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- Índice Fundamental do Direito Legislação - Jurisprudência - Modelos - Questionários - Grades Interpretação da Lei - Interpretação da Lei Penal quanto a fonte - doutrinária, autêntica e jurisprudencial quanto ao meio - literal (gramatical), lógica e histórica. quanto ao efeito - restritiva, extensiva e estrita O conhecimento humano tem dois objetivos: o primeiro é contemplar a verdade, sendo meramente especulativo; o segundo tem como finalidade proceder a uma operação mental visando a uma finalidade prática. O grande filósofo alemão Emmanuel Kant já afirmava no século XVIII que o intelecto pode ser especulativo ou prático. No primeiro caso, teríamos a razão pura, no segundo, a razão prática. Na verdade, o intelecto prático é um prolongamento do intelecto especulativo, numa integração mútua. Pelo intelecto especulativo decidimos se devemos fazer isto ou aquilo; pelo intelecto prático decidimos como fazer isto ou aquilo. O Direito é uma ciência especulativa quanto ao modo de saber, e prática quanto ao fim, porque o Direito é para ser aplicado aos fatos particulares e contingentes da vida (João Mendes, citado por Cândido de Oliveira Filho, em Direito Teórico e Direito Prático, Rio de Janeiro, 1936, p. 14). Ora, a lei escrita, contida no silêncio dos códigos, é estática, inerte, e somente cobra vida quando interpretada e aplicada, de modo que a interpretação e a aplicação da lei constituem sua dinâmica, revelando o conteúdo finalístico do Direito. Tudo, aliás, se interpreta, até mesmo o silêncio. A própria lei brasileira não deixou de reconhecer esta verdade, no Art. 186 do CPP. Quanto à lei, obra humana e, portanto, passível de falhas, a necessidade de interpretação dispensa maiores comentários. A interpretação da lei é sempre necessária, mesmo no caso da lei cujo sentido se acha claramente revelado em seu texto. Com efeito, aqueles que se habituaram ao manuseio da legislação sabem muito bem que, por vezes, uma lei aparentemente clara contém sentido que, à primeira vista, não se mostra. O texto legal pode parecer límpido e, contudo, possuir um sentido que não se patenteia de imediato. A descoberta das razões histórico-sociológicas da lei, a revelação dos objetos do legislador esclarecem, por vezes, um pensamento que não estava expresso em palavra. Tal orientação, porém, nem sempre foi obedecida ao longo da História. Houve época em que o brocardo in claris cessat interpretatio, isto é, a clareza da lei dispensaria a interpretação, prevalecia de maneira absoluta. Assim é que o imperador Justiniano (482-565 da Era Cristã), autor da imorredoura compilação de leis denominada Corpus Juris Civilis, determinou a seguinte cláusula no Terceiro Prefácio do Digesto: "Quem ousar tecer comentários à nossa compilação de leis cometerá crime de falso, e as obras que compuser serão apreendidas e destruídas". Referências e/ou Doutrinas Relacionadas: Ação Penal Analogia Aplicação Aplicação da Pena Arrependimento Posterior Causas de Extinção da Punibilidade Circunstâncias Classificação dos Crimes Comunicabilidade e Incomunicabilidade de Elementares e Circunstâncias Concepção do Direito Penal Concurso de Crimes Concurso de Pessoas Conduta Conflito Aparente de Normas Contagem do Prazo Costume Crime Consumado Crime Continuado Crime Impossível Crime Preterdoloso ou Preterintencional Crimes Culposos Culpabilidade Desconhecimento da Lei Desistência Voluntária e Arrependimento Esta norma encontrou, porém, oposição na doutrina, especialmente em Ulpiano e Celso. No Digesto, Livro 25, Título 4º, fragmento 1º, § 11, Ulpiano adverte: "Embora claríssimo o édito do pretor, não cabe descuidar de sua interpretação". Celso, por sua vez, afirmava: "Saber as leis não consiste em conhecer- lhes as palavras, mas sua força e poder" (Digesto, Livro 1º, Título 3º, fragmento 17). Séculos mais tarde, entretanto, Frederico II (1712-1786), rei da Prússia, apelidado o Grande, e que realizou profundas reformas no comércio, na indústria e na agricultura, promovendo a tolerância religiosa e uma ampla reforma legislativa, elaborando seu Corpus Juris Fridericiani, seguiu os passos de Justiniano, proibindo a interpretação do Estado Geral da Terra. Na França, já em 1790, um decreto estabelecia que a Assembléia Legislativa seria o único órgão competente para interpretar a lei, criando o chamado referendo legislativo. Os juízes ficavam autorizados a confiar ao legislador a solução dos casos dependentes de interpretação da lei. Mais: os casos que ensejassem contradições da jurisprudência sobre a interpretação da lei aplicável, não apenas poderiam, mas deveriam ser levados à apreciação do legislador... Ainda naquele mesmo ano foi criado, também na França, o célebre Tribunal de Cassação, que, não integrando o Poder Legislativo, funcionando como um simples apêndice deste, tinha por missão cassar toda sentença que ferisse a lei. Somente uma restrição se fazia ao órgão: ele não podia conhecer do mérito das questões propostas. A repulsa à interpretação da lei também estaria presente no Código Civil francês de 1804, encomendado por Napoleão Bonaparte aos mais brilhantes juristas. O próprio Napoleão, diga-se de passagem, legou-nos uma frase célebre, muito esclarecedora de sua orientação: "Os intérpretes corrompem a lei, os advogados a matam!". Vale lembrar, entretanto, que, se todas as normas jurídicas merecem a atenção do intérprete, nem por isso se deve interpretar exageradamente. Se a lei é clara, deve o intérprete aplicá-la, revelando seu sentido, sim, porém sem sutilezas inúteis que viriam a complicar, gratuitamente, o entendimento do texto. O que é interpretar a lei, afinal? Interpretar