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· -. l -9.9.019.43 MSr p 2007
Autor: . loreira arcio Borges.
Titulo: Principia basicos de analise do
I 11~ 1~11 1111 1 11 1 1 1 1 1111 1111111111111111111111111111 I
-25419 Ac. 4729
LUI
UNIMINAS
21690
Uniminas
Biblioteca
M838p Moreira, Marcio Borges
Principios bcisicos de analise do comportamento I Marcio Borges
Moreira, Carlos Augusto de Medeiros . - Porto Alegre: Artmed, 2007.
224p. : il.; 25 em.
ISBN 85-363-0755-2
1. Analise comportamental. I. Medeiros, Carlos
Augusto de. II. Titulo.
CDU 159.9.019.4
Cataloga<;;ao na publica<;;ao: Julia Angst Coelho- CRB 10/1712
, ,
PRINCIPIOS BAS COS
,
DE A N A L I S E
DO COMPORTAMENTO
,
MARCIO BORGES MOREIRA
Mestre em Psicologia pela Universidade Cat6lica de Goias (UCG).
Doutorando em Analise do Comportamento pela Universidade de Brasilia (UnB).
Professor do Instituto de Educa~ao Superior de Brasilia (IESB).
CARLOS AUGUSTO DE MEDEIROS
Doutor em Psicologia pela Universidade de Brasilia.
Professor do lnstituto de Educa~ao Superior de Brasilia (IESB) e do
Centro Universitario de Brasilia (UniCeub).
I .
2007
Agradecimentos
A todos os nossos alunos que contribuiram direta ou indiretamente com ideias e
sugest6es para o aprimoramento deste livro.
Ao curso de psicologia do Instituto de Educa<;ao Superior de Brasilia (IESB;
www.iesb.com.br) e ao Professor Joao Claudio Todorov, pelo apoio e incentivo
na elaborac;ao desta obra.
Aos Professores Graziela Furtado Scarpelli Ferreira, Cristiano Coelho, Diogo
Seco, Ricardo Martone, Paula Madsen e Silvia Lordelo, pela valiosa ajuda com a
revisao do manuscrito que deu origem a este livro.
Aos Professores
Este livro foi escrito enquanto desenvolvfamos e ministravamos urn curso de
Principios Basicos de Analise do Comportamento para alunos de graduac;ao em
Psicologia nos moldes do Sistema Personalizado de Ensino0 (PSI). Na prirneira
versao de nosso curso, organizamos uma apostila com textos de Catania, Ferster,
Tourinho, entre outros. Para facilitar a compreensao dos alunos em relac;ao a
tais textos, comec;amos a elaborar algumas transparencias e alguns resumos
explicativos. Foi assim que o livro comec;ou a ser escrito.
Em urn curso dado nos moldes do Sistema Personalizado de Ensino, nao
temos aulas nas quais o professor transmite o conteudo para o aluno. 0 conteudo
da disciplina e cuidadosamente divido (em 20 unidades, no nos so caso ), e o
aluno seguira passo a passo, mudando de uma unidade para a outra apenas no
momenta em que demonstrar total domfnio do conteudo de cada unidade. Cada
aluno segue em seu proprio ritmo, ou seja, nao ha datas para as avaliac;6es, e
cada avaliac;ao pode ser refeita quantas vezes forem necessarias para que o alu-
no demonstre domfnio do assunto abordado. Cada aluno so se submete a avalia-
c;ao de uma unidade quando se sente preparado para tal. Para que a disciplina
possa funcionar nesses moldes, cada aluno recebe, alem do material a ser estuda-
do, instruc;6es claras e objetivas do que e de como estudar o material da disciplina.
Alem disso, contamos com a ajuda- essencial ao metodo- de tutores (alunos
que conclufram a disciplina em semestres anteriores ). Professores e tutores da
disciplina disponibilizam horarios para o atendimento individual a cada aluno
( tirar duvidas, discutir os topicos abordados, realizar as Verificac;6es de Aprendiza-
gem, etc.). Eventualmente, o professor faz palestras ou demonstrac;6es experi-
mentais sobre os assuntos tratados nas disciplinas, sendo voluntaria a participa-
c;ao do aluno, nestas palestras.
A terceira turma do curso iniciou seu semestre utilizando uma versao deste
livro muito proxima a versao final, a qual se encontra neste momenta em suas
maos. Janas primeiras semanas de aula, percebemos uma sensivel diferenc;a no
desempenho dos alunos em comparac;ao a primeira turma. Essa diferenc;a refletiu-
se objetivamente no numero de reformulac;6es das Verificac;6es de
Aprendizagem dos alunos.
Ao ler o livro, e possivel perceber que a linguagem utilizada esta
mais proxima daquela empregada por nos em sala de aula do que daque-
la encontrada nos textos classicos. Foi dada grande enfase a exemplos
do cotidiano, e certo esforc;o foi empreendido para fornecer ilustrac;6es
que facilitassem a leitura.
Recomendamos aos professores que fizerem uso deste livro em sala
de aula que utilizem tambem, da forma como acharem mais conveniente,
o material de apoio (videos, exercicios e experirnentos on-line) empregado
em nosso curso e disponibilizado no website www.walden4.com.br.
0 lnforma~6es detalhadas
sobre o PSI podem ser en-
contradas em Moreira, M.
B. (2004). Em casa de fer-
reira, espeto de pau: o ensi-
no de Analise Experimental
do Comportamento. Revis-
ta brasi/eira de terapia
comportamental e cogniti-
va, 6, p.73-80.
Aos alunos
Escrevemos urn livro sobre Prindpios Basicos de Analise do Comportamento
para alunos de gradua<;ao em Psicologia. Nossa principal orienta<;ao ao elabora-
lo foi tentar colocar no papel aquila que falamos em sala de aula. Muitas vezes,
o aluno nao entende o assunto ao ler urn texto, mas entende quando o professor
"traduz" o que esta escrito. Por que nao escrever logo da forma mais simples?
Foi o que fizemos.
Tivemos urn certo trabalho para ilustrar o livro para que o leitor tenha menos
trabalho para estuda-lo. Ao ler cada capitulo, estude cuidadosamente cada figura,
cada diagrama e cada grafico, presentes no texto. Ainda, para facilitar o estudo,
disponibilizamos no website www.walden4.com.br uma serie de videos e de exer-
dcios. Recomendamos fortemente que se fa<;a born uso desse material de apoio.
Esperamos que, por meio deste livro, seja possivel conhecer adequadamente
a Analise do Comportamento, uma belissima area da Psicologia que tern ajudado
psic6logos do mundo inteiro a trabalhar de forma efetiva nos mais diversos cam-
pos de atua<;ao do psic6logo, como, por exemplo, em clinica, em organiza<;6es,
em escolas, em contexto hospitalar, nos esportes, em educa<;ao especial, no trata-
mento do autismo, nas comunidades, no planejamento cultural, no tratamento
das mais diversas psicopatologias, nos laborat6rios de pesquisa psicol6gica (com
animais ou humanos), na psicofarmacologia, na psicologia juridicae no auxilio
a crian<;as com deficit de aprendizagem ou aten<;ao, entre varias outras.
Entao, born estudo e maos a obra ...
UNIMINAS-BIBLIOTECA
Prefcicio
Em 25 de junho de 2006, Amy Sutherland publicou urn artigo no New York Times
de grande sucesso entre os leitores. Assinantes do jornal podem entrar em sua
pagina na internet e enviar c6pias de artigos para amigos pore-mail. Por semanas,
depois de publicado o artigo, continuava como urn dos preferidos dos leitores
para enviar pela Internet. 0 titulo e curiosa, e o tema inusitado: " 0 que Shamu
me ensinou sobre urn casamento feliz". Shamu e urn animal eo artigo aborda a
experiencia da autora ao descobrir que os metodos usados por treinadores para
ensinar elefantes a pintar, hienas a fazer piruetas, macacos a andar de skate,
etc., poderiam ser usados, sem estresse para ensinar boas maneiras a seu ma-
rido. 0 artigo seria urn excelente marketing para psic6logos analistas do com porta-
men to nao fosse por urn pormenor: sirnplesmente nao menciona de onde veio o
conhecimento. Mais de 70 anos depois da publicac;ao de B. F. Skinner, distinguin-
do dois tipos de aprendizagem, respondente e operante, os principios de analise
do com porta men to desenvolvidos no livro de 1938, Comportamento dos organismos,
e no texto de F. S. Keller e W. N. Schoenfeld, Principios de psicologia, de 1950,
parecem estar tao consolidados que ate fazem parte do senso com urn. Em lingua-
gem acessivel, sem termos tecnicos, estao em livros de auto-ajuda, em textos
voltados para o comportamento
em organizac;6es, na especificac;ao de roteiros
para o ensino a distancia e em outras obras voltadas para o publico em geral.
A abordagem sistematica dos conceitos e principios da analise do comporta-
mento e o objetivo maior do texto de Marcio Borges Moreira e Carlos Augusto
de Medeiros. Preparado para o curso de graduac;ao em Psicologia do Instituto de
Educac;ao Superior de Brasilia (IESB) para a utilizac;ao do sistema personalizado
de ensino ( ou Metodo Keller), o trabalho foi beneficia do pelo carater experimental
do ensino, que permite identificar dificuldades e lacunas do texto por meio das
reac;6es dos leitores. Temos, pois, urn livro didatico de leitura fluida, que prepara
o aluno para entender e usar os termos e conceitos tao uteis para o desempenho
profissional do psic6logo.
Joao Claudio Todorov
Ph.D em Psicologia pela Arizona State University (USA).
Coordenador do Curso de Psicologia do Instituto de
Educac;ao Superior de Brasilia ( IESB) e
professor da Universidade Cat6lica de Goias (UCG).
Sumclrio
Prefacio ............................................................................................................................. xi
1 0 reflexo inato I 17
Reflexo, estimulo e resposta ................................................................................. 18
Intensidade do estimulo e magnitude da resposta ............................................. 20
Leis ( ou propriedades) do reflexo ........................................................................ 22
Lei da intensidade-magnitude ............................................................................. 22
Efeitos de elicia<;6es sucessivas da resposta: habitua<;ao e potencia<;ao ............ 24
Os reflexos e o estudo de emo<;6es ....................................................................... 25
Principais conceitos apresentados neste capitulo ............................................... 28
Bibliografia consultada e sugestao de leitura ...................................................... 28
2 0 reflexo aprendido: Condicionamento Pavloviano I 29
A descoberta do reflexo aprendido: Ivan Petrovich Pavlov ................................. 30
Vocabulario do condicionamento pavloviano ...................................................... 32
Condicionamento pavloviano e o estudo de emo<;6es ......................................... 32
Generaliza<;ao respondente .................................................................................. 35
Respostas emocionais condicionadas comuns .................................................... 38
Extin~ao respondente e recupera<;ao espontanea ............................................... 38
Contracondicionamento e dessensibiliza<;ao sistematica ................................... 39
Uma "palavrinha" sobre condicionamento pavloviano ..................................... .42
Condicionamento pavloviano de ordem superior ............................................... 43
Algumas outras aplica<;6es do condicionamento pavloviano ............................. 44
Fatores que influenciam o condicionamento pavloviano ................................... 45
Principais conceitos apresentados neste capitulo ............................................... 46
Bibliografia consultada e sugestoes de leitura .................................................... 46
3 Aprendizagem pelas conseqiiencias: o reforc;o I 4 7
0 comportamento operante produz consequencias no ambiente ..................... .48
0 comportamento e afetado ( e controlado) por suas consequencias ................ 49
Exemplos simples de controle do comportamento por suas consequencias ..... 50
0 refor<;o .................................................................. .... .......................................... 51
Sumario
Refon;adores naturais versus refon;adores arbitrarios ... .... ............... .... ..... ... ....... 5:
Outros efeitos do refon;o ...................................................................................... 5
Extinc;ao operante ... .... ............................. ..... ............... ... ... .............. ....... ..... .. ...... . 5"'
Resistencia a extinc;ao ........................ .......................................... ......................... -
Fatores que influenciam a resistencia a extinc;ao ....... .. ...................................... 5-
0utros efeitos da extinc;ao .................................................................................... -
Modelagem: aquisic;ao de comportamento ..... .................. ..... ............... .. .... ....... ..
Principais conceitos apresentados neste capitulo .............................................. . -
Bibliografia consultada e sugest6es de leitura .. ........... .... .. ................... ... .......... . _
4 Aprendizagem pelas conseqiiencias:
o controle aversivo I 63
Por que "controle aversivo do comportamento"? .... ...... .................. .. .. ... ......... .. .
Contingencias de reforc;o negativo .... ....... ............ ................ .......... ... .. .. ............ ... -
Comportamento de fuga e comportamento de esquiva ...... ... ...... ..................... ..
Punic;ao ......... ..... .... ........ ... .............................................. .... .. ........... ....... ............. . .
Do is tipos de punic;ao ......................................................................................... ... -
Efeitos colaterais do controle aversivo ........................................... .. ................. ... --
Por que punimos tanto? ............................... .. ................. .................... ..... ............ -
Quais as alternativas ao controle aversivo? .............. .................... .. .................. .. .
Algumas conclus6es importantes .............. .... ..... .. ............... .. .. ..... ..................... ..
Principais conceitos apresentados neste capitulo ............................................. ..
Bibliografia consultada e sugest6es de leitura .................................................. ..
S Primeira revisao do conteudo I 85
0 reflexo inato (Capitulo l) .......... ..................................................................... .. -
0 reflexo aprendido: condicionamento pavloviano (Capitulo 2) ....................... -
Aprendizagem pelas consequencias: o reforc;o (Capitulo 3) ............................. ..
Aprendizagem pelas consequencias: o controle aversivo (Capitulo 4) .. .. ......... .
Comportamento operante e comportamento respondente (Reflexo) .... .. ......... .
Principais conceitos revistos ................................................................................ .
6 Controle de estimulos: o papel do contexto I 97
Discriminac;ao operante e operante discriminado ..................................... , ........ .
Contingencia trfplice ou contingencia de tres termos .... .. .......... .. .................... ..
Treino discriminativo e controle de estfmulos ......................................... .. ....... l
Generalizac;ao de estfmulos operante ..................................... .. .................. ....... l
Classes de estfmulos .... ....... .................. .. .. ....... .. .. ... .. .... ........... ........ ................... l -
0 atentar (atenc;ao como urn comportamento) ................................................ !
Abstrac;ao ( o comportamento de abstrair) ......... ............................................... l
Moreira & Medeiros
Encadeamento de respostas e refon;o condicionado ........................................ Ill
Principais conceitos apresentados neste capitulo ............................................. 115
Bibliografia consultada e sugest6es de leitura .................................................. 115
7 Esquemas de refor<;amento I 117
Esquema de ~:..efon;o continuo e
esquemas de
refon;amento intermitente .............................................................................. 117
Os principais esquemas de refon;amento intermitente: FR. VR. FI, VI ........... 118
Compara<;ao entre esquemas intermitente e continuo ..................................... 123
Padr6es comportamentais de cada esquema ..................................................... 125
Esquemas nao-contingentes e o comportamento supersticioso ....................... 128
Esquemas reguladores da velocidade do responder (taxa de respostas) ......... 129
Refor<;amento diferencial de outros comportamentos (DRO) .......................... 131
Esquemas compostos .................................. ........................................................ 131
Principais conceitos apresentados neste capitulo ............................................. 134
Bibliografia consultada e sugest6es de leitura .................................................. 135
8 Segunda revisao do conteudo I 137
Controle de estimulos: o papel do contexto (Capitulo 6) ................................. 137
Esquemas de refor<;amento (Capitulo 7) ........................................................... 139
Psicologia e aprendizagem .............................. ............ ....................................... 141
Principais conceitos revistos ........ ........................................... .......... .................. 142
9 A analise funcional: aplica<;ao dos conceitos I 145
Analise funcional do comportamento ............................................................... 146
Analise funcional de urn desempenho em labora t6rio ..................................... 151
Analise funcional de urn caso clinico ................................................................. 15 5
Uma ultima nota ................................................................................................. 162
Bibliografia consultada e sugest6es de leitura .................................................. 164
10 Atividades de laborat6rio I 165
Teoria versus teste empfrico: urn exemplo simples ............................................ 165
Por que estudar o comportamento de animais em urn curso de psicologia? ... 166
0 laborat6rio de condicionamento operante ...... .. ............................................. 167
Atividade pratica l: modelagem ........................................................................ 168
Atividade pratica 2: refor<;o continuo da resposta de pressao a barra (CRF) .. 175
Atividade pratica 3: extin<;ao e recondicionamento .......................................... 177
Atividade pratica 4: esquema de refor<;amento (razao fixa e razao variavel) .. 178
Sumario
Atividade pratica 5: esquema de refon;amento (intervalo fixo
e intervalo variavel) .... ..... ... ... .. .. .. ........... ..... .... ........... .............. ....... ...... .. ..... ... 1-
Atividade pratica 6: treino discriminativo (o papel do contexto) .. .. .... .... .. .. .. .. !
Atividade pratica 7: encadeamento de respostas
(comportamentos em sequencia) ............ .. .... .. .. .... .. .. ...... .. .... .. .... ........ .. ......... !
11 Algumas normas e dicas para
se redigir urn relat6rio cientifico I 191
No<;6es gerais para confec<;ao do relat6rio cientffico ...................... .. ............ .. ..
Regras gerais para a confec<;iio do relat6rio cientffico ............ .. .... .... .. .. .... .. .... ..
Capa .............. ....... .... ..... .... .. ...... ... .. .... .... ... ....... ...... ... ......... .... .... ..... ... ... .... .... .... .. .
Resumo e palavras-chave ....... ..... ..... .. ..... ...... .. .... .. ......... ... ..... .. ..... ..... .. ... ... .. ...... I
Sumario .... .... ........ .. ... ....... .... ... ..... ....... ............ ... ..... ....... ..... ....... .. .. ..... ... .... ... ..... .
Introdu<;iio ....... .... .... .... .. .... ............ .. .... ... ... ... .... .... .. .............. .. ...... ..... .. .. .... ... ...... .
Metodo ....... ...... ..... ................... ...... .. ... ...... ..... .. ............ ..... ... ..... .... ... .......... ......... -
Resultados .. ....... .... .. ..... .... .. ...... ... .. ...... ............. .... .. .. ..... ... .. .. ........... ........... .... ..... -
Discussiio ..... .. ... ........ ........... ....... ... ....... .. ... .... ... ....... .... ...... ... ..... .. ..... ..... .............. _
Referencias bibliograficas ............ ..... ... ..... ......... .. ....... ... ................. ......... .... .. ..... _
Anexos ......... ...... ......... ......... .................. .............. .. ... .............. .. ....... .... ............ .... _
Esbo<;o de como ficara o relat6rio .. .. .. .. ............ .. .. .... .. .... ...... .. .. .... .. .................. . __
Checklist - o que checar ap6s finalizar o relat6rio .... .. .......................... .. ...... ..... __
12 B. F. Skinner, analise do comportamento
e o behaviorismo radical I 211
Burrhus Frederic Skinner .... .. ...... ... ....... ........ ... ... .... .. ... ...... ... ......... ... ............ ... __ _
Analise do comportamento ...... .. ..... .. ... ............ ....... ..... ..... .. ... ............. ....... ... ... - :
0 behaviorismo radical de Skinner ........ ........ .......... ........ ..... .......... ....... ..... ..... - _
Principais conceitos apresentados neste capitulo ........ ..... .. .... .... .. .................. _
Bibliografia consultada e sugest6es de leitura .......... .. ........ .... .. ........ ..... ...... ... - -
CAPITULO
0 reflexo inato
Quando o medico bate o martelo no joelho de urn paciente, o
musculo de sua coxa contrai-se (voce "da urn chute no ar");
quando a luz incide sobre sua pupila, ela se contrai; quando
voce ouve urn barulho alto e repentino, seu cora<_;ao dispara
(taquicardia); quando voce entra em uma sala muito quente,
voce come<_;a a suar. Esses sao apenas alguns exemplos de com-
portamentos reflexos inatos. Note que ha algo em comum
em todos eles: ha sempre uma alterafiio no ambiente que produz
uma alterafiio no organismo (no corpo do individuo).
Todas as especies animais apresentam comportamentos reflexos inatos . Es-
ses reflexos sao uma "prepara<_;ao minima" que os organismos tern para come-
<_;ar a interagir com seu ambiente e para ter chances de sobreviver (Figura l.l).
Se voce colocar seu dedo na boca de urn recem-nascido, automaticamente ele
ira "sugar" o seu dedo. Da mesma forma, quando o seio da mae entra em conta-
to com a boca do bebe, uma resposta semelhante e observada (suc<_;ao). Nao e
•
Figura 1.1
Os reflexos inatos sao muito importantes para nossa sobrevivencia . As figuras A e B
exemplificam como alguns reflexos inatos nos auxiliam a sobreviver em nossos primeiros cantatas
como mundo.
0 reflexo inato
Estimulo
necessaria que o recem-nascido aprenda a mamar. Imagine como seria
ensinar a urn bebe esse comportamento (mamar) . Se voce espetar ope d
bebe, ele contraira sua perna, afastando seu pe do objeto que o esta feri
Esses e inumeros outros reflexos fazem parte do repertorio comportame
( comportamentos de urn organismo) de anirnais humanos e nao-humanos
o momento de seu nascimento (e ate mesmo da vida intra-uterina); por
sao chamados reflexos inatos.
No dia-a-dia, utilizamos o termo rejlexo em express6es como "aquele 9
tern um rejlexo rdpido", "o rejlexo da luz cegou seu olho por alguns instantes" ou
tern bans rejlexos" . 0 termo rejlexo tam bern foi empregado por alguns psic6lo-=
fisiologistas para falar sobre comportamento. Neste capitulo, discutiremt
comportamentos chamados reflexos, especialmente dos reflexos inatos. Para
to, e necessaria que, antes de falarmos sobre os comportamentos reflexos, e
fiquemos 0 que e, para n6s (psic6logos), urn reflexo.
Na linguagem cotidiana (por exemplo,
"aquele goleiro tern um rejlexo rd
utilizamos o termo rejlexo como urn sin6nirno de resposta, ou seja, aquilo q
organismo fez. Em psicologia, quando falamos sobre comportamento refle
terrno reflexo nao se ref ere aquilo que o individuo fez, mas, sirn, a uma rela~ao
o que ele fez e o que aconteceu antes de ele fazer. Rejlexo, portanto, e uma re
entre estimulo e resposta, e um tipo de interafdo entre um organismo e seu ambient
Reflexo, estimulo e resposta
Para compreendermos o que e reflexo, ou seja, uma rela~ao entre estirn
resposta, e necessaria que antes saibamos claramente 0 que e urn estfmul
que e uma resposta. Os termos estimulo e resposta sao amplamente usado
n6s na linguagem cotidiana. 0 significados desses dois termos, ao se refe
comportamento, sao, no entanto, diferentes do uso cotidiano. Quando fala:
sobre comportamento reflexo, esses termos adquirem significados difereP.
estfmulo e uma parte ou mudan~a em uma parte do ambiente; resposta e
mudan~a no organismo (Figura 1.2). Analise os exemplos de reflexos daTa
l.l tentando relaciona-los aos conceitos de estfmulo e resposta apresenta
anteriormente.
Note que na Tabela l.l temos a descri~ao de quatro reflexos, ou seja, a descri
de cinco rela~6es entre o ambiente ( estfmulo) eo organismo (resposta).
Resposta
fogo proximo a mao contra~ao do bra~o
flexo "fogo proximo a mao -+ contra~a
bra~o", "fogo proximo a mao" e uma
dan~a no ambiente (nao havia fogo; a"
ha), e "contra~ao do bra~o" e uma muda:
no organismo ( o bra~o nao estava com
do; agora esta) produzida pela mudan~a
ambiente. Portanto, quando mencion
"reflexo", estamos nos referindo as rela -
entre estfmulo e resposta que especific
que determinada mudan~a no ambie
martelada no joelho flexao da perna
alimento na boca
barulho estridente sobressalto
Moreira & Medeiros
Estfmulos (S)
,-_
Boo!!!
'\.'""
Mudan~a no Ambiente Mudan~a no Organismo
l
(produz)
REFLEXO
Figura 1.2
Reflexos sao rela~oes entre estimulos e respostas. Respostas sao mudan~as em nosso orga-
nismo produzidas par mudan~as no ambiente. A rela~ao entre estfmulo e resposta e chamada
reflexo.
produz determinada mudan<;a no organismo . Dito em termos tecnicos, o refle-
xo e uma relafiiO entre um estimulo e uma resposta na qual o estimulo elicia a resposta.
:E comum em ciencia termos sfmbolos para representar tipos diferentes de
fenomenos, objetos e coisas. Em uma ciencia do comportamento nao seria
diferente. Ao longo deste livro, voce aprendera diversos sfmbolos que representam
os aspectos comportamentais e ambientais envolvidos nas intera~oes organis-
mo-ambiente . Para falar de comportamento reflexo, utilizaremos a letra S para
representar estimulos e a letra R para representar respostas. A rela<;ao entre
estimulo e resposta e representada por uma seta (-+ ). Quando a analise compor-
tamental envolve dois ou mais reflexos, e comum haver indices nos estfmulos
( S1• S2• S3, ... ) e nas respostas (R1, R2, R3, ... ). 0 reflexo patelar, por exemplo, pode-
ria ser representado assim:
51 -+ R,
ou seja, S1 eo estfmulo (batida de urn martelo no joelho) e R1 e a resposta (flexao
da perna). A seta significa que o estimulo produz (elida ) a resposta. Dizemos,
19 ;
I
0 reflexo inato
nesse caso, que s, elida R,, ou que a batida de urn martelo no joelho elicia
resposta de flexao da perna. A Tabela 1.2 apresenta varios exemplos de estimul
e respostas. Quando ha urn "X" na coluna "S", trata-se de urn estimulo. Quan
o "X" esta na coluna em "R", trata-se do exemplo de uma resposta. Quan
houver apenas urn tra<;o "_" nas colunas "S" e "R", significa que e necessan
completar a tabela marcando urn "X" na coluna "S" para estimulos e urn "X"
coluna "R" para respostas.
lntensidade do estimulo e magnitude da resposta
Antes de estudarmos urn pouco mais as rela<;6es entre os estfmulos e as reposta
e necessaria conhecermos os conceitos de intensidade do estimulo e magni
de da resposta. Tanto intensidade como magnitude referem-se ao "quanta
estfmulo" (intensidade) e ao "quanta de resposta", ou a for<;a do estfmulo e
for<_;a da resposta, como falamos na linguagem cotidiana. Tomemos como exem
o reflexo patelar (Figura l.3a) . Nele, o estimulo e a martelada no joelho, e
distensao da perna e a resposta. Nesse caso, a for<_;a com que a martelada e da
e a intensidade do estimulo, e 0 tamanho da distensao da perna e a magnitu
da resposta. Quando entramos em uma sala muito quente, come<_;amos a su -
Nesse exemplo de comportamento reflexo, o estim
Tabela 1.2 ESTIMULO (S) OU RESPOSTA (R) lo e 0 calor (temperatura), e a resposta e 0 ato
suar. A intensidade do estfmulo, nesse caso, e med.
da em graus Celsius (25°, 40°, 30°, etc.), e a magnir
de da resposta e medida pela quantidade de su
produzido (10 mililitros, 15 rnililitros ... ).
Eventos
Cisco no olho
Sineta do jantar
Ruboriza~ao (ficar vermelho)
Choque eletrico
Luz no olho
Lacrimejo
Arrepio
Sam da broca do dentista
Aumento na freqliencia cardiaca
Contra~ao pupilar
Suor
Situa~ao embara~osa
Cebola sob olho
Comida na boca
Piscada
Saliva~ao
s
X
X
X
R
X
X
X
X
A Tabela 1.3 apresenta alguns exemplos de es
mulos e respostas e informa como poderfamos med.
los. A primeira coluna da Tabela 1.3 ("S" ou "R
indica se o exemplo e urn estimulo ( S) ou uma re
posta (R) . A terceira coluna apresenta uma fo
de medir esses estimulos e essas respostas. Note q
as formas de medir, colocadas na Tabela 1.3, repr
sentam apenas algumas possibilidades de me
sura<_;ao de estimulos e respostas.
