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Caracterização
de Alimentos
para Ruminantes
Parte 1
43
CARACTERIZAÇÃO DE ALIMENTOS PARA RUMINANTES
Prof. Dr. Antonio Ferriani Branco
PhD em Nutrição e Produção de Ruminantes
A terceira aula do curso tem como principais objetivos preparar os
participantes para interpretar informações referentes à composição e outras
características dos alimentos utilizados em nutrição de ruminantes, que sejam
importantes para formulação de dietas balanceadas e, para assim, atendermos às
exigências desses animais.
A caracterização dos alimentos é fundamental para que se tenha êxito na
utilização adequada dos mesmos na alimentação dos animais. No processo de
caracterização dos alimentos é importante conhecê-los quanto à composição
química-bromatológica, bem como quanto à presença de fatores antinutricionais
ou outras características que possam limitar o uso na alimentação animal.
No processo de caracterização é avaliada também a capacidade que os
alimentos têm em disponibilizar seus nutrientes para os processos metabólicos do
organismo animal. Isto é feito, em princípio, através da determinação da
digestibilidade dos componentes do alimento, ou seja, a proteína, os carboidratos
e os lipídeos e, a biodisponibilidade dos minerais. Além disso, outro ponto muito
importante refere-se à avaliação da ingestão dos diferentes alimentos pelos
animais.
Os alimentos são compostos basicamente por seis grupos de nutrientes:
1) Água
2) Proteínas
3) Lipídeos
4) Carboidratos
5) Minerais
6) Vitaminas
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As análises químicas realizadas rotineiramente nos laboratórios de Nutrição
Animal fornecem informações a respeito de todos estes componentes.
Os alimentos utilizados em dietas de ruminantes normalmente não são
classificados da mesma forma que para espécies não ruminantes. Além disso,
temos que considerar que alguns alimentos usados para estas espécies
apresentam características que dificultam classifica-los nesta ou aquela categoria.
Uma classificação bastante razoável para alimentos usados em dietas de
ruminantes pode ser dada como segue.
Classificação dos alimentos
1) Volumosos:
a. Secos
i. Fenos
ii. Resíduos Agrícolas
b. Úmidos
i. Pastagens
ii. Forragens Verdes
iii. Forragens Conservadas
2) Concentrados
a. Protéicos
b. Energéticos
3) Sub-produtos da Agroindústria
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Normalmente as tabelas de composição de alimentos para gado de corte
trazem a composição com base na matéria seca (MS) e, encontramos sua
composição da seguinte forma: % de NDT, EM (Mcal/kg de MS), ELm (Mcal/kg de
MS) e ELg(Mcal/kg de MS), % PB, % PDR, % PNDR, %FDN, % FDNe, % FDA e a
composição mineral, sendo os macroelementos dados em % e os microelementos
dados em ppm ou mg/kg de MS. Além disso, as tabelas trazem a composição para
as vitaminas A, D e E todas em UI/kg de MS.
O sistema rotineiramente mais utilizado nos laboratórios ainda é o Sistema
Weende ou Análise Proximal, desenvolvido em 1860, na Alemanha. Neste sistema
os alimentos são divididos em água e matéria seca. A matéria seca por seu lado é
dividida em cinco componentes que são: proteína bruta, fibra bruta, matéria
mineral (cinzas), extrato etéreo e extrato não nitrogenado.
Sistema Weende (Análise Proximal)
Matéria Seca
A primeira divisão, em água e matéria seca, é feita através da secagem da
amostra em estufa à temperatura de 105°C (ASE). Amostras que contenham mais
de 20% de umidade devem ser submetidas a uma pré-secagem para obtenção
daquilo que chamamos de amostra seca ao ar (ASA). A determinação da ASA é
feita em estufa com ventilação forçada de ar a temperatura de 55oC, por períodos
que variam de 48 a 96 horas dependendo do teor de umidade original do alimento.
Deve-se observar que temperaturas superiores à 60oC podem produzir alterações
químicas nas amostras que vão alterar as análises subseqüentes de fibra, lignina
e nitrogênio insolúvel em detergente ácido. Estes procedimentos não são os mais
recomendados para alimentos fermentados, como as silagens, que têm em sua
composição, os chamados ácidos graxos voláteis. Neste caso, um método muito
utilizado é o do tolueno. Após a secagem do material, determina-se a matéria seca
(MS), que é MS = 100 – H2O.
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No caso de ruminantes é fundamental a determinação da matéria seca dos
alimentos. Estes animais têm em seu hábito alimentar muitos alimentos ricos em
água e, além disso, o teor de água dos alimentos tem efeito sobre a ingestão de
alimentos fazendo-se necessário o conhecimento da umidade. Como há uma
grande variação no teor de umidade dos alimentos, para compará-los é importante
que todos estejam numa mesma base, ou seja, matéria seca.
A partir do momento que a amostra está seca, o sistema Weende analisa-a
e divide-a em cinco partes, como citado acima.
Matéria Mineral (MM)
A matéria mineral, também chamada de cinzas ou matéria inorgânica, é
determinada em uma mufla, pela exposição de uma sub-amostra da amostra
principal a uma temperatura que varia de 550 °C, por 8 horas. Dessa forma, toda
matéria orgânica é queimada e no resíduo restará apenas a matéria mineral. A
análise de matéria mineral tem pouco valor sob o ponto de vista nutricional. Tal
fato decorre principalmente da contaminação de muitos alimentos com solo. A
análise de matéria mineral é importante para obtenção da matéria orgânica e,
também, para avaliação de prováveis adulterações em determinados alimentos.
Obviamente que para conhecimento da riqueza mineral de uma determinada
amostra deve-se realizar análises dos minerais separadamente. Portanto, MO =
MS – MM.
Proteína Bruta (PB)
A proteína bruta do alimento nada mais é do que o resultado da análise de
uma determinada amostra quanto ao teor de nitrogênio total que contém. No
sistema Weende de análise considera-se que as proteínas têm em média, 16% de
nitrogênio e, portanto, com a determinação do valor de N total do alimento,
multiplicando este valor por 6,25 (100/16) encontramos o valor de PB. Neste
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sistema de análise a amostra é exposta a uma digestão ácida (ácido sulfúrico +
catalisadores) sob aquecimento, tendo como produto final o sulfato de amônio
((NH4)2SO4) que contém todo o N da amostra. Em seguida, através de destilação
usando NaOH (50%) ocorre a liberação de amônia, que é levada até um recipiente
contendo uma solução 2% de ácido bórico (H3BO3) além dos indicadores
vermelho de metila e verde de bromocresol. A reação da amônia com o ácido
bórico produz o borato ácido de amônio (NH4H2BO3) que é determinado por
titulação com o ácido clorídrico padronizado.
Vale ressaltar que uma parte significativa do nitrogênio do alimento pode
estar na forma de nitrogênio não protéico. A caracterização das diferentes frações
do N total de alimentos para ruminantes tem sofrido mudanças, as quais serão
vistas mais à frente.
Extrato Etéreo (EE)
O extrato etéreo é obtido pela exposição de uma determinada amostra de
alimento sob lavagem constante com um solvente orgânico, no caso, o éter de
petróleo é o mais utilizado. O processo ocorre sob aquecimento e a lavagem da
amostra ocorre pela passagem do éter pela mesma retirando todo extrato etéreo.
A diferença de peso entre a amostra original e o resíduo nos dará a concentração
de extrato etéreo do alimento. Nesta análise são extraídos não apenas os lipídeos
verdadeiros, mas também, outras moléculas solúveis em solventes orgânicos tais
como, vitaminas lipossolúveis, pigmentos e ceras.
Fibra Bruta (FB)
A determinação da fibra bruta também ocorre sob aquecimento
e é obtida
pela exposição de uma amostra de alimento a uma solução ácida e em seguida
outra solução básica. Após essas duas soluções terem agido sobre a amostra,
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procede-se à filtragem e por diferença entre o peso da amostra original e o peso
do resíduo obtém-se a concentração de fibra bruta da amostra.
Na nutrição de ruminantes, a fibra bruta é uma análise que tem merecido
pouca atenção face os problemas de interpretação que ocorrem quando se usa
esta informação. A análise de fibra bruta tem sido substituída pelo sistema
detergente desenvolvido por Van Soest e colaboradores.
O principal problema quando se determina FB é a quantidade variável de
lignina que ocorre nos alimentos, a qual não é digestível, e que é removida
durante esta determinação. Esta lignina removida juntamente com a hemicelulose
vai fazer parte da fração extrato não nitrogenado, que deve ter uma digestibilidade
maior que a FB. No entanto, em vários casos, a digestibilidade do EÑN é inferior à
da FB face à grande contaminação com lignina, principalmente. Neste caso,
superestima-se o valor de forrageiras de baixa qualidade em detrimento daquelas
de melhor qualidade.
Extrato Não Nitrogenado
O extrato não nitrogenado é obtido por diferença deduzindo-se de 100 os
valores de cada determinação anteriormente descrita. Ou seja:
EÑN = 100 – PB – EE – FB – MM.
Sistema Detergente (FDN e FDA)
No sistema detergente (Van Soest, 1994) a amostra é exposta
primeiramente ao detergente neutro (pH sete). Após a exposição ao detergente
neutro, procede-se a uma filtragem que separa o conteúdo celular, solúvel, da
parede celular ou fibra em detergente neutro (FDN), ou seja, o resíduo retido na
filtragem. O conteúdo celular (CC) contém amido, proteínas, lipídeos e outros
compostos com digestibilidade de praticamente 100%. A parede celular é
composta por hemicelulose, celulose e lignina. Portanto:
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FDN = MS – CC, ou seja, basicamente:
FDN = Hemicelulose + Celulose + Lignina.
Dessa forma, a fibra em detergente neutro (FDN) é o mesmo que parede
celular (PC). A FDN tem uma digestibilidade que varia de 20 a 80% dependendo
da espécie forrageira e estádio de maturidade. Em seguida a amostra é exposta
ao detergente ácido (pH 2) que solubiliza a hemicelulose e, após a filtragem
ficamos com o resíduo retido que é denominado de fibra em detergente ácido
(FDA). Portanto: Hemicelulose = FDN – FDA e FDA = Celulose + Lignina
É importante destacar que duas forragens com o mesmo teor de FDA (25%)
podem ter qualidade totalmente diferente. A forragem A pode ter 20% de celulose
e 5% de lignina e, a forragem B pode ter 15% de celulose e 10% de lignina. Com
certeza a forragem A será mais digestível. A FDN tem uma forte correlação com
ingestão de alimentos em ruminantes (Figura 1) e a FDA uma forte correlação
com a digestibilidade da MS. Na Figura 2 vemos algumas relações importantes
entre parede celular, ingestão de matéria seca, digestibilidade e NDT.
FDN (% da MS)
Figura 1 – Relação entre % de FDN do alimento e a ingestão de MS
(Undersander e Moore, 2004).
Ingestão de MS
(% do peso vivo)
50
Figura 2 – Relação entre parede celular e conteúdo celular nas forrageiras.
Baixo teor de Parede Celular: Alto Teor de Parede Celular:
- ↓ FDN = ↑ Ingestão - ↑ FDN = ↓ Ingestão
- ↓ FDA = ↑ NDT - ↑ FDA = ↓ NDT
Na Tabela 1 pode-se observar a classificação das frações de um alimento
volumoso segundo o método de Van Soest e na Figura 3 podem ser observadas
as principais diferenças entre a determinação da fibra bruta pelo sistema Weende
e de FDN e FDA pelo sistema detergente.
Conteúdo
Celular
Parede
Celular
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Tabela 1 – Classificação das frações da forragem usando o método Van Soest
Fração Componentes Disponibilidade
Nutricional
• Açúcares, amido e pectina Completa
• Carboidratos solúveis Completa
• Proteína e nitrogênio não protéico Alta
• Lipídeos Alta
Conteúdo Celular
• Outros solúveis Alta
• Hemicelulose Parcial
• Celulose Parcial
• Proteína danificada pelo calor Indigestível
• Lignina Indigestível
Parede Celular
(FDN)
• Sílica Indigestível
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Análise Proximal
(Weende)
Fração Química Análise Van Soest
(Sistema Detergente)
↑
Matéria Mineral (1) *
↓
Matéria Mineral Solúvel
↑
Extrato Etéreo
↓
Lipídeos, Pigmentos, etc.
