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0 GUILHERME PERUCHI RECURSOS EM ESPÉCIE Professor Associado Carlos Alberto de Salles e Professor Doutor Marcelo José Magalhães Bonício UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE DIREITO SÃO PAULO, 2012 1 [AULA INTRODUTÓRIA] APRESENTAÇÃO E INTRODUÇÃO À DISCIPLINA A. Apresentação A presente disciplina será ministrada por dois docentes: o professor Marcelo José Magalhães Bonício, até a data da prova parcial (27 de setembro), e pelo professor Carlos Alberto de Salles, em período subsequente. A bibliografia na qual se pode embasar o estudo da matéria é ampla, mas o professor indica especialmente o livro de Barbosa Moreira, Comentários ao Código de Processo Civil, volume V, editado pela Editora Forense. B. Noções introdutórias O sistema recursal civil é parte de um sistema de impugnações regulado pelo ordenamento jurídico. As decisões judiciais que não favorecem uma determinada parte processual podem ser objeto de impugnações várias. Os recursos são somente uma parte deste sistema, mas não o esgotam. Além dos atos recursais, a lei nos apresenta o mandado de segurança, a ação rescisória, os embargos à execução, os embargos de terceiro e até mesmo um mecanismo chamado de impugnação como possibilidades de contrariar e reverter um ato jurisdicional. Assim sendo, tais mecanismos permitem defender, a partir de uma ideia de combatividade, os interesses sociais, jurídicos, econômicos e sociais de um sujeito de direito, potencialmente constrangidos por uma decisão judicial. Os recursos, em especial, são regulados por lei e pelo princípio da taxatividade, não podendo qualquer parte apresentar um recurso que não esteja expressamente previsto no sistema jurídico. 2 [TEMA 1] AGRAVO I. AGRAVO DE INSTRUMENTO A. Conceito O nome de agravo de instrumento deriva das regras dispostas nas Ordenações do Reino. O conceito de "instrumento" está relacionado ao modo de interposição deste recurso: ele é apresentado ao Tribunal competente por meio de cópias do processo, as quais passam a formar um instrumento sobre o qual julga a corte. O agravo de instrumento é interposto contra decisões interlocutórias, decisões estas que, pelo menos em potencial, geram prejuízo à parte recorrente. São exemplos de decisões interlocutórias: decisão de indeferimento de oitiva de testemunha (prejuízo potencial), indeferimento de justiça gratuita e deferimento de medida liminar/antecipação de tutela (resultados concretos e imediatos na esfera jurídica do sujeito de direito). Assim sendo, não cabe interposição de agravo de instrumento contra despachos, pois esses não geram efeitos prejudiciais à esfera jurídica da parte. Ou seja, decisões cujo conteúdo seja uma ordem de intimação ou o agendamento de uma audiência não são passíveis de impugnação por meio desse recurso. B. Objetivo O agravo de instrumento visa a reverter uma decisão interlocutória que causa prejuízo, seja concreto, real e imediato, ou potencial. O artigo 522, caput, prescreve a forma de instrumento no caso de decisões interlocutórias que sejam suscetíveis de “causar à parte lesão grave e de difícil reparação”. 3 O prejuízo, ao menos em potencial, ressalta a existência do interesse de agir. Daí dizer que um mero despacho não é recorrível. C. Prazo O prazo previsto para interposição do agravo de instrumento é de 10 dias. As exceções estão previstas no artigo 188 do Código de Processo Civil: computa-se em dobro o prazo da Fazenda Pública e do Ministério Público para recorrer. Ademais, a Lei n.º 1.060/50, em seu artigo 5º, §5º, prevê também prazo em dobro para o Defensor Público ou quem exerça função equivalente. Além disso, em caso de litisconsórcio com procuradores diferentes, haveria também direito ao prazo em dobro (artigo 191, CPC). Sem embargo, entende a jurisprudência de que esse direito somente nasce na esfera jurídica das partes quando houver pedido expresso para que os prazos se contem em dobro, não bastando a existência da figura processual do litisconsórcio para tal. D. Procedimento O recurso se interpõe diretamente ante o tribunal competente (Tribunal Regional Federal ou Tribunal de Justiça) através de cópias dos autos do processo. Os documentos que se lhe exigem ao agravante para apresentação do recurso estão arrolados no artigo 525 do Código de Processo Civil: I - obrigatoriamente, com cópias da decisão agravada, da certidão da respectiva intimação e das procurações outorgadas aos advogados do agravante e do agravado; (Redação dada pela Lei nº 9.139, de 30.11.1995) II - facultativamente, com outras peças que o agravante entender úteis. As cópias da decisão agravada (que pode ser apresentada mediante cópia do Diário Oficial), da certidão de intimação e das procurações das partes permitem que o tribunal conheça do recurso, auferindo a tempestividade e a legitimidade dos procuradores em interpor o agravo. 4 De acordo com o professor, no tocante à interpretação do inciso II ao artigo 525, deve-se ressaltar que, dependendo de cada caso concreto, a facultatividade de um documento pode-se converter em obrigatoriedade, dependendo de sua existência o conhecimento ou não do agravo pelo tribunal. É dizer, a "falta de peças necessárias ao entendimento da controvérsia", argumento bastante utilizado nos acórdãos, ressalta que há outros documentos obrigatórios que não aqueles previstos no inciso I do mesmo artigo. E. Efeitos Interposto o agravo, em tese este terá apenas efeito devolutivo, mantendo-se os efeitos da decisão de primeiro grau agravada. Todavia, é interessante para parte agravante a obtenção de efeito suspensivo, de maneira a suspender a exequibilidade da referida decisão, que pode ser uma liminar de incontornáveis efeitos jurídicos (exemplo: paralisação de uma empresa), ou efeito ativo, no caso de a decisão agravada negar pedido de prestação positiva (exemplo: hipótese de indeferimento de antecipação de tutela)1. Para a obtenção do efeito suspensivo ao agravo, é necessário: ∝ Pedi-lo, com base no artigo 558 (efeito suspensivo) ou 273 (efeito ativo, antecipação de tutela), ambos do Código de Processo Civil. ∝ Demonstrar que além do prejuízo imediato ou potencial que fundamenta o agravo, existe uma urgência na concessão do pedido, muitas vezes associada a uma irreparabilidade ou dificuldade de recomposição da situação fática atacada. ∝ Pedir uma audiência pessoal com o desembargador ou ministro. Na maioria das vezes a urgência exige um despacho com o magistrado. 1 O efeito ativo não é mais que a antecipação de tutela recursal (artigo 527, III c/c artigo 273, CPC). 5 Supondo que o desembargador entenda que não há perigo ou dano irreparável, este pode: (i) conhecer do agravo sem efeito suspensivo ou ativo, mantendo o efeito devolutivo; (ii) transformar o agravo de instrumento em agravo retido (artigo 527, II, CPC), uma vez que não enxergue a urgência nem tampouco o prejuízo que consubstancia o agravo, “a lesão grave e de difícil reparação”. Reconhecendo-se a configuração de prejuízo e urgência, (iii) conhece do agravo com o efeito suspensivo ou ativo, deferindo a liminar pretendida. Tal decisão jurisdicional não é passível de recurso, segundo determina o próprio artigo 527, §único, do Código de Processo Civil. Sem embargo, quando nenhum recurso é cabível, sempre há a possibilidade de impetrar mandado de segurança, devendo-se demonstrar um erro grotesco, vez que o ataque de atos jurisdicionais por meio desse remédio constitucional não tem muita aceitação da jurisprudência. F. Regras procedimentais específicas Deve-se interpor o agravo de instrumento ante o presidente da Seção de Direito Público ou de Direito Privado do tribunal, de acordo com a competência legal. Na falta desses, interpõe-se ante a própria presidência do tribunal. Caso seja