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REY - Parasitologia - 28. As pulgas (31)

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Enviado por Vinícius Leal em

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PARASITOLOGIA MÉDICA
28. Sifonápteros: as pulgas.
Complemento multimídia dos livros “Parasitologia” e “Bases da Parasitologia”. 
Para a terminologia, consultar o “Dicionário de termos técnicos de Medicina e Saúde”, de
Luís Rey
Fundação Oswaldo Cruz Instituto Oswaldo Cruz Departamento de Medicina Tropical
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SIPHONAPTERA
As pulgas 
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As pulgas 
Insetos sem asas da ordem Siphonaptera e com aparelho bucal de tipo picador-sugador.
O corpo é achatado no senti-do látero-lateral, com os escleritos bem quitinizados e os segmentos (metâmeros) distintos e imbricados.
As pernas estão adaptadas para o salto.
Na fase adulta são hemató-fagos, vivendo sobre o corpo de aves ou mamíferos, seja como parasitos seja como micro-predadores.
Participam na transmissão da peste bubônica e do tifo murino. Elas são hospedeiras de alguns cestóides.
A grande maioria das pulgas são pequenos organismos que medem 1 a 3 mm de compri-mento, sendo os machos um pouco menores que as fê-meas.
A cabeça é uma cápsula quitinosa que além do achata-mento lateral, está dividida por um sulco oblíquo onde se alojam as antenas.
Pulex
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Organização 
das pulgas (1)
O sulco antenal separa, na cabeça, as regiões frontal e genal (f) da região occipital (i).
As antenas (h) são curtas e têm apenas 3 segmentos (escapo, pedicelo e clava).
Um par de olhos simples (g) pode estar presente adiante do sulco antenal.
O conjunto das peças bucais compreende:
- labroepifaringe;
- um par de mandíbulas (b);
- um par de maxilas (d), com os respectivos palpos maxila-res (c);
- hipofaringe; e
- palpos labiais (a) que juntos protegem o conjunto quando em repouso.
Pulga macho, onde se vêem: a, palpo labial; b, mandíbula; c, palpo maxilar; d, maxila; e, ctenídio genal; f, fronte; g, olho; h, antena; i, occipício; j, esternopleura do protórax; k, ctenídio pronotal; l, sutura mesopleural; m, metanoto; n, urotergito do 1o segmento abdominal; o, cerda antepigidi-al; p, pigídio; q, clásper; r, 8o esternito; s, mesoesterno; t, coxa; u, trocânter; v, fêmur; x, tíbia; y, 5 segmentos tarsais; z, garra.
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Organização 
das pulgas (2)
Diversas cerdas implantadas na cabeça servem, com outros detalhes para a sistemática desses insetos.
São importantes, nesse senti-do alguns espinhos muito quiti-nizados e dispostos em fila como os dentes de um pente: são os ctenídios frontal, genal (e) e pronotal (k).
No tórax, cada segmento conserva sua independência, podendo-se distinguir dorsal-mente o pronoto, o mesonoto e o metanoto (m). O pronoto pode trazer um ctenídio (k).
Nas pernas, a coxa e o fêmur são segmentos longos e robus-tos. A tíbia e o tarso vão se a-longando do 1o ao 3o par e ter-minam sempre por 2 garras.
O abdome é formado por 10 segmentos imbricados.
No 7o tergito há um par de cerdas maiores que as outras e ditas cerdas antepigidiais (o), porque, a seguir, encon-tra-se uma placa sensorial eriçada de pêlos - o pigídio ou sensílio (p).
No 10o tergito está o ânus.
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Organização 
das pulgas (3)
Em seguida às peças bucais, o sistema digestório é consti-tuído por:
- faringe (f), onde se inserem os músculos dilatadores que promovem a sucção;
- esôfago (g) por onde o san-gue é impulsionado até o:
- proventrículo (h), que é for-rado de espinhos quitinosos funcionando como um meca-nismo valvular;
- estômago (i), que digere e absorve os produtos nutritivos do sangue;
- o intestino posterior, que no início recebe os tubos excreto-res de Malpighi (q) e, depois, dilata-se para formar a ampola retal k), e se abre no ânus (l).
Sistema digestório e genital feminino: a) glândulas salivares; b) palpos; c) mandíbu-las; d) epifaringe; e) palpos maxilares; f) faringe; g) esôfago; h) proventrículo; i) estômago; j) ovário; k) intestino e ampola retal; l) ânus; m) bolsa copuladora; n) orifí-cio genital; o) vagina; p) espermateca; q) tubos de Malpighi. 
