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Direito Processual Penal Marcos Alexandre Coelho Zilli Ter. 9h15-11h (Sala Almeida Junior) 1ª prova: 24 de abril (5 pontos, até suspensão condicional do processo) Sumário 1. Procedimentos – Noções Gerais................................................................................................ 2 2. Procedimento Comum Ordinário .............................................................................................. 6 2.1. Oferecimento da denúncia/queixa...................................................................................... 6 2.2. Rejeição liminar ................................................................................................................. 6 2.3. Citação – modalidades ....................................................................................................... 8 2.4. Resposta escrita. Exceções............................................................................................... 10 2.5. Juízo de admissibilidade................................................................................................... 10 2.6. Audiência de instrução, debates, julgamento ................................................................... 11 2.7. “Mutatio libeli”, “emendatio libeli” ................................................................................. 17 3. Procedimento sumário............................................................................................................. 19 4. Suspensão condicional do processo ........................................................................................ 20 4. Procedimento Sumaríssimo 4.1. Infração de menor potencial lesivo 4.2. Consensualidade no Processo Penal 4.3. Procedimento 4.3.1. Termo circunstanciado 4.3.2. Audiência preliminar 4.3.3. Audiência de instrução e julgamento 5. Suspensão condicional do processo (art. 89, Lei n. 9.099/95) 5.1. Natureza. Distinção 5.2. Requisitos 5.3. Condições. Período de prova 5.4. Efeitos jurídicos 6. Procedimento nos crimes dolosos contra a vida – Tribunal do Júri 6.1. Introdução. Parâmetros constitucionais 6.2. Procedimento no juízo de acusação (1ª fase) 6.3. Pronúncia, impronúncia, absolvição sumária, desclassificação 6.4. Procedimento no juízo da causa (2ª fase) 6.4.1. Preparação 6.4.2. Desaforamento 6.4.3. Sessão Plenária 6.4.4. Quesitos e votação 6.4.5. Sentença Direito Processual Penal Zilli 2012 2 Avaliação: Prova (5 pontos), Questionário analítico de jurisprudência (2,5 pontos – a ser entregue no departamento – 15ª Vara Criminal, 13h-18h, todas as audiências), Acompanhamento de audiências (2,5 pontos), Prova final (10 pontos). 28.02 1. Procedimentos – Noções Gerais O CPP é reflexo de um modelo autoritário. Por exemplo, a prisão processual era regra, sendo a liberdade, a exceção. Além disso, há a hipertrofia do poder jurisdicional (alta concentração de poderes no juiz). A questão assume nova configuração com a Constituição de 1988. A CF estabelece novo paradigma de processo penal (presunção de inocência, direito ao silencia, inadmissibilidade de provas ilícitas, limitações à interceptação telefônica). Houve consenso de que a nova ordem constitucional havia revogado o procedimento “judicialiforme” – procedimento previsto pelo legislador de 1941 e aplicável às contravenções penais. A ação penal seria deflagrado pelo próprio juiz. Hoje, temos o modelo acusatório (art. 129, I, CF). O direito ao silêncio só se consolidou com a Lei n. 10.792/2003 (art. 186, § ún), embora a CF já havia estabelecido este direito em 1988. A Comissão de Reforma do CPP adotou alguns princípios: o CPP precisava se adequar à CF; necessidade de se modernizar o processo penal. Foram elaborados 6 projetos, que tramitaram em separado. Os projetos de procedimentos (Lei 11.719/2008) e de júri (Lei 11.698/2008) foram aprovados, trazendo mudanças significativas. Problemas detectados pela Comissão: a. no regime anterior, havia uma variedade significativa de procedimentos, com efeitos danosos ao cumprimento, dúvidas na aplicação, nulidades, etc; b. o procedimento comum ordinário era excessivamente longo, pautado pela prevalência dos atos escritos; c. a fase postulatória era muito enxuta, com pouco espaço para juízo de admissibilidade; d. a fase instrutória era excessivamente dilatada, dividida, em regra, em 3 audiências (interrogatório, produção da prova oral da acusação, produção da prova oral da defesa); e. quanto ao júri, era antiquado, formal, sessão longa, complexidade dos quesitos. Soluções encontradas: a. racionalização dos procedimentos, buscando uma base procedimental comum; b. prolongamento da fase postulatória; c. concentração da fase instrutória. Mudanças significativas: a. a reforma incluiu a citação por hora certa. Ao lado da citação por edital, inseriu-se uma nova citação ficta, a por hora certa; b. inclusão da resposta escrita. Não sendo caso de rejeição liminar da denúncia/queixa, o juiz abre prazo para que o réu apresente resposta escrita (“contestação” do processo civil). O legislador quis que a resposta escrita atue como exercício manifesto eficiente de defesa técnica. É o momento processual adequado para apresentação das exceções processuais; c. inclusão da “absolvição sumária”. No modelo processual anterior, não era possível julgamento antecipado do processo penal. Com a reforma de 2008, o julgamento antecipado Direito Processual Penal Zilli 2012 3 passa a existir sob a fórmula da “absolvição sumária”. Somente é cabível quando favorável à defesa. Hipóteses: quando evidente que o fato não é típico, quando há excludente de culpabilidade, etc. d. previsão da audiência única (instrução, debates e julgamento). Toda a prova oral será produzida nessa audiência, além dos debates e da produção da sentença na própria audiência. e. deslocamento do interrogatório. No modelo anterior, o interrogatório era um dos primeiros atos processuais. O juiz, recebendo a denúncia/queixa, designava data para o interrogatório. O novo modelo adota uma experiência adquirida com a Lei n. 9.099/95, que previa o interrogatório como um dos últimos atos. O interrogatório hoje ocorre na audiência de instrução, debates e julgamento, após a produção da prova, antes dos debates. f. adoção do princípio da identidade física do julgador. O juiz que preside a instrução deve ser aquele que irá julgar o fato. É decorrência natural da formatação do procedimento (na mesma audiência, ele instrui e julga). Aspectos mantidos pela nova legislação: a. vinculação entre a forma procedimental e a gravidade do crime praticado. No processo penal a questão é relevante na dinâmica dos procedimentos. Os procedimentos são arquitetados de acordo com a gravidade da infração – quanto mais grave a infração imputada, mais dilatado deverá ser o procedimento. Entende-se que se há um risco de condenação por um crime grave, o procedimento dilatado irá conferir maiores oportunidades para a defesa. Ou seja, o procedimento é determinado pela infração imputada. (i) Procedimento comum (art. 394, §1º, CPP): ordinário (maior de 4 anos), sumário (entre 2 e 4 anos), sumaríssimo (menor de 2 anos); (ii) Procedimento especial: Código (responsabilidade de funcionário público, contra a honra, propriedade imaterial) e Leis Especiais (Drogas e Violência doméstica). 