negado, ainda há a possibilidade de recurso ao Superior Tribunal de Justiça ou ao Supremo Tribunal Federal. Ademais, pela regra do artigo 526 do Código de Processo Civil, compete ao agravante, no prazo de três dias, apresentar ao juiz de primeiro grau que proferiu a decisão agravada, cópias do agravo interposto, sob pena de o recurso não ser conhecido. Ou seja, a norma jurídica descrita no dispositivo legal cria uma condição de admissibilidade para o julgamento do mérito do recurso. Tal exigência permite dar ciência ao juiz e dar oportunidade ao magistrado de primeiro grau para que exerça seu juízo de retratação (a reforma da decisão). No tocante a essa regra processual, devem-se fazer duas observações: 6 Se o juiz se retratar, o agravo será considerado prejudicado, uma vez que não mais existirá o interesse de agir recursal. A ausência no cumprimento do artigo 526 precisa ser alegada pela outra parte2. Se não o fizer, tampouco pode conhecer de ofício o juízo do recurso. Deve-se destacar que tal posição não é pacífica, nem tal orientação é a predominante. A maioria da doutrina entende que as condições de admissibilidade são matéria de ordem pública, podendo-se reconhecer de ofício em momento oportuno, o qual seria basicamente aquele no qual o juiz presta informações ao tribunal e fundamenta a decisão agravada (artigo 527, IV, CPC). II. AGRAVO RETIDO A. Conceito e objetivo O agravo retido deve ser interposto contra as decisões interlocutórias que não produzem prejuízo processual real ou imediato às partes. Ou seja, não se configura a situação de quebra de expectativas no âmbito do processo. Um exemplo é a decisão que indefere a realização de uma perícia: ainda que a produção probatória se considere importante pela parte, não há prejuízo imediato e real, uma vez que não se sabe o resultado da produção de tal prova. Se há prejuízo concreto, não se pode utilizar o agravo retido por falta de interesse de agir recursal. É dizer, no caso de perecimento do objeto de prova, caberia somente agravo de instrumento. 2 A parte contrária pode pedir uma certidão ao cartório do juízo para que esse certifique o incumprimento do artigo 526 do Código de Processo Civil naquele processo. 7 B. Procedimento O agravo retido não é interposto no tribunal, mas sim ante o próprio juiz que proferiu a decisão atacada, e somente será julgado pelo tribunal competente quando houver recurso de apelação da sentença. Assim, o julgamento do agravo retido fica postergado ao momento do julgamento da apelação, daí a impossibilidade de sua utilização quando configurar-se prejuízo imediato e concreto. Ou seja, de acordo com o princípio da eventualidade, o agravo é julgado caso o agravante seja derrotado em primeiro grau e, ainda que não, se considera importante a reanálise da questão. A peça processual fica retida e apensa ao processo e, em sede de apelação, o apelante deve declarar, em suas preliminares de recurso, a existência do agravo retido e pedir seu julgamento, sob pena deste não ser conhecido pelo órgão colegiado. Se deferido, julga-se prejudicada a apelação e é anulada a sentença, devolvendo-se os autos ao juízo de primeiro grau para a realização da perícia, por exemplo. É relevante salientar, mais uma vez, que em razões ou contrarrazões de apelação, o agravo deve ser suscitado pela parte agravante. Caso não o for, o agravo retido não pode ser conhecido pelo tribunal. C. Vantagem A principal vantagem do agravo retido é evitar a preclusão, a perda da faculdade processual de discutir determinada questão. Assim, mantêm-se vivas as possibilidades de rediscussão de várias questões processuais no caso de perda do caso em primeira instância. D. O agravo retido em audiência O legislador, por medidas de economia e celeridade processual, determinou que as decisões proferidas em audiência só podem ser agravadas na forma oral, imediatamente no momento em que são enunciadas pelo juiz. 8 Ainda que sejam raras as decisões significativas proferidas em audiência, esse mecanismo, dado seu caráter especialmente dinâmico, exige uma grande atenção dos advogados e membros do Ministério Público, uma vez que a ausência do agravo gera preclusão da faculdade processual correspondente. Um exemplo deste tipo de decisão seria aquela que denega a oitiva de uma determinada testemunha. E se houver prejuízo imediato em decorrência da decisão ditada em audiência, como aquela que determina a quebra de sigilo bancário do réu ou defere uma liminar da parte contrária? O agravo retido oral não tem efetividade para reverter a situação jurídica danosa. Diante de tal conjunção de fatos, seria possível adotar duas posições: 1. Impetrar mandado de segurança; 2. Manifestar-se, perante o juízo, acerca do interesse da parte em agravar, impugnar a decisão. O juiz considerará como interposto um agravo retido oral. Terminada a audiência, tiram-se cópias da ata de audiência e interpõe-se agravo de instrumento ante o tribunal competente, alegando que o agravo retido não tem interesse recursal, eis que há prejuízo imediato e dano irreparável, requisitos objetivos do agravo de instrumento, o qual não está previsto na lei neste caso de decisão proferida em audiência. III. AGRAVO INTERNO O agravo interno está previsto no artigo 557, §1º, do Código de Processo Civil3. Interpõe-se contra decisão monocrática do relator que negar seguimento a recurso manifestamente inadmissível, improcedente, prejudicado ou em confronto com súmula ou jurisprudência das cortes superiores. 3 Art. 557. O relator negará seguimento a recurso manifestamente inadmissível, improcedente, prejudicado ou em confronto com súmula ou com jurisprudência dominante do respectivo tribunal, do Supremo Tribunal Federal, ou de Tribunal Superior. (Redação dada pela Lei nº 9.756, de 17.12.1998) § 1o-A Se a decisão recorrida estiver em manifesto confronto com súmula ou com jurisprudência dominante do Supremo Tribunal Federal, ou de Tribunal Superior, o relator poderá dar provimento ao recurso. (Incluído pela Lei nº 9.756, de 17.12.1998) § 1o Da decisão caberá agravo, no prazo de cinco dias, ao órgão competente para o julgamento do recurso, e, se não houver retratação, o relator apresentará o processo em mesa, proferindo voto; provido o agravo, o recurso terá seguimento. (Incluído pela Lei nº 9.756, de 17.12.1998) 9 Tal instituto visa a conferir celeridade ao procedimento e economia processual ao sistema, gerando a desnecessidade de levar-se a mesa um recurso que é manifestamente inadmissível ou que contraria entendimento sedimentado pelos tribunais. O agravo interno, em contrapartida, força o julgamento pela turma do tribunal. IV. AGRAVO REGIMENTAL O recurso de agravo regimental está previsto no regimento interno de cada tribunal do país. No Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, o agravo regimental interpõe-se contra decisões que indeferem os pedidos de liminar4. Sendo assim, o recurso não pode versar sobre o mérito da questão. Não há sustentação oral nestes casos, assim como em nenhum tipo de agravo. Por fim, há que falar da existência do agravo que pode ser interposto contra decisão que nega seguimento aos embargos infringentes (artigos 530 e 532, CPC). 