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Públicos Emerson Castelo Branco DIREITO PENAL para concurso PARTE GERAL e ESPECIAL Polícia Federal O GEN | Grupo Editorial Nacional reúne as editoras Guanabara Koogan, Santos, LTC, Forense, Método e Forense Universitária, que pubiicam nas áreas científica, técnica e profissional, Essas empresas, respeitadas no mercado editorial, construíram catálogos inigualáveis, com obras que têm sido decisivas na formação acadêmica e no aperfeiçoamento de várias gerações de profissionais e de estudantes de Administração, Direito, -Enfermagem, Engenharia, Fisioterapia, Medicina, Odontologia e muitas outras cíêrtdas, tendo se tomado sinônimo de seriedade e respeito. Nossa missão é prover o melhor conteúdo científico e distribuí-lo de maneira flexível e conve niente, á preços Justos, gerando benefícios e servindo a autores, docentes, livreiros, funcionários, colaboradores e acionistas. Nosso comportamento ético incondicional e nossa responsabilidade social e ambiental são refor çados pela natureza educacional de nossa atividade, sem comprometer o crescimento contínuo e a rentabilidade do grupo. Concursos Públicos Emerson Castelo Branco i i i i | DIREITO PENAL ! para concurso PARTE GERAL E ESPECIAL í í Polícia Federa! i : 2+ê ed ição ; Revista, atualizada e ampliada 11 } n r *EDJTORA METODO SÃO PAULO © EDITORA MÉTODO Uma editora integrante do GEN j Grupo Editorial Nacional Rua Dona Brígida, 701, Vila Mariana - 04111-081 - São Paulo - SP Tel.: (11) 5080-0770 I (21) 3543-0770 - Fax: (11) 5080-0714 Visite nosso site: www.editofainetodo.com.br metodo@grupogm. com.br Capa: Marcelo S. Brandio Foto de capa: Vitty Pess (sxc.hu) CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE UVROS. RJ. Castelo Branco, Emerson . Direito penal espeelaS para concurso : Policia Federal i Emerson Castelo Branca. 2. ed. - Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2011, Bibliografia ISBN S78-8S-309-3432-3 1. Direito penal - Problemas, quesl&es. exercidos. 2, Serviço público - Srasil - Concursos, t. Título. II. Série. 09-4742. CDU: 343(81} ir A Editora Método se responsabiliza pelos vícios do produto no que concerne à sua edição (impressão e apresentação a fim de possibilitar ao consumidor bem manuseá-lo & lê-lo). Os vícios relacionados á atualização da obra, aos conceitos doutrinários, âs concepções ideológicas e referências indevidas sâo de responsabilidade do autor e/ou atuaiizador. Todos os direitos reservados. Nos termos da Lei que resguarda os direitos autorais, é proibida a reprodução total ou parclai de qualquer forma ou por qualquer meio, eletrônico ou mecânico, inclusive através de processos xerográflcos, fotocópia e gravação, sem permissão por escrito do autor e dü editor. impresso no Brasil Príníed In Brszll 2011 AGRADECIMENTOS A Deus, por estar sempre guiando meus passos nessa caminhada. À Janaána, minha amada esposa, e aos meus pequenos Zé e Manuzinha, pelos mais belos e felizes momentos de minha vida. A todos os meus queridos alunos, pela amizade sincera. Juntos, “derramamos sangue”, “combatemos o bom comba te” e lutamos por nossos sonhos! NOTA DO AUTOR “Direito Penal para concurso - Polícia Federal” nasceu da ideia de se contemplar os assuntos recorrentemente abordados no conteúdo programático dos concursos da Polícia Federal, direcionando o estudo daqueles que almejam “um lugar ao sol” na referida carreira. Seu mérito principal consiste em reunir, na mesma obra, a Parte Geral e a Parte Especial do Direito Penal, selecionando cuidadosamente as matérias de interesse do concurso. Destaca-se ainda por sua linguagem didática, enfrentando todo o con teúdo com riqueza de informações, sem perder a clareza das ideias. Apresenta ao leitor qualificada doutrina e jurisprudência atualizada dos tribunais superiores. Nesse aspecto, de pronto, merece ser ressalta- - do o seu rigor científico, não dando margem a colocaçSes simplistas. Incansavelmente, procurou-se exaurir toda a temática relevante de forma precisa e objetiva; inclusive, discorrendo sobre recentes altera ções no ordenamento penal Ao final de cada capítulo, várias questões de prova são comentadas; e diversas são disponibilizadas para resolução, possibilitando a mais ampla e segura preparação. Enfim, a obra apresentada ao público será de grande valia não apenas para os estudantes que se preparam para a Polícia Federal, sendo certo falar que pode ser utilizada para todos os concursos que abrangem o conteúdo abordado. Boa leitura! $ Nota da Editora: o Acordo Ortográfico foi aplicado Integralmente nesta obra. SUMÁRIO <Parte ÇemC 1. PRINCÍPIOS E CARACTERÍSTICAS DO DIREITO PENAL......... 23 LI Princípios constitucionais do direito penai..................................... 23 1.1.1 Princípio da reserva legal e da anterioridade da lei penal ...... 23 1.1.2 Princípios da irretroatividade da lei penal mais maléfica e da retroaíividade da lei penal mais benéfica............................... 24 1.1.3 Princípio da culpabilidade ................. ...................................... 24 1.1.4 Princípio da dignidade da pessoa humana ............................... 25 1.1.5 Princípio da humanidade (ou da humanização das penas) .... 25 1.1.6 Princípio da pessoaüdade ............................................... ....... 25 1.1.7 Princípio da individualizaçao da pena ....... ........... ................... 25 1.1.8 Princípio da proporcionalidade das penas ................................ 26 1.2 Princípios modernos do direito penal .................................................. 26 1.2.1 Principio da intervenção mínima.............................................. 26 1.2.2 Princípio da fragmentariedade................................... ............... 27 1.2.3 Princípio da adequação social.................................................... 27 1.2.4 Princípio da insignificância (da bagatela) ............................ . 27 1.2.5 Princípio da ofensividade .......................... .................... *.....1... 28 1.3 Características gerais do direito penal................................ ............... 28 1.3.1 Denominação e conceito ..................................................... -..... 28 1.3.2 Características das normas penais ........................................... . 28 1.3.3 Normas penais em branco (cegas ou abertas) ................. ....... 29 1.3.4 Fontes do direito penal ................................................ ........ . 29 1.3.5 Classificação das normas penais.................. ................ ............ 29 1.3.6 Interpretação da lei penal................. ............................... .......... 30 1.3.7 Analogia ............................................ .......................................... 30 10 DIREITO PENAL para concurso - POLlCtA FEDERAL - Emerson Casteb Branca 1.4 Questões comentadas ................................................................ ........ 31 1.5 Questões CESPE/UnB .......................................................................... 31 1.6 Jurisprudência atualizada ................. .................................................... 32 1.6.1 O princípio da insignificância no crime d© furto e o pequeno valor econômico da coisa........................................................ 32 1.6.2 Princípio da insignificância exclui o fato típico. Não é causa de extinção da punibilidade, e sim do crime ....................... 33 1.7 Dicas imprescindíveis .................................. ....................................... 33 2, APLICAÇÃO BA LEI PENAL NO TEMPO E NO ESPAÇO............. 35 ■ 2.1 Aplicação da lei penal no tempo ........... ............................................... 35 2.1.1 Irretroatividade da lei penal mais maléfica e retroatividade da lei penal mais benéfica..... ...................................................... 35 2.1.2 Tempo do crime ...................................... ................................... 37 2.1.3 Leis de vigência temporária............. ............. .................. . 37 2.2 Aplicação da lei penal no espaço ....................................... ................. 38 2.2.1 Princípio da territorialidade (art. 5.° do CP) ........................... 38 2.2.2 Princípios da extraterritoràlidade............................................. 39 2.2.3 Formas de extraterritorialidade .................................................. 40 2.2.4 Lugar do crime....................................... .................................... 40 2 3 Questões comentadas ................. ...... ................. ................ ................. 41 2.4 Questões CESPE/UnB .......................................................................... 42 2.5 Dicas imprescindíveis ...... ................................................................... 43 3. TEORIA GERAL DO CRIME .................................................................. 45 3.1 Conceito de crime .............................................................. .................. 45 3.2 Teorias da cotxduta..................... ............................ ............................... 46 3.2.1 Teoria causalista (naturalista ou causai) .................................. . 46 3.2.2 Teoria finalista........................ ................................ ................... 46 3.2.3 Outras teorias .......................................................................... . 47 3.3 Sujeito ativo do delito..... ............................................. ............ ........ 47 3.4 Sujeito passivo do delito......................... .................... ........................ 47 3.5 Objeto jurídico e objeto material ....................................................... 49 3.6 Análise dos elementos estruturais do crime ................................. . 49 3.6.1 Fato típico ......................... ........................................................ 49 3.6.2 Àntijuridicidade (ilicitude)......................... ............................... 51 3.6.3 Culpabilidade ......... .................... ........... ............................51 s u m a r ío 11 3.7 Questões comentadas ............................................................................ 52 i 3.8 Questões CESPE/UnB ....................... .............................................. . 52 | 3,9 Dicas imprescindíveis .......................................................................... 53 4. DA RELAÇÃO DE CAUSALIDADE...................................................... 55 | 4.1 Nexo causai ............ .............................................................................. 55 4.2 Teoria da equivalência dos antecedentes causais ............................... 55 ; 4.3 Outras teorias do nexo causai..... ............................................. ........... 56 4.4 Superveniência causai ........................................................................... 56 . | 4.4.1 Considerações iniciais ........................................... ..................... 56 i. 4.4.2 Causas absolutamente independentes .................................. ...... 57 '■ 4.4.3 Causas relativamente independentes ..................................... . 58 | 4.5 Relevância causai da om issão.............................................................. 59 !' 4.6 Questões comentadas ............................................................ ............... 60 ; 4.7 QuestSes CESPE/UnB ........................................................................... 61 j: 4.8 Dicas imprescindíveis ............................. ................... ......................... 62 5. ELEMENTO SUBJETIVO.........:............................................................. 65 ; 5.1 Crime doloso ............................................................................. ............ 65 i- 5.1.1 Conceito ...... .......................................................... . 65 I 5.1.2 Elementos do dolo ................................................. ..................... 65 | 5.1.3 Espécies de dolo .. .............. .................................. ....................... 66 5.1.4 Teorias do dolo ............... .................. ........................ 66 j S.L5 Dolo natural e dolo normativo ...... ............................ 67 | 5.2 Crime culposo ............................ .......................... ......... ...................... 67 5.2.1 Conceito ......................... ................................ ............................ 67 \ 5.2.2 Elementos do crime culposo............................... ........ ......... 68 j; 5,2.3 Espécies de cdme culposo........ ....... .................. .................... . 69 | 5.2.4 Modalidades de culpa .............................................................. 70 f 5.3 Preterdolo ...............................................1...... ........................................ 70 ■| 5,4 QuestSes comentadas .......;................................................. .................. 71 | 5.5 Questões CESPE/UnB ............................................................................ 72 | 5.6 Dicas imprescindíveis ............................................................................ 73 /. | 6. ESTUDO DO ERRO................................................................................... 75 I 6.1 Erro de tipo (art. 20) .................................................... .................. ....... 75 12 DIREITO PENAL para concurso - PGÜCIA FEDERAL - Emerson C&stelo Brunco 6.2 Erro de proibição (art. 21) ................................... .......,.................... 76 6.3 Descriminantes putativas....................................... ...................... . 77 6.4 Questões comentadas .......................................................... ................. 78 6.5 Questões CESPE/UnB .......................................................................... 79 6.6 Dicas imprescindíveis ....................................... ......................... .......... 81 7. FORMAS CONSUMADA E TENTADA DO CBIM E........................... 83 7.1 Fases do crime (iter criminis)......................................... ................. . 83 7.2 Forma consumada (art. 14, inc. I) .............................. ............... ......... 84 7.3 Forma tentada (art. 14, inc. I I ) ....................................................... 84 7.4 Desistência voluntária (art. 1 5 ) ................................... ....................... 85 7.5 Arrependimento eficaz (art, 15) ........................................................... 86 7.6 Arrependimento posterior............... ............. ....... .............................. 86 7.7 Crime impossível ..........................................................-....................... 87 7.8 Questões comentadas ........................................... ................................ 87 7.9 Questões CESPE/UuB .......................................................................... 88 7.10 Dicas imprescindíveis ................................. .............. ...................... 89 8. ANTOÜMDICID ADE (ILICITUDE)..................................................... 91 8.1 Conceito de aníijuridicidade ................................................................. 91 8.2 Causas de exclusão da antijuridicidade ...... ........................................ 91 8.3 Legítima defesa ............... ............................... .................................. . 92 8.4 Estado de necessidade ......................... .................. ....................... 94 8.5 Exercício regular de direito ...............- t .............. ................. ............. 96 8.6 Estrito cumprimento do dever legal ............ .......................... 96 8.7 Questões comentadas ............................................................................ 97 8.8 Questões CESPE/UnB .......................................................................... 98 8.9 Dicas imprescindíveis .......................................................... . 100 9. CULPABILIDADE ...................................................................................... 103 9.1 Conceito.................... .................................. ........................................... 103 9.2 Causas de exclusão da culpabilidade................................................... 103 9.3 Elementos da culpabilidade ............ .............................. ....................... 104 SUMÁRIO 13 9.4 Imputabilidade ........ ................... ..................... ......*....... ....................... 104 9.4.1 Critérios (ou sistemas) para estabelecer a inimputabilidade,,,. 105 9.4.2 Causas de inimputabilidade ........................................................ 105 9.4.3 Semi-imputabilidade .......... .............. ..........................,'....... ...... 105 9.4.4 Menoridade penal.................. ...........-........................................ 106 9.4.5 Emoção e paixão............................................................ ............ 106 9.4.6 Espécies de embriaguez............................................................. 106 9.4.7 Teoria da Ac tio Libera in Causa (ação livre na causa)........... 107 9.5 Questões comentadas ............................................................................- 107 9.6 Questões CESPE/UnB ......................................................................... 109 9.7. Dicas imprescindíveis ........................................... ......... ........... -........ 112 10. CONCURSO m , PESSOAS .................................................................... 113 10.1 Conceito ............ ................ ...................... ............... ........................;... 113 10.2 Coautoria e participação ............ .............. ........................................... 113 10.2.1 Teorias acerca do conceito de coautoria e participação........ 113 10.2.2 Participação impunível.... ...................... ................................. 114 10.3 Requisitos do concurso de agentes................. .................................. 114 10.4 Autoria colateral............. .............. ......................................... ............ 115 10.5 Autoria incerta ......... .................................... ........................................ 115 10.6 Autoria medíata................ ..................................... ....... ............ -........ 115 10.7 Coraunicabflidade das circunstâncias .............. ............................... 116 10.8 Participação ......................................................................................... 116 10.9 Questões comentadas .......................................................................... 117 10.10 QuestSes CESPE/UnB ...................................................................... 119 10.11 Dicas imprescindíveis......................... ............ ................................. 120 11. CLASSIFICAÇÃO DOS CRIMES ........................................................ 123 11.1 Crimes comuns, próprios e de mão própria...................................... 123 11.2 Crimes de dano e de perigo ......................... ............. ................ . 123 11.3 Crimes materiais, formais e de mera conduta ................................ 124 11.4 Crimes comissivos e omxssivos .......................................................... 124 11.5 Crimes instantâneos, permanentes e instantâneos de efeitos perma nentes ........... ........................... .......................................................... 125 11.6 Crime continuado ................................. ........................................ 125 14_____ PiRSITO PENAL para concurso - POÜC1A FEDERAL - Emerson Casielo Branco 11.7 Crimes principais e acessórios ........................... ............................... 125 11.8 Crimes simples e complexos (ou composto) .......... .......... ....... ,. 125 13.9 Crime progressivo .... ................................................. ............ ,......... 126 11.10 Delito putativo (ou imaginário, ou erroneamente suposto)......... 126 11.11 Crimes unissubsistentes e plurissubsistentes ................................. 126 11.12 Crime de atentado ............... ........................ ........... ......................... 126 11.13 Crimes de ação múltipla................................................ .................. 126 11.14 Crime vago ..... .......................... ............................ ........................... 127 11.15 Crime pluriofensivo ........................................................................ 127 11.16 Crimes com tipo penal fechado e com tipo penal aberto.............. 127 11.17 questões comentadas ........................ ........ ............... ............ .. 127 11.18 Questfies CESPE/UnB ...........................................................128 11.19 Dicas imprescindíveis.................... ........ ........... ..................... 128 12. CRIMES CONTRA A PESSOA............................................................... 133 12.1 Crimes contra a vida ............................................................................................................................... 133 12.1.1 Homicídio.................................................................................. 133 12.1.1.1 Características gerais .................................... ........ 133 12.1.1.2 Homicídio privilegiado............................................. 134 12.1.1.3 Homicídio qualificado (art. 121, § 2,°) ................. 134 12.1.1.4 Homicídio privilegiado-qualificado.................... .... 136 12.1.1.5 Homicídio culposo ................ ............................ 137 12.1.1.6 Observações finais sobre o crime de homicídio .... 138 12.1.2 induzimento, auxílio ou instigação ao suicídio '...................... 139 12.1.3 ínfanticídio ............................... .......................... ............ .......... 141 12.1.4 Aborto................. ..................... .................................................. 142 12.1.4.1 Crime de autoaborto ............................... ................. 143 12.1.4.2 Crime de aborto provocado sem o consentimento da gestante ......................................................... ........ 144 12.1.4.3 Crime de aborto provocado com o consentimento da gestante ..... :.............. .................................. ........ 144 12.1.4.4 Aborto na forma qualificada (art 127) .................... 144 12.1.4.5 Aborto legal (art. 128) ................................... .......... 145 12.1.5 Questões comentadas...................... ................................... . 147 SUMÁRIO 15 12.1.6 Questões CESPE/UnB............................................................. 149 12.1.7 Dicas imprescindíveis ......................... .......... ............. ............. 154 12.2 Das tesões corporais............................................................................ 157 12.2.1 Lesão corporal grave .......................................................158 12.2.2 Lesão corporal gravíssima..................................................... 159 12.2.3 Lesão corporal seguida de morte.................... .................. . 161 12.2.4 Lesão corporal privilegiada (§ 4.°) ........................................ 162 12.2.5 Substituição da pena (§ 5 .° ) ..................... >....■......................... 162 12.2.6 Lesão corporal culposa (§ 6,°) .... '.............................. 362 12.2.7 Cáusa de aumento de pena ...................................................... 162 12.2.8 Perdão judicial ......................................................................... 163 12.2.9 Violência doméstica................................................................. 163 12.2.10 Questões comentadas .................... .................................... . 163 12.2.11 Questões CESPE/UnB ........................................................... 164 12.2.12 Dicas Imprescindíveis ........................................................... . 165 12.3 Da periclitação da vida e da saúde ............... ....... ........................... 166 12.3.1 Perigo de contágio venéreo...................................................... 166 12.3.2 Perigo de contágio de moléstia grave ..................................... 167 12.3.3 Perigo para a vida ou saúde de outrem .................................. 167 12.3.4 Abandono de incapaz...................... ................................. . 168 12.3.5 Exposição ou abandono de recém-nascido............................. 169 12.3.6 Omissão de socorro........................... .................. ................... 170 12.3.7 Maus tratos................................................................................ 172 12.4 Crime de rixa ....................................... ............................................. 173 12.4.1 Questões comentadas .................................. ............................. 175 12.4.2 Questões CESPE/UnB ............................................................. 175 12.4.3 Dicas imprescindíveis ..................... ........................................ 176 12.5 Crimes contra a honra ............. ........................................................... 177 12.5.1 Considerações iniciais sobre os crimes contra a honra......... 177 12.5.2 Calúnia (art. 138) ...................................................................... 177 12.5.3 Difamação (art. 139).................. :............................................ 179 12.5.4 Injúria (art. 140)............................ ..............*.......................... 179 12.5.5 Das disposições comuns aos crimes contra a honra ......... 181 12.5.6 Jurisprudência ................................................................ ......... 184 12.5.7 Questões comentadas .... ....................................................... . 185 12.5.8 Questões CESPE/UnB .............................,............................... 187 12.5.9 Dicas imprescindíveis .............................................................. 188 12.6 Crimes contra a liberdade individual ....... ...... ........................... 190 12.6.1 Constrangimento ü eg a i............................................................ 190 12.6.2 Ameaça.......................... ........................................................... 192 12.6.3 Seqüestro e cárcere privado..................................................... 193 12.6.4 Redução à condição análoga à de escravo ......... ..........-........ 194 12.6.5 Violação de domicílio ................................ .......... .................... 195 12.6.6 Jurisprudência ............................................... .............. ............ 197 12.6.7 Questão comentada.............. ........................ ...................... . 197 12.6.8 Questões CESPE/UnB ............................................................. 198 12.6.9 Dicas imprescindíveis .............................................. .......... . 198 13. DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO........................................ 201 13.1 Furto ...................................................................................................... 201 13.1.1 Furto de coisa comum........................ ...................................... 207 13.1.2 Jurisprudência atualizada........................................... -........ 207 13.1.3 Questões comentadas................................................................ 208 13.1.4 Questões CESPE/UnB ............................................................. 208 13.1.5 Dicas imprescindíveis ........................................ 211 13.2 Roubo ............................................................. ..................................... 214 13.2.1 Jurisprudência atualizada......................... .................... .......... 219 13.2.2 Questões comentadas ...... ............................ ............. .............. 220 13.2.3 QuestSes CESPE/UnB .............................................................. 222 13.2.4 Dicas imprescindíveis..................................... ......................... 224 13.3 Extorsão........................ .................... ............ ...................................... 226 13.3.1 Causas de aumento de pena........................... ........... ............. 227 13.3.2 Extorsão qualificada..................................... ............................ 228 13.3.3 A nova figura penai do “sequestfo relâmpago” ....... ............. . 228 13.3.4 Extorsão mediante seqüestro ................................................ . 229 13.3.5 Extorsão indireta ....................................................................... 232 13.4 Ustupação.......................................................................... .................. 232 13.4.1 Alteração de limites .............................. .................................. 232 13.4.2 Usiopação de águas ....................... ..........——...............................-. 233 13.4.3 Esbulho possessório ................................................................. 234 13.4.4 Supressão ou alteração de marca era anim ais................. ...... 234 13.5 Crime de dano.............................................................. ...................... 235 13.5.1 Dano qualificado ................................................. -............................... .. 236 13.5.2 Introdução ou abandono de animais em propriedade alheia ... 237 16_______ DtREiTO PENAL para concurso - POÜCIA FEDERAL - gmerson Castelo Branco SUMÁRIO 17 13.5.3 Dano em coisa de valor artístico, arqueológico ou histórico .. 237 13.5.4 Alteração de local especialmente protegido .......................... 238 13.5.5 QuestSes comentadas ............................................................... 23S 13.5.6 Questões CESPE/UnB ............................................................. 239 13.5.7 Dicas imprescindíveis .............. .......... ..................................... 240 13.6 Apropriação .......................................... ........ ...................................... 242 13.6.1 Apropriação indébita................. ....... ........................................ 242 13.6.2 Apropriação indébita previdendária...... ............................... 243 13.6.2.1 Causa ex.tinti.va da punibilidade ............................... 244 13.6.2.2 Perdão judicial .......................................................... 245 13.6.3 Apropriação de coisa havida por erro, caso fortuito ou força da natureza........................................................ ........................ 246 13.6.4 Apropriação de tesouro .......................................................... . 246 13.6.5 Apropriação de coisa achada ................................................... 247 13.6.6 Jurisprudência atualizada ....................... ............................... 247 3 3,6,6.10 dolo no crime de apropriação indébita (art. 168 do CP) e apropriação indébita previdendária (art 168-A)......... 247 13.6.7 Questão comentada ........................................ ...................... . 248 13.6.8 Questões CESPE/UnB ............................................................. 249 13.6.9 Dicas imprescindíveis ................ .............................................. 250 13.7 Estelionato e outras fraudes ....................................................-.......... 251 13.7.1 Estelionato................................................................................. 251 13.7.1.1 Forma privilegiada....................................... ............ 253 13.7.1.2 Disposição de coisa alheia como própria............... 253 13.7.1.3 Alienação ou oneração fraudulenta de coisa pró pria ........................................................................... 254 13.7.1.4 DefraudaçSo de penhor............................................ 254 13.7.1.5 Fraude na entrega de co isa .................... ................. 254 13.7.1.6 Fraude para recebimento de indenização ou valor de àeguro ................. ........... ........... .................... «... 255 13.7.1.7 Fraude no pagamento por meio de cheque ............ 255 13.7.2 Duplicata simulada ................................ ................................... 257 13.7.3 Abuso de incapazes......................................................... ■........ 257 13.7.4 Induzimento à especulação ..................................................... 258 13.7.5 Fraude no comércio ............................................... ................. 258 13.7.6 Outras fraudes ................... ....................................................... 259 13.7.7 Fraudes e abusos na fundação ou administração de Sociedade por A ç6es.......................... ................... ........................ ......... 259 13.7.8 Emissão irregular de conhecimento e depósito ou “warrant” . 260 18 DIREITO PENAL para comurso - PQLÍCiA FEDERAL - Emerson Castelo Branco 13.7.9 Fraude à execução .......................................................... 261 13.7.10 Jurisprudência atualizada....................................................... 261 13.7.10.1 Estelionato e “cola eletrônica” .............................. 261 13.7.10.2 Sujeito passivo no crime de estelionato............... 262 13.7.11 Questões comentadas .... ....... ................................................ 262 13.7.12 Questões CESPE/UnB ........................................................... 264 13.7.13 Dicas imprescindíveis ............................... ............................ 266 13.8 Receptação...................... ........ ............... .......................... 268 13.8.1 Receptação qualificada..................... ...................................... 271 13.8.2 Perdão judicial e receptação privilegiada............................... 272 13.8.3 Receptação culposa............... ........... ....................................... 272 13.8.4 Causa de aumento de pena .............. ...................................... . 273 13.9 Disposições gerais sobre os crimes contra o patrimônio ................ 273 13.9.1 Imunidades absolutas (escusas absolutórias)..............273 13.9.2 Imunidades relativas (imunidades processuais) .................... 274 13.9.3 Exceções (art. 183) ..................................................... ............. 275 13.10 Crimes contra a propriedade imaterial............. ............................... 276 13.10.1 Violação de direito autoral.................. ............................. . 276 13.11 Jurisprudência atualizada ........... ...................................................... 278 13.11.1 Receptação qualificada e princípio da proporcionalidade ... 278 13.11.2 Questão comentada ......................... ............................. ......... 279 13.11.3 Questões CESPE/UnB ........................................................... 279 13.11.4 Dicas imprescindíveis ............................................................ 280 14. CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA..................... 283 14.1 Crimes praticados por funcionários públicos contra a Administração Pública................................................*............................................... 283 14.1.1 Considerações gerais........................... .................................... 283 14.1.2 Conceito de funcionário público estritamente para efeitos penais .............................................................-....................... 284 14.2 D os crimes praticados porfuncionário público contra a administração em geral ......... ....................................... ............................. .............. 286 14.2.1 Crime de peculato................................................. ................. 286 14.2.1.1 Peculato apropriação...................................... .......... 288 14.2.1.2 Peculato desvio......................................................... 289 14.2.1.3 Peculato-furto (ou peculato impróprio).................. 290 14.2.1.4 Peculato culposo....................................................... 291 14.2.1.5 Reparação do dano no peculato culposo ................ 292 SUMÁRIO 19 14.2.2 Peculato mediante erro de outrem................ ....................292 14.2.3 Inserção de dados falsos em sistema de informações ........... 293 14.2.4 Modificação ou alteração não autorizada de sistema de infor mações .... .......... ....................... ........................................... . 295 14.2.5 Extravio, sonegação ou inutilização de livro ou documento 295 14.2.6 Emprego irregular de verbas ou rendas públicas .............. . 296 14.2.7 Concussão ........................................................................ . 296 14.2.8 Excesso de exação ..............■.................................................. 298 14.2.9 Corrupção passiva........ ...................................... ................ — 298 14.2.10 FaciHtaçáo de contrabando e descaminho ........................... 301 14.2.11 Prevaricação ............................... ,............ .......... .................... 301 14.2,11.1 Prevaricação imprópria........................................ 302 14.2.12 Condescendência criminosa..... ............................... ............. 303 14.2.13 Advocacia administrativa.... ................................ ................. 304 14.2.14 Violência arbitrária...................................................... ........... 305 14-2,15 Abandono de função .............................. ....................... . 305 14.2.16 Exercício funcional ilegalmente antecipado ou prolongado 306 14.2.17 Violação de sigilo funcional ...............*............. ................... 307 14.2.18 Violação de sigilo de proposta de concorrência................... 308 14.2.19 Questões comentadas ................ ............ .............. ................ 308 14.2.20 Questões CESPE/ünb............................................ '............... 310 14.2.21 Dicas imprescindíveis ............................................................ 315 14.3 Crimes praticados por particular contra a administração em geral..... 316 14.3.1 Usurpação de função pública..................... ..........................— 316 14.3.2 Resistência.................................................... ..... ....................... 318 14.3.3 Desobediência ................... ...................... .............. ................... 320 14.3.4 Desacato ............... ............... .................... ........................... . 321 14.3.5 Tráfico de influência ............................... ................................. 322 14.3.6 Corrupção ativa............................ .................................. ........ 323 14.3.7 Contrabando e descaminho.................... ............ .................... ' 324 14.3.8 Impedimento, perturbação ou fraude de concorrência......... 326 14.3.9 Inutilização de edital ou de sinal .................................. .......... 326 14.3.10 Subtração ou inutilização de livro ou documento.......... . 327 14.3.11 Sonegação de contribuição previdenciária ................. ......... 327 14.3.12 Questão comentada...................... .......................................... 329 14.3.13 Questões CESPE/UnB ........................................................... 330 14.3.14 Dicas imprescindíveis ......................... .................................. 331 14.4 Crimes contra a administração da justiça......................................... 334 20 DIREITO PENAL para concurso - POÜC1A FEDERAL - Errmmon Castelo Branco 14.4.1 Reiagresso de estrangeiro expulso ............................ ............. 334 14.4.2 Deaunciaç&o caluniosa *.... ........................ ............................... 335 14.4.3 Comunicação falsa de crime ou contravenção...................... 337 14.4.4 Autoacusação fàlsa ................ ................................ ......... . 338 14.4.5 Falso testemunho ou falsa perícia ..... .......................... 339 14.4.6 Corrupção ativa de testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete ...................................................... ........ ..................... 342 14.4.7 Coação no curso do processo ................ ................................. 343 14.4.8 Exercício arbitrário das próprias razões ................................. 344 14.4.9 Subtração, supressão ou daniíicação de coisa própria no legí timo poder de terceiro..................... ....................................... 345 14.4.10 Fraude processual........................... ............................. . 345 14.4.11 Favorecimento pessoal.................. ....................................... . 346 14.4.12 Favorecimento real.................... ................................. .......... . 347 14.4.13 ingresso, promoção, intermediação, auxilio ou facilitação de entrada de aparelho telefônico em estabelecimento pri sional ................................. ....................................................... 348 14.4.14 Exercício arbitrário ou abuso de poder ................. 349 14.4.15 Fuga de pessoa presa ou submetida a medida de segurança . 350 14.4.16 Evasão mediante violência contra a pessoa ....................... 350 14.4.17 Arrebatamento de preso ............. .......... ......... ................... . 351 14.4.18 Motim de presos ........................ ................... ................ ...... 352 14.4.19 Exploração de prestígio ........................................................ 352 14.4.20 Jurisprudência atualizada ...................................................... 353 14.4.20.1 Dano em fuga de preso..................................... . 353 14.4.21 Questão comentada ............................................... ................. 354 14.4.22 Questões CESPE/UnB............................................................ 354 14.4.23 Dicas imprescindíveis ......................... -....................... 355 BIBLIOGRAFIA.............................................................................................. 359 GABARITO 361 DIREITO PENAL ( p q r t e Ç e r â ( PRINCÍPIOS E . CARACTERÍSTICAS DO DIREITO PENAL 1.1 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DO DIREITO PENAL 1.1.1 Princípio da reserva legal e da anterioridade da lei penal Art. l.° do CP: “Não há crime sem lei anterior que o defina, Não há pena sem prévia cominação legal”. É o princípio nuttum crimen, milla poena sine praevia leget inserido no art. 5.°, inciso XXXIX, da CF. Conceito de princípio da reserva legal: O Estado não pode punir uma pessoa por uma conduta não prevista (descrita) em lei (ordinária federal) como crime. Em decorrência deste, surge o princípio da taxar tividade, segundo o qual a conduta deve estar descrita de forma exata na norma penal. Conceito de princípio da anterioridade: A lei deve estar em vigor na data em que a conduta criminosa é cometida. 1 ** t i' i, ç / ■;::‘NQl!EÍ?.Clual;Bi:.difer^nçg'wtreros;.pnneíptos;da!i:eservaílegal',eí<3a5 legalidade?:-. Parte da doutrina considera que o principio da reserva iegal é o mesnfo que o pnncfpjo da légalidade Outros autores-entendém .que .o ppnctpio da reserva lega! decorre do princípio da legalidade, qu séja^aigúrnak matérias' só podem ser disciplinadas por !eí, ejn sentido rfcrmal, não admitindo, por exemplo, medida provisópa, 1 s Criticando as leis penais vagas, indeterminadas e imprecisas, observa Ritencourt: “Em termos de sanções criminais são inadmis 24 DtRBTO PENAL para concurso - POÜCIA FEDERAL - Emerson Casfato Branco síveis, pelo princípio de legalidade, expressões vagas, equívocas ou ambíguas.”1 Dessa forma, os tipos penais vagos (descrição genérica) devem ser evitados pelo legislador. Daí nasce a expressão “mandato de certeza”, isto é, a lei penal não pode ser indeterminada. A reserva legal estende-se normalmente às contravenções penais e às medidas de segurança. 1.1.2 Princípios da irretroatividade da lei penal mais maléfica e da retroatividade da lei penal mais benéfica De acordo com o inciso XL, do art. 5.°, da Constituição Federal de 1988, a lei penal somente retroagirá para beneficiar o acusado. No mesmo sentido, dispõe o art. 2.° do Código Penal. A irretroatividade da lei penal mais maléfica e retroatividade da lei penal mais benéfica não se restringem às penas, mas a qualquer norma de natureza penal. Toda e qualquer norma que influencie no direito de punir do Estado deve ser considerada de natureza penal (ex.: norma de execução penal que tome mais grave o cumprimento da pena). A irretroatividade não atinge somente as penas, como também as medidas de segurança. . NOTE! ^ão .confundir, as' leis processuais cóm as leis penais. As processuais riãqse súbmstem/iáa'principio daVetfqãtjvídágé1 da (efpená.L mais.benéfica,' òònfóri7iè:p.revS;p;'árt.;2 . í tío ÇPP, . no processo1, em andamento, .não irnportãodo .se/p çrime foi Ç0:nnettd0; ánte3 ■ ou após;sua entrada erp v i^ r i '^ /s ^ è ; ; i9U.ni|o' mate b e n é f i c a . '' E como estabelecer se a norma é processual ou penál? As normas processuais (ex.: prisão preventiva- a restrição é provisória, cautelar) refletem diretamente sobre o processo, não possuindo relação com o direito de punir do Estado. Somente possuirá natureza penal a norma que tomar mais rigorosa, ou menos rigorosa, a punição estatal. 1.1.3 Princípio da culpabilidade Decorrência do Estado Democrático de Direito, o principio da cul pabilidade consagra a responsabilidade penal subjetiva, impondo que * BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal Pane Geral - V.1, 5.» ed, São Pauto: Saraiva, 2006, p. 15-16. Cap. 1 - PRINCÍPIOS £ CARACTERÍSTICAS DO DÍREITO PENAL 25 ninguém seja responsabilizado penalmente sem que tenha agido com dolo ou culpa, Bitencourt elenca três conseqüências deste princípio: “a) não há res ponsabilidade objetiva pelo simples resultado; b) a responsabilidade penal é pelo fato e não pelo autor; c) a culpabilidade é a medida da pena.”2 1.1.4 Princípio da dignidade da pessoa humana A dignidade da pessoa humana (art. 1.® inciso III, da CF) é o alicer ce do Estado Democrático de Direito. Por isso, o legislador constituinte dispõe: “a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdades fundamentais” (art. 5.°, inciso XLI, da CF). A tutela penal deve sempre se pautar pelo princípio vetor da dignidade da pessoa humana. 1.1.5 Principio da humanidade (ou da humanização das penas) O princípio da humanização das penas impede que o direito de punir do Estado atinja a dignidade da pessoa humana. A CF, no inciso XLVIL, do art. S.0, proíbe a aplicação de penas: “a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, inciso XIX; b) de caráter per pétuo; c) de trabalhos forçados; d) de banimento; e) cruéis”. E o inciso XUX, do art. 5.°, da CF, estabelece ainda que “é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral”. 1.1.6 Princípio da pessoalidade Somente o autor do delito pode sofrer a sanção penai, conforme dispõe o art. 5.°, inciso XLV, da CF: “nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido”. Outras denominações: “intranscendência” ou “personalidade”. 1.1.7 Princípio da indívidualização da pena O art. 5,°, inciso XLVI, da CF, estabelece que “a lei regulará a in- dividualização da pena e adotará, entre outras, as seguintes: a) privação 5 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal Parte Geral - V. í, S.a ed„ Sâo Paulo: Saraiva, 2005, p. 20-21, 26 DiREITO PENAL para concurso - POLlCIA PEOERAL - Emerson Castelo Branco ou restrição da liberdade; b) perda de bens; c) multa; d) prestação social alternativa; e) suspensão ou interdição de direitos”. Possui três fases: 1.a) Cominaçao da pena (fase legislativa)- O legislador estabelece a pena para cada crime, de acordo com a relevância do bem jurídico (ex.: a pena do estupro não pode ser a mesma do fUrto); 2.a) Aplicação da pena (fase judicial)- A pena é estabelecida pelo juiz, na seguinte ordem: fixa a pena-bass; depois, aplica atenuantes e agravantes; e, por fim, as majorantes e minorantes; 3.a) Execução penal (fase administrativa)™ ‘‘Os condenados serão classi ficados, segundo seus antecedentes e personalidade, para orientar a índividuaiizaçâo da execução penal.” (art. 5 * da Lei n.