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Públicos Emerson Castelo Branco
DIREITO PENAL
para concurso
PARTE GERAL e ESPECIAL
Polícia Federal
O GEN | Grupo Editorial Nacional reúne as editoras Guanabara Koogan, Santos, LTC, Forense,
Método e Forense Universitária, que pubiicam nas áreas científica, técnica e profissional,
Essas empresas, respeitadas no mercado editorial, construíram catálogos inigualáveis, com
obras que têm sido decisivas na formação acadêmica e no aperfeiçoamento de várias gerações
de profissionais e de estudantes de Administração, Direito, -Enfermagem, Engenharia, Fisioterapia,
Medicina, Odontologia e muitas outras cíêrtdas, tendo se tomado sinônimo de seriedade e respeito.
Nossa missão é prover o melhor conteúdo científico e distribuí-lo de maneira flexível e conve
niente, á preços Justos, gerando benefícios e servindo a autores, docentes, livreiros, funcionários,
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çados pela natureza educacional de nossa atividade, sem comprometer o crescimento contínuo e
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Concursos
Públicos Emerson Castelo Branco
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| DIREITO PENAL
! para concurso
PARTE GERAL E ESPECIAL
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Polícia Federa!
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: 2+ê ed ição
; Revista, atualizada e ampliada
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n r *EDJTORA
METODO
SÃO PAULO
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Capa: Marcelo S. Brandio
Foto de capa: Vitty Pess (sxc.hu)
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE UVROS. RJ.
Castelo Branco, Emerson .
Direito penal espeelaS para concurso : Policia Federal i Emerson Castelo Branca. 2. ed. -
Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2011,
Bibliografia
ISBN S78-8S-309-3432-3
1. Direito penal - Problemas, quesl&es. exercidos. 2, Serviço público - Srasil - Concursos,
t. Título. II. Série.
09-4742. CDU: 343(81}
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gravação, sem permissão por escrito do autor e dü editor.
impresso no Brasil
Príníed In Brszll
2011
AGRADECIMENTOS
A Deus, por estar sempre guiando meus passos nessa
caminhada.
À Janaána, minha amada esposa, e aos meus pequenos
Zé e Manuzinha, pelos mais belos e felizes momentos de
minha vida.
A todos os meus queridos alunos, pela amizade sincera.
Juntos, “derramamos sangue”, “combatemos o bom comba
te” e lutamos por nossos sonhos!
NOTA DO AUTOR
“Direito Penal para concurso - Polícia Federal” nasceu da ideia
de se contemplar os assuntos recorrentemente abordados no conteúdo
programático dos concursos da Polícia Federal, direcionando o estudo
daqueles que almejam “um lugar ao sol” na referida carreira.
Seu mérito principal consiste em reunir, na mesma obra, a Parte
Geral e a Parte Especial do Direito Penal, selecionando cuidadosamente
as matérias de interesse do concurso.
Destaca-se ainda por sua linguagem didática, enfrentando todo o con
teúdo com riqueza de informações, sem perder a clareza das ideias.
Apresenta ao leitor qualificada doutrina e jurisprudência atualizada
dos tribunais superiores. Nesse aspecto, de pronto, merece ser ressalta- -
do o seu rigor científico, não dando margem a colocaçSes simplistas.
Incansavelmente, procurou-se exaurir toda a temática relevante de
forma precisa e objetiva; inclusive, discorrendo sobre recentes altera
ções no ordenamento penal
Ao final de cada capítulo, várias questões de prova são comentadas;
e diversas são disponibilizadas para resolução, possibilitando a mais
ampla e segura preparação.
Enfim, a obra apresentada ao público será de grande valia não
apenas para os estudantes que se preparam para a Polícia Federal,
sendo certo falar que pode ser utilizada para todos os concursos que
abrangem o conteúdo abordado.
Boa leitura!
$
Nota da Editora: o Acordo Ortográfico foi aplicado Integralmente nesta obra.
SUMÁRIO
<Parte ÇemC
1. PRINCÍPIOS E CARACTERÍSTICAS DO DIREITO PENAL......... 23
LI Princípios constitucionais do direito penai..................................... 23
1.1.1 Princípio da reserva legal e da anterioridade da lei penal ...... 23
1.1.2 Princípios da irretroatividade da lei penal mais maléfica e da
retroaíividade da lei penal mais benéfica............................... 24
1.1.3 Princípio da culpabilidade ................. ...................................... 24
1.1.4 Princípio da dignidade da pessoa humana ............................... 25
1.1.5 Princípio da humanidade (ou da humanização das penas) .... 25
1.1.6 Princípio da pessoaüdade ............................................... ....... 25
1.1.7 Princípio da individualizaçao da pena ....... ........... ................... 25
1.1.8 Princípio da proporcionalidade das penas ................................ 26
1.2 Princípios modernos do direito penal .................................................. 26
1.2.1 Principio da intervenção mínima.............................................. 26
1.2.2 Princípio da fragmentariedade................................... ............... 27
1.2.3 Princípio da adequação social.................................................... 27
1.2.4 Princípio da insignificância (da bagatela) ............................ . 27
1.2.5 Princípio da ofensividade .......................... .................... *.....1... 28
1.3 Características gerais do direito penal................................ ............... 28
1.3.1 Denominação e conceito ..................................................... -..... 28
1.3.2 Características das normas penais ........................................... . 28
1.3.3 Normas penais em branco (cegas ou abertas) ................. ....... 29
1.3.4 Fontes do direito penal ................................................ ........ . 29
1.3.5 Classificação das normas penais.................. ................ ............ 29
1.3.6 Interpretação da lei penal................. ............................... .......... 30
1.3.7 Analogia ............................................ .......................................... 30
10 DIREITO PENAL para concurso - POLlCtA FEDERAL - Emerson Casteb Branca
1.4 Questões comentadas ................................................................ ........ 31
1.5 Questões CESPE/UnB .......................................................................... 31
1.6 Jurisprudência atualizada ................. .................................................... 32
1.6.1 O princípio da insignificância no crime d© furto e o pequeno
valor econômico da coisa........................................................ 32
1.6.2 Princípio da insignificância exclui o fato típico. Não é causa
de extinção da punibilidade, e sim do crime ....................... 33
1.7 Dicas imprescindíveis .................................. ....................................... 33
2, APLICAÇÃO BA LEI PENAL NO TEMPO E NO ESPAÇO............. 35
■ 2.1 Aplicação da lei penal no tempo ........... ............................................... 35
2.1.1 Irretroatividade da lei penal mais maléfica e retroatividade
da
lei penal mais benéfica..... ...................................................... 35
2.1.2 Tempo do crime ...................................... ................................... 37
2.1.3 Leis de vigência temporária............. ............. .................. . 37
2.2 Aplicação da lei penal no espaço ....................................... ................. 38
2.2.1 Princípio da territorialidade (art. 5.° do CP) ........................... 38
2.2.2 Princípios da extraterritoràlidade............................................. 39
2.2.3 Formas de extraterritorialidade .................................................. 40
2.2.4 Lugar do crime....................................... .................................... 40
2 3 Questões comentadas ................. ...... ................. ................ ................. 41
2.4 Questões CESPE/UnB .......................................................................... 42
2.5 Dicas imprescindíveis ...... ................................................................... 43
3. TEORIA GERAL DO CRIME .................................................................. 45
3.1 Conceito de crime .............................................................. .................. 45
3.2 Teorias da cotxduta..................... ............................ ............................... 46
3.2.1 Teoria causalista (naturalista ou causai) .................................. . 46
3.2.2 Teoria finalista........................ ................................ ................... 46
3.2.3 Outras teorias .......................................................................... . 47
3.3 Sujeito ativo do delito..... ............................................. ............ ........ 47
3.4 Sujeito passivo do delito......................... .................... ........................ 47
3.5 Objeto jurídico e objeto material ....................................................... 49
3.6 Análise dos elementos estruturais do crime ................................. . 49
3.6.1 Fato típico ......................... ........................................................ 49
3.6.2 Àntijuridicidade (ilicitude)......................... ............................... 51
3.6.3 Culpabilidade ......... .................... ........... ............................51
s u m a r ío 11
3.7 Questões comentadas ............................................................................ 52
i 3.8 Questões CESPE/UnB ....................... .............................................. . 52
| 3,9 Dicas imprescindíveis .......................................................................... 53
4. DA RELAÇÃO DE CAUSALIDADE...................................................... 55
| 4.1 Nexo causai ............ .............................................................................. 55
4.2 Teoria da equivalência dos antecedentes causais ............................... 55
; 4.3 Outras teorias do nexo causai..... ............................................. ........... 56
4.4 Superveniência causai ........................................................................... 56 .
| 4.4.1 Considerações iniciais ........................................... ..................... 56
i. 4.4.2 Causas absolutamente independentes .................................. ...... 57
'■ 4.4.3 Causas relativamente independentes ..................................... . 58
| 4.5 Relevância causai da om issão.............................................................. 59
!' 4.6 Questões comentadas ............................................................ ............... 60
; 4.7 QuestSes CESPE/UnB ........................................................................... 61
j: 4.8 Dicas imprescindíveis ............................. ................... ......................... 62
5. ELEMENTO SUBJETIVO.........:............................................................. 65
; 5.1 Crime doloso ............................................................................. ............ 65
i- 5.1.1 Conceito ...... .......................................................... . 65
I 5.1.2 Elementos do dolo ................................................. ..................... 65
| 5.1.3 Espécies de dolo .. .............. .................................. ....................... 66
5.1.4 Teorias do dolo ............... .................. ........................ 66
j S.L5 Dolo natural e dolo normativo ...... ............................ 67
| 5.2 Crime culposo ............................ .......................... ......... ...................... 67
5.2.1 Conceito ......................... ................................ ............................ 67
\ 5.2.2 Elementos do crime culposo............................... ........ ......... 68
j; 5,2.3 Espécies de cdme culposo........ ....... .................. .................... . 69
| 5.2.4 Modalidades de culpa .............................................................. 70
f 5.3 Preterdolo ...............................................1...... ........................................ 70
■| 5,4 QuestSes comentadas .......;................................................. .................. 71
| 5.5 Questões CESPE/UnB ............................................................................ 72
| 5.6 Dicas imprescindíveis ............................................................................ 73
/.
| 6. ESTUDO DO ERRO................................................................................... 75
I 6.1 Erro de tipo (art. 20) .................................................... .................. ....... 75
12 DIREITO PENAL para concurso - PGÜCIA FEDERAL - Emerson C&stelo Brunco
6.2 Erro de proibição (art. 21) ................................... .......,.................... 76
6.3 Descriminantes putativas....................................... ...................... . 77
6.4 Questões comentadas .......................................................... ................. 78
6.5 Questões CESPE/UnB .......................................................................... 79
6.6 Dicas imprescindíveis ....................................... ......................... .......... 81
7. FORMAS CONSUMADA E TENTADA DO CBIM E........................... 83
7.1 Fases do crime (iter criminis)......................................... ................. . 83
7.2 Forma consumada (art. 14, inc. I) .............................. ............... ......... 84
7.3 Forma tentada (art. 14, inc. I I ) ....................................................... 84
7.4 Desistência voluntária (art. 1 5 ) ................................... ....................... 85
7.5 Arrependimento eficaz (art, 15) ........................................................... 86
7.6 Arrependimento posterior............... ............. ....... .............................. 86
7.7 Crime impossível ..........................................................-....................... 87
7.8 Questões comentadas ........................................... ................................ 87
7.9 Questões CESPE/UuB .......................................................................... 88
7.10 Dicas imprescindíveis ................................. .............. ...................... 89
8. ANTOÜMDICID ADE (ILICITUDE)..................................................... 91
8.1 Conceito de aníijuridicidade ................................................................. 91
8.2 Causas de exclusão da antijuridicidade ...... ........................................ 91
8.3 Legítima defesa ............... ............................... .................................. . 92
8.4 Estado de necessidade ......................... .................. ....................... 94
8.5 Exercício regular de direito ...............-
t .............. ................. ............. 96
8.6 Estrito cumprimento do dever legal ............ .......................... 96
8.7 Questões comentadas ............................................................................ 97
8.8 Questões CESPE/UnB .......................................................................... 98
8.9 Dicas imprescindíveis .......................................................... . 100
9. CULPABILIDADE ...................................................................................... 103
9.1 Conceito.................... .................................. ........................................... 103
9.2 Causas de exclusão da culpabilidade................................................... 103
9.3 Elementos da culpabilidade ............ .............................. ....................... 104
SUMÁRIO 13
9.4 Imputabilidade ........ ................... ..................... ......*....... ....................... 104
9.4.1 Critérios (ou sistemas) para estabelecer a inimputabilidade,,,. 105
9.4.2 Causas de inimputabilidade ........................................................ 105
9.4.3 Semi-imputabilidade .......... .............. ..........................,'....... ...... 105
9.4.4 Menoridade penal.................. ...........-........................................ 106
9.4.5 Emoção e paixão............................................................ ............ 106
9.4.6 Espécies de embriaguez............................................................. 106
9.4.7 Teoria da Ac tio Libera in Causa (ação livre na causa)........... 107
9.5 Questões comentadas ............................................................................- 107
9.6 Questões CESPE/UnB ......................................................................... 109
9.7. Dicas imprescindíveis ........................................... ......... ........... -........ 112
10. CONCURSO m , PESSOAS .................................................................... 113
10.1 Conceito ............ ................ ...................... ............... ........................;... 113
10.2 Coautoria e participação ............ .............. ........................................... 113
10.2.1 Teorias acerca do conceito de coautoria e participação........ 113
10.2.2 Participação impunível.... ...................... ................................. 114
10.3 Requisitos do concurso de agentes................. .................................. 114
10.4 Autoria colateral............. .............. ......................................... ............ 115
10.5 Autoria incerta ......... .................................... ........................................ 115
10.6 Autoria medíata................ ..................................... ....... ............ -........ 115
10.7 Coraunicabflidade das circunstâncias .............. ............................... 116
10.8 Participação ......................................................................................... 116
10.9 Questões comentadas .......................................................................... 117
10.10 QuestSes CESPE/UnB ...................................................................... 119
10.11 Dicas imprescindíveis......................... ............ ................................. 120
11. CLASSIFICAÇÃO DOS CRIMES ........................................................ 123
11.1 Crimes comuns, próprios e de mão própria...................................... 123
11.2 Crimes de dano e de perigo ......................... ............. ................ . 123
11.3 Crimes materiais, formais e de mera conduta ................................ 124
11.4 Crimes comissivos e omxssivos .......................................................... 124
11.5 Crimes instantâneos, permanentes e instantâneos de efeitos perma
nentes ........... ........................... .......................................................... 125
11.6 Crime continuado ................................. ........................................ 125
14_____ PiRSITO PENAL para concurso - POÜC1A FEDERAL - Emerson Casielo Branco
11.7 Crimes principais e acessórios ........................... ............................... 125
11.8 Crimes simples e complexos (ou composto) .......... .......... ....... ,. 125
13.9 Crime progressivo .... ................................................. ............ ,......... 126
11.10 Delito putativo (ou imaginário, ou erroneamente suposto)......... 126
11.11 Crimes unissubsistentes e plurissubsistentes ................................. 126
11.12 Crime de atentado ............... ........................ ........... ......................... 126
11.13 Crimes de ação múltipla................................................ .................. 126
11.14 Crime vago ..... .......................... ............................ ........................... 127
11.15 Crime pluriofensivo ........................................................................ 127
11.16 Crimes com tipo penal fechado e com tipo penal aberto.............. 127
11.17 questões comentadas ........................ ........ ............... ............ .. 127
11.18 Questfies CESPE/UnB ...........................................................128
11.19 Dicas imprescindíveis.................... ........ ........... ..................... 128
12. CRIMES CONTRA A PESSOA............................................................... 133
12.1 Crimes contra a vida ............................................................................................................................... 133
12.1.1 Homicídio.................................................................................. 133
12.1.1.1 Características gerais .................................... ........ 133
12.1.1.2 Homicídio privilegiado............................................. 134
12.1.1.3 Homicídio qualificado (art. 121, § 2,°) ................. 134
12.1.1.4 Homicídio privilegiado-qualificado.................... .... 136
12.1.1.5 Homicídio culposo ................ ............................ 137
12.1.1.6 Observações finais sobre o crime de homicídio .... 138
12.1.2 induzimento, auxílio ou instigação ao suicídio '...................... 139
12.1.3 ínfanticídio ............................... .......................... ............ .......... 141
12.1.4 Aborto................. ..................... .................................................. 142
12.1.4.1 Crime de autoaborto ............................... ................. 143
12.1.4.2 Crime de aborto provocado sem o consentimento da
gestante ......................................................... ........ 144
12.1.4.3 Crime de aborto provocado com o consentimento
da gestante ..... :.............. .................................. ........ 144
12.1.4.4 Aborto na forma qualificada (art 127) .................... 144
12.1.4.5 Aborto legal (art. 128) ................................... .......... 145
12.1.5 Questões comentadas...................... ................................... . 147
SUMÁRIO 15
12.1.6 Questões CESPE/UnB............................................................. 149
12.1.7 Dicas imprescindíveis ......................... .......... ............. ............. 154
12.2 Das tesões corporais............................................................................ 157
12.2.1 Lesão corporal grave .......................................................158
12.2.2 Lesão corporal gravíssima..................................................... 159
12.2.3 Lesão corporal seguida de morte.................... .................. . 161
12.2.4 Lesão corporal privilegiada (§ 4.°) ........................................ 162
12.2.5 Substituição da pena (§ 5 .° ) ..................... >....■......................... 162
12.2.6
Lesão corporal culposa (§ 6,°) .... '.............................. 362
12.2.7 Cáusa de aumento de pena ...................................................... 162
12.2.8 Perdão judicial ......................................................................... 163
12.2.9 Violência doméstica................................................................. 163
12.2.10 Questões comentadas .................... .................................... . 163
12.2.11 Questões CESPE/UnB ........................................................... 164
12.2.12 Dicas Imprescindíveis ........................................................... . 165
12.3 Da periclitação da vida e da saúde ............... ....... ........................... 166
12.3.1 Perigo de contágio venéreo...................................................... 166
12.3.2 Perigo de contágio de moléstia grave ..................................... 167
12.3.3 Perigo para a vida ou saúde de outrem .................................. 167
12.3.4 Abandono de incapaz...................... ................................. . 168
12.3.5 Exposição ou abandono de recém-nascido............................. 169
12.3.6 Omissão de socorro........................... .................. ................... 170
12.3.7 Maus tratos................................................................................ 172
12.4 Crime de rixa ....................................... ............................................. 173
12.4.1 Questões comentadas .................................. ............................. 175
12.4.2 Questões CESPE/UnB ............................................................. 175
12.4.3 Dicas imprescindíveis ..................... ........................................ 176
12.5 Crimes contra a honra ............. ........................................................... 177
12.5.1 Considerações iniciais sobre os crimes contra a honra......... 177
12.5.2 Calúnia (art. 138) ...................................................................... 177
12.5.3 Difamação (art. 139).................. :............................................ 179
12.5.4 Injúria (art. 140)............................ ..............*.......................... 179
12.5.5 Das disposições comuns aos crimes contra a honra ......... 181
12.5.6 Jurisprudência ................................................................ ......... 184
12.5.7 Questões comentadas .... ....................................................... . 185
12.5.8 Questões CESPE/UnB .............................,............................... 187
12.5.9 Dicas imprescindíveis .............................................................. 188
12.6 Crimes contra a liberdade individual ....... ...... ........................... 190
12.6.1 Constrangimento ü eg a i............................................................ 190
12.6.2 Ameaça.......................... ........................................................... 192
12.6.3 Seqüestro e cárcere privado..................................................... 193
12.6.4 Redução à condição análoga à de escravo ......... ..........-........ 194
12.6.5 Violação de domicílio ................................ .......... .................... 195
12.6.6 Jurisprudência ............................................... .............. ............ 197
12.6.7 Questão comentada.............. ........................ ...................... . 197
12.6.8 Questões CESPE/UnB ............................................................. 198
12.6.9 Dicas imprescindíveis .............................................. .......... . 198
13. DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO........................................ 201
13.1 Furto ...................................................................................................... 201
13.1.1 Furto de coisa comum........................ ...................................... 207
13.1.2 Jurisprudência atualizada........................................... -........ 207
13.1.3 Questões comentadas................................................................ 208
13.1.4 Questões CESPE/UnB ............................................................. 208
13.1.5 Dicas imprescindíveis ........................................ 211
13.2 Roubo ............................................................. ..................................... 214
13.2.1 Jurisprudência atualizada......................... .................... .......... 219
13.2.2 Questões comentadas ...... ............................ ............. .............. 220
13.2.3 QuestSes CESPE/UnB .............................................................. 222
13.2.4 Dicas imprescindíveis..................................... ......................... 224
13.3 Extorsão........................ .................... ............ ...................................... 226
13.3.1 Causas de aumento de pena........................... ........... ............. 227
13.3.2 Extorsão qualificada..................................... ............................ 228
13.3.3 A nova figura penai do “sequestfo relâmpago” ....... ............. . 228
13.3.4 Extorsão mediante seqüestro ................................................ . 229
13.3.5 Extorsão indireta ....................................................................... 232
13.4 Ustupação.......................................................................... .................. 232
13.4.1 Alteração de limites .............................. .................................. 232
13.4.2 Usiopação de águas ....................... ..........——...............................-. 233
13.4.3 Esbulho possessório ................................................................. 234
13.4.4 Supressão ou alteração de marca era anim ais................. ...... 234
13.5 Crime de dano.............................................................. ...................... 235
13.5.1 Dano qualificado ................................................. -............................... .. 236
13.5.2 Introdução ou abandono de animais em propriedade alheia ... 237
16_______ DtREiTO PENAL para concurso - POÜCIA FEDERAL - gmerson Castelo Branco
SUMÁRIO 17
13.5.3 Dano em coisa de valor artístico, arqueológico ou histórico .. 237
13.5.4 Alteração de local especialmente protegido .......................... 238
13.5.5 QuestSes comentadas ............................................................... 23S
13.5.6 Questões CESPE/UnB ............................................................. 239
13.5.7 Dicas imprescindíveis .............. .......... ..................................... 240
13.6 Apropriação .......................................... ........ ...................................... 242
13.6.1 Apropriação indébita................. ....... ........................................ 242
13.6.2 Apropriação indébita previdendária...... ............................... 243
13.6.2.1 Causa ex.tinti.va da punibilidade ............................... 244
13.6.2.2 Perdão judicial .......................................................... 245
13.6.3 Apropriação de coisa havida por erro, caso fortuito ou força
da natureza........................................................ ........................ 246
13.6.4 Apropriação de tesouro .......................................................... . 246
13.6.5 Apropriação de coisa achada ................................................... 247
13.6.6 Jurisprudência atualizada ....................... ............................... 247
3 3,6,6.10 dolo no crime de apropriação indébita (art. 168 do CP)
e apropriação indébita previdendária (art 168-A)......... 247
13.6.7 Questão comentada ........................................ ...................... . 248
13.6.8 Questões CESPE/UnB ............................................................. 249
13.6.9
Dicas imprescindíveis ................ .............................................. 250
13.7 Estelionato e outras fraudes ....................................................-.......... 251
13.7.1 Estelionato................................................................................. 251
13.7.1.1 Forma privilegiada....................................... ............ 253
13.7.1.2 Disposição de coisa alheia como própria............... 253
13.7.1.3 Alienação ou oneração fraudulenta de coisa pró
pria ........................................................................... 254
13.7.1.4 DefraudaçSo de penhor............................................ 254
13.7.1.5 Fraude na entrega de co isa .................... ................. 254
13.7.1.6 Fraude para recebimento de indenização ou valor
de àeguro ................. ........... ........... .................... «... 255
13.7.1.7 Fraude no pagamento por meio de cheque ............ 255
13.7.2 Duplicata simulada ................................ ................................... 257
13.7.3 Abuso de incapazes......................................................... ■........ 257
13.7.4 Induzimento à especulação ..................................................... 258
13.7.5 Fraude no comércio ............................................... ................. 258
13.7.6 Outras fraudes ................... ....................................................... 259
13.7.7 Fraudes e abusos na fundação ou administração de Sociedade
por A ç6es.......................... ................... ........................ ......... 259
13.7.8 Emissão irregular de conhecimento e depósito ou “warrant” . 260
18 DIREITO PENAL para comurso - PQLÍCiA FEDERAL - Emerson Castelo Branco
13.7.9 Fraude à execução .......................................................... 261
13.7.10 Jurisprudência atualizada....................................................... 261
13.7.10.1 Estelionato e “cola eletrônica” .............................. 261
13.7.10.2 Sujeito passivo no crime de estelionato............... 262
13.7.11 Questões comentadas .... ....... ................................................ 262
13.7.12 Questões CESPE/UnB ........................................................... 264
13.7.13 Dicas imprescindíveis ............................... ............................ 266
13.8 Receptação...................... ........ ............... .......................... 268
13.8.1 Receptação qualificada..................... ...................................... 271
13.8.2 Perdão judicial e receptação privilegiada............................... 272
13.8.3 Receptação culposa............... ........... ....................................... 272
13.8.4 Causa de aumento de pena .............. ...................................... . 273
13.9 Disposições gerais sobre os crimes contra o patrimônio ................ 273
13.9.1 Imunidades absolutas (escusas absolutórias)..............273
13.9.2 Imunidades relativas (imunidades processuais) .................... 274
13.9.3 Exceções (art. 183) ..................................................... ............. 275
13.10 Crimes contra a propriedade imaterial............. ............................... 276
13.10.1 Violação de direito autoral.................. ............................. . 276
13.11 Jurisprudência atualizada ........... ...................................................... 278
13.11.1 Receptação qualificada e princípio da proporcionalidade ... 278
13.11.2 Questão comentada ......................... ............................. ......... 279
13.11.3 Questões CESPE/UnB ........................................................... 279
13.11.4 Dicas imprescindíveis ............................................................ 280
14. CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA..................... 283
14.1 Crimes praticados por funcionários públicos contra a Administração
Pública................................................*............................................... 283
14.1.1 Considerações gerais........................... .................................... 283
14.1.2 Conceito de funcionário público estritamente para efeitos
penais .............................................................-....................... 284
14.2 D os crimes praticados porfuncionário público contra a administração
em geral ......... ....................................... ............................. .............. 286
14.2.1 Crime de peculato................................................. ................. 286
14.2.1.1 Peculato apropriação...................................... .......... 288
14.2.1.2 Peculato desvio......................................................... 289
14.2.1.3 Peculato-furto (ou peculato impróprio).................. 290
14.2.1.4 Peculato culposo....................................................... 291
14.2.1.5 Reparação do dano no peculato culposo ................ 292
SUMÁRIO 19
14.2.2 Peculato mediante erro de outrem................ ....................292
14.2.3 Inserção de dados falsos em sistema de informações ........... 293
14.2.4 Modificação ou alteração não autorizada de sistema de infor
mações .... .......... ....................... ........................................... . 295
14.2.5 Extravio, sonegação ou inutilização de livro ou documento 295
14.2.6 Emprego irregular de verbas ou rendas públicas .............. . 296
14.2.7 Concussão ........................................................................ . 296
14.2.8 Excesso de exação ..............■.................................................. 298
14.2.9 Corrupção passiva........ ...................................... ................ — 298
14.2.10 FaciHtaçáo de contrabando e descaminho ........................... 301
14.2.11 Prevaricação ............................... ,............ .......... .................... 301
14.2,11.1 Prevaricação imprópria........................................ 302
14.2.12 Condescendência criminosa..... ............................... ............. 303
14.2.13 Advocacia administrativa.... ................................ ................. 304
14.2.14 Violência arbitrária...................................................... ........... 305
14-2,15 Abandono de função .............................. ....................... . 305
14.2.16 Exercício funcional ilegalmente antecipado ou prolongado 306
14.2.17 Violação de sigilo funcional ...............*............. ................... 307
14.2.18 Violação de sigilo de proposta de concorrência................... 308
14.2.19 Questões comentadas ................ ............ .............. ................ 308
14.2.20 Questões CESPE/ünb............................................ '............... 310
14.2.21 Dicas imprescindíveis ............................................................ 315
14.3 Crimes praticados por particular contra a administração em geral..... 316
14.3.1 Usurpação de função pública..................... ..........................— 316
14.3.2 Resistência.................................................... ..... ....................... 318
14.3.3 Desobediência ................... ...................... .............. ................... 320
14.3.4 Desacato ............... ............... .................... ........................... . 321
14.3.5 Tráfico de influência ............................... ................................. 322
14.3.6 Corrupção ativa............................ .................................. ........ 323
14.3.7 Contrabando e descaminho.................... ............ .................... ' 324
14.3.8 Impedimento, perturbação ou fraude de concorrência......... 326
14.3.9 Inutilização de edital ou de sinal .................................. .......... 326
14.3.10 Subtração ou inutilização de livro ou documento..........
. 327
14.3.11 Sonegação de contribuição previdenciária ................. ......... 327
14.3.12 Questão comentada...................... .......................................... 329
14.3.13 Questões CESPE/UnB ........................................................... 330
14.3.14 Dicas imprescindíveis ......................... .................................. 331
14.4 Crimes contra a administração da justiça......................................... 334
20 DIREITO PENAL para concurso - POÜC1A FEDERAL - Errmmon Castelo Branco
14.4.1 Reiagresso de estrangeiro expulso ............................ ............. 334
14.4.2 Deaunciaç&o caluniosa *.... ........................ ............................... 335
14.4.3 Comunicação falsa de crime ou contravenção...................... 337
14.4.4 Autoacusação fàlsa ................ ................................ ......... . 338
14.4.5 Falso testemunho ou falsa perícia ..... .......................... 339
14.4.6 Corrupção ativa de testemunha, perito, contador, tradutor ou
intérprete ...................................................... ........ ..................... 342
14.4.7 Coação no curso do processo ................ ................................. 343
14.4.8 Exercício arbitrário das próprias razões ................................. 344
14.4.9 Subtração, supressão ou daniíicação de coisa própria no legí
timo poder de terceiro..................... ....................................... 345
14.4.10 Fraude processual........................... ............................. . 345
14.4.11 Favorecimento pessoal.................. ....................................... . 346
14.4.12 Favorecimento real.................... ................................. .......... . 347
14.4.13 ingresso, promoção, intermediação, auxilio ou facilitação
de entrada de aparelho telefônico em estabelecimento pri
sional ................................. ....................................................... 348
14.4.14 Exercício arbitrário ou abuso de poder ................. 349
14.4.15 Fuga de pessoa presa ou submetida a medida de segurança . 350
14.4.16 Evasão mediante violência contra a pessoa ....................... 350
14.4.17 Arrebatamento de preso ............. .......... ......... ................... . 351
14.4.18 Motim de presos ........................ ................... ................ ...... 352
14.4.19 Exploração de prestígio ........................................................ 352
14.4.20 Jurisprudência atualizada ...................................................... 353
14.4.20.1 Dano em fuga de preso..................................... . 353
14.4.21 Questão comentada ............................................... ................. 354
14.4.22 Questões CESPE/UnB............................................................ 354
14.4.23 Dicas imprescindíveis ......................... -....................... 355
BIBLIOGRAFIA.............................................................................................. 359
GABARITO 361
DIREITO PENAL
( p q r t e Ç e r â (
PRINCÍPIOS E . CARACTERÍSTICAS
DO DIREITO PENAL
1.1 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DO DIREITO PENAL
1.1.1 Princípio da reserva legal e da anterioridade da lei penal
Art. l.° do CP: “Não há crime sem lei anterior que o defina, Não há
pena sem prévia cominação legal”. É o princípio nuttum crimen, milla
poena sine praevia leget inserido no art. 5.°, inciso XXXIX, da CF.
Conceito de princípio da reserva legal: O Estado não pode punir
uma pessoa por uma conduta não prevista (descrita) em lei (ordinária
federal) como crime. Em decorrência deste, surge o princípio da taxar
tividade, segundo o qual a conduta deve estar descrita de forma exata
na norma penal.
Conceito de princípio da anterioridade: A lei deve estar em vigor na
data em que a conduta criminosa é cometida.
1 ** t i' i, ç /
■;::‘NQl!EÍ?.Clual;Bi:.difer^nçg'wtreros;.pnneíptos;da!i:eservaílegal',eí<3a5 legalidade?:-.
Parte da doutrina considera que o principio da reserva iegal é o mesnfo
que o pnncfpjo da légalidade Outros autores-entendém .que .o ppnctpio da
reserva lega! decorre do princípio da legalidade, qu séja^aigúrnak matérias'
só podem ser disciplinadas por !eí, ejn sentido rfcrmal, não admitindo, por
exemplo, medida provisópa, 1 s
Criticando as leis penais vagas, indeterminadas e imprecisas,
observa Ritencourt: “Em termos de sanções criminais são inadmis
24 DtRBTO PENAL para concurso - POÜCIA FEDERAL - Emerson Casfato Branco
síveis, pelo princípio de legalidade, expressões vagas, equívocas ou
ambíguas.”1
Dessa forma, os tipos penais vagos (descrição genérica) devem ser
evitados pelo legislador. Daí nasce a expressão “mandato de certeza”,
isto é, a lei penal não pode ser indeterminada.
A reserva legal estende-se normalmente às contravenções penais e
às medidas de segurança.
1.1.2 Princípios da irretroatividade da lei penal mais maléfica e
da retroatividade da lei penal mais benéfica
De acordo com o inciso XL, do art. 5.°, da Constituição Federal
de 1988, a lei penal somente retroagirá para beneficiar o acusado. No
mesmo sentido, dispõe o art. 2.° do Código Penal.
A irretroatividade da lei penal mais maléfica e retroatividade da lei
penal mais benéfica não se restringem às penas, mas a qualquer norma de
natureza penal. Toda e qualquer norma que influencie no direito de punir
do Estado deve ser considerada de natureza penal (ex.: norma de execução
penal que tome mais grave o cumprimento da pena). A irretroatividade não
atinge somente as penas, como também as medidas de segurança.
. NOTE! ^ão .confundir, as' leis processuais cóm as leis penais. As processuais
riãqse súbmstem/iáa'principio daVetfqãtjvídágé1 da (efpená.L mais.benéfica,'
òònfóri7iè:p.revS;p;'árt.;2 . í tío ÇPP,
. no processo1, em andamento, .não irnportãodo .se/p çrime foi Ç0:nnettd0; ánte3
■ ou após;sua entrada erp v i^ r i '^ /s ^ è ; ; i9U.ni|o' mate b e n é f i c a . ''
E como estabelecer se a norma é processual ou penál? As normas
processuais (ex.: prisão preventiva- a restrição é provisória, cautelar)
refletem diretamente sobre o processo, não possuindo relação com o
direito de punir do Estado. Somente possuirá natureza penal a norma
que tomar mais rigorosa, ou menos rigorosa, a punição estatal.
1.1.3 Princípio da culpabilidade
Decorrência do Estado Democrático de Direito, o principio da cul
pabilidade consagra a responsabilidade penal subjetiva, impondo que
* BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal Pane Geral - V.1, 5.» ed, São Pauto: Saraiva,
2006, p. 15-16.
Cap. 1 - PRINCÍPIOS £ CARACTERÍSTICAS DO DÍREITO PENAL 25
ninguém seja responsabilizado penalmente sem que tenha agido com
dolo ou culpa,
Bitencourt elenca três conseqüências deste princípio: “a) não há res
ponsabilidade objetiva pelo simples resultado; b) a responsabilidade penal
é pelo fato e não pelo autor; c) a culpabilidade é a medida da pena.”2
1.1.4 Princípio da dignidade da pessoa humana
A dignidade da pessoa humana (art. 1.® inciso III, da CF) é o alicer
ce do Estado Democrático de Direito. Por isso, o legislador constituinte
dispõe: “a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e
liberdades fundamentais” (art. 5.°, inciso XLI, da CF). A tutela penal deve
sempre se pautar pelo princípio vetor da dignidade da pessoa humana.
1.1.5 Principio da humanidade (ou da humanização das penas)
O princípio da humanização das penas impede que o direito de punir
do Estado atinja a dignidade da pessoa humana. A CF, no inciso XLVIL,
do art. S.0, proíbe a aplicação de penas: “a) de morte, salvo em caso de
guerra declarada, nos termos do art. 84, inciso XIX; b) de caráter per
pétuo; c) de trabalhos forçados; d) de banimento; e) cruéis”. E o inciso
XUX, do art. 5.°, da CF, estabelece ainda que “é assegurado aos presos
o respeito à integridade física e moral”.
1.1.6 Princípio da pessoalidade
Somente o autor do delito pode sofrer a sanção penai, conforme
dispõe o art. 5.°, inciso XLV, da CF: “nenhuma pena passará da pessoa
do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação do
perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e
contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido”.
Outras denominações: “intranscendência” ou “personalidade”.
1.1.7 Princípio da indívidualização da pena
O art. 5,°, inciso XLVI, da CF, estabelece que “a lei regulará a in-
dividualização da pena e adotará, entre outras, as seguintes: a) privação
5 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal Parte Geral - V. í, S.a ed„ Sâo Paulo: Saraiva,
2005, p. 20-21,
26 DiREITO PENAL para concurso - POLlCIA PEOERAL - Emerson Castelo Branco
ou restrição da liberdade; b) perda de bens; c) multa; d) prestação social
alternativa; e) suspensão ou interdição de direitos”.
Possui três fases:
1.a) Cominaçao da pena (fase legislativa)- O legislador estabelece a pena
para cada crime, de acordo com a relevância do bem jurídico (ex.: a
pena do estupro não pode ser a mesma do fUrto);
2.a) Aplicação da pena (fase judicial)- A pena é estabelecida pelo juiz,
na seguinte ordem: fixa a pena-bass; depois, aplica atenuantes e
agravantes; e, por fim, as majorantes e minorantes;
3.a) Execução penal (fase administrativa)™ ‘‘Os condenados serão classi
ficados, segundo seus antecedentes e personalidade, para orientar a
índividuaiizaçâo da execução penal.” (art. 5 * da Lei n.° 7.210/1984).
1.1.8 Princípio da proporcionalidade das penas
De acordo com o princípio da proporcionalidade, assevera Luiz Regis
Prado, “deve existir sempre uma medida de justo equilíbrio - abstrata
(legislador) e concreta (juiz) - entre a gravidade do fato praticado e a
sanção imposta.”3
1.2 PRINCÍPIOS MODERNOS DO DIREITO PENAL
1.2.1 Princípio da intervenção mínima
É o princípio segundo o qual somente se deve recorrer ao Direito
Penal, quando exauridos todos os meios alternativos de controle social,
evitando assim a inflação legislativa. O âfcúmulo de normas penais oca
siona a perda de sua efetividade, gerando o descrédito da sanção penal
e, por conseguinte, um Direito Penal puramente simbólico. Por isso
mesmo, serve para orientar o legislador na elaboração de novas figuras
penais, bem como na abolição de crimes,
NÓTEJ- Ero decorrência da. inteivenção,míniraaHS^rgfcOf;.denominad0;“prin~-.
clpio. da sutasídiarieãade°-do' Direito RGnal/ segundo .ol/quàliieste^nãauíeve '
Üer aplieacio ■ no-scaso ; concreto,.íquantfQ,í.existe- aoluçâo-íjurídicaí-alteenaliva.'-
Çqpãdatada em-, recente. decísãó':.do7Superiar:Trit)ünaf í:dè{\iustSça.í;'':''-rí -■
! PRADO, Luiz Regis, Curso de Direito Penal Brasileiro - Vol. 1 - Parte Geral, 5,s Ed., São Pauto:
Revista dos Tribunais, 2006, p. 82,
4 STJ, HC 132.528/MS, 07.06.2010.
Cap, 1 - PRINCÍPIOS E CARACTERÍSTICAS DO DIREITO PENAL 27
1.2.2 Princípio da fragmeníariedade
Esse princípio decorre do princípio da intervenção mínima. Segundo
este, o Direito Penal se caracteriza por seu caráter seletivo, isto é, seu
objetivo é proteger os bens jurídicos mais relevantes e necessários para
a sobrevivência da sociedade.
1.2.3 Princípio da adequação social
Existem condutas que, embora estejam tipificadas em lei, não afron
tam o sentimento social de justiça (ex.: lesões corporais causadas em
uma luta de boxe).
1.2.4 Princípio da insignificância (da bagatela)
O princípio da insignificância se origina dos princípios da humani
dade e da dignidade da pessoa humana. Afirma que a conduta somente
configura um fato típico se a lesão ao bem jurídico possuir o mínimo de
relevância. A tutela penal deve ser o último caminho e não se presta a
punir situações irrelevantes, justamente para se evitar constrangimentos
desnecessários à dignidade do ser humano, destacadamente quando con
sideramos as mazelas decorrentes do processo penal e seus efeitos.
Afora isso, o princípio da insignificância adéqua-se a necessidade da
intervenção mínima do Direito Penal, depois de verificada a falência do
movimento e das teorias expansionistas.
Segundo este, a conduta somente configura um fato típico se a lesão
ao bem jurídico possuir o mínimo de relevância (ex,: subtração de um
bombom em um hipermercado).
Somente aplicado em situações excepcionais, em face das peculia
ridades do casó concreto, a irrelevância deve ser aferida especialmen
te em relação ao grau de intensidade, isto é, pela extensão da lesão
produzida.
O delito de “menor potencial ofensivo” não configura, por si só, o
princípio da insignificância, porque possui uma ofensa mínima, e não
insignificante (ex.: crime de ameaça).
Qual a diferença entre os princípios da adequação social e da in
significância? Neste, o fato é socialmente inadequado, mas considerado
atípico em face da sua ínfima lesividade; na adequação social, a conduta
deixa de ser punida porque a sociedade não a reputa mais injusta.
28 DIREiTO PENAL 'para concurso - POLÍCIA FEDERAL - Emerson Castelo Branco
NOTEI Segundo a. jurisprudência' cptisolidadà no Superior Tribunal de J ú s - '
. ,F ^ è ^ % l^ ^ t^ - ’)c|ç:«iijdlçqOT.p^paig..
; iriàus :ánte^'çlent^sv- feihcidêrtcià/ioy-^péW ffènâís •
'erfi"GLÍrM;?rião 'Ínrip.áde'rn a aplicação-’
1.2.5 Princípio da ofensivídade
Princípio segundo o qual somente haverá crime se existir efetiva
ofensa a um bem jurídico penalmente protegido.
1.3 CARACTERÍSTICAS GERAIS DO DIREITO PENAL
1.3.1 Denominação e conceito
O conceito pode ser formal e material.
Formalmente, o Direito Penal se caracteriza pelo conjunto de normas
que descrevem condutas (ações ou omissões) criminosas e seus efeitos
jurídicos.
Materialmente, caracteriza-se pelos comportamentos reprováveis que
afetam os bens jurídicos indispensáveis à sociedade.6
Classifica-se ainda em objetivo e subjetivo. Objetivamente, é o con
junto de normas que definem os delitos e cominam as respectivas sanções.
Subjetivamente, é o direito do Estado de aplicar a tutela penal.
1.3.2 Características das normas penais
a) Exclusividade - somente a lei penal pode definir crimes e cominar
sanções.
b) Anterioridade - deve ser anterior ao fato delitivo.
c) Imperatividade - o seu descumprimento acarreta a imposição da
pena.
d) Generalidade ~ destina-se a todos.
e) Impessoalidade - não se refere a pessoas determinadas.
s STJ, MC 171.02Q/MG, 27.09.2010.
* PRADO, Luiz Regls. Curso de Direito Penal Brasileiro - Vol 1 - Parte Geral, S.“ Ed„ São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2006, p. 27.
Cap. 1 - PRINCÍPIOS E CARACTERÍSTICAS 0 0 DIREITO PENAL 29
1.3.3 Normas penais em branco (cegas ou abertas)
As normas penais em branco são aquelas de conteúdo incompleto,
exigindo complementação por outra norma jurídica, para que se possa
compreender o seu âmbito de aplicação.
Apesar do conteúdo não ser completo, os elementos do tipo devem
descrever a conduta criminosa de forma exata.
Espécies:
a) Em sentido lato (homogêneas) - É aquela cujo conteúdo deve ser
complementado por normas de categoria hierárquica idêntica a da
norma penal. Ex: art. 237 do CP (“Contrair casamento, conhecendo
a existência de impedimento que lhe cause a utilidade absoluta”).
O conceito de “casamento” é determinado pelo Código Civil, lei da
mesma hierarquia do Código Penal.
b) Em sentido estrito (heterogêneas). É aquela cujo complemento pode ser
uma norma de hierarquia diversa da norma penal. Ex; tráfico ilícito
de drogas, previsto no art. 33 da Lei 11.343/2006. O termo “drogas”
somente pode ser compreendido por meio das portarias e resoluções
da ANVISA, no âmbito do Ministério da Saúde.
1.3.4 Fontes do direito penal
a) De produção, material ou substancial. A fonte
material do Direito Penal
é o Estado, já que compete à União legislar sobre direito penal.
b) Formal, de cognição ou de conhecimento:
- Imediata: lei. É na norma penai que se descreve a conduta e a pena
cominada;
- Mediata: costumes e princípios gerais do direito, Não podem se so
brepor à lei penaL Devem ser aplicados com bastante cautela, face ao
princípio da reserva legal.
1.3.5 Classificação das normas penais
a) Normas penais incriminadoras ~ São aquelas que descrevem a conduta
criminosa e estabelecem a pena correspondentè.
b) Normas penais n lo incriminadoras:
- permissivas. Prescrevem causas de exclusão da ilicitude do fato. É o
caso da legítima defesa e do estado de necessidade, Ex,: arts. 24 e
25 do CP;
- exculpantes. Prescrevem outras causas de exclusão do crime (ex.:
coação moral irresistível) ou da punibilidade (ex.: prescrição).
30 DíREfTO PENAL para concurso — PÜÜCÉA FEDERAL - Hmereon C$$teh Branco
~ explicativas. Esclarecera o significado de outras normas. Ex 1: art.
327 (esclarece quem pode ser considerado funcionário público para o
fim de aplicação da iei pena); Ex 2.: art. 150, § 4.°, do Código Penal
(esclarece o significado da expressão “casa” para efeito de caracterizar
o crime de violação de domicílio);
- Complementares. São as que fornecem princípios gerais para a apli
cação da lei penai, tal como a existente no art, 59 do Código Penal.
1.3.6 Interpretação da lei penal
Quanto aos meios empregados: a) Gramatical- considera apenas o
sentido literal das palavras; b) Lógica ou teleológica ~ busca a finalidade
da norma penal.
Quanto ao resultado: a) Restritiva ~ consiste em restringir o alcance
da interpretação; b) Extensiva — quando se interpreta além da intenção
do legislador.
Importante observar o princípio in dublo pro reo - na dúvida, a
interpretação deve ser sempre mais favorável ao réu.
1.3.7 Analogia
Ocorre quando, em easos de lacuna da lei, utiliza-se a norma de um
caso semelhante ao outro que não está previsto na lei.
A questão é a seguinte: no Direito Penal, admite-se a aplicação de
analogia? Não se admite analogia para normas incriminadoras, em face
do princípio da reserva legal. Deve ser aplicada somente nas normas
penais não incriminadoras permissivas e explicativas.
Somente se admite analogia in bonSn partem, isto é, era, beneficio
do acusado, Como exemplo, temos o aborto praticado por enfermeiro,
diante da absoluta e previsível falta de médico no local (art. 128, I,
do CP), ou de sua expressa negativa em fazê-lo. Nesse caso, aplica-se
analogia in bonam partem (para beneficiar), em face da semelhança das
situações.
Qual a distinção entre analogia, interpretação extensiva e interpre
tação analógica? Enquanto a analogia se aplica nos casos de lacuna da
lei, as outras formas são apenas método de interpretação. A interpretação
extensiva concede à norma um alcance maior. A interpretação analógi
ca ocorre sempre que uma norma penal (ex.: “matar alguém”) traz em
uma seqüência casuística (“utilizando-se de veneno, fogo, tortura”) uma
fórmula genérica (“ou qualquer outro meio insidioso oü cruel”)-
Cap, 1 - PRINCÍPIOS E CARACTERÍSTICAS DO OiREITO PENAL______________31
1.4 QUESTÕES COMENTADAS
(CESPE/UnB 2008) Pelo princípio da retroatividade da lei mais benigna, a norma
processual penal tem efeito retroativo, anulando os atos processuais anteriores, no
caso de a lei nova de natureza exclusivamente processual vir a beneficiar o réu.
Resposta: Errado. O princípio da retroatividade de lei mais benigna se manifesta apenas
no campo do Direito Penal. No processo penal, aproveitam-se todos os atos processuais
anteriores, tendo a nova lei aplicação imediata, independentemente de ser mais ou
menos gravosa.
(CESPE/UnB 2007) Uma das vertentes do princípio da Iesividade tem por objetivo
impedir a aplicação do direito pena! do autor, Isto é, impedir que o agente seja punido
peio que é, e não pela conduta que praticou.
Resposta: Segundo o principio da iesividade, não haverá punição enquanto os efeitos de
uma conduta permanecerem na esfera de interesses da própria pessoa; iogo, proíbe que
o agente venha a ser punido por algo que afete seu próprio e único interesse, devendo-
-se considerar apenas as condutas praticadas que afetem interesses de terceiros.
(CESPE/UnB 2006} É cediço que a pena não pode passar da pessoa do condenado.
Esse entendimento corresponde ao princípio da íntranseendêneia.
Resposta; Certo, De acordo com o principio da Íntranseendêneia, a pena nôo pode
ser transmitida para herdeiros, sucessores, representantes legais. Não pode passar da
pessoa do condenado.
1.5 QUESTÕES CESPE/UnB
1. (Agente - Polícia CivílfTO 2008 - CESPE/UnS) O enunciado segundo o qual "não
há crime sem iei anterior que o defina, nem pena sem prévia cotninação legai"
traz insculpidos os princípios da reserva legal ou legalidade e da anterioridade.