4 [Regimento Interno TJSP] Art. 253. Salvo disposição em contrário, cabe agravo, sem efeito suspensivo, no prazo de cinco dias, das decisões monocráticas que possam causar prejuízo ao direito da parte. § 1º Esse recurso também terá cabimento em matéria administrativa prevista em lei e em questões disciplinares envolvendo magistrado. § 2º Não cabe agravo regimental na hipótese do art. 269 e na fase de exame da admissibilidade ou de processamento de recurso extraordinário ou especial. § 3º A petição conterá, sob pena de indeferimento liminar, as razões do pedido de reforma da decisão agravada. Art. 254. O agravo, processado nos próprios autos, será julgado pelo órgão competente para a apreciação do feito originário ou de eventual recurso na causa principal. Art. 255. O prolator da decisão impugnada poderá reconsiderá-la; se a mantiver, colocará o feito em Mesa, independentemente de inclusão em pauta, proferindo voto. 10 [TEMA 2] APELAÇÃO A. Conceito A apelação, prevista no artigo 513 do Código de Processo Civil, é o recurso mais complexo e mais importante do sistema. Somente pode ser interposta contra sentença, sendo esta de mérito ou meramente terminativa. Em virtude de ser interposta exatamente contra a sentença, é relevante ressaltar o conceito deste ato jurisdicional. A partir de uma prescrição legal (artigo 162, §1º, CPC), a “sentença” seria o ato do juiz que implica em uma das situações previstas nos artigos 267 e 269 do mesmo diploma legal. Por outro lado, a doutrina processualística sempre conceituou a sentença como sendo o ato por meio do qual se extingue o processo. No caso de uma decisão que reconhece a ilegitimidade de uma das partes coautoras, o conteúdo do ato jurisdicional está de acordo com o artigo 267, VI, o que caracterizaria legalmente uma sentença, mas não tem eficácia extintiva do processo. Tal decisão é claramente reconhecida como uma decisão interlocutória, pois, ainda que tenha conteúdo de sentença, em decorrência dos critérios legais, seu conteúdo é de decisão interlocutória, cabendo agravo. Assim, é relevante analisar a natureza de sentença não somente por meio dos critérios oferecidos pelo Código de Processo Civil, mas também levar em consideração o critério tipológico, sob pena de incorrer em erro acerca do recurso certo a interpor contra determinado ato jurisdicional. A apelação, ao contrário do agravo (na forma de instrumento), é interposta ante o juízo de primeiro grau contra decisão que põe fim ao processo. É formada por duas partes, a saber: a petição de interposição e as razões recursais. Uma parte minoritária da jurisprudência exige uma inovação dos argumentos nas razões recursais, quando comparados àqueles elencados na petição 11 inicial ou contestação. Sem embargo, insta destacar que a inovação de que se trata não permite a alegação de fatos novos, mas diferentes teses, argumentos jurídicos e pontos de vista. B. Efeito O recurso de apelação geralmente terá efeito suspensivo (artigo 520, CPC). A sentença, assim, só poderá ser executada depois que esse recurso seja julgado pelo tribunal competente. Apenas em sete hipóteses, previstas nos incisos do artigo 520 e cujo rol não se considera taxativo (numerus apertus), o efeito suspensivo não estará presente. Ademais, há outros exemplos em que a eficácia da decisão apelada não se suspende, como no caso do mandado de segurança (14, §3º, Lei n.º 12.016/09). C. Prazo O prazo para interposição da apelação é de quinze dias, contados a partir da intimação, que se faz em audiência (artigo 242, §1º, CPC) ou por meio da imprensa ou diário de justiça eletrônico. Em regra, os prazos são contados com exclusão do dia do começo e com inclusão do dia de vencimento (artigo 184, CPC). Todavia, o processo eletrônico – autorizado pela Lei n.º 11.419/06, submeteu a contagem dos prazos a novos critérios. Bem explica a matéria o professor HUMBERTO THEODORO JÚNIOR5: No caso de intimação pelo Diário de Justiça Eletrônico, os prazos serão contados segundo as regras comuns já vigorantes para as comunicações de atos processuais pela imprensa (art. 236, caput, e 184, §2º). A Lei nº 11.419 define como data de publicação, para efeito da eficácia de intimação, “o primeiro dia útil seguinte ao da disponibilização da informaç4ao no Diário de Justiça Eletrônico” (art. 4º, §3º). Consequentemente, os prazos, que se 5 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. V. 1. 52. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2011, p. 261. 12 abrem em função dessa modalidade de intimação, “terão início no primeiro dia útil que se seguir ao considerado como data de publicação” (art. 4º, §4º). D. Preparo Para apelar, segundo as regras estaduais, é preciso recolher 2% do valor da causa. Essa guia de recolhimento, que precisa acompanhar o recurso de apelação, é denominada de preparo do recurso de apelação (artigo 515, CPC). No ato da interposição do recurso, impende demonstrar que o preparo foi feito. Inexistindo o preparo, o recurso é julgado deserto (artigo 511, CPC). E. O contraditório Feito o preparo, esse recurso é interposto perante o mesmo juiz que proferiu a sentença; portanto, é interposto em primeiro grau de jurisdição. Apresentada a apelação, a outra parte é intimada para apresentar as contrarrazões a esse recurso, efetivando-se o princípio do contraditório. Ou seja, enquanto uma parte pede a reforma ou invalidação da decisão, a outra parte apresenta seus argumentos a favor da manutenção do decisum. F. O exame de admissibilidade do recurso O artigo 518 do Código de Processo Civil se aplica a todos os recursos, não apenas ao recurso de apelação. Ou seja, sempre haverá o chamado juízo de admissibilidade recursal. É o juiz de primeiro grau de jurisdição que realiza o exame de admissibilidade, antes e depois da apresentação das contrarrazões. Sem embargo, ele não é definitivo. O Tribunal, destinatário do recurso, poderá reapreciá-lo. Os pressupostos de admissibilidade são: legitimidade, tempestividade, preparo e adequação. 13 Cabe agravo à decisão que nega seguimento à apelação. O recurso cabível é o agravo de instrumento, forçando a subida imediata do recurso de apelação que se encontrava paralisado em primeiro grau. O tribunal julgará o agravo e, se lhe der provimento, apreciará a apelação. G. O procedimento no Tribunal Se em determinado processo em que houve apelação, já havia sido interposto um agravo anterior, a apelação será destinada à mesma turma que julgou o agravo, não por questões de atribuição de competência pelo Código de Processo Civil, mas por regras regimentais do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. Ou seja, reconhece-se que, quando já houver sido distribuído agravo, a turma fica preventa para julgamento do recurso de apelação. Na Justiça Federal de São Paulo tem-se a mesma dinâmica. H. Questões importantes quanto à apelação � Quanto à matéria de fato, é vedada a inovação no recurso de apelação. Ou seja, o objeto da lide já se definiu pelos fatos narrados na petição inicial ou na contestação, não se admitindo a introdução de fato novo no processo pelo recurso de apelação. Sem embargo, se houve fatos novos no curso do processo, após a manifestação das defesas, em tese, permite-se sua alegação em sede de apelação (artigo 462, CPC). Assim, dificilmente haverá possibilidade de modificação no quadro fático do processo, inclusive porque a doutrina pugna pela interpretação restritiva e excepcional do artigo 462 do Código de Processo Civil, afirmando que o fato novo a que se refere o artigo 462 é na realidade o mesmo fato já alegado na petição inicial ou na contestação e que sofreu alguma modificação no curso do processo. 14 � E provas novas sobre fato já alegado, isso é possível? Não. Em tese, o direito de produção probatória já foi alcançado pela preclusão, são sendo possível a apresentação de novas provas no recurso de apelação. No entanto, a jurisprudência admite a nova prova documental, pois documentos podem ser produzidos a qualquer momento durante o processo. Qual o motivo dessa complacência jurisprudencial? A prova documental será objeto de manifestação da outra parte, sendo que esta será intimada para contestar a prova apresentada ou apresentar outra, submetendo ao contraditório a prova documental ingressa no processo. Com esse novo documento espera-se um novo resultado, uma nova apreciação do caso concreto. Em circunstâncias excepcionais, o tribunal não trabalhará admitirá essa excepcionalidade e mandará excluir a prova do processo, dependendo tudo do caso concreto e do poder de argumentação das partes. � Ainda que não possível a alegação de novos fatos, sempre é possível a apresentação de novas teses jurídicas. Qual o fundamento dessa possibilidade? A ideia de que o juiz conhece o direito (iura novit curia), mas ele não está adstrito aos fundamentos das partes. Assim, o juiz pode julgar procedente o pedido do autor com base no Código Civil quando, na verdade, o pedido foi fundamentado nas regras do Código de Defesa do Consumidor. Da mesma maneira, as partes podem alterar suas razões ao apresentar novo recurso. 