Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original
Hedley Bull: Histórico: Primeira geração de teóricos da Escola Inglesa, junto com Wight, Watson, etc. Todos esses fazem parte da primeira geração de teóricos da Escola Inglesa. É um australiano, vai estudar na Universidade de Sydney, vai fazer Filosofia e Direito, e na década de 50 vai para a Inglaterra lecionar, onde vai ser o grande centro, a London School. Onde vai participar das palestras de Wight, onde ele vai apresentar os 3 R's: Realismo, Revolucionarismo, e Racionalismo. Isso vai lhe causar uma enorme repercussão até o final da sua vida. Vai ser um discípulo do pensamento de Wight. Bull vai ser membro desde seu início do Comitê Britânico de política internacional, que vai ser um dos berços da Ecola Inglesa. Vai ser membro e mais adiante no final da década de 70, vai ser um dos diretores do Comitê Britânico de política internacional. Características: Bull enquanto discípulo de Wight vai se posicionar em uma abordagem racionalista. Por mais que Wight tenha obviamente adotado uma visão que favorecia o racionalismo ao colocá-lo como uma via média, ele mesmo explicitamente nunca arroubou tal status de racionalista. O que foi visto é que sua obra "Política de Poder", é que aos poucos ele vai adotando uma política mais racionalista ao longo de sua vida. Bull vai por-se como um racionalista, embora ele próprio reconheça a importância de alguns insights, seja do Realismo, seja do Revolucionarismo. Por mais que haja um favorecimento do Racionalismo, existem aspectos dos outros 2 R's que são importantes para serem levados em consideração. "A Sociedade Anárquica", é uma obra de 1977. No primeiro capítulo aparece sua principal fonte de preocupação de Hedley Bull ao longo do livro, que reside na questão da ordem. Sua indagação vai ser 'existe ordem nas RI?'. Ordem: Começa a definir ordem 'um padrão geral de atividades que realiza determinados objetivos sociais considerados elementares, primeiros, universais'. Alguns indícios para a existência de ordem, são 3, que podem estar tanto no ambiente doméstico, quanto no internacional. Esses 3 objetivos são universais, elementares, primeiros, e são: vida, liberdade e verdade. VIDA: existe uma expectativa de segurança contra ataques violentos, e significa que existem regras que limitam a violência, como regras que condenam o homicídio em sociedades nacionais. Existência de regras que vão limitar o uso da violência. Isso aconteceria tanto nas sociedades nacionais, quanto internacionais. No caso específico das RI, a gente tem dois tipos de regras que limitam o uso da violência: "jus in bello" e o "jus ad bellum". O primeiro quer dizer sobre como a regra é conduzida em seu modo. Por exemplo, prisioneiros de guerra, as Convenções de Genebra, você não pode atacar lugares onde exista a Cruz Vermelha, não pode atacar civis, etc. O segundo seriam os direitos da guerra. Quais seriam as motivações legítimas pelas quais você pode recorrer ao uso da força. A Carta da ONU por exemplo, só aceita em certos casos, como o uso da força em legítima defesa, desde que tenha o aval do CS. Mas também pela lógica da "segurança coletiva". A Carta da ONU vai consagrar essa lógica e portanto vai ser vista em grande medida nesse aspecto como um arcabouço racionalista. O próprio Grotius, que está na base da Escola Inglesa, em 1625, coloca que é mais honroso atacar os agressores de outro, do que atacar os seus próprios agressores, porque segundo Grotius, isso mostraria uma solidariedade internacional, e isso em última instância, evidenciaria a ideia de sociedade nacional. É uma ampliação da ideia de legítima defesa. Dentro da lógica da Escola Inglesa, existem guerras justas e injustas. Diferente para os realistas, que toda guerra é válida, desde que você esteja alcançando seus interesses. Para ele, a guerra é a favor da ordem, da sociedade internacional. A ideia de que a Carta da ONU tem como propósito principal manter a paz e a segurança internacionais, será que ambas seriam necessariamente sinônimos? Não. As vezes é preciso ir a guerra para manter a segurança. A guerra portanto vai ser autorizada sob determinadas condições em prol dessa segurança. A sociedade internacional deixa de existir no decurso de uma guerra? Não. Ela continua existindo porque existem regras que guiam a conduta dos Estados em uma