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Vivian Rocha Bioquímica I 2011/1 Sumário Módulo I ................................................................................................................................... 4 Aula 1 - Estrutura e Função dos Aminoácidos ..................................................................... 4 Proteínas ............................................................................................................................ 5 Aminoácidos ..................................................................................................................... 7 Propriedades Gerais dos Aminoácidos ........................................................................... 10 Aula 2 - Propriedades Físico-químicas dos Aminoácidos .................................................. 13 Constante de Dissociação de um Ácido Fraco ................................................................ 13 Constante de Equilíbrio .................................................................................................. 14 Titulação do Ácido Acético – Um Ácido Orgânico Fraco ............................................. 16 Formas Iônicas e Ponto Isoelétrico ................................................................................. 18 Aula 3 - Técnicas de Fracionamento de Aminoácidos ....................................................... 21 Metodologias de separação ............................................................................................. 21 Técnicas de Fracionamento ............................................................................................ 22 Aula 4 - Estrutura de Proteínas ........................................................................................... 37 A Formação da Cadeia Polipeptídica .............................................................................. 38 As Ligações Peptídicas Ocorrem em Trans ou em Cis ................................................... 39 Geometria da Ligação Peptídica ..................................................................................... 39 A Ligação Peptídica Apresenta Característica de Dupla Ligação .................................. 40 Torções são possíveis ao redor da ligação Phi (φ) e Psi (ψ) ........................................... 40 Plot Ramachandran ......................................................................................................... 41 Alfa Hélice ...................................................................................................................... 42 Fita Beta .......................................................................................................................... 43 Aula 5 - Métodos para Purificação de Proteínas ................................................................ 48 Salting in x Salting out .................................................................................................... 49 Técnicas de fracionamento em proteínas ........................................................................ 50 Cromatografias Líquidas ................................................................................................. 50 Eletroforese ..................................................................................................................... 53 Isoletrofocalização .......................................................................................................... 55 Eletroforese Bidimensional ............................................................................................. 56 Aula 6 - Sequenciamento de Proteínas ............................................................................... 58 Preparo da Proteína para o Sequenciamento ................................................................... 59 Vivian Rocha 3 I. Redução das Pontes Dissulfeto .................................................................................... 60 II. Composição de Aminoácidos da Proteína .................................................................. 60 III. Determinação do Resíduo N-terminal ...................................................................... 61 IV. Determinação do Resíduo C-terminal ...................................................................... 62 V. Sequenciamento da Cadeia Polipeptídica .................................................................. 62 Vivian Rocha 4 Módulo I AULA 1 - ESTRUTURA E FUNÇÃO DOS AMINOÁCIDOS Na terra existe uma grande diversidade de seres vivos, que são constituídos por células. Dependendo da complexidade estrutural dessas células elas podem ser classificadas como procariontes, células com uma constituição celular mais simples, delimitadas por uma única unidade de membrana que separa o meio intracelular do meio extracelular, dentro desse único compartimento são realizados todos os processos fisiológicos responsáveis pela vida dela. Por outro lado existem células com uma organização estrutural mais complexa que são as células eucariontes que além da unidade de membrana que delimita a célula do meio ambiente também possui uma serie de compartimentos delimitados por uma ou duas unidades de membrana que vão conter conjuntos específicos de proteínas, fazendo com que estes compartimentos exerçam uma função específica dentro da célula. Independente da complexidade estrutural dessas células, ela possui um objetivo final e para conseguir esse objetivo a célula deve ser capaz de realizar um serie de funções, dentre as quais podemos citar a capacidade de extrair do meio ambiente matéria e energia, e dependendo do tipo celular o requerimento de matéria e energia são bem diferentes. Por exemplo, os organismos autotróficos possuem um requerimento relativamente simples em termos do tipo de matéria e energia do qual precisam para viver, sendo assim para esses organismos geralmente a matéria pode ser oferecida de forma relativamente simples como sais inorgânicos, sais de nitrogênio atmosférico, gás carbônico e água. A partir desses componentes inorgânicos e utilizando a radiação eletromagnética proveniente do sol esses organismos conseguem transformar essa matéria e energia em todas as moléculas orgânicas que constituem a estrutura celular. Por outro lado outros tipos de célula que são classificados como organismos heterotróficos possuem um requerimento mais elaborado em relação ao tipo de matéria e energia que eles necessitam, esses organismos geralmente requerem que a matéria seja oferecida sobre a forma de matéria orgânica mais complexa como açúcares, proteínas, lipídios e assim por diante e a energia geralmente é retirada da oxidação dessas moléculas orgânicas complexas. Com isso além de necessitar do ambiente matéria e energia essas células devem ser capazes de transformar essa matéria e energia em novos constituintes celulares. Esses organismos que são compostos por células devem ser capazes de utilizar as características químicas dos compostos que compõem sua estrutura para realizar tarefas. Se analisarmos a constituição química de vários tipos celulares diferentes, vamos encontrar vários compostos que são diferem entre uma célula e outra, entretanto também é possível observar que existe um grupo de compostos com características estruturais bastante semelhantes que são encontrados em grande abundância em qualquer tipo de célula. Analisando essa composição da célula, verificamos que ela é composta por quatro tipos principais de biomoléculas: Polissacarídeos; Lipídeos; Vivian Rocha 5 Ácidos Nucleicos (DNA e RNA); Proteínas. Que são encontrados indistintamente em qualquer tipo celular. Os polissacarídeos possuem tanto a função de reserva energética como estrutural. Alguns exemplos de polissacarídeos que funcionam como reserva de energia são o amido e glicogênio. Ou podem formar estruturas que revestem a célula formando a parede celular ou glicocálix de células microbianas. Os lipídios também apresentam características tanto de reserva de energia quanto estrutural, além disso, são os principais constituintes da bicamada lipídica que formam as unidades de membrana presentes em todos os tipos de celulares. Essa bicamada lipídica participa do processo de permeabilidade seletiva que permite manter a integridade e a condição da célula em relação ao meio ambiente. Ha também ácidos nucléicos do tipo DNA e RNA que armazenam a informação genética necessária principalmente para codificação de proteínas necessárias para a fisiologia do organismo. O RNA geralmente é a forma como aquela informação é acessível à célula. Por fim há um quarto grupo bastante importante de moléculas biológicas que são as proteínas, que realizam 99,99% das tarefas que as células necessitam para sobreviver. Abaixo segue uma lista da serie de funções realizadas por essas proteínas. Funcionam como catalisadores biológicos; Realizam a seleção de compostos que entram e saem da célula; Produzem movimento; Transportam vesículas e partículas dentro da célula; Funcionam como sinalizadores (hormônios); Participam dos mecanismos de defesa celular. Proteínas Existe uma classe muito importante de proteínas que são as enzimas que possuem a função de acelerar a velocidade de uma determinada reação química necessária à vida da célula. De tal forma que uma reação na ausência de um catalisador seja processada em uma velocidade tão baixa que é incompatível com a vida da célula, já na presença desses catalisadores a reação é acelerada em diversas vezes, com isso a velocidade de formação dos compostos passa a ser compatível com as necessidades daquela célula. Um exemplo da utilização desses catalisadores é a conversão da glicose em ácido pirúvico através da via glicolítica para produção de energia sobre a forma de ATP e NADH. Para realizar essa conversão há a necessidade da ação conjunta de pelo menos 10 proteínas diferentes, que gradualmente modificam a estrutura da glicose. Nesse processo parte da energia da glicose é transferida para as moléculas de ATP e de NADH. Da mesma forma que temos essa reação existem milhares de reações químicas que são necessárias na célula e que são catalisadas por tipos especiais de proteínas. Proteínas estas que também participam do processo de permeabilidade seletiva da membrana, regulando os compostos que entram e saem da célula. Com isso a permeabilidade seletiva da membrana biológica e dada por dois componentes, à bicamada lipídica que bloqueia a livre difusão através da membrana de compostos com Vivian Rocha 6 características polares e que não se dissolvem bem no interior hidrofílico da membrana biológica. Entre tanto, muitos dos compostos que devem trafegar através dessa membrana são compostos com características polares, sendo assim um conjunto de proteínas que funcionam como transportadores ou como canais que auxiliam na passagem dessas substâncias polares de um lado para outro dentro. Essas proteínas também participam processos que produzem movimento como, por exemplo, a contração muscular, que envolve a ação conjunta de pelo menos dois tipos principais de proteínas que são os microfilamentos de actina, uma estrutura proteica associada a uma proteína motora que é a miosina. Essa proteína motora em associação com o filamento produz a contração de milhares de células que em conjunto produzem um movimento macroscópico que é a contração muscular. Proteínas também podem funcionar como sinalizadores entre tipos celulares distintos principalmente em organismos multicelulares. Um exemplo, de sinalizador proteico é a insulina que regula os níveis de glicose no sangue. A participação das proteínas nos mecanismos de defesa da célula. Todas as imunoglobulinas IGA, IGM, IGG e assim por diante possuem natureza proteica, bem como as proteínas sintetizadas pelas células de defesa que vão atacar os organismos invasores. Funcionalidade das Proteínas A proteína exerce uma função específica, sendo assim para cada tipo de atividade que uma célula deve realizar ela vai contar com a ação de uma proteína ou um conjunto de proteínas que trabalhando coordenadamente vão dar cabo daquela função. A função dessa proteína é determinada em ultima analise por sua sequência de aminoácidos que é chamada de estrutura primária, que indica como aquela determinada proteína vai se organizar espacialmente sendo responsável pela estrutura tridimensional dela. “A funcionalidade das proteínas é derivada de sua estrutura primária” Vamos citar como exemplo 4 tipos de proteínas diferentes com formas diferentes e exercendo funções distintas dentro da célula. A primeira é uma enzima Fenilalanina Hidroxilase cujo gen é mutado em uma doença hereditária que é detectada no Brasil pelo teste do pezinho que sinaliza a presença de níveis elevados de Fenilalanina no sangue. A Fenilalanina hidroxilase é uma proteína constituída por um único tipo de cadeia polipeptídica, associada a três outras subunidades exatamente iguais formando uma estrutura quaternária contendo quatro subunidades idênticas. O Microfilamento de Actina pode atingir comprimentos de variados e em teoria poderia atravessar de um lado a outro da célula. Essa proteína é composta por uma subunidade menor que é formada por dois monômeros de actina, sendo uma unidade funcional dimérica que pode se associar a outros dímeros formando o filamento que participa da formação do citoesqueleto da célula. A imunoglobulina G é um anticorpo que possui dois domínios funcionais. O último tipo de proteína é um hormônio de crescimento. Este é liberado na corrente sanguínea por uma determinada glândula e se difunde pelo organismo ate atingir a superfície da célula alvo. Essa célula alvo expressa outra proteína que é uma proteína integral de membrana onde a parte voltada para o lado de fora da célula tem um sítio de ligação especifico para esse hormônio que ao se ligar altera a conformação desta proteína, essa alteração de conformação é transferida ao longo da proteína para face intracelular e isso dispara um sinal para promover o inicio da proliferação da célula. Vivian Rocha 7 Chamamos a atenção para uma coisa, para cada tipo de função você precisa de uma estrutura proteica diferente e essa estrutura proteica distinta é que vai produzir uma determinada função biológica, ou seja, “a funcionalidade das proteínas é derivada de sua estrutura primária”. Essa estrutura vai estar diretamente ligada à sequência de aminoácidos dessa proteína que por sua vez é mantida de forma mais fiel através do genoma. Então a função básica do genoma seria codificar proteínas para que estas possam atender as funções que a células necessitam para sobreviver. Uma função adicional é que além de codificar a proteína e codificar informações que dizem em que momento aquele informação deve ser expressa e com que intensidade ela é expressa. Aminoácidos As proteínas são polímeros de aminoácidos. Existem 22 tipos de aminoácidos que são incorporados à estrutura primária das proteínas durante o processo de biossíntese proteica que é catalisado pelos ribossomos. O que vai diferir uma proteína da outra é O número de aminoácidos presentes naquela cadeia; À composição de aminoácidos daquela cadeia peptídica; E principalmente a ordem com que aqueles aminoácidos estão dispostos ao longo da proteína. Esses aminoácidos são moléculas com uma estrutura bastante característica, que se caracteriza por apresentar um carbono que é chamado de carbono alfa ao qual estão ligados componentes que são invariavelmente encontrados em todas as moléculas de aminoácidos. Os aminoácidos possuem ligados ao carbono α: Um grupamento carboxílico Um grupamento amino Um hidrogênio Um radical R O radical R é uma parte variável localizado na cadeia lateral, cuja estrutura vai distinguir um aminoácido do outro. Destes 22 tipos de aminoácidos que são incorporados à estrutura da proteína, 21 apresentam uma característica particular, onde o radical R é distinto dos outros três grupamentos encontrados. Exceto na Glicina cuja radical R também é um hidrogênio, com isso a grande maioria dos aminoácidos apresenta o carbono alfa com quatro substituintes diferentes, sendo um carbono quiral e por tanto tem isomeria ótica. “Quando um átomo de carbono apresenta quatro substituintes diferentes ele apresenta assimetria.” Moléculas com carbonos assimétricos, como os aminoácidos, podem existir sob formas isoméricas de maneira geral chamadas de estereoisômeros que apresentam diferentes configurações espaciais. Uma classe especial de estereoisômeros é chamada de enantiômero, se caracterizam por forma imagens especulares não superponíveis uma as outras. Os dois enantiômeros de um composto possuem propriedades químicas idênticas: o mesmo ponto de fusão, mesmo ponto de ebulição e assim por diante, entre tanto diferem na habilidade de desviar o plano da luz polarizada. Figura 1 - Estrutura Geral de um Aminoácido Vivian Rocha 8 Essas moléculas com carbono assimétrico são chamados de compostos quirais e o átomo assimétrico é denominado átomo quiral ou centro quiral. Na esquerda uma molécula quiral com centro de assimetria, ou seja, com quatro substituintes diferentes e do lado direito uma molécula aquiral onde dois dos substituintes são iguais entre si. Para determinar se uma molécula é quiral ou não, geramos uma imagem especular da molécula, ou seja, a imagem refletida no espelho. Para cada centro de assimetria podemos ter duas formas isoméricas da molécula, com isso se a molécula possui um único centro de assimetria ela pode existir sob a forma desses dois isômeros, que tem as mesmas características químicas mais que podem ser distinguidos pela forma como eles deviam o plano da luz polarizada. Sendo assim cada um desses isômeros podem ser distinguidos pelos sistemas biológicos. Esses centros quirais podem forma tipos especiais de isômeros que são enantiômeros que se caracterizam por formar imagens especulares não superponíveis umas das outras. Essas moléculas com esse centros de assimetrias podem ser diferenciadas de três formas distintas: As moléculas com centros assimétricos podem ser classificadas em: Dextrorotatória ou levorotatória (d ou l) – de acordo se elas desviam o plano da luz polarizada para direita ou para esquerda. Ou pela convenção de Fischer, baseado na configuração relativa do gliceraldeído (D ou L). Ou pelo sistema Cahn-Ingold-Prelog (R ou S). Dextrorotatória ou Levorotatória A primeira forma de diferenciar cada um dos componentes do par de enantiômeros e uma forma empírica, ou seja, uma forma prática. Onde separamos cada um dos componentes do enantiômero e coloca em um equipamento para observar como aquele enantiômero desvia o plano da luz polarizada. Com isso podemos empiricamente classificar esses dois compostos de um par de enantiômeros através da capacidade de cada um deles girar o plano da luz polarizada para direita ou para esquerda. Se ele girar o plano da luz para direita ele é chamado de dextrorotatório e o composto recebe a designação d escrito em letra minúscula e em itálico, se ele desviar o plano da luz polarizada para esquerda o enantiômero é chamado de levorotaóorio e a frente do composto ele recebe a letra l minúscula e em itálico. Esta é a forma de classificar empiricamente cada um dos compostos do par de enantiômeros. Mais essa classificação empírica nada diz a respeito da estrutura da molécula. Sabe-se apenas para Figura 2 - Molécula quiral Figura 3 - Molécula aquiral Vivian Rocha 9 onde o plano da luz gira, não te da idéia nenhuma de como seria a configuração espacial daquela molécula. Convenção de Fischer Para tentar resolver isso um pesquisador alemão Fischer começou a estudar esses compostos isoméricos em carboidratos e utilizou um açúcar bastante simples de três carbonos apenas para montar um sistema arbitrário para designar a estrutura para esses isômeros. Ele arbitrou uma configuração espacial para cada um dos compostos do enantiômero desse açúcar o glicerolaldeído. Colocando grupamento aldeído e o grupamento metoxila acima e a baixo do plano da molécula respectivamente e orientou a hidroxila alcoólica para direita ou para esquerda que são as duas configurações possíveis do glicerolaldeído. Com isso designou uma estrutura de D-glicerolaldeído e a outra estrutura de L-glicerolaldeído simplesmente pela posição da hidroxila alcoólica. No D-glicerolaldeído a hidroxila esta voltada para direita e no L-glicerolaldeído para esquerda. Essa configuração arbitrária nada tinha haver com a capacidade de como o D- glicerolaldeído gira o plano da luz para a direita ou do L-glicerolaldeído girar plano da luz para esquerda. Pois não havia naquela época como correlacionar a forma geométrica absoluta com a capacidade da molécula de girar o plano da luz para direita ou esquerda. Nem todas as moléculas que desviam o plano da luz polarizada para a direita têm a configuração D, mas no caso especifico