2. (Agente - Poiicia Civil/RR 2003 - CESPE/UnB) Bento praticou o crime de receptação,
cuja pena é de reclusão de um a quatro anos. Posteriormente, por ocasião de seu
julgamento, passou a viger lei que, reguiando o mesmo fato, impôs pena de um a
cinco anos. Nessa situação, a lei posterior será aplicada em face do principio da
retroatividade de let mais severa.
3. (Agente - Polícia Civil/TO 2008 - CSSPE/UnB) Considere a seguinte situação hipotética.
Célio, penalmente imputáve!, praticou um crime para o qua! a tel comina pena de
detenção de 6 meses a 2 anos e multa e, após a sentença penal condenatória
recorrívef, nova lei foi editada, impondo para a mesma conduta a pena de reclusão
de 1 a 4 anos e multa. Nessa situação, a nova legislação não poderá ser aplicada
em decorrência do princípio da irretroatividade da lei mais severa.
4. (Defegado - Polícia CtvIl/TO 2008 - CESPE/UnB) Prevê a Constituição Federal que
nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o
dano e a decretação de perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos
sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido.
Referido dispositivo constitucional traduz o principio da Íntranseendêneia.
5. (Delegado - Poiicia Civíl/TO 200B - CESPE/UnB) Considere que um indivíduo seja
preso pela prática de determinado crime e, já na fase da execução penal, uma nova
iei torne mais branda a pena para aquele delito. Nessa situação, o indivíduo cumprirá
a pena imposta na legislação anterior, em face do princípio da irretroatividade da
iei penal.
32 DIREITO PENAI para concurso ~ POLICIA FEDERAL - Emerson Castalo Branco
6, (CESPE/UnB 2007) O pequeno valor da tes furtiva, por si só, autoriza a aplicação
do principio da insignificância.
7, (CESPE/UnB 2007) São sinônimas as expressões "bem de pequeno valor” e “bem
de valor insignificante", sendo a conseqüência jurídica, em ambos os casos, a
aplicação do princípio da insignificância, que exclui a tipicidade penal.
8, (CESPE/UnB 2008} Considere que um promotor de justiça tenha oferecido denúncia
contra determinado réu, Smputando-ifte um fato que, em (oi posterior à sua ocorrência,
viesse a ser definido como crime. Nessa hipótese, a denúncia fere o principio da
anterioridade, que define como lícita qualquer conduta que não se encontre prevista
em lei penal Sncriminadora,
S. {CESPE/UnB 2008) Quando lei nova que muda a natureza da pena, cominando
pena pecuniária para o. mesmo fato que, na vigência da lei anterior, ora punido
por meio de pena de detenção, não se aplica o princípio da retroatividade da lei
mais benigna.
10. (CESPE/UnB 2004} Quando lei nova que muda a natureza da pena, cominando
pena pecuniária para o mesmo fato que, na vigência da lei anterior, era punido
por meio de pena de detenção, não se aplica o principio da retroatividade da tei
mais benigna.
1.6 JURISPRUDÊNCIA ATUALIZADA
1.6.1 O princípio
da insignificância no crime de farto e o
pequeno valor econômico da coisa
O pequeno valor econômico da coisa é o suficiente para aplicar o
princípio da insignificância? Pode ser considerado critério exclusivo?
Não. Mais uma vez, o Supremo Tribunal Federal, apreciando o Ha-
beas Corpus 98.944/MG, reafirmou os quatro critérios a serem levados
em consideração na aplicação do princípio da insignificância. São eles:
if"
a) Mínima ofensividade da conduta..
b) Inexistência de periculosídatíe social do ato.
c) Reduzido grau de reprovabiKdade do comportamento.
d) Inexpressividade da lesão provocada.
No caso apreciado, o Min. Marco Aurélio verificou que, apesar da
coisa ser de peqüeno valor (RS 98,80), a suposta autora do delito tinha
oito antecedentes criminais e já fora condenada duas vezes, por furto e
por violação de domicílio. Responde ainda a dois inquéritos, sendo um
por porte ilegal de arma de fogo. Tentou furtar ainda produtos de uma
farmácia. Já haviam sido arquivados processos por contravenção penal
de perturbação da tranqüilidade.
Cap. 1 - PRINCfPtOS £ CARACTERÍSTICAS do d ire i to p e n a l 33
1,6.2 Princípio da insignificância exclui o fato típico, Não é causa
de extinção da punibiiidade, e sim do crime
Discute-se muito sobre a natureza do princípio da insignificância.
Seria causa de extinção da punibiiidade? Causa de exclusão do fato
típico, ou da antijuridicidade, ou da culpabilidade?
Entendendo que absolvição é diferente de não punibiiidade o mi
nistro Celso de Mello, relator do Habeas Corpus (HC) 98.152, aplicou
o princípio da insignificância a uma tentativa de furto de cinco barras
de chocolate num supermercado. Em seu voto, no qual teve a adesão
unânime da Segunda Turma, ele ressaltou que o. fato não pode ser con
siderado crime.
Segundo o STF a conduta sequer poderia ser considerada crime.
Portanto, ao ser absolvido, o acusado volta a ser considerado primário
caso seja réu posteriormente em outra ação.
“O reconhecimento da insignificância da conduta praticada pelo réu
não conduz à extinção da punibiiidade do ato, mas à aíipicidade do
crime e à conseqüente absolvição do acusado” (STF, HC 98.152/MG,
j. 19.05.2009).
Segundo o Min. Celso de Mello, relator do Habeas Corpus, “o fato
insignificante, porque destituído de tipicidade penal, importa em absol
vição criminal do réu.”
1 7 DICAS IMPRESCINDÍVEIS
Cumpre destacar as novas súmulas do Superior Tribunal de Justiça
(STJ) e do Supremo Tribunal Federal (STF) relacionadas ao princípio
da individualização das penas:
Súmula 444 dò STJ: “É vedada a utilização de inquéritos po
liciais e ações penais em curso para agravar a pena-base”.
Súmula 440 do STJ: “Fixada a pena-base no mínimo legai, é
vedado o estabelecimento de regime prisional mais gravoso do
que o cabível em razão da sanção imposta, com base apenas
na gravidade abstrata do delito”.
Súmula 439 do STJ: “Admite-se o exame criminológico pelas
peculiaridades do caso, desde que em decisão motivada”
34 DIRBTO PENAL para concurso - POLÍCIA FGDÊRAL *- Emerson Custeio Bfansc
Súmula Vinculante 26 do STF: “Para efeito de progressão de
regime no cumprimento de pena por crime hediondo, ou equipa
rado, o juízo da execução observará a inconstitucionalidade do
art. 2.° da Lei 8.072, de 25 de julho de 1990, sem prejuízo de
avaliar se o condenado preenche, ou não, os requisitos objetivos
e subjetivos do benefício, podendo determinar, para tal fim, de
modo fundamentado, a realização de exame criminológico”.
O que é o princípio da alteridade? É aquele que impede a punição
da autolesão. Em regra, as pessoas não podem ser responsabilizadas
criminai mente por algo que as atingem exclusivamente. Consiste ainda
na impossibilidade de se punir atitudes puramente internas. Exemplo:
O suicida, caso sobreviva, não possuí responsabilidade penal alguma,
por causa do princípio da alteridade, que proíbe a punição de condutas
que atingem apenas a pessoa do autor isoladamente (ex.: autolesão).
j O princípio da insignificância é utilizado para enfrentar o antigo
problema da tipícidade formal (mera descrição da conduta no tipo
penal)? Sim. Atualmente, exige-se que a conduta tenha condição de
lesar o bem jurídico protegido (típicidade material).
O que significa “mandado de criramalização”? Trata-se da indicação,
pelo legislador constituinte, de matérias a respeito das quais o legis
lador ordinário obrigatoriamente deve tratar, a exemplo do racismo
(art. 5.°, XLIÍ: nos termos da lei”) e dos crimes hediondos (art.
5.°, XLIII: “A Iei considerará [...]”).
As teorias do garantismo penal e do'"direito penal do inimigo se con
trapõem? Sim. O garantismo guarda perfeita sintonia com o Direito
Penal constitucional, baseado num conjunto de direitos e garantias
fundamentais da pessoa humana. Já o direito penal do inimigo divide
os criminosos em “cidadãos” e “inimigos”, pregando para estes últimos
uma série de supressões de direitos e garantias individuais.
Seria possível a aplicação do princípio da insignificância em relação à
prática de um determinado ato infracional? Sim. Trata-se da orientação
do STF.7
7 STF, HC 102j55S/RS, 22.06,2010.
APLICAÇÃO DA LEI PENAL
NO TEMPO E NO ESPAÇO
2.1 APLICAÇÃO BA LEI PENAL NO TEMPO
2.1.1 Irretroatividade da lei penal mais maléfica e retroatividade
da lei penal mais benéfica
De acordo com o art. 2.° do CP: “Ninguém pode ser punido por fato
que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a
execução e os efeitos penais da sentença condenatória. Parágrafo único.
A lei posterior que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos
fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada
era julgado”. Fundamento constitucional: o art. 5.°, no inciso XL.
Regra: a lei penai não pode retroagir.
Exceção: a 3et penal retroagirá quando trouxer aígum benefício para o
agente no caso concreto.
O princípio de que a lei retroage para beneficiar o acusado restringe-
-se às normas de caráter penal.
Abolitio criminis. Verifica-se sempre que lei posterior deixa de
considerar uma conduta como sendo criminosa. Se a lei posterior não
considera mais crime o fato anteriormente praticado, deve a mesma
retroagir para extinguir a punibilidade. Caso o réu esteja preso, deve
imediatamente ser liberado.
A lei penal mais benéfica possui extra-atividade (retroatividade e
ultra-atividade). Assim, sempre retroagirá quando for mais benéfica.
Quando for maléfica, jamais retroagirá.
36 DIREITO PENAL para concurso - POLÍCSA FEDERAL - Emerson Casto/o Branco
A lei penal nova mais favorável deve ser aplicada pelo juiz. Se o
processo se encontrar na fase de recurso, deve ser aplicada pelo Tribunal.
Por fim, no caso de sentença penal condenatória transitada em julgado,
a incumbência é do ju iz da execução criminal.
A irretroatívidade não atinge som ente as penas, com o também as
medidas de segurança.
A lei penal mais benéfica pode ser aplicada se estiver ainda no
período de vacatio leg is? A questão é extremamente polêm ica, havendo
duas correntes doutrinárias a respeito do assunto:
1.® Corrente: Durante o período de vacatio legis, a Lei não começou
ainda a vigorar, isto é, a propagar seus efeitos; portanto, nâo poderia
ter eficácia imediata, nem retroativa,
2.a Corrente: Seria suficiente a publicação da lei mais favorável para que
ocorresse a aplicação da lei penal mais benéfica.
Apesar de não existir posicionamento doutrinário majoritário, pes
soalmente, concordamos cora a primeira corrente. Perfeito o raciocínio
de Guilherme Nucci: “A Constituição diz apenas que à le i penal pode
retroagir para beneficiar o réu, devendo-se, por uma questão de lógica,
levar em consideração o momento em que vigora para toda a sociedade,
inclusive para os acusados.’51
Pode haver combinação de leis penais
favoráveis para beneficiar o
réu?
l.a Corrente: Defende a possibilidade da combinação, por favorecer o
réu.
2/1 Corrente: Defende a impossibilidade da combinação, porque estaria
o juiz usurpando a função do legislador, juntando duas leis, o que
ocasiona a formação de uma terceira. É atualmente a orientação con
solidada no STJ e no STF.2
NOTEI Nova Súmula 711 do Supremo Tribunal Federal; “A lei penal mais
grave aplica-se. ao ; crime continuada ou ao crime permanente, se a sua
vigência é anterior à cessação dá continuidade ou da pem anáncia“. Dessa
■forma,' nos crimes- permanentes e continuados, aplica-se sempre a úíttma
iai que vigorava no curso da permanência ou continuidade deütivà. ainda
que 'mais grave.
1 NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Direito Penal - Parte Geral e Parte Especial, São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2G0S, pág. 83,
2 STF, HC 97.221/5P, 19.10.2010.
Cap. 2 - APLICAÇÃO OA LEI PENAL NO TEMPO £ NO ESPAÇO 37
2.1.2 Tempo do crime
De acordo com o art. 4.° do CP: “Considera-se praticado o crime
no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do
resultado”.
Teorias:
a) da atividade (adotada pelo CP) - Considera praticado o crime no
momento da ação ou omissão.
b) do resultado - O momento do crime é. o da ocorrência do resultado
delitivo.
c) da ubiquidade (ou mista) - É tanto o momento da atividade como o
do resultado.
2.1.3 Leis de vigência temporária
O art. 3.° do CP estabelece: “A lei excepcional ou temporária, embora
decoiridô o período de súa duração ou cessadas as circunstâncias que a
determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua vigência”.
Característica principal: a ultratividade. Significa que a lei será
aplicada a um fato cometido no período de sua vigência, mesmo após
a sua revogação. A ultratividade ocorrerá sempre, ainda que prejudique
o acusado.
Espécies:
a) lei excepcional - É aquela que vigora por tempo indeterminado, en
quanto durar a situação excepcional. Ex.: guerra.
b) lei temporária - É aquela que surge para vigorar por tempo previa
mente estabelecido, isto é, com começo e com íim pré-âxado.
Sâo leis autorrevogáveis ("intermitentes”). Em regra, uma Lei somente
pode ser revogada por outra, posterior, que a revogue expressamente, que
seja com ela incompatível ou que regule integralmente a matéria nela
tratada, conforme dispõe a Lei de Introdução ao Código Civil.
Conforme fora estudado anteriormente, a lei penal mais benéfica
possui ultratividade para beneficiar o réu, Porém, essa ultratividade
é um pouco diferente da ultratividade das leis temporárias e excep
cionais, porque nestas haverá ultratividade ainda que esta seja pre
judicial ao róu.
"¥
38 DIREITO PENAL para concurso - POLlCIA FSDERAl - Bmerson Castelo Branco
2.2 APLICAÇÃO DA LEÍ PENAL NO ESPAÇO
2.2.1 Princípio da territorialidade (art. S.° do CP)
Territorialidade, esclarece Nucci, “é a aplicação das leis brasileiras
aos delitos cometidos dentro do território nacional (art. 5.°} caputdo CP).
Esta é uma regra gerai, que advém do conceito de soberania, ou seja, a
cada Estado cabe decidir e aplicar as leis pertinentes aos acontecimentos
dentro do seu território.”3
Elementos do território nacional:
a) o solo ocupado pela nação;
b) o$ rios, os lagos e os mares interiores e sucessivos;
c) os golfos, as baías e os portos;
d) a faixa de mar exterior, que corre ao largo da costa e que constitui
o mar territorial;
e) a parte que o direito atribui a cada Estado sobre os rios, lagos e mares
fronteiriços;
f) os navios nacionais;
g) o espaço aéreo correspondente ao território;
h) as aeronaves nacionais.
Território brasileiro por equiparação (art. 5.°, § 1 do CP): São duas
as situações: a) embarcações e aeronaves brasileiras de natureza pública
ou a serviço do governo brasileiro onde estiverem; b) embarcações e
aeronaves brasileiras, de propriedade ppvada, que estiverem navegando
em alio-mar ou sobrevoando águas intpmacionais.
Dois são os princípios da territorialidade: a) territorialidade abso
luta, segundo o qual, sempre será aplicada a lei brasileira; b) territo-
rialidade temperada, segundo o qual a lei penal brasileira, em regra,
aplica-se ao crime cometido no território nacional, mas excepcional
mente pode ser aplicada a lei estrangeira, quando assim determinarem
tratados e convenções internacionais. O Brasil adotou a territorialidade
temperada.
3 NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Direito Penal - Parte Geral e Parte Especial, São Pauto:
Revista dos Tribunais, 2005, p. 102.
Ca p. 2 - APLICAÇÃO DA LEI PENAL NO TEMPO E NO ESPAÇO 39
í ' '
NOTE! Quai a Justiça competente para juigar crimes cometidos a bordo
de embarcações © aeronaves? No caso das aeronaves, sempre será da
Justiça Federa! (art, 109, IX, da CF). Entretanto, nas embarcações, outra
ô a solução. Segundo o STJ, a CF/1988 menciona a palavra “navio",
devendo-se entender como tat somente a embarcação de grande porte, com
potencial para viagens internacionais. Por isso mesmo, é da competência
da Justiça Estadual os crimes cometidos em lanchas, botes, dentre outras
embarcações de pequeno porte.
Princípio do paviihâo ou da bandeira; Consideram-se as embarcações
e aeronaves como extensões do território do país em que se acham matri
culadas, quando estiverem em alto-mar ou no espaço aéreo correspondente.
Não serão consideradas extensão do território brasileiro as nacionais que
ingressarem no mar territorial estrangeiro ou o sobrevoarem.
No tocante aos navios de guerra e às aeronaves militares, são conside
rados parte do território nacional, mesmo quando em Estado estrangeiro.
O mesmo ocorre com os navios e aeronaves militares de outra nação
presentes no território brasileiro.
2.2.2 Princípios da extraterritoriaiidade
a) Principio da defesa (real, ou de proteção) - Aplíca-se a lei penal
brasileira, independentemente de fronteiras, se o bem jurídico for de
proteção especial (art 7°, inciso I, alíneas a, b, c, do CP). Situações;
crimes contra a vida ou a liberdade do Presidente da República;
contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal,
de Estado, de Município, de empresa pública, sociedade de economia
mista, autarquia ou fundação instituída pelo Poder Público; contra a
administração pública, por quem está a seu serviço,
b) Da nacionalidade (ou da personalidade) - Apiica-se a iei nacional do
autor do crime, qualquer que tenha sido o local de sua prática (prin
cípio da personalidade ativa). E o caso da responsabilidade penal de
um brasileiro que comete um crime no exterior e se refugia no Brasil,
Como não é possível extradição, para evitar impunidade, a solução
é aplicar a lei brasileira (art. 7,® inciso ÍI, alínea b, do CP). E ainda
quando o crime é cometido por estrangeiro contra brasileiro, fora do
Brasil, desde que atendidas certas condições (princípio da personalidade
passiva ~ § 3.°, do art. 7.°, do CP).
c) Da justiça penal universal - É o direito de punir determinados delitos,
mesmo que praticados fora do território nacional, face à gravidade do
mesmo, desde que existam tratados e convenções internacionais esta
belecendo dessa maneira, como os crimes de genocídio e de tráfico
ilícito de drogas (art. 7.°, inciso I, alínea d e inciso II, alínea á).
40 DIREITO PENAL para concurso - POLÍCIA FEDERAL - Emerson Casteio Branca
d) Da representação - A lei .penal aplica-se aos crimes cometidos no
estrangeiro em aeronaves e embarcações privadas, desde que não jul
gados no local do crime. Exemplo: em uma aeronave privada brasileira,
sobrevoando território de um determinado país, um estrangeiro pratica
crime contra outro. Se o governo estrangeiro nâo possuir interesse em
punir o criminoso, o Brasil será o juízo competente, em face da ban
deira ostentada pela aeronave, (art. 7.® inciso II, alínea
c, do CP).
2.2.3 Formas de extraterritorialidade
- Incondicionada: são as hipóteses previstas no inciso I do art. 7.°. Diz-
-se incondicionada, porque não se subordina a qualquer condição para
atingir um crime cometido fora do território nacional.
- Condicionada: são as hipóteses do inciso II e do § 3.°. Nesses casos, a
lei nacional só se aplica ao crime cometido no estrangeiro se satisfeitas
as condições indicadas no § 2.° e nas alíneas a e b do § 3.°.
2.2.4 Lugar do crime
De acordo com o art. 6° do CP: “Considera-se praticado o crime
no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo qu em parte, bem
como onde se produziu ou devia produzir-se o resultado”.
Teorias
a) da atividade Considera-se como lugar do crime o local em que se
praticou a ação ou omissão,
b) do resultado - Lugar do crime é o local em que acontece o resultado
delítívo. í*
c) da ubiquidade (ou mista) - É tanto o lugar da atividade como também
o do resultado. Teoria adotada pelo sistema brasileiro.
NOTE! Como'foi adotada a teoria da ubiquidade (mista)/ à lei. péhál bra
sileira-será aplicada .ainda que ém nosso territôrio somente aconteça o
resultado (ex;: tiros disparados.na Colômbia, enquanto a morte.ocorreu no
Brasil) ou mesmo somente os atòs executórios (ex.: tiros dlsparddos nó
Brasil, tendo a morte ocorrido na Colômbia), Pergunta-se: E . se somente
forarn praticados atos preparatórios e m ' nosso território (ex.: compra da
arma de fogo utilizada para praticar um homicídio), pode a lei brasileira
ser aplicada? Não. Haverá necessidade de ocorrência dé pelo menos um
alo ©cecutóno .em nosso território. .
Cap. 2 - APLICAÇÃO DA LEJ PENAL n o t e m p o b n o es p a ç o
I ~ ' ' ' '
2.3 QUESTÕES COMENTADAS
41
(CESPBUnB 2008) Ê aplicado o principio real ou o principio da proteção aos crimes
praticados em pais estrangeiro contra a administração pública por quem estiver a
seu servigo. A lei brasileira, no entanto, deixará de ser aplicada quando o agente for
absolvido ou condenado no exterior.
Resposta; Errado. De fato, na hipótese citada, aplica-se o principio real (da proteção, ou
da defesa). Entretanto, a lei pena! brasileira será sempre aplicada, ainda que o agente
venha a ser absolvido ou condenado no estrangeiro. Trata-se de extratarritorialiciada
incondicionada, prevista na aifnea c, do inciso i, do art. 7 ° , do Código Penai.
(CESPE/UnB 2003) Pertinentes à eficácia da lei pena! no espaço, destacam-se os
princípios da territorialidade, personalidade, competência real, justiça universal e
representação.
Resposta: Correto. São prinçiplos referentes à atuação da lei penal no espaço, dentre
os quais se destaca, como regra, o princípio da territorialidade, segundo o qual a lei
penal brasileira ô aplicada aos crimes cometidos dentro do território nacional. Contudo,
a territorialidade não ô absoluta, sendo apficada de modo moderado (temperada), porque
existem situações de incidência da lei penal brasileira a crimes cometidos fora do território
nacional. A extraterritorialidade se compõe de vários princípios, dentre os quais, o da
personalidade, o da competência reaí, o da justiça universai e o da representação.
(Juiz de Direito do Estado de Tocantins 200? CESPEiUnB) A lei penai mais grave
não s& aplica ao «rime continuado, se a sua vigência é anterior à cessação da
continuidade.
Resposta: Errado. Súmula 711 do Supremo Tribunal Federal: “A iei penal mais grave
aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é anterior à
cessação da continuidade ou da permanência”.
(Juiz de Direito do Estado do Piauí 2007 CESPE/UnB) Para processo o julgamento de
um crime de homicídio praticado a bordo de uma embarcação brasileira que esteja em
alto-mar, vindo da França para o Brasil, é competente o foro do íugar de nascimento
do autor do crime.
Resposta: Errado. Afirmação completamente absurda. Aplíca-se ao caso o princípio da
territorialidade, previsto no § 1.®, 2,a parte, do art. 5.° dispõe: “Para os efeitos penais,
consíderam-se como extensão do território nacional as embarcações e aeronaves brasileiras,
mercantes ou de propriedade privada, que se achem, respectivamente, no sspaço aéreo
correspondente ou em alto-mar".
(Ministério Público SE CESPE/UnB 2010} De acordo com a iei penai brasileira, o
território nacional estende-se a
a) embarcações e aeronaves brasileiras de natureza pública ou a serviço do governo
' brasileiro, onda quer que se encontrem.
b) embarcações e aeronaves brasileiras de natureza pública, desde que se encontrem
no espaço aéreo brasileiro ou em alto-mar.
c) aeronaves e embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, onde
quer que se encontrem.
d) embarcações e aeronaves brasileiras de natureza pública, desde que se encontrem
a serviço do governo brasileiro,
e) aeronaves e embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, desde que
estejam a serviço do governo do Brasil e se encontrem no espaço aéreo brasileiro
ou em aiío-mar.
42 DIREITO PENAL para concurso - POLlClA FEDERAL - Emerson Cssfelo Branco
Resposta: A. Território nacional é todo o espaço de exercício da soberania de um
país, Para efeitos penais, o Código Penal estabeleceu como território brasileiro todas as
embarcações e aeronaves públicas, independentemente do lugar em que se encontrem.
No caso das embarcações e aeronaves brasileiras privadas, a Sei pena! brasileira não
se aplica quando estas se encontram em território estrangeiro, ou em espaço ou mar
territorial estrangeiro, FlcarSo, contudo, sujeitos á lar brasiielra tais crimes se forem
praticados em território estrangeiro e ai não sejam julgados, desde que atendidas ès
condições previstas no art, 7°, § 2.51, do CP.
2.4 QUESTÕES CESPE/UnB
1. {Agente da Policia Federai 2004 - Prova azul ~ CESPE/UnB) Céila praticou crime
punido com pena de reclusão de 2 a 8 anos, sendo condenado a 6 anos e 5
meses de reclusão em regime inicialmente semtatserto. Apelou da sentença penal
condenatórla, para ver sua pena diminuída. Pendente o recurso, entrou em vigor
tei que reduziu a pena do crime praticado por Célio para reclusão de 1 a 4 anos.
Nessa situação, Célio não serã beneficiado com a redução da pena, em face do
princípio da irrefroatlvidade da lei pena! previsto constitucionalmente.
2. (Delegado da Polícia Federat 2004 Regional branca - CESPE/UnB) Robervat foS
definitivamente condenado pela prática de crime punido com reclusão de um a
três anos. Após o cumprimento de metade da pena a ele aplicada, adveio nova
lei, que passou a punir o crime por ele praticado com detenção de dois a quatro
anos. Nessa situação, a lei nova não se aplicará a Roberval, tendo em vistá que
sua condenação já havia transitado em julgado.
3. (Delegado - Polícia Ctvil/ES - CESPE/UnB) A le! temporária é exceção ao princípio
da irretroativldade da lei penal, sendo ela ultra-atlva.
4. (Delegado - Polícia Civíl/SE 2006 - CESPE/UnB) Considere a seguinte situação
hipotética. Patrício, nascido às 16 horas de determinado dia, praticou um roubo às
10 horas do dia correspondente ao seu 18.° aniversário. Preso em flagrante delito,
a autoridade policial concluiu pela menorldade do conduzido, entendendo que a
maioridade penal somente aerla alcançada à hora correspondente ao nascimento
de Patrício, ou seja, ãs 16 horas. Nessa situação, a autoridade policial errou, visto
que a maioridade penal começa à zero hora do dia em que a pessoa completa
dezoito anos de idade.
5. (Delegado - Polícia CivilfTO 2008 - CESPE/UnB) Na hipótese de o agente iniciar
a prática de um crime permanente sob a vigência de uma le), vindo o delito a se
prolongar no tempo até a entrada em vigor de nova legislação, aplíca-se a última
lei, mesmo que seja a mais severa;
6. (Delegado da Policia Federai 2004 Nacional - CESPE/UnB) Laura, funcionária pública
a serviço
do Brasil na Inglaterra, cometeu, naquele país, crime de peculato. Nessa
situação, o crime praticado por Laura ficará sujeito à lei brasileira, em face do
princípio da extraterritorialidade,
7. (Delegado da Polícia Federa! 2004 Regtonat branca ~ CESPHUnB) Um cidadão sueco
tentou matar o presidente do Brasil, que se encontrava em visita oficiai à Suécia.
Nessa hipótese, o crime praticado não ficará sujeito à lei brasileira.
Cap. 2 - APLICAÇÃO DA LEI PENAL NO TEMPO E NO ESPAÇO 43
í " ' _
8. {Delegado da Polícia Federal 2002 - CESPE/UnB) Em alto-mar, a bordo de uma
embarcação de recreio que ostentava a bandeira do Brasil, Júíío praticou um crime
de latrocínio contra Lauro. Nessa situação, aplicar-se-á a tei penal brasileira.
S, {CESPE/UnB 2004) O princípio básico que norteia a aplicação da lei penal brasileira
é o da territorialidade temperada.
10. (CESPE/UnB 2004) Ocorrido crime de homicídio no interior de navio tnifííar inglês
ancorado em porto brasileiro, pelo princípio da territorialidade, apllcar-se-ã ao autor
do fato a lei penal brasítelra.
. 2,5 DICAS IMPRESCINDÍVEIS
A abólitio criminis exclui todos os efeitos penais e civis da sentença
penai condenatória? NSo. Efeitos penais, sim. Contudo, permanecem
os efeitos civis.
A denominada teoria da ponderação unitária, a qual não admite com
binação de leis penais, prevalece atualmente em detrimento da teoria
da ponderação diferenciada (admite combinação de leis penais para
beneficiar o réu)? Sim. No Supremo Tribunal Federal, a mais recente
orientação é no sentido de não se admitir combinação de leis (adoção
da teoria da ponderação unitária), “sob pena de se estar criando uma
nova lei que conteria o mais benéfico dessas iegislaç5es,V
Na hipótese de várias leis penais, é possível a aplicação de lei in
termediária mais favorável? Sim. Perfeitamente possível, conforme
orientação do STF.5
Será sempre aplicada a lei vigente ao tempo do crime? Nem serapre. A
lei vigente ao tempo do crime é a regra. Contudo, se a lei vigente ao
tempo do resultado for mais benéfica, será esta aplicada, retroagindo
para beneficiar o réu. Portanto, o candidato deve estar atento para os
detalhes do quesito.
4 STF RHC 101,278/RI, 27.04.2010,
5 STF RE 418.876/MT, 30.03.2004.
44 DIREITO PENAL para concurso - POÜCIA FEDERAL - Emerson Castelo Brsnco
Assim como nos crimes continuados e permanentes, em relação aos.
habituais, adota-se o mesmo raciocínio utilizado quanto ao tempo do
crime? Sim. Havendo várias leis penais durante o cometiraento de
crime habitual, aplica-se a última, ainda que mais grave.
Quais as teorias adotadas em relação ao espaço aéreo correspondente
e ao mar territorial brasileiro? Quanto ao espaço aéreo correspondente,
resta contemplada a teoria da absoluta soberania do país subjacente,
isto é, domínio pleno do Brasil do espaço aéreo do seu território. Já
em relação ao mar territorial, o Brasil também exerce soberania, mas
adota o direito de passagem inocente, conferindo a navios estrangeiros
a possibilidade de circularem de passagem (transitoriamente). Obvia
mente, se for cometido algum delito em nosso mar territorial, será
aplicada, em regra, a lei penal brasileira.
'uai o significado do princípio da continuidade normativo-típica? É
o efeito gerado quando uma norma penal é revogada, mas a mesma
conduta continua sendo considerada criminosa por outra norma. Em
outras palavras, a conduta apenas passa a constar na hipótese de
incidência de outra norma penal. Não ocorre a abolitio criminis pro
priamente dita, porque não haverá a descriminalizaçâo da conduta. O
STF aplicou o princípio da continuidade normativo-típica í io caso do
crime de apropriação indébita previdenciária, previsto no art 168-A
do Código Penal6. No mesmo sentido, o STJ também o aplicou em
relação ao Estatuto do Desarmamento.7
4 STF RHC 88.144/SP, 04.04.2006.
7 STJ RHC 18.722/5P, 04.05.2006.
TEORIA GERAL DO CRIME
3.1 CONCEITO DE CRIME
O conceito de crime possui três acepções:
a) material: Todo fato humano que lesa ou expSe a perigo determinado
bem jurídico.
b) formal: É tudo aquilo que o legislador descrever como crime.
c) analítica: É todo fato típico, ilícito e cuipável (conceito tripartido).
O conceito analítico de crime pode ser bipartido ou tripartido, a
depender da corrente adotada,
1 * Corrente: Conceito bipartido. É fato típico e antijurídico (ilícito). Tipi-
cidade e antijuridicidade são os elementos do crime. A culpabilidade
é apenas pressuposto de punibiiidade, isto é, de aplicação da pena,
2.® Corrente: Conceito tripartido. É fato típico, antijurídico (ilícito) e
cuipável (culpabilidade). Nesta teoria, a culpabilidade deixa de ser
mero pressuposto de aplicação da pena (punibiiidade), passando a ser
considerada elemento estrutural do crime.
Outras correntes: a) quadripartido - crime seria um fato típico, anti-
jurídico, cuipável e punível; b) fato típico, antijuiidicidade e punibiiidade
(posição de Luiz Flávio Gomes);
NOTEI Posição majoritária: teoria trtparficia. Crime é uma conduta típica
(fato típico), contrárÍa: ao : direito {antijuridicidade) sujeitai a um jufzo de
censurabilrcfade social sobre o fato e seu autor (cu)pabilidade).
46 DIREITO PENAL para concurso - POLlCiA FEDERAL - Emerson Casiela Branco
A punibilidade não é requisito do crime, mas sua conseqüência
jurídica.
NOTEI A infração penal é o gênero, do qual decorrem as espécies crime
e contravenção penal, Mas qual a diferença entre crime e contravenção
penal? A diferença não è em termos de essência, situando-se apenas no
campo da pena. Os crimes sujeitam seus autores às penas de reclusão
e detenção, enquanto as contravenções têm como pena a prisão simples.
As penas do crime podem ser privativas de liberdade, isolada, alternativa
ou cumulativamente com multa; enquanto, para as contravenções penais,
admite-se a possibilidade de fixação unicamente da multa, embora a pe
nalidade pecuniária possa ser ccminada em conjunto com a prisão simples
ou esta também possa ser prevista ou aplicada de maneira isolada.1
3.2 TEORIAS DA CONDUTA
3.2.1 Teoria causalista (naturalista ou causai)
Segundo esta teoria, a conduta é neutra, desprovida de qualquer
valoração. O dolo e a culpa estão situados na culpabilidade, e não no
fato típico. Na conduta, não existe qualquer análise de ordem subjetiva.
Tomemos como exemplo um motorista que, dirigindo seu veículo auto
motor, com todos os cuidados devidos, atropela e mata ura bêbado que
atravessara a rua abruptamente. Para os adeptos desta teoria, o motorista
causou fisicamente (natural isticamente) um resultado previsto na norma
penal, havendo, portanto, fato típico. A análise do dolo e da culpa so
mente interessaria quando fosse analisada a culpabilidade.
3.2.2 Teoria finalista
Criada por Hans WelzeL conduta é entendida como a ação ou
omissão voluntária e consciente, que se volta a uma finalidade. A ação
humana é o exercício da atividade finalista. Não é possível separar o
dolo e a culpa da conduta típica, cómo se fossem fenômenos distintos.
Diferentemente da teoria causalista, não basta a análise do nexo causai
para determinar-se a configuração do fato típico. É preciso analisar se
o dolo e a culpa estão presentes.
A teoria finalista, adotada pelo Código Penal brasileiro, é a corrente ma
joritária. A principal crítica dos finalistas aos causalistas é a impossibilidade
1 NUCCt, Guilherme de Souí». Manual de Direita Penal - Porte Geral e Parte Especial, São Paulo:
Revista dos Tfiburtais, 2005, p. ISO.
Cap. 3 - TEORIA GSRAL DO CRIME 47
de se separar a vontade da conduta, uma vez que esta se origina justamente
da vontade. Separar a conduta da vontade seria uma contradição absurda.
3.2.3 Oatras teorias
Teoria social da ação - É pensamento de natureza sociológica, se
gundo o qual a conduta somente
será típica se não for adequada social
mente. Analisa-se a adequação da ação ao meio socíal. A ação somente
será criminosa se gerar um resultado socialmente relevante. Era face da
insegurança jurídica desta, não foi adotada pelo Código Penal.
Teoria funcional (ftmcionalista) - Nesta, a análise da adequação
típica leva em consideração a política criminal. O importante é resolver
as diversas situações com justiça. Deve-se buscar a solução mais eficaz
para o pleno funcionamento do sistema. Não foi adotada, por gerar in
segurança, incertezas na aplicação do Direito Penal.
3.3 SUJEITO ATIVO DO DELITO
Sujeito ativo é a pessoa que pratica a conduta criminosa descrita na
norma penal. Seu significado abrange também aquele que, apesar de não
executar a ação nuclear (ex.: “matar”, “subtrair”, “constranger”), contribui
de forma secundária (denominado participe), colaborando para a ação
criminosa, conforme estudaremos adiante.
Alguns crimes podem ser praticados por qualquer pessoa (ex.: homi
cídio), enquanto outros exigem características especiais do agente (ex.: ser
mãe e estar em estado puerperal, no crime de infanticídío - art, 123 do
CP; ser funcionário público, no crime de peculato - art. 312 do CP).
MOTE! A pessoa jurídica somente pode ser sujeito ativo nos delitos pratica
dos contra o meio'ambiente {Lei n.'° 9.605/1998). Contudo, a Constituição
Federai de; 1088, nò . § dò.art , ''173,Vpjeyê’aindá'-á responsabilidade
penal ds pessoa- juridica' nos crimès contra; o 'sistema’ financeiro nacional,
contra a órdenr econômica e contra a economia popular.
3.4 SUJEITO PASSIVO DO DELITO
Sujeito passivo (vítima, ofendido) é o titular do bem jurídico protegido.
Espécies de sujeito passivo: a) formal (ou mediaío)-^ é o Estado,
responsável pela tutela penal; b) material (ou imediato) - É o titular do
48 DIREITO PENAL para concurso - POÜCIA FEDERAL - Emerson Castelo Branco
bem jurídico ofendido. Pode ser a pessoa física ou jurídica, a coletivi
dade, o Esiado. Por exemplo, no crime de homicídio o sujeito passivo
formal é o Estado, mas o sujeito passivo material é a pessoa que teve
sua vida destruída.
Os crimes em que os sujeitos passivos materiais são coletividades
destituídas de personalidade jurídica (ex.: família, sociedade) são deno
minados vagos.
O incapaz pode ser sujeito passivo, porque é titular de direitos.
O morto não pode ser sujeito passivo, pois não é titular de direitos,
podendo ser objeto. Assim, no delito do art, 138, § 2°, do CP (“calú
nia contra os mortos”), os sujeitos passivos são os familiares do morto,
responsáveis por sua memória.
O ser humano pode ser sujeito passivo mesmo antes de nascer? Sim.
Por exemplo, no crime de aborto. O feto tem direito à vida, sendo esta pro
tegida pela norma penal que determina a punição à prática do aborto.
Os animais podem ser sujeito passivo? Não. São apenas objeto mate
rial, ou seja, os animais não são titulares de direitos. Por isso, em caso de
subtração de um animal, sujeito passivo será seu proprietário. No crime de
maus-tratos aos animais, é a coletividade (Lei n.° 9.605/1998, art. 32).
NOTEI O sujeito passivo è o prejudicado não são necessariamente a mesma
pessoa, ainda que isto ocorra na msloria dos casos. Prejudicado é qualquer
pessoa a quem.ò crime haja causáctó um'prejuízo, patrimonial ou nâo, tendo’
por conseqüência o direito ao ressarcimento; enquanto o sujeito passivo é
o titular do interesse jurídico vioíádo, qiie também tem esse direito.
A pessoa jurídica pode ser sujeito passivo, desde que sua natureza
se adéque ao crime. Assim, uma empresa pode ser vítima dos crimes de
furto e de dano, mas não do crime de Homicídio ou de estupro.
NOTÊ! Pode o sujeito ativo ser. ao rrsésmo tempo sujeito passivo de; algum
çrime'em facéde siia própria 'çondúfa? Em;regrà;..não.'A conduta que refjete
ápenás no dirèitófdq próprio agériíe, sem atingir terceiros nao ..configura
crime'àlgüm. ê o caso, por. exemplo, da autolesão, queVsomènte' terá re
percussão penal se atingir terceiro, como'no'caso de o agente'que ofende
sua saúde, com o intuito de obter valor do seguro {estelionato, art. 171, §
2.°, V). O sujeito passivo será a empresa seguradora. Exceção: o crime de
rixa (art, 137), em que os rixosos são; ao mesmo tempo, sujeitos ativos e
passivos. O rixòso é sujeito ativo em relação à sua própria conduta; e ê
sujeito passivo em razão da coauforia ou participação dos outros.2
! Para Damásio, o sujeito ativo jamais poderia ser sujeito passivo da mesma ação. Wde JESUS,
Damásio E. de. Direito Penal - Geral - V.h 27.* ed., Sâo Paulo: Saraiva, 2G0S, pág. 174.
Cap. 3 - TEORIA GERAI DO CRiME 49
3.5 OBJETO JURÍDICO E OBJETO MATERIAL
Objeto jurídico do crime é o bem jurídico, isto é, o interesse protegido
pela norma penal. É a vida, no homicídio; a integridade corporal, nas lesões
corporais; o patrimônio, no furto; a honra, na injúria; a liberdade sexual
da pessoa no estupro; a administração pública, na corrupção passiva.
Objeto material do crime é a pessoa ou coisa sobre as quais incide
a ação. Não se confunde com o objeto jurídico. Dessa forma, no crime
de homicídio, o objeto material é o corpo da pessoa, e não a vida; no
furto, é a coisa subtraída, e não o patrimônio; no estupro, é o corpo da
pessoa e não sua liberdade sexual,
Há crime sem objeto material? Sim. É o caso, por exemplo, dos crimes
de injúria verbal, falso testemunho, dentre outros. Observe: Todo crime possui
objeto jurídico protegido, mas nem todo crime possui objeto material.
3.6 ANÁLISE DOS ELEMENTOS ESTRUTURAIS DO CRIME
3.6.1 Fato típico
Fato típico é a conduta humana positiva (ação) ou negativa (omissão),
dolosa ou culposa, que gera um resultado (em regra), estando prevista
na norma penal (tipicidade).
Possui os seguintes elementos:
a) Nexo de causalidade
Nexo causai. É o elo que se estabelece entre a conduta do agente e o
resultado, por meio do qual é possível dizer se aquela deu ou não causa
a este. Ex.: um motorista, embora dirigindo seu automóvel com absoluta
diligência, acaba por atropelar e matar uma criança que se desprendeu
da mão de sua mãe. Mesmo sem atoar com doto ou culpa, o motorista
deu causa ao evento morte, pois foi o carro que conduzia que passou
por sobre a cabeça da vítima.
No entanto, para a configuração do fato típico, não basta a existência
do nexo causai. É necessário comprovar a presença de dolo ou culpa,
conforme estudaremos adiante.
b) Conduta dolosa ou culposa
O dolo e a culpa constituem o denominado elemento subjetivo do
tipo. Assim, para que um determinado fato seja considerado típico, é
so DiREiTO FENAL pare concurso - FOLfCSA FEDERAL - Emerson Castelo Branco
necessário que o ato tenha sido praticado com dolo ou com culpa, Não
havendo dolo ou culpa, o ato será involuntário e, por conseguinte, o fato
será atípico, como nas hipóteses de caso fortuito, força maior, coação
física e atos de puro reflexo.3
c) Resultado
O resultado pode ser:
- Naturalístico - consiste na modificação do mundo exterior provocada
pela conduta. Ex.: crimes de homicídio (destruição da vida); de lesão
corporal .(ofensa à integridade física ou saúde mental), dentre outros,
Obs: a maioria dos delitos gera resultado naturalístico.
- Jurídico - Alguns crimes não trazem resultado naturalístico (alteração
no campo dos fatos). Ex,: crimes de porte ilegal de arma de fogo. O
resultado é apenas jurídico.
d) Tipicldade
Consiste na adequação da conduta com a descrição da norma penal.
Em outras palavras, é adequação do fato à descrição legal.
Os elementos do tipo penal dividem-se ainda em:
1.® Classificação:
a) Tipo normal: contém somente elementos objetivos (descritivos);
b) Tipo anormal: contém elementos objetivos, subjetivos e normativos.
Os tipos denominados derivados são os que se formam a partir do
tipo
fundamental, mediante o destaque de circunstâncias que o agravam
ou atenuam.
2.® Classificação:
a) Objetivos (ou descritivos) - São aqueles cujo significado pode ser
compreendido sem juízo de valor em outros campos do conhecimento.
Heleno Cláudio Fragoso, em sua obra clássica Lições de Direito Penal,
afirma que são elementos tão claros que até uma criança conseguiria
depreender o seu significado. Assim, o verbo (núcleo do tipo) previsto
no tipo penal é um elemento objetivo. Ex.: “matar”, “subtrair’, "cons
tranger” etc.
b) Normativos - São aqueles em que o juiz deve buscar seu significado
em outros campos do conhecimento, jurídico, histórico, cultural etc.
J Toledo, Francisco de Assis. Princípios básicos do direito penai São Paulo: Saraiva, 5.® ed, São
Paulo, Saraiva, p. 123,
Cap. 3 - TEORIA GERAL DO CRIME 51
Ex.: “coisa alheia”, “funcionário publico”, “indevidamente”, “sem
autorização”.
c) Subjetivos - Caracterizam o doto e a culpa. Em alguns delitos, são
constituídos pelos elementos subjetivos especiais do tipo, esses últimos
denominados elementos subjetivos do injusto (antigamente denominado
dolo específico).
3.6.2 Antijuridicidade (ilidtude)
Antijuridicidade é a relação de contrariedade entre a conduta cometida
e o ordenamento jurídico. Em outras palavras, a conduta será antijurídica
quando contrariar uma norma de Direito, isto é, quando for contrária ao
Direito. Implica, na eonceituação clássica de Zafíarom, na “afirmação de
que um bem jurídico foi afetado”, contrariando a ordem jurídica.4
Uma conduta pode ser antijurídica sem ser criminosa. Basta que o
ato antijurídico praticado pelo agente não esteja descrito na norma penal
como crime. Um exemplo disso ocorre quando um dos contratantes deixa
de cumprir o contrato, ou, quando o empregador deixa de pagar os direi
tos trabalhistas devidos ao empregado. Esses atos, apesar de ilícitos, não
constituem ilícito penai São antijurídicos, mas não são típicos* porque
não estão descritos na norma penal como crime.
3.6.3 Culpabilidade
Culpabilidade é um juízo de reprovação social, censurabilídade. A
reprovabilidade recai sobre o agente e sobre o fato.
Guilherme Nucci a conceitua como “um juízo de reprovação social,
incidente sobre o fato e seu autor, devendo o agente se imputável, atuar
com consciência potencial de ilicitude, bem como ter a possibilidade e
exigibilidade de atuar de outro modo”.5
A culpabilidade é elemento do crime, e não mero pressuposto da
pena. Dessa forma, se o fato for típico e antijurídico, ausente a culpa
bilidade, não será infração penal.
Na teoria causalista (minoritária e não adotada), o dolo e a culpa
integram o conceito de culpabilidade.
A ZAFFARONI, Eugênio Raúi. Manual de Direito Pena! brasileiro, São Paulo, ed. Revista dos Tribunais,
1998, p. 572.
5 NUCCI, Guilherme da Souza. Manual de Direito Penal - Parte Geral e Parte Bipecial, São Pauto:
Revista dos Tribunais, 2O0S, p. 251.
3.7 QUESTÕES COMENTADAS
52 PiREtTQ PSMAL para concurso — POLÍCIA FEDERAL - ÉtrwsQfí Cústoto Branco
(CESPE/UnB 2008) A pessoa jurídica pode ser sujeito ativo cie crime, dependendo da sua
responsabilização penal, consoante entendimento do STJ, da existência da intervenção
de uma pessoa física que atue em nome e em benefício do ente moral.
Resposta: Certo. Nesse sentido, é a orientação do Superior Tribunal de Justiça, A previsão
legai srtcomra-se no art. 3.® da Lei n.c 9,605/1998 (Lei Ambiental); e no § 3.‘ , do art,
226 da CF/88. Da mesma forma, o Supremo Tribunal Federal orienta-se favoravelmente
à responsabilidade penal da pessoa jurídica nos crimes ambientais.
{Papiloscoplsta Da Polícia Federal 2004 - CESPE/UnB) Da acordo com a teoria bipartida,
o crime é o fato tipico e aníijurtdico, sendo a culpabilidade pressuposto da aplicação
da pena.
Resposta: Correta, Pela Teoria Bipartida, os elementos indispensáveis do crime são
apenas o fato típico e a antijurldlcidade. É uma teoria minoritária entre os doutrlnadores
nacionais e estrangeiros. Note: A resposta somente está correta, porque o quesito Indaga
sobre o conceito de crime na teoria bipartida. A teoria majoritária è a tripartidal
3.8 QUESTÕES CESPE/UnB
1. (Agente da Poiicra Federai 2004 - Prova azul - CESPE/UnB) Sujeito ativo do crime
é aquele que realiza total ou parcialmente a conduta descrita na norma penal
inorímínodora, tendo de realizar materialmente o ato correspondente ao tipo para
ser considerado autor ou partícipe.
2. (Escrivão da Polícia Federai 2002 - CESPE/UnB) Entende-se por sujeito passivo
do delito o titular do bem jurídico lesado ou ameaçado; assim, se um indivíduo
cometer homicídio contra uma criança, esta será o sujeito passivo do crime, sendo
irrelevante, para esse fim, o fato de ela ser juridicamente incapaz.
3. (Escrivão da Polícia Federai 2002 - CESPE/UnB) A fim de evitar acusações indesejáveis
contra o cidadão, a teoria da tipicidade das normas aceita pelo vigente Código
Penal (CP) inclui nos tipos penais unicamente elementos objetivos, isto é, aqueles
que se referem aos fatos concretos que configuram a tesão à norma penai, e não
elementos subjetivos nem cie nenhuma outra natureza.
4. (Escrivão da Polícia Federal 2002 - CESP§fUnB) Se um indivíduo praticou ato
jurídico penalmente atípico, isso impede que se lhe atribua culpabilidade, sob a
perspectiva do direito penal.
5. {Papifoscopista da Polícia Federai 2004 - CESPE/UnB) A pessoa jurídica pode ser
sujeito ativo do crime de homicídio, de acordo com a teoria da ficção legal.
6. (Delegado ~ Polícia Civií/TQ 2008 - CESPE/UnB) A pessoa jurídica poderá ser
alcançada administrativa, civii e penalmente nos casos em que a conduta ou
atividade lesiva ao meio ambiente seja cometida por decisão de seu representante
legal ou contratual, ou de seu órgão coleglado, no interesse ou beneficio da sua
entidade.
7. (Delegado da PoEicia Federai 2004 Regional branca - CESPE/UnB) Um delegado de
polícia federai determinou abertura de inquérito para investigar crime ambientai,
apontando como um dos indiciados a madeireira Mogno S.A. Nessa situação, houve
irregularidade na abertura do inquérito porque pessoas jurídicas nâo podem ser
consideradas sujeitos ativos de infrações penais.
Cap. 3 - TEORIA GERAL, DO CRIME 53
8. (Agente - Polícia Civil/RR 2003 - CESPE/UnB) Entende-se por punibiiidade a
possibilidade jurídica de o Estado impor sanção penal a autor, coautor ou participe
de Infração penal.
9. (Escrivão - Policia Civil/ES 2006 - CESPE/UnB) Sujeito ativo do crime é o que
pratica a conduta delituosa descrita na lei e o que, de qualquer forma, com ele
colabora, ao passo que o sujeito passivo do delito é o titular do bem jurídico
lesado ou posto em risco pela conduta criminosa.
10. (Escrivão “ Policta Civil/ES 2006 - CESPE/UnB) Mesmo diante da práttca de um
fato atípico, a culpabilidade deverá ser aferida como juízo de censurabilidade
e reprovabilidade, visto que a culpabilidade não está vinculada juridicamente à
tipicidads.
11. (Escrivão - Polícia Civil/ES 2006 - CESPE/UnB) Há crimes em que a pessoa será,
ao mesmo tempo, o sujeito ativo e o sujeito passivo do delito em face da sua
própria conduta. Assim, se o indivíduo lesa o próprio corpo para receber o valor
de seguro, ele é sujeito ativo de estelionato e passivo em face do dano resultante
à sua Integridade física.
12. (Escrivão - Polícia CivH/ES 2006 - CESPE/UnB) Em face da adoção do critério
tricotõmico, no Brasil, o gênero Infração penai comporta três espécies: crime, delito
e contravenção.
13. (Escrivão - Polícia Civil/PA 2006 - CESPE/UnB) A imputabilidade é a possibilidade
de se atribuir o fato tipico s Ilícito ao agente.
14. (Escrivão - Polícia Clvíl/PA 2006 ~ CESPE/UnB) A ausência de dolo exclui o tipo,
primeiro elemento estruturai do crime.
16. (CESPE/UnB 2003) De acordo
com o ordenamento penal vigente, o homem morto
pode ser sujeito passivo de crime.
3 9 DICAS IMPRESCINDÍVEIS
A infração penal (gênero) divide-se em crime e contravenção penal
(espécies). Quais as principais diferenças entre crime e contravenção?
São as seguintes: a) em regra, crime admite forma tentada; contra
venção, jamais; b) crime somente existe se estiveram presentes o dolo
ou a culpa; na contravenção, basta a conduta voluntária; c) no crime,
a ação penal pode ser privada, pública condicionada e incondiciona
da; na contravenção, a ação sempre é incondicionada; d) no crime,
o limite de cumprimento da pena é de 30 anos; na contravenção, é
de cinco anos; e) no crime, existe extraterritorialidade, isto é, a lei
penal pode ser aplicada a fatos cometidos no estrangeiro; já na con
travenção, somente se o fato for cometido no território nacional; f)
no crime, a pena privativa de liberdade é de detenção ou de reclusão;
na contravenção, a pena privativa de liberdade é de prisão simples;
5 4 DIREITO PENAL para concurso -- POLlCíA FEDERAL — EmôfSOfi Cgsí&Iq BrãrtCO
g) no crime, pode existir o erro de íipo ou o erro de proibição; na
contravenção somente o erro de direito.
teoria orgânica (ou da rea
lidade) ou a teoria da ficção jurídica? Foi adotada a teoria orgânica,
segundo a qual pessoa jurídica não se confunde com seus membros. Já
a teoria da ficção jurídica (não adotada!) prega que a pessoa jurídica
não tem vontade, nem existência, confundindo-se com seus membros.
Somente a teoria orgânica permite se falar em responsabilidade penal
da pessoa jurídica e da pessoa física nos crimes ambientais (denomi
nada teoria da dupla imputação objetiva).
f É ^ a ^ ^ ^ M T T ^ i ^ d a ^ c w ^ ^ ^ l ^ c a u s a s de exclusão do fato
típico com as causas de exclusão da antijuridicidade e da culpabilidade.
Quais as causas de exclusão de cada um dos elementos estruturais do
crime?
- Causas de exclusão do fato típico: a) princípio da insignificância; b)
ausência de dolo e de culpa; c) situações imprevisíveis; d) movimento
reflexo; e) causa relativamente independente superveniente que, por si
só, causou o resultado; f) erro de tipo; g) coação física irresistível; h)
sonambulismo; i) hipnose; j) causas absolutamente independentes; I)
ausência de tipicidade; m) desistência voluntária; n) arrependimento
eficaz.
- Causas de exclusão da antijuridicidade: a) legítima defesa; b) estado de
necessidade; c) estrito cumprimento do dever legal; d) exercício regular
de direito; e) consentimento do ofendido; f) causas legais específicas;
g) outras causas supralegais de exclxfsão.
- Causas de exclusão da culpabilidade: a) coação moral irresistível; b)
inexigibilidade de conduta diversa; c) ausência de potencial consciência
da ilicitude; d) erro de proibição; e) obediência hierárquica de ordem
não manifestamente ilegal; e) inimputabilidade.
DA RELAÇÃO BE CAUSALIDADE
4.1 NEXO CAUSAL
O nexo causai é o liame (vínculo) entre a ação (ou omissão) do
agente e o resultado gerado. É a comprovação de que a conduta do
agente gerou determinado resultado.
Causa é toda ação ou omissão sem a qual o resultado não teria
ocorrido, independentemente do seu grau de contribuição. Em termos de
nexo causai, não existe diferença entre causa e condição.
Para se apurar se uma situação fática é causa do crime, deve-se utilizar
o critério do juízo hipotético de eliminação ou de eliminação hipotética
(teoria de Thyren). Elimina-se determinado fato da cadeia causai; e, se
ainda assim, o resultado ocorrer, não seria ele causa do resultado. Ex.:
entregar o revólver para o agente desfechar tiros contra a vítima é causa,
porque, se não existisse a entrega da aima, não haveria os disparos desta
e, consequentemente, a destruição da vida.
4.2 TEORIA DA EQUIVALÊNCIA DOS ANTECEDENTES
CAUSAIS
A rt. 13. O resultado, da que depende a existência do crime, somente
é imputável a quem íhe deu causa. Considera-se causa a ação ou
omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido.
Teoria da equivalência dos antecedentes (conditio sine qua non): toda
e qualquer conduta que, de algum modo, tiver contribuído para a produ
ção do resultado deve ser considerada sua causa. Dessa forma, a “causa
da causa também é causa do que foi causado” (causa causae est causa
56 OiREITO PENAL para concurso - POLÍCIA FEDERAL - Emerson Castelo Branco
causati). Não existe distinção entre condição e causa, considerada esta
como toda ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido.
Ê a teoria adotada pelo Código Penal
Conforme estudado no tópico anterior, adota-se o juízo de eliminação
hipotética: Se excluído um fato, ainda assim ocorrer o resultado, é sinal
de que aquele não foi causa deste.
A teoria da equivalência dos antecedentes causais pode gerar uma
regressão ao infinito. O fabricante da arma e a mãe responsável pela
concepção do filho criminoso teriam suas condutas dentro do nexo causai,
gerando uma situação esdrúxula. Mas não serão punidos. Isso porque,
além do mero nexo causai, exige-se o nexo normativo: a presença de
dolo ou culpa.
O nexo causai só tem relevância nos crimes cuja consumação depende
do resultado naturalístico, Nos delitos em que este é impossível (crimes
de mera conduta) e naqueles em que, embora possível, é irrelevante para
a consumação, que se produz antes e independentemente dele (crimes
formais), não há que se falar em nexo causai, mas apenas em nexo
normativo entre o agente e a conduta.
4.3 OUTRAS TEORIAS DO NEXO CAUSAL
Teoria da causalidade adequada - Somente se considera causa do
crime a conduta idônea à produção do resultado. Por exemplo, o fa
bricante da arma e o operário da fábrica jamais teriam suas condutas
consideradas causa do crime, porque não seriam idôneas para produzir
o resultado morte. Não foi adotada pelo Código Penal.
Teoria da ímputação objetiva — Somente haverá nexo causai, quando
o comportamento do agente tiver criadcPum risco não tolerado, nem per
mitido, ao bem jurídico. Dessa forma, a venda lícita de uma arma, inde
pendentemente de qualquer outra análise, não pode ser considerada causa
do resultado, uma vez que o vendedor não agiu de modo a produzir um
risco não permitido e intolerável ao bem jurídico, não tendo o comerciante
a obrigação de fiscalizar aquele agente para o qual vendeu a arma.
4.4 SUPERVjENÍÊNCIA CAUSAL
4.4.1 Considerações iniciais
A previsão normativa do estudo da superveniência causai encontra
-se no § l .0, do art. 13 do Código Penal, in verbis: “A superveniência
Cap. 4 - DA RELAÇÃO DE CAUSAUPADE 57
de causa relativamente independente exclui a impuíação quando, por si
sój produziu o resultado; os fatos anteriores, entretanto, imputam-se a
quem os praticoun.
As causas podem ser de duas espécies: dependentes e independentes.
Causa dependente é aquela que se origina da conduta e se insere
na linha normal de desdobramento da mesma. Ex.: na conduta de atirar
contra o peito da vítima, são conseqüências: a perfuração em seu corpo,
a lesão provocada, a hemorragia interna gerada, a morte e, por fim, a
cessação da atividade cerebral. As causas dependentes se originam da
conduta anterior, numa conseqüência natural e esperada.
Causa independente é aquela dita imprevisível, que não decorre do
desdobramento causai da conduta, não sendo decorrência esperada da
conduta anterior.
Dessa forma, duas são as espécies de causas independentes. Vejamos:
- causa absolutamente independente: não se origina da conduta do agente.
Causa o resultado sem relação alguma com a conduta.
- causa relativamente independente: origina-se da conduta do agente,
mas é independente, uma vez que atua como se, isoladamente, tivesse
produzido o resultado.
4.4.2 Causas absolutamente independentes
As causas absolutamente independentes têm origem totalmente diver
sa da conduta. Completamente fora da linha de desdobramento causai,
podem ser de três espécies:
a) Preexistentes: Existem antes de a conduta ser praticada. Ex.: Durante
a madrugada, “A” atira contra “B”, quando este dormia, vindo a fale
cer, não em conseqüência dos tiros, mas sim de um envenenamento,
provocado por “C”, meia hora antes. Note: A causa é absolutamente
independente preexistente, porque não derivou da conduta de “A",
ocorrendo antes desta.
b) Concomitantes: Surgem no mesmo momento (paralelamente) em que
a ação é realizada. Ex.: “A” efetua disparos de arraa contra “B” no
mesmo momento em que um raio cai sobre “B”, fulminando sua vida.
Note: É absolutamente independente concomitante, porque teve origem
diversa da conduta, atuando no mesmo momento desta.
c) Supervenientes: Surgem após a conduta. Ex.: após “A” ter envenenado
seu desafeto “B”, antes de o veneno produzir efeitos, surge “C” int-
58 DIREITO PENAL para concureo ~ POtlCIA FEDERAt - firoreon Castefo Branco
migo de “A”, matando-o com vários disparos de arma de fogo. Note:
Os tiros disparados por “C” não guardam relação alguma com o en
venenamento, atuando supervenientemente para causar o resultado.
NOTE! Quais as conseqüências das causas absolutamente independentes?
Fulminam completamente o llame causai, fazendo com que o agente res
ponda somente pelos atos praticados, mas não pelo resultado, porque não
lhe deu causa. Nos casos exemplificados, haverá responsabilidade apenas
por crime de homicídio na forma tantada.
4.43 Causas relativamente independentes
As causas relativamente independentes originam-se da própria con
duta do agente, mas isoladamente geram o resultado. Podem ser de três
espécies:
a) Preexistentes: Ocorre antes da conduta. “A” lesiona corporalmente
“B”, hemofílico, destruindo sua vida. A lesão não seria suficiente para
provocar a morte de “B”, tendo o resultado morte ocorrido em face
do estado de saúde preexistente da vítima. Por mais que a hemofilia
tenha contribuído para a morte, a situação foi provocada pela conduta
do agente “A”, daí porque é causa apenas relativamente independente
preexistente.
b) Concomitantes: Ocorre durante a conduta. “A” persegue “B" tentando
matar-lhe com instrumento pérfuro-cortante; ocasião que “B” assus
tado, atravessa uma avenida e é atropelado por um veículo, falecendo
imediatamente. A destruição da vida de "B” se deu pelo atropelamento,
mas esta situação somente ocorreu porque era perseguido por "A”,
atentando contra sua vida. Por isso mesmo, a causa é apenas relati
vamente independente concomitante.
c) Supervenientes: Ocorre após a conduta. “A” atinge “B” com um tiro.
internado na UTI de um hospital, “B” sofre infecção hospitalar, que
terminou por agravar seu quadro e por ocasionar sua morte. A causa é
independente, porque a morte foi causada pelo agravamento do quadro
médico, em face da infecção hospitalar. Entretanto, a independência
é relativa, porque se não fosse o tiro recebido, “B” não teria sido
internado num hospital, nem sofrido a referida infecção hospitalar.
Em regra, as causas relativamente independentes preexistentes, con
comitantes e supervenientes não excluem a responsabilidade penal pelo
resultado. Assim, nos exemplos citados, “A” deverá responder por crime
de homicídio na forma consumada.
Cap. 4 - DA RSLAÇAO DE CAUSALIDADE 59
NOTE! A exceção é a causa relativamente independentes superveniente que,
por sf sõ, causou o , resultado. Nesse caso, não haverá responsabilidade
pelo resultado, e sim apenas pelos atos anteriormente praticados. Ex,;, “A”
quebra a perna de “B". Levado numa ambulância, o motorista desta fura o
sinal vermelho, capotando-a, o que termina por ocasionar a morte de “B”,
por traumatismo craniano. Ou ainda, se "B” tivesse num hospital, pondo
gesso na perna, quando acontece um incêndio no local, provocando sua
morte. Ern ambos os casos, trata-se de causa relativamente Independente
superveniente que, por si só, gerou o resultado.
4.5 RELEVÂNCIA CAUSAL BA OMÍSSÃG
O conceito de delito, conforme leciona Luiz Regis Prado, “é uno,
sendo a ação e a omissão formas de conduta idôneas a sua realização
e que têm estruturas diversas. Os delitos comissivos só podem ser pra
ticados mediante comportamento. De sua vez, os delitos omissivos se
verificara unicamente através de omissão.”1
A omissão é um não fazer, isto 6, a não execução de uma ação
(“ação negativa”). Como tal, não causaria nada, afinal um “nada” não
poderia causar um resultado. Como então responsabilizar penalmente a
omissão - de um agente? Como determinar sua relevância? Dois são os
critérios: Poder e dever. Primeiro, avalia-se a possibilidade de evitar o
resultado. Depois, o dever de evitar o dano.
No § 2.°, do art. 13, estão elencadas as situações de dever de agir
(fala-se posição de garantiâor):
a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância. É a
situação do dever (imposição) legal. Ex.: pais em relação aos filhos,
membro do corpo de bombeiro em relação à pessoa em perigo.
b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado,
É a situação que decorre de contrato, ou qualquer outro tipo de com
promisso. Ex.: babá em relação a uma criança; professor de natação
em relação a seus alunos; guia em relação a turistas.
c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do re
sultado. É a situação da pessoa que, com seu comportamento anterior,
criou 0 risco para a produção do resultado. Ex.: aquele que afunda o
navio, ou causa um incêndio, não pode se omitir, porque criou o risco
do resultado.
1 PRADO, Lute Regis. Curso de Direito Penal Brasileiro ~ Vol. J - Parte Gemi, S.* £d., São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2005, p. 169.
60 DIREITO PENAL para concurso - POLÍCIA FEDSRAL — Emerson Cgsíefo Branco
MOTE! O Código Pena! adotou o critério legal, Isto é, os casos de dever
legal devem vir expressos. O critério não é o judicial (livre-arbttrio do juiz),
critfcável por gerar insegurança,
A causalidade, nas situações de omissão penalmente relevante, não
é fátíca, mas sim jurídica, consistente no fato de o emitente nâo haver
atuado, como devia e podia, para evitar o resultado. Não há nexo causai
físico. Porém, existe um elo jurídico.
Teorias da omissão:
- Naturalístíca: para essa teoria, a omissão é um fenômeno causai, que
pode ser claramente percebido no mundo dos fatos, já que, em vez
de ser considerada uma inatividade, caracteriza-se como verdadeira
espécie de ação;
- Normativa: para que a omissão tenha relevância causai (por presunção
legal), há necessidade de uma norma impondo, na hipótese concreta,
o dever jurídico de agir. O Código Penal brasileiro adotou a teoria
normativa.
4.6 QUESTÕES COMENTADAS
(CESPE/UnB 2004) O Código Penal adota o principio da causalidade adequada,
segundo o qual se considera causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não
teria ocorrido, devendo-se demonstrar, contudo, uma idoneidade mínima da conduta
para produzir o resultado.
Resposta; Errado. A teoria adotada pelo Código Penal, quanto à relação de causalidade,
é a da equivalência dos antecedentes, em que ô causa toda a ação ou omissão sem
a qua! o resultado não teria ocorrido (art. 13, caput, do CP), desde que tenha havido
dolo ou culpa por parte de quem deu causa a jf resultado.
(CESPE/UnB - 2006) Caio atingiu Rosa na região do tórax, com intenção de feri-la.
Rosa, por ser diabética, morreu em virtude das complicações advindas do ferimento.
Nessa situação, por tratar-se de causa concomitante relativamente independente, Caio
responderá por crime de homicídio doloso, na modalidade dolo eventual.
Resposta: Errado. De fato, responderá por crime de homicídio doloso eventual. Porém,
trata-se de causa preexistente (e não concomitante!) relativamente Independente.
(CSSPEftJnB 2004) Alice, em sua
casa, viu o filho da vizinha, de três anos, jogar-se
na piscina e afogar-se, o que o levou ã morte. Nessa situação, mesmo quedando-so
inerte, nada tendo feito para evitar a produção do resultado, Alice hão responderá por
homicídio, uma vez que não tinha o dever de evitar o resultado.
Resposta: Correto. A omissão penalmente relevante só se dá nos casos em que há
o dever de agir, eiencados no art. 13, § 2°, do CP. Assim, o homicídio por omissão
só será possível nesses casos, os quais nSo se encontram na assertiva tratada. Alice
responderá apenas por omissão de socorro.
Cap. 4 - DA RELAÇÃO DE CAUSAUDADE 61
(Defensor Púbtíco/ES - CESPE/UnB ~ 2006) Caio atingiu Rosa na região do tórax,
com intenção de ferNa. Rosa, por ser diabética, morreu em virtude das complicações
advindas do ferimento. Nessa situação, por tratar-sa de causa concomitante relativamente
Independente, Caio responderá por crime de homicídio doloso, na modalidade dolo
eventual.
Resposta: Errado. Se a intenção do agente era apenas ferir (animus laedendt}, sem a
previsão da possibilidade de ocorrência do resultado morte, isío é, sem assumir o risco
do resultado, haverá crime de lesão corporal seguida de morte (crime preterdoloso), e
não de homicídio (animus neoandi ~ ânimo de matar}. Afora isso, a diabete da vítima não
ê causa concomitante, mas sim causa preexistente, é o mesmo caso do hemofílico: “A”
lesiona corporalmente “B", hemofílico, destruindo sua vida. A lesão não seria suficiente
para provocar a morte de "B", tendo o resultado morte ocorrido em face do estado de
saúde preexistente da vítima. Por mais que a hemofilia tenha contribuído para a morfe,
a situação foi provocada pela conduta do agente “A", dai porque é causa preexistente
apenas relativamente independente, não podendo excluir o resultado delitivo produzido.
No caso da questão, a diabete (causa preexistente relativamente independente) não ó o
suficiente para excluir a responsabilidade pena! pelo resultado produzido.
(Juiz de Direito do Estado de Tocantins 2007 CESPE/UnB) Geraldo, na festa de
comemoração de rocóm-ingressos na Faculdade de Direito da Universidade Federai do
Tocantins, foi jogado, por membros da Comissão de Formatura, na piscina do clube
em que ocorria a festa, junto com vários outros calouros^ No entanto, como havia
ingerido substâncias psicotróplcas, Geraldo se afagou e faleceu. Tratando-se de crime
de autoria coietiva, não é inepta a denúncia que assim narra os fatos: “a vítima foi
jogada dentro da piscina por seus colegas, assim como tantos outros que estavam
presentes, fato que ocasionou seu óbito”. À luz da teoria da imputação objetiva,
a ingestão de substâncias psicotróplcas caracteriza uma autocoiocaçSo em risco,
circunstância excluciente da responsabilidade criminai, por ausência do nexo causai.
Resposta: Correto. A teoria da imputação objetiva é uma das teorias sobre o nexo de
causalidade. Seu objetivo é limitar a responsabilidade penai do agente, evitando a análise
do nexo de causalidade como mera relação de causa e efeito. Defende que a existência
do nexo de causalidade depende também da comprovação de que a conduta gerou um
risco proibido pela norma. As causas de exclusão do risco proibido, na teoria da imputação
objetiva, são as seguintes: I a Risco permitido; 2.® - Participação ou culpa exclusiva da
vitima (ou autocotocaçâo em perigo); 3.a - Proibição de regresso; 4 a - Comportamento
socialmente aceito. Conforme o enunciado da questão, Geraldo se autocolocou em situação
de perigo no momento em que fez a Ingestão de substâncias psicotrópicas, não podendo
o resuitado ser atribuído aos membros da comissão de formatura.
4.7 QUESTÕES CESPE/UnB
1. (CESPE/UnB 2004) Nos casos de crimes omissSvos próprios, que são aqueles que
produzem resultado naturalístico, admite-se a tentativa.
2. (CESPE/UnB 2004) Quanto ã relação de causalidade, o Código Penal (CP) adotou
a teoria da equivalência.
3. (CESPE/UnB 2004) Em viagem de lua de mel ao Canadá, Ronaldo, exímio nadador
profissional, convidou sua esposa, Érika, nadadora recreativa, para atravessar
um grande lago com e!e. Érika, no meio do percurso, morreu afogada e Ronaldo
completou o percurso. A conduta omlssiva de Ronaldo, quanto à morte de Érika,
nao é penalmente relevante.
62 DIREfTO PENAL psra concurso — POLÍCIA FEDERAL - Emerson Castelo Branco
4. (CESPE/UnB 2007) João, agindo com mimus necandi, desferiu cinco tiros de revólver
contra Pedro, que, ferido por um dos projéteis, foi levado ao centro cirúrgico de
um hospital, onde veio a falecer em decorrência de uma anestesia aplicada pelo
médico. Nessa situação, em face da teoria da equivalência das condições, Jo io
responderá peto crime de homicídio.
5. (CESPE/UnB 2004) Max, exímio nadador, convidou um amigo a acompanhá-lo em
longo nado. Em dado momento, percebeu que o companheiro começava a se
afogar e não o socorreu, deixando-o morrer. Nessa situação, a omissão de socorro
é penalmente relevante, em razão de Wlax estar em posição de garantidor.
6. (CESPE/UnB 2007) Segundo a teoria da causalidade adequada, adotada pelo Código
Penai, o resultado, de que depende a existência do crime, somente é Imputávef a
quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado
não teria ocorrido.
7. (CESPE/UnB 2004) Antônio, após fer sido ferido mortalmente por Pedro, foi
transportado para um hospitai, onde faleceu em virtude, de queimaduras provocadas
em um Incêndio. Nessa situação, a eausa provocadora da morte é relativamente
independente em relação à conduta de Pedro, que responderá apenas peios atos
praticados, ou seja, por tentativa de homicídio.
8. (CESPE/UnB 2008) O crime omlssivo próprio ou puro, de acordo com a doutrina,
não admite a tentativa.
9. {CESPE/UnB 2002) Durant® uma acirrada discussão, um Indivíduo desfechou golpes
ete faca contra sua esposa, hemofílica, que veio a falecer em conseqüência dos
ferimentos sofridos, a par da contribuição de sua particular condição fisiológica.
Nessa situação, tratando-se de causa snterior relativamente independente, o indivíduo
não responderá pelo resultado morte,
10. (CESPE/UnB 2005) José, querendo a morte de Paulo, efetuou contra ele 10 certeiros
disparos. Pauio foi socorrido por uma ambulância, que o conduziu ao hospital.
Durante o trajeto, a ambulância se envolveu em acidente, e Paulo veio a falecer
em virtude dos ferimentos adquiridos devido à colisão. José não responderá pelo
crime de homicídio consumado.
4 8 DtCAS IMPRESCINDÍVEIS*
Em regra, o Código Penal adotou a teoria da equivalência dos antece
dentes causais? Sim. A exceção é a causa relativamente independente
superveniente que, por si só, tenha causado o resultado, (§1.° do art.
13), adotando-se aí a teoria da causalidade adequada. Numa prova, o
candidato somente deve cogitar essa exceção (causalidade adequada)
se for demandada na questão.
Jual a exata diferença entre a omissão própria e a imprópria? Os
crimes omissivos próprios (ex.: deixar de prestar socorro - art. 135,
Cap. 4 — DA RELAÇÃO DE CAUSALIDADE 63
do CP) consistem apenas numa mera omissão (deixar de . fazer), e por
isso não admitem a forma tentada. Ao contrário, os omissivos impró
prios (ex.: deixar a mãe de amamentar o filho, provocando a morte
deste — art. 121 do CP) partem de uma omissão, mas produzem um
resultado material, daí porque admitem a forma tentada. Os omissivos
próprios são sempre dolosos, enquanto os omissivos impróprios podem
ser dolosos ou culposos.
A teoria da imputação objetiva vem sendo cada vez mais abordada em
provas de concurso. O Superior Tribunal de Justiça aceita a teoria da
imputação objetiva? Sim. Recentemente, em revelante decisão sobre a
morte de um mergulhador, adotou a teoria da imputação objetiva: “Diante
do quadro delineado, não há falar em negligência na conduta do paciente
(engenheiro
naval), dado que prestou as informações que entendia perti
nentes ao êxito do trabalho do profissional qualificado, alertando-o sobre
a sua exposição à substância tóxica, confiando que o contratado execu
taria a operação de mergulho dentro das regras de segurança exigíveís
ao desempenho de sua atividade, que mesmo em situações normais já é
extremamente perigosa. Ainda que se admita a existência de relação de
causalidade entre a conduta do acusado e a morte do mergulhador, à luz
da teoria da imputação objetiva, seria necessária a demonstração da cria
ção pelo paciente de uma situação de risco não permitido, não ocorrente,
na hipótese. Com efeito, não há como asseverar, de forma efetiva, que
engenheiro tenha contribuído de alguma forma para aumentar o risco já
existente (permitido) ou estabelecido situação que ultrapasse os limites
para os quais tal risco seria juridicamente tolerado2.
| O que significa “risco proibido”? Decorre da teoria da imputação ob
jetiva. O resultado somente pode ser atribuído ao agente se este criou
um risco proibido paxa a sua ocorrência. Será “proibido” quando o
comportamento do agente for socialmente inadequado, criando perigo
para a vítima (ex.: dirigir com excesso de velocidade). Por outro lado,
quando a própria vítima cria exclusivamente o perigo para si, não se
pode falar de risco proibido gerado contra esta.
O que é o princípio da confiança? Decorre da teoria da imputação
objetiva. Parte do pressuposto que todas as pessoas agirão conforme
3 STJ, HC 6&87VPR, 05.10.2009.
64 DIREiTO PENAL para concurso - POLlCtA FEDERAL - Emerson Castelo Branco
as regras do ordenamento jurídico. Se um terceiro descumpre sua
parte, o resultado não pode ser atribuído a quem agiu com diligência
e responsabilidade (ex.: pedestre atravessa a pista de forma desatenta,
vindo a ser atingido de imediato por pessoa que dirigia com perfeita
diligência seu veículo — não existe nexo causai» porque o motorista
não criou para o pedestre um risco proibido).
ELEMENTO SUBJETIVO
5.1 CRIME DOLOSO
5.1.1 Conceito
Dolo é a vontade livre e consciente dirigida a realizar a conduta
descrita na norma penai. Portanto, a conduta dolosa é a ação ou omis
são humana, consciente e voluntária, dirigida a realizar os elementos
descritos m norma penal.
Como expressa Zafíaroni, “dolo é uma vontade determinada que,
como qualquer vontade, pressupõe um conhecimento determinado”.1
Divide-se, portanto, em dois momentos: intelectual (consciência) e vo-
litivo (vontade),
5.1.2 Elementos do dolo
O dolo possui, portanto, dois elementos:
a) Consciência da conduta e do resultado (representação). Denominado
por Bitencourt de “elemento cognitivo ou intelectual”, é a consciência
daquilo que se pretende praticar. Essa consciência deve estai presente
no momento da ação, quando ela está sendo realizada. A previsão, isto
é, a representação, deve abranger todos os elementos do tipo.2
' ZAFFARONI, Eugênio Raúl. Manual <Je Direito Penal brasileiro, Sâo Paulo, ed. Revista dos Tribunais,
i m
* BITENCOURT, Cezar Roberto. ftatado de Direito Penal Parte Geral - V.), S.» ed., Sâo Paulo: Saraiva,
2006, p. 335.
6 6 DIREITO PÊNAL para concureo - POLfCIA FEDERAL ~ Emerson Castelo Bmnco
b) Vontade de realizar a conduta e produzir o resultado. É o denominado
“elemento volitivo”. Devé abranger a ação ou omissão, o resultado
e o nexo causai, E pressupõe a previsão, isto é, a representação, na
medida em que é impossível querer algo conscientemente, senão aqui
lo que se previu ou representou na mente, À previsão sem vontade,
ensina Bítencourt, “é algo completamente inexpressivo, indiferente ao
Direito Penal, e a vontade sem representação, isto é, sem previsão, é
absolutamente impossível.”
5.1.3 Espécies de dolo
Diz~se o crime doloso, conforme dispõe o art. 18 do Código Penal,
quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo. Duas
são as espécies enunciadas na norma:
a) dolo direto. É a vontade de realizar a conduta e produzir o resultado.
No dolo direto, o agente deseja o resultado, direcionando sua ação
para atingi-lo.'
b) dolo indireto. Divide-se em “alternativo” e “eventuaF. No alternativo, o
agente se satisfaz com um resultado ou outro (ex.: atirar para matar ou
ferir); enquanto no eventual, o agente não quer diretamente o resultado,
mas aceita a possibilidade de produzi-lo. No dolo eventual, o agente aceita
previamente o risco de produzir o resultado, caso este venha efetivamente
a ocorrer (ex.: dirigir veículo, em alta velocidade, na contramão de avenida
movimentada, para chegar a tempo para um compromisso agendado; nesta
situação, o agente assume o risco de atropelar alguém).
Segundo a teoria finalista, adotada pelo Código Penal brasileiro, o
dolo é a consciência da conduta, constituindo o aspecto subjetivo do
fato típico. Entretanto, não se confunde com a denominada “consciên
cia da ilicitude”, que é elemento da culpabilidade. Portanto, o dolo e o
“potencial conhecimento da ilícitude” são figuras diversas, pertencentes
a estruturas distintas.
5.1.4 Teorias do dolo
a) Da vontade: dolo é a vontade de realizar a conduta e produzir o re
sultado, Age dolosamente quem pratica a ação consciente e volunta
riamente. E necessário para sua existência, portanto, a consciência da
conduta e do resultado e que o agente a pratique voluntariamente,
b) Da representação: dolo é a simples previsão do resultado. É bastante
criticada, porque a previsão do resultado, sem a vontade, nada repre
Cap, 5 - ELEMÊNTO SUBJETIVO 67
senta. Afora isso, quem tem vontade de causar o resultado evidente
mente tem a representação deste. Nesses termos, a representação já
está prevista na teoria da vontade.3
c) Do assentimento ou consentimento; dolo é o assentimento do resultado,
isto é. a previsto do resultado com a aceitação dos riscos de produzi-
-lo (ou do consentimento), mesmo sem desejá-lo diretamente.
,jNOTEÍ,.0 Codlgo,penàí, nò sart. 1 .8 ,Jr iç iéQ,1.,.adótou ',e isda'
e :dò:áàáeriílmèntó. 'ÒSÍo é;á'' TOntade: de realizar o:Tèsüítâdo'pü‘a
dos riscos de''produzi-lo.- ■ >■
Os estados de inconsciência excluem o dolo (ex.: sonambulismo,
hipnose).4
5.1.5 Dolo natural e dolo normativo
a) Dolo natural (teoria finalista, adotada pelo CP brasileiro) - O dolo é
um elemento desprovido de juízo de valor, isto é, um “querer”, inde
pendentemente do desejo do agente ser certo ou errado. Conforme visto,
seus elementos são apenas a consciência e a vontade, não havendo a
“consciência da ilicitude”. Esta “consciência” de que o fato praticado é
lícito ou ilícito não é elemento do dolo, e sim da culpabilidade. Dessa
forma, qualquer vontade é considerada dolo, tanto a de pedalar uma
bicicleta, quanto a de matar alguém,
b) Dolo normativo (teoria causalista ou clássica) - O dolo faz parte da
culpabilidade, devendo o agente possuir a consciência da ilicitude.
Assim, para que exista dolo, não basta que o agente queira realizar
a conduta, sendo também necessário que tenha a consciência de que
ela é ilícita. A “consciência da ilicitude” seria o elemento normativo
do dolo. Assím, o dolo normativo não seria um simples “querer”, mas
sim ura “querer algo errado”.
5.2 CRIME ÇULPOSO
5.2.1 Conceito
A culpa se caracteriza pela ausência de um dever de cuidado que
todas as pessoas devem ter, nos mais diversos âmbitos das relações hu
I
3 MIRABETE, Jútio Fabbrinl Manual cte Direito Penai V.l, 24.a ed., São Pauio: Atlas, 2006, p. 142.
4 PRADO, Lute Regls, Curso de Direito Pena! Brasileiro - Vol. ? - Porte Gera!, 5,a Ed., São Pauto:
Revista dos Tribunais, 2006, p. 26.
68 DIREITO PENAL para concurso - POLÍCSA FEDERAL ~ Emerson Casíefo Branco
manas. É o denominado “dever de diligência” que as pessoas normais
possuem. A determinação da existência da culpa depende de se fazer a
comparação
entre o comportamento realizado pelo agente com aquele
que teria a pessoa diligente, nas mesmas circunstâncias.
Os tipos culposos, ensina Mirabete:
“ocupam-se não com o fim da conduta, raas com as conseqüências
antissocíais que a conduta vai produzir; no crime culposo o que importa
não é o fim do agente (que é normalmente lícito), mas o modo e a forma
imprópria com que atua. Os tipos culposos proibem, assim, condutas em
decorrência da forma de atuar do agente para um fim proposto e não
pelo fim em si,”s
Dessa forma, por exemplo, se um noivo, dirigindo velozmente para
chegar a tempo para seu casamento, atropela e mata um ciclista, o fim
lícito em si não importa, porque deixou de observar um dever objetivo
de cuidado, causando o resultado, A inobservância do cuidado devido
toma a conduta típica.
O Código Penal prevê o crime culposo, sem, contudo, conceituá-
-lo, no art. 18, in verbis: “II - culposo, quando o agente deu causa ao
resultado por imprudência, negligência ou ímperícia”.
O crime culposo somente existe em caso de previsão expressa do
tipo penal. No silêncio da lei, o crime só é punido como doloso.
5.2.2 Elementos do crime culposo
a) conduta humana voluntária de fazer (ação) ou não fazer (omissão).
Diferencia-se da conduta dolosa, jporque a finalidade do agente era a
produção do resultado danoso.
b) inobservância de dever de cuidado objetivo, por imprudência, negli
gência ou Ímperícia.
c) ausência de previsão (previsibilidade). Não há previsão no crime culposo
(salvo a exceção da “cuípa consciente”)- Existe apenas previsibilidade
(também denominada previsibilidade objetiva), que é a possibilidade
de qualquer pessoa normal, média, prever o resultado. Em outras
palavras, somente será culposa a conduta, quando o fato era possível
de ser previsto pelo homem comum, normal.
d) resultado involuntário.
e) nexo causai.
s MIRABETE, Júlio fabbrini. Manual de Direito Penút. V.S, 24.* ed„ São Paulo: Atlas, 2006, p. 146,
Cap. 5 - ELEMENTO SUBJETIVO 69
5.2*3 Espécies de crime culposo
1* Classificação:
a) Culpa inconsciente - É a culpa sem previsão, em que o agente não
prevê o que era previsível. Outra denominação: ex ignorantia.
b) Culpa consciente (ou com previsão) - É aquela em que o resultado é
previsto, embora o agente não o aceite. Mesmo prevendo o resultado,
o agente o afasta, por acreditar veementemente e de boa-fé na sua
capacidade de evitá-lo. Outra denominação: ex lascívia.
Quai a exata diferença entre culpa inconsciente e a culpa consciente?
A previsibilidade é um dos elementos que integram o crime culposo.
Quando o agente deixa de prever o resultado que lhe era previsível, fala-
-se em culpa inconsciente ou culpa comum. Culpa consciente é aquela
em que o agente, embora prevendo o resultado, Mo deixa de praticar
a conduta acreditando, sinceramente, que este resultado não venha a
ocorrer. O resultado, embora previsto, não é assumido ou aceito pelo
agente, que confia na sua não ocorrência.
NOTEI Qgal: a; diferença entre, a culpa ransciente e. o dolo eventual? A
é^sjiÊJíipcfniâ-
tiver de ser será”; “a^ sorte está lariçadá").:.Na cüipa-'consciente, -embora
prevendo o. que- possa-yir^a/acpntficer, o'agente, repudia essa possibilidade.
< (“estou- çèftò' não'oçdrrei$"; “acredito.' na
minha capacidade de evitar o: resultado”). '
2? Classificação:
a) culpa própria - É a comum, em que o resultado não é previsto, em
bora seja previsível. Nela o agente não quer o resultado nem assume
o risco de produzi-lo.
b) culpa imprópria. Também denominada culpa por extensão, assimilação
ou equiparação, o resultado é previsto e querido pelo agente, que labora
em erro de tipo mescusável ou vencível São casos de culpa imprópria
os previstos nos arts. 20, § 1.°, 2.a parte, e 23, parágrafo único, parte
final. Ex.: “A”, encontra-se em sua casa, à noite, e percebe um vulto
no jardim, atirando em direção ao mesmo, imaginando tratar-se de um
assalto. Logo depois, verifica que atingiu seu próprio filho, e não um
ladrão. “A” não responderá por homícídío doloso, e sim por homicídio
culposo. Note-se que o resultado (morte da vítima) foi querido. O agente,
porém, realizou a conduta por erro de tipo vencível ou mescusável, pois
70_____ DfRSTO PENAL para concurso - POLÍCIA FEDERAL - Emerson CasMo Branco
se tivesse mais atenção e cautela, teria notado seu filho. “A” responde
por homicídio culposo.6
5,2.4 Modalidades de culpa
a) Imprudência - É ausência de dever de cuidado, consistente num fazer
(ação positiva). É a ação exagerada, descuidada, excessiva. Ex,: Dirigir
com excesso de velocidade.
b) Negligência - É a ausência de um dever de cuidado, consistente num
deixar de fazer (ação negativa). É o esquecimento, a omissão de cau
telas. Ex: deixar de fazer manutenção no veículo, antes de viajar.
c) ímperícia - É a falha em relação a normas técnicas básicas de pro
fissão, de atividade, ou de ofício. Ex: cirurgião que erra em relação
às normas básicas de procedimento cirúrgico. Também denominada
“culpa profissional”.
QUESTÃO POTENCIAL DE PROVA! Não existe compensação de
culpas. Assim, a imprudência de um bêbado ao atravessar uma avenida
em meio ao tráfego de veículos não exclui a responsabilidade penal do
motorista que dirigia em alta velocidade. Entretanto, existe concorrência
de culpas e culpa exclusiva da vítima. Na concorrência, leva-se em con
sideração a participação da vítima na fixação da pena, constituindo um
dos critérios do art. 59 do CP. Na culpa exclusiva da vítima, prova-se
que o agente não agiu com imprudência, negligência e Ímperícia.
5.3 PBETERDGLO
No Código Penal, a previsão do qfíme preterdoloso se encontra no
art. 19, in verbis-. “Pelo resultado que agrava especialmente a pena, só
responde o agente que o houver causado ao menos culposamente”.
Crime preterdoloso (ou preterintencional) é uma espécie de crkne
qualificado pelo resultado. O agente quer praticar um crime, mas acaba
excedendo-se e produzindo culposamente um resultado mais gravoso do
que o desejado. É o caso da lesão corporal seguida de mórle, na qual o
agente deseja apenas lesionar a vítima, mas acaba matando-a (art. 129,
§ 3.°, do CP). Ex: sujeito desfere um soco contra o rosto da vitima com
intenção de lesioná-la; no entanto, ela se desequilibra, bate a cabeça e
morre. Haverá lesão corporal seguida do resultado morte. A intenção
6 JESUS, üamésio E âe. Direito Penal - Geral - V.J, 27.a ed, S5o Paula- Saraiva, 2005, p. 304.
Cap. 5 - ELEMENTO SUBJETIVO 71
do agente era causar apenas a lesão corporal, mas, por culpa, terminou
gerando o resultado mais grave (morte).
O crime preterdoloso, explica Mirabete, “é um crime misto, em que
há uma conduta que é dolosa, por dirigir-se a um fim típico, e que é
culposa pela causação de outro resultado, que não era objeto do crime
fundamental, pela inobservância do cuidado objetivo.”7
Em síntese, existe dolo no antecedente e culpa no conseqüente.
A conduta inicial é dolosa, enquanto o resultado final dela advindo é
culposo.
5.4 QUESTÕES COMENTADAS
(Escrivão da Polícia Federal 2002 - CESPE/UnB) Considere a seguinte situação
hipotética. Márcia resolveu disputar corrida de automóveis no centro de uma cidade,
em ruas com grande fluxo de veículos e pedestres. Ela anteviu que a corrida poderia
causar acidente com conseqüências graves, mas, mesmo assim, assumiu o risco. De
fato, Márcia, ao perder o controle do automóvel, acabou matando uma pessoa, em
decorrência de atropelamento. Nessa situação, houve o elemento subjetivo que se
conhece como doto eventual, d® modo que, se esses fatos fossem provados. Márcia
deveria ser julgada pelo tribunat do júri.
Resposta: Certo. O dolo eventual ocorre quando o agente, mesmo sabendo que pode
causar um resultado, assume o risco de produzi-lo. No caso, Márcia antevê o resultado
e age.
A vontade não se dirige ao resultado, mas sim à conduta, prevendo que esta
pode produzir aquele. Por fim, os crimes dolosos contra a vida são da competência do
Tribunal do Júri.
(CESPE/UnB 2003) Considere a seguinte situação hipotética, Atdo pretendia atirar em
Bruno, que se encontrava conversando com Carlos. Aldo percebeu que, atirando em
Bruno, poderia atingir Carios. Não obstante essa possibilidade, embora não tivesse
tal intento, lhe era indiferente que o resultado — morte de Carlos — se produzisse.
Assim, disparou a arma e feriu, mortalmente, Bruno e Carios. Nessa situação, Aldo
responderá por dois crimes de homicídio, o primeiro a título de dolo direto e o segundo
a título de dolo eventual.
Resposta: Certo. O agente responderá pels morte de uma das vítimas a título de doto
direto, pois queria produzir o resultado ao realizar a conduía; Já em reiaçSo à outra,
houve a previsão de um resultado possível e mesmo assim o agente aceitou o risco de
produzi-lo. configurando o dolo eventual.
{Juiz; Federal da S.“ Região - 2006 - CESPE/UnB) Ocorre a chamada culpa consciente
quando o agente, embora tendo agido com dolo, nos casos de erro vencível, nas
descriminantes putativas, responde por um crime culposo.
Resposta: Errado. Nâo se confunde culpa consciente com culpa imprópria (por extensão,
por assimilação ou por equiparação). Na imprópria, o resultado é previsto e querido
peío agente, que labora em erro de tipo Inescusâvet também denominado indesculpável
ou vencível {ex.: arts. 20, § 1.°, 2.® parte, & 23, parágrafo único, parte final). Na culpa
consciente, o agenfe, embora prevendo o resultado, acfedita sinceramente na sua
7 MIRABETE, Júlio Fabbriní. Manual de Direito Penal. VJ, 24.* ed., São Paulo: Atlas, 2006, p. 154.
72 DIREITO PENAt- para concurso ~ POLlCiA FEDERAL - Bmôrson Casíeío B&neo
não ocorrência; isio é, o resultado previsto não é querido nem assumido pelo agente,
acreditando este da boa fé, sinceramente, na sua capacidade de evitá-lo.
{Procurador (to Banco Central CESPE/UnB 2010) Caso um renomado e habilidoso
médico, especializado em cirurgias abdominais, ao realizar uma intervenção, esqueça
uma pinça no abdome do paciente, nesse caso, tal conduta representará culpa por
Ímperícia, pois é relativa ao exercício da profissão,
Resposta: Errado, Haverá culpa na modalidade de negligência, e não Impericta. Somente
haveria Ímperícia se o médico falhasse em relação às normas técnicas básicas que deveria
conhecer em razão do exercício da profissão, No caso, o médico era renomado e habilidoso.
Simplesmente foi displicente, esquecendo uma pinça no abdome do pactente.
5.5 QUESTÕES CESPE/ÜnB
1. (Delegado da Polícia Federai 1997- CESPE/UnB) A previsibilidade objetiva do resultado
da conduta é elemento da tipicidade culposa, ao passo que a previsibilidade subjetiva
é elemento da culpabilidade.
2. (Delegado da Polícia Federal 1997- CESPE/UnB) Na culpa consciente, o agente tem
a previsão do resultado.
3. (Delegado da Policia Federal 1997- CESPE/UnB) Não há concorrência de culpas no
direito penal.
4. (Assistência Judiciária do Distrito Federal - 2006 - CESPE/UnB) O direito penal
moderno é o direito penai da culpa, sendo, portanto, presumíveis os fatos delituosos,
conforme jurisprudência dominante.
5. (CESPE/UnB 2005) Ocorre a chamada culpa consciente quando o agente, embora
tendo agido com dolo, nos casos de erro vencívet, nas descriminantes putativas,
responde por um crime culposo.
6. (CESPE/UnB 2007) Suponha que o motorista de um veículo, por negligência, deixe
de observar a má conservação do sistema de freios de seu carro e, ao trafegar
em vfa pública, atropele e mate um pedestre que tenha cruzado a pista em locai
inadequado. Nessa situação, caso se comprove que o evento danoso tenha decorrido
da falta de freios no veículo atropeiador, responderá cuíposamonte o seu condutor
peta morte do pedestre, mesmo diante da imprudência da vítima.
7. (CESPE/UnB 2008) Quando o agente, embora prevendo o resultado, não deixa de
praticar a conduta porque acredita, sinceramente, que esse resultado não venha a
ocorrer, caracteriza-se a cuipa inconsciente.
8. (CESPE/UnB 2002) Pedro sofreu Investida de José, que pretendia matá-to. Pedro
reagiu e matou José. Nessa situação, Pedro somente deverá ter reconhecida em
seu favor a legitima defesa de direito próprio se houver matado José com intenção
de se defender, mas sem querer nem assumir o risco desse resultado.
9. (CESPE/UnB 2008) Quando o agente, embora não querendo diretamente praticar a
infração penal, não sé abstém de agir e, com isso, assume o risco de produzir o
resultado que por ete já havia sido previsto e aceito, hâ culpa consciente.
10. (CESPE/UnB 2008) Quando o agente deixa de prever o resultado que lhe era
previsível, fica caracterizada a culpa imprópria e o agente responderá por delito
preterdoloso.
Cap. S - ELEMENTO SUBJETIVO 73
5 6 DICAS IMPfifcSCINDÍVEIS
outras classificações doutrinárias do dolo? São as seguintes: a)
dolus malus (razão mais grave) e dolus bonus (razão menos grave); b)
dolo gerai ou aberratio causae - trata-se de situação de erro sucessivo,
em que o agente imagina ter atingido seu resultado, quando é a con
duta subsequente que o provoca (ex.: atirar numa pessoa e enterrá-la,
imaginando estar morta. Contudo, o que termina provocando a morte
é a situação subsequente, porque a vítima ainda estava viva, antes de
ser enterrada); c) dolo de dano (vontade de causar um dano real) e
dolo de perigo (vontade de provocar um perigo); d) dolo antecedente
(desde o primeiro momento, o agente age com má-fé) e dolo posterior
(no primeiro momento, o agente tinha boa-fé, passando a ter má-fé
logo depois).
Os crimes culposos podem ser de mera conduta? Não. Em outras
palavras, pressupõem a ocorrência de um resultado (denominado
“resultado naturalístico”), daí porque são classificados como crimes
materiais.
O crime culposo admite a forma tentada? Não. A exceção é a culpa
imprópria (ou por equiparação, ou por extensão).
A culpa pode ser classificada em graus (leve, grave e gravíssima)? Não
pode ser dividida em graus para efeito de estabelecer uma divisão de
figuras penais diferentes. Crime culposo não comporta essa divisão.
O dolo precisa ser declarado? Não. Contudo, a culpa precisa vir
expressa na norma penal (ex,: “se o crime é culposo”). Caso o tipo
penal não faça menção expressa, a forma culposa não é admitida.
