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Direito Constitucional Descomplicado Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino 7.ª para 8.ª edição NOTA À 8.ª EDIÇÃO Nesta edição, acrescentamos recentes julgados do Supremo Tribunal Federal sobre relevantes matérias, abordadas em diferentes capítulos da obra. Merecem destaque, especialmente, os julgados acerca das uniões homoafetivas, das denominadas “marchas da maconha”, da relativização da coisa julgada, da impressão do voto eletrônico nas eleições, da natureza da atuação do Presidente da República nos casos de deferimento de extradição pelo STF e da existência de direito subjetivo à nomeação para os candidatos aprovados em concurso público dentro do número de vagas previsto no edital. Foram, ainda, incorporadas ao texto as inovações legislativas havidas em 2011, destacando-se a prorrogação da Desvinculação de Receita da União (DRU), operada pela EC 68, de 21/12/2011, e a disciplina do processo de julgamento da representação interventiva do Procurador-Geral da República perante o Supremo Tribunal Federal, nas hipóteses de ofensa aos princípios sensíveis e de recusa à execução de lei federal, estabelecida pela Lei 12.562, de 23/12/2011. Os autores. PONTOS DO LIVRO “DIREITO CONSTITUCIONAL DESCOMPLICADO” QUE FORAM MODIFICADOS NA 8ª EDIÇÃO DA OBRA, ESPECIALMENTE EM VIRTUDE DE ALTERAÇÕES JURISPRUDENCIAIS OCORRIDAS DESDE A 7ª EDIÇÃO. OS TEXTOS EM VERMELHO REPRESENTAM SUPRESSÕES E OS TEXTOS EM AZUL CORRESPONDEM A INCLUSÕES. OS TEXTOS EM FONTE PRETA NÃO SOFRERAM ALTERAÇÃO E SERVEM APENAS PARA FACILITAR A LOCALIZAÇÃO DOS TRECHOS MODIFICADOS, ACRESCENTADOS OU SUPRIMIDOS. CAPÍTULO 1 1) No item 5.3, foi feita a substituição abaixo indicada: 5.3. Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT) Direito Constitucional Descomplicado Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino 7.ª para 8.ª edição ................... Quanto ao último ponto, cabe mencionar que o ADCT tem sido objeto de reiteradas modificações e acréscimos mediante emendas à Constituição. Essas emendas, em sua maioria, introduziram novas matérias de caráter transitório, como é o caso da extinta contribuição provisória sobre movimentação ou transmissão de valores e de créditos e direitos de natureza financeira (CPMF). Quanto ao último ponto, cabe mencionar que o ADCT tem sido objeto de reiteradas modificações e acréscimos mediante emendas à Constituição. Essas emendas, em sua maioria, introduziram novas matérias de caráter transitório, como é o caso da EC 68/2011, que prorrogou a denominada Desvinculação de Receita da União (DRU), a vigorar de 1º de janeiro de 2012 até 31 de dezembro de 2015.1 .................... CAPÍTULO 3 1) No item 4.3, foram acrescentados, ao final, os dois parágrafos, abaixo indicados em azul: 4.3. Princípio da igualdade (art. 5.º, caput, e inciso I) ......................... Assim, não poderá o Poder Judiciário, por exemplo, sob o fundamento de conferir tratamento isonômico, estender aos servidores públicos da categoria “A” vantagem concedida pela lei apenas à categoria “B”, ainda que tais categorias se encontrem em situação de plena igualdade jurídica. Por fim, cabe-nos destacar que, em respeito à não discriminação das pessoas em razão de sua opção sexual – e considerando o postulado da dignidade da pessoa humana e o objetivo constitucional de promover o bem de todos –, o 1 Com essa prorrogação da DRU, 20% (vinte por cento) da arrecadação de impostos, contribuições sociais e de intervenção no domínio econômico da União estarão desvinculados de qualquer órgão, fundo ou despesa até 31 de dezembro de 2015, podendo ser livremente alocados pelo governo federal. Direito Constitucional Descomplicado Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino 7.ª para 8.ª edição Supremo Tribunal Federal firmou entendimento de que a Constituição de 1988 não interdita a formação de família por pessoas do mesmo sexo.2 Para o Tribunal Maior, o avanço da Constituição Federal de 1988 no plano dos costumes impõe a interpretação de que o seu art. 226, ao empregar em seu texto a expressão “família”, não limita a formação desta a casais heteroafetivos, nem a formalidade cartorária, celebração civil ou liturgia religiosa. Nessa linha – de que para fazer jus à especial proteção do Estado, pouco importa estar a família formal ou informalmente constituída, ou integrada por casais heteroafetivos ou por pares homoafetivos –, o STF igualou a união estável homoafetiva à união estável heteroafetiva, conferindo “interpretação conforme à Constituição” ao art. 1.723 do Código Civil para excluir desse dispositivo qualquer significado que impeça o reconhecimento da união contínua, pública e duradoura entre pessoas do mesmo sexo como família. 2) No item 4.11, foram acrescentados os dois parágrafos abaixo indicados, em azul: 4.11. Liberdade de reunião (art. 5.º, XVI) ........................ Essa proteção constitucional refere-se não só às reuniões estáticas, em específico local aberto ao público, como também às manifestações em percurso móvel, como as passeatas, os comícios, os desfiles etc. Nesse sentido – e realçando que o exercício dos direitos fundamentais de reunião e de livre manifestação do pensamento deve ser garantido a todas as pessoas –, o Supremo Tribunal Federal considerou válidos manifestações e eventos públicos na defesa da descriminalização do uso de drogas, ou de qualquer substância entorpecente específica (tratava-se da realização da chamada “marcha da maconha”, em que os cidadãos defendiam a descriminalização dessa droga).3 Para o Tribunal Constitucional, a mera proposta de descriminalização de determinado ilícito penal não se confunde com o ato de incitação à prática do crime, nem com o de apologia de fato criminoso (CP, art. 287). Logo, a defesa, em espaços públicos, da legalização das drogas, ou de proposta de abolição de algum outro tipo penal, não significaria ilícito penal, mas, ao contrário, representa o exercício legítimo do direito à livre manifestação do pensamento, propiciada pelo exercício do direito de reunião. 2 ADI 4.277/DF, rel. Min. Ayres Britto, 05.05.2011. 3 ADPF 187/DF, rel. Min. Celso de Mello, 15.06.2011. Direito Constitucional Descomplicado Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino 7.ª para 8.ª edição O direito constitucional de reunião protege, de outra parte, a pretensão do indivíduo de não se reunir a outros. ...................... 3) No item 4.22, foi acrescentado, ao final, o parágrafo seguinte: 4.22. Proteção ao direito adquirido, à coisa julgada e ao ato jurídico perfeito (art. 5.º, XXXVI) ...................... No tocante à atuação do poder constituinte derivado, entendemos que as emendas constitucionais não podem ofender direito adquirido, uma vez que os direitos e garantias individuais foram gravados como cláusula pétrea (CF, art. 60, § 4º, IV).4 4) No item 4.22, foi acrescentado o subitem 4.22.1, integralmente reproduzido a seguir: 4.22.1. Relativização da coisa julgada Sabemos que a proteção da coisa julgada (art. 5º, XXXVI) tem por fim resguardar a segurança jurídica na pacificação dos conflitos sociais. Portanto, é em prol da segurança jurídica que o legislador – bem como os demais poderes constituídos – não pode violar uma decisão judicial irreformável, protegida pelo manto da coisa julgada material. É inegável, porém, que no direito constitucional contemporâneo muito se discute sobre a possibilidade de relativização da coisa julgada, seja em respeito à busca da verdade material, sejam em homenagem a outros valores também constitucionalmente protegidos, a exemplo do postulado da dignidade da pessoa humana. 4 A jurisprudência do STF tem firmado essa orientação, de que as emendas à Constituição não podem desconstituir direitos que tenham sido adquiridos sob a égide do texto constitucional a elas anterior, como se verifica, por exemplo, no julgamento das ADI 3.133/DF, 3.143/DF e 3.184/DF, rel. Min. Cármen Lúcia, 21.09.2011. Direito Constitucional Descomplicado Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino 7.ª para 8.ª edição Em importante julgado, o Supremo Tribunal Federal enfrentou a problemática da relativização da coisa julgada material, firmando entendimento que certamente orientará as futuras discussões acerca do tema em nosso direito.5 A questão levada ao exame da Corte Excelsa envolvia a relativização da coisa julgada em face do direito fundamental à filiação (CF, art. 227, caput e § 6º) e da garantia fundamental da assistência jurídica integral aos desamparados (CF, art. 5º, LXXIV). Em síntese, foi a seguinte a sequência dos fatos: em 1992, foi ajuizada ação visando ao reconhecimento da paternidade de menor residente no Distrito Federal, que foi julgada improcedente por ausência de provas, decisão de mérito que transitou em julgado; tal ausência de provas se deveu ao fato de que a autora da ação não dispunha de recursos financeiros para custear o exame de DNA (no valor aproximado de 1.500 dólares) e, à época, o Estado não custeava tal exame técnico-pericial; posteriormente, em 1996, foi editada legislação distrital que, a partir de sua entrada em vigor, tornou possível a realização do exame de DNA às custas do Distrito Federal, como elemento do regime de assistência jurídica aos desamparados (CF, art. 5º, LXXIV); a autora, então, ajuizou nova demanda, visando à continuidade do processo para a realização da referida prova técnica de DNA, agora custeada pelo Distrito Federal. Mesmo reconhecendo a existência de decisão de mérito atingida pelo manto da coisa julgada material, o Supremo Tribunal Federal decidiu favoravelmente à autora, determinando a continuidade ao processo para a realização do exame de DNA. Enfim, nesse caso concreto – afastamento da coisa julgada material, formada acerca de relação de filiação, diante da superveniente possibilidade de realização de novo meio de prova dotado de altíssimo grau de confiabilidade e capaz, justamente por isso, de reverter, por si só, a conclusão do julgamento anterior, quando sua realização não se mostrara possível por conta da deficiência do regime da assistência jurídica aos hipossuficientes – o STF decidiu pela relativização da coisa julgada, em prol dos direitos fundamentais à filiação e à assistência jurídica aos necessitados, diretamente relacionados ao postulado da dignidade da pessoa humana. Com efeito, entendeu o STF – considerando que no núcleo essencial da dignidade da pessoa humana há de ser tido como presente o direito fundamental à identidade pessoal do indivíduo, que se desdobra, dentre outros aspectos, na identidade genética – que impedir o prosseguimento do processo, em respeito à coisa julgada material, implicaria vedar peremptoriamente a elucidação, à luz da nova prova técnica disponível (exame de DNA), da origem biológica da autora, não trazida à tona, na demanda anterior já julgada, por hipossuficiência financeira da parte e insuficiência do sistema estatal de assistência jurídica aos necessitados. 