a lei é determinar o sentido e o alcance desta. Clóvis Beviláqua nos diz que interpretar a lei é revelar o pensamento que anima suas palavras (Teoria Geral do Direito Civil, Rio de Janeiro, 1975, § 35). Como se percebe, ele se refere, expressamente, ao pensamento da lei, à sua alma, e não à sua letra pura e simples. Já o professor Washington de Barros Monteiro adverte que interpretar a lei é determinar-lhe o verdadeiro sentido. Interpretar é aprender a mens legis, o conteúdo espiritual da norma, seja para fixar-lhe corretamente o sentido, seja para determinar-lhe o respectivo campo de incidência ("Da interpretação das Leis", Revista da Faculdade de Direito da USP, v. 57, 1962). Interpretar a lei é comprendê-la. O que é compreender? Do latim comprehendere (unir, ligar, apreender, apoderar-se), este verbo significa tomar ciência de algo, dominar seu significado. Eficaz Direito Penal no Estado Democrático de Direito Dissídio Jurisprudencia Dissídio Pretoriano Doutrina Efeitos da Condenação Eficácia de Sentença Estrangeira Elementares Eqüidade Erro de Tipo Escola da Exegese Escola da Livre Investigação Científica Estado de Necessidade Estrito Cumprimento de Dever Legal Exercício Regular do Direito Exigibilidade de Conduta Diversa Extraterritorialidade da Lei Penal Brasileira Fato Típico Fontes do Direito Fontes do Direito Penal Formas de Integração Função Ético-Social do Direito Penal Hermenêutica Constitucional Hermenêutica Jurídica Ilícito Penal Ilicitude Imputabilidade Interpretação Interpretação da Legislação Tributária Interpretação do Direito Administrativo Interpretação dos Interpretar a lei para compreender a lei. A lei ética é uma realidade do mundo da cultura, daquilo que o homem cria em seu próprio benefício, e que acrescenta ao mundo da natureza. Diga-se, desde logo, que o mundo da cultura e o mundo da natureza não podem ser conhecidos da mesma maneira. O mundo da cultura ou mundo do construído se compreende, mas o mundo da natureza ou mundo do dado apenas se explica. Digo que o mundo da natureza se explica, mas o mundo da cultura se compreende. Ora, qual a diferença entre explicar e compreender? Vejamos: explicação e compreensão constituem duas maneiras de conhecer. O que é explicar? Explicar é conhecer um fenômeno do mundo da natureza, do mundo do dado. Explicar um fenômeno natural é revelar os seus nexos com os fenômenos que o precederam, é revelar suas causas. Explicar um fenômeno é revelar, na realidade, aquilo que na realidade mesma se contém. A explicação é sempre objetiva, é sempre voltada para o mundo das coisas como elas realmente se apresentam. Ela é neutra quanto ao mundo da ética, do dever ser. O cientista que se debruça sobre a explicação de um fenômeno da natureza passa diretamente do fato observado para o enunciado da lei, sem levar em contao valor do fato, sem emitir nenhum juízo de valor. Um enunciado extraído do mundo da natureza é pura expressão verbal do fenômeno observado, mera descrição de um fato. Para o mundo da cultura, entretanto, a explicação não basta. Conhecer uma obra de arte não é explicar de que material ela é feita, ou quem é seu autor. Conhecer uma obra de arte é revelar o seu sentido, o seu significado. Compreender uma obra de arte ou qualquer manifestação do mundo do humano, enfim, do mundo da cultura, é entendê-la em razão dos seus fins. Compreender só é possível no mundo da cultura, porque no mundo da natureza os fenômenos se desenvolvem em razão de fins que escapam ao conhecimento humano. O homem conhece apenas o fim de seus próprios atos, porque as ações humanas são produzidas pelo próprio homem. Conhecer um ato humano é interpretá-lo e revelar o seu significado mais profundo, sua razão de ser, sua causa final. Se não soubermos qual a finalidade de um ato humano, não poderemos, jamais, dizer que compreendemos o seu sentido. Ora, a lei ética integra o mundo da cultura e, portanto, deve ser compreendida. Interpretar a lei, então, é compreender a lei. 1. Distinção entre hermenêutica, interpretação da lei e exegese. No campo da terminologia jurídica, os termos interpretação, hermenêutica e exegese não se confundem. Hermenêutica (do grego hermeneutiké, arte de interpretar) é uma palavra grega que deriva de Hermes Trimegisto, deus egípcio cultuado também na Grécia antiga, ao qual os alquimistas atribuíam a criação de sua arte. Era, portanto, uma divindade esotérica, guardadora de mistérios. Daí, outra expressão, hermético, isto é, fechado, termo também utilizado pelos alquimistas para denominar a lacração de determinados vasos. Hermes Trimegisto era o deus revelador dos segredos da alquimia, Contratos Interpretação dos Tratados Interpretação Extensiva Interpretação Progressiva Interpretação Restritiva Irretroatividade da Lei Irretroatividade da Lei Penal Jurisprudência Lacunas da Lei Legítima Defesa Lei Leis de Vigência Temporária Limites de Penas Livramento Condicional Lógica do Razoável Lugar do Crime Medida de Segurança Nexo Causal Objeto do Direito Penal Pena de Multa Penas Privativas de Liberdade Penas Restritivas de Direitos Potencial Consciência da Ilicitude Prescrição Princípio da Legalidade Princípios Gerais de Direito Processo Penal Ramos do Direito Reabilitação Reincidência Resultado Sanção Penal Suspensão Condicional da Pena Técnica Jurídica e atribuía-se-lhe a invenção de uma fechadura perfeita, fundindo-se juntas as beiras do vaso e da tampa. A hermenêutica é a teoria geral da interpretação. Seu objetivo não é a interpretação da lei em concreto, mas a descoberta e a fixação dos princípios reguladores da interpretação em geral. A hermenêutica jurídica é a teoria científica da ação de interpretar a lei. A interpretação