O tipo penal culposo é normativo e aberto por excelência? Sira. B
normativo, porque precisa sempre ser valorado pelo juiz. De fato, não
se descreve na norma penal a imprudência, a negligência e a imperí-
cia. Cumpre ao juiz a tarefa de verificar no caso concreto se o agente
deixou de observar um dever objetivo de cuidado. E também é aberto,
porque a norma penal não diz expressamente qual é o comportamento
culposo.
74 DIREITO PENAI para concurso ~ POLÍCIA FEDERAL - Bmerson Cosfefo Branco
Qual a diferença entre dolo direto de primeiro grau e dolo direto de
segundo grau? No dolo direto de primeiro grau, a ação do agente
é direcionada para o resultado desejado. É o caso, por exemplo, do
pistoleiro que mata a vítima, ou do agente que destrói a vida de um
inimigo. No dolo direto de segundo grau ou necessário, o agente não
deseja diretamente .o resultado, mas este necessariamente ocorrerá em
razão dos meios escolhidos para a obtenção do resultado desejado. Por
exemplo, o agente deseja matar o Presidente da República (dolo direto
de primeiro grau), que viaja numa aeronave. Para atingir seu objetivo,
explode a aeronave, instalando um artefato explosivo (“bomba”) nes
ta. Ocorre que atinge o resultado desejado (dolo direto de primeiro
grau), mas destrói também a vida das outras pessoas que estavam na
aeronave (dolo direto de segundo grau).
grau e o dolo
eventual? No dolo eventual, o
agente não deseja o resultado, mas
assume o risco de produzi-lo; já no dolo direto de segundo grau, o
agente não deseja diretamente o resultado, mas este obrigatoriamente
acontecerá, em razão dos meios escolhidos para atingir o fim desejado.
Em outras palavras, no dolo eventual, o resultado pode ou não vir a
ocorrer; já no dolo direto de segundo grau, o resultado obrigatoria
mente ocorrerá, daí porque se diz que no dolo direto de segundo grau
o agente quer certo resultado (morte de pessoas na explosão de uma
aeronave) para atingir o resultado desejado (morte do Presidente da
República). Outro exemplo: o agente direciona sua ação para atingir
um dos irmãos xifópagos; se a morte de um obrigatoriamente acarretar
a morte do outro, o agente terá agido cora dolo direto de primeiro
grau em relação àquele que desejava1 matar e dolo direto de segundo
grau em relação àquele que necessariamente iria morrer em virtude
da ação. Não haveria dolo eventual, mas sim dolo direto de segundo
grau, porque a morte de um acarretaria necessariamente a morte do
outro.
)ual a exata diferença entre o dolo direto de segundo
ESTUDO DO ERRO
6.1 ERRO DE TIPO (ART. 20)
O erro de íipo encontra-se previsto no art, 20 do Código Penal,
assim descrito: “O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de
crime exclui o dolo, mas permite a punição por crime culposo, se
previsto em lei,”
Ocorre quando o agente tem uma falsa percepção da realidade,
fazendo-o errar acerca de um dos elementos da figura típica. É o caso,
por exemplo, de sair num veículo alheio, depois de uma festa, imaginando
ser o seu; ou do caçador que atira numa pessoa, supondo estar agindo
contra um animal; ou da grávida que ingere medicamento abortivo,
imaginando tratar-se de vitamina.
O erro de tipo sempre excluirá o dolo, pois este pressupõe vontade
e representação por parte do agente. Excluído o dolo, estará também
excluído o fato típico, por ser o dolo o elemento subjetivo deste,
Pode incidir sobre as circunstâncias qualificadoras, majorantes e
agravantes de pena. É o caso do indivíduo que comete crime contra seu
ascendente (ex.: pai), desconhecendo essa circunstância. Nesse caso, não
será aplicada a agravante prevista do art. 61 do CP,
É possível ainda o erro de tipo desclassificar um delito. Cite-se o
caso do indivíduo que ofende autoridade pública, no exercício de sua
função, desconhecendo a qualidade desta. Deixa de ser desacato (art.
331) para caracterizar crime de injúria (art, 140).
76 DIREiTO PENAL para concurso - POLÍCIA FEDERAL - Emetson Casfeto Branco. . , j
O erro pode ser:
- Vencível (inescusável) - Ocorre quando o agente poderia tê-lo evita
do se tivesse o devido cuidado, cautela, diligência do homem médio.
Exclui sempre o dolo. Assim, o agente somente responderá pelo crime
se existir a forma culposa.
- Invencível (escusável) - Ocorre quando se constata que era impossível
evitar o erro, isto é, qualquer pessoa na mesma situação teria cometido
o mesmo erro. Exclui o dolo e a culpa.
Em síntese, o erro invencível exclui o dolo e a culpa; enquanto o
erro vencível exclui apenas o dolo, havendo responsabilidade a título de
culpa, se esta estiver prevista em lei, nos termos do art. 20 do CE
NOTE! Diferencia-se o erro essencial' do errb' acidentai.' O erro essencial
incide num dos elementos do tipo. O erró acidental atinge apenas circuns
tâncias secundárias, fora do tipo, não deixando o crime de existir. O. erro
acidental será estudado adiante.'
6.2 ERRO DE PROIBIÇÃO (ÂRT. 21)
É o erro sobre a iíicitude do fato, não havendo falsa percepção da
realidade. O sujeito simplesmente imagina ser lícita a sua conduta. Atua
dolosamente, não errando sobre os elementos do tipo. Por isso mesmo,
haverá a exclusão do crime pela exclusão da culpabilidade, por ser a
consciência da iíicitude elemento desta. É o caso, por exemplo, de es
trangeira que vem ao Brasil e deixa o corpo completamente desnudo
para tomar banho de sol, imaginando q\je ao Brasil seria comportamento
lícito; ou destruir a vida de ente querido, em estado terminal, imaginando
ser lícita a prática da eutanásia; ou se apropriar de coisa perdida, sem
identificação, imaginando lícito seu comportamento, baseado no ditado
“achado não é roubado”.
Não é possível, explica Francisco de Assis Toledo, “censurar-se
de culpabilidade o autor de um fato típico penal quando ele .próprio,
por não ter tido sequer a possibilidade de conhecer o injusto de sua
ação, cometeu o feto sem se dar conta de estar infringindo alguma
proibição.”1
* TOLEDO, Francisco de Assis. Princípios Básicos de Direito Penal, 4 a ed, ed Saraiva, São Paulo,
1 m .
Cap. 6 - ESTUDO DO £RRO 77
! ------------------------ --------------------------------“
O erro de proibição pode ser:
- Vencível (inescusável) - O agentè responderá pelo crime, havendo uma
redução da peaa de urn sexto (1/6) a um terço (1/3). Ocorre quando
o erro era evitável, isto é, quando o agente incide no erro por impru
dência ou negligência.
~ Invencível (escusável) ~ Isenção de pena. Será invencível quando for
inevitável, isto é, quando nele incidiria qualquer pessoa de prudência.
Quando for invencível tanto a forma dolosa quanto a forma cuSposa
serão excluídas.
Dispõe o art. 21, parágrafo único: “Considera-se eviíável o erro se o
agente atua ou se omite sem a consciência da ilicitude do fato, quando
lhe era possível, tias circunstâncias, ter ou atingir essa consciência.” O
erro vencível, isto é, quando o agente erra por imprudência ou por falta
de cautela, não exclui a culpabilidade. Haverá apenas uma diminuição
da pena de um sexto a um terço.
Não se pode confundir o erro de proibição com o desconhecimento
da lei. Assim, o desconhecimento da lei jamais pode ser alegado para
excluir o delito. Por isso, dispõe o art. 21: “O desconhecimento da iei
é inescusável.” Desconhecimento da lei não pode ser confundido com a
errada compreensão da lei.
6.3 DESCRBVUNANTES PUTATIVAS
As descriminantes putativas estão previstas no art. 20, § 1.°, do
Código Penal: “É isento de pena quem, por erro plenamente justificado
pelas circunstâncias, supõe situação de fkto que, se existisse, tomaria a
ação legítima. Não há isenção de pena quando o erro deriva de culpa e
o fato é punível como crime culposo.”
Caracterizam-se quando o agente imagina estar agindo licitamente,
respaldado em alguma das causas de exclusão (ou de justificação) da
antijuridicidade.
Questão polêmica na doutrina diz respeito à natureza das descrimi
nantes. Configuram erro de tipo ou erro de proibição?
Para a teoria limitada da culpabilidade (majoritária), as descriminantes
putativas configuram eixo de tipo permissivo e excluem o dolo, quando
o agente tem uma falsa percepção da realidade (ex.: o agente encontra
seu inimigo, vindo em sua direção com a mão no bolso, ocasião em que
78 DIREITO PENAI, para concurso - POLlCIA PEDGRAt. - fineraon Casteto Braneo
lhe mata, imaginando que este fosse puxar uma arma, quando na verdade
iria apenas retirar um lenço). Segundo essa teoria, nâo atua dolosamente
quem imagina, pelas circunstâncias do caso concreto, estar praticando um
fato típico em legítima defesa. Porém, os adeptos dessa teoria defendem
que, se o agente erra não em relação aos pressupostos Éticos (leia-se
“realidade”), mas sim quanto à existência ou quanto aos limites da causa
de exclusão da antijuridicidade, haverá erro de proibição.
Para a teoria extrema da culpabilidade (ou restrita, ou normativa
pura), trata-se sempre de erro de proibição, excluindo-se apenas a cul
pabilidade. É a denominada teoria unitária do erro.
A teoria normativa pura é a corrente minoritária na doutrina, apesar
de ser aceita por vários autores. Dessa forma, em todas as situações de
descriminantes putativas (legítima defesa putativas estado de necessidade
putativo,
estrito cumprimento do dever legal putativo e exercício regular
do direito putativo), teremos situação de erro de proibição, O agente age
com dolo, não podendo ser excluído o fato típico, Haverá a exclusão
da culpabilidade, por imaginar o agente que age de forma lícita. E a
consciência da ilicitude é elemento da culpabilidade. Dessa forma as
descriminantes putativas constituem erro sobre a ilicitude do fato (erro
de proibição). Ex I: ÍCA” encontra seu desafeto “B" com a mão dentro
do blazer, ocasião em que atira neste, imaginando estar na iminência
de sofrer uma injusta agressão; quando, na verdade, “B” estava apenas
retirando um lenço (legítima defesa putativa). Ex 2: “A”, em desabalada
carreira nas escadarias de um edifício, empurra e lesiona “B”, supondo
falsamente um incêndio no local, quando, na verdade, tratava-se apenas
de um churrasco promovido peio vizinho do andar acima (estado de
necessidade putativo). Ex. 3: “A”, autoridade policial, invade domicí
lio alheio, supondo, por uma falsa percepção da realidade, que o local
era um ponto de venda de drogas (esfrito cumprimento do dever legai
putativo).
6,4 QUESTÕES COMENTADAS
(ESCRfVÃO DA POLÍCIA FEDERAL. 2002 - CESPE/UnB) Considere a seguinte situação
hipotética. Rosa, pessoa de pouca Instrução, residia em uma gleba havia mais de
trinta anos, Como a gicba jamais fora reivindicada por pessoa ou autoridade alguma,
Rosa tinha a plena convicção de ser a gleba de sua propriedade. Dessa gleba, ela
costumeíramente retirava alguma quantidade de madeira. Certo dia, compareceu ao
local um funcionário, que comunicou a Rosa ser aquela ãrea de propriedade da União,
Por constatar a subtração da madeira, o funcionário representou a um procurador da
República, para que Rosa fosse processada por furto. Após investigação, o procurador
da República promoveu o arquivamento da representação, por entender que, diante da
r
Gap. 6 - ESTUDO DO ERRO 79
provada convicção de Rosa de ser sua a propriedade da terra, ela incorrera em erro
sobre elemento do tipo de furto. Nessa situação, agiu de maneira juridicamente correta
o procurador da República, uma vez que o furto somente é punível a titulo de dolo.
Resposta: Correta. Rosa, ao considerar-se dona da propriedade, retirava a madeira de
boa fé. Assim, apoderou-se de objeto alheio supondo ser próprio, configurando o erro de
tipo, que ôxciui o dolo e, por conseguinte, o fato típico, Ela não sabia que se tratava de
"coisa aiheia”; portanto, não tinha consciência nem vontade de subtraí-ta, de modo que
não houve furto doloso. Como não é prevista a forma culposa, o fato é atípico, agindo,
assim, o procurador da República de forma correta.
(ESCRIVÃO DA POLÍCIA FEDERAL 2004 - REGlONAL-CESPBUnB) Ocorre erro de tipo
quando o agente se equivoca escusavelmente sobre a íícitude do fato, determinando
a lei que, nesse caso, o agente fique isento de pena.
Resposta: Errado. O erro do tipo ocorre quando o agente labora em erro sobre algum
elemento do tipo, quer esse elemento seja fático ou normativo.
(CESPE/UnB 2005} Considere a seguinte situação hipotética. Josué, pessoa rústica,
fo! preso em flagrante delito por ter em sua residência, em depósito, cinco quilos
de cocaína aeoncíicionados em sacos plásticos de 1 kg. Josué recebeu a substância
entorpecente de um primo, que lhe pediu para guardá-ía provisoriamente em sua
residência, afirmando tratar-se de farinha de trigo. Nessa situação, em face do erro
de tipo, Josué não praticou o crfme de tráfico ilícito de entorpecentes.
Resposta: Corrsto. Josué, diante da situação fsííca, desconhece a circunstância que toma
o ato fato típico, incorrendo em verdadeira faisa percepção da realidade. Não identifica
o produto em depósito como droga, acreditando piamente no fato de esta guardando
farinha. Desta feita, incorre no erro de fipo e, por isso, não pratica o crime de tráfico
ilícito de drogas, restando excluído o dolo.
(CESPE/UnB 2004) Rodrigo, professor de anatomia de um curso de medicina, golpeou
mortalmente um corpo humano vivo, trazido ao anfiteatro da facilidade, supondo tratar-
-se de um cadáver. Nessa situação, Rodrigo não responderá pelo crime de homicídio
doloso, em face do erro de proibição.
Resposta: Errado. Rodrigo de fato não responderá pelo’ delito de homicídio doloso,
contudo, não pelo fato de haver ocorrido erro de proibição, e sim por haver erro de
tipo. O erro de proibição recai sobre a consciência da ilicitude do fato, não tendo sido
isso evidenciado em sua conduta. Na verdade, Rodrigo incorreu numa falsa percepção
da realidade, que lhe fez errar sobre o elemento do tipo “alguém", no momento em que
imaginava estar lidando com um cadáver, e n io com uma pessoa. O erro de tipo, se
verificado como Invencível (inevitável), afastará o dolo e, por conseguinte, o crime tíe
homicídio doteso.
{Procurador do Banco Central CESPE/UnB 2010) O desconhecimento da lei é inescusáva!.
Desse modo, o erro sobre a ilicitude do fato, evitável ou inevitável, não elidirá a pena,
podendo apenas atermá-la.
Resposta: Errado. NSo se confundem o desconhecimento da lei e o erro sobre a ilicitude
do fato. Mesmo desconhecendo a lei, o agente criminoso possui a consciência da ilicitude.
Já no erro sobre a ilicitude üo fato, o agente imagina ser licita a sua conduta; e se for
inevitável (invencível, desculpável ou escusável), elidirá a pena.
6.5 QUESTÕES CESPE/UnB
1. (Escrivão - Polícia ClvJJ/ES 2006 ~ CÊSPH/UnB) No direito penal, pode-se levar em
conta que determinada pessoa, nas circunstâncias em que cometeu o crime, poderia
pensar, por força do ambiente onde viveu e das experiências acumuladas, que a sua
80 DIREITO PENAL pafs concurso - POLÍCIA FEPERAL - Emerson Castelo Bfenco
conduta fosse permitida pelo ordenamento jurídico. Essa faisa percepção ou erro
exclui a consciência da ilicitude e recebe a denominação de erro de proibição.
2. (Policia Rodoviária Federal 2004 ~ CESPE/UnB) Considere a seguinte situação
hipotética. Um agente, por equivoco, pegou um relógio de ouro que estava sobre o
balcão de uma joalheria, pensando que era o seu, quando, na realidade, pertencia
a outro comprador. Nessa situação, o agente responderá pelo crime de furto
culposo.
3. (Papiloscopista da Policia Federal 2004 - CESPE/UnB) O erro sobre elemento
constitutivo do tipo legai de crime exclui o dolo e a culpa, ainda que haja previsão
legal quanto ao tipo culposo.
4. (Delegado - Policia Civii/ES - CESPE/UnB) A finalidade precípua do erro de tipo
essencial é a de afastar o dolo da conduta do agente.
5. (Delegado - Polícia Civil/ES - CESPE/UnB) O erro de tipo acidental incide sobre
dados irrelevantes da figura típica e não impede a apreciação do caráter criminoso
do fato.
6. (Delegado Da Polícia Federal 2004 Nacional - CESPE/UnB) O médico Calo, por
negligência que consistiu em nSo perguntar ou pesquisar sobre eventual gravidez
de paciente nessa condição, receita-lhe um medicamento que provocou o aborto.
Nessa situação, Caio agiu em erro de tipo venciveí, em que se exclui o dolo,
ficando isento de pena, por não existir aborto culposo.
7. (Delegado da Policia Federal 1937 - CESPE/UnB) O erro de proibição exclui a
Ilicitude da conduta.
3. (Escrivão - Policia Clvü/ES- 2006 - CESPE/UnB) Marfida, ao deixar o trabalho sob
uma forte chuva, apoderou-se de um guarda-chuva alheio supondo ser próprio,
visto que d e guardava todas as características e semelhanças com o objeto de
sua propriedade. O legítimo proprietário do objeto, dias após, a surpreendeu na
posse do bem e acusou-a de furto. Nessa situação, a conduta de IWarilda é atípica
diante da ocorrência de erro de tipo, excluindo-se o doto e o fato típico.
9. (CESPE/UnB 2004) Ao falso alarme de incãrtdio em uma casa de diversões com
íoíação esgotada, os espectadores, tomados de pânico, disputaram a retirada, tendo
Pablo, para
garantir o caminho de saída, empregado violência física contra Aldo
e Lúcio, causando-lhes lesões corporais. Nessa situação, em razão da excludente
de iilcitude do estado de necessidade, Pablo não responderá pelos crimes.
10. (CESPE/UnB 2004) Durante atividade docente, um professor de anatomia feriu pessoa
viva, por imaginar tratar-se de cadáver. Nessa situação, o professor não responderá
por crime por agir com ausência de dolo ou culpa.
11. (CESPE/UnB 2004) O erro de tipo essencial que recai sobre .uma elementar do
ttpo afasta, sempre, o dolo do agente, restando apenas responsabilidade por crime
culposo, se houver previsão legal.
12. (CESPE/UnB 2003) Se o agente pretende subtrair algumas sacas de farinha de um
armazém &, por engano, acaba levando sacos de farelo, nessa hipótese, há erro
de tipo excludente do dolo.
Cap. 6 - ESTUDO DO ERRO 81
13. (CESPE/UnB 2006) Considere a seguinte situação hipotética. Elayne, que sabia
estar com 2 meses de gestação, ingeriu substância aboríiva na suposição de
estar tomando um calmante, haja vista que o medicamento se encontrava com a
embalagem trocada, e veio efetivamente a abortar. Nessa situação, Elayne incidiu
em erro de tipo, não respondendo por crime algum.
14. {CESPE/UnB 2006) Na obediência hierárquica, se a ordem emanada da autoridade for
Ilegal, ainda que o subordinado pratique o fato por erro de proibição, acreditando
piamente que a ordem seja legal, responderá peto crime na modalidade culposa.
15. (CESPE/UnB 2007) Para a caracterização da legítima defesa real, exige-se a
demonstração objetiva da existência de suposição de fato que, por erro plenamente
justificado peías circunstâncias, legitime a ação do agente.
6.6 DICAS IMPRESCINDÍVEIS '
;ual a diferença entre erro de tipo e crime putativo por erro de
tipo? No erro de tipo, o agente realmente pratica o fato descrito na
norma penai, porque teve uma falsa percepção da realidade. Já no
crime putativo por erro de tipo, ocorre justamente o contrário, porque
o agente não comete um fato descrito numa norma penal, mesmo
querendo e imaginando estar praticando um crime (ex.: mulher que
ingere medicamento ábortivo, imaginando-se grávida, quando na ver
dade não se encontra nessa situação, isto é, a gravidez era puramente
psicológica).
O erro de tipo escusável (desculpável, invencível) exclui o dolo e a
culpa; por conseguinte, o crime. Contudo, pode acontecer de um crime
ser excluído, mas ainda assim o fato continuar como criminoso noutra
figura penal. Ex.: o agente ofende funcionário público, desconhecendo
esta condição da vítima, isto é, não imaginava que a pessoa que estava
ofendendo era funcionário público no desempenho das suas funções.
Restará excluído o dolo do crime de desacato. Contudo, o agente será
responsabilizado pelo crime de injúria.
FORMAS CONSUMADA
E TENTADA DO CRIME
7.1 FASES DO CRIME (JTER CM1MÍNÍS)
Para chegar à consumação de um crime, o agente realiza uma série
de atos que se sucedem, cronologicamente, no desenvolvimento da sua
conduta. Tais atos compõem o chamado iter criminis ou “caminho do
crime” e compreendem quatro fases: cogitação, preparação, execução e
consumação.
Na fase da cogitação, o agente idealiza a prática do crime. Apenas
imagina a ação criminosa, mas não pratica nenhuma ação concreta. Essa
fase, em hipótese alguma, é punida. Ex.: cogitar um homicídio, ou um
roubo, ou ainda um estupro, não caracteriza crime algum. Não possui
repercussão no âmbito penal.
Na preparação, o agente começa a buscar os meios necessários para
dar início à execução penal. Ex.: alugar um veículo, contratar “ajudan
tes" e comprar armas de fogo para assaltar um banco. Em regra, os
atos preparatórios não são punidos, salvo situações excepcionais, como
no caso do crime de quadrilha ou bando (art. 288 do CP), em que a
responsabilidade penal ocorre independentemente da quadrilha ou bando
desenvolver suas ações criminosas. Ou ainda, no crime de fabricar ou
adquirir apetrechos para falsificação de moedas (art. 291 do CP), que
independe de o agente ter começado a ação de falsificação.
Na fase de execução, começam os atos executórios do crime, isto é,
a conduta descrita na norma penal passa a ser executada. Ex: assaltantes
84 OiREITO PENAL para concurso - POLÍCIA FEDERAL - Emerson Castelo Branco
ingressam dentro do estabelecimento bancário, iniciando o crime de roubo.
Os atos executórios' do delito geram repercussão penal.
Na fase da consumação, ocorre o resultado delitivo.
7.2 FORMA CONSUMADA (ART. 14» INC, I)
Diz-se consumado o delito, quando os elementos da figura típica
estiverem caracterizados.
De acordo com o desenvolvimento da forma consumada, os crimes
podem ser das seguintes espécies:
a) materiais - A norma penal descreve uma ação e um resultado natura-
lístico (mudança no campo dos fatos), consumando-se o delito somente
no momento da ocorrência do resultado. Ex.: Na açâo de matar alguém
(art. 121 do CP), a consumação somente ocorre com a destruição da
vida humana extrauterina; no crime de autoaborto (art. 124 do CP),
a consumação somente ocorre com a destruição da vida intrauterina;
no estupro (art. 213 do CP), a ação de “constranger” se consuma com
a ocorrência da conjunção carnal ou de outros atos libidinosos.
b) formais ~ Apesar de a norma penal descrever a ação e o resultado,
o crime se consuma antes deste, no momento em que a conduta é
praticada. Ex.: no crime de extorsão (art. 158 do CP), o crime se con
suma no momento em que a vítima é constrangida a fazer, tolerar, ou
deixar de fazer alguma coisa, ainda que o agente não consiga obter
a indevida vantagem econômica (resultado).
c) mera conduta.A norma penal descreve apenas uma conduta. Ex.:
No crime de violação de domicílio (art. 150 do CP), o legislador
descreve apenas a conduta de “entrar ou permanecer, clandestina ou
astuciosamente, ou contra a vontade expressa ou tácita de quem de
direito, em casa alheia ou suas dlpendêneias”.
7.3 FORMA TENTADA (ART. 14, INC. II)
Ocorre quando o agente inicia a sua execução, mas nâo consegue
consumá-lo por circunstâncias alheias à sua vontade. Ex.: “A” desfere
vários tiros em “B”, conseguindo este, mesmo sendo atingido, fugir.
Efeitos da forma tentada: redução da pena de 1/3 a 2/3. A quantidade
da redução depende da maior ou menor proximidade da consumação.
Espécies de forma tentada:
a) Imperfeita (ou incompleta). Ocorre quando os atos executórios são
interrompidos, antes do completo encerramento. Ex.: no momento em
Cap. 7 - FORMAS CONSUMADA E TENTADA DO CRIME 85
que o agente desfere os primeiros tiros contra a vítima, é interrompido
pela ação de uma autoridade policial,
b) Tentativa perfeita (outras denominações: completa, crime falho). Ocor
re quando o agente completa toda a execução, mas ainda assim não
consegue consumar o delito. Ex.: o agente descarrega toda a munição
da sua arma contra a vítima, não conseguindo matá-la mesmo assim.
Encerrou toda a execução sera consumar o crime.
Duas são as teorias principais acerca da responsabilidade penai da
forma tentada: subjetiva - o agente deve ser punido apenas por sua inten
ção; e objetiva (adotada no CP brasileiro - art. 14, parágrafo único) - a
responsabilidade decorre da ameaça causada ao bem jurídico protegido,
devendo a pena ser diminuída porque o bem não foi atingido.
NOTEI Quais as infrações penais que não admitem a forma tentada? Sâo as
crimes culposos (salvo a denominada culpa ’ por equiparação oú extfensão),
preterdolosos, omlssivos próprios, de atentado, habituais, unissubslstentes
e de ação vinculada, bem como as contravenções penais,.
NOTEI A norma penai do delito tentado, prevista no inciso II, do art. 14,
do Còdlgo Penai, é denominada “de. extensão” ou “de adequação mediata’',
òu ainda “de adequação indireta"! Por' quaf razãó? Como os' elementos
estruturais da figura típica "fião se completaram, a '1 responsabilidade- do
agente- ocorre pór causa do efeito de outra norma.; Faia-se,;portanto, de
adequação típica mediata, porque a. adequação ocorre por-meio. do. inciso
' I! do art. 14, do Código Penal, que funciona como itrna ponte. Em sínte
se, diz-se' “adequação típica'de subordinação imediata";'quando há èxato
enquadramento éníre a conduta praticada é"a descrição da‘ norma pena!
(forma consumada); enquanto fala-se de “adequação típica de subordinação
mediata?, quando o enquadramento depende de urna norma dè1 extensão
(forma tentada).
7.4 DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA (ART. XS)
Prevista no art, 15 do Código Penal, configura-se quando o agente,
por sua vontade, desiste de continuar na execução do delito, impedindo
sua consumação. Efeitos: Não responderá pela forma tentada, e sim so
mente pelos atos anteriormente praticados. Ex.: querendo matar a vítima,
o agente inicia a execução desferindo-lhe uma facada na perna, ocasião
em que, mesmo podendo continuar na execução, desiste da mesma.
Nesse caso, o agente não responderá pelo crime de homicídio na forma
tentada, mas tão somente pelo crime de lesões corporais.
86 DIREITO PENAL para concurso - POLÍCIA FEOERAL - Emerson Castelo Brçnco
7.5 ARREPENDIMENTO EFICAZ (ART. 15)
Previsto no art. 15 do Código Penal, ocorre quando o agente se
arrepende, depois de encerrados todos os atos executórios, impedindo o
resuitado. Obrigatoriamente, o arrependimento precisa ser eficaz.
Efeitos: Não responderá pela forma tentada, mas somente pelos
atos anteriormente praticados. Ex.: O agente empurra uma pessoa que
não sabe nadar dentro de um açude, objetivando matá-la. Logo depois,
arrependèndo-se de sua conduta, resolve retirá-la de dentro do açude,
impedindo a sua morte.-
N Ò f’£!-:'Gual a diferença, ''pi^^aesl^énclárypM nlií^.eii.arrèpendjm gótó.
efieaz^Na>desisÇêííciá;,volÜniária,-Dia^ten^
crime; no arrependimento eficaz,' q
os atos executórios, impede, a .pcorréncfeldo, r^u ltado de||iVp;; N ote‘que
ao coriiránò;
que todos os .atos executórios' tenham sido realizado^; . :;'T v
7.6 ARREPENDIMENTO POSTERIOR
Previsto no art. 16 do Código Penal, é uma causa obrigatória de
diminuição da pena (minorante genérica), aplicada nas hipóteses em que
o agente, por ato voluntário, repara o dano ou restitui integralmente a
coisa, até o recebimento da denúncia ou da queixa. Efeitos: Redução da
pena de 1/3 a 2/3, Ex.: Autor de um crime de furto restitui a coisa sub
traída até o recebimento da denúncia. A recusa do ofendido em aceitar a
reparação do dano não exclui o beneficio do arrependimento posterior.
NOTEI, Q ual: á ■ ilíciÉg:
posterior? No; arrependimento-posterior, :'d' ';á'rre|p:eWdi^
Ineficaz,' isto é, não impede a . obõirênVta da resuitado deiitivò, mas. tao.
somente lhe reduz as conseqüências.; Por isso mesmo o agente não ficará
isento cie pena. - / / ; '■
QUESTÃO POTENCIAL DE PROVA! Em recente e histórico
julgamento (09.11.2010), o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu, no
HC 98.658/PR, que a reparação do dano no arrependimento posterior não
precisa ser integral Trata-se de verdadeira novidade, porque o entendi
mento consolidado na doutrina e na jurisprudência era no sentido de a
reparação ser integral. Perfeitos os argumentos do STF, em síntese: 1. A
norma penal (art. 16 do Código Penal) não estabelece como requisito a
reparação integral do dano; 2. A reparação integral ou parcial do dano
Cap. 7 -FORMAS CONSUMADA £ TENTADA DO CRIME 87
deve ser levada era conta apenas como parâmetro para fixar a diminuição.
Era outras palavras, a diminuição de 1/3 a 2/3 deve levai' em consideração
a extensão do ressarcimento e a presteza com que ele ocorre.1
7.7 CRIME IMPOSSÍVEL
O crime impossível previsto no art. 17 do Código Penal, é aquele
era que há ineficácia absoluta do meio ou impropriedade absoluta do
objeto. É denominado de “impossível” porque a ação do agente jamais
poderia gerar a consumação do crime.
Pode se manifestar de duas formas:
a) Por ineficácia absoluta do meio. Consiste num meio de execução im
possível de levar o crime à consumação. Ex.: Uso de uma arma de
brinquedo para matar alguém. É impossível destruir a vida de uma
pessoa dessa forma.
b) Por impropriedade absoluta do objeto. Nesta hipótese, não existe bem
jurídico a ser protegido. Ex.: Atirar contra pessoa morta; ou o caso da
mulher que ingere medicamento abortivo sem estar grávida. Nos dois
exemplos, não existem vidas (extra ou intrauteriim) a se proteger.
Mas duas hipóteses, o legislador adotou a teoria objetiva, segundo a
qual o crime impossível não deve ser punido, por não gerar nem mesmo
um perigo de lesão a um bem jurídico. Assim, o fato é considerado atí
pico, não havendo a forma tentada. A antiga teoria “subjetiva” (não mais
adotada, depois da reforma de 1984) sustentava que o agente deveria ser
responsabilizado por causa de sua periculosidade.
7.8 QUESTÕES COMENTADAS
(CESPE/UnB 2004) Considere a seguinte situaçíío hipotética. Após uma partida de
basquete, Rubens abordou Célia com uma faca e, mediante violência e grave ameaça, a
obrigou a ir até os fundos do ginásio de esportes, onde a constrangeu a manter com
ele conjunção carnal, que não ocorreu por ausência de ereção — impotência sexual
ocasional. Nessa situação, consoante entendimento do STJ, Rubens nSo responderá
pelo crime de estupro tentado por ineficácia absoluta do meio.
Resposta: Errado. A consumação do crime de estupro se inicia com a violência ou
grave ameaça. Não tendo o crime se consumado por circunstância alheia à vontada do
agente, restará a tentativa. Assim, Rubens n§o conseguiu a consumação do crime por
! Informativo 608 do STF.
88 DIREITO PENAL para concurso - POLÍCIA FEDERAL - Bmersan Castela Bmnca
impotência sexual ocasiona!, fato alheio a sua vontade; contudo, praticou atos Idôneos
de começo de execução. Cumpre anotar que, após a alteração promovida pela Lei n.°
12.015/2009, o crime de estupro se consuma com a prática de conjunção carnal ou
de outros atos libidinosos. Portanto, se Rubens já linha praticado com Célia algum ato
libidinoso, o estupro foi consumado,
(CESPE/UnB 2002} Considere a seguinte situação hipotética. César subtraiu, mediante
grave ameaça exercida com o emprego de uma faca, a importância de R$ 300,00
pertencente a Mateus. Instaurado o inquérito policial e elucidada a autoria da Infração
penal, César restituiu voluntariamente à vítima a importância subtraída. Nessa situação,
o juiz deverá reconhecer em favor de César o arrependimento posterior.
Resposta: O arrependimento posterior somente se manifesta “nos crimes cometidos
sem violência ou grave ameaça à pessoa, reparado o dano ou restitulcfa a coisa, até o
recebimento da denúncia ou da queixa, por ato voluntário do agente" (art. 16 do CP).
(CESPE/UnB 2004) Quanto à punibiitdade da tentativa, o Código Penal adotou a teoria
objetiva temperada, segundo a qual a pana para a tentativa deve ser, salvo expressas
exceções, menor que a pena prevista para o crime consumado.
Resposta: A teoria objetiva temperada foi adotada pelo Código Penai pátrio no que
tange a tentativa. Por essa teoria, leva-se em consideração o perigo efetivo que o bem
jurídico corre. Por isso mesmo, a pena da forma tentada deve ser menor do que aquela
aplicada ao crime na forma consumada.
7.9 QUESTÕES CESPE/UnB
1. (Agente da Polícia Federai 2004 - Prova azul - CESPE/UnB) Marcelo, com intenção
de matar, efetuou três tiros em direção a Rogério. No entanto, acertou apenas
um deles. Logo em seguida, um policial que passava pelo locai levou Rogério ao
hospital, salvando-o da morte. Nessa situação, o crime praticado por Marcelo foi
tentado, sendo correto afirmar que houve adequação típica mediata.
2. (Delegado da Potícla Federa! 1997- CESPE/UnB) A tentativa- não é admissível nos
crimes omlssivos puros.
3. (Delegado - Polícia Cívil/SE 2006 - CESPE/UnB) Considere a seguinte situação
hipotética. Jorge, com 28 anos de idade, ítendo sido verbalmente ofendido por
Cláudio, correu até sua casa, amolou uma faca do tipo peixeira e, ato seguido,
voltou ã procura do seu adversário, não mais o encontrando no locai. Não desistindo
de localizar seu desafeto, Jorge postou-se Junto ao caminho onde Ctáudio passava
habitualmente e novamente o esperou com a faca em punho. Todavia, Cláudio,
desconfiado, tomou direção diversa, evitando a agressão do inimigo. Nessa situação,
a conduta de Jorge caracteriza a figura tentada do homicídio, visto que se deu
Início à execução do delito, o quai não se consumou por circunstâncias alheias â
vontade do agente.
4. (CESPE/UnB 2004) Nas contravenções penais, a tentativa é punida com a pena da
contravenção consumada diminuída de um a dois terços.
5. (CESPE/UnB 2004) Nenhum ato preparatório de crime ê punível no direito penal
brasileiro.
6. (CESPE/UnB 2004) Na desistência voluntária, o agente pratica todos os atos de
execução e evita que o resultado ocorra.
Cap. 7 - FOKMAS CONSUMADA E TENTADA DO CRSME 89
I " -------------------- -------------- ------ --------- ” ----------
7. (CESPE/UnB 2004) Se o arrependimento situar-se na esfera cie execução do crime,
pode haver excludente de tentativa, desde que não sobrevenha o resultado. Se
ocorrer depois da execução, só será admitido o arrependimento posterior, considerado
causa de diminuição de pena.
8. (CESPS/UnB 2007) José e Pablo, previamente ajustados e com unidade de desígnios,
subtraíram de uma joathoria um relógio de ouro. instaurado o inquérito policial e
antes de sua conclusão, Pablo compareceu voluntariamente até a autoridade policiai
e devolveu a res furtiva. Nessa situação, restou configurado o arrependimento
posterior que, de acordo com o entendimento do STJ, se comunicará ao corréu
Pablo.
9. (CESPE/UnB 20Q4) É possível a tentativa no crime preterdoioso.
10. (CESPE/UnB 2004) Considere a seguinte situação hipotética. André, supondo que
seu inimigo estava dormindo na cama de um acampamento, quando na realidade
estava morto em virtude de um infarto qoe sofrerá anteriormente, desfechou-lhe seis
tiros de revólver. Nessa situação, André não responderá pelo crime de homicídio
tentado, em face da ineficácia absoluta do meio.
7.10 DICAS IMPRESCINDÍVEIS
O arrependimento posterior se comunica aos demais agentes? Sim. E a
desistência voluntária e o arrependimento eficaz? Também se comunicam.
Em que pese o assunto ser bastante polêmico, a orientação majoritária
na doutrina é no sentido da comunicabilidade. Contudo, cabe ressaltar
recente julgado do Superior Tribunal de Justiça no sentido da não co-
municabilídade, por ser circunstância de natureza pessoal (subjetiva)?.
Curiosamente, era. decisões mais antigas, o STJ vinha entendendo, de
forma consolidada, pela comunicabilidade aos demais agentes.
Pode existir forma tentada nos crimes cometidos com dolo eventual?
Sim. Trata-se da orientação majoritária*
uai a diferença entre tentativa “vermelha” e “branca”? A tentativa
vermelha (cruento) é aquela que deixa lesão (ex.: cortes no corpo da
vítima); enquanto a branca (;incruenta) é aquela que não gera nenhum
tipo de lesão (ex,: disparos contra a vítima sem acertá-la).
I A existência da desistência voluntária e do arrependimento eficaz
exclui a forma tentada do delito? Sim. Não há de se falar de forma
3 STJ, HC 92.004/PR, DJe 01.0S.2009.
90 DIREITO PENAL para concureo - FCLÍCiA FEDERAL - Emerson Castelo Brertco
tentada do crime. Por isso mesmo, são denominados de “tentativa
abandonada”.
Os crimes de mera conduta e formais permitem arrependimento efi
caz? Não. Como o arrependimento eficaz pressupõe o encerramento
de todos os atos executórios, somente é compatível com os crimes
materiais (delitos de resultado).
A desistência voluntária e o arrependimento eficaz são compatíveis com
os crimes culposos? Não, porque nestes o agente não tinha previsão,
nem vontade de cansar o resultado.
j Existe desistência voluntária se o agente desistiu da ação para praticá-
~la posteriormente, isto é, numa outra ocasião? Sim.
Reparação de dano de natureza moral autoriza a aplicação do arrependi
mento posterior? Sim, Trata-se da orientação doutrinária majoritária.
A violência contra a coisa exclui a aplicação do arrependimento
posterior? Não. Precisa ser violência contra a pessoa. E a posição
majoritária.
HS Como fixar exatamente o momento de transição da fase dos atos
preparatórios para a fase dos atos executórios? A corrente majori
tária (teoria objetíva-formal) defende que é o momento do início da
execução do núcleo do tipo (verbo)’.
E se a coisa for devolvida à vítima pela autoridade policial? Não se
aplica a figura do arrependimento posterior: “Tendo a decisão im
petrada consignado que a res furtiva foi apreendida por policial no
momento da prisão do paciente, ante a ausência de um dos requisitos
necessários à incidência da benesse espontaneidade na devolução - ,
é inadmissível minorar-se a reprimenda ao fundamento de que houve
posterior arrependimento por parte do agente”.3
3 STJ, HC 96,140/MS, 02.02,2009.
ANTIJIMIBICIBABE (ILICITUDE)
8.1 CONCEITO DE ANTIJÜMBICIDAB1
A antijuridicidade (ilicitude) consiste na contrariedade entre a con
duta praticada por uma pessoa e o ordenamento jurídico. É uma ação
contrária a uma norma jurídica, Essas situações de contrariedade estão
presentes em todos os âmbitos do direito (civil, trabalhista, administrativo,
tributários, dentre outros). Por isso mesmo, é muito comum uma conduta
antijurídica que não constitua crime, por ausência do fato típico, outro
elemento do delito, anteriormente estudado.
A antijuridicidade é apenas um dos elementos do crime. Assim,
constatada a antijuridicidade, é preciso aferir ainda a presença do fato
típico e da culpabilidade.
O fato típico somente é ilícito ou antijurídico quando não declarado
lícito por causa de exclusão da antijuridicidade.1
8.2 CAUSAS DE EXCLUSÃO DA ANTIJURIDICIDADE
A exclusão da antijuridicidade resulta na exclusão do crime ef con
sequentemente, da sua responsabilidade penal.
As denominadas causas genéricas “de exclusão” ou “justificativas” da
antijuridicidade são a legítima defesa, o estado de necessidade, o estrito
cumprimento do dever legal e o exercício regular de direito.
' JESUS, Damásio E, de. Direito Penai ~ Geral - V.l, 27.a ed., São Paulo; Saraiva, 2005, p. 1S7,
92 DIREITO PENAL para concureo - POLÍCIA FEDERAL - Emerson Castelo Branco
8.3 LEGÍTIMA DEFESA
Inserida no art. 25 do Código Penal, a noção de legítima defesa
remonta aos primórdios da existência humana. Diante da impossibilidade
de o Estado oferecer segurança para as pessoas a todo tempo, estas são
autorizadas a agir para proteger seus bens jurídicos, diante de situações
de agressão humana.
Requisitos:
a) Agressão injusta - Bxige-se que a agressão seja injusta, isto é, contrá
ria ao direito. Se a agressão é lícita, não se pode falar de “legítima”
defesa. Pode ocorrer via “ação” ou “omissão”.
b) Atual ou iminente Agressão atuai é a presente, ou seja, está acon
tecendo; enquanto iminente é a que está prestes a acontecer.
c) Direito seu ou de outrem - Quando a pessoa defende direito seu,
denomina-se de legítima defesa “própria”. De outro modo, quando
defende direito de terceiro, fala-se de legítima defesa “de terceiro”
A pessoa protegida pode ser física ou jurídica. Todo bem jurídico da
pessoa (ex.: vida, patrimônio, liberdade, inviolabilidade domiciliar etc.)
pode ser protegido por meio do instituto da legítima defesa.
d) Utilização dos meios necessários - É o meio de que dispõe a pessoa,
no caso concreto, para repelir a agressão. A escolha do meio hábil
deve levar em conta
o tipo e intensidade da agressão.
e) Moderação - O meio deve ser utilizado apenas para repelir a injusta
agressão, não se admitindo excesso na ação, Deve-se empregar o
meio da forma menos lesiva possível, apesar de não ser exigida uma
adequação milimétrica.
f) Elemento subjetivo - A pessoa deve ter consciência da injustiça da
agressão, bem como de estar agindo para repeli-la. A ausência desse
requisito leva à exclusão da legítijna defesa.
A legítima defesa não pode ocorrer contra legítima defesa (não é
possível legítima defesa recíproca!), ou contra o estado de necessidade,
ou contra o exercício regalar de direito, ou contra estrito cumprimento do
dever legal. Nessas hipóteses, nlo haveria injusta agressão. Por exemplo,
se “A” encontra-se agindo em legítima defesa contra “B”, este último
não pode agredi-lo alegando legítima defesa. A ação de “A” é legítima
defesa; portanto, não é injusta,
NOTEI E no,, caso dos duelsstás?. Não podem alegar legltlma .císfesa, por
que ambos estão agindo de forma injusta, um contra o outro, a começar
por, se desafiarem • pará o . duéló.'-. Quarn: acaita. ò . dueio. nâo paç!^ aiegar.
legitima d o f é s á . ' ' - V ': • / ; • . ;.‘v
Cap. 8 - ANTIJURIDICIDADE (1LÍCITUDE) 93
A injusta agressão pode ser qualquer tipo de agressão ilícita, não
obrigatoriamente um crime.
QUESTÃO POTENCIAL DE PROVA! Pode existir legítima defesa
contra um doente mental? E contra uma criança? Sim. Com certeza, des
de que atendidos os seus requisitos, inclusive, a moderação. A agressão
injusta deve ser analisada objetivamente, não importando a capacidade
do agressor. É o caso, por exemplo, de uma criança, com seus 10 anos
de idade, munida de revólver, atirando contra uma pessoa; ou de um
doente mental, valendo-se de instrumento pérfiiro-cortante para atingir
violentamente a integridade física de alguém. Em síntese, é possível
legítima defesa contra ínimputáveis.
A legítima defesa real não pode ser confundida com a situação
denominada de “legítima defesa putativa”? Conforme vimos no estudo
do erro, a “legítima defesa putativa” é uma descriminante putativa,
configurando-se quando o agente supõe falsamente a existência de uma
injusta agressão. Portanto, tecnicamente, não caracteriza legítima defesa,
isto é, causa de exclusão da antijuridicidade, Na verdade, trata-se de erro
de proibição, que é causa de exclusão da culpabilidade.
Qual o significado das expressões “legítima defesa subjetiva” e “le
gítima defesa sucessiva”? Diz-se . “subjetiva15 a hipótese de excesso no
momento de repelir a injusta agressão, decorrente de erro de proibição
escusável (invencível), que exclui a culpabilidade. Já “sucessiva” é a
repulsa contra o excesso.
A legítima defesa possui um adágio jurídico muito conhecido: “nin
guém é obrigado a ser covarde”. Sofrendo uma injusta agressão, não se
pode exigir da pessoa que esta empreenda fuga. E direito seu agir com
os meios necessários e moderados para repelir a injusta agressão.
A figura do excesso na legítima defesa enseja três hipóteses:
1*. Excesso doloso. A pessoa tem consciência que está empregando um
meio desnecessário, ou mesmo de estar agindo moderadamente na
utilização deste. É o caso, por exemplo, do marido traído que pretende
defender a honra da família, matando a esposa adúltera e o amante
desta; ou entao o caso de morador que ateia fogo no corpo de assaltante,
depois de havê-lo dominado completamente. Efeito: Responsabilidade
penai pelo resultado, dolosamente. Nos exemplos citados, o agente
responderá por crime de homicídio doloso.
2.“. Excesso culposo. Configura-se quando uma pessoa, por imprudência,
em face da injusta agressão, contínua a agredir seu agressor, mesmo
94 DIREITO PENAL para concurso ~ PGtlCíA FEDERAL - Emerson C&sfàh Branco
1
tendo cessado a agressão. Efeito: Responsabilidade penai pelo resul
tado, culposamente.
3,a. Excesso cxcuípante. É o excesso que surge do erro sobre a iíicitude
do fato (erro de proibição), imaginando o agente estar agindo licita
mente. Como se trata de erro escusável (invencível), excluí o crime
pela exclusão da culpabilidade. Denominado também de “legítima
defesa subjetiva”.
Qual a exata diferença entre a legítima defesa e o estado de neces
sidade? Primeiro, no estado de necessidade, não existe injusta agressão,
e sim colisão entre bens jurídicos. Segundo, no estado de necessidade,
o perigo pode ser humano, ou de um animal, ou de qualquer força da
natureza; enquanto, na legítima defesa, a agressão sempre é humana. Ter
ceiro, no estado de necessidade, a ação pode ser contra pessoa inocente;
enquanto, na legítima defesa, sempre deverá ser contra o agressor.
8.4 ESTADO DE NECESSIDADE
Diferentemente da legítima defesa, o estado de necessidade é a causa de
exclusão da antijuridicidade que consiste na ação de uma pessoa para salvar
um bem jurídico em situação de perigo. Trata-se da hipótese do sacrifício
último para salvar um bem jurídico, tendo como único caminho a lesão de
outro. Há uma colisão de bens juridicamente tutelados, diante de uma situação
de perigo causada por força humana, ou animal, ou da natureza.
Requisitos:
a) Perigo atual É necessário provar a existência de uma situação de peri
go presente. Não haverá estado dl necessidade se o perigo for futuro.
Note: Apesar da norma penal se referir apenas a perigo atual, parte
da doutrina possui o entendimento segundo o qual o perigo iminente
também estaria abrangido pelo estado de necessidade.
b) Ameaça a bem jurídico próprio ou de terceiro, Pode ser qualquer bem
jurídico próprio ou alheio, como a vida, a integridade física, a honra,
a liberdade e o patrimônio.
c) Situação de perigo que não tenha sido causada voluntariamente pelo
agente. O perigo causado dolosamente impede que o agente alegue
estado de necessidade. Assim, se o agente der causa culposamente
ao perigo, pode invocar o estado de necessidade, pois somente não
seria possível essa alegação se o perigo tivesse sido causado inten
cionalmente (dolosamente) por ele. Contudo, o assunto é dividido na
doutrina, havendo duas orientações sobre o tema.
Cap. 8 - ANTIJURtDICiDADg (ILICITUDE) 95
d) Inexistência de dever íegal de enfrentar o perigo. Não se pode alegar
estado de necessidade quem tinha o dever legal de combater o perigo.
Ex.; o policial não pode deixar de enfrentar criminoso, sob o argumento
de que o mesmo pode machucá-lo; um bombeiro não pode deixar de
enfrentar um incêndio invocando a possibilidade de ser queimado; o
capitão de um navio não pode se apossar do bote salva-vidas, deixando
os tripulantes em situação de perigo,
e) Inevitabilidade do comportamento lesivo. É preciso que o agente de
outro modo não tivesse como evitar o resultado. Significa não haver
outro meio de evitar o perigo ao bem jurídico próprio ou de terceiro.