↑
Proteína Bruta
↓
Proteína, NÑP, etc.
Açúcares, Amido e Pectina.
Conteúdo Celular
(Solúveis em Detergente
Neutro)
Extrato Não
Nitrogenado
Hemicelulose
Álcali
Solúvel
Álcali
Insolúvel
Lignina
Fibra Bruta
Celulose
FDA
Parede Celular
FDN
↑
Matéria Mineral (2) *
↓
Cinza Insolúvel (Sílica)
* Matéria Mineral Total do Sistema Weende consiste de MM (1) + MM (2)
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Figura 3 - Comparação entre os sistemas Weende e Van Soest.
Partição do Nitrogênio Total (Nt) dos Alimentos
O NRC (2000) adotou uma nova metodologia de análise do nitrogênio total
dos alimentos que foi introduzida a partir de trabalhos realizados na Universidade
de Cornell. O novo esquema de análises está descrito na Figura 4.
Neste método o nitrogênio total de uma amostra é dividido em 5 frações: A,
B1, B2, B3 e C. Neste método de análise a amostra é subdividida em sub-amostras
sendo a primeira tratada com uma solução de ácido tricloroacético (TCA) que
precipita toda a proteína verdadeira. Após a filtragem separamos o nitrogênio não
protéico (solúvel) do resíduo (proteínas). Se o N insolúvel em TCA for denominado
N1, temos:
A (% do N total) = Nt – N1 x 100
Nt
Em seguida, trata-se outra subamostra com uma solução de tampão borato-
fosfato (TBA), que solubiliza todo N solúvel incluindo a fração A (nitrogênio não
protéico) e a B1 (proteína solúvel). Após a filtragem têm-se as proteínas insolúveis
em TBA retida no resíduo. Se este resíduo for denominado N2, temos
B1 (% do Nt) = N1 – N2 x 100
Nt
Em seguida uma sub-amostra é tratada com detergente neutro e o
nitrogênio do resíduo é analisado. Assim, obtemos o FDNn que é denominado de
NIDN (nitrogênio insolúvel em detergente neutro) e a fração B2, que nada mais é
que:
B2 (% do Nt) = N2 – NIDN x 100
Nt
Nesta fração encontram-se as proteínas citoplasmáticas insolúveis. No
próximo passo, uma sub-amostra é tratada com detergente ácido e o nitrogênio do
resíduo é analisado. Assim obtém-se a FDAn denominada de NIDA (nitrogênio
insolúvel em detergente ácido) que é a fração C e a fração B3.
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B3 (% do Nt) = NIDN – NIDA x 100
Nt
A fração B3 é composta por proteínas ligadas à parede celular.
A fração C normalmente é denominada de NIDA e se convertida em
proteína (NIDA x 6,25) é denominada de PIDA ou, proteína insolúvel em
detergente ácido. Esta fração não é utilizada pelos ruminantes e, quando seu valor
excede a 12% da proteína bruta do alimento (exemplo: alimento com 12% de PB e
mais de 1,44% de PIDA) significa que ocorrerá queda na digestibilidade da
proteína bruta do alimento.
As proteínas componentes das diferentes
frações estão descritas na Tabela
2.
Figura 4 – Partição do nitrogênio total dos alimentos.
Partição da Proteína no Sistema N RC (1996)
B1
TCA
Solúvel
A
B1
Insolúvel
B2 / B3
C
Tampão Borato
Solúvel
A
B1 / B2
Insolúvel
B3
C
Detergente Neutro
Solúvel
A
B1 / B2 / B3
Insolúvel
C
Detergente Ácido
Total
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Tabela 2 – Componentes das diferentes frações do nitrogênio dos alimentos
Fração Composição Degradabilidade
Ruminal (%/hora)
Digestibilidade
Intestinal (%)
A NH3, NO3, AA e Peptídeos Instantânea Não atinge o
intestino
B1 Globulinas
Algumas Albuminas
200 – 300 100
B2 Maioria Albuminas
Glutelinas
5 – 15 100
B3 Prolaminas
Proteínas Desnaturadas
0,1 – 1,5 80
C Produtos de Maillard
Proteínas ligadas a Lignina
0 0
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Degradabilidade Ruminal da Proteína
Ainda com relação à proteína é importante entender outra definição, a de
proteína degradável no rúmen (PDR) e proteína não degradável no rúmen
(PNDR), também chamada de proteína by-pass ou proteína de escape. Apesar
das primeiras tentativas terem ocorrido no início do século passado, este conceito
foi cristalizado a partir dos trabalhos de Orskov e & McDonald (1979).
A soma dos valores de PDR e PÑDR deve resultar em 100, pois ambas são
dadas em referência à proteína bruta, ou seja, proteína total do alimento. Dessa
forma, se a PDR é igual a 70%, a PNDR será igual a 30%, ambas em relação aos
100% de PB do alimento. Neste caso, se o alimento tem 9% de PB tem-se 6,3%
de PDR e 2,7% de PÑDR.
Essa informação é obtida pela incubação ruminal de amostras de um
mesmo alimento em sacos de náilon por vários tempos. Para esta determinação
precisamos de animais fistulados no rúmen. As amostras são pesadas em
colocadas em saquinhos de náilon, um saquinho para cada tempo. Exemplo: 0, 3,
6, 12, 18, 24, 36, 48, 72 horas. Normalmente vamos incubando os saquinhos num
planejamento de horários de forma que possamos tirá-los ao mesmo tempo. Após
a incubação os saquinhos de náilon são lavados e secos e, em seguida
determina-se o N de cada amostra. Dessa forma, constrói-se uma curva de
desaparecimento da PB do alimento (Figura 5). Essa degradação denomina-se de
degradação potencial da proteína bruta e é obtida pela fórmula abaixo:
P = a + b ( 1 - exp -ct ) onde:
P = degradação potencial da proteína;
a = fração solúvel da proteína e completamente degradável;
b = fração insolúvel, mas potencialmente degradável;
c = taxa de degradação da fração b;
t = tempo de incubação
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Figura 5 – Curvas da degradação potencial da proteína bruta de 4 dietas
(Mouro et al. , 2002).
O conhecimento da degradabilidade potencial (P) da proteína de um
determinado alimento é o primeiro passo, mas o mais importante é saber quanto
realmente é efetivamente degradável e, esta informação depende da taxa de
passagem (k) do material particulado através do rúmen. Quanto menor a taxa
maior a degradabilidade efetiva (DE), o contrário é verdadeiro. A fórmula usada
para calcular a DE é:
DE = a + [ ( b . c ) / ( c + k ) ]
a, b e c = mesmos da equação anterior;
k = taxa de fluxo de partículas do rúmen.
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Considerando uma taxa de passagem (k) de 5%, para as dietas da Figura X
a degradabilidade efetiva foram 52,0 (T0), 55,2 (T33), 57,6 (T67) e 60,9% (T100),
respectivamente.
Fracionamento dos Carboidratos dos Alimentos
Atualmente os carboidratos presentes nos alimentos são analisados e
divididos em 4 diferentes frações: A, B1, B2 e C. A fração A contém açúcares, a B1
contém amido e pectina, a B2 contém os carboidratos de parede celular que são
digestíveis e a C contém os carboidratos de parede celular indigestíveis (Sniffen et
al., 1992).
Inicialmente tem-se os carboidratos totais (CHOT):
CHOT = 100 – PB – EE – MM
Usando as equações de Sniffen et al. (1992) conforme descrito abaixo se
pode caracterizar as diferentes frações em percentagem dos CHOT.
C = 100 [(FDN x 0,01 x Lignina (% do FDN) x 2,4)/CHOT]
B2 = 100 {[(FDN - (PIDN x 0,01 x PB)) - C]/CHOT}
CNE = 100 - B2 – C
B1 = [AMIDO (%CNE) x (CNE)] / 100
A = [(100 - AMIDO) x (CNE)] / 100
Para isso há necessidade de análises de: FDN, nitrogênio da FDN (PIDN),
PB, lignina e amido.