15 [TEMA 3] EMBARGOS INFRINGENTES A. Conceito Os embargos infringentes são considerados a continuidade do recurso de apelação, ainda que também sejam cabíveis contra ações rescisórias. Terão os mesmos efeitos que a apelação; assim, se essa tiver efeitos suspensivos, os embargos infringentes os terão. O conceito dos embargos infringentes está fundamentado em um pressuposto: a divergência entre os desembargadores que julgaram um recurso de apelação (artigo 530, CPC). A divergência dos votos não deve ter como conteúdo questões de admissibilidade do recurso, mas sim seu mérito, objeto. Assim sendo, o julgamento do recurso de apelação ou da ação rescisória deve ter sido por maioria dos membros da turma, que se compõe de três desembargadores (relator, revisor e o terceiro juiz que eventualmente desempata), e não por unanimidade. Como a grande maioria dos recursos de apelação é decidida por unanimidade, a incidência prática do recurso é baixa, inferior a 5% das causas. B. Objetivo e fundamento O objetivo de tal recurso é valorizar o voto vencido, tentando convencer os demais juízes de que aquele é o melhor entendimento a ser seguido pela corte. O objeto dos embargos infringentes é, assim, o pedido de prevalecimento do voto divergente. Seu fundamento é a valorização da harmonia dos julgamentos. É relevante ressaltar que, nos tribunais superiores, há um recurso semelhante: os embargos de divergência. Este é cabível, sob o mesmo fundamento, quando o julgamento de uma turma divergir de outra sobre o mesmo tema. 16 C. Competência para julgar A competência para julgamento dos embargos infringentes depende de determinação do regimento interno de cada tribunal. Ora a competência pode ser da mesma turma que conheceu e julgou a apelação ou a ação rescisória, ora pode ser de outra turma ou mesmo da mesma turma com a convocação de outros desembargadores. A solução do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (artigo 39, RITJSP) é de manter a competência da mesma turma com a convocação de dois outros desembargadores, passando o recurso a ser julgado por cinco juízes. O Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro adotou regra diversa: os embargos infringentes são julgados por outra turma do tribunal. D. Peça recursal Assim como o recurso de apelação e o agravo, os embargos infringentes são opostos através de duas petições: a petição de interposição, dirigida ao presidente do Tribunal, e a petição de razões, que, dirigida à turma julgadora, expõe os fundamentos do recurso. E. Os limites do recurso: a impossibilidade de inovar Os embargos infringentes estão restritos aos limites da divergência estabelecida pelos votos dos desembargadores. Ou seja, o embargante não pode ir além desses limites sob pena de não ter seu recurso conhecido na parte em que extrapola o objeto legalmente permitido. Dentro da divergência, podem-se alegar novos fundamentos e teses jurídicas, não havendo limitação aos expostos pelo voto divergente. 17 F. Hipóteses de cabimento dos embargos infringentes i. Só é cabível a oposição de embargos infringentes ao julgamento da apelação ou da ação rescisória. ii. A decisão do tribunal deve ser por maioria, sendo essencial o voto divergente, vencido. A divergência deve estar contida no resultado prático da decisão e não em sua fundamentação (exemplo de inexistência de divergência: três desembargadores negam provimento à apelação, dois por reconhecerem o caso fortuito e um por entender não ter ocorrido a prescrição). iii. É preciso que se trate de decisão de mérito. Ou seja, ela deve atingir o pedido, o direito material subjacente à relação jurídica processual, e não mera questão processual (ilegitimidade da parte ou falta de pressuposto processual, por exemplo). iv. Os embargos infringentes somente são admissíveis em caso de reforma da decisão de mérito proferida pelo juízo de primeiro grau de jurisdição e não em sua confirmação pelo tribunal. Ausentes quaisquer destes pressupostos, que são cumulativos, os embargos infringentes não serão conhecidos pelo tribunal. O prazo para oposição é de 15 dias. G. Os embargos infringentes e a “teoria do voto médio” A chamada “teoria do voto médio” está relacionada àquelas situações nas quais se proferem, no julgamento de uma turma, três votos divergentes. Ou seja, ainda que incomum, mas tecnicamente possível, os desembargadores defendem três posições distintas e inconciliáveis. Tais fatos ocorriam até os anos 1980 e alguns autores defendiam que, no caso de três votos condenatórios (x, y, z), poder-se-ia realizar uma média aritmética (x+y+z/3) para chegar-se à decisão da corte. Nestes casos, ambas as partes poderiam opor embargos infringentes. 18 [TEMA 4] RECURSO ESPECIAL E RECURSO EXTRAORDINÁRIO I. FUNÇÃO INSTITUCIONAL DOS RECURSOS No que toca ao Supremo Tribunal Federal e ao recurso extraordinário, tem-se que sua função é a preservação da ordem constitucional. Por outro lado, o Superior Tribunal de Justiça nasceu com o objetivo de distribuir competências até então unificadas sob titularidade da Suprema Corte, quel exercia a função de tutela da ordem constitucional e aquela relativa à proteção da integridade e uniformidade da aplicação do direito federal. Daí, o Superior Tribunal de Justiça passa a exercer a competência de decidir como a legislação federal será interpretada, em quais circunstâncias será aplicada, etc., descarregando um pouco as atribuições do STF. Os recursos excepcionais ou extraordinários lato sensu não são a terceira ou quarta instância no processo civil brasileiro, isso inexiste. Esses dois recursos não são como a apelação ou o agravo – são recursos de superposição. Visam a dar efeito à legislação federal, incluída a Constituição, de modo que haja uma interpretação e aplicação uniforme da lei em toda a jurisdição brasileira. II. CABIMENTO DOS RECURSOS O cabimento dos recursos é definido constitucionalmente (artigo 102, III, e 105, III, CF). As competências dos dois tribunais superiores vêm sendo entendidas, pelas duas cortes, de maneira bastante estrita: compreendem que este estabelecimento constitucional de competências não é algo sujeito à analogia com finalidade extensiva; é dizer, a interpretação da competência delas se faz de modo restritivo. 