do glicerolaldeído isso é verdade. Cahn-Ingold-Prelog E uma terceira forma de se classificar esse par de enantiômero e através do sistema de Cahn- Ingold-Prelog que foi adotado pela IUPAC. Nesta nomenclatura ha uma forma diferente de nomear os centros assimétricos, onde são atribuídas ordens de prioridades aqueles agrupamentos, os agrupamentos de maior massa recebem maior prioridade e os grupamentos de menor massa recebem menor prioridade. O elemento de menor prioridade, ou de menor massa molecular é jogado para trás do plano da molécula, os três grupamentos principais ficam voltados para frente e a forma como você alinha os números 1, 2 e 3 eles vão designar se temos uma configuração S ou R. No primeiro caso o 1, 2 e 3 girando no sentido anti-horário a configuração seria S, se a configuração da molécula tivesse 1, 2 e 3 alinhado no sentido horário a configuração seria R. Figura 4 - A L-Serina apresenta configuração S. Com isso a determinação da configuração da estrutura do aminoácido difere ligeiramente no sistema de nomenclatura RS. A cada grupamento ligado a um carbono quiral é atribuída uma prioridade com base na massa atômica, 4 sendo a mais baixa prioridade; A molécula é orientada com o grupamento de menor prioridade voltado para trás (oculto pelo carbono quiral), e um caminho é traçado a partir do grupamento de maior prioridade para o grupamento de menor prioridade; Vivian Rocha 10 A configuração do centro quiral é estabelecida: se a sequência 1, 2, 3 é lida no sentido horário, a configuração é R. Se a sequência 1, 2, 3 é lida no sentido anti-horário, a configuração é S. Como nem todos os aminoácidos possuem a mesma designação RS (L-Cisteína tem a configuração R), p sistema DL é mais comumente usado na bioquímica. Esse sistema de classificação dos centros assimétricos é o melhor que existe, por que através desse sistema podemos classificar qualquer centro de assimetria existente na molécula. Enquanto no sistema de configuração relativa de Fischer só podemos assinalar a configuração de um centro. Entre tanto como toda bioquímica básica foi elaborada na separação dos centros assimétricos pela configuração de Fischer. A nomenclatura d e l adotada no sistema de Fischer é diferente da D e L que é assinalada para o desvio da luz polarizada, então na medida do desvio da luz polarizada, temos assinalado d e l minúsculo e em itálico. Na conversão de Fischer temos na designação dos compostos feitas com base em D e L maiúsculo. Apesar de cada molécula existir em duas conformações distintas, geralmente os organismos preferem utilizar apenas uma forma enantiomérica da molécula à , no forma L dos aminoácidos caso dos açúcares é a . forma D Os seres vivos conseguem distinguir uma forma enantiomérica da outra através da forma como aquelas moléculas interagem com as proteínas. Quando a molécula do carbono quiral interage com a proteína um centro especial chamado sítio de ligação, para que esta interação ocorra de forma perfeita precisa haver uma interação perfeita de três pontos entre a proteína e a molécula com a qual ela quer interagir, com isso através dessa ligação específica conseguimos distinguir um par de enantiômero do outro, pois a célula só vai usar um par que ela consegue reconhecer. Um exemplo clássico dessa capacidade de distinção dos enantiômero pelos organismos seria um enantiômero produzido por plantas, onde uma forma enantiomérica que é a S tem odor de cominho, enquanto que o isômero R tem cheiro de menta. São respostas completamente diferentes que o organismo da a um par de enantiômeros da molécula e essa resposta em ultima analise e diferente porque essa molécula se liga a um receptor proteico no bulbo olfativo distinto dando uma resposta diferente. Propriedades Gerais dos Aminoácidos Os aminoácidos diferem uns dos outros nos grupamentos laterais (radical R) ligados ao carbono Os grupamentos R dos aminoácidos podem ser classificados em relação à capacidade deles se dissolverem bem ou não em um ambiente aquoso e nesse sentido classificamos primeiro os aminoácidos não polares que possuem características hidrofóbicas e polares que possuem características hidrofílicas. Esses aminoácidos polares com características hidrofílicas são sequencialmente subdivididos em polares não carregados e polares carregados e por sua vez esse aminoácidos polares carregados são subdivididos em polares carregados com características ácidas e polares carregados com característica básicas. Não Polares; Polares não carregados; Polares carregados; Polares carregados com características ácidas; Vivian Rocha 11 Polares carregados com característica básicas. Na tabela abaixo temos essa classificação onde os aminoácidos estão representados e agrupados em regiões coloridas. A estrutura da cadeia lateral esta representada em azul. A área laranja da tabela são os aminoácidos com características hidrofóbicas, ou seja, que não se dissolvem bem em água. Quase todas as cadeias com características hidrofóbicas são formadas quase que exclusivamente por carbono e hidrogênio, ou seja, hidrocarbonetos que não se dissolvem bem em água, por outro lado todos os outros aminoácidos localizados na região ver limão, púrpura e azul claro são aminoácidos com características hidrofílicas, ou seja, são aminoácidos polares e o que caracteriza a maioria desses aminoácidos é presença de pelo menos um átomo eletronegativo nessa cadeia como, por exemplo, o oxigênio, nitrogênio, enxofre e assim por diante. Esses átomos eletronegativos ao participarem da ligação química puxam a nuvem de elétrons para próximo deles criando um dipolo na cadeia lateral, ou seja, parte da cadeia lateral possui uma carga parcial negativa e outra parte da cadeia tem uma carga parcial positiva e essas cargas parciais positivas e negativas tendem a forma pontes de hidrogênio com a água, nesse sentido essas cadeias laterais interagem bem com ambiente aquoso do interior da célula. Os polares não carregados estão na região verde onde no pH fisiológico existente dentro da célula as cadeias laterais não se dissociam e, portanto não tem carga. Na região púrpura e na região azul esses aminoácidos possuem grupamentos na cadeia lateral que no pH fisiológico da célula por volta de 7 às cadeias laterais estão prótonadas ou desprótonadas, portanto vão ter carga negativa ou positiva. Por sua vez esses aminoácidos polares carregados são subdivididos em aminoácidos com características ácidas que é ácido glutâmico e o Ácido Aspártico que tem grupamento carboxílico na cadeia lateral e em pH 7 essa carboxila esta desprótonada e tem carga negativa. Polares carregados com características básicas que são a Lisina, Arginina e a Histidina que possuem cadeias laterais com amina primária ou amina secundária ou amina terciária que em pH 7 elas estão carregadas positivamente. Valina, Leucina e Isoleucina possuem uma característica interessante na cadeia lateral, todos eles são ramificados, são muitos conhecidos, pois existem suplementos alimentares que contem esses aminoácidos. A Prolina é o único aminoácido que possui a cadeia lateral fechada, essa característica da Prolina faz com que ela tenha um papel importante na aquisição da estrutura secundária e terciária das proteínas. Durante o processo de biossíntese proteica ha a incorporação de 20 tipos de aminoácidos diferentes na estrutura primária das proteínas. Dez anos atrás foi descoberta a existência da Selenocisteína e 5 anos atrás a Pirrolisina. Analisando a estrutura de proteínas celulares além dos 22 tipos de aminoácidos são encontrados pelo menos 40 aminoácidos diferentes nas proteínas que não são incorporados nos ribossomos, na realidade eles são modificações daqueles 22 tipos de aminoácidos dos quais são constituídas as proteínas no processo de biossíntese. Figura 5 - Classificação dos aminoácidos quanto à polaridade Vivian Rocha 12 Alguns aminoácidos que são comumente encontrados nas proteínas e que são formados após á biossíntese proteica, dois exemplos bastante conhecidos são a 4-Hidroxiprolina e a 5-Hidroxilisina que vão estar presentes principalmente na estrutura do colágeno. Os aminoácidos além de servirem para a biossíntese de proteínas são precursores de várias moléculas com atividade biológica importante. O Triptofano pode ser modificado para forma serotonina que é um neurotransmissor ou pode ser convertido em melatonina que controla o ciclo circadiano (de atividade e inatividade que os animais possuem). Outro exemplo é a Tirosina, onde a partir dela é possível produzir dopamina que é um neurotransmissor, essa dopamina pode ser hidroxilada formando noroepinefrina que também é conhecida como noradrenalina que é um hormônio que regula o metabolismo energético na célula e a noroepinefrina também pode ser metila formando epinefrina que é outro hormônio que regula metabolismo energético na célula. No quadro abaixo ha uma divisão dos aminoácidos, no caso só os 20 aminoácidos clássicos, pelo fato da Selenocisteína e da Pirrolisina serem descobertas recentes. Esses vinte aminoácidos são classificados em essenciais e não essenciais. Este termo essencial ou não essencial é um termo ligado à nutrição, de uma maneira geral componentes essenciais são aqueles nutrientes que o organismo não consegue produzir e por tanto obrigatoriamente estes devem ser obtidos na dieta. Tabela 1 - Classificação da essencialidade dos aminoácidos. Essencial Não Essencial Isoleucina Alanina Leucina Arginina* Lisina Aspartato Metionina Cisteína* Phenilalanina Glutamato Treonina Gutamina* Triptofano Clicina* Valina Prolina* Histidina Serina* Tirosina* Asparagina* Selenocisteína** Pirrolisina** (*) Essencial sob certas circunstancias (**) Não classificado Vivian Rocha 13 AULA 2 - PROPRIEDADES FÍSICO-QUÍMICAS DOS AMINOÁCIDOS Os aminoácidos possuem uma estrutura básica que apresenta uma parte comum a todos eles. Em relação a esta parte invariável há um grupamento α-carboxílico e um grupamento amino que possuem propriedades ácidas, ou seja, tanto o grupamento carboxílico como o grupamento amino são ácidos orgânicos. Existem alguns aminoácidos onde na cadeia lateral também são encontrados ácidos orgânicos, então veremos algumas propriedades desses ácidos orgânicos que são ácidos fracos. Constante de Dissociação de um Ácido Fraco Quando um ácido orgânico e dissolvido em água, este se dissocia parcialmente, esta ocorre ate que haja um equilibro entre o ácido original e a base deriva daquele ácido. Quando um ácido orgânico, como o ácido láctico, é dissolvido em água este se dissocia Ex.: parcialmente, estabelecendo um equilíbrio entre a forma ácida (doador de próton) e o ânion do ácido e o próton. O ácido láctico é e a sua base formada por sua dissociação são denominados de par conjugado. A tendência de um ácido fraco dissociar H + pode ser avaliada a partir de sua constante de equilíbrio (Keq). E nesse sentido quanto menor a constante de equilibro, menor será capacidade de se dissociar e consequentemente mais fraco é o ácido. Uma forma conveniente de definir a Keq é sob a forma de pK: No caso do ácido láctico que exemplificamos acima, este é dissolvido em água e imediatamente começa a se dissociar formando lactato mais prótons (H + ) ate que haja um equilíbrio entre a sua forma ácida e sua base conjugada. A reação de dissociação de um ácido pode ser escrita da seguinte forma: O próton associado com a base conjugada forma um ácido conjugado (HA), sendo este reversivelmente dissociável formando a base conjugada (A - ) mais prótons (H + ) (como mostrado abaixo). Tendo as concentrações de substratos e reagentes também é possível calcular a constante de equilíbrio, que é dada simplesmente pela divisão entre a concentração dos produtos da reação que seriam a base conjugada e os prótons pela concentração do ácido conjugado (como mostrado abaixo). Á𝒄𝒊𝒅𝒐 𝒍á𝒕𝒊𝒄𝒐 ⇌ 𝒍𝒂𝒄𝒕𝒂𝒕𝒐 +𝑯+ 𝒑𝑲 = 𝒍𝒐𝒈 𝟏/𝑲𝒆𝒒 𝑯𝑨 ⇌ 𝑨− + 𝑯+ 𝑲𝒆𝒒 = [𝑨−]. [𝑯+] [𝑯𝑨] Vivian Rocha 14 Constante de Equilíbrio A força de um ácido é medida pela sua Constante de Equilíbrio. Os ácidos orgânicos fracos quando colocados em solução aquosa se dissociam parcialmente e no equilíbrio em uma proporção fixa entre o ácido conjugado e a base deriva deste ácido. Esses ácidos são classificados em fortes ou fracos de acordo com a constante de equilíbrio. Por outro lado os são aqueles cuja constante de equilíbrio é um número ácidos fortes maior o que indica que a razão entre a quantidade de base conjugado e ácido conjugado tende do que 1 mais para o lado da base, ou seja, existe e muito mais base conjugada do que ácido consequentemente a tendência daquele ácido se dissociar quando em solução aquosa é . alta Os são aqueles que possuem a constante de equilíbrio o que ácidos fracos menor do que 1 indica que a razão entre a quantidade de base conjugada e ácido conjugado tende mais para o lado do ácido, ou seja, existe e consequentemente a muito mais ácido conjugado do que base tendência daquele ácido se dissociar quando em solução aquosa é . baixa As constantes de dissociação desses ácidos fracos são números muito pequenos e uma forma adequada de expressar esses números pequenos é através do seu pK que é expresso como logaritmo na base 10 do inverso da constante de equilíbrio (Keq). Este artifício transforma esse números com varias casas decimais em números geralmente pequenos entre 0 e 13 facilitando o cálculo. A tabela ao lado apresenta uma serie de ácidos com suas constantes de equilíbrio. Todos eles são fracos, porque a constante de equilíbrio de todos eles é menor do que 1. Pelas constantes de equilíbrio desses ácidos fracos é possível observar que apesar de todos eles serem ácidos fracos uns são mais fracos do que outros. Essas constantes de equilíbrio de ácidos fracos geralmente geram números muito pequenos. Por esse motivo foi elaborada uma forma de transformar esses números muito pequenos em números que pudessem ser utilizados de forma decente, para isso foi introduzido o conceito de pK que possui uma lógica semelhante ao pH. Como as concentrações de hidrogênio da água são em números muito pequenos, existe o conceito de pH. No caso da constante de equilíbrio como são números muito pequenos foi Tabela 2 - Ácidos e suas Constantes de Equilíbrio . 𝒑𝑲 = 𝒍𝒐𝒈 𝟏/𝑲𝒆𝒒 Vivian Rocha 15 introduzido o conceito de pK e da mesma forma que o pH o pK é o log na base 10 do inverso da constante de equilíbrio (fórmula na pág. 14). Lei Le Chatelier Existe uma equação que consegue correlacionar a razão entre a concentração da base e do ácido conjugado em função do pH do meio que é Principio de Le Chatelier: A relação entre base e ácido conjugado no caso de um ácido fraco ele será diretamente dependente da concentração de prótons do meio, podemos fazer o ácido se associar ou se dissociar dependendo da concentração de prótons no meio, em outras palavras a concentração relativa de base conjugada e de ácido conjugado esta relacionada com a concentração de prótons no meio. Essa relação entre a concentração de base e ácido conjugado em dependência da concentração de prótons no meio pode ser predita de forma precisa através da equação de Henderson-Hasselbalch que pode ser deduzida a partir da constante de equilíbrio. Equação de Henderson-Hasselbalch A equação de Henderson-Hasselbalch define a relação entre pH e as concentrações do ácido e da base conjugada A alteração na concentração de qualquer componente de uma reação em equilíbrio provoca uma mudança na concentração de todos os componentes. Á ⇌ + + O aumento na concentração de H + irá diminuir a concentração da base conjugada com um aumento equivalente do ácido conjugado. Esta relação é convenientemente expressa pela equação de Henderson-Hasselbalch, que pode ser deduzida a partir da constante de equilíbrio. = [ + ] [ ] [Á ] Rearranjando a equação acima, temos: [ +] = . [ ] [Á ] Usando o logaritmo em ambos os lados da equação [ +] = + [ ] [Á ] Como pH = log 1/ [H+] e pK = log 1/Keq A reação de ácido e base é reversível e a proporção do ácido e da base conjugada pode ser alterada se alterarmos a concentração de prótons no meio. 𝑎𝐴 + 𝑏𝐵 ↔ 𝑐𝐶 + 𝑑𝐷 𝒑𝑯 = 𝒑𝑲 + 𝒍𝒐𝒈 [𝑩𝒂𝒔𝒆 𝑪𝒐𝒏𝒋𝒖𝒈𝒂𝒅𝒂] [Á𝒄𝒊𝒅𝒐 𝑪𝒐𝒏𝒋𝒖𝒈𝒂𝒅𝒐] Vivian Rocha 16 Titulação do Ácido Acético – Um Ácido Orgânico Fraco A curva abaixo é uma curva de titulação de um ácido orgânico fraco, o ácido acético. A curva de titulação é feita da seguinte maneira: Em um becker é adicionado uma quantidade de água onde é dissolvida uma determinada quantidade de um ácido fraco que irá se dissociar ate atingir o equilíbrio, a razão entre o ácido conjugado e a base conjugada naquela solução vai depender do pK do ácido. No momento que é adicionado uma quantidade de um ácido forte como o HCl (ácido clorídrico), a concentração de prótons aumenta com isso a reação desloca o equilíbrio para a esquerda, portanto nesse momento inicial 100% do ácido estará sob a forma de ácido conjugado e não vai haver base conjugada, a partir desse ponto é adicionando um medidor dentro da solução, e são adicionadas quantidades conhecidas de uma base forte como o NaOH. O pH será medido após cada adição da base. Com isso são obtidos uma serie de pontos a partir dos quais é possível traçar uma curva semelhante a esta ao lado chamada de Curva de que apresenta 3 regiões principais. Titulação A esta localizada do lado primeira região esquerdo do gráfico, onde o pH da solução é muito baixo e por tanto a concentração de prótons é muito alta a adição da base forte faz o pH da solução variar abruptamente. A da curva onde a adição de segunda região quantidades de base agora produzem um pequeno aumento, essa região central demarcada em vermelho (retângulo) ganha uma denominação especial que é uma faixa de tamponamento. A da curva onde novamente a adição de quantidades conhecidas de base terceira região voltam a fazer o pH variar bruscamente. É possível explicar esse três comportamentos diferentes da curva da seguinte maneira: No momento inicial que vai de 2 a 4,1 (aproximadamente) a concentração de prótons é grande, a base forte que é adicionada se dissocia em Na + e OH - e se associa aos prótons do meio formando água, a quantidade de prótons será reduzida de forma estequiométrica em relação à quantidade de base que foi adicionada, como a concentração de prótons reduz vai haver um aumento do pH. A concentração de prótons residual continua grande o suficiente para manter a reação de associação do ácido ainda toda deslocada para esquerda, isso ocorre na 1 o , 2 o , 3 o e 4 o adição. Apos o quarto ponto (parte vermelha) a concentração de prótons vai diminuir gradativamente e se torna pequena o suficiente para na próxima vez que for adicionada mais quantidades de base, esta se dissociar e o OH - vai se associar com próton formando mais água, mais como a partir desse momento a concentração de prótons já esta muito pequena essa reação se desloca para direita gerando prótons, então parte dos prótons que foram consumidos pela associação com a base será resposta pela dissociação do ácido isso ocorre no 5 o , 6 o , 7 o e 8 o . No ponto 9 o volta a variar bruscamente, pois todo o ácido foi transformado em base e da próxima vez que for adicionada mais base, ele vai retirar o próton do meio e não vai ter mais como ele ser reposto, então vai haver uma segunda fase onde o pH do meio volta a variar bruscamente. Gráfico 1- Curva de titulação pH Vivian Rocha 17 Na inicio como mostrado pela equação todo ácido acético, que neste caso foi o ácido usado para a titulação, esta sob a forma de ácido conjugado isso ocorre do pH 0 ate o pH 2. A partir dessa região o ácido conjugado começa gradativamente a se dissociar de 100% até 0% e nesse intervalo ele vai sendo gradativamente convertido à base conjugada. Cada vez que é encontrado um platô na curva de titulação isso indica que ha um efeito de tamponamento e consequentemente ha a dissociação de ácido fraco, se nesta curva fossem encontrados dois platôs, haveriam dos grupamentos ácidos sofrendo dissociação em pHs diferentes. O curioso é que na primeira região só há ácido conjugado, na terceira só a base conjugada e no ponto central ha uma mistura equimolar do ácido e da base conjugada, nesse pH 4,74 que é a região central do platô, existem concentrações iguais do ácido e da base conjugada, e esse pH de 4,74 será igual numericamente ao pK e isso pode ser visualizado pela fórmula de Henderson- Hasselbalch. Para o pH e o pK serem iguais as concentrações de ácido e base conjugada precisam ser iguais, pois é nesse ponto é onde temos concentrações equimolares do ácido e de sua base conjugada. Existe outra maneira de representar a curva de titulação. Onde ao em vez de haver variação do pH, irá haver a variação da forma ácida e da base conjugada em função do pH. Por esse gráfico é possível observar que em pHs muito baixos próximo a 0 todo o ácido esta forma de ácido conjugado e aqui 0% das moléculas estão sob a forma