Em outras palavras, se havia outro meio de afastar o perigo (commodus
discessus), não pode existir estado de necessidade.
f) Exigibilidade (ou razoabilidade) de sacrifício do bem jurídico. Só é
possível o estado de necessidade para salvar interesse próprio ou alheio,
cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se. Dessa
forma, o bem sacrificado deve ser de valor equivalente ou inferior ao
bem que se pretende proteger (ex.: não se admite estado de necessidade,
quando se sacrifica a vida de uma pessoa para salvar um cão).
g) Elemento subjetivo do estado de necessidade. É preciso que o sujeito
tenha consciência de que está agindo em estado de necessidade.
NOTE! Qual a diferença entre ò estado de necessidade e o denominado
’ "estado, d^.necessidaâé puíativo''? O estado de necessidade puíàtlvo é uma
espécle descriminaníe putativa, isto é,. erro'sobre a Ilicitude .do fato1’(erro
de proibição), causa de' exclusão da culpabilidade. Ocorre quando alguém
imagina estàr agindo erri estado de ftecèssídáde,
quando, rià verdade, à
situação de perigo não existe. r .......
Havendo apenas dever contratual, é possível alegar estado de neces
sidade? Sim. Somente não pode alegar estado de necessidade quem tem
o dever legal de combater o perigo.
Assim como na legítima defesa, o excesso no estado de necessidade
pode ser doloso, culposo ou exculpante. No doloso, existe consciência do
excesso; enquanto, no culposo, uma imprudência. Por fim, no exculpante,
a pessoa incorre em erro, imaginando ainda haver situação de estado de
necessidade, quando o perigo já tinha cessado.
NOTEI Havendò a imposição do-déver íégai "não pode á autòridade púbjiçá
alegar estado de necessidade, porque a própria; função prevé. riscos: En
tretanto, ná'hlpótésé.dè s.èr ju d d iç ó i^ lo ;.se po.de
.exigir p sacrifício. inútil. É ò Caso’, ' poréxèriiplo, .de lim prédio'em charriás,
desmoronando, i^ão há "corno á autoridade ingressar dentro deste, nessas
circunstâncias.
96 DIREITO PENAL para concurso - POLÍCIA FEDERAL - Emerson Castelo Branco
QUESTÃO POTENCIAL BE PROVAS Qual a exata diferença entre
estado de necessidade “agressivo” e “defensivo”? No estado de necessi
dade “agressivo”, a conduta do agente se volía contra bem jurídico de
terceiro inocente, que não provocou a situação de perigo (ex.: o clássico
caso de um náufrago que mata outro para se apoderar de um bote salva
vidas; ex. 2.: invadir a casa de uma pessoa para fugir de uma enchente).
Já no estado de necessidade “defensivo”, a conduta dp agente se volta
contra o bem jurídico da pessoa que provocou o perigo (ex,: o agente
precisa matar o cachorro do vizinho, que deixou o animal solto na rua,
para livrar seu filho de um ataque).
Somente haverá estado de necessidade se o bem jurídico que o agente
pretende proteger for legítimo. Dessa forma, por exemplo, o preso não
pode matar o delegado de polícia para fugir.
8.5 EXERCÍCIO REGULAR DE DIREITO
É a causa de exclusão da antijuridicidade, prevista no art. 23 do
Código Penal, que consiste na atuação de alguém conforme as normas de
direito, isto é, respaldada pelo ordenamento jurídico. Apesar da tipicída-
de aparente (descrição da conduta na norma penal, a conduta é jurídica
(lícita). Ex.: palmadas leves que uma mãe ministra no bumbum do seu
filho; lesões decorrentes de um esporte, como boxe, futebol,
8.6 ESTRITO CUMPRIMENTO DO DEVER LEGAL
É a conduta que, apesar de constituir um fato típico, é lícita (jurídica),
porque decorre da imposição de um dever legal. Este dève ser exercido
sempre dentro dos limites da própria sãtividade funcional. Assim como
toda causa de exclusão da iíicitude, é necessário o requisito subjetivo,
isto é, a consciência de estar agindo no cumprimento de um dever legal.
Ex.: emprego de força física por um policial para efetuar a limitação de
liberdade de um criminoso.
O dever legal pode decorrer de lei penal ou extrapenal (ex.: dispo-
sições administrativas). Entretanto, lembra Mírabete, “estão excluídas da
proteção as obrigações meramente morais, sociais ou religiosas. Haverá
violação de domicílio, por exemplo, se um sacerdote forçar a entrada
em domicílio para ministrar a extrema-unção.”12
1 MÍRABETE, Júlio Fabbrini. Manual de Direito Penal. V,l, 24.* ed., São Paulo: Atlas, 2006, p. 189.
Cap. 8 - ANTtJURIOlCSDADE (ILICITUDE) 97
Não se admite estrito cumprimento de dever legal nos crimes culpososs
porque a lei não obriga à imprudência, à negligência ou à imperícia.
8.7 QUESTÕES COMENTADAS
(CESPE/UnB 2004) É possível a ocorrência de estado de necessidade contra estado de
necessidade, mas não é possível a ocorrência de legítima defesa real contra legitima
defesa real.
Resposta: Correto. O estado de necessidade pressupõe um choque entre bens jurídicos,
em que se opta pela preservação de um em detrimento do outro. Nada impede que
duas pessoas hajam em estado de necessidade mutuamente com o intuito de defender
o bem jurídico, No entanto, quando se trata de legítima defesa real, em que se faz
presente todos os seus requisitos de existência, inclusive o da agressão injusta, não
existe compatibilidade entre legítima defesa reai e legítima defess real, visto que,
necessariamente, enquanto uma agressão for injusta, a outra se tomará justa, resultando,
portanto, que não se pode afagar legítima defesa de agressão justa.
(CESPE/UnB 2004) Considere a seguinte situação hipotética. Marcelo desfechou seis
tiros de revólver contra a sua esposa, de quem estava separado de fato há mais de
30 dtas, sob a justificativa de que a vitima não tinha comportamento recatado e o
traía. Nessa situação, de acordo com o entendimento do STJ, Marcelo agiu sob o
pálio da legitima defesa da honra.
Resposta: Brado, De acordo com o STJ, a legítima defesa da honra nâo é mais
admitida em casos de traição, visto que a honra denegrida é a da adúltero e nâo a do
cônjuge inocente, São incompatíveis, portanto, os requisitos da legitima defesa (art. 25
do CP) com o adultério.
(Delegado da Policia Civll/RN — 2009 - CESPE/UnB) Nâo é possível a legitima defesa
contra estado de necessidade.
Resposta: Correto. De fato, se uma pessoa está agindo em estado de necessidade,
sua conduía é plenamente jurídica, lícita. Dessa forma, não poderá haver legítima defesa
contra uma ação lícita. Somente existe legítima defesa no caso de injusta agressão.
(Delegado da Policia Clvil/RN - 2003 - CESPE/UnB) Não é possível legítima defesa
real contra quem está em legitima defesa putaíiva.
Resposta; Errada, é possível, sim, legítima defesa real contra legítima defesa putativa
Quem age imaginando falsamente uma injusta agressão está cometendo um erro, agredindo
uma pessoa por equívoco. Esta, por outro íado, tem o direito, diante da injusta agressão
que sofre, de agir para reprími-ia.
(DPU Defensor púbiico da União CESPE/UnB 2010) A responsabilidade pena! do agente
nos casos de excesso doloso ou culposo aplica-se âs hipóteses de estado de necessidade
e legítima defesa, mas o legislador) expressamente, exclui tal responsabilidade em
casos de excesso decorrente do estrito cumprimento de dever legal ou do exercício
regular de direito.
Resposta: Errado. O excesso doloso ou culposo, nos termos do parágrafo único, do
art. 23, do Código Penal, pode ocorrer em qualquer uma das hipóteses de exclusão da
antijuridicidade. Exemplo de excesso no estrito cumprimento do dever legai: oficiai de
justiça que agride desnecessariamente a integridade física de uma pessoa no cumprimento
de um mandado de busca e apreensão. Exemplo de excesso no exercício regular de
direito: mãe que termina exagerando na correção imposta ao filho.
98_____ DfREiTO PENAL para concurso ~ POLlCIA FEDERAL ~ Emerson Castelo Branco
8.8 QUESTÕIS CESPE/UnB
1. (Escrivão da Policia Federal 2002 - CESPE/UnB) Considere a seguinte situação
hipotética. Perseu era escrivão de Poiícia Federal e, atendendo a ordem de missão
expedida pelo delegada competente, acompanhava equipe policial em diligência
investigatôrla regular. Durante ela, encontraram um indivíduo em situação de
flagrância e deram-lhe voz de prisão. O indivíduo resistiu e sacou arma do fogo,
com a qual disparou contra a equipe. Não havendo alternativa, Perseu disparou
contra o indivíduo, alvejando-o mortalmente. Nessa situação, ao ato de Perseu falta
o elemento da fitcitude, de maneira que não é juridicamente correto imputar-lhe
crime de homicídio.
2. (Papiioscopista da Poiícia Federal 2004 - CESPE/UnB) As causas de exclusão de
iíicitude são normas penais permissivas, isto é, permitem a prática de um fato
típico, exclutndo-lhe a antijurldicidade.
3. (Delegado ~ Policia Civil/ES - CESPE/UnB) Na administração da justiça por parte dos
agentes estatais é meio legitimo o uso de armas com o intuito de matar indivíduo
que tenta cvadir-se de cadeia pública.
4. (Delegado - Polícia Civil/ES - CESPE/UnB) O policial
ao efetuar prisão em flagrante
tem sua conduta justificada peta exchidente do exercido regular de direito.
S. (Delegado ~ Poiícia Civil/ES - CESPE/UnB) Pode ser causa de exclusão da Iíicitude
o consentimento do ofendido nos delitos em que eie â o único titular do bem
juridicamente protegido e pode dele dispor livremente.
6. (Delegado - Polícia Civil/ES - CESPE/UnB) Não existem causas supralegais de
exclusão da iíicitude, uma vez que o art. 23 do Código Penal pode ser entendido
como numertis ciausus.
7. (Delegado - Poiícia Civil/ES - CESPE/UnB) Não se reconhece como hipótese de
legítima defesa a circunstância de dois inimigos que, supondo que um vai agredir
o outro» sacam suas armas e atiram pensando que estão se defendendo.
í
8. (Delegado - Polícia Civil/ES - CESPE/UnB) São requisitos para configuração do
estado do necessidade a existência de situação de perigo atua! que ameace direito
próprio ou alheio, causado ou não voluntariamente pelo agente que não tem dever
legal de afastá-lo.
9. (Delegado - Polícia Civil/ES - CESPE/UnB) Trata-se de estrtto cumprimento de
dever legal a realização, pelo agente, d® fato típico por força do desempenho de
obrigação imposta por lei.
10. (Delegado da Poiícia Federal 2004 Regional branca - CESPE/UnB) Para prenderem
em flagrante pessoa acusada de homicídio, policiais Invadiram uma residência em
que entrara o acusado, danificando a porta de entrada e sem mandado de busca
e apreensão. Nessa situação, os policiais não responderão pelo crime de dano,
pois agiram em estrito cumprimento do dever fegal, que é causa excludente da
iíicitude.
Cap, 8 - ANTUURSD1CIDADE (ILICITUDE) 99
r ~
11. (Agente ~ Polícia Civil/RR 2003 - CESPE/UnB) São causas excludentes de ilicitude
a legítima defesa, o estado de necessidade, o estrito cumprimento do dever iegal
e a coação morai Irresistível.
12. (Agente - Polícia Clvti/RR 2003 - CESPE/UnB) Considere a seguinte situação
hipotética. Dionfsto, para salvar a si próprio e a seu filho, feriu mortalmente um
leão que acabara de fugir do zoológico e ameaçava atacá-los. Nessa situação,
Dionísío agiu em legítima defesa.
13. (Agente - Polícia Cívü/RR 2003 - CESPE/UnB) Age em estrito cumprimento do dever
legal o policial que emprega força física para impedir fuga de presídio.
14. (CESPE/UnB 2003) Configura-se causa de exclusão de ilicitude denominada estado
de necessidade recíproco a situação em que, após um navio naufragar, seus
tripulantes se agridam mutuamente, m> intuito de se apoderarem de uma boia que
flutue no oceano.
15. (OAB “ 2009.1 - CESPE/UNB) Considera-se em estado de necessidade quem pratica
o fato para salvar de perigo atual, que não provocou por sua vontade nem podia
de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias,
não era razoável exigir-se.
16. (Agente - Polícia Civil/TO 2008 - CESPE/UnB) Considere a seguinte situação
hipotética. Jonas, aceitando desafio de Gabriel, ofendeu, no decorrer do duelo, a
integridade física de seu desafeto, causando-lhe lesões corporais graves. Nessa
sltuaçao, Jonas agiu em legítima defesa, pois tinha o propósito de se defender de
eventuais agressões.
17. (Escrivão - Policia Civti/PA 2006 - CESPE/UnB) Diz-se agressivo o estado de
necessidade quando a conduta do agente dirige-se diretamente ao produtor da
situação de perigo, a fim de eliminá-ía.
18. (Assistência Judiciária do Distrito Federal 2006 - CESPE/UnB) As Intervenções
médicas e cirúrgicas constituem exercício reguíar de direito, sendo, excepcionalmente,
caracterizadas como estado de necessidade.
19. (Assistência Judiciária do Distrito Federal 2006 - CESPE/UnB) Nos termos do Código
Penal e na descrição da excludente de ilicitude, haverá legítima defesa sucessiva
na hipótese de excesso, que permite a defesa legítima do agressor inicial.
20, (CESPE/UnB 2Òp4) Um bombeiro que deixa de atender a um incêndio, em que
pessoas são tesionadas, para atender a outro sinistro, de maior gravidade, age em
estado de necessidade.
21. (CESPE/UnB 2007) Considere a seguinte situação hipotética, Um alpinista, em
situação de extremo perigo, ao perceber que a corda que o sustentava junto à
montanha estava prestes a se romper, cortou o sustentácuio, impondo com isso
a queda do amigo, também sustentado pela mesma corda. Tal conduta provocou a
morte imediata do segundo alpinista, propiciando o salvamento do primeiro. Nessa
situação, aquèlé que cortou a corda agiu em legitima defesa na busca de proteção
da própria vida.
100 OSREITO PENAL para concurso - POLÍCIA FEDERAL - Emerson Coste/o Branco
22, (CESPE/UnB 2007) O exercício regular de direito e o estrito cumprimento de dever
legal excluem o caráter ilícito do fato, o que implica, por conseqüência» a ausência
de tiptcidade da conduta amparada por tais Institutos.
23. (CESPE/UnB 2003} Constitui requisito subjetivo do estado de necessidade a
consciência do agente da situação de perigo e de agir para evitar a lesão.
819 DICAS IMPRESCINDÍVEIS
As denominadas ofendículas (ex.: cerca elétrica) configuram exercício
regular de direito? Sim. Trata-se da orientação majoritária. Contudo,
não podem existir em formato de armadilhas escondidas, porque geram
uma situação de excesso.
msiasmítosffíascy»; i}** yfcr.vv
O denominado “estado de necessidade exculpante” foi adotado pelo
Código Penal brasileiro? Não. Ocorre quando o bem sacrificado possui
valor superior ao bem que se desejava proteger, mas o agente alega
inexigibilidade de conduta diversa, para excluir a culpabilidade (ex.:
destruir a vida de uma pessoa para salvar um pequeno animal de
estimação de inestimável valor sentimental). Somente se admite o
estado de necessidade “justificante”, baseado na razoabilidade, isto é,
na proporcionalidade entre o bem sacrificado e o bem protegido.
O estado de necessidade se comunica aos outros coautores da ação?
Sim, Trata-se de orientação amplamente majoritária na doutrina.
Havendo erro de execução (“aberratio ictus”), previsto no art. 73 do
Código Penal, haverá possibilidade de estado de necessidade? Sim.
Simples provocação autoriza defesa legítima? Não. Dessa forma, a
provocação (e não agressão!) somente possibilita o reconhecimento de
uma atenuante genérica (art. 65 do CP), ou mesmo alguma circuns
tância provilegiadora (§ 15, do art. 121, do CP).
j Não pode existir legítima defesa contra animal (a agressão deve ser
humana!), salvo se o animal fosse utilizado como arma (instrumento
do crime) pelo agente. Ações contra animais configuram hipótese de
estado de necessidade.
Cap. 8 - ANTIJURiDIClOAOE (HICITUDE) 101
Na legítima defesa, existe a mesma figura presente no estado de ne
cessidade do “commodus discessus” (busca de alternativa, como, por
exemplo, fuga)? Não. Se uma pessoa parte em direção a outra com um
revólver, para matá-la, não se pode exigir desta última que empreenda
fuga (adágio “ninguém pode ser obrigado a ser covarde”). Bm outras
palavras, mesmo tendo condições de fugir, ainda assim haverá legíti
ma defesa (ex.: assaltantes armados invadem a casa de uma família.
Mesmo podendo fiigir, a família “valente” prefere enfrentá-los).
Dentro do mesmo contexto fático, podem existir legítima defesa e
estado de necessidade simultaneamente? Sim. É o caso em que A
subtrai a arma de B, para atirar contra C, em situação de legítima
defesa. Em relação a B, agiu em estado de necessidade; enquanto que
em relação a C agiu em legítima defesa.
sreí j t t t i sa! ív\
Em relação ao estrito cumprimento do dever legal, somente pode ser
alegado por funcionários públicos? Apesar de não ser assunto pacífico,
a corrente majoritária se orienta no sentido de sua adoção também
pelo particular, desde que exista lei, impondo-lhe algum tipo de dever
legal
O consentimento do ofendido é causa supralegal de exclusão da
iíicitude?
Sim. Contudo, somente será válido se o bem jurídico for
disponível (ex.: honra) e o ofendido for capaz. E mais: a título de
exceção, se a ausência de consentimento for elementar do tipo, haverá
a exclusão do fato típico, e não a antijurldicidade (ex.: violação de
domicílio - art. 150, CP).
CULPABILIDADE
9.1 CONCEITO
É o juízo de reprovação social (censurabilidade) que se faz sobre a
conduta. É elemento integrante do conceito de crime.
Possui os seguintes elementos: imputabilidade, potencial conheci
mento da ílicitude e exigibilidade de conduta diversa.
9.2 CAUSAS DE EXCLUSÃO BA CULPABILIDADE
As causas de exclusão da culpabilidade (ou “dirimentes”) são as
seguintes:
a) Inímputabilidade ■•••• A exclusão da imputabilidade termina por gerar a
exclusão da culpabilidade.
b) Coação moral irresistível (v í í compulsiva) - Ocorre toda vez que uma
pessoa, sofrendo grave ameaça irresistível, for obrigada a praticar um
crime. Note: Deve ser irresistível, isto é, não podia ser vencida.
Temor reverenciai é o fundado receio em desagradar a quem se deve
elevado respeito. Não se equipara à coação moral.
c) Obediência hierárquica - Caracteriza-se pela ordem de um superior
hierárquico a um subordinado para a prática de uma conduta criminosa,
não sendo essa ordem manifestamente ilegal; isto é, o subordinado a
executa sem perceber a sua ilegalidade. Se for claramente ilegal, o
subordinado também será responsabilizado penalmente.
104 DI&EtTO PENAL para concurso - POÜCIA FEDERAI. - Emerson Castelo Branco
NOTE! Quai a diferença entre coação moral irresistível para coação física
irresistível (vis absoluta)? Na coação morai, a pessoa se encontra em
liberdade, sofrendo constrição apenas mental; enquanto na coação física,
a pessoa não tem vontade, estando limitada fisicamente. Em outras pala
vras, a coação morai irresistível não exclui a conduta, uma vez que ainda
existe vontade. Por Isso mesmo, exclui a culpabilidade. Ao contrário, na
coação física irresistível, nâo haverá fato típico, por ausência da conduta,
um de seus elementos. Luiz Régis Prado cita dois exemplos interessantes
de coação física: “Obrigar fisicamente o coagido a golpear; e amarrar o
guarda rodoviário, impedindo-o de acionar os binários",!
9.3 ELEMENTOS DA CULPABILIDADE
1.°) Imputabilidade - Estudamos no tópico a seguir.
2.°) Potencial conhecimento da ilicitude - Para que a conduta seja reprová
vel (censurável), é necessário que o agente conheça ou ao menos possa
conhecer as circunstâncias ligadas à antijuridicidade. Note: O desconhe
cimento da ilicitude não pode ser confundido com o desconhecimento
da Lei. O Código Penal, inclusive, estabelece, em seu art. 21, que o
desconhecimento da lei é tnescusável, isto é, não podendo ser alegado
para excluir a responsabilidade penal do agente. Qual é a exata diferen
ça? O desconhecimento da lei significa apenas que o agente criminoso
não conhece a legislação, mas tem consciência do caráter ilícito do seu
ato. Ao contrário, a falta de potencial conhecimento da ilicitude ocorre
quando o agente desconhece que sua ação é contrária ao Direito.
S.") Exigibilidade de conduta diversa - Para se configurar a culpabilidade,
não bastam a imputabilidade e o potencial conhecimento da ilicitude.
É necessário ainda aferir se, diante das circunstâncias do episódio
criminoso, era necessário exigir do agente um comportamento diverso
daquele que empregou. Deve-se averiguar se era possível exigir do
agente outra conduta diversa da ^que praticou. Qual o critério para
fazer esse juízo? O homem médio. Em outras palavras, se as pessoas
em geral, diante de iguais circunstâncias, agissem da mesma fòrma, a
conduta do agente não seria censurável, não havendo culpabilidade no
caso. Cite-se como exemplo, dentre outros, a coação moral irresistível,
estudada acima.
9.4 IMPUTABILIDADE
É a capacidade de entender o caráter ilícito do fato e de determinar-se
de acordo com esse entendimento. O Código Penal, em vez de definir a
’ PRADO, Luiz Regis. Curso de Direito Penal Brasileiro ~ Vol 1 - Parte Gerai, 5.a Ed„ São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2006, p. 26.
Csp, 9 - CULPASiUDADE 105
imputabilidade, elencou as situações de inimputabilidade, no art. 26 do
CP: “É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvol
vimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da
omissão» inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de
determinar-se de acordo com esse entendimento”.
9.4.1 Critérios (ou sistemas) para estabelecer a inimputabilidade
a) biológico - Avalia apenas aspectos biológicos, como, por exemplo,
saber se ama pessoa possui desenvolvimento mental retardado.
b) psicológico -- Avalia apenas se a pessoa tinha ou não capacidade de
entender o caráter ilícito do fato e de determinar-se de acordo com
esse entendimento, não se importando com questões biológicas.
c) biopsicológico - Consiste na soma dos dois critérios anteriores.
NOTEI O Código Pena! adotou o sistema biopsicológico, conforme se
verifica da análise do a r t 28 do CP: "Ê isento do pena o agente que, por
doença mental ou desenvolvimento mental incompleto,.ou retardado (sistema
biológico), era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de
entender o caráter fllcito do fato ou de determinar-se de acordo com esse
entendimento" (sistema psicológico). Adotou, portanto, a soma dos dois
sistemas (biológico + psicológico), formando o sistema biopsicológico,
9*4.2 Causas de inimputabilidade
I *) Doença mental - É toda perturbação mental capaz de influir na ca
pacidade de entender o caráter ilícito do fato. Ex.: paranóia, psicose,
neurose, esquizofrenia etc,
2*) Desenvolvimento mental incompleto - É o desenvolvimento metal
que ainda não se completou, ou por causa da idade do agente, ou por
sua ausência de convício social, Ex.: menores de 18 anos e siivícolas
inadaptados.
3.*) Desenvolvimento mental retardado - É o atraso na idade mental
cronológica da pessoa. Ex/. oligofrênícos.
4.a) Embriaguez completa, por caso fortuito ou por força maior - Será
estudada mais adiante.
9,4.3 Semi-imputabiUdade
Prevista no parágrafo único do art. 26, é a situação do agente que
não era inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato, isto
é, tem apenas perda parcial da capacidade de entendimento. Por isso
106 DIREITO PENAL para concurso - POLÍCIA FEDKRAL - Emerson Castelo Branco
mesmo, não exclui o crime. Gera apenas uma diminuição da pena. de
imi a dois terços.
9.4.4 Menoridade penal
No caso dos menores de 18 anos, conforme o art. 27 do CP, existe
uma presunção legal absoluta de inimputabilidade. O legislador adotou
o critério puramente biológico, constituindo exceção à regra do critério
bíopsicológico,-“A inimputabilidade penal dos menores de 18 anos está
prevista, também, no art. 228 da CP’.
NOTEf A prova da menoridade não pode ser realizada por meio de tes
temunhas! Súmiila 74- do STJ: "Para'efeitos penais, o reconhecimento
da menoridade do réu, requer proyá por. documento hábil”, Seria, apenas
certidão de nascimento? Não. Outros documentos ísmbém' servem como
prova (ex: certidão de batismo).
9.4.5 Emoção e paixão
A emoção e paixão não excluem a imputabilidade (art. 28, inciso
I, do CP). À emoção é o sentimento repentino e passageiro, como uma
tempestade; enquanto a paixão eqüivale a uma emoção constante, per-
durando no tempo, Podem servir apenas como atenuantes genéricas (art.
65, inciso III, alínea a); ou, em determinados delitos, como circunstância
minorante. Porém, caso a paixão se tome doença mental, poderá ser
excluída a imputabilidade.
9.4.6 Espécies de embriagues:
À embriaguez, em regra, não excluí a responsabilidade penal (art,
28, inciso II). Trata-se do processo de intoxicação causada pelo álcool
ou pór substâncias de efeitos
análogos. Pode resultar do consumo de
drogas lícitas (ex.: álcool) ou ilícitas (ex.: cocaína).
Possui as seguintes espécies:
a) Não acidental - Poda ser voluntária (dolosa) ou culposa. Na voluntária,
o agente tem a intenção de se embriagar. Na culposa, o agente quer
ingerir a substância, mas sera a intenção de se embriagar. Pode ser
completa (retirada total da capacidade de entendimento) ou incompleta
(retirada parcial da capacidade de entendimento).
Cap. 9 - CUIPABILSDAOE 107
b) Acidental - É aquela que decorre de caso fortuito ou de força maior.
Pode ser completa ou incompleta. Se for completa, isenta de pena, Se
for incompleta, não isenta, mas diminui a pena de 1/3 a 2/3.
A embriaguez completa, proveniente de caso fortuito ou força maior
(art 28. § l.°), é exceção à regra, porque exclui o crime. Exemplos de
caso fortuito: a pessoa escorrega e cai dentro de um barril de cachaça,
ingerindo grande quantidade de bebida alcoólica por não saber nadar;
mulher numa festa ingere bebida sem ter- conhecimento da presença de
droga nesta. Exemplo de força maior: embriaguez decorrente de uma
doença grave, como a utilização da morfina para diminuir as dores de
um câncer.
Entretanto, se a embriaguez por caso fortuito ou força maior não
for completa, haverá apenas uma redução de um a dois terços (art. 28,
§ 2.°, do CP).
9.4.7 Teoria da A dio Libera in Causa (ação livre na causa)
É a teoria segundo a qual, se o agente se embriaga com o fim de
cometer o crime ou mesmo prevendo a possibilidade de cometê-lo (em
briaguez preordenada), não pode no momento da ação alegar estado de
inconsciência ou mesmo ausência de dolo, porque tinha o dolo antes da
embriaguez. Diz-se que a sua ação era “livre na causa”, para ser conside
rado o momento da embriaguez e não o momento da ação criminosa.
9.5 QUESTÕES COMENTADAS
(CESPEíUnB 2005) O Código Penal adotou o sistema biológico para se aferir a
inímputabtlidade, devendo-se verificar se o agente, ao tempo da ação ou omissão,
ora portador de doença mental ou desenvolvimento mental Incompleto, capaz de lhe
retirar a capacidade de compreender o caráter Hícito de seu ato ou de ortentar-se de
acordo com esse entendimento.
Resposta: Errado. O critério adotado como regra é o biopsicológico; sendo o biológico
aplicado, pelo Código Penai, somente no caso da menoridade penai de 18 anos.
(CESPE/UnB 2004) Na aferição da mimputabilidacie, o Código Penal adotou o sistema
blopsícológico, mesmo no caso da menoridade penal.
Resposta: Errado. O Código Penal adotou o critério biológico (exceção) em retaçâo à
menoridade penai; e bíopsicológico (regra), nas demais hipóteses de inimputabilidade.
{CESPE/UnB 2005) A medida de segurança será aplicável aos inimputáveís e,
excepcionalmente, aos semí-tmputávels. No úttimo caso, o juiz poderá determinara execução
de pena reduzida ou promover sua substituição peia medida de segurança.
108 DiRElTO F£NAL para concurso - POLÍCIA FEDERAL - Emerson Castelo Branco
Resposta: A medida d® segurança é aplicada aos inímputáveis. No entanto, no art. 98,
capòt, do CP, ha a previsão de substituição da pena por medida de segurança para os
semt-imputávels, quando estes necessitarem de especial tratamento curativo.
(CESPE/UnB 2005) A emoção não excluí a imputabilidade penai, mas pode atuar como
circunstância atenuante ou como causa de redução de pena.
Resposta: Correto. A afirmação apenas mostra o que expressa o Código Penal no seu
art. 26, inciso I, em que a emoção não exclui a imputabilidade; e no art. 65, inciso iif,
alínea c, que dispõe ser a emoção circunstância atenuante.
(CESPE/UnB 200$) A embriaguez, quando patológica, pode afastar a imputabilidade
do agente.
Resposta: Correto. A embriaguez patológica aplica-se a regra do art. 26, caput, do
Código Penal, pois tal forma de embriaguez constitui perturbação da saúde mental,
podendo afastar a imputabilidade penal.
(CESPE/UnB 2004} Considere a seguinte situação hipotética. Neto, imprudentemente,
embrlagou-se no balcão de um boteco, sem prever, mas devendo, a eventualidade
de vir a cometer um crime. Em estado de embriaguez completa, Neto iniciou uma
discussão com o proprietário do boteco e desfechou-ihe um gotpe fatal de faca na
região torácíca, matando-o. Nessa situação, adotando-se a teoria da aotio libera in
causa, Neto responderá peta prática do crime de homicídio.
Resposta: Correto. A teoria da aotio libera in causa reza que o agente tem o pleno
arbítrio para escolher se irá querer se embriagar ou não. Assim, caso decida pela
embriaguez, deverá o mesmo responder, mesmo que não possa entender plenamente o
caráter itíoito do fato, por qualquer crime que venha a cometer. Neto responderá, mesmo
que completamente embriagado, pelo crime cometido.
(Defensor Público/SE ~ CESPE/UnB - 2005) Considere a seguinte situação hipotética.
Marcelo, sob coação moral irresistível, foi forçado a assinar um documento falso.
Nessa situação, o fato reveste-se de tipicidade, pois a ação é juridicamente relevante,
todavia Marcelo deverá ser isento de pena, pois está presente uma causa excludente
da culpabilidade.
Resposta: Correto. Existem fato típico e antijuridicidade, mas não culpabilidade. Por
conseguinte, não haverá crime por ausência de um dos seus elementos estruturais. No
caso, Marcelo assinou o documento dolosamente, sabendo da falsidade. A sua ação é
típica e antijurídica. Porém, em face da coação moral irreslstlvei, haverá a exclusão da
culpabilidade, A coação moral irresistível é situação de inexigibilidade de conduta diversa
(não se poderia exigir outra conduta de Marello), restando afasta a reprovabiildads do
seu comportamento.
(OPU Defensor Público da União CESPE/UnB 2010) Segundo a teoria psicológica da
culpabilidade, o dolo e a culpa fazem parte da análise da culpabilidade, e a imputabilidade
penai é pressuposto desta.
Resposta: Correto. A teoria psicológica prega que a imputabilidade é seu pressuposto,
sendo o dolo e a culpa espécies da culpabííídade. Denomina-se “psicológica", porque
entende que a culpabilidade é o liam o psicológico entre o criminoso e o fato. Referida
teoria é minoritária no Direito Penal brasileiro. Resumidamente, as teorias acerca do
conceito de culpabilidade são as seguintes: a) psicológica - consiste em dolo ou culpa
e imputabilidade; b) psícológico-normaíva - consiste em dolo ou culpa, imputabilidade e
exigibilidade de conduta diversa; c) normativa pura (ou extrema) - consiste em potencial
consciência da Ilicitude, exigibilidade de conduta diversa e imputabilidade; d) limitada
(teoria adotada pelo Código Penai brasileiro) - consiste ern potencial consciência da
ilicitude, exigibilidade de conduta diversa e imputabilidade- E qual seria então a diferença
entre as teorias normativa pura e a limitada? A teoria normativa pura entende que as
Cap. 9 - CULPABÍLÍOADE 109
I "
descrímirsantes putativas sempre constituem erro de proibição. Já a teoria limitada entende
que as descrlminaníes putativas podem ser erro de tipo, caso dscorram de erra sobre
oa pressupostos de fato,
(DPU Defensor Público da União CESPE/UnB 2010} A teoria psicológlco-normativa da
culpabilidade, ao enfatizar conteúdo normativo, e não somente o aspecto psicológico
(dolo e culpa), leva em conta o jufzo de reprovação social ou de censura a ser feito
em relação ao fato típico e jurídico quando seu autor for considerado imputãvei.
Resposta: Nula. A íeoría psicológica normativa (ou normativa), assim como a teria
psicológica, contínua mantendo o doto e a culpa como elemento da culpabilidade;
acrescentando, todavia, a Imputabilidade e a exigibilidade de conduts diversa. Importante
notar que a imputabilidade passa a ser elemento (e não pressuposto) da culpabilidade.
Por fím, nesta teoria, o dolo é normativo, Isto é, abrange a consciência da iíicitude,
Rsferida teoria é minoritária
no Direito Penal brasileiro.
(DPU Defensor Publico da União CESPE/UnB 2610) Segundo a teoria normativa pura,
a fim de tipificar uma conduta, Ingressa*se na análise do dolo ou da cutpa, que se
encontram, pois, na tlpicfdade, e não na culpabilidade. A culpabilidade, dessa forma,
è um jutzo de reprovação soda), incidente sobre o fato típico e antijurídico e sobre
seu autor.
Resposta: Correto. A teoria normativa pura (ou estrita, ou extrema) è diametralmente
oposta âs teorias psicotógíca e psicológica normativa, porque situa o dolo e a culpa
no fato tfpíco, e nâo na culpabilidade. Nesta teoria, o dolo nâo é normativo, porque
nâo abranga a consciência da ilíciíude. Como a consciência da iíicitude é deixada na
culpabilidade, diz-se que o dolo é natural. É teoria adotada de forma minoritária no
Direito Panai brasli&iro.
(Procurador do Banco Central CESPE/UnB 2010) Caso o fato seja cometido em estrita
obediência a ordem, não manifestamente ilegal, de superior hierárquico, não serão
puníveis o agente que obedeceu nem c autor da coação ou da ordem.
Resposta: Errado. Somente será excíuída a culpabilidade do subordinado hierárquico,
em razão de a ordem não ser manifestamente ilegal.
9.6 QUESTÕES CESPE/UnB
1. (Escrivão da Polícia Federai 2004 — Regional - CESPE/UnB) Considero a seguinte
situação hipotética. Hiran, tendo ingerido voluntariamente grande quantidade de
bebida, desentendeu-se com Caetano, seu amigo, vindo a agredi-to « a causar-
•Jhe tesões corporais. Nessa situação, considerando que, em raaSo da embriaguez
completa, Hiran era, ao tempo da ação, Inteiramente incapaz de entender a íffcítude
de sua conduta e de determinar-se de acordo com este entendimento, pode-se
reconhecer a sua inimputabilidade.
2. (Papiloscoplsta da Polícia Federai 2004 - CESPE/UnB) São causas de exclusão
da im putabilidade: doença m ental, desenvolv im ento m ental incom pleto,
desenvolvimento mental retardado e embriaguez completa proveniente de caso
fortuito ou força maior.
3. (Papiloscoplsta da Policia Federal 2004 - CESPE/UnB) Jorge, apôs Ingerir várias
doses de bebida alcoólica em um bar, dirige seu carro em alta velocidade,
vindo a atropelar e m atar um transeunte, sem, contudo, ter tido a intenção de
atingir esse resultado. Nessa hipótese, a embriaguez voluntária de Jorge exclui
a imputabilidade penai.
110 OíREITO PENAL para concurso - POÜCíA FEDERAL - Emerson Casteto granco-------------------- -------------------------------------------------------^
4. (Delegado da Polícia Federal 2904 Regional branca - CESPEftJnB) O sujeito ativo
que pratica crime em face de embriaguei voluntária ou culposa responde pelo crime
praticado. Adota-se, no caso, a teoria da conciitio sine qua non para se imputar ao
sujeito ativo a responsabilidade penal.
5. (Agente da Polícia Federai 2004 - Prova azul - CESPE/UnB) O Código Penat, ao
dispor que !,é isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento
mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da açBo ou da omissão, inteiramente
incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com
esse entendimento", adotou o critério bioiógico de exclusão da imputabilidade.
6. (Agente da Poiícia Federai 2004 - Prova azul - CE$PE/UnB) Segundo o Código penal,
a emoção e a paixão não são causas excludentes da imputabilidade penal.
7. (Escrivão da Poiícia Federai 2002 - CESPE/UnB) Martiniano foi obrigado,
por pessoas que se diziam amigos seus, a ingerir bebida alcoólica até ficar
completamente embriagado. Em seguida, essas pessoas fevaram-no consigo e,
com ele, cometeram roubo contra agência bancária. Nessa situação, por não
ser patológica, a embriaguez de Martiniano não lhe retira a imputabilidade nem
diminui a pena aplicável ao ato.
8. (Agente da Polícia Federal 2004 - Prova azuí - CESPE/UnB) A coação ffsica e a
coaçíio morai irresistíveis afastam a própria ação, não respondendo o agente pelo
crime. Em tais casos, responderá pelo crime o coator.
9. (Perito Médico Legista - Polícia Civü/AC 2006 - CESPE/UnB) A imputabilidade é
eiemento da culpabilidade e tem reflexo direto sobre o pressuposto para a aplicação
da pena.
10. (Delegado - Poiícia Civii/ES - CESPE/lJnB) A ohrigacao hierárquica é causa de
justificação que exclui a ilicitude da conduta de agente público.
11. {Delegado - Policia Civil/ES - CESPE/UnB) São elementos da culpabilidade para a
concepção finalista a imputabilidade, a potencial consciência sobre a ilicitude do
fato e a exigibilidade de conduta diversa.
12. {Agente - Polícia Civil/RR 2003 - CESPE/ÔnB) O erro de proibição, a obediência
hierárquica e a inimputabilidade por menoridade penal excluem a culpabilidade.
13. (Delegado - Polícia Civil/SE 2 0 0 6 - CESPE/UnB) Considere a seguinte situação hipotética.
Manoel, resolvendo encorajar-se para a prática, de um roubo, ingeriu substância
entorpecente para colocar-se propositadamente em situação de inimputabilidade.
Nessa situação, consumado o delito, Manoel responderá dolosamente pelo resultado
delituoso de sua conduta, mesmo que no momento da ação não tivesse plena
consciência do caráter ilícito de seu ato.
14. (Agente - Policia Cívil/TO 2008 - CESPE/UnB) A responsabilidade penai d© um
adolescente de 17 anos de idade que comete um crime grave deve ser aferlda em
exame psicológtco e psicotécnico, pois, restando demonstrado em laudo pericial que
este tinha piena capacidade de entendimento à época do delito, deverá responder
críminalmente, ficando à mercê dos dispositivos do Código Penai brasileiro.
Cap. 9 - CULFABIUPAPE 111
15. (Agente - Policia Civü/TO 2008 - CESPE/UnB) Considere a seguinte situação
hipotética. Maria, maior de 18 anos de Idade, praticou um crime, e, no decorrer da
sção penal, foi demonstrado, por meto do competente laudo, que esta, ao tempo do
crime, era inimputáve! cm decorrência de doença mentat. Nessa hipótese, Maria será
absolvida tépdo como fundamento a inexistência de ilicitude dta conduta, embora
presente a culpabilidade.
16. (Escrivão ~ Policia Civii/ES 2006 - CESPE/UnB) Entre as causas de exclusão da
imputabilidade penal previstas em lei incluem-se a doença mental, o desenvolvimento
mental incompleto e o desenvolvimento mental retardado.
17. (EscrívSo - Polícia Civif/ES 2006 - CESPE/UnB) Para fins de Imputabilidade penai,
na hipótese de ser desconhecida a hora exata do nascimento de determinado
indivíduo, a maioridade pena! dessa pessoa começará ao meto-día do seu décimo
ottavo aniversário.
18. {Escrivão - Polícia CivH/PA 2006 ~ CESPE/UnB) A coação irresistível e a obediência
hierárquica excluem a culpabilidade.
19. (Perito Médico Legista - Polícta Civít/AC 2006 - CESPE/UnB) Será considerado
Imputável o adolescente que apresentar discernimento quanío à infração penal
praticada, após análise do juiz.
20. (Perito Médico Legista - Polícia Civil/AC 2006 - CESPE/UnB) A prova testemunhai
supre eventual dúvida sobre a idaef© do réu.
21. (Perito Médico Legista - Polícta Civit/AC 2006 - CESPE/UnB) Na hipótese de
inimputabilidade, cabe aplicação de pena reduzida.
22. (CESPE/UnB 2007) O Código Penal adotou o critério biológico para aferição da
imputabilidade do agente.
23. (CESPE/UnB 2007) A emoção e a paixão, de acordo com o Código Penal, não
servem para excluir a imputabilidade pena! nem para aumentar ou diminuir a pena
aplicada.
24. (CESPE/UnB 2007) A embriaguez preordenada não exciui a culpabilidade do agente,
mas pode reduzir a sua pena de um a dois terços.
25. (CESPE/UnB 2007) A embriaguez involuntária incompleta do agente não é causa de
exclusão da culpabilidade nem de redução de pena.
26. (CESPE/UnB 2004) A embriaguez proveniente de caso fortuito ou força maior, desde
que o agente fique Inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato, apiica-
-se a teoria da actío libera In
causa.
27. (CESPE/UnB 2004) A coação moral irresistível e a obediência hierárquica não excluem
a culpabilidade.
112 DIREÍTO PENAL para concurso - POLÍCIA FEDERAL - Emerson Caste/o Branco
28. (CESPE/UnB 2004) Presume-se de forma absoluta a inimpuiabilidadfâ ao menor de
18 anos, segundo o critério biológico adotado pela lei penal brasileira para tal
aferição.
29. (CESPE/UnB 2003) Caio praticou crime de homicídio em estrita obediência a ordem
manifestamente iiegal de seu superior hierárquico Roberto. Nessa situação, somente
Roberto é punível.
30. {CESPE/UnB 2008) Consoante entendimento do STF, a excludente da coação moral
irresistível pressupõe sempre três pessoas: o agente, a vítima e o coator.
DICAS IMPReS.eíNDÍVEIS r
O fato de uma pessoa ser doente mental a torna inimputável? Não.
Deve-se verificar se o agente, ao tempo da ação ou omissão criminosa
(critério cronológico), tinha alguma capacidade de entendimento.
Os silvícolas somente serio considerados inimputáveis se eram intei
ramente incapazes de entender o caráter ilícito da ação? Sim. Mesmo
raciocínio adota-se em relação aos surdos-mudos.
[ Pode ser aplicada medida de segurança ao semi-inimputável? Sim. A
pena aplicada pode ser substituída por medida de segurança se for
necessário para tratamento curativo, mediante laudo pericial, nos termos
do art. 98 do Código Penal. Nesse caso, somente cumprirá a medida
de segurança aplicada, em face da adoção do sistema vicariante (ou
unitário).
Em regra, a coação moral irresistível pressupõe três pessoas envolvi
das? Sim. Pressupõe coator, coagido e vitima. E nâo haverá vinculo
subjetivo entre coator e coagido. Entretanto, se a coação for resistível,
coator e coagido responderão penalmente em concurso de agentes, não
havendo a exclusão da culpabilidade do coagido.
Para se aplicar a causa de exclusão da culpabilidade da obediência
hierárquica de ordem não manifestamente ilegal, deve existir obriga
toriamente uma relação de superioridade hierárquica no âmbito do
poder público. Em outras palavras, essa causa de exclusão não pode
ser aplicada no âmbito das relações privadas.
CONCURSO DE PESSOAS
10.1 CONCEITO
É o concurso de duas ou mais pessoas para cometer o mesmo
crime.
NOTEI Teoria monista. De acordo com a tèoria monista, adotada pelo
Código Pénai brasileiro, todos os' agentes que concorreram para o mesmo
resultado deverão responder pelo mesmo crime. Assim, segundo essa teoria,
somente é possfve! afirmar que existe concurso de agentes, quando todos
respondem paio mesmo crime.
Teoria pluralista. Nessa teoria (não adotada pelo Código Penai bra
sileiro), quando ocorre um determinado resultado criminoso, cada agente
deverá responder por um crime distinto, separadamente.
O caput do art 29 do Código Penal enuncia: “Quem, de qualquer
modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas”. Cla
ramente, o Código Penal adota a teoria monista.
Apesar de a teoria monista ser a regra, em alguns casos aplica-se a
teoria pluralista. Ex.: crime de aborto.
10.2 COAUTORIA E PARTICIPAÇÃO
10.2.1 Teorias acerca do conceito de coautoria e participação
a) Teoria restritiva - Segundo esta teoria, adotada pelo Código Penal,
coautor é o agente que executa a conduta descrita na norma penal (ex.:
114 OiREiTO PENAL para concurso - FQliCiA FEDERAL - Bmarson Castefo Branco
no crime de homicídio, coautor é aquele desfere o golpe, ou dispara a
arma); enquanto o partícipe é aquele que contribui de forma secundária,
periférica, acessória (ex.: jardineiro de uma casa presta informações
para os assaltantes roubá-la). A pena do partícipe deve ser diminuída
de um sexto a um terço (§ 1.°, art. 29, do CP).
b) Teoria do domínio do fato - Autor é tanto aquele que pratica os atos
executórios descritos no tipo penal como também aquele quef apesar
de nao ter praticado os atos executórios, tinha o pleno domínio do
fato, controlando toda a ação criminosa. Por exemplo, para essa teoria,
no denominado crime de “pistolagem” o mandante (autor intelectual)
seria coautor, e não partícipe. Apesar de não ter sido adotada pelo
Código Penal, é moderna s vem se desenvolvendo na doutrina e na
jurisprudência brasileira.
Se aigum dos concorrentes quis. participar de crime menos grave,
ser-lhe-á aplicada a pena deste; essa pena será aumentada até metade,
na hipótese de ter sido previsível o resultado mais grave (§ 2.°, art. 29
do CP).
10.2.2 Participação impunível
O ajuste, a determinação ou instigação e o auxílio, salvo disposição
expressa em contrário, não são puníveis, se o crime não chega, pelo
menos, a ser tentado (art. 31 do CP).
O Superior Tribunal de Justiça destaca “que a ciência oú mesmo a
concordância difere da instigação punível.”1
10,3 REQUISITOS DO CONCURSO DE AGENTES
a) Pluralidade de condutas - Várias ações de pessoas que geram um
único resultado delitivo.
b) Relevância causai das condutas - A conduta deve ser relevante para
gerar o resultado.
c) Nexo subjetivo (ou psicológico) — Consiste na anuência entre as von
tades dos agentes, isto é, o mesmo objetivo.
d) O mesmo crime para todos os agentes - todos os agentes devem
responder pelo mesmo crime.
' STJ, HC 18-206/SP; 200V0101420-3, 6.* Turma, DJ 04.03.2002, p. 299,
r
Cap, 10 - CONCURSO DE PESSOAS ■113
NOTEI N io pode existir participação dolosa em crime culposo; nem par
ticipação culposa em crime doloso. Somente haverá concurso de agentes
se todos agirem com dolo ou se todos agirem com culpa. Em outras
palavras, ó vínculo subjetivo deve ser homogêneo. Trata-se do princípio
da convergência.
QUESTÃO POTENCIAL BE PROVA! No concurso de agentes,
não é necessário acordo prévio.
10.4 AUTORIA COLATERAL
Na denominada autoria colateral, duas pessoas querem praticar um
mesmo crime e agem ao mesmo tempo sem que uma saiba da intenção
da outra e o resultado decorre da ação de apenas uma delas. Tirúbio e
Tírcio querem maíar Simão. Tírábio não sabe da intenção de Tírcio. E
Tírcio não sabe da intenção de Tirúbio. Ambos aguardam a vítima em
lados opostos de uma estrada, sem que um tenha conhecimento da exis
tência do outro. Quando a vítima passa pela estrada, ambos atiram ao
mesmo tempo e a vítima é atingida por apenas um dos disparos. Nesse
caso um responderá por homicídio na forma consumada e o outro por
tentativa de homicídio.
Existindo autoria colateral, não existirá concurso de agentes, pois
para configurar o concurso é obrigatório o nexo subjetivo, o que não
existiu no caso.
10.5 AUTORIA INCERTA
Outra denominação: “Autoria colateral incerta”.
A autoria incerta é uma espécie de autoria colateral. Ocorre quando
não se consegue apurar qual dos envolvidos provocou o resultado. Nesse
caso, ambos deverão responder pelo crime na forma tentada.
NOTEt Não existe concurso de agentes quando a autoria for incerta.
10.6 AUTORIA MEDIATA
O criminoso serve-se de pessoa sem discernimento para executar o delito
por ele. Uma pessoa é utilizada como instrumento para a prática de um
118 OlRElTO PS MAL para concurso - POLÍCIA FEDERAL - Emerson Câsteto Branco
crime. Como o autor imediato não tem conhecimento de que está realizando
ura crime, somente responde pelo delito o autor mediato. Ex.: criminoso
que utiliza menor ou. doente mental para a prática de um crime.