06.03 BUSCA E APREENSÃO Definição Busca e apreensão são institutos jurídicos distintos, que podem, inclusive, vir separados. A busca se caracteriza pela restrição a direitos fundamentais, enquanto a apreensão almeja a proteção das provas. Requisitos para violação do direito de domicílio A constituição disciplina, no art. 5º, a casa como asilo inviolável, sua proteção é um direito fundamental. Portanto, é necessário ter alguns requisitos para que haja a violação: a) Imprescindibilidade da violação – é necessário que o interesse da persecução penal se sobreponha ao direito individual. É preciso que a violação seja imprescindível para a persecução penal e naquele caso concreto. b) Necessidade de demonstrar a proporcionalidade Direito Processual Penal Zilli 2012 4 c) Legalidade: só se restringe direito fundamental se houver lei que discipline essa questão. Exemplo: a Constituição admitiu expressamente a inviolabilidade das comunicações telefônicas, sendo que, por muito tempo, não havia a lei que regulamentava a possibilidade de restrição desse direito fundamental. Ou seja, não era possível a restrição. O que se utilizaria para restringir uma liberdade precisa ser inserido também na inviolabilidade do domicílio. Se nos inserirmos a busca e apreensão dela decorrente como um direito individual, ela precisa ser compara às hipóteses de restrição do direito de liberdade. A própria Constituição diz: a) É possível a entrada na casa alheia com o consentimento do morador. Mas qual consentimento é esse? É necessário que seja consentimento de pessoa capaz. Ademais, o consentimento deve ser expresso, claro e objetivo. É preciso que o policial informe para que está lá. b) É possível a entrada em flagrante delito. Mas não é qualquer um: é o flagrante delito real: não é possível entender o flagrante delito estendido, da perseguição penal. c) É possível durante o dia com ordem judicial. d) As demais hipóteses não importam a consecução penal, quais seja, desastre e prestar socorro. Análise de “c”. Que tipo de ordem judicial é necessária? É necessário que a ordem judicial: a) Seja fundamentada – art. 93, IX da CF � todas as decisões judiciais devem ser fundamentadas. b) Seja expedida por uma autoridade competente. Ex: questão de juízes que não pertenciam às varas financeiras e expediram ordens judiciais de busca e apreensão. c) O conteúdo da ordem precisa indicar o mais precisamente possível o objeto que será apreendido – vide art. 243 do CPP. Não se admite mandado de busca e apreensão genérico, vago ou indeterminado. Origem dessa ordem judicial – em quais momentos a ordem pode ser requerida e deferida. a) No curso do inquérito policial – a fim de dar elementos para a instauração da ação penal. Mas e se não há um Inquérito Policial em curso? O policial poderia instaurar, de pronto, o inquérito policial e logo fazer o requerimento de busca e apreensão. Seria uma ordem de busca simultânea à busca e apreensão � Pensar: e se o resultado da busca fosse negativo, o que fazer com ele se não houvesse um inquérito policial? Para onde iria? Ora, quem sofre uma restrição a seu direito fundamental, tem o direito de saber as razões. b) Durante a ação penal. c) Procedimento criminal diverso � procedimento criado pelo MP para que ele investigue determinados crimes. O Ministério Público decide o que deve investigar sem a autoridade policial. Nesse procedimento criminal diverso, é comum o pedido de busca e apreensão e obtém a ordem. Direito Processual Penal Zilli 2012 5 Notar: não há nenhuma lei ordinária que regule o poder investigatório criminal do ministério público, sendo que para restringir direito fundamental é necessária a existência de lei, de modo que as buscas e apreensões realizadas com base nesse procedimento seriam ilegais. d) Inquérito Parlamentar � o art. 58 da Constituição disciplina as comissões parlamentares de inquérito e regulamenta quais são os poderes dessas comissões. É importante notar que o principal escopo do inquérito parlamentar é apurar atos do Legislativo, verificando a adequação de certas leis. Porém, no curso de uma comissão parlamentar de inquérito, é possível que a comissão descubra indícios da ocorrência de ilícitos civis e penais. Nesse caso, as comissões deveriam encaminhar esses indícios para a autoridade competente. Assim, uma vez que o fim das comissões parlamentares não é realizar investigações criminais, não caberia a elas a realização de restrições a direitos fundamentais. Porém, o art. 58, § 3º fala que em poderes semelhantes ao da autoridade judiciária. � Vale notar que trata-se de atecnia, pois existe a reserva de jurisdição. Acontece que, à medida que as comissões de inquérito foram realizadas, as comissões de inquérito começaram a achar que tinham poderes ilimitados. Hoje, a jurisprudência já caminhou bastante no sentido de que a restrição de direitos fundamentais é reservada ao poder judiciário. Conceito de casa Nem a CF nem o CPP dizem de maneira expressa o que é casa. O Código Penal no art. 150, § 4º, no crime da inviolabilidade do domicílio, nos dá o conceito de casa. Este seria um primeiro parâmetro. Casa será considerada qualquer moradia em que o indivíduo exerça em sua plenitude a sua vida privada. Ex.: questão do caminhão – possibilidade de ser considerado casa quando o caminhoneiro está dormindo no caminhão. E o estabelecimento comercial? Também é necessário o mandado judicial, seja pela inviolabilidade do domicílio, seja pela proteção à intimidade. Apreensão Quando a apreensão é decorrente da busca, se a busca é ilegal também a apreensão o será. Mas é possível que a busca seja legal e apreensão seja ilegal. Afinal, é sempre necessário respeitar a intimidade e a vida privada. Pensemos em algumas hipóteses: a) É possível que a autoridade encontre, durante a busca, objetos e coisas não relacionadas às coisas investigadas. b) Encontra, durante a busca, objetos e coisas relacionadas à investigação. c) Não encontra nada. Em “a” e “b” pensamos que, se o policial não fizer nada, ele será acusado de prevaricação, mas se realizar a apreensão terá ato ilegal. A solução mais adequada parece ser: a) No caso de encontrar coisas relacionadas aos fatos investigados, poderiam ser apreendidos documentados relacionados. b) No caso de encontrar coisas que não se relaciona ao caso, seria possível solicitar, simultaneamente a instauração do processo. Direito Processual Penal Zilli 2012 6 Obs.: O CPM é muito mais rígido na maneira de realizar a busca e apreensão. 13.03 2. Procedimento Comum Ordinário 2.1. Oferecimento da denúncia/queixa O processo judicial é iniciado pela denúncia ou queixa-crime. O prazo varia, dependendo da ocorrência de prisão prévia. Em caso de prisão, o prazo é de 5 dias. Caso contrário, 15 dias. O descumprimento desses prazos permite que o ofendido ou seu representante legal possam intentar a queixa subsidiária, no caso de ação pública. O prazo para o oferecimento da queixa subsidiária é de 6 meses. Passado o prazo, temos a extinção da punibilidade, pela decadência. No caso da ação privada, corre desde o início. No caso de ação privada subsidiária, a decadência ocorre 6 meses após o decurso do prazo para oferecimento da ação pelo MP. Quando a denúncia/queixa é apresentada, o efeito principal é o reconhecimento da instauração do processo. A doutrina é majoritária nesse sentido. Há quem entenda que o recebimento da denúncia dá início ao processo. No entanto, Zilli aponta que o processo é (i) procedimento (sequência de atos processuais); e (ii) relação jurídica processual (partes). A relação jurídica processual não precisa estar completa, bastando que apenas um dos elos tenha se estabelecido, com o ajuizamento da ação. A partir daí, o Estado juiz é provocado a se manifestar: ou recebe a denúncia/queixa (presença de admissibilidade), ou rejeita. O recebimento tem efeito no plano penal material relevante: considera-se um marco interruptivo do curso do prazo prescricional. 