Caracterização da Energia dos Alimentos
Os alimentos utilizados nas dietas de ruminantes podem ser caracterizados
quanto à concentração em energia, a qual pode ser apresentada de diferentes
formas. O sistema proximal de análises permite calcular o NDT dos diferentes
alimentos a partir da análise de composição e da digestibilidade da proteína, da
fibra bruta, do extrato etéreo, e do extrato não nitrogenado. O NDT expressa a
concentração em energia dos alimentos na forma de % ou em kg/kg de MS.
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NDT = PBD + FBD + EÑND + (EED x 2,25), onde:
PBD = proteína bruta digestível;
FBD = fibra bruta digestível;
EÑND = extrato não nitrogenado digestível;
EED = extrato etéreo digestível.
O cálculo do NDT considera que os lipídeos contêm 2,25 vezes mais
energia que carboidratos e proteínas. Os valores 2,25 : 1 : 1 significam 9 : 4 :4, ou
seja, 9 kcal/g para lipídeos e 4 kcal/g para carboidratos e proteínas. Estes valores
foram obtidos com humanos e são dos valores calóricos fisiológicos. No cálculo do
NDT são consideradas as perdas urinárias.
O NDT ainda é o sistema mais utilizado pelos técnicos de campo. É um
sistema de fácil entendimento, com uma base de dados muito grande e de muita
tradição.
Problemas ligados ao NDT:
1) Não considera as diferenças na eficiência de uso da energia para
manutenção e as diferentes funções produtivas;
2) A separação da FB e do EÑN da amostra não é satisfatória, pois são
materiais de digestibilidade muito diferente. O NDT superestima o
valor das forragens em relação aos concentrados;
3) Não quantifica as perdas através de gases e de calor, que são muito
maior para forragens que para alimentos concentrados;
4) As perdas urinárias são consideradas duas vezes pois quando
consideramos o valor energético da proteína igual a 4 kcal/g, já
foram descontadas estas perdas.
Mais recentemente tem-se utilizado as equações desenvolvidas por Weiss
(1998) na Universidade do Estado de Ohio - USA, conforme Tabela 3.
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Tabela 3 - Equações da Ohio State University para estimar o NDT dos alimentos
para ruminantesa
Fração do Alimento Equação para estimar o material
verdadeiramente digestível
[1 a] PB de forragens (dPB) PB x e-0,012 x NIDA
[1 b] PB de concentrados (dPB) PB x [1 – (0,004 x NIDA)]
[2] Carboidratos não fibrosos (dCÑF) 0,98 x (100 – FDNPB – PB – MM – EE)
[3] Extrato Etéreo (dEE) 0,90 x (EE –1) x 3,0
[4] FDN (dFDN) 0,75 x (FDNPB – L) x [1 – (L/FDNPB)0,067]
Dieta Total
NDT, %b {[1 a] ou [1 b]} + [2] + [3] + [4] – 7
a PB = proteína bruta; NIDA = nitrogênio insolúvel em detergente ácido (% N total); FDNn = FDN
livre de PB; EE = extrato etéreo; L = lignina em ácido dulfúrico. Todos os valores exceto NIDA são
expressos como % da MS.
b Os valores obtidos em cada equação são somados e então 7 é subtraído.
A energia bruta de um alimento não expressa seu valor nutricional, ou seja,
podem-se ter dois alimentos com o mesmo valor de energia bruta e, no entanto,
eles podem apresentar valores totalmente diferentes de energia disponível para os
processos metabólicos. A energia bruta é o ponto de partida para a avaliação do
valor energético de um alimento e é obtida pela oxidação completa de uma
determinada amostra numa
bomba calorimétrica, que é o aparelho usado para
esta avaliação. O termo energia bruta expressa o calor de combustão de um
determinado alimento, ou seja, a quantidade de calor liberado pela completa
oxidação dos nutrientes que compõem a matéria orgânica a CO2 e H2O.
Após a ingestão de alimento pelo animal porções de sua energia vão se
perdendo e teremos então, a partição biológica da energia (Figura 6). Parte da
energia que é consumida será excretada através das fezes e denominada de
61
energia fecal. A energia bruta menos a energia excretada nas fezes (EF) dá a
energia digestível.
ED = EB – EF
A ED tem uma relação com NDT da seguinte forma:
1kg de NDT = 4,41 Mcal de ED.
