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DES0118 - Direito Constitucional I - Camila Oliveira 18521.pdf Constitucional I Professor José Levi Mello do Amaral Júnior Camila da Silva Oliveira – 185/21 1 Direito Constitucional 08/03/2012 15/03/2012 Constitucionalismo É um movimento político-ideológico decorrente das revoluções liberais, porque foram feitas as Constituições, de modo a acabar com o absolutismo e prevenir a volta. Revolução Inglesa (1688-89) Rev. Americana (1776) Rev. Francesa (1789) Constitucionalismo moderno – já que existiu constituição anteriormente, chamamos de constitucionalismo antigo (experiência democrática grega) - Democracia ateniense - “Política” de Aristóteles É o modo como as magistraturas se organizam na cidade (conceito de constituiçõ para Aristóteles). Democracia de Atenas: - Democracia direta (reunião deliberativa na Ágora) - A Lei na Atenas antiga era mera explicitação de um Direito já praticado, herdado de gerações passadas 1) Graphe paranomom – mecanismo controlador das leis, da conformidade das leis com o Direito herdado 1.1) Exemplo mais remoto de “controle de constitucionalidade” 1.1.1) Através do tribunal dos Heliastas Os cargos públicos eram preenchidos de forma democrática, explicitada pelo sorteio. Cargos de curta duração, profunda compreensão de igualdade. Constitucional I Professor José Levi Mello do Amaral Júnior Camila da Silva Oliveira – 185/21 2 431 a.C. Péricles profere, em discurso fúnebre, o primeiro emprego da palavra democracia. FORMAS/REGIMES DE GOVERNO (DOIS CORTES) Quantitativo Qualitativo Quantos governam? Para o bem comum ou bem próprio? Como evitar a degeneração das formas puras de governo? Juntar todas as formas de bom comum em um único governo Exemplo: República romana Analogia – Um – cônsul Poucos – senado Todos – assembleia da plebe SPQR: O senado (autoridade) e o povo romano (poder) Direito Constitucional 22.03.2012 Podemos dividir as Constituições em: 1. Escritas - brasileira 2. Não escritas – inglesa – costumeira – conjunto de práticas havidas entre as casas do parlamento, entre a coroa e o parlamento; não exclui leis que tenham que vez ou outra modificar esses costumes, essas práticas. a) Rígidas – forma de alteração diferente da forma de alteração de uma lei. A modificação é mais difícil, não pode ser alterada por uma lei comum do congresso. Primeiro pressuposto: escritas Segundo pressuposto: mecanismo próprio de alteração Constitucional I Professor José Levi Mello do Amaral Júnior Camila da Silva Oliveira – 185/21 3 Terceiro pressuposto: mecanismo de controle da constitucionalidade b) Flexíveis – pode ser alterada por uma lei qualquer ou aquela cuja alteração não requer uma solenidade diferente daquela reservada pela alteração da lei comum. c) Alguns autores falam ainda da Constituição semi-rígida, que seria a Constituição do Império do Brasil. O professor não concorda com esta classificação, pois acredita que ela tinha na verdade uma parte rígida e uma parte não rígida. Falando agora das normas constitucionais: I) Materias – normas que tocam em assuntos próprios da Constituição; II) Formais – Normas que gozam da forma constitucional, que estão na Constituição. Por estar dentro são mais difíceis de alterar – só pode ser alterado por emenda constitucional e NUNCA por lei Exemplos: Lei citada como materialmente constitucional mas que não está na Constituição: lei orgânica da magistratura nacional que coloca a vitalicidade, inamovibilidade, irredutibilidade dos vencimentos, etc. A lei eleitoral também é materialmente constitucional, mas não está na constituição. Dúvida: cláusulas pétrias – matéria mais aprofundada, que será discutida no ponto de poder constituinte. Terceira classificação da Constituição – Paollo Rufino I) Substancial –Conjunto de normas materialmente constitucionais – conjunto de normas que trata de assuntos próprios da nossa constituição segundo a cultura. II) Formal – Conjunto normativo requer um procedimento diferente de alteração daquele da lei comum. III) Documental – Há um texto solene que se proclama. Tenta revelar uma boa parte da Constituição substancial. Há um documento constitucional, uma lei solene, que não significa que há uma forma de alteração mais dificultosa do que a lei comum. Constitucional I Professor José Levi Mello do Amaral Júnior Camila da Silva Oliveira – 185/21 4 Exemplo: a primeira constituição italiana de 1848 podia ser alterada por qualquer lei – diferentemente da formal, ou seja, ela é documental, mas não é formal. Há outras constituições que tem forma de alteração difícil, porém não estavam consolidadas em único texto (não eram documentais). Neste caso não havia uma Constituição documental, mas havia formal. Quarta classificação – Loewenstein Não faz exame apenas dogmático da Constituição – utiliza-se também do contexto político. Acha, por isso, as classificações insuficientes, por não serem reveladoras das relações de poder político existentes em cada estado. I) Constituição normativa – se faz efetiva no jogo de poder, disciplina o poder ou formas da Constituição – que é fruto das relações de poder. Nela detentores e destinatários do poder se confundem. É um traje, uma roupa, vestida pelo Estado. II) Constituição nominal – é absolutamente ignorada pelos dententores do poder. É um traje bonito que fica no armário, não serve no corpo do Estado, mas tem a pretensão de um dia servir. III) Constituição semântica – é feita pelos detentores do poder apenas para dar forma constitucional para um regime autoritário – poder dissociado dos destinatários do poder. O Estado veste o traje, mas ele não passa de um disfarce. Exemplos: I) Constituição de 88, que mesmo com todos os problemas é normativa; II) Constituição de 34 (ou 64?); III) constituição de 37 e 67. Reposição da aula do dia 29.03 Ciclos do Constitucionalismo - São 10; cinco dos quais se sucedem entre o século XVIII e vão até o início do século XX. No século XX há mais cinco ciclos que não se sucedem, se sobrepõe no tempo – em parte correm em paralelo. Primeiro grupo – ciclos que se sucedem: Constitucional I Professor José Levi Mello do Amaral Júnior Camila da Silva Oliveira – 185/21 5 1. Constituições revolucionárias (século XVIII) A primeira é a americana (1787) Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789) – não é Constituição especificamente, mas é assunto constitucional. Inclusive fez parte da constituição francesa. A primeira Constituição francesa de 1791; as duas de 1793 e a de 1795. 2. Ciclo das Constituições Napoleônicas – 1799 até 1815 3. Ciclo de Constituições da Restauração – Napoleão queria espraiar a Revolução Francesa para toda Europa, quando ele caiu vários dos lugares que ele havia ocupado voltaram à sua vida política. Algumas monarquias se restauraram, mas não foram em termo de poder monárquico absoluto – monarquias constitucionalmente limitadas (regidas e limitadas pela Constituição) 4. Ciclo das Constituições Liberais (1830 – 1848) – começa a haver reclame de democracia. 5. Ciclo de Constituições democráticas que culminam com o voto universal. A história inglesa politicamente é marcada pelo paulatino decréscimo do censo, ou seja, maior inclusão no jogo político eleitoral. Culmina com o voto universal para os homens. Esses ciclos culminam primeiro em um processo liberalizante e posteriormente democratizante. De que forma ocorreu a universalização do voto? Século XIX, conhecido como século das revoluções foi marcada pelas demandas proletárias. Não havia participação no Estado para minorar tais insatisfações, o que gerou um início de reivindicações. Se não é possível se incluir, começa-se a espalhar ideias revolucionários. Então os burgueses passam a incluir outras parcelas da população – decréscimo do censo – democratização. Constitucional I Professor José Levi Mello do Amaral Júnior Camila da Silva Oliveira – 185/21 6 Kelsen foi um dos primeiros a perceber esse fenômeno – a essência e o valor da democracia. Discussão acerca dos partidos políticos. Segundo grupo - ciclos que se sobrepõe: 6. Ciclo das Constituições de Democracia racionalizada (Kelsen) – jogo democrático como um pêndulo que oscila entre a minoria e a maioria. A Democracia decorre de dois postulados de nossa razão prática: liberdade e igualdade. Kelsen radicalizou tanto a democracia que possibilitava a existência de um partido contrário a democracia. As Constituições deste período tentam disciplinar pela norma constitucional uma série de evoluções que até então estavam restritas à prática – houve a racionalização na forma de norma jurídica. A Constituição mais famosa desse ciclo é a de Weimar, de 1918. É essa que o Nazismo atropela; é um marco na história do Constitucionalismo por ser uma das primeiras a tentar regulamentar o parlamentarismo e trazia direitos sociais (a primeira a unir essas duas coisas). Zagrebelsky – fala de valores da democracia. Cética (positivista – Kelsen, por exemplo); dogmática é a liberal clássica, a sua verdade impunha o liberalismo burguês através do voto censitário; democracia crítica – tem valores que orientam o debate democrático em direção a obtenção de uma resposta boa. Pra ele o verdadeiro democrata é aquele que até o último instante tenta o diálogo. Após a derrocada dos regimes nazista e fascista, percebeu-se que não é possível ter uma Constituição sem um mínimo de valores, que sejam valores que defendam a própria democracia. Constitucional I Professor José Levi Mello do Amaral Júnior Camila da Silva Oliveira – 185/21 7 7. Ciclo das Constituições Sociais de Valores mínimos – protegem a própria democracia. Decorrente do que foi exposto acima 8. Ciclo das Constituições autoritária entre guerras – Salazar, por exemplo. Tratam-se de Constituições semânticas, utilizando a classificação de Lewoeistein. 9. Ciclo das constituições do terceiro mundo – Constituições que se inspiravam no mundo desenvolvido, havia a ilusão de que seria ideal a cópia destas constituições – o que obviamente não dava certo, tornavam-se Constituições inefetivas (nominais, segundo Loewenstein) 10. Ciclo das Constituições socialistas – constituições do marxismo e leninismo; eram sobretudo constituições balanço – um balanço do que havia ficado pra trás e o que poderia ser feito pra frente. Democracia madura – liberdade e igualdade se promovendo mutuamente. Qual a diferença entre costume e Commom law (direito jurisprudencial). Este segundo observam, absorvem e trabalham os costumes e devolvem na forma de precedentes – não é um direito costumeiro, já que há todo esse processamento. Em outras palavras, Commom law passa por costumes mas não se resume a eles. É jurisprudencial por que se assenta em precedentes, que por sua vez devem ser compreendidos numa sequência de precedentes e em um contexto social. Aula 12/04/2012 Direito fundamental: auto-executável, auto-aplicável. Classificações de normas constitucionais: Constitucional I Professor José Levi Mello do Amaral Júnior Camila da Silva Oliveira – 185/21 8 Self executing: completas, hipótese e consequência claramente definidas; Ex.: Direitos Fundamentais verdadeiros (naturais, não dependem do Estado), Art. 5º CF. No self executing (programático): estabelecem programas (executados a partir de uma lei). Classificação pelo professor José Afonso: 1) Normas constitucionais de aplicabilidade imediata e de eficácia plena (self executing). 2) Normas constitucionais de aplicação imediata e de eficácia contida. Normas desde logo aplicáveis, porém admite contenção de uma lei reguladora posterior. Ex.: Art. 5 º incido XIII CF, liberdade de trabalhar. 3) Normas constitucionais de eficácia limitada: antes de sua aplicação geram efeitos* mínimos. Ex.: Art. 170 CF, busca do pleno emprego. Efeitos: Impõe dever de legislar; Impede legislação contrária a ela; Se superveniente; em sentido contrário a uma lei anterior, essa lei é morta (caso de sucessão de constituições no tempo). “MENS LEGIS” - vontade da lei “MENS LEGISLATORIS” - vontade do legislador Técnicas de interpretação: Gramatical: literalidade, é o ponto de partida da interpretação. Histórica: como, quando, qual a pretensão da lei, quem, houve lei anterior, emenda, vetos. Constitucional I Professor José Levi Mello do Amaral Júnior Camila da Silva Oliveira – 185/21 9 Sistemática: técnica elementar, já que em geral uma lei não se interpreta sozinha, se interpreta na sua conjugação com as demais leis vigentes no país (se articula com as outras leis). Teleológica: vocacionado a revelar o fim da lei, finalidade. Aula 19/04/2012 Poder Constituinte Sua doutrina pode ser entendida como uma derivação das velhas doutrinas contratualistas, é uma sofisticação disso. Poder constituinte é algo que temos a partir do pensador francês Joseph Siéyès. Abaixo, o que será abordado diz respeito a um dos seus livros (O que é o terceiro estado). Primeira constituição moderna: americana de 1787. Trata-se de uma doutrina contemporânea às constituições modernas. Coloquialmente dizendo, pode-se dizer que o terceiro estado é a burguesia (primeiro é o clero, segundo a nobreza). 1) O que tem sido o terceiro estado? Siéyès diz que ele não tem sido nada, pois é explorado. 2) O que é o terceiro estado? É tudo, pois é a burguesia que sustenta a sociedade. 3) O que pretende ser o terceiro estado? Pretende ser algo, deve ser algo. Como? Com uma nova engenharia, por meio de um novo pacto, uma nova ordem de coisas a ser estabelecida em um texto constitucional que decorre de um poder constituinte Poder constituinte talvez seja o poder mais portentoso que a sociedade conhece, pois é o poder que funda o próprio estado, é o ponto de partida do estado, o funda. Qual a natureza deste poder? É um poder de fato ou de direito? Para um positivista, como Kelsen, trata-se de um poder de fato, pois a ordem jurídica em Kelsen pode ser pensada como uma pirâmide. No topo está a constituição, depois vem os atos normativos primários, depois os secundários e depois os Constitucional I Professor José Levi Mello do Amaral Júnior Camila da Silva Oliveira – 185/21 10 concretos. Uma norma jurídica em Kelsen é válida, pertence à ordem jurídica quando está encadeada a normas superiores. Para Kelsen, para isto não ir ao infinito, acima da Constituição não há uma norma posta, mas uma norma pressuposta, que é uma hipótese. Esta norma é chamada de norma fundamental. Esta norma está para além da pirâmide, fora da pirâmide. Isto está relacionado ao poder constituinte - a norma fundamental tem um conteúdo: devemos obedecer à constituição. Todos os atos normativos posteriores decorrem disso. Estar fundado, ter validade, ser posto pela norma superior, entre outros, significa que não há uma análise de fato ou de valor. Kelsen afasta isso na pretensão de fazer uma narrativa científica, quer ter uma narrativa para explicar qual a ordem jurídica. Uma norma jurídica pertence a outra norma quando se cumprem dois critérios: a norma é válida se e na medida em que é elaborada segundo os processos legislativos traçados pela ordem superior; esse processo é levado adiante pela autoridade competente, aquela que é autorizada pela norma superior. Kelsen cita uma série de exemplos: exemplo do caso da sociedade dos ladrões. Teoria Pura do Direito é muito útil como método, para explicar a estrutura do Direito, mas tem brechas quanto a ser uma filosofia do Direito. (???) Para um jusnaturalista é um poder de direito. Para um jusnaturalista o Direito tem um poder transcendental. Há um direito revelado, direito divino (exemplo: São Tomás de Aquino). Quem é o titular do poder constituinte? (É o mesmo que perguntar quem é o titular da soberania). Na doutrina clássica há duas respostas: a nação ou o povo. Para Siyès o titular da soberania é a nação, que não se confunde com povo – é o povo, mas o povo de ontem, de hoje, de amanhã, sua cultura, suas crenças. Este povo é projetado no tempo. Nação é um elemento perene, uma abstração, uma criatura hipotética. A outra alternativa é inspirada em Rousseau, que acredita que o titular da soberania é a vontade geral, fundada na razão e sem influências. Povo sem preconceitos, sem influências externas – um povo que pensa o certo e errado unicamente fundado nas razões, sem paixões. Este povo expressa a vontade geral, a lei vem daí para Rousseau. Se a soberania atribuída ao povo, o povo somos nós, a ele se presta contas, ele escuta, fala cobra. Como a nação é uma abstração, presta-se contas a uma abstração, etc. A concepção de Siéyès predominou na Revolução Francesa. Constitucional I Professor José Levi Mello do Amaral Júnior Camila da Silva Oliveira – 185/21 11 Há dois tipos de Poder constituinte 1) PCO – Poder constituinte originário – é aquele que funda o Estado. Em um estado que teve várias Constituições, poder constituinte puro é aquele que primeiramente se manifesta. As posteriores serão originárias também, pois o PCO é aquele que inicia ou reinicia o estado. No Brasil, vê-se PCO no Grito do Ipiranga, mas ele se exibe claramente na Primeira Constituição, mesmo que ela tenha sido outorgada (não se entra na discussão da legitimidade ou legalidade dessa constituição). O PCO do golpe militar de 64 pode ter sua legalidade e legitimidade claramente questionados. Características deste poder que funda ou refunda o estado: a) Inicial – dá o pontapé inicial no estado, funda o estado. b) Ilimitado – tem liberdade para decidir qualquer matéria de direito que quiser. Em geral, significa que as decisões políticas fundamentais de um estado são livres para um PCO. Exemplo: qual a forma de governo de um estado. c) Incondicionado – o modo como se manifesta o PCO (se manifesta como quiser, há muitas formas. Ex: constituição outorgada da França). 2) PCI – Poder Constituinte instituído – ele é derivado do originário. a) Derivado b) Limitado – a alteração constitucional, por exemplo, tem limites, não há alteração das decisões políticas fundamentais (limitadas quanto a matéria, em geral diz respeito a forma de estado, regime de governo, etc). c) Condicionado – modo de se manifestar, manifesta-se apenas da maneira prescrita na PCO. Respeitam a constituição, derivam dela. Modificações podem ser: I) Por emenda – o modo de emendá-la nos dá a medida da rigidez constitucional. Se a constituição para ser emendada exige uma maioria Constitucional I Professor José Levi Mello do Amaral Júnior Camila da Silva Oliveira – 185/21 12 qualificada, se ela exige referendo popular, etc, isso dá a medida da rigidez. II) Por revisão – forma de modificar a constituição de forma abrandada. É limitada no tempo. No Brasil houve revisão em 93. Em Portugal a revisão ocorre de maneira periódica. A revisão se incia, acontece e se exaure. Base teórica do poder constituinte Três figuras podem propor emenda constitucional (PEC – proposta de Emenda Constitucional) 1) Presidente da República 2) Um terço dos deputados (171 assinaturas) ou um terço dos senadores (27 senadores) – aqui a iniciativa não é um ato simples, que dependa só de um. 3) A maioria absoluta das Assembleias legislativas do país manifestando-se cada uma pela maioria dos seus membros. Esta hipótese é remota. A Constituição da República Federativa do Brasil vale para o ente federado chamado Uniao e os demais entes federados (26 estados mais o DF). Esse complexo federado compoe o conjunto federativo, que se manifesta pelo senado ou por ele próprio em matéria de alteração constitucional. Há questionamentos quanto à participação do DF nesta conta (mas não faz diferença). Isto é raro pois é mais fácil cada um dos estados pedir para os seus senadores colher assinaturas. É errado dizer que maioria absoluta é metade mais um. A forma correta de explicar é que se trata do primeiro número inteiro depois da metade (exemplo: 27 estados. A maioria absoluta seria 14. De 26 também). Hoje no Brasil temos 68 emendas constitucionais e mais seis revisões. A PEC começa a tramitar, se apresentada pelo presidente, pela Câmara. Se apresentada pelos deputados também, Se apresentada pelos senadores começa a tramitar pelo Senado. Se é apresentada pelos estados começa pelo Senado, pois ele é a casa de Constitucional I Professor José Levi Mello do Amaral Júnior Camila da Silva Oliveira – 185/21 13 representação dos estados (existe no regimento interno do Senado, mas isto fica em teoria por nunca ter acontecido). Se a emenda começou pela Câmara tem que ser aprovada pela primeira no plenário da Câmara com 3/5 dos votos dos Deputados (308 ou mais votados). Se foi aprovada, depois disso há um prazo regimental, um interstício, para ocorrer uma segunda votação, que obedece à mesma proporção. Depois disso a PEC vai para o Senado, que tem uma tramitação bem mais simples. Há necessidade de 3/5 (49 votos) na primeira votação e também uma segunda votação que obedece as mesmas proporções. O MESMO TEXTO TEM QUE SER APROVADO NAS DUAS CASAS. Se houver modificações volta para a casa que já havia votado o texto. Tal rigor é necessário por se tratar de uma mudança constitucional – MEDIDA DA RIGIDEZ CONSTITUCIONAL DO PAÍS. O que eventualmente se admite é uma emenda que, se tem 4 artigos e apenas um deles foi alterado, se não há relação de dependência entre os artigos, e os 3 não-modificados tiveram aprovação nas duas casas em duas votações, eles podem ser destacados e promulgados sem aquele que foi modificado. PROMULGAÇÃO DA PEC – Mesa do Congresso Nacional (deputados e senadores reunidos, como se fosse uma terceira casa – bicameralismo conjunto. Tanto que existe o regimento interno da Câmara, do Senado e o regimento do Congresso. Algo importante que o Congresso vota: o orçamento. Trata-se de uma sessão conjunta, mas não há fusão entre deputados e senadores). Quando a PEC é aprovada passa pela mesa do Congresso, que declara a promulgação. Trata-se de um ato formal e solene que atesta que a PEC agora é emenda. Há certos limites ao poder de emenda, este limite descrito acima é um limite procedimental – há vários passos que necessariamente tem que ser cumpridos. A emenda constitucional não pode ser feita por iniciativa popular. Alguns estados admitem que em suas constituições estaduais haja tal iniciativa. Além dos limites procedimentais há os limites circunstanciais: ocorrência de estado de defesa, estado de sítio ou intervenção federal (limites circunstanciais ao poder de emenda). Constitucional I Professor José Levi Mello do Amaral Júnior Camila da Silva Oliveira – 185/21 14 Estado de sítio – guerra, por exemplo. Estado de defesa – gravidade menor, muitas vezes antecipa o estado de sítio. Intervenção federal – “sacar” o governador do estado Todas estas situações descrevem situações de comoção intestina grave. É algo tão complicado que não se recomenda tomar uma decisão tão grave quanto a PEC. Constituição brasileira nos traz a questão dos limites materiais do poder de emenda da Constituição de 88. (MATÉRIA DE PROVA, MATÉRIA PRINCIPAL DA AULA) Art 60, par 4 – não serão objeto de deliberação as propostas de emenda que tentem abolir 1) A forma federativa de estado 2) O voto secreto periódico e universal 3) A separação dos poderes 4) Os Direitos e Garantias fundamentais e individuais Limites materiais ao poder de emenda podem ser chamadas de cláusulas pétreas, pois não podem ser tocadas em hipótese alguma. (vingança de Jefferson) O STF entende que foi tomada uma decisão dizendo que a federação não pode ser abolida, mas pode ser modificada, desde que não seja uma modificação tendente a abolir (por exemplo, pode-se passar uma competência da União para os Estados desde que esta modificação não desnature a federação brasileira). É claro que tem coisas que não são pontuais mas que são muito delicadas (exemplo do ICMS). Existem PECs que alteraram relações federativas, mas que nem por isso caíram. Exemplo de uma emenda que caiu: A EC número 3 criou o IPMF, que tinha uma formatação que impunha o imposto aos estados, algo que diz que não pode ser feito pela União. O STF entendeu esta emenda como inconstitucional. (“No poder de tributar está o poder de destruir – Marshall”). A impossibilidade de um estado tributar o outro chama-se imunidade recíproca). Questionamento do conceito de cláusula pétrea – por exemplo, pode-se criar um quarto poder? O STF, na ação direta 3367, permite a criação do CNJ, que altera o judiciário de forma a configurar Constitucional I Professor José Levi Mello do Amaral Júnior Camila da Silva Oliveira – 185/21 15 uma alteração de poderes. Portanto, entende-se que pode haver modificação, o que não pode haver é uma modificação que tende a abolir um poder ou seja tendente a abolir um poder. Estudar também a ação direta 2024, vai cair em uma das salas. Mandado de segurança de Itamar Franco também cai. Mandado de segurança do Itamar quanto ao tempo de mandato do presidente – ato preventivo. Direitos e garantias individuais e direitos sociais (art 5 da CF) também estão previstos nas cláusulas pétreas. Quando estão em jogo os direitos fundamentais há uma regra: estes direitos são interpretados ampliadamente (contraposição ao direito penal, que é interpretado restritivamente). PCI se manifesta de três maneiras. Foram faladas duas: de emenda e revisão. Tem um terceiro: poder constituinte decorrente. Essa expressão fala do PC que deriva da Constituição da república em favor dos entes federados. Os estados podem fazer constituições e os municípios também (lei orgânica). Prova será feita de algumas afirmações que em conjunto podem compor uma questão. Direito Constitucional 03/05/2012 No Brasil, o titular da soberania é o povo. O povo é a fonte e o destinatário do poder. O país é democrático enquanto se sabe quem manda e quem obedece. Partidos políticos – protagonistas do jogo político eleitoral, é um fenômeno relativamente recente. Mateucci descreve no século XVI e XVII aparentemente a existência de partidos na Inglaterra – esses partidos não tem nada a ver com a ideia que temos de partido hoje. Não eram grupos segmentados ideologicamente como hoje. Não é fruto das revoluções liberais. Partido político no sentido de grupos ideológicos em disputa eleitoral é um fenômeno da segunda metade do século XIX e início do XX. Quando o voto se universaliza é que se dá origem aos partidos – não são apenas os burgueses que tem acesso ao voto, mas também pessoas Constitucional I Professor José Levi Mello do Amaral Júnior Camila da Silva Oliveira – 185/21 16 que tem diferentes formas de ver o mundo. Esse fenômeno na Inglaterra é muito claro: Partido Trabalhista Inglês. A ideologia como programa de partido tem como função mobilizar as massas, portanto, os demais partidos sentem a necessidade de também se ideologizar (no Brasil: PT surge ideologicamente, mobiliza massas, e os demais partidos sentem necessidade de também aderir a ideologias com vistas a mobilização). Um dos primeiros autores que percebeu este fenômeno foi Kelsen. Nos EUA as coisas se dão de forma diversa. País peculiar, impróprio para ser copiado – seu sistema político-partidário não se reproduz. Os pais fundadores tinham pavor de partidos políticos, chamadas por eles de facções. Não se queria que houvesse formação de maiorias políticas nacionais. Para combater isso uma das alternativas foi o Federalismo e outra o próprio sistema eleitoral do país. Havia um único grupo político em torno de Washington, que se elegeu e reelegeu. Havia consenso em torno dele. Depois dele houve muita disputa pelo poder. No governo de Adams, havia uma discussão acerca do federalismo no país. Houve então uma divisão entre os federalistas e os republicanos, que ganharam com a eleição de Tomas Jefferson. O partido federalista foi dizimado, e o republicano mudou seu nome para republicano- democrático. Em seguida abandonou-se o termo republicano e tem-se aí a origem do Partido Democrata. O partido republicano de Lincoln foi criado posteriormente. Questão: colégio eleitoral. Primeira eleição do Jefferson, eleição não era em chapa – presidente seria o primeiro colocado e vice em segundo. Nesta eleição, Jefferson ficou empatado com Aaron Burs (ambos do mesmo partido, um seria o vice e outro presidente). O desempate previsto seria feito pela Câmara dos deputados, que era de maioria federalista. Depois de 34 votações a Câmara indicou Jefferson com Burs como vice. Foi isso que motivou que a eleição ocorresse em chapa. Outra questão sobre este método de eleição: winner takes all (o vencedor leva tudo). Em cada colégio, independente da proporção dos votos populares, quem vence leva todos os delegados. Isso permite que um presidente seja eleito sem que tenha a maioria dos votos dos populares. Nos EUA há dezenas de partidos, mas vê-se apenas os dois principais, que no fim das contas não são divergentes ideologicamente: ambos capitalistas, adeptos do american way of life. Constitucional I Professor José Levi Mello do Amaral Júnior Camila da Silva Oliveira – 185/21 17 No estado liberal os partidos eram execrados e no estado contemporâneo os partidos são centrais. Nos EUA temos um meio termo, partidos que não são esseciais, são fisiológicos, comungam de uma mesma percepção, não há grandes mudanças de um governo para o outro. O único objetivo é ganhar a eleição. Há diversos sistemas eleitorais no mundo. Falando de eleição de parlamento, pode-se dizer que ganha aquele que tem o maior número de votos. Para deputado, em geral siginifica um país dividido em distritos e cada distrito elege um deputado. Neste distrito, quem tiver mais votos, ganha – FPTP: First pass the post. Hipótese: imagine um distrito que tem muitos líderes sindicais e se segmentam em 4 grandes partidos de trabalhadores. Há um outro partido, de direita, dos empregadores, que concentra todos que tem essa ideologia. Numa eleição, a divisão dos votos entre os partidos dos trabalhadores pode dar a vitória ao candidato indicado pelo partido de minoria, mas que não repartiu os votos. O sistema majoritário, então, induz a formação de dois grandes partidos (coligações favorecem isso). Esse sistema é simples e ao mesmo tempo tão claro quanto pernicioso – ele é pouco amigo da representação das minorias (dificilmente um partido menor tem alguma chance). O sistema majoritário enfraquece até mesmo um segundo partido. Não dá espaço para minorias, só contempla aqueles que ganham. Mas ele também tem virtudes: simplicidade e didatismo, gera vínculo entre eleitor e eleito, gera dever de prestação de contas para um distrito específico. A alternativa que se coloca é o sistema proporcional: técnica que tem por objetivo contemplar minorais, ao menos aqueles minimamente representativas. O voto nesse sistema leva em consideração o quociente eleitoral: o número de votos mínimos que se espera para determinado partido alcançar pelo menos uma cadeira. Se tiver votos correspondentes a 5 cadeiras, recerá 5. Nesse sistema se enxerga com clareza que não se vota na pessoa e sim no partido. “O verdadeiro candidato é o partido, não a pessoa” Constitucional I Professor José Levi Mello do Amaral Júnior Camila da Silva Oliveira – 185/21 18 Há também o quociente partidário, que define quantas cadeiras aquele partido terá. As variações sobre quem ocupará essa cadeiras depende de critérios variados: lista por ordem de votação, lista proposta pelo partido, etc. (Vide código eleitoral, art. 105 e seguintes) Como se dá a eleição no Brasil Temos aqui eleição para presidente, senadores, deputados federais e estaduais, governador, vereadores e prefeitos. Ela ocorre em três níveis: federal (presidente), municipal (prefeito e vereadores), estadual (governador, deputados, senadores). Interessa-nos aqui a eleição para deputado federal, uma eleição de base estadual. Deputado federal é representante do povo (sistema proporcional) e o senador representante do estado (FPTP). Senadores tem mandatos de 8 anos que se renovam na proporção 1/3 – 2/3 alternadamente. No Brasil há um piso e um teto dos deputados, um limite (mínimo 8, máximo 70). Há um critério federativo próprio do senado que repercute nos estados, gerando um desequilíbrio democrático – o eleitor no Brasil não tem o mesmo peso eleitoral de acordo com o local onde ele mora (um estado mais populoso vai ser menos representado). Questão do piso e do teto de deputados pode ser alterado na constituição? Ler ADI 815 para a próxima aula e para a prova. ▪ Sistemas majoritários puros: tendência de formação de dois partidos. ▪ Sistemas proporcionais: tendência de múltiplos partidos, contemplação da minoria. ▪ Sistema francês: deputados eleitos em distritos sujeitos a dois turnos; evita-se a obrigação das coligações, permite-se que os partidos excluídos do segundo turno podem a partir disso decidir se apoiam alguém. É uma alternativa aos dois extremos de sistemas majoritários puros e sistemas proporcionais. Aula 10/05/12 Retomando a aula anterior, existem basicamente dois modelos de sistemas eleitorais: proporcional (aquele em que não há derrotados, há aqueles que ganham mais e aqueles que Constitucional I Professor José Levi Mello do Amaral Júnior Camila da Silva Oliveira – 185/21 19 ganham menos. Tem como virtude contemplar uma minoria, ou que podemos chamar de minoria minimamente representativa, que é aquela que consegue atingir o chamado cociente eleitoral – mínimo que se espera para que determinado grupo tenha ao menos uma cadeira. Pode-se dizer que nesse sistema não existem derrotados justamente por isso. Desvantagem: não gera vínculo entre o eleitor e o eleito); ou majoritário (ganha quem tiver o maior número de votos. Tem como virtude a simplicidade, gera vínculo entre eleito e eleitor: quem vota sabe em quem está votando, possibilidade de vinculo óbvia pq no mínimo o sujeito que pretende se reeleger vai voltar ao grupo ao menos para prestar contas. Desvantagem: não contempla minorias, contempla aquele que mais ganhou, e isso pode deixar descobertos grupos sociais que não estarão contemplados no parlamento). Há outra desvantagem no sistema majoritário: sujeito só pensa no distrito que o elegeu (paroquial). No proporcional o sujeito não é paroquial, mas justamente pela dispersão de votos não é favorável a geração de vínculos, e isso é explicado pelo próprio sistema de votação: o verdadeiro candidato é o partido ou o programa partidário. No Brasil, quando vamos votar em deputado federal, temos 4 números. A urna eletrônica é bem didática nesse sentido. Se apertamos apenas os dois primeiros números será indicado o partido, se se confirma ela não vai adiante, ela se dá por satisfeita. A urna se daria por satisfeita por que nesse momento o eleitor está ajudando a determinar a força, a expressividade de cada partido. Agora, se o eleitor coloca os demais números ele vai contribuir com a determinação da ordem de um candidato de um partido na lista do partido. Como funciona o voto proporcional? A primeira coisa que se faz é determinar o cociente eleitoral, que é o mínimo de votos que se espera para que partido tenha direito a uma cadeira. Isso é determinado pelo número de eleitores dividido pelo número de cadeiras a preencher. Tantas quantas vezes o partido atingir o número necessário, será esse o número de candidatos que ele irá eleger. Existe a teoria dos restos, de como se aproveitar os votos que sobraram, já que raramente um partido fará o número exato do cociente eleitoral. Os votos não aproveitados, digamos assim, o sistema proporcional que tem várias variações, encontra no trato desse resto mais variantes. No direito brasileiro no fundo é determinar a densidade eleitoral das cadeiras Constitucional I Professor José Levi Mello do Amaral Júnior Camila da Silva Oliveira – 185/21 20 que o partido já obteve. Pega-se o número de votos que sobrou e dividi-se pelo número de cadeiras que ele já obteve. O partido que tiver o resultado maior terá direito a primeira cadeira da sobra. A conta é repetida até que todas as cadeiras sejam preenchidas – os partidos que já foram contemplados tem o valor modificado por que se adicionou uma cadeira, então provavelmente ele não será contemplado duas vezes seguidas, por exemplo. Tem alternativas a isso, como a de maior ou menor sobra, ou seja, partido que tem sobra de 100 mil e partido que tem sobra de 50 mil de sobra. Esse método é uma escolha política, pareceu um critério justo de se fazer. Detalhes: a coligação se comporta como se fosse partido único, a lista da coligação será de todos os candidatos da coligação. Por isso para um partido pequeno é relevante se associar a um partido maior, pois isso faz com que seja possível segurar o cociente eleitoral. Se houver empate, apesar de ser quase impossível, será eleito o mais idoso. Questão: causa problemas ter partidos que fizeram um cociente eleitoral e tem um deputado? Pode ou não causar problemas, o mais evidente é a fragmentação da representação, principalmente quando é necessário formar grupos maiores. O presidencialismo é menos suscetível aos problemas de minorias heterogêneas, mas ainda sofre com isso (menos do que o parlamentarismo). Tam uma forma de minimizar esse problema: um mecanismo utilizado por excelência, chamado cláusula de barreira, em que partidos muito pouco votados serão eliminados. No Brasil a cláusula de barreira é o próprio cociente eleitoral; isso parece óbvio, mas não é. Esquecendo o Brasil por hora, é possível imaginar uma situação em que se dá uma cadeira a um partido que não atingiu o cociente eleitoral? Sim, teoricamente é possível imaginar contemplar os partidos que não atingiram o cociente por meio das sobras – no Brasil não é possível (não serão contemplados com cadeiras de sobra os partidos que não obtiveram cadeiras). Para efetuar o cálculo nos casos citados de contemplação com sobra, soma-se mais 1 ao 0 que o partido tinha obtido. No Brasil existe a regra do mais 1, mas existe o dispositivo que não permite que o partido com 0 entre na conta. Por que então existe o mais 1? Provavelmente decorrente de debates históricos de posições diferentes. No sistema majoritário ganha quem tem mais votos, no proporcional ganha quem atingir o maior cociente eleitoral. Uma das formas de evitar discrepâncias é o chamado voto Constitucional I Professor José Levi Mello do Amaral Júnior Camila da Silva Oliveira – 185/21 21 majoritário de dois turnos, que é o sistema francês. Na França, a eleição de deputados é distrital, cada distrito elege um deputado. Mas o detalhe é que para o deputado ser eleito no distrito, ele precisa da maioria absoluta de votos – se isso não ocorrer, será feito o segundo turno – o deputado tem que ter maioria absoluta de votos. Relembrando as leis de Duverge, podemos dizer que nos sistema majoritário de dois turnos tende-se a uma pluralidade de partidos, aproveitando a simplicidade, a clareza, do voto majoritário. Como é necessário que o partido tenha maioria absoluta de votos, não há problemas em haver muitos partidos; no segundo turno os partidos ponderam como serão feitas as coligações, sem ser necessária a fusão. Um exemplo: havia 11 candidatos a presidência no primeiro turno, os partidos puderam se posicionar no segundo turno. O partido socialista, por exemplo, oferece apoiar candidato de outros partidos se for apoiado na eleição presidencial. O modelo francês, portanto, tem suas virtudes, ele cria uma lei intermediária nas leis sociológicas de Duverge. Um meio termo efetivo seria um sistema que aproveita o que há de bom no majoritário simples e o que há de bom no proporcional: há vínculo entre eleito e eleitor, há representação de minorias, há clareza entre quem votou e quem foi votado. Na literatura é muito comum ser examinada a proposta disso, no sistema eleitoral alemão: distrital misto. O curioso é que ele não é distrital, é proporcional. Funciona da seguinte maneira: há aproximadamente 600 deputados na câmara baixa. A primeira coisa que se faz é dividir o número de eleitores que compareceram e divide-se por 600, o número de cadeiras. Obtém-se o cociente eleitoral. Segundo passo: a Alemanha é dividida em 300 distritos, metade do número de cadeiras a preencher. O eleitor de cada distrito possui dois votos, um é majoritário, em um candidato que disputa eleição naquele distrito. O segundo voto é um voto na lista partidária, dentro os mais ou menos 10 que existem lá. Aí ele está votando em uma lista nacional partidária. As cadeiras se distribuem à razão de quantas vezes um determinado partido, o partido vai ter mais ou menos nomes na lista dependendo de quantas vezes ele alcançou o cociente. Se o partido teve direito a 10 cadeiras, definidas pela primeira conta, o deputados eleito na eleição majoritária, está eleito, ou seja, se 5 ganharam as eleições majoritárias, esses já entram. As outras cinco cadeiras serão pegas na lista. O sistema é na verdade proporcional, por exemplo, se o partido fez 15 vezes o cociente, terá Constitucional I Professor José Levi Mello do Amaral Júnior Camila da Silva Oliveira – 185/21 22 direito a 15 deputados. Se 10 ganharam nos distritos, esses 10 já entram. Os outros cinco são pegos na lista, na ordem nacional – o partido já tinha uma ordem definida, o partido já tinha definido a ordem. Então: 1) Cálculo do cociente: número de eleitores dividido pelo número TOTAL de cadeiras; 2) Processo eleitoral no distrito: dois votos – no candidato e na lista partidária. 3) O segundo voto ajuda a compor mais ou menos vezes o cociente eleitoral. 4) Definição dos deputados: entram os que ganharam as eleições distritais. Os outros entram na ordem da lista (pode acontecer que um sujeito seja candidato no distrito e também na lista). Questão: o que acontece quando um partido elege mais candidatos nos distritos do que o seu cociente dá direito? Sim, o partido terá direito a mais cadeiras do que garantia seu cociente. O que pode acontecer é que isso aconteça com vários partidos, e no final faltar uma ou duas cadeiras. Pode acontecer de se adicionar uma ou duas cadeiras para contemplar esse excesso. Esse modelo é encantador, tem deputados paroquiais, que tem vínculos com o eleitor, mas também tem os outros. Ele conjuga o melhor de dois mundos. A dificuldade é explicar isso ao eleitor. Muitos intelectuais no Brasil tem uma simpatia enorme por esse modelo: em 2007 FHC propôs o modelo distrital puro para as eleições de vereador, para que o povo sinta as vantagens, sinta as virtudes do vínculo. Se isso pegar bem, depois se pode pensar em distrital misto para deputado estadual ou federal. Isso não valeu, para alterar para distrital puro deve haver uma emenda constitucional. Para adotar o sistema alemão, que já é proporcional, basta um decreto de lei – é pouco crível que os deputados apoiem um modelo novo. Levi diz que tem simpatias pelo sistema distrital misto, e uma boa alternativa para ele, como estágio para chegar ao misto seria o distrital puro. Em relação ao direito brasileiro: majoritário no senado e proporcional na câmara, sendo que na câmara de deputados brasileira existe uma limitação de que não mais do que 70 deputados por estado e não menos do que 8 por estado. A eleição para deputados no Brasil é estadual, o cálculo do cociente é por estado, em especial para ser coerente com o teto e o piso de deputados (SP tem 70, AC, DF, RR, RO, tem 8). Isso é problemático, pois é algo muito próprio de qualquer Constitucional I Professor José Levi Mello do Amaral Júnior Camila da Silva Oliveira – 185/21 23 democracia de que cada homem, um voto, cada cabeça um voto: igual utilidade política de cada ser humano. Quando se estabelece e teto e o piso, se achata ou amplia o peso do voto do eleitor: o peso do voto do eleitor de SP é menor do que o peso do voto do eleitor de RR, AC, etc. Levi entende que isso não é razoável, pois esse é um critério federativo que deveria ficar restrito ao senado, que é a casa de representação dos estados, e não contaminar a casa popular, onde o critério deveria ser pura e simplesmente a democracia, que parte do pressuposto da igualdade dos votos. A coisa é tão complicada que basta um eleitor multiplicar de domicílio eleitoral para multiplicar o valor de seu volto. Dahl: democracia é feita para os entes federados ou para as pessoas? É claro que a democracia é feita para nós, os entes federados que se entendam no senado. Curiosidades: a forma de escolha de senador no Brasil é uma eleição majoritária distrital, o distrito do senador é equivalente ao estado. A cada 4 anos uma eleição de senador, uma plurinominal, outra binominal, e assim alternadamente. Adotam sistemas majoritários para escolha de deputados: Inglaterra e EUA. House of commons – verde; house of lords – azul. Levi contou a história inglesa que justifica essa divisão, uma curiosidade. Tal divisão de cores se propaga em diversos outros países, como no próprio Brasil – uma coisa peculiar, uma reminiscência dessa época. Rei Eduardo II regulamentou a convocação da eleição da câmara dos comuns, nos idos de 1295. Vereadores, assembleias legislativas e câmara legislativa do DF (que atua para os dois lados), todas as casa adotam o regime proporcional. Só o senado é majoritário. Nacionalidade, cidadania e direitos políticos Política é algo inerente ao comportamento humano; a pessoa faz política desde que nasce, desde o primeiro choro, até a hora da morte. É algo que não escapa da nossa vida, é natural ao convívio humano. A política nos une, aproxima, ainda que seja para divergir. É a política que mantem a sociedade unida. Como ela se realiza? Num determinado contexto, que obviamente exige inserção no contexto – por isso existem as regras de nacionalidade, cidadania e as regras de exercício dos direitos políticos. Constitucional I Professor José Levi Mello do Amaral Júnior Camila da Silva Oliveira – 185/21 24 Primeiro passo para vir a ter direitos políticos é ser nacional de um Estado, ter nacionalidade. Estar inserido num Estado é ser reconhecido como nacional num estado: critérios de sangue, de solo, etc. Direito contemporâneo tem ojeriza da ideia de apatria (Tom Hanks, O Terminal), todos tem direito a uma nacionalidade, ser reconhecido como natural de um estado – o que não basta para ter direitos políticos. Cidadão é o nacional que cumpre mais alguns requisitos, em geral requisitos etários (no direito brasileiro). O nacional, que atinge uma integralidade, se torna cidadão e então talvez possa participar dos direitos políticos, que são os direitos de votar e ser votado. Elaborando a conceituação: direitos políticos são direitos de participar da formação da vontade do Estado. Aprofundando conceitos: Nacionalidade: tem dois critérios básicos – sangue ou solo. É filho de quem e nasceu aonde. Na Grécia Antiga, grego é aquele que é filho de ventre grego, um critério de sangue, que em geral é aplicado por países de emigração. O critério de solo é adotado por países de imigração (está precisando compor seu povo, são pessoas que nascem ali). Há países que adotam ambos os critérios, caso brasileiro. No Brasil há dois tipos de brasileiros: nato ou naturalizado – não pode haver discriminação entre eles, a não ser aquelas que a própria constituição já tenha feito (só poder presidente, ministro do STF, presidente da câmara, presidente do supremo, etc, o brasileiro nato, assim como todos os cargos que envolvem questões de segurança). Brasileiro nato, de acordo com o art. 12 da Constituição, são nascidos no Brasil, ainda que de pais estrangeiros, desde que seus pais não estejam a serviço (critério de solo); nascidos no estrangeiro, de pai ou mãe brasileira, desde que algum deles esteja a serviço do Brasil (critério de sangue); nascidos no estrangeiro, de pai ou mãe brasileira, desde que registrados aqui ou venham residir aqui e optem pela nacionalidade brasileira. Naturalizados são os que adquirem nacionalidade brasileira, exigida residência por um ano ininterrupto e idoneidade moral, quando falam língua portuguesa; estrangeiros de qualquer nacionalidade residentes por 15 anos ininterrupto sem condenação penal e desde que solicitem a naturalização. Artigo 12 – será declarada a perda de nacionalidade o brasileiro que tiver cancelado sua naturalização por cometer alta traição contra o estado ou coisas que violem os interesses nacionais; adquirir outra nacionalidade, salvo se por reconhecimento de nacionalidade originária Constitucional I Professor José Levi Mello do Amaral Júnior Camila da Silva Oliveira – 185/21 25 pela lei estrangeira; ou quando a norma estrangeira impõe a naturalização para permanência no território (exemplo: qualquer trabalhador brasileiro que vá para o estrangeiro e algum momento precisa da nacionalidade estrangeira). A verdade é que o Brasil é bastante tranquilo com relação a essa norma. Direitos políticos (art. 14): são basicamente votar e ser votado; a Constituição é bem minuciosa sobre o assunto, prevê referendo (anuência ou não acerca de determinado assunto, espécie de homologação, já uma lei definida), plebiscito (manifestação breve, quando o congresso ainda não legislou sobre o assunto mas deseja fazê-lo, entendendo por bem ouvir o povo). ADIN 815: governador de um Estado (RS) impugnou o teto e o piso constitucional para deputados, dizendo que isso era ofensivo a uma norma constitucional elementar, com valor supra constitucional: a igualdade do voto. O supremo não declarou inconstitucionalidade da norma por duas razões: norma constitucional originária, STF é criatura da constituição, não pode controlar o acerto e desacerto de quem a criou – seria diferente se fosse norma decorrente do PCD. Discussão: voto facultativo ou obrigatório. Posição de Levi: assunto polêmico, que tem bons argumentos de ambos os lados, mas que o voto deve permanecer obrigatório, pois como todo e qualquer direito, o voto tem correlato a si um dever cívico de participação – argumento teórico. Outro argumento mais prático: nos EUA a média de participação nas eleições americanas é em torno de 50%, como o presidente é eleito com pouco mais de 50% dos votos, não é raro um presidente ser eleito com ¼ de votos. Professor cita novamente Dahl, que defende que quanto maior a participação popular no voto, melhor. 