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OPERACIONALIDADE DA POLÍTICA MONETÁRIA: FORMAÇÃO DA TAXA DE JUROS Com a colaboração de Rogério Sobreira I n t r o d u ç ã o A política monetária é conduzida, na prática, com o pro pósito de influenciar o nível da taxa de juros de curto pra zo através de mudanças na oferta de reservas bancárias. Ainda que a política possa não ser conduzida com o pro pósito exclusivo de fixar a taxa de juros, este objetivo constitui-se em importante meta operacional, viabilizan do a consecução das metas finais, que podem ser estabili dade de preços e/ou sustentação de um nível desejado de produto e emprego, como visto no capítulo anterior. Para atingir seus objetivos intermediários, o banco central atua fortemente no mercado de reservas, tanto para definir uma oferta adequada de moeda, como para manter a demanda por reservas das instituições financei ras em intervalos aceitáveis, evitando com isso volatili dade excessiva da táxa de juros. A atuação cia auionuauG IIWW H W w --y u» _ __ , cado aberto - se faz através de dois tipos hásicos de operações: operações definitivas (leilões primários formais e leilões informais de títulos) e operações compromissa das (leilões informais de dinheiro e operações de compra de títulos com compromisso de revenda no âmbito do redesconto). Este capítulo objetiva analisar o modus operandi das operações de mercado aberto e a determinação da taxa de juros básica no mercado monetário. Assim, na Se ção 1 é definido o mercado de reservas bancárias, apresentando-se também sua forma de funcionamento. A Seção 2 trata da previsão de liquidez neste mercado, feita cotidia- namente pelo Banco Central. Nas Seções 3 e 4 são discutidas as formas de controle da liquidez pela autoridade monetária, com vistas ao alcance de suas metas quanto à taxa de juros. São apresentadas aqui as operações compromissadas, os leilões informais e os leilões formais. A Seção 5 trata da formação da taxa de juros de curto prazo. Mos tra-se como o Banco Central, com base nas suas previsões de liquidez, combina as formas de controle da liquidez para obter o comportamento desejado para a taxa de juros. Também é mostrada a importância da persuasão do mercado para que tais obje tivos sejam atendidos. 1. O MERCADO DE RESERVAS BANCÁRIAS O sistema bancário tem como uma das suas principais funções manter um sistema de pagamentos adequado à liquidação das transações realizadas na economia. Neste sen tido, ao receber depósitos e fazer pagamentos, bem como ao emprestar recursos e re ceber os pagamentos devidos por operações de crédito já realizadas, os bancos viabilizam a realização de todo tipo de transação comercial ou financeira do público não-bancário. Desta forma, as operações realizadas por qualquer agente econômico com uma instituição financeira, ao utilizar papel-moeda, cheques ou outras formas de transfe rência eletrônica de fundos, vão modificar as contas de depósitos dos agentes econô micos na instituição. Assim como pessoas físicas, jurídicas ou governos mantêm depósitos à vista em uma instituição financeira, através da qual realizam pagamentos e recebimen tos, inclusive fazendo aplicações financeiras, os bancos, de forma equivalente, pos suem contas correntes no Banco Central, através das quais recebem débitos e crédi tos das demais instituições financeiras, do Tesouro Nacional e do próprio banco central. Em outras palavras, é por este tipo de conta - chamada “conta de reservas” - que as instituições financeiras realizam operações entre si e com a autoridade mo netária. Da mesma forma que quando uma pessoa faz um depósito de moeda em conta corrente recebe um crédito na sua conta, a instituição financeira, ao entregar pa pel-moeda ao Banco Central, também vai receber um crédito equivalente na sua con ta de reservas. Analogamente, se a instituição fizer um saque na sua conta de reservas, a mesma sofrerá um débito equivalente. ........ .............u n w iíT ÍB U . PORMACÃO DA TAXA DE JURO S 145 yuando o público faz um depósito cm dinheiro numa conta corrente ou numa conta de poupança ou, ainda, quando adquire um título privado utilizando pa- pel-moeda, o volume de papel-moeda nas mãos da instituição financeira se eleva. Se este volume ultrapassar o nível considerado adequado por ela para a gestão cotidiana de seus negócios (encaixes voluntários), a instituição repassará esse montante ao Ban co Central, que fará o crédito equivalente na conta de reservas do' banco. Se ao invés de operar com papel-moeda o indivíduo realiza uma operação finan ceira com cheque e este é depositado em um banco distinto daquele onde seu emitente mantém conta, a transferência de fundos entre os dois bancos ocorrerá na manhã do dia seguinte, após a compensação que ocorre à noite. Nestas operações, o resultado é uma mera transferência de saldo da conta de reservas bancárias da instituição finan ceira que foi sacada para a conta de reservas bancárias da instituição em que o cheque foi emitido. Isso permite perceber que, diariamente, o saldo da conta de reservas bancárias de cada instituição financeira é afetado positiva ou negativamente, dependendo das operações realizadas tanto pela própria instituição financeira como pela sua clientela. Em verdade, ao fornecer um adequado sistema de pagamentos, as instituições finan ceiras vão estar zerando o fluxo de caixa dos agentes, isto é, os agentes vão, tipica mente, depositar o excesso de caixa nos bancos e sacar ou tomar emprestado para atender suas necessidades de caixa. Ao zerar o fluxo de caixa desses agentes, os bancos acabam por desequilibrar seu próprio fluxo, uma vez que dificilmente as entradas de recursos coincidirão com as saídas. Assim, a cada dia haverá um conjunto de bancos que possui um saldo líqui do das entradas e saídas de recursos positivo e outro grupo que apresenta saldo líqui do negativo. Através do mercado monetário, as instituições bancárias tratam de ajus tar entre si seus desequilíbrios, utilizando mecanismos do próprio mercado. O Fluxo- grama 8.1 ilustra esse tipo de operação. A princípio, os saldos positivos e negativos dos bancos são zerados de modo na tural através de transações interbancárias, já que a manutenção de um saldo líquido positivo representaria um custo de oportunidade que poderia ser eliminado através da realização de empréstimos aos bancos deficitários. A taxa de juros vai ser determina- superavitário deficitário FLUXOGRAM A 8.1 Troca de Reservas entre Bancos da pela relação entre oferta c demanda de u m i vas (juamn num II a 1 IWWnniMM».