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REY - Parasitologia - 1. Conceitos gerais (22)

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Enviado por Vinícius Leal em

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PARASITOLOGIA MÉDICA
Complemento multimídia dos livros “Parasitologia” e “Bases da Parasitologia”. Para a terminologia, consultar “Dicionário de termos técnicos de Medicina e Saúde”, de
Luís Rey
Fundação Oswaldo Cruz
Instituto Oswaldo Cruz
Departamento de Medicina Tropical
1. CONCEITOS GERAIS
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Conceito de parasitismo
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Interação ecológica entre indivíduos de espécies diferentes, em que os parceiros (hospedeiro e parasito) estabelecem entre si relações íntimas e duradouras com certo grau de dependência metabólica.
Geralmente o hospedeiro proporciona ao parasito todos ou quase todos os nutrientes e as condições fisiológicas requeridas por este.
Um processo de adaptação recíproca, de compati-bilidade ou de baixa virulência do parasitismo, asseguram a sobrevivência de ambas as espécies.
O parasito só poderá seguir existindo se não destruir toda a população de seus hospedeiros ou não impedir a reprodução destes; caso contrário a espécie parasitária desapareceria.
Segundo Dan Brooks, taxonomista da Univ. de Toronto, mais de metade das espécies do planeta são parasitas.
Que é parasitismo ?
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Especificidade parasitária
Segundo as necessidades particulares de cada parasito (sejam elas de ordem metabólica ou de outra natureza), ele exigirá apenas determinada espécie de hospedeiro ou um grupo de diferentes espécies ou, ainda, grande variedade e gêneros distintos.
Se o parasito exigir apenas uma espécie de hospedeiro para completar seu ciclo biológico, será dito monoxeno e, se a espécie for sempre a mesma, será considerado estenoxeno, como o Ascaris lumbricoides que só parasita a espécie humana.
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São aqueles que necessitam passar obrigatoriamente por dois ou mais hospedeiros. 
Um deles é o hospedeiro definitivo e os demais são considerados hospedeiros intermediários, para que os parasitos possam completar seu ciclo biológico. Assim, a tênia do porco (Taenia solium) e a do peixe (Diphyllobothrium latum) só parasitam o homem na fase adulta.
Parasitos heteroxenos
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Parasitismo e patogenicidade
A patogenicidade não é caráter obrigatório dos parasitos, que podem ser inofensivos, como muitas amebas e flagelados do intestino humano, que aí habitam sem causar danos.
Entretanto, numerosas doenças são causadas por determinados parasitos normalmente patogênicos ou por outros, ditos parasitos oportunistas, que só causam danos ao organismo em condições especiais, como, p. ex., nos indivíduos com imunodeficiência de qualquer natureza.
As lesões produzidas dependem da espécie de parasito, de sua localização no organismo humano e de como este responde a sua presença.
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Relações parasito-hospedeiro
Os parasitos que causam distúrbios no organismo po-dem fazê-lo mecanicamente, ao crescerem e comprimirem as estruturas em torno. 
Ou obstruir ductos, canais ou vasos, causando sintoma-tologias as mais variadas, que serão analisadas adiante em cada caso.
Podem exercer ação tóxica, devido aos produtos de seu metabolismo ou de algum simbionte associado ao parasito.
Mas, com freqüência, provocam uma resposta do sistema imunológico com diferentes resultados:
a) destruição do próprio parasito e cura da infecção dentro de certo prazo;
b) limitação da população parasitária, assegurando equilíbrio nas relações parasito-hospedeiro;
c) causando respostas alérgicas ou inflamatórias que levam seja à necrose do tecido em torno, seja a uma fibrose difusa ou à formação de granulomas. 
Fenômenos esses que alteram a fisiologia do hospedeiro em grau menor ou maior (doença) ou deter-minam sua morte em curto ou em longo prazo.
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O sistema imunológico
A partir de células fundamentais pluripotentes, de sua multiplicação e posterior diferenciação, formam-se linfócitos T e B, monócitos, basó-filos, eosinófilos e neutrófilos, que participam do sistema imunológico. 
Eles produzem anticorpos contra os antígenos de parasitos, desen-volvem a fagocitose de protozoários ou outros corpos estranhos e secretam diversas substâncias ativas que desencadeiam reação inflamatória nociva aos parasitos.
