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MATERIAL DE APOIO - DIREITO CIVIL - PARTE GERAL - Apostila 1

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1
MATERIAL DE APOIO 
DIREITO CIVIL 
PARTE GERAL 
 
 
 
 
Apostila 01 
Prof. Pablo Stolze Gagliano 
 
Temas: Personalidade Jurídica. Nascituro. Embrião. Pessoa 
Física ou Natural 
 
1. A Personalidade Jurídica. 
 
1.1. Conceito. 
 
Personalidade Jurídica, para a Teoria Geral do Direito Civil, é a 
aptidão genérica para se titularizar direitos e contrair obrigações, ou, 
em outras palavras, é o atributo necessário para ser sujeito de direito. 
Neste ponto, vale transcrever a sábia preleção de RIPERT e 
BOULANGER, na monumental obra “Tratado de Derecho Civil” segun el 
Tratado de Planiol (Tomo I – Parte General, Buenos Aires: La Rey, 
1988, pág. 310): 
 
“La personalidad jurídica está vinculada a la existencia del 
individuo, y no a su conciencia o a su voluntad. Um niño muy 
pequeno, o um loco, es una persona. Entre las personas físicas no se 
hace diferencia alguna para la atribuición de derechos civiles; por muy 
 2
débil o incapacitado que esté, todo ser humano es, y sigue siendo, una 
persona del derecho”. 
 
1.2. Aquisição da personalidade jurídica (Pessoa Física ou 
Natural) 
 
O seu surgimento ocorre a partir do nascimento com vida (art. 
2°, NCC e art. 4º, CC-16). 
No instante em que principia o funcionamento do aparelho 
cárdio-respiratório, clinicamente aferível pelo exame de docimasia 
hidrostática de Galeno, o recém-nascido adquire personalidade 
jurídica, tornando-se sujeito de direito, mesmo que venha a falecer 
minutos depois. 
Na mesma linha, a Res. nº 1/88 do Conselho Nacional de Saúde1 
dispõe que o nascimento com vida é a: 
“expulsão ou extração completa do produto da concepção 
quando, após a separação, respire e tenha batimentos cardíacos, 
tendo sido ou não cortado o cordão, esteja ou não desprendida a 
placenta”. 
Em uma perspectiva constitucional de respeito à dignidade da 
pessoa, não importa que o feto tenha forma humana ou tempo mínimo 
de sobrevida (como se dá no Código Civil Espanhol – art. 30). 
Assim, se o recém-nascido – cujo pai já tenha morrido - falece 
minutos após o parto, terá adquirido, por exemplo, todos os direitos 
sucessórios do seu genitor, transferindo-os para a sua mãe, uma vez 
que se tornou, ainda que por breves instantes, sujeito de direito. 
 
 
 
1 Cit. por DINIZ, Maria Helena, in Curso de Direito Civil Brasileiro, 25ª ed. São Paulo: Saraiva, 2008, pág. 
198. 
 3
1.3. O Nascituro. 
 
 
LIMONGI FRANÇA, citado por FRANCISCO AMARAL, define o 
nascituro como sendo “o que está por nascer, mas já concebido no 
ventre materno”.2 
Cuida-se do ente concebido, embora ainda não nascido, dotado 
de vida intra-uterina, daí porque a doutrina diferencia-o (o nascituro) 
do embrião mantido em laboratório3. 
A Lei Civil trata do nascituro quando, posto não o considere 
pessoa, coloca a salvo os seus direitos desde a concepção (art. 2º, 
NCC, art. 4º, CC-16). 
Ora, se for admitida a teoria natalista, segundo a qual a 
aquisição da personalidade opera-se a partir do nascimento com vida, 
é razoável o entendimento no sentido de que, não sendo pessoa, o 
nascituro possui mera expectativa de direito (VICENTE RÁO, SILVIO 
RODRIGUES, EDUARDO ESPÍNOLA, SILVIO VENOSA). 
Mas a questão não é pacífica na doutrina. 
Os adeptos da teoria da personalidade condicional sufragam 
entendimento no sentido de que o nascituro possui direitos sob 
condição suspensiva. Vale dizer, ao ser concebido, já pode titularizar 
alguns direitos (extrapatrimoniais), como o direito à vida, mas só 
adquire completa personalidade, quando implementada a condição do 
seu nascimento com vida. 
 
2 AMARAL, Francisco, Introdução ao Direito Civil, Renovar, pág. 217. 
3 Um interessante projeto de lei que cuida da reprodução humana assistida é o PL 90/99, que, em seu art. 9° 
§ 1°, prevê expressamente que: “Não se aplicam aos embriões originados in vitro, antes de sua introdução 
no aparelho reprodutor da mulher receptora, os direitos assegurados ao nascituro na forma da lei. Já o 
Projeto de Reforma do CC, em sua redação original, aponta em sentido contrário: “Art. 2°. A personalidade 
civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do 
embrião e do nascituro” (grifos nossos). 
 4
 A teoria concepcionista, por sua vez, influenciada pelo Direito 
Francês, é mais direta e ousada: entende que o nascituro é pessoa 
desde a concepção (TEIXEIRA DE FREITAS, CLÓVIS BEVILÁQUA, 
SILMARA CHINELATO). 
CLÓVIS BEVIÁQUA, em seus “Comentários ao Código Civil dos 
Estados Unidos do Brasil”, Rio de Janeiro: Ed. Rio, 1975, pág. 178, 
após elogiar abertamente a teoria concepcionista, ressaltando os seus 
excelentes argumentos, conclui ter adotado a natalista, “por parecer 
mais prática” (sic). No entanto, o próprio autor, nesta mesma obra, 
não resiste ao apelo concepcionista, ao destacar situações em que o 
nascituro “se apresenta como pessôa” (sic). 
A despeito de toda essa profunda controvérsia doutrinária, o fato 
é que, nos termos da legislação em vigor, inclusive do Novo Código 
Civil, o nascituro tem a proteção legal dos seus direitos desde a 
concepção. 
Nesse sentido, pode-se apresentar o seguinte quadro 
esquemático, não exaustivo: 
 
a) o nascituro é titular de direitos personalíssimos (como o 
direito à vida, o direito à proteção pré-natal etc.)4; 
b) pode receber doação, sem prejuízo do recolhimento do 
imposto de transmissão inter vivos; 
c) pode ser beneficiado por legado e herança; 
d) pode ser-lhe nomeado curador para a defesa dos seus 
interesses (arts. 877 e 878, CPC); 
e) o Código Penal tipifica o crime de aborto; 
 
4 O art. 7. do Estatuto da Criança e do Adolescente dispõe que: “a criança e o adolescente têm direito à 
proteção à vida e à saúde, mediante a efetivação de políticas públicas que permitam o nascimento e o 
desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de existência”. 
 5
f) como decorrência da proteção conferida pelos direitos da 
personalidade, concluímos que o nascituro tem direito à 
realização do exame de DNA, para efeito de aferição de 
paternidade5. 
 
Sufragamos, ainda, a possibilidade de se reconhecer ao 
nascituro direito aos alimentos, embora a matéria seja extremamente 
polêmica. 
 
Nesse sentido, confira-se o seguinte julgado do TJRS: 
 
“INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE. ALIMENTOS 
PROVISÓRIOS EM FAVOR DO NASCITURO. POSSIBILIDADE. 
 
5 Confira-se, neste ponto, o julgado do Supremo Tribunal Federal no caso “Glória Trevis” (Rcl 2040 
QUESTÃO DE ORDEM NA RECLAMAÇÃO, Relator(a): Min. NÉRI DA SILVEIRA, Julgamento: 
21/02/2002 , Órgão Julgador: Tribunal Pleno, Publicação: DJ DATA-27-06-2003 PP-00031 EMENT 
VOL-02116-01 PP-00129), em que podemos observar a aplicação da teoria da “ponderação de interesses”, 
visando a dirimir eventuais conflitos entre direitos constitucionais. Embora se buscasse, em verdade, a 
apuração de um crime, o fato é que o nascituro mereceria, em nosso sentir, no caso em tela, o beneficio da 
produção da prova pericial, para que, após seu nascimento, não houvesse que carregar o peso das 
circunstâncias duvidosas da sua concepção: “EMENTA: - Reclamação. Reclamante submetida ao 
processo de Extradição n.º 783, à disposição do STF. 2. Coleta de material biológico da 
placenta, com propósito de se fazer exame de DNA, para averigüação de paternidade do 
nascituro, embora a oposição da extraditanda. 3. Invocação dos incisos X e XLIX do art. 5º, da 
CF/88.
4. Ofício do Secretário de Saúde do DF sobre comunicação do Juiz Federal da 10ª Vara 
da Seção Judiciária do DF ao Diretor do Hospital Regional da Asa Norte - HRAN, autorizando a 
coleta e entrega de placenta para fins de exame de DNA e fornecimento de cópia do prontuário 
médico da parturiente. 5. Extraditanda à disposição desta Corte, nos termos da Lei n.º 
6.815/80. Competência do STF, para processar e julgar eventual pedido de autorização de 
coleta e exame de material genético, para os fins pretendidos pela Polícia Federal. 6. Decisão 
do Juiz Federal da 10ª Vara do Distrito Federal, no ponto em que autoriza a entrega da 
placenta, para fins de realização de exame de DNA, suspensa, em parte, na liminar concedida 
na Reclamação. Mantida a determinação ao Diretor do Hospital Regional da Asa Norte, quanto à 
realização da coleta da placenta do filho da extraditanda. Suspenso também o despacho do Juiz 
Federal da 10ª Vara, na parte relativa ao fornecimento de cópia integral do prontuário médico 
da parturiente. 7. Bens jurídicos constitucionais como "moralidade administrativa", 
"persecução penal pública" e "segurança pública" que se acrescem, - como bens da 
comunidade, na expressão de Canotilho, - ao direito fundamental à honra (CF, art. 5°, X), bem 
assim direito à honra e à imagem de policiais federais acusados de estupro da extraditanda, 
nas dependências da Polícia Federal, e direito à imagem da própria instituição, em confronto 
com o alegado direito da reclamante à intimidade e a preservar a identidade do pai de seu filho. 
8. Pedido conhecido como reclamação e julgado procedente para avocar o julgamento do pleito 
do Ministério Público Federal, feito perante o Juízo Federal da 10ª Vara do Distrito Federal. 9. 
Mérito do pedido do Ministério Público Federal julgado, desde logo, e deferido, em parte, para 
autorizar a realização do exame de DNA do filho da reclamante, com a utilização da placenta 
recolhida, sendo, entretanto, indeferida a súplica de entrega à Polícia Federal do "prontuário 
médico" da reclamante”. 
 6
ADEQUAÇÃO DO QUANTUM. 1. Não pairando dúvida acerca do 
envolvimento sexual entretido pela gestante com o investigado, nem 
sobre exclusividade desse relacionamento, e havendo necessidade da 
gestante, justifica-se a concessão de alimentos em favor do nascituro. 
2. Sendo o investigado casado e estando também sua esposa grávida, 
a pensão alimentícia deve ser fixada tendo em vista as necessidades 
do alimentando, mas dentro da capacidade econômica do alimentante, 
isto é, focalizando tanto os seus ganhos como também os encargos 
que possui. Recurso provido em parte. (AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 
70006429096, SÉTIMA CÂMARA CÍVEL, TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO RS, 
RELATOR: SÉRGIO FERNANDO DE VASCONCELLOS CHAVES, JULGADO 
EM 13/08/2003)”. 
Na doutrina, preleciona o Prof. Teixeira Giorgis: 
 
“Como a regra constitucional declara a vida inviolável e o 
estatuto menorista assegura à gestante o atendimento pré-natal e 
perinatal, não há mais controvérsia sobre o direito do nascituro a 
alimentos. Então se aceita que a pesquisa da filiação seja cumulada 
com um pedido de alimentos provisórios para que a mãe possa 
enfrentar as despesas anteriores ao parto, como os custos da 
pediatria, a assistência cirúrgica, transfusões, ultra-sonografia, 
intervenções fetais e outras (AGI 596067629); é que a gravidez 
diminui a capacidade laborativa da pessoa (AGI nº 70016977936), 
situação que também se aceita em caso de união estável (AGI nºs 
70017520479 e 70016977936).Para a concessão dos alimentos é 
necessário haver indícios convincentes sobre a paternidade invocada 
(AGI nº 70018406652), não sendo atendida a postulação quando não 
ocorram elementos seguros sobre a genitura ou sobre o início da 
prenhez (AGI nº70009811027). Assim também acontece quando os 
 7
cônjuges estão separados de fato por mais de quatro meses (APC nº 
587002155)”.6 
 
Até mesmo direito à reparação por dano moral em favor do 
nascituro já foi admitido pelo Superior Tribunal de Justiça: 
 
 
 “DIREITO CIVIL. DANOS MORAIS. MORTE. ATROPELAMENTO. 
COMPOSIÇÃO FÉRREA. AÇÃO AJUIZADA 23 ANOS APÓS O EVENTO. 
PRESCRIÇÃO INEXISTENTE. INFLUÊNCIA NA QUANTIFICAÇÃO DO 
QUANTUM. PRECEDENTES DA TURMA. NASCITURO. DIREITO AOS 
DANOS MORAIS. DOUTRINA. ATENUAÇÃO. FIXAÇÃO NESTA 
INSTÂNCIA. POSSIBILIDADE. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. I - 
Nos termos da orientação da Turma, o direito à indenização por dano 
moral não desaparece com o decurso de tempo (desde que não 
transcorrido o lapso prescricional), mas é fato a ser considerado na 
fixação do quantum. II - O nascituro também tem direito aos danos 
morais pela morte do pai, mas a circunstância de não tê-lo conhecido 
em vida tem influência na fixação do quantum. 
III - Recomenda-se que o valor do dano moral seja fixado desde logo, 
inclusive nesta instância, buscando dar solução definitiva ao caso e 
evitando inconvenientes e retardamento da solução jurisdicional.” 
(STJ, QUARTA TURMA, RESP 399028 / SP ; RECURSO ESPECIAL 
2001/0147319-0, Ministro SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA, Julg. 
26/02/2002, DJ 15.04.2002 p.00232) 
 
 
 
 
6 GIORGIS, José Carlos Teixeira, in “Alimentos para o Nascituro” 
http://www.espacovital.com.br/noticia_ler.php?idnoticia=8070, acessado em 20 de julho de 2008. 
 8
Questão de concurso: Existe proteção jurídica ao natimorto? 
 
Segundo a doutrina, existe, sim. 
Em respeito ao princípio da dignidade da pessoa humana, 
deve-se proteger o nome, a imagem e a memória daquele que nasceu 
morto7. 
 