2.2. Rejeição liminar O juiz deverá fazer o exame da denúncia/queixa, devendo averiguar se é hipótese de rejeição liminar. O art. 43, CPP, revogado em 2008, previa que a denúncia poderia ser rejeitada nas seguintes hipóteses: a. quando o fato narrado não constitui crime; b. quando extinta a punibilidade (prescrição ou outra causa); c. manifesta ilegitimidade de parte ou faltar condição exigida pela lei. A este artigo faltava rigor técnico, por conter questões processuais (c) e de mérito misturadas (a, b). A comissão de especialistas da reforma partiu da premissa de que deveríamos reformular este exame inicial, para conferir mais lógica, devendo estar restrito ao exame dos aspectos processuais (requisitos mínimos processuais de admissibilidade). A comissão adotou a redação do art. 395, que prevê as seguintes hipóteses de rejeição: a. inépcia; b. faltar pressuposto processual ou condição para o exercício da ação penal; c. faltar justa causa para o exercício da ação penal. Inépcia A inépcia é uma deficiência da peça acusatória a ponto que impede seu processamento. A peça acusatória é desprovida dos requisitos mínimos que autorizariam o processamento. Pode haver narrativa confusa sem lógica. É um requisito formal, mas importante. A imputação tem que ser clara. Direito Processual Penal Zilli 2012 7 O art. 41, CPP, estabelece os padrões de admissibilidade da peça acusatória. A falta de rol de testemunhas, no entanto, é fenômeno que não implica inépcia, mas preclusão para requerimento de produção da prova oral. A possibilidade de emenda e abertura de vista ao MP não é expressa no caso. Ausência de pressuposto processual e condição para o exercício da ação O legislador não esclarece o que venha a ser o pressuposto processual e a condição para o exercício. É a doutrina que os define. O pressuposto processual admite que a relação processual não se confunde com a relação de direito material, autonomia científica que o processo ganhou. Os pressupostos processuais são requisitos de admissibilidade. O pressuposto processual não toca o direito material. A doutrina divide em (i) pressupostos de existência e (ii) pressuposto de validade. Os pressupostos de existência são a ação, dirigira ao Estado-juiz, apresentada em parte que detenha capacidade. Os pressupostos de validade são abordados pelo seu aspecto negativo (circunstâncias que não deve estar presentes): litispendência; coisa julgada; incompetência (o juiz declina sua competência, indicando qual é o órgão competente); No caso das condições da ação, o legislador de 2008 e de 41 não arrolam todas. A doutrina divide as condições em gerais e específicas. Na condições gerais, inclui: possibilidade jurídica do pedido (a doutrina ainda se debate, pela questão da legalidade penal. Quando se reconhece ilegalidade, não é a ilegalidade do fato, pois nesse caso seria análise de mérito. A ilegalidade deve vir da narrativa, que não revela cumprimento do tipo penal.), interesse de agir, legitimidade. As condições especiais se aplicam a alguns crimes: requisição do Ministro da Justiça por crime do Presidente da República; representação do ofendido na ação penal pública condicionada; encerramento do procedimento administrativo fiscal dos crimes tributários (jurisprudência consolidada. A Súmula Vinculante 24, STF, estabelece que não se tipifica o crime antes do lançamento do débito. É questão de justa causa). Justa causa A justa causa é uma expressão empregada para tudo no processo penal, na prática. No sentido restrito técnico, a reforma de 2008 atribuiu à justa causa a conotação de que se ausente, leva à rejeição da denúncia/queixa. Para a Profa. Maria Tereza, a justa causa para o exercício da ação penal deve ser interpretada em sentido amplo, envolvendo (i) a legalidade da acusação e (ii) a existência de elementos probatórios suficientes. Quando o fato narrado é atípico, falta justa causa (não é possibilidade jurídica do pedido). Quando a ação penal é intentada por acusador público em ação privada, falta justa causa. Do mesmo modo, ausentes indícios de autoria suficientes ou materialidade de acusação. Zilli entende que a mudança de 2008 torna inviável esse posicionamento. O art. 395 destacou justa causa em separado da falta de pressuposto ou outra condição de ação. Logo, o legislador entende ser um elemento diferente destes. A justa causa deve ser interpretada no sentido que o direito norteamericano entende por “probable cause”: elementos mínimos que definam a causa como causa penal provável. Haverá justa causa quando encontrarmos elementos mínimos que Direito Processual Penal Zilli 2012 8 confiram sustentabilidade à acusação, tornando-a admissível (demonstração da ocorrência do crime e indícios de autoria). Ex. O MP atribui a alguém o crime de falsidade documental. O exame pericial que atestaria falsidade do documento ainda não ficou pronto. Não há justa causa pela falta de materialidade ao crime. A reforma de 2008 desejava novo procedimento: apenas com a resposta do réu é que se faz o juízo de admissibilidade, para que o juiz tenha todas as condições para vislumbrar o recebimento. Se receber a denúncia ou queixa, o juiz designa audiência (art. 399). O legislador modificou o art. 396 que a rejeição liminar é feita antes, e ordenará a citação do acusado e a apresentação de resposta escrita após. A doutrina se questiona quanto ao momento do recebimento. 1ª posição (Prof. Scarance): são dois recebimentos. Se não for hipótese de rejeição liminar, teríamos um recebimento liminar que se tornaria definitivo após resposta escrita. 2ª posição: o primeiro momento, previsto no art. 396, antes da resposta escrita, sem rejeição liminar (entendimento adotado pela maioria da jurisprudência); 3ª posição: o recebimento ocorre conforme o art. 399 (maioria da doutrina). Três posicionamentos a respeito do recebimento da denúncia/queixa: a. há 2 momentos: recebimento e resposta escrita; b. recebimento sem rejeição preliminar; c. só com a resposta do réu. Após aditamento, deve o juiz abrir prazo para que a defesa se manifeste. 2.3. Citação – modalidades O art. 363, CPP, estabelece que a citação estabiliza o processo. A reforma de 2008 (Lei 11.719) alterou sua redação. A formação do processo, diz o artigo, é completada quando realizada a citação do acusado. O que o legislador quis dizer é que a relação processual se completa com a citação. Com esta, o acusado toma plena ciência de que contra ele foi intentada uma ação penal. Este dispositivo tem implicância importante: uma vez citado, qualquer aditamento da denúncia/queixa dependeria de citação do acusado/querelado. 20.03 A citação é um dos atos que informa o réu/querelado que ele está sendo acusado. Ela formaliza a formação da relação processual, concretizando o exercício da ampla defesa. A falta de citação importará no reconhecimento da nulidade (art. 564, III, e, CPP). A nulidade pode ser sanada se o réu comparece espontaneamente ao processo. O comparecimento deve ser espontâneo, antes da consumação do prazo para oferecimento da resposta escrita (art. 570). Os efeitos da citação válida são: a. início do prazo para o oferecimento da resposta escrita (10 dias, contados da realização do mandado, independente da juntada); b. estabilidade na formação da relação processual (art. 363); c. fixação de obrigações ao réu/querelado, como comparecimento quando intimado, comunicação de eventual alteração de endereço (art. 367); Temos duas formas de citação: real/pessoal ou ficta. A citação pessoal ou real é realizada diretamente na pessoa do réu. Ao contrário, a citação ficta não é realizada diretamente, mas por Direito Processual Penal Zilli 2012 9 meio de outros mecanismos que geram presunção de que o réu tenha tomado conhecimento dos termos da acusação. A citação pessoal pode ser por mandado, por precatória, por rogatória, por carta de ordem, por requisição. A citação por mandado é aquela realizada no próprio juízo da causa (quando o réu nela reside). O mandado será cumprido pelo oficial de justiça, o qual localizará o réu e o dará por citado, entregando-lhe uma cópia da acusação. Quando