Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original
Métodos e Estratégias de Prova Prof. Eric Fernandes de Mello Araújo - DCC/UFLA 24 de março de 2011 1 Provas Diretas Para provar que um argumento é válido, ou que sua conclusão decorre logi- camente das hipóteses, devemos adotar uma metodologia onde é preciso (1) assumir que as hipóteses são verdadeiras e (2) usar as regras de inferência e as equivalências lógicas para determinar que a conclusão é verdadeira. Exemplo 1: Consideremos, por exemplo, o seguinte argumento lógico: �Se os cavalos voam ou as vacas comem alcachofras, então o mosquito é uma ave nacional. Se o mosquito é uma ave nacional, então manteiga de amendoim fica boa no cachorro quente. Mas manteiga de amendoim não fica boa no ca- chorro quente. Portanto, vacas não comem alcachofras.� 1. Atribuir variáveis proposicionais para os componentes proposicionais do argumento: F: Cavalos voam A: Vacas comem alcachofras M: Mosquitos são aves nacionais P: Manteiga de amendoim fica boa no cachorro quente 2. Represente o argumento formalmente utilizando as variáveis 1. (F ∨A)→M 2. M → P 3. ¬P ∴ ¬A 3. Use as hipóteses 1, 2 e 3 e as regras de inferência bem como quaisquer equivalências lógicas para construir a prova Afirmações Razões 1.(F ∨A)→M Hipótese 1 2.M → P Hipótese 2 3.(F ∨A)→ P passos 1 e 2 e silogismo hipotético 4. ¬P Hipótese 3 5. ¬(F ∨A) passos 3 e 4 e modus tollens 6. ¬F ∧ ¬A passo 5 e De Morgan 7. ¬A ∧ ¬F passo 6 e comutatividade de 'and' 8. ¬A passo 7 e simplificação 1 Q.E.D. Exemplo 2: Se 6x + 9y = 101, então x ou y não são inteiros. Prova: Assuma que 6x + 9y = 101 é verdade. A partir das regras de álgebra, 3(2x + 3y) = 101. Mas 101/3 não é um número inteiro, o que nos leva a conclusão de que 2x, 3y ou ambos não é um inteiro. Logo, um dos valores de x ou y não é um inteiro. Q.E.D. 2 Provas Indiretas Provas que não começam considerando as hipóteses verdadeiras e culminando na conclusão são conhecidas como provas indiretas. Exemplos de provas indiretas são as provas por contraposição, por contradição, entre outras. Queremos provar a veracidade do seguinte teorema: P → Q sendo que P pode ser a conjunção de várias hipóteses. Dizemos que P → Q é uma conjectura até que seja provada. 2.1 Prova Trivial Se sabemos que Q é verdade, então P → Q é verdade. Exemplo: Se está chovendo hoje, então o conjunto vazio é um subconjunto de qualquer conjunto. A afirmação é trivialmente verdadeira independetemente da verdade de P. 2.2 Prova por Vacuidade Se sabemos que uma das hipóteses em P é falsa, então, por vacuidade, P → Q é verdadeira. Exemplo: Se eu sou rico e pobre, então o tsunami no Japão foi apenas uma marolinha. Isso poderia ser colocado na forma (P ∧ ¬P ) → Q, onde a hipótese é uma contradição. Logo, Q decorre da hipótese por vacuidade. 2.3 Prova por Contraposição: A prova por contraposição é a prova direta da contrapositiva. Para isso, deve-se (1) considerar a equivalência lógica P → Q ≡ ¬Q→ ¬P , e (2) usar as regras de inferência, axiomas e quaisquer equivalências lógicas para provar a veracidade da contrapositiva. Exemplo: Um número perfeito é aquele que é dado pela soma de todos os seus divisores, exceto ele. Por exemplo, 6 é perfeito, uma vez que 6 = 3 + 2 + 1. 28 também é um número perfeito, pois 28 = 14 + 7 + 4 + 2 + 1. Teorema: Um número perfeito não é primo. 2 Prova: �Se p é um número perfeito (P), então p não é primo(Q)�. P → Q ≡ ¬Q→ ¬P Ou seja, queremos provar que �Se p é primo, então p não é perfeito�. Então, assumimos que o número p é primo e mostramos que o mesmo não é perfeito. Porém os únicos divisores de um número primo são 1 e ele mesmo. Assim, a soma dos divisores menos o número p é 1, e não é igual a p. Portanto, p não pode ser perfeito. Q.E.D. 2.4 Prova por contradição ou Reductio ad Absurdum Para provar por contradição, supomos P e ¬Q e prosseguimos com um raciocínio válido até chegarmos a uma situação impossível. Queremos provar que �Se P, então Q�. Para isso, mostramos que é impossível P ser verdadeiro enquanto Q é falso. Queremos mostrar que P → ¬Q é impossível! Para isso (1) assuma que a conclusão Q é falsa, ou seja, admitimos ¬Q, e (2) aceitamos a hipótese P. Enfim, queremos provar que (P ∧ ¬Q) → Contradi¸ca˜o, o que é logicamente equivalente a provar P → Q. Teorema: Nenhum inteiro é ao mesmo tempo par e ímpar. Prova: Reapresentando o teorema, pode-se