas relações. ATIVIDADES Compreensão de texto 1-Elabore um quadro que compare as definições de Weber e Durkheim em relação a função da sociologia, fato social, ação social, relação social, instrumentos de análise, neutralidade do cientista, indivíduo e sociedade. 2-Identifique as duas concepções de história que estão presentes no texto, uma referente ao positivismo de Durkheim e a outra ao idealismo de Weber (também chamada de escola existencialista). 3- O que é método compreensivo? Interpretação, problematizacão e pesquisa [Os trechos de autoria de Weber, selecionados para as questões seguintes, foram extraídos da obra A ética protestante e o espírito do capitalismo. 4- Nas seguintes afirmações de Weber percebemos de que modo a motivação para a ação é algo sentido pelo sujeito sob a forma de valores e modelos de conduta. Analise-as segundo essa perspectiva. a) "A oportunidade de ganhar mais era menos atrativa do que a de trabalhar menos. Ele não perguntava: quanto posso ganhar por dia se trabalhar tanto quanto possível, mas: quanto devo trabalhar a fim de ganhar o salário que ganhava anteriormente e que era suficiente para minhas necessidades." (p. 38). b) "Na verdade, esta idéia peculiar do dever profissional, tão familiar a nós hoje, mas, na realidade, tão pouco evidente, é a maior característica da 'ética social' da cultura capitalista e, em certo sentido, sua base fundamental." (p. 33) 5- Sabendo que Weber pressupõe certa parcialidade do cientista em relação ao objeto de estudo, isto é, um interesse próprio em nível de motivação, por que razões ele considera parte de suas conclusões como provisórias? E, ainda que é capaz o cientista quando tem em mãos técnicas eficazes de análise? 6- Como Max Weber explica, nesta passagem, o espírito do capitalismo? "Tudo é feito em termos de balanço: a previsão inicial no começo da empresa, ou antes de qualquer decisão individual; o balanço final para verificação do lucro obtido. Por exemplo, a previsão inicial de uma transação por comenda (primeiras empresas de compra e venda surgidas na Idade Média) pode ser a constatação do valor monetário dos bens transacionados — enquanto esses não assumirem forma monetária - e o seu balanço final pode equivaler a uma distribuição do lucro ou das perdas ao término da operação. Na medida em que as Curso de Direito Turma A – Manhã - 2012.1 Fundamentos das Ciências Sociais Prof.: Tiago Jorge Fernandes de Albuquerque Maranhão Disciplina: CCJ0001 Aula: 005 Assunto: A Contribuição de Max Weber Folha: 23 de 27 Data: 22/03/2012 MD/Direito/Estácio/Período-01/CCJ0001/Aula-005/WLAJ/DP operações são racionais, toda ação individual das partes é baseada em cálculo." (p. 5). 7- Ao definir a ação capitalista como "aquela que se baseia na expectativa de através da utilização das oportunidades de troca, isto é, nas possibilidades ficas de lucro" (p. 4), como Weber aplica seu conceito de ação social? 8- Weber afirma que o trabalho do cientista parte justamente de seu interesse objeto de estudo e de sua visão particular sobre o assunto, opondo-se assim à atividade e à neutralidade pregadas pelos positivistas franceses. Como essa aparece no trecho a seguir? "Devemos desenvolver no curso da discussão, como seu resultado mais importante, a melhor formulação conceituai do que entendemos aqui por espírito do capitalismo, isto é, a melhor do ponto de vista que nos interessa. Este ponto de vista, ademais, não é, de modo algum, o único possível a partir do qual o fenômeno histórico que estamos investigando possa ser analisado." (p. 28). 9- Weber afirma que a ação social é uma ação com sentido, que orienta o comportamento de quem age. Observe a sua turma e procure descobrir o sentido da ação de algum colega nesse momento? 10- Vamos aplicar a metodologia de Weber na construção do tipo ideal. Procure diversos relatos — em livros, revistas ou jornais — sobre o mesmo acontecimento e procure defini-lo com base nos elementos comuns dessas fontes? 11- De que maneira o protestantismo, segundo Weber, gera condutas adequadas ao capitalismo? 12- Que diferenças Weber estabelece entre as atitudes e as visões de mundo de católicas e protestantes? 