da lei é a aplicação, na prática, dos preceitos da hermenêutica, na busca do sentido e do alcance de uma lei. Quanto ao termo interpretação, deriva do latim interpretar, verbo derivado de interpres, mago, vidente, sacerdote, que, na antiga Roma, revelava o futuro pela leitura das entranhas de certos animais (hepatoscopia). Esse sacerdote era o inter-mediário, o intér-prete entre as divindades e os homens, daí a expressão - aplicação prática dos preceitos teóricos da hermenêutica. Existe, porém, uma terceira expressão, análoga ao termo interpretação, que merece algumas considerações. É a palavra exegese. Ela deriva do grego exegeomai, exegesis; ex tem o sentido de ex-trair, ex-ternar, ex-teriorizar, ex-por; quer dizer, no caso, conduzir, guiar. Por isso, o termo exegese significa, como interpretação, revelar o sentido de algo ligado ao mundo do humano, mas a prática se orientou no sentido de reservar a palavra para a interpretação dos textos bíblicos. Exegese, portanto, é a denominação que se confere à interpretação das Sagradas Escrituras desde o século II da Era Cristã. Orígenes, cristão egípcio que escreveu nada menos que 600 obras, defendia a interpretação alegórica dos textos sagrados, afirmando que estes traziam, nas entrelinhas de uma clareza aparente, um sentido mais profundo. O termo exegese restou ligado à interpretação alegórica, ensejando abusos de interpretação, a ponto de alguns autores afirmarem, ironicamente, que a Bíblia seria um livro onde cada qual procura o que deseja e sempre encontra o que procura. Modernamente, prevalece a orientação de Quinto Setímio Florêncio Tertuliano, coetâneo de Orígenes, no sentido de uma exegese tradicionalista dos textos sacros, rigorosamente literal, com o apoio do estudo minucioso dos costumes e das tradições dos diferentes períodos históricos, mesmo porque, segundo Tertuliano, a doutrina cristã representa a verdade enquanto doutrina objetiva, não enquanto profissão subjetiva. 2. Técnicas de interpretação da lei A interpretação das leis enseja uma série de técnicas específicas, todas de grande aplicação prática. Esquematizando-as, teremos: 1) Quanto ao método - gramatical lógica histórica sistemática; 2) Quanto à origem ou agente de que promana - autêntica doutrinária judicial; 3) Quanto aos resultados - declarativa restritiva extensiva analógica. Assim, no tocante ao método ou elemento utilizado, a interpretação pode ser, inicialmente, gramatical. A interpretação gramatical, também chamada literal, filológica ou sintática, refere-se aos elementos puramente verbais da lei, ao real significado de seus termos e períodos que informa o texto. A etimologia e a sinonímia são inestimáveis auxiliares no emprego Tempo do Crime e Conflito Aparente de Normas Teoria do Crime Territorialidade da Lei Penal Brasileira Tipicidade Tipo Penal nos Crimes Culposos Tipo Penal nos Crimes Dolosos deste método. Formulada segundo os usos lingüísticos da coletividade, verifica tal método que o sentido de cada palavra varia no tempo e no espaço. A interpretação gramatical, então, busca estabelecer a coerência entre o significado, ou seja, o sentido normativo da lei e os usos lingüísticos. A interpretação gramatical é a mais antiga técnica de aferir o sentido da lei, desde que a primeira tarefa do intérprete é fazer surgir o real sentido gramatical dos termos da lei. No direito romano, a simples omissão de uma palavra na formulação de um ato jurídico poderia gerar a própria nulidade deste. O Art. 12 das Disposições Preliminares do Código Civil italiano diz que "ao aplicar a lei, não se lhe pode atribuir outro sentido a não ser aquele que ressalta do significado próprio das palavras, segundo sua conexão e a intenção do legislador". Por sua vez, o Código Civil do Chile adverte, no Art. 19: "Quando o sentido da lei é claro, não se desatenderá seu teor literal, sob o pretexto de consultar o seu espírito". Entretanto, a simples análise gramatical não é suficiente para revelar o sentido do texto legal, pois ela, por si só, pode levar o intérprete a conclusões adversas às diretrizes da ordem jurídica. Para que se apreenda o sentido de uma norma é preciso, também, investigar a sua finalidade, o seu objetivo, a sua razão (ratio legis). Daí a utilidade da interpretação lógica ou teleológica, consistente na indagação da vontade do legislador (busca-se a mens legislatoris e não a mens legis pura e simples). Já dizia Celso no Digesto, Livro I, fragmento 3, § 17: "Scire leges non hoc est verba earum tenere sed vim ac potestatem", isto é, conhecer as leis não é compreender as suas palavras, mas o seu alcance e a sua força... A interpretação lógica funda-se no fato de que o estudo puro e simples da letra da lei conduz a resultados insuficientes e imprecisos, havendo necessidade de investigações mais amplas. Desta forma, deverá o intérprete confrontar o texto e interpretar com outras disposições legais; o lugar que um artigo ocupa numa lei, o título ou seção no qual se insere, podem oferecer prestimoso auxílio. Enfim, a interpretação lógica busca o real sentido da norma, fundamentando-se em elementos lógicos, que vêm a ser a razão da lei (ratio legis), a intenção da lei (intentio legis) e a ocasião da lei (occasio legis). A razão da lei permite-nos determinar as razões sociais determinantes da norma interpretanda, seus elementos históricos circunstanciais, a relação existente entre a norma e a vida social, enfim. Pela intenção da lei afere- se a finalidade, a forma de elaboração desta. Um texto legal pode parecer claro, inquestionável; poderá, contudo, revelar um sentido que não se patenteia de imediato. Quanto à ocasião da lei, consiste no levantamento dos elementos