o réu reside em outra jurisdição, a citação será realizada por precatória. A precatória é uma solicitação de auxílio judiciário. O juízo da causa depreca o ato citatório para ato de outro juízo. Expedida a carta precatória, ela é encaminhada ao juízo onde o réu reside e o oficial de justiça dessa comarca procurará o réu. O prazo, reitere-se, começa a correr do ato citatório, não da juntada do mandado. (Súm 710, STF). Certificado que o réu mudou-se para uma terceira comarca, o juiz deprecado deverá encaminhar a carta até esta nova comarca, comunidando o juiz deprecante. Percebe-se, portanto, que a precatória tem caráter itinerário. A terceira forma de citação pessoal é a citação por rogatória. As hipóteses são duas: quando o réu reside no estrangeiro, em local sabido, ou quando o ato citatória tiver que ser realizado nas legações estrangeiras (embaixadas). A questão envolve a cooperação internacional, incentivada por tratados bilaterais ou multilaterais. O CPP já prevê que enquanto não tive sido cumprida, o prazo fica suspenso. A citação por carta de ordem também pressupõe auxílio do Judiciário, mas entre órgãos de graus diferentes. Os tribunais superiores ordenam e os juízes acatam. A citação por requisição se aplica a militar. A citação ficta é uma presunção. A citação por edital é uma delas. O legislador incorporou (Lei 11.719) ainda a citação com hora certa (art. 362). O oficial constata que o réu está se ocultando, após comparecer três vezes ao local indicado como sua residência. O oficial comunicará ao familiar ou vizinho que retornará em dia e hora certa. Efetivada a citação, começa a fluir o prazo para apresentação de resposta escrita. Tendo fluído o prazo e o réu não apresentou resposta escrita, o juiz nomeia um defensor dativo para se encarregar da defesa do réu. A defesa técnica é irrenunciável. Mas isso depende de qual tipo de citação foi realizada. Se a citação foi pessoal, a conseqüência é nomeação de defensor dativo. No entanto, se a citação foi por edital, incide o art. 366, o processo fica suspenso e o prazo prescricional também, sem a nomeação de defensor. O processo voltará a correr, quando o réu comparecer. O juiz pode, no entanto, dar início à produção antecipada de provas. Na citação com hora certa, não oferecida resposta, o juiz nomeará defensor dativo (art. 362, par. ún.). A doutrina critica, afirmando que deveria ser dada a mesma conseqüência do caso de citação por edital, por haver lesão à ampla defesa. Outra corrente oposta sustenta que o réu está se ocultando, o que enseja a continuação do processo. A revelia no processo penal possui hipóteses e efeitos diversos ao processo civil. Direito Processual Penal Zilli 2012 10 Hipóteses. a. a revelia ocorre quando o réu não comparece a um ato processual, embora oficialmente intimado; b. quando o réu muda de endereço e não comunica. As duas hipóteses estão relacionadas aos deveres do réu quando citado regularmente. Há revelia quando o acusado, citado pessoalmente ou por hora certa, não apresenta resposta escrita no prazo de 10 dias? Sendo a defesa técnica irrenunciável, não é cabível atribuir os efeitos da revelia ao réu sem defesa técnica. Efeitos. a. a revelia em processo penal em nenhum momento gera presunção de veracidade dos fatos alegados (os valores são indisponíveis e os interesses são públicos); b. desobriga o Estado- juiz de continuar procurando o réu para intimá-lo. 2.4. Resposta escrita. Exceções Se a citação é pessoal ou com hora certa e comparece ou não comparece (e o juiz nomeia defensor dativo), haverá resposta escrita. A defesa técnica pode apresentar todas as questões importantes para o exercício da ampla defesa (preliminares e mérito). O CPP é assistemático quando às preliminares. As preliminares são todas as que não configuram as exceções processuais. As exceções processuais são suspeição, incompetência, ilegitimidade de parte, litispendência e coisa julgada. Querendo impugnar alguns desses pontos, o réu deverá apresentar exceção junto com a resposta escrita, a qual será julgada em apartado. O legislador entendeu que essas questões merecem processamento em apartado, para sua dilação probatória própria. As preliminares, que restam, são condições da ação (exceto ilegitimidade), inépcia da denúncia/queixa e ausência de justa causa. A resposta é o momento para apresentar testemunhas, até o limite de 8 no procedimento ordinário. 2.5. Juízo de admissibilidade Na admissibilidade, as alternativas possíveis ao juiz são: a. rejeição da denúncia/queixa (divergência doutrinária – alguns aceitam rejeição da denúncia nesse momento, por não considerarem haver recebimento até a resposta); b. absolvição sumária. O art. 397 estabelece dever ao juiz de absolver sumariamente o acusado quando verificar existência de excludente de ilicitude, de excludente de culpabilidade, salvo inimputabilidade (insanidade – cabe medida de segurança), conduta atípica (o legislador usou “crime”, quando quis dizer “fato típico”) ou extinção de punibilidade. Nesse último caso, não há absolvição, é caso de decisão terminativa que reconhece a extinção da punibilidade do Estado. A doutrina critica que nesse rol do art. 397 não incluiu duas situações: que o réu não realizou o crime e que o fato não existiu. O art. 415 trata da absolvição sumária no procedimento do júri e inclui essas duas hipóteses. Podemos complementar o rol do art. 397 com o rol do art. 415, para evitar situação absurda. 28.03 Direito Processual Penal Zilli 2012 11 2.6. Audiência de instrução, debates, julgamento Fases: 1. instrução; 2. interrogatório; 3. requerimento de diligências; 4. debates; 5. sentença. Instrução A audiência é una: produção de prova oral, inquirimento do acusado, realização de diligencias suplementares, debates finais orais e, finalmente, a sentença. Então, há uma série de atos processuais que são praticados na audiência e que bem ilustram essa ideia de concentração dos atos processuais e maior eficiência do processo. Ademais, é importante destacar que o prazo para a realização da audiência é de 60 dias contados do despacho que designa a audiência. O legislador foi bastante rigoroso dizendo que a audiência não será objeto de adiamento, salvo se houver algum impedimento no comparecimento do defensor. Mesmo assim, esse impedimento deverá ser alegado e demonstrado no início da audiência. Prova oral Toda a prova oral deverá ser produzida nessa audiência. Nessa produção temos a possibilidade de realizar as seguintes diligências: 1) Oitiva do ofendido 2) Inquirimento das testemunhas 3) Oitiva do esclarecimento dos peritos 4) Assistentes técnicos 5) Acariação 6) Interrogatório Oitiva do ofendido O ofendido é o sujeito passivo da infração penal. O Estado é sempre um sujeito passivo de qualquer tipo penal, mas não é a esse ofendido que o legislador faz referencia. O legislador refere-se ao sujeito material da ofensa. O sistema do processo penal estabelece uma obrigatoriedade na oitiva do ofendido, de modo que o ofendido devera ser ouvido “sempre que possível”. A obrigatoriedade que emana dessa fórmula se justifica pela própria premissa do processo penal, que é necessidade de nos aproximarmos o máximo possível da verdade. Ora, o ofendido terá muitos aspectos para esclarecer o que realmente ocorreu. O modo de inquirição em muito obedece a forma ee inquirição da própria testemunha. Oitiva das testemunhas Direito Processual Penal Zilli 2012 12 Quem é testemunha? Toda a pessoa que tenha presenciado o fato criminoso integralmente ou parcialmente. Ou, ainda, a pessoa que tenha tomado conhecimento de alguma forma do fato criminoso ou de alguns aspectos que estão aí relacionados. Ou seja, nós estamos diante de uma fonte de prova. Daí surge a ideia de meio de prova, que é a prova testemunhal. Quem leva essa pessoa