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Roteiro de estudo de Introdução ao Direito – 1º Período – CNEC Professora Camila de Castro Barbosa Bissoli do Bem ESTE ESTUDO DIRIGIDO É APENAS MATERIAL DE APOIO QUE APRESENTA DE FORMA ORDENADA OS PRINCIPAIS TÓPICOS TRABALHADOS EM SALA DE AULA NO QUE DIZ RESPEITO À UNIDADE EM QUESTÃO. É INDISPENSÁVEL QUE O ALUNO COMPLEMENTE SEU ESTUDO COM A BIBLIOGRAFIA INDICADA EM SALA, LEGISLAÇÃO PERTINENTE E CONTITUIÇÃO FEDERAL, PARA QUE POSSA APRESENTAR O RENDIMENTO ACADÊMICO CONSIDERADO MÍNIMO. UNIDADE II – DA EFICÁCIA DA LEI NO TEMPO E NO EPAÇO - DIREITO INTERTEMPORAL Os conflitos das leis no tempo se verificam quando uma lei anterior é modificada por uma lei posterior, pois, nestes casos, acaba surgindo dúvida se nas relações jurídicas já instauradas deverá ser aplicada a lei nova ou a lei antiga. É natural que quando um fato jurídico se realiza e produz efeitos sob a vigência de uma determinada lei, não ocorrerá conflito de leis no tempo. O problema surge quando um fato jurídico, ocorrido na vigência de uma lei, estende os seus efeitos até a vigência de uma outra. A grande questão será: qual a lei aplicável aos efeitos do mencionado fato jurídico? A da época em que se realizou o fato ou a do tempo em que o fato vai produzir seus efeitos? Exemplo trazido pelo Professor Pulo Nader: Ao ingressar na Faculdade de Direito, José Cláudio encontra em vigor um determinado currículo e por ele começa seu curso; se no decorrer do tempo sobrevier um novo currículo, várias perguntas surgirão: a) deverá José prosseguir seu estudo e completar o curso de acordo com o currículo antigo? b) deverá José seguir o novo currículo como se não houvesse havido o currículo anterior? c) o currículo novo deverá respeitar os créditos alcançados por José e este deverá se adaptar as novas exigências? É óbvio que quando se muda um currículo ou qualquer dispositivo normativo, toma-se o cuidado de criar disposições transitórias que definam as situações anteriores, mas além das normas que adaptam o novo ordenamento dentro do contexto criado pelo ordenamento antigo, alguns princípios e ditames devem ser seguidos. Os ditames que regem os conflitos de leis no tempo constituem o chamado DIREITO INTERTEMPORAL também conhecido como direito transitório, teoria dos direitos adquiridos, teoria da retroatividade das leis, teoria da irretroatividade das leis. Deve-se ter em mente que a regra do direito intertemporal é a irretroatividade das leis , que será vista no próximo item, todavia à regra cabem exceções como se passa a expor: 2.1.1 - Retroatividade da lei Conforme disposto na Constituição Federal em seu art. 5º, inciso XXXIX “não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal”, isso significa que a lei penal em regra não retroagirá. Todavia o inciso XL, do mesmo artigo dispõe que “a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu”, sendo assim acolhe-se no caso uma exceção à regra da irretroatividade das leis. Neste mesmo sentido dispõe o Código Penal em seu art. 2º: Art. 2º - “Ninguém pode ser punido por fato que a lei posterior deixa de considerar crime cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória. parágrafo único: A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado.” É importante destacar então que apesar da regra ser a irretroatividade das leis, inclusive das leis penais, em casos de leis penais benéficas, como o acima mencionado, ela retroagirão. Além deste caso de retroatividade expresso, tem-se que a política legislativa pode recomendar que a lei retroaja seus efeitos, apesar de a retroatividade ser muito criticada ela existirá sempre que não atingir ato jurídico perfeito, direito adquirido e coisa julgada e que o legislador a mandar aplicar a casos pretéritos. Tem-se, pois, que a irretroatividade é a regra, mas a retroatividade é admitida no Brasil em alguns casos. 