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01 João Vicente Mendes Santana C U R S O T É C N I C O E M P E S C A Conceito e história da pesca INTRODUÇÃO À PESCA E À AQUICULTURA Coordenadora da Produção dos Materias Vera Lucia do Amaral Coordenador de Edição Ary Sergio Braga Olinisky Coordenadora de Revisão Giovana Paiva de Oliveira Design Gráfi co Ivana Lima Diagramação Elizabeth da Silva Ferreira Ivana Lima José Antonio Bezerra Junior Mariana Araújo de Brito Arte e ilustração Adauto Harley Carolina Costa Heinkel Huguenin Leonardo dos Santos Feitoza Revisão Tipográfi ca Adriana Rodrigues Gomes Nouraide Queiroz Margareth Pereira Dias Design Instrucional Janio Gustavo Barbosa Luciane Almeida Mascarenhas de Andrade Jeremias Alves de Araújo Silva José Correia Torres Neto Revisão de Linguagem Maria Aparecida da S. Fernandes Trindade Revisão das Normas da ABNT Verônica Pinheiro da Silva Adaptação para o Módulo Matemático Joacy Guilherme de Almeida Ferreira Filho EQUIPE SEDIS | UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE – UFRN Projeto Gráfi co Secretaria de Educação a Distância – SEDIS Governo Federal Ministério da Educação Você ve rá por aqu i... Objetivos 1 Introdução à pesca e à aquicultura A01 Caro aluno, seja bem-vindo ao mundo da pesca e da aquicultura. Quero convidá-aro aluno seja bem vindo ao mundo da pesca e da aquicultura Quero convidálo a conhecer comigo esses importantes segmentos da economia brasileira. Tenho certeza de que poderemos aprender muito juntos e que isso o ajudará a ser um profi ssional de sucesso na profi ssão que você escolheu. Antes, porém, é muito importante você conhecer a relevância desta disciplina no seu curso. A disciplina Introdução à pesca e à aquicultura apresentará as primeiras impressões do mundo da pesca e da aquicultura para você. Nesta primeira aula, vamos estudar os principais conceitos presentes no segmento pesqueiro e aquícola, suas principais características e um pouco de sua história e sua evolução e assim você terá uma visão geral da área na qual você está se inserindo. Fique atento! Ao fazer as atividades e pesquisas solicitadas, você estará tendo contato com documentos, textos e discussões fundamentais para a sua formação e crescimento como profi ssional da área. Para ser um bom profi ssional, muito mais do que os professores ou o material didático disponível, é a sua atitude que vai fazer a diferença. Bons estudos! Conhecer o conceito de pesca. Identifi car, com base no conceito de pesca, as principais características dessa atividade. Compreender as transformações ocorridas na pesca ao longo do tempo. 1Praticando... 2 Introdução à pesca e à aquicultura A01 Para começo de conversa... Afi nal, o que é Pesca? 1. Se considerarmos a pesca como uma atividade, como você responderia às seguintes questões: a) Qual o objetivo dessa atividade? Eu tenho certeza de que você sabe defi nir com as suas palavras o que é pesca, mas vamos tentar construir juntos esse conceito. Iremos iniciar a nossa aula com uma série de questões para você refl etir sobre o objetivo, a função e o produto dessa atividade. Decreto-lei 3 Introdução à pesca e à aquicultura A01 Esta legislação está disponível em: <http://www.planalto. gov.br/ccivil/decreto- lei/Del0221.htm>. b) Onde essa atividade é praticada? c) Alguém é dono dos produtos que serão obtidos nessa atividade? Quem? Podemos dizer, de uma forma simplifi cada, que pesca é uma atividade extrativista cujo objetivo é capturar ou coletar o pescado e é praticada em um ambiente aquático. Para melhor entendimento, leia o Código de Pesca Brasileiro que está no Decreto-lei Nº 221 , de 28 de fevereiro de 1967. 2. A partir dessas perguntas, você já poderia escrever uma defi nição do que é pesca? Pesca é 2Praticando... 4 Introdução à pesca e à aquicultura A01 a) E pescaria, é a mesma coisa que pesca? O que você acha? ( ) sim ( ) não b) Por quê? Muitas vezes, utilizamos os termos pesca e pescaria como sinônimos, mas é preciso fazer uma diferença entre esses dois termos. O termo pesca representa a própria ação de pescar, enquanto o termo pescaria é tudo que envolve a ação de pescar: aparatos, indústria, ambiente, enfi m, tudo o que representa um conjunto de fatores presentes numa pescaria. Calma, vamos exemplifi car. Assim, você vai compreender melhor. Imagine alguém pescando sardinha. O ato da captura da sardinha você chama de pesca, enquanto a pescaria é o conjunto: o barco e seus equipamentos, os apetrechos de pesca, o ecossistema da sardinha, etc. E agora, compreendeu melhor? 3Praticando... 5 Introdução à pesca e à aquicultura A01 1. Para entender melhor os conceitos apresentados até então e se familiarizar com termos que serão muito utilizados em nossa disciplina, procure, no dicionário, o signifi cado das seguintes palavras: a) Extrativista b) Pescado c) “Apetrechos de pesca” d) “Petrechos de pesca” e) Ecossistema 2. Agora, procure conceituar a palavra pesca, fazendo isso a partir de leituras na legislação federal ou estadual. Isso quer dizer que você terá que procurar as leis que defi nem o que é pesca no seu Estado. Portanto, além da legislação federal citada no exercício anterior, você deverá procurar no site ofi cial do governo do seu Estado, qual o órgão responsável pelas políticas pesqueiras. Pesca comercial e pesca de subsistência Seguindo adiante... Na atividade da pesca, encontramos diferentes situações. Muitas pessoas têm a atividade da pesca como a única forma de sustentar a si e a sua família, outras sobrevivem não só da pesca, mas também de outras atividades, como agricultura e pecuária. 4Praticando... 6 Introdução à pesca e à aquicultura A01 Quando a prática da atividade pesqueira é realizada apenas para o consumo da produção pelo pescador e sua família, chamamos essa prática de pesca de subsistência. Nos casos em que as pessoas vendem o produto da sua pescaria ou pelo menos parte dessa produção para remunerar o seu trabalho, mesmo que a outra parte seja utilizada para o consumo familiar, chamamos essa prática de pesca comercial. a) Observe as fi guras abaixo e descreva as principais diferenças encontradas nos dois tipos de pescaria. b) Agora, defi na, com suas palavras, o que é pescaria comercial. c) Agora, defi na, com suas palavras, o que é pescaria de subsistência. 7 Introdução à pesca e à aquicultura A01 E como tudo começou? Bom, você já está começando a compreender melhor alguns conceitos importantes do setor pesqueiro, mas você já parou para pensar como surgiu a pesca, onde essa atividade começou? Desde os primórdios o homem luta pela sua sobrevivência. No início, habitava as cavernas e era nômade, pois precisava sair em busca de alimentos. As origens da atividade pesqueira praticada pelo homem confundem-se com a sua própria história e, antes mesmo da agricultura, o homem já praticava a pesca ao extrair moluscos marinhos para a sua alimentação. Na sua luta pela sobrevivência, o homem desenvolveu instrumentos que facilitassem sua coleta de pescado, o anzol. Estima-se, aproximadamente, de 30 a 40 mil anos atrás a utilização do anzol pelo homem. Acredita-se que os primeiros anzóis foram de madeira. Figura 1 – Primeiros anzóis de madeira As redes de pesca vieram logo em seguida e tanto o anzol quanto a rede de pesca já eram utilizados no fi m da pré-história. É claro que esses instrumentos de pesca não eram semelhantes aos que utilizamos hoje, assim como os locais onde o homem pescava. As pescarias se davam nos pequenos lagos, pois o homem só iniciou suas pescarias no oceano a partir da época do Império Romano. Foi nesse período que o peixe se tornou um alimento nobre. Esse fato estabeleceu as pescarias oceânicas. 5Praticando... 8Introdução à pesca e à aquicultura A01 Mas com o aumento do consumo de peixes pelas pessoas daquela época, as embarcações começaram a ter que se deslocar para lugares mais longe da comunidade, então como fariam para conservar o peixe, o que eles faziam para o peixe não chegar estragado? Nessa época, os gregos e os egípcios já conservavam o peixe com o sal, além disso, os romanos introduziram a prática do uso de azeite na conserva do peixe. Com o tempo, já na Idade Média, os produtos pesqueiros começaram a ser utilizados como moeda de troca pelos senhores feudais e camponeses. Nessa época, não só o peixe, mas o óleo extraído do peixe e a fabricação de redes para pescaria tornaram- se um negócio, assim podemos pensar que o agronegócio do peixe pode ter iniciado nesse tempo. Na disciplina “Empreendedorismo no Agronegócio”, você verá com mais detalhes o conceito de “agronegócio” e a sua relação com as atividades do profi ssional técnico em pesca/aquicultura. Agora, um desafi o: você sabe para que se utiliza, atualmente, o óleo do peixe? No fi nal da aula, você confere se acertou, certo? Continuando... No século VII d.C., a atividade da pesca e o consumo de pescado, principalmente de peixe, já eram comuns na sociedade européia. Dessa forma, a utilização de equipamentos mais efi cientes na prática das pescarias já era uma necessidade, pois com o aumento da demanda por pescado era necessário ir pescar mais distante e capturar não só 6Praticando... 9 Introdução à pesca e à aquicultura A01 peixes, mas mamíferos como as baleias, e crustáceos como as lagostas, já que tanto as populações rurais como a aristocracia queriam consumir mais pescados. Um dos peixes mais famosos e que tem a sua história de pescaria ligada à nossa história de consumo de pescado é o bacalhau. A história do bacalhau é milenar, pois existem registros de processamento do bacalhau já no século IX, realizado na Noruega e Islândia, e os Vikings são considerados os pioneiros no consumo e processamento desse peixe. Os Vikings, como não conheciam o sal, preparavam o bacalhau para secar ao ar livre até que perdessem peso e fi cassem com apenas a quinta parte do peso original, assim a carne fi cava bastante dura e era consumida durante as longas viagens oceânicas realizadas por eles. A utilização do sal antes da secagem do bacalhau foi utilizada pelos bascos, que já conheciam o sal e, no século X, já comercializavam o bacalhau curado, salgado e seco, pois o mesmo era salgado e depois secado ao ar livre para melhor manter a qualidade. Procure, no dicionário, o signifi cado das seguintes palavras. Você também pode pesquisar na internet, no seguinte site: <http://pt.wikipedia.org/wiki>. 1. Aristocracia 2. Vikings E a pesca no Brasil, como foi no início? No início, a pesca no Brasil era praticada pelos índios e foram eles que apresentaram aos portugueses muitas das técnicas de captura da época. Os índios pescavam principalmente em rios e em áreas mais reservadas dos estuários. A partir das técnicas 10 Introdução à pesca e à aquicultura A01 de pesca utilizadas pelos índios, os europeus e os escravos africanos adaptaram ou modifi caram essas técnicas. As principais técnicas utilizadas pelos índios eram as fl echas, um tipo de anzol preso à linha feita com fi bra vegetal e a utilização do timbó. Os currais de pesca também já eram utilizados naquela época. É bom lembrar que essas técnicas ainda são utilizadas hoje, porém com a agregação de novas técnicas e de tecnologias que hoje temos disponíveis. A pesca da baleia também foi um segmento importante. Além da carne para o consumo humano, o óleo era o principal produto dessa pescaria. O óleo da baleia era utilizado principalmente para construção das ruas e das casas, como liga para as massas utilizadas nas construções dos imóveis e para ceras que eram utilizadas na confecção de velas. Baleia Mais informações você pode conseguir nos sites <http:// www.gforum.tv/ board/1075/220309/ mamiferos-da-letra-b. html> e <http:// pt.wikipedia.org/wiki/ Balea%C3% A7%C3%A3o>. 7Praticando... 11 Introdução à pesca e à aquicultura A01 Vamos aumentar nosso vocabulário? Procure, no dicionário, o signifi cado dessas palavras, mas você também pode encontrar na Internet, no site <http://pt.wikipedia.org/wiki/P%C3%A1gina_principal> fazer essa pesquisa. 1. Baleia 2. Arpão 3. Fibra vegetal 4. Estuário 12 Introdução à pesca e à aquicultura A01 Evolução das pescarias Vimos, resumidamente, aspectos gerais de como eram as pescarias no mundo e no Brasil em séculos passados, mas, com o aumento da demanda por pescado,tornou-se necessária a evolução do conjunto de conhecimentos para se conseguir suprir essa demanda, o que signifi ca pescar em locais mais distantes e em outros ambientes. Como ocorreu a evolução das pescarias? A evolução das pescarias veio, na maioria das vezes, acompanhada da evolução das técnicas de outros setores produtivos. Ou seja, as novas tecnologias produzidas pelo homem para outros segmentos da sociedade acabaram sendo incorporadas e/ou adaptadas ao segmento da pesca. É evidente que outras ciências evoluíram mais que as ciências pesqueiras, mas você deve levar em conta as características do segmento pesqueiro. A Revolução Industrial, bem como as pesquisas utilizadas nas duas grandes Guerras Mundiais, nos séculos XIX e XX, respectivamente, trouxeram para a sociedade a aplicação dessas pesquisas em segmentos econômicos importantes, dentre eles o segmento pesqueiro. Com o passar dos anos, a agregação de tecnologia de áreas como mecânica, eletrônica, química, telecomunicação, informática, dentre outras vem colaborando fi rmemente nos processos de captura, construção naval, máquinas e equipamentos utilizados a bordo das embarcações pesqueiras, navegação, artes de pesca, métodos de conservação do pescado, entre outros. Mas como foi que tudo isso aconteceu? Como vimos anteriormente, a pesca, nos primórdios, começou com a coleta de moluscos, depois foram introduzidos os primeiros instrumentos, como pedras, lanças, arpões e fl echas. 13 Introdução à pesca e à aquicultura A01 Dessa forma, podemos imaginar que a utilização do anzol foi uma revolução para essa atividade. Os historiadores apontam que há 30 mil anos o anzol já era utilizado pelo homem. Dessa forma, o homem passou a confeccionar anzol a partir de dentes e garras de animais, espinhos vegetais, ossos de peixes e de outros animais e até de pedra. Só muito depois o metal passou a ser utilizado para confeccionar anzol. O homem, para se proteger do frio, da chuva, dos animais e de outras intempéries precisou confeccionar vestimentas, mas como foi que isso aconteceu? O homem aprendeu que poderia utilizar as fi bras de alguns vegetais para confeccionar fi os e depois tecer esses fi os para virar tecido. 14 Introdução à pesca e à aquicultura A01 É claro que as peles dos animais foram as nossas primeiras vestimentas, mas o que tem isso a ver com pesca? É que o fi o que era utilizado para a confecção das vestimentas foi o mesmo para confeccionar as redes de pesca cujo maior uso era como armadilhas e, depois, serviram para amarrar os anzóis que eram utilizados nas pescarias de linha de mão. As redes de pesca eram utilizadas mais como armadilhas, da mesma forma que ainda utilizamos hoje o curral de pesca. Elas atuavam para aprisionar os peixes e não para emalhá-los. A rede de pesca, da forma como conhecemos hoje, só surgiu muito tempo depois. As principais fi bras utilizadas na confecção dos fi os eram obtidas a partir da fi bra do sisal e algodão, mas outros vegetais também eram utilizados. 15 Introdução à pesca e à aquicultura A01 E como seria a qualidade desses anzóis, desses fi os e consequentemente dessas redes de pesca?Você está correto. Como tudo era construído rusticamente, o tempo de utilização dos mesmos era muito reduzido. As fi bras apodreciam rapidamente e, dessa forma, a resistência do fi o ao esforço fi cava comprometida. Os anzóis também perdiam rapidamente a resistência, pois o contato com a água os tornava mais frágeis. Com a Revolução Industrial, surge a máquina a vapor, que logo depois seria utilizada nas embarcações. Com isso, as embarcações não dependem mais apenas de remos e velas e, dessa forma, passam a navegar mais distantes da costa e mais rapidamente, além disso, podem mecanizar equipamentos de auxílio à pesca, como os guinchos podem lançar e recolher, mais rápido, redes e linhas de pesca. Ainda nessa época, novas técnicas de pesca são introduzidas, novos materiais que confeccionam artes de pesca são utilizados e novos métodos de conservação de alimentos através da tecnologia da utilização do frio controlado são inseridos no processo das pescarias. Isso faz com que a indústria pesqueira comece a se consolidar como um segmento econômico importante para a sociedade. Outra fase importante na evolução da pesca foi a utilização da tecnologia na área militar naval. Muitas pesquisas que geraram tecnologia, principalmente durante a Segunda Grande Guerra Mundial, foram transferidas para o meio civil e utilizadas por vários segmentos econômicos. No caso da pesca, a tecnologia utilizada pelos navios para detectar submarinos foi a mesma para detectar cardumes. O uso do radar para localizar as tropas inimigas foi adaptado para dar maior segurança durante a navegação; as novas tecnologias de telecomunicação também passaram a ser usadas pelas embarcações, sendo o satélite também transferido para o setor civil, com as embarcações usando-o para a sua própria localização durante a navegação como também para a marcação de importantes áreas de pesca. Outra importante área que contribuiu e contribui é a área de química. Na pesca, a substituição das fi bras naturais pelas fi bras sintéticas foram fundamentais para consolidar a utilização das atuais artes de pesca, a utilização dos polímeros para a fabricação dos fi os para as redes de pesca e para as linhas, bem como os tratamentos químicos utilizados nos metais que estão presentes nas artes de pesca contribuem com uma maior resistência e durabilidade desses apetrechos de pesca. 8Praticando... 16 Introdução à pesca e à aquicultura A01 Pesquise em sítios de busca da Internet sobre os temas seguintes e faça um resumo sobre cada um deles. Segue como sugestão, alguns endereços na Internet, onde você poderá realizar suas pesquisas. <http://pt.wikipedia.org/wiki/Revolu%C3%A7%C3%A3o_Industrial>; <http://www.cena.usp.br/irradiacao/conservacao.htm>; <http://pt.wikipedia.org/wiki/Fibra_sint%C3%A9tica>. 1. Revolução Industrial 2. Utilização da tecnologia do frio na conservação dos alimentos 3. Surgimento da fi bra sintética Bem, estamos concluindo nosso primeiro encontro. Espero que você tenha gostado. Faço uma sugestão: planeje o seu tempo de estudo, pois assim terá as condições necessárias para estudar com calma e realizar os exercícios propostos, além de ler mais sobre o assunto em outras fontes. 17 Introdução à pesca e à aquicultura A01 Respondendo ao desafi o (atividade 5) E então, vamos ver se você acertou? Atualmente, o óleo de peixe é utilizado, principalmente, como medicamento e é adicionado às farinhas que compõem algumas das rações animais. Leituras complementares Além dos endereços na Internet, disponibilizados ao longo desta aula, você também poderá obter mais informações sobre esse tema, consultando a seguinte referência: SILVA, L. G. Os pescadores na história do Brasil. Recife: VOZES, 1988. (Colônia e Império, 1). Esse livro relata como era a vida dos pescadores brasileiros durante a Colônia e o Império. Fique atento quanto à tecnologia de pesca que era utilizada nessa época. Nesta primeira aula você estudou o conceito de pesca, viu que a pesca é uma atividade extrativista e um importante segmento econômico que gera emprego, trabalho e renda. Você estudou também que o homem já praticava a pesca mesmo antes da agricultura e que com o passar dos séculos as pescarias começaram a fi car mais distantes da costa, necessitando, com isso, do aprimoramento das embarcações, dos materiais de pesca e das técnicas de conservação do pescado a bordo. Com a revolução industrial, novas tecnologias foram incorporadas à atividade, como a introdução de materiais sintéticos na confecção dos apetrechos e das novas tecnologias de captura. Você também foi convidado a pesquisar muitos conceitos, o que deverá contribuir para a sua familiarização com um vocabulário que fará parte das nossas aulas, daqui para frente, bem como das demais disciplinas do Curso e, principalmente, no exercício da sua futura profi ssão. Autoavaliação 18 Introdução à pesca e à aquicultura A01 Este é o momento de você fazer uma avaliação dos assuntos que abordamos nesta aula. Qualquer dúvida consulte os exercícios anteriores e os sites que indicamos. 1. Qual o conceito e as principais características da pesca? 2. Com suas palavras, faça uma abordagem da evolução da pesca, desde os primórdios até os nossos dias. 3. Caracterize como a pesca é praticada na sua região (tipos de embarcações, espécies capturadas, número de pescadores, etc). Referências AFONSO-DIAS, Manuel. Breves notas sobre a história da pesca. Disponível em: <http:// w3.ualg.pt/~madias/docencia/paq/BrevesNotasHistoriaPesca.pdf>. Acesso em: 10 out. 2008. BRASIL. Casa Civil. Subchefi a para Assuntos Jurídicos. Decreto-Lei nº 221, de 28 de fevereiro de 1967. Dispõe sobre a proteção e estímulos à pesca e dá outras providências. Brasília, 1967. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil/decreto- lei/Del0221.htm>. Acesso em: 19 nov. 2008. HISTÓRIA DO ANZOL. Disponível em: <http://www.marlinnegro.na-web.net/pre_historia. htm>. Acesso em: 12 out. 2008. HISTÓRIA DA PESCA. A pesca desde a pré-história. Disponível em: <http://www. vaprapesca.com.br/Brasil/Links/hist_pesca.htm>. Acesso em: 11 out. 2008. SILVA, Luis Geraldo da (Org.). Os pescadores na história do Brasil. Recife: VOZES, 1988. (Colônia e Império, 1). 19 Introdução à pesca e à aquicultura A01 Anotações 20 Introdução à pesca e à aquicultura A01 Anotações 02 João Vicente Mendes Santana C U R S O T É C N I C O E M P E S C A A pesca no Brasil e no mundo – principais locais de captura INTRODUÇÃO À PESCA E À AQUICULTURA Coordenadora da Produção dos Materias Vera Lucia do Amaral Coordenador de Edição Ary Sergio Braga Olinisky Coordenadora de Revisão Giovana Paiva de Oliveira Design Gráfi co Ivana Lima Diagramação Elizabeth da Silva Ferreira Ivana Lima José Antonio Bezerra Junior Mariana Araújo de Brito Arte e ilustração Adauto Harley Carolina Costa Heinkel Huguenin Leonardo dos Santos Feitoza Revisão Tipográfi ca Adriana Rodrigues Gomes Margareth Pereira Dias Nouraide Queiroz Design Instrucional Janio Gustavo Barbosa Jeremias Alves de Araújo Silva José Correia Torres Neto Luciane Almeida Mascarenhas de Andrade Revisão de Linguagem Maria Aparecida da S. Fernandes Trindade Revisão das Normas da ABNT Verônica Pinheiro da Silva Adaptação para o Módulo Matemático Joacy Guilherme de Almeida Ferreira Filho EQUIPE SEDIS | UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE – UFRN Projeto Gráfi co Secretaria de Educação a Distância – SEDIS Governo Federal Ministério da Educação Você ve rá por aqu i... Objetivos 1 Introdução à pesca e à aquicultura A02 Nesta aula, faremos uma grande viagem pelos oceanos, aprendendo conceitos importantes sobre a água, seus nutrientes e a sua importância para a atividade da pesca. Você também irá conhecer os principaislocais de pesca no Brasil e no mundo, identifi cando as principais espécies capturadas pela pesca comercial. Suba a bordo e vamos começar! Conhecer os conceitos envolvendo os estoques pesqueiros. Entender a importância dos nutrientes das águas e as suas importâncias nas pescarias. Identifi car as principais características e os principais locais onde a pesca é praticada no Brasil. Identificar algumas espécies de recursos pesqueiros capturados pela pesca comercial no Brasil. 2 Introdução à pesca e à aquicultura A02 Para começo de conversa... Vamos ler o texto abaixo: Viva a diferença! (adaptado de Lígia Barreto) Reomédio trabalhava numa empresa de pesca há vários anos. Sempre foi um funcionário sério, dedicado e cumpridor de suas obrigações. Nunca chegava atrasado. Por isso mesmo estava na instituição, sem ter recebido uma única reclamação. Certo dia, ele foi até seu chefe fazer uma queixa: – Senhor Gerente, tenho trabalhado durante anos nesta empresa com toda dedicação, só que me sinto um tanto injustiçado. Fiquei sabendo que o Felizberto, que tem o mesmo cargo que eu, está aqui há somente três meses e já será promovido?... O Gerente, fi ngindo não ouvi-lo disse: – Foi bom você ter vindo aqui. Tenho um problema para resolver e você poderá me ajudar. Estou querendo oferecer frutas no café da manhã ecológico deste mês. Aqui próximo tem um mercadinho que tem uma boa variedade de frutas. Por favor, vá até lá e verifi que se eles têm abacaxi. Reomédio sem entender direito, saiu da sala e, imediatamente, foi cumprir a missão. Em cinco minutos estava de volta. 3 Introdução à pesca e à aquicultura A02 – E aí Reomédio? Perguntou o Gerente. – Verifi quei, como o senhor me pediu e eles têm abacaxi sim... – Quanto custa? Perguntou o gerente – Aaahh, isso eu não perguntei...Respondeu Reomédio O Gerente pergunta novamente: – Eles têm abacaxi para atender todo nosso pessoal?? – Também não perguntei isto...diz Reomédio – Há alguma fruta que possa substituir o abacaxi? – Não sei... Muito bem, Reomédio. Sente-se ali naquela cadeira e aguarde um pouco. O Gerente pegou o telefone e mandou chamar o novato Felizberto. Deu a ele a mesma orientação que ao Reomédio. Em 30 minutos, Felizberto voltou. – E então? Indagou o Gerente. – Eles têm abacaxi, sim. O estoque é sufi ciente para todo nosso pessoal aqui e, se o senhor preferir, tem também laranja, mamão, banana e melão. O abacaxi custa R$ 2,00 a unidade; a laranja é R$ 10,00 o cento, já descascada; o mamão e a banana são R$1,00 o quilo; e o melão japonês é R$0,80. Porém, como eu disse que a compra seria em grande quantidade, eles nos concederão um desconto de 5% e ainda manda deixar. Peguei o número do telefone do supervisor de vendas e conforme sua decisão, posso fazer o pedido, explicou Felizberto. Agradecendo pelas informações, o Gerente o dispensou-o. Voltou-se para Reomédio, que permanecia sentado e perguntou-lhe: – Reomédio, o que foi mesmo que você estava me dizendo? – Nada, patrão. Esqueça. Com licença... E Reomédio deixou a sala. “Se não nos esforçarmos para fazer o melhor, mesmo em tarefas que possam parecer simples, jamais nos serão confi adas tarefas de maior importância.” “Todas as vezes que fazemos o uso correto e amplo da informação, criamos a oportunidade de imprimir a nossa marca pessoal.” Vocês podem e devem se destacar, até nas coisas mais simples, como Felizberto. Portanto, VIVA A DIFERENÇA!!! SEJA A DIFERENÇA!!! FAÇA A DIFERENÇA!!! Durante nosso curso, deveremos buscar não apenas conhecimentos técnicos, mas também a formação pessoal, do caráter e fortalecer nossas habilidades Responda aqui 1Praticando... 4 Introdução à pesca e à aquicultura A02 Introdução A importância das pescarias para um País não se mede apenas pela sua contribuição para a economia, mas deve atender ao fato de serem os recursos e os produtos pesqueiros componentes fundamentais de trabalho e da segurança alimentar. As características biológicas devem constituir a base fundamental para a conservação e gestão dos recursos pesqueiros, não menosprezando os efeitos sociais, econômicos, institucionais ou ambientais. Assim, se um recurso biológico renovável for bem gerido, a sua duração seria praticamente ilimitada, ao contrário do que sucede com os recursos minerais. Descreva quais são, em sua opinião, as principais funções dos oceanos e sua importância para compreensão das pescarias? 5 Introdução à pesca e à aquicultura A02 Seguindo adiante... Na primeira aula, você aprendeu algumas defi nições, pôde identifi car as principais características da pesca e compreender suas principais transformações ocorridas nos últimos tempos. Iremos agora iniciar a nossa aula com uma série de conceitos necessários para entendimento de como funciona a atividade de pesca. Alguns conceitos importantes O Brasil possui uma grande faixa oceânica para aproveitar, pois a nossa costa tem mais de 7.000km de comprimento (linha reta), entre o extremo norte (foz do Rio Oiapoque/ AP) e o extremo sul do país (Arroio Chuí/RS). Inicialmente, é necessário se familiarizar com alguns termos técnicos empregados quando o assunto são as pescarias. Mar territorial Devido à importância e às riquezas do mar, todo país marítimo preocupa-se em garantir para si uma parte do mar que banha o seu território. Essa parte do mar chama-se mar territorial e compreende uma faixa de 12 milhas marítimas de largura, medidas a partir da linha de baixo mar do litoral continental. A partir daí, temos águas internacionais, que não pertencem a nenhum país. É reconhecido aos navios de todas as nacionalidades o direito de passagem inocente no mar territorial, desde que não seja prejudicial à paz, ou à segurança do país, devendo ser contínua e rápida. A passagem inocente poderá compreender o parar e fundear, mas apenas na medida em que tais procedimentos constituam incidentes comuns de navegação, ou seja, por motivo de força ou por difi culdade grave, ou ainda, para prestar auxílio a pessoas, navios e aeronaves em perigo ou difi culdade grave. Zona contígua É a faixa que se estende de 12 a 24 milhas marítimas, contadas a partir das linhas de base que servem para medir o mar territorial. Nesta zona, o país poderá tomar as medidas de fi scalização necessárias para evitar as infrações às leis e aos regulamentos alfadengários, fi scais, de imigração ou sanitários no seu território ou no seu mar territorial. Zona econômica exclusiva - ZEE Zona econômica exclusiva é aquela onde cada nação possui direitos exclusivos sobre os recursos de suas águas oceânicas. Está localizada entre 0 e 200 milhas da costa litorânea. Compreende uma faixa que se estende das 12 às 200 milhas marítimas, contadas a partir das linhas de base que servem para medir a largura do mar territorial. Nesta zona, o país tem direitos para fi ns de exploração, aproveitamento, conservação 6 Introdução à pesca e à aquicultura A02 e gestão de recursos naturais, vivos ou não vivos, das águas sobrejacentes ao leito do mar, e seu subsolo, e no que se refere a outras atividades com vistas à exploração e ao aproveitamento da zona para fi ns econômicos. O Brasil, no exercício de sua jurisdição, tem o direito exclusivo de regulamentar a investigação científi ca marinha, a proteção e preservação do meio marítimo, bem como a construção, operação e uso de todos os tipos de ilhas artifi ciais, instalações e estruturas. As defi nições acima se encontram na lei LEI Nº 8.617, de 4 de janeiro de 1993. Figura 1 – limites do mar territorial, zona contígua e zona econômica exclusiva. Relevo submarino O relevo submarino é subdividido em quatro partes: Plataforma continental, Talude, Região pelágica e Região abissal. Plataforma continental A plataforma continental pode serdefi nida como a continuação do continente, mesmo submerso. Sua profundidade média é de 0 a 200 m, o que signifi ca que a luz solar infi ltra-se na água, gerando condições propícias à atividade biológica e ocasionando uma grande importância econômica para a atividade da pesca. Há também, na plataforma continental, a ocorrência de petróleo. (CMIO, 1999). Fo nt e: < ht tp s: // w w w .m ar .m il. br /d hn /d hn /i nd ex .h tm l> . A ce ss o em : 1 1 n ov . 2 0 0 9 . 7 Introdução à pesca e à aquicultura A02 Essa plataforma é a continuação natural do relevo continental. Compreende o leito e o subsolo nas áreas submarinas que se estendem em toda a extensão do prolongamento natural do seu território terrestre, onde a partir das planícies litorâneas (praias) inclina-se suavemente sob o mar, até o bordo exterior da margem continental ou até uma distância de duzentas milhas marítimas das linhas de base. Seus limites estão além do seu mar territorial entre o ponto zero (zero de altitude e zero de profundidade), exatamente no contato mar-terra, e a cota de 200 metros de profundidade. No Brasil, a largura da plataforma continental é variável, possuindo média inferior a 90 km. No litoral do Amazonas e do Pará é extensa, apresentando maior largura na foz do rio Amazonas; depois se estreita no litoral do Nordeste e novamente se alarga a partir do Espírito Santo. A plataforma continental possui extraordinária fonte de recursos alimentares devido às matérias nutritivas que procedem dos continentes e à presença da luz solar que possibilitam o desenvolvimento da vida vegetal e animal. Área caracterizada pelo intenso processo de acumulação, onde se concentra a exploração econômica dos oceanos, como a pesca industrial, a extração do sal e a produção de petróleo. O Brasil exerce direitos de soberania sobre a plataforma continental, para efeitos de exploração dos recursos naturais minerais e outros não vivos do leito do mar e subsolo. Na plataforma continental, o Brasil tem o direito exclusivo de regulamentar a investigação científi ca marinha, proteção e preservação do meio marinho. Talude Desnível abrupto de 2 a 3 km de profundidade. É o fi m do continente. Está situado entre a borda marítima da plataforma continental e as profundezas oceânicas, formando um desnível abrupto da ordem de 200 a 2.000m, onde se localizam os canhões submarinos, que são vales profundos e de paredes abruptas. Caracteriza-se pelo predomínio de formas acidentadas, geralmente em declive, estendendo-se por cerca de 9% dos fundos oceânicos. Constitui o verdadeiro limite dos oceanos. Região pelágica É o relevo submarino propriamente dito, com planícies, montanhas e depressões. É constituída pelas bacias oceânicas e as cristas ou dorsais oceânicas, sendo que o início dessa região é o limite inferior do talude continental se estendendo por 2.000 a 5.000m. As bacias oceânicas são constituídas por extensas planícies, divididas entre si por cordilheiras submarinas, as quais formam as cristas ou dorsais oceânicas. É a região dominante dos fundos dos mares, ocupando 80% da superfície oceânica e tem forma de um grande planalto submerso. Nessa região surgem as ilhas oceânicas de Trindade e o grupo Martim Vaz, o arquipélago Fernando de Noronha e a grande cordilheira denominada Dorsal Atlântica. 8 Introdução à pesca e à aquicultura A02 Região abissal Quando ocorre aparece junto ao talude. É a região dos abismos submarinos ou fossas submarinas, depressões longas e estreitas que chegam a alcançar mais de 10 km de profundidade. As fossas estão localizadas perto dos continentes e das ilhas, nas proximidades do talude continental e abrangem apenas 1% da área dos fundos dos oceanos. É a porção menos conhecida do relevo marinho e ocupa apenas 3.4% da área total dos oceanos. Figura 2 – Descrição do relevo submarino. O plâncton O plâncton representa o conjunto de todos os seres vivos fl utuantes que são levados pelas correntezas marinhas. Eles não possuem órgãos de locomoção e, quando os têm, são rudimentares. Existem duas categorias de seres planctônicos: o zooplâncton e o fi toplâncton: Fitoplâncton – é constituído pelos produtores, ou seja, os seres autotrófi cos, que desempenham um grande papel na cadeia alimentar marinha. As algas são os principais representantes dessa categoria. São os microorganismos de origem vegetal e precisam de nutrientes para seu crescimento. Fo nt e: < ht tp s: // w w w .m ar .m il. br /d hn /d hn /i nd ex .h tm l> . A ce ss o em : 1 1 n ov . 2 0 0 9 . Responda aqui 2Praticando... 9 Introdução à pesca e à aquicultura A02 Para entender melhor os conceitos apresentados e se familiarizar com termos que serão muito utilizados em nossa disciplina, procure no dicionário ou internet o signifi cado da palavra: “Nutriente”: Depois, apresente um exemplo em que os nutrientes foram importantes na produtividade de organismos vegetais ou animais. Zooplâncton – é constituído por organismos heterotrófi cos, como microcrustáceos, larvas de peixe, protozoários, insetos, pequenos anelídeos e até caravelas. São os microorganismos de origem animal. Fonte: <http://www.portalbrasil.net/educacao_seresvivos_biosfera.htm>. Acesso em: 7 jan. 2010. 