ao processo é, inicialmente, as próprias partes, que apresentam um rol de testemunhas. O momento processual adequado para a apresentação desse rol é: a) Acusador � quando do oferecimento da denuncia ou queixa, sob pena de preclusão. b) Defensor � momento que coincide com a apresentação da resposta escrita (10 dias), sob pena de preclusão. Embora caiba as partes a indicação das testemunhas que pretendem ouvir, ao juiz também é permitido e autorizado a determinação de oitiva ou testemunha que não tenha sido arrolada pelas partes (at. 209 do CPP). O art. 209 é uma clara expressão dos poderes instrutórios do juiz. Aqui, o legislador foi expresso na possibilidade de oitiva de testemunha não arrolada pelas partes. O número limite de testemunhas é de 8 testemunhas (procedimento comum ordinário), por economia processual. O número de testemunhas se refere a cada fato controvertido (apesar de a leitura literal dizer o contrário) � noção de vinculação entre fatos e testemunhas. Até porque nós estamos falando de fontes de provas, fontes de provas que se relacionam aos fatos imputados. Embora o legislador tenha estabelecido esse limite máximo, ele abre algumas exceções. Ou seja, pessoas que não seriam computadas para atingir esse número limite máximo de 8 testemunhas. São elas: a) O ofendido � até porque ele não propriamente uma testemunha. b) Pessoas que ofertarem declarações. Mais especificamente, aquelas indicadas pelo art. 206 do CPP. São as pessoas que tiverem uma relação de parentesco para com o acusado. Elas não são submetidas ao compromisso de dizerem a verdade. c) Os doentes mentais d) Os menores de 14 anos. e) Testemunhas referidas � pessoas que foram referidas por outras testemunhas e que eram, até então, desconhecidas. Como as partes teriam sido pegas de surpresa pela referência, não se poderia impedi-las de solicitar a oitiva dos referidos. Ou seja, é possível que as partes requeiram a oitiva dessas pessoas referidas, ou não. De qualquer maneira, o juiz poderá determinar também a oitiva dessas pessoas. Quando a designação da audiência serão expedidos mandados de intimação. É uma ordem que a testemunha compareça. Se ela não o fizer, embora devidamente intimada, se as partes não abdicarem e sua oitiva, a testemunha será conduzida coercitivamente (isso é feito pelo oficial de justiça e, se necessário, com reforço policial). Ademais, o juiz poderá condenar a testemunha a pagar as custas do oficial de justiça, bem como condená-la ao crime de desobediência. Duas exceções: Direito Processual Penal Zilli 2012 13 a) Hipóteses em que as testemunhas poderiam se recusar a depor (art. 206 do CPP) – pessoas que tenham uma relação de parentesco com o réu. Essa recusa, no entanto, não é automática. Ou seja, mesmo diante de uma recusa, o juiz poderá ouvir aquela pessoa se ele não tiver outra possibilidade de construir o material probatório. b) Pessoas proibidas de depor, que são aquelas que têm o dever de resguardar sigilo em razão de profissão, ofício ou ministério. Por exemplo, o médico psiquiatra, o sacerdote, escrevente que acompanhou uma audiência em segredo de justiça. Elas, porém, podem prestar depoimento se autorizadas pela parte para quem o sigilo foi desenhado. Mas, mesmo com essa autorização, o profissional poderia recursar-se a depor, por entender que isso contraria seus deveres funcionais. Dúvida: pode o co-réu ser arrolado como testemunha? Não. Primeiro, porque ele é parte, sendo envolvido na relação material. Ou seja, ele não atende o requisito inicial da testemunha que é ter presenciado o fato material, sem nele ter tomado parte. Ademais, há a questão de que o acusado não é obrigado a exercer prova contra si mesmo. Qual é a ordem de inquirição das testemunhas? 1) Acusação 2) Defesa 3) Juiz Obs.: Antes das testemunhas de acusação, será ouvida a vítima. No entanto, nós poderemos ter problemas pelo fato de a audiência ser una. O problema existe quando a testemunha reside em outra comarca, caso em que a testemunha tem o direito de ser ouvida por carta precatória (instrumento de cooperação judiciaria). E quando essas testemunhas que residem em outra comarca são testemunhas de defesa? O legislador, na reforma de 2008, resolveu o problema da seguinte forma: se for necessária a expedição de carta precatória, nós não precisaríamos cumprir à risca a ordem estabelecida em lei: elas seriam ouvidas antes da data da audiência. Mas, aqui, deve haver muito cuidado: diante do choque de valores, o legislador deu ênfase à celeridade. Assim, ela só é possível quando não houver choque com valores maiores, como a ampla defesa. Nesse sentido, muitos têm considerado que não é possível a inversão probatória quando isso prejudicar a defesa. A jurisprudência abranda essa questão, afirmando que tudo vai depender do conteúdo dessa prova. Se se trata de uma testemunha que não narrará nada do fato delituoso, não ocorrerá prejuízo. Porém, se for uma testemunha presencial, ouvi-la antes da audiência importaria prejuízo à defesa. Importante notar: quando há a violação da ampla defesa, a prova torna-se nula. Forma de inquirição das testemunhas: não é permitido que as testemunhas tragam seu depoimento por escrito. Mas a legislação traz algumas exceções: - Presidente e vice-presidente da República - Presidente do senado ou da câmara Direito Processual Penal Zilli 2012 14 - Presidente do STF. Nada impede que a testemunha faça consultas a breves anotações. O que ela não pode é ler as anotações, porque isso desconfiguraria a produção oral das provas. Antigamente, o juiz era o presidente da audiência: as perguntas eram dirigidas ao juiz, que as retransmitia às testemunhas. O objetivo era impedir perguntas irrelevantes ou que conduzissem as testemunhas. Porém, houve mudança no processo, assemelhando-o ao sistema adversarial: hoje é possível que as partes façam perguntas diretamente às partes. O juiz interferirá posteriormente. Se o juiz entender que a pergunta é impertinente ou irrelevante, ele indefere a pergunta e a consigna em ata. A ordem de inquirição da testemunha X obedece a ordem da parte que arrolou a testemunha. Se o juiz tem alguma dúvida, ele pode pedir esclarecimentos. Se, durante esses esclarecimentos, a testemunha revela um fato novo, o juiz deve necessariamente dar oportunidade a nova rodada de perguntas, na mesma dinâmica. Na testemunha do juízo, quem começa a inquirir é o juiz. Encerrada a inquirição pelo juiz, ele abre a oportunidade para a acusação fazer as perguntas e, em seguida, para a defesa. As respostas da testemunha serão, a princípio, reduzidas a termo, que deverá ser firmado por ela e pelos demais. O CPP, porém, recentemente, permitiu que isso fosse por outros meios, como: gravação, estenotipia, e filmagem. Duas observações: - presença influenciadora do acusado (art. 217 do CPP). A presença do réu poderá causar medo, constrangimento, de forma a comprometer a própria prova. Diante dessa hipótese, o legislador possibilita o acolhimento do depoimento por videoconferência. Na impossibilidade de realizar a hipótese de vídeoconferência, o réu é retirado da sala (notar: redução da ampla defesa na modalidade da autodefesa). O defensor técnico continua na sala, haja vista que a defesa técnica é irrenunciável. - contradita: impugnação da testemunha feita pela parte, porque a testemunha é parcial ou porque há alguma proibição no depoimento daquela testemunha. A contradita tem que ser oferecida antes do depoimento. Aí o juiz pergunta a testemunha sobre aqueles fatos e toma uma decisão. Ouve-se o ofendido (art. 201, caput). Ouvem-se as testemunhas. O número máximo de testemunhas é da ordem de oito pessoas, e estas deverão prestar compromisso de dizer a verdade. Podem ser ouvidas mais pessoas (parentes do réu), mas estas não prestam esse compromisso. O art. 