° 7.210/1984). 1.1.8 Princípio da proporcionalidade das penas De acordo com o princípio da proporcionalidade, assevera Luiz Regis Prado, “deve existir sempre uma medida de justo equilíbrio - abstrata (legislador) e concreta (juiz) - entre a gravidade do fato praticado e a sanção imposta.”3 1.2 PRINCÍPIOS MODERNOS DO DIREITO PENAL 1.2.1 Princípio da intervenção mínima É o princípio segundo o qual somente se deve recorrer ao Direito Penal, quando exauridos todos os meios alternativos de controle social, evitando assim a inflação legislativa. O âfcúmulo de normas penais oca siona a perda de sua efetividade, gerando o descrédito da sanção penal e, por conseguinte, um Direito Penal puramente simbólico. Por isso mesmo, serve para orientar o legislador na elaboração de novas figuras penais, bem como na abolição de crimes, NÓTEJ- Ero decorrência da. inteivenção,míniraaHS^rgfcOf;.denominad0;“prin~-. clpio. da sutasídiarieãade°-do' Direito RGnal/ segundo .ol/quàliieste^nãauíeve ' Üer aplieacio ■ no-scaso ; concreto,.íquantfQ,í.existe- aoluçâo-íjurídicaí-alteenaliva.'- Çqpãdatada em-, recente. decísãó':.do7Superiar:Trit)ünaf í:dè{\iustSça.í;'':''-rí -■ ! PRADO, Luiz Regis, Curso de Direito Penal Brasileiro - Vol. 1 - Parte Geral, 5,s Ed., São Pauto: Revista dos Tribunais, 2006, p. 82, 4 STJ, HC 132.528/MS, 07.06.2010. Cap, 1 - PRINCÍPIOS E CARACTERÍSTICAS DO DIREITO PENAL 27 1.2.2 Princípio da fragmeníariedade Esse princípio decorre do princípio da intervenção mínima. Segundo este, o Direito Penal se caracteriza por seu caráter seletivo, isto é, seu objetivo é proteger os bens jurídicos mais relevantes e necessários para a sobrevivência da sociedade. 1.2.3 Princípio da adequação social Existem condutas que, embora estejam tipificadas em lei, não afron tam o sentimento social de justiça (ex.: lesões corporais causadas em uma luta de boxe). 1.2.4 Princípio da insignificância (da bagatela) O princípio da insignificância se origina dos princípios da humani dade e da dignidade da pessoa humana. Afirma que a conduta somente configura um fato típico se a lesão ao bem jurídico possuir o mínimo de relevância. A tutela penal deve ser o último caminho e não se presta a punir situações irrelevantes, justamente para se evitar constrangimentos desnecessários à dignidade do ser humano, destacadamente quando con sideramos as mazelas decorrentes do processo penal e seus efeitos. Afora isso, o princípio da insignificância adéqua-se a necessidade da intervenção mínima do Direito Penal, depois de verificada a falência do movimento e das teorias expansionistas. Segundo este, a conduta somente configura um fato típico se a lesão ao bem jurídico possuir o mínimo de relevância (ex,: subtração de um bombom em um hipermercado). Somente aplicado em situações excepcionais, em face das peculia ridades do casó concreto, a irrelevância deve ser aferida especialmen te em relação ao grau de intensidade, isto é, pela extensão da lesão produzida. O delito de “menor potencial ofensivo” não configura, por si só, o princípio da insignificância, porque possui uma ofensa mínima, e não insignificante (ex.: crime de ameaça). Qual a diferença entre os princípios da adequação social e da in significância? Neste, o fato é socialmente inadequado, mas considerado atípico em face da sua ínfima lesividade; na adequação social, a conduta deixa de ser punida porque a sociedade não a reputa mais injusta. 28 DIREiTO PENAL 'para concurso - POLÍCIA FEDERAL - Emerson Castelo Branco NOTEI Segundo a. jurisprudência' cptisolidadà no Superior Tribunal de J ú s - ' . ,F ^ è ^ % l^ ^ t^ - ’)c|ç:«iijdlçqOT.p^paig.. ; iriàus :ánte^'çlent^sv- feihcidêrtcià/ioy-^péW ffènâís • 'erfi"GLÍrM;?rião 'Ínrip.áde'rn a aplicação-’ 1.2.5 Princípio da ofensivídade Princípio segundo o qual somente haverá crime se existir efetiva ofensa a um bem jurídico penalmente protegido. 1.3 CARACTERÍSTICAS GERAIS DO DIREITO PENAL 1.3.1 Denominação e conceito O conceito pode ser formal e material. Formalmente, o Direito Penal se caracteriza pelo conjunto de normas que descrevem condutas (ações ou omissões) criminosas e seus efeitos jurídicos. Materialmente, caracteriza-se pelos comportamentos reprováveis que afetam os bens jurídicos indispensáveis à sociedade.6 Classifica-se ainda em objetivo e subjetivo. Objetivamente, é o con junto de normas que definem os delitos e cominam as respectivas sanções. Subjetivamente, é o direito do Estado de aplicar a tutela penal. 1.3.2 Características das normas penais a) Exclusividade - somente a lei penal pode definir crimes e cominar sanções. b) Anterioridade - deve ser anterior ao fato delitivo. c) Imperatividade - o seu descumprimento acarreta a imposição da pena. d) Generalidade ~ destina-se a todos. e) Impessoalidade - não se refere a pessoas determinadas. s STJ, MC 171.02Q/MG, 27.09.2010. * PRADO, Luiz Regls. Curso de Direito Penal Brasileiro - Vol 1 - Parte Geral, S.“ Ed„ São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006, p. 27. Cap. 1 - PRINCÍPIOS E CARACTERÍSTICAS 0 0 DIREITO PENAL 29 1.3.3 Normas penais em branco (cegas ou abertas) As normas penais em branco são aquelas de conteúdo incompleto, exigindo complementação por outra norma jurídica, para que se possa compreender o seu âmbito de aplicação. Apesar do conteúdo não ser completo, os elementos do tipo devem descrever a conduta criminosa de forma exata. Espécies: a) Em sentido lato (homogêneas) - É aquela cujo conteúdo deve ser complementado por normas de categoria hierárquica idêntica a da norma penal. Ex: art. 237 do CP (“Contrair casamento, conhecendo a existência de impedimento que lhe cause a utilidade absoluta”). O conceito de “casamento” é determinado pelo Código Civil, lei da mesma hierarquia do Código Penal. b) Em sentido estrito (heterogêneas). É aquela cujo complemento pode ser uma norma de hierarquia diversa da norma penal. Ex; tráfico ilícito de drogas, previsto no art. 33 da Lei 11.343/2006. O termo “drogas” somente pode ser compreendido por meio das portarias e resoluções da ANVISA, no âmbito do Ministério da Saúde. 1.3.4 Fontes do direito penal a) De produção, material ou substancial. A fonte material do Direito Penal é o Estado, já que compete à União legislar sobre direito penal. b) Formal, de cognição ou de conhecimento: - Imediata: lei. É na norma penai que se descreve a conduta e a pena cominada; - Mediata: costumes e princípios gerais do direito, Não podem se so brepor à lei penaL Devem ser aplicados com bastante cautela, face ao princípio da reserva legal. 1.3.5 Classificação das normas penais a) Normas penais incriminadoras ~ São aquelas que descrevem a conduta criminosa e estabelecem a pena correspondentè. b) Normas penais n lo incriminadoras: - permissivas. Prescrevem causas de exclusão da ilicitude do fato. É o caso da legítima defesa e do estado de necessidade, Ex,: arts. 24 e 25 do CP; - exculpantes. Prescrevem outras causas de exclusão do crime (ex.: coação moral irresistível) ou da punibilidade (ex.: prescrição). 30 DíREfTO PENAL para concurso — PÜÜCÉA FEDERAL - Hmereon C$$teh Branco ~ explicativas. Esclarecera o significado de outras normas. Ex 1: art. 327 (esclarece quem pode ser considerado funcionário público para o fim de aplicação da iei pena); Ex 2.: art. 150, § 4.°, do Código Penal (esclarece o significado da expressão “casa” para efeito de caracterizar o crime de violação de domicílio); - Complementares. São as que fornecem princípios gerais para a apli cação da lei penai, tal como a existente no art, 59 do Código Penal. 1.3.6 Interpretação da lei penal Quanto aos meios empregados: a) Gramatical- considera apenas o sentido literal das palavras; b) Lógica ou teleológica ~ busca a finalidade da norma penal. Quanto ao resultado: a) Restritiva ~ consiste em restringir o alcance da interpretação; b) Extensiva — quando se interpreta além da intenção do legislador. Importante observar o princípio in dublo pro reo - na dúvida, a interpretação deve ser sempre mais favorável ao réu. 1.3.7 Analogia Ocorre quando, em easos de lacuna da lei, utiliza-se a norma de um caso semelhante ao outro que não está previsto na lei. A questão é a seguinte: no Direito Penal, admite-se a aplicação de analogia? Não se admite analogia para normas incriminadoras, em face do princípio da reserva legal. Deve ser aplicada somente nas normas penais não incriminadoras permissivas e explicativas. Somente se admite analogia in bonSn partem, isto é, era, beneficio do acusado, Como exemplo, temos o aborto praticado por enfermeiro, diante da absoluta e previsível falta de médico no local (art. 128, I, do CP), ou de sua expressa negativa em fazê-lo. Nesse caso, aplica-se analogia in bonam partem (para beneficiar), em face da semelhança das situações. Qual a distinção entre analogia, interpretação extensiva e interpre tação analógica? Enquanto a analogia se aplica nos casos de lacuna da lei, as outras formas são apenas método de interpretação. A interpretação extensiva concede à norma um alcance maior. A interpretação analógi ca ocorre sempre que uma norma penal (ex.: “matar alguém”) traz em uma seqüência casuística (“utilizando-se de veneno, fogo, tortura”) uma fórmula genérica (“ou qualquer outro meio insidioso oü cruel”)- Cap, 1 - PRINCÍPIOS E CARACTERÍSTICAS DO OiREITO PENAL______________31 1.4 QUESTÕES COMENTADAS (CESPE/UnB 2008) Pelo princípio da retroatividade da lei mais benigna, a norma processual penal tem efeito retroativo, anulando os atos processuais anteriores, no caso de a lei nova de natureza exclusivamente processual vir a beneficiar o réu. Resposta: Errado. O princípio da retroatividade de lei mais benigna se manifesta apenas no campo do Direito Penal. No processo penal, aproveitam-se todos os atos processuais anteriores, tendo a nova lei aplicação imediata, independentemente de ser mais ou menos gravosa. (CESPE/UnB 2007) Uma das vertentes do princípio da Iesividade tem por objetivo impedir a aplicação do direito pena! do autor, Isto é, impedir que o agente seja punido peio que é, e não pela conduta que praticou. Resposta: Segundo o principio da iesividade, não haverá punição enquanto os efeitos de uma conduta permanecerem na esfera de interesses da própria pessoa; iogo, proíbe que o agente venha a ser punido por algo que afete seu próprio e único interesse, devendo- -se considerar apenas as condutas praticadas que afetem interesses de terceiros. (CESPE/UnB 2006} É cediço que a pena não pode passar da pessoa do condenado. Esse entendimento corresponde ao princípio da íntranseendêneia. Resposta; Certo, De acordo com o principio da Íntranseendêneia, a pena nôo pode ser transmitida para herdeiros, sucessores, representantes legais. Não pode passar da pessoa do condenado. 1.5 QUESTÕES CESPE/UnB 1. (Agente - Polícia CivílfTO 2008 - CESPE/UnS) O enunciado segundo o qual "não há crime sem iei anterior que o defina, nem pena sem prévia cotninação legai" traz insculpidos os princípios da reserva legal ou legalidade e da anterioridade. 2. (Agente - Poiicia Civil/RR 2003 - CESPE/UnB) Bento praticou o crime de receptação, cuja pena é de reclusão de um a quatro anos. Posteriormente, por ocasião de seu julgamento, passou a viger lei que, reguiando o mesmo fato, impôs pena de um a cinco anos. Nessa situação, a lei posterior será aplicada em face do principio da retroatividade de let mais severa. 3. (Agente - Polícia Civil/TO 2008 - CSSPE/UnB) Considere a seguinte situação hipotética. Célio, penalmente imputáve!, praticou um crime para o qua! a tel comina pena de detenção de 6 meses a 2 anos e multa e, após a sentença penal condenatória recorrívef, nova lei foi editada, impondo para a mesma conduta a pena de reclusão de 1 a 4 anos e multa. Nessa situação, a nova legislação não poderá ser aplicada em decorrência do princípio da irretroatividade da lei mais severa. 4. (Defegado - Polícia CtvIl/TO 2008 - CESPE/UnB) Prevê a Constituição Federal que nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação de perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido. Referido dispositivo constitucional traduz o principio da Íntranseendêneia. 5. (Delegado - Poiicia Civíl/TO 200B - CESPE/UnB) Considere que um indivíduo seja preso pela prática de determinado crime e, já na fase da execução penal, uma nova iei torne mais branda a pena para aquele delito. Nessa situação, o indivíduo cumprirá a pena imposta na legislação anterior, em face do princípio da irretroatividade da iei penal. 32 DIREITO PENAI para concurso ~ POLICIA FEDERAL - Emerson Castalo Branco 6, (CESPE/UnB 2007) O pequeno valor da tes furtiva, por si só, autoriza a aplicação do principio da insignificância. 7, (CESPE/UnB 2007) São sinônimas as expressões "bem de pequeno valor” e “bem de valor insignificante", sendo a conseqüência jurídica, em ambos os casos, a aplicação do princípio da insignificância, que exclui a tipicidade penal. 8, (CESPE/UnB 2008} Considere que um promotor de justiça tenha oferecido denúncia contra determinado réu, Smputando-ifte um fato que, em (oi posterior à sua ocorrência, viesse a ser definido como crime. Nessa hipótese, a denúncia fere o principio da anterioridade, que define como lícita qualquer conduta que não se encontre prevista em lei penal Sncriminadora, S. {CESPE/UnB 2008) Quando lei nova que muda a natureza da pena, cominando pena pecuniária para o. mesmo fato que, na vigência da lei anterior, ora punido por meio de pena de detenção, não se aplica o princípio da retroatividade da lei mais benigna. 10. (CESPE/UnB 2004} Quando lei nova que muda a natureza da pena, cominando pena pecuniária para o mesmo fato que, na vigência da lei anterior, era punido por meio de pena de detenção, não se aplica o principio da retroatividade da tei mais benigna. 1.6 JURISPRUDÊNCIA ATUALIZADA 1.6.1 O princípio da insignificância no crime de farto e o pequeno valor econômico da coisa O pequeno valor econômico da coisa é o suficiente para aplicar o princípio da insignificância? Pode ser considerado critério exclusivo? Não. Mais uma vez, o Supremo Tribunal Federal, apreciando o Ha- beas Corpus 98.944/MG, reafirmou os quatro critérios a serem levados em consideração na aplicação do princípio da insignificância. São eles: if" a) Mínima ofensividade da conduta.. b) Inexistência de periculosídatíe social do ato. c) Reduzido grau de reprovabiKdade do comportamento. d) Inexpressividade da lesão provocada. No caso apreciado, o Min. Marco Aurélio verificou que, apesar da coisa ser de peqüeno valor (RS 98,80), a suposta autora do delito tinha oito antecedentes criminais e já fora condenada duas vezes, por furto e por violação de domicílio. Responde ainda a dois inquéritos, sendo um por porte ilegal de arma de fogo. Tentou furtar ainda produtos de uma farmácia. Já haviam sido arquivados processos por contravenção penal de perturbação da tranqüilidade. Cap. 1 - PRINCfPtOS £ CARACTERÍSTICAS do d ire i to p e n a l 33 1,6.2 Princípio da insignificância exclui o fato típico, Não é causa de extinção da punibiiidade, e sim do crime Discute-se muito sobre a natureza do princípio da insignificância. Seria causa de extinção da punibiiidade? Causa de exclusão do fato típico, ou da antijuridicidade, ou da culpabilidade? Entendendo que absolvição é diferente de não punibiiidade o mi nistro Celso de Mello, relator do Habeas Corpus (HC) 98.152, aplicou o princípio da insignificância a uma tentativa de furto de cinco barras de chocolate num supermercado. Em seu voto, no qual teve a adesão unânime da Segunda Turma, ele ressaltou que o. fato não pode ser con siderado crime. Segundo o STF a conduta sequer poderia ser considerada crime. Portanto, ao ser absolvido, o acusado volta a ser considerado primário caso seja réu posteriormente em outra ação. “O reconhecimento da insignificância da conduta praticada pelo réu não conduz à extinção da punibiiidade do ato, mas à aíipicidade do crime e à conseqüente absolvição do acusado” (STF, HC 98.152/MG, j. 19.05.2009). Segundo o Min. Celso de Mello, relator do Habeas Corpus, “o fato insignificante, porque destituído de tipicidade penal, importa em absol vição criminal do réu.” 1 7 DICAS IMPRESCINDÍVEIS Cumpre destacar as novas súmulas do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e do Supremo Tribunal Federal (STF) relacionadas ao princípio da individualização das penas: Súmula 444 dò STJ: “É vedada a utilização de inquéritos po liciais e ações penais em curso para agravar a pena-base”. Súmula 440 do STJ: “Fixada a pena-base no mínimo legai, é vedado o estabelecimento de regime prisional mais gravoso do que o cabível em razão da sanção imposta, com base apenas na gravidade abstrata do delito”. Súmula 439 do STJ: “Admite-se o exame criminológico pelas peculiaridades do caso, desde que em decisão motivada” 34 DIRBTO PENAL para concurso - POLÍCIA FGDÊRAL *- Emerson Custeio Bfansc Súmula Vinculante 26 do STF: “Para efeito de progressão de regime no cumprimento de pena por crime hediondo, ou equipa rado, o juízo da execução observará a inconstitucionalidade do art. 2.° da Lei 8.072, de 25 de julho de 1990, sem prejuízo de avaliar se o condenado preenche, ou não, os requisitos objetivos e subjetivos do benefício, podendo determinar, para tal fim, de modo fundamentado, a realização de exame criminológico”. O que é o princípio da alteridade? É aquele que impede a punição da autolesão. Em regra, as pessoas não podem ser responsabilizadas criminai mente por algo que as atingem exclusivamente. Consiste ainda na impossibilidade de se punir atitudes puramente internas. Exemplo: O suicida, caso sobreviva, não possuí responsabilidade penal alguma, por causa do princípio da alteridade, que proíbe a punição de condutas que atingem apenas a pessoa do autor isoladamente (ex.: autolesão). j O princípio da insignificância é utilizado para enfrentar o antigo problema da tipícidade formal (mera descrição da conduta no tipo penal)? Sim. Atualmente, exige-se que a conduta tenha condição de lesar o bem jurídico protegido (típicidade material). O que significa “mandado de criramalização”? Trata-se da indicação, pelo legislador constituinte, de matérias a respeito das quais o legis lador ordinário obrigatoriamente deve tratar, a exemplo do racismo (art. 5.°, XLIÍ: nos termos da lei”) e dos crimes hediondos (art. 5.°, XLIII: “A Iei considerará [...]”). As teorias do garantismo penal e do'"direito penal do inimigo se con trapõem? Sim. O garantismo guarda perfeita sintonia com o Direito Penal constitucional, baseado num conjunto de direitos e garantias fundamentais da pessoa humana. Já o direito penal do inimigo divide os criminosos em “cidadãos” e “inimigos”, pregando para estes últimos uma série de supressões de direitos e garantias individuais. Seria possível a aplicação do princípio da insignificância em relação à prática de um determinado ato infracional? Sim. Trata-se da orientação do STF.7 7 STF, HC 102j55S/RS, 22.06,2010. APLICAÇÃO DA LEI PENAL NO TEMPO E NO ESPAÇO 2.1 APLICAÇÃO BA LEI PENAL NO TEMPO 2.1.1 Irretroatividade da lei penal mais maléfica e retroatividade da lei penal mais benéfica De acordo com o art. 2.° do CP: “Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória. Parágrafo único. A lei posterior que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada era julgado”. Fundamento constitucional: o art. 5.°, no inciso XL. Regra: a lei penai não pode retroagir. Exceção: a 3et penal retroagirá quando trouxer aígum benefício para o agente no caso concreto. O princípio de que a lei retroage para beneficiar o acusado restringe- -se às normas de caráter penal. Abolitio criminis. Verifica-se sempre que lei posterior deixa de considerar uma conduta como sendo criminosa. Se a lei posterior não considera mais crime o fato anteriormente praticado, deve a mesma retroagir para extinguir a punibilidade. Caso o réu esteja preso, deve imediatamente ser liberado. A lei penal mais benéfica possui extra-atividade (retroatividade e ultra-atividade). Assim, sempre retroagirá quando for mais benéfica. Quando for maléfica, jamais retroagirá. 36 DIREITO PENAL para concurso - POLÍCSA FEDERAL - Emerson Casto/o Branco A lei penal nova mais favorável deve ser aplicada pelo juiz. Se o processo se encontrar na fase de recurso, deve ser aplicada pelo Tribunal. Por fim, no caso de sentença penal condenatória transitada em julgado, a incumbência é do ju iz da execução criminal. A irretroatívidade não atinge som ente as penas, com o também as medidas de segurança. A lei penal mais benéfica pode ser aplicada se estiver ainda no período de vacatio leg is? A questão é extremamente polêm ica, havendo duas correntes doutrinárias a respeito do assunto: 1.® Corrente: Durante o período de vacatio legis, a Lei não começou ainda a vigorar, isto é, a propagar seus efeitos; portanto, nâo poderia ter eficácia imediata, nem retroativa, 2.a Corrente: Seria suficiente a publicação da lei mais favorável para que ocorresse a aplicação da lei penal mais benéfica. Apesar de não existir posicionamento doutrinário majoritário, pes soalmente, concordamos cora a primeira corrente. Perfeito o raciocínio de Guilherme Nucci: “A Constituição diz apenas que à le i penal pode retroagir para beneficiar o réu, devendo-se, por uma questão de lógica, levar em consideração o momento em que vigora para toda a sociedade, inclusive para os acusados.’51 Pode haver combinação de leis penais favoráveis para beneficiar o réu? l.a Corrente: Defende a possibilidade da combinação, por favorecer o réu. 2/1 Corrente: Defende a impossibilidade da combinação, porque estaria o juiz usurpando a função do legislador, juntando duas leis, o que ocasiona a formação de uma terceira. É atualmente a orientação con solidada no STJ e no STF.2 NOTEI Nova Súmula 711 do Supremo Tribunal Federal; “A lei penal mais grave aplica-se. ao ; crime continuada ou ao crime permanente, se a sua vigência é anterior à cessação dá continuidade ou da pem anáncia“. Dessa ■forma,' nos crimes- permanentes e continuados, aplica-se sempre a úíttma iai que vigorava no curso da permanência ou continuidade deütivà. ainda que 'mais grave. 1 NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Direito Penal - Parte Geral e Parte Especial, São Paulo: Revista dos Tribunais, 2G0S, pág. 83, 2 STF, HC 97.221/5P, 19.10.2010. Cap. 2 - APLICAÇÃO OA LEI PENAL NO TEMPO £ NO ESPAÇO 37 2.1.2 Tempo do crime De acordo com o art. 4.° do CP: “Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado”. Teorias: a) da atividade (adotada pelo CP) - Considera praticado o crime no momento da ação ou omissão. b) do resultado - O momento do crime é. o da ocorrência do resultado delitivo. c) da ubiquidade (ou mista) - É tanto o momento da atividade como o do resultado. 2.1.3 Leis de vigência temporária O art. 3.° do CP estabelece: “A lei excepcional ou temporária, embora decoiridô o período de súa duração ou cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua vigência”. Característica principal: a ultratividade. Significa que a lei será aplicada a um fato cometido no período de sua vigência, mesmo após a sua revogação. A ultratividade ocorrerá sempre, ainda que prejudique o acusado. Espécies: a) lei excepcional - É aquela que vigora por tempo indeterminado, en quanto durar a situação excepcional. Ex.: guerra. b) lei temporária - É aquela que surge para vigorar por tempo previa mente estabelecido, isto é, com começo e com íim pré-âxado. Sâo leis autorrevogáveis ("intermitentes”). Em regra, uma Lei somente pode ser revogada por outra, posterior, que a revogue expressamente, que seja com ela incompatível ou que regule integralmente a matéria nela tratada, conforme dispõe a Lei de Introdução ao Código Civil. Conforme fora estudado anteriormente, a lei penal mais benéfica possui ultratividade para beneficiar o réu, Porém, essa ultratividade é um pouco diferente da ultratividade das leis temporárias e excep cionais, porque nestas haverá ultratividade ainda que esta seja pre judicial ao róu. "¥ 38 DIREITO PENAL para concurso - POLlCIA FSDERAl - Bmerson Castelo Branco 2.2 APLICAÇÃO DA LEÍ PENAL NO ESPAÇO 2.2.1 Princípio da territorialidade (art. S.° do CP) Territorialidade, esclarece Nucci, “é a aplicação das leis brasileiras aos delitos cometidos dentro do território nacional (art. 5.°} caputdo CP). Esta é uma regra gerai, que advém do conceito de soberania, ou seja, a cada Estado cabe decidir e aplicar as leis pertinentes aos acontecimentos dentro do seu território.”3 Elementos do território nacional: a) o solo ocupado pela nação; b) o$ rios, os lagos e os mares interiores e sucessivos; c) os golfos, as baías e os portos; d) a faixa de mar exterior, que corre ao largo da costa e que constitui o mar territorial; e) a parte que o direito atribui a cada Estado sobre os rios, lagos e mares fronteiriços; f) os navios nacionais; g) o espaço aéreo correspondente ao território; h) as aeronaves nacionais. Território brasileiro por equiparação (art. 5.°, § 1 do CP): São duas as situações: a) embarcações e aeronaves brasileiras de natureza pública ou a serviço do governo brasileiro onde estiverem; b) embarcações e aeronaves brasileiras, de propriedade ppvada, que estiverem navegando em alio-mar ou sobrevoando águas intpmacionais. Dois são os princípios da territorialidade: a) territorialidade abso luta, segundo o qual, sempre será aplicada a lei brasileira; b) territo- rialidade temperada, segundo o qual a lei penal brasileira, em regra, aplica-se ao crime cometido no território nacional, mas excepcional mente pode ser aplicada a lei estrangeira, quando assim determinarem tratados e convenções internacionais. O Brasil adotou a territorialidade temperada. 3 NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Direito Penal - Parte Geral e Parte Especial, São Pauto: Revista dos Tribunais, 2005, p. 102. Ca p. 2 - APLICAÇÃO DA LEI PENAL NO TEMPO E NO ESPAÇO 39 í ' ' NOTE! Quai a Justiça competente para juigar crimes cometidos a bordo de embarcações © aeronaves? No caso das aeronaves, sempre será da Justiça Federa! (art, 109, IX, da CF). Entretanto, nas embarcações, outra ô a solução. Segundo o STJ, a CF/1988 menciona a palavra “navio", devendo-se entender como tat somente a embarcação de grande porte, com potencial para viagens internacionais. Por isso mesmo, é da competência da Justiça Estadual os crimes cometidos em lanchas, botes, dentre outras embarcações de pequeno porte. Princípio do paviihâo ou da bandeira; Consideram-se as embarcações e aeronaves como extensões do território do país em que se acham matri culadas, quando estiverem em alto-mar ou no espaço aéreo correspondente. Não serão consideradas extensão do território brasileiro as nacionais que ingressarem no mar territorial estrangeiro ou o sobrevoarem. No tocante aos navios de guerra e às aeronaves militares, são conside rados parte do território nacional, mesmo quando em Estado estrangeiro. O mesmo ocorre com os navios e aeronaves militares de outra nação presentes no território brasileiro. 2.2.2 Princípios da extraterritoriaiidade a) Principio da defesa (real, ou de proteção) - Aplíca-se a lei penal brasileira, independentemente de fronteiras, se o bem jurídico for de proteção especial (art 7°, inciso I, alíneas a, b, c, do CP). Situações; crimes contra a vida ou a liberdade do Presidente da República; contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado, de Município, de empresa pública, sociedade de economia mista, autarquia ou fundação instituída pelo Poder Público; contra a administração pública, por quem está a seu serviço, b) Da nacionalidade (ou da personalidade) - Apiica-se a iei nacional do autor do crime, qualquer que tenha sido o local de sua prática (prin cípio da personalidade ativa). E o caso da responsabilidade penal de um brasileiro que comete um crime no exterior e se refugia no Brasil, Como não é possível extradição, para evitar impunidade, a solução é aplicar a lei brasileira (art. 7,® inciso ÍI, alínea b, do CP). E ainda quando o crime é cometido por estrangeiro contra brasileiro, fora do Brasil, desde que atendidas certas condições (princípio da personalidade passiva ~ § 3.°, do art. 7.°, do CP). c) Da justiça penal universal - É o direito de punir determinados delitos, mesmo que praticados fora do território nacional, face à gravidade do mesmo, desde que existam tratados e convenções internacionais esta belecendo dessa maneira, como os crimes de genocídio e de tráfico ilícito de drogas (art. 7.°, inciso I, alínea d e inciso II, alínea á). 40 DIREITO PENAL para concurso - POLÍCIA FEDERAL - Emerson Casteio Branca d) Da representação - A lei .penal aplica-se aos crimes cometidos no estrangeiro em aeronaves e embarcações privadas, desde que não jul gados no local do crime. Exemplo: em uma aeronave privada brasileira, sobrevoando território de um determinado país, um estrangeiro pratica crime contra outro. Se o governo estrangeiro nâo possuir interesse em punir o criminoso, o Brasil será o juízo competente, em face da ban deira ostentada pela aeronave, (art. 7.® inciso II, alínea c, do CP). 2.2.3 Formas de extraterritorialidade - Incondicionada: são as hipóteses previstas no inciso I do art. 7.°. Diz- -se incondicionada, porque não se subordina a qualquer condição para atingir um crime cometido fora do território nacional. - Condicionada: são as hipóteses do inciso II e do § 3.°. Nesses casos, a lei nacional só se aplica ao crime cometido no estrangeiro se satisfeitas as condições indicadas no § 2.° e nas alíneas a e b do § 3.°. 2.2.4 Lugar do crime De acordo com o art. 6° do CP: “Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo qu em parte, bem como onde se produziu ou devia produzir-se o resultado”. Teorias a) da atividade Considera-se como lugar do crime o local em que se praticou a ação ou omissão, b) do resultado - Lugar do crime é o local em que acontece o resultado delítívo. í* c) da ubiquidade (ou mista) - É tanto o lugar da atividade como também o do resultado. Teoria adotada pelo sistema brasileiro. NOTE! Como'foi adotada a teoria da ubiquidade (mista)/ à lei. péhál bra sileira-será aplicada .ainda que ém nosso territôrio somente aconteça o resultado (ex;: tiros disparados.na Colômbia, enquanto a morte.ocorreu no Brasil) ou mesmo somente os atòs executórios (ex.: tiros dlsparddos nó Brasil, tendo a morte ocorrido na Colômbia), Pergunta-se: E . se somente forarn praticados atos preparatórios e m ' nosso território (ex.: compra da arma de fogo utilizada para praticar um homicídio), pode a lei brasileira ser aplicada? Não. Haverá necessidade de ocorrência dé pelo menos um alo ©cecutóno .em nosso território. . Cap. 2 - APLICAÇÃO DA LEJ PENAL n o t e m p o b n o es p a ç o I ~ ' ' ' ' 2.3 QUESTÕES COMENTADAS 41 (CESPBUnB 2008) Ê aplicado o principio real ou o principio da proteção aos crimes praticados em pais estrangeiro contra a administração pública por quem estiver a seu servigo. A lei brasileira, no entanto, deixará de ser aplicada quando o agente for absolvido ou condenado no exterior. Resposta; Errado. De fato, na hipótese citada, aplica-se o principio real (da proteção, ou da defesa). Entretanto, a lei pena! brasileira será sempre aplicada, ainda que o agente venha a ser absolvido ou condenado no estrangeiro. Trata-se de extratarritorialiciada incondicionada, prevista na aifnea c, do inciso i, do art. 7 ° , do Código Penai. (CESPE/UnB 2003) Pertinentes à eficácia da lei pena! no espaço, destacam-se os princípios da territorialidade, personalidade, competência real, justiça universal e representação. Resposta: Correto. São prinçiplos referentes à atuação da lei penal no espaço, dentre os quais se destaca, como regra, o princípio da territorialidade, segundo o qual a lei penal brasileira ô aplicada aos crimes cometidos dentro do território nacional. Contudo, a territorialidade não ô absoluta, sendo apficada de modo moderado (temperada), porque existem situações de incidência da lei penal brasileira a crimes cometidos fora do território nacional. A extraterritorialidade se compõe de vários princípios, dentre os quais, o da personalidade, o da competência reaí, o da justiça universai e o da representação. (Juiz de Direito do Estado de Tocantins 200? CESPEiUnB) A lei penai mais grave não s& aplica ao «rime continuado, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade. Resposta: Errado. Súmula 711 do Supremo Tribunal Federal: “A iei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência”. (Juiz de Direito do Estado do Piauí 2007 CESPE/UnB) Para processo o julgamento de um crime de homicídio praticado a bordo de uma embarcação brasileira que esteja em alto-mar, vindo da França para o Brasil, é competente o foro do íugar de nascimento do autor do crime. Resposta: Errado. Afirmação completamente absurda. Aplíca-se ao caso o princípio da territorialidade, previsto no § 1.®, 2,a parte, do art. 5.° dispõe: “Para os efeitos penais, consíderam-se como extensão do território nacional as embarcações e aeronaves brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, que se achem, respectivamente, no sspaço aéreo correspondente ou em alto-mar". (Ministério Público SE CESPE/UnB 2010} De acordo com a iei penai brasileira, o território nacional estende-se a a) embarcações e aeronaves brasileiras de natureza pública ou a serviço do governo ' brasileiro, onda quer que se encontrem. b) embarcações e aeronaves brasileiras de natureza pública, desde que se encontrem no espaço aéreo brasileiro ou em alto-mar. c) aeronaves e embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, onde quer que se encontrem. d) embarcações e aeronaves brasileiras de natureza pública, desde que se encontrem a serviço do governo brasileiro, e) aeronaves e embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, desde que estejam a serviço do governo do Brasil e se encontrem no espaço aéreo brasileiro ou em aiío-mar. 42 DIREITO PENAL para concurso - POLlClA FEDERAL - Emerson Cssfelo Branco Resposta: A. Território nacional é todo o espaço de exercício da soberania de um país, Para efeitos penais, o Código Penal estabeleceu como território brasileiro todas as embarcações e aeronaves públicas, independentemente do lugar em que se encontrem. No caso das embarcações e aeronaves brasileiras privadas, a Sei pena! brasileira não se aplica quando estas se encontram em território estrangeiro, ou em espaço ou mar territorial estrangeiro, FlcarSo, contudo, sujeitos á lar brasiielra tais crimes se forem praticados em território estrangeiro e ai não sejam julgados, desde que atendidas ès condições previstas no art, 7°, § 2.51, do CP. 2.4 QUESTÕES CESPE/UnB 1. {Agente da Policia Federai 2004 - Prova azul ~ CESPE/UnB) Céila praticou crime punido com pena de reclusão de 2 a 8 anos, sendo condenado a 6 anos e 5 meses de reclusão em regime inicialmente semtatserto. Apelou da sentença penal condenatórla, para ver sua pena diminuída. Pendente o recurso, entrou em vigor tei que reduziu a pena do crime praticado por Célio para reclusão de 1 a 4 anos. Nessa situação, Célio não serã beneficiado com a redução da pena, em face do princípio da irrefroatlvidade da lei pena! previsto constitucionalmente. 2. (Delegado da Polícia Federat 2004 Regional branca - CESPE/UnB) Robervat foS definitivamente condenado pela prática de crime punido com reclusão de um a três anos. Após o cumprimento de metade da pena a ele aplicada, adveio nova lei, que passou a punir o crime por ele praticado com detenção de dois a quatro anos. Nessa situação, a lei nova não se aplicará a Roberval, tendo em vistá que sua condenação já havia transitado em julgado. 3. (Delegado - Polícia Ctvil/ES - CESPE/UnB) A le! temporária é exceção ao princípio da irretroativldade da lei penal, sendo ela ultra-atlva. 4. (Delegado - Polícia Civíl/SE 2006 - CESPE/UnB) Considere a seguinte situação hipotética. Patrício, nascido às 16 horas de determinado dia, praticou um roubo às 10 horas do dia correspondente ao seu 18.° aniversário. Preso em flagrante delito, a autoridade policial concluiu pela menorldade do conduzido, entendendo que a maioridade penal somente aerla alcançada à hora correspondente ao nascimento de Patrício, ou seja, ãs 16 horas. Nessa situação, a autoridade policial errou, visto que a maioridade penal começa à zero hora do dia em que a pessoa completa dezoito anos de idade. 5. (Delegado - Polícia CivilfTO 2008 - CESPE/UnB) Na hipótese de o agente iniciar a prática de um crime permanente sob a vigência de uma le), vindo o delito a se prolongar no tempo até a entrada em vigor de nova legislação, aplíca-se a última lei, mesmo que seja a mais severa; 6. (Delegado da Policia Federai 2004 Nacional - CESPE/UnB) Laura, funcionária pública a serviço do Brasil na Inglaterra, cometeu, naquele país, crime de peculato. Nessa situação, o crime praticado por Laura ficará sujeito à lei brasileira, em face do princípio da extraterritorialidade, 7. (Delegado da Polícia Federa! 2004 Regtonat branca ~ CESPHUnB) Um cidadão sueco tentou matar o presidente do Brasil, que se encontrava em visita oficiai à Suécia. Nessa hipótese, o crime praticado não ficará sujeito à lei brasileira. Cap. 2 - APLICAÇÃO DA LEI PENAL NO TEMPO E NO ESPAÇO 43 í " ' _ 8. {Delegado da Polícia Federal 2002 - CESPE/UnB) Em alto-mar, a bordo de uma embarcação de recreio que ostentava a bandeira do Brasil, Júíío praticou um crime de latrocínio contra Lauro. Nessa situação, aplicar-se-á a tei penal brasileira. S, {CESPE/UnB 2004) O princípio básico que norteia a aplicação da lei penal brasileira é o da territorialidade temperada. 10. (CESPE/UnB 2004) Ocorrido crime de homicídio no interior de navio tnifííar inglês ancorado em porto brasileiro, pelo princípio da territorialidade, apllcar-se-ã ao autor do fato a lei penal brasítelra. . 2,5 DICAS IMPRESCINDÍVEIS A abólitio criminis exclui todos os efeitos penais e civis da sentença penai condenatória? NSo. Efeitos penais, sim. Contudo, permanecem os efeitos civis. A denominada teoria da ponderação unitária, a qual não admite com binação de leis penais, prevalece atualmente em detrimento da teoria da ponderação diferenciada (admite combinação de leis penais para beneficiar o réu)? Sim. No Supremo Tribunal Federal, a mais recente orientação é no sentido de não se admitir combinação de leis (adoção da teoria da ponderação unitária), “sob pena de se estar criando uma nova lei que conteria o mais benéfico dessas iegislaç5es,V Na hipótese de várias leis penais, é possível a aplicação de lei in termediária mais favorável? Sim. Perfeitamente possível, conforme orientação do STF.5 Será sempre aplicada a lei vigente ao tempo do crime? Nem serapre. A lei vigente ao tempo do crime é a regra. Contudo, se a lei vigente ao tempo do resultado for mais benéfica, será esta aplicada, retroagindo para beneficiar o réu. Portanto, o candidato deve estar atento para os detalhes do quesito. 4 STF RHC 101,278/RI, 27.04.2010, 5 STF RE 418.876/MT, 30.03.2004. 44 DIREITO PENAL para concurso - POÜCIA FEDERAL - Emerson Castelo Brsnco Assim como nos crimes continuados e permanentes, em relação aos. habituais, adota-se o mesmo raciocínio utilizado quanto ao tempo do crime? Sim. Havendo várias leis penais durante o cometiraento de crime habitual, aplica-se a última, ainda que mais grave. Quais as teorias adotadas em relação ao espaço aéreo correspondente e ao mar territorial brasileiro? Quanto ao espaço aéreo correspondente, resta contemplada a teoria da absoluta soberania do país subjacente, isto é, domínio pleno do Brasil do espaço aéreo do seu território. Já em relação ao mar territorial, o Brasil também exerce soberania, mas adota o direito de passagem inocente, conferindo a navios estrangeiros a possibilidade de circularem de passagem (transitoriamente). Obvia mente, se for cometido algum delito em nosso mar territorial, será aplicada, em regra, a lei penal brasileira. 'uai o significado do princípio da continuidade normativo-típica? É o efeito gerado quando uma norma penal é revogada, mas a mesma conduta continua sendo considerada criminosa por outra norma. Em outras palavras, a conduta apenas passa a constar na hipótese de incidência de outra norma penal. Não ocorre a abolitio criminis pro priamente dita, porque não haverá a descriminalizaçâo da conduta. O STF aplicou o princípio da continuidade normativo-típica í io caso do crime de apropriação indébita previdenciária, previsto no art 168-A do Código Penal6. No mesmo sentido, o STJ também o aplicou em relação ao Estatuto do Desarmamento.7 4 STF RHC 88.144/SP, 04.04.2006. 7 STJ RHC 18.722/5P, 04.05.2006. TEORIA GERAL DO CRIME 3.1 CONCEITO DE CRIME O conceito de crime possui três acepções: a) material: Todo fato humano que lesa ou expSe a perigo determinado bem jurídico. b) formal: É tudo aquilo que o legislador descrever como crime. c) analítica: É todo fato típico, ilícito e cuipável (conceito tripartido). O conceito analítico de crime pode ser bipartido ou tripartido, a depender da corrente adotada, 1 * Corrente: Conceito bipartido. É fato típico e antijurídico (ilícito). Tipi- cidade e antijuridicidade são os elementos do crime. A culpabilidade é apenas pressuposto de punibiiidade, isto é, de aplicação da pena, 2.® Corrente: Conceito tripartido. É fato típico, antijurídico (ilícito) e cuipável (culpabilidade). Nesta teoria, a culpabilidade deixa de ser mero pressuposto de aplicação da pena (punibiiidade), passando a ser considerada elemento estrutural do crime. Outras correntes: a) quadripartido - crime seria um fato típico, anti- jurídico, cuipável e punível; b) fato típico, antijuiidicidade e punibiiidade (posição de Luiz Flávio Gomes); NOTEI Posição majoritária: teoria trtparficia. Crime é uma conduta típica (fato típico), contrárÍa: ao : direito {antijuridicidade) sujeitai a um jufzo de censurabilrcfade social sobre o fato e seu autor (cu)pabilidade). 46 DIREITO PENAL para concurso - POLlCiA FEDERAL - Emerson Casiela Branco A punibilidade não é requisito do crime, mas sua conseqüência jurídica. NOTEI A infração penal é o gênero, do qual decorrem as espécies crime e contravenção penal, Mas qual a diferença entre crime e contravenção penal? A diferença não è em termos de essência, situando-se apenas no campo da pena. Os crimes sujeitam seus autores às penas de reclusão e detenção, enquanto as contravenções têm como pena a prisão simples. As penas do crime podem ser privativas de liberdade, isolada, alternativa ou cumulativamente com multa; enquanto, para as contravenções penais, admite-se a possibilidade de fixação unicamente da multa, embora a pe nalidade pecuniária possa ser ccminada em conjunto com a prisão simples ou esta também possa ser prevista ou aplicada de maneira isolada.1 3.2 TEORIAS DA CONDUTA 3.2.1 Teoria causalista (naturalista ou causai) Segundo esta teoria, a conduta é neutra, desprovida de qualquer valoração. O dolo e a culpa estão situados na culpabilidade, e não no fato típico. Na conduta, não existe qualquer análise de ordem subjetiva. Tomemos como exemplo um motorista que, dirigindo seu veículo auto motor, com todos os cuidados devidos, atropela e mata ura bêbado que atravessara a rua abruptamente. Para os adeptos desta teoria, o motorista causou fisicamente (natural isticamente) um resultado previsto na norma penal, havendo, portanto, fato típico. A análise do dolo e da culpa so mente interessaria quando fosse analisada a culpabilidade. 3.2.2 Teoria finalista Criada por Hans WelzeL conduta é entendida como a ação ou omissão voluntária e consciente, que se volta a uma finalidade. A ação humana é o exercício da atividade finalista. Não é possível separar o dolo e a culpa da conduta típica, cómo se fossem fenômenos distintos. Diferentemente da teoria causalista, não basta a análise do nexo causai para determinar-se a configuração do fato típico. É preciso analisar se o dolo e a culpa estão presentes. A teoria finalista, adotada pelo Código Penal brasileiro, é a corrente ma joritária. A principal crítica dos finalistas aos causalistas é a impossibilidade 1 NUCCt, Guilherme de Souí». Manual de Direita Penal - Porte Geral e Parte Especial, São Paulo: Revista dos Tfiburtais, 2005, p. ISO. Cap. 3 - TEORIA GSRAL DO CRIME 47 de se separar a vontade da conduta, uma vez que esta se origina justamente da vontade. Separar a conduta da vontade seria uma contradição absurda. 3.2.3 Oatras teorias Teoria social da ação - É pensamento de natureza sociológica, se gundo o qual a conduta somente será típica se não for adequada social mente. Analisa-se a adequação da ação ao meio socíal. A ação somente será criminosa se gerar um resultado socialmente relevante. Era face da insegurança jurídica desta, não foi adotada pelo Código Penal. Teoria funcional (ftmcionalista) - Nesta, a análise da adequação típica leva em consideração a política criminal. O importante é resolver as diversas situações com justiça. Deve-se buscar a solução mais eficaz para o pleno funcionamento do sistema. Não foi adotada, por gerar in segurança, incertezas na aplicação do Direito Penal. 3.3 SUJEITO ATIVO DO DELITO Sujeito ativo é a pessoa que pratica a conduta criminosa descrita na norma penal. Seu significado abrange também aquele que, apesar de não executar a ação nuclear (ex.: “matar”, “subtrair”, “constranger”), contribui de forma secundária (denominado participe), colaborando para a ação criminosa, conforme estudaremos adiante. Alguns crimes podem ser praticados por qualquer pessoa (ex.: homi cídio), enquanto outros exigem características especiais do agente (ex.: ser mãe e estar em estado puerperal, no crime de infanticídío - art, 123 do CP; ser funcionário público, no crime de peculato - art. 312 do CP). MOTE! A pessoa jurídica somente pode ser sujeito ativo nos delitos pratica dos contra o meio'ambiente {Lei n.'° 9.605/1998). Contudo, a Constituição Federai de; 1088, nò . § dò.art , ''173,Vpjeyê’aindá'-á responsabilidade penal ds pessoa- juridica' nos crimès contra; o 'sistema’ financeiro nacional, contra a órdenr econômica e contra a economia popular. 3.4 SUJEITO PASSIVO DO DELITO Sujeito passivo (vítima, ofendido) é o titular do bem jurídico protegido. Espécies de sujeito passivo: a) formal (ou mediaío)-^ é o Estado, responsável pela tutela penal; b) material (ou imediato) - É o titular do 48 DIREITO PENAL para concurso - POÜCIA FEDERAL - Emerson Castelo Branco bem jurídico ofendido. Pode ser a pessoa física ou jurídica, a coletivi dade, o Esiado. Por exemplo, no crime de homicídio o sujeito passivo formal é o Estado, mas o sujeito passivo material é a pessoa que teve sua vida destruída. Os crimes em que os sujeitos passivos materiais são coletividades destituídas de personalidade jurídica (ex.: família, sociedade) são deno minados vagos. O incapaz pode ser sujeito passivo, porque é titular de direitos. O morto não pode ser sujeito passivo, pois não é titular de direitos, podendo ser objeto. Assim, no delito do art, 138, § 2°, do CP (“calú nia contra os mortos”), os sujeitos passivos são os familiares do morto, responsáveis por sua memória. O ser humano pode ser sujeito passivo mesmo antes de nascer? Sim. Por exemplo, no crime de aborto. O feto tem direito à vida, sendo esta pro tegida pela norma penal que determina a punição à prática do aborto. Os animais podem ser sujeito passivo? Não. São apenas objeto mate rial, ou seja, os animais não são titulares de direitos. Por isso, em caso de subtração de um animal, sujeito passivo será seu proprietário. No crime de maus-tratos aos animais, é a coletividade (Lei n.° 9.605/1998, art. 32). NOTEI O sujeito passivo è o prejudicado não são necessariamente a mesma pessoa, ainda que isto ocorra na msloria dos casos. Prejudicado é qualquer pessoa a quem.ò crime haja causáctó um'prejuízo, patrimonial ou nâo, tendo’ por conseqüência o direito ao ressarcimento; enquanto o sujeito passivo é o titular do interesse jurídico vioíádo, qiie também tem esse direito. A pessoa jurídica pode ser sujeito passivo, desde que sua natureza se adéque ao crime. Assim, uma empresa pode ser vítima dos crimes de furto e de dano, mas não do crime de Homicídio ou de estupro. NOTÊ! Pode o sujeito ativo ser. ao rrsésmo tempo sujeito passivo de; algum çrime'em facéde siia própria 'çondúfa? Em;regrà;..não.'A conduta que refjete ápenás no dirèitófdq próprio agériíe, sem atingir terceiros nao ..configura crime'àlgüm. ê o caso, por. exemplo, da autolesão, queVsomènte' terá re percussão penal se atingir terceiro, como'no'caso de o agente'que ofende sua saúde, com o intuito de obter valor do seguro {estelionato, art. 171, § 2.