5 RE 363.889/DF, rel. Min. Dias Toffoli, 02.06.2011. Direito Constitucional Descomplicado Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino 7.ª para 8.ª edição Entretanto, o STF salientou que, em respeito à segurança jurídica, o interessado no desfazimento da coisa julgada há que intentar a ação no prazo decadencial de dois anos, previsto para a propositura da ação rescisória (CPC, art. 485). Esse prazo deverá ser contado da data do trânsito em julgado da decisão que se intenta desconstituir, salvo nas hipóteses excepcionais em que restar demonstrado que apenas posteriormente houve mudança da situação fática (no caso anteriormente mencionado, por exemplo, embora a decisão rescindenda tenha passado em julgado em 1992, só a partir de 1996 é que se tornou legítima a realização do exame de DNA às custas do Distrito Federal; portanto, a contagem do prazo decadencial de dois anos teve início em 1996 – com a mudança da situação fática – e não em 1992, data do trânsito em julgado da decisão rescindenda). Por fim, merece transcrição esta esclarecedora síntese, extraída do voto- vista do Ministro Luiz Fux exarado no julgamento em apreço, acerca do entendimento firmado pelo STF: “Deve-se ter por válido, à luz da Constituição, o afastamento da coisa julgada material, formada sobre decisão de improcedência por falta de provas, em demandas que envolvam relação de filiação, quando for alegada a viabilidade de produção de prova técnica capaz de reverter a conclusão do julgamento anterior, cuja realização só tenha se mostrado possível, do ponto de vista prático, pelo avanço tecnológico superveniente, somado à inadequação do regime da assistência jurídica aos necessitados, respeitado, em qualquer caso, o prazo de dois anos para o ajuizamento de nova demanda, que flui, por presunção relativa, a contar do trânsito em julgado da demanda anterior, salvo nas hipóteses excepcionais em que restar também excepcionalmente demonstrado que apenas posteriormente se tornou viável, do ponto de vista prático, o acesso ao exame de DNA, cabendo ao demandante o ônus do afastamento da referida presunção.” 5) Ao final do subitem 4.30.1, foi feita a substituição abaixo indicada: 4.30.1. Procedimento ................ Questão importante enfrentada pelo Supremo Tribunal Federal diz respeito a essa terceira fase, no tocante à vinculação, ou não, do Presidente da República à decisão do STF que autorizou a extradição. Enfim, caso o STF autorize a extradição, por entender preenchidos os requisitos para tanto, o Presidente da República estará obrigado a entregar o extraditando ao Estado requerente, ou ele dispõe de discricionariedade? Depois de autorizar a extradição de Cesare Battisti para a Itália, por considerar que os crimes imputados a esse cidadão italiano não tiveram conotação política, o Plenário do Supremo Tribunal Federal decidiu que o Presidente da República não está vinculado à decisão da Corte, haja vista que poderá entregar, ou não, o extraditando ao governo italiano. Entretanto, segundo o mesmo Tribunal, não se Direito Constitucional Descomplicado Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino 7.ª para 8.ª edição trata de ato discricionário do Presidente da República, porque este terá de agir nos estritos termos do tratado de extradição específico, firmado entre o Brasil e o Estado requerente (a Itália, nesse caso). Significa que o Presidente da República não se vincula à decisão do Supremo Tribunal Federal que autoriza a extradição – haja vista que há a possibilidade de ele decidir pela não entrega do extraditando ao Estado requerente –, mas essa sua decisão não é discricionária, porque é regrada pelas disposições do correspondente tratado internacional de extradição entre os Estados. “O Presidente da República extradita ou não, mas nos estritos termos do tratado”, observou o ministro Eros Grau (EXT 1.085, rel. Min. Cezar Peluso, 16.12.2009). Questão importante diz respeito a essa terceira fase, no tocante à vinculação, ou não, do Presidente da República à decisão do Supremo Tribunal Federal que autorizou a extradição. Enfim, caso o STF autorize a extradição, por entender preenchidos os requisitos para tanto, o Presidente da República estará obrigado a entregar o extraditando ao Estado requerente, ou ele dispõe de discricionariedade? Segundo entendimento de nossa Corte Suprema, o Presidente da República não está vinculado à decisão dela, haja vista que poderá entregar, ou não, o extraditando ao Estado requerente.6 É que, no nosso sistema, a atuação do Supremo Tribunal Federal está adstrita ao exame da legalidade da extradição, em seus aspectos formais. Logo, o Presidente da República fica vinculado à decisão do Supremo Tribunal Federal apenas quando reconhecida alguma irregularidade no processo extradicional, de modo a impedir a remessa do extraditando ao arrepio do ordenamento jurídico. Assim, se no julgamento pelo Supremo Tribunal Federal restar reconhecida alguma irregularidade no processo extradicional, o Presidente da República estará vinculado a essa decisão da Corte, e não poderá extraditar o indivíduo; porém, nos casos em que o Tribunal Constitucional não verifica ilegalidade no processo e autoriza a extradição, o Presidente da República não se vincula a essa decisão, podendo decidir pela entrega, ou não, do extraditando ao Estado requerente, observando-se as disposições do correspondente tratado internacional de extradição entre os Estados. Em síntese, o Supremo Tribunal Federal limita-se a analisar a legalidade e a procedência do pedido de extradição: indeferido o pedido, o Presidente da República não poderá efetivar a extradição; deferido o pedido, a entrega do súdito ao Estado requerente ficará a critério discricionário do Presidente da República. 6) Ao final do item 4.34, foi feito o acréscimo do parágrafo abaixo: 6 Rcl 11.243, rel. p/ o acórdão Min. Luiz Fux, 08.06.2011. Direito Constitucional Descomplicado Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino 7.ª para 8.ª edição 4.34. Princípio da presunção da inocência (art. 5.º, LVII) ................... Nessa mesma linha – e após enfatizar que o princípio da presunção da inocência, apesar de ser historicamente vinculado ao processo penal, também tem projeção para as esferas cível e administrativa –, o Supremo Tribunal Federal firmou o entendimento de que a condenação criminal recorrível não pode ser causa impeditiva da participação de candidato em concursos públicos ou cursos de formação.7 7) No item 5.2, foi feito o acréscimo indicado abaixo, em azul: 5.2. Enumeração constitucional dos direitos sociais individuais dos trabalhadores (art. 7.º) ................... O Fundo de Garantia do Tempo de Serviço – FGTS é devido ao empregado rural e urbano, e não é direito dos servidores públicos estatutários. Não é uma garantia constitucional outorgada aos domésticos (CF, art. 7.º, parágrafo único), embora a lei faculte ao empregador do doméstico a inscrição de seu empregado no FGTS, caso em que passará a estar obrigado a efetuar mensalmente os respectivos depósitos em favor deste. Estabelece a Constituição Federal que o salário-mínimo é fixado por lei, em valor nacionalmente unificado (art. 7º, IV). Entretanto, segundo entendimento do Supremo Tribunal Federal, pode a lei prever que a determinação do valor do salário mínimo seja feita por decreto do Presidente da República, desde que a lei estabeleça critérios e parâmetros objetivos e bem definidos a serem observados para o cálculo desse valor. Segundo a Corte Suprema, em tal hipótese, haveria mera aplicação aritmética, nos termos legalmente previstos, dos índices, fórmulas e periodicidade fixados pelo Congresso Nacional, a serem expostos por meio de decreto presidencial, o qual não inovaria a ordem jurídica. Não restaria caracterizada, dessarte, delegação para que o Presidente da República fixasse o valor do salário mínimo, o que, caso ocorresse, seria inconstitucional. O que a lei pode fazer é atribuir ao Presidente da República, sem qualquer margem de discricionariedade, apenas a divulgação do montante a que corresponderá o 7 RE 565.519/DF, rel. Min. Celso de Mello, 13.05.2011. Direito Constitucional Descomplicado Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino 7.ª para 8.ª edição salário mínimo, obtido pelo valor reajustado e aumentado consoante os índices fixados pelo Congresso Nacional na própria lei.8 A jornada normal máxima de trabalho permitida é de oito horas por dia e quarenta e quatro semanais. Poderá ser prestado mais trabalho, mas será em jornada extraordinária, o que implica o pagamento do adicional de hora-extra, de no mínimo 50%, ou compensação. Essa jornada constitucional poderá ser reduzida, mediante negociação coletiva (CF, art. 7.º, XIII). ....................... 8) No item 7.2, foi feito, ao final, o acréscimo indicado abaixo, em azul: 7.2. Direito ao sufrágio ................... A vigente Constituição de 1988 consagra o sufrágio universal, não exigindo para o exercício do direito de voto a satisfação de nenhuma condição econômica, profissional, intelectual etc. A Constituição Federal impõe, ainda, que o voto direto seja periódico e secreto. Em respeito à determinação constitucional de que o voto seja secreto, o Supremo Tribunal Federal considerou inconstitucional artigo de lei que estabelecia a obrigatoriedade de impressão do voto nas eleições a partir de 2014 (art. 5º da Lei 12.034/2009).9 Considerou a Corte Excelsa que a previsão de impressão afronta o segredo do voto, que é direito constitucional fundamental do cidadão, destinado a garantir a inviolabilidade do querer democrático do eleitor e a intangibilidade do seu direito, que deve estar imune a qualquer forma de pressão. Assinalou-se que a impressão poderia favorecer a coação de eleitores, por possibilitar que se vincule o voto a eventuais compromissos espúrios. Destacou o STF, ainda, a incidência do princípio de proibição de retrocesso político, que assegura ao cidadão o direito de não aceitar retrocesso constitucional de conquistas históricas que lhe tenham acrescentado o cabedal de direitos da cidadania. 8 ADI 4.568/DF, rel. Min. Carmen Lúcia Antunes Rocha, 03.11.2011. 9 ADI 4.543/DF, rel. Min. Cármen Lúcia Antunes Rocha, 19.10.2011. Direito Constitucional Descomplicado Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino 7.ª para 8.ª edição CAPÍTULO 4 1) No item 6.6, foi feita a substituição abaixo indicada: 6.6. Formação dos estados ................. Para a alteração dos limites territoriais do estado, a consulta às populações interessadas deverá, obrigatoriamente, ser prévia, por meio de plebiscito, vedada a realização de consulta ulterior, por meio de referendo, mesmo que a Constituição do estado tenha previsto este meio de consulta. Entende-se por população diretamente interessada tanto a do território que se pretende desmembrar, quanto a do que sofrerá desmembramento; em caso de fusão ou anexação, tanto a população da área que se quer anexar quanto a da que receberá o acréscimo (Lei 9.709/1998, art. 7.