históricos coetâneos desta, pois o clima ideológico predominante na sua elaboração influi decisivamente. O Art. 127 do CPC brasileiro enseja a interpretação lógica e revela, ao mesmo tempo, a insuficiência da interpretação gramatical. Literalmente, tem-se a impressão de que o juiz deve decidir por eqüidade somente quando autorizado por lei. Teria o legislador adotado a orientação de compelir o magistrado a decidir cada caso, levando em conta apenas as normas do direito positivo, exacerbação usualmente denominada juridicismo ou formalismo? Parece-nos ilógica tal conclusão, pois a eqüidade é elemento finalístico do próprio Direito (Jus est ars boni et aequi). Assim, logicamente, se deduz que o legislador pretendeu, no artigo transcrito, firmar a regra de que o juiz decidirá somente por eqüidade, isto é, pondo de lado a lei escrita, quando autorizado por esta! Decidir por eqüidade, adaptando a lei ao caso concreto, sempre; decidir somente por eqüidade, sem amparo na lei, somente com autorização desta! Deve o intérprete empregar, harmoniosamente, as técnicas gramaticais e lógica; havendo contradição entre ambas, prevalecerá a lógica, tendo-se em vista o Art. 5º da LICC. A interpretação histórica consiste na investigação de elementos históricos remotos (origo legis) e próximos (occasio legis) da lei. Esta técnica de interpretação procura revelar o estado de espírito dos autores da lei, os motivos que ensejaram esta, a análise cuidadosa do projeto, com sua exposição de motivos, mensagens do Executivo, atas e informações, debates etc. Quanto à interpretação sistemática, vem a ser aquela na qual se confronta o dispositivo a ser interpretado com as demais normas do sistema que tratam do mesmo assunto ou, mesmo, com a própria ordem jurídica global. No tocante à origem ou agente de que promana, a interpretação pode ser, como visto, autêntica, doutrinária ou judicial. Autêntica é a interpretação realizada pelo próprio legislador, que cria uma lei interpretativa ou define o instituto no próprio texto legal. Exemplos: arts. 81, 87 e 114 do CC - Art. 121, Condição, Termo e Encargo - Negócio Jurídico - Fatos Jurídicos - Código Civil - CC - L-010.406- 2002, e Arts. 3º e 111 do CTN. Exemplo histórico de interpretação autêntica é encontrado no papel do Tribunal de Cassação, da França, criado em 1790, a respeito do qual nos pronunciamos, item "A interpretação da lei". Alguns autores advogam a existência de uma interpretação semi- autêntica, realizada por órgãos que se sucedem no exercício de um cargo. A interpretação autêntica pode ser contextual ou posterior. Contextual é a interpretação que o próprio legislador faz no texto da lei, como vimos nos exemplos acima referidos, e posterior é aquela feita pelo sujeito após ditada a lei. Doutrinária ou livre é a interpretação consistente nas opiniões dos jurisconsultos e comentaristas. É a communis opinio doctorum. Quanto à interpretação judicial ou usual, é aquela realizada pelos órgãos judiciários (juízes e tribunais). Embora desfrute de autoridade, acatamento espontâneo, respeitoso, não dispõe de força obrigatória, a não ser para o caso concreto (coisa julgada). Quanto aos resultados, a interpretação pode ser declarativa, restritiva e extensiva. A declarativa consiste no tipo mais corrente de interpretação. Por seu intermédio se resolvem as dúvidas, aferindo-se a correspondência entre a letra da lei e a vontade do legislador, sem conferir à fórmula um sentido mais amplo ou mais restrito. Exemplo no art. 141, III, do CP, deve-se entender que o número mínimo de pessoas exigido é três, pois, sempre que a lei se contenta com duas pessoas, ela o diz expressamente, como nos arts. 150, § 1º, e 226, I. Não há ampliação nem restrição do texto. Assim, a interpretação declarativa reconhece que o texto da norma coincide com o espírito desta, limitando-se, por definição, a declarar o próprio texto legal, sem estender seu sentido a situações não previstas. Quanto à interpretação restritiva, procura restringir o texto que foge aos limites desejados pelo legislador. Ela subordina os termos da lei à esfera do pensamento que o legislador realmente desejou exprimir. Com efeito, por vezes a linguagem da lei diz mais do que o pretendido: lex scripta minus voluit. A interpretação restritiva limita, então, o alcance das palavras da lei até o seu sentido real. Exemplos: arts. 1.090 do CC- Antigo - Art. 114, Disposições Gerais - Negócio Jurídico - Fatos Jurídicos - Código Civil - CC - L-010.406-2002 e 293 do CPC, bem assim os arts. 26 e 28 do CP. É evidente que o Art. 28 do CP, acima transcrito, se cotejado com o Art. 26, deve ser interpretado restritivamente, no sentido de se considerarem os estados, a que se refere, como não-patológicos, em caso contrário se aplicaria o Art. 26. No que tange à interpretação extensiva, cabe quando o caso requer seja ampliado o alcance das palavras da lei para que a letra corresponda à vontade do texto. Ocorre quando o texto não expressa a sua vontade na extensão desejada. Ele diz menos do que o pretendido pelo legislador: lex minus dixit quam voluit. Esta técnica de interpretação amplia o alcance dos termos puramente literais da norma, abrangendo casos que, mesmo cabíveis em sua mensagem, acham-se fora de sua expressão verbal, por ser o pensamento mais amplo que as palavras. Exemplos: arts. 3º do CPP, 130 do CP, sobre crime de exposição a contágio de doença venérea, incriminando não só a situação de perigo como, também, a situação de dano efetivo, e, ainda do CP, o Art. 235, que incrimina não só a bigamia como, também, a poligamia. Ensejando esta técnica de interpretação, podemos mencionar, também, como exemplo meramente histórico, o