10 Introdução à pesca e à aquicultura A02 Correntes oceânicas As correntes são geradas pelo efeito de rotação da Terra, o vento, a forma das bacias oceânicas, e são responsáveis por manter os oceanos em constante movimento, transportando grandes massas d’água, com distintas temperaturas, densidades e salinidades, de uma região para outra, produzindo uma suavização nos climas das localidades próximas às zonas costeiras. O mar é uma fonte de produção de vapor d’água, o qual não só vai tornar úmida a atmosfera local ou costeira, como também é transportado a regiões afastadas do oceano, permitindo a formação de precipitação no interior dos continentes. A distribuição mundial das correntes oceânicas revela uma correlação entre as circulações oceânicas e atmosféricas nas baixas e médias latitudes. No hemisfério norte a circulação é horária, acontecendo o contrário no hemisfério sul. Como resultado da maioria das circulações superfi ciais, ocorre o transporte de água fria para o Equador ao longo das margens lestes dos oceanos e água quente para os polos, ao longo das margens localizadas a oeste. No oceano existem duas áreas principais de dispersão: a equatorial, onde se formam as correntes quentes e que se deslocam para as áreas de altas latitudes e as polares, onde se formam as correntes frias e se deslocam para as baixas latitudes. As correntes marítimas que atingem o Brasil se originam da corrente quente Sul- Equatorial, a qual se forma no Golfo da Guiné, na África e desloca-se em direção ao Brasil. Ao atingir o Nordeste brasileiro, a corrente se bifurca dando origem à corrente das Guianas e à corrente do Brasil. A corrente da Guiana se direciona para oeste, banhando o nordeste e norte do Brasil e atingindo o mar das Antilhas, enquanto a corrente do Brasil se desloca no sentido sul. 11 Introdução à pesca e à aquicultura A02 Figura 3 – Distribuição das correntes oceânicas no oceano Atlântico. Fonte: <https://www.mar.mil.br/dhn/dhn/index.html>. Acesso em: 11 nov. 2009. Ressurgência A ressurgência é o nome dado ao fenômeno provocado por uma corrente de água fria, que se desloca em um nível profundo, e que ao chegar à costa afl ora e se aquece, resultante tanto dos raios solares, como da corrente de água. A corrente é rica em nutrientes, fazendo parte da cadeia alimentar de animais microscópicos, que por sua vez servem de alimento para outros maiores. A ressurgência faz com queos nutrientes vão para a superfície e também fi quem em todas as camadas da água. Responda aqui 3Praticando... 12 Introdução à pesca e à aquicultura A02 Corrente do Brasil A corrente Equatorial Sul divide-se entre 7° e 17° sul dependendo da estação do ano, escoando para sudoeste paralela à costa do Brasil até a costa do Uruguai a cerca de 35°S, já com o nome de corrente do Brasil, onde se confronta com a corrente das Malvinas. Neste ponto de convergência, as duas correntes correm para leste incorporando-se à corrente do Atlântico Sul. A direção prevalecente é sul/sudoeste durante todo o ano, mas a sua velocidade e seus limites apresentam variações mais acentuadas que a maioria das grandes correntes. Corrente das Malvinas A corrente Falkland ou das Malvinas é originada pela corrente do Cabo Horns na parte norte da passagem de Drake. Ao passar pelo estreito, a corrente desvia para o norte, passando entre o continente e as Ilhas Falkland ou Malvinas e acompanha a costa da América do Sul até confrontar-se com a corrente do Brasil, perto da latitude de 36° S, próxima à desembocadura da bacia de La Plata. Por que os oceanos podem infl uenciar ecossistemas e o clima de todo o planeta? 13 Introdução à pesca e à aquicultura A02 Mais alguns conceitos... Para entender um pouco mais sobre produção pesqueira, é importante conhecermos alguns indicadores que infl uenciam, de forma direta ou indireta, essa produção. Biomassa Peso de um indivíduo ou de um grupo de indivíduos contemporâneos de um manancial ou estoque. Captura em peso A captura em peso corresponde à biomassa do manancial ou estoque retirado pela pesca, e não corresponde necessariamente ao peso desembarcado. A diferença entre os dois valores (captura em peso e desembarque) ocorre em grande parte às rejeições ao mar de parte do que foi capturado, seja em função do preço, qualidade, difi culdades de espaço ou questões legais. Descarte é o nome atribuído a uma parte da fauna acompanhante que, segundo os pescadores e armadores, não têm viabilidade econômica. (DIAS NETO; MARRUL FILHO, 2003). Captura em número Número de indivíduos capturados. Estoque ou manancial pesqueiro Conjunto dos sobreviventes ou porção disponível de um recurso pesqueiro, num certo instante ou período de tempo. Pode referir-se à biomassa ou ao número de indivíduos. (DIAS NETO; MARRUL FILHO, 2003). Espécie alvo É aquela que se pretende capturar com uma determinada arte de pesca. No entanto, nem todas as espécies que são capturadas são espécies alvo. Entre as demais espécies capturadas existem as espécies acessórias que embora não sendo espécies alvo, são retidas no petrechos (= fauna acompanhante ou “by catch”) e as rejeições (espécies jogadas fora = lixo). O valor de mercado e o tipo de arte de pesca têm um papel fundamental nessa decisão, pois uma espécie com um valor elevado é geralmente alvo. Responda aqui 4Praticando... 14 Introdução à pesca e à aquicultura A02 O ambiente marinho – nutrientes na água e as correntes oceânicas A FAO (Food and Agriculture Organization – Organização para a Agricultura e Alimentação) é um órgão das Nações Unidas responsável pelo monitoramento e avaliação dos progressos da pesca global. É uma organização especializada, ela foi criada em 1943 em um encontro governamental em Hot Springs, EUA, por 44 representantes governamentais e está ligada à ONU, pois na Carta das Nações Unidas de 1945 em seus artigos 57 e 63 autoriza a vinculação das várias entidades especializadas, desde que atuem sobre o campo econômico, social, cultural e educacional. Com o passar dos anos, a degradação ambiental, neste caso específi co o esgotamento dos recursos marinhos, sucedeu-se alguns acordos internacionais visando a proteção dos oceanos. A Convenção das Nações Unidas para o Direito do Mar, realizada em 1982, na cidade de Montego Bay- Jamaica é um marco para o Direito do Mar. Os acordos instituídos entraram em vigor apenas em 16 de novembro de 1994. Pesquisar no site <www.fao.org> as principais funções e diretrizes da FAO. 5Praticando... 15 Introdução à pesca e à aquicultura A02 Veja mais informações consultando: COMISSÃO MUNDIAL INDEPENDENTE SOBRE OS OCEANOS - CMIO. O oceano... nosso futuro: relatório da comissão mundial independente sobre os oceanos. Rio de janeiro: Comissão Nacional Independente sobre os Oceanos. 1999. 248p. Disponível em: <http://www.mdn.gov.pt/NR/rdonlyres/22D2295A-838A-4B05-B176- 1CC8D6BD1DAB/0/Relatorio_Oceanos.pdf>. Acesso em: 11 nov. 2009. Os mares, numa visão global, constituem uma área contínua, isto é, não se pode falar em fronteiras nos oceanos. Esta afi rmativa é aplicável às suas distintas zonas, ambientes e recursos. Mesmo assim, é indiscutível a existência de variados ecossistemas e estoques de recursos pesqueiros. Entretanto, suas fronteiras não dependem do arbítrio do homem, mas tão somente de suas características intrínsecas. Você já pesquisou o signifi cado da palavra “nutriente”. Os principais nutrientes presentes na água do mar são: nitrogênio, fósforo, sódio, potássio, cálcio, zinco e magnésio. Agora, pesquise sobre o papel e a importância de cada um deles. Nitrogênio: Fósforo: Sódio: 16 Introdução à pesca e à aquicultura A02 Potássio: Cálcio: Zinco: Magnésio: As zonas costeiras, desde as bacias hidrográfi cas até o limite da plataforma, formam um ambiente densamente povoado, muito dinâmico e de grande complexidade. Esse ambiente é afetado tanto pelos processos naturais como pelas transformações causadas pelo homem. A gestão dessas zonas exige uma profunda compreensão dos fenômenos físicos, químicos e biológicos que infl uenciam a morfologia, a erosão e a evolução desses ecossistemas. (CMIO, 1999). De toda a área dos oceanos, apenas 10% é produtiva. Dessa área produtiva, somente 9,9% correspondem às plataformas continentais e 0,1% às zonas de ressurgências, também contíguas à costa. Os 90% restantes são quase absolutamente desérticos. Conclui-se que as áreas costeiras são 5 vezes mais produtivas que o oceano no seu todo e que as áreas de ressurgência são em média 50 vezes mais produtivas, podendo alcançar produtividade 75 vezes maiores que a do oceano. 17 Introdução à pesca e à aquicultura A02 A maior parte da produção pesqueira se dá dentro das 200 milhas próximas da terra (ZEE), o que torna os recursos pesqueiros muito suscetíveis aos efeitos das atividades humanas. O oceano tropical compreende a 50% da área total de águas oceânicas globais e 30% da área total das plataformas continentais. Apesar disso, é responsável por apenas 16% da produção pesqueira global. A fi gura 4 evidencia que a produtividade primária (número de organismos autotrófi cos por área ou volume) do hemisfério Norte é superior à do hemisfério Sul, o que explica o fato do Atlântico Norte ser bem mais produtivo, em termos de pesca, que o Atlântico Sul. As áreas mais escuras são àquelas de maior presença de nutrientes, consequentemente, mais fi to/zooplâncton e, portanto, maiores pescarias. Figura 4 – Visão global da distribuição geográfi ca da produção primária (fi toplâncton) dos oceanos, representada pelas áreas sombreadas Fonte: FAO (1994 apud CADDY; GRIFFITHS, 1996). 6Praticando... 18 Introdução à pesca e à aquicultura A02 Identifi car as principais zonas de maior produtividade primária no mundo (verifi car as áreas mais escuras na fi gura 4), tendo como base os textos sobre nutrientes e ressurgência. Com base nos textos anteriores, responda as afirmativas abaixo assinalando V, quando verdadeira ou F de falso. [ ] A FAO é um órgão das Nações Unidas responsável pelo monitoramento e avaliação dos progressos da pesca global. [ ] A base da cadeia alimentar marinha é umacomunidade de organismos microscópicos chamada plâncton. [ ] A distribuição e a abundância de comunidades de fitoplâncton dependem de um conjunto de variáveis, como a luz, a temperatura e o nível de nutrientes existentes na água. [ ] As áreas mais produtivas de todos os mares tendem a situar-se em águas oceânicas. [ ] 90% da região oceânica são quase absolutamente desérticas. [ ] A produtividade primária do hemisfério Sul é superior à do hemisfério Norte, o que explica o fato de o Atlântico Sul ser bem mais produtivo, em termos de pesca, que o Atlântico Norte. 19 Introdução à pesca e à aquicultura A02 Pescaria no litoral oeste da América do Sul O recente relatório sobre o setor de frutos do mar na América Latina é o segundo relatório anual a ser publicado pela Glitnir a respeito do mercado da América Latina e o fi nal de uma série de sete planejados para 2007. Esse material está disponível em www.glitnir.is/seafood. Dados fornecidos por esse relatório: -- A pesca total referente às nações da América Latina contabilizou 17,1 milhões MT (metric tons/toneladas métricas) em 2005, (17,7% da pesca mundial) com Peru e Chile se destacando como as principais nações produtoras de 82% do volume total. -- Em 2006, a pesca argentina cresceu 24% em relação ao ano anterior, atingindo 1,1 milhão de MT, sendo os maiores contribuidores para isso a lula e o camarão argentino vermelho. -- O merlúcio é a espécie mais importante da Argentina com a pesca total atingindo 354 mil MT em 2006, uma redução de 2,3% cento em relação ao ano anterior. -- O Peru é o segundo maior produtor do mundo de pescados com aproximadamente um terço da produção mundial e 41% das exportações internacionais em 2006. -- O consumo anual de pescados nos países analisados é maior no Peru (20,0 kg por pessoa), seguido de Chile (16,5 kg), Argentina (6,5 kg) e Brasil (6,0 kg). -- As espécies oceânicas são parte signifi cativa da pesca peruana, sendo mais usadas no setor de frutos do mar. A espécie mais importante é a anchova. Desde 2002, somente a anchova pode ser usada em pescados. O uso de sardinhas, carapaus e cavalas está restrito ao consumo humano direto. -- Em 2006, o Peru exportou 97% de pescados e 96% da produção de óleo de peixe. 41% das exportações foram para a China, 16% para a Alemanha e 13 % para o Japão. A demanda por pescados, especialmente na China e na Europa, deve aumentar ainda mais nos próximos anos com uma necessidade cada vez maior de uma alimentação saudável. 7Praticando... 20 Introdução à pesca e à aquicultura A02 Por que será que o Peru é um dos maiores produtores de pescado do mundo? Com base no que você aprendeu até aqui, procure responder a essa pergunta. Utilize o fórum em sala para dar sua opinião e conhecer as respostas dos seus colegas. Estatísticas da FAO Existem diferentes formas de visualizar os dados de captura a partir das estatísticas da FAO. Uma das possíveis vias é através do gráfi co de capturas em função da latitude (ver fi gura abaixo), que documenta a importância relativa das pescarias de peixes. Para se fazer uma interpretação correta deste gráfi co deve-se compreender as principais características e implicações dos padrões representados. Apenas estão incluídos os peixes cujo registro de captura se reporta à espécie e para os quais estão disponíveis os limites de latitude. As capturas FAO utilizadas incluem 504 espécies de peixes ósseos e correspondem à média dos dados disponíveis nos últimos 5 anos. Este ponto é importante uma vez que as capturas FAO também são baseadas e registradas as pescarias ilegais ou não registradas, nas quais não são identifi cadas as espécies de cerca de 50% das capturas mundiais, especialmente nas latitudes baixas (zona tropical). Se estes aspectos fossem considerados, teríamos uma saliência nas latitudes compreendidas entre 20°N e 20°S, ao contrário do que se verifi ca neste gráfi co cujo o máximo ocorre entre 60°-30°N. Espera-se que no futuro o desenvolvimento da base de coleta de dados possibilite obter-se um gráfi co mais correto que revele a importância real das espécies tropicais nas pescas mundiais. Fonte: FAO Capturas médias anuais por espécie (t* 106) La ti tu de ( S o u N ) [spp. = 504] [Capturas = 63.4 t * 106] Equador N S 0 0 45 45 2 4 6 8 10 8Praticando... 21 Introdução à pesca e à aquicultura A02 Figura 5 – Comparação da produção entre os hemisférios Note e Sul. Fonte: FAO (2002). Segundo a fi gura acima, qual hemisfério é mais representativo em relação às capturas de pescado no mundo? Quais as possíveis causas? Consulte também a fi gura 4. BRASIL Região Norte Região Sudeste Região Nordeste Região Sul C. das Malvinas C. do Brasil C. C. Norte do Brasil Cabo Orange Convergência Subtropical C. Sul Equatorial 200m 22 Introdução à pesca e à aquicultura A02 As correntes e as pescarias no litoral brasileiro A produtividade da região Norte é incrementada em função do rio Amazonas. Este despeja um grande volume de água doce, com elevada quantidade de material de origem terrestre em suspensão, a qual ao se depositar sobre a plataforma continental da foz daquele rio, faz com que a costa dos estados do Pará e Amapá apresente alta produtividade, especialmente de comunidades do fundo do mar. A região Nordeste, por sua vez, dada a predominância das características da Corrente do Brasil, apresenta baixa produtividade de recursos pesqueiros. Nas regiões Sudeste e Sul, a infl uência da massa de água da Corrente das Malvinas, a ocorrência de ressurgências ou a penetração da Água Central do Atlântico Sul – ACAS, possibilitam uma maior abundância de pescado, especialmente até a altura de Cabo Frio. As ressurgências ocorrem em decorrência da combinação de fatores como mudanças na direção da Corrente do Brasil, topografi a de fundo e efeito dos ventos predominantes na área (GEOBRASIL, 2002, p. 132-133). Objetivando suprir lacunas de conhecimento sobre o potencial de recursos em toda a Zona econômica exclusiva (ZEE), o Programa “Avaliação do Potencial Sustentável de Recursos Vivos na Zona Econômica Exclusiva” - Programa REVIZEE resultou do detalhamento da meta principal a ser alcançada pelo IV Plano Setorial para os Recursos do Mar (PSRM), que vigorou no período 1994/1998. O V PSRM, com vigência para o período de 1999 a 2003, manteve o Programa como linha de “pesquisa prioritária”, em suas estratégias de ação (CIRM, 1999). A coordenação de sua execução, a cargo do Ministério do Meio Ambiente (MMA) teve como estratégia básica o envolvimento da comunidade científi ca nacional, especializada em pesquisa oceanográfi ca e pesqueira, atuando de forma multidisciplinar e integrada. Figura 6 – Correntes marítimas do costa brasileira Fo nt e: M at su ur a (1 9 9 5 ). Milhões de toneladas China Peru Japão Estados Unidos Chile Indonésia Federação Russa Índia Tailândia Noruega Islândia Filipinas 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 1,9 2,0 2,7 2,9 4,0 4,1 4,3 4,7 5,0 10,7 17,0 23 Introdução à pesca e à aquicultura A02 Espécies principais capturadas O debate sobre o uso sustentável do meio ambiente marinho e de seus recursos, frente à diversidade da biota marinha, leva, forçosamente, à necessidade dos envolvidos terem que se familiarizar com toda uma série de aspectos técnicos, especialmente, no que diz respeito aos recursos vivos, sua biologia e seu entorno. É importante destacar que a reprodução e o crescimento dos indivíduos, garantia de renovação dos estoques, impõe limites ao tamanho dos estoques capturáveis. A mobilidade dos organismos aquáticos, a distribuição geográfi ca das populações, a extensão da área onde há ocorrência da pesca e de váriasespécies em um mesmo ambiente fazem com que a pescaria comercial, geralmente dirigida a uma determinada espécie-alvo, termine por impactar as demais espécies, o que difi culta os estudos de avaliação dos estoques e dos efeitos da pesca sobre eles. No mundo Dentre os países com maior produção marítima e continental da pesca de captura (extrativa) mundial, no ano de 2000, em ordem decrescente, destacam-se: China, Peru, Japão, Estados Unidos, Chile, Indonésia, Federação Russa, Índia, Tailândia, Noruega, Islândia e Filipinas. O Brasil, em relação à produção total mundial de pescado, fi cou em torno do 24º lugar, o que tem sido motivo de comparações. Figura 7 – Principais países produtores da pesca de captura marinha e continental, no ano de 2000 Fo nt e: F AO ( 2 0 0 2 ). Biota Conjunto de seres animais e vegetais de uma região. Espécies mais capturadas (milhões de Toneladas em 1998) 4,5 4 3,5 3 2,5 2 1,5 0,5 1 0 4 2,6 2,1 2 1,9 1,9 1,7 1,2 P es ca da Al as ka A re nq ue At lâ nt ic o A nc ho va Ja po ne sa C av al a C hi le C av al a C hu b A tu m S ki pj ac k A nc ho ve ta B ac al ha u At lâ nt ic o 24 Introdução à pesca e à aquicultura A02 É relevante acrescentar, ainda, que apesar do significativo número de espécies identifi cadas nos desembarques, grande parte da produção é obtida da captura de um reduzido número delas. Do total de 186 espécies pelágicas capturadas entre 1950 e 1994, 50% da média dos desembarques foram representados por sete espécies: anchoveta, arenque do Atlântico, sardinha japonesa, sardinha chilena, estornino, capelán e jurel chileno. Quanto às espécies demersais, as duas principais espécies foram: pescada (Colin) do Alasca e o bacalhau do Atlântico. Figura 8 – Principais espécies capturadas na pesca marinha mundial, no ano de 2000 Fonte: FAO (2002). No Brasil Em todas as regiões do Brasil banhadas pelo mar há espécies de peixes cuja sobrevivência está ameaçada, afi rma um livro sobre pesca artesanal publicado pelo PNUD e pelo IBAMA (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Renováveis). O problema é mais grave no Sul, onde 32% dos 142 tipos de peixes marinhos aproveitados pela pesca artesanal têm risco de não conseguir se reproduzir. Os dados do livro, intitulado “Nas redes da pesca artesanal” e lançado no fi nal do ano de 2007, são de 2005. No Sudeste, 29% das 191 espécies ligadas à pesca artesanal estão ameaçadas, ou seja, estão sendo capturadas numa intensidade que ameaça a desova e capturas futuras. No Nordeste, região brasileira com maior diversidade de peixes marinhos pescados artesanalmente, o risco ronda 13% das 253 espécies. No Norte, estão em perigo 3% das 74 variedades de pescados marinhos. A situação, avalia o estudo, está ligada a fatores como extração excessiva pela pesca industrial e artesanal, poluição das águas, aumento desordenado do turismo, especulação imobiliária e desapropriação de terras dos pescadores. 25 Introdução à pesca e à aquicultura A02 Região Norte Os principais recursos explotados pela pesca artesanal na Região Norte são, em ordem decrescente de importância, os peixes ósseos, crustáceos, moluscos e peixes elasmobrânquios (tubarões e raias). A classifi cação dos desembarques por habitat dos recursos indica, por sua vez, que entre 50% e 70% da produção é de origem demersal e entre 10% e 20% é de origem pelágica. Destacam-se atualmente como principais espécies de peixes desembarcadas a pescada amarela Cynoscion acoupa, as sardas, cavalas e bonitos (Scombridae), os bagres (Ariidae), incluindo a gurijuba Arius spp., uritinga Arius proops e o bandeirado Bagre spp., a corvina Micropogonias furnieri e outras espécies de cações. Espécies também importantes são as tainhas Mugil spp., pargo Lutjanus purpureus e a piramutaba Brachyplatystoma vaillantii. Espécies de maior importância antes de 1990, como a piramutaba, as tainhas e o xaréu Caranx hippos, apresentam uma importância reduzida no período mais recente. Por outro lado, os desembarques de espécies como a pescada amarela, os bagres gurijuba, uritinga e bandeirado, pargo, cações e peixes pelágicos da família Scombridae se tornaram mais expressivos a partir da segunda metade dos anos 90. Entre os crustáceos, o caranguejo-uçá Ucides cordatus, o camarão-rosa Farfantepenaeus spp., o camarão-branco Litopenaeus schimitti, o camarão-sete-barbas Xiphopenaeus kroyeri e as lagostas são as espécies mais importantes. Fonte: Vasconcelos et al (2005, p. 8). Região Nordeste Os principais recursos explotados na Região Nordeste são peixes ósseos e crustáceos, sendo muito pequena a contribuição de peixes elasmobrânquios e moluscos. Grande parte dos desembarques são recursos demersais, apesar de ser evidente uma maior importância dos pelágicos quando comparado à Região Norte. Dentre os principais recursos artesanais desembarcados em 2002 destacam-se a guaiúba Ocyurus chrysurus, tainhas Mugil spp. e peixes das famílias Clupeidae (sardinhas), Scombridae (sardas, bonitos e cavalas), Hemiramphidae (agulha), Lutjanidae (cioba) e Scianidae (corvina e pescadas). Entre os invertebrados destacam-se o camarão-sete-barbas Xiphopenaeus kroyeri, lagostas Panulirus spp., caranguejo-uçá Ucides cordatus, e outros camarões da família Penaeidae. Os dados apontam algumas mudanças signifi cativas na composição dos desembarques, como o aumento da produção de camarão-sete-barbas, sardinhas e espada, Trichiurus lepturus, desde meados dos anos 90. 26 Introdução à pesca e à aquicultura A02 Os estoques de lagosta estão sob elevado nível de sobrepesca e têm apresentado uma diminuição dos rendimentos desde meados dos anos 90. As duas principais espécies de Lutjanidae, a guaiúba Ocyurus chrysurus e o pargo piranga Rhomboplites aurorubens, estão sendo intensamente explotadas ou sobre-explotadas em algumas regiões do Nordeste. Outros lutjanídeos importantes como Lutjanus jocu e L. vivanus estão submetidos aos níveis ideais de explotação, enquanto L. analis e L. synagris estão moderadamente sobre-explotados. Os desembarques totais de badejos e garoupas mostram tendência decrescente. Com exceção dos pargos L. jocu e L. vivanus, e das cavalas, Scomberomorus spp., todas as demais são classifi cadas como sobre-explotadas ou ameaçadas de sobre-explotação”. Fonte: Vasconcelos et al (2005, p. 12). Região Sudeste Os peixes ósseos são os principais recursos explotados na Região Sudeste, sendo a contribuição de peixes elasmobrânquios e invertebrados muito reduzida. Grande parte da produção pesqueira do Sudeste é composta de recursos pelágicos, o que a difere das demais regiões do Brasil onde a produção é predominantemente demersal. Houve, entretanto uma diminuição contínua na importância de espécies pelágicas que passam de 66% do total desembarcado em 1980 para 32% em 2002. Esta mudança foi devido, principalmente, a marcante diminuição das capturas de importantes estoques pelágicos como as manjubas, sardinha, cavalinha e outros Scombridae. Dentre os principais recursos artesanais desembarcados em 2002 destacam- se o peixe-porco Balistes capriscus, o dourado Coryphaena hippurus, manjubas (Engraulididadae, principalmente, Anchoviella lepidentostole), tainhas Mugil spp. e corvina Micropogonias furnieri. Entre os crustáceos o camarão-sete-barbas Xiphopenaeus kroyeri é atualmente o recurso dominante nos desembarques. Entre os invertebrados as principais mudanças foram a redução dos desembarques dos camarões Artemesia longinaris, Litopenaeus schimitt, Xyphopenaeus kroyeri e lulas (Teuthoidea). A anchoíta é um recurso com potencial pesqueiro na região, emborapermaneça ainda inexplorado assim como na Região Sul. (VASCONCELOS et al, 2005, p. 14-15). Os peixes ósseos adaptaram-se a quase todos os ambientes aquáticos. Seu esqueleto é formado por crânio, coluna vertebral e por um conjunto de ossos que sustentam as duas extremidades anteriores ou barbatanas peitorais e as duas extremidades posteriores ou barbatanas pélvicas. Além disso, possuem uma barbatana dorsal (situada na parte superior do corpo), uma anal (na parte inferior) e uma caudal (no extremo posterior do corpo). Fonte: <http://www.klickeducacao.com.br/2006/conteudo/pagina/0,6313,POR-883-4432-,00.html>. Acesso em: 7 jan. 2010. 9Praticando... 27 Introdução à pesca e à aquicultura A02 Região Sul Os principais recursos artesanais na Região Sul são peixes ósseos, seguidos dos crustáceos e dos elasmobrânquios. A importância dos moluscos é muito reduzida e vem diminuindo ao longo do tempo. Atualmente, os principais recursos pesqueiros artesanais são a corvina Micropogonias furnieri, a manjuba (Engraulididae), enchova Pomatomus saltatrix, castanha Umbrina canosai, tainhas Mugil spp., camarão-sete-barbas Xiphopenaeus kroyeri e o camarão-rosa Farfantepenaeus paulensis. Fonte: Vasconcelos et al (2005, p. 17). Nos textos acima, você obteve informações sobre a pesca nas principais regiões do país. Agora, procure a colônia de pescadores do seu município e se informe sobre as principais espécies capturadas em sua região, no contexto atual. Leituras complementares Para saber mais sobre os assuntos estudados nesta aula, você pode consultar a seguinte bibliografi a: BRASIL. MMA. Programa REVIZEE: avaliação do potencial sustentável de recursos vivos na zona econômica exclusiva: relatório executivo / MMA, Secretaria de Qualidade Ambiental. Brasília: MMA, 2006. 28 Introdução à pesca e à aquicultura A02 KERSTEN, Ignácio Mendez. A ONU e um panorama da pesca mundial. Revista Âmbito Jurídico, Rio Grande, n. 36, 2 jan. 2007. Disponível em: <http://www.ambito-juridico. com.br/pdfsGerados/artigos/1621.pdf>. Acesso em: 11 nov. 2009. COSTA, A. L. Nas redes da pesca artesanal. Brasília: IBAMA/PNUD, 2007. 308p. DIAS NETO, José; MARRUL FILHO, Simão. Síntese da situação da pesca extrativa marinha no Brasil. Brasília: IBAMA/DIFAP/CGREP, 2003. 53 p. As indicações acima abordam de forma bastante abrangente a temática da pesca no Brasil, e devem ser tidas como referência nas suas leituras ao longo do curso. Nesta aula, você estudou algumas espécies capturadas no mundo e no Brasil. Viu também que os aparelhos utilizados no ambiente marinho ou de água doce, em áreas rasas ou de grandes profundidades, capturam diversos tipos de organismos na superfície ou no fundo do mar, peixes individuais ou cardumes. Você teve acesso a informações sobre a importância dos oceanos para a vida na terra e como esses podem infl uenciar ecossistemas e o clima de todo o planeta. Aprendeu também os conceitos necessários para entendimento de como funciona a atividade de pesca, o relevo submarino e as áreas jurisdicionais. A pesquisa realizada sobre alguns conceitos deverá contribuir para a sua familiarização com um vocabulário que fará parte das nossas aulas, daqui para frente, bem como nas demais disciplinas do curso, e, principalmente, no exercício da sua futura profi ssão. Este é o momento de você fazer uma avaliação dos assuntos que abordamos nesta aula. Qualquer dúvida consulte os exercícios anteriores e as bibliografi as indicadas. 1. Qual a largura do mar territorial brasileiro? 29 Introdução à pesca e à aquicultura A02 2. Qual a largura da zona econômica exclusiva a partir da linha da costa? 3. Quais as causas da ressurgência e como ela afeta as zonas de pesca no mundo? 4. Por que o Peru tem a maior produção de pescado das Américas? 5. As proximidades da ilha de Marajó é uma das áreas escuras da fi gura 4. Por quê essa área tem alta produtividade primária? 6. Faça um resumo dos principais espécies de pescado capturadas no mundo. 7. A pescada do Alasca é a espécie mais capturada no mundo. Justifi que de acordo com a fi gura 4. 8. Caracterize as principais espécies capturadas no Brasil por região. 9. Qual o nome das duas correntes quentes que banham o litoral do Brasil e como elas interferem da produção pesqueira? 10. Qual a importância da corrente das Malvinas nas áreas de pesca das regiões Sul e Sudeste do Brasil? Referências BRASIL. MMA. Programa REVIZEE: avaliação do potencial sustentável de recursos vivos na zona econômica exclusiva: relatório executivo / MMA, Secretaria de Qualidade Ambiental. Brasília: MMA, 2006. COMISSÃO MUNDIAL INDEPENDENTE SOBRE OS OCEANOS - CMIO. O oceano... nosso futuro: relatório da comissão mundial independente sobre os oceanos. Rio de janeiro: Comissão Nacional Independente sobre os Oceanos. 1999. 248p. Disponível em: <http://www.mdn.gov.pt/NR/rdonlyres/22D2295A-838A-4B05-B176- 1CC8D6BD1DAB/0/Relatorio_Oceanos.pdf>. Acesso em: 11 nov. 2009. COSTA, A. L. Nas redes da pesca artesanal. Brasília: IBAMA/PNUD, 2007. 308p. DIAS NETO, José; MARRUL FILHO, Simão. Síntese da situação da pesca extrativa marinha no Brasil. Brasília: IBAMA/DIFAP/CGREP, 2003. 53 p. Anotações 30 Introdução à pesca e à aquicultura A02 GEO-BRASIL 2002. O estado dos recursos pesqueiros: pesca extrativa e aquicultura. O estado do meio ambiente no Brasil. Disponível em: <www.ibama.gov.br/rec_pesqueiros/ download.php?id_download=46>. Acesso em: 11 nov. 2009. VASCONCELOS, M. et al. Relatório integrado: diagnóstico da pesca artesanal no Brasil como subsídio para o fortalecimento institucional da Secretaria Especial de Aquicultura e Pesca – versão preliminar Anotações 31 Introdução à pesca e à aquicultura A02 Anotações 32 Introdução à pesca e à aquicultura A02 03 João Vicente Mendes Santana C U R S O T É C N I C O E M P E S C A Tipos e Métodos de Pesca – Parte 1 INTRODUÇÃO À PESCA E À AQUICULTURA Coordenadora da Produção dos Materias Vera Lucia do Amaral Coordenador de Edição Ary Sergio Braga Olinisky Coordenadora de Revisão Giovana Paiva de Oliveira Design Gráfi co Ivana Lima Diagramação Elizabeth da Silva Ferreira Ivana Lima José Antonio Bezerra Junior Mariana Araújo de Brito Arte e ilustração Adauto Harley Carolina Costa Heinkel Huguenin Leonardo dos Santos Feitoza Revisão Tipográfi ca Adriana Rodrigues Gomes Margareth Pereira Dias Nouraide Queiroz Design Instrucional Janio Gustavo Barbosa Jeremias Alves de Araújo Silva José Correia Torres Neto Luciane Almeida Mascarenhas de Andrade Revisão de Linguagem Maria Aparecida da S. Fernandes Trindade Revisão das Normas da ABNT Verônica Pinheiro da Silva Adaptação para o Módulo Matemático Joacy Guilherme de Almeida Ferreira Filho EQUIPE SEDIS | UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE – UFRN Projeto Gráfi co Secretaria de Educação a Distância – SEDIS Governo Federal Ministério da Educação Você ve rá por aqu i... Objetivos 1 Introdução à pesca e à aquicultura A03 Estamos de volta para mais uma viagem pelo mundo da pesca e da aquicultura. Hoje, veremos que a criação do Código de Pesca Responsável permitiu observar o interesse dos envolvidos para conservar e utilizar racionalmente os recursos pesqueiros, além de buscar a consciência social e ambiental. Você já reparou que há uma grande variedade de artes de pesca na sua região? Imagine um país com as dimensões continentais do Brasil, com a diversidade de tipos e artes de pesca... Agora, pense que isso ocorre em todo o mundo e, devido a essa grande diferença, a FAO – Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação – propôs, em 1990, uma sistematização das artes de pesca, agrupando-as em elementos fundamentais de construção,com a fi nalidade de implantar um sistema de ordenação pesqueira efi caz. Os aparelhos são utilizados no ambiente marinho ou nos ambientes de água doce, em áreas rasas ou de grandes profundidades e capturam diversos tipos de organismos na superfície ou no fundo, peixes em pouca quantidade ou cardumes. Tenho certeza de que poderemos, juntos, aprender muito e que isso ajudará você a ser profi ssional de sucesso na profi ssão que escolheu. Antes, porém, é muito importante conhecer os objetivos desta aula. Identificar os principais tipos e métodos de pesca realizados no mundo pela classifi cação da FAO- ISSCFG. Identificar os principais tipos e métodos de pesca realizados na região em que o curso está ocorrendo. Identifi car algumas das principais espécies de recursos pesqueiros capturadas por diferentes artes de pesca. 2 Introdução à pesca e à aquicultura A03 Para começo de conversa... Estrelas do mar Um homem estava caminhando ao pôr do sol em uma praia deserta mexicana. À medida que caminhava, começou a avistar outro homem à distância. Ao se aproximar do nativo, notou que ele se inclinava, apanhando algo e atirando na água. Repetidamente, continuava jogando coisas no mar. Ao se aproximar ainda mais, nosso amigo notou que o homem estava apanhando estrelas do mar que haviam sido levadas para a praia e, uma de cada vez, as estava lançando de volta à água. Nosso amigo fi cou intrigado. Aproximou-se do homem e disse: - Boa tarde, amigo. Estava tentando adivinhar o que você está fazendo. - Estou devolvendo estas estrelas do mar ao oceano. Você sabe, a maré está baixa e todas as estrelas do mar foram trazidas para a praia. Se eu não as lançar de volta ao mar, elas morrerão por falta de oxigênio. - Entendo, respondeu o homem, mas deve haver milhares de estrelas do mar nesta praia. Provavelmente, você não será capaz de apanhar todas elas. É que são muitas, simplesmente. Você percebe que provavelmente isso está acontecendo em centenas de praias acima e abaixo desta costa? Vê que não fará diferença alguma? O nativo sorriu, curvou-se, apanhou outra estrela do mar e, ao arremessá-la de volta ao mar, replicou: - Fez diferença para aquela. Pense em como suas ações - mesmo que pequenas - realizadas antes, durante e após esta disciplina poderão contribuir para sua formação profi ssional. Todos a bordo e vamos zarpar! (Jack Canfi eld e Mark Hansen - Canja de galinha para a alma). Disponível em: <ftp://ftp.fao. org/docrep/ fao/005/v9878s/ v9878s00. pdf>. O Código de Conduta para uma Pesca Responsável 3 Introdução à pesca e à aquicultura A03 Introdução Desde a antiguidade, a pesca constitui uma importante fonte de alimentos para a humanidade, proporcionando emprego e benefícios econômicos aos que se dedicam a essa atividade. Antes se considerava que a riqueza dos recursos aquáticos fosse um dom ilimitado da natureza. Devido à crescente demanda mundial de produtos pesqueiros, as pescarias mundiais se desenvolveram de forma rápida com auxílios de inovações tecnológicas, tanto dos materiais de pesca como nos instrumentos eletrônicos e equipamentos de convés. Vimos, na primeira aula, que as comunidades pesqueiras desenvolvem atividades artesanais ou industriais para subsistência ou venda. Dessas condições derivam alguns problemas, como a dependência de intermediários, o escasso fi nanciamento disponível e a diminuição das capturas por causa da crescente contaminação das águas e, principalmente, do uso de artes de pesca inadequadas. Os peixes, como qualquer ser vivo, nascem, crescem, reproduzem e morrem. Então, se capturarmos os peixes antes que tenham suas crias pela primeira vez, estará se evitando a reprodução, e o recurso pesqueiro diminuirá. Por essa razão, devemos conhecer as artes de pesca e seu uso devido. O Código de Conduta para uma Pesca Responsável apontou alguns mecanismos necessários para a sustentabilidade da atividade, que devem ser cumpridas por todos os atores da cadeia produtiva: pescadores, atravessadores, exportadores e consumidores. Nesse sentido, a fi nalidade desta aula é possibilitar uma maior compreensão sobre os conceitos e métodos mais importantes empregados nas pescarias mundiais. As habilidades e conhecimentos que você, aluno, adquire ao cursar esta matéria permitem- no apropriar-se dos diferentes métodos de pesca utilizados na sua região. 