13-Utilizando-se dos parâmetros demarcados por Weber para analisar a relação e calvinismo/protestantismo e o capitalismo, faça junto com a classe uma análise do Brasil tendo por base esses parâmetros, considerando-se o fato de nosso país ser majoritariamente católico. Aplicação de conceitos 14- Leia a notícia a seguir: Jovem, solteiro e ansioso para ver Alá "O terrorista suicida islâmico se tornou a mais temida f igura da sociedade israelense. Sua habil idade em disfarces é tanta que os 1,2 mil soldados convocados para guarnecer os pontos de ônibus de Jerusalém receberam ordens de f icar especialmente atentos, quando v irem alguém trajando uniforme do próprio Exército. Acredita-se que os autores dos dois primeiros atentados a bomba, que iniciaram o mais recente ciclo de carnificina de civis no dia 25, estavam disfarçados de soldados. Um até usava brinco, muito em voga entre alguns jovens judeus. Segundo um perf i l elaborado por israelenses especialistas em segurança, os terroristas suicidas são na maioria sol teiros, com idade entre 18 e 24 anos e de família pobre. Tendem a ser fanáticos no comportamento e nas crenças. Suas motivações incluem o desejo de se igualar ao êxi to de outros atacantes ou de v ingar ataques sofridos por suas famíl ias. Clérigos do grupo Hamas desempenham importante papel em seu t reinamento, repisando a promessa cont i da no Alcorão de que os mártires terão um Paraíso especial, no qual cada combatente tombado recebe 72 noivas v i rgens. Também dizem aos suici das que vagas no Paraíso serão reservadas às suas famíl ias — que, na Terra, recebem a assistência de entidades benef icentes l igadas ao Hamas e à Jihad Islâmica. Curso de Direito Turma A – Manhã - 2012.1 Fundamentos das Ciências Sociais Prof.: Tiago Jorge Fernandes de Albuquerque Maranhão Disciplina: CCJ0001 Aula: 005 Assunto: A Contribuição de Max Weber Folha: 24 de 27 Data: 22/03/2012 MD/Direito/Estácio/Período-01/CCJ0001/Aula-005/WLAJ/DP Depois que um terrorista suicida de Gaza voou pelos ares, os parentes encontraram freqüentes referências ao Paraíso em seus cadernos. Ele escreveu mui to sobre seu desejo de morrer, de conhecer Deus como mártir e viver uma vida muito melhor do que esta. Segundo oficiais israelenses, a carga explosiva de alta potência é geralmente amarrada ao corpo e detonada por um dispositivo de tempo eletrônico. Os terroristas são levados com freqüência para inspecionar os alvos de seus ataques. Homens solteiros são escolhidos para reduzir o risco de um suicida revelar um ataque ao dizer adeus à sua mulher. Touria Hamouri, 27 anos, rezando na prisão de Sharon, em Israel, presa por tentar um ataque suicida, 2004. Os autores dos atentados estudam muitas vezes em escolas mantidas por instituições de caridade e dirigidas pelo Hamas. No geral, antes de cada missão celebra-se uma sessão final na mesquita, onde o atacante é fortalecido pelos clérigos para sua missão. No Líbano, alguns também receberam drogas. A chocante propensão dos jovens islâmicos ao sacrifício foi revelada segunda-feira em Al Fawwar, um campo de refugiados perto de Hebron, terra natal dos dois atacantes responsáveis pelas bombas em Jerusalém e Ashkelon. Os israelenses descobriram que, dos 5 mil moradores, 40 haviam se apresentado como voluntários para ser terroristas suicidas." WALKER, Christopher. Jovem, solteiro e ansioso para ver Alá. In: O Estado de S. Paulo, 1994. Aplicando à análise da notícia o que aprendemos sobre a sociologia weberiana responda: a) Qual é a ação social a que a notícia faz referência? b) Que valores induzem a ação do terrorista islâmico? c) Que motivos levam o terrorista islâmico a agir? d) Destaque os aspectos econômicos, políticos e psicológicos desse fenômeno. 15- Vídeo: Central do Brasil (Brasil, 1998. Direção: Walter Salles. Duração: 113 minutos) - Este filme, indicado para o Oscar de melhor filme estrangeiro, conta a história do envolvimento de Dora, mulher que escreve cartas para analfabetos na estação Central do Brasil, com um menino de 9 anos, Josué, que perde a mãe. O filme mostra a viagem que ambos empreendem com a intenção de achar o pai do garoto. Discuta como é possível identificar nessa história a idéia de Weber a respei ação social e o que ele propõe como relação social. Curso de Direito Turma A – Manhã - 2012.1 Fundamentos das Ciências Sociais Prof.: Tiago Jorge Fernandes de Albuquerque Maranhão Disciplina: CCJ0001 Aula: 005 Assunto: A Contribuição de Max Weber Folha: 25 de 27 Data: 22/03/2012 MD/Direito/Estácio/Período-01/CCJ0001/Aula-005/WLAJ/DP Temas para debate Texto 1 [O esquema ideal] "Examinemos o esquema ideal que nos transmitem os escritos agrários de Roma. Encontramos o alojamento