17/05/12 Federalismo Repartição do poder com bases territoriais, há uma descentralização com esse critério de base territorial (comparação com o feudalismo, que no Brasil foram as capitanis hereditárias). O Constitucional I Professor José Levi Mello do Amaral Júnior Camila da Silva Oliveira – 185/21 26 federalismo no Brasil tem relação com as características destas capitanias hereditárias e por mais paradoxal que pareça, as sementes se encontram no Império, não obstante este fosse unitário. 1834 – Ato adicional que criou assembleias legislativas nas províncias brasileiras, o que já dá indícios dessas competências provinciais. Federaçao – distribui competências, a que entes tocam estes poderes depende do pacto federativo, a alma federalismo. Vocação do federalismo antecede a vocação republicana. Os republicanos brasileiros se inspiravam muito nos americanos, que eram federalistas, aceitavam bem a ideia de descentralização do poder (não que os federalistas fossem necessariamente republicanos, mas encontraram apoio e terreno fertil entre os republicanos). Encontraram uns nos outros apoio político para combater a monarquia, já que os monarquistas brasileiros era centralistas. Estas considerações servem para pensarmos as raízes profundas do federalismo no nosso país. Modelo federalista mais imediato – EUA. Os americanos, pela sua natural formação histórica se viram compelidos ao federalismo, e aprenderam o federalismo com alguém. Um dos oráculos da construção dos EUA foi um francês, Barão de Montesquieu (O espírito das leis). Esta obra foi muito importante para diferenciação entre repúblicas e monarquias. Segundo o autor, para defender-se de uma conquista por parte de uma grande monarquia, pequenas repúblicas vizinhas precisam fazer entre si alianças (fuedos), devem combinar esforços. Quando elas formam essas alianças elas passam de repúblicas isoladas para repúblicas federativas – o nome do Brasil presta homenagem a esta antiga tradição. 1776 – Independência das 13 colônias – não surge um país soberano, surgem 13 países soberanos. Neste momento não começa uma federação, não a rigor. Somente em 1787 as 13 colônias abrem mão das suas soberanias particulares em favor de uma única soberania do todo, e aí surge um único país. Este enredo histórico tem uma consequência muito profunda: primeiro existiam os estados, depois estes formam o TODO. Federalismo por agregação: entes federados que se aglutinam – poder central como criatura dos estados, tendem a ser mais fortes do que o poder central – exemplo clássico americano. Inicialmente os estados que formam os EUA ainda se pretendiam soberanos, eles Constitucional I Professor José Levi Mello do Amaral Júnior Camila da Silva Oliveira – 185/21 27 queriam deixar claro que ainda mandavam, apesar da soberania ser do todo. O que remanesce é a AUTONOMIA dos estados (a soberania é do todo federativo, a autonomia está nos estados). Os estados perceberam que eles não eram soberanos e que não podiam se separar na Guerra de Secessão, que tem como principal consequência a abolição. Do ponto de vista da doutrina federalista, a principal consequência foi sacramentar a impossibilidade de secessão. Houve uma federação contemporânea que previa o direito de secessão dos seus entes federados: URSS. Na prática esta possibilidade de separação não era real. Algo fundamental: não há espaço para separação, dissolução do vínculo, secessão em NENHUMA federação (exceto a URSS). Como se sacramenta na Constituição americana que os estados serão mais fortes que a União? Um aparte: pq os EUA sendo common law tem Constituição escrita, ao contrário da Inglaterra, por exemplo? Quando as 13 colônias resolveram dar um passo adiantes eles eram confederados. Quando se fusionam em um único estado soberano, eles tem que definir o que toca ao poder central e o que toca a cada um deles – PACTO FEDERATIVO: REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS. A Constituição escrita serve para sacramentar este pacto federativo, como eles viveriam. Retomando: A Constituição americana diz quais as consequências do poder central, o resto fica com os estados membros. Detalhe: por trás dessa técnica está o fato de que o poder central só pode fazer o que está determinado, está amarrado. O residual é todo o resto, e é tudo isso que se atribui aos estados. Por isso nos EUA Direito Penal, Eleitoral, etc toca aos estados e varia de ente para ente. Na repartição de autonomia a dos estados é muito mais generosa do que a do governo central. (Qualquer emenda nos EUA depende de um referendo dos estados, tudo que vai contra estes tem uma perspectiva mínima de prosseguir, por isso há pouquissimas emendas desde o início da sua Constituição). Fortalecimento da união em face dos estados foi buscada por algumas vias. Basicamente pela construção jurisprudencial de uma teoria ou doutrina dos poderes implícitos. Quando os Constitucional I Professor José Levi Mello do Amaral Júnior Camila da Silva Oliveira – 185/21 28 americanos estavam se organizando, Hamilton fundou BC americano. Com o passar dos anos o BC resolveu abrir escritórios nos diversos estados. Um dos estados (Maryland) resolveu tributar o BC, o que foi negado. Isto virou uma ação judicial (1819). Marshall deu uma decisão que toda ela é o enfrentamento de duas questões: 1) Não consta da Constituição americana que o governo central pode criar um banco dos EUA – pergunta: pode haver essa criação? 2) Supondo que seja possível criar um banco, pode o governo do estado tributar uma projeção do governo central, que é o banco? Marshall fala da doutrina dos poderes implícitos: pode o poder central criar o Banco – para cada doutrina autorizada ao governo central é possível deduzir ferramentas implícitas que facilitam o cumprimento das exigências fins das cláusulas da Constituição Se a primeira pergunta é verdadeira, parte-se para a segunda. Ele diz que no poder de tributar está o poder de destruir: tributar é algo muito severo, toca no órgão mais sensível do corpo humano (isso vale para os entes federados também). No limite uma tributação pode ser destrutiva. Para que uma federação transcorra em harmonia um ente federado não pode querer tributar o outro (imunidade recíproca – um ente federado não pode tributar o outro). Caso brasileiro – federalismo por segragação. Primeiro houve um estado unitário. Depois por obra deste estado unitário ele se segmentou, se dividiu – situação em que o governo central antecede os governos estaduais. Isto tem uma consequência cultural quase oposta ou oposta a do federalismo por agregação, que tende a favorecer a autonomia dos estados em detrimento do governo central. A técnica jurídica para isso é delimitar os poderes centrais e deixar o resto para os estados. Já no Canadá ocorre o contrário: a Constituição enumera as competências dos estados e deixa o residual para o poder central. Enquanto o governo americano tem por objetivo favorecer os estados, no modelo canadense é o oposto. O Brasil está mais próximo da segunda situação, o que está relacionado ao fato de ser este um federalismo por segregação. Constitucional I Professor José Levi Mello do Amaral Júnior Camila da Silva Oliveira – 185/21 29 Técnica brasileira de repartição de competências Tem uma inspiração inicialmente americana, para depois ter influência alemã e em tempos mais recentes passou a ter também uma inspiração indiana. A novidade alemã veio com a Constituição da República de Weimar de 1919 – federalismo de cooperação. Federalismo de cooperação – um país tem competências enumeradas para a União ou os estados, e o residual é competência da união ou dos estados. Há ainda um rol de competências que não são da união ou dos estados, são comungadas, partilhadas, divididas pelos entes federados. O Brasil passou a flertar com este modelo a partir da Constituição de 34, que foi atropelada pelo Estado Novo que era basicamente centralista. As ideias federalistas retornam posteriormente depois de 1946 (Constituição muito amiga do federalismo). A Constituição de 1967 eram documentos constitucionais muito ruins para a federação; havia a ideia de copiar a Constituição nos estados – ela seria mimeografada. Não havia espaço para a criatividade estadual. A coisa era tão centralizadora que uma lei estadual servia como lei orgânica dos municípios de cada estado. Em um estado foi feita uma lei que dava aos municípios a prerrogativa de fazer suas próprias leis orgânicas (Rio Grande do Sul). Dois outros estados fizeram o mesmo em favor de suas capitais: Paraná e Bahia. Isto representa de certa forma o bom senso de um governo central. Há nestes casos um LAMPEJO do federalismo. As constituições “amigas do federalismo: 1934, 1946, 1988 (???). Repartição de competências federativas no Brasil Const. De 88 enumera competências para União, para os Estados e municípios. O residual fica com os estados e além disso ela prevê um rol de competências compartilhadas, comungadas, divididas entre os entes. A enumeraç ão que tem para a União é muito grande, para os municípios é generoso e para os estados uma única: o gás canalisado. O residual que vai tb para os estados é muito discreto, apesar de ter coisas importantes, por exemplo: segurança pública é competência residual e portanto é estadual (polícia militar e polícia civil). No Brasil há dois federalismos: Isso descrito é o federalismo geral. Há o federalismo particular: tributário – tributos da União, dos Estados e dos municípios. Além disso tem os Constitucional I Professor José Levi Mello do Amaral Júnior Camila da Silva Oliveira – 185/21 30 tributos compartilhados e o residual vai para a união. A diferença fundamental é a quem toca as competências residuais. Competências da União: legislar sobre direito penal, civil, etc Competências dos Estados: gás canalisado, segurança, etc Competências dos municípios: transporte público municipal, legislar sobre assuntos de interesse local (competência aberta) – trata-se de uma regra muito antiga, que antes era dita como assuntos de peculiar interesse (ex: legislar sobre o horário de funcionamento do comércio). O que é comungado: educação, saúde, previdência, meio ambiente. Há critérios constitucionais para regular as relações, que serão explorados posteriormente. Distrito federal é híbrido, tem competências próprias dos estados e dos municípios. Por exemplo, cobra IPVA e IPTU, o primeiro de competência estadual e o segundo municipal. O DF tem um governador com administradores regionais, foi aprovada uma lei que permitia a eleição destes administradores, o que o STF julgou como inconstitucional. AUTONOMIA É DIFERENTE DE SOBERANIA UNIÃO NÃO É O BRASIL, É UM ENTE FEDERADO JUNTO COM OS DEMAIS. BRASIL É O AMÁLGAMA DA REPÚBLICA FEDERATIVA. O principal fator de confusão talvez esteja na presidência da república, chefe do poder executivo assim como os governadores e governos. A diferença que é que a Presidenta da República é também chefe de estado e por isso fala pelo todo federativo. Neste momento ela não fala pela união, fala pela União, pelos Estados e pelos Municípios. O congresso nacional tem esse nome pq ele faz dois tipos de leis: federais, só para a União, mas outras nacionais, que submetem a União, os Estados, os Municípios e o DF – por exemplo, Lei de Responsabilidade Fiscal, Lei de Acesso à informação. O passo mais sofisticado é o fato de que a repartição de competências tem um viés mais minucioso que passa por identificar se trata-se de uma competência material (fazer alguma coisa) Constitucional I Professor José Levi Mello do Amaral Júnior Camila da Silva Oliveira – 185/21 31 ou legislativa (legislar sobre determinado assunto). A Constituição é mto clara quanto a isso (Art. 21 – competências materiais da união; Art. 22 – Competências legislativas da união, etc). Aula 24/05/05 Retomando as questões das competências... Federalismo geral – existe uma seara em que há federalismo particular entre nós (tributário), no qual o residual cabe à união. Competência tributária para a união significa quais os tributos são confiados à união. Como funcionam as competências comungadas (art. 23 e 24) Art 23 – competências de fazer alguma coisa (ex.: licenciamento ambiental – todos os entes podem atuar igualmente, no mesmo patamar de igualdade nessas matérias. Pode eventualmente haver confusão). O par único do art 23 serve para disciplinar o modo de cooperação a ser levado a efeito nas matérias do art 23, através de leis complementares. No caso do licenciamento ambiental, foi feita a Lei Complementar 140. Art 24 – competências concorrentes – competências verticais ou não cumulativas. Relativo a natureza de competência legislativa partilhada pelos entes. Regras das competências concorrentes: 1) Normas gerais – lei nacional repercute sobre todos os entes, obriga união, estados e municípios. Não há hierarquia entre os entes federados (a lei federal, estadual e municipal estão no mesmo plano hierárquico, a lei nacional submete todos os entes). O que caracteriza uma lei nacional é o fato dela legislar sobre normas gerais. A união faz as normas gerais, mas isso não significa que ela não faça normas específicas. A norma geral é a moldura: conceitos, limites. O município faz normas que complementam a moldura para ele município, observados os conceitos e limites da moldura; os estados fazem o mesmo; a união também pode fazer normas específicas que só se aplicam a ela – difícil distinguir estas das normas gerais (par 1 – a união faz as normas gerais) Constitucional I Professor José Levi Mello do Amaral Júnior Camila da Silva Oliveira – 185/21 32 2) Parágrafo 2: Os estados complementarão a moldura, os conceitos, os limites estabelecidos pelas normas gerais. 3) Parte de uma hipótese: se a união não legislou, se houve omissão da norma geral, como se procede? Se a união não fez abre-se a possibilidade para os estados funcionarem supletivamente – faltou a norma geral e cada estado faz para si uma lei em plenitude. 4) Supondo que passado algum tempo a união supera sua inércia e faz a norma geral daquela matéria. O que acontece com a norma feita pelo estado na matéria em que faltou a norma geral? Par. 4 – a norma estadual fica suspensa naquilo que ela contraria a norma geral da união – não é revoda a lei, ela é apenas suspensa. A razão dessa cautela terminológica é para evitar o vazio, o vácuo Voltando ao art 22 – maioria são leis que repercutem para a união, repercussão de ordem sob os cidadãos. Se um assunto como direito civil ou penal, que estão no artigo 22, quem legisla sobre essa matéria é a união. Tem um parágrafo único que permite à união por meio de lei complementar delegar aos estados aspectos de alguma das competências legislativas do art 22. Lei complementar 103 de 2000 delegou aos estados a competência para legislar a fixação do chamado piso salarial (o que não pode ser delegado é o salário mínimo, que diz respeito ao custo de vida nacional, o mínimo que se espera alcançar para todo brasileiro. Piso salarial tem a ver com a atividade desempenhada – e isso pode variar nacionalmente. A capacidade de retribuir o metalúrgico do AC é uma e a de retribuir o metalúrgico de SP é outra). Quando essa lei foi aprovada em 2000, o RJ se apressou em fazer uma lei fixando seu mínimo – isso não podia ser feito, pois a característica do piso salarial deve ser feito por profissão, por faixas, ou transmuda- se para o conceito de salário mínimo. O STF julgou inconstitucional a lei carioca, pois ela não tinha o critério de complexidade de extensão do trabalho. SP adotam há mto tempo desde então essa mecânica, alguns estados com mais faixas de divisão, outras com menos. Juridicamente essa é a explicaçao da delegação do piso salarial aos estados – aspectos da lei trabalhista e como tal sujeito a delegação. Trata-se de uma coisa que cria espaço decisório para a autonomia dos estados – num estado concentrado como o nosso trata-se de uma oxigenação. Constitucional I Professor José Levi Mello do Amaral Júnior Camila da Silva Oliveira – 185/21 33 Relações entre os artigos 22 e 24: Art. 22 – competências só da união, de natureza legislativa e enumeradas pela Constituição (a possibilidade de delegação é outra história) Art 24 – Competências comungadas pelos entes federados, caracterizam-se pela manifestação das chamadas normas gerais (diretrizes) Há quatro normas que são diretrizes e estão no artigo 22 e não no 24. Por que? O constituinte reputou as 4 competências delicadas, sensíveis, particularmente importantes, de modo que não haja para elas a possibilidade de normas supletivas dos estados – ou a união faz as normas, ou ninguém faz (transportes, polícias militares (tem que haver uma uniformidade mínima), LDB, licitação (processo administrativo por meio do qual é escolhida a pessoa que o poder público contrata) Casos – Duas situações complexas relativas a lei de licitações (lei 8666/93), que tem uma série de normas gerais que orientam, subordinam e submetem todos os entes federados. Há momentos em que essa lei é escancaradamente específica, minuciosa, desce a detalhes – quando isso ocorre os detalhes aplicam-se somente a união. Se um artigo é minucioso só se aplica a união – não há uma regra para definir como diferenciaremos isso, há um subjetivismo enorme. É papel que pode ser do supremo definir isso. Em se tratando da lei de licitações há uma situação mais complexa: lei de licitações tem modalidades de licitação (concorrência, tomada de preço, leilão), modalidades que são normas gerais, todos os entes podem praticar. A lei de licitações se tornou com o tempo pesada, cria dificuldade em certos setores que precisam de mais agilidade – complicações dramáticas para comprar coisas mais banais. No final dos anos 90 e início de 2000 buscaram-se alternativas licitatórias. O Ministério do Planejamento propôs a criação do pregão, uma espécie de leilão invertido, só que transitoriamente o pregão só poderá ser exercido pela união (modo de testar o método). Depois do período de teste o pregão foi extendido a todos os entes. O primeiro exemplo, sobre normas gerais e especiais é muito importante. Constitucional I Professor José Levi Mello do Amaral Júnior Camila da Silva Oliveira – 185/21 34 Horizonta e vertical – Art 23 é horizontal pq todos estão em pé de igualdade, art 24 é vertical pq a lei nacional se coloca acima Cumulativo (art. 23 – todos correm paralelo, igual) e não-cumulativo (art 24 – há um critério de verticalidade) Aula Levi 31/05/2012 Montesquieu – Na França não havia um parlamento unificado, havia vários parlamentos locais, o que seria o parlamento nacional francês era o que os franceses chamavam de estados gerais (que o rei não deixava acontecer) – eram muito mais órgãos judiciais do que legislativos. Montesquieu era juiz, mas muito jovem percebeu que sua vocação era acadêmica; pesquisa elementes para o “Espírito das leis”. Considera-se este autor um dos pais do federalismo; ele, em passagem pela Inglaterra se encanta pelo modelo inglês, por ser esse amigo da liberdade, evitar o despotismo. Objetivo de Montesquieu – neutralizar os poderes para previnir o absolutismo. Judiciário deste autor é neutralizado nele próprio, o legislativo é neutralizado por forças internas e por relação com o executivo, assim como o executivo é neutralizado tb por essa relação. 1) Diz que não há nada mais terrível entre os homens do que o poder de julgar, pois esse poder de julgar é capaz de decidir coisas muito importantes, como a liberdade, a vida. Juiz da lei deve ser uma pessoa na mesma condição do rei. O ideal é que o juiz seja Constitucional I Professor José Levi Mello do Amaral Júnior Camila da Silva Oliveira – 185/21 35 escolhido pelo réu, ou como que da escolha do réu. O judiciário em Montesquieu que nos é familiar são os juris, em que os jurados são sorteados, pode haver rejeição dos jurados – são como que da escolha do réu, todos eles são pares do réu. “Os juízes de uma nação não são mais do que uma boca que pronuncia a sentença da lei, seres inanimados que não podem medir sua força nem seu rigor” Verdadeiro núcleo do espírito das leis: Legislativo Montesquieu: o povo decide quem falará por ele. Democracia representativa – termo surgiu em meados do século XIX, a partir do livro “do governo representivo, de Mils Representantes – M. diz que não dá simplesemente para o povo escolher os seus representantes; pq nas massas dos possíveis há burgueses e nobres, os primeiro em grande maioria e portanto, teriam grande vantagem. Solução: burgueses terem assento em uma casa do parlamento, nobres em outros – em vez de unir, reforçaria a separação. Com isso, M. está justificando o bicameralismo inglês, que é diferente do bicameralismo americano (federalismo). Se na França não hé nem nobreza, nem federalismo, qual a razão do bicameralismo? A experiência histórica considera que uma segunda casa pode ser um fator de equilíbrio para impedir excessos. As duas casas funcionam partilhando duas faculdades, que cada uma delas possui: faculdade de impedir e a faculdade de estatuir – faculdade de fazer alguma coisa ou rejeitar alguma coisa. Em outras palavras, em M. o bicameralismo é do tipo igual, perfeito ou paritário. Para fazer algo, as duas casas precisam manifestar o mesmo sentido de estatuir – se qq uma delas rejeita o que a outra estuiu, o processo decisório fracassa. É imprescindível que as duas estejam de acordo – nobres e burgueses precisam estar de acordo. Se por um milagre burgueses e nobres concordam e estatuem no mesmo sentido, o processo decisório ainda passa pelo rei, que também tem a Constitucional I Professor José Levi Mello do Amaral Júnior Camila da Silva Oliveira – 185/21 36 faculdade de estatuir ou impedir o que as duas casas do parlamento decidiram – para o rei o nome é diferente: estatuir é uma sanção, impedir é um veto. O coração do argumento de M. não tem a ver com a separação de poderes, mas sim a coincidência de faculdades de estatuir e impedir – os poderes se comungam, não se dividem. É igualdade de estatuir e impedir que limita a atuação dos poderes – força da partilha da comunhão de iguais. Há um jogo de reciprocidade na limitação. Duas casas do parlamento se limitam, são limitadas pelo poder do rei e também limitam o poder do rei. Os três poderes mencionados são: câmara alta, câmara baixa e rei. O judiciário não aparece pq já está neutralizado ele próprio, pq ele não participa da decisão do legislativo. M. conclui que esses tres poderes deveriam provocar uma pausa ou inação, mas isso não ocorre se houver acordo entre as partes. Se não há acordo entre os poderes, em M., não há decisão. M. é um liberal clássico, que quer previnir o absolutismo. M. vivenciou o absolutismo e queria uma mecânica que prevenisse o absolutismo – mesmo a não-decisão é a negação do absolutismo. Isso ocorre nos EUA: presidência é muito fraca, o governo não é necessário. Os americanos são muito próximos de M. M. cogita a possibilidade do rei ter iniciativa legislativa, mas conclui que isso não seria possível, pois já é suficiente ele sancionar. O todo-poderoso presidente americano não tem iniciativa legislativa. Controle de constitucionalidade – poder de veto que o judiciário em M não conhecia e que os americanos conhecem. Curiosamente é algo que não está em M. mas vai ao encontro dele, pois é mais um impedimento ao processo decisório. Se fossemos desenhar M. teríamos três poderes: executivo, legislativo e judiciário, sendo que sabemos que esses três poderes não estão separados. Depois percebeu-se que o estado não poderia ser uma múmia paralítica, ele tinha que funcionar. É quando surge a necessidade de criar o governo: tetrapartição dos poderes – Chefe de estado, chefe de governo, parlamento e Constitucional I Professor José Levi Mello do Amaral Júnior Camila da Silva Oliveira – 185/21 37 judiciário. O doutrinador disso foi outro francês Benjamin Constant (não confundir com o Benjamin Constant brasileiro, que ajudou a destruir o poder moderador). Considera-se o quinto poder como o controle de constitucionalidade. O sexto poder seria a administração pública – há um corpo de funcionários que não troca com a troca de governo – há carreiras que se mantém no tempo e asseguram que não há solavancos nas trocas de governo – os serviços públicos continuam prestados. Nos EUA o número de cargos de confiança é ainda menor do que no Brasil. Aula 14/06/2012 A aula de hoje abordará o presidencialismo e o parlamentarismo, sem a intenção de meramente examinar dois modelos, mas sim explorar as variações dentro desses modelos, que permitem afirmar a existência de uma terceira forma de governo: semi-presidencialismo e semi- parlamentarismo, que conjuga elementos de ambos os sistemas. A intenção é que os alunos ganhem intimidade com as variações, destacando-se que a divisão estanque é para fins didáticos. Não existe um presidencialismo, assim como não existe um parlamentarismo. Montesquieu, explorado na última aula, narra o presidencialismo clássico, cujas características são: chefe de estado coincide com chefe de governo em pessoa, órgão e poder; há dissociação entre governo e maioria parlamentar, não há necessária coincidência entre quem governa e a maioria parlamentar – ser governo no presidencialismo é uma definição que se dá à margem da definição de quem será maioria parlamentar. Num sistema presidencial típico a escolha do chefe de governo é dissociada da escolha parlamentar, não há um vínculo necessário. Na prática, o chefe de governo pode ser de um partido e a maioria parlamentar de outro. A terceira característica do presidencialismo clássico é coerente com a própria mecânica do modelo: o governo é fraco, anêmico. Montesquieu pretendia evitar o retorno do absolutismo, e por isso ele bolou um modelo em que fosse possível travar o fluxo das decisões políticas; se o poder fosse Constitucional I Professor José Levi Mello do Amaral Júnior Camila da Silva Oliveira – 185/21 38 contido, tanto melhor. Esse modelo não se presta para modelos de Estado onde é necessário governo, entendendo governo como estrutura que requer poder. O governo tem por objetivo levar a efeito políticas públicas, para tanto toma decisões que invariavelmente resvalam nos direitos das pessoas. Um exemplo banal: a política pública de educação e saúde, que para serem levadas a efeito é necessária a tributação, o que é a limitação do direito de alguém (tira de um para dar a outros). Tanto isso é verdade que esse tipo de atitude do governo requer lei: a coisa mais elementar de um Estado de Direito é o princípio da legalidade, a lei é o instrumento por excelência do governo, pois ao arbitrar o que será ou não feito o governo resvala no direito dos cidadãos. A lei é uma autorização de interferência nos direitos. Tanto isso é verdade que é muito comum a expressão „governar é legislar’, as decisões de governos requerem formas de leis por resvalarem nos direitos. Quando os governos começaram a ganhar corpo, para que as políticas públicas fossem concretizadas, quando a necessidade de um governo se tornou clara, quando o estado compreendeu que ele deveria elaborar, implantar e concretizar políticas públicas, o modelo de Montesquieu deixou de ser satisfatório e alternativas começaram a ser buscadas – chefe de estado se separa de chefe de governo; chefia de governo foi atrelada ao parlamento. Trata-se de um rearranjo para que não houvesse mais o travamento de Montesquieu. Era necessária uma fluidez dentro das decisões do governo. Chefe de estado se separa de chefe de governo, governo ganha autonomia e para que ele fosse bem nutrido de legitimidade foi atrelado à maioria parlamentar. O governo comunga da mesma legitimidade popular do parlamento. Essa é uma evolução que boa parte dos países conheceram – parlamentarização dos respectivos modelos. O caso do Brasil é bastante particular, houve mudanças do primeiro para o segundo império. Na República passou-se de uma monarquia parlamentarista para uma república presidencialista, o que o professor considera um refluxo. Como no Brasil o governo é necessário, não simplesmente se adotou o presidencialismo clássico, começou-se a desenvolver uma “jaboticaba política”, uma coisa própria, original – há exceções nítidas, reflexos parlamentaristas. Esse modelo, próprio do Brasil é denominado PRESIDENCIALISMO DE COALISÃO. É a variação do modelo de Constitucional I Professor José Levi Mello do Amaral Júnior Camila da Silva Oliveira – 185/21 39 Montesquieu aplicado a um modelo institucional que requer governo – parte das bases desse autor, como a questão da divisão de poderes, mas aquilo que foi idealizado tem diferenças imensas. Uma das características importantes desse modelo permite pensar o que é o presidencialismo de colisão. A medida provisória é também conhecida por decreto-lei, por vezes o governo precisa ele próprio fazer uma lei – não é uma lei mas vale como se fosse, mas necessita de uma confirmação parlamentar. Todo governo, minimente inteligente, pós-88 sabe que a maioria parlamentar é importante para que suas medidas provisórias sejam aprovadas quando caírem no congresso. Características evidentes conservadas de Montesquieu é a dissociação da escolha do poder legislativo e executivo – a maioria parlamentar tem que ser conquistada, negociada. Na verdade desde 88 nunca um partido conseguiu eleger consigo a absoluta maioria parlamentar – nenhum partido nunca obteve 20% da Câmara dos Deputados, ou seja, a maioria nunca foi atingida. Mesmo com as coligações entre presidente e vice, atinge-se no máximo 30%. Apenas um presidente se furtou de tentar conquistar a maioria, e foi derrubado. Ou seja, todos os governos sempre constroem a maioria parlamentar, e essa busca gera uma coalisão de apoio ao presidente, também conhecida como base de apoio do governo – entende-se o termo citado anteriormente, de que temos um PRESIDENCIALISMO DE COALISÃO. É evidente que tal organização significa a partilha de cargos, principalmente dos ministros. O presidencialismo de colisão é o mecanismo gestado na organização brasileira para parlamentarizar e permitir o governo. Não é um processo fora de riscos, a começar pelo caráter heterogêneo da maioria que vai se formar daí. O sistema eleitoral gera muitos partidos (30 partidos, 20 no congresso), é muito partido para compor uma base estável (por isso não seria possível o parlamentarismo no Brasil se não fosse resolvida essa questão do excesso de partidos). O posicionamento do professor é de que esse modelo é sujeito a maiorias heterogêneas e, pior do que isso, fica à mercê da falta de jeito de alguns personagens do modelo, fica sujeito à habilidade política e moral de determinados sujeitos; e por isso ele não tem muita fé na sua viabilidade. De qualquer forma, o principal problema é o caráter heterogêneo da base que se forma. Exemplo: o Constitucional I Professor José Levi Mello do Amaral Júnior Camila da Silva Oliveira – 185/21 40 atual governo tem grande maioria parlamentar, com mais de 400 deputados (são necessários 308). Trata-se de uma maioria com folga, mas a heterogeneidade se torna um fator de contenção (dificuldade de sintonia) – é um momento do presidencialismo de coalisão a observar e compreender. O atual governo é o que menos editou MPs, nos últimos 20 anos, apesar de ser o que tem maior base – são editadas 3 MPs por mês, discute-se as causas desse “baixo número”, pode ser uma decisão da presidente, pode ser que a maioria absoluta parlamentar esteja aprovando mais projetos de lei, o que torna menos necessária a MP, etc. Podemos também pensar na questão italiana, que tem uma Constituição de 1947. Seu parlamento é fragmentado, o que resulta em fugacidade governamental – houve mais de 60 governantes nesse período. Tendo dito isso, foi falado sobre o presidencialismo clássico, o presidencialismo de coalisão e poderia-se falar ainda do presidencialismo americano, que como já dito na aula anterior é o que segue mais à risca o modelo de Montesquieu. O veto nesse autor é absoluto, qualquer manifestação da faculdade de impedir é absoluta. Nos EUA não é assim, o congresso pode derrubar o veto presidencial (2/3 dos parlamentares). No Brasil é um pouco mais fácil, precisa-se de maioria absoluta. Outra diferença entre o modelo americano e a proposta de Montesquieu: o judiciário é neutro, não participa das decisões políticas. Nos EUA de alguma forma o judiciário toma essas decisões, através da decisão de inconstitucionalidade – essa lógica de coisas não estava na compreensão de Montesquieu. Essas diferenças ainda vem ao encontro da lógica de Montesquieu, pois a declaração de inconstitucionalidade é mais um veto, mais uma forma de travar o poder. Voltando ao parlamentarismo, pode-se fazer uma caracterização em oposição ao presidencialismo. Primeiro, há separação entre chefia de estado e chefia de governo, são pessoas, autoridades, órgãos, poderes separados. Mais do que isso, há uma conexão necessária entre o chefe de governo e o parlamento. Essa conexão se dá de várias maneiras, o governo decorre da maioria parlamentar, não há separação como aqui. A maioria parlamentar é escolhida pelo eleitorado e ela terá o direito de fazer o governo: o eleitor vota no deputado sabendo que estará ajudando a escolher como chefe de governo o líder daquele deputado. Nota-se: ao invés do Constitucional I Professor José Levi Mello do Amaral Júnior Camila da Silva Oliveira – 185/21 41 governo formar a maioria, a maioria forma o governo. A sorte do governe depende da maioria parlamentar. Perdendo-se essa maioria, teoricamente o governo cai. Na verdade, no parlamentarismo também uma série de nuances, há um grande número de variações. Primeiro ponto: o chefe de estado está de fato separado do chefe de governo? Até que ponto ele arbitra o jogo entre governo e parlamento? Quais os limites de sua atuação quando há conflito? Essas coisas variam e variam muito mundo afora. Por isso, serão utilizados exemplos reais. É possível esboçar um critério de análise que em geral se explica: o parlamentarismo tem ao menos parte de suas características definidas ou induzidas pelo contexto em que ele se manifesta, tomando em consideração a forma de governo. O parlamentarismo examinado se dá num contexto republicano ou monárquico? O critério esboçado é que em uma monarquia parlamentar o chefe de estado muito pouco interefere no governo; numa república parlamentar o chefe de estado tem alguma chance de ter influência no governo. Exemplo 1: Inglaterra – a rainha reina, mas não governa. O reinado não é legitimado pelo voto, trata-se de uma legitimação histórico-tradicional (Weber), ela é de outra natureza. A consequência disso é um governo bastante separado da coroa. Na Inglaterra há o poder de veto, que há 200 anos não é usado, a última que tentou-se usar quase caiu a monarquia. O mesmo ocorre na Espanha, cuja tradição é mais recente, não houve ainda sucessão na coroa. É modelo que tem apenas 34 anos, mas o rei é um mero carimbador. Em países em que o chefe de estado é eleito, ainda que indiretamente (Itália), a história muda. Na Itália o presidente tem poder de veto, há vários exemplos em que o presidente recusou- se a emaná-lo, e ele tem uma legitimação democrática para isso. Há chefes de estado republicanos em modelos parlamentaristas em que o presidente é tão anódino quanto a rainha da Inglaterra (caso do presidente alemão, por exemplo). Resumindo: em casos de repúblicas parlamentaristas o papel do presidente varia, podendo haver maior ou menor interferência. O papel de mais destaque é o do primeiro ministro, alguém sabe, por exemplo quem é o presidente da Alemanha? Constitucional I Professor José Levi Mello do Amaral Júnior Camila da Silva Oliveira – 185/21 42 O chefe de estado, no entanto, tem alguma reserva de poder, mesmo na mornarquia. Exemplo da última eleição inglesa, em que nenhum dos partidos teve maioria clara, fechada. Quem arbitrou qual dos partidos coligaria com um terceiro partido foi a rainha, uma das raras vezes em que a rainha funciona como poder moderador. Na Espanha isso é mais discreto ainda, houve um momento nos anos 80 em que o rei teve um papel central para debelar uma tentativa de golpe de estado, através de uma ordem baseada na tradição de seu poder (dado a verificar é se essa monarquia sobreviverá depois de Juan Carlos, já que sua figura tem tamanha força). Último caso: semi-presidencialismo/semi-parlamentarismo (copo meio cheio, meio vazio). A França é o que a literatura fala nesse grupo, o que para o professor é difícil sacramentar se está de um lado ou de outro. O modelo francês é modelo em que o presidente da república é eleito diretamente e há um primeiro ministro que decorre da maioria parlamentar. A consequência disso é que o presidente é muito forte, pois tem legitimação popular direta. Esse modelo foi pensado, e foi se ajustando ao longo do tempo, seja por reformas constitucionais, seja por meio de práticas. Como o presidente é eleito e tem na constituição prerrogativas de governo, ele ofusca o primeiro ministro, principalmente na primeira fase do poder. Em geral acontece que a maioria parlamentar é do partido do presidente, ou seja, o primeiro ministro é correligionário do presidente, que acaba por ter mais força por ter essa legitimação direta. Muitos nem sabem quem é o primeiro ministro. O problema é que o mandato presidencial na França era muito longo, sete anos com direito a uma reeleição por mais sete (possibilidade de ficar 14 anos no poder). Não é raro em um período presidencial tão longo que o presidente sofra alguma crise política, o que coloca em risco que nas eleições parlamentares a maioria eleita seja de um partido diferente do partido do presidente (exemplo mais antigo foi de François Miterran, que teve como primeiro ministro Jaques Chirrac). Na França quando ocorre essa diferença denomina-se coabitação, quando o presidente é de um partido e o primeiro ministro de outro. Nessa situação o que manda é o primeiro ministro, por ter sido ele saído mais recentemente das urnas. Com um presidente em crise, se tudo der certo para o primeiro ministro ele se torna um forte candidato à presidência (o que ocorreu com Chirrac, que teve em seu mandato o encurtamento para 5 anos de Constitucional I Professor José Levi Mello do Amaral Júnior Camila da Silva Oliveira – 185/21 43 mandato para presidência). Chirrac sofreu com o mesmo veneno que aplicou a Miterran, teve que coabitar com um primeiro ministro diferente (por falta de união da esquerda Chirrac foi reeleito, em uma eleição em que ele foi para o segundo turno com um candidato de extrema direita). O primeiro ministro eleito por ele em seu segundo mandato foi Sarkozy, que não coabitou com ninguém, mas também não se reelegeu, será agora substituído por François Holande. DES0118 - Direito Constitucional I - D�bora Nach (185-21).pdf CONSTITUCIONAL - Prof. Levi monitor: Berardino e Guilherme 8/3 Estuda-se constituição - disciplina relações de poder, relações políticas, limita o poder - e contexto que foi desenvolvido, que será aplicado. 4 contextos importantes: Forma de Estado: modo como o poder se distribui num território.unitário ou federalismo. Estado tem 1 soberania e pode ter várias autonomias. Confederação: vários estados, não é uma forma de estado. Mas confederação pode se tornar uma federação posteriormente (EUA). Federalismo tem poder legislativo, judiciario em cada estado (provincia, cantão). Unitarismo não tem, como a frança, por exemplo. Forma de Governo: modo como se dá a investidura da chefia do Estado (personificação do Estado): monarquia (hereditario/vitalicio) ou republica (eletivo), mas com exceções Sistema de Governo: modo como se relaciona o chefe de Estado com chefe de Governo (cuida do que é cotidiano, cuida do que não é consenco, eleição): quando são a mesma pessoa é presidencialismo e quando são diferentes, parlamentarismo. Rep. Monarquia Pres. Rep. Presidenc Monarquia Presidenc. (EUA/Am. Latina) Parlam. Rep. Parlam. Monarquia Parlam. (muitos na Europa) (Inglaterra, Canada) Regime de Governo: modo como se relaciona Estado e pessoa: autoritarismo qdo ha poder pelo poder, não ha ideologia, totalitarismo, quando há ideologia de 3 tipos: classe (comunismo), nação (fascismo), raça (nazismo), e a pessoa que não faça parte, é excluida; e democracia, quando Estado respeita pessoa enquanto ser individual e social. Estado protege e promove esses dois. 15/3 BOVERO - 15 a 34 e 71 a 92 (2a parte nao) DAHL - 17 a 35 FERREIRA FILHO - 3 a 20 O Constitucionalismo É um movimento politico e ideologico decorrente das revoluçoes liberais (Inglesa-1688, americana, 1776, francesa, 1789) para fazer constituiçoes de modo a acabar com o absolutismo e prevenir a sua volta. Não havia constituiçao antes?? sim, houve. essa eh a ideia moderna, mas houve constituições anteriores. se houve um estado na antiguidade, houve uma constituição. - Grécia antiga: experiencia democratica grega eh a base constituicional antiga. dezenas de cidades estado com vida democratica independente. Atenas *referencias - Politica de Aristoteles e A constituição dos Atenienses de Aristoteles - o modo como as magistraturas se organizam numa cidade - Aristoteles. - constituição é a finalidade de uma coisa significa a própria coisa, ou seja, o fim da cidade é a boa política Constituição de atenas: Atenas era uma democracia direta, cidadaos proprios tomavam decisoes na Ágora. excluidos: estrangeiros, mulheres e menores (+-18 ia para os templos, depois exercito). mais ou menos 20 a 40 mil cidadãos. uns 4 mil eram frequentes. a lei votada na ágora era uma mera explicitação de um direito ja praticado. se havia uma lei q era votada e ia contra o direito acestral, memorial, tinha um mecanismo chamado de Graphe Paranomon para revisao da lei. Controle Constitucional. eleição nao era metodo democratico de escolha e sim aristocratico pq vc escolhe o melhor. o metodo era sorteio, era o resultado de uma profunda compreensao de igualdade entre os cidadaos e os cargos eram por tempos breves, o mais importante, de presidente da assembleia, era de 1 dia. - corte qtitativo: qts governam - corte qualitativo: qm detem o poder, detem para o seu bem proprio ou para o bem comum Monarquia: governo de 1 para o bem comum (ideal platonico) Tirania: governo de 1 para o bem proprio Aristocracia: governo de poucos para o bem comum Oligarquia: governo de poucos para o bem proprio Politéia: governo de todos para o bem comum Democracia (Demagogia): governo de todos para o bem proprio, com discurso vazio e competição entre os grupos pode ver essas formas como um ciclo de q surge a monarquia e depois se degenera e eh salvo pela proxima forma e assim vai. para prevenir, aristoteles diz, sobre um governo misto e regime moderado. polibio explica que para nao corromper pode ter uma mistura entre os 3 tipos puros. e isso se realizou na republica romana, havia os 3 principios convivendo (consul, senado e plebe) Bem comum: todos se concentram naquilo que é bom para todos Bem proprio: discurso vazio -- declaração dos direito do homem e cidadao: uma sociedade nao em constituiçao se nao assegurar a separacao dos poderes e os direitos individuais (liberdades publicas ou direitos fundamentais de 1a geração) -adoção de dois limites ao poder para evitar absolutismo: freio interno ao estado que é a separação dos poderes e freio externo são os direitos individuais que sao inerentes a condição humana e sao anteriores e superiores ao Estado. Não foram dados pelo Estado, mas sao reconhecidos pelo Estado (declaração) e sao protegidos 22/3 Classificações das Constituições - Escritas - Não-escritas: constumeira Inglaterra: cjto de costumes mas que tocam em coisas proprias da Constituição - assuntos tipicos da const. - normas sobre a organizaçao do estado e sobre os direitos individuais -Rigidas: nao pode ser modificada facilmente, nao pode ser alterada como uma lei, 1-são escritas. 