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FUNDAMENTOS HISTÓRICOS E FILOSÓFICOS DA EDUCAÇÃO CURSOS DE GRADUAÇÃO - EAD Fundamentos Históricos e Filosóficos da Educação – Prof. Dr. Stefan Vassilev Krastanov e Prof. Ms. Rubens Arantes Corrêa. Stefan Vassilev Krastanov é autor do livro Nietzsche: pathos artístico versus consciência moral. É professor adjunto de filosofia da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – UFMS. Possui doutorado em Filosofia pela Universidade Federal de São Carlos – UFSCar. Além disso, é graduado, pós-graduado e mestre em Filosofia pela Universidade de Sofia, na Bulgária. Desde o ano de 2002, atua como professor universitário, principalmente nas áreas da História da Filosofia, Estética e Metafísica, além de ser autor de vários materiais para cursos de graduação na modalidade EaD. E-mail: stefanve@terra.com.br Meu nome é Rubens Arantes Corrêa. Sou licenciado em História pela Universidade Estadual Paulista e mestre em Ciências Sociais pela Universidade Federal de São Carlos. Sou professor do Centro Universitário Claretiano desde 2000 e autor da obra O pensamento político de Raul Pompéia (publicada pela editora Ex Libris, em 2008). E-mail: rubens-arantes@netsite.com.br FUNDAMENTOS HISTÓRICOS E FILOSÓFICOS DA EDUCAÇÃO Prof. Dr. Stefan Vassilev Krastanov Prof. Ms. Rubens Arantes Corrêa Caderno de Referência de Conteúdo © Ação Educacional Claretiana, 2011 – Batatais (SP) Trabalho realizado pelo Centro Universitário Claretiano de Batatais (SP) Cursos: Graduação Disciplina: Fundamentos Históricos e Filosóficos da Educação Versão: jul./2013 Reitor: Prof. Dr. Pe. Sérgio Ibanor Piva Vice-Reitor: Prof. Ms. Pe. José Paulo Gatti Pró-Reitor Administrativo: Pe. Luiz Claudemir Botteon Pró-Reitor de Extensão e Ação Comunitária: Prof. Ms. Pe. José Paulo Gatti Pró-Reitor Acadêmico: Prof. Ms. Luís Cláudio de Almeida Coordenador Geral de EAD: Prof. Ms. Artieres Estevão Romeiro Coordenador de Material Didático Mediacional: J. Alves Corpo Técnico Editorial do Material Didático Mediacional Preparação Aline de Fátima Guedes Camila Maria Nardi Matos Carolina de Andrade Baviera Cátia Aparecida Ribeiro Dandara Louise Vieira Matavelli Elaine Aparecida de Lima Moraes Josiane Marchiori Martins Lidiane Maria Magalini Luciana A. Mani Adami Luciana dos Santos Sançana de Melo Luis Henrique de Souza Patrícia Alves Veronez Montera Rita Cristina Bartolomeu Rosemeire Cristina Astolphi Buzzelli Simone Rodrigues de Oliveira Revisão Felipe Aleixo Rodrigo Ferreira Daverni Talita Cristina Bartolomeu Vanessa Vergani Machado Projeto gráfico, diagramação e capa Eduardo de Oliveira Azevedo Joice Cristina Micai Lúcia Maria de Sousa Ferrão Luis Antônio Guimarães Toloi Raphael Fantacini de Oliveira Tamires Botta Murakami de Souza Wagner Segato dos Santos Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução, a transmissão total ou parcial por qualquer forma e/ou qualquer meio (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação e distribuição na web), ou o arquivamento em qualquer sistema de banco de dados sem a permissão por escrito do autor e da Ação Educacional Claretiana. Centro Universitário Claretiano Rua Dom Bosco, 466 - Bairro: Castelo – Batatais SP – CEP 14.300-000 cead@claretiano.edu.br Fone: (16) 3660-1777 – Fax: (16) 3660-1780 – 0800 941 0006 www.claretiano.edu.br SUMÁRIO CADERnO DE REfERênCIA DE COnTEúDO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 7 2 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA DISCIPLINA ............................................ 9 3 REFERêNCIAS BIBLIOGRáFICAS ...................................................................... 32 UNIDADE 1 – A EDUCAÇÃO NO MUNDO ANTIGO 1 OBJETIVOS ........................................................................................................ 33 2 CONTEúDOS ..................................................................................................... 33 3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE ............................................... 34 4 INTRODUÇÃO à UNIDADE ............................................................................... 34 5 EDUCAÇÃO NO EGITO ANTIGO ...................................................................... 35 6 EDUCAÇÃO NA GRÉCIA ANTIGA ..................................................................... 38 7 EDUCAÇÃO NA ÉPOCA DO HELENISMO ......................................................... 55 8 EDUCAÇÃO ROMANA ....................................................................................... 57 9 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ........................................................................ 59 10 CONSIDERAÇÕES .............................................................................................. 61 11 E-REFERêNCIAS ................................................................................................ 62 12 REFERêNCIAS BIBLIOGRáFICAS ...................................................................... 62 UNIDADE 2 – EDUCAÇÃO NA IDADE MÉDIA 1 OBJETIVOS ........................................................................................................ 63 2 CONTEúDOS ..................................................................................................... 63 3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE .............................................. 64 4 INTRODUÇÃO à UNIDADE ............................................................................... 65 5 CRISTIANISMO E O NOVO MODELO PEDAGóGICO ...................................... 66 6 ALTA IDADE MÉDIA: EDUCAÇÃO NA SOCIEDADE FEUDAL ............................ 77 7 BAIxA IDADE MÉDIA: EDUCAÇÃO NA ESCOLáSTICA ..................................... 79 8 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ........................................................................ 87 9 CONSIDERAÇÕES .............................................................................................. 88 10 REFERêNCIAS BIBLIOGRáFICAS ...................................................................... 89 UNIDADE 3 – EDUCAÇÃO NA MODERNIDADE 1 OBJETIVOS ........................................................................................................ 91 2 CONTEúDOS ..................................................................................................... 91 3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE ............................................... 92 4 INTRODUÇÃO à UNIDADE ............................................................................... 94 5 ÉPOCA MODERNA: TRAÇOS GERAIS ............................................................... 95 6 RENASCIMENTO ............................................................................................... 97 7 REFORMISMO RELIGIOSO E EDUCAÇÃO ........................................................ 101 8 A EDUCAÇÃO NA MODERNIDADE ................................................................... 107 9 PROPOSTAS PEDAGóGICAS DO ILUMINISMO .............................................. 114 10 EDUCAÇÃO PRUSSIANA: TENDêNCIAS IDEOLóGICAS .................................. 128 11 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ........................................................................ 132 12 CONSIDERAÇÕES .............................................................................................. 134 13 E-REFERêNCIA .................................................................................................. 134 14 REFERêNCIAS BIBLIOGRáFICAS ...................................................................... 135 UNIDADE 4 – EDUCAÇÃO NA CONTEMPORANEIDADE 1 OBJETIVOS ........................................................................................................ 137 2 CONTEúDOS ..................................................................................................... 137 3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE ............................................... 138 4 INTRODUÇÃO à UNIDADE ............................................................................... 140 5 CONTEMPORANEIDADE E REVOLUÇÃO FRANCESA ..................................... 140 6 UTILITARISMO NA EDUCAÇÃO ........................................................................ 143 7 MARxISMO E EDUCAÇÃO ............................................................................... 145 8 EDUCAÇÃO NO SÉCULO 19 .............................................................................. 146 9 EDUCAÇÃO DO INíNIO DO SÉCULO 20 à DÉCADA DE 1950 ......................... 149 10 PEDAGOGIA E CIêNCIA: FREUD, PIAGET E VIGOTSkI .................................... 156 11 OS CONFLITOS HISTóRICOS CONTEMPORâNEOS E SUA IFLUêNCIA NOS PROCESSOS PEDAGóGICOS ............................................................................. 159 12 MASS MEDiA E EDUCAÇÃO ............................................................................. 161 13 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ........................................................................ 162 14 CONSIDERAÇÕES .............................................................................................. 164 15 E-REFERêNCIAS ................................................................................................ 164 16 REFERêNCIAS BIBLIOGRáFICAS ..................................................................... 164 UNIDADE 5 – ASPECTOS HISTóRICOS DA EDUCAÇÃO NO BRASIL 1 OBJETIVOS ........................................................................................................ 167 2 CONTEúDOS ..................................................................................................... 167 3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE ............................................... 168 4 INTRODUÇÃO à UNIDADE .............................................................................. 169 5 EDUCAÇÃO JESUíTICA...................................................................................... 169 6 ENSINO RÉGIO ................................................................................................. 174 7 EDUCAÇÃO NA ÉPOCA DA MONARQUIA ....................................................... 177 8 EDUCAÇÃO NA REPúBLICA ............................................................................. 182 9 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ........................................................................ 192 10 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 194 11 REFERêNCIAS BIBLIOGRáFICAS ..................................................................... 196 EA D CRC Caderno de Referência de Conteúdo Ementa ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Origem da problemática pedagógica e diferentes vertentes pedagógicas na Anti- guidade. Educação na Antiguidade: Egito e Grécia Antiga. A Educação na época helenística e romana. Idade Média e sua concepção educativa. A Educação na Idade Média: Período Patrístico e Período Escolástico. Problemas pedagógicos na Modernidade. Período Humanístico e Renascentista. A Educação na Era Mo- derna e Contemporânea. Modelos contemporâneos da Educação. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 1. InTRODUÇÃO Vamos iniciar nosso estudo de Fundamentos Históricos e Filosóficos da Educação, por meio da qual você terá a oportuni- dade de se familiarizar com as principais vertentes da educação, situadas em um percurso histórico-filosófico. Consideramos esse conhecimento, mesmo que prévio, indispensável para a formação de docentes e para a posterior atuação profissional, pois ele con- tribui para ampliá-la e complementá-la. Para que você compreenda com clareza nosso propósito com este estudo, tentaremos expor nesta introdução, o mais breve © Fundamentos Históricos e Filosóficos da Educação Claretiano - REdE dE EduCação 8 possível, os problemas fundamentais que se desenham diante da educação e com quais deles ela deve lidar. Nesta disciplina, veremos que a formação, no sentido literal, indica um processo que auxilia na realização das potencialidades que o sujeito humano possui, isto é, o processo de alargamento dos seus limites, com base no qual o homem desenvolve suas pos- sibilidades, transcendendo suas limitações. Dessa forma, utilizando-se do vocabulário aristotélico, a forma- ção seria o processo que leva da potência ao ato, designado pela noção de enteléquia, que, segundo o dicionário Houaiss (2009), é a realização plena e completa de uma tendência, potencialidade ou finalidade natu- ral, com a conclusão de um processo transformativo até então em curso em qualquer um dos seres animados e inanimados do universo. Vejamos, agora, um exemplo para facilitar o entendimento sobre a formação: vamos pensar no processo que leva a pedra de mármore a uma bela estátua. A educação é isso, é a realização dos possíveis atos do sujeito. Em contrapartida, esse sujeito está inserido em um contexto social, em uma convivência com outros sujeitos, com os quais ele tem de interagir. Essa situação complica o problema da formação, visto que, além de uma formação pessoal, ele deve receber, também, uma forma- ção social, pela qual possa se relacionar com os outros. Note que, na situação anterior, não se trata de uma formação subjetiva que visa apenas ao desenvolvimento das faculdades subjeti- vas, mas também da capacidade de se relacionar com os outros. Assim, emergem dois aspectos fundamentais com os quais a educação se de- para: o aspecto subjetivo, que requer o desenvolvimento dos dons na- turais do sujeito, e o aspecto social, que requer que o desenvolvimento pessoal do indivíduo esteja de acordo com as tendências sociais. Dessa forma, se tomarmos como referência o foco social, corre- mos o risco de instaurar uma educação de formação e de não formação, ou seja, uma educação que impõe limites em prol de uma convivência padronizada e não conflituosa. Em contrapartida, se tomarmos, estrei- tamente, a posição da formação pessoal, corremos o risco de desaguar no subjetivismo puro que ameaça a convivência social. 9© Caderno de Referência de Conteúdo Essa é a problemática que está na base de nossa reflexão fi- losófica sobre o desenvolvimento histórico da educação. O conhe- cimento profundo de tais problemas possibilitará a você, futuro docente, trabalhar, de forma mais adequada com os desafios que o processo de formação humana nos coloca. 