do 'instrumento falante', vale dizer, o estábulo de escravos, na mesma casa que o gado (instrumento semifalante). Ele é constituído pelo dormitório, uma enfermaria ou lazareto, uma prevenção (cárcere), uma oficina para os trabalhadores e de pronto se compõe ante nossos olhos uma visão muito familiar a todos os que vestiram uniforme: o quartel. E, com efeito, a vida do escravo é, normalmente, uma vida de quartel. Dorme e come em comum sob a vigilância do villicus: a indumentária de tipo melhor é entregue a um 'guarda-roupa', cuidado pela mulher do inspetor (villica), que atua como suboficial de câmara, e mensalmente se faz uma revista do vestuário. O trabalho é rigorosamente disciplinado, à moda militar: as seções, sob o mando de um cabo, são formadas de manhã bem cedo, e partem sob a inspeção de capatazes. Isto era imprescindível. Produzir para o mercado por meio do trabalho servil não teria sido possível por muito tempo sem o emprego do látego." WEBER, Max. As causas sociais do declínio da cultura antiga. In: COHN, Gabriel (Org.). Sociologia, op. cit. p. 45. Com base na definição weberiana de tipo ideal, responda: 1- Weber fez a análise do escravo romano com base em seu conceito de tipo ideal. Esse esquema corresponde à realidade observada? Justifique. 2- Qual a utilidade, para o cientista da formulação, desse esquema de sociedade escravista? Texto 2 Crime organizado e crise institucional "Tampouco deve-se entender a máfia como poder paralelo visto haver uma necessária conexão entre ela, a polícia e as instituições. Criminosos empresários relacionam-se com pessoas importantes, políticos, policiais, juízes. O conceito de antiestado é exagerado nesse sentido, pois o crime organizado está ligado ao poder oficial e é preciso estar atento às reviravoltas dessas redes fluidas dos personagens públicos e exteriores à organização criminosa que se imiscuem com ou se sobrepõem a ela. Contudo, ainda segundo Salvatore Luppo, o crime organizado guarda muita coisa de sociedade secreta, com seus rituais iniciáticos. Por isso mesmo nega a cultura generalizada, tradicional e fechada; o iniciando torna-se novo ser, tábula rasa para receber o conhecimento e a ordem do grupo. A omertã é um dos lados da moeda, cujo outro lado é a subordinação à vontade da organização, ou seja, a umiltà. Como nas organizações maçônicas, no crime organizado o delator é chamado de infame e a organização está sempre pronta a matar ou denunciar os seus inimigos por cartas anônimas ou por vias secretas à polícia. Fazem regulamentos e estatutos, além de dispor de autoridades legislativas e tribunais que decidem e punem sem clemência. Na Itália, a ruptura só acontece em 1979 quando a máfia torna-se terrorista, assassinando juízes, políticos honestos, políticos corruptos, rompendo com seu passado prudente de mimetismo e acordos com o poder constituído. No Brasil, a publicação recente de documentos que continham o regulamento do Comando Vermelho, bem como a aplicação da pena máxima para quem ouse denunciar ou prejudicar os negócios das quadrilhas que controlam favelas e bairros pobres de várias cidades brasileiras, apontam na mesma direção. Não há mais como negar o que se torna cada vez mais evidente. E aqui também o desespero ou a bravata tem feito traficantes deixarem os limites protegidos pelos arranjos do poder para invadir o espaço urbano até pouco tempo respeitado. Teremos também foi de terrorismo já encontrados em outros países? As últimas atividades conjuntas do PCC e Comando Vermelho fazem crer que sim.” ZALUAR, Alba. Crime organizado e crise institucional – Sociabilidades III: Curso de Direito Turma A – Manhã - 2012.1 Fundamentos das Ciências Sociais Prof.: Tiago Jorge Fernandes de Albuquerque Maranhão Disciplina: CCJ0001 Aula: 005 Assunto: A Contribuição de Max Weber Folha: 26 de 27 Data: 22/03/2012 MD/Direito/Estácio/Período-01/CCJ0001/Aula-005/WLAJ/DP a violência e sociedade. São Paulo: Letras & Letras, 2003. De que forma podemos perceber nesse texto a aplicação da metodologia para construção de um tipo ideal, neste caso o crime organizado, que se manifesta de forma particular em diferentes épocas e países? Leituras complementares Texto 1 [Motivo e sentido da ação social] "[No raciocínio de Weber], o conceito de 'motivo' (...) permite estabelecer uma ponte entre sentido e compreensão. Do ponto de vista do agente, o motivo é o fundamento da ação; para o sociólogo, cuja tarefa é