2-Mecanismo proprio de alteraçao mais dificil, demorado. 3-tem controle de constitucionalidade. nao necessariamente eh estavel. -Flexiveis: alteracao nao requer uma solenidade difererente da alteraçao da lei comum. pode ser escrita mas nao poe ter mecanismo proprio de alteraçao. const. costumeira nunca sera rigida. pode ser estavel const. brasileira q tem 25 anos tem 70 emendas (nao tocaram a materia constitucional msmo), a inglesa tem 1000 e provavelmente menos modificada que a nossa. para se alterar uma lei comum: maioria simpes de deputados e de senadores em 2 votações para se alterar a constituição: 3/5 de votos de 4 votações: 2 no senado e 2 na camara rigidez razoavel no bra. eua eh mto mais. -Semi-rigida - const. do imperio do brasil. artigo q dizia que materias constitucionais (organizaçao do estado e direitos individuais) é modificado por mecanismo especifico, mas as outras coisas era mais flexivel. - normas materialmente const.: normas q tocam assuntos proprios da constituição. eh possivel NNCC materiais fora da constituição (lei organica da magistratura) – as que falam da estrutura fundalmente do estado - normas formalmente const.: TODAS as que estao na constituição. a const. brasileira eh rigida pq nada pode ser mudado por lei, somente emenda. petreas sao materiais e sao passiveis de mudança mediante emenda constitucional, mas somente pra modificar (pra mais) e nao abolir - Const em sentido Substancial: conjunto relativo às normas materialmente constitucionais - Const. em sentido Formal: cjto normativo cuja alteraçao requer maior dificuldade (procedimento dificultoso) em comparaçao com a lei comum - Const. em sentido Documental: ha um texto solene que se declara "eu sou a const. do pais" mas nao preve para sua modificaçao um procedimento. essas normas estao dentro de um documento que se proclama Constituição (por meio de um preambulo) - Const. Normativa: se faz efetiva no jogo do poder, disciplina o poder. limita o poder - const. 88 - Const. Nominal: largamente ignorada pelos detentores do poder - const. 34 - Const. Semantica: feito pelos detentores do poder para dar aspecto const. para um regime autoritario . poder dissociado dos destinatarios do poder - const. 37 e 67 ------- EVOLUÇÃO DAS CONSTITUIÇÕES ciclos do constitucionalismo: 1 - Const. Revolucionarias do sec. 18 - Americana 1787, primeira delas, e Francesa 2 - Const. Napoleonicas: - 1799: estabele o poder de Napoleão 3 - 1815-1830: Ciclo das const. da restauraçao - reveladoras de monarquias const. limitadas (como a const. brasileira do Imperio) 4 - 1830-1848: Ciclo das const. liberais: - burguesia começa a reclamar da restauraçao da monarquia e faz pressoes liberais. começa a haver reclame de democracia, processo de redução do senso, do tanto de propriedade para votar e ser votado. surge voto censitário 5 - Constituições Democráticas: - surge voto universal e partidos polítcos. 6 - Constituições de democracia racionalizada: - O povo pode votar em qualquer partido até mesmo em algum que queira suprimir a democracia (Kelsen) - Constituições que tentam disciplinar experiencias que eram fruto da prática de forma racional - Ex. 1918 = Weimar - const. atropelada pelo nazismo - decorre da Liberdade e Igualdade (direitos sociais) 7 - Democracia Social: - constitucionalismo social de valores minimos - protegem a democracia - racionalizaçao das perspectivas de governo 8 - Estados Autoritarios: - desvalorizaçao das garantias 9 - Socialistas: - Realizaçao do socialismo (inexistencia da separaçao de poderes) 10 - Adotadas: - 3o mundo copia o 1o. - anacronicas. direito fundamental: inerente a condiçao humana - religiao, pensamento, escolha profissional ir e vir. 12/4 Aplicação das normas constitucionais: *Pontes de Miranda 1 - normas constitucionais self-exectuting (auto aplicaveis) - completas: tem em si todos os elementos necessarios a sua aplicaçao. tem sua hipotese claramente definida, ou seja, alguma coisa q ela supoe que venha acontecer e eh necessaria a consequencia. a norma basta em si msma (bastante em si). direitos fundamentais individuais - art. 5 da const. - sao auto-executaveis. normas programaticas: estabelecem programas q sao cumpridos, executados, a partir de leis. 2 - nonself-executing (nao auto aplicaveis) incompletas: não bastante em si. Existem direitos fundamenteis formais que não sao autoaplicaveis. XXXII - o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor; - depende de lei dizendo quais sao os direitos do consumidor. É uma norma não o bastante em si. Várias normas que dependem da lei para que todos os seus detalhes existam e sejam aplicados - são normas não autoaplicaveis. A cf diz que havera o sus, da o perfil, mas o sus é criado para valer por meio de uma lei, e não é so a lei, tem a lei orçamentária que da os recursos para o sus. Tem uma norma que fala que haverá um salario minimo - valor definido de em uma lei, cujo o fundamento de existencia é a cf. a cf preve mas não diz o qnt é. As normas consituticionais não autoaplicaveis ganharam uma outra definição: normas programaticas - que precisam ser buscados a partir de leis *José Alfonso -tres especies de normas constituicionais de aplicabilidade: 1a - imediata e eficacia plena: possiveis de aplicar e nessa apliucaçao conhecem eficacia maxima, sao plenas (q nem as completas) 3a - de eficacia limitada: dependem de regulamentaçao para que conheçam aplicaçao plena. tem efeitos minimos: gera dever de legislar pra regulamentar, impede legislaçao contraria a ela - essas duas na msma constituição, e por ultimo, se ha uma constituição nova, a lei nao se aplicará. p.e. se hj existe pena de morte e na proxima const nao houver, acabou, nao ha pena de morte. 2a - de aplicabilidde imediata ms de eficacia contida: aplicaveis em plenituda mas admitem que lei posterior, se vier, rebaixe o nivel de eficacia. nao nasce contida, mas eh passivel de contençao. art 5 inciso 13 - liberdade de trabalhar. é plena, livre, a nao ser que venha a lei ´para restringir. *critica do prof. Manoel qquer norma constitucional tolera de certa maneira a conduta..retornando a conceituaçao inicial, dividindo em dois. Interpretação das normas constitucionais interpretação politica, e q nao eh ideologica. ela busca os valores da constituição. -mens legis - vontade da lei -mens legislatoris - vontade do legislador nao eh raro que esses mens nao coincidam, apesar de ser o ideal, q elas coincidam. oq prevalece é a lei e nao a vontade do legislador. entao, em boa parte, as tecnicas sao as de identificar essas mens. 1 - gramatical: interpretar pela literalidade. qto mais clara a redaçao da lei, mais simples sera fazer a interpretaçao que basta pela gramatica 2 - historica: qdo a lei nao eh clara, uma forma de buscar compreender a lei, eh olhar como ela foi feita, pq ela foi feita e oq se pretendeu. exposição de motivos do projeto. se havia lei anterior, pq mudou? o projeto teve artigos vetados? houve emendas e qual foi seu sentido? 3 - sistematica: em geral, lei se interpreta na sua conjunçao com as demais leis vigentes do país e nao somente em ela propria. ela existe inserida num sistema que articula-se e com influencia reciproca. ou seja, interpretar sistematicamente eh interpretar com as outras leis. 4 - teleologica: vocacionada a revelar o fim da lei. as vezes a lei expressao qual o seu fim, exemplo lei n95 - como uma lei deve ser redigida. As vezes a lei não releva, mas os trabalhos parlamentarem revelam. 13/4 Monitoria Texto do jose alfonso: Direito positivado: oq resulta do processo legislativo eficacia juridica: tribunais nao aplicam eficacia social: as pessoas nao cumprem, como lei seca - Tercio: vigencia: lapso do tempo em q a norma pode ser aplicada Vigor: aplicaçao se estende para casos anteriores Critica dele eh de que tds normas seriam exigiveis, nao ha como ser somente sugestoes. - Eficacia plena: ela é completa. Qdo discriminaçao tem razao, qdo em concursos por exemplo, eh justificavel e nao diminui a eficacia plena. Mas o art. 1 por exemplo é usado também para justificar para em casos onde a discriminação eh arbitraria, tenha onde se basear, pq é eficacia plena. - Eficacia contida: passível de contenção. Com ressalvas que a lei reconhecer. permite regulamentação complementar. Enqto nao houver regulamentaçao que contenha, pode-se exercer livremente, como por exemplo, a prostituição que nao eh regulamentada - Eficacia limitada ou reduzida: nao da pra aplicar sem que haja outra lei. Direito de greve SOMENTE nos termos da lei. (e nao existe a lei ainda) Normas programáticas: sao aquelas, de eficacia limitada, em geral, que preveem um programa de ação do governo (saude, moradia), como dependem de legislaçap e verbas, havendo omissao de uma delas, nao tem como o judiciario obrigar a ação pq pela separaçao dos poderes nao tem como o judiciario intervir no balanço dos pagamentos do governo, mas oq acontece no DJ, na Defensoria, é que se exije. Norma de direito social: educação dos 4 a 17 anos. Aplicabilidade imediata. Mas creche por exemplo, nao entra no direito social, e qdo o STF pede que se crie creche, eh a transformaçao de uma norma programatica em de aplicabilididade imediata. Para garantir direitos sociais, ele acaba dando a normas programaticas, aplicabiblidade imediata. Constitucional - texto sobre Interpretação - Anotações minhas do texto 1 -Interpretar é determinar o sentido e o alcance das expressões do Direito -Sera desenvolvida a interpretação de uma Const. formal, escrita e rígida. -"conjto de normas juridicas concernentes à forma do Estado, à forma de Governo, ao modo de aqusição e exercício do poder, ao estabelecimento de seus órgãos, aos limites de sua ação. -constituição em seu aspecto normativo - cjto de normas + realidade social que lhe dá o conteudo e sentido axiologico. - const. ideal (anula a mutação constitucional) X const. compromissoria (se ela for mto elastica, pode prejudicar a segurança juridica) - const. real (vigente, solenemente promulgada) X efetiva (aplicada, cumprida na vida politica) - interpretar é conhecer a const. , nao apenas em sua letra, mas tbm, em seu espirito, em seus significados mais profundos e em seu verdadeiro alcance. 2. necessidade da interp. const. - conteudo é vago, q deixam larga margem de interferencia e complementaçao. - conteudo eh fundamental, mas eh generico e sintetico 3 - aplicar a const. é interpretar 4 - tipos de interpretaçao 4.1 - juridica: elemento politico e tipologia das nncc a) nao se deve levar em conta somente o raciocinio logico no processo de interpretação, mas principalmente o sentido politico da interpretaçao - natureza politica eh intrinseca b) saber que tipo de nncc eh pq algumas permitem maior elasticidade de interpretação - preceptivas (obrigatorias de onde saem direitos e deveres, e, institucinais ou organizatorias (criam instituiçoes constiitucionais, mas sem regras de conduta) . sao importantes aquelas que atribuem poderes a orgais mas que deixam liberdade de açao ao modo do exercicio do poder - diretivas ou programaticas (pq estabelecem diretrizes para ação futura) podem ser de aplicação imediata ou nao imediata (nao completas e podem ser para o legislador futuro). sao as bases do ordenamento do Estado. estao ligado a logica da materia e da propria estrutura juridica. preceitos fundamentais capitais e basicos - interpretação const. eh mais dificil que juridica por exigir conhecimentos tecnicos bastante elevados e um alto grau de sensibilidade juridica, politica e social - uma das maiores dificuldade eh classificar importancia e a funçao dos valores: entao, deve-se considerar existir igualdade entre os valores e admitir a existencia da hierarquia de valores protegidos pela constituição. 4.2 metodos 1 - buscar o sentido dado ao texto expresso, à letra constitucionao - interp. gramatcal 2 - procurar o espirito da const. 3 - identificar a vontade do legislados const. 4 - identificar valores embutidos no texto e ordena-los hierarquicamente 5 - buscar o sentido da norma que mais se adapte a ordem social 6 - identificar o significado atual da norma consti., exigencias concretas 7 - buscar um dentre os significados ou conteudos estranhados na norma const. 1 - sig. literal das palavras - sentido comum das palavras deve ser entendido, mas nao fora do contexto. tbm nao podem ter significados que venham a conflitar. problematica de que palavras mudam de sentido em diferentes momentos hitoricos, como cidadão na cons. de 1891 q excluia as mulheres do voto e em 32, sem alterar a const. permitiu-se o voto...ou seja, a interpretaçao gramatical pode causar mutaçoes 2 - lógico - identificar intençao do legislados: historico, teleologico e sistematico analisa-se a formaçao e elaboraçao, o fim que persegue e as relaçoes com outras normas. - trabalhos preparatorios, motivos, debates nas assembleias Base subjetiva torna interpretacao vulneravel Sistematica: 3 – analogia: lacuna constitucional 4 – evolutiva: mudanças historicas em conceitos como “bons costumes” por exemplo 5 – constitucional: interpretação const. procura sentido do texto, explicação daquilo que esta obscuro, some do metodo gramatical e logico. Construção const. Inclui criterio politico Toda interpretação eh entao, uma mutação. Pq dependera do contexto politico em q esta sendo lido 6- metodos modernos: integrativo ou cientifico espiritual –critico qto ao conteudo, atenta-se a realidade, a concretitude da existencia - o metodo interpretativo de concretização – onde houver obscuridade, que o interprete trate de determinar o conteudo material 19/4 Poder constituinte: estabele constituição essa doutrina do poder constituinte foi elaborada por Sieyes, escreve: oq eh o 3o estado, manifesto politico dentro da rev. francesa. e foi mto influente na const. napoleonica 1799 3o estado: burguesia - Oq tem sido o 3o estado: nada, ele eh explorado e massacrado - oq eh o 3o: é tudo, pq sem a burguesia, a sociedade nao eh sustentada - oq pretende ser: novo pacto a er estabelecido num texto consttitucional que decorre de um poder constituinte. e ae ele fala sobre o poder constituinte - "A constituição burguesa" Essse poder funda o Estado. E sobre a natureza desse poder:é poder de fato ou de direito? -para um positivista, é poder de fato. pq no topo da piramide normativa, esta a constituição, sendo assim, o poder constituinte esta fora da piramide e assim, é poder de fato. uma norma eh valida se ela eh elaborada segundo o processo legislativo traçado pela norma superior e se eesse processo eh realizado pela autoridade competente - aquela como apontada pela norma superior - é só forma, não tem conteudo. (Kelsen). na hr q uma nova sociedade se estabele com um poder constituinte é um fato, é outra norma fundamental. -para um jusnaturalista, é de direito. direito tem poder transcendetal, para alem das leis dos homens, ha um direito divino, revelado. a lei nao vem do nada, vem de um direito transcendental. se a constituição observa isso, o poder constituinte tem natureza de direito qm eh titular do poder constituinte? a nação (uma abstração - Sieyes) ou o povo (povo somos nós, ao povo se presta contas, Rousseau). na rev. francesa, Sieyes prevalece. tem 2 tipos de poder constituinte: - originario: aquele que efetivamente coloca a constituiçao, que funda o estado. Inicial (funda o estado), Ilimitado (materialmente ilimitado, decisoes politicas de um estado sao livres - qual sera a forma de gov. e de estado.) e Incondicionado ( Tem a ver com a forma, maneira como é feita, como se manifesta: assemblecia nacional constituitente, corpo eleito so pra si, pode ser uma delegação ao poder parlamentar. (ex assembleia 86/87 foi a assembleia e o parlamento, e o senadores de antes (lembrar 8 anos de poder) nem foram eleitos para isso), Outorga, Outorga referendada 1958 – França) - instituido: Derivado (do originiario), Limitado (pq eh derivaçao do originario a estruturas ordinarias - materia nao pode romper com decisoes politicas fundamentais) e condicionado (pode ser por emeda ou por revisão - é um ato normativo que altera, revoga, modifica constituição.) ---------------------------------------------------------- (copiado da Dani) Como se da o processo de emenda CF no Brasil Art 60 da CF Quem pode propor a emenda constitucional no BR: Três figuras podem propor emenda a CF Quem tem iniciatia para PEC – proposta de emenda constitucional: 1. Presidente da republica – ato simples 2. 1/3 da câmara dos deputados 171 assinaturas ou 1/3 de senadores – 27 senadores 3. Mairoria absoluta das assembleias legislativas do brasil – cada uma com a maioria simples da sua casa. – [hipótese inspirada na CF americana – emendada por deliberação do congresso amaerica com referendo ou por meio de uma convenção colocada pelos estados. Essa parte não cai!] Maioria absoluta é o primeiro número inteiro acima da metade. Brasil é 14. Essa hipótese nunca aconteceu, já tiveram alguns estados que quiseram organizar uma pec, mas nunca ocorreu – não cai Iniciativa: ato que deflagra o processo legislativo, ato que deflagra a manifestação de poder constituinte de emenda. EMENDA: INCLUIR, MODIFICAR, ETC. A CF no brasil vale para todos os entes federados: entes federados são unicao,26 estados, df e 5580municipios. DF – hibrido, compentrencia de estadpos e competência de municípios. Esse conjunto além de se manifestar no estado, os entes podem apresentar uma PEC. Em geral há várias PEC, tem anos que os deputados falam 500 PEC, senadores 100 PEC. Hoje no brasil nos temos 68 emendar consituicionais e mais 6 de revisão = 74 ao todo. Apresentada a PEC, ela começa a tramitar Se for pelo presidente e deputados: câmara Se for pelo senado: senado Se for pelos municípios: senado – exceção pq sempre é da câmara, mas o regimento do senado, fala q deve ser senado Como tramita uma PEC? Proposta pelos deputados 1/3 deputados Começa pela votação na câmara, por 3/5 em uma priemira votação (308 votos em 513). Se votou e aprovou tem um prazo regimental, q as vezes pode ser suprimido, intersticicio – acontece uma segunda votação na câmara, de novo 3/5 – 308 votos para passar, depois vai para o senado – um primeira votação com 3/5 (49 votos em 81) depois interstício – e outra votação com 3/5 – 49 votos. O MESMO TEXTO TEM QUE SER APROVADO – SE HOUVER MODIFICAÇÃO VOLTA PARA SER VOTADO DE NOVO NO INICIO. – Rigor – pq é alteração da CF. Medida da rigidez constitucional brasileira, e exige acordo das duas camaras no congresso. – Terminou de tramitar nas duas casas. A mesa do congresso deve promulgar a emenda – ato formal, solene que atesta que a PEC agora é emenda. *congresso: câmara mais senado juntos, as vezes votam juntos, mas não mescla-los- exemplo orçamento – elas deliberam juntas. Veto tb. Emenda com 3 ou 4 artigos, se um for alterado, adicionado ou suprimido, e os outros não tiverem dependência com os outros , os outros três podem passar, e só um artigo pode voltar. – é separado e promulgado. Existem limites para a emenda – exemplo o limite procedimental acima. No projeto de lei existe iniciativa popular, mas na emenda constitucional, art 60, não inclui a iniciativa popular. Outra visão: Se a lei tem, a obra mais direita do povo q é a cf, tem que ter tb a iniciativa. - Limites circunstancias: não se recomenta da que a cf seja emendada nesse período: estado de sitio (mais grave), estado de defesa (gravidade menos – preparatório para o de sitio) ou vigência de intervenção federal – coisas tao graves como guerra, subversão do estado, desastre natural – comoção intestina grave. Em geral os governos federais hesitam em colocar interveção federal. A cf BRASILEIRA DIZ ASSIM Art 60 inciso §4º Não serão proposta de emendar o que quiser tirar a forma federativa do estado, o voto secreto e universal, a separação dos poderes e os direitos individuais. – Decisões fundamentais – coração da constituição. – Cláusulas pétreas. Não podem ser restringidas. Quem defende a cláusula pétrea: fala a federação brasileira não pode ser modificada, uma boa parte da doutrina defende isso. O STF entende: a constituição brasileira tomou uma decisão de que seremos uma federação.A federação não pode ser abolidade, mas pode ser modifica. Mas a modificação não pode ser tendente a abolir. Pode-se tirar uma competência da união e passar pra outro ente? Se sim, pode-se modificar a federação brasielira, mas ela é tendente a aboliar a federação brasileira? Nesse caso não. STF deixaria, doutrina que sol e a CF não. Pode-se tirar o ICMS dos estados? Não pq acabaria com os estados, não teria mais renda. Nenhum aprovaria. Emenda CF n. 3 – ela criou o IPMF – impunha impostos ao estado. – o Supremo disse q é inconstitucional, por causa da imunidade reciproca, para não pdoer tributar o outro. A mesma emenda revogou um tributo estadual que era difícil de cobrar – adicional ao IRRF q iria pro estado. – modificou pq tirou uma competência dos estados de tributação – mas pode ser feita pq não tendia a aboliar os estados. No poder de tributar esta o poder de destruir – Marshal’ Ser federação: ter autonomia entre os entes federados. STF ação direta – jurisprudência – 2024 adi 2024 No direito republicano brasileiro: federação e republica. Limite matéria da CF americana: numero igual de senadores em cada estado. 2. Separação dos poderes: executivo, legislativo, judiciário, o que cada a cada um e como ele se relaciona. adi 3367 – pode se colocar um novo poder? Movida contra um órgão novo ao judiciário, pois submetia várias juízes. Pode se ter a separação, se modificar o poder, criar um poder novo, o que não pode abolir um poder ou submeter um ao outro. Anos 80 – decisão do supremo: mandado de segurança 20257 / 2257– houve um momento no final que começou a tramitar uma proposta constitucional - mandado que fala que uma pec não pode se tramitar pq aumentar o mandato do presidente atentava a contra a republica. Mas aumentar em um ano não é aboliar a republica. Esta permitindo e dizendo o limite do permitido. – única caso de controle preventivo de constitucionalidade. Única fez q ocorreu em proposta. Direitos e garantias individuais – direitos sociais, liberades (pensamentos, ir e vir) qnd estão em jogo direitos fundamentais há uma regra de introdução: direitos fundamentais são amplos (ao contrario do penal) – Manul diz classicamente o direito e garantias individuais é direitos fundamentaios: individuais – art 5 e sociais art 6. Pode se alterar, mas não pdoe aboliar ou desnaturar os direitos fundamentais. pCI – se manifesta de três maneiras: emenda, revisão e decorrente Poder constituinte decorrente – deriva da cf em favor dos federados. Os entes tb podem ter cf. estados cf e municípios lei orgânica. O poder decorrente decorrentes os estados- 1 grau e os munícios – 2 grau terem cf é tb o pdoer consitutinte insituito, pq tao estão sujeitos ao princípios da cf da republica. 20/4 Monitoria: Lei material: geral e abstrato, como a lei de compra e venda. Podem ter leis materias que nao sao necessariamente formais, como decretos por exemplo, pq decretos nao passaram pelo processo. Lei formal (lei positiva): passou pelo processo de produção de leis Hierarquia: Constituição, Lei complementar (dizem que o processo da complementar eh maior, mas STF diz que nao, pq nem toda lei pode tratar de lei complementar)e lei ordinaria *Recepçao ou nao de leis qdo muda constituição. Leis antes de 88 nao podem ser inconstitucionais, somente podem ser nao recepcionadas pela nova constituição. Entao eh criado DPF que ve se os principios estao sendo recebidas ou nao. QUESTOES para entregar depois da prova: 1 – oq é constitucionalismo? Qual a relaçao de rigidez e estabilidade da Constituição (pensar const. Com racionalizaçao do poder. Texto do mateucci) 2 – o constituinte derivado pode alterar – diminuir - o quórum de aprovação de emendas constitucionais e pode alterar as cláusulas pétreas? Justifique. Texto: Qm aplica a constituição? o legislador, judiciario Levar em conta a política ao interpretar a const. De qdo foi escrita e da atualidade? e tbm levar em conta o tipo de norma. Tem normas de baixa densidade normativo, direito à liberdade, e quase tudo pode se aplicar nela, normas que permitem pluralidade de interpretaçoes que vc nao consegue dizer qual eh certa e qual eh errada. Eh saudavel a alteração, mutação na constituição, por mais que haja problemas Mutações constitucionais e mutações inconstitucionais 29/4 - Prova 30/4 Monitoria: Vicio = Inconstitucionalidade pode ser de 2 tipos: - Material: relativo ao conteúdo - Formal: relativo ao procedimento Se ocorre uma promulgação que conflita com o procedimento é vício formal, não material. Conteúdo que tá vetado por uma norma procidimental. O mesmo ocorre se for feita uma MP sobre Penal Isso porque viola pre-compromisso tomado pelo originário Maneco fala sobre casos limites, porque se nao puder alterar, cada vez deveria se iniciar uma nova Constituição toda vez. 3/5 Modelos eleitorais Personagens do Jogo Politico: programas partidarios Partidos politicos é fenomeno muito novo. não vem das revoluções liberais, pq lá foi a burguesia que ganhou, e com o voto censitario, nao havia partidos. Jacobinos, Girondinos, nao eram partidos, era uma luta de processo revolucionario Partidos é fenomeno da 2a metade do sec XIX do sec XX, com a universalizaçao do voto, pq nao sao somente os burgueses que tem acesso ao mundo politico. e sao os grupos com diferentes visoes do mundo é que se juntam e formam partidos politicos - esse processo é claro na Inglaterra. *EUA: caso particular sobre os partidos Como se dá a eleição no Brasil? Eleição para Deputado Federal e Senador: -em sistemas majoritarios puros a tendencia eh de formaçao de apenas 2 partidos -ja no sist. proporcional, a tendendia eh multiplicaçao de partidos. há sistemas intermediarios: como o frances, que é majoritario de 2 turnos, partidos nao se sentem pressionados a se coligarem (anotaçoes da Dani) O povo é o soberano. É o titular do poder e quem obedece ao poder. Coincidência entre aqueles que decidem e que sofrem o fluxo da decisão. Há um processo político democrático, quem são os personagens? Os personagens são os partidos políticos ou os programas partidários. É razoavelmente recente os partidos serem personagens. - Nicolau Matteucci – menciona a existência de alguns partidos na Inglaterra os tory e os whig – mas de forma arcaica. Partidos políticos é muito recente. Não veio das revoluções liberais pq qm ganhou as revoluções foi a burguesia e ela se impôs no sistema politico e gerou mecanismo para isso – voto censitário, logo não tinha partidos políticos no sentido que conhecemos Partido politico no sentido de grupos ideológicos em disputa eleitoral é recente, segunda metade do sec xix, sec xx, a partir da universalização do voto que isso acontece, pq a partir dessa universalização pessoas com diferenças formas de ver o mundo participam do jogo policito, e elas se juntam em grupos por ideiologia. Na Inglaterra em paralelo a universalização do voto nasceu o primeiro partido inglês o Labor Party. Muito clara ate hoje a disputa entre partidos. Vários outros países tem o fenômeno de disputa. No Brasil o primeiro partido com ideologia foi o PT, os demais foram obrigados a ter ideologia para poder se manter no jogo democrático. França hoje: de um lado um esquerdista e do outro o direitista. Mas existem partidos extremos, como um da extrema direita. - Um pais a parte disso é o EUA: No estado liberal, qndo valia o voto censitário os partidos não eram admitidos. De lá pra cá é o inverso os partidos se tornam o jogo democrático, mas isso nos eua é peculiar, com um sistema politico partidário diferente. Nos eua os pais fundadores americanos tinham medo de partidos políticos, chamavam os partidos de facções, pq os pais fundadores tinham muito receio da fundação de maiorias nacionais pq os pais fundadores queriam ter domínio do processo e para isso quebraram as chances das maiorias nacionais. O próprio Federalismo e a própria mecânica da eleição do presidente – eleição indireta – há um colégio eleitoral que vota em grandes eleitores e esses grandes eleitores escolhem o presidente – maneira de não populizar o poder. James Madson: qnd jovem era absolutamento contra partidos políticos porque os pais fundadores retratavam a ideia de um estado liberal com consenso e voto censitário. Assim construíram os eua, evitando as facções, so havia um em torno do wash – em torno dele havia consenso, após ele houve muita disputa do poder. John Adams – terceiro mandato segundo presidente – não teve um grande consenso entre si, o grupo em volta do wash era a favor do poder centralizado e um grupo do Thomas Jefferson abre um outro partido a favor de um poder descentralizado – partido republicano democratico. O Jefferson ganha as próprias eleições. Isso deu tao certo que os próximos três mandatos é desse pdoer descentralizado (Jeff/Jeff;madson/madson) deu tao certo que o partido federalista foi dizimado . Com o tempo o antigo partido republico democrático é o atual democrata. O partido republicano atual é fruto de uma organização partidária de Lincon, qnd ele estabeleceu a estabilização do poder após a guerra da secessão. – 3 emendas constituições (acabar com a escravidão) após a guerra foi organizado o partido republicano fundando. Não é mais antigo que o democrata. Tem autores americanos que falam de uma silenciosa revolução democrata nos eua, um dos fatores foi o movimento da unificação as massas para diblar o colégio eleitoral. Hoje o eleitor vota em um grande eleitor sabendo que a simpatia do eleitor grande e que vai votar em determinado presidente. De vez em quando o grande eleitor da um problema – como na primeira da Bush Filho. A primeira vez que o colégio do grande eleitor foi na primeira eleição do Jeff (na época era primeiro lugar presidente, segundo o vice). Aaron Burr empatou com o Jeff, e a câmara foi decidir e teve 34 eleições inconclusivas, na 35 foi decidida Jeff em primeira e Aaron em segundo. Após isso emenda para ter eleição em chapa. Foi um mito. Outro mito – bush ganhar com menos votos popular. – O vencedor leva tudo. Vamos dizer que o colégio eleitoral seja 70 delegados, ai vamos supor que os votos populares ficam 60 para republico e 40 para democrata. Como serão divididos? Todos ficam como republicanos – Expectativa de que o estado vote em peso. Só dois estados não adotam isso – tem divisão proporcional em Nebraska e Meiner. Para ganhar presidente tem que ter 280 votos. Nos eua tem dezenas de partidos, mas só vemos as duas grandes maquinas nacionais, frutos de dezenas de partidos unidos. Os dois grandes não divergem ideologicamente – ambos capitalistas ambos american way of life. É normal ter umas diferenças relativas tipo os republicanos são mais perigosos entretanto o Thruman que jogou a bomba no japao era democrata. Se no estado liberal os partidos eram execrados e nos estados contemporâneos os partidos são personagens no meio termo eles são detalhes – fisiológicos, um objetivo – ganhar eleição. Não divergem acerca do modelo americano. Muda muito de um governo pro outro? Essas conformações divergem em cada pais. Ditadicamente se identifica ramos de uma mesma espécie. Há duas grandes espécies desse tema, eleição do parlamento: 1) FPTP – first past the post – corrida de cavalo – o primeiro que bota o focinho – mais simples. Ganha aquele que tiver o maior número de votos. É o modelo inglês e americano. Esse sistema tem uma consequência. Consequencia que foi identificada no livro do Morris Virg – os partidos políticos. Há a tendência de só existir dois partidos. Porque? A eleição majoritária para deputado é de base distrital, em geral o voto major majoritário. Distrial – em cada distrito . Se em um distrito tiver um numero maior de trabalhadores de esquerda e alguns empregadores de direita. Os trabalhadores tem vários lideres sindicais – se segmentam em quatro grandes partidos. O de direito tem mais de 20% e os quatro partidos dos trabalhadores tem o 80%. Vamos supor que vamos em uma eleição que cada partido tem um candidato. Os trabalhadores se dividem nos votos, e o partido de direita, minoriario, consegue todos os votos dos empregadores, ficando com mais ou menos 21%. Deputado que representa a minoria. Normalmente os partidos de esquerda ao invés de se dividir elegem apenas um partido, e acaba-se tendo uma fusão natural entre esse partido. Esse sistema quase gera a formação de dois partidos. Ele é tao claro quanto pernicioso porque justamente o porque ele gera os dois partidos ele é pouco amigo das minorias, pq sempre as maiorias ganham , dificilmente partidos menores ganham. O sistema majoritário é tao malvado com a minoria que tende a sacrificar ate o segundo partido. Tende favorecer a maioria e desfavorecer a minoiriaç Nem sempre o segundo partido tem o memso numero de cadeiras que teria pela representação populat. As vezes uma parte que teve 15 %dos votos so teve 10% das cadeiras pq esse sistema so contempla aquele que ganha.Mas não é um horror, tem uma grande virtude: a simplicidade e o ditadismo. Gera vinculo entre o eleitor e eleito – o dever de geração de contas. O eleitor sabe em que votou e o eleito sabe quem votou nele. 2) Sistema proporcional: Tecnica que tem por objetivo contemplar minorias, ao menos as minimamente representativas. O voto funciona da seguinte maneira: imagina um pais com cem milhões de eleitores e tem 500 cadeiras, esse calculo tem como resultado o cociente eleitoral, que nesse exemplo é 200 mil votos. Isso significa que a densidade de votos mínima que se espera para que um partido tenha pelo menos uma cadeira é de 200 mil votos. Alcançou 200 mil votos tem uma cadeira. A segunda conta é pegar qnts votos um partido teve. Uma partido teve um milhão de votos, divide pelo cociente eleitoral = o resultado é o cociente do partido – nesse caso 5 – cinco cadeiras. O verdadeiro canditado é o partido e não o candidato. Ex. o voto na legenda na urna eletrônica. Primeiro a justiça pega em qual partido foi votada – na legenda. Depois se ve o canditadto. Se o eleitor vota no canditato ele ajuda a votar no partido e ajuda a fazer uma ordenação de lista do partido (bra) outra alternativa é o partido fazer a lista (o eleitor so vota na kegenda) se o leitor der 7 caderias, os 7 primeiros da lista entra. Esse modelo não gera vinculo entre o eleitor e o eleito, pq ele acaba ajudando a eleger outro, as vezes de outro partido, pq pode existir a coligação. [se o partido tiver 100 mil a mais – como se trata o resto?- no BRA pega-se o resto de cada partido e divide-se pelo numero de cadeiras que o partido teve. Aquele que teve o maior resultado pega a primeira cadeira e vai se fazendo isso ate se cumprir todas as cadeiras – na segunda rodada soma-se uma a mais ao primeiro lugar e faz a conta de novo] Caso Eneias – Prona – primeira eleição teve um milhão e meio de votos. – fez sete vezes o coincidente eleitoral – elegeu a si e mais seis. No partido so tinha mais 5 – sobrou uma vaga (e desses alguns com 20 mil votos se elegeram ao passo que canditados com 100 mil votos não entraram) Código eleitoral – 105 e seguintes. 109 – como é a proporcionalidade do brasil. No bra temos eleições de presidente, vereador, dep federal, dep estadual, senador, governador e prefeito. Tudo é por lei federal. Tem uma eleição de nível federal – presidente Nivel municipal – vereador Todas as demais de base estadual – dep fed. Dep. Est, senador e governador. do dep federal ele é representante do povo, na verdade do povo do seu estado, e o senador é representante do estado. Federal – proporcional a cada quatro anos – Senador – majoritário. – a cada quatro anos – mas tem mandado de 8 anos – 2/3 e 1/3. O voto pra deputado é estadual pq o braisl tem a peculiaridade de ter um piso e um teto de deputados por estado (na opinião não deveria ter – pra proteger os estados menores dos maiores) No brasil existe um critério federativo próprio do senado. Cada eleitor tem que ter um voto, no momento que se coloca um piso, alguns estados que devriam ter um depiutado term 8 e os estados que deveriam ter mais de 100 tem 70 O eleitor no brasil não tem o mesmo peso eleitorial conforme onde ele mora. Basta ele mudar para mudar o local de voto para mudar o valor do seu voto pq a densidade eleitoral é altamente diferente e alterada por cada do piso e do teto. Clausula pétrea americana = igual numero de senadores para cada estado 1 regra = sist. Marjoritarios puros tendência de formação de 2 partidos Sistema proporcional = formação de vários partidos França= sistema marjoritario em 2 turnos. Consequência = partidos não se sentem obrigados a fusionarem p/ o 1 turno. O modelo francês da uma quebrada nesses dois extremos. No brasil tem 29 ou 30 partidos, deste 20 tem representação no congresso Espanha é proporcional mas tem dois partidos básicos. Na existem muitas rivalidades locais que tornam a equação diferente. O piso e o teto podem ser alterados? Ler adi 815. 10/5 sist. majoritario: nao contempla minorias, somente aquele que ganhou, e isso deixa descobertos minorias sociais que naoe starao representadas. gera vinculo entre eleitor e eleito sist. proporcional: permite representaçao de minorias minimamente representativa (que alcança cociente eleitoral). naao gera vinculo entre eleito e eleitor. é amigo das minoria cociente eleitoral: minimo de votos que precisa pra um partido conseguir uma cadeira. um partido consegue quantas vezes o cociente, eh o numero de cadeiras que ele terá. as cadeiras que nao foram preenchidas sera feito por uma conta: o numero de votos que ele teve por cadeiras que ele tinha - densidade eleitoral - quem tinha maior densidade, ganhará mais cadeiras da sobra. uma conta por cadeira. Franca - eleiçao de deputado é distrital e precisa de maioria absoluta de votos, se nao acontece a maioria, ocorre 2o turno para 2 mais votados. a idéia disso é permitir que haja escolha de coligação para o 2o turno e deixar o 1o turno livre. P. Como imaginar um sistema do que ha de bom no majoritario simples e no proporcional, ou seja, ha contemplaçao de minorias, vinculo entre eleitor e eleito, clareza de qm votou e qm foi votado? R. sist. eleitoral alemão é distrital misto e é proporcional. alemanha tem 600 (??????) deputados na camara baixa. cociente: divide-se eleitorado pelo numero total de cadeiras - 300. Eleição se dá assim: o eleitor de cada distrito possui 2 votos - um majoritario e um voto na lista partidaria. cadeiras se distribuem a razao de qts vezes um determinado partido cumpriu o cociente eleitoral. deputado eleito na majoritaria tá eleito, as outras cadeiras a que ele tem direito pelo cociente sao divididas pela lista partidaria (q o partido define a ordem dos deputados). Se um partido tem em cociente 20 cadeiras, mas ganhou em 25 distritos, ele terá direito a essas 25 cadeiras? sim. mas isso ja aconteceu com varios partidos e qdo isso aconteceu, permitiu-se acrescentar as cadeiras necessarias a mais. tentativa aqui de colocar vereador paroquial para permitir o eleitorado de saber em quem está votando e que os benefícios voltem para a comunidade que votou nele. isso não pegou. para aplicar para distrital puro é necessário emenda constitucional. majoritario para senadores (uma eleição binominal e uma nominal) e proporcional para camara dos deputados (maximo de 70 e minimo de 8 deputados por estado - eleição é estadual. calculo do cociente eleitoral é por estado) e isso é problemático por causa da questao do "um homem, um voto" e com esse máximo e mínimo, isso não acontece. O peso do voto de Sao Paulo é menor do que o peso do voto do Acre, Amapár, por exemplo. Esse critério da não-igualdade de votos deveria ficar restrito ao Senado e nao contaminar o casa popular que deveria ficar na democracia. Bastaria mudar de Estado para aumentar seu peso do voto. *Dawl - democracia é feita para entes federados ou para o povo? -vereadores, camara legislativa, e outras casa é proporcional. só senado é manjoritario Inglaterra (1265) - foram chamados a reuniao parlamentar, representantes dos burgos e dos pequenos cavaleiros e eles ficaram nos jardins (verde) do palácio pq os nobres (lordes) ja tinha ocupado o palacio (azul) e isso se ficou mantido ate hj nao so na Inglaterra, onde a camara dos lordes é azul e dos comuns verde. no brasil é camara deputados é verde e senado é azul. Nacionalidade, Cidadania e Direitos Políticos para se inserir no sistema político vc tem a nacionalidade, a cidadania e culmina nos direitos políticos. primeiro passo para se ter direitos politicos é ter uma nacionalidade, estar inserido num Estado é ser reconhecido como nacional de um Estado - criterios de sangue, de solo - e a apatria acontece, como no filme O Terminal. Ser nacional nao signifca ser cidadão, que para o ser cumpre alguns requisitos, em gera, etários. Tornando-se cidadão, ele pode participar dos direitos políticos que são votar e ser votado, direitos de participar da formação da vontade do Estado. -- Nacionalidade: Ius Sanguini, Ius Soli: filho de quem ou nasceu onde. em geral criterio de sangue é aplicado por países de emigração e de solo adotado por países de imigração. e há países que adotam ambos os critérios, como no caso do Brasil. Aqui tem brasileiro nato e naturalizado. e não pode ter discriminação, a não ser quando expresso. - O brasileiro nato - art.12, I - nascidos no Brasil (solo), nascidos no estrangeiro de pai brasileiro (sangue) - O brasileiro naturalizado - art. 12, II - estrageiros que morem ha 15 anos aqui e àqueles que queiram e peçam nacionalidade vindo de países de lingua portuguesa. Pode se perder a nacionalidade, art. 12 § 4o em casos que naturalizado cometa crime e com isso, perde e tbm em casos onde conseguir nacionalidade estrangeira acaba perdendo a sua inicial, em casos tbm de imposição de naturalização, ex. de jogador de futebol. -- Direitos Políticos art. 14 - votar e ser votado. existencia de plebiscito, referendo, iniciativa popular. Igualdade do voto (teto de deputado e senado nao poderia, mas ler adi 815, pq fala-se que é norma constitucional originária tbm o teto e o piso) 11/5 - Monitoria Positivismo - método de aplicação do direito válido ainda hoje, mesmo que nao completamente. Mas a questão positivista de que vale pq vale; sem pensar ética ou moralmente não vale. - Compromisso da liberdade política onde se submete msmo que a minoria perca - para que idéia possa se submeter - minoria nao contemplada ainda é livre pq votou - povo é uno é juridica: submissao a ordem normativa - ideologia é oq agrega o povo em partidos, é contra luta de classes pq aé o que juntaria seria somente o econômico. - voto proporcional teria mais partidos, grupos de individuos - maioria qualificada: qquer que seja maior que a absolua definida por lei - maioria simples: maioria dos presentes - maioria absoluta: maioria dos participantes A qualificada é importante para defender os direitos fundamentais, pq assim a minoria fica mais defendida, nao é somente quantitativo - cláusula de barreira: barra partidos com menor quociente do que o necessario - clausula de desempenho: tentou-se no Brasil 17/5 Federalismo -- Introdução histórica: origens: federalismo eh tecnica de repartiçao do poder em bases territoriais, descentralizaçao do poder em bases territoriais. origem mais remota é o feudalismo. vocaçao federativa do brasil tem mto a ver com as capitanias hereditarias (prenuncia da vocaçao federativa). por mais paradoxal que seja, o império ja tinha esse prenuncio. houve até criação de assembleias legislativas nas provincias brasileiras, com o ato adicional de 1824. nossos federalistas pra se contrapor aos monarquistas se aliaram com os republicanos, essa vocação federativa foi mto anterior a republica, mas havia um terrno mais fertil com os republicanos. De onde saiu o federalismo?? modelo federalista sao os EUA. eles se viram compelidos ao federalismo, e aprenderam esse federalismo com alguem - Montesquieu - com o Espírito das Leis. Lá é mencionado que ha monarquias e republicas, poder centrado no rei é ambicioso de gloria, crescimento e em geral, resulta num grande estado, diferente é o caráter de uma republica, que eh fundada na igualdade entre os cidadaos, por isso é dificil articular republica num grande estado. como uma pequena republica pode se defender de uma gde monarquia engolí-la? para prevenir essa conquista, devem existir alianças. e como essas alianças contaminam o conjunto, a igualdade vai se espalhar por todos e em geral, se tornará um grande estado federativo. EUA começam em 1787 qdo os 13 estados sobernos abrem mao de sua soberania particular para uma única do todo e ae surge um unico país. como consequencia disso, os estados tratam como criatura sua o governo central. federalismo por agregação. na federaçao nao ha espaço para secessão. "união indissolúvel" na nossa Const. Havia uma const q previa direito de secessao na URSS. se sacramenta na const que estados serao mais fortes que o poder central. (*pq EUA tem const escrita se sao Common Law? a parte da resposta esta na tecnica federativa. pacto federativo é oq será da competendia de cada ente). Cont Americano diz quaia sao as competencias do poder central e o residual fica com os Estados. a uniao so pode fazer oq esta numerado., eh uma maneira de amarrar o governo central a so isso está por tras dessa maneira de agir, com isso os estados tem mais força que o central. e é assim até hj pq emendas sao mto dificeis de se mudar, pq principalmente elas tem que passar por um referendo do Estado, e se for contra os estados, eles nao aprovarão. na vida prática, encontrou-se um meio de flexibilizar essa regra para