___ servas, maior a taxa de juros cobrada no mercado interbancário, o oposto ocorrendo quando a demanda pressionar menos a oferta. Vale notar que, por conta de compromissos assumidos no passado, nem sempre o fluxo de reservas dos superavitários é equivalente às necessidades de recursos dos deficitários em um determinado dia. Além disso, por força de imperfeições de merca do, freqüentemente os bancos não conseguem “fechar o caixa” exclusivamente atra vés do mercado interbancário. Deste modo, o papel do Banco Central, na qualidade de ofertante de reservas, torna-se fundamental para garantir um comportamento orde iro do interbancário, já que é a única instituição com capacidade para criar ou destruir liquidez no curtíssimo prazo (em prazos maiores, uma alteração nos parâmetros de preferência do público por retenção de moeda pode também contribuir para a criação ou destruição de reservas). Neste sentido, a autoridade monetária aparece como a única entidade capaz de criar ou destruir moeda no curto prazo. Sendo assim, o Banco Central vai atuar, não só de modo a prover reservas a fim de evitar desequilíbrios ou pressões indesejadas no mercado interbancário, como vai ser precisamente através da calibragem da oferta às estimativas de demanda que o Banco Central vai estabelecer a taxa de juros de cur to prazo da economia. Para tanto, além de prover os bancos com o volume de reservas compatível com seus objetivos de política, o Banco Central vai procurar moldar a demanda de modo a obter o nível requerido para a taxa de juros, procurando evitar também flutuações ex cessivas que não só sinalizam de modo imperfeito os propósitos da autoridade como dificultam a operação eficiente do mercado interbancário. 2 . P r e v i s ã o d a l i q u i d e z Conforme observado anteriormente, de modo a garantir o nível e o adequado com portamento da taxa de juros de curto prazo ao longo do dia e no período definido para sua vigência, o Banco Central tem de estimar com razoável precisão a necessidade de liquidez do mercado interbancário a fim de poder decidir quanto adicionar ou retirar do volume de reservas existentes no mercado. Enquanto que as variações não- autônomas de reservas decorrem da ação do Banco Central como gerenciador de li quidez, por exemplo, através da determinação das exigibilidades compulsórias, as chamadas variações autônomas na quantidade de reserva - isto é, aquelas não decor rentes das ações diretas do Banco Central - são explicadas pelos seguintes fatores, tal como pode ser extraído do balancete consolidado do Banco Central:1 a) variação dos ativos externos líquidos b) variação dos empréstimos ao governo 1. Se o leitor não estiver familiarizado com os mecanismos que serão explicados a seguir, sugere-se a lei tura do Capítulo 6 deste livro. c) papel-moeda em circulação (papel-moeda em poder do publico) d) depósitos do Tesouro Nacional no Banco Central Assim, variações positivas nos ativos externos líquidos e nos empréstimos ao governo possuem um impacto expansionista sobre as reservas bancárias, ao passo que variações positivas do papel-moeda em circulação e dos depósitos do Tesouro Nacional impactam negativamente o total de reservas das instituições financeiras. Em termos esquemáticos, temos: Variações Autônomas das Reservas Bancárias = f (AAtivos Externos Líquidos, AEmpréstimos ao Governo, APapel-moeda em Circulação, ADepósitos do Tesouro Nacional) Logo, a fim de obter o nível de reservas que garanta a estabilidade da taxa de ju ros, o Banco Central tem de estar continuamente fazendo previsões sobre os fatores que compõem as variações autônomas de reservas. Neste sentido, a previsão de liqui dez é o estágio inicial da implementação da política monetária, sendo a base para as decisões relacionadas ao volume, à freqüência e à maturidade das operações desenha das para equilibrar o mercado de reservas. Dentre os fatores que impactam as reservas, a demanda por papel-moeda do pú blico segue certa rotina de sazonalidade, facilitando sua previsão pelo Banco Central. Assim, finais de semana, vésperas de feriado, finais de ano e dias de pagamento e re cebimento são períodos característicos de saques, enquanto que no início da semana percebe-se um movimento na direção oposta. No caso dos depósitos do Tesouro Nacional, o perfil temporal de gastos e arre cadação impossibilita a movimentação sincronizada entre depósitos e saques, dificul tando sua previsão pelo Banco Central. Tipicamente, nos dias de recolhimento de tri butos e leilões de títulos há retirada líquida do sistema enquanto nos dias de pagamen to de salários ocorre injeção líquida de reservas. Com relação aos ativos externos líquidos, as variações nos mesmos vão ser de corrência do resultado entre exportações e importações e entre compras e vendas fi nanceiras. O Banco Central, no Brasil, atua no mercado de câmbio, comprando ou vendendo moeda estrangeira (aos bancos) via leilões, de modo a manter a cotação no nível considerado adequado, sendo que essas operações sensibilizam diretamente a conta reservas bancárias. Vale notar, contudo, que o acréscimo ou decréscimo nas re servas internacionais não é exatamente igual às compras ou vendas efetuadas via lei lões. Isso porque existem operações diretas do Banco Central, como o pagamento dos encargos da dívida externa, o pagamento de empréstimos de regularização junto ao Fundo Monetário Internacional, e as receitas das aplicações das reservas, entre ou tras, que não geram contrapartida no mercado monetário. No caso do Brasil, os fatores que mais impactam a liquidez do sistema bancário estão abaixo listados. Os mesmos são objeto de previsão, com antecedência de 30 dias, por parte do Departamento de Mercado Aberto (DEMAB) do Banco Central do Brasil: a) emissão ou recolhimento de moeda; b) operações com ouro ou câmbio; c) recolhimento de tributos; d) gastos do Tesouro Nacional; e) transferências do orçamento oficial de operações de crédito e do orçamento geral da União; f) financiamentos concedidos ou tomados pelos bancos e seu retomo; g) resgates e colocações de títulos públicos; h) recolhimentos ou liberações de depósitos compulsórios em geral; i) saques ou depósitos sobre a média do recolhimento obrigatório. Como se pode notar, a variação autônoma das reservas, apesar de acontecer via movimentação das contas do balanço do Banco Central, é decidida fora de sua alçada. Assim, o Banco Central vai estar diariamente estimando o impacto desses e de outros fatores no mercado de reservas bancárias a fim de adotar políticas que visem à sua neu tralização. Caso contrário, a taxa de jurõs pode ficar abaixo ou acima da meta defini da pela autoridade, obrigando a mesma a implementar táticas de correção que podem desestabilizar o comportamento dessa variável. Excetuando-se as situações em que há previsão de grande vazamento ou injeção de reservas, o Banco Central pode falhar na sua previsão sobre a demanda do mercado, o que obriga a intervenções corretivas ao longo do dia ou mesmo ao final deste. Neste sentido, a atuação da autoridade pode variar de direção ao longo do dia. O Banco Central pode abrir o mercado como doador de recursos e, ao perceber que a li quidez está se elevando para além do requerido, passar a tomar recursos junto aos bancos. No entanto, o Banco Central define sua posição doadora ou tomadora na ábertu- ra do mercado apenas quando suas previsões apontam claramente para um quadro de grande vazamento ou grande injeção