A esse sistema devem-se alguns dos principais mecanismos com que o organismo hospedeiro resiste ao parasitismo.
Mas, por vezes, a reação imune pode tornar-se desfavorável ao hospedeiro e vir a ser a verdadeira causa da doença, como na auto-imunidade, na produção de acentua-da fibrose intestinal, hepática, pulmonar etc.
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Outros mecanismos protetores
A pele, as mucosas, as conjuntivas e suas secreções podem constituir barreiras à penetração de parasitos. 
Mas, em alguns casos, che-gam a ser as portas de entrada, como na ancilostomíase e na esquistossomíase.
A temperatura do corpo, o pH, a tensão do O2 etc. podem não ser adequados a determi-nado parasito, que não se instalará aí. 
Igualmente a falta de algum nutriente essencial a ele.
A ativação do sistema complemento pelo parasitismo chega a ser letal para alguns parasitos.
Também, a falta de meca-nismos para a eclosão dos cistos e ovos; ou a falta de receptores celulares para a aderência e invasão dos tecidos do hospedeiro.
A molécula de óxido nítrico (NO) produzida a partir da arginina, por uma arginina sintase, em macrófagos e outras células estimuladas, tem efeito microbicida e tumoricida.
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Fatores que condicionam a saúde ou a doença
A resistência ou a tolerância aos parasi-tos varia segundo uma gama contínua. 
Ela depende da influência que os vários mecanismos fisiológicos possam estar exercendo em cada caso.
O esquema mostra os resultados favoráveis à saúde, assim como os níveis de patogenicida-de que podem contribuir para causar doença.
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Foco elementar de uma parasitose
Os parasitos são encontra-dos, de forma persistente, apenas onde se reúnem condições favoráveis para que se feche seu ciclo biológico e sua transmissão. 
Esses lugares podem ser muito limitados, como, p. ex., o peridomicílio, no caso da ascaríase, ou a casa de taipa, para a tripanosso-míase americana (ou doença de Chagas).
Tais lugares constituem os focos elementares de deter-minada endemia.
 
Habitação rústica infestada de insetos triatomíneos e habitada por pacientes com a doença de Chagas.
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Foco natural de uma parasitose
O foco natural de uma parasitose é o conjunto de seus focos elementares. 
Área endêmica é a re-gião onde uma parasitose ocorre permanentemente, como a área de malária na Amazônia.
O controle das endemias exige, em geral, conheci-mento detalhado das condi-ções locais, em cada foco, e dos fatores que mantêm sua condição de foco endê-mico, inclusive os hábitos da população e o comporta-mento dos indivíduos que aí vivem.
Sem risco
Baixo risco
Médio risco
Alto risco
Áreas endêmicas de malária
no Brasil
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Risco de infecção
É a probabilidade de ocorrer determinada infecção no ambiente ou meio onde circula o agente infeccioso.
Mesmo que vivam no âmbito de um foco natural de certa doença, nem todos os indivíduos adoecem, seja devido a mecanismos protetores naturais e ao desenvolvimento de imunidade, seja devido às condições pessoais relacionadas com fatores sócio- econômicos, culturais ou mesmo comportamentais.
São exemplos: as condições de moradia, a qualidade da água utilizada e o saneamento, a alimentação e o modo de preparo dos alimentos, os hábitos higiênicos, o uso de calçado, as formas de lazer etc.
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Risco de infecção
Populações que não dispõem de água potável correm alto risco de infecções (Foto OMS).
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Educação e saúde
Algumas das principais condições predisponentes para muitas doenças evitáveis decorrem do desconhecimento muito freqüente dos fatos básicos relacionados com o corpo humano e com seu funcionamento. 
Assim como a ignorância sobre os principais fatores de risco para a saúde presentes no ambiente e sobre as maneiras de evitá-los. 
Por isso, as parasitoses, como outras doenças, são mais freqüentes entre populações com baixo
nível cultural. 
Donde a importância da educação e, em particular, da educação para a saúde, que tende a reduzir esses riscos e deveria ser prioritária no currículo escolar.
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Avaliação de risco
A avaliação dos riscos compreende:
Identificação do risco, isto é, o reconhecimento do possível agente parasitário responsável por determinado problema de saúde, sua ação, a população-alvo e as condições de exposição a esse risco.