2.1.2 – Disposições transitórias. Também merece destaque o fato de que na prática, havendo mudança significativa de legislação (Ex: Código Civil, Código Penal, etc...) o legislador faz uso das chamadas “disposições transitórias”, inserindo-as também no texto da lei nova. As disposições transitórias são regras elaboradas pelo legislador no próprio texto da lei atual para viger temporariamente objetivando evitar e resolver conflitos que poderão nascer do cotejo da lei nova com a antiga. É o que se deu, por exemplo, com as questões relativas aos prazos que se iniciaram na vigência do Código Civil anterior (artigo 2028 do NCC), à ordem da vocação hereditária relativa às sucessões abertas anteriormente ao Novo Código Civil (artigo 2041 do NCC) e às cláusulas restritivas apostas à legítima em testamentos confeccionados na vigência do Código Civil anterior (artigo 2042 do NCC), que mereceram tratamento específico nas disposições transitórias da novel legislação, porque certamente causariam muitas dúvidas no intérprete acerca do prevalecimento de quais regras, se aquelas previstas na legislação anterior ou na lei atual. - IRRETROATIVIDADE: Positivado no art. 6º, da LICC� e art. 5º, XXXVI, da CF� – é o princípio pelo qual a lei nova não deve abranger as situações jurídicas disciplinadas pela lei velha. Segundo ele a lei só deve dispor para o futuro. Isto é, inerente à própria lei, pois esta só pode ser conhecida após sua publicação. Antes de ser publicada, como poderia ser obedecida pela coletividade? O princípio da irretroatividade das leis advém do Direito Romano, passando pelo Direito Canônico, mas é no pensamento liberal que o princípio se desenvolve sendo consagrado pela Constituição Norte-Americana de 1787 e pelo Código de Napoleão, quando várias teorias sobre o tema se desenvolveu. Destaca-se que no Brasil a teoria de Gabba subsistiu garantindo o completo respeito ao ato jurídico perfeito, direito adquirido e coisa julgada. Sendo assim, a lei somente retroagirá, no Brasil, caso não atinja ato jurídico perfeito, direito adquirido e coisa julgada. O princípio da irretroatividade das leis ampara-se na necessidade da segurança das relações jurídicas e constitui a regra de que a retroatividade da lei só ocorrerá em sede de exceção 2.3 – ATO JURÍDICO PERFEITO, DIREITO ADQUIRIDO E COISA JULGADA. 2.3.1 - ATO JURÍDICO PERFEITO – É o ato praticado em certo momento histórico, em consonância com as normas jurídicas vigentes naquela ocasião. (regime de comunhão universal antes de 1977 e da comunhão parcial após) 2.3.2 - DIREITO ADQUIRIDO – É o que já se incorporou definitivamente ao patrimônio e/ou à personalidade do sujeito de direito.(35 p/ 40 anos de serviço para aposentar) É o direito que seu titular pode exercer, ou alguém por ele. Vantagem jurídica, líquida, lícita e concreta que alguém adquire de acordo com a lei vigente na ocasião e incorpora definitivamente, sem contestação, ao seu patrimônio. Dessa forma, temos que Direito adquirido é aquele que a lei considera definitivamente integrado ao patrimônio de seu titular. Assim, quando alguém, na vigência de uma lei determinada, adquire um direito relacionado a esta, referido direito se incorpora ao patrimônio do titular, mesmo que este não o exercite, de tal modo que o advento de uma nova lei, revogadora da anterior relacionada ao direito, não ofende o status conquistado, embora não tenha este sido exercido ou utilizado; por exemplo, o funcionário público que, após trinta anos de serviço, adquire direito à aposentadoria, conforme a lei vigente, não podendo ser prejudicado por eventual lei posterior que venha ampliar o prazo para a aquisição do direito à aposentadoria. O não exercício do direito não implica a perda do direito adquirido na vigência da lei anterior, mesmo que ele não seja exercitado. Ao completar, na vigência da lei anterior, trinta anos de serviço, o titular do direito adquiriu o direito subjetivo de requerer sua aposentadoria em qualquer época, independentemente de alteração do prazo aquisitivo por lei posterior. É preciso, contudo, não confundir direito adquirido com expectativa de direito, pois esta não passa de mera possibilidade de efetivação de direito sujeito à realização de evento futuro. Se este não ocorre, o direito não se consolida, por exemplo, a herança somente se consolida com a morte daquele que é seu autor. Enquanto esta não se realiza, o herdeiro tem mera expectativa de direito sobre os bens do autor da herança. 