4 Introdução à pesca e à aquicultura A03 Código de conduta para a pesca responsável O desenvolvimento dos conhecimentos e a evolução das pescarias mostraram ao homem que os recursos aquáticos são renováveis limitados e têm que se submeter a uma ordenação adequada, caso se queira que sua contribuição para o bem estar nutricional, econômico e social da crescente população mundial seja sustentável. A pesca é uma importante fonte de alimentos, emprego, lazer para as populações de todo o mundo e deveria ser conduzida de forma responsável. O Código de Conduta para uma Pesca Responsável estabelece princípios e normas internacionais para a aplicação de práticas responsáveis com vistas a assegurar a conservação e a gestão dos recursos vivos aquáticos, respeitando o ecossistema e a biodiversidade. Esse Código é voluntário, apesar de algumas partes estarem baseadas em normas pertinentes ao Direito Internacional, incluídas aquelas mostradas de maneira clara na Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, de 10 de dezembro de 1982. A criação do Código de Pesca Responsável permitiu observar o interesse dos pescadores, técnicos, armadores e empresários para conservar e utilizar racionalmente os recursos pesqueiros. Os diversos esforços realizados buscam a consciência social e ambiental. Vejamos alguns trechos desse Código: ... 8.5. Seletividade 8.5.1 Os Estados deveriam exigir que artes, métodos e práticas de pesca sejam, na medida do possível, sufi cientemente seletivos para minimizar os desperdícios, as rejeições, as capturas de espécies objeto de pesca, tanto espécies de peixe como de outras espécies, e os efeitos sobre as espécies associadas ou dependentes e que a fi nalidade dos regulamentos correspondentes não se desvirtuem por artifícios técnicos. Neste sentido, os pescadores deveriam cooperar no desenvolvimento de artes e métodos de pesca seletivos. 1Praticando... 5 Introdução à pesca e à aquicultura A03 O que é seletividade? É o padrão de exploração de uma arte de pesca; é a fração de indivíduos de um dado tamanho disponível à arte que irá capturar. Também é designada por recrutamento parcial. 1. Após ler o item 8.5.1 acima do Código de Conduta para uma Pesca Responsável, responda às seguintes questões: a) Que tipo de pescaria é mais importante na região onde você mora (ou do curso)? b) Essa(s) pescaria(s) captura principalmente que tipo de pescado (espécie alvo)? c) Além desse(s) pescado(s)-alvo, que outras espécies são capturadas? d) Há algum tipo de pescado que é capturado e é rejeitado? Caso afi rmativo, ele é jogado de volta à água vivo ou morto? 6 Introdução à pesca e à aquicultura A03 2. Após ler os itens 8.5.2 e 8.5.3 a seguir do Código de Conduta, responda à seguinte questão: há restrições na legislação para a principal pescaria (espécie alvo) na região onde você mora (ou do curso)? Pesquise no site do IBAMA <http://www.ibama.gov.br/recursos-pesqueiros/documentos/ portarias/> e da SEAP/PR <http://tuna.seap.gov.br/seap/html/ Legisla%C3%A7%C3%A3o/Legislacao.html#>. 8.5.2 Com o objetivo de melhorar a seletividade, os Estados, ao elaborarem as suas leis e regulamentos, deveriam ter em conta as diversas artes, métodos e estratégias de pesca seletivas disponíveis pela indústria. 8.5.3 Os Estados e as instituições competentes deveriam colaborar no desenvolvimento de metodologias uniformes para a investigação sobre a seletividadedas artes e métodos e estratégias de pesca. 7 Introdução à pesca e à aquicultura A03 Classifi cação da FAO-ISSCFG O processo de avaliação e de gestão dos recursos pesqueiros parte do conhecimento e do uso devido dos aparelhos de pesca e da prática responsável por parte das comunidades pesqueiras, como elementos fundamentais para construção de um sistema de ordenação efi caz. Por isso, em 1990, a FAO publicou o documento INTERNATIONAL STANDART STATISTICAL CLASSIFICATION OF FISHING GEAR (ISSCFG). Devido à grande variedade de tipos e métodos, as artes de pesca foram condensadas em categorias padronizadas com a fi nalidade de facilitar a coleta de dados e posterior avaliação estatística. A referência do trabalho completo é: NÉDÉLEC, Claude; PRADO, J. Defi nición y clasifi cación de las diversas categorías de artes de pesca. Rome: FAO/Dirección de Industrias Pesqueras, 1990. (Documento Técnico de Pesca, 222, Rev. 1). A seguir, apresentamos o resumo de algumas dessas categorias e subdivisões: TIPOS DE ARTES E MÉTODOS DE PESCA CLASSIFICAÇÃO ESTATÍSTICA INTERNACIONAL UNIFORMIZADA DAS ARTES DE PESCA – PARTE 1 QUADRO RESUMO CATEGORIA ABREVIATURA CÓDIGO REDES DE CERCAR 01.0.0 Rede de cerco com retenida (carregadeira) PS 01.1.0 Rede de cerco com retenida operada por um navio PS1 01.1.1 Rede de cerco com retenida operada por dois barcos PS2 01.1.2 Rede de cerco sem retenida (Lâmpara) LA 01.2.0 REDES ENVOLVENTES-ARRASTANTES 02.0.0 Rede envolvente-arrastante de içar para a praia SB 02.1.0 Rede envovente-arrastante de içar para bordo SV 02.2.0 Rede de cerco dinamarquês SDN 02.2.1 Rede de cerco escocês SSC 02.2.2 Rede envolvente-arrastante de parelha SPR 02.2.3 8 Introdução à pesca e à aquicultura A03 REDES DE ARRASTAR 03.0.0 Rede de arrasto pelo fundo 03.1.0 Rede de arrasto pelo fundo de vara TBB 03.1.1 Rede de arrasto pelo fundo com portas OTB 03.1.2 Rede de arrasto pelo fundo de parelha PTB 03.1.3 Rede de arrasto pelo fundo de lagostins TBN 03.1.4 Rede de arrasto pelo fundo de camarões TBS 03.1.5 Rede de arrasto pelágico 03.2.0 Rede de arrasto pelágico com portas OTM 03.2.1 Rede de arrasto pelágico de parelha PTM 03.2.2 Rede de arrasto pelágico de camarões TMS 03.2.3 Redes de arrasto germinadas com portas OTT 03.3.0 DRAGAS 04.0.0 Draga rebocada por embarcação DRB 04.1.0 Draga de mão DRH 04.2.0 REDES DE SACADA 05.0.0 Rede de sacada portátil LNP 05.1.0 Rede de sacada operada de embarcação LNB 05.2.0 Rede de sacada operada de terra LNS 05.3.0 Fonte: <www.igp.pt>. Acesso em: 17 jul. 2009. 01.0.0 Redes de cercar Descrição Arte de pesca de superfície utilizada na captura de espécies pelágicas. É uma arte de pesca que frequentemente possui um grande desenvolvimento vertical e em que o processo de captura consiste em envolver o peixe pelos lados e por baixo, impedindo a sua fuga pela parte inferior da rede, mesmo quando operada em águas profundas. Muitas vezes o cerco é efetuado com o auxílio de fontes luminosas com vistas à atração e concentração dos cardumes. Na construção de redes de cerco não se empregam materiais com fl utuabilidade positiva, à exceção das bóias. 9 Introdução à pesca e à aquicultura A03 O que é fl utuabilidade positiva? É a propriedade de certos materiais em sobrenadar ou se conservar à superfície de um líquido; nesse caso, a densidade do material é menor que a da água em que é usada. 01.1.1. Rede de cerco com retenida operada por um barco Descrição Trata-se de redes de cerco com retenida ou carregadeira, que são manobradas por uma embarcação. Figura 1 – Métodos e artes de pesca: rede de cerco com retenida operada por um barco Fonte: Nédélec e Prado (1990). O que é retenida ou carregadeira? É um cabo de grande extensão localizado na parte de baixo da rede de cerco. Sua extremidade ao ser rebocada por um guincho da embarcação é empregada para fechamento da rede. 2Praticando... 10 Introdução à pesca e à aquicultura A03 01.1.2. Rede de cerco com retenida operada por dois barcos Descrição Trata-se de redes de cerco com retenida que são manobradas por duas embarcações. É o caso mais vulgar em que a rede manobrada por um só barco, com recurso ou não a uma pequena embarcação auxiliar. 1. Identifi que, através de informações dos pescadores, se há ocorrência de artes e métodos de pesca na sua região que não conste da relação dessa categoria da ISSCFG/FAO estudada anteriormente. Figura 2 – Métodos e artes de pesca: rede de cerco com retenida operada por dois barcos Fonte: Nédélec e Prado (1990). 01.2.0. Rede de cerco sem retenida Descrição Rede de cerco desprovida de retenida, mas cuja forma permite cercar o peixe envolvendo-o pelos lados e por baixo. São normalmente operadas por uma só embarcação e não existem regras defi nidas quanto à sua construção. 11 Introdução à pesca e à aquicultura A03 2. Para melhor compreensão dos conceitos apresentados e familiarização com termos que serão muito utilizados em nossa disciplina, procure na Internet o signifi cado dos termos abaixo. Depois, identifi que as principais espécies capturadas na sua Região e classifi que-as em pelágicas ou demersais: a) Espécies pelágicas _______________________________________________ b) Espécies demersais ______________________________________________ c) Retenida ou carregadeira _________________________________________ 02.0.0. Redes envolventes-arrastantes Descrição geral Arte de pesca que é normalmente largada a partir de uma embarcação, podendo ser manobrada a partir de terra da própria embarcação. A técnica de captura consiste em cercar uma superfície de água com uma rede muito comprida, a qual pode estar dotada de um saco colocado normalmente no centro da rede. A rede é manobrada por meio de dois cabos fi xados nas suas extremidades e que têm por fi nalidade recolher a rede, concentrar o peixe e conduzi-lo para a boca (abertura) da rede. 12 Introdução à pesca e à aquicultura A03 Figura 3 – Métodos e artes de pesca: redes envolventes-arrastantes Fonte: Nédélec e Prado (1990). 02.1.0. Rede envolvente-arrastante de recolher para a praia Descrição Rede envolvente-arrastante que é largada a partir de uma embarcação e manobrada e recolhida a partir de terra. Pode ter ou não saco; no caso de não ter saco, a sua parte central, com malha de menor dimensão, é montada com grande folga de forma a originar uma bolsa onde se concentra o peixe capturado. Método de pesca que consiste no cerco de uma determinada área junto à costa, a partir de uma embarcação. A rede é arrastada para a praia, através dos respectivos cabos (cordas), manualmente ou com recurso a animais ou a equipamentos de força. Figura 4 – Métodos e artes de pesca: rede envolvente-arrastante de recolher para a praia Fonte: Nédélec e Prado (1990). 3Praticando... 13 Introdução à pesca e à aquicultura A03 Identifi que, através de informações dos pescadores, se há ocorrência de artes e métodos de pesca na sua região que não conste da relação dessa categoria da ISSCFG/FAO estudada anteriormente. 03.0.0. Redes de arrastar Descrição geral Tipo de arte de pesca rebocada que é constituída por um corpo de forma aproximadamente cônica, fechado por um saco e prolongado por asas até a boca (abertura). O princípio de funcionamento das redes de arrasto baseia-se na fi ltração. A rede de arrasto constitui um fi ltro que, em movimento na água, captura as espécies que se acumulam no saco da rede. Por esta razão, a efi cácia das redes de arrasto é, para além do comportamento das espécies alvo, face às partes constituintes da rede, fundamentalmente infl uenciada pelas capacidades fi ltrantesda rede, que, por outro lado, dependem da sua forma geral, do formato e abertura das malhas e diâmetros dos fi os empregados na sua construção. As redes de arrasto de malha pequena têm um escoamento de água reduzido, particularmente acentuado na parte posterior, o que pode facilitar a fuga de determinadas espécies ou retardar a sua entrada no saco. 14 Introdução à pesca e à aquicultura A03 3.1. Rede de arrasto pelo fundo Descrição Estas redes de arrasto são planejadas e armadas para pescar junto ao fundo. De acordo com o respectivo tipo, existem as redes de pequena abertura vertical, especialmente destinadas à captura de espécies demersais e as redes de grande abertura vertical, principalmente destinadas à captura de espécies semi-demersais e pelágicas. Nas redes de arrasto pelo fundo, o bordo inferior da boca da rede é normalmente constituído por um cabo de aço forte, forrado ou não e lastrado com correntes de ferro e muitas vezes munido com rodelas de borracha, roletes, esferas, etc. 03.1.1. Rede de arrasto pelo fundo de vara Descrição Tipo de rede de arrasto pelo fundo em que a abertura horizontal é assegurada por uma vara de madeira ou metal e cujo comprimento pode ultrapassar a dezena de metros e em cujas extremidades podem existir dois patins de ferro cuja base toca no fundo. Figura 5 – Métodos e artes de pesca - Rede de arrasto pelo fundo de vara Fonte: Nédélec e Prado (1990). Figura 6 – Métodos e artes de pesca - Rede de arrasto pelo fundo de vara Fonte: Nédélec e Prado (1990). 15 Introdução à pesca e à aquicultura A03 03.1.2. Rede de arrasto pelo fundo com portas Descrição Rede de arrasto pelo fundo rebocada por uma só embarcação e cuja abertura horizontal é assegurada pelas portas de arrasto relativamente pesadas e munidas de uma sapata de aço destinada a suportar um contato acentuado com o fundo. Figura 7 – Métodos e artes de pesca: rede de arrasto pelo fundo com portas Fonte: Nédélec e Prado (1990). 03.1.3. Rede de arrasto pelo fundo de parelha Descrição Rede de arrasto pelo fundo, rebocada por duas embarcações cujo afastamento entre ambas assegura a abertura horizontal da rede. Nestas condições, a resistência ao avanço exercida pela rede e respectivo armamento fi ca muito reduzida pela ausência de portas de arrasto, o que permite que dois arrastões pequenos possam rebocar uma rede de arrasto de grandes dimensões. Normalmente o comprimento de cabo real largado é muito maior que no arrasto de fundo com uma só rede e para a mesma profundidade o que faz com que parte do cabo real toque no fundo, encaminhando os peixes para a abertura da rede. 16 Introdução à pesca e à aquicultura A03 Figura 8 – Métodos e artes de pesca: rede de arrasto pelo fundo de parelha Fonte: Nédélec e Prado (1990). 03.1.4. Rede de arrasto pelo fundo de lagostins e 03.1.5. Rede de arrasto pelo fundo de camarões Descrição Tipo de rede de arrasto pelo fundo de pequena abertura vertical, com forma e malhagem especialmente adaptadas à captura de crustáceos (lagostins e camarões). Figura 9 – Métodos e artes de pesca: rede de arrasto pelo fundo de lagostins Fonte: Nédélec e Prado (1990). 17 Introdução à pesca e à aquicultura A03 Figura 10 – Métodos e artes de pesca - Rede de arrasto pelo fundo de camarões Fonte: Nédélec e prado (1990). 03.2.0. Rede de arrasto pelágico Descrição Rede de arrasto pelágica, geralmente de maiores dimensões que as redes de arrasto pelo fundo, é planejada e armada para trabalhar na coluna de água, perto da superfície. A seção anterior (asas) é normalmente de grande malhagem (número de malhas) ou formadas unicamente por cabos que conduzem os cardumes para o interior da rede. São redes normalmente compostas por 4 faces ou mais e rebocadas por uma ou duas embarcações com portas ou em parelha, respectivamente. O aumento das dimensões da rede deve-se à possibilidade de utilizar grandes malhagens, que chegam a atingir 30 metros ou mais, devido ao comportamento particular das espécies pelágicas, as quais, ao contrário das espécies mais ligadas ao fundo, são sensíveis à aproximação de um obstáculo, procurando afastar-se e não ultrapassá-lo. 03.2.2. Rede de arrasto pelágico de parelha Descrição Trata-se de redes de arrasto pelágico rebocadas por duas embarcações, cujo afastamento assegura a abertura horizontal das redes. Trata-se de redes planejadas e armadas para trabalhar entre duas águas, isto é, a meia água e ou à sub-superfície. 4Praticando... 18 Introdução à pesca e à aquicultura A03 Figura 11 – Métodos e artes de pesca - rede de arrasto pelágico de parelha Fonte: Nédélec e Prado (1990). 03.2.3. Rede de arrasto pelágico de camarões Descrição Trata-se de redes de arrasto pelágico para a captura de “Krill” (pequenos camarões planctônicos). Identifi que através de informações dos pescadores se há ocorrência de artes e métodos de pesca na sua região que não conste da relação dessa categoria da ISSCFG/FAO estudada anteriormente. 19 Introdução à pesca e à aquicultura A03 Para melhor compreensão dos conceitos apresentados e familiarização com as características, descreva as diferenças entre as redes de arrasto pelágico e de fundo: 04.0.0. Dragas Descrição geral Termo genérico utilizado para se referir às artes de pesca rebocadas, a pé ou por embarcações, sobre o fundo para a captura de moluscos bivalvos. São artes constituídas por um saco de rede cuja abertura está ligada a uma estrutura rígida, de forma e dimensões variáveis dotada, na parte inferior, de um painel com ou sem dentes, que revolve o fundo. São artes de pesca que revolvem o fundo e destinam-se à captura de moluscos, os quais fi cam retidos numa espécie de saco que permite a saída da água, areia e lodo. 04.1.0. Draga rebocada por embarcação Descrição Trata-se de dragas com pesos e dimensões variáveis manobradas a partir de embarcações. São, contudo, geralmente bastante pesadas e podem estar ou não equipadas com patins de ferro. 20 Introdução à pesca e à aquicultura A03 Figura 12 – Métodos e artes de pesca - Draga rebocada por embarcação Fonte: Nédélec e Prado (1990). Figura 13 – Métodos e artes de pesca - Draga rebocada por embarcação Fonte: Nédélec e Prado (1990). 04.2.0. Draga de mão Descrição Trata-se de pequenas e leves dragas que são manobradas à mão em águas pouco profundas. São dragas pequenas e leves, com ou sem dentes, dotadas ou não de saco e com um cabo de madeira mais ou menos comprido. Arrasta-se a pé ou a partir de uma embarcação. O cabo é curto e o pescador pode munir-se de um cinto para auxiliar no arrasto. Figura 14 – Métodos e artes de pesca: Draga de mão Fonte: Nédélec e Prado (1990). 5Praticando... 21 Introdução à pesca e à aquicultura A03 Figura 15 – Métodos e artes de pesca: Draga de mão Fonte: Nédélec e Prado (1990). Identifi que, através de informações dos pescadores, se há ocorrência de artes e métodos de pesca na sua região que não conste da relação dessa categoria da ISSCFG/FAO estudada anteriormente! 05.0.0. Redes de sacada Descrição Rede operada à mão ou mecanicamente, a partir de terra ou de embarcações, constituída por um pano de rede horizontal ou por um saco com forma de paralelepípedo, piramidal ou cônica, com a abertura virada para cima. A rede é submergida à profundidade desejada e são içadas na vertical à mão ou mecanicamente a partir de terra ou de embarcações. Os peixes que se encontram sobre ela fi cam retidos quando a rede é retirada da água. 22 Introdução à pesca e à aquicultura A03 Figura 16 – Métodos e artes de pesca – Redes de sacada Fonte: Nédélec e Prado (1990). 05.1.0. Rede de sacada portátil Descrição Trata-se de pequenas redes de sacada montadas numa armação circular e operada manualmente a partirde terra sem qualquer instalação fi xa ou de uma embarcação. Figura 17 – Métodos e artes de pesca: Redes de sacada portátil Fonte: Nédélec e Prado (1990). 23 Introdução à pesca e à aquicultura A03 Figura 18 – Métodos e artes de pesca – Redes de sacada portátil Fonte: Nédélec e Prado (1990). 5.2.0. Rede de sacada operada de embarcação Descrição Trata-se de redes de sacada em forma de bolsa de grandes dimensões, com ou sem armação de suporte, manobradas a partir de uma ou mais embarcações por intermédio de cabos e retrancas. Figura 19 – Métodos e artes de pesca: Redes de sacada operada de embarcação Fonte: Nédélec e Prado (1990). 24 Introdução à pesca e à aquicultura A03 Figura 20 – Métodos e artes de pesca: Redes de sacada operada de embarcação Fonte: Nédélec e Prado (1990). 05.3.0. Rede de sacada operada de terra Descrição Rede de sacada utilizada, normalmente, a partir de instalações fi xas em terra, situadas ao longo da costa ou nas margens de rios ou estuários e equipadas ou não com um sistema de recolhimento mecanizado. Figura 21 – Métodos e artes de pesca – Redes de sacada operada de terra Fonte: Nédélec e Prado(1990). 7 6Praticando... Praticando... 25 Introdução à pesca e à aquicultura A03 Vamos identificar, através de informações dos pescadores, se há ocorrência de artes e métodos de pesca na sua região que não conste da relação dessa categoria da ISSCFG/FAO estudada anteriormente. Vamos identifi car a ocorrência das categorias da ISSCFG/FAO na sua região e no Brasil. Coloque “Sim”, caso ocorra ou “Não tem”. CATEGORIA BRASIL SUA REGIÃO REDES DE CERCAR Rede de cerco com retenida (carregadeira) Rede de cerco com retenida operada por um navio Rede de cerco com retenida operada por duas barcas Rede de cerco sem retenida (Lâmpara) 26 Introdução à pesca e à aquicultura A03 REDES ENVOLVENTES-ARRASTANTES Rede envolvente-arrastante de içar para a praia Rede envovente-arrastante de içar para bordo Rede de cerco dinamarquês Rede envolvente-arrastante de parelha REDES DE ARRASTAR Rede de arrasto pelo fundo Rede de arrasto pelo fundo de vara Rede de arrasto pelo fundo com portas Rede de arrasto pelo fundo de parelha Rede de arrasto pelo fundo de camarões Rede de arrasto pelágico Rede de arrasto pelágico com portas Rede de arrasto pelágico de parelha Rede de arrasto pelágico de camarões Redes de arrasto germinadas com portas DRAGAS Draga rebocada por embarcação Draga de mão REDES DE SACADA Rede de sacada portátil Rede de sacada operada de embarcação Rede de sacada operada de terra Leituras complementares ORGANIZACION DE LAS NACIONES UNIDAS PARA LA AGRICULTURA Y LA ALIMENTACION. Codigo de conducta para la pesca responsable. Roma, 1995. Disponível em: <ftp:// ftp.fao.org/docrep/fao/005/v9878s/v9878s00.pdf>. Acesso em: 17 jul. 2009. Para saber mais sobre o tema desta aula, acesse o Site da FAO na Internet e leia o Código de Conduta da Pesca Responsável, fazendo uma refl exão sobre o que você observa na atividade da pesca na sua Região. Autoavaliação 27 Introdução à pesca e à aquicultura A03 Nesta aula, você estudou alguns tipos de aparelhos de pesca utilizados no mundo e no Brasil como: redes de cercar, redes envolventes-arrastantes, redes de arrasto, dragas e redes de sacada. Os aparelhos podem ser utilizados no ambiente marinho ou de água doce, em áreas rasas ou de grandes profundidades, capturam diversos tipos de organismos na superfície ou no fundo, peixes individuais ou cardumes. A FAO resumiu todas as artes em um documento publicado e revisado em 1990 com o título INTERNATIONAL STANDART STATISTICAL CLASSIFICATION OF FISHING GEAR (ISSCFG). Devido à grande variedade de tipos e métodos, as artes de pesca foram condensadas em categorias padronizadas com a fi nalidade de facilitar a coleta de dados e posterior avaliação estatística. O Código de Conduta para uma Pesca Responsável apontou alguns mecanismos necessários para a sustentabilidade da atividade, que devem ser cumpridas por todos os atores da cadeia produtiva: pescadores, atravessadores, exportadores e consumidores. Este é o momento de você fazer uma avaliação dos assuntos que abordamos nesta aula. Qualquer dúvida, consulte os exercícios anteriores e as bibliografi as indicadas. 1. Quais os tipos de artes de pesca utilizados no mundo. 2. Faça um resumo dos principais tipos de artes e métodos de pesca das regiões do Brasil. 3. Caracterize os tipos de artes por espécies capturadas no Brasil e no mundo. 28 Introdução à pesca e à aquicultura A03 Referências CADIMA, E. L. Manual de avaliação de recursos pesqueiros. FAO Documento Técnico sobre as Pescas, Roma: FAO, n. 393, 2000. DIRECÇÃO-GERAL DAS PESCAS E AQUICULTURA – DGPA. Disponível em: <www.igp.pt>. Acesso em: 17 jul. 2009. KARLSEN, L.; BJARNASON, B. A. La Pesca artesanal con redes de enmalle de deriva. Roma: FAO, 1989. (Documento Técnico de Pesca, 284). KESTEVEN, G. L. Manual of fi sheries science: part I: an introduction to fi sheries science. Roma: FAO, 1973. (Doc. Tec. de pesca). MEDINA, P. A. F. Instalaciones para el desembarque y la comercialización del pescado en pequeña escala. Roma: FAO, 1993. (Doc. Tec. De Pesca, 291). NÉDÉLEC, Claude; PRADO, J. Defi nición y clasifi cación de las diversas categorías de artes de pesca. Rome: FAO/Dirección de Industrias Pesqueras, 1990. (Documento Técnico de Pesca, 222, Rev. 1). OKINSKI, S. L.; MARTINI, L. W. Materiales didácticos para la capacitación de tecnología de artes y métodos de pesca. México: Serie de Materiales de Estudios en Ciencia y Tecnología de Mar/SEP, 1980. ORGANIZACION DE LAS NACIONES UNIDAS PARA LA AGRICULTURA Y LA ALIMENTACION. Codigo de conducta para la pesca responsable. Roma, 1995. Disponível em: <ftp:// ftp.fao.org/docrep/fao/005/v9878s/v9878s00.pdf>. Acesso em: 17 jul. 2009. SPARRE, P.; VENEMA, S. C. Introducción a la evaluación de recursos pesqueros tropicales: parte 1: manual FAO. Roma, Itália: FAO, 1995. (Doc. Tec. Pesca, 306, 1. Rev). VON BRANDT, A. Fish catching methods of the world. England: Farnham.Surrey, 1984. 06 João Vicente Mendes Santana C U R S O T É C N I C O E M P E S C A Vamos fazer uma revisão? INTRODUÇÃO À PESCA E À AQUICULTURA Coordenadora da Produção dos Materias Vera Lucia do Amaral Coordenador de Edição Ary Sergio Braga Olinisky Coordenadora de Revisão Giovana Paiva de Oliveira Design Gráfi co Ivana Lima Diagramação Elizabeth da Silva Ferreira Ivana Lima José Antonio Bezerra Junior Mariana Araújo de Brito Arte e ilustração Adauto Harley Carolina Costa Heinkel Huguenin Leonardo dos Santos Feitoza Revisão Tipográfi ca Adriana Rodrigues Gomes Margareth Pereira Dias Nouraide Queiroz Design Instrucional Janio Gustavo Barbosa Jeremias Alves de Araújo Silva José Correia Torres Neto Luciane Almeida Mascarenhas de Andrade Revisão de Linguagem Maria Aparecida da S. Fernandes Trindade Revisão das Normas da ABNT Verônica Pinheiro da Silva Adaptação para o Módulo Matemático Joacy Guilherme de Almeida Ferreira Filho EQUIPE SEDIS | UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE – UFRN Projeto Gráfi co Secretaria de Educação a Distância – SEDIS Governo Federal Ministério da Educação Você ve rá por aqu i... 1 Introdução à pesca e à aquicultura A06 Como você já sabe, a disciplina Introdução à pesca e à aquicultura tem como principal objetivo apresentar a você as primeiras impressões do mundo da pesca e da aquicultura. Esse conhecimento deverá servir de base para todas as demais disciplinas do curso, colaborando para o seu sucesso na profi ssão que você escolheu. Esta é uma aula de revisão e, mais do que uma repetiçãode aulas anteriores, é uma oportunidade para relembrar e analisar com maior profundidade alguns aspectos de maior relevância dos principais assuntos estudados até então. Além, é claro, de conter um grande número de atividades elaboradas especialmente para você. Revisar conceitos e características da atividade pesqueira, compreendendo as transformações ocorridas ao longo do tempo. Revisar conceitos envolvendo estoques pesqueiros. Revisar os principais tipos e métodos de pesca realizados no mundo pela classifi cação da FAO-ISSCFG, incluindo alguns exemplos de métodos de pesca utilizados no Brasil. Revisar conceitos envolvendo a diversidade do sistema de pesca no Brasil e no mundo, identifi cando características de diferenciação da pesca artesanal e industrial. Objetivos 2 Introdução à pesca e à aquicultura A06 Para começo de conversa... Você conhece esta música? “[...] Falar é complicado Quero uma canção Fácil, extremamente fácil Pra você, e eu e todo mundo cantar junto Fácil, extremamente fácil Pra você, e eu e todo mundo cantar junto [...]” (Fácil – Jota Quest). Muito bem! É assim mesmo que as atividades desta aula devem parecer para você. Fáceis, extremamente fáceis, já que se trata de assuntos já vistos em aulas anteriores e importantes demais para que um profi ssional da área possa esquecer. Pronto para o desafi o? Então vamos começar. 1Praticando... 3 Introdução à pesca e à aquicultura A06 Relembrando alguns conceitos... Esta, como você já sabe, é uma aula de revisão. Por isso, ela tem uma dinâmica diferente. Em cada assunto tratado, as atividades virão primeiro e as explicações, depois. Assim, você poderá avaliar o próprio aprendizado, identifi cando os assuntos em que sente mais difi culdade e que deverão receber mais atenção de sua parte. E para começar, você está se lembrando do conceito de pesca, estudado na nossa primeira aula? E da diferença entre pesca e pescaria? E entre pesca comercial e de subsistência? Muito bem. Vamos iniciar com uma atividade envolvendo esses conceitos, que estarão disponíveis logo abaixo para você conferir. Com base nas informações contidas na aula 1 desta disciplina, que trata do conceito e evolução da pesca, responda às perguntas abaixo: 1. Se alguém lhe perguntasse o que é pesca, o que você responderia? 2. Qual a diferença entre pesca e pescaria? 3. E qual a diferença entre pesca comercial e pesca de subsistência? 4 Introdução à pesca e à aquicultura A06 Podemos dizer, de uma forma simplifi cada, que pesca é uma atividade extrativista que tem o objetivo de capturar ou coletar o pescado e é praticada em um ambiente aquático. O termo pesca representa a própria ação de pescar, enquanto o termo pescaria é tudo o que envolve a ação de pescar: aparatos, indústria, ambiente, enfi m, tudo o que representa um conjunto de fatores presentes numa pescaria. Quando a prática dessa atividade é realizada apenas para o consumo da produção pelo pescador e sua família, chamamos essa prática de pesca de subsistência. Nos casos em que as pessoas vendem o produto da sua pescaria ou pelo menos parte dessa produção para remunerar o seu trabalho, mesmo que a outra parte seja utilizada para o consumo familiar, chamamos essa prática de pesca comercial. (Extraído da aula 1, com adaptações) Histórico da pesca no Brasil e no mundo E como tudo começou? Você está lembrado? Será correto afi rmar que a atividade da pesca surgiu antes mesmo da agricultura? E no Brasil? Essa atividade foi trazida pelos portugueses ou os nossos índios já pescavam por aqui? Preste bastante atenção na próxima atividade e confi ra se você a acertou relendo os textos logo a seguir. 2Praticando... 5 Introdução à pesca e à aquicultura A06 Ainda com base nas informações contidas na aula 1 desta disciplina, responda às perguntas abaixo: 1. Em que período estima-se que surgiu a atividade da pesca e quais os primeiros instrumentos utilizados pelo homem para auxiliar nas pescarias? 2. Qual a relação do aumento do consumo do pescado com a utilização de azeite e sal na conservação desse produto? 3. É correto afi rmar que os portugueses ensinaram aos índios no Brasil muitas das técnicas de captura de pescado que esses passaram a utilizar a partir de então? Por quê? 6 Introdução à pesca e à aquicultura A06 Desde os primórdios, o homem luta pela sua sobrevivência. No início, habitava as cavernas e era nômade, pois precisa sair em busca de alimentos. As origens da atividade pesqueira praticada pelo homem confundem-se com a sua própria história e antes mesmo da agricultura o homem já praticava a pesca ao extrair moluscos marinhos para a sua alimentação. Na sua luta pela sobrevivência o homem desenvolveu instrumentos que facilitassem sua coleta de pescado, o anzol. Estima-se que aproximadamente de 30 a 40 mil anos atrás a utilização do anzol pelo homem. Acredita-se que os primeiros anzóis foram de madeira. O homem só iniciou suas pescarias no oceano a partir da época do Império Romano. Foi nesse período que o peixe se tornou um alimento nobre, esse fato estabeleceu as pescarias oceânicas. O aumento do consumo de peixes, nesse período, fez com que as embarcações começassem a ter que se deslocar para lugares mais longe da comunidade, então como fariam para conservar o peixe, o que eles faziam para o peixe não chegar estragado? Nessa época os gregos e os egípcios já conservavam o peixe com o sal, além disso, os romanos introduziram a prática do uso de azeite na conserva do peixe. No Brasil, a pesca era praticada no início pelos índios, e foram eles que apresentaram aos portugueses muitas das técnicas de captura da época. Os índios pescavam principalmente em rios e em áreas mais reservadas dos estuários. A partir das técnicas de pesca utilizadas pelos índios, os europeus e os escravos africanos, adaptaram ou modifi caram essas técnicas. (texto extraído da aula 1, com adaptações) A evolução das pescarias Até agora você está indo muito bem. E sobre a evolução das pescarias, do que você está lembrado? Confi ra na nossa próxima atividade: 3 Responda aqui Praticando... 7 Introdução à pesca e à aquicultura A06 Qual a importância da Revolução Industrial para a evolução da atividade pesqueira? Essa informação também está presente na nossa primeira aula. A evolução das pescarias veio, na maioria das vezes, acompanhada da evolução das técnicas de outros setores produtivos. Ou seja, as novas tecnologias produzidas pelo homem para outros segmentos da sociedade acabaram sendo incorporadas e/ou adaptadas ao segmento da pesca. É evidente que outras ciências evoluíram mais que as ciências pesqueiras, mas você deve levar em conta as características do segmento pesqueiro. A Revolução Industrial, bem como as pesquisas utilizadas nas duas grandes Guerras Mundiais, nos séculos XIX e XX, respectivamente, trouxeram para a sociedade a aplicação dessas pesquisas em segmentos econômicos importantes, dentre eles o segmento pesqueiro. 8 Introdução à pesca e à aquicultura A06 Com a Revolução Industrial, surge a maquina a vapor, que logo depois seria utilizada nas embarcações. Com isso as embarcações não dependem mais apenas de remos e velas e dessa forma passa a navegar mais distante da costa e mais rápido, além disso, podem mecanizar equipamentos de auxilio a pesca, como os guinchos podem lançar e recolher mais rápido redes e linhas de pesca. Ainda nessa época novas técnicas de pesca são introduzidas, novos matérias que confeccionam artes de pesca são utilizados e novos métodos de conservação de alimentos através da tecnologia da utilização do frio controlado são inseridos no processo das pescarias, isso faz que a industria pesqueira comece a se consolidar como um segmento econômicoimportante para a sociedade. (Extraído da aula 1, com adaptações) Sobre estoques pesqueiros Na aula 2, falamos sobre a importância das pescarias, que não se mede apenas pela sua contribuição para a economia de um País, mas deve atender ao fato de serem os recursos e os produtos pesqueiros componentes fundamentais de trabalho e da segurança alimentar. Você aprendeu também que a ação humana é a principal responsável pelas transformações negativas que ocorrem nos mares e que se um recurso biológico renovável for bem gerido, a sua duração seria praticamente ilimitada, ao contrário do que sucede com os recursos minerais. Isso implica dizer que a ação do homem pode comprometer de forma defi nitiva os estoques pesqueiros, seja através da degradação dos ambientes aquáticos, seja pela pesca predatória, gerando, com isso, além de prejuízos econômicos, uma série de outros problemas envolvendo questões sociais e comprometendo a oferta de alimentos para as futuras gerações. 4Praticando... 