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Protágoras de Abdera-Principais Teses-111

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Enviado por Natália Costa em

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PROTÁGORAS DE ABDERA
Dados Biográficos:
. Nasce, provavelmente, entre 491 e 481 a.C.
. Cidade mais provável: Abdera.
. Viajou por muitas cidades e alcançou muita notoriedade em vida, especialmente, pelos políticos da época.
A Obra
. Dificuldade de determinar o que são efetivamente escritos de Protágoras e dos sofistas pelo desaparecimento dos tratados e dos discursos. Provavelmente por dois motivos principais: pela característica daqueles que teriam utilizado essas fontes e pelo destino das obras filosóficas que viriam em seguida.
Basicamente se atribui a Protágoras dois livros, sendo o primeiro composto por vários escritos: Antilogias e Sobre a Verdade.
Antilogias:	
. Provavelmente constava de dois livros e tratava de quatro questões fundamentais:
Os deuses.
O Ser.
As leis e todos os problemas relativos a polis.
As “artes” (“técnicas”)
A Verdade – ou Discursos Demolidores ou As Mudanças (Kataballontes). É chamada ainda, mais tarde como o Grande Tratado (Mégas Logos).
. Obra capital de Protágoras, citada no Teeteto de Platão. A compreensão desse título implica na compreensão da importância crescente ao problema da Verdade no mundo grego.
 Principais Teses:
A estrutura atribuída à exposição de Protágoras é importante porque pode determinar a intenção e o significado da própria exposição. Geralmente é atribuído um forte relativismo cético à doutrina protagoreana e omite-se todo caráter construtivo que poderia ser nela identificado. Tal interpretação seria decorrente de um mal posicionamento da tese do Homem-medida na compreensão das doutrinas desse sofista.
É possível identificar três grandes momentos: 1. As Antilogias; a descoberta da tese do Homem-Medida; a elaboração do discurso forte. Nessa perspectiva, apenas o primeiro momento seria negativo, enquanto os dois últimos positivos.
3.1 O duplo discurso (Dissoi logoi)
Diógenes Laércio, 9, 50 e segs.
“Em torno de cada coisa existem dois raciocínios que se contrapõem entre si”
. De tudo é possível, afirmar e negar; produzir razões que se anulem.
. Fragmento de um anônimo: 
“Uma dupla ordem de raciocínios se faz na Grécia, pelos cultores da filosofia, em torno do ao bem e ao mal. Alguns sustentam que o bem é uma coisa, o mal, outra; outros, ao contrário, que são a mesma coisa; o que para alguns seria bem, para outros é mal; e para o mesmo indivíduo, seria ora bem, ora mal. Quanto a mim, eu me aproximo destes homens; e buscarei as provas na vida humana [...]”
. De acordo com comentadores, essa tese exprime forte sentimento enraizado na cultura grega, em função do politeísmo: diversidade das divindades que se confrontam e se equilibram em seus poderes. Mundo plural e policêntrico leva à clivagem.
	 	. Exemplos: Questão do Tempo:
. Não é percebido como um meio homogêneo, constituído por fragmentos de duração iguais, mensuráveis. É percebido como o tempo da ocasião propícia – kairós:
				. aparece e desaparece;
			. bom para uns e ruim para outros – não o mesmo para 
todos;
		. Questão do Espaço:
. Várias cidades-estado que se configuram como uma dispersão de poderes que a todo momento entram em conflito.
		(
. Itinerância da sofística: vivência de fragmentação do tempo, do espaço e de diversidade de discursos, discursos desconexos.
	
. Relação com regime democrático: por que não vários discursos ao invés de dois?
. Redução de toda polêmica a dois campos: afirmação ou negação de uma determinada tese.
. O campo judiciário – o processo – se caracteriza como um campo de batalha dividido em dois partidos: agon.
. Aproximação entre Protágoras e Heráclito – próprio âmago do universo é conflito: “O Combate é pai de todas as coisas, de todas é rei.” (Fr. B53 DK).