de base conjugada, a partir de certo ponto a concentração de ácido começa a diminuir e o número de molécula que desaparece na curva preta aparece na curva de baixo (vermelha), pois uma vez que dissociamos o ácido ele aparece na forma de base conjugada. Vai haver uma diminuição gradativa do ácido conjugado ate que em um pH alto o suficiente ele passa a não existir mais em solução e esse desaparecimento vai corresponder ao aumento da concentração da base conjugada que a partir de um determinado pH será a única forma presente. No ponto onde as linhas se cruzam a concentração do ácido é igual a da base e pela equação esse ponto corresponde ao pK daquele ácido. Caso da Aspirina Essas características de ácido e base e o fato dessa dissociação ser reversível são importantes para entenderemos certos medicamentos. Um exemplo disso é a aspirina que é o ácido acetilsalicílico, um ácido fraco, onde a proporção entre o ácido conjugado e a base conjugada irá depender da concentração de prótons. Quando aspirina é digerida, esta ira passar por dois órgãos: o estomago que possui pH 2 isso quer dizer que a concentração de prótons no estomago é alta consequentemente a forma predominante é a de base conjugada, depois a aspirina irá para o intestino onde é o pH 6,5 onde a concentração de prótons é pequena então a forma predominante neste local é de ácido conjugado. Não existe transportador de aspirina no organismo dos animais, com isso esta precisa entrar no organismo através de um processo que é chamado de difusão simples, ou seja, ela precisa passar diretamente pela membrana mais sem auxilio de transportadores. A aspirina precisa se dissolver na região hidrofóbica da membrana para alcançar o interior da célula, a substância só pode fazer isso Gráfico 2- Curva de Titulação. Vivian Rocha 18 se ela possuir característica hidrofóbica ou se ela não for polar. Uma das formas da aspirina não consegue atravessar a membrana porque ela tem uma carga negativa e outra consegue porque ela não apresenta carga. Nesse sentido a aspirina é absorvida pelo organismo no estômago. Outros medicamentos que foram feitos para serem absorvidos no intestino possuem uma capsula de gelatina que se desfazer no intestino. Formas Iônicas e Ponto Isoelétrico A estrutura geral dos aminoácidos possui pelo menos dois grupamentos ácidos na molécula: um grupamento amino e um carboxílico. Alguns aminoácidos além de possuírem esse dois grupamentos ácidos possuem um terceiro grupamento ácido na cadeia lateral, como é o caso dos aminoácidos do quadro da página 19. Pelo quadro, qual é o grupamento ácido mais forte, o grupamento carboxílico ou a hidroxila fenólica da Tirosina? O grupamento carboxílico é o ácido mais forte porque tem um pKa menor, em função de quanto menor é o pKa mais forte é o ácido. A acidez do grupamento carboxílico e do grupamento amino são mutuamente influenciados. A proximidade do grupamento carboxílico faz com que o grupamento amino seja um ácido ligeiramente mais forte e a proximidade desse grupamento amino faz com que o grupamento carboxílico se torne um ácido ligeiramente mais forte. Isso quer dizer que se o aminoácido apresentar um grupamento amino ou carboxílico em sua cadeia lateral isso faz com que este, se torne um ácido mais fraco. Um aminoácido que possui apenas o grupamento alfa amino e alfa carboxílico pode existir em 3 formas iônicas diferentes um que tem carga líquida positiva, outro com carga líquida 0 e um com carga líquida negativa e essas formas iônicas vão ser dependentes do pH do meio. Em pH muito ácido, ou seja, em uma concentração de prótons muito grande o equilíbrio da reação é todo deslocado para a esquerda, o grupamento carboxílico fica protonado, sem carga o grupamento alfa amino fica protonado com carga positiva, à medida que o pH aumenta o grupamento ácido mais forte se dissocia e fica com carga negativa e grupamento amino mantém a sua carga. Se o pH é aumentando mais ainda a concentração de prótons cai mais e o segundo grupamento ácido começa a se dissociar passando de uma forma iônica para outra que tem o grupamento amino e o grupamento carboxílico dissociado. O grupamento carboxílico com carga negativa o grupamento amino dissociado com carga 0 e a carga líquida desse forma é -1. Ao lado se encontra a curva de titulação da Glicina, um aminoácido que contem apenas um grupamento alfa carboxílico e um grupamento alfa amino. O exemplo da Glicina é o exemplo de quase todos os aminoácidos, pois a maioria deles só apresenta o grupamento Tabela 3- pKa das Cadeias Laterais de Alguns Aminoácidos. Figura 6 - Formas Iônicas. Figura 7 - Curva de Titulação da Glicina. Vivian Rocha 19 alfa carboxílico e o grupamento alfa amino com característica ácida. Essa curva de titulação apresenta duas regiões de platô, ou seja, duas regiões de tamponamento o que indica que essa molécula apresenta dois grupamentos ácidos que estão se dissociando, o que leva ao efeito tamponante. Na primeira região de tamponamento ha a dissociação do grupamento ácido mais forte, então em pH menor vai dissociar primeiro o ácido mais forte que é a carboxila. A segunda região de tamponamento corresponde à dissociação do segundo grupamento ácido que é o grupamento amino. Ao longo desta curva de titulação a Glicina passará por estas formas iônicas indicadas acima da figura. Com isso quando ha variação do pH do meio a Glicina pode estar carregada positivamente (+1), com carga líquida 0 ou na forma líquida com carga negativa (-1) dependendo do meio. Outro conceito interessante que é extraído dessas moléculas que apresentam grupamentos carregados com cargas opostas é o (pI) que é definido como o pH do meio onde ponto isoelétrico 100% das moléculas tem carga líquida 0. Observando esta curva de titulação em que condição ou qual região da curva esse aminoácido (Glicina) tem carga líquida 0? Na região central, pois a molécula esta na forma iônica onde todo grupamento carboxílico esta dissociado, mais que nenhum dos grupamentos alfa amino começou a se dissociar, isso ocorre somente depois do pK1 que é o pK de dissociação do grupamento alfa carboxílico e antes do pK2 que é o pK de dissociação do grupamento alfa amino, ou seja, essa condição ocorre entre os dois pK. Uma forma prática para saber qual é o pH onde a sua molécula esta no ponto isoelétrico é fazendo a media aritmética dos dois pK assim é possível determinar um ponto equidistante tanto do pK1 quanto do pK2. Essa forma de calcular o pI (ponto isoelétrico) é valida para a maioria dos aminoácidos exceto para aqueles aminoácidos tem um segundo grupamento carboxílico ou amino na cadeia lateral que é o caso do Ácido Aspártico, ácido glutâmico, Lisina, Arginina e Histidina. Nesse caso vamos utilizar como exemplo a curva de titulação do ácido glutâmico. No momento inicial todos os aminoácidos estão nessa primeira forma iônica à medida que a base é adicionada a concentração de prótons diminui e os grupamentos ácidos começam a se dissociar. O primeiro grupamento a se dissociar é o grupamento ácido mais forte que é o grupamento alfa carboxílico, depois se dissocia o segundo grupamento ácido mais forte que é o grupamento carboxílico da cadeia lateral e depois se dissocia o terceiro grupamento ácido que é o grupamento alfa amino. Essas moléculas conforme forem se dissociando passam da primeira forma iônica do desenho para a última. O ácido Glutâmico pode existir sob quatro formas iônicas diferentes dependendo do pH, ou seja, ela pode existir na forma com carga líquida +1, com carga líquida 0, carga líquida -1 e carga líquida - 2. A forma correspondente ao ponto isoelétrico é a forma com Figura 8 - Cálculo do pI. Figura 9 - Curva de Titulação do Ácido Glutâmico . Figura 10 - Cálculo do pI do Ác. Glutâmico. Vivian Rocha 20 carga líquida 0. É necessário para que esta forma iônica exista, que o grupamento alfa carboxílico tenha se dissociado completamente e que nem o grupamento alfa amino e nem o grupamento carboxílico da cadeia lateral tenha se dissociado. Essa forma iônica existe onde na região da curva depois do pK1 e antes do pK2. Nesse caso o pI é calculado através da media aritmética dos dois pKs dos grupamentos semelhantes. O grupamento alfa carboxílico é um ácido mais forte do que o grupamento carboxílico da cadeia lateral devido à proximidade desse grupamento carboxílico com um grupamento alfa amino. A mesma coisa ocorre com o aminoácido que possui um segundo grupamento amino na cadeia lateral é o caso, por exemplo, da Lisina. À medida que a base é adicionada e a concentração de prótons diminui os grupamentos vão gradativamente se desprotonando, primeiro desprotona o grupamento alfa carboxílico, depois o grupamento alfa amino e por último o grupamento amino da cadeia lateral. Nesse sentindo dependendo do pH, pode existir quatro forma iônicas da Lisina que vão possuir carga líquida +2,+1, carga líquida 0 ou carga líquida -1. A forma existente no ponto isoelétrico é a com carga líquida 0. O que precisa ocorrer na curva de titulação para a Lisina chegar à forma do ponto isoelétrico? Precisa dissociar o grupamento alfa carboxílico e o alfa amino e não dissociar o grupamento amino da cadeia lateral. Então essa forma iônica existe depois do pK1 e do pK2 e antes do pK3. Então o ponto isoelétrico da Lisina esta localizado entre o pK2 e o pK3. O pI desse aminoácido é corretamente calculado fazendo a media aritmética dos pK2 e pK3. Quando um aminoácido apresenta um grupamento carboxílico e dois grupamentos aminos o pI é calculado através da media aritmética entre os pK dos grupamentos semelhante Na tabela abaixo estão descritos os pK dos grupamentos alfa carboxílicos de vários aminoácidos e o pK dos grupamentos alfa aminos de vários aminoácidos e pK dos grupamentos ácidos da cadeia lateral de alguns aminoácidos. Mesmo em relação aos grupamentos alfa carboxílicos e os grupamentos alfa amino existe variação de pK, indicando pequenas variações de acidez nos grupamentos amino e carboxílico nos diferentes aminoácidos. Essas pequenas variações de acidez não são dadas pelo grupamento carboxílico e pelo grupamento amino são dadas pela estrutura da cadeia lateral. Com isso a estrutura da cadeia lateral também influência a acidez dos grupamentos alfa carboxílicos e amino. Isso é importante porque mesmo aminoácidos que apresentem apenas um grupamento carboxílico e um grupamento amino, podem apresentar diferentes estados iônicos em determinados pH e consequentemente essa diferença de estado iônico ajuda na separação destes. Tabela 4 - Valores dos pKas. Figura 11 - Curva de Titulação da Lisina. Figura 12 - pI da Lisina. Vivian Rocha 21 AULA 3 - TÉCNICAS DE FRACIONAMENTO DE AMINOÁCIDOS A palavra fracionamento significa separação. Antes de falarmos do fracionamento propriamente dito, vamos explicar as metodologias e em que condições elas poderiam ser aplicadas. Para que Servem as Técnicas de Fracionamento de Aminoácidos? Essas técnicas podem ser utilizadas para determinar: o tipo e a abundância de cada tipo de aminoácido presente, por exemplo, em um determinado tipo de alimento. Nesse sentido é possível determinar os tipos de aminoácidos presentes nesse alimento e a quantidade com que ele se apresenta, determinando assim se este alimento é rico ou não em aminoácidos essenciais. Essas técnicas também podem ser usadas para determinar os tipos e a abundância de cada aminoácido nos fluidos biológicos como, por exemplo, o plasma sanguíneo e o líquido cefalorraquidiano. E essas informações são utilizadas para diagnosticar possíveis anormalidades metabólicas. Outra aplicação dessas técnicas de fracionamento é a investigação da presença de aminoácidos e de outras substâncias de origem biológica em meteoritos de origem extraterrestre. E uma ultima aplicação seria a utilização dessas técnicas para determinar os tipos e a abundância deles em uma determinada proteína. Metodologias de separação As técnicas de fracionamento são baseadas nas diferenças de propriedades físico-químicas existentes entre os aminoácidos, que consistem basicamente na cadeia lateral. Cada tipo de aminoácido possui uma cadeia lateral com uma estrutura característica, e estas possuem diferentes propriedades de solubilidade em um ambiente aquoso. E com isso temos aminoácidos com cadeias laterais com característica hidrofóbica, ou seja, tem pouca solubilidade em ambiente aquoso e aminoácidos com cadeias laterais que possuem características polares. Dentre esses aminoácidos com cadeias laterais polares alguns são mais polares como Ácido Aspártico, ácido glutâmico, Lisina, Arginina e Histidina do que outros. A primeira forma de diferenciar um aminoácido do outro e utilizar isso para promover a separação dessas moléculas é a característica de solubilidade da cadeia lateral em um solvente polar ou apolar. A segunda característica que pode ser utilizada para promover a separação desses aminoácidos é a diferença de cargas, devido a diferença entre os pKs dos grupamentos alfa carboxílicos e dos grupamentos alfa aminos entre os diferentes aminoácidos que é devido a influência da estrutura da cadeia lateral sobre a acidez desses grupamentos. Por outro lado na própria cadeia lateral também existe alguns grupamentos que tem característica ácida. Devido a acidez desses grupamentos e as diferenças de pKs desses grupamentos ácidos entre os diferentes aminoácidos, temos que em um determinado pH cada tipo de aminoácido possui uma estrutura iônica distinta. E essas diferenças na carga dos aminoácidos também podem ser utilizadas para promover a separação dessas moléculas. Então basicamente as técnicas de fracionamento se baseiam nas diferenças de polaridade da cadeia lateral e nas diferenças de cargas dos aminoácidos. Vivian Rocha 22 Com base na exploração dessas diferenças temos uma serie de metodologias como: a cromatografia em papel, cromatografia de troca iônica, eletroforese e a cromatografia líquida de alta eficiência que explora uma característica ou outra do aminoácido para promover a separação. Técnicas de Fracionamento Uma grande variedade de técnicas modernas, tanto analíticas quanto preparativa, é denominada de cromatografia. Existem quatro tipos principais de cromatografia: cromatografia líquida, cromatografia gasosa, cromatografia de camada fina e cromatografia em papel. O que os diferentes tipos de cromatografia possuem em comum é a propriedade de fracionar uma mistura complexa de substâncias com base na diferença de características químicas entre os componentes da mistura. Estas diferenças fazem com que os componentes da mistura interajam de forma diferencial com as fases do sistema cromatográfico, causando a separação dos componentes. Cromatografia em papel: Nesta técnica, o principal fenômeno responsável pela separação das substâncias é o entre duas fases imiscíveis, formadas por uma fenômeno de partição mistura de um solvente pouco polar e um solvente polar. Cromatografia de Troca Iônica: A cromatografia de troca iônica é um método de fracionamento baseado na a um suporte que contém uma carga fixação de substâncias carregadas oposta. A separação é possível por que as interações eletrostáticas são reversíveis e dependentes da afinidade de cada substância pelo trocador. Essa afinidade é função do pH do meio, da , etc. temperatura, da força iônica do tampão Eletroforese: Esta técnica é baseada na (moléculas) carregadas, migração de partículas positivamente ou negativamente, quando sujeitas a ação de um campo elétrico. Cromatografia Líquida de Alta Eficiência (CLAE): Sistema moderno de cromatografia que utiliza a injeção das amostras e do solvente em colunas cromatográficas sob alta pressão. Dependendo do tipo de coluna, pode realizar a separação de moléculas utilizando diferentes propriedades físico-químicas (partição, adsorção, troca iônica, etc.). Cromatografia em Papel Monodimensional A cromatografia em papel é baseada no principio de partição que esta relacionado com as diferenças de polaridade nas cadeias laterais, pois cada aminoácido caracteriza-se por possuir uma cadeia lateral com diferentes graus de hidrofobicidade. Essa técnica de cromatografia esta em desuso, porém este conceito de separação é utilizado para outras técnicas mais modernas como a cromatografia líquida de alta eficiência. Além disso, essa cromatografia por ser relativamente barata e por não requerer treinamento sofisticado do operador, ainda é largamente utilizada em laboratórios de analises clínicas para diagnosticar determinados tipos de doenças, que tem como característica presença de níveis elevados de aminoácidos ou alguma outra substância no fluido biológico. O principal fenômeno responsável pela separação das substâncias é o fenômeno de partição que ocorre entre duas fases imiscíveis formadas por uma mistura de solventes, onde um solvente possui característica pouco polar e o outro é polar. Figura 13 - Funil de Partição. Vivian Rocha 23 A utilização mais familiar dessa cromatografia é o Funil de Partição, onde ha a seguinte situação: Uma mistura de solventes imiscíveis, onde é possível ver claramente a separação entre um solvente que esta localizado na parte inferior e o outro esta na parte superior, que é dada pela dissolução diferencial de um determinado composto que prefere se dissolver na fase inferior que possui a polaridade semelhante a sua. Se a molécula for uma substância hidrofóbica, quer dizer que o solvente inferior tem característica hidrofóbica e consequentemente o solvente superior tem a característica hidrofílica. Essa partição diferencial pode ser calculada através de um coeficiente partição ou coeficiente de distribuição que é calculado dessa forma: Ou seja, medimos a concentração do composto X no solvente A e coloca no numerador, mede a concentração composto X no solvente B e coloca no denominador e divide um número pelo outro. Nessa cromatografia exploramos principalmente a diferença de polaridade entre os aminoácidos que é dada principalmente pela cadeia lateral. Se possuirmos uma estrutura de cadeia lateral muito hidrofóbica como é o caso das cadeias laterais da Isoleucina, Prolina ou Metionina, que vencem a tendência dos grupamentos alfa carboxílicos e alfa amino de interagirem com a água, com isso estes aminoácidos vão estar predominantemente presentes na fase apolar. Por outro lado as moléculas possuem cadeias laterais com características hidrofílicas, estas vão possuir a tendência de interagir com a água e vão contribuir para aumentar a capacidade dos grupamentos alfa carboxílicos e alfa amino de interagirem com o ambiente aquoso. Então na realidade apesar de todos os aminoácidos, mesmo os hidrofóbicos, poderem ter carga negativa ou positiva dependendo do pH, essa polaridade dos grupamentos é neutralizada pela grande hidrofobicidade da cadeia lateral. Nesse caso substâncias podem ter um coeficiente de partição que fazem com que elas fiquem dissolvidas preferencialmente no solvente A ou preferencialmente dissolvidas no solvente B. Esse sistema de partição líquido - líquido foi utilizado durante muito tempo para fazer o fracionamento de substâncias inclusive de aminoácidos. Esse sistema de separação era uma técnica muito demorada e trabalhosa, pois é preciso repetir a separação varias vezes e em cada uma dessas vezes era perdida um pouco da substância de interesse. Para os cientistas que trabalhavam com química de proteínas esse procedimento era desvantajoso, pois eles conseguiam uma quantidade muito reduzida de proteínas. Então eles bolaram uma nova forma de fazer esta separação. 𝐶𝑜𝑒𝑓.𝑑𝑒 𝑃𝑎𝑟𝑡𝑖çã𝑜 = 𝐶𝑜𝑛𝑐.𝑑𝑒 𝑋 𝑛𝑜 𝑆𝑜𝑙𝑣𝑒𝑛𝑡𝑒 𝐴 𝐶𝑜𝑛𝑐.