O sistema reprodutor femini-no é formado por ovários (j) ovidutos e vagina (o), que se comunica com a bolsa copu-ladora (m) e a espermateca de paredes quitinizadas, fácil de observar (p).
A terminália dos machos possui pinças (cláspers) para fixação à fêmea.
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Fisiologia e comportamento
As pulgas vivem parte do tempo sobre os animais de onde retiram seu alimento e parte nos ninhos e lugares de permanência deles.
Aí põem seus ovos e desen-volvem-se as larvas e pupas.
Xenopsylla cheopis põe 2 a 6 ovos por vez e, durante toda sua vida, 300 a 400. Eles eclo-dem em cerca de 16 dias.
As larvas lembram as de moscas, movem-se facilmente e se nutrem dos detritos orgâ-nicos que encontra. Após 2 mudas pupam e, com mais 1-2 semanas, nascem os adultos.
Fêmeas e machos adultos ali-mentam-se exclusivamente de sangue, mas suportam 1 a 2 semanas de jejum. 
Há espécies que resistem mais tempo. 
Cada uma tem seu hospe-deiro preferido, mas na falta dele buscam qualquer outro.
Alimentadas, as pulgas do rato (Xenopsylla) vivem 100 dias, as do cão (Ctenocepha-lides) 200 dias e a das casas (Pulex irritans) mais de 500 dias. 
Cada refeição dura 15 a 20 minutos. Em geral, picam 2 a 3 vezes ao dia.
Larva e pupa de uma pulga
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Principais espécies de pulgas
De mais de 2.000 espécies existen-tes, apenas algumas são de interesse médico. No domicílio humano são:
- A pulga das casas, Pulex irritans (B).
- As pulgas Xenopsylla cheopis (A), Nosopsyllus fasciatus (C) e Leptopsylla segnis (D), encontradas em ratos e ca-mundongos.
- As pulgas Ctenocephalides canis (E) e C. felis (F) são encontradas indistinta-mente em cães e gatos.
Nas zonas rurais, a pulga do porco (Tunga penetrans) vive no peridomicílio.
Pulex e Xenopsylla não possuem cte-nídios. Nosopsyllus possui ctenídio pro-notal. Leptopsylla possui 3 (pronotal, genal e um pequeno, frontal). As Cteno-cephalides, apresentam um pronotal e outro genal.
Cabeça e protórax da pulgas encontradas nos domicílios; c, cerda anteocular; s, sutura mesopleural; v, disposição em V das cerdas occipitais.
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Pulex irritans
A pulga do homem ou das casas – Pulex irritans – é cosmopolita. 
Vive no domicílio humano, onde se encontra bem adap-tada e chega a ser abundante, tendo preferência pelo sangue humano. 
Pode alimentar-se no cão e, mais raramente, em outros animais. Ela só procura um hospedeiro para alimentar-se.
A saliva que injeta produz irritação local, com halo erite-matoso e forte prurido, poden-do sensibilizar os pacientes e perturbar-lhes o sono.
Mas, em geral, essa pulga não transmite doenças.
Como vive na poeira do chão e aí põe seus ovos e cria suas larvas e pupas, o contro-le é feito com inseticidas e pela remoção da poeira (de preferência com aspirador).
Pulex irritans
Notar a ausência de ctenídios e de uma sutura na mesopleura (seta).
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As pulgas de cães e gatos
No gênero Ctenocephalides encon-tram-se 2 espécies que vivem indistin-tamente sobre cães e gatos:
1. Ctenocephalides canis.
2. Ctenocephalides felis.
Onde existem esses animais domésti-cos, elas chegam a ser mais abundan-tes no domicílio que a Pulex irritans.
A primeira espécie é mais encontrada onde a temperatura e a umidade são mais elevadas (como, p. ex., Manaus ou Salvador).
A segunda predomina em climas sub-tropicais, como no Sudeste do Brasil. 
Ctenocephalides canis
Ctenocephalides felis
C. canis tem a região frontal bastante encurvada e o 1º dente do ctenídio genal bem menor que o 2º. 
C. felis tem a cabeça mais alongada, com perfil menos ar-queado, e os dois primeiros dentes do ctenídio genal são quase iguais.
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Tunga penetrans e tungíase
Popularmente é a “pulga-da- areia”, a “pulga-do-porco” ou o “bicho-do-pé”, cuja fêmea, de-pois de fecundada, parasita a pele do porco ou, eventualmen-te, a das pessoas.
