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Aula 04 Direito Penal Prof. André Henrique LESÃO CORPORAL Art. 129, caput, CP - lesão corporal dolosa leve Art. 129, § 1º, CP - lesão corporal dolosa grave Obs.: admite o preterdolo Art. 129, § 2º, CP - lesão corporal dolosa gravíssima Obs.: admite o preterdolo Art. 129, § 3º, CP - lesão corporal seguida de morte Atenção: necessariamente preterdoloso (homicídio preterdoloso) Art. 129, §§ 4º e 5º, CP - minorantes Art. 129, § 6º, CP - lesão corporal culposa Art. 129, § 7º, CP - majorantes Art. 129, § 8º, CP - perdão judicial Art. 129, §§ 9º, 10 e 11, CP - violência doméstica e familiar 1. Bem jurídico Incolumidade pessoal do indivíduo. Protege a saúde: corporal fisiológica mental * Item 42 da Exposição de Motivos do Código Penal: “O crime de lesão corporal é (...) todo e qualquer dano ocasionado à normalidade funcional do corpo humano, quer do ponto de vista anatômico, quer do ponto de vista fisiológico ou mental”. 2. Sujeito ativo Crime comum: qualquer pessoa. OBS.: O Direito Penal não pune a autolesão (a autolesão pode ser meio eficaz para a prática de crime, como no caso daquele que se fere para obter vantagem do seguro - art. 171, § 2º, V, CP). Pergunta: Se um inimputável, incapaz de querer ou entender, por determinação de outrem, praticar em si mesmo uma lesão, quem o conduziu à autolesão responderá por qual crime? R.: Art. 129, CP (na condição de autor mediato). * “Se um inimputável, menor, ébrio ou por qualquer razão incapaz de entender ou de querer, por determinação de outrem, praticar em si mesmo uma lesão, quem o conduziu à autolesão responderá pelo crime, na condição de autor mediato” (Rogério Sanches, 2012, Código Penal para Concursos, p. 234). 3. Sujeito passivo Crime comum: qualquer pessoa viva. Atenção: no art. 129, § 1º, IV (aceleração do parto) e no art. 129, § 2º, V (aborto), sujeito passivo mulher gestante. 4. Tipo objetivo Ofender, direta ou indiretamente, a incolumidade pessoal de outrem. Atenção: é causar ou agravar enfermidade que já existe. Atenção: a dor é dispensável. Pergunta: Cortar os cabelos da vítima contra sua vontade configura qual crime? R.: 1ª corrente: lesão corporal, desde que a ação provoque uma alteração desfavorável no aspecto exterior da vítima. 2ª corrente: injúria real. 3ª corrente: pode configurar lesão corporal ou injúria real, tudo a depender do dolo que anima o agente. A pluralidade de ferimentos no mesmo contexto fático não desnatura a unidade do crime, devendo ser considerada tal circunstância na fixação da pena-base. Pergunta: O consentimento do ofendido exclui o crime? Atenção: para responder à pergunta, temos que decidir se a incolumidade pessoal é um bem disponível (exclui o crime) ou indisponível (não exclui o crime). R.: Trata-se de bem relativamente disponível, desde que: a) lesão leve; b) não contrariar a moral e os costumes. Ex.: Jovem que consente perfurar o corpo para colocar piercing. OBS.: O transexual, para fazer cirurgia de ablação de seu órgão, como a lesão é gravíssima, o consentimento do ofendido não exclui o crime se o médico não estava autorizado a realizar o procedimento cirúrgico. Não podemos confundir o crime de lesão corporal com a contravenção penal de vias de fato (art. 21, LCP), pois nesta não existe (e sequer é a intenção do agente) qualquer dano à incolumidade pessoal da vítima (ex.: mero empurrão, puxão de cabelos etc.). Art. 21. Praticar vias de fato contra alguém: Pena – prisão simples, de quinze dias a três meses, ou multa, de cem mil réis a um conto de réis, se o fato não constitui crime. Parágrafo único. Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) até a metade se a vítima é maior de 60 (sessenta) anos. 5. Consumação Com a ofensa à incolumidade pessoal da vítima (crime material). Obs.: Equimoses e hematomas são considerados lesões à integridade física da vítima. Eritemas (rubor) e a simples provocação de dor, por si só, não constituem lesão. Com exceção da modalidade culposa, o crime de lesão corporal admite tentativa. 