fortalecer poder central: construçao do uma compreensao de uma doutrina dos poderes implicitos. Sobre Hamilton ter criado um banco central: - nao consta da const americana que o gov central possa criar um banco, entao pode-se criar esse banco? - mas pode o gov de um estado (Mariland) tributar uma projeçao do banco do gov cental em seu Estado? Marshall responde com base na teoria dos poderes implicitos. Como ha diversas competencias, ha uma competencia implicita de criar o banco ja que uma delas é cuidar da economia. Sobre a 2a pergunta: os entes federados devem viver em harmonia e "no poder de tributar, está o poder de destruir". ter mais ou menos dinheiro é oq dá o qto de autonomo é, assim, um ente federado nao pode tributar outro - imunidade reciproca. -- Federalismo brasileiro: Aqui 1o houve um estado unitario, depois por decisao desse estado, ele se segmentou.o estado geral antecede os estaduais, e isso tem uma consequencia, quase oposta ao federalismo por agregação(que tende a favorecer o gov. estaduais). Canada teve tecnica inversa (enumera poderes do estado e deixa residual para gov. central) favorecendo gov. central. Aqui é federalismo por segregação. a tecnica de divisao de competencia tem inspiraçao 1o americana, depois alemã e por fim, indiana. qual a gde novidade alemã: veio com a const. da rep. de weimar que trouxe Federalismo de Cooperação: um país tem competencias estaduais e centrais, mas a novidade é o rol de competencias que sao comungadas, partilhadas pelos entes federados. O brasil passou a pensar nesse modelo na const. de 34, mas essa const. nao teve mto folego que foi atropelada pelo estado novo q era centralista, e voltou com uma certa força em 46 e apice foi em 88. Quando a inspiraçao indiana: aqui enumeramos competencias numeradas para uniao, municipios e estados, e o residual fica para estados (sobram poucas) e ainda ha competencias comungadas. há federalismo especial - de materia tributaria - onde o residual toca a Uniao e nao ao estados. oq toca em cjto aos entes federados: educaçao, previdencia, meio ambiente, saude. autonomia X soberania. Brasil, estado soberano eh amalgama dos estados, municipios e uniao. Uniao nao eh Brasil, uniao é um dos entes federados. congresso nacional tem esse nome pq faz leis federais (so pra uniao) e nacionais (q submete todos os entes).repartiçaõ de competencias tem vies que passa por identificar se eh competencia material (de fazer alguma coisa: como prestar saude, cuidar do patrimonio) e legislativa (legislar sobre proteçao de patrimonio, sobre saude) art, 23, 24 18/5 - Monitoria só existe democracia onde ha limitaçao do poder Levi: votaçao direta nao eh condiçao para democracia, mas deve haver participaçao popular em alguma fase, mesmo que seja indiretamente por exemplo. MP: ato normativa primario que vem do legislativo, só ato primario pode impor direitos e obrigações. decretos e outras instituiçoes governamentais podem criar direitos e obrigaçoes mas que são instrumentais em relaçao a uma norma primaria, uma aplicaçao especifica em relaçao a um ato normativo primario. ha limitações sobre oq nao pode fazer, como pena, mas por exemplo, tributario ta liberado, essa MP vai passar pro congresso que pode vetar ou nao. mts decisoes sao tomadas por MP, o executivo consegue implementar de imediato (nao tem processo todo para ser aplicada) e prmite que parlamentares façam emendas ao MP. isso é interessante pq o parlamentar fica engessado pq ele pode ter projetos de leis que serao dificeis de ser aprovados mas com uma MP e as possiveis emendas que o parlamentar faz, facilita. como as MPs tem 120 dias de prazo e 45 dias de maximo para começar a ser vista, antes se trancavam todas as outras leis que tem pra ser votadas pra poder votar a MP. hj em dia, não se tranca tudo, nao tranca os projetos que nao sao de assunto que nao eh permitido para MPs (como penal). Voto distrital:ao inves de ser por municipio é por bairro, por subdistrito majoritario Elival: Partidos politicos: nao podem existir aqueles com ideias que firam a democracia, nao pode receber dinheiro de outros países, respeitar democracia interna (oq nao acontece na realidade). art.17. decisoes do STF - cortes constitucionais qdo se deparam com situaçao politica que tenhamq ue tomar decisao, eles tomam a mais conservadora possivel, pq qm decide é o Congresso e nao o STF. houve uma mudança de 2003 pra ca no padrao de açao do STF, o self restraint passa a tomar posiçoes diferentes - aqui foi com a Clausula de Desempenho (nao diz respeito a elegibilidade, mas sim qdo nao atinge quorum minimo vc perde desempenho parlamentar - a atuaçao limitada na congresso e verbas e propaganada politica diminuidas) com isso acontece que esse que teve o desempenho diminuido pode nunca chegar ao topo, vc tira as condiçoes de lutar para conseguir conseguir mais votos. com isso o stf achou melhor se embrenhar em situaçoes politicas tbm. fidelidade partidaria. stf falou q nao tem ate 2007. depois disso, mas interpretando nossa atuaçao partidaria, mudou-se essa decisao. perda de mandato com troca de partido. o problema de tudo isso é o stf LEGISLAR. e isso esta ocorrendo no mundo todo. quociente: relaçao entre numero de cadeiras e numero de eleitores 24/5 competencias comungadas podem ser de natureza material (art.23) e legislativa (art.24) Federalismo Geral (residual sobra aos Estados) e Tributario (residual sobra a Uniao) -- Como funcionam as competencias comungadas (art.23 e 24) art.23 competencias de natureza material - comuns, horizontais (todos estao em igualdade) ou cumuladas (todos correm paralelo igual) art. 24 compentencias de natureza legislativa - concorrrentes, verticais (tem hierarquia da lei nacional) ou não-cumuladas (nao se da cumulatividade, ha um criterio de distribuiçao, norma geral a uniao e norma especifica aos entes) sem lei complementar : compete a todos ao mesmo tempo, com lei complementar: compete só a quem a lei diz Art.24 Competencias concorrentes: a competencia se restringe as normas gerais - Aleomar Baleeiro: normas gerais sao molduras que a uniao traça e dentro delas os demais entes legislam complementarmente, respeitados os limites, conceitos trazidos pela moldura. normas gerais caracterizam uma lei nacional (aquela que repercute sobre todos os entes: uniao, estado e municipios) §1 - uniao faz as normas gerais. hierarquia entre leis federais, estaduais e municipais depende de qual é o ente federado competente pq nao há hierarquia entre entes federados. mas a lei nacional está acima hierarquicamente das outras pq é baseada em normas gerais. A uniao tbm faz normas especificas, baseadas nas normas gerais, assim como os estados e municipios que farao as leis complementares baseadas nas gerais. §2 - estados nessa materia complementarão (suprir) tendo em vista a moldura §3 - qdo a uniao nao legisla - nao ha norma geral - ocorre a omissao e ae abre-se a possibilidade para os estados atuarem supletivamente §4 - norma estadual fica suspensa naquilo que ela contraria a norma geral da Uniao. opção do constituinte é interessante ja que nao revoga a norma que o estado fez, apenas suspende. Art.22 Competencias da Uniao - resultam em leis federais (repercutem para a uniao). é possivel à uniao delegar aos estados aspectos de alguma das competencias legislativas da Uniao. isso aconteceu uma vez no direito brasileiro - lei comp. 103 de 2000 - ela delegou para os estados a competencia para legislar a fixaçao do piso salarial. nao é o direito do tabalho que foi delegado e sim um aspecto dele - o piso salarial (q tem especificações sobre qual trabalho se destina o piso) pq tem normas gerais no artigo 22 e nao no 24? para que nao surja para elas a legislaçao supletiva dos estados, pq sao coisas mto sensiveis e devem ser nacionais Lei de Licitações: tem uma serie de normas gerais, mas tbm tem momentos em que a lei é extremamente detalhada e minucioso, e qdo acontece isso, os detalhes só se aplicam à União. como distingue isso? a geral é ampla, conceitual e a especifica é detalhista. Essa lei tem modalidades de licitação: essas modalidades sao normas gerais e tem o cuidado de falar pros entes que eles nao podem criar modalidades novas ao mesclar modalidades, tem que seguir aqueles moldes. Uma norma que EXCLUI os outros entes tbm é geral. 25/5 - Monitoria - Norma geral prevalece sobre específica # lei especial prevaleve sobre geral - derrogar é revogar em parte. - Dualista: prevalece separação horizeontal, Estado cuida disso, União daquilo. - Cooperativo: atua-se conjuntamente, pode-se legislar ainda sobre algumas coisas de forma concorrente - Vertical: todo mundo pode legislar OU um põe norma geral e outros específicas - Não cumulativa - Horizontal: todo mundo pode legislar e igual, não ha norma superior - Cumulativa - todos legislam sobre mesma matéria. - Federação Dualista e Federação Cooperatista? soberania é caracteristica dos Estados. - Federação: algum grau de autonomia , autonomia de auto-organização mas principal financeira. - intenção de maior eficiencia governamental - alguns incisos dos art. 23 nao podem ser delegados. - pq nao ha hierarquia na repartiçao horizontal? cada ente é responsável por uma matéria específica, nao há concorrencia. - na vertical, como elas sao concorrentes, legislam sobre mesmoa materia e pode haver conflito e nesse caso a Uniao que prevalecera - simetria: sao semelhantes pq a Constituição diz oq eles farão (juridicamente - parametros minimos que os Estados devem respeitar). conceitualmente isso garantiria a descentralizção mas na prática isso nao acontece, o problema nao eh do federalismo em si mas do nosso desenho. -- comum e exclusiva - material -- privativa e concorrente - legislativa 31/5 Separação dos Poderes expressao utilizada é equivocada. objetivo dele é limitar poder para prevenir absolutismo, o que não acontece pela separação dos poderes. essa expressao vem da interpretacao americana. cultura medieval tinha a submissao do rei pela Igreja, entao nao temos essa ideia absolutista vindo da id. media. Absolutismo é corrupção dessa mediação do poder pela Igreja. Federativa e executiva, Poder de Legislar e Poder de Julgar (Locke) Federativa e executiva sao para o rei. Locke ve a bipartição dos poderes. modelo ingles nao se coloca inicialmente em 3 poderes. poder de julgar se configurava para a House of Lords. A Suprema Corte (ate 2008) era uma corte de lordes dentro da House of Lords. A funçao de julgar convergia para a House of Lords. Só em 2008 foi instalada uma Suprema Corte. Na França nao havia Parlamento unificado. Estados Gerais era o parlamento, mas o rei nao deixcva acontecer, se reunirem. Nao eram orgaos legislativos, era mais poder de julgar. Montesquieu morou na Inglaterra exatamente quando estavam se estabelecendo os 3 poderes e resolve receitar esse modelo para a França. Montesquieu neutraliza o judiciaria pelo modo de estrutura-lo e pelo modo do judiciario decidir. estrutura episodica e modo de decidir estritamente vinculado. Bicameralismo americano tem a ver com federalismo e nao com divisao de classes como em Montesquieu. Na França, o bicameralismo vem de uma ideia de conservaçao das decisoes. Metodo de escolha diferente da camara popular. Em Montesquieu as duas casas se relacionam partilhando, comungando duas faculdades que cada uma delas possui: estatuir e impedir. Montesquieu é muito mais interpenetração, conjunção, comunhão do que separação dos poderes. Os 3 poderes sao o Rei, a Camara Alta e a Camara Baixa. O judiciario nao aparece por estar neutralizado ele proprio e pq ele nao participa da atividade de legislar. -- Tetra, Penta e Hexapartição de poderes (faltei na monitoria) 14/6 Sistemas de Governo: Presidencialismo e Parlamentarismo - variações dos sistemas que inclusive permitem a existencia de um semi-parlamentarismo e semi-presidencialismo, essas variaçoes se dao em torno de tipos ideiais com fins didaticos. - existem varios presidencialismo e varios parlamentarismos. - narrar montesquieu é narrar presidencialismo classico, cujas caract sao: 1. chefe de estado e de governo coincidem na msma pessoa, mesmo orgao, mesmo poder. 2. dissociaçao entre governo e maioria parlamentar, nao ha coincidencia necessaria entre qm governa e maioria parlamentar, pode ate haver, mas nao passara de coincidencia. as duas coisas se dao em processos diferentes. 3. coerente com a logica de concepçao do presid. classico, mas tbm com a propria mecanica. não ha governo (sendo radical), mas isso é um exagero, no presid. classico o governo eh fraco. mas, governo como estrutura do estado requer poder, pq tem como objetivo realizar politicas publicas e ele toma decisoes que resvalam nos direitos das pessoas, com a lei. "governar é legislar" qdo se percebeu que se precisava de um governo para concretizar politicas publicas, o modelo de montesq. deixou de ser satisfatorio e alternativas começaram a surgir. na europa, isso implicou na parlamentarização dos governos, chefia de governo foi atrelada ao parlamento, para que o chefe de governo gozasse da legitimidade parlamentar e pudesse governar, para que houvesse fluidez nas decisoes. como no brasil o governo era necessario, nos começamos a desenvolver um modelo institucional proprio, com base presidencialista mas com serie de excessoes parlamentaristas e que nas ultimas decadas ganhou mais cara e foi batizada de presidencialismo de coalizao e que eh a adaptaçao do modelo de montesq. aplicado ao modelo institucional que requer governo. coalizaçao de partios que se juntam para permitir o governo, permitir que o presidente aprove medidas, isso no final das contas, vai gerar uma partilha de cargos no governo. base parlamentar heterogenea é problematica pq eh dificil fluir decisoes. atual governo é oq tem a maior base parlamentar, e tbm aquela que fez menos MP. pode ser pq sejam feitos mais PL exatamente pq tem a maior base parlamentar. presidencialismo americano eh oq mais se aproxima do de montesq. hj em dia, entao, por exemplo, uma diferença eh a iniciativa legislativa, outra: o veto em montesq. é absoluto, qquer manifestaçao de faculdade de impedir, é absoluta. nos EUA nao eh assim, os parlamentares podem vetar o presidente com 2/3 (aqui é maioria absoluta). outra diferença é meio relativa, mas em montesq. o judiciario eh absolutamete neutro, nao participa da tomada de decisao politica, nos EUA, o judiciario pode vetar decisao, com as declaraçoes de inconstitucionalidade. Parlamentarismo: -- dissociaçao (separaçao) entre chefia de estado e governo. há uma conexao necessaria entre chefe de governo e parlamento, essa conexao se dá de varias maneiras: o governo decorre da maioria parlamentar. (perdendo a maioria,o governo cai). governo pode dissolver parlamento, parlamento pode tirar apoio do governo?? chefe de estado pode dissolver e convocar eleiçoes?? parlamentarismo se da no contexto monarquico ou republicano? na monarquia, chefe de estado esta mto distante do governo. numa republica, o chefe de estado tem alguma chance de influenciar o governo. ex. inglaterra, rainha reina mas nao governa. teoricamente tem poder de veto, mas ha 200 anos nao eh usado e a ultima vez que tentou-se usar quase caiu a monarquia, o mesmo ocorre na Espanha. mas na Italia, Portugal, ha uma votaçao para o chefe de estado (presidentes) e isso permite a eles uma legitimação diferente e assim, eles podem vetar. presidente alemao é q nem a rainha da inglaterra. A França é oq é chamado de semi-parlamentarismo ou semi-presidencialismo, mas na verdade, nao da pra sacramentar de um lado ou de outro. o modelo é assim: pres. é eleito diretamente e tem 1o ministro que decorre da maioria parlamentar. presidente tem legitimaçao popular direta e é mto forte por causa disso. e isso gera a impressao de que na França vive um presidencialismo. a eleiçao parlamentar é distrital por 2 turnos e só depois saberá-se o 1o ministro. antes o presidente era mandato de 7 anos mais reeleiçao de 7. 15/6 - principios e regras - principio tem baixa densidade legislativa, pq as definições sao abstratas, as interpretações sao diferentes - pricncipios balizam todo o ordenamento, mas tbm sao positivados. - metodologia do positivismo ainda existe por mais que o positivismo de "a lei vale pq é lei" tenha sido superada. - regra é mandamento que se aplica ou nao se aplica. ou é aplicavel ou não, por conflito com a situaçao, nao tem como aplicar só um pouco da lei, já os principios nao funcionam assim, pode-se valorar os principios e aplicar talvez parte do principio, mas tbm há situações onde eles serão aplicados ao máximo. entao, caso a caso, será analisado como o principio sera aplicado - cultura da constituição: a constituição faz parte de uma cultura, e sempre será uma escolha, mas não será uma novidade, é uma continuidade historica que trará as mudanças. esse elemento cultural permitira que o texto constitucional sera revisto pelos proprios legisladores para tornar text sempre atual. essa cultura sempre envolve uma escolha, entao num sistema capitalista, assume-se que nossa constituição sera inserida num sistema capitalista e nao comunista, por exemplo. - principios apesar de amplos, tendo em vista a cultura, consegue-se ter uma ideia minima do que eh o principio. -principios sao sempre baliza dos controles de inconstitucionalidade. o problema dessa abertura para o STF, é que transfere-se para o tribunal a competencia que a lei é inconstitucional pq diante da leitura DELE, nao eh constitucional. o stf deve, ao inves de reescrever e fazer novas ponderações, fazer um juizo de adequaçao aos principios da ponderação feita pelo legislador. o stf faz uma ponderaçao do proprio tribunal e se chega a um resultado que é conflitante com a lei, eles falam que a lei é inconstitucional, então pro stf, a ponderaçao deles acaba se mostrando mais importante do que a ponderaçao do legislador. essa é a critica. o tribunal deve limar excessos mas dentro da zona cinzenta dos principios, nao se deve fazer prevalecer. o controle deveria ser para casos extremos. DES0118 - Direito Constitucional I - Levi - Camila Oliveira 18521.pdf Constitucional I Professor José Levi Mello do Amaral Júnior Camila da Silva Oliveira – 185/21 1 Direito Constitucional 08/03/2012 15/03/2012 Constitucionalismo É um movimento político-ideológico decorrente das revoluções liberais, porque foram feitas as Constituições, de modo a acabar com o absolutismo e prevenir a volta. Revolução Inglesa (1688-89) Rev. Americana (1776) Rev. Francesa (1789) Constitucionalismo moderno – já que existiu constituição anteriormente, chamamos de constitucionalismo antigo (experiência democrática grega) - Democracia ateniense - “Política” de Aristóteles É o modo como as magistraturas se organizam na cidade (conceito de constituiçõ para Aristóteles). Democracia de Atenas: - Democracia direta (reunião deliberativa na Ágora) - A Lei na Atenas antiga era mera explicitação de um Direito já praticado, herdado de gerações passadas 1) Graphe paranomom – mecanismo controlador das leis, da conformidade das leis com o Direito herdado 1.1) Exemplo mais remoto de “controle de constitucionalidade” 1.1.1) Através do tribunal dos Heliastas Os cargos públicos eram preenchidos de forma democrática, explicitada pelo sorteio. Cargos de curta duração, profunda compreensão de igualdade. Constitucional I Professor José Levi Mello do Amaral Júnior Camila da Silva Oliveira – 185/21 2 431 a.C. Péricles profere, em discurso fúnebre, o primeiro emprego da palavra democracia. FORMAS/REGIMES DE GOVERNO (DOIS CORTES) Quantitativo Qualitativo Quantos governam? Para o bem comum ou bem próprio? Como evitar a degeneração das formas puras de governo? Juntar todas as formas de bom comum em um único governo Exemplo: República romana Analogia – Um – cônsul Poucos – senado Todos – assembleia da plebe SPQR: O senado (autoridade) e o povo romano (poder) Direito Constitucional 22.03.2012 Podemos dividir as Constituições em: 1. Escritas - brasileira 2. Não escritas – inglesa – costumeira – conjunto de práticas havidas entre as casas do parlamento, entre a coroa e o parlamento; não exclui leis que tenham que vez ou outra modificar esses costumes, essas práticas. a) Rígidas – forma de alteração diferente da forma de alteração de uma lei. A modificação é mais difícil, não pode ser alterada por uma lei comum do congresso. Primeiro pressuposto: escritas Segundo pressuposto: mecanismo próprio de alteração Constitucional I Professor José Levi Mello do Amaral Júnior Camila da Silva Oliveira – 185/21 3 Terceiro pressuposto: mecanismo de controle da constitucionalidade b) Flexíveis – pode ser alterada por uma lei qualquer ou aquela cuja alteração não requer uma solenidade diferente daquela reservada pela alteração da lei comum. c) Alguns autores falam ainda da Constituição semi-rígida, que seria a Constituição do Império do Brasil. O professor não concorda com esta classificação, pois acredita que ela tinha na verdade uma parte rígida e uma parte não rígida. Falando agora das normas constitucionais: I) Materias – normas que tocam em assuntos próprios da Constituição; II) Formais – Normas que gozam da forma constitucional, que estão na Constituição. Por estar dentro são mais difíceis de alterar – só pode ser alterado por emenda constitucional e NUNCA por lei Exemplos: Lei citada como materialmente constitucional mas que não está na Constituição: lei orgânica da magistratura nacional que coloca a vitalicidade, inamovibilidade, irredutibilidade dos vencimentos, etc. A lei eleitoral também é materialmente constitucional, mas não está na constituição. Dúvida: cláusulas pétrias – matéria mais aprofundada, que será discutida no ponto de poder constituinte. Terceira classificação da Constituição – Paollo Rufino I) Substancial –Conjunto de normas materialmente constitucionais – conjunto de normas que trata de assuntos próprios da nossa constituição segundo a cultura. II) Formal – Conjunto normativo requer um procedimento diferente de alteração daquele da lei comum. III) Documental – Há um texto solene que se proclama. Tenta revelar uma boa parte da Constituição substancial. Há um documento constitucional, uma lei solene, que não significa que há uma forma de alteração mais dificultosa do que a lei comum. Constitucional I Professor José Levi Mello do Amaral Júnior Camila da Silva Oliveira – 185/21 4 Exemplo: a primeira constituição italiana de 1848 podia ser alterada por qualquer lei – diferentemente da formal, ou seja, ela é documental, mas não é formal. Há outras constituições que tem forma de alteração difícil, porém não estavam consolidadas em único texto (não eram documentais). Neste caso não havia uma Constituição documental, mas havia formal. Quarta classificação – Loewenstein Não faz exame apenas dogmático da Constituição – utiliza-se também do contexto político. Acha, por isso, as classificações insuficientes, por não serem reveladoras das relações de poder político existentes em cada estado. I) Constituição normativa – se faz efetiva no jogo de poder, disciplina o poder ou formas da Constituição – que é fruto das relações de poder. Nela detentores e destinatários do poder se confundem. É um traje, uma roupa, vestida pelo Estado. II) Constituição nominal – é absolutamente ignorada pelos dententores do poder. É um traje bonito que fica no armário, não serve no corpo do Estado, mas tem a pretensão de um dia servir. III) Constituição semântica – é feita pelos detentores do poder apenas para dar forma constitucional para um regime autoritário – poder dissociado dos destinatários do poder. O Estado veste o traje, mas ele não passa de um disfarce. Exemplos: I) Constituição de 88, que mesmo com todos os problemas é normativa; II) Constituição de 34 (ou 64?); III) constituição de 37 e 67. Reposição da aula do dia 29.03 Ciclos do Constitucionalismo - São 10; cinco dos quais se sucedem entre o século XVIII e vão até o início do século XX. No século XX há mais cinco ciclos que não se sucedem, se sobrepõe no tempo – em parte correm em paralelo. Primeiro grupo – ciclos que se sucedem: Constitucional I Professor José Levi Mello do Amaral Júnior Camila da Silva Oliveira – 185/21 5 1. Constituições revolucionárias (século XVIII) A primeira é a americana (1787) Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789) – não é Constituição especificamente, mas é assunto constitucional. Inclusive fez parte da constituição francesa. A primeira Constituição francesa de 1791; as duas de 1793 e a de 1795. 2. Ciclo das Constituições Napoleônicas – 1799 até 1815 3. Ciclo de Constituições da Restauração – Napoleão queria espraiar a Revolução Francesa para toda Europa, quando ele caiu vários dos lugares que ele havia ocupado voltaram à sua vida política. Algumas monarquias se restauraram, mas não foram em termo de poder monárquico absoluto – monarquias constitucionalmente limitadas (regidas e limitadas pela Constituição) 4. Ciclo das Constituições Liberais (1830 – 1848) – começa a haver reclame de democracia. 5. Ciclo de Constituições democráticas que culminam com o voto universal. A história inglesa politicamente é marcada pelo paulatino decréscimo do censo, ou seja, maior inclusão no jogo político eleitoral. Culmina com o voto universal para os homens. Esses ciclos culminam primeiro em um processo liberalizante e posteriormente democratizante. De que forma ocorreu a universalização do voto? Século XIX, conhecido como século das revoluções foi marcada pelas demandas proletárias. Não havia participação no Estado para minorar tais insatisfações, o que gerou um início de reivindicações. Se não é possível se incluir, começa-se a espalhar ideias revolucionários. Então os burgueses passam a incluir outras parcelas da população – decréscimo do censo – democratização. Constitucional I Professor José Levi Mello do Amaral Júnior Camila da Silva Oliveira – 185/21 6 Kelsen foi um dos primeiros a perceber esse fenômeno – a essência e o valor da democracia. Discussão acerca dos partidos políticos. Segundo grupo - ciclos que se sobrepõe: 6. Ciclo das Constituições de Democracia racionalizada (Kelsen) – jogo democrático como um pêndulo que oscila entre a minoria e a maioria. A Democracia decorre de dois postulados de nossa razão prática: liberdade e igualdade. Kelsen radicalizou tanto a democracia que possibilitava a existência de um partido contrário a democracia. As Constituições deste período tentam disciplinar pela norma constitucional uma série de evoluções que até então estavam restritas à prática – houve a racionalização na forma de norma jurídica. A Constituição mais famosa desse ciclo é a de Weimar, de 1918. É essa que o Nazismo atropela; é um marco na história do Constitucionalismo por ser uma das primeiras a tentar regulamentar o parlamentarismo e trazia direitos sociais (a primeira a unir essas duas coisas). Zagrebelsky – fala de valores da democracia. Cética (positivista – Kelsen, por exemplo); dogmática é a liberal clássica, a sua verdade impunha o liberalismo burguês através do voto censitário; democracia crítica – tem valores que orientam o debate democrático em direção a obtenção de uma resposta boa. Pra ele o verdadeiro democrata é aquele que até o último instante tenta o diálogo. Após a derrocada dos regimes nazista e fascista, percebeu-se que não é possível ter uma Constituição sem um mínimo de valores, que sejam valores que defendam a própria democracia. Constitucional I Professor José Levi Mello do Amaral Júnior Camila da Silva Oliveira – 185/21 7 7. Ciclo das Constituições Sociais de Valores mínimos – protegem a própria democracia. Decorrente do que foi exposto acima 8. Ciclo das Constituições autoritária entre guerras – Salazar, por exemplo. Tratam-se de Constituições semânticas, utilizando a classificação de Lewoeistein. 9. Ciclo das constituições do terceiro mundo – Constituições que se inspiravam no mundo desenvolvido, havia a ilusão de que seria ideal a cópia destas constituições – o que obviamente não dava certo, tornavam-se Constituições inefetivas (nominais, segundo Loewenstein) 10. Ciclo das Constituições socialistas – constituições do marxismo e leninismo; eram sobretudo constituições balanço – um balanço do que havia ficado pra trás e o que poderia ser feito pra frente. Democracia madura – liberdade e igualdade se promovendo mutuamente. Qual a diferença entre costume e Commom law (direito jurisprudencial). Este segundo observam, absorvem e trabalham os costumes e devolvem na forma de precedentes – não é um direito costumeiro, já que há todo esse processamento. Em outras palavras, Commom law passa por costumes mas não se resume a eles. É jurisprudencial por que se assenta em precedentes, que por sua vez devem ser compreendidos numa sequência de precedentes e em um contexto social. Aula 12/04/2012 Direito fundamental: auto-executável, auto-aplicável. Classificações de normas constitucionais: Constitucional I Professor José Levi Mello do Amaral Júnior Camila da Silva Oliveira – 185/21 8 Self executing: completas, hipótese e consequência claramente definidas; Ex.: Direitos Fundamentais verdadeiros (naturais, não dependem do Estado), Art. 5º CF. No self executing (programático): estabelecem programas (executados a partir de uma lei). Classificação pelo professor José Afonso: 1) Normas constitucionais de aplicabilidade imediata e de eficácia plena (self executing). 2) Normas constitucionais de aplicação imediata e de eficácia contida. Normas desde logo aplicáveis, porém admite contenção de uma lei reguladora posterior. Ex.: Art. 5 º incido XIII CF, liberdade de trabalhar. 3) Normas constitucionais de eficácia limitada: antes de sua aplicação geram efeitos* mínimos. Ex.: Art. 170 CF, busca do pleno emprego. Efeitos: Impõe dever de legislar; Impede legislação contrária a ela; Se superveniente; em sentido contrário a uma lei anterior, essa lei é morta (caso de sucessão de constituições no tempo). “MENS LEGIS” - vontade da lei “MENS LEGISLATORIS” - vontade do legislador Técnicas de interpretação: Gramatical: literalidade, é o ponto de partida da interpretação. Histórica: como, quando, qual a pretensão da lei, quem, houve lei anterior, emenda, vetos. Constitucional I Professor José Levi Mello do Amaral Júnior Camila da Silva Oliveira – 185/21 9 Sistemática: técnica elementar, já que em geral uma lei não se interpreta sozinha, se interpreta na sua conjugação com as demais leis vigentes no país (se articula com as outras leis). Teleológica: vocacionado a revelar o fim da lei, finalidade. Aula 19/04/2012 Poder Constituinte Sua doutrina pode ser entendida como uma derivação das velhas doutrinas contratualistas, é uma sofisticação disso. Poder constituinte é algo que temos a partir do pensador francês Joseph Siéyès. Abaixo, o que será abordado diz respeito a um dos seus livros (O que é o terceiro estado). Primeira constituição moderna: americana de 1787. Trata-se de uma doutrina contemporânea às constituições modernas. Coloquialmente dizendo, pode-se dizer que o terceiro estado é a burguesia (primeiro é o clero, segundo a nobreza). 1) O que tem sido o terceiro estado? Siéyès diz que ele não tem sido nada, pois é explorado. 2) O que é o terceiro estado? É tudo, pois é a burguesia que sustenta a sociedade. 3) O que pretende ser o terceiro estado? Pretende ser algo, deve ser algo. Como? Com uma nova engenharia, por meio de um novo pacto, uma nova ordem de coisas a ser estabelecida em um texto constitucional que decorre de um poder constituinte Poder constituinte talvez seja o poder mais portentoso que a sociedade conhece, pois é o poder que funda o próprio estado, é o ponto de partida do estado, o funda. Qual a natureza deste poder? É um poder de fato ou de direito? Para um positivista, como Kelsen, trata-se de um poder de fato, pois a ordem jurídica em Kelsen pode ser pensada como uma pirâmide. No topo está a constituição, depois vem os atos normativos primários, depois os secundários e depois os Constitucional I Professor José Levi Mello do Amaral Júnior Camila da Silva Oliveira – 185/21 10 concretos. Uma norma jurídica em Kelsen é válida, pertence à ordem jurídica quando está encadeada a normas superiores. Para Kelsen, para isto não ir ao infinito, acima da Constituição não há uma norma posta, mas uma norma pressuposta, que é uma hipótese. Esta norma é chamada de norma fundamental. Esta norma está para além da pirâmide, fora da pirâmide. Isto está relacionado ao poder constituinte - a norma fundamental tem um conteúdo: devemos obedecer à constituição. Todos os atos normativos posteriores decorrem disso. Estar fundado, ter validade, ser posto pela norma superior, entre outros, significa que não há uma análise de fato ou de valor. Kelsen afasta isso na pretensão de fazer uma narrativa científica, quer ter uma narrativa para explicar qual a ordem jurídica. Uma norma jurídica pertence a outra norma quando se cumprem dois critérios: a norma é válida se e na medida em que é elaborada segundo os processos legislativos traçados pela ordem superior; esse processo é levado adiante pela autoridade competente, aquela que é autorizada pela norma superior. Kelsen cita uma série de exemplos: exemplo do caso da sociedade dos ladrões. Teoria Pura do Direito é muito útil como método, para explicar a estrutura do Direito, mas tem brechas quanto a ser uma filosofia do Direito. (???) Para um jusnaturalista é um poder de direito. Para um jusnaturalista o Direito tem um poder transcendental. Há um direito revelado, direito divino (exemplo: São Tomás de Aquino). Quem é o titular do poder constituinte? (É o mesmo que perguntar quem é o titular da soberania). Na doutrina clássica há duas respostas: a nação ou o povo. Para Siyès o titular da soberania é a nação, que não se confunde com povo – é o povo, mas o povo de ontem, de hoje, de amanhã, sua cultura, suas crenças. Este povo é projetado no tempo. Nação é um elemento perene, uma abstração, uma criatura hipotética. A outra alternativa é inspirada em Rousseau, que acredita que o titular da soberania é a vontade geral, fundada na razão e sem influências. Povo sem preconceitos, sem influências externas – um povo que pensa o certo e errado unicamente fundado nas razões, sem paixões. Este povo expressa a vontade geral, a lei vem daí para Rousseau. Se a soberania atribuída ao povo, o povo somos nós, a ele se presta contas, ele escuta, fala cobra. Como a nação é uma abstração, presta-se contas a uma abstração, etc. A concepção de Siéyès predominou na Revolução Francesa. Constitucional I Professor José Levi Mello do Amaral Júnior Camila da Silva Oliveira – 185/21 11 Há dois tipos de Poder constituinte 1) PCO – Poder constituinte originário – é aquele que funda o Estado. Em um estado que teve várias Constituições, poder constituinte puro é aquele que primeiramente se manifesta. As posteriores serão originárias também, pois o PCO é aquele que inicia ou reinicia o estado. No Brasil, vê-se PCO no Grito do Ipiranga, mas ele se exibe claramente na Primeira Constituição, mesmo que ela tenha sido outorgada (não se entra na discussão da legitimidade ou legalidade dessa constituição). O PCO do golpe militar de 64 pode ter sua legalidade e legitimidade claramente questionados. Características deste poder que funda ou refunda o estado: a) Inicial – dá o pontapé inicial no estado, funda o estado. b) Ilimitado – tem liberdade para decidir qualquer matéria de direito que quiser. Em geral, significa que as decisões políticas fundamentais de um estado são livres para um PCO. Exemplo: qual a forma de governo de um estado. c) Incondicionado – o modo como se manifesta o PCO (se manifesta como quiser, há muitas formas. Ex: constituição outorgada da França). 2) PCI – Poder Constituinte instituído – ele é derivado do originário. a) Derivado b) Limitado – a alteração constitucional, por exemplo, tem limites, não há alteração das decisões políticas fundamentais (limitadas quanto a matéria, em geral diz respeito a forma de estado, regime de governo, etc). c) Condicionado – modo de se manifestar, manifesta-se apenas da maneira prescrita na PCO. Respeitam a constituição, derivam dela. Modificações podem ser: I) Por emenda – o modo de emendá-la nos dá a medida da rigidez constitucional. Se a constituição para ser emendada exige uma maioria Constitucional I Professor José Levi Mello do Amaral Júnior Camila da Silva Oliveira – 185/21 12 qualificada, se ela exige referendo popular, etc, isso dá a medida da rigidez. II) Por revisão – forma de modificar a constituição de forma abrandada. É limitada no tempo. No Brasil houve revisão em 93. Em Portugal a revisão ocorre de maneira periódica. A revisão se incia, acontece e se exaure. Base teórica do poder constituinte Três figuras podem propor emenda constitucional (PEC – proposta de Emenda Constitucional) 1) Presidente da República 2) Um terço dos deputados (171 assinaturas) ou um terço dos senadores (27 senadores) – aqui a iniciativa não é um ato simples, que dependa só de um. 3) A maioria absoluta das Assembleias legislativas do país manifestando-se cada uma pela maioria dos seus membros. Esta hipótese é remota. A Constituição da República Federativa do Brasil vale para o ente federado chamado Uniao e os demais entes federados (26 estados mais o DF). Esse complexo federado compoe o conjunto federativo, que se manifesta pelo senado ou por ele próprio em matéria de alteração constitucional. Há questionamentos quanto à participação do DF nesta conta (mas não faz diferença). Isto é raro pois é mais fácil cada um dos estados pedir para os seus senadores colher assinaturas. É errado dizer que maioria absoluta é metade mais um. A forma correta de explicar é que se trata do primeiro número inteiro depois da metade (exemplo: 27 estados. A maioria absoluta seria 14. De 26 também). Hoje no Brasil temos 68 emendas constitucionais e mais seis revisões. A PEC começa a tramitar, se apresentada pelo presidente, pela Câmara. Se apresentada pelos deputados também, Se apresentada pelos senadores começa a tramitar pelo Senado. Se é apresentada pelos estados começa pelo Senado, pois ele é a casa de Constitucional I Professor José Levi Mello do Amaral Júnior Camila da Silva Oliveira – 185/21 13 representação dos estados (existe no regimento interno do Senado, mas isto fica em teoria por nunca ter acontecido). Se a emenda começou pela Câmara tem que ser aprovada pela primeira no plenário da Câmara com 3/5 dos votos dos Deputados (308 ou mais votados). Se foi aprovada, depois disso há um prazo regimental, um interstício, para ocorrer uma segunda votação, que obedece à mesma proporção. Depois disso a PEC vai para o Senado, que tem uma tramitação bem mais simples. Há necessidade de 3/5 (49 votos) na primeira votação e também uma segunda votação que obedece as mesmas proporções. O MESMO TEXTO TEM QUE SER APROVADO NAS DUAS CASAS. Se houver modificações volta para a casa que já havia votado o texto. Tal rigor é necessário por se tratar de uma mudança constitucional – MEDIDA DA RIGIDEZ CONSTITUCIONAL DO PAÍS. O que eventualmente se admite é uma emenda que, se tem 4 artigos e apenas um deles foi alterado, se não há relação de dependência entre os artigos, e os 3 não-modificados tiveram aprovação nas duas casas em duas votações, eles podem ser destacados e promulgados sem aquele que foi modificado. PROMULGAÇÃO DA PEC – Mesa do Congresso Nacional (deputados e senadores reunidos, como se fosse uma terceira casa – bicameralismo conjunto. Tanto que existe o regimento interno da Câmara, do Senado e o regimento do Congresso. Algo importante que o Congresso vota: o orçamento. Trata-se de uma sessão conjunta, mas não há fusão entre deputados e senadores). Quando a PEC é aprovada passa pela mesa do Congresso, que declara a promulgação. Trata-se de um ato formal e solene que atesta que a PEC agora é emenda. Há certos limites ao poder de emenda, este limite descrito acima é um limite procedimental – há vários passos que necessariamente tem que ser cumpridos. A emenda constitucional não pode ser feita por iniciativa popular. Alguns estados admitem que em suas constituições estaduais haja tal iniciativa. Além dos limites procedimentais há os limites circunstanciais: ocorrência de estado de defesa, estado de sítio ou intervenção federal (limites circunstanciais ao poder de emenda). Constitucional I Professor José Levi Mello do Amaral Júnior Camila da Silva Oliveira – 185/21 14 Estado de sítio – guerra, por exemplo. Estado de defesa – gravidade menor, muitas vezes antecipa o estado de sítio. Intervenção federal – “sacar” o governador do estado Todas estas situações descrevem situações de comoção intestina grave. É algo tão complicado que não se recomenda tomar uma decisão tão grave quanto a PEC. Constituição brasileira nos traz a questão dos limites materiais do poder de emenda da Constituição de 88. (MATÉRIA DE PROVA, MATÉRIA PRINCIPAL DA AULA) Art 60, par 4 – não serão objeto de deliberação as propostas de emenda que tentem abolir 1) A forma federativa de estado 2) O voto secreto periódico e universal 3) A separação dos poderes 4) Os Direitos e Garantias fundamentais e individuais Limites materiais ao poder de emenda podem ser chamadas de cláusulas pétreas, pois não podem ser tocadas em hipótese alguma. (vingança de Jefferson) O STF entende que foi tomada uma decisão dizendo que a federação não pode ser abolida, mas pode ser modificada, desde que não seja uma modificação tendente a abolir (por exemplo, pode-se passar uma competência da União para os Estados desde que esta modificação não desnature a federação brasileira). É claro que tem coisas que não são pontuais mas que são muito delicadas (exemplo do ICMS). Existem PECs que alteraram relações federativas, mas que nem por isso caíram. Exemplo de uma emenda que caiu: A EC número 3 criou o IPMF, que tinha uma formatação que impunha o imposto aos estados, algo que diz que não pode ser feito pela União. O STF entendeu esta emenda como inconstitucional. (“No poder de tributar está o poder de destruir – Marshall”). A impossibilidade de um estado tributar o outro chama-se imunidade recíproca). Questionamento do conceito de cláusula pétrea – por exemplo, pode-se criar um quarto poder? O STF, na ação direta 3367, permite a criação do CNJ, que altera o judiciário de forma a configurar Constitucional I Professor José Levi Mello do Amaral Júnior Camila da Silva Oliveira – 185/21 15 uma alteração de poderes. Portanto, entende-se que pode haver modificação, o que não pode haver é uma modificação que tende a abolir um poder ou seja tendente a abolir um poder. Estudar também a ação direta 2024, vai cair em uma das salas. Mandado de segurança de Itamar Franco também cai. Mandado de segurança do Itamar quanto ao tempo de mandato do presidente – ato preventivo. Direitos e garantias individuais e direitos sociais (art 5 da CF) também estão previstos nas cláusulas pétreas. Quando estão em jogo os direitos fundamentais há uma regra: estes direitos são interpretados ampliadamente (contraposição ao direito penal, que é interpretado restritivamente). PCI se manifesta de três maneiras. Foram faladas duas: de emenda e revisão. Tem um terceiro: poder constituinte decorrente. Essa expressão fala do PC que deriva da Constituição da república em favor dos entes federados. Os estados podem fazer constituições e os municípios também (lei orgânica). Prova será feita de algumas afirmações que em conjunto podem compor uma questão. Direito Constitucional 03/05/2012 No Brasil, o titular da soberania é o povo. O povo é a fonte e o destinatário do poder. O país é democrático enquanto se sabe quem manda e quem obedece. Partidos políticos – protagonistas do jogo político eleitoral, é um fenômeno relativamente recente. Mateucci descreve no século XVI e XVII aparentemente a existência de partidos na Inglaterra – esses partidos não tem nada a ver com a ideia que temos de partido hoje. Não eram grupos segmentados ideologicamente como hoje. Não é fruto das revoluções liberais. Partido político no sentido de grupos ideológicos em disputa eleitoral é um fenômeno da segunda metade do século XIX e início do XX. Quando o voto se universaliza é que se dá origem aos partidos – não são apenas os burgueses que tem acesso ao voto, mas também pessoas Constitucional I Professor José Levi Mello do Amaral Júnior Camila da Silva Oliveira – 185/21 16 que tem diferentes formas de ver o mundo. Esse fenômeno na Inglaterra é muito claro: Partido Trabalhista Inglês. A ideologia como programa de partido tem como função mobilizar as massas, portanto, os demais partidos sentem a necessidade de também se ideologizar (no Brasil: PT surge ideologicamente, mobiliza massas, e os demais partidos sentem necessidade de também aderir a ideologias com vistas a mobilização). Um dos primeiros autores que percebeu este fenômeno foi Kelsen. Nos EUA as coisas se dão de forma diversa. País peculiar, impróprio para ser copiado – seu sistema político-partidário não se reproduz. Os pais fundadores tinham pavor de partidos políticos, chamadas por eles de facções. Não se queria que houvesse formação de maiorias políticas nacionais. Para combater isso uma das alternativas foi o Federalismo e outra o próprio sistema eleitoral do país. Havia um único grupo político em torno de Washington, que se elegeu e reelegeu. Havia consenso em torno dele. Depois dele houve muita disputa pelo poder. No governo de Adams, havia uma discussão acerca do federalismo no país. Houve então uma divisão entre os federalistas e os republicanos, que ganharam com a eleição de Tomas Jefferson. O partido federalista foi dizimado, e o republicano mudou seu nome para republicano- democrático. Em seguida abandonou-se o termo republicano e tem-se aí a origem do Partido Democrata. O partido republicano de Lincoln foi criado posteriormente. Questão: colégio eleitoral. Primeira eleição do Jefferson, eleição não era em chapa – presidente seria o primeiro colocado e vice em segundo. Nesta eleição, Jefferson ficou empatado com Aaron Burs (ambos do mesmo partido, um seria o vice e outro presidente). O desempate previsto seria feito pela Câmara dos deputados, que era de maioria federalista. Depois de 34 votações a Câmara indicou Jefferson com Burs como vice. Foi isso que motivou que a eleição ocorresse em chapa. Outra questão sobre este método de eleição: winner takes all (o vencedor leva tudo). Em cada colégio, independente da proporção dos votos populares, quem vence leva todos os delegados. Isso permite que um presidente seja eleito