°, V). O sujeito passivo será a empresa seguradora. Exceção: o crime de rixa (art, 137), em que os rixosos são; ao mesmo tempo, sujeitos ativos e passivos. O rixòso é sujeito ativo em relação à sua própria conduta; e ê sujeito passivo em razão da coauforia ou participação dos outros.2 ! Para Damásio, o sujeito ativo jamais poderia ser sujeito passivo da mesma ação. Wde JESUS, Damásio E. de. Direito Penal - Geral - V.h 27.* ed., Sâo Paulo: Saraiva, 2G0S, pág. 174. Cap. 3 - TEORIA GERAI DO CRiME 49 3.5 OBJETO JURÍDICO E OBJETO MATERIAL Objeto jurídico do crime é o bem jurídico, isto é, o interesse protegido pela norma penal. É a vida, no homicídio; a integridade corporal, nas lesões corporais; o patrimônio, no furto; a honra, na injúria; a liberdade sexual da pessoa no estupro; a administração pública, na corrupção passiva. Objeto material do crime é a pessoa ou coisa sobre as quais incide a ação. Não se confunde com o objeto jurídico. Dessa forma, no crime de homicídio, o objeto material é o corpo da pessoa, e não a vida; no furto, é a coisa subtraída, e não o patrimônio; no estupro, é o corpo da pessoa e não sua liberdade sexual, Há crime sem objeto material? Sim. É o caso, por exemplo, dos crimes de injúria verbal, falso testemunho, dentre outros. Observe: Todo crime possui objeto jurídico protegido, mas nem todo crime possui objeto material. 3.6 ANÁLISE DOS ELEMENTOS ESTRUTURAIS DO CRIME 3.6.1 Fato típico Fato típico é a conduta humana positiva (ação) ou negativa (omissão), dolosa ou culposa, que gera um resultado (em regra), estando prevista na norma penal (tipicidade). Possui os seguintes elementos: a) Nexo de causalidade Nexo causai. É o elo que se estabelece entre a conduta do agente e o resultado, por meio do qual é possível dizer se aquela deu ou não causa a este. Ex.: um motorista, embora dirigindo seu automóvel com absoluta diligência, acaba por atropelar e matar uma criança que se desprendeu da mão de sua mãe. Mesmo sem atoar com doto ou culpa, o motorista deu causa ao evento morte, pois foi o carro que conduzia que passou por sobre a cabeça da vítima. No entanto, para a configuração do fato típico, não basta a existência do nexo causai. É necessário comprovar a presença de dolo ou culpa, conforme estudaremos adiante. b) Conduta dolosa ou culposa O dolo e a culpa constituem o denominado elemento subjetivo do tipo. Assim, para que um determinado fato seja considerado típico, é so DiREiTO FENAL pare concurso - FOLfCSA FEDERAL - Emerson Castelo Branco necessário que o ato tenha sido praticado com dolo ou com culpa, Não havendo dolo ou culpa, o ato será involuntário e, por conseguinte, o fato será atípico, como nas hipóteses de caso fortuito, força maior, coação física e atos de puro reflexo.3 c) Resultado O resultado pode ser: - Naturalístico - consiste na modificação do mundo exterior provocada pela conduta. Ex.: crimes de homicídio (destruição da vida); de lesão corporal .(ofensa à integridade física ou saúde mental), dentre outros, Obs: a maioria dos delitos gera resultado naturalístico. - Jurídico - Alguns crimes não trazem resultado naturalístico (alteração no campo dos fatos). Ex,: crimes de porte ilegal de arma de fogo. O resultado é apenas jurídico. d) Tipicldade Consiste na adequação da conduta com a descrição da norma penal. Em outras palavras, é adequação do fato à descrição legal. Os elementos do tipo penal dividem-se ainda em: 1.® Classificação: a) Tipo normal: contém somente elementos objetivos (descritivos); b) Tipo anormal: contém elementos objetivos, subjetivos e normativos. Os tipos denominados derivados são os que se formam a partir do tipo fundamental, mediante o destaque de circunstâncias que o agravam ou atenuam. 2.® Classificação: a) Objetivos (ou descritivos) - São aqueles cujo significado pode ser compreendido sem juízo de valor em outros campos do conhecimento. Heleno Cláudio Fragoso, em sua obra clássica Lições de Direito Penal, afirma que são elementos tão claros que até uma criança conseguiria depreender o seu significado. Assim, o verbo (núcleo do tipo) previsto no tipo penal é um elemento objetivo. Ex.: “matar”, “subtrair’, "cons tranger” etc. b) Normativos - São aqueles em que o juiz deve buscar seu significado em outros campos do conhecimento, jurídico, histórico, cultural etc. J Toledo, Francisco de Assis. Princípios básicos do direito penai São Paulo: Saraiva, 5.® ed, São Paulo, Saraiva, p. 123, Cap. 3 - TEORIA GERAL DO CRIME 51 Ex.: “coisa alheia”, “funcionário publico”, “indevidamente”, “sem autorização”. c) Subjetivos - Caracterizam o doto e a culpa. Em alguns delitos, são constituídos pelos elementos subjetivos especiais do tipo, esses últimos denominados elementos subjetivos do injusto (antigamente denominado dolo específico). 3.6.2 Antijuridicidade (ilidtude) Antijuridicidade é a relação de contrariedade entre a conduta cometida e o ordenamento jurídico. Em outras palavras, a conduta será antijurídica quando contrariar uma norma de Direito, isto é, quando for contrária ao Direito. Implica, na eonceituação clássica de Zafíarom, na “afirmação de que um bem jurídico foi afetado”, contrariando a ordem jurídica.4 Uma conduta pode ser antijurídica sem ser criminosa. Basta que o ato antijurídico praticado pelo agente não esteja descrito na norma penal como crime. Um exemplo disso ocorre quando um dos contratantes deixa de cumprir o contrato, ou, quando o empregador deixa de pagar os direi tos trabalhistas devidos ao empregado. Esses atos, apesar de ilícitos, não constituem ilícito penai São antijurídicos, mas não são típicos* porque não estão descritos na norma penal como crime. 3.6.3 Culpabilidade Culpabilidade é um juízo de reprovação social, censurabilídade. A reprovabilidade recai sobre o agente e sobre o fato. Guilherme Nucci a conceitua como “um juízo de reprovação social, incidente sobre o fato e seu autor, devendo o agente se imputável, atuar com consciência potencial de ilicitude, bem como ter a possibilidade e exigibilidade de atuar de outro modo”.5 A culpabilidade é elemento do crime, e não mero pressuposto da pena. Dessa forma, se o fato for típico e antijurídico, ausente a culpa bilidade, não será infração penal. Na teoria causalista (minoritária e não adotada), o dolo e a culpa integram o conceito de culpabilidade. A ZAFFARONI, Eugênio Raúi. Manual de Direito Pena! brasileiro, São Paulo, ed. Revista dos Tribunais, 1998, p. 572. 5 NUCCI, Guilherme da Souza. Manual de Direito Penal - Parte Geral e Parte Bipecial, São Pauto: Revista dos Tribunais, 2O0S, p. 251. 3.7 QUESTÕES COMENTADAS 52 PiREtTQ PSMAL para concurso — POLÍCIA FEDERAL - ÉtrwsQfí Cústoto Branco (CESPE/UnB 2008) A pessoa jurídica pode ser sujeito ativo cie crime, dependendo da sua responsabilização penal, consoante entendimento do STJ, da existência da intervenção de uma pessoa física que atue em nome e em benefício do ente moral. Resposta: Certo. Nesse sentido, é a orientação do Superior Tribunal de Justiça, A previsão legai srtcomra-se no art. 3.® da Lei n.c 9,605/1998 (Lei Ambiental); e no § 3.‘ , do art, 226 da CF/88. Da mesma forma, o Supremo Tribunal Federal orienta-se favoravelmente à responsabilidade penal da pessoa jurídica nos crimes ambientais. {Papiloscoplsta Da Polícia Federal 2004 - CESPE/UnB) Da acordo com a teoria bipartida, o crime é o fato tipico e aníijurtdico, sendo a culpabilidade pressuposto da aplicação da pena. Resposta: Correta, Pela Teoria Bipartida, os elementos indispensáveis do crime são apenas o fato típico e a antijurldlcidade. É uma teoria minoritária entre os doutrlnadores nacionais e estrangeiros. Note: A resposta somente está correta, porque o quesito Indaga sobre o conceito de crime na teoria bipartida. A teoria majoritária è a tripartidal 3.8 QUESTÕES CESPE/UnB 1. (Agente da Poiicra Federai 2004 - Prova azul - CESPE/UnB) Sujeito ativo do crime é aquele que realiza total ou parcialmente a conduta descrita na norma penal inorímínodora, tendo de realizar materialmente o ato correspondente ao tipo para ser considerado autor ou partícipe. 2. (Escrivão da Polícia Federai 2002 - CESPE/UnB) Entende-se por sujeito passivo do delito o titular do bem jurídico lesado ou ameaçado; assim, se um indivíduo cometer homicídio contra uma criança, esta será o sujeito passivo do crime, sendo irrelevante, para esse fim, o fato de ela ser juridicamente incapaz. 3. (Escrivão da Polícia Federai 2002 - CESPE/UnB) A fim de evitar acusações indesejáveis contra o cidadão, a teoria da tipicidade das normas aceita pelo vigente Código Penal (CP) inclui nos tipos penais unicamente elementos objetivos, isto é, aqueles que se referem aos fatos concretos que configuram a tesão à norma penai, e não elementos subjetivos nem cie nenhuma outra natureza. 4. (Escrivão da Polícia Federal 2002 - CESP§fUnB) Se um indivíduo praticou ato jurídico penalmente atípico, isso impede que se lhe atribua culpabilidade, sob a perspectiva do direito penal. 5. {Papifoscopista da Polícia Federai 2004 - CESPE/UnB) A pessoa jurídica pode ser sujeito ativo do crime de homicídio, de acordo com a teoria da ficção legal. 6. (Delegado ~ Polícia Civií/TQ 2008 - CESPE/UnB) A pessoa jurídica poderá ser alcançada administrativa, civii e penalmente nos casos em que a conduta ou atividade lesiva ao meio ambiente seja cometida por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão coleglado, no interesse ou beneficio da sua entidade. 7. (Delegado da PoEicia Federai 2004 Regional branca - CESPE/UnB) Um delegado de polícia federai determinou abertura de inquérito para investigar crime ambientai, apontando como um dos indiciados a madeireira Mogno S.A. Nessa situação, houve irregularidade na abertura do inquérito porque pessoas jurídicas nâo podem ser consideradas sujeitos ativos de infrações penais. Cap. 3 - TEORIA GERAL, DO CRIME 53 8. (Agente - Polícia Civil/RR 2003 - CESPE/UnB) Entende-se por punibiiidade a possibilidade jurídica de o Estado impor sanção penal a autor, coautor ou participe de Infração penal. 9. (Escrivão - Policia Civil/ES 2006 - CESPE/UnB) Sujeito ativo do crime é o que pratica a conduta delituosa descrita na lei e o que, de qualquer forma, com ele colabora, ao passo que o sujeito passivo do delito é o titular do bem jurídico lesado ou posto em risco pela conduta criminosa. 10. (Escrivão “ Policta Civil/ES 2006 - CESPE/UnB) Mesmo diante da práttca de um fato atípico, a culpabilidade deverá ser aferida como juízo de censurabilidade e reprovabilidade, visto que a culpabilidade não está vinculada juridicamente à tipicidads. 11. (Escrivão - Polícia Civil/ES 2006 - CESPE/UnB) Há crimes em que a pessoa será, ao mesmo tempo, o sujeito ativo e o sujeito passivo do delito em face da sua própria conduta. Assim, se o indivíduo lesa o próprio corpo para receber o valor de seguro, ele é sujeito ativo de estelionato e passivo em face do dano resultante à sua Integridade física. 12. (Escrivão - Polícia CivH/ES 2006 - CESPE/UnB) Em face da adoção do critério tricotõmico, no Brasil, o gênero Infração penai comporta três espécies: crime, delito e contravenção. 13. (Escrivão - Polícia Civil/PA 2006 - CESPE/UnB) A imputabilidade é a possibilidade de se atribuir o fato tipico s Ilícito ao agente. 14. (Escrivão - Polícia Clvíl/PA 2006 ~ CESPE/UnB) A ausência de dolo exclui o tipo, primeiro elemento estruturai do crime. 16. (CESPE/UnB 2003) De acordo com o ordenamento penal vigente, o homem morto pode ser sujeito passivo de crime. 3 9 DICAS IMPRESCINDÍVEIS A infração penal (gênero) divide-se em crime e contravenção penal (espécies). Quais as principais diferenças entre crime e contravenção? São as seguintes: a) em regra, crime admite forma tentada; contra venção, jamais; b) crime somente existe se estiveram presentes o dolo ou a culpa; na contravenção, basta a conduta voluntária; c) no crime, a ação penal pode ser privada, pública condicionada e incondiciona da; na contravenção, a ação sempre é incondicionada; d) no crime, o limite de cumprimento da pena é de 30 anos; na contravenção, é de cinco anos; e) no crime, existe extraterritorialidade, isto é, a lei penal pode ser aplicada a fatos cometidos no estrangeiro; já na con travenção, somente se o fato for cometido no território nacional; f) no crime, a pena privativa de liberdade é de detenção ou de reclusão; na contravenção, a pena privativa de liberdade é de prisão simples; 5 4 DIREITO PENAL para concurso -- POLlCíA FEDERAL — EmôfSOfi Cgsí&Iq BrãrtCO g) no crime, pode existir o erro de íipo ou o erro de proibição; na contravenção somente o erro de direito. teoria orgânica (ou da rea lidade) ou a teoria da ficção jurídica? Foi adotada a teoria orgânica, segundo a qual pessoa jurídica não se confunde com seus membros. Já a teoria da ficção jurídica (não adotada!) prega que a pessoa jurídica não tem vontade, nem existência, confundindo-se com seus membros. Somente a teoria orgânica permite se falar em responsabilidade penal da pessoa jurídica e da pessoa física nos crimes ambientais (denomi nada teoria da dupla imputação objetiva). f É ^ a ^ ^ ^ M T T ^ i ^ d a ^ c w ^ ^ ^ l ^ c a u s a s de exclusão do fato típico com as causas de exclusão da antijuridicidade e da culpabilidade. Quais as causas de exclusão de cada um dos elementos estruturais do crime? - Causas de exclusão do fato típico: a) princípio da insignificância; b) ausência de dolo e de culpa; c) situações imprevisíveis; d) movimento reflexo; e) causa relativamente independente superveniente que, por si só, causou o resultado; f) erro de tipo; g) coação física irresistível; h) sonambulismo; i) hipnose; j) causas absolutamente independentes; I) ausência de tipicidade; m) desistência voluntária; n) arrependimento eficaz. - Causas de exclusão da antijuridicidade: a) legítima defesa; b) estado de necessidade; c) estrito cumprimento do dever legal; d) exercício regular de direito; e) consentimento do ofendido; f) causas legais específicas; g) outras causas supralegais de exclxfsão. - Causas de exclusão da culpabilidade: a) coação moral irresistível; b) inexigibilidade de conduta diversa; c) ausência de potencial consciência da ilicitude; d) erro de proibição; e) obediência hierárquica de ordem não manifestamente ilegal; e) inimputabilidade. DA RELAÇÃO BE CAUSALIDADE 4.1 NEXO CAUSAL O nexo causai é o liame (vínculo) entre a ação (ou omissão) do agente e o resultado gerado. É a comprovação de que a conduta do agente gerou determinado resultado. Causa é toda ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido, independentemente do seu grau de contribuição. Em termos de nexo causai, não existe diferença entre causa e condição. Para se apurar se uma situação fática é causa do crime, deve-se utilizar o critério do juízo hipotético de eliminação ou de eliminação hipotética (teoria de Thyren). Elimina-se determinado fato da cadeia causai; e, se ainda assim, o resultado ocorrer, não seria ele causa do resultado. Ex.: entregar o revólver para o agente desfechar tiros contra a vítima é causa, porque, se não existisse a entrega da aima, não haveria os disparos desta e, consequentemente, a destruição da vida. 4.2 TEORIA DA EQUIVALÊNCIA DOS ANTECEDENTES CAUSAIS A rt. 13. O resultado, da que depende a existência do crime, somente é imputável a quem íhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido. Teoria da equivalência dos antecedentes (conditio sine qua non): toda e qualquer conduta que, de algum modo, tiver contribuído para a produ ção do resultado deve ser considerada sua causa. Dessa forma, a “causa da causa também é causa do que foi causado” (causa causae est causa 56 OiREITO PENAL para concurso - POLÍCIA FEDERAL - Emerson Castelo Branco causati). Não existe distinção entre condição e causa, considerada esta como toda ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido. Ê a teoria adotada pelo Código Penal Conforme estudado no tópico anterior, adota-se o juízo de eliminação hipotética: Se excluído um fato, ainda assim ocorrer o resultado, é sinal de que aquele não foi causa deste. A teoria da equivalência dos antecedentes causais pode gerar uma regressão ao infinito. O fabricante da arma e a mãe responsável pela concepção do filho criminoso teriam suas condutas dentro do nexo causai, gerando uma situação esdrúxula. Mas não serão punidos. Isso porque, além do mero nexo causai, exige-se o nexo normativo: a presença de dolo ou culpa. O nexo causai só tem relevância nos crimes cuja consumação depende do resultado naturalístico, Nos delitos em que este é impossível (crimes de mera conduta) e naqueles em que, embora possível, é irrelevante para a consumação, que se produz antes e independentemente dele (crimes formais), não há que se falar em nexo causai, mas apenas em nexo normativo entre o agente e a conduta. 4.3 OUTRAS TEORIAS DO NEXO CAUSAL Teoria da causalidade adequada - Somente se considera causa do crime a conduta idônea à produção do resultado. Por exemplo, o fa bricante da arma e o operário da fábrica jamais teriam suas condutas consideradas causa do crime, porque não seriam idôneas para produzir o resultado morte. Não foi adotada pelo Código Penal. Teoria da ímputação objetiva — Somente haverá nexo causai, quando o comportamento do agente tiver criadcPum risco não tolerado, nem per mitido, ao bem jurídico. Dessa forma, a venda lícita de uma arma, inde pendentemente de qualquer outra análise, não pode ser considerada causa do resultado, uma vez que o vendedor não agiu de modo a produzir um risco não permitido e intolerável ao bem jurídico, não tendo o comerciante a obrigação de fiscalizar aquele agente para o qual vendeu a arma. 4.4 SUPERVjENÍÊNCIA CAUSAL 4.4.1 Considerações iniciais A previsão normativa do estudo da superveniência causai encontra -se no § l .0, do art. 13 do Código Penal, in verbis: “A superveniência Cap. 4 - DA RELAÇÃO DE CAUSAUPADE 57 de causa relativamente independente exclui a impuíação quando, por si sój produziu o resultado; os fatos anteriores, entretanto, imputam-se a quem os praticoun. As causas podem ser de duas espécies: dependentes e independentes. Causa dependente é aquela que se origina da conduta e se insere na linha normal de desdobramento da mesma. Ex.: na conduta de atirar contra o peito da vítima, são conseqüências: a perfuração em seu corpo, a lesão provocada, a hemorragia interna gerada, a morte e, por fim, a cessação da atividade cerebral. As causas dependentes se originam da conduta anterior, numa conseqüência natural e esperada. Causa independente é aquela dita imprevisível, que não decorre do desdobramento causai da conduta, não sendo decorrência esperada da conduta anterior. Dessa forma, duas são as espécies de causas independentes. Vejamos: - causa absolutamente independente: não se origina da conduta do agente. Causa o resultado sem relação alguma com a conduta. - causa relativamente independente: origina-se da conduta do agente, mas é independente, uma vez que atua como se, isoladamente, tivesse produzido o resultado. 4.4.2 Causas absolutamente independentes As causas absolutamente independentes têm origem totalmente diver sa da conduta. Completamente fora da linha de desdobramento causai, podem ser de três espécies: a) Preexistentes: Existem antes de a conduta ser praticada. Ex.: Durante a madrugada, “A” atira contra “B”, quando este dormia, vindo a fale cer, não em conseqüência dos tiros, mas sim de um envenenamento, provocado por “C”, meia hora antes. Note: A causa é absolutamente independente preexistente, porque não derivou da conduta de “A", ocorrendo antes desta. b) Concomitantes: Surgem no mesmo momento (paralelamente) em que a ação é realizada. Ex.: “A” efetua disparos de arraa contra “B” no mesmo momento em que um raio cai sobre “B”, fulminando sua vida. Note: É absolutamente independente concomitante, porque teve origem diversa da conduta, atuando no mesmo momento desta. c) Supervenientes: Surgem após a conduta. Ex.: após “A” ter envenenado seu desafeto “B”, antes de o veneno produzir efeitos, surge “C” int- 58 DIREITO PENAL para concureo ~ POtlCIA FEDERAt - firoreon Castefo Branco migo de “A”, matando-o com vários disparos de arma de fogo. Note: Os tiros disparados por “C” não guardam relação alguma com o en venenamento, atuando supervenientemente para causar o resultado. NOTE! Quais as conseqüências das causas absolutamente independentes? Fulminam completamente o llame causai, fazendo com que o agente res ponda somente pelos atos praticados, mas não pelo resultado, porque não lhe deu causa. Nos casos exemplificados, haverá responsabilidade apenas por crime de homicídio na forma tantada. 4.43 Causas relativamente independentes As causas relativamente independentes originam-se da própria con duta do agente, mas isoladamente geram o resultado. Podem ser de três espécies: a) Preexistentes: Ocorre antes da conduta. “A” lesiona corporalmente “B”, hemofílico, destruindo sua vida. A lesão não seria suficiente para provocar a morte de “B”, tendo o resultado morte ocorrido em face do estado de saúde preexistente da vítima. Por mais que a hemofilia tenha contribuído para a morte, a situação foi provocada pela conduta do agente “A”, daí porque é causa apenas relativamente independente preexistente. b) Concomitantes: Ocorre durante a conduta. “A” persegue “B" tentando matar-lhe com instrumento pérfuro-cortante; ocasião que “B” assus tado, atravessa uma avenida e é atropelado por um veículo, falecendo imediatamente. A destruição da vida de "B” se deu pelo atropelamento, mas esta situação somente ocorreu porque era perseguido por "A”, atentando contra sua vida. Por isso mesmo, a causa é apenas relati vamente independente concomitante. c) Supervenientes: Ocorre após a conduta. “A” atinge “B” com um tiro. internado na UTI de um hospital, “B” sofre infecção hospitalar, que terminou por agravar seu quadro e por ocasionar sua morte. A causa é independente, porque a morte foi causada pelo agravamento do quadro médico, em face da infecção hospitalar. Entretanto, a independência é relativa, porque se não fosse o tiro recebido, “B” não teria sido internado num hospital, nem sofrido a referida infecção hospitalar. Em regra, as causas relativamente independentes preexistentes, con comitantes e supervenientes não excluem a responsabilidade penal pelo resultado. Assim, nos exemplos citados, “A” deverá responder por crime de homicídio na forma consumada. Cap. 4 - DA RSLAÇAO DE CAUSALIDADE 59 NOTE! A exceção é a causa relativamente independentes superveniente que, por sf sõ, causou o , resultado. Nesse caso, não haverá responsabilidade pelo resultado, e sim apenas pelos atos anteriormente praticados. Ex,;, “A” quebra a perna de “B". Levado numa ambulância, o motorista desta fura o sinal vermelho, capotando-a, o que termina por ocasionar a morte de “B”, por traumatismo craniano. Ou ainda, se "B” tivesse num hospital, pondo gesso na perna, quando acontece um incêndio no local, provocando sua morte. Ern ambos os casos, trata-se de causa relativamente Independente superveniente que, por si só, gerou o resultado. 4.5 RELEVÂNCIA CAUSAL BA OMÍSSÃG O conceito de delito, conforme leciona Luiz Regis Prado, “é uno, sendo a ação e a omissão formas de conduta idôneas a sua realização e que têm estruturas diversas. Os delitos comissivos só podem ser pra ticados mediante comportamento. De sua vez, os delitos omissivos se verificara unicamente através de omissão.”1 A omissão é um não fazer, isto 6, a não execução de uma ação (“ação negativa”). Como tal, não causaria nada, afinal um “nada” não poderia causar um resultado. Como então responsabilizar penalmente a omissão - de um agente? Como determinar sua relevância? Dois são os critérios: Poder e dever. Primeiro, avalia-se a possibilidade de evitar o resultado. Depois, o dever de evitar o dano. No § 2.°, do art. 13, estão elencadas as situações de dever de agir (fala-se posição de garantiâor): a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância. É a situação do dever (imposição) legal. Ex.: pais em relação aos filhos, membro do corpo de bombeiro em relação à pessoa em perigo. b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado, É a situação que decorre de contrato, ou qualquer outro tipo de com promisso. Ex.: babá em relação a uma criança; professor de natação em relação a seus alunos; guia em relação a turistas. c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do re sultado. É a situação da pessoa que, com seu comportamento anterior, criou 0 risco para a produção do resultado. Ex.: aquele que afunda o navio, ou causa um incêndio, não pode se omitir, porque criou o risco do resultado. 1 PRADO, Lute Regis. Curso de Direito Penal Brasileiro ~ Vol. J - Parte Gemi, S.* £d., São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005, p. 169. 60 DIREITO PENAL para concurso - POLÍCIA FEDSRAL — Emerson Cgsíefo Branco MOTE! O Código Pena! adotou o critério legal, Isto é, os casos de dever legal devem vir expressos. O critério não é o judicial (livre-arbttrio do juiz), critfcável por gerar insegurança, A causalidade, nas situações de omissão penalmente relevante, não é fátíca, mas sim jurídica, consistente no fato de o emitente nâo haver atuado, como devia e podia, para evitar o resultado. Não há nexo causai físico. Porém, existe um elo jurídico. Teorias da omissão: - Naturalístíca: para essa teoria, a omissão é um fenômeno causai, que pode ser claramente percebido no mundo dos fatos, já que, em vez de ser considerada uma inatividade, caracteriza-se como verdadeira espécie de ação; - Normativa: para que a omissão tenha relevância causai (por presunção legal), há necessidade de uma norma impondo, na hipótese concreta, o dever jurídico de agir. O Código Penal brasileiro adotou a teoria normativa. 4.6 QUESTÕES COMENTADAS (CESPE/UnB 2004) O Código Penal adota o principio da causalidade adequada, segundo o qual se considera causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido, devendo-se demonstrar, contudo, uma idoneidade mínima da conduta para produzir o resultado. Resposta; Errado. A teoria adotada pelo Código Penal, quanto à relação de causalidade, é a da equivalência dos antecedentes, em que ô causa toda a ação ou omissão sem a qua! o resultado não teria ocorrido (art. 13, caput, do CP), desde que tenha havido dolo ou culpa por parte de quem deu causa a jf resultado. (CESPE/UnB - 2006) Caio atingiu Rosa na região do tórax, com intenção de feri-la. Rosa, por ser diabética, morreu em virtude das complicações advindas do ferimento. Nessa situação, por tratar-se de causa concomitante relativamente independente, Caio responderá por crime de homicídio doloso, na modalidade dolo eventual. Resposta: Errado. De fato, responderá por crime de homicídio doloso eventual. Porém, trata-se de causa preexistente (e não concomitante!) relativamente Independente. (CSSPEftJnB 2004) Alice, em sua casa, viu o filho da vizinha, de três anos, jogar-se na piscina e afogar-se, o que o levou ã morte. Nessa situação, mesmo quedando-so inerte, nada tendo feito para evitar a produção do resultado, Alice hão responderá por homicídio, uma vez que não tinha o dever de evitar o resultado. Resposta: Correto. A omissão penalmente relevante só se dá nos casos em que há o dever de agir, eiencados no art. 13, § 2°, do CP. Assim, o homicídio por omissão só será possível nesses casos, os quais nSo se encontram na assertiva tratada. Alice responderá apenas por omissão de socorro. Cap. 4 - DA RELAÇÃO DE CAUSAUDADE 61 (Defensor Púbtíco/ES - CESPE/UnB ~ 2006) Caio atingiu Rosa na região do tórax, com intenção de ferNa. Rosa, por ser diabética, morreu em virtude das complicações advindas do ferimento. Nessa situação, por tratar-sa de causa concomitante relativamente Independente, Caio responderá por crime de homicídio doloso, na modalidade dolo eventual. Resposta: Errado. Se a intenção do agente era apenas ferir (animus laedendt}, sem a previsão da possibilidade de ocorrência do resultado morte, isío é, sem assumir o risco do resultado, haverá crime de lesão corporal seguida de morte (crime preterdoloso), e não de homicídio (animus neoandi ~ ânimo de matar}. Afora isso, a diabete da vítima não ê causa concomitante, mas sim causa preexistente, é o mesmo caso do hemofílico: “A” lesiona corporalmente “B", hemofílico, destruindo sua vida. A lesão não seria suficiente para provocar a morte de "B", tendo o resultado morte ocorrido em face do estado de saúde preexistente da vítima. Por mais que a hemofilia tenha contribuído para a morfe, a situação foi provocada pela conduta do agente “A", dai porque é causa preexistente apenas relativamente independente, não podendo excluir o resultado delitivo produzido. No caso da questão, a diabete (causa preexistente relativamente independente) não ó o suficiente para excluir a responsabilidade pena! pelo resultado produzido. (Juiz de Direito do Estado de Tocantins 2007 CESPE/UnB) Geraldo, na festa de comemoração de rocóm-ingressos na Faculdade de Direito da Universidade Federai do Tocantins, foi jogado, por membros da Comissão de Formatura, na piscina do clube em que ocorria a festa, junto com vários outros calouros^ No entanto, como havia ingerido substâncias psicotróplcas, Geraldo se afagou e faleceu. Tratando-se de crime de autoria coietiva, não é inepta a denúncia que assim narra os fatos: “a vítima foi jogada dentro da piscina por seus colegas, assim como tantos outros que estavam presentes, fato que ocasionou seu óbito”. À luz da teoria da imputação objetiva, a ingestão de substâncias psicotróplcas caracteriza uma autocoiocaçSo em risco, circunstância excluciente da responsabilidade criminai, por ausência do nexo causai. Resposta: Correto. A teoria da imputação objetiva é uma das teorias sobre o nexo de causalidade. Seu objetivo é limitar a responsabilidade penai do agente, evitando a análise do nexo de causalidade como mera relação de causa e efeito. Defende que a existência do nexo de causalidade depende também da comprovação de que a conduta gerou um risco proibido pela norma. As causas de exclusão do risco proibido, na teoria da imputação objetiva, são as seguintes: I a Risco permitido; 2.® - Participação ou culpa exclusiva da vitima (ou autocotocaçâo em perigo); 3.a - Proibição de regresso; 4 a - Comportamento socialmente aceito. Conforme o enunciado da questão, Geraldo se autocolocou em situação de perigo no momento em que fez a Ingestão de substâncias psicotrópicas, não podendo o resuitado ser atribuído aos membros da comissão de formatura. 4.7 QUESTÕES CESPE/UnB 1. (CESPE/UnB 2004) Nos casos de crimes omissSvos próprios, que são aqueles que produzem resultado naturalístico, admite-se a tentativa. 2. (CESPE/UnB 2004) Quanto ã relação de causalidade, o Código Penal (CP) adotou a teoria da equivalência. 3. (CESPE/UnB 2004) Em viagem de lua de mel ao Canadá, Ronaldo, exímio nadador profissional, convidou sua esposa, Érika, nadadora recreativa, para atravessar um grande lago com e!e. Érika, no meio do percurso, morreu afogada e Ronaldo completou o percurso. A conduta omlssiva de Ronaldo, quanto à morte de Érika, nao é penalmente relevante. 62 DIREfTO PENAL psra concurso — POLÍCIA FEDERAL - Emerson Castelo Branco 4. (CESPE/UnB 2007) João, agindo com mimus necandi, desferiu cinco tiros de revólver contra Pedro, que, ferido por um dos projéteis, foi levado ao centro cirúrgico de um hospital, onde veio a falecer em decorrência de uma anestesia aplicada pelo médico. Nessa situação, em face da teoria da equivalência das condições, Jo io responderá peto crime de homicídio. 5. (CESPE/UnB 2004) Max, exímio nadador, convidou um amigo a acompanhá-lo em longo nado. Em dado momento, percebeu que o companheiro começava a se afogar e não o socorreu, deixando-o morrer. Nessa situação, a omissão de socorro é penalmente relevante, em razão de Wlax estar em posição de garantidor. 6. (CESPE/UnB 2007) Segundo a teoria da causalidade adequada, adotada pelo Código Penai, o resultado, de que depende a existência do crime, somente é Imputávef a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido. 7. (CESPE/UnB 2004) Antônio, após fer sido ferido mortalmente por Pedro, foi transportado para um hospitai, onde faleceu em virtude, de queimaduras provocadas em um Incêndio. Nessa situação, a eausa provocadora da morte é relativamente independente em relação à conduta de Pedro, que responderá apenas peios atos praticados, ou seja, por tentativa de homicídio. 8. (CESPE/UnB 2008) O crime omlssivo próprio ou puro, de acordo com a doutrina, não admite a tentativa. 9. {CESPE/UnB 2002) Durant® uma acirrada discussão, um Indivíduo desfechou golpes ete faca contra sua esposa, hemofílica, que veio a falecer em conseqüência dos ferimentos sofridos, a par da contribuição de sua particular condição fisiológica. Nessa situação, tratando-se de causa snterior relativamente independente, o indivíduo não responderá pelo resultado morte, 10. (CESPE/UnB 2005) José, querendo a morte de Paulo, efetuou contra ele 10 certeiros disparos. Pauio foi socorrido por uma ambulância, que o conduziu ao hospital. Durante o trajeto, a ambulância se envolveu em acidente, e Paulo veio a falecer em virtude dos ferimentos adquiridos devido à colisão. José não responderá pelo crime de homicídio consumado. 4 8 DtCAS IMPRESCINDÍVEIS* Em regra, o Código Penal adotou a teoria da equivalência dos antece dentes causais? Sim. A exceção é a causa relativamente independente superveniente que, por si só, tenha causado o resultado, (§1.° do art. 13), adotando-se aí a teoria da causalidade adequada. Numa prova, o candidato somente deve cogitar essa exceção (causalidade adequada) se for demandada na questão. Jual a exata diferença entre a omissão própria e a imprópria? Os crimes omissivos próprios (ex.: deixar de prestar socorro - art. 135, Cap. 4 — DA RELAÇÃO DE CAUSALIDADE 63 do CP) consistem apenas numa mera omissão (deixar de . fazer), e por isso não admitem a forma tentada. Ao contrário, os omissivos impró prios (ex.: deixar a mãe de amamentar o filho, provocando a morte deste — art. 121 do CP) partem de uma omissão, mas produzem um resultado material, daí porque admitem a forma tentada. Os omissivos próprios são sempre dolosos, enquanto os omissivos impróprios podem ser dolosos ou culposos. A teoria da imputação objetiva vem sendo cada vez mais abordada em provas de concurso. O Superior Tribunal de Justiça aceita a teoria da imputação objetiva? Sim. Recentemente, em revelante decisão sobre a morte de um mergulhador, adotou a teoria da imputação objetiva: “Diante do quadro delineado, não há falar em negligência na conduta do paciente (engenheiro naval), dado que prestou as informações que entendia perti nentes ao êxito do trabalho do profissional qualificado, alertando-o sobre a sua exposição à substância tóxica, confiando que o contratado execu taria a operação de mergulho dentro das regras de segurança exigíveís ao desempenho de sua atividade, que mesmo em situações normais já é extremamente perigosa. Ainda que se admita a existência de relação de causalidade entre a conduta do acusado e a morte do mergulhador, à luz da teoria da imputação objetiva, seria necessária a demonstração da cria ção pelo paciente de uma situação de risco não permitido, não ocorrente, na hipótese. Com efeito, não há como asseverar, de forma efetiva, que engenheiro tenha contribuído de alguma forma para aumentar o risco já existente (permitido) ou estabelecido situação que ultrapasse os limites para os quais tal risco seria juridicamente tolerado2. | O que significa “risco proibido”? Decorre da teoria da imputação ob jetiva. O resultado somente pode ser atribuído ao agente se este criou um risco proibido paxa a sua ocorrência. Será “proibido” quando o comportamento do agente for socialmente inadequado, criando perigo para a vítima (ex.: dirigir com excesso de velocidade). Por outro lado, quando a própria vítima cria exclusivamente o perigo para si, não se pode falar de risco proibido gerado contra esta. O que é o princípio da confiança? Decorre da teoria da imputação objetiva. Parte do pressuposto que todas as pessoas agirão conforme 3 STJ, HC 6&87VPR, 05.10.2009. 64 DIREiTO PENAL para concurso - POLlCtA FEDERAL - Emerson Castelo Branco as regras do ordenamento jurídico. Se um terceiro descumpre sua parte, o resultado não pode ser atribuído a quem agiu com diligência e responsabilidade (ex.: pedestre atravessa a pista de forma desatenta, vindo a ser atingido de imediato por pessoa que dirigia com perfeita diligência seu veículo — não existe nexo causai» porque o motorista não criou para o pedestre um risco proibido). ELEMENTO SUBJETIVO 5.1 CRIME DOLOSO 5.1.1 Conceito Dolo é a vontade livre e consciente dirigida a realizar a conduta descrita na norma penai. Portanto, a conduta dolosa é a ação ou omis são humana, consciente e voluntária, dirigida a realizar os elementos descritos m norma penal. Como expressa Zafíaroni, “dolo é uma vontade determinada que, como qualquer vontade, pressupõe um conhecimento determinado”.1 Divide-se, portanto, em dois momentos: intelectual (consciência) e vo- litivo (vontade), 5.1.2 Elementos do dolo O dolo possui, portanto, dois elementos: a) Consciência da conduta e do resultado (representação). Denominado por Bitencourt de “elemento cognitivo ou intelectual”, é a consciência daquilo que se pretende praticar. Essa consciência deve estai presente no momento da ação, quando ela está sendo realizada. A previsão, isto é, a representação, deve abranger todos os elementos do tipo.2 ' ZAFFARONI, Eugênio Raúl. Manual <Je Direito Penal brasileiro, Sâo Paulo, ed. Revista dos Tribunais, i m * BITENCOURT, Cezar Roberto. ftatado de Direito Penal Parte Geral - V.), S.» ed., Sâo Paulo: Saraiva, 2006, p. 335. 6 6 DIREITO PÊNAL para concureo - POLfCIA FEDERAL ~ Emerson Castelo Bmnco b) Vontade de realizar a conduta e produzir o resultado. É o denominado “elemento volitivo”. Devé abranger a ação ou omissão, o resultado e o nexo causai, E pressupõe a previsão, isto é, a representação, na medida em que é impossível querer algo conscientemente, senão aqui lo que se previu ou representou na mente, À previsão sem vontade, ensina Bítencourt, “é algo completamente inexpressivo, indiferente ao Direito Penal, e a vontade sem representação, isto é, sem previsão, é absolutamente impossível.” 5.1.3 Espécies de dolo Diz~se o crime doloso, conforme dispõe o art. 18 do Código Penal, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo. Duas são as espécies enunciadas na norma: a) dolo direto. É a vontade de realizar a conduta e produzir o resultado. No dolo direto, o agente deseja o resultado, direcionando sua ação para atingi-lo.' b) dolo indireto. Divide-se em “alternativo” e “eventuaF. No alternativo, o agente se satisfaz com um resultado ou outro (ex.: atirar para matar ou ferir); enquanto no eventual, o agente não quer diretamente o resultado, mas aceita a possibilidade de produzi-lo. No dolo eventual, o agente aceita previamente o risco de produzir o resultado, caso este venha efetivamente a ocorrer (ex.: dirigir veículo, em alta velocidade, na contramão de avenida movimentada, para chegar a tempo para um compromisso agendado; nesta situação, o agente assume o risco de atropelar alguém). Segundo a teoria finalista, adotada pelo Código Penal brasileiro, o dolo é a consciência da conduta, constituindo o aspecto subjetivo do fato típico. Entretanto, não se confunde com a denominada “consciên cia da ilicitude”, que é elemento da culpabilidade. Portanto, o dolo e o “potencial conhecimento da ilícitude” são figuras diversas, pertencentes a estruturas distintas. 5.1.4 Teorias do dolo a) Da vontade: dolo é a vontade de realizar a conduta e produzir o re sultado, Age dolosamente quem pratica a ação consciente e volunta riamente. E necessário para sua existência, portanto, a consciência da conduta e do resultado e que o agente a pratique voluntariamente, b) Da representação: dolo é a simples previsão do resultado. É bastante criticada, porque a previsão do resultado, sem a vontade, nada repre Cap, 5 - ELEMÊNTO SUBJETIVO 67 senta. Afora isso, quem tem vontade de causar o resultado evidente mente tem a representação deste. Nesses termos, a representação já está prevista na teoria da vontade.3 c) Do assentimento ou consentimento; dolo é o assentimento do resultado, isto é. a previsto do resultado com a aceitação dos riscos de produzi- -lo (ou do consentimento), mesmo sem desejá-lo diretamente. ,jNOTEÍ,.0 Codlgo,penàí, nò sart. 1 .8 ,Jr iç iéQ,1.,.adótou ',e isda' e :dò:áàáeriílmèntó. 'ÒSÍo é;á'' TOntade: de realizar o:Tèsüítâdo'pü‘a dos riscos de''produzi-lo.- ■ >■ Os estados de inconsciência excluem o dolo (ex.: sonambulismo, hipnose).4 5.1.5 Dolo natural e dolo normativo a) Dolo natural (teoria finalista, adotada pelo CP brasileiro) - O dolo é um elemento desprovido de juízo de valor, isto é, um “querer”, inde pendentemente do desejo do agente ser certo ou errado. Conforme visto, seus elementos são apenas a consciência e a vontade, não havendo a “consciência da ilicitude”. Esta “consciência” de que o fato praticado é lícito ou ilícito não é elemento do dolo, e sim da culpabilidade. Dessa forma, qualquer vontade é considerada dolo, tanto a de pedalar uma bicicleta, quanto a de matar alguém, b) Dolo normativo (teoria causalista ou clássica) - O dolo faz parte da culpabilidade, devendo o agente possuir a consciência da ilicitude. Assim, para que exista dolo, não basta que o agente queira realizar a conduta, sendo também necessário que tenha a consciência de que ela é ilícita. A “consciência da ilicitude” seria o elemento normativo do dolo. Assím, o dolo normativo não seria um simples “querer”, mas sim ura “querer algo errado”. 5.2 CRIME ÇULPOSO 5.2.1 Conceito A culpa se caracteriza pela ausência de um dever de cuidado que todas as pessoas devem ter, nos mais diversos âmbitos das relações hu I 3 MIRABETE, Jútio Fabbrinl Manual cte Direito Penai V.l, 24.a ed., São Pauio: Atlas, 2006, p. 142. 4 PRADO, Lute Regls, Curso de Direito Pena! Brasileiro - Vol. ? - Porte Gera!, 5,a Ed., São Pauto: Revista dos Tribunais, 2006, p. 26. 68 DIREITO PENAL para concurso - POLÍCSA FEDERAL ~ Emerson Casíefo Branco manas. É o denominado “dever de diligência” que as pessoas normais possuem. A determinação da existência da culpa depende de se fazer a comparação entre o comportamento realizado pelo agente com aquele que teria a pessoa diligente, nas mesmas circunstâncias. Os tipos culposos, ensina Mirabete: “ocupam-se não com o fim da conduta, raas com as conseqüências antissocíais que a conduta vai produzir; no crime culposo o que importa não é o fim do agente (que é normalmente lícito), mas o modo e a forma imprópria com que atua. Os tipos culposos proibem, assim, condutas em decorrência da forma de atuar do agente para um fim proposto e não pelo fim em si,”s Dessa forma, por exemplo, se um noivo, dirigindo velozmente para chegar a tempo para seu casamento, atropela e mata um ciclista, o fim lícito em si não importa, porque deixou de observar um dever objetivo de cuidado, causando o resultado, A inobservância do cuidado devido toma a conduta típica. O Código Penal prevê o crime culposo, sem, contudo, conceituá- -lo, no art. 18, in verbis: “II - culposo, quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou ímperícia”. O crime culposo somente existe em caso de previsão expressa do tipo penal. No silêncio da lei, o crime só é punido como doloso. 5.2.2 Elementos do crime culposo a) conduta humana voluntária de fazer (ação) ou não fazer (omissão). Diferencia-se da conduta dolosa, jporque a finalidade do agente era a produção do resultado danoso. b) inobservância de dever de cuidado objetivo, por imprudência, negli gência ou Ímperícia. c) ausência de previsão (previsibilidade). Não há previsão no crime culposo (salvo a exceção da “cuípa consciente”)- Existe apenas previsibilidade (também denominada previsibilidade objetiva), que é a possibilidade de qualquer pessoa normal, média, prever o resultado. Em outras palavras, somente será culposa a conduta, quando o fato era possível de ser previsto pelo homem comum, normal. d) resultado involuntário. e) nexo causai. s MIRABETE, Júlio fabbrini. Manual de Direito Penút. V.S, 24.* ed„ São Paulo: Atlas, 2006, p. 146, Cap. 5 - ELEMENTO SUBJETIVO 69 5.2*3 Espécies de crime culposo 1* Classificação: a) Culpa inconsciente - É a culpa sem previsão, em que o agente não prevê o que era previsível. Outra denominação: ex ignorantia. b) Culpa consciente (ou com previsão) - É aquela em que o resultado é previsto, embora o agente não o aceite. Mesmo prevendo o resultado, o agente o afasta, por acreditar veementemente e de boa-fé na sua capacidade de evitá-lo. Outra denominação: ex lascívia. Quai a exata diferença entre culpa inconsciente e a culpa consciente? A previsibilidade é um dos elementos que integram o crime culposo. Quando o agente deixa de prever o resultado que lhe era previsível, fala- -se em culpa inconsciente ou culpa comum. Culpa consciente é aquela em que o agente, embora prevendo o resultado, Mo deixa de praticar a conduta acreditando, sinceramente, que este resultado não venha a ocorrer. O resultado, embora previsto, não é assumido ou aceito pelo agente, que confia na sua não ocorrência. NOTEI Qgal: a; diferença entre, a culpa ransciente e. o dolo eventual? A é^sjiÊJíipcfniâ- tiver de ser será”; “a^ sorte está lariçadá").:.Na cüipa-'consciente, -embora prevendo o. que- possa-yir^a/acpntficer, o'agente, repudia essa possibilidade. < (“estou- çèftò' não'oçdrrei$"; “acredito.' na minha capacidade de evitar o: resultado”). ' 2? Classificação: a) culpa própria - É a comum, em que o resultado não é previsto, em bora seja previsível. Nela o agente não quer o resultado nem assume o risco de produzi-lo. b) culpa imprópria. Também denominada culpa por extensão, assimilação ou equiparação, o resultado é previsto e querido pelo agente, que labora em erro de tipo mescusável ou vencível São casos de culpa imprópria os previstos nos arts. 20, § 1.°, 2.a parte, e 23, parágrafo único, parte final. Ex.: “A”, encontra-se em sua casa, à noite, e percebe um vulto no jardim, atirando em direção ao mesmo, imaginando tratar-se de um assalto. Logo depois, verifica que atingiu seu próprio filho, e não um ladrão. “A” não responderá por homícídío doloso, e sim por homicídio culposo. Note-se que o resultado (morte da vítima) foi querido. O agente, porém, realizou a conduta por erro de tipo vencível ou mescusável, pois 70_____ DfRSTO PENAL para concurso - POLÍCIA FEDERAL - Emerson CasMo Branco se tivesse mais atenção e cautela, teria notado seu filho. “A” responde por homicídio culposo.6 5,2.4 Modalidades de culpa a) Imprudência - É ausência de dever de cuidado, consistente num fazer (ação positiva). É a ação exagerada, descuidada, excessiva. Ex,: Dirigir com excesso de velocidade. b) Negligência - É a ausência de um dever de cuidado, consistente num deixar de fazer (ação negativa). É o esquecimento, a omissão de cau telas. Ex: deixar de fazer manutenção no veículo, antes de viajar. c) ímperícia - É a falha em relação a normas técnicas básicas de pro fissão, de atividade, ou de ofício. Ex: cirurgião que erra em relação às normas básicas de procedimento cirúrgico. Também denominada “culpa profissional”. QUESTÃO POTENCIAL DE PROVA! Não existe compensação de culpas. Assim, a imprudência de um bêbado ao atravessar uma avenida em meio ao tráfego de veículos não exclui a responsabilidade penal do motorista que dirigia em alta velocidade. Entretanto, existe concorrência de culpas e culpa exclusiva da vítima. Na concorrência, leva-se em con sideração a participação da vítima na fixação da pena, constituindo um dos critérios do art. 59 do CP. Na culpa exclusiva da vítima, prova-se que o agente não agiu com imprudência, negligência e Ímperícia. 