6. Art. 129, caput: lesão corporal dolosa leve Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem: Pena - detenção, de três meses a um ano. Infração de menor potencial ofensivo. Ação penal pública condicionada à representação da vítima (art. 88, Lei 9.099/95). O conceito é formulado por exclusão, isto é, não grave, gravíssima ou seguida de morte. OBS.: Tem doutrina aplicando ao crime de lesão corporal leve o princípio da insignificância (Pierangeli). * O princípio da insignificância pode ser invocado no caso de a lesão ser ínfima, levíssima, como um puxão de cabelo, beliscão etc. Entretanto, se referidos comportamentos estiverem atrelados à intenção de atingir a honra da vítima, poderá estar configurado o crime de injúria real (Rogério Sanches, 2012, p. 236). 7. Art. 129, § 1º: Lesão corporal dolosa (ou preterdolosa) de natureza grave Art. 129, § 1º: Se resulta: I - Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias; II - perigo de vida; III - debilidade permanente de membro, sentido ou função; IV - aceleração de parto: Pena - reclusão, de um a cinco anos. Infração penal de médio potencial ofensivo. apesar de não admitir transação penal, é possível suspensão condicional do processo (art. 89, Lei 9.099/95). Ação pública incondicionada. Art. 129, § 1º Estamos diante de uma qualificadora. * São hipóteses de lesões qualificadas pelo resultado, podendo o evento ser querido ou aceito pelo agente (dolo direto ou eventual) ou culposamente provocado (culpa), caso em que teremos o preterdolo (Rogério Sanches, 2012, p. 236). I - Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias Atenção: o resultado qualificador pode ser doloso ou culposo. Entende-se por ocupação habitual qualquer atividade corporal rotineira, não necessariamente ligada a trabalho ou ocupação lucrativa, devendo ser lícita, ainda que imoral. Pergunta: Prostituta pode ser vítima dessa espécie de lesão? R.: Sim. Pergunta: Bebê com tenra idade pode ser vítima dessa espécie de lesão? Sim. Ex.: Por conta de lesão no maxilar ele não consegue realizar a sucção do leite materno por mais de 30 dias. Atenção: A relutância, por vergonha, de praticar as ocupações habituais, não qualifica o crime (Ex.: A vítima sofreu uma lesão e, por conta dela, ficou com o olho roxo. Em razão da vergonha, teve que ficar em casa, sem ir trabalhar, por mais de 30 dias). Art. 168, § 2º, CPP: Realizado um 1º exame, constatando a incapacidade para as ocupações habituais, deverá ser realizado um 2º exame, logo após o prazo de 30 dias, contado da data do crime para constatar a permanência da incapacidade (exame complementar). Obs.: prazo penal computa-se o dia do início, exclui-se o dia do fim (art. 10, CP). Art. 168, § 2o: Se o exame tiver por fim precisar a classificação do delito no art. 129, § 1o, I, do Código Penal, deverá ser feito logo que decorra o prazo de 30 dias, contado da data do crime. OBS.: Eventualmente, esse exame poderá ser suprido por prova testemunhal. II - perigo de vida Atenção: a presente qualificadora só admite o preterdolo (se o agressor considerou a possibilidade de matar a vítima, teremos homicídio tentado). Entende-se por perigo de vida a probabilidade séria, concreta e imediata do êxito letal, devidamente comprovado por perícia. Cuidado: a região da lesão não justifica, por si só, a presunção do perigo, sendo imprescindível perícia. III - debilidade permanente de membro, sentido ou função “Debilidade”: diminuição, redução ou enfraquecimento da capacidade funcional de membro, sentido ou função. “Permanente”: recuperação incerta e por tempo indeterminado (não significa perpetuidade). Atenção: Não importa que o enfraquecimento possa se atenuar ou se reduzir com aparelhos de próteses. OBS.: A perda de um dente que compromete a função mastigatória configura debilidade permanente (depende de perícia). OBS.: A perda do dedo também depende de perícia. IV - aceleração de parto Atenção: o resultado qualificador pode ser doloso ou culposo. “Aceleração do parto”: em decorrência da lesão, o feto é expulso com vida antes do tempo normal. Se o feto é expulso sem vida, teremos o art. 129, § 2º, V, CP (lesão corporal gravíssima). Em qualquer uma dessas hipóteses: o agente não quer, nem assume o risco do abortamento. Para privilegiar a responsabilidade penal subjetiva, é imprescindível que o agente saiba ou pudesse saber que a vítima é mulher gestante. 