206, CPP, estabelece um rol de pessoas que mantém uma relação de parentesco com o acusado – elas não se submetem ao compromisso de dizer a verdade. Do mesmo modo, o cônjuge, os deficientes mentais e os menores de 14 anos (art. 208). São testemunhas referidas as pessoas indicadas, que tenham presenciado o fato criminoso, até então desconhecidas no processo. Essa testemunha não se inclui no limite de 8, pois há uma surpresa para as partes. Deve haver uma análise quanto à pertinência e a necessidade dessa testemunha (art. 209). Direito Processual Penal Zilli 2012 15 Sendo fonte de prova, há obrigação da testemunha em prestar depoimento, por dever de cooperação com a justiça. Será, portanto, intimada da data da audiência. Se não comparecer e a parte não prescindir de seu depoimento, o juiz poderá requisitar força policial ou determinar que oficial de justiça a conduza coercitivamente. Pode, ainda, requisitar instauração de inquérito para apurar crime de desobediência. No entanto, há duas exceções: a. pessoas que podem se recusar a depor: parentes do acusado; No entanto, será produzida essa prova oral caso não haja possibilidade de complementar a prova por outras vias. Mesmo assim, não serão submetidas a compromisso. Outras pessoas, por força de função ou profissão, estão obrigadas a resguardar sigilo – psiquiatra, psicólogo, sacerdote. O legislador estabelece norma mais enfática. Essas pessoas estão proibidas de depor. Apenas se a parte interessada no resguardo do sigilo liberasse a pessoa para depor, ela poderia fazê-lo; b. Merece referência o regime estabelecido para os advogados. O Estatuto da Advocacia impõe dever de resguardo do sigilo profissional, em caráter absoluto. O corréu pode atuar como testemunha? Há doutrina que entenda que não é possível, pois contra ele é dirigida a acusação. Sempre lhe será resguardado o direito ao silêncio e de não se autoincriminar. Apenas no interrogatório poderá ser ouvido. Em primeiro lugar, ouvem-se as testemunhas arroladas pela acusação, depois de defesa e, por último, as do juiz. É possível realizar oitiva de testemunhas por carta precatória. Pode ocorrer, portanto, que a ordem seja invertida: ouvem-se as testemunhas da defesa antes das de acusação. Mas essa hipótese é criticada pela doutrina, pois há determinadas garantias que se sobrepõem à celeridade, como a ampla defesa. A inversão é inconstitucional, por ofensa à ampla defesa. A forma de produção da prova testemunha é oral. Não se admite o fornecimento de depoimento por escrito. Ela tem que comparecer no dia designado e fará oralmente sua exposição. É necessário o contato direto entre juiz e testemunha. Nada impede que, durante o depoimento, ela possa consultar anotações, para lembrar de detalhes. Podem, no entanto, prestar depoimento por escrito algumas autoridades: Presidente e Vice da República, Presidentes do Senado, da Câmara e do STF. Além disso, o juiz deve tomar a cautela para que as testemunhas não tenham contato entre elas e não ouçam os depoimentos de outras. Deve-se assegurar a validade da prova. Ainda no âmbito da forma, a reforma de 2008 alterou o regime. Antes, vigorava o sistema presidencialista – as partes inquiriam as testemunhas por intermédio do juiz. A acusação formulava uma pergunta que era dirigida ao juiz e este reperguntava à testemunha. A premissa era evitar alguma pergunta direcionada. O sistema mudou. As partes perguntam diretamente à testemunha sem a prévia interferência do juiz – aspecto ligado ao modelo adversarial dos sistemas anglosaxônicos. O juiz pode interferir depois da formação da pergunta, indeferindo as perguntas impertinentes ou que puderem conduzir a resposta. As respostas e perguntas são lavradas a termo. O juiz pode solicitar esclarecimentos à testemunha, quando lhe resta alguma dúvida que deve ser dirimida. Pode ocorrer a chamada presença constrangedora do réu. Se for constatado que a presença do réu pode intimidar ou humilhar a testemunha, o juiz poderá colher o depoimento pelo expediente da videoconferência. Na impossibilidade de tomar o depoimento pela Direito Processual Penal Zilli 2012 16 videoconferência, está o juiz autorizado a retirar o réu da sala de audiência e colher depoimento (art. 217, CPP). Outro aspecto é a contradita. É a impugnação do depoimento de uma pessoa. Ela pode ser apresentada pela parte antes do depoimento. O motivo é a parcialidade do réu – relação de parentesco (art. 206), proibição de prestar depoimento (dever de sigilo). O procedimento da contradita é a impugnação da parte antes do depoimento. O juiz ouve as razões e indaga a pessoa a respeito da veracidade e decide pela possibilidade de compromisso de veracidade. Por fim, para encerrar a instrução, são apresentados esclarecimentos dos peritos. Pode a parte solicitar esclarecimentos ao perito (art. 159, §5º, I). Os esclarecimentos devem ser prestados por escrito, em laudo complementar, porque seu deslocamento pode prejudicar suas atividades. É necessário prévio requerimento pela parte, em 10 dias antes da data de audiência. Dúvidas: prazo é para parte ou para a expedição do mandado de intimação. Não há posicionamento claro a esse respeito. Além dos esclarecimentos do perito, podem as partes requerer a oitiva dos assistentes técnicos. O CPP, na regulamentação do trabalho pericial, estabeleceu a possibilidade das partes estabelecerem assistentes técnicos. Eles apresentam parecer após laudo pericial. Ambos estão submetidos ao compromisso de dizerem a verdade. No caso do perito, se ele fala inverdade, estará sujeito ao crime de falso testemunho e de falsa perícia. O mesmo não se verifica em relação ao assistente técnico. Após todas essas fases da instrução, tem-se a possibilidade de acareação, que é o confronto a que são submetidas determinadas pessoas que prestaram declarações ou depoimentos no curso do processo. Havendo contradição em pontos relevantes, cabe acareação. As pessoas são colocadas frente à frente e serão apontados os aspectos contraditórios. Elas deverão esclarecer as contradições apontadas. Pode ser submetido à acareação – o expediente é amplo – qualquer pessoa (testemunhas, ofendido, réu). Interrogatório O interrogatório é dividido em duas partes: qualificação e mérito. Na primeira parte, o réu será indagado quanto aos aspectos pessoais (trabalho, família, comportamento social). A finalidade é extrair a personalidade do réu e colocá-lo em contato com o juiz. O interrogatório de mérito visa a apurar elementos da acusação. Ele ofertará sua versão sobre os fatos. O interrogatório é um meio de autodefesa. O direito ao silencia, cristalizado pela doutrina e jurisprudência, só se aplica ao interrogatório de mérito. Na qualificação, deve manifestar-se. Não pode atribuir-se falsa identidade. A forma do interrogatório é iniciado pelo próprio juiz. É ele que faz as perguntas. Após, é concedida às partes a oportunidade de realizar perguntas ao réu. A ordem dessas perguntas é: em primeiro, a acusação (MP, querelante, assistente). Em seguida, defensor técnico. Em caso de vários réus com diferentes defensores, se justifica a possibilidade do defensor do réu comprometido fazer perguntas, antes do defensor do réu interrogado. 