de reservas, respectivamente. Do contrário, sua posição não é definida de imediato na abertura do mercado, sendo moldada ao longo do dia com base nas informações colhidas pela mesa de operações do mercado aberto da autoridade junto às instituições financeiras e em especial junto aos dealers. Em condições normais, portanto, o Banco Central só vai atuar no mercado de reservas quando suas estimativas de liquidez sinalizarem um impacto indesejado na taxa de juros. Evidentemente, as decisões quanto à oferta de fundos vão estar sempre sujéitas aos propósitos de política por parte da autoridade, que pode se decidir por um determinado ajuste na liquidez a fim de atender suas metas de mais médio prazo com relação à evolução dos agregados monetários e/ou da taxa de juros. OPERACIONALIDADE DA POLÍTICA MONETÁRIA: FORMAÇÃO DA TAXA DE JUROS 149 Quando as estimativas da autoridade apontam para uma deficiência generaliza da no mercado de reservas, diz-se que o Banco Central está oversold, isto é, sobreven- dido. Isto quer dizer que o volume de reservas bancárias disponível no mercado é menor do que o estoque de títulos públicos emitidos e mantidos nas carteiras dos ban cos. Neste caso, a estimativa da autoridade do saldo do fluxo de caixa das instituições financeiras em termos globais é deficitária - isto é, o fluxo de saída de recursos da conta de reservas de todas as instituições é maior que o fluxo de entrada - , indicando que o mercado necessita de financiamento para se zerar. Caso o Banco Central não deseje uma flutuação maior na taxa de juros de mercado ele deve atuar fornecendo aos bancos os fundos necessários. Quando ocorre o oposto, ou seja, há um excesso generalizado de reservas ban cárias no mercado (o volume de reservas é maior do que o estoque de títulos) diz-se que o Banco Central está undersold ou subvendido (ou, ainda, supercomprado) em reservas. Nestas circunstâncias, analogamente, o fluxo de entrada de recursos na con ta de reservas dos bancos é maior que o fluxo de saída, indicando que o Banco Central deve atuar comprando o excesso de reservas a fim de evitar flutuações desnecessárias na taxa de juros. 3 . C o n t r o l e d a l i q u i d e z : o p e r a ç õ e s COMPROMISSADAS E LEILÕES INFORMAIS A promoção dos ajustes compensatórios pelo Banco Central, mencionados acima, é feita principalmente através de operações no mercado aberto, em função de sua maior versatilidade para acomodar variações diárias na liquidez. Como visto no capítulo an terior, o recolhimento compulsório pode cumprir um papel importante na estabiliza ção da demanda por reservas bancárias, facilitando a ação do banco central na fixação da taxa de juros. A assistência financeira de liquidez, por sua vez, pode ser usada no apoio ao controle da liquidez, com vistas a proporcionar uma maior estabilidade na taxa de juros de curto prazo, funcionando como uma espécie de “colchão de liqui dez”. Assim, na operacionalização desses instrumentos, o Banco Central age sobre a disponibilidade e o custo das reservas bancárias, determinando em última instância as condições monetárias e creditícias da economia. Normalmente, o Banco Central utiliza-se de operações discricionárias2 - mais especificamente, operações compromissadas - para promover o ajuste diário na liqui dez. As operações compromissadas - conhecidas na literatura internacional como re- purchase agreements - consistem na compra e venda de títulos em que o vendedor se compromete a recomprar o título a um preço acordado e em data especificada, nor malmente no dia seguinte, do comprador. 2. Alguns bancos centrais, como era o caso até recentemente do Bundesbank, o Banco Central alemão, se utilizavam mais fortemente de facilidades de crédito (standing facilities) para garantir o ajuste da li quidez, permitindo o saque de reservas na assistência de liquidez dentro de limites a uma taxa de juros subsidiada. O Banco Central Europeu, contudo, substituiu essa prática pela utilização das operações de mercado aberto, seguindo a tendência mundial. Para detalhes ver E C B (1998, cap. 3). 150 CAPÍTULO 8 O preço do título neste tipo de operação pode variar de acordo com as condições vigentes no mercado. Vale notar, inclusive, que a taxa de juros estabelecida na opera ção não guarda qualquer relação com a taxa de juros embutida no título. Em verdade, o que está sendo negociado em uma operação compromissada são reservas onde o to mador entrega títulos em garantia. O detentor original do título - o Banco Central, por exemplo - em momento algum perde o direito de auferir os juros pagos pelo mesmo. O Fluxograma 8.2 esquematiza a operação. Títulos (1â operação) Títulos [2- operação) ' r 1 BANCO CENTRAL DEALERS i Retorno das reservas + juros reservas FLUXOGRAMA 8.2 Operações Compromissadas de Venda Estas operações são executadas com base na oferta pública de preços, isto é, através de leilão. Nessas operações, o Banco Central tipicamente oferta recursos dire tamente para as instituições demandantes, sem qualquer tipo de intermediação. A taxa3 negociada vai ser determinada, entre outros critérios, pelos sinais que o Banco Central deseja emitir a respeito da evolução da taxa básica. A taxa de juros contratada na operação compromissada pode cair abaixo da taxa do mercado interbancário em função de um aumento da liquidez no mercado monetário. Nessas circunstâncias, os bancos podem encerrar os contratos firmados com o Banco Central a fim de contratar uma operação de crédito overnight a uma taxa mais favorável. A freqüência com a qual essas operações são realizadas, por outro lado, vai de pender basicamente da existência ou não das exigibilidades compulsórias que aco modam em as necessidades de reservas. Nos países onde não existem recolhimentos compulsórios, o Banco Central realiza operações compromissadas praticamente to dos os dias. Na realização das operações compromissadas, o Banco Central pode atuar atra vés de instituições dealers, as quais se encarregam de transmitir os efeitos das ações da autoridade para as demais instituições. Dealers são as instituições financeiras cre denciadas a operar diretamente com o Banco Central nos leilões informais realizados 3. No caso do Brasil, essa taxa é denominada de taxa over, em alusão ao prazo típico utilizado, um dia overnight), enquanto que nos E U A esta mesma taxa é chamada de repo rate, posto que as operações compromissadas de um dia são usualmente denominadas repo. OPERACIONALIDADE DA POLÍTICA MONETÁRIA: FORMAÇÃO DA TAXA DE JUROS 151 por este. A instituição dealer deve também funcionar como um “fazedor de mercado” (,market maker) atuando tanto nas ofertas primárias de títulos públicos como nos mer cados secundários, de modo a garantir a liquidez destes mercados. Quando a opera ção compromissada envolve os dealers e o Banco Central, ela é chamada no Brasil de go-around ou leilão informal. O rótulo operações compromissadas, contudo, apli ca-se também àquelas operações que envolvem duas instituições trocando posições de reservas na qual a garantia é representada pela caução dos títulos. As operações compromissadas também podem ser conduzidas no âmbito da as sistência de liquidez ou redesconto. Em termos formais, estas operações são pratica mente idênticas às operações compromissadas referidas acima, podendo ser tanto acordos de recompra de títulos ou acordos de revenda, através dos quais respectiva mente sé aumenta ou se diminui a liquidez do sistema bancário. A principal diferença reside no fato de que a iniciativa não parte do Banco Central e sim da instituição fi nanceira. O Banco Central mantém, assim, um canal através do qual pode ofertar re servas de acordo com a necessidade localizada de uma ou mais instituições financei ras que entregam títulos federais em garantia. Apesar da disponibilidade, esta forma de obter reservas é usualmente mais cara que o mecanismo tradicional, qual seja, o mercado interbancário, além de contar com o franco desestímulo do Banco Central, que cria outros obstáculos, além do seu custo, à sua utilização freqüente. A intenção da autoridade é, claramente, estimular a troca de reservas entre os bancos. No caso de operações conduzidas através do mercado aberto, o Banco Central realiza leilões informais, também conhecidos como go-arounds, ficando caracteriza da a natureza competitiva da operação. Os leilões informais podem ser tanto de títulos como de dinheiro, sendo este último mais freqüentemente utilizado. Nos leilões in formais de dinheiro, o banco central oferta dinheiro exigindo como garantia títulos, comprometendo-se a instituição a recomprar o título normalmente no dia seguinte ao da realização da operação. Os go-arounds de títulos, por seu turno, são operações denominadas definitivas. O Banco Central vende às instituições títulos já emitidos que estão em sua carteira. O título, portanto, se incorpora à carteira da instituição compradora. Não há neste caso uma operação compromissada entre o Banco Central e os bancos, envolvendo acordo de recompra ou de revenda. As operações definitivas são particularmente indicadas quando o Banco Central quer fazer uma retirada de reservas no mercado de forma mais permanente, normalmente por ocasião da adoção de uma política monetária res tritiva de mais longo prazo. Nas atuações por go-arounds, é possível que o Banco Central opere somente com as instituições dealers. Nessa forma de atuação, o Banco Central não emite edital para divulgar o leilão, acionando os dealers através de telefone. O Banco Central soli cita das instituições credenciadas propostas de preço (taxa de juros) e de quantidade de títulos a serem vendidos ou comprados. Essas instituições são sempre obrigadas a fornecer propostas nessas operações. Para a realização de ajustes finos da liquidez, as operações compromissadas são preferíveis às definitivas. A principal razão é que, nas operações definitivas dificil mente o Banco Central possui em carteira títulos com os prazos necessários para con- 152 CAPÍTULO 8 IN S T IT U IÇ Õ E S C R E D E N C IA D A S A O P E R A R COM O D E P A R T A M E N T O DE M ER C A D O A B E R T O DO BANCO CENTRAL DO B R A S IL A Carta-Circular n2 2.884, de 6 de dezembro de 1999, estabele ce os critérios que uma institui ção tem de atender para operar diretamente com o DEMAB na qualidade de dealer do mercado aberto. O principal critério ob servado pelo banco central é o volume de suas operações e o seu relacionamento com o Ban co Central do Brasil e os demais participantes do mercado. O Ba- cen ainda estabelece que a lista será revista a cada seis meses a contar da data de publicação da Carta-Circular. O Banco Central fixou como 20 o número de insti tuições autorizadas. No cálculo do volume de operações, o Banco Central afe re a participação da instituição nos seguintes itens: ofertas pú blicas, operações definitivas, re cursos próprios, recursos de cli entes, captação via fundos, sal do em carteira própria e repasse de recursos para as demais insti tuições do mercado. No caso de uma instituição já credenciada, por ocasião de sua reavaliação, também será observado seu de sempenho nos leilões informais de títulos e de dinheiro com o Banco Central. Uma vez transcorrido o primeiro período de seis meses, o Banco Central vai descredenci- ar as dez instituições com pior desempenho e as substituirá pe las cinco mais bem classificadas no ranking das instituições não- credenciadas. A partir daí, a re gra passa a ser a de, a cada se mestre, descredenciartrês da lis ta e credenciar três novas insti tuições. trabalançar os fatores causadores da falta ou excesso de liquidez do mercado bancá rio. Assim, se na data de repasse dos impostos ao Tesouro ficam com escassez de re servas - o Banco Central fica oversold - ao realizar uma operação definitiva de com pra de títulos, a autoridade vai atender a necessidade de financiamento das institui ções financeiras naquele dia, mas vai produzir também um quadro de excesso de re servas nos dias seguintes - tomando o banco central undersold, o que vai obrigá-lo a atuar novamente de modo a ajustar a liquidez ao nível desejado. Além de obrigar o Banco Central a atuar mais vezes do que o necessário, a utili zação de operações definitivas para o ajuste fino da liquidez tem como efeito elevar o grau de volatilidade da taxa de juros. Isto porque, no cálculo das propostas feitas pe los bancos para a venda e a subseqüente compra de títulos, os bancos vão exigir, res pectivamente, a menor e a maior taxa de juros possíveis, já que as mesmas vão incor porar as expectativas dos bancos sobre o comportamento da taxa de juros durante o prazo de maturação do papel. Como na situação do Banco Central oversold vai haver uma tendência de alta dos juros, os bancos pressionam o Banco Central pedindo o maior preço (e a menor taxa) pelos seus papéis a fim de se apropriar do movimento esperado da alta dos juros, auferindo um ganho de capital. Quando a autoridade fica OPERACIONALIDADE DA POLÍTICA M ONETÁRIA : FORMAÇÃO DA TAXA DE JUROS 153 undersold, as expectativas são de baixa nos juros. Logo, os bancos vão pedir a maior taxa de juros (ou o menor preço) possível para compensar a perda de capital esperada da posse dos títulos. Estes problemas não ocorrem quando o ajuste é feito através de operações compromissadas porque o Banco Central realiza uma operação com o pra zo ajustado à necessidade do mercado. O s leilões informais (go-arounds) no Brasil são realizados através de um subsistema do Sistema Especial de Liquidação e de Cus tódia (SELIC) denominado LEINF ou Sistema Leilão Informal Ele trônico de Moeda e de Títulos. As normas operacionais para atua ção nesse sistema estão defini das na Circular n - 2.727, de 14 de novembro de 1996. A sistemática nesses lei lões é a seguinte. O Banco Cen tral emite aos dealers uma men sagem através do seu sistema de informação (Sisbacen) chamada de "aviso em dois". Isso quer di zer que daí a dois minutos será divulgado o tipo de atuação da autoridade, se doador ou toma dor de dinheiro. Cada dealer