𝑑𝑒 𝑋 𝑛𝑜 𝑆𝑜𝑙𝑣𝑒𝑛𝑡𝑒 𝐵 Vivian Rocha 24 Nessa nova forma de realizar a separação, eles continuavam com duas fases uma hidrofóbica e uma hidrofílica, só que ao em vez de um sistema líquido-líquido temos um sistema sólido-líquido com uma fase polar e outra apolar, o truque foi imobilizar uma das fases, a fase hidrofílica, que agora é representada pelas fibras de celulose de uma folha de papel ao redor da qual se forma camadas de solvatação contendo moléculas de água. Nessa folha de papel constituída principalmente de fibras de celulose e ao redor de cada fibra de celulose existiam varias moléculas de água rodeando aquela fibra formando a camada de solvatação. Então a sua fase hidrofílica estava imobilizada em uma folha de papel. Por outro lado tínhamos a fase hidrofóbica que era uma fase móvel e que se movia por capilaridade por entre os poros da fibra de papel. A substância interesse agora precisa “escolher” entre ficar em uma cavidade que possui característica hidrofóbica ou ficar ligada a fibra de celulose que tem característica hidrofílica. Assim o fenômeno de partição vai ocorrer entre uma fase estacionaria hidrofílica que é a matriz do papel ou uma fase líquida que reveste as cavidades e que é móvel e hidrofóbica. A mostra é aplicada em uma das extremidades da folha de papel que é tocada em uma das suas extremidades pelo solvente que sobe por capilaridade. Se a molécula interagir com a fibra de papel ela ficará retida, se a molécula preferencialmente se dissolver naquelas cavidades à medida que o fluxo vai subindo ela vai sendo arrastada uma vez que ela não está agarrada a nada. Sendo assim teremos o arraste das substâncias que vão preferencialmente se dissolver na fase líquida e a retenção ou retardo das substâncias que preferem ficar ligadas as fibras de celulose. Por essa metodologia temos a separação de substâncias que apresentam característica polares e ficam retidas na matriz do papel, por tanto tem uma velocidade de migração lenta e de substâncias que possuem característica apolares que ficam preferencialmente não ligadas à fase estacionaria e são arrastadas pelo fluxo de solvente. O poder de resolução dessa cromatografia em papel é relativamente grande. A migração relativa de cada aminoácido ao longo da fibra de papel que é dependente da sua solubilidade entre as duas fases, a móvel e a estacionaria, pode ser expressa por um fator que é chamado de ou . Fator de retardo Fator de retenção Figura 14 - Cromatografia em Papel. Então como resumo disso temos que os diferentes aminoácidos podem ser separados por cromatografia em papel devido à solubilidade diferencial que essas moléculas apresentam entre a água de hidratação ou água de solvatação que existe ao redor das fibras de celulose que corresponde à fase estacionaria e a fase orgânica móvel que flui por entre as fibras da celulose que contem característica hidrofóbica ou apolar. Este fenômeno pode ser convenientemente expresso como um fator de retardo ou fator de retenção (Rf). Vivian Rocha 25 Em uma folha de papel você aplica 4 moléculas diferentes, 4 aminoácidos Exemplo: diferentes, coloque-o a mistura de solvente e deixe fluir ao longo da folha de papel ate a região chamada de frente de solvente. Como cada aminoácido desses possui um coeficiente de partição distinto entre a fase móvel e a fase os estacionaria migram com velocidades diferentes. A molécula 1 que é mais polar migrou menos, o outro aminoácido que é mais apolar migrou mais e os outros dois aminoácidos que tem polaridade intermediaria migraram de forma intermediaria. A partir dessa migração você pode achar um fator de migração relativa, que é chamado de fator de retardo ou fator de retenção que é calculado dividindo distância entre o ponto de aplicação do aminoácido e o centro da banda cromatográfica, essa distância é coloca no numerador, dividindo essa distância pela distância de aplicação e a frente de solvente que fica no denominador. Esta divisão, sempre vai dar um número menor do que 1, que é a percentagem de migração do aminoácido em relação migração do solvente. Por essa consideração é possível observar que nenhum dos aminoácidos esta completamente dissolvido na fase móvel. Qual a necessidade de se calcular essa fator de retardo? A necessidade consiste no fato de que geralmente em laboratórios diferentes você utiliza folhas de papel ou tiras de papel de comprimentos diferentes. Então se você medir simplesmente a distância que o aminoácido migra não é uma informação muito util. Independente do tamanho da fibra de papel eles vão ter sempre o mesmo . Esses fatores de migração ou fatores de retardo são característicos de cada molécula. Você pode consultar em um atlas de bioquímica qual seria o do teu aminoácido ou dos aminoácidos em um determinado sistema de solvente e se você repetir o seu experimento cromatográfico Os diferentes aminoácidos podem ser separados por cromatografia em papel devido à solubilidade diferencial que apresentam entre a água de hidratação (solvatação) ao redor da das fibras de celulose (fase estacionária) e a fase orgânica móvel que flui por entre as fibras de celulose. A solubilidade relativa dos aminoácidos nestas duas fases pode ser alterada por mudanças na polaridade do solvente, ou no pH da solução, que irá alterar o estado iônico dos aminoácidos. Sob um conjunto controlado de condições, cada componente da mistura irá se deslocar com uma determinada velocidade e, após um período de tempo, estará a uma distância específica do ponto de origem, quando cessar o fluxo de solvente. Figura 15-Exemplo de Cromatografia em Papel. Figura 17- Cromatograma em Papel Monodimensional. Figura 16- Cálculo do Fator de Retenção. Vivian Rocha 26 utilizando as mesmas condições você pode através do que você encontrar compará-lo com determinado da literatura e a partir dessa comparação é possível predizer que tipo de molécula seria aquela. Essa técnica não é 100% confiável uma vez que vários aminoácidos têm muito parecidos e não é possível garantir que um aminoácido seja igual ao outro simplesmente comparando os , só se você estiver utilizando aminoácidos com diferenças de muito grandes. Essa técnica de separação é uma , ou seja, você aplica sua técnica monodimensional amostra em um ponto de origem e promove a separação da sua molécula em uma única dimensão. Existe outro tipo de cromatografia que a que utiliza duas cromatografia bidimensional misturas de solventes diferentes aplicados de forma consecutiva para a separação de uma mistura de substâncias. Cromatografia em Papel Bidimensional Nesse procedimento é utilizado um quadrado de papel onde a amostra é aplicada em uma das quinas, essa extremidade do papel é tocada na mistura de solvente que começa a subir por capilaridade pelas fibras do papel, nesse procedimento as moléculas presentes no ponto de aplicação vão se separando formando machas cromatográficas distintas. Depois que essa primeira dimensão é dissolvida você retira o papel do solvente seca e o papel seco é girado em 90 o graus e é colocado em contato com um segundo solvente que migra por capilaridade e vai se deparar novamente como as moléculas que já tinham sido separadas na primeira dimensão, como o segundo solvente e diferente do primeiro, aquelas moléculas vão migrar de forma diferencial. Com isso se na primeira dimensão era possível observar apenas três componentes diferentes a separação utilizando as duas misturas de solventes de forma consecutiva produziu uma resolução melhor, sendo então possível detectar que na realidade a sua mistura continha 4 substâncias diferentes ou quatro aminoácidos diferentes. Eritrócito Falciforme Uma técnica cromatográfica desse tipo foi utilizada para determinar a diferença existente entre a hemoglobina de um eritrócito normal e a hemoglobina de um eritrócito falciforme. Hoje em dia todo mundo sabe que na realidade a diferença entre esses dois tipos de eritrócitos é uma mutação na cadeia beta da hemoglobina, que causa anemia falciforme. Essa mutação substitui uma ácido glutâmico por uma Valina no sexto aminoácido dessa cadeia. Como o ácido glutâmico possui uma cadeia lateral com carga negativa e a Valina apresenta uma cadeia lateral sem carga com característica hidrofóbica. Essa mutação foi à primeira detectada na estrutura de uma proteína por volta de 1943 utilizando cromatografia em papel. Figura 18- Cromatografia em Papel Bidimensional. Figura 19- Cadeia Beta da Hemoglobina de um Eritrócito Normal e um Falciforme. Vivian Rocha 27 Os pesquisadores isolaram a cadeia beta da hemoglobina de um individuo normal e de um individuo com anemia falciforme. Essas cadeias foram tratadas com uma serie de proteases sítio específicas, como a , que corta depois dos aminoácidos Arginina e Lisina, a , tripsina quimiotripsina que corta depois de Triptofano, Tirosina e Fenilalanina, e por ultimo uma protease que cortar somente depois de Glicina ou Valina. Essas misturas de peptídeos da hemoglobina normal e da hemoglobina falciforme foram separadas por cromatografia bidimensional. E com isso foi possível observar que o padrão de distribuição dos peptídeos era praticamente idêntico à única diferença marcante foi um peptídeo presente na hemoglobina normal que estava ausente na hemoglobina falciforme, que por outro lado apresentava um peptídeo que não estava presente na hemoglobina normal. Acidez dos Aminoácidos A segunda característica dos aminoácidos que pode ser utilizada para diferenciar um aminoácido do outro esta relacionada com as propriedades ácidas dos grupamentos α-amino, α- carboxílico e também quando houver grupamentos ácidos na cadeia lateral. Esses grupamentos α-carboxílico ou grupamento carboxílico, quando presentes na cadeia lateral, podem existir no estado sem carga ou com carga negativa e o grupamento α-amino e o grupamento amino, da cadeia lateral, podem existir no estado com carga positiva ou sem carga. Essas diferenças de cargas, projetam estados iônicos diferentes a esse grupamentos, que são dependentes primeiro do pKa daquele grupamento, que esta relacionado com a constante de equilíbrio daquele ácido e também com o pH do meio, isso quer dizer que dependendo do pH aqueles aminoácidos podem estar com carga positiva, com carga líquida zero ou carga líquida negativa. Com isso essas diferenças de carga podem ser exploradas para separar esses aminoácidos por outras metodologias de fracionamento. Cromatografia de Troca Iônica Essa metodologia promove o fracionamento das moléculas presentes em uma determinada solução com base na fixação daquelas substâncias carregadas presentes na mistura a um suporte que contém carga oposta à da molécula que esta sendo fracionada, essa separação só é possível porque essas interações eletrostáticas que ocorrem entre a molécula que esta sendo fracionada e o suporte é reversível e é dependente da afinidade de cada substância pelo trocador, sendo essa afinidade em função do pH do meio que altera o estado iônico da substância e por tanto faz que fique mais fortemente aderida ou mais fracamente a aquelas cargas presentes no sistema cromatográfico. Também podendo ser em função da temperatura, pois esta afeta o pKa ou a acidez dos grupamentos e por tanto pode alterar o estado iônico da molécula e da força iônica do tampão, onde em uma alta concentração de íons, estes competem pela ligação com o trocador e podem não permitir a ligação da molécula de interesse. Vivian Rocha 28 De uma maneira geral essa cromatografia de troca iônica é realizada em colunas cromatográficas que são suportes e geralmente ela é formada por uma coluna de vidro ou de resina sintética transparente, onde você tem uma parte superior que funciona como a entrada do fluxo de tampão que passa ao longo de todo sistema e sai na parte inferior. O interior da coluna é revestido com o trocador que geralmente consiste de pequenas esferas poliméricas formadas ou por polímeros naturais como a celulose e agarose ou polímeros sintéticos como a poliacrilamida ou o nylon e a estes polímeros vão estar ligados determinados grupamentos químicos que vão ter naquele pH carga positiva ou negativa. Esse trocador que preenche o leito da coluna é formado de esferinhas que possuem uma estrutura polimérica, ou seja, ela é porosa, formada por uma malha de polímeros. A esse polímero você adiciona um composto com carga positiva ou negativa e faz uma reação química para que este composto se ligue covalentemente à estrutura do polímero. Tendo um esquema semelhante a este a baixo, onde as esferinhas que formam um leito no interior da coluna estão embebidas em uma solução tampão de pH conhecido, essas esferinhas cheias de grupamentos carregados negativamente, nesse caso, ao qual vão se ligar moléculas com cargas positivas. Dependendo da composição da amostra pode ser que esta coluna com carga negativa não seja a melhor para promover a separação, neste caso você optar por utilizar um trocador tem grupamentos carregados positivamente na matriz. Nesse caso onde temos as esferinhas carregadas negativamente a qual é aplicado uma mistura de substâncias com carga positiva e carga negativa, onde neste caso as moléculas com carga predominantemente positiva se ligam ao grupamento que esta preso na esferinhas, fazendo com que essas moléculas com carga positivas fiquem retidas na coluna enquanto que aquelas moléculas com a mesma carga do trocador ou sem carga, por não conseguirem interagir com o grupamento carregado, são arrastadas pelo fluxo de solvente que esta passando ao longo da coluna. Figura 20- Coluna Cromatográfica Negativa. A cromatografia de troca iônica é um método de fracionamento baseado na fixação de substâncias carregadas a um suporte que contém uma carga oposta. A separação é possível por que as interações eletrostáticas entre os grupos são reversíveis e dependentes da afinidade de cada substância pelo trocador. Este fenômeno pode ser convenientemente expresso como um fator de retardo ou fator de retenção (Rf). Esta afinidade é função do pH do meio, da temperatura, da força iônica do tampão, etc. Vivian Rocha 29 Como a esfera é porosa quando você faz a reação química além dos polímeros expostos na superfície da esfera, todo o polímero no interior da esferinha também fica ligado a grupamentos com carga, então a área da esfera que possui moléculas capazes de fazer interações eletrostáticas não se restringe simplesmente à superfície mais também a toda área no interior da esfera. Nessa representação os filamentos verdes representam a molécula do polímero que faz ligações cruzadas com outros polímeros formando uma malha tridimensional, os grupamentos ligados covalentemente a estrutura do polímero possuem carga negativa e o líquido esta interagindo com essas moléculas carregadas da matriz que tem cargas positivas dentro das esferinhas amarelas. Na figura abaixo, esse primeiro grupo de grupamentos químicos que inclui, por exemplo, o grupamento que esta presente nessa resina do Dowex-50, possui um anel benzeno ligado a um grupamento sulfato que é um ácido forte, por tanto em qualquer pH ele esta carregado negativamente. A segunda estrutura apresenta um grupo carboxi-metil, esse grupamento carboxílico é um ácido fraco então essa carga negativa é dependente do pH e na ultima estrutura você tem dois grupamentos carboxílicos, por tanto ele é capaz de interagir mais fortemente com íons que estejam duplamente carregados e novamente esse grupamentos carboxílicos são ácidos fracos e por tanto essa carga negativa é dependente do pH. Nos dois exemplos abaixo da fig. 22 (área verde) grupamentos apresentam cargas positivas, que é o dietil-amino- etil que possui uma amina terciária, novamente o estagio iônico dele é dependente de pH e uma amina quaternária em baixo que possui carga positiva independentemente do pH em que ela esteja presente. Com isso existem esferas com grupamentos carregados negativamente ou então esferinhas com grupamentos carregados positivamente, podendo utilizar uma ou outra. Havendo somente um cosa onde é utilizada uma mistura das duas, no sistema de purificação de água, que serve para retirar completamente os íons da água. A figura ao lado ao em vez de mostrar a coluna inteira estamos apenas ilustrando uma esfera, então a coisa funciona da seguinte maneira: Na primeira figura (figura a) a que esferinha Figura 21- Malha do Polímero da Coluna de Troca Iônica. Figura 22 - Tipos de Resinas Sintéticas Usadas em Colunas de Troca Iônica Figura 23 - Funcionamento da Coluna de Troca Iônica. Vivian Rocha 30 vai conter os grupamentos carregados esta representada por uma esfera maior que tem coloração cinza, ligado covalentemente a matriz você tem o grupamento trocador que é representando pelas esferas menores de cor amarela que é o grupamento e que, portanto tem carga negativa e sulfato dessa forma esta esferinha e capaz de liga e desligar íons com carga positiva. No momento inicial essa esferinha esta dentro da coluna embebida em uma solução tampão que tem o ácido e base conjugada, a base conjugada esta na forma salina e o sal da base pode formar uma interação eletrostática com o trocador. Então se temos, por exemplo, um sistema tampão formado por acetato sódio e ácido acético, o acetato é capaz de interagir com as cargas negativas do trocador. Nessa situação inicial é aplicada no topo da coluna uma solução contendo uma mistura de três aminoácidos que seria o , a Ácido Aspártico e a Serina (figura b). Esses aminoácidos Lisina podem estar carregados negativamente, positivamente ou sem carga, se o objetivo é que todos os aminoácidos da mistura interajam com o trocador, estes estar na forma positiva, em função disso é preciso optar por um pH onde seja garantindo que todos os aminoácidos estejam carregados positivamente. Como vimos anteriormente no a carga líquida do aminoácido é zero. ponto isoelétrico (pI) Se o pH é aumentado, ou seja, a concentração de prótons no meio é diminuída a carga líquida do aminoácido fica negativa e se o pH da solução for menor do que o pI a carga líquida do aminoácido fica positiva. Então para o nosso exemplo temos que escolher um pH menor do que o pI da , Lisina da e do Serina , para que os três aminoácidos fiquem com carga positiva, fazendo Ácido Aspártico com que todos se liguem a coluna. Mais para isso é preciso calcular o pI, pois somente assim é possível saber em um dado pH qual aminoácido esta com carga positiva e qual esta com carga negativa, predizendo assim seu comportamento durante a eletroforese ou na cromatografia de troca iônica. Quando os três aminoácidos estiverem ligados à carga do trocador o íon sódio que estava ligado é deslocado (figura b), nesse momento a coluna e lavada com bastante tampão para retirar aquelas moléculas que não possuem carga ou tenham a mesma carga da coluna, deixando no interior dela apenas os aminoácidos com carga oposta a carga do trocador. Não adianta nada fazer uma técnica de fracionamento se o produto desejado esta no interior da coluna, com isso é preciso mudar as condições do meio de tal forma que aquelas moléculas se soltem do trocador. Preferencialmente você deve fazer isso de forma gradativa, elaborando uma forma de eluição onde cada um dos aminoácidos se solte em uma condição diferente. Existem duas formas de fazer isso a primeira forma é variando o pH o que faz com que a forma iônica do trocador mude e consequentemente muda a forma iônica do aminoácido fazendo com que ele se solte da coluna. Então se aminoácido esta carregado positivamente e o pH do meio é aumentado e vai chegar em um determinado pH onde o Ácido Aspártico perde a carga e começa a se soltar (figura c), mais nesse pH que faz com que o fique com carga líquida zero a Ácido Aspártico e a Serina Lisina ainda estão carregadas positivamente continuando retidos na coluna, se novamente o pH é aumentado ele chega ao pI da que perde a carga e se solta da coluna (figura d), mais neste Serina Neste caso quando maior a diferença entre o pH e o pI mais forte o aminoácido se liga a coluna e quanto menor é essa diferença mais facilmente ele se solta. Vivian Rocha 31 pH a ainda esta carregada positivamente. Aumentando mais o pH vai chegar ao pI da Lisina Lisina que perde a carga e se solta (figura e). Essa eluição também pode ser feita aumentando a concentração de sal ao em vez de aumentar o pH, Por exemplo se aumentarmos a concentração de cloreto do sódio, o número de moléculas de sódio na solução vai aumentar e ela vai tender a deslocar os aminoácidos que estão ligados ao trocador e novamente a ordem de eluição é obedecida: primeiro o , Ácido Aspártico depois a e então a Serina . Lisina Abaixo segue um esquema de eluição com três picos que foram eluídos em frações diferentes. Uma única coluna cromatográfica pode fazer a separação de todos os aminoácidos presentes nas proteínas. Nesse exemplo temos a adição de uma estrutura complexa de aminoácidos e uma coluna trocadora de cátions, ou seja, coluna com carga negativa que liga e desliga íons com carga positiva e elaborando um procedimento de eluição com pHs gradativamente maiores é possível seletivamente eluir em frações separadas praticamente todos os aminoácidos normalmente encontrados nas proteínas. O volume de eluição é relativamente grande e esse procedimento é relativamente demorado por volta de 24 horas para fazer a analise completa e é possível observar que os picos de eluição são relativamente abertos tendo uma resolução muito grande, de tal forma que se dois aminoácidos estiverem próximos um do outro podemos confundir e ver estes dois aminoácidos como apenas um. Eletroforese A força friccional é dependente do tamanho da molécula, portanto partículas com a mesma carga podem ter tamanhos diferentes, com isso uma partícula menor se desloca mais rapidamente do que uma partícula maior, em função do atrito que ela sofre ser menor. A eletroforese é um método de fracionamento baseado na migração de partículas carregadas, positivamente ou negativamente, quando sujeitas à ação de um campo elétrico. Os cátions migrarão para o catodo (pólo negativo) Os ânions migrarão para o anodo (pólo positivo) A velocidade de migração destes íons dependerá do