Art. 51, IV, da L. 6.649, de 16.5.1979 (antiga Lei do Inquilinato), já revogada pela atual lei do inquilinato (L. 8.245, de 18.10.1991), transcrito in verbis: "Art. 51. A locação somente poderá ser rescindida: (...) IV - se o locador pedir parte do prédio que ocupa, ou em que reside, para seu uso próprio ou para residência de descendente, ascendente ou de seu cônjuge". Referindo-se ao problema suscitado pela norma "O proprietário tem direito de pedir o prédio para seu uso", o Prof. André Franco Montoro, em sua obra Introdução à Ciência do Direito, 8ª ed., São Paulo, 1980, v. 2, p. 127, adverte quanto às técnicas de interpretação extensiva e restritiva: "Uma aplicação desses processos pode ser indicada no caso da norma o proprietário tem direito de pedir o prédio para seu uso, constante da lei do inquilinato. A interpretação corrente desse texto inclui o usufrutuário entre os que podem pedir o prédio para uso próprio, porque a intenção da lei é, claramente, a de incluir aquele que tem sobre o prédio um direito real de usufruto. Assim, devemos adotar no caso a interpretação extensiva, que amplia o entendimento da norma, de modo a dizer: Tem direito de pedir o prédio para seu uso o proprietário e aquele que esteja nas condições de proprietário, o que abrange o usufrutuário. A mesma norma pode servir de exemplo para uma interpretação restritiva, no caso do nu-proprietário, isto é, daquele que tem apenas a nua propriedade, mas não o direito de uso e gozo do prédio. Este não poderá beneficiar-se da disposição da lei. Apesar de proprietário (nu- proprietário), não poderá pedir o prédio para seu uso". Resta advertir que a interpretação extensiva não se confunde com a interpretação analógica, pois esta somente ocorre quando uma cláusula genérica se segue a uma fórmula casuística, devendo entender-se que aquela somente inclui os casos análogos mencionados por esta. Exemplo: o Art. 121, § 2º, IV, do CP, atinente ao homicídio, revela uma fórmula casuística seguida de outra fórmula, esta genérica. Enfim, aplica-se a interpretação analógica quando a própria lei determina que seus preceitos sejam complementados pela analogia. O legislador omite a fórmula voluntariamente, o que não ocorre, evidentemente, na analogia em sentido estrito. O romanista Ludgero Coelho, em brilhante Synopse do Direito Romano, Rio de Janeiro, 1915, pp. 52-3, assim doutrina sobre as principais regras de interpretação: "Tendo a interpretação por fim não modificar a lei, mas conseguir aplicá-la em seu verdadeiro espírito, desprezando muitas vezes a significação material dos vocábulos, de que ela se serve em seus dispositivos, os romanos a fundamentavam no seguinte princípio: `Scire leges no hoc est, earum verba tenere, sed vim ac potestatem1, di-lo o fr. 17 Dig. tit. de legibus. Os romanos consideravam como regra principal de interpretação, a que se fundava no honesto, eqüitativo e útil: `Placuit in omnibus rebus praecipuam esse justitiae aequitatisque, quam stricti juris rationem1, diziam os imperadores; `In omnibus rebus, maxime tamem in jure, aequitas spectanda sit1, diziam os jurisconsultos. Além dessa regra, que dominava a interpretação entre os romanos, temos mais as seguintes: 1ª Que o intérprete evite atribuir à lei algum absurdo: `Interpretatio illa sumenda, quae absurdum evitetur1. 2ª Que o intérprete deve atender primeiramente ao uso seguido, porque o costume é um excelente intérprete das leis: `Si de interpretatione legis quaeratur, imprimis suscipiendum est, quo jure civitas in ejusmodi casibus usa fuisset: optimum enim est legum interpres consuetudo1. 3ª Que o intérprete deve estudar a lei em todas as suas partes, antes de interpretar aquela sobre que tem dúvidas: `Incivile est, nisi tota lege perspecta, una aliqua particula ejus proposita, judicare vel respondere1. São estas as principais regras da interpretação; as particulares aplicam-se, ordinariamente, nos casos de obscuridade, dúvida ou silêncio da lei. E assim temos: a) Nos casos de obscuridade, o intérprete deve preferir o sentido mais verossímil e o mais prático: `In obscuris inspici solet, quod verismilius est, aut quod plerunque fieri solet1. b) Nos casos de dúvida, e em que a lei for suscetível de diversos sentidos, deve o intérprete adotar o que for mais conforme à letra da lei: `In re igitur dubia melius est verbis edicti servire1; - ou o que for mais benigno: `Semper in dubiis benigniora praeferenda sunt1; ou, finalmente, o que possa produzir menos mal: `In re dubia benigniorem interpretationem sequi, non minus justius est, sed quan tutius1. c) Nos casos em que a lei é silenciosa, o intérprete pode aplicá-la a casos não previstos por ela, uma vez que nestes se verifiquem os mesmos motivos fundamentais que no caso previsto, de acordo com as seguintes regras: 1ª Que a parte se contenha no todo: `In toto pars continetur1. 2ª Que o gênero compreenda a: espécie `Semper specialia generalibus insunt1. 