19 Como esta via recursal é excepcional, o cabimento do recurso também é verificado de maneira mui rigorosa, de acordo com as hipóteses constitucionais. Pode-se dizer que, talvez, a análise da admissibilidade dos recursos extraordinários lato sensu seja o momento processual no qual as regras processuais sejam aplicadas de maneira mais estrita. O profissional deve estar muito atento a tais regras para demonstrar o estrito cabimento desses recursos. O artigo 541 do Código de Processo Civil exige a demonstração do cabimento. Este requisito é formal, e necessário. Tem-se que demonstrar, antes mesmo de argumentar sobre seu mérito, que o recurso se insere naquelas modalidades de cabimento constitucional (artigos 102, III e 105, III, CF). A. Recurso Extraordinário O artigo 102, inciso III, da Constituição Federal, prevê uma “única e última instância”. Nessas situações em que se chega ao último grau da jurisdição, o Supremo Tribunal Federal pode conhecer do recurso extraordinário. Muitas vezes, haverá recurso extraordinário direto contra decisões que não são propriamente de tribunais, como nos casos das decisões proferidas pelas turmas recursais no procedimento dos juizados especiais cíveis. Segundo o artigo 102, inciso III, do documento constitucional, são as hipóteses de cabimento do mencionado recurso: III - julgar, mediante recurso extraordinário, as causas decididas em única ou última instância, quando a decisão recorrida: a) contrariar dispositivo desta Constituição; b) declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal; c) julgar válida lei ou ato de governo local contestado em face desta Constituição. d) julgar válida lei local contestada em face de lei federal. (Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) 20 Ressalte-se que, ao contrário do disposto relativamente ao recurso extraordinário - causas decididas em única ou última instância, o inciso III ao artigo 105, que trata das hipóteses de admissão de recurso especial, confere competência ao STJ para julgamento do recurso em causas decididas em única e última instância, pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando a decisão é recorrível. B. Recurso Especial A Constituição Federal estabelece, em seu artigo 105, III, as hipóteses de cabimento do recurso especial. III - julgar, em recurso especial, as causas decididas, em única ou última instância, pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando a decisão recorrida: a) contrariar tratado ou lei federal, ou negar-lhes vigência; b) julgar válido ato de governo local contestado em face de lei federal; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) c) der a lei federal interpretação divergente da que lhe haja atribuído outro tribunal. Comentam-se tais hipóteses. a) Contrariar ou negar vigência a tratado ou lei federal: na ordem prática das coisas, é difícil estabelecer quando é uma coisa ou outra. É mais difícil haver uma decisão que contrarie o texto da Constituição [cabendo recurso extraordinário]. O que em geral acontece é uma negativa de vigência. Mesmo na alínea c, o recorrente tem que indicar o disposto na alínea a. Por isso, a alínea a é a mais usada. b) Julgar válido ato de governo local contestado em face de lei federal: é mais difícil de se verificar. 21 c) Der a lei federal interpretação divergente da que lhe haja atribuído outro tribunal: ressalte-se o elemento “qualquer outro tribunal”, incluindo principalmente o Superior Tribunal de Justiça. Alguns cuidados devem ser tomados: na prática, se se tem uma decisão do STJ que é contra aquela decisão que se está impugnando, e se sabe que já houve decisão mais recente deste tribunal que teria superado aquela posição, isso não pode impedir de recorrer, porque as decisões do STJ não são tão lineares e uniformes. É sempre uma oportunidade de o Superior Tribunal de Justiça, se quiser, uniformizar sua jurisprudência6. III. REQUISITOS FORMAIS DE ADMISSIBILIDADE DOS RECURSOS EXCEPCIONAIS a. Tempestividade O prazo para interposição desses recursos é de 15 dias, segundo previsão do artigo 508 do Código de Processo Civil. Todavia, há que salientar que, opostos embargos de declaração pela outra parte, tal prazo se interrompe, começando a contar-se novamente após o acórdão que julgam ditos embargos. Neste tocante, como a decisão sobre os embargos integra o acórdão recorrido, a Súmula 418 do Superior Tribunal de Justiça determina que, havendo recurso especial interposto com julgamento pendente dos embargos declaratórios da outra parte, esse é intempestivo se não houver reiteração da parte em sua vontade de recorrer. O prazo para reiteração do recurso especial é o de 15 dias contados da publicação do acórdão que julga os embargos. Outra questão é a do feriado legal, quando este coincidir com o termo final de um prazo recursal. Ainda que o tribunal local, o Tribunal de Justiça ou o Tribunal Regional Federal, reconheça que estará fechado, é necessário comprovar ao 6 A mola propulsora do recurso é sempre o recorrente, que provoca o Judiciário a repensar posições. É interesse privado da parte. 22 julgador do tribunal superior, já no momento da interposição do recurso, através de certidão, a impossibilidade de protocolo naquele determinado dia, fundamentando a suposta intempestividade do recurso. b. Preparo Para comprovar o preparo do recurso, devem-se juntar as guias de recolhimento. Sem embargo, ainda que pareça simples, tal requisito de admissibilidade pode apresentar problemas. A Resolução n.º 20/2004, do Superior Tribunal de Justiça, exige que se apresentem a guia de preparo e também a guia de porte de remessa e de retorno. Há estados, como o Rio Grande do Sul, que ainda exigem uma terceira guia, que precisa ser paga ao tribunal de origem para interposição do recurso. Em todas as guias, devem constar o nome das partes e o número dos autos do processo, evitando-se fraudes no seu recolhimento. c. Representação Tal requisito está ligado à capacidade postulatória. O entendimento das cortes superiores é que a parte que assina o recurso deve ter poderes para tal, ser legítima procuradora da parte no processo. Ainda que a situação deva ser regular no momento da interposição, tendo-se que demonstrar a titularidade do poder de representação, sob pena de não conhecimento do recurso, há possibilidade de regularização da situação quando o processo ainda tramita no tribunal de origem. Insta ressaltar, por outro lado, no que toca ao processo eletrônico, que este exige um cartão magnético e uma senha. Assim, além das informações da petição, gera-se uma assinatura eletrônica. Esta é um logaritmo criado com base no que se escreveu. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça entende que, se quem assinou eletronicamente o processo foi outra pessoa que não aquela que está apontada por escrito na petição, ainda que tenha procuração nos autos, ter-se-ia um caso de 23 petição apócrifa, o que impediria o conhecimento do recurso. Porém, há que se ressaltar que esse entendimento tende a mudar, afinal, quem assinou tinha poderes. d. Esgotamento das instâncias ou dos recursos ordinários Exige-se que a parte se utilize de todas as vias recursais ordinárias disponíveis antes da interposição de um recurso excepcional. Por exemplo, no caso de decisão monocrática do relator, nas hipóteses do artigo 557 do Código de Processo Civil, caberia agravo interno à turma do tribunal, não sendo possível a interposição direta de um recurso especial. O mesmo ocorre no caso de a decisão não ser por maioria, cabendo a oposição de embargos infringentes (artigo 530, CPC) antes de acesso às vias extraordinárias. IV. REQUISITOS MATERIAIS DE ADMISSIBILIDADE A. Fundamentação Quanto à fundamentação dos recursos excepcionais, insta ressaltar que, segundo entendimento da Súmula 283 do Supremo Tribunal Federal, “É inadmissível o recurso extraordinário, quando a decisão recorrida assenta em mais de um fundamento suficiente e o recurso não abrange todos eles”. Ademais, a Súmula 284 do mesmo tribunal dispõe que: “É inadmissível o recurso extraordinário, quando a deficiência na sua fundamentação não permitir a exata compreensão da controvérsia”. B. Objeto: matéria de direito Tanto no recurso especial quanto no recurso extraordinário, a matéria apreciada é apenas aquela de direito, não sendo possível o reexame dos fatos. 