º). Segundo a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, a expressão “população diretamente interessada” constante do § 3º do art. 18 da Constituição da República não deve ser entendida como somente a população da área a ser destacada, mas, sim, como toda a população do estado-membro, tanto da área desmembranda, quanto da área remanescente.10 No tocante à oitiva das assembleias legislativas, temos o seguinte: (a) no caso de incorporação de estados entre si, devem ser ouvidas as assembleias dos estados que desejam incorporar-se; (b) no caso de subdivisão, para formação de novos estados, só há uma assembleia a ser ouvida (a do Estado que pretende subdividir-se). Porém, se a subdivisão destinar-se à anexação a outro ou outros estados, as assembleias destes também deverão ser ouvidas, para dizerem se aceitam ou não a anexação; (c) no caso de desmembramento para formação de novo estado, só há uma assembleia a ser ouvida (a do Estado que se desmembra). Porém, se o desmembramento for para anexação a outro ou outros estados, as assembleias destes também deverão ser ouvidas. .................... 2) No item 6.7 foi feita a substituição abaixo indicada: 6.7. Formação dos municípios ................ O plebiscito destinado à criação, à incorporação, à fusão e ao desmembramento de municípios será convocado pela assembleia legislativa, de 10 ADI 2.650/DF, rel. Min. Dias Toffoli, 24.08.2011. Direito Constitucional Descomplicado Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino 7.ª para 8.ª edição conformidade com a legislação federal e estadual.11 Entendem-se por populações dos municípios envolvidos tanto a do território que se pretende desmembrar quanto a do que sofrerá desmembramento; em caso de fusão ou anexação, tanto a população da área que se quer anexar quanto a da que receberá o acréscimo.12 No plebiscito municipal será consultada toda a população dos municípios envolvidos, isto é, tanto a do território que se pretende desmembrar quanto a do que sofrerá desmembramento; ou, em caso de fusão ou anexação, tanto a população da área que se quer anexar quanto a da que receberá o acréscimo.13 Note-se que, desde a promulgação da EC 15/1996, a alteração dos limites territoriais dos municípios passou a depender da vontade do Congresso Nacional, haja vista que a alteração do território municipal somente poderá ocorrer dentro do período determinado por lei complementar federal. Enquanto não editada essa lei complementar pelo Congresso Nacional, não poderá ocorrer nenhuma criação, incorporação, fusão ou desmembramento de município no Brasil. ..................... 3) No item 7.2, ao final, foi feita a substituição abaixo indicada: 7.2. Intervenção federal provocada ................. Cabe ressaltar que, nessas hipóteses de representação do Procurador- Geral da República, o Supremo Tribunal Federal não decretará a intervenção. Decretar e executar a intervenção é competência privativa do chefe do Poder Executivo (CF, art. 84, X). Cabe ao Poder Judiciário, tão somente, realizar o controle de constitucionalidade da pretendida medida de afastamento da autonomia do ente federado. Então, teremos o seguinte: (a) caso seja negado provimento à representação, o Supremo Tribunal Federal determinará o arquivamento do processo, encerrando-se o intento de decretação de intervenção pelo Presidente da República, sem que ela ocorra; (b) se for dado provimento à representação, o Supremo Tribunal Federal provocará o Presidente da República, para o fim de expedição do decreto interventivo; nessa hipótese, a atuação do Presidente da República é vinculada, cabendo a ele a mera formalização de uma decisão tomada pelo Poder Judiciário. 11 Lei 9.709/1998, art. 5.º 12 Lei 9.709/1998, art. 7.º 13 Lei 9.709/1998, art. 7.º Direito Constitucional Descomplicado Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino 7.ª para 8.ª edição Entretanto, se por um lado é certo que a atuação do Presidente da República, nessa hipótese, é vinculada, por outro não é correto afirmar que de sua atuação sempre redundará intervenção efetiva no ente federado. Deveras, o Presidente da República deverá, obrigatoriamente, expedir o decreto interventivo – que nem precisará ser submetido ao Congresso Nacional (afinal, a questão já foi apreciada pelo STF) –, mas tal decreto não necessariamente redundará no afastamento da autonomia do ente federado. Isso porque, consoante o § 3.º do art. 36, se a mera suspensão da execução do ato impugnado for suficiente para assegurar o restabelecimento da normalidade, o decreto interventivo editado pelo chefe do Executivo limitar-se-á a esta providência – suspender a execução do ato local impugnado. Não se terá, dessarte, uma efetiva intervenção, com afastamento da autonomia do ente federado, mas tão só a suspensão do ato local impugnado, isto é, o decreto interventivo será, a rigor, um decreto meramente suspensivo da execução de um ato local. Assim, se a suspensão da execução do ato local bastar ao restabelecimento da normalidade, evita-se a decretação da efetiva intervenção no ente federado, em respeito à sua autonomia política (afinal, o objetivo último de todo o procedimento é o restabelecimento da normalidade no âmbito do ente federado, e não o afastamento de sua autonomia). Entretanto, caso o decreto meramente suspensivo não seja suficiente ao restabelecimento da normalidade, o Presidente da República estará obrigado a executar uma efetiva intervenção, pois se trata de hipótese de requisição, e não de simples solicitação. Exemplificando, suponhamos que o Estado da Bahia, em razão de conflitos de ordem política, esteja repassando a certos municípios de seu território, em valor menor do que o devido e com atraso, as receitas tributárias obrigatórias determinadas pela Constituição Federal (CF, art. 158, III e IV), violando, portanto, a autonomia municipal, princípio sensível da ordem federativa (CF, art. 34, VII, “c”). Nessa situação, o Presidente da República não poderá, por sua iniciativa, decretar a intervenção no Estado. Dependerá ele da iniciativa, mediante representação, do Procurador-Geral da República perante o Supremo Tribunal Federal. Caso o Procurador-Geral da República represente e o Supremo Tribunal Federal dê provimento à representação, o Presidente da República será provocado pelo Supremo Tribunal Federal, para que expeça, obrigatoriamente, o decreto interventivo. Uma vez provocado, o Presidente da República deverá, nos termos do § 3.º do art. 36 da Constituição Federal, baixar decreto suspensivo, sem necessidade de submetê-lo à apreciação do Congresso Nacional, determinando o repasse, correto e sem atrasos, das receitas tributárias devidas aos municípios. Se, por força desse decreto suspensivo, o repasse das receitas tributárias aos aludidos municípios baianos for normalizado, não haverá efetiva intervenção no Estado. Entretanto, caso o Estado da Bahia persista na irregularidade, o Presidente da República estará obrigado a executar a intervenção. Cabe ressaltar que, nessas hipóteses de representação do Procurador- Geral da República, o Supremo Tribunal Federal não decretará a intervenção. Decretar e executar a intervenção são competências privativas do Chefe do Poder Direito Constitucional Descomplicado Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino 7.ª para 8.ª edição Executivo (CF, art. 84, X). Cabe ao Poder Judiciário, tão somente, realizar o controle de constitucionalidade da pretendida medida de afastamento da autonomia do ente federado. Então, teremos o seguinte: (a) caso seja negado provimento à representação, o Supremo Tribunal Federal determinará o arquivamento do processo, encerrando-se o intento de decretação de intervenção pelo Presidente da República, sem que ela ocorra; (b) se for dado provimento à representação, o Presidente do Supremo Tribunal Federal dará conhecimento da decisão ao Presidente da República para, no prazo improrrogável de até 15 (quinze) dias, expedir o decreto interventivo, na forma dos §§ 1º e 3º do art. 36 da Constituição Federal.14 É importante esclarecer, ainda, que, nessa hipótese, a atuação do Presidente da República é vinculada, cabendo a ele a mera formalização de uma decisão tomada pelo Poder Judiciário, que reconheceu a procedência do pedido de intervenção formulado pelo Procurador-Geral da República. Deverá o Chefe do Executivo, portanto, no prazo improrrogável de 15 (quinze) dias, expedir o decreto interventivo. Entretanto, se por um lado é certo que a atuação do Presidente da República, nessa hipótese, é vinculada, por outro não é correto afirmar que de sua atuação sempre redundará intervenção efetiva no ente federado. De fato, o Presidente da República deverá, obrigatoriamente, expedir o decreto interventivo – que nem precisará ser submetido ao Congresso Nacional (afinal, a questão já foi apreciada pelo STF) –, mas tal decreto não necessariamente implicará o afastamento da autonomia do ente federado. Isso porque, consoante o § 3º do art. 36, se a mera suspensão da execução do ato impugnado for suficiente para assegurar o restabelecimento da normalidade, o decreto interventivo editado pelo Chefe do Executivo limitar-se-á a esta providência – suspender a execução do ato local impugnado. Não se terá, dessarte, uma efetiva intervenção, com afastamento da autonomia do ente federado, mas tão só a suspensão do ato local impugnado, isto é, o decreto interventivo será, a rigor, um decreto meramente suspensivo da execução de um ato local. Assim, se a suspensão da execução do ato local bastar ao restabelecimento da normalidade, evita-se a decretação da efetiva intervenção no ente federado, em respeito à sua autonomia política (afinal, o objetivo último de todo o procedimento é o restabelecimento da normalidade no âmbito do ente federado, e não o afastamento de sua autonomia). Entretanto, caso o decreto meramente suspensivo não seja suficiente ao restabelecimento da normalidade, o Presidente da República estará obrigado a executar uma efetiva intervenção, pois se trata de hipótese de requisição, e não de simples solicitação. Por fim, cabe mencionar que a decisão do Supremo Tribunal Federal que julgar procedente ou improcedente o pedido da representação interventiva 14 Lei 12.562/2011, art. 11. Direito Constitucional Descomplicado Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino 7.ª para 8.ª edição formulado pelo Procurador-Geral da República é irrecorrível, não podendo, sequer, ser desconstituída por ação rescisória.15 CAPÍTULO 6 1) No item 3, após o primeiro parágrafo, foi feito o acréscimo do parágrafo abaixo: 3. NORMAS CONSTITUCIONAIS SOBRE ORGANIZAÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ............ O Supremo Tribunal Federal já teve oportunidade de explicitar que se exige lei formal não só para a criação de cargos públicos e a definição das respectivas atribuições, mas também para eventuais alterações dessas atribuições. Por outras palavras, as competências inerentes e caracterizadoras de um cargo público somente podem ser estabelecidas e modificadas por meio de lei formal, sendo inválida a pretensão de utilizar, para tanto, atos administrativos (um decreto ou uma portaria, por exemplo).16 ............... 2) No item 4, foram feitos os acréscimos e substituições abaixo indicados: 4. NORMAS CONSTITUCIONAIS SOBRE INGRESSO NO SERVIÇO PÚBLICO ..................... Mesmo a lei, ao estabelecer os requisitos, deve respeitar os princípios constitucionais, sobretudo o princípio da isonomia, bem como a razoabilidade e proporcionalidade. Vale dizer, é possível o estabelecimento de limitações legais ao acesso de pessoas em situações específicas a determinados cargos, empregos ou funções públicas, desde que o critério para a discriminação seja razoável. Nessa linha, por ocasião da decisão do ARE 640.284/SP, em 16.05.2011, o 15 Lei 12.562/2011, art. 12. 16 Veja-se, entre outros, o MS 26.955/DF, rel. Min. Cármen Lúcia, 01.12.2010 (Informativo 611 do STF). Direito Constitucional Descomplicado Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino 7.ª para 8.ª edição Ministro Gilmar Mendes, citando precedentes, asseverou que “o Supremo Tribunal Federal firmou o entendimento segundo o qual é razoável a exigência de altura mínima para cargos da área de segurança, desde que prevista em lei no sentido formal e material, bem como no edital que regule o concurso” (a controvérsia dizia respeito a concurso para o cargo de guarda municipal, com requisito de altura mínima constando do respectivo edital, porém sem lei que o previsse). Ainda sobre esse ponto, vale mencionar a Súmula 683 do STF, segundo a qual “o limite de idade para a inscrição em concurso público só se legitima em face do art. 7.º, XXX, da Constituição, quando possa ser justificado pela natureza das atribuições do cargo a ser preenchido”. Sobre esse aspecto, vale mencionar a Súmula 683 do STF, segundo a qual “o limite de idade para a inscrição em concurso público só se legitima em face do art. 7.º, XXX, da Constituição, quando possa ser justificado pela natureza das atribuições do cargo a ser preenchido”. Importante orientação jurisprudencial de nossos tribunais diz respeito à impossibilidade de impedir a participação em concurso, ou mesmo a nomeação de candidato aprovado, com base em alegação de “inidoneidade moral”, ou “não atendimento a requisito de bons antecedentes”, ou “ausência de capacitação moral”, ou “reprovabilidade da vida pregressa”, fundada exclusivamente no fato de o candidato estar respondendo a ação penal, ainda não transitada em julgado. Entendem o Supremo Tribunal Federal e o Superior Tribunal de Justiça que esse procedimento da administração pública fere o princípio da presunção de inocência ou presunção da não culpabilidade (“ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória” – CF, art. 5.º, LVII), o qual não se restringe ao âmbito exclusivamente penal, devendo também ser observado na esfera administrativa.17 A Constituição de 1988 tornou obrigatória a aprovação prévia em concurso público – que deve ser de provas, ou de provas e títulos – para o provimento de quaisquer cargos efetivos ou empregos permanentes na Administração Direta e Indireta, inclusive para o preenchimento de empregos nas empresas públicas e sociedades de economia mista (CF, art. 37, II). ................... Durante o prazo improrrogável previsto no edital de convocação, aquele aprovado em concurso público de provas ou de provas e títulos será convocado com prioridade sobre novos concursados para assumir cargo ou emprego, na carreira (CF, art. 37, IV). 17 Do STF: RE 194.872/RS, rel. Min. Marco Aurélio, 07.11.2000; RE-AgR 487.398/MS, rel. Min. Gilmar Mendes, 06.06.2006; RE 634.224/DF, rel. Min. Celso de Mello, 14.03.2011; RE 565.519/DF, rel. Min. Celso de Mello, 13.05.2011. Do STJ: RMS 11.396/PR, rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, 12.11.2007; RMS 13.546/MA, rel. Min. Og Fernandes, 10.11.2009. Direito Constitucional Descomplicado Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino 7.ª para 8.ª edição Conforme a tradicional jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, a aprovação em concurso público, mesmo que houvesse número certo de vagas previsto no edital, não gerava para o candidato direito adquirido à nomeação, mas simples expectativa de direito. Todavia, numa importante decisão, proferida em 2008, a Primeira Turma da Corte Suprema, em votação majoritária, decidiu que, na hipótese de ser anunciado número certo de vagas pelo edital do concurso, fica o Poder Público obrigado ao provimento dessas vagas, se houver candidatos aprovados suficientes para tanto.18 Portanto, nesse julgado, a Primeira Turma do STF, por maioria, divergindo da jurisprudência há muito firmada pela Corte, entendeu que a aprovação em concurso público dentro do número de vagas fixado no edital cria para o candidato direito adquirido à nomeação, e não mera expectativa de direito. Em suma, a orientação hoje existente no âmbito do Supremo Tribunal Federal, segundo nos parece, é que a aprovação em concurso público dentro do número de vagas fixado no edital cria para o candidato direito adquirido à nomeação – e não mera expectativa de direito –, obedecida, evidentemente, a ordem de classificação. Pensamos ser prudente aguardar a confirmação desse entendimento em decisões posteriores, de preferência do Plenário do Tribunal. Importante orientação jurisprudencial foi firmada por nossa Corte Suprema, acerca do direito à nomeação de candidatos aprovados em concursos públicos, no julgamento do RE 598.099/MS, rel. Min. Gilmar Mendes, ocorrido em 10.08.2011 (decisão de mérito com repercussão geral). Nessa ocasião, o Plenário do Supremo Tribunal Federal, por unanimidade, decidiu que o candidato aprovado em concurso público dentro do número de vagas indicado no edital tem direito subjetivo de ser nomeado, observado o prazo de validade do concurso. Por outras palavras, quando a administração pública fixa no edital de um concurso o número certo de vagas a serem preenchidas pelos aprovados, ela tem a obrigação – passível de ser exigida judicialmente, se não cumprida de forma espontânea – de nomear os aprovados, obedecida a ordem de classificação, até o preenchimento completo das vagas previstas (desde que haja suficientes candidatos aprovados, é claro). Ela não é obrigada a nomear imediatamente, nem de uma só vez. Pode efetuar fracionadamente as nomeações, dentro do prazo de validade do concurso, em tantas parcelas quantas julgue convenientes ao interesse público. Não obstante, certo é que, até terminar o prazo de validade previsto no edital – que pode ser prorrogado por uma única vez –, a administração tem a obrigação de nomear os aprovados, até preencher o número de vagas estipulado nesse mesmo 18 RE 227.480/RJ, rel. orig. Min. Menezes Direito, rel. p/ o acórdão Min. Cármen Lúcia, 16.09.2008 (vide Informativo 520 do STF). Direito Constitucional Descomplicado Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino 7.ª para 8.ª edição edital (ou até acabarem os aprovados, caso haja menos aprovados do que o número previsto de vagas). Mister é destacar que, na mesma oportunidade, nosso Pretório Maior deixou assente que, em casos excepcionalíssimos, provocados por circunstâncias supervenientes à publicação do edital, pode ser aceitável que a administração deixe de nomear os aprovados, desde que fundamente pormenorizadamente – e tal decisão administrativa, por óbvio, estará sujeita ao controle judicial, se provocado, no qual pode acontecer de a fundamentação não ser considerada válida. Essa decisão consolidou uma virada jurisprudencial no âmbito da Corte Suprema. Antes, o Tribunal Maior só reconhecia pacificamente a existência de direito adquirido à nomeação no caso do candidato que fosse preterido em razão de desrespeito, por parte da administração pública, à ordem de classificação dos aprovados em concurso. É o que consta da Súmula 15 do STF, aprovada em 13 de dezembro de 1963: 15 – Dentro do prazo de validade do concurso, o candidato aprovado tem o direito à nomeação, quando o cargo for preenchido sem observância da classificação. Portanto, surge direito adquirido à nomeação para o candidato mais bem classificado se a administração nomear antes dele outro candidato que tenha obtido colocação inferior no certame. Vale notar que essa vetusta orientação do Supremo Tribunal Federal não ficou prejudicada pela jurisprudência firmada no julgamento do RE 598.099/MS, ocorrido em 10 de agosto de 2011, segundo a qual têm direito subjetivo à nomeação todos os candidatos aprovados dentro do número de vagas especificado no edital do concurso público. Com efeito, os dois entendimentos jurisprudenciais coexistem, uma vez que a Súmula 15 do STF tem aplicação em qualquer caso, haja ou não vagas certas definidas no edital, tenham ou não as nomeações ocorrido dentro do número incialmente previsto de vagas (se houver). Absolutamente incontroversa, diferentemente, é a situação do candidato que tem preterido o seu direito de que seja observada pela Administração Pública a ordem de classificação dos aprovados no concurso, ao efetuar as respectivas nomeações. É clara a esse respeito a vetusta Súmula 15 do STF: 15 – Dentro do prazo de validade do concurso, o candidato aprovado tem o direito à nomeação, quando o cargo for preenchido sem observância da classificação. Uma questão importante concerne à possibilidade de impugnação judicial dos Direito Constitucional Descomplicado Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino 7.ª para 8.