3ª Que a mesma razão pressupõe a mesma disposição: `Ubi eadem causa, ibi idem jus statuendum". Se se tratar de leis criminais, o intérprete deve seguir o que for mais favorável ou mais benigno: `In poenalibus causis benegnius interpretandum est1(170). Não poderíamos deixar de transcrever, a título de complementação do exposto, as regras de interpretação propostas por Carlos Augusto de Carvalho, em obra clássica intitulada Direito Civil Brasileiro Recopilado ou Nova Consolidação das Leis Civis, Porto, 1915, Art. 62, pp. 20 e segs., assim: "Art. 62. A ementa da lei facilita sua inteligência. § 1º No texto da lei se entende não haver frase ou palavra inútil, supérflua ou sem efeito. § 2º Se as palavras da lei são conformes com a razão, devem ser tomadas no sentido literal e as referentes não dão mais direito do que aquelas a que se referem. § 3º Deve-ser evitar a supersticiosa observância da lei que, olhando só a letra dela, destrói a sua intenção. § 4º O que é conforme ao espírito e letra da lei se compreende na sua disposição. § 5º Os textos da mesma lei devem-se entender uns pelos outros; as palavras antecedentes e subseqüentes declaram o seu espírito. § 6º Devem concordar os textos das leis, de modo a torná-los conformes e não contraditórios, não sendo admissível a contradição ou incompatibilidade neles. § 7º As proposições enunciativas ou incidentes da lei não têm a mesma forma que as suas decisões. § 8º Os casos compreendidos na lei estão sujeitos à sua disposição, ainda que não os especifique, devendo proceder-se de semelhante a semelhante, e dar igual inteligência às disposições conexas. § 9º O caso omisso na letra se compreende na disposição quando há razão mais forte. § 10. A identidade de razão corresponde à mesma disposição de direito. § 11. Pelo espírito de umas se declara o das outras tratando-se de leis análogas. § 12. As leis conformes no seu fim devem ter idêntica execução e não podem ser entendidas de modo a produzir decisões diferentes sobre o mesmo objeto. § 13. Quando a lei não fez distinção, o intérprete não deve fazê-la, cumprindo entender geralmente toda a lei geraL. § 14. A eqüidade é de direito natural e não permite que alguém se locuplete com jactura alheia. § 15. Violentas interpretações constituem fraude da lei". João Mendes, citado por Cândido de Oliveira Filho, em Direito Teórico e Direito Prático, Rio de Janeiro, 1936, p. 14 Teoria Geral do Direito Civil, Rio de Janeiro, 1975, § 35 Revista da Faculdade de Direito da USP, v. 57, 1962 Celso, no Digesto, Livro I, fragmento 3, § 17 Prof. André Franco Montoro, em sua obra Introdução à Ciência do Direito, 8ª ed., São Paulo, 1980, v. 2, p. 127 Ludgero Coelho, Synopse do Direito Romano, Rio de Janeiro, 1915, pp. 52-3 Carlos Augusto de Carvalho, em obra clássica intitulada Direito Civil Brasileiro Recopilado ou Nova Consolidação das Leis Civis, Porto, 1915, Art. 62, pp. 20 e segs., Jesus,Damásio E. de, Direito Penal, São Paulo, Saraiva,, 12ª ed., 1988. Capez, Fernando, Curso de Direto Penal, parte geral, vol. 1, Saraiva, 10ª ed., 2006 (Revista Realizada por Suelen Anderson - Acadêmica em Ciências Jurídicas - 04 de outubro de 2009) Interpretação da Lei Penal "Conceito: é a atividade que consiste em extrair da norma penal seu exato alcance e real significado. Natureza: a interpretação deve buscar a vontade da lei, desconsiderando a de quem a fez. A lei terminada independe de seu passado, importando apenas o que está contido em seus preceitos. Espécies 1) Quanto ao sujeito que a elabora a) Autêntica ou legislativa: feita pelo próprio órgão encarregado da elaboração do texto. Pode ser: contextual, quando feita dentro do próprio texto interpretado (CP, art. 327), ou posterior, quando a lei interpretadora entra em vigor depois da interpretada. - a norma interpretativa tem efeito ex tune, uma vez que apenas esclarece o sentido da lei. b) Doutrinária ou científica: feita pelos estudiosos e cultores do direito (atenção: a Exposição de Motivos é interpretação doutrinária e não autêntica, uma vez que não é lei). c) Judicial: feita pelos órgãos jurisdicionais (não tem força obrigatória). 2) Quanto aos meios empregados a) Gramatical, literal ou sintática: leva-se em conta o sentido literal das palavras. b) Lógica ou teleológica: busca-se a vontade da lei, atendendo-se aos seus fins e à sua posição dentro do ordenamento jurídico. 3) Quanto ao resultado a) Declarativa: há perfeita correspondência entre a palavra da lei e a sua vontade. b) Restritiva: quando a letra escrita da lei foi além da sua vontade (a lei disse mais do que queria, e, por isso, a interpretação vai restringir o seu significado) . c) Extensiva: a letra escrita da lei ficou aquém da sua vontade (a lei disse menos do que queria, e, por isso, a interpretação vai ampliar o seu significado). O princípio "In dubio pro reo" a) Para alguns autores, só se aplica no campo da apreciação das provas, nunca para a interpretação da lei (como a interpretação vai buscar o exato sentido do texto, jamais restará dúvida de que possa ser feita a favor de alguém). b) Para outros, esgotada a atividade interpretativa sem que se tenha conseguido extrair o significado da norma, a solução será dar interpretação mais favorável ao acusado. Interpretação progressiva, adaptativa ou evolutiva: é aquela que, ao longo do tempo, vai adaptando-se às mudanças político-sociais e às necessidades do momento." Capez, Fernando, Curso de Direto Penal, parte geral, vol. 1, Saraiva, 10ª ed., 2006 (Revista Realizada por Suelen Anderson - Acadêmica em Ciências Jurídicas - 04 de outubro de 2009) Jurisprudência Relacionada: - Ação Rescisória - Sentença de Mérito - Cabimento - Súmula nº 411 - TST - Ação rescisória trabalhista - Violação literal de lei -Interpretação controvertida - TST Enunciado nº 83 - Cabimento - Ação Rescisória - Ofensa a Literal Dispositivo Baseado em Texto Legal de Interpretação Controvertida nos Tribunais - Súmula nº 343 - STF - Cabimento - Recurso Extraordinário - Contrariedade ao Princípio da Legalidade - Revisão da Interpretação Dada a Normas Infraconstitucionais pela Decisão Recorrida - Súmula nº 636 - STF - Conclusão acerca da ocorrência de violação literal de lei - Sentença rescindenda trabalhista - TST Enunciado nº 298 - Decisão que Deu Razoável Interpretação à Lei - Recurso Extraordinário - Cabimento - Súmula nº 400 - STF - Divergência jurisprudencial - Teses - Interpretação de um mesmo dispositivo legal - TST