Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original
� PAGE \* MERGEFORMAT �5� PROTÁGORAS DE ABDERA Dados Biográficos: . Nasce, provavelmente, entre 491 e 481 a.C. . Cidade mais provável: Abdera. . Viajou por muitas cidades e alcançou muita notoriedade em vida, especialmente, pelos políticos da época. A Obra . Dificuldade de determinar o que são efetivamente escritos de Protágoras e dos sofistas pelo desaparecimento dos tratados e dos discursos. Provavelmente por dois motivos principais: pela característica daqueles que teriam utilizado essas fontes e pelo destino das obras filosóficas que viriam em seguida. Basicamente se atribui a Protágoras dois livros, sendo o primeiro composto por vários escritos: Antilogias e Sobre a Verdade. Antilogias: . Provavelmente constava de dois livros e tratava de quatro questões fundamentais: Os deuses. O Ser. As leis e todos os problemas relativos a polis. As “artes” (“técnicas”) A Verdade – ou Discursos Demolidores ou As Mudanças (Kataballontes). É chamada ainda, mais tarde como o Grande Tratado (Mégas Logos). . Obra capital de Protágoras, citada no Teeteto de Platão. A compreensão desse título implica na compreensão da importância crescente ao problema da Verdade no mundo grego. Principais Teses: A estrutura atribuída à exposição de Protágoras é importante porque pode determinar a intenção e o significado da própria exposição. Geralmente é atribuído um forte relativismo cético à doutrina protagoreana e omite-se todo caráter construtivo que poderia ser nela identificado. Tal interpretação seria decorrente de um mal posicionamento da tese do Homem-medida na compreensão das doutrinas desse sofista. É possível identificar três grandes momentos: 1. As Antilogias; a descoberta da tese do Homem-Medida; a elaboração do discurso forte. Nessa perspectiva, apenas o primeiro momento seria negativo, enquanto os dois últimos positivos. 3.1 O duplo discurso (Dissoi logoi) Diógenes Laércio, 9, 50 e segs. “Em torno de cada coisa existem dois raciocínios que se contrapõem entre si” . De tudo é possível, afirmar e negar; produzir razões que se anulem. . Fragmento de um anônimo: “Uma dupla ordem de raciocínios se faz na Grécia, pelos cultores da filosofia, em torno do ao bem e ao mal. Alguns sustentam que o bem é uma coisa, o mal, outra; outros, ao contrário, que são a mesma coisa; o que para alguns seria bem, para outros é mal; e para o mesmo indivíduo, seria ora bem, ora mal. Quanto a mim, eu me aproximo destes homens; e buscarei as provas na vida humana [...]” . De acordo com comentadores, essa tese exprime forte sentimento enraizado na cultura grega, em função do politeísmo: diversidade das divindades que se confrontam e se equilibram em seus poderes. Mundo plural e policêntrico leva à clivagem. . Exemplos: Questão do Tempo: . Não é percebido como um meio homogêneo, constituído por fragmentos de duração iguais, mensuráveis. É percebido como o tempo da ocasião propícia – kairós: . aparece e desaparece; . bom para uns e ruim para outros – não o mesmo para todos; . Questão do Espaço: . Várias cidades-estado que se configuram como uma dispersão de poderes que a todo momento entram em conflito. ( . Itinerância da sofística: vivência de fragmentação do tempo, do espaço e de diversidade de discursos, discursos desconexos. . Relação com regime democrático: por que não vários discursos ao invés de dois? . Redução de toda polêmica a dois campos: afirmação ou negação de uma determinada tese. . O campo judiciário – o processo – se caracteriza como um campo de batalha dividido em dois partidos: agon. . Aproximação entre Protágoras e Heráclito – próprio âmago do universo é conflito: “O Combate é pai de todas as coisas, de todas é rei.” (Fr. B53 DK). . Aproximação feita tanto no Teeteto de Platão como na Metafísica de Aristóteles (livro IV). . Aristóteles: retórica protagoreana renuncia a contradição, dividindo-a em antilogias – dois discursos coerentes consigo mesmos, mas incompatíveis entre si. . O real corta a linguagem levando-a a dois discursos lançados a uma oposição insuperável. ( . Recusa da distinção entre opinião e verdade: reabilitação da opinião (doxa) – desmentidos contínuos expressam lei da vida. . O Bem toma uma perspectiva múltipla: . Platão, Protágoras 334b: “O Bem é qualquer coisa de variegado” . Platão, Sofista, apresenta o sofista como uma espécie de “malabarista” da contradição: antilogiskòn. (Platão, Sofista, 232 b-c; 232 d-e; 233a). . O possível primeiro livro das Antilogias – Sobre os Deuses – poderia instaurar uma distinção entre o acesso ao invisível e o acesso ao visível. . Os dois discursos contrários a respeito das divindades – que existem e que não existem – não podem ser superados, ao contrário, anulam-se – tratam de um domínio invisível que não pode ser acessado. (Eusébio, Preparação Evangélica, 14, 3, 7) . Da mesma maneira os discursos