equilíbrio entre a força eletromotriz do campo elétrico (voltagem) e da força retardante (em geral do tipo friccional ou eletrostática) imposta pelo meio em que ocorre a eletroforese. Os suportes comumente usados para a eletroforese são: Papel Acetato de Celulose Amido Figura 24 - Esquema de Eluição do Ácido Aspártico, da Serina e da Lisina. Vivian Rocha 32 Outro tipo de força que pode retardar a movimentação desses íons são as forças eletrostáticas, imaginem que essas partículas estão migrando por uma matriz que apresenta carga negativa ou positiva e que interagem com os íons e enquanto isso ocorre estes se tornam incapazes de migrar pelo campo elétrico. Nesse sentido moléculas que sofrem o mesmo retardo friccional durante a migração e que não interagem de forma significativa com a matriz, apresentam velocidades de migração que vão depender de duas coisas: Voltagem - Quanto maior a voltagem, maior a velocidade migração. Carga do aminoácido Logo abaixo esta ilustrado o mecanismo de eletroforese, onde em dois tanques contendo o mesmo tipo de solução tampão em um determinado pH é estendida folha de papel fazendo uma ponte entre os dois pólos (catodo que e o pólo negativo e o anodo que é pólo positivo), depois de aplicada a mistura de aminoácidos no centro da folha de papel, sendo este todo embebido em uma solução tampão. A maquina é ligada e é aplicada uma corrente continua. Como os aminoácidos diferentes possuem pI diferentes, um aminoácido cujo pI no caso da Alanina é igual a 6,02 esta próximo do pH do tampão que é 6, sendo assim a carga líquida desse aminoácido é 0 e como ele não possui carga líquida não vai sair da origem. O pI do Ácido Aspártico é 2,98, se o pH é 6, ou seja o pH da solução é maior do que o pI do aminoácido, e quando o pH é maior do que pI a molécula esta carregada negativamente, então o Ácido Aspártico vai migrar para pólo positivo, o anodo. No último caso você tem a Arginina que tem o pI=10,76 e como pH é 6, então o pH e menor do que o pI, nessa situação a carga líquida da Arginina é positiva e por tanto vai migrar para o pólo negativo o catodo. Isso ocorre com qualquer aminoácido e dependendo da diferença entre o pH e o pI eles vão migrar com diferentes velocidades, sendo assim então possível separar esse aminoácidos em diferentes frações. Figura 25 - Eletroforese. Vivian Rocha 33 Cromatografia líquida de alta eficiência Nessa técnica dependendo do tipo matriz que é utilizada, podemos separar os aminoácidos tanto pelo principio de partição como pelo principio de troca iônica. Isso vai depender do tipo que matriz que esta presente na coluna. Esse método de cromatografia não cria nenhuma novidade em relação os princípios básicos que norteiam a separação dos aminoácidos. Na realidade esse método de cromatografia possui uma melhoria técnica que permite que processo seja feito de forma mais rápida e com maior eficiência. Esse método continua usando uma coluna igual à cromatografia de troca iônica normal, só que o liquido que vai promover a separação passa através de uma coluna sob alta pressão que é dada por uma bomba, de forma que o fluxo nesse equipamento ocorre muito mais rapidamente, e a separação que em uma cromatografia normal poderia durar até 24hrs nessa metodologia ocorre em até 30 min. Abaixo se encontra um esquema básico da técnica. O solvente é bombeado através de uma bomba de alta pressão até um filtro que retira partículas de grande tamanho, chega ate uma válvula de injeção onde a amostra é aplicada e esta é arrastada pelo fluxo de solvente passando por uma pré- coluna para tirar partículas mais finas e então entra na coluna que pode ser preenchida com uma matriz que vai promover a separação por partição ou por troca iônica e então são eluídas da coluna de forma seletiva, separando os componentes da mistura em frações. Ao saírem da coluna esses aminoácidos serão detectados por um detector e o sinal desse detector é mandado para o computador que gera um cromatograma de eluição. Figura 26 - Cromatografia Líquida de Alta Eficiência. Na verdade essa metodologia requereu vários aprimoramentos técnicos para poder ser empregada. Utilizando esse sistema é possível identificar todos os aminoácidos comumente encontrados na estrutura da proteína, utilizado um único cromatograma. Na realidade grande parte dos aminoácidos não absorve luz no comprimento de onda, isso quer dizer que os aminoácidos não possuem cor. A exceção são três aminoácidos: Triptofano, Tirosina e a fenialanina. Esses três aminoácidos com poucos anéis aromáticos em suas cadeias laterais e que absorvem fortemente no caso do Triptofano e da Tirosina luz ultravioleta e no caso da Felialanina mais fracamente esta luz. Isso quer dizer que se fossemos insetos veríamos uma solução de Triptofano, Tirosina e Felialanina uma vez que os insetos conseguem enxergar luz ultravioleta nesse comprimento de onda. Entretanto nossos fotoreceptores não são excitados por esses comprimentos de onda. Então Figura 27 - Absorbância do Triptofano, Tirosina e da Fenialanina. Vivian Rocha 34 uma solução com esses três aminoácidos seria incolor, isso quer dizer que se vocês aplicassem uma mistura de aminoácidos em uma folha de papel, depois de uma cromatografia no final vamos ter uma folha de papel em branco. Então para detectar a posição do aminoácido depois da cromatografia em papel, e ter certeza que tudo saiu na cromatografia de troca iônica e na de eletroforese é preciso fazer uma reação química que ira modificar a estrutura no aminoácido e torná-lo em um composto colorido que pode ser identificado visualmente ou quantificado por um equipamento, como por exemplo, um espectrofotômetro. Reações Químicas para Revelação de Aminoácidos Essas reações podem ser classificadas em que é o caso da reações de uso geral reação de que detecta indistintamente qualquer tipo de aminoácido uma vez que ela reage com ninidrina aminas primárias ou secundárias que estão presentes em qualquer tipo de aminoácido e reações que vão reagir com determinados grupamentos químicos presentes na cadeia lateral, específicas como esses grupamentos químicos vão estar presentes em um ou poucos aminoácidos a produção de cor vai identificar necessariamente aquele aminoácido na mistura. Como a grande maioria dos aminoácidos que só possuem hidrocarbonetos na cadeia lateral não pode ser detectada, uma vez que não há reagentes que ataquem essas cadeias de hidrocarbonetos. O reagente de ninidrina que é um reagente que detecta indiscriminadamente qualquer tipo de aminoácido uma vez que a ninidrina reage com o grupamento alfa amino de todos os aminoácidos ou com o grupamento imino presente especificamente na Prolina, nesse caso a reação do grupamento com a amina primária vai produzir um composto de coloração púrpura que a reação com a amina secundária presente na Prolina vai produzir um composto com coloração amarela. Então a reação com ninidrina é uma reação específica apenas para a Prolina. Essa reação é a mesma utilizada para detectar impressões digitais em papel, pois o dedo secreta muito aminoácido. Os aminoácidos diferem em suas cadeias laterais, que apresentam propriedades características. Estas diferenças podem ser usadas para identificar e quantificar um aminoácido. Reação de ninidrina. Ao reagir com o grupamento amino dos aminoácidos produz um composto de coloração púrpura. A Prolina, por possuir um grupamento imino produz um composto de coloração amarela. Reação de Sakaguchi. Usada para a determinação da Arginina. O composto resultante da reação tem coloração vermelha. Reação de Pauly. O ácido sulfanílico diazotado (reagente de Pauly) reage com os grupamentos imidazol e fenol da Histidina e da Tirosina produzindo coloração que varia do laranja ao vermelho. Reagente de Ehrlich. O p-dimetilaminobenzaldeído (em ácido HCL concentrado) reage com o grupamento indol do Triptofano produzindo coloração violeta. Reação com Nitroprussiato de Sódio. Este composto reage com o Vivian Rocha 35 A é essa ao lado. A ninidrina reação da ninidrina geralmente é dissolvida em acetona e em acetona a ninidrina existe em duas formas tautoméricas que estão ilustradas ao lado (a forma enol e a forma aceto). Como a grande maioria dos aminoácidos quando reage com ninidrina forma um composto único, motivo pelo qual não se pode utilizá-la antes que os aminoácidos sejam fracionados, pois a cadeia lateral é quem dá a diferença de polaridade e os grupamentos carboxílicos e aminos que geram diferenças de cargas são perdidos. Em alguns casos é desejável que você consiga modificar o aminoácido para detectá-lo à medida que o processo de separação vai ocorrendo, então nesses casos você não pode usar a ninidrina e usa um reagente alternativo que modifica o aminoácido, mas não altera de forma drástica suas propriedades. Isso economiza tempo e reagente. A técnica desse tipo é chamada de técnica pré-derivação, ou seja, uma modificação antes da técnica de fracionamento é a reação utilizando o glutaraldeído. Nessa técnica você reage o seu aminoácido com glutaraldeído acrescenta esse reagente aqui que é o β-mercaptoetanol e isso gera uma molécula derivada do aminoácido. Se você observar todos os aminoácidos vão ganhar uma porção comum, um anel duplo aqui derivado do o glutaraldeído ligado através do átomo de enxofre com a molécula de β- mercaptoetanol. Esses aminoácidos mantêm intacta a sua cadeia lateral de forma que você vai pode fracionar aqueles aminoácidos baseados em diferença de coeficiente de partição e vai manter intacto também o grupamento alfa carboxílico e grupamento amino que agora é transformado em uma amina terciária, sendo assim você continua podendo utilizar a diferença de carga desses aminoácidos para promover sua separação. Qual é a vantagem disso? Se você realiza essa reação com a mistura de aminoácidos antes da técnica de fracionamento, ao invés de você realizar varias reações independentemente em cada fração eluida da coluna você precisa fazer a reação apenas uma vez, antes de aplicar a mistura na coluna. E você pode monitorar a saída dos aminoácidos em tempo real à medida que aqueles aminoácidos vão sendo fracionados, uma vez que essa molécula que foi adicionada na estrutura de todos os aminoácidos é uma molécula florescente. Figura 28- Reação de Ninidrina. Vivian Rocha 36 Isso permitiu, por exemplo, a realização desse cromatograma abaixo. Então essa metodologia é interessante porque você pode identificar o aminoácido através do tempo de retenção. Então cada aminoácido vai demorar um determinado tempo para sair da coluna, sendo assim existem aminoácidos mais rápidos e que por tanto saem primeiro e outros aminoácidos mais lentos que saem por último. Então o que identifica o aminoácido nesse experimento é o tempo de retenção. E o que indica a quantidade com que aquele aminoácido esta presente na mistura é a florescência, que será diretamente proporcional à quantidade moléculas presentes na solução, quanto maior a quantidade de aminoácidos maior será a florescência, assim você pode fazer uma curva de calibração para correlacionar a intensidade da florescência do aminoácido com a quantidade daquele aminoácido presente na mistura. Figura 29 - Cromatograma - Efeito se Retenção. Vivian Rocha 37 AULA 4 - ESTRUTURA DE PROTEÍNAS Vimos ate agora a estrutura dos aminoácidos, a função deles, as propriedades que esses aminoácidos têm e algumas metodologias utilizadas para o fracionamento deles. A partir dessas informações vamos ver como estes aminoácidos estão inseridos na estrutura da proteína. Todo mundo sabe que cada ser vivo, seja ele unicelular ou multicelular contem milhares de tipos diferentes de proteínas, de uma maneira geral organismos têm um número mais reduzido de proteínas, um organismo procarionte contém cerca 2.400 proteínas diferentes, por outro lado organismos multicelulares possuem um número muito maior de proteínas, cerca de 30 mil ou mais proteínas diferentes. Cada uma dessas proteínas possui sua estrutura característica que é codificada pelo genoma e que é caracterizada por diferentes graus de estruturação. Então uma proteína sempre vai possuir uma estrutura primária que é constituída pelos aminoácidos que compõem a estrutura daquela proteína e que são colocados em uma ordem pré-definida que é dada pelo gen. Em relação à estrutura primária da proteína, uma pode ser diferenciada da outra através de três critérios: O número de aminoácidos presente na cadeia polipeptídica - Existem proteínas pequenas como à insulina que possui menos de 100 aminoácidos e proteínas grandes como a ciclosporina ciclase que possui mais de 15 mil aminoácidos, entretanto o número de aminoácidos não é um critério confiável para se diferenciar uma proteína da outra, pois podem existir duas ou mais proteínas com o mesmo número de aminoácidos e que são diferentes. Composição - Os tipos de aminoácido que estão presentes naquela cadeia polipeptídica e a quantidade relativa de cada um deles. Entretanto este critério também não é um critério confiável, pois podem existir duas ou mais proteínas com o mesmo número de aminoácidos, contendo exatamente os mesmos aminoácidos nas mesmas proporções e essas proteínas serem diferentes. Através da ordem na qual os aminoácidos se distribuem ao longo da cadeia polipeptídica - Esse é um critério confiável. Essa proteína tem os aminoácidos A1, A2, A3, A4, A5, A6, A7 e A8 se ela tivesse os mesmos aminoácidos na ordem invertida ela seria uma proteína completamente diferente apesar de possuir o mesmo número de aminoácidos e nas mesmas quantidades. Essa proteína possui uma estrutura que é aquela ligação dos aminoácidos primária em uma determinada ordem formando a cadeia polipeptídica. Essa cadeia de aminoácidos vai se organizar espacialmente de acordo com as características locais em uma determinada conformação. E essa região local da cadeia polipeptídica devido a sua composição de aminoácidos adquire uma conformação tridimensional particular, essa conformação tridimensional particular que a cadeia polipeptídica vai adquirindo é chamada de estrutura secundária. Determinadas regiões da cadeia polipeptídica ou da estrutura primária de acordo com a composição dos aminoácidos, vão preferir adquirir uma conformação específica. Figura 30 - Estrutura Primária da Proteína. Vivian Rocha 38 Com isso teremos determinadas regiões que irão preferir formar, por exemplo, uma estrutura chamada de alfa hélice, outras s uma sequência aleatória, e uma terceira região que ira formar uma estrutura secundária que chamamos de fita beta e assim por diante. Então essas organizações estruturais locais na cadeia polipeptídica são chamadas de . estruturas secundárias Em um terceiro grau de organização essas diferentes estruturas secundárias se organizam espacialmente formando uma estrutura tridimensional mais compacta. De uma maneira geral para muitas proteínas a é o grau final de organização que elas atingem. estrutura terciária Existem outras proteínas que gostam de trabalhar associadas com uma ou mais subunidades que podem ser do mesmo tipo ou de tipos diferentes. Nesse caso essas interações que geralmente são interações não covalentes entre subunidades diferentes, o que faz com que aquela estrutura se torne estável o suficiente para ser isolada com unidade única. Um exemplo clássico de uma proteína com é a hemoglobina que é estrutura quaternária uma proteína que possuem uma estrutura quaternária com 4 subunidades polipeptídicas diferentes. Essas subunidades são de dois tipos diferentes, duas dessas subunidades são iguais entre si por tanto são produzidas a partir da informação de um determinado gen, assim como as outras duas. A Formação da Cadeia Polipeptídica A estrutura primária é formada pela ligação covalente entre os diferentes aminoácidos e essa ligação ocorre em uma determinada proteína sempre na mesma ordem. A cadeia polipeptídica é uma estrutura polarizada, ou seja, ela tem uma extremidade com um grupamento alfa amino livre que chamamos de n-terminal e uma extremidade com grupamento alfa carboxílico livre que é chamada de extremidade c-terminal. A cadeia polipeptídica contém duas extremidades distintas, a extremidade n-terminal que contem um grupamento alfa amino livre e uma extremidade chamada de c-terminal que contém um grupamento alfa carboxílico livre, essas duas extremidades não estão que não envolvidas em nenhuma ligação peptídica. Todos os outros grupamentos alfa amino e alfa carboxílico vão estar envolvidos em ou ligações ligações peptídicas amida que mantêm esses aminoácidos unidos uns aos outros. Figura 31- Cadeia Polipeptídica. Vivian Rocha 39 As Ligações Peptídicas Ocorrem em Trans ou em Cis Essas ligações peptídicas podem ocorrer em duas configurações distintas. Os dois aminoácidos que participam da ligação peptídica estão dispostos em relação a essa ligação de forma de oposta, essa organização é chamada de Trans. Figura 32 - Configuração Trans. Os dois aminoácidos que participam da ligação peptídica podem estar dispostos do mesmo lado em relação a essa ligação, essa organização é chamada de Cis. Figura 33 - Configuração Cis. A configuração Trans é mais comum, devido ao fato de dois resíduos de aminoácidos estarem em lados opostos da ligação peptídica, havendo assim pouco impedimento estérico, pouca sobreposição de átomos presentes em resíduos vizinhos, ao passo que no tipo de configuração Cis o fato dos dois resíduos estarem posicionados no mesmo lado da ligação há a possibilidade de haver sobre posição de átomos tendo então impedimento estérico o que torna essa configuração desfavorável. Entretanto raramente encontramos ligações peptídicas em configuração Cis em cadeias polipeptídicas, geralmente quando esta é encontrada existe a participação de pelo menos um resíduo de Prolina naquela ligação, visto que este aminoácido geralmente esta preso no grupamento do nitrogênio evitando que essa cadeia lateral se sobreponha com a cadeia lateral de outro aminoácido. Cada um desses aminoácidos que esta envolvido na formação da cadeia polipeptídica Obs.: é chamado de resíduo. Geometria da Ligação Peptídica A ligação peptídica obteve sua geometria determinada por dois químicos americanos, Linus Pauling e Robert Corey que determinaram as distâncias entre os átomos envolvidos na ligação peptídica e os ângulos das ligações dos componentes desta. Eles observaram que a distância entre o átomo de carbono e o átomo de nitrogênio (ligação peptídica), era mais curta do que uma ligação de carbono e nitrogênio normal. Eles atribuíram essa menor distância entre os átomos de carbono e nitrogênio na ligação peptídica Figura 34 - Geometria da Ligação Peptídica em Trans. Vivian Rocha 40 ao fato dessa ligação ter característica de , esse fenômeno foi explicado através do dupla ligação que ocorre com a dupla ligação da ligação carbono-nitrogênio se fenômeno de ressonância deslocando por essa ligação. A Ligação Peptídica Apresenta Característica de Dupla Ligação Aqui você tem uma cadeia polipeptídica onde à ligação amida representada com uma estrutura de ressonância. Figura 35 - Fenômeno de Ressonância. Nesse caso, você tem a ligação peptídica com característica de dupla ligação. Essa característica de dupla ligação promovida pela ressonância dos elétrons entre a carbonila e a ligação carbono-nitrogênio provoca duas consequências importantes: O impedimento da livre rotação do carbono e do nitrogênio ao redor do eixo de ligação. Dessa forma o número de conformações que a cadeia polipeptídica pode adquirir é limitado. O oxigênio e o nitrogênio ganham cargas parciais, negativa e positiva respectivamente. O fato de o oxigênio ter carga parcial negativa e o nitrogênio carga parcial positiva permite que eles formem pontes de hidrogênio, importantes para estabilizar algumas das estruturas secundárias que ocorrem nas proteínas. Torções são possíveis ao redor da ligação Phi (φ) e Psi (ψ) O ângulo de torção entre o carbono alfa e o carbono da carbonila é chamado ângulo de torção psi (ψ) e o ângulo de torção entre o carbono e o nitrogênio é chamado de ângulo de torção phi (φ). A conformação que a cadeia polipeptídica adquire no espaço é dada pela combinação de ângulo phi (φ) e psi (ψ) de cada resíduo de aminoácidos presentes na cadeia polipeptídica. Figura 36 - Ângulos Phi(φ) e Psi (ψ). O ângulo de torção phi (φ) ocorre no sentido horário e o ângulo de torção psi (ψ) ocorre no sentido anti-horário. O fato de termos característica de dupla ligação entre o C e o N da ligação peptídica restringe a quantidade de conformações que a cadeia polipeptídica pode adquirir no espaço. As conformações possíveis são dadas exclusivamente pelo giro ao redor da ligação do carbono alfa-nitrogênio e carbono alfa-carbono da carbonil, mas mesmo estes giros não são irrestritos, alguns ângulos de giros são permitidos e outras combinações de ângulos de giros são