2. oRIENTAÇÕES PARA o ESTUDo DA DISCIPLINA Abordagem Geral da Disciplina Prof. Dr. Stefan Vassilev Krastanov Neste tópico, apresenta-se uma visão geral do que será estu- dado nesta disciplina. Aqui, você entrará em contato com os assun- tos principais deste conteúdo de forma breve e geral e terá a opor- tunidade de aprofundar essas questões no estudo de cada unidade. Desse modo, esta Abordagem Geral visa fornecer-lhe o co- nhecimento básico necessário a partir do qual você poderá cons- truir um referencial teórico com base sólida – científica e cultural – para que, no futuro exercício de sua profissão, você a exerça com competência cognitiva, ética e responsabilidade social. Com essa perspectiva, vamos começar nossa aventura pela apresentação das ideias e dos princípios básicos que fundamentam esta disciplina. A problemática filosófica da educação Vamos, então, falar um pouco sobre o conteúdo de Funda- mentos Históricos e Filosóficos da Educação. Nesta disciplina, você terá a oportunidade de se familiarizar com as principais vertentes da educação situadas em um percurso histórico-filosófico. Inicialmente, introduziremos o tema, ressaltando sua res- pectiva proposta e enfocarremos os principais problemas do fe- nômeno da educação durante a Antiguidade e a Idade Média. Posteriormente, daremos continuidade ao percurso histórico da educação com a modernidade e a contemporaneidade. Vamos lá? © Fundamentos Históricos e Filosóficos da Educação Claretiano - REdE dE EduCação 10 Como já foi dito no Tópico Introdução, a formação, no senti- do literal, é o processo que leva a ato as potencialidades da pessoa humana, isto é, a ampliação de seus limites, a partir dos quais o homem desenvolve suas possibilidades. Aristóteles em sua Meta- física, ensinava que a formação é o processo que traz à tona aquilo que era potência, a realização do ser. Observe, a seguir, a metáfora comunicada pelas Figuras 1 e 2. Figura 1 Mármore bruto. Figura 2 Estátua de mármore. 11© Caderno de Referência de Conteúdo Imaginemos o processo que leva a pedra de mármore a uma bela estátua. Eis o processo de formação. Assim como a pedra bru- ta, pelo processo de formação, pode virar estátua, o sujeito huma- no, pela mesma formação, pode realizar suas potencialidades. A educação é isto: o meio para o desenvolvimento da pessoa huma- na e para a realização de suas potencialidades. O homem é um ser de relação, portanto, vive em uma socie- dade, na qual interage com outros seres humanos,. Essa situação exige que o homem desenvolva competências em dois aspectos: a sua formação pessoal, para desenvolver suas potencialidades pró- prias, e uma formação social, a partir da qual ele possa se relacio- nar com as outras pessoas. Neste sentido, o homem deve desenvolver duas tendências: • subjetiva, que requer o desenvolvimento dos dons natu- rais do sujeito; • e social, que requer que o o indivíduo desenvolva as capa- cidades exigidas pela sociedade. Desse modo, se nossa ação educativa for orientada apenas pelas tendências sociais, então, corremos o risco de uma prática educativa incompleta, ou seja, de se instaurar uma educação que imponha limites às capacidades subjetivas de cada pessoa huma- na singular em prol de uma convivência padronizada e não confli- tuosa. Todavia, se tomarmos estreitamente a posição da formação pessoal subjetiva, corremos o risco de impedir que esta pessoa humana possa se inserir de maneira positiva na sociedade. Neste sentido, iremos refletir, de maneira crítica, como essas tendências foram tratadas ao longo do desenvolvimento histórico da educa- ção. No tópico a seguir, faremos a análise filosófica do desenvol- vimento histórico da educação, iniciando pela Antiguidade. Vamos rastrear historicamente, como os filósofos procuraram solucionar o problema da educação do homem? © Fundamentos Históricos e Filosóficos da Educação Claretiano - REdE dE EduCação 12 A educação no Antigo Egito e na Grécia Antiga Iniciaremos nossa reflexão histórico-filosófica sobre a educa- ção pela civilização do Antigo Egito. O Antigo Egito revela-se como uma civilização avançada. É possível dizer que o avanço de uma civilização depende, estreita- mente, de vários saberes que dão sustentação e condição para o desenvolvimento da sociedade. Tais saberes devem ser dissemina- dos e transmitidos e aprimorados de geração para geração. O processo de transmissão, por sua vez, requer instituições pedagógicas organizadas. Todavia, não se encontra, nesse período, um sistema educacional organizado, mesmo porque a pedagogia dava seus primeiros passos. O saber era transmitido por meio da oralidade e destinado, sobretudo, às classes dominantes, reduzin- do-se ao exercício de poder político. Aos poucos, surgiu, por assim dizer, a educação para os plebeus, que visava, antes de tudo, ao ensino das normas estabelecidas pelo faraó e dos saberes práticos. Surgiram, portanto, dois modelos de educação: um intelec- tual e bélico, destinado à classe nobre, e outro, técnico e normati- vo, destinado aos plebeus. Esse modelo dual será a marca registra- da da educação antiga, desde a civilização do Egito até a revolução cultural do cristianismo. Já os gregos antigos, no processo educacional, se revelaram mais progressivos do que os egípcios ao elevarem o homem co- mum como principal protagonista do cenário histórico. Trata-se do ideal democrático. O homem torna-se cidadão e requer um com- pleto desenvolvimento dos seus dons naturais e das suas poten- cialidades. Juntamente com essa nova forma político-social, surge, também, um novo ideal de homem e a necessidade de uma nova forma de educação, uma Paideia. Pensando nesse novo status humano, temos de destacar o papel dos sofistas, mestres profissionais que pretendiam respon- der aos novos desafios do homem livre. Eles prometiam, em troca 13© Caderno de Referência de Conteúdo de dinheiro, tornar apta qualquer pessoa que quisesse se dedicar à vida pública. Esse comportamento propiciou a criação de escolas nas quais se preparava o discípulo para o ingresso na vida social e se dedicava especial importância para a oratória, conhecida como a arte do bem falar e da disputa. Sócrates, diferentemente dos sofistas, que acentuam o rela- tivismo humano, se interrogava sobre a natureza comum aos ho- mens, sua essência. Esta, segundo afirmava o velho mestre, era a moral. Não uma moral dos costumes, mas a moral interna, o dever, que a própria consciência dita. Para Sócrates: o conhecimento era virtude, pois a falta de virtude deve-se à falta de saber. Se esse for o caso, devemos imaginar que a formação humana pressupõe aquisição do conhecimento e que este é imprescindível para o al- cance da virtude, que conduzirá o homem à felicidade. O processo de instrução do homem pelo qual este se torna apto para ingressar no caminho das virtudes, Sócrates designou maiêutica, aludindo à arte de parteira. E foi justamente Sócrates esse parteiro intelectual, que, por meio do seu método de pergun- tas e respostas, ajudava os jovens atenienses a descobrirem, por si mesmos, as verdadeiras virtudes que habitavam suas almas. Sócrates introduziu um novo modelo de educação, baseado na dinâmica entre mestre e discípulo, e Platão foi aquele que, utili- zando-se do método dialético, criou uma base sistemática da educa- ção para vigorar numa sociedade perfeita. O modelo pedagógico de Platão deve ser abordado em dois aspectos: o aspecto moral, que visa à formação pessoal do indivíduo, e o aspecto social, que visa à participação harmoniosa e do indivíduo na sociedade. Esses dois as- pectos devem convergir para que haja a formação humana perfeita. Semelhante ao seu mestre Platão, Aristóteles também consi- derava o processo da formação humana em dois aspectos: • Individual: segundo a sua forma humana e seus dons na- turais, uma vez que ele defende a posição de uma desi- gualdade natural entre os homens; © Fundamentos Históricos e Filosóficos da Educação Claretiano - REdE dE EduCação 14 • Social: uma formação para o cidadão, sendo este uma parte integrante da sociedade. Todavia, o modelo de Aris- tóteles apresenta, diferentemente de Platão, um caráter mais pragmático e realista. Nossa próxima parada nesta abordagem histórico-filosófica da educação será na época do helenismo. Vamos lá? A educação durante o helenismo Com as conquistas de Alexandre, o Grande a inevitável mistura entre diferentes povos, culturas e tradições exigiu um novo ideal de homem, bem diferente daquele dominante na antiguidade clássica, com a quebra dessas fronteiras o homem tornou-se cosmopolita. Todas essas mudanças políticas e sociais impuseram novos de- safios para a educação. No âmbito dessa visão cosmopolita, a educa- ção não visava, preferivelmente, à formação do bom cidadão, como era na época anterior, mas, sobremaneira, ao seu desenvolvimen- to pessoal, visto que o homem não mais participava das decisões políticas de sua pátria. O homem torna-se "cidadão do mundo", o que significa que ele não se identifica mais com povo algum. Quanto mais globalizada é uma sociedade, menos autêntica ela se torna. Alexandria, principal centro cultural do novo império funda- do por Alexandre, emergiu como berço da civilização alexandrina. Surgiram novas escolas, que tiveram papel fundamental para a transmissão desse novo ideal. Justamente ali, em Alexandria, nas- ceu a maior instituição educativa do mundo antigo – o Mouseion. Esta, além de possuir o maior acervo de manuscritos, que conta com mais de 700.000 dos maiores pensadores e cientistas até então conhecidos, foi, também, um ambiente de encontros e de convívio entre mestres, sábios e discípulos, onde estes moravam e trocavam saberes e conhecimentos. Seguindo o percurso histórico, chegamos ao período roma- no, assim designado pelo domínio absoluto e soberano do Império Romano. 15© Caderno de Referência de Conteúdo A educação no Império Romano Em sua primeira versão, a educação romana teve por objeti- vo a formação de virtudes cívicas. Foi uma educação inteiramente voltada às necessidades do Estado Romano, baseada nos manda- mentos sagrados das “Doze Tábuas”. Esta dispensava a formação intelectual do indivíduo. O ideal promovido por essas tábuas con- templava um código civil inspirador da fidelidade, da tradição, da dignidade, da firmeza, da coragem e da piedade. Nesse sentido, estamos diante de uma educação inteiramente voltada para a so- ciedade e para a sua conservação. A formação romana, basicamente moral e cívica, foi-se alte- rando aos poucos, em virtude da política conquistadora e imperia- lista do Império Romano. Porém, à medida que Roma conquistava outros povos, a cultura destes, conquistava Roma e transforma- vam-na por dentro. Em consequência disso, a pedagogia tradicio- nal também mudava, rompendo, gradualmente, com os costumes. Nesta perspectiva, pode-se dizer que o poderoso Império Romano foi profundamente alterado pela gloriosa e ainda mais poderosa cultura grega. Ao mesmo tempo em que o Império Romano entrava em de- clínio, uma nova civilização estava prestes a nascer à base de uma nova religião. Estamos falando do cristianismo. Com a proliferação do cristianismo, iniciou-se uma profun- da alteração de paradigmas, em virtude dos quais se impuseram novas necessidades e desafios para a educação: as ideias de amor e de fraternidade entre os homens, de solidariedade, de humil- dade etc. romperam com o modelo estático bipolar da pedagogia antiga; o fator religioso veio à tona como aspecto integrante da sociedade; as novas ideias cristãs dissolveram as relações antigas de classes e o modelo principal, sobre o qual se moldava a nova Paideia Cristã, era a figura do Cristo e seus ensinamentos. Nos primeiros séculos da nova religião, a prática educativa consistia na imitação da pessoa de Cristo. Mas, como cada insti- © Fundamentos Históricos e Filosóficos da Educação Claretiano - REdE dE EduCação 16 tuição devia fixar seus códigos morais para depois moldar os fiéis conforme seus fins, a religião cristã precisava de fundamentos teó- ricos e, curiosamente, encontrou-os na Filosofia Clássica. Vamos conhecer um pouco sobre o que os filósofos mais importantes pensavam sobre a educação do homem? A educação na Idade Média A herança helênica entrou na religião cristã via Patrística – período em que começa a teorização do cristianismo. Nessa em- preitada, um papel de destaque coube a Santo Agostinho. Em quase todos os seus escritos, a questão da formação humana é bastante atual e presente, pois tal formação é parte integrante da renovação. Em sua concepção pedagógica, Agostinho insiste em uma formação enciclopédica baseada nos diversos conhecimentos e sa- beres que devem iluminar e fazer consciente a viagem do homem cristão ao encontro de Deus. Obviamente, não podemos deixar de mencionar o grande pensador e mestre da tradição escolástica, São Tomás de Aquino (1225-1274). Em sua elaboração intelectual, Tomás não deixa de sublinhar o importante papel da educação; na sua obra De Ma- gistro, ele destaca o papel fundamental do mestre no processo de despertar, cultivar e guiar o discípulo na aquisição do conheci- mento. Assim como o agricultor não cria a árvore, mas cultiva-a, o mestre não poderá ensinar, mas poderá, muito bem, despertar e guiar o discípulo. O declínio da época medieval começa por volta do século 15. A crise na Igreja Católica, as corrupções e os abusos do clero aba- laram ainda mais seus fundamentos. Guerras, conflitos políticos e econômicos completam o quadro geral dessa época decadente. Todavia, tais crises certamente despertam novos ideais, anseios e desejos que circunscrevem os primeiros traços da modernidade. Vamos conhecer um pouco dessa nova pedagogia? 17© Caderno de Referência de Conteúdo Modernidade Na transição do Medievo para o Renascimento uma questão se colocava ao homem europeu: • Como instaurar uma nova situação histórica, como funda- mentar um mundo novo e cheio de esperança? Na verdade, trata-se da reinvenção de um modelo que vem do mundo greco-romano. A essa reinvenção, Francesco Petrarca deu o nome “Re-nascimento”. Os primeiros passos da modernidade, na versão renascen- tista, manifestam progressivo rompimento dos paradigmas econô- micos e políticos vigentes no modelo estático da época medieval. Cabe dizer que a modernidade é fruto de uma revolução multifa- cetal: econômica, política, social, ideológica, geográfica e, não por último, pedagógica. As profundas alterações no Velho Continente colocam um grande desafio diante da educação, à qual se atribui a missão de produzir o homem novo, apto a compreender, a aceitar e a atuar nos novos modelos e paradigmas. O papel de vanguarda desses novos ideais cabe à educação. Basicamente, os humanistas do Renascimento voltam-se para o modelo clássico de educação. Encabeçado por Francesco Petrarca e seus discípulos, o processo de renascimento tem seu pleno vigor com Leonardo Bruni e seu ideal de Studias Humanitatis. Temos de ressaltar que as escolas humanistas, centradas nas Studias Humanitatis, elaboravam um currículo baseado na Litera- tura, nas Artes, na Ciência, na Ginástica e na Ética. Nota-se, tam- bém, uma forte preocupação com a prática didática. A partir do humanismo do século 15, abrem-se novas pers- pectivas e necessidades diante do processo pedagógico, inspiradas pelo novo modelo de homem, mais livre e mundano, que, no entan- to, deve adotar, em sua educação, os valores cristãos. Os grandes protagonistas dessa ênfase cristã na educação são Erasmo e Lutero. © Fundamentos Históricos e Filosóficos da Educação Claretiano - REdE dE EduCação 18 Erasmo foi considerado o representante mais ilustre do hu- manismo do século 16. No âmbito pedagógico, ele propõe o de- safio de renovar o sistema educacional. Seu ponto de partida são as críticas que ele dirige ao modelo escolástico de educação e sua esterilidade, que ele próprio teria sofrido. A boa educação, na visão de Erasmo, requer mestres capa- citados e aptos a lidar com as diferenças entre os alunos. Cabe ao Estado o dever de contratar e promover bons mestres, aptos para a realização da formação integral do novo homem. Por sua vez, Lutero – outra grande figura no processo de reno- vação cristã –, fiel à sua fórmula protestante, preparou o solo para um novo entendimento de educação: a torna-se o instrumento da salvação humana, e ela é inspirada pelos textos sagrados, então, o indivíduo, para alcançar a salvação pela fé, necessita compreender tais textos, o que faz por meio de sua leitura. Daí a proposta luterana de alfabetização do povo. Com isso, veio à tona a importância das escolas públicas, nas quais Lutero apostava a salvação humana. A proposta educativa de Lutero contempla dois desafios, a saber: a formação do homem cristão, por um lado, e a formação do cidadão, por outro. A divisão do mundo cristão, operada por Lutero e sua pro- posta protestante, causou a reação da Igreja católica em termos de uma volta para trás aos ensinamentos doutrinais da Idade Mé- dia e, sobretudo, da Escolástica. Em virtude disso, a Igreja Católica travou uma luta desesperada contra o Estado Moderno, contra a Reforma Protestante e contra todas as instituições novas, frutos do pensamento moderno. Essa reação foi conhecida como o movi- mento da Contrarreforma. A cruzada contra o mundo protestante assume uma face es- sencialmente educativa. Assim, o modelo contrarreformista cria novas unidades escolares: o colégio e o internato, cogitando as classes menos privilegiadas, revelando, assim, seu perfil ético, so- cial e religioso. 19© Caderno de Referência de Conteúdo Todas as profundas alterações que a modernidade realiza no decorrer histórico, começando pelo Renascimento e pela Reforma Protestante, culminam, naturalmente, no Iluminismo. O grande protagonista no âmbito educacional, desta época, é Rousseau. Influenciado pelas ideias de Locke, Rousseau, em sua obra de teor pedagógico Emílio, esboça a sua original doutrina educativa. O tratado sobre a educação exposto em Emílio, definitivamente rompe com o tradicional entendimento de educação, mostrando- -se de acordo com o espírito iluminista. Em Emílio Rousseau mostra-se ciente de que a transforma- ção social só será possível se for anteriormente amparada por uma educação que reflita o espírito da época. A possibilidade de uma mudança social passa pelo retorno à natureza ou, pelo menos, ao espírito da natureza. E nisso consiste a razão da constatação de que o homem nasce bom, mas a sociedade o corrompe. Esse pen- samento será o critério que irá permear o novo ideal de educação proposto por ele. Para o pensador suíço, a formação do homem determina-se por três aspectos fundamentais, a saber: • a natureza; • os outros homens; • e as coisas. Esses aspectos determinantes, segundo Rousseau se devem contemplar na sua relação mútua para o alcance da plena e inte- gral formação humana, uma vez que, antes do Iluminismo todo processo educativo foi ineficaz, porque derivava de duas fontes apenas, ou seja, os homens e as coisas. Ignorava aquela base que é primeiríssima, a saber, a natureza (apud GILES, 1987, p. 177). No final do século 18 e início do século 19, no cenário peda- gógico, aparece a figura de Pestalozzi e seu projeto de reformula- ção da educação. Pestalozzi sofreu enorme influência do pensa- mento de Rousseau. A sua intenção inicial foi de aplicar, na prática, a teoria de Rousseau, exposta em Emílio. © Fundamentos Históricos e Filosóficos da Educação Claretiano - REdE dE EduCação 20 Para que possamos compreender as ideias de Pestalozzi e suas tentativas de introduzi-las na prática, temos de analisar a situação social que engendra tais ideias. Basicamente, a atenção pedagógica de Pestalozzi está voltada ao povo carente, profun- damente imerso na miséria e ignorância. Adepto ao Iluminismo e suas ideias progressistas, ele acredita que seja possível uma formação mais plena e mais digna também para o povo carente. Nisto, consiste a mensagem de Pestalozzi: na criação de métodos simples e eficientes que podem renovar a sociedade e garantir aos seus membros, sobretudo, às crianças, um desenvolvimento em termos morais e intelectuais. Temos de frisar que Pestalozzi foi o educador mais famoso da sua época. Vamos, agora, mergulhar na época contemporânea e anali- sá-la brevemente. A educação contemporânea Cronologicamente, a contemporaneidade vem à luz, oficial- mente, com a Revolução Francesa, o evento que enunciou, defini- tivamente, as transvalorações sociais, econômicas e políticas. De modo geral, podemos descrevê-la como a época de revoluções po- líticas e sociais, condicionando, por um lado, a gênese da socieda- de contemporânea e a Revolução Industrial delineando, por outro, a nova ordem econômica. No âmbito desse novo cenário econô- mico, social e político, o problema pedagógico assume o papel de suporte indispensável à vida social, promovendo a integração dos indivíduos. Apenas agora, a Pedagogia está diante do desafio de se tornar uma ciência estruturada, capaz de criar e aplicar os seus modelos teóricos. Vale dizer que, no início, a educação contemporânea revela uma face acentuadamente ideológica. As diferenças ideológicas, todavia, cruzam o âmbito pedagógico, tecendo o seu caráter dialé- tico, sempre aberto para novas propostas, mudando, assim, o de- senho social e intensificando as tensões políticas. Temos de notar que o modelo contemporâneo pedagógico oscila entre o ideal con- 21© Caderno de Referência de Conteúdo formista de educação à base ideológica e o projeto emancipador da formação pessoal do sujeito humano. No século 20, após a polarização do mundo, a relação entre a educação e a política torna-se ainda mais estreita. Mais acentua- damente, nota-se esse processo de ideologização educacional nos modelos socialistas, ao passo que, no capitalismo, a educação re- vela um caráter mais liberal. Todavia, o modelo socialista mostra- -se mais progressivo do que o modelo capitalista. A ideia de um homem universal está na base da pedagogia socialista. Em con- sequência, a exigência de uma educação forte e igual para todos assume caráter de lei. Após a ruptura do modelo bipolar na década de 1990, o mundo entra, definitivamente, em processo de globalização. Com isso, a educação ideológica torna-se inatual. O cenário globalizado coloca o sujeito humano diante de novos desafios, que não con- templam, os aspectos nacionais, patrióticos ou ideológicos, mas, antes, valores cosmopolitas. Se o mundo assume traços de "gran- de aldeia", o sujeito humano, independentemente da sua origem, religião e costumes, tem de aprender a conviver com as diferenças sociais, regionais, econômicas e políticas num ambiente globali- zado. Aspectos importantes dessa nova visão são os meios de co- municação e informação, espalhando-se, com incrível rapidez, via internet, satélite e por outras mídias. Na contemporaneidade, o principal foco da educação dirige- -se ao trabalho. Muitos filósofos e sociólogos viam, na instrução profissional, o ápice do processo educativo. Esse foco, especifica- mente contemporâneo, começa a rejeitar os modelos humanistas de educação, baseados na formação livresca e erudita, isto é, na educação formal e teórica. A ênfase industrial, por sua vez, requer da educação uma formação humana em termos de homo faber. Na descrição da educação atual, não podemos deixar sem nota, obviamente, um fenômeno tipicamente contemporâneo. Trata-se de mass medias e meios virtuais de comunicação, que © Fundamentos Históricos e Filosóficos da Educação Claretiano - REdE dE EduCação 22 promovem, por si, um verdadeiro processo de formação, paralelo e alternativo aos tradicionais, independentemente da hora e do lugar, isto é, independentemente da sala de aula. Com a difusão desses meios alternativos e com seu acesso amplo e fácil, informações e conhecimentos chegam a dominar, por completo, o espaço social em todos os seus aspectos. Mas essa nova forma de aprendizagem, paralela às formas tradicionais (escolas, universidades), cria condição de padronização e mani- pulação dos indivíduos. Nesse novo cenário social, aparece como grande protagonista a indústria cultural, que facilita o acesso e po- pulariza a cultura. Em contrapartida, a democratização dos valores culturais implica a sua banalização, pois, ao interagir com a cultura, o gosto do público começa a predominar de tal maneira que se torna crité- rio da produção cultural, uma vez que o que vale é a venda, e esta depende do público. A cultura, então, passa a ser dirigida pelas massas. Com outras palavras, a indústria cultural ameaça vulgari- zar os valores da cultura, pois ela dita, por intermédio das massas, o gosto e as regras. Esse processo de industrialização da cultura é observado, com olhos bastante críticos, por muitos filósofos e sociólogos, as- sumindo a dimensão de principal problema da cultura e da edu- cação contemporâneas. Assim, a escola de Frankfurt, encabeçada por Adorno e Horkheimer, ressalta o efeito devastador dessa in- dustrialização, levando a cultura à pobreza, à vulgarização, à limi- tação e à banalização. A massa inautêntica precisa de ídolos, e ela os escolhe por seu gosto. A indústria cultural propaga modelos, ideias e paradigmas que são incorporados pela massa. O homem-massa não tem sua própria “cara”, mas, em compensação disso, tem a oportunidade de escolher uma daquelas “caras” que, na indústria cultural, se propaga. O eu impessoal, como bem nota Heidegger em Ser e tempo, domina plenamente o espaço cultural. 23© Caderno de Referência de Conteúdo Todavia, há quem veja, na indústria cultural, um meio pre- cioso para a formação do homem, na medida em que esse ho- mem, pela mesma indústria, tem acesso aos valores culturais que antes foram inacessíveis para ele. De qualquer maneira, temos de deixar bem claro que, com o surgimento da mass medias e da indústria cultural, o âmbito pe- dagógico mudou, de vez, a sua cara. As novas ferramentas entram, definitivamente, no cenário escolar. A figura do docente diante do quadro-negro cede lugar aos projetores multimídia (data show), com imagens e efeitos visuais e virtuais. Com essas mudanças, as questões sobre o incerto futuro pe- dagógico estão em pauta: • Seria uma desqualificação do professor e de seus ensina- mentos clássicos? • Seria uma questão de reeducação do mestre a partir de ensinamentos tecnológicos mais eficientes para a forma- ção humana? Hoje em dia, não é preciso muito esforço para se conseguir a informação que se deseja; basta teclar no computador, e isso é ótimo! Mas e quanto ao caminho que deve ser percorrido para a aquisição do conhecimento, que é, ao mesmo tempo, o processo de aprendizagem? Será que não testemunhamos a era em que o sujeito humano aprende sem aprendizagem? Essas são as pergun- tas mais frequentes que se colocam diante da educação do século 21, as quais ela deve enfrentar, analisar e tentar responder. Em conclusão, podemos dizer que, desde a aurora da forma- ção humana, perdendo-se nos hieróglifos orientais, até o software de hoje, a resposta clara e definitiva sobre o modelo perfeito de educa- ção, sobre a verdadeira “Paideia humana” não foi dada. Nem poderia sê-la, pois a sociedade transforma, incessantemente, a sua face, sob as necessidades emergentes em cada instante, no decorrer histórico, político, social e cultural. Todavia, ao longo deste estu- do, vemos delineando-se duas vertentes principais que se realizam © Fundamentos Históricos e Filosóficos da Educação Claretiano - REdE dE EduCação 24 num jogo dialético entre si: a Paideia individual, que promove a formação integral do homem, e a Paideia social, isto é, a formação do bom cidadão. Com vistas a razões políticas e sociais, nem sempre essas duas vertentes andam juntas, como deveria ser, isto é, conjugar a plena formação individual com a sua aplicação na vida social, na interação com os outros. Eis o que deverá amparar o ideal da edu- cação humana – ideal que mais oscila ao utópico do que ao real. Podemos, no entanto, opinar, modestamente, que investir na formação individual do homem indiretamente implicaria na sua formação social. Não se pode querer uma convivência social não conflituosa por meio de indivíduos manipulados, mas pode-se pode muito bem realizar uma sociedade harmoniosa com indiví- duos esclarecidos. "Harmoniosa" aqui não quer dizer sem tensões, mas, ao contrário, tensões expressas por meio de sujeitos críticos que mantém, no decurso histórico, o equilíbrio do ser existencial e do ser social, realizando, assim, a harmonia. Nossa vida biológica é composta por tensões, , mas mantém o equilíbrio. O equilíbrio manifesta-se na presença de forças opos- tas, pois não existe força singular; esta só se manifesta na presen- ça de outra. Portanto, a paralisação de uma das forças implicaria, de imediato, no desequilíbrio. Portanto a educação deve instaurar e estimular a tensão entre a formação individual (subjetiva) e a formação social (objetiva) para alcançar a harmonia. Agora é hora de você aprofundar seus estudos. Vamos em frente! Glossário de Conceitos O Glossário de Conceitos permite a você uma consulta rá- pida e precisa das definições conceituais, possibilitando-lhe um bom domínio dos termos técnico-científicos utilizados na área de conhecimento dos temas tratados na disciplina Fundamentos His- tóricos e Filosóficos da Educação. Por uma opção pedagógica do 25© Caderno de Referência de Conteúdo autor, os termos do Glossário não seguem uma ordem alfabética, mas uma ordem cronológica da importância que cada um dos con- ceitos adquire ao longo do estudo deste material. Veja, a seguir, a definição dos principais conceitos desta disciplina: 1) Academia: é a escola que Platão fundou, em 387 a.C., nos jardins localizados em Atenas, os quais pertenciam, con- forme a lenda, ao herói Academo. 