que tratam do destino da alma após a morte. . Essa posição referente aos deuses prepara a tese do Homem-Medida, pois na ausência dos deuses, fica o homem: recusa do absoluto ( humanismo radical. . No campo do visível encontram-se, portanto, todas as ações humanas e as diversas possibilidades de considerá-las. . Ex: Morte acidental por um dardo – a quem cabe a responsabilidade: ao dardo; a quem o lançara ou aos organizadores dos jogos. (Plutarco, Péricles, 36) Três causas podem ser invocadas: no domínio médico: o dardo; para o juiz: quem o lançou; para autoridade política: organizador dos jogos ( Perspectivismo. Há uma impossibilidade de uma determinação absoluta. Decisões só podem obter o discernimento ao vivo, nos casos concretos e segundo os juízos mais corretos (orthós). . Também matemática é antilógica. . A matemática não pode dispensar as figuras. Mas, as figuras não correspondem aos discursos, as definições. (Aristóteles, Met. 3, 2, 997 b 32.) 3.2 – O Princípio do Homem-Medida: . Implicação de uma tese ontológica – doutrina do fluxo de Heráclito ( Princípio do “Homem-Medida” Sexto Empírico, Contra os Matemáticos, 7, 60 “Alguns incluíram também Protágoras de Abdera no grupo dos filósofos que aboliram o critério, porque afirma que todas as aparências são verdadeiras e que a verdade é algo de relativo, pois que tudo o que é aparência ou opinião para um indivíduo existe desde logo para ele. Assim, ao começar os Discursos Demolidores, declarou: ‘O homem é a medida de todas as coisas, das que são que são, das que não são que não são.’” Platão, Teeteto, 151e-152a. SÓCRATES: Arrisca-te a ter proposto uma definição do conhecimento com muito valor, coincidindo com a que Protágoras também defendia. Ele exprimiu de modo diferente a mesma idéia. Disse numa obra sua que o homem era a medida de todas as coisas quer dos entes que são quer dos entes que não são. Leste certamente isso? TEETETO: Li isso muitas vezes. - SÓC. E não quer ele dizer desse modo que tal como cada coisa aparece para mim, assim ela é para mim, tal como cada coisa aparece para ti, assim ela é para ti, sendo tu homem e eu também?... Não é verdade que, por vezes, quando o mesmo vento sopra, um de nós sente frio e o outro não? E um o sente ligeiramente e o outro fortemente? - TEET. Certamente. - SÓC. Ora, neste caso, diremos que o mesmo vento é, em si próprio, frio e não frio? Ou deixar-nos-emos persuadir por Protágoras que diz que é frio para os que têm frio e não é frio para os que não têm frio? - TEET. Parece-me que sim. - SÓC. Aparece assim para cada um, não é verdade? - TEET. Sim. - SÓC. E dizer que aparece é o mesmo que dizer que se sente? - TEET. É o mesmo. - SÓC. A aparência e a sensação são pois o mesmo no que respeita às coisas quentes e a todas as coisas análogas. Conforme cada um percepciona as coisas assim é provável que elas sejam para ele. . Qual é o sentido de “coisa”? . Termo usado não é “pragma” mas “chrema” – coisa de que nos servimos, coisa útil. . Qual é o sentido de “medida”? . O termo “metron”, traduzido por medida, foi considerado por Sexto Empírico como “critério”. . Mas, pode ser dado outro sentido: “domina”. É possível encontrar esse sentido no grego – “domínio sobre qualquer coisa”. . É feito um paralelo com o sentido de medida em Heráclito no fragmento a respeito do fogo: (Clemente de Alexandria, Stromata, V, 104 ) “O cosmo, o mesmo para todos, não o fez nenhum dos deuses nem nenhum dos homens, mas sempre foi, é e será fogo sempre vivo, acendendo-se segundo medidas e segundo medidas apagando-se.” . Esta medida seria uma ordem diretiva do mundo, o domínio exercido sobre este e, consequentemente, sobre o futuro. . Métron deriva do verbo “médo – cuido, projeto, reino sobre”. . Crítica de outros autores: o que domina tende a hybris, desmedida. O métron conserva a medida; cuida sem tomar posse. Não haveria nenhuma proximidade com sentindo de violência em Protágoras. O Homem regula mais do que domina. . Qual a extensão do sentido de homem (ánthropos)? Individual ou Universal? . Se o sentido é individual, a própria tese de Protágoras encontra-se comprometida: Platão, Teeteto, 161c: Quanto ao resto, defendeu, de um modo que me agrada, que o que parece a cada um também é como tal. Mas espantou-me o princípio do seu discurso, que, ao começar a sua Verdade, não tenha dito que a medida de todas as coisas é o porco ou o cinocéfalo ou um ser ainda mais estranho de entre os dotados de sensação, para nos começar a falar em tom solene e muito desdenhoso, demonstrando-nos que o admirávamos como um deus pela sua sabedoria, e que ele não era, quanto à inteligência, em nada superior a um girino ou a qualquer outro homem. . No séc. XIX – Hegel considera a possibilidade de se tratar do Homem universal; Humanidade . Essa opção dá chance a uma convergência de julgamento na separação entre erro e verdade baseada, inclusive, na