10.7 COMUNICABILIDADE DAS CIRCUNSTÂNCIAS
Haverá a comunicabilidade das circunstâncias de caráter pessoal
somente quando forem elementares do tipo.
Elementares: são os elementos fundamentais da conduta criminosa.
Ex. no homicídio são elementares a conduta “matar” e “alguém”.
Circunstâncias são os dados acessórios do tipo penal e que servem
para aumentar ou diminuir a pena. Ex. no crime de homicídio cometido
por motivo torpe, este úitimo é uma circunstância do crime.
Não se comunicam as circunstâncias e as condições de
caráter pes
soal, salvo quando elementares do crime (art. 30 do CP).
Pergunta-se: É possível haver coautoria entre funcionário público e
pessoa que não é fkncionário público nos chamados crimes funcionais?
Sim. Trata-se justamente da exata aplicação da regra do art. 30 do Có
digo Penal. Como ser funcionário público é uma circunstância de caráter
pessoal elementar dos crimes praticados por funcionários públicos contra
a Administração Pública (crimes funcionais), haverá a comunicação desta
para o terceiro particular que tenha participado da ação criminosa. Para
que exista a comunicabilidade, o terceiro particular deverá conhecer a
circunstância de caráter pessoal do agente, isto é, deverá saber que este
é funcionário público.
10.8 PARTICIPAÇÃO f
Em tema de concurso de agentes, na participação inocorre corres
pondência direta entre a conduta e o tipo legal. O partícipe é aquele
que conconre para a prática de um crime de qualquer modo, auxiliando,
induzindo ou instigando o executor, sem, no entanto, realizar o núcleo
(o verbo) do tipo. O tipo sempre tem um verbo, que é seu núcleo, e
o partícipe é justamente a pessoa que não o pratica, decorrendo daí a
impossibilidade de adequação direta. Por essa razão, a norma do art.
29, caput, do CP funciona como ponte, ligando a conduta do partícipe
ao modelo legal: “Quem, de qualquer modo, concorre para o crime in
cide nas penas a este cominadas”. Tem-se na participação uma norma
de extensão ou ampliação da figura típica. A extensão opera-se de uma
Cap. 10 - CONCURSO DE PESSOAS 117
pessoa (autor principal) para outra (partícipe), e, por isso, a norma é
de extensão pessoal. Do mesmo modo, o tipo ampíia~se no espaço para
atingir o partícipe, denominando-se tal ampliação como espacial. Assim,
a norma do concurso de agentes é de extensão ou ampliação espacial e
pessoal da figura típica, por meio da qual se opera a adequação típica
mediata ou indireta da conduta do partícipe ao tipo penal
NOTEI O Superior Tribunal de Justiça vem entendendo que a pena do
participe somente será diminuída se a sua participação for de menor im
portância. Em outras paíavras, se a participação tiver relevância, não faz
jus ã diminuição da parta.
10.9 QUESTÕES COMENTADAS
(CESPE/UnB 2005) Em relação ao concurso de agentes, o Código Penai adotou, como
regra, a teoria unitária ou monista, d® forma que o participe responderá pelo mesmo
crime praticado pelo autor, em razão da acessoriedade de suã conduta.
Resposta: Correto. Esta assertiva expressa a teoria adota pelo Código Penal quanto ao
concurso de pessoas, em que todos os que incidiram na ação delituosa responderão pelo
mesmo tipo penal. Ressalta-se, no entanto, a possibilidade do agente que quis participar
de crime menos grave responder por este.
(CESPE/UnB 2005} O mandante de um crime, de acordo com a teoria restritiva, é
considerado partícipe, enquanto, conforme a teoria do domínio do fato, é considerado
coautor.
Resposta: Correto. A teoria restritiva (adotada pefo CP brasileiro) tem por escopo imputar
a autoria de um crime apenas aos agentes que praticarem a conduta nuclear que neie
Incide. Assim, o mandante é considerado partícipe, pois não pratica a conduta principal.
Já a teoria do domínio do fato reza que o fator essencial, para a impuiação da autoria
de um crime, é que o agente tenha o controle do desenrolar dos fatos, podendo decidir
peta não ocorrência do crime. Desse modo, por esta teoria, o mandante seria coautor,
pois exerce pleno controle sobre a situação, visto que pode cancelar a ação do agente
Imediato.
(CESPE/UnB 2002) Consoante orientações majoritárias do STJ e STF, ê cabível concurso
de agentes nos crimes culposos.
Resposta: Correto. O entendimento do STJ e STF é de que os crimes culposos só
admitem concurso de agentes no caso de coautoria, nâo existindo concurso na modalidade
de participação.2
(CESPE/UnB 2005) Considere a seguinte situação hipotética. Júlio e Marcos encontravam-
-se dentro de um veículo nas proximidades de uma loja comerciai de propriedade de
Marcos. Verificando que a área encontrava-se tomada por vendedores ambulantes que
estavam Invadindo a rua e que poderiam prejudicar sua freguesia, Marcos Incentivou
Júlio, que conduzia o veiculo, a Imprimir velocidade incompatível com o tocai,
desejando que algum dos ambulantes fosse atropelado e, em conseqüência, os demais
sentissem receio de permanecer no local. Júlio, sem observar o cuidado exigido para a
3 STJ, HC 404.740/PR.
118 DIREITO PENAL para concurso - PGLlCIA FEDERAL - Emerson Castelo Branco
condução do veículo, seguiu os conselhos de Marcos e, de forma imprudente, acelerou
exageradamente o veículo, acabando por atropelar, de fato, um dos ambulantes que ati
trabalhava. Nessa situação, houve concurso de agentes entre Júlio o Marcos.
Resposta: Errado. Falta o nexo subjetivo (ou psicológico). Não existe participação dolosa
em crime culposo, nem participação culposa em crime doloso. A existência do concurso de
agentes pressupõe que ambos tenham o mesmo etemento subjetivo, Vè-se que o crime
cometido por Júlio é cuiposo, visto que o mesmo, ao impelir velocidade descomedída,
agiu imprudentemente. Já Marcos agiu dolosamente, desejando que algum dos ambulantes
fosse atropelado. Portanto, nSo existe entre eles concurso de agentes.
{OAB - 200S.2 - CESPE/UnB) Relativamente à participação, a doutrina majoritária
brasileira adotou s teoria da
a) acessoriedade mínima.
b) acessoriedade méxima.
c) hiperacessoriedade.
d) acessoriedade limitada.
Resposta: D. A conduta do partícipe possui natureza acessória, porque não executa
a ação nuclear descrita na norma penal, Quatro são as teorias acerca da participação
no concurso de pessoas; 1.° - acessoriedade mínima, segundo a qual é necessário
apenas que a conduta do participe seja de anuência em rélação a um comportamento
principal descrito na norma penal (fato tipico), mesmo que não exista antijurldlcidade;
2.* - acessoriedade - limitada, segundo a quaí a conduta principal deve ser tipica e
aníijurldica; 3.a - acessoriedade extrema ou máxima, segundo a quai a conduta principal
deve ser típica, antljurídica e cuipável; 4,a — hiperacessoriedade, devendo o autor
da conduta principal praticar um comportamento tipico, antijurídico, cuipável e ainda
ser efetivamente responsabilizado. A maioria da doutrina nacional adota a teoria da
acessoriedade limitada.
(Procurador do Estado de Pernambuco CESPE/UnB 2009) O autor intelectual é assim
chamado por ter sido quem planejou o crime, não é necessariamente aquele que tem
controie sobre a consumação do crime.
Resposta*. Errado: O autor intelectual é o agente que faz o planejamento do empreendimento
criminoso, isto ê, idealiza e organiza toda a ação criminosa. Contudo, o autor intelectual
nâo executa a ação nuclear (verbo) descrita na norma pensi. Possuí, portanto, pleno
controie sobre a situação.
Atenção! A teoria objetiva foi adotada pe!o Código. Penai brasileiro. Subdivide»
-se em outras (rês: 1.° — Teoria objetiva formai ~ Àutor é somente o agente
que executa a ação nuclear; 2J' - Teoria gbjetiva material - Autor é somente o
agente que executa a açào mais importante dentro do conjunto de contribuições
parã o resultado; 3.a - Teoria'do domínio'-dò fato-Aútór"é ó agenté''que póssul
pleno domínio do fato, controlando as ações dos tfemais. Como sé pode notar,
dentre as teorias objetivas, a teoria do domínio do fato se sobressai no aspecto
da justiça e da proporcionalidade.
(AGU Procurador Federal CESPE/UnB 2010) Ao crime plurissubjeíivo aplica-se a norma
de extensão do a rt 29 do Código Penal, que dispõe sobre o concurso de pessoas,
sendo esta exemplo de norma de adequação tipica medlata.
Resposta: Errado. Em relação ao número de agentes, os crimes classificam-se em
unissubjetivos (ou monossubjetivos, ou ainda de concurso eventual)
e plurfssubjetivos (ou
de concurso necessário). Os crimes unissubjetivos são aqueles que podem ser cometido
por um só agente (ex.: homicídio, furto, estupro), enquanto os píurissubjeílvos são aqueies
que pressupSem um número mínimo de agentes para existirem (ex,-. rixa, quadrilha ou
bando). O detaíhe da questão ê o seguinte: Os crimes piurissubjetivos nfio necessitam de
aplicação de norma de adequação típica medlata, porque a própria hipótese de incidência
da norma penal exige o requisito do concurso de agentes.
Cap. 10 - CONCURSO DE PESSOAS 119
10.10 QUESTÕES CESPE/UnB
1. (Papiioscopista da Polícia Federal 2004 - CESPE/UnB} Jarbas entrega sua arma
a Josias, afirmando que a mesma está descarregada e incita-o a disparar a arma
na direção de Mévio, alegando que se tratava de uma brincadeira, No entanto, a
arma estava carregada e Mévio vem a falecer, o que ieva ao resultado pretendido
ocultamente por Jarbas. Nessa hipótese, o crime praticado por Jostas e por Jarbas,
em concurso de pessoas, foi o homicídio doioso.
2. (Papiioscopista da Polfcía Federal 2004 ~ CESPE/UnB) Breno e José atiram contra
Pedro, com intenção de matá-io, sem que um soubesse da conduta criminosa do
outro. Pedro vem a falecer, sendo impossível determinar, pelo exame de corpo de
detito, quat tiro foi o efetivo causador da morte, Nessa situação, ocorre a chamada
autoria colateral incerta, respondendo os dois agentes por homicídio tentado.
3. (Delegado da Policia Federal 2004 REGiONAL BRANCA - CESPE/UnB) De acordo
com o sistema adotado pelo Código Penai, é possível Impor aos partícipes da
mesma atividade delituosa penas de intensidades desiguais.
4. (Delegado •- Polícia Civií/TO 2008 ~ CESPE/UnB) Quem, de forma consciente e
cfetfberacía, se serve de pessoa mirnputável para a prática de uma conduta (lícita
é responsávei pelo resultado na condição de autor mediato,
5. (Escrivão ~ Polícia CIvii/ES 2006 - CESPE/UnB) Considere a seguinte situação
hipotética. Rogério e Fernando, pretendendo matar Alfredo, colocaram-se em
emboscada, sem que um soubesse a intenção do outro. Rogério o Fernando, snto
a aproximação de Alfredo, atiraram contra o desafeto, ficando, depois, provado que
apenas um dos disparos provocara a morte da vitima. Nessa situação, Rogério e
Fernando responderão por homicídio consumado em coautoria.
6. (Perito Médico Legísta ~ POÜCIA CIVIL/AC 2006 ~ CESPE/UnB) O concurso de duas
ou mais pessoas pode ser eventual.
7. (Perito Médico Legista - POLÍCIA CIVIUAC 2006 ~ CESPE/UnB) O concurso de
terceira pessoa na prática d© determinado crime não afasta a possibilidade de
aplicação de pena para o autor e o partícipe, ns medida de sua culpabilidade.
8. (Assistência Judiciária do Distrito Federal - 2006 - CESPE/UnB) Quando dois
indivíduos, um ignorando a participação do outro, concorrem, por imprudência, para
a produção de resultado lesivo, respondem, ambos isoladamente, peio resultado,
ante a ausência de vínculo subjetivo.
S. (CESPE/UnB 2007) Segundo a teoria monista, adotada como regra pelo Código
Penal brasileiro, todos os coautores e partícipes devem responder por um crime
único.
10. (CESPEJUnB 2004) Configurar-se-á a participação criminosa quando houver o acordo
prévio de vontade entre autor e partícipe.
11. (CESPE/UnB 2008) As circunstâncias objetivas se comunicam, desde que o participe
tenha conhecimento delas.
12. (CESPE/UnB 2008) As circunstâncias subjetivas nunca se comunicam.
120 □iRHITO PSNAt para concurso - POÜCIA FEDERAL - Emerson Castelo Bmnco
13. (CESPE/UnB 2007) Constituem requisitos caracterizadores do concurso de pessoas a
pluralidade de condutas, o nexo de causalidade, o vínculo subjetivo e a identidade
de infração.
14. (CESPE/UnB 2006) Pedro e Paulo, um sem saber da conduta do outro, atiraram em
Leonardo, com intenção de matá-lo, o que veio efetivamente a ocorrer. A perícia
não conseguiu descobrir qua! deles produziu o resultado. Nessa situação, Pedro
e Paulo responderão por tentativa de homicídio.
1 S. (CESPE/UnB 2005) Na autoria mediata, há concurso de pessoas entre o autor
mediato, responsável pelo crime, e o executor material do delito, como no caso
do ínimputãvel por doença mental que é induzido a cometer um fato descrito em
lei como crime.
1011 DICAS IMPRESCINDÍVEIS
I Na figura da menor participação, haverá uma ampliação da abrangên
cia do tipo penal? Sim, porque a rigor somente seria responsabilizado
penalmente o agente que executou a ação descrita na norma penal.
Trata-se da denominada “adequação típica de subordinação mediata, por
extensão ou ampliada7’. Na menor participação, haverá uma ampliação
pessoal da norma penal fixada-pelo a rt 29 do Código Penal.
As condições e circunstâncias pessoais dos partícipes não se comuni
cam aos autores, porque a figura do partícipe depende da existência
do autor da conduta principal? Sim. Por sinal, a conduta do partícipe
somente é levada em conta a partir da existência do autor.
Pode existir coautoria em crimes ort^ssívos? Sim. Trata-se da corrente
majoritária. Os crimes culposos admitem coautoria. Entretanto, não
admitem participação. Ocorre quando dois ou mais agentes produzem o
mesmo resultado, deixando de observar um dever de cuidado objetivo,
por imprudência, negligência ou imperícia. É o caso, por exemplo, de
dois engenheiros que constroem um edifício, incorrendo ambos em
imperícia em relação aos cálculos formulados; ou ainda dois pilotos
que se esquecem de ligar dispositivo da aeronave, quando necessário
numa determinada situação, causando um acidente.
Quais as hipóteses de autoria mediata? São as seguintes: a) utilização
de ínimputável para cometimento da ação; b) a figura da obediência
hierárquica, desde que o subordinado seja enganado pelo superior; c)
Cap. 10 - CONCURSO D£ PESSOAS 121
a figura da coação moral irresistível; d) erro de tipo e erro de proibi
ção provocado por terceiro. Somente possui responsabilidade penal o
autor mediato, restando o crime excluído em relação ao autor imediato
(executor da ação).
miirn mn tii 11 uriniiiiii ■iiiMWWiiniTWmfOTiit^ mTO)» ■’ v j -
O concurso de agentes pode ser classificado da seguinte forma: a)
concurso eventual (crimes unissubjetivos) - crimes que podem ser
cometidos por apenas uma pessoa (ex.: homicídio, furto, lesão cor
poral); de concurso necessário (plurissubjetivos) - são crimes cuja
existência depende do concurso de agentes (ex.: quadrilha ou bando,
rixa). A titulo de curiosidade, quase todos os delitos são de concurso
eventual.
CLASSIFICAÇÃO DOS CMMES
11.1 CRIMES COMUNS, PRÓPRIOS E DE MÃO PRÓPRIA
Comum é o delito que pode ser cometido por qualquer pessoa;
enquanto próprio é o crime que somente pode ser cometido por quem
possui características especiais exigidas pelo legislador na norma penal.
Exemplificando, qualquer pessoa pode cometer o crime de homicídio,
previsto no art 121 do CP (comum), mas somente a mãe em estado
puerperal pode praticar o crime de infanticídio, previsto no art. 123 do
CP (próprio). Por fim, os de mão própria são aqueles que não admitem
coautoria, porque somente a pessoa com a característica especial esía-
lecida pelo legislador pode cometê-lo, como no caso do crime de falso
testemunho, previsto no art. 342 do CP. Note: Terceiros, nos crimes de
mão própria somente podem ser responsabilizados penalmente como
partícipes.
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.lugar;': nos" âe’" !
11.2 CMMES BE DANO E DE PERIGO
Os crimes de dano se consumam com a efetiva lesão do bem jurídico;
ao contrário, nos delitos de perigo, a consumação ocorre com o perigo
gerado pela conduta. O perigo pode ser abstrato ou concreto. O perigo
abstrato consiste numa ameaça futura de lesão, isto é, perigo potencial
(ex.: art. 135 do CP). Perigo concreto é o real, isto é, no momento da
conduta, o bem esteve efetivamente
em risco (ex.: art 134),
124 OIREITO PSNAL para concurso - POLlCIA FEDERAL - Emerson Castelo Branco
113 CRIMES MATERIAIS, FORMAIS E DE MERA CONDUTA
Há crimes em que o tipo descreve a conduta do agente e a modificação
no inundo exterior causada por ela; outros descrevem apenas o compor
tamento do agente (ex.: violação de domicílio). Os crimes materiais (ex.:
estelionato) possuem ação e resultado necessários para á consumação do
crime. Os crimes formais possuem resultado, mas o legislador antecipa
a sua consumação à produção do resultado (ex.: crimes contra a honra,
violação de segredo, ameaça, extorsão). No crime de mera conduta, o
legislador apenas descreve o comportamento do agente (Ex.: invasão de
domicílio - art. 150, desobediência - art. 330, reingresso de estrangeiro
expulso art. 338).
Os crimes culposos são materiais. Não existe crime culposo de mera
conduta, sendo imprescindível a produção do resultado naturalístico in
voluntário para seu aperfeiçoamento típico.
11,4 CRIMES COMISSIVOS E OMISSIVOS
A conduta comissiva é um fazer, enquanto a conduta omissiva é um
deixar de fa2er, quando uma norma jurídica obrigava a pessoa a agir.
Possuem a seguinte divisão:
a) Omissivos próprios. Ocorrem quaado o legislador descreve uma conduta
puramente omissiva. O crime consiste apenas num deixar de fazer,
independentemente de qualquer resultado. Exemplo: omissão de socorro
(art. 135 do CP).
b) Omissivos impróprios (ou omissivos impuros, ou comissivos por
omissão). Nessa espécie, o agente tinha o dever jurídico de agir, mas
não o fez. O agente que se omite nâo responde só pela omissão como
simples conduta, mas pelo resultado produzido.
c) Omissivos por comissão: nesses crimes, há uma ação provocadora da
omissão. Exemplo: chefe de uma repartição impede que sua funcio
nária, que está passando mal, seja socorrida. Se ela morrer, o chefe
responderá pela morte por crime comiasivo ou omissivo? Seria por
crime omissivo por comissão. Essa categoria não é reconhecida por
grande parte da. doutrina.
d) Participação por omissão: ocorre quando o omitente, tendo o dever
jurídico de evitar o resultado, concorre para ele ao quedar-se inerte.
Nesse caso, responderá como partícipe:
r Cap. 11 - CLASSIFICAÇÃO DOS CRIMES 125
11.5 CRIMES INSTANTÂNEOS, PERMANENTES E
INSTANTÂNEOS BE EFEITOS PERMANENTES
Crime instantâneo é aquele que se consuma no momento em que a
conduta é cometida (ex.: furto); enquanto permanentes são os crimes cuja
consumação se prolonga no tempo (ex.: seqüestro). Já os denominados
“instantâneos de efeitos permanentes” são aqueles que se consumam num
determinado momento, mas geram efeitos imodificáveis (ex.: homicídio
consumado).
11.6 CRIME CONTINUABO
A definição de crime continuado está prevista no art. 73 do CP, qual
seja: “Quando o agente, mediante mais de uma açâo ou omissão, pratica
dois ou mais crimes da mesma espécie e, pelas condições de tempo, lugar,
maneira de execução e outras semelhantes, devem os subsequentes ser
havidos como continuação do primeiro, aplica-se-lhe a pena de um só
dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, aumentada, em
qualquer caso, de um sexto a dois terços”.
Havendo crime continuado, a lei nova que o intermedeie deverá ser
aplicada, mesmo que mais gravosa. É a posição da doutrina e da juris
prudência sobre o assunto.
11.7 CRIMES PRINCIPAIS E ACESSÓRIOS
Crimes principais: são aqueles que existem por si só, não dependem
da prática de um crime anterior (ex.: homicídio, roubo).
Crimes acessórios são aqueles que dependem da prática de um crime
anterior. Os acessórios são denominados de “crimes de fusão” ou “crimes
parasitários”. Ex.: crime de favorecimento pessoal e real (arts. 348 e 349
do CP); receptação (art. 180 do CP).
11*8 CRIMES SIMPLES E COMPLEXOS (OU COMPOSTO)
Crime simples é aquele que se enquadra em um tipo penal. Ex.:
furto (art. 155 do CP).
Delito complexo é a fusão de dois ou mais tipos penais. Bx: extorsão
mediante seqüestro, roubo. Ver art. 101 do CP.
126 DIREITO PENAL para concurso - POLÍCIA FEDERAL — Bm&rson Ca$ieh Branco
11.9 CRIME PROGRESSIVO
Quando o sujeito, para alcançar um resultado mais grave, tem que
passar por ura menos grave. Ex: o agente provoca várias lesões corporais
até matar; nessa situação o homicídio absorve as lesões corporais.
11.10 DELITO PUTATIVO (OU IMAGINÁRIO, OU
ERRONEAMENTE SUPOSTO)
O agente considera erroneamente que a conduta realizada por ele
constitui crime, quando, na verdade, é um fato atípico. Hipóteses: a) crime
putativo por erro de proibição (ex.: seduzir mulher virgem de 20 anos
de idade supondo estar praticando crime); b) crime putativo por erro de
tipo (ex.: mulher que ingere medicamento abortivo sem estar grávida);
c)crime putativo por obra do agente provocador (crime de ensaio, de
experiência ou de flagrante provocado). Ver Súmula 145 do STF.
11.11 CRIMES UNISSUBSISTENTES E PLURISSUBSJ.STENTES
Diferença entre ato e conduta: a conduta é a realização material da
vontade humana, mediante a prática de um ou mais atos. Exemplo: o
agente deseja matar a vítima; a sua conduta pode ser composta de um
único ato (um tiro com arma de fogo) ou de uma pluralidade deles
(cinco facadas). Já o ato é apenas uma parte da conduta, quando esta se
apresenta sob a forma de ação. De acordo com o número de atos que
a compõem, a conduta pode ser plurissubsistente ou unissubsistente. Os
delitos unissubsistentes não admitem .a forma tentada.
11.12 CRIME DE ATENTADO
Há casos em que a forma tentada é punida com a mesma pena do
crime consumado, sem o desconto legal. Neste caso, denomina-se essa
situação de delito cie atentado.
11.13 CRIMES DE AÇÃO MÚLTIPLA
Nos crimes de ação múltipla, a prática de várias formas de ação,
previstas no tipo, caracteriza crime único.
Cap. 11 - CLASSIRCAÇÃO DOS CRIMES_______________________ 127
11.14 CRIME VAGO
Crime vago é o que tem por sujeito passivo entidade sem persona
lidade jurídica.
11.15 CRIME PLUMOFENSIVO
Crime pluriofensivo é o que lesa ou expõe a perigo de dano mais
de um bem jurídico.
11.16 CRIMES COM TIPO PENAL FECHADO E COM TÍPO
PENAL ABERTO
Nos tipos penais denominados de abertos não se descreve especifi
camente, detalhadamente os elementos do tipo. Assim, por exemplo, nos
tipos penais culposos, não se descreve em que consiste o comportamento
culposo. Por isso mesmo, os tipos que definem os crimes culposos são,
em geral, aberto.
Os crimes culposos são considerados tipos abertos. Isto porque não
existe uma definição típica completa e precisa para que se possa, como
acontece em quase todos os delitos dolosos, adequar a conduta do agente
ao modelo abstrato previsto na lei.
11.17 QUESTÕES COMENTADAS
(CESPE/UnB 2004) É característica dos crimes cie mão própria o fato de que somente
podem ser cometidos pelo agente em pessoa, não se admitindo coautoria nem
participação.
Resposta: Errado. Não admitem coautoria, mas sim participação. Os crimes de mão
própria são aqueles “que exigem sujeito qualificado, devendo este cometer pessoalmente
a conduta típica”1. Desse modo, é patente que não pade haver coautoria, nem autoria
medlata, visío que esse tipo de crime não admite pessoa interposta para a prática da
conduta, mas é perfeitamente possívei a participação de terceiro, seja auxiliando, instigando
ou induzindo o agente. Observação: O Supremo Tribuna! Federal admite, excepcionalmente,
a coautoria do advogado com a testemunha, no crime de falso testemunho.
{CESPE/UnB 2004) Admite-se a tentativa do crimes omissivos impróprios.
Resposta: Correto. São crimes omissivos impróprios aqueles em que ao agente, posto
como garante, é imputado o tipo penal pelo resultado proveniente de sua omissão
1 NUCCt, GulSherme de Souza. Manual de Direito Penal - Parte Geral e Parte Especial, São Paulo:
Revista
dos Tribunais, 2005, p. 154.
128 DIREITO PENAL, para ooncttrao - POLÍCIA FEDERAL - Emerson Castelo Branco
quando o mesmo tinha o dever de agir. Admite-se a tentativa quando, mesmo em face
da omissão, o resultado não vem a se consumar, seja por um terceiro ou por força
alheia ao garante.
(Juiz Federa! 5.a Região 2009 CESPE/UnB) Nos crimes de tendência intensificada, o
tipo penai requer o ânimo de realizar a própria conduta ifpica legalmente prevista,
sem necessidade de transcender tai conduta, como ocorre nos tíeSitos de intenção.
Em outras palavras, não se exige que o autor do crime deseje um resuitado utterior
ao previsto no tipo penal, mas apenas que confira à ação típica um sentido subjetivo
não previsto expressamente no tipo, mas deduzível da natureza do delito. C itase,
como exemplo, o propósito de ofender, nos crimes contra a honra.
Resposta: Correto. Os tipos penais classificados como de "tendência intensificada* são
aqueles que exigem uma tendência (leia-se: intenção) subjetiva de realizar a conduta
descrita na norma penal. O autor do delito deve demonstrar uma intençfio específica
não expressa de forma clara na descrição da figura típica. Exemplos por excelência dos
crimes de tendência intensificada são os crimes contra a honra. Dessa forma, na calúnia,
o autor da afirmação de um faia criminoso faiso contra alguém deve necessariamente ter
a intenção de ofender, Isto é, o an/mas csluniandt, sob pena de a conduta ser considerada
atípica. Imagine a conduta de um humorista que, num espetáculo, imputa publicamente
a um dos espectadores o cometimento de um fato criminoso sabidamente falso. Em que
pese sua conduta estar subsumida na descriçSo em abstrato dó tipo penal, não haverá
crime de calúnia, porque não sxiste a especiai tendência subjetiva de ofender a honra
do espectador. Mesmo raciocínio adota-se nos crimas da difamação e Injúria.
11.18 QUESTÕES CESPE/UnB.
1. (CESPE/UnB 2004) Crime bipróprio é aquele que exige uma especial qualidade,
tanto do sujeito ativo como do sujeito passivo do deitto.
2. (CESPE/UnB 2004) Ú crime de ímpeto é o delito praticado sem premeditaçâo.
3. (CESPE/UnB 2004) O crime gratuito e o crime praticado por motivo fútíl são tipos
de crimes diferentes.
4. (CESPE/UnB 2004) Crime transeunte é aquele que não deixa vestígios.
5. (CESPEÍUnB 2008) No crime omissivo pfóprlo, a consumação se verifica com a
produção do resuitado.
11,19 PICAS IMPRESCINDÍVEL
Crime “de obstáculo ou de preparação” é aquele cuja conduta seria apenas
ato preparatório de outro crime (ex.: quadrilha - art. 288 do CP).
aiíCSSJKHKS!-
Crime “de tendência interna transcendente ou de intenção” é o que se
consuma independentemente da obtenção do resultado (ex,: extorsão
art 158 do CP).
Cap. 11 - CLASSIFICAÇÃO DOS CRIMES 129
Crime “bipróprio” é aquele que exige condição especial dos sujeitos
ativo e passivo (ex.: infanticídio). Por outro lado, bicoirmm não exige
qualidade especial alguma dos sujeitos do crime.
Crimes “de resultado cortado” são os formais, que se consumam no
momento da realização da conduta, mesmo o tipo penal prevendo o
resultado.
crimes instantâneos que
podem excepcionalmente vir a ser permanentes (ex.: furto de energia
elétrica).
Crimes “a prazo” são aqueles que dependem do cumprimento de certo
período de tempo para se aperfeiçoarem (ex.: lesão corporal grave
por incapacidade para exercer as ocupações habituais por mais de 30
dias).
..................... I, U
Crimes “de dupla subjetividade passiva” são aqueles que atingem duas
vítimas (ex.: aborto sem o consentimento da gestante - arí. 125 do
CP ~ atinge a gestante e o feto).
gg Crimes“transeuntes” são os que não deixam vestígio (ex.: injúria);
enquanto “não transeuntes” deixam (ex.: homicídio).
m Crime “multitudínário” é o cometido no meio de multidão.
W~<Crime “de ímpeto” é o praticado sem premeditação.
Crime “profissional” é o habitual cometido com intuito de lucro.
Quase-crime” é o crime impossível.
Crime “falho” é a tentativa perfeita.
Crime “mutilado de dois atos” é aquele em que o agente realiza a
conduta para atingir outra (ex.: falsidade material, quadrilha)-
130 PiREITO PENAL para concurso - POLÍCIA FEDERAL - Em&rson Csstglo Branco
Crime “habitual” é aquele que somente se aperfeiçoa em sua exis
tência com a reiteração de atos. Em outras palavras, um ato isolado
não configura o crime (ex.: rufianismo, curandeirismo).
DIREITO P E N A L
■ iP à r t e ‘E .s p e c ia C ,
CRIMES CONTRA A PESSOA
12.1 CRIMES CONTRA A VIDA
12.1.1 Homicídio
Art. 121 - M a tar a lgu ém :
Pena - reclusão, de seis a vinte anos.
12,1.1.1 Características gerais
O objeto jurídico é a vida humana extrauterma.
O objeto material é a coxpo da pessoa que sofre a ação da conduta
delitiva.
O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa (crime comum).
O sujeito passivo é a pessoa que tem sua vida destruída.
Elemento subjetivo: Admite a forma dolosa e a forma culposa.
O crime se consuma com a efetiva destruição da vida (cessação da
atividade cerebral da pessoa). Admite a forma tentada.
v 'p j '’:'J "‘nvv v , J .\
Consiste na destruição da vida humana (extrauterma) de uma pessoa
por outra.
Haverá homicídio ainda que se prove que a vida do ser humano
não era viável.
134 DtREiTO PENAL para concurso - POLÍCIA FEDERAL - Emerson Casfe/o Branco
NOTE! para caracterizar o /crim e,/é'necessária. a pròva.de nascimento
com vida. De acordo cem ò .árt. â.° da Let n.° .9434 /199 I.’( ré n í'^ o '::f3e
órgãos e tecidos' para o fim <je transplante), a prova dá morts ocorre com
o diagnóstico cie morte encèfáiísá..
Se a ação for cometida contra um morto (cadáver), haverá a figura
do crime impossível.
Classificação:
a) comum (pode ser praticado por qualquer pessoa);
b) simples (lesiona apenas um bem jurídico);
c) de dano (causa uma lesão efetiva);
d) de ação livre (pode ser praticado através de qualquer meio);
e) instantâneo de efeitos permanentes (na forma consumada);
f) materiai (somente se consuma com a ocorrência do resultado morte).
12.1.1.2 Homicídio privilegiado
Art. 121, § 1 * - Se o agente comete o crime tmpelicfo por motivo de
relevante valor moral ou social, ou sob o domfnio de violenta emoção,
logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir
a pena de um sexto a um terço.
Hipóteses:
a) Relevante valor social Diz respeito aos interesses da coletividade em
geral (Ex.: a morte de um pistoleiro que ameaçava as pessoas de uma
comunidade).
b) Relevante valor moral. Diz respeito aos interesses individuais, parti
culares, do agente, como o sentimento de piedade (ex.: eutanásia).
c) Sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação
da vítima. Requisitos: (1.°) a existência de uma emoção iatensa; (2.°)
a provocação injusta por parte da vítima; e (3.°) a reação imediata.
NOTE' !S e .a ..a^o :>nã^fâÉi3feíuadavlogO::eiVirseáulda':à>lRjustaíprotó^,|6|v
/,:teremos;:apBnas”WconffgÜFaçãoídk;pÍrGünstâneia-;4tènuanfe:’:(att:i:65glneiíso;:-
12.1.1.3 Homicídio qualificado (art. 121, § 2 ° )
1. Motivo torpe (inciso I - mediante paga ou promessa de recom
pensa, ou por outro motivo torpe). É a motivação repugnante, ignóbil,
Cap. 12 - CRIMES COHTRA A PESSO A 135
desprezível, vil, profundamente imoral. Sempre que envolve paga ou
recompensa, é denominado homicídio ‘'mercenário”.
Vingança e ciúme, segundo a jurisprudência, não obrigatoriamente
caracterizam motivo torpe. Dependerá das circunstâncias de cada caso.
QUESTÃO POTENCIAL DE PROVAI A vantagem precisa ser
econômica? Apesar de ser questão polêmica na doutrina, prevalece o
posicionamento segundo o qual a vantagem precisa ser econômica.1
2. Motivo fútil (inciso II - por motivo fútil), É o motivo sem im
portância, absolutamente banal (Ex.: matar a mulher porque essa
permitiu
que o feijão queimasse).
Para parte da doutrina, a ausência de motivo não caracteriza o motivo
futíl. Outra corrente defende que deve ser considerado fútil. Não existe
posição majoritária acerca do tema.
O motivo do crime pode ser injusto (ex.: vingança), mas não ser
futil.
3. Meio cruel ou meio que cause perigo comum (Inciso III - com
emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meto insi-
ãioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum). Caracteriza-se
pelo emprego de qualquer meio cruel, que sujeite a vítima a graves e
inúteis vexames ou sofrimentos físicos ou morais, É o meio bárbaro,
martirizante, brutal, que aumenta, inutilmente, o sofrimento da vitima,
QUESTÃO POTENCIAL DE PROVAI O crime de tortura qualifi
cada com o resultado morte encontra-se previsto na Lei n.° 9.455/1997.
Apesar de ocorrer o resultado morte, se a intenção era apenas torturar a
vítima, haverá crime de tortura qualificada com resultado morte, e não
homicídio.
4. Modo de execução que dificulta ou torna impossível a defesa
(inciso IV — ã traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou
outro recurso que dificulte ou tome impossível a defesa do ofendido).
São circunstâncias que levam à prática do crime com maior segurança
1 CUNHA, Rogério Sanches. Direito Penai - Parte Especial - Coleção Ciências Criminais V,3, 2.a Ed-,
São Pauío: Revista dos Tribunais, p. 23.
136 D1RBTO PENM. para concurso - POLÍCIA FEDERAL - Emerson Castelo Branco
para o agente, que se vale da boa-fé ou desprevenção da vítima, e reve
lam a covardia do autor. A traição pressupõe a existência de relação de
confiança, A dissimulação é a fraude empregada para distrair a vítima.
Ocorre também essa qualificadora quando se utilizar recurso que dificulte
ou impossibilite a defesa da vítima.
5. Por conexão teleológica ou conseqüência! (inciso V ~ para as
segurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro
crime). Ocorre quando o homicídio é realizado como meio para executar
outro crime (conexão teleológica) ou para ocultar a prática de outro
delito, ou para assegurar a impunidade ou vantagem deste (conexão
consequencial).
12.L I A Homicídio privüegiado-qualificado
Existe homicídio privüegiado-qualificado? Sim. É a posição da dou
trina e do Superior Tribunal de Justiça. Porém, é necessário que a quali
ficadora sempre seja uma circunstância objetiva (ex.: meio ou modo de
execução do crime), pois, caso contrário, haveria contradição inequívoca
com a circunstância de privilégio. Nesse sentido, julgado do STJ: “Não
há incompatibilidade, em tese, na coexistência de qualificadora objetiva
(v.g. § 2.°, inciso IV) com a forma privilegiada do homicídio, ainda que
seja a referente à violenta emoção.152
Todas as circunstâncias de privilégio são subjetivas. Em relação às
quaMcadoras, serão subjetivas as circunstâncias do motivo torpe, do mo
tivo fütil. e da conexão teleológica ou consequencial; sendo consideradas
objetivas as circunstâncias do modo de execução e do meio insidioso ou
cruel. Somente se configura o homicídio qualificado-privilegiado se as
qualificadoras forem objetivas, para esvitar contradição com as circuns
tâncias privilegiadoras, que serão sempre subjetivas.
QUESTÃO POTENCIAL BE PROVA! O homicídio privilegiado-
- qualificado é crime hediondo? Não, Na ponderação entre as circunstâncias
objetivas e subjetivas, preponderam as subjetivas; não sendo, portanto,
crime hediondo, porque as circunstâncias de privilégio prevalecem em
face das quaMcadoras objetivas. Outro argumento utilizado pelo STJ é
o fato de que o legislador não elencou expressamente no rol do art, 1.°
da Lei n.° 8.072/1990 o crime de homicídio privilegiado-qualificado.3
2 Ver STJ RESP 196.578/RO;1998/aog7985-4.
3 Ver STJ, HC 18.261/RJ; 2001/0102018-1, e HC 17.064/RJ;2001/Q070978-5.
Gap. 12 - CRIMES CONTRA A PESSOA _____137
12.1.1.5 Homicídio culposo
Art. 121, § 3,° ~ Se o homicídio é culposo:
Pena - detenção, de um a três anos.
Ocorre quando o agente, agindo com negligência, imprudência ou
imperícia, produz um resultado não querido, mas previsível, de tal modo
que podia, com a devida atenção, ser evitado. Se existiu previsão por parte
do agente e, ainda assim o mesmo agiu, haverá homicídio doloso.
Causas de aumento de pena no homicídio culposo (art. 121, § 4.°,
l.a parte). Se o crime resulta de inobservância de regra técnica de pro
fissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à
vítima, não procura diminuir as conseqüências do seu ato, ou foge para
evitar a prisão era flagrante.
Aplicação de perdão judicial (art. 121, § 5.°). Se as conseqüências
da infração atingiram o próprio agente de forma tão grave que a sanção
penal se tome desnecessária. Tem-se reconhecido como causa para a não
aplicação da pena o grave sofrimento, decorrente do feto, passado pelo
réu (ex.: pai mata o filho por um ato de imprudência).
NOTE! De acordo com a corrente majoritária, a .concessão do perdão
judicial é úm direito subjetivo do acusado, e não uma mera 'faculdade do
juiz. Bitencourt, liderando essa primeira corrente, entende “que se trata de
um direito público subjetivo de liberdade do' indivíduo, a partir do momento
em que preenche os requisitos legais."4
Referindo-se à natureza jurídica do instituto, Damásio assevera:
“Trata-se de um direito penal público subjetivo de liberdade. Não é ura
favor concedido pelo juiz. É um direito do réu. Se presentes as circuns
tâncias exigidas pelo tipo, o juiz não pode, segundo seu puro arbítrio,
deixar de aplicá-lo.”5
A decisão que concede o perdão judicial é condenatória ou declara-
tória? Conforme assevera Luiz Régis Prado, “a orientação preponderante
é no sentido de indicá-la como declaratória de extinção da punihilida-
de. Nesse diapasão, o art. 120 do Código Penal destaca que ‘a senten
ça que conceder perdão judicial não será considerada para efeitos de
“ BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal, 10.a ed„ SSo Paulo: Saraiva, 2006, p.
870.
s JESUS, Damásio E. de. Direito Pena! ~ Parte Geral, 28.* ed., São Paulo: Saraiva, 2005, p. 685.
138 OÍREITO PSNAL p^ra concurso «■ POLlCíA FEDERAL - Btn&tson Câst&fo Branco
reincidência”6. É, ainda, o teor da súmula 18 do Superior Tribunal de
Justiça: “A sentença concessiva do perdão judicial é declaratória da ex
tinção da pumbilidade, não subsistindo qualquer efeito condenatório”.
QUESTÃO POTENCIAL DE PROVA! Compensação de culpas =£
Concorrência de culpas.
Compensação de culpas é possível? Em hipótese alguma. Se restar
comprovada a culpa do agente, não pode ele alegar a conduta da vítima
para excluir a sua falta de diligência.
Concorrência de culpas é possível? Sim. Porém, não para excluir
a responsabilidade penal do agente. Servirá apenas como circunstância
judicial (art. 59 do CP) para a fixação da pena-base de forma mais fa
vorável para o agente.
N pT£!/Q üal 3 . diferença entre çülpa consciente" e doto eveniuai?í:^-:'cu!fja
consciènte;diferé do'dolo evenfôal,. porque nèáte o á g $ ^ 'p F e ^ ;ò/;refflllíàáj),-
o; qüi^pflssa vir a’,acóhieçe£,
eventual; õ. agçinte "diz: “não-^porfâ”; ;eriqüánío ná' culpa' consoíeVítS,". .èüpoe:
“é. passível, mas riáo vai hcòntécèr tíe forma •àíguníaV ;i' ;
12,1.1.6 Observações finais sobre o crime de homicidio
1." - Premeditaçlo configura qualificadora? Não. O homicídio premeditado
tanto pode ser simples como qualificado, dependendo das circunstân
cias de cada caso.
2.® - O parricídio configura alguma qualificadora? Não. Por si só, não é
o bastante para qualificar o crime. Porém, é uma circunstância agra
vante (art. 61, inciso II, e). ,s
3.a - Como se faz o cálculo da pena, havendo mais de uma qualificadora?
A fixação da pena deverá ser feita proporcionalmente ao número de
quaíificadoras.
4.° - A ação penal é pública incondiclonada.
5.a - O homicídio na forma simples somente será crime hediondo quando
praticado em atividade típica de grupo de extermínio. Esse delito, nessa
hipótese, é denominado homicidio condicionado ou crime hediondo
condicionado.
6:' - A n.° Lei 10.741/2003 (Estatuto do Idoso) alterou a redação do § 4.°
do art. 121 do Código Penai, acrescentado uma nova causa de aumento
5 PRADO, Luiz Régis. Curso de Direito Peno! Brasileiro, São Pauio: Revista dos Tribunais, 1999, p.
49$.
Cap, 12 - CRIMES CONTRA A PESSOA 139
de pená ao crime de homicídio doloso, quando praticado contra maior
de 60 (sessenta) anos.
7.a - Existem duas espécies de eutanásia: ativa e passiva. Na ativa, o
médico realiza uma ação que causa a morte do paciente (ex,: minístra-
-Ihe uma substância letal para poupar-lhe do sofrimento). Na passiva
(ortotanásia), o médico ou familiares descumprem o dever legal de agir
(ex.: deixar de ministrar os medicamentos devidos, em face do estágio
avançado da doença, poupando o paciente do sofrimento prolongado
e desnecessário). No Brasil, ambas configuram homicídio privilegiado
pelo relevante valor moral (CP, art. 121, § 2.°). Não se confundem
com a distanásia (prolongamento da vida de um doente grave), que
não constitui crime algum.
12.1.2 Induzimento, auxílio ou instigação ao suicídio
Art. 122 - induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou prestar-lhe
auxilio para que o faça:
Pena ~ reclusão, de dois a seis anos, se o suicídio se consuma; ou
recíusão, de um a três anos, se da tentativa de suicídio resulta lesâo
corporal de natureza grave.
Parágrafo único, A pena é duplicada:
Aumento de pena
I - se o crime é praticado por motivo egoístico;
li - se a vitima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, a
capacidade de resistência.
Objeto jurídico é a proteção à vida humana extrauterma.
O objeto material é o coipo da pessoa que se autodestrói
Sujeito ativo e sujeito passivo. Qualquer pessoa pode praticá-lo (crime
comum). Qualquer pessoa pode ser vítima.
O elemento subjetivo do tipo é o dolo consistente na vontade de
instigar, induzir ou auxiliar alguém a se matar. Não se admite o crime
na forma culposa. Pode ser praticado com dolo eventual (ex: o pai que
expulsa de casa filho que constantemente anuncia suicídio).
A conduta consiste em induzir,, instigar ou auxiliar alguém a destruir
a própria vida, ocasionando morte ou lesão corporal de natureza grave.
No Brasil, a destruição da própria vida, por si sóf não é crime.
Classificação: a) comum; b) simples; c) de dano; d) de ação livre;
e) instantâneo; f) material.
Pode existir auxílio por omissão? O assunto é polêmico. A primeira
corrente (minoritária) defende que a expressão “prestar auxilio” pres
140 OÍREITO PENAL para concurso — POLÍCíA FEDERAL — Emarsan C&stôfo Br$nco
supõe uma ação (fazer algo). A segunda corrente (majoritária) defende
ser possível, desde que exista o dever legal de impedir o resultado.
Magalhães Noronha cita o exemplo do <£pal que deixa o filho, sob o seu
páfcrio poder, suicidar-se”.7
Forma consumada e forma tentada. Não é possível a forma tentada,
porque se trata de crime de ação vinculada, Havendo a morte ou a lesão
corporal de natureza grave do suicida, o crime é consumado; por outro
lado, caso não existam lesões ou se estas forem leves, não haverá crime
algum. Por isso mesmo, denomina-se “crime condicionado” (sua existência
depende dos resultados morte ou lesão coiporai grave),
NOTEI No crime de instigação, induziméntò ou auxílio ao suicídio, a ação
deve ser direcionada a pessoafas) deterrninada(as),' não ocorrendo o delito
quando for algo IndetèmiiriadÒ: Por exerhpld, não haverá cüriie se uni escritor
ou o diretor de uma película cinematográfica, ou mesmo o compositor de
uma música, levam pessoas ao suicídio, pela influência ds suas obras.
Causas de aumento de pena: “I - se o crime é praticado por motivo
egoístico; II ™ se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa,
a capacidade de resistência” (art. 122, parágrafo único).
QUESTÕES POTENCIAIS BE PROVA!
L2 — “Pacto de morte” (ou ambicídio) - Trata-se de homicídio ou
instigação ao suicídio? A deliberação de duas ou mais pessoas em morrer
ao mesmo tempo, em regra, caracteriza instigação ao suicídio. Porém, se
um dos pactuantes executar a ação de “matar” contra os outros, haverá
em relação a este homicídio, Nelson Hungria cita como exemplo clás
sico o local fechado com a torneira de gás aberta. A regra é a seguinte:
O agente que abre a torneira de gás responde por crime de homicídio;
enquanto os outros, por instigação ao %uicídio.
2? - “Roleta-russa” e “duelo americano” - Configuram homicídio ou
instigação ao suicídio? São exemplos típicos do crime de instigação ao sui
cídio. Na roleta-russa, os agentes deverão disparar sucessivamente contra si
uma atma de fogo com apenas um projétil, sempre girando o tambor para
testar a “sorte” de cada um. No duelo americano, encontramos duas armas
de fogo, uma carregada e a outra descarregada, devendo cada agente escolher
uma para atirar contra si mesmo, desconhecendo a que está municiada.
3.a - Suicida doente mental ou menor sem capacidade de dispor sobre
sua vida - Quando o suicida é doente mental, ou pessoa com retardo
7 NORONHA, Edgerd Magalhães. Direito Penal Voi 2, 24.a ed„ São Paulo: Saraiva, 200E, p. 35.
Cap. 12 - CRIMES CONTRA A PESSOA 141
í ~ ~
mental, ou ainda menor sem capacidade alguma de pensar na destruição
da própria vida, não ocorrerá o delito em estudo, diante da capacidade de
resistência nula da vítima, mas sim um homicídio. Aquele que convence
uma criança de cinco anos de idade ou um doente mental a matar-se
pratica o crime de homicídio, importante distinguir duas situações: se
a vítima menor de 18 anos possuir alguma capacidade para dispor da
própria vida, haverá induzimento ao suicídio com a causa de aumento
de pena do inciso I, do parágrafo único, do art. 122 do Código Penal;
por outro lado, se o menor não possuir capacidade alguma, haverá crime
de homicídio. Por fim, ressalte-se apenas que o agente criminoso deve
conhecer a condição mental ou a falta de capacidade de resistência da
pessoa, para afastar a inaceitável responsabilidade objetiva.
4.a - A fraude para destruir a vida de uma pessoa - Levar uma pes
soa a morte mediante fraude caracteriza homicídio, e não participação
em suicídio.
12.1,3 Infanticídio
A rt. 1 2 3 - M atar, so b a in flu ê n c ia do es tado puerperai, o próprio filho ,
durante o parto ou togo após:
Pena - detenção, de dois a seis anos.
O objeto jurídico é a vida humana do recém-nascido (neonato).
O objeto material é o corpo do neonato.
O sujeito ativo é a mãe em estado puerperal (crime próprio).
O sujeito passivo é o neonato.
Elemento subjetivo é o dolo, consistente na vontade de matar o
próprio filho. Não existe infanticídio culposo,
O crime se consuma com a efetiva destruição da vida do recém-
-nascido (neonato). Admite a forma tentada.