10.04 Diligências complementares Direito Processual Penal Zilli 2012 17 Após o interrogatório, existe a possibilidade de apresentação de diligências complementares (art. 402). Essas diligências tem origem nas circunstâncias e fatos apurados na instrução. Pode ser que tenha ocorrida a preclusão, mas há fatos que surgem durante a instrução. Fatos relatados por testemunha ou levantado por prova pericial podem exigir diligências complementares. O juiz poderá deferir ou indeferir o pedido de diligência. Se o juiz indeferir, passa-se para os debates. Convencido da necessidade, pertinência e utilidade das diligências, deverá o juiz deferi-las. Nesse caso, a audiência se encerra sem alegações finais, para a realização das diligências. Em seguida, deverão as partes apresentarem memoriais, para posterior prolação de sentença. Os memoriais substituem os debates (art. 404). Havendo complexidade no caso ou pluralidade de réus, o julgador poderá converter os debates em memoriais (art. 403, §3º), a serem apresentados no prazo de 5 dias. São situações excepcionais, a regra é a oralidade e a celeridade. Debates É o momento em que as partes fazem uma exposição a respeito das teses jurídicas e os elementos colhidos na instrução. São 20 minutos para a acusação e defesa, podendo ser prorrogado por mais 10 minutos (art. 403). No caso de pluralidade de réus, com defensores distintos, o prazo é autônomo. É dizer, cada réu tem seu tempo independente. Havendo assistente de acusação, a ele será concedido prazo de 10 minutos para manifestação, após o MP. Nesse caso, a defesa terá 10 minutos adicionais (totalizando 30 ou 40 minutos). Sentença Não necessariamente a sentença será proferida em audiência. O juiz pode acreditar não estar preparado para decidir no ato, devendo os autos irem à conclusão para decisão em 10 dias. A sentença rege-se pelo princípio da identidade física (art. 399, §2º). O juiz que tiver presidido a sessão, deverá proferir sentença. O art. 132, CPC, aplica-se por analogia, por inexistência de dispositivo análogo no CPP. O juiz que presidiu a instrução deverá proferir sentença, exceto em caso de afastamento, promoção, férias regulamentares ou aposentadoria. Nesse caso, passará ao seu sucessor. 2.7. “Mutatio libeli”, “emendatio libeli” Trata-se de dois institutos alterados pela reforma de 2008. A ideia está relacionada à correlação entre acusação e sentença. O juiz, ao proferir a sentença, não pode fugir dos fatos imputados, narrados na acusação. São duas as hipóteses: a. o juiz constata que a qualificação jurídica não é a mesma atribuída pelo acusador. É caso de emendatio libeli (art. 383). Direito Processual Penal Zilli 2012 18 Ex. O MP, ao oferecer denúncia, narra as circunstâncias fáticas de furto e qualifica-o juridicamente como roubo (art. 157, CP). Ex2. O MP, ao oferecer denúncia, narra o furto de um objeto de dentro de um veículo, por meio de rompimento do vidro. Juridicamente, qualifica-o como furto simples (art. 155, caput, CP), e não furto qualificado (§4º, I). Nos dois casos, há um problema de tipificação. Se não houver mudança no fato após a instrução probatória, pode o juiz reconhecer a nova definição jurídica sem que haja necessidade de adequação da acusação. Nesse caso, o juiz não inova nos fatos, apenas lhe dá qualificação distinta. E pode fazê-lo. O réu se defendeu dos fatos. São três as consequências: o juiz pode constatar incompetência (art. 383, §2º), remetendo os autos ao juízo competente no caso de incompetência absoluta. Sendo competência relativa, ocorrer prorrogação de competência; sendo cabível, poderá propor suspensão condicional do processo (art. 383, §1º); proferir sentença. b. o juiz constata distinção entre o fato imputado e o fato revelado pela instrução probatória. É caso de mutatio libeli (art. 384). Ex. o MP atribui ao réu um furto, mas a instrução probatória mostra que houve emprego de violência. Ex2. o MP narra o furto de uma bolsa de um carro que estava com a porta aberta, mas a instrução mostra que houve rompimento do vidro. Nesses casos, o juiz não poderá prolatar sentença, pois não houve exercício de defesa em relação aos fatos revelados na instrução. Deverá ocorrer readequação da acusação, por meio de aditamento, que pode ocorrer na próxima audiência. Oferecido o aditamento, o juiz deve dar oportunidade para que a defesa se manifeste, seja diretamente em audiência ou no prazo de 5 dias. A defesa pode, inclusive, requerer a produção de prova oral. Há, portanto, uma reabertura de fase postulatória. Pode ocorrer, no entanto, que o MP não queira fazer o aditamento. Aplica-se o art. 28, CPP, remetendo-se os autos ao Procurador-Geral. O juiz não pode reconhecer os fatos. O Procurador- Geral poderá nomear outro promotor ou aditar ele mesmo. Os autos retornam ao juízo, para manifestação da defesa e retomada da marcha processual. O PG pode ainda entender que não se trata de caso de aditamento. Os autos retornam ao juízo, para debates e julgamento. O juiz julgará os fatos imputados, não revelados na instrução. O juiz está circunscrito aos termos da inicial, só poderá condenar por furto simples. No caso de imputação de crime consumado e comprovação de crime tentado, a jurisprudência entende que o juiz pode conhecer direto do pedido, sem necessidade de emenda (a consumação já engloba a tentativa). No caso de imputação de crime doloso e comprovação de crime culposo, há alteração nos fatos (imperícia, negligência e imprudência são matérias fáticas), não pode o juiz conhecer de ofício. 17.04 Direito Processual Penal Zilli 2012 19 3. Procedimento sumário Primeira diferença: quantidade de testemunhas: no máximo 5. Segunda diferença: prazo para a realização da audiência de instrução, debates e julgamento. O prazo é de 30 dias. Terceira diferença: não há previsão de diligência complementares. Quarta e quinta: são apontadas por parte da doutrina (não há um consenso) – a) obrigatoriedade dos debates – há um entendimento de que no procedimento comum sumário, o legislador não fixou a possibilidade de conversão dos debates em memorais, razão pela qual não seria possível a referida conversão (Professor Badaró). Entretanto, trata-se de entendimento que não foi acolhido pela jurisprudência, que acredita na possibilidade, ainda que opcional, de conversão dos debates em memoriais sem que isso acarrete em nulidade. B) a sentença deveria ser proferida em audiência, não sendo possível chamar o processo em conclusão para que a sentença fosse proferida posteriormente. Mas também foi entendimento que não foi acolhido pela jurisprudência. No exame do procedimento comum sumário, tirando as diferenças explicitadas, não há muita diferença em relação ao procedimento ordinário. - o processo se inicia com a denuncia ou queixa, também com os requisitos do 145. - oferecimento da denúncia ou queixa. Se o juiz entende que estão ausentes os requisitos, o juiz rejeitará a denuncia/queixa. - se não for caso de rejeição liminar, teremos a possibilidade do processamento. O entendimento doutrinário nosso é o de que o oferecimento somente ocorreria depois da resposta escrita. Mas a jurisprudência entende de maneira diferente. - citação. - apresentada a resposta escrita, surge para o juiz três hipóteses a) rejeição tardia, b) absolvição sumária (art. 397, I a 4), que pode ser complementado pelo art. 415 do CP, embora o art. 415 faça referencia ao Tribunal do Júri, c) Recebimento/ratificação do recebimento anteriormente feito, com a designação da audiência de instrução debates e julgamento – a ser realizada no prazo de 30 dias. Obs.: a diferença principal da audiência em relação a do procedimento ordinário é a impossibilidade de realização de diligencias complementares.Ocorre a denúncia/queixa, que deve cumprir os requisitos do art. 41, podendo arrolar 8 testemunhas (art. 532). Poderá o juiz rejeitar liminarmente (art. 385, I, II e III). Não ocorrendo a rejeição liminar, o juiz ordenará o processamento (art. 396) e a citação do réu. Há dúvida na doutrina em qual momento ocorre o recebimento da denúncia. A citação poderá ser pessoal (art. 351), por hora certa (art. 382) ou por edital (art. 381). A audiência de instrução e julgamento (art. 531) deve ser determinada no prazo de 30 dias. Ocorre a instrução (oitiva das testemunhas de acusação e defesa, art. 532; peritos, art. 159), o interrogatório (art. 185), os debates (art. 534) e prolação