sem que tenha a maioria dos votos dos populares. Nos EUA há dezenas de partidos, mas vê-se apenas os dois principais, que no fim das contas não são divergentes ideologicamente: ambos capitalistas, adeptos do american way of life. Constitucional I Professor José Levi Mello do Amaral Júnior Camila da Silva Oliveira – 185/21 17 No estado liberal os partidos eram execrados e no estado contemporâneo os partidos são centrais. Nos EUA temos um meio termo, partidos que não são esseciais, são fisiológicos, comungam de uma mesma percepção, não há grandes mudanças de um governo para o outro. O único objetivo é ganhar a eleição. Há diversos sistemas eleitorais no mundo. Falando de eleição de parlamento, pode-se dizer que ganha aquele que tem o maior número de votos. Para deputado, em geral siginifica um país dividido em distritos e cada distrito elege um deputado. Neste distrito, quem tiver mais votos, ganha – FPTP: First pass the post. Hipótese: imagine um distrito que tem muitos líderes sindicais e se segmentam em 4 grandes partidos de trabalhadores. Há um outro partido, de direita, dos empregadores, que concentra todos que tem essa ideologia. Numa eleição, a divisão dos votos entre os partidos dos trabalhadores pode dar a vitória ao candidato indicado pelo partido de minoria, mas que não repartiu os votos. O sistema majoritário, então, induz a formação de dois grandes partidos (coligações favorecem isso). Esse sistema é simples e ao mesmo tempo tão claro quanto pernicioso – ele é pouco amigo da representação das minorias (dificilmente um partido menor tem alguma chance). O sistema majoritário enfraquece até mesmo um segundo partido. Não dá espaço para minorias, só contempla aqueles que ganham. Mas ele também tem virtudes: simplicidade e didatismo, gera vínculo entre eleitor e eleito, gera dever de prestação de contas para um distrito específico. A alternativa que se coloca é o sistema proporcional: técnica que tem por objetivo contemplar minorais, ao menos aqueles minimamente representativas. O voto nesse sistema leva em consideração o quociente eleitoral: o número de votos mínimos que se espera para determinado partido alcançar pelo menos uma cadeira. Se tiver votos correspondentes a 5 cadeiras, recerá 5. Nesse sistema se enxerga com clareza que não se vota na pessoa e sim no partido. “O verdadeiro candidato é o partido, não a pessoa” Constitucional I Professor José Levi Mello do Amaral Júnior Camila da Silva Oliveira – 185/21 18 Há também o quociente partidário, que define quantas cadeiras aquele partido terá. As variações sobre quem ocupará essa cadeiras depende de critérios variados: lista por ordem de votação, lista proposta pelo partido, etc. (Vide código eleitoral, art. 105 e seguintes) Como se dá a eleição no Brasil Temos aqui eleição para presidente, senadores, deputados federais e estaduais, governador, vereadores e prefeitos. Ela ocorre em três níveis: federal (presidente), municipal (prefeito e vereadores), estadual (governador, deputados, senadores). Interessa-nos aqui a eleição para deputado federal, uma eleição de base estadual. Deputado federal é representante do povo (sistema proporcional) e o senador representante do estado (FPTP). Senadores tem mandatos de 8 anos que se renovam na proporção 1/3 – 2/3 alternadamente. No Brasil há um piso e um teto dos deputados, um limite (mínimo 8, máximo 70). Há um critério federativo próprio do senado que repercute nos estados, gerando um desequilíbrio democrático – o eleitor no Brasil não tem o mesmo peso eleitoral de acordo com o local onde ele mora (um estado mais populoso vai ser menos representado). Questão do piso e do teto de deputados pode ser alterado na constituição? Ler ADI 815 para a próxima aula e para a prova. ▪ Sistemas majoritários puros: tendência de formação de dois partidos. ▪ Sistemas proporcionais: tendência de múltiplos partidos, contemplação da minoria. ▪ Sistema francês: deputados eleitos em distritos sujeitos a dois turnos; evita-se a obrigação das coligações, permite-se que os partidos excluídos do segundo turno podem a partir disso decidir se apoiam alguém. É uma alternativa aos dois extremos de sistemas majoritários puros e sistemas proporcionais. Aula 10/05/12 Retomando a aula anterior, existem basicamente dois modelos de sistemas eleitorais: proporcional (aquele em que não há derrotados, há aqueles que ganham mais e aqueles que Constitucional I Professor José Levi Mello do Amaral Júnior Camila da Silva Oliveira – 185/21 19 ganham menos. Tem como virtude contemplar uma minoria, ou que podemos chamar de minoria minimamente representativa, que é aquela que consegue atingir o chamado cociente eleitoral – mínimo que se espera para que determinado grupo tenha ao menos uma cadeira. Pode-se dizer que nesse sistema não existem derrotados justamente por isso. Desvantagem: não gera vínculo entre o eleitor e o eleito); ou majoritário (ganha quem tiver o maior número de votos. Tem como virtude a simplicidade, gera vínculo entre eleito e eleitor: quem vota sabe em quem está votando, possibilidade de vinculo óbvia pq no mínimo o sujeito que pretende se reeleger vai voltar ao grupo ao menos para prestar contas. Desvantagem: não contempla minorias, contempla aquele que mais ganhou, e isso pode deixar descobertos grupos sociais que não estarão contemplados no parlamento). Há outra desvantagem no sistema majoritário: sujeito só pensa no distrito que o elegeu (paroquial). No proporcional o sujeito não é paroquial, mas justamente pela dispersão de votos não é favorável a geração de vínculos, e isso é explicado pelo próprio sistema de votação: o verdadeiro candidato é o partido ou o programa partidário. No Brasil, quando vamos votar em deputado federal, temos 4 números. A urna eletrônica é bem didática nesse sentido. Se apertamos apenas os dois primeiros números será indicado o partido, se se confirma ela não vai adiante, ela se dá por satisfeita. A urna se daria por satisfeita por que nesse momento o eleitor está ajudando a determinar a força, a expressividade de cada partido. Agora, se o eleitor coloca os demais números ele vai contribuir com a determinação da ordem de um candidato de um partido na lista do partido. Como funciona o voto proporcional? A primeira coisa que se faz é determinar o cociente eleitoral, que é o mínimo de votos que se espera para que partido tenha direito a uma cadeira. Isso é determinado pelo número de eleitores dividido pelo número de cadeiras a preencher. Tantas quantas vezes o partido atingir o número necessário, será esse o número de candidatos que ele irá eleger. Existe a teoria dos restos, de como se aproveitar os votos que sobraram, já que raramente um partido fará o número exato do cociente eleitoral. Os votos não aproveitados, digamos assim, o sistema proporcional que tem várias variações, encontra no trato desse resto mais variantes. No direito brasileiro no fundo é determinar a densidade eleitoral das cadeiras Constitucional I Professor José Levi Mello do Amaral Júnior Camila da Silva Oliveira – 185/21 20 que o partido já obteve. Pega-se o número de votos que sobrou e dividi-se pelo número de cadeiras que ele já obteve. O partido que tiver o resultado maior terá direito a primeira cadeira da sobra. A conta é repetida até que todas as cadeiras sejam preenchidas – os partidos que já foram contemplados tem o valor modificado por que se adicionou uma cadeira, então provavelmente ele não será contemplado duas vezes seguidas, por exemplo. Tem alternativas a isso, como a de maior ou menor sobra, ou seja, partido que tem sobra de 100 mil e partido que tem sobra de 50 mil de sobra. Esse método é uma escolha política, pareceu um critério justo de se fazer. Detalhes: a coligação se comporta como se fosse partido único, a lista da coligação será de todos os candidatos da coligação. Por isso para um partido pequeno é relevante se associar a um partido maior, pois isso faz com que seja possível segurar o cociente eleitoral. Se houver empate, apesar de ser quase impossível, será eleito o mais idoso. Questão: causa problemas ter partidos que fizeram um cociente eleitoral e tem um deputado? Pode ou não causar problemas, o mais evidente é a fragmentação da representação, principalmente quando é necessário formar grupos maiores. O presidencialismo é menos suscetível aos problemas de minorias heterogêneas, mas ainda sofre com isso (menos do que o parlamentarismo). Tam uma forma de minimizar esse problema: um mecanismo utilizado por excelência, chamado cláusula de barreira, em que partidos muito pouco votados serão eliminados. No Brasil a cláusula de barreira é o próprio cociente eleitoral; isso parece óbvio, mas não é. Esquecendo o Brasil por hora, é possível imaginar uma situação em que se dá uma cadeira a um partido que não atingiu o cociente eleitoral? Sim, teoricamente é possível imaginar contemplar os partidos que não atingiram o cociente por meio das sobras – no Brasil não é possível (não serão contemplados com cadeiras de sobra os partidos que não obtiveram cadeiras). Para efetuar o cálculo nos casos citados de contemplação com sobra, soma-se mais 1 ao 0 que o partido tinha obtido. No Brasil existe a regra do mais 1, mas existe o dispositivo que não permite que o partido com 0 entre na conta. Por que então existe o mais 1? Provavelmente decorrente de debates históricos de posições diferentes. No sistema majoritário ganha quem tem mais votos, no proporcional ganha quem atingir o maior cociente eleitoral. Uma das formas de evitar discrepâncias é o chamado voto Constitucional I Professor José Levi Mello do Amaral Júnior Camila da Silva Oliveira – 185/21 21 majoritário de dois turnos, que é o sistema francês. Na França, a eleição de deputados é distrital, cada distrito elege um deputado. Mas o detalhe é que para o deputado ser eleito no distrito, ele precisa da maioria absoluta de votos – se isso não ocorrer, será feito o segundo turno – o deputado tem que ter maioria absoluta de votos. Relembrando as leis de Duverge, podemos dizer que nos sistema majoritário de dois turnos tende-se a uma pluralidade de partidos, aproveitando a simplicidade, a clareza, do voto majoritário. Como é necessário que o partido tenha maioria absoluta de votos, não há problemas em haver muitos partidos; no segundo turno os partidos ponderam como serão feitas as coligações, sem ser necessária a fusão. Um exemplo: havia 11 candidatos a presidência no primeiro turno, os partidos puderam se posicionar no segundo turno. O partido socialista, por exemplo, oferece apoiar candidato de outros partidos se for apoiado na eleição presidencial. O modelo francês, portanto, tem suas virtudes, ele cria uma lei intermediária nas leis sociológicas de Duverge. Um meio termo efetivo seria um sistema que aproveita o que há de bom no majoritário simples e o que há de bom no proporcional: há vínculo entre eleito e eleitor, há representação de minorias, há clareza entre quem votou e quem foi votado. Na literatura é muito comum ser examinada a proposta disso, no sistema eleitoral alemão: distrital misto. O curioso é que ele não é distrital, é proporcional. Funciona da seguinte maneira: há aproximadamente 600 deputados na câmara baixa. A primeira coisa que se faz é dividir o número de eleitores que compareceram e divide-se por 600, o número de cadeiras. Obtém-se o cociente eleitoral. Segundo passo: a Alemanha é dividida em 300 distritos, metade do número de cadeiras a preencher. O eleitor de cada distrito possui dois votos, um é majoritário, em um candidato que disputa eleição naquele distrito. O segundo voto é um voto na lista partidária, dentro os mais ou menos 10 que existem lá. Aí ele está votando em uma lista nacional partidária. As cadeiras se distribuem à razão de quantas vezes um determinado partido, o partido vai ter mais ou menos nomes na lista dependendo de quantas vezes ele alcançou o cociente. Se o partido teve direito a 10 cadeiras, definidas pela primeira conta, o deputados eleito na eleição majoritária, está eleito, ou seja, se 5 ganharam as eleições majoritárias, esses já entram. As outras cinco cadeiras serão pegas na lista. O sistema é na verdade proporcional, por exemplo, se o partido fez 15 vezes o cociente, terá Constitucional I Professor José Levi Mello do Amaral Júnior Camila da Silva Oliveira – 185/21 22 direito a 15 deputados. Se 10 ganharam nos distritos, esses 10 já entram. Os outros cinco são pegos na lista, na ordem nacional – o partido já tinha uma ordem definida, o partido já tinha definido a ordem. Então: 1) Cálculo do cociente: número de eleitores dividido pelo número TOTAL de cadeiras; 2) Processo eleitoral no distrito: dois votos – no candidato e na lista partidária. 3) O segundo voto ajuda a compor mais ou menos vezes o cociente eleitoral. 4) Definição dos deputados: entram os que ganharam as eleições distritais. Os outros entram na ordem da lista (pode acontecer que um sujeito seja candidato no distrito e também na lista). Questão: o que acontece quando um partido elege mais candidatos nos distritos do que o seu cociente dá direito? Sim, o partido terá direito a mais cadeiras do que garantia seu cociente. O que pode acontecer é que isso aconteça com vários partidos, e no final faltar uma ou duas cadeiras. Pode acontecer de se adicionar uma ou duas cadeiras para contemplar esse excesso. Esse modelo é encantador, tem deputados paroquiais, que tem vínculos com o eleitor, mas também tem os outros. Ele conjuga o melhor de dois mundos. A dificuldade é explicar isso ao eleitor. Muitos intelectuais no Brasil tem uma simpatia enorme por esse modelo: em 2007 FHC propôs o modelo distrital puro para as eleições de vereador, para que o povo sinta as vantagens, sinta as virtudes do vínculo. Se isso pegar bem, depois se pode pensar em distrital misto para deputado estadual ou federal. Isso não valeu, para alterar para distrital puro deve haver uma emenda constitucional. Para adotar o sistema alemão, que já é proporcional, basta um decreto de lei – é pouco crível que os deputados apoiem um modelo novo. Levi diz que tem simpatias pelo sistema distrital misto, e uma boa alternativa para ele, como estágio para chegar ao misto seria o distrital puro. Em relação ao direito brasileiro: majoritário no senado e proporcional na câmara, sendo que na câmara de deputados brasileira existe uma limitação de que não mais do que 70 deputados por estado e não menos do que 8 por estado. A eleição para deputados no Brasil é estadual, o cálculo do cociente é por estado, em especial para ser coerente com o teto e o piso de deputados (SP tem 70, AC, DF, RR, RO, tem 8). Isso é problemático, pois é algo muito próprio de qualquer Constitucional I Professor José Levi Mello do Amaral Júnior Camila da Silva Oliveira – 185/21 23 democracia de que cada homem, um voto, cada cabeça um voto: igual utilidade política de cada ser humano. Quando se estabelece e teto e o piso, se achata ou amplia o peso do voto do eleitor: o peso do voto do eleitor de SP é menor do que o peso do voto do eleitor de RR, AC, etc. Levi entende que isso não é razoável, pois esse é um critério federativo que deveria ficar restrito ao senado, que é a casa de representação dos estados, e não contaminar a casa popular, onde o critério deveria ser pura e simplesmente a democracia, que parte do pressuposto da igualdade dos votos. A coisa é tão complicada que basta um eleitor multiplicar de domicílio eleitoral para multiplicar o valor de seu volto. Dahl: democracia é feita para os entes federados ou para as pessoas? É claro que a democracia é feita para nós, os entes federados que se entendam no senado. Curiosidades: a forma de escolha de senador no Brasil é uma eleição majoritária distrital, o distrito do senador é equivalente ao estado. A cada 4 anos uma eleição de senador, uma plurinominal, outra binominal, e assim alternadamente. Adotam sistemas majoritários para escolha de deputados: Inglaterra e EUA. House of commons – verde; house of lords – azul. Levi contou a história inglesa que justifica essa divisão, uma curiosidade. Tal divisão de cores se propaga em diversos outros países, como no próprio Brasil – uma coisa peculiar, uma reminiscência dessa época. Rei Eduardo II regulamentou a convocação da eleição da câmara dos comuns, nos idos de 1295. Vereadores, assembleias legislativas e câmara legislativa do DF (que atua para os dois lados), todas as casa adotam o regime proporcional. Só o senado é majoritário. Nacionalidade, cidadania e direitos políticos Política é algo inerente ao comportamento humano; a pessoa faz política desde que nasce, desde o primeiro choro, até a hora da morte. É algo que não escapa da nossa vida, é natural ao convívio humano. A política nos une, aproxima, ainda que seja para divergir. É a política que mantem a sociedade unida. Como ela se realiza? Num determinado contexto, que obviamente exige inserção no contexto – por isso existem as regras de nacionalidade, cidadania e as regras de exercício dos direitos políticos. Constitucional I Professor José Levi Mello do Amaral Júnior Camila da Silva Oliveira – 185/21 24 Primeiro passo para vir a ter direitos políticos é ser nacional de um Estado, ter nacionalidade. Estar inserido num Estado é ser reconhecido como nacional num estado: critérios de sangue, de solo, etc. Direito contemporâneo tem ojeriza da ideia de apatria (Tom Hanks, O Terminal), todos tem direito a uma nacionalidade, ser reconhecido como natural de um estado – o que não basta para ter direitos políticos. Cidadão é o nacional que cumpre mais alguns requisitos, em geral requisitos etários (no direito brasileiro). O nacional, que atinge uma integralidade, se torna cidadão e então talvez possa participar dos direitos políticos, que são os direitos de votar e ser votado. Elaborando a conceituação: direitos políticos são direitos de participar da formação da vontade do Estado. Aprofundando conceitos: Nacionalidade: tem dois critérios básicos – sangue ou solo. É filho de quem e nasceu aonde. Na Grécia Antiga, grego é aquele que é filho de ventre grego, um critério de sangue, que em geral é aplicado por países de emigração. O critério de solo é adotado por países de imigração (está precisando compor seu povo, são pessoas que nascem ali). Há países que adotam ambos os critérios, caso brasileiro. No Brasil há dois tipos de brasileiros: nato ou naturalizado – não pode haver discriminação entre eles, a não ser aquelas que a própria constituição já tenha feito (só poder presidente, ministro do STF, presidente da câmara, presidente do supremo, etc, o brasileiro nato, assim como todos os cargos que envolvem questões de segurança). Brasileiro nato, de acordo com o art. 12 da Constituição, são nascidos no Brasil, ainda que de pais estrangeiros, desde que seus pais não estejam a serviço (critério de solo); nascidos no estrangeiro, de pai ou mãe brasileira, desde que algum deles esteja a serviço do Brasil (critério de sangue); nascidos no estrangeiro, de pai ou mãe brasileira, desde que registrados aqui ou venham residir aqui e optem pela nacionalidade brasileira. Naturalizados são os que adquirem nacionalidade brasileira, exigida residência por um ano ininterrupto e idoneidade moral, quando falam língua portuguesa; estrangeiros de qualquer nacionalidade residentes por 15 anos ininterrupto sem condenação penal e desde que solicitem a naturalização. Artigo 12 – será declarada a perda de nacionalidade o brasileiro que tiver cancelado sua naturalização por cometer alta traição contra o estado ou coisas que violem os interesses nacionais; adquirir outra nacionalidade, salvo se por reconhecimento de nacionalidade originária Constitucional I Professor José Levi Mello do Amaral Júnior Camila da Silva Oliveira – 185/21 25 pela lei estrangeira; ou quando a norma estrangeira impõe a naturalização para permanência no território (exemplo: qualquer trabalhador brasileiro que vá para o estrangeiro e algum momento precisa da nacionalidade estrangeira). A verdade é que o Brasil é bastante tranquilo com relação a essa norma. Direitos políticos (art. 14): são basicamente votar e ser votado; a Constituição é bem minuciosa sobre o assunto, prevê referendo (anuência ou não acerca de determinado assunto, espécie de homologação, já uma lei definida), plebiscito (manifestação breve, quando o congresso ainda não legislou sobre o assunto mas deseja fazê-lo, entendendo por bem ouvir o povo). ADIN 815: governador de um Estado (RS) impugnou o teto e o piso constitucional para deputados, dizendo que isso era ofensivo a uma norma constitucional elementar, com valor supra constitucional: a igualdade do voto. O supremo não declarou inconstitucionalidade da norma por duas razões: norma constitucional originária, STF é criatura da constituição, não pode controlar o acerto e desacerto de quem a criou – seria diferente se fosse norma decorrente do PCD. Discussão: voto facultativo ou obrigatório. Posição de Levi: assunto polêmico, que tem bons argumentos de ambos os lados, mas que o voto deve permanecer obrigatório, pois como todo e qualquer direito, o voto tem correlato a si um dever cívico de participação – argumento teórico. Outro argumento mais prático: nos EUA a média de participação nas eleições americanas é em torno de 50%, como o presidente é eleito com pouco mais de 50% dos votos, não é raro um presidente ser eleito com ¼ de votos. Professor cita novamente Dahl, que defende que quanto maior a participação popular no voto, melhor. 17/05/12 Federalismo Repartição do poder com bases territoriais, há uma descentralização com esse critério de base territorial (comparação com o feudalismo, que no Brasil foram as capitanis hereditárias). O Constitucional I Professor José Levi Mello do Amaral Júnior Camila da Silva Oliveira – 185/21 26 federalismo no Brasil tem relação com as características destas capitanias hereditárias e por mais paradoxal que pareça, as sementes se encontram no Império, não obstante este fosse unitário. 1834 – Ato adicional que criou assembleias legislativas nas províncias brasileiras, o que já dá indícios dessas competências provinciais. Federaçao – distribui competências, a que entes tocam estes poderes depende do pacto federativo, a alma federalismo. Vocação do federalismo antecede a vocação republicana. Os republicanos brasileiros se inspiravam muito nos americanos, que eram federalistas, aceitavam bem a ideia de descentralização do poder (não que os federalistas fossem necessariamente republicanos, mas encontraram apoio e terreno fertil entre os republicanos). Encontraram uns nos outros apoio político para combater a monarquia, já que os monarquistas brasileiros era centralistas. Estas considerações servem para pensarmos as raízes profundas do federalismo no nosso país. Modelo federalista mais imediato – EUA. Os americanos, pela sua natural formação histórica se viram compelidos ao federalismo, e aprenderam o federalismo com alguém. Um dos oráculos da construção dos EUA foi um francês, Barão de Montesquieu (O espírito das leis). Esta obra foi muito importante para diferenciação entre repúblicas e monarquias. Segundo o autor, para defender-se de uma conquista por parte de uma grande monarquia, pequenas repúblicas vizinhas precisam fazer entre si alianças (fuedos), devem combinar esforços. Quando elas formam essas alianças elas passam de repúblicas isoladas para repúblicas federativas – o nome do Brasil presta homenagem a esta antiga tradição. 1776 – Independência das 13 colônias – não surge um país soberano, surgem 13 países soberanos. Neste momento não começa uma federação, não a rigor. Somente em 1787 as 13 colônias abrem mão das suas soberanias particulares em favor de uma única soberania do todo, e aí surge um único país. Este enredo histórico tem uma consequência muito profunda: primeiro existiam os estados, depois estes formam o TODO. Federalismo por agregação: entes federados que se aglutinam – poder central como criatura dos estados, tendem a ser mais fortes do que o poder central – exemplo clássico americano. Inicialmente os estados que formam os EUA ainda se pretendiam soberanos, eles Constitucional I Professor José Levi Mello do Amaral Júnior Camila da Silva Oliveira – 185/21 27 queriam deixar claro que ainda mandavam, apesar da soberania ser do todo. O que remanesce é a AUTONOMIA dos estados (a soberania é do todo federativo, a autonomia está nos estados). Os estados perceberam que eles não eram soberanos e que não podiam se separar na Guerra de Secessão, que tem como principal consequência a abolição. Do ponto de vista da doutrina federalista, a principal consequência foi sacramentar a impossibilidade de secessão. Houve uma federação contemporânea que previa o direito de secessão dos seus entes federados: URSS. Na prática esta possibilidade de separação não era real. Algo fundamental: não há espaço para separação, dissolução do vínculo, secessão em NENHUMA federação (exceto a URSS). Como se sacramenta na Constituição americana que os estados serão mais fortes que a União? Um aparte: pq os EUA sendo common law tem Constituição escrita, ao contrário da Inglaterra, por exemplo? Quando as 13 colônias resolveram dar um passo adiantes eles eram confederados. Quando se fusionam em um único estado soberano, eles tem que definir o que toca ao poder central e o que toca a cada um deles – PACTO FEDERATIVO: REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS. A Constituição escrita serve para sacramentar este pacto federativo, como eles viveriam. Retomando: A Constituição americana diz quais as consequências do poder central, o resto fica com os estados membros. Detalhe: por trás dessa técnica está o fato de que o poder central só pode fazer o que está determinado, está amarrado. O residual é todo o resto, e é tudo isso que se atribui aos estados. Por isso nos EUA Direito Penal, Eleitoral, etc toca aos estados e varia de ente para ente. Na repartição de autonomia a dos estados é muito mais generosa do que a do governo central. (Qualquer emenda nos EUA depende de um referendo dos estados, tudo que vai contra estes tem uma perspectiva mínima de prosseguir, por isso há pouquissimas emendas desde o início da sua Constituição). Fortalecimento da união em face dos estados foi buscada por algumas vias. Basicamente pela construção jurisprudencial de uma teoria ou doutrina dos poderes implícitos. Quando os Constitucional I Professor José Levi Mello do Amaral Júnior Camila da Silva Oliveira – 185/21 28 americanos estavam se organizando, Hamilton fundou BC americano. Com o passar dos anos o BC resolveu abrir escritórios nos diversos estados. Um dos estados (Maryland) resolveu tributar o BC, o que foi negado. Isto virou uma ação judicial (1819). Marshall deu uma decisão que toda ela é o enfrentamento de duas questões: 1) Não consta da Constituição americana que o governo central pode criar um banco dos EUA – pergunta: pode haver essa criação? 2) Supondo que seja possível criar um banco, pode o governo do estado tributar uma projeção do governo central, que é o banco? Marshall fala da doutrina dos poderes implícitos: pode o poder central criar o Banco – para cada doutrina autorizada ao governo central é possível deduzir ferramentas implícitas que facilitam o cumprimento das exigências fins das cláusulas da Constituição Se a primeira pergunta é verdadeira, parte-se para a segunda. Ele diz que no poder de tributar está o poder de destruir: tributar é algo muito severo, toca no órgão mais sensível do corpo humano (isso vale para os entes federados também). No limite uma tributação pode ser destrutiva. Para que uma federação transcorra em harmonia um ente federado não pode querer tributar o outro (imunidade recíproca – um ente federado não pode tributar o outro). Caso brasileiro – federalismo por segragação. Primeiro houve um estado unitário. Depois por obra deste estado unitário ele se segmentou, se dividiu – situação em que o governo central antecede os governos estaduais. Isto tem uma consequência cultural quase oposta ou oposta a do federalismo por agregação, que tende a favorecer a autonomia dos estados em detrimento do governo central. A técnica jurídica para isso é delimitar os poderes centrais e deixar o resto para os estados. Já no Canadá ocorre o contrário: a Constituição enumera as competências dos estados e deixa o residual para o poder central. Enquanto o governo americano tem por objetivo favorecer os estados, no modelo canadense é o oposto. O Brasil está mais próximo da segunda situação, o que está relacionado ao fato de ser este um federalismo por segregação. Constitucional I Professor José Levi Mello do Amaral Júnior Camila da Silva Oliveira – 185/21 29 Técnica brasileira de repartição de competências Tem uma inspiração inicialmente americana, para depois ter influência alemã e em tempos mais recentes passou a ter também uma inspiração indiana. A novidade alemã veio com a Constituição da República de Weimar de 1919 – federalismo de cooperação. Federalismo de cooperação – um país tem competências enumeradas para a União ou os estados, e o residual é competência da união ou dos estados. Há ainda um rol de competências que não são da união ou dos estados, são comungadas, partilhadas, divididas pelos entes federados. O Brasil passou a flertar com este modelo a partir da Constituição de 34, que foi atropelada pelo Estado Novo que era basicamente centralista. As ideias federalistas retornam posteriormente depois de 1946 (Constituição muito amiga do federalismo). A Constituição de 1967 eram documentos constitucionais muito ruins para a federação; havia a ideia de copiar a Constituição nos estados – ela seria mimeografada. Não havia espaço para a criatividade estadual. A coisa era tão centralizadora que uma lei estadual servia como lei orgânica dos municípios de cada estado. Em um estado foi feita uma lei que dava aos municípios a prerrogativa de fazer suas próprias leis orgânicas (Rio Grande do Sul). Dois outros estados fizeram o mesmo em favor de suas capitais: Paraná e Bahia. Isto representa de certa forma o bom senso de um governo central. Há nestes casos um LAMPEJO do federalismo. As constituições “amigas do federalismo: 1934, 1946, 1988 (???). Repartição de competências federativas no Brasil Const. De 88 enumera competências para União, para os Estados e municípios. O residual fica com os estados e além disso ela prevê um rol de competências compartilhadas, comungadas, divididas entre os entes. A enumeraç ão que tem para a União é muito grande, para os municípios é generoso e para os estados uma única: o gás canalisado. O residual que vai tb para os estados é muito discreto, apesar de ter coisas importantes, por exemplo: segurança pública é competência residual e portanto é estadual (polícia militar e polícia civil). No Brasil há dois federalismos: Isso descrito é o federalismo geral. Há o federalismo particular: tributário – tributos da União, dos Estados e dos municípios. Além disso tem os Constitucional I Professor José Levi Mello do Amaral Júnior Camila da Silva Oliveira – 185/21 30 tributos compartilhados e o residual vai para a união. A diferença fundamental é a quem toca as competências residuais. Competências da União: legislar sobre direito penal, civil, etc Competências dos Estados: gás canalisado, segurança, etc Competências dos municípios: transporte público municipal, legislar sobre assuntos de interesse local (competência aberta) – trata-se de uma regra muito antiga, que antes era dita como assuntos de peculiar interesse (ex: legislar sobre o horário de funcionamento do comércio). O que é comungado: educação, saúde, previdência, meio ambiente. Há critérios constitucionais para regular as relações, que serão explorados posteriormente. Distrito federal é híbrido, tem competências próprias dos estados e dos municípios. Por exemplo, cobra IPVA e IPTU, o primeiro de competência estadual e o segundo municipal. O DF tem um governador com administradores regionais, foi aprovada uma lei que permitia a eleição destes administradores, o que o STF julgou como inconstitucional. AUTONOMIA É DIFERENTE DE SOBERANIA UNIÃO NÃO É O BRASIL, É UM ENTE FEDERADO JUNTO COM OS DEMAIS. BRASIL É O AMÁLGAMA DA REPÚBLICA FEDERATIVA. O principal fator de confusão talvez esteja na presidência da república, chefe do poder executivo assim como os governadores e governos. A diferença que é que a Presidenta da República é também chefe de estado e por isso fala pelo todo federativo. Neste momento ela não fala pela união, fala pela União, pelos Estados e pelos Municípios. O congresso nacional tem esse nome pq ele faz dois tipos de leis: federais, só para a União, mas outras nacionais, que submetem a União, os Estados, os Municípios e o DF – por exemplo, Lei de Responsabilidade Fiscal, Lei de Acesso à informação. O passo mais sofisticado é o fato de que a repartição de competências tem um viés mais minucioso que passa por identificar se trata-se de uma competência material (fazer alguma coisa) Constitucional I Professor José Levi Mello do Amaral Júnior Camila da Silva Oliveira – 185/21 31 ou legislativa (legislar sobre determinado assunto). A Constituição é mto clara quanto a isso (Art. 21 – competências materiais da união; Art. 22 – Competências legislativas da união, etc). Aula 24/05/05 Retomando as questões das competências... Federalismo geral – existe uma seara em que há federalismo particular entre nós (tributário), no qual o residual cabe à união. Competência tributária para a união significa quais os tributos são confiados à união. Como funcionam as competências comungadas (art. 23 e 24) Art 23 – competências de fazer alguma coisa (ex.: licenciamento ambiental – todos os entes podem atuar igualmente, no mesmo patamar de igualdade nessas matérias. Pode eventualmente haver confusão). O par único do art 23 serve para disciplinar o modo de cooperação a ser levado a efeito nas matérias do art 23, através de leis complementares. No caso do licenciamento ambiental, foi feita a Lei Complementar 140. Art 24 – competências concorrentes – competências verticais ou não cumulativas. Relativo a natureza de competência legislativa partilhada pelos entes. Regras das competências concorrentes: 1) Normas gerais – lei nacional repercute sobre todos os entes, obriga união, estados e municípios. Não há hierarquia entre os entes federados (a lei federal, estadual e municipal estão no mesmo plano hierárquico, a lei nacional submete todos os entes). O que caracteriza uma lei nacional é o fato dela legislar sobre normas gerais. A união faz as normas gerais, mas isso não significa que ela não faça normas específicas. A norma geral é a moldura: conceitos, limites. O município faz normas que complementam a moldura para ele município, observados os conceitos e limites da moldura; os estados fazem o mesmo; a união também pode fazer normas específicas que só se aplicam a ela – difícil distinguir estas das normas gerais (par 1 – a união faz as normas gerais) Constitucional I Professor José Levi Mello do Amaral Júnior Camila da Silva Oliveira – 185/21 32 2) Parágrafo 2: Os estados complementarão a moldura, os conceitos, os limites estabelecidos pelas normas gerais. 3) Parte de uma hipótese: se a união não legislou, se houve omissão da norma geral, como se procede? Se a união não fez abre-se a possibilidade para os estados funcionarem supletivamente – faltou a norma geral e cada estado faz para si uma lei em plenitude. 4) Supondo que passado algum tempo a união supera sua inércia e faz a norma geral daquela matéria. O que acontece com a norma feita pelo estado na matéria em que faltou a norma geral? Par. 4 – a norma estadual fica suspensa naquilo que ela contraria a norma geral da união – não é revoda a lei, ela é apenas suspensa. A razão dessa cautela terminológica é para evitar o vazio, o vácuo Voltando ao art 22 – maioria são leis que repercutem para a união, repercussão de ordem sob os cidadãos. Se um assunto como direito civil ou penal, que estão no artigo 22, quem legisla sobre essa matéria é a união. Tem um parágrafo único que permite à união por meio de lei complementar delegar aos estados aspectos de alguma das competências legislativas do art 22. Lei complementar 103 de 2000 delegou aos estados a competência para legislar a fixação do chamado piso salarial (o que não pode ser delegado é o salário mínimo, que diz respeito ao custo de vida nacional, o mínimo que se espera alcançar para todo brasileiro. Piso salarial tem a ver com a atividade desempenhada – e isso pode variar nacionalmente. A capacidade de retribuir o metalúrgico do AC é uma e a de retribuir o metalúrgico de SP é outra). Quando essa lei foi aprovada em 2000, o RJ se apressou em fazer uma lei fixando seu mínimo – isso não podia ser feito, pois a característica do piso salarial deve ser feito por profissão, por faixas, ou transmuda- se para o conceito de salário mínimo. O STF julgou inconstitucional a lei carioca, pois ela não tinha o critério de complexidade de extensão do trabalho. SP adotam há mto tempo desde então essa mecânica, alguns estados com mais faixas de divisão, outras com menos. Juridicamente essa é a explicaçao da delegação do piso salarial aos estados – aspectos da lei trabalhista e como tal sujeito a delegação. Trata-se de uma coisa que cria espaço decisório para a autonomia dos estados – num estado concentrado como o nosso trata-se de uma oxigenação. Constitucional I Professor José Levi Mello do Amaral Júnior Camila da Silva Oliveira – 185/21 33 Relações entre os artigos 22 e 24: Art. 22 – competências só da união, de natureza legislativa e enumeradas pela Constituição (a possibilidade de delegação é outra história) Art 24 – Competências comungadas pelos entes federados, caracterizam-se pela manifestação das chamadas normas gerais (diretrizes) Há quatro normas que são diretrizes e estão no artigo 22 e não no 24. Por que? O constituinte reputou as 4 competências delicadas, sensíveis, particularmente importantes, de modo que não haja para elas a possibilidade de normas supletivas dos estados – ou a união faz as normas, ou ninguém faz (transportes, polícias militares (tem que haver uma uniformidade mínima), LDB, licitação (processo administrativo por meio do qual é escolhida a pessoa que o poder público contrata) Casos – Duas situações complexas relativas a lei de licitações (lei 8666/93), que tem uma série de normas gerais que orientam, subordinam e submetem todos os entes federados. Há momentos em que essa lei é escancaradamente específica, minuciosa, desce a detalhes – quando isso ocorre os detalhes aplicam-se somente a união. Se um artigo é minucioso só se aplica a união – não há uma regra para definir como diferenciaremos isso, há um subjetivismo enorme. É papel que pode ser do supremo definir isso. Em se tratando da lei de licitações há uma situação mais complexa: lei de licitações tem modalidades de licitação (concorrência, tomada de preço, leilão), modalidades que são normas gerais, todos os entes podem praticar. A lei de licitações se tornou com o tempo pesada, cria dificuldade em certos setores que precisam de mais agilidade – complicações dramáticas para comprar coisas mais banais. No final dos anos 90 e início de 2000 buscaram-se alternativas licitatórias. O Ministério do Planejamento propôs a criação do pregão, uma espécie de leilão invertido, só que transitoriamente o pregão só poderá ser exercido pela união (modo de testar o método). Depois do período de teste o pregão foi extendido a todos os entes. O primeiro exemplo, sobre normas gerais e especiais é muito importante. Constitucional I Professor José Levi Mello do Amaral Júnior Camila da Silva Oliveira – 185/21 34 Horizonta e vertical – Art 23 é horizontal pq todos estão em pé de igualdade, art 24 é vertical pq a lei nacional se coloca acima Cumulativo (art. 23 – todos correm paralelo, igual) e não-cumulativo (art 24 – há um critério de verticalidade) Aula Levi 31/05/2012 Montesquieu – Na França não havia um parlamento unificado, havia vários parlamentos locais, o que seria o parlamento nacional francês era o que os franceses chamavam de estados gerais (que o rei não deixava acontecer) – eram muito mais órgãos judiciais do que legislativos. Montesquieu era juiz, mas muito jovem percebeu que sua vocação era acadêmica; pesquisa elementes para o “Espírito das leis”. Considera-se este autor um dos pais do federalismo; ele, em passagem pela Inglaterra se encanta pelo modelo inglês, por ser esse amigo da liberdade, evitar o despotismo. Objetivo de Montesquieu – neutralizar os poderes para previnir o absolutismo. Judiciário deste autor é neutralizado nele próprio, o legislativo é neutralizado por forças internas e por relação com o executivo, assim como o executivo é neutralizado tb por essa relação. 