9 Introdução à pesca e à aquicultura A06 Mas esse seria o resultado da ação do homem sobre os estoques pesqueiros. E o que determina a quantidade desses estoques que serão explorados pelo homem? Existem locais onde há uma maior quantidade de peixes e organismos aquáticos? Por que isso acontece? Quais fatores naturais infl uenciam na formação desses estoques? A partir de agora, vamos relembrar alguns conceitos relacionados a esse tema, mas fi que atento: não se trata de “decorar” conceitos, você deve tentar associar cada um desses fatores com informações sobre a realidade da pesca na Costa brasileira e/ou da sua região. Sem o conhecimento e domínio desses conceitos, você terá difi culdades em estabelecer, na prática, uma relação entre a infl uência de fenômenos naturais e/ou possíveis efeitos da ação do homem sobre esses estoques Cabe lembrar, mais uma vez, que esses conhecimentos lhe servirão de base e serão utilizados em outras disciplinas do Curso. Na nossa aula de número 2, foram apresentados vários conceitos ligados à atividade da pesca. Mostre o que você aprendeu conceituando os termos abaixo, utilizando seu próprio vocabulário: Mar Territorial: Zona Contígua 10 Introdução à pesca e à aquicultura A06 Região Abissal Plâncton Zona Econômica Exclusiva-ZEE Plataforma Continental Talude Região Pelágica 11 Introdução à pesca e à aquicultura A06 Principais nutrientes presentes na água do mar: Fitoplâncton Zooplâncton Correntes oceânicas Ressurgência 12 Introdução à pesca e à aquicultura A06 Devido à importância e às riquezas do mar, todo país marítimo preocupa-se em garantir para si uma parte do mar que banha o seu território. Essa parte do mar chama-se mar territorial e compreende uma faixa de 12 milhas marítimas de largura, medidas a partir da linha de baixa mar do litoral continental A partir daí temos águas internacionais, que não pertencem a nenhum país. Zona Contígua é a faixa que se estende de 12 a 24 milhas marítimas, contadas a partir das linhas de base que servem para medir o mar territorial. Nesta zona o país poderá tomar as medidas de fi scalização necessárias para evitar as infrações às leis e aos regulamentos alfadengários, fi scais, de imigração ou sanitários, no seu território ou no seu mar territorial. Zona Econômica Exclusiva (ZEE) é aquela onde cada nação possui direitos exclusivos sobre os recursos de suas águas oceânicas. Está localizada entre 0 e 200 milhas da costa litorânea. Compreende uma faixa que se estende das 12 às 200 milhas marítimas, contadas a partir das linhas de base que servem para medir a largura do mar territorial. A plataforma continental pode ser defi nida como a continuação do continente, mesmo submerso. Sua profundidade média é de 0 a 200 m, o que signifi ca que a luz solar infi ltra-se na água, gerando condições propícias à atividade biológica e ocasionando uma grande importância econômica para a atividade da pesca. Há também, na plataforma continental, a ocorrência de petróleo. (CMIO, 1999) Já o talude é o desnível abrupto de 2 a 3 km de profundidade, considerado o fi m do continente. Está situado entre a borda marítima da plataforma continental e as profundezas oceânicas, formando um desnível abrupto da ordem de 200 a 2.000m, onde se localizam os canhões submarinos, que são vales profundos e de paredes abruptas. Região Pelágica é o relevo submarino propriamente dito, com planícies, montanhas e depressões. É constituída pelas bacias oceânicas e as cristas ou dorsais oceânicas, sendo que o início dessa região é o limite inferior do talude continental, se estendendo por 2.000 a 5.000m. A região abissal, quando ocorre, aparece junto ao talude. É a região dos abismos submarinos ou fossas submarinas, depressões longas e estreitas que chegam a alcançar mais de 10 km de profundidade. As fossas estão localizadas perto dos continentes e das ilhas, nas proximidades do talude continental e abrangem apenas 1% da área dos fundos dos oceanos. É a porção menos conhecida do relevo marinho e ocupa apenas 3.4% da área total dos oceanos. 13 Introdução à pesca e à aquicultura A06 O plâncton representa o conjunto de todos os seres vivos fl utuantes que são levados pelas correntezas marinhas. Eles não possuem órgãos de locomoção e, quando os têm, são rudimentares. Existem duas categorias de seres planctônicos: o zooplâncton e o fi toplâncton: Fitoplâncton - é constituído pelos produtores, ou seja, os seres autotrófi cos, que desempenham um grande papel na cadeia alimentar marinha. As algas são os principais representantes dessa categoria. São os micro-organismos de origem vegetal e precisam de nutrientes para seu crescimento. Zooplâncton - é constituído por organismos heterotróficos, como microcrustáceos, larvas de peixe, protozoários, insetos, pequenos anelídeos e até caravelas. São os microorganismos de origem animal. As correntes são geradas pelo efeito de rotação da Terra, o vento, a forma das bacias oceânicas, e são responsáveis por manter os oceanos em constante movimento, transportando grandes massas d’água, com distintas temperaturas, densidades e salinidades, de uma região para outra, produzindo uma suavização nos climas das localidades próximas às zonas costeiras. Ressurgência é o nome dado ao fenômeno provocado por uma corrente de água fria, que se desloca em um nível profundo, e que ao chegar à costa afl ora e se aquece, resultante tanto dos raios solares, como da corrente de água. A corrente é rica em nutrientes, fazendo parte da cadeia alimentar de animais microscópicos, que por sua vez servem de alimento para outros maiores. A ressurgência faz com que os nutrientes vão para a superfície e também fi quem em todas as camadas da água. Os principais nutrientes presentes na água do mar são: Nitrogênio, Fósforo, Sódio, Potássio, Cálcio, Zinco e Magnésio. (Extraído da aula 2, com adaptações) Agora que você já relembrou alguns conceitos importantes, você seria capaz de reconhecer alguns dos principais impactos da ação do homem, através das pescarias, nos estoques pesqueiros do Brasil e do mundo? Resolva nossa próxima atividade e confi ra os resultados no texto logo a seguir. 5Praticando... Geo-Brasil 2002 14 Introdução à pesca e à aquicultura A06 Sobre a situação da pesca no Brasil, marque “V” para verdadeiro e “F” para falso. Essas informações estão baseadas na seguinte publicação: Geo-Brasil 2002. O estado dos recursos pesqueiros: pesca extrativa e aqüicultura. O estado do meio ambiente no Brasil. ( ) A pesca comercial é dirigida a algumas poucas espécies-alvo, mesmo assim outros estoques acabam sendo afetados por essas pescarias; . ( ) O que torna os recursos pesqueiros mais suscetíveis à açãohumana é o fato de que a maior parte deles ocorre em locais próximos à Costa. ( ) Os desembarques de pescado envolvem um grande número de espécies, sendo esse um dos principais fatores que contribui para a manutenção dos estoques pesqueiros no mundo. ( ) O número de espécies ameaçadas pela pesca no Brasil não chega a 10%, na maioria das Regiões. ( ) O número de espécies ameaçadas pela pesca no Brasil pode passar de 30%, em pelo menos uma das Regiões. ( ) O número de espécies ameaçadas pela pesca no Brasil é maior na região Sudeste. ( ) Apenas na região Norte do Brasil não há espécies ameaçadas, segundo publicação do PNUD em conjunto com o IBAMA. ( ) A responsabilidade pela situação atual dos estoques pesqueiros no Brasil é exclusiva da pesca (artesanal e industrial). Disponível na Internet no endereço eletrônico: <www.ibama.gov.br/rec_ pesqueiros/download. php?id_download=46>. A maior parte da produção pesqueira se dá dentro das 200 milhas próximas da terra (ZEE), o que torna os recursos pesqueiros muito suscetíveis aos efeitos das atividades humanas. 15 Introdução à pesca e à aquicultura A06 A mobilidade dos organismos aquáticos, a distribuição geográfi ca das populações, a extensão da área onde há ocorrência da pesca e de várias espécies em um mesmo ambiente fazem com que a pescaria comercial, geralmente dirigida a uma determinada espécie-alvo, termine por impactar as demais espécies, o que difi culta os estudos de avaliação dos estoques e dos efeitos da pesca sobre eles. É relevante acrescentar, ainda, que apesar do signifi cativo número de espécies identifi cadas nos desembarques, grande parte da produção é obtida da captura de um reduzido número delas. Em todas as regiões do Brasil banhadas pelo mar há espécies de peixes cuja sobrevivência está ameaçada, afi rma um livro sobre pesca artesanal publicado pelo PNUD e pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Renováveis (IBAMA). O problema é mais grave no Sul, onde 32% dos 142 tipos de peixes marinhos aproveitados pela pesca artesanal têm risco de não conseguir se reproduzir. No Sudeste, 29% das 191 espécies ligadas à pesca artesanal estão ameaçadas, ou seja, estão sendo capturadas numa intensidade que ameaça a desova e capturas futuras. No Nordeste, região brasileira com maior diversidade de peixes marinhos pescados artesanalmente, o risco ronda 13% das 253 espécies. No Norte, estão em perigo 3% das 74 variedades de pescados marinhos. A situação, avalia o estudo, está ligada a fatores como extração excessiva pela pesca industrial e artesanal, poluição das águas, aumento desordenado do turismo, especulação imobiliária e desapropriação de terras dos pescadores. (Extraído da aula 2. Com adaptações) Nas aulas 3 e 4 desta disciplina você foi apresentado a uma série de artes de pesca (ou tipos de pescarias) segundo a classifi cação da FAO. Falamos também sobre o Código de Conduta para uma Pesca Responsável, documento que estabelece princípios e normas internacionais para a aplicação de práticas responsáveis com vistas a assegurar a conservação e a gestão dos recursos vivos aquáticos, respeitando o ecossistema e a biodiversidade. Nessas mesmas aulas, você fez algumas atividades relacionando os aparelhos de pesca descritos pela FAO com aqueles utilizados na pesca do seu Município e/ou Região. É bem provável que boa parte deles seja desconhecida ou não seja utilizada por esses pescadores. Por outro lado, existe ainda uma infi nidade de métodos de pesca, utilizados principalmente na pesca artesanal, que não fazem parte da classifi cação da FAO ou que possuem nomenclaturas diferenciadas, de acordo com cada Região. 16 Introdução à pesca e à aquicultura A06 Técnicas e Saberes da Pesca No livro intitulado “Uma Arqueologia dos Saberes da Pesca” (Moraes, 2007), o autor faz uma análise de técnicas, tradições e saberes de comunidades pesqueiras nas regiões Norte e Nordeste do Brasil. Parte desse trabalho descreve métodos de pesca criados e/ou adaptados pelas populações locais e que são passados de geração a geração. Vamos conhecer alguns deles? Zagaia Figura 1 – Zagaia “A zagaia é um instrumento utilizado por pescadores da Amazônia. A sua fabricação leva em conta materiais encontrados na própria região, uma vez que utilizam madeiras resistentes, como a vparacuúba (Leci iointea amazônica), e amoldadas de tal forma que possuem aproximadamente 2,5m de comprimento e uma superfície bem lisa. No seu manuseio, a extremidade mais estreita é presa à canoa por uma corda”.(Moraes, 2007, p.33) 17 Introdução à pesca e à aquicultura A06 Pindá ou Pindauaca Figura 2 – Pindá ou Pindauaca A pindá ou pindauaca é uma isca de pesca construída a partir de um anzol duplo ou triplo ao qual se amarram pedaços de fi tas vermelhas ou penas de pássaros. É utilizada para pescar peixes carnívoros que a confundem com pequenos peixes, pelo movimento e pelo colorido dentro da água. A pindá tem uma linha curta, cuja metragem não ultrapassa um metro de comprimento. Sentado na proa de uma canoa com o remo em uma das mãos e a pindá na outra, o pescador se dirige à margem lateral do lago da fl oresta inundada (MORAES, 2007, p. 35). Pesca de tapagem Figura 3 – Pesca de tapagem 18 Introdução à pesca e à aquicultura A06 A pesca de tapagem ocorre em pequenos rios e igarapés da Amazônia. Furtado (1993) cita esse tipo de pesca, que se caracteriza usualmente por atravessar com uma rede um fl uxo d’água. s tipo de pesca pode ser classifi catório, quando são usadas malhas de tamanho grande, o que proporciona a fuga dos pequenos peixes ou predatória, quando são empregadas malhas fi nas que provocam a captura indiscriminada de peixes de tamanhos variados (MORAES, 2007, p. 44). Matapi Figura 4 – Matapi Fonte: <http://1.bp.blogspot.com/_HpIl1KkZIuc/Rv0X3GudY-I/AAAAAAAAABM/CL0IUciYGdQ/s320/curralinho+21set2007_XI_ festival_a%C3%A7a%C3%AD_0125.jpg>. Acesso em: 30 jul. 2009. A pesca com Matapi na Amazônia destina-se à captura de camarões. Trata-se de uma armadilha em forma de cilindro que se assemelha com o covo do Nordeste, pois é fechada por doais cones, sendo que cada lado contém uma abertura em forma de funil para que o camarão entre e não consiga sair. A matéria-prima para sua construção são talas de jupati (Raphia taedigera), umapalemria da fl oresta amazônica. (MORAES, 2007, p. 54). 19 Introdução à pesca e à aquicultura A06 Jererê Figura 5 – Jererê No Nordeste brasileiro, a pesca de jererê foi descrita por Cascudo (1957). Trata- se de uma armadilha muito utilizada em todo o litoral nordestino com a fi nalidade de capturar o peixe voador (Dactilopterus volitans). O instrumento é um pequeno artefato de madeira, semelhante a uma raquete de tênis, composta por uma rede triangular que mede aproximadamente 40 cm. Quando a jangada chega ao ponto de pesca, joga-se a isca, feita de tripa de peixe, óleo de cação ou de tartaruga. Espalha-se a nódoa e o voador aparece, roncando, saltando, enchendo o mar. Com o jererê em punho, o pescador movimenta-se com habilidade em direção ao peixe para capturá-lo. (MORAES, 2007, p. 58). Pesca com timbó (veneno) A pesca que se vale de ervas tóxicas e entorpecentes remonta aos primeiros habitantes do Brasil. Mesmo proibida pelo Código de Pesca (Decreto-Lei 221/67, art. 35), ainda hoje é muito comum a sua utilização por muitos pescadores [...] Trata-se de uma planta entorpecente utilizada para intoxicar os peixes a serem capturados. São retirados alguns ramos do timbó, levados até às proximidades de um igarapé e cortados em partes aproximadamente iguais. Os ramos cortados formam um feixe; em seguida são amarrados ao meio por um cipó e levados até as margens de um igarapé. Antes de entrar na água, o feixe é batido com um pedaço de madeira.Feito isso, os pescadores entram na água empurrando o feixe pela superfície [...] (MORAES, 2007, p. 60). Você acabou de ver mais alguns exemplos de artes de pesca utilizadas pelos pescadores. Algumas são variações de métodos e técnicas descritos pela FAO. Essas mesmas artes podem ser encontradas na pesca praticada na sua Região, com algumas diferenças na própria técnica ou apenas de nomenclatura. 20 Introdução à pesca e à aquicultura A06 A seguir, você verá novamente o quadro resumo da classifi cação estatística internacional uniformizada das artes de pesca, descrita pela FAO. Caso você tenha alguma dúvida, todas essas artes de pesca estão descritas, com imagens, nas aulas 3 e 4. Observe com bastante atenção e se prepare para a próxima atividade. CLASSIFICAÇÃO ESTATÍSTICA INTERNACIONAL UNIFORMIZADA DAS ARTES DE PESCA QUADRO RESUMO CATEGORIA ABREVIATURA CÓDIGO REDES DE CERCAR 01.0.0 Rede de cerco com retenida (carregadeira) PS 01.1.0 Rede de cerco com retenida operada por um navio PS1 01.1.1 Rede de cerco com retenida operada por dois barcos PS2 01.1.2 Rede de cerco sem retenida (Lâmpara) LA 01.2.0 REDES ENVOLVENTES-ARRASTANTES 02.0.0 Rede envolvente-arrastante de içar para a praia SB 02.1.0 Rede envovente-arrastante de içar para bordo SV 02.2.0 Rede de cerco dinamarquês SDN 02.2.1 Rede de cerco escocês SSC 02.2.2 Rede envolvente-arrastante de parelha SPR 02.2.3 REDES DE ARRASTAR 03.0.0 Rede de arrasto pelo fundo 03.1.0 Rede de arrasto pelo fundo de vara TBB 03.1.1 Rede de arrasto pelo fundo com portas OTB 03.1.2 Rede de arrasto pelo fundo de parelha PTB 03.1.3 Rede de arrasto pelo fundo de lagostins TBN 03.1.4 Rede de arrasto pelo fundo de camarões TBS 03.1.5 Rede de arrasto pelágico 03.2.0 Rede de arrasto pelágico com portas OTM 03.2.1 Rede de arrasto pelágico de parelha PTM 03.2.2 Rede de arrasto pelágico de camarões TMS 03.2.3 Redes de arrasto germinadas com portas OTT 03.3.0 DRAGAS 04.0.0 Draga rebocada por embarcação DRB 04.1.0 Draga de mão DRH 04.2.0 REDES DE SACADA 05.0.0 Rede de sacada portátil LNP 05.1.0 Rede de sacada operada de embarcação LNB 05.2.0 Rede de sacada operada de terra LNS 05.3.0 REDES DE ARREMESSO 06.0.0 Tarrafa de mão FCN 06.9.0 REDES DE EMALHAR E ENREDAR 07.0.0 Rede de emalhar fundeada GNS 07.1.0 Rede de emalhar de deriva (Boieira) GND 07.2.0 Rede de emalhar envolvente GNC 07.3.0 Rede de tresmalho GTR 07.5.0 6Praticando... 21 Introdução à pesca e à aquicultura A06 ARMADILHAS 08.0.0 Pote, Covo, Cangalha, Manzuá FPO 08.2.0 Barreira, Barragem, Estacada FWR 08.5.0 LINHAS E ANZÓIS 09.0.0 Linha simples e de vara (manual) LHP 09.1.0 Linha simples e de vara (mecanizada) LHM 09.2.0 Espinhel fundeado LLS 09.3.0 Espinhel derivante LLD 09.4.0 Linha de corrico (corso) LTL 09.6.0 PESCA POR FERIMENTO 10.0.0 Arpão HAR 10.1.0 PESCA COM MÁQUINAS DE COLHEITA 11.0.0 Bomba HMP 11.1.0 Draga mecânica HMD 11.2.0 ARTES DE PESCA DIVERSAS MIS 20.0.0 ARTES DE PESCA DE RECREIO RG 25.0.0 (Extraída das aulas 3 e 4, com adaptações) 1. Procure identifi car em que categoria da Tabela da FAO (acima) se enquadra (ou mais se aproxima) cada uma das artes de pesca descritas no texto anterior: Zagaia: .................................................................................................................. Pindá:..................................................................................................................... Tapagem: .............................................................................................................. Matapi: .................................................................................................................. Jererê: .................................................................................................................. Timbó: ................................................................................................................... 2. Agora, procure identifi car as mesmas artes de pesca em função do tipo de pescaria. Os diferentes tipos de pescaria foram estudados na aula 5 desta disciplina. Essa é também uma boa discussão para o fórum de debates. Coloque suas dúvidas, participe. Zagaia: ( ) Pesca comercial ou profi ssional ( ) Pesca desportiva ou amadora 22 Introdução à pesca e à aquicultura A06 ( ) Pesca científi ca ( ) Pesca de subsistência Pindá:. ( ) Pesca comercial ou profi ssional ( ) Pesca desportiva ou amadora ( ) Pesca científi ca ( ) Pesca de subsistência Tapagem: ( ) Pesca comercial ou profi ssional ( ) Pesca desportiva ou amadora ( ) Pesca científi ca ( ) Pesca de subsistência Matapi ( ) Pesca comercial ou profi ssional ( ) Pesca desportiva ou amadora ( ) Pesca científi ca ( ) Pesca de subsistência Jererê: ( ) Pesca comercial ou profi ssional ( ) Pesca desportiva ou amadora ( ) Pesca científi ca ( ) Pesca de subsistência Timbó: ( ) Pesca comercial ou profi ssional ( ) Pesca desportiva ou amadora ( ) Pesca científi ca ( ) Pesca de subsistência 23 Introdução à pesca e à aquicultura A06 Os diferentes tipos de pesca O artigo 1º do Decreto-Lei Nº 221, de 28 de fevereiro de 1967 defi ne por pesca: todo ato tendente a capturar ou extrair elementos animais ou vegetais que tenham na água seu normal ou mais frequente meio de vida. Porém, há vários outros documentos que têm alguma defi nição que em linhas gerais podem ser agrupadas quanto à escala, local onde se realiza ou por questões legais. § 1º Pesca comercial ou profi ssional tem por fi nalidade realizar atos de comércio na forma da legislação em vigor. Pesca Profi ssional é aquela que o pescador realiza profi ssionalmente e que se torna seu principal meio de vida (ocupando até 80% do seu tempo), de forma artesanal ou empresarial. Na pesca profi ssional atuam desde os pescadores que têm na atividade o seu principal sustento, os que tiraram carteira profi ssional e até mesmo os desempregados, pois as cidades não absorvem toda a mão-de-obra existente, tornando a pesca, para muitos, o meio de sustento. § 2º Pesca desportiva ou amadora é a que se pratica com linha de mão, por meio de aparelhos de mergulho ou quaisquer outros permitidos pela autoridade competente e que em nenhuma hipótese venha a importar em atividade de comercialização ou industrialização; é praticada ao longo de todo o litoral brasileiro e no continente, com a fi nalidade de turismo, lazer ou esporte. § 3º Pesca científi ca é a exercida unicamente com fi ns de pesquisas por instituições públicas ou particulares, coordenadas por pessoas devidamente habilitadas para esse fi m. Pesca de subsistência: É a pesca exercida com o objetivo de obtenção de alimento e não tem fi nalidade comercial, eventualmente pode ocorrer excedente na produção. É praticada com técnicas rudimentares. (texto extraído da aula 5, com adaptações) A pesca – Classifi cações A pesca pode ser classifi cada ainda quanto à intensidade ou escala (pesca artesanal e pesca industrial); quanto ao local onde se realiza (pesca continental, pesca costeira, pesca marítima e pesca oceânica) e quanto à questão jurídica e ambiental (pesca ilegal, pesca não regulamentada, pesca não declarada e pesca predatória). E você, sabe o que signifi ca cada uma dessas classifi cações? Resolva a atividade a seguir e, caso tenha alguma dúvida, o texto de revisão segue logo abaixo. 7Praticando... 24 Introdução à pesca e à aquicultura A06 Descreva, com suas palavras e de forma resumida, os conceitos a seguir. Você estudou esses conceitos na nossa aula de número 5. pesca artesanal:pesca industrial: pesca continental: pesca costeira: pesca marítima: 25 Introdução à pesca e à aquicultura A06 pesca oceânica: pesca ilegal: pesca não regulamentada: pesca não declarada: pesca predatória: 26 Introdução à pesca e à aquicultura A06 Pesca artesanal A pesca artesanal também conhecida como de pequena escala contempla tanto as capturas com o objetivo associado à obtenção de alimento para as famílias dos participantes, como o da pesca com o objetivo essencialmente comercial. Fonte: (DIAS-NETO; DORNELLES, 1996). Diegues (1983) afi rma que a pesca artesanal ou de pequena escala parte de um processo de trabalho baseado na unidade familiar, ou no grupo de vizinhança. Tem como fundamento o fato de que os produtores são proprietários de seus meios de produção (redes, anzóis etc.). A embarcação, predominantemente de pequeno porte, não é, necessariamente, um meio de produção, mas de deslocamento, em função do que o pescador não proprietário, paga, em parte de sua produção, uma renda que se assemelha à renda da terra paga pelo agricultor meeiro. O proprietário da embarcação é também, normalmente, um pescador que participa como os demais de toda a faina de pesca. Porém é também signifi cativa a interferência de intermediários, que resulta em se apoderar de signifi cativa parte da renda desses pescadores. Pesca industrial É a captura de peixes, utilizando navios de grandes dimensões, geralmente bem equipados, dispondo de redes potentes, grande número de anzóis ou de armadilhas. Uma vez que este tipo de pesca está associado à pesca longínqua e por vezes à pesca costeira, as embarcações possuem os equipamentos necessários para congelamento e a conservação do pescado. Neste tipo de pesca são utilizadas as técnicas mais modernas de cerco, arrasto ou outras, e ainda ecossondas ou sonar para localização dos cardumes. A pesca como fonte econômica tomou grande proporção e é praticada de forma sofi sticada em embarcações que usam traineira, cerco, long-line e outras. (WIKIPÉDIA, 2009, extraído da Internet). Pesca continental A pesca de captura continental pode ocorrer em lagos, rios, açudes e estuários. A diversidade de organismos e de artes de pesca é maior na região Norte do país. O meio hídrico de água doce sofre pelas conseqüências ambientais devido à poluição e aos represamentos dos rios, que impedem a migração e reprodução dos peixes. 27 Introdução à pesca e à aquicultura A06 Pesca costeira Ocorre a pouca distância do continente, de onde ainda sofre alguma infl uência. As profundidades são reduzidas, geralmente limitadas à plataforma continental. É a atividade mais utilizada em todo o mundo, seja para diversão, subsistência ou comércio, através das pescas artesanal ou industrial. Pesca oceânica Ocorre em mar aberto, geralmente acima de 50 milhas da costa. As profundidades são extremas, sofre infl uência das correntes, ventos e fenômenos meteorológicos. Destina- se, principalmente às capturas dos peixes pelágicos – atuns e afi ns e alguns demersais. Na região oceânica não ocorre a pesca artesanal, somente a industrial. Pesca marítima Termo utilizado englobando as duas pescarias anteriores, sem fazer distinção quanto à distância da costa. Pesca ilegal São as atividades pesqueiras: Realizadas por embarcações nacionais ou estrangeiras em águas sob a jurisdição de um Estado, sem a permissão de pesca, ou transgredindo as leis e regulamentos; Em violação de leis nacionais ou obrigações internacionais, inclusive as contraídas pelos Estados cooperantes com respeito a uma organização regional de ordenação pesqueira competente. 28 Introdução à pesca e à aquicultura A06 Pesca não regulamentada: As atividades pesqueiras em zonas ou em relação a populações de peixes, crustáceos, algas ou moluscos em que não existam medidas aplicáveis de conservação ou ordenação; ou que não estão em consonância com as responsabilidades relativas à conservação dos recursos vivos que incumbem ao Estado em virtude do direito internacional. Pesca não declarada É a atividade pesqueira que não foi declarada ou declarada de modo inexato para a autoridade nacional competente (SEAP, IBAMA, Capitania dos Portos...) em contravenção a leis e regulamentos nacionais. Pesca predatória: É realizada quando ocorre um dano aos estoques pesqueiros, dificultando ou impossibilitando a reposição dos espécimes, como a captura de indivíduos jovens ou de reprodutores. O uso de artes e métodos inadequados, a captura em locais de alimentação, acasalamento e desova são exemplos claros de pesca predatória, que ocorrem todos os dias, em todas as partes do mundo. (texto extraído da aula 05, com adaptações). Leituras complementares ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA AGRICULTURA E ALIMENTAÇÃO – FAO. Disponível em: <www.fao.org>. Acesso em: 30 jul. 2009. ‘Nas aulas de 1 a 5 foram indicadas a você algumas bibliografi as, bem como algumas páginas na Internet para consulta. Entre elas, o site da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO). Não deixe de consultar também: COMISSÃO ESTRATÉGICA DOS OCEANOS. Relatório da Comissão Mundial Independente sobre os Oceanos. Rio de janeiro. Comissão Nacional Independente sobre os Oceanos, 1999. Disponível em: <http://www.mdn.gov.pt/NR/rdonlyres/22D2295A-838A-4B05- B176-1CC8D6BD1DAB/0/Relatorio_Oceanos.pdf>. Acesso em: 30 jul. 2009. Autoavaliação 29 Introdução à pesca e à aquicultura A06 ORGANIZACION DE LAS NACIONES UNIDAS PARA LA AGRICULTURA Y LA ALIMENTACION. codigo de conducta para La pesca responsable. Roma, 1995. Disponível em: <ftp:// ftp.fao.org/docrep/fao/005/v9878s/v9878s00.pdf>. Acesso em: 30 jul. 2009. Nesta aula você acompanhou a revisão dos principais assuntos apresentados nas aulas de 1 a 5 desta disciplina, incluindo a revisão de conceitos e características da atividade pesqueira, bem como de outros conceitos envolvendo estoques pesqueiros. Os principais tipos e métodos de pesca realizados no mundo pela classifi cação da FAO - ISSCFG foram acrescidos de alguns exemplos de métodos de pesca utilizados no Brasil. Finalizando, você teve a oportunidade de relembrar os diferentes tipos de pesca, de acordo com o volume de captura, local de captura e situação jurídica e/ou ambiental. No espaço abaixo faça um breve resumo descrevendo a atividade da pesca, incluindo o máximo de informações que você conseguiu internalizar ao fi nal desta aula: 30 Introdução à pesca e à aquicultura A06 Referências BRASIL. MMA. Programa REVIZEE: avaliação do potencial sustentável de recursos vivos na zona econômica exclusiva: relatório executivo/MMA, Secretaria de Qualidade Ambiental. Brasília: MMA, 2006. 280p. BREVES notas sobre a história da pesca. Disponível em: <http://w3.ualg.pt/~madias/ docencia/paq/BrevesNotasHistoriaPesca.pdf>. Acesso em: 30 jul. 2009. CADIMA, E. L. Manual de avaliação de recursos pesqueiros. FAO Documento Técnico sobre as Pescas, Roma, FAO, n. 393, 2000. CMIO. O oceano... nosso futuro: Relatório da Comissão Mundial Independente sobre os Oceanos. Rio de janeiro. Comissão Nacional Independente sobre os Oceanos, 1999. COMISSÃO PASTORAL DA PESCA. Os pescadores na história do Brasil. Luis Geraldo da Silva (Org.). Recife: Editora Vozes, 1988. (Colônia e Império, 1). COSTA, A. L. Nas redes da pesca artesanal. Brasília: IBAMA/PNUD, 2007. 308p. DIAS NETO, José; MARRUL-FILHO. Síntese da situação da pesca extrativa marinha no Brasil. Brasília: IBAMA/DIFAP/CGREP, 2003. 53 p. GEO-BRASIL 2002. O estado dos recursos pesqueiros: pesca extrativa e aqüicultura: o estado do meio ambiente no Brasil. Disponível em: <www.ibama.gov.br/rec_pesqueiros/ download.php?id_download=46>. Acesso em: 30 jul. 2009. HISTÓRIA do anzol. Disponível em: <http://www.marlinnegro.na-web.net/pre_historia. htm>.Acesso em: 30 jul. 2009. HISTÓRIA DA PESCA. A pesca desde a pré-história. Disponível em: <http://www. vaprapesca.com.br/Brasil/Links/hist_pesca.htm>. Acesso em: 30 jul. 2009. MEDINA, P. A. F. Instalaciones para el desembarque y la comercialización del pescado en pequeña escala. Roma: FAO, 1993. (Doc. Tec. De Pesca, 291). MORAES, S. C. de. Uma arqueologia dos saberes da pesca: Amazônia e Nordeste. Belém: EDUFPA, 2007. NÉDÉLEC, Claude; PRADO, J. Defi nición y clasifi cación de las diversas categorías de artes de pesca. Rome: FAO/Dirección de Industrias Pesqueras, 1990. (Documento Técnico de Pesca, 222, Rev. 1). SPARRE, P.; VENEMA, S. C. Introducción a la evaluación de recursos pesqueros tropicales: parte 1: manual FAO. Roma, Itália: FAO, 1995. (Doc. Tec. Pesca, 306, 1. Rev). Anotações 31 Introdução à pesca e à aquicultura A06 VASCONCELOS, M. et al. Relatório integrado: diagnóstico da pesca artesanal no Brasil como subsídio para o fortalecimento institucional da Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca – versão preliminar. Disponível em: <http://200.198.202.145/seap/conape/ planejamento/Pesca%20Artesanal%20no%20Brasil%20–%20PNUD%2005.pdf>. Acesso em: 10 ago. 2009. WIKIPÉDIA. Pesca industrial. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Pesca_ industrial>. Acesso em: 30 jul. 2009. Anotações 32 Introdução à pesca e à aquicultura A06 07 C U R S O T É C N I C O E M P E S C A As relações ecológicas, econômicas e sociais no setor pesqueiro nacional INTRODUÇÃO À PESCA E À AQUICULTURA João Vicente Mendes Santana Coordenadora da Produção dos Materias Vera Lucia do Amaral Coordenador de Edição Ary Sergio Braga Olinisky Coordenadora de Revisão Giovana Paiva de Oliveira Design Gráfi co Ivana Lima Diagramação Elizabeth da Silva Ferreira Ivana Lima José Antonio Bezerra Junior Mariana Araújo de Brito Arte e ilustração Adauto Harley Carolina Costa Heinkel Huguenin Leonardo dos Santos Feitoza Revisão Tipográfi ca Adriana Rodrigues Gomes Margareth Pereira Dias Nouraide Queiroz Design Instrucional Janio Gustavo Barbosa Jeremias Alves de Araújo Silva José Correia Torres Neto Luciane Almeida Mascarenhas de Andrade Revisão de Linguagem Maria Aparecida da S. Fernandes Trindade Revisão das Normas da ABNT Verônica Pinheiro da Silva Adaptação para o Módulo Matemático Joacy Guilherme de Almeida Ferreira Filho EQUIPE SEDIS | UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE – UFRN Projeto Gráfi co Secretaria de Educação a Distância – SEDIS Governo Federal Ministério da Educação Você ve rá por aqu i... 1 Introdução à pesca e à aquicultura A07 Objetivos Nesta aula, você terá acesso a informações e estratégias práticas, voltadas para a criação de um entorno propício, capaz de melhorar os níveis de vida e diminuir a vulnerabilidade dos pescadores a perigos de índole natural, ocupacional, econômica e sanitária, assim como a exclusão geográfi ca e política dos processos gerais de desenvolvimento. Também vamos falar de proteção dos oceanos, sustentabilidade e de como você, futuro profi ssional da área, pode contribuir nesse processo. Conhecer os principais conceitos envolvendo a pesca sustentável. Identificar alguns princípios que norteiam a pesca sustentável. Identificar as principais características da Agenda 21, em especial o capítulo 17 que fala sobre a proteção dos oceanos. Conhecer as causas da crise da lagosta no Brasil. 2 Introdução à pesca e à aquicultura A07 Para começo de conversa... ...vamos ler e discutir o trecho abaixo: Devemos somar forças para gerar uma sociedade sustentável global baseada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura de paz. Para chegar a esse propósito, é imperativo que, nós os povos da Terra, declaremos nossa responsabilidade uns para com os outros, com a grande comunidade da vida, e com as futuras gerações. Preâmbulo da Carta da Terra. A Carta da Terra é uma declaração de princípios éticos fundamentais para a construção, no século 21, de uma sociedade global justa, sustentável e pacífi ca. Busca inspirar todos os povos a um novo sentido de interdependência global e responsabilidade compartilhada, voltado para o bem-estar de toda a família humana, da grande comunidade da vida e das futuras gerações. É uma visão de esperança e um chamado à ação. 3 Introdução à pesca e à aquicultura A07 Introdução A pesca proporciona aportes importantes para a satisfação dos objetivos de desenvolvimento do milênio referentes à redução da pobreza e à segurança alimentar, além de constituir uma fonte de riqueza, respaldando o desenvolvimento econômico nacional. Para potencializar estas contribuições fazem-se necessárias políticas que favoreçam a atividade pesqueira sustentável. A tendência de fortalecer os direitos de pesca aos usuários dos recursos proporcionará maiores vantagens, caso seja acompanhada de um esforço por reduzir a vulnerabilidade e a exclusão social nas comunidades de pescadores. Um elemento decisivo para o desenvolvimento social das comunidades de pescadores é a promoção dos direitos humanos. Com a intenção de estabelecer um entorno propício para a pesca responsável, uma aplicação mais ampla das regras e princípios da legislação internacional e local em matéria de direitos humanos resultaria benefi cente para a administração do setor pesqueiro. Também seria vantajosa para as pescarias, uma vinculação mais estreita com a ação orientada para reduzir a pobreza no âmbito nacional e local, a fi m de garantir às comunidades de pescadores um acesso equitativo a serviços sociais como a assistência sanitária, a educação e os serviços judiciais. As comunidades de pescadores carecem de conhecimentos, de oportunidades e de instituições sociais integradoras que as permitam organizar-se, articular suas demandas, negociar com os órgãos governamentais e participar ativamente no planejamento de seu próprio futuro. A pobreza, a vulnerabilidade e o limitado desenvolvimento social comprometem a capacidade dos pescadores para adotar práticas de pesca responsáveis e para participar conjuntamente de regimes de ordenação pesqueira, baseados nas necessidades de suas comunidades. O Código de Conduta para a Pesca Responsável, a Agenda 21, além de outros documentos apresentados, apontam como as pescarias deveriam ocorrer com potencial para contribuir e alcançar os importantes objetivos da diminuição da pobreza e da segurança alimentar. Nestas publicações, se combinam ambos aspectos, vinculando a elevação dos níveis de vida das comunidades de pescadores para a melhoria da gestão dos recursos pesqueiros. 1Praticando... 4 Introdução à pesca e à aquicultura A07 Consulte os sites abaixo e, em seguida, responda às seguintes questões: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Agenda_21> <http://www.mma.gov.br/sitio/index.php?ido=conteudo.monta&idEstru tura=18&idConteudo=575> 1. O que é Agenda 21? 2. Quais são as suas principais metas? 3. Escreva, com suas palavras, um pequeno histórico contextualizando a criação dessa Agenda. Fundamentos diversos envolvendo sustentabilidade O texto a seguir traz uma interessante abordagem sobre o tema. Leia com atenção, refl ita e crie a sua própria defi nição, na nossa próxima atividade: A preocupação com a sustentabilidade vem de muito tempo, mas é a partir do Relatório de Brundtland, elaborado pela Comissão Mundial do Meio Ambiente e Desenvolvimento, em 1987, também conhecido como Nosso Futuro Comum, que o termo sustentável foi desenvolvimento, popularizado e, por consequência, a ideia de sustentabilidade. Esta comissão defi niu o desenvolvimento sustentável como “desenvolvimento que atende às necessidades do presente sem comprometer a capacidade das futurasgerações atenderem às suas próprias necessidades”. 