Aprender a observar e medir o comportamen
e extremamente importante para o psic6logo. Ind
pendentemente da nossa vontade, sempre estam
fazendo referenda, mesmo que implicitamente.
alguma medida de comportamento. Ate mesmo
leigo faz isso quando, por exemplo, pergunta: " Y,
ficou com muito medo naquele momenta?"; "0 q
mais exdta voce: palavras ou cheiros?". Muito, po
co, mais, menos- estas nao sao medidas muito boa
mas fazem referenda direta a elas. Por is so, devem
ser habeis em mensurar o comportamento.
Moreira & Medeiros
Tabela 1.3 EXEMPLOS DE ESTIMULOS E RESPOSTAS E SUAS MEDIDAS
SouR Estimulo/resposta Como medir?
s Som, barulho Altura em decibeis
R Salivar Gotas de saliva (em mililitros)
R Contra~ao pupilar Diametro da pupila (em milimetros)
s Choque eletrico Volts
s Calor Graus Celsius
R Taquicardia Numero de batimentos por minuto
R Suor (sudorese) Mililitros de suor produzido
R Contra~ao muscular For~a da contra~ao em Newtons
s Alimento Quantidade em gramas
•
• (a)
•
•
•
•
•
•
---+ I •
• I
•
• J ..,___..1
•
• I
•
• Antes do esti m u lo • Estimulo Resposta
• (martelada) (movimento)
•
•
. . . . . . . . . . . . . ~ . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
•
(b) .,~
'.!!
';/' '
Antes do estimulo
Figura 1.3
•
•
•
•
•
•
•
•
•
•
•
•
•
•
•
0
Estimulo
(luz)
Resposta
(contra~ao pupilar)
Mudan<;as no ambiente produzem mudan<;as no organismo. (a) reflexo patelar. (b) reflexo
pupilar.
-- ---
0 reflexo inato
Leis (ou propriedades) do reflexo
Ao longo dos tres ultimos seculos, varios pesquisadores, entre eles alguns psic6l -
gos, estudaram os reflexos inatos de humanos e nao-humanos, buscando corn-
preender melhor esses comportamentos e identificar suas caracteristicas prin -
paise seus padr6es de ocorrencia. Estudaremos, a seguir, algumas das descobena
desses pesquisadores.
0 objetivo de uma ciencia e bus car rela~6es uniformes ( constantes) entr
eventosO, e foi exatamente is so que os cientistas que estudaram ( e estudam
comportamento reflexo fizeram: eles buscaram identificar rela~6es constant
entre os estimulos
e as respostas por eles eliciadas que ocorressem
0 Um evento e qualquer mu-
dan~a que ocorra no mundo.
mesma forma nos mais diversos reflexos e nas mais diversas especi
Essas constancias nas rela~6es entre estimulos e respostas sao chamada
leis ( ou propriedades) do reflexo. Examinaremos, a seguir, tais leis.
Lei da intensidade-magnitude
A lei da intensidade-magnitude estabelece que a intensidade do estimulo e
medida diretamente proporcional a magnitude da resposta, ou seja, em urn reC -
xo, quanto maior a intensidade do estimulo, maior sera a magnitude da respo
(ver Figura 1.4) . Tomando novamente como exemplo o reflexo que compreen
urn barulho alto (estimulo) e urn susto (resposta), teriamos o seguinte: quar.
Antes do Estimulo (S) Resposta (R)
estfmulo (intensidade) (magnitude)
0 fc ,/ , l t'
0
Figura 1.4
Quanta mais intenso urn estimulo, rna is intensa sera a resposta eliciada por ele. Q a-
maior e a intensidade do estfmulo (calor), maior e a magnitude da resposta (suor).
Moreira & Medeiros
mais alto o barulho, maior o sus to. Quando voce abre a janela do seu quarto pela
manha, ap6s acordar, a luz ( estimulo) que incide sobre seus olhos elicia a contra-
c;ao de suas pupilas (resposta). Segundo a lei da intensidade-magnitude, quanto
mais claro estiver o dia, mais suas pupilas irao se contrair.
Lei do limiar
Esta lei estabelece que, para todo reflexo, existe uma intensidade minima do
estimulo necessaria para que a resposta seja eliciada. Urn choque eletrico e urn
estfmulo que elicia a resposta de contrac;ao muscular. Segundo a lei do limiar,
existe uma intensidade minima do choque (de 5 a 10 volts, apenas como exemplo-
esses valores sao ficticios, e 0 valor do lirniar e individual) que e necessaria para
que a resposta de contrac;ao muscular ocorra. Essa faixa de valores, no exemplo,
que varia de 5 a 10 volts, e chamada limiar. Portanto, valores abaixo do limiar
nao eliciam respostas, enquanto valores acima do limiar eliciam respostas. Ha
ainda outra caracteristica importante sobre o limiar do reflexo. Percebeu-se que
o limiar nao e urn valor definido. Nesse exemplo, o lirniar compreende valores
entre 5 e lO volts; sendo assim, choques aplicados com intensidades variando
entre 5 e 10 volts (limiar) as vezes eliciarao a resposta de contrac;ao muscular, as
vezes nao. 0 grafico apresentado na Figura 1.5 mostra essa relac;ao entre a inten-
si<;l.ade do estirnulo e a eliciac;ao da resposta.
Sem suor
Figura 1.5
I
0
I Sem suor
lei do limiar. Existe uma intensidade minima do estlmulo necessaria para eliciar uma resposta. S6 a partir do terceiro
quadro 0 suor e produzido.
Lei da latencia
Latencia eo nome dado a urn intervalo entre dois eventos. No caso dos reflexos,
latencia e 0 tempo decorrido entre apresentac;ao do estirnulo e a ocorrencia da
resposta. A lei da latencia estabelece que, quanto maior a intensidade do esti-
mulo, menor a latencia entre a apresentac;ao desse estimulo e a ocorrencia da
resposta (ver Figura 1.6 ). Barulhos altos e estridentes ( estirnulos) geralmente
nos eliciam urn susto (resposta). Segundo a lei da latencia, quanto mais alto for
0 reflexo inato
Antes do estimulo Estimulo (S) Resposta (R)
0 Tempo 30 segundos
Tempo
10 segundos
Figura 1.6
lei da latencia. Quanta mais fraco eo estfmulo (menor intensidade), mais tempo se passara e
a apresenta~ao do estimulo e a ocorrencia da resposta, ou seja, maior sera a latencia da respos:
o barulho, mais rapidamente havera contra<;6es musculares que caracterizam
sus to.
Alem da latencia entre apresenta<;ao, estimulo e ocorrencia da resposta
intensidade do estimulo tambem possui uma rela<;ao diretamente proporcio
a dura<;ao da resposta: quanto maior a intensidade do estimulo, maior a dura~
da resposta. Quando urn vento frio pas sa por nos sa pele ( estimulo ), n6s n
arrepiamos (resposta). Voce ja deve ter tido alguns arrepios "mais demorad
que outros. 0 tempo pelo qual VOCe "ficou arrepiado" e diretamente proporciOP.
a intensidade do frio, ou seja, quanto mais frio, mais tempo dura 0 arrepio.
Efeitos de eliciac;oes sucessivas da resposta:
habituac;ao e potenciac;ao
Outra caracteristica importante dos reflexos sao os efeitos que as elicia<;6es su
sivas exercem sobre eles. Quando urn determinado estimulo, que elicia ur.::
determinada resposta, e apresentado ao organismo varias vezes seguidas,
curtos intervalos de tempo, observamos algumas mudan<;as nas rela<;6es entr
estimulo e a resposta.
Quando urn mesmo estimulo e apresentado varias vezes em curtos inten·a..
de tempo, na mesma intensidade, podemos observar urn decrescimo na magni
de da resposta. Chamamos esse efeito na resposta de habitua<;ao (ver Fi -
1.7). E possivel notar facilmente tal fenomeno se alguem tivesse que prepa:
uma refei<;ao para urn numero grande de pessoas e, para isso, fosse neces a:
cortar varias cebolas. Ao cortar as primeiras cebolas, o olho lacrimejaria bas tar.
Moreira & Medeiros
(a)
Habitua~ao do reflexo. Quando somas expostos a um determinado estfmulo par um tempo prolongado, a magnitu-
de da resposta tende a diminuir. Na figura (a), a cada cebola cortada (uma ap6s a outra), diminui a quantidade de
lacrimeja~ao. Quando estamos em um local barulhento, (figura b) ap6s alguns minutos, temos a impressao de que o
barulho diminuiu.
Ap6s algumas cebolas estarem descascadas, seria perceptivel que as lagrimas
nos olhos teriam diminuido ou cessado.
Para alguns reflexos, o efeito de elicia<;6es sucessivas e exatamente oposto da
habitua<;ao. A medida que novas elicia<;6es ocorrem, a magnitude da resposta
aumenta ( ver Figura 1.8).
' Os reflexos e o estudo de emo~oes
Urn aspecto extremamente relevante do comportamento humano sao as emo<;6es
( medo, alegria, raiva, tristeza, excita<;ao sexual, etc.). Voce ja deve ter dito ou
0 reflexo inato
Figura 1.8
ouvido falar a seguinte frase: "Na hora ndo consegui control
(minhas emo<;6es)". Ja deve ter achado estranho e, ate cen
ponto, incompreensivel por que algumas pessoas tern al
mas emo<;6es, como ter medo de pena de aves ou de barata
ou ficar sexualmente excitadas em algumas situa<;6es
minima estranhas, como coprofilia6 e necrofilia@. Mui
dessas emo<;6es que sentimos sao respostas reflexas a e
mulos ambientais. Por esse motivo, e dificil controlar wr.
emo<;ao; e tao dificil quanto nao "querer chutar" quando
medico da uma martelada em nosso joelho.
Potencia~ao do reflexo. Voce esta
assistindo a uma aula chata e o profes-
sor fa Ia "OK?" o tempo todo. Pouco a
pouco OS "OKs?" vao ficando mais e
mais irritantes.lsso e um exemplo de po-
tencia~ao (ou sensibiliza~ao) do reflexo.
Os organismos, de acordo com suas especies, nascem
alguma forma preparada para interagir com seu ambien
Assim como nascemos preparados para contrair urn muse:
lo quando uma superficie pontiaguda e pressionada con
nosso bra<;o, nascemos tambem preparados para ter algo
mas respostas emocionais quando determinados estim
los surgem em nosso ambiente. Inicialmente, e necesscir'
saber que emo<;6es nao surgem do nada. As emo<;6es surge
em fun<;ao de determinadas situa<;6es, de determinados c
textos. Nao sentimos medo, alegria ou raiva sem moth
sentimos essas emo<;6es quando algo acontece. Mesmo q
a situa<;ao que causa uma emo<;ao nao seja aparente, isso nao quer dizer que
nao exista, podendo ser ate mesmo urn pensamento, uma lembran<;a, uma m
sica, uma palavra, etc. (isto fican1 mais facil de entender no Capitulo 2, quan
tra taremos da aprendizagem de novos reflexos).
Outro ponto importante a ser considerado e que boa parte (nao tudo) daq
que entendemos como emo<;6es diz respeito a fisiologia do organismo. QuaP.
sentimos medo, por exemplo, uma serie de rea<;6es fisiol6gicas estao acontecen
em nosso corpo: as glandulas supra-renais secretam
adrenalina, os vasos s
guineas perifericos contraem-se, eo sangue concentra-se nos m
6 Excitar-se na presen<;a de fezes.
@) Rela<;6es sexuais com pessoas
culos ( ficar bran co de medo ), entre outras rea<;6es fisiol6gicas I.,-
gura 1. 9). Da mesma forma, quando sentimos raiva, alegria, an~
dade ou tristeza, outras mudan<;as em nossa fisiologia podem
mortas. detectadas utilizando-se aparelhos pr6prios. Esse aspecto fisiol6g
das emo<;6es fica clara quando falamos sobre o uso de medicameP.
(ansioliticos, antidepressivos, etc.). Os remedios que OS psiquiatras preescre\
nao afetam a mente humana, mas, sim, o organismo, a sua fisiologia. Qua:
nos referimos as emo<;6es ( sobretudo as sensa<;6es ), estamos falando, portan
sobre respostas dos organismos que ocorrem em fun<;ao de algum estimul
situa<;ao). Os organismos nascem preparados para ter algumas modifica<;6e
sua fisiologia em fun<;ao de alguns estimulos. Por exemplo, se urn barulho al
estridente e produzido proximo a urn bebe recem-nascido, poderemos obse
em seu organismo as respostas fisiol6gicas que descrevemos anteriormente c
constituintes do que chamamos medo.
Em algum momento da evolu<;ao das especies (teoria de Charles Dan•
ter determinadas respostas emocionais em fun~ao da apresenta~ao de ale-
Moreira & Medeiros
REFLEXO RESPOSTAS FISIOLOGICAS
; •••• • ••••• 0 •••• 0 •••• 0 ••• 0 •••••••••• • • • •••••• •• •• ~
i Aumento na i i frequencia card iaca i
: ................................................ :
.............................. .....................
. .
. .
. .
. .
. .
. .
~ Constri~ao capilar l
1 (ficar branco de 1
1 medo) 1
~ ~
: ........................ ........................ :
~ • •• •• • ••• • •• • • ••••• 0 •• • •• • • •• • • •• • •••• • ••••• • ••• ~
~ Secre~ao de ~
1 adrenalina 1
: :
: ................................................ :
Resposta MEDO (emo~ao)
Como o reflexo esta relacionado com as emo~oes que sentimos? Quando sentimos uma emo~ao, como o
medo, varias altera~6es estao ocorrendo em nosso corpo.
estfmulos mostrou ter valor de sobrevivencia. 0 mundo, na epoca em que o
primeiro ser humano "apareceu", provavelmente era mais parecido como da
Figura 1.10 do que com o mundo que conhecemos hoje.
0 valor de sobrevivencia das emo<;6es
para as especies pode ser ilustrado na Fi-
gura 1.10. Provavelmente o animal que
esta sendo atacado pelo tigre ( estfmulo)
esta sentindo algo semelhante ao que cha-
mamos de me do ( respos ta emocional): seu
cora<;ao esta batendo mais rapidamente,
seus vasos sangiifneos perifericos contraf-
ram-se, retirando o sangue da superfkie
de sua pele e concentrando-o nos museu-
los . Essas respostas fisiol6gicas em rela<;ao
a situa<;ao mostrada ( 0 ataque do tigre) tor-
nam mais provavel que o animal escape
com vida do ataque: se o sangue saiu da
superffcie de sua pele, arranh6es produzi-
Emo~oes para que? llustra~ao de como emo~6es (medo, par
exemplo) tem valor de sobrevivencia para as especies.
0 reflexo inato
rao menos sangramento, se o sangue concentra-se nos musculos, o animal
capaz de correr mais velozmente e de dar coices mais fortes . Utilizamos co
exemplo o medo por acharmos mais ilustrativo, mas o mesmo raciocinio aplic
se a outras emoc;6es, sejam ou nao consideradas prazerosas para n6s.
Nao ha duvidas hoje de que boa parte daquilo que conhecemos como emoc;-
envolve relac;6es ( comportamentos) reflexas, ou seja, relac;6es entre estimu.
do ambiente e respostas ( comportamento) dos organismos.
Principais conceitos apresentados oeste capitulo
Conceito
Estimulo
Resposta
Reflexo
lntensidade
do estimulo
Magnitude
da resposta
Descric;ao
Qualquer altera~ao ou parte do
ambiente que produza uma
mudan~a no organismo
Qualquer altera~ao no organismo
produzida par uma altera~ao no
ambiente (estimulo)
E uma rela~ao entre um estimulo
especifico e uma resposta
especifica
E a for~a (ou quantidade) de um
determinado estimulo
E a for~a de uma determinada
resposta
Exemplo: reflexo salivar
Comida colocada na boca faz o
organismo salivar.
Saliva produzida pela coloca~ao de
comida na boca.
Comida el icia (produz) sa l iva~ao.
Quantidade de comida colocada na
boca (3 gramas, 7 gramas .. . ).
Quantidade de sal iva produzida
(2 gotas, 3 gotas, 2 mililitros,
4 mililitros .. . ).
Bibliografia consultada e sugestoes de leitura
Catania. A. C. ( 1999) . Aprendizagem: comportamento, linguagem e cognifdO. P.
Alegre: Artmed. Capitulo 4: Comportamento eliciado e comportamento ref.
Millenson, J. R. ( 1975). Principios de analise do comportamento. Brasilia: Coorder.-
Capitulo 2: Comportamento reflexo ( eliciado)
Wood, E. G., Wood, S. E. e Boyd, D. (2005). Learning. [On-line]. Dispor.
http://wWW.ablongman.com/samplechapter/0205 3613 74.pdf. Recuperado e
de maio de 2005.
CAP f TULO 2
0 reflexo aprendido:
Condicionamento
Pavloviano
Voce come<;a a suar e a tremer ao ouvir o barulho feito pelos
aparelhos utilizados pelo dentista? Seu cora<;ao dispara ao
ver urn cao? Voce sente miuseas ao sentir o cheiro de determi-
nadas co midas? Voce tern algum tipo de fobia? Muitas pessoas
responderiam "sim" a essas perguntas. Mas, para todas essas
pessoas, ate urn determinado momento de sua vida, responde-
riam "nao" a essas perguntas; portanto, estamos falando sobre aprendizagem
e sobre urn tipo de aprendizagem chamado Condicionamento Pavloviano.
No capftulo anterior, sobre os reflexos inatos, vimos que eles sao comportamen-
tos caracterfsticos das especies, desenvolvidos ao Iongo de sua historia filoge-
netica0. 0 surgimento desses reflexos no repert6rio comportamental das especies
preparam-nas para urn primeiro contato como ambiente, aumentando as chances
de sobrevivencia. Uma outra caracterfstica das especies animais tambem desen-
volvida ao Iongo de sua hist6ria filogenetica, de grande valor para sua sobreviven-
cia, e a capacidade de aprender novos reflexos, ou seja, a capacidade de
reagir de formas diferentes a novos estfmulos. Durante a evolu<;ao das especies,
elas "aprenderam" a responder de determinadas maneiras a estfmulos espedficos
de seu ambiente. Por exemplo, alguns animais ja "nascem sabendo" que nao
podem comer uma fruta de cor amarela, a qual e venenosa.
Os reflexos inatos compreendem determinadas respostas dos organismos a
determinados estfmulos do ambiente. Esse ambiente, no en tanto, muda constan-
temente. Em nosso exemplo, a fruta amarela possui uma toxina
venenosa que pode levar urn organismo a morte. Se animais de
uma determinada especie ja "nascem sabendo" que nao podem
comer tal fruta, essa especie tern mais chances de se perpetuar do
que outras que nao possuem essa caracterfstica. Mas, como disse-
0 Altera~6es fisio16gicas e ana-
t6micas da especie ao Iongo de
sua existencia (verTeoria da Evo-
lu~ao de Charles Darwin).
0 reflexo aprendido: Condicionamento Pavloviano
Ivan Pavlov em seu laborat6rio. Esta fotografia
mostra Pavlov traba lhando em seu laborat6rio.
mos, o ambiente muda constantemente. Essa
fruta, ao Iongo de alguns milhares de anos, pode
mudar de cor, e os animais nao mais a rejeita-
riam, ou migrariam para outro local onde essas
frutas tern cores diferentes. Sua prepara<;ao para
nao comer frutas amarelas torna-se inutil. E nes-
se momento que a capacidade de aprender novos
reflexos torna-se importante. Suponha que o ani-
mal em questao mude-se para urn ambiente on-
de ha frutas vermelhas que possuem a mesma
toxina que a fruta amarela. A toxina, inatamente,
produz no animal vomitos e nausea. Ao comer a
fruta vermelha, 0 animal tera vomito e nausea
( respostas) eliciados pel a toxin a ( estfmulo ).
Registro
cumulativo
Figura 2.2
Ap6s tal even to, o animal podera passar a sentir
nauseas ao vera fruta vermelha, e nao mais a comera, diminuindo as chance
de morrer envenenado. Discutiremos, a partir de entao, urn reflexo aprendido
(ver a fruta vermelha -+ sentir nauseas ). E sobre essa apren dizagem de novo
reflexos, chamada Condicionamento Pavloviano, que trataremos neste capitulo
A descoberta do reflexo aprendido: Ivan Petrovich Pavlov
Ivan Petrovich Pavlov, urn fisiologista russo, ao estudar reflexos biologicamenre
estabelecidos (inatos), observou que seus sujeitos experimentais (caes) haviam
aprendido novos reflexos, OL
seja, estfmulos que nao elicia-
Estimulo
(comida)
vam de terminadas resposta~
passaram a elicia-las. Em su
homenagem, deu-se a esse fenO-
meno ( aprendizagem urn noY
reflexo) o nome de Condiciona-
mento Pavloviano.
0 aparato experimental usado por Pavlov. A figura ilustra a situa<)io
experimental montada por Pavlov para estudar a aprendizagem de novos
reflexos. A mangueira colocada proxima a boca do cao permitia medir a
quantidade de saliva produzida mediante a apresenta~ao dos estimulos
incondicionados (comida) e condicionados (som de uma sineta).
Pavlov, em seu laborat6ri
(ver Figura 2.1 ), estudava as le·
do reflexo que vimos no Capftul
l. Ele estudava especificamenr
o reflexo salivar ( alimento n
boca -+ saliva<;ao). Em uma fi· -
tula (urn pequeno corte) pr6. -
rna as glandulas salivares de U!:!
cao, Pavlov introduziu uma pc=-
quena mangueira, o que perm
tia medir a quantidade de sali
produzida pelo cao (magnitu
da resposta) em fun<;ao da quar:
Moreira & Medeiros
tidade e da qualidade de comida que era apresentada a ele (ver Figura 2.2).
Pavlov descobriu acidentalmente que outros estimulos alem da comida rambem
estavam eliciando saliva~ao no cao. Pavlov percebeu que a simples visao da co-
mida onde o alimento era apresentado eliciava a resposta de saliva~ao no cao,
assim como o som de suas pegadas ao chegar ao laborat6rio ou simplesmente a
aproxima~ao da hora em que os experimentos eram freqiientemente realizados
tambem o provocavam. Pavlov, entao, decidiu estudar com mais cuidado esses
acontecimentos.
0 experimento classico de Pavlov sobre a aprendizagem de novos reflexos foi
feito utilizando-se urn cao como sujeito experimental (sua cobaia ), carne e o
som de uma sineta como estimulos, e a resposta observada foi a de saliva~ao
(ver Figuras 2.2 e 2.3 ).
Basicamente, o que Pavlov fez foi emparelhar (apresentar urn e logo em
seguida o outro ), para o cao, a carne ( estimulo que naturalmente eliciava a respos-
ta de saliva~ao) e o som da sineta ( estfmulo que nao eliciava a resposta de
saliva~ao ), medindo a quantidade de gotas de saliva produzidas (resposta) quan-
do os estfmulos eram apresentados. Ap6s cerca de 60 emparelhamentos dos
estfmulos (carne e som da sineta), Pavlov apresentou para o cao apenas o som
da sineta, e mediu a quantidade de saliva produzida. Ele observou que o som da
Antes do condicionamento
NS (sam) Sem saliva\ao
.. ~
Durante o condicionamento
CS (sam) US (comida) UR (saliva\ao)
.. .. ~
Depois do condicionamento
CS (sam) CR (saliva\ao)
.. ~
Figura 2.3
Procedimento para produzir Condicionamento Pavloviano. Para que haja a aprendizagem
de um novo reflexo, ou seja, para que haja condicionamento pavloviano, um estfmulo que nao
elicia uma determinada resposta (neutro) deve ser emparelhado a um estfmulo que a elicia.
- -----~--_..,-~ ... -... .. -
0 reflexo aprendido: Condicionamento Pavloviano
sineta havia eliciado no cao a resposta de salivac;ao. 0 ciio havia aprendido u
rejlexo: salivar ao ouvir o sam da sineta.
Vocabulario do condicionamento pavloviano
Quando se fala de condicionamento pavloviano, e necessaria conhecer e em
corretamente os termos tecnicos que a ele se referem. Vamos examinar me·
Figura 2.3 e identificar nela tais termos.
A Figura 2.3 apresenta tres situac;6es: ( 1) antes do condicionament
durante o condicionamento; (3) ap6s o condicionamento. Na situac;ao 1, a
(na realidade o seu som) representa urn estimulo neutro (cuja sigla e
para a resposta de salivac;ao: o som da sineta na situac;ao .
elida a resposta de salivac;ao. A situac;ao 2 mostra o empare
8 As siglas vem do ingles: uncon·
ditioned stimulus (US); uncondi·
tioned response (UR); neutral sti·
mulus (NS); conditioned stimulus
(CS); conditioned response (CR).
mento do estimulo neutro ao estimulo incondicionado
sigla e US). Dizemos que a relac;ao entre a carne e a
incondicionada (UR) de salivac;ao e urn reflexo incon
nado, pois nao depende de aprendizagem. Ap6s varias repe
da situac;ao 2, chegamos a situac;ao 3, na qual o condicion<l!!
foi estabelecido, ou melhor, houve a aprendizagem de um
reflexo, chamado de reflexo condicionado. 0 reflexo condicionado e
relac;ao entre urn estimulo condicionado ( CS) e uma resposta ~v.uu-~.~•v .... _
(CR). Note que o estimulo neutro eo estfmulo condicionado siio o mesmo estfmu
da sineta). Nomeamos de formas diferentes esse estimulo na situac;ao •
situac;ao 3 para indicar que sua fun~ao, com relac;ao a resposta de sali
modificada: na situac;ao 1, o som nao eliciava a salivac;ao ( estfmulo neutr
situac;ao 3, o som elicia a salivac;ao ( estfmulo condicionado ).
Urn aspecto importante em relac;ao aos termos neutro, incondicionado
dicionado e que 0 uso deles e relativo. Quando falamos sabre comport
reflexos (ou comportamentos respondentes, outro nome dado aos
na psicologia), estamos sempre nos remetendo a uma relac;ao entre urn
e uma resposta. Portanto, quando dizemos que urn determinado estimul
tro, como no caso do som da sineta na situac;ao 1 da Figura 2.3, estamos
que ele e neutro para a resposta de salivar. Quando dizemos que a carne
estfmulo incondicionado, estamos afirmando que ela e urn estfmulo inc
nado para a resposta de salivar. Se a resposta fosse, por exemplo, arr
carne seria urn estimulo neutro para tal resposta. A Fi0
representa o diagrama do paradigma8 do condicion @) Um paradigma e um modelo.
respondente de forma generica.
Condicionamento pavloviano e o estudo de emo~oe
No inkio deste capitulo, vimos que o condicionamento pavloviano refer
processo e ao procedimento pelos quais os organismos aprendem novas r
Vimos tambem, no Capitulo 1, que emoc;6es sao, em grande parte, relac;6e
Estimulo
Neutro
_____. Emparelhamento
de estimulos
sl ...
Estimulo
incondicionado
Rl
Resposta
incondicionada
Reflexo incondicionado
(I nato)
s2
Estimulo
condicionado
...
Moreira & Medeiros
Rl
Resposta
condicionada
Reflexo condicionado
(Aprendido)
Diagrama que representa o condicionamento pavloviano. Esta figu ra e uma diagrama de
como e feito (ou como ocorre) o condicionamento pavloviano. Note que estfmulo neutro e estfmulo
condicionado sao o mesmo estfmulo: ele (5 2) apenas muda de fun~ao .
es tirnulos e respostas (sao, portanto, cornportamentos respondentes) . Se os or-
ganismos podem aprender novos reflexos, podem tambem aprender a
sentir emo~oes (respostas emocionais) que nao e stao presentes em seu
repertorio comportamental quando nascem. Exemplifiquernos melhor esse
fenomeno apresentando urn experimento classico sobre condicionamento pav-
loviano e emo<;6es, feito por John Watson, em 1920, o qual ficou conhecido
como o caso do pequeno Albert e o rato.
0 objetivo de Watson ao realizar tal experimen to foi verificar se o Condiciona-
mento Pavloviano teria utilidade para o estudo das emo<;6es, o que se provou
verdadeiro. Basicamente, a inten<;ao de Watson foi verificar se, por meio do Condi-
cionamento Pavloviano, urn ser humano (urn bebe de aproxirnadamente 10 rne-
ses) poderia aprender a ter m edo de algo que nao tinha. Para sanar sua duvida,
Watson partiu para a experimenta<;ao controlada, ou seja, buscou na pratica
suas respostas em ambiente controlado,
no qual e possivel ter dominio sobre as
variaveis relevantes para o experimento.
Como ja afirmado, urn reflexo e condicionado a partir de outro existen te. 0
prirneiro pas so de Watson, portanto, foi identificar no repert6rio cornportamental
do bebe urn reflexo inato. Apenas para efeito de teste, Watson verificou urn
conhecidoreflexo: somestridente (estimulo) -+ sustooumedo (resposta ). Watson
posicionou proximo a cabe<;a do be be (ver Figura 2.5) uma haste de metal. Ele
bateu nessa haste com urn martelo, produzindo urn barulho alto e estridente.
Ap6s a martelada, Watson observou e registrou as rea<;6es (respostas) do bebe,
0 reflexo aprendido: Condicionamento Pavloviano
Antes do condicionamento Estlmulo
incondicionado
Estimula neutra
(rata)
Sem meda
Estimula incandicianada
(sam estridente)
Respasta incondicianada
(meda)
----------------------------------,---------------------------------
1 Durante o condicionamento I I Ap6s o condicionamento
..
Figura 2.5
Estimula
incandicianada (rata)
Respasta
incandicianada (me:
Watson: o condicionamento de uma resposta de medo. 0 psic61ogo americana John Watson, mostrou =
vancia do condicionamento pavloviano para a compreensao das emo~6es (como podemos aprender a sentir de:
nadas emo~6es em rela~ao a estimulos que antes do condicionamento nao sentiamos).
tanto os seus movimentos como algumas respostas fisiologicas. Apos o
som da martelada, o bebe contraiu os musculos do corpo e da face e comL
chorar. Watson repetiu a martelada e observou comportamentos parecido.
cluindo que o estfmulo baru!ho estridente e incondicionado para a resposta
dicionada de medo. Feita essa verificac;ao, Watson fez uma outra. Em uma
sessao, o pesquisador colocou proximo ao pequeno Albert urn rato albin
mulo) e observou as respostas dele. Observou-se que o be be demonstro
resse pelo animal. olhou para ele por alguns instantes e, em seguida,
toca-lo. Watson concluiu que o bebe nao tinha medo do pequeno ratinh
essa segunda verificac;ao, o experimentador fez o emparelhamento do e.
incondicionado (som estridente) como estimulo neutro (rato) para a r
de medo. Watson posicionou a haste de metal proximo ao bebe e coloco
a seu alcance. No momento em que Albert tocou o rato, Watson bateu o
contra a haste, produzindo o som que havia eliciado respostas de medon
Apos alguns emparelhamentos (som-rato), Watson colocou proximo a
apenas o rato e observou suas respostas. Ao fazer isso Watson, pode o
que, ao ver o rato, Albert apresentou respostas parecidas com aquelas pr<X-
pelo som estridente. Watson observou, en tao, a aprendizagem de urn novo-
envolvendo respostas emocionais. Albert aprendeu a ter medo do rata.
Estamos agora em condic;6es de compreender como algumas pessoa
a ter algumas emoc;6es (ou sensac;6es), como ter medo de pena de aYe
Moreira & Medeiros
baratas, ou ficar sexualmente excitadas com estfmulos bastante estranhos ( copro-
filia e necrofilia, por exemplo). Tambem podemos agora compreender por que
emo<;;6es sao "difkeis de controlar". E difkil controlar emo<;;6es, pois elas sao
respostas reflexas (respondentes ).
Quando urn medico bate o martelo no joelho de urn pacieme, ele nao decide
se a perna ira ou nao se distender: ela simplesmente se distende. Da mesma
forma, uma pessoa que tern fobia de penas de aves nao decide ter medo ou nao
quando esta na presen<;;a desse estimulo, ela tern o medo. Pouco ou nada adianta
explicar a essa pessoa que seu medo e irracional, que nao ha motivos para ela
temer uma simples pena de ave. 0 mesmo raciodnio vale para pessoas que se
sen tern bern ( ou tristes) ao ouvir uma determinada musica ou para pessoas que
se excitam tendo rela<;;6es sexuais na presen<;;a de fezes ( coprofilia). Nao precisa-
mos de explica<;;6es mirabolantes e cheias de palavras bonitas para falar de emo-
<;;6es, sejam boas, sejam ruins.
Todos n6s temos sensa<;;6es de prazer ou de desprazer, em maior
ou menor grau, diferentes das de outras pessoas, da mesma forma
que podemos sentir emo<;;6es diferentes em rela<;;ao a estfmulos iguais.
Algumas pessoas excitam-se ao ouvir certas palavras de amor, outras
nao. Algumas se excitam ao serem chicoteadas, outras nao. Algumas
pessoas tern medo de ratos, outras de voar de aviao, outras de lugares
fechados e pequenos, e outras, ainda, tern medos diferentes desses.
Algumas pessoas se sentem tristes ao ouvir uma determinada musica,
outras nao tern nenhuma sensa<;;ao especial em rela<;;ao aquela mesma
musica. A razao de "respondermos emocionalmente" de formas dife-
rentes aos mesmos estimulos esta na hist6ria de condicionamento
de cada urn de n6s ( existem outras formas de aprendermos respostas
emocionais, como a observa<;;ao, mas elas nao serao estudadas oeste
capitulo) .
Todos n6s passamos por diferentes emparelhamentos de estimu-
los em nossa vida. Esses diferentes emparelhamentos produzem o
John B. Watson
(1878-1958)
nosso "jeito" caracteristico de sentir emo<;;6es hoje. Alguem que, por exemplo,
ao dirigir quando esta chovendo, sofre urn acidente pode passar a ter medo de
dirigir quando estiver chovendo. Durante o acidente, houve o emparelhamento
de alguns estimulos incondicionados para a resposta de medo (barulho, dor,
impacto subito, etc.) com urn estimulo neutro para a resposta de medo: dirigir na
chuva. Alguem que tern o habito de ter rela<;;6es sexuais a luz de velas pode,
depois de alguns emparelhamentos, sentir certa excita<;;ao apenas por estar na
presen<;;a de velas. Alguem que tenha comido uma deliciosa costela de porco
com urn molho estragado ( e passado mal) pode sentir nauseas ao sentir nova-
mente o cheiro da carne de porco.
Generaliza~ao respondente
Vimos anteriormente neste capitulo que nao podemos falar de urn estimulo (in-
condicionado ou condicionado) sem fazermos referencia a uma resposta (incon-
0 reflexo aprendido: Condicionamento Pavloviano ----------------------------~
..
I . :...
I" /'
i
~(. -/ r ~ I \
dicionada ou condicionada
pedfica. Isto nao significa
entanto, que, ap6s o condi
mento de urn reflexo, com
estimulo espedfico, som
aquele estimulo especifico ·
ra aquela resposta. Ap6
condicionamento, estimulos
assemelham fisicamente ao esr:
condicionado podem passar a
Generaliza~ao respondente. Estfmulos parecidos fisicamente como es-
timulo previamente condicionado podem passar a eliciar a resposta condi-
cionada. Veja que todas as aves, apesar de diferentes, possuem varias se-
a resposta condicionada em qu
Esse fenomeno e chamad
neraliza~ao respondente
Figura 2.6, vemos urn exe.
desse fenomeno. Uma pe
que por ventura tenha pa
por uma situac;ao avers iva e
vendo uma galinha como a
no centro da Figura 2.6
passar a ter medo de gal::' melhan~as fisicas. Muito provavelmente essa
soa passara tambem a ter medo de outras galinhas da mesma rac;a e de
aves. Is so acontece em func;ao das semelhanc;as fisicas (cor, tamanho, te.
forma, etc.) dos demais estimulos com o estimulo condicionado preser.
situac;ao de aprendizagem, no caso, a galinha do centro da Figura 2.6.
Em alguns casos, como o do exemplo anterior, a resposta condiciona
medo pode ocorrer no, presenc;a de partes do estimulo condicionado, com
exemplo, bico da ave, penas, suas pemas. Note que essas partes do e
condicionado sao fisicamente semelhante
todas as aves apresentadas na Figura 2.6.
Urn interessante aspecto da genera ·
respondente reside no fato de que a mau
da resposta eliciada depend era do grau de
lhanc;a entre os estimulos em quesUio.
mais parecido como estimulo condiciona
sente no momento do condicionamento
tro estimulo for, maior sera a magnitude
posta eliciada. Em outras palavras, no ex
se uma pessoa pas sa a ter medo de galini'
urn determinado emparelhamento desse animal com estimulos aversivos,
mais
parecida com uma galinha uma ave for, mais medo essa ave eli ·-
pessoa caso ela entre em contato com a ave. A variac;ao na magnitude dare
em func;ao das semelhanc;as fisicas entre os estimulos e denominada gra
de generaliza~ao.
A Figura 2.7 mostra o exemplo de gradiente de generalizac;ao respor.
Uma pessoa que tenha sido atacada por urn pastor alemao podera aprend
Moreira & Medeiros
~--------------------------------------~-------------------
medo de tanto desse cao como de
outros caes em geral. Caso isso
aconte<;a, quanta mais parecido
urn cao for com urn pastor ale-
mao, maior sera a magnitude da
resposta de medo eliciada por ele. Magnitude do medo
eliciado por cada estimulo
(caes)
Gradiente de generaliza~ao . A magnitude de uma resposta condicio-
nada diminui a medida que diminuem as semelhan~as entre o estimulo
presente no condicionamento (0 primeiro cao a esquerda) e OS demais
estimulos semelhantes ao estimulo original.
Veja no exemplo da Figura 2. 7
como 0 medo eliciado diminui a
medida que o cao ( estimulo)
apresentado vai diferenciando-se
do estimulo condicionado origi-
nal: o pastor alemao. E interes-
sante notar que ate mesmo urn
cao de pelucia pode passar a
eliciar uma resposta de medo.
Essa resposta (esse medo), no
e.ntanto, sera bern mais fraca que
o medo eliciado na presen<;a de
urn pastor alemao de verdade. No
experimento de Watson (com o
pequeno Albert, ver Figura 2.8 ), foi verificada a generaliza<;ao respondente. Ap6s
o condicionamento da resposta de medo eliciada pelo rato, ele mostrou ao bebe
alguns estimulos que compartilhavam algumas caracteristicas fisicas (forma,
cor, textura, etc.) como estimulo condicionado ( o rato albino), estimulos que se
~ ~
t
@
Estimulo
condicionado
Figura 2.8
Generaliza~ao respondente no experimento de Watson com o pequeno Albert. Ap6s
condicionada a resposta de medo, outros estimulos, fisicamente semelhantes ao rata, passaram a
eliciar no pequeno Albert respostas de medo.
0 reflexo aprendido: Condicionamento Pavloviano
pareciam com ele, e registrou seus comportamentos. 0 que Watson perc -
que estimulos que se pareciam como estimulo condicionado (barba bran
animal de pelucia, urn cachorro branco, etc.) u tilizado na situa<_;ao de apr
gem do novo reflexo passaram tambem a eliciar a resposta de medo. a -=
2.8, podemos ver uma pessoa usando uma barba branca e o pequeno
inclinando-se na dire<_;ao oposta a essa pessoa, demonstrando medo da
de barba branca.
Respostas emocionais condicionadas comuns
Da mesma forma que os individuos tern emo<_;6es diferentes em fun<_;ao de
tes hist6rias de condicionamento, eles compartilham algumas emo<_;6es se
tes a estimulos semelhantes em fun<_;ao de condicionamentos que sao c
em sua vida. As vezes, conhecemos tantas pessoas que tern, por exempl
de altura que acreditamos que medo de altura e uma caracteristica inata
humano. No entanto, se olharmos para a hist6ria de vida de cada pes
dificil encontrar uma que nao tenha caido de algum lugar relativame
(mesa, cadeira, etc.). Nesse caso, temos urn estimulo neutro (perspecth
da altura) que e emparelhado com urn estimulo incondicionado (o im
dor da queda). Ap6s o emparelhamento, a simples "visao da altura" podc:
a resposta de medo. :E muito comum tambem encontrarmos pessoas
medo de falar em publico, como tambem e comum encontrarmos pe
durante sua vida tenham passado por alguma situa<_;ao constrangedora
em publico.
E importante saber como os seres humanos aprendem novos reflex
tanto, novas emo<_;6es. Em contrapartida, para sua pratica (ajudar/en il
soas) talvez seja mais importante ainda saber como fazer com que os in -
nao sintam mais algumas emo<_;6es em fun<_;ao de alguns estimulos que
estar atrapalhando sua vida, o que veremos adiante.
Extin~ao respondente e recupera~ao espontanea
No experimento de Pavlov antes citado, ap6s o condicionamento (pr
pelo emparelhamento do som ao alimento ), o som de uma sineta pas sou -
no cao a resposta de saliva<_;ao. Essa resposta reflexa condicionada
na presen<_;a do som) pode des a parecer se o estimulo condicionado (sam) for a.
repetidas vezes sem a presenfa do estimulo incondicionado (a limen to); ou seja
urn CS e apresentado varias vezes, sem o US ao qual foi emparelhado,
eliciador se extingue gradualmente, ou seja, o estimulo condicionado
perder a fun<_;ao de eliciar a resposta condicionada ate nao mais elicia:
posta. Denominamos tal procedimento e o processo dele decorrente d
~ao respondente.
Assim como um organismo, em funfdo de um emparelhamento de estim.
aprender a ter, par exemplo, medo de aves, esse alguem pode aprender a nao ter 1 •
Para que urn reflexo condicionado per-
ca sua for<;;a, o estimulo condicionado
deve ser apresentado sem novos em-
parelhamentos como estimulo incon-
dicionado. Por exemplo, se urn indi-
viduo passou a ter medo de andar de
carro ap6s urn acidente automobilisti-
co, esse medo s6 ira deixar de ocorrer
se a pessoa se expuser ao estimulo
condicionado ( carro) sem a presen<;;a
dos estimulos incondicionados que es-
tavam presentes no momento do aci-
dente.
A necessidade de se expor ao estimulo
condicionado sem a presenqa do estimulo
incondicionado e a raZtiO pela qual carre-
gamos, ao Iongo da vida, uma serie de me-
dos e outras emoqoes que, de algum modo,
nos atrapalham. Por exemplo, devido a
emparelhamentos ocorridos em nos sa
Moreira & Medeiros
60
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1.::1 20
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Figura 2.9
Extin~ao respondente e recupera~ao espontanea. Um reflexo,
ap6s extinto, pode ganhar for~a novamente sem novas emparelha-
mentos, esse fen6meno e conhecido como recupera~ao espontanea.
infancia, podemos passar a ter medo de altura. Consequentemente, sempre que
pudermos, evitaremos lugares altos, mesmo que estejamos em absoluta seguran-
<;;a. De sse modo, nao entramos em contato como estimulo condicionado (altura),
e o medo pode nos acompanhar pelo res to da vida. Se tal pessoa, no entanto, por
alguma razao, precisar trabalhar na constru<;;ao de predios, ao expor-se a lugares
altos em seguran<;;a provavelmente seu medo deixara de ocorrer.
Uma caracteristica interessante da extin<;;ao respondente e que, as vezes, ap6s
a extin<;;ao ter ocorrido, ou seja, ap6s urn determinado CS nao eliciar mais uma
determinada CR a for<;;a de reflexo pode voltar espontarieamente. Por exemplo,
alguem com medo de altura e for<;;ado a ficar a bdra de urn Iugar alto por urn
Iongo periodo de tempo. No inicio, ·a pessoa sentira todas as respostas condiciona-
das que caracterizam seu medo de altura. Ap6s passado algum tempo, ela nao
mais sentira medo: extinqdo da resposta de medo. Essa pessoa passa alguns dias
sem subir em lugares altos e novamente e for<;;ada a ficar no mesmo lugar alto a
que foi anteriormente. E possivel que ocorra o fenomeno conhecido como recupe-
ra~ao e spontanea, ou seja, o reflexo altura -+ medo ganha for<;;a outra vez, ap6s
ter sido extinto. Sua for<;;a sera menor nesse momenta, ou seja, o medo que a
pessoa sente e menor que o medo que sentiu antes da extin<;;ao. Porem, sendo
exposta novamente ao CS sem novos emparelhamentos como US, o medo tomara
a desaparecer, e as chances de uma nova recupera<;;ao espontanea ocorrer diminuem.
Contracondicionamento e dessensibiliza<;ao sistematica
Esperamos ter conseguido mostrar a relevancia para o psic6logo de se conhecer
aspetos biol6gicos dos organismos, bern como a importancia de se dominar os
0 reflexo aprendido: Condicionamento Pavloviano
conhecimentos referentes ao condicionamento pavloviano. Mostramos come
vos reflexos sao aprendidos, qual a relac;ao entre emoc;6es e condicionarn
pavloviano e que novos reflexos pod em perder sua forc;a por meio de urn pr
men to chamado extinc;ao respondente. Provavelmente,
na sua atuac;ao profL
nal como psic6logo, voce ira se deparar com varios pacientes que desejarn
trolar suas emoc;6es, como, por exemplo, tratar algumas fobias. Voce ja sa be
fazer as pessoas perderem seus medos: extinfdo respondente. Nao obstante, algun:..
timulos produzem respostas emocionais tao fortes, que nao sera possivel e .
pessoa diretamente a urn estimulo condicionado que elicie medo ( sem a pre
do estimulo incondicionado) para que ocorra o processo de extinc;ao respon
(enfraquecimento do reflexo). Algumas pessoas tern medos tao intensos, q
exposic;ao direta ao estimulo condicionado poderia agravar mais ainda a situ
Imagine alguem que tenha uma fobia muito intensa a aves. Ja sabemo
para que se perca o medo de aves, o individuo deve ser exposto a esses ani:
( estimulo condicionado) sem a presenc;a do estimulo incondicionado para a
posta de medo que foi emparelhado a aves em algum momento da sua vida
podemos, no entanto, simplesmente tranca-lo em urn quarto cheio de a
esperar pelo enfraquecimento do reflexo. Isso ocorre porque, em primeiro I
dificilmente conseguiriamos convencer alguem a fazer isso. Em segundo .
o medo pode ser tao intenso, que a pessoa desmaiaria; ou seja, nao estaria
em contato com o estimulo condicionado. Por Ultimo, o sofrimento caus
esta pessoa fugiria completamente as normas eticas e ao born senso. Felizm
contamos com duas tecnicas muito eficazes para produzir a extinc;ao d
reflexo que amenizam o sofrimento: contracondicionamento e desseru
liza~ao sistem atica.
0 contracondicionamento, como sugere o proprio nome, consiste em c
cionar uma resposta contraria aquela produzida pelo estimulo condicio
Por exemplo, se urn determinado CS elicia uma resposta de ansiedade, o c<..
condicionamento consistiria em emparelhar esse CS a urn outro estimu;
elicie relaxamento (uma musica ou uma massagem, por exemplo). A F
2.10 ilustra dois exemplos nos quais ha contracondicionamento. As duas sit
estao divididas em tres momentos: (I) os reflexos originais; (2) o contracon
namento e ( 3) o resultado do contracondicionamento. No exemplo em qu
cigarro, temos, em urn prirneiro momento, dois reflexos: tomar xarope de
e vomitar; fumar e sentir prazer. Se uma pessoa tomar o xarope algumas
imediatamente ap6s fumar, depois de alguns emparelhamentos, fumar
passar a eliciar vomito no individuo, 0 que, provavelmente, diminuiria as c
do individuo continuar fumando.
Uma outra tecnica muito eficiente e muito utilizada para se suavizar
cesso de extinc;ao de urn reflexo e a dessensibilizac;ao sistematica (Figura_
Esta e uma tecnica utilizada com base na generalizac;ao respondente. El
siste em dividir o procedimento de extinc;ao em pequenos passos. Na Figu;
vemos que, quanto mais diferente e 0 cao daquele que atacou a pessoa, m
o medo que ele produz, ou seja, menor e a magnitude da resposta de
Suponha que alguem que tenha urn medo muito intenso de caes consi:
emprego muito bem-remunerado para trabalhar em urn canil e resolva pr
UNIMINAS
21690
UNJMiNAS-BJBliOTECA
Moreira & Medeiros
•
Xarope de ipeca + V6mita Rata Ansiedade
1
Cigarra Prazer Can~aa de ninar Relaxamenta
2
Contracondicionamento Contracondicionamento
3
Cigarra V6mita Rata Relaxamenta
* 0 Xarope de lpeca (que contem emetina) e usado para eliciar v6mito em pessoas que ingeriram substancias venenosas.
Figura 2.10
Contracondicionamento. Esta tecnica consiste simplesmente do emparelhamento de estfmulos que eliciam res pastas
contrarias (p. ex., ansiedade versus relaxamento; prazer versus desconforto).
urn psic6logo para ajuda-lo a superar seu pavor de dies. 0 profissional nao poderia
simplesmente exp6-lo aos caes que lhe provocam pavor para que o medo diminua
( ele nao precisaria de urn psic6logo para is so, nem estaria disposta a faze -lo ).
Sera possfvel, nesse caso, utilizar com sucesso a dessensibiliza<;ao sistematica.
Em fun<;ao da generaliza<;ao respondente, a pessoa em questao nao tern medo
apenas do cao que a atacou ( supondo que a origem do medo esteja em urn ataque)
ou de caes da mesma ra<;a. Ela provavelmente tern medo de caes de outras ra<;as,
de diferentes tamanhos e formas. Alguns medos sao tao intensos, que ver fotos
ou apenas pensar em caes produzem certo medo.
Para utilizar a dessensibiliza<;ao sistematica, seria necessaria construir urn
escala crescente da intensidade do estfmulo (hierarquia de ansiedade), ou seja,
descobrir, para aquela pessoa, quais sao os estfmulos relacionados a caes que eliciam
nela maior ou menor medo. Urn exemplo seria pensar em caes, ver fotos de caes,
tocar em caes de pelucia, observar, de longe, caes bern diferentes daquele que a
atacou, observar, de perto, esses caes, toea-los, e assim por diante, ate que a
pessoa pudesse entrar no canil em que ira trabalhar sem sentir medo.
0 reflexo aprendido: Condicionamento Pavloviano
Antes do condicionamento Dessensibiliza<;ao sistematica
Estimulo neutro Sem medo
Ap6s o condicionamento (ataque)
no~ ~
no~ Q
Estimulo condicionado Me do
no~
Figura 2.11
Dessensib i l i za~ao sistematica. A dessensibiliza~ao sistematica e uma tecnica: expoe-se o individuo gradativar
a estimulos que eliciam respostas de menor magnitude ate o estfmulo condicionado original.
E muito comum, na pratica psicol6gica, utilizar em conjunto contrac
cionamento e dessensibiliza<;;ao sistematica. No exemplo anterior, juc
exposi<;;ao gradual aos caes e aos estimulos semelhantes, o psic6logo p
utilizar uma musica suave, por exemplo.
Uma "palavrinha" sobre condicionamento pavlovian
Costumamos dizer que algumas palavras possuem uma forte carga emo ·
isto e, que algumas palavras nos fazem sentir emo<;;6es (boas ou ruins). P
palavras, simples palavras, nos afetam tanto? Se voce disser a urn bebe
meses "voce e um inutil", provavelmente o pobre be be ficara olhando para '
sorrindo. No en tanto, dizer is so a alguns adultos faz com que eles sin tam em
desagradaveis. Como as palavras pas sam a eliciar emo<;;6es? Boa parte dessa "
emocional" das palavras esta relacionada ao condicionamento pavloviano. 1
mos a considerar palavras faladas como algo mais do que realmente sa
estimulos como outros quaisquer. Sao estimulos auditivos.
0 reflexo aprendido: Condicionamento Pavloviano
Antes do condicionamento Dessensi biliza~ao sistematica
Estimulo neutro Sem medo
D Dr:==::::::>
.. '
D Dr:==::::::>
D Dr:==::::::>
Ap6s o condicionamento (ataque)
Estimulo condicionado Medo
D Dr:==::::::>
D Dr:==::::::>
Figura 2.11
Dessensibilizac;ao sistematica. A dessensibiliza~ao sistematica e uma tecnica: exp6e-se o indivfduo gradativamente
a estfmulos que eliciam respostas de menor magnitude ate o estfmulo condicionado original.
E muito comum, na pratica psicol6gica, utilizar em conjunto contracondi-
cionamento e dessensibiliza<;ao sistematica. No exemplo anterior, junto a
exposi<;ao gradual aos caes e aos estimulos semelhantes, o psic6logo poderia
utilizar uma musica suave, por exemplo.
Uma "palavrinha" sobre condicionamento pavloviano
Costumamos dizer que algumas palavras possuem uma forte carga emocional,
isto e, que algumas palavras nos fazem sentir emo<;6es (boas ou ruins). Por que
palavras, simples palavras, nos afetam tanto? Se voce disser a urn bebe de 3
me es "voce e um inutil"' provavelmente 0 pobre be be ficara olhando para voce e
- rrindo. o en tanto, dizer is so a alguns adultos faz com que eles sin tam emo<;6es
:_ adaYeis. Como as palavras pas sam a eliciar emo<;6es? Boa parte dessa "carga
'CJ.JJIUUt-nal" das palavras esta relacionada ao condicionamento pavloviano. Tende-
o iderar palavras faladas como algo mais do que realmente sao. Sao
mo outros quaisquer. Sao estimulos auditivos.
Da mesma forma que Pavlov emparelhou o som de
uma sineta a alimento, e tal som passou a eliciar
no cao
saliva<;ao, emparelhamentos da palavra falada bife (urn
som) como proprio bife pode fazer com que o som dessa
palavra nos elicie saliva<;ao, bern como o emparelhamen-
to de algumas palavras com situa<;6es que nos eliciam
sensa<;6es agradaveis ou desagradaveis pode fazer com
que o som delas nos elicie sensa<;6es semelhantes aqueles
eliciadas pelas situa<;6es em que elas foram ditas. E co-
mum, por exemplo, que palavras como "feio", "errado",
"burro" e "estupido" sejam ouvidas em situa<;6es de pu-
ni<;ao, como uma surra. Quando apanhamos, sentimos
dar, choramos e, muitas vezes, ficamos com medo de
nos so agressor. Sea surra ocorre junto com xingamentos
( emparelhamento de estirnulos ), as palavras ditas pod em
passar a eliciar sensa<;6es semelhantes a que a surra eli-
ciou, bern como a voz ou a simples visao do agressor. E
por esse motivo que algumas crian<;as ficam praticamen-
te "paralisadas de medo" na presen<;a de seus pais.
Moreira & Medeiros
Condicionamento pavloviano de ordem superior
Vimos ate agora que novos reflexos sao aprendidos a partir do emparelhamento
de estimulos incondicionados a estimulos neutros. Mas o que acontece seem-
parelharmos estimulos neutros a estimulos condicionados? No experimento rea-
lizado por Pavlov, foi emparelhado alimento (US) ao som de uma sineta (NS,
estirnulo neutro ). Ap6s alguns emparelhamentos, o som da sineta pas sou a eliciar
no cao a resposta de saliva<;ao. A partir do momenta em que o som da sineta
passa a eliciar a resposta de saliva<;ao, passamos a chama-lo estirnulo condiciona-
do ( C S). Da mesma forma que o som da sineta, antes do condicionamento, nao
eliciava a resposta de saliva<;ao, a visao de, por exemplo, urn quadro-negro tam-
bern nao elicia no cao essa resposta, ou seja, o cao nao saliva ao ver urn quadro-
negro. Voce ja sabe que, se emparelhassemos o alimento (US) ao quadro-negro
(NS ), o quadro-negro provavelmente passaria, ap6s o condicionamento, a ser
urn estimulo condicionado para a resposta de salivar ( ou seja, pass aria a eli cia-
la). Mas o que aconteceria se emparelhassemos o som da sin eta ( C S) ao quadro-
negro (NS )? Provavelmente aconteceria o que denominamos condicionamento
de ordem superior. Chamamos esse novo reflexo ( quadro-negro -+ saliva<;ao)
de reflexo condicionado de segunda ordem, eo quadro-negro de estirnulo condi-
cionado de segunda ordem. Se o quadro-negro fosse emparelhado a urn outro
estimulo neutro e houvesse condicionamento de urn novo reflexo, chamariamos
o novo reflexo de reflexo condicionado de terceira ordem, e assim por diante.
0 condicionamento de ordem superior e urn processo em que urn estimulo
previamente neutro passa a eliciar uma resposta condicionada como resultado
de seu emparelhamento a urn estimulo condicionado que ja elicia a resposta
0 reflexo aprendido: Condicionamento Pavloviano
condicionada em questao. Falamos sobre urn emparelha-
mento CS -CS. Muitos casais tern uma musica especial: asso-
ciam soma sentimentos agradaveis que eles experimenta-
ram quando se encontraram pela primeira vez. A "musica
do casal", por ter sido emparelhada a beijos e caricias do
primeiro encontro amoroso, tornou-se urn estimulo condi-
cionado para respostas semelhantes as eliciadas pelos beijos
e pelas caricias. Outros estimulos que geralmente estao pre-
sentes quando a musica esUi tocando, como a foto do cantor
ou mesmo o som de seu nome, podem passar tambem a
eliciar as mesmas respostas condicionadas eliciadas pela
musica. Vale lembrar que, quanto mais alta e a ordem do
reflexo condicionado, menor e a sua forc;a. Nesse exemplo,
a magnitude das respostas de prazer eliciadas pelo som do
nome do cantor e menor que a magnitude das respostas
eliciadas pela musica, e, e claro, a magnitude das respostas
eliciadas pela musica e menor do que a das respostas eli-
ciadas pelos beijos e pelos carinhos.
Algumas outras aplicac;oes do
condicionamento pavloviano
Robert Ader e Nicholas Cohen ( 1982) mostraram que o Condicionamento Pav-
loviano se estende a respostas irnunol6gicas. Esses pesquisadores deram simulta-
neamente a ratos agua com ac;ucar e uma droga supressora do sistema imunol6-
gico. Depois de varios emparelhamentos droga-agua com ac;ucar (US-NS ), a su-
pressao imunol6gica ocorreu apenas pela ingestao de agua com ac;ucar. Essa
descoberta tern importantes irnplicac;6es para a saude humana. Quando 6rgaos
sao transplantados, ha sempre o risco de rejeic;ao (uma interpretac;ao equivocada
do sistema imunol6gico ). 0 sistema imunol6gico pas sa a combater o 6rgao como
se fosse urn corpo estranho danoso ao organismo. Os medicos contornam tal
situac;ao receitando aos pacientes remedios que tern efeito de supressao do sistema
imunol6gico. 0 emparelhamento dos remedios com cheiros, por exemplo, pode
fazer com que apenas o cheiro tenha efeitos supressores sobre o sistema imuno-
16gico, o que poderia reduzir a quantidade de medicac;ao tomada e, consequente-
mente, seus efeitos colaterais.
Os produtores de propagandas estao o tempo todo, as vezes sem saber, utilizan-
do Condicionamento Pavloviano para tornar mais atrativos os seus produtos. E
muito com urn nas propagandas, por exemplo, ver lindas modelos ou celebridades
em situac;6es de diversao. Com isso, os produtores esperam que o produto que
querem vender seja ( estimulo neutro) emparelhado com pessoas, objetos ou
Moreira & Medeiros
situa<;6es de que os consumidores gostam. Ap6s varios emparelhamentos (as
propagandas pass am repetidas vezes na televisao ), o produto anunciado ira eliciar
respostas prazerosas nas pessoas; portanto, tamar-se-a algo agradavel a elas.
Pavlov descobriu que a maneira mais eficaz de se estabelecer o condicionamento
e apresentar o estimulo neutro e, logo em seguida ( 0,5 segundos depois ), apresen-
tar o estimulo incondicionado. 0 mesmo vale para as propagandas de televisao;
a maneira mais eficaz de estabelecer o condicionamento e apresentar o produto
e, logo em seguida, pessoas bonitas ou situa<;6es agradaveis .
Fatores que influenciam o condicionamento pavloviano
Em varios momentos do livro, dissemos que o condicionamento pode ocorrer, e
nao que ele de fato ocorreria. Assirn o fizemos porque nao basta emparelhar
estimulos para que haja condicionamento pavloviano. Ha alguns fatores que
aumentam as chances de o emparelhamento de estirnulos estabelecer o condicio-
namento, bern como definem o quao forte sera a resposta condicionada:
• Frequencia dos emparelhamentos. Em geral, quanta mais frequentemente o
CS e emparelhado como US, mais forte sera a resposta condicionada. No
en tanto, em alguns casas (ingestao de alimentos t6xicos ou eventos muito
traumaticos, como urn acidente de carro ou urn estupro ), basta apenas
urn emparelhamento para que uma resposta condicionada de alta magni-
tude surja.
• Tipo do emparelhamento. Respostas condicionadas mais fortes sur gem quan-
do o estirnulo condicionado aparece antes do estirnulo incondicionado e
permanece quando 0 us e apresentado.
• Intensidade do estfmulo incondicionado. Urn US forte tipicamente leva a urn
condicionamento mais rapido. Por exemplo, urn jato dear (US) dire-
cionado ao olho elicia a resposta incondicionada de piscar. Emparelha-
mentos de jato de ar com sam fazem com que a resposta de piscar ocorra
ao se ouvir o sam. Nesse exemplo, urn jato de ar mais forte levaria a urn
condicionamento mais rapidamente do que urn jato de ar fraco levaria .
• Grau de predifdO do estfmulo condicionado. Para que haja condicionamento,
nao basta que ocorra apenas o emparelhamento US-NS repetidas vezes.
0 estimulo neutro deve ter urn carater preditivo da ocorrencia do estirnulo
incondicionado. Urn som que ocorre sempre antes da apresenta<;ao de
alimento eliciara com mais facilidade a saliva<;ao do que urn som que as
vezes ocorre antes da apresenta<;ao da comida, ou as
vezes nao ocorre.
Generaliza~ao
respondente
Condicionamento
de ordem superior
Extin~ao
respondente
Recupera~ao
espontanea
prendido: Condicionamento Pavloviano
Principais conceitos apresentados oeste capitulo
Descri~ao
t uma forma de aprendizagem em que
um estfmulo previamente neutro passa,
ap6s o emparelhamento com um
estfmulo incondicionado, a eliciar
uma resposta reflexa .
Fen6meno em que estfmulos parecidos
com um estfmulo condicionado tambem
eliciam a resposta condicionada.
Condicionamento pelo emparelhamento
de estfmulo neutro com um estfmulo
condicionado.
Diminui~ao gradual da for~a de um
reflexo pela apresenta~ao repetida do
estfmulo condicionado na ausencia do
estfmulo incondicionado.
Aumento espontaneo na for~a de um
reflexo ap6s ter havido extin~ao.
Exemplo: medo de dentista
Ap6s o emparelhamento do som dos aparelhos
utilizados pelo dentista com a dor produzida
durante uma obtura~ao, esse som pode passar a
eliciar respostas de medo (suar frio, tremer, etc.).
Ter medo ao ouvir barulhos parecidos com o som
de aparelhos de dentista, como, por exemplo, o
som de um liquidificador.
A resposta de medo pode ser eliciada ao ouvir o
nome do dentista.
Ouvir o som do aparelho de dentista apenas em
limpeza do dente (sem dor), varias vezes, e perder
o medo.
Ap6s a extin~ao da resposta de medo, voltar ao
dentista meses depois e sentir medo ao ouvir o
som .
Estimulo neutro (NS) Estfmulo que ainda nao elicia a resposta 0 som do motor da broca do dentista antes
que sera condicionada. do tratamento.
Estimulo
incondicionado (US)
Estfmulo que elicia a resposta 0 atrito doloroso da broca com o dente.
incondicionada. Sua fun~ao e inata.
Estimulo
condicionado
Resposta
incondicionada
Resposta
condicionada
Estfmulo que elicia a resposta por u~a 0 som do rotor ap6s o tratamento doloroso.
hist6ria de condicionamento. t o est fmulo
neutro ap6s o emparelhamento.
t a resposta reflexa eliciada pelo estfmulo
incondicionado. Sua elicia~ao por esse
estfmulo nao depende de uma hist6ria
de aprendizagem.
t praticamente a mesma resposta
produzida no reflexo incondicionado
original, entretanto e eliciada pelo
estfmulo condicionado.
t a sensa~ao produzida pelo atrito da broca com
o dente, assim como rea~6es fisiol6gicas
decorrentes desse atrito.
Sao as mesmas sensa~6es e altera~6es fisiol6gicas
agora produzidas pelo barulho do rotor.
Bibliografia consultada e sugestoes de leitura
Catania . A. C. ( 1999 ). Aprendizagem: comportamento, linguagem e cogn ifdO. Porto Alegre:
Artmed. Capitulo 12 : Comportamento Respondente: Condicionamento
Millenson, J. R. ( 1975 ). Principios de analise do comportamento. Brasilia: Coordenada . Capi-
tulo 3: Condicionamento Pavloviano
Wood, E. G., Wood, S. E. e Boyd, D. (2005 ). Learning. [On line]. Dispon ivel: http://
m \w.ablongman.com/samplechapter/0205 36 13 74. pdf. Recuperado em 12 de maio de 2005.
CAPfTULO 3
Aprendizagem pelas
•• A •
consequenc1as:
o reforc;o
A abordagem ate agora foi sobre o comporta-
mento respondente, isto e, vimos urn tipo de
relac,;ao entre o ambiente (estimulo) eo orga-
nismo (resposta), na qual dizemos que urn esti-
mulo elicia uma resposta . Concluimos que
nosso conhecimento sobre o comportamento respondente nos ajuda a compreen-
der parte do comportamento e da aprendizagem humana, sobretudo no que
diz respeito as emoc,;6es. A despeito da grande relevancia do comportamento
respondente para analise, com preen sao e modificac,;ao (intervenc,;ao) do compor-
tamento humano, ele sozinho ( comportamento respondente) nao consegue a bar-
car toda a complexidade do comportamento humano ( e dos organismos em ge-
ral). Neste capitulo, conheceremos urn segundo tipo de comporta-
mento que engloba a maioria dos comportamentos dos organismos:
o comportamento operante, termo cunhado por B. F. Skinner. Classi-
ficamos como operante aquele comportamento que produz conse-
qiiencias (modificac,;6es no ambiente) e e afetado por elas. Logo, con-
sideraremos como as conseqiiencias daquilo que fazemos nos man-
tern no mesmo caminho, ou afasta-nos dele. Entender o comporta-
mento operante e fundamental para compreendermos como apren-
demos nossas habilidades e nossos conhecimentos, ou seja, falar,
ler, escrever, raciocinar, abstrair, etc.), e ate mesmo como aprendemos
a ser quem somos, a ter nossa personalidade.
Ao estudarmos o comportamento respondente, percebemos que
ele e aprendido por meio do condicionamento respondente. De agora
em diante, conheceremos urn outro tipo de aprendizagem: o condi-
cionamento operante. Nesse segundo tipo de aprendizagem, fare-
Comportamento Respondente
S-+R
(uma alterac;ao no ambiente
elicia uma resposta do organismo)
Comportamento Operante
R-+C
(uma resposta emitida pelo organismo
produz uma alterac;ao no ambiente)
mos referenda a comportamentos que sao aprendidos em func;ao de suas conse-
qtiencias.
0 comportamento operante produz
conseqiiencias no ambiente
A maior parte de nossos comportamentos produz conseqiiencias no ambiente.
Essas conseqiiencias silo mudanfas no ambiente. Urn comportamento simples, como
estender o brac;o, produz a conseqtiencia pegar (alcanc;ar) urn saleiro (mudanc;a
no ambiente: o saleiro passa de urn lugar para outro ). Em vez de estender o
brac;o e pegar urn saleiro, e possfvel emitir outro comportamento que produzira a
mesma conseqtiencia: pedir a alguem que lhe passe o saleiro. No prirneiro exem-
plo, o comportamento produziu diretamente a mudanc;a de Iugar do saleiro. No
segundo exemplo, o comportamento modificou diretamente o comportamento
de outra pessoa e produziu a mudanc;a de lugar do saleiro. Veja na Tabela 3.1
alguns exemplos de comportamentos bern simples e de conseqtiencias que eles
produzem. Lembre-se de que, quando usamos o termo "resposta", estamos falan-
do sobre o comportamento do individuo, sobre o que ele faz, fala, sente, etc.
TABELA 3.1 EXEMPLOS DE COMPORTAMENTOS E SUAS CONSEQOtNCIAS
Comportamento (resposta) .... Conseqiiencia
dizer "Oi!" ... ouvir urn "Oia!"
apertar urn batao ... chegar o elevador
girar uma torneira ... obter agua
fazer uma pergunta ... receber a resposta
fazer o dever de casa ... ser elogiado pelo professor
dizer palavras de amor ... ganhar urn beijo
estudar ... obter boas notas
fazer uma liga~ao telef6nica ... falar com alguem
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ela
ou
fa
dir
ca
diz
0 comportamento e afetado (e controlado)
por suas conseqiiencias
Moreira & Medeiros
As conseqiiencias de nossos comportamentos vao influenciar suas ocorrencias
futuras. Dizer que as conseqiiencias dos comportamentos chega a afeta-los e o
mesmo que dizer que as conseqiiencias determinarao, em algum grau, se os
comportamentos que as produziram ocorrerao ou nao outra vez, ou se ocorrerao
com maior ou menor freqiiencia.
Imagine que voce pec;a urn saleiro para uma determinada pessoa. Se ela lhe
passa 0 saleiro, e provavel que, no futuro, em uma situac;ao parecida, voce lhe
pec;a o saleiro novamente. Agora imagine que voce pec;a o saleiro a uma determi-
nada pessoa, e ela nao lhe pas sao saleiro. Essa situac;ao repete-se algumas vezes.
0 que acontece, entao? E bastante provavel que, em novas situac;6es, nas quais
voce precise do saleiro e esta pessoa esteja presente, voce nao pec;a mais 0 saleiro
a ela. Tente irnaginar comportamentos cotidianos seus, identificando exatamente
o que foi feito eo que aconteceu depois, e se "o que aconteceu depois" (a conse-
qiiencia) influenciou, de alguma forma, no fato de voce repetir o comportamento
em ocasi6es posteriores.
As conseqiiencias
produzidas pelo comportamento ocorrem tao naturalmente
no nosso dia-a-dia, que, muitas vezes, nem nos damos conta de que elas estao
presentes 0 tempo todo. Algo bastante interessante e que, se refletirmos por
alguns instantes, perceberemos que s6 continuamos tendo uma infinidade de
atitudes diarias porque determinadas conseqiiencias ocorrem. Ainda ha outras
atitudes que abandonamos em func;ao de suas conseqiiencias ou, simplesmente,
em func;ao de que uma conseqiiencia produzida por urn determinado comporta-
mento deixou de ocorrer.
Outro aspecto interessante que diz respeito a nossos comportamentos e as
conseqiiencias por eles produzidas e o fato de que as conseqiiencias nao tern
influencia somente sobre comportamentos "adequados" ou socialmente aceitos;
elas tambem mantem ou reduzem a freqiiencia de comportamentos inadequados
ou indesejados.
TABELA 3.2 ALGUNS EXEMPLOS DE CONSEQUtNCIAS PRODUZIDAS POR
DETERMINADOS COMPORTAMENTOS "INADEQUADOS"
Comportamento (resposta) ... Conseqiiencia
fazer "bagun~a" em sal a de aula ... aten~ao do professor
dirigir em alta velocidade ... "admira~ao" dos colegas
cabular ("matar aula") ... mais tempo ocioso
dizer que esta deprimido .... aten~ao das pessoas
"ser grosseiro e estupido" .... respeito dos funcionarios
"fazer birra" .... obten~ao de um brinquedo
ndizagem pelas conseqi.iencias: o refon;o
Voce ja se questionou alguma vez por que algumas crian<_;as sao "birrentas" e
outras nao? Para responder a essa pergunta alguns podem argumentar sabre a
"natureza ruirn da crian<_;a", enquanto outros podem dizer simplesmente que
ela e assim por ser uma crian<_;a chata. Na realidade, se olharmos com cuidado
para a vida de crian<_;as "birrentas" e "nao-birrentas", percebemos que aquelas
que fazem birra, frequentemente conseguem o que querem. Ja aquelas que fazem
pouca ou nenhuma birra raras vezes ou nunca receberam aquila que queriam
agindo assim na frente de, por exemplo, seus pais ou av6s.
Se o comportamento e influenciado (controlado) par suas conseqiiencias,
isso nos da duas possibilidades fantasticas, extremamente importantes para os
psic6logos: (a) podemos manipular as conseqiiencias dos comportamentos para
compreendermos melhor como a intera<_;ao comportamento (resposta)-conse-
qiiencia (R -+ C) se da; (b) se os comportamentos das pessoas (e tambem de
anima is nao-humanos) sao controlados por suas conseqiiencias, is so significa
que podemos modificar os comportamentos das pessoas ( e dos anirnais nao-
humanos) programando conseqi.iencias especiais para seus comportamentos.
Exemplos simples de controle do
comportamento por suas conseqiiencias
0 ratinho mostrado na Figura 3.la esta em uma caixa de condicionamento ope-
rante (Caixa de Skinner). Cada vez que o animal pressiona uma barra, uma gota
de agua lhe e dada. Enquanto tal situa<_;ao se mantiver, o ratinho continuara
pressionando a barra. Podemos dizer que o comportamento do ratinho e contro-
lado por suas consequencias, ou seja, pressionar a barra e mantido porque conti-
~ua produzindo a mesma consequencia.
Algumas crian<_;as sao extremamente habeis em controlar o comportamento
de seus pais. Quando elas querem alguma coisa e os pais nao cedem, elas simples-
Figura 3.1
0 comportamento e mantido por suas consequencias. As figuras acima sao exemplos de
como as consequencias do comportamento mantem sua ocorrencia.
Moreira & Medeiros
mente "apron tam o maior berreiro". 0 que acontece, en tao? Muitos pais atendem
a sua vontade, dando a crian~a o que ela quer no momenta em que esta fazendo
birra. A Figura 3.lb mostra uma crian~a agindo assim afirn de continuar na
banheira ap6s o banho. Cada vez que a mae permite que ela fique urn pouco
mais na banheira ao fazer birra, a mae esta ensinando a crian~a a ser birrenta.
Entao, para a crian~a conseguir o dace, o brinquedo ou aquila que deseja e
uma conseqiH~ncia que controla seu comportamento de "fazer birra". Nesse exem-
plo simples, nao e preciso ser psic6logo para imaginar como modificar o compor-
tamento da crian~a. Talvez os pais ate consigam que ela seja "mais educada" e
pe~a adequadamente urn brinquedo, conversando varias vezes com essa crian~a.
Mas s6 talvez. Duas outras atitudes dos pais, que envolvem mudan~as das conse-
qiiencias para os comportamentos do filho, seriam muito mais eficazes: (a) nao
a tender o filho quando ele pedir alga de forma inadequada (birra); (b) na medida
do possivel, atende-lo quando ele pedir educadamente. Percebemos, nesse caso,
que algumas crian~as sao "birrentas" nao porque tern uma "natureza ruirn" ou
porque sao "chatinhas": agem assirn porque funciona, porque birra produz conse-
qiiencias que refor~am o seu comportamento.
0 refor~o
Analisamos ate agora que o comportamento produz conseqiiencias e que e con-
trolado por elas. Virnos tambem que algumas dessas conseqiiencias aumentam
a probabilidade de o comportamento voltar a ocorrer. Chamamos essas conse-
qiiencias de reforfo. Portanto, refor~o e urn tipo de conseqiiencia do comporta-
mento que aumenta a probabilidade de urn determinado comportamento voltar
a ocorrer. Novamente, temos uma rela~ao entre o organismo e seu ambiente, na
qual o organismo emite uma resposta (urn comportamento) e produz altera~6es
no ambiente. Quando as altera~6es no ambiente aumentam a probabilidade de
o comportamento que as produziu voltar a ocorrer, chamamos tal rela~ao entre
o organismo eo ambiente de contingencia de refor~o, que e express ada forma
se ... entao ... ( se o comportamento X ocorrer, en tao a conseqiiencia Y ocorre;
se o rata pressiona a barra, entao ele recebe agua). No exemplo da crian~a que
"faz birra" para que seus pais a atendam, podemos identificar o refor~o e os seus
efeitos claramente. Cada vez que a crian~a "faz birra" ( comportamento/res-
posta) e seus pais a atendem (conseqiiencia), aumentam as chances (a pro-
babilidade) de que, na proxima vez que a crian~a queira algo, ela se com porte da
mesma forma. Dizemos, entao, que esse evento (receber o que esta pedindo) e
urn refor~o para o comportamento de "fazer birr a". Voce consegue imaginar
outros exemplos de conseqiiencias que man tern alguns de nossos comportamen-
tos? Fa~a esse "exercicio intelectual" antes de continuar a leitura do livro.
Devemos nos lembrar- sempre- de que, quando nos referimos ao com porta-
menta, falamos sobre rela~6es entre organismo e ambiente. Voce se lembra do
comportamento respondente (reflex a) da rela~ao S -+ R? Voce lembra tam bern
que, para afirmamos se urn determinado estimulo e neutro, incondicionado ou
condicionado, devemos sempre atentar para a rela~ao, ou seja, para qual respos-
ta ele e neutro, incondicionado ou condicionado? Pois bern, o mesmo tipo de
raciocinio vale para o refon;ador. A fim de afirmar que determinado estimulo e
urn refon;ador ou que uma determinada conseqiiencia e urn refon;o, devemos
centrar-nos em sua rela~ao como comportamento. As caracteristicas flsicas ou a
natureza de urn estimulo nao podem qualifica-lo como refor~ador. Ha urn exem-
plo simples: se voce esta ha dois dias sem comer, comida pode tornar-se urn
refor~ador. Entretanto, se voce acabou de comer muito, comida pod era ate mesmo
ser algo aversivo para voce naquele momenta. Ainda como exemplo, para algumas
pessoas, saltar de para-quedas pode ser urn a to extremamente refor~ador, enquan-
to para outras nao. Portanto, para determinarmos se urn estimulo e urn refor~ador,
ou se uma conseqiiencia e urn refor~o, devemos considerar a rela(iiO entre o
comportamento e sua conseqiiencia, verificando sea conseqiiencia afeta urn deter-
minado comportamento traduzida no aumento de sua probabilidade de ocor-
rencia.
Refor~adores naturais versus refor~adores arbitrarios
No momenta em que a conseqiiencia refor~adora do comportamento eo produto
direto do proprio comportamento, dizemos que a
consequencia e uma refor~adora
natural. Quando a conseqiiencia refor~adora e urn produto indireto do comporta-
mento, afirmamos que se trata de urn refor~o arbitrario.
Por exemplo, o comportamento de urn musico de tocar via-
lao sozinho em seu quarto e refor~ado pela propria musica
(refor~o natural); se ele toea em urn bar por dinheiro,
referimo-nos a urn refor~o arbitrario.
Baseado no que foi apresentado ate agora, que resposta
voce daria a seguinte pergunta: refor~ar e 0 mesmo que
"comprar" ou chantagear alguem? Por exemplo, "se vocefizer
is to, eu !he dou aquila", ou se a crian~a fizer os exerdcios de
matematica, ela ganha urn chocolate. Com certeza, concor-
damos como fa to de que ninguem deve estudar para ganhar
chocolates. Mas o que entao deve manter (refor~ar) o com-
portamento de estudar? (Aten~ao! Este e urn ponto funda-
mental deste capitulo.) Muitas vezes, quando as conseqiien-
cias refor~adoras de urn comportamento nao sao tao obvi-
as quanto ganhar urn chocolate (refor~o arbitrario ), come~amos a recorrer a
explica~6es mentalistas (jogar para dentro do individuo as explica~6es de seus
comportamen tos).
Exemplo:
Voce nao deve "comprar" seu filho dando-lhe presentes para que ele es-
tude. Voce deve conscientiza-lo sobre a importancia dos estudos para a
vida dele.
Esta afrrma~ao lhe parece correta? Vamos analisa-la.
Moreira & Medeiros
Conscientizar a crian~a sobre a importancia de estudar nada mais e do especi-
ficar as conseqih~ncias a longo prazo desse comportamento: voce deve estudar
( comportamento ), pois s6 assim tera respeito e urn born emprego ( conseqiH!n-
cia refor~adora) quando for adulto. Essas conseqiiencias sao demasiado distan-
tes para que possam controlar o comportamento de estudar de uma crian~a de 5
ou 7 anos. E muito pouco provavel que se consiga conscientiza-la sobre a impor-
tancia dos estudos. E necessaria que o comportamento de estudar tenha conse-
qiiencias refor~adoras mais imediatas para que a crian~a habitue-sea isso. Certa-
mente, essa conseqiiencia nao deve ser urn chocolate ou urn brinquedo, mas
acompanhe o seguinte raciocinio: sea crian~a nao estuda (nao emite o comporta-
mento), nao pode haver conseqiiencias refor~adoras- ou de qualquer natureza-
para esse comportamento. Nao sao as conseqiiencias a longo prazo (sucesso,
born emprego, etc.) que manterao o comportamento de estudar hoje. No en tanto,
e possfvel que ela o fa~a se a conseqiiencia disso for ganhar urn brinquedo ou
poder jogar videogame ap6s a aula. Com is so ( estabelecendo para crian~a que se
ela estudar, entao ela ganha is so), voce esta estabelecendo reforfiOS arbitrarios
para tal comportamento, o que e importante em urn primeiro momenta para
que a crian~a emita-o. Ao estudar, outros refor~os naturais surgirao para o compor-
tamento: ser elogiada pelos professores, ter admira~ao dos colegas, receber elogios
dos pais, tirar notas boas entre outros. Se a materia for matematica, ela sabera
calcular urn troco ao comprar "figurinhas" na banca de revistas, ou sera capaz de
ler corretamente algo de seu interesse. Nenhuma das conseqiiencias refor~adoras
mencionadas seria possfvel se a crian~a nao estudasse em algum momenta.
As conseqiiencias refor~adoras (naturais) nao sao tao 6bvias quanto ganhar
urn brinquedo, mas sao conseqiiencias do comportamento, alem de serem pode-
rosas. A partir do momenta em que essas conseqiiencias naturais (refor~os natu-
rais) sur gem no ambiente da crian~a, nao sera mais necessaria refor~ar o compor-
tamento de estudar com refor~adores arbitrarios, como chocolate e brinquedos.
Ja que os refor~adores naturais (conseqiiencias naturais) nao sao tao facilmente
identificados quanto os refor~adores arbitrarios, costumamos "jogar as explica-
~6es para dentro do indivfduo" quando conseqiiencias refor~adoras naturais pas-
sam a controlar seu comportamento.
Outros efeitos do refor~o
Alem de au men tar a freqiiencia de urn comportamento refor~ado, o refor~o ( ou
a conseqiiencia refor~adora) tern dois outros efeitos sobre o comportamento dos
organismos. Uma delas e a diminui~ao da freqiiencia de outros comporta-
mentos diferentes do comportamento refor~ado. Se, por exemplo, voce esta em
urn bar, olhando as pessoas que por la passam, bebendo, comendo e falando
sobre urn determinado assunto, e alguem come~a a prestar muita aten~ao no
que voce esta falando, e provavel que voce coma menos, beba menos, observe
menos o movimento no bare passe mais tempo conversando.
Esse mesmo efeito pode ser observado no momenta em que o comportamento
de pressionar a barra realizado por urn rato e refor~ado com agua (Figura 3.2).
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Comportamentos
Figura 3.2
0 refon;o de um comportamento diminui a freqi.iencia de outros comportamentos.
Basta compararmos as freqiiencias de alguns comportamentos antes e depois
de a contingencia de refon;o ser estabelecida ( comportamento em seu Nivel
Operante ). Na Figura 3.2, percebemos que, ap6s o comportamento de pressionar
a barra ser refon;ado, nao s6 sua freqiiencia aumentou, como tambem a freqiien-
cia dos comportamentos "limpar-se", "levantar-se" e "farejar" diminuiu. Quando
uma crian~a e muito "birrenta", os pais pod em diminuir a freqiiencia desse com-
portamento simplesmente refor~ando mais vezes comportamentos mais adequa-
dos: atender os pedidos da crian~a quanto ela o faz de forma mais educada. Urn
professor pode diminuir a "conversa paralela" em sala de aula apenas refor~ando
mais freqiientemente comportamentos incompativeis com tal atitude, como,
por exemplo, ler, fazer exercicios, fazer perguntas ao professor, etc.
Outro efeito do refor~o e a diminui~ao da variabilidade na topografia
(na forma) da resposta (do comportamento) refor~ado. Nas primeiras
vezes em que urn rato, em uma caixa de condicionamento operante, pressiona a
barra, ele o faz de maneiras bern diferentes (com a pata esquerda, com a direita,
com as duas, entre outros). A medida que o comportamento de pressao a barra
e refor~ado, o ratinho passa a emiti-lo de forma cada vez mais parecida. Esse
efeito do refor~o sobre o comportamento e muito evidente no nosso dia-a-dia.
Na ocasiao de alguem lhe fazer uma pergunta e sua resposta for precisa ( ou seja,
seu interlocutor nao ficar com duvidas ), e provavel que, da proxima vez que lhe
fizerem a mesma pergunta, voce responda de forma semelhante. Quanto mais
vezes voce responder a pergunta e for bem-compreendido, mais a resposta dada
Moreira & Medeiros
0
Figura 3.3
0 refor~o diminui a variabilidade da topografia da resposta refor~ada . Pode nao parecer, mas as tres foto-
grafias acima foram tiradas em momentos diferentes. Cada uma mostra uma resposta de pressao a barra (ap6s essa
resposta ter sido refor~ada varias vezes).
sera parecida com a anterior. A forma como voce abre portas, fala, escreve, dirige,
entre outros exemplos, e, provavelmente, quase sempre bern parecida.
Extinc;ao operante
Ate aqui percebemos que o comportamento produz consequencias e que essas
consequencias pod em afetar a probabilidade de o comportamento voltar a ocorrer.
Analisamos tambem que algumas consequencias especiais (o reforfo) aumen-
tam ou mantem a probabilidade de urn comportamento ocorrer. E comum que
algumas consequencias produzidas por alguns comportamentos deixem de ocor-
rer quando urn determinado comportamento e emitido. Quando isso acontece,
observamos, no comportamento que produzia tais consequencias, efeitos exata-
mente contraries aos produzidos pelo refon;o (pela consequencia reforc;adora).
Quando suspendemos ( encerramos) o reforc;o de urn comportamento, verificamos
que a probabilidade de esse comportamento ocorrer diminui (retorna ao seu
nfvel operante, is toe, a frequencia do comportamento retoma aos nfveis de antes
de o comportamento ter sido reforc;ado). Esse procedimento ( suspensao do refor-
c;o) e o processo dele decorrente (retorno da frequencia do comportamento ao
nfvel operante) sao conhecidos como Extinfao Operan te. Portanto, a suspensao
do reforc;o (procedimento de extin~ao do comportamento operante) tern
como resultado a gradual diminuic;ao da frequencia de ocorrencia do comporta-
mento (processo de extin~ao do comportamento operante ).
Se a suspensao do refor~o produz uma diminuic;ao na frequencia de urn
comportamento, e possfvel concluir que OS efeitos do refor(O sao tempordrios. Como
prova, basta realizarmos urn experimento com tres situac;6es distintas: na primei-
ra situac;ao, observamos e registramos o comportamento de urn organismo sem
contingencias de reforc;o; na segunda, reforc;amos o comportamento observando
e registrando-os; na terceira, retiramos o reforc;o e novamente observamos e
Aprendizagem pelas conseqii€mcias: o refon;o
registramos a freqiiencia do comportamento. Se assim agfssemos para, por exem-
plo, o comportamento de urn rata de pressionar uma barr a, obterfamos urn grafico
igual ao apresentado na Figura 3.4. 0 eixo X (horizontal) mostra o numero de
sess6es experimentais realizadas, enquanto o eixo Y (vertical) mostra o numero
de press6es a barra em cada sessao. Das sess6es 1 a 12, e mostrada a freqiiencia
do comportamento em seu nfvel operante, isto e, antes do compartamento de
pressionar a barra ser refon;ado. Das sess6es 13 a 25, o comportamento do rata
de pressionar a barra e refon;ado com agua- cada vez que ele pressiona a barra,
recebe uma gota de agua. Note que, durante as sess6es em que o comportamento
e refon;ado, sua freqiiencia mantem-se elevada (em torno de 75 press6es par
sessao). A partir da 26~ sessao, ha a suspensao da conseqiiencia refon;adora
( extinc;ao ). E importante perceber que a freqiiencia do comportamento de pressio-
nar a barra volta a seus nfveis previos (nivel operante).
Resistencia a extin~ao
Conclufmos que, nas situac;6es em que o refarc;o e suspenso, a freqiiencia do
comportamento dirninui. Mas por quanta tempo ele se man tern ap6s a suspensao
do reforc;o? Par exemplo, desistir? Uma pessoa telefona quase todos os dias para
o celular de urn amigo ( comportamento ) e conversa com ele ( refor~o ); o amigo
muda o numero do celular e nao a avis a. A pessoa liga e nao e atendida ( suspen-
Nivel operante Refor~o Extin~ao
90
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80
Ill 70 ....
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-VJ -v
0 .
c.. 60
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0 40 Qj
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z 20
10
0 - -
"-.- ~
5 9 13 17 21 25 29 33
Sessao experimental
Figura 3.4
Extinc;ao operante. Quando urn comportamento nao mais produz sua consequencia refor~adora,
sua frequencia retorna a frequencia do nivel operante.
Moreira & Medeiros
sao do refor~o: extinf;iio). Quantas vezes ela ligara para o amigo antes de desistir?
Outro exemplo: urn ratinho pressiona a barra em uma caixa de Skinner ( compor-
tamento) e recebe agua (refor~o ); desliga-se o bebedouro da caixa: o ratinho
pres siona a barr a e nao recebe rna is a agua ( suspensao do refor~o: extin~ao).
Por quanto tempo ( ou quantas vezes) o ratinho continuara pressionando a barra?
Quando fazemos perguntas como as dos exemplos mencionados, estamos
discutindo a resistencia a extinf;iio, que pode ser definida como o tempo - ou o
numero de vezes- que urn organismo continua emitido uma resposta (com porta-
men to) ap6s a suspensao do seu refon;o. Afirmamos que, quanto mais tempo
( ou maior numero de vezes) o comportamento continua a ser emitido sem ser
refon;ado, maior sera a resistencia a sua extinc;ao. Quanto menos tempo ( ou
menor numero de vezes) o comportamento continua sendo emitido sem ser
refon;ado, menor sera a resistencia a sua extinc;ao.
De modo geral, individuos cujos comportamentos apresentam alta resistencia
a extinc;ao sao conhecidos como perseverantes, empenhados, cabec;as-duras ou
teirnosos. Ja os indivfduos cujos comportamentos apresentam baixa resistencia
a extinc;ao sao os que desistem facilmente de suas atividades. Rotular alguem
assirn ( perseverantes, empenhados, cabec;as-duras ou teirnosos) quer dizer apenas
que o individuo esta emitindo comportamentos que nao estao sendo reforc;ados.
Mas por que alguns individuos sao mais perseverante ou teimosos que outros?
Por que alguns comportamentos sao mais resistentes a extinc;ao que outros?
Fatores que influenciam a resistencia a extin~ao
Ao analisarmos os fatores que influenciam a resistencia a extinc;ao de urn compor-
tamento, estamos, na realidade, perguntando: por que desistirnos mais facilmente
de algumas coisas que de outras? Por que algumas pessoas sao mais perseverantes
( emitem comportamentos que nao sao reforc;ados) que outras? Por que algumas
pessoas prestam vestibular para medicina 8 ou 9 vezes sem serem aprovadas,
enquanto algumas desistem ja na primeira reprovac;ao?
As respostas a estas perguntas estao na historia de aprendizagem ou na
hist6ria de reforc;amento de cada urn. Basicamente, tres fatores influenciam a
resistencia a extinc;ao de urn comportamento:
• Nfunero de refor~os anteriores. 0 n6mero de vezes em que urn determi-
nado comportamento foi reforc;ado ate haver quebra da contingencia de
reforc;o ( extinc;ao ), ou seja, ate que o reforc;o fosse suspenso. Quanto mais
urn comportamento e reforc;ado, mais resistente a extinc;ao ele sera. E
muito mais facil dirninuir a freqiiencia de birr as de uma crianc;a logo quan-
do essa atitude comec;ar a aparecer. Uma crianc;a que faz birras ha anos
demorara muito para parar de emitir esse comportamento quando as birr as
nao forem mais reforc;adas. Da mesma forma, uma crianc;a que ha anos
pede educadamente aquilo que deseja a seus pais continuara a pedir edu-
c.adamente -pa-r mu\ta tem-po c.asa as adu\tas a sua vo\ta -par em de refm~ar
esse comportamento.
• Custo da resposta. "Se for mais dificil, desisto mais rapido". Quanta
mais esfon;o e necessaria para emitir urn comportamento, menor sera a
sua resistencia a extin<;ao. Por exemplo, ao termino de urn namoro, quanta
mais dificil for para o "namorado teimoso" falar com a namorada, mais
rapidamente ele parara de insistir em continuar namorando.
• Esquemas de refor~amento. Veremos esquemas de refor<;amento mais
adiante; por enquanto, s6 podemos adiantar que, quando urn comporta-
mento as vezes e refon;ado e as vezes nao 0 e, ele se tornara bern mais
resistente a extin<;ao do que urn comportamento refor<;ado continuamente
( CRF: refor<;o continuo). E mais facil extinguir as birr as de uma crian<;a
que toda vez que age assim tern esse comportamento refor<;ado que as
birras de uma crian<;a que, as vezes, sao refor<;adas, as vezes, nao 0 sao.
Urn comportamento pode, ap6s ter sido extinto, aumentar de frequen-
cia sem que haja novas apresenta<;6es do refor<;o. Chamamos esse "ressur-
gimento" da for<;a do comportamento de recuperafiio espontanea. Urn
rato, por exemplo, ap6s uma sessao de extin<;ao da resposta de pressao a
barra, pode, no inicio de uma segunda sessao pressiona-la. Mesmo nesses
casos, em que ha recupera<;ao espontanea, se o refor<;o cessar, o comporta-
mento baixa de frequencia rapidamente, e as chances de recorrencia de
uma nova recupera<;ao espontanea diminuem.
Outros efeitos da extin«;ao
0 principal efeito da Extin~ao Operante eo retorno da frequencia do comporta-
mento aos niveis previos (nivel operante). No entanto, alem de diminuir a fre-
quencia da resposta ate o nivel operante, a extin<;ao produz outros tres efeitos
muito importantes no inicio do processo:
Aumento na frequencia da resposta no inicio do processo de extin~ao:
antes de a frequencia da resposta come<;ar
a diminuir, ela aumenta abrup-
tamente. Suponha que urn rato tenha passado por cinco sess6es de refor<;o
continuo (CRF) e que, na sexta sessao, o comportamento de pressionar a
barra tenha sido colocado em extin<;ao. Urn grafico tipico de extin<;ao seria
igual ao apresentado na Figura 3.5. Nela, ha dois graficos apresentando os
dados de uma mesma sessao de extin<;ao. 0 grafico da esquerda mostra a
frequencia simples (o numero de respostas em cada minuto). 0 grafico da
direita mostra os mesmos dados em frequencia acumulada (somat6rio da
frequencia simples). Observe que, nos primeiros minutos (de 0 a 20 minutos ),
ha urna alta frequencia da resposta de pres sao a barr a ( e possivel deduzir
is so pela inclina<;ao da curva- a linha- no grafico de frequencia acumulada:
ela e quase vertical). Ap6s 20 minutos, o numero de respostas por minuto
come<;a a dirninuir gradativamente, ate ficar proximo a zero a partir de 30
minutos (veja que a curva- a linha- fica quase completamente horizontal).
Moreira & Medeiros
20
Freqiiencia simples Freqiiencia acumulada
180
VI 150
./ "' 15 .... I~ VI 120 0 I c. VI 10 ~ ~~ 90 I QJ
"'C I l 60 0 5 I (ij J 1\ A E 30 1/ •:::S A z 0 0
0 20 40 60 80 100 0 20 40 60 80 100
Tempo (mim)
I
Figura 3.5 )
Gratico apresentando o processo de extin~ao operante. No infcio da extin~ao (suspensao do refor~o}, antes da
frequencia do comportamento come~ar a declinar, verifica-se o seu aumento abrupto. E comum tambem que o organis-
mo exiba respostas emocionais.
Urn exemplo simples do efeito da extinc;ao no comportamento cotidiano
pode ser observado quando tocamos a campainha da casa de urn amigo e
nao somos atendidos . Provavelmente voce ja passou por uma situac;ao
assim. 0 que fazemos geralmente antes de virarmos as costas e ir em bora?
Comec;amos a pressionar o botao da campainha varias vezes antes de parar
de pressiona-lo.
• Aumento na variabilidade da topografia (forma) da resposta: logo
no inicio do processo de extinc;ao, a forma como o comportamento estava
sendo emitido comec;a a modificar-se. No exemplo da campainha, citado
acima, tambem podemos ver o efeito da extinc;ao: alem de pressionarmos
varias vezes o botao da campainha, tambem comec;amos a faze-lo ou com
mais forc;a ou com a mao toda, ou a bater a porta. Se observarmos com
cuidado urn rato em uma caixa de condicionamento operante no inicio
da extinc;ao da resposta de pressao a barra, tambem verificaremos que a
forma com que o rato a pressiona sera variavel (pressionar com a pata
esquerda, a dire ita, de lado, etc.) .
• Elicia~ao de respostas emocionais (raiva, ansiedade, irrita~ao, frus -
tra~ao, etc.): tente lembrar-se de algumas vezes em que algum comporta-
mento seu foi colocado em extinc;ao: quando estudou muito para urn prova
e tirou nota baixa, quando seu parceiro(a) rompeu o namoro, quando seu
telefone, por algum motivo, parou de fazer ligac;6es, etc. Como voce se
sentiu? E bern provavel que algumas respostas emocionais tenham surgido.
dizagem pelas conseqiiencias: o refon;o
Modelagem: aquisi~ao de comportamento
Abordamos ate entao como as conseqiiencias afetam os comportamentos que as
produzem, alem do conceito de Refon;o, urn tipo especial de conseqiiencia que
mantem ou aumenta a probabilidade de urn comportamento ocorrer. Vimos, par-
tanto, como comportamentos ja existentes sao selecionados (mantidos ou extin-
tos) por suas conseqi.iencias. A partir de en tao, analisaremos como urn novo com-
portamento passa a fazer parte do repertorio comportamental de um organismo.
Conforme visto em outros capitulos, ja nascemos com alguma preparac;ao
biol6gica para interagirmos com o ambiente. Mas nao nascemos, por exemplo,
sabendo falar. Voce sabe tambem que nao aprendemos a falar de um dia para o
outro, ou que nao dormimos urn dia sem saber engatinhar e acordamos no outro
correndo pela casa. Novos comportamentos nao surgem do nada. Os comporta-
m entos n ovos que aprendemos surgem a partir de comportamentos que
ja existem em nos so repertorio comportamental. Tomemos como exemplo
uma descric;ao ( extremamente sirnplificada) de como comec;amos a aprender
a falar.
A maio ria dos bebes humanos ja nasce emitindo diversos sons ( fonemas)
diferentes ("gu", "da", "b", "e", etc.). Urn bebe, ao nascer, e capaz emitir todos
os fonemas encontrados em todas linguas do mundo, passando consideravel
periodo de tempo emitindo-os aleatoriamente. Suponha que em urn desses mo-
mentos a mae do bebe esteja presente, ao lado do berc;o, repetindo para seu
filho: "mamae, mamae ... ", e o bebe, olhando para sua mae, "diz": "gu", "da",
Os minutos vao se passando, e em urn dado momento o bebe emite urn som
parecido com "rna". Quando is so ocorre, a mae, felidssima, acaricia seu filho na
barriga e sorri para ele. 0 que acabou de acontecer? Isso mesmo, voce acertou: o
Reforc;o. 0 bebe emitiu urn comportamento: dizer "ma". A conseqiiencia desse
comportamento foi receber atenc;ao e carinho da mae, os quais geralmente sao
estimulos reforfadores poderosissimos para o ser humano. Essa conseqiiencia
reforc;adora aumentara a probabilidade de que o bebe volte a dizer "ma" quando
sua mae estiver proxima dele, e ela continuara a lhe dar carinho e atenc;ao quando
ele o fizer. Logo, o bebe dira "rna" sempre que sua mae estiver presente. Mas ele
ainda nao fala "mamae'.' . Continuemos o exemplo.
Depois de algum tempo, provavelmente a mae ira parar de dar tanta atenc;ao
e carinho quando o bebe disser apenas "rna". Vimos que, quando um comporta-
mento e colocado em extinc;ao, ele aumenta sua variabilidade. Isso ocorrera com
o comportamento do bebe: ele dira : "mab"; "mab"; "mag", etc. Certamente o
bebe, em algum momento, dira: "mama" ou algo muito parecido com isso, e la
estara sua mae para reforc;ar esse comportamento, tornando a probabilidade de
o bebe voltar a emiti-lo mais alta, eo processo continua ate o bebe dizer "rna-
mae". Denominamos o procedimento que a mae, intuitivamente, utilizou para
ensinar seu filho a dizer "mamae" de Modelagem. AModelagern e urn procedirnento
de reforfarnento diferencial de aproxirnafoes sucessivas de urn cornportarnento. 0 resultado
finale urn novo cornportarnento.
Moreira & Medeiros
0 refon;o diferencial consiste em refon;ar algumas respostas que obedecem a
algum criteria e em nao refon;ar outras respostas similares. Na Figura 3.6, o refon;o
diferencial foi usado em cada urn dos seis momentos mostrados. Na Fotografia
1, por exemplo, somente movimentos em dire~ao a barra eram refor~ados, en-
quanta movimentos para longe da barra nao eram refor~ados. Antes de pressionar
a barra (Fotografia 6 da Figura 3.6), varios outros comportamentos que aproxi-
mavam cada vez mais do comportamento-alvo (pressionar a barra) e foram
apreendidos ( ir ate de baixo da barr a, olhar para ela, cheira -la, colocar a cabe~a
a._c_'-=._o._<~.:~ l;:)o._~~a~ t()c.a-la\. Chamamos tais eta\)as de aproxima~6es sucessivas do
comportamento-alvo.
Portanto, basicamente usamos na modelagem o refor~o diferencial (refor~ar
algumas respostas e extinguir outras similares) e aproxima~6es sucessivas ( exigir
gradualmente comportamentos mais pr6ximos do comportamento-alvo) a fim
de ensinar urn novo comportamento, sendo uma caracteristica fundamental da
modelagem a imediaticidade do refon;o, ou seja, quanto mais proximo tempo-
ralmente da resposta o refor~o estiver, mais eficaz ele sera. No exemplo (do be be),
imagine se a mae refor~asse o comportamento de dizer "rna" de seu be be apenas
alguns rninutos ap6s ele ter ernitido esse sorn. Provavelrnente a palavra "rnamae"
dernoraria bern rnais para ser aprendida.
Figura 3.6
Modelagem: refor~o diferencial de aproxima~oes sucessivas do comportamento-alvo. Novos comporta-
mentos surgem de comportamentos anteriores. As fotografias abaixo mostram como a resposta de pressionar uma
barra foi gradativamente ensinada.
Comportamento
operante (R-+C)
Refor~o
·zagem pelas consequencias: o refon;o
Principais conceitos apresentados neste capitulo
Descri~ao
Comportamento que modifica (que
opera sabre) o ambiente e e afetado
par suas modifica~6es.
t um tipo de consequencia do
comportamento que aumenta a
probabilidade de um determinado
comportamento voltar a ocorrer.
Exemplo: medo de dentista
Quando falamos, modificamos o comportamento
de outras pessoas.
Quando fazemos um pedido ou damos ordens, par
exemplo, e somas atendidos, as chances de
pedirmos ou ordenarmos alga novamente
au menta.
Extin~ao operante t a suspensao de uma consequencia
refor~adora anteriormente produzida
Se nossos pedidos e nossas ordens nao forem
atendidos, provavelmente sua emissao cessara.
Modelagem
par um comportamento. Tem como efeito
o retorno da frequencia do comportamento
ao seu nivel operante.
t uma tecnica usada para se ensinar um
comportamento novo par meio de refor~o
diferencial de aproxima~6es sucessivas do
comportamento-alvo.
Pais e parentes refor~am o balbuciar dos bebes,
exigindo cada vez mais sequencias de sons mais
parecidos com os sons das palavras da lingua que
fa lam.
Bibliografia consultada e sugestoes de leitura
Catania. A. C. ( 1999). Aprendizagem: comportamento, linguagem e cognifiio. Porto Alegre:
Artmed. Capitulo 5: As consequencias do responder: o refon;o.
Millenson, J. R. ( 1967). Principios de analise do comportamento. Brasilia: Coordenada. Capitulo
4: Fortalecimento operante. Capitulo 5: Extin<;iio e recondicionamento do operante.
CAPITULO 4
Aprendizagem
pelas conseqiiencias:
o controle aversivo
Como ja sabemos, o comportamento operante e aquele que
produz modificac;;6es no ambiente e que e afetado por elas.
Chamamos tais modificac;;6es no ambiente de conseqiH'\ncias
do comportamento. Ja se conhece tambem urn tipo dessas
conseqiiencias: o refon;;o. Mais especificamente, foi aborda-
do o refor~o positivo (reforfo porque aumenta a probabilidade
do comportamento reforfado voltar a ocorrer; positivo porque a modificafiio produzida no
ambiente era sempre a adifii.O de um estimulo). Por exemplo, quando o rata pressio-
na a barra, aparece uma gota de agua em seu ambiente; quando a crianc;;a pede
urn doce, ela recebe urn doce ( ela nao tinha o doce, agora tern). Nos exemplos de
reforc;;o positivo vistas no Capitulo 3, o organismo comportava-se para que algo
acontecesse, para que urn estfmulo fosse produzido.
Nesse capitulo, veremos que existem outros tipos de conseqiiencias do compor-
tamento que tambem aumentam sua freqiiencia (refon;;o negativo), e outras
que diminuem sua freqiiencia (puni~ao positiva e puni~ao negativa) . A esses
tipos de conseqiiencias damos o nome de controle aversivo do comportamento.
Por que "controle aversivo do comportamento"?
Quase todos os seres vivos agem buscando livrar-se de cantatas prejudiciais .. . Provavelmente, esse
tipo de comportamento desenvolve-se devido ao seu valor de sobrevivencia.
(Skinner, 1983, p. 24).
Dizemos que o reforc;;o positivo e uma conseqiiencia controladora do comporta-
mento, ja que a sua ocorrencia torna o comportamento mais provavel. Ou seja,
Aprendizagem pelas conseqiiencias: o controle aversivo
se fa<;o algo que produz uma conseqiH~ncia refor<;adora,
continuo agindo assim, senao paro. Refor<;o negativo e
puni<;ao (positiva e negativa) tambem sao consequen-
cias do comportamento que exercem controle sobre ele,
pois interferem na probabilidade de sua ocorrencia futu-
ra: se fa<;o algo que tern como conseqiiencia urn refor<;o
negativo, voltarei a faze-lo; se fa<;o algo que tern como
conseqiiencia uma puni<;ao, seja positiva, seja negativa,
nao farei mais. Por esse motivo, dizemos que esses tres
tipos de conseqiiencia do comportamento tambem o
controlam. Mas por que controle aversivo?
Defende-se que o controle exercido pelos tres tipos
de conseqiiencias e aversivo porque o individuo se
comporta para que algo nao aconte<;a, ou seja, para
subtrair urn estimulo do ambiente ou para fazer com
que ele nem mesmo ocorra. Os organismos tendem a
evitar ou fugir daquilo que lhes e aversivo. Muitas pes-
soas respeitam o limite de velocidade para nao serem
multadas; muitos estudantes freqiientam as aulas para nao ficarem com falta,
muitas pessoas nao exp6em suas ideias para nao serem criticadas; mentem para
nao serem punidas, e assim por diante. De fa to, e possivel que, em boa parte de
seu dia-a-dia, o individuo passe emitindo comportamentos ou deixa de emiti-1os
para que alga nao aconte<;a.
0 controle aversivo diz respeito a modifica<;ao na freqiiencia do comportamento
utilizando-se o refor<;o negativo (aumento na freqiiencia) e puni<;ao positiva ou
negativa (diminui<;ao na freqiiencia). De certa forma, a extin<;ao tambem se confi-
gura como algo aversivo, sendo observadas fortes rea<;6es emocionais, principal-
mente quando a extin<;ao segue ao refor<;amento contfnuo do comportamento (is to
e, todas as respostas eram seguidas de refor<;o). Contudo, nao se considera a extin<;ao
como controle aversivo, principalrnente ao envolver refor<;amento diferencial.
Estimulo Aversivo e urn conceito relacional ( envolve rela<;6es entre eventos)
e funcional. Nao existem estimulos eminentemente aversivos que serao aversivos
para todas as pessoas. Por exemplo, uma musica do Bruno e Marrone pode ser
urn estimulo extremamente aversivo para algumas pessoas, mas urn estimulo
refor<;ador poderoso para outras. Sendo assim, os estimulos aversivos serao defi-
nidos como aqueles que reduzem a frequencia do comportamento que os produ-
zem ( estimulos punidores positivos ), ou aumentam a freqiiencia do com porta-
menlo que os retiram ( estimulos refor<;adores negativos ). Por conseguinte, so-
mente faz sentido falar em estimulos aversivos no refor<;o negativo e na puni<;ao
positiva. Muitas vezes, utiliza-se refor<;o negativo no lugar de estimulo aversivo,
como sea puni<;ao positiva fosse a apresenta<;ao de urn refor<;o negativo, o que e
urn erro. Vale lembrar que o refor<;o negativo produz urn aumento na freqiiencia
do comportamento, nao podendo participar da puni<;ao. Nesse caso, o correto
seria dizer que, na puni<;ao positiva, o comportamento produz a apresenta<;ao de
urn es timulo aversivo, resultando na diminui<;ao da probabilidade de emissao
do mesmo comportamento no futuro.
Moreira & Medeiros
Contingencias de refor'!:o negativo
0 refon;o nao se da apenas com a apresentac;ao de estimulos (como os aplausos
para urn solo de guitarra e agua para a pres sao a barra), mas tambem pela retirada
de estimulos do ambiente. Por exemplo, quando estamos com dor de cabec;a,
podemos tomar urn analgesico. Nesse caso, concluimos que o comportamento
de tomar analgesico e provavel de ocorrer em circunstancias semelhantes no
futuro, pois o comportamento teve como conseqiH~ncia a retirada de urn estfmulo
do ambiente: a dor de cabec;a. Sendo assim, a relac;ao de contingencia e chamada
reforc;o (porque houve urn aumento na freqiiencia/probabilidade de urn compor-
tamento) ,negativo ( porque a conseqiiencia foi a retirada de urn estfmulo do
ambiente). 0 . estfmulo retirado do ambiente e chamado de reforc;ador negativo.
No exemplo anterior, a dor de cabec;a era o reforc;ador negativo.
Alguns exemplos comuns de comportamentos
mantidos por reforc;o negativo
l) Colocar 6culos de sol para amenizar a luminosidade na retinae urn exem-
plo de comportamento mantido por reforc;o negativo. A luminosidade e
urn estimulo reforc;ador negativo cessado pela resposta de colocar os 6culos.
A relac;ao entre a resposta de colocar os 6culos e a retirada de luz da retina
e chamada reforc;o negativo.
2) Passar protetor solar para evitar queimaduras e urn comportamento manti-
do por
reforc;o negativo. Ficar com queimaduras e o estfmulo reforc;ador
negativo evitado pela resposta de passar protetor solar. A contingencia
em vigor e a de reforc;o negativo, uma vez que a resposta de usar protetor
solar e fortalecida (tern probabilidade aumentada) por evitar a apresenta-
c;ao de urn estfmulo reforc;ador negativo.
3) Caso a namorada brigue com seu namorado quando ele fuma, e provavel
que o namorado passe a chupar urn drops ap6s fumar urn cigarro. Com
is so, o namorado evita a brig a, uma vez que ela nao percebe que ele fumara.
Nesse caso, a briga e urn estimulo reforc;ador negativo, evitado pela resposta
de chupar urn drops. Novamente, temos uma contingencia de reforc;o nega-
tivo em que a resposta de chupar urn drops e reforc;ada por evitar a apresen-
tac;ao da brig a (que e urn estimulo reforc;ador negativo) .
E importante notar que, em todos os exemplos, os comportamentos tiveram
sua freqiiencia aumentada ou mantida. 0 reforc;o negativo, assim como o reforc;o
positivo, e urn tipo de conseqiiencia do comportamento que aumenta a probabilidade
de ele voltar a ocorrer. A diferenc;a basica entre reforc;o positivo e reforc;o negativo
reside na natureza da operac;ao, ou seja, no reforc;o positivo, urn estimulo e acrescen-
tado ao ambiente; no reforc;o negativo, urn estimulo e retirado do ambiente. Por
exemplo, podemos aumentar a probabilidade de urn rato pressionar uma barra
utilizando reforc;o positivo ou reforc;o negativo. Veja o exemplo da Tabela 4.1.
A correta compreensao do que e reforc;o negativo e de como ele atua sobre o
comportamento dos organismos e de fundamental importancia para a compreen-
REFOR\0 POSITIVO VERSUS REFOR\0 NEGATIVO !'--------
Refor~o positivo Refor~o negativo
Situa~ao Animal na caixa de Skinner Animal na caixa de Skinner
privado de agua recebendo choque eh~trico
Comportamento Pressionar a barra Pressionar a barra
Consequencia Apresenta~ao de agua Retirada do choque
Tipo de opera~ao Adicionar estlmulo (agua) ao Retirar estimulo (choque eh~tr i co)
ambiente do ambiente
Natureza do estimulo Estimulo refor~ador positivo (SR+) Estimulo refor~ador negativo (SR·)
Efeito sabre Aumenta a probabilidade Aumenta a probabilidade
o comportamento de ocorrencia de ocorrencia
Nota~ao (representa~ao) R -+ SR+ R -+ SR·
sao do comportamento humano. Essa importancia se deve ao fato de que varios
de nossos comportamentos cotidianos produzem supressao, adiamento ou can-
celamento de estimulos aversivos do ambiente, e nao a apresentac;ao de estimulos
reforc;adores. Leis, normas, c6digos de etica, todos estabelecem conseqih~ncias
para nossos comportamentos que queremos evitar: mentimos, inventamos hist6-
rias, apresentamos "desculpas esfarrapadas" para os outros e para n6s mesmos
para evitar consequencias aversivas. Via de regra, dois tipos de comportamento
operante sao mantidos por contingencias de reforc;o negative: comportamento
de fuga e comportamento de esquiva.
Comportamento de fuga e comportamento de esquiva
Dois tipos de comportamento sao mantidos por refon;o negative. Consideramos
que urn comportamento e uma fuga no momenta em que urn determinado est{mu-
lo aversivo estd presente no ambiente, e esse comportamento retira-o do ambiente,
como no caso de urn adolescente usar urn creme para secar uma acne que ja esta
em seu rosto. Nesse caso, a resposta de usar o creme e uma fuga, mantida pela
retirada da espinha da face, que e urn estimulo aversive ja presente. Ja a esquiva
e urn comportamento que evita ou atrasa o contato com urn estimulo aversive,
isto e, o comportamento de esquiva ocorre quando urn determinado estfmulo
aversivo niio esta presente no ambiente, e emitir este comportamento (de esquiva)
faz com que o estimulo nao aparec;a, ou demore mais para aparecer. Por exemplo,
se o adolescente faz uma dieta menos cal6rica para evitar o aparecimento de
espinhas, nesse caso, as espinhas ainda nao estao presentes, e a resposta ( compor-
tamento) de fazer dieta evitou a apresentac;ao do estimulo aversive, constituindo-
se em uma esquiva.
Moreira & Medeiros
Alguns exemplos comuns de fuga e esquiva
1) Arrumar 0 quarto logo que acordamos para evitar reclamac;oes da mae e
urn exemplo de esqu1va, pois a mae ainda nao esta reclamando. Por outro
!ado, se a mae ve 0 quarto desarrumado e comec;a a brigar, nos 0 arrurnamos
para que ela pare; o que e urn exemplo de fuga. Nesse caso, a brig a ja esta
presente.
2) Fazer uma revisao no carro antes de via jar e urn exemplo de esquiva. 0
carro esta funcionando perfeitamente, mas a revisao e fei ta para que o
carro nao apresente problemas no meio da viagem. Note que o carro ainda
nao esta com problemas e a revisao e feita para evitar sua apresentac;ao.
Entretanto, se o carro comec;a a fazer urn barulho atfpico no meio da estra-
da, 0 comportamento de leva-loa urn mecanico e urn exemplo de fuga,
pois o estfmulo aversivo ( ou seja, o barulho) ja esta presente.
3) Fazer a barba quando a namorada ja esta reclamando dos beijos que arra-
nham sua face e urn exemplo de fuga, pois a reclamac;ao ja esta presente.
Seria esquiva caso o namorado fizesse a barba antes de encontra-la para
evitar a reclamac;ao que ainda nao esta presente.
4) Alguem esta lhe contando uma hist6ria muito chata e voce diz: "Amigo,
me descu!pe, mas estou atrasado para urn compromisso, tenho que ir .. . ". Sair de
perto do "chato" e urn exemplo de fuga; ja se voce "desconversa" e sai de
perto do sujeito antes de ele comec;ar a contar hist6rias chatas, voce esta
se esquivando.
Portanto, uma estrategia interessante de diferenciar os dois ti os de comporta-
mento consiste em considera aesquiv~o uma prevenc;a , e a fuga com?l
Q:_m~ remediac;ao , consideran o-2e que ':grevenir e melhor do que remediar",
emitimos mais comportamentos<.ge esquiW!'-do que de fuga. Isto e, na esquiva,
prevenimos a apresentac;ao de estimulo aversivo, enquanto na fuga remediamos
a situac;ao de forma que o estimulo aversivo ja presente seja suprimido.
E importante notar que os comportamentos fugae esqu-i'Va somente sao esta-
belecidos e mantidos em ran~ias de refo~ neganV&Logo, nao observare-
mos fuga e esquiva em contingencias de reforc;o positivo e de punic;ao.
A fuga e sempre a primeira a ser aprendida
De inkio, somos modelados a emitir repostas que retirem estimulos aversivos ja
presentes, como fugir de urn predador, por exemplo. Nao temos como explicar o
comportamento que ocorre sob o controle de algo que nao esta ocorrendo ainda .
De fato, certos estimulos, por terem precedido a apresentac;ao de estimulos aver-
sivos no passado, tornam a resposta de esquiva mais provavel. Como o sol forte
precedeu as queimaduras no passado, este se torna urn estimulo que aumenta a
probabilidade de emissao de urn comportamento que as previne (nocaso, a emis-
sao da resposta de passar protetor solar). Todavia, e importante notar que o sol
s6 adquiriu tal func;ao comportamental por ter precedido queimaduras no pas-
sado. Ou seja, tivemos que fugir das queimaduras no passado para aprender a
func;ao aversiva do sot e s6 assim somos conduzidos a emitir uma resposta que
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prendizagem pelas conseqiiencias: o controle aversivo
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evite as queimaduras em sua presen<;a. Para alguns autores, nao existe o com-
portamento de esquiva, e, sim, comportamentos de fuga, uma vez que sempre
estamos fugindo de estimulos que sinalizam a apresenta<;ao de outros estimulos
aversivos (que eo caso do sol). Chamamos o sol forte de estimulo pre-aversivo
ao sinalizar a probabilidade de apresenta<;iio de urn outro estimulo aversivo, as
queimaduras.
Urn experimento simples com urn rato albino exemplifica bern a distin<;ao
entre comportamento de fuga e comportamento de esquiva: urn rato esta em
uma
caixa de condicionamento operante ( dividida em dois compartimentos)
onde a apresenta<;iio de urn choque eletrico pode ser feita eletrificando-se o piso
da caixa. Urn timer controla a apresenta<;iio do choque: a cada 30 segundos, o
timer ativa o choque eletrico, que s6 e retirado ( desligado) se rato mudar de lado
dentro da caixa. Rapidamente o rato aprende o comportamento de fuga (Figura
4.1 ), ou seja, assim que o choque e ativado, o rato muda de compartimento.
Podemos programar para que a mudan<;a de urn compJrtimento para outro "zere"
o contador do timer, ou seja, se o rato, antes do final de 30 segundos, mudar de
lado dentro da caixa, o contador do timer e reiniciado, e urn novo intervalo de 30
segundos ate que o choque seja apresentado e ativado. Nesse caso (Figura 4.2 ),
se o rato mudar de lado urn pouco antes da apresenta<;iio do choque, o animal
evita que tal situa<;iio seja apresentada (falamos, entao, em urn comportamento
de esquiva).
Figura 4.1
Comportamento de fuga. Para fugir do choque eletrico, o rata passa de um lado para outro da
caixa. 0 rabo levantado indica que o piso da caixa esta eletrificado.
Moreira & Medeiros
Figura 4.2
Comportamento de esquiva (procedimento esquiva de Sidman). 0 rata aprendeu, depois
de algumas fugas, que, se passar de uma lado para outro antes de 30 segundos, ele evita o choque,
e e isso 0 que ele esta fazendo.
Sendo assim, denominamos comportamento de fuga aqueles em que urn estf-
mulo aversivo esta presente no ambiente no momenta em que o comportamento
e emitido e em que a consequencia produzida por ele e a retirada do estfmulo
aversivo do ambiente. Chamamos comportamento de esquiva aqueles em que urn
estfmulo aversivo nao esta presente no ambiente no momento em que o compor-
tamento e ernitido, e sua conseqiiencia eo atraso ou o cancelamento do con-
tato com o estfmulo aversivo.
Tanto o refon;o positivo como o refor<;o negativo aumentam a probabilidade
de o comportamento voltar a ocorrer: a diferen<;a esta apenas no fato de a conse-
quencia ser a adi<;ao ou a retirada de urn estfmulo do ambiente:
• Refor<;o positivo: aumenta a probabilidade de o comportamento voltar a
ocorrer pela adi~ao de urn estfmulo refor<;ador ao ambiente.
• Refon;o negativo: aumenta a probabilidade de o comportamento voltar
a ocorrer pela retirada de urn estfmulo aversivo (punitivo) do ambiente
(comportamentos de fugae esquiva).
Puni<;ao
A puni~iio destina-se a eliminar comportamentos inadequados, amea~adores au, par outro /ado,
indesejdveis de urn dado repert6rio, com base no prindpio de que quem e punido apresenta menor
Aprendizagem pelas conseqiiencias: o controle aversivo
possibilidade de repetir seu comportamento. Infelizmente, o pro-
blema niio e tao simples como parece. A recompensa (reforfo) e
a puniqiio niio diferem unicamente com relaqiio aos efeitos que
produzem. Uma crianqa castigada de modo severo por brincadei-
ras sexuais niio ficard necessariamente desestimulada de conti-
nuar, da mesmaforma que urn homem preso por assalto via/en-
to niio terd necessariamente diminuida sua tendencia a violencia.
Comportamentos sujeitos a punifoes tendem a se repetir assim
que as contingencias punitivas forem removidas.
(Skinner, 1983, p. 50)
Algumas conseqi.iencias do comportamento tomam
sua ocorrencia menos provavel. Sao elas: puni<;ao
positiva e puni<;ao negativa. Puni<;ao, em outras palavras, e urn tipo de conseqiien-
cia do comportamento que toma sua ocorrencia menos provavel. A distin<;ao
entre puni<;ao positiva e puni<;ao negativa incide na mesma distin<;ao feita
com rela<;ao ao refor<;o (positivo ou negativo): se urn estimulo e acrescentado ou
subtrafdo do ambiente. Tanto a punifiio positiva como a punifiio negativa di-
minuem a probabilidade de o comportamento ocorrer.
A puni<;ao foi o termo escolhido por Skinner para substituir os "maus efeitos"
da lei do efeito de Thorndike. 0 termo e definido funcionalmente como a
conseqiiencia que reduz a freqi.iencia do comportamento que a produz. Por exemplo,
se ingerirmos diferentes bebidas alco6licas e tivermos ressaca no dia seguinte, esse
comportamento sera menos provavel no futuro . Dizemos, portanto, que tal compor-
tamento foi punido pela ressaca do dia seguinte. Outra vez, o termo puni<;ao refere-
se a uma rela<;ao de contingencia entre urn comportamento e uma conseqiiencia,
s6 que, nesse caso, o efeito da contingencia e a redu<;ao da freqiiencia ou da proba-
bilidade de ocorrencia desse comportamento no futuro. A conseqiiencia sera de-
nominada de estimulo punidor ou punitivo, o qual, no exemplo, foi a "ressaca" .
.E fundamental chamar a aten<;ao para o fato de que a puni<;ao e definida fun-
cionalmente, ou seja, para dizermos que houve uma puni<;ao, e necessaria que se
observe uma dirninui<;ao na freqi.iencia do comportamento. Por isso, nao existe
urn estimulo que seja punidor por natureza, s6 podemos dizer que o estimulo e
punidor caso ele reduza a freqi.iencia do comportamento do qual e conseqiiente. E
possfvel pensar que para homens heterossexuais terem de ficar rolando no chao
com outro homem suado s6 de cal<;ao de banho puniria qualquer comportamento.
Entretanto, muitos homens pagam caro para ter acesso a esse estimulo, fazendo
luta livre em uma academia. Nesse situa<;ao, o estimulo citado nao pode ser con-
siderado punidor, ja que nao reduz a freqi.iencia do comportamento que o produz.
Dois tipos de puni~ao
De forma similar ao refor<;o, existem dois tipos de puni<;ao: a positiva e a negativa.
A punic;;ao positiva e uma contingencia em que urn comportamento produz a
apre enta<;ao de urn estimulo que reduz sua probabilidade de ocorrencia futura.
UNJMJNAS-BIBLIO
Moreira & Medeiros
Por exemplo, uma pessoa alergica a camarao passa mal ao come-lo. A partir
desse dia, nao come mais camarao. No caso, o comportamento de comer camarao
produziu a apresentac;ao dos sintomas. Como houve uma diminuic;ao na freqtien-
cia de sse comportamento, afirmamos que este comportamento foi positivamente
punido. Ja na puni~ao negativa, a conseqtiencia de urn comportamento e a
retirada de reforc;adores (de outros comportamentos ). Essa conseqtiencia tornara
o comportamento menos provavel no futuro. Por exemplo, uma pessoa que aces sa
sites nao-confiaveis na internet pode ter seu computador infectado por virus, de
forma que ele deixe de funcionar. A pessoa deixou de acessar sites nao-confia-
veis. Sendo assim, a conseqtiencia do comportamento de acessar sites nao-seguros
foi a retirada dos reforc;adores (de outros comportamentos) disponibilizados pelo
computador funcionando. Como houve uma diminuic;ao na freqtiencia do com-
portamento de acessar sites nao-seguros pela retirada dos reforc;adores associados
ao computador funcionando, concluimos que houve uma punic;ao negativa.
E importante notar que a punic;ao, seja positiva, seja negativa, resulta, por
definic;ao, na reduc;ao da freqtiencia ou da probabilidade do comportamento. Os
termos "positivo" e "negativo" indicam apenas apresentac;ao ou retirada de esti-
mulos, respectivamente. Lembre-se de ignorar seus significados na lingua coti-
diana. Em analise do comportamento, positivo nao e borne negativo nao e ruim;
simplesmente positivo e apresentac;ao, e negativo e supressao.
• Punic;ao positiva: diminui a probabilidade de o comportamento ocorrer
novamente pela adi~ao de urn estimulo aversivo (punitivo) ao ambiente.
• Punic;ao negativa: diminui a probabilidade de o comportamento ocorrer
novamente pela retirada de urn estimulo reforc;ador do ambiente.
Exernplos de punic;ao positiva (adic;ao de urn estirnulo aversivo)
• Urn rato, modelado a pressionar uma barra para obter agua, recebe, alem
da agua, urn choque quando age assim e para de faze-lo;
• jogar bola dentro de casa, "levar uma surra" e nao jogar mais bola nesse local;
• ultrapassar o
sinal vermelho, ser multado e nao infringir mais essa regra;
• "dizer palavrao", "receber uma bronca" e diminuir bastante a freqtiencia
dessa atitude.
Exernplos de punic;ao negativa (retirada de urn estirnulo reforc;ador
de outro cornportarnento do arnbiente)
• Fazer traquinagens, perder a "mesada" e diminuir bastante a freqtiencia
com que se faz traquinagens;
• cometer urn assalto, ser preso (perder a liberdade) e nao cometer mais
crimes;
• fumar, nao receber beijos da namorada por isso e dirninuir bastante o
numero de cigarros fumados por dia;
• dirigir embriagado, perder a carteira de motorista e nao mais dirigir em-
briagado.
Aprendizagem pelas conseqiiencias: o controle aversivo
Suspensao da contingencia punitiva: recupera~ao da resposta
Urn comportamento que outrora fora punido pode deixar de se-lo e talvez tenha
sua frequencia restabelecida. Uma menina que namora urn rapaz que implicava
com suas minissaias pode parar de usa-las. Sendo assim, o comportamento de
usar minissaia era positivamente punido pelas brigas como namorado. Caso ela
troque esse namorado por outro menos chato, que nao implique com suas roupas,
seu comportamento de usar minissaia talvez volte a ocorrer. Nesse caso, houve
uma suspensao da contingencia de puni<;i'io em que o comportamento de usar
rninissaia produzia brigas e agora nao produz mais. Definidos nesse caso, que
houve recupera<;ao da resposta.
Skinner ( 1938) tern urn estudo classico sobre a quebra da contingencia de
puni<;i'io, no qual dois grupos de ratos foram modelados a pressionar uma barra
para obterem alimento. 0 grupo experimental pas sou a receber urn choque toda
vez que a pressionava. Tal procedimento fez com que os animais rapidamente
parassem de faze-lo, enquanto o grupo controle, que nao recebera choques, conti-
nuou pressionando a barra, mantendo uma taxa constante de respostas de pres-
sao a barra. Entao, o choque foi desligado para o grupo experimental (isto e,
quebra na contingencia de puni<;i'io-recupera<;i'io) e foi observado urn aumento
na freqiiencia de respostas de pres sao a barra. Desse modo, a quebrada contingen-
cia de puni<;ao produziu urn restabelecimento na for<;a do responder, o que conhe-
cemos por recupera<;i'io da resposta (Figura 4.3).
Urn ponto importante a ser considerado e: afim de que o comportamento
volte a ocorrer com a quebra da contingencia de puni<;i'io, o refor<;o deve ser
Linha
de base
Refon;o Extinc;ao
0
•ra
Ill
Ill
<11
Ill
0
c..
Ill
ra
....
Ill
0
c..
Ill
<11
0::: Punic;ao Recuperac;ao
Linha
de base
Sessoes
Figura 4.3
Quebra da contingencia. Quando ha quebra da contingencia, a frequencia do comportamento
r;:• a a seu nfvel operante (linha de base) .
Moreira & Medeiros
mantido, e, obviamente, o organismo deve se expor outra vez a contingencia.
Em outras palavras, se os animais do grupo experimental do estudo de Skinner
nao fossem refor<;ados ao pressionar a barra e nao tentassem pressiona-la pelo
menos uma vez, seu comportamento nao voltaria a ocorrer. E fundamental que
o organismo se exponha outras vezes a contingencia para que ele discrimine a
mudan<;a, ou seja, o estimulo punidor nao e mais contingente ao comportamento.
Tal ponto e fundamental para a clinica, uma vez que temos clientes que foram
punidos no passado e, mesmo com a ausencia da puni<;ao, nao voltam a emitir o
comportamento previamente punido. Dessa forma, nao tern. como perceber a
mudan<;a na contingencia. Urn dos objetivos terapeuticos e, portanto, criar condi-
<;6es para que o cliente se exponha novamente as contingencias. Por exemplo,
urn rapaz que urn dia se declarou para a namorada, e ela o deixou logo em
seguida, teve o comportamento de se declarar negativamente punido. Sendo
assim, esse rapaz talvez nunca mais se declare para ninguem, o que tambem
gera a perda de refor<;adores. Portanto, a terapia poderia criar condi<;6es para
que ele tentasse de novo se declarar em uma situa<;ao com baixa probabilidade
de puni<;ao, a fim de que o comportamento fosse restabelecido.
Puni~ao negativa e extin~ao
Urn ponto que gera muita confusao entre aprendizes e a distin<;ao entre a extin-
<;ao e a puni<;ao negativa. Os dois casos sao similares, porque em ambos nao se
tern acesso a refor<;adores outrora disponiveis. Entretanto, na extin<;ao, urn com-
portamento produzia uma conseqi.iencia refor<;adora ( telefonar para a namorada
era refor<;ado por sua voz do outro lado quando ela atendia). Caso o namoro
acabe e a ex-namorada se recuse a a tender os telefonemas, o comportamento de
telefonar para ela estara em extin<;ao. Ou seja, nao produz mais a conseqi.iencia
refor<;adora que produzia.
Por outro lado, na puni<;ao negativa, urn comportamento passa a ter uma
nova conseqi.iencia, a qual e a perda de refor<;adores. Retomando ao exemplo
anterior, digamos que esse namorado era infiel pelo refor<;amento social provido
pelos arnigos, ate que ele fora descoberto, ocasionando o fim da rela<;ao. Supondo
que, em namoros futuros, esse rapaz deixe de ser infiel. Aqui temos urn exemplo
de puni<;ao negativa, pois o comportamento de ser infiel foi punido pela perda
dos refor<;adores associados ao namoro. Essa conseqi.iencia reduziu a freqi.iencia
do comportamento de ser infiel. Note que as conseqi.iencias que mantinham o
comportamento de ser infiel permaneceram intactas. Caso ele continue a ser
assim, seus amigos ainda refor<;arao seu comportamento. Entao, nao podemos
falar em extin<;ao. 0 que houve foi a apresenta<;ao de uma nova conseqi.iencia:
retirada dos refor<;adores contingentes a outros comportamentos relacionados
~~~. J
Outra diferen<;a entre puni<;ao e extin<;ao refere-se ao proce so_:__a puni<;ao_ )
suprime rapidamente a resposta, enquanto a extin~ao produz uma dirninui<;ao
gradual na probabilidade de ocorrencia da re~osta. Imagine urn rato em urn
esquema de refor<;amento continuo (CRF: toda vez que pressiona a barra ele
recebe agua). Nesse caso, o comportamento de pressionar a barra produz uma
Aprendizagem pelas conseqiiencias: o controle aversivo
Extinc;ao
Reforc;o
R ----+ SR
consequencia refon;adora:
apresenta<;ao da agua. Como ja
se sabe, se desligassemos o be-
bedouro, o comportamento de
pressionar a barra nao mais
produziria a conseqiiencia re-
for<;adora (a apresenta<;ao de
agua). Falamos en tao de extin-
<;ao, ou seja, houve a suspensao
da conseqiiencia refor<;adora, a
qual teria como efeito final no
comportamento a redu<;ao de
sua probabilidade de ocorrencia.
Punic;ao
R ----+ (SR + Sp)
R = resposta de pressao a barra
s' = apresenta~ao de agua (estfmulo refor~ador)
s' = apresenta~ao de choque (estimulo punidor)
Figura 4.4
Na extin~ao, o refor~o nao e mais apresentado. Ja na punir;ao, o reforr;o
continua sen do apresentado, mas junto a ele e apresentado o estimulo punidor
(au aversivo).
Imagine agora que nao te-
mos condi<;6es de desligar o be-
bedouro, mas temos que fazer
com que o rato pare de pressio-
nar a barra. Como poderiamos
leva-loa tal atitude? Isso mes-
mo: devemos usar a puni<;ao. :E
possfvel, nesse caso, "dar" urn choque no rato toda vez que ele pressionar a
barra. Se assim o fizessemos, o rato desistiria de que estava fazendo.
Note que, no segundo exemplo, nao suspendemos a conseqiiencia refor<;a-
dora, ou seja, em momento algum a agua deixou de ser apresentada quando o
rato pressionava a barra. A puni<;ao, nesse exemplo, e a apresenta<;ao do choque.
Ao aludirmos a puni<;ao, nao nos referimos a suspensao da consequencia que
refor<;a o comportamento, mas, sim, de uma outra conseqiiencia que diminui a
probabilidade de sua ocorrencia (ver Figura 4.3 ).
Imagine agora o seguinte exemplo: quando Joaozinho fala palavras inadequa-
das, seus colegas riem bastante dele (a risada de seus colegas e
uma conseqiiencia
refor<;adora para o comportamento: eo que mantem Joazinho portando-se de
tal forma). A mae de Joaozinho quer que ele pare com isso; para tanto, ela retira
a "mesada" de Joaozinho, cessando o comportamento. Nesse caso, a mae de
Joaozinho puniu o comportamento dele, ou colocou-o em extin<;ao? Para respon-
der a essa pergunta, devemos fazer a seguinte analise:
• A freqiiencia do comportamento aumentou ou diminuiu?
- Ela diminui; portanto, a retirada da "mesada" nao pode ser urn refor<;o.
- Se a freqiiencia diminuiu, s6 pode ser extin<;ao ou puni<;ao:
• A consequencia refor<;adora (risada dos colegas) foi retirada?
- Nao, por isso nao e extin<;ao, ja que nao houve a suspensao da conse-
qiiencia refor<;adora.
Se a freqiiencia do comportamento dirninuiu e a consequencia refor<;adora
nao foi retirada, falamos entao em puni<;ao.
• A puni<;ao, nesse exemplo, foi a retirada de urn estfmulo refor<;ador ou a
adi~ao de urn estfmulo aversivo?
Moreira & Medeiros
- A consequencia foi a perda da "mesada" (retirada de urn estimulo
refon;ador); portanto, trata-se de puni~ao negativa.
No exemplo anterior, para que a frequencia do comportamento de dizer pala-
vras inadequadas diminuisse utilizando extin<;ao, o que deveria ser feito? Deveria
ser feito exatamente is so: retirar (suspender) a consequencia refon;adora, a qual,
no caso, sao as risadas dos amigos de Joaozinho, ou seja, a mae de Joaozinho
poderia falar com os amigos dele para nao rirem mais quando seu filho dissesse
palavras de baixo nivel.
Efeitos colaterais do controle aversivo
0 controle aversivo, de acordo com o que vimos, e uma forma legitima e eficiente
de aumentar ou de dirninuir a probabilidade de emissao do comportamento.
Punir comportamentos inadequados ou indesejados e muito mais facil e tern
efeitos mais imediatos do que refor<;ar positivamente comportamentos adequa-
dos. Entretanto, o controle aversivo apresenta uma serie de efeitos colaterais
que tomam seu uso desaconselhado por varios autores comportamentais.
Elicia~ao de respostas emocionais
No momenta em que os organismos en tram em contato com estimulos aversivos,
e observada a elicia<;ao de varias respostas emocionais, como tremores, taquicar-
dia, palpita<;6es, choro, etc. Existem algumas desvantagens na elicia<;ao de respos-
tas emocionais. Uma desvantagem comum ocorre quando o administrador da
puni<;ao observa as respostas emocionais do organismo punido. Essas respostas
emocionais eliciam outras respostas emocionais no individuo que pune, cornu-
mente conhecidas por respostas emocionais de pena ou culpa. Elas sao aversivas,
e o individuo que pune, pode passar a liberar refor<;adores ao organismo punido
como forma de se esquivar dos sentimentos de pena ou cul-
pa. Urn exemplo bern comum ocorre quando uma crian<;a
faz birra na rua para ganhar urn pirulito. Seus pais podem
lhe dar uma palmada para punir a birra. Ao receber a pal-
mada, a crian<;a come<;a a chorar, e seu choro elicia respos-
tas emocionais aversivas nos pais, as quais costumamos
chamar de pena ou culpa. Para se esquivar dessas respostas
emocionais aversivas, os pais podem dar o pirulito no fim
das contas. Esse procedimento e prejudicial por duas raz6es
principais: l) Os pais treinam a rela<;ao entre o comporta-
mento de chorar e ganhar o que se quer, aumentando a pro-
babilidade do choro ocorrer no futuro. De fa to, o choro dei-
xa de ser exclusivamente urn comportamento respondente,
sendo controlado principalmente por suas consequencias,
is toe, toma-se primordialmente urn operante. 2) Apalmada
ou a puni<;ao vai preceder o refor<;o. Sendo assim, as crian<;as
.,..,...,,...,,,,zagem pelas conseqiiencias: o controle aversive
------------------------------~
podem aprender a emitir respostas que levem a uma palmada, pois tal a~ao
adquire fun~6es refar~adoras condicionadas. Em outras palavras, uma palmada
deixa de ser punitiva, tornando-se refor~adora. Existem experimentos muito
interessantes, nos quais a resposta de pressao a barra de urn rata produz agua
apenas na presen~a de urn leve choque. Quando o choque nao esta presente, as
respostas de pressao a barra nao sao refor~adas. Se incluirmos uma nova barra
na caixa de Skinner e a sua pressao tiver como conseqi.iencia a produ~ao do
choque, os animais aumentarao a freqi.iencia do comportamento de pressao a
barra que produz o choque. Ou seja, o choque refor~ara as respostas de pressao
a segunda barra.
Outro problema na elicia~ao de respostas emocionais ocorre como condiciona-
mento respondente. Ora, quem pune ou refor~a negativamente em excesso acaba-
ra tornando-se urn estimulo condicionado que eliciara as
mesmas respostas emocionais outrora eliciadas pelos esti-
mulos aversivos envolvidos. Trata-se do exemplo tipico da
crian~a que teme o pai severo. Esse pai dira que seu filho o
respeita. Na realidade, seu filho o teme, uma vez que a sua
presen~a eliciara respostas emocionais aversivas. De forma
similar, uma namorada que controla o compartamento do
namorado com chantagens emocionais, is toe, usa o refor~o
negativo e a puni~ao, pode tornar-se urn estimulo aversivo
condicionado. 0 namorado pas sara a se sentir mal na presen-
~a da namorada, pais ela se transformou em urn estimulo
condicionado que elicia as mesmas respostas emocionais
provocadas par suas chantagens emocionais.
Urn outro fenomeno observado eo paradoxa da apren-
dizagem par refor~o negativo. Conforme apresentado, o
refor~o negativo aumenta a probabilidade do comporta-
mento que o suprime. Entretanto, a apresenta~ao do esti-
mulo aversivo pode eliciar respostas reflexas que dificul-
tam a emissao do comportamento operante que retiraria o estimulo aversivo.
Em outras palavras, o (mica comportamento que retiraria o estimulo aversivo
torna-se menos provavel devido as respostas reflexas eliciadas par ele, o que
certamente representa urn paradoxa. Tomemos urn gaga como exemplo. Caso a
crian~a gaga fale carretamente, seu pai nao fala nada. Par outro lado, quando
essa crian~a gagueja, ouve a critica do pai. Podemos dizer que falar corretamen-
te e mantido par refor~o negativo. Quando o pai critica a crian~a ao gaguejar, ela
passa a emitir respostas reflexas que quase impedem a emissao do comporta-
mento operante de falar corretamente. Nesse caso, gaguejar torna-se muito mais
provavel do que falar sem gaguejar. Sendo assim, o estimulo que serviria para
"motivar" e justamente 0 que impede que 0 falar corretamente ocorra.
Supressao de outros comportamentos alem do punido
0 efeito da puni~ao nao se restringe apenas ao comportamento que produziu a
conseqi.iencia punitiva. Outros compartamentos que estiverem ocorrendo tempo-
Moreira & Medeiros
ralmente proximos ao momenta da puni<;ao podem ter sua freqtiencia reduzida.
Por exemplo, imagine uma festa de crian<;as em que o Joaozinho esta correndo,
pulando, conversando e dan<;ando. Em sua empolga<;ao, Joaozinho estoura urn
balao proximo a urn adulto, que se assusta. 0 adulto imediatamente da uma
forte palmada em Joaozinho. E provavel que Joaozinho pare de estourar bal6es,
mas, alem disso, os demais comportamentos citados deixarao de ocorrer. esse
sentido, o efeito da puni<;ao possivelmente interferira nos comportamentos aos
quais ela nao foi contingente.
0 efeito disso na terapia pode ser muito prejudicial. Uma vez que o terapeuta
puna algum comportamento do cliente durante a sessao, outros comportamentos
dentro da sessao, muitas vezes desejaveis ao processo terapeutico, podem deixar
de ocorrer.
Emissao de respostas incompativeis ao comportamento punido
Apos a puni<;ao de urn comportamento, os organismos, em geral,
passam a emitir uma segunda resposta que tome improvavel a
repeti<;ao do comportamento punido. Essa segunda resposta e cha-
mada resposta incompativel ou resposta controladora, uma vez
que
e uma forma de o organismo controlar seu proprio comporta-
mento. A resposta e negativamente refor<;ada por diminuir a pro-
babilidade de emissao de urn comportamento punido e, par con-
seguinte, de o organismo entrar em contato com a puni<;ao.
Urn triste exemplo desse conceito pode ser o caso do rapaz que
as 3 da manha, depois de ingerir cerveja, telefona para a ex-namora-
da fazendo juras de amor. Mas, para infelicidade do rapaz, quem
atende eo novo namorado dela com voz de sono. Certamente, essa e uma puni<;ao
positiva que dis pens a comentarios, a qual, na verdade, dirninuira a probabilidade
de ele telefonar outras vezes. Entretanto, ao beber novamente, as 3 da manha,
ele pode sentir-se tentado a fazer o "maldito" telefonema. Para evitar que repita
esse comportamento, o ex-namorado simplesmente entrega o celular a urn amigo,
pegando-o so no dia seguinte. Entregar o celular ao amigo e uma res pasta incom-
pativel ao comportamento de telefonar, uma vez que o torna menos provavel.
Urn outro exemplo muito comum eo da menina que teve urn namoro em
que investiu muito. Mas, para infelicidade da mo<;a, seu namorado a trocou por
outra pessoa. Essa menina sofreu muito como termino, ou seja, seu comporta-
mento de investir em urn relacionamento estavel foi severamente punido. Ela
pode desenvolver o seguinte padrao: quando come<;ar a se envolver com alguem
e perceber que esta come<;ando a gostar des sa pessoa, ela rompe o relacionamento
antes de se estabelecer o namoro. Nesse caso, a resposta de romper relacionamen-
tos ainda no inicio pode ser considerada incompativel com o comportamento de
namorar, o qual foi punido no passado.
Daf decorre a grande desvantagem da emissao de respostas incompativeis.
Elas tornam impossivel para o organismo discriminar que a contingencia de
puni<;ao nao esta mais em vigor, uma vez que impede que o organism a se exponha
a contingencia novamente. No caso de nossa arniga, ela pode ter perdido muitas
Aprendizagem pelas consequencias: o controle aversivo
Revoltas e rebeli6es sao frutos do abuso do
controle aversivo.
oportunidades de ser feliz com alguem que nao a
abandonaria. Como ela termina uma rela~ao an-
tes de come~a-la, nao tern meios de perceber que,
dessa vez, a situa~ao sera diferente.
\J
Contracontrole
Este talvez seja o efeito colateral d~on~role aver-
siva mais indesejado. No contracontrole,.._Q.-GI-ga:__
ii1smo controlado emite uma nova respos.t~
impede que o agente controlador mantenha o
controle sobre o seu comportamento. No caso da
puni~ao, garante-se que o comportamento_Quniao
continue a ocorrer sem entrar em contato com
ela. Urn exemplo banal ocorre quando freiamos o carro diante de urn radar,
colocando-o na velocidade permitida pela via e, assim, nos esquivamos da multa.
Na realidade, a fun~ao punitiva do radar seria suprimir o fa to de dirigir acima da
velocidade permitida em toda a sua extensao, e nao apenas na presenQldoS
radares. A resposta de frear na presen~a apenas do radar e negativamente refor~a
da (nao levar multa). Entretanto, nao foi esta a resposta esperada pelo controlador
de transito, o qual programou essa contingencia de puni~ao.
No caso do refor~o negativo, a resposta de contracontrole suprime ou evita o
estimulo aversivo sem a emissao da resposta programada pelo controlador. Urn
professor de educa~ao fisica que utiliza refor~o negativo para fazer com que seus
alunos se empenhem nos exercicios costuma gerar respostas de contracontrole.
Os alunos fazem os exercicios determinados pelo professor, este nao tece nenhum
comentario. Entretanto, se ele ve algum aluno parado, da-lhe uma bronca na
frente dos colegas . Em outras palavras, os alunos somente fazem os exercicios
para evitar a repreensao do professor ( refor~o negativo). Urn contracontrole 6bvio
e fazer o exercicio apenas no momento em que o professor esta olhando; assim
que vira as costas, os alunos ficam parados a enrolar. Nesse caso, a resposta de
observa~ao, que e agir discriminativamente ao comportamento do professor
(at en tar ao que o professor esta fazendo ), e de modo negativo refor~ada pelas
broncas . Outro exemplo ocorre quando a mae obriga o filho a comer. Se ele esta
comendo, sua mae nao diz nada. Por outro !ado, se o filho para de comer, a mae
come~a a brigar com ele. E provavel que essa crian~a de sua comida para o cachor-
ro quando sua mae nao estiver por perto, e diga que ja comeu tudo. Ligar o
chuveiro, mas nao se molhar, fingindo que esta tomando banho, tambem e urn
exemplo de contracontrole comum emitido por crian~as e adolescentes. Como
diz o verso da antiga musica "No mundo da lua", do Biquini Cavadao: "Nao
quero mais ouvir a minha mae reclamar, quando eu entrar no banheiro, ligar o
chuveiro e nao me molhar".
A mentira como urn contracontrole. A mentira, muitas vezes, funciona como
uma resposta de contracontrole, como no caso do Bart Simpson dizendo para a
Sra. Krabappel (sua professora) que o Ajudante de Papai Noel (seu cachorro)
havia comido o dever de casa. Caso Bart chegasse a escola sem o dever feito, sua
Moreira & Medeiros
professora administraria alguma puni<;ao, como uma bronca ou uma adverten-
cia. A fim de evitar entrar em contato com o estfmulo aversivo, Bart inventa a
hist6ria de que seu cachorro comeu o dever de casa, esquivando-se.
Urn exemplo mais banal que esse e muito com urn entre namorados. A namo-
rada, que esta oito quilos acima do peso, emite aquela pergunta infeliz: "Benzinho,
voce acha que eu engordei?".
0 pobre do namorado esta em uma situa<;ao desesperadora, pois, caso seja
sincero, sua namorada, mesmo chateada, pode come<;ar uma dieta, ficando mais
atraente para ele. Entretanto, a conseqiiencia de longe mais provavel e a de que
uma resposta sincera leve a uma briga homerica, a qual certamente representa
uma puni<;ao positiva, alem da puni<;ao negativa pela perda dos refor<;adores
primarios aos quais teria acesso estando de bern com a namorada. A resposta
que se torna provavel, obviamente e: "0 que e isso meu amor? Voce esta linda!"
Apesar de faltar com a verdade, o namorado sera recompensado por isso,
evitando a puni<;ao administrada pela namorada caso falasse a verdade e ainda
entrando em contato com os refor<;adores providos por ela. Sendo assim, a menti-
ra, nesse caso, e uma resposta de contracontrole, pois garante que nosso amigo
evite a puni<;ao.
Um ratinho esperto. Para finalizar a discussao acerca do contracontrole, deve-
mos saber que nao se restringe a animais humanos. Urn experimento de controle
aversivo ilustra esse ponto de maneira muito interessante. Trata-se de urn experi-
mento simples em que urn rato previamente modelado a obter comida com res-
postas de pressao a barra passa a receber urn choque pela grade metalica no
chao da caixa quando a pressiona, continuando a receber comida como conse-
qiiencia des sa resposta ( ou seja, puni<;ao sem extin<;ao). 0 pelo do animal e urn
isolante eletrico e, mesmo sem ser urn eletricista, nosso ratinho desenvolveu urn
metodo muito interessante de obter seus refor<;adores, evitando o contato como
estfmulo aversivo. Ele simplesmente deitava de costas na grade do chao da caixa,
colocava a cabe<;a no comedouro e pressionava a barra cilfndrica com o rabo.
Nosso malandrinho, portanto, com essa resposta de contracontrole, obtinha ali-
mento e evitava o choque.
Por que punimos tanto?
Ao observarmos todos esses efeitos colaterais indesejaveis do controle
aversivo, uma questao permanece: por que esse e 0 metodo mais
u tilizado para controlar o comportamento? A resposta a essa pergun- j
ta compreende tres pontos: --~'
1. Imediaticidade da conseqiiencia. Quem pune para supri-
mir urn comportamento e negativamente refor<;ado de forma
quase imediata. Digamos que Homer esteja assistindo a urn
jogo de futebol americano na TV enquanto Lisa pratica seu
saxofone. 0 som do instrumento 0 incomoda, isto e, represen-
ta urn estfmulo aversivo que refor<;ara negativamente o com-
diz.agem pelas conseqi.iencias: o controle aversive
portarnento de Homer com sua retirada. Homer prontamente pune o com-
portarnento de Lisa gritando: "Lisa, pare de tocar esse maldito saxofo-
ne!". Lisa pan de tocar o instrumento de imediato, refor~ando de modo
negativo o comportamento de Homer.
2. Eficacia nao dependente da priva<;ao. Para controlarmos positivamen-
te urn comportamento, temos de identificar quais eventos serao refor~a
dores para o individuo. Alem disso, mesmo os refor~adores primarios nao
sao eficazes o tempo todo. Caso o organismo nao esteja privado do refor-
~ador em questao, esse nao sera eficaz. Dai vern a outra vantagem do
controle aversivo para quem controla: uma palmada sera aversiva indepen-
dentemente de priva~ao. Ou seja, uma palmada sera eficaz para punir ou
para refor~ar negativamente o comportamento de uma crian~a em qual-
quer situa~ao. Supondo que queremos que uma crian~a fa~a o dever de
casa. Podemos refon;ar positivamente seu comportarnento com balas. En-
tretanto, se ela nao tiver privada de balas, estas nao serao eficazes como
estimulos refor~adores, ou seja, nao aumentarao a probabilidade do com-
portamento de fazer o dever. Entretanto, se dermos uma palmada nela
caso nao fa~a 0 dever de casa (is toe, refor~amento negativo ), e provavel
que ela fa~a o dever para evitar a palmada. Note que, para a palmada
refor~ar negativarnente seu comportamento, nao foi necessario privar a
crian~a de coisa alguma.
3. Facilidade no arranjo das contingencias. Existem altemativas ao con-
trole aversivo, como discutiremos a seguir. Sem duvida, essas altemativas
sao muito mais aconselhaveis do que o controle aversivo. Entretanto, elas
dao muito mais trabalho de organizar do que as contingencias de controle
aversivo. No caso do exemplo do Homer e da Lisa, ele poderia, por exemplo,
sentar, perto da filha para ouvi-la quando ela tocasse o saxofone em outro
horario que nao o do jogo. Elogia-la nessas ocasi6es ou sairem ambos
para tomar urn sorvete quando acabasse urn ensaio: certamente, essas
alternativas fariam com que a pequena Lisa parasse de tocar o instrumento
na hora do jogo e evitariam os efeitos colaterais da puni~ao. Entretanto,
Homer teria muito mais trabalho para controlar o comportamento de Lisa:
l) ouvi-la tocar, 0 que nao e muito refor~ador para ele; 2) leva-la para
tomar sorvete, organizando sua priva~ao de sorvete; 3) pres tar aten~ao
nos momentos em que estivesse tocando; 4) organizar a passagem de urn
esquema de refor~amento em CRF para esquemas intermitentes. Frente
ao comportamento de dar urn berro, nao ha duvida de que o controle
positivo do comportamento envolve respostas muito mais custosas, que
demorarao mais para produzirem seus efeitos.
A conseqiiencia final desse processo e a de que tendemos mais a punir ou a
refor~ar negativamente o comportarnento do que controla-lo por refon;o positivo,
a de peito de todas as desvantagens do controle aversivo. Por outro lado, a divul-
a~ao e a comprova~ao empirica dos efeitos indesejaveis desse tipo de controle
Moreira & Medeiros
pode sensibilizar paise educadores para que ambos utilizem meios mais positivos
para controlar o comportamento. 0 controle existe; nega-lo somente aumenta a
chance de sermos controlados. Em concordancia com Freud, a principal razao
que leva ao sofrirnento psicol6gico eo hist6rico de controle aversivo do comporta-
mento.
Quais as alternativas ao controle aversivo?
Ao desaconselharmos com tanta enfase o uso do controle aversivo, temos que
sugerir algumas alternativas. Felizmente elas existem, tendo maior ou menor
eficacia, mas, na verdade, apresentam menos efeitos colaterais.
Reforc;o positivo em Iugar de reforc;o negativo
Essa op<;ao e 6bvia. Caso queiramos aumentar a probabilidade de emissao do
comportamento, podemos faze-lo por refor<;amento positivo em vez de negativo.
Urn professor de boxe pode elogiar os golpes corretos de seus alunos em vez de
criticar os incorretos. Uma namorada pode ser mais carinhosa com seu namorado
quando ele consegue combinar o sapato com o cinto, em vez de ficar emburrada
toda vez que ele usa pochete na cintura.
Extinc;ao em vez de punic;ao
Uma alternativa muito comum e o
uso da extin<;ao para diminuir a fre-
qtiencia do comportamento em lugar
da puni<;ao. Na verdade, este eo me-
todo menos aversivo, mas tambem
gera respostas emocionais. Urn expe-
rimento com pombos ilustra esse
ponto muito bern. Urn pombo previa-
mente refor<;ado a bicar urn disco
para a obten<;ao de alirnento e sub-
metido ao procedirnento de extin<;ao.
Durante a sessao de extin<;ao, abre-
se uma porta na caixa de Skinner
dando acesso a urn novo comparti-
mento com outro pombo dentro. 0
animal em extin<;ao bica o outro
pombo ate a morte. Caso coloquemos
urn novo disco na caixa que sirva
apenas para abrir a porta do outro
compartimento, o animal bica esse
disco para ter aces so ao outro pombo.
Urn exemplo comum e o da crian<;a
Figura 4.5
Caixa de condicionamento operante para pombos. Pombos sao
muito utilizados em pesquisas em Analise do Comportamento. Nos
tres discos (em frente ao pombo), cores e figuras sao projetadas. Bicar
um disco especffico aciona o comedouro (dando milho ao pombo pri-
vado de comida).
que joga seu carrinho de bombeiros na parede quando este deixa de funcionar.
Uma outra desvantagem da extin<;;ao e que nem sempre podemos suprimir o
refor<;;ador que mantem o comportamento indesejado. A maconha nao deixara
de produzir seus efeitos, e caso sejam eles que mantenham o comportamento de
consumi-la, nao poderemos utilizar extin<;;ao, ja que nao podemos retirar o re-
for<;;ador. Por fim, a extin<;;ao apenas diminui a freqtiencia do comportamento
em vez de treinar novas respostas desejaveis do ponto de vista do controlador. A
ausencia de refor<;;amento tam bern pode agravar urn quadro depressivo, por ex em-
plo. Digamos que urn terapeuta opte por extinguir respostas queixosas de sua
cliente deprimida. Sendo assim, quando a cliente come<;;ar a se queixar dos filhos,
do marido, das amigas, etc., o terapeuta pode colocar em extin<;;ao tal relato,
deixando de dar aten<;;ao. De fa to, a cliente pode parar de falar sobre is so; entretan-
to, nao estara aprendendo novas formas de obter a aten<;;ao das pessoas. Uma
outra conseqtiencia e a de abandonar a terapia, uma vez que nao esta recebendo
refor<;;adores.
Refor<;amento diferencial
Mais uma vez iremos nos referir ao refor<;;amento diferencial. Sem duvida, esse e
urn processo comportamental de fundamental irnportancia para explica<;;ao, pre-
di<;;ao e controle do comportamento. Relembrando: o refor<;;amento diferencial en-
valve sempre refor<;;o e extin<;;ao. Como alternativa a puni<;;ao, poderiamos extin-
guir a resposta indesejada e refor<;;ar comportamentos alternativos. Nesse caso, os
efeitos emocionais da extin<;;ao seriam atenuados, uma vez que o organismo co-
ntinuaria a entrar em contato com os refor<;;adores contingentes a outros compor-
tamentos. Alem disso, produziria o aumento da probabilidade de emissao dos com-
portamentos desejaveis. No exemplo da cliente deprirnida, descrito anteriormente,
o terapeuta poderia refor<;;a-la com aten<;;ao quando falasse de outros assuntos que
nao as queixas. Sendo assirn, ela aprenderia a obter refor<;;adores de outras formas
que nao pelas queixas, alem de suprirni-las com menos efeitos emocionais.
Aumento da densidade de refor<;os para outras alternativas
Goldiamond foi urn analista do comportamento que se preocupou em construir
repert6rios em vez de extirpar comportamentos de urn repert6rio comportamen-
tal. Conforme ja discutido, a extin<;;ao tambem traz fortes respostas emocionais
aversivas. Nesse sentido, Goldiamond desaconselha
ate o refor<;;amento diferen-
cial, uma vez que e composto de extin<;;ao. A sugestao, portanto, e a de refor<;;ar
com mais freqiiencia outros comportamentos do que os indesejaveis, mesmo
que se mantenha o refor<;;amento para os indesejaveis tambem. No caso da cliente
deprimida, seria dar aten<;;ao a suas reclama<;;6es tambem, mas com freqtiencia e
magnitude bern menores do que a dada para seus demais relatos verbais. Essa
altemativa tambem e util para comportamentos que nao podem ser extintos,
como o do exemplo da maconha, ou mesmo ode Lisa. Uma vez que nao podemos
tirar os refor<;;adores dos efeitos da droga ou do proprio som do instrumento,
podemos refor<;;ar com muita freqtiencia outros comportamentos, para que ocu-
Moreira & Medeiros
pem o espa<;o daquele comportamento cuja freqiiencia queremos diminuida.
Sem duvida, essa e a interven<;ao mais lenta; por outro lado, e a menos aversiva
para o organismo que se comporta, trazendo menos efeitos colaterais indesejados.
Algumas conclusoes importantes
Baseado em tudo o que fora discutido ate aqui, algumas conclus6es podem ser
tiradas, e mais alguns pequenos pontos precisam ser discutidos. Em primeiro
Iugar, fica claro para a Analise do Comportamento que o uso de controle aversivo
para alterar a probabilidade de emissao de urn comportamento deve ser aplicado
apenas em ultimo caso, 0 que nao significa que devemos parar de estudar esse
tipo de controle, tao freqiiente em nosso dia-a-dia. Alem disso, o controle aversivo
nao e somente social. Caso coloquemos o dedo na tomada, o choque e uma
puni<;ao positiva que provavelmente diminuira a probabilidade desse comporta-
mento no futuro. Sendo assim, por mais que o evitemos, o controle aversivo e
natural e continuara existindo em nossa intera<;ao com a natureza.
Por fim, nao podemos confundir a recomenda<;ao de evitar o controle aversivo
com a no<;ao de que tudo e permitido. Muitos pais, nas decadas de 1970 e 1990,
confundiram o conselho de "nao punir" como de "deixe seu filho fazer tudo o
que quiser". Sem duvida, a cria<;ao sem limites e quase tao prejudicial quando a
cria<;ao extremamente rigorosa. De fa to, alguns comportamentos de nossos filhos
precisam ter sua freqiiencia reduzida; entretanto, se tivermos outras alternativas
a puni<;ao, estas devem sempre ser as escolhidas.
Principais conceitos apresentados oeste capitulo
Conceito
Controle
aversivo
Descric;ao
Controle do comportamento por
contingencias de refor~o negativo e
puni~ao (positiva e negativa).
Exemplo
Reforc;o negativo Conseqliencia do comportamento que
aumenta sua frequencia pela retirada ou
pela evita~ao de um estimulo aversivo.
Mentir geralmente e um comportamento mantido
por refor~o negativo. Evitamos inumeros estimulos
aversivos mentindo.
Estimulo aversivo
Comportamento
de fuga
Estimulo cuja retirada ou evita~ao
aumenta a frequencia do comportamento,
ou cuja adi~ao reduz a freqliencia do
comportamento que o produziu.
Comportamento mantido por refor~o
negativo,, pela remoc;ao de um estimulo
aversivo do ambiente.
Se voce mente, apanha, passando a mentir menos.
Para voce, apanhar e um estimulo aversivo.
Voce esta em uma sessao terapeutica, e o
psic61ogo s6 faz perguntas que eliciam em voce
respostas de ansiedade extrema. Voce se levanta e
vai embora no meio da sessao.
continua ...
prendizagem pelas conseqiiencias: o controle aversivo
Co portamento
de esquiva
Puni~ao positiva
Desai Ao Exem lo
Comportamento mantido por refor~o Ap6s o evento descrito (fuga), voce sempre
negativo, pela evita~ao do contato com inventa uma desculpa para nao ira terapia.
um estimulo aversivo.
Consequencia do comportamento que
reduz sua frequencia pela adi~ao de
um estimulo aversivo ao ambiente.
Joaozinho chega em casa embriagado, toma uma
bela surra de seu pai porter bebido e para de
beber.
Puni~ao negativa Consequencia do comportamento que
reduz sua frequencia pela retirada de
um estimulo refor~ador (de outros
comportamentos) do ambiente.
Joaozinho chega em casa embriagado, perde a
"mesada" domes porter bebido e para de
beber.
Contracontrole Comportamento que impede o
comportamento de um agente punidor.
Joaozinho dorme na casa de amigos quando
sai a noite e "toma uns drinks a mais".
Bibliografia consultada e sugestoes de leitura
Catania. A. C. ( 1999). Aprendizagem: comportamento, linguagem e cognifdO. Porto Alegre:
Artmed. Capitulo 6: As conseqiiencias do responder: controle aversivo
Millenson, J. R. ( 1975) . Principios de and lise do comportamento. Brasilia: Coordenada. Capi-
tulo 17: Contingencias aversivas
Skinner, B. F. ( 1983 ). 0 mito da liberdade. Sao Paulo: Summus.
CAPfTULO 5
Primeira revisiio
do contetldo
Neste capitulo, revisaremos o que foi visto ate entao. Como se trata
de urn capitulo de revisao, os termos e os conceitos sao apresenta-
dos muito sucintamente. Caso haja duvidas ou caso nao se lembre
muito bern de urn conceito, volte no capitulo em que foi dado e
estude-o mais detalhadamente. Este capitulo destina-se, sobre-
tudo, a esclarecer a distin~ao entre comportamento operante e
comportamento respondente. Antes de come~ar a leitura, ana-
lise a Tabela 5 .1.
0 reflexo inato (Capitulo 1)
Ao estudar reflexos incondicionados, voce aprendeu que, durante sua evolu~ao,
os organismos passaram por mudan~as que os tornaram o que sao hoje ( caracte-
rfsticas das especies, anat6micas, fisiol6gicas e comportamentais ). Essas mudan-
~as tornaram esses organismos mais adaptados ao mundo em que vivem, ou
seja, aumentaram suas chances de sobreviver e de se reproduzir. Essas mudan~as
ocorreram tanto no aspecto anatomico, modificando a forma desses organismos;
no aspecto fisiol6gico, modificando seu funcionamento; como ocorreram no as-
pecto comportamental, modificando a forma como eles reagem ao mundo que
os cerca. De certa forma, podemos dizer, entao, que os organismos, durante sua
evolu~ao, aprenderam novas maneiras de interagir com seu mundo. Todos os
organismos nascem, em maior ou menor grau, preparados para se relacionar
com o mundo que os cerca, ou seja, nascem com urn repertorio comporta-
mental inato. Aos comportamentos inatos dos organismos, damos o nome de
reflexos incondicionados .
Esses reflexos incondicionados sao de grande irnportancia para a sobrevi-
vencia das especies. Em psicologia, definirnos urn reflexo como uma rela~ao
entre urn estimulo e uma resposta, referindo-se o estimulo a aspectos (mudan-
~as) do ambiente e a resposta a aspectos ( mudan~as) do organismo. Urn reflexo
Primeira revisao do conteudo
TABELA 5.1 DISTIN\DES ENTRE RESPONDENTE E OPERANTE
Comportamento respondente Comportamento Operante
Defini~ao Rela~ao entre um estfmulo e uma Comportamento que produz
resposta na qual o estfmulo elicia altera~6es no ambiente e e
a resposta afetado par essas altera~6es
Contingencia S-+ R R-+ C
Tipo de comportamento Comportamento eliciado Comportamento emitido
Diferencia~ao em Comportamento involuntario Comportamento voluntario
linguagem leiga
Tipo de aprendizagem Emparelhamento SS Por meio das consequencias
(estfmulo-estfmulo)
Extin~ao Apresenta~ao do estfmulo Quebra da contingencia (o
neutro na ausencia do estfmulo comportamento deixa de produzir
incondicionado a consequencia que produzia)
Principais autores Ivan Pavlov; John B. Watson B. F. Skinner
relacionados
Comportamentos Emo~6es, sensa~6es, secre~6es Movimentos dos muscu los
relacionados glandulares e respostas fisio16gicas voluntarios, fala (comportamento
em geral verbal), raciocinio e uma
infinidade de outros
comportamentos
Exemplo 1 Reflexo pupilar: aumento na Fala: quando falamos,
luminosidade elicia a contra~ao modificamos o comportamento
da pupila de outras pessoas
Exemplo 2 Fobias:
ap6s ser atacado por um cao, Evitar o cantata com caes
ver tal animal elicia taquicardia e quando se tem medo deles
sudorese
pode ser representado pelo seguinte diagrama: S -+ R. no qual a letra S representa
o estfmulo, a letra R representa a resposta, e a seta significa que o estfmulo
elida a resposta, is toe, que o estimulo produz a resposta. Percebemos a existencia
e a importancia dos reflexos incondicionados quando encostamos nosso bra<;o
em urn fio eletrificado e tomamos urn choque ( estimulo ), o que faz com que a
musculatura do bra<_;o contraia-se (resposta). Nesse exemplo, a intensidade
do estimulo (sua for<;a) pode ser dada em Volts, e a magnitude da resposta
(a for<_;a da resposta) pode ser medida pela for<;a que seu bra<_;o faz ao se contrair.
Vimos que os reflexos incondicionados possuem algumas propriedades, as
quais es tudamos. Uma dessas propriedades, chamada limiar de percep~ao,
diz que, para que urn estfmulo possa eliciar uma resposta, a intensidade do estf-
mulo de\'e estar acima de urn certo valor. Denominamos esse valor de limiar.
Moreira & Medeiros
Estimulos com intensidade acima do limiar eliciam respostas, e estimulos com
intensidade abaixo do limiar nao eliciam respostas.
Nos reflexos incondicionados, a intensidade do estimulo e diretamente pro-
porcional a magnitude da resposta. Isto quer dizer que, quanto maior a intensi-
dade do estimulo, maior sera a magnitude da resposta. Por exemplo, quanto
mais forte for o choque eletrico, maior sera a fon;a da contrac;ao do brac;o. Uma
outra relac;ao entre intensidade e magnitude refere-se ao tempo decorrido entre
a apresentac;ao do estimulo e a ocorrencia da resposta. Conhecemos esse tempo
por latencia. Nos reflexos incondicionados, quanto maior a intensidade do es-
timulo, menor sera a latencia da resposta; sao, portanto, medidas inversamente
proporcionais.
Outras propriedades dos reflexos sao verificadas quando urn determinado
estimulo e apresentado sucessivamente em curtos intervalos de tempo, ou seja,
quando ha eliciac;6es sucessivas desse reflexo. Em alguns reflexos, eliciac;6es
sucessivas podem fazer com que a magnitude da resposta diminua, fenomeno
chamado de habituac;ao. Ja em outros reflexos, ocorre o contrario, ou seja,
eliciac;6es sucessivas aumentam a magnitude da resposta, fenomeno chamado
de potenciac;ao.
0 comportamento reflexo ou comportamento respondente esta intima-
mente ligado ao que denominamos de emoc;6es. Sentir medo na presenc;a de
estimulos ameac;adores, sentir raiva ao termos os movimentos restringidos, sentir
excitac;ao quando os 6rgaos genitais sao manipulados, sentir sensac;6es prazerosas
ao ingerir determinadas substancias; todos esses sao exemplos de reflexos inatos,
pois circunscrevem a apresentac;ao de urn estimulo que elicia uma resposta, e
nao depend em ( essas relac;6es) de uma hist6ria de aprendizagem.
Mais interessante ainda que conhecer as relac;6es entre ambiente e organismo,
as quais se traduzem em emoc;6es, e saber que novas relac;6es do mesmo tipo
podem ser aprendidas: foi o que estudamos no Capitulo 2 ( os reflexos condiciona-
dos eo condicionamento pavloviano).
0 reflexo aprendido:
condicionamento pavloviano (Capitulo 2)
Uma outra caracteristica que se desenvolveu nos organismos durante sua evolu-
c;ao foi a capacidade de aprender novos reflexos. Os reflexos incondicionados
(inatos) sao uma preparac;ao minima para o organismo interagir com seu ambien-
te. Esse ambiente, no entanto, nao e estatico. Portanto, aprender novas formas
de se relacionar com o ambiente provou ser de grande valor para a sobrevivencia
dos organismos. Chamamos esses reflexos aprendidos no decorrer da vida de
urn organismo de reflexos condicionados. Urn dos primeiros cientistas a estu-
dar sistematicamente tal capacidade de aprendizagem de novos reflexos foi
Ivan Pavlov. Esse tipo de aprendizagem- de novos reflexos - ficou conhecido
como condicionamento pavloviano. 0 procedirnento que Pavlov utilizou para
condicionar ( ensinar) novos reflexos consiste basicamente no emparelhamento
de urn estimulo neutro, que nao elicia uma determinada resposta, a urn esti-
mulo incondicionado. Pavlov, em seu classico experimento com urn cao, utili-
zou, como estimulo neutro, o som de uma sineta, e, como estimulo incondicio-
nado, alimento. A resposta reflexa que Pavlov estudava era a saliva<;ao de urn
cao. Inicialmente Pavlov verificou que o som da sineta nao eliciava no cao a
resposta de saliva<;ao antes do condicionamento. Ap6s o condicionamento, o
som da sineta passou a eliciar no cao uma resposta de saliva<;ao.
0 som da sineta, que antes do condicionamento era urn estimulo neutro
para a resposta de saliva<;ao, ap6s o condicionamento pas sou a ser urn estimulo
condicionado para a resposta condicionada de saliva<;ao. Pavlov chamou
este novo reflexo ( som -+ saliva<;ao) de reflexo condicionado ( aprendido)
para diferencia-lo do reflexo incondicionado que o originou (alimento-+ saliva-
<;ao ). Urn reflexo incondicionado e uma rela<;ao entre urn estimulo incondicionado
(cuja sigla e US) e uma resposta incondicionada (cuja sigla e UR). Urn reflexo
condicionado e uma rela<;ao entre urn estimulo condicionado ( cuja sigla e CS) e
uma resposta condicionada ( cuja sigla e CR) .
Urn reflexo condicionado e, portanto, estabelecido a partir do emparelhamento
entre urn NS e urn US. Ap6s o condicionamento, o NS adquire a fun~ao de CS.
Quando urn NS e emparelhado a urn US temos urn condicionamento de pri-
meira ordem. Quando urn NS e emparelhado a urn CS, temos urn condiciona-
mento de ordem superior. Da mesma forma que os organismos tern a capacida-
de de aprender novos reflexos, tambem tern a capacidade de "desaprende-los" .
Quando urn reflexo condicionado deixa de ocorrer, concluimos que houve ex-
tin~ao respondente. A extin<;ao ocorre quando o estimulo condicionado e apre-
sentado na ausencia do estimulo incondicionado. E comum que alguns reflexos
condicionados, ap6s extintos, voltem a ocorrer sem que haja novos emparelha-
mentos entre o CS eo US. Esse fenomeno e chamado recupera~ao espontanea.
Muitas vezes, faz-se necessaria que o processo de extin<;ao ocorra de forma
gradual. Para is so, utilizamos uma tecnica chamada dessensibiliza~ao sistema-
TABELA 5.2 EXEMPLOS DE COMPORTAMENTOS RESPONDENTES CONDICIONADOS
lnicialmente neutro Estlmulo Resposta Resposta
{estimulo condicionado) incondicionado incondicionada condicionada
Um barulho alto Bombas explodindo Taquicardia Taquicardia
Um bar onde voce encontra Um amigo Visao do amigo Pensar no amigo
um amigo regularmente
Uma pessoa do sexo oposto Tatil, estimula~ao sexual Excita~ao sexua I Excita~ao sexual apenas
em ver a pessoa
"Maionese" (sal ada) Bacteria (produto V6mito Nauseas ao sentir o
estragado) cheiro da maionese
o·ngir na chuva Barulho alto e impacto Dor, sudorese, taquicardia Medo de dirigir na
(acidente) chuva
Moreira & Medeiros
tica, a qual consiste em dividir em pequenos passos o processo de extinc;ao res-
pondente. E possfvel ainda utilizar uma outra tecnica, que consiste em emparelhar
o CS a urn outro estfmulo que elicie uma resposta contraria. Tal tecnica e charnada
contracondicionarnento.
0 condicionamento pavloviano mostrou-se ( e mostra-se) de grande importan-
cia para o estudo e para a compreensao das emoc;oes no sentido de que os organis-
mos aprendem a sentir emo~oes em rela~ao a estimulos que antes nao
produziam tais emo~oes . 0 psic6logo americana John Watson demonstrou
experimentalmente que respostas emocionais podem ser condicionadas. Em seu
experimento classico, Watson condicionou em urn bebe uma resposta de medo.
Para tanto, Watson emparelhou urn som estridente ( estfrnulo incondicionado
para a resposta de medo) a urn rato albino, que Watson verificou ser urn estfrnulo
neutro para a resposta de medo, pois o rato nao
eliciava tal resposta no bebe.
Ap6s alguns emparelhamentos, Watson verificou que o rato pas sou a eliciar uma
resposta condicionada de medo no bebe. 0 rato, portanto, passou a ser urn estfrnu-
lo condicionado para a resposta condicionada de medo. Ap6s o condicionamento,
Watson verificou tambem que estfmulos fisicamente semelhantes ao rato, como
urn coelho branco ou uma barba branca, tambem eliciavam a resposta condicio-
nada de medo. A esse fen6meno deu-se o nome de generaliza~ao respondente.
Aprendizagem pelas conseqiiencias:
o refor~o (Capitulo 3)
As descobertas de Pavlov e Watson, entre outros cientistas, deram origem ao
que ficou conhecido como o Paradigma Respondente, que e uma forma- urn
modelo - de se estudar o comportamento. 0 paradigma respondente abarca
parte importante do comportamento; no entanto, ele nao e suficiente para expli-
car toda sua complexidade. Urn outro paradigma, o Paradigma Operante, pro-
posto por B. F. Skinner, mostrou-se extremamente importante para a compreen-
sao da aprendizagem dos organismos.
0 comportarnento operante e aquele que produz mudanc;as no ambiente
e e afetado por elas. Compreender o comportamento operante e essencial para
saber como os organismos aprendem. 0 tempo todo estamos nos comportando;
alguns desses comportamentos produzem urn tipo especial de conseqiiencia cha-
mada refor~o. Dizemos que uma conseqiiencia e urn reforc;o para o comporta-
mento quando ele aumenta a probabilidade de sua ocorrencia e, nesse caso,
chamamos o estfrnulo produzido pelo comportamento de estimulo refor~ador .
0 efeito do reforc;o na probabilidade de ocorrencia do comportamento esta intima-
mente ligado a aprendizagem, ou melhor, urn organismo aprendeu a fazer algo
quando observamos urn aumento na freqiiencia de urn dado comportarnento.
No labmat6rio, isso fica evidente. E \)Ossivel observar o rato em seu wirneiro
contato com a caixa experimental e registrar o numero de ocorrencias da resposta
de pres sao a barra. Ap6s a modelagem, fazemos urn novo registro desse com porta-
menta e verificamos urn aumento na sua freqiiencia. Ao observarmos is so, dize-
mos sem titubear que o rato aprendeu a pressionar a barra. A relac;ao entre o
Primeira revisao do conteudo
comportamento e uma conseqiiencia que aumente sua probabilidade de ocorren-
cia chamamos contingencia de refor~o. Podemos dizer que onde ha aprendiza-
gem ha contingencias de refon;o em vigor: nao aprendemos apenas fazendo,
mas, sim, a partir do momenta em que aquila que fazemos produz conseqiiencias
refon;adoras.
Os efeitos do refon;o sobre a aprendizagem tornam-se ainda mais evidentes
quando ele e suspenso, ou seja, quando urn comportamento que produzia uma
conseqiiencia refon;adora nao mais a produz. Nesse caso, falamos em extin~ao
operante. Ao colocarmos urn comportamento anteriormente refon;ado em ex-
tin<;ao verificamos que sua freqiiencia retorna a seu nivel operante. :E passive!
dizer, assim, que o organismo aprendeu que aquele comportamento nao mais
produz a conseqiiencia refor<;adora de antes. Quando urn determinado comporta-
mento e colocado em extin<;ao, sua freqiiencia nao retorna imediatamente ao
nivel operante, o que leva urn certo tempo e exige que urn certo numero de
respostas seja emitido sem serem refor<;adas. Esse numero de respostas e conhe-
cido por resistencia a extin~ao. A resistencia a extin<;ao sera maior ou menor
em fun<;ao de algumas variaveis, como numero de refor<;os anteriores, custo da
resposta e o esquema de refor<;amento em que a resposta ocorria. E comum
chamarmos pessoas que apresentam comportamentos com alta resistencia a ex-
tin<;ao de perseverantes, bern como atribuir pouca for<;a de vontade a pessoas
que apresentam comportamentos com baixa resistencia a extin<;ao. Quando fala-
mos em extin<;ao operante, devemos falar tambem em urn outro fen6meno. As
vezes, ap6s urn comportamento ser extinto, a mera passagem do tempo pode
aumentar a probabilidade do comportamento extinto voltar a ocorrer. Isso e
conhecido como fen6meno de recupera~ao espontanea. Devemos lembrar,
no entanto, que, mesmo que a resposta volte a ocorrer, se ela nao for refor<;ada,
as chances de ocorrer recupera<;ao espontanea tornam-se cada vez menores.
Outro aspecto importante da aprendizagem e que ela se ref ere a urn processo,
ou seja, na maioria das vezes, nao ocorre de uma hora para outra: da-se por
meio do refor<;o e da extin<;ao. A aprendizagem de urn novo comportamento
parte da modifica<;ao de urn comportamento preexistente. Portanto, aprender
algo novo tam bern implica desaprender alga. A tecnica comportamental conheci-
da como modelagem utiliza-se desses principios. Na modelagem de urn novo
comportamento, refor<;amos e extinguimos aproxima~oes sucessivas da res-
pasta-alva do comportamento que queremos ensinar.
Aprendizagem pelas conseqiiencias:
o controle aversivo (Capitulo 4)
Ao longo de nossa vida, aprendemos uma miriade de comportamentos que tern
como conseqiiencia a produ<;ao de estimulos no ambiente. A essas conseqiiencias
que aumentam a probabilidade de uma resposta pela adi<;ao de alga ad ambiente
do individuo, damos o nome de refor<;o positivo. Apesar da relevancia do refor<;o
positivo para a aprendizagem dos organismos, ele e apenas urn tipo de conseqiien-
da que exerce controle sabre o comportamento destes. As demais formas de
Moreira & Medeiros
controle do comportamento enquadram-se no que denominamos Controle
Aversivo: refon;;o negativo, punh;;ao positiva e puni~ao negativa.
0 re\on;.o negativo, a'i.'i.lm como o retm<;.o IJO'i.itivo, tmna mai'i> \)Hwiwe\ q_ue
urn determinado comportamento ocorra. A diferen\a entre refon;o positivo e
refor\O negativo reside no fato de que, no primeiro, urn estimulo (refor\ador) e
adicionado ao ambiente, e, no segundo, urn estimulo ( aversivo) e retirado do
ambiente. No refor~o negativo, o organismo comporta-se para que algo nao
ocorra. Quando afirmamos que o comportamento e controlado por refor~o nega-
tivo estamos querendo dizer que o organismo aprendeu a emitir uma resposta
para que algo nao ocorra. Os comportamentos que sao refor~ados negativamente
enquadram-se em dois tipos: comportamentos de fugae comportamentos
de esquiva. A fuga refere-se aqueles comportamentos que retiram algo do am-
biente, ou seja, urn determinado estimulo aversivo encontra-se presente, e o
organismo ernite uma resposta para retira-lo do ambiente. A esquiva refere-se
aqueles comportamentos em que se cancelam ou adiam o surgirnento do estimulo
aversivo.
Urn outro de tipo de controle aversivo do comportamento e a puni~ao. A
puni~ao diminui a probabilidade de ocorrencia de uma determinada resposta.
Assim como o refor~o, a puni~ao pode ser qualificada como positiva ou negativa,
sendo a prirneira caracterizada pela apresenta~ao de urn estimulo aversivo, e a
segunda pela remo~ao de urn estimulo refor~ador. Tanto a punir;ao como a
extinr;ao reduzem a probabilidade de urn comportamento ocorrer. A distin~ao
bcisica entre puni~ao e extin~ao com rela~ao ao procedirnento (como e feita)
reside no fa to de que, na extin~ao, uma consequencia refor~adora anteriormente
produzida pelo comportamento deixa de ocorrer. Ja na puni~ao, a consequencia
refor~adora continua ocorrendo; no en tanto, uma outra consequencia, que reduz
a probabilidade do comportamento ocorrer, passa a ser produzida pelo comporta-
mento. Outra diferen~a entre puni~ao e extin~ao refere-se ao processo: a puni~ao
suprirne rapidamente a resposta, enquanto a extin~ao produz uma diminui~ao
gradual na probabilidade de ocorrencia da resposta.
Comportamento operante e
comportamento respondente (Reflexo)
Urn comportamento respondente nao depende de suas consequencias a seguir
para ocorrer ou deixar de ocorrer; ja o comportamento operante, sim. Compare ...
os exemplos a seguir. Em alguns, nao ha a especifica~ao se a ilustra~ao
e urn
respondente ou urn operante, e is so foi feito propositalmente para que voce possa
decidir de qual se trata (Tabela 5.3).
Intera~ao entre operante e respondente
Vimos em unidades anteriores o comportamento respondente. Virnos tambem
que alguns estimulos podem eliciar respostas agradaveis e que outros podem
eliciar respostas desagradaveis; que alguns estimulos pod em eliciar emo~6es (co-
ELA 5.3 EXEMPLOS DE COMPORTAMENTOS RESPONDENTES E OPERANTES
Exemplo
Sentir medo de altura
Usar guarda-chuva quando estiver chovendo
Tomar aspirina quando se tern dor de cabe~a
Ficar "vermelho" ao falar em publico
Ap6s um acidente, ter medo de dirigir urn carro
Ap6s um acidente, evitar andar de carro
lr ao dentista quando se tern dor de dente
Sentir raiva ao ser ofendido
Sentir medo ao ouvir o barulho dos instrumentos usados
pelo dentista
Sentir urn "friozinho na barriga" ao ver o amor de sua vida
Arrumar-se e ficar bonito para encontrar o amor de sua vida
Lacrimejar quando entra um cisco no seu olho
Chorar para evitar levar uma bronca do seu pai
Respondente
X
X
X
X
X
Operante
X
X
X
mo medo e raiva) e outros podem eliciar excitac;ao sexual, entre outras respostas.
A separac;ao entre comportamento respondente e comportamento operante e mera-
mente didatica. Para compreender o comportamento como urn todo, e preciso,
muitas vezes, entender como se da a interac;ao entre o respondente eo operante.
• Ap6s urn acidente, ter medo de dirigir urn carro (respondente )
• Ap6s urn acidente, evitar andar de carro ( operante)
Ajunc;ao das duas descric;6es de comportamentos citadas e urn tipo de exemplo
de como se da a interac;ao operante-respondente e de como essa interac;ao pode,
as vezes, constituir-se em urn problema na vida das pessoas:
1. Antes do acidente, o individuo nao tinha medo de dirigir carros.
2. Dirigir urn carro, portanto, era urn estimulo neutro para a resposta de
medo.
3. Por que o individuo passa a ter medo de dirigir? Em outras palavras,
como dirigir urn carro passa a ser urn estimulo condicionado para a
resposta de medo?
4. Atraves de condicionamento pavloviano: emparelhamento do estimulo
neutro para esta resposta - dirigir um carro - com estimulos incondicio-
Moreira & Medeiros
nados para a resposta de medo: dor, impacto, barulho altos, entre outros,
presentes no momento do acidente.
5. Ap6s urn acidente, ter medo de dirigir urn carro (respondente).
6. 0 medo (ou todas as sensa<_;6es que o caracterizam) sao estfmulos aversi-
vos: sempre que o individuo puder, ele ira emitir comportamentos de
esquiva ( ou fuga) que evitem o contato com os estimulos aversivos;
7. Ap6s urn acidente, evitar an dar de carro ( operante).
8. Nao dirigir urn carro pode ser urn transtorno enorme na vida de alguem.
Como perder esse medo?
9. Perder o medo significa que deve haver extin~ao respondente, ou seja,
estfmulo condicionado deve perder a fun<_;ii.o de eliciar a resposta de medo.
10. 0 que deve acontecer para que haja a extin<_;ao respondente?
ll. 0 individuo deve ser exposto ao estfmulo condicionado para a resposta
de medo sem a presen<_;a dos estimulos aos quais foi pre,viamente empare-
lhado, ou seja, o individuo deve dirigir o carro de uma forma segura (livre
de barulhos, dor, impactos, etc.).
12. Mas a resposta de medo e tambem urn estfmulo aversivo, eo individuo
evitara entrar em contato com estimulos que a eliciem, ou seja, evitara
dirigir.
Neste caso, o que poderia ser feito? No caso deste individuo, dirigir urn carro
e urn even to (urn estfmulo extremamente aversivo ), e ele tendera sempre a se
esquivar de tal situa<_;ii.o. No entanto, ver fotos de carros, de pessoas dirigindo,
imaginar-se dirigindo, entrar em urn carro e nao dirigir, dirigir em locais desertos
e dirigir em baixa velocidade talvez sejam estfmulos que gerem menos medo
(menos aversivos ); portanto, tenham menor probabilidade de evocar urn compor-
tamento de esquiva. Logo, poderiamos expor o individuo gradualmente a esses
estimulos ate que ele voltasse a dirigir tranqiiilamente seu carro. Acabamos de
utilizar a tecnica conhecida como dessensibiliza<_;ii.o sistematica.
Urn outro medo, muito com urn na maioria das pessoas, eo de falar em publico.
Parece 16gico concluir que nao se trata de urn reflexo ina to (falar em publico -+
medo ). Se fosse ina to, seria bastante complicado perde-lo. Muito provavelmente,
a maioria das pessoas tern medo de falar em publico porque passou por situa<_;6es
aversivas ao ter que se expressar verbalmente em publico. Como a resposta de
medo e tambem urn estimulo bastante aversivo, tendemos a fugir ou a evitar,
sempre que podemos, tais situa<_;6es. Por esse motivo, podemos passar longos
anos de nos sa vida com medo, pois, sem exposi<_;ao ao estfmulo condicionado ( o
falar em publico) nao ha extin<_;ao desse reflexo aprendido.
E fundamental sabermos distinguir o comportamento operante do comporta-
mento respondente, tendo em vista que cada urn tern formas diferentes de ser
trabalhado. Amaneira como cada urn e aprendido e, por sua vez, extinto, diferem
uma da outra. Mais ainda, alem de saber distingui-los, no momento de realizar
interven<_;6es, e necessaria saber como eles interagem. S6 assim e possfvel fazer
analises adequadas dos comportamentos dos individuos e, assim, planejar inter-
ven<_;6es eficazes.
Primeira revisao do conteudo
Principais conceitos revistos
Reflexos inatos (incondicionados) - Capitulo 1
Repert6rio comportamental
Reflexo
Estimulo
Resposta
Organismo
Ambiente
Intensidade do estimulo
Magnitude da resposta
Eliciar
Limiar
Reflexos condicionados: condicionamento pavloviano - Capitulo 2
Hist6ria filogenetica
Ivan Pavlov
Condicionamento pavloviano
Emparelhamento
Reflexo condicionado
Reflexo incondicionado
Estimulo incondicionado (US)
Estimulo condicionado (CS)
Estimulo neutro (NS)
Resposta incondicionada (UR)
Resposta condicionada (CR)
Comportamento respondente
Extin~ao respondente
Recupera~ao espontanea da resposta
Respostas emocionais
Respostas emocionais condicionadas
John Watson
Generaliza~ao respondente
Contracondicionamento
Dessensibiliza~ao sistematica
Aprendizagem pelas conseqiiencias: o refor~o - Capitulo 3
Comportamento Operante
B. F. Skinner
Conseqi.i encia
Refor~o
Refor~o continuo (CRF)
E timulo refor~ador
Refon;ar
Contingencia de refon;o
Freqi.iencia e probabilidade
Topografia da resposta
Extin<;ao operante
Manipula<;ao de variaveis
Resistencia a extin<;ao
Custo da resposta
Recupera<;ao espontanea
Aproxima<;6es sucessivas
Refor<;o diferencial
Modelagem
Frequencia simples
Frequencia acumulada
Priva<;ao
Sacia<;ao
Moreira & Medeiros
Aprendizagem pelas conseqiiencias: o controle aversivo - Capitulo 4
Controle aversivo
Puni<;ao
Puni<;ao positiva
Puni<;ao negativa
Estimulo punitivo
Estimulo aversivo
Estimulo punidor positivo
Estimulo punidor negativo
Refor<;o positivo
Refor<;o negativo
Estimulo refor<;ador positivo
Estimulo refor<;ador negativo
Fuga
Esquiva