Caracterização do risco: descrição dos efeitos sobre a saúde e a freqüência com que ocorrem tais efeitos.
Avaliação da exposição e sua quantificação, isto é, a probabilidade estatística de ocorrer determinada infecção parasitária em uma dada população ou grupo na área de risco.
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Controle de risco
O controle do risco de infecção leva em consideração tudo que foi dito para o planejamento das ações a desenvolver com o objetivo de proteger a saúde da comunidade ou do indivíduo. 
Mas considera também a maneira como o risco é por eles percebido e interpretado.
Em cada caso, além das ações objetivas (como inquéritos epidemiológicos, saneamento, desinsetização, medicação etc.), é necessário promover a compreensão, a aceitação e uma atitude emocional favorável por parte dos habitantes a todas as medidas de controle, inclusive às modificações comportamentais convenientes ou indispen-sáveis. 
Em geral, é necessário começar a agir promovendo essas últimas medidas.
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Causas globais de morte
A OMS mostrou que as principais causas de morte no mundo (1997) eram as doenças infec-ciosas e parasitárias, responsáveis por 33% de todos os óbitos.
Vinham, em 2º lugar, as doenças do sistema circulatório (29%) e, em 3º, os cânceres (12%).
As causas peri-natais correspon-diam a mais 7% dos óbitos e as respiratórias, a 6% de mortes.
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Mortalidade segundo o desenvolvimento
Os óbitos por causas infecciosas e parasitárias (segundo a OMS) baixou, nos países desenvolvidos, de 5% em 1985 para 1% em 1997. 
No 3º Mundo, passou de 45% para 43% no mesmo período. 
Mas, como a população cresceu, também os óbitos aumentaram.
Países 
Em desenvolvimento. Desenvolvidos.
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Principais doenças parasitárias
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	 Casos novos Óbitos 	Prevalência
			 estimada
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Malária .................... 	 300-500 milhões 	1,5-2,7 milhões ...
Tricomoníase ..........	 170 “	 ...	113.000.000
Amebíase ................	 48 “	 70 mil	 ...
Leishmaníases:	
 tegumentares ...... 	 1,5 “	 ...	 9.500.000
 viscerais ..............	 500 mil	 80 “ 	 2.500.000
Tripanossomíases:
 americana ........... 	 300 “ 	 45 “	 18.000.000
 africana ...............	 150 “	 100 “	 400.000
Ascaríase ............... ...	 60 “	250.000.000
Ancilostomíase ......	 ...	 65 “ 	151.000.000
Oncocercíase .........	 ...	 45 “	 17.700.000
Esquistossomíases	 ...	 20 “	200.000.000
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A OMS (1997) estimou ocorrerem no mundo:
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Conclusão
Nos últimos 50 anos, a prevalência das parasitoses pouco ou nada mudou, no 3º Mundo, o que mostra a importância que aí continuam tendo, na atualidade:
– os conhecimentos científicos 
– e as ações a serem desenvolvidas no campo das doenças parasitárias, que afligem grande parte da humanidade e o Brasil, em particular.
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Leituras complementares
ANCELE, T.; HENNEQUIN & PAUGAM, A. – Decision en Parasitologie et Médecine Tropicale. Paris, Vigot, 1994 [338 páginas].
MINISTÉRIO DA SAÚDE, FUNASA – Doenças Infecciosas e Parasitárias. Brasília, MS/FUNASA, 2000 [219 páginas].
PEREIRA, M. G. – Epidemiologia. Teoria e prática. Rio de Janeiro, Guanabara-Koogan, 1995.
REY, L. – Bases da Parasitologia. 2a edição. Rio de Janeiro, Guanabara-Koogan, 2002 [380 páginas]. 
REY, L. – Dicionário de Termos Técnicos de Medicina e Saúde. 2a edição, ilustrada. Rio de Janeiro, Guanabara-Koogan, 2003 [950 páginas].
REY, L. – Parasitologia. 3a edição. Rio de Janeiro, Guanabara-Koogan, 2001 [856 páginas].
ROUQUEIROL, M. Z. & ALMEIDA FILHO, N. – Epidemiologia e Saúde. Rio de Janeiro, Ed. Médica e Científica, 1999. 
VAZ, N.M. & FARIA, A.M.C. – Guia Incompleto de Imunologia. Belo Horizonte, COOPMED Editora, 1993.

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