. Aproximação feita tanto no Teeteto de Platão como na Metafísica de Aristóteles (livro IV).
. Aristóteles: retórica protagoreana renuncia a contradição, dividindo-a em antilogias – dois discursos coerentes consigo mesmos, mas incompatíveis entre si.
. O real corta a linguagem levando-a a dois discursos lançados a uma oposição insuperável.
(
. Recusa da distinção entre opinião e verdade: reabilitação da opinião (doxa) – desmentidos contínuos expressam lei da vida.
	
. O Bem toma uma perspectiva múltipla:
. Platão, Protágoras 334b: “O Bem é qualquer coisa de variegado” 
. Platão, Sofista, apresenta o sofista como uma espécie de “malabarista” da contradição: antilogiskòn. (Platão, Sofista, 232 b-c; 232 d-e; 233a).
. O possível primeiro livro das Antilogias – Sobre os Deuses – poderia instaurar uma distinção entre o acesso ao invisível e o acesso ao visível.
. Os dois discursos contrários a respeito das divindades – que existem e que não existem – não podem ser superados, ao contrário, anulam-se – tratam de um domínio invisível que não pode ser acessado. (Eusébio, Preparação Evangélica, 14, 3, 7)
. Da mesma maneira os discursos que tratam do destino da alma após a morte.
. Essa posição referente aos deuses prepara a tese do Homem-Medida, pois na ausência dos deuses, fica o homem: recusa do absoluto ( humanismo radical.
. No campo do visível encontram-se, portanto, todas as ações humanas e as diversas possibilidades de considerá-las.
. Ex: Morte acidental por um dardo – a quem cabe a responsabilidade: ao dardo; a quem o lançara ou aos organizadores dos jogos. (Plutarco, Péricles, 36) Três causas podem ser invocadas: no domínio médico: o dardo; para o juiz: quem o lançou; para autoridade política: organizador dos jogos ( Perspectivismo. Há uma impossibilidade de uma determinação absoluta. Decisões só podem obter o discernimento ao vivo, nos casos concretos e segundo os juízos mais corretos (orthós).
	
. Também matemática é antilógica.
. A matemática não pode dispensar as figuras. Mas, as figuras não correspondem aos discursos, as definições. (Aristóteles, Met. 3, 2, 997 b 32.) 
3.2 – O Princípio do Homem-Medida:
. Implicação de uma tese ontológica – doutrina do fluxo de Heráclito ( Princípio do “Homem-Medida”
Sexto Empírico, Contra os Matemáticos, 7, 60
“Alguns incluíram também Protágoras de Abdera no grupo dos filósofos que aboliram o critério, porque afirma que todas as aparências são verdadeiras e que a verdade é algo de relativo, pois que tudo o que é aparência ou opinião para um indivíduo existe desde logo para ele. Assim, ao começar os Discursos Demolidores, declarou: ‘O homem é a medida de todas as coisas, das que são que são, das que não são que não são.’”
Platão, Teeteto, 151e-152a.
SÓCRATES: Arrisca-te a ter proposto uma definição do conhecimento com muito valor, coincidindo com a que Protágoras também defendia. Ele exprimiu de modo diferente a mesma idéia. Disse numa obra sua que o homem era a medida de todas as coisas quer dos entes que são quer dos entes que não são. Leste certamente isso? 
TEETETO: Li isso muitas vezes.
- SÓC. E não quer ele dizer desse modo que tal como cada coisa aparece para mim, assim ela é para mim, tal como cada coisa aparece para ti, assim ela é para ti, sendo tu homem e eu também?... Não é verdade que, por vezes, quando o mesmo vento sopra, um de nós sente frio e o outro não? E um o sente ligeiramente e o outro fortemente?
- TEET. Certamente.
- SÓC. Ora, neste caso, diremos que o mesmo vento é, em si próprio, frio e não frio? Ou deixar-nos-emos persuadir por Protágoras que diz que é frio para os que têm frio e não é frio para os que não têm frio?