5.3 PBETERDGLO No Código Penal, a previsão do qfíme preterdoloso se encontra no art. 19, in verbis-. “Pelo resultado que agrava especialmente a pena, só responde o agente que o houver causado ao menos culposamente”. Crime preterdoloso (ou preterintencional) é uma espécie de crkne qualificado pelo resultado. O agente quer praticar um crime, mas acaba excedendo-se e produzindo culposamente um resultado mais gravoso do que o desejado. É o caso da lesão corporal seguida de mórle, na qual o agente deseja apenas lesionar a vítima, mas acaba matando-a (art. 129, § 3.°, do CP). Ex: sujeito desfere um soco contra o rosto da vitima com intenção de lesioná-la; no entanto, ela se desequilibra, bate a cabeça e morre. Haverá lesão corporal seguida do resultado morte. A intenção 6 JESUS, üamésio E âe. Direito Penal - Geral - V.J, 27.a ed, S5o Paula- Saraiva, 2005, p. 304. Cap. 5 - ELEMENTO SUBJETIVO 71 do agente era causar apenas a lesão corporal, mas, por culpa, terminou gerando o resultado mais grave (morte). O crime preterdoloso, explica Mirabete, “é um crime misto, em que há uma conduta que é dolosa, por dirigir-se a um fim típico, e que é culposa pela causação de outro resultado, que não era objeto do crime fundamental, pela inobservância do cuidado objetivo.”7 Em síntese, existe dolo no antecedente e culpa no conseqüente. A conduta inicial é dolosa, enquanto o resultado final dela advindo é culposo. 5.4 QUESTÕES COMENTADAS (Escrivão da Polícia Federal 2002 - CESPE/UnB) Considere a seguinte situação hipotética. Márcia resolveu disputar corrida de automóveis no centro de uma cidade, em ruas com grande fluxo de veículos e pedestres. Ela anteviu que a corrida poderia causar acidente com conseqüências graves, mas, mesmo assim, assumiu o risco. De fato, Márcia, ao perder o controle do automóvel, acabou matando uma pessoa, em decorrência de atropelamento. Nessa situação, houve o elemento subjetivo que se conhece como doto eventual, d® modo que, se esses fatos fossem provados. Márcia deveria ser julgada pelo tribunat do júri. Resposta: Certo. O dolo eventual ocorre quando o agente, mesmo sabendo que pode causar um resultado, assume o risco de produzi-lo. No caso, Márcia antevê o resultado e age. A vontade não se dirige ao resultado, mas sim à conduta, prevendo que esta pode produzir aquele. Por fim, os crimes dolosos contra a vida são da competência do Tribunal do Júri. (CESPE/UnB 2003) Considere a seguinte situação hipotética, Atdo pretendia atirar em Bruno, que se encontrava conversando com Carlos. Aldo percebeu que, atirando em Bruno, poderia atingir Carios. Não obstante essa possibilidade, embora não tivesse tal intento, lhe era indiferente que o resultado — morte de Carlos — se produzisse. Assim, disparou a arma e feriu, mortalmente, Bruno e Carios. Nessa situação, Aldo responderá por dois crimes de homicídio, o primeiro a título de dolo direto e o segundo a título de dolo eventual. Resposta: Certo. O agente responderá pels morte de uma das vítimas a título de doto direto, pois queria produzir o resultado ao realizar a conduía; Já em reiaçSo à outra, houve a previsão de um resultado possível e mesmo assim o agente aceitou o risco de produzi-lo. configurando o dolo eventual. {Juiz; Federal da S.“ Região - 2006 - CESPE/UnB) Ocorre a chamada culpa consciente quando o agente, embora tendo agido com dolo, nos casos de erro vencível, nas descriminantes putativas, responde por um crime culposo. Resposta: Errado. Nâo se confunde culpa consciente com culpa imprópria (por extensão, por assimilação ou por equiparação). Na imprópria, o resultado é previsto e querido peío agente, que labora em erro de tipo Inescusâvet também denominado indesculpável ou vencível {ex.: arts. 20, § 1.°, 2.® parte, & 23, parágrafo único, parte final). Na culpa consciente, o agenfe, embora prevendo o resultado, acfedita sinceramente na sua 7 MIRABETE, Júlio Fabbriní. Manual de Direito Penal. VJ, 24.* ed., São Paulo: Atlas, 2006, p. 154. 72 DIREITO PENAt- para concurso ~ POLlCiA FEDERAL - Bmôrson Casíeío B&neo não ocorrência; isio é, o resultado previsto não é querido nem assumido pelo agente, acreditando este da boa fé, sinceramente, na sua capacidade de evitá-lo. {Procurador (to Banco Central CESPE/UnB 2010) Caso um renomado e habilidoso médico, especializado em cirurgias abdominais, ao realizar uma intervenção, esqueça uma pinça no abdome do paciente, nesse caso, tal conduta representará culpa por Ímperícia, pois é relativa ao exercício da profissão, Resposta: Errado, Haverá culpa na modalidade de negligência, e não Impericta. Somente haveria Ímperícia se o médico falhasse em relação às normas técnicas básicas que deveria conhecer em razão do exercício da profissão, No caso, o médico era renomado e habilidoso. Simplesmente foi displicente, esquecendo uma pinça no abdome do pactente. 5.5 QUESTÕES CESPE/ÜnB 1. (Delegado da Polícia Federai 1997- CESPE/UnB) A previsibilidade objetiva do resultado da conduta é elemento da tipicidade culposa, ao passo que a previsibilidade subjetiva é elemento da culpabilidade. 2. (Delegado da Polícia Federal 1997- CESPE/UnB) Na culpa consciente, o agente tem a previsão do resultado. 3. (Delegado da Policia Federal 1997- CESPE/UnB) Não há concorrência de culpas no direito penal. 4. (Assistência Judiciária do Distrito Federal - 2006 - CESPE/UnB) O direito penal moderno é o direito penai da culpa, sendo, portanto, presumíveis os fatos delituosos, conforme jurisprudência dominante. 5. (CESPE/UnB 2005) Ocorre a chamada culpa consciente quando o agente, embora tendo agido com dolo, nos casos de erro vencívet, nas descriminantes putativas, responde por um crime culposo. 6. (CESPE/UnB 2007) Suponha que o motorista de um veículo, por negligência, deixe de observar a má conservação do sistema de freios de seu carro e, ao trafegar em vfa pública, atropele e mate um pedestre que tenha cruzado a pista em locai inadequado. Nessa situação, caso se comprove que o evento danoso tenha decorrido da falta de freios no veículo atropeiador, responderá cuíposamonte o seu condutor peta morte do pedestre, mesmo diante da imprudência da vítima. 7. (CESPE/UnB 2008) Quando o agente, embora prevendo o resultado, não deixa de praticar a conduta porque acredita, sinceramente, que esse resultado não venha a ocorrer, caracteriza-se a cuipa inconsciente. 8. (CESPE/UnB 2002) Pedro sofreu Investida de José, que pretendia matá-to. Pedro reagiu e matou José. Nessa situação, Pedro somente deverá ter reconhecida em seu favor a legitima defesa de direito próprio se houver matado José com intenção de se defender, mas sem querer nem assumir o risco desse resultado. 9. (CESPE/UnB 2008) Quando o agente, embora não querendo diretamente praticar a infração penal, não sé abstém de agir e, com isso, assume o risco de produzir o resultado que por ete já havia sido previsto e aceito, hâ culpa consciente. 10. (CESPE/UnB 2008) Quando o agente deixa de prever o resultado que lhe era previsível, fica caracterizada a culpa imprópria e o agente responderá por delito preterdoloso. Cap. S - ELEMENTO SUBJETIVO 73 5 6 DICAS IMPfifcSCINDÍVEIS outras classificações doutrinárias do dolo? São as seguintes: a) dolus malus (razão mais grave) e dolus bonus (razão menos grave); b) dolo gerai ou aberratio causae - trata-se de situação de erro sucessivo, em que o agente imagina ter atingido seu resultado, quando é a con duta subsequente que o provoca (ex.: atirar numa pessoa e enterrá-la, imaginando estar morta. Contudo, o que termina provocando a morte é a situação subsequente, porque a vítima ainda estava viva, antes de ser enterrada); c) dolo de dano (vontade de causar um dano real) e dolo de perigo (vontade de provocar um perigo); d) dolo antecedente (desde o primeiro momento, o agente age com má-fé) e dolo posterior (no primeiro momento, o agente tinha boa-fé, passando a ter má-fé logo depois). Os crimes culposos podem ser de mera conduta? Não. Em outras palavras, pressupõem a ocorrência de um resultado (denominado “resultado naturalístico”), daí porque são classificados como crimes materiais. O crime culposo admite a forma tentada? Não. A exceção é a culpa imprópria (ou por equiparação, ou por extensão). A culpa pode ser classificada em graus (leve, grave e gravíssima)? Não pode ser dividida em graus para efeito de estabelecer uma divisão de figuras penais diferentes. Crime culposo não comporta essa divisão. O dolo precisa ser declarado? Não. Contudo, a culpa precisa vir expressa na norma penal (ex,: “se o crime é culposo”). Caso o tipo penal não faça menção expressa, a forma culposa não é admitida. O tipo penal culposo é normativo e aberto por excelência? Sira. B normativo, porque precisa sempre ser valorado pelo juiz. De fato, não se descreve na norma penal a imprudência, a negligência e a imperí- cia. Cumpre ao juiz a tarefa de verificar no caso concreto se o agente deixou de observar um dever objetivo de cuidado. E também é aberto, porque a norma penal não diz expressamente qual é o comportamento culposo. 74 DIREITO PENAI para concurso ~ POLÍCIA FEDERAL - Bmerson Cosfefo Branco Qual a diferença entre dolo direto de primeiro grau e dolo direto de segundo grau? No dolo direto de primeiro grau, a ação do agente é direcionada para o resultado desejado. É o caso, por exemplo, do pistoleiro que mata a vítima, ou do agente que destrói a vida de um inimigo. No dolo direto de segundo grau ou necessário, o agente não deseja diretamente .o resultado, mas este necessariamente ocorrerá em razão dos meios escolhidos para a obtenção do resultado desejado. Por exemplo, o agente deseja matar o Presidente da República (dolo direto de primeiro grau), que viaja numa aeronave. Para atingir seu objetivo, explode a aeronave, instalando um artefato explosivo (“bomba”) nes ta. Ocorre que atinge o resultado desejado (dolo direto de primeiro grau), mas destrói também a vida das outras pessoas que estavam na aeronave (dolo direto de segundo grau). grau e o dolo eventual? No dolo eventual, o agente não deseja o resultado, mas assume o risco de produzi-lo; já no dolo direto de segundo grau, o agente não deseja diretamente o resultado, mas este obrigatoriamente acontecerá, em razão dos meios escolhidos para atingir o fim desejado. Em outras palavras, no dolo eventual, o resultado pode ou não vir a ocorrer; já no dolo direto de segundo grau, o resultado obrigatoria mente ocorrerá, daí porque se diz que no dolo direto de segundo grau o agente quer certo resultado (morte de pessoas na explosão de uma aeronave) para atingir o resultado desejado (morte do Presidente da República). Outro exemplo: o agente direciona sua ação para atingir um dos irmãos xifópagos; se a morte de um obrigatoriamente acarretar a morte do outro, o agente terá agido cora dolo direto de primeiro grau em relação àquele que desejava1 matar e dolo direto de segundo grau em relação àquele que necessariamente iria morrer em virtude da ação. Não haveria dolo eventual, mas sim dolo direto de segundo grau, porque a morte de um acarretaria necessariamente a morte do outro. )ual a exata diferença entre o dolo direto de segundo ESTUDO DO ERRO 6.1 ERRO DE TIPO (ART. 20) O erro de íipo encontra-se previsto no art, 20 do Código Penal, assim descrito: “O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo, mas permite a punição por crime culposo, se previsto em lei,” Ocorre quando o agente tem uma falsa percepção da realidade, fazendo-o errar acerca de um dos elementos da figura típica. É o caso, por exemplo, de sair num veículo alheio, depois de uma festa, imaginando ser o seu; ou do caçador que atira numa pessoa, supondo estar agindo contra um animal; ou da grávida que ingere medicamento abortivo, imaginando tratar-se de vitamina. O erro de tipo sempre excluirá o dolo, pois este pressupõe vontade e representação por parte do agente. Excluído o dolo, estará também excluído o fato típico, por ser o dolo o elemento subjetivo deste, Pode incidir sobre as circunstâncias qualificadoras, majorantes e agravantes de pena. É o caso do indivíduo que comete crime contra seu ascendente (ex.: pai), desconhecendo essa circunstância. Nesse caso, não será aplicada a agravante prevista do art. 61 do CP, É possível ainda o erro de tipo desclassificar um delito. Cite-se o caso do indivíduo que ofende autoridade pública, no exercício de sua função, desconhecendo a qualidade desta. Deixa de ser desacato (art. 331) para caracterizar crime de injúria (art, 140). 76 DIREiTO PENAL para concurso - POLÍCIA FEDERAL - Emetson Casfeto Branco. . , j O erro pode ser: - Vencível (inescusável) - Ocorre quando o agente poderia tê-lo evita do se tivesse o devido cuidado, cautela, diligência do homem médio. Exclui sempre o dolo. Assim, o agente somente responderá pelo crime se existir a forma culposa. - Invencível (escusável) - Ocorre quando se constata que era impossível evitar o erro, isto é, qualquer pessoa na mesma situação teria cometido o mesmo erro. Exclui o dolo e a culpa. Em síntese, o erro invencível exclui o dolo e a culpa; enquanto o erro vencível exclui apenas o dolo, havendo responsabilidade a título de culpa, se esta estiver prevista em lei, nos termos do art. 20 do CE NOTE! Diferencia-se o erro essencial' do errb' acidentai.' O erro essencial incide num dos elementos do tipo. O erró acidental atinge apenas circuns tâncias secundárias, fora do tipo, não deixando o crime de existir. O. erro acidental será estudado adiante.' 6.2 ERRO DE PROIBIÇÃO (ÂRT. 21) É o erro sobre a iíicitude do fato, não havendo falsa percepção da realidade. O sujeito simplesmente imagina ser lícita a sua conduta. Atua dolosamente, não errando sobre os elementos do tipo. Por isso mesmo, haverá a exclusão do crime pela exclusão da culpabilidade, por ser a consciência da iíicitude elemento desta. É o caso, por exemplo, de es trangeira que vem ao Brasil e deixa o corpo completamente desnudo para tomar banho de sol, imaginando q\je ao Brasil seria comportamento lícito; ou destruir a vida de ente querido, em estado terminal, imaginando ser lícita a prática da eutanásia; ou se apropriar de coisa perdida, sem identificação, imaginando lícito seu comportamento, baseado no ditado “achado não é roubado”. Não é possível, explica Francisco de Assis Toledo, “censurar-se de culpabilidade o autor de um fato típico penal quando ele .próprio, por não ter tido sequer a possibilidade de conhecer o injusto de sua ação, cometeu o feto sem se dar conta de estar infringindo alguma proibição.”1 * TOLEDO, Francisco de Assis. Princípios Básicos de Direito Penal, 4 a ed, ed Saraiva, São Paulo, 1 m . Cap. 6 - ESTUDO DO £RRO 77 ! ------------------------ --------------------------------“ O erro de proibição pode ser: - Vencível (inescusável) - O agentè responderá pelo crime, havendo uma redução da peaa de urn sexto (1/6) a um terço (1/3). Ocorre quando o erro era evitável, isto é, quando o agente incide no erro por impru dência ou negligência. ~ Invencível (escusável) ~ Isenção de pena. Será invencível quando for inevitável, isto é, quando nele incidiria qualquer pessoa de prudência. Quando for invencível tanto a forma dolosa quanto a forma cuSposa serão excluídas. Dispõe o art. 21, parágrafo único: “Considera-se eviíável o erro se o agente atua ou se omite sem a consciência da ilicitude do fato, quando lhe era possível, tias circunstâncias, ter ou atingir essa consciência.” O erro vencível, isto é, quando o agente erra por imprudência ou por falta de cautela, não exclui a culpabilidade. Haverá apenas uma diminuição da pena de um sexto a um terço. Não se pode confundir o erro de proibição com o desconhecimento da lei. Assim, o desconhecimento da lei jamais pode ser alegado para excluir o delito. Por isso, dispõe o art. 21: “O desconhecimento da iei é inescusável.” Desconhecimento da lei não pode ser confundido com a errada compreensão da lei. 6.3 DESCRBVUNANTES PUTATIVAS As descriminantes putativas estão previstas no art. 20, § 1.°, do Código Penal: “É isento de pena quem, por erro plenamente justificado pelas circunstâncias, supõe situação de fkto que, se existisse, tomaria a ação legítima. Não há isenção de pena quando o erro deriva de culpa e o fato é punível como crime culposo.” Caracterizam-se quando o agente imagina estar agindo licitamente, respaldado em alguma das causas de exclusão (ou de justificação) da antijuridicidade. Questão polêmica na doutrina diz respeito à natureza das descrimi nantes. Configuram erro de tipo ou erro de proibição? Para a teoria limitada da culpabilidade (majoritária), as descriminantes putativas configuram eixo de tipo permissivo e excluem o dolo, quando o agente tem uma falsa percepção da realidade (ex.: o agente encontra seu inimigo, vindo em sua direção com a mão no bolso, ocasião em que 78 DIREITO PENAI, para concurso - POLlCIA PEDGRAt. - fineraon Casteto Braneo lhe mata, imaginando que este fosse puxar uma arma, quando na verdade iria apenas retirar um lenço). Segundo essa teoria, nâo atua dolosamente quem imagina, pelas circunstâncias do caso concreto, estar praticando um fato típico em legítima defesa. Porém, os adeptos dessa teoria defendem que, se o agente erra não em relação aos pressupostos Éticos (leia-se “realidade”), mas sim quanto à existência ou quanto aos limites da causa de exclusão da antijuridicidade, haverá erro de proibição. Para a teoria extrema da culpabilidade (ou restrita, ou normativa pura), trata-se sempre de erro de proibição, excluindo-se apenas a cul pabilidade. É a denominada teoria unitária do erro. A teoria normativa pura é a corrente minoritária na doutrina, apesar de ser aceita por vários autores. Dessa forma, em todas as situações de descriminantes putativas (legítima defesa putativas estado de necessidade putativo, estrito cumprimento do dever legal putativo e exercício regular do direito putativo), teremos situação de erro de proibição, O agente age com dolo, não podendo ser excluído o fato típico, Haverá a exclusão da culpabilidade, por imaginar o agente que age de forma lícita. E a consciência da ilicitude é elemento da culpabilidade. Dessa forma as descriminantes putativas constituem erro sobre a ilicitude do fato (erro de proibição). Ex I: ÍCA” encontra seu desafeto “B" com a mão dentro do blazer, ocasião em que atira neste, imaginando estar na iminência de sofrer uma injusta agressão; quando, na verdade, “B” estava apenas retirando um lenço (legítima defesa putativa). Ex 2: “A”, em desabalada carreira nas escadarias de um edifício, empurra e lesiona “B”, supondo falsamente um incêndio no local, quando, na verdade, tratava-se apenas de um churrasco promovido peio vizinho do andar acima (estado de necessidade putativo). Ex. 3: “A”, autoridade policial, invade domicí lio alheio, supondo, por uma falsa percepção da realidade, que o local era um ponto de venda de drogas (esfrito cumprimento do dever legai putativo). 6,4 QUESTÕES COMENTADAS (ESCRfVÃO DA POLÍCIA FEDERAL. 2002 - CESPE/UnB) Considere a seguinte situação hipotética. Rosa, pessoa de pouca Instrução, residia em uma gleba havia mais de trinta anos, Como a gicba jamais fora reivindicada por pessoa ou autoridade alguma, Rosa tinha a plena convicção de ser a gleba de sua propriedade. Dessa gleba, ela costumeíramente retirava alguma quantidade de madeira. Certo dia, compareceu ao local um funcionário, que comunicou a Rosa ser aquela ãrea de propriedade da União, Por constatar a subtração da madeira, o funcionário representou a um procurador da República, para que Rosa fosse processada por furto. Após investigação, o procurador da República promoveu o arquivamento da representação, por entender que, diante da r Gap. 6 - ESTUDO DO ERRO 79 provada convicção de Rosa de ser sua a propriedade da terra, ela incorrera em erro sobre elemento do tipo de furto. Nessa situação, agiu de maneira juridicamente correta o procurador da República, uma vez que o furto somente é punível a titulo de dolo. Resposta: Correta. Rosa, ao considerar-se dona da propriedade, retirava a madeira de boa fé. Assim, apoderou-se de objeto alheio supondo ser próprio, configurando o erro de tipo, que ôxciui o dolo e, por conseguinte, o fato típico, Ela não sabia que se tratava de "coisa aiheia”; portanto, não tinha consciência nem vontade de subtraí-ta, de modo que não houve furto doloso. Como não é prevista a forma culposa, o fato é atípico, agindo, assim, o procurador da República de forma correta. (ESCRIVÃO DA POLÍCIA FEDERAL 2004 - REGlONAL-CESPBUnB) Ocorre erro de tipo quando o agente se equivoca escusavelmente sobre a íícitude do fato, determinando a lei que, nesse caso, o agente fique isento de pena. Resposta: Errado. O erro do tipo ocorre quando o agente labora em erro sobre algum elemento do tipo, quer esse elemento seja fático ou normativo. (CESPE/UnB 2005} Considere a seguinte situação hipotética. Josué, pessoa rústica, fo! preso em flagrante delito por ter em sua residência, em depósito, cinco quilos de cocaína aeoncíicionados em sacos plásticos de 1 kg. Josué recebeu a substância entorpecente de um primo, que lhe pediu para guardá-ía provisoriamente em sua residência, afirmando tratar-se de farinha de trigo. Nessa situação, em face do erro de tipo, Josué não praticou o crfme de tráfico ilícito de entorpecentes. Resposta: Corrsto. Josué, diante da situação fsííca, desconhece a circunstância que toma o ato fato típico, incorrendo em verdadeira faisa percepção da realidade. Não identifica o produto em depósito como droga, acreditando piamente no fato de esta guardando farinha. Desta feita, incorre no erro de fipo e, por isso, não pratica o crime de tráfico ilícito de drogas, restando excluído o dolo. (CESPE/UnB 2004) Rodrigo, professor de anatomia de um curso de medicina, golpeou mortalmente um corpo humano vivo, trazido ao anfiteatro da facilidade, supondo tratar- -se de um cadáver. Nessa situação, Rodrigo não responderá pelo crime de homicídio doloso, em face do erro de proibição. Resposta: Errado. Rodrigo de fato não responderá pelo’ delito de homicídio doloso, contudo, não pelo fato de haver ocorrido erro de proibição, e sim por haver erro de tipo. O erro de proibição recai sobre a consciência da ilicitude do fato, não tendo sido isso evidenciado em sua conduta. Na verdade, Rodrigo incorreu numa falsa percepção da realidade, que lhe fez errar sobre o elemento do tipo “alguém", no momento em que imaginava estar lidando com um cadáver, e n io com uma pessoa. O erro de tipo, se verificado como Invencível (inevitável), afastará o dolo e, por conseguinte, o crime tíe homicídio doteso. {Procurador do Banco Central CESPE/UnB 2010) O desconhecimento da lei é inescusáva!. Desse modo, o erro sobre a ilicitude do fato, evitável ou inevitável, não elidirá a pena, podendo apenas atermá-la. Resposta: Errado. NSo se confundem o desconhecimento da lei e o erro sobre a ilicitude do fato. Mesmo desconhecendo a lei, o agente criminoso possui a consciência da ilicitude. Já no erro sobre a ilicitude üo fato, o agente imagina ser licita a sua conduta; e se for inevitável (invencível, desculpável ou escusável), elidirá a pena. 6.5 QUESTÕES CESPE/UnB 1. (Escrivão - Polícia ClvJJ/ES 2006 ~ CÊSPH/UnB) No direito penal, pode-se levar em conta que determinada pessoa, nas circunstâncias em que cometeu o crime, poderia pensar, por força do ambiente onde viveu e das experiências acumuladas, que a sua 80 DIREITO PENAL pafs concurso - POLÍCIA FEPERAL - Emerson Castelo Bfenco conduta fosse permitida pelo ordenamento jurídico. Essa faisa percepção ou erro exclui a consciência da ilicitude e recebe a denominação de erro de proibição. 2. (Policia Rodoviária Federal 2004 ~ CESPE/UnB) Considere a seguinte situação hipotética. Um agente, por equivoco, pegou um relógio de ouro que estava sobre o balcão de uma joalheria, pensando que era o seu, quando, na realidade, pertencia a outro comprador. Nessa situação, o agente responderá pelo crime de furto culposo. 3. (Papiloscopista da Policia Federal 2004 - CESPE/UnB) O erro sobre elemento constitutivo do tipo legai de crime exclui o dolo e a culpa, ainda que haja previsão legal quanto ao tipo culposo. 4. (Delegado - Policia Civii/ES - CESPE/UnB) A finalidade precípua do erro de tipo essencial é a de afastar o dolo da conduta do agente. 5. (Delegado - Polícia Civil/ES - CESPE/UnB) O erro de tipo acidental incide sobre dados irrelevantes da figura típica e não impede a apreciação do caráter criminoso do fato. 6. (Delegado Da Polícia Federal 2004 Nacional - CESPE/UnB) O médico Calo, por negligência que consistiu em nSo perguntar ou pesquisar sobre eventual gravidez de paciente nessa condição, receita-lhe um medicamento que provocou o aborto. Nessa situação, Caio agiu em erro de tipo venciveí, em que se exclui o dolo, ficando isento de pena, por não existir aborto culposo. 7. (Delegado da Policia Federal 1937 - CESPE/UnB) O erro de proibição exclui a Ilicitude da conduta. 3. (Escrivão - Policia Clvü/ES- 2006 - CESPE/UnB) Marfida, ao deixar o trabalho sob uma forte chuva, apoderou-se de um guarda-chuva alheio supondo ser próprio, visto que d e guardava todas as características e semelhanças com o objeto de sua propriedade. O legítimo proprietário do objeto, dias após, a surpreendeu na posse do bem e acusou-a de furto. Nessa situação, a conduta de IWarilda é atípica diante da ocorrência de erro de tipo, excluindo-se o doto e o fato típico. 9. (CESPE/UnB 2004) Ao falso alarme de incãrtdio em uma casa de diversões com íoíação esgotada, os espectadores, tomados de pânico, disputaram a retirada, tendo Pablo, para garantir o caminho de saída, empregado violência física contra Aldo e Lúcio, causando-lhes lesões corporais. Nessa situação, em razão da excludente de iilcitude do estado de necessidade, Pablo não responderá pelos crimes. 10. (CESPE/UnB 2004) Durante atividade docente, um professor de anatomia feriu pessoa viva, por imaginar tratar-se de cadáver. Nessa situação, o professor não responderá por crime por agir com ausência de dolo ou culpa. 11. (CESPE/UnB 2004) O erro de tipo essencial que recai sobre .uma elementar do ttpo afasta, sempre, o dolo do agente, restando apenas responsabilidade por crime culposo, se houver previsão legal. 12. (CESPE/UnB 2003) Se o agente pretende subtrair algumas sacas de farinha de um armazém &, por engano, acaba levando sacos de farelo, nessa hipótese, há erro de tipo excludente do dolo. Cap. 6 - ESTUDO DO ERRO 81 13. (CESPE/UnB 2006) Considere a seguinte situação hipotética. Elayne, que sabia estar com 2 meses de gestação, ingeriu substância aboríiva na suposição de estar tomando um calmante, haja vista que o medicamento se encontrava com a embalagem trocada, e veio efetivamente a abortar. Nessa situação, Elayne incidiu em erro de tipo, não respondendo por crime algum. 14. {CESPE/UnB 2006) Na obediência hierárquica, se a ordem emanada da autoridade for Ilegal, ainda que o subordinado pratique o fato por erro de proibição, acreditando piamente que a ordem seja legal, responderá peto crime na modalidade culposa. 15. (CESPE/UnB 2007) Para a caracterização da legítima defesa real, exige-se a demonstração objetiva da existência de suposição de fato que, por erro plenamente justificado peías circunstâncias, legitime a ação do agente. 6.6 DICAS IMPRESCINDÍVEIS ' ;ual a diferença entre erro de tipo e crime putativo por erro de tipo? No erro de tipo, o agente realmente pratica o fato descrito na norma penai, porque teve uma falsa percepção da realidade. Já no crime putativo por erro de tipo, ocorre justamente o contrário, porque o agente não comete um fato descrito numa norma penal, mesmo querendo e imaginando estar praticando um crime (ex.: mulher que ingere medicamento ábortivo, imaginando-se grávida, quando na ver dade não se encontra nessa situação, isto é, a gravidez era puramente psicológica). O erro de tipo escusável (desculpável, invencível) exclui o dolo e a culpa; por conseguinte, o crime. Contudo, pode acontecer de um crime ser excluído, mas ainda assim o fato continuar como criminoso noutra figura penal. Ex.: o agente ofende funcionário público, desconhecendo esta condição da vítima, isto é, não imaginava que a pessoa que estava ofendendo era funcionário público no desempenho das suas funções. Restará excluído o dolo do crime de desacato. Contudo, o agente será responsabilizado pelo crime de injúria. FORMAS CONSUMADA E TENTADA DO CRIME 7.1 FASES DO CRIME (JTER CM1MÍNÍS) Para chegar à consumação de um crime, o agente realiza uma série de atos que se sucedem, cronologicamente, no desenvolvimento da sua conduta. Tais atos compõem o chamado iter criminis ou “caminho do crime” e compreendem quatro fases: cogitação, preparação, execução e consumação. Na fase da cogitação, o agente idealiza a prática do crime. Apenas imagina a ação criminosa, mas não pratica nenhuma ação concreta. Essa fase, em hipótese alguma, é punida. Ex.: cogitar um homicídio, ou um roubo, ou ainda um estupro, não caracteriza crime algum. Não possui repercussão no âmbito penal. Na preparação, o agente começa a buscar os meios necessários para dar início à execução penal. Ex.: alugar um veículo, contratar “ajudan tes" e comprar armas de fogo para assaltar um banco. Em regra, os atos preparatórios não são punidos, salvo situações excepcionais, como no caso do crime de quadrilha ou bando (art. 288 do CP), em que a responsabilidade penal ocorre independentemente da quadrilha ou bando desenvolver suas ações criminosas. Ou ainda, no crime de fabricar ou adquirir apetrechos para falsificação de moedas (art. 291 do CP), que independe de o agente ter começado a ação de falsificação. Na fase de execução, começam os atos executórios do crime, isto é, a conduta descrita na norma penal passa a ser executada. Ex: assaltantes 84 OiREITO PENAL para concurso - POLÍCIA FEDERAL - Emerson Castelo Branco ingressam dentro do estabelecimento bancário, iniciando o crime de roubo. Os atos executórios' do delito geram repercussão penal. Na fase da consumação, ocorre o resultado delitivo. 7.2 FORMA CONSUMADA (ART. 14» INC, I) Diz-se consumado o delito, quando os elementos da figura típica estiverem caracterizados. De acordo com o desenvolvimento da forma consumada, os crimes podem ser das seguintes espécies: a) materiais - A norma penal descreve uma ação e um resultado natura- lístico (mudança no campo dos fatos), consumando-se o delito somente no momento da ocorrência do resultado. Ex.: Na açâo de matar alguém (art. 121 do CP), a consumação somente ocorre com a destruição da vida humana extrauterina; no crime de autoaborto (art. 124 do CP), a consumação somente ocorre com a destruição da vida intrauterina; no estupro (art. 213 do CP), a ação de “constranger” se consuma com a ocorrência da conjunção carnal ou de outros atos libidinosos. b) formais ~ Apesar de a norma penal descrever a ação e o resultado, o crime se consuma antes deste, no momento em que a conduta é praticada. Ex.: no crime de extorsão (art. 158 do CP), o crime se con suma no momento em que a vítima é constrangida a fazer, tolerar, ou deixar de fazer alguma coisa, ainda que o agente não consiga obter a indevida vantagem econômica (resultado). c) mera conduta.A norma penal descreve apenas uma conduta. Ex.: No crime de violação de domicílio (art. 150 do CP), o legislador descreve apenas a conduta de “entrar ou permanecer, clandestina ou astuciosamente, ou contra a vontade expressa ou tácita de quem de direito, em casa alheia ou suas dlpendêneias”. 7.3 FORMA TENTADA (ART. 14, INC. II) Ocorre quando o agente inicia a sua execução, mas nâo consegue consumá-lo por circunstâncias alheias à sua vontade. Ex.: “A” desfere vários tiros em “B”, conseguindo este, mesmo sendo atingido, fugir. Efeitos da forma tentada: redução da pena de 1/3 a 2/3. A quantidade da redução depende da maior ou menor proximidade da consumação. Espécies de forma tentada: a) Imperfeita (ou incompleta). Ocorre quando os atos executórios são interrompidos, antes do completo encerramento. Ex.: no momento em Cap. 7 - FORMAS CONSUMADA E TENTADA DO CRIME 85 que o agente desfere os primeiros tiros contra a vítima, é interrompido pela ação de uma autoridade policial, b) Tentativa perfeita (outras denominações: completa, crime falho). Ocor re quando o agente completa toda a execução, mas ainda assim não consegue consumar o delito. Ex.: o agente descarrega toda a munição da sua arma contra a vítima, não conseguindo matá-la mesmo assim. Encerrou toda a execução sera consumar o crime. Duas são as teorias principais acerca da responsabilidade penai da forma tentada: subjetiva - o agente deve ser punido apenas por sua inten ção; e objetiva (adotada no CP brasileiro - art. 14, parágrafo único) - a responsabilidade decorre da ameaça causada ao bem jurídico protegido, devendo a pena ser diminuída porque o bem não foi atingido. NOTEI Quais as infrações penais que não admitem a forma tentada? Sâo as crimes culposos (salvo a denominada culpa ’ por equiparação oú extfensão), preterdolosos, omlssivos próprios, de atentado, habituais, unissubslstentes e de ação vinculada, bem como as contravenções penais,. NOTEI A norma penai do delito tentado, prevista no inciso II, do art. 14, do Còdlgo Penai, é denominada “de. extensão” ou “de adequação mediata’', òu ainda “de adequação indireta"! Por' quaf razãó? Como os' elementos estruturais da figura típica "fião se completaram, a '1 responsabilidade- do agente- ocorre pór causa do efeito de outra norma.; Faia-se,;portanto, de adequação típica mediata, porque a. adequação ocorre por-meio. do. inciso ' I! do art. 14, do Código Penal, que funciona como itrna ponte. Em sínte se, diz-se' “adequação típica'de subordinação imediata";'quando há èxato enquadramento éníre a conduta praticada é"a descrição da‘ norma pena! (forma consumada); enquanto fala-se de “adequação típica de subordinação mediata?, quando o enquadramento depende de urna norma dè1 extensão (forma tentada). 7.4 DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA (ART. XS) Prevista no art, 15 do Código Penal, configura-se quando o agente, por sua vontade, desiste de continuar na execução do delito, impedindo sua consumação. Efeitos: Não responderá pela forma tentada, e sim so mente pelos atos anteriormente praticados. Ex.: querendo matar a vítima, o agente inicia a execução desferindo-lhe uma facada na perna, ocasião em que, mesmo podendo continuar na execução, desiste da mesma. Nesse caso, o agente não responderá pelo crime de homicídio na forma tentada, mas tão somente pelo crime de lesões corporais. 86 DIREITO PENAL para concurso - POLÍCIA FEOERAL - Emerson Castelo Brçnco 7.5 ARREPENDIMENTO EFICAZ (ART. 15) Previsto no art. 15 do Código Penal, ocorre quando o agente se arrepende, depois de encerrados todos os atos executórios, impedindo o resuitado. Obrigatoriamente, o arrependimento precisa ser eficaz. Efeitos: Não responderá pela forma tentada, mas somente pelos atos anteriormente praticados. Ex.: O agente empurra uma pessoa que não sabe nadar dentro de um açude, objetivando matá-la. Logo depois, arrependèndo-se de sua conduta, resolve retirá-la de dentro do açude, impedindo a sua morte.- N Ò f’£!-:'Gual a diferença, ''pi^^aesl^énclárypM nlií^.eii.arrèpendjm gótó. efieaz^Na>desisÇêííciá;,volÜniária,-Dia^ten^ crime; no arrependimento eficaz,' q os atos executórios, impede, a .pcorréncfeldo, r^u ltado de||iVp;; N ote‘que ao coriiránò; que todos os .atos executórios' tenham sido realizado^; . :;'T v 7.6 ARREPENDIMENTO POSTERIOR Previsto no art. 16 do Código Penal, é uma causa obrigatória de diminuição da pena (minorante genérica), aplicada nas hipóteses em que o agente, por ato voluntário, repara o dano ou restitui integralmente a coisa, até o recebimento da denúncia ou da queixa. Efeitos: Redução da pena de 1/3 a 2/3, Ex.: Autor de um crime de furto restitui a coisa sub traída até o recebimento da denúncia. A recusa do ofendido em aceitar a reparação do dano não exclui o beneficio do arrependimento posterior. NOTEI, Q ual: á ■ ilíciÉg: posterior? No; arrependimento-posterior, :'d' ';á'rre|p:eWdi^ Ineficaz,' isto é, não impede a . obõirênVta da resuitado deiitivò, mas. tao. somente lhe reduz as conseqüências.; Por isso mesmo o agente não ficará isento cie pena. - / / ; '■ QUESTÃO POTENCIAL DE PROVA! Em recente e histórico julgamento (09.11.2010), o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu, no HC 98.658/PR, que a reparação do dano no arrependimento posterior não precisa ser integral Trata-se de verdadeira novidade, porque o entendi mento consolidado na doutrina e na jurisprudência era no sentido de a reparação ser integral. Perfeitos os argumentos do STF, em síntese: 1. A norma penal (art. 16 do Código Penal) não estabelece como requisito a reparação integral do dano; 2. A reparação integral ou parcial do dano Cap. 7 -FORMAS CONSUMADA £ TENTADA DO CRIME 87 deve ser levada era conta apenas como parâmetro para fixar a diminuição. Era outras palavras, a diminuição de 1/3 a 2/3 deve levai' em consideração a extensão do ressarcimento e a presteza com que ele ocorre.1 7.7 CRIME IMPOSSÍVEL O crime impossível previsto no art. 17 do Código Penal, é aquele era que há ineficácia absoluta do meio ou impropriedade absoluta do objeto. É denominado de “impossível” porque a ação do agente jamais poderia gerar a consumação do crime. Pode se manifestar de duas formas: a) Por ineficácia absoluta do meio. Consiste num meio de execução im possível de levar o crime à consumação. Ex.: Uso de uma arma de brinquedo para matar alguém. É impossível destruir a vida de uma pessoa dessa forma. b) Por impropriedade absoluta do objeto. Nesta hipótese, não existe bem jurídico a ser protegido. Ex.: Atirar contra pessoa morta; ou o caso da mulher que ingere medicamento abortivo sem estar grávida. Nos dois exemplos, não existem vidas (extra ou intrauteriim) a se proteger. Mas duas hipóteses, o legislador adotou a teoria objetiva, segundo a qual o crime impossível não deve ser punido, por não gerar nem mesmo um perigo de lesão a um bem jurídico. Assim, o fato é considerado atí pico, não havendo a forma tentada. A antiga teoria “subjetiva” (não mais adotada, depois da reforma de 1984) sustentava que o agente deveria ser responsabilizado por causa de sua periculosidade. 7.8 QUESTÕES COMENTADAS (CESPE/UnB 2004) Considere a seguinte situaçíío hipotética. Após uma partida de basquete, Rubens abordou Célia com uma faca e, mediante violência e grave ameaça, a obrigou a ir até os fundos do ginásio de esportes, onde a constrangeu a manter com ele conjunção carnal, que não ocorreu por ausência de ereção — impotência sexual ocasional. Nessa situação, consoante entendimento do STJ, Rubens nSo responderá pelo crime de estupro tentado por ineficácia absoluta do meio. Resposta: Errado. A consumação do crime de estupro se inicia com a violência ou grave ameaça. Não tendo o crime se consumado por circunstância alheia à vontada do agente, restará a tentativa. Assim, Rubens n§o conseguiu a consumação do crime por ! Informativo 608 do STF. 88 DIREITO PENAL para concurso - POLÍCIA FEDERAL - Bmersan Castela Bmnca impotência sexual ocasiona!, fato alheio a sua vontade; contudo, praticou atos Idôneos de começo de execução. Cumpre anotar que, após a alteração promovida pela Lei n.° 12.015/2009, o crime de estupro se consuma com a prática de conjunção carnal ou de outros atos libidinosos. Portanto, se Rubens já linha praticado com Célia algum ato libidinoso, o estupro foi consumado, (CESPE/UnB 2002} Considere a seguinte situação hipotética. César subtraiu, mediante grave ameaça exercida com o emprego de uma faca, a importância de R$ 300,00 pertencente a Mateus. Instaurado o inquérito policial e elucidada a autoria da Infração penal, César restituiu voluntariamente à vítima a importância subtraída. Nessa situação, o juiz deverá reconhecer em favor de César o arrependimento posterior. Resposta: O arrependimento posterior somente se manifesta “nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa, reparado o dano ou restitulcfa a coisa, até o recebimento da denúncia ou da queixa, por ato voluntário do agente" (art. 16 do CP). (CESPE/UnB 2004) Quanto à punibiitdade da tentativa, o Código Penal adotou a teoria objetiva temperada, segundo a qual a pana para a tentativa deve ser, salvo expressas exceções, menor que a pena prevista para o crime consumado. Resposta: A teoria objetiva temperada foi adotada pelo Código Penai pátrio no que tange a tentativa. Por essa teoria, leva-se em consideração o perigo efetivo que o bem jurídico corre. Por isso mesmo, a pena da forma tentada deve ser menor do que aquela aplicada ao crime na forma consumada. 7.9 QUESTÕES CESPE/UnB 1. (Agente da Polícia Federai 2004 - Prova azul - CESPE/UnB) Marcelo, com intenção de matar, efetuou três tiros em direção a Rogério. No entanto, acertou apenas um deles. Logo em seguida, um policial que passava pelo locai levou Rogério ao hospital, salvando-o da morte. Nessa situação, o crime praticado por Marcelo foi tentado, sendo correto afirmar que houve adequação típica mediata. 2. (Delegado da Potícla Federa! 1997- CESPE/UnB) A tentativa- não é admissível nos crimes omlssivos puros. 3. (Delegado - Polícia Cívil/SE 2006 - CESPE/UnB) Considere a seguinte situação hipotética. Jorge, com 28 anos de idade, ítendo sido verbalmente ofendido por Cláudio, correu até sua casa, amolou uma faca do tipo peixeira e, ato seguido, voltou ã procura do seu adversário, não mais o encontrando no locai. Não desistindo de localizar seu desafeto, Jorge postou-se Junto ao caminho onde Ctáudio passava habitualmente e novamente o esperou com a faca em punho. Todavia, Cláudio, desconfiado, tomou direção diversa, evitando a agressão do inimigo. Nessa situação, a conduta de Jorge caracteriza a figura tentada do homicídio, visto que se deu Início à execução do delito, o quai não se consumou por circunstâncias alheias â vontade do agente. 4. (CESPE/UnB 2004) Nas contravenções penais, a tentativa é punida com a pena da contravenção consumada diminuída de um a dois terços. 5. (CESPE/UnB 2004) Nenhum ato preparatório de crime ê punível no direito penal brasileiro. 6. (CESPE/UnB 2004) Na desistência voluntária, o agente pratica todos os atos de execução e evita que o resultado ocorra. Cap. 7 - FOKMAS CONSUMADA E TENTADA DO CRSME 89 I " -------------------- -------------- ------ --------- ” ---------- 7. (CESPE/UnB 2004) Se o arrependimento situar-se na esfera cie execução do crime, pode haver excludente de tentativa, desde que não sobrevenha o resultado. Se ocorrer depois da execução, só será admitido o arrependimento posterior, considerado causa de diminuição de pena. 8. (CESPS/UnB 2007) José e Pablo, previamente ajustados e com unidade de desígnios, subtraíram de uma joathoria um relógio de ouro. instaurado o inquérito policial e antes de sua conclusão, Pablo compareceu voluntariamente até a autoridade policiai e devolveu a res furtiva. Nessa situação, restou configurado o arrependimento posterior que, de acordo com o entendimento do STJ, se comunicará ao corréu Pablo. 9. (CESPE/UnB 20Q4) É possível a tentativa no crime preterdoioso. 10. (CESPE/UnB 2004) Considere a seguinte situação hipotética. André, supondo que seu inimigo estava dormindo na cama de um acampamento, quando na realidade estava morto em virtude de um infarto qoe sofrerá anteriormente, desfechou-lhe seis tiros de revólver. Nessa situação, André não responderá pelo crime de homicídio tentado, em face da ineficácia absoluta do meio. 7.10 DICAS IMPRESCINDÍVEIS O arrependimento posterior se comunica aos demais agentes? Sim. E a desistência voluntária e o arrependimento eficaz? Também se comunicam. Em que pese o assunto ser bastante polêmico, a orientação majoritária na doutrina é no sentido da comunicabilidade. Contudo, cabe ressaltar recente julgado do Superior Tribunal de Justiça no sentido da não co- municabilídade, por ser circunstância de natureza pessoal (subjetiva)?. Curiosamente, era. decisões mais antigas, o STJ vinha entendendo, de forma consolidada, pela comunicabilidade aos demais agentes. Pode existir forma tentada nos crimes cometidos com dolo eventual? Sim. Trata-se da orientação majoritária* uai a diferença entre tentativa “vermelha” e “branca”? A tentativa vermelha (cruento) é aquela que deixa lesão (ex.: cortes no corpo da vítima); enquanto a branca (;incruenta) é aquela que não gera nenhum tipo de lesão (ex,: disparos contra a vítima sem acertá-la). I A existência da desistência voluntária e do arrependimento eficaz exclui a forma tentada do delito? Sim. Não há de se falar de forma 3 STJ, HC 92.004/PR, DJe 01.0S.2009. 90 DIREITO PENAL para concureo - FCLÍCiA FEDERAL - Emerson Castelo Brertco tentada do crime. Por isso mesmo, são denominados de “tentativa abandonada”. Os crimes de mera conduta e formais permitem arrependimento efi caz? Não. Como o arrependimento eficaz pressupõe o encerramento de todos os atos executórios, somente é compatível com os crimes materiais (delitos de resultado). A desistência voluntária e o arrependimento eficaz são compatíveis com os crimes culposos? Não, porque nestes o agente não tinha previsão, nem vontade de cansar o resultado. j Existe desistência voluntária se o agente desistiu da ação para praticá- ~la posteriormente, isto é, numa outra ocasião? Sim. Reparação de dano de natureza moral autoriza a aplicação do arrependi mento posterior? Sim, Trata-se da orientação doutrinária majoritária. A violência contra a coisa exclui a aplicação do arrependimento posterior? Não. Precisa ser violência contra a pessoa. E a posição majoritária. HS Como fixar exatamente o momento de transição da fase dos atos preparatórios para a fase dos atos executórios? A corrente majori tária (teoria objetíva-formal) defende que é o momento do início da execução do núcleo do tipo (verbo)’. E se a coisa for devolvida à vítima pela autoridade policial? Não se aplica a figura do arrependimento posterior: “Tendo a decisão im petrada consignado que a res furtiva foi apreendida por policial no momento da prisão do paciente, ante a ausência de um dos requisitos necessários à incidência da benesse espontaneidade na devolução - , é inadmissível minorar-se a reprimenda ao fundamento de que houve posterior arrependimento por parte do agente”.3 3 STJ, HC 96,140/MS, 02.02,2009. ANTIJIMIBICIBABE (ILICITUDE) 8.1 CONCEITO DE ANTIJÜMBICIDAB1 A antijuridicidade (ilicitude) consiste na contrariedade entre a con duta praticada por uma pessoa e o ordenamento jurídico. É uma ação contrária a uma norma jurídica, Essas situações de contrariedade estão presentes em todos os âmbitos do direito (civil, trabalhista, administrativo, tributários, dentre outros). Por isso mesmo, é muito comum uma conduta antijurídica que não constitua crime, por ausência do fato típico, outro elemento do delito, anteriormente estudado. A antijuridicidade é apenas um dos elementos do crime. Assim, constatada a antijuridicidade, é preciso aferir ainda a presença do fato típico e da culpabilidade. O fato típico somente é ilícito ou antijurídico quando não declarado lícito por causa de exclusão da antijuridicidade.1 8.2 CAUSAS DE EXCLUSÃO DA ANTIJURIDICIDADE A exclusão da antijuridicidade resulta na exclusão do crime ef con sequentemente, da sua responsabilidade penal. As denominadas causas genéricas “de exclusão” ou “justificativas” da antijuridicidade são a legítima defesa, o estado de necessidade, o estrito cumprimento do dever legal e o exercício regular de direito. ' JESUS, Damásio E, de. Direito Penai ~ Geral - V.l, 27.a ed., São Paulo; Saraiva, 2005, p. 1S7, 92 DIREITO PENAL para concureo - POLÍCIA FEDERAL - Emerson Castelo Branco 8.3 LEGÍTIMA DEFESA Inserida no art. 25 do Código Penal, a noção de legítima defesa remonta aos primórdios da existência humana. Diante da impossibilidade de o Estado oferecer segurança para as pessoas a todo tempo, estas são autorizadas a agir para proteger seus bens jurídicos, diante de situações de agressão humana. Requisitos: a) Agressão injusta - Bxige-se que a agressão seja injusta, isto é, contrá ria ao direito. Se a agressão é lícita, não se pode falar de “legítima” defesa. Pode ocorrer via “ação” ou “omissão”. b) Atual ou iminente Agressão atuai é a presente, ou seja, está acon tecendo; enquanto iminente é a que está prestes a acontecer. c) Direito seu ou de outrem - Quando a pessoa defende direito seu, denomina-se de legítima defesa “própria”. De outro modo, quando defende direito de terceiro, fala-se de legítima defesa “de terceiro” A pessoa protegida pode ser física ou jurídica. Todo bem jurídico da pessoa (ex.: vida, patrimônio, liberdade, inviolabilidade domiciliar etc.) pode ser protegido por meio do instituto da legítima defesa. d) Utilização dos meios necessários - É o meio de que dispõe a pessoa, no caso concreto, para repelir a agressão. A escolha do meio hábil deve levar em conta o tipo e intensidade da agressão. e) Moderação - O meio deve ser utilizado apenas para repelir a injusta agressão, não se admitindo excesso na ação, Deve-se empregar o meio da forma menos lesiva possível, apesar de não ser exigida uma adequação milimétrica. f) Elemento subjetivo - A pessoa deve ter consciência da injustiça da agressão, bem como de estar agindo para repeli-la. A ausência desse requisito leva à exclusão da legítijna defesa. A legítima defesa não pode ocorrer contra legítima defesa (não é possível legítima defesa recíproca!), ou contra o estado de necessidade, ou contra o exercício regalar de direito, ou contra estrito cumprimento do dever legal. Nessas hipóteses, nlo haveria injusta agressão. Por exemplo, se “A” encontra-se agindo em legítima defesa contra “B”, este último não pode agredi-lo alegando legítima defesa. A ação de “A” é legítima defesa; portanto, não é injusta, NOTEI E no,, caso dos duelsstás?. Não podem alegar legltlma .císfesa, por que ambos estão agindo de forma injusta, um contra o outro, a começar por, se desafiarem • pará o . duéló.'