Enunciado nº 296 - Interpretação da Lei - Admissibilidade ou conhecimento dos recursos de revista ou de embargos - TST Enunciado nº 221 - Recurso Extraordinário - Prova do Dissídio Jurisprudencial - Certidão ou Indicação do "Diário da Justiça - Transcrição do Trecho - Identificação ou Semelhança dos Casos Confrontados - Súmula nº 291 - STF Normas Relacionadas: Casos de inadmissibilidade de interpretação não literal - Lei de processo penal militar e sua aplicação - Código de Processo Penal Militar - DL-001.002-1969 Interpretação literal - Lei de processo penal militar e sua aplicação - Código de Processo Penal Militar - DL-001.002-1969 Dissídio Pretoriano Entendimento divergente, de dois ou mais tribunais (pretórios), a respeito da interpretação da mesma norma. Quando o dissídio ocorrer a respeito de lei federal, cabe recurso especial (CF, Art. 105, III), valendo lembrar que, neste caso, a divergência deve reinar entre os tribunais propriamente ditos, não entre as Câmaras de um mesmo tribunal, ex vi Art. 105, III, (c), da CF. Todavia, a expressão dissídio pretoriano se aplica, em sentido amplo, também às decisões divergentes das Turmas dos tribunais trabalhistas, ensejando os chamados embargos de divergência, conforme estabelecido na L-007.701-1998, Art. 3º, III, (b). (jurisprudência) - Usucapião - Terra devoluta obs.dji: Dissídio individual plúrimo; Dissídios trabalhistas coletivos; Dissídios trabalhistas individuais; Especialização de Turmas dos Tribunais do Trabalho em Processos Coletivos - L-007.701-1988; Interpretação; Interpretação da Lei; Recursos; Recursos trabalhistas Escola da Exegese Escola de interpretação jurídica surgida na França em 1804, sendo seus fundadores Delvincourt, Deão da Faculdade de Direito de Paris, autor da obra Institutes de Droit Civil Français (1808), transformada no Cours de Code Civil; Proudhon, Deão da Faculdade de Direito de Dijon, com seu Cours de Droit Français (1809); Toullier, Deão da Faculdade de Direito de Rennes, com seu Droit Civil Français suivant l1Ordre du Code (1811); Merlin, com as diversas edições de seu célebre Répertoire; Maleville, com sua Analyse Raisonnée de la Discussion du Code Civil au Conseil d1État (1804-1805); e Chabot de l1Allier, com suas Questions Transitoires sur le Code Civil (1809). Tal escola passou por três períodos bem assinalados: período de formação (1804-1830); período de apogeu (1830-1880), e período de declínio, a partir de 1880. A doutrina da Escola pode ser resumida ao seguinte: o intérprete da lei é um escravo desta, erigida em dogma; portanto, somente o método gramatical é válido para a interpretação dos textos legais. O intérprete deve buscar a vontade do legislador (mens legislatoris), e não a da lei (mens legis). O radicalismo original desta escola tem duas grandes motivações: a preservação da legalidade, conquistada pela Revolução Francesa, contra o arbítrio e os privilégios do Antigo Regime; e a preservação da codificação do Direito francês, representado pelo próprio Código de Napoleão, de 1804. François Laurent, um dos expoentes da Escola, doutrinava: "La codification a un avantage immense, c1est que les parties savent par quelle loi ils seront jugés. Que devient ce bienfait s1il dépend de choque juge de se faire législa teur? Le droit de l1un ne sera pas le droit de l1autre, et le droit d1aujourd1hui ne sera plus celui de demain" (Cours élémentaire de droit civil, Bruxelles, 1878, 1º v., p. 10) Bugnet, professor da Faculdade de Paris, disse em uma de suas preleções algo que representou mais do que muitos livros para sintetizar a ideologia da Escola da Exegese: "Não conheço o direito civil, o que leciono é o Código de Napoleão" (Je ne connais pas le droit civil, j1enseigne le Code Napoleón). Os Códigos, doutrinava Laurent, não deixam nada ao arbítrio do intérprete; este não tem por missão elaborar o Direito, pois já está pronto, em textos autênticos. Todavia, para que os Códigos apresentem esta vantagem, é imprescindível que doutrinadores e magistrados aceitem esta nova situação. Não haveria, nisto, perda de sua independência ou menosprezo às suas funções; o papel do jurisconsulto não seria minimizado, mas reduzido ao seu verdadeiro papel, qual seja, ensinar ou aplicar o Direito, sem ter a ambição de fazê-lo, pois a prerrogativa de legislar cabe somente ao Poder Legislativo. Em texto de notável clareza, afirmava este autor: "Que l1interprète ne puisse pas faire la loi, cela est d1une telle évidence que personne n1a jamais songé à le contester. Il a pour mission de l1interpréter et de l1appliquer; c1est le législateur qui est investi du pouvoir de la faire. Le juge est donc lié par la loi; si, seus un prétexte quelconque, il entreprenait de la modifier, il usurperait le pouvoir législatif, puiqu1il créerait la loi dans le cas particulier qu1il a à juger; ce serait confondre des pouvoirs que nos constitutions séparent, et elles les séparent pour que les citoyens aient la garantie d1une justice impartiale. Bacon dit que les meilleures lois sont celles qui laissent le moins d1arbitraire au juge. Que devien drait la justice si regulirement les tribunaux pouvaient créer le droit en jugeant? Ce serait l1arbitraire organisé. Tout le monde est d1accord sur ce point" (Ob. cit. p. 54). Bonnecase, Julien, L1École de l1Exégèse en Droit Civil, Paris, E. de Boccard, Éditeur, 2ª ed., 1924; Laurent, François, Cours Élémentaire de Droit Civil, Bruxelles, 1878, 1º v., 10 e 54; Recaséns Siches, Luis, Nueva Filosofía de la Interpretación del Derecho, México, Editorial Porrúa S-A, 2ª ed., 1973. obs.dji: Escola; Interpretação; Interpretação da Lei Escola da Livre Investigação Científica (Interpretação da lei) Escola