1) Diz que não há nada mais terrível entre os homens do que o poder de julgar, pois esse poder de julgar é capaz de decidir coisas muito importantes, como a liberdade, a vida. Juiz da lei deve ser uma pessoa na mesma condição do rei. O ideal é que o juiz seja Constitucional I Professor José Levi Mello do Amaral Júnior Camila da Silva Oliveira – 185/21 35 escolhido pelo réu, ou como que da escolha do réu. O judiciário em Montesquieu que nos é familiar são os juris, em que os jurados são sorteados, pode haver rejeição dos jurados – são como que da escolha do réu, todos eles são pares do réu. “Os juízes de uma nação não são mais do que uma boca que pronuncia a sentença da lei, seres inanimados que não podem medir sua força nem seu rigor” Verdadeiro núcleo do espírito das leis: Legislativo Montesquieu: o povo decide quem falará por ele. Democracia representativa – termo surgiu em meados do século XIX, a partir do livro “do governo representivo, de Mils Representantes – M. diz que não dá simplesemente para o povo escolher os seus representantes; pq nas massas dos possíveis há burgueses e nobres, os primeiro em grande maioria e portanto, teriam grande vantagem. Solução: burgueses terem assento em uma casa do parlamento, nobres em outros – em vez de unir, reforçaria a separação. Com isso, M. está justificando o bicameralismo inglês, que é diferente do bicameralismo americano (federalismo). Se na França não hé nem nobreza, nem federalismo, qual a razão do bicameralismo? A experiência histórica considera que uma segunda casa pode ser um fator de equilíbrio para impedir excessos. As duas casas funcionam partilhando duas faculdades, que cada uma delas possui: faculdade de impedir e a faculdade de estatuir – faculdade de fazer alguma coisa ou rejeitar alguma coisa. Em outras palavras, em M. o bicameralismo é do tipo igual, perfeito ou paritário. Para fazer algo, as duas casas precisam manifestar o mesmo sentido de estatuir – se qq uma delas rejeita o que a outra estuiu, o processo decisório fracassa. É imprescindível que as duas estejam de acordo – nobres e burgueses precisam estar de acordo. Se por um milagre burgueses e nobres concordam e estatuem no mesmo sentido, o processo decisório ainda passa pelo rei, que também tem a Constitucional I Professor José Levi Mello do Amaral Júnior Camila da Silva Oliveira – 185/21 36 faculdade de estatuir ou impedir o que as duas casas do parlamento decidiram – para o rei o nome é diferente: estatuir é uma sanção, impedir é um veto. O coração do argumento de M. não tem a ver com a separação de poderes, mas sim a coincidência de faculdades de estatuir e impedir – os poderes se comungam, não se dividem. É igualdade de estatuir e impedir que limita a atuação dos poderes – força da partilha da comunhão de iguais. Há um jogo de reciprocidade na limitação. Duas casas do parlamento se limitam, são limitadas pelo poder do rei e também limitam o poder do rei. Os três poderes mencionados são: câmara alta, câmara baixa e rei. O judiciário não aparece pq já está neutralizado ele próprio, pq ele não participa da decisão do legislativo. M. conclui que esses tres poderes deveriam provocar uma pausa ou inação, mas isso não ocorre se houver acordo entre as partes. Se não há acordo entre os poderes, em M., não há decisão. M. é um liberal clássico, que quer previnir o absolutismo. M. vivenciou o absolutismo e queria uma mecânica que prevenisse o absolutismo – mesmo a não-decisão é a negação do absolutismo. Isso ocorre nos EUA: presidência é muito fraca, o governo não é necessário. Os americanos são muito próximos de M. M. cogita a possibilidade do rei ter iniciativa legislativa, mas conclui que isso não seria possível, pois já é suficiente ele sancionar. O todo-poderoso presidente americano não tem iniciativa legislativa. Controle de constitucionalidade – poder de veto que o judiciário em M não conhecia e que os americanos conhecem. Curiosamente é algo que não está em M. mas vai ao encontro dele, pois é mais um impedimento ao processo decisório. Se fossemos desenhar M. teríamos três poderes: executivo, legislativo e judiciário, sendo que sabemos que esses três poderes não estão separados. Depois percebeu-se que o estado não poderia ser uma múmia paralítica, ele tinha que funcionar. É quando surge a necessidade de criar o governo: tetrapartição dos poderes – Chefe de estado, chefe de governo, parlamento e Constitucional I Professor José Levi Mello do Amaral Júnior Camila da Silva Oliveira – 185/21 37 judiciário. O doutrinador disso foi outro francês Benjamin Constant (não confundir com o Benjamin Constant brasileiro, que ajudou a destruir o poder moderador). Considera-se o quinto poder como o controle de constitucionalidade. O sexto poder seria a administração pública – há um corpo de funcionários que não troca com a troca de governo – há carreiras que se mantém no tempo e asseguram que não há solavancos nas trocas de governo – os serviços públicos continuam prestados. Nos EUA o número de cargos de confiança é ainda menor do que no Brasil. Aula 14/06/2012 A aula de hoje abordará o presidencialismo e o parlamentarismo, sem a intenção de meramente examinar dois modelos, mas sim explorar as variações dentro desses modelos, que permitem afirmar a existência de uma terceira forma de governo: semi-presidencialismo e semi- parlamentarismo, que conjuga elementos de ambos os sistemas. A intenção é que os alunos ganhem intimidade com as variações, destacando-se que a divisão estanque é para fins didáticos. Não existe um presidencialismo, assim como não existe um parlamentarismo. Montesquieu, explorado na última aula, narra o presidencialismo clássico, cujas características são: chefe de estado coincide com chefe de governo em pessoa, órgão e poder; há dissociação entre governo e maioria parlamentar, não há necessária coincidência entre quem governa e a maioria parlamentar – ser governo no presidencialismo é uma definição que se dá à margem da definição de quem será maioria parlamentar. Num sistema presidencial típico a escolha do chefe de governo é dissociada da escolha parlamentar, não há um vínculo necessário. Na prática, o chefe de governo pode ser de um partido e a maioria parlamentar de outro. A terceira característica do presidencialismo clássico é coerente com a própria mecânica do modelo: o governo é fraco, anêmico. Montesquieu pretendia evitar o retorno do absolutismo, e por isso ele bolou um modelo em que fosse possível travar o fluxo das decisões políticas; se o poder fosse Constitucional I Professor José Levi Mello do Amaral Júnior Camila da Silva Oliveira – 185/21 38 contido, tanto melhor. Esse modelo não se presta para modelos de Estado onde é necessário governo, entendendo governo como estrutura que requer poder. O governo tem por objetivo levar a efeito políticas públicas, para tanto toma decisões que invariavelmente resvalam nos direitos das pessoas. Um exemplo banal: a política pública de educação e saúde, que para serem levadas a efeito é necessária a tributação, o que é a limitação do direito de alguém (tira de um para dar a outros). Tanto isso é verdade que esse tipo de atitude do governo requer lei: a coisa mais elementar de um Estado de Direito é o princípio da legalidade, a lei é o instrumento por excelência do governo, pois ao arbitrar o que será ou não feito o governo resvala no direito dos cidadãos. A lei é uma autorização de interferência nos direitos. Tanto isso é verdade que é muito comum a expressão „governar é legislar’, as decisões de governos requerem formas de leis por resvalarem nos direitos. Quando os governos começaram a ganhar corpo, para que as políticas públicas fossem concretizadas, quando a necessidade de um governo se tornou clara, quando o estado compreendeu que ele deveria elaborar, implantar e concretizar políticas públicas, o modelo de Montesquieu deixou de ser satisfatório e alternativas começaram a ser buscadas – chefe de estado se separa de chefe de governo; chefia de governo foi atrelada ao parlamento. Trata-se de um rearranjo para que não houvesse mais o travamento de Montesquieu. Era necessária uma fluidez dentro das decisões do governo. Chefe de estado se separa de chefe de governo, governo ganha autonomia e para que ele fosse bem nutrido de legitimidade foi atrelado à maioria parlamentar. O governo comunga da mesma legitimidade popular do parlamento. Essa é uma evolução que boa parte dos países conheceram – parlamentarização dos respectivos modelos. O caso do Brasil é bastante particular, houve mudanças do primeiro para o segundo império. Na República passou-se de uma monarquia parlamentarista para uma república presidencialista, o que o professor considera um refluxo. Como no Brasil o governo é necessário, não simplesmente se adotou o presidencialismo clássico, começou-se a desenvolver uma “jaboticaba política”, uma coisa própria, original – há exceções nítidas, reflexos parlamentaristas. Esse modelo, próprio do Brasil é denominado PRESIDENCIALISMO DE COALISÃO. É a variação do modelo de Constitucional I Professor José Levi Mello do Amaral Júnior Camila da Silva Oliveira – 185/21 39 Montesquieu aplicado a um modelo institucional que requer governo – parte das bases desse autor, como a questão da divisão de poderes, mas aquilo que foi idealizado tem diferenças imensas. Uma das características importantes desse modelo permite pensar o que é o presidencialismo de colisão. A medida provisória é também conhecida por decreto-lei, por vezes o governo precisa ele próprio fazer uma lei – não é uma lei mas vale como se fosse, mas necessita de uma confirmação parlamentar. Todo governo, minimente inteligente, pós-88 sabe que a maioria parlamentar é importante para que suas medidas provisórias sejam aprovadas quando caírem no congresso. Características evidentes conservadas de Montesquieu é a dissociação da escolha do poder legislativo e executivo – a maioria parlamentar tem que ser conquistada, negociada. Na verdade desde 88 nunca um partido conseguiu eleger consigo a absoluta maioria parlamentar – nenhum partido nunca obteve 20% da Câmara dos Deputados, ou seja, a maioria nunca foi atingida. Mesmo com as coligações entre presidente e vice, atinge-se no máximo 30%. Apenas um presidente se furtou de tentar conquistar a maioria, e foi derrubado. Ou seja, todos os governos sempre constroem a maioria parlamentar, e essa busca gera uma coalisão de apoio ao presidente, também conhecida como base de apoio do governo – entende-se o termo citado anteriormente, de que temos um PRESIDENCIALISMO DE COALISÃO. É evidente que tal organização significa a partilha de cargos, principalmente dos ministros. O presidencialismo de colisão é o mecanismo gestado na organização brasileira para parlamentarizar e permitir o governo. Não é um processo fora de riscos, a começar pelo caráter heterogêneo da maioria que vai se formar daí. O sistema eleitoral gera muitos partidos (30 partidos, 20 no congresso), é muito partido para compor uma base estável (por isso não seria possível o parlamentarismo no Brasil se não fosse resolvida essa questão do excesso de partidos). O posicionamento do professor é de que esse modelo é sujeito a maiorias heterogêneas e, pior do que isso, fica à mercê da falta de jeito de alguns personagens do modelo, fica sujeito à habilidade política e moral de determinados sujeitos; e por isso ele não tem muita fé na sua viabilidade. De qualquer forma, o principal problema é o caráter heterogêneo da base que se forma. Exemplo: o Constitucional I Professor José Levi Mello do Amaral Júnior Camila da Silva Oliveira – 185/21 40 atual governo tem grande maioria parlamentar, com mais de 400 deputados (são necessários 308). Trata-se de uma maioria com folga, mas a heterogeneidade se torna um fator de contenção (dificuldade de sintonia) – é um momento do presidencialismo de coalisão a observar e compreender. O atual governo é o que menos editou MPs, nos últimos 20 anos, apesar de ser o que tem maior base – são editadas 3 MPs por mês, discute-se as causas desse “baixo número”, pode ser uma decisão da presidente, pode ser que a maioria absoluta parlamentar esteja aprovando mais projetos de lei, o que torna menos necessária a MP, etc. Podemos também pensar na questão italiana, que tem uma Constituição de 1947. Seu parlamento é fragmentado, o que resulta em fugacidade governamental – houve mais de 60 governantes nesse período. Tendo dito isso, foi falado sobre o presidencialismo clássico, o presidencialismo de coalisão e poderia-se falar ainda do presidencialismo americano, que como já dito na aula anterior é o que segue mais à risca o modelo de Montesquieu. O veto nesse autor é absoluto, qualquer manifestação da faculdade de impedir é absoluta. Nos EUA não é assim, o congresso pode derrubar o veto presidencial (2/3 dos parlamentares). No Brasil é um pouco mais fácil, precisa-se de maioria absoluta. Outra diferença entre o modelo americano e a proposta de Montesquieu: o judiciário é neutro, não participa das decisões políticas. Nos EUA de alguma forma o judiciário toma essas decisões, através da decisão de inconstitucionalidade – essa lógica de coisas não estava na compreensão de Montesquieu. Essas diferenças ainda vem ao encontro da lógica de Montesquieu, pois a declaração de inconstitucionalidade é mais um veto, mais uma forma de travar o poder. Voltando ao parlamentarismo, pode-se fazer uma caracterização em oposição ao presidencialismo. Primeiro, há separação entre chefia de estado e chefia de governo, são pessoas, autoridades, órgãos, poderes separados. Mais do que isso, há uma conexão necessária entre o chefe de governo e o parlamento. Essa conexão se dá de várias maneiras, o governo decorre da maioria parlamentar, não há separação como aqui. A maioria parlamentar é escolhida pelo eleitorado e ela terá o direito de fazer o governo: o eleitor vota no deputado sabendo que estará ajudando a escolher como chefe de governo o líder daquele deputado. Nota-se: ao invés do Constitucional I Professor José Levi Mello do Amaral Júnior Camila da Silva Oliveira – 185/21 41 governo formar a maioria, a maioria forma o governo. A sorte do governe depende da maioria parlamentar. Perdendo-se essa maioria, teoricamente o governo cai. Na verdade, no parlamentarismo também uma série de nuances, há um grande número de variações. Primeiro ponto: o chefe de estado está de fato separado do chefe de governo? Até que ponto ele arbitra o jogo entre governo e parlamento? Quais os limites de sua atuação quando há conflito? Essas coisas variam e variam muito mundo afora. Por isso, serão utilizados exemplos reais. É possível esboçar um critério de análise que em geral se explica: o parlamentarismo tem ao menos parte de suas características definidas ou induzidas pelo contexto em que ele se manifesta, tomando em consideração a forma de governo. O parlamentarismo examinado se dá num contexto republicano ou monárquico? O critério esboçado é que em uma monarquia parlamentar o chefe de estado muito pouco interefere no governo; numa república parlamentar o chefe de estado tem alguma chance de ter influência no governo. Exemplo 1: Inglaterra – a rainha reina, mas não governa. O reinado não é legitimado pelo voto, trata-se de uma legitimação histórico-tradicional (Weber), ela é de outra natureza. A consequência disso é um governo bastante separado da coroa. Na Inglaterra há o poder de veto, que há 200 anos não é usado, a última que tentou-se usar quase caiu a monarquia. O mesmo ocorre na Espanha, cuja tradição é mais recente, não houve ainda sucessão na coroa. É modelo que tem apenas 34 anos, mas o rei é um mero carimbador. Em países em que o chefe de estado é eleito, ainda que indiretamente (Itália), a história muda. Na Itália o presidente tem poder de veto, há vários exemplos em que o presidente recusou- se a emaná-lo, e ele tem uma legitimação democrática para isso. Há chefes de estado republicanos em modelos parlamentaristas em que o presidente é tão anódino quanto a rainha da Inglaterra (caso do presidente alemão, por exemplo). Resumindo: em casos de repúblicas parlamentaristas o papel do presidente varia, podendo haver maior ou menor interferência. O papel de mais destaque é o do primeiro ministro, alguém sabe, por exemplo quem é o presidente da Alemanha? Constitucional I Professor José Levi Mello do Amaral Júnior Camila da Silva Oliveira – 185/21 42 O chefe de estado, no entanto, tem alguma reserva de poder, mesmo na mornarquia. Exemplo da última eleição inglesa, em que nenhum dos partidos teve maioria clara, fechada. Quem arbitrou qual dos partidos coligaria com um terceiro partido foi a rainha, uma das raras vezes em que a rainha funciona como poder moderador. Na Espanha isso é mais discreto ainda, houve um momento nos anos 80 em que o rei teve um papel central para debelar uma tentativa de golpe de estado, através de uma ordem baseada na tradição de seu poder (dado a verificar é se essa monarquia sobreviverá depois de Juan Carlos, já que sua figura tem tamanha força). Último caso: semi-presidencialismo/semi-parlamentarismo (copo meio cheio, meio vazio). A França é o que a literatura fala nesse grupo, o que para o professor é difícil sacramentar se está de um lado ou de outro. O modelo francês é modelo em que o presidente da república é eleito diretamente e há um primeiro ministro que decorre da maioria parlamentar. A consequência disso é que o presidente é muito forte, pois tem legitimação popular direta. Esse modelo foi pensado, e foi se ajustando ao longo do tempo, seja por reformas constitucionais, seja por meio de práticas. Como o presidente é eleito e tem na constituição prerrogativas de governo, ele ofusca o primeiro ministro, principalmente na primeira fase do poder. Em geral acontece que a maioria parlamentar é do partido do presidente, ou seja, o primeiro ministro é correligionário do presidente, que acaba por ter mais força por ter essa legitimação direta. Muitos nem sabem quem é o primeiro ministro. O problema é que o mandato presidencial na França era muito longo, sete anos com direito a uma reeleição por mais sete (possibilidade de ficar 14 anos no poder). Não é raro em um período presidencial tão longo que o presidente sofra alguma crise política, o que coloca em risco que nas eleições parlamentares a maioria eleita seja de um partido diferente do partido do presidente (exemplo mais antigo foi de François Miterran, que teve como primeiro ministro Jaques Chirrac). Na França quando ocorre essa diferença denomina-se coabitação, quando o presidente é de um partido e o primeiro ministro de outro. Nessa situação o que manda é o primeiro ministro, por ter sido ele saído mais recentemente das urnas. Com um presidente em crise, se tudo der certo para o primeiro ministro ele se torna um forte candidato à presidência (o que ocorreu com Chirrac, que teve em seu mandato o encurtamento para 5 anos de Constitucional I Professor José Levi Mello do Amaral Júnior Camila da Silva Oliveira – 185/21 43 mandato para presidência). Chirrac sofreu com o mesmo veneno que aplicou a Miterran, teve que coabitar com um primeiro ministro diferente (por falta de união da esquerda Chirrac foi reeleito, em uma eleição em que ele foi para o segundo turno com um candidato de extrema direita). O primeiro ministro eleito por ele em seu segundo mandato foi Sarkozy, que não coabitou com ninguém, mas também não se reelegeu, será agora substituído por François Holande. DES0118 - Direito Constitucional I - Levi - Fabiana.pdf DES 0118 - Direito Constitucional I Professor José Levi 08/03/2012 Quinta feira → aula expositiva com o professor• Sexta feira → Seminário com os monitores• Direito Constitucional estuda não apenas a constituição mas também o ambiente em que as 7 constituições brasileiras surgiram• Tem supremacia material (regula, tipicamente, matérias do próprio funcionamento do Estado) e formal (tem superioridade hierár quica em relação às demais leis) ○ Constituição: regula as relações (políticas) do poder• Apesar da quantidade de focos, ambos tem apenas um estado soberano Estado regional: dá autonomia para regiões mas esta é negociada e desta forma não é nem unitário nem federal Tipologia: estado unitário (tem um único foco de poder) e estado federal (vários focos de poder no território → uma soberania e várias autonomias)○ Forma de Estado: modo como o poder se distribui em determinado território• O chefe de estado pode chegar ao poder de modo eletivo e temporário ou hereditário e vitalício → república ou monarquia○ Exceção: estado do Vaticano, pois o Papa tem um poder eletivo e vitalício → se aproxima mais de uma monarquia do que de uma república pois não há transitoriedade do poder, este é vitalício ○ Forma de Governo: modo como se dá a investidura na chefia de estado, como o chefe de estado chega ao poder• Chefe de Governo: define a política diária/imediata○ A relação entre eles se dá de duas maneiras: quando eles são a mesma pessoa (a mesma autoridade ou o mesmo órgão. Presidencialismo) ou quando são pessoas diferentes (Parlamentarismo) Chefe de Estado: representa o que é permanente, unânime○ Sistema de Governo: modo como se relacionam o chefe de estado e o chefe de governo• * Ter ou não eleição tem a ver com a forma de governo e não com o sistema de governo 09/03/2012 Autoritarismo: o poder pelo poder, não há uma ideologia completa em torno do mando, do poder. Tem o poder quem tem força. Ex:Getúlio Vargas no Estado Novo, Regime Militar Totalitarismo: há uma ideologia muito forte e que pretende tomar o lugar da sociedade. Ex: Comunismo (de classe), fascismo (de nação) e nazismo (de raça). O estado se pretende tudo e a pessoa nada. A pessoa é só um pedaço do todo estatal. A pessoa só interessa se ela pertencer à classe, país ou raça determinados Democracia: regime em que o estado respeita a pessoa humana como indivíduo e como partícipe de um todo social Há 3 tipos básicos: Autoritarismo, Totalitarismo e Democracia○ Regime de Governo: modo como o estado se relaciona com a pessoa humana• 15/03/2012 Limitar o poder do rei, acabar/prevenir o absolutismo. Um dos instrumentos foi elaborar o texto da constituição○ Revoluções Liberais: Inglesa (século XVII), Americana e Francesa (ambas no século XVIII)• Pode-se considerar um constitucionalismo antigo, principalmente na experiência Grega○ Constituição no sentido moderno originou-se no constitucionalismo.• Aristóteles define a constituição como o modo que se organizam as magistraturas (cargos públicos) na cidade e o fim da cidade• Leis imemoriais: 'Constituição de Atenas'○ Paranomon: instituição que tem o poder de dizer se uma lei é inconstitucional segundo as leis imemoriais○ BEM COMUM BEM PRÓPRIO UM Monarquia Tirania POUCOS Aristocracia Oligarquia TODOS Politeia Demagogia ↘ Forma de Governo no sentido clássico (aristotélico) - critério quantitativo Atenas: democracia direta (estavam excluídas as mulheres, os estrangeiros e os menores) → estima-se que cerca de 4 mil homens atenienses iam até a Ágora deliberar • Separação de poderes: dispostos de forma a um limitar o outro → freio interno ao poder do estado○ Direitos e garantias individuais, liberdades públicas (compreensão de que todo ser humano é dotado de direitos inerentes à su a condição humana → direitos anteriores e superiores ao estado) → amarras externas ○ Reações da burguesia contra reis absolutos. Reações que levaram às constituições que visavam limitar o poder por dentro e por fora○ Constitucionalismo moderno: amarra o estado por dentro e por fora através da constituição• 22/03/2012 Constituição no sentido substancial é pura e simplesmente um conjunto de regras que rege o que é de mais importante do Estado• Diferente no sentido de ser mais difícil de alterar○ Constituição no sentido formal é um conjunto normativo diferente da lei comum • Um texto que se proclama, um conjunto normativo que diz respeito às normas mais importantes do estado○ Se a documental não exige um conjunto normativo diferente da lei comum, ela não é formal Constituição em sentido documental é uma coisa solene• Página 1 de Direito Constitucional I Se a documental não exige um conjunto normativo diferente da lei comum, ela não é formal○ Onde há constituição flexível não se pode falar em 'teoria do poder constituinte', pois não sendo rígida, não se pode falar e m supremacia○ Acontece quando é uma constituição costumeira○ Ex: Inglaterra○ Constituição em sentido flexível é aquela que pode ser alterada como uma lei ordinária qualquer ou por meio de uma lei ordinária qualquer• Tem que ser escrita○ Tem que ter um mecanismo que assegure o respeito da lei à constituição○ Constituição em sentido rígido é aquela que prevê para a sua alteração, um mecanismo mais difícil que o da lei ordinária (comum)• As materiais são aquelas que versam aos assuntos próprios da constituição○ As formais são aquelas que estão protegidas pela forma constitucional○ * Há leis materiais que não estão na constituição Pode-se falar em normas constitucionais sobre 2 pontos de vista: as formais e as materiais• Constituição normativa: efetivamente disciplina a vida política, as relações de poder são pautadas por ela, ela tem normatividade• Constituição nominal: é a constituição apenas no nome pois não é efetiva, é organizada pelas instituições de poder• Constituição semântica: feita por um regime autoritário apenas para dar a ele um sentido constitucional• 22/03/2012 Ciclos do Constitucionalismo Do final do século XVIII ao início do século XX sucederam-se 5 ciclos do constitucionalismo• No século XX houveram outros 5 ciclos mas não foram seguidos• Americana (1787) Declaração dos Direitos dos Homens e dos Cidadãos Francesas (1791, 1795) Constituições Revolucionárias do século XVIII○ Constituições Napoleônicas○ Restauração das monarquias Constituições de Restauração○ A burguesia vai contra a restauração do poder monárquico Começa a ter reclame da Democracia Dá início ao processo de paulatina redução do censo (do mínimo de renda/propriedade para que pudesse votar e ser votado) Constituições Liberais○ Kelsen vai discorrer sobe a ausência do voto universal devido às questões censitárias□ 1º: Inglaterra → Labour Partido político ideológico mobiliza as massas, arrecada votos. Por isso surgiu o Partido Conservador Inglês , para se opor a o Labour No momento em que o voto começa a ser universal, surgem os partidos políticos ideológicos□ Voto universal masculino → auge Constituições Democráticas○ Os 5 primeiros ciclos:• O problema é que isso abre espaço para os partidos totalitários□ O povo pode votar em qualquer partido, mesmo que este seja anti-democrático. A única coisa é que o partido deve subir ao poder através do voto da maioria da população → Kelsen Aquilo que até então era prático, é racionalizado na forma de normas jurídicas (Kelsen) É uma das primeiras a tentar disciplinar, em normas jurídicas, o parlamentarismo e a trazer os direitos sociais → conjuga os dois e serve de influência para outras (como a de 34 no Brasil) □ Ex: Constituição alemã (prega o pluralismo político), brasileira (pluralismo, os partidos tem que respeitar os direitos human os, o Estado e a democracia) Depois chega-se á conclusão de que não pode haver partido político como Kelsen queria, então começam a vetar partidos totalitaristas, anti- democráticos e etcs □ Constituição de Weimar (1918) Constituições de Democracia Racionalizada○ Protegem a própria democracia Constitucionalismo social de valor mínimo○ Salazar Franco Constituições autoritárias do entre-guerras (não necessariamente tem uma ideologia forte por trás)○ Se inspiravam no mundo desenvolvido, mas não dava certo pois faltava contexto → constituições não-efetivas, apenas nominais Constituições do 3º mundo○ Marxismo e Leninismo Constituições balanço → apenas um balanço do que havia ficado para trás e do que deveria ser feito para frente Partido único Constituições socialistas (tem ideologia)○ Os 5 demais ciclos:• 12/04/2012 Aplicabilidade das Normas Constitucionais Normas auto executáveis, aplicáveis, self-executing: tem dentro de si todos os elementos necessários à sua aplicação. Tem hipótese + consequência ○ Normas não-auto executáveis: não tem a sua hipótese completa ou consequência dada. Em si mesma não é passível de aplicação○ * Direitos e garantias individuais são auto aplicáveis pois o estado só assegura uma vez que são inerentes aos homens * Defesa do consumidor não é auto aplicável, faz menção a uma lei Americanas• Aplicabilidade imediata e eficácia plena: correspondente às normas auto aplicáveis Doutrina do Professor José Afonso• Página 2 de Direito Constitucional I Aplicabilidade imediata e eficácia plena: correspondente às normas auto aplicáveis○ Normas constitucionais de eficácia limitada: depende de regulamentação e surte algum tipo de efeito○ Norma constitucional de aplicabilidade imediata e eficácia 'contida': nasce com eficácia plena mas foi restringida por uma le i, pode ser restringida por uma lei ○ Toda norma admite restrição por lei. As normas de aplicabilidade imediata e eficácia plena são condicionáveis à lei○ 'junta' as duas categorias de normas de aplicabilidade imediata, retornando à classificação clássica○ Professor Manuel• * Desta doutrinas não há uma certa ou errada, dependendo da situação, do contexto, elas podem ser mais ou menos úteis Ex: SUS, salário mínimo○ São sinônimo de normas de eficácia limitada○ Normas programáticas: estabelecem um programa que deve ser levado a efeito por intermédio de uma lei• A constituição é um documento político e portanto sua interpretação tem um elemento político• Mens legus (vontade da lei) e mens legislatoris (vontade do legislador) → podem coincidir ou não• Técnicas de interpretação: interpretação gramatical (pura e simples da mens legis), histórica (começa a ver a mens legislatoris), sistemática (atenta à integração da norma ao sistema e ás suas relações com as demais normas) e teleológica (busca revelar os fins da lei para compreende-la melhor) • 19/04/2012 Poder Constituinte Vem junto com as constituições modernas○ Poder forte, talvez o mais vigoroso○ Poder Constituinte: poder que permite fazer uma constituição • 3º Estado: burguesia → o que tem sido? Nada, por ser extremamente oprimido. O que é? Tudo. O que deve ser? Alguma coisa○ Vai doutrinar sobre a revolução e uma forma de expressar a revolução é a constituição○ Sieyés: em um panfleto ('o que é o 3º estado?') lança as bases da doutrina constituinte que vai servir de base para a Revolução Francesa• O Poder constituinte, que estabelece a Constituição é, para os positivistas, poder de fato. Já para os Jusnaturalistas ele tem natureza de direito• Kelsen narra a existência de uma norma pressuposta, a Lei Fundamental. Seu conteúdo em princípio é simplesmente que devemos o bedecer à constituição. Ao desobedecer a constituição, uma nova sociedade se forma, a 'sociedade dos ladrões' ○ Ser posta pela norma superior significa que a norma existe, tem fundamento e isso significa cumprir o processo legislativo tr açado pela norma superior e esse processo tem que ser feito pela autoridade competente ○ O grande erro da TPD de Kelsen é que aquilo que era para ser puramente normas, contamina -se com fatos○ Para Kelsen a ordem jurídica é um encadeamento de normas jurídicas, uma fundada na outra, uma posta pela outra. Isso significa que as normas existem naquela ordem jurídica → fundamento de validade • Para os jusnaturalistas o direito vai além das leis humanas, tem algum tipo de fundamento jurídico transcendental• É inicial, ilimitado e incondicional → pode tomar qualquer decisão acerca do Estado, decisão política fundamental. Se manifesta do jeito, da forma que quiser, pode ser por meio de um líder ou de uma assembleia constituinte É ele que inicia o Estado Originário: aquele que faz a Constituição propriamente dita○ É derivado pois encontra o seu poder de validade na Constituição. É limitado pois tem limites materiais e é condicionado pois tem sua maneira de se manifestar 'limitada, condicionada' pela constituição Instituído: é derivado, limitado e condicionado○ Poder Constituinte:• Para a Revolução Francesa é a nação (aspecto permanente do estado e da sociedade segundo Siéyos. Abstrato)○ Para Rousseau é o povo (realidade concreta. Vontade geral do povo reunido) → o titular é o povo mas quem exerce é um grupo (Assembleia Constituinte) ○ * Na Revolução Francesa: para exercer é o representante e este não presta contas ao povo, apenas à nação (e consequentemente a ninguém) * No Brasil, a Constituição federal declara o povo como sendo o titular do Poder Constituinte Quem é o titular do Poder Constituinte Originário, da soberania?• Emenda: supressão, alteração e soma○ Revisão: maneira facilitada de se alterar a Constituição○ O Poder Constituinte Instituído tem formas de se manifestar que estão contidas na Constituição• 19/04/2012 Como se dá o processo de Emenda Constitucional Artigo 60 - A constituição poderá ser emendada mediante proposta:• I - de um terço, no mínimo, dos membros da Câmara dos Deputados (171) ou do Senado Federal (27) II - do Presidente da república * Maioria Absoluta: primeiro número inteiro depois da metade. É diferente de metade + 1 III - de mais da metade das Assembleias Legislativas das unidades da Federação, manifestando-se, cada uma delas, pela maioria relativa de seus membros PEC → Proposta de Emenda Constitucional• Se ela é apresentada pelos Senadores, ela começa a tramitar no Senado. Se ela é apresentada pelos Deputados, ela começa na Câmara.• Precisa ser aprovada na Câmara, em 1ª votação, por 3/5 (308 votos) dos votos. Se aprovada, vai passar por outra votação depoi s (precisa de 308 votos novamente). Depois vai para Senado que também passa por 2 votações com 3/5 ○ A mesa do congresso então se reúne (congresso funciona com uma 3ª casa) e promulga a emenda○ Como tramita a Emenda?• Há certos limites ao poder de emenda: o procedimental (processo de tramitação - artigo 60), circunstancial (art 60 §1º - não haverá emenda na vigência de intervenção federal, de estado de defesa ou de estado de sítio), o material (art 60 §4º - não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir: a forma federativa de Estado, o voto direto, secreto, universal e periódico, a separação dos poderes e os direitos e garantias individuais → cláusulas pétreas, basicamente são os direitos fundamentais) • Página 3 de Direito Constitucional I pétreas, basicamente são os direitos fundamentais) Possibilidade de os estados e os municípios realizarem, para si, constituições. Mas sempre tendo que se submeter à constituiç ão superior○ O poder constituinte tem um 3º tipo: Poder Constituinte Decorrente, que é o poder constituinte que deriva da Confederação da República em favor dos enres federados. • 03/05/2012 Democracia Os partidos políticos são os grandes personagens do cenário eleitoral○ Democracia do início do século XIX até hoje• Desde a 2ª metade do século XIX e início do século XX○ Estado século XVIII: estado liberal, contrário a partidos. O personagem do poder era a burguesia, só ela votava e só ela era votada○ Universalização do voto: maneira que o Estado liberal encontrou para acalmar as revoltas → paulatinamente pessoas com diversas visões de mundo são admitidas no parlamento ○ Partido político: grupo de pessoas que se reúnem em torno de um projeto político• Partido trabalhista Inglês: foi capaz de mobilizar massas. Com isso o outro lado também tem que se ideologizar ○ É nesse período que surge o 1º partido ideológico• Século XIX - XX → A democracia se dá através dos partidos• Os 'criadores' tinham ojeriza aos partidos políticos, tanto que os chamavam de facções○ Criaram formas para afastar a maioria populacional das decisões políticas○ Com o tempo eles percebem que os partidos políticos são necessários e começam a usa-los○ Na verdade são vários pequenos partidos que vão se aglomerando até chegar a esses dois em nível nacional Os partidos americanos (Republicano e Democrata) são, em sua essência, fisiologicamente, iguais. Não divergem em relação à ec onomia, à política nacional e etc ○ Nos EUA o voto já era universal no final do século XIX○ EUA: situação peculiar• Tende a favorecer os partidos mais encorpados pois estes conseguem mais facilmente a maioria no distrito○ Simplicidade e segurança → o eleitor sabe em quem está votando Sistema majoritário de eleição de deputado tem uma tendência a fazer com que o país tenha apenas 2 partidos → tendência natural à bipartidarização para que uma minoria não cresça mais que a maioria ○ Sistema distrital: só presta contas ao lugar que foi eleito (paróquias)• Coeficiente eleitoral: nº de eleitores → cada vez que o partido fizer 1 coeficiente, terá 1 deputado ○ nº de cadeiras a preencher A medida em que mais eleitores manifestam adesão a 1 partido, mais deputados esse partido poderá eleger○ Coeficiente partidário: quantas vezes o partido fez o coeficiente eleitoral, quantos deputados ele terá. Ex: eleição Enéas, T iririca○ *Nesse esquema, o grande candidato é o partido, o programa partidário Vantagem desse sistema: abertura para as minorias○ Desvantagem: desvinculação entre eleito e eleitor○ Sobras (de cadeiras e votos): dividido entre aqueles que tem pelo menos uma cadeira → forma do Brasil○ Muitos partidos○ Sistema proporcional:• Assim os partidos não tem a pressão de se aglutinar no 1º turno e assim não há fusões, as coligações são apenas para o 2º tur no○ Não há bipartidarização no sistema francês, apesar de ser majoritário○ Variação majoritária francesa: sistema de 2 turnos• Lei de Duvergê• 10/05/2012 As eleições no Brasil podem ser municipais (prefeito e vereador), estaduais (governador, senador, deputados estaduais e federais) e federais (presidente)• Sistema proporcional. O coeficiente eleitoral é por estado Tem mínimo e máximo para os estados e desta forma os votos tem pesos diferentes em estados diferentes Os deputados federais são os representantes do povo○ Sistema majoritário Se elege aquele com maior número de votos Mesmo número para todos os estados Os senadores são os representantes do Estado○ * Brasil: * EUA: majoritário, bipartidarização Só se dá uma cadeira quando ele se apresenta minimamente representativo○ Não há vencedores ou perdedores, todos ganham um pouco○ * Proporcional: * Cláusula de barreira: porcentagem mínima da população que o partido precisa para ter 1 voto Nº eleitores total = quociente eleitoral○ * Alemanha: sistema distrital misto Metade das cadeiras a preencher é dos distritos (são 300 distritos) e a outra metade é para uma lista nacional partidária○ 2 votos: 1 majoritário e outro distrital○ O deputado mais votado no distrito é eleito○ Se o partido tem direito a 10 cadeira e já elegeu 5, só virão 5 da lista○ O deputado pode ser candidatar pela lista e pelo distrito○ nº cadeiras total * No Brasil, nenhum estado pode ter menos que 8 e mais que 70 deputados. Teoricamente todos os votos são iguais, mas na prática, o voto de um eleitor de São Paulo tem menos valor do que de um eleitos do Amapá * Sistemas para eleger deputados (parlamentares): Página 4 de Direito Constitucional I 10/05/2012 Nacionalidade, Cidadania e Direitos Políticos 2 critérios básicos para a nacionalidade: sangue e onde nasceu○ Nacionalidade : ser nacional de um estado, ser reconhecido como membro de um estado• Para exercer direitos políticos, precisa ser nacional e cumprir alguns requisitos (ex: idade)• Cidadania: sujeito nacional, que cumpre requisitos e pode gozar de direitos jurídicos (votar e ser votado) → ter participação política• 17/05/2012 Federalismo Descentralização do poder em base territorial• No Brasil, são as capitanias hereditárias○ O feudalismo é o precedente mais anterior do Federalismo• Os federalistas viram nos Republicanos uma oportunidade que não viram nos Monarquistas• Nossa tendência ao federalismo é anterior à Independência e à nova República• Tiraram do 'Espírito das Leis' de Montesquieu → diz que para se protegerem das monarquias (têm tendência à dominar novos territórios), as pequenas repúblicas começam a se unir como Repúblicas Federativas podendo até se fundir em um Estado ○ A consequência disso é um poder maior na mão dos Estados e menor na mão do poder central Federalismo por agregação Os estados conservam uma parcela de sua soberania interior, uma autonomia 13 colônias que se confundiram (ato de direito internacional que acordam essa 'união') e depois viram uma federação (abrem mã o de suas soberanias individuais em favor da soberania nacional) ○ EUA → 1º modelo federativo• * Federalismo por segregação → 1º há o estado unitário e depois esse resolveu se segregar em vários entes federados, surge autonomia para os estados. O poder maior é do governo central e o menor é dos estados pois estes são filhos, criação do poder central Atualmente os entes federados não podem se dissolver○ Nos EUA, com a Guerra de Secessão, Sul e Norte lutam. Com a vitória do Norte, não se divide e se atinge a clareza de que não será possível dividir a federação ○ Secessão: dissolução do federalismo• A constituição dos EUA é a afirmação de seu sistema federalista• É por isso que nos EUA há m direito penal e eleitoral para cada estado Privilegia os estados A constituição americana diz o que cabe ao poder central, o residual cabe aos estados → assim o poder central fica limitado○ Técnica de repartição do poder, das competências: sacramentou o maior poder aos estados• Interpretaram de maneira mais flexível ○ Com o tempo, os americanos criaram maneiras para modificar, flexibilizar o sistema• Oposto ao sistema americano○ Constituição Canadense: diz quais são as competências dos Estados e todo o resto pertence ao poder central• A técnica é prever competências para a união, competências para os estados. Porém, há além competências que são compartilhada s, divididas pela união e pelos estados de modo que eles atuem em conjunto ou em paralelo nessas questões ○ Teve início no Brasil em 46 e foi fortificado em 88○ Federalismo Cooperativo: começa em Weimar• Nas outras os municípios são parte integrante dos estados Na Rússia e Alemanha alguns municípios tem o 'status' de entes federados Art 1º da Constituição: não aparece a União, aparece apenas os estados e municípios como entes federados Brasil tem uma propensão municipalista devido à uma herança de fortalecimento dos municípios no pós guerra para criar um mercado interno que absorvia a produção e auxiliava o país a superar a crise. Com a Constituição de 88, os municípios passaram a ter uma lei orgânica própria. A presidenta é chefe de governo assim como os governadores e prefeitos, sob essa perspectiva, eles tem o mesmo 'status' (entretanto, além de chefe de governo, ela é chefe de estado e assim ela fala pelo todo federativo, pela união e não é passível de crítica, pois ela representa a todos nós) Particularidade: além da união e dos estados, os municípios também são entes federados (no Brasil são 3 entes federados: a un ião, os estados e os municípios) ○ Técnica de Repartição do Brasil• Competência residual em matéria tributária não é estadual, é da união No direito brasileiro há vários tipos de competências: as privativas da união, as dos estados, as dos municípios, as residuai s (são dos estados) e as compartilhadas pela união, estados, municípios e distrito federal → federalismo geral ○ competências da união: direito penal, processo penal e etc○ Competências dos estados: legislar sobre gás encanado (todo o restante que compete aos estados é residual, como a segurança e etc)○ Competências dos municípios: transporte coletivo, legislar sobre assuntos de interesse local○ Competências do DF: híbrido. Conjuga competências estaduais e municipais○ Competências que todos levam efeito em conjunto Estão nos artigos 23 e 24 respectivamente Competências comungadas: podem ser materiais e legislativas ○ Federalismo Brasileiro• 24/05/2012 Ex: Lei complementar 103/2000 → os estados poderão fixar por lei estadual o piso salarial. Entretanto há na constituição que o salário mínimo deve ser geral e nacionalmente unificado (Art 7º inciso IV) → mas como piso salarial (depende do tipo de trabalho) é diferente do salário mínimo, essa lei não é inconstitucional (contanto que o piso salarial não seja geral, pois assim ele se tornaria um salário mínimo regional. O piso salarial tem que ser por categoria → aquilo que não estiver contemplado, vale o salário mínimo ○ Art 22 - parágrafo único → lei complementar poderá autorizar os estados a legislar sobre questões específicas das matérias relacionadas neste artigo• Art 23 → competências comuns da união, dos estados, do DF e dos municípios • Página 5 de Direito Constitucional I Art 23 → competências comuns da união, dos estados, do DF e dos municípios • Parágrafo único: leis complementares fixarão normas para a cooperação entre união e os estados, o DF e os municípios, tendo em vista o equilíbrio do desenvolvimento e do bem estar em âmbito nacional Norma geral: moldura que traça o espaço dentro do qual os estados poderão legislar complementarmente Porém a lei nacional é superior, é veiculadora de normas gerais que submetem a todos os entes□ Não há hierarquia, o que há é divisão de matéria entre os entes federados Se depois a união sair da inércia e legislar, a lei federal (ou estadual...) tem sua eficácia suspensa naquilo que se opõe à lei nacional superveniente □ Dado a omissão da união, surge para os demais entes uma capacidade de fazer normas gerais, de maneira supletiva (lei supletiva) Em matéria de legislação concorrente, a união tem competência de fazer norma geral. E os demais entes tem a competência de fa zer as normas específicas para si, que complementam a geral (obedecidos os limites) ○ Art 24 → competências da união, dos estados e do DF de legislar concorrentemente sobre tais assuntos • Estão no artigo 22 e não no 24 pois são casos 'sensíveis' e não deve haver a possibilidade de competências supletivas em caso de omissão da união○ Art 22 → há 4 competências (incisos XXI, XXVIII, IX e XXIV) que são explicitamente normas gerais• 31/05/2012 Separação de Poderes O Absolutismo foi uma negação disso. O rei absoluto é uma deturpação de ideias medievais e este se colocava acima do direito○ Revoluções: tirar do rei o poder de legislar e dar ao parlamento○ Na história, a limitação do poder sempre foi muito buscada• Direito das gentes (monarca, poder executivo): relação internacional, é o poder federativo de Locke. O rei declara a guerra, celebra a paz e etc○ Poder de legislar: o príncipe ou o magistrado faz, modifica ou anula uma lei○ Direito civil (judiciário, vai se anular): o príncipe ou magistrado resolve as querelas entre os indivíduos, pune○ 'Em todo Estado há 3 poderes: executivo das gentes, executivo do direito civil e o de legislar'• Neutraliza o judiciário pela forma de estrutura-lo (temporários, que se desfazem quando acaba o seu propósito, o julgamento. Um igual julgando outro igual. O julgador deve ser escolhido pelo réu ou então eles são excluídos pelo réu) e decidi-lo Para não haver uma maioria burguesa, frente aos nobres, ele diz que deve haver uma câmara baia para representar os burgueses e uma câmara alta para os nobres. O equilíbrio entre as duas casas se dá através da comunhão, da partilha de duas faculdades igualmente detidas pelas duas, as faculdades de estatuir (fazer) e impedir. Ambas devem manifestar sua capacidade de estatuir para que algo seja aprovado) □ O rei possui as mesmas capacidades (estatuir e impedir) que as duas casas possuem. As duas câmaras se limitam e limitam o rei e este também limita as duas câmaras. No coração do espírito das leis, o judiciário já está neutralizado e quem participa da política é apenas a câmara alta, baixa e o rei (3 poderes) que devem concordar para poder caminhar. Montesquieu tem que ser visto em seu contexto em que tinha a função de prevenir o absolutismo □ Neutraliza o legislativo nele próprio e na relação com o executivo (gerando assim a neutralização do executivo): diz que para um homem ser livre, precisa se submeter as leis feitas por ele mesmo. Entretanto em uma nação grande, isso é difícil (mesmo nos pequenos estados isso não é conveniente pois há algumas pessoas tão destituídas de recursos que não são capazes de adquirir informação e portanto são países fáceis de serem influenciados. Propõe portanto o voto censitário) então o povo deve escolher representantes capacitados para decidir por ele (defende o voto distrital 'voisin': as pessoas são capazes de observar seus vizinhos e decidir entre eles os mais habilitados a governar) Montesquieu não limita através da separação de poderes, ele a faz neutralizando o judiciário nele próprio e neutraliza o exec utivo e o legislativo pela relação entre os dois ○ A eventual acumulação desses 3 poderes leva a um despotismo. Para evitar isso é preciso que o poder limite o poder• Depois de Montesquieu vem a separação de 4 poderes: parlamentarismo• O presidencialismo clássico é a representação da tripartição de Montesquieu• Essa separação dos poderes é apenas uma interpretação americana○ A limitação dos poderes em Montesquieu não se dá pela separação de poderes e sim pela interpretação dos 3 poderes (câmara alta, baixa e rei)• Para Montesquieu, o bicameralismo é devido à divisão à divisão de classes, já nos EUA este representa o federalismo americano• 4º poder seria o moderador, o 5º seria o tribunal constitucional e o 6º seria a administração pública• 14/06/2012 Sistema de Governo Presidencialismo e Parlamentarismo• Na vida prática, há muitas variações○ Presidencialismo clássico: presidencialismo de Montesquieu• Não há um único modelo presidencialista ou parlamentar; existem vários• Separação em 3 poderes○ Chefe de estado também é o chefe de governo mas não há vínculo entre governo e parlamento (podem não coincidir)○ Não é um modelo de governo forte para Montesquieu queria prevenir o absolutismo Via de regra o governo costuma ser uma coisa fraca no presidencialismo pois Montesquieu buscava controlar o poder○ Pelo fortalecimento do governo, foram necessárias mudanças pra romper com as amarras do poder e possibilitar a atuação do gov erno○ Presidencialismo clássico:• 'Governar é legislar'○ Assim, quando o governo vai tomando força. Precisa se aliar ao parlamento○ Princípio básico, elementar do estado de direito. Princípio da Legalidade• Existem países, no entanto, que modificaram o seu presidencialismo para obter um governo forte, como é o caso do Brasil○ O parlamentarismo surge com a necessidade de legitimar um governo• Como os presidentes não conseguem a maioria parlamentar de seus partidos, eles precisam busca-la para que seja possível governar. Desta forma, fazem-se coalisões na base governista (vários partidos apoiam o governo, buscando ministérios e etc e fortalecendo a base governista) □ Mecânica que busca dar razão à tomara de decisão política□ Presidencialismo de Coalisão: jeito brasileiro para parlamentar o governo. Continua conjugando chefia de estado de chefia de governo e o governo continua dissociado do parlamento (é raro um presidente ver o seu partido colocar sua maioria parlamentar na câmara) Presidencialismo Monárquico → Monarquia Parlamentar → Presidencialismo Republicano →Presidencialismo de Coalisão ○ Brasil: • Página 6 de Direito Constitucional I Mecânica que busca dar razão à tomara de decisão política□ Distancia-se do modelo de Montesquieu□ Para Montesquieu, todos os poderes tinham poder de vetar. Já nos EUA o veto de presidente pode ser derrubado (é difícil mas p ode ser)○ Essa novidade tira o judiciário da neutralidade total colocada por Montesquieu. Ele adquire uma participação política, vetando leis Entretanto, isso colabora com a ideia de Montesquieu pois o controle de constitucionalidade também ajuda a limitar o poder Controle de constitucionalidade: mecanismo para verificar se é constitucional ou não → Montesquieu nem pensou nisso○ O modelo que, atualmente, mais se assemelha ao de Montesquieu, é o Americano• Sistema de governo em que chefe de estado e chefe de governo estão separados → dependendo do parlamentarismo, o chefe de estado pode participar mais ou menos do governo. Mas em geral os parlamentarismos que são monarquias, o chefe de estado (rei), costuma se aproximar menos do governo. Já no parlamentarismo republicano, os chefes de estado tem uma participação maior no governo ○ O chefe de governo coincide com o líder da maioria parlamentar. Há um vínculo entre maioria parlamentar e governo. Este decor re da maioria parlamentar ○ O chefe de governo tem a sua manutenção no poder dependente da manutenção da maioria parlamentar (da concordância com esta. S e ele não tiver mais a maioria parlamentar, ele sai) ○ Parlamentarismo:• Quando uma maioria parlamentar nova surge, ele não precisa apenas derrubar o governo mas sim apresentar uma nova alternativa viável○ Se a nova maioria não consegue formar um novo governo (há divergência entre o governo e o parlamento), é declarado estado de emergência legislativo (período excepcional de 6 meses em que os projetos do governo tramitam apenas no Senado) ○ * Alemanha: Voto de Desconfiança constitutivo Portugal também é assim Consequência é que na França, o presidente te uma força razoável, apesar de ser um parlamentarismo Chefe de estado participa com força das prerrogativas de governo que estão confiadas a um 1º ministro →isso ocorre pois diferentemente da maioria dos parlamentarismo, o presidente francês é eleito diretamente pelo povo e, desta forma, há uma legitimidade e uma força muit o grande ○ Em geral, a popularidade do presidente francês eleito pelo povo acaba levando a maioria ao sei partido. Assim, presidente e 1 º ministro são do mesmo partido e assim o presidente tem muito mais força. Nessa situação, vê-se o presidencialismo ○ Já se esse presidente vai para o seu 2º mandato, normalmente é eleito o partido opositor para o parlamento. Desta forma, pres idente e 1º ministro são de partidos diferentes e há coabitação. O 1º ministro tem mais força e é identificado como parlamentarismo ○ França: desenvolveu um sistema parlamentarista diferente e portanto discute-se se é um semi-parlamentarismo ou um semi-presidencialismo• O presidente é eleito pelo povo e tende a ser forte como na França. Ele é ainda mais forte, chegando a ofuscar o 1º ministro○ É um modelo ainda em construção○ Rússia:• Página 7 de Direito Constitucional I DES0118 Direito Constitucional I - Levi - Isac (186-22).pdf DIREITO CONSTITUCIONAL I DES0118 Direito Constitucional I Profa. Doutor José Levi Mello do Amaral Jr. 1º Semestre de 2013 – Sala 22 – Turma 186 Anotações: Isac Silveira da Costa (isac.costa@gmail.com) Versão 1.0 (15/06/2013) Conteúdo 1. Estado e Constituição. ............................................................................................................................................................................... 