-. Quarn: acaita. ò . dueio. nâo paç!^ aiegar. legitima d o f é s á . ' ' - V ': • / ; • . ;.‘v Cap. 8 - ANTIJURIDICIDADE (1LÍCITUDE) 93 A injusta agressão pode ser qualquer tipo de agressão ilícita, não obrigatoriamente um crime. QUESTÃO POTENCIAL DE PROVA! Pode existir legítima defesa contra um doente mental? E contra uma criança? Sim. Com certeza, des de que atendidos os seus requisitos, inclusive, a moderação. A agressão injusta deve ser analisada objetivamente, não importando a capacidade do agressor. É o caso, por exemplo, de uma criança, com seus 10 anos de idade, munida de revólver, atirando contra uma pessoa; ou de um doente mental, valendo-se de instrumento pérfiiro-cortante para atingir violentamente a integridade física de alguém. Em síntese, é possível legítima defesa contra ínimputáveis. A legítima defesa real não pode ser confundida com a situação denominada de “legítima defesa putativa”? Conforme vimos no estudo do erro, a “legítima defesa putativa” é uma descriminante putativa, configurando-se quando o agente supõe falsamente a existência de uma injusta agressão. Portanto, tecnicamente, não caracteriza legítima defesa, isto é, causa de exclusão da antijuridicidade, Na verdade, trata-se de erro de proibição, que é causa de exclusão da culpabilidade. Qual o significado das expressões “legítima defesa subjetiva” e “le gítima defesa sucessiva”? Diz-se . “subjetiva15 a hipótese de excesso no momento de repelir a injusta agressão, decorrente de erro de proibição escusável (invencível), que exclui a culpabilidade. Já “sucessiva” é a repulsa contra o excesso. A legítima defesa possui um adágio jurídico muito conhecido: “nin guém é obrigado a ser covarde”. Sofrendo uma injusta agressão, não se pode exigir da pessoa que esta empreenda fuga. E direito seu agir com os meios necessários e moderados para repelir a injusta agressão. A figura do excesso na legítima defesa enseja três hipóteses: 1*. Excesso doloso. A pessoa tem consciência que está empregando um meio desnecessário, ou mesmo de estar agindo moderadamente na utilização deste. É o caso, por exemplo, do marido traído que pretende defender a honra da família, matando a esposa adúltera e o amante desta; ou entao o caso de morador que ateia fogo no corpo de assaltante, depois de havê-lo dominado completamente. Efeito: Responsabilidade penai pelo resultado, dolosamente. Nos exemplos citados, o agente responderá por crime de homicídio doloso. 2.“. Excesso culposo. Configura-se quando uma pessoa, por imprudência, em face da injusta agressão, contínua a agredir seu agressor, mesmo 94 DIREITO PENAL para concurso ~ PGtlCíA FEDERAL - Emerson C&sfàh Branco 1 tendo cessado a agressão. Efeito: Responsabilidade penai pelo resul tado, culposamente. 3,a. Excesso cxcuípante. É o excesso que surge do erro sobre a iíicitude do fato (erro de proibição), imaginando o agente estar agindo licita mente. Como se trata de erro escusável (invencível), excluí o crime pela exclusão da culpabilidade. Denominado também de “legítima defesa subjetiva”. Qual a exata diferença entre a legítima defesa e o estado de neces sidade? Primeiro, no estado de necessidade, não existe injusta agressão, e sim colisão entre bens jurídicos. Segundo, no estado de necessidade, o perigo pode ser humano, ou de um animal, ou de qualquer força da natureza; enquanto, na legítima defesa, a agressão sempre é humana. Ter ceiro, no estado de necessidade, a ação pode ser contra pessoa inocente; enquanto, na legítima defesa, sempre deverá ser contra o agressor. 8.4 ESTADO DE NECESSIDADE Diferentemente da legítima defesa, o estado de necessidade é a causa de exclusão da antijuridicidade que consiste na ação de uma pessoa para salvar um bem jurídico em situação de perigo. Trata-se da hipótese do sacrifício último para salvar um bem jurídico, tendo como único caminho a lesão de outro. Há uma colisão de bens juridicamente tutelados, diante de uma situação de perigo causada por força humana, ou animal, ou da natureza. Requisitos: a) Perigo atual É necessário provar a existência de uma situação de peri go presente. Não haverá estado dl necessidade se o perigo for futuro. Note: Apesar da norma penal se referir apenas a perigo atual, parte da doutrina possui o entendimento segundo o qual o perigo iminente também estaria abrangido pelo estado de necessidade. b) Ameaça a bem jurídico próprio ou de terceiro, Pode ser qualquer bem jurídico próprio ou alheio, como a vida, a integridade física, a honra, a liberdade e o patrimônio. c) Situação de perigo que não tenha sido causada voluntariamente pelo agente. O perigo causado dolosamente impede que o agente alegue estado de necessidade. Assim, se o agente der causa culposamente ao perigo, pode invocar o estado de necessidade, pois somente não seria possível essa alegação se o perigo tivesse sido causado inten cionalmente (dolosamente) por ele. Contudo, o assunto é dividido na doutrina, havendo duas orientações sobre o tema. Cap. 8 - ANTIJURtDICiDADg (ILICITUDE) 95 d) Inexistência de dever íegal de enfrentar o perigo. Não se pode alegar estado de necessidade quem tinha o dever legal de combater o perigo. Ex.; o policial não pode deixar de enfrentar criminoso, sob o argumento de que o mesmo pode machucá-lo; um bombeiro não pode deixar de enfrentar um incêndio invocando a possibilidade de ser queimado; o capitão de um navio não pode se apossar do bote salva-vidas, deixando os tripulantes em situação de perigo, e) Inevitabilidade do comportamento lesivo. É preciso que o agente de outro modo não tivesse como evitar o resultado. Significa não haver outro meio de evitar o perigo ao bem jurídico próprio ou de terceiro. Em outras palavras, se havia outro meio de afastar o perigo (commodus discessus), não pode existir estado de necessidade. f) Exigibilidade (ou razoabilidade) de sacrifício do bem jurídico. Só é possível o estado de necessidade para salvar interesse próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se. Dessa forma, o bem sacrificado deve ser de valor equivalente ou inferior ao bem que se pretende proteger (ex.: não se admite estado de necessidade, quando se sacrifica a vida de uma pessoa para salvar um cão). g) Elemento subjetivo do estado de necessidade. É preciso que o sujeito tenha consciência de que está agindo em estado de necessidade. NOTE! Qual a diferença entre ò estado de necessidade e o denominado ’ "estado, d^.necessidaâé puíativo''? O estado de necessidade puíàtlvo é uma espécle descriminaníe putativa, isto é,. erro'sobre a Ilicitude .do fato1’(erro de proibição), causa de' exclusão da culpabilidade. Ocorre quando alguém imagina estàr agindo erri estado de ftecèssídáde, quando, rià verdade, à situação de perigo não existe. r ....... Havendo apenas dever contratual, é possível alegar estado de neces sidade? Sim. Somente não pode alegar estado de necessidade quem tem o dever legal de combater o perigo. Assim como na legítima defesa, o excesso no estado de necessidade pode ser doloso, culposo ou exculpante. No doloso, existe consciência do excesso; enquanto, no culposo, uma imprudência. Por fim, no exculpante, a pessoa incorre em erro, imaginando ainda haver situação de estado de necessidade, quando o perigo já tinha cessado. NOTEI Havendò a imposição do-déver íégai "não pode á autòridade púbjiçá alegar estado de necessidade, porque a própria; função prevé. riscos: En tretanto, ná'hlpótésé.dè s.èr ju d d iç ó i^ lo ;.se po.de .exigir p sacrifício. inútil. É ò Caso’, ' poréxèriiplo, .de lim prédio'em charriás, desmoronando, i^ão há "corno á autoridade ingressar dentro deste, nessas circunstâncias. 96 DIREITO PENAL para concurso - POLÍCIA FEDERAL - Emerson Castelo Branco QUESTÃO POTENCIAL BE PROVAS Qual a exata diferença entre estado de necessidade “agressivo” e “defensivo”? No estado de necessi dade “agressivo”, a conduta do agente se volía contra bem jurídico de terceiro inocente, que não provocou a situação de perigo (ex.: o clássico caso de um náufrago que mata outro para se apoderar de um bote salva vidas; ex. 2.: invadir a casa de uma pessoa para fugir de uma enchente). Já no estado de necessidade “defensivo”, a conduta dp agente se volta contra o bem jurídico da pessoa que provocou o perigo (ex,: o agente precisa matar o cachorro do vizinho, que deixou o animal solto na rua, para livrar seu filho de um ataque). Somente haverá estado de necessidade se o bem jurídico que o agente pretende proteger for legítimo. Dessa forma, por exemplo, o preso não pode matar o delegado de polícia para fugir. 8.5 EXERCÍCIO REGULAR DE DIREITO É a causa de exclusão da antijuridicidade, prevista no art. 23 do Código Penal, que consiste na atuação de alguém conforme as normas de direito, isto é, respaldada pelo ordenamento jurídico. Apesar da tipicída- de aparente (descrição da conduta na norma penal, a conduta é jurídica (lícita). Ex.: palmadas leves que uma mãe ministra no bumbum do seu filho; lesões decorrentes de um esporte, como boxe, futebol, 8.6 ESTRITO CUMPRIMENTO DO DEVER LEGAL É a conduta que, apesar de constituir um fato típico, é lícita (jurídica), porque decorre da imposição de um dever legal. Este dève ser exercido sempre dentro dos limites da própria sãtividade funcional. Assim como toda causa de exclusão da iíicitude, é necessário o requisito subjetivo, isto é, a consciência de estar agindo no cumprimento de um dever legal. Ex.: emprego de força física por um policial para efetuar a limitação de liberdade de um criminoso. O dever legal pode decorrer de lei penal ou extrapenal (ex.: dispo- sições administrativas). Entretanto, lembra Mírabete, “estão excluídas da proteção as obrigações meramente morais, sociais ou religiosas. Haverá violação de domicílio, por exemplo, se um sacerdote forçar a entrada em domicílio para ministrar a extrema-unção.”12 1 MÍRABETE, Júlio Fabbrini. Manual de Direito Penal. V,l, 24.* ed., São Paulo: Atlas, 2006, p. 189. Cap. 8 - ANTtJURIOlCSDADE (ILICITUDE) 97 Não se admite estrito cumprimento de dever legal nos crimes culpososs porque a lei não obriga à imprudência, à negligência ou à imperícia. 8.7 QUESTÕES COMENTADAS (CESPE/UnB 2004) É possível a ocorrência de estado de necessidade contra estado de necessidade, mas não é possível a ocorrência de legítima defesa real contra legitima defesa real. Resposta: Correto. O estado de necessidade pressupõe um choque entre bens jurídicos, em que se opta pela preservação de um em detrimento do outro. Nada impede que duas pessoas hajam em estado de necessidade mutuamente com o intuito de defender o bem jurídico, No entanto, quando se trata de legítima defesa real, em que se faz presente todos os seus requisitos de existência, inclusive o da agressão injusta, não existe compatibilidade entre legítima defesa reai e legítima defess real, visto que, necessariamente, enquanto uma agressão for injusta, a outra se tomará justa, resultando, portanto, que não se pode afagar legítima defesa de agressão justa. (CESPE/UnB 2004) Considere a seguinte situação hipotética. Marcelo desfechou seis tiros de revólver contra a sua esposa, de quem estava separado de fato há mais de 30 dtas, sob a justificativa de que a vitima não tinha comportamento recatado e o traía. Nessa situação, de acordo com o entendimento do STJ, Marcelo agiu sob o pálio da legitima defesa da honra. Resposta: Brado, De acordo com o STJ, a legítima defesa da honra nâo é mais admitida em casos de traição, visto que a honra denegrida é a da adúltero e nâo a do cônjuge inocente, São incompatíveis, portanto, os requisitos da legitima defesa (art. 25 do CP) com o adultério. (Delegado da Policia Civll/RN — 2009 - CESPE/UnB) Nâo é possível a legitima defesa contra estado de necessidade. Resposta: Correto. De fato, se uma pessoa está agindo em estado de necessidade, sua conduía é plenamente jurídica, lícita. Dessa forma, não poderá haver legítima defesa contra uma ação lícita. Somente existe legítima defesa no caso de injusta agressão. (Delegado da Policia Clvil/RN - 2003 - CESPE/UnB) Não é possível legítima defesa real contra quem está em legitima defesa putaíiva. Resposta; Errada, é possível, sim, legítima defesa real contra legítima defesa putativa Quem age imaginando falsamente uma injusta agressão está cometendo um erro, agredindo uma pessoa por equívoco. Esta, por outro íado, tem o direito, diante da injusta agressão que sofre, de agir para reprími-ia. (DPU Defensor púbiico da União CESPE/UnB 2010) A responsabilidade pena! do agente nos casos de excesso doloso ou culposo aplica-se âs hipóteses de estado de necessidade e legítima defesa, mas o legislador) expressamente, exclui tal responsabilidade em casos de excesso decorrente do estrito cumprimento de dever legal ou do exercício regular de direito. Resposta: Errado. O excesso doloso ou culposo, nos termos do parágrafo único, do art. 23, do Código Penal, pode ocorrer em qualquer uma das hipóteses de exclusão da antijuridicidade. Exemplo de excesso no estrito cumprimento do dever legai: oficiai de justiça que agride desnecessariamente a integridade física de uma pessoa no cumprimento de um mandado de busca e apreensão. Exemplo de excesso no exercício regular de direito: mãe que termina exagerando na correção imposta ao filho. 98_____ DfREiTO PENAL para concurso ~ POLlCIA FEDERAL ~ Emerson Castelo Branco 8.8 QUESTÕIS CESPE/UnB 1. (Escrivão da Policia Federal 2002 - CESPE/UnB) Considere a seguinte situação hipotética. Perseu era escrivão de Poiícia Federal e, atendendo a ordem de missão expedida pelo delegada competente, acompanhava equipe policial em diligência investigatôrla regular. Durante ela, encontraram um indivíduo em situação de flagrância e deram-lhe voz de prisão. O indivíduo resistiu e sacou arma do fogo, com a qual disparou contra a equipe. Não havendo alternativa, Perseu disparou contra o indivíduo, alvejando-o mortalmente. Nessa situação, ao ato de Perseu falta o elemento da fitcitude, de maneira que não é juridicamente correto imputar-lhe crime de homicídio. 2. (Papiioscopista da Poiícia Federal 2004 - CESPE/UnB) As causas de exclusão de iíicitude são normas penais permissivas, isto é, permitem a prática de um fato típico, exclutndo-lhe a antijurldicidade. 3. (Delegado ~ Policia Civil/ES - CESPE/UnB) Na administração da justiça por parte dos agentes estatais é meio legitimo o uso de armas com o intuito de matar indivíduo que tenta cvadir-se de cadeia pública. 4. (Delegado - Polícia Civil/ES - CESPE/UnB) O policial ao efetuar prisão em flagrante tem sua conduta justificada peta exchidente do exercido regular de direito. S. (Delegado ~ Poiícia Civil/ES - CESPE/UnB) Pode ser causa de exclusão da Iíicitude o consentimento do ofendido nos delitos em que eie â o único titular do bem juridicamente protegido e pode dele dispor livremente. 6. (Delegado - Polícia Civil/ES - CESPE/UnB) Não existem causas supralegais de exclusão da iíicitude, uma vez que o art. 23 do Código Penal pode ser entendido como numertis ciausus. 7. (Delegado - Poiícia Civil/ES - CESPE/UnB) Não se reconhece como hipótese de legítima defesa a circunstância de dois inimigos que, supondo que um vai agredir o outro» sacam suas armas e atiram pensando que estão se defendendo. í 8. (Delegado - Polícia Civil/ES - CESPE/UnB) São requisitos para configuração do estado do necessidade a existência de situação de perigo atua! que ameace direito próprio ou alheio, causado ou não voluntariamente pelo agente que não tem dever legal de afastá-lo. 9. (Delegado - Polícia Civil/ES - CESPE/UnB) Trata-se de estrtto cumprimento de dever legal a realização, pelo agente, d® fato típico por força do desempenho de obrigação imposta por lei. 10. (Delegado da Poiícia Federal 2004 Regional branca - CESPE/UnB) Para prenderem em flagrante pessoa acusada de homicídio, policiais Invadiram uma residência em que entrara o acusado, danificando a porta de entrada e sem mandado de busca e apreensão. Nessa situação, os policiais não responderão pelo crime de dano, pois agiram em estrito cumprimento do dever fegal, que é causa excludente da iíicitude. Cap, 8 - ANTUURSD1CIDADE (ILICITUDE) 99 r ~ 11. (Agente ~ Polícia Civil/RR 2003 - CESPE/UnB) São causas excludentes de ilicitude a legítima defesa, o estado de necessidade, o estrito cumprimento do dever iegal e a coação morai Irresistível. 12. (Agente - Polícia Clvti/RR 2003 - CESPE/UnB) Considere a seguinte situação hipotética. Dionfsto, para salvar a si próprio e a seu filho, feriu mortalmente um leão que acabara de fugir do zoológico e ameaçava atacá-los. Nessa situação, Dionísío agiu em legítima defesa. 13. (Agente - Polícia Cívü/RR 2003 - CESPE/UnB) Age em estrito cumprimento do dever legal o policial que emprega força física para impedir fuga de presídio. 14. (CESPE/UnB 2003) Configura-se causa de exclusão de ilicitude denominada estado de necessidade recíproco a situação em que, após um navio naufragar, seus tripulantes se agridam mutuamente, m> intuito de se apoderarem de uma boia que flutue no oceano. 15. (OAB “ 2009.1 - CESPE/UNB) Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo atual, que não provocou por sua vontade nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se. 16. (Agente - Polícia Civil/TO 2008 - CESPE/UnB) Considere a seguinte situação hipotética. Jonas, aceitando desafio de Gabriel, ofendeu, no decorrer do duelo, a integridade física de seu desafeto, causando-lhe lesões corporais graves. Nessa sltuaçao, Jonas agiu em legítima defesa, pois tinha o propósito de se defender de eventuais agressões. 17. (Escrivão - Policia Civti/PA 2006 - CESPE/UnB) Diz-se agressivo o estado de necessidade quando a conduta do agente dirige-se diretamente ao produtor da situação de perigo, a fim de eliminá-ía. 18. (Assistência Judiciária do Distrito Federal 2006 - CESPE/UnB) As Intervenções médicas e cirúrgicas constituem exercício reguíar de direito, sendo, excepcionalmente, caracterizadas como estado de necessidade. 19. (Assistência Judiciária do Distrito Federal 2006 - CESPE/UnB) Nos termos do Código Penal e na descrição da excludente de ilicitude, haverá legítima defesa sucessiva na hipótese de excesso, que permite a defesa legítima do agressor inicial. 20, (CESPE/UnB 2Òp4) Um bombeiro que deixa de atender a um incêndio, em que pessoas são tesionadas, para atender a outro sinistro, de maior gravidade, age em estado de necessidade. 21. (CESPE/UnB 2007) Considere a seguinte situação hipotética, Um alpinista, em situação de extremo perigo, ao perceber que a corda que o sustentava junto à montanha estava prestes a se romper, cortou o sustentácuio, impondo com isso a queda do amigo, também sustentado pela mesma corda. Tal conduta provocou a morte imediata do segundo alpinista, propiciando o salvamento do primeiro. Nessa situação, aquèlé que cortou a corda agiu em legitima defesa na busca de proteção da própria vida. 100 OSREITO PENAL para concurso - POLÍCIA FEDERAL - Emerson Coste/o Branco 22, (CESPE/UnB 2007) O exercício regular de direito e o estrito cumprimento de dever legal excluem o caráter ilícito do fato, o que implica, por conseqüência» a ausência de tiptcidade da conduta amparada por tais Institutos. 23. (CESPE/UnB 2003} Constitui requisito subjetivo do estado de necessidade a consciência do agente da situação de perigo e de agir para evitar a lesão. 819 DICAS IMPRESCINDÍVEIS As denominadas ofendículas (ex.: cerca elétrica) configuram exercício regular de direito? Sim. Trata-se da orientação majoritária. Contudo, não podem existir em formato de armadilhas escondidas, porque geram uma situação de excesso. msiasmítosffíascy»; i}** yfcr.vv O denominado “estado de necessidade exculpante” foi adotado pelo Código Penal brasileiro? Não. Ocorre quando o bem sacrificado possui valor superior ao bem que se desejava proteger, mas o agente alega inexigibilidade de conduta diversa, para excluir a culpabilidade (ex.: destruir a vida de uma pessoa para salvar um pequeno animal de estimação de inestimável valor sentimental). Somente se admite o estado de necessidade “justificante”, baseado na razoabilidade, isto é, na proporcionalidade entre o bem sacrificado e o bem protegido. O estado de necessidade se comunica aos outros coautores da ação? Sim, Trata-se de orientação amplamente majoritária na doutrina. Havendo erro de execução (“aberratio ictus”), previsto no art. 73 do Código Penal, haverá possibilidade de estado de necessidade? Sim. Simples provocação autoriza defesa legítima? Não. Dessa forma, a provocação (e não agressão!) somente possibilita o reconhecimento de uma atenuante genérica (art. 65 do CP), ou mesmo alguma circuns tância provilegiadora (§ 15, do art. 121, do CP). j Não pode existir legítima defesa contra animal (a agressão deve ser humana!), salvo se o animal fosse utilizado como arma (instrumento do crime) pelo agente. Ações contra animais configuram hipótese de estado de necessidade. Cap. 8 - ANTIJURiDIClOAOE (HICITUDE) 101 Na legítima defesa, existe a mesma figura presente no estado de ne cessidade do “commodus discessus” (busca de alternativa, como, por exemplo, fuga)? Não. Se uma pessoa parte em direção a outra com um revólver, para matá-la, não se pode exigir desta última que empreenda fuga (adágio “ninguém pode ser obrigado a ser covarde”). Bm outras palavras, mesmo tendo condições de fugir, ainda assim haverá legíti ma defesa (ex.: assaltantes armados invadem a casa de uma família. Mesmo podendo fiigir, a família “valente” prefere enfrentá-los). Dentro do mesmo contexto fático, podem existir legítima defesa e estado de necessidade simultaneamente? Sim. É o caso em que A subtrai a arma de B, para atirar contra C, em situação de legítima defesa. Em relação a B, agiu em estado de necessidade; enquanto que em relação a C agiu em legítima defesa. sreí j t t t i sa! ív\ Em relação ao estrito cumprimento do dever legal, somente pode ser alegado por funcionários públicos? Apesar de não ser assunto pacífico, a corrente majoritária se orienta no sentido de sua adoção também pelo particular, desde que exista lei, impondo-lhe algum tipo de dever legal O consentimento do ofendido é causa supralegal de exclusão da iíicitude? Sim. Contudo, somente será válido se o bem jurídico for disponível (ex.: honra) e o ofendido for capaz. E mais: a título de exceção, se a ausência de consentimento for elementar do tipo, haverá a exclusão do fato típico, e não a antijurldicidade (ex.: violação de domicílio - art. 150, CP). CULPABILIDADE 9.1 CONCEITO É o juízo de reprovação social (censurabilidade) que se faz sobre a conduta. É elemento integrante do conceito de crime. Possui os seguintes elementos: imputabilidade, potencial conheci mento da ílicitude e exigibilidade de conduta diversa. 9.2 CAUSAS DE EXCLUSÃO BA CULPABILIDADE As causas de exclusão da culpabilidade (ou “dirimentes”) são as seguintes: a) Inímputabilidade ■•••• A exclusão da imputabilidade termina por gerar a exclusão da culpabilidade. b) Coação moral irresistível (v í í compulsiva) - Ocorre toda vez que uma pessoa, sofrendo grave ameaça irresistível, for obrigada a praticar um crime. Note: Deve ser irresistível, isto é, não podia ser vencida. Temor reverenciai é o fundado receio em desagradar a quem se deve elevado respeito. Não se equipara à coação moral. c) Obediência hierárquica - Caracteriza-se pela ordem de um superior hierárquico a um subordinado para a prática de uma conduta criminosa, não sendo essa ordem manifestamente ilegal; isto é, o subordinado a executa sem perceber a sua ilegalidade. Se for claramente ilegal, o subordinado também será responsabilizado penalmente. 104 DI&EtTO PENAL para concurso - POÜCIA FEDERAI. - Emerson Castelo Branco NOTE! Quai a diferença entre coação moral irresistível para coação física irresistível (vis absoluta)? Na coação morai, a pessoa se encontra em liberdade, sofrendo constrição apenas mental; enquanto na coação física, a pessoa não tem vontade, estando limitada fisicamente. Em outras pala vras, a coação morai irresistível não exclui a conduta, uma vez que ainda existe vontade. Por Isso mesmo, exclui a culpabilidade. Ao contrário, na coação física irresistível, nâo haverá fato típico, por ausência da conduta, um de seus elementos. Luiz Régis Prado cita dois exemplos interessantes de coação física: “Obrigar fisicamente o coagido a golpear; e amarrar o guarda rodoviário, impedindo-o de acionar os binários",! 9.3 ELEMENTOS DA CULPABILIDADE 1.°) Imputabilidade - Estudamos no tópico a seguir. 2.°) Potencial conhecimento da ilicitude - Para que a conduta seja reprová vel (censurável), é necessário que o agente conheça ou ao menos possa conhecer as circunstâncias ligadas à antijuridicidade. Note: O desconhe cimento da ilicitude não pode ser confundido com o desconhecimento da Lei. O Código Penal, inclusive, estabelece, em seu art. 21, que o desconhecimento da lei é tnescusável, isto é, não podendo ser alegado para excluir a responsabilidade penal do agente. Qual é a exata diferen ça? O desconhecimento da lei significa apenas que o agente criminoso não conhece a legislação, mas tem consciência do caráter ilícito do seu ato. Ao contrário, a falta de potencial conhecimento da ilicitude ocorre quando o agente desconhece que sua ação é contrária ao Direito. S.") Exigibilidade de conduta diversa - Para se configurar a culpabilidade, não bastam a imputabilidade e o potencial conhecimento da ilicitude. É necessário ainda aferir se, diante das circunstâncias do episódio criminoso, era necessário exigir do agente um comportamento diverso daquele que empregou. Deve-se averiguar se era possível exigir do agente outra conduta diversa da ^que praticou. Qual o critério para fazer esse juízo? O homem médio. Em outras palavras, se as pessoas em geral, diante de iguais circunstâncias, agissem da mesma fòrma, a conduta do agente não seria censurável, não havendo culpabilidade no caso. Cite-se como exemplo, dentre outros, a coação moral irresistível, estudada acima. 9.4 IMPUTABILIDADE É a capacidade de entender o caráter ilícito do fato e de determinar-se de acordo com esse entendimento. O Código Penal, em vez de definir a ’ PRADO, Luiz Regis. Curso de Direito Penal Brasileiro ~ Vol 1 - Parte Gerai, 5.a Ed„ São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006, p. 26. Csp, 9 - CULPASiUDADE 105 imputabilidade, elencou as situações de inimputabilidade, no art. 26 do CP: “É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvol vimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão» inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento”. 9.4.1 Critérios (ou sistemas) para estabelecer a inimputabilidade a) biológico - Avalia apenas aspectos biológicos, como, por exemplo, saber se ama pessoa possui desenvolvimento mental retardado. b) psicológico -- Avalia apenas se a pessoa tinha ou não capacidade de entender o caráter ilícito do fato e de determinar-se de acordo com esse entendimento, não se importando com questões biológicas. c) biopsicológico - Consiste na soma dos dois critérios anteriores. NOTEI O Código Pena! adotou o sistema biopsicológico, conforme se verifica da análise do a r t 28 do CP: "Ê isento do pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto,.ou retardado (sistema biológico), era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter fllcito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento" (sistema psicológico). Adotou, portanto, a soma dos dois sistemas (biológico + psicológico), formando o sistema biopsicológico, 9*4.2 Causas de inimputabilidade I *) Doença mental - É toda perturbação mental capaz de influir na ca pacidade de entender o caráter ilícito do fato. Ex.: paranóia, psicose, neurose, esquizofrenia etc, 2*) Desenvolvimento mental incompleto - É o desenvolvimento metal que ainda não se completou, ou por causa da idade do agente, ou por sua ausência de convício social, Ex.: menores de 18 anos e siivícolas inadaptados. 3.*) Desenvolvimento mental retardado - É o atraso na idade mental cronológica da pessoa. Ex/. oligofrênícos. 4.a) Embriaguez completa, por caso fortuito ou por força maior - Será estudada mais adiante. 9,4.3 Semi-imputabiUdade Prevista no parágrafo único do art. 26, é a situação do agente que não era inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato, isto é, tem apenas perda parcial da capacidade de entendimento. Por isso 106 DIREITO PENAL para concurso - POLÍCIA FEDKRAL - Emerson Castelo Branco mesmo, não exclui o crime. Gera apenas uma diminuição da pena. de imi a dois terços. 9.4.4 Menoridade penal No caso dos menores de 18 anos, conforme o art. 27 do CP, existe uma presunção legal absoluta de inimputabilidade. O legislador adotou o critério puramente biológico, constituindo exceção à regra do critério bíopsicológico,-“A inimputabilidade penal dos menores de 18 anos está prevista, também, no art. 228 da CP’. NOTEf A prova da menoridade não pode ser realizada por meio de tes temunhas! Súmiila 74- do STJ: "Para'efeitos penais, o reconhecimento da menoridade do réu, requer proyá por. documento hábil”, Seria, apenas certidão de nascimento? Não. Outros documentos ísmbém' servem como prova (ex: certidão de batismo). 9.4.5 Emoção e paixão A emoção e paixão não excluem a imputabilidade (art. 28, inciso I, do CP). À emoção é o sentimento repentino e passageiro, como uma tempestade; enquanto a paixão eqüivale a uma emoção constante, per- durando no tempo, Podem servir apenas como atenuantes genéricas (art. 65, inciso III, alínea a); ou, em determinados delitos, como circunstância minorante. Porém, caso a paixão se tome doença mental, poderá ser excluída a imputabilidade. 9.4.6 Espécies de embriagues: À embriaguez, em regra, não excluí a responsabilidade penal (art, 28, inciso II). Trata-se do processo de intoxicação causada pelo álcool ou pór substâncias de efeitos análogos. Pode resultar do consumo de drogas lícitas (ex.: álcool) ou ilícitas (ex.: cocaína). Possui as seguintes espécies: a) Não acidental - Poda ser voluntária (dolosa) ou culposa. Na voluntária, o agente tem a intenção de se embriagar. Na culposa, o agente quer ingerir a substância, mas sera a intenção de se embriagar. Pode ser completa (retirada total da capacidade de entendimento) ou incompleta (retirada parcial da capacidade de entendimento). Cap. 9 - CUIPABILSDAOE 107 b) Acidental - É aquela que decorre de caso fortuito ou de força maior. Pode ser completa ou incompleta. Se for completa, isenta de pena, Se for incompleta, não isenta, mas diminui a pena de 1/3 a 2/3. A embriaguez completa, proveniente de caso fortuito ou força maior (art 28. § l.°), é exceção à regra, porque exclui o crime. Exemplos de caso fortuito: a pessoa escorrega e cai dentro de um barril de cachaça, ingerindo grande quantidade de bebida alcoólica por não saber nadar; mulher numa festa ingere bebida sem ter- conhecimento da presença de droga nesta. Exemplo de força maior: embriaguez decorrente de uma doença grave, como a utilização da morfina para diminuir as dores de um câncer. Entretanto, se a embriaguez por caso fortuito ou força maior não for completa, haverá apenas uma redução de um a dois terços (art. 28, § 2.°, do CP). 9.4.7 Teoria da A dio Libera in Causa (ação livre na causa) É a teoria segundo a qual, se o agente se embriaga com o fim de cometer o crime ou mesmo prevendo a possibilidade de cometê-lo (em briaguez preordenada), não pode no momento da ação alegar estado de inconsciência ou mesmo ausência de dolo, porque tinha o dolo antes da embriaguez. Diz-se que a sua ação era “livre na causa”, para ser conside rado o momento da embriaguez e não o momento da ação criminosa. 9.5 QUESTÕES COMENTADAS (CESPEíUnB 2005) O Código Penal adotou o sistema biológico para se aferir a inímputabtlidade, devendo-se verificar se o agente, ao tempo da ação ou omissão, ora portador de doença mental ou desenvolvimento mental Incompleto, capaz de lhe retirar a capacidade de compreender o caráter Hícito de seu ato ou de ortentar-se de acordo com esse entendimento. Resposta: Errado. O critério adotado como regra é o biopsicológico; sendo o biológico aplicado, pelo Código Penai, somente no caso da menoridade penai de 18 anos. (CESPE/UnB 2004) Na aferição da mimputabilidacie, o Código Penal adotou o sistema blopsícológico, mesmo no caso da menoridade penal. Resposta: Errado. O Código Penal adotou o critério biológico (exceção) em retaçâo à menoridade penai; e bíopsicológico (regra), nas demais hipóteses de inimputabilidade. {CESPE/UnB 2005) A medida de segurança será aplicável aos inimputáveís e, excepcionalmente, aos semí-tmputávels. No úttimo caso, o juiz poderá determinara execução de pena reduzida ou promover sua substituição peia medida de segurança. 108 DiRElTO F£NAL para concurso - POLÍCIA FEDERAL - Emerson Castelo Branco Resposta: A medida d® segurança é aplicada aos inímputáveis. No entanto, no art. 98, capòt, do CP, ha a previsão de substituição da pena por medida de segurança para os semt-imputávels, quando estes necessitarem de especial tratamento curativo. (CESPE/UnB 2005) A emoção não excluí a imputabilidade penai, mas pode atuar como circunstância atenuante ou como causa de redução de pena. Resposta: Correto. A afirmação apenas mostra o que expressa o Código Penal no seu art. 26, inciso I, em que a emoção não exclui a imputabilidade; e no art. 65, inciso iif, alínea c, que dispõe ser a emoção circunstância atenuante. (CESPE/UnB 200$) A embriaguez, quando patológica, pode afastar a imputabilidade do agente. Resposta: Correto. A embriaguez patológica aplica-se a regra do art. 26, caput, do Código Penal, pois tal forma de embriaguez constitui perturbação da saúde mental, podendo afastar a imputabilidade penal. (CESPE/UnB 2004} Considere a seguinte situação hipotética. Neto, imprudentemente, embrlagou-se no balcão de um boteco, sem prever, mas devendo, a eventualidade de vir a cometer um crime. Em estado de embriaguez completa, Neto iniciou uma discussão com o proprietário do boteco e desfechou-ihe um gotpe fatal de faca na região torácíca, matando-o. Nessa situação, adotando-se a teoria da aotio libera in causa, Neto responderá peta prática do crime de homicídio. Resposta: Correto. A teoria da aotio libera in causa reza que o agente tem o pleno arbítrio para escolher se irá querer se embriagar ou não. Assim, caso decida pela embriaguez, deverá o mesmo responder, mesmo que não possa entender plenamente o caráter itíoito do fato, por qualquer crime que venha a cometer. Neto responderá, mesmo que completamente embriagado, pelo crime cometido. (Defensor Público/SE ~ CESPE/UnB - 2005) Considere a seguinte situação hipotética. Marcelo, sob coação moral irresistível, foi forçado a assinar um documento falso. Nessa situação, o fato reveste-se de tipicidade, pois a ação é juridicamente relevante, todavia Marcelo deverá ser isento de pena, pois está presente uma causa excludente da culpabilidade. Resposta: Correto. Existem fato típico e antijuridicidade, mas não culpabilidade. Por conseguinte, não haverá crime por ausência de um dos seus elementos estruturais. No caso, Marcelo assinou o documento dolosamente, sabendo da falsidade. A sua ação é típica e antijurídica. Porém, em face da coação moral irreslstlvei, haverá a exclusão da culpabilidade, A coação moral irresistível é situação de inexigibilidade de conduta diversa (não se poderia exigir outra conduta de Marello), restando afasta a reprovabiildads do seu comportamento. (OPU Defensor Público da União CESPE/UnB 2010) Segundo a teoria psicológica da culpabilidade, o dolo e a culpa fazem parte da análise da culpabilidade, e a imputabilidade penai é pressuposto desta. Resposta: Correto. A teoria psicológica prega que a imputabilidade é seu pressuposto, sendo o dolo e a culpa espécies da culpabííídade. Denomina-se “psicológica", porque entende que a culpabilidade é o liam o psicológico entre o criminoso e o fato. Referida teoria é minoritária no Direito Penal brasileiro. Resumidamente, as teorias acerca do conceito de culpabilidade são as seguintes: a) psicológica - consiste em dolo ou culpa e imputabilidade; b) psícológico-normaíva - consiste em dolo ou culpa, imputabilidade e exigibilidade de conduta diversa; c) normativa pura (ou extrema) - consiste em potencial consciência da Ilicitude, exigibilidade de conduta diversa e imputabilidade; d) limitada (teoria adotada pelo Código Penai brasileiro) - consiste ern potencial consciência da ilicitude, exigibilidade de conduta diversa e imputabilidade- E qual seria então a diferença entre as teorias normativa pura e a limitada? A teoria normativa pura entende que as Cap. 9 - CULPABÍLÍOADE 109 I " descrímirsantes putativas sempre constituem erro de proibição. Já a teoria limitada entende que as descrlminaníes putativas podem ser erro de tipo, caso dscorram de erra sobre oa pressupostos de fato, (DPU Defensor Público da União CESPE/UnB 2010} A teoria psicológlco-normativa da culpabilidade, ao enfatizar conteúdo normativo, e não somente o aspecto psicológico (dolo e culpa), leva em conta o jufzo de reprovação social ou de censura a ser feito em relação ao fato típico e jurídico quando seu autor for considerado imputãvei. Resposta: Nula. A íeoría psicológica normativa (ou normativa), assim como a teria psicológica, contínua mantendo o doto e a culpa como elemento da culpabilidade; acrescentando, todavia, a Imputabilidade e a exigibilidade de conduts diversa. Importante notar que a imputabilidade passa a ser elemento (e não pressuposto) da culpabilidade. Por fím, nesta teoria, o dolo é normativo, Isto é, abrange a consciência da iíicitude, Rsferida teoria é minoritária no Direito Penal brasileiro. (DPU Defensor Publico da União CESPE/UnB 2610) Segundo a teoria normativa pura, a fim de tipificar uma conduta, Ingressa*se na análise do dolo ou da cutpa, que se encontram, pois, na tlpicfdade, e não na culpabilidade. A culpabilidade, dessa forma, è um jutzo de reprovação soda), incidente sobre o fato típico e antijurídico e sobre seu autor. Resposta: Correto. A teoria normativa pura (ou estrita, ou extrema) è diametralmente oposta âs teorias psicotógíca e psicológica normativa, porque situa o dolo e a culpa no fato tfpíco, e nâo na culpabilidade. Nesta teoria, o dolo nâo é normativo, porque nâo abranga a consciência da ilíciíude. Como a consciência da iíicitude é deixada na culpabilidade, diz-se que o dolo é natural. É teoria adotada de forma minoritária no Direito Panai brasli&iro. (Procurador do Banco Central CESPE/UnB 2010) Caso o fato seja cometido em estrita obediência a ordem, não manifestamente ilegal, de superior hierárquico, não serão puníveis o agente que obedeceu nem c autor da coação ou da ordem. Resposta: Errado. Somente será excíuída a culpabilidade do subordinado hierárquico, em razão de a ordem não ser manifestamente ilegal. 9.6 QUESTÕES CESPE/UnB 1. (Escrivão da Polícia Federai 2004 — Regional - CESPE/UnB) Considero a seguinte situação hipotética. Hiran, tendo ingerido voluntariamente grande quantidade de bebida, desentendeu-se com Caetano, seu amigo, vindo a agredi-to « a causar- •Jhe tesões corporais. Nessa situação, considerando que, em raaSo da embriaguez completa, Hiran era, ao tempo da ação, Inteiramente incapaz de entender a íffcítude de sua conduta e de determinar-se de acordo com este entendimento, pode-se reconhecer a sua inimputabilidade. 2. (Papiloscoplsta da Polícia Federai 2004 - CESPE/UnB) São causas de exclusão da im putabilidade: doença m ental, desenvolv im ento m ental incom pleto, desenvolvimento mental retardado e embriaguez completa proveniente de caso fortuito ou força maior. 3. (Papiloscoplsta da Policia Federal 2004 - CESPE/UnB) Jorge, apôs Ingerir várias doses de bebida alcoólica em um bar, dirige seu carro em alta velocidade, vindo a atropelar e m atar um transeunte, sem, contudo, ter tido a intenção de atingir esse resultado. Nessa hipótese, a embriaguez voluntária de Jorge exclui a imputabilidade penai. 110 OíREITO PENAL para concurso - POÜCíA FEDERAL - Emerson Casteto granco-------------------- -------------------------------------------------------^ 4. (Delegado da Polícia Federal 2904 Regional branca - CESPEftJnB) O sujeito ativo que pratica crime em face de embriaguei voluntária ou culposa responde pelo crime praticado. Adota-se, no caso, a teoria da conciitio sine qua non para se imputar ao sujeito ativo a responsabilidade penal. 5. (Agente da Polícia Federai 2004 - Prova azul - CESPE/UnB) O Código Penat, ao dispor que !,é isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da açBo ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento", adotou o critério bioiógico de exclusão da imputabilidade. 6. (Agente da Poiícia Federai 2004 - Prova azul - CE$PE/UnB) Segundo o Código penal, a emoção e a paixão não são causas excludentes da imputabilidade penal. 7. (Escrivão da Poiícia Federai 2002 - CESPE/UnB) Martiniano foi obrigado, por pessoas que se diziam amigos seus, a ingerir bebida alcoólica até ficar completamente embriagado. Em seguida, essas pessoas fevaram-no consigo e, com ele, cometeram roubo contra agência bancária. Nessa situação, por não ser patológica, a embriaguez de Martiniano não lhe retira a imputabilidade nem diminui a pena aplicável ao ato. 8. (Agente da Polícia Federal 2004 - Prova azuí - CESPE/UnB) A coação ffsica e a coaçíio morai irresistíveis afastam a própria ação, não respondendo o agente pelo crime. Em tais casos, responderá pelo crime o coator. 9. (Perito Médico Legista - Polícia Civü/AC 2006 - CESPE/UnB) A imputabilidade é eiemento da culpabilidade e tem reflexo direto sobre o pressuposto para a aplicação da pena. 10. (Delegado - Poiícia Civii/ES - CESPE/lJnB) A ohrigacao hierárquica é causa de justificação que exclui a ilicitude da conduta de agente público. 11. {Delegado - Policia Civil/ES - CESPE/UnB) São elementos da culpabilidade para a concepção finalista a imputabilidade, a potencial consciência sobre a ilicitude do fato e a exigibilidade de conduta diversa. 12. {Agente - Polícia Civil/RR 2003 - CESPE/ÔnB) O erro de proibição, a obediência hierárquica e a inimputabilidade por menoridade penal excluem a culpabilidade. 13. (Delegado - Polícia Civil/SE 2 0 0 6 - CESPE/UnB) Considere a seguinte situação hipotética. Manoel, resolvendo encorajar-se para a prática, de um roubo, ingeriu substância entorpecente para colocar-se propositadamente em situação de inimputabilidade. Nessa situação, consumado o delito, Manoel responderá dolosamente pelo resultado delituoso de sua conduta, mesmo que no momento da ação não tivesse plena consciência do caráter ilícito de seu ato. 14. (Agente - Policia Cívil/TO 2008 - CESPE/UnB) A responsabilidade penai d© um adolescente de 17 anos de idade que comete um crime grave deve ser aferlda em exame psicológtco e psicotécnico, pois, restando demonstrado em laudo pericial que este tinha piena capacidade de entendimento à época do delito, deverá responder críminalmente, ficando à mercê dos dispositivos do Código Penai brasileiro. Cap. 9 - CULFABIUPAPE 111 15. (Agente - Policia Civü/TO 2008 - CESPE/UnB) Considere a seguinte situação hipotética. Maria, maior de 18 anos de Idade, praticou um crime, e, no decorrer da sção penal, foi demonstrado, por meto do competente laudo, que esta, ao tempo do crime, era inimputáve! cm decorrência de doença mentat. Nessa hipótese, Maria será absolvida tépdo como fundamento a inexistência de ilicitude dta conduta, embora presente a culpabilidade. 16. (Escrivão ~ Policia Civii/ES 2006 - CESPE/UnB) Entre as causas de exclusão da imputabilidade penal previstas em lei incluem-se a doença mental, o desenvolvimento mental incompleto e o desenvolvimento mental retardado. 17. (EscrívSo - Polícia Civif/ES 2006 - CESPE/UnB) Para fins de Imputabilidade penai, na hipótese de ser desconhecida a hora exata do nascimento de determinado indivíduo, a maioridade pena! dessa pessoa começará ao meto-día do seu décimo ottavo aniversário. 18. {Escrivão - Polícia CivH/PA 2006 ~ CESPE/UnB) A coação irresistível e a obediência hierárquica excluem a culpabilidade. 19. (Perito Médico Legista - Polícta Civít/AC 2006 - CESPE/UnB) Será considerado Imputável o adolescente que apresentar discernimento quanío à infração penal praticada, após análise do juiz. 20. (Perito Médico Legista - Polícia Civil/AC 2006 - CESPE/UnB) A prova testemunhai supre eventual dúvida sobre a idaef© do réu. 21. (Perito Médico Legista - Polícta Civit/AC 2006 - CESPE/UnB) Na hipótese de inimputabilidade, cabe aplicação de pena reduzida. 22. (CESPE/UnB 2007) O Código Penal adotou o critério biológico para aferição da imputabilidade do agente. 23. (CESPE/UnB 2007) A emoção e a paixão, de acordo com o Código Penal, não servem para excluir a imputabilidade pena! nem para aumentar ou diminuir a pena aplicada. 24. (CESPE/UnB 2007) A embriaguez preordenada não exciui a culpabilidade do agente, mas pode reduzir a sua pena de um a dois terços. 25. (CESPE/UnB 2007) A embriaguez involuntária incompleta do agente não é causa de exclusão da culpabilidade nem de redução de pena. 26. (CESPE/UnB 2004) A embriaguez proveniente de caso fortuito ou força maior, desde que o agente fique Inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato, apiica- -se a teoria da actío libera In causa. 27. (CESPE/UnB 2004) A coação moral irresistível e a obediência hierárquica não excluem a culpabilidade. 112 DIREÍTO PENAL para concurso - POLÍCIA FEDERAL - Emerson Caste/o Branco 28. (CESPE/UnB 2004) Presume-se de forma absoluta a inimpuiabilidadfâ ao menor de 18 anos, segundo o critério biológico adotado pela lei penal brasileira para tal aferição. 29. (CESPE/UnB 2003) Caio praticou crime de homicídio em estrita obediência a ordem manifestamente iiegal de seu superior hierárquico Roberto. Nessa situação, somente Roberto é punível. 30. {CESPE/UnB 2008) Consoante entendimento do STF, a excludente da coação moral irresistível pressupõe sempre três pessoas: o agente, a vítima e o coator. DICAS IMPReS.eíNDÍVEIS r O fato de uma pessoa ser doente mental a torna inimputável? Não. Deve-se verificar se o agente, ao tempo da ação ou omissão criminosa (critério cronológico), tinha alguma capacidade de entendimento. Os silvícolas somente serio considerados inimputáveis se eram intei ramente incapazes de entender o caráter ilícito da ação? Sim. Mesmo raciocínio adota-se em relação aos surdos-mudos. [ Pode ser aplicada medida de segurança ao semi-inimputável? Sim. A pena aplicada pode ser substituída por medida de segurança se for necessário para tratamento curativo, mediante laudo pericial, nos termos do art. 98 do Código Penal. Nesse caso, somente cumprirá a medida de segurança aplicada, em face da adoção do sistema vicariante (ou unitário). Em regra, a coação moral irresistível pressupõe três pessoas envolvi das? Sim. Pressupõe coator, coagido e vitima. E nâo haverá vinculo subjetivo entre coator e coagido. Entretanto, se a coação for resistível, coator e coagido responderão penalmente em concurso de agentes, não havendo a exclusão da culpabilidade do coagido. Para se aplicar a causa de exclusão da culpabilidade da obediência hierárquica de ordem não manifestamente ilegal, deve existir obriga toriamente uma relação de superioridade hierárquica no âmbito do poder público. Em outras palavras, essa causa de exclusão não pode ser aplicada no âmbito das relações privadas. CONCURSO DE PESSOAS 10.1 CONCEITO É o concurso de duas ou mais pessoas para cometer o mesmo crime. NOTEI Teoria monista. De acordo com a tèoria monista, adotada pelo Código Pénai brasileiro, todos os' agentes que concorreram para o mesmo resultado deverão responder pelo mesmo crime. Assim, segundo essa teoria, somente é possfve! afirmar que existe concurso de agentes, quando todos respondem paio mesmo crime. Teoria pluralista. Nessa teoria (não adotada pelo Código Penai bra sileiro), quando ocorre um determinado resultado criminoso, cada agente deverá responder por um crime distinto, separadamente. O caput do art 29 do Código Penal enuncia: “Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas”. Cla ramente, o Código Penal adota a teoria monista. Apesar de a teoria monista ser a regra, em alguns casos aplica-se a teoria pluralista. Ex.: crime de aborto. 