5 Introdução à pesca e à aquicultura A07 O interesse em rever conceitos, especialmente nas últimas décadas do século XX, mostrou que a noção de progresso associada à ideia de crescimento deveria ser revista em função das sucessivas crises ambientais, econômicas e sociais. O desenvolvimento sustentável teria que relacionar o saber científi co em, no mínimo, duas dimensões: a natureza e a sociedade. A primeira tem como objetivo o crescimento econômico e considera os recursos naturais como sendo capital natural. A solução apresentada pelos adeptos dessa corrente, diz que no preço de um produto deve estar embutido o preço do bem natural utilizado como fonte primária, criando, assim, um novo padrão econômico. A segunda corrente critica o padrão de sustentabilidade vigente e sugere que esse padrão gera impactos ambientais. Considera-se necessária a implementação de um novo padrão de desenvolvimento que apresente mudanças profundas. No entanto, essas transformações somente ocorreriam com a mudança nos valores éticos, pois são estes que proporcionam novos padrões de comportamento. Existe, porém, uma percepção quase generalizada de que os impactos ambientais, resultantes da relação homem-natureza e a busca de soluções para os problemas que surgiram dessa relação, desencadearam a base teórica da sustentabilidade. Para atender ao desejo de um desenvolvimento de cunho sustentável, as novas diretrizes devem, antes de tudo, buscar soluções para o sistema como um todo (visão holística, sistêmica), sem esquecer os aspectos sociais, políticos, culturais e ambientais. A visão sistêmica que pode se confi gurar como um instrumento de mudança, retrata as interações de todas essas dimensões, mostrando a realidade nos diferentes níveis global, nacional, regional e local. Pesquisas apontam para o princípio de que o termo desenvolvimento sustentável deve ser empregado com o signifi cado de melhorar a qualidade de vida, respeitando a capacidade dos ecossistemas que mantêm a vida em suas múltiplas dimensões, e que [...] o desenvolvimento sustentável deve ser atingido em todos os níveis da sociedade. As organizações populares, os grupos de mulheres e as ONG’s são fontes importantes de inovação e ação no plano local e têm marcado interesse, bem como capacidade comprovada, de promover a subsistência sustentável. Os Governos, em cooperação com as organizações internacionais e não governamentais adequadas, devem apoiar uma abordagem da sustentabilidade conduzida pela comunidade [...] (AGENDA 21, 2001, p.33). Para que isso aconteça, a comunidade precisa conhecer efetivamente os seus próprios assuntos, ter acesso a recursos, participar do controle desses recursos, participar de decisões e ter acesso a treinamentos, a educação, a posse dos bens de produção e os direitos de propriedade. É necessário, também, que a comunidade seja capaz de suprir suas necessidades de maneira sustentável, conservando o meio ambiente. Cabe aos governos locais a função de promover, fomentar e apoiar iniciativas de preservação ou conservação do meio ambiente em parceria com as comunidades. (ALBÉ, 2002, p.11-12) Responda aqui 2Praticando... 6 Introdução à pesca e à aquicultura A07 Com base nas informações contidas no texto anterior, escreva, com suas palavras, o que é sustentabilidade. Responda aqui 3Praticando... 7 Introdução à pesca e à aquicultura A07 Como desenvolver linha de ação no setor pesqueiro com as ideias de sustentabilidade? É urgente o desenvolvimento de recursos pessoais e interpessoais que permitam a emergência da inteligência coletiva, ajudando as pessoas a criarem as condições necessárias para as mudanças que tem que ocorrer. A Sustentabilidade é crescimento e desenvolvimento econômico, com inclusão social e conservação ambiental, além dos limites das empresas, abrangendo todos os setores envolvidos na pesca e na aquicultura. A pesca sustentável seria defi nida como aquela capaz de produzir alimentos de forma efi ciente, rentável e segura, de modo a atender uma crescente demanda mundial, sem degradar os recursos naturais e o meio ambiente. De acordo com as informações abordadas, anteriormente, você considera que a pesca, na sua região, é praticada de forma sustentável (escolha um produto principal)? Por quê? (coloque sua resposta no espaço a seguir e, em seguida, poste no fórum de debates, para conhecer a opinião dos colegas e, também, para discutirmos o tema) 8 Introdução à pesca e à aquicultura A07 Princípio 1: “Conformidade com os acordos, tratados e convenções internacionais: as atividades do ciclo de vida dos produtos pesqueiros devem seguir os acordos, tratados e convenções internacionais dos quais nosso país é signatário, relacionados às áreas ambiental, social e econômica.” Princípio 2: “Conformidade com a legislação nacional: as atividades do ciclo de vida dos produtos pesqueiros devem estar de acordo com a legislação nacional relacionada às áreas ambiental, social e econômica.” Princípio 3: “Integração: os produtos pesqueiros devem ser avaliados segundo o seu ciclo de vida, de acordo com os aspectos ambientais, econômicos e sociais.” Princípio 4: “Localização: As atividades do ciclo de vida dos produtos pesqueiros devem ser avaliadas pelas potencialidades e restrições das características de sua localização e entorno, visando maximizar a produção, respeitando o limite dos estoques. A EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – em seu trabalho sobre Indicadores de Sustentabilidade Agropecuária, lançou alguns “Princípios de Sustentabilidade” que devem ser seguidos e que aqui foram adaptados para o setor pesqueiro: 9 Introdução à pesca e à aquicultura A07 Princípio 5: “Melhoria contínua, Monitoramento e Retroalimentação: as atividades do ciclo de vida dos produtos pesqueiros devem ter ações concretas de melhoria contínua, assim como sistema de monitoramento implantado com possibilidade de recuperação dos dados, referente aos aspectos ambientais, econômicos e sociais.” Orientações para pesca responsável Um dos objetivos de grande alcance do Código de Conduta para a Pesca Responsável é assegurar no futuro o uso sustentável dos recursos vivos marinhos, para que possam ser explorados pelas próximas gerações e para contribuir com a segurança alimentar e as oportunidades de emprego. O artigo 8 desse Código descreve mais detalhes das disposições referentes às operações pesqueiras (veja aula anterior). O objetivo imediato das Orientações Técnicas foi propor assessoramento prático para implementar as disposições do Artigo 8 e, também assegurar que todas as atividades pesqueiras se realizassem de forma responsável. A seguir apresentamos os itens mais importantes: Sobre as artes de pesca a) A autoridade competente deverá adotar políticas de ordenamento adequadas com respeito às artes, métodos ou operações de pesca permitidas. b) Quem participar das práticas pesqueiras deverá respeitar as regulamentações referentes aos métodos e artes de pesca; não deverá utilizar métodos e artes proibidos, nem deverá pescar em áreas ou períodos do ano que coloquem em perigo uma pescaria ou represente uma ameaça para os estoques pesqueiros ou ao meio ambiente. c) Não se deve introduzir novas práticas ou métodos de pesca que possam causar um descarte signifi cativo das espécies alvo e das incidentais, a menos que em uma pesquisa prévia demonstre-se o contrário. Responda aqui 4Praticando... 10 Introdução à pesca e à aquicultura A07 d) Do mesmo modo, a indústria não deverá introduzir com fi ns comerciais, novas práticas ou métodos de pesca, a não ser que sejam demonstrados, através de avaliação prévia, que não prejudicarão comunidades e populações de pescadores artesanais ede pequena escala. e) A autoridade competente será quem deverá exercer o controle para reduzir o confl ito entre artes de pesca ativas e passivas, assim como entre os setores de pequena escala e industrial. f) As autoridades competentes, as instituições de investigação e a indústria pesqueira deverão colaborar para o desenvolvimento de artes de pesca mais seletivas. Faça uma pesquisa de campo e verifi que se os seis fundamentos acima estão sendo aplicados em sua região. Responda aqui 5Praticando... 11 Introdução à pesca e à aquicultura A07 Sobre as atividades nos barcos pesqueiros 1. Os proprietários, armadores de barcos e pescadores deverão garantir a observação das regulamentações ditadas pela autoridade competente sobre artes, métodos de pesca e dos produtos capturados. 2. Os proprietários deverão assegurar que seus barcos pesqueiros sejam aparelhados com todos os equipamentos de navegação e instrumentação adequados para permitir que quem estiver a bordo, cumpram com as regulamentações e para preenchimento dos mapas de bordo. 3. Os barcos pesqueiros deverão estar dotados de dispositivos de armazenamento eletrônico de dados e, na medida do possível, de aparatos de detecção a distância, que possam registrar a posição geográfi ca e o funcionamento do barco para fi ns de ordenação pesqueira e segurança no mar. 4. Os proprietários e administradores deverão garantir que os materiais utilizados para a pintura das câmaras de armazenagem do pescado a bordo, sejam de tipo de antifungo e não tóxicos. Faça uma pesquisa de campo e verifi que se os quatro fundamentos acima se aplicam em sua região. 12 Introdução à pesca e à aquicultura A07 A Agenda 21 brasileira A Agenda 21 Brasileira é um processo e instrumento de planejamento participativo para o desenvolvimento sustentável e que tem como eixo central a sustentabilidade, compatibilizando a conservação ambiental, a justiça social e o crescimento econômico. O documento é resultado de uma vasta consulta à população brasileira, sendo construída a partir das diretrizes da Agenda 21 global. Trata-se, portanto, de um instrumento fundamental para a construção da democracia ativa e da cidadania participativa no País. A primeira fase foi a construção da Agenda 21 Brasileira. Esse processo que se deu de 1996 a 2002, foi coordenado pela Comissão de Políticas de Desenvolvimento Sustentável e da Agenda 21 Nacional – CPDS e teve o envolvimento de cerca de 40.000 pessoas de todo o Brasil. O documento Agenda 21 Brasileira foi concluído em 2002. A partir de 2003, a Agenda 21 Brasileira não somente entrou na fase de implementação, como também foi elevada à condição de Programa do Plano Plurianual, PPA 2004- 2007. Como programa, ela adquiriu mais força política e institucional, passando a ser instrumento fundamental para a construção do Brasil Sustentável, estando em sintonia com as diretrizes da política ambiental do Governo, transversalidade, desenvolvimento sustentável, fortalecimento do sistema, participação social e adotou referenciais importantes como a Carta da Terra. Fonte: MMA – Ministério do Meio Ambiente. Disponível em: <http://www.institutochicomendes.org.br/diretrizes_agenda.htm>. Acesso em: 9 nov. 2009. A Agenda 21, no seu capítulo 17, que trata da proteção dos oceanos, de todos os tipos de mares inclusive mares fechados e semifechados – e das zonas costeiras e proteção, uso racional e desenvolvimento de seus recursos vivos, tece as seguintes considerações: O ecossistema marinho de uma maneira geral está seriamente prejudicado pela pesca predatória, poluição e construções irregulares. Desta forma, é necessária uma política de proteção e recuperação dos recursos que ainda restam. Assim, seguem algumas abordagens integradas do ponto de vista do conteúdo e, que ao mesmo tempo, se caracterizem pela precaução e antecipação, como demonstram as seguintes áreas de programa: a) Gerenciamento integrado e desenvolvimento sustentável nas zonas de pesca; b) Programa de desenvolvimento da pesca sustentável; c) Programa de desenvolvimento da infraestrutura e socioeconômico. A implementação das atividades enumeradas a seguir, deve coadunar-se às respectivas capacidades individuais, tanto tecnológicas como fi nanceiras, bem como 13 Introdução à pesca e à aquicultura A07 a suas prioridades na alocação de recursos para as exigências do desenvolvimento, dependendo, em última análise, da transferência de tecnologia e dos recursos fi nanceiros necessários que lhes venham a ser oferecidos. Para os Estados costeiros terem um bom resultado com relação ao desenvolvimento sustentável da pesca, torna-se necessária a implantação de sistemas que desenvolvam as bases de gerenciamento sustentável: a) Integrar todos os setores públicos, com intuito de garantir um melhor gerenciamento entre as diversas áreas de atuação. b) Identifi car e monitorar cada banco de pesca utilizado atualmente, os projetados, e as interações entre eles. c) Promover pesquisas e levantamentos estatísticos, para se ter um controle no que diz respeito em números dos recursos naturais e do meio ambiente local, que refl itam quaisquer alterações de valor decorrentes de utilizações de zonas locais de pesca, inclusive poluição, erosão marinha, perda de recursos naturais e destruição de habitats. d) Dar acesso a grupos ou entidades de pesquisa, as informações necessárias, bem como a participação nas decisões a serem tomadas referentes à área estudada. O Estado deve oferecer condições adequadas ao desenvolvimento de ações que propiciem o desenvolvimento sustentável dos recursos pesqueiros explorados. As ações devem envolver diversos setores da sociedade, incluindo instituições acadêmicas, a comunidade local, organizações não-governamentais e, até mesmo, as instituições privadas: a) A implementação de planos e programas integrados de gerenciamento e desenvolvimento sustentável das zonas costeiras e marinhas, nos níveis apropriados. b) A preparação de perfi s costeiros que identifi quem as áreas críticas, inclusive as regiões erodidas, os processos físicos, os padrões de desenvolvimento, os confl itos entre os usuários e as prioridades específi cas em matéria de gerenciamento. c) A avaliação prévia do impacto sobre o meio ambiente, a observação sistemática e o acompanhamento dos principais projetos, inclusive a incorporação sistemática dos resultados ao processo de tomada de decisões. d) A melhoria dos estabelecimentos humanos costeiros, especialmente no que diz respeito à habitação, água potável e tratamento e depósito de esgotos, resíduos sólidos e efl uentes industriais. e) A avaliação periódica dos impactos de fatores e fenômenos externos para conseguir que se atinjam os objetivos do gerenciamento integrado e do desenvolvimento sustentável das zonas costeiras e do meio ambiente marinho. f) A conservação e a restauração dos habitats críticos alterados. g) A integração dos programas setoriais relativos ao desenvolvimento sustentável de estabelecimentos humanos, agricultura, turismo, pesca, portos e indústrias que utilizem ou se relacionem à área costeira. Responda aqui 6Praticando... 14 Introdução à pesca e à aquicultura A07 h) A adaptação da infraestrutura e do emprego alternativo. i) O desenvolvimento e o treinamento dos recursos humanos. j) A elaboração de programas de educação, conscientização e informação do público. k) A promoção de tecnologias saudáveis no que diz respeito ao meio ambiente, bem como, de práticas sustentáveis. l) O desenvolvimento e a implementação simultânea de critérios de qualidade ambiental. Discutir em grupo os aspectos da Agenda 21 (Cap.17), presentes no texto acima, em atividades do setor pesqueiro de sua região. 15 Introdução à pesca e à aquicultura A07 Os vários aspectos dodesenvolvimento sustentável Nesse tópico, você vai acompanhar a partir de algumas experiências práticas, a situação atual no que se refere aos aspectos importantes, envolvendo a sustentabilidade da atividade pesqueira, utilizando como exemplo a região Nordeste do Brasil. Os textos a seguir deverão servir como base para que você possa investigar a realidade local do seu Município e/ou Região. Aspectos socioeconômicos Informações obtidas nas experiências de campo do autor desta apostila verifi caram que o pescador artesanal no Nordeste do Brasil é um ser individualista, difi cilmente se integra em cooperativas, apesar de manter um bom relacionamento com seus companheiros. São raros os casos desse tipo de empresa (as cooperativas) que sobreviva com efi ciência administrativa e fi nanceira por mais de 10 anos. Esta forma de não buscar cooperativas difi culta o acesso ao crédito e a melhoria da comercialização de suas capturas com maior preço. Em geral, o pescador não deseja envolver-se com outra atividade que não seja a pesca em si mesma, difi cultando aumentar seu lucro através do incremento com valor agregado de novos produtos (defumados, enlatados, embutidos etc.). O pescador artesanal vive em comunidades próximas às margens de rios, lagoas, açudes e do litoral. Ele trabalha em grupos familiares e, em geral, as tarefas na atividade pesqueira distribuem-se de acordo com o sexo e a idade, apesar de tanto os homens como mulheres pescarem. O isolamento de algumas comunidades em que vivem os pescadores, a falta de meios de transporte e contatos comerciais conduzem, inevitavelmente, à dependência de intermediários, que fi xam os preços do mercado. Diariamente, eles chegam às comunidades pesqueiras em busca das capturas, algumas delas, de maior valor comercial, são evisceradas ou cortadas em fi lés. O restante, na forma de pescado inteiro fresco é pago um menor preço. O processamento requer lugares protegidos do Sol e de circulação de pessoas e animais, no qual constroem galpões ou depósitos de pequenas dimensões, onde são guardadas as artes de pesca e os materiais para tratamento e comercialização. As condições Responda aqui 7Praticando... 16 Introdução à pesca e à aquicultura A07 de higiene nem sempre são as mais adequadas e devem receber constantemente a fi scalização da vigilância sanitária. Algumas comunidades não dispõem de infraestrutura adequada como água tratada, saneamento básico e coleta de lixo. A maioria das casas tem paredes de alvenaria, piso de cimento e coberta com telhas de barro, porém ocorrem alguns casos isolados com casas de taipa, piso de areia e telhado com palha de coqueiro. Verifi que se na sua região tem cooperativas de pescadores. Caso afi rmativo, visite-a verifi que seu funcionamento, quantas pessoas participam, há quanto tempo foi fundada, que espécies são comercializadas etc. Caso contrário, pergunte aos pescadores o porquê de não se organizarem. Não esqueça de inserir sua resposta no fórum de debates, para expressar sua opinião e conhecer a opinião dos seus colegas. Esse debate é muito importante. Faça discussão em grupo, comparando as respostas dos outros colegas. 8Praticando... 17 Introdução à pesca e à aquicultura A07 Apoio Institucional Atualmente, há várias instituições de pesquisa e/ou ensino espalhadas pelo Bras il, além das universidades presentes na maioria dos estados. Destacam-se a Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca – SEAP/PR (atual Ministério da Pesca e Aqüicultura), o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais renováveis (IBAMA) com seus centros (Centro de Pesquisa e Extensão Pesqueira do Norte, em Belém/PA – CEPNOR, Centro de Pesquisa e extensão Pesqueira do Nordeste, em Tamandaré/PE – CEPENE, Centro de Pesquisa e Extensão Pesqueira do Sul, em Itajaí/SC – CEPSUL), os institutos de Santos e da Amazônia, assim como algumas ONG’s. Mais recentemente nos últimos dez anos, as escolas de nível médio e tecnológico estão aumentando sua importância. Todas elas realizam trabalhos em parceria com seus alunos e/ou profi ssionais para capacitação e assistência técnica dos pescadores locais, a partir de propostas planejadas oriundas de uma política para o setor. A SEAP/PR tem incentivado e investido nas principais localidades de desembarque de pescado no Brasil, incluindo instalações frigoríficas para beneficiamento e armazenagem, além do cais para embarques de materiais e desembarque dos produtos das embarcações. A atividade pesqueira artesanal no nordeste resulta de grande atrativo turístico, talvez pela rusticidade desta atividade, pelas cenas pitorescas das velas saindo ou chegando do porto e pode se tornar uma importante alternativa de renda para os trabalhadores desses barcos. Estudantes universitários ou tecnólogos também têm a oportunidade de apreciar esta atividade como forma de complementar seus conhecimentos técnicos nas matérias, realizar propostas e promover intercâmbios através das instituições as quais estão vinculados, com a intenção de melhorar a qualidade de vida dos pescadores. a) Verifi car quais estão instituições presentes em seu estado e que ações desenvolvem(ram) em prol dos pescadores de sua região: 18 Introdução à pesca e à aquicultura A07 b) Responda às perguntas a seguir (com informações de sua região): i. Qual a função das instituições que trabalham com as comunidades de pescadores artesanais? ii. Quais são as principais ações executadas por essas instituições para a pesca industrial e a artesanal? iii. Há diferenças entre as condições de vida de pescadores artesanais e industriais? Cite algumas delas. 19 Introdução à pesca e à aquicultura A07 Estudo de caso Utilizando como exemplo a pesca da lagosta, vamos acompanhar nesse tópico a sequência de vários fatores que colaboram, na prática, para que essa atividade seja considerada insustentável. Observe com atenção e procure identifi car possíveis semelhanças com outros recursos explorados no seu Município e/ou Região. A insustentabilidade na pesca de lagosta no Brasil A pesca de lagostas no litoral brasileiro teve início em 1955, no estado do Ceará e, após sucessivas expansões da área de pesca, hoje é realizada do litoral do Amapá ao do Espírito Santo. As principais espécies de lagostas capturadas ao longo da costa brasileira são: lagosta vermelha (Panulirus argus); lagosta verde (Panulirus laevicauda); lagosta pintada (Panulirus echinatus) e lagosta sapateira (Scyllarides brasiliensis e Scyllarides delfosi), tendo estas duas últimas participações insignifi cantes nas capturas. A exploração lagosteira no Brasil é uma atividade de elevada importância social e econômica para o País e dela dependem, diretamente, cerca de 15.000 pescadores. Estima-se, também, que mais de 150 mil trabalhadores estejam (estiveram) indiretamente envolvidos com o setor lagosteiro, desenvolvendo atividades nas áreas de: construção e reparo de embarcações e aparelhos de pesca, venda de material de pesca, fornecimento de rancho, fabricação e transporte de gelo, comercialização, recepção, armazenagem, benefi ciamento, congelamento e exportação da produção. A sobrepesca das lagostas no Brasil levou a uma diminuição acentuada na produção de lagostas em determinados anos. Na realidade, na medida em que se esgotava uma área e até que outra passasse a ser explorada, ocorreram quedas bastante acentuadas. A diminuição na produtividade dessa pescaria foi das mais drásticas registradas em pescarias brasileiras, com sérios refl exos no âmbito socioeconômico da atividade. A brutal queda na produtividade foi uma das principais razões do segmento de captura que desinteressou o setor industrial/empresarial, terceirizando segmento de maior risco. Várias plantas de processamento e exportação encerraram suas atividades. 20 Introdução à pescae à aquicultura A07 As causas da crise na pesca de lagostas A seguir, algumas das principais causas da crise na pesca de lagostas estão listadas: a) Crescimento da frota (esforço de pesca) e da ilegalidade Certamente, o fator mais visível da crise foi o crescimento desordenado e continuado da frota de barcos de pequeno e médio porte que, de outras pescarias, passou a pescar as lagostas, de forma ilegal- sem licenças. Esse crescimento foi resultado da terceirização das capturas, da busca do uso indevido do seguro desemprego, do uso de métodos de pesca inadequados e do descontrole do Estado. O conjunto desses fatores levou a sobrepesca. b) Desrespeito às medidas de gestão A falta de respeito às medidas de gestão, ou seja, o não cumprimento das normas estabelecidas, como: os tamanhos mínimos de captura, o período de defeso (geralmente, de janeiro a abril), métodos de pesca permitidos, limite no número de barcos permissionados (pescar somente os barcos permissionados) e de pescadores legalizados, áreas de criadouros naturais – presença de juvenis, etc. tiveram um papel fundamental na formação da crise hoje instalada. c) O uso da rede tipo caçoeira na pesca de lagostas A partir da liberação da pesca com um novo modelo de rede de emalhar, defi nido pela pesquisa, em 1995, uma série de problemas agravou a situação da pesca da lagosta, com destaque para: Barcos de pequeno porte permissionados ou não para essa pescaria que tinham pouca capacidade de pesca (por conduzir um número reduzido de covos) passaram a ter um poder de pesca bem maior (podiam carregar uma signifi cativa metragem de rede já que ocupa pouco espaço no barco); A rede, quando usada em área com ocorrência de peixes, causa um grande impacto a esses recursos, provocando danos colaterais a outras pescarias também controladas; Nesse período, ocorreu também um total descontrole da frota em operação na pesca da lagosta. Os fatos anteriormente arrolados agravaram a crise da pesca desse crustáceo. No início de 2002, por solicitação do setor produtivo da lagosta (Federações de Pescadores, Sindicatos de Armadores e Industriais), foi editada a Portaria IBAMA suspendendo o uso da caçoeira na captura de lagostas, a partir de 1º/05/2002. d) O uso indevido do seguro desemprego durante o defeso O Seguro defeso, utilizado como instrumento de ordenamento e apoio ao pescador, serviu para amenizar a crise. No entanto, uma grande parcela de pescadores de outras Responda aqui 9Praticando... 21 Introdução à pesca e à aquicultura A07 pescarias migrou para a pesca da lagosta apenas para justifi car o recebimento do seguro defeso e com isso agravando a sobrepesca. e) A desconfi ança e o desrespeito institucional – o caos instalado O quadro anteriormente relatado é refl exo de um processo histórico e decorrente de várias causas. Por parte do Estado, constatou-se um processo de defi nição de regras e limites para o uso dos recursos que não envolvia devidamente os pescadores e, na sequência, não exercia o necessário controle das regras que defi nia. Da parte dos pescadores, o primeiro grande obstáculo esteve na difi culdade de serem envolvidos nas defi nições das regras. Já suas lideranças, na maioria dos casos, defendem os legítimos interesses da categoria, porém em detrimento da sobrevivência do recurso pesqueiro. Assim, confi gurou-se um quadro de eterna desconfi ança entre os representantes do Estado e as lideranças dos pescadores que sempre acham que podem derrubar as regras defi nidas a qualquer momento, bastando, para tal, recorrerem às autoridades do poder executivo, legislativo ou, mesmo, judiciário. O setor de fi scalização do IBAMA é o mais atingido com a falta de credibilidade. Na medida do possível, devido à escassez de recursos humanos, fi nanceiros e materiais, muitas apreensões foram realizadas, fl agrantes registrados, embarcações e aparelhos de pesca confi scados, multas geradas. A partir daí entram os poderes legislativo e judiciário, com todas suas leis e brechas que favorecem a quem infringe a lei, não punição efetiva e retorno dos indiciados às mesmas infrações. Aqueles trabalhadores corretos que veem esses infratores retornando à sua comunidade sem a devida punição, acreditam que o IBAMA é o culpado. Como resultado, se convive com um verdadeiro caos institucional. No exemplo citado acima, foram identifi cados 05 fatores como possíveis causas da crise na pesca da lagosta no Brasil. No espaço abaixo, cite cada um deles, relacionando-os com o assunto da aula de hoje. Ou seja: o que mudaria em cada uma dessas situações, se fosse praticada uma pesca sustentável? 22 Introdução à pesca e à aquicultura A07 Leituras complementares Como você já percebeu ao longo desta aula, a sustentabilidade da atividade pesqueira, incluindo aspectos ecológicos, sociais e econômicos, ainda está longe de ser uma realidade em nosso país. Fique atento a todas as informações disponíveis sobre a pesca no Brasil através de jornais, revistas, televisão ou pela Internet. É importante que você esteja atualizado. Por outro lado, procure acompanhar as principais discussões e resoluções envolvendo a sustentabilidade da pesca através do site da FAO, na Internet. O endereço você já sabe: <http://www.fao.org>. Outra importante fonte de informações sobre o tema, no Brasil, é o site do IBAMA. O endereço eletrônico é: <www.ibama.gov.br>. Na aula de hoje, falamos sobre os fundamentos mais importantes envolvendo a sustentabilidade na pesca. Você também teve a oportunidade de conhecer os princípios que norteiam a Agenda 21 Brasileira, em especial o capítulo 17, como também pôde refl etir sobre esses princípios, com base na realidade da pesca de sua região. Observamos, também, o descaso que o tema pesca vem sofrendo perante a maioria das diversas instâncias do Governo e da sociedade civil. Impactos negativos provocados pelas populações locais ocorrem pelo não reconhecimento de seus direitos e 23 Introdução à pesca e à aquicultura A07 interesses, além da não participação plena na elaboração e adaptação das decisões que os afetam. Um estudo de caso trouxe informações sobre a (in) sustentabilidade da pesca da lagosta no litoral do Brasil. Problemas graves de conduta irresponsável ocorrem em todos os níveis da cadeia produtiva. Este é o momento de você fazer uma avaliação dos assuntos que abordamos nessa aula. Qualquer dúvida consulte os exercícios anteriores e as bibliografi as indicadas. 1. Quais são os principais fundamentos envolvendo a pesca sustentável? 2. Quais as principais características da Agenda 21, em especial o capítulo 17, que trata sobre a proteção dos oceanos? 24 Introdução à pesca e à aquicultura A07 3. Quais são principais causas da crise da lagosta no Brasil? Referências AGENDA 21. Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento 1992. 3. ed. Rio de Janeiro. Senado Federal; Brasília, 2001. 598 p. ALBÉ, M. Q. Alguns indicadores para os pequenos e médios produtores rurais do município de Jaquirana. Revista de Divulgação de Ciência e Tecnologia, p. 9-21, 2002. Disponível em: <http://www.liberato.com.br/upload/arquivos/0131010716030816. pdf>. Acesso em: 9 nov. 2009. BRASIL. MMA. Programa REVIZEE: avaliação do potencial sustentável de recursos vivos na zona econômica exclusiva: relatório executivo / MMA, Secretaria de Qualidade Ambiental. Brasília: MMA, 2006. 280p. COSTA, A. L. Nas redes da pesca artesanal. Brasília: IBAMA/PNUD, 2007. 308p. DIAS NETO, J.; DORNELLES, L. C. C. Diagnóstico da pesca marítima do Brasil. Brasília: Ibama, 1996. 165p. (Coleção Meio Ambiente, Série Estudos Pesca, 20). DIAS NETO, J.; MARRUL-FILHO, S. Síntese da situação da pesca extrativa marinha no Brasil. Brasília: IBAMA/DIFAP/CGREP, 2003. 53 p. FAO. Servicio de Tecnología dePesca. Operaciones pesqueras. FAO Orientaciones Técnicas para la Pesca Responsable, Roma, FAO, n. 1, 1999. ______. Cuestiones sociales relacionadas con las pesquerías en pequeña escala. Comité de Pesca. Roma, Itália, 2007. 9p. Anotações 25 Introdução à pesca e à aquicultura A07 MARRUL FILHO, S. Crise e sustentabilidade no uso dos recursos pesqueiros. 2001. 107f. Dissertação (Mestrado em Gestão e Política Ambiental) – Universidade de Brasília, Centro de desenvolvimento Sustentável, Brasília, 2001. MELLO, R. J. F. B. O retorno da sustentabilidade na pesca de lagostas no brasil. Brasília: Coordenação do Comitê de Gestão do Uso Sustentável de Lagostas – MMA/IBAMA. 2007. SECRETARIA DO TRABALHO E EMPREENDEDORISMO – SETE. Sistema Nacional de Emprego – SINE/CE. Instituto de Desenvolvimento do Trabalho – IDT. O pescador artesanal no Ceará: a importância do seguro-desemprego para as famílias de pescadores no Ceará. 2. ed. Brasília, 2007. Anotações 26 Introdução à pesca e à aquicultura A07 Anotações 27 Introdução à pesca e à aquicultura A07 Anotações 28 Introdução à pesca e à aquicultura A07 09 João Vicente Mendes Santana C U R S O T É C N I C O E M P E S C A Vamos fazer uma revisão? INTRODUÇÃO À PESCA E À AQUICULTURA Coordenadora da Produção dos Materias Vera Lucia do Amaral Coordenador de Edição Ary Sergio Braga Olinisky Coordenadora de Revisão Giovana Paiva de Oliveira Design Gráfi co Ivana Lima Diagramação Elizabeth da Silva Ferreira Ivana Lima José Antonio Bezerra Junior Mariana Araújo de Brito Arte e ilustração Adauto Harley Carolina Costa Heinkel Huguenin Leonardo dos Santos Feitoza Revisão Tipográfi ca Adriana Rodrigues Gomes Margareth Pereira Dias Nouraide Queiroz Design Instrucional Janio Gustavo Barbosa Jeremias Alves de Araújo Silva José Correia Torres Neto Luciane Almeida Mascarenhas de Andrade Revisão de Linguagem Maria Aparecida da S. Fernandes Trindade Revisão das Normas da ABNT Verônica Pinheiro da Silva Adaptação para o Módulo Matemático Joacy Guilherme de Almeida Ferreira Filho EQUIPE SEDIS | UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE – UFRN Projeto Gráfi co Secretaria de Educação a Distância – SEDIS Governo Federal Ministério da Educação Você ve rá por aqu i... Objetivos 1 Introdução à pesca e à aquicultura A09 Esta é mais uma aula de revisão, a última tendo a pesca como tema e que antecede a aula prática, quando você terá a oportunidade de articular informações da realidade local do seu Município e/ou Região com o aprendizado teórico acumulado ao longo de nossas aulas. Entre os assuntos abordados nesta revisão, está a sustentabilidade da pesca, incluindo um novo exemplo, e a gestão dos recursos pesqueiros no Brasil. É mais uma oportunidade para atualizar seus conhecimentos e mais um passo em direção ao seu futuro como profi ssional. Aproveite e chegue à frente. Revisar os principais conceitos envolvendo a sustentabilidade da pesca. Conhecer as causas da crise da pesca da piramutaba no Norte do Brasil. Revisar conceitos envolvendo a gestão dos recursos pesqueiros. Revisar e ampliar conhecimentos sobre instituições e políticas públicas brasileiras voltadas para o ordenamento da pesca. 2 Introdução à pesca e à aquicultura A09 Para começo de conversa... Figura 1 – “De olho no peixe” Fonte: clip art da Microsoft Pode não parecer, mas esse é um bom exemplo. Fique “de olho no peixe”, leia, pesquise, acompanhe, demonstre interesse por todos os assuntos relacionados à sua área profi ssional. A aula de hoje é mais uma boa oportunidade para isso. 3 Introdução à pesca e à aquicultura A09 A sustentabilidade da pesca Conforme você já viu na aula 07 desta disciplina,que teve como tema as relações ecológicas, econômicas e sociais no setor pesqueiro nacional, a sustentabilidade de qualquer atividade requer, além da sua viabilidade econômica, a viabilidade social e ambiental. Com a pesca não é diferente. Assim como outros setores da economia, como o setor agrícola, por exemplo (Revolução Verde), a pesca foi alvo de políticas governamentais nas décadas de 1960/1970, que tinham por objetivo aumentar a produção, através da implantação e consolidação de uma indústria pesqueira no País. Essas políticas, que envolveram a concessão de incentivos fi scais para a criação de empresas e o fortalecimento da pesca industrial acabaram não surtindo os efeitos desejados, entre outros motivos, porque não levaram em conta aspectos sociais (os pescadores artesanais, por exemplo) e nem ambientais, contribuindo para a sobre-exploração de muitas espécies, cujos efeitos perduram até os dias de hoje. “A partir da década de 60, principalmente em função do impacto das políticas de modernização do setor pesqueiro nacional, observou-se um forte estímulo à industrialização da atividade, desde a captura ao beneficiamento, bem como transformações mais intensas nos sistemas de produção na pesca praticados pelos pescadores artesanais... A exemplo do ocorrido com as políticas de modernização/ industrialização da agricultura brasileira, as políticas desta época, voltadas ao setor pesqueiro, podem ser qualifi cadas como “duplamente concentradoras”, priorizando as regiões sudeste e sul e, dentro destas, a pesca industrial. Segundo Diegues (1983 e 1988), cerca de 94% das empresas incentivadas eram do centro-sul do país, e entre 1967 e 1977, a pesca artesanal havia recebido somente 12% do equivalente aos fundos investidos na indústria pesqueira, através dos incentivos fi scais. Além dos incentivos fi scais, a pesca industrial, por oferecer maiores garantias aos bancos, recebeu a maior parte dos recursos disponibilizados para pesca através do Sistema Nacional de Crédito Rural (SNCR), em detrimento da pesca artesanal que, por exercer a atividade de forma mais aleatória e com freqüente falta de capitalização, não pode atender às exigências bancárias (SOUZA, 2001 apud PASQUOTTO; MIGUEL, 2004, p. 3). No contexto atual, porém, não é suficiente apenas que as políticas de governo incentivem a “pesca sustentável”, é necessário, também, que sejam criadas normas e Leis específi cas para regulamentar essa prática, bem como Instituições responsáveis pela gestão e fi scalização dessa atividade. No Brasil contemporâneo, a legislação que regulamenta a pesca é considerada satisfatória, entretanto, a mesma precisa ser 1Praticando... 