tem aproximadamente dez mi nutos para apresentar suas pro postas de taxa de juros e um prazo um pouco mais elástico para definir as quantidades que desejam tomar ou vender de di nheiro àquela taxa. A existência de um prazo diferenciado para apresentação das propostas de taxa de juros e de quantidade tem por objetivo permitir que os dealers comuni quem ao restante do mercado a intenção do Banco Central e, com isso, possam participar indi retamente do leilão. Nesses ca sos, os dealers negociam basica mente a quantidade, repassan do para as demais instituições a taxa que pretendem cobrar do Banco Central. A duração do leilão infor mal é muito curta, raramente ul trapassando uma hora. Após o recebimento das propostas, o Banco Central inicia sua apura ção. Caso seja doador de reser vas, o critério de classificação será a maior taxa de juros ofer tada, organizando-se os resulta dos em ordem decrescente de taxa de juros. O Bacen define, então, a taxa de corte para aquela operação, isto é, a me nor taxa que estará disposto a aceitar para ofertar reservas. To das as propostas cuja taxa tenha sido igual ou superior à taxa de corte são atendidas. No caso de ser tomador de reservas, o Bacen também vai se utilizar do critério taxa de juros para classificar os resulta dos, só que agora em ordem ascendente. Da mesma forma, vai ser definida uma taxa de corte ou taxa m áxim a aceita para operação. A taxa de corte tem um importante papel na s i nalização do comportamento da taxa de juros. Este box está basedo em Torres (1999, pp. 101-3) 154 CAPÍTULO 8 Outras razões para a preferência por operações compromissadas para o ajuste fino da liquidez são que elas não requerem um mercado com grande liquidez para os títulos que estão sendo negociados - muito embora a sua utilização acabe por estimu lar a liquidez nos mercados desses títulos - e produzem apenas um impacto indireto no preço dos títulos transferidos via aumento ou diminuição da liquidez, sem afetar, portanto, os leilões formais desses papéis. 4 . C o n t r o l e d a l i q u i d e z : LEILÕES PRIMÁRIOS FORMAIS Os leilões primários formais, como já observado, são um instrumento fortemente uti lizado pelo Banco Central para promover o controle da liquidez, só que a um nível mais estrutural ou de médio/longo prazo. Os leilões formais caracterizam-se pelo fato de serem anunciados com razoável antecedência - mínimo de um dia - se comparado ao período de anúncio dos leilões informais, bem como por serem sempre operações definitivas e também sempre operações de venda de papéis. Ao contrário dos leilões informais, em que predominam as expectativas quan to ao custo do dinheiro no curto prazo enquanto fatores determinantes das propostas das instituições, outros elementos entram na formação do preço do título nos leilões formais. Tipicamente são utilizados títulos de emissão do Tesouro nesses leilões que, embora não sendo emitidos expressamente para fins de execução da política monetá ria, vão impactar a liquidez do mercado monetário. Em alguns países, são utilizados também títulos emitidos pelo Banco Central, como é o caso do Brasil (ver Fluxo- grama 8.3). Na maior parte dos casos, utilizam-se papéis pré-fixados na execução da política monetária.4 Tais títulos possuem prazo de maturação curto - em geral um ano - , têm cupom de juros, isto é, fornecem um pagamento de juros em parcelas fi xas e definidas no ato da emissão, e embutem três fontes de ganho para seus deten tores: ganho de capital, cupom de juros e ganho de reinvestimento do cupom.5 Os movimentos da taxa de juros impactam de modo inverso o ganho de capital e o ga nho de reinvestimento do cupom de juros. O cupom de juros, por sua vez, não sofre qualquer influência desses movimentos, já que os mesmos são fixos. Desta forma, elevações na taxa de juros produzem uma perda de capital e um aumento no ganho de reinvestimento, ao passo que quedas na taxa levam a um ganho de capital e a uma perda de reinvestimento. 4. O Brasil é uma exceção, posto que a maior parte dos títulos emitidos, tanto do Banco Central como do Tesouro Nacional, tem sido papéis pós-fixados. 5. O ganho de reinvestimento vem a ser o ganho obtido com o reinvestimento do cupom de juros a cada momento em que ele é devido. Assim, se um título paga um cupom de juros a cada seis meses, uma vez pago o cupom, o mesmo, se não for sacado, vai ser automaticamente reinvestido à taxa de juros corrente. Este é o princípio dos juros compostos ou juros sobre juros. OPERACIONALIDADE DA POLÍTICA M ONETÁRIA : FORMAÇÃO DA TAXA DE JUROS 155 L E I LÃ O F O R M A L DE T ÍT U LO S NO B R A S IL - C O M U N IC A D O DE L E I LÃ O DE NBC-E Divulga condições para acolhimento de propostas para compra de Notas do Banco Central do Brasil - Série Especial (NBCE). O Banco Central do Brasil, tendo em vista o disposto no artigo 10, in ciso XII, da Lei n2 4.595, de 31.12.1964, torna público que acolherá, das 12:00 às 13:00 horas do dia 02.06.2000, propostas das institui ções financeiras participantes do Sistema Oferta Pública Formal Ele trônica (OFPUB), cadastradas de acordo com o Comunicado n2 5.377, de 18.11.1996, para compra de Notas do Banco Central do Brasil - Série Especial (NBCE), de sua carteira, de que tratam Resolução n2 2.673, de 21.12.1999, e a Circular n2 2.960, de 19.01.2000, a preços competitivos, conforme as características abaixo: DATA DA DATA DO TAXA DE CÓDIGO EMISSÃO VENCIMENTO JUROS QUANTIDADE 180792 17.05.2000 18.07.2002 12% ao ano 800.000 4. Na formulação de propostas deverá ser utilizada a cotação com quatro casas decimais. 5. O número de propostas por instituição é limitado a cinco, para cada título ofertado, sendo consideradas, exclusivamente, aquelas mais fa voráveis ao emissor, dentre as confirmadas pela instituição e recebi das pelo Sistema. 6. O Banco Central venderá os títulos a preço único para todas as pro postas aceitas. As instituições financeiras farão lances de cotações máximas por quantidade. O Banco Central acatará aquelas de cota ções iguais ou maiores à mínima por ele aceita, que será aplicada a todas as propostas vencedoras. 2. As pessoas físicas e as demais pessoas jurídicas poderão participar da oferta de que trata este Comunicado por intermédio das institui ções referidas no parágrafo anterior. 3. A presente Oferta Pública será realizada exclusivamente por meio do Sistema Oferta Pública Formal Eletrônica (OFPUB), nos termos do Regulamento do Sistema Especial de Liquidação e de Custódia (SELIC), aprovado pela Circular n2 2.727, de 14.11.1996. 156 CAPÍTULO 8 LE I LÃ O F O R M A L DE T ÍT U LO S NO B R A S IL - C O M U N IC A D O DE L E I L Ã O DE NBC-E 7. A liquidação das propostas aceitas será efetivada por intermédio do Sistema Especial de” Liquidação e de Custódia (SELIC), previsto no M N I-6-3, devendo as instituições que tiverem suas propostas acei tas, total ou parcialmente, promover a atualização de suas contas de custódia no dia 05 .06 .2000 , impreterivelmente, implicando a perda do direito à aquisição o não-cumprimento do disposto neste parágrafo. 