2.3.3.- COISA JULGADA – É o efeito atribuído a uma decisão judicial de que não caiba mais recurso. (prova que influenciou na sentença e que posteriormente passou a ser considerada ilegal não tem o condão de reabrir o processo) 2.4- DA EFICÁCIA DA LEI NO ESPAÇO. Enquanto o conflito de leis no tempo se configura pela existência de duas leis nacionais, promulgadas em épocas distintas e que regulam a mesma ordem de interesses, o conflito de leis no espaço caracteriza-se pela concorrência de leis pertencentes a diferentes Estados soberanos em decorrência da mobilidade do homem entre os territórios. 2.5- DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO. O Direito Internacional é o ramo da ciência jurídica que resolve os conflitos de leis no espaço, disciplinando os fatos em conexão no espaço com as leis vigentes. Direito internacional privado é um conjunto de princípios sobre qual a legislação aplicável à solução de relações jurídicas privadas, por um, ou alguns de seus elementos, entendem com normas de dois ou mais sistemas jurídicos. Mesmo havendo um certo consenso mundial quanto aos princípios que devem reger o problema do conflito de leis no espaço, a matéria é regulada internamente por leis próprias de cada estado e mediante tratados internacionais. No Brasil, os principais preceitos legais que regem a eficácia da Lei no espaço estão na LICC, a partir de seu art. 7º. A CF, e demais legislações ordinárias também dispõem algumas regras pertinentes à matéria. 2.6- EXTRATERRITORIALIEDADE DA LEI E SEUS LIMITES: Pois bem, normalmente a lei nacional aplica-se a todo o território nacional; ocorrem, porém, casos de interferências de estrangeiros sobre relações jurídicas surgidas em território nacional ou no exterior como na eventualidade de nacionais possuírem bens ou negócios jurídicos em território de outro Estado. Em tais casos, surge o fenômeno da extraterritorialidade da lei, que pode ser definido como a aplicação de uma lei de determinado Estado no âmbito de jurisdição de outro Estado. Por exemplo, o que dispõe o art. 7º do CP. Inicialmente, dois princípios buscam dirimir os conflitos surgidos na aplicação de leis concorrentes peculiares a Estados diversos: o princípio da personalidade, também denominado princípio da extraterritorialidade, e o princípio da territorialidade. O primeiro afirma que o interessado pode invocar a lei de seu país onde quer que se encontre. O segundo, qual seja, da territorialidade, afirma que se deve aplicar a todas as pessoas e coisas situadas no território de um país o direito deste país (lex non valet extra territorium). Vale dizer que o princípio da extraterritorialidade é mais uma ficção jurídica do que propriamente um princípio. Por ela o território de um Estado estende-se até ao de um outro, por decorrência de relações jurídicas de ordem internacional. Assim, os edifícios onde funcionam missões diplomáticas, por exemplo, são considerados como se território do país que eles representam. Ex: embarcações militares ou de bandeira estrangeira, as missões diplomáticas, etc. O problema do conflito de leis no espaço pode suscitar duas doutrinas extremadas: a da territorialidade absoluta e a da extraterritorialidade ilimitada. Pela primeira, aplicar-se-ia a todo e qualquer indivíduo ou coisa situados, num dado momento, em certo Estado, a lei deste Estado, sem limitações de espécie alguma, com total repúdio à lei estrangeira. A doutrina da extraterritorialidade ilimitada sugere, em seu radicalismo, duas variantes, ao permitir a escolha da lei extraterritorial que se há de aplicar, a qual poderá ser a lei nacional, vale dizer, a lei da nação de que for o indivíduo, ou a domiciliar, isto é, a lei do Estado em que o indivíduo for domiciliado. Ambos os sistemas apresentam falhas: o da territorialidade absoluta criaria um isolamento absoluto, total, ensejando o próprio isolamento entre os povos, ao passo que o princípio da extraterritorialidade ilimitada comprometeria a própria soberania nacional, em face de constante aplicação da lei estrangeira. 