24 É dizer, “a pretensão de simples reexame de prova não enseja recurso especial” (Súmula 7, STJ) nem extraordinário (Súmula 279, STF). Igualmente, a mera interpretação de cláusula contratual tampouco permite o acesso à via especial (Súmula 5, STJ). No que toca exatamente à interpretação de cláusula contratual, a complexidade da vedação sumular encontra seu limite na diferença entre o que é interpretação de cláusula e o que é incidência de lei federal sobre determinada cláusula. Da mesma forma, em relação à Súmula 7, haveria uma diferença entre o reexame de prova e a revaloração da prova, como no caso de o Tribunal decidir ser a perícia insuficiente para esclarecer a questão técnica, sendo caso de nova perícia (artigo 437, CPC). Na revaloração, o juiz fica externo ao conteúdo da prova, decidindo ser ou não a prova suficiente, o que pode gerar violações à lei federal. Nestes casos, poderia conhecer o Superior Tribunal de Justiça do recurso da parte. C. Prequestionamento Este é certamente o requisito mais discutido nos tribunais. As súmulas 282 e 356 do Supremo Tribunal Federal e os entendimentos sumulados 211 e 320 do Superior Tribunal de Justiça são aqueles que consolidaram a jurisprudência destas cortes sobre a presente temática. De modo geral, são inadmissíveis os recursos extraordinários lato sensu quando não ventilada, na decisão recorrida, a questão federal suscitada. Em tese, o prequestionamento é matéria que, se corretamente colocada, deve estar na preocupação da parte desde as alegações finais, já vislumbrando, antevendo uma discussão sobre violação à lei federal ou o dispositivo constitucional. Assim sendo, o Supremo Tribunal Federal ou o Superior Tribunal de Justiça não podem conhecer da matéria que não fora objeto de decisão pelo grau de jurisdição inferior, sob risco de supressão de instância. Atualmente, entende-se muitas vezes que o prequestionamento deve ser explícito, devendo o decisum recorrido mencionar o artigo de lei alegadamente violado, 25 ademais de discutir aquela questão específica. Se assim não o é, seria necessária a oposição de embargos declaratórios para fins de prequestionamento. Ainda assim, de acordo com a Súmula 211 do Superior Tribunal de Justiça, “inadmissível recurso especial quanto à questão que, a despeito da oposição de embargos declaratórios, não foi apreciada pelo tribunal ‘a quo’”, nem sempre sendo admissível o recurso ainda que opostos os referidos embargos. Como se poderia combater tal situação? Uma das saídas seria alegar, em preliminar do recurso especial ou extraordinário, a nulidade do acórdão dos embargos de declaração por violação ao artigo 535 do Código de Processo Civil, vez que a turma não analisou a questão suscitada em embargos para fins de prequestionamento, deixando de sanar sua omissão. D. Repercussão geral A EC n.º 45/2004 criou esse requisito de admissibilidade, baseando-se no wirt of certiorari do direito norte-americano, o qual é exclusivamente aplicável ao recurso extraordinário. O recurso extraordinário, assim, deve apresentar em item próprio e destacado sua repercussão geral. Ela deve ser demonstrada a partir da relevância jurídica, social ou política da matéria submetida à apreciação da Suprema Corte. Insta ressaltar que a ideia não é bem clara: tem que se demonstrar que aquele julgamento tem aplicação que transcende o próprio interesse das partes, que atinge o interesse do próprio ordenamento jurídico constitucional, e por isso, talvez a importância da matéria não precise ser estritamente jurídica, mas também social, econômica, etc. Quanto a tal requisito, trata o artigo 543-A do Código de Processo Civil, in verbis: “543-A. O Supremo Tribunal Federal, em decisão irrecorrível, não conhecerá do recurso extraordinário, quando a questão constitucional nele versada não oferecer repercussão geral, nos termos deste artigo. (Incluído pela Lei nº 11.418, de 2006). § 1o Para efeito da repercussão geral, será considerada a existência, ou não, de questões relevantes do ponto de vista econômico, político, social 26 ou jurídico, que ultrapassem os interesses subjetivos da causa. (Incluído pela Lei nº 11.418, de 2006). § 2o O recorrente deverá demonstrar, em preliminar do recurso, para apreciação exclusiva do Supremo Tribunal Federal, a existência da repercussão geral. (Incluído pela Lei nº 11.418, de 2006). § 3o Haverá repercussão geral sempre que o recurso impugnar decisão contrária a súmula ou jurisprudência dominante do Tribunal. (Incluído pela Lei nº 11.418, de 2006). § 4o Se a Turma decidir pela existência da repercussão geral por, no mínimo, 4 (quatro) votos, ficará dispensada a remessa do recurso ao Plenário. (Incluído pela Lei nº 11.418, de 2006). § 5o Negada a existência da repercussão geral, a decisão valerá para todos os recursos sobre matéria idêntica, que serão indeferidos liminarmente, salvo revisão da tese, tudo nos termos do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal. (Incluído pela Lei nº 11.418, de 2006). § 6o O Relator poderá admitir, na análise da repercussão geral, a manifestação de terceiros, subscrita por procurador habilitado, nos termos do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal. (Incluído pela Lei nº 11.418, de 2006). § 7o A Súmula da decisão sobre a repercussão geral constará de ata, que será publicada no Diário Oficial e valerá como acórdão. (Incluído pela Lei nº 11.418, de 2006)”. Segundo o artigo 543-B, §§ 1º e 2º, é possível adotar a sistemática dos recursos repetitivos em termos de repercussão geral. Assim, verificando o tribunal que há diversas causas com o mesmo objeto e mesma controvérsia jurídica, este pode escolher a causa paradigma, que detém os melhores e mais completos argumentos, remetê-la ao Supremo Tribunal Federal, obstando o seguimento dos demais recursos até a decisão do caso paradigma. Julgado o recurso paradigma, sua decisão submete à retratação as câmaras de origem. V. EFEITOS DOS RECURSOS EXTRAORDINÁRIOS O recurso especial e o recurso extraordinário não têm, a principio, efeito suspensivo. Assim, apresentam efeito devolutivo no estrito cabimento do recurso, ou seja, não devolve o conhecimento de toda a matéria para o Tribunal ad quem, mas somente a questão circunscrita pela violação da lei federal ou da Constituição. 27 Quanto à concessão de efeito suspensivo, o que em geral tem se entendido é que caberia seu deferimento por via de cautelar – ação autônoma - ou por meio de pedido indireto ao tribunal a quo. O professor Salles tem a impressão de que o TJSP prefere o pedido suspensivo, sem cautelar, uma vez que uma cautelar em segundo grau de jurisdição geraria a necessidade de nova citação, o que gera grande esforço ao órgão jurisdicional. Nos tribunais superiores, tem-se admitido a concessão de medida cautelar para determinar efeito suspensivo quando superado o juízo de admissibilidade do tribunal a quo. Nesse sentido, dispõe a Súmula 634 do Supremo Tribunal Federal: “Não compete ao Supremo Tribunal Federal conceder medida cautelar para dar efeito suspensivo a recurso extraordinário que ainda não foi objeto de juízo de admissibilidade na origem”. Todavia, em alguns casos, tem-se admitido medida cautelar mesmo quando não superado o exame de admissibilidade no tribunal, sendo tal exame de competência do presidente do tribunal de origem (Súmula 635, STF). VI. PROCEDIMENTO Os recursos são interpostos no tribunal a quo, que proferiu a decisão impugnada. No Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, como há várias seções, é o presidente da seção aquele que tem a atribuição regimental para apreciar a admissibilidade do recurso interposto. Pode dar ou negar seguimento ao recurso. Tanto o recurso especial quanto o recurso extraordinário devem ser interpostos no mesmo prazo. No caso de interposição de ambos, primeiro será julgado o recurso especial e, em caso de decisão improcedente, serão encaminhados os autos à Suprema Corte para julgamento do recurso extraordinário (artigo 543, caput, CPC). VII. RECURSO ESPECIAL E RECURSO EXTRAORDINÁRIO RETIDOS Segundo o artigo 542, §3º do Código de Processo Civil: “O recurso extraordinário, ou o recurso especial, quando interpostos contra decisão interlocutória em processo de conhecimento, cautelar, ou embargos à execução ficará retido nos 28 autos e somente será processado se o reiterar a parte, no prazo para a interposição do recurso contra a decisão final, ou para as contrarrazões”. Assim, se interpostos contra decisão interlocutória, os recursos excepcionais seguem um regime de retenção. É dizer, interpostos, ficam apensados aos autos principais e, em futura interposição de recurso extraordinário ou especial, ou em sede de contrarrazões, a parte deve alegar, em preliminares, que o recurso seja conhecido. [TEMA 5] EMBARGOS DE DECLARAÇÃO PARA FINS DE PREQUESTIONAMENTO São cabíveis embargos de declaração contra quaisquer decisões judiciais enquanto se identifique obscuridade, contradição ou omissão em seu conteúdo. Consolidou-se a posição da função dos embargos declaratórios para garantir o prequestionamento, quando o acórdão a ser recorrido por recurso especial ou extraordinário não explicitar a matéria que será objeto da impugnada por via recursal excepcional, ainda que, em tese, saliente-se mais uma vez, o prequestionamento deveria ser realizado desde as instâncias inferiores. A oposição de embargos de declaração, nestes casos, tornou-se quase obrigatória, somente não o sendo quando o acórdão a ser recorrido é bem claro quanto ao objeto de impugnação que trate de violação à lei federal ou à norma constitucional. Há casos, todavia, em que somente no acórdão do tribunal suscita-se a questão federal, especialmente quando este reforma a decisão de 1º grau de jurisdição e reconhece tese ou argumento que até então era rejeitado. Nessas situações, está atendido o requisito do prequestionamento, ainda que, se a situação não se mostra bem clara, seja aconselhável a oposição de embargos de declaração para fins de prequestionamento. 29 No tocante a esta temática, devem-se ressaltar as seguintes súmulas das cortes superiores: � É inadmissível o recurso extraordinário, quando não ventilada, na decisão recorrida, a questão federal suscitada (Súmula 282, STF). � O ponto omisso da decisão, sobre o qual não foram opostos embargos declaratórios, não pode ser objeto de recurso extraordinário, por faltar o requisito do prequestionamento (Súmula 356, STF). � Embargos de declaração manifestados com notório propósito de prequestionamento não têm caráter protelatório (Súmula 98, STJ). � Inadmissível recurso especial quanto à questão que, a despeito da oposição de embargos declaratórios, não foi apreciada pelo tribunal "a quo" (Súmula 211, STJ). � A questão federal somente ventilada no voto vencido não atende ao requisito do prequestionamento (Súmula 320, STJ). [TEMA 6] EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA Os embargos de divergência constituem um instrumento processual de uniformização da jurisprudência dos tribunais superiores. Determina o artigo 546 do Código de Processo Civil, in verbis: “Art. 546. É embargável a decisão da turma que: (Revigorado e alterado pela Lei nº 8.950, de 13.12.1994) I - em recurso especial, divergir do julgamento de outra turma, da seção ou do órgão especial; (Incluído pela Lei nº 8.950, de 1994) 30 Il - em recurso extraordinário, divergir do julgamento da outra turma ou do plenário. (Incluído pela Lei nº 8.950, de 1994) Parágrafo único. Observar-se-á, no recurso de embargos, o procedimento estabelecido no regimento interno. (Revigorado e alterado pela Lei nº 8.950, de 13.12.1994)” Assim sendo, cabem embargos de divergência somente nos casos em que a decisão de uma turma divergir da decisão de outra turma, seção ou da corte especial do Superior Tribunal de Justiça; ou em que a decisão de uma turma divergir de decisão de outra turma ou do plenário no Supremo Tribunal Federal. Para a demonstração da divergência, é essencial que se faça um cotejo analítico por meio do qual se mostre ao julgador que o acórdão paradigma trata da mesma questão que o caso em questão, e que a decisão foi distinta. Segundo entendimento do Superior Tribunal de Justiça, os embargos de divergência caberiam somente contra decisão que trata do mérito recursal. Ademais, “não cabem embargos de divergência no âmbito do agravo de instrumento7 que não admite recurso especial” (Súmula 315, STJ) e “cabem embargos de divergência contra acórdão que, em agravo regimental, decide recurso especial”. O procedimento dos embargos de divergência pode ser assim sintetizado: (i) prazo de quinze dias para oposição; (ii) distribuição ao relator de outra turma, da sessão ou da corte especial; (iii) admitindo-se os embargos de divergência, intima-se a parte contrária para resposta e encaminha-se para julgamento na sessão ou na corte especial, a depender da divergência; (iv) inadmitindo-se os embargos, cabe agravo regimental. 7 O Código de Processo Civil, ao remeter-se ao conceito de agravo de instrumento, faz referência à sua antiga sistemática. Refere-se, neste dispositivo, ao agravo (não mais de instrumento) contra despacho denegatório de recurso especial. 31 [TEMA 7] AGRAVO CONTRA DESPACHO DENEGATÓRIO DE RECURSO ESPECIAL OU RECURSO EXTRAORDINÁRIO Em diversos dispositivos do Código de Processo Civil, faz-se referência ao agravo de instrumento interposto contra decisão que nega seguimento ao recurso especial ou extraordinário. Neste tocante, impende salientar que tal agravo não mais se processa na modalidade de instrumento, mas sim nos próprios autos. O Superior Tribunal de Justiça o denomina confusamente de “agravo no recurso especial”. Interposto o recurso especial ou extraordinário perante o tribunal a quo, seu presidente, vice-presidente ou o presidente de uma das seções – a depender da organização judiciária do tribunal – exercerá o primeiro juízo de admissibilidade sobre a peça recursal. Havendo um despacho denegatório de seguimento deste recurso, caberá o referido agravo. O prazo conferido em dobro aos litisconsórcios somente pode ser aproveitado caso ambos recorram. A fundamentação do agravo contra despacho denegatório de seguimento de recurso especial/extraordinário deve ter como conteúdo a impugnação das razões do não recebimento do recurso, e não a reiteração das razões do recurso excepcional. A Súmula 287 do Supremo Tribunal Federal determina a negação de provimento em caso de deficiência de fundamentação e o artigo 544, §4º, inciso I, exige a fundamentação específica do agravo, sob pena de seu não conhecimento. O objetivo deste recurso é garantir a apreciação do recurso especial ou do recurso extraordinário em relação ao qual se negou provimento. Todavia, de acordo com o entendimento claro sedimentado na Súmula 289 do Supremo Tribunal Federal, “o provimento do agravo, por uma das turmas do Supremo Tribunal Federal, ainda que sem ressalva, não prejudica a questão do cabimento do recurso extraordinário”. É dizer, o STF mantém a possibilidade de realizar o juízo de admissibilidade do recurso mesmo 32 após a decisão que dá provimento ao agravo; as questões relativas à admissibilidade não precluem, podendo ser reexaminadas pelo tribunal. Por fim, insta ressaltar que, em caso de interposição do tratado agravo, o tribunal de origem não aprecia sua admissibilidade, o que seria caracteristicamente ilógico. Ou seja, os autos, contendo o recurso especial ou extraordinário juntamente com o agravo que ataca a decisão que negou sua admissibilidade, são remetidos diretamente à corte superior para sua apreciação. Nesse sentido, “não pode o magistrado deixar de encaminhar ao Supremo Tribunal Federal o agravo de instrumento interposto da decisão que não admite recurso extraordinário, ainda que referente à causa instaurada no âmbito dos juizados especiais” (Súmula 727, STF). Nestes casos, uma vez se verifique a omissão do tribunal ou do órgão do juizado especial, cabe reclamação ao tribunal a que se destina o recurso. Do julgamento do agravo, as decisões que podem ser tomadas estão dispostas no artigo 544, §4º, do Código de Processo Civil. Confira-se: “§ 4o No Supremo Tribunal Federal e no Superior Tribunal de Justiça, o julgamento do agravo obedecerá ao disposto no respectivo regimento interno, podendo o relator: (Redação dada pela Lei nº 12.322, de 2010) I - não conhecer do agravo manifestamente inadmissível ou que não tenha atacado especificamente os fundamentos da decisão agravada; (incluído pela Lei nº 12.322, de 2010) II - conhecer do agravo para: (incluído pela Lei nº 12.322, de 2010) a) negar-lhe provimento, se correta a decisão que não admitiu o recurso; (incluído pela Lei nº 12.322, de 2010) b) negar seguimento ao recurso manifestamente inadmissível, prejudicado ou em confronto com súmula ou jurisprudência dominante no tribunal; (incluído pela Lei nº 12.322, de 2010) c) dar provimento ao recurso, se o acórdão recorrido estiver em confronto com súmula ou jurisprudência dominante no tribunal. (incluído pela Lei nº 12.322, de 2010)” 33 Da análise deste dispositivo legal, resulta evidente o “empoderamento” que o legislador ordinário, ao reformar o Código de Processo Civil, concedeu ao relator. No caso do inciso II, alínea c, por exemplo, o relator julga o agravo e o recurso especial ou extraordinário monocraticamente e na mesma peça. [TEMA 8] RECURSO ORDINÁRIO CONSTITUCIONAL A. Colocação geral O professor ressalta que o recurso se denomina “ordinário” porque, ainda que seja conhecido pelo Supremo Tribunal Federal – caso mais geral – ou pelo Superior Tribunal de Justiça, este não está encaixado nos moldes do recurso extraordinário lato sensu. Exerce muitas vezes, segundo se ressaltará, as funções de apelação e, em um caso específico, de agravo. É interposto contra decisões proferidas pelos tribunais no exercício de sua competência originária. B. Cabimento. Admissibilidade Como de competência do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de Justiça, seu cabimento está disciplinado pela própria Constituição Federal. Em seu artigo 102, inciso II, alínea a, a carta constitucional determina que cabe ao STF, in verbis: II - julgar, em recurso ordinário: 34 a) o "habeas-corpus", o mandado de segurança, o "habeas-data" e o mandado de injunção decididos em única instância pelos Tribunais Superiores, se denegatória a decisão; b) o crime político8; Assim, o Supremo Tribunal Federal teria competência para julgar o recurso em habeas corpus, mandado de segurança, habeas data e mandado de injunção, sendo essencial que seja denegatória a decisão do tribunal recorrido. É dizer, a decisão deve ter conhecido do mérito e o julgado procedente ou deve ter sido meramente terminativa, sem julgamento do mérito. Nesse sentido, uma vez tenha sido a ação julgada procedente, a autoridade coatora não tem legitimidade para interposição de recurso ordinário constitucional, sendo esta exclusiva do impetrante em caso de sucumbência. Por outro lado, o documento constitucional, em seu artigo 105, inciso II, alíneas a, b, e c, prescreve que é competente o Superior Tribunal de Justiça para: II - julgar, em recurso ordinário: a) os "habeas-corpus" decididos em única ou última instância pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando a decisão for denegatória; b) os mandados de segurança decididos em única instância pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando denegatória a decisão; c) as causas em que forem partes Estado estrangeiro ou organismo internacional, de um lado, e, do outro, Município ou pessoa residente ou domiciliada no País; Também nestes casos, no que toca às alíneas a e b, a legitimidade para interposição do presente recurso é exclusiva do impetrante dos remédios constitucionais quando denegatórias as decisões que julgam suas pretensões. 8 In casu, vez que se trata de um exame inserido nos moldes do processo civil, não interessa a análise da aplicabilidade do recurso ordinário constitucional como aquele que pode ser interposto contra acórdão que julga crime político. 35 A hipótese prevista na alínea c ao inciso II representa uma especificidade. As causas envolvendo Estado estrangeiro ou organismo internacional, de um lado, e município ou particular, de outro, são de competência da Justiça Federal em primeiro grau de jurisdição. Foi uma clara opção política do legislador em determinar a competência da primeira instância para o conhecimento destas causas, haja vista a estrutura que apresenta para a instrução probatória, relevante nessas lides9. Assim sendo, nestes casos, sendo o juízo de 1º grau o competente para conhecimento do feito e o Superior Tribunal de Justiça aquele o tribunal ao qual se destinam os recursos, este funciona como um verdadeiro 2º grau de jurisdição, analisando o recurso ordinário constitucional em suas funções de agravo e apelação. Ou seja, nos casos da alínea c, o referido recurso pode revestir-se de recurso de apelação ou de agravo (artigo 539, §único, CPC), a depender do caso. Nesta situação específica, a da alínea c, no que toca à sua admissibilidade, o recurso ordinário constitucional segue a regra geral de prazo do artigo 508 do Código de Processo Civil. Ademais, os requisitos de admissibilidade são aqueles dispostos no artigo 540 do mesmo diploma legal e em toda a parte geral dos recursos. C. Efeitos O efeito principal do recurso ordinário constitucional é a devolução da matéria para o tribunal superior competente. Em relação aos efeitos, aplicam-se as regras relativas à apelação (artigo 515, CPC) e, no caso específico do artigo 105, inciso II, alínea c, da Constituição Federal, a depender do caso, também as regras referentes ao agravo. O Supremo Tribunal Federal e o Superior Tribunal de Justiça analisam a matéria de fato, o que é inadmissível em sede de recurso especial ou extraordinário. Deve-se ressaltar que a Constituição Federal exige, em geral, que a decisão impugnada com recurso ordinário constitucional seja denegatória. Assim, via de 9 Impende ressaltar que, caso o litígio envolva a União ou Estado federado, o Supremo Tribunal Federal julga em única e última instância (artigo 102, inciso I, e, CF). 36 regra, essas decisões já tem “efeito suspensivo”, vez que não atendem a pretensão consubstanciada pela parte na ação constitucional, não havendo fundamento para discutir a possibilidade de sua concessão nessa seara. Sem embargo, é possível o efeito ativo desde que cumpridas as exigências legais da antecipação da tutela recursal. D. Procedimento Aplicam-se as regras relativas à apelação e ao agravo (artigos 540 e 497, CPC), nos casos especificados supra. No caso da alínea c, uma vez sirva o recurso ordinário constitucional como agravo, aplica-se o prazo de 10 dias para sua interposição, por exemplo. Incide, ademais, nestes casos, a regra que confere a possibilidade de juízo de retratação. Quais seriam os recursos que poderiam ser interpostos contra a decisão que julga o recurso ordinário constitucional? Sem dúvida, salienta Salles, caberia recurso extraordinário contra acórdão do Superior Tribunal de Justiça. [TEMA 9] RECLAMAÇÃO É uma medida que tem um caráter administrativo mui acentuado: visa a garantir a autoridade das decisões dos tribunais, inclusive de suas súmulas vinculantes, no caso específico do Supremo Tribunal Federal. Está prevista na Constituição Federal a reclamação como ação relacionada à tutela das decisões do Supremo Tribunal e do Superior Tribunal de Justiça. Todavia, os regimentos internos dos demais tribunais do país preveem institutos semelhantes. No caso do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, por exemplo, tem- se a correição parcial.