de interpretação da lei cujo expoente é François Gény (1861-1959). Quando este ilustre professor de direito civil na Faculdade de Nancy, publicou seu livro Méthode d1Interprétation et Sources en Droit Privé Positif (1899), prevalecia na França a Escola da Exegese, vale dizer, o princípio de que as disposições legais, especialmente as do Código Civil, dispunham das regras necessárias à solução de quaisquer pendências, de modo que a função dos juízes se resumia a interpretar a lei mediante processos lógicos tradicionais, quais sejam a dedução silogística, as normas e os princípios abrangidos pelas leis. Tal orientação, entretanto, apenas teoricamente era tolerada, pois a prática já a desmentira de muito, ensejando fértil e robusta criação intelectual por parte da magistratura, em oposição aos vetustos postulados. Foi Gény quem descerrou o véu que encobria tais novos horizontes, afirmando que, em princípio, a legislação é incapaz de resolver todas as questões ensejadas pela infinita gama de relações sociais. Ora, como a lei não é suficiente para solucionar determinados casos, é necessário recorrer a fontes suplementares, as quais são, em ordem hierárquica: a) o costume; b) a autoridade e a tradição, como venham a ser desenvolvidas pela jurisprudência e pela doutrina; c) a livre investigação científica. Em que consiste o método da livre investigação científica? Tal método tem por finalidade orientar o julgador nos casos de lacunas da legislação ou na hipótese de a ordem jurídica propiciar mais de uma solução, pois, mesmo nos casos em que o juiz conta com normas legais ou costumeiras, ou com precedentes doutrinários e jurisprudenciais, é preciso optar por uma única solução. A livre investigação científica é livre porque não está subordinada a nenhuma autoridade positiva,e é científica porque somente trabalha em bases sólidas, fornecidas por elementos objetivos constatáveis pela ciência. Afirma Gény que a livre investigação científica deve se fundar nos seguintes princípios: a) autonomia da vontade; b) ordem e interesse públicos; c) justo equilíbrio e harmonização de interesses particulares opostos. Para harmonizar interesses privados opostos, deve o juiz levar em conta a importância de tais interesses e pesá-los na balança da Justiça, considerando as convicções sociais preponderantes. Em suma, para a livre investigação científica, é evidente que a lei não contém todos os dispositivos necessários a abranger todos os fatos sociais, de modo que a interpretação da lei é a adaptação da ordem jurídica às circunstâncias de cada momento histórico. Leroy ensina que a vida não pode, durante muito tempo, corresponder ao que dizem as leis; mutável e fugidia, ela escapa à vigilância destas, em saltos rápidos e imprevistos. A experiência dos mais velhos e experimentados parlamentares não alcança senão velhas estratégias. Todavia, quando as regras legais não deixam toda a liberdade à sociabilidade e tentam quimericamente, acorrentá-la, sucede que o juiz, diante dos artigos claros da lei, em desacordo com os interesses correntes, opta por estes, em detrimento daqueles. A verdade é que ele não pode fazer outra coisa (La loi: essai sur la théorie de l1autorité dans la démocratie, 1908). Amauri Mascaro Nascimento aponta, com clareza e concisão, os fundamentos doutrinários da Escola do Direito Livre: "A Escola do Direito Livre tem as suas bases doutrinárias estabelecidas segundo os seguintes fundamentos: a constante mutação do fenômeno social; a necessidade de o direito acompanhar essas mutações, a insuficiência dos silogismos e construções lógicas; a inexistência da plenitude da ordem jurídica; o reconhecimento de que a vontade da lei é uma mística, a afirmação de que a criação do direito não é exclusividade do legislador". Imperioso relevar que Gény, no segundo de seus grandes livros, intitulado Science et Technique en Droit Privé Positif (1914-1924), afirmou que o direito positivo inclui duas categorias perfeitamente delimitadas: o dado e o construído. O dado consubstancia-se nos elementos anteriores a qualquer ordem jurídica, redutíveis a quatro espécies: a) dados reais, que seriam o clima, as condições geográficas, o sentimento moral e religioso; b) dados históricos, representados pelas tradições dos povos; c) dados racionais, representados pelo direito natural revelado pela razão, d) dados ideais, consistentes em princípios jurídicos novos, recomendados por uma nova situação histórica e obtidos pela intuição, observando-se, aqui, a influência de Henri Bergson e seu intuicionismo, sobre Gény. Como se percebe, a Escola da Livre Investigação Científica mostra vigorosa reação à doutrina da Escola da Exegese, ao afirmar que métodos estritamente racionais falseiam a realidade social, o que não implica considerar dever ser o Direito mera criação do arbítrio do intérprete, mas o fruto de um trabalho rigorosamente científico, destinado a revelar os dados da realidade sociaL. Capitant, Henri, Introduction à l1Étude du Droit Civil, Paris, A. Pedone, Éditeur, 5ª ed., 1929, pp. 96-97; Lima, Paulo Jorge de, Dicionário de Filosofia do Direito, São Paulo, Sugestões Literárias S-A, 1968, pp. 115-116; Recaséns Siches, Luis, Nueva Filosofía de la Interpretación del Derecho, México, Editorial Porrúa S-A, 2ª ed., 1973, pp. 45 e segs.; Silveira, Alípio, Hermenêutica Jurídica, São Paulo, Brasiliense, 1º v. obs.dji: Atividade científica; Ciência; Ciência e tecnologia; Cientistas; Desenvolvimento científico; Escola; Investigação; Interpretação; Interpretação da Lei; Livre (s); Livre Iniciativa; Pesquisa científica; Propriedade literária, científica e artística Ir para o início da página Ir para o início da página