4 Introdução à pesca e à aquicultura A09 acompanhada de ações de educação e fi scalização para que a mesma venha a ser cumprida, garantindo, enfi m, a sustentabilidade da atividade pesqueira no nosso País. A primeira atividade desta aula tem como objetivo relembrar alguns conceitos envolvendo a sustentabilidade da pesca. Leia com atenção e responda às perguntas abaixo, depois confi ra os resultados no texto logo a seguir. 1. Escreva, com suas palavras, o que é sustentabilidade: 2. A partir de qual momento na história o conceito de “desenvolvimento sustentável” passou a ser difundido e adotado como modelo de desenvolvimento? 3. Descreva, de forma resumida e com suas palavras, os “Princípios de Sustentabilidade” defi nidos pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA). 5 Introdução à pesca e à aquicultura A09 A preocupação com a sustentabilidade vem de muito tempo, mas é a partir do Relatório de Brundtland, elaborado pela Comissão Mundial do Meio Ambiente e Desenvolvimento, em 1987, também conhecido como Nosso Futuro Comum, que o termo desenvolvimento sustentável foi popularizado e, por consequência, a idéia de sustentabilidade. Esta comissão defi niu o desenvolvimento sustentável como “desenvolvimento que atende às necessidades do presente sem comprometer a capacidade das futuras geraçõesatenderem às suas próprias necessidades”. A Sustentabilidade é crescimento e desenvolvimento econômico, com inclusão social e conservação ambiental, além dos limites das empresas, abrangendo todos os setores envolvidos na pesca e na aquicultura. A pesca sustentável seria defi nida como aquela capaz de produzir alimentos de forma efi ciente, rentável e segura, de modo a atender uma crescente demanda mundial, sem degradar os recursos naturais e o meio ambiente. A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), em seu trabalho sobre Indicadores de Sustentabilidade Agropecuária, lançou alguns “Princípios de Sustentabilidade” que devem ser seguidos e que aqui foram adaptados para o setor pesqueiro: 6 Introdução à pesca e à aquicultura A09 Princípio 1: “Conformidade com os acordos, tratados e convenções internacionais: as atividades do ciclo de vida dos produtos pesqueiros devem seguir os acordos, tratados e convenções internacionais dos quais nosso país é signatário, relacionados às áreas ambiental, social e econômica.” Princípio 2: “Conformidade com a legislação nacional: as atividades do ciclo de vida dos produtos pesqueiros devem estar de acordo com a legislação nacional relacionada às áreas ambiental, social e econômica.” Princípio 3: “Integração: os produtos pesqueiros devem ser avaliados segundo o seu ciclo de vida, de acordo com os aspectos ambientais, econômicos e sociais.” Princípio 4: “Localização: as atividades do ciclo de vida dos produtos pesqueiros devem ser avaliadas pelas potencialidades e restrições das características de sua localização e entorno, visando maximizar a produção respeitando o limite dos estoques.” Princípio 5: “Melhoria contínua, Monitoramento e Retroalimentação: as atividades do ciclo de vida dos produtos pesqueiros devem ter ações concretas de melhoria contínua, assim como sistema de monitoramento implantado com possibilidade de recuperação dos dados referente aos aspectos ambientais, econômicos e sociais.” Texto extraído da aula 7, com adaptações. O Código de Conduta para a Pesca Responsável Conforme já estudamos em aulas anteriores, o Código de Conduta para a Pesca responsável é um documento criado pela FAO – Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, que estabelece princípios e normas internacionais para a aplicação de práticas responsáveis com vistas a assegurar a conservação e a gestão dos recursos vivos aquáticos, respeitando o ecossistema e a biodiversidade, e aponta alguns mecanismos necessários para a sustentabilidade da atividade, que devem ser cumpridas por todos os atores da cadeia produtiva: pescadores, atravessadores, exportadores e consumidores. 2Praticando... 7 Introdução à pesca e à aquicultura A09 Tendo por base as orientações técnicas referidas no texto anterior, responda às seguintes perguntas: 1. A quem compete exercer o controle para a redução de confl itos entre os diversos tipos de pesca? 2. No que diz respeito às pesquisas de novas técnicas e materiais de pesca, o que sugerem essas orientações? 3. E sobre a Indústria introduzir novas técnicas e métodos de pesca com fi ns comerciais, qual é a orientação? 4. Quem deverá ser responsável pelo desenvolvimento de artes de pesca mais seletivas? Entre os temas abordados nesse documento, existe um artigo específi co sobre “artes de pesca”, a partir do qual foram elaboradas, ainda, algumas orientações técnicas visando a facilitar o seu entendimento. Esse é o tema da nossa próxima atividade. Resolva e confi ra os resultados logo a seguir. 8 Introdução à pesca e à aquicultura A09 O Código de Conduta para a Pesca Responsável, no seu artigo 8, descreve detalhes das disposições referentes às operações pesqueiras. Com o objetivo imediato de propor assessoramento prático para implementar as disposições contidas nesse Artigo e assegurar que todas as atividades pesqueiras sejam realizadas de forma responsável, foram elaboradas algumas Orientações Técnicas. A seguir, apresentamos os itens mais importantes. Sobre as artes de pesca: a) A autoridade competente deverá adotar políticas de ordenamento adequadas com respeito às artes, métodos ou operações de pesca permitidas. b) Quem participar das práticas pesqueiras deverá respeitar as regulamentações referentes aos métodos e artes de pesca; não deverá utilizar métodos e artes proibidos, nem deverá pescar em áreas ou períodos do ano que coloquem em perigo uma pescaria ou represente uma ameaça para os estoques pesqueiros ou ao meio ambiente. c) Não se deve introduzir novas práticas ou métodos de pesca que possam causar um descarte signifi cativo das espécies alvo e das incidentais, a menos que em uma pesquisa prévia demonstre-se o contrário. d) De igual modo, a indústria não deverá introduzir com fi ns comerciais novas práticas ou métodos de pesca, a não ser que sejam demonstrados, através de avaliação prévia, que os mesmos não trarão prejuízos às comunidades e populações de pescadores artesanais e de pequena escala. e) A autoridade competente será quem deverá exercer o controle para reduzir o confl ito entre artes de pesca ativas e passivas, assim como entre os setores de pequena escala e industrial. f) As autoridades competentes, as instituições de investigação e a indústria pesqueira deverão colaborar para o desenvolvimento de artes de pesca mais seletivas. Texto extraído da aula 7, com adaptações. 9 Introdução à pesca e à aquicultura A09 Estudo de caso: A crise na pesca da piramutaba (Brachyplatystoma vaillantii) no Brasil Utilizando como exemplo a pesca da piramutaba, vamos acompanhar nesse tópico a sequência de vários fatores que colaboram, na prática, para que essa atividade seja considerada insustentável. Observe com atenção e procure identifi car possíveis semelhanças com outros recursos explorados no seu Município e/ou Região. Figura 2 – Piramutaba (Brachyplatystoma vaillantii) Fonte: <http://bafanciencia.blog.br/wp-content/piramutabacerto.jpg>. Acesso em: 25 jun. 2009. “A piramutaba, Brachyplatystoma vaillantii (Valenciennes, 1940), é um bagre de água doce pertencente à família Plimelodidae; possui o corpo de coloração cinza-escura na região dorsal e cinza-clara na região ventral. No Norte do Brasil a espécie ocorre principalmente ao longo do rio Solimões-Amazonas e em seus tributários de água barrenta. Raramente ultrapassa as primeiras corredeiras, exceto no rio Madeira (BARTHEN; GOULDING, 1997). Esta espécie possui uma ampla distribuição nas bacias do Norte da América do Sul que deságua no Oceano Atlântico, existindo registros de sua ocorrência desde a bacia do Orinoco, na Venezuela, até a bacia do rio Parnaíba, na divisa dos estados do Maranhão e Piauí (MEES, 1974). 10 Introdução à pesca e à aquicultura A09 Figura 3 – embarcações utilizadas na pesca industrial da piramutaba Fonte: <http://www.ecomar.com.br/images/Frota2.jpg>. Acesso em: 27 jul. 2009. No estado do Pará, a exploração industrial da piramutaba teve início no ano de 1971 com utilização dos barcos camaroneiros adaptados para a pesca de peixes demersais (IBAMA, 1999). O Governo Federal, através de uma política de incentivos fi scais (isenção de impostos, fi nanciamentos e facilidade de importações) direcionadas para a Amazônia, produziu um enorme avanço na exploração pesqueira da Região. A partir desses incentivos foi organizada uma sofi sticada frota direcionada principalmente para a pesca da piramutaba, com novos métodos de captura (BRITTO et al, 1975). Como consequência, obteve-se um incremento excessivo do esforço de pesca e um aumento da produção que passou de 8.371 t em 1972 para 28.829 t em 1977, ano em que foi registrado o maior desembarque da espécie (CACEX – Banco do Brasil, 1980). Com este desenvolvimento da pesca na bacia do rio Amazonas,foram instalados frigorífi cos nas cidades de Belém e Vigia e em outras localizadas às margens do rio Amazonas e dos tributários de água barrenta, destacando-se Santarém e Óbidos no estado do Pará. Em contrapartida, a exploração de um recurso pesqueiro em escala industrial tem demonstrado que, se não devidamente administrada, principalmente no que concerne ao controle do esforço de pesca, fatalmente levará a pesca a situações de graves consequências econômicas e sociais. Como resultado, tem-se a redução da captura por unidade de esforço e da produção, o que fatalmente levará as empresas pesqueiras ao colapso fi nanceiro com desemprego de pescadores. As medidas restritivas que visaram ao controle das pescarias de piramutaba não se mostraram sufi cientes para gerar o equilíbrio desejado. A desaceleração da pesca artesanal, a fragilidade da fi scalização e o elevado poder destrutivo dos arrastos foram os fatores responsáveis pelo desequilíbrio pesqueiro do recurso. A produção desembarcada nas empresas de pesca, no ano de 1980, foi de 14.004,20 kg enquanto que no ano de 1995 a produção fi cou reduzida a 9.431,544 kg (IBAMA, 1999; PINHEIRO; CINTRA, 1999). A disputa por áreas de pesca da piramutaba na região Norte do Brasil gerou confl itos graves entre os segmentos da pesca artesanal e industrial. Tendo em vista minimizar esta difi culdade, foram defi nidas, através da Portaria n N-9, de 9 de março de 1983, duas áreas de pesca: a primeira, destinada à pesca industrial, onde se captura Que passam a maior parte do tempo próximos ao substrato (fundo). Demersais Responda aqui 3Praticando... 11 Introdução à pesca e à aquicultura A09 indiscriminadamente indivíduos grandes e pequenos, estaria restrita à região próxima ao equador (00 05’ N; 48 00’ W). A segunda, fora dos limites defi nidos acima, seria destinada à pesca artesanal que utilizaria redes de emalhar de 70mm entre nós consecutivos, permitindo a fuga dos peixes pequenos (DIAS NETO et al, 1985). Os barcos arrasteiros da pesca industrial da piramutaba, ainda no mar, dividem sua produção em dois blocos: (a) indivíduos de pequeno porte (defi nidos como rejeitados), que são devolvidos ao meio aquático, quase sempre mortos, por não se prestarem para a comercialização; (b) indivíduos de maior porte (defi nidos como aproveitados), que são comercializados. Um dos problemas mais sérios da pescaria industrial da piramutaba é a elevada porcentagem de rejeição do pescado. O peso médio da piramutaba descartado no período de 1972 a 1996 atingiu o valor de 31% das capturas (IBAMA, 1999). Em contrapartida, a rejeição da pesca artesanal é praticamente nula (DIAS-NETO et al, 1982 apud CHAVES et al, 2003, p. 164-166). A partir das informações contidas no texto acima, e do que você já aprendeu sobre sustentabilidade da pesca, descreva, no espaço abaixo, qual o seu entendimento sobre a sustentabilidade da pesca industrial da piramutaba no Norte do Brasil. Não se esqueça de inserir suas respostas no fórum de debates. 12 Introdução à pesca e à aquicultura A09 A Gestão da Pesca A gestão de uma pescaria, segundo conceito da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação – FAO (1997), é o processo integrado de agrupamento de informações, análises, planejamento, consulta, tomada de decisões, alocação de recursos e implementação das regulamentações ou normas que governam as atividades pesqueiras, de modo a assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos e o alcance de outros objetivos das pescarias. Na aula 8 desta disciplina, você teve acesso a algumas informações sobre o Órgão responsável pela gestão dos recursos pesqueiros no Brasil. Você lembra qual é ele? Muito bem, estamos falando do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), criado em 22 de fevereiro de 1989 e a partir do qual a gestão ambiental passou a ser integrada no Brasil. Responda aqui 4Praticando... 13 Introdução à pesca e à aquicultura A09 Pesquise no site do IBAMA, na Internet, e faça um breve resumo sobre as principais ações da Coordenação-Geral de Autorização de Uso e Gestão de Fauna e Recursos Pesqueiros (CGFAP) no que se refere ao ordenamento e gestão dos recursos pesqueiros da sua Região. O endereço eletrônico é: <http//:www.ibama.gov.br/recursos-pesqueiros/>. 14 Introdução à pesca e à aquicultura A09 Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – ICMBIO Outra Instituição criada pelo Governo Brasileiro para atuar na área de meio ambiente e que possui algumas ações voltadas ao ordenamento da pesca é o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBIO). Na seção “leituras complementares” você encontrará o endereço eletrônico para consulta e maiores informações. O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade é o mais novo órgão ambiental do governo brasileiro. Foi criado pela lei 11.516, de 28 de agosto de 2007. É uma autarquia vinculada ao Ministério do Meio Ambiente e integra o Sistema Nacional do Meio Ambiente (Sisnama). A sua principal missão institucional é administrar as unidades de conservação (UCs) federais, que são áreas de importante valor ecológico. Nesse sentido, cabe ao instituto executar as ações da política nacional de unidades de conservação, podendo propor, implantar, gerir, proteger, fi scalizar e monitorar as UCs instituídas pela União. O instituto tem também a função de executar as políticas de uso sustentável dos recursos naturais renováveis e de apoio ao extrativismo e às populações tradicionais nas unidades de conservação federais de uso sustentável. As suas outras missões institucionais são fomentar e executar programas de pesquisa, proteção, preservação e conservação da biodiversidade e exercer o poder de polícia ambiental para a proteção das unidades de conservação federais. (ICMBIO, 2009, extraído da Internet). Ordenamento Pesqueiro “Entende-se por ordenamento pesqueiro um conjunto de ações empreendidas pelo Poder Público, mediante solicitação ou não da sociedade, para o uso sustentado dos recursos pesqueiros” (RUFFINO, 2005, p. 35). Na aula passada, utilizamos como exemplo algumas informações contidas na publicação Gestão do Uso dos Recursos Pesqueiros na Amazônia de Mauro Luis Ruffi no, publicada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis. Segundo o autor, o processo tradicional de ordenamento pesqueiro tem demonstrado sinais de esgotamento, não somente no Brasil como em todo o mundo. Em outras palavras, a atividade pesqueira no mundo encontra-se em declínio. No Brasil, pode-se afi rmar que o ordenamento das pescarias mais importantes tem sido marcado por muitos insucessos, tendo como principais causas: 15 Introdução à pesca e à aquicultura A09 o princípio do “livre acesso”, que sempre caracterizou a utilização dos estoques pesqueiros e que contribui para difi cultar a efetiva aplicação das medidas de regulamentação; medidas baseadas no enfoque puramente biológico, que não levam em conta, de forma sufi ciente, os aspectos econômicos da atividade pesqueira e socioculturais das comunidades envolvidas; a busca do maior rendimento econômico possível das pescarias, que levou o governo a incentivar o desenvolvimento tecnológico e a expansão das frotas, sem considerar a forma de distribuição dos benefícios gerados pela atividade. Os problemas da pesca não são resolvidos apenas com soluções técnicas. Vale ressaltar, também, que, para se garantir uma pesca sustentável, é preciso integrar as diferentes administrações setoriais em uma única gestão sistêmica, independentemente de ser a abordagem mono ou multissetorial, ou seja, de se trabalhar apenas os aspectos inerentes à pesca ou abordar os demais fatores que infl uem sobre esta. Segundo o mesmo autor, as possíveissoluções são: adequar o ordenamento pesqueiro às peculiaridades locais; defi nir o tamanho mínimo de captura de algumas espécies, assim como o tamanho de malha das redes; proibir petrechos e métodos de pesca; estabelecer e fi scalizar as épocas de defeso; experimentar formas de proteção (fechamento de áreas) e melhorar o aproveitamento e o processamento da captura (diversifi car produtos, melhorar condições de higiene, de transporte e conservação). (extraído da aula 8, com adaptações). Responda aqui 5Praticando... 1. 16 Introdução à pesca e à aquicultura A09 No que se refere especifi camente ao Brasil, Ruffi no (2005) aponta algumas causas para o insucesso do ordenamento das pescarias. Você ainda lembra quais são? Utilizando seu próprio vocabulário, descreva as três principais causas apontadas pelo referido autor para o insucesso do ordenamento das pescarias no Brasil. 2. 3. 17 Introdução à pesca e à aquicultura A09 18 Introdução à pesca e à aquicultura A09 Ordenamento pesqueiro e gestão participativa Figura 4 – manejo comunitário de lagos de pesca na Amazônia Fonte: <http://www.ipam.org.br/web/programas/manejo/manejo_clip_image002.jpg>. Acesso em: 27 jul. 2009. 19 Introdução à pesca e à aquicultura A09 Como você já pode perceber, o ordenamento dos recursos pesqueiros não é uma tarefa simples, pois envolve muitos atores e interesses diferenciados, às vezes tarefa simples, pois envolve muitos atores e interesses diferenciados, às vezes contraditórios. No texto anterior, acompanhamos algumas observações sobre falhas no processo tradicional. A partir de agora, vamos conhecer um novo modelo, baseado na gestão participativa dos recursos. “A participação popular, vista como parte integrante do desenvolvimento, deve ser considerada como base para a tomada descentralizada de decisões [...] O IBAMA acredita que a participação da sociedade nesse processo poderá ser efetivo se houver organização e representação legítimas nas instâncias de tomada de decisões”. (RUFINNO, 2005, p. 65). Para o autor, as populações residentes nas comunidades ribeirinhas da Amazônia ainda não se fazem representar a contento em ações voltadas à gestão participativa dos recursos em função de fragilidades no próprio processo de organização, o que requer um esforço contínuo na formação e capacitação de lideranças, que deverão estar aptas também para a gestão de possíveis confl itos gerados durante esse processo. Entre as ações envolvendo a gestão participativa da pesca na Amazônia destacam-se os Acordos de Pesca, que têm como principal objetivo defender as áreas consideradas de uso e domínio comunitários, para reduzir ou controlar a pressão da pesca. Como o próprio nome já diz, são “acordos” envolvendo comunidades de pescadores (profi ssionais e/ou de subsistência) e ribeirinhos, os quais defi nem, em conjunto, normas específi cas de regulação da atividade pesqueira em função dos interesses comuns da população local e da sustentabilidade dos recursos. Segundo a defi nição de Castor e McGrath (2001), os acordos de pesca são um conjunto de regras estabelecidas por comunitários ribeirinhos que defi nem o acesso e o uso do recurso pesqueiro de determinada área geográfi ca. As regras são fortemente baseadas em conhecimento ecológico local e o monitoramento está relacionado com as éticas sociais locais (RUFINNO, 2005, p. 67). De acordo com a Instrução Normativa n. 29, de 31 de dezembro de 2002, o IBAMA defi ne os Acordos de Pesca como “[...] um conjunto de normas específi cas, decorrentes de tratados consensuais entre os diversos usuários dos recursos pesqueiros em uma determinada área defi nida geografi camente”. O objetivo geral dos acordos de pesca é o controle da pressão sobre os sistemas de lago locais. Eles procuram atingir esse objetivo indiretamente através de restrições 20 Introdução à pesca e à aquicultura A09 ao tipo de arreio de pesca que pode ser utilizado, à capacidade de armazenamento e/ou à venda da captura. Poucos acordos, se não nenhum, especifi cam o limite de captura ou o tamanho mínimo do pescado, medidas que seriam mais difíceis de implementar. Embora poucos acordos procurem proibir a pesca comercial por completo, muitos procuram incluir esse aspecto. A maior preocupação dos pescadores da várzea é manter a produtividade de peixe em níveis satisfatórios com os arreios de pesca que eles utilizam. Os pescadores da várzea também estão inseridos em outras atividades econômicas, que incluem a agricultura anual, criação de animais de pequeno porte e criação de gado e, por isso, não têm tempo nem recursos para dedicar tempo integral à pesca comercial. Uma segunda característica importante dos acordos é que, em contraste com as políticas convencionais de manejo de pesca que procuram proteger o peixe durante a temporada de desova, a maior parte dos acordos procuram restringir a pesca durante o período de seca, quando os peixes estão concentrados em pequenos corpos de água e vulneráveis à exploração excessiva. Eles acreditam que a elevação do nível da água, que coincide com o período de desova, proporciona às espécies uma proteção natural da pressão causada pela pesca. As medidas tomadas durante o período de seca do rio são a proibição de malhadeiras e, em alguns casos, restrições da venda de peixe fora da comunidade. Por outro lado, restrições de arreios de pesca durante o período de cheia são raras e, quando existem, são em locais específi cos. (MACGRATH et al, 2002, p. 11-12). Figura 5 – capa da cartilha elaborada pelo Ibama Fonte: <http://www.ibama.gov.br/provarzea/foto.php?id_img=404>. Acesso em: 27 jul. 2009. Com o objetivo de esclarecer as comunidades pesqueiras sobre o tema, o IBAMA elaborou ainda uma cartilha. Em linguagem bastante acessível e com ilustrações, é um exemplo que vale a pena conferir. Ela está disponível na Internet, no endereço eletrônico: <http://www.ibama.gov.br/provarzea/index.php?id_menu=169>. 6Praticando... 21 Introdução à pesca e à aquicultura A09 Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá Outro exemplo interessante de manejo participativo é desenvolvido pelo Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, no estado do Amazonas. Veja abaixo algumas informações sobre esse trabalho, depois acesse o site do Instituto na Internet. O endereço eletrônico está disponível na seção “leituras complementares”. Entre os recursos naturais de particular importância na Reserva Mamirauá estão o peixe Pirarucu Arapaima gigas, o jacaré açu Melanosuchus niger, o peixe boi Trichechus inunguis e as tartarugas de rio, do gênero Podocnemis. Estes vertebrados aquáticos foram explorados tão intensamente nos últimos 400 anos, que suas populações foram conduzidas a uma extinção comercial e perto de uma extinção biológica. O mal uso deste recurso tem sido diagnosticado através da pesquisa cientifi ca, e informação obtida dos residentes da Reserva. O trabalho de Monitoramento e Manejo dos Recursos Naturais vem sendo executado desde o ano 2000, na Área Focal da Reserva e tem entre seus objetivos monitorar o uso destes recursos com a participação dos comunitários, caracterizando o grau de impacto humano sobre suas populações. A importância deste trabalho reside em obter informações que ajudem no manejo e recuperação das populações silvestres de tal maneira que, com o tempo, continuem sendo as principais fontes de proteínas para as comunidades residentes e usuárias da Reserva. Para o prosseguimento desta pesquisa de longo prazo, está sendo implementado um banco de dados que incluirá informação sobre o uso destes recursos pelos comunitários que moram na Reserva. (IDSM, 2009, extraído da Internet). Identifi que e descreva, com suas palavras, as principais diferenças entre os Acordos de Pescae os métodos tradicionais de ordenamento pesqueiro, descritos no texto anterior. Responda aqui 22 Introdução à pesca e à aquicultura A09 23 Introdução à pesca e à aquicultura A09 Leituras complementares Para saber mais sobre sustentabilidade da pesca e ordenamento pesqueiro no Brasil, consulte os seguintes trabalhos: PASQUOTTO, V. F.; MIGUEL, L. de A. Pesca Artesanal e enfoque Sistêmico: uma atualização necessária. In: ENCONTRO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE SISTEMAS DE PRODUÇÃO, 6., 2004, Aracaju. Anais... Aracaju, 2004. Disponível em: <http://www6. ufrgs.br/pgdr/arquivos/443.pdf>. Acesso em: 27 jul. 2009. MCGRATH, D G et al. Pesca Comunitária e Co-Manejo na Várzea do Baixo Amazonas do Brasil. In: INTERNATIONAL SYMPOSIUM ON THE MANAGEMENT OF LARGE RIVERS FOR FISHERIES: SUSTAINING LIVELIHOODS AND BIODIVERSITY IN THE NEW MILLENNIUM. Anais… Phnom Penh, Cambodia, 12 - 15 fev. 2002. Disponível em: <http://www.ibcperu. org/doc/isis/6979.pdf>. Acesso em: 27 jul. 2009. Mantenha-se atualizado acessando também os sites do IBAMA do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBIO). Os endereços eletrônicos são: INSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS NATURAIS RENOVÁVEIS – IBAMA. Disponível em: <http//:www.ibama.gov.br/recursos-pesqueiros/>. Acesso em: 27 jul. 2009. INSTITUTO CHICO MENDES DE CONSERVAÇÃO DE BIODIVERSIDADE – ICMBIO. Disponível em: <http://www.icmbio.gov.br/>. Acesso em: 27 jul. 2009. Nesta aula de revisão, cujo objetivo foi contribuir para o sucesso do seu aprendizado, você pode rever alguns conceitos envolvendo a sustentabilidade da pesca e a gestão dos recursos pesqueiros no Brasil, assuntos bastante atuais e com os quais você irá certamente se deparar no exercício da sua futura profi ssão. Além da revisão de conceitos, você acompanhou também mais um exemplo de crise na pesca, dessa vez envolvendo a pesca industrial da piramutaba – Brachyplatystoma Vaillantii, bem como um exemplo de ordenamento pesqueiro baseado na gestão participativa dos recursos, ilustrado pelos Acordos de Pesca, na região Amazônica. Na nossa próxima aula, vamos ver toda essa teoria, na prática. E você será a nossa referência. Não falte. 24 Introdução à pesca e à aquicultura A09 Para avaliar o seu aprendizado, procure fazer uma relação entre a sustentabilidade da pesca e o ordenamento pesqueiro, utilizando como exemplo a exploração de um recurso na sua região. Para isso, descreva a pescaria, avaliando a sua sustentabilidade econômica, ambiental e social. A seguir, descreva quais medidas de ordenamento estão sendo aplicadas, observando se as mesmas estão ou não sendo cumpridas pelos diversos atores envolvidos e quais as suas sugestões. Faça o seu registro através da produção escrita de um texto descritivo. Anotações 25 Introdução à pesca e à aquicultura A09 Referências CHAVES, R. A. et al. Sobre a Pesca da Piramutaba, Brachyplatystoma vaillantii (Vallenciennes, 1940) em Pescarias da Frota Industrial no Estado do Pará. Boletim Técnico Científi co do CEPNOR, Belém, v. 3, n. 1, p. 163-177, 2003. INSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS NATURAIS RENOVÁVEIS – IBAMA. Disponível em: <http//:www.ibama.gov.br/recursos-pesqueiros/>. Acesso em: 27 jul. 2009. INSTITUTO CHICO MENDES DE CONSERVAÇÃO DE BIODIVERSIDADE – ICMBIO. Disponível em: <http://www.icmbio.gov.br/>. Acesso em: 27 jul. 2009. MCGRATH, D G et al. Pesca Comunitária e Co-Manejo na Várzea do Baixo Amazonas do Brasil. In: INTERNATIONAL SYMPOSIUM ON THE MANAGEMENT OF LARGE RIVERS FOR FISHERIES: SUSTAINING LIVELIHOODS AND BIODIVERSITY IN THE NEW MILLENNIUM. Anais… Phnom Penh, Cambodia, 12 - 15 fev. 2002. Disponível em: <http://www.ibcperu. org/doc/isis/6979.pdf>. Acesso em: 27 jul. 2009. PASQUOTTO, V. F.; MIGUEL, L. de A. Pesca Artesanal e enfoque Sistêmico: uma atualização necessária. In: ENCONTRO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE SISTEMAS DE PRODUÇÃO, 6., 2004, Aracaju. Anais... Aracaju, 2004. Disponível em: <http://www6. ufrgs.br/pgdr/arquivos/443.pdf>. Acesso em: 27 jul. 2009. RUFFINO, M. L. Gestão do uso dos recursos pesqueiros na Amazônia. Manaus: IBAMA, 2005. Anotações 26 Introdução à pesca e à aquicultura A09 Anotações 27 Introdução à pesca e à aquicultura A09 Anotações 28 Introdução à pesca e à aquicultura A09 11 João Vicente Mendes Santana C U R S O T É C N I C O E M P E S C A Conceito e Evolução da Aquicultura INTRODUÇÃO À PESCA E À AQUICULTURA Coordenadora da Produção dos Materias Vera Lucia do Amaral Coordenador de Edição Ary Sergio Braga Olinisky Coordenadora de Revisão Giovana Paiva de Oliveira Design Gráfi co Ivana Lima Diagramação Elizabeth da Silva Ferreira Ivana Lima José Antonio Bezerra Junior Mariana Araújo de Brito Arte e ilustração Adauto Harley Carolina Costa Heinkel Huguenin Leonardo dos Santos Feitoza Revisão Tipográfi ca Adriana Rodrigues Gomes Margareth Pereira Dias Nouraide Queiroz Design Instrucional Janio Gustavo Barbosa Jeremias Alves de Araújo Silva José Correia Torres Neto Luciane Almeida Mascarenhas de Andrade Revisão de Linguagem Maria Aparecida da S. Fernandes Trindade Revisão das Normas da ABNT Verônica Pinheiro da Silva Adaptação para o Módulo Matemático Joacy Guilherme de Almeida Ferreira Filho EQUIPE SEDIS | UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE – UFRN Projeto Gráfi co Secretaria de Educação a Distância – SEDIS Governo Federal Ministério da Educação Você ve rá por aqu i... Objetivos 1 Introdução à pesca e à aquicultura A11 ...que iniciaremos uma nova temática na nossa disciplina e, a partir desta aula, passaremos a falar sobre aquicultura. Conheceremos também um pouco da sua história e os principais conceitos envolvidos nessa atividade, considerada, por muitos, como uma das principais fontes de alimento no futuro da humanidade. Vamos saber por quê? Conhecer os principais conceitos envolvendo a aquicultura. Conhecer aspectos importantes da história da aquicultura no mundo;. Identifi car os principais locais que se destacam na produção aquícola no mundo, no contexto atual; 2 Introdução à pesca e à aquicultura A11 Para começo de conversa... Existe alguma semelhança entre as atividades que aparecem nestas imagens? Figura 1 – Pesca Fonte: <http://www.eja.org.br/userfi les/M_ambiente/Texto16.jpg>. Acesso em: 31 jul. 2009. Figura 2 – Coleta da castanha Fonte: <http://www.mesoaltosolimoes.com.br/UserFiles/Image/Coleta.jpg>. Acesso em: 31 jul. 2009. 3 Introdução à pesca e à aquicultura A11 Figura 3 – Aquicultura Fonte: <http://www.duocs.gov.br/apoena/var/fi les/noticias/967/main.jpg>. Acesso em: 18 nov. 2009. Figura 4 – Cultivo de melancia Fonte: <http://www.estadao.com.br/fotos/melancias2.jpg>. Acesso em: 31 jul. 2009. A princípio, pode parecer absurdo comparar um cultivo de melancia com a aquicultura, mas essas atividades têm, sim, alguma coisa em comum: são destinadas à produção de alimentos, além de se constituírem em atividades econômicas, com fi ns comerciais. E a coleta da castanha? Também é uma atividade econômica que sustenta um grande número de famílias no Norte do Brasil e, assim como a pesca, ela é uma atividade extrativista. Na água, assim como na terra, podemos optar pela coleta de produtos ofertados diretamente pela natureza, como também podemos cultivá-los. 4 Introdução à pesca e à aquicultura A11 O que é aquicultura? Iniciamos esta disciplina perguntando, na nossa aula de nº 01: “o que é pesca?”. Voltamos a fazer essa mesma pergunta, agora, porém, direcionada à atividade que será o tema de nossas aulas daqui para frente: afi nal, o que é aquicultura? O que existe de comum e de diferente entre essas duas atividades? Assim como a pesca, ela podecausar danos ao meio ambiente? É uma prática antiga ou passou a ser exercida recentemente? É praticada por grandes ou pequenos produtores?Fique atento. Ao fi nal desta aula, voltaremos a fazer essas mesmas perguntas. Aí, sim, você deverá estar apto(a) a respondê-las. O conceito Segundo defi nição da Organização das Nações Unidas para Agricultura e desenvolvimento (FAO), a aquicultura pode ser defi nida como: “O cultivo de organismos aquáticos, incluindo peixes, moluscos, crustáceos e plantas aquáticas. Implica a intervenção do homem no processo de cultivo para aumentar a produção em operações como estocagem, alimentação, proteção contra predadores, etc. A atividade de cultivo também pressupõe que os indivíduos ou associações que a exercem são proprietários da população sob cultivo. Admite-se que uma determinada produção de organismos aquáticos constitui uma contribuição à aquicultura, quando estes são colhidos por indivíduos ou associações que têm sido os seus donos durante o período de criação” (FAO, 1999 apud VINATEA, 2004 p. 25). Em outras palavras, a aquicultura, assim como a pesca, tem como produto um organismo aquático. O diferencial está na forma de obtenção desse produto que, no caso da pesca, é a extração da natureza (um bem comum), já na aquicultura ele é cultivado e, portanto, pertence a alguém. Assim como a pesca, também, a aquicultura pode ser praticada por grandes ou pequenos produtores, pode ser ainda uma atividade sustentável ou causar sérios danos ambientais. 