Conceito: Consiste no ato da mãe, sob a influência de estado puer
peral, de matar o próprio filho, durante o parto ou logo após.
Classificação: a) próprio; b) simples; c) de dano; d) de ação livre;
e) instantâneo; f) material; g) comissivo ou omissivo.
QUESTÃO POTENCIAL DE PROVA! O terceiro que auxilia a mãe
a matar o próprio filho responde por homicídio ou infanticídio? De acordo
com o posicionamento amplamente majoritário, responde por infanticídio,
142 DmsiTO PENAJL para concurso - PQÜCIA FEDERAL ~ Emerson Castelo Branco
pois o art, 30 do CP determina a comunicabilidade de circunstâncias
de caráter pessoal, quando elementares do crime, desde que a lei não
disponha de forma contrária. “Tendo o Código Penal adotado a teoria
monista, pela qual todos os que colaborarem para o cometimento de um
crime incidem nas penas a ele destinadas, no caso presente,
coautores e
partícipes respondem igualmente por infanticídio. Assim, embora presente
a injustiça, que poderia ser corrigida pelo legislador, tanto a mãe que
mate o filho sob a influência do estado puerperal, quanto o partícipe que
a auxilia, respondem por infanticídio. O mèsmo se dá se a mie auxilia,
nesse estado, o terceiro que tira a vida do seu filho e ainda se ambos
(mãe e terceiro) matam a criança nascente ou recém-nascida. A doutrina
é amplamente predominante nesse sentido.”8
Em síntese, são três hipóteses:
I “ - Mãe mata o filho com auxílio de terceiro;
2,a - Terceiro executa a ação de matar com o auxílio da mãe;
3.a - Mãe e terceiro executara a ação de matar. Nas três situações, res
ponderam pelo crime de infanticídio. Note: O terceiro deve conhecer
a circunstância de caráter pessoal (“ser mãe” e “estado puerperal”),
para que esta possa se comuaicar; caso contrário, haverá crime de
homicídio.
Essa situação é criticável, porque fere o princípio da proporcionali
dade das penas no Direito Penal. O terceiro é beneficiado por uma pena
bem menos grave do que a pena do crime de homicídio. A solução do
problema, segundo Damásio, “está em transformar o delito de infanticídio
em tipo privilegiado de homicídio, fazendo com que o estado puerperal
e a relação de parentesco deixem de ser elementares do tipo para serem
apenas circunstâncias de diminuição da pena.”9
12.1.4 Aborto
Espécies:
a) Natural - provocado por fatores biológicos.
b) Acidental - provocado por erro humano ou por eventualidades.
a NUCG, Guilherme de Souza. Manual de Direito Penal - Parte Geral e Parte EspecialSão Pauto:
Revista dos Tribunais, 2C05, p, S7Z
* JESUS, Damásio £, de. Direito Penai - 2.° Volume Parte Especial. 2?.“ ed„ Ed. Saraiva São Paulo,
2005, p. 114.
r
Cap. 12 - CRIMES CONTRA A PESSOA 143
c) Criminoso - provocado pela vontade de causar o aborto.
d) Legal ou permitido hipóteses de exclusão do crime.
12,1.4,1 Crime de autoáborto
Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem
lho provoque:
Pena - detenção, de um a três anos.
O objeto jurídico: vida humana intrauíerina.
Objeto material: embrião ou feto.
O sujeito ativo é a gestante (crime próprio).
O sujeito passivo é o feto, ou seja, o produto da concepção. Alguns
autores entendem que o sujeito passivo é o Estado e a sociedade em
gerai.
Elemento subjetivo é o dolo, consistente na vontade de provocar
aborto em si mesma ou de consentir que terceira pessoa lhe provoque,
Somente existe o crime em sua forma dolosa, não havendo hipótese de
aborto culposo.
Consuma-se o aborto com a morte do feto. Admite-se a forma tentada.
É a interrupção da gravidez com a destruição da vida humana in-
trauterma.
Divide-se em duas situações:
a) provocar aborto era si mesraa (autoáborto);
b) dar consentindo para que outrem realize o aborto.
Classificação: a) próprio; b) simples; c) de dano; d) de ação livre;
e) instantâneo; f) material.
Concurso de crimes e concurso de agentes. Prevalece a posição que
entende que o concurso de agentes somente pode ocorrer caso o terceiro
responda como partícipe (ex.: induzir gestante a abortar). Caso terceiro
pratique atos executórios do aborto, responderá por crime autônomo,
previsto no art. 126 do CP.
. MOTE!. Existe a possibilidade,, da prática:,dp.:çrirne;; de;::^
Sim.'-Apééar ,de 'O; assunto '.ser ma|orip'rfav.jústa^'
i^ pnté porque a mãégéstanie possuí Q é^verjjéaai ,
podendo se omitir; : ■' v ’’ ‘f^ \ : ;."v
144 DIREITO PENAL para concurso - POLÍCIA FEDERAL - Eimrsan Castelo Branco
12.1.4.2 Crime de aborto provocado sem o consentimento da gestante
A rt. 125 - Provocar aborto sem o consentimento da gestante.
Pena - reclusão, de três a dez anos.
Neste tipo penal, pune-se o aborto realizado sem o consentimento
da gestante. O criminoso pode agir cora força, ameaça ou fraude (ex.:
criminoso agride namorada com violência física, obrigando-a ao aborto;
ou ameaça-a de morte; ou ainda a leva ao erro, colocando substância
abortiva na alimentação desta).
Sujeito passivo: gestante e feto.
NOTE! Presume-se inexistente o consentimento da gestante, aplicando-se
esta norma penal, quando a gestante não é maior de catorze anos, cm
quando é doente mental, conforme p parágrafo único do art. 126 do CP.
Neste caso, o agente tem que saber què a vítima é menor 'de 14 anos
ou alienada mental.
12.1.4.3 Crime de aborto provocado com o consentimento da
gestante
A rt. 126 - Provocar aborto com o consentimento da gestante.
Pena - reclusão, de um a quatro anos.
Parágrafo único -- Aplka-se a pena do artigo anterior, se a gestante não
é maior de quatorze anos, ou é alienada ou débíf mental, ou se o con
sentimento é obtido mediante fraude, grave ameaça ou violência.
Ocorre quando terceiro realiza o procedimento abortivo, com o con
sentimento da gestante (ex.: médico),^
12.1.4.4 Aborto na forma qualificada (art 127)
A rt. 127 - As penas cominadas nos dois artigos anteriores são au
mentadas de um terço, se, em conseqüência do aborto ou dos meios
empregados para provocá-lo, a gestante sofre íesão corporal de na
tureza grave; e são duplicadas, se, por qualquer dessas causas, !he
sobrevêm a morte.
O aborto qualificado é crime preterdoloso. A conduta dolosa do agente
se direciona exclusivamente para causar o aborto (dolo m antecedente);
porém, sobrevêm um resultado lesão corporal de natureza grave ou morte,
não querido e não previsto (culpa no conseqüente).
Cap. 12 - CRIMES CONTRA A PESSOA 145
NOTE! O resultado' mais grave {lesâo corporal grave .ou morte) não deve
ter sido querido pelo agente, pois .nesses casos deverá ele responder por
crimes de lesões corporais ou homíddlo, em concurso com o aborto. Em
outras palavras, havendo também doio de causar a lesâp corporai de na
tureza gráve ou a morte da gestante, responderá o agente pelo concurso
de crimes de aborto é iesão corporal grave oü aborto è homicídio..'
Poderá haver concurso entre o crime de aborto e o crime de lesão
corporal leve advinda da prática abortiva? Conforme ensinamento de
Damásio, “a lesão leve constitui resultado natural da prática abortiva e
o CP só pune a ofensa corporal grave. Por isso, o crime do art. 129,
caput, fica absorvido pelo aborto.”10
Se em decorrência do procedimento abortivo a gestante morre, mas
o feto sobrevive, haverá crime de aborto qualificado na forma tentada?
Como os crimes preterdolosos não admitem a forma tentada, a solução
é considerar o crime de aborto qualificado consumado. Em que pese o
assunto ser polêmico, é a posição majoritária. Correto o raciocínio de
Fernando Capez:
“Entendemos que, nessa hipótese, deve o sujeito responder por aborto
qualificado consumado, pouco importando que o abortamento não se tenha
efetivado, aliás como acontece no latrocínio, o qual se reputa consuma
do com a morte da vítima, independentemente de o roubo consumar-se.
Não cabe mesmo falar em tentativa de crime preíerdoloso, pois neste
0 resultado agravador não é querido, sendo impossível ao agente tentar
produzir algo que não quis.”11
12.1.4.5 Aborto legal (art. 128)
São duas as espécies de aborto legal:
1 * - Aborto necessário - “Não se pune o aborto praticado por médico:
I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante".
Cabe ao médico decidir sobre a necessidade do aborto a fim de ser
preservado o bem jurídico que a lei considera mais importante (a vida
da mãe) em prejuízo do bem menor (a vida intrauterina).
10 JESUS, Damásio E. de. Direito Penal - 7..a Volume Parte Especial. 27,s ed, Ed. Saraiva São Pauio,
2005, p. 127.
,! CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal - V. 2, 6.® ed., São Pauto: Saraiva, 2006, p. 123.
146 DIREITO PENAL para concurso - POÜCSA FEDERAL - gmerson Castelo Brenco
Como a lei se refere apenas ao médico, caso o aborto seja praticado
por
outra pessoa sem a especialidade médica, provando-se o sacrifício
último para salvar a vida da gestante, haverá estado de necessidade,
conforme o art. 24 do CP.
NOTE! No aborto necessário, o médico não precisa de autorização .cia
gestante. Assim, deverá realizar o procedimento abortivo mesmo contra a
voniade desta.
2 “ - Aborto sentimental - “Não se pune o aborto praticado por médico:
II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consen
timento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal.”
MOTE! O aborto em decorrência de crirne de estupro..somente pçde ser
reáíizádo pom a autorização da gestante, ou .quando incapaz:,\<fô-9!9W t $ - .
presentante Segai..................
QUESTÃO POTENCIAL DE PROVA! Na hipótese do aborto
sentimental, o médico precisa de autorização judicial? Não. Para o mé
dico realizar o procedimento abortivo, basta o registro do boletim de
ocorrência pelo crime de estupro, isto é, não se exige ordem judicial,
ou sentença condenatória contra o estuprador, nem mesmo a instauração
de inquérito policial.
Com a recente Lei 12.015, de 7 de agosto de 2009, encerra-se a
discussão acerca da possibilidade do aborto, quando a gravidez resultasse
de atentado violento ao pudor. Antes, era necessário aplicar analogia in
bonam partem (a favor do réu) para excluir a antijuridicidade do crime.
Hoje, a antiga hipótese de atentado viplento ao pudor caracteriza crime
de estupro, restando solucionado o problema.
NOTEI A iei dos crimes contra a dignidade sexuai (Lei n.° 12.015/2009)
criòu unria nova figura penal,’ denominada éstupro de vulneráveí,; previsto
no .art. 2Í7-A:. Ter conjunção carnal ou
menor d.e 14;'(çatorze) anos". £ partir daJ,surgi.iumyHovp probjemaí.Ojnc,
il; ;do 'a /i 123, do Código Penai, somehte:
quán.do a gravidez .for em-decórrênciá do (árt;--2t3j4Q'ú^
a solução? Corno sé trata: de'caso semelhante, diantèy.a iacuna. da. norrna,
apíica-se perfeitamente a analogia in bonam partem para autorizar ò aborto
também nessa hipótese.
Não se admite aborto por suspeita de que o feto possui degenerações
ou anomalias graves; ou aborto social, realizado pela gestante por falta
Cap. 12 - CRIMES CONTRA A PESSOA 14?
de condições econômicas de sustentar a criança; muito menos aborto
honoris causa, para proteger a honra.
QUESTÃO POTENCIAL DE PROVAI E o denominado “aborto
eugenésico” (ou eugênico), admite-se? A maioria da doutrina é favorável
à exclusão da iíicitude nessas hipóteses excepcionais, desde que atendi
dos requisitos rígidos. As resistências no meio social, ensina Ney Moura
Teles, “ainda são grandes, mas é preciso discutir essas excludentes sem
preconceitos, mas com vistas na busca da proteção dos bens jurídicos.
O Direito não pode conviver com a ideia de autoflagelação ou de puri
ficação espiritual pelo sofrimento.”52
A posição atual do STJ vem sendo no sentido de desconsiderar a
iíicitude do aborto nos casos de fetos anencefálicos: “Havendo diagnós
tico médico definitivo atestando a inviabilidade de vida após o período
normal de gestação, a indução antecipada do parto não tipifica o crime
de aborto, uma vez que a morte do feto é inevitável, em decorrência da
própria patologia.’”3
No STF, á matéria vem sendo discutida, em sede de Ação de Descum-
primeato de Preceito Fundamental (ADPF), com uma tendência favorável
ao aborto nos casos de anencefalia. A permanência de feto anômalo no
útero da mãe, explica o Min. Marco Aurélio, “mostrar-se-ia potencialmente
perigosa, podendo gerar danos à saúde e à vida da gestante. Consoante o
sustentado, impor à mulher o dever de carregar por nove meses um feto
que sabe, com plenitude de certeza, não sobreviverá, causa á gestante dor,
angústia e frustração, resultando em violência às vertentes da dignidade
humana ~ a física, a moral e a psicológica - e em cerceio à liberdade
e autonomia da vontade, além de colocar em risco a saúde, tal como
proclamada pela Organização Mundial da Saúde - o completo bem-estar
físico, mental e social e não apenas a ausência de doença,”*4
12.1*5 Questões comentadas
(CESPE/UnB 2004) Um indivíduo, cuja esposa padecia, há anos, de uma doença
incurável, a seu pedido ceifou-íhe a vida por meio de asfixia tóxica, produzida por
gases deletérios (oxido de carbono, cloro s bromo) liberados no quarto em que se
encontrava. Nessa situação, o indivíduo responderá por homicídio quaiifrcado-privttegíado,
que, de acordo com o STJ, não é considerado crime hediondo.
12 TELES, Ney Moura. Direito Penal, São Pauto: Atias, 2004, p. 187-188.
!J HC S6572/SP, 2006/0062671-4, 5,a Turma, j, 25.04.2006. ■
M Ver informativo 354 do STF (DiU de 02.08.2004).
148 DIREITO PENAL para concurso - POLlCíA FEDERAL - Emerson Castelo Brsnco
Resposta: Correto, Trata-se de situação típica de crime de homicídio privilegiado peio
relevante valor moral. No caso, incicfe ainda a qualificadora do meio cruel, formando a
figura do homicidio privilegiado-quaüficado. O entendimento do STJ é no sentido de que
o homicidio qualificado-privilegiado não é crime hediondo.
(CESPE/UnB 2004} Aido é o único herdeiro de sua irmã Sofia, que sofre de depressão.
Induzida por Aldo, Sofia tentou tirar sua própria vida, cortando os pulsos. Levada
para o hospital pela empregada da casa, recebeu tratamento imediato, tendo sofrido
lesões corporais leves. Nessa situação, Aido responderá pelo crime de participação
em suicídio.
Resposta: Para que ocorra a participação no crime de Induzimento, instigação ou auxílio
a suicídio, ê necessário que venha a se perfazer a morte do ofendido, ou que o mesmo
sofra lesões de natureza grave, Como o único resuitado descrito na assertiva são as
tesões de natureza leve, Aido nâo responderá pelo crime, sendo faío atípico.' Nota-se
que não é possíve), também, a tentativa nesse tipo de crime, já que é condicionado,
necessariamente, aos resultados descritos no tipo penai, morte e lesão corporal de
natureza grave.
(CESPE/UnB 2006) Considere a seguinte situação hipotética. Ronan, brincando de
roleía-russa e sabendo que o revólver estava municiado, pôs-se a abrir, girar e
fechar o tambor do mesmo por diversas vezes. Acionando o gatilho com o revólver
apontado para a vítima, causou-lhe a morte. Nessa situação, é correto afirmar que
Ronan responderá por homicidio culposo.
Resposta; Certo. Trata-se de homicidio doloso eventual, porque Ronan, com sua
"brincadeira”, assumiu o risco de produzir o resultado morte na vítima Mote: Se fosse
a roleta-russa típica, em que cada membro do grupo usa individualmente a arma contra
si, haveria instigação ao suicídio.
(CESPE/UnB 2004) Ângela, sob a influência do estado puerperal, matou o próprio filho,
'togo após o parto, por estrangulamento. Cessada a influência do estado puerperal,
Ângela desosperou»se ©, arrependida do ato praticado, foi acometida por intenso
sofrimento. Nessa situação, tendo em vista que as conseqüências da conduta de
Ângela atingiram-na profundamente, poderá o juiz aplicar o perdão Judicial
Resposta: Nâo se pode faiar em perdão Judicial no crime de infanticídio por faita de
previsão legal.
(DPU Defensor Público da União CESPE/UnB 2010) Em se tratando de homicidio, é
incompatível o domínio de violenta ©moção com o dolo eventual.
Resposta: Errado. Conforme orientação convidada no Superior Tribunal de Justiça, o
homicídio privilegiado é perfeitamente compatível com o dolo eventual.
(Ministério Público/SE CESPE/UnB 2010) Assinale a opção correta acerca do homicídio
privilegiado,
a) A natureza jurídica do instituto é de circunstância atenuante especial.
b) Estando o agente em uma das situações que ensejem o reconhecimento do homicídio
privilegiado, o juiz é obrigado a reduzir a pena, mas a lei não determina o patamar
de redução.
c) O relevante valor social não enseja o reconhecimento do homicidio privilegiado.
d) A presença
de qualificadoras impede o reconhecimento do homicidio privilegiado.
e) A violenta emoção, para ensejar o privilégio, deve ser dominante da conduta do agente
e ocorrer logo após injusta provocação da vítima
Resposta: E. O homicídio privilegiado possui natureza juridica de causa de diminuição
de pena (mínorante), A redução é de um sexto a um terço. O relevante vator social
constitui uma das hipóteses de homicídio privilegiado. Ê perfeitamente possível a figura
Cap. 12 ~ CRIMES CONTRA A PESSOA 149
do homicídio privltegiado-quaiificado, desde que a circunstância qualificadora se|a objetiva.
Por flm, a violenta emoção deve ser dominante, caso contrário, nâo haverá o privilégio
da redução da pena. E o que significa “emoção dominante"? Ê a emoção de alto
intensidade, envolvendo o agente ao ponto deste perder completamente o equilíbrio,
Na exata observação de Cezar Roberto Bitancourt, “Sob o domínio cfe v/o/enfa emoção
significa agir sob choque emocional próprio de quem é absorvido por um estado de
ânimo caracterizado por extrema excitação sensorial s afetiva, que subjuga o sistema
nervoso do indivíduo. Nesses casos, os freios inibitórios são liberados, sendo orientados,
basicamente, por ímpetos incontroláveis, que; é verdade, não justificam a conduta criminosa,
mas reduzem sensivelmente a sua censurabilídade" (BITENCOURT, Cezar Roberto. Curso
de Direito Penal. 10. ed. São Pauio: Saraiva, 2010, p. 73)
Atenção! A mera “influência” não é o suficiente para configurar o crime de ho
micídio privilegiado. Contudo, haverá circunstância atenuante de pena, prevista
na alínea c, do inc. III, do art. 65, do Código Penal: “SSo' circunstâncias que
' sempre atenuam a' pena (...) 111 - ter o ágente: (...) c) cometido o" crime sob
coação a que podia resistir, ou em cumprimento de ordem de autoridade superior,
ou sob a Influência d@ violenta emoção, .provocada por ato injusto da vítima"
(grifo nosso); Em sfntése, o “domínio" conftgúra a drcimstânciá privilegíádora,
enquanto a “influência* caracteriza apenas circunstância atenuante: - '
(Ministério Públlco/SE CESPE/UnB 2010) Getúlio, a fim de auferir o seguro de vida
do qual era beneficiário, induziu Maria a cometer suicídio, e, ainda, emprestou-lhe um
revólver para que consumasse o crime. Maria efetuou um disparo, com a arma de fogo
emprestada, na reglâo abdominal, mas não faleceu, tendo sofrido lesão corporal de
natureza grave. Em relação a essa situação hipotética, assinale a opção correta.
a) Como o suicídio nâo se consumou, a conduta praticada por Getúlio é considerada
atípica.
b) Apesar de a conduta praticada por Getúlio ser típica, pois configura Indüzimento,
instigação ou auxílio ao suicídio, ele ê isento de pena, porque Maria não faleceu.
c) Getúlio deve responder por crime de indüzimento, instigação ou auxilio ao suicídio, por
uma única vez, com pena duplicada pala prática do crime por motivo egoísüco.
d) Getúlio deve responder por crime de tesão corporal grave.
e) Por ter induzido e auxiliado Maria a praticar suicídio, Getúlio deve responder por crime
de indüzimento, instigação ou auxilio ao suicídio, por duas vezes em continuidade
detitlva, com pena duplicada pela prática do crime por motivo egoístico.
Resposta: C, O crime de Indüzimento, instigação ou auxílio ao suicídio {art. 122 do Código
Penai) se consuma com o resultado morte ou com a provocação de lesão corporal de
natureza grave na vítima. No caso, Getúlio deve responder por crime de indüzimento.
Instigação ou auxílio ao suicídio, por uma única vez (evitando bis in iüçm), com pena
duplicada peia prática do crime por motivo egoístíco. Por fim, nâo responderá duas vezes
pelo mesmo delito, em face do princípio da alternatividade, utilizado para resolver conflito
aparente de normas penais, nas hipóteses de tipo penai de conteúdo variado, isto ô,
quando a norma pena! traz várias ações nucleares, consumando-se o crime numa ou
noutra. Se várias ações nucleares forem praticadas dentfo do mesmo contexto fático,
.haverá crime único, sob pena de dupia responsabilidade, vedada no Direito Penal.
12.1.6 Questões CESPE/UnB
Armando e Sérgio deviam a quantia de R$ 500,00 a Paulo, porém se recusavam a
pagar. No dia marcado para o acerto de contas, Armando e Sérgio, com o ânimo
de matar, compareceram ao iocai do encontro com Paulo portando armas de fogo,
emprestadas por Mário, que sabia para qua! finalidade elas seriam usadas. Armando
e Sérgio atiraram contra Paulo, ferindo-o mortalmente, Com relação à situação
hipotética apresentada acima, julgue os itens seguintes.
1S0 DIREITO PENAL para concurso - POLiCtA FEDERAL - Bmerson Casfe/o Branco
1. (Agente - PoJícfa Civil/RR 2003 - CESPE/UnB) Armando, Sérgio a Mário são
sujeitos ativos do crime perpetrado, sendo os dois primeiros coautores, e Mário,
partícipe.
2. {Agente - Poiícia Civil/RR 2003 - CESPE/UnB) Paulo é sujeito passivo do crimo de
homicídio privilegiado.
3. (Agente - Polícia Civii/RR 2003 - CESPE/UnB) Segundo determina a Lei 8.072/1990,
o homicídio de Paulo é considerado crime hediondo.
4. {Agente - Polícia Civil/RR 2003 - CESPE/UnB) O crime de homicídio descrito acima
se consumou no momento em que a vitima foi ferida cm sua integridade física,
5. (Escrivão da Policia Federal 2002 - CESPE/UnB) Rui era engenheiro e participava da
construção de uma rodovia, para a qual seria necessária a destruição de uma grande
rocha, com o uso de explosivos. Rui, contudo, por insuficiência de conhecimentos
técnicos, não calculou bem a área de segurança para a explosão. Por isso, um
fragmento da rocha acabou atingindo uma pessoa, a grande distância, matando-a.
Nessa situação, devido ao fato de a morte haver decorrido do uso de explosivos,
o caso é de homicídio qualificado.
6. (Delegado da Policia Federal 1997 - CESPE/UnB) Se for doloso o homicídio, a pena
será aumentada de um terço, no caso de crime praticado contra pessoa menor de
catorze anos.
7. (Delegado da Polícia Federal 1997 ~ CESPE/UnB) Não é crime o aborto realizado
pela própria gestante, se for provado que o feto estava contaminado com vírus
causador de doença incurável.
8. (Delegado - Polícia Clvil/SE 2006 - CESPE/UnB) Levando em consideração as
orientações doutrinárias e jurisprudenctals dominantes, é correto afirmar que, na
hipótese do aborto humanitário ou sentimental, quando a gravidez for decorrente
de atentado violento ao pudor, não se aplica a excludente de ilicitude, pois a tet
admite o aborto somente quando a gravidez for resultante de estupro.
9. (Delegado - Polícia Cívíl/TO 2008 - CESPE/UnB) Considere a seguinte situação
hipotética. Manoel, penalmente responsável, instigou Joaquim à prática de suicídio,
emprestando-lhe, ainda, um revólver municiado, com o qual Joaquim disparou contra
o próprio peito. Por circunstâncias aiheps à vontade de ambos, o armamento
apresentou falhas e a munição não foi deflagrada, não tendo resultado qualquer
dano à integridade física de Joaquim, Nessa situação, a conduta de Joaquim, por si
só, nSo constitui Ilícíto penal, mas Manoel responderá por tentativa de participação
em suicídio.
10. (Delegado - Poiícia Civil/RR - CESPE/UnB) Considere a seguinte situação hipotética.
Manoel trancafiou seu desafeto em um compartimento completamente isolado
e Introduziu nesse compartimento gases deletérios (óxido de carbono e gás de
iluminação), os quais causaram a morte por asfixia tóxica da vítima. Nessa situação,
Manoel responderá pelo crime de homicídio qualificado.
1 1 . (Delegado - Policia Ctvit/RR - CESPE/UnB) Considere a seguinte situação hipotética,
João e Maria, por enfrentarem grave crise conjugai, resolveram matar-se, instlgando-
-se mutuamente. Conforme o combinado, João desfechou um tiro de revólver contra
Maria e, em seguida, outro contra si próprio. Rifaria veio a faiecer; João, apesar
do tiro, sobreviveu. Nessa situação, João
responderá pelo crime de induzimento,
instigação ou auxílio a suicídio.
Cap. 12 - CRIMES CONTRA A PESSOA 151
12. {Agente-Poiícia Civfl/TO2008-C ESP E/U nB ) Considere que um boxeador profissional,
durante uma luta normal, desenvolvida dentro dos limites das regras esportivas,
cause ferimentos que resultem na morte do adversário. Nessa situação, o boxeador
deverá responder por homicidio doloso, com atenuação de eventual pena, em face
das circunstâncias do evento morte.
13. {Agente - Polícia Ctvrl/TO 2008 - CESPE/UnB) O aborto, o homicídio e a violação
de domicilio são considerados crimes contra a pessoa.
14. {Técnico Judiciário - TJR R ~ 2 0 0 6 - -CESPE/UnB) Mesmo resultando em lesão
corporal grave oü morte, o latrocínio encontra-se capitulado nos crimes contra o
patrimônio e hão, nos crimes contra a pessoa.
15. {Técnico Judiciário - TJR R - 2006 - CESPE/UnB) Não se pune o aborto se a gravidez
resulta de estupro, sobretudo se é precedido de consentimento da gestante.
16. {Técnico Judiciário - TJRR - 2006 - CESPE/UnB) No caso do homicidio culposo, o
juiz poderá conceder o perdão judicial se as conseqüências da infração atingirem
o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária.
17 . (Analista Processual - TJRR - 2006 - CESPE/UnB) O delito de homicídio é crime
de ação livre, pois o tipo nâo descreve nenhuma forma específica de atuação que
deva ser observada pelo agente.
18. (Agente ~ Polícia Civif/TO 2008 - CESPE/UnB) O aborto, o homicídio e a violação
de domicilio são considerados crimes contra a pessoa.
19. {Analista Processual - TJRR - 2006 - CESPE/UnB) Tentado ou consumado, o
homicidio cometido mediante paga ou promessa de recompensa é crime hediondo,
recebendo, por conseqüência, tratamento pena) mais gravoso.
20. (Delegado ~ Polícia Cívil/TO 2003 - CESPE/UnB) O Código Penal brasileiro permite
três formas de abortamento legal: o denominado aborto terapêutico, empregado para
salvar a vida da gestante; o aborto eugênlco, permitido para impedir a continuação
da gravidez de fetos ou embriões com graves anomalias; e o aborto humanitário,
empregado no caso de estupro.
21. (Escrivão - Polícia Civil/PA 2006 - CESPE/UnB) Há homicídio qualificado se o agente
tiver praticado crime Impelido por motivo de relevante valor social ou morai.
22. (Delegado da Polícia Federal 2004 Nacional - CESPE/UnB) O médico Caio, por
negligência qüe consistiu em não perguntar ou pesquisar sobre eventual gravidez
de paciente nessa condição, receita-lhe um medicamento que provocou o aborto.
Nessa situação, Caio agiu em erro de tipo vencível, em que se exclui o dolo,
ficando isento de pena, por nâo existir aborto culposo.
23. {CESPE/UnB 2001) Segundo orientação do STJ, no crime de homicídio, a qualificadora
de ter sido o delito praticado mediante paga ou promessa de recompensa é
circunstância de caráter pessoal e, portanto, Incomunicável.
24. {CESPE/UnB 2001) O agente que, agindo com onimus necandi, mantém conjunção
carnal com a ofendida com a intenção de transmítlr-!he o vírus da AIDS de que é
portador, responderá, em tese, pela prática do crime de tentativa de homicídio,
25. {CESPE/UnB 2001) A s circunstâncias prlviiegiadoras, de natureza subjetiva, e
qualificadoras, de natureza objetiva, podem concorrer no mesmo fato-homleídio. Nesse
caso, o homicidio qualificado-privilegiado não será considerado crime hediondo.
152 DIREITO PENAL para concurso - POLÍCIA FEDERAL - Emerson Castelo Branco
26. (CESPE/UnB 2006) O resuitado morte caracterizado par uma asfixia mecânica, assim
comprovada peto laudo de exame de corpo de delito (laudo cadavérico), provocada por
hemorragia interna, será suficiente para configurar o crime de homicídio qualificado.
27. (CESPE/UnB 2006) No crime de homicídio qualificado, a vingança pode ser classificada
como motivo fútil, não se confundindo com o motivo torpe.
28 .(CESPE/UnB 2006) Para efeitos penais, notadamente na análise do homicídio
Qualificado peto emprego de veneno, tal substância é aqueta que tenha idoneidade
para provocar lesão ao organismo humano ou morte.
29. (CESPE/UnB 2007) São compatíveis o dolo eventual e as qualificadoras do crime
de homicídio.
30. (CESPE/UnB 2007) No homicídio culposo, se o autor do crime imagina que a
vítima já está morta e por isso não lhe presta socorro, não responde pela causa
de aumento de pena decorrente da omissão de socorro.
31. (CÊSPÈ/UnB 2007) Ainda que haja intenção de matar, peto princípio da especialidade,
a prática de relação sexual forçada e dirigida à transmissão do vírus da AIDS
caracteriza o crime de perigo , para a vida ou saúde de outrem.
32. (CESPE/UnB 2007) O ciúme, por si só, caracteriza o motivo torpe, apto a qualificar
o crime de homicídio.
33. (CESPE/UnB 200S) Se o sujeito, após ferir culposamente a vítima, sem risco pessoal,
não lhe presta assistência, vindo ela a falecer, responde por dois crimes: homicídio
culposo e omissão de socorro.
34. (CESPE/UnB 200S) Considere a seguinte situação hipotética. Antônio, querendo a
morte de José, instigou Carlos a matá-lo. Carlos, que jâ havia cogitado do fato,
ficou dominado - por ódió morta! por tudo que Antônio disse de José. Carlos,
então, dirígíu-se à casa de José e lã resolveu ievar a cabo sua intenção criminosa,
matando-o. Nessa situação, ambos responderão por homicídio em coautoria,
35. {CESPE/UnB 2005) No homicídio do tipo mercenário, a qualificadora relativa ao
eometimento do crime mediante paga ou promessa de recompensa, consoante
entendimento do STJ, comunica-se com os coautores ou participes, por tratar-se
de condição de caráter não pessoal. ^
36. (CESPE/UnB 2007) A tentativa de suicídio é Impunívet, já que, do ponto de vista
da poiíttca criminal, seria um estímulo punir o suicida nessa modalidade.
37. (CESPE/UnB 2007) A hipótese de autodestruíçâo na forma consumada deve ser
sempre objeto de investigação em inquérito policial, visando-se apurar a participação
de terceira pessoa.
3B. (CESPE/UnB 2003) Considere a seguinte situação hipotética. Um agente efetuou
disparo de arma de fogo, com animus necandi, contra menor de quatorze anos
de idade, que velo a faiecer em decorrência dos ferimentos após completar aqueia
idade. Nessa situação, o autor do disparo responderá por homicídio, e a pena será
agravada em razão da idade da vítima.
39. (CESPE/UnB 2003) No caso de aborto provocado peia gestante com auxílio de
terceiro, há dois crimes autônomos: um praticado - peia gestante e outro, pelo
auxiliar, ficando afastada a participação.
Cap. 12 - CRIMES CONTRA A PESSOA 15 3
40. (CESPE/UnB 2006) Apesar de não constar no tipo pena! o elemento surpresa, este
qualifica o homicídio praticado desde que se assemelhe a traição, emboscada ou
dissimulação, estes, sim, previstos expressamente no tipo penai,
41. (CESPE/UnB 2006) Considere a seguinte situação hipotética. Um médico, doiosa e
Insidiosamente, entregou uma injeção de morfina, em dose demasiadamente forte, para
uma enfermeira, que, sem desconfiar de nada, aplicou-a no paciente, o que causou a
morte do enfermo. Nessa situação, o médico é autor mediato de homicídio doioso, ao
passo que a enfermeira é participe do delito e responde pelo mesmo crime doloso.
42. (CESPE/UnB 2006) Considere a seguinte situação hipotética. Fábio, por motivo de
reievante valor social, praticou um crime de homicídio com a participação de Pedro,
que desconhecia o motivo determinante do crime. Nessa situação, o homicídio
privilegiado, causa de diminuição da pena descrita no CP, se estenderá ao partícipe
Pedro, pois se traía de circunstância de caráter pessoa! que se comunica aos
demais participantes.
43. (CESPE/UnB 2006) Na hipótese de homicídio culposo, o juiz pode deixar de aplicar
a péna, se as conseqüências da infração atingirem o próprio agente de forma tão
grave
que a sanção penal se torne desnecessária. Trata-se do instituto do perdão
judiciai, que constitui causa extintiva da punibilidade.
44. (CESPE/UnB 2006) O CP somente pune o crime de participação em suicídio quando
há produção do resultado morte. Se o sujeito induz a vítima a suicidar-se e esta
sofre apenas íesões corporais de natureza grave, não hã crime a punir.
45. (CESPE/UnB 2006) Autora de infanticídio só pode ser a mãe, conforme expressa
o CP. Sendo assim, trata-se de crime próprio, que não pode ser cometido por
qualquer autor. No entanto, essa qualificação, conforme entende a melhor doutrina,
não afasta a possibilidade de concurso de pessoas.
46. (CESPE/UnB 2006) O aborto necessário, previsto no CFt não constituí crime, em
foce da exclusão da culpabilidade, considerando-se que a gestante é favorecida
pelo estado de necessidade.
47. (CESPE/UnB 2005) Um agente de polícia, usando arma de fogo, efetuou propositadamente
disparos contra Pedro, causando a sua morte e, acidentalmente, a de Cláudio.
Nessa situação, esse agente deve responder por homicídio doioso consumado em
relação a Pedro, e por homicídio culposo consumado em relação a Cláudio.
48* (CESPE/UnB 2006) César induziu Luciano a cometer suicídio, além de auxiliá-lo
nesse ato, entregando-lhe as chaves de um apartamento localizado no 19.o andar
de um prédio. Luciano, influenciado pela conduta de César, jogou-se da janela do
apartamento, mas foi salvo pelo Corpo de Bombeiros, vindo a sofrer lesões leves
.em decorrência do evento. Nessa situação, César praticou crime de induzimento,
instigação ou auxíilo a suicídio.
49. (CESPE/UnB 2006) Com intenção de matar Suzana, Geraldo desferiu contra ela três tiros
de arma de fogo, sem, contudo, conseguir atingi-la, por erro de pontaria. Nessa situação,
Geraldo responderá por tentativa de homicídio, na modalidade tentativa cruenta.
50, (CESPE/UnB 2007) Leonardo, indignado por não ter recebido uma dívida referente â
venda de cinco cigarros, desferiu facadas no devedor, que, em razao dos ferimentos,
faleceu. Logo após o fato, Leonardo escondeu o cadáver em uma gruta, Com base
na situação hipotética acima, é correto afirmar que Leonardo praticou crime de
homicídio qualificado por motivo torpe.
154 DIREITO RENAL para concurso - POLÍCIA FEDERAL - Emerson Castelo Brsnco
12.1.7 DICAS IMPRESCINDÍVEIS . '
| No homicídio privilegiado pelo domínio da violenta emoção, leva-se
em consideração o momento em que o agente tomou conhecimento da
injusta provocação, e não quando esta foi praticada? Sim. É o caso de
um pai que toma conhecimento do estupro cometido por seu vizinho
contra sua filha somente 6 (seis) meses depois do fato.
| O domínio da violenta emoção é compatível com o dolo eventual?
Sim, Trata-se da orientação majoritária.
As qualificadoras subjetivas (motivo fútil, torpe e conexão conse-
quencial ou teleológica) se comunicam no concurso de agentes? Não.
Somente se comunicam as objetivas (meio insidioso ou cruel e modo
de execução), nos exatos termos do art. 30 do Código Penal,
O que se considera “veneno”? O conceito é amplo, abrangendo, inclu
sive, as substâncias que podem ser inofensivas â média das pessoas,
mas letal para aquela pessoa que se pretende matar (ex.: alérgicos).
Obviamente, o agente criminoso deve conhecer essa circunstância, em
face do princípio da responsabilidade subjetiva.
Jual a exata diferença entre “meio insidioso” e “meio cruel”? Insidioso
é a fraude. Cruel é o que gera sofrimento exacerbado e desnecessário.
Por exemplo, o veneno pode ser insidioso, quando colocado no jantar
de uma pessoa, sem que ela perceba. Por outro lado, se a vítima é
obrigada a tomá-lo, o meio é cruel Mesmo raciocínio vale para a
asfixia, sendo insidioso se a vítima não percebe; e cruel, caso note a
ação do agente (ex.: enforcamento).
awíitífMMiwrcivivJiíw/
>ual a exata diferença entre os crimes de tortura qualificada pelo
resultado morte e o crime de homicídio qualificado pela tortura? O
dolo (intenção) do agente sempre deve ser a bússola a guiar a cor
reta classificação do crime. Dessa forma, havendo dolo em relação
ao resultado morte, mesmo que eventual, haverá crime de homicídio
qualificado. Já o crime de tortura qualificado com resultado morte
é preterdoloso, isto é, o agente não desejava destruir a vida da víti
ma.
Cap. 12 - CRIMES CONTRA A PESSOA 1SS
Aplica-se a qualificadora teleológica (art. 121, § 2.® Inc. V, do CP) se
o agente desejava assegurar a execução de uma contravenção penal?
Não, por ausência de previsão típica. E se desejava assegurar a exe
cução de ura crime impossível? Também não se aplica. Contudo, nada
impede a configuração de outra qualificadora (ex.: motivo torpe).
[ A causa de aumento de pena do § 4.°, do art. 121, consistente na
inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, pode existir
se o homicídio culposo é cometido na modalidade de imperícia? Sim.
Trata-se da orientação majoritária.
3>ual o crime do agente que deixa de prestar socorro a um suicida?
Haverá omissão de socorro (art. 135, do CP). E se a omissão parte de
pessoa que tem o dever legal de evitar o resultado (ex.: pai)? Haverá
homicídio doloso, em face do § 2?, do art. 13, do Código Penal.
O que significa “infanticídio imaginário ou putativo”? Ocorre quando
a mãe, em estado puerperal, logo após o parto, mata filho alheio,
imaginando ser o seu. Qual a solução? Responderá por crime de in
fanticídio. Neste caso, que configura erro sobre a pessoa, consideram-
-se as características da vítima que se pretendia atingir, e não as da
efetivamente atingida, conforme prevê o art. 20, § 3.°, do CE
O laudo pericial é imprescindível para comprovar o estado puerperal?
Apesar de não ser assunto pacífico, a posição majoritária entende
que não é obrigatório.
No aborto provocado sem o consentimento da gestante, a vítima é
apenas o feto? Não. Haverá dupla subjetividade passiva: a gestante e
o feto.
Qual o crime do agente que provoca aborto culposo numa gestante?
Como não existe aborto na forma culposa, o agente será responsa
bilizado por crime de lesão corporal culposa.
Se o feto for expulso com vida, haverá crime de aborto na forma
tentada? Sim. Contudo, se vier a morrer posteriormente, haverá aborto
consumado, desde que a morte guarde um nexo de causalidade com
a prática do aborto.
156 DIREITO PENAL para concurso - POLICIA FEOERAL - Emerson Castelo Branco
Anunciar produto abortivo configura aborto? Não. Haverá apenas
contravenção penai (art. 20 do Decreto-Lei n. ° 3.688/1941 - Lei
das Contravenções Penais).
No aborto sentimental (ou humanitário), a gestante pode provocar
em si mesma o aborto? Nâo. Somente o médico pode realizá-lo, por
expressa disposição legal. Cumpre observar o seguinte: no aborto
necessário, não haveria crime se a gestante o realizasse, porque se
aplicaria o art. 24, do Código Penal.
O consentimento da gestante para que terceiro provoque o aborto
é crime comum? Não. Trata-se de crime classificado como de mão
própria, porque somente a gestante pode consentir.
No caso do aborto de gêmeos (desde que essa circunstância seja
conhecida), qual a solução? Haverá dois crimes de aborto em con
curso formal imperfeito (desígnios autônomos, isto é, o agente deseja
dois resultados).
No aborto necessário, o risco à vida da gestante precisa ser obriga
toriamente atual? Não. Prevalece o entendimento segundo o qual o
risco pode ser futuro, porque estaria a vida da gestante comprometida
da mesma forma, caso não fosse realizado o aborto.
Se a ação de matar for dirigida contra gêmeos que nascem unidos
por partes do corpo (xÍfópagos),%ial a solução? Haverá dois ho
micídios em concurso formal. Perfeito ou imperfeito? Imperfeito,
porque os desígnios são autônomos. Afinal, ainda que queira atingir
apenas um deles, o agente criminoso sabe que
a destruição da vida
de um terminará acarretando a destruição da vida do outro.
Pode existir concurso entre os crimes de homicídio e de porte
ilegal de arma de fogo? O assunto é dividido em duas correntes:
l.a - Homicídio absorve o porte ilegal arma de fogo (princípio da
consunção); 2.a - O homicídio não absorve o porte ilegal de arma
de fogo, porque possuem objetividades jurídicas distintas. Algumas
obras doutrinárias, citando decisões antigas de alguns tribunais
espalhados pelo país, afirmam que a jurisprudência maíoritária é a
Cap. 12 - CRIM ES CONTRA A PESSOA 157
favor da primeira corrente. Atualmente, de acordo com o STJ. não
prevalece mais esse entendimento: “embora seja admissível, não
se revela possível, in casu, a aplicação do principio da consunção,
porquanto a conduta de portar a arma de um lado, e a tentativa de
homicídio de outro, ao que se tem, decorrem de desígnios autônomos
nâo se verificando a relação de meío-fim que autoriza a absorção
de uma figura típica pela outra”.55 Em. síntese, apesar de o assunto
ainda ser polêmico na doutrina e na jurisprudência, entendeu o STJ
pela possibilidade do concurso.
12.2 DAS LESÕES CORPORAIS
A r t 129 - Ofender a integridade corporai ou a saúde de outrem.
Pena - detenção, de 3 meses a I ano.
O objeto jurídico protegido é a incolumidade da pessoa em sua
integridade física e psíquica.
O objeto material é o corpo da pessoa.
O sujeito ativo e o sujeito passivo podem ser qualquer pessoa.
O elemento subjetivo é o dolo e a culpa.
A consumação ocorre com a efetiva ofensa à integridade física ou
corporal da vítima. É possível a forma tentada.
O crime de lesão corporal consiste em ofender a integridade coiporal
ou a saúde de uma determinada pessoa. O tipo penal protege tanto a
ofensa á integridade física como também a ofensa à saúde da vítima.
Exemplo: cortes, escoriações, queimaduras, lesões psicológicas.
Classificação:
a) comum - qualquer pessoa pode praticá-lo;
b) simples - protege apenas um objeto jurídico;
c) de dano - gera uma lesão concreta;
d) de ação livre - pode ser praticado de qualquer forma;
e) instantâneo - a ação é imediata, não se prolongando no tempo;
£) material - consumação do crime somente ocorre com a ocorrência do
resultado.
<S STJ. HC 101.127/SP. DJe 10.11.200S.
158 DIREITO PEfrfAl para concurso - POLÍCIA FEDERAL -■ Emerson Castelo Branco
NOTE! Em regra, não se pune Vauiqlesão, salvo quando esta for meio
para o. cometlmentó dérputro delito (ex.rfr.3ude -pára receber seguro, es
telionato previdenciário).
Em determinados esportes, a lesão é um exercício regular de um
direito (ex.: jiu-jitsu, capoeira, boxe), desde que sejam estritamente
observadas as regras do referido esporte.
Vários crimes contêm 0 termo “violência” como meio de execução
(ex.: estupro, roubo), fazendo com que as lesões decorrentes desta sejam
absorvidas, salvo quando 0 legislador dispõe de forma contrária. Segun
do a jurisprudência, 0 corte de cabelo e da barba sem a anuência da
vítima caracteriza crime de lesão corporal de natureza leve.16 Contudo,
se 0 agente faz isso para atingir a honra da pessoa, restará configurado
0 crime de injúria real.
QUESTÃO POTENCIAL DE PROVA! O crime pode ser praticado
na forma omissiva? Consoante a lição de Mirabete, “o crime será pra
ticado por omissão quando 0 sujeito tem 0 dever jurídico de impedir 0
resultado (art. 13, § 2.°), como no caso de ‘privação de alimentos a um
dependente’. Pode ainda ser cometido por ação indireta, como no caso
em que 0 agente atrai a vítima ao local em que será ferida por animal
ou qualquer meio mecânico.”17
Algumas açSes sem 0 propósito de lesionar constituem apenas con
travenção penal de vias de fato (ex.: sacudir uma pessoa ou empurrar
seu rosto).
12.2,1 Lesão corporal grave *
§ 1.® Se resulta:
1 - incapacidade para as ocupações habituais, por mais de 30 (trinta)
dias;
Atividade habitaal é qualquer ocupação rotineira, do dia a dia da
vítima, como andar, trabalhar, praticar esportes etc. A lei não se refere
apenas à incapacidade para 0 trabalho e, por isso, crianças e aposentados
também podem ser sujeito passivo. Classifica-se doutrinariamente como
'* SMANIO, Gtanpaolo Pogglo. Direito Penal - Parte Sspeclal, 5.* ed„ São Pauto: Atlas, 2002, p,
38.
17 MIRABETE, Júlio Fabbrtrtí. Manual de Direito Penal, 22? ed., São Paulo: AtSas, 2004, p. 106.
Cap, 12 - CRIMES CONTRA A PESSOA________________________159
“crime a prazo”, porque somente se aperfeiçoa depois de preenchido um
determinado lapso temporal.
II - perigo de vida;
Perigo de vida é a possibilidade grave e imediata de morte. Deve
ser um perigo efetivo, comprovado por perícia médica, onde os médicos
devem especificar qual o perigo de vida sofrido pela vítima.
IH - debilidade permanente de membro, sentido ou função;
Debilidade consiste no enfraquecimento da capacidade funcional.
Para que- caracterize esta hipótese de lesão grave é necessário que a
recuperação seja incerta.
IV - aceleração do parto:
Só é aplicável quando o feto nasce com vida, pois, quando ocorre
aborto, o agente responde por lesão gravíssima.
É necessário que o agente saiba que a mulher está grávida.
Nesses casos, a pena passa a ser de reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco)
anos.
12,2.2 Lesão corporal gravíssima
§ 2 ,° Se resulta:
I - incapacidade permanente para o trabalho.
A incapacidade para o trabalho não pode ser temporária. Permanente
significa duradoura, sem previsão de cessação.
A incapacidade, esclarece Rogério Sanches, “deve ser para o exercício
de qualquer espécie de trabalho”.18 E a posição amplamente majoritária.
Portanto, se o agente ficou incapacitado apenas de exercer a sua ativida
de específica anterior, haverá lesão corporal grave. Para ser gravíssima,
somente se a incapacidade for para qualquer trabalho.
,s CUNHA, Rogério Sanches. Direito Penai - Parte Especiai - CokçSo Ci$ncias Criminaíi V. 3 ,1 ? Ed„
São Paulo: Revista dos Tribunais, p. 51.
160 DiREiTO PENAL para concurso - POLlCIA FEDERAL - Emerson Castelo Branco
il - enfermidade incurável,
É a doença que gera efeitos patológicos permanentes. O termo “incu
rável” deve levar.era consideração a medicina existente no momento.
QUESTÃO POTENCIAL DE PROVA! O tema da AIDS é contro
vertido. Três são as correntes sobre o tema. Para a primeira, a transmissão
intencional caracteriza lesão gravíssima. A segunda entende que, com ou
sem a efetiva transmissão, o crime seria o de tentativa de homicídio, já
que a doença tem a morte como conseqüência. A posição majoritária era
a segunda, porque quem pratica essa ação, ou quer diretamente a morte
da pessoa (dolo direto), ou assume o risco de produzir o resultado morte
(dolo eventual). Importante observar que o agente deve ter conhecimento
da dòença; caso contrário, não haveria o dolo. A segunda corrente (antes
majoritária) é a orientação do Superior Tribunal de Justiça: “Em havendo
dolo de matar, a relação sexual forçada e dirigida à transmissão do vírus
da AIDS é idônea para a caracterização da tentativa de homicídio”.19 A
terceira corrente (majoritária) consiste na posição do Supremo Tribunal
Federal, tendo julgado recentemente que a transmissão do vírus da AIDS
por agente que mantém relação sexual com parceira não configura mais
crime de tentativa de homicídio. O agente comete o crime de perigo
de contágio de moléstia grave (art. 131 do CP). Qual a justificativa do
STF? Não teria cabimento se falar de dolo eventual, porque existe tipo
penal específico descrevendo referida situação,20
lli - perda o l í inutilização de membro, sentido ou função.