restringidos, devido ao fato de haver impedimento estérico. Vivian Rocha 41 Abaixo temos três situações onde às combinações de ângulo phi (φ) e ângulo psi (ψ) colocam em proximidade átomos de um plano da ligação peptídica em relação à ligação peptídica vizinha. Nessa combinação de ângulos como átomos de planos de ligações peptídicas vizinhas estão sobrepostos obviamente essas combinações de ângulos não ocorrem na natureza. Essa outra combinação de ângulo é permissível, por que o ângulo de torção phi (φ) e psi (ψ) é de tal forma que os componentes desse plano da ligação peptídica estão distantes do plano da ligação peptídica vizinha e nessa combinação de ângulos não tendo nenhum impedimento estérico que torne instável aquela conformação. Plot Ramachandran Um cientista indiano pegou cerca de 24 estruturas de proteínas que tinham sua conformação tridimensional determinada e calculou os ângulos phi (φ) e psi (ψ) de cada um dos aminoácidos que constituíam aquelas proteínas e plotôu a torção ao redor phi (φ) contra a torção ao redor da ligação psi (ψ) de cada um dos átomos no plano cartesiano e observou esse conjunto de dados abaixo. No eixo do X você tem o ângulo de torção ao redor da ligação phi (φ) que é do carbono alfa e nitrogênio variando de 0 a -180 e de 0 a 180. No eixo Y você tem o ângulo de torção ao redor do eixo de ligação psi (ψ) que vai de 0 a 180 e de 0 a -180. Os pontos do par ordenado ângulo de torção phi (φ) e ângulo de torção psi (ψ) estavam agrupados em dois quadrantes do gráfico. No quarto quadrante praticamente não havia observações experimentais e no segundo quadrante o número de observações experimentais era bem reduzido. Por que você não tem nas proteínas essas combinações de ângulos (quadrante 4) e essa combinações de ângulos (quadrante 2) são bem raras? Pois são aquelas combinações de ângulos que levam planos de ligações peptídicas vizinhas se sobreporem uns aos outros. Por outro lado às combinações de ângulos estáveis são bem raras e invariavelmente essas combinações de ângulos que são permitidas por não provocarem impedimento estérico levam a formação de estruturas secundárias bem estabelecidas. Então essas combinações de ângulos phi (φ) e psi (ψ) localizadas no quadrante 3 levam a formação, por exemplo, de uma estrutura secundária chamada de alfa hélice, ao passo que essas combinações de ângulos do primeiro quadrante levam a formação de outro tipo de estrutura secundária que são as fitas betas antiparalela e paralela e nesse caso especifico a hélice tripla do colágeno. Figura 37 - Combinações de ângulo phi (φ) e psi (ψ) . Figura 38 - Plot Ramachandran. Vivian Rocha 42 A restrição imposta quanto ao número de conformações que a cadeia polipeptídica pode assumir no espaço é tão grande que a pouca liberdade conformacional que resta leva aquela cadeia polipeptídica a adquirir conformações locais bem definidas que são a alfa hélice é a fita Beta. Vamos começar a falar dessas duas estruturas secundárias. Em relação aos ângulos de torção phi (φ) e psi (ψ), ao redor desses ângulos de rotação podemos girar tanto para um lado como para outro. Na realidade o sentido da rotação é o que vai dizer se o ângulo é positivo ou negativo. No caso especifico do ângulo de torção phi (φ) apesar da ligação poder girar no sentido horário ou no sentido contrário, convencionou-se a assumir que os ângulos de torção phi (φ)que giram no sentido horário têm medida de ângulo positiva, então ele varia de 0 a 180 e no caso dele girar anti-horário ele tem um ângulo de torção negativa variando de 0 a -180. Semelhantemente o ângulo de torção psi (ψ) (que é ângulo entre o carbono alfa e o carbono da carbonila) que pode girar tanto para direita no sentido horário quanto no sentido anti- horário, mais convencionou-se que o giro no sentido anti-horário tem medida de ângulo negativo e varia de 0 a -180 e o giro no sentido horário tem medida de ângulo positivo e varia de 0 a 180. Então na verdade a torção pode ocorrer para qualquer lado, o que se convenciona é para que lado a torção é positiva e para qual lado a torção é negativa. Alfa Hélice A estrutura da alfa hélice foi determinada cristalograficamente por aqueles dois cientistas americanos. Ela recebeu esse nome de alfa hélice por dois motivos: Ela lembra a estrutura a estrutura de uma hélice e ela foi à primeira estrutura secundária que teve sua geometria definida, por isso recebeu o nome de alfa. A fita beta foi à segunda estrutura secundária que teve sua geometria determinada cristalograficamente e por ser a segunda recebeu o nome de beta. No caso da alfa ela tem uma forma de hélice e no caso da beta ela possui forma de uma fita. Na figura cada resíduo de aminoácido pode ser identificado por um bastão cinza que se projeta para fora da hélice, este bastão representa a cadeia lateral do aminoácido. Outra coisa interessante na alfa hélice é que devido a essa estrutura regular os grupamentos estão sempre posicionados de forma distinta. Então todos os oxigênios de todas as carbonilas apontam sempre no mesmo sentido, para cima. Os oxigênios dos grupamentos amino também apontam sempre para o mesmo sentido que é para baixo. O grupamento carbonila do primeiro aminoácido da alfa hélice fica posicionado exatamente abaixo do grupamento amino do quinto Figura 39 - Estrutura de Alfa Hélice. Vivian Rocha 43 Cada grupamento C=O e N-H da cadeia principal forma ponte de hidrogênio com a ligação peptídica do quarto resíduo à frente, por exemplo, O (i) com N(i+4). Isto permite a formação aminoácido. A carbonila do grupamento carboxila do segundo aminoácido fica posicionada exatamente abaixo do nitrogênio do grupamento alfa amino do quinto aminoácido. O oxigênio tem carga parcial negativa e o nitrogênio tem carga parcial positiva que pode passar para o hidrogênio, como o nitrogênio esta no prejuízo ele é mais eletronegativo e puxa a nuvens de elétrons para o lado dele e deixa o hidrogênio parcialmente positivo. Então você tem uma carga parcial positiva no oxigênio e uma carga parcial positiva no hidrogênio, isso faz com que o oxigênio forme uma ponte de hidrogênio com o hidrogênio. Isso quer dizer que na estrutura alfa hélice essa conformação geométrica bem definida é estabilizada por interações do tipo ponte de hidrogênio que é formada entre oxigênio da carbonila com grupamento amino do quarto grupamento aminoácido a frente dele, esse tipo de estabilização faz com que a alfa hélice seja uma das estruturas secundárias mais estáveis encontrada nas proteínas. Outra coisa interessante é que as cadeias laterais dessa alfa hélice estão todas apontando para fora e todas no mesmo sentido. Fita Beta Essa é a segunda estrutura secundária que tem a geometria bem definida. Ao contrario da estrutura da alfa hélice que possui uma estrutura compacta é a estrutura da fita beta é bem distendida, coerentemente com essa visão que vocês têm a distância entre dois resíduos de aminoácidos vizinhos é de 3,5 Å, ao contrario da alfa hélice onde distância de dois resíduos vizinhos é de 1,5 Å. Então a estrutura da fita beta e mais de duas vezes estendida do que a da alfa hélice. O característico nessa fita beta, é o traçado da cadeia polipeptídica ao em vez de ser enovelado ao redor de um eixo principal, corre livre no espaço formando um ziguezague, então a cadeia hora vai para a direita, ai muda de direção ou de sentido. O sentido em que os grupamentos dos aminoácidos vão estar orientados. Novamente o bastão cinza representa a cadeia lateral. Os grupamentos de aminoácidos vizinhos possuem orientações opostas, grupamentos iguais de aminoácidos adjacentes têm orientações opostas. Essa fita possui uma orientação alternada do grupamento alfa amino e alfa carboxílico, o grupamento amino apontando para baixo, depois para cima, depois para baixo novamente (sucessivamente). O oposto acontece com grupamento carboxílico o oxigênio que esta apontando para cima, depois para baixo e Figura 40 - Estrutura de Fita Beta. Todos os grupamentos C=O apontam no mesmo sentido. Todos os grupamentos N-H apontam no sentido oposto. Os grupamentos laterais apontam para fora do eixo da hélice e geralmente são orientados para a região N-terminal. Vivian Rocha 44 novamente para cima (sucessivamente). Essa orientação alternada permite que uma cadeia (fita beta) interaja com a cadeia vizinha (fita beta) através de pontes de hidrogênio. Essa interação se da pelo oxigênio interagindo com o oxigênio e o oxigênio interagindo com hidrogênio. Essa fita beta pode ocorrer sozinha na estrutura da proteína, mas geralmente ela vai interagir com duas ou mais fitas betas formando uma estrutura supra secundária chamada de folha beta. A folha beta pode apresentar três tipos de organização distintos: : As fitas betas correm no sentido n-terminal para o c-terminal, Folha Beta Antiparalela indicado pela seta. A segunda fita esta disposta de forma antiparalela em relação à primeira, correndo no sentido oposto. : Essa folha beta é composta por 4 fitas betas que tem orientação Folha Beta Paralela paralela, todas correm no mesmo sentido, uma paralela a outra. : Essa fita não pode ser classificada nem como paralela e nem como Folha Beta Mista antiparalela. A primeira em relação à segunda é antiparalela que paralela em relação à próxima. Figura 41 - Folhas Betas. Duas fitas betas antiparalelas são conectadas por uma estrutura que é chamada de grampo ou . Usualmente essa volta beta contem um número bastante reduzido de aminoácidos volta beta comumente você encontra uma volta beta com 1, 2, 3 ou 4 resíduos de aminoácidos, mais você pode ter voltas com número maior só que essas voltas com um número maior de aminoácidos são menos frequentes. As proteínas geralmente são constituídas de vários tipos de estruturas secundárias duas das mais bem caracterizadas são a alfa hélice que são representadas nos desenhos a seguir por molinhas verdes e as fitas betas que estão representadas nos desenhos por setas vermelhas. Essas duas estruturas não são as únicas estruturas secundárias que existem, entretanto as outras estruturas secundárias não são detalhas nos livros textos por que não existe uma geometria comum bem definida que caracterize essas estruturas. Essas estruturas que não possuem geometria bem definida são chamadas de ou regiões de sequência aleatória região de estrutura . Entretanto elas só são aleatórias se as compararmos com a aleatória estrutura aleatória de outra proteína, agora se compararmos com moléculas da mesma proteína a geometria é exatamente igual. As folhas betas dispostas de forma antiparalela são unidas através de uma volta beta ou um grampo e geralmente essa volta beta ou grampo que são formados por poucos aminoácidos. A forma como as folhas betas Figura 42 - Beta-Alfa- Beta. Vivian Rocha 45 paralelas são unidas é diferente, por que para formar uma folha beta antiparalela a fita beta corre em um sentido e você precisa apenas inverter o sentido da fita em um ângulo de 180º graus para fazer com que dois segmentos de fita beta se disponham de forma antiparalela e essa mudança de orientação no ângulo de 180º graus pode ser feita simplesmente por uma dobra e a volta beta. Entretanto temos as folhas betas paralelas formadas por segmentos de uma mesma cadeia polipeptídica onde precisamos girar a orientação da cadeia em 360º graus. Em um motivo beta-alfa-beta duas fitas paralelas formam uma folha beta conectadas por uma alfa hélice, como ilustra a figura 42. Geralmente é um motivo mais frequente quando você encontra proteínas contendo folhas betas paralelas. Ao lado temos três proteínas diferentes que se caracterizam estruturalmente por serem formadas: predominantemente de alfa hélice que são chamadas de ou predominantemente por toda alfa (A) fitas betas, então o motivo estrutural dessa proteína é ou ainda uma proteína que é formada por quantidades quase que equivalentes de alfa toda beta (C) hélice e fita beta (B), sendo uma proteína de estrutura ou mista alfa- . beta Essas fitas betas que estão representadas nessa estrutura estão dispostas uma em relação à outra de forma antiparalela, como tal uma fita beta é unida a outra pela voltas betas que geralmente são estruturas curtas que conectam duas regiões de fita beta formando uma folha beta antiparalela. No caso B esse feixe de fitas betas está disposto de forma paralela. Uma fita beta é conectada a outra através de um motivo do tipo: alça, uma alfa hélice e outra alça, ou seja, elas se conectam através daquele motivo beta-alfa-beta. Nos livros textos as únicas estruturas secundárias que tem sua geometria descrita são a alfa hélice e a fita beta, entretanto existem mais proteínas com outros tipos de estruturas secundárias, mais elas não são descritas pelo fato delas não possuírem uma geometria que possa universalmente descrever todas essas estruturas. Na realidade todas as proteínas são formadas a partir da sua estrutura primária, que de acordo com a característica local dos aminoácidos faz com que a cadeia polipeptídica adquira uma determinada conformação que é chamada de estrutura secundária e as diferentes estruturas secundárias se organizam espacialmente formando uma estrutura mais compacta que é a estrutura terciária. Como as diferentes estruturas secundárias formadas pelo enovelamento local dos aminoácidos interagem umas com as outras para montagem da estrutura terciária? As diferentes estruturas secundárias que são caracterizadas por essas molinhas que são as regiões de alfa hélice, por essas regiões representadas por setas que são as fitas betas e por essas regiões formadas por filamentos que são as alças ou regiões de sequência de estrutura randômica. Cada proteína tem uma estrutura primária distinta que confere determinados tipos de estruturas secundárias que vão se organizar sempre da mesma forma. Figura 43 - Interação de fitas Alfas Hélice com Fitas Beta. Figura 44 - Diferentes estruturas secundárias. Vivian Rocha 46 As interações entre as diferentes estruturas secundárias ocorrem principalmente através de interações hidrofóbicas. Na figura abaixo temos a representação da cadeia polipeptídica com a cadeia lateral dos aminoácidos sendo representados por esses pingos verdes e azuis. As estruturas representadas em azul são as cadeias laterais dos aminoácidos que tem característica polar, enquanto que as estruturas verdes representam as cadeias laterais que tem característica apolar. Essa estrutura ao adquirir sua conformação secundária, tende a se organizar de tal forma que as cadeias laterais dos aminoácidos com característica hidrofílica fiquem voltadas para fora em contato com o ambiente aquoso da célula, enquanto que as cadeias laterais hidrofóbicas tendem a se refugiar no interior da estrutura proteica onde eles interagem uns com os outros e fogem do contato com o ambiente aquoso da célula. Um exemplo disso é a mioglobina isolada do músculo (figura abaixo) de uma baleia cachalote, essa proteína que nos também possuímos, serve para armazenar oxigênio. Como temos pouca mioglobina no músculo não conseguimos ficar muito tempo sem ar, já á baleia consegue mergulhar por cerca 20 ou 30 min. e essa capacidade que ela possui é devido à presença de grande quantidade dessa proteína nos músculo o que faz com que ela armazene oxigênio e vá liberando lentamente à medida que ela necessite. Nessa primeira estrutura você tem a representação esquemática das diferentes estruturas secundárias, ela formada predominantemente por alfa hélice e varias alças que conectam essas hélices. Na segunda representação (d) abaixo você tem além das estruturas secundárias, a cadeia lateral dos aminoácidos que esta em azul, mais apenas aquelas que possuem característica hidrofóbica, muitas dessas cadeias presentes em estruturas secundárias vizinhas interagem umas com as outras e essa interação é o que vai manter as diferentes estruturas secundárias numa mesma posição. Na terceira representação a maioria dos resíduos hidrofóbicos que estão visíveis nessa figura não está presente na superfície dessa proteína, o que quer dizer que esses aminoácidos têm característica polar e os poucos resíduos com características apolares cujas cadeias laterais são visíveis ou são perceptíveis pela proteína ficam geralmente localizadas dentro de depressões que servem para mediar o contato especifico entre proteínas diferentes. Resumidamente você tem que as interações entre as diferentes estruturas secundárias de uma dada proteína são estabilizadas principalmente por interações hidrofóbicas que são interações do tipo , entretanto além dessas interações Van der Walls que são as principais forças que mantêm a estrutura Figura 45 - Cadeia polipeptídica - Característica hidrofílica. Figura 46 - Mioglobina de uma Baleia Caxalote. Figura 47 - Interações do tipo ligação iônica, Van der Walls e Pontes de Hidrogênio. Vivian Rocha 47 tridimensional da proteína, você também pode ter a estrutura tridimensional da proteína sendo estabilizada por que são ligações entre O e H, entre um doador e um aceptor, pontes de hidrogênio ou seja, um átomo com carga parcial negativa e outro átomo com carga parcial positiva. Ou você pode ter essas interações entre estruturas secundárias também estabilizadas por , ligações iônicas que são ligações entre cargas positivas e negativas. Então essas três ligações não covalentes são responsáveis pela estabilização da estrutura terciária da proteína, as interações de Van der Walls sendo a força principal e as pontes de hidrogênio e as ligações iônicas servindo como forças auxiliares para a manutenção daquela estrutura tridimensional. Para a maioria das proteínas essas ligações não covalentes são suficientes para manter a integridade da estrutura tridimensional da proteína. De maneira geral todas as proteínas intracelulares são estabilizadas apenas por essas ligações não covalentes, mas muitas proteínas que são sintetizadas no interior da célula e são lançadas para fora da célula ou para um compartimento celular onde a variação das condições dentro daquele compartimento são equilibradas. Em situações onde as proteínas passam por variações das condições do meio, essas interações não covalentes são insuficientes para manter a integridade estrutural da proteína, nesses casos outra forma de aumentar a estabilidade dessas estruturas é através da formação que ocorrem entre cadeias laterais de pontes de sulfeto Cisteínas posicionadas próximas umas as outras. Quando o pH é diminuído ou a temperatura é aumentada as ligações não covalentes são quebradas, então uma proteína com estrutura terciária que é somente estabilizadas por essas ligações é facilmente desfeita nessas circunstâncias. Se houver um reforço de pontes de hidrogênio o efeito do pH e da temperatura continua ocorrendo, mas é incapaz de abrir completamente a estrutura da proteína, porque a mesma esta presa em vários pontos. Isso ocorre geralmente com proteínas que são secretadas para o exterior. O quarto tipo de ligação que é a ponte de sulfeto é uma ligação covalente que ajuda a estabilizar mais ainda a estrutura de proteínas. Para muitas proteínas a estrutura terciária é a forma como a mesma desenvolve a sua atividade biológica, entretanto outro conjunto de proteínas prefere trabalhar associadas com outra cadeia polipeptídica ou mais de uma cadeia polipeptídica que pode ser do mesmo que tipo que ela ou de tipo distinto formando um agrupamento proteico estável que pode ser fracionado e caracterizado. Antes de ser uma estrutura rígida a estrutura de uma proteína é uma estrutura dinâmica e esse dinamismo da estrutura proteica é que será responsável pela sua propriedade biológica uma vez que após a proteína interagir com sua molécula alvo ela muda de conformação para interagir melhor com o substrato e essa alteração de conformação só é possível devido a essa flexibilidade implícita da estrutura proteica. Figura 48 - Pontes de Sulfeto. Vivian Rocha 48 AULA 5 - MÉTODOS PARA PURIFICAÇÃO DE PROTEÍNAS Nessa tabela estão expressas diversas proteínas, onde esta sendo enfatizada a diferença de tamanho da estrutura primária. Tais proteínas diferem entre si pelo número aminoácidos que compõem a cadeia polipeptídica, sendo este proporcional ao tamanho da proteína. Com isso uma proteína com poucos aminoácidos apresentará uma massa molecular pequena, assim como seu tamanho e uma proteína com um número grande de aminoácidos apresenta massa molecular grande, bem como seu tamanho. Nessa tabela é possível visualizar que as proteínas variam de tamanho e este vai estar ligado à massa molecular que por sua vez é relacionado com número de aminoácidos que a cadeia polipeptídica possui. A Além do tamanho ou do volume outra diferença é atividade biológica da proteína. Proteínas que possuem um pI menor que o pH vão ser negativas e são chamadas de , quando o pI for maior que o pH elas vão ser positivas e são chamadas