2) Paradigma: modelo. 3) Paideia: pode-se aludir ao termo “formação”. É o pro- cesso em que algo que não tem forma a adquire grada- tivamente. 4) Ostracismo: estratégia pedagógica baseada na compe- tição. Os antigos acreditavam que, somente por meio da disputa e da concorrência, o indivíduo humano pode alcançar a excelência. O ostracismo era, pois, o modelo pedagógico mais significativo da educação homérica. 5) Pólis: Cidade-Estado com sua própria organização social, econômica, cultural e militar. Essa forma de vida estatal era preconizada, sobretudo, na Grécia Clássica. 6) Demônio: conforme os gregos, o ser que possuía uma natureza dupla, divina e humana, se associava ao demô- nio. O demônio era o resultado do acasalamento formi- dável entre o homem e o deus. 7) Maiêutica: método dialético de educação introduzido por Sócrates. Consiste na interrogação à que o mestre submete o discípulo, a fim de forçá-lo a pensar e a refle- tir. Literalmente, significa “arte de parteira”. Assim como a parteira ajuda a dar a luz a criança, o mestre ajuda o discípulo a engendrar de si mesmo as ideias. 8) Dialética: é um método de diálogo cujo foco é a con- traposição e contradição de ideias que levam a outras ideias e que tem sido um tema central na Filosofia Oci- dental e Oriental desde os tempos antigos. 9) Mouseion: é a maior biblioteca e centro cultural do mundo antigo, localizada em Alexandria. 10) Teoria da iluminação: trata-se da concepção epistemológi- ca de Santo Agostinho, conforme a qual o intelecto huma- © Fundamentos Históricos e Filosóficos da Educação Claretiano - REdE dE EduCação 26 no, sendo finito e limitado, não será capaz, por si mesmo, de chegar às verdades eternas sem que Deus o elevasse e o iluminasse. Assim com a luz é a condição de visão, a teoria da iluminação explica o processo em que o intelecto huma- no é iluminado para "ver" as verdades eternas. 11) De Magistro: sua tradução literal seria “Do mestre”. Tra- ta-se, nesse caso, de tratados sobre a educação. 12) Alta Idade Média: o termo faz referência ao primeiro pe- ríodo da Época Medieval. 13) Baixa Idade Média: o termo faz referência ao último pe- ríodo da Época Medieval. 14) Quadrivium: método escolástico de ensino que incluía Aritmética, Geometria, Astronomia e Música. 15) Trivium: método escolástico de ensino que incluía Gra- mática, Retórica e Dialética. 16) Studia humanitatis: Ciências Humanas (Gramática, Re- tórica, Poesia, História e Ética). 17) Humanismo: denota a visão do mundo a partir do ho- mem. O humanismo é o traço fundamental da visão cul- tural do Renascimento. 18) Reforma Protestante: movimento reformista cristão ini- ciado no século 16 por Martinho Lutero, que, por meio da publicação de suas 95 teses, protestou contra diver- sos pontos da doutrina da Igreja católica, propondo uma reforma no catolicismo. 19) Protestantismo: refere-se ao conjunto de igrejas cristãs e doutrinas que se identificam com as teologias desen- volvidas no século 16, na Europa Ocidental, na tentati- va de reforma da Igreja católica apostólica romana por parte de um importante grupo de teólogos e clérigos, no qual o ex-monge agostiniano Martinho Lutero teve destaque. 20) Contrarreforma: é o nome dado ao movimento criado no seio da Igreja católica em resposta à Reforma Protes- tante, iniciada com Lutero em 1517. 21) Bildung: termo alemão que pode-se traduzir como for- mação.. 27© Caderno de Referência de Conteúdo 22) Si-natural: o termo faz referência ao estado natural do in- divíduo antes de seu contato com a sociedade organizada. 23) Si-social: o termo faz referência ao indivíduo que, por meio do processo pedagógico, se torna apto a integrar a sociedade. 24) Homo faber: ser humano que maneja a técnica e pro- duz artefatos (coisas produzidas pelo homem e que pos- suem sentido apenas para ele). 25) Utilitarismo: concepção ética que avalia a ação moral de acordo com o bem-estar da sociedade, ou seja, avalia a ação conforme suas consequências. 26) Princípio da maximação: princípio utilitarista que re- quer maior bem para maior número de pessoas. 27) Transvaloração de todos os valores: o termo foi utilizado por Nietzsche para designar a transvaloração dos valores morais que perderam seu eixo norteador – bem e mal. 28) Homem-massa: o terno designa o homem que perdeu a sua pessoalidade e suas possibilidades próprias, tornan- do-se impessoal. O homem-massa perdeu, então, sua identidade própria, identificando-se com a multidão. 29) Tupi-guarani: tronco linguístico que compreende, no Brasil, dez famílias vivas, distribuídas por 14 estados; estende-se tb. pelos seguintes países: Guiana Francesa, Venezuela, Colômbia, Peru, Bolívia, Paraguai e Argentina (HOUAISS, 2009). Esquema dos Conceitos-chave Para que você tenha uma visão geral dos conceitos mais im- portantes deste estudo, apresentamos, a seguir (Figura 1), um Es- quema dos Conceitos-chave da disciplina. O mais aconselhável é que você mesmo faça o seu esquema de conceitos-chave ou até mesmo o seu mapa mental. Esse exercício é uma forma de você construir o seu conhecimento, ressignificando as informações a partir de suas próprias percepções. É importante ressaltar que o propósito desse Esquema dos Conceitos-chave é representar, de maneira gráfica, as relações en- © Fundamentos Históricos e Filosóficos da Educação Claretiano - REdE dE EduCação 28 tre os conceitos por meio de palavras-chave, partindo dos mais complexos para os mais simples. Esse recurso pode auxiliar você na ordenação e na sequenciação hierarquizada dos conteúdos de ensino. Com base na teoria da aprendizagem significativa, entende- -se que, por meio da organização das ideias e dos princípios em es- quemas e mapas mentais, o indivíduo pode construir o seu conhe- cimento de maneira mais produtiva e obter, assim, ganhos peda- gógicos significativos no seu processo de ensino e aprendizagem. Aplicado a diversas áreas do ensino e da aprendizagem es- colar (tais como planejamentos de currículo, sistemas e pesquisas em Educação), o Esquema dos Conceitos-chave baseia-se, ainda, na ideia fundamental da Psicologia Cognitiva de Ausubel, que es- tabelece que a aprendizagem ocorre pela assimilação de novos conceitos e de proposições na estrutura cognitiva do aluno. Assim, novas ideias e informações são aprendidas, uma vez que existem pontos de ancoragem. Tem-se de destacar que “aprendizagem" não significa, ape- nas, realizar acréscimos na estrutura cognitiva do aluno; é preci- so, sobretudo, estabelecer modificações para que ela se configure como uma aprendizagem significativa. Para isso, é importante con- siderar as entradas de conhecimento e organizar bem os materiais de aprendizagem. Além disso, as novas ideias e os novos concei- tos devem ser potencialmente significativos para o aluno, uma vez que, ao fixar esses conceitos nas suas já existentes estruturas cog- nitivas, outros serão também relembrados. Nessa perspectiva, partindo-se do pressuposto de que é você o principal agente da construção do próprio conhecimento, por meio de sua predisposição afetiva e de suas motivações inter- nas e externas, o Esquema dos Conceitos-chave tem por objetivo tornar significativa a sua aprendizagem, transformando o seu co- nhecimento sistematizado em conteúdo curricular, ou seja, esta- belecendo uma relação entre aquilo que você acabou de conhecer 29© Caderno de Referência de Conteúdo com o que já fazia parte do seu conhecimento de mundo (adap- tado do site disponível em: <http://penta2.ufrgs.br/edutools/ mapasconceituais/utilizamapasconceituais.html>. Acesso em: 11 mar. 2010). Figura 1 Esquema dos Conceitos-chave da disciplina Fundamentos Históricos e Filosóficos da Educação. Como você pode observar, esse Esquema dá a você, como dissemos anteriormente, uma visão geral dos conceitos mais im- portantes deste estudo. Ao segui-lo, você poderá transitar entre © Fundamentos Históricos e Filosóficos da Educação Claretiano - REdE dE EduCação 30 um e outro conceito desta disciplina e descobrir o caminho para construir o seu processo de ensino-aprendizagem. Por exemplo, os conceitos complexidade e educação implicam conhecer as etapas da formação do pensamento pós-moderno de kant a Morin; sem o domínio conceitual desse processo explicitado pelo Esquema, po- de-se ter uma visão confusa do tratamento da temática do ensino de Filosofia proposto pelos autores deste CRC. O Esquema dos Conceitos-chave é mais um dos recursos de aprendizagem que vem se somar àqueles disponíveis no ambiente virtual, por meio de suas ferramentas interativas, bem como àqueles relacionados às atividades didático-pedagógicas realizadas presen- cialmente no polo. Lembre-se de que você, aluno EaD, deve valer-se da sua autonomia na construção de seu próprio conhecimento. Questões Autoavaliativas No final de cada unidade, você encontrará algumas questões autoavaliativas sobre os conteúdos ali tratados, as quais podem ser de múltipla escolha, abertas objetivas ou abertas dissertativas. Responder, discutir e comentar essas questões, bem como relacioná-las com a prática do ensino pode ser uma forma de você avaliar o seu conhecimento. Assim, mediante a resolução de ques- tões pertinentes ao assunto tratado, você estará se preparando para a avaliação final, que será dissertativa. Além disso, essa é uma maneira privilegiada de você testar seus conhecimentos e adquirir uma formação sólida para a sua prática profissional. Você encontrará, ainda, no final de cada unidade, um gabari- to, que lhe permitirá conferir as suas respostas sobre as questões autoavaliativas de múltipla escolha. AtEnção! As questões de múltipla escolha são as que têm como resposta apenas uma alternativa correta. Por sua vez, entendem-se por ques- tões abertas objetivas as que se referem aos conteúdos matemá- 31© Caderno de Referência de Conteúdo ticos ou àqueles que exigem uma resposta determinada, inalterada. Já as questões abertas dissertativas obtêm por resposta uma in- terpretação pessoal sobre o tema tratado; por isso, normalmente, não há nada relacionado a elas no tópico Gabarito. Você pode comentar suas respostas com o seu tutor ou com seus colegas de turma. Bibliografia Básica É fundamental que você use a Bibliografia Básica em seus estudos, mas não se prenda só a ela. Consulte, também, as biblio- grafias complementares. Figuras (ilustrações, quadros...) Neste material instrucional, as ilustrações fazem parte inte- grante dos conteúdos, ou seja, elas não são meramente ilustra- tivas, pois esquematizam e resumem conteúdos explicitados no texto. Não deixe de observar a relação dessas figuras com os con- teúdos da disciplina, pois relacionar aquilo que está no campo vi- sual com o conceitual faz parte de uma boa formação intelectual. Dicas (motivacionais) O estudo desta disciplina convida você a olhar de forma mais apurada a Educação como processo de emancipação do ser huma- no. É importante que você se atente às explicações teóricas, prá- ticas e científicas que estão presentes nos meios de comunicação, bem como partilhe suas descobertas com seus colegas, pois, ao compartilhar com outras pessoas aquilo que você observa, permi- te-se descobrir algo que ainda não se conhece, aprendendo a ver e a notar o que não havia sido percebido antes. Observar é, portan- to, uma capacidade que nos impele à maturidade. Você, como aluno dos cursos de Graduação na modalidade EaD, necessita de uma formação conceitual sólida e consistente. Para isso, você contará com a ajuda do tutor a distância, do tutor presencial e, sobretudo, da interação com seus colegas. Sugeri- © Fundamentos Históricos e Filosóficos da Educação Claretiano - REdE dE EduCação 32 mos, pois, que organize bem o seu tempo e realize as atividades nas datas estipuladas. É importante, ainda, que você anote as suas reflexões em seu caderno ou no Bloco de Anotações, pois, no futuro, elas pode- rão ser utilizadas na elaboração de sua monografia ou de produ- ções científicas. Leia os livros da bibliografia indicada para que você amplie seus horizontes teóricos. Coteje-os com o material didático, discuta a unidade com seus colegas e com o tutor e assista às videoaulas. No final de cada unidade, você encontrará algumas questões autoavaliativas, que são importantes para a sua análise sobre os conteúdos desenvolvidos e para saber se estes foram significativos para sua formação. Indague, reflita, conteste e construa resenhas, pois esses procedimentos serão importantes para o seu amadure- cimento intelectual. Lembre-se de que o segredo do sucesso em um curso na modalidade a distância é participar, ou seja, interagir, procurando sempre cooperar e colaborar com seus colegas e tutores. Caso precise de auxílio sobre algum assunto relacionado a esta disciplina, entre em contato com seu tutor. Ele estará pronto para ajudar você. 3. REFERêNCIAS BIBLIoGRáFICAS ARISTóTELES. Metafísica. Bauru: Edipro, 2006. (Clássicos Edipro) CAMBI, F. História da pedagogia. Tradução de álvaro Lorencini. São Paulo: Unesp, 1999. GILES, T. R. História da educação. 3 ed. São Paulo: EPU, 1987. MANACORDA, M. A. História da educação: da antiguidade aos nossos dias. Tradução de Gaetano lo Monaco. São Paulo: Cortez, 1989. JAEGER, W. W. Paidéia: a formação do homem grego. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003. ROUSSEAU, J. Emílio ou da educação. Tradução de Roberto Leal Ferreira. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999. 1 EA D A Educação no Mundo Antigo 1. oBjETIvoS • Compreender como se organiza a disciplina Fundamentos Históricos e Filosóficos da Educação e discutir sobre o seu propósito. • Analisar e conhecer determinados conceitos necessários ao estudo da disciplina. • Compreender as estruturas pedagógicas do mundo anti- go, bem como as propostas dos principais filósofos sobre a Paideia dos cidadãos das civilizações antigas. 2. COnTEúDOS • Introdução à disciplina Fundamentos Históricos e Filosó- ficos da Educação e formas de participação, interação e apropriação dos conteúdos. • Programa para o desenvolvimento da disciplina. © Fundamentos Históricos e Filosóficos da Educação Claretiano - REdE dE EduCação 34 3. oRIENTAÇÕES PARA o ESTUDo DA UNIDADE Antes de iniciar o estudo desta unidade, é importante que você leia as orientações a seguir: 1) Durante o estudo desta unidade, procure realizar as re- flexões sugeridas. Faça seu cronograma e não se apresse em prosseguir seus estudos. Afinal, as reflexões são im- portantes para possibilitar que você se envolva por intei- ro na aprendizagem. Pense nisso... 