compreender essa ação, a reconstrução do motivo é fundamental, porque, da sua perspectiva, ele figura com causa da ação. Numerosas distinções podem ser estabelecidas aqui, e Weber realmente o faz. No entanto, apenas interessa assinalar que, quando se fala de sentido na sua acepção mais importa para a análise, não se está cogitando da gênese da ação mas sim daquilo para o que ela aponta, para o objetivo visado nela; para o seu fim, em suma. Isso sugere que o sentido tem muito a ver com o modo como se encadeia o processo de ação, tomando-se a ação efetiva dotada de sentido como um meio para alcançar um fim, justamente aquele subjetivamente visado pelo agente. Convém salientar que a ação social não é um ato isolado mas um processo, no qual percorre uma seqüência definida de elos significativos (admitindo-se que não haja interferência alguma de elementos não pertinentes à ação em tela, o que jamais ocorre na experiência empírica e só é pensável em termos típico-ideais). Basta pensar em qualquer ação social (por exemplo, despachar uma carta) para visualizar isso. Os elementos desse processo articulam-se naquilo que Weber chama de 'cadeia motivacional': cada ato parcial realizado no processo opera como fundamento do ato seguinte, até completar-se a seqüência." WEBER, Max. As causas sociais do declínio da cultura antiga. In: COHN, Gabriel (org.). Sociologia, op. cit. p 27. Entender o texto Com base no texto, sintetize o pensamento de Weber sobre motivo, ela uma frase que relacione motivo e ação social. Texto 2 A ciência como vocação "O progresso científico é um fragmento, o mais importante indubitavelmente, do processo de intelectualização a que estamos submetidos desde milênios e relativamente ao qual algumas pessoas adotam, em nossos dias, posição estranhamente negativa. Tentemos, de início, perceber claramente o que significa, na prática, essa racionalização intelectualista que devemos à ciência e à técnica científica. Significará, por acaso, que todos os que estão reunidos nesta sala possuem, a respeito das respectivas condições de vida, conhecimento de nível superior ao que um hindu ou um hotentote poderiam alcançar acerca de suas próprias condições de vida? É pouco provável. Aquele, dentre nós, que entra num trem não tem noção alguma do mecanismo que permite ao veículo pôr-se em marcha - exceto se for um físico de profissão. Aliás, não temos necessidade de conhecer aquele mecanismo. Basta-nos poder 'contar' com o trem e orientar, consequentemente, nosso comportamento; mas não sabemos como se constrói aquela máquina que tem condições de deslizar. O selvagem, ao contrário, conhece, de maneira incomparavelmente melhor, os instrumentos de que se utiliza. Eu seria capaz de garantir que todos ou quase todos os meus colegas economistas, acaso presentes nesta sala, dariam respostas diferentes à pergunta: como explicar que, utilizando a mesma soma de dinheiro, ora se possa adquirir grande soma de coisas e ora uma quantidade mínima? O selvagem, contudo, sabe perfeitamente como agir para obter o alimento quotidiano e conhece os meios capazes de favorecê-Io em Curso de Direito Turma A – Manhã - 2012.1 Fundamentos das Ciências Sociais Prof.: Tiago Jorge Fernandes de Albuquerque Maranhão Disciplina: CCJ0001 Aula: 005 Assunto: A Contribuição de Max Weber Folha: 27 de 27 Data: 22/03/2012 MD/Direito/Estácio/Período-01/CCJ0001/Aula-005/WLAJ/DP seu propósito. A intelectualização e a racionalização crescentes não eqüivalem, portanto, a um conhecimento geral crescente acerca das condições em que vivemos. Significam, antes, que sabemos ou acreditamos que, a qualquer instante, poderíamos, bastando que o quiséssemos, provar que não existe, em princípio, nenhum poder misterioso e imprevisível que interfira com o curso de nossa vida; em uma palavra, que podemos dominar tudo, por meio da previsão. Eqüivale isso a despojar de magia o mundo. Para nós não mais se trata, como para o selvagem que acredita na existência daqueles poderes, de apelar a meios mágicos para dominar os espíritos ou exorcizá-los, mas de recorrer à técnica e à previsão. Tal é a significação essencial da intelectualização." WEBER, Max. Ciência e política, duas vocações. São Paulo: Cultrix, 1970. p. 30-31. Entender o texto Nesse texto Weber decodifica o significado de intelectualização. Explique esse conceito sintetizando a sua compreensão das idéias de Weber em um texto de três a quatro linhas. ==XXX==