2. Capacidade de Direito e de Fato e Legitimidade. 
 
Adquirida a personalidade jurídica, toda pessoa passa a ser 
capaz de direitos e obrigações. 
Possui, portanto, capacidade de direito ou de gozo. 
Todo ser humano tem, assim, capacidade de direito, pelo fato de 
que a personalidade jurídica é um atributo inerente à sua condição. 
Se puder atuar pessoalmente, possui, também, capacidade de 
fato ou de exercício. 
Reunidos os dois atributos, fala-se em capacidade civil plena: 
 
 
CAP. DE DIREITO + CAP. DE FATO ? CAPACIDADE CIVIL PLENA 
 
 
A falta de capacidade de fato ou de exercício, conduz-nos ao 
problema da incapacidade. 
 
Questão de Concurso: O que é a “restitutio in integrum”, em 
Teoria Geral (no âmbito dos atos praticados por menores)? 
 
7 Enunciado 01 (Jornadas de Direito Civil – CJF): “Art. 2º. A proteção que o Código defere ao nascituro 
alcança o natimorto no que concerne aos direitos da personalidade, tais como nome, imagem e sepultura.” 
As Jornadas de Direito Civil são importantes postulados de doutrina, fruto de encontros de juristas, 
realizados em Brasília. Você pode encontrar os enunciados das I, III e IV Jornadas (eis que na II não houve 
apresentação dessa ordem) no site www.novodireitocivil.com.br (fonte: Conselho da Justiça Federal). 
 9
 
Segundo Clóvis Beviláqua, em sua obra “Theoria Geral do Direito 
Civil” (RED, 1999, págs. 120-123), este instituto tem origem romana, 
consistindo “no benefício concedido aos menores e às pessoas que se 
lhes equiparam, a fim de poderem anular quaisquer atos válidos sob 
outros pontos de vista, nos quais tenham sido lesadas” (pág. 121). 
Concedida a restituição, as partes retornam ao estado anterior 
de coisas. 
O Código de 1916, em seu art. 8º acabava com este benefício. 
O novo Código Civil, na mesma linha, não tem dispositivo algum 
beneficiando especificamente menores ou incapazes, razão por que 
entendemos continuar extinto o instituto. 
Afastada esta hipótese, previu o novo estatuto, outrossim, 
especial situação de invalidade do negócio jurídico,
para salvaguardar 
interesse do incapaz, quando o seu representante praticar ato 
atentatório ao seu interesse: 
 
Art. 119. É anulável o negócio concluído pelo representante em 
conflito de interesses com o representado, se tal fato era ou devia ser 
do conhecimento de quem com aquele tratou. 
Parágrafo único. É de cento e oitenta dias, a contar da conclusão do 
negócio ou da cessação da incapacidade, o prazo de decadência para 
pleitear-se a anulação prevista neste artigo. 
 
Questão de Concurso: O que se entende por “estado das 
pessoas”? 
 
Segundo Orlando Gomes (in Introdução ao Direito Civil, 10. ed, 
2. tiragem, Rio de Janeiro: Forense, 1993, pág. 172), “A noção de 
 10
status coliga-se à de capacidade. O status é uma qualidade jurídica 
decorrente da inserção de um sujeito numa categoria social, da qual 
derivam, para este, direitos e deveres”. 
Nessa linha de pensamento, é possível se identificarem estados 
político (nacionais e estrangeiros), familiar (cônjuge, companheiro, 
parente), individual (idade, sexo, saúde). 
 
 
2.1. Incapacidade absoluta. 
 
O Código Civil de 1916, em seu art. 5O, reputava absolutamente 
incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil: 
 
a) os menores de 16 (dezesseis) anos; 
b) os loucos de todo o gênero; 
c) os surdos-mudos, que não puderem exprimir a sua vontade; 
d) os ausentes, declarados tais por ato do juiz. 
 
 
Seguindo a diretriz mais moderna e adequada do Novo Código 
Civil, as seguintes pessoas são consideradas absolutamente incapazes 
de exercer pessoalmente os atos da vida civil: 
 
2.1.1. Os menores de dezesseis anos. 
 
Trata-se dos menores impúberes. 
Abaixo deste limite etário, o legislador considera que a pessoa é 
inteiramente imatura para atuar na órbita do direito. 
 11
Vale lembrar que, no Estatuto da Criança e do Adolescente, a 
distinção é peculiar: 
 
“Art. 2º, ECA - Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a 
pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente aquela 
entre doze e dezoito anos de idade. 
Parágrafo único. Nos casos expressos em lei, aplica-se 
excepcionalmente este Estatuto às pessoas entre dezoito e vinte e um 
anos de idade”. 
 
Observe-se, todavia, que tanto a criança quanto o adolescente 
são considerados incapazes (absoluta ou relativamente incapazes, 
conforme veremos no item 2.2.1.). 
 
2.1.2. Os que, por enfermidade ou deficiência mental, não 
tiverem o necessário discernimento para a prática desses atos. 
 
 As pessoas que padeçam de doença ou deficiência 
mental, que as torne incapazes de praticar atos no comércio jurídico, 
são consideradas absolutamente incapazes. 
 O Novo Código Civil afastou a expressão “loucos de todo o 
gênero”, duramente criticada por Nina Rodrigues na época da 
elaboração do Código Civil de 1916. 
 A incapacidade deve ser oficialmente reconhecida por 
meio do procedimento de interdição, previsto nos arts. 1177 a 1186 do 
CPC. 
 A doutrina admite, ainda, uma incapacidade natural, 
quando a enfermidade ou deficiência não se encontra judicialmente 
declarada. 
 12
Nesse caso, admite-se a invalidação do ato praticado pelo 
incapaz não oficialmente interditado, se ficarem demonstrados: o 
prejuízo ao incapaz e a má-fé da outra parte. 
 É bom lembrar ainda que, declarada judicialmente a 
incapacidade, não são considerados válidos os atos praticados pelo 
incapaz mesmo nos intervalos de perfeita lucidez. 
 
2.1.3. Os que, mesmo por causa transitória, não puderem 
exprimir a sua vontade. 
 
São considerados absolutamente incapazes aqueles que, em 
razão de uma causa temporária (ou permanente, claro) estejam 
impedidas de manifestar vontade. 
 É o caso da pessoa vítima de uma intoxicação fortuita, ou em 
estado de coma, em virtude de acidente de veículo. 
 
 Questão de concurso: E como fica a situação do surdo-mudo 
incapaz de manifestar vontade? 
 
 Não estando previsto em inciso autônomo, como ocorria no 
Código revogado, ainda assim, ele poderá ser considerado 
absolutamente incapaz, caso se enquadre em qualquer das hipóteses 
do art. 3°, especialmente a do inc. III. 
 
 Questão de concurso: a senilidade é causa de incapacidade? 
 
 Não. A senilidade não gera incapacidade civil. 
 13
Diferentemente, outrossim, é a situação da pessoa de idade 
avançada que apresente problema de saúde mental apto a justificar a 
sua interdição. 
 
2.2. Incapacidade relativa. 
 
O Código de 1916, em seu art. 6O, considerava incapazes, 
relativamente a certos atos ou à maneira de os exercer: 
 
a) os maiores de 16 (dezesseis) e menores de 21 (vinte e um) 
anos; 
b) os pródigos; 
c) os silvícolas. 
 
Consoante a diretriz do Novo Código Civil, são incapazes, 
relativamente a certos atos, ou à maneira de os exercer : 
 
2.2.1. Os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos. 
 
Trata-se dos menores púberes. 
 
2.2.2. Os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por 
deficiência mental, tenham o discernimento reduzido. 
 
Muito cuidado com este dispositivo. 
A embriaguez, o vício de tóxico e a deficiência consideradas 
como causas de incapacidade relativa, neste caso, REDUZEM, mas não 
ANIQUILAM a capacidade de discernimento. 
 14
Se privarem totalmente o agente de capacidade de consciência e 
orientação, como na embriaguez patológica ou toxicomania grave 
(dependência química total) configurar-se-á incapacidade absoluta, na 
forma do art. 3°, II. 
 
2.2.3. Os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo. 
 
São consideradas relativamente incapazes as pessoas 
dotadas de desenvolvimento mental incompleto, como os portadores 
da síndrome de Down (pessoas especiais que, com muito amor e 
carinho em sua educação, merecem todo o nosso respeito, e podem 
perfeitamente atuar social e profissionalmente). 
 
2.2.4. Os pródigos. 
 
A prodigalidade é um desvio comportamental por meio do qual o 
indivíduo desordenadamente dilapida o seu patrimônio, podendo 
reduzir-se à miséria. 
Para a sua própria proteção (e para evitar que bata às portas de 
um parente ou do Estado), o pródigo poderá ser interditado. 
Segundo a legislação em vigor, a curatela do pródigo somente o 
privará de, sem curador, emprestar, transigir, dar quitação, alienar, 
hipotecar, demandar ou ser demandado, e praticar, em geral, atos que 
não sejam de mera administração (art. 1782, NCC). 
 
Questão de Concurso: Para casar, o curador do pródigo deve ser 
ouvido? 
 
 15
Como o casamento deflagra também efeitos patrimoniais, o seu 
curador deve manifestar-se, não para interferir na escolha afetiva, 
mas para opinar acerca do regime de bens escolhido. 
 
 
2.2.5. Algumas palavras sobre a capacidade jurídica dos 
silvícolas. 
 
A disciplina normativa do índio (evite falar silvícola), que no 
Código de 1916 mereceu assento entre os relativamente incapazes, 
passou a ser remetida à legislação especial (art. 4º, parágrafo único, 
NCC), que disciplina autonomamente a matéria (cf. especialmente a 
Lei n. 5371 de 05 de dezembro de 1967, e a Lei n. 6001 de 19 de 
dezembro de 1973 - Estatuto do Índio). 
Confira o que dispõe o art. 8º do Estatuto do Índio8: 
 Art. 8º São nulos os atos praticados entre o índio não integrado 
e qualquer pessoa estranha à comunidade indígena quando não tenha 
havido assistência do órgão tutelar competente. 
 Parágrafo único. Não se aplica a regra deste artigo no caso em 
que o índio revele consciência e conhecimento do ato praticado, desde
que não lhe seja prejudicial, e da extensão dos seus efeitos. 
 
 
2.3. Suprimento da Incapacidade (Representação e 
Assistência). 
 
 
8 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L6001.htm, acessado em 20 de julho de 2008. 
 16
O suprimento da incapacidade absoluta dá-se através da 
representação, e o da incapacidade relativa, por meio da assistência. 
Cuida-se de institutos protetivos dos incapazes. 
 
3. Emancipação 
 
 A menoridade, à luz do Novo Código Civil, cessa aos 18 
(dezoito) anos completos, quando a pessoa fica habilitada à prática de 
todos os atos da vida civil (art.5º)9. 
Vale lembrar que esta redução aos 18 anos reverberou (não 
necessariamente para impor modificação na legislação especial) nos 
âmbitos penal, processual, previdenciário, e, especialmente, no direito 
de família, no que tange ao pagamento de pensão alimentícia. 
O STJ, aliás, já firmou entendimento no sentido de que a 
redução da maioridade civil não implica cancelamento automático da 
pensão alimentícia: 
PENSÃO ALIMENTÍCIA. MAIORIDADE. FILHO. 
Trata-se de remessa pela Terceira Turma de recurso em ação 
revisional de alimentos em que a controvérsia cinge-se em saber se, 
atingida a maioridade, cessa automaticamente ou não o dever de 
alimentar do pai em relação ao filho. Prosseguindo o julgamento, a 
Seção, por maioria, proveu o recurso, entendendo que, com a 
maioridade do filho, a pensão alimentícia não pode cessar 
automaticamente. O pai terá de fazer o procedimento judicial para 
exonerar-se ou não da obrigação de dar pensão ao filho. Explicitou-se 
que completar a maioridade de 18 anos não significa que o filho não 
irá depender do pai. Precedentes citados: REsp 347.010-SP, DJ 
10/2/2003, e REsp 306.791-SP, DJ 26/8/2002. REsp 442.502-SP, Rel. 
originário Min. Castro Filho, Rel. para acórdão Min. Antônio de Pádua 
Ribeiro, julgado em 6/12/2004. 
 
 
9 No CC-16, art. 9.: “Aos vinte e um anos completos acaba a menoridade, ficando habilitado o indivíduo 
para todos os atos da vida civil”. 
 17
 E mais: 
ALIMENTOS. MAIORIDADE DO ALIMENTANDO. EXONERAÇÃO 
AUTOMÁTICA DA PENSÃO. INADMISSIBILIDADE. 
– Com a maioridade, extingue-se o poder familiar, mas não cessa, 
desde logo, o dever de prestar alimentos, fundado a partir de então no 
parentesco. 
– É vedada a exoneração automática do alimentante, sem 
possibilitar ao alimentando a oportunidade de manifestar-se e 
comprovar, se for o caso, a impossibilidade de prover a própria 
subsistência. 
Precedentes do STJ. 
Recurso especial não conhecido. 
(REsp 739.004/DF, Rel. Ministro BARROS MONTEIRO, QUARTA 
TURMA, julgado em 15.09.2005, DJ 24.10.2005 p. 346) 
E mais recentemente: 
 
HABEAS CORPUS. PRISÃO CIVIL. ALIMENTOS. A jurisprudência do 
Superior Tribunal de Justiça consolidou-se no sentido de que a 
maioridade dos filhos não acarreta a exoneração automática da 
obrigação de prestar alimentos. Ordem denegada. 
(HC 55.065/SP, Rel. Ministro ARI PARGENDLER, TERCEIRA TURMA, 
julgado em 10.10.2006, DJ 27.11.2006 p. 271) 
 
Habeas corpus. Prisão civil. Execução de alimentos. Precedentes da 
Corte. 
1. O habeas corpus, na linha da jurisprudência da Corte, não constitui 
via adequada para o exame aprofundado de provas indispensáveis à 
verificação da capacidade financeira do paciente para pagar os 
alimentos no montante fixado. 
2. A maioridade do credor dos alimentos não exonera, por si só, a 
obrigação do devedor. 
3. A propositura de ação revisional de alimentos não impede a prisão 
civil do devedor de alimentos. 
4. "O débito alimentar que autoriza a prisão civil do alimentante é o 
que compreende as três prestações anteriores ao ajuizamento da 
 18
execução e as que se vencerem no curso do processo" (Súmula nº 
309/STJ - atual redação aprovada em 22/3/06 pela Segunda Seção). 
5. Ordem concedida em parte. 
(HC 55.606/SP, Rel. Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO, 
TERCEIRA TURMA, julgado em 05.09.2006, DJ 13.11.2006 p. 240) 
 
 
Firmado o entendimento de que o cancelamento da pensão não 
é automático, o próprio STJ, em 2005, passou a admitir que a 
exoneração pudesse se dar no bojo de outros processos de família, 
não exigindo necessariamente propositura de ação exoneratória: 
 
 
STJ - quarta-feira, 13 de abril de 2005 
09:37 - Pai não precisa entrar com novo processo para deixar de 
pagar pensão a filha maior 
 
Decisão unânime tomada com base em voto da ministra Nancy 
Andrighi, presidente da Terceira Turma do Superior Tribunal de 
Justiça, definiu que, para deixar de pagar pensão alimentícia, o pai 
não necessita entrar com uma ação autônoma própria. Pode fazer o 
pedido nesse sentido até mesmo dentro do processo de investigação 
de paternidade cumulada com alimentos movida contra ele pela filha 
maior. 
 