guerra. Ela não deixa de existir no momento em que os Estados estão duelando, já que existem regras que regulam mesmo os momentos mais intensos de uma guerra. O objetivo universal de qualquer sociedade, seria a expectativa de que os acordos vão ser cumpridos. Nas RI, isso se confunde com o princípio que é o pacta sun servana, que é o de que os tratados e acordos devem ser cumpridos. E eles chamam atenção para o fato de que na maioria das vezes, os tratados e acordos são cumpridos, enquanto os realistas chamariam atenção para quando os acordos não são tratados. Há a PROPRIEDADE. Nesse aspecto novamente, o pensamento do Bull coincide com o pensamento de Grotius, a medida que trata a propriedade como algo natural e universal. Numa sociedade, a posse é estabilizada. A propriedade é estabilizada. Esse estado de natureza dos teóricos da escola inglesa, é um "estado de natureza" que não é hobbesiano, já que pra Hobbes a propriedade é algo que vem com o Leviatã, com o Estado. Cada estado seria na verdade uma propriedade. Por mais que esses objetivos sejam válidos no plano nacional e internacional, o que o Linklater fala no texto é que o Bull rompe com a analogia doméstica porque pra ele não é preciso que exista uma autoridade soberana centralizada. Pros realistas isso é viável no âmbito internacional? Não. Estado de natureza: O que os teóricos realistas dizem, é que as RI se desenvolvem num estado de natureza hobbesiano. O direito seria o direito do mais forte. Então pros realistas essa ordem, essa sociedade só é possível no âmbito nacional. E no internacional não é possível, porque ele é anárquico, o oposto do âmbito doméstico. O que Bull diz, é que a anarquia não impede a ordem nem a sociedade. Não é necessário transpor o doméstico pro internacional, para que exista ordem. Pluralistas x Solidaristas: Existem duas correntes que pensam sobre a ordem. Uma corrente é a pluralista, e a outra é a solidarista. A diferença básica segundo colocada pelo Linklater. Os membros principais da sociedade internacional do pluraristas, são os estados. Por mais que muitos pluralistas a precedência moral dos indivíduos, eles vêem o mundo pela lógica do Estado. Enquanto os solidaristas colocam como primeiro, os direitos individuais. A sociedade, é uma sociedade de indivíduos em primeiro lugar. A solidarista seria mais cosmopolista, se aproximaria mais do revolucionarismo. Esse debate ganha influência com o fim da GF, por causa dos solidaristas. Os solidaristas se mostrariam mais propensos a defender a intervenção em nome de princípios humanitários, enquanto os pluralistas seriam defensores em primeiro lugar da soberania e do princípio de não intervenção. As bases desses dois, estariam em dois filósofos distintos. Solidarismo - Grotius, e Pluralismo - Vattel. Justiça: Pros teóricos realistas, a ideia de justiça é uma ideia que faz sentido no plano das RI? Não. Ela é acomodada em função de interesses, e a ideia de ordem é uma ideia mínima. Os realistas pensam estabilidade só como balança de poder. Pra esses teóricos existiria uma tensão, ou contradição entre ordem e justiça. A ordem de estados soberanos capitalistas é uma ordem justa para os marxistas? Não, é injusta porque aumenta o controle da burguesia sobre o proletariado. A justiça, mesmo que em detrimento da ordem, seria melhor. Eles demandam a demolição da ordem para que a justiça possa vingar, a precedência é sobre a justiça, mesmo que em detrimento da ordem, até porque ela é burguesa, tem que ser colocada a baixo para que a justiça possa vingar. Bull e a tensão solidaristas x pluralistas: Bull desconfia dos solidaristas, está dentro dos pluralistas. Vai por a ordem como mais importante. Bull vai colocar que o problema é que não existe um consenso universal sobre justiça global. Então se não existe esse consenso, o temor do povo é de que esses princípios de justiça sejam evocados e aplicados de uma forma seletiva. Em função dos interesses das grandes potências. Existe um consenso mínimo que tem que ser preservado. E esse consenso gira em torno da soberania e não-intervenção. E o que ele teme é que em nome de princípios de justiça, esse mínimo de ordem possa ser abalado. Bull não existe tensão entre ordem e justiça. Se a justiça for acomodada, tem que ser no âmbito de justiça vestfaliano. Soberania: Segundo Bull, a demanda por justiça poderia colocar em xeque a ordem. A precedência deve ser com a ordem, ainda é prematuro se pensar em justiça. Se põe contra a violação da soberania dos Estados, se põe a favor de um compromisso pluralista. A aplicação de princípios de justiça, vai se tornando mais problemática com o fim da II GM. Com o fim da guerra, nesse ambiente da Guerra Fria, tem-se um processo que Bull chama de globalização, ou universalização da sociedade internacional. Ela se globaliza com a independência que antes eram colônias. A sociedade internacional passa a abarcar todo o globo. E essa sociedade internacional tem origem na sociedade internacional europeia. Os estados que não eram soberanos, passam a lutar pelo princípio da soberania, e a soberania vai se tornar um princípio universal, e eles passam a fazer parte do princípio da não-intervenção. Essa sociedade globalizada, é mais heterogênea. É segundo Bull, multicultural. Bull concordou com a sociedade europeia com certos requisitos mínimos, como o conceito de soberania e não intervenção, embora quando o resto do mundo, estados afro-asiáticos passaram a lutar por igualdades seguindo princípios europeus, quando eles adotam o princípio da soberania, essa soberania vai ser reconceituada, vai ter seu conteúdo modificado, e isso porque quando se tem a criação da ONU, tem-se a criação de um orgão responsável por conferir soberania a esses estados. O fato da soberania ter sido alcançada pelos estados afro-asiáticos de uma forma quase que universal do tempo, significa que essa norma da soberania teve um impacto. Os estados que tiveram colônias durante muito tempo, foram vistos como páreas, como estados não civilzados. Como se a concessão da soberania tivesse tido uma norma. Não foram interesses. Hedley Bull diz que essa sociedade europeia vai se tornando global, e também mais heterogênea em termos culturais. Esses países vieram de experiências culturais diversas. E daí, segundo Bull, faz-se essencial que seja importante que, a ordem tenha precedência, a observância de critérios mínimos, como a questão da soberania e não-intervenção. EUA e URSS, em nenhum momento tentaram subverter a ordem, porque eles se reconheciam como estados soberanos, faziam parte da ONU. O que ele fala é que não dá pra partir do princípio de justiça soviética, tentar impor essa justiça ao resto do mundo. Hobbes coloca que no estado de natureza não há agricultura racional, não existe possibilidade e indústria, ou seja, o fruto do trabalho humano não é garantido, comércio.. E Bull vai dizer que o Estado não gasta todas as suas energias em busca de segurança. A sociedade internacional não se configura enquanto estado de natureza hobbesiano. Sistema Internacional: Essas vão ser as definições do Bull de sistema internacional: formado quando dois ou mais estados tem contato suficiente entre eles e tem impacto suficiente nas decisões alheias de forma a fazê-los se comportar, pelo menos em alguma medida como partes de um todo. Sociedade Internacional: Uma sociedade internacionacional existe quando um grupo de estados conscientes de certos interesses e valores comuns formam uma sociedade no sentido de se considerarem ligados no seu relacionamento por um conjunto comum de regrase participarem de instituições comuns. A sociedade precisa da percepção dos agentes que dependem dela. Os estados são conscientes desses valores. A sociedade depende dessa percepção dos atores. E quando percebe, ela é uma constituição social. Daí, a convergência do Bull com construtivismo. E daí os agentes tem uma participação na estrutura dessa sociedade? Sim. Qual é a diferença entre a noção de equilíbrio de poder dos nacionalistas, Bull, para a noção de equilíbrio de poder para Waltz? A definição de sistema internacional de BULL implica na ideia que essas unidades que compõe o sistema tem impacto sobre as ações das demais unidades. A ideia de sociedade internacional implica em valores, mas eles não dependem do que pensam deles. Pro Hedley Bull o equilíbrio de poder é uma instituição internacional. Bull x Waltz: Diferença de equilíbrio de poder do Bull pro Waltz: se pro Bull a ideia de equilibrio de poder tá inserido na sociedade, ele é algo buscado pelos atores, racionalmente e nesse sentido ele é uma política, buscam equilíbrio de poder em nome da ordem. Já pro Waltz, o sistema internacional não é uma sociedade e esse