É natural da América tropical mas propagou-se para a África.
É a menor das pulgas (1 mm de comprimento) e tem a região frontal com uma ponta aguda que lhe permite furar a pele e aí introduzir-se. 
As mandíbulas são longas, largas e serrilhadas.
Os 3 segmentos do tórax são muito curtos. Não há ctenídios.
Os adultos, machos e fê-meas virgens, vivem no solo arenoso, quente e seco dos chiqueiros e imediações.
Alimentam-se de preferên-cia sobre porcos, mas su-gam também outros animais, inclusive o homem. 
Quando a fêmea fica grávi-da penetra na pele do porco ou do homem.
Tunga penetrans ♀
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Tunga penetrans e tungíase
Na pele fica completamente enterrada, deixando apenas a extremidade posterior expos-ta ao ar, para respirar.
Enquanto aí permanece, ali-mentado-se de sangue, seu abdome vai sendo progressi-vamente distendido pela mas-sa de ovos que acumula, até alcançar o tamanho de uma ervilha ao fim de uma semana.
Uns 100 ovos são, então, expelidos e a fêmea, agora murcha, é expulsa pela rea-ção inflamatória desenvolvi-da em torno dela.
No solo, os ovos eclodem e produzem larvas que se ali-mentam de detritos e após 2 ecdises passam a pupas. Estas darão insetos adultos ao fim de 17 dias ou mais.
A fêmea de Tunga cheia de ovos. 
Macho de Tunga penetrans e a fêmea no ato de penetrar na pele.
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Tunga penetrans e tungíase
As localizações mais freqüentes das tungíases são: a planta dos pés, os artelhos, os espaços entre eles e sob as unhas. 
Cada lesão assemelha-se a um furúnculo e o número delas varia de uma única a centenas ocorrendo ao mesmo tempo.
Nos casos mais favoráveis os sintomas se reduzem a um prurido tolerável. Mas a reação inflamatória pode tornar o local tumefeito e dificultar ou impedir a marcha, se o número de parasitos for grande.
O perigo é que essas feridas abertas e em contato com o solo, em pacientes que andam descalços, podem contaminar-se com o bacilo do tétano (Clostridium tetani).
Também podem infectar-se com Clostridium perfringes ou outras espécies responsáveis pela gangrena gasosa.
Outro risco é a blastomicose devida a Paracoccidioides brasiliensis.
O tratamento é feito com aplicação de inseticidas na pele. A prevenção requer o uso constante de calçado e aspersão de inseticidas nos lugares suspeitos.
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Xenopsilla cheopis
É a pulga mais encontrada em ratos domésticos no Brasil (D). Em alguns lugares, pode ser ultrapassada em freqüên-cia por Xenopsylla brasiliensis ou por Leptopsylla segnis.
Sua evolução de ovo a adulto leva um mês, no verão, e 2 a 2,5 meses no inverno, vivendo o adulto 3 meses ou mais.
Encontra-se em regiões tropi-cais e em algumas regiões temperadas (como os EUA).
Nas Américas deve ser dis-tinguida de Pulex irritans (A) e de Xenopsylla brasiliensis (G), com as quais se parece.
A importância de sua identifi-cação está em ser ela a princi-pal transmissora da peste bubônica. 
Distinção entre: (A) Pulex irritans, sem sutura mesopleural e (D) Xenopsylla cheo-pis, com sutura mesopleural (a) e disposi-ção em V das cerdas occipitais (b).
B e C - Terminália do macho e esperma-teca da fêmea de P. irritans.
E e F - Em X. cheopis, a cerda antepigidial insere-se em tubérculo baixo e a cauda da espermateca é maior que o corpo (d, e). 
G e H - X. brasiliensis difere de X. cheopis pela cerda antepigidial sobre tubérculo alto.
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A peste na antigüidade
Desde o Império Romano a peste bubônica percorreu o mundo em ondas epidêmicas.
Durante 50 anos, no século VI, ela aterrorizou o impé-rio de Constantino; e dizimou um quar-to da população da Europa durante os séculos XIV, XV e XVI.
Até o começo do século XX ameaçou todos os povos, como grande pandemia. A última ocorreu no período de 1894 a 1914.
Interior de um hospital para pestosos, em Hamburgo 1764, segundo o gravador C. Fritzch.