- TEET. Parece-me que sim.
- SÓC. Aparece assim para cada um, não é verdade?
- TEET. Sim.
- SÓC. E dizer que aparece é o mesmo que dizer que se sente?
- TEET. É o mesmo.
- SÓC. A aparência e a sensação são pois o mesmo no que respeita às coisas quentes e a todas as coisas análogas. Conforme cada um percepciona as coisas assim é provável que elas sejam para ele. 
. Qual é o sentido de “coisa”?
. Termo usado não é “pragma” mas “chrema” – coisa de que nos servimos, coisa útil.
. Qual é o sentido de “medida”?
. O termo “metron”, traduzido por medida, foi considerado por Sexto Empírico como “critério”.
. Mas, pode ser dado outro sentido: “domina”. É possível encontrar esse sentido no grego – “domínio sobre qualquer coisa”.
. É feito um paralelo com o sentido de medida em Heráclito no fragmento a respeito do fogo: (Clemente de Alexandria, Stromata, V, 104 )
“O cosmo, o mesmo para todos, não o fez nenhum dos deuses nem nenhum dos homens, mas sempre foi, é e será fogo sempre vivo, acendendo-se segundo medidas e segundo medidas apagando-se.”
. Esta medida seria uma ordem diretiva do mundo, o domínio exercido sobre este e, consequentemente, sobre o futuro.
. Métron deriva do verbo “médo – cuido, projeto, reino sobre”.
. Crítica de outros autores: o que domina tende a hybris, desmedida. O métron conserva a medida; cuida sem tomar posse. Não haveria nenhuma proximidade com sentindo de violência em Protágoras. O Homem regula mais do que domina.
. Qual a extensão do sentido de homem (ánthropos)? Individual ou Universal?
. Se o sentido é individual, a própria tese de Protágoras encontra-se comprometida: 
Platão, Teeteto, 161c:
Quanto ao resto, defendeu, de um modo que me agrada, que o que parece a cada um também é como tal. Mas espantou-me o princípio do seu discurso, que, ao começar a sua Verdade, não tenha dito que a medida de todas as coisas é o porco ou o cinocéfalo ou um ser ainda mais estranho de entre os dotados de sensação, para nos começar a falar em tom solene e muito desdenhoso, demonstrando-nos que o admirávamos como um deus pela sua sabedoria, e que ele não era, quanto à inteligência, em nada superior a um girino ou a qualquer outro homem.
. No séc. XIX – Hegel considera a possibilidade de se tratar do Homem universal; Humanidade
. Essa opção dá chance a uma convergência de julgamento na separação entre erro e verdade baseada, inclusive, na condição universal da percepção. (Aproximação com a tese Kantiana)
. Mas, é o próprio Hegel quem considera que a distinção de sentidos talvez não tenha ainda sido estabelecida claramente na época. Haveria mistura dos dois significados.
. Crítica: a ambigüidade seria proposital, pois garante enorme plasticidade para lidar com o singular e o universal: dois momentos de um processo dialético.
. A noção de verdade se encontra justamente na passagem de um sentido para o outro: a opinião pessoal se verifica no acordo com a opinião dos outros. Opinião singular sem acordo – ausência da persuasão.
. Essa ambigüidade expressaria também a tensão presente no conceito de homem: homem vive a tensão entre as opiniões. Entra em conflito quando não há acordo; recupera harmonia, sua própria unidade, quando há conciliação.
. Implicação da tese ontológica de Heráclito
		(
. Relação entre o ser e o aparecer; identificação entre o Ser e o Aparecer:
. Verdade se torna o “aparecer” – 
– caráter subjetivo da Verdade; verdade para uma consciência. (Hegel – precedência do idealismo subjetivo; posição do absoluto como sujeito – “princípio da era moderna”; diferença Platão e Aristóteles). 