8. O preço unitário (PU) a ser utilizado na liquidação financeira será considerado com seis casas decimais, arredondando-se a última ma tematicamente, sendo adotada a seguinte sistemática de cálculo: preço unitário (PU) = x valor par onde cot = cotação com quatro casas decimais; e valor par = x valor nominal na emissão teto sendo: tet = cotação de venda do dólar dos Estados Unidos do dia útil imedia tamente anterior ao da liquidação; e teto = cotação de venda do dólar dos Estados Unidos do dia útil ime diatamente anterior à data da emissão. Rio de Janeiro, 31 de maio de 2000 DEPARTAMENTO DE OPERAÇÕES D O M ERCADO ABERTO - DEMAB Eduardo Hitiro Nakao - Chefe Com isso, o detentor do papel é obrigado a formar uma expectativa quanto ao movimento da taxa de juros ao longo do prazo de maturação do título, calculando o retomo total do mesmo para várias hipóteses de comportamento dos juros.6 Diferentemente do leilão informal, o leilão formal é precedido de um anúncio transmitido eletronicamente para todas as instituições habilitadas a participar do mes mo (ver Box 8.3). Neste anúncio constam os tipos de títulos que serão ofertados e em que quantidades, bem como o tipo de leilão e as quantidades mínimas que têm de ser cotadas. Uma outra diferença frente aos leilões informais refere-se à obrigatoriedade de apresentação de propostas pelos dealers. Aqui, as instituições credenciadas não são obrigadas a apresentar propostas. 6. O cálculo do retomo total é feito através da utilização de conceitos tais como duração e convexidade do papel, os quais medem a sensibilidade do seu preço ante mudanças na taxa de juros. Para detalhes, ver Fabozzi e Modigliani (1992), cap. 14. OPERACIONALIDADE DA POLÍTICA M ONETÁRIA : FORMAÇÃO DA TAXA DE JUROS 157 Os leilões primários podem ser de dois tipos: leilões discriminatórios ou de pre ços múltiplos (English auctions) ou leilões de preço uniforme (Dutch auctions). Nos leilões discriminatórios, cada participante pode apresentar mais de uma proposta de compra dos títulos, discriminando em cada uma delas a quantidade demandada e o respectivo preço de compra do papel. A apuração é feita em ordem decrescente de preço, onde a proposta com maior preço tem toda sua demanda atendida em termos de quantidade. Se a demanda não for suficiente para absorver toda a oferta, uma nova proposta é considerada e assim sucessivamente, até que toda a oferta de títulos tenha sido vendida. Caso a quantidade total demandada da primeira à última proposta con siderada seja inferior à oferta de papéis, o Banco Central pode optar por vender os tí tulos restantes pelo preço imediatamente posterior ao do último lance que foi inte gralmente atendido na sua quantidade e dividir a oferta ainda existente em partes iguais, atendendo os demais demandantes, possivelmente, de modo parcial. Nos leilões de preço uniforme, por seu turno, as propostas também são relacio nadas por ordem decrescente de preço. Todos os participantes do leilão, contudo, pa gam um preço uniforme, igual ao preço da última proposta vencedora na apuração. Aquelas instituições que ofertaram um preço mais elevado que o preço vencedor têm suas demandas em termos de quantidade integralmente atendidas. Por outro lado, aquelas instituições cujo preço é igual ao preço da última proposta vencedora têm suas quantidades parcialmente atendidas, em um esquema de divisão semelhante ao que prevalece nos leilões de preços múltiplos. Título LEILÃO PR IM Á R IO - O PER A Ç Ã O DEFIN IT IVA FLUXOGRAM A 8.3 Mercado Aberto no Brasil 158 CAPÍTULO 8 S I S T E M A E S P E C IA L DE L IQ U ID A Ç Ã O E C U S T Ó D IA (SEL IC ) E T A X A DE J U R O S SEL IC : pre- <Nos >ta de a e o te de tosde nova tenha con- os tí- inte- >artes acio- 3, pa- ação. Ir têm lado, i têm ite ao O SELIC - Sistema Especial de Li quidação e Custódia - é um sis tema para registro e custódia de transações com títulos públicos federais (títulos do Tesouro e do Banco Central) e depósitos inter- financeiros. O SELIC foi criado em 14 de novembro de 1979, em uma parceria do Banco Central do Brasil com a Associação Nacio nal das Instituições do Mercado Aberto - ANDIM A, como forma de dar mais transparência e se gurança às negociações com tí tulos públicos federais que cres ciam a cada ano. Atualmente, o SELIC custodia todos os títulos de emissão do Banco Central do Brasil, do Tesouro Nacional, dos Estados e dos Municípios, bem como os depósitos interfinancei- ros cujos custodiantes sejam bancos múltiplos com carteira comercial, bancos comerciais e caixas econômicas. De acordo com a Circular n2 2.727, de 14 de novembro de 1996, podem participar do SELIC, na qualidade de titulares de conta de registro de títulos, a) o Banco Central do Brasil; b) os bancos múltiplos com carteira comercial, bancos comerciais e caixas econômicas; c) os bancos múltiplos com carteira de inves timento mas sem carteira co mercial, os bancos de investi mentos, as corretoras e as distri buidoras de títulos e valores mo biliários; d) os bancos de desen volvimento e as financeiras; e) as sociedades de arrendamento mercantil; e f) outras pessoas ju rídicas a critério do Banco C en tral do Brasil. Vale notar que apenas as instituições dos gru pos (a) e (b) são consideradas custodiantes. As demais partici pam do SELIC como titulares de conta de subcustódia. As transações realizadas no SELIC têm transferência de custódia e liquidação no mesmo dia (D + 0), isto é, impactam no mesmo dia a conta de reservas das instituições financeiras. A taxa de juros SELIC, por seu turno, é a taxa que baliza a troca de reservas entre as insti tuições financeiras. Especifica mente, a Circular n2 2.900, de 24 de junho de 1999, define a taxa SELIC como a "taxa média ajustada dos financiamentos diários apurados no Sistema Especial de Liquidação e Custó dia (SELIC) para títulos federais". Com isso, ficam incluídas todas as operações de troca de reser vas por um dia entre instituições financeiras e entre essas e o Banco Central no cálculo desta taxa de juros. Essa circular estabelece também que, a partir desta data, a política monetária passa a ser regida pela fixação de metas para a taxa SELIC e seu eventual viés - elevação ou redução po tenciais da meta da SELIC - vi sando ao cumprimento da meta de inflação, conforme estabele cido pelo Decreto n2 3.088, de 21 de junho de 1999. OPERACIONALIDADE DA POLÍTICA MONETÁRIA : FORMAÇÃO DA TAXA DE JUROS 159 O impacto dos leilões primários formais sobre a taxa de juros vai ser deter minado pela capacidade do mercado em absorver os títulos, a qual depende do flu xo monetário definido no gerenciamento da liquidez, bem como da relação entre a quantidade de títulos vincendos e a serem colocados. Assim, a realização do leilão em dias de elevado oversold pode elevar o prêmio de liquidez requerido pelos par ticipantes ou ainda diminuir a demanda pelos papéis. Ambos os efeitos tendem a provocar uma alta na taxa de juros e uma maior dispersão entre as propostas, o que pode dificultar a capacidade do Banco Central em confirmar a taxa de juros cor rente se ela estiver abaixo da taxa praticada no leilão. Por outro lado, o Banco Central pode utilizar esse resultado para elevar a taxa de juros básica da econo mia, caso aceite as propostas do mercado. Quando o estado de liquidez e de expectativas da economia é estável, bem como quando o total de títulos colocados é inferior ao total vincendo, o leilão primário não pressiona a taxa de juros, assim como não se observa um grau de dispersão elevado nas taxas de juros propostas. Em uma situação de grande volatilidade nas expectativas com relação ao com portamento da taxa de juros, o Banco Central tem dificuldade em definir o preço de corte para os títulos. Com isso, a autoridade pode acabar recusando todas as propostas ou, ao aceitá-las em um esquema de leilão discriminatório, acabar enviando sinais equivocados às instituições quanto às suas intenções sobre a direção da taxa de juros, prejudicando a condução da política monetária. 