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A então chamada peste negra impres-sionou de tal modo a sociedade e os artis-tas da época que muitos deles se dedicaram a retratar a dramática situação existente.
Ao lado, vê-se uma parte do quadro pintado em março de 1656 por Domenico Gargiulo, sobre a peste em Nápoles.
A PESTE E A ARTE
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A PESTE E A ARTE
A peste em Nápo-les. Outro quadro de Domenico Gargiulo. 
A quantidade de doentes, com elevada taxa de mortalidade, assombravam a po-pulação que não sabia o que fazer. 
Utilizavam todos os recursos da terapêu-tica tradicional e, sobretudo, os proce-dimentos mágicos e religiosos.
A igreja de Santa Maria da Saúde, em Veneza, foi construí-da com esse objetivo.
Inutilmente.
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Xenopsilla cheopis e a peste
A doença chegou aos portos do Brasil em 1899, como peste urbana, transmitida por ratos e Xenopsylla cheopis.
A partir de 1906, penetrou no interior do país, e instalou-se em áreas rurais como enzootia de animais silvestres, transmitida por suas pulgas, principalmente as do gênero Polygenis.
Controlada a doença nas cidades, com enérgicas medidas contra os ratos, é a peste silvestre que responde, agora, pelos raros casos registrados anualmente no país.
Cabeça e tórax da pulga dos ratos, Xenopsylla cheopis, desprovida de ctenídios mas apresentando sutura na mesopleura (a) e disposição em V das cerdas occipitais (b). Possui também uma cerda anteocular. 
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Focos de peste silvestre
Áreas suspeitas (cinzas) e focos comprovados de peste silvestre nas Américas (negros). 
Os focos de peste silvestre encon-tram-se no Nordeste (Serras da Ibia-paba, Baturité e Triunfo, Chapadas do Apodi e da Borborema); na Bahia (Planalto Oriental, Serra do Formo-so, Chapada Diamantina e Planalto da Conquista); em Minas Gerais (Vales do Jequitinhonha e do Rio Doce) e no Rio de Janeiro (Serra dos Orgãos).
No período 1970-1997, o número de nossos casos chegou a 2.234 com 59 óbitos. Agora está abaixo de 20 por ano, sem nenhum óbito.
Focos residuais encontram-se em vários países americanos (inclusive nos EUA), na África e na Ásia. 
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Peste bubônica (1)
Etiologia e patologia
O agente etiológico é um cocobacilo, a Yersinia pestis (=Pasteurela pestis), cuja pa-togenicidade esta relacionada com o antígeno capsular F1, o antígeno V/W e a toxina pestosa.
Yersinia pestis pode sobre-viver infectante, nas fezes dessecadas da pulga, durante 16 meses.
Injetadas pela picada das pulgas, os cocobacilus são levados pelos linfáticos aos linfonodos regionais que infla-mam formando os bubões.
Além da linfadenite dolorosa e que tende a supurar, os bacilos que ultrapassam os linfonodos vão produzir lesões parenquimatosas de tipo he-morrágico e necroses, no fíga- do, baço, pulmões e meninges. 
A forma pulmonar transmite- se diretamente de uma pes-soa a outra por perdigotos.
Yersinia pestis em punção de lifonodo.
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Peste bubônica (2)
Normalmente o período de incubação é de 2 a 6 dias, dependendo do inóculo inje-tado pela pulga.
Os sintomas aparecem subitamente, com mal-estar, febre, taquicardia, dores pelo corpo e nas extremidades.
Os bubões localizam-se em geral na região inguinal em 66% dos casos; nas axilas, em 20% e na região cervical em 10% deles.
Na forma septicêmica, logo sobrevêm prostração, delírio e choque, com morte em 3-5 dias. A forma pneumônica mata 100% dos pacientes em 3 dias. 
Diagnóstico e tratamento
É feito pela pesquisa dos bacilos em punção ganglio-nar, nas secreções brôn-quicas ou em hemocultura.
O tratamento, que deve ser precoce e prolongado, é feito com estreptomicina intramuscular ou intrave-nosa.
Também com gentamici-na, doxiciclina ou cloranfe-nicol, intravenosamente.
Nas formas graves, fazer o tratamento presuntivo, sem esperar a confirmação do diagnóstico.
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Epidemiologia da peste urbana
Reservatórios da peste
O ecossistema em que circula Yersinia pestis, em áreas urbanas, requer po-pulações abundantes de ratos domésticos e de suas pulgas, Xenopsylla cheopis, principalmente.