A decisão do STJ foi tomada durante o julgamento de um recurso 
especial oriundo de Minas Gerais em que o contador S. B., de Belo 
Horizonte, foi condenado a pagar três salários mínimos de pensão à 
sua filha maior, T. C. da C., universitária de 24 anos. Julgada 
procedente pelo Tribunal de Justiça do Estado a ação de investigação 
de paternidade cumulada com alimentos, o pai efetuou o pagamento 
das prestações alimentícias, mas requereu a exoneração do 
pagamento em razão de a filha já haver atingido a maioridade, 
estando, portanto, extinto o pátrio poder. 
 
O pedido do pai foi negado em razão de o TJ/MG haver entendido 
que, para exonerar-se do dever de pagar a pensão alimentícia à sua 
 19
filha maior, o pai teria que entrar com uma ação própria, autônoma, 
em que fosse permitida a ambas as partes a produção de ampla 
prova. O pai alega que o dever de prestar alimentos que lhe foi 
imposto tem por único fundamento o fato de sua filha ser menor de 
idade à época da decisão judicial que lhe reconheceu o direito, 
condição que se alterou, pois hoje, já com 24 anos, atingida a 
maioridade, não mais faz jus aos alimentos. 
 
Ao acolher em parte o recurso do pai, a relatora do processo, 
ministra Nancy Andrighi, afastou o impedimento encontrado pelo 
tribunal mineiro. Para a ministra, cujo voto foi acompanhado 
integralmente pelos ministros Antônio de Pádua Ribeiro, Carlos 
Alberto Menezes Direito e Castro Filho, o pai tem o direito de 
requerer a exoneração do dever de prestar alimentos em qualquer 
ação, podendo fazê-lo, inclusive, como no caso, no processo de 
investigação de paternidade cumulada com alimentos, que lhe foi 
movido pela filha maior. 
 
Viriato Gaspar 
 
 
E especialmente para os alunos que almejam a carreira do 
Ministério Público, confiram este julgado: 
 
RECURSO ESPECIAL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. ALIMENTOS. 
MAIORIDADE DO ALIMENTANDO. MINISTÉRIO PÚBLICO. 
ILEGITIMIDADE PARA RECORRER. 
O Ministério Público não detém legitimidade para recorrer contra 
decisão em que se discute alimentos quando o alimentando houver 
alcançado a maioridade. 
Recurso especial não conhecido. 
(REsp 712.175/DF, Rel. Ministro CESAR ASFOR ROCHA, QUARTA 
TURMA, julgado em 18.10.2005, DJ 08.05.2006 p. 222) 
 
 20
RECURSO ESPECIAL. EXONERAÇÃO AUTOMÁTICA. ALIMENTOS. 
MAIORIDADE DO ALIMENTANDO. ILEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO 
PÚBLICO PARA RECORRER. 
1. Carece ao Ministério Público legitimidade para recorrer contra 
decisão que extingue o dever de prestar alimentos em razão do 
alimentando ter alcançado a maioridade, mormente se este tem 
advogado constituído nos autos. 
2. Recurso especial não conhecido. 
(REsp 982.410/DF, Rel. Ministro FERNANDO GONÇALVES, 
QUARTA TURMA, julgado em 06.12.2007, DJ 17.12.2007 p. 217) 
 
A título de complementação, na seara do Direito da Criança e do 
Adolescente, há também
decisão do E. STJ no sentido de que a 
redução da maioridade não interferiu no ECA, no que tange à medida 
de internação imposta ao adolescente infrator: 
 
 HABEAS CORPUS. ECA. INTERNAÇÃO. LIBERAÇÃO COMPULSÓRIA. 
IDADE LIMITE, 21 ANOS. NOVO CÓDIGO CIVIL. REDUÇÃO DA IDADE 
DA CAPACIDADE CIVIL. 
DESINFLUÊNCIA NA MEDIDA SÓCIO-EDUCATIVA. CONSTRANGIMENTO 
ILEGAL. 
RESTRIÇÃO. ATIVIDADES EXTERNAS. INOCORRÊNCIA. 
1. O Novo Código Civil, ao reduzir a idade da capacidade civil, não 
revogou o artigo 121, parágrafo 5º, do Estatuto da Criança e do 
Adolescente, que fixa a idade de 21 anos para a liberação compulsória 
do infrator. 
2. Ajustada a execução da medida sócio-educativa de internação ao 
artigo 121, parágrafo 5º, da Lei n° 8.069/90, não há falar em 
constrangimento ilegal (Precedentes da Corte). 
3. Conquanto o artigo 120 da Lei 8.069/90 dispense autorização do 
juiz para a realização de atividades externas pelo menor sujeito à 
medida sócio-educativa de semiliberdade, tal não implica a exoneração 
do magistrado do seu dever legal de presidir o bom cumprimento do 
comando da sentença, adequando a medida sócio-educativa às 
peculiaridades do menor e ao próprio ato infracional por ele perpetrado 
(Precedentes da Corte). 
 21
4. Writ denegado. 
(HC 28.332/RJ, Rel. Ministro HAMILTON CARVALHIDO, SEXTA TURMA, 
julgado em 28.09.2004, DJ 01.02.2005 p. 613) 
 
No âmbito da Previdência Social, a redução da maioridade civil 
não implicou a negação do direito de percepção assegurado pela lei 
previdenciária, por ser norma especial. 
 
Nessa linha, o Prof. HARILSON ARAÚJO: 
 
 “Assim, pela análise dos dispositivos em questão, em matéria 
de regime geral de benefícios de previdência do sistema do INSS, os 
filhos e os irmãos de qualquer condição que estejam sob a 
dependência econômica do segurado, salvo se emancipados, somente 
perdem a qualidade de beneficiários ao completarem 21 anos de 
idade”.10 
 
E também o enunciado 3 da I Jornada de Direito Civil: 
 
3 – Art. 5º: a redução do limite etário para a definição da capacidade 
civil aos 18 anos não altera o disposto no art. 16, I, da Lei n. 
8.213/91, que regula específica situação de dependência econômica 
para fins previdenciários e outras situações similares de proteção, 
previstas em legislação especial. 
 
Finalmente, neste ponto, uma pergunta não quer calar. 
 
Seria possível antecipar-se a aquisição da capacidade plena? 
 
10 http://www.portalbrasil.net/2004/colunas/direito/abril_01.htm, acessado em 20 de julho de 2008. 
 22
 
A resposta é positiva: é possível, por meio da emancipação. 
 
Vale lembrar que a emancipação repercute no âmbito do poder 
familiar, e, consequentemente, pode interferir também na obrigação 
de prestar alimentos, como, inclusive, já decidiu o STJ: 
 
Prisão civil. Débito alimentar. Emancipação do alimentando. 
I. - A emancipação do alimentando e a declaração deste dando 
quitação das verbas alimentares vencidas constitui prova de não haver 
motivo para manter-se a prisão civil do paciente. 
II. - Ordem de habeas corpus concedida. 
 
(HC 30.384/RS, Rel. Ministro ANTÔNIO DE PÁDUA RIBEIRO, 
TERCEIRA TURMA, julgado em 18.11.2003, DJ 15.12.2003 p. 301 
 
A emancipação poderá ser: 
 
a) voluntária; 
b) judicial; 
c) legal. 
 
A emancipação voluntária ocorre pela concessão dos pais, ou de 
um deles na falta do outro, mediante instrumento público, 
independentemente de homologação judicial, desde que o menor haja 
completado dezesseis anos (art. 5º., parágrafo único, I, primeira 
parte, NCC). 
A emancipação é ato irrevogável, mas os pais podem ser 
responsabilizados solidariamente pelos danos causados pelo filho que 
 23
emanciparam. Esse é o entendimento mais razoável, em nossa 
opinião, para que a vítima não fique sem qualquer ressarcimento. 
A emancipação judicial é aquela concedida pelo juiz, ouvido o 
tutor, se o menor contar com dezesseis anos completos (art. 5º, 
parágrafo único, I, segunda parte, NCC). 
Posto isso, passaremos a analisar as hipóteses de emancipação 
legal. 
A primeira hipótese é o casamento (art. 5º, parágrafo único, II, 
NCC e art. 9º, § 1º, II, CC-16). Recebendo-se em matrimônio, 
portanto, antecipam a plena capacidade jurídica, mesmo que venham 
a se separar ou a se divorciar depois. 
Um dado relevante a ser destacado é que, segundo o Código 
Civil, excepcionalmente, será permitida a convolação de núpcias por 
aquele que ainda não alcançou a idade mínima legal (art. 1520, NCC), 
em caso de gravidez ou para evitar a imposição ou o cumprimento de 
pena criminal. 
 
OBS.: Confronte a Lei n. 11.106 de 2005, que revogou o dispositivo do 
CP autorizador da extinção da punibilidade pelo casamento, e o art. 
1520 do CC.11 Em sala de aula, em momento oportuno, faremos esta 
importante análise, inclusive em face das suas implicações com o 
Direito de Família. 
 
11 “Foram revogados os incisos VII e VIII do art. 107 do Código Penal, que estabeleciam casos de extinção 
da punibilidade de determinados crimes contra os costumes em virtude do casamento da vítima com o 
agente e com terceiros, respectivamente, observados certos requisitos no último caso. Cuida-se de novatio 
legis in pejus, ao passo em que se retira do autor desses delitos a possibilidade extintiva de sua punibilidade 
em face das núpcias da vítima. Daí, só é possível considerar-se que o casamento da vítima não mais 
extingue a punibilidade do autor de crimes tais se ocorridos após a entrada em vigor da Lei (3). Interessante 
notar que não importa a data do casamento, mas da consumação do delito do qual ainda seja causa extintiva 
da punibilidade pelas regras anteriores. Deste modo, o indivíduo que porventura tenha consumado o crime 
contra os costumes antes da vigência da Lei e a vítima eventualmente tenha se casado depois da adoção de 
tal norma, ainda fará jus à extinção da punibilidade pela causa em questão” ( “Lei nº 11.106/05 - 
 Primeiras impressões” , Marcelo Lessa Bastos, disponível em: www.jus.com.br, acesso em 26.05.2005). 
 24
 
Em seguida, prevê a lei como causa de emancipação legal o 
exercício de emprego público efetivo (art. 5º, parágrafo único, III, NCC 
e art. 9º, § 1º, III, CC-16), embora dificilmente a lei admita o 
provimento efetivo em cargo ou emprego público antes dos 18 anos. 
Também a colação de grau em curso de ensino superior é causa 
legal de emancipação (art. 5º, parágrafo único, IV, NCC e art. 9º, § 
1º, IV, CC-16). Situação também de dificílima ocorrência, para os 
menores de 18 anos. Você já imaginou colar grau, em seu curso de 
Direito, antes dos dezoito anos? 
Finalmente, justifica a emancipação o estabelecimento civil ou 
comercial, ou a existência de relação de emprego, desde que, em 
função deles, o menor com dezesseis anos completos tenha economia 
própria (art. 5º, parágrafo único, V, NCC e art. 9º, § 1º, V, CC-16). 
Interessante é a questão do menor com dezesseis anos 
completos emancipado por força de uma relação de emprego. Trata-se 
de previsão legal inovadora. Nesse caso, entendemos que, ainda que 
venha a ser demitido, não retorna à situação de incapacidade, em 
respeito ao princípio da segurança jurídica. 
 
 
4. Extinção da Pessoa Natural. 
 
4.1. Noções Gerais 
 
Termina a existência da pessoa natural com a morte (art. 6º, 
NCC, art. 10, CC-16). 
A parada do sistema cárdio-respiratório com a cessação das 
funções vitais indica o falecimento do indivíduo. Tal aferição, 
 25
permeada de dificuldades técnicas, deverá ser feita por médico, com 
base em seus conhecimentos clínicos e de tanatologia12.
Cuida-se aqui da morte real, aferida, regra geral, por profissional 
da medicina. 
 
4.2. Morte Presumida. 
 
O Novo Código Civil admite a morte presumida, quanto aos 
ausentes, nos casos em que a lei autoriza a abertura da sucessão 
definitiva (art. 6., NCC). 
Mas a declaração de morte presumida não ocorre apenas em 
caso de ausência. 
A lei enumera outras hipóteses, em seu art. 7°, I e II: 
 
“Art. 7° - Pode ser declarada a morte presumida, sem 
decretação de ausência: 
I – se for extremamente provável a morte de quem estava em 
perigo de vida; 
II – se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, 
não for encontrado até dois anos após o término da guerra. 
Parágrafo único – A declaração de morte presumida, nesses 
casos, somente poderá ser requerida depois de esgotadas as buscas e 
averiguações, devendo a sentença fixar a data provável do 
falecimento”. 
 
 
12 MARIA HELENA DINIZ observa que “a noção comum de morte tem sido a ocorrência de parada 
cardíaca prolongada e a ausência de respiração, ou seja, a cessação total e permanente da funções vitais, 
mas, para efeito de transplante, tem a lei considerado a morte encefálica, mesmo que os demais órgãos 
estejam em pleno funcionamento, ainda que ativados por drogas” (“O Estado Atual do Biodireito”, São 
Paulo: Saraiva, 2001, págs. 266-267).. 
 26
Tais hipóteses também deverão ser formuladas em 
procedimento específico de justificação, aplicando-se a Lei de 
Registros Públicos, no que couber. 
 
4.3. Morte Simultânea (Comoriência). 
 
 A situação jurídica da comoriência vem prevista no art. 8º do 
NCC (art. 11, CC-16), nos seguintes termos: 
 
“Art. 8. – Se dois ou mais indivíduos falecerem na mesma 
ocasião, não se podendo averiguar se algum dos comorientes 
precedeu aos outros, presumir-se-ão simultaneamente mortos”. 
 
Fique atento: esta regra somente é aplicável, se não se puder 
precisar os instantes das mortes. 
No caso de não se poder precisar a ordem cronológica das 
mortes dos comorientes, a lei firmará a presunção de haverem falecido 
no mesmo instante, o que acarreta importantes conseqüências 
práticas: abrem-se cadeias sucessórias autônomas e distintas, de 
maneira que um comoriente não herda do outro. 
Como diz BEVILÁQUA (in Comentários...cit. acima, pág. 207): 
 
“Na falta de qualquer elemento de prova, o que a razão diz é 
que não se pode afirmar qual das pessoas faleceu primeiro, e, 
consequentemente, nenhum direito fundado na procedência da morte 
pode ser transferido de uma para a outra”. 
 