3 1.1. Forma de Estado ................................................................................................................................................................................ 3 1.2. Forma de Governo ............................................................................................................................................................................ 3 1.3. Sistema de Governo.......................................................................................................................................................................... 3 1.4. Regime de Governo .......................................................................................................................................................................... 3 2. Constitucionalismo. .................................................................................................................................................................................... 3 2.1. Constitucionalismo antigo ............................................................................................................................................................ 3 2.2. As formas de governo conforme a tradição filosófica grega ......................................................................................... 4 2.3. Tradição Medieval ............................................................................................................................................................................ 5 2.4. A Época Moderna .............................................................................................................................................................................. 6 3. Sentidos substancial, formal e documental da Constituição. Ciclos Constitucionais. ................................................. 6 3.1. Constituição em Sentido Substancial ....................................................................................................................................... 6 3.2. Constituição em Sentido Formal ................................................................................................................................................ 7 3.3. Constituição em Sentido Documental ...................................................................................................................................... 7 3.4. Constituição Rígida e Constituição Flexível .......................................................................................................................... 7 3.5. Ciclos do Constitucionalismo ....................................................................................................................................................... 7 3.5.1. Primeiro grupo de ciclos ...................................................................................................................................................... 7 3.5.2. Segundo grupo de ciclos ...................................................................................................................................................... 9 3.6. Classificação Ontológica das Constituições (Loewenstein) ......................................................................................... 10 4. Princípios do Direito Constitucional e Princípios do Estado de Direito. ......................................................................... 10 4.1. Sentidos da Legalidade ................................................................................................................................................................. 11 4.2. Adjetivos da Legalidade ............................................................................................................................................................... 11 5. Interpretação Constitucional. .............................................................................................................................................................. 12 5.1. Interpretação Gramatical ............................................................................................................................................................ 12 5.2. Interpretação Histórica ................................................................................................................................................................ 12 5.3. Interpretação Sistemática ........................................................................................................................................................... 12 5.4. Interpretação Teleológica ........................................................................................................................................................... 13 5.5. Mens Legis e Mens Legislatoris .................................................................................................................................................. 13 5.6. Presunção de Constitucionalidade .......................................................................................................................................... 13 5.7. Interpretação Conforme a Constituição ............................................................................................................................... 14 6. Aplicabilidade e Eficácia das Normas Constitucionais. ........................................................................................................... 14 7. Poder Constituinte .................................................................................................................................................................................... 16 7.1. Origem da doutrina do Poder Constituinte ......................................................................................................................... 16 7.2. Dogmática do Poder Constituinte ............................................................................................................................................ 16 2 7.2.1. Poder Constituinte Originário ......................................................................................................................................... 16 7.2.2. Poder Constituinte Instituído (ou Derivado) ........................................................................................................... 18 7.3. O Processo de Emenda Constitucional ........................................................................................................................................ 19 8. Separação dos Poderes ........................................................................................................................................................................... 19 9. Sistemas de Governo ............................................................................................................................................................................... 22 9.1. Crítica à doutrina de Montesquieu .......................................................................................................................................... 22 9.2. As Origens do Parlamentarismo .............................................................................................................................................. 22 9.3. Variações do Parlamentarismo ................................................................................................................................................. 23 9.4. Discussões Adicionais ................................................................................................................................................................... 23 10. Federalismo ............................................................................................................................................................................................ 23 10.1. Noções Iniciais ............................................................................................................................................................................. 24 10.2. Antecedentes Históricos ......................................................................................................................................................... 24 10.3. Características do Federalismo ........................................................................................................................................... 24 10.4. O Federalismo no Brasil .......................................................................................................................................................... 26 3 1. Estado e Constituição. Forma de Estado. Forma de Governo. Sistema de Governo. Regime de Governo. O Direito Constitucional relaciona‐se com a Teoria Geral do Estado. Alguns conceitos importantes são descritos a seguir. 1.1. Forma de Estado É a distribuição do poder em um dado território. Tipologia: federação, Estado unitário e Estado regional (Espanha). Em uma confederação, os Estados mantêm sua soberania, havendo o direito de secessão. Na federação, apenas a União é soberana. Soberania e autonomia não se confundem. 1.2. Forma de Governo É o modo de investidura do Chefe de Estado, o qual é a personificação do poder. Tipologia: república, monarquia. A república caracteriza‐se pela eletividade e temporalidade. A monarquia caracteriza‐se pela hereditariedade e vitaliciedade. Em teoria, a responsabilização (dever de prestar contas) do governante é característica da república, embora, no passado, monarcas já foram responsabilizados pelos seus súditos. 1.3. Sistema de Governo É o modo de relação entre o Chefe de Estado e o Chefe de Governo. Para Marx, a separação dos poderes é um engodo burguês. Tipologia: presidencialismo, parlamentarismo, assemblerismo (apenas valor histórico). No arranjo de poderes, é possível combinar formas e sistemas de governo diversos, havendo, inclusive a possibilidade de existir uma monarquia presidencialista (ex. Poder Moderador da Constituição Imperial de 1824). 1.4. Regime de Governo Regime de Governo. É o modo como o Estado se relaciona com a pessoa humana. Tipologia: democracia, autoritarismo, totalitarismo. Na democracia, predomina o respeito ao indivíduo, que participa da manifestação da vontade. No autoritarismo, o poder impera sobre o povo com base na força ou no carisma. No totalitarismo, o Estado é tudo e a pessoa humana é nada. Existem três tipos: o de raça (nazismo), nação (fascismo) e o de classe (comunismo). Um sintoma do totalitarismo é a presença de um partido único. O corporativismo nos regimes totalitários foi uma coincidência histórica. 2. Constitucionalismo. Constitucionalismo: antigo e moderno. Constituição. Estado. Organização do Estado e limitação do seu poder. Concepções política, social e jurídica. Constitucionalismo, em sentido estrito, refere‐se a um movimento de limitação do poder por meio de constituições deflagrado sobretudo nos séculos XVII e XVIII, vinculado às três grandes revoluções liberais, a inglesa, a americana e a francesa. É uma época na qual se reconheceu que o homem pode alterar a organização política que os eventos históricos deram a um determinado Estado, ou seja, que o homem pode modelar o Estado segundo princípios racionais. Porém, a melhor doutrina indica que esta acepção refere‐se apenas ao chamado constitucionalismo moderno. Assim, o que nós entendemos hoje por constitucionalismo e constituição decorre de um processo histórico relativamente recente. 2.1. Constitucionalismo antigo A democracia ateniense. Cidadania. Democracia direta. O sorteio para o preenchimento de cargos públicos e a compreensão da igualdade entre os homens. O direito imemorial. O Tribunal dos Heliastas e a graphe paranomon. A definição aristotélica de Constituição. 4 A denominação “moderno” pressupõe a existência de um constitucionalismo antigo, estudado especialmente por Charles Howard Mcllwain. Neste sentido, referimo‐nos ao modelo grego (a democracia ateniense) e a república em Roma. O constitucionalismo está relacionado à democracia desde épocas remotas, com o modelo da cidade‐estado de Atenas. A obra “A Política” de Aristóteles é uma narrativa das diversas constituições das cidades‐estado gregas, que possuíam um corpo normativo regente, não propriamente uma constituição no sentido como entendemos hoje. No final do século V a.C., ocorreu a Guerra do Peloponeso, entre Esparta e Atenas. Logo no início do conflito, o general Péricles utilizou em um discurso fúnebre a palavra democracia pela primeira vez que se tem registro na história, comparando o sistema político de Atenas com o de outras cidades‐estado. A principal característica da democracia ateniense é o fato de os cidadãos, reunidos na praça pública central (Ágora), deliberarem sobre as coisas públicas – a chamada democracia direta. Porém, o status de cidadão – que possibilitava o exercício dos direitos políticos – era restrito aos homens gregos (restrição de nacionalidade). Ficavam excluídos, assim, os estrangeiros, os servos (escravos), as mulheres e os homens fora de determinada faixa etária (a iniciação cívica, militar e religiosa dava‐se entre 18 e 21 anos). Calcula‐se que, no auge da democracia ateniense, eram cidadãos cerca de 20 a 40 mil homens, cerca de 10% da população. Deste grupo, por volta de 20% tinha interesse efetivo de participar da deliberação das coisas públicas. Os sofistas originais eram cidadãos que se empenhavam no estudo das matérias de interesse público. A estrutura institucional de Atenas, contudo, não se resumia à Ágora, que, embora fosse a estrutura mais importante de decisão, não era a única. Para os gregos, o verdadeiro método democrático para preenchimento das magistraturas é o que proporcionava o máximo de chance para cada cidadão: o sorteio. Este método baseava‐se na profunda compreensão da igualdade entre os cidadãos. A eleição seria considerada um método aristocrático. O tempo de exercício da função pública era fugaz, para possibilitar que todos os cidadãos tivessem efetiva participação no processo democrático. A presidência da Ágora, por exemplo, tinha duração de um único dia. Havia magistraturas que não estavam sujeitas a preenchimento por sorteio, como era o caso dos cargos de estratego, que demandava aptidão militar, o de tesoureiro do Teatro e o tesoureiro militar. O Tribunal dos Heliastas era preenchido por sorteio. Na democracia ateniense também havia a compreensão de que existia um direito superior herdado dos ancestrais – um direito imemorial – que servia de parâmetro para as leis que eventualmente viessem a ser elaboradas na Ágora, leis estas que eram apenas uma explicitação, uma declaração do direito já praticado no seio daquela comunidade. Caso esta premissa fosse violada, lançava‐se mão do mecanismo denominado graphe paranomon, pelo qual o Tribunal dos Heliastas verificava a compatibilidade entre a lei votada na assembléia popular e o direito ancestral, imemorial. A lei considerada como não conforme com respeito ao direito ancestral, independente do momento da apresentação do graphe paranomon era considerada inexistente. Caso a apresentação do graphe paranomon fosse feita em até um ano da aprovação da lei, era possível punir os responsáveis pela proposição da lei. Assim, este mecanismo servia para amenizar eventuais excessos da democracia popular. Trata‐se do embrião da ideia de controle de constitucionalidade: uma lei era submetida a uma lei superior que lhe servia de parâmetro de validade. Todos os elementos discutidos até aqui foram considerados por Aristóteles como pertinentes ao estudo da Constituição, a qual define como “o modo de organização das magistraturas (detentores de poder) de uma cidade”. A vocação, o objetivo, o fim desta cidade seria a política, uma boa vida em comunidade. Para Aristóteles o fim de uma coisa revela sua natureza, e sua natureza o seu fim. Assim, seu conceito, embora diverso do que entendemos hoje como Constituição, transita pela essência do termo. 2.2. As formas de governo conforme a tradição filosófica grega Corte qualitativo e corte quantitativo das formas de governo. O bem de um e o bem de todos. Cooperação e competição. Stase. Regime misto. A experiência republicana em Roma. Um tema discutido pela filosofia grego eram as formas de governo (relacionadas hodiernamente de forma mais próxima ao que chamamos de regimes de governo). A tipologia das formas de governo pode ser discutida 5 conforme dois cortes: um qualitativo (quem detém o poder o exerce com que finalidade?) e outro quantitativo (quantos detêm o poder?). No corte quantitativo temos três níveis: (a) o poder de um; (b) o poder de poucos; (c) o poder de todos. No corte qualitativo, o exercício do poder poderia se dar com as seguintes finalidades: (a) forma pura: para o bem comum; (b) forma impura: para o próprio bem. A tabela a seguir registra as possíveis combinações. Poder de um Poder de poucos Poder de todos Forma pura (bem de todos) MONARQUIA ARISTOCRACIA POLITIA / POLITEIA(modernamente DEMOCRACIA) Forma impura (bem de um) TIRANIA OLIGARQUIA DEMOCRACIA (modernamente DEMAGOGIA) A palavra politeia pode ser traduzida como política, uma forma pura de governo popular ou constituição. Na demagogia, ocorre a manipulação do poder pelos sofistas (aqui já corrompidos), pela verbarrogia, pela força de sua argumentação havendo um esvaziamento de um dever reto. Distinguir o bem de um do bem de todos ajuda a entender o conceito de vontade geral do Russeau. Bem comum é a identificação das pessoas reunidas sobre o que elas possuem em comum, sucedida pela cooperação mútua para a realização do bem naquilo que lhes é comum. É virtude da abstração daquilo que nos separa e centrar esforços na realização do bem no que diz respeito ao que nos une. Na busca pelo bem de um, promove‐se a competição pelo poder. A stase é a situação extrema de degeneração, com impossibilidade de entendimento, resultando num caos que beira à guerra civil – só pode ser evitada por uma estrutura institucional que propicie a possibilidade de entendimento. Aristóteles propõe o governo moderado ou regime misto, combinando uma prática controlada de oligarquia e demagogia, aproveitando o que há de melhor em cada uma dessas formas degeneradas. Polípio desenvolve este tema, identificando a sucessão de formas puras e impuras na história, chegando até mesmo a propor a periodização destes ciclos em 50 anos. Assim, propõe que o regime misto deve ser uma combinação das três formas puras: monarquia, aristocracia e politeia. Tal realidade só teria sido vivenciada na república romana: o governo de um (acordo comum dos cônsules), de poucos (Senado) e o de todos (Comícios da Plebe), convivendo e limitando‐se reciprocamente. Esta idéia, inclusive, precede a noção de equilíbrio de forças sociais proposta por Montesquieu, essência da tripartição funcional do poder. Para que o cidadão romano exercesse o seu papel, tinha que se deslocar até Roma. O Senado romano não era um corpo representativo como o órgão legislativo que conhecemos hoje pelo mesmo nome. O povo tinha potestas (poder) e o Senado tinha autorictas (autoridade). As deliberações aprovadas nos Comícios da Plebe eram homologadas pelo Senado. Os cônsules podiam designar um ditador, o qual detinha o poder em tempos de crise (uma espécie de estado de exceção). Isto ocorreu em torno de noventa vezes com sucesso na República romana até a degeneração com Julio César. 2.3. Tradição Medieval Na época medieval, o Rei não estava acima da lei. A lei provinha do Rei, mas este a ela se submetia. O poder vem de Deus ao Rei através do povo, por isso as disputas entre a Igreja e o Rei, pois aquela exercia forte influência sobre o povo. No período feudal, o senhor feudal criava o direito e, para que este não fosse parcial, o Rei enviava seus ministros aos feudos para julgar uma segunda vez (duplo grau de jurisdição). Estas cortes reais ganhavam legitimidade, pois ajudavam os servos da gleba. [NOTA: MAIS DETALHES NO TEXTO DO SEMINÁRIO 2 – MATTEUCCI] 6 2.4. A Época Moderna A Tradição Medieval. A Magna Carta. O Parlamento Inglês. DEFINIÇÃO: Common Law é um direito apreendido pelo juiz e devolvido em forma de precedentes. Em 1215, a Magna Carta representou um protótipo de constituição (não beneficiava o povo como um todo), pois limitava o poder do Rei, dando aos barões a prerrogativa de autorização prévia da instituição de impostos. Em 1265, o Rei convoca o Parlamento, quando Simon de Monfort fez com que fossem convocados representantes dos burgos e dos cavaleiros, que se instalaram nos jardins do Castelo, materializando‐se pela primeira vez uma reunião de Lordes e Comuns, aproximando‐se da estrutura do parlamento moderno. Em 1295, o Rei Eduardo I sistematizou o mecanismo de convocação dos representantes dos burgos e dos pequenos cavaleiros, escolhidos por uma votação distrital que perdura até hoje. Assim, o parlamento inglês estava bem configurado já no final do século XIII. Um instituto trazido pela Magna Carta foi o habeas corpus. Com o surgimento de reis que se colocaram acima do Direito surge o fenômeno do constitucionalismo moderno. Henrique VIII foi rei absoluto na Inglaterra, rompendo com o Papado e fundando a Igreja Anglicana. Jaime II, rei católico, ascende ao trono inglês, gerando receio de retorno à situação anterior a Henrique VIII, com submissão do poder real à Igreja Católica. O conflito com o Parlamento em 1688 fez com que o Rei fugisse para a França. No início de 1689, o Parlamento inglês se reúne e escolhe um rei novo, Guilherme de Orange, casado com a filha de Jaime II, que foi obrigado a jurar o Bill of Rights, que impunha ao rei a perda do poder de legislar. É neste momento que surge o dogma do parlamento inglês. Desta forma, a Revolução Gloriosa (1688‐ 1689) é a primeira revolução liberal. Do ponto de vista do constitucionalismo, aqui começa a idéia da separação de poderes, sendo extinto o absolutismo inglês. Nesta época e nação, o teórico que se destaca é John Locke. No século XVIII, ocorrem as outras duas grandes revoluções liberais. A Revolução Americana inicia‐se com a declaração de independência em 1776, culminando na Constituição dos Estados Unidos em 1787, desenvolvendo‐se até o término da Guerra de Secessão. A Revolução Francesa iniciada em 1789 foi a outra grande revolução liberal. Em todos os casos, trataram‐se de reações da burguesia contra reis que se pretenderam absolutos. A expressão da reação da burguesia é o constitucionalismo, um movimento de limitação do poder do rei com a finalidade de prevenir o absolutismo. Há dois mecanismos da limitação do poder do rei: um freio interno (separação dos poderes) e um freio externo (doutrina dos direitos fundamentais) ao poder do rei1. A partir deste momento, constituição é o instrumento que organiza o estado e proclama os direitos fundamentais. Uma sociedade não tem constituição se não assegurar a separação dos poderes e os direitos fundamentais. 3. Sentidos substancial, formal e documental da Constituição. Ciclos Constitucionais. 3.1. Constituição em Sentido Substancial Coincide com o que poderíamos chamar de constituição material. É a Constituição como conjunto de normas fundamentais do Estado. O que é matéria constitucional? A resposta depende de história, cultura, contexto, momento. Grosso modo, pela herança do constitucionalismo, é possível dizer o que é matéria constitucional. Pela Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, recordamos que dois pontos essenciais eram a Separação dos Poderes (freio interno, controle do Estado pela sua organização) e Direitos e Garantias Fundamentais (freio externo, direitos inerentes à pessoa humana, superiores e anteriores ao Estado, sendo por este declarados previamente). As declarações de direitos formalizam direitos anteriores e superiores ao Estado, que passa a conhecer seu limite externo. 1 Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, Artigo 16º: Qualquer sociedade em que não esteja assegurada a garantia dos direitos, nem estabelecida a separação dos poderes não tem Constituição. 7 Matéria constitucional, por excelência, expressa a organização do Estado, a organização política da sociedade – separação dos Poderes e direitos e garantias fundamentais. 3.2. Constituição em Sentido Formal Diz respeito à existência de uma forma constitucional específica, isto é, a existência de um texto normativo que traz elementos constitucionais, mas adota, sobretudo, uma forma específica, própria da constituição, a qual, quando comparada com a lei comum, pretende fazer daquela algo mais estável através de um processo de elaboração e alteração mais complexo. Este sentido traz a ideia de hierarquia, com a Constituição se colocando acima das demais leis. A forma adotada faz com que seja mais difícil levar a cabo uma alteração na Constituição. 3.3. Constituição em Sentido Documental É um sentido de Constituição relativo a um texto solene que se declara: “eu sou a Constituição do Estado”. Este documento pretende compendiar, explicitar normas constitucionais. A diferença entre o sentido formal e o sentido documental é que este trata do produto enquanto aquele trata do processo. Se a Constituição não reserva para si uma mecânica diversa da legislação comum. É possível existir uma constituição formal que não seja documental? Sim, é possível existir um conjunto de normas esparsas com processo de alteração mais difícil. A Constituição elege temas que expressam o Estado. Nem tudo que está no foro documental é materialmente constitucional. Há normas que não tem a essencialidade, o fundamento próprio do que imaginamos ser matéria constitucional. Exemplo CF/88: art. 242, § 2º (Colégio Pedro II será mantido na órbita federal). Exemplos de normas materialmente constitucionais não tratadas na CF/88: (a) garantias da magistratura são regulamentadas na LOMAN e não na Constituição. (b) a Lei Eleitoral regula o processo eleitoral. Exemplo de constituição formal que não era documental: três leis constitucionais francesas de 1875. Estatuto Albertino (constituição italiana do século XIX) era documental, mas não formal. A Inglaterra não conhece Constituição em sentido formal tampouco documental, porém há em sentido material (leis, costumes, práticas fundamentalmente constitucionais). 3.4. Constituição Rígida e Constituição Flexível Constituição rígida. É aquela que, para ser modificada, exige um procedimento diferente da lei comum. Coincide com o sentido formal. Se não houver nenhuma exigência diversa da lei comum, temos a constituição flexível – que coincide com a documental que não seja formal. A História registra como uma das mais rígidas constituições a soviética, que exigia quorum qualificado de 9/10. 3.5. Ciclos do Constitucionalismo2 O constitucionalismo como fenômeno de limitação do poder tem como pontos de partida as três grandes revoluções liberais (inglesa, americana e francesa). A sistematização didática dos ciclos do constitucionalismo por Ruffía menciona dez ciclos organizados em dois grupos. Um primeiro grupo tem cinco ciclos que se sucedem no tempo. O segundo grupo, também composto por cinco ciclos, mas que se sobrepõem no tempo. 3.5.1. Primeiro grupo de ciclos O primeiro ciclo é o das constituições revolucionárias3, deflagrado pela revolução americana, com a constituição americana de 1787. A revolução inglesa (Revolução Gloriosa, 1788‐1789) precedeu a americana, 2 NOTA DO AUTOR DO CADERNO: as notas de rodapé desta seção foram gentilmente cedidas por João Vitor Fogaça, que as extraiu de suas anotações de seminários. 8 mas não havia um documento formal distinto das demais leis. A França conheceu, a partir de 1791, uma sucessão de constituições efêmeras. Não devemos esquecer a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 26 de agosto de 1789, tão marcante que ainda é vigente na França. A constituição americana também tem raízes profundas, incluindo as constituições estaduais (em especial a da Virginia, influenciada por Thomas Jefferson) desenvolvidas ao longo do século XVIII. Assim, o Estado passa a ter freios externos e internos, com limitações ao seu poder. Freios externos: direitos e garantias fundamentais, inerentes à condição humana, anteriores e superiores ao Estado – deve reconhecer, proteger e promover os direitos fundamentais. Freios internos: separação dos Poderes, elementos orgânicos. O segundo ciclo corresponde às chamadas constituições napoleônicas4 (a Constituição francesa de 1799 modificada diversas vezes por Napoleão). Vigorou até 1815 (Congresso de Viena) e conheceu alguns recursos utilizados no constitucionalismo mais recente: Napoleão tratou de enfraquecer por diversas maneiras o Parlamento ou burlar sua competência, como, por exemplo, utilizando o recurso a consultas populares diretas (atos bonapartistas). O terceiro ciclo é o das constituições de restauração5, após o Congresso de Viena. Entre 1815 e 1830, velhas monarquias retomam seu espaço, após a queda de Napoleão (que havia se colocado em uma guerra de conquista europeia para consolidar a sua revolução). As monarquias restauradas não podiam desconhecer as mudanças ocorridas, inclusive a disseminação do constitucionalismo na Europa. Por isso, deveriam se submeter a constituições, ainda que outorgadas – como forma de se legitimarem, outorgam constituições: naquele contexto histórico a autolimitação de poder considerava um enorme avanço. É o período do despotismo esclarecido. É o caso da Constituição Imperial de 1824, outorgada – um avanço e não um retrocesso naquele contexto histórico. Entre 1830 e 1848 houve uma série de movimentos na Europa em que a burguesia, desconfiada das monarquias, começou a pressionar os monarcas em busca de uma liberalização do poder. Os textos constitucionais neste período começaram a contemplar uma progressiva inclusão do cidadão no jogo político. O liberalismo clássico (sécullo XVIII até meados do século XIX) não era verdadeiramente democrático, pois a burguesia tinha receio do poder da maioria. As revoluções liberais foram feitas pela burguesia e para a burguesia. A nobreza não foi a única vencida – restou subjugado o estamento social que mais tarde viria a ser denominado de proletariado, afastado do jogo político pelo mecanismo denominado voto censitário (só votaram aqueles que fossem capazes de demonstrar um mínimo de renda). O quarto ciclo, o das constituições liberais6, contempla uma ampliação da participação no voto. O censo econômico começa a ser reduzido – mais e mais proletários passam a ter chance de votar e de serem votados. 3 Constituições Revolucionárias do século XVIII (1787‐1799): têm suas origens na América do Norte, com a Declaração de Independência de 1776, com as primeiras afirmações, com pretensão universal , acerca dos direitos do povo e dele se autogovernar, trazendo impactos mundiais. Há a grande importância da Declaração dos Direitos do homem e do cidadão de 26 de agosto de 1789. 4 Constituições Napoleônicas (1799‐1815): retratam as mudanças constitucionais desde o período que Napoleão foi cônsul até a derrocada de seu Império. A burguesia, primeiramente, apoiou as medidas autoritárias de Napoleão, mas depois o derrubou quando ele tratou de institucionalizar permanentemente o poder absoluto para si e de aventurar‐se em incessantes campanhas bélicas. Napoleão deixou importante legado constitucional: na Europa, o Conselho de Estado como órgão supremo de consulta e jurisdição administrativa, as administrações locais eletivas, controladas pelos prefeitos, mas com dependência do poder central, a realização do Código Civil, a criação dos juízes de carreira, com independência do poder executivo e o princípio da igualdade jurídica de todos os cidadãos. 5 Constituições da Restauração (1815 – 1830): também deixaram importantes marcas na evolução dos ordenamentos estatais europeus. Através do princípio da legitimidade, houve a restauração das monarquias europeias anteriores a Napoleão, mas monarquias com o poder limitado, passando de monarquias absolutistas para “autocracias constitucionais”, que desembocaram em monarquias constitucionais puras e depois monarquias parlamentaristas, com o fortalecimento do executivo e manutenção dos “direitos da liberdade”, reivindicados na Revolução Francesa de 1789. 6 Constituições Liberais (1830‐1848): revelações do desejo da burguesia de tomada de poder e da manutenção dele exclusivamente burguês, assim surgem as constituições cada vez mais baseadas nas doutrinas liberais, com a ampliação do sufrágio em diversos locais europeus e a perda de poder por parte da nobreza. 9 Entre 1848 e 1919, no quinto ciclo (das constituições democráticas7), é atingido o voto universal (em termos de censo econômico, pois o voto feminino seria um fenômeno do século XX – no Brasil foi regulado pelo Código Eleitoral de 1932). Outra característica é a transição da soberania do Rei para o Povo. No início do século XIX, Benjamin Constant discorreu sobre a liberdade dos antigos e a liberdade dos modernos. Os antigos compreendiam a liberdade como poder de votar e de ser votados. Os modernos (liberais clássicos) entendiam liberdade de forma diversa, associada aos direitos fundamentais, ao poder de agir perante o Estado e a sociedade – os direitos que impõem um NÃO ao Estado. Michelangelo Bovero, discípulo de Norberto Bobbio, analisa o pensamento de Constant e conclui que este teria cometido um pecado ao comparar as liberdades dos antigos e modernos, pois acreditava que eram coisas diversas em sua natureza. A liberdade dos antigos é o que hoje denominamos direitos políticos. A liberdade dos modernos é algo que os antigos conheciam na prática, mas sobre a qual não haviam teorizado. A verdade é que os atenienses estavam em melhor posição que os modernos, pois, ao permitir a todos os seus cidadãos homens o acesso a decisões políticas independente de riqueza, isto não sucedia aos modernos. Tocqueville (A Democracia da América, 1830): o processo de inclusão ocorreu de forma antecipada nos Estados Unidos, pois depois da Guerra de Independência e a consolidação do Estado, as ex‐colônias marcham rumo ao Oeste, o que gerou um sem número de novas propriedades, permitindo que americanos humildes se tornassem proprietários de grandes terras, superavam o censo, gerando uma grande inclusão. A democracia na América se impôs pela democratização da propriedade. Trata‐se de uma contingência relevante na história americana. O censo começa a decair a partir de 1848. O pensamento revolucionário de Marx alertou a burguesia de que o processo de exclusão não se sustentaria por muito tempo. A Encíclica Rerum Novarum de 1891 do Papa Leão XIII trata a questão operária, cujo tratamento pressupunha mecanismos que constituíam uma inovação significativa no constitucionalismo, que só se manifestariam no século seguinte, concretizando‐se nos direitos sociais, que nascem como direitos trabalhistas. 3.5.2. Segundo grupo de ciclos O segundo grupo de ciclos inicia‐se com o sexto ciclo (constituições de democracia racionalizada8). A primeira característica destas constituições é a sua abertura a um constitucionalismo social. Como influxo da Rerum Novarum, surgem os chamados direitos sociais, basicamente direitos trabalhistas em um primeiro momento, uma inovação, pois o constitucionalismo só conhecia direitos individuais até ali (um não fazer do Estado). Para atender à classe trabalhadora, o Estado agora tem que ter atuação positiva – condições mínimas de trabalho, saúde. Os direitos individuais reclamam do Estado uma atitude negativa e os direitos sociais impõem ao Estado uma prestação positiva. Os direitos individuais realizam a liberdade. Os direitos sociais realizam a igualdade. Para Norberto Bobbio, o grande desafio de uma esquerda democrática, superando o marxismo, é a compreensão de que a liberdade e a igualdade devem caminhar juntas. Como exemplo, podemos considerar o desafio democrático do equilíbrio entre a propriedade (direito individual, de primeira geração) e sua função social (direito social, de segunda geração). Um desafio que não pode ser evitado, sob pena do prejuízo da concretização da democracia. A primeira constituição a prever direitos sociais foi a Constituição Mexicana de 1917 (muito parecida com a consolidação das leis trabalhistas, concretizando as recomendações da Rerum Novarum). Porém, a mais marcante das constituições deste sexto ciclo é a Constituição de Weimar de 1919, que contém uma fórmula 7 Constituições Democráticas (1848‐1918): numerosas constituições que ocorreram a partir da segunda metade do século XIX, com a característica de estarem dirigidas ao progressivo processo de admissão de poder por parte de todas as classes sociais, com a extensão do sufrágio até o universal e a atuação acentuada das regras do sistema parlamentarista de governo, refletindo fortes aspirações sociais e nacionais. 8 Constituições Democrático‐racionalizadas (1919‐1937): foram numerosas, mas sem êxito prático brilhante por serem muito teóricas, foram mais elaboradas a partir de doutrinas feitas em gabinetes políticos do que a partir de reivindicações e questões sociais concretas do povo, além do ambiente europeu não ser favorável e essas constituições terem corroborado posteriormente regimes autoritários. Havia a tentativa de racionalizar ao máximo os mecanismos de governo, principalmente os parlamentaristas. Além disso, há o advento dos “direitos sociais”, ao lado dos tradicionais “direitos da liberdade” e “direitos políticos”. 10 genial acerca da propriedade: “a propriedade obriga”. Afirma‐se a propriedade e, simultaneamente, sua função social. Por melhor que tivesse sido sua elaboração, não conseguiu sobreviver ao contexto histórico no qual estava inserida: reparações de guerra geraram crise econômica sem precedentes na Alemanha. Sucumbiu ao nacional‐socialismo alemão, que uniu o povo contra o inimigo externo. Este ciclo foi fortemente influenciado pelo positivismo jurídico. Após a Primeira Guerra Mundial, ocorre o sétimo ciclo, das constituições de democracia social, que trazem uma novidade: a afirmação a democracia como valor constitucional. Há opção explícita pela democracia e mecanismos para sua proteção, o que não ocorria no sexto ciclo, pois o positivismo jurídico admitia qualquer posição política (inclusive o nazismo), era axiologicamente neutro. Agora, partidos totalitários são excluídos do jogo político. Na Alemanha, o partido nazista é criminalizado. A mesma lógica manifesta‐se no art. 17 da CF/88 – há limites às liberdades. O partido político que chega ao poder jamais pode fechar atrás de si a porta pela qual chegou ao poder. O oitavo ciclo é o das constituições socialistas, paralelo aos demais, começando pela Revolução Bolchevique de 1917. São constituições‐balanço: fazem um balanço do período anterior e projetam o futuro. Não têm separação de poderes, há apenas o assemblerismo. O nono e penúltimo ciclo é o das constituições autoritárias do entre‐guerras (período franquista, salazarista), constituições “bastardas”. Apenas referendam o autoritarismo, o totalitarismo. Por fim, o décimo ciclo é o das constituições do Terceiro Mundo9: países subdesenvolvidos sem uma verdadeira cultura democrática adotam constituições de países tradicionalmente democráticos, com efeitos diversos. 3.6. Classificação Ontológica das Constituições (Loewenstein) Karl Loewenstein propõe uma análise ontológica das constituições, analisando seu contexto, e define três tipos de constituição: Constituição normativa: disciplina do espírito do constitucionalismo, limitadora do poder, com efetiva disciplina e limitação do poder, efetivamente regendo a vida político‐democrática do país. A constituição normativa é um traje bonito que cai muito bem no corpo do Estado. Constituição nominal: é constituição apenas no nome, não consegue influir na vida do Estado. Há uma dissociação entre constituição e realidade política. As constituições do Terceiro Mundo enquadram‐se nesta categoria. É um traje muito bonito que fica guardado no armário, por ora não serve ao Estado. Constituição semântica: não tem nenhum compromisso com o constitucionalismo. Apenas expressa um poder ilimitado advindo do Estado. A constituição é serva do poder, não instrumento de sua limitação. Esta constituição é apenas um disfarce e não um traje. Aqui se enquadram as constituições autoritárias do entre‐ guerras, assim como a Constituição brasileira de 1967. 4. Princípios do Direito Constitucional e Princípios do Estado de Direito. Via de regra, podemos falar de um gênero denominado norma jurídica, o qual tem duas espécies relevantes para este estudo: as regras e os princípios10. Princípios são mais genéricos, abertos, são normas que orientam a compreensão de outras normas, em geral expressam valores. As regras, por sua vez, são mais específicas, no sentido em que são mais objetivamente determináveis. Os princípios são mandados de otimização, são realizados na medida em que as circunstâncias permitem. 9 Constituições Terceiro‐mundistas: as condições de subordinações econômica e social desses países do chamado Terceiro Mundo fizeram com que suas constituições seguissem um modelo de países ocidentais fortes mais próximos e familiares. Para entender a fundo essas constituições, deveríamos especificamente estudar o funcionamento concreto das instituições constitucionais nesses países, com um viés econômico, histórico‐cultural e sociológico. 10 Para Alexy, regras são mandamentos definitivos e princípios são mandamentos de otimização. 11 No capítulo sobre Administração Pública da CF/88 encontramos o princípio da moralidade. No CC há um princípio elementar das relações civis: a boa‐fé. Os tipos penais são exemplos de regras. O direito fundamental de não ser torturado é uma regra e não um princípio, pois não admite flexibilização. Nossa abordagem representa um corte temático no estudo dos princípios do Direito Constitucional: explicaremos um dos produtos mais relevantes do constitucionalismo – a ideia de Estado de Direito, discorrendo sobre os princípios do Estado de Direito. O princípio subjetivo do Estado de Direito é a legalidade. Porém, não é uma legalidade qualquer, possui alguns adjetivos que a qualificam: igualdade, irretroatividade (legalidade prospectiva), controle (passível de verificação em face da Constituição) e razoabilidade. 4.1. Sentidos da Legalidade Sentidos da Legalidade: compatibilidade, conformidade, tributária e penal. Einsenmann identificou a existência de vários sentidos para a legalidade. O sentido clássico de legalidade encontra‐se no art. 5, II (ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei) e retrata a essência mais íntima do Estado de Direito. Quem nos governa é a lei, expressão da nossa vontade, manifestada diretamente ou indiretamente (por meio de representantes). Em Rousseau, esta lei denomina‐se vontade geral. Essa lei implica coincidência entre quem manda e quem obedece. Podemos fazer tudo aquilo que a lei não nos veda. Este primeiro sentido é a legalidade‐compatibilidade. O segundo sentido encontra‐se no art. 37 (caput), que trata dos princípios da Administração Pública, à qual se aplica à projeção mais evidente do Estado que nos afeta no dia‐a‐dia. Diferentemente da pessoa humana (pode fazer tudo o que a lei não nos veda), a Administração só pode fazer aquilo que a lei lhe permite. Este segundo sentido é a legalidade‐conformidade. A lei, contudo, pode ser elaborada em termos mais vagos, dando margem à manifestação do poder discricionário da Administração Pública, com maior espaço de escolha. De forma análoga, os conceitos políticos de relevância e urgência necessários para a elaboração de uma medida provisória representam um espaço amplo de atuação. O terceiro sentido refere‐se à legalidade tributária. O quarto sentido envolve a legalidade penal, com o grau máximo de restrição da atuação do Estado em face do indivíduo. 