10.2 COAUTORIA E PARTICIPAÇÃO 10.2.1 Teorias acerca do conceito de coautoria e participação a) Teoria restritiva - Segundo esta teoria, adotada pelo Código Penal, coautor é o agente que executa a conduta descrita na norma penal (ex.: 114 OiREiTO PENAL para concurso - FQliCiA FEDERAL - Bmarson Castefo Branco no crime de homicídio, coautor é aquele desfere o golpe, ou dispara a arma); enquanto o partícipe é aquele que contribui de forma secundária, periférica, acessória (ex.: jardineiro de uma casa presta informações para os assaltantes roubá-la). A pena do partícipe deve ser diminuída de um sexto a um terço (§ 1.°, art. 29, do CP). b) Teoria do domínio do fato - Autor é tanto aquele que pratica os atos executórios descritos no tipo penal como também aquele quef apesar de nao ter praticado os atos executórios, tinha o pleno domínio do fato, controlando toda a ação criminosa. Por exemplo, para essa teoria, no denominado crime de “pistolagem” o mandante (autor intelectual) seria coautor, e não partícipe. Apesar de não ter sido adotada pelo Código Penal, é moderna s vem se desenvolvendo na doutrina e na jurisprudência brasileira. Se aigum dos concorrentes quis. participar de crime menos grave, ser-lhe-á aplicada a pena deste; essa pena será aumentada até metade, na hipótese de ter sido previsível o resultado mais grave (§ 2.°, art. 29 do CP). 10.2.2 Participação impunível O ajuste, a determinação ou instigação e o auxílio, salvo disposição expressa em contrário, não são puníveis, se o crime não chega, pelo menos, a ser tentado (art. 31 do CP). O Superior Tribunal de Justiça destaca “que a ciência oú mesmo a concordância difere da instigação punível.”1 10,3 REQUISITOS DO CONCURSO DE AGENTES a) Pluralidade de condutas - Várias ações de pessoas que geram um único resultado delitivo. b) Relevância causai das condutas - A conduta deve ser relevante para gerar o resultado. c) Nexo subjetivo (ou psicológico) — Consiste na anuência entre as von tades dos agentes, isto é, o mesmo objetivo. d) O mesmo crime para todos os agentes - todos os agentes devem responder pelo mesmo crime. ' STJ, HC 18-206/SP; 200V0101420-3, 6.* Turma, DJ 04.03.2002, p. 299, r Cap, 10 - CONCURSO DE PESSOAS ■113 NOTEI N io pode existir participação dolosa em crime culposo; nem par ticipação culposa em crime doloso. Somente haverá concurso de agentes se todos agirem com dolo ou se todos agirem com culpa. Em outras palavras, ó vínculo subjetivo deve ser homogêneo. Trata-se do princípio da convergência. QUESTÃO POTENCIAL BE PROVA! No concurso de agentes, não é necessário acordo prévio. 10.4 AUTORIA COLATERAL Na denominada autoria colateral, duas pessoas querem praticar um mesmo crime e agem ao mesmo tempo sem que uma saiba da intenção da outra e o resultado decorre da ação de apenas uma delas. Tirúbio e Tírcio querem maíar Simão. Tírábio não sabe da intenção de Tírcio. E Tírcio não sabe da intenção de Tirúbio. Ambos aguardam a vítima em lados opostos de uma estrada, sem que um tenha conhecimento da exis tência do outro. Quando a vítima passa pela estrada, ambos atiram ao mesmo tempo e a vítima é atingida por apenas um dos disparos. Nesse caso um responderá por homicídio na forma consumada e o outro por tentativa de homicídio. Existindo autoria colateral, não existirá concurso de agentes, pois para configurar o concurso é obrigatório o nexo subjetivo, o que não existiu no caso. 10.5 AUTORIA INCERTA Outra denominação: “Autoria colateral incerta”. A autoria incerta é uma espécie de autoria colateral. Ocorre quando não se consegue apurar qual dos envolvidos provocou o resultado. Nesse caso, ambos deverão responder pelo crime na forma tentada. NOTEt Não existe concurso de agentes quando a autoria for incerta. 10.6 AUTORIA MEDIATA O criminoso serve-se de pessoa sem discernimento para executar o delito por ele. Uma pessoa é utilizada como instrumento para a prática de um 118 OlRElTO PS MAL para concurso - POLÍCIA FEDERAL - Emerson Câsteto Branco crime. Como o autor imediato não tem conhecimento de que está realizando ura crime, somente responde pelo delito o autor mediato. Ex.: criminoso que utiliza menor ou. doente mental para a prática de um crime. 10.7 COMUNICABILIDADE DAS CIRCUNSTÂNCIAS Haverá a comunicabilidade das circunstâncias de caráter pessoal somente quando forem elementares do tipo. Elementares: são os elementos fundamentais da conduta criminosa. Ex. no homicídio são elementares a conduta “matar” e “alguém”. Circunstâncias são os dados acessórios do tipo penal e que servem para aumentar ou diminuir a pena. Ex. no crime de homicídio cometido por motivo torpe, este úitimo é uma circunstância do crime. Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pes soal, salvo quando elementares do crime (art. 30 do CP). Pergunta-se: É possível haver coautoria entre funcionário público e pessoa que não é fkncionário público nos chamados crimes funcionais? Sim. Trata-se justamente da exata aplicação da regra do art. 30 do Có digo Penal. Como ser funcionário público é uma circunstância de caráter pessoal elementar dos crimes praticados por funcionários públicos contra a Administração Pública (crimes funcionais), haverá a comunicação desta para o terceiro particular que tenha participado da ação criminosa. Para que exista a comunicabilidade, o terceiro particular deverá conhecer a circunstância de caráter pessoal do agente, isto é, deverá saber que este é funcionário público. 10.8 PARTICIPAÇÃO f Em tema de concurso de agentes, na participação inocorre corres pondência direta entre a conduta e o tipo legal. O partícipe é aquele que conconre para a prática de um crime de qualquer modo, auxiliando, induzindo ou instigando o executor, sem, no entanto, realizar o núcleo (o verbo) do tipo. O tipo sempre tem um verbo, que é seu núcleo, e o partícipe é justamente a pessoa que não o pratica, decorrendo daí a impossibilidade de adequação direta. Por essa razão, a norma do art. 29, caput, do CP funciona como ponte, ligando a conduta do partícipe ao modelo legal: “Quem, de qualquer modo, concorre para o crime in cide nas penas a este cominadas”. Tem-se na participação uma norma de extensão ou ampliação da figura típica. A extensão opera-se de uma Cap. 10 - CONCURSO DE PESSOAS 117 pessoa (autor principal) para outra (partícipe), e, por isso, a norma é de extensão pessoal. Do mesmo modo, o tipo ampíia~se no espaço para atingir o partícipe, denominando-se tal ampliação como espacial. Assim, a norma do concurso de agentes é de extensão ou ampliação espacial e pessoal da figura típica, por meio da qual se opera a adequação típica mediata ou indireta da conduta do partícipe ao tipo penal NOTEI O Superior Tribunal de Justiça vem entendendo que a pena do participe somente será diminuída se a sua participação for de menor im portância. Em outras paíavras, se a participação tiver relevância, não faz jus ã diminuição da parta. 10.9 QUESTÕES COMENTADAS (CESPE/UnB 2005) Em relação ao concurso de agentes, o Código Penai adotou, como regra, a teoria unitária ou monista, d® forma que o participe responderá pelo mesmo crime praticado pelo autor, em razão da acessoriedade de suã conduta. Resposta: Correto. Esta assertiva expressa a teoria adota pelo Código Penal quanto ao concurso de pessoas, em que todos os que incidiram na ação delituosa responderão pelo mesmo tipo penal. Ressalta-se, no entanto, a possibilidade do agente que quis participar de crime menos grave responder por este. (CESPE/UnB 2005} O mandante de um crime, de acordo com a teoria restritiva, é considerado partícipe, enquanto, conforme a teoria do domínio do fato, é considerado coautor. Resposta: Correto. A teoria restritiva (adotada pefo CP brasileiro) tem por escopo imputar a autoria de um crime apenas aos agentes que praticarem a conduta nuclear que neie Incide. Assim, o mandante é considerado partícipe, pois não pratica a conduta principal. Já a teoria do domínio do fato reza que o fator essencial, para a impuiação da autoria de um crime, é que o agente tenha o controle do desenrolar dos fatos, podendo decidir peta não ocorrência do crime. Desse modo, por esta teoria, o mandante seria coautor, pois exerce pleno controle sobre a situação, visto que pode cancelar a ação do agente Imediato. (CESPE/UnB 2002) Consoante orientações majoritárias do STJ e STF, ê cabível concurso de agentes nos crimes culposos. Resposta: Correto. O entendimento do STJ e STF é de que os crimes culposos só admitem concurso de agentes no caso de coautoria, nâo existindo concurso na modalidade de participação.2 (CESPE/UnB 2005) Considere a seguinte situação hipotética. Júlio e Marcos encontravam- -se dentro de um veículo nas proximidades de uma loja comerciai de propriedade de Marcos. Verificando que a área encontrava-se tomada por vendedores ambulantes que estavam Invadindo a rua e que poderiam prejudicar sua freguesia, Marcos Incentivou Júlio, que conduzia o veiculo, a Imprimir velocidade incompatível com o tocai, desejando que algum dos ambulantes fosse atropelado e, em conseqüência, os demais sentissem receio de permanecer no local. Júlio, sem observar o cuidado exigido para a 3 STJ, HC 404.740/PR. 118 DIREITO PENAL para concurso - PGLlCIA FEDERAL - Emerson Castelo Branco condução do veículo, seguiu os conselhos de Marcos e, de forma imprudente, acelerou exageradamente o veículo, acabando por atropelar, de fato, um dos ambulantes que ati trabalhava. Nessa situação, houve concurso de agentes entre Júlio o Marcos. Resposta: Errado. Falta o nexo subjetivo (ou psicológico). Não existe participação dolosa em crime culposo, nem participação culposa em crime doloso. A existência do concurso de agentes pressupõe que ambos tenham o mesmo etemento subjetivo, Vè-se que o crime cometido por Júlio é cuiposo, visto que o mesmo, ao impelir velocidade descomedída, agiu imprudentemente. Já Marcos agiu dolosamente, desejando que algum dos ambulantes fosse atropelado. Portanto, nSo existe entre eles concurso de agentes. {OAB - 200S.2 - CESPE/UnB) Relativamente à participação, a doutrina majoritária brasileira adotou s teoria da a) acessoriedade mínima. b) acessoriedade méxima. c) hiperacessoriedade. d) acessoriedade limitada. Resposta: D. A conduta do partícipe possui natureza acessória, porque não executa a ação nuclear descrita na norma penal, Quatro são as teorias acerca da participação no concurso de pessoas; 1.° - acessoriedade mínima, segundo a qual é necessário apenas que a conduta do participe seja de anuência em rélação a um comportamento principal descrito na norma penal (fato tipico), mesmo que não exista antijurldlcidade; 2.* - acessoriedade - limitada, segundo a quaí a conduta principal deve ser tipica e aníijurldica; 3.a - acessoriedade extrema ou máxima, segundo a quai a conduta principal deve ser típica, antljurídica e cuipável; 4,a — hiperacessoriedade, devendo o autor da conduta principal praticar um comportamento tipico, antijurídico, cuipável e ainda ser efetivamente responsabilizado. A maioria da doutrina nacional adota a teoria da acessoriedade limitada. (Procurador do Estado de Pernambuco CESPE/UnB 2009) O autor intelectual é assim chamado por ter sido quem planejou o crime, não é necessariamente aquele que tem controie sobre a consumação do crime. Resposta*. Errado: O autor intelectual é o agente que faz o planejamento do empreendimento criminoso, isto ê, idealiza e organiza toda a ação criminosa. Contudo, o autor intelectual nâo executa a ação nuclear (verbo) descrita na norma pensi. Possuí, portanto, pleno controie sobre a situação. Atenção! A teoria objetiva foi adotada pe!o Código. Penai brasileiro. Subdivide» -se em outras (rês: 1.° — Teoria objetiva formai ~ Àutor é somente o agente que executa a ação nuclear; 2J' - Teoria gbjetiva material - Autor é somente o agente que executa a açào mais importante dentro do conjunto de contribuições parã o resultado; 3.a - Teoria'do domínio'-dò fato-Aútór"é ó agenté''que póssul pleno domínio do fato, controlando as ações dos tfemais. Como sé pode notar, dentre as teorias objetivas, a teoria do domínio do fato se sobressai no aspecto da justiça e da proporcionalidade. (AGU Procurador Federal CESPE/UnB 2010) Ao crime plurissubjeíivo aplica-se a norma de extensão do a rt 29 do Código Penal, que dispõe sobre o concurso de pessoas, sendo esta exemplo de norma de adequação tipica medlata. Resposta: Errado. Em relação ao número de agentes, os crimes classificam-se em unissubjetivos (ou monossubjetivos, ou ainda de concurso eventual) e plurfssubjetivos (ou de concurso necessário). Os crimes unissubjetivos são aqueles que podem ser cometido por um só agente (ex.: homicídio, furto, estupro), enquanto os píurissubjeílvos são aqueies que pressupSem um número mínimo de agentes para existirem (ex,-. rixa, quadrilha ou bando). O detaíhe da questão ê o seguinte: Os crimes piurissubjetivos nfio necessitam de aplicação de norma de adequação típica medlata, porque a própria hipótese de incidência da norma penal exige o requisito do concurso de agentes. Cap. 10 - CONCURSO DE PESSOAS 119 10.10 QUESTÕES CESPE/UnB 1. (Papiioscopista da Polícia Federal 2004 - CESPE/UnB} Jarbas entrega sua arma a Josias, afirmando que a mesma está descarregada e incita-o a disparar a arma na direção de Mévio, alegando que se tratava de uma brincadeira, No entanto, a arma estava carregada e Mévio vem a falecer, o que ieva ao resultado pretendido ocultamente por Jarbas. Nessa hipótese, o crime praticado por Jostas e por Jarbas, em concurso de pessoas, foi o homicídio doioso. 2. (Papiioscopista da Polfcía Federal 2004 ~ CESPE/UnB) Breno e José atiram contra Pedro, com intenção de matá-io, sem que um soubesse da conduta criminosa do outro. Pedro vem a falecer, sendo impossível determinar, pelo exame de corpo de detito, quat tiro foi o efetivo causador da morte, Nessa situação, ocorre a chamada autoria colateral incerta, respondendo os dois agentes por homicídio tentado. 3. (Delegado da Policia Federal 2004 REGiONAL BRANCA - CESPE/UnB) De acordo com o sistema adotado pelo Código Penai, é possível Impor aos partícipes da mesma atividade delituosa penas de intensidades desiguais. 4. (Delegado •- Polícia Civií/TO 2008 ~ CESPE/UnB) Quem, de forma consciente e cfetfberacía, se serve de pessoa mirnputável para a prática de uma conduta (lícita é responsávei pelo resultado na condição de autor mediato, 5. (Escrivão ~ Polícia CIvii/ES 2006 - CESPE/UnB) Considere a seguinte situação hipotética. Rogério e Fernando, pretendendo matar Alfredo, colocaram-se em emboscada, sem que um soubesse a intenção do outro. Rogério o Fernando, snto a aproximação de Alfredo, atiraram contra o desafeto, ficando, depois, provado que apenas um dos disparos provocara a morte da vitima. Nessa situação, Rogério e Fernando responderão por homicídio consumado em coautoria. 6. (Perito Médico Legísta ~ POÜCIA CIVIL/AC 2006 ~ CESPE/UnB) O concurso de duas ou mais pessoas pode ser eventual. 7. (Perito Médico Legista - POLÍCIA CIVIUAC 2006 ~ CESPE/UnB) O concurso de terceira pessoa na prática d© determinado crime não afasta a possibilidade de aplicação de pena para o autor e o partícipe, ns medida de sua culpabilidade. 8. (Assistência Judiciária do Distrito Federal - 2006 - CESPE/UnB) Quando dois indivíduos, um ignorando a participação do outro, concorrem, por imprudência, para a produção de resultado lesivo, respondem, ambos isoladamente, peio resultado, ante a ausência de vínculo subjetivo. S. (CESPE/UnB 2007) Segundo a teoria monista, adotada como regra pelo Código Penal brasileiro, todos os coautores e partícipes devem responder por um crime único. 10. (CESPEJUnB 2004) Configurar-se-á a participação criminosa quando houver o acordo prévio de vontade entre autor e partícipe. 11. (CESPE/UnB 2008) As circunstâncias objetivas se comunicam, desde que o participe tenha conhecimento delas. 12. (CESPE/UnB 2008) As circunstâncias subjetivas nunca se comunicam. 120 □iRHITO PSNAt para concurso - POÜCIA FEDERAL - Emerson Castelo Bmnco 13. (CESPE/UnB 2007) Constituem requisitos caracterizadores do concurso de pessoas a pluralidade de condutas, o nexo de causalidade, o vínculo subjetivo e a identidade de infração. 14. (CESPE/UnB 2006) Pedro e Paulo, um sem saber da conduta do outro, atiraram em Leonardo, com intenção de matá-lo, o que veio efetivamente a ocorrer. A perícia não conseguiu descobrir qua! deles produziu o resultado. Nessa situação, Pedro e Paulo responderão por tentativa de homicídio. 1 S. (CESPE/UnB 2005) Na autoria mediata, há concurso de pessoas entre o autor mediato, responsável pelo crime, e o executor material do delito, como no caso do ínimputãvel por doença mental que é induzido a cometer um fato descrito em lei como crime. 1011 DICAS IMPRESCINDÍVEIS I Na figura da menor participação, haverá uma ampliação da abrangên cia do tipo penal? Sim, porque a rigor somente seria responsabilizado penalmente o agente que executou a ação descrita na norma penal. Trata-se da denominada “adequação típica de subordinação mediata, por extensão ou ampliada7’. Na menor participação, haverá uma ampliação pessoal da norma penal fixada-pelo a rt 29 do Código Penal. As condições e circunstâncias pessoais dos partícipes não se comuni cam aos autores, porque a figura do partícipe depende da existência do autor da conduta principal? Sim. Por sinal, a conduta do partícipe somente é levada em conta a partir da existência do autor. Pode existir coautoria em crimes ort^ssívos? Sim. Trata-se da corrente majoritária. Os crimes culposos admitem coautoria. Entretanto, não admitem participação. Ocorre quando dois ou mais agentes produzem o mesmo resultado, deixando de observar um dever de cuidado objetivo, por imprudência, negligência ou imperícia. É o caso, por exemplo, de dois engenheiros que constroem um edifício, incorrendo ambos em imperícia em relação aos cálculos formulados; ou ainda dois pilotos que se esquecem de ligar dispositivo da aeronave, quando necessário numa determinada situação, causando um acidente. Quais as hipóteses de autoria mediata? São as seguintes: a) utilização de ínimputável para cometimento da ação; b) a figura da obediência hierárquica, desde que o subordinado seja enganado pelo superior; c) Cap. 10 - CONCURSO D£ PESSOAS 121 a figura da coação moral irresistível; d) erro de tipo e erro de proibi ção provocado por terceiro. Somente possui responsabilidade penal o autor mediato, restando o crime excluído em relação ao autor imediato (executor da ação). miirn mn tii 11 uriniiiiii ■iiiMWWiiniTWmfOTiit^ mTO)» ■’ v j - O concurso de agentes pode ser classificado da seguinte forma: a) concurso eventual (crimes unissubjetivos) - crimes que podem ser cometidos por apenas uma pessoa (ex.: homicídio, furto, lesão cor poral); de concurso necessário (plurissubjetivos) - são crimes cuja existência depende do concurso de agentes (ex.: quadrilha ou bando, rixa). A titulo de curiosidade, quase todos os delitos são de concurso eventual. CLASSIFICAÇÃO DOS CMMES 11.1 CRIMES COMUNS, PRÓPRIOS E DE MÃO PRÓPRIA Comum é o delito que pode ser cometido por qualquer pessoa; enquanto próprio é o crime que somente pode ser cometido por quem possui características especiais exigidas pelo legislador na norma penal. Exemplificando, qualquer pessoa pode cometer o crime de homicídio, previsto no art 121 do CP (comum), mas somente a mãe em estado puerperal pode praticar o crime de infanticídio, previsto no art. 123 do CP (próprio). Por fim, os de mão própria são aqueles que não admitem coautoria, porque somente a pessoa com a característica especial esía- lecida pelo legislador pode cometê-lo, como no caso do crime de falso testemunho, previsto no art. 342 do CP. Note: Terceiros, nos crimes de mão própria somente podem ser responsabilizados penalmente como partícipes. ■ ■ '^iíQdéitíétêrtáift^ íqiJ^ ;no/5seà' .lugar;': nos" âe’" ! 11.2 CMMES BE DANO E DE PERIGO Os crimes de dano se consumam com a efetiva lesão do bem jurídico; ao contrário, nos delitos de perigo, a consumação ocorre com o perigo gerado pela conduta. O perigo pode ser abstrato ou concreto. O perigo abstrato consiste numa ameaça futura de lesão, isto é, perigo potencial (ex.: art. 135 do CP). Perigo concreto é o real, isto é, no momento da conduta, o bem esteve efetivamente em risco (ex.: art 134), 124 OIREITO PSNAL para concurso - POLlCIA FEDERAL - Emerson Castelo Branco 113 CRIMES MATERIAIS, FORMAIS E DE MERA CONDUTA Há crimes em que o tipo descreve a conduta do agente e a modificação no inundo exterior causada por ela; outros descrevem apenas o compor tamento do agente (ex.: violação de domicílio). Os crimes materiais (ex.: estelionato) possuem ação e resultado necessários para á consumação do crime. Os crimes formais possuem resultado, mas o legislador antecipa a sua consumação à produção do resultado (ex.: crimes contra a honra, violação de segredo, ameaça, extorsão). No crime de mera conduta, o legislador apenas descreve o comportamento do agente (Ex.: invasão de domicílio - art. 150, desobediência - art. 330, reingresso de estrangeiro expulso art. 338). Os crimes culposos são materiais. Não existe crime culposo de mera conduta, sendo imprescindível a produção do resultado naturalístico in voluntário para seu aperfeiçoamento típico. 11,4 CRIMES COMISSIVOS E OMISSIVOS A conduta comissiva é um fazer, enquanto a conduta omissiva é um deixar de fa2er, quando uma norma jurídica obrigava a pessoa a agir. Possuem a seguinte divisão: a) Omissivos próprios. Ocorrem quaado o legislador descreve uma conduta puramente omissiva. O crime consiste apenas num deixar de fazer, independentemente de qualquer resultado. Exemplo: omissão de socorro (art. 135 do CP). b) Omissivos impróprios (ou omissivos impuros, ou comissivos por omissão). Nessa espécie, o agente tinha o dever jurídico de agir, mas não o fez. O agente que se omite nâo responde só pela omissão como simples conduta, mas pelo resultado produzido. c) Omissivos por comissão: nesses crimes, há uma ação provocadora da omissão. Exemplo: chefe de uma repartição impede que sua funcio nária, que está passando mal, seja socorrida. Se ela morrer, o chefe responderá pela morte por crime comiasivo ou omissivo? Seria por crime omissivo por comissão. Essa categoria não é reconhecida por grande parte da. doutrina. d) Participação por omissão: ocorre quando o omitente, tendo o dever jurídico de evitar o resultado, concorre para ele ao quedar-se inerte. Nesse caso, responderá como partícipe: r Cap. 11 - CLASSIFICAÇÃO DOS CRIMES 125 11.5 CRIMES INSTANTÂNEOS, PERMANENTES E INSTANTÂNEOS BE EFEITOS PERMANENTES Crime instantâneo é aquele que se consuma no momento em que a conduta é cometida (ex.: furto); enquanto permanentes são os crimes cuja consumação se prolonga no tempo (ex.: seqüestro). Já os denominados “instantâneos de efeitos permanentes” são aqueles que se consumam num determinado momento, mas geram efeitos imodificáveis (ex.: homicídio consumado). 11.6 CRIME CONTINUABO A definição de crime continuado está prevista no art. 73 do CP, qual seja: “Quando o agente, mediante mais de uma açâo ou omissão, pratica dois ou mais crimes da mesma espécie e, pelas condições de tempo, lugar, maneira de execução e outras semelhantes, devem os subsequentes ser havidos como continuação do primeiro, aplica-se-lhe a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, aumentada, em qualquer caso, de um sexto a dois terços”. Havendo crime continuado, a lei nova que o intermedeie deverá ser aplicada, mesmo que mais gravosa. É a posição da doutrina e da juris prudência sobre o assunto. 11.7 CRIMES PRINCIPAIS E ACESSÓRIOS Crimes principais: são aqueles que existem por si só, não dependem da prática de um crime anterior (ex.: homicídio, roubo). Crimes acessórios são aqueles que dependem da prática de um crime anterior. Os acessórios são denominados de “crimes de fusão” ou “crimes parasitários”. Ex.: crime de favorecimento pessoal e real (arts. 348 e 349 do CP); receptação (art. 180 do CP). 11*8 CRIMES SIMPLES E COMPLEXOS (OU COMPOSTO) Crime simples é aquele que se enquadra em um tipo penal. Ex.: furto (art. 155 do CP). Delito complexo é a fusão de dois ou mais tipos penais. Bx: extorsão mediante seqüestro, roubo. Ver art. 101 do CP. 126 DIREITO PENAL para concurso - POLÍCIA FEDERAL — Bm&rson Ca$ieh Branco 11.9 CRIME PROGRESSIVO Quando o sujeito, para alcançar um resultado mais grave, tem que passar por ura menos grave. Ex: o agente provoca várias lesões corporais até matar; nessa situação o homicídio absorve as lesões corporais. 11.10 DELITO PUTATIVO (OU IMAGINÁRIO, OU ERRONEAMENTE SUPOSTO) O agente considera erroneamente que a conduta realizada por ele constitui crime, quando, na verdade, é um fato atípico. Hipóteses: a) crime putativo por erro de proibição (ex.: seduzir mulher virgem de 20 anos de idade supondo estar praticando crime); b) crime putativo por erro de tipo (ex.: mulher que ingere medicamento abortivo sem estar grávida); c)crime putativo por obra do agente provocador (crime de ensaio, de experiência ou de flagrante provocado). Ver Súmula 145 do STF. 11.11 CRIMES UNISSUBSISTENTES E PLURISSUBSJ.STENTES Diferença entre ato e conduta: a conduta é a realização material da vontade humana, mediante a prática de um ou mais atos. Exemplo: o agente deseja matar a vítima; a sua conduta pode ser composta de um único ato (um tiro com arma de fogo) ou de uma pluralidade deles (cinco facadas). Já o ato é apenas uma parte da conduta, quando esta se apresenta sob a forma de ação. De acordo com o número de atos que a compõem, a conduta pode ser plurissubsistente ou unissubsistente. Os delitos unissubsistentes não admitem .a forma tentada. 11.12 CRIME DE ATENTADO Há casos em que a forma tentada é punida com a mesma pena do crime consumado, sem o desconto legal. Neste caso, denomina-se essa situação de delito cie atentado. 11.13 CRIMES DE AÇÃO MÚLTIPLA Nos crimes de ação múltipla, a prática de várias formas de ação, previstas no tipo, caracteriza crime único. Cap. 11 - CLASSIRCAÇÃO DOS CRIMES_______________________ 127 11.14 CRIME VAGO Crime vago é o que tem por sujeito passivo entidade sem persona lidade jurídica. 11.15 CRIME PLUMOFENSIVO Crime pluriofensivo é o que lesa ou expõe a perigo de dano mais de um bem jurídico. 11.16 CRIMES COM TIPO PENAL FECHADO E COM TÍPO PENAL ABERTO Nos tipos penais denominados de abertos não se descreve especifi camente, detalhadamente os elementos do tipo. Assim, por exemplo, nos tipos penais culposos, não se descreve em que consiste o comportamento culposo. Por isso mesmo, os tipos que definem os crimes culposos são, em geral, aberto. Os crimes culposos são considerados tipos abertos. Isto porque não existe uma definição típica completa e precisa para que se possa, como acontece em quase todos os delitos dolosos, adequar a conduta do agente ao modelo abstrato previsto na lei. 11.17 QUESTÕES COMENTADAS (CESPE/UnB 2004) É característica dos crimes cie mão própria o fato de que somente podem ser cometidos pelo agente em pessoa, não se admitindo coautoria nem participação. Resposta: Errado. Não admitem coautoria, mas sim participação. Os crimes de mão própria são aqueles “que exigem sujeito qualificado, devendo este cometer pessoalmente a conduta típica”1. Desse modo, é patente que não pade haver coautoria, nem autoria medlata, visío que esse tipo de crime não admite pessoa interposta para a prática da conduta, mas é perfeitamente possívei a participação de terceiro, seja auxiliando, instigando ou induzindo o agente. Observação: O Supremo Tribuna! Federal admite, excepcionalmente, a coautoria do advogado com a testemunha, no crime de falso testemunho. {CESPE/UnB 2004) Admite-se a tentativa do crimes omissivos impróprios. Resposta: Correto. São crimes omissivos impróprios aqueles em que ao agente, posto como garante, é imputado o tipo penal pelo resultado proveniente de sua omissão 1 NUCCt, GulSherme de Souza. Manual de Direito Penal - Parte Geral e Parte Especial, São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005, p. 154. 128 DIREITO PENAL, para ooncttrao - POLÍCIA FEDERAL - Emerson Castelo Branco quando o mesmo tinha o dever de agir. Admite-se a tentativa quando, mesmo em face da omissão, o resultado não vem a se consumar, seja por um terceiro ou por força alheia ao garante. (Juiz Federa! 5.a Região 2009 CESPE/UnB) Nos crimes de tendência intensificada, o tipo penai requer o ânimo de realizar a própria conduta ifpica legalmente prevista, sem necessidade de transcender tai conduta, como ocorre nos tíeSitos de intenção. Em outras palavras, não se exige que o autor do crime deseje um resuitado utterior ao previsto no tipo penal, mas apenas que confira à ação típica um sentido subjetivo não previsto expressamente no tipo, mas deduzível da natureza do delito. C itase, como exemplo, o propósito de ofender, nos crimes contra a honra. Resposta: Correto. Os tipos penais classificados como de "tendência intensificada* são aqueles que exigem uma tendência (leia-se: intenção) subjetiva de realizar a conduta descrita na norma penal. O autor do delito deve demonstrar uma intençfio específica não expressa de forma clara na descrição da figura típica. Exemplos por excelência dos crimes de tendência intensificada são os crimes contra a honra. Dessa forma, na calúnia, o autor da afirmação de um faia criminoso faiso contra alguém deve necessariamente ter a intenção de ofender, Isto é, o an/mas csluniandt, sob pena de a conduta ser considerada atípica. Imagine a conduta de um humorista que, num espetáculo, imputa publicamente a um dos espectadores o cometimento de um fato criminoso sabidamente falso. Em que pese sua conduta estar subsumida na descriçSo em abstrato dó tipo penal, não haverá crime de calúnia, porque não sxiste a especiai tendência subjetiva de ofender a honra do espectador. Mesmo raciocínio adota-se nos crimas da difamação e Injúria. 11.18 QUESTÕES CESPE/UnB. 1. (CESPE/UnB 2004) Crime bipróprio é aquele que exige uma especial qualidade, tanto do sujeito ativo como do sujeito passivo do deitto. 2. (CESPE/UnB 2004) Ú crime de ímpeto é o delito praticado sem premeditaçâo. 3. (CESPE/UnB 2004) O crime gratuito e o crime praticado por motivo fútíl são tipos de crimes diferentes. 4. (CESPE/UnB 2004) Crime transeunte é aquele que não deixa vestígios. 5. (CESPEÍUnB 2008) No crime omissivo pfóprlo, a consumação se verifica com a produção do resuitado. 11,19 PICAS IMPRESCINDÍVEL Crime “de obstáculo ou de preparação” é aquele cuja conduta seria apenas ato preparatório de outro crime (ex.: quadrilha - art. 288 do CP). aiíCSSJKHKS!- Crime “de tendência interna transcendente ou de intenção” é o que se consuma independentemente da obtenção do resultado (ex,: extorsão art 158 do CP). Cap. 11 - CLASSIFICAÇÃO DOS CRIMES 129 Crime “bipróprio” é aquele que exige condição especial dos sujeitos ativo e passivo (ex.: infanticídio). Por outro lado, bicoirmm não exige qualidade especial alguma dos sujeitos do crime. Crimes “de resultado cortado” são os formais, que se consumam no momento da realização da conduta, mesmo o tipo penal prevendo o resultado. crimes instantâneos que podem excepcionalmente vir a ser permanentes (ex.: furto de energia elétrica). Crimes “a prazo” são aqueles que dependem do cumprimento de certo período de tempo para se aperfeiçoarem (ex.: lesão corporal grave por incapacidade para exercer as ocupações habituais por mais de 30 dias). ..................... I, U Crimes “de dupla subjetividade passiva” são aqueles que atingem duas vítimas (ex.: aborto sem o consentimento da gestante - arí. 125 do CP ~ atinge a gestante e o feto). gg Crimes“transeuntes” são os que não deixam vestígio (ex.: injúria); enquanto “não transeuntes” deixam (ex.: homicídio). m Crime “multitudínário” é o cometido no meio de multidão. W~<Crime “de ímpeto” é o praticado sem premeditação. Crime “profissional” é o habitual cometido com intuito de lucro. Quase-crime” é o crime impossível. Crime “falho” é a tentativa perfeita. Crime “mutilado de dois atos” é aquele em que o agente realiza a conduta para atingir outra (ex.: falsidade material, quadrilha)- 130 PiREITO PENAL para concurso - POLÍCIA FEDERAL - Em&rson Csstglo Branco Crime “habitual” é aquele que somente se aperfeiçoa em sua exis tência com a reiteração de atos. Em outras palavras, um ato isolado não configura o crime (ex.: rufianismo, curandeirismo). DIREITO P E N A L ■ iP à r t e ‘E .s p e c ia C , CRIMES CONTRA A PESSOA 12.1 CRIMES CONTRA A VIDA 12.1.1 Homicídio Art. 121 - M a tar a lgu ém : Pena - reclusão, de seis a vinte anos. 12,1.1.1 Características gerais O objeto jurídico é a vida humana extrauterma. O objeto material é a coxpo da pessoa que sofre a ação da conduta delitiva. O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa (crime comum). O sujeito passivo é a pessoa que tem sua vida destruída. Elemento subjetivo: Admite a forma dolosa e a forma culposa. O crime se consuma com a efetiva destruição da vida (cessação da atividade cerebral da pessoa). Admite a forma tentada. v 'p j '’:'J "‘nvv v , J .\ Consiste na destruição da vida humana (extrauterma) de uma pessoa por outra. Haverá homicídio ainda que se prove que a vida do ser humano não era viável. 134 DtREiTO PENAL para concurso - POLÍCIA FEDERAL - Emerson Casfe/o Branco NOTE! para caracterizar o /crim e,/é'necessária. a pròva.de nascimento com vida. De acordo cem ò .árt. â.° da Let n.° .9434 /199 I.’( ré n í'^ o '::f3e órgãos e tecidos' para o fim <je transplante), a prova dá morts ocorre com o diagnóstico cie morte encèfáiísá.. Se a ação for cometida contra um morto (cadáver), haverá a figura do crime impossível. Classificação: a) comum (pode ser praticado por qualquer pessoa); b) simples (lesiona apenas um bem jurídico); c) de dano (causa uma lesão efetiva); d) de ação livre (pode ser praticado através de qualquer meio); e) instantâneo de efeitos permanentes (na forma consumada); f) materiai (somente se consuma com a ocorrência do resultado morte). 12.1.1.2 Homicídio privilegiado Art. 121, § 1 * - Se o agente comete o crime tmpelicfo por motivo de relevante valor moral ou social, ou sob o domfnio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço. Hipóteses: a) Relevante valor social Diz respeito aos interesses da coletividade em geral (Ex.: a morte de um pistoleiro que ameaçava as pessoas de uma comunidade). b) Relevante valor moral. Diz respeito aos interesses individuais, parti culares, do agente, como o sentimento de piedade (ex.: eutanásia). c) Sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima. Requisitos: (1.°) a existência de uma emoção iatensa; (2.°) a provocação injusta por parte da vítima; e (3.°) a reação imediata. NOTE' !S e .a ..a^o :>nã^fâÉi3feíuadavlogO::eiVirseáulda':à>lRjustaíprotó^,|6|v /,:teremos;:apBnas”WconffgÜFaçãoídk;pÍrGünstâneia-;4tènuanfe:’:(att:i:65glneiíso;:- 12.1.1.3 Homicídio qualificado (art. 121, § 2 ° ) 1. Motivo torpe (inciso I - mediante paga ou promessa de recom pensa, ou por outro motivo torpe). É a motivação repugnante, ignóbil, Cap. 12 - CRIMES COHTRA A PESSO A 135 desprezível, vil, profundamente imoral. Sempre que envolve paga ou recompensa, é denominado homicídio ‘'mercenário”. Vingança e ciúme, segundo a jurisprudência, não obrigatoriamente caracterizam motivo torpe. Dependerá das circunstâncias de cada caso. QUESTÃO POTENCIAL DE PROVAI A vantagem precisa ser econômica? Apesar de ser questão polêmica na doutrina, prevalece o posicionamento segundo o qual a vantagem precisa ser econômica.1 2. Motivo fútil (inciso II - por motivo fútil), É o motivo sem im portância, absolutamente banal (Ex.: matar a mulher porque essa permitiu que o feijão queimasse). Para parte da doutrina, a ausência de motivo não caracteriza o motivo futíl. Outra corrente defende que deve ser considerado fútil. Não existe posição majoritária acerca do tema. O motivo do crime pode ser injusto (ex.: vingança), mas não ser futil. 3. Meio cruel ou meio que cause perigo comum (Inciso III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meto insi- ãioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum). Caracteriza-se pelo emprego de qualquer meio cruel, que sujeite a vítima a graves e inúteis vexames ou sofrimentos físicos ou morais, É o meio bárbaro, martirizante, brutal, que aumenta, inutilmente, o sofrimento da vitima, QUESTÃO POTENCIAL DE PROVAI O crime de tortura qualifi cada com o resultado morte encontra-se previsto na Lei n.° 9.455/1997. Apesar de ocorrer o resultado morte, se a intenção era apenas torturar a vítima, haverá crime de tortura qualificada com resultado morte, e não homicídio. 4. Modo de execução que dificulta ou torna impossível a defesa (inciso IV — ã traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou tome impossível a defesa do ofendido). São circunstâncias que levam à prática do crime com maior segurança 1 CUNHA, Rogério Sanches. Direito Penai - Parte Especial - Coleção Ciências Criminais V,3, 2.a Ed-, São Pauío: Revista dos Tribunais, p. 23. 136 D1RBTO PENM. para concurso - POLÍCIA FEDERAL - Emerson Castelo Branco para o agente, que se vale da boa-fé ou desprevenção da vítima, e reve lam a covardia do autor. A traição pressupõe a existência de relação de confiança, A dissimulação é a fraude empregada para distrair a vítima. Ocorre também essa qualificadora quando se utilizar recurso que dificulte ou impossibilite a defesa da vítima. 5. Por conexão teleológica ou conseqüência! (inciso V ~ para as segurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime). Ocorre quando o homicídio é realizado como meio para executar outro crime (conexão teleológica) ou para ocultar a prática de outro delito, ou para assegurar a impunidade ou vantagem deste (conexão consequencial). 12.L I A Homicídio privüegiado-qualificado Existe homicídio privüegiado-qualificado? Sim. É a posição da dou trina e do Superior Tribunal de Justiça. Porém, é necessário que a quali ficadora sempre seja uma circunstância objetiva (ex.: meio ou modo de execução do crime), pois, caso contrário, haveria contradição inequívoca com a circunstância de privilégio. Nesse sentido, julgado do STJ: “Não há incompatibilidade, em tese, na coexistência de qualificadora objetiva (v.g. § 2.°, inciso IV) com a forma privilegiada do homicídio, ainda que seja a referente à violenta emoção.152 Todas as circunstâncias de privilégio são subjetivas. Em relação às quaMcadoras, serão subjetivas as circunstâncias do motivo torpe, do mo tivo fütil. e da conexão teleológica ou consequencial; sendo consideradas objetivas as circunstâncias do modo de execução e do meio insidioso ou cruel. Somente se configura o homicídio qualificado-privilegiado se as qualificadoras forem objetivas, para esvitar contradição com as circuns tâncias privilegiadoras, que serão sempre subjetivas. QUESTÃO POTENCIAL BE PROVA! O homicídio privilegiado- - qualificado é crime hediondo? Não, Na ponderação entre as circunstâncias objetivas e subjetivas, preponderam as subjetivas; não sendo, portanto, crime hediondo, porque as circunstâncias de privilégio prevalecem em face das quaMcadoras objetivas. Outro argumento utilizado pelo STJ é o fato de que o legislador não elencou expressamente no rol do art, 1.° da Lei n.° 8.072/1990 o crime de homicídio privilegiado-qualificado.3 2 Ver STJ RESP 196.578/RO;1998/aog7985-4. 3 Ver STJ, HC 18.261/RJ; 2001/0102018-1, e HC 17.064/RJ;2001/Q070978-5. Gap. 12 - CRIMES CONTRA A PESSOA _____137 12.1.1.5 Homicídio culposo Art. 121, § 3,° ~ Se o homicídio é culposo: Pena - detenção, de um a três anos. Ocorre quando o agente, agindo com negligência, imprudência ou imperícia, produz um resultado não querido, mas previsível, de tal modo que podia, com a devida atenção, ser evitado. Se existiu previsão por parte do agente e, ainda assim o mesmo agiu, haverá homicídio doloso. Causas de aumento de pena no homicídio culposo (art. 121, § 4.°, l.a parte). Se o crime resulta de inobservância de regra técnica de pro fissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as conseqüências do seu ato, ou foge para evitar a prisão era flagrante. Aplicação de perdão judicial (art. 121, § 5.°). Se as conseqüências da infração atingiram o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se tome desnecessária. Tem-se reconhecido como causa para a não aplicação da pena o grave sofrimento, decorrente do feto, passado pelo réu (ex.: pai mata o filho por um ato de imprudência). NOTE! De acordo com a corrente majoritária, a .concessão do perdão judicial é úm direito subjetivo do acusado, e não uma mera 'faculdade do juiz. Bitencourt, liderando essa primeira corrente, entende “que se trata de um direito público subjetivo de liberdade do' indivíduo, a partir do momento em que preenche os requisitos legais."4 Referindo-se à natureza jurídica do instituto, Damásio assevera: “Trata-se de um direito penal público subjetivo de liberdade. Não é ura favor concedido pelo juiz. É um direito do réu. Se presentes as circuns tâncias exigidas pelo tipo, o juiz não pode, segundo seu puro arbítrio, deixar de aplicá-lo.”5 A decisão que concede o perdão judicial é condenatória ou declara- tória? Conforme assevera Luiz Régis Prado, “a orientação preponderante é no sentido de indicá-la como declaratória de extinção da punihilida- de. Nesse diapasão, o art. 120 do Código Penal destaca que ‘a senten ça que conceder perdão judicial não será considerada para efeitos de “ BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal, 10.a ed„ SSo Paulo: Saraiva, 2006, p. 870. s JESUS, Damásio E. de. Direito Pena! ~ Parte Geral, 28.* ed., São Paulo: Saraiva, 2005, p. 685. 138 OÍREITO PSNAL p^ra concurso «■ POLlCíA FEDERAL - Btn&tson Câst&fo Branco reincidência”6. É, ainda, o teor da súmula 18 do Superior Tribunal de Justiça: “A sentença concessiva do perdão judicial é declaratória da ex tinção da pumbilidade, não subsistindo qualquer efeito condenatório”. QUESTÃO POTENCIAL DE PROVA! Compensação de culpas =£ Concorrência de culpas. Compensação de culpas é possível? Em hipótese alguma. Se restar comprovada a culpa do agente, não pode ele alegar a conduta da vítima para excluir a sua falta de diligência. Concorrência de culpas é possível? Sim. Porém, não para excluir a responsabilidade penal do agente. Servirá apenas como circunstância judicial (art. 59 do CP) para a fixação da pena-base de forma mais fa vorável para o agente. N pT£!/Q üal 3 . diferença entre çülpa consciente" e doto eveniuai?í:^-:'cu!fja consciènte;diferé do'dolo evenfôal,. porque nèáte o á g $ ^ 'p F e ^ ;ò/;refflllíàáj),- o; qüi^pflssa vir a’,acóhieçe£, eventual; õ. agçinte "diz: “não-^porfâ”; ;eriqüánío ná' culpa' consoíeVítS,". .èüpoe: “é. passível, mas riáo vai hcòntécèr tíe forma •àíguníaV ;i' ; 12,1.1.6 Observações finais sobre o crime de homicidio 1." - Premeditaçlo configura qualificadora? Não. O homicídio premeditado tanto pode ser simples como qualificado, dependendo das circunstân cias de cada caso. 2.® - O parricídio configura alguma qualificadora? Não. Por si só, não é o bastante para qualificar o crime. Porém, é uma circunstância agra vante (art. 61, inciso II, e). ,s 3.a - Como se faz o cálculo da pena, havendo mais de uma qualificadora? A fixação da pena deverá ser feita proporcionalmente ao número de quaíificadoras. 4.° - A ação penal é pública incondiclonada. 5.a - O homicídio na forma simples somente será crime hediondo quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio. Esse delito, nessa hipótese, é denominado homicidio condicionado ou crime hediondo condicionado. 6:' - A n.° Lei 10.741/2003 (Estatuto do Idoso) alterou a redação do § 4.° do art. 121 do Código Penai, acrescentado uma nova causa de aumento 5 PRADO, Luiz Régis. Curso de Direito Peno! Brasileiro, São Pauio: Revista dos Tribunais, 1999, p. 49$. Cap, 12 - CRIMES CONTRA A PESSOA 139 de pená ao crime de homicídio doloso, quando praticado contra maior de 60 (sessenta) anos. 7.a - Existem duas espécies de eutanásia: ativa e passiva. Na ativa, o médico realiza uma ação que causa a morte do paciente (ex,: minístra- -Ihe uma substância letal para poupar-lhe do sofrimento). Na passiva (ortotanásia), o médico ou familiares descumprem o dever legal de agir (ex.: deixar de ministrar os medicamentos devidos, em face do estágio avançado da doença, poupando o paciente do sofrimento prolongado e desnecessário). No Brasil, ambas configuram homicídio privilegiado pelo relevante valor moral (CP, art. 121, § 2.°). Não se confundem com a distanásia (prolongamento da vida de um doente grave), que não constitui crime algum. 12.1.2 Induzimento, auxílio ou instigação ao suicídio Art. 122 - induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou prestar-lhe auxilio para que o faça: Pena ~ reclusão, de dois a seis anos, se o suicídio se consuma; ou recíusão, de um a três anos, se da tentativa de suicídio resulta lesâo corporal de natureza grave. Parágrafo único, A pena é duplicada: Aumento de pena I - se o crime é praticado por motivo egoístico; li - se a vitima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade de resistência. Objeto jurídico é a proteção à vida humana extrauterma. O objeto material é o coipo da pessoa que se autodestrói Sujeito ativo e sujeito passivo. Qualquer pessoa pode praticá-lo (crime comum). Qualquer pessoa pode ser vítima. O elemento subjetivo do tipo é o dolo consistente na vontade de instigar, induzir ou auxiliar alguém a se matar. Não se admite o crime na forma culposa. Pode ser praticado com dolo eventual (ex: o pai que expulsa de casa filho que constantemente anuncia suicídio). A conduta consiste em induzir,, instigar ou auxiliar alguém a destruir a própria vida, ocasionando morte ou lesão corporal de natureza grave. No Brasil, a destruição da própria vida, por si sóf não é crime. Classificação: a) comum; b) simples; c) de dano; d) de ação livre; e) instantâneo; f) material. Pode existir auxílio por omissão? O assunto é polêmico. A primeira corrente (minoritária) defende que a expressão “prestar auxilio” pres 140 OÍREITO PENAL para concurso — POLÍCíA FEDERAL — Emarsan C&stôfo Br$nco supõe uma ação (fazer algo). A segunda corrente (majoritária) defende ser possível, desde que exista o dever legal de impedir o resultado. Magalhães Noronha cita o exemplo do <£pal que deixa o filho, sob o seu páfcrio poder, suicidar-se”.7 Forma consumada e forma tentada. Não é possível a forma tentada, porque se trata de crime de ação vinculada, Havendo a morte ou a lesão corporal de natureza grave do suicida, o crime é consumado; por outro lado, caso não existam lesões ou se estas forem leves, não haverá crime algum. Por isso mesmo, denomina-se “crime condicionado” (sua existência depende dos resultados morte ou lesão coiporai grave), NOTEI No crime de instigação, induziméntò ou auxílio ao suicídio, a ação deve ser direcionada a pessoafas) deterrninada(as),' não ocorrendo o delito quando for algo IndetèmiiriadÒ: Por exerhpld, não haverá cüriie se uni escritor ou o diretor de uma película cinematográfica, ou mesmo o compositor de uma música, levam pessoas ao suicídio, pela influência ds suas obras. Causas de aumento de pena: “I - se o crime é praticado por motivo egoístico; II ™ se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade de resistência” (art. 122, parágrafo único). QUESTÕES POTENCIAIS BE PROVA! L2 — “Pacto de morte” (ou ambicídio) - Trata-se de homicídio ou instigação ao suicídio? A deliberação de duas ou mais pessoas em morrer ao mesmo tempo, em regra, caracteriza instigação ao suicídio. Porém, se um dos pactuantes executar a ação de “matar” contra os outros, haverá em relação a este homicídio, Nelson Hungria cita como exemplo clás sico o local fechado com a torneira de gás aberta. A regra é a seguinte: O agente que abre a torneira de gás responde por crime de homicídio; enquanto os outros, por instigação ao %uicídio. 