Para obtenção do valor de ED (Mcal/kg de MS) a partir do NDT basta
multiplicar a %NDT do alimento ou ração por 0,0441.
Além desta perda, ocorre a excreção de parte da energia absorvida do
alimento através da urina (EU). No caso de ruminantes, ocorre ainda uma perda
significativa de energia através dos gases (EG) produzidos durante a fermentação
ruminal, representada pelo CH4 (metano). Esta perda de energia através do
metano pode representar de 3 a 8% de toda a EB do alimento. Descontando da
energia digestível aquela perdida através da urina e dos gases resta a energia
metabolizável (EM). Assim:
EM = ED – EG – EU ou EM = EB – EF – EG – EU
Normalmente se considera um valor fixo para as perdas de energia através
dos gases e da urina, o que não deixa de ser empírico. Este valor é da ordem 18%
e, assim, a EM pode ser obtida de:
EM = ED x 0,82 ou 1 kg de NDT = 3,62 Mcal de EM. Para obtenção do valor
de EM (Mcal/kg de MS) a partir do NDT basta multiplicar %NDT por 0,0362.
A EM ainda não é aquela que ficará disponível para a manutenção e os
processos produtivos do animal. Durante o metabolismo ocorre a produção de
calor decorrente da ingestão de alimentos que denominamos de incremento
calórico (IC). Este incremento calórico aparece em função da ineficiência das
reações que ocorrem durante a utilização da energia pelo organismo. Somente
após descontar-se o incremento calórico é que temos a energia líquida presente
no alimento. Assim:
EL = EM – IC ou EL = ED – EF – EG – EU – IC
No caso de gado de corte a energia líquida pode ser utilizada para
manutenção ou para funções produtivas como, por exemplo, ganho de peso,
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crescimento fetal e lactação. A energia líquida de manutenção é sempre maior que
para ganho de peso e é expressa por ELm e a energia líquida de ganho por ELg.
Os valores de ELm e de ELg podem ser obtidos a partir dos valores de EM
usando-se as fórmulas do NRC (1996):
ELm (Mcal/kg de MS) = 1,37EM – 0,138EM2 + 0,0105EM3 – 1,12
ELg (Mcal/kg de MS) = 1,42EM – 0,174EM2 + 0,0122EM3 – 1,65
A partição da energia pode ser vista na Figura 3.
Exemplo: Alimento com 55% de NDT. Qual será a EM, ELm e ELg.
ED (Mcal/kg de MS) = 55 x 0,0441 = 2,426
EM (Mcal/kg de MS) = 0,82 x ED = 0,82 x 2,426 = 1,989
ELm (Mcal/kg de MS) = 1,37EM – 0,138EM2 + 0,0105EM3 – 1,12
ELm = 1,37 x 1,939 – 0,138 x 1,9392 + 0,0105 x 1,9393 – 1,12
ELm = 2,656 – 0,519 + 0,077 – 1,12
ELm = 1,094 Mcal/kg de MS
ELg (Mcal/kg de MS) = 1,42EM – 0,174EM2 + 0,0122EM3 – 1,65
ELg = 1,42 x 1,939 – 0,174 x 1,9392 + 0,0122 x 1,9393 – 1,65
ELg = 2,753 – 0,654 + 0,089 – 1,65
ELg = 0,538 Mcal/kg de MS
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Figura 6 – Partição biológica da energia dos alimentos
ENERGIA BRUTA
ENERGIA DAS FEZES
ENERGIA DIGESTÍVEL
ENERGIA DA URINA + GASES (CH4)
ENERGIA METABOLIZÁVEL
ENERGIA DO INCREMENTO CALÓRICO
ENERGIA LÍQUIDA
• MANUTENÇÃO
• PRODUÇÃO
64
Literatura Consultada
Church, D.C. The Ruminant Animal – Digestive Physiology and Nutrition. 2a ed.
Prospects Heights: Waveland Press, Inc., 1993. 564 p.
Mouro, G.F., Branco, A.F., Macedo, F.A.F. et al. Substituição do milho pela farinha
de mandioca de varredura em dietas de cabras em lactação: Fermentação
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