4.2. Adjetivos da Legalidade Adjetivos da legalidade: igualdade, irretroatividade, controle e razoabilidade. A lógica da legalidade é a proteção da liberdade e a contenção do poder do Estado, para evitar que seja abusivo. Porém, a legalidade em si pode ser maléfica, e não serve ao Estado de Direito. A legalidade se qualifica por quatro adjetivos: igualdade, irretroatividade, controle e razoabilidade. Igualdade também possui uma série de sentidos. Porém, a noção relevante para este estudo é a igualdade formal: a lei se aplica igualmente a todos nós, inclusive ao legislador. O Estado liberal clássico se satisfaz com a igualdade formal. Hodiernamente, torna‐se relevante a igualdade material, uma igualdade de condições. A legalidade é prospectiva pois, via de regra, a lei não retroage. A lei não pode surpreender o seu destinatário. A lei só pode retroagir para beneficiar o seu destinatário. “A lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada”. A essência do controle da legalidade é o controle de constitucionalidade. O parâmetro da lei é a Constituição, ato normativo que a submete, que lhe dá fundamento de validade. Quem faz a lei não é o guarda de si mesmo, e o controle normalmente é feito por um órgão distinto do Legislativo. O mecanismo normalmente é levado a efeito pelo Judiciário. Por fim, chegamos à razoabilidade (princípio gestado pela suprema corte norteamericana, de maior amplitude). Trata‐se de um princípio que interage com o da proporcionalidade (tradição alemã). 12 Razoabilidade significa conformidade entre meios e fins. Uma lei é razoável quando guarda coerência entre os meios que ela adota e o fim a que se propõe. A lei é proporcional quando cumpre três critérios: adequação, necessidade e proporcionalidade no sentido estrito. Dentre as alternativas de solução para um determinado problema, aquele que for escolhido pelo legislador deve ser um caminho adequado e necessário (não houve exagero). Ainda, na forma de realizar a solução, devemos nos questionar se algum outro direito está sendo sacrificado. 5. Interpretação Constitucional. A interpretação de uma norma constitucional tem a peculiaridade de que deve ser levado em consideração o elemento político que é inerente a uma norma desta estatura. Como a Constituição é a expressão da alta política do Estado, o elemento político é algo muito presente em seu texto. A compreensão desta realidade política é algo que não pode ser ignorado quando da interpretação constitucional. A grande peculiaridade da interpretação constitucional é o seu elemento político. O intérprete sempre tem que levar em consideração o contexto político que se dá à Constituição. Técnicas de interpretação constitucional: gramatical, histórica, sistemática e teleológica. A complexidade da vida requer a conjugação de uma ou mais destas técnicas. Estas quatro técnicas são estudadas de forma separada como recurso didático, porém, na vida prática, nós necessariamente temos que fazer uso concomitante de todas estas técnicas. 5.1. Interpretação Gramatical Interpretação gramatical é extrair o sentido e alcance da norma a partir das palavras que a expressam; é pressuposto para os demais métodos de interpretação. A norma não se reduz ao texto, mas este define o espaço de movimento do qual poderá gozar o intérprete. É o ponto de partida, a forma de interpretação mais elementar, a partir da qual conjugaremos das demais formas de interpretação. 5.2. Interpretação Histórica A interpretação histórica consiste em entender a Constituição no tempo. É preciso entender o contexto no qual a Constituição foi elaborada e o contexto no qual ocorreu o seu desdobramento. Um exemplo que podemos considerar é a fidelidade partidária (ser fiel ao partido pelo qual se foi eleito, cumprimento do mandato naquele partido), que surgiu como um instrumento autoritário. Nos anos 70, a Arena começou a perder parlamentaremos, e instituiu a fidelidade partidária a fim de conter o êxodo de seus membros para o MDB. Pouco antes da Assembleia Constituinte que precedeu a CF/88, foi retirada do sistema constitucional brasileiro. Durante as discussões daquela assembleia, os constituintes compreenderam que se tratava de um entulho autoritário. Posteriormente, o Supremo Tribunal Federal, ao apreciar uma situação em 1989 (suplente que reclamava o mandato do deputado que trocara de partido), por uma interpretação histórica, rejeitou a hipótese de adotar a fidelidade partidária. Alguns anos depois, o STF mudou sua posição anterior, e proferiu uma decisão ativista, dando novo sentido à Constituição, aceitando a fidelidade partidária – um caso de mutação constitucional por força de decisão judicial. 5.3. Interpretação Sistemática A interpretação sistemática consiste no exame do texto normativo em conjugação com outros textos normativos, promovendo uma articulação entre normas. É a compreensão dos diferentes dispositivos constitucionais de maneira articulada entre si. “A Constituição não se interpreta por tiras”, nas palavras de Eros Grau. É um todo orgânico que tem que ser entendido de maneira articulada. Exemplo: no art. 66, caput da CF/88 é mencionado o prazo de sanção ou veto de projeto de lei pelo Presidente da República. Em um dos seus parágrafos, o prazo novamente é mencionado, mas não é explicitamente mencionado que tal prazo é em dias úteis. Outro exemplo: a Constituição estabelece as matérias que podem ser objeto de lei delegada, impedindo explicitamente algumas matérias. Para além da lei delegada, há outra espécie legislativa, a medida provisória, 13 que não tinha limites materiais originariamente. Parte da doutrina entendia que os limites materiais da lei delegada deveriam ser observados pela medida provisória. Isto não valeu no Brasil, mas, posteriormente, uma emenda constitucional excluiu matérias do campo da medida provisória e praticamente todas eram as mesmas que também não poderiam ser tratadas por lei delegada. Terceiro exemplo: medida provisória é aprovada por maioria simples dos congressistas. Outra espécie legislativa é a lei complementar, que deve ser aprovada por maioria absoluta. A interpretação sistemática está no entendimento do STF que, como a medida provisória é aprovada por maioria simples, não pode versar sobre matéria reservada a lei complementar. 5.4. Interpretação Teleológica A interpretação teleológica é finalística: deve ser desvendado o fim daquela norma, a razão pela qual foi feita. É a interpretação que tem por objetivo promover a finalidade da norma. Exemplo: a imunidade tributária (prevista pela Constituição, enquanto a isenção é prevista por lei) em geral possui um valor constitucional por trás delas, como sua razão, justificativa. A imunidade em favor dos templos de qualquer culto é fundada na liberdade religiosa. Se o culto é ministrado por um religioso não em um templo propriamente dito (igreja, sinagoga, mesquita). “No poder de tributar, está o poder de destruir”. É por isso que muitos destes limites estão vinculados a direitos fundamentais. 5.5. Mens Legis e Mens Legislatoris Consideremos uma dicotomia muito útil para destrinchar as técnicas apresentadas até aqui: mens legis x mens legislatoris. É a ideia de vontade da lei versus vontade do legislador. Estas duas categorias são úteis para entender a interpretação constitucional. A mens legis é revelar a vontade da lei. A mens legislatoris é revelar a vontade do legislador. Um exercício interessante é verificar se cada método de interpretação realiza uma ou outra. Se o legislador de expressou conforme sua vontade, há identidade entre ambas na redação da lei. Porém, se o legislador não o fez, se foi infeliz na forma de escrever, vai prevalecer o que está na lei, por uma questão de segurança jurídica. Isto não quer dizer que a mens legislatoris ficará sempre em segundo plano. Discutimos aqui situações extremas (acerto claro ou erro claro do legislador ao se expressar na redação da lei). A interpretação gramatical é importante como primeiro passo. Pode ocorrer de o legislador, do constituinte não ter sido claro, ter sido ambíguo, vago. Em uma situação assim, as demais técnicas interpretativas ganham importância. Uma lei que não seja clara precisa ter o seu sentido descoberto. Há cláusulas dilatórias, que podem até mesmo ser propositais – assuntos podem ser polêmicos demais e a saída pode ser não decidi‐lo de forma definitiva, procurando acomodar diferentes interesses. Na falta de uma norma que esclareça aquele sentido por si só, é preciso analisar de forma sistemática o dispositivo com outras normas ou investigar a sua finalidade. Neste caso, dispor da mens legislatoris pode ser a saída para resolver a ambiguidade de uma norma jurídica. Isto pode ser descoberto pelo histórico do processo legislativo, pela leitura da exposição de motivos do projeto de lei, as razões das emendas parlamentares, as razões de vetos presidenciais. Estas coisas podem revelar para nós a mens legislatoris. Aliomar Baleeiro: as indicações do legislador têm sua importância no sujeito que manifestou a opinião, se é um mero parlamentar ou líder partidário. Uma advertência saborosa: não dá para querer inventar coisas na cabeça do legislador, temos que trabalhar com aquilo que é claro. Trabalhar com a mens legislatoris é uma atividade complementar relevante. A interpretação histórica busca, principalmente, revelar a mens legislatoris. A interpretação sistemática procura, sobretudo, a mens legis – ao articular uma norma com outra, procura‐se revelar o sentido da norma em si. A interpretação teleológica revela, escancaradamente, a mens legislatoris. 5.6. Presunção de Constitucionalidade É a ideia de que toda norma legal presume‐se constitucional quando da sua elaboração. Até que órgão competente se manifeste de forma contrária, a lei é válida. É um princípio de interpretação constitucional aplicado às leis. As leis não simplesmente se presumem constitucionais, as leis são constitucionais até que órgão competente diga em contrário. O respeito a lei é acentuado com esta colocação, por uma necessidade de segurança jurídica. 14 5.7. Interpretação Conforme a Constituição Não é apenas uma técnica interpretativa, é uma técnica decisória próxima do controle de constitucionalidade. Se uma lei comporta várias interpretações diversas – o que é perfeitamente comum – por força da presunção de constitucionalidade das leis, o intérprete irá optar aquela que seja conforme a Constituição – em harmonia com esta – e descartar as demais, que estejam em conflito com a Constituição. As leis devem ser compreendidas à luz da Constituição – uma interpretação sistemática da ordem jurídica como um todo. 6. Aplicabilidade e Eficácia das Normas Constitucionais. Esta discussão remonta à doutrina americana, que, historicamente, menciona duas espécies de normas constitucionais conforme a possibilidade de executá‐las ou não desde logo: self‐executing (autoexecutáveis) e non‐self‐executing (não‐autoexecutáveis). Esta foi a forma como Rui Barbosa trouxe a doutrina para o Brasil. Há uma variação disto na obra de Pontes de Miranda, com outras expressões, embora o sentido seja o mesmo, porém com força didática peculiar: normas constitucionais bastantes em si e não bastantes em si. Ou as normas constitucionais são em si mesmas aplicáveis (não dependem de mais nada, sua execução se dá por elas próprias) ou dependem de algo para completá‐las (ou hipótese ou consequência), usualmente uma lei regulamentadora – para que logrem aplicação carecem de complementação. Uma norma programática, em geral, é uma norma constitucional não autoexecutável – estabelece um programa que carece de exequibilidade. Liberdades, pela sua própria natureza, via de regra, são autoexecutáveis – liberdade de pensamento, liberdade de profissão. Por outro lado quando a Constituição diz: “o Estado promoverá, na forma da lei, a proteção dos direitos do consumidor”, não há conteúdo suficiente para a aplicabilidade da norma, a norma carece de um desdobramento jurídico adicional, de uma regulamentação para que adquira exequibilidade. “A saúde é direito de todos e dever do Estado” é outro exemplo de norma constitucional não autoexecutável. Para além de uma lei regulamentadora, é necessária toda uma estrutura orçamentária e material que sustente a viabilização deste direito. Não é apenas uma complementação de natureza jurídica, mas também de natureza material. Um exemplo de uma norma que não tem hipótese é uma norma penal em branco – uma portaria do Ministério da Saúde esclarece o que é droga no caso da tipificação de tráfico de drogas. Esta classificação clássica é insuficiente para abordar a complexidade das normas constitucionais atuais. A doutrina italiana desenvolveu o tema e foi trazida para o Brasil na obra “Aplicabilidade das Normas Constitucionais” de José Afonso da Silva. A primeira diferença da classificação proposta da clássica é a conjugação de duas coisas: a aplicação (a norma aplica‐se desde logo ou não) e a eficácia (nesse ser aplicável, qual o nível de eficácia atingido, até onde se aplica)11. Norma constitucional de aplicabilidade imediata e eficácia plena. Corresponde à norma constitucional autoexecutável, é desde logo aplicável e nessa aplicação imediata é alcançada uma plenitude de eficácia. Norma constitucional de aplicabilidade imediata e eficácia contida. O exemplo dado pelo professor José Afonso da Silva é o art. 5º, XIII – é livre o exercício de qualquer emprego ou profissão, atendidos os requisitos 11 Complementando as informações fornecidas pelo Prof. Levi em aula, sistematizamos os conceitos a seguir: Eficácia plena: produzem todos os seus efeitos essenciais, normatividade suficiente para incidência direta e imediata sobre a matéria que constitui seu objeto. Aplicabilidade direta, imediata e integral. Eficácia contida: produzem (ou podem produzir todos os seus efeitos), mas com meios de ter sua eficácia contida em certos limites, em dadas circunstâncias. Aplicabilidade direta, imediata, mas não integral. Se a contenção por lei restritiva não ocorrer, a norma será de aplicabilidade imediata e expansiva. Eficácia limitada ou reduzida: não produzem todos os seus efeitos essenciais, normatividade insuficiente. Aplicabilidade indireta, mediata e reduzida. “A lei disporá...”, “A lei regulará...”, “A lei indicará...”. Normas de legislação: não tem conteúdo ético‐social, parte organizativa da Constituição. Princípios regulativos ou institutivos. Normas programáticas: programas de ação social. Há normas programáticas que também são de legislação. 15 da lei. A falta de lei com requisitos não impede o exercício da profissão. A norma impede que a lei superveniente restrinja seus efeitos. A maior crítica a esta classificação refere‐se a esta espécie, pois a palavra “contida” gera certa controvérsia, pois a norma nasce com eficácia plena, que pode ser contida posteriormente. Outra classificação indica que a norma é de eficácia restringível – enquanto não vier a lei, o gozo daquela norma é imediato e nesta aplicação alcança eficácia plena. Norma constitucional de eficácia limitada. Corresponde à norma constitucional não autoexecutável. Porém, há incidência de uma nova doutrina (talvez aqui esteja a maior contribuição desta classificação) na forma de explicar este tipo. Adota‐se a compreensão de que uma norma constitucional, mesmo incompleta e carente de regulamentação, surge desde logo com o mínimo de efeitos: O Estado é orientado para que efetue a regulamentação. Impede a legislação contrária a ela. Em se tratando de norma constitucional invalida a legislação anterior com ela incompatível (efeito de não recepção). A demora em sua regulamentação configura uma omissão do legislador – em determinadas situações configura uma inconstitucionalidade por omissão (a falta da lei gera a inconstitucionalidade). A consequência é mais política do que jurídica. Classificações não são certas ou erradas, são mais úteis ou menos úteis. Dependendo das situações, a resolução de problemas será facilitada pelo uso de um determinado tipo de classificação. QUADRO COMPLEMENTAR Eficácia e aplicabilidade na jurisprudência do STF CF/88, art. 37, VII: o direito de greve será exercido nos termos e nos limites definidos em lei específica. MI 708, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgamento em 25‐10‐2007, Plenário, DJE de 31‐10‐2008: Mandado de injunção. Garantia fundamental (CF, art. 5º, LXXI). Direito de greve dos servidores públicos civis (CF, art. 37, VII). Evolução do tema na jurisprudência do STF. (...) Hipótese de omissão legislativa inconstitucional. Mora judicial, por diversas vezes, declarada pelo Plenário do STF. Riscos de consolidação de típica omissão judicial quanto à matéria. (...) Tendo em vista as imperiosas balizas jurídico‐políticas que demandam a concretização do direito de greve a todos os trabalhadores, o STF não pode se abster de reconhecer que, assim como o controle judicial deve incidir sobre a atividade do legislador, é possível que a Corte Constitucional atue também nos casos de inatividade ou omissão do Legislativo. (...) Considerada a omissão legislativa alegada na espécie, seria o caso de se acolher a pretensão, tão somente no sentido de que se aplique a Lei 7.783/1989 enquanto a omissão não for devidamente regulamentada por lei específica para os servidores públicos civis. Todas as normas constitucionais sobre direitos fundamentais cumprem o § 1o do art. 5o da Constituição (as normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata)? A eficácia e aplicabilidade das normas que contêm os direitos fundamentais dependem muito de seu enunciado, pois se trata de assunto que está em função do Direito positivo. A Constituição é expressa sobre o assunto, quando estatui que as normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata. Mas certo é que isto não resolve todas as questões, porque a Constituição mesma faz depender de legislação ulterior a aplicabilidade de algumas normas definidoras de direitos sociais, enquadrados dentre os fundamentais. Por regra, as normas que consubstanciam os direitos fundamentais democráticos e individuais são de eficácia contida e aplicabilidade imediata, enquanto as que definem os direitos econômicos e sociais tendem a sê‐lo também na Constituição vigente, mas algumas, especialmente as que mencionam uma lei integradora, são de eficácia limitada, de princípios programáticos e de aplicabilidade indireta, mas são tão jurídicas como as outras e exercem relevante função, porque, quanto mais se aperfeiçoam e adquirem eficácia mais ampla, mais se tornam garantias da democracia e do efetivo exercício dos demais direitos fundamentais. (...) Esta declaração [§1º do art. 5º] pura e simplesmente por si não bastaria se outros mecanismos não fossem previstos para torná‐la eficiente. Vimos a propósito o mandado de injunção. Acrescentemos que a ação de inconstitucionalidade por omissão é da mesma natureza. Sua existência só por si, contudo, estabelece uma ordem aos aplicadores da Constituição no sentido de que o princípio e o da eficácia plena e a aplicabilidade imediata das normas definidoras dos direitos fundamentais (...) de tal sorte que só em situação de absoluta impossibilidade se há de decidir pela necessidade de normatividade ulterior de aplicação. Por isso, revela‐se, por seu alto sentido político, como eminente garantia de defesa da eficácia jurídica e social da Constituição. SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. São Paulo: Malheiros, 2013. 36. ed., p. 182, 470. O significado do §1º do art. 5º: em primeiro lugar, significa que elas são aplicáveis até onde possam, até onde as instituições ofereçam condições para seu atendimento. Em segundo lugar, significa que o Poder Judiciário, sendo invocado a propósito de uma situação concreta nelas garantida, não pode deixar de aplicá‐las conferindo ao interessado o direito reclamado, segundo as instituições existentes. SILVA, José Afonso da. Comentário Contextual à Constituição. São Paulo Malheiros, 2007. 4. ed., p. 409. 16 7. Poder Constituinte 7.1. Origem da doutrina do Poder Constituinte Na lógica do fenômeno “Estado”, o poder mais vigoroso que existe é o poder constituinte, porque este descreve, explica a fundação do próprio Estado. A ideia de poder constituinte decorre das antigas doutrinas pactistas (Hobbes, Locke, Bodin, Montesquieu, Rousseau), que explicam o surgimento das sociedades políticas por força de pactos realizados entre seus membros. Um dos pontos de melhor desenvolvimento da ideia relativa a estes pactos é a doutrina do poder constituinte, perfeitamente possível de ser delimitada no tempo e em sua autoria. Esta doutrina tem um pai: o abade Emanuel Sieyès, em seu panfleto “O que é o terceiro estado?”, um instrumento de luta política no contexto da revolução francesa. Este panfleto parte de três perguntas: (a) o que é o terceiro estado? (b) O que ele tem sido? (c) E o que ele pode/deve ser? Para Sieyès, o terceiro estado é TUDO, é indispensável, porque é responsável pela geração das coisas que todos utilizam. Não vinha representando NADA, pois era submetido, ignorado, menosprezado. O terceiro estado deveria ser tornar ALGUMA COISA através de uma revolução, uma alteração da ordem das coisas, uma nova fundação do Estado, um novo pacto, uma nova constituição. Assim, o terceiro estado se liberta e surge um novo poder que irá elaborar o texto constitucional. A resposta a esta pergunta tem relevância tanto prática quanto teórica. Significa apontar o titular da soberania do Estado. Em Sieyès, o titular do poder constituinte é a NAÇÃO. Esta se distingue de POVO, o qual é uma realidade concreta. NAÇÃO, por sua vez, é uma abstração. É o povo de ontem, hoje e amanhã, é a cultura, a história, a tradição, os costumes. Há aqui um debate entre os pensamentos de Sieyès e Rousseau. Para este, o soberano é o POVO, a soberania é popular12. Para aquele, o soberano é a NAÇÃO, é a soberania nacional13. A ideia de nação tem uma característica de permanência em relação às coisas do Estado. A distinção prática entre a soberania nacional e a soberania popular é a quem se deve prestar contas. Se a soberania é popular, presta‐se contas a uma realidade concreta ao povo de hoje. Se a soberania é nacional, presta‐se contas a nação, o que implica em prestar contas a “ninguém”, a uma abstração, à própria consciência. Há repercussão desta dicotomia no sistema eleitoral: quando o eleitor conhece em quem vota, o vínculo é estreito, aproximando‐se da realidade de uma soberania popular; caso contrário, o “soberano” está mais próximo da ideia de nação, havendo um distanciamento entre eleitor e eleito. Se a nação é uma abstração, ela precisa se pronunciar por intermédio de alguém: seus representantes, um corpo deliberante que irá exercer o poder constituinte pela nação e irá dotar o Estado de um texto constitucional. 7.2. Dogmática do Poder Constituinte A tipologia do poder constituinte é tanto útil quanto didática. Há um poder constituinte em si, o que realmente faz a constituição, funda o Estado: o poder constituinte originário. Ele não se exaure após a elaboração da constituição. Uma vez manifestado, continua latente à existência da constituição. Ocasionalmente, pode vir a se manifestar de alguma maneira. Pode ocorrer que, ao fazer a constituição, o poder constituinte originário eleja um delegado seu para realizar ajustes no texto constitucional, alguém que exerça o poder constituinte instituído ou derivado. 7.2.1. Poder Constituinte Originário O poder constituinte originário tem três características: é inicial, ilimitado e incondicionado. 12 A rigor, o soberano em Rousseau é a vontade geral, e não exatamente o povo. A lei é fruto da vontade geral. A soberania recai, assim, sobre a vontade geral, os cidadãos se exprimindo de maneira direta (aclamação, não contempla a representação), sem intermediários e sem a interferência de terceiros, em uma deliberação racional conjunta. Será sempre boa, aqueles que deliberam colocam de lado as coisas sectárias, concentram naquilo que é comum, e deliberam sem interferências (sem lobbies) e racionalmente. 13 Cf. Arts. 3º e 6º da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, relacionados, respectivamente, a Sieyès e a Rousseau. 17 Inicial. É dito inicial porque (re)funda o Estado, dá inicio a ele. Como fica a situação de Estados que tiveram mais de uma constituição em sua história? Cada nova constituição é um novo poder constituinte originário. O primeiro, do ponto de vista histórico, tem a potencialidade (teórica) de ser mais vigoroso. Os demais refundam o Estado, dão novas bases a ele. Ilimitado. É uma característica de natureza material, substancial. O poder constituinte originário decide o que quiser da forma como quiser, sem amarras, sem limites materiais. As grandes decisões políticas, as decisões políticas fundamentais estão em aberto, estão ao alcance do poder constituinte originário. Exemplos de decisões políticas fundamentais: forma de Estado, forma de governo, sistema de governo, regime de governo. Incondicionado. É uma característica de natureza formal. O poder constituinte originário manifesta‐se da forma que bem entender. É capaz de escolher a forma pela qual se manifesta. A forma mais legítima de manifestação é uma Assembleia Nacional Constituinte. Seu primeiro passo é dotar‐se de um regimento, autolimitando sua atuação. Pode haver também uma limitação prévia no seu ato de convocação. Exemplo: uma emenda constitucional a uma constituição autoritária convocou a Assembleia que deu origem à CF/88 – esta emenda previa a anistia (limite material) e que a sua primeira reunião seria presidida pelo presidente do STF para que se iniciassem os trabalhos (condicionante). O poder constituinte originário é um poder de direito ou de fato? A resposta a essa pergunta depende de uma concepção do que é o direito. Do ponto de vista do positivismo jurídico, é um poder de fato, pois cria o ordenamento jurídico. Do ponto de vista jusnaturalista, é um poder de direito, pois há todo um condicionamento que provém da moral e da religião que gera o direito subsequente. Aqui vemos a grande falha da teoria pura do direito, pois, no ápice do ordenamento jurídico, dá espaço a fatos e não a normas. A metáfora da sociedade dos ladrões: suponhamos uma sociedade em que há uma constituição, a qual serve de base para um código penal que pune furtos. A norma fundamental para Kelsen determina a obediência à constituição e ao ordenamento jurídico decorrente. Para além da constituição, não há uma norma posta, há uma norma pressuposta (devemos obedecer à constituição, mandamento hipotético)14. Se alguém se aproxima de outro e subtrai‐lhe a algo e for pego, julgado e condenado, a ordem jurídica terá funcionado por inteiro. Se descobrirmos que roubou e este não é punido, houve uma revolução no ordenamento jurídico, nenhuma norma foi aplicada, nem mesmo o mandamento hipotético fundamental, surgindo assim uma nova ordem: a ordem jurídica dos ladrões15. Vamos analisar como se responde em Kelsen a seguinte situação: se um sujeito cometeu homicídio e há dois tribunais do júri na comarca em que reside, competentes para julgá‐lo, definidos conforme distribuição (sorteio) e, por erro, este processo criminal é distribuído a ambos os tribunais, sendo que um deles absolve o réu e outro o condena. Qual é em Kelsen, o válido? Para Kelsen a norma válida é a que ingressa na ordem jurídica: é aquela que for aplicada. Vemos que a falha de Kelsen é relegar a resposta final a um dado que não é norma, mas é fato. A norma fundamental (devemos obedecer à constituição que se aplica) se deixa contaminar por fatos. A teoria pura do direito é, assim, uma tautologia de simples fatos. Há revoluções de ruptura e de transição. Em ambos os casos, o poder constituinte é invocado, seja ele bom ou mau. Quem elaborou as considerações dos atos institucionais do golpe de 1964 foi quem estava por trás da constituição de 1937: Chico Campos. 14 Silogismo da norma fundamental (cf. Alexy, Robert. Conceito e Validade do Direito). Premissa maior: se uma constituição é estabelecida efetivamente e socialmente eficaz, então se ordena que o comportamento seja conforme esta constituição. Premissa menor: a Constituição Federal de 1988 da República Federativa do Brasil é estabelecida efetivamente e socialmente eficaz. Conclusão: ordena‐se que o comportamento seja conforme a Constituição Federal de 1988 da República Federativa do Brasil. A constituição na premissa maior é aquela no sentido lógico‐jurídico. A ordem de comportamento conforme é a norma fundamental analítica de Kelsen, que é um pressuposto necessário e possível, uma norma pensada. A constituição da premissa menor é aquela no sentido jurídico‐positivo. 15 Vemos aqui a inclusão da validade no conceito de direito de Kelsen, acrescendo à validade jurídica no sentido estrito, uma validade social, correspondente a um mínimo de eficácia social ou mera possibilidade de tal eficácia, pela observância da norma e pela sanção no caso de não observância. 18 7.2.2. Poder Constituinte Instituído (ou Derivado) A inexistência de sucessão de constituições nos EUA faz com que com a doutrina americana não faça distinção entre poder constituinte originário e instituído. Bruce Ackerman indica que houve momentos na história americana em que ocorrem refundações, repactuações do Estado, como na Restauração, com o fim da escravidão e também com a nova legislação sobre direitos civis nos anos 1960, quando ocorre a abolição da segregação racional. São momentos em que o povo exibe o seu vigor. O poder constituinte instituído tem três características que guardam uma espécie de paralelo com as do poder constituinte originário: derivado, limitado e condicionado. Derivado. Deriva, é posto, instituído pelo texto constitucional originário. Encontra o seu fundamento de validade na constituição. Limitado. Natureza material. Pode alterar a constituição, mas não as decisões políticas fundamentais (cláusulas pétreas CF/88: não será objeto de deliberação proposta de emenda constitucional tendente a abolir: federação, voto secreto/periódico/universal, separação dos poderes e direitos e garantias individuais)16. Cf. ADI 2.024 (Sepúlveda Pertence). Numa interpretação contrario sensu, as cláusulas pétreas podem ser alteradas, mas não a ponto de sofrerem restrição ou abolição. Condicionado. Natureza formal. Tem uma forma específica de manifestação. A emenda constitucional é condicionada em sua tramitação. Há algumas espécies de poder constituinte instituído: de emenda, de revisão e decorrente. De emenda (reformador). É capaz de alterar o texto constitucional. De revisão (revisor). É semelhante ao anterior, atua sobre o texto constitucional, porém em um processo mais simplificado que o de emenda. Ele pode surgir uma única vez e se esgotar ou poder surgir periodicamente, conforme estabelecido pelo texto originário. Decorrente. Surge nas federações, é o poder que permite aos entes federados a elaboração de constituições para si. É através dele que são elaboradas, por exemplo, as constituições de São Paulo, Rio Grande do Sul, etc. As constituições estaduais encontram fundamento de validade na Constituição da República. 16 ADI 2024/DF, rel. Min. Sepúlveda Pertence, 3.5.2007. (ADI‐2024): Ocupantes de Cargo em Comissão e Regime Geral de Previdência O Tribunal julgou improcedente pedido formulado em ação direta de inconstitucionalidade ajuizada pelo Governador do Estado de Mato Grosso do Sul contra o § 13 do art. 40 da Constituição Federal, introduzido pela EC 20/98, que estabelece que, ao servidor ocupante, exclusivamente, de cargo em comissão, bem como de outro cargo temporário ou de emprego público, aplica‐se o regime geral de previdência social. Afastou‐se, inicialmente, a alegação de que o dispositivo impugnado ofenderia o art. 60, § 4º, I da CF por tendente a abolir a forma federativa do Estado, asseverando‐se que esta não pode ser conceituada a partir de um modelo ideal e apriorístico de Federação, mas, sim, daquele que o constituinte originário concretamente adotou e erigiu em limite material imposto às futuras emendas à Constituição. Esclareceu‐se que as limitações materiais ao poder constituinte de reforma que o art. 60, § 4º, da CF enumera não significam a intangibilidade literal da respectiva disciplina na Constituição originária, mas apenas a proteção do núcleo essencial dos princípios e institutos cuja preservação nelas se protege. Salientou‐se, também, a orientação firmada pela Corte no sentido da constitucionalidade do preceito questionado quando do julgamento do MS 23047 MC/DF (DJU de 14.11.2003). (...). Assim, se a matéria podia ser tratada por lei federal, com base nos preceitos do texto constitucional originário, com maior razão não tenderia a abolir a autonomia dos Estados‐membros seu tratamento por emenda constitucional. Por fim, rejeitou‐se o argumento de ofensa ao princípio da imunidade tributária recíproca, haja vista o entendimento do Supremo de que a imunidade tributária prevista no art. 150, VI, da CF refere‐se apenas aos impostos, não podendo ser invocada na hipótese de contribuições previdenciárias. 19 7.3. O Processo de Emenda Constitucional Quando dizemos que o poder constituinte instituído é derivado, pode acontecer a possibilidade de ele ser modificado por um processo por ele previsto. Pode ocorrer de a Constituição prever processos tão rígidos que seja muito difícil modificá‐la. Hodiernamente, as constituições costumam ser mais tolerantes no sentido de permitirem sua própria modificação. Há um processo diverso do processo legislativo comum, mais complicado (processo de emenda constitucional), que determina a rigidez da constituição. Se há este mecanismo, a constituição é dita rígida. Se não há tal processo, a constituição é dita flexível. Este poder usualmente é confiado ao parlamento do país. A modificação da constituição assume a forma de emenda constitucional. Descrever este processo é descrever a limitação e o condicionamento do poder constituinte instituído. As limitações materiais são encontradas no CF, art. 60, § 4º. Estas decisões políticas fundamentais são as cláusulas pétreas. Inadmissibilidade da dupla revisão (alteração das cláusulas pétreas): a emenda que tem por objetivo eliminar o limite material é tendente a abolir as matérias protegidas17. O art. 60 indica os legitimados a iniciar o processo de emenda constitucional (1/3 do Senado ou da Câmara, Presidente da República e Assembleias Legislativas Estaduais – mais da metade delas, cada uma representada pela maioria relativa de seus membros. Há situações excepcionais nas quais a Constituição não pode ser emendada (§ 1º). O processo de discussão e aprovação, incluindo o quorum qualificado é apresentado no § 2º. A Constituição Brasileira sofre inúmeras emendas porque contém muitos assuntos que não são materialmente constitucionais. A promulgação da emenda (§ 3º) é um ato solene por meio do qual a Mesa declara que a PEC cumpriu todos os requisitos formais necessários para que seja aprovada. O direito anterior à vigência de uma nova constituição é tratado pela teoria da recepção. A ordem jurídica anterior perde seu fundamento de validade anterior. A nova constituição passa a ser o novo fundamento de validade naquilo em que não houver conflito material. Aspectos formais sobre a elaboração da lei não importam (por exemplo, uma lei ordinária – aprovada pelo processo legislativo ordinário – pode ser recepcionada como lei complementar, a despeito de não ter sido aprovada por maioria absoluta). Maioria absoluta: maioria tomada com base no total da assembleia (o primeiro número inteiro acima da metade). Exemplo: 257 deputados (total da Câmara = 513). Maioria simples: é a maioria dos presentes. As abstenções são tratadas nos regimentos internos das casas. Na maioria absoluta ou na emenda constitucional, a abstenção acaba por ter significado de “não”. 8. Separação dos Poderes Montesquieu discorreu sobre a tripartição funcional do poder, que é apenas um momento na marcha evolutiva da separação dos poderes ao longo do tempo. Esta evolução pode ser concebida de uma concentração inicial até chegarmos a uma penta ou hexapartição dos poderes. Estamos nos referindo a esferas de poder de natureza institucional, que partilham, comungam a soberania do Estado. Montesquieu retrata apenas uma etapa desta evolução. É próprio desta disciplina introdutória a análise histórica e teórica deste momento, embora seja uma doutrina parcialmente superada. O capítulo VI do Livro XI do “Espírito das Leis” contém inúmeras entrelinhas. 17 Cf. SILVA, Virgílio Afonso da. Ulisses, as sereias e o poder constituinte derivado: sobre a inconstitucionalidade da dupla revisão e da alteração no quorum de 3/5 para aprovação de emendas constitucionais in RDA, no 226, p. 11 a 32: “A tese sustentada por Manoel Gonçalves Ferreira Filho é a de que as limitações materiais ao poder de emenda constitucional, previstas no art. 60, § 4º, não podem ser encaradas como uma cláusula eterna, que petrifica o direito constitucional positivo.Segundo Ferreira Filho, as matérias ressalvadas contra o poder de emenda só continuam protegidas enquanto perdurar a atual redação do § 4º do art. 60, o que significa que o próprio § 4º poderia ser modificado, podendo dele ser excluída uma ou mais das vedações atualmente existentes. (...) A simplicidade da teoria da dupla revisão baseia‐se, em grande parte, na postura positivista de não‐aceitação de limites ao poder de emenda constitucional que não aqueles expressos pela constituição, isto é, na não‐aceitação dos chamados limites implícitos”. 20 Devemos levar em conta uma linha evolutiva da organização dos poderes. A concentração de poderes é o Absolutismo, o poder divino do Rei, cujos doutrinadores foram Jean Bodin e Thomas Hobbes. Com a Revolução Gloriosa na Inglaterra, surgem dois poderes: o Parlamento e o Rei. Quem doutrina sobre isso é John Locke, em cuja obra há três poderes: Federativo (relações exteriores), Executivo (ordem interna) e Legislativo (parlamento). Os dois primeiros poderes (funções) são confiados ao Rei e o terceiro ao Parlamento. O estado de coisas descrito por Locke está estebelcido na Inglaterra em 1689 quando William de Orange submete‐se ao Bill of Rights. Na mesma época, nascia na França, em La Bret, uma região próxima a Bordeaux, Charles Louis de Secondat, que viria a ser conhecido mais tarde como Barão de La Bret e Montesquieu. Em 1701, o Parlamento inglês aprova uma lei – Establishment Act – que tira do Rei a função de julgar – fica estabelecida, assim, uma tripartição de poderes. Há duas sutilezas neste fato histórico. Este Poder Judiciário que surge em 1701 leva um período razoavelmente longo de maturação para se instalar. A tripartição se estabelece de maneira clara na Inglaterra apenas em 1730. Na verdade, o Parlamento inglês chamou para si o poder de julgar. A Suprema Corte britânica era uma comissão na Câmara de Lordes. O Parlamento já era claramente definido como bicameral (Câmara dos Lordes e Câmara dos Comuns). Este Poder Judiciário inglês convergia para a Câmara de Lordes, onde se situava a Suprema Corte, e assim permaneceu até 2008, quando se instalou uma Suprema Corte à parte do Parlamento. Montesquieu assumiu a presidência do Parlamento de Bordeaux, um órgão mais judiciário que legislativo. Na França, o Parlamento era episódico, conforme as reuniões convocadas dos Estados Gerais. Com vocação acadêmica, Montesquieu abandona o órgão que presidia e coloca‐se a viajar pelo mundo recolhendo informações para redigir aquela que seria sua obra‐prima, “O Espírito das Leis”. Reside na Inglaterra entre 1729 e 1730, exatamente o período em que a implantação da tripartição de poderes estava sendo concluída naquele país. Encantado com este modelo, Montesquieu escreve “todo homem que tem poder é tentado a abusar dele, indo até onde encontra limites; para impedir isso é preciso que o poder detenha o poder”, concluindo, assim, que aquele modelo institucional previne o abuso de poder. Esta é a razão pela qual o Capítulo VI do Livro XI intitula‐se “Da Constituição da Inglaterra”. Em nenhum momento é usada a expressão “Separação dos Poderes”, dando a entender que a forma de controlar o poder não é a separação, e sim outro mecanismo que estudaremos a seguir. “O Espírito das Leis” é publicado em 1748. Montesquieu vem a falecer em Paris no ano de 1755. Certamente este é um dos livros mais influentes na Teoria Geral do Estado, na Ciência Política e no Direito Constitucional. Montesquieu é tributário de uma antiga tradição, que é a essência de seu pensamento. O referido capítulo se inicia com a frase “Há em cada Estado mundo afora três espécies de Poderes: o poder legislativo, o poder executivo das coisas que dependem do direito das gentes e o poder executivo das coisas que dependem do direito civil”. Poder legislativo: por este Poder, o Príncipe ou Magistrado ou um Senado (um corpo colegiado, um conjunto de pessoas, um Parlamento) faz leis e altera as já postas. O poder executivo das coisas que dependem do direito das gentes (ius gentium): por este Poder, o Príncipe ou Magistrado (detentor genérico de um poder qualquer) envia ou recebe embaixadas, declara guerras e celebra a paz, cuida da ordem interna, instaura a segurança. Trata‐se de uma descrição do Poder Federativo de Locke, de uma Chefia de Estado. Este Poder se chama simplesmente de Poder Executivo. O poder executivo das coisas que dependem do direito civil: por este poder as querelas entre os cidadãos são resolvidas, os criminosos são punidos. O seu nome é o Poder de Julgar. Não há nada mais pernicioso para a realidade de um povo que um Príncipe ou Magistrado concentrar em suas mãos estes três Poderes. Montesquieu ressalta a necessidade de que um poder neutralize o outro. O poder de julgar se autoneutraliza em Montesquieu em razão de características por ele vistas neste poder: o juiz da lei deve ser episódico (para evitar a sensação de opressão permanente) e o juiz deve ser um par do réu (nobre julga nobre e burguês julga burguês). Ainda, o juiz deve ser da escolha do réu (como em Atenas), ou pelo menos, deve ser recusável pelo réu. O judiciário descrito por Montesquieu é pura e simplesmente o júri 21 popular. Resumo dos elementos: o judiciário não é permanente (modo de estrutura); o segundo elemento é o modo de decisão: “o juiz de uma nação não são mais do que a boca que pronuncia as sentenças da lei, seres inanimados que não podem medir nem a sua força nem o seu vigor”. Este é o argumento precursor da escola da exegese: o pressuposto era o de que os códigos poderiam prever todas as situações possíveis – na Prússia chegou‐se a produzir um código de 20 mil artigos. Como o poder de julgar é mera execução do que está no código (mero escravo do código), esta é a razão para ser denominado poder executivo das coisas que dependem do direito civil. O poder de julgar de Montesquieu é neutralizado nele próprio: na sua estrutura (não é permanente) e no seu modo de decisão (“o juiz é a boca da lei”). Exceções ao poder de julgar: há certos rigores da lei que podem e devem ser flexibilizados, adocicados pelo Senado. A literatura intepreta esta assertiva como uma autorização para um juízo de equidade. Ainda, há crimes graves contra o povo para os quais este não pode ser julgador, mais sim acusador perante o Senado – aqui são descritos o que hoje chamamos de crimes de responsabilidade e o processo de impeachment. Como podem ser neutralizados os excessos do Parlamento? Somos livres porque obedecemos a leis que nós fizemos (tradição antiga) – isso é impossível nos grandes Estados e sujeito a muitos inconvenientes nos pequenos. O cidadão comum não tem condição de deliberar sobre os negócios públicos. Há, implicitamente, a defesa do voto censitário, ideia típica do liberalismo clássico. Por outro lado, as pessoas são capazes de escolher representantes dentre os que se distinguem entre seus “vizinhos”. Há aqui a ideia de democracia representativa, expressão que só seria cunhada no século XIX por John Stuart Mill, com base em um voto distrital. Ainda, Montesquieu defende que burgueses devem eleger seus representantes na Câmara dos Comuns e nobres escolhem seus representantes na Câmara dos Lordes. Sabemos que, no Brasil e nos EUA, o bicameralismo não era um corte social (separação entre burgueses e nobres), mas tinha como base uma estrutura federativa18. Neste contexto, para uma lei ser aprovada, deve ter anuência das duas casas, dotadas de dois poderes: faculdade de estatuir (aprovar uma lei) e faculdade de impedir (rejeitar, vetar, reprovar uma lei). Ou há um acordo entre as duas casas, ou não há decisão. O processo decisório ainda tem uma última etapa: o Rei pode sancionar (faculdade de estatuir) e vetar (faculdade de impedir) a produção legislativa. Núcleo do argumento de Montesquieu: “eis então a constituição fundamental do governo de que falamos. Estes três poderes (Rei, Câmara Alta e Câmara Baixa) deveriam formar um repouso ou uma inanição. Mas como, pelo movimento necessário das coisas, eles são obrigados a avançar, serão obrigados a avançar concertadamente”. Trata‐se da comunhão, interpenetração entre estes poderes. Se não houver acordo como fica? NÃO FICA! Montesquieu deseja prevenir aqui o absolutismo. Esta é a interpretação de sua doutrina no contexto histórico em que vivia. A tradição histórica da qual Montesquieu é tributário é a combinação das formas puras: o poder de um (Monarquia), o poder de poucos (Aristocracia) e o poder de muitos (Democracia), algo semelhante ao que ocorria em Roma. No final do século XVIII, o Poder Executivo é cindido: Chefe de Estado e Chefe de Governo. Kelsen define a necessidade de um Tribunal Constitucional que seria um quinto poder. Por fim, temos a ideia moderna de que a Administração Pública seria um sexto poder, permanente a despeito da transitoriedade dos governos, num sentido de continuidade da prestação de serviços públicos. 18 Há países que não são federações e não têm burgueses e nobres e possuem um Parlamento bicameral. O constitucionalismo sugere como fruto de experiência histórica a existência de uma segunda Casa Legislativa mesmo nestas situações, pois esta pode atuar como contrapeso a excessos de uma Casa Legislativa Popular, propensa a demagogias e a paixões