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Teoria e Prática da Narrativa Jurídica – Aula 2 Professor Nelson Tavares No Direito, é de grande relevância o que se denomina tipologia textual: narração, descrição, dissertação. O que torna essa questão de natureza textual importante para o direito é sua utilização na produção de peças processuais como a petição inicial, que apresenta diferentes tipos de texto, a um só tempo. Em geral, classificam-se os textos, quanto à tipologia, sob três nomenclaturas: texto narrativo, texto descritivo e texto dissertativo. A primeira observação relevante a fazer é que, apesar de a classificação ser didaticamente útil, raramente são produzidos textos puramente narrativos, descritivos ou dissertativos. O que ocorre, na verdade, é uma classificação que considera a predominância das características de um tipo de produção textual em detrimento das demais, menos evidentes, mas não menos importantes. Na prática redacional de todo texto, é extremamente comum, por exemplo, que uma narrativa seja permeada por trechos descritivos; certas características descritas de uma cena, de um objeto ou de uma pessoa enriquecem de detalhes, de forma inquestionável, os fatos narrados e fornecem material precioso para que essa narrativa possa ser valorada a partir dos interesses de quem conta a história. Da mesma maneira, fundamentar um determinado ponto de vista exige do argumentador, muitas vezes, que alguns fatos motivadores de sua tese sejam narrados. A descrição de determinadas condutas pode igualmente colaborar para justificar a tese sustentada. A única certeza, enfim, é que narração, descrição e dissertação podem compor, juntas, um só texto e sua separação só se justifica, não raro, por razões acadêmicas. Enquanto narrar consiste em evidenciar fatos experienciados e desenvolvidos em um determinado tempo e espaço, descrever caracteriza-se por deitar sobre o mundo um olhar estático localizando os elementos da descrição e atribuindo-lhes qualidades que os singularizam. Apesar de se oporem (narração e descrição), são estritamente ligados, pois as ações somente têm sentido com relação às identidades e às qualificações de seus agentes. E mais, o modo descritivo não apenas completa o narrativo – ou o dissertativo – mas dá-lhes sentido. Não só encontramos dificuldade em separar com clareza os trechos narrativos, descritivos ou dissertativos do texto que compomos, como também desenvolvemos, com esforço, a redação de uma narração imparcial, sem sustentar — tenuamente que seja — uma opinião, ou enfatizar uma característica descrita, por concebê-la mais relevante. Na verdade, nada impede afirmar, por exemplo, que a descrição do estado psicológico de uma pessoa cujo filho morreu por conta de negligência médica seja o recurso utilizado para persuadir o interlocutor de que o autor de uma ação faz jus à indenização. Essa interdependência entre os tipos de texto pode ocorrer na produção dos textos jurídicos, como também em qualquer outra produção escrita.