5 . F o r m a ç ã o d a t a x a d e j u r o s NO CURTO PRAZO A atuação do Banco Central no gerenciamento cotidiano da liquidez, somado às reali zações dos leilões primários, define o estado de oferta das reservas por parte do Ban co Central. A taxa de juros de curto prazo, ou taxa básica da economia, nada mais é que o resultado do confronto entre a oferta de reservas, definida pelas atuações do Banco Central nas operações compromissadas e operações definitivas e o saldo do flu xo de entrada e de saída de dinheiro para e do sistema bancário, com a demanda por re servas dessas instituições definida pelas suas necessidades de atender às exigibilidades compulsórias e seus compromissos com o setor não-monetário da economia. O Banco Central, portanto, atua sinalizando para as instituições quais serão as condições prevalecentes no mercado de reserva no dia e ao longo de um período mais extenso de tempo. A maneira mais usual de evitar ruídos nessa comunicação é através do anúncio de metas para taxa de juros. O Federal Reserve e o Banco Central do Brasil, por exemplo, adotam esse modelo. De modo a operacionalizar a decisão quanto à taxa de juros de curto prazo ou taxa básica da economia - uma vez que o que está sendo deci dido é o custo do dinheiro no curto prazo - os bancos centrais instituem comitês de política monetária que decidem e anunciam as determinações para o público. Além de fixar a taxa de juros básica da economia, e com isso sinalizar as condições vigentes para o mercado de reservas, alguns bancos centrais também definem uma programa 160 CAPÍTULO 8 ção monetária com vistas a indicar qual será o objetivo a ser perseguido em termos de agregados monetários para um determinado período de tempo. Com base nessas metas, e levando em consideração suas estimativas para a evo lução autônoma das reservas, o Banco Central toma suas decisões de expandir ou contrair a oferta de reservas de modo a atender seus objetivos de curto, médio e longo prazo para a taxa de juros. Para a autoridade monetária, as metas de juros atuam en quanto metas operacionais para atender seus objetivos no que se refere a inflação e/ou produto e emprego. Deste modo, o Banco Central pode, por um lado, definir - con juntamente com o Tesouro - um calendário de colocação de títulos nos leilões primá rios e, por outro lado, atuar no dia-a-dia de modo a manter a taxa de juros no patamar definido previamente como adequado pela autoridade monetária. De modo a alterar o patamar da taxa de juros básica da economia, o Banco Central pode gerenciar a liquidez a fim de que o mercado fique com escassez de reservas, obri gando os bancos a tomar emprestado junto ao Banco Central, aceitando uma taxa mais elevada, o que acaba por tomá-la efetiva. O anúncio de metas de taxa de juros acaba evitando uma atuação mais contundente do Banco Central por sinalizar, sem maiores ruídos, a intenção da autoridade. Como o Banco Central é um ofertante monopolista no mercado de reserva, os agentes têm consciência da sua capacidade de determinar a taxa de juros de curto prazo desejada. Uma vez que essa taxa tenha sido tomada explícita, não há por que atuar na direção oposta àquela pretendida pela autoridade. É importante destacar, contudo, que a ação do Banco Central não se faz completa mente à parte das expectativas e desejos dos bancos. As razões que levam a autoridade a ouvir o mercado são basicamente de duas ordens. Em primeiro lugar, a determinação da taxa de juros não pode ser feita a expensas de questões como solvência dos bancos. Isto significa que o Banco Central, na sua tarefa de determinar a taxa de juros de curto prazo, não pode - a rigor - agravar as condições de liquidez dos bancos, sob pena de fragilizá-los em excesso, pondo em risco a saúde de todo o sistema financeiro. Desta forma, determinadas situações podem fazer com que o Banco Central ex panda a oferta de reservas além do que havia sido programado, produzindo um im pacto baixista na taxa de juros, o que vai obrigar à tomada de ações compensatórias também não-programadas no futuro. Em segundo lugar, o Banco Central conduz suas operações também com base na persuasão. Essa persuasão vai funcionar de modo tão mais efetivo quanto menos as ações da autoridade implicarem perdas para os participantes do mercado. Assim, os bancos, quando tomam decisões com relação à compra de títulos, em especial nos leilões formais, estão apoiados em uma expectativa quanto à evolução futura da taxa de juros básica. Essa expectativa é utilizada para formar as outras taxas cobradas nas suas outras operações. Da confirmação de suas expectativas é que vai depender boa parte do spread - diferença entre a taxa média de aplicação e a taxa média de captação do banco - auferido pela instituição. Esse quadro é particularmente importante em um ambiente de elevação esperada da taxa de juros, como será explicado a seguir. Se, por exemplo, o banco espera uma elevação na taxa de juros básica de dois pontos percentuais em um horizonte de 6 meses, uma elevação de 4 pontos percen tuais por força de uma ação de política poderá implicar a ocorrência do risco da taxa OPERACIONALIDADE DA POLÍTICA MONETÁRIA: FORMAÇÃO DA TAXA DE JUROS 161 de juros, em especial se o ambiente de concorrência bancária for tal que os spreads sejam curtos. O risco da taxa de juros nada mais é que o risco do banco - diante de uma elevação da taxa de juros mais acentuada que o esperado - acabar sendo obriga do a pagar um custo de captação - seja junto aos clientes, seja junto ao Banco Central - maior que a receita média que está auferindo com suas aplicações, o que obviamen te resultaria em um spread negativo para a instituição. A fim de evitar esse tipo de ocorrência, que tem efeitos desestabilizadores, o Banco Central procura definir suas ações de política de modo a não frustrar em dema sia as expectativas das instituições financeiras quanto à evolução da taxa básica de ju ros. Esse é o chamado consenso de mercado. Re s