ª edição gabaritos divulgados em um determinado concurso público (se estão ou não corretos, se deveriam ser alterados), bem como dos critérios de correção das questões e de atribuição de notas adotados pela respectiva banca examinadora. Há muito está consolidada, no âmbito da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, que esse tipo de análise implicaria controle do mérito administrativo, e não controle de legalidade. Por isso, entende nossa Corte Suprema que é incabível o Poder Judiciário verificar se estão corretos os gabaritos apresentados para as questões, bem como apreciar se são adequados os critérios de correção e de atribuição de notas. Conforme muitas vezes reiterou o Pretório Excelso, “não cabe ao Poder Judiciário, no controle jurisdicional da legalidade, substituir-se à banca examinadora do concurso público para reexaminar os critérios de correção das provas e o conteúdo das questões formuladas”.19 Uma discussão importante concerne à possibilidade de impugnação judicial dos gabaritos divulgados em um determinado concurso público (se estão ou não corretos, se deveriam ser alterados, se a questão deveria ser anulada), bem como dos critérios de correção das questões e de atribuição de notas adotados pela respectiva banca examinadora. Tradicionalmente, a doutrina e o Poder Judiciário costumam defender que a apreciação do ato administrativo que divulga os gabaritos finais do concurso, com as respectivas alterações ou mesmo anulações de questões, configura controle do mérito administrativo desse ato, e não controle de legalidade. Por essa razão, o Poder Judiciário de um modo geral, inclusive o Supremo Tribunal Federal, entende que é incabível a propositura de ações judiciais que impugnem a correção dos gabaritos apresentados para as questões ou a adequação dos critérios de avaliação das questões ou de atribuição de notas. Conforme muitas vezes reiterou o Pretório Excelso, “não cabe ao Poder Judiciário, no controle jurisdicional da legalidade, substituir-se à banca examinadora do concurso público para reexaminar os critérios de correção das provas e o conteúdo das questões formuladas”.20 Muito embora seja essa, realmente, a orientação ortodoxa existente até hoje em nossos meios jurídicos, julgamos muito importante registrar que se vislumbra uma razoável possibilidade de que o Supremo Tribunal Federal modifique sua jurisprudência e passe a admitir a anulação de questões, pelo Poder Judiciário, quando, na ação judicial, se comprove, por exemplo, que determinado gabarito divulgado estava objetivamente incorreto, ou que duas assertivas distintas estavam igualmente corretas em uma questão de múltipla escolha do tipo “marque a alternativa certa”. 19 Citamos, dentre muitos outros, os seguintes julgados em que essa orientação foi reiterada: RE-AgR 243.056/CE, rel. Min. Ellen Gracie, 06.03.2001; AI-AgR 500.416/ES, rel. Min. Gilmar Mendes, 24.08.2004; RE-AgR 560.551/RS, rel. Min. Eros Grau, 17.06.2008; MS 27.260/DF, red. p/ o acórdão Min. Cármen Lúcia, 29.10.2009; AO 1.627/BA, rel. Min. Cármen Lúcia, 25.11.2010 (DJe 231, de 30.11.2010). 20 Citamos, dentre muitos outros, os seguintes julgados em que essa orientação foi reiterada: RE-AgR 243.056/CE, rel. Min. Ellen Gracie, 06.03.2001; RE-AgR 560.551/RS, rel. Min. Eros Grau, 17.06.2008; MS 27.260/DF, red. p/ o acórdão Min. Cármen Lúcia, 29.10.2009; AO 1.627/BA, rel. Min. Cármen Lúcia, 25.11.2010. Direito Constitucional Descomplicado Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino 7.ª para 8.ª edição A repercussão geral desse tema foi reconhecida pela nossa Corte Suprema no âmbito do RE 632.853/CE, rel. Min. Gilmar Mendes, e, na decisão que reconheceu a repercussão geral, proferida em 07.10.2011, o Supremo Tribunal Federal “não reafirmou a jurisprudência dominante sobre a matéria, que será submetida a posterior julgamento”. Em suma, somente quando ocorrer o julgamento definitivo de mérito do RE 632.853/CE é que poderemos afirmar, com segurança, a jurisprudência pacificada acerca desse relevante assunto. Outra situação, relacionada à que acabamos de expor – mas não igual –, concerne à possibilidade de ser verificado se o conteúdo cobrado em determinada questão está incluído entre os assuntos enumerados no programa de disciplinas constante do edital do concurso. Nesse caso, diferentemente daquele que vimos anteriormente, o entendimento do Supremo Tribunal Federal é de que a análise se enquadra no campo do controle de legalidade – e não de mérito administrativo –, sendo passível, portanto, de ser realizada pelo Poder Judiciário, para o fim de anular as questões do concurso em que sejam cobradas matérias não previstas no respectivo edital. É mister transcrever, nessa linha, exemplificativamente, a ementa do RE 434.708/RS, rel. Min. Sepúlveda Pertence, julgado em 21.06.2005 (grifamos):21 Outra situação, relacionada à que acabamos de expor – mas não igual –, concerne à possibilidade de ser verificado se o conteúdo cobrado em determinada questão está incluído entre os assuntos enumerados no programa de disciplinas constante do edital do concurso. Nesse caso, o Supremo Tribunal Federal já definiu que a análise se enquadra no campo do controle de legalidade – e não de mérito administrativo –, sendo passível, portanto, de ser realizada pelo Poder Judiciário, para o fim de anular as questões do concurso em que sejam cobradas matérias não previstas no respectivo edital. É mister transcrever, nessa linha, exemplificativamente, a ementa do RE 434.708/RS, rel. Min. Sepúlveda Pertence, julgado em 21.06.2005 (grifamos):22 Concurso público: controle jurisdicional admissível, quando não se cuida de aferir da correção dos critérios da banca examinadora, na formulação das questões ou na avaliação das respostas, mas apenas de verificar que as questões formuladas não se continham no programa do certame, dado que o edital – nele incluído o programa – é a lei do concurso. .................. É relevante registrar que o Supremo Tribunal Federal, em decisão histórica, prestigiando sobremaneira os princípios constitucionais que orientam a atuação da 21 A mesma posição foi sustentada, entre outros, no RE-AgR 526.600/SP, rel. Min. Sepúlveda Pertence, 12.06.2007, e no RE-AgR 440.335/RS, rel. Min. Eros Grau, 17.06.2008. 22 A mesma posição foi sustentada, entre outros, no RE-AgR 526.600/SP, rel. Min. Sepúlveda Pertence, 12.06.2007, e no RE-AgR 440.335/RS, rel. Min. Eros Grau, 17.06.2008. Direito Constitucional Descomplicado Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino 7.ª para 8.ª edição Administração Pública como um todo, sobretudo os postulados da moralidade administrativa e da impessoalidade, considerou ofensiva à Constituição a prática do denominado nepotismo (nomeação de parentes, consanguíneos ou por afinidade, para cargos em comissão e funções de confiança).23 Conforme o entendimento de nossa Corte Suprema, a vedação ao nepotismo, inclusive ao chamado “nepotismo cruzado” (dois agentes públicos, em conluio, nomeiam familiares um do outro), não depende de lei formal para ser implementada; tal proibição decorre, diretamente, dos princípios expressos no art. 37, caput, da Carta de 1988, devendo ser observada por todos os Poderes da República e por todos os entes da Federação. A partir dessa orientação, editou a Súmula Vinculante 13, cuja redação transcrevemos: 13 – A nomeação de cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral ou por afinidade, até o terceiro grau, inclusive, da autoridade nomeante ou de servidor da mesma pessoa jurídica, investido em cargo de direção, chefia ou assessoramento, para o exercício de cargo em comissão ou de confiança, ou, ainda, de função gratificada na Administração Pública direta e indireta, em qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos municípios, compreendido o ajuste mediante designações recíprocas, viola a Constituição Federal. É importante ressalvar, consoante o entendimento explicitado pela nossa Corte Suprema nos julgamentos que deram origem à Súmula Vinculante 13, que a vedação ao nepotismo não alcança a nomeação para cargos políticos. Dessa forma, por exemplo, um prefeito de município pode nomear o seu sobrinho para o cargo político de secretário municipal; um governador de estado pode nomear o seu filho para o cargo político de secretário estadual. Entretanto – ainda exemplificando –, o mesmo governador não pode nomear qualquer parente seu alcançado pela súmula (pais, avós, filhos, tios, irmãos, sobrinhos, sogros e cunhados) para o cargo meramente administrativo de assessor jurídico do gabinete do secretário de fazenda do estado. É importante ressalvar – embora não esteja explicitado no texto da Súmula Vinculante 13 – que, em um dos precedentes que a ela deram origem (o RE 579.951/RN), afirmou o Supremo Tribunal Federal que, em regra, a vedação ao nepotismo não alcança a nomeação para cargos políticos. Essa orientação foi reiterada, mais tarde, no julgamento de medida cautelar na Rcl 6.650/PR (16.10.2008). Exemplificando, um prefeito de município, em princípio, pode nomear o seu sobrinho para o cargo político de secretário municipal; um governador de estado, em regra, pode nomear o seu filho para o cargo político de secretário estadual. Entretanto – ainda a título ilustrativo –, o mesmo governador não pode nomear parentes (até o terceiro grau) para o cargo meramente administrativo de 23 ADC 12/DF, rel. Min. Carlos Britto, 20.08.2008; RE 579.951/RN, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 20.08.2008. Direito Constitucional Descomplicado Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino 7.ª para 8.ª edição assessor jurídico do gabinete do secretário de fazenda do estado. Não obstante esses dois julgados, ao apreciar pedido de medida cautelar na Rcl 12.478/RJ, em 03.11.2011, o Ministro Joaquim Barbosa, em decisão monocrática, afastou do cargo o Secretário de Educação do Município de Queimados (RJ), nomeado pelo seu irmão, o prefeito municipal. Segundo o Ministro Joaquim Barbosa, o entendimento firmado pelo STF nos dois julgados antes mencionados (RE 579.951/RN e Rcl 6.650/PR) foi de que a nomeação de parentes para cargos políticos nem sempre descaracteriza o nepotismo. Seria necessária a verificação das particularidades de cada caso concreto. Por exemplo, se restasse demonstrado que a nomeação se deu exclusivamente por causa do parentesco (o nomeado não possui qualquer qualificação profissional, curricular ou técnica que justifique a sua escolha), ou como uma troca de favores, ela seria ilícita, configurando o nepotismo, com violação da Súmula Vinculante 13. Enfim, parece-nos acertado afirmar que a regra geral é não configurar nepotismo a nomeação de parentes para cargos políticos, mas, dependendo das circunstâncias do caso concreto, poderá a nomeação ser assim considerada, hipótese em que será ilícita, por afronta à Súmula Vinculante 13. Vejamos como serão as futuras decisões do STF sobre esse ponto. O inciso IX do art. 37 da CF/1988 prevê uma outra forma de admissão de pessoal pela Administração Pública, diversa do preenchimento de cargos efetivos e empregos públicos mediante concurso público, e diversa da nomeação para cargos em comissão. Trata-se da contratação por tempo determinado, para atender necessidade temporária de excepcional interesse público. .............. 3) No item 5.3, ao final, foram feitos o acréscimo e a substituição abaixo indicados: 5.3. Direito de greve dos servidores públicos ............... Um ponto relevante esclarecido por nossa Corte Suprema quanto à aplicação da Lei 7.783/1989 às greves realizadas por servidores públicos diz respeito à possibilidade de a administração pública proceder, mediante ato próprio, ao desconto da remuneração correspondente aos dias de paralisação. Em diversas oportunidades, asseverou o STF que é aplicável à greve no serviço público o art. 7.