de proteínas ácidas . Cada proteína possui um pI característico dado pela composição de seus proteínas básicas aminoácidos. As diferenças de características das proteínas (como tamanho, ponto isoelétrico e atividade biológica) podem ser usadas para promover a purificação de uma proteína de interesse a partir de uma mistura complexa. Abaixo esta ilustrada uma tabela de purificação, na qual existe um extrato bruto celular que contem milhares de proteínas, de uma célula, a qual apresenta uma proteína de interesse. Sendo esta submetida a varias etapas sequenciais de fracionamento, cada uma destas utilizando um principio de separação distinto, com isso diferentes frações são obtidas. À medida essas frações são obtidas é possível observar que o teor de proteínas vai diminuindo e as atividades específicas vão aumentando. Tabela 6- Purificação de uma enzima hipotética. Tabela 5- Composição de algumas proteínas. Vivian Rocha 49 Salting in x Salting out No gráfico da pág 49 esta representada uma mistura com 5 proteínas diferentes: fibrinogênio, hemoglobina, pseudoglobulina, albumina sérica C e a mioglobina, onde é possível observar a solubilidade de cada uma dessas em função da força iônica do meio. Essa força iônica é diretamente proporcional à concentração de sal então quanto maior a concentração de sal no meio maior a força iônica e no caso das proteínas esse aumento da concentração de sal geralmente leva a diminuição da solubilidade, ocasionando o fenômeno de salting out. Para todas essas proteínas é possível observar que à medida que a concentração de sal é aumentada a solubilidade diminui, essa diferença de solubilidade é específica para cada proteína. Em concentrações de sal que são suficientes para insolubilizar quase todo fibrinogênio as outras 4 proteínas permanecem solúveis, em uma concentração de sal suficiente para precipitar fibrinogênio, pseudoglobulina, hemoglobina e albumina sérica e a mioglobina permanecem solúveis. Em relação à concentração do meio a proteína apresenta dois fenômenos: O primeiro fenômeno é o de salting in que é o aumento da solubilidade da proteína com o aumento da concentração de sal. Visto que em baixas concentrações de sal as proteínas estão livres para interagir umas com as outras, se na superfície da proteína tem cargas negativas e positivas, essas cargas ao interagirem com proteínas vizinhas podem formar agregados proteicos muito grandes unidos através de interações eletrostáticas, esses agregados significam que a proteína não esta se solubilizando então a medida da solubilidade da proteína diminui. Quando é adicionado sal este se dissocia gerando íons positivos e negativos que interagem com as cargas positivas e negativas da superfície da proteína neutralizando aquelas cargas fazendo com que as ligações entre as proteínas elas se desfaçam. Os íons do sal neutralizam a carga na superfície da proteína evitando que estas se agreguem e melhorando a solubilidade da proteína. Tendo assim no fenômeno de salting in, quando a concentração de sal é aumentada ainda mais, o sal começa a roubar a água que estava interagindo com as proteínas e camada de solvatação da proteína é desfeita, com a retirada dessa camada de solvatação que impedia as interações entre os resíduos hidrofóbicos, as regiões hidrofóbicas de proteínas vizinhas começam a interagir e nessas condições você tem a formação de agregados proteicos, não mais através de interações iônica, mais através de interações hidrofóbicas. Então as proteínas que são mais suscetíveis ao fenômeno de salting out são aquelas que apresentam uma quantidade maior de machas hidrofóbicas na sua superfície enquanto que aquelas proteínas que não apresentam esses resíduos hidrofílicos praticamente não precipitam independemente da concentração de sal que você consiga adicionar a sua solução. Gráfico 3- Solubilidade de algumas proteínas em função da força iônica. Gráfico 4- Salting in x Salting out. Vivian Rocha 50 Técnicas de fracionamento em proteínas O primeiro grupo de metodologias que iremos estudar são coletivamente conhecidas como cromatografias líquidas. Cromatografias Líquidas Cromatografia de exclusão em gel ou gel filtração Cromatografia de troca iônica Cromatografia de afinidade Essas cromatografias são feitas em colunas cilíndricas preenchidas com leito cromatográfico que é formado por esferas microscópicas que são formadas de polímeros naturais como polímeros de glicose dextranas e de agarose ou então polímeros sintéticos como polímeros de poliacrilamida. Dependendo da característica dessas esferas que são colocadas no interior do leito cromatográfico esse fracionamento pode ocorrer por diferença de tamanho, por diferença de carga ou por diferenças de atividade biológica da proteína. A cromatografia de troca iônica explora a diferença de carga, a cromatografia de exclusão em gel ou gel filtração explora a diferença de tamanho e a cromatografia de afinidade explora as diferentes atividades biológicas da proteína. Cromatografia de Exclusão em Gel ou Cromatografia de Gel Filtração Consiste em um liquido cromatográfico formado por milhões de esferinhas poliméricas que possuem uma porosidade cujo diâmetro do poro é regulado, esses poros permitem a passagem de moléculas de um determinado volume e exclui a entrada nesses poros de partículas de diâmetro superior ao do poro. Esses poros possuem diâmetros variados permitem o fracionamento de moléculas de vários tamanhos. As partículas menores ficam retidas no interior da esfera e as partículas maiores que só podem passar por entre as esferas saindo mais rápido. Então primeiro são eluídas as moléculas maiores (que foram excluídas do leito cromatográfico) e percorrem um caminho menor e depois as partículas de diâmetro menor que vão percorrer um caminho maior por dentro dos poros das esferas. Nessa cromatografia nos temos dois conceitos: o volume no qual foram eluídas as partículas que são excluídas do gel é chamado de volume de exclusão (V0) e volume de solvente que sai cada uma das moléculas após o volume de exclusão é chamado de volume de eluição (Ve). Existe uma relação entre a razão Ve/V0 e a massa molecular da proteína. E essa relação pode ser deduzida matematicamente se você conseguir fazer uma regressão para traçar a melhor curva que passa por esses pontos. Essa relação matemática entre a razão Ve/ V0 e a massa molecular da proteína fornecem um modo de determinarmos a massa molecular de uma proteína da qual não é conhecida esse parâmetro. Para determinar a massa molecular de uma proteína desconhecida, pegamos uma coluna de gel exclusão e escolhemos 4 ou 5 proteínas diferentes que a massa molecular seja conhecida e passamos essas proteínas através da coluna. Depois medimos o volume de exclusão da coluna e o volume de eluição de cada uma das suas proteínas que estamos usando como padrão e traçamos a razão Ve/V0 de cada proteína contra sua massa molecular, traçando a melhor curva que passa por essas 4 ou 5 proteínas achando assim uma curva padrão. nessa mesma coluna aplicamos a proteína Vivian Rocha 51 de massa desconhecida e determinamos o Ve/ V0 dessa proteína, projetamos isso na curva e a partir dessa curva vamos para eixo do x descobrindo assim a massa molecular da proteína. Como essa metodologia é feita sob condições que mantém as interações entre as diferentes partes das proteínas a massa molecular que estamos determinando por essa metodologia é a massa na estrutura nativa, ou seja, se a proteína possui uma estrutura terciária a massa molecular que você esta determinando é da estrutura terciária, se ela tem uma estrutura quaternária à massa molecular que você determina é a massa da estrutura quaternária, ou seja, a massa do conjunto das subunidades que se associam de forma estável. No gráfico é possível visualizar grande parte das moléculas está localizada exatamente sob a curva, mas algumas proteínas (em vermelho) estão um pouco distantes daquela curva, ou seja, elas são proteínas que fogem a regra geral, o que tem de característico em relação a essas proteínas que não estão diretamente sob a curva e que ao em vez delas serem proteínas perfeitamente esféricas, elas são proteínas geralmente com uma estrutura mais alongada. De uma maneira geral para essas proteínas se acomodarem exatamente sob a curva, elas precisam ter uma estrutura globular. Proteínas filamentosas ou mais alongadas fogem um pouco dessa regra geral. Ao lado se encontra um experimento real onde o individuo estava tentando purificar uma enzima obtida a partir de granulócitos humanos. O indivíduo fez um extrato dos granulócitos humanos, passou a mistura de proteínas pela coluna gel filtração. Esse extrato proteico foi separado em 5 frações (pool do gráfico) distintas que ele observou na eluição na coluna de gel filtração. Determinando a atividade da enzima em cada uma dessas frações ele observou que a atividade de interesse foi eluída na região pool a e b. Ele uniu essas frações e utilizou essas frações para etapa seguinte de purificação. Cromatografia de Troca Iônica A segunda cromatografia que podemos usar para separar proteínas é a cromatografia de troca iônica, o principio é o mesmo utilizado para os aminoácidos. Coluna trocadora de cátions - liga e desliga moléculas com carga negativa. Coluna Obs.: trocadora de ânions - liga e desliga moléculas com carga positiva. Posteriormente a cromatografia iônica podemos eluir de forma seletiva as proteínas que estão ligadas no interior do trocador: Aumentando a concentração de sal, onde este compete pela carga do trocador e deslocar a proteína Gráfico 5- Razão Ve/V0 em função massa molecular de algumas proteínas. Gráfico 6- Purificação de uma enzima de granulócitos. Vivian Rocha 52 Alterando o pH do tampão, onde esta alteração leva a uma mudança na carga da proteína perdendo assim a afinidade pelo trocador. Continuando o experimento da pág 51, onde aquela fração submetida na coluna de gel filtração agora é unida e aplicada a uma coluna de troca iônica. Essa coluna de troca iônica foi eluída com um gradiente de cloreto de sódio variando de 0 ate 1 molar. E aquela fração que já tinha sido separada por tamanho foi agora separada por diferença de carga. Na origem antes de começarmos a larvar com sal saíram proteínas que não tinham afinidade pelo trocador (pico 1) e as frações numeradas de 2 a 7 são frações que foram eluídas em concentrações crescentes de sal. Novamente o pesquisador quantificou a atividade da proteína em todas as frações e observou que a proteína de interesse dele estava na região que corresponde ao pico 2. Nessa segunda etapa ele eliminou as demais proteínas que eram contaminantes. Ficando uma quantidade menor de proteínas que tem toda atividade original. A concentração proteica aqui é bem menor, no extrato original variava de 0 a 12, agora só varia de 0 a 0,4. Cromatografia de Afinidade Nessa cromatografia utilizamos uma coluna de agarose que vai conter um grupamento reativo que é o grupamento epox que pode reagir com vários grupamentos funcionais presentes em diversos tipos de moléculas. O epox pode reagir com o grupamento amino, carboxílico, sulfidrila... Então se você misturar a sua matriz de agarose ativada com esse epox com outra molécula que possua um desses grupamentos funcionais, você vai ter uma reação química que vai ligar covalentemente o ligante a sua matriz. Figura 49- Coluna de agarose com grupamento epox. Figura 50- Grupamento reativo- Fósforo. Um exemplo disso seria essa situação acima (segunda figura) onde você tem a sua esfera, um grupamento reativo ao qual é ligado fósforo aminoácido que serve como sítio de ligação para uma proteína que se chama proteína ligadora de fósforo aminoácido. Podemos utilizar essa coluna que possui um fósforo aminoácido ligado para purificar especificamente essa proteína. As proteínas que não interagem com o fósforo os aminoácidos vão passar direto pela coluna arrastadas pelo fluxo de tampão. E aquelas proteínas que tiverem a capacidade de interagir com o aminoácido fosforilado Gráfico 7- Purificação de uma enzima de granulócitos. Vivian Rocha 53 vão se ligar ao aminoácido que vai estar ligado a matriz ficando imobilizada no interior da coluna, posteriormente é arrumado um método para fazer com que essa proteína se desligue da matriz. Uma das formas tradicionais de se fazer isso é aplicar na sua coluna uma solução de ligante livre. No nosso exemplo se é um fósforo aminoácido você aplica uma solução de fósforo aminoácido livre que ao passar pela coluna a proteína se desliga do fósforo aminoácido ligado e se liga ao fósforo aminoácido livre. Quando a proteína estiver ligada a esse fósforo aminoácido livre vai sendo arrastada pelo fluxo de solvente. Outra maneira de fazer com que sua proteína de interesse se desligue da matriz é alterando o pH, por que geralmente a interação da proteína com a molécula alvo é através de pontes de hidrogênio ou interações iônicas e se você altera o pH as cargas se desfazem e a afinidade da proteína pelo ligante é abolida. Cromatografia de afinidade é utilizada frequentemente para purificar IGG, nesse tipo você utiliza anticorpos que tem uma afinidade específica para determinado tipo de molécula. Você liga covalentemente a sua matriz os anticorpos de interesse. Depois aplica na sua coluna contendo os anticorpos ligados covalentemente a esfera a mistura de proteínas que você quer fracionar, como aquele anticorpo é especifico vai se ligar exclusivamente a proteína de interesse e as outras proteínas serão lavadas. Posteriormente você arranja uma forma de eluir às proteínas que ficaram ligadas aos anticorpos. Geralmente uma formar de eluir essa proteína e baixando o pH para 3. Eletroforese Eletroforese: uma técnica de separação de baseada na migração de partículas carregadas sob a ação de um campo elétrico. A eletroforese de proteínas é geralmente realizada em géis feitos de polímeros de acrilamida. O gel de poliacrilamida atua como uma peneira molecular. A separação das proteínas é baseada na sua razão carga/massa. A eletroforese na presença de SDS separa as proteínas com base em seu peso molecular. Na eletroforese sob condições não desnaturantes, um gel formado por monômeros de acrilamida de dois tipos diferentes são misturados em determinadas proporções, na presença de um agente que promove a polimerização, nesse caso geralmente é utilizado sulfato de amônio. Na formação desse gel existem espaçamentos entre as cadeias que formam uma determinada porosidade, a dimensão desse poro, ou desses espaçamentos entre as cadeias dos polímeros pode ser controlada aumentando ou diminuindo as concentrações dos dois tipos de acrilamida, de tal forma que podemos deslocar a reação para a formação de cadeias lineares com poucas ligações cruzadas ou então para a formação de cadeias com muitas ligações cruzadas que restringem o tamanho do poro dependendo do tipo de acrilamida. Essa solução geralmente é colocada entre duas placas de vidro e polimeriza no interior do gel, depois é aplicado um campo elétrico e a proteína começa a se deslocar através do gel pela ação do campo elétrico. Devido à porosidade teremos um efeito de peneira, as proteínas menores passam mais facilmente e as proteínas maiores passam com mais dificuldade. Com isso as proteínas menores vão migrar mais enquanto que proteínas maiores vão migrar menos. Vivian Rocha 54 Nesse sistema temos duas formas de promover essa separação: um sistema de gel nativo onde você não adiciona nem um agente desnaturante, consequentemente a proteína mantém a sua estrutura e a carga que aquela proteína vai possuir é a carga natural da proteína em um determinado pH. Nesse sistema de eletroforese nativa ou não desnaturante a separação é dada pela razão carga/massa da proteína, ou seja, quanto maior a carga mais rápido ela migra e quanto maior massa mais lentamente ela migra. Na eletroforese sob condições desnaturantes a proteína é tratada com dois agentes, o β- mercaptoetanol que é uma molécula de etanol onde uma das hidroxilas é substituída por um grupamento sufidrila, esse grupamento sufidrila tem capacidade de fazer uma reação de substituição nas pontes de sulfeto que mantém as cadeias polipeptídicas das proteínas unidas, clivando essa ligação entre as cadeias laterais de Cisteína, gerando cadeias polipeptídicas livres. Então aquelas interações covalentes que eram mantidas entre cadeias polipeptídicas vizinhas por pontes de enxofre, que mantinham estabilizada a estrutura terciária da proteína, são desfeitas por ação do β-mercaptoetanol. Além do β-mercaptoetanol que vai quebrar as pontes de sulfeto temos um detergente iônico que é o SDS, que além de desfazer a estrutura tridimensional da proteína este ainda é capaz de se ligar de forma estequiométrica ao longo da cadeia polipeptídica, então você tem mais ou menos a ligação de duas moléculas de SDS para cada resíduo de aminoácido, isso quer dizer que uma proteína que tem 100 aminoácidos liga 200 moléculas de SDS, uma proteína que tem 400 aminoácidos vai ligar 800 moléculas de SDS. O SDS apresenta um grupamento sulfato na extremidade que tem uma carga negativa e essa ligação estequiométrica do SDS com a cadeia polipeptídica vai conferir uma quantidade elevada de cargas negativas à cadeia polipeptídica. Então uma proteína que tem 100 aminoácidos vai ter aproximadamente 200 moléculas de SDS e consequentemente ela vai ter 200 cargas negativas, uma cadeia polipeptídica com 400 aminoácidos vai ligar 800 moléculas de SDS e vai ter consequentemente 800 cargas negativas. Se você fizer a divisão a razão carga/massa dessas proteínas vão ser iguais, uma vez que a carga nativa da proteína vai estar presente em quantidade tão pequena que ela vai ficar diluída no meio de varias cargas negativas. Então todas as proteínas nesse sistema têm a mesma razão carga/massa. O que vai diferenciar a migração delas será simplesmente o tamanho. As proteínas muito grandes ficam retidas na malha do gel e migram muito pouco e enquanto que as proteínas pequenas passam com facilidade através da malha e vão migrar mais rapidamente. A mobilidade relativa de cada proteína é medida da mesma forma que o , ou seja, a distância do ponto de aplicação ate o centro da macha cromatográfica dividido pela distância do ponto de aplicação ate o final do gel. É possível plotar essa mobilidade relativa de cada proteína se contra o logaritmo da base 10 da massa molecular da proteína, encontrando assim uma serie de pontos, onde é possível traçar uma reta. Figura 51- β-Mercaptoetanol. Figura 52 - Mobilidade relativa de uma proteína. Vivian Rocha 55 Essa proteína da raia 4, será o objeto de estudo, onde sua massa molecular não é Ex.: conhecida. Para descobrir a massa molecular dessa proteína é preciso calcular o , projetar isso na curva padrão e esse valor é extrapolado para o eixo do Y, encontrando assim a massa molecular da proteína desconhecida. Eletroforese não desnaturante Nessa eletroforese as proteínas migram de acordo com sua razão de carga/massa e consequentemente quando maior a razão carga/massa mais rápido aquela partícula vai migrar. Isso nada tem haver com o tamanho, pois você pode ter duas proteínas com tamanhos bastante similares, mas que tem a mesma razão carga/massa e migram de forma semelhante. Quanto maior a razão carga massa mais rápido a proteína vai se deslocar no campo elétrico. Eletroforese sob condições desnaturantes O outro tipo de eletroforese que é realizado sob condições desnaturantes na presença de um detergente iônico que é o dodecil sulfato de sódio ou SDS e β-mercaptoetanol. Uma vez dissolvida em uma solução contendo esses dois agentes essa solução proteica é aquecida, o que leva a completa desnaturação da estrutura proteica, perdendo sua estrutura quartenária, terciária e estrutura secundária, permitindo a interação estequiométrica da molécula do detergente com a cadeia polipeptídica de tal forma que as proteínas ficam homogeneamente ligadas com a molécula de detergente adquirindo a carga negativa daquela molécula. Por tanto todas as proteínas vão possuir a mesma razão carga/massa e nesse caso especifico a única coisa que vai restringir a movimentação da partícula através do gel é o tamanho da cadeia polipeptídica. Sendo assim quanto maior a cadeia polipeptídica maior restrição à movimentação e, portanto menor será a migração e quanto menor a cadeia polipeptídica mais fácil ela passa pela malha do gel e consequentemente mais rápido ela vai migrar. Isoletrofocalização Outra técnica cromatográfica é a isoletrofocalização ou focalização isoelétrica. Onde as proteínas são separadas com base na diferença de ponto isoelétrico, em função de cada proteína possuir um ponto isoelétrico especifico. Se por exemplo dissolvêssemos uma mistura de proteínas em um tampão de pH 7, as proteínas que possuírem um pI = 7 terão carga liquida 0, as proteínas que