da sentença (art. 399, §2º). Na sentença, cabes as hipóteses de mutatio e emendatio libeli. Direito Processual Penal Zilli 2012 20 4. Suspensão condicional do processo A matéria é regida pelo art. 89 da Lei n. 9.099/95. A lei de juizados especiais civis e criminais trouxe regulamentações que não ficam limitadas aos crimes de menor potencial ofensivo. Por exemplo, a suspensão condicional do processo. O art. 89 foi inserido posteriormente no projeto. A SCP é aplicável aos crimes de menor potencial ofensivo e aos demais. O legislador quis introduzir no regime processual uma via alternativa de solução do conflito penal, que não passasse necessariamente por todas as etapas de um processo penal tradicional. O legislador buscou apoio em uma política criminal – há uma opção pela ideia de desburocratização e despenalização. Afasta-se o estigma social do processo. A SCP leva à suspensão do curso do processo penal, para verificar se o acusado mostra indícios de reinserção social. Ao final, verificado que a pessoa cumpriu todos os requisitos, o processo é encerrado e é extinta a punibilidade. Não se pode confundir a SCP com o sursis. O sursis está previsto no art. 77 do CP e implica a suspensão condicional da execução da pena privativa de liberdade. O sursis supõe prévio processo, inclusive a prolação de sentença condenatória que impõe pena privativa de liberdade. Ele permite que a execução desta pena fique suspensa. Cumpridas as condições, será declarada extinta a pena. Na SCP, ao contrário, o andamento do processo é suspenso já na etapa inicial do procedimento, em regra. Se cumpridas as condições pelo réu, tem-se o encerramento do processo e extinção da punibilidade. A doutrina denomina de “sursis processual” a SCP. Não confundir. Do mesmo modo, não se pode confundir a SCP com a probation, do direito norteamericano. Esta está mais próxima do sursis. No processo penal norteamericano, o julgamento ocorre separadamente, sendo a culpa provada em uma primeiro audiência e a imposição de sanção na segunda. A probation ocorre entre essas etapas. Apesar de culpado, o réu pode cumprir certos requisitos que impedem a imposição de sanção. A SCP não se confunde com a plea bargaining, também presente no direito norteamericado. Há liberdade de acordo entre acusação e defesa dentro e fora do processo. Na SCP, há margem para consenso, mas é mais reduzida, pois os requisitos para a sua realização estão previstos em lei. Além disso, os efeitos da SCP também estão definidos em lei. Por fim, não confundir com o plea guilty. Neste, há uma estratégia de defesa – o réu confesso recebe tratamento benéfico na condução do processo e imposição da pena. Pressupõe, portanto, uma admissão de culpa em frente ao juiz, que levará a tratamento processual e penal privilegiado. Na SCP não há admissão de culpa. O fato de o réu aceitar as condições de suspensão jamais será interpretado como reconhecimento de culpa. A natureza jurídica da SCP é mista, com efeitos processuais e penais. Em primeiro lugar, supõe a paralisação do processo em caso de aceite (efeito imediato) e a suspensão do prazo prescricional. Há potencial extinção do processo (efeito mediato, aspecto processual) e potencial extinção da punibilidade (aspecto penal material). Direito Processual Penal Zilli 2012 21 A característica principal da SCP é a consensualidade1. Há uma proposta e aceitação (bilateralidade). A Lei n. 9.099 traz novos parâmetros, como a valorização do consenso no processo. No entanto, não basta a proposta e a aceitação. A SCP está submetida à supervisão judicial. Não é ato que fica a cargo exclusivo das partes processuais, devendo o juiz exercer controle de legalidade. Existem alguns princípios que norteiam o processo penal e que tem influência sobre a SCP. O princípio da obrigatoriedade da ação penal estabelece que a ação de iniciativa pública é obrigatória quando observados seus requisitos fundamentais (indícios de autoria e materialidade delituosa). Não há incompatibilidade entre a SCP e esse princípio, porque só podemos falar em proposta de SCP se tiver sido ajuizada a ação penal. A SCP depende do oferecimento da ação. O princípio da presunção da inocência não é contrariado pela SCP, na medida em que esta não implica admissão de culpa, mas apenas representa uma estratégia defensiva. O princípio da legalidade é respeitado, pois a SCP é regulamentado por lei. Preenchidos seus requisitos, a proposta tem que ser feita. Existe um direito subjetivo do réu/querelado à SCP. Os requisitos para a SCP (art. 89, caput) são: a. A pena mínima do tipo imputado não pode ser superior a um ano. Desconsideram-se as situações agravantes e atenuantes. Deve-se considerar as causas de aumento e diminuição de pena (ex. furto qualificado, pena mínima de 2 anos, mas se tentado, tem pena mínima menor de 1 ano). No caso de concurso material, deve-se somar as penas mínimas abstratamente cominadas. Cf. Súm. 723, STF) b. O réu não pode ser réu em processo em curso. Esse requisito, no entanto, parece violar o princípio da presunção de inocência, pois a existência de processo não revela condenação. O STF, no entanto, entendeu sê-lo constitucional (HC 83.725). c. Inexistência de condenação anterior por outro crime. Cf. art. 64, I, CP. Parte da doutrina entende que se a condenação já superou o prazo capaz de gerar reincidência, ela seria desconsiderada. d. Requisitos do art. 77, CP: não reincidência em crime doloso (supõe condenação anterior); circunstâncias judiciais favoráveis (art. 59, CP – presonalidade do agente, consequências do crime, conduta social, antecedentes, etc.). Os interesses na SCP estão acima: há interesse público na solução do litígio. O primeiro entendimento formado foi no sentido de que o juiz poderia suprir a ausência de proposta por parte do MP/querelante. No entanto, a evolução culminou na súmula 696, STF, que dispõe que na hipótese de não apresentação de proposta, o juiz não pode suprir, aplicando por analogia o art. 28, CPP (encaminhamento dos autos ao procurador-geral). No caso de ação privada, o MP deverá, enquanto custus legis, suprir a falta de iniciativa do querelante. O momento para a propositura da SCP é o oferecimento da denúncia/queixa. A lógica é que o processo ficasse paralisado. No entanto, é possível que a SCP serja oferecida posteriormente, por erro do acusador e do juiz, ou no caso de emendatio ou mutatio libeli. 1 Outro exemplo de consensualidade no processo penal é a possibilidade de audiência de conciliação no caso de crimes contra a honra. Direito Processual Penal Zilli 2012 22 As condições para o cumprimento da SCP (art. 89. §1º, Lei 9.099) são: a. reparação do dano, salvo em caso de impossibilidade; b. proibição de frequentar determinados lugares; c. proibição de ausentar-se da comarca; d. comparecimento mensal em juízo; e. não envolvimento em outro crime ou contravenção. Existem condições adicionais que o juiz pode fixar (§2º). A parte pode sugerir as condições e o juiz pode acolhê-las. O prazo da SCP será determinado pelo juiz, entre dois e quatro anos. Deverá ocorrer uma audiência para que seja dada aceitação ou recusa à SCP. O réu será ouvido pelo juiz. A aceitação é ato personalíssimo. O acusado fica vinculado às condições às quais concordou. Imprescindível que um defensor auxilie o acusado, devendo ele também concordar com os termos. Deve prevalecer a vontade do réu sobre a vontade do defensor. É possível haver contraproposta por parte do acusado, que pode ser acolhida pelo acusador. Não basta a aceitação para que a suspensão produza seus efeitos. É necessária homologação da proposta e aceitação pelo juiz. A partir desse momento, o processo fica suspenso, assim como o prazo prescricional. Dá-se início ao período de prova, em que o réu deverá cumprir os requisitos acordados.gv