º da Lei 7.783/1989, segundo o qual a adesão do trabalhador ao movimento, em princípio, acarreta a suspensão do seu contrato de trabalho. Embora servidores públicos estatutários não tenham contrato de trabalho, nosso Tribunal Excelso firmou a orientação de que o citado artigo legal deve ser aplicado para o efeito de determinar, como regra geral, o desconto da remuneração dos dias não Direito Constitucional Descomplicado Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino 7.ª para 8.ª edição trabalhados pelos servidores grevistas, procedimento passível de ser levado a cabo pela própria administração.24 Por outro lado, o Supremo Tribunal Federal entende que ferem a Carta de 1988 disposições normativas que estabeleçam sanções administrativas diferenciadas para o servidor que esteja em estágio probatório, pelo simples fato de ele haver aderido a greve. Entende o Pretório Excelso que não existe, na Constituição Federal, base para que se faça distinção entre servidores em estágio probatório e os demais, em função de participação em movimentos grevistas.25 Por fim, anotamos que o direito de greve é vedado aos militares, sem qualquer exceção, nos termos do art. 142, IV, da Constituição Federal. Por fim, convém repisar que o direito de greve é vedado aos militares, sem nenhuma exceção, nos termos do art. 142, § 3º, inciso IV, da Carta de 1988. E o Supremo Tribunal Federal já decidiu que a proibição à greve deve ser estendida aos membros das polícias civis, muito embora, como é óbvio, eles não sejam militares, nem estejam regidos pelo art. 142 da Constituição da República.26 4) No item 5.9, foram feitos os acréscimos e substituições abaixo indicados: 5.9. Regime de previdência dos servidores públicos .................... É também vedada a adoção de requisitos e critérios diferenciados para a concessão de aposentadoria aos abrangidos pelo regime próprio de previdência dos estatutários, ressalvados, nos termos definidos em leis complementares, os casos de servidores (art. 40, § 4.º): a) portadores de deficiência; b) que exerçam atividades de risco; c) cujas atividades sejam exercidas sob condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física. As leis complementares previstas no § 4º do art. 40 do Texto Magno não foram editadas até hoje. Em face da omissão do legislador no cumprimento de 24 Rcl-MC 6.200/RN, rel. Min. Cezar Peluso, 29.01.2009; RE 539.042/DF, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 01.02.2010; RE 456.530/SC, rel. Min. Joaquim Barbosa, 13.05.2010; AI 799.041/MG, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 18.05.2010. 25 ADI 3.235/AL, red. p/ o acórdão Min. Gilmar Mendes, 04.02.2010. 26 Rcl 6.568/SP, rel. Min. Eros Grau, 21.05.2009; AC 3.034/DF, rel. Min. Cezar Peluso, 16.11.2011. Direito Constitucional Descomplicado Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino 7.ª para 8.ª edição sua função de regulamentar esse dispositivo constitucional, muitos servidores públicos vêm impetrando mandados de injunção, pleiteando ordens judiciais que lhes assegurem o concreto exercício do direito constitucionalmente assegurado. Um desses casos foi o de uma servidora pública da área de saúde (auxiliar de enfermagem) cujo pedido de aposentadoria especial pelo exercício de atividade insalubre fora indeferido pela administração pública, sob a alegação de que não se poderia aplicar a ela o § 4º do art. 40 da Constituição, por inexistência da regulamentação legal nele mesmo exigida. No mandado de injunção por ela impetrado, a auxiliar de enfermagem pedia que fosse suprida a falta da norma regulamentadora a que se refere § 4º do art. 40, a fim de possibilitar o exercício do seu direito à aposentadoria especial, em razão de ter trabalhado por mais de 25 anos em atividade considerada insalubre. Em meados de 2007, o Supremo Tribunal Federal, por unanimidade, deferiu ordem nesse mandado de injunção, determinando que a administração pública adotasse, para a servidora, as regras de aposentadoria especial do regime geral de previdência social, constantes do art. 57 da Lei 8.213/1991, a fim de possibilitar concretamente o exercício, pela impetrante, do direito previsto no inciso III do § 4º do art. 40 da Carta Política.27 Como se vê, nessa ação de mandado de injunção, a Corte Suprema atribuiu à sua decisão a eficácia propugnada pela denominada posição concretista individual: a decisão judicial possibilita a concretização do exercício do direito constitucional, mas apenas para o autor da ação (eficácia inter partes). Posteriormente a esse julgado, o Pretório Excelso decidiu uma grande quantidade de mandados de injunção da mesma forma: determinando à administração pública que analise os pedidos de deferimento de aposentadoria especial por exercício de atividade considerada insalubre apresentados pelos servidores impetrantes adotando, nessa análise, as regras de aposentadoria especial existentes para o regime geral de previdência social, vazadas no art. 57 da Lei 8.213/1991, a fim de suprir a falta da regulamentação que o § 4º do art. 40 da Constituição exige para ser aplicado.28 Ainda, seguindo a mesma orientação, o Supremo Tribunal Federal, em outros mandados de injunção – inclusive em mandado de injunção coletivo –, determinou que fosse observado pela administração o art. 57 da Lei 8.213/1991 na análise de pedidos de aposentadoria especial formulados por servidores portadores de deficiência, suprindo, assim, nos casos concretos respectivos, a falta da lei complementar que deveria regulamentar o inciso I do § 4º do art. 40 da Constituição.29 É interessante salientar que o art. 57 da Lei 8.213/1991, utilizado 27 MI 721/DF, rel. Min. Marco Aurélio, 30.08.2007; vide Informativo 477 do STF. 28 Vejam-se, entre muitos outros: MI 788/DF; MI 795/DF; MI 879/DF; MI 905/DF; MI 998/DF, todos julgados na sessão plenária de 15.04.2009. Ainda: MI 1.083/DF; MI 1.182/DF; MI 1.660/DF; MI 1.835/DF, todos julgados na sessão plenária de 02.08.2010. 29 MI 1.967/DF, rel. Min. Celso de Mello, 24.05.2011; MI 3.322/DF, rel. Min. Celso de Mello, 01.06.2011. Direito Constitucional Descomplicado Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino 7.ª para 8.ª edição por analogia pela Corte Suprema, nem mesmo faz referência a trabalhadores portadores de deficiência, mas, tão somente, garante aposentadoria especial ao segurado do INSS que tenha exercido sua atividade “sujeito a condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física”. Não obstante essa restrição, vazada no § 4.º do art. 40 da Carta Política, o Supremo Tribunal Federal possui jurisprudência consolidada segundo a qual os agentes públicos que estavam sujeitos ao regime celetista antes da Constituição de 1988 e, por força da exigência de regime jurídico único introduzida com a promulgação dela, foram transformados em servidores estatutários têm direito adquirido a contagem especial do tempo de serviço prestado como celetistas em condições insalubres, perigosas ou penosas, nos termos estabelecidos na legislação à época aplicável.30 Os proventos de aposentadoria serão calculados a partir das remunerações utilizadas como base para as contribuições do servidor tanto ao regime próprio quanto, se for o caso, ao regime geral (art. 40, § 3.º). A forma de cálculo deverá ser estabelecida em lei. ................... CAPÍTULO 7 1) No item 3.2.1 foi feito, ao final, o seguinte acréscimo: 3.2.1. Sistema proporcional .................. Por fim, ainda a respeito do sistema proporcional, o Supremo Tribunal Federal enfrentou relevante questão: em se tratando de candidato eleito por coligação partidária, se houver vacância, deverá ser convocado para ocupar a vaga o candidato mais votado da coligação (independentemente do partido a que pertença) ou do partido político daquele candidato que originou a vacância? Suponha-se que em determinada eleição para o cargo de deputado federal uma coligação partidária composta pelos partidos A, B e C tenha obtido direito a 30 RE 258.327/PB, rel. Min. Ellen Gracie, 09.12.2003; RE 255.827/SC, rel. Min. Eros Grau, 25.10.2005; AI-AgR 398.502/SC, rel. Min. Gilmar Mendes, 24.10.2006; RE-AgR 473.895/RS, rel. Min. Sepúlveda Pertence, 14.11.2006; RE 539.103/PB, rel. Min. Cármen Lúcia, 17.10.2008. Direito Constitucional Descomplicado Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino 7.ª para 8.ª edição uma vaga na Câmara dos Deputados, ocupada pelo candidato Pedro, o mais votado, do partido C. Para sua suplência, restaram três outros candidatos da coligação, com as seguintes votações: João, do partido A (50.000 votos); Antônio, do partido B (30.000 votos); e Carlos, do partido C (20.000 votos). Meses após a sua posse, Pedro renuncia ao mandato. Nessa situação, a quem caberia a vaga, decorrente da renúncia de Pedro? Ao próximo da lista do partido de Pedro, ou da lista da coligação partidária? De acordo com o entendimento do STF, a vaga pertence à coligação (e não ao partido político do candidato que deu origem à vaga), razão pela qual, no nosso exemplo, o candidato convocado seria João.31 2) No item 8.1, foi feito o acréscimo abaixo indicado: 8.1. Tribunal de Contas da União ................... É oportuno registrar que o Supremo Tribunal Federal editou a Súmula Vinculante 3, acerca da abrangência do direito ao contraditório e ampla defesa nos processos que tramitam no TCU, cujo enunciado transcrevemos a seguir: 3 – Nos processos perante o Tribunal de Contas da União asseguram-se o contraditório e a ampla defesa quando da decisão puder resultar anulação ou revogação de ato administrativo que beneficie o interessado, excetuada a apreciação da legalidade do ato de concessão inicial de aposentadoria, reforma e pensão. Essa ressalva constante da parte final da Súmula Vinculante 3 merece uma explicação, tendo em vista certa mitigação ao seu alcance imposta pela jurisprudência do Supremo Tribunal Federal. Observe-se que, pela exceção indicada na parte final do enunciado da Súmula Vinculante 3, acima transcrita (“excetuada a apreciação da legalidade do ato de concessão inicial de aposentadoria, reforma e pensão”), o Tribunal de Contas da União não está obrigado a assegurar o contraditório e a ampla defesa ao interessado nos processos em que houver decisão que resulte em anulação ou revogação de aposentadoria, reforma ou pensão decorrente de ilegalidade verificada no ato de concessão inicial. 31 MS 30.260/DF, rel. Min. Cármen Lúcia, 27.04.2011. Direito Constitucional Descomplicado Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino 7.ª para 8.