u m o 1. O mercado de reservas bancárias é o mercado através do qual os bancos realizam suas operações financeiras. Cada vez que um agente não-financeiro faz um depósito em moeda ou compra um título emitido pelo banco vai haver um impacto na conta de reservas bancá rias da instituição. Essa conta é a conta corrente que os bancos mantêm no Banco Central para fins de execução de suas operações com o restante do sistema econômico e entre si. Na ocorrência cotidiana de perdas e ganhos de saldos de reservas bancárias entre as institui ções financeiras, surgem excessos e deficiências quanto à exigibilidade do Banco Central; os bancos acabam trocando reservas entre si pelo prazo de um dia, com lastro em títulos públicos federais. Como o sistema bancário como um todo não é capaz de criar ou destruir reservas bancárias, resta ao Banco Central, como única instituição com poder de criar ou destruir primariamente moeda, exercer o controle da liquidez 2. De modo a promover o ajuste adequado da liquidez do sistema bancário para atender seus propósitos de política, o Banco Central cotidianamente faz previsões quanto ao saldo con solidado de reservas do sistema bancário. A intenção da autoridade é garantir a taxa de ju ros definida pelas suas decisões de política sem, contudo, elevar sobremaneira o grau de fragilidade do sistema bancário, o que poria em risco todo o sistema financeiro. A variação da liquidez pode se dar de forma autônoma e não-autônoma em relação ao Banco Central. A variação não-autônoma decorre da ação do Banco Central enquanto gerenciador da li quidez. A mesma é determinada basicamente pelas exigibilidades compulsórias. Já a vari ação autônoma decorre de mudanças nos ativos externos líquidos, nos empréstimos ao governo, na preferência do público em reter papel-moeda e das variações dos depósitos do Tesouro Nacional. O Banco Central, ao realizar sua tarefa de prever a liquidez, vai estar basicamente inferindo a respeito desses fatores. 3. O controle da liquidez pelo lado da oferta pode se dar por dois tipos de operações, ambas no âmbito do mercado aberto: operações compromissadas ou leilões informais e leilões formais. As operações compromissadas são o instrumento mais utilizado pelo Banco Cen tral para fazer o ajuste fino da liquidez. Nessas operações, o Banco Central negocia dinhei ro com os bancos (como doador ou tomador), com a garantia representada pela caução de títulos públicos federais. Nesses leilões, o Banco Central pode operar apenas com institui ções credenciadas (dealers). Quando o objeto de negociação no leilão informal são títulos federais, estas operações são ditas definitivas, as quais englobam também os leilões for mais de títulos. A diferença entre eles e os leilões informais de mesma natureza refere-se à 162 CAPÍTULO 8 antecedência com que são comunicados - no mínimo uma hora antes da sua realização ao modo como são informados, através de comunicado, contra contatos telefônicos no caso dos leilões informais, e à abertura para a participação de todas as instituições finance iras, credenciadas ou não. 4. A. formação da taxa de juros de curto prazo vai depender das inferências do Banco Central quanto às condições no mercado de reservas, bem como quanto a suas metas intermediá rias e finais. Assim, o Banco Central decide, com base em uma série de critérios, muitos dos quais explicitados nos relatórios dos comitês de política monetária, qual a taxa de juros adequada para a operação da economia. A partir daí, vai procurar “fazer” essa taxa no mer cado bancário, criando um “consenso” a respeito da taxa de juros que deve prevalecer. Isto é feito com base na combinação dos instrumentos de política que tem a seu dispor. O reco lhimento compulsório é utilizado para moldar parcialmente a demanda por reservas e o mercado aberto é a arena para os ajustes de oferta. No dia-a-dia, a autoridade ajusta a oferta à demanda de modo a produzir uma trajetória suave - com baixa volatilidade - na taxa de juros compatível com as metas anunciadas. Isto é feito basicamente através de operações compromissadas e leilões informais de títulos e dinheiro. Os leilões formais são utilizados para configurar o nível normal de liquidez no mercado monetário. Te r m o s -c h a v e ■ Reservas Bancárias ■ Previsão de Liquidez ■ “Dealers” ■ Leilão Primário ■ Leilões Informais ■ Operações Compromissadas ■ Taxa de Juros Básica Q u e s t õ e s p a r a d is c u s s ã o 1. Defina o que vem a ser “mercado de reservas bancárias” e “conta de reservas bancárias”. 2. Mostre por que as operações compromissadas são mais adequadas para condução do ajuste fino da liquidez do mercado monetário que as operações definitivas. 3. Discuta as vantagens do leilão de preço uniforme sobre o leilão de preços múltiplos sob o ponto de vista do emissor do título. 4. Mostre por que a determinação da oferta total de reservas não está totalmente sob controle do Banco Central. 5. Comente a seguinte afirmação: “A execução da política monetária pode ser desdobrada em dois aspectos: o primeiro é o gerenciamento de liquidez diário (...) [e] o segundo é a sinali zação.” (Torres, 1999, pp. 26-7). 6. Discuta a relação entre a taxa de juros básica e o custo do dinheiro no curto prazo. BIBLIOGRAFIA COMENTADA Torres, M. A Operacionalidade da Política Monetária no Brasil. Campinas, Tese de Doutorado, 1999. OPERACIONALIDADE DA POLÍTICA MONETÁRIA : FORMAÇÃO DA TAXA DE JUROS 163 Tese de doutorado que trata da operacionalidade da política monetária em um nível ge ral, mostrando como funciona o mercado de reservas bancárias, assim como o modus operan- di dos instrumentos de política monetária. Material bastante rico sobre os procedimentos operacionais dos instrumentos no Brasil. Meulendyke, A. U.S. Monetary Policy and Financial Markets. Nova York, Federal Re serve Bank of New York, 1998. Caps. 1, 5, 6 e 7. Estes capítulos mostram a política monetária do Banco Central americano em ação. O primeiro apresenta um panorama da relação entre política monetária e mercado monetário e quais os instrumentos à disposição do Banco Central para executar sua política. Os capítulos seguintes tratam da determinação das estratégias da política monetária, começando pela men- suração da liquidez no mercado monetário, passando para as linhas-mestras de ação, mostran do como o Comitê de Mercado Aberto (FOMC) toma suas decisões, chegando por fim à condução propriamente dita da política monetária. Mostra também como é um dia típico na mesa de mercado aberto do Banco Central. European Central Bank (ECB). The Single Monetary Policy in Stage Three. General Documentation on ESCB Monetary Policy Instruments and Procedures. Frankfurt am Main, Kem & Bimer, 1998. Documento de caráter mais técnico-operacional onde são apresentados todos os proce dimentos dos instrumentos de política monetária utilizados pelo Banco Central Europeu. Fabozzi, F. e Modigliani, F. Capital Markets: Institutions and Instruments. New Jersey, Prentice-Hall, 1992. Caps. 13 e 14. 164 CAPÍTULO 8