As espécies envolvidas, todas exóticas, são:
A - Rattus rattus,
B - Rattus norvegicus, 
C - Mus musculus ou ca-mundongo.
A quantidade de ratos é função da disponibilidade de alimentos, nas casas, depósitos e armazens. 
A
B
C
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Epidemiologia da peste urbana
Todos os ratos são originá-rios da Ásia e se tornaram cosmopolitas a partir do sé-culo XVIII, viajando
a bordo dos navios. 
Rattus norvegicus é encon-trado, até hoje, de preferên-cia em cidades portuárias.
Todos têm os mesmos hábi-tos predatórios, onívoros, e a mesma fecundidade.
As fêmeas parem 4 a 5 vezes por ano ninhadas com 5 a 10 filhotes. Estes, 6 meses depois, já estão aptos para a reprodução. 
A gestação dura cerca de 20 dias.
As pulgas infectam-se ao sugarem um animal em fase septicêmica.
	X. cheopis é o vetor mais eficiente porque a passagem do seu proventrículo para o estô-mago é muito estreita. 
	A reprodução das bactérias a esse nível logo bloqueia a pas-sagem e impede a pulga de se alimentar. Ela então tenta sugar repetidas vezes, no mesmo ou em outros hospedeiros – even-tualmente nas pessoas.
	A cada vez, depois de vio-lentos esforços de sucção, os músculos esofágicos relaxam e o sangue aspirado é reinjetado na circulação do novo hospedei-ro. Agora, de 
mistura com as Yersinia pestis.
Proventrículo bloqueado (h) por colônias de bactérias.
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Epidemiologia da peste urbana
A transmissão da peste pode ser feita mecanicamen-te por qualquer pulga que ao sugar um rato infectado e, sendo perturbada, passa pa-ra outro ou para uma pessoa, com as bactérias nas suas peças bucais.
As outras pulgas do rato participam da transmissão, durante os surtos epidêmi-cos; mas, por sua distribui-ção restrita e pela menor probabilidade de bloqueio, têm importância secundária.
A capacidade de transmis-são da peste por X. cheopis é limitada a 1 ou 2 semanas, pois o bloqueio impede-lhes de se nutrirem.
As epizootias causam ele-vada mortalidade entre os ratos, e então suas pulgas famintas têm que buscar outros hospedeiros, inclusive o homem.
 A, ciclo epizoótico da peste; B, transmissão da pulga para o homem e entre os humanos por pulgas; C, transmissão direta entre humanos nos casos de peste pneumônica. 
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Epidemiologia da peste silvestre
Depois que a peste urbana chegou às zonas rurais, pas-sou a contaminar roedores silvestres, a partir do perido-micílio, onde a mortalidade de ratos pela doença era alta.
Quase uma vintena de ani-mais passou a ser incluída no ecossistema que mantém a circulação de Yersinia pestis, destacando-se, entre eles, o mocó, o preá e os ratos pixuna e punaré.
A transmissão da zoonose silvestre passou a ser feita pelas pulgas desses animais e sobretudo pelas do gênero Polygenis.
Polygenis bohlsi é a mais comum no Nordeste, ao passo que Polygenis jordani o é no Sudeste do Brasil.
 Os hospedeiros silvestres também morrem da infec-ção, mas suas tocas e ninhos permanecerão mais de um ano contaminados com Yersinia pestis, que infectará outros mamíferos que vierem a ocupar o lugar. 
Mocó (Kerodon rupestris)
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Controle da peste (1)
A suscetibilidade à infecção é geral e os que se curam ad-quirem apenas uma imunida-de temporária.
Portanto, nas áreas de risco, a vigilância epidemioló-gica é essencial. 
Ela se baseia em:
- Inquéritos periódicos so-bre as populações de animais hospedeiros (ratos etc.) e suas pulgas.
- Exame bacteriológico dos animais capturados, para detectar eventual epizootia.
 - Notificação obrigatória às autoridades sanitárias dos casos ocorridos ou de casos suspeitos.
- Avaliação da eficácia das medidas de controle em uso. 
Em caso de epidemia, os pacientes devem ser isola-dos, tratados imediatamente, e suas roupas desinsetiza-das.
Todos os contatos recebe-rão tratamento profilático e permanecerão sob vigilância epidemiológica.
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Controle da peste (2)
Nas áreas urbanas, as medidas preventivas são:
Combate aos roedores
Privar esses animais de acesso aos alimentos, cui-dando para que os depósitos, armazens e casas os tenham protegidos por telagem, con-teiners, armários e recipien-tes bem fechados. 