2.7- TEORIA DOS ESTATUTOS. No intuito de se criar uma regra que harmonizasse a aplicação simultânea desses dois princípios, BARTOLO (1314-1357) na Idade Média defendeu a idéia da existência distinta dos estatutos pessoais e dos estatutos reais. Pelos estatutos pessoais, os direitos personalíssimos, os direitos de família e o estado civil deveriam ser regidos pela lei nacional da pessoa; já os concernentes aos estatutos reais, como o direito das coisas, pela lei do lugar em que essas se encontrassem. O fato é que, com a complexidade cada vez mais crescentes das relações jurídicas, a teoria dos estatutos acabou por revelar-se, naturalmente, insuficiente. Todavia, tanto o principio da territorialidade quanto o da personalidade das leis remanesceram íntegros. 2.8- DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO NO BRASIL. O moderno direito internacional privado tem adotado uma doutrina de territorialidade moderada, que exclui do princípio da lei territorial o estado e a capacidade das pessoas, o direito de família e de sucessões, que ficam, assim, regidos pela lei pessoal. Muitos juristas ainda não chegaram a um acordo sobre o que seja a lei pessoal, se a nacional (nacionalidade do indivíduo) ou a do domicílio (lei do lugar em que a pessoa for domiciliada). A LICC adota essa última orientação, haja vista o disposto nos arts. 7º a 19. Assim, respeitando-se os princípios já mencionados, três princípios básicos norteiam o Direito Internacional Privado no Brasil: O ‘Princípio da Nacionalidade postula que a lei aplicável deva ser sempre a lei nacional em proteção do seu cidadão, onde quer que este se encontre. O ‘Princípio do Domicílio’ sustenta que a lei aplicável deva ser a do lugar onde a pessoa tenha domicílio fixo, isto é, com a intenção de permanência. O ' Princípio da Territorialidade’, declara que a lei aplicável é a do lugar onde os bens estão situados ou onde se celebram os negócios. O sistema adotado no Brasil para solucionar os conflitos de leis no espaço resume-se no seguinte: a) para determinar as regras sobre o começo e o fim da personalidade, o nome, a capacidade e os direitos de família, adota-se a lei do país em que for domiciliada a pessoa (art. 7º), logo, ‘Princípio do Domicílio’; em conseqüência o estrangeiro aqui domiciliado terá que se submeter à nossa legislação no que concerne a esses aspectos; b)para qualificar os bens imóveis e regular as relações a eles concernentes, aplica-se a lei do país em que estiverem situados (art. 8º), logo o ‘Princípio da Territorialidade; c) para os bens móveis trazidos pelos donos dos mesmos, ou destinados a transporte para outros lugares, aplica-se a lei do domicílio do proprietário (art. 8º, § 2º). Logo, ‘Princípio do Domicílio’; d) para os bens penhorados, aplica-se a lei do domicílio da pessoa em cuja posse se encontrem sob penhor (art. 8º, § 2º). Logo, ‘Princípio do Domicílio’; e) para qualificar e reger as obrigações, aplica-se a lei do país em que se constituírem (art. 9º). Logo, ‘Princípio da Territorialidade’. Desse modo, a regra é a ‘lei do lugar reger o ato’ (“locus regit actum”), isto é a lei aplicável é a do país onde os contratos sejam celebrados. Acerca de contratos, regra geral, podem as partes de comum acordo estabelecer a lei aplicável à espécie; f) a sucessão por morte ou por ausência obedece à lei do país em que era domiciliado o falecido ou desaparecido, qualquer que seja a natureza e a situação dos bens (art. 10). Logo, ‘Princípio do Domicílio’; g) em matéria penal é o ‘Princípio da Territorialidade’ o predominante. Aplica-se a lei brasileira aos crimes aqui praticados mesmo por estrangeiros. � Art. 6º A Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada. § 1º Reputa-se ato jurídico perfeito o já consumado segundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou. § 2º Consideram-se adquiridos assim os direitos que o seu titular, ou alguém por êle, possa exercer, como aquêles cujo comêço do exercício tenha têrmo pré-fixo, ou condição pré-estabelecida inalterável, a arbítrio de outrem. § 3º Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisão judicial de que já não caiba recurso. � XXXVI - a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada;