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1 Síntese de dois textos sobre a Psicologia Social na Alemanha e na França (Farr, 2001; Álvaro e Garrido, 2007) GRUPO VADEMECUM Aline Dávila Semencio RA 426202 Álvaro Macedo da Silva RA 510343 Beatriz Ribeiro Astolphi RA 507318 Luiza Gordo RA 507474 Mariana Macca RA 507393 Natália Araújo RA 510335 Ricardo Jacomeli RA 507547 Os dois textos pretendem reconstruir a história da Psicologia Social demonstrando o pluralismo teórico e epistemológico e metodológico da disciplina, passando pela história da constituição da própria Psicologia e da Sociologia como disciplinas independentes no mundo acadêmico e científico. Em 1809, houve um marco no pensamento científico europeu com a criação da universidade moderna por Humbolt em Berlim, Alemanha, trazendo com ela a pesquisa, a Wissenschaft. Esta se dividia em Naturwissenschaft e Geisteswissenschaft – as ciências naturais e as ciências humanas e sociais. As ciências naturais, devido ao seu magnífico desenvolvimento nos séculos XVII e XVIII, eram dotadas de prestígio por se acomodarem perfeitamente aos preceitos do Positivismo, segundo o qual: só aquilo que é diretamente acessível por meio da experiência sensorial pode ser objeto de conhecimento científico; a linguagem científica deve fazer referência a objetos externos, individuais e particulares e não a entidades abstratas e universais; não há valor cognitivo a julgamentos de valor e afirmações normativas; só há um único método do conhecimento científico que todas as ciências devem seguir. As ciências como a Psicologia e a Sociologia, como ciências humanas e sociais, para serem reconhecidas e valorizadas academicamente, deveriam obedecer aos padrões do Positivismo, ou estariam fadadas a serem mera “metafísica” e não ciência. Alguns importantes estudiosos dessa época contribuíram para a afirmação desses campos de conhecimento no meio científico, tentando encaixar a Psicologia e a Sociologia no método positivista. 2 A emergência da psicologia como ciência natural e social na Alemanha Consolidação da psicologia experimental ● Na segunda metade do século XIX, surge a psicologia como disciplina específica na Alemanha, tendo Wilhelm Wundt como seu fundador. Apesar de seu destaque no surgimento dessa fase da psicologia, como ciência experimental, Wundt também escreveu dez volumes sobre psicologia social. Esse fato é pouco conhecido, porque ele fez questão de separar bem essas duas vertentes. ● O cenário de fundo da psicologia de Wundt foi o nascimento de uma universidade moderna na Alemanha (Universidade de Berlim), onde o elemento novo era a pesquisa, ou Wissenschaft. E o status dessa nova universidade estava muito alto, atraindo milhares de doutorandos dos Estados Unidos, a ponto do ensino do alemão ser obrigatório nas universidades americanas. A atração que as universidades alemãs possuíam não era apenas pela possibilidade da pósgraduação, mas principalmente pelos novos campos que se abriam nelas, estando entre eles a psicologia. ● Com a publicação de seu livro "History of Experimental Psychology"(1929), Boring busca evidenciar que a Psicologia já havia se estabelecido de maneira independente da filosofia e como uma ciência experimental; na época, em Harvard, a Psicologia ainda era integrada à Filosofia. ● Outro pano de fundo desse período histórico para a ciência é a distinção entre Naturwissenshaft e Geiteswissenschaft a grosso modo, entre as Ciências Naturais e as Ciências Humanas e Sociais, respectivamente; esse foi um dos motivos pelos quais Wundt separou sua Psicologia Experimental de sua Psicologia Social. ● A geração de pesquisadores que surgiu após os trabalhos de Wundt mostrouse insatisfeita com suas propostas para a Psicologia; entre eles estavam Külpe e Ebbinghaus, que não se contentavam com a limitação da Psicologia reservada por Wundt às Ciências Naturais e a sua distinção de parte da Psicologia como pertencente às Ciências Humanas e Sociais. ● O Behaviorismo escapou deste impasse ao proclamar que a psicologia deveria ser a ciência do comportamento; o comportamento era observável, verificável e reproduzível, tornando as diferenças individuais acessíveis à experimentação. ● Era uma resposta às limitações de uma ciência baseada na introspecção: 1) os relatos introspectivos, por serem produtos de acontecimentos privados, o acesso se dava somente à pessoa que o apresentava, não havendo possibilidades de comprovar sua veracidade; 2) a condição de pesquisador e de sujeito se confundiam nos experimentos com instropecção. Em muitas pesquisas o próprio sujeito de pesquisa era também, por momentos, o aplicador/apresentador de estímulos, levando assim a baixo controle das variáveis e 3) ausência de procedimentos através dos quais se alcançasse uma 3 resolução confiável para dados conflitivos que provinham de outros laboratórios. ● Na opinião do autor, o fator que mais contribuiu para o esquecimento da Piscologia Social de Wundt foi a distinção entre a Ciência Natural e a Ciência do Espírito; para as gerações seguintes, o que importava era considerar a Psicologia como uma Ciência Natural. Consolidação da psicologia social ● Para Wundt , sua própria ciência experimental era um projeto limitado, tendo em vista a impossibilidade de se estudarem processos mentais mais complexos através da introspecção. A seu ver, muitos dos fenômenos mentais eram coletivos, ou seja, criados por uma comunidade humana, e portanto, não poderiam ser explicados em termos de uma consciência individual. Surge assim, a necessidade de uma Psicologia Social. ● A psicologia continuava a ser a ciência da mente, porém, na psicologia social analisavase a mente em suas manifestações externas, ou seja, em termos da cultura. Os principais objetos de estudo da Psicologia social de Wundt eram: linguagem, religião, costumes, mitos, magia e fenômenos semelhantes. ● A teoria da evolução de Darwin foi uma importante influência na construção da Psicologia dos Povos de Wundt. Utilizandose de dados coletados por antropólogos e linguistas, Wundt assemelhase a Darwin ao traçar a evolução da mente humana. ● Entre 1900 e 1920, Wundt publicou seus dez volumes de sua Psicologia dos Povos (Völkerwissenschaft). Tais volumes e o pensamento ali representado foram obscurecidos com o tempo, e permanecem em grande parte fora do alcance dos historiadores da psicologia em sua verdadeira configuração. ● A delimitação de uma Psicologia Social ainda mantém diferenças de enfoque: a Psicologia Social Sociológica sustenta a análise psicológica a partir de uma perspectiva social, enquanto a Psicologia Social Psicológica restringe a análise psicológica em seus aspectos sociais aos moldes das Ciências Naturais. ● William James era outro que julgava a introspecção como inadequada para estudar a mente; seu interesse maior era no fluxo da consciência. 4 O desenvolvimento das ciências sociais na França O inicio do positivismo e a tese da unidade da ciência Auguste Comte: ● Auguste Comte não foi o precursor das ideias do positivismo, mas foi o primeiro a utilizar o termo em sua obra “Curso de filosofia positiva”. ● Analisou as ciências historicamente e, chegou à conclusão de que todas passam por três estágios. São eles: o estágio teológico, o estágio metafísico e o estágio positivo, sendo que todas as ciências, para serem consideradas como tal, devem evoluir para o estágio positivo. No primeiro estágio a explicação da realidade advém de agentes sobrenaturais; no segundo estágio, a explicação da realidade passa de agentes sobrenaturais para forças abstratas; e o último estágio explica a realidade através de experiências observáveis, se limitando a determinar as leis da natureza. ● Foi o primeiro a utilizar o termo “sociologia”, pois acreditava que o mundo social, assim como o físico, se regia por leis invariáveis, fazendo da sociologia uma ciência positiva que deveria buscar as leis que regem o mundo social. A sociologia seria o estudo científico da sociedade. Por isso, recomendou métodos de pesquisa parecidos com os que se utilizaria com o mundo físico, tais como a observação, a experimentação e a comparação, sendo esta, especialmente, uma análise comparativa histórica. ● Pensou nas ciências ordenadas hierarquicamente, onde estariam elas fundamentadas, imediatamente, no nível da anterior. A sociologia estaria elencada em última instância, portanto, a sociologia é a forma mais complexa de conhecimento científico, pois tem que estar no mesmo nível de todas as ciências anteriores. Mas é também uma concepção reducionista do estudo da sociedade, pois para explicar os fenômenos sociais, deveria recorrer à leis recorrentes de outras ciências. ● Não incluiu a psicologia em sua classificação, pois considerava a psicologia da época muito metafísica, portanto não ciência, já que não estava no estágio positivo. Além disso, acreditava que o estudo do indivíduo deveria ser realizado pela fisiologia e o indivíduo social deveria ser estudado pela sociologia. ● Suas ideias não levaram a uma construção de filosofia positiva, mas foram base do positivismo, especialmente do positivismo lógico. Muitas correntes diferentes apareceram e se divergiam em muitos aspectos, mas em quatro elas se assemelhavam. Eram esses: o princípio do fenomenalismo, segundo o qual só aquilo que é diretamente acessível por meio da experiência sensorial pode ser objeto de conhecimento científico; o princípio do nominalismo, segundo o qual a linguagem científica deve fazer referência a objetos externos, individuais e particulares, e não a entidades abstratas e universais; o princípio que nega valor cognitivo a julgamentos de valor e afirmações normativas; e o 5 princípio da unidade da ciência, segundo o qual existe um único método de conhecimento científico e todas as ciências devem seguilo. A sociologia como ciência: Émile Durkheim ● Foi um dos responsáveis por tornar a sociologia uma matéria acadêmica, sendo aceita como ciência social. ● Falava que a sociedade é mais do que a soma de suas partes. Ele não estava focado no que motivava as ações individuais das pessoas (individualismo), mas no estudo dos “fatos sociais”, termo criado por ele mesmo que descreve os fenômenos que não são limitados apenas a uma pessoa. ● Os fatos sociais tem uma existência independente e mais objetiva do que as ações individuais. Tal conceito seria o objeto de estudo da sociologia como ciência. Método: Busca a objetividade e trata os fatos sociais como coisas. ● Do interesse por objetivar os fatos sociais, surge sua concepção da sociedade como entidade independente dos indivíduos que a constituem. ● Para explicar as relações entre os indivíduos e as sociedades nas quais eles estão incutidos surge o conceito de: ● CONSCIENCIA COLETIVA: Determina a consciência individual e pode ser explicada pelo mecanismo de coerção, o qual vai, por sua vez, determinar o comportamento do individuo. ● DURKHEIM E A PSICOLOGIA SOCIAL: Texto importante: ”Las formas elementares de la vida religiosa”. Surgimento do conceito consciência coletiva. (Envolve o estudo da religião, mitos, filosofia, ciência e etc. que não são nem um fenômeno individual nem o resultado de uma mente individual). O estudo da imitação: Gabriel Tarde ● Gabriel Tarde é recordado, sobretudo pela polêmica que o opôs a Émile Durkheim. Ao contrário deste, Tarde enfatiza seus pensamentos, na ação social e nos indivíduos e não o poder de coerção exterior que lhes se impõe. Insere, assim, um enfoque da psicologia que nega a autenticidade do social, razão pela qual é visto, não como um sociólogo, mas como um percursor da psicologia social. ● Tarde censura em Durkheim seu pressuposto de tomar como dado o que é preciso explicar, a similaridade entre os indivíduos sociais. Combate, assim, a visão de uma realidade sui generis e exterior aos indivíduos sociais, e coloca como alternativa a dimensão teórica de que a sociedade é constituída pelas interações simples e pequenas invenções de homens comuns, que interferem entre correntes imitativas. ● A seu ver só existia um nível de realidade, o do individuo associado e os efeitos da sociedade sobre suas consciências. A subjetividade e as emoções, deste modo, são 6 regatadas como elementos presentes e significantes dos indivíduos sociais e das suas interrelações com outros sujeitos sociais confirmando o estabelecimento de uma vida social limitada às interações individuais. ● No campo da filosofia social, desenvolveu uma teoria segundo a qual o processo da historia social corresponde a um ciclo de inovação e imitação. Para este autor, os hábitos existem porque as invenções se sucedem e se repetem por imitação e não por pressão da coerção como acreditava Durkheim. Tudo o que o que é criado é na verdade produto da imitação para Tarde. ● Grande parte do trabalho de Tarde foi a formulação de leis gerais que explicassem o mecanismo de funcionamento da imitação. Três leis foram desenvolvidas: 1) lei do descender, segundo a qual as tendências no comportamento são iniciadas por pessoas de um status mais importante capaz de influenciar os que pertencem a um patamar mais rebaixado; 2) lei da progressão geométrica, segundo a qual a difusão das ideias de uma população costuma comer lentamente para depois crescer bem rápido; 3) lei do próprio antes que o estranho a qual culmina na imitação da cultura nativa antes da estrangeira. ● Realizandose um paralelo com as ideias de Tarde percebemos que atualmente muitos comportamentos são adquiridos e reproduzidos via imitação, principalmente das ideias elaboradas pelos meios de comunicação (televisão, revistas, etc.). Essa imitação delirante, levada ao extremo, provoca um efeito boladeneve e funciona como uma espécie de autointoxicação: quanto mais os meios de comunicação falam de um assunto, mais o coletivo se persuade de que este é indispensável e central. Ex.: padrão de beleza feminina. Muitas mulheres atualmente gastam fortunas em salões de estética e consultas médicas para adequaremse aos padrões estipulados, numa postura altamente imitativa. A psicologia das massas: Gustave Le Bon ● Autor de diversos livros de psicologia e divulgações científicas, é reconhecido por ter inspirado Freud em “Psicologia das massas e análise do eu”. A alma coletiva é um conceito analisado por ambos os pensadores o qual alude sobre o comportamento das massas contidas nas sociedades. ● Sua ideia mais importante diz respeito à diluição das diferenças individuais que se produz entre os membros e que ele chamou de “multidão psicológica”. O grande achado de Le Bon referese ao caráter insciente das motivações das massas, que pensam por imagens e agem guiadas pelo poder hipnótico de certo líderes. ● Os líderes sevem como verdadeiros guias que fazem com que as multidões se portem de maneira emotiva e não racional, considerando o prestígio que o líder transporta. Em uma multidão, surgem processos psicológicos que não estão presentes no indivíduo 7 isolado em decorrência da união de indivíduos. Em todas as esferas sociais, da mais baixa à mais alta, podemos observar a influência de líderes. ● Ainda sobre o prestígio, podemos pensar que ele se deve a um sentimento de admiração e medo. Todos nós consideramos, indiscutivelmente, o prestígio de Alexandre o Grande, Júlio Cesar, Jesus cristo, e até divindades monstruosas como Hitler que indubitavelmente foram líderes fortes e inteligentes no tocante ao controle das massas. ● Le Bon, no mais, possui uma concepção negativa das massas. Uma multidão é capaz de transformar qualquer ideia em atos de barbaridade. Atualmente, vimos o surgimento de diversas revoluções de jovens inconformados com a situação econômica e social no Brasil realizando atos de vandalismo que muito provavelmente não seriam realizados se as pessoas estivessem sozinhas. Assim diversos monumentos históricos e estabelecimentos comerciais foram negativamente afetados pelos atos violentos dos jovens. ● A análise de Le Bon é a de que quando as pessoas se encontram envolvidas nas excitações coletivas geradas pelas massas, ocorre a perda momentânea de algumas faculdades de raciocínio que são observadas na vida cotidiana. Sobre a influência das massas a pessoa retorna às formas mais primitivas de atitudes. ● A ideia de que as pessoas, os indivíduos de uma sociedade, perdem temporariamente a racionalidade quando incutidas nas massas pode ser explicada pelo CONTÁGIO. Tal termo referese à disseminação intensa de ideias, sentimentos, emoções e crenças nas multidões unidas. “Dizeme com quem andas e te direis quem és”. O contato e a convivência entre as pessoas fazem com que apareça uma postura de influências recíprocas e muito fortes capazes de aniquilarem sentimentos pessoais. No mais, vale enfatizar que as crenças e opiniões das multidões são transmitidas pela emoção – contagiante e não pela razão. Referências Farr, R. A emergência da psicologia como ciência natural e social na Alemanha. In: Farr, R. (2001). As raízes da psicologia social moderna (cap. 2). Petrópolis, RJ: Vozes, 2001. Álvaro, J. L.; Garrido, A. As origens do pensamento psicossociológico na segunda metade do século XIX. In: Álvaro, J. L.; Garrido, A. (2007). Psicologia social perspectivas psicológicas e sociológicas (cap. 1). 2007.