2? - “Roleta-russa” e “duelo americano” - Configuram homicídio ou instigação ao suicídio? São exemplos típicos do crime de instigação ao sui cídio. Na roleta-russa, os agentes deverão disparar sucessivamente contra si uma atma de fogo com apenas um projétil, sempre girando o tambor para testar a “sorte” de cada um. No duelo americano, encontramos duas armas de fogo, uma carregada e a outra descarregada, devendo cada agente escolher uma para atirar contra si mesmo, desconhecendo a que está municiada. 3.a - Suicida doente mental ou menor sem capacidade de dispor sobre sua vida - Quando o suicida é doente mental, ou pessoa com retardo 7 NORONHA, Edgerd Magalhães. Direito Penal Voi 2, 24.a ed„ São Paulo: Saraiva, 200E, p. 35. Cap. 12 - CRIMES CONTRA A PESSOA 141 í ~ ~ mental, ou ainda menor sem capacidade alguma de pensar na destruição da própria vida, não ocorrerá o delito em estudo, diante da capacidade de resistência nula da vítima, mas sim um homicídio. Aquele que convence uma criança de cinco anos de idade ou um doente mental a matar-se pratica o crime de homicídio, importante distinguir duas situações: se a vítima menor de 18 anos possuir alguma capacidade para dispor da própria vida, haverá induzimento ao suicídio com a causa de aumento de pena do inciso I, do parágrafo único, do art. 122 do Código Penal; por outro lado, se o menor não possuir capacidade alguma, haverá crime de homicídio. Por fim, ressalte-se apenas que o agente criminoso deve conhecer a condição mental ou a falta de capacidade de resistência da pessoa, para afastar a inaceitável responsabilidade objetiva. 4.a - A fraude para destruir a vida de uma pessoa - Levar uma pes soa a morte mediante fraude caracteriza homicídio, e não participação em suicídio. 12.1,3 Infanticídio A rt. 1 2 3 - M atar, so b a in flu ê n c ia do es tado puerperai, o próprio filho , durante o parto ou togo após: Pena - detenção, de dois a seis anos. O objeto jurídico é a vida humana do recém-nascido (neonato). O objeto material é o corpo do neonato. O sujeito ativo é a mãe em estado puerperal (crime próprio). O sujeito passivo é o neonato. Elemento subjetivo é o dolo, consistente na vontade de matar o próprio filho. Não existe infanticídio culposo, O crime se consuma com a efetiva destruição da vida do recém- -nascido (neonato). Admite a forma tentada. Conceito: Consiste no ato da mãe, sob a influência de estado puer peral, de matar o próprio filho, durante o parto ou logo após. Classificação: a) próprio; b) simples; c) de dano; d) de ação livre; e) instantâneo; f) material; g) comissivo ou omissivo. QUESTÃO POTENCIAL DE PROVA! O terceiro que auxilia a mãe a matar o próprio filho responde por homicídio ou infanticídio? De acordo com o posicionamento amplamente majoritário, responde por infanticídio, 142 DmsiTO PENAJL para concurso - PQÜCIA FEDERAL ~ Emerson Castelo Branco pois o art, 30 do CP determina a comunicabilidade de circunstâncias de caráter pessoal, quando elementares do crime, desde que a lei não disponha de forma contrária. “Tendo o Código Penal adotado a teoria monista, pela qual todos os que colaborarem para o cometimento de um crime incidem nas penas a ele destinadas, no caso presente, coautores e partícipes respondem igualmente por infanticídio. Assim, embora presente a injustiça, que poderia ser corrigida pelo legislador, tanto a mãe que mate o filho sob a influência do estado puerperal, quanto o partícipe que a auxilia, respondem por infanticídio. O mèsmo se dá se a mie auxilia, nesse estado, o terceiro que tira a vida do seu filho e ainda se ambos (mãe e terceiro) matam a criança nascente ou recém-nascida. A doutrina é amplamente predominante nesse sentido.”8 Em síntese, são três hipóteses: I “ - Mãe mata o filho com auxílio de terceiro; 2,a - Terceiro executa a ação de matar com o auxílio da mãe; 3.a - Mãe e terceiro executara a ação de matar. Nas três situações, res ponderam pelo crime de infanticídio. Note: O terceiro deve conhecer a circunstância de caráter pessoal (“ser mãe” e “estado puerperal”), para que esta possa se comuaicar; caso contrário, haverá crime de homicídio. Essa situação é criticável, porque fere o princípio da proporcionali dade das penas no Direito Penal. O terceiro é beneficiado por uma pena bem menos grave do que a pena do crime de homicídio. A solução do problema, segundo Damásio, “está em transformar o delito de infanticídio em tipo privilegiado de homicídio, fazendo com que o estado puerperal e a relação de parentesco deixem de ser elementares do tipo para serem apenas circunstâncias de diminuição da pena.”9 12.1.4 Aborto Espécies: a) Natural - provocado por fatores biológicos. b) Acidental - provocado por erro humano ou por eventualidades. a NUCG, Guilherme de Souza. Manual de Direito Penal - Parte Geral e Parte EspecialSão Pauto: Revista dos Tribunais, 2C05, p, S7Z * JESUS, Damásio £, de. Direito Penai - 2.° Volume Parte Especial. 2?.“ ed„ Ed. Saraiva São Paulo, 2005, p. 114. r Cap. 12 - CRIMES CONTRA A PESSOA 143 c) Criminoso - provocado pela vontade de causar o aborto. d) Legal ou permitido hipóteses de exclusão do crime. 12,1.4,1 Crime de autoáborto Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho provoque: Pena - detenção, de um a três anos. O objeto jurídico: vida humana intrauíerina. Objeto material: embrião ou feto. O sujeito ativo é a gestante (crime próprio). O sujeito passivo é o feto, ou seja, o produto da concepção. Alguns autores entendem que o sujeito passivo é o Estado e a sociedade em gerai. Elemento subjetivo é o dolo, consistente na vontade de provocar aborto em si mesma ou de consentir que terceira pessoa lhe provoque, Somente existe o crime em sua forma dolosa, não havendo hipótese de aborto culposo. Consuma-se o aborto com a morte do feto. Admite-se a forma tentada. É a interrupção da gravidez com a destruição da vida humana in- trauterma. Divide-se em duas situações: a) provocar aborto era si mesraa (autoáborto); b) dar consentindo para que outrem realize o aborto. Classificação: a) próprio; b) simples; c) de dano; d) de ação livre; e) instantâneo; f) material. Concurso de crimes e concurso de agentes. Prevalece a posição que entende que o concurso de agentes somente pode ocorrer caso o terceiro responda como partícipe (ex.: induzir gestante a abortar). Caso terceiro pratique atos executórios do aborto, responderá por crime autônomo, previsto no art. 126 do CP. . MOTE!. Existe a possibilidade,, da prática:,dp.:çrirne;; de;::^ Sim.'-Apééar ,de 'O; assunto '.ser ma|orip'rfav.jústa^' i^ pnté porque a mãégéstanie possuí Q é^verjjéaai , podendo se omitir; : ■' v ’’ ‘f^ \ : ;."v 144 DIREITO PENAL para concurso - POLÍCIA FEDERAL - Eimrsan Castelo Branco 12.1.4.2 Crime de aborto provocado sem o consentimento da gestante A rt. 125 - Provocar aborto sem o consentimento da gestante. Pena - reclusão, de três a dez anos. Neste tipo penal, pune-se o aborto realizado sem o consentimento da gestante. O criminoso pode agir cora força, ameaça ou fraude (ex.: criminoso agride namorada com violência física, obrigando-a ao aborto; ou ameaça-a de morte; ou ainda a leva ao erro, colocando substância abortiva na alimentação desta). Sujeito passivo: gestante e feto. NOTE! Presume-se inexistente o consentimento da gestante, aplicando-se esta norma penal, quando a gestante não é maior de catorze anos, cm quando é doente mental, conforme p parágrafo único do art. 126 do CP. Neste caso, o agente tem que saber què a vítima é menor 'de 14 anos ou alienada mental. 12.1.4.3 Crime de aborto provocado com o consentimento da gestante A rt. 126 - Provocar aborto com o consentimento da gestante. Pena - reclusão, de um a quatro anos. Parágrafo único -- Aplka-se a pena do artigo anterior, se a gestante não é maior de quatorze anos, ou é alienada ou débíf mental, ou se o con sentimento é obtido mediante fraude, grave ameaça ou violência. Ocorre quando terceiro realiza o procedimento abortivo, com o con sentimento da gestante (ex.: médico),^ 12.1.4.4 Aborto na forma qualificada (art 127) A rt. 127 - As penas cominadas nos dois artigos anteriores são au mentadas de um terço, se, em conseqüência do aborto ou dos meios empregados para provocá-lo, a gestante sofre íesão corporal de na tureza grave; e são duplicadas, se, por qualquer dessas causas, !he sobrevêm a morte. O aborto qualificado é crime preterdoloso. A conduta dolosa do agente se direciona exclusivamente para causar o aborto (dolo m antecedente); porém, sobrevêm um resultado lesão corporal de natureza grave ou morte, não querido e não previsto (culpa no conseqüente). Cap. 12 - CRIMES CONTRA A PESSOA 145 NOTE! O resultado' mais grave {lesâo corporal grave .ou morte) não deve ter sido querido pelo agente, pois .nesses casos deverá ele responder por crimes de lesões corporais ou homíddlo, em concurso com o aborto. Em outras palavras, havendo também doio de causar a lesâp corporai de na tureza gráve ou a morte da gestante, responderá o agente pelo concurso de crimes de aborto é iesão corporal grave oü aborto è homicídio..' Poderá haver concurso entre o crime de aborto e o crime de lesão corporal leve advinda da prática abortiva? Conforme ensinamento de Damásio, “a lesão leve constitui resultado natural da prática abortiva e o CP só pune a ofensa corporal grave. Por isso, o crime do art. 129, caput, fica absorvido pelo aborto.”10 Se em decorrência do procedimento abortivo a gestante morre, mas o feto sobrevive, haverá crime de aborto qualificado na forma tentada? Como os crimes preterdolosos não admitem a forma tentada, a solução é considerar o crime de aborto qualificado consumado. Em que pese o assunto ser polêmico, é a posição majoritária. Correto o raciocínio de Fernando Capez: “Entendemos que, nessa hipótese, deve o sujeito responder por aborto qualificado consumado, pouco importando que o abortamento não se tenha efetivado, aliás como acontece no latrocínio, o qual se reputa consuma do com a morte da vítima, independentemente de o roubo consumar-se. Não cabe mesmo falar em tentativa de crime preíerdoloso, pois neste 0 resultado agravador não é querido, sendo impossível ao agente tentar produzir algo que não quis.”11 12.1.4.5 Aborto legal (art. 128) São duas as espécies de aborto legal: 1 * - Aborto necessário - “Não se pune o aborto praticado por médico: I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante". Cabe ao médico decidir sobre a necessidade do aborto a fim de ser preservado o bem jurídico que a lei considera mais importante (a vida da mãe) em prejuízo do bem menor (a vida intrauterina). 10 JESUS, Damásio E. de. Direito Penal - 7..a Volume Parte Especial. 27,s ed, Ed. Saraiva São Pauio, 2005, p. 127. ,! CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal - V. 2, 6.® ed., São Pauto: Saraiva, 2006, p. 123. 146 DIREITO PENAL para concurso - POÜCSA FEDERAL - gmerson Castelo Brenco Como a lei se refere apenas ao médico, caso o aborto seja praticado por outra pessoa sem a especialidade médica, provando-se o sacrifício último para salvar a vida da gestante, haverá estado de necessidade, conforme o art. 24 do CP. NOTE! No aborto necessário, o médico não precisa de autorização .cia gestante. Assim, deverá realizar o procedimento abortivo mesmo contra a voniade desta. 2 “ - Aborto sentimental - “Não se pune o aborto praticado por médico: II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consen timento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal.” MOTE! O aborto em decorrência de crirne de estupro..somente pçde ser reáíizádo pom a autorização da gestante, ou .quando incapaz:,\<fô-9!9W t $ - . presentante Segai.................. QUESTÃO POTENCIAL DE PROVA! Na hipótese do aborto sentimental, o médico precisa de autorização judicial? Não. Para o mé dico realizar o procedimento abortivo, basta o registro do boletim de ocorrência pelo crime de estupro, isto é, não se exige ordem judicial, ou sentença condenatória contra o estuprador, nem mesmo a instauração de inquérito policial. Com a recente Lei 12.015, de 7 de agosto de 2009, encerra-se a discussão acerca da possibilidade do aborto, quando a gravidez resultasse de atentado violento ao pudor. Antes, era necessário aplicar analogia in bonam partem (a favor do réu) para excluir a antijuridicidade do crime. Hoje, a antiga hipótese de atentado viplento ao pudor caracteriza crime de estupro, restando solucionado o problema. NOTEI A iei dos crimes contra a dignidade sexuai (Lei n.° 12.015/2009) criòu unria nova figura penal,’ denominada éstupro de vulneráveí,; previsto no .art. 2Í7-A:. Ter conjunção carnal ou menor d.e 14;'(çatorze) anos". £ partir daJ,surgi.iumyHovp probjemaí.Ojnc, il; ;do 'a /i 123, do Código Penai, somehte: quán.do a gravidez .for em-decórrênciá do (árt;--2t3j4Q'ú^ a solução? Corno sé trata: de'caso semelhante, diantèy.a iacuna. da. norrna, apíica-se perfeitamente a analogia in bonam partem para autorizar ò aborto também nessa hipótese. Não se admite aborto por suspeita de que o feto possui degenerações ou anomalias graves; ou aborto social, realizado pela gestante por falta Cap. 12 - CRIMES CONTRA A PESSOA 14? de condições econômicas de sustentar a criança; muito menos aborto honoris causa, para proteger a honra. QUESTÃO POTENCIAL DE PROVAI E o denominado “aborto eugenésico” (ou eugênico), admite-se? A maioria da doutrina é favorável à exclusão da iíicitude nessas hipóteses excepcionais, desde que atendi dos requisitos rígidos. As resistências no meio social, ensina Ney Moura Teles, “ainda são grandes, mas é preciso discutir essas excludentes sem preconceitos, mas com vistas na busca da proteção dos bens jurídicos. O Direito não pode conviver com a ideia de autoflagelação ou de puri ficação espiritual pelo sofrimento.”52 A posição atual do STJ vem sendo no sentido de desconsiderar a iíicitude do aborto nos casos de fetos anencefálicos: “Havendo diagnós tico médico definitivo atestando a inviabilidade de vida após o período normal de gestação, a indução antecipada do parto não tipifica o crime de aborto, uma vez que a morte do feto é inevitável, em decorrência da própria patologia.’”3 No STF, á matéria vem sendo discutida, em sede de Ação de Descum- primeato de Preceito Fundamental (ADPF), com uma tendência favorável ao aborto nos casos de anencefalia. A permanência de feto anômalo no útero da mãe, explica o Min. Marco Aurélio, “mostrar-se-ia potencialmente perigosa, podendo gerar danos à saúde e à vida da gestante. Consoante o sustentado, impor à mulher o dever de carregar por nove meses um feto que sabe, com plenitude de certeza, não sobreviverá, causa á gestante dor, angústia e frustração, resultando em violência às vertentes da dignidade humana ~ a física, a moral e a psicológica - e em cerceio à liberdade e autonomia da vontade, além de colocar em risco a saúde, tal como proclamada pela Organização Mundial da Saúde - o completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença,”*4 12.1*5 Questões comentadas (CESPE/UnB 2004) Um indivíduo, cuja esposa padecia, há anos, de uma doença incurável, a seu pedido ceifou-íhe a vida por meio de asfixia tóxica, produzida por gases deletérios (oxido de carbono, cloro s bromo) liberados no quarto em que se encontrava. Nessa situação, o indivíduo responderá por homicídio quaiifrcado-privttegíado, que, de acordo com o STJ, não é considerado crime hediondo. 12 TELES, Ney Moura. Direito Penal, São Pauto: Atias, 2004, p. 187-188. !J HC S6572/SP, 2006/0062671-4, 5,a Turma, j, 25.04.2006. ■ M Ver informativo 354 do STF (DiU de 02.08.2004). 148 DIREITO PENAL para concurso - POLlCíA FEDERAL - Emerson Castelo Brsnco Resposta: Correto, Trata-se de situação típica de crime de homicídio privilegiado peio relevante valor moral. No caso, incicfe ainda a qualificadora do meio cruel, formando a figura do homicidio privilegiado-quaüficado. O entendimento do STJ é no sentido de que o homicidio qualificado-privilegiado não é crime hediondo. (CESPE/UnB 2004} Aido é o único herdeiro de sua irmã Sofia, que sofre de depressão. Induzida por Aldo, Sofia tentou tirar sua própria vida, cortando os pulsos. Levada para o hospital pela empregada da casa, recebeu tratamento imediato, tendo sofrido lesões corporais leves. Nessa situação, Aido responderá pelo crime de participação em suicídio. Resposta: Para que ocorra a participação no crime de Induzimento, instigação ou auxílio a suicídio, ê necessário que venha a se perfazer a morte do ofendido, ou que o mesmo sofra lesões de natureza grave, Como o único resuitado descrito na assertiva são as tesões de natureza leve, Aido nâo responderá pelo crime, sendo faío atípico.' Nota-se que não é possíve), também, a tentativa nesse tipo de crime, já que é condicionado, necessariamente, aos resultados descritos no tipo penai, morte e lesão corporal de natureza grave. (CESPE/UnB 2006) Considere a seguinte situação hipotética. Ronan, brincando de roleía-russa e sabendo que o revólver estava municiado, pôs-se a abrir, girar e fechar o tambor do mesmo por diversas vezes. Acionando o gatilho com o revólver apontado para a vítima, causou-lhe a morte. Nessa situação, é correto afirmar que Ronan responderá por homicidio culposo. Resposta; Certo. Trata-se de homicidio doloso eventual, porque Ronan, com sua "brincadeira”, assumiu o risco de produzir o resultado morte na vítima Mote: Se fosse a roleta-russa típica, em que cada membro do grupo usa individualmente a arma contra si, haveria instigação ao suicídio. (CESPE/UnB 2004) Ângela, sob a influência do estado puerperal, matou o próprio filho, 'togo após o parto, por estrangulamento. Cessada a influência do estado puerperal, Ângela desosperou»se ©, arrependida do ato praticado, foi acometida por intenso sofrimento. Nessa situação, tendo em vista que as conseqüências da conduta de Ângela atingiram-na profundamente, poderá o juiz aplicar o perdão Judicial Resposta: Nâo se pode faiar em perdão Judicial no crime de infanticídio por faita de previsão legal. (DPU Defensor Público da União CESPE/UnB 2010) Em se tratando de homicidio, é incompatível o domínio de violenta ©moção com o dolo eventual. Resposta: Errado. Conforme orientação convidada no Superior Tribunal de Justiça, o homicídio privilegiado é perfeitamente compatível com o dolo eventual. (Ministério Público/SE CESPE/UnB 2010) Assinale a opção correta acerca do homicídio privilegiado, a) A natureza jurídica do instituto é de circunstância atenuante especial. b) Estando o agente em uma das situações que ensejem o reconhecimento do homicídio privilegiado, o juiz é obrigado a reduzir a pena, mas a lei não determina o patamar de redução. c) O relevante valor social não enseja o reconhecimento do homicidio privilegiado. d) A presença de qualificadoras impede o reconhecimento do homicidio privilegiado. e) A violenta emoção, para ensejar o privilégio, deve ser dominante da conduta do agente e ocorrer logo após injusta provocação da vítima Resposta: E. O homicídio privilegiado possui natureza juridica de causa de diminuição de pena (mínorante), A redução é de um sexto a um terço. O relevante vator social constitui uma das hipóteses de homicídio privilegiado. Ê perfeitamente possível a figura Cap. 12 ~ CRIMES CONTRA A PESSOA 149 do homicídio privltegiado-quaiificado, desde que a circunstância qualificadora se|a objetiva. Por flm, a violenta emoção deve ser dominante, caso contrário, nâo haverá o privilégio da redução da pena. E o que significa “emoção dominante"? Ê a emoção de alto intensidade, envolvendo o agente ao ponto deste perder completamente o equilíbrio, Na exata observação de Cezar Roberto Bitancourt, “Sob o domínio cfe v/o/enfa emoção significa agir sob choque emocional próprio de quem é absorvido por um estado de ânimo caracterizado por extrema excitação sensorial s afetiva, que subjuga o sistema nervoso do indivíduo. Nesses casos, os freios inibitórios são liberados, sendo orientados, basicamente, por ímpetos incontroláveis, que; é verdade, não justificam a conduta criminosa, mas reduzem sensivelmente a sua censurabilídade" (BITENCOURT, Cezar Roberto. Curso de Direito Penal. 10. ed. São Pauio: Saraiva, 2010, p. 73) Atenção! A mera “influência” não é o suficiente para configurar o crime de ho micídio privilegiado. Contudo, haverá circunstância atenuante de pena, prevista na alínea c, do inc. III, do art. 65, do Código Penal: “SSo' circunstâncias que ' sempre atenuam a' pena (...) 111 - ter o ágente: (...) c) cometido o" crime sob coação a que podia resistir, ou em cumprimento de ordem de autoridade superior, ou sob a Influência d@ violenta emoção, .provocada por ato injusto da vítima" (grifo nosso); Em sfntése, o “domínio" conftgúra a drcimstânciá privilegíádora, enquanto a “influência* caracteriza apenas circunstância atenuante: - ' (Ministério Públlco/SE CESPE/UnB 2010) Getúlio, a fim de auferir o seguro de vida do qual era beneficiário, induziu Maria a cometer suicídio, e, ainda, emprestou-lhe um revólver para que consumasse o crime. Maria efetuou um disparo, com a arma de fogo emprestada, na reglâo abdominal, mas não faleceu, tendo sofrido lesão corporal de natureza grave. Em relação a essa situação hipotética, assinale a opção correta. a) Como o suicídio nâo se consumou, a conduta praticada por Getúlio é considerada atípica. b) Apesar de a conduta praticada por Getúlio ser típica, pois configura Indüzimento, instigação ou auxílio ao suicídio, ele ê isento de pena, porque Maria não faleceu. c) Getúlio deve responder por crime de indüzimento, instigação ou auxilio ao suicídio, por uma única vez, com pena duplicada pala prática do crime por motivo egoísüco. d) Getúlio deve responder por crime de tesão corporal grave. e) Por ter induzido e auxiliado Maria a praticar suicídio, Getúlio deve responder por crime de indüzimento, instigação ou auxilio ao suicídio, por duas vezes em continuidade detitlva, com pena duplicada pela prática do crime por motivo egoístico. Resposta: C, O crime de Indüzimento, instigação ou auxílio ao suicídio {art. 122 do Código Penai) se consuma com o resultado morte ou com a provocação de lesão corporal de natureza grave na vítima. No caso, Getúlio deve responder por crime de indüzimento. Instigação ou auxílio ao suicídio, por uma única vez (evitando bis in iüçm), com pena duplicada peia prática do crime por motivo egoístíco. Por fim, nâo responderá duas vezes pelo mesmo delito, em face do princípio da alternatividade, utilizado para resolver conflito aparente de normas penais, nas hipóteses de tipo penai de conteúdo variado, isto ô, quando a norma pena! traz várias ações nucleares, consumando-se o crime numa ou noutra. Se várias ações nucleares forem praticadas dentfo do mesmo contexto fático, .haverá crime único, sob pena de dupia responsabilidade, vedada no Direito Penal. 12.1.6 Questões CESPE/UnB Armando e Sérgio deviam a quantia de R$ 500,00 a Paulo, porém se recusavam a pagar. No dia marcado para o acerto de contas, Armando e Sérgio, com o ânimo de matar, compareceram ao iocai do encontro com Paulo portando armas de fogo, emprestadas por Mário, que sabia para qua! finalidade elas seriam usadas. Armando e Sérgio atiraram contra Paulo, ferindo-o mortalmente, Com relação à situação hipotética apresentada acima, julgue os itens seguintes. 1S0 DIREITO PENAL para concurso - POLiCtA FEDERAL - Bmerson Casfe/o Branco 1. (Agente - PoJícfa Civil/RR 2003 - CESPE/UnB) Armando, Sérgio a Mário são sujeitos ativos do crime perpetrado, sendo os dois primeiros coautores, e Mário, partícipe. 2. {Agente - Poiícia Civil/RR 2003 - CESPE/UnB) Paulo é sujeito passivo do crimo de homicídio privilegiado. 3. (Agente - Polícia Civii/RR 2003 - CESPE/UnB) Segundo determina a Lei 8.072/1990, o homicídio de Paulo é considerado crime hediondo. 4. {Agente - Polícia Civil/RR 2003 - CESPE/UnB) O crime de homicídio descrito acima se consumou no momento em que a vitima foi ferida cm sua integridade física, 5. (Escrivão da Policia Federal 2002 - CESPE/UnB) Rui era engenheiro e participava da construção de uma rodovia, para a qual seria necessária a destruição de uma grande rocha, com o uso de explosivos. Rui, contudo, por insuficiência de conhecimentos técnicos, não calculou bem a área de segurança para a explosão. Por isso, um fragmento da rocha acabou atingindo uma pessoa, a grande distância, matando-a. Nessa situação, devido ao fato de a morte haver decorrido do uso de explosivos, o caso é de homicídio qualificado. 6. (Delegado da Policia Federal 1997 - CESPE/UnB) Se for doloso o homicídio, a pena será aumentada de um terço, no caso de crime praticado contra pessoa menor de catorze anos. 7. (Delegado da Polícia Federal 1997 ~ CESPE/UnB) Não é crime o aborto realizado pela própria gestante, se for provado que o feto estava contaminado com vírus causador de doença incurável. 8. (Delegado - Polícia Clvil/SE 2006 - CESPE/UnB) Levando em consideração as orientações doutrinárias e jurisprudenctals dominantes, é correto afirmar que, na hipótese do aborto humanitário ou sentimental, quando a gravidez for decorrente de atentado violento ao pudor, não se aplica a excludente de ilicitude, pois a tet admite o aborto somente quando a gravidez for resultante de estupro. 9. (Delegado - Polícia Cívíl/TO 2008 - CESPE/UnB) Considere a seguinte situação hipotética. Manoel, penalmente responsável, instigou Joaquim à prática de suicídio, emprestando-lhe, ainda, um revólver municiado, com o qual Joaquim disparou contra o próprio peito. Por circunstâncias aiheps à vontade de ambos, o armamento apresentou falhas e a munição não foi deflagrada, não tendo resultado qualquer dano à integridade física de Joaquim, Nessa situação, a conduta de Joaquim, por si só, nSo constitui Ilícíto penal, mas Manoel responderá por tentativa de participação em suicídio. 10. (Delegado - Poiícia Civil/RR - CESPE/UnB) Considere a seguinte situação hipotética. Manoel trancafiou seu desafeto em um compartimento completamente isolado e Introduziu nesse compartimento gases deletérios (óxido de carbono e gás de iluminação), os quais causaram a morte por asfixia tóxica da vítima. Nessa situação, Manoel responderá pelo crime de homicídio qualificado. 1 1 . (Delegado - Policia Ctvit/RR - CESPE/UnB) Considere a seguinte situação hipotética, João e Maria, por enfrentarem grave crise conjugai, resolveram matar-se, instlgando- -se mutuamente. Conforme o combinado, João desfechou um tiro de revólver contra Maria e, em seguida, outro contra si próprio. Rifaria veio a faiecer; João, apesar do tiro, sobreviveu. Nessa situação, João responderá pelo crime de induzimento, instigação ou auxílio a suicídio. Cap. 12 - CRIMES CONTRA A PESSOA 151 12. {Agente-Poiícia Civfl/TO2008-C ESP E/U nB ) Considere que um boxeador profissional, durante uma luta normal, desenvolvida dentro dos limites das regras esportivas, cause ferimentos que resultem na morte do adversário. Nessa situação, o boxeador deverá responder por homicidio doloso, com atenuação de eventual pena, em face das circunstâncias do evento morte. 13. {Agente - Polícia Ctvrl/TO 2008 - CESPE/UnB) O aborto, o homicídio e a violação de domicilio são considerados crimes contra a pessoa. 14. {Técnico Judiciário - TJR R ~ 2 0 0 6 - -CESPE/UnB) Mesmo resultando em lesão corporal grave oü morte, o latrocínio encontra-se capitulado nos crimes contra o patrimônio e hão, nos crimes contra a pessoa. 15. {Técnico Judiciário - TJR R - 2006 - CESPE/UnB) Não se pune o aborto se a gravidez resulta de estupro, sobretudo se é precedido de consentimento da gestante. 16. {Técnico Judiciário - TJRR - 2006 - CESPE/UnB) No caso do homicidio culposo, o juiz poderá conceder o perdão judicial se as conseqüências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária. 17 . (Analista Processual - TJRR - 2006 - CESPE/UnB) O delito de homicídio é crime de ação livre, pois o tipo nâo descreve nenhuma forma específica de atuação que deva ser observada pelo agente. 18. (Agente ~ Polícia Civif/TO 2008 - CESPE/UnB) O aborto, o homicídio e a violação de domicilio são considerados crimes contra a pessoa. 19. {Analista Processual - TJRR - 2006 - CESPE/UnB) Tentado ou consumado, o homicidio cometido mediante paga ou promessa de recompensa é crime hediondo, recebendo, por conseqüência, tratamento pena) mais gravoso. 20. (Delegado ~ Polícia Cívil/TO 2003 - CESPE/UnB) O Código Penal brasileiro permite três formas de abortamento legal: o denominado aborto terapêutico, empregado para salvar a vida da gestante; o aborto eugênlco, permitido para impedir a continuação da gravidez de fetos ou embriões com graves anomalias; e o aborto humanitário, empregado no caso de estupro. 21. (Escrivão - Polícia Civil/PA 2006 - CESPE/UnB) Há homicídio qualificado se o agente tiver praticado crime Impelido por motivo de relevante valor social ou morai. 22. (Delegado da Polícia Federal 2004 Nacional - CESPE/UnB) O médico Caio, por negligência qüe consistiu em não perguntar ou pesquisar sobre eventual gravidez de paciente nessa condição, receita-lhe um medicamento que provocou o aborto. Nessa situação, Caio agiu em erro de tipo vencível, em que se exclui o dolo, ficando isento de pena, por nâo existir aborto culposo. 23. {CESPE/UnB 2001) Segundo orientação do STJ, no crime de homicídio, a qualificadora de ter sido o delito praticado mediante paga ou promessa de recompensa é circunstância de caráter pessoal e, portanto, Incomunicável. 24. {CESPE/UnB 2001) O agente que, agindo com onimus necandi, mantém conjunção carnal com a ofendida com a intenção de transmítlr-!he o vírus da AIDS de que é portador, responderá, em tese, pela prática do crime de tentativa de homicídio, 25. {CESPE/UnB 2001) A s circunstâncias prlviiegiadoras, de natureza subjetiva, e qualificadoras, de natureza objetiva, podem concorrer no mesmo fato-homleídio. Nesse caso, o homicidio qualificado-privilegiado não será considerado crime hediondo. 152 DIREITO PENAL para concurso - POLÍCIA FEDERAL - Emerson Castelo Branco 26. (CESPE/UnB 2006) O resuitado morte caracterizado par uma asfixia mecânica, assim comprovada peto laudo de exame de corpo de delito (laudo cadavérico), provocada por hemorragia interna, será suficiente para configurar o crime de homicídio qualificado. 27. (CESPE/UnB 2006) No crime de homicídio qualificado, a vingança pode ser classificada como motivo fútil, não se confundindo com o motivo torpe. 28 .(CESPE/UnB 2006) Para efeitos penais, notadamente na análise do homicídio Qualificado peto emprego de veneno, tal substância é aqueta que tenha idoneidade para provocar lesão ao organismo humano ou morte. 29. (CESPE/UnB 2007) São compatíveis o dolo eventual e as qualificadoras do crime de homicídio. 30. (CESPE/UnB 2007) No homicídio culposo, se o autor do crime imagina que a vítima já está morta e por isso não lhe presta socorro, não responde pela causa de aumento de pena decorrente da omissão de socorro. 31. (CÊSPÈ/UnB 2007) Ainda que haja intenção de matar, peto princípio da especialidade, a prática de relação sexual forçada e dirigida à transmissão do vírus da AIDS caracteriza o crime de perigo , para a vida ou saúde de outrem. 32. (CESPE/UnB 2007) O ciúme, por si só, caracteriza o motivo torpe, apto a qualificar o crime de homicídio. 33. (CESPE/UnB 200S) Se o sujeito, após ferir culposamente a vítima, sem risco pessoal, não lhe presta assistência, vindo ela a falecer, responde por dois crimes: homicídio culposo e omissão de socorro. 34. (CESPE/UnB 200S) Considere a seguinte situação hipotética. Antônio, querendo a morte de José, instigou Carlos a matá-lo. Carlos, que jâ havia cogitado do fato, ficou dominado - por ódió morta! por tudo que Antônio disse de José. Carlos, então, dirígíu-se à casa de José e lã resolveu ievar a cabo sua intenção criminosa, matando-o. Nessa situação, ambos responderão por homicídio em coautoria, 35. {CESPE/UnB 2005) No homicídio do tipo mercenário, a qualificadora relativa ao eometimento do crime mediante paga ou promessa de recompensa, consoante entendimento do STJ, comunica-se com os coautores ou participes, por tratar-se de condição de caráter não pessoal. ^ 36. (CESPE/UnB 2007) A tentativa de suicídio é Impunívet, já que, do ponto de vista da poiíttca criminal, seria um estímulo punir o suicida nessa modalidade. 37. (CESPE/UnB 2007) A hipótese de autodestruíçâo na forma consumada deve ser sempre objeto de investigação em inquérito policial, visando-se apurar a participação de terceira pessoa. 3B. (CESPE/UnB 2003) Considere a seguinte situação hipotética. Um agente efetuou disparo de arma de fogo, com animus necandi, contra menor de quatorze anos de idade, que velo a faiecer em decorrência dos ferimentos após completar aqueia idade. Nessa situação, o autor do disparo responderá por homicídio, e a pena será agravada em razão da idade da vítima. 39. (CESPE/UnB 2003) No caso de aborto provocado peia gestante com auxílio de terceiro, há dois crimes autônomos: um praticado - peia gestante e outro, pelo auxiliar, ficando afastada a participação. Cap. 12 - CRIMES CONTRA A PESSOA 15 3 40. (CESPE/UnB 2006) Apesar de não constar no tipo pena! o elemento surpresa, este qualifica o homicídio praticado desde que se assemelhe a traição, emboscada ou dissimulação, estes, sim, previstos expressamente no tipo penai, 41. (CESPE/UnB 2006) Considere a seguinte situação hipotética. Um médico, doiosa e Insidiosamente, entregou uma injeção de morfina, em dose demasiadamente forte, para uma enfermeira, que, sem desconfiar de nada, aplicou-a no paciente, o que causou a morte do enfermo. Nessa situação, o médico é autor mediato de homicídio doioso, ao passo que a enfermeira é participe do delito e responde pelo mesmo crime doloso. 42. (CESPE/UnB 2006) Considere a seguinte situação hipotética. Fábio, por motivo de reievante valor social, praticou um crime de homicídio com a participação de Pedro, que desconhecia o motivo determinante do crime. Nessa situação, o homicídio privilegiado, causa de diminuição da pena descrita no CP, se estenderá ao partícipe Pedro, pois se traía de circunstância de caráter pessoa! que se comunica aos demais participantes. 43. (CESPE/UnB 2006) Na hipótese de homicídio culposo, o juiz pode deixar de aplicar a péna, se as conseqüências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária. Trata-se do instituto do perdão judiciai, que constitui causa extintiva da punibilidade. 44. (CESPE/UnB 2006) O CP somente pune o crime de participação em suicídio quando há produção do resultado morte. Se o sujeito induz a vítima a suicidar-se e esta sofre apenas íesões corporais de natureza grave, não hã crime a punir. 45. (CESPE/UnB 2006) Autora de infanticídio só pode ser a mãe, conforme expressa o CP. Sendo assim, trata-se de crime próprio, que não pode ser cometido por qualquer autor. No entanto, essa qualificação, conforme entende a melhor doutrina, não afasta a possibilidade de concurso de pessoas. 46. (CESPE/UnB 2006) O aborto necessário, previsto no CFt não constituí crime, em foce da exclusão da culpabilidade, considerando-se que a gestante é favorecida pelo estado de necessidade. 47. (CESPE/UnB 2005) Um agente de polícia, usando arma de fogo, efetuou propositadamente disparos contra Pedro, causando a sua morte e, acidentalmente, a de Cláudio. Nessa situação, esse agente deve responder por homicídio doioso consumado em relação a Pedro, e por homicídio culposo consumado em relação a Cláudio. 48* (CESPE/UnB 2006) César induziu Luciano a cometer suicídio, além de auxiliá-lo nesse ato, entregando-lhe as chaves de um apartamento localizado no 19.o andar de um prédio. Luciano, influenciado pela conduta de César, jogou-se da janela do apartamento, mas foi salvo pelo Corpo de Bombeiros, vindo a sofrer lesões leves .em decorrência do evento. Nessa situação, César praticou crime de induzimento, instigação ou auxíilo a suicídio. 49. (CESPE/UnB 2006) Com intenção de matar Suzana, Geraldo desferiu contra ela três tiros de arma de fogo, sem, contudo, conseguir atingi-la, por erro de pontaria. Nessa situação, Geraldo responderá por tentativa de homicídio, na modalidade tentativa cruenta. 50, (CESPE/UnB 2007) Leonardo, indignado por não ter recebido uma dívida referente â venda de cinco cigarros, desferiu facadas no devedor, que, em razao dos ferimentos, faleceu. Logo após o fato, Leonardo escondeu o cadáver em uma gruta, Com base na situação hipotética acima, é correto afirmar que Leonardo praticou crime de homicídio qualificado por motivo torpe. 154 DIREITO RENAL para concurso - POLÍCIA FEDERAL - Emerson Castelo Brsnco 12.1.7 DICAS IMPRESCINDÍVEIS . ' | No homicídio privilegiado pelo domínio da violenta emoção, leva-se em consideração o momento em que o agente tomou conhecimento da injusta provocação, e não quando esta foi praticada? Sim. É o caso de um pai que toma conhecimento do estupro cometido por seu vizinho contra sua filha somente 6 (seis) meses depois do fato. | O domínio da violenta emoção é compatível com o dolo eventual? Sim, Trata-se da orientação majoritária. As qualificadoras subjetivas (motivo fútil, torpe e conexão conse- quencial ou teleológica) se comunicam no concurso de agentes? Não. Somente se comunicam as objetivas (meio insidioso ou cruel e modo de execução), nos exatos termos do art. 30 do Código Penal, O que se considera “veneno”? O conceito é amplo, abrangendo, inclu sive, as substâncias que podem ser inofensivas â média das pessoas, mas letal para aquela pessoa que se pretende matar (ex.: alérgicos). Obviamente, o agente criminoso deve conhecer essa circunstância, em face do princípio da responsabilidade subjetiva. Jual a exata diferença entre “meio insidioso” e “meio cruel”? Insidioso é a fraude. Cruel é o que gera sofrimento exacerbado e desnecessário. Por exemplo, o veneno pode ser insidioso, quando colocado no jantar de uma pessoa, sem que ela perceba. Por outro lado, se a vítima é obrigada a tomá-lo, o meio é cruel Mesmo raciocínio vale para a asfixia, sendo insidioso se a vítima não percebe; e cruel, caso note a ação do agente (ex.: enforcamento). awíitífMMiwrcivivJiíw/ >ual a exata diferença entre os crimes de tortura qualificada pelo resultado morte e o crime de homicídio qualificado pela tortura? O dolo (intenção) do agente sempre deve ser a bússola a guiar a cor reta classificação do crime. Dessa forma, havendo dolo em relação ao resultado morte, mesmo que eventual, haverá crime de homicídio qualificado. Já o crime de tortura qualificado com resultado morte é preterdoloso, isto é, o agente não desejava destruir a vida da víti ma. Cap. 12 - CRIMES CONTRA A PESSOA 1SS Aplica-se a qualificadora teleológica (art. 121, § 2.® Inc. V, do CP) se o agente desejava assegurar a execução de uma contravenção penal? Não, por ausência de previsão típica. E se desejava assegurar a exe cução de ura crime impossível? Também não se aplica. Contudo, nada impede a configuração de outra qualificadora (ex.: motivo torpe). [ A causa de aumento de pena do § 4.°, do art. 121, consistente na inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, pode existir se o homicídio culposo é cometido na modalidade de imperícia? Sim. Trata-se da orientação majoritária. 3>ual o crime do agente que deixa de prestar socorro a um suicida? Haverá omissão de socorro (art. 135, do CP). E se a omissão parte de pessoa que tem o dever legal de evitar o resultado (ex.: pai)? Haverá homicídio doloso, em face do § 2?, do art. 13, do Código Penal. O que significa “infanticídio imaginário ou putativo”? Ocorre quando a mãe, em estado puerperal, logo após o parto, mata filho alheio, imaginando ser o seu. Qual a solução? Responderá por crime de in fanticídio. Neste caso, que configura erro sobre a pessoa, consideram- -se as características da vítima que se pretendia atingir, e não as da efetivamente atingida, conforme prevê o art. 20, § 3.°, do CE O laudo pericial é imprescindível para comprovar o estado puerperal? Apesar de não ser assunto pacífico, a posição majoritária entende que não é obrigatório. No aborto provocado sem o consentimento da gestante, a vítima é apenas o feto? Não. Haverá dupla subjetividade passiva: a gestante e o feto. Qual o crime do agente que provoca aborto culposo numa gestante? Como não existe aborto na forma culposa, o agente será responsa bilizado por crime de lesão corporal culposa. Se o feto for expulso com vida, haverá crime de aborto na forma tentada? Sim. Contudo, se vier a morrer posteriormente, haverá aborto consumado, desde que a morte guarde um nexo de causalidade com a prática do aborto. 156 DIREITO PENAL para concurso - POLICIA FEOERAL - Emerson Castelo Branco Anunciar produto abortivo configura aborto? Não. Haverá apenas contravenção penai (art. 20 do Decreto-Lei n. ° 3.688/1941 - Lei das Contravenções Penais). No aborto sentimental (ou humanitário), a gestante pode provocar em si mesma o aborto? Nâo. Somente o médico pode realizá-lo, por expressa disposição legal. Cumpre observar o seguinte: no aborto necessário, não haveria crime se a gestante o realizasse, porque se aplicaria o art. 24, do Código Penal. O consentimento da gestante para que terceiro provoque o aborto é crime comum? Não. Trata-se de crime classificado como de mão própria, porque somente a gestante pode consentir. No caso do aborto de gêmeos (desde que essa circunstância seja conhecida), qual a solução? Haverá dois crimes de aborto em con curso formal imperfeito (desígnios autônomos, isto é, o agente deseja dois resultados). No aborto necessário, o risco à vida da gestante precisa ser obriga toriamente atual? Não. Prevalece o entendimento segundo o qual o risco pode ser futuro, porque estaria a vida da gestante comprometida da mesma forma, caso não fosse realizado o aborto. Se a ação de matar for dirigida contra gêmeos que nascem unidos por partes do corpo (xÍfópagos),%ial a solução? Haverá dois ho micídios em concurso formal. Perfeito ou imperfeito? Imperfeito, porque os desígnios são autônomos. Afinal, ainda que queira atingir apenas um deles, o agente criminoso sabe que a destruição da vida de um terminará acarretando a destruição da vida do outro. Pode existir concurso entre os crimes de homicídio e de porte ilegal de arma de fogo? O assunto é dividido em duas correntes: l.a - Homicídio absorve o porte ilegal arma de fogo (princípio da consunção); 2.a - O homicídio não absorve o porte ilegal de arma de fogo, porque possuem objetividades jurídicas distintas. Algumas obras doutrinárias, citando decisões antigas de alguns tribunais espalhados pelo país, afirmam que a jurisprudência maíoritária é a Cap. 12 - CRIM ES CONTRA A PESSOA 157 favor da primeira corrente. Atualmente, de acordo com o STJ. não prevalece mais esse entendimento: “embora seja admissível, não se revela possível, in casu, a aplicação do principio da consunção, porquanto a conduta de portar a arma de um lado, e a tentativa de homicídio de outro, ao que se tem, decorrem de desígnios autônomos nâo se verificando a relação de meío-fim que autoriza a absorção de uma figura típica pela outra”.55 Em. síntese, apesar de o assunto ainda ser polêmico na doutrina e na jurisprudência, entendeu o STJ pela possibilidade do concurso. 12.2 DAS LESÕES CORPORAIS A r t 129 - Ofender a integridade corporai ou a saúde de outrem. Pena - detenção, de 3 meses a I ano. O objeto jurídico protegido é a incolumidade da pessoa em sua integridade física e psíquica. O objeto material é o corpo da pessoa. O sujeito ativo e o sujeito passivo podem ser qualquer pessoa. O elemento subjetivo é o dolo e a culpa. A consumação ocorre com a efetiva ofensa à integridade física ou corporal da vítima. É possível a forma tentada. O crime de lesão corporal consiste em ofender a integridade coiporal ou a saúde de uma determinada pessoa. O tipo penal protege tanto a ofensa á integridade física como também a ofensa à saúde da vítima. Exemplo: cortes, escoriações, queimaduras, lesões psicológicas. Classificação: a) comum - qualquer pessoa pode praticá-lo; b) simples - protege apenas um objeto jurídico; c) de dano - gera uma lesão concreta; d) de ação livre - pode ser praticado de qualquer forma; e) instantâneo - a ação é imediata, não se prolongando no tempo; £) material - consumação do crime somente ocorre com a ocorrência do resultado. <S STJ. HC 101.127/SP. DJe 10.11.200S. 158 DIREITO PEfrfAl para concurso - POLÍCIA FEDERAL -■ Emerson Castelo Branco NOTE! Em regra, não se pune Vauiqlesão, salvo quando esta for meio para o. cometlmentó dérputro delito (ex.rfr.3ude -pára receber seguro, es telionato previdenciário). Em determinados esportes, a lesão é um exercício regular de um direito (ex.: jiu-jitsu, capoeira, boxe), desde que sejam estritamente observadas as regras do referido esporte. Vários crimes contêm 0 termo “violência” como meio de execução (ex.: estupro, roubo), fazendo com que as lesões decorrentes desta sejam absorvidas, salvo quando 0 legislador dispõe de forma contrária. Segun do a jurisprudência, 0 corte de cabelo e da barba sem a anuência da vítima caracteriza crime de lesão corporal de natureza leve.16 Contudo, se 0 agente faz isso para atingir a honra da pessoa, restará configurado 0 crime de injúria real. QUESTÃO POTENCIAL DE PROVA! O crime pode ser praticado na forma omissiva? Consoante a lição de Mirabete, “o crime será pra ticado por omissão quando 0 sujeito tem 0 dever jurídico de impedir 0 resultado (art. 13, § 2.°), como no caso de ‘privação de alimentos a um dependente’. Pode ainda ser cometido por ação indireta, como no caso em que 0 agente atrai a vítima ao local em que será ferida por animal ou qualquer meio mecânico.”17 Algumas açSes sem 0 propósito de lesionar constituem apenas con travenção penal de vias de fato (ex.: sacudir uma pessoa ou empurrar seu rosto). 12.2,1 Lesão corporal grave * § 1.® Se resulta: 1 - incapacidade para as ocupações habituais, por mais de 30 (trinta) dias; Atividade habitaal é qualquer ocupação rotineira, do dia a dia da vítima, como andar, trabalhar, praticar esportes etc. A lei não se refere apenas à incapacidade para 0 trabalho e, por isso, crianças e aposentados também podem ser sujeito passivo. Classifica-se doutrinariamente como '* SMANIO, Gtanpaolo Pogglo. Direito Penal - Parte Sspeclal, 5.* ed„ São Pauto: Atlas, 2002, p, 38. 17 MIRABETE, Júlio Fabbrtrtí. Manual de Direito Penal, 22? ed., São Paulo: AtSas, 2004, p. 106. Cap, 12 - CRIMES CONTRA A PESSOA________________________159 “crime a prazo”, porque somente se aperfeiçoa depois de preenchido um determinado lapso temporal. II - perigo de vida; Perigo de vida é a possibilidade grave e imediata de morte. Deve ser um perigo efetivo, comprovado por perícia médica, onde os médicos devem especificar qual o perigo de vida sofrido pela vítima. IH - debilidade permanente de membro, sentido ou função; Debilidade consiste no enfraquecimento da capacidade funcional. Para que- caracterize esta hipótese de lesão grave é necessário que a recuperação seja incerta. IV - aceleração do parto: Só é aplicável quando o feto nasce com vida, pois, quando ocorre aborto, o agente responde por lesão gravíssima. É necessário que o agente saiba que a mulher está grávida. Nesses casos, a pena passa a ser de reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos. 12,2.2 Lesão corporal gravíssima § 2 ,° Se resulta: I - incapacidade permanente para o trabalho. A incapacidade para o trabalho não pode ser temporária. Permanente significa duradoura, sem previsão de cessação. A incapacidade, esclarece Rogério Sanches, “deve ser para o exercício de qualquer espécie de trabalho”.18 E a posição amplamente majoritária. Portanto, se o agente ficou incapacitado apenas de exercer a sua ativida de específica anterior, haverá lesão corporal grave. Para ser gravíssima, somente se a incapacidade for para qualquer trabalho. ,s CUNHA, Rogério Sanches. Direito Penai - Parte Especiai - CokçSo Ci$ncias Criminaíi V. 3 ,1 ? Ed„ São Paulo: Revista dos Tribunais, p. 51. 