dizer que �se x é um inteiro, então não pode ser simultaneamente par e ímpar�. Seja x um inteiro. Suponhamos, por contradição, que x seja ao mesmo tempo par e ímpar. Como x é par, sabemos que existe um inteiro k tal que x = 2k. Como x é ímpar, sabemos que existe um inteiro z tal que x = 2z + 1. Portanto, 2k = 2z + 1, ou k = z + 12 , de forma que k − z = 12 . Note que k − z é inteiro, uma vez que ambos são inteiros, mas 12 não o é. Isso é impossível. Chegamos, assim, a uma contradição, e nossa suposição (de que x seja ao mesmo tempo par e ímpar) é falsa. Portanto, x não é simul- taneamente par e ímpar, e a proposição está provada. Q.E.D. 2.5 Prova por casos Quebra-se a premissa P → Q em uma disjunção equivalente na forma: P1 ∨ P2 ∨ . . . ∨ Pn Utiliza-se a tautologia [(P1 → Q) ∧ (P2 → Q) ∧ . . . ∧ (Pn → Q)]↔ [(P1 ∨ P2 ∨ . . . ∨ Pn)→ Q] onde cada uma das implicações Pi → Q é um caso. Nesse caso, deve-se convencer o leitor de que os casos são inclusivos, ou seja, eles cobrem todas as possibilidades, e estabelecer todas as implicações. Exemplo: Seja ⊗ o operador que define o máximo em um conjunto de inteiros: 3 Se a ≥ b então a⊗ b = max{a, b} = a = b⊗ a. Teorema: A operação ⊗ é associativa. Para todo a, b, e (a ⊗ b) ⊗ c = a ⊗ (b ⊗ c). Prova: Sejam a, b e c inteiros arbitrários. Então, um dos 6 casos a seguir deve manter (os casos são exaustivos): 1. a ≥ b ≥ c 2. a ≥ c ≥ b 3. b ≥ a ≥ c 4. b ≥ c ≥ a 5. c ≥ a ≥ b 6. c ≥ b ≥ a Caso 1: a ⊗ b = a, a ⊗ c = a, e b ⊗ c = b. Portanto, (a ⊗ b) ⊗ c = a = a ⊗ (b ⊗ c). Logo, a igualdade sustenta o primeiro caso. Para os demais casos, segue-se o mesmo raciocínio. Q.E.D. 2.6 Prova de Existência Deseja-se estabelecer a verdade de: ∃xP (x). 2.6.1 Prova de existência construtiva Define que P(c) é verdade para algum valor c no universo. Dessa forma, ∃xP (x) é verdade pela generalização existencial (GE) 1 . Exemplo: Existe uma solução inteira para a equação x2 + y2 = z2. Prova: Escolha x=3, y=4 e z=5. 1 P(c) é verdade para algum elemento c ∴ ∃xP (x) 4 2.6.2 Prova de existência não-construtiva Assume-se que não existe c que torne P(c) verdadeira e derive a contradição. Exemplo: Teorema: Números irracionais existem. Prova: Assume-se que não existam números irracionais. Logo, todos os números são racionais. Logo, o conjunto de todos os números deve ser contável. Então o conjunto dos números reais no intervalo [0, 1] é um conjunto contável. Mas nós sabemos que esse conjunto não é contável. Dessa forma, temos uma contradição. Portanto, deve existir um número irracional. Q.E.D. 2.6.3 Prova por contra-exemplo Lembremos que ∃x¬P (x)↔ ¬∀xP (x). Para mostrar que ¬∀xP (x) é verdadeiro (ou que ∀xP (x) é falso) encontre um c tal que ¬P (c) é verdadeiro ou P (c) é falso. Nesse caso, c é chamado de contra-exemplo. 2.6.4 Prova de não-existência Deseja-se verificar a verdade de ¬∃xP (x) (equivalente a ∀x¬P (x)). Para isso, utilize uma prova por contradição, assumindo que existe um c tal que P(c) é verdade. 2.7 Provas de Argumentos com Quantificador Universal Deseja-se, aqui, verificar a verdade de ∀xP (x). Assume-se que x é um elemento arbitrário do Universo, e mostramos que P(x) deve ser verdade. Utilizando a Generalização Universal (GU) 2 . Exemplo: Para o universo dos inteiros, x é par se e somente se x2 é par. Prova: O argumento quantificado é: ∀x[x é par ↔ x2é par] Assumimos um x arbitrário. Lembramos que P ↔ Q é equivalente a (P → Q) ∧ (Q→ P ). Caso 1: Mostramos que se x é par, então x2também é par usando uma prova direta. Se x é par, então x = 2k para algum inteiro k. Logo, x2 = 4k2 = 2(2k2). 2 Regra usada para concluir que P(c) é verdade para todos os elementos c do domínio. Utilizamos a GU quando queremos mostrar que ∀xP (x) é verdade tomando um elemento aleatório do domínio e mostrando que P(c) é verdade. Dessa forma, c deve ser arbitrário, ou seja, devemos mostrar que não temos controle sobre a escolha de c, apenas que o mesmo se encontra no domínio. ∀xP (x).P (x) ∴ ∀xP (x) 5 Ou seja, x2 também é divisível por 2. Caso 2: Mostramos que se x2 é par, então x também é par. Utilizando prova indireta: Assumimos que x2 não é par. Se não é par, então é ímpar. Logo, x = 2k + 1. Então, x2 = (2k + 1)2 = 4k2 + 4k + 1 = 2(2k2 + 2k) + 1 que é um número ímpar. Dessa forma, mostramos que x é par se e somente se x2 é par. Uma vez que x foi arbitrário, o resultado decorre por GU. Q.E.D. 6