8. Art. 129, § 2º: Lesão corporal dolosa (ou preterdolosa) de natureza gravíssima Art. 129, § 2°: Se resulta: I - Incapacidade permanente para o trabalho; II - enfermidade incurável; III perda ou inutilização do membro, sentido ou função; IV - deformidade permanente; V - aborto: Pena - reclusão, de dois a oito anos. Infração penal de grande potencial ofensivo. não admite suspensão condicional do processo. Ação penal pública incondicionada. OBS.: A doutrina é que criou a expressão “de natureza gravíssima” o § 2º, para diferenciar do § 1º. Lei Doutrina “Natureza grave” § 1º § 2º “Natureza grave” § 1º “Natureza gravíssima” § 2º OBS.: A Lei de Tortura adotou essa expressão (art. 1º, § 3º). I - Incapacidade permanente para o trabalho Atenção: o resultado qualificador pode ser doloso ou culposo. Pergunta: A incapacidade deve ser para o exercício de qualquer espécie de trabalho ou basta não poder mais exercer o trabalho anterior? R.: Apesar de divergente, prevalece que a incapacidade deve ser para o exercício de qualquer espécie de trabalho. II - enfermidade incurável Entende-se por enfermidade incurável a alteração permanente da saúde, a provocação de uma doença para qual não existe cura no estágio atual da Medicina. Ex.: Transmissão intencional de Chagas; deixar a vítima manca. Jurisprudência: A vítima não está obrigada a submeter-se a intervenção cirúrgica arriscada a fim de curar-se da enfermidade, subsistindo a qualificadora. Pergunta: A transmissão intencional do vírus da AIDS configura qual crime? Havendo o dolo de matar, a relação sexual dirigida à transmissão do vírus da AIDS é idônea para caracterizar tentativa de homicídio (STJ). Obs: O STF, analisando o comportamento do agente que omitiu da parceira ser portador do vírus HIV, desclassificou a tentativa de homicídio para o crime de perigo de contágio de moléstia grave, previsto no art. 131 do CP. III - perda ou inutilização do membro, sentido ou função Atenção: o resultado pode ser doloso ou culposo. “Perda”: se dá com a amputação ou mutilação. “Inutilização”: membro, sentido ou função inoperante. Atenção: Tratando-se de órgãos duplos, a lesão, para ser gravíssima, deve atingir ambos. Ex.: Se a vítima perdeu um testículo, um rim, isso é debilidade e não perda ou inutilização. A impotência generandi, concipiendi e a coeundi caracterizam a presente qualificadora. Ex.: O médico realiza laqueadura ou vasectomia contra a vontade do paciente. IV - deformidade permanente Consiste no dano estético, aparente, considerável, irreparável pela própria força da natureza e capaz de provocar impressão vexatória (desconforto para quem olha e humilhação para a vítima). Atenção: o resultado qualificador pode ser doloso ou culposo. Pergunta: O que vem a ser vitriolagem? R.: Lesões viscerais e cutâneas produzidas por substâncias cáusticas (ações por meio de ácidos. Ex.: lançar ácido no rosto da pessoa para desfigurá-la). De acordo com Nelson Hungria, a idade, o sexo e a condição social da vítima devem ser tomados em consideração no apreciar a deformidade. Cuidado: Não se pode exigir que a vítima procure cirurgia para encobrir os ferimentos. Contudo, optando pela cirurgia plástica, fica afastada a qualificadora. V - aborto Atenção: é necessariamente preterdolosa. Art. 127 Art. 129, § 2º, V Aborto qualificado pela lesão grave. Dolo - aborto Culpa – lesão Lesão qualificada pelo aborto. Dolo - lesão Culpa - aborto Coexistência de qualificadoras Ex.: A lesão provoca incapacidade para as ocupações habituais por mais de 30 dias (§ 1º, I) e deformidade permanente (§ 2º, IV). pena de 1 a 5 anos pena de 2 a 8 anos Desconsidera-se a qualificadora do § 1º (apesar de considerá-la na fixação da pena - art. 59, CP) e aplica-se a qualificadora mais grave. 