Usar rodenticidas, que se mostram muito eficazes.
Eles podem ser de ação rápida; isto é, iscas com misturas de substâncias tóxi-cas, que matam logo, se ingeridas em quantidade sufi-ciente. 
Mas, se a dose ingerida for pequena, os animais se sentirão mal e passarão a evitar as iscas.
A outra opção consiste em utilizar os rodenticidas anti-coagulantes, que vão se acumulando no organismo do roedor e provocam hemorra-gias fatais ao atingirem certa concentração no sangue.
A quantidade de anticoagu-lante nas iscas é baixa, só produzindo seu efeito hemor-rágico após o animal ter-se alimentado várias vezes com elas.
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Controle da peste (3)
O uso de ratoeiras só é útil quando o número de roedo-res for pequeno ou para eliminar os últimos sobrevi-ventes de um programa de controle.
Controle das pulgas
A longo termo, é o desapa-recimento de suas fontes de alimentação - os roedores - que asseguram sua elimina-ção.
O controle com inseticidas é considerado emergencial, para prevenir ou controlar um surto epidêmico.
Ou para reduzir a quanti-dade dessas pragas no domicílio.
Em certas ocasiões pode ser o único meio rápido para proteger uma comunidade do risco de infecção pela peste.
Os inseticidas devem ser aplicados nas casas e nos depósitos de alimentos, no pêlo dos animais domésticos e nos locais freqüentados pelos roedores.
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Controle da peste (4)
Vacinação e medicação preventiva
As vacinas empregadas são de germes atenuados, que aumentam a resistência às infecções; ou de germes mortos, que exigem revacina-ção anual para assegurar imunidade.
Pessoas que estiverem em contato com doentes ou com material infectante devem tomar antibióticos: estrepto-micina (1 g/dia/3 a 5 dias) ou sulfas de ação prolongada, durante 5 dias.
Educação sanitária
	Deve orientar a população sobre medidas que impeçam a proliferação de ratos, mediante proteção dos alimentos, desti-no adequado ao lixo e aos de-jetos humanos ou de animais.
	Impermeabilização do piso e colocação de telas ou grades a prova de roedores, nas aber-turas de depósitos de alimen-tos, cereais, sementes etc.
	Esclarecimento sobre o risco de peste na região e sobre o controle de pulgas nas casas e nos animais domésticos.
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OUTRAS DOENÇAS TRANSMITIDAS POR PULGAS
Tifo murino
É doença infecciosa aguda causada pela Rickettsia tiphi.
Constitui uma zoonose pró-pria de ratos, sendo transmiti-da entre esses animais pela Xenopsylla cheopis, ou mais raramente por outras pulgas do rato.
A transmissão se dá pelas fezes da pulga e não pela picada.
Os homens infectam-se es-poradicamente ao trabalhar em ambientes onde ratos e pulgas são abundantes.
Depois de contraída a viro-se, a propagação da infecção pode ser feita de um indivíduo a outro pelos piolhos do corpo – Pediculus humanus.
O quadro clínico aproxima-se do das outras rickettsioses e as medidas de controle são as mesmas que para a peste.
Helmintíases
As pulgas são hospedeiros intermediários de Dypilidium caninum e de Hymenolepis diminuta. 
Participam do ciclo vital as pulgas do rato, as do cão e, por vezes, a do homem.
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Leituras complementares
MINISTÉRIO DA SAÚDE, FUNASA – Doenças Infecciosas e Parasitárias. Brasília, MS/FUNASA, 2000 [219 páginas].
MINISTÉRIO DA SAÚDE, DNERu – Endemias Rurais. Métodos de trabalho adotados pelo DNERu. Rio de Janeiro, MS/DNERu, 1968 [278 páginas].
REY, L. – Bases da Parasitologia. 2a edição. Rio de Janeiro, Editora Guanabara, 2002 [380 páginas]. 
REY, L. – Dicionário de Termos Técnicos de Medicina e Saúde. 2a edição, ilustrada. Rio de Janeiro, Editora Guanabara, 2003 [950 páginas].
REY, L. – Parasitologia. 3a edição. Rio de Janeiro, Editora Guanabara, 2001 [856 páginas].
WORLD HEALTH ORGANIZATION – Vector Control in International Health. Geneva, WHO, 1972.
REY - Parasitologia - 26, Dipterros ciclorrafos; moscas. ppt.

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