condição universal da percepção. (Aproximação com a tese Kantiana) . Mas, é o próprio Hegel quem considera que a distinção de sentidos talvez não tenha ainda sido estabelecida claramente na época. Haveria mistura dos dois significados. . Crítica: a ambigüidade seria proposital, pois garante enorme plasticidade para lidar com o singular e o universal: dois momentos de um processo dialético. . A noção de verdade se encontra justamente na passagem de um sentido para o outro: a opinião pessoal se verifica no acordo com a opinião dos outros. Opinião singular sem acordo – ausência da persuasão. . Essa ambigüidade expressaria também a tensão presente no conceito de homem: homem vive a tensão entre as opiniões. Entra em conflito quando não há acordo; recupera harmonia, sua própria unidade, quando há conciliação. . Implicação da tese ontológica de Heráclito ( . Relação entre o ser e o aparecer; identificação entre o Ser e o Aparecer: . Verdade se torna o “aparecer” – – caráter subjetivo da Verdade; verdade para uma consciência. (Hegel – precedência do idealismo subjetivo; posição do absoluto como sujeito – “princípio da era moderna”; diferença Platão e Aristóteles). 3.3 – A concepção de sabedoria: o Discurso Forte . Distinção entre discurso forte e discurso fraco: . Discurso fraco – discurso não compartilhado, isolado, marginal (hétton logos) ( foge à natureza do discurso: comunicar ( supõe algo de comum. . Discurso forte – discurso compartilhado, majoritário, torna-se unânime (kreitón logos) ( partilha o comum com os outros, consenso, por isso fortalece-se ( CONSTITUI A VERDADE. ( Verdade privada – verdade do cidadão ≠ igualdade democrática – verdade determinada pela contagem. . Não é simplesmente o nascimento da erística e nem a tentativa de imposição de uma tese (interpretação tradicional). Ao contrário, organiza um “mundo comum”. ( relação com o despertar de Heráclito: Sexto Empírico, Contra os Matemáticos, VII, 132-133. “Embora sendo o lógos comum, a massa vive como se tivesse pensamento particular”. ( . Num primeiro momento, o Discurso Forte é uma tarefa coletiva – privilégio do que há de comum com o outro. . Discurso tirânico, grito: discurso violento; desaparece “política” – não é um discurso forte. . No Protágoras (Platão), Protágoras defende a extensão da lei para todos, indiferentemente de suas funções: “obriga os que mandam e os que obedecem a conformar-se-lhes.” (326d). . Relação com a Democracia e a alternância do poder: governantes ( governados. ( . Relação com o mito de Prometeu: ( . diferença entre as artes: . políticas – todos possuem igualmente – condição para a cidade democrática. . “outras técnicas” – especialistas. ( . O ambiente do Discurso Forte é a democracia. 3.3.1 – Sobre a virtude (areté) . Protágoras caracterizava sua excelência no ensino da virtude. . Toda educação é educação política, “COEDUAÇÃO” – virtude política vem da participação coletiva na praça pública. Platão, Protágoras, 318e: “O meu ensinamento concerne à astúcia (euboulia), seja nos assuntos privados – isto é, o melhor modo de administrar a própria casa – seja nos assuntos públicos – isto é, o modo de se tornar sumamente hábil no governo da coisa pública, nos atos e nas palavras.” . Conjunto de conhecimentos que permite ultrapassar as diferenças individuais. ( . Interesse pela gramática: regula a língua, faz linguagem partilhada por todos – universalização do emprego dos signos. MAS . Há diferença entre discursos capazes de captar a adesão: . Discurso forte, virtude: . capacidade de universalização; . capacidade de substituição – por meio de persuasão e argumentação – de um discurso fraco, local, por discurso forte – mais pleno, mais global. ( . Substituição de aparência pobre por aparência rica – estreita consentimentos, consensos. . // com o médico: substituição de sintomas: sintomas da doença (desagradáveis) para os sintomas da saúde (agradáveis). . Ensino superior: ajuda distinguir opinião que vale menos e opinião que vale mais: . O caráter pragmático – o critério que distingue as opções é o mais útil, mais conveniente, mais oportuno (kairós). . Líder político: leva à adoção na comunidade das disposições mais úteis à comunidade: . Polarizando possibilidade de votos em torno de seu nome; . Criando discurso forte: mesmo por atitudes exemplares (Ex: Péricles diante da morte dos filhos) ( Discurso torna-se compartilhado: cria verdade e justiça. Platão, Teeteto, 166d “(...) mas é o homem sábio que, a cada coisa individual que aos cidadãos seja má, substitui outras coisas que são e aparecem como boas.” . Na perspectiva explorada por Platão: sabedoria se equivale à capacidade de mudança na percepção do outro para o que lhe é mais útil. ( . Homem virtuoso: capaz de juntar outros a sua volta; expressar afirmações e decisões generalizáveis. . (Nietzsche: o homem superior e a criação do valor).