sistema é anárquico. Essa anarquia tem um impacto sobre os agentes (Estados), ela faz com que todos os Estados, independentes de sua composição interna, busquem algo comum, a sobrevivência, a segurança, o meio para se chegar a segurança é a busca pelo poder, sobretudo militar. Ou seja, dá uma ideia de homogeniedade. O equilibrio de poder pro Waltz é um equilíbrio automático (um Estado hegemônico vai ser "questionado" e um novo equilíbrio vai se formar). No Bull o equilíbrio é intencional e no Waltz não é, no Bull o equilíbrio de poder é normativo. Esse equilíbrio de poder pro Waltz é empírico. Ele ocorre, não é buscado. Pra Waltz os Estados não estão no intuito de estabelecer a ordem e sim a busca pela sobrevivência, que leva a uma ordem e que será questionada pelos "não-hegemônicos". Pro Bull os agentes podem mudar o sistema, se os Estados se reorganizarem de outra forma, o sistema pode deixar de ser anárquico, já pro Waltz o sistema vai ser sempre anárquico. Bull e Construtivismo: A ideia de sociedade internacinoal do Bull tem um paralelo com o construtivismo, porque é a partir do momento que você pensa que tá nela, que você tá nela. A existência de tal sociedade depende de tal sentimento de pertencimento. A sociedade internacional é uma construção social. Depende da percepção dos agentes, esses agentes tem um papel na construção da sociedade internacional e nas suas instituições, a exemplo o equilibrio de poder, voltado para a promoção da ordem internacional. Nesse sentido, pode-se dizer que essa sociedade internacional é construída pela ação e percepção de seus agentes. Pro Bull a ordem precede a justiça. "Revolta contra o Ocidente": A sociedade internacional vai se tornando global, com os processos de descolonização. Essa sociedade tem suas origens na Europa. Ele não acredita que esse processo tenha sido um mero processo de ocidentalização. Na medida em que a soceidade internacional se expande da Europa pro resto do mundo, esse processo não teria sido meramente unilateral. O resto do mundo simplesmente assumindo os valores europeus. Ele vai tentar mostrar que esse resto do mundo também conseguiu se inserir de uma forma positiva nessa sociedade internacional. Então a sociedade internacional global atual, é uma sociedade multicultural. E a gente só pode entender a sociedade internacional, segundo Bull, a partir do que ele chama da revolta contra o Ocidente. Esse resto do mundo conseguiu introduzir uma série de reivindicações nessa sociedade internacional, e é aí que ele explica a revolta contra o Ocidente. Ela foi constituída, segundo Bull, sobre 5 fases, que estão no artigo do Linklater. 1. A primeira seria a fase de luta pela igualdade soberana, reivindicação da igualdade soberana. Essa fase se situa no início do século XX e Bull denomina essa luta como uma luta por parte de potências como a China e o Japão, que por mais que fossem reconhecidas como independentes formalmente, sofriam com tratados desiguais, tratados impostos pela força e coerção pelo Ocidente, que beneficiava as potências Ocidentais. Então, essa luta do Japão e pela China pela erradicação desses tratados desiguais, já que eles queriam ser tratadas em pé de igualdade as potências europeias, foi marcada pelo fim da ideia de não reciprocidade. 2. A segunda fase vai dizer respeito a uma revolta política contra o Ocidente, por parte das colônias, que se dá no pós-SGM, em nome da libertação. Revolta pela libertação das colônias 3. A terceira fase seria uma revolta pelo fim da lógica racial. O fim da discriminação racial. 4. A quarta fase é a revolta econômica, contra a exploração e opressão econômica por parte do Ocidente. como que se manifesta essa revolta? Quais vão ser as instituições onde ela vai se manifestar? 5. A quinta fase é a revolta cultural contra o Ocidente. Segundo Bull, uma revolta contra a tentativa do Ocidente de impor os seus valores e as suas visões de mundo. Uma luta dos países não-Ocidentais de valorizar e resgatas suas tradições. O Linklater mostra que essa revolta cultural contra o Ocidente ainda estaria em operação. Pra isso ele cita a luta islâmica contra a hegemonia Ocidental. É essa revolta cultural que vai resultar em uma sociedade multicultural e é o que faz com que Bull diga que nessa sociedade a ordem deve vir antes da justiça. Resumo feito por Victor Miranda Irischool 2011.2