2) Era chamada cidade-Estado uma região controlada por uma grande cidade que fosse independente. As cidades- -Estado eram comuns na Antiguidade, principalmente na Grécia Antiga. 3) O papiro é uma planta nativa do Egito, encontrada às margens do rio Nilo. Era utilizado na fabricação do papel. É possível encontrar plantações de papiro em regiões do sul da Itália. 4. InTRODUÇÃO à UnIDADE O surgimento e o desenvolvimento da problemática pedagó- gica acompanham a gênese da sociedade desde seus primórdios até os dias atuais. Assim, torna-se presente o questionamento so- bre os fundamentos da educação, isto é, sobre as razões que tor- nam possível esse fenômeno social e cultural. Tal questionamento se reduz à pergunta sobre o fundamento no âmbito da reflexão filosófica. A educação encontra-se na base de qualquer sistema polí- tico e social, sendo suporte indispensável para a realização tan- to dos fins subjetivos (do indivíduo) como dos fins objetivos (da sociedade). O grande desafio com o qual a educação sempre se depara é como reconciliar os fins subjetivos com os objetivos. Essa será a base da nossa reflexão, tendo como norteadora a gênese histórica da educação. 35© A Educação no Mundo Antigo Assim, nesta unidade, você vai conhecer os primeiros pas- sos da Educação na sociedade arcaica, no Egito Antigo especifi- camente. Em seguida, terá a oportunidade de se familiarizar com os modelos gregos de educação e seus grandes representantes, como Homero, Sócrates, Platão, Isócrates, Aristóteles e outros, compreendendo as influências que estes exerceram nas épocas helenística e romana. Iniciaremos nosso estudo sobre os fundamentos históricos e filosófico da educação pelos vestígios mais remotos de uma ativi- dade pedagógica da antiguidade no Egito. Acompanhe! 5. EDUCAÇÃO nO EGITO AnTIGO O primeiro rastro de uma atividade pedagógica, segundo Manacorda (1989), encontra-se na civilização do Antigo Egito. Essa é a razão pela qual a nosso estudo histórico-filosófico da educação deve começar por essa civilização. Os povos que habitavam as margens do rio Nilo tinham per- feitas condições de desenvolvimento de uma civilização avançada, pois o solo fértil nas margens do rio propiciava condições de uma agricultura avançada. Esta, por sua vez, necessitava de vários sa- beres que, ao longo do tempo, foram desenvolvidos: matemática, astronomia, engenharia, arquitetura etc. Como podemos entender, todos esses conhecimentos estão na base dessa civilização hidráulica. Assim como é de se esperar que tais conhecimentos tenham sido transmitidos de geração a geração, a fim de manter intacta a civilização, é de se pensar como uma necessidade, a criação de escolas como veículos de transmis- são desses saberes, a partir dos quais se aprendem várias habilida- des e competências que atendam à necessidade da prática. Apesar dessas razões que justificam o surgimento de institui- ções pedagógicas, não encontramos provas de uma clara tendên- cia pedagógica. E tudo isso porque a educação tinha um caráter © Fundamentos Históricos e Filosóficos da Educação Claretiano - REdE dE EduCação 36 restrito, acessível somente a poucos, isto é, às classes dominantes, embora esse fato reduzisse seu currículo de instrução política ao exercício de poder. Foi no Egito que as crenças modernas e o conhecimento so- bre o homem tiveram origem. Foi seu povo quem produziu a arte e a literatura expressivas, como também foi o pioneiro na arquite- tura de pedra, além de desenvolver o primeiro material adequado para a escrita, o papiro (ver Figura 1). Figura 1 Papiro. Mesmo sem rastros de instituições pedagógicas organiza- das, como vestígios dessa atividade encontramos versos de caráter moral e comportamental. Pensemos nos Livros dos sábios. Esses ensinamentos de cunho moral haviam sido transmitidos oralmen- te, de geração a geração, de pai para filho, de mestre para discípu- lo, pois a escrita não era, ainda, o veículo principal. A base desses ensinamentos era mnemônica, ou seja, repetição e memorização. No período feudal, em torno de 2.200 a 2.000 a.C., com a inserção da ginástica e da arte de guerra, houve um avanço con- siderável no quadro curricular. Juntamente com estas, a arte do bem falar (oratória) veio contribuir para uma formação sistemati- camente organizada, ainda que acessível apenas às classes domi- nantes, que mantinham o poder político. 37© A Educação no Mundo Antigo Aos poucos, surgem escolas que não apenas contemplam a formação de políticos e guerreiros – como no caso das classes dominantes –, mas também se destinavam a formar os que man- tinham certas relações com o soberano e não possuíam origem nobre. Essas escolas dão origem à figura do mestre rodeado por seus discípulos. O período de 2.100 a 1.800 a.C. marcou um avanço notável na educação. A memorização dos versos cedeu lugar ao estudo das letras. O ofício das letras, dirigido pelo mestre, criava condição para os próprios alunos interagirem com as sabedorias transmiti- das pelos livros. A partir dessa época, a transmissão oral foi sendo substituída pelo ofício das letras; os livros tornam-se a principal fonte de sabedoria, e, para ter acesso a eles, era preciso que o homem aprendesse a ler e escrever. Essa passagem da tradição oral para a escrita certamente muda o rumo da educação. Agora, o protagonista não é mais o sá- bio, mas aquele que, ao dominar a arte de ler e escrever, apropria- -se da sabedoria depositada nos livros. Na medida em que isso se tornou uma realidade, iniciou-se a criação de bibliotecas como uma espécie de "depósito do saber". Essa considerável mudança na educação ocorreu por volta de 1.800 a 1.600 a.C. Com o posterior desenvolvimento da sociedade antiga e com o crescente anseio político de uma convivência social não confli- tuosa, emerge a necessidade de uma educação para os súditos, cujo objetivo era que estes aprendessem que a sua posição social era a de súditos, ou seja, tratava-se de uma educação que visava à submissão e à obediência. Surgem, portanto, dois modelos de educação: a intelectual e bélica, destinada à classe nobre, e outra, destinada aos plebeus. Estes adquiriam conhecimentos profissionais para a produção de coisas úteis, como era o caso, por exemplo, dos artesões. Esse mo- delo bivalente será a marca registrada da educação antiga, desde a civilização do Egito até a revolução cultural do cristianismo. É o que sublinha Franco Cambi (1999, p. 52): © Fundamentos Históricos e Filosóficos da Educação Claretiano - REdE dE EduCação 38 Todo o mundo antigo, até a revolução cultural do cristianismo, per- manecerá ancorado a esse dualismo radical de modelos formati- vos, que refletem e se encerram naquele dualismo entre trabalho manual e trabalho intelectual que, por sua vez, foi uma infra-estru- tura da cultura ocidental, pelo menos até o advento da modernida- de que tornou a pôr em causa a cisão e a contraposição, exaltando aquele homo faber que será o protagonista do mundo moderno. Feito essas indicações importantes sobre o caráter da educa- ção do Antigo Egito, vamos agora conhecer os desafios que surgem diante da educação na Grécia Antiga. 6. EDUCAÇÃO nA GRéCIA AnTIGA Seguindo as pesquisas históricas e filosóficas, podemos re- conhecer, na Grécia, principalmente no período clássico, esboços de modelos teóricos, cognitivos, éticos e estéticos que dão origem a toda a cultura ocidental. Essa gloriosa civilização grega e suas incomparáveis contribuições no âmbito cultural vão-se desenro- lando durante quatro períodos: homérico, clássico, helenístico e romano. Figura 2 Grécia. 39© A Educação no Mundo Antigo Entre 2.500 e 1.400 a.C., existiu, na Ilha de Creta, uma cul- tura avançada chamada “minoica”, que nos impressiona pela exu- berância e vitalidade; é uma cultura totalmente diferente daquela dos melancólicos templos egípcios. A cultura minoica era marítima com perfil comercial. Por volta de 1.600 a.C., ela estendeu-se até a parte continental da Grécia e permaneceu vigorosa até 900 a.C., fundando, assim, a cultura micênica, da qual não se conhece muito além das lendas e dos testemunhos de Homero. Apesar de os gregos não serem um povo homogêneo, a par- tir de um intenso intercâmbio comercial e cultural, formam sua própria unidade espiritual. Esse processo começou por volta de 1.800 a.C. quando povos itinerantes de origem indo-europeia inva- diram, inicialmente, a Ilha de Creta e, posteriormente, a parte con- tinental da Grécia. Esses povos chegaram à Grécia em três etapas: primeiro, vieram os jônios; depois, os eólios; e, por fim, os dórios. Os jônios apropriaram-se totalmente da cultura minoica. Apesar de ser um povo guerreiro, os jônios foram expulsos pelos eólios. Conforme pesquisas arqueológicas, os eólios constituíram um forte império por volta de 1.400 a.C. Enfraquecida pelas guer- ras entre jônios e eólios, a civilização minoica foi praticamente ex- tinta pelos últimos invasores – os dórios. Enquanto os jônios e os eólios aceitavam a religião minoica, os dórios permaneciam em sua religião indo-europeia. Assim, a religião minoica conservou-se entre as classes baixas, ao passo que a religião da Grécia Clássica as incorporou. Diferentemente da visão oriental da civilização do Antigo Egito, segundo a qual a educação intelectual cabia somente à casta sacerdotal e a educação do povo se limitava ao ensino das normas, os gregos tornaram o homem comum o principal prota- gonista no cenário histórico pelo ideal democrático. A importância do homem, nesse cenário, requer um completo desenvolvimento dos seus dons naturais e potencialidades, o que exigia uma nova Paideia. © Fundamentos Históricos e Filosóficos da Educação Claretiano - REdE dE EduCação 40 Para analisar essa nova mentalidade, faremos uma breve ex- planação sobre Homero, intitulado por Platão como “o maior de todos os mestres gregos”. Vamos lá? o período homérico e a educação Para compreender melhor a educação homérica, temos de, em princípio, compreender a sua religião, pois é desta que aquela tomará inspiração. A epopeia homérica, que origina a religião dos antigos gre- gos, parece não ter analogia com outra religião, pois não se baseia em uma relação de adoração, como qualquer outra, mas, antes de tudo, de rivalidade. Aos deuses gregos, são atribuídos traços hu- manos, ou seja, antropomórficos. Eles são bons ou maus, justos ou injustos, nobres ou covardes; enfim, são como os humanos. A úni- ca diferença que podemos ressaltar entre deuses e humanos é o fato de os deuses serem imortais. No entanto, os homens também poderiam sê-lo; bastava agirem e comportarem-se como heróis. Havia uma rivalidade entre os deuses e os heróis humanos, o que, por sua vez, forçava o homem a superar-se, a tornar-se um deus e a concorrer com eles. Era uma religião que necessitava do “homem-herói”. à base desse paradigma heroico da existência hu- mana, em que o herói preferia a morte – após uma luta sangrenta coroada pela glória – do que a existência feliz, a educação toma inspiração. A educação homérica foi o primeiro modelo de formação em excelência; a primeira versão da Paideia grega. Temos de notar que esse modelo propiciava a formação do lado subjetivo do homem, todavia, essa formação de excelência traria também para o Estado enorme benefício, pois é o herói quem, nos combates, glorificava e dava relevância ao seu Estado. Nesse período, o povo grego ainda não dominava a arte de ler e escrever, e, por isso, a educação era transmitida oralmente. A 41© A Educação no Mundo Antigo Ilíada e a Odisseia eram a base dessa transmissão oral. Os heróis das epopeias serviram como modelo de imitação para os jovens. O processo de formação dos jovens gregos efetuava-se por meio da disputa e da concorrência, já que se acreditava que esse era o caminho para o homem se desenvolver. Com isso, a disputa tornar-se um meio imprescindível para o gênio se destacar e ficar reconhecido. Foi o ostracismo que revelou esse modelo agônico de educação. Segundo tal modelo, se, numa disputa, aparecesse alguém que superasse, em muito, os outros competidores, este teria de ser isolado e transferido para outro grau de disputa, para que esta não cessasse. Pode-se reconhecer essa mentalidade em todas as manifestações da cultura grega, como nos jogos olímpicos e nas disputas sofísticas. Em suma, a educação homérica permea- va e fundamentava essa cultura fenomenal. No entanto, ao longo do tempo, rompeu na cultura grega uma força racional que dominou toda a cultura ocidental. Este pe- ríodo é denominado "Período Clássico”, e tinha, na racionalidade, sua marca fundamental. Vamos estudá-lo a seguir? Período clássico Por volta dos séculos 5 a.C e 4 a.C., a cultura grega entra no pe- ríodo clássico do seu desenvolvimento. Nesse período, entre as pólis gregas, duas merecem destaque, revelando dois modelos diferentes de educação. Com efeito, trataremos de Esparta e Atenas. Esparta Por volta do ano 800 a.C., na estrutura social da Grécia, surge a cidade-Estado, chamada pólis. Havia várias polis, com estruturas política e social próprias. Entre elas, frequentemente explodiam conflitos seguidos por guerras. Essa é a razão pela qual mantinha os cidadãos em prontidão constante para, se necessário, travar lu- tas em sua defesa, pois o bem do Estado conferia o maior valor às ações humanas. Talvez, a manifestação mais clara dessa mentali- © Fundamentos Históricos e Filosóficos da Educação Claretiano - REdE dE EduCação 42 dade grega seja apresentada por Esparta e seu modelo educativo, o qual servirá, em partes, de base a Platão, para descrever o seu Estado perfeito. Em Esparta, o ideal homérico de formação manteve-se mais intacto, pelo menos na sua versão bélica. No entanto, o indivíduo não é concebido na sua dimensão subjetiva, e, portanto, a sua for- mação tendia, sobremaneira, a beneficiar o Estado. O Estado atri- buía à educação uma missão fundamental para a sua conservação, na medida em que ela deveria formar cidadãos compatíveis com o projeto político de Esparta. Foi por essa razão que o Estado espartano considerava as crianças e os jovens como sua propriedade, os quais deveriam ser moldados conforme seus fins. Como o Estado era considerado o Bem supremo, o papel da formação individual reduzia-se ao mí- nimo. Percebe-se como a educação, nessa versão, visa somente a moldar o indivíduo conforme as necessidades estatais. Obser- vamos aqui que se trata de um homem "produzido" pelo e para o Estado. Esse modelo de educação nos mostra uma formação unilateral, que descarta o desenvolvimento subjetivo e pessoal do indivíduo. Ao contrário do modelo espartano, a educação ateniense revela-nos um ideal mais humano e liberal, ou seja, mais volta- do ao aperfeiçoamento pessoal e subjetivo. Vamos conhecer esse modelo educativo a seguir. Atenas Se o Estado espartano atestava a propriedade das crianças, em Atenas, tal propriedade cabia à família e, antes, ao pai. O ideal educativo de Atenas visava a três aspectos: ginástica, música e escrita. A ginástica justificava-se, além das necessidades militares, pelo ideal humanista de harmonia entre corpo e mente. Ao estudo da música, cabia o papel de formar o senso de tempe- rança e de moderação nos jovens, como, por exemplo, evitar falar 43© A Educação no Mundo Antigo e agir com indecência. Se, por um lado, à escrita cabe o principal meio de aquisição de conhecimentos e interação com estes, por outro, a criação do alfabeto naturalmente impõe a necessidade de tal estudo. A esse respeito, Cambi (1999, p. 85) afirma: "Estamos no liminar da grande descoberta educativa ateniense e, também, de toda cultura grega: a Paidéia". Por volta de 461 a.C. a 429 a.C., o grande protagonista políti- co é Péricles. Inicia-se o século de ouro da cultura grega, o Classi- cismo. As principais ideias que a sociedade ateniense eleva como “bandeira” do seu humanismo expressam-se em termos de igual- dade, liberdade e individualidade. Lembremo-nos desta célebre frase de Protágoras: “o homem é a medida de todas as coisas". Esse legado deixado pelo célebre sofista milagrosamente resume todos esses ideais. É o antropologismo, instaurado por meio dos sofistas e de Sócrates, que constrói a pátria do Classicismo. Começa uma nova era para o homem, tornando-se este o principal objeto da sua pró- pria investigação. A famosa frase do templo de delfos ilustra esse movimento espiritual: “Conhece-te a ti mesmo!”. Eis a nova mun- dividência, em que o homem aparece como protagonista e na qual ele se pergunta sobre si mesmo e por si mesmo responde, desper- tando a sua consciência pessoal e, com ela, o gosto pela liberdade. A democracia está, pois, no seu apogeu. Pensando nesse novo status humano, temos de destacar o papel dos sofistas. Neste período surge a preocupação com um processo educativo que requer, antes de tudo, uma formação hu- mana no sentido amplo da palavra. Sofistas Com a ascensão dos comerciantes e o surgimento da classe burguesa, o anseio democrático surgia cada vez mais manifestado e, com ele, a vontade pelo poder social. Praticamente, todo ho- mem tinha direito de assumir cargos públicos, ou até encabeçar o © Fundamentos Históricos e Filosóficos da Educação Claretiano - REdE dE EduCação 44 Estado. Mas, para tal fim, era necessário que ele convencesse os outros das suas capacidades. Os sofistas, como mestres profissionais, prometiam, em tro- ca de dinheiro, tornar apta qualquer pessoa que quisesse dedicar- -se à vida pública. Estes fatores propiciaram o surgimento de es- colas, nas quais se dava muita importância à oratória (a arte de bem falar e arte de disputa), e, por meio desses conhecimentos, preparava-se o discípulo para o ingresso na vida social. Todavia, essas intenções sofísticas de fazer que todo homem pudesse participar na vida pública foram vistas por Sócrates e ou- tros como algo desonroso. Por um lado, porque vendiam o conhe- cimento como se fosse mercadoria, por outro, porque incitavam a possibilidade de os plebeus entrarem na vida pública. Embora Sócrates e outros contestassem o sucesso individual, a carreira na vida pública e a vantagem pessoal, tal fato deveria ocorrer em detrimento da realização plena do homem por meio das virtudes morais. Talvez essa seja a razão da forte repulsa de Sócra- tes, o primeiro teórico da ética, e de seu genuíno discípulo, Platão, contra os sofistas. Vejamos o que Sócrates pensava a esse respeito! Sócrates Sócrates, diferentemente dos sofistas que acentuam o relati- vismo humano, interrogava-se, permanentemente, sobre a natureza humana, procurando a essência comum entre os homens. Sócrates, com a célebre frase “conhece-te a ti mesmo”, fazia com que o indi- víduo a procurasse em si mesmo a sua essência humana, que é co- mum entre os homens. Como afirmava o velho mestre, tal essência era a moral, mas uma moral não baseada na lei inexorável dos costu- mes, mas sim na obrigação interna, no dever que ditado pela própria consciência. O indivíduo deveria consultar o seu próprio “demônio" para achar os motivos do seu agir. Sócrates tornou-se o pai da filosofia moral com base racio- nalista; assim, podemos entender sua frase marcante: “O conheci- 45© A Educação no Mundo Antigo mento é virtude", pois a falta de virtude deve-se à falta de saber. Se esse for o caso, então devemos imaginar que a formação huma- na, que pressupõe aquisição do conhecimento, é imprescindível para o alcance da vida virtuosa, e esta, por sua vez, conduzirá o homem à felicidade. Temos de notar aqui um argumento poderoso em prol da necessidade do ensino. Sócrates designou como maiêutica (alusão à arte de parteira) o método de instrução da alma humana, pelo qual esta se ascende e se torna apta a ingressar no caminho das virtudes. Por meio de perguntas e respostas, Sócrates foi de fato esse “parteiro intelec- tual” que ajudava os jovens a descobrirem, por si mesmos, as ver- dadeiras virtudes que habitavam suas almas. Nessa empreitada, Sócrates era insuperável. Sua maiêutica, entendida como método dialético, criou um novo paradigma na educação, atribuindo a esta mais dinâmica e efetividade. Se a Sócrates cabe o mérito de ter introduzido um novo mo- delo de educação baseado na dinâmica entre o mestre e o discípulo, Platão foi quem, utilizando-se do método dialético, criou uma base sistemática da educação para vigorar numa sociedade perfeita. A seguir, você irá conhecer as propostas pedagógicas de Platão. Platão Não será necessário sublinhar que o modelo educativo de Platão é acentuadamente utópico. Todavia, não deixa de ser uma teoria avançadíssima que, ao longo dos séculos, tem sido uma das principais fontes de inspiração da literatura pedagógica. O modelo pedagógico platônico ressalta dois aspectos: o as- pecto moral, que visa à formação pessoal do indivíduo, e o aspec- to social, que visa à participação do indivíduo na sociedade. Esses dois aspectos devem convergir, para que haja formação perfeita. Platão vê, na dialética, o suporte imprescindível para a formação individual, e esta deve realizar o caminho ascendente para a con- templação das ideias. © Fundamentos Históricos e Filosóficos da Educação Claretiano - REdE dE EduCação 46 A esse respeito, Heidegger notará que é a partir da paideia que o “olho educado” aprende a contemplar as ideias. Na célebre Alegoria da caverna, contida no livro 7 de A república, podemos observar a primeira forma de educação, a individual: primeiro, na libertação do prisioneiro curioso e dos grilhões; depois na tomada do caminho ascendente; e, por fim, no alcance do mundo ensola- rado das verdades eternas. Para compreender melhor essa versão platônica de educa- ção, convidamos você a observar, em detalhes, essa alegoria: Alegoria da caverna –––––––––––––––––––––––––––––––––– Imaginemos uma caverna subterrânea onde, desde a infância, geração após ge- ração, seres humanos estão aprisionados. Suas pernas e seus pescoços estão algemados de tal modo que são forçados a permanecer sempre no mesmo lugar e a olhar apenas para frente, não podendo girar a cabeça nem para trás nem para os lados. A entrada da caverna permite que alguma luz exterior ali penetre, de modo que se possa, na semi-obscuridade, enxergar o que se passa no inte- rior. A luz que ali entra provém de uma imensa e alta fogueira externa. Entre ela e os prisioneiros – no exterior – portanto, - há um caminho ascendente ao longo do qual foi erguida uma mureta, como se fosse a parte fronteira de um palco de ma- rionetes. Ao longo dessa mureta-palco, homens transportam estatuetas de todo tipo, com figuras de seres humanos, animais e todas as coisas. Por causa da luz da fogueira e da posição ocupada por ela, os prisioneiros enxer- gam na parede do fundo da caverna as sombras das estatuetas transportadas, mas sem poderem ver as próprias estatuetas, nem os homens que as transpor- tam. Como jamais viram outra coisa, os prisioneiros imaginam que as sombras vistas são as próprias coisas. Ou seja, não podem saber que são sombras, nem podem saber que são imagens (estatuetas de coisas), nem que há outros seres humanos reais fora da caverna. Também não podem saber que enxergam porque há a fogueira e a luz no exterior e imaginam que toda luminosidade possível é a que reina na caverna. Que aconteceria, indaga Platão, se alguém libertasse os prisioneiros? Que faria um prisioneiro libertado? Em primeiro lugar, olharia toda a caverna, veria os ou- tros seres humanos, a mureta, as estatuetas e a fogueira. Embora dolorido pelos anos de imobilidade, começaria a caminhar, dirigindo-se à entrada da caverna e, deparando com o caminho ascendente, nele adentraria. Num primeiro momento, ficaria completamente cego, pois a fogueira na verdade é a luz do sol e ele ficaria inteiramente ofuscado por ela. Depois, acostumando- -se com a claridade, veria os homens que transportam as estatuetas e, pros- seguindo no caminho, enxergaria as próprias coisas, descobrindo que, durante toda sua vida, não vira senão sombras de imagens (as sombras das estatuetas projetadas no fundo da caverna) e que somente agora está contemplando a pró- pria realidade. 47© A Educação no Mundo Antigo Libertado e conhecedor do mundo, o prisioneiro regressaria à caverna, ficaria desnorteado pela escuridão, contaria aos outros o que viu e tentaria libertá-los. Que lhe aconteceria nesse retorno? Os demais prisioneiros zombariam dele, não acreditariam em suas palavras e, se não conseguissem silenciá-lo com suas caçoadas, tentariam fazê-lo espancando-o e, se mesmo assim, ele teimasse em afirmar o que viu e os convidasse a sair da caverna, certamente acabariam por matá-lo. Mas, quem sabe, alguns poderiam ouvi-lo e, contra a vontade dos de- mais, também decidissem sair da caverna rumo à realidade. O que é a caverna? O mundo em que vivemos. Que são as sombras das esta- tuetas? As coisas materiais e sensoriais que percebemos. Quem é o prisioneiro que se liberta e sai da caverna? O filósofo. O que é a luz exterior do sol? A luz da verdade. O que é o mundo exterior? O mundo das idéias verdadeiras ou da verdadeira realidade. Qual o instrumento que liberta o filósofo e com o qual ele deseja libertar os outros prisioneiros? A dialética. O que é a visão do mundo real iluminado? A Filosofia. Por que os prisioneiros zombam, espancam e matam o filósofo (Platão está se referindo à condenação de Sócrates à morte pela assem- bléia ateniense)? Porque imaginam que o mundo sensível é o mundo real e o único verdadeiro (CHAUI, 1997, p. 40). –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– O mito leva-nos, pois, a imaginar prisioneiros acorrentados num mundo subterrâneo, em que eles apenas podem observar os reflexos de tudo aquilo que uma fogueira lançava na parede da caverna e acreditar que as imagens projetadas na caverna são ver- dadeiras. Imaginemos a seguinte situação: um dos prisioneiros, o mais curioso, liberta-se das correntes e começa a escalar as pare- des. Ele está ofuscado pela luz que a verdadeira realidade produz à medida que ele se aproxima dela. Por fim, alcança a verdadeira realidade e, com ela, a felicidade por estar contemplando o mun- do verdadeiro. Até aqui, é possível observar que a alegoria descreve o pro- cesso da formação individual. O prisioneiro, sozinho, rompe as correntes, escala as paredes e chega ao mundo verdadeiro, que é, também, o mundo da felicidade. Os preconceitos e as falsas cren- ças (as correntes) são rompidos pela dialética que conduz o indiví- duo do ilusório para o verdadeiro. O prisioneiro curioso é o sábio, e este, ao possuir conhecimento, alcança a vida virtuosa, que o leva à felicidade. Do que foi dito podemos concordar com Sócrates que so- mente o sábio é feliz? Até então, Platão acompanha a versão so- crática de educação, segundo a qual a felicidade – meta suprema © Fundamentos Históricos e Filosóficos da Educação Claretiano - REdE dE EduCação 48 da vida humana – só é alcançada pelo saber, e temos de concluir que o saber torna o sábio feliz. No entanto, Platão dá um passo a mais que Sócrates no que diz respeito à formação, envolvendo, com isso, razões políticas e sociais. Se, para seu mestre, o importante era a bem-aventurança individual e, sabendo que o acesso à felicidade é interditado para os ignorantes, o ideal socrático mantém-se no nível subjetivo. Partindo da formação subjetiva, descrita pelo caminho as- cendente do prisioneiro curioso, Platão tenta mostrar que o sábio pode desempenhar um papel extraordinário na sociedade. Ele nos conta que o prisioneiro, apesar de estar no mundo ensolarado das ideias, sentindo seu ser envolvido em plena felicidade, resolve re- tornar à caverna para contar aos outros prisioneiros que há outra realidade, mais verdadeira. É nesse momento que a responsabili- dade social do sábio entra em jogo. Obviamente, ele corre risco de ser morto ao tentar salvar os ignorantes de suas cavernas, mas só a ele cabe o papel de instruir os outros e mostrar que é possível uma sociedade perfeita a partir da formação do homem. Platão tenta conjugar a visão subjetiva da educação, que contemplava a formação integral do indivíduo, contemplada pela versão socrática de formação, com a visão de uma educação para o bem comum do Estado, sem, contudo, lesar a formação indivi- dual do sujeito. Vamos observar como isso é possível? Inicialmente, Platão propõe uma educação igual para todos – pelo menos em seu ponto de partida –, incluindo as mulheres. Essa educação contempla dois aspetos: a ginástica, para o corpo, e a música, para a alma. A música é responsável pelos estudos in- telectuais: poesia, literatura, matemática etc. Desse modo, de acordo com o desempenho de cada um, o posterior desenvolvimento da educação contempla três modali- dades, correspondentes às três classes sócias: governantes, guar- 49© A Educação no Mundo Antigo diões e trabalhadores. Cada um deve ser instruído segundo a virtu- de da justiça, pois é esta que ampara a divisão social do trabalho e determina as modalidades educativas de