A perda é a destruição do membrg: Na inutilização, o membro con
tinua existindo, mas perde completamente a sua capacidade.
NOTÉJ A perda de parte do 'mqylmèntp. é'.lesão, grave,m as. a j3efdá'<ie,:
todo movimento é lesão gravissirná. ' / ' ■ — v: ■■■■■■>■'
IV - deformidade permanente.
É o dano estético suficiente para causar humilhação, vexame. Leía~se
o termo “permanente” como irreparável com o passar do tempo.
1S STJ, HC 9.378/R5, 6* Turma, DJ 23.10.2000.
“ STF, HC 98.712, 05.10,2010.
Cap. 12 - CRiMES CONTRA A PESSOA 161
V - aborto.
Ocorre na hipótese em que o agente quer apenas lesionar a gestante,
mas termina por culpa provocando o aborto nesta (figura preterdolosa);
caso contrário, se fosse doloso, haveria crime autônomo de aborto.
NOTE! O agente deve saber que a vitima está grávida, para que não ocorra
punlçâo decorrente dé responsabilidade objetivai .■■■ :■ ■■
Na lesão gravíssima, a pena será de reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito)
anos.
No caso de cirurgia transexual, haverá o consentimento da pessoa, nâo
havendo crime se a cirurgia foi bem sucedida e lhe trouxe satisfação.
12,2,3 Lesão corporal seguida de morte
§ 3.° Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o agente
não quis o resultado, nem assumiu o risco de produzi-lo:
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 12 (doze) anos.
Trata-se do denominado crime preterdoloso, em que o agente quer
apenas lesionar a vítima (dolo no antecedente) e acaba provocando sua
morte de forma não intencional, mas culposa (culpa no conseqüente).
Exemplo; O agente delitivo desfere um soco no rosto da vítima, com a
intenção apenas de lesioná-la, momento em que esta se desequilibra, cai,
sofre um traumatismo craniano e tem sua vida suprimida.
NOTE! Qual a diferença entre a lesão corporal séguldp dé morte e o
: crirnè de hoipK^diò^:'.Mââtev.úítiirio^; a j ; . ■
irKiatar);' 3Ó-';<Mntr£rio;;d_o; primeiro,-, iém <j£é «âstár prgsentè apenas, a vontade
;; í^mlphatXíÍoto'rd$^SQfê$óbr^nslo;üritf
mesmo previsto,-. - . , , ill.. . . y. . .; • ^ .
Se a ação do agente criminoso demonstra que teve previsão do re
sultado morte, não haverá lesão corporal seguida de morte, e sim crime
de homicídio com dolo eventual, É o que ocorre, por exemplo, quando
várias pessoas, por uma galhofada (brincadeira) atiram gasolina sobre
alguém que se encontra dormindo e nele ateiam fogo, provocando sua
morte. No caso houve homicídio doloso eventual.
Por ser preterdoloso, o crime de lesão corporal seguida de morte
não admite a forma tentada.
162 DSREiTO P EH A l para concurso - POLlCIA FEDERAL - Bmerson Castelo Bmnco
NOTE! Se o agente comete apenas vias de fato e provoca a morte da
vítima, responde por homicídio culposo. NSo há como ser lesão corporal
seguida de morte,-, porque a s . via? de fato, não se constituem em lesão
corporal (ex.: sacudir uma pessoa, provoca rido-lhe a morte).
12.2.4 Lesão corporal privilegiada (§ 4.°)
As causas de privilégio do crime de lesão corporal são idênticas às
do crime de homicídio:
a) relevante valor moral;
b) relevante valor social;
c) violenta emoção, logo após a injusta provocação da vítima.
À diminuição da pena somente se aplica às lesões dolosas, sejam
de natureza leve, grave, gravíssima, ou seguida de morte; isto é, não se
aplica à lesão corporal culposa,
12.2.5 Substituição da pena (§ 5.°)
Se as lesões corporais forem leves, o júiz pode reduzir a pena de um
sexto a um terço, ou substituí-la por multa, nas seguintes hipóteses:
a) Relevante valor social, ou relevante valor moral, ou violenta emoção,
íogo após a injusta provocação da vitima (inciso I);
b) se as lesões são recíprocas (inciso II).
.nj.
12.2.6 Lesão corporal culposa {§
Se a íesão é culposa, a pena será de detenção, de 2 (dois) meses a
1 (um) ano.
Todos os comentários feitos para o crime de homicídio culposo
servem para o crime de lesão corporal culposa.
12.2.7 Causa de aumento de pena
O § 7,°, do art. 129, do Código Penal, estabelece que a pena da
lesão culposa será aumentada em um terço quando o agente deixa de
prestar imediato socorro à vítima, quando foge para evitar a prisão em
flagrante, quando não procura diminuir as conseqüências de seu ato e,
Cap. 12 ~ CRIMES CONTRA A PESSOA 163
por fim, quando o crime resulta da inobservância de regra técnica de
arte, profissão ou ofício.
12.2.8 Perdão judicial
O § 8.°, do art. 129, do Código Penal, estabelece que se aplique à
lesão culposa o instituto do perdão judicial, quando as conseqüências do
crime tiverem atingido o agente de forma tão grave que a imposição da
pena se tome desnecessária, Exemplo: mãe, por desatenção (forma de
negligência), provoca lesãO' corporal em seu filho.
12.2.9 Violência doméstica
A Lei 11.340, de 7 de agosto de 2006 (Lei Maria da Penha), alte
rou algumas disposições do crime de lesão corporal com o objetivo de
tomar mais rigorosa a responsabilidade penal dos agentes que praticam
violência contra a raulher.
Primeiramente, a pena cominada em abstrato para a conduta prevista
no § 9.° do art. 129 foi alterada de 6 (seis) meses a 1 (um) ano para 3
(três) meses a 3 (três) anos.
O § 9.° foi acrescido à redação original do Código Penal, justamente
com o objetivo de coibir especificamente a denominada violência do
méstica.
Com a nóva redação, o legislador criou uma forma qualificada do
crime de lesão coiporal dolosa leve, quando esta for praticada contra
ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem
conviva ou tenha convivido; ou, ainda, prevalecendo-se o agente das
relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade.
Já o § 10.° estabelece aumento de pena para as lesões de natureza
qualificada pelo resultado - lesão corporal grave, gravíssima e seguida
de morte —, quando existir violência doméstica,
A Lei Maria da Penha acrescentou ainda ao art. 129 o § 11.°, assim
disposto: “Na hipótese do § 9.° deste artigo, a pena será aumentada de um
terço se o crime for cometido contra pessoa portadora de deficiência”
12.2.10 Questões comentadas
(Agente da Polícia Federal 2004 - Prova azul - CESPSU nB ) Vítor desferia duas facadas
na mão de Joaquim, que, em conseqüência, passou a ter debilidade permanente do
membro. Nessa situação, Vítor praticou crime de lesão corporal de natureza grave,
classificado como crime instantâneo.
164 DIREITO PENAL para concurso - P O liC iA FEDERAL - Emerson Castelo Branco
Resposta; Certo. O crirna de lesão corporal é erfme instantâneo, de modo qua pouco
importa para a sua consumação o tempo e a duração da lesão. Taí aspecto, ou seja,
a análise da permanência da lesão ou sua duração prolongada, importa apenas para
a incidência das quaíiflcadoras, no caso da questão, a debilidade permanente de um
membro quaíifíca o crime para lesão corporal d© natureza grave.
{CESPE/UnB 2006) Admite-se no, Código Penat (CP) brasileiro, a lesão na modalidade
levíssima.
Resposta: Errado. Existem somente três modalidades de lesões corporais no Código
Penal brasileiro: leves, graves e gravíssimas.
(CESPE/UnB 2006} A tesão corporal é de natureza grave caso resulte em incapacidade
da .vítima para as ocupações habituais, por mais de um mês.
Resposta: O inciso !, do § 1.® do art. 129, não faz referência a meses, classificando
como grave a tesão corporal que resulte em incapacidade para as ocupações habituais
por mais de trrnia dias,
(CESPE/UnB 2006) Se a lesão for cuiposa, a ação panai fica condicionada à representação
do ofendido, adrnítindo-se, ainda, a possibilidade de concessão de perdão judiciai, nos
termos da iei penai vigente.
Resposta: Certo. Consoante o art. 88 da Lei n.° 9.099/1995 (Lei dos Juizados Especiais
Criminais de Pequenas Causas), as íesSes corporais nas modalidades teve e culposa
se procedem mediante representação do ofendido, possuindo, portanto, natureza de
ação penal pública condicionada; enquanto as ÍesSes graves, gravíssimas e seguida de
morte serão incondicionadas. Quanto ao perdão judiciai, o § S.°, do art, 129, do Código
Penal, autoriza sua
aplicação à lesão corporal culposa, quando as conseqüências do
crime tiverem atingido o agente de forma tão grave que a imposição da pena se tome
desnecessária.
(DPU Defensor Público da União CESPE/UnB 2010) Para a configuração da agravante da
lesão corporal de natureza grave em face da incapacidade para as ocupações habituais
por mais de trinta dias, não á necessário que a ocupação habituai seja laborativa,
podendo ser assim compreendida qualquer atividade regularmente desempenhada
pela vítima.
Resposta: Correto. As ocupações habituais constituem todo tipo de atividade rotineira
de uma pessoa, e não apenas ocupação laborativa. Indusive, atividade relacionada ao
lazer.
12.2.11 Questões CESPE/UnB
1 . (Agente - Polícia Civil- RR- 2003 - CESPE/UnB) João, ao ver sua ex-namorada sair
do cinema acompanhada de Francisco, empunhou uma faca peixeira e golpeou as
costas de Francisco, ocasionando-lhe lesões corporais. Nessa situação, o instrumento
empregado para o crime deverá ser submetido a exame pericial para verificar sua
natureza e eficiência.
2. (Delegado da Poiícia Federal 19 9 7 - CESPE/UnB) O perdão judicial pode ser aplicado
ao crime de lesões corporais dolosas simples.
3. (Delegado - Polícia Civil* RR - CESPE/UnB) Considere a seguinte situação hipotética.
Durante um entrevero, Carios desferiu um golpe de facão contra a mão de seu
contentor, que veio a perder dois dedos. Nessa situação, Carios praticou o crime de
lesão corporal de natureza grave, por resultar debilidade permanente de membro.
Cap. 12 - GRIMBS CONTRA A PESSOA 165
4. (Técnico Judiciário - TJRR - 2006- CESPE/UnB) A lesão corporal grave, da qual
resulta incapacidade por mais de trinta dias, somente pode ser reconhecida com
base nas declarações da vítima ou na confissão do réu, sem que haja necessidade
de exame pericial complementar.
5. (Assístâncta Judiciária do Distrito Federal - 2006 - CESPE/UnB) Se, no laudo de
exame de corpo de delito referente a tesões corporais, nas respostas dadas aos
quesitos, o perito afirmou que a vitima experimentou forte dor física e que a referida
dor causou crise nervosa, restará caracterizado o crime de tesão corporal grave,
nos termos do dispositivo pertinente do Código Penal.
12.2.12 DICAS IMPRESCfNDÍVEIS
ÜÍSe a lesão corporal incide sobre pessoa viva, com o intuito de remo
ção de órgãos, haverá crime de lesão corporal previsto no art. 129 do
Código Penal? Não. Haverá crime específico de remoção criminosa
de órgãos, previsto na Lei n.° 9,434/1997.
ttísaíyjflíMK-.iííLiíji.v.
No caso da íesão corporal grave pela impossibilidade do exercício das
ocupações habituais por mais de 30 dias, a atividade deve ser lícita?
Sim. Dessa forma, não haverá crime, por exemplo, se o traficante
lesionado deixou de freqüentar a “boca de fumo” por mais de 30
dias. Entretanto, a atividade não precisa ser moral (ex.: haverá lesão
corporal grave se uma mulher de programa deixou de exercer suas
atividades por mais de 30 dias).
se o nascimento
ocorre, mas logo depois o recém-nascido falece, qual a solução? A
orientação majoritária entende que haverá lesão corporal de natureza
gravíssima pela provocação do aborto.
O princípio da insignificância pode ser aplicado nos crimes de lesão
corporal? Sim. Trata-se da orientação majoritária, essencialmente
quando as lesões causadas foram irrelevantes penais.21
Ü S r ^ n ^ T corporal leve, nas situações da Lei Maria da
Penha, a natureza do crime é de ação penal pública condicionada ou
M STJ, HC 66,853/DF) 27.11.2006.
166 DIREITO PENAL para concurso - POLÍCIA FEDERAL - Emerson Castelo Brmco
incondicionada? O Superior Tribunal de Justiça vem se orientando no
sentido de ser crime de ação penal pública condicionada à representa
ção, mesmo contra o texto expresso da Lei n.° 11.340/2006, excluindo
a aplicação da Lei n.° 9.099/1995.
12.3 DA FERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE
12.3.1 Perigo de contágio venéreo
Art, 130 - Expor alguém, por meio de relações sexuais ou qualquer
ato libidinoso, a contágio de moléstia venérea, de que sabe ou deve
saber que está contaminado:
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, ou multa.
ã I.° Se a intenção do agente é transmitir a moléstia, a pena é mais
grave;
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos,
5 2? Somente se procede mediante representação.
O bem jurídico protegido é a saúde da vítima.
O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa.
O sujeito passivo é a pessoa com quem o agente pratica o ato sexual.
Mesmo a garota de programa pode ser vítima desse crime.
O elemento subjetivo do tipo é o dolo (direto ou eventual), isto é,
a vontade de manter a relação sexual, expondo a saúde da pessoa a
perigo.
A consumação ocorre no momeníç, da prática do ato sexual, ainda
que a vítima não seja contaminada. À tentativa é possível quando o
agente quer manter a relação sexual e não consegue por circunstâncias
alheias à sua vontade.
Esse crime caracteriza a situação do agente que mantém relações
sexuais ou qualquer outro ato libidinoso com a vítima, expondo-a ao
perigo de contágio de uma doença sexual.
Tomando o agente todos os cuidados para evitar a transmissão da
moléstia venérea, não se configura o delito.
É crime de perigo individual, porque atinge a uma ou mais pessoas
determinadas.22
n MIRABETE, Júlio Fabbríni, Manual de Direito Pena!, 22“ ed, SSo Paulo: Atlas, 2004, p. 122.
Cap. 12 - CRIMES CONTRA A PESSOA 167
12.3.2 Perigo de contágio de moléstia grave
Art. 1 3 1 ~ Praticar, com o fim de transmitir a outrem moléstia grave
de que está contaminado, ato capaz de produzir o contágio:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.
Objeto jurídico: saúde da pessoa humana.
Sujeito ativo; qualquer pessoa.
Sujeito passivo: qualquer pessoa, desde que ainda não contaminada.
O elemento subjetivo do tipo é o dolo, caracterizando a vontade do
agente de transmitir a moléstia.
A. consumação ocorre no momento da prática do ato, independen
temente da efetiva transmissão da doença (crime formal). Ê possível a
tentativa (conatus), quando, iniciada a execução, o agente é impedido
por circunstâncias alheias à sua vontade.
Consiste na prática de qualquer ato (crime de ação livre) tendente
a transmitir uma doença grave, pouco importando se incurável ou não,
desde que contagiosa.
Na hipótese de morte, haverá o crime de lesão corporal seguida de
morte, previsto no § 3.°, do art. 129, do CP, sendo o delito em análise
subsidiário.23
Haverá crime impossível se o agente não está contaminado, supondo
o contrário, ou se a pessoa que o agente quer contagiar já for portadora
da doença, não sendo possível sequer sua agravação. Também haverá
crime impossível se o ato praticado não é hábil a contagiar, apesar de
ser transmissível a moléstia.24
12.3.3 Perigo para a vida ou saúde de oatrem
Art, 132 - Expor a vida ou a saúde de outrem a perigo direto ou
iminente:
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1{um) ano, se o fato não constitui
crime mais grave.
Parágrafo único, A pena é aumentada de um sexto a um terço se a
exposição da vida ou da saúde de outrem a perigo decorre do trans
porte de pessoas para a prestação de serviços em estabelecimentos
de quaiquer natureza, em desacordo com as normas legais.
s JESUS, Darnãsio E. de. Direito Penal - 2.° Volume Parte Especial. 27? ed, Ed. Saraiva São Pauto,
2005, p. 172.
” MIRABETE, Júlio Fabbrini. Manual de Direito Penal, 22.® ed, São Pauio: Atlas, 2004, p, 128.
168 DIREITO PENAI para concurso - POLiCJA FEDERAL ~ Emerson Castelo Branco
O objeto jurídico protegido é a vída e a saúde da pessoa humana.
Sujeito ativo e sujeito passivo: qualquer pessoa.
O elemento subjetivo é o dolo de perigo em relação a pessoa(s)
determmada(s).
Consuma-se no momento da prática do ato que resulta em perigo
concreto. A tentativa é possível.
Consiste na ação de expor a vida ou a saúde da vítima a perigo. Por
ser de ação livre, pode ser executado de qualquer forma,
NO TÊrfe' crime subsidiário! Dessa' corifigujar 'criçrte.,
mais' grave, não. se. aplica' esse dispositivo penai, mas sim ò delito màí s' '
grave.4 i , r ' -Nv"' / ' -'.V . -
É crime de perigo concreto, comum, doloso, de ação livre, comissivo
ou omissivo, simples, instantâneo,
12.3.4 Abandono de incapaz
A rt, 133 - Abandonar pessoa que está sob seu cuidado, guarda, vigi
lância ou autoridade e, por qualquer motivo, incapaz de defender-se
dos riscos resultantes do abandono;
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos.
§ 1.° Se do abandono resulta lesão corporal de natureza grave:
Pena - reclusão, de um a cinco anos.
§ 2.° Se resulta a morte:
Pena - reclusão, de quatro a doze anos.
Aumento de pena
§ 3.° As penas cominadas neste artigê' aumentam-se de um terço:
í - se o abandono ocorre em lugar ermo;
ii - se o agente é ascendente ou descendente, cônjuge, irmão, tutor
ou curador da vítima.
II! - se a vítima é maior de 60 (sessenta) anos.
Objetividade jurídica: a segurança e a saúde do incapaz.
Sujeito ativo é a pessoa que tem o dever de cuidado, vigilância,
guarda ou autoridade (crime próprio).
Sujeito passivo é o incapaz (ex.: menor de idade, doente mental).
B NORONHA, Edgar Magalhães. Direito Panai. 23,“ ed. V2 São Paulo: Saraiva, 2001, p. 95.
Cap. 12 - CRiMES CONTRA A PESSOA 169
0 elemento subjetivo é o dolo de “abandonar” o incapaz. Não se
admite a forma culposa.
O crime se consuma com o abandono do incapaz em situação de perigo,
independentemente da produção de um dano. A tentativa é possível.
Consiste na conduta de se afastar de incapaz sob sua responsabilidade,
deixando-o sem assistência e em situação de risco; isto é, o responsável
se desobriga de seu dever de cuidado em relação ao incapaz, colocando-o
em perigo. Pode ser praticado por uma ação (ex,: abandonar o incapaz
numa rua) ou por omissão (ex..* abandonar o incapaz na residência e
desaparecer do local).
As penas são qualificadas se gerar lesão corporal de natureza grave
(um a cinco anos) ou morte (quatro a doze anos).
As penas são aumentadas de 1/3 (um terço) se a pessoa é deixada
em local ermo, ou se o agente é ascendente ou descendente, cônjuge,
irmão, tutor ou curador da vítima; ou se a vítima é maior de 60 (ses
senta) anos. Esta última hipótese foi acrescentada pelo Estatuto do Idoso
(Lei n.° 10.741/2003).
É indispensável para a caracterização do crime que a vítima fique
em situação de perigo concreto, não se podendo presumir a ocorrência
do risco, Dessa forma, não haverá o delito em comento se o responsável
deixa o incapaz em segurança (ex.: deixar uma criança num órgão do
Estado destinado ao amparo desta).2*
De acordo com o pensamento de Heleno Cláudio Fragoso, o aban
dono pode ser temporário ou definitivo. Interessa apenas saber se existiu
um espaço de tempo juridicamente relevante, capaz de pôr em risco o
bem jurídico tutelado.37
12.3,5 Exposição ou abandono de recém-nascido
Art. 134 - Expor ou abandonar recém-nascido, para ocultar desonra
própria:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos.
§ 1.® Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:
Pena - detenção, de um a três anos.
ã 2.® Se resulta a morte:
Pena - detenção, de dois a seis anos.
u MIRABETE, Júlio Fabbrini. Manual de Direito Penal, 22.a ed., São Paulo: Atlas, 2004, p. 132.
17 FRAGOSO, Heleno Cláudio. Lições de Direito Penal: Parte Espeeial, 4.a ed, Sâo Paulo: Forense,
1980, p. 171,
170 DIREITO PENAL para concurso — POLÍCIA FEDERAL - Emerson CastQh Br&nco
Objeto jurídico: saúde e segurança do recém-nascido,
O sujeito ativo é a mãe ou o pai, para ocultar gravidez adulterina
(crime próprio).
O sujeito passivo é o recém-nascido.
O elemento subjetivo é o dolo de “abandonar”. Neste delito, o
legislador estabeleceu um especial fim de agir: “para ocultar desonra
própria”. Trata-se do dolo específico (ou elemento subjetivo do injusto).
Essa honra refere-se à boa aparência social da pessoa.
NOTE! Se o abandono for por razoes econômicas (ex.: pobreza), haverá
o abandono de incapaz;,do art, 133 do CP. ■
A consumação ocorre com o abandono do recém-nascido, indepen
dentemente da ocorrência de dano.
A conduta consiste em abandonar o recém-nascido, desobrigando-se
do dever de cuidado em relação a este, para manter a reputação, pre
servando uma condição de “status social".
As penas são qualificadas se gerar lesão corporal de natureza grave
(um a três anos) ou morte (dois a seis anos). Qual, então, a diferença
entre o crime de abandono de recém-nascido qualificado com resultado
morte para o crime de homicídio? No homicídio, o dolo é de “matar”; no
crime de abandono, o agente deseja apenas “abandonar, porém sobrevêm
o resultado morte não querido, nem previsto (crime preterdoloso).
12.3.6 Omissão de socorro
Art, 135 - Deixar de prestar assistência, quando possível fa2ê-)o sem
risco pessoal, à criança abandonada oufèxtraviada, ou à pessoa inválida
ou ferida, ao desamparado ou em grave e Iminente perigo; ou não
pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública..
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
Parágrafo único - A pena é aumentada de metade, se da omissão resulta
lesão corporal de natureza grave, e triplicada, se resulta a morte.
Objeto jurídico: o dever de solidariedade para a proteção da vida e
da saúde, que deve existir entre as pessoas.
O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa que deixa de prestar socorro
(crime comum),
O sujeito passivo é a pessoa inválida, ou ferida, ao desamparo, ou em
grave e iminente perigo, ou ainda a criança abandonada ou perdida.
Cap. 12 - CRIMES CONTRA A PESSOA 171
O elemento subjetivo é o dolo, direto ou eventual. Não existe forma
culposa.
A consumação ocorre no momento da omissão. É inadmissível a
forma tentada, pois se trata de crime omissivo puro (ou próprio).
O crime pode ocorrer de duas maneiras:
a) Deixar de prestar socorro imediatamente, quando possível fazê-lo;
b) Não podendo prestar o socorro pessoalmente, deixar de solicitar o
auxílio da autoridade pública.
E se várias pessoas negam assistência à vítima? Todos respondem
pelo crime. Nas exatas palavras de Ney Moura Teles: “Havendo várias
pessoas obrigadas a prestar socorro, porque conscientes do perigo por
que passa a vítima, todas têm o mesmo dever, daí que, se omitirem,
responderão pelo crime.”
E se apenas um presta socorro, havendo várias pessoas que poderiam
tê-lo feito? Não há crime, uma vez que a vítima foi socorrida e, em se
tratando de obrigação solidária, o cumprimento do dever por uma delas
desobriga todas as demais.28
Não desfigura o crime a circunstância de não consentir a vítima em
ser socorrida, porque, no caso, trata-se de bem indisponível.
Não há forma culposa. Se o agente, ensina Ney Moura Teles, “oraítiu-
-se por negligência, por imaginar que a vítima não estava em perigo, não
era inválida, nem estava ferida, ou que não se tratava de uma criança,
errando, ainda, sobre o estado de perdida ou de abandonada, crime não
terá existido por erro de tipo. Também não haverá dolo, por erro de tipo,
se o agente imagina a possibilidade de sofrer risco pessoal caso realize
a conduta exigida pela norma."25
Existe ainda a omissão qualificada, prevista no parágrafo único do
art. 135, A pena é aumentada de metade, se da omissão resulta lesão
corporal de natureza grave; e triplicada, se resulta a morte.
NOTE! Sé a ómissêo -de .socorro ocorrer"èm face de pessoa idosa, pelo
priricfpÍo:da especialidade, apíiqa^se a norma penai do .art, §7- da n f
10.741/2003 (Estatuto do idoso): "éfe/xar de prestar assistência ao idoso,
w COSTA JR„ Paulo José da. Direito Penal - Curso Completo, 8.3 ed.,
São Paulo: Saraiva, 2008, p.
221.
w TELES, Ney Moura. DíwltQ Penal, São Paulo.- Atlas, 2004, p. 244.
172 DIRBTO PENAI para concurso ~ POÜCIA FEDERAL - Emerson Casteío Branoo
quando possível fazè-lo sem risco pessoal, em situação de iminente périgo,
■ ou repusar, reiardar ou dificultar sua assistência à saúde, sem justa causa,
^'pèér^n^s^t^ çaé&g^soóomhfà Ò'parágrafo
t ‘â n & V < f è £ f ê ' ' â l s p t í s ^ y ò E o art. 100 , no inciso
;• .eonténríou.tró: tlpp? póitâv-içuiean retardar,aü^dffkluftàe.
"atendimento ou deixar de prestar assistòncia_à saúda, sem justa causa,
■ á pessoa idosa". - ' ’ ",
12.3.7 Maus tratos
A rt. 136 - Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua autori
dade, guarda ou vigilância, para fim de educação, ensino, tratamento ou
custódia, quer privando-a de alimentação ou cuidados indispensáveis,
quer sujeitando-a a trabalho excessivo ou inadequado, quer abusando
de meios de correção ou disciplina.
Pena - detenção, de dois meses a um ano, ou muita.
§ 1 * - Se do fato resulta íesão corporal de natureza grave:
Pena - reciusão, de um a quatro anos.
§ 2? - Se resuita a morte:
Pena - reclusão, de quatro a doze anos,
§ 3.° - Aumenta-se a pena de um terço, se o crime é praticado contra
pessoa menor de 14 (catorze) anos.
Objeto jurídico: A vida ou a saúde da pessoa,
O sujeito ativo deve ser pessoa que possui a guarda, vigilância ou
autoridade em relação à vítima (crime próprio).
O sujeito passivo deve ser pessoa sob a guarda, òu autoridade, ou
vigilância (ex.: pais e filhos, tutor e tutelado, curador e curatelado, en
fermeiro e paciente).
O elemento subjetivo é o dolo, duíko ou eventual. Não existe forma
culposa.
Será qualificado se do fato resulta lesão corporal de natureza grave (pena
de um a quatro anos), ou se resulta morte (pena de quatro a doze anos).
Trata-se, pois, de crime de ação vinculada, cuja caracterização de
pende da ocorrência de uma das situações descritas na lei
Consiste em expor a vida ou a saúde de pessoa sob sua autoridade,
guarda, ou vigilância, por meio de uma das seguintes condutas:
a) privação de alimentos ou de cuidados indispensáveis;
b) sujeição a trabalhos excessivos ou inadequados;
c) abusar dos meios de disciplina ou correção.
Cap. 12 - CRIMES CONTRA A PESSOA 173
A consumação ocorre com a exposição a perigo, independentemen
te da ocorrência de dano. A tentativa somente é possível nas condutas
comissivas (“fazer”).
NOTEI Qual.a e.de Jtortura?
A Lei tu?9.455/1997 ttefintô©s,crimés/de.tòrtgra.'é^ ;déritré;elés-,^'siéàuin-
te figura típica:- ^súbmeteralguém '^ sob’sua guarda, pòder ou autoridade,
'con^ émpp&çiQ. dé- viú!êriçj§nqm gi^yô;',aips^Qà,^ :íbts^oHsófiliyiBnto: físico
. ou: 'm n & t; 'cp0 p :'/o/ma- de $a- pafêiçir.
prev-eM vo"(art/1 .V I I ) . v' : ' y • . . . . . , . . - . .
Apesar de as duas normas possuírem pontos semelhantes, a começar
pela relação entre criminoso e vítima e pelo sofrimento físico ou mental
causado, no crime de tortura, o resultado deve ser um intenso sofrimento
físico ou mental, ao passo que no crime de maus-tratos o resultado é tão
somente a situação de perigo decorrente do abuso dos meios corretivos
ou disciplinares.
Principalmente, o que os distingue, explica Ney Moura Teles:
“é o elemento volitivo. É a vontade do agente. Na tortura, sua finalidade
é castigar por castigar ou para prevenir, enquanto o agente do crime de
maus-tratos, embora abusando dos meios que tem a seu dispor, age com
a intenção de corrigir ou disciplinar, para os fins de educação, tratamento,
ensino ou custódia. Naquela, o dolo é de dano, aqui é de perigo.”30
12.4 CRIME BE RIXA
Art. 137 - Participar de rixa, salvo para separar os contendores:
Pena - detenção, de quinze dias a dois meses, ou muita.
Parágrafo único - Se ocorre morte ou lesão corporal de natureza grave,
aplica-se, pelo fato da participação na rixa, a pena de detenção, de
seis meses a dois anos.
Objeto jurídico: “O crime de rixa tem dupla objetividade jurídica. A
principal é a vida e a incolumidade pessoal, enquanto a ordem pública
é a secundária.”31
w TELES, Ney Moura. Direito Penal, São Paulo: Atlas, 2004, p. 251-252.
31 ARANHA RLHO, Adaibesto José Queiroz Teiles de Camargo. Direito Penal - Crimes contra a
Pessoa - Arts. 121 a 154, São Paulo: Atlas, 2005, p. 153.
174 DlfiEITO PENAL para concurso - POLÍCIA FEDERAL - Emerson Castelo Branco
Sujeito ativo e passivo, É crime de concurso necessário, isto é, sua
caracterização exige a participação de, no mínimo, três pessoas, deno
minados “rixosos”.
O elemento subjetivo é o dolo. Não se admite a forma culposa,
A consumação ocorre com a efetiva troca de agressões. A tentativa
é possível.
Rixa é a luta desordenada entre contendores. Todos lutam entre
si, de tal forma que é impossível estabelecer quem iniciou a agressão.
Agridem-se mutuamente, num grande tumulto, perturbando a ordem e a
convivência pacífica.
Se ocorre morte ou lesão cciporal de natureza grave, aplica-se, pelo
fato da participação na rixa, a pena de detenção, de seis meses a dois
anos (parágrafo único, art. 137).
Não há crime na conduta daquele que ingressa na luta apenas para
separar os lutadores, já que inexiste dolo nessa hipótese.
Mirabete esclarece que “não importa que um ou mais dos participantes
não seja identificado, respondendo normalmente os demais. Exclui-se.
porém, do número mínimo os que vão separar os contendores, já que
não praticam aqueles um fato típico.’'32
NOTE! Não importa o momento em que o agente ingressou na rixa, se
no .começo desta, ou durante, ou no fim; se teve participação, responderá
penalmente.
Conceito: Rixa é a luta desordenada entre contendores. Todos lu
tam entre si, de tal forma que é impossível estabelecer quem iniciou a
agressão. Agridem-se mutuamente, num grande tumulto, perturbando a
ordem e a convivência pacífica. ^
QUESTÕES POTENCIAIS DE PROVA!
l.a - Pode ser cometido sem corpo a corpo - Apesar de não exigir
o contato físico (corpo a corpo), o crime de rixa pressupõe a violência
física; como, por exemplo, o arremesso de pedras ou qualquer tipo de
objeto. Somente agressões verbais, mesmo intensas, não o configuram,
2J- - Grupos rivais - A mera agressão recíproca entre grupos rivais,
com a identificação dos membros, não configura rixa.
” MIRABETE, Júlio Fabijrini. Manual de Direito Penal ~ V, II, 22,a ed., São Paulo: Atlas, 2004, p.
148.
Cap. 12 - CRIMES CONTRA A PESSOA 1TS
3.a - Na rixa qualificada pelo resultado morte, se o autor for identifi
cado, qual a solução? Segundo a doutrina amplamente majoritária, deverá
responder pelo crime de rixa qualificada em concurso com o crime de
homicídio. A corrente minoritária defende que o agente responda por rixa
simples era concurso com homicídio, em face do princípio do non bis in
idem (ninguém pode ser punido duas vezes por um mesmo fato).
4 , * - E o participante que sofre a lesão grave, responde também pela
forma qualificada do crime de rixa? Segundo entendimento majoritário,
ele não se exime da pena qualificada.
5.8 - Participante menor ou doente mental - .Para configurar o número
mínimo de três participantes, estão incluídos aqueles que são menores
de idade ou doentes mentais.
12.4.1 Questões comentadas
{CESPE/UnB 2004) Bernardo, trafegando com seu veículo em estrada de pouco
movimento, verificou que, às margens da rodovia, encontrava-se, caída, uma vítima de
atropelamento. Tendo Importante reunião de trabalho a se' iniciar dentro de meia hora,
não prestou assistência à vitima. Terminada a reunião, arrependeu-se, voitou ao locai
onde a vitima 3e encontrava e providenciou sua condução para um hospital, Nessa
situação, a conduta posteriormente praticada n io elide a responsabilidade penal de
Bernardo, que poderá responder peio crime de omissão de socorro.
Resposta: Correto. O crime de omissão de socorro é omlsslvo puro, consumando-se
no exato momenío da omissão, independentemente de qualquer resultado. Desse modo,
Bernardo responderá peto crime de omissão de socorro, visto que o mesmo se consumou
no momento em que ele deixou de agir e foi para a reunião.
(CESPE/UnB 2005} Relativamente ao delito de rixa, previsto no Código Penal brasileiro,
a doutrina e a Jurisprudência dominantes entendem não haver rixa quando a posição
dos contendores é definida.
Resposta: Certo. Não haverá rixa quando for possível precisar claramente dois grupos
rivais brigando eníre si, sendo possível a identificação dos causadores das agressões.
Portanto, a doutrina e a jurisprudência majoritária apontam no sentido de nèio se caracterizar
o deiito de rixa quando a posição dos contendores está definida.
(CESPE/UnB 2003) Se três indivíduos iniciarem luta desordenada, agindo uns contra os
outros e ocasionando lesões corporais recíprocas, e dois deles forem comprovadamente
inlmputãveis, tai comprovação impossibilitará a configuração do delito de rixa.
Resposta: Errado. A rixa é crime de concurso necessário de no minlmo 3 (três) pessoas,
não Importando nesse cômputo eventuais inimputávefe, ou pessoas não identificadas, ou ainda
pessoas mortas na briga. É a orientação da doutrina e da jurisprudência majoritária.
12.4.2 Questões CESPE/UnB
1. (Escrivão - Polícia Civil/ES 2006 - CESPE/UnB) O crime de rixa, com tipificação
expressa no código penal, exige, no mínimo, a participação de seis pessoas, sendo
irrelevante que, dentro do número mínimo, um deles seja ínimputável.
176_______ DjREITO PENAL para concurso - PQLtólA FEDERAL - Emerson Castelo Branco
2. (Escrivão - Policia CívIi/ES 2006 - CESPE/UnB) Considere-se que Joaquim,
penalmente responsável, sem o ânimo cie morte na conduta, atirou contra João,
ferindo-o gravemente, de modo que a vítima permaneceu Internada sob cuidados
médicos por um período de 40 dias. Nessa situação, Joaquim responderá por crime
de lesão corporal de natureza grave, ficando absorvido o crime de pericüíação da
vida ou da saúde humana, visto que a situação de perigo foi ultrapassada e passou
a constituir elemento do crime mais grave.
3. {Delegado da Polícia Federai 1997- CESPE/UnB) O evento morte, ocorrido durante
uma rixa, qualifica a conduta de todos os contendores.
4. (Analista Processual - TJRR - 2006- CESPE/UnB) No crime de rixa, a coautorla
é obrigatória, pois a norma incriminadora reclama como condição obrigatória do
tipo a existência de pelo menos três autores, sendo irrelevante que um deles seja
inimputável.
5. (CESPE/UnB 2005) No interior de um bar, Iniciou-se uma briga entre integrantes
de duas torcidas, Júlio, que a tudo assistia, passou a desferir socos e pontapés
nos contendores, sendo que um deies veio a sofrer ferimentos de natureza grave,
causados por outro contendor. Nessa situação hipotética, a conduta praticada por
Júlio caracteriza-se como tentativa de homicídio.
12 4 3 DICAS IMPRESCINDÍVEIS
j f f No crime de abandono de incapaz, trata-se de incapacidade civil? Não.
A incapacidade é a concreta (real), isto é, a pessoa não tem condição
de se defender por algum motivo (ex,: amnésia, embriaguez).
I Se a vítima for pessoa idosa, haverá crime de omissão de socorro do
Código Penal? Será crime de omissão de socorro específico do Esta
tuto do Idoso. Trata-se do art. 97 da Lei n.° 10.741/2003: “Deixar de
prestar assistência ao idoso, quando possível fazê-lo sem risco pessoal,
em situação de iminente perigo, ou secusar, retardar ou dificultar sua
assistência à saúde, sem justa causa, ou não pedir, nesses casos, o
socorro de autoridade pública”. A pena é aumentada de metade, se
da omissão resulta lesão corporal de natureza grave, e triplicada, se
resulta a morte (parágrafo único).
Havendo maus tratos contra idoso, aplica-se o delito de maus tratos do
Código Penal? Não. Em face do princípio da especialidade, haverá o
crime disposto no art 99 do Estatuto do Idoso (Lei n.° 10.741/2003):
“Expor a perigo a integridade e a saúde, física ou psíquica, do idoso,
submetendo-o a condições desumanas ou degradantes, ou privando-o
de alimentos e cuidados indispensáveis, quando obrigado a fazê-lo,
ou sujeitando-o a trabalho excessivo ou inadequado”.
Cap. 12 - CRIMES CONTRA A PESSOA 177
uai a exata diferença entre raaus-traíos e tortura? Na tortura, o agente
passa por intenso sofrimento físico ou mental Afora isso, no crime
de maus-tratos, haverá a finalidade de educação, ensino, tratamento
ou custódia. Já no crime de tortura, a intenção do agente é submeter
a vítima a intenso sofrimento, como forma de aplicar castigo pessoal
ou medida de caráter preventivo.
O crime de rixa exige o emprego de arma? Não. Contudo, para que
se configure o delito, não basta apenas discussão verbal.
O crime de rixa somente será qualificado se ocorrer resultado morte
ou lesão corporal de natureza grave? Sím. As lesões leves e a tentativa
de homicídio não são suficientes para qualificar a rixa.
12.5 CRIMES CONTRA A HONRA
12.5.1 Considerações iniciais sobre os crimes contra a honra
A honra constitui o patrimônio moral de uma pessoa, gerando-lhe
autoestima e boa impressão no convívio social. Divide-se em: honra
objetiva e honra subjetiva.
Enquanto a honra objetiva é o conceito sobre alguém formado pelas
pessoas do seu convívio social; a honra subjetiva é a autoestima, isto é,
o conceito de si mesmo, subdividindo-se em honxa-dignidade (atributos
morais) e honra-decoro (atributos físicos e intelectuais).
A calúnia e a difamação atingem a honra objetiva. A injúria atinge
a honra subjetiva.
12.5.2 Calúnia (art. 138)
Art. 138 - Caluniar alguém, irnputandc-lhe falsamente fato definido
como crime:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa.
§ 1 .° - Na mesma pena incorre quem, sabendo falsa a imputação, a
propata ou divulga.
§ 2 .° - É punlvei a calúnia contra os mortos.
Exceção da verdade
§ 3.° - Admite-se a prova da verdade, salvo:
178 DSREÍTO PENAL para concurso - POLfCtA FEDERAL - Emerson Castóto Branco
1
I - se, constituindo o fato imputado crime de ação privada, o ofendido
não foi condenado por sentença irrecorrívei;
II - se o fato é Imputado a qualquer das pessoas indicadas no n.® i
do art. 141;
!!! - se do crime imputado, embora de ação pública, o ofendido foi
absolvido por sentença irrecorrívei.
Objeto jurídico: honra objetiva.
Consiste na afirmação em relação a alguéra de um fato criminoso
sabidamente falso. A falsidade pode referir-se:
a) a existência do fato o agente narra um crime que não existiu;
b) a autoria do crime - o fato existiu, mas o agente mente em relação
à autoria.
O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa (crime comum) que faça a
afirmação de uni fato criminoso falso em relação a alguém.
Sujeito passivo é a pessoa que soíre a ofensa.
O elemento subjetivo é o dolo, direto ou eventual. Não admite a
forma culposa.
O crime de calúnia se consuma no momento em que terceiro toma
conhecimento, justamente por atingir a honra objetiva. Dessa forma,
não importa saber quando a vítima tomou conhecimento da ofensa.
Quanto à forma tentada, somente a admite quando a ação for realizada
por escrito.
A calúnia somente existe se for sobre um fato determinado, isto é,
a narração de um episódio,
Quem propala ou divulga a calúnia também responde pelo crime,
desde que tenha espalhado o fato conhecendo sua falsidade.
Admite-se calúnia contra os mortos.
Exceção da verdade. Só existe calúnia se a imputação é falsa. Se
ela for verdadeira o fato é atípico. Assim, a produção de prova acerca
da veracidade da imputação exclui a tipicidade da conduta. Entretanto,
a exceção da verdade não será possível nos seguintes casos:
a) se, constituindo o fato imputado crime de ação
penal privada, o ofen
dido não foi condenado por sentença irrecorrívei;
b) se do crime imputado, embora de ação penal pública, o ofendido foi
absolvido por sentença irrecorrívei;
Cap. 12 - CRIMES CONTRA A PESSOA 179
c) se o fato é imputado contra o Presidente da República, ou contra chefe
de governo estrangeiro.
12.5.3 Difamação (art. 139)
Art. 139 - Difamar alguém, imputando-ihe fato ofensivo a sua re
putação:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e muita.
Exceção da verdade
Parágrafo único - A exceção da verdade somente se admite se o
ofendido é funcionário púbiico e a ofensa é relativa ao exercício de
suas funções.
Objeto jurídico: honra objetiva.
A difamação consiste na afirmação de um fato determinado ofensivo
à reputação de alguém (ex.: dizer que alguém sempre trabalha sob o
efeito de álcool).
O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa (crime comum) que faça a
afirmação de um fato ofensivo à reputação de alguém.
Sujeito passivo é a pessoa que sofre a ofensa.
O elemeiito subjetivo é o dolo, direto ou eventual. Não admite a
forma culposa.
Assim como no delito de calúnia, o crime se consuma no momento
em que terceira pessoa toma conhecimento da afirmação.
A ofensa deve ser a afirmação de um fato determinado, isto é, a
narração de um episódio. Se forem apenas “palavras”, “termos”, ou
“expressões” ofensivas, será injúria.
À exceção da verdade somente é cabível se a vítima for funcionário
público e a ofensa é relativa ao exercício de suas funções, conforme o
parágrafo único, do art. 139.
12.5.4 Injúria (art. 140)
A r t 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
§ 1 .” - O juiz pode deixar de apiicar a pena:
I - quando o ofendido, de forma reprovável, provocou diretamente
a injúria;
il - no caso de retorsão imediata, que consista em outra injúria.
DiREITO PENAL para concurso - POLlCIA FEDERAL - Emerson Castelo Branco
§ 2.° - Se a injúria consiste em violência ou vias de fato, que, por sua
natureza ou pelo meio empregado, se considerem aviltantes:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa, além da pena
correspondente à violência.
§ 3.° Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a
raça, cor, etnia, religião, origem ou a condição de pessoa idosa ou
portadora de deficiência:
Pena - reclusão de um a três anos e multa.
Objeto jurídico; honra subjetiva,
O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa (crime comum) que profira
uma ofensa a dignidade ou o decoro de alguém.
Sujeito passivo é a pessoa que sofre a ofensa.
O elemento subjetivo é o dolo, direto ou eventual. Não admite a
forma culposa.
Consiste numa mera ofensa (xingamento) contra a dignidade (ex.;
mau caráter, ladrão, canalha) ou o decoro (ex.: burro, ignorante, feio),
isto é, palavra, termo ou expressão ofensiva, de baixo calão, contra a
autoestima de uma pessoa. Diferencia-se da calúnia e da difamação,
porque não implica na afirmação de um fato determinado.
A injúria se consuma no momento em que a vítima toma conheci
mento da imputação, enquanto a calúnia e a difamação se consumam
quando terceiro toma conhecimento. Somente admite a forma tentada
se for por escrito.
O § 1.°, do art. 140, do CP, prevê hipótese de aplicação de perdão
judicial. O juiz pode deixar de aplicar a pena quando o ofendido, de
forma reprovável, provocou diretamente a injúria (inciso X); ou no caso
de retorsão imediata, que consista em êutra injúria (inciso II).
No § 2.°, do art. 140, do CP, encontra-se o delito de injúria ieal
Consiste na injúria cometida com violência ou com vias de fato, consi
derados como meios aviltantes. A pena é de detenção, de três meses a
um ano, e muita, além da pena correspondente à violência. O dolo do
agente é de ofender a honra subjetiva da pessoa por meio de violência
ou de vias de fato.
Não se admite, em hipótese alguma, exceção da verdade no crime
de injúria, justamente porque nesta não existe a imputação de um fato.
Na injúria atribui-se uma qualidade negativa e não um fato.
A Lei 10.741/2003 criou uma nova figura penal: Injúria qualificada
(art. 140, § 3.*). É a conduta do agente que comete o crime de injúria
Cap. 12 - CRIMES CONTRA A PESSOA 181
se utilizando de elementos referentes a raça, cor; etnia, religião, origem
ou a condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência. Nesse caso,
a pena será qualificada de reclusão, de um a três anos e multa.
12.5.5 Das disposições comuns aos crimes contra a honra
Art. 141 - As penas comlnadas neste Capítulo aumentam-se de um
terço, se qualquer dos crimes é cometido:
! - contra o Presidente da República, ou contra chefe de governo
estrangeiro;
li - contra funcionário público, em razão de suas funções;
III - na presença de várias pessoas, ou por meio que facilite a divul
gação da calúnia, da difamação ou da injúria;
IV - contra pessoa maior de 60 (sessenta) anos ou portadora de de
ficiência, exceto no caso de injúria.
Parágrafo único. Se o crime é cometido mediante paga au promessa
de recompensa, aplica-se a pena em dobro.
O alimento de pena do inciso I justifica-se pela relevância das
funções desempenhadas pelo Presidente da República e pelo chefe de
governo estrangeiro. No inciso II, o agente lesa o prestígio do Estado,
representante da sociedade. No inciso III, a conduta é bem mais grave
porque a ofensa é espalhada. No inciso IV, o legislador levou em conta a
condição pessoal das vítimas para aumentar a pena. O aumento referente
ao “maior de 60 anos” foi acrescentado pelo Estatuto do Idoso (Lei n.°
10.741/2003). E por fim, a majoraníe do parágrafo único leva em conta
a motivação torpe do agente (paga ou promessa de recompensa).
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A calúnia, a injúria e a difamação realizadas pelos meios de comu
nicação tipificam crimes contra a honra específicos da Lei de Imprensa
(Lei n.° 5.250/1967), afastava os delitos do Código Penal. Entretanto,
recentemente, o Supremo Tribunal Federal reconheceu que a referida lei
não foi recepcionada pela Constituição Federal de 1988, devendo a lei
ser considerada como revogada.
53 NUCCI, Guilherme de Souza. Manuat de Direito Penal - Pane Gemi e Parte Especial, São Paulo:
■Revista dos Tribunais, 2005, p. 621.
182 DIR0TO PENAL para concurso - POLlCIA FEDERAL - Emerson Castelo Branco
Art. 142 - Não constituem injúria ou difamação punível:
! - a ofensa iírogada em juízo, na discussão da causa, pela parte ou
por seu procurador;
II - a opinião desfavorável da crítica literária, artística ou científica,
salvo quando inequívoca a intenção de injuriar ou difamar;
lií - o conceito desfavorável emitido por funcionário público, em
apreciação ou informação que preste no cumprimento de dever de
oficio.
Parágrafo único. Nos casos dos n.° I e H, responde pela injúria ou pela
difamação quem lhe dá publicidade.
São causas de exclusão da antijuridicidade específicas desses crimes.
O inciso I é denominado “imunidade judiciária”, destinada a assegurar
a ampla defesa de direitos, que fatalmente, em face da exacerbação de
ânimos, pode levar ao descontrole com as palavras. Três requisitos de
vem estar presentes:
a) a ofensa, escrita ou verbal, deve ser realizada em juízo;
b) deve ser na discussão da causa;
c) deve ser realizada pela parte ou seu procurador.
A imunidade judiciária não alcança o magistrado, nem o diretor de
secretaria, escreventes, oficiais de justiça, peritos, tradutores, contado
res, a quem é proibido injuriar ou difamar,