Finalmente, vale lembrar que as mortes, em tese, podem ocorrer 
em locais distintos. 
 27
 A título meramente ilustrativo (pois ocorrido em outro País), 
veja este caso noticiado pelo Portal do Terra: 
 
Casal morre na mesma hora em acidentes diferentes 
 
Dois jovens namorados do noroeste da Itália morreram neste fim de 
semana em dois acidentes de trânsito diferentes ocorridos na mesma 
hora, de acordo com os meios de comunicação locais. 
Mauro Monucci, 29 anos, morreu por volta da meia-noite de sábado 
quando sua moto, de alta cilindrada, chocou-se contra um poste em 
um cruzamento nos arredores do Palácio dos Esportes de Forli. O 
jovem morreu quando era levado numa ambulância ao hospital, 
segundo a edição digital do jornal La Repubblica. 
Praticamente ao mesmo tempo, o carro de sua namorada, Simona 
Acciai, 27 anos, saiu da estrada em uma área periférica da cidade e 
caiu em um fosso. Simona morreu na hora. 
Os telefonemas para os serviços de emergência para alertar sobre os 
dois acidentes foram feitos com poucos minutos de diferença, mas as 
autoridades só perceberam que as vítimas eram um casal ao verificar 
em seus documentos que os dois tinham o mesmo endereço. 
Frente ao caso inusitado, a magistratura local ordenou a realização de 
autópsias nos dois corpos. 
EFE 
Agência Efe - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de 
reprodução sem autorização escrita da Agência Efe S/A. 
 
http://noticias.terra.com.br/mundo/interna/0,,OI984767-
EI294,00.html 
 
 28
Imaginem a confusão jurídica que poderia ocorrer se fossem casados, 
e se o evento ocorresse no Brasil... 
 
 
Bibliografia utilizada: Novo Curso de Direito Civil – Parte 
Geral – vol. 1. Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona 
Filho, Ed. Saraiva (www.editorajuspodivm.com.br ou 
www.saraivajur.com.br ). 
 
Plantão de Dúvidas: www.lfg.com.br 
 
Consulte outros textos e notícias interessantes no site: 
www.novodireitocivil.com.br 
 
5. Programa de Direito Civil do Intensivo I 
 
Segue, abaixo, o programa da nossa matéria: 
DIREITO CIVIL 
 
 
Conteúdo Programático. 
• Personalidade jurídica. Nascituro. Embrião. Pessoa física. 
• Domicilio. Pessoa jurídica. Desconsideração da Pessoa Jurídica 
(Disregard Doctrine) 
• Fato jurídico. Negocio jurídico: plano de existência, validade 
(defeitos do negócio jurídico) e eficácia 
• Prescrição e decadência 
• Direito das obrigações. Teoria do pagamento. 
• Transmissibilidade da obrigação (cessão de crédito, de débito e 
de contrato). 
• Formas especiais de pagamento (principais). 
• Teoria do inadimplemento. Mora. Cláusula penal 
• Responsabilidade civil 
• Teoria geral dos contratos 
 29
• Posse 
• Propriedade 
• Direito de família: abordagem crítica e constitucional, com 
ênfase na dimensão socioafetiva do conceito de família 
• Introdução ao Direito das Sucessões 
 
Observação: Lei de Introdução ao Código Civil/Direitos da 
Personalidade, Contratos em Espécie, Condomínio/Direitos Reais na 
Coisa Alheia, Sucessão Legítima e Testamentária, Juros e outros temas 
de Direito Civil são objeto de outros módulos no LFG. Sugerimos 
consultaram a programação no site www.lfg.com.br 
 
6. Textos Complementares 
 
TEXTO COMPLEMENTAR 01 – AUSÊNCIA 
 
 
 A ausência é, antes de tudo, um estado de fato, em que uma 
pessoa desaparece de seu domicílio, sem deixar qualquer notícia. 
 Visando a não permitir que este patrimônio fique sem titular, o 
legislador traçou o procedimento de transmissão desses bens (em 
virtude da ausência) nos arts.463 a 484 do CC-16 (correspondente aos 
arts. 22 a 39 do novo CC), previsto ainda pelos arts. 1159 a 1169 do 
vigente Código de Processo Civil brasileiro. 
 E por se tratar de matéria minuciosamente positivada, 
sugerimos ao nosso estimado aluno a leitura atenta das próprias 
normas legais. 
 O NCC reconhece a ausência como uma morte presumida, em 
seu art.6º, a partir do momento em que a lei autorizar a abertura de 
sucessão definitiva, consoante vimos em sala de aula. 
 Para se chegar a este momento, porém, um longo caminho deve 
ser cumprido, como a seguir veremos. 
 
 30
a) Curadoria dos Bens do Ausente. 
 
 A requerimento de qualquer interessado direto ou mesmo do 
Ministério Público, será nomeado curador, que passará a gerir os 
negócios do ausente até o seu eventual retorno. 
 Na mesma situação se enquadrará aquele que, tendo deixado 
mandatário, este último se encontre impossibilitado, física ou 
juridicamente (quando seus poderes outorgados forem insuficientes), 
ou simplesmente não tenha interesse em exercer o múnus. 
 Observe-se que esta nomeação não é discricionária, 
estabelecendo a lei uma ordem legal estrita e sucessiva, no caso de 
impossibilidade do anterior, a saber: 
1) o cônjuge do ausente, se não estiver separado 
judicialmente, ou de fato por mais de dois anos antes 
da declaração da ausência; 
2) pais do ausente (destaque-se que a referência é 
somente aos genitores, e não aos ascendentes em 
geral);
3) descendentes do ausente, preferindo os mais 
próximos aos mais remotos 
4) qualquer pessoa à escolha do magistrado. 
 
b) Sucessão Provisória. 
 
 Decorrido um ano da arrecadação dos bens do ausente, ou, se 
ele deixou representante ou procurador, em se passando três anos13, 
 
13 Esta segunda hipótese se limita à previsão do art. 23 do NCC: “Também se declarará a ausência, e se 
nomeará curador, quando o ausente deixar mandatário que não queira, ou não possa exercer ou continuar o 
mandato, ou se os seus poderes forem insuficientes” 
 31
poderão os interessados requerer que se declare a ausência e se abra 
provisoriamente a sucessão. 
 Por cautela, cerca-se o legislador da exigência de garantia da 
restituição dos bens, nos quais os herdeiros se imitiram 
provisoriamente na posse, mediante a apresentação de penhores ou 
hipotecas equivalentes aos quinhões respectivos, valendo-se destacar, 
inclusive, que o § 1º do art. 30 estabelece que aquele “que tiver 
direito à posse provisória, mas não puder prestar a garantia exigida 
neste artigo, será excluído, mantendo-se os bens que lhe deviam 
caber sob a administração do curador, ou de outro herdeiro designado 
pelo juiz, e que preste essa garantia”14. 
 Esta razoável cautela de exigência de garantia é excepcionada, 
porém, em relação aos ascendentes, descendentes e o cônjuge, uma 
vez provada a sua condição de herdeiros (§ 2º do art.30), o que pode 
ser explicado pela particularidade de seu direito, em função dos outros 
sujeitos legitimados para requerer a abertura da sucessão provisória15, 
ao qual se acrescenta o Ministério Público, por força do § 1º do art.28 
do NCC. 
 Em todo caso, a provisoriedade da sucessão é evidente na tutela 
legal, haja vista que é expressamente determinado, por exemplo, que 
os “imóveis do ausente só se poderão alienar não sendo por 
desapropriação, ou hipotecar, quando o ordene o juiz, para lhes evitar 
a ruína” (art.31), bem como que “antes da partilha, o juiz, quando 
julgar conveniente, ordenará a conversão dos bens móveis, sujeitos a 
 
14 Ressalve-se, todavia, que o art. 34 do NCC admite que o “excluído, segundo o art. 30, da posse 
provisória poderá, justificando falta de meios, requerer lhe seja entregue metade dos rendimentos do 
quinhão que lhe tocaria”. 
15 “Art. 27. Para o efeito previsto no artigo antecedente, somente se consideram interessados: 
 I – o cônjuge não separado judicialmente; 
 II – os herdeiros presumidos, legítimos ou testamentários; 
 III – os que tiverem sobre os bens do ausente direito dependente de sua morte; 
 IV – os credores de obrigações vencidas e não pagas.” 
 32
deterioração ou a extravio, em imóveis ou em títulos garantidos pela 
União” (art.29). 
 Um aspecto de natureza processual da mais alta significação, na 
idéia de preservação, ao máximo, do patrimônio do ausente, é a 
estipulação, pelo art.28, do prazo de 180 dias para produção de 
efeitos da sentença que determinar a abertura da sucessão provisória, 
após o que, transitando em julgado, proceder-se-á à abertura do 
testamento, caso existente, ou ao inventário e partilha dos bens, como 
se o ausente tivesse falecido. 
 Com a posse nos bens do ausente, passam os sucessores 
provisórios a representar ativa e passivamente o ausente, o que lhes 
faz dirigir contra si todas as ações pendentes e as que de futuro 
àquele foram movidas. 
 Na forma do art. 33, os herdeiros empossados, se descendentes, 
ascendentes ou cônjuges terão direito subjetivo a todos os furtos e 
rendimentos dos bens que lhe couberem, o que não acontecerá com os 
demais sucessores, que deverão, necessariamente, capitalizar metade 
destes bens acessórios, com prestação anual de contas ao juiz 
competente. 
 Se, durante esta posse provisória, porém, se prova o efetivo 
falecimento do ausente, converter-se-á a sucessão em definitiva, 
considerando-se a mesma aberta, na data comprovada, em favor dos 
herdeiros que o eram àquele tempo. Isto, inclusive, pode gerar 
algumas modificações na situação dos herdeiros provisórios, uma vez 
que não se pode descartar a hipótese de haver herdeiros 
sobreviventes na época efetiva do falecimento do desaparecido, mas 
que não mais estavam vivos quando do processo de sucessão 
provisória. 
 
 33
c) Sucessão Definitiva. 
 
 Por mais que se queira preservar o patrimônio do ausente, o 
certo é que a existência de um longo lapso temporal, sem qualquer 
sinal de vida, reforça as fundadas suspeitas de seu falecimento. 
 Por isto, presumindo efetivamente o seu falecimento, estabelece 
a lei o momento próprio e os efeitos da sucessão definitiva. 
De fato, dez anos após o trânsito em julgado da sentença de 
abertura de sucessão provisória, converter-se-á a mesma em 
definitiva – o que, obviamente, dependerá de provocação da 
manifestação judicial para a retirada dos gravames impostos – 
podendo os interessados requerer o levantamento das cauções 
prestadas. 
 Esta plausibilidade maior do falecimento presumido é reforçado, 
em função da expectativa média de vida do homem, admitindo o art. 
38 a possibilidade de requerimento da sucessão definitiva, “provando-
se que o ausente conta oitenta anos de idade, e que de cinco datam as 
últimas notícias dele”. 
 
d) Retorno do Ausente 
 
 Admite a lei a possibilidade de ausente retornar. 
 Se este aparece na fase de arrecadação de bens, não há 
qualquer prejuízo ao seu patrimônio, continuando ele a gozar 
plenamente de todos os seus bens. 
 Se já tiver sido aberta a sucessão provisória, a prova de que a 
ausência foi voluntária e injustificada, faz com que o ausente perca, 
em favor do sucessor provisório, sua parte nos frutos e rendimento 
(art.33, parágrafo único). Em função, porém, da provisoriedade da 
 34
sucessão, o seu reaparecimento, faz cessar imediatamente todas as 
vantagens dos sucessores imitidos na posse, que ficam obrigados a 
tomar medidas assecuratórias precisas, até a entrega dos bens a seu 
titular (art.36) 
 Se a sucessão, todavia, já for definitiva, terá o ausente o direito 
aos seus bens, se ainda incólumes, não respondendo os sucessores 
havidos pela sua integridade, conforme se verifica no art. 39, nos 
seguintes termos: 
 
“Art. 39. Regressando o ausente nos dez anos 
seguintes à abertura da sucessão definitiva, ou algum de 
seus descendentes ou ascendentes, aquele ou estes 
haverão só os bens existentes no estado em que se 
acharem, os sub-rogados em seu lugar, ou o preço que 
os herdeiros e demais interessados houverem recebido 
pelos bens alienados depois daquele tempo. 
Parágrafo único. Se, nos dez anos a que se refere este 
artigo, o ausente não regressar, e nenhum interessado 
promover a sucessão definitiva, os bens arrecadados 
passarão ao domínio do Município ou do Distrito Federal, 
se localizados nas respectivas circunscrições, 
incorporando-se ao domínio da União, quando situados 
em território federal.” 
 
OBS. Olhe que interessante: 
 
Situação interessante diz respeito ao efeito dissolutório do 
casamento, decorrente da ausência, admitido pelo novo Código Civil, 
em seu art. 1571 § 1o : 
 35
 § 1o O casamento válido só se dissolve pela morte de um 
dos cônjuges ou pelo divórcio, aplicando-se a presunção estabelecida 
neste Código quanto ao ausente. 
 
 
Fonte: Novo Curso de Direito Civil, Parte Geral, vol. I– Pablo Stolze 
Gagliano e Rodolfo Pamplona Folho (Ed. Saraiva). 
 
TEXTO COMPLEMENTAR 02 – VISÃO DO CÓDIGO CIVIL 
 
 
 
 
www.jus.com.br 
Visão geral do novo
Código Civil 
Texto extraído do Jus Navigandi
http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=2718 
 
 
Miguel Reale 
jurista, filósofo e membro da Academia Brasileira de Letras 
 
I 
CONSIDERAÇÕES INICIAIS 
 O novo Código Civil, instituído pela Lei n. 10.406, de 10 de
janeiro de 2002, entrará em vigor um ano após sua sanção. 
 Compreendo o interesse em conhecer a nova Lei Civil, pois,
como costumo dizer, ela é a "constituição do homem comum",
estabelecendo as regras de conduta de todos os seres humanos,
mesmo antes de nascer, dada a atenção dispensada aos direitos do
nascituro, até depois de sua morte, ao fixar o destino a ser dado aos
bens deixados pelo falecido, sendo assim, a lei por excelência da
sociedade civil. 
 Como se sabe, o novo Código Civil teve uma longa tramitação
 36
no Congresso Nacional, pois foi no longínquo ano de 1975 que o
Presidente Costa e Silva submeteu à apreciação da Câmara dos
Deputados o Projeto de Lei n.634-D, com base em trabalho elaborado
por uma Comissão de sete membros, da qual tive a honra de ser o
Coordenador Geral. 
 Coube-me a missão inicial de estabelecer a estrutura básica do
Projeto, com uma Parte Geral e cinco Partes Especiais, convidando
para cada uma delas o jurista que me pareceu mais adequado, tendo
todos em comum as mesmas idéias gerais sobre as diretrizes a serem
seguidas. A experiência longamente vivida veio confirmar o acerto da
escolha dos nomes de José Carlos Moreira Alves, Agostinho Alvim,
Silvio Marcondes, Erbert Chamoun, Clóvis do Couto e Silva e Torquato
Castro, respectivamente relatores da Parte Geral, do Direito das
Obrigações, do Direito de Empresa, do Direito das Coisas, do Direito
de Família e do Direito das Sucessões. 
 Todos eles uniam ao valor do saber e da experiência pessoais a
predisposição a examinar objetiva e serenamente as críticas feitas ao
próprio trabalho, quer por outros juristas, quer por instituições
especializadas, o que explica as quatro redações que teve o Projeto,
todas publicadas no Diário Oficial da União, em 1972, 1973, 1974 e,
por fim, 1975, para conhecimento de todos os interessados. 
 Como se vê, não estamos perante uma obra redigida por um
legislador solitário, por um Sólon ou Licurgo, como se deu para Atenas
e Esparta, mas sim perante uma "obra transpessoal", submetida que
foi a sucessivas revisões. 
 Se considerarmos que, depois, houve a apreciação de mais de
mil emendas na Câmara dos Deputados, e de mais de quatrocentas no
Senado Federal, com novo retorno à Câmara dos Deputados, para
novos estudos e discussões, pode-se proclamar o caráter coletivo que
veio assumindo o Projeto, não se perdendo, ao longo de mais de três
décadas, oportunidade alguma para atualiza-lo, em razão de fatos e
valores supervenientes, como se deu, por exemplo, com as profundas
alterações que a Constituição de 1988 introduziu em matéria de
Direito de Família. 
 É difícil, em poucos minutos, enumerar as mudanças operadas
pela nova codificação em todos os setores da vida civil, sendo mais
aconselhável mostrar quais foram os princípios que presidiram a sua
elaboração, pois, como bem observou Tomás Kuhn, as mais relevantes
conquistas científicas dependem sempre dos novos paradigmas que as
 37
condicionaram. Somente assim é que tomamos ciência do progresso
representado pelas alterações realizadas na legislação do País. 
 Antes, porém, de fazer essa exposição, seja-me permitido
esclarecer qual foi minha participação pessoal na feitura do Projeto, a
começar pela tarefa de reunir, em unidade sistemática, as partes
atribuídas a cada um dos demais membros da Comissão. Tratava-se,
em suma, de coordenar entre si os Projetos parciais, de modo a não
haver divergências ou conflitos de idéias. É claro que, nessa delicada
tarefa, não podia deixar de formular propostas substitutivas ou de
oferecer emendas aditivas para preencher possíveis lacunas. Com a
morte de Agostinho Alvim, Silvio Marcondes, Clóvis do Couto e Silva e
Torquato Castro, pareceu-me preferível substituí-los perante o
Congresso Nacional, continuando José Carlos Moreira Alves a colaborar
ativa e proficientemente no tocante à Parte Geral. O volume publicado
pelo Ministério da Justiça, em 1984, sobre as Emendas da Câmara, e o
t. II editado pelo Senado Federal, em 1988, sobre o Projeto, são
essenciais para se ter idéia da imensa colaboração prestada ao
Congresso pelos membros da Comissão por mim presidida. 
II 
DIRETRIZES SEGUIDAS NA ELABORAÇÃO DO ANTEPROJETO 
 Foi criada, em 1969, uma "Comissão Revisora e Elaboradora do
Código Civil", na esperança de ser aproveitada a maior parte do
Código Civil de 1916. Todavia, verificou-se logo a inviabilidade desse
desideratum, não podendo deixar de prevalecer a reelaboração, uma
vez que a experiência, ou seja, a análise progressiva da matéria veio
revelando que novos princípios ou diretrizes deveriam nortear a
codificação. Por outro lado, em se tratando de um trabalho
sistemático, a alteração feita em um artigo ou capítulo repercute
necessariamente em outros pontos do Projeto. 
 Daí ficarem assentes estas diretrizes: 
 
A. Preservação do Código vigente sempre que possível, não
só pelos seus méritos intrínsecos, mas também pelo
acervo de doutrina e de jurisprudência que em razão dele
se constituiu. 
 38
 
B. Impossibilidade de nos atermos à mera revisão do Código
Bevilaqua, dada a sua falta de correlação com a sociedade
contemporânea e as mais significativas conquistas da
Ciência do Direito; 
 
C. Alteração geral do Código atual no que se refere a certos
valores considerados essenciais, tais como o de eticidade,
de socialidade e de operabilidade; 
 
D. Aproveitamento dos trabalhos de reforma da Lei Civil, nas
duas meritórias tentativas feitas, anteriormente, por
ilustres jurisconsultos, primeiro por Hahneman Guimarães,
Orozimbo Nonato e Philadelpho de Azevedo, com o
anteprojeto do "Código das Obrigações"; e, depois, por
Orlando Gomes e Caio Mario da Silva Pereira, com a
proposta de elaboração separada de um Código Civil e de
um Código das Obrigações, contando com a colaboração,
neste caso, de Silvio Marcondes, Theóphilo de Azevedo
Santos e Nehemias Gueiros. 
 
E. Firmar a orientação de somente inserir no Código matéria
já consolidada ou com relevante grau de experiência
crítica, transferindo-se para a legislação especial aditiva o
regramento de questões ainda em processo de estudo, ou,
que, por sua natureza complexa, envolvem problemas e
soluções que extrapolam do Código Civil; 
 
F. Dar nova estrutura ao Código, mantendo-se a Parte Geral
– conquista preciosa do Direito brasileiro, desde Teixeira
de Freitas – mas com nova ordenação da matéria, a
exemplo das mais recentes codificações; 
 
 39
G. Não realizar, propriamente, a unificação do Direito Privado,
mas sim do Direito das Obrigações – de resto já uma
realidade operacional no País – em virtude do obsoletismo
do Código Comercial de 1850 – com a conseqüente
inclusão de mais um Livro na Parte Especial, que, de início,
se denominou "Atividades Negociais", e, posteriormente,
"Direito de Empresa". 
 Essa estrutura não sofreu alteração nas duas Casas do
Congresso Nacional, não obstante as inúmeras emendas oferecidas ao
Projeto original nº 634, enviado pelo Governo em 1975, após estudo
pela Comissão Revisora das mudanças ou propostas aditivas feitas por
juristas de todo o País, bem como por entidades de classe e até
mesmo por leigos em Direito. A todas as sugestões foi dada a devida
atenção, de tal modo que, em virtude sobretudo das modificações
havidas na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, o Projeto nº
118/84, aprovado finalmente na Câmara, se acha plenamente
atualizado,
inclusive quanto às inovações introduzidas pela
Constituição de 1988 no concernente ao Direito de Família, como
oportunamente se exporá. 
 
III 
OS TRÊS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS 
 ETICIDADE – Procurou-se superar o apego do Código atual ao
formalismo jurídico, fruto, a um só tempo, da influência recebida a
cavaleiro dos séculos 19 e 20, do Direito tradicional português e da
Escola germânica dos pandectistas, aquele decorrente do trabalho
empírico dos glozadores; esta dominada pelo tecnicismo institucional
haurido na admirável experiência do Direito Romano. 
 Não obstante os méritos desses valores técnicos, não era
possível deixar de reconhecer, em nossos dias, a indeclinável
participação dos valores éticos no ordenamento jurídico, sem
abandono, é claro, das conquistas da técnica jurídica, que com aqueles
deve se compatibilizar. 
 Daí a opção, muitas vezes, por normas genéricas ou cláusulas
gerais, sem a preocupação de excessivo rigorismo conceitual, a fim de
possibilitar a criação de modelos jurídicos hermenêuticos, quer pelos
 40
advogados, quer pelos juízes, para contínua atualização dos preceitos
legais. 
 Nesse sentido, temos, em primeiro lugar, o Art. 113, na Parte
Geral, segundo o qual 
 "Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-
fé e os usos do lugar de sua celebração." 
 E mais este: 
 "Art. 187. Comete ato ilícito o titular de um direito que, ao
exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim
econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes." 
 Lembro como outro exemplo o Artigo nº 422 que dispõe quase
como um prolegômeno a toda à teoria dos contratos, a saber: 
 "Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na
conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de
probidade e boa-fé." 
 Freqüente é no Projeto a referência à probidade e a boa-fé,
assim como á correção (corretezza) ao contrário do que ocorre no
Código vigente, demasiado parcimonioso nessa matéria, como se tudo
pudesse ser regido por determinações de caráter estritamente
jurídicas. 
 A SOCIALIDADE – É constante o objetivo do novo Código no
sentido de superar o manifesto caráter individualista da Lei vigente,
feita para um País ainda eminentemente agrícola, com cerca de 80%
da população no campo. 
 Hoje em dia, vive o povo brasileiro nas cidades, na mesma
proporção de 80%, o que representa uma alteração de 180 graus na
mentalidade reinante, inclusive em razão dos meios de comunicação,
como o rádio e a televisão. Daí o predomínio do social sobre o
individual. 
 Alguns dos exemplos dados já consagram, além da exigência
ética, o imperativo da socialidade, como quando se declara a função
social do contrato na seguinte forma: 
 "Art. 421. A liberdade de contratar será exercida em razão e
 41
nos limites da função social do contrato." 
 Por essa razão, em se tratando de contrato de adesão, estatui o
Art. 422 o seguinte: 
 "Art. 422. Quando houver no contrato de adesão cláusulas
ambíguas ou contraditórias, dever-se-á adotar a interpretação mais
favorável ao aderente." 
 No caso de posse, superando as disposições até agora
universalmente seguidas, que distinguem apenas entre a posse de boa
e a de má fé, o Código leva em conta a natureza social da posse da
coisa para reduzir o prazo de usucapião, o que constitui novidade
relevante na tela do Direito Civil. 
 Assim é que, conforme o Art. 1.238, é fixado o prazo de 15
anos para a aquisição da propriedade imóvel, independentemente de
título e boa-fé, sendo esse prazo reduzido a dez anos "se o possuidor
houver estabelecido no imóvel a sua moradia, ou nele realizado obras
ou serviços de caráter produtivo." 
 Por outro lado, pelo Art. 1.239, bastam cinco anos ininterruptos
para o possuidor, que não seja proprietário de imóvel rural ou urbano,
adquirir o domínio de área em zona rural não superior a cinqüenta
hectares, tornando-a produtiva por seu trabalho ou de sua família,
tendo nele sua moradia. Para tanto basta que não tenha havido
oposição. 
 O mesmo sentido social caracteriza o Art. 1.240, segundo o
qual, se alguém "possuir", como sua, área urbana até duzentos e
cinqüenta metros quadrados, por cinco anos ininterruptos, e sem
oposição, utilizando-a para sua moradia e de sua família, adquirir-lhe-
á o domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel." 
 Um magnífico exemplo da preponderância do princípio de
socialidade é dado pelo Art. 1.242, segundo o qual 
 "adquire também a propriedade do imóvel aquele que, contínua
e incontestavelmente, com justo título e boa-fé, o possuir por dez
anos". 
 Esse prazo é, porém, reduzido a cinco anos 
 "se o imóvel houver sido adquirido onerosamente, com base em
 42
transcrição constante do registro próprio, cancelada posteriormente,
desde que os possuidores nele tiverem estabelecido sua moradia, ou
realizado investimento de interesse social e econômico." 
 Não vacilo em dizer que tem caráter revolucionário o disposto
nos parágrafos 4º e 5º do Art. 1.228, determinando o seguinte: 
 "§ 4º - O proprietário também pode ser privado da coisa se o
imóvel reivindicado consistir em extensa área, na posse ininterrupta e
de boa-fé, por mais de cinco anos, de considerável número de
pessoas, e estas nela tiverem realizado, em conjunto ou
separadamente, obras e serviços considerados pelo juiz de interesse
social e econômico relevante." 
 § 5º - No caso do parágrafo antecedente, o juiz fixará a justa
indenização devida ao proprietário; pago o preço, valerá a sentença
como título para a transcrição do imóvel em nome dos
possuidores." 
 Como se vê, é conferido ao juiz poder expropriatório, o que não
é consagrado em nenhuma legislação. 
 A OPERABILIDADE – Muito importante foi a decisão tomada no
sentido de estabelecer soluções normativas de modo a facilitar sua
interpretação e aplicação pelo operador do Direito. 
 Nessa ordem de idéias, o primeiro cuidado foi eliminar as
dúvidas que haviam persistido durante a aplicação do Código anterior. 
 Exemplo disso é o relativo à distinção entre prescrição e
decadência, tendo sido baldados os esforços no sentido de verificar-se
quais eram os casos de uma ou de outra, com graves conseqüências
de ordem prática. 
 Para evitar esse inconveniente, resolveu-se enumerar, na Parte
Geral, os casos de prescrição, em numerus clausus, sendo as
hipóteses de decadência previstas em imediata conexão com a
disposição normativa que a estabelece. Assim é, por exemplo, após o
artigo declarar qual a responsabilidade do construtor de edifícios pela
higidez da obra, é estabelecido o prazo de decadência para ser ela
exigida. 
 Por outro lado, pôs-se termo a sinonímias que possam dar lugar
a dúvidas, fazendo-se, por exemplo distinção entre associação e
 43
sociedade, Destinando-se aquela para indicar as entidades de fins não
econômicos, e esta para designar as de objetivos econômicos. 
 Não menos relevante é a resolução de lançar mão, sempre que
necessário, de cláusulas gerais, como acontece nos casos em que se
exige probidade, boa-fé ou correção (corretezza) por parte do titular
do direito, ou quando é impossível determinar com precisão o alcance
da regra jurídica. É o que se dá, por exemplo, na hipótese de fixação
de aluguel manifestamente excessivo, arbitrado pelo locador e a ser
pago pelo locatário que, findo o prazo de locação, deixar de restituir a
coisa, podendo o juiz, a seu critério, reduzi-lo, ou verbis: 
 Art. 575, parágrafo único – "Se o aluguel arbitrado for
manifestamente excessivo,
poderá o juiz reduzi-lo, mas tendo sempre
em conta o seu caráter de penalidade". 
 São previstos, em suma, as hipóteses, por assim dizer, de
"indeterminação do preceito", cuja aplicação in concreto caberá ao juiz
decidir, em cada caso ocorrente, à luz das circunstâncias ocorrentes,
tal como se dá por exemplo, quando for indeterminado o prazo de
duração do contrato de agência, e uma das partes decidir resolve-lo
mediante aviso prévio de noventa dias, fixando tempo de duração
incompatível com a natureza e o vulto do investimento exigido do
contratante, cabendo ao juiz decidir sobre sua razoabilidade e o valor
devido, em havendo divergência entre as partes, consoante dispõe o
Art. 720 e seu parágrafo único. 
 Somente assim se realiza o direito em sua concretude, sendo
oportuno lembrar que a teoria do Direito concreto, e não puramente
abstrato, encontra apoio de jurisconsultos do porte de Engisch, Betti,
Larenz, Esser e muitos outros, implicando maior participação decisória
conferida aos magistrados. 
 Como se vê, o que se objetiva alcançar é o Direito em sua
concreção, ou seja, em razão dos elementos de fato e de valor que
devem ser sempre levados em conta na enunciação e na aplicação da
norma. 
 Nessa ordem de idéias, merece menção o § 1o do Art. 1240, o
qual estatui que, no caso de usucapião de terreno urbano, 
 "O título de domínio e a concessão de uso serão conferidos ao
homem ou à mulher, ou a ambos, independentemente do estado civil".
 44
 Atende-se, assim, à existência da união estável, considerada
nova entidade familiar. 
 Observo, finalmente, que a Comissão optou por uma linguagem
precisa e atual, menos apegada a modelos clássicos superados, mas
fiel aos valores de correção e de beleza que distinguem o Código Civil
vigente. 
IV 
OUTRAS DIRETRIZES 
 Não creio ser necessário desenvolver argumentos justificadores
da manutenção da Parte Geral, que é da tradição do Direito pátrio,
desde Teixeira de Freitas e Clóvis Beviláqua, independentemente da
influência depois consagradora da tese pelo Código Alemão de 1.900.
Bastará lembrar a resistência oposta pela grande maioria de nossos
juristas quando se quis elaborar um Código Civil, por sinal que restrito,
sem a Parte Geral, destinada a fixar os parâmetros do ordenamento
jurídico civil. É ela que estabelece as normas sobre as pessoas e os
"direitos da personalidade", que estão na base das soluções
normativas depois objeto da Parte Especial. Merece encômios essa
providência de incluir disposições sobre os direitos da personalidade,
uma vez que a pessoa é o valor-fonte de todos os valores jurídicos. 
 Outra iniciativa louvável foi a disciplina específica dos negócios
jurídicos que são os atos jurídicos de mais freqüente ocorrência,
expressão por excelência da fonte negocial, ao lado das três outras
fontes do direito, as leis, os usos e costumes e a jurisprudência. 
 Quanto à Parte Especial, preferiu-se seguir uma seqüência mais
lógica, situando-se o Direito das Obrigações como conseqüência
imediata do antes estabelecido para os atos e negócios jurídicos, não
sendo demais acentuar que há disciplina conjunta das obrigações civis
e mercantis, o que, repito, já constitui orientação dominante em nossa
experiência jurídica, em virtude do superamento do vetusto Código
Comercial de 1850, com efeito, já o Direito Comercial se baseia no
Código Civil. 
 Do Direito das Obrigações se passa ao Livro que trata do Direito
de Empresa, o qual, a bem ver, se refere a toda a vida societária, com
remissão à legislação especial sobre sociedades anônimas e sobre
 45
cooperativas, por abrangerem questões que extrapolam da Lei Civil. 
 Quanto ao termo Direito de Empresa, cabe assinalar que,
graças a uma figura de metonímia, ou, por melhor dizer, de
sinédoque: está aí a palavra empresa significando uma parte pelo todo
que é o Direito da Sociedade. Fomos levados a essa opção, por se
cuidar mais, no citado Livro, da sociedade empresária, estabelecendo
apenas os requisitos gerais da sociedade simples, objeto da
diversificada legislação relativa aos múltiplos tipos das sociedades não
empresariais. 
 Passa-se, a seguir, a tratar da disciplina do Direito das Coisas,
do Direito de Família e do Direito das Sucessões. 
 No que se refere ao Direito de Família, merece realce a
distinção feita, por iniciativa de Clóvis Couto e Silva, entre o Direito
Pessoal e o Patrimonial de Família, o que veio trazer mais limpidez ao
texto. O regramento da união estável ficou para o final, para ser
apreciada sob os dois mencionados aspectos, obedecido rigorosamente
o disposto na Constituição. 
V 
INOVAÇÕES NO DIREITO DE FAMÍLIA 
 Cabe lembrar que, aprovado o Projeto na Câmara dos
Deputados e enviado ao Senado, foram neste apresentadas cerca de
400 emendas, a maior parte pertinentes ao Direito de Família, de
autoria do saudoso senador Nelson Carneiro. 
 Com a convocação da Assembléia Nacional Constituinte,
entendeu o Senado de suspender a tramitação do Projeto do Código
Civil, para aguardar possíveis alterações nessa matéria. Na realidade,
porém, ocorreram mudanças substanciais tão somente no Direito de
Família, instaurando a igualdade absoluta dos cônjuges e dos filhos,
com a supressão do pátrio poder, que, por sugestão minha, passou a
denominar-se "poder familiar". 
 É claro que essas alterações importaram na emenda de vários
dispositivos, substituindo-se, por exemplo, pelo termo "ser humano" a
palavra genérica "homem" anteriormente empregada. Mais
importante, porém, foram as novas regras que vieram estabelecer
efetiva igualdade entre os cônjuges e os filhos, inclusive no pertinente
 46
ao Direito das Sucessões. 
 Nesse sentido, o cônjuge passou a ser também herdeiro, em
virtude da adoção de novo regime geral de bens no casamento, o da
comunhão parcial, corrigindo-se omissão existente no Direito das
Sucessões. 
 Por outro lado, o Projeto vem disciplinar melhor a união estável
como nova entidade familiar, que, de conformidade com o § 3o do Art.
226 da Constituição, só pode ser entre o homem e a mulher. Com a
redação dada à matéria, não há confusão possível com o concubinato,
visto como, nos termos da citada disposição constitucional, a lei deve
facilitar a conversão da união estável em casamento. 
 Não é demais ponderar, que, no tocante à igualdade dos
cônjuges e dos filhos, o disposto na nova Carta Magna representou
adoção das emendas oferecidas pelo senador Nelson Carneiro, o que
facilitou o pronunciamento da Câmara Alta, ao depois completado pela
Câmara dos Deputados, graças a oportuna alteração do Regimento do
Congresso Nacional. 
 Eis aí, em largos traços, qual é o espírito do novo Código Civil,
com alguns exemplos de suas principais inovações. 
 Após tantos anos de trabalho e dedicação – sem se perceber
qualquer remuneração do Estado – o nosso sentimento maior é o do
dever cumprido. 
 
 
 
 
 
Sobre o texto: 
Texto inserido no Jus Navigandi nº54 (02.2002) 
Elaborado em 12.2001. 
 
Informações bibliográficas: 
 
REALE, Miguel. Visão geral do novo Código Civil . Jus Navigandi, 
Teresina, a. 6, n. 54, fev. 2002. Disponível em: 
 47
<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=2718>. Acesso em: 
17 abr. 2006. 
 
 
 
 
 TEXTO COMPLEMENTAR 03 – MORTE PRESUMIDA 
 
A MORTE PRESUMIDA COMO CAUSA DE DISSOLUÇÃO DO 
CASAMENTO16 
 
 
 
Inácio de Carvalho Neto* 
 
 
 
 
O novo Código Civil, no art. 1.571, § 1º., passou a 
admitir a presunção de morte como causa de dissolução do 
casamento17. Contraria, assim, o que dispunha o art. 315, parágrafo 
 
16 Texto que nos
foi gentilmente cedido por este grande amigo e brilhante professor de Direito Civil. 
* Especialista em Direito Penal e Processual Penal pela Unipar. Mestre em Direito Civil pela Universidade 
Estadual de Maringá – UEM. Doutorando em Direito Civil pela Universidade de São Paulo – USP. 
Professor de Direito Civil da Unifil, da Faccar, da Escola do Ministério Público e da Escola da Magistratura 
do Paraná. Promotor de Justiça no Paraná. Autor dos livros Separação e divórcio: teoria e prática, ed. 
Juruá, 5ª. edição; Aplicação da pena, ed. Forense, 2ª. edição; Responsabilidade do Estado por atos de 
seus agentes, ed. Atlas; Ação declaratória de constitucionalidade, ed. Juruá, 2ª. edição; Abuso do 
direito, ed. Juruá, 3ª. edição; Extinção indireta das obrigações, ed. Juruá, 2ª. edição; Novo Código Civil 
comparado e comentado, ed. Juruá, em 7 volumes (alguns em 2ª. edição); Responsabilidade civil no 
direito de família, ed. Juruá; e de diversos artigos publicados em diversas revistas jurídicas. E-mail do 
autor: inaciocarvalho@onda.com.br. 
17 “§ 1º. O casamento válido só se dissolve pela morte de um dos cônjuges ou pelo divórcio, aplicando-se a 
presunção estabelecida neste Código quanto ao ausente”. Igualmente dispõe o Código Civil argentino, com 
a redação da Lei nº. 23.515/87, com a diferença de que a dissolução só ocorre com o novo casamento: “Art. 
213 - El vínculo matrimonial se disuelve: 1) por la muerte de uno de los esposos; 2) por el matrimonio que 
contrajere el cónyuge del declarado ausente com presunción de fallecimiento; 3) por sentencia de divorcio 
vincular”). Da mesma forma o Código Civil italiano: “65. Nuovo matrimonio del coniuge. – Divenuta 
 48
único, do Código de 1916, que expressamente excluía a morte 
presumida como causa de dissolução do matrimônio. Ou seja, por mais 
duradoura que fosse a ausência, não tinha ela o condão de dissolver o 
casamento18. Com a revogação deste dispositivo pelo art. 54 da Lei do 
Divórcio, e não tratando esta expressamente do tema, entenderam 
alguns autores ser possível a dissolução do matrimônio pela morte 
presumida19. 
Não obstante, entendemos que a morte presumida não 
tinha este condão. Posto que não repetida expressamente a proibição 
do dispositivo revogado do Código Civil, não se podia requerer a 
declaração de dissolução do vínculo matrimonial por morte presumida 
de um dos cônjuges, já que o instituto da morte presumida se referia 
exclusivamente à sucessão dos bens deixados pelo ausente20. 
 
eseguibile la sentenza che dichiara la morte presunta, il coniuge può contrarre nuovo matrimonio”. 
Igualmente dispunha o art. 59 do Projeto de Orlando Gomes. 
18 Observe-se o quanto perniciosa era a regra: imagine-se a hipótese de pessoa recém-casada, ainda nova, 
desaparecendo em seguida seu cônjuge. Ficaria essa pessoa para o resto da vida impossibilitada de se casar 
novamente, tendo em vista a impossibilidade do divórcio à época. 
19 “Ainda que se efetuasse a sucessão definitiva, com a presunção de morte, não se considerava dissolvido o 
casamento, de sorte que o cônjuge presente não podia contrair novo casamento. Agora, porém, não há 
mais óbice” (PACHECO, José da Silva. Inventários e partilhas. 10. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1996, p. 
67) (grifo nosso). “Se a lei admitiu, para efeitos patrimoniais, uma presunção de morte do ausente há mais 
de vinte anos ou que completou 95 anos de idade, não se vê razão para não admitir a mesma presunção em 
matéria de casamento. Se houve para um caso uma forte razão de fato a justificar a presunção, também 
haverá no outro caso” (CRUZ, Guilherme Braga da. Direitos de família. 2. ed. Coimbra: Coimbra, 1942, 
v. 1, p. 123). 
20 Neste sentido a lição da doutrina majoritária: “Quanto à primeira hipótese de dissolução da sociedade 
conjugal, no art. 2º., inciso I, prevista (morte de um dos cônjuges), que, consoante esclarece o parágrafo 
único do mesmo artigo, também é caso de dissolução do vínculo matrimonial - oportuno é observar -, a 
despeito do silêncio da lei, que não ressalva a vigência do parágrafo único do art. 315 do CC, pelo art. 54 
da Lei 6.515/77 revogado - que continua excluída a hipótese de morte presumida (art. 10, 2ª. parte, do 
CC) - quer como fundamento para a dissolução da sociedade conjugal, quer para extinção do vínculo 
matrimonial” (PEREIRA, Áurea Pimentel. Divórcio e separação judicial. 3. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 
1989, p. 22) (grifo nosso). “Assim, para o efeito da dissolução da sociedade conjugal, não se aproveita a 
presunção de morte do ausente, estabelecida no art. 10, segunda parte, do CC. ...Todavia, embora omitida a 
limitação da eficácia da presunção de morte, não se deduz daí terem os novos legisladores se afastado da 
sistemática anterior, de modo a permitir que, com a declaração judicial da ausência, induzindo a presunção 
de morte do cônjuge, decorra ipso jure a liberação do outro para novo matrimônio, no pressuposto legal de 
estar dissolvido o vínculo anterior” (CAHALI, Yussef Said. Divórcio e separação. 10. ed. São Paulo: 
Revista dos Tribunais, 2002, p. 69-70) (grifo no original). “O efeito dissolutivo do vínculo se produz 
apenas com a morte real, provada mediante certidão de assento de óbito do cônjuge. A presunção de morte 
do ausente não aproveita para o efeito de terminação do vínculo conjugal, de modo que o caminho atual é o 
de que a ausência é causa de separação judicial ou de divórcio” (FREITAS, Geralda Pedroso. A terminação 
 49
Necessário se fazia, portanto, que o cônjuge promovesse o divórcio, o 
que lhe seria, inclusive, mais fácil, já que o divórcio direto depende 
apenas de dois anos de separação de fato, ao passo que, para a 
configuração da morte presumida, ordinariamente, se faz necessária a 
ausência por dez anos (art. 1.167, inciso II, do Código de Processo 
Civil). Talvez por esta razão não tenha o legislador repetido a norma 
do revogado art. 315 do Código Civil. Naquele, como não se aceitava o 
divórcio a vínculo, era necessário deixar expresso que também não se 
aplicaria a presunção de morte. A partir da Lei nº. 6.515/77, instituído 
o divórcio, dificilmente alguém se utilizaria desta presunção para 
dissolver o vínculo conjugal. Ademais, como lembrava Yussef Said 
CAHALI, “ausente qualquer provisão legal que o autorize, continua 
inexistindo qualquer ação direta para a declaração da ruptura do 
vínculo matrimonial devido à ausência declarada ou presumida do 
cônjuge; nem esta ausência, ainda que declarada judicialmente, tem o 
condão de produzir ipso jure a dissolução do matrimônio”21. 
Mas o novo Código Civil altera esta situação, decretando, 
no art. 1.571, § 1º., a dissolução do casamento pela ausência do outro 
cônjuge em decisão judicial transitada em julgado. Pode agora, o 
cônjuge do ausente, optar entre pedir o divórcio para se casar 
novamente ou esperar pela presunção de morte, que se dá com a 
conversão da sucessão provisória em definitiva. O divórcio, embora 
mais rápido, tem a desvantagem de fazer o cônjuge perder o direito à 
sucessão. Com efeito, sendo o cônjuge herdeiro ainda que haja 
descendentes ou ascendentes do de cujus (ou, no caso, do ausente), 
nos termos do art. 1.829 do novo Código, precisará, não obstante, 
conservar a posição de cônjuge até a conversão da sucessão provisória 
 
do vínculo conjugal. In: O direito de família e a Constituição de 1988. Coord. Carlos Alberto BITTAR. 
São Paulo: Saraiva, 1989, p. 220). 
21 CAHALI, Yussef Said. Op. cit., p. 71. 
 50
em definitiva,
quando, só então, haverá realmente a vocação 
hereditária. Se se divorciar antes, embora tendo a vantagem de poder 
se casar novamente desde logo, terá a desvantagem de perder a 
capacidade sucessória do ausente. 
Mas a lei não resolve algumas questões que a nova 
norma suscita: em primeiro lugar, em que momento se considera 
presumida a morte do ausente, para o fim da dissolução do seu 
casamento? Interpretando isoladamente os arts. 22 e 23 do novo 
Código22, poder-se-ia chegar à singela conclusão de que tal dissolução 
se daria tão logo se desse o desaparecimento do ausente. Mas tal 
interpretação contraria a sistemática do instituto, bem como a letra do 
art. 6º., que dispõe: “A existência da pessoa natural termina com a 
morte; presume-se esta, quanto aos ausentes, nos casos em que a lei 
autoriza a abertura de sucessão definitiva”. Assim, é somente com a 
conversão da sucessão provisória em definitiva que se presume a 
morte do ausente, pelo que somente essa conversão é que dissolve o 
casamento do ausente. 
Há quem defenda a idéia de que o cônjuge do ausente, 
para casar-se novamente, deve promover o divórcio. Mas tal 
entendimento não pode ser aceito. Que o divórcio dissolve o vínculo 
conjugal não se duvida. Entretanto, não se pode exigir o divórcio no 
caso em tela, pois a nova lei erigiu a morte presumida como causa 
independente de dissolução do vínculo. Vale dizer: a morte é, ao lado 
do divórcio, causa de dissolução do casamento; a conversão da 
sucessão provisória em definitiva, fazendo presumir a morte, dissolve 
também o vínculo, e por si só, pelo que nada mais se pode requerer 
 