cada classe. Assim, quem é destinado a trabalhar e a produzir bens materiais deve aprender saberes técnicos; aos guardiões, era reservada, segundo o mentor de A república, uma formação militar forjada na coragem e na dis- ciplina; e os destinados ao poder estatal, ou seja, os governantes, devem, após um longo estudo teórico em matemática, literatura e música, aprender a dialética, que dará abertura à visão panorâmi- ca das verdades eternas. Então, somente os governantes estarão aptos a exercer o poder administrativo. Para compreender um pouco mais da significante proposta pedagógica de Platão, vejamos um artigo de Renato José de Olivei- ra, intitulado Platão e a Filosofia da Educação. Platão e a Filosofia da Educação –––––––––––––––––––––––– O pensamento filosófico de Platão se desenvolve em consonância com sua visão educativa, a qual é apresentada principalmente nos diálogos A República e As leis. Tendo por objetivo a fundação mental de um Estado perfeito, Platão propõe, em A República, que se dê atenção especial à formação dos “guardiães”, cuja função social é a defesa da cidade. O longo processo educativo que envolve a formação dos guardiães tem como pilares duas artes bastante valorizadas pelos gregos: a música (que engloba também a poesia) e a ginástica. Discorrendo sobre a educação musical, Platão defende a instituição de uma censura com relação aos poemas épicos e trágicos que fazem menção aos atos divinos de natureza “não digna”, como por exemplo a vingança. Partindo do princípio de que a divindade é boa em sua essência, o filósofo ateniense julga ser danoso à formação moral dos guardiães o conheci- mento desses relatos, que considera mentirosos. Quanto à educação do corpo, ele diz ser preciso tomar por modelo a ginástica militar espartana, que tem por base exercícios físicos e prescreve o rígido controle sobre os prazeres. Assim, para Platão, as refeições deveriam ser frugais e sempre realizadas coletivamen- te, de modo a reprimir os excessos motivados pela gula. A grande articulação entre esses dois tipos de educação constitui a espinha dor- sal da formação dos futuros guardiães. Mas como escolher, dentre eles, o mais apto para governar a cidade? Platão entende ser necessário submeter os edu- candos a duras provas de habilitação, as quais incluem avaliação da faculdade mnemônica, da resistência à dor e à sedução e da capacidade demonstrada na execução de trabalhos árduos. Os aprovados nesses exames devem prosseguir no processo educativo, estudando matemáticas e, posteriormente, dialética. Aos reprovados cabe trabalhar para a comunidade, prestando os mais diversos ser- viços: comércio, manufatura de bens de consumo, etc. © Fundamentos Históricos e Filosóficos da Educação Claretiano - REdE dE EduCação 50 A formação dos guardiães e, em particular, do governante, exige, posteriormente, dedicação e esforços ainda maiores por parte dos educandos. Assim como nossos olhos não conseguem contemplar o sol, fonte de toda luz do mundo visível, o Bem, idéia suprema que governa o mundo supra-sensível, não pode ser contemplado se os olhos da alma não forem cuidadosamente preparados para esse fim. A situação, ilustrada pela bem conhecida alegoria da caverna, prevê que o homem possa se libertar dos conhecimentos falsos, enganosos, gerados pela opinião (doxa), que são apenas sombras ou simulacros dos conhecimentos verdadeiros. Tal ruptura, porém, não é imediata, pois aquele que foi acostumado a viver nas sombras, quan- do olha pela primeira vez o sol, tem sua vista ofuscada e se recusa a continuar a observá-lo. O mesmo se dá com respeito às verdades e à idéia do soberano Bem. Por essa razão, os estudos a serem feitos posteriormente (matemáticas e dialética) devem prosseguir por muitos anos a fim de revelar quem possui alma de filósofo. Segundo assinala Werner Jaeger (1995, p. 841-842), para Platão o verdadeiro espírito filosófico é aquele que não se deixa perturbar pela variedade das opiniões, tendo como meta alcançar a unidade na diversidade, isto é, “ver a imagem fundamental, universal e imutável das coisas: a idéia”. A educação que revela, para o conjunto dos cidadãos, o melhor governante é uma ascese espiritual: a alma que atinge o topo do conhecimento se acha em plenas condições de governar, mas não deve se julgar superior aos demais ho- mens e mulheres. Ao contrário, deve retornar ao mundo de sombras em que eles vivem e, graças ao seu olhar mais acurado, ajudá-los a ver com maior nitidez no escuro. O rei-filósofo não tem, portanto, como ideal de felicidade chegar ao poder para ser honrado por sua sabedoria ou para adquirir prestígio e riqueza; ele não cultiva qualquer tipo de orgulho e é feliz por ser o educador maior de todos, aque- le que governa para fazer de seus concidadãos homens e mulheres melhores. No diálogo As Leis, provavelmente o último escrito por Platão, o Estado ideal é fundado na ilha de Creta, sendo também uma construção mental, e tem por nome “Magnésia”. Se na República o filósofo ateniense entendia que a palavra do rei-filósofo poderia ser considerada justa e a melhor expressão das leis, em “Magnésia” ele vê as leis escritas como algo de suma importância, sobretudo devido ao conteúdo educativo que possuem: o espírito de uma lei deve envolver a alma do cidadão como verdadeiro ethos, isto é, deve fazer com que o respeito seja dado em função do papel que a lei cumpre no aprimoramento da coesão social e não em função do temor com relação às punições que prescreve. Para Platão, toda lei tem um fundamento transcendente, que é a própria divin- dade. Deus é a “norma das normas, medida das medidas” (ibid, p. 1341). Na República, o princípio universal supremo é a idéia do Bem, que agora, nas Leis, acaba por coincidir com a própria mente divina. A divindade se apresenta como o legislador dos legisladores, mantendo com o homem uma relação eminentemen- te pedagógica: assim como toda boa fonte sempre faz jorrar águas saudáveis, Deus sempre prescreve o que é justo; Ele é, portanto, o “pedagogo universal” (ibid, p. 1343). A partir daí, Platão passa a dar mais atenção à extensão dos processos educati- vos, ou seja, já não interessa tanto quem a educação irá apontar como apto para governar, mas quantos serão bem formados para o exercício da vida cívica. As- sim, Platão defende que a educação tenha caráter público e que seja ministrada em prédios construídos especialmente para esse fim, onde meninos e meninas recebam igual instrução. Esta, por sua vez, precisa ser iniciada o mais cedo possível, sendo sugerida às crianças pequenas (na faixa etária de três a seis anos) a prática de diferentes jogos, inventados por elas mesmas ou não. Para 51© A Educação no Mundo Antigo as crianças mais velhas, Platão recomenda que pratiquem sempre os mesmos jogos com as mesmas regras, pois quem se habitua a ser regido por princípios bons não terá, no futuro, necessidade de alterar as leis e convenções aprovadas pela comunidade. Na medida em que a educação assume papel de destaque na formação dos cidadãos, torna-se crucial supervisioná-la. Tal tarefa cabe a um ministro da edu- cação altamente qualificado, o qual deve ter no mínimo cinqüenta anos e ser indicado - por votação secreta, realizada no templo de Apolo - entre os mais competentes funcionários da administração pública, mas o escolhido não pode ser membro do Conselho Noturno. O governo proposto por Platão em As Leis é um sistema que combina elemen- tos da aristocracia e da democracia. A administração do Estado é exercida por diferentes escalões de funcionários, acima dos quais figura o Conselho Noturno, composto pelos servidores mais idosos e notáveis. Este Conselho não é eleito pelos cidadãos, mas seus membros podem ter sido escolhidos, por via eletiva, para ocupar os cargos públicos que antes exerciam. As principais funções do Conselho Noturno são: Desenvolver estudos filosóficos visando a mais completa compreensão das leis que regem o Estado. Fazer intercâmbio com filósofos de outras cidades a fim de aprimorar as leis existentes em “Magnésia”. Zelar para que os princípios filosóficos e legais respeitados pelos conselheiros no exercício de suas funções se difundam para o conjunto dos cidadãos. Segundo Jaeger (op. cit.), embora surpreendente em alguns aspectos, a propos- ta político-pedagógica de Platão não se modifica substancialmente em relação a que fora apresentada na República porque os conselheiros cumprem papéis análogos aos dos guardiães: são os supremos defensores e os principais difuso- res da virtude (OLIVEIRA, 2010). –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Antes de passarmos para o estudo da educação segundo o pensamento do grande Aristóteles, vamos analisar as propostas de Isócrates? Isócrates Apesar da perfeita elaboração conceitual, a Paideia platôni- ca não encontra aplicação na prática, permanecendo, assim, no leito da utopia. O modelo mais difundido e explorado nessa época foi a obra de Isócrates. Sua proposta mantinha-se mais próxima das necessidades da pólis do que a Paideia platônica, revelando-se mais prática e utilitária. Isócrates nasceu em 436 a.C. Contemporâneo de Platão, estu- dou com o célebre sofista Górgias e fundou, em 393 a.C., sua própria © Fundamentos Históricos e Filosóficos da Educação Claretiano - REdE dE EduCação 52 escola, quase na mesma época em que Platão fundou a Academia. Na escola isocrática, o ensino girava em torno da retórica; era o cen- tro de verdadeira compreensão do significado da palavra. A esse res- peito, Cambi (1999, p. 91) afirma: A Paidéia isocrática tem seu centro na palavra, é uma Paidéia do Lo- gos como “palavra criadora da cultura”, colocando o sujeito em posi- ção de autonomia, mas sempre como interlocutor da cidade, na qual e pela qual desenvolve uma subjetividade mais rica de humanidade. Isócrates julga inaplicável o ideal platônico pela teoria das ideias, cujo teor permanecia inacessível à maioria. Ao contrário, dirige sua mensagem a todos e aposta na formação moral do povo, com base em quatro virtudes: prudência, força, temperan- ça e justiça. Essas virtudes, desenvolvidas pelo sujeito ao longo de sua formação, têm como finalidade garantir a paz e a convivência harmoniosa na sociedade. E, nisso consiste o papel da educação, conforme entende Isócrates. Figura 3 Paideia isocrática: a prudência, a força, a temperança e a justiça como bases do desenvolvimento do homem. O programa curricular do modelo isocrático foi basicamente centrado no ensino literário e oratório, tentando formar um homem que realmente mantivesse e expressasse o verdadeiro significado das palavras, podendo assim realizar um discurso simples, claro e acessível para todos. Na base disso, está a crítica de Isócrates dirigi- da aos sofistas, por estes ensinarem uma técnica de falar que visava não à verdade do discurso, mas, sobretudo, à vantagem pessoal. 53© A Educação no Mundo Antigo O processo educativo, segundo Isócrates, deve contemplar três aspectos fundamentais: talento, prática e estudo. O talento diz respeito à predisposição natural do sujeito para aprender, para ser naturalmente apto a compreender a base da prática (segundo aspecto) e para o estudo teórico (terceiro aspecto). O conteúdo programático proposto por Isócrates tende a ser alheio à visão ge- ral da educação na Grécia Antiga, a qual visa à formação do corpo mediante a ginástica e a formação da alma por meio de estudos de música, poesia, gramática, retórica, matemática e filosofia. Um notável avanço no sistema curricular isocrático foi a inclusão da história, compreendida como estudo de acontecimentos passados que fornecem a base dos porvindos. Por fim, o modelo isocrático serviu como fonte rica de ins- piração, sobremaneira para os pensadores da época do Renasci- mento. A partir de agora, você entrará em contato com as propostas pedagógicas de Aristóteles. Acompanhe! Aristóteles Assimn como seu mestre Platão, Aristóteles considerava o processo de formação humana nos aspectos: • individual – segundo a sua forma humana e seus dons naturais, uma vez que o estagirita defende a posição de uma desigualdade natural entre os homens; • e social – uma formação para o cidadão, já que este é uma parte integrante da sociedade. Todavia, o modelo de Aristóteles apresenta, diferentemen- te do de Platão, um caráter mais pragmático e realista. Em sua obra História da Pedagogia, Cambi (1999, p. 92) reflete essa dife- rença, que, no entanto, não chega a ser uma proposta alternativa: “A Paidéia aristotélica é um pouco a correção empírica do grande e ousado modelo platônico, mas de maneira nenhuma uma refuta- ção e um modelo alternativo”. © Fundamentos Históricos e Filosóficos da Educação Claretiano - REdE dE EduCação 54 Como em sua teoria filosófica, Aristóteles é bastante realis- ta em sua proposta pedagógica. Basta lembrar como o mármore se transforma em bela estátua para melhor compreender essa versão realista: a pedra de mármore tem toda a potencialidade de virar uma estátua, assim como o sujeito humano oculta em si tantas possibilidades. No entanto, o processo de formação só se realiza pelo trabalho árduo do escultor, no caso da estátua, e pelo estudo, no caso do sujeito. Assim como o escultor retira da pedra, com seu martelo e cinzel, o inessencial para que esta se torne uma bela obra de arte, o sujeito humano, pela educação, alcança excelência. Na sua versão social, a educação aristotélica deve fornecer a base sólida para a formação das virtudes sociais. A virtude, no entanto, é algo que deve ser aprendido, e a responsabilidade des- sa aprendizagem cabe à educação. Assim, a pedagogia vem à tona como meio de promover tais virtudes no indivíduo para que este esteja em sintonia com os outros e comungue com o bem comum do Estado. Cabe, pois, ao Estado promover uma educação compa- tível com seus fins. Se esse for o caso, então, a educação deve ser pública, sustentada e financiada pelo Estado. Nessa versão, a educação é, para Aristóteles (1973), um veí- culo de ideias e de valores estatais e, por conseguinte, deve acom- panhar as variações que ocorrem nas formas de governo, devendo apresentar um mecanismo capaz de moldar os indivíduos confor- me o projeto político vigente. É o que Aristóteles (1973, cap. I). Salienta em sua política: Que o legislador deve ocupar-se antes de tudo da educação dos jovens, ninguém o contestará, pois nos Estados onde ela é negli- genciada, as constituições sofrem prejuízo. Ora, a educação polí- tica deve ser adaptada a cada instituição que em geral a protege e funda-a desde o começo; assim o caráter democrático é o mais seguro fundamento da democracia, e o oligárquico, da oligarquia. Percebe-se, no fragmento citado, que a educação serve como mecanismo fundamental de formação de cidadãos, e, assim, há de ser igual para todos: "Como o objetivo do Estado é um só, 55© A Educação no Mundo Antigo está claro que a educação deve ser uma só”. (ARISTóTELES, 1973, cap. I). Como Platão em A república, Aristóteles, na sua Política, concorda que cabe à educação o papel fundamental de garantir a saúde do Estado. Dessa maneira, a formação individual do sujeito deve ser norteada pela sua formação social à luz do projeto políti- co do Estado. Neste tópico, você pôde analisar as propostas pedagógicas gregas do período clássico. No tópico a seguir, conhecerá as mu- danças que ocorreram na Grécia na época do helenismo. Este pe- ríodo é marcado pelas conquistas de Alexandre, o Grande, e pelo sincretismo cultural, que criava uma cultura nova, à que chama- mos helenismo. Acompanhe! 7. EDUCAÇão NA ÉPoCA Do HELENISMo O protagonista dessa época é Alexandre, o Grande, homem que transformou, profundamente, o mundo antigo. Em conse- quência da sua política, a cidade-Estado perdeu sua atualidade. Em virtude de sua política as fronteiras do novo império avançaram implacavelmente. O inevitável sincretismo entre as culturas e tradições dos diferentes povos, exigia um novo mode- lo de homem, bem diferente do homem da pólis grega, o homem cosmopolita. O desenvolvimento da infraestrutura e o surgimen- to de novas cidades-centro, aspectos que descrevem o caráter de cada grande império, mudam, completamente, a vida das pes- soas. Tais mudanças políticas e sociais engendram novos desafios para a educação. No âmbito dessa visão cosmopolita, a educação visa o desenvolvimento pessoal. Norteada pelos valores cosmo- politas, a educação devia preparar o indivíduo para uma atuação mais vasta e abrangente, que o fizesse ultrapassar as fronteiras da sua cidade natal e atuar como cidadão do mundo, como verdadei- ro cosmopolita. © Fundamentos Históricos e Filosóficos da Educação Claretiano - REdE dE EduCação 56 Fundada por Alexandre, no ano 332 a.C., Alexandria tornou- -se o centro principal do novo império, emergindo como o berço da civilização alexandrina. Nela, surgem novas escolas cujo papel fundamental é a transmissão desse novo ideal. Nesta cidade sur- giu a maior instituição educativa do mundo antigo – o Mouseion, que possuia o maior acervo de manuscritos (mais de 700.000) dos maiores pensadores e cientistas até então conhecidos. O Mouseion foi ambiente de encontros e de convívio entre mestres, sábios e dis- cípulos, onde estes moravam e trocavam saberes e conhecimentos. Figura 4 Mouseion Alexandrino: lugar de encontros e de convívio entre mestres e discípulos. O enorme acervo da biblioteca possibilitava intensa intera- ção com a literatura e suas diversas ramificações: filosofia, geo- metria, gramática, geografia, história etc. Esse fato possibilitava o novo ideal – a formação completa do homem. É possível notar, claramente, a diferença entre o modelo clássico e o modelo helenístico de educação a partir das mudan- ças ocorridas no conceito de Paideia. SSócrates a entendia, sobre- tudo, como caminho para a formação do homem como sujeito e cidadão, a Paideia à base da herança clássica não visa mostrar o caminho (pois este já está traçado pelos antigos), mas, antes, à apropriação dessa herança cultural. E, visto que o modelo da pólis grega não existe mais, impõe-se, portanto, a necessidade de rees- truturação dessa Paideia. Agora, a excelência da educação con- 57© A Educação no Mundo Antigo templa a formação intelectual do sujeito. A nova Paideia denota, como ideal de formação, a erudição. O homem alexandrino é, pois, erudito. Aos poucos, a cultura sincrética que caracterizava a época helenística vai cedendo lugar à cultura bélica do poderoso Império Romano; a anexação da Grécia pelo Império Romano, em 146 a.C., constitui um marco importante dessa transição. No tópico a seguir, dedicaremos nossa atenção ao papel da educação na conservação desse poderoso império. 8. EDUCAÇÃO ROMAnA A educação romana tem por objetivo a formação de virtudes cívicas. Trata-se de uma educação voltada às necessidades do Es- tado, baseanda, por muito tempo, nos mandamentos sagrados das "Doze Tábuas”. Ela dispensava a formação intelectual do indivíduo. O ideal promovido por essas tábuas contemplava um código civil inspirado na fidelidade à tradição, à dignidade, à firmeza, à cora- gem e à piedade. A respeito dessa questão, em seu livro História da educação, Thomas Ramson Giles (1989, p. 31) afirma: “O ideal romano é prático, pois orienta-se para a lei e para a ordem, o dever do Estado, às tradições ancestrais e à dignidade auto suficiente". Essa citação mostra, claramente, que o ideal da sabedoria e da virtude que a educação romana contemplava, na consiste em aprender as artes que são necessárias para o Estado. Nesse caso, estamos diante de uma educação voltada para a sociedade e sua conservação. O fato de a escrita ter sido utilizada, sobretudo, para copiar leis, tratados e orações, e não desempenhar o papel de vin- cular novas ideias, como ocorria no período clássico, mostra o ca- ráter conservativo da sociedade romana. O papel fundamental dessa formação cívica cabia à família e se centrava na figura do pai e no seu poder absoluto. Era na família que as crianças aprendiam as virtudes morais, a reta conduta e as © Fundamentos Históricos e Filosóficos da Educação Claretiano - REdE dE EduCação 58 obrigações sociais. Essa era a razão por que, naquele tempo, as escolas tinham, no processo pedagógico, menor importância que a família. A formação, basicamente moral e cívica, que visava à conser- vação da sociedade romana, vai-se alterando aos poucos em vir- tude da política conquistadora do Império Romano. à medida que Roma conquistava outros povos, era conquistada e transformada por dentro pela cultura das terras dominadas. Quando a cultura grega começou a penetrar e a romper com os valores da sociedade arcaica romana, sua influência espalhou- -se com a mesma velocidade das conquistas romanas. Em conse- quência disso, a pedagogia tradicional também mudou, rompen- do, aos poucos, com os costumes. Assim, no âmbito pedagógico, a Paideia grega tornou-se predominante. Foi Cícero quem possibilitou essa transição da cultura grega para o Império Romano. A partir daí, o ideal da formação humana começou a protagonizar a figura do orador, aquele que domina a palavra, segundo o modelo isocrático. Os mestres cultos vindos de fora, transmitiam novas ideias e novos conhecimentos aos roma- nos; desse modo, surgiram escolas eruditas e iniciou-se a tradução de literatura grega e os estudos de retórica, gramática, filosofia, língua grega e arte –, em suma, tudo o que era indispensável para uma educação erudita. Assim, o romano erudito já não está tão fielmente ligado à tradição, dispensando a necessidade da autodisciplina e das virtu- des morais que garantiam a conservação do Estado. Giles (1989, p. 35) assim descreve esse surto de erudição: “Mesmo as mulheres contratavam tutores para aprenderem o grego. Fazia-se de tudo para adquirir manuscritos e escravos mestres. Importavam-se bi- bliotecas inteiras”. De qualquer maneira, pode-se dizer que o poderoso Império Romano foi, aos poucos, profundamente alterado pela gloriosa e ainda mais poderosa cultura grega. Ao longo dos séculos poste- 59© A Educação no Mundo Antigo riores, qualquer tentativa de se romper com o modelo grego de educação resultava, necessariamente, na sua retomada. Antes de passarmos ao estudo da Unidade 2, é importante que você verifique se assimilou os pontos principais desta unida- de. Nesse sentido, não deixe de fazer os exercícios propostos no Tópico 9. Vamos lá? 9. QUESTÕES AUToAvALIATIvAS Sugerimos que você procure responder, discutir e comentar as questões a seguir, que tratam da temática desenvolvida nes- ta unidade, ou seja, das estruturas pedagógicas do mundo antigo, bem como das propostas dos principais filósofos sobre a Paideia dos cidadãos das civilizações antigas. A autoavaliação pode ser uma ferramenta importante para você testar o seu desempenho. Se você encontrar dificuldades em responder a essas questões, procure revisar os conteúdos estuda- dos para sanar as suas dúvidas. Este é o momento ideal para que você faça uma revisão desta unidade. Lembre-se de que, na Edu- cação a Distância, a construção do conhecimento ocorre de forma cooperativa e colaborativa; compartilhe, portanto, as suas desco- bertas com os seus colegas. Confira, a seguir, as questões propostas para verificar o seu desempenho no estudo desta unidade: 1) Leia as afirmações e assinale a alternativa correta: I – A pedagogia de Platão buscava harmonizar a formação individual e so- cial. II – A pedagogia de Platão, assim como a socrática, valorizava apenas a for- mação subjetiva. III – A pedagogia socrática valoriza, unicamente, a formação subjetiva. Com base nesses dados, podemos afirmar que: a) As alternativas I e II estão corretas. b) As alternativas I e III estão corretas. c) Somente a alternativa I está correta. © Fundamentos Históricos e Filosóficos da Educação Claretiano - REdE dE EduCação 60 d) Somente a alternativa II está correta. e) Todas as alternativas estão corretas. 2) Leia a citação a seguir: O ideal é prático, pois orienta-se para a lei e para a ordem, o de- ver do Estado, às tradições ancestrais e à dignidade auto suficiente. Mesmo as mulheres contratavam tutores para aprenderem o gre- go. Fazia-se de tudo para adquirir manuscritos e escravos mestres. Importavam-se bibliotecas inteiras (GILES, 1987, p. 31). O trecho amterior diz respeito à educação: a) Ateniense. b) Espartana. c) Helênica. d) Sofista. e) Romana. 3) Sobre a educação em Atenas, no período clássico da Grécia Antiga, é correto afirmar que: a) O Estado ateniense considerava as crianças e os jovens como sua pro- priedade, devendo ser moldados conforme seus fins. b) Seu modelo de educação mostra-nos uma formação unilateral, que des- carta o desenvolvimento subjetivo e pessoal do indivíduo. c) O indivíduo não era concebido na sua dimensão subjetiva, e, portanto, a sua formação tende, sobremaneira, a beneficiar o Estado. d) A educação ateniense revelava-se como um ideal mais humano e liberal, ou seja, mais voltado ao aperfeiçoamento pessoal e subjetivo. e) O Estado atribuía à educação uma missão fundamental para a sua con- servação, na medida em que a educação deveria formar cidadãos com- patíveis com o projeto político de Atenas. 4) A epopeia homérica, que origina a religião dos antigos gregos, parece não ter analogia a outra religião, pois não se baseia numa relação de adoração, como em qualquer outra, mas, antes de tudo, de rivalidade. Aos deuses gregos, são atribuídos traços humanos, ou seja, antropomórficos. Eles eram bons ou maus, justos ou injustos, nobres e covardes; enfim, assim como são os humanos. A única diferença que podemos ressaltar é o fato de os deuses serem imortais. No entanto, os homens também poderiam sê-lo; bastava agirem e comportarem-se como heróis. Da religião homérica, assim enten- dida, originou-se o ostracismo, que estimulava a concorrência e a disputa. Com base nesses dados, podemos afirmar que: a) Os deuses sentiam-se melhores que os homens. b) Os homens queriam ser melhores que os deuses. c) Essa foi a primeira versão da Paideia grega. d) Essa foi a versão mais pura da educação grega. e) Essa foi a versão mais fraca da educação grega. 61© A Educação no Mundo Antigo Gabarito Depois de responder às questões autoavaliativas, é impor- tante que você confira o seu desempenho, a fim de que possa sa- ber se é preciso retomar o estudo desta unidade. Assim, confira, a seguir, as respostas corretas para as questões autoavaliativas pro- postas anteriormente: 1) b. 2) e. 3) d. 4) c. 10. COnSIDERAÇõES Nesta unidade, você conheceu as primeiras concepções educativas da sociedade organizada, que se inicia no Antigo Egito. Ainda, pôde analisar as propostas educativas que mais se destaca- ram na Grécia durante o período clássico, além de compreender os principais objetivos da educação romana. Para isso, conheceu alguns aspectos históricos e as principais propostas pedagógicas daqueles filósofos que mais se destacaram no período proposto para este estudo. Devido à grande influência dos pensadores gregos (sofistas, Sócrates, Platão, Isócrates e Aristóteles) no desenvolvimento cultu- ral do Ocidente, dedicamos maior atenção aos aspectos históricos e filosóficos da educação na Grécia Antiga, mesmo porque a cul- tura grega invadiu fortemente o Império Romano e todo Ocidente cristão teve, consequentemente, suas raízes culturais na Grécia Antiga. Na Unidade 2, você terá a oportunidade de acompanhar como essa influência grega continuou na Idade Média, atravessan- do o Império Romano. Esperamos que os objetivos propostos te- nham sido alcançados. Bom estudo! © Fundamentos Históricos e Filosóficos da Educação Claretiano - REdE dE EduCação 62 11. E-REFERêNCIAS Lista de figuras Figura 1 Papiro. Disponível em: <http://www.legambientearcipelagotoscano.it/ biodiversita/flora/habitat/naturalizzate/cyperus%20papyrus%20papiro.jpg.JPG>. Acesso: 04 jun. 2008. Figura 2 Grécia Antiga. Disponível em: <http://www.resortvacationstogo.com/images/ maps/cc/111.gif>. Acesso em: 30 jun. 2008. Figura 3 Paideia isocrática: a prudência, a força, a temperança e a justiça como bases do desenvolvimento do homem. Disponível em: <http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/ opombo/hfe/momentos/escola/isocrates/images/vaso_pintura.gif>. Acesso em: 30 jun. 2008. Figura 4 Mouseion Alexandrino. Disponível em: <http://lemurianmouseion.files. wordpress.com/2007/04/buildalex.jpg>. Acesso: 01 jul. 2008. Sites pesquisados OLIVEIRA, José Renato de. Platão e a filosofia da educação. Disponível em: <http://www. cfh.ufsc.br/~wfil/platao.htm>. Acesso em: 27 set. 2010. 12. REFERêNCIAS BIBLIoGRáFICAS ARISTóTELES. Política: os pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1973. CAMBI, Franco. História da pedagogia. Tradução de álvaro Lorencini. São Paulo: Unesp, 1999. CHAUI, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: ática, 1997. GILES, Thomas Ransom. História da educação. São Paulo: EPU, 1987. MANACORDA, Mario Alighiero. História da educação: da Antiguidade aos nossos dias. Tradução de Gaetano lo Monaco. São Paulo: Cortez, 1989. MARROU, Henri-Irénnée. História da educação na Antiguidade. Tradução de Mario Leonidas Casanova. São Paulo: EPU, 1975. PILETTI, Claudino. Filosofia e história da educação. 9. ed. São Paulo: ática, 1991.