5 Introdução à pesca e à aquicultura A11 Tipos de aquicultura A aquicultura pode ser classifi cada de várias maneiras, sob o ponto de vista socioeconômico, hidrológico, baseado nos sistemas de produção ou ainda na biologia das espécies. Vamos conhecer, agora, as principais formas de classifi cação dessa atividade. Classifi cação socioeconômica Vinatea (2004) utiliza a defi nição da FAO, segundo a qual os cultivos podem ser classificados, sob o ponto de vista socioeconômico, em aquicultura industrial e aquicultura rural. Aquicultura industrial: é considerada aquela praticada por uma empresa organizada, envolvendo a aplicação de um volume considerável de dinheiro. A maior parte dessas empresas destinam sua produção à exportação, utilizando plantas de benefi ciamento para o processamento dos produtos, quando são classifi cados em tamanho, lavados, embalados e congelados. Aquicultura Rural: nesse caso, está dividida em dois tipos, quais sejam a dos “mais pobres” e a dos “menos pobres”. Os “mais pobres” seriam os cultivos de subsistência para sustento do aquicultor e sua família e, às vezes, para a comercialização simples do excedente entre vizinhos ou em pequenos mercados locais. Na aquicultura dos “menos pobres”, os aquicultores possuem um certo grau de solvência econômica e alguma capacidade empresarial. É o caso dos camponeses médios ou pequenos fazendeiros que resolvem adotar a aquicultura como complemento da sua produção agropecuária. A maioria dos piscicultores rurais que possuem terras destinadas a atividades agropecuárias de pequeno e médio porte insere-se nessa categoria. No Brasil, um termo bastante utilizado para defi nir a aquicultura rural é, a exemplo da agricultura, a “aquicultura familiar”. Diferente da aquicultura de subsistência, cujo único objetivo é produzir alimento para o próprio consumo, a aquicultura comercial, em pequenas propriedades organizadas em base familiar, tem como objetivo também a comercialização dos excedentes. Esse tipo de propriedade, inclusive, tem sido responsável por mais de 50% da produção cultivada no País. Mas isso é assunto para a nossa próxima aula. 6 Introdução à pesca e à aquicultura A11 Classifi cação hidrológica Segundo o critério hidrológico, os organismos aquáticos de cultivo podem ser produzidos nos seguintes sistemas: Cultivo estático: realizado em viveiros (estanques) projetados especifi camente para esse fi m. Esse tipo de cultivo é realizado em corpos d’água considerados lênticos (parados). Sistema de recirculação: nesse sistema, a água circula constantemente pela unidade de cultivo, através de um fi ltro utilizado para a sua purifi cação. É um sistema comum utilizado em laboratórios. Cercados ou gaiolas em águas públicas: nesse caso, os organismos podem ser cultivados em estruturas fi xas (cercos) ou fl utuantes (gaiolas) em grandes corpos de água, como em lagos e represas. Derivação de águas lóticas (em movimento): os organismos são cultivados em viveiros ou tanques abastecidos constantemente com água captada desses sistemas hídricos, geralmente rios (Vinatea, 2004). Classifi cação com base nos sistemas de produção É uma das formas mais conhecidas de classifi cação de produção de organismos aquáticos, principalmente quando o empreendimento é realizado no chamado cultivo estático. Segundo essa classifi cação, os sistemas de produção podem ser: Sistema intensivo: nesse sistema, os tanques são pequenos, com as paredes geralmente revestidas com plástico ou concreto, as trocas de águas são constantes, através de bombeamento, e o número/peso de animais por área de unidade ou volume é bastante alto. A alimentação é exclusivamente artifi cial, exige mão-de-obra capacitada e o investimento inicial, nesse tipo de empreendimento, é alto. Sistema superintensivo: os chamados sistemas superintensivos compõem um conjunto de produção, quase sempre em ambientes de águas claras, transparentes e que podem ser subdivididos em diversas modalidades, de acordo com as estruturas físicas apresentadas. Assim como no sistema intensivo, a densidade de estocagem é bastante alta, e o custo de produção elevado, principalmente pelo uso de rações caras e pela impossibilidade de uso de suplementação natural. Um bom exemplo de sistema superintensivo de criação são as gaiolas, que no Brasil se apresentam como alternativa bastante promissora, principalmente em locais onde o pescado apresenta um alto valor de mercado ou simplesmente não está disponível, como em alguns Municípios do sertão nordestino. Essa é uma das modalidades mais intensivas da aquicultura, Exemplo 1 7 Introdução à pesca e à aquicultura A11 considerada um sistema como de produção com fl uxo contínuo de água. A intervenção do produtor, nesse caso, também é grande (ZIMMERMANN; FITZSIMMONS, 2004). Sistema semi-intensivo: nesse caso, os viveiros são de tamanho médio, com fundos e paredes de terra, a troca de água é mínima por bombeamento, o número/peso de animais por área de unidade ou volume já é moderado, a alimentação natural é complementada com ração balanceada, o investimento inicial é médio e a exigência com relação à mão-de-obra especializada já não é tão grande. Sistema extensivo: viveiros grandes ou gigantescos (de 10 a 100 ha), sem nenhum tipo de infraestrutura, sem troca de água, o enchimento dos viveiros é feito por derivação ou pela maré. A alimentação é exclusivamente natural e a oxigenação da água baseada no fi toplâncton e na ação do vento. Nesse tipo de empreendimento, o investimento inicial é mínimo. Por ser uma das formas de classifi cação mais comum, a classifi cação por sistemas de cultivo costuma ser utilizada por diversos autores. No Curso Técnico em Aquicultura, existem disciplinas específi cas nas quais voltaremos a falar desses sistemas de forma mais aprofundada. Para facilitar o entendimento, um exemplo bastante simples que pode ser utilizado para caracterizar esses sistemas é o de criação de frangos: O sistema intensivo/superintensivo seria aquele em que os frangos são criados em confi namento, com controle artifi cial de luz, ração balanceada, etc. Esse tipo de criação é bastante comum no Sul do Brasil para abastecer os grandes frigorífi cos. Figura 5 – criação de frangos de forma intensiva Fonte:<http://www.fazu.br/novo/Imagens/fazendaescola/fazenda-escola_clip_image014.jpg>.Acesso em: 31 jul. 2009. 8 Introdução à pesca e à aquicultura A11 Figura 7 – galinhas sendo criadas soltas no quintal Fonte: <http://2.bp.blogspot.com/_iMuFEzJUlu0/Sf7FjegYL1I/AAAAAAAAJKY/dhWafVgJ7mc/ s400/..427354810_48ee6a2812_b.jpg>. Acesso em: 31 jul. 2009. Já no sistema semi-intensivo, as galinhas são criadas parte do tempo soltas, parte do tempo confi nadas. Além da alimentação natural a que têm acesso quando estão soltas, elas também recebem um complemento (milho e/ou ração). Figura 6 – criação de frangos de forma semi-intensiva Fonte: <http://www.sitioterraverde.com.br/sys_imgBank/Caipira1.JPG>. Acesso em: 31 jul. 2009. No sistema extensivo, as galinhas são criadas soltas no quintal, sem grandes preocupações. Procuram o próprio alimento e não requerem nenhum cuidado especial. Nesse caso, o número de galinhas por propriedade também é muito menor. 1Praticando... 9 Introdução à pesca e à aquicultura A11 Classifi cação com base na biodiversidade De acordo com essa classifi cação, temos os monocultivos, os policultivos e os cultivos consorciados (VINATEA, 2004). Monocultivos: são realizados com uma só espécie de organismos aquáticos cujo como objetivo é o cultivo dessa única espécie. Policultivos: consiste na produção de duas ou mais espécies diferentes. Também conhecidos como cultivos integrados, têm como objetivo aproveitar o potencial produtivo de um determinado corpo de água, otimizando a produção. Cultivos consorciados: consistem na criação simultânea de peixes e animais de granja, principalmente suínos e aves. Essa modalidade visa ao aproveitamento da ração não digerida e dos dejetos dos animais de granja para fertilizar as águas dos cultivos. Utilizando como exemplo a piscicultura praticada no Alto Vale do Itajaí, em Santa Catarina, procure identifi car qual a sua classifi cação, seguindo o roteiro abaixo. Você vai encontrar informações detalhadas sobre essa atividade no seguinte endereço eletrônico: http://cepa.epagri.sc.gov.br/ Publicacoes/competitividade_piscicultura.pdf Espécie(s) cultivada(s): Classifi cação socioeconômica: 10 Introdução à pesca e à aquicultura A11 Classifi cação hidrológica: Classifi cação quanto aos sistemas de produção: Classifi cação com base na biodiversidade: Histórico da Aquicultura A aquicultura não é uma atividade nova, estima-se que ela é praticada há mais de 4.000 anos, tendo sua origem na observação dos peixes em seu ambiente natural, na China. Na Europa, o cultivo de carpas pelos monges para consumo nos períodos de abstinência de carne vermelha ocorria desde o século XIV. Na América do Sul, a Argentina foi um dos primeiros países a iniciar a atividade com a introdução de carpas comuns, ainda no século XIX. Já no Brasil, as primeiras iniciativas foram registradas a partir de 1904 (SOUZA FILHO et al, 2002). 2Praticando... 11 Introdução à pesca e à aquicultura A11 Embora venha sendo praticada há tanto tempo, foi nos últimos 30 ou 40 anos que a aquicultura experimentou um signifi cativo crescimento, com destaque para a Ásia e a América do Sul. Entre 1987 e 1996, a aquicultura cresceu 50% em nível mundial e 264% na China, principal produtor (NEW, 1999 apud MOREIRA, 2001). Os principais itens responsáveis por esse crescimento, segundo Souza Filho et al (2002) são: o domínio dos métodos de reprodução controlada de algumas das principais espécies; disponibilização de facilidade de transporte à longa distância e desenvolvimento e disponibilização de alimentos artifi ciais. Por outro lado, apesar dos números positivos em relação à produção, essa atividade vem recebendo diversas críticas de ambientalistas em todo o mundo. Isso, porque, em algumas modalidades de produção, como a criação intensiva de peixes e camarões marinhos, além de produzirem efl uentes com elevada carga orgânica, são estruturadas em áreas de manguezais que acabam sendo incorporadas ao cultivo ou simplesmente destruídas (Moreira, 2001). Para saber mais sobre o assunto apresentado no texto acima, pesquise no site do Sebrae, na Internet (http://www.sebrae.com.br/setor/aquicultura-e- pesca/o-setor-1/mundo) e depois responda às seguintes perguntas. 1. Considerando a história recente da aquicultura, qual a sua tendência em relação à atividade da pesca? 12 Introdução à pesca e à aquicultura A11 3. Segundo estatísticas fornecidas pela FAO, no período de 2002 a 2005, a maior produção de pescado teve origem na piscicultura marinha ou na piscicultura continental? 2. Qual a tendência do consumo mundial de pescado para as próximas décadas e em que isso infl uencia na atividade da aquicultura? 13 Introdução à pesca e à aquicultura A11 A Aquicultura no Mundo Figura 8 – Capa do Relatório da FAO Fonte: <http://www.fao.org/docrep/011/i0250s/i0250s00.htm>. Acesso em: 31 jul. 2009. Estudos recentes têm apontado a aquicultura como uma das atividades que alcançou maior crescimento nos últimos anos. Segundo dados da FAO – Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, na recente publicação “El estado mundial de la pesca y la acuicultura 2008”, a contribuição da aquicultura à produção mundial de pescado, crustáceos, moluscos e outros animais aquáticos tem aumentado consideravelmente, passando de 3,9% da produção total em peso, em 1970, para 36,0%, em 2006. Nesse mesmo período, o crescimento da produção aquícola foi maior do que o da população, assim a produção aquícola per capita passou de 0,7 kg, em 1970, para 7,8kg em 2006, o que supõe um crescimento médio anual de 7,0%. O resultado desse crescimento coloca a aquicultura, pela primeira vez na história, em condições de proporcionar a metade do pescado consumido pela população humana mundial. Em 2006, a aquicultura foi responsável por 47% da produção mundial de pescado para alimentação. Na China, 90% da produção de pescado para a alimentação provêm da aquicultura (2006), o que indica que a produção aquícola do resto do mundo passa de 24% do total do pescado destinado à alimentação. Em 2006, a China contribuiu com cerca de 67% da produção mundial de animais aquáticos cultivados e com 72% de plantas aquáticas. 14 Introdução à pesca e à aquicultura A11 A aquicultura mundial cresceu drasticamente nos últimos 50 anos. De uma produção de menos de um milhão de toneladas no início da década de 50, em 2006, foi registrada uma produção de 51,7 milhões de toneladas, o que signifi ca que a aquicultura está crescendo num ritmo maior do que o de outros setores produtivos de produtos de origem animal. Enquanto a produção da pesca extrativa para de crescer em meados da década de 1980, o setor aquícola tem mantido uma taxa de crescimento médio anual de 8,7% em todo o mundo (exceto a China, com 6,5%), desde 1970. As taxas de crescimento anual da produção aquícola mundial entre 2004 e 2006 foram de 6,1% em volume e 11,0% em valor. Se incluirmos nessa estatística as plantas aquáticas, a produção aquícola mundial em 2006 chega a 66,7 milhões de toneladas (FAO, 2009). Por outro lado, os empresários (grandes ou pequenos) não são o único grupo preocupado com o desenvolvimento da aquicultura. Cientistas, administradores e formuladores de políticas públicas também estão interessados nesse tema. De modo geral, o relatório da FAO conclui que o crescimento da aquicultura mundial deverá ser mais lento, a partir dos próximos anos, em função de algumas limitações geradas pelo crescimento acelerado das últimas décadas. Estima-se, porém, que a tendência de crescimento continuará em função do aumento da demanda. Nesse sentido, o setor depende da colaboração crescente entre empresários (grandes e pequenos) e governos, no sentido de eliminar limitações tecnológicas, de forma que o setor aquícola passe a reduzir, gradativamente, a sua dependência em relação às populaçõesde espécies naturais. No Brasil, a expectativa em relação à produção aquícola também é bastante grande, conforme você pode acompanhar no texto abaixo, da Secretaria Especial de Aquicultura e Pesca (SEAP). “O crescimento da população, a urbanização e o aumento da renda per capita fi zeram com que o consumo mundial de pescado mais do que triplicasse nos últimos quarenta anos, passando de 28 milhões de toneladas em 1961 para 96 milhões em 2001. A produção da aquicultura terá um papel crucial nas próximas décadas na compensação da estagnante produção da pesca e da crescente demanda por produtos de organismos aquáticos. Assim como há três mil anos o homem passou de caçador de animais e coletor de vegetais a pastor e agricultor, hoje os pescadores estão aprendendo que também podem se tornar fazendeiros aquáticos de ambientes continentais e marinhos. No Brasil, a aquicultura já está presente em todo o território nacional, e sua produção atingiu a marca de 300.000 toneladas ao valor de R$ 1 bilhão em 2003. Com mais de 5 milhões de hectares de áreas alagadas em reservatório de hidrelétricas e uma costa de mais de 2Praticando... 15 Introdução à pesca e à aquicultura A11 8.000 km, o Brasil está hoje, segundo a Organização das Nações Unidas Para Agricultura e Alimento – FAO/ONU como um dos países de maior potencial para o desenvolvimento desse setor e está como o quarto país de maior taxa de crescimento anual da aquicultura. Uma análise comparativa do crescimento da aquicultura e de outros setores brasileiros produtores de proteína revelou uma taxa anual média entre 1990 e 2003 de 23,3% para a aquicultura, frente às taxas de crescimento do setor de aves (10%), bovinos (4%), suínos (7,9%), soja (8,6%), milho (7,6%), trigo (13,4%) e arroz (3,4%). Em termos de valor a aquicultura já representa 5% da produção animal nacional.” Fonte: SEAP. Disponível em: <http://200.198.202.145/seap/didaq/htlm2/index.html>. Acesso em: 31 jul. 2009. Com base nas informações contidas nos textos acima, responda às seguintes perguntas: 1. Cite um exemplo, em dados estatísticos, que demonstre a atual situação de crescimento da aquicultura mundial: 2. Qual o País de maior destaque, atualmente, na aquicultura mundial, e qual a sua produção em 2006? 16 Introdução à pesca e à aquicultura A11 3. Quais fatores têm contribuído para o aumento do consumo mundial de pescado? 4. Qual a situação do Brasil no panorama da aquicultura mundial? Alguns locais de destaque na Produção Aquícola A história recente do crescimento da aquicultura mostra que esse fenômeno não é uniforme, tendo havido um crescimento mais rápido em algumas regiões do mundo. Isso ocorre também em relação às espécies cultivadas, tendo sido registrado um crescimento maior em algumas delas. Na China, por exemplo, a aquicultura crescia muito lentamente até 1980, começou a expandir-se rapidamente a partir da década de 90 até os dias atuais. A principal causa desse crescimento, porém, foi um fator externo à atividade: as mudanças nas políticas macroeconômicas daquele país, proporcionando um aumento no crescimento econômico de modo geral, criando a oportunidade para que os aquicultores respondessem de forma rápida e efetiva ao aumento da demanda. 17 Introdução à pesca e à aquicultura A11 Em lugares onde a atividade ainda é nova, o crescimento também pode ser rápido, em especial nas economias desenvolvidas. Isso ocorre, sobretudo, seguindo a esteira do desenvolvimento tecnológico e de gestão das economias desenvolvidas da Europa e América do Norte e para espécies caras, bastante conhecidas e destinadas a um mercado de alto poder aquisitivo. Os meios de comunicação e de transporte, modernos e de fácil acesso, permitem ampliar esse mercado. Em lugares onde os ganhos iniciais mostram- se elevados, o setor passa a atrair empresários e a produção se expande rapidamente. Por outro lado, quando a aquicultura se estabelece em regiões pobres de países em desenvolvimento, é provável que se expanda a um ritmo semelhante ao do conjunto da economia desse país. Isso se deve com frequência à falta de infraestrutura (principalmente de transporte e comunicação), elevando o custo de qualquer produto destinado a mercados que não estejam muito próximos aos produtores. Nesse caso, o acesso a capital e mercados externos pode modifi car drasticamente essa situação. Em contrapartida, as altas taxas de crescimento da aquicultura na África são explicadas pelo fato de que a quantidade total de produção aquícola, naquele continente, é bastante baixa, o que faz com que pequenos aumentos em termos absolutos passem a ser grandes em termos relativos. A entrada de capital e de experiência do exterior, através de projetos, e o apoio público crescente são outros fatores que explicam esse crescimento acima da média. (FAO, 2009). Em linhas gerais, no cenário da aquicultura mundial, conforme poder ser acompanhado no gráfi co abaixo, a Ásia lidera com expressiva vantagem o cenário mundial. Figura 9 – Gráfi cos – FAO Fonte: <http://www.fao.org/docrep/011/i0250s/i0250s00.htm>. Acesso em: 31 jul. 2009. 18 Introdução à pesca e à aquicultura A11 Segundo Moreira et al. (2001), isso vem ocorrendo desde o início da prática da aquicultura comercial, sendo a China o país de maior destaque nesse cenário. Para o autor, o sucesso da aquicultura chinesa nas últimas décadas decorre, entre outros fatores, da tradição de mais de 2000 anos no cultivo de peixes, o baixo custo da mão de obra e, principalmente, a uma série de programas governamentais visando à ampliação da aquicultura continental. No quadro abaixo, temos os dez principais países produtores de animais aquáticos em 2006, segundo a FAO, bem como os dez países líderes em crescimento anual de produção aquícola, no período 2004-2006 (incluindo somente países que registraram uma produção de mais de 1000 toneladas em 2006). Chile e Filipinas têm melhorado sua classifi cação em relação a estudos feitos em anos anteriores, ao passo que Japão e Estados Unidos têm registrado quedas em relação a anos anteriores. Figura 10 – Tabela – FAO Fonte: <http://www.fao.org/docrep/011/i0250s/i0250s00.htm>. Acesso em: 31 jul. 2009. 19 Introdução à pesca e à aquicultura A11 A aquicultura na América Latina No que se refere à produção e ao consumo de pescado, a situação da América Latina é diferente da de outros continentes como a África, por exemplo. Na América Latina, há um excedente de pescado, porém a população prefere, em geral, a carne vermelha ao pescado. É provável que esse padrão de consumo se modifi que lentamente, impulsionado pelo crescimento dos modernos canais de distribuição do pescado, bem como pela crescente preferência por alimentos mais saudáveis. Segundo a FAO, em 2015 a população da América Latina poderia consumir entre 1,0 e 1,2 milhões de toneladas atuais a mais do que em 2005. No contexto atual, o aumento anual da demanda se estima no máximo em 100 mil toneladas, o que pode ser suprido com o pescado oriundo da pesca extrativa. Os aquicultores da América latina que desejam produzir para o mercado interno devem estar dispostos a competir com a pesca, que pode produzir volumes de pescado que superam em muito as necessidades locais. Entre as oportunidades para os aquicultores da América do Sul encontra-se um mercado local especializado em espécies locais e o mercado internacional para produtos básicos da aquicultura. Em longo prazo, o crescimento da demanda de pescado produzirá também o crescimento do setor aquícola. Esse fator será importante na medida em que o setor tenha obtido êxito em criar um perfi l identifi cável entre os consumidores. Por outro lado, existem várias espécies cultivadas na América Latina, em especial no Chile, com boa colocação no mercado internacional. (FAO, 2009).Para os exportadores, as principais limitações estão no âmbito da gestão dos empreendimentos e da tecnologia. O acesso à matéria-prima para o preparo das rações especializadas continuará sendo menor do que em outras regiões do mundo, uma vez que a América Latina é um grande exportador de óleo e farinha de pescado. Já o empresário rural em pequena escala, terá que fazer frente a inúmeras limitações. Por outro lado, os governos deverão participar, incentivando o desenvolvimento da aquicultura através da adaptação de novas tecnologias às condições locais, bem como através do fi nanciamento de pesquisas que auxiliem na regulamentação do setor. 4Praticando... 20 Introdução à pesca e à aquicultura A11 1. Segundo as informações contidas no Relatório publicado pela FAO, o crescimento da aquicultura no mundo se dá de maneira uniforme? Por quê? 2. Quais os principais obstáculos a serem enfrentados pelos aquicultores em países em desenvolvimento? 3. Quais os principais fatores responsáveis pelo crescimento da aquicultura chinesa? 21 Introdução à pesca e à aquicultura A11 4. Quais as perspectivas para a aquicultura na América Latina? Leituras complementares ORGANIZACIÓN DE LAS NACIONES UNIDAS PARA LA AGRICULTURA Y LA ALIMENTACIÓN. El estado mundial de la pesca y la acuicultura 2008. Roma, 2009. Para saber mais sobre a atividade da aquicultura no mundo e suas principais tendências, acesse o relatório elaborado pela FAO. A aula de hoje apresentou a você alguns conceitos básicos sobre a aquicultura, incluindo algumas formas de classifi cação para essa atividade. Você também teve a oportunidade de visualizar alguns cenários da aquicultura mundial, a situação atual e as expectativas futuras, de acordo com a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação – FAO, em estudo recém publicado. Conheceu ainda os principais países produtores de pescado de cultivo no mundo, traçando um panorama geral dessa atividade que continuará sendo o tema das nossas próximas aulas. 22 Introdução à pesca e à aquicultura A11 Vamos conferir nosso aprendizado? Para isso, procure responder com suas palavras as perguntas abaixo: 1. O que é aquicultura? 2. Qual a principal diferença entre pesca e aquicultura? E o que essas duas atividades têm em comum? 3. A atividade aquícola pode ser classifi cada segundo diferentes critérios. Quais são eles? 4. Quais as expectativas para o futuro da aquicultura mundial, segundo a FAO? 23 Introdução à pesca e à aquicultura A11 5. Em que continente se concentram os principais países produtores de pescado de cultivo? Por quê? 6. Qual o país da América do Sul que aparece entre os dez primeiros produtores mundiais de pescado de cultivo no relatório da FAO? Referências ORGANIZACIÓN DE LAS NACIONES UNIDAS PARA LA AGRICULTURA Y LA ALIMENTACIÓN. El estado mundial de la pesca y la acuicultura 2008. Roma, 2009. Disponível em: <http://www.fao.org/docrep/011/i0250s/i0250s00.htm>. Acesso em: 31 jul. 2009. MOREIRA, H. L. M. et al. Fundamentos da moderna aquicultura. Canoas: Ed. ULBRA, 2001. SECRETARIA ESPECIAL DE AQUICULTURA E PESCA – SEAP. Diretoria de Desenvolvimento da Aquicultura - DIDAQ. Disponível em: <http://200.198.202.145/seap/didaq/htlm2/ index.html>. Acesso em: 31 jul. 2009. VALENTI, W. C. et al (Org.). Aquicultura no Brasil: bases para um desenvolvimento sustentável. Brasília: CNPq/MCT, 2000. VINATEA, L. Fundamentos de aquicultura. Florianópolis: EDUFSC, 2004. v 1. ZIMMERMANN, S.; FITZSIMMONS, K. Tilapicultura Intensiva. In: CYRINO, J. E. P. et al. (Ed.). Tópicos especiais em piscicultura de água doce tropical intensiva. São Paulo: TecArt, 2004, p.239-266. Anotações 24 Introdução à pesca e à aquicultura A11 13 João Vicente Mendes Santana C U R S O T É C N I C O E M A Q U I C U LT U R A Vantagens Competitivas das Principais Cadeias Produtivas da Aquicultura Brasileira INTRODUÇÃO À PESCA E À AQUICULTURA Coordenadora da Produção dos Materias Vera Lucia do Amaral Coordenador de Edição Ary Sergio Braga Olinisky Coordenadora de Revisão Giovana Paiva de Oliveira Design Gráfi co Ivana Lima Diagramação Elizabeth da Silva Ferreira Ivana Lima José Antonio Bezerra Junior Mariana Araújo de Brito Arte e ilustração Adauto Harley Carolina Costa Heinkel Huguenin Leonardo dos Santos Feitoza Revisão Tipográfi ca Adriana Rodrigues Gomes Margareth Pereira Dias Nouraide Queiroz Design Instrucional Janio Gustavo Barbosa Jeremias Alves de Araújo Silva José Correia Torres Neto Luciane Almeida Mascarenhas de Andrade Revisão de Linguagem Maria Aparecida da S. Fernandes Trindade Revisão das Normas da ABNT Verônica Pinheiro da Silva Adaptação para o Módulo Matemático Joacy Guilherme de Almeida Ferreira Filho EQUIPE SEDIS | UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE – UFRN Projeto Gráfi co Secretaria de Educação a Distância – SEDIS Governo Federal Ministério da Educação Você ve rá por aqu i... 1 Introdução à pesca e à aquicultura A13 Objetivos Continuando nosso estudo sobre a aquicultura no Brasil, nesta aula vamos conhecer algumas das principais cadeias produtivas dessa atividade no País. Qual o potencial de crescimento para as principais espécies cultivadas nos dias atuais? Existem perspectivas de crescimento sustentável para essas atividades, da forma como estão sendo praticadas? E a legislação, o que diz? Afi nal, em se tratando de aquicultura no Brasil, qual é o melhor negócio? Conhecer os aspectos gerais sobre as principais cadeias produtivas da aquicultura no Brasil e suas vantagens competitivas. Identifi car as principais espécies cultivadas no País e o seu potencial de crescimento. Identifi car os problemas comuns às principais cadeias produtivas da aquicultura brasileira. Conhecer alguns aspectos da Legislação Aquícola brasileira. Cadeia Produtiva A cadeia de produção, como conjunto de operações técnicas, constitui a defi nição mais imediata e mais conhecida do conceito. Esse enfoque consiste em descrever as operações de produção responsáveis pela transformação da matéria-prima em produto acabado ou semi-acabado. Segundo esta lógica, uma cadeia de produção apresenta-se como uma sucessão linear de operações técnicas de produção (BATALHA, 2001, p. 40). 2 Introdução à pesca e à aquicultura A13 Para começo de conversa... Fo nt e: < ht tp :/ /3 .b p. bl og sp ot .c om /_ i7 cZ cY z- gf I/ S cJ N O - XB ZL G I/ AA AA AA AA Jn 0 /7 _c rO K zw R dI /s 3 2 0 /a vz _C am a- ra o0 0 7 -7 0 9 3 5 2 .jp g> . A ce ss o em : 4 a go . 2 0 0 9 . Figura 1 – Produtos da aquicultura brasileira E você, apostaria em quem? A Cadeia Produtiva da Aquicultura Brasileira Segundo estudo realizado por Ostrensky, Borghetti e Soto (2008), a aquicultura brasileira, atualmente, está baseada principalmente em regimes semi-intensivos de produção e, com exceção do setor da carcinicultura, é sustentada por pequenos produtores. Um exemplo de produção em regime semi-intensivo são os cultivos de camarões marinhos, que empregam uma tecnologia relativamente bem desenvolvida de produção, envolvendo: o uso de viveiros-berçário, de ração comercial, de aeradores e controle (básico) da qualidade da água. Tal regime fez com que a produtividade média dos cultivos de camarões marinhos chegasse a 4.510kg/ha, em 2004. Outro exemplo está na maioria dos cultivos de peixes realizados em viveiros escavados, onde os alevinos são estocados e alimentados com ração durante todo o período de cultivo. Deacordo com o mesmo estudo, há casos bem sucedidos em que a produção é realizada em regime extensivo. Nesse caso, enquadram-se os cultivos de peixes realizados por pequenos produtores da região Sul, especialmente em Santa Catarina e 1Praticando... 3 Introdução à pesca e à aquicultura A13 Rio Grande do Sul. Em tais cultivos, raramente se usam rações comerciais, e os peixes são alimentados, tradicionalmente, com subprodutos agrícolas ou dejetos animais. Também podem ser considerados regimes extensivos de produção. Os sistemas que envolvem o povoamento de grandes represas – geralmente da região Nordeste – com alevinos produzidos em estações públicas, que depois são pescados por pescadores das comunidades tradicionais que vivem no entorno dessas represas. Já no que se refere aos cultivos realizados em regime intensivo, embora sejam aqueles em que o país apresenta maior potencial de crescimento da piscicultura, ainda são relativamente raros. Atualmente, o cultivo de tilápias em tanques-rede são o exemplo mais claro de um regime intensivo de produção empregado no país. Tais cultivos são realizados, principalmente, em grandes reservatórios da União, como é o caso dos reservatórios do Rio São Francisco, na região Nordeste, e do rio Tietê, na região Sudeste. Outros sistemas de produção em regime intensivo também já foram testados no país, como é o caso dos camarões marinhos. Nesse caso, os sistemas de cultivo são muito semelhantes aos empregados em regimes semi-intensivos, porém em maior densidade de povoamento dos camarões nos viveiros, com uma maior quantidade de aeradores e técnicas mais controladas de manejo. No documento “Aqüicultura no Brasil: bases para um desenvolvimento sustentável”, resultado do estudo realizado pelo CNPq e publicado no ano de 2000, foram identifi cados como elos principais da cadeia produtiva da aquicultura em nosso país, os setores relacionados ao suporte técnico e infraestrutura operacional da produção (crédito, pesquisa, licenciamento ambiental, extensão rural, etc.); os setores produtivos (envolvendo a produção de sementes, engorda e terminação) e os setores relacionados ao processamento, à distribuição e à comercialização da produção. Na aula passada, falamos sobre a aquicultura no Brasil de forma geral, incluindo algumas informações estatísticas sobre essa atividade nas diferentes Regiões. Agora, vamos aprender um pouco mais sobre as cadeias produtivas de algumas das principais espécies cultivadas no País. 1. De acordo com o estudo realizado por Ostrensky, Borghetti e Soto (2008), qual o sistema de produção mais utilizado atualmente no Brasil e qual apresenta melhores perspectivas para o futuro? 4 Introdução à pesca e à aquicultura A13 2. Qual a diferença do cultivo de camarões nos sistemas semi-intensivo e intensivo? 3. O texto anterior cita alguns dos principais elos da cadeia produtiva da aquicultura. Procure exemplifi car alguns deles, em cada setor. Suporte técnico e de infraestrutura operacional à produção: Setor produtivo: Processamento, distribuição e comercialização da produção 4. Procure identifi car, na sua Região, qual a principal atividade aquícola e de que forma ela é realizada (se em pequenas ou grande propriedades, regime de produção, tecnologia utilizada, etc.) Carcinicultura A carcinicultura ou cultivo de camarões é um dos setores da aquicultura que tem crescido com maior rapidez na Ásia e na América Latina e, mais recentemente, na África. É também um dos setores que mais têm recebido críticas, principalmente por parte de ambientalistas. De um lado, essa rápida expansão proporcionou a geração de divisas substanciais para muitos países e, de outro, as preocupações sobre os impactos ambientais e sociais relacionados ao seu desenvolvimento. 5 Introdução à pesca e à aquicultura A13 Figura 2 – Camarão (Litopenaeus vannamei) Fonte: <http://www.nordesterural.com.br/nordesterural/matLerdest.asp?newsId=1564>. Acesso em: 17 ago. 2009. Partindo do pressuposto de que a carcinicultura pode ser praticada em bases sustentáveis, a Organização para Alimentação e Agricultura das Nações Unidas – (FAO), em conjunto com a Rede de Centros de Aquicultura do Programa Ásia-Pacífi co (NACA), Programa de Meio Ambiente das Nações Unidas (UNEP), Banco Mundial (WB) e Fundo para Vida Selvagem (WWF), lançaram, em 2006, uma cartilha contendo os Princípios Internacionais para a Carcinicultura Responsável, sintetizados a partir dos resultados de estudos e de consultas promovidas pelo Consórcio, envolvendo uma grande variedade de partes interessadas, do governo, do setor privado e de organizações não-governamentais. O propósito dos Princípios Internacionais, como solicitado pelos membros da FAO e da NACA, é o de prover princípios para a gestão da carcinicultura e prover orientação para a implementação do Código de Conduta para a Pesca Responsável da FAO aplicado ao setor da carcinicultura. Os Princípios Internacionais consideram aspectos técnicos, ambientais, sociais e econômicos associadas à carcinicultura e fornecem uma base para que sua gestão por parte da indústria e do governo aprimore a sustentabilidade geral da carcinicultura em nível nacional, regional e global. Os princípios e as respectivas orientações para sua implementação podem ser utilizados pelos setores públicos e privados para o desenvolvimento de Códigos de Conduta específi cos, de Boas Práticas de Manejo (BPM) ou de outras abordagens de gestão. (FAO/NACA/UNEP/WB/WWF, 2006, p. 2). No Brasil, o estado do Rio Grande do Norte é considerado o berço da carcinicultura brasileira, com o “Projeto Camarão”, criado pelo Governo Estadual nos anos 70. Nesse mesmo período, na Região Sul, o estado de Santa Catarina desenvolveu pesquisas de reprodução, larvicultura e engorda do camarão cultivado e conseguiu produzir as primeiras pós-larvas em laboratório da América Latina. 6 Introdução à pesca e à aquicultura A13 Apesar do esforço inicial, o primeiro projeto de produção comercial do camarão cultivado só ocorreu no período entre 1978 e 1984. Esse período caracteriza a primeira fase do camarão cultivado no Brasil, quando predominaram cultivos extensivos de baixa densidade de estocagem, reduzida renovação da água e uso da alimentação natural produzida no próprio viveiro. Figura 3 – Vista geral de uma fazenda de criação de camarões Fonte: <http://www.nordesterural.com.br/nordesterural/matLerdest.asp?newsId=1564>. Acesso em: 17 ago. 2009. A partir do momento em que laboratórios brasileiros dominaram a reprodução e larvicultura do Litopenaeus vannamei e iniciaram a distribuição comercial de pós-larvas, o que veio a ocorrer na primeira metade dos anos 90, as fazendas em operação ou semiparalisadas adotaram o cultivo do novo camarão, obtendo índices de produtividade e rentabilidade superiores aos das espécies nativas. As validações tecnológicas foram intensifi cadas no processo de adaptação e, a partir de 1995/1996, fi cou demonstrada a viabilidade comercial de sua produção no País. Figura 4 – Camarão sendo classifi cado de acordo com o tamanho Fonte: <http://www.nordesterural.com.br/nordesterural/matLerdest.asp?newsId=1564>. Acesso em: 17 ago. 2009. 7 Introdução à pesca e à aquicultura A13 O Litopenaeus vannamei passou a ser então a espécie cultivada no Brasil. Mais tarde, os resultados dos trabalhos realizados no processo de sua domesticação convergiram para a estruturação de um sistema semi-intensivo de produção, próprio para as condições dos estuários brasileiros. (ABCC, 2009, extraído da Internet). Segundo estudo realizado por Ostrensky, Borghetti e Soto (2008), os sistemas e escalas produtivas da carcinicultura marinha brasileira aplicam tecnologias diferenciadas em função do tamanho das propriedades e do tipo de cultivo e podem ser classifi cadas como: Carcinicultura em pequena escala – empreendimentos que utilizam área de até 10 ha de lâmina de água. A preparação dos viveiros é feita através da secagem do fundo e do uso de cloro ou de cal virgem para eliminar possíveis peixes predadores. As densidades utilizadas variam entre 2 e 10 camarões/m2, alcançando produtividades da ordem de 500kg/ha.ano a 2.200 kg/ha.ano. Carcinicultura de média escala – empreendimentos que utilizam áreas entre 11 a 100 ha de lâmina de água. Empregam geralmente o regime semi-intensivo, com densidades de até 45 camarões/m2, alcançando produtividades médias da ordem de 4.500k/ha.ano (em três ciclos de produção) com conversões de 1:4 a 1, 6:1 e, ao contrário dos pequenos produtores, têm que usar obrigatoriamente a captação de água através de bombeamento, além de fazer uso de aeradores com frequência. Carcinicultura de grande escala – empregam áreas acima de 100 ha de lâmina de água. Com frequência, são empreendimentos com alto grau de verticalização, ou seja, possuem laboratórios de produção de larvas, formam seus próprios reprodutores, dispõem de plantas benefi ciadoras com Serviço de Inspeção Federal – SIF e têm condições para exportar sua produção. Os grandes empreendimentos estão concentrados na região Nordeste e são administrados por grandes grupos (nacionais ou estrangeiros). Figura 5 – Camarão pronto para o benefi ciamento para exportação Fonte: <http://www.nordesterural.com.br/nordesterural/matLerdest.asp?newsId=1564>. Acesso em: 17 ago. 2009. 