9. Art. 129, § 3º: Lesão corporal seguida de morte Art. 129, § 3°: Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o agente não quis o resultado, nem assumiu o risco de produzi-lo: Pena - reclusão, de quatro a doze anos. Homicídio preterdoloso. Infração de grande potencial ofensivo. Ação penal pública incondicionada. São elementos do crime: a) Conduta dolosa, buscando ofender a incolumidade pessoal da vítima; b) Resultado culposo mais grave (morte); c) Nexo entre a conduta e o resultado. Cuidado: 1) O caso fortuito ou a imprevisibilidade do resultado, elimina a configuração do crime preterdoloso, respondendo o agente somente por lesões corporais. 2) Se o antecedente doloso consiste em uma simples vias de fato (contravenção penal), o evento morte caracteriza homicídio culposo, ficando a contravenção absorvida. 10. Art. 129, § 4º: privilégio Art. 129, § 4°: Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço. Lesão corporal privilegiada (causa de diminuição de pena). 129, caput 129, § 1º 129, § 2º 129, § 3º 129, § 4º(privilégio) Cuidado: o privilégio não é uma diminuição apenas para o caput, mas para qualquer uma das hipóteses acima. 11. Art. 129, § 5º: substituição de pena Art. 129, § 5°: O juiz, não sendo graves as lesões, pode ainda substituir a pena de detenção pela de multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis: I - se ocorre qualquer das hipóteses do parágrafo anterior; II - se as lesões são recíprocas. 129, caput 129, § 1º 129, § 2º 129, § 3º 129, § 5º(“não sendo graves as lesões”) Só é possível ser aplicada ao art. 129, caput. privilegiado (§ 4º) ou se as lesões são recíprocas 12. Art. 129, § 6º: Lesão corporal culposa Art. 129, § 6°: Se a lesão é culposa: Pena - detenção, de dois meses a um ano. Infração de menor potencial ofensivo. Ação penal pública condicionada à representação da vítima. Lesão dolosa Lesão culposa “Leve” caput “Grave” § 1º “Gravíssima” § 2º “Leve” “Grave” 129, § 3º “Gravíssima” * O grau da lesão vai ser considerado na fixação da pena-base (art. 59, CP). Cuidado: a lesão culposa na direção de veículo automotor caracteriza o art. 303 do CTB (Lei 9.503/97). Art. 129, § 6º, CP Art. 303, CTB Pena: 2 meses a 1 ano. Pena: 6 meses a 2 anos. * O desvalor da conduta justifica o maior rigor na punição no CTB. Atenção: a lesão dolosa leve tem pena de 3 meses a 1 ano! (a pena é menor) 13. Art. 129, § 7º: majorantes Art. 129, § 7º: Aumenta-se a pena de um terço, se ocorrer qualquer das hipóteses do art. 121, §§ 4º e 6°. Aplica-se o art. 121, §§ 4º e 6º, CP. 14. Art. 129, § 8º: perdão judicial Art. 129, § 8º: Aplica-se à lesão culposa o disposto no § 5º do art. 121. 15. Art. 129, § 9º: violência doméstica Art. 129, § 9o: Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade: Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos. § 10: Nos casos previstos nos §§ 1o a 3o deste artigo, se as circunstâncias são as indicadas no § 9o deste artigo, aumenta-se a pena em 1/3 (um terço). § 11: Na hipótese do § 9o deste artigo, a pena será aumentada de um terço se o crime for cometido contra pessoa portadora de deficiência. § 9º § 10 § 11 - Qualificadora do caput 129, caput Pena: 3 meses a 1 ano Violência doméstica Pena: 3 meses a 3 anos deixa de ser infração de menor potencial ofensivo, apesar de leve. - Causa de aumento para os §§ 1º, 2º e 3º 129, § 1º Pena: 1 a 5 anos 129, § 2º aumentadas Pena: 2 a 8 anos em 1/3 129, § 3º Pena: 4 a 12 anos Não mais admite suspensão do processo. - Causa de aumento do § 9º 129, § 9º Pena: 3 meses a 3 anos Vítima portadora de necessidades especiais Aumenta-se a pena de 1/3 Atenção: nos §§ 9º, 10 e 11, a vítima não precisa ser mulher, bastando o agente praticar o crime contra: a) ascendente, descendente ou irmão; b) cônjuge ou companheiro; c) ou com quem conviva ou tenha convivido; d) ou, ainda, prevalecendo-se das relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade. OBS.: Mesmo na hipótese de lesão leve, tratando-se de violência doméstica e familiar contra a mulher, decidiu o STF, no controle concentrado de constitucionalidade, que a ação penal é pública incondicionada, pois a Lei 11.340/06 veda a aplicação da Lei 9.099/95. 81