tiverem pI menor do que pH vão possuir carga liquida negativa e as proteínas que tiverem pI maior do pH vão possuir carga positiva. Nessa técnica um gradiente de pH é gerado ao longo de uma matriz que é formada por um gel de poliacrilamida. Esse gradiente de pH é formado através de uma cuba contendo em sua parte superior uma solução de base forte NaOH (OH - ) e na sua parte inferior uma solução ácida (H + ) como, o ácido fosfórico. A esse sistema é aplicado um potencial elétrico, ou seja, uma corrente elétrica continua é ligada nessa cuba. Com a aplicação do campo elétrico os íons OH - vão começar a migrar para o pólo da parte superior e os íons H + começam a migrar para parte inferior, essa migração de OH - e H + ao longo do gel vai forma um Figura 53 - Isoletrofocalização. Vivian Rocha 56 gradiente de pH, onde será mais ácido na extremidade inferior e a medida que vamos nos distanciando desse ponto a concentração de H + vai diminuindo, por outro lado teremos um pH bastante básico em cima em função da concentração de OH - . Além desse gradiente de pH que é formado naturalmente, é preciso estabilizar esse gradiente através de uma mistura de substancias de baixo peso molecular que são conhecidos como , anfólitos que possui essa estrutura geral ao lado. Que possui dois grupamentos ácidos, onde o R pode ser um H ou (CH2)n COOH. À medida que as moléculas vão migrando dependendo de suas cargas, o pH vai se modificando, se com isso aqueles grupamentos ácidos e básicos da molécula vão mudando de estado iônico ate chegar ao ponto onde pH do gradiente será igual ao pI da molécula, nesse ponto a molécula fica com carga liquida 0 e para de migrar. Em uma etapa seguinte as proteínas carregadas negativamente são aplicadas no topo do gel e devido ao pH elevado, estas vão migrar ao longo do gradiente do pH, a medida que isso ocorre ela vai alterando a carga ate chegar a um ponto onde o pH de um determinada região será igual ao pI dessas proteínas, onde esta fica com carga liquida 0 e para de migrar. Com isso teremos a separação de um número relativamente grande de proteínas, pois cada uma delas parou de migrar em uma região de pH que será igual ao seu pI (exemplo da figura 52). Essa técnica de fracionamento consegue separar proteína que diferem em relação à outra proteína em cerca de 0,05 unidade de pH, possuindo assim uma resolução relativamente grande. Eletroforese Bidimensional De uma maneira geral essa eletroforese bidimensional é baseada no acoplamento de duas técnicas de separação que é a isoeletrofocalização que geralmente é usada na primeira dimensão seguida da eletroforese em gel de poliacrilamida sob condições desnaturantes. Então na primeira dimensão as proteínas são separadas de acordo com o pI, essas proteínas separadas no gel são colocadas no topo em um gel de poliacrilamida com SDS e com isso as proteínas que foram separadas na primeira dimensão começam a ser separadas na segunda dimensão com base na diferença de tamanho. Como ilustra a figura ao lado. Quando separamos por tamanho, essas bandas mais intensas geralmente ao em vez de conter uma cadeia polipeptídica, podem conter varias cadeias, 1,2, 3 ou mais proteínas que possuem o mesmo pI, mas tem massa molecular diferente. Geralmente se fizermos somente a primeira técnica conseguimos separar por volta de 80 a 100 proteínas, se só fizermos a segunda conseguimos separar por volta de 50 a 80 proteínas diferentes, agora quando as duas técnicas são utilizadas consecutivamente conseguimos obter mapas proteicos bastante complexos contendo milhares de proteínas diferentes. Esses mapas bidimensionais podem ser usados para comparar os tipos de proteínas expressos, por exemplo, por duas células em condições fisiológicas diferentes, então comumente os cientistas fazem isso para comparar proteínas produzidas por uma linhagem de célula normal com a mesma linhagem de célula só condição transformada, descobrindo quais proteínas são expressas de Figura 54 - Anfólito. Figura 55 - Eletroforese Bidimensional. Vivian Rocha 57 forma diferencial nas duas condições e tentar correlacionar essas diferenças de expressão proteica com o fenótipo apresentado por aquela célula. Esses mapas bidimensionais também são utilizados para estudos de proteoma. Onde podemos identificar cada um desses sptos proteicos se tivermos o genoma do organismo já sequenciado. Isolando cada um desses spots proteicos e in vitro e tratando com uma protease sítio específica, uma das proteases usadas no estudo de proteoma é a tripsina, essa tripsina é uma hidroprotease que geralmente cliva a cadeia polipeptídica depois de uma Arginina ou depois de uma Lisina. A massa de cada um desses peptídeos gerados é analisada na solução contendo esses fragmentos proteicos, através de uma técnica espectrometria de massa, com essa técnica conseguimos determinar a massa molecular de cada um desses peptídeos com uma resolução menor do que 1 dalton, que seria a diferença de uma massa de H. Então tem uma determinação bastante precisa. Comparando esse resultado experimental com o resultado das proteínas do genoma do organismo. Vivian Rocha 58 AULA 6 - SEQUENCIAMENTO DE PROTEÍNAS O sequenciamento de proteínas é uma técnica importante para descobrir a ordem na qual os aminoácidos estão presentes na cadeia polipeptídica. Inicialmente por volta de 1945-50 o único modo de saber a sequência de aminoácidos de uma proteína era através da purificação desta e fazendo a determinação dessa sequência diretamente a partir dessa proteína purificada. Atualmente há uma forma bem mais barata de sequenciar uma proteína que é através do conhecimento da sequência do seu gen. Basicamente existem duas formas de determinar a sequência da proteína. A primeira forma seria clonando o gen correspondente aquela determinada proteína e sequenciando a estrutura daquele gen. Mas nesse método nem sempre a sequência de nucleotídeos obtida na ORF vai lhe fornecer a informação fiel de qual seria a sequência de aminoácidos da proteína. Isso porque muitos organismos possuem a estrutura do gen interrompida por íntrons, apesar de poder predizer computacionalmente quem são os éxons e quem são os íntrons e montar a estrutura da proteína a partir dos éxons preditos, muitas vezes temos um splicing diferencial onde um éxon pode ser omitido na estrutura final do mRNA. Com isso temos que alguns organismos, um gen, pode dar origem a 11 cadeias polipeptídicas diferentes, não tendo, portanto como predizer de antemão como aquele RNA contendo os íntrons será processado. Algumas vezes a proteína depois de sequenciada sofre processamentos, onde parte da estrutura primaria original é retirada por proteólise, podendo haver a retirada de determinados trechos do n-terminal ou do c- terminal da proteína ou ainda a proteína pode ser clivada na região central dando origem a dois peptídeos diferentes faltando aquela parte que unia anteriormente essas proteínas. Um exemplo disso é a insulina que é sintetizada originalmente como uma cadeia polipeptídica única e após o processamento a proteína madura contem duas cadeias polipeptídicas isoladas, porque a cadeia original foi clivada por uma protease e um pedaço da proteína foi perdido. Portanto muitas vezes para conhecermos a estrutura nativa da proteína preciasamos sequenciar aquela cadeia polipeptídica porque na maioria da vezes a informação contida no gen não é exatamente aquela que é encontrada na proteína final madura. Para sequenciar essas proteínas a primeira coisa que precisamos ter é uma preparação pura, isso quer dizer, que a preparação precisa ter única e exclusivamente a cadeia polipeptídica que queremos sequenciar. Uma vez que escolhemos um organismo modelo a partir do qual vamos obter a proteína, precisamos fracionar aquele extrato proteico utilizando uma serie de técnicas diferentes de fracionamento para que ao longo dessas técnicas vá se eliminando as proteínas contaminantes e no final obtenhamos uma preparação que terá única e exclusivamente a proteína queremos sequenciar. E a partir dessa preparação pura é preciso fazer várias etapas para determinar a sequência de aminoácidos daquela proteína. Figura 56 - Sequenciamento de proteínas. Vivian Rocha 59 O primeiro procedimento é fazer a hidrolise da proteína, essa hidrolise envolve a quebra das ligações peptídicas que mantinham os diferentes aminoácidos unidos e no final desse processo de vai ter uma “sopa” de aminoácidos, a partir dessa “sopa” vamos identificar os tipos de aminoácidos presentes na proteína e quantas vezes aquele aminoácido esta presente na cadeia polipeptídica. Então nessa primeira etapa na realidade determinamos a composição de aminoácidos na sua proteína. Isso tem uma utilidade pratica, pois depois que montamos a sua proteína vamos encontrar uma sequência de aminoácidos e vamos precisar verificar se a sequência obtida é consistente com a composição. Então veremos se todos os aminoácidos que achamos que existia nesta proteína através da analise da composição vão estar presentes na sequência final, se não tiver é porque perdemos alguma coisa no meio do caminho. Depois de fazer o sequenciamento da proteína usualmente reduz as pontes de sulfeto presentes nela e detecta o aminoácido presente na extremidade amino terminal ou na extremidade carboxi terminal. Existem metodologias por meio das quais podemos fazer esta determinação e com o conhecimento do aminoácido localizado nas extremidades da sua cadeia polipeptídica ela ter fornece um ponto de orientação para começar a montar a estrutura da proteína. Existem vários reagentes que podem ser utilizados r para promover essa determinação e alguns nos vamos mostrar nessa aula. Depois de termos feito isso, pegamos outra amostra da proteína com as pontes de sulfeto reduzidas e trata essa proteína isoladamente com pelo menos dois métodos distintos de clivagem da cadeia polipeptídica. Nesse exemplo (figura 55) temos primeiramente a proteína clivada com que é uma tripsina endoprotease sítio especifica que sempre vai quebrar a cadeia polipeptídica depois dos aminoácidos ou que são aminoácidos que possuem cadeias laterais com cargas positiva e Lisina Arginina vamos obter uma serie de peptídeos derivados dessa proteína. Posteriormente ao tratamos essa proteína com outra forma de clivagem especifica nesse caso foi utilizado brometo de cianogênio que cliva depois de e obtemos o segundo Metionina conjunto de peptídeos. De posse desses peptídeos purificamos cada um deles e para fazer o sequenciamento desses peptídeos através de uma metodologia chamada de sequenciamento de Edman. Como sabemos qual é o primeiro aminoácidos dessa proteína? O primeiro aminoácido da proteína esta localizado na extremidade n-terminal, nesse caso é o ácido glutâmico. Vamos ver detalhadamente cada uma dessas partes: a hidrolise, a determinação do n- terminal, a fragmentação da proteína de forma especifica com determinados tipos de reagentes químicos ou endoproteases sítio especificas, o sequenciamento desses peptídeos obtidos e o alinhamento final do conjunto de peptídeos para montar a estrutura primária da proteína. Preparo da Proteína para o Sequenciamento Determinar o número e tipos de subunidades presentes na proteína Clivar as pontes de enxofre (se houver) Purificar cada uma das subunidades Determinar a composição de aminoácidos de cada subunidade Determinar o resíduo N-terminal Vivian Rocha 60 Antes de iniciar o processo de sequenciamento existem algumas etapas que precisamos realizar para preparar a proteína para o sequenciamento. A primeira coisa é purificar a proteína, depois caracterizar, ou seja, temos que determinar quantos tipos de subunidades estão presentes na proteína, porque nessa metodologia de sequenciamento temos que sequenciar uma cadeia polipeptídica de cada vez, se a proteína possuir duas cadeias polipeptídicas diferentes começamos a retirar aminoácidos de uma e de outra não sabemos se o aminoácido vem da cadeia A ou da B. Então primeiro precisamos caracterizar a proteína para saber quantos tipos de subunidades diferentes ela tem e se ela tiver mais de um tipo de subunidade precisamos purificar, separar aquelas subunidades e sequenciar as subunidades isoladamente. A segunda coisa a se fazer é clivar as pontes de enxofre (pontes de sulfeto) que a proteína possuir e a partir dai determinar a composição de aminoácidos de cada subunidade e por fim precisamos determinar o resíduo n-terminal. A purificação e caracterização da proteína são etapas essenciais. I. Redução das Pontes Dissulfeto A clivagem da ponte de sulfeto pode ser feita de duas formas distintas. Ela pode ser feita de uma forma oxidativa através da utilização do ácido performico, onde este cliva a ponte de sulfeto e transforma o enxofre em grupamentos de ácidos sistêmicos, essa metodologia tem a vantagem que de o ácido sistêmico não consegue reagir novamente para formar as pontes de sulfeto entre tanto o ácido performico modifica a cadeia lateral da Metionina que tem um enxofre presente. Por causa dessas modificações secundarias os pesquisadores preferem não utilizá-lo mais. Um método alternativo é a utilização de , que promove o rompimento da ponte de sulfeto β-mercaptoetanol gerando duas Cisteínas livres e esse método tem como inconveniente de que se deixarmos o β- mercaptoetanol por um tempo longo o suficiente essas pontes de enxofre voltam a se formar espontaneamente. Com isso precisamos fazer um segundo tratamento que geralmente é feito utilizando ácido iodo acético que reage com o grupamento sufidrila livre acetilando aquele grupamento e esse grupamento acetilado ele não volta a formar ponte de sulfeto. II. Composição de Aminoácidos da Proteína Precisamos então determinar a composição de aminoácidos da proteína isso é feito incubando a cadeia política original com ácido clorídrico concentrado a cerca de 6 molar e aquecido em uma atmosfera de nitrogênio a cerca de 110 o C por 24 horas e isso ataca as ligações peptídicas gerando os aminoácidos livres. De posse dessa “sopa” de aminoácidos podemos, por exemplo, modificar o aminoácido promovendo derivado florescente daqueles aminoácidos e aplica os aminoácidos a uma coluna de HPLC e identificar os aminoácidos presentes e a quantidade em que eles estão presentes na proteína através do tempo de retenção e a intensidade da florescência. Vivian Rocha 61 Existem alguns problemas com essa metodologia. O primeiro problema é que essa hidrolise ácida promove a completa destruição do Triptofano, então não conseguimos codificar ele na sua estrutura primaria. Por outro lado ele promove uma hidrolise parcial da Serina, Treonina e da Tirosina e precisamos fazer experimentos adicionais para determinar a quantidade desses aminoácidos na sua mistura. A hidrolise ácida ainda além de quebrar a ligação peptídica ela cliva a ligação amida presente cadeia lateral da Asparagina e da Glutamina, transformado as em Ácido Aspártico e Ácido Glutâmico respectivamente. Portanto precisamos fazer um segundo tratamento para fazer a determinação do Triptofano e geralmente a determinação do Triptofano é feita através de um hidrolise alcalina que é realizada com NaOH concentrado a 100 graus centigrados por um tempo que varia de 4 a 8 horas esse método tem a desvantagem de promover a decomposição completa de Cisteína, Serina e Treonina. Ele promove a desaminação e a racemização de todos os outros aminoácidos, mas ele permite a quantificação do Triptofano. Então na realidade o objetivo desse segundo tratamento e de apenas determinar o Triptofano, coisa que não podia se fazer na hidrolise alcalina. Na tabela ao lado temos dois experimentos de determinação da composição de aminoácidos que é do citocromo C bovino e de outra proteína bovina. Elas possuem os 20 aminoácidos, mais estes estão presentes em quantidades diferentes. Então aqui já sabemos a composição de aminoácidos da proteína, então o passo seguinte é determinar o resíduo n- terminal que é o primeiro aminoácido da proteína ou resíduo que esta na extremidade c-terminal que o último aminoácido da proteína. III. Determinação do Resíduo N-terminal Isso é feito reagindo à proteína com um composto químico flúor 2,4 de nitrobenzeno. Esse composto químico tem a capacidade de reagir com o grupamento amino livre do primeiro aminoácido, então o primeiro aminoácido da sua cadeia polipeptídica fica marcado com esse composto que é florescente. Depois de fazer esta marcação à cadeia polipeptídica é hidrolisada com ácido clorídrico concentrado todas as ligações peptídicas são clivadas ficando com uma “sopa” de aminoácidos e um deles marcado com um composto florescente. Essa mistura é aplicada na coluna de HPLC e o único aminoácido a ser detectado será o n-terminal. Tabela 7- Composição de aminoácidos de duas proteínas. Vivian Rocha 62 IV. Determinação do Resíduo C-terminal O método mais simples de detectar o c-terminal é através da analise do tratamento da cadeia polipeptídica com uma . Uma carboxipeptidase é uma enzima que cliva a ligação carboxipeptidase entre o ultimo e o penúltimo aminoácido liberando o ultimo aminoácido, quando o ultimo aminoácido é liberado o penúltimo aminoácido vira o último e a enzima vai atacar ele também e quando este é retirando o antepenúltimo aminoácido vira o ultimo aminoácido que será clivado também. Isso quer dizer que na realidade para fazer a determinação do aminoácido por essa metodologia iniciamos a reação e de tempos em tempos vai retirando uma alíquota da sua reação e paralisando a reação. Depois de um tempo apareceu um pico no cromatograma na posição correspondente a Metionina, então o ultimo aminoácido é uma Metionina, depois de 20 min alem da Metionina ele observou o segundo pico na posição correspondente a Glicina, então o segundo aminoácido é a Glicina em 30 min ele observou outro pico que é a Valina que deve ser o terceiro. Apesar de ser atrativo este método não serve para sequenciar, pois só é possível sequenciar ate o penúltimo aminoácido depois disso o cromatograma começa a ficar cheio de picos de tamanhos iguais e não é possível determinar a ordem com a qual aqueles picos foram gerados. V. Sequenciamento da Cadeia Polipeptídica Fragmentar a cadeia polipeptídica em locais específicos de modo a gerar peptídeos pequenos o suficiente para serem sequenciados diretamente Purificar cada fragmento Determinar a sequência de aminoácidos de cada fragmento purificado Repetir as etapas anteriores usando peptídeos obtidos a partir do uso de outro método de clivagem Já reunimos um conjunto de informações a respeito da sua cadeia polipeptídica. Já sabemos a composição, sabemos o primeiro aminoácido e sabemos quais terminam esta cadeia. Agora precisamos começar a sequenciar a cadeia polipeptídica. A primeira coisa a ser feita é fragmentar a cadeia polipeptídica em locais específicos de modo a gerar peptídeos pequenos o suficiente para serem sequenciados diretamente pelo método de Edman. Depois de fazer essa fragmentação com um tratamento enzimático químico, precisamos purificar cada um dos fragmentos gerados pelo processo de hidrolise, determinar a sequência de aminoácidos de cada fragmento purificado e repetir todo procedimento utilizando uma segunda metodologia de fragmentação. E a partir dos dados obtidos com os dois sequenciamentos tentar montar a sequência real da cadeia polipeptídica completa. Para clivar a proteína podemos se valer de enzimas que são endopeptidases e sítio . Existem varias enzimas disponíveis comercialmente com essa finalidade. Como por especificas exemplo, , , , , e . Cada a tripsina quimiotripsina elastina termolisina pesina endopeptidase V8 uma delas cliva a cadeia polipeptídica em um ponto especifico. A cliva depois (do lado C) da Lisina ou Arginina, quando não exista uma Prolina tripsina depois. A cliva depois de Triptofano, Tirosina e felialnanina se o aminoácido quimiotripsina seguinte não for uma Prolina. Vivian Rocha 63 Outra forma de clivar a proteína se não quisermos utilizar enzimas é utilizar um reagente químico que é o que vai atacar a ligação peptídica sempre depois de uma brometo de cianogênio Metionina e vamos ter a fragmentação na cadeia sempre depois daquele aminoácido. Novamente como a ligação é quebrada na extremidade c-terminal do aminoácido o último aminoácido que sofreu a clivagem será sempre uma Metionina. O sequenciamento é efeito inicialmente mobilizando o polipeptídio em uma matriz, adicionamos esse peptídeo imobilizado a um reagente que é fenilisotiocianato que tem a capacidade de reagir com o grupamento amino livre formando um derivado do seu aminoácido, trocamos o ambiente do seu reator e retira o solvente aquoso alcalino e substitui pelo Ácido Trifluoracético Anidro (sem água) e na presença desse ácido o reagente ao seu ultimo aminoácido ataca a ligação peptídica liberando o último aminoácido na forma livre sob a forma de um derivado.