3.3 – A concepção de sabedoria: o Discurso Forte
. Distinção entre discurso forte e discurso fraco:
. Discurso fraco – discurso não compartilhado, isolado, marginal (hétton logos)	 ( foge à natureza do discurso: comunicar ( supõe algo de comum.
. Discurso forte – discurso compartilhado, majoritário, torna-se unânime (kreitón logos) ( partilha o comum com os outros, consenso, por isso fortalece-se ( 
	CONSTITUI A VERDADE.
			(
Verdade privada – verdade do cidadão ≠ igualdade democrática – verdade determinada pela contagem.
. Não é simplesmente o nascimento da erística e nem a tentativa de imposição de uma tese (interpretação tradicional). Ao contrário, organiza um “mundo comum”.
	( relação com o despertar de Heráclito:
		Sexto Empírico, Contra os Matemáticos, VII, 132-133.
“Embora sendo o lógos comum, a massa vive como se tivesse pensamento particular”.
		(
. Num primeiro momento, o Discurso Forte é uma tarefa coletiva – privilégio do que há de comum com o outro.
. Discurso tirânico, grito: discurso violento; desaparece “política” – não é um discurso forte. 
. No Protágoras (Platão), Protágoras defende a extensão da lei para todos, indiferentemente de suas funções: “obriga os que mandam e os que obedecem a conformar-se-lhes.” (326d).
. Relação com a Democracia e a alternância do poder: governantes ( governados.
	(
 . Relação com o mito de Prometeu: 
		(
. diferença entre as artes:
 . políticas – todos possuem igualmente – condição para a cidade democrática.
 . “outras técnicas” – especialistas.
	(
. O ambiente do Discurso Forte é a democracia.
3.3.1 – Sobre a virtude (areté)
. Protágoras caracterizava sua excelência no ensino da virtude.
. Toda educação é educação política, “COEDUAÇÃO” – virtude política vem da participação coletiva na praça pública.
Platão, Protágoras, 318e:
“O meu ensinamento concerne à astúcia (euboulia), seja nos assuntos privados – isto é, o melhor modo de administrar a própria casa – seja nos assuntos públicos – isto é, o modo de se tornar sumamente hábil no governo da coisa pública, nos atos e nas palavras.”
	. Conjunto de conhecimentos que permite ultrapassar as diferenças individuais.
		(
. Interesse pela gramática: 	regula a língua, faz linguagem partilhada por todos – universalização do emprego dos signos.
MAS
. Há diferença entre discursos capazes de captar a adesão:
			. Discurso forte, virtude:
. capacidade de universalização;
. capacidade de substituição – por meio de persuasão e argumentação – de um discurso fraco, local, por discurso forte – mais pleno, mais global.
(
. Substituição de aparência pobre por aparência rica – estreita consentimentos, consensos.
. // com o médico: substituição de sintomas: sintomas da doença (desagradáveis) para os sintomas da saúde (agradáveis).
. Ensino superior: 	ajuda distinguir opinião que vale menos e opinião que vale mais:
. O caráter pragmático – o critério que distingue as opções é o mais útil, mais conveniente, mais oportuno (kairós).
. Líder político: leva à adoção na comunidade das disposições mais úteis à comunidade: 
		. Polarizando possibilidade de votos em torno de seu nome;
	. Criando discurso forte: mesmo por atitudes exemplares (Ex: Péricles diante da morte dos filhos) ( Discurso torna-se compartilhado: cria verdade e justiça. 
Platão, Teeteto, 166d
“(...) mas é o homem sábio que, a cada coisa individual que aos cidadãos seja má, substitui outras coisas que são e aparecem como boas.”
. Na perspectiva explorada por Platão: sabedoria se equivale à capacidade de mudança na percepção do outro para o que lhe é mais útil.
(
. Homem virtuoso: capaz de juntar outros a sua volta; expressar afirmações e decisões generalizáveis.
. (Nietzsche: o homem superior e a criação do valor).

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