22 “Art. 22. Desaparecendo uma pessoa do seu domicílio sem dela haver notícia, se não houver deixado 
representante ou procurador a quem caiba administrar-lhe os bens, o juiz, a requerimento de qualquer 
interessado ou do Ministério Público, declarará a ausência, e nomear-lhe-á curador. Art. 23. Também se 
declarará a ausência, e se nomeará curador, quando o ausente deixar mandatário que não queira ou não 
possa exercer ou continuar o mandato, ou se os seus poderes forem insuficientes”. 
 51
para dissolvê-lo, pois já estará o casamento dissolvido com a sentença 
de conversão. Quisesse a lei que o cônjuge do ausente promovesse o 
divórcio, nada precisaria ter dito, pois assim já era no sistema da Lei 
do Divórcio sem qualquer texto legal. 
A sentença declaratória de ausência, nos termos do art. 
9º., inciso IV, do Código Civil e do art. 94 da Lei de Registros Públicos, 
deve ser registrada no Registro Civil. Daí resultaria para o cônjuge do 
ausente a condição de viúvo? A lei não o diz, mas é de se supor que 
sim, pois seria esta a conseqüência principal do registro da sentença 
de conversão da sucessão provisória em definitiva. Mas: viúvo de 
cônjuge vivo? Sim, porque não se pode negar que o presumido morto 
é um possível vivo. E mais: uma viuvez “revogável”? Admitindo a lei o 
retorno do ausente até 10 anos depois da conversão da sucessão 
provisória em definitiva, podendo ele reassumir seus bens (art. 39), 
ou, mesmo depois dos 10 anos (embora sem reassumir seus bens), 
naturalmente poderá o ausente reabilitar-se civilmente, deixando de 
ser presumido morto, com o que estará revogado o estado de viúvo do 
seu cônjuge. 
Pode o ex-cônjuge do ausente, pretendendo casar, 
habilitar-se matrimonialmente? Que documentos deve apresentar? 
Vejamos o que diz o art. 1.525: “O requerimento de habilitação para o 
casamento será firmado por ambos os nubentes, de próprio punho, ou, 
a seu pedido, por procurador, e deve ser instruído com os seguintes 
documentos: ...IV - declaração do estado civil, do domicílio e da 
residência atual dos contraentes e de seus pais, se forem conhecidos; 
V - certidão de óbito do cônjuge falecido, de sentença declaratória de 
nulidade ou de anulação de casamento, transitada em julgado, ou do 
registro da sentença de divórcio”. 
 52
De princípio, já se vê que o ex-cônjuge terá que declarar 
seu estado civil para casar novamente. Declarará o estado de viúvo, 
com as implicações antes ditas? Ou, declarando o estado de casado, 
aceitará o Oficial do Registro Civil a sua habilitação? Como ficaria, 
neste caso, o impedimento do art. 1.521, inciso VI23? Mas o maior 
problema é que a lei não previu a juntada da certidão do registro da 
sentença de conversão para fins de habilitação matrimonial. No citado 
inciso V só se fala em certidão de óbito, de anulação ou de divórcio; 
esqueceu-se o legislador de que o nubente que foi casado pode não ter 
nenhum desses documentos, mas apenas a certidão de registro da 
sentença de conversão, documento que, nos termos do art. 1.571, § 
1º., deve-lhe ser suficiente. 
Outra conseqüência não prevista pelo legislador é o fato 
do eventual retorno do ausente após o casamento de seu ex-cônjuge. 
Imagine-se que, após a sentença de conversão, o ex-cônjuge do 
ausente se case, aproveitando-se da disposição do art. 1.571, § 1º., 
vindo, depois do casamento, a reaparecer o ausente. Como fica o 
primeiro e o segundo casamento do cônjuge do ausente? Dir-se-á ser 
simples a solução, pois o citado parágrafo diz que o primeiro 
casamento se dissolve pela presunção de morte, equivalendo, 
portanto, ao divórcio, ou à morte real. Daí seguiria a conseqüência de 
que, estando dissolvido o primeiro casamento, válido ficaria o 
segundo24. Mas deve-se discutir: a presunção de morte é uma 
presunção absoluta (juris et de jure)? Não seria antes uma presunção 
relativa (juris tantum)? Não se pode negar o seu caráter de presunção 
relativa, já que o ausente pode retornar e, em conseqüência, provar 
 
23 “Art. 1.521. Não podem casar: ...VI – as pessoas casadas”. 
24 Neste sentido, escreve GONÇALVES, Carlos Roberto (Direito civil brasileiro: parte geral. São Paulo: 
Saraiva, 2003, v. 1, p. 118) que se o ausente “estiver vivo e aparecer, depois de presumida a sua morte e 
aberta a sucessão definitiva, com a dissolução da sociedade conjugal, e seu cônjuge houver contraído novo 
matrimônio, prevalecerá o último”. 
 53
que não está morto realmente. Sendo presunção relativa, desfaz-se 
com a prova de que não houve morte real, ou seja, com o 
reaparecimento do ausente. Então, desfeita a presunção, seria lógico 
se entender desfeita também a dissolução do casamento. E a 
conseqüência disto seria desastrosa: o segundo casamento do cônjuge 
do ausente foi feito em bigamia, sendo, portanto, nulo25. Esta a 
solução adotada pelo direito italiano26. Seria razoável anular o 
casamento do ex-cônjuge do ausente pelo reaparecimento deste 
depois de tanto tempo? Melhor seria se a lei tivesse disposição 
semelhante ao § 1.348 do BGB (Código Civil alemão), que dizia 
expressamente ficar válido o segundo casamento nesse caso27. 
Por fim, ainda um questionamento: pode o próprio 
ausente se beneficiar da dissolução do casamento pela ausência? Ou 
em outros termos: pode o ausente, estando vivo em algum lugar, 
contrair validamente um novo matrimônio? A lei não o diz, mas, 
partindo-se do pressuposto que a dissolução se dá pela morte 
presumida, não estando o ausente morto realmente, não há dissolução 
do casamento, pelo que não poderá ele validamente casar novamente. 
Mas aí teremos outro problema: enquanto para o cônjuge do ausente 
o casamento estará dissolvido, para o ausente não, permanecendo ele 
casado. Mas, casado com quem? Casado com alguém que é viúvo ou 
que já se casou com outra pessoa? 
 
25 Afasta-se, contudo, as conseqüências criminais da bigamia (art. 235 do Código Penal), tendo em vista
que não houve dolo das partes. 
26 “68. Nullità del nuovo matrimonio. – Il matrimonio contratto a norma dell’articolo 65 è nullo, qualora 
la persona della quale fu dichiarata la morte presunta ritorni o ne sia accertata l’esistenza. Sono salvi gli 
effetti civili del matrimonio dichiarato nullo. La nullità non può essere pronunziata nel caso in cui è 
accertata la morte, anche se avvenuta in uma data posteriore a quella del matrimonio”. No mesmo sentido 
dispunha o Projeto de Orlando Gomes (art. 59). 
27 “§ 1348. Se um cônjuge contrai um novo matrimônio depois de que o outro cônjuge foi declarado 
falecido, o novo matrimônio não é nulo pela circunstância de que o cônjuge declarado falecido ainda viva, 
a não ser que ambos cônjuges soubessem no momento da conclusão do matrimônio que o cônjuge 
declarado falecido sobreviveu à declaração de falecimento”. Este dispositivo, contudo, está revogado. 
 54
De todo o exposto, concluímos que seria melhor que o 
legislador tivesse evitado a disposição em comento, mantendo a não 
dissolução do casamento pela presunção de morte, de modo que fosse 
necessário ao cônjuge do ausente promover o divórcio, evitando, 
assim, todas as complicações antes enunciadas. 
 
Referências: 
CAHALI, Yussef Said. Divórcio e separação. 10. ed. São Paulo: Revista 
dos Tribunais, 2002. 
CRUZ, Guilherme Braga da. Direitos de família. 2. ed. Coimbra: 
Coimbra, 1942, v. 1. 
FREITAS, Geralda Pedroso. A terminação do vínculo conjugal. In: O 
direito de família e a Constituição de 1988. Coord. Carlos Alberto 
BITTAR. São Paulo: Saraiva, 1989. 
GONÇALVES, Carlos Roberto (Direito civil brasileiro: parte geral. São 
Paulo: Saraiva, 2003, v. 1. 
PACHECO, José da Silva. Inventários e partilhas. 10. ed. Rio de 
Janeiro: Forense, 1996. 
PEREIRA, Áurea Pimentel. Divórcio e separação judicial. 3. ed. Rio de 
Janeiro: Renovar, 1989. 
 
7. Enunciados das Jornadas de Direito Civil (Parte Geral) 
 
 
I JORNADA 
 
 55
1 – Art. 2º: a proteção que o Código defere ao nascituro alcança o 
natimorto no que concerne aos direitos da personalidade, tais como 
nome, imagem e sepultura. 
2 – Art. 2º: sem prejuízo dos direitos da personalidade nele 
assegurados, o art. 2º do Código Civil não é sede adequada para 
questões emergentes da reprogenética humana, que deve ser objeto 
de um estatuto próprio. 
3 – Art. 5º: a redução do limite etário para a definição da capacidade 
civil aos 18 anos não altera o disposto no art. 16, I, da Lei n. 
8.213/91, que regula específica situação de dependência econômica 
para fins previdenciários e outras situações similares de proteção, 
previstas em legislação especial. 
4 – Art.11: o exercício dos direitos da personalidade pode sofrer 
limitação voluntária, desde que não seja permanente nem geral. 
5 – Arts. 12 e 20: 1) as disposições do art. 12 têm caráter geral e 
aplicam-se, inclusive, às situações previstas no art. 20, excepcionados 
os casos expressos de legitimidade para requerer as medidas nele 
estabelecidas; 2) as disposições do art. 20 do novo Código Civil têm a 
finalidade específica de regrar a projeção dos bens personalíssimos nas 
situações nele enumeradas. Com exceção dos casos expressos de 
legitimação que se conformem com a tipificação preconizada nessa 
 56
norma, a ela podem ser aplicadas subsidiariamente as regras 
instituídas no art. 12. 
6 – Art. 13: a expressão “exigência médica” contida no art. 13 refere-
se tanto ao bem-estar físico quanto ao bem-estar psíquico do 
disponente. 
7 – Art. 50: só se aplica a desconsideração da personalidade jurídica 
quando houver a prática de ato irregular e, limitadamente, aos 
administradores ou sócios que nela hajam incorrido. 
8 – Art. 62, parágrafo único: a constituição de fundação para fins 
científicos, educacionais ou de promoção do meio ambiente está 
compreendida no CC, art. 62, parágrafo único. 
9 – Art. 62, parágrafo único: o art. 62, parágrafo único, deve ser 
interpretado de modo a excluir apenas as fundações com fins 
lucrativos. 
10 – Art. 66, § 1º: em face do princípio da especialidade, o art. 66, § 
1º, deve ser interpretado em sintonia com os arts. 70 e 178 da LC n. 
75/93. 
11– Art. 79: não persiste no novo sistema legislativo a categoria dos 
bens imóveis por acessão intelectual, não obstante a expressão “tudo 
quanto se lhe incorporar natural ou artificialmente”, constante da parte 
final do art. 79 do CC. 
 57
12 – Art. 138: na sistemática do art. 138, é irrelevante ser ou não 
escusável o erro, porque o dispositivo adota o princípio da confiança. 
13 – Art. 170: o aspecto objetivo da convenção requer a existência do 
suporte fático no negócio a converter-se. 
14 – Art. 189: 1) o início do prazo prescricional ocorre com o 
surgimento da pretensão, que decorre da exigibilidade do direito 
subjetivo; 2) o art. 189 diz respeito a casos em que a pretensão nasce 
imediatamente após a violação do direito absoluto ou da obrigação de 
não fazer. 
 
III JORNADA28 
 
138 – Art. 3º: A vontade dos absolutamente incapazes, na hipótese 
do inc. I do art. 3o, é juridicamente relevante na concretização de 
situações existenciais a eles concernentes, desde que demonstrem 
discernimento bastante para tanto. 
139 – Art. 11: Os direitos da personalidade podem sofrer limitações, 
ainda que não especificamente previstas em lei, não podendo ser 
exercidos com abuso de direito de seu titular, contrariamente à boa-fé 
objetiva e aos bons costumes. 
 