160 DiREiTO PENAL para concurso - POLlCIA FEDERAL - Emerson Castelo Branco il - enfermidade incurável, É a doença que gera efeitos patológicos permanentes. O termo “incu rável” deve levar.era consideração a medicina existente no momento. QUESTÃO POTENCIAL DE PROVA! O tema da AIDS é contro vertido. Três são as correntes sobre o tema. Para a primeira, a transmissão intencional caracteriza lesão gravíssima. A segunda entende que, com ou sem a efetiva transmissão, o crime seria o de tentativa de homicídio, já que a doença tem a morte como conseqüência. A posição majoritária era a segunda, porque quem pratica essa ação, ou quer diretamente a morte da pessoa (dolo direto), ou assume o risco de produzir o resultado morte (dolo eventual). Importante observar que o agente deve ter conhecimento da dòença; caso contrário, não haveria o dolo. A segunda corrente (antes majoritária) é a orientação do Superior Tribunal de Justiça: “Em havendo dolo de matar, a relação sexual forçada e dirigida à transmissão do vírus da AIDS é idônea para a caracterização da tentativa de homicídio”.19 A terceira corrente (majoritária) consiste na posição do Supremo Tribunal Federal, tendo julgado recentemente que a transmissão do vírus da AIDS por agente que mantém relação sexual com parceira não configura mais crime de tentativa de homicídio. O agente comete o crime de perigo de contágio de moléstia grave (art. 131 do CP). Qual a justificativa do STF? Não teria cabimento se falar de dolo eventual, porque existe tipo penal específico descrevendo referida situação,20 lli - perda o l í inutilização de membro, sentido ou função. A perda é a destruição do membrg: Na inutilização, o membro con tinua existindo, mas perde completamente a sua capacidade. NOTÉJ A perda de parte do 'mqylmèntp. é'.lesão, grave,m as. a j3efdá'<ie,: todo movimento é lesão gravissirná. ' / ' ■ — v: ■■■■■■>■' IV - deformidade permanente. É o dano estético suficiente para causar humilhação, vexame. Leía~se o termo “permanente” como irreparável com o passar do tempo. 1S STJ, HC 9.378/R5, 6* Turma, DJ 23.10.2000. “ STF, HC 98.712, 05.10,2010. Cap. 12 - CRiMES CONTRA A PESSOA 161 V - aborto. Ocorre na hipótese em que o agente quer apenas lesionar a gestante, mas termina por culpa provocando o aborto nesta (figura preterdolosa); caso contrário, se fosse doloso, haveria crime autônomo de aborto. NOTE! O agente deve saber que a vitima está grávida, para que não ocorra punlçâo decorrente dé responsabilidade objetivai .■■■ :■ ■■ Na lesão gravíssima, a pena será de reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos. No caso de cirurgia transexual, haverá o consentimento da pessoa, nâo havendo crime se a cirurgia foi bem sucedida e lhe trouxe satisfação. 12,2,3 Lesão corporal seguida de morte § 3.° Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o agente não quis o resultado, nem assumiu o risco de produzi-lo: Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 12 (doze) anos. Trata-se do denominado crime preterdoloso, em que o agente quer apenas lesionar a vítima (dolo no antecedente) e acaba provocando sua morte de forma não intencional, mas culposa (culpa no conseqüente). Exemplo; O agente delitivo desfere um soco no rosto da vítima, com a intenção apenas de lesioná-la, momento em que esta se desequilibra, cai, sofre um traumatismo craniano e tem sua vida suprimida. NOTE! Qual a diferença entre a lesão corporal séguldp dé morte e o : crirnè de hoipK^diò^:'.Mââtev.úítiirio^; a j ; . ■ irKiatar);' 3Ó-';<Mntr£rio;;d_o; primeiro,-, iém <j£é «âstár prgsentè apenas, a vontade ;; í^mlphatXíÍoto'rd$^SQfê$óbr^nslo;üritf mesmo previsto,-. - . , , ill.. . . y. . .; • ^ . Se a ação do agente criminoso demonstra que teve previsão do re sultado morte, não haverá lesão corporal seguida de morte, e sim crime de homicídio com dolo eventual, É o que ocorre, por exemplo, quando várias pessoas, por uma galhofada (brincadeira) atiram gasolina sobre alguém que se encontra dormindo e nele ateiam fogo, provocando sua morte. No caso houve homicídio doloso eventual. Por ser preterdoloso, o crime de lesão corporal seguida de morte não admite a forma tentada. 162 DSREiTO P EH A l para concurso - POLlCIA FEDERAL - Bmerson Castelo Bmnco NOTE! Se o agente comete apenas vias de fato e provoca a morte da vítima, responde por homicídio culposo. NSo há como ser lesão corporal seguida de morte,-, porque a s . via? de fato, não se constituem em lesão corporal (ex.: sacudir uma pessoa, provoca rido-lhe a morte). 12.2.4 Lesão corporal privilegiada (§ 4.°) As causas de privilégio do crime de lesão corporal são idênticas às do crime de homicídio: a) relevante valor moral; b) relevante valor social; c) violenta emoção, logo após a injusta provocação da vítima. À diminuição da pena somente se aplica às lesões dolosas, sejam de natureza leve, grave, gravíssima, ou seguida de morte; isto é, não se aplica à lesão corporal culposa, 12.2.5 Substituição da pena (§ 5.°) Se as lesões corporais forem leves, o júiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço, ou substituí-la por multa, nas seguintes hipóteses: a) Relevante valor social, ou relevante valor moral, ou violenta emoção, íogo após a injusta provocação da vitima (inciso I); b) se as lesões são recíprocas (inciso II). .nj. 12.2.6 Lesão corporal culposa {§ Se a íesão é culposa, a pena será de detenção, de 2 (dois) meses a 1 (um) ano. Todos os comentários feitos para o crime de homicídio culposo servem para o crime de lesão corporal culposa. 12.2.7 Causa de aumento de pena O § 7,°, do art. 129, do Código Penal, estabelece que a pena da lesão culposa será aumentada em um terço quando o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, quando foge para evitar a prisão em flagrante, quando não procura diminuir as conseqüências de seu ato e, Cap. 12 ~ CRIMES CONTRA A PESSOA 163 por fim, quando o crime resulta da inobservância de regra técnica de arte, profissão ou ofício. 12.2.8 Perdão judicial O § 8.°, do art. 129, do Código Penal, estabelece que se aplique à lesão culposa o instituto do perdão judicial, quando as conseqüências do crime tiverem atingido o agente de forma tão grave que a imposição da pena se tome desnecessária, Exemplo: mãe, por desatenção (forma de negligência), provoca lesãO' corporal em seu filho. 12.2.9 Violência doméstica A Lei 11.340, de 7 de agosto de 2006 (Lei Maria da Penha), alte rou algumas disposições do crime de lesão corporal com o objetivo de tomar mais rigorosa a responsabilidade penal dos agentes que praticam violência contra a raulher. Primeiramente, a pena cominada em abstrato para a conduta prevista no § 9.° do art. 129 foi alterada de 6 (seis) meses a 1 (um) ano para 3 (três) meses a 3 (três) anos. O § 9.° foi acrescido à redação original do Código Penal, justamente com o objetivo de coibir especificamente a denominada violência do méstica. Com a nóva redação, o legislador criou uma forma qualificada do crime de lesão coiporal dolosa leve, quando esta for praticada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem conviva ou tenha convivido; ou, ainda, prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade. Já o § 10.° estabelece aumento de pena para as lesões de natureza qualificada pelo resultado - lesão corporal grave, gravíssima e seguida de morte —, quando existir violência doméstica, A Lei Maria da Penha acrescentou ainda ao art. 129 o § 11.°, assim disposto: “Na hipótese do § 9.° deste artigo, a pena será aumentada de um terço se o crime for cometido contra pessoa portadora de deficiência” 12.2.10 Questões comentadas (Agente da Polícia Federal 2004 - Prova azul - CESPSU nB ) Vítor desferia duas facadas na mão de Joaquim, que, em conseqüência, passou a ter debilidade permanente do membro. Nessa situação, Vítor praticou crime de lesão corporal de natureza grave, classificado como crime instantâneo. 164 DIREITO PENAL para concurso - P O liC iA FEDERAL - Emerson Castelo Branco Resposta; Certo. O crirna de lesão corporal é erfme instantâneo, de modo qua pouco importa para a sua consumação o tempo e a duração da lesão. Taí aspecto, ou seja, a análise da permanência da lesão ou sua duração prolongada, importa apenas para a incidência das quaíiflcadoras, no caso da questão, a debilidade permanente de um membro quaíifíca o crime para lesão corporal d© natureza grave. {CESPE/UnB 2006) Admite-se no, Código Penat (CP) brasileiro, a lesão na modalidade levíssima. Resposta: Errado. Existem somente três modalidades de lesões corporais no Código Penal brasileiro: leves, graves e gravíssimas. (CESPE/UnB 2006} A tesão corporal é de natureza grave caso resulte em incapacidade da .vítima para as ocupações habituais, por mais de um mês. Resposta: O inciso !, do § 1.® do art. 129, não faz referência a meses, classificando como grave a tesão corporal que resulte em incapacidade para as ocupações habituais por mais de trrnia dias, (CESPE/UnB 2006) Se a lesão for cuiposa, a ação panai fica condicionada à representação do ofendido, adrnítindo-se, ainda, a possibilidade de concessão de perdão judiciai, nos termos da iei penai vigente. Resposta: Certo. Consoante o art. 88 da Lei n.° 9.099/1995 (Lei dos Juizados Especiais Criminais de Pequenas Causas), as íesSes corporais nas modalidades teve e culposa se procedem mediante representação do ofendido, possuindo, portanto, natureza de ação penal pública condicionada; enquanto as ÍesSes graves, gravíssimas e seguida de morte serão incondicionadas. Quanto ao perdão judiciai, o § S.°, do art, 129, do Código Penal, autoriza sua aplicação à lesão corporal culposa, quando as conseqüências do crime tiverem atingido o agente de forma tão grave que a imposição da pena se tome desnecessária. (DPU Defensor Público da União CESPE/UnB 2010) Para a configuração da agravante da lesão corporal de natureza grave em face da incapacidade para as ocupações habituais por mais de trinta dias, não á necessário que a ocupação habituai seja laborativa, podendo ser assim compreendida qualquer atividade regularmente desempenhada pela vítima. Resposta: Correto. As ocupações habituais constituem todo tipo de atividade rotineira de uma pessoa, e não apenas ocupação laborativa. Indusive, atividade relacionada ao lazer. 12.2.11 Questões CESPE/UnB 1 . (Agente - Polícia Civil- RR- 2003 - CESPE/UnB) João, ao ver sua ex-namorada sair do cinema acompanhada de Francisco, empunhou uma faca peixeira e golpeou as costas de Francisco, ocasionando-lhe lesões corporais. Nessa situação, o instrumento empregado para o crime deverá ser submetido a exame pericial para verificar sua natureza e eficiência. 2. (Delegado da Poiícia Federal 19 9 7 - CESPE/UnB) O perdão judicial pode ser aplicado ao crime de lesões corporais dolosas simples. 3. (Delegado - Polícia Civil* RR - CESPE/UnB) Considere a seguinte situação hipotética. Durante um entrevero, Carios desferiu um golpe de facão contra a mão de seu contentor, que veio a perder dois dedos. Nessa situação, Carios praticou o crime de lesão corporal de natureza grave, por resultar debilidade permanente de membro. Cap. 12 - GRIMBS CONTRA A PESSOA 165 4. (Técnico Judiciário - TJRR - 2006- CESPE/UnB) A lesão corporal grave, da qual resulta incapacidade por mais de trinta dias, somente pode ser reconhecida com base nas declarações da vítima ou na confissão do réu, sem que haja necessidade de exame pericial complementar. 5. (Assístâncta Judiciária do Distrito Federal - 2006 - CESPE/UnB) Se, no laudo de exame de corpo de delito referente a tesões corporais, nas respostas dadas aos quesitos, o perito afirmou que a vitima experimentou forte dor física e que a referida dor causou crise nervosa, restará caracterizado o crime de tesão corporal grave, nos termos do dispositivo pertinente do Código Penal. 12.2.12 DICAS IMPRESCfNDÍVEIS ÜÍSe a lesão corporal incide sobre pessoa viva, com o intuito de remo ção de órgãos, haverá crime de lesão corporal previsto no art. 129 do Código Penal? Não. Haverá crime específico de remoção criminosa de órgãos, previsto na Lei n.° 9,434/1997. ttísaíyjflíMK-.iííLiíji.v. No caso da íesão corporal grave pela impossibilidade do exercício das ocupações habituais por mais de 30 dias, a atividade deve ser lícita? Sim. Dessa forma, não haverá crime, por exemplo, se o traficante lesionado deixou de freqüentar a “boca de fumo” por mais de 30 dias. Entretanto, a atividade não precisa ser moral (ex.: haverá lesão corporal grave se uma mulher de programa deixou de exercer suas atividades por mais de 30 dias). se o nascimento ocorre, mas logo depois o recém-nascido falece, qual a solução? A orientação majoritária entende que haverá lesão corporal de natureza gravíssima pela provocação do aborto. O princípio da insignificância pode ser aplicado nos crimes de lesão corporal? Sim. Trata-se da orientação majoritária, essencialmente quando as lesões causadas foram irrelevantes penais.21 Ü S r ^ n ^ T corporal leve, nas situações da Lei Maria da Penha, a natureza do crime é de ação penal pública condicionada ou M STJ, HC 66,853/DF) 27.11.2006. 166 DIREITO PENAL para concurso - POLÍCIA FEDERAL - Emerson Castelo Brmco incondicionada? O Superior Tribunal de Justiça vem se orientando no sentido de ser crime de ação penal pública condicionada à representa ção, mesmo contra o texto expresso da Lei n.° 11.340/2006, excluindo a aplicação da Lei n.° 9.099/1995. 12.3 DA FERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE 12.3.1 Perigo de contágio venéreo Art, 130 - Expor alguém, por meio de relações sexuais ou qualquer ato libidinoso, a contágio de moléstia venérea, de que sabe ou deve saber que está contaminado: Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, ou multa. ã I.° Se a intenção do agente é transmitir a moléstia, a pena é mais grave; Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, 5 2? Somente se procede mediante representação. O bem jurídico protegido é a saúde da vítima. O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa. O sujeito passivo é a pessoa com quem o agente pratica o ato sexual. Mesmo a garota de programa pode ser vítima desse crime. O elemento subjetivo do tipo é o dolo (direto ou eventual), isto é, a vontade de manter a relação sexual, expondo a saúde da pessoa a perigo. A consumação ocorre no momeníç, da prática do ato sexual, ainda que a vítima não seja contaminada. À tentativa é possível quando o agente quer manter a relação sexual e não consegue por circunstâncias alheias à sua vontade. Esse crime caracteriza a situação do agente que mantém relações sexuais ou qualquer outro ato libidinoso com a vítima, expondo-a ao perigo de contágio de uma doença sexual. Tomando o agente todos os cuidados para evitar a transmissão da moléstia venérea, não se configura o delito. É crime de perigo individual, porque atinge a uma ou mais pessoas determinadas.22 n MIRABETE, Júlio Fabbríni, Manual de Direito Pena!, 22“ ed, SSo Paulo: Atlas, 2004, p. 122. Cap. 12 - CRIMES CONTRA A PESSOA 167 12.3.2 Perigo de contágio de moléstia grave Art. 1 3 1 ~ Praticar, com o fim de transmitir a outrem moléstia grave de que está contaminado, ato capaz de produzir o contágio: Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos. Objeto jurídico: saúde da pessoa humana. Sujeito ativo; qualquer pessoa. Sujeito passivo: qualquer pessoa, desde que ainda não contaminada. O elemento subjetivo do tipo é o dolo, caracterizando a vontade do agente de transmitir a moléstia. A. consumação ocorre no momento da prática do ato, independen temente da efetiva transmissão da doença (crime formal). Ê possível a tentativa (conatus), quando, iniciada a execução, o agente é impedido por circunstâncias alheias à sua vontade. Consiste na prática de qualquer ato (crime de ação livre) tendente a transmitir uma doença grave, pouco importando se incurável ou não, desde que contagiosa. Na hipótese de morte, haverá o crime de lesão corporal seguida de morte, previsto no § 3.°, do art. 129, do CP, sendo o delito em análise subsidiário.23 Haverá crime impossível se o agente não está contaminado, supondo o contrário, ou se a pessoa que o agente quer contagiar já for portadora da doença, não sendo possível sequer sua agravação. Também haverá crime impossível se o ato praticado não é hábil a contagiar, apesar de ser transmissível a moléstia.24 12.3.3 Perigo para a vida ou saúde de oatrem Art, 132 - Expor a vida ou a saúde de outrem a perigo direto ou iminente: Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1{um) ano, se o fato não constitui crime mais grave. Parágrafo único, A pena é aumentada de um sexto a um terço se a exposição da vida ou da saúde de outrem a perigo decorre do trans porte de pessoas para a prestação de serviços em estabelecimentos de quaiquer natureza, em desacordo com as normas legais. s JESUS, Darnãsio E. de. Direito Penal - 2.° Volume Parte Especial. 27? ed, Ed. Saraiva São Pauto, 2005, p. 172. ” MIRABETE, Júlio Fabbrini. Manual de Direito Penal, 22.® ed, São Pauio: Atlas, 2004, p, 128. 168 DIREITO PENAI para concurso - POLiCJA FEDERAL ~ Emerson Castelo Branco O objeto jurídico protegido é a vída e a saúde da pessoa humana. Sujeito ativo e sujeito passivo: qualquer pessoa. O elemento subjetivo é o dolo de perigo em relação a pessoa(s) determmada(s). Consuma-se no momento da prática do ato que resulta em perigo concreto. A tentativa é possível. Consiste na ação de expor a vida ou a saúde da vítima a perigo. Por ser de ação livre, pode ser executado de qualquer forma, NO TÊrfe' crime subsidiário! Dessa' corifigujar 'criçrte., mais' grave, não. se. aplica' esse dispositivo penai, mas sim ò delito màí s' ' grave.4 i , r ' -Nv"' / ' -'.V . - É crime de perigo concreto, comum, doloso, de ação livre, comissivo ou omissivo, simples, instantâneo, 12.3.4 Abandono de incapaz A rt, 133 - Abandonar pessoa que está sob seu cuidado, guarda, vigi lância ou autoridade e, por qualquer motivo, incapaz de defender-se dos riscos resultantes do abandono; Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos. § 1.° Se do abandono resulta lesão corporal de natureza grave: Pena - reclusão, de um a cinco anos. § 2.° Se resulta a morte: Pena - reclusão, de quatro a doze anos. Aumento de pena § 3.° As penas cominadas neste artigê' aumentam-se de um terço: í - se o abandono ocorre em lugar ermo; ii - se o agente é ascendente ou descendente, cônjuge, irmão, tutor ou curador da vítima. II! - se a vítima é maior de 60 (sessenta) anos. Objetividade jurídica: a segurança e a saúde do incapaz. Sujeito ativo é a pessoa que tem o dever de cuidado, vigilância, guarda ou autoridade (crime próprio). Sujeito passivo é o incapaz (ex.: menor de idade, doente mental). B NORONHA, Edgar Magalhães. Direito Panai. 23,“ ed. V2 São Paulo: Saraiva, 2001, p. 95. Cap. 12 - CRiMES CONTRA A PESSOA 169 0 elemento subjetivo é o dolo de “abandonar” o incapaz. Não se admite a forma culposa. O crime se consuma com o abandono do incapaz em situação de perigo, independentemente da produção de um dano. A tentativa é possível. Consiste na conduta de se afastar de incapaz sob sua responsabilidade, deixando-o sem assistência e em situação de risco; isto é, o responsável se desobriga de seu dever de cuidado em relação ao incapaz, colocando-o em perigo. Pode ser praticado por uma ação (ex,: abandonar o incapaz numa rua) ou por omissão (ex..* abandonar o incapaz na residência e desaparecer do local). As penas são qualificadas se gerar lesão corporal de natureza grave (um a cinco anos) ou morte (quatro a doze anos). As penas são aumentadas de 1/3 (um terço) se a pessoa é deixada em local ermo, ou se o agente é ascendente ou descendente, cônjuge, irmão, tutor ou curador da vítima; ou se a vítima é maior de 60 (ses senta) anos. Esta última hipótese foi acrescentada pelo Estatuto do Idoso (Lei n.° 10.741/2003). É indispensável para a caracterização do crime que a vítima fique em situação de perigo concreto, não se podendo presumir a ocorrência do risco, Dessa forma, não haverá o delito em comento se o responsável deixa o incapaz em segurança (ex.: deixar uma criança num órgão do Estado destinado ao amparo desta).2* De acordo com o pensamento de Heleno Cláudio Fragoso, o aban dono pode ser temporário ou definitivo. Interessa apenas saber se existiu um espaço de tempo juridicamente relevante, capaz de pôr em risco o bem jurídico tutelado.37 12.3,5 Exposição ou abandono de recém-nascido Art. 134 - Expor ou abandonar recém-nascido, para ocultar desonra própria: Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos. § 1.® Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave: Pena - detenção, de um a três anos. ã 2.® Se resulta a morte: Pena - detenção, de dois a seis anos. u MIRABETE, Júlio Fabbrini. Manual de Direito Penal, 22.a ed., São Paulo: Atlas, 2004, p. 132. 17 FRAGOSO, Heleno Cláudio. Lições de Direito Penal: Parte Espeeial, 4.a ed, Sâo Paulo: Forense, 1980, p. 171, 170 DIREITO PENAL para concurso — POLÍCIA FEDERAL - Emerson CastQh Br&nco Objeto jurídico: saúde e segurança do recém-nascido, O sujeito ativo é a mãe ou o pai, para ocultar gravidez adulterina (crime próprio). O sujeito passivo é o recém-nascido. O elemento subjetivo é o dolo de “abandonar”. Neste delito, o legislador estabeleceu um especial fim de agir: “para ocultar desonra própria”. Trata-se do dolo específico (ou elemento subjetivo do injusto). Essa honra refere-se à boa aparência social da pessoa. NOTE! Se o abandono for por razoes econômicas (ex.: pobreza), haverá o abandono de incapaz;,do art, 133 do CP. ■ A consumação ocorre com o abandono do recém-nascido, indepen dentemente da ocorrência de dano. A conduta consiste em abandonar o recém-nascido, desobrigando-se do dever de cuidado em relação a este, para manter a reputação, pre servando uma condição de “status social". As penas são qualificadas se gerar lesão corporal de natureza grave (um a três anos) ou morte (dois a seis anos). Qual, então, a diferença entre o crime de abandono de recém-nascido qualificado com resultado morte para o crime de homicídio? No homicídio, o dolo é de “matar”; no crime de abandono, o agente deseja apenas “abandonar, porém sobrevêm o resultado morte não querido, nem previsto (crime preterdoloso). 12.3.6 Omissão de socorro Art, 135 - Deixar de prestar assistência, quando possível fa2ê-)o sem risco pessoal, à criança abandonada oufèxtraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparado ou em grave e Iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública.. Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. Parágrafo único - A pena é aumentada de metade, se da omissão resulta lesão corporal de natureza grave, e triplicada, se resulta a morte. Objeto jurídico: o dever de solidariedade para a proteção da vida e da saúde, que deve existir entre as pessoas. O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa que deixa de prestar socorro (crime comum), O sujeito passivo é a pessoa inválida, ou ferida, ao desamparo, ou em grave e iminente perigo, ou ainda a criança abandonada ou perdida. Cap. 12 - CRIMES CONTRA A PESSOA 171 O elemento subjetivo é o dolo, direto ou eventual. Não existe forma culposa. A consumação ocorre no momento da omissão. É inadmissível a forma tentada, pois se trata de crime omissivo puro (ou próprio). O crime pode ocorrer de duas maneiras: a) Deixar de prestar socorro imediatamente, quando possível fazê-lo; b) Não podendo prestar o socorro pessoalmente, deixar de solicitar o auxílio da autoridade pública. E se várias pessoas negam assistência à vítima? Todos respondem pelo crime. Nas exatas palavras de Ney Moura Teles: “Havendo várias pessoas obrigadas a prestar socorro, porque conscientes do perigo por que passa a vítima, todas têm o mesmo dever, daí que, se omitirem, responderão pelo crime.” E se apenas um presta socorro, havendo várias pessoas que poderiam tê-lo feito? Não há crime, uma vez que a vítima foi socorrida e, em se tratando de obrigação solidária, o cumprimento do dever por uma delas desobriga todas as demais.28 Não desfigura o crime a circunstância de não consentir a vítima em ser socorrida, porque, no caso, trata-se de bem indisponível. Não há forma culposa. Se o agente, ensina Ney Moura Teles, “oraítiu- -se por negligência, por imaginar que a vítima não estava em perigo, não era inválida, nem estava ferida, ou que não se tratava de uma criança, errando, ainda, sobre o estado de perdida ou de abandonada, crime não terá existido por erro de tipo. Também não haverá dolo, por erro de tipo, se o agente imagina a possibilidade de sofrer risco pessoal caso realize a conduta exigida pela norma."25 Existe ainda a omissão qualificada, prevista no parágrafo único do art. 135, A pena é aumentada de metade, se da omissão resulta lesão corporal de natureza grave; e triplicada, se resulta a morte. NOTE! Sé a ómissêo -de .socorro ocorrer"èm face de pessoa idosa, pelo priricfpÍo:da especialidade, apíiqa^se a norma penai do .art, §7- da n f 10.741/2003 (Estatuto do idoso): "éfe/xar de prestar assistência ao idoso, w COSTA JR„ Paulo José da. Direito Penal - Curso Completo, 8.3 ed., São Paulo: Saraiva, 2008, p. 221. w TELES, Ney Moura. DíwltQ Penal, São Paulo.- Atlas, 2004, p. 244. 172 DIRBTO PENAI para concurso ~ POÜCIA FEDERAL - Emerson Casteío Branoo quando possível fazè-lo sem risco pessoal, em situação de iminente périgo, ■ ou repusar, reiardar ou dificultar sua assistência à saúde, sem justa causa, ^'pèér^n^s^t^ çaé&g^soóomhfà Ò'parágrafo t ‘â n & V < f è £ f ê ' ' â l s p t í s ^ y ò E o art. 100 , no inciso ;• .eonténríou.tró: tlpp? póitâv-içuiean retardar,aü^dffkluftàe. "atendimento ou deixar de prestar assistòncia_à saúda, sem justa causa, ■ á pessoa idosa". - ' ’ ", 12.3.7 Maus tratos A rt. 136 - Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua autori dade, guarda ou vigilância, para fim de educação, ensino, tratamento ou custódia, quer privando-a de alimentação ou cuidados indispensáveis, quer sujeitando-a a trabalho excessivo ou inadequado, quer abusando de meios de correção ou disciplina. Pena - detenção, de dois meses a um ano, ou muita. § 1 * - Se do fato resulta íesão corporal de natureza grave: Pena - reciusão, de um a quatro anos. § 2? - Se resuita a morte: Pena - reclusão, de quatro a doze anos, § 3.° - Aumenta-se a pena de um terço, se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (catorze) anos. Objeto jurídico: A vida ou a saúde da pessoa, O sujeito ativo deve ser pessoa que possui a guarda, vigilância ou autoridade em relação à vítima (crime próprio). O sujeito passivo deve ser pessoa sob a guarda, òu autoridade, ou vigilância (ex.: pais e filhos, tutor e tutelado, curador e curatelado, en fermeiro e paciente). O elemento subjetivo é o dolo, duíko ou eventual. Não existe forma culposa. Será qualificado se do fato resulta lesão corporal de natureza grave (pena de um a quatro anos), ou se resulta morte (pena de quatro a doze anos). Trata-se, pois, de crime de ação vinculada, cuja caracterização de pende da ocorrência de uma das situações descritas na lei Consiste em expor a vida ou a saúde de pessoa sob sua autoridade, guarda, ou vigilância, por meio de uma das seguintes condutas: a) privação de alimentos ou de cuidados indispensáveis; b) sujeição a trabalhos excessivos ou inadequados; c) abusar dos meios de disciplina ou correção. Cap. 12 - CRIMES CONTRA A PESSOA 173 A consumação ocorre com a exposição a perigo, independentemen te da ocorrência de dano. A tentativa somente é possível nas condutas comissivas (“fazer”). NOTEI Qual.a e.de Jtortura? A Lei tu?9.455/1997 ttefintô©s,crimés/de.tòrtgra.'é^ ;déritré;elés-,^'siéàuin- te figura típica:- ^súbmeteralguém '^ sob’sua guarda, pòder ou autoridade, 'con^ émpp&çiQ. dé- viú!êriçj§nqm gi^yô;',aips^Qà,^ :íbts^oHsófiliyiBnto: físico . ou: 'm n & t; 'cp0 p :'/o/ma- de $a- pafêiçir. prev-eM vo"(art/1 .V I I ) . v' : ' y • . . . . . , . . - . . Apesar de as duas normas possuírem pontos semelhantes, a começar pela relação entre criminoso e vítima e pelo sofrimento físico ou mental causado, no crime de tortura, o resultado deve ser um intenso sofrimento físico ou mental, ao passo que no crime de maus-tratos o resultado é tão somente a situação de perigo decorrente do abuso dos meios corretivos ou disciplinares. Principalmente, o que os distingue, explica Ney Moura Teles: “é o elemento volitivo. É a vontade do agente. Na tortura, sua finalidade é castigar por castigar ou para prevenir, enquanto o agente do crime de maus-tratos, embora abusando dos meios que tem a seu dispor, age com a intenção de corrigir ou disciplinar, para os fins de educação, tratamento, ensino ou custódia. Naquela, o dolo é de dano, aqui é de perigo.”30 12.4 CRIME BE RIXA Art. 137 - Participar de rixa, salvo para separar os contendores: Pena - detenção, de quinze dias a dois meses, ou muita. Parágrafo único - Se ocorre morte ou lesão corporal de natureza grave, aplica-se, pelo fato da participação na rixa, a pena de detenção, de seis meses a dois anos. Objeto jurídico: “O crime de rixa tem dupla objetividade jurídica. A principal é a vida e a incolumidade pessoal, enquanto a ordem pública é a secundária.”31 w TELES, Ney Moura. Direito Penal, São Paulo: Atlas, 2004, p. 251-252. 31 ARANHA RLHO, Adaibesto José Queiroz Teiles de Camargo. Direito Penal - Crimes contra a Pessoa - Arts. 121 a 154, São Paulo: Atlas, 2005, p. 153. 174 DlfiEITO PENAL para concurso - POLÍCIA FEDERAL - Emerson Castelo Branco Sujeito ativo e passivo, É crime de concurso necessário, isto é, sua caracterização exige a participação de, no mínimo, três pessoas, deno minados “rixosos”. O elemento subjetivo é o dolo. Não se admite a forma culposa, A consumação ocorre com a efetiva troca de agressões. A tentativa é possível. Rixa é a luta desordenada entre contendores. Todos lutam entre si, de tal forma que é impossível estabelecer quem iniciou a agressão. Agridem-se mutuamente, num grande tumulto, perturbando a ordem e a convivência pacífica. Se ocorre morte ou lesão cciporal de natureza grave, aplica-se, pelo fato da participação na rixa, a pena de detenção, de seis meses a dois anos (parágrafo único, art. 137). Não há crime na conduta daquele que ingressa na luta apenas para separar os lutadores, já que inexiste dolo nessa hipótese. Mirabete esclarece que “não importa que um ou mais dos participantes não seja identificado, respondendo normalmente os demais. Exclui-se. porém, do número mínimo os que vão separar os contendores, já que não praticam aqueles um fato típico.’'32 NOTE! Não importa o momento em que o agente ingressou na rixa, se no .começo desta, ou durante, ou no fim; se teve participação, responderá penalmente. Conceito: Rixa é a luta desordenada entre contendores. Todos lu tam entre si, de tal forma que é impossível estabelecer quem iniciou a agressão. Agridem-se mutuamente, num grande tumulto, perturbando a ordem e a convivência pacífica. ^ QUESTÕES POTENCIAIS DE PROVA! l.a - Pode ser cometido sem corpo a corpo - Apesar de não exigir o contato físico (corpo a corpo), o crime de rixa pressupõe a violência física; como, por exemplo, o arremesso de pedras ou qualquer tipo de objeto. Somente agressões verbais, mesmo intensas, não o configuram, 2J- - Grupos rivais - A mera agressão recíproca entre grupos rivais, com a identificação dos membros, não configura rixa. ” MIRABETE, Júlio Fabijrini. Manual de Direito Penal ~ V, II, 22,a ed., São Paulo: Atlas, 2004, p. 148. Cap. 12 - CRIMES CONTRA A PESSOA 1TS 3.a - Na rixa qualificada pelo resultado morte, se o autor for identifi cado, qual a solução? Segundo a doutrina amplamente majoritária, deverá responder pelo crime de rixa qualificada em concurso com o crime de homicídio. A corrente minoritária defende que o agente responda por rixa simples era concurso com homicídio, em face do princípio do non bis in idem (ninguém pode ser punido duas vezes por um mesmo fato). 4 , * - E o participante que sofre a lesão grave, responde também pela forma qualificada do crime de rixa? Segundo entendimento majoritário, ele não se exime da pena qualificada. 5.8 - Participante menor ou doente mental - .Para configurar o número mínimo de três participantes, estão incluídos aqueles que são menores de idade ou doentes mentais. 12.4.1 Questões comentadas {CESPE/UnB 2004) Bernardo, trafegando com seu veículo em estrada de pouco movimento, verificou que, às margens da rodovia, encontrava-se, caída, uma vítima de atropelamento. Tendo Importante reunião de trabalho a se' iniciar dentro de meia hora, não prestou assistência à vitima. Terminada a reunião, arrependeu-se, voitou ao locai onde a vitima 3e encontrava e providenciou sua condução para um hospital, Nessa situação, a conduta posteriormente praticada n io elide a responsabilidade penal de Bernardo, que poderá responder peio crime de omissão de socorro. Resposta: Correto. O crime de omissão de socorro é omlsslvo puro, consumando-se no exato momenío da omissão, independentemente de qualquer resultado. Desse modo, Bernardo responderá peto crime de omissão de socorro, visto que o mesmo se consumou no momento em que ele deixou de agir e foi para a reunião. (CESPE/UnB 2005} Relativamente ao delito de rixa, previsto no Código Penal brasileiro, a doutrina e a Jurisprudência dominantes entendem não haver rixa quando a posição dos contendores é definida. Resposta: Certo. Não haverá rixa quando for possível precisar claramente dois grupos rivais brigando eníre si, sendo possível a identificação dos causadores das agressões. Portanto, a doutrina e a jurisprudência majoritária apontam no sentido de nèio se caracterizar o deiito de rixa quando a posição dos contendores está definida. (CESPE/UnB 2003) Se três indivíduos iniciarem luta desordenada, agindo uns contra os outros e ocasionando lesões corporais recíprocas, e dois deles forem comprovadamente inlmputãveis, tai comprovação impossibilitará a configuração do delito de rixa. Resposta: Errado. A rixa é crime de concurso necessário de no minlmo 3 (três) pessoas, não Importando nesse cômputo eventuais inimputávefe, ou pessoas não identificadas, ou ainda pessoas mortas na briga. É a orientação da doutrina e da jurisprudência majoritária. 12.4.2 Questões CESPE/UnB 1. (Escrivão - Polícia Civil/ES 2006 - CESPE/UnB) O crime de rixa, com tipificação expressa no código penal, exige, no mínimo, a participação de seis pessoas, sendo irrelevante que, dentro do número mínimo, um deles seja ínimputável. 176_______ DjREITO PENAL para concurso - PQLtólA FEDERAL - Emerson Castelo Branco 2. (Escrivão - Policia CívIi/ES 2006 - CESPE/UnB) Considere-se que Joaquim, penalmente responsável, sem o ânimo cie morte na conduta, atirou contra João, ferindo-o gravemente, de modo que a vítima permaneceu Internada sob cuidados médicos por um período de 40 dias. Nessa situação, Joaquim responderá por crime de lesão corporal de natureza grave, ficando absorvido o crime de pericüíação da vida ou da saúde humana, visto que a situação de perigo foi ultrapassada e passou a constituir elemento do crime mais grave. 3. {Delegado da Polícia Federai 1997- CESPE/UnB) O evento morte, ocorrido durante uma rixa, qualifica a conduta de todos os contendores. 4. (Analista Processual - TJRR - 2006- CESPE/UnB) No crime de rixa, a coautorla é obrigatória, pois a norma incriminadora reclama como condição obrigatória do tipo a existência de pelo menos três autores, sendo irrelevante que um deles seja inimputável. 5. (CESPE/UnB 2005) No interior de um bar, Iniciou-se uma briga entre integrantes de duas torcidas, Júlio, que a tudo assistia, passou a desferir socos e pontapés nos contendores, sendo que um deies veio a sofrer ferimentos de natureza grave, causados por outro contendor. Nessa situação hipotética, a conduta praticada por Júlio caracteriza-se como tentativa de homicídio. 12 4 3 DICAS IMPRESCINDÍVEIS j f f No crime de abandono de incapaz, trata-se de incapacidade civil? Não. A incapacidade é a concreta (real), isto é, a pessoa não tem condição de se defender por algum motivo (ex,: amnésia, embriaguez). I Se a vítima for pessoa idosa, haverá crime de omissão de socorro do Código Penal? Será crime de omissão de socorro específico do Esta tuto do Idoso. Trata-se do art. 97 da Lei n.° 10.741/2003: “Deixar de prestar assistência ao idoso, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, em situação de iminente perigo, ou secusar, retardar ou dificultar sua assistência à saúde, sem justa causa, ou não pedir, nesses casos, o socorro de autoridade pública”. A pena é aumentada de metade, se da omissão resulta lesão corporal de natureza grave, e triplicada, se resulta a morte (parágrafo único). Havendo maus tratos contra idoso, aplica-se o delito de maus tratos do Código Penal? Não. Em face do princípio da especialidade, haverá o crime disposto no art 99 do Estatuto do Idoso (Lei n.° 10.741/2003): “Expor a perigo a integridade e a saúde, física ou psíquica, do idoso, submetendo-o a condições desumanas ou degradantes, ou privando-o de alimentos e cuidados indispensáveis, quando obrigado a fazê-lo, ou sujeitando-o a trabalho excessivo ou inadequado”. Cap. 12 - CRIMES CONTRA A PESSOA 177 uai a exata diferença entre raaus-traíos e tortura? Na tortura, o agente passa por intenso sofrimento físico ou mental Afora isso, no crime de maus-tratos, haverá a finalidade de educação, ensino, tratamento ou custódia. Já no crime de tortura, a intenção do agente é submeter a vítima a intenso sofrimento, como forma de aplicar castigo pessoal ou medida de caráter preventivo. O crime de rixa exige o emprego de arma? Não. Contudo, para que se configure o delito, não basta apenas discussão verbal. O crime de rixa somente será qualificado se ocorrer resultado morte ou lesão corporal de natureza grave? Sím. As lesões leves e a tentativa de homicídio não são suficientes para qualificar a rixa. 12.5 CRIMES CONTRA A HONRA 12.5.1 Considerações iniciais sobre os crimes contra a honra A honra constitui o patrimônio moral de uma pessoa, gerando-lhe autoestima e boa impressão no convívio social. Divide-se em: honra objetiva e honra subjetiva. Enquanto a honra objetiva é o conceito sobre alguém formado pelas pessoas do seu convívio social; a honra subjetiva é a autoestima, isto é, o conceito de si mesmo, subdividindo-se em honxa-dignidade (atributos morais) e honra-decoro (atributos físicos e intelectuais). A calúnia e a difamação atingem a honra objetiva. A injúria atinge a honra subjetiva. 12.5.2 Calúnia (art. 138) Art. 138 - Caluniar alguém, irnputandc-lhe falsamente fato definido como crime: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa. § 1 .° - Na mesma pena incorre quem, sabendo falsa a imputação, a propata ou divulga. § 2 .° - É punlvei a calúnia contra os mortos. Exceção da verdade § 3.° - Admite-se a prova da verdade, salvo: 178 DSREÍTO PENAL para concurso - POLfCtA FEDERAL - Emerson Castóto Branco 1 I - se, constituindo o fato imputado crime de ação privada, o ofendido não foi condenado por sentença irrecorrívei; II - se o fato é Imputado a qualquer das pessoas indicadas no n.® i do art. 141; !!! - se do crime imputado, embora de ação pública, o ofendido foi absolvido por sentença irrecorrívei. Objeto jurídico: honra objetiva. Consiste na afirmação em relação a alguéra de um fato criminoso sabidamente falso. A falsidade pode referir-se: a) a existência do fato o agente narra um crime que não existiu; b) a autoria do crime - o fato existiu, mas o agente mente em relação à autoria. O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa (crime comum) que faça a afirmação de uni fato criminoso falso em relação a alguém. Sujeito passivo é a pessoa que soíre a ofensa. O elemento subjetivo é o dolo, direto ou eventual. Não admite a forma culposa. O crime de calúnia se consuma no momento em que terceiro toma conhecimento, justamente por atingir a honra objetiva. Dessa forma, não importa saber quando a vítima tomou conhecimento da ofensa. Quanto à forma tentada, somente a admite quando a ação for realizada por escrito. A calúnia somente existe se for sobre um fato determinado, isto é, a narração de um episódio, Quem propala ou divulga a calúnia também responde pelo crime, desde que tenha espalhado o fato conhecendo sua falsidade. Admite-se calúnia contra os mortos. Exceção da verdade. Só existe calúnia se a imputação é falsa. Se ela for verdadeira o fato é atípico. Assim, a produção de prova acerca da veracidade da imputação exclui a tipicidade da conduta. Entretanto, a exceção da verdade não será possível nos seguintes casos: a) se, constituindo o fato imputado crime de ação penal privada, o ofen dido não foi condenado por sentença irrecorrívei; b) se do crime imputado, embora de ação penal pública, o ofendido foi absolvido por sentença irrecorrívei; Cap. 12 - CRIMES CONTRA A PESSOA 179 c) se o fato é imputado contra o Presidente da República, ou contra chefe de governo estrangeiro. 12.5.3 Difamação (art. 139) Art. 139 - Difamar alguém, imputando-ihe fato ofensivo a sua re putação: Pena - detenção, de três meses a um ano, e muita. Exceção da verdade Parágrafo único - A exceção da verdade somente se admite se o ofendido é funcionário púbiico e a ofensa é relativa ao exercício de suas funções. Objeto jurídico: honra objetiva. A difamação consiste na afirmação de um fato determinado ofensivo à reputação de alguém (ex.: dizer que alguém sempre trabalha sob o efeito de álcool). O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa (crime comum) que faça a afirmação de um fato ofensivo à reputação de alguém. Sujeito passivo é a pessoa que sofre a ofensa. O elemeiito subjetivo é o dolo, direto ou eventual. Não admite a forma culposa. Assim como no delito de calúnia, o crime se consuma no momento em que terceira pessoa toma conhecimento da afirmação. A ofensa deve ser a afirmação de um fato determinado, isto é, a narração de um episódio. Se forem apenas “palavras”, “termos”, ou “expressões” ofensivas, será injúria. À exceção da verdade somente é cabível se a vítima for funcionário público e a ofensa é relativa ao exercício de suas funções, conforme o parágrafo único, do art. 139. 12.5.4 Injúria (art. 140) A r t 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro: Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. § 1 .” - O juiz pode deixar de apiicar a pena: I - quando o ofendido, de forma reprovável, provocou diretamente a injúria; il - no caso de retorsão imediata, que consista em outra injúria. DiREITO PENAL para concurso - POLlCIA FEDERAL - Emerson Castelo Branco § 2.° - Se a injúria consiste em violência ou vias de fato, que, por sua natureza ou pelo meio empregado, se considerem aviltantes: Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa, além da pena correspondente à violência. § 3.° Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou a condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência: Pena - reclusão de um a três anos e multa. Objeto jurídico; honra subjetiva, O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa (crime comum) que profira uma ofensa a dignidade ou o decoro de alguém. Sujeito passivo é a pessoa que sofre a ofensa. O elemento subjetivo é o dolo, direto ou eventual. Não admite a forma culposa. Consiste numa mera ofensa (xingamento) contra a dignidade (ex.; mau caráter, ladrão, canalha) ou o decoro (ex.: burro, ignorante, feio), isto é, palavra, termo ou expressão ofensiva, de baixo calão, contra a autoestima de uma pessoa. Diferencia-se da calúnia e da difamação, porque não implica na afirmação de um fato determinado. A injúria se consuma no momento em que a vítima toma conheci mento da imputação, enquanto a calúnia e a difamação se consumam quando terceiro toma conhecimento. Somente admite a forma tentada se for por escrito. O § 1.°, do art. 140, do CP, prevê hipótese de aplicação de perdão judicial. O juiz pode deixar de aplicar a pena quando o ofendido, de forma reprovável, provocou diretamente a injúria (inciso X); ou no caso de retorsão imediata, que consista em êutra injúria (inciso II). No § 2.°, do art. 140, do CP, encontra-se o delito de injúria ieal Consiste na injúria cometida com violência ou com vias de fato, consi derados como meios aviltantes. A pena é de detenção, de três meses a um ano, e muita, além da pena correspondente à violência. O dolo do agente é de ofender a honra subjetiva da pessoa por meio de violência ou de vias de fato. Não se admite, em hipótese alguma, exceção da verdade no crime de injúria, justamente porque nesta não existe a imputação de um fato. Na injúria atribui-se uma qualidade negativa e não um fato. A Lei 10.741/2003 criou uma nova figura penal: Injúria qualificada (art. 140, § 3.*). É a conduta do agente que comete o crime de injúria Cap. 12 - CRIMES CONTRA A PESSOA 181 se utilizando de elementos referentes a raça, cor; etnia, religião, origem ou a condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência. Nesse caso, a pena será qualificada de reclusão, de um a três anos e multa. 12.5.5 Das disposições comuns aos crimes contra a honra Art. 141 - As penas comlnadas neste Capítulo aumentam-se de um terço, se qualquer dos crimes é cometido: ! - contra o Presidente da República, ou contra chefe de governo estrangeiro; li - contra funcionário público, em razão de suas funções; III - na presença de várias pessoas, ou por meio que facilite a divul gação da calúnia, da difamação ou da injúria; IV - contra pessoa maior de 60 (sessenta) anos ou portadora de de ficiência, exceto no caso de injúria. Parágrafo único. Se o crime é cometido mediante paga au promessa de recompensa, aplica-se a pena em dobro. O alimento de pena do inciso I justifica-se pela relevância das funções desempenhadas pelo Presidente da República e pelo chefe de governo estrangeiro. No inciso II, o agente lesa o prestígio do Estado, representante da sociedade. No inciso III, a conduta é bem mais grave porque a ofensa é espalhada. No inciso IV, o legislador levou em conta a condição pessoal das vítimas para aumentar a pena. O aumento referente ao “maior de 60 anos” foi acrescentado pelo Estatuto do Idoso (Lei n.° 10.741/2003). E por fim, a majoraníe do parágrafo único leva em conta a motivação torpe do agente (paga ou promessa de recompensa). ■'NOTEI O disposítfrd':sxprsssaméntè''afàètbu'.suá incidência do crinie de ; tn/úHai;o-que;.ensejaria.Ws7r)';,tó®«í'(dupia apiána$ãó"pèlp;mesmo1 fatój, 'uma vez que .tais’ condiçqes ..estão, presentes. no,.rp.l, qua tipifica a injúria precon ceituosa (ou qualificada), dtóposta: no§ 3^, cíó atógo I40 !à9 Código.33 ' A calúnia, a injúria e a difamação realizadas pelos meios de comu nicação tipificam crimes contra a honra específicos da Lei de Imprensa (Lei n.° 5.250/1967), afastava os delitos do Código Penal. Entretanto, recentemente, o Supremo Tribunal Federal reconheceu que a referida lei não foi recepcionada pela Constituição Federal de 1988, devendo a lei ser considerada como revogada. 53 NUCCI, Guilherme de Souza. Manuat de Direito Penal - Pane Gemi e Parte Especial, São Paulo: ■Revista dos Tribunais, 2005, p. 621. 182 DIR0TO PENAL para concurso - POLlCIA FEDERAL - Emerson Castelo Branco Art. 142 - Não constituem injúria ou difamação punível: ! - a ofensa iírogada em juízo, na discussão da causa, pela parte ou por seu procurador; II - a opinião desfavorável da crítica literária, artística ou científica, salvo quando inequívoca a intenção de injuriar ou difamar; lií - o conceito desfavorável emitido por funcionário público, em apreciação ou informação que preste no cumprimento de dever de oficio. Parágrafo único. Nos casos dos n.° I e H, responde pela injúria ou pela difamação quem lhe dá publicidade. São causas de exclusão da antijuridicidade específicas desses crimes. O inciso I é denominado “imunidade judiciária”, destinada a assegurar a ampla defesa de direitos, que fatalmente, em face da exacerbação de ânimos, pode levar ao descontrole com as palavras. Três requisitos de vem estar presentes: a) a ofensa, escrita ou verbal, deve ser realizada em juízo; b) deve ser na discussão da causa; c) deve ser realizada pela parte ou seu procurador. A imunidade judiciária não alcança o magistrado, nem o diretor de secretaria, escreventes, oficiais de justiça, peritos, tradutores, contado res, a quem é proibido injuriar ou difamar,