8 Introdução à pesca e à aquicultura A13 A rápida expansão da atividade fez com que o Brasil alcançasse a posição de líder mundial em produtividade de camarão (5 a 7 t/ha.ano), incluindo-se no ranking dos 10 maiores produtores de camarão cultivado do mundo. Essa realidade, porém, foi alterada devido a uma série de fatores, conforme você poderá acompanhar no texto a seguir: A carcinicultura brasileira – sinônimo de lucratividade até 2003, quando a produção atingiu 90 mil toneladas e que se constitui no quinto item da pauta de exportações da região Nordeste – atravessa sérias difi culdades. Em 2000, o quilo do camarão chegou a custar US$ 7,90. Três anos depois, o mesmo produto foi cotado em US$ 2,90. Em 2004, a produção caiu 15, 8% e o baixo valor do dólar não foi sufi ciente para sustentar os produtores. Hoje, o preço para exportação está em US$ 2,73, o que representa uma queda de 50% na lucratividade. Como se não bastasse a baixa cotação, o custo da produção em 2004 aumentou em 100%. Os produtores tentaram se proteger e aumentaram a capacidade de cultivo, mas a tentativa fracassou. ‘Eles precisavam de recursos para investir em tecnologia e energia, só que não tinham dinheiro. A queda foi vertiginosa’, afi rma o presidente da Comissão Nacional de Carcinicultura da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil, Cláudio Rabelo (CNA, 2006). O último censo da carcinicultura nacional foi feito em 2004 pela Associação Brasileira de Criadores de Camarão. Ele mostrou que os elevados índices de crescimento de produção e de produtividade do setor, no período de 1996 até 2003, não se repetiram naquele ano. O cenário que resultou da comparação entre os anos de 2003 e 2004 não foi favorável à produção de camarão, mostrando um declínio de 15,84% na produção e de 24,8% na produtividade em quilos/hectare/ano. Essa diminuição de produtividade culminou com queda das exportações, de US$ 226,0 milhões para US$ 198,0 milhões. Neste período, o Brasil enfrentou ainda a ação antidumping promovida pela Aliança Sulista de Pescadores de Camarão (SSA), dos Estados Unidos, que atingiu não apenas o Brasil, mas também China, Tailândia, Índia, Vietnã e Equador. Para se defenderem, os carcinicultores brasileiros contrataram o escritório de advocacia Cameron & Hornbostel (C&H), com sede na cidade de Washington DC e representações em Nova York e Rio de Janeiro. Os primeiros resultados desta ação já foram obtidos: as taxas antidumping, inicialmente fi xadas em 23,6%, foram devidamente rebaixadas para 7,05%, no fi nal de 2004. A ação antidumping e o surgimento de doenças virais – causadas pelo vírus da Mionecrose Infecciosa Muscular (IMNV), na região Nordeste, e pelo 2Praticando... 9 Introdução à pesca e à aquicultura A13 vírus da Síndrome da Mancha Branca (WSSV), na região Sul – contribuíram decisivamente para sucessivos declínios de produção a partir de 2004. A IMNV teve sua primeira manifestação no Brasil em fazendas no litoral do estado do Piauí, no último trimestre de 2003, e gradualmente se disseminou para os estados do Ceará, do Rio Grande do Norte, da Paraíba e de Pernambuco, incidindo com maior intensidade na sobrevivência dos camarões em 2004 e, conseqüentemente, na produtividade e produção nas áreas contaminadas pela doença. Já o vírus causador da WSSV foi detectado em Santa Catarina no fi nal de 2004. Um ano depois ele já era responsável pela queda de 90% na produção do camarão na região de Laguna. Das 94 fazendas de carcinicultura no sul do estado, apenas cinco escaparam do problema. A doença levou ao fechamento de laboratórios de produção de pós-larvas e de fazendas de engorda de camarões. Para agravar a situação do setor, a valorização do real frente à moeda norte- americana acabou desencadeando um sentimento de pessimismo entre os empresários, o que levou à quase paralisação de novos investimentos (De Carli, 2005). (OSTRENSKY; BORGHETTI; SOTO, 2008, p. 137-138). As informações contidas no texto anterior, embora publicadas em 2008, retratam a realidade da carcinicultura brasileira até os anos de 2004 e/ou 2006. A rapidez que envolve os altos e baixos dessa atividade faz com que o cenário atual (2008/2009) apresente modifi cações em relação ao que foi relatado. Atualmente, o setor vem apresentando uma recuperação lenta, sendo que a produção está voltada em grande parte para o mercado nacional. Como você acompanhou no texto acima, uma das principais preocupações em relação à carcinicultura, atualmente, é a sustentabilidade. Nesse sentido, o documento “Princípios Internacionais para a Carcinicultura Sustentável” faz algumas considerações e estabelece alguns princípios a serem obedecidos. O documento está disponível na Internet no endereço eletrônico: <http://200.198.202.145/seap/didaq/Documentos%20em%20PDF/ Texto_international_principles_portuguese_version2[1].pdf>. 10 Introdução à pesca e à aquicultura A13 1. Acesse o documento e descreva, abaixo, quais as principais preocupações dos ambientalistas em relação à atividade da carcinicultura: 2. Acesse o documento e liste, abaixo, os 8 princípios, fazendo um breve resumo sobre cada um deles: Princípio 1: Princípio 2: Princípio 3: Princípio 4: 11 Introdução à pesca e à aquicultura A13 Princípio 6: Princípio 5: Princípio 7: Princípio 8: Malacocultura Malacocultura é o cultivo de moluscos oriundos de água doce, salgada ou ainda de habitat terrestre. Como exemplo, podemos citar o cultivo de ostras (ostreicultura) e o de mexilhões (mitilicultura), que são moluscos cuja produção em escala comercial vem sendo praticada no Brasil. 12 Introdução à pesca e à aquicultura A13 De acordo com o estudo de Ostrensky, Borghetti e Soto (2008), a malacocultura brasileira está praticamente limitada à produção do Estado de Santa Catarina, onde desempenha um importante papel social junto às comunidades litorâneas, representando a principal ou a segunda atividade em importância econômica para alguns municípios daquele Estado, o que tem possibilitado a integração entre cultivo, turismo e gastronomia. Essa atividade revitalizou algumas localidades e criou marcos de identifi cação como “Ostra de Florianópolis”, atualmente aprovada como selo de origem. O cultivo de moluscos realizado em Santa Catarina envolve cerca de 1.000maricultores e geram mais de 5.000 empregos diretos e tantos outros indiretos. As espécies cultivadas são a ostra-do-mangue (Crassostrea rizophorae) e a ostra-do-Pacífi co (Crassostrea gigas). Figura 6 – Ostra-do-mangue (Crassostrea rizophorae) Fonte: <http://cienciahoje.uol.com.br/images/ch%20on-line/2006/4168a.jpg>. Acesso em: 17 ago. 2009. Figura 7 – Ostra-do-pacífi co (Crassostrea gigas) Fonte: <http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/d/d0/Pacifi c_oysters_01_.jpg/220px-Pacifi c_oysters_01_.jpg>. Acesso em: 17 ago. 2009. Fomentada, inicialmente, pela Universidade Federal de Santa Catarina e pelo órgão de extensão estadual, a ACARPESC (atual EPAGRI), e com uma participação direta dos pescadores locais, a atividade passou a chamar a atenção de outras instituições, assim como empresas, ONGs, associações e cooperativas, permitindo a ampliação do tripé 13 Introdução à pesca e à aquicultura A13 pesquisa-extensão-produção, elevando o estado de Santa Catarina ao posto de maior produtor de moluscos cultivados do País. Entretanto, o estudo realizado por Ostrensky, Borghetti e Soto (2008) alerta para o fato de que a malacocultura catarinense chegou a um ponto de impasse, o que limita consideravelmente as suas possibilidades de expansão, devido ao crescimento muito rápido sem um planejamento estratégico adequado. A atividade também se ressente da grande e insustentável pressão sobre os bancos naturais de mexilhões e défi cit na produção de sementes de ostras em laboratório, apesar dos avanços já obtidos nessa área. O LMM/UFSC associado à EPAGRI tem atuado na produção comercial de larvas e sementes de moluscos. Hoje é o único laboratório no Brasil a produzir regularmente sementes de ostra-do-Pacífi co, atendendo tanto a comunidade catarinense quanto a outros estados brasileiros como São Paulo, Paraná, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Piauí, Pernambuco, Bahia, Rio Grande do Norte e Ceará. De modo geral, as técnicas de cultivo atualmente empregadas são relativamente artesanais, empregando mão-de-obra familiar. O rendimento é ainda baixo, não permitindo maiores reinvestimentos no negócio. Em alguns casos, os produtores chegam a produzir, benefi ciar, distribuir e comercializar seus produtos, atuando em todas as etapas da cadeia produtiva. Fora do estado de Santa Catarina, existem, atualmente, produtores trabalhando individualmente e cooperativas de produção em São Paulo, Maranhão e Ceará. Em Pernambuco, o cultivo de ostras em estuários vem registrando incrementos signifi cativos na produção. (DIEGUES, 2006 apud OSTRENSKY; BORGHETTI; SOTO, 2008). No que diz respeito à mitilicultura, essa atividade está se expandindo em estados como São Paulo e Rio de Janeiro, onde algumas fazendas já apresentam 100 toneladas de mexilhão por hectare. No Espírito Santo, 14 municípios litorâneos produzem mexilhão (DIEGUES, 2006 apud OSTRENSKY; BORGHETTI; SOTO, 2008). A principal espécie cultivada é o mexilhão (Perna perna). Figura 8 – Mexilhão (Perna perna) Fonte: <http://cienciahoje.uol.com.br/images/ch%20on-line/2005/4030a.jpg>. Acesso em: 17 ago. 2009. 3Praticando... 14 Introdução à pesca e à aquicultura A13 As técnicas de cultivo de mexilhões empregadas, atualmente, no Brasil, ainda são relativamente rudimentares e remontam à época em que foram propostas, quando visavam à introdução da atividade junto às comunidades de pescadores artesanais. Porém, desde então, as condições gerais da economia brasileira e também da própria atividade sofreram profundas alterações. Muitos daqueles que eram pescadores atualmente dedicam-se exclusivamente à maricultura. Por outro lado, ao contrário do que ocorreu na ostreicultura, onde o produto apresenta um maior valor de mercado e é vendido principalmente in natura, na mitilicultura não houve um ingresso muito signifi cativo de profi ssionais nos demais setores da cadeia produtiva, nem como investidores nem como prestadores de serviço, o que retarda o desenvolvimento tecnológico da atividade, principalmente na geração de produtos com maior valor agregado. Figura 9 – Cultivo de ostras e/ou mexilhão no Brasil Fonte: <http://siaiacad04.univali.br/imagens/portos/cultivo_penha.jpg>. Acesso em: 17 ago. 2009. Entre os problemas enfrentados pelos maricultores brasileiros está a informalidade, devido à falta de instrumentos legais, o que impede que eles sejam inserido nos programas ofi ciais de Governo e tenham acesso a linhas de crédito e outras formas de incentivo. Essa informalidade inibe a expansão da maricultura sustentável na costa brasileira. Sobre a maricultura no Brasil, responda às perguntas abaixo: 1. É correto afi rmar que a maricultura no Brasil está ancorada num pequeno número de espécies? Por quê? 15 Introdução à pesca e à aquicultura A13 2. Qual o papel das instituições de pesquisa e extensão no desenvolvimento da maricultura no estado de Santa Catarina? 3. O cultivo de ostras e mexilhões, no Brasil, está baseado em pequenos ou grandes produtores? Exemplifi que: 4. Qual o principal problema ambiental identifi cado no cultivo de ostras em Santa Catarina? 5. A maricultura no Brasil pode ser considerada uma atividade em expansão? Responda a essa pergunta a partir dos dados estatísticos da atividade no período de 1997 a 2006. <http://www.ibama.gov.br/recursos-pesqueiros/documentos/estatistica- pesqueira/> Piscicultura No contexto mundial, as tilápias compõem o grupo de peixes que mais cresce em termos de comercialização. Nativas da África, Israel e Jordânia, espalharam-se pelo mundo e atualmente são produzidas em mais de 100 países, em diferentes climas e sistemas de produção, sendo apontadas por alguns especialistas como o grupo de espécies 16 Introdução à pesca e à aquicultura A13 aquícolas mais importante no século XXI (Zimmermann & Fitzsimmons, 2004). Apesar de compor um grupo com mais de 70 espécies de 2 gêneros, de acordo com a FAO (1998) as tilápias acinzentadas “do Nilo” ou “Nilóticas” Oreochromis niloticus representam 80% das tilápias produzidas no mundo. Figura 10 – Tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus) Fonte: <http://www.emparn.rn.gov.br/links/areasatuacao/pesquisa/tilapia.gif>. Acesso em: 17 ago. 2009. As tilápias podem ser produzidas em diferentes regimes de produção, desde o extensivo até o superintensivo. No sistema extensivo de criação de tilápias praticamente não há intervenção humana, e o processo se limita à estocagem de 500 a 1000 exemplares por ha de lâmina d’água, sem qualquer outro tipo de manejo, geralmente em açudes e represas. Figura 11 – Peixamento de reservatórios Fonte: <http://www.dnocs.gov.br/~apoena/var/fi les/noticias/1225/main.jpg>. Acesso em: 17 ago. 2009. Já no sistema semi-intensivo, utilizado por um grande número de produtores nas regiões Sul e Sudeste do Brasil, a estocagem é de 5.000 a 25.000 alevinos por ha, e há intervenção do produtor, como por exemplo, na adubação dos viveiros e na oferta de alimento. O sistema intensivo da tilapicultura é uma tendência tanto no Brasil como no restante do mundo, o que gera uma grande expectativa em torno dessa modalidade de produção para os próximos anos. Nesse caso, o aquicultor atua de forma decisiva, a taxa de estocagem (25.000 a 100.00 alevinos por ha) é alta, a qualidade da água precisa ser monitorada de forma constante e a principal fonte de alimento dos animais passa a ser 17 Introdução à pesca e à aquicultura A13 a ração, oferecida pelo menos três vezes ao dia, de acordo com o tamanho e a idade dos peixes. (ZIMMERMANN; FITZSIMMONS, 2004). No Brasil, estima-se que a tilápia passou a ser a espécie de peixe mais cultivada no país, a partir da metade da década de 90. Foi introduzida no país no início da década de 70, pelo DNOCS (Departamento Nacional de Obras Contra as Secas), que utilizou alguns poucos exemplaresdas espécies Oreochromis niloticus (tilápia-do-Nilo) e Oreochromis hornorum (tilápia de Zanzibar), visando à produção de alevinos para o peixamento dos reservatórios públicos da região Nordeste e para fomento de cultivo. Na década de 80, entraram, ofi cialmente, no Brasil, as tilápias vermelhas (híbridas), a partir de uma importação vinda da Flórida, USA (ZIMMERMANN; FITZSIMMONS, 2004). Nessa mesma época, estações de piscicultura das companhias hidrelétricas de São Paulo e Minas Gerais produziram grandes quantidades de alevinos de tilápia-do-Nilo para o peixamento de seus reservatórios e para a venda e distribuição junto a produtores rurais (KUBITZA, 2003 apud OSTRENSKY; BORGHETTI; SOTO, 2008). Hoje, a tilápia é cultivada em praticamente todo o país e, na maioria das vezes, produzida em regime semi-intensivo (em viveiros) ou superintensivos (em tanques-rede), quase sempre se utilizando ração para alimentá-la (OSTRENSKY; BORGHETTI; SOTO, 2008). Figura 12 – Cultivo de tilápias em tanques-rede no Brasil Fonte: <http://www.pesca.sp.gov.br/imagens/154>. Acesso em: 17 ago. 2009. Figura 13 – Viveiro de tilápias em regime semi-intensivo Fonte: <http://www.ceplac.gov.br/restrito/imgNot/200901/_1322_023.jpg>. Acesso em: 17 ago. 2009. 4Praticando... 18 Introdução à pesca e à aquicultura A13 O cultivo de tilápia, no Brasil, tem sido basicamente feito por pequenos produtores. Em viveiros, o cultivo de tilápia gera aproximadamente 3 empregos (diretos e indiretos) por hectare de lâmina de água cultivada (considerando os empregos gerados na propriedade, na extensão rural, na indústria de equipamentos, de insumos e de processamento, na distribuição de pescado, etc); é um peixe muito aceito no mercado consumidor brasileiro e com forte demanda internacional. No texto anterior, você acompanhou algumas informações sobre o cultivo de tilápia no Brasil. Acesse o documento “Estatística da Pesca 2006 – Brasil” (páginas 144 a 163) e descreva, no espaço abaixo, quais os Estados onde a tilápia ocupa posição de destaque entre outras espécies cultivadas. Acrescente também o volume produzido em 2006, em cada Estado. <http://www.ibama.gov.br/recursos-pesqueiros/documentos/estatistica- pesqueira/>. Legislação aquícola brasileira No estudo realizado pelo CNPq (2000) sobre a cadeia produtiva da aquicultura, no Brasil, problemas relacionados à legislação foram os mais citados nas reuniões com produtores em todo o País. Os principais entraves diziam respeito à legislação ambiental, que difi cultava o desenvolvimento da atividade em algumas regiões do país, sem que 19 Introdução à pesca e à aquicultura A13 houvesse um consenso entre produtores e órgãos de fi scalização. Tendo em vista que a água é a principal matéria-prima da aquicultura, e que não se concebe mais o desenvolvimento com base apenas no viés econômico, fazia-se, então, necessária a defi nição de regras claras sobre a sua utilização bem como a utilização do bom senso por parte de todos os envolvidos e interessados. Passados dez anos, várias mudanças ocorreram nesse setor, muito embora, como você pôde acompanhar nos textos anteriores, as difi culdades na regularização dos empreendimentos aquícolas ainda são uma realidade no Brasil, fazendo com que grande parte dos produtores continue atuando na informalidade. Uma das principais preocupações das instituições responsáveis pela gestão da aquicultura diz respeito à utilização da água, uma vez que este tem sido um tema recorrente nas discussões dos fatores que afetam diretamente essa atividade. No Brasil, a expansão de atividades rurais, em especial da irrigação – setor que mais consome água no Brasil, entre outros fatores, torna necessária a conservação dos recursos aquáticos superfi ciais e subterrâneos e a realização de pesados investimentos em tecnologia e em favor do manejo efi caz da água (OSTRENSKY; BORGHETTI; SOTO, 2008). Entre os instrumentos que começam a ser adotados para incentivar o uso racional desse importante recurso natural está a cobrança pelo seu uso, previsto na Lei das Águas (Lei no 9.433/97), que institui a Política Nacional de Recursos Hídricos. Nesse contexto, a aquicultura, comparada a outras atividades produtivas, como a agropecuária em geral, tem a seu favor uma maior lucratividade perante as atividades tradicionais e um menor impacto sobre o meio ambiente. O impacto da piscicultura é menor do que o da avicultura, suinocultura e bovinocultura de corte e leite, em todos os outros parâmetros analisados (CHEN, 1998 apud OSTRENSKY; BORGHETTI; SOTO, 2008). O arcabouço institucional, envolvendo a atividade aquícola, no Brasil, atualmente contempla várias instituições, conforme veremos a seguir: SEAP (Secretaria Especial de Aquicultura e Pesca) Tem como missão assessorar direta e imediatamente o Presidente da República na formulação de políticas e diretrizes para o desenvolvimento e o fomento da produção pesqueira e aquícola e, especialmente, promover a execução e a avaliação de medidas, programas e projetos de apoio ao desenvolvimento da pesca artesanal e industrial, bem como de ações voltadas à implantação de infraestrutura de apoio à produção e comercialização do pescado e de fomento à pesca e aquicultura, organizar e manter o Registro Geral da Pesca previsto no art. 93 do Decreto-Lei nº 221, de 28 de fevereiro de 1967, normatizar e estabelecer medidas que permitam o aproveitamento sustentável 20 Introdução à pesca e à aquicultura A13 dos recursos pesqueiros, altamente migratórios e dos que estejam subexplotados ou inexplorados, bem como supervisionar, coordenar e orientar as atividades referentes às infraestruturas de apoio à produção e circulação do pescado e das estações e postos de aquicultura e manter, em articulação com o Distrito Federal, Estados e Municípios, programas racionais de exploração da aquicultura em áreas públicas e privadas. Na SEAP, existe uma Diretoria de Desenvolvimento da Aquicultura (DIDAQ), dentro da qual estão a Coordenação Geral de Maricultura e a Coordenação da Aquicultura Continental. A SEAP tem hoje representações regionais e estaduais que transmitem e coordenam, nos Estados, os planos da SEAP. Conselho Nacional de Aquicultura e Pesca (CONAPE) O Conselho é um órgão consultivo da SEAP. Um espaço onde sociedade civil e o Governo discutem os problemas do setor e suas soluções. O CONAPE auxilia a SEAP/PR na formulação das políticas públicas para o setor, tem caráter consultivo, sendo composto por 54 membros, sendo 27 de órgãos da administração Federal e 27 de entidades da sociedade civil organizada. O CONAPE é composto por representações de pescadores, aquicultores, empresários, armadores, pesquisadores e Ministérios que têm intersecção com a área da aquicultura e pesca. Conferências de Aquicultura e Pesca A SEAP organizou duas conferências nacionais de consulta sobre a pesca e aquicultura, em 2003 e em 2005. Essas conferências foram precedidas de conferencias estaduais, a partir das quais eram defi nidos os temas principais e escolhidos os delegados que participam das conferências nacionais. Tais conferências têm grande participação de representantes de pescadores e pequenos aquicultores, mas participação reduzida das associações de aquicultores, sobretudo da carcinicultura. A terceira conferência ocorre ainda em 2009. Em 3 de junho de 2009, o Senado Federal aprovou a criação do Ministério da Pesca e Aquicultura para substituir a SEAP. Entre as atribuições do novo Ministério, está o ordenamento da pesca, fi cando sob sua responsabilidade a normatização da captura de espécies sobrexplotadas, subexplotadas e inexplotadas. Além disso, o MPA fi cará responsável por todas as etapas de ordenamento, desde a captura e cultivo até o benefi ciamento e comercialização. As condições de sanidade da criação em cativeiro também passam a seruma atribuição do Ministério, mas a fi scalização sanitária continua sob os cuidados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Outra atribuição do MPA será a concessão de licenças para pesca e aquicultura, que fi cam integralmente sob sua coordenação, inclusive a pesca amadora e ornamental que estavam sob a responsabilidade do IBAMA. (SEAP, 2009, extraído da Internet). 21 Introdução à pesca e à aquicultura A13 Ministério do Meio Ambiente (MMA)/ Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) O Ministério do Meio Ambiente/IBAMA ainda tem um papel fundamental no desenvolvimento da aquicultura, pois, além da sua função de fiscalização e de licenciamento de determinados projetos aquícolas, coordenam dois programas fundamentais para o gerenciamento e planejamento do uso dos espaços costeiros e continentais: o Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro/zoneamento ecológicoeconômico e o Sistema Nacional de Unidades de Conservação-SNUC. CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente) O Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) é o órgão consultivo e deliberativo do Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA). Foi instituído pela Lei 6.938/81, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, regulamentada pelo Decreto 99.274/90. É a instância máxima de regulamentação ambiental no Brasil. O Conselho é um colegiado representativo de cinco setores, a saber: órgãos federais, estaduais e municipais, setor empresarial e sociedade civil. O Conama aprovou, em 27 de maio de 2009, o texto básico da resolução que disciplina o licenciamento ambiental para os empreendimentos de aquicultura (criações de peixes, camarões, moluscos, algas e rãs). A resolução uniformiza as regras para a concessão de licenças e minimiza os efeitos poluidores da criação em larga escala. Os pequenos e médios criadores que estejam em região de baixo adensamento (poucos tanques) terão direito a processo de licenciamento simplifi cado. ANA (Agência Nacional de Águas) A Agência Nacional de Águas tem como missão regular o uso das águas dos rios e lagos de domínio da União e implementar o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, garantindo o seu uso sustentável, evitando a poluição e o desperdício e assegurando, para o desenvolvimento do país, água de boa qualidade e em quantidade sufi ciente para a atual e as futuras gerações. 22 Introdução à pesca e à aquicultura A13 Secretaria do Patrimônio da União (SPU) A Secretária do Patrimônio da União é um órgão vinculado ao Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Dentre suas inúmeras funções, destacam-se: 1. Promover a doação ou cessão gratuita de imóveis da União, quando presente o interesse público. 2. Adotar as providências necessárias à regularidade dominial dos bens da União. 3. Lavrar, com força de escritura pública, os contratos de aquisição, alienação, locação, arrendamento, aforamento, cessão e demais atos relativos a imóveis da União e providenciar os registros e as averbações junto aos cartórios competentes. 4. Promover a cessão onerosa ou outras outorgas de direito sobre imóveis da União admitidas em lei. 5. Estabelecer as diretrizes para a permissão de uso de bens imóveis da União. 6. Disciplinar a utilização de bens de uso comum do povo, adotando as providências necessárias à fi scalização de seu uso. 7. Formular política de cobrança administrativa e de arrecadação patrimonial, executando, na forma permitida em lei, as ações necessárias à otimização de sua arrecadação. Marinha do Brasil Além da sua missão na proteção das águas territoriais brasileiras, a Marinha do Brasil também orienta e controla a Marinha Mercante; cuida da segurança da navegação no mar, rios e lagos; contribui para a formação de políticas nacionais que digam respeito ao mar e às águas interiores e, em coordenação com outros órgãos do Poder Executivo, aplica as leis e fi scaliza o cumprimento delas no mar e em águas interiores. A interação entre a Marinha e a aquicultura se dá quando do uso de espaços de domínio da União para o cultivo de organismos aquáticos. A Marinha defi ne as normas e fi scaliza a instalação da sinalização náutica, com vistas a manter a segurança na navegação e o livre tráfego de embarcações. Marcos Regulatórios e Legais “Em linhas gerais, ‘marcos regulatórios’ são as regras para os investimentos do setor privado em um determinado setor da economia. No caso da aqüicultura, alguns instrumentos legais serão decisivos na defi nição ou de não de condições institucionais 23 Introdução à pesca e à aquicultura A13 mínimas para a atração de investimentos privados para a atividade.” (OSTRENSKY; BORGHETTI; SOTO, 2008, p. 105). A SEAP, na sua página na internet, apresenta, em detalhes, as leis, decretos, portarias e resoluções que disciplinam e normatizam a aquicultura nacional. Você vai encontrar o endereço eletrônico logo abaixo, na nossa próxima atividade. Como vimos anteriormente, o uso de Água na Aquicultura é motivo de grande preocupação e também a causa de alguns confl itos. Através da Política Nacional de Recursos Hídricos (Lei 9.433/97), o Poder Público Federal criou o instrumento da outorga, que visa a assegurar o uso racional e múltiplo, bem como a igualdade de direito de acesso à água, instituindo, em alguns casos, a cobrança pelo uso da água bruta. Exceto em situações de escassez, onde a prioridade é o abastecimento público e a dessedentação de animais. Nas bacias hidrográfi cas onde já existem confl itos de interesses e grandes demandas quantitativas e qualitativas de água, a cobrança pelo uso da água já é uma realidade. Outro instrumento criado para disciplinar o uso dos corpos d’ água de domínio da União para fi ns de uso na aquicultura são os Parques Aquícolas, espaços físicos contínuos em meio aquático delimitado, que compreendem um conjunto de áreas aquícolas. As Áreas Aquícolas são as áreas destinadas a projetos de aquicultura, individuais ou coletivos. Sobre essa temática, merece destaque o lançamento, pela SEAP, dos Parques Aquícolas de Furnas e Três Marias, no último dia 03/06/2009, durante a abertura da 3ª Conferência Estadual da Pesca de Minas Gerais. Os parques terão 22 áreas destinadas à criação de peixes em cativeiro que serão concedidas a produtores familiares e empresários. (SEAP, 2009, extraído da Internet). Por outro lado, a legalização dos projetos em águas de domínio da União ainda é considerada um procedimento burocrático, moroso e caro, em decorrência da aquicultura ser diretamente afetada por normas jurídicas referentes a diferentes setores (produção animal, recursos hídricos, saúde, entre outros), além da sobreposição de atos normativos (decretos, portarias, resoluções e deliberações). Diante dessas difi culdades, a maioria absoluta de produtores exerce a atividade de forma irregular ou direciona os investimentos para outros segmentos (OSTRENSKY; BORGHETTI; SOTO, 2008). No que diz respeito ao desenvolvimento da maricultura, para proporcionar o desenvolvimento sustentável da atividade, promovendo a ocupação ordenada, ambientalmente segura e socialmente justa das águas da União destinadas à maricultura, a SEAP está adotando uma metodologia de planejamento local, através de Planos Locais de Desenvolvimento da Maricultura (PLDM). Os PLDM incluem uma série de procedimentos e incentivos para defi nir os melhores lugares destinados à instalação das fazendas marinhas. Para isso, a proposta é realizar um detalhado levantamento das condições ambientais das áreas marinhas e terrestres onde serão instaladas as áreas de maricultura. Após esse trabalho, serão identifi cadas 24 Introdução à pesca e à aquicultura A13 as potencialidades de utilização do local, que podem ser a pesca, o turismo, a navegação, o lazer e atividades industriais, entre outras.O Brasil é pioneiro na América Latina na criação de áreas protegidas de uso sustentável na região costeiro-oceânica, regulamentadas pelo Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza - SNUC. Essas áreas são classifi cadas em duas categorias: as de uso direto, como por exemplo, Reservas Extrativistas ou Áreas de Proteção Ambiental (APA), que permitem o desenvolvimento, desde que seja sustentável e as de uso indireto ou áreas de proteção integral, como Estações ecológicas ou Parques Nacionais, que são abertas somente para pesquisa, visitação e trabalhos de educação ambiental. Como você vem acompanhando, em nossas últimas aulas, com o tema a aquicultura no Brasil, foi possível observar que estamos vivendo um momento de muitas mudanças nesse setor, em função do seu rápido crescimento e ainda da intenção do Governo Federal em dobrar a produção aquícola do país até 2009. Nesse sentido, políticas públicas vêm sendo criadas e implementadas, bem como mudanças na Legislação, no sentido de resolver problemas antigos e impulsionar o desenvolvimento do setor, como é o caso da criação do Ministério da Pesca e Aquicultura, em substituição à SEAP, já relatado anteriormente. Sendo esse um processo dinâmico, é possível que algumas das ações relatadas já estejam defasadas quando esta aula chegar em suas mãos. Portanto, fi que atento, consulte periodicamente os Sites Ofi ciais na Internet e acompanhe as notícias ligadas ao setor produtivo no qual você pretende atuar como profi ssional. Entre os acontecimentos recentes, cabe destacar a aprovação, pela Câmara dos Deputados, em 9 de junho de 2009, o projeto de Lei da Pesca e Aquicultura, atendendo uma antiga reivindicação do setor. O projeto tramitava no Congresso há 14 anos e, enquanto isso, o setor vinha sendo regulado pelo Decreto 221, de 1967, que estava completamente defasado e não respondia mais às necessidades de pescadores, aquicultores e indústrias dos vários segmentos da cadeia produtiva. A nova Lei, junto com a criação do Ministério da Pesca e Aquicultura, também aprovado pelo Congresso, deverão dar um grande impulso à atividade pesqueira em todo o país. Com a legislação aprovada ontem, os pescadores e aquicultores passam a ser considerados como produtores rurais, o que dará direito ao crédito rural com acesso a recursos mais baratos para fi nanciar a produção. As empresas de benefi ciamento, transformação e industrialização de pescado também poderão se benefi ciar dessas linhas de crédito, mas apenas se comprarem a matéria prima diretamente dos pescadores ou de suas cooperativas Fonte: <http://www.presidencia.gov.br/estrutura_presidencia/seap/noticias/ultimas_noticias/Camara_aprova_ Lei_da_Pesca_por_unanimidade/>. Acesso em: 17 ago. 2009 5Praticando... 25 Introdução à pesca e à aquicultura A13 Outra importante decisão, que vai afetar diretamente pescadores e aquicultores, no Brasil, diz respeito à aprovação, no dia 18 de junho de 2009, em reunião extraordinária do Conselho Monetário Nacional, da inclusão de pescadores e aquicultores nas linhas de crédito do Pronaf Mais Alimentos. Os fi nanciamentos serão de até R$ 100 mil com prazo de 10 anos para pagamento, sendo três de carência, e taxas de juros de 2% ao ano. (SEAP, 2009, extraído da Internet). Acesse o Site da SEAP, na Internet, e liste, no espaço abaixo, quais são os instrumentos legais que atualmente regem a atividade aquícola em nosso País, fazendo uma breve descrição do objetivo de cada um deles. O endereço eletrônico é: <http://200.198.202.145/seap/didaq/htlm2/legislacao_aquicola.html>. 26 Introdução à pesca e à aquicultura A13 Leituras complementares Para saber mais sobre os assuntos desta aula, aí vão três indicações muito importantes: BORGHETTI, José Roberto; SILVA, Ubiratã Assis Teixeira da. Principais sistemas produtivos empregados comercialmente. In: OSTRENSKY, Antonio; BORGHETTI, José Roberto; SOTO, Doris. Aqüicultura no Brasil: o desafi o é crescer. Brasília: SEAP/FAO, 2008. Disponível em: <http://tuna.seap.gov.br/legislacao/AQUICULTURA_COMPLETO. pdf>. Acesso em: 17 ago. 2009. O documento Aquicultura no Brasil: o desafi o é crescer; lançado pela SEAP/FAO em 2008, com ênfase para o texto de José Roberto Borghetti e Ubiratã Assis Teixeira da Silva: PRINCIPAIS SISTEMAS PRODUTIVOS EMPREGADOS COMERCIALMENTE (p. 73). Como você já sabe, ele está disponível na Internet no endereço eletrônico anterior. PRINCÍPIOS internacionais para a carcinicultura responsável. 2006. Disponível em: <http://200.198.202.145/seap/didaq/Documentos%20em%20PDF/Texto_ international_principles_portuguese_version2[1].pdf>. Acesso em: 17 ago. 2009. A Cartilha Princípios Internacionais para a Carcinicultura Sustentável, (FAO/NACA/UNEP/ WB/WWF. 2006), disponível no endereço eletrônico anterior. BRASIL. Diretoria de desenvolvimento da Aqüicultura – DIDAQ. Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca. Legislação aqüícola. Disponível em: <http://200.198.202.145/ seap/didaq/htlm2/legislacao_aquicola.html>. Acesso em: 17 ago. 2009. Sobre Legislação Aquícola, você vai encontrar informações importantes na página da SEAP, na Internet. Nesta aula, você estudou um pouco mais sobre cadeia produtiva da aquicultura no Brasil, incluindo o histórico de algumas espécies, bem como principais problemas enfrentados pelos aquicultores no contexto atual, incluindo a maricultura, malacocultura e a piscicultura continental. Também teve a oportunidade de conhecer alguns aspectos da atual Legislação Aquícola no país, respaldada na preocupação em garantir a sustentabilidade dessa atividade. 27 Introdução à pesca e à aquicultura A13 1. Utilizando suas palavras, faça um breve resumo sobre a cadeia produtiva da aquicultura no Brasil, com ênfase: a) na carcinicultura marinha (histórico, principal espécie cultivada, regime de produção, dados estatísticos). b) na malacocultura (principais espécies cultivadas, regime de produção, dados estatísticos). c) na piscicultura continental (histórico, principal espécie cultivada, regime de produção, dados estatísticos). 2. No espaço abaixo, descreva qual a legislação específi ca que trata da implantação de novos empreendimentos aquícolas no País e quais os cuidados que deve ter o produtor para regularizar seu empreendimento. 28 Introdução à pesca e à aquicultura A13 Referências ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DOS CRIADORES DE CAMARÃO. Disponível em: <http://www. abccam.com.br/>. Acesso em: 17 ago. 2009. BATALHA, Mário O. (Coord.). Gestão agroindustrial: GEPAI: Grupo de Estudos e Pesquisas Agroindustriais. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2001. v 1. FAO/NACA/UNEP/WB/WWF. International Principles for Responsible Shrimp Farming. Bangkok, Thailand: Network of Aquaculture Centres in Asia-Pacifi c (NACA), 2006. OSTRENSKY, Antonio; BORGHETTI, José Roberto; SOTO, Doris (Ed.). Aqüicultura no Brasil: o desafi o é crescer. Brasília: SEAP/FAO, 2008. Disponível em: <http://tuna.seap. gov.br/legislacao/AQUICULTURA_COMPLETO.pdf>. Acesso em: 17 ago. 2009. SECRETARIA ESPECIAL DE AQUICULTURA E PESCA – SEAP. Disponível em: <http://www. presidencia.gov.br/estrutura_presidencia/seap/>. Acesso em: 17 ago. 2009. VALENTI, W. C. et al. (Org.). Aqüicultura no Brasil: bases para um desenvolvimento sustentável. Brasília: CNPq/MCT, 2000. ZIMMERMANN, S.; FITZSIMMONS, K. Tilapicultura Intensiva. In: CYRINO, J. E. P. et al. (Ed.). Tópicos especiais em piscicultura de água doce tropical intensiva: Sociedade Brasileira de Aqüicultura e Biologia Aquática. São Paulo: TecArt, 2004. introducao_pesca_aquicultura_01 introducao_pesca_aquicultura_02 introducao_pesca_aquicultura_03 introducao_pesca_aquicultura_06 introducao_pesca_aquicultura_07 introducao_pesca_aquicultura_09 introducao_pesca_aquicultura_11 introducao_pesca_aquicultura_13