28 A II Jornada não elaborou enunciados. 
 58
140 – Art. 12: A primeira parte do art. 12 do Código Civil refere-se às 
técnicas de tutela específica, aplicáveis de ofício, enunciadas no art. 
461 do Código de Processo Civil, devendo ser interpretada com 
resultado extensivo. 
141 – Art. 41: A remissão do art. 41, parágrafo único, do CC às 
“pessoas jurídicas de direito público, a que se tenha dado estrutura de 
direito privado”, diz respeito às fundações públicas e aos entes de 
fiscalização do exercício profissional. 
142 – Art. 44: Os partidos políticos, os sindicatos e as associações 
religiosas possuem natureza associativa, aplicando-se-lhes o Código 
Civil. 
143 – Art. 44: A liberdade de funcionamento das organizações 
religiosas não afasta o controle de legalidade e legitimidade 
constitucional de seu registro, nem a possibilidade de reexame pelo 
Judiciário da compatibilidade de seus atos com a lei e com seus 
estatutos. 
144 – Art. 44: A relação das pessoas jurídicas de Direito Privado, 
constante do art. 44, incs. I a V, do Código Civil, não é exaustiva. 
145 – Art. 47: O art. 47 não afasta a aplicação da teoria da aparência. 
146 – Art. 50: Nas relações civis, interpretam-se restritivamente os 
parâmetros de desconsideração da personalidade jurídica previstos no 
 59
art. 50 (desvio de finalidade social ou confusão patrimonial). (Este 
Enunciado não prejudica o Enunciado n. 7) 
147 – Art. 66: A expressão “por mais de um Estado”, contida no § 2o 
do art. 66, não exclui o Distrito Federal e os Territórios. A atribuição de 
velar pelas fundações, prevista no art. 66 e seus parágrafos, ao MP 
local – isto é, dos Estados, DF e Territórios onde situadas – não exclui 
a necessidade de fiscalização de tais pessoas jurídicas pelo MPF, 
quando se tratar de fundações instituídas ou mantidas pela União, 
autarquia ou empresa pública federal, ou que destas recebam verbas, 
nos termos da Constituição, da LC n. 75/93 e da Lei de Improbidade. 
148 – Art. 156: Ao “estado de perigo” (art. 156) aplica-se, por 
analogia, o disposto no § 2º do art. 157. 
149 – Art. 157: Em atenção ao princípio da conservação dos
contratos, a verificação da lesão deverá conduzir, sempre que possível, 
à revisão judicial do negócio jurídico e não à sua anulação, sendo 
dever do magistrado incitar os contratantes a seguir as regras do art. 
157, § 2º, do Código Civil de 2002. 
150 – Art. 157: A lesão de que trata o art. 157 do Código Civil não 
exige dolo de aproveitamento. 
151 – Art. 158: O ajuizamento da ação pauliana pelo credor com 
garantia real (art. 158, § 1o) prescinde de prévio reconhecimento 
judicial da insuficiência da garantia. 
 60
152 – Art. 167: Toda simulação, inclusive a inocente, é invalidante. 
153 – Art. 167: Na simulação relativa, o negócio simulado (aparente) 
é nulo, mas o dissimulado será válido se não ofender a lei nem causar 
prejuízos a terceiros. 
154 – Art. 194: O juiz deve suprir de ofício a alegação de prescrição 
em favor do absolutamente incapaz. 
155 – Art. 194: O art. 194 do Código Civil de 2002, ao permitir a 
declaração ex officio da prescrição de direitos patrimoniais em favor do 
absolutamente incapaz, derrogou o disposto no § 5º do art. 219 do 
CPC. 
156 – Art. 198: Desde o termo inicial do desaparecimento, declarado 
em sentença, não corre a prescrição contra o ausente. 
157 – Art. 212: O termo “confissão” deve abarcar o conceito lato de 
depoimento pessoal, tendo em vista que este consiste em meio de 
prova de maior abrangência, plenamente admissível no ordenamento 
jurídico brasileiro. 
158 – Art. 215: A amplitude da noção de “prova plena” (isto é, 
“completa”) importa presunção relativa acerca dos elementos 
indicados nos incisos do §1o, devendo ser conjugada com o disposto 
no parágrafo único do art. 219. 
 
IV JORNADA 
 61
 
272 – Art. 10. Não é admitida em nosso ordenamento jurídico a 
adoção por ato extrajudicial, sendo indispensável a atuação 
jurisdicional, inclusive para a adoção de maiores de dezoito anos. 
273 – Art. 10. Tanto na adoção bilateral quanto na unilateral, quando 
não se preserva o vínculo com qualquer dos genitores originários, 
deverá ser averbado o cancelamento do registro originário de 
nascimento do adotado, lavrando-se novo registro. Sendo unilateral a 
adoção, e sempre que se preserve o vínculo originário com um dos 
genitores, deverá ser averbada a substituição do nome do pai ou da 
mãe natural pelo nome do pai ou da mãe adotivos. 
274 – Art. 11. Os direitos da personalidade, regulados de maneira 
não-exaustiva pelo Código Civil, são expressões da cláusula geral de 
tutela da pessoa humana, contida no art. 1º, III, da Constituição 
(princípio da dignidade da pessoa humana). 
Em caso de colisão entre eles, como nenhum pode sobrelevar os 
demais, deve-se aplicar a técnica da ponderação. 
275 – Arts. 12 e 20. O rol dos legitimados de que tratam os arts. 12, 
parágrafo único, e 20, parágrafo único, do Código Civil também 
compreende o companheiro. 
276 – Art.13. O art. 13 do Código Civil, ao permitir a disposição do 
próprio corpo por exigência médica, autoriza as cirurgias de 
 62
transgenitalização, em conformidade com os procedimentos 
estabelecidos pelo Conselho Federal de Medicina, e a conseqüente 
alteração do prenome e do sexo no Registro Civil. 
277 – Art.14. O art. 14 do Código Civil, ao afirmar a validade da 
disposição gratuita do próprio corpo, com objetivo científico ou 
altruístico, para depois da morte, 
determinou que a manifestação expressa do doador de órgãos em vida 
prevalece sobre a vontade dos familiares, portanto, a aplicação do art. 
4º da Lei n. 9.434/97 ficou restrita à hipótese de silêncio do potencial 
doador. 
278 – Art.18. A publicidade que venha a divulgar, sem autorização, 
qualidades inerentes a determinada pessoa, ainda que sem mencionar 
seu nome, mas sendo capaz de identificá-la, constitui violação a direito 
da personalidade. 
279 – Art.20. A proteção à imagem deve ser ponderada com outros 
interesses constitucionalmente tutelados, especialmente em face do 
direito de amplo acesso à informação e da liberdade de imprensa. Em 
caso de colisão, levar-se-á em conta a notoriedade do retratado e dos 
fatos abordados, bem como a veracidade destes e, ainda, as 
características de sua utilização (comercial, informativa, biográfica), 
privilegiando-se medidas que não restrinjam a divulgação de 
informações. 
 63
280 – Arts.44, 57 e 60. Por força do art. 44, § 2º, consideram-se 
aplicáveis às sociedades reguladas pelo Livro II da Parte Especial, 
exceto às limitadas, os arts. 57 e 60, nos seguintes termos: 
a) Em havendo previsão contratual, é possível aos sócios deliberar a 
exclusão de sócio por justa causa, pela via extrajudicial, cabendo ao 
contrato disciplinar o procedimento de exclusão, assegurado o direito 
de defesa, por aplicação analógica do art. 1085; 
b) As deliberações sociais poderão ser convocadas pela iniciativa de 
sócios que representem 1/5 (um quinto) do capital social, na omissão 
do contrato. A mesma regra aplica-se na hipótese de criação, pelo 
contrato, de outros órgãos de deliberação colegiada. 
281 – Art. 50. A aplicação da teoria da desconsideração, descrita no 
art. 50 do Código Civil, prescinde da demonstração de insolvência da 
pessoa jurídica. 
282 – Art. 50. O encerramento irregular das atividades da pessoa 
jurídica, por si só, não basta para caracterizar abuso de personalidade 
jurídica. 
283 – Art. 50. É cabível a desconsideração da personalidade jurídica 
denominada “inversa” para alcançar bens de sócio que se valeu da 
pessoa jurídica para ocultar ou desviar bens pessoais, com prejuízo a 
terceiros. 
 64
284 – Art. 50. As pessoas jurídicas de direito privado sem fins 
lucrativos ou de fins não-econômicos estão abrangidas no conceito de 
abuso da personalidade jurídica. 
285 – Art. 50. A teoria da desconsideração, prevista no art. 50 do 
Código Civil, pode ser invocada pela pessoa jurídica em seu favor. 
286 – Art. 52. Os direitos da personalidade são direitos inerentes e 
essenciais à pessoa humana, decorrentes de sua dignidade, não sendo 
as pessoas jurídicas titulares de tais direitos. 
287 – Art. 98. O critério da classificação de bens indicado no art. 98 do 
Código Civil não exaure a enumeração dos bens públicos, podendo 
ainda ser classificado como tal o bem pertencente a pessoa jurídica de 
direito privado que esteja afetado à prestação de serviços públicos. 
288 – Arts. 90 e 91. A pertinência subjetiva não constitui requisito 
imprescindível para a configuração das universalidades de fato e de 
direito. 
289 – Art. 108. O valor de 30 salários mínimos constante no art. 108 
do Código Civil brasileiro, em referência à forma pública ou particular 
dos negócios jurídicos que envolvam bens imóveis, é o atribuído pelas 
partes contratantes e não qualquer outro valor arbitrado pela 
Administração Pública com finalidade tributária. 
290 – Art. 157. A lesão acarretará a anulação do negócio jurídico 
quando verificada, na formação deste, a desproporção manifesta entre 
 65
as prestações assumidas pelas partes, não se presumindo a premente 
necessidade ou a inexperiência do lesado. 
291 – Art. 157. Nas hipóteses de lesão previstas no art. 157 do Código 
Civil, pode o lesionado optar por não pleitear a anulação do negócio 
jurídico, deduzindo, desde logo, pretensão com vista à revisão judicial 
do negócio por meio da redução do proveito do lesionador ou do 
complemento do preço. 
292 – Art. 158. Para os efeitos do art. 158, § 2º, a anterioridade do 
crédito é determinada pela causa que lhe dá origem, 
independentemente de seu reconhecimento por decisão judicial. 
293 – Art. 167. Na simulação relativa, o aproveitamento do negócio 
jurídico dissimulado não decorre tão-somente
do afastamento do 
negócio jurídico simulado, mas do necessário preenchimento de todos 
os requisitos substanciais e formais de validade daquele. 
294 – Arts. 167 e 168. Sendo a simulação uma causa de nulidade do 
negócio jurídico, pode ser alegada por uma das partes contra a outra. 
295 – Art. 191. A revogação do art. 194 do Código Civil pela Lei n. 
11.280/2006, que determina ao juiz o reconhecimento de ofício da 
prescrição, não retira do devedor a possibilidade de renúncia admitida 
no art. 191 do texto codificado. 
296 – Art. 197. Não corre a prescrição entre os companheiros, na 
constância da união estável. 
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297 – Art. 212. O documento eletrônico tem valor probante, desde que 
seja apto a conservar a integridade de seu conteúdo e idôneo a 
apontar sua autoria, independentemente da tecnologia empregada. 
298 – Arts. 212 e 225. Os arquivos eletrônicos incluem-se no conceito 
de “reproduções eletrônicas de fatos ou de coisas”, do art. 225 do 
Código Civil, aos quais deve ser aplicado o regime jurídico da prova 
documental. 
299 – Art. 2.028. Iniciada a contagem de determinado prazo sob a 
égide do Código Civil de 1916, e vindo a lei nova a reduzi-lo, 
prevalecerá o prazo antigo, desde que transcorrido mais de metade 
deste na data da entrada em vigor do novo Código. O novo prazo será 
contado a partir de 11 de janeiro de 2003, desprezando-se o tempo 
anteriormente decorrido, salvo quando o não-aproveitamento do prazo 
já decorrido implicar aumento do prazo prescricional previsto na lei 
revogada, hipótese em que deve ser aproveitado o prazo já decorrido 
durante o domínio da lei antiga, estabelecendo-se uma continuidade 
temporal. 
300 – Art. 2.035. A lei aplicável aos efeitos atuais dos contratos 
celebrados antes do novo Código Civil será a vigente na época da 
celebração; todavia, havendo alteração legislativa que evidencie 
anacronismo da lei revogada, o juiz equilibrará as obrigações das 
partes contratantes, ponderando os interesses traduzidos pelas regras 
 67
revogada e revogadora, bem como a natureza e a finalidade do 
negócio. 
 
8. Fique por Dentro 
 
No decorrer do curso, sempre cuidaremos de trazer importantes e 
atuais notícias, fundamentais em sua preparação para concurso. 
Recentemente, por exemplo, o STJ reafirmou a idéia de que o 
desemprego não é justificativa plausível para evitar a prisão civil 
decorrente do inadimplemento de pensão alimentícia: 
 
 
STJ - O Tribunal da Cidadania29 
Desemprego não justifica falta de pagamento de pensão alimentar 
30/06/2008 
Em decisão unânime, a Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) indeferiu recurso em 
habeas-corpus de um pai que atrasou o pagamento da pensão alimentícia sob a alegação de que 
estava desempregado. O ministro relator Massami Uyeda afirmou que a alegação de desemprego 
não pode ser apreciada no STJ, pois depende do exame de provas. 
Ao relatar o caso, o ministro ressaltou não observar qualquer ilegalidade na ordem de prisão 
decorrente do inadimplemento de verbas alimentares. “Assinala-se que, no tocante aos débitos 
alimentares referentes às prestações vencidas no curso do processo, incluídas as decorrentes de 
acordo judicial, é certo que o executado encontra-se em inadimplemento, o que denota clara 
afronta aos princípios norteadores da solidariedade e da dignidade humana”, assinalou o ministro. 
A defesa de J.L.S.D. interpôs o recurso no STJ contra a decisão da 11ª Câmara Cível do Tribunal de 
Justiça do Rio de Janeiro (TJ/RJ) que manteve a decisão do juiz de primeiro grau. O acusado alegou 
que haveria ilegalidade do decreto de prisão, que os bens apreendidos garantiriam a ação de 
execução de alimentos e, ainda, que os valores cobrados, no total de R$ 7.200, seriam 
exorbitantes. 
O relator, ministro Massami Uyeda, seguindo precedentes no Tribunal, ressalta que o débito 
alimentar que autoriza a prisão civil do acusado compreende as três prestações anteriores ao 
ajuizamento da execução e as que vencerem no curso do processo. Segundo o ministro, pelo fato 
de o acusado não ter demonstrado qualquer intenção de pagar, a prisão não é considerada ilegal. 
Ressaltou que não se examinam as alegações de desemprego e da exorbitante cobrança de valores 
alimentícios por serem fatos complexos e controvertidos que dependem de prova. 
E, por último, considerando a resistência do executado da ação em honrar seus compromissos de 
ordem moral, não se observa qualquer ilegalidade na prisão. Seguindo o voto do relator, a Turma 
negou o provimento ao recurso ordinário. 
Processos: RHC 23552 
 
Coordenadoria de Editoria e Imprensa 
 
29 http://www.stj.gov.br/portal_stj/publicacao/engine.wsp?tmp.area=398&tmp.texto=88138#, acessado em 
20 de julho de 2008. 
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9. Mensagem 
 
 “Prepara-se o cavalo para o dia da Batalha, mas apenas o Senhor dá 
a vitória” (Sagrada Escritura) 
Força e Fé, amigos! 
A vitória é uma certeza que virá no tempo certo. 
 Façamos a nossa parte! 
Se pudermos despertar em vocês o amor ao Direito Civil, já estaremos 
realizados! 
Contem conosco! 
Um grande abraço! 
O amigo, 
Pablo 
www.novodireitocivil.com.br 
 
 
C.D.S. 2008.2.RevisadoeAtualizado.Ok.

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