ª edição Acontece, porém, que não há prazo limite para que o Tribunal de Contas da União examine a legalidade desses atos concessivos de aposentadorias, reformas e pensões. Na prática, significa dizer que a publicação do ato concessivo de aposentadoria, reforma ou pensão pela administração pública não gera, por si, direito adquirido ao beneficiário. Com efeito, nada impede que três, cinco, oito ou onze anos depois venha o Tribunal de Contas da União, ao examinar a validade de tal ato, reconhecer a sua ilegalidade e determinar a sua anulação, com a consequente cessação do pagamento do benefício. Em face dessa realidade, e considerando os princípios do devido processo legal, da boa-fé e da segurança jurídica, o Supremo Tribunal Federal fixou o prazo de cinco anos para que a Corte de Contas realize esse exame sem a necessidade de assegurar o direito de defesa ao interessado.32 Assim, durante esse prazo de cinco anos, a ilegalidade do ato poderá ser apontada pelo Tribunal e Contas, com a consequente cessação do pagamento do benefício, sem necessidade de oportunizar o contraditório e a ampla defesa ao beneficiário. Porém, esgotado esse prazo sem a manifestação do Tribunal de Contas da União, no posterior exame da legalidade do ato concessivo deverão obrigatoriamente ser asseguradas ao interessado as garantias constitucionais do contraditório e da ampla defesa. O STF deixou assente, ainda, que esse prazo de cinco anos deve ser contado a partir da data de chegada do processo administrativo à Corte de Contas.33 A fim de assegurar efetividade ao desempenho de suas atribuições, dispõe a Constituição que as decisões do Tribunal de Contas da União de que resulte imputação de débito ou multa têm eficácia de título executivo, isto é, consubstanciam instrumento idôneo para instruir e subsidiar o processo de execução do devedor perante o Poder Judiciário (art. 71, § 3.º). ..................... CAPÍTULO 8 1) No item 3.1.5, foi feita a substituição abaixo indicada: 32 MS 25.116/DF, rel. Min. Carlos Britto, 09.02.2006. 33 MS 24.781/DF, red. p/ o acórdão Min. Gilmar Mendes, 02.03. 2011. Direito Constitucional Descomplicado Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino 7.ª para 8.ª edição 3.1.5. Iniciativa dos tribunais do Poder Judiciário ............... Cabe ao Tribunal de Justiça a iniciativa da lei de organização judiciária do respectivo estado (CF, art. 125, § 1.º). Cabe ao Tribunal de Justiça a iniciativa da lei de organização judiciária do respectivo estado (CF, art. 125, § 1º), bem como de leis que versem sobre organização de serventias extrajudiciais.34 ................ CAPÍTULO 11 1) No item 11.1, foram feitos o acréscimo e a substituição abaixo indicados: 11.1. Competências ................ A Emenda Constitucional 45/2004 revogou a alínea “h” do inciso I do art. 102 da Constituição Federal, que estabelecia a competência originária do Supremo Tribunal Federal para a homologação das sentenças estrangeiras e a concessão do exequatur às cartas rogatórias. Assim, não cabe mais ao Supremo Tribunal Federal proferir o despacho que ordena a exequibilidade, no Brasil, de diligência judicial oriunda do estrangeiro. Essa competência foi repassada ao Superior de Tribunal de Justiça,35 ao qual caberá dar o despacho de exequibilidade às cargas rogatórias oriundas das justiças estrangeiras para que, ulteriormente, os juízes federais processem e julguem a execução dessas cartas rogatórias (CF, art. 109, X). Compete ao Supremo Tribunal Federal processar e julgar, originariamente, litígios entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e a União, estados, o Distrito Federal ou Territórios Federais (CF, art. 102, I, “e”). Observe-se que essa competência da Corte Suprema não alcança o julgamento de litígio entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e município brasileiro. Se a disputa 34 ADI 2.415/SP, rel. Min. Ayres Britto, 22.09.2011. 35 CF, art. 105, I, “i”. Direito Constitucional Descomplicado Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino 7.ª para 8.ª edição judicial for entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e município brasileiro, a competência para julgar cabe à Justiça Federal de primeira instância, conforme estabelece o artigo 109, inciso II, da Constituição Federal.36 Estabelece a Constituição Federal que compete ao Supremo Tribunal Federal processar e julgar, originariamente, as causas e os conflitos entre a União e os estados, a União e o Distrito Federal, ou entre uns e outros, inclusive as respectivas entidades da administração indireta (art. 102, I, “f”). Embora a Constituição Federal não estabeleça distinção quanto às espécies de controvérsias travadas entre as entidades mencionadas, a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal desenvolveu uma redução teleológica do alcance literal desse dispositivo constitucional, de forma a restringir a sua competência originária, nos termos examinados nos parágrafos seguintes. ................... Vale destacar que restará afastada a competência do Supremo Tribunal Federal se o conflito envolver qualquer das pessoas jurídicas mencionadas e um município, embora este seja também um ente federado. Em decorrência da criação do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), a EC 45/2004 acrescentou ao inciso I do art. 102 da Constituição Federal a alínea “r”, que outorga ao STF competência originária para processar e julgar “as ações contra o Conselho Nacional de Justiça e contra o Conselho Nacional do Ministério Público”. Essa competência refere-se a ações contra os respectivos colegiados (decisões colegiadas), e não àquelas em que se questione a responsabilidade pessoal de um ou mais conselheiros. Em decorrência da criação do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), a EC 45/2004 acrescentou ao inciso I do art. 102 da Constituição Federal a alínea “r”, que outorga ao STF competência originária para processar e julgar “as ações contra o Conselho Nacional de Justiça e contra o Conselho Nacional do Ministério Público”. Vale destacar, porém, que essa competência refere-se a ações contra os respectivos colegiados (decisões colegiadas do CNJ ou do CNMP), e não àquelas em que se questione a responsabilidade pessoal de um ou mais conselheiros desses órgãos. Ademais, mesmo em relação às decisões colegiadas, o STF não dispõe de competência para processar e julgar toda e qualquer demanda em que se discuta ato do CNJ ou CNMP. Isso porque esses órgãos integram a União e, assim, é a União, representada pela Advocacia-Geral da União, a pessoa legitimada a figurar no polo passivo de ações ordinárias em que se questionem 36 Rcl 10.920/PR, rel. Min. Celso de Mello, 01.09.2011. Direito Constitucional Descomplicado Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino 7.ª para 8.ª edição atos do CNJ ou CNMP, as quais serão julgadas pela Justiça Federal. A competência do STF para processar e julgar, originariamente, restringe-se àquelas ações em que o próprio CNJ ou o próprio CNMP, ou o respectivo presidente, figura no polo passivo como autoridade impetrada, em defesa dos atos e prerrogativas do órgão, tal qual ocorre no mandado de segurança, no mandado de injunção e no habeas data ajuizados contra atos desses conselhos.37 No tocante aos conflitos de competência, estabelece a Constituição que compete ao Supremo Tribunal Federal processar e julgar, originariamente, os conflitos de competência entre o Superior Tribunal de Justiça e quaisquer tribunais, entre Tribunais Superiores, ou entre estes e qualquer outro tribunal.38 ....................... CAPÍTULO 12 1) Antes do último parágrafo do item 2.8, foi acrescentado o parágrafo abaixo indicado: 2.8. Vedações constitucionais ................... Os membros do Ministério Público não podem ser nomeados para cargos em comissão e funções de confiança, exceto se inseridos na estrutura organizacional do próprio órgão.39 Aos membros do Ministério Público também é vedado exercer a advocacia no juízo ou tribunal em que desempenhava suas funções, antes de decorridos três anos do afastamento do cargo por aposentadoria ou exoneração (CF, art. 128, § 6.º). 37 ACO 1.680/AL e ACO 1.704/DF, rel. Min. Ayres Britto, 07.02.2011. 38 CF, art. 102, I, “o”. 39 ADI 2.622/RO, rel. Min. Cezar Peluso, 10.11.2011. Direito Constitucional Descomplicado Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino 7.ª para 8.ª edição CAPÍTULO 13 1) No item 12.2.2, foi feita a substituição abaixo indicada: 12.2.2. Legitimação ativa .................. Assim, repita-se, dentre todos os legitimados, somente os partidos políticos com representação no Congresso Nacional e as confederações sindicais ou entidades de classe de âmbito nacional precisam de advogado para o ajuizamento da ação. Os demais legitimados poderão propor a ação direta perante o Supremo Tribunal Federal sem necessidade de estarem representados por advogado. Nada impede, porém, que um legitimado opte pela propositura da ação mediante representação advocatícia própria (o Presidente da República poderá fazê-lo por intermédio do Advogado-Geral da União; o Governador, por intermédio do Procurador-Geral do Estado). Entretanto, nesse caso, o STF exige a outorga de procuração específica (isto é, uma nova procuração a cada ação proposta, autorizando a impugnação dos dispositivos especificados). Com efeito, sempre que subscrita por advogado, a petição inicial deverá ser acompanhada de instrumento de procuração específica, da qual conste expressamente a lei ou os dispositivos a ser impugnados.40 Nada impede, porém, que um legitimado opte pela propositura da ação mediante representação advocatícia própria. Nesse caso, o STF exige a outorga de procuração específica (isto é, uma nova procuração a cada ação proposta, autorizando a impugnação dos dispositivos especificados). Com efeito, sempre que subscrita por advogado, a petição inicial deverá ser acompanhada de instrumento de procuração específica, da qual conste expressamente a lei ou os dispositivos a ser impugnados.41 Entretanto, em se tratando da legitimação do chefe do Poder Executivo, entende o STF que bastará a assinatura do respectivo procurador-geral, haja vista que este dispõe de poderes para atuar na defesa do ente federado. Desse modo, em se tratando de ADI proposta pelo Governador de Estado, não haverá necessidade da assinatura deste, desde que a peça inicial tenha sido subscrita pelo Procurador-Geral do Estado.42 O partido político com representação no Congresso Nacional dispõe de legitimidade ativa para a instauração do processo de fiscalização abstrata de 40 Lei 9.868/1999, art. 3.º, parágrafo único. 41 Lei 9.868/1999, art. 3.º, parágrafo único. 42 ADI 2.906/RJ, rel. Min. Marco Aurélio, 01.06.2011. Direito Constitucional Descomplicado Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino 7.ª para 8.ª edição constitucionalidade, podendo ajuizar ADI perante o Supremo Tribunal Federal, qualquer que seja o número de representantes da agremiação partidária nas Casas do Poder Legislativo da União (para fazer jus à legitimação, basta que o partido político tenha um representante em uma das Casas do Congresso Nacional). ...................... 2) No item 12.2.12, foi feita a substituição abaixo indicada: 12.2.12. Admissibilidade de amicus curiae ............................ Quanto ao momento processual de admissão do amicus curiae, o Supremo Tribunal Federal entende que esta deve ocorrer até a entrada do processo em pauta de julgamento. Depois que é concluída a instrução, ouvida a Procuradoria-Geral da República e encerrada a participação do relator, com o encaminhamento do processo para ser incluído em pauta, não cabe mais o ingresso de amigos da corte. Entretanto, sua manifestação poderá ocorrer posteriormente à instrução, já na fase do julgamento, haja vista que o STF passou a aceitar, em casos determinados, a sustentação oral do amicus curiae durante a sessão de julgamento.43 Cabe ressaltar que os órgãos e entidades interessados não têm direito subjetivo ao ingresso no processo de ação direta na qualidade de amicus curiae. Poderão eles solicitar o ingresso ao Ministro relator, mas cabe a este deferir (ou não) o pedido, em despacho irrecorrível, levando em conta a relevância da matéria e a representatividade dos requerentes. Ademais, segundo a jurisprudência do STF, a admissão de terceiros na qualidade de amicus curiae não lhes assegura o direito à interposição de recursos no respectivo processo de ação direta de inconstitucionalidade. Para o Tribunal, “não são cabíveis os recursos interpostos por terceiros estranhos à relação processual nos processos objetivos de controle de constitucionalidade, nesses incluídos os que ingressam no feito na qualidade de amicus curiae”.44 Portanto, os não legitimados intervenientes no processo de ação direta, na condição de amicus curiae, não poderão, por exemplo, interpor embargos de declaração em face da decisão definitiva de mérito prolatada pelo Supremo Tribunal Federal. Cabe ressaltar que os órgãos e entidades interessados não têm direito subjetivo ao ingresso no processo de ação direta na qualidade de amicus curiae. Poderão eles solicitar o ingresso ao ministro relator, mas cabe a este deferir (ou 43 ADI 2.548/PR, rel. Min. Gilmar Mendes, 18.10.2005. 44 ADI-ED 3.615/PB, rel. Min. Cármen Lúcia, 17.03.2008. Direito Constitucional Descomplicado Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino 7.ª para 8.ª edição não) o pedido, levando em conta a relevância da matéria e a representatividade dos requerentes. Em caso de deferimento, o despacho é irrecorrível; se o relator indeferir o pedido, o postulante poderá recorrer (agravo).45 Ademais, segundo a jurisprudência do STF, a admissão de terceiros na qualidade de amicus curiae não lhes assegura o direito à interposição de recursos no respectivo processo de ação direta de inconstitucionalidade. Para o Tribunal Supremo, “não são cabíveis os recursos interpostos por terceiros estranhos à relação processual nos processos objetivos de controle de constitucionalidade, nesses incluídos os que ingressam no feito na qualidade de amicus curiae”.46 Portanto, os não legitimados intervenientes no processo de ação direta, na condição de amicus curiae, não poderão, por exemplo, interpor embargos de declaração em face da decisão de mérito prolatada pelo Supremo Tribunal Federal. O ingresso de órgãos e entidades não legitimados pelo art. 103 da Constituição Federal, na qualidade de amicus curiae, tem sido largamente admitido pelo Supremo Tribunal Federal nos processos de natureza abstrata, dada a sua natureza eminentemente objetiva. ........................... CAPÍTULO 15 1) No item 4.9.1, foram feitos a substituição e o acréscimo abaixo indicados: 4.9.1. Imunidades previstas no art. 150 da Constituição Federal ................ Em suma, pensamos poder concluir que, segundo o entendimento do Supremo Tribunal Federal, a imunidade tributária recíproca, constitucionalmente prevista no art. 150, VI, “a”, e seu § 2.º, alcança as empresas públicas e as sociedades de economia mista prestadoras de serviços públicos de prestação obrigatória pelo Poder Público. 45 ADPF 187/DF, rel. Min. Celso de Mello, 15.6.2011. 46 ADI-ED 3.615/PB, rel. Min. Cármen Lúcia, 17.03.2008. Direito Constitucional Descomplicado Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino 7.ª para 8.ª edição Em suma, pensamos poder concluir que, segundo o entendimento do Supremo Tribunal Federal, a imunidade tributária recíproca, prevista no art. 150, VI, “a”, da Constituição da República, alcança as empresas públicas e as sociedades de economia mista prestadoras de serviços públicos de prestação obrigatória pelo Estado. A rigor, especificamente em relação às empresas públicas, a questão já foi pacificada no âmbito do Tribunal Maior, com repercussão geral reconhecida, no julgamento do ARE-RG 638.315/BA, rel. Min. Cezar Peluso, ocorrido em 09.06.2011. ............... Esse ponto específico está, hoje, expresso na Súmula 657 do STF, abaixo reproduzida: 657 – A imunidade prevista no art. 150, VI, d, da CF abrange os filmes e papéis fotográficos necessários à publicação de jornais e periódicos.47 Ainda a respeito dos insumos abrangidos pela imunidade dos livros, jornais e periódicos, convém abrir um parêntese para registrar um julgado, posterior a todos até aqui citados, em que a Primeira Turma do STF, em apertada votação (três votos contra dois), perfilhou orientação diametralmente oposta à tradicional, que acabamos de explicar. Trata-se da decisão proferida no RE 202.149/RS, red. p/ o acórdão Min. Marco Aurélio, em 26.04.2011. De forma categórica, afirmou-se que “a imunidade tributária conferida a livros, jornais e periódicos abrange todo e qualquer insumo ou ferramenta indispensável à edição de veículos de comunicação”. Com esse entendimento, a Turma considerou imunes “peças sobressalentes de equipamento de preparo e acabamento de chapas de impressão off set para jornais” importadas por determinada empresa jornalística, afastando os impostos que incidiriam nessa operação (II, IPI e ICMS). Consideramos imprescindível alertar que não se pode, ainda, falar em “virada jurisprudencial” do STF a respeito da abrangência da imunidade em estudo, no que respeita aos insumos usados na fabricação de livros, jornais e periódicos. Deveras, no fim das contas, somente três votos perfilharam essa tese muitíssimo ampliativa do alcance da norma vazada no art. 150, VI, “d”, da Constituição Federal. É necessário aguardar novos julgados que versem sobre o tema. Quanto ao conteúdo, a imunidade alcança qualquer livro, jornal ou periódico. Entretanto, o produto tem que ser algo que possa ser considerado livro, jornal ou periódico, o que não inclui, por exemplo, cadernos e blocos de papel para anotações, livros contábeis, calendários, agendas de anotações, manuais de 47 O texto da súmula não menciona a publicação de livros, mas não há dúvida de que o entendimento se aplica à publicação de jornais, periódicos e livros. Direito Constitucional Descomplicado Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino 7.ª para 8.ª edição instruções de operação de máquinas, utensílios e equipamentos, manuais ou papéis impressos de propaganda mercantil, industrial ou profissional etc. Para efeito de ilustração desse ponto, citamos o RE 87.633, rel. Min. Cordeiro Guerra, de 15.12.1978, no qual foi asseverado que “os calendários comerciais, como as folhinhas e agendas, não são livros, jornais, revistas ou periódicos, no sentido de veículo da manifestação do pensamento humano. Constituem uma simples mercadoria de consumo, periodicamente posta em circulação, mas não são periódicos no sentido legal e constitucional, de modo a autorizar a pretendida imunidade” (excerto do voto condutor). ..................... 2) No item 5, foi feito o acréscimo abaixo indicado: 5. Repartição das receitas tributárias ................. 2.6) 25% do montante que o estado, em que esteja situado o município, receber da União a título de participação na CIDE-combustíveis, segundo critérios estabelecidos em lei (art. 159, § 4.º). Em uma importante decisão, o Pleno do Supremo Tribunal Federal, por unanimidade, deixou assente que os valores a serem repassados pelos estados aos municípios, por força de determinação constitucional, pertencem a estes de pleno direito, sendo vedada aos estados a instituição de benefícios fiscais que tenham como consequência a redução ou a postergação dos repasses devidos aos municípios. Significa dizer, ao lado das restrições à autonomia dos estados-membros em matéria de concessão de benefícios fiscais, expressamente previstas no texto da Constituição Federal (por exemplo, art. 155, § 2º, XII, “g”), deve ser observada mais esta: os benefícios fiscais que os estados-membros criem quanto aos seus tributos devem preservar as parcelas a serem repassadas aos municípios, constitucionalmente previstas, as quais não podem ser reduzidas nem diferidas em consequência desses benefícios fiscais.48 Além das participações vistas acima, existem participações efetuadas por meio de fundos (denominadas, por alguns autores, participações indiretas). São quatro fundos, todos previstos no art. 159 da Constituição Federal. Os três primeiros são integrados por 48% da arrecadação do IPI e do IR, excluída da arrecadação do IR a parcela do IRRF já pertencente aos estados, DF e municípios (conforme previsto 48 RE 572.762/SC, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 18.06.2008. Na mesma linha foi decidido o RE-AgR 535.135/SC, rel. Min. Ayres Britto, 16.08.2011. Direito Constitucional Descomplicado Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino 7.ª para 8.ª edição no art. 157, I, e no art. 158, I). São eles: ...................... CAPÍTULO 16 1) No item 3.1.2.3, foi feita a substituição abaixo indicada: 3.1.2.3. Livre concorrência ...................... Vale mencionar que o Estado atua em defesa da livre concorrência não apenas mediante imposição de medidas sancionatórias contra os abusos, mas também preventivamente no âmbito de sua função fiscalizadora e regulatória, merecendo ser citada a atuação de algumas agências reguladoras e, em especial, do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE), de que trata a Lei 8.884/1994. Vale mencionar que o Estado atua em defesa da livre concorrência não apenas mediante imposição de medidas sancionatórias contra os abusos, mas também preventivamente no âmbito de sua função fiscalizadora e regulatória, merecendo ser citada a atuação de algumas agências reguladoras e, em especial, do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE), de que trata a Lei 12.529/2011. ...................... FIM NOTA À 8.ª EDIÇÃO PONTOS DO LIVRO “DIREITO CONSTITUCIONAL DESCOMPLICADO” QUE FORAM MODIFICADOS NA 8ª EDIÇÃO DA OBRA, ESPECIALMENTE EM VIRTUDE DE ALTERAÇÕES JURISPRUDENCIAIS OCORRIDAS DESDE A 7ª EDIÇÃO. OS TEXTOS EM VERMELHO REPRESENTAM SUPRESSÕES E OS TEXTOS EM AZUL CORRESPONDEM A INCLUSÕES. OS TEXTOS EM FONTE PRETA NÃO SOFRERAM ALTERAÇÃO E SERVEM APENAS PARA FACILITAR A LOCALIZAÇÃO DOS TRECHOS MODIFICADOS, ACRESCENTADOS OU SUPRIMIDOS. CAPÍTULO 1 CAPÍTULO 3 ......................... CAPÍTULO 4 CAPÍTULO 6 ................... 4) No item 5.9, foram feitos os acréscimos e substituições abaixo indicados: CAPÍTULO 12 CAPÍTULO 13 CAPÍTULO 15 FIM