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FILOSOFIA E ÉTICA AV1

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Enviado por FERNANDO RUFINO DE BARROS em

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FILOSOFIA E ETICA 
Vamos começar nossa primeira conversa sobre Filosofia e Ética a partir de uma situação 
hipotética sobre a qual você deverá refletir. 
 
 
 
 
Quando pensamos em como nos comportar diante de situações que envolvam e afetem 
nossos semelhantes, deparamo-nos, em princípio, com normas que guiam nossas ações para a 
realização do que é verdadeiro, digno e correto. 
Logo, ao nos depararmos com o dever de cumprir uma promessa, denunciarmos um amigo 
traidor ou dizermos sempre a verdade, estamos diante de comportamentos moldados pela 
pressão de valores justos que regulam nosso modo de ser individual e social: três ocorrências 
que envolvem regras para nossas ações, ou três problemas morais. 
Circunstâncias especiais podem nos levar a rever uma promessa (quando vivemos uma 
situação de desespero, por exemplo), ocultar a traição de alguém conhecido (quando ela é o 
único meio de sobrevivência de quem a cometeu, por exemplo), ou omitir informações (não 
revelarmos a um conhecido seu estado terminal de saúde, por exemplo). A esta reflexão que 
nos leva a decidir que juízos ou ponderações devem nos orientar numa situação e a 
justificarmos a decisão tomada, chamamos reflexão ética. 
Começando a entender o que é ética 
Para Aristóteles (384 a.C–322 a.C), “toda ação humana está orientada para a realização 
de algum bem, ao qual estão unidos o prazer e a felicidade” (apud BOHADANA, 
SKLAR:2007,226). Mas o que Aristóteles tem a ver com ética? Clique nas caixas para 
saber mais. 
 
 
Ética e moral 
Ao longo da História da Filosofia, a Ética, englobando o conceito de realidade moral, 
chega à seguinte definição: “ciência que se ocupa dos objetos morais em todas as suas 
formas, a filosofia moral” (cf. FERRATER MORA:1965,595). Mas o que é moral? 
Selecionamos dois autores que assim a definem (clique nos livros): 
Para Lalande (1999,705), a conceituação de moral abrange: 
(a) os costumes, ou “regras de conduta admitidas numa sociedade determinada”, sendo a 
observação e constatação de seu conjunto e os juízos sobre os mesmos o que se entende por 
“realidade moral”; 
(b) o “estudo filosófico do bem e do mal”; 
(c) o “conjunto das regras de conduta admitidas numa época ou por um grupo de homens”; 
(d) o “conjunto das regras de conduta tidas como incondicionalmente válidas”. 
Para Sánchez Vázquez (2002, 84), “a moral é um sistema de normas, princípios e valores, 
segundo o qual são regulamentadas as relações mútuas entre os indivíduos ou entre estes e a 
comunidade, de tal maneira que estas normas, dotadas de um caráter histórico e social, sejam 
acatadas livre e conscientemente, por uma convicção íntima, e não de uma maneira mecânica, 
externa ou impessoal”. 
Moral distingue-se do que é investigado no campo ético, na medida em que “este último 
domínio se ocupa de uma moral ligada aos fatos, incorporando valores aceitos pelos homens 
ao se interrelacionarem socialmente” (SKLAR:2008). Seguindo este sentido, Sánchez Vázquez 
(2002, 23) define a ética como “teoria ou ciência do comportamento moral dos homens em 
sociedade”. 
A definição de filosofia 
A Filosofia no Ocidente tem suas raízes históricas na Grécia Antiga. Entre os séculos 
XX a.C e II a.C, podemos reconhecer a presença dessas raízes através dos seguintes 
períodos: 
 
 
 
Como você viu na linha do tempo, a filosofia resultou do estabelecimento de uma organização 
política, econômica e administrativa que marcou a civilização grega: a pólis (cidade-Estado). 
Discussões em assembléias, no lugar do poder em torno da realeza que dominou o período 
homérico, tornaram-se, então, necessárias, gerando o ideal de cidadania: a participação 
pública do cidadão nos destinos da cidade. Em formas acessíveis à inteligência, uma ordem 
humana estabelecia seus alicerces. 
Aula 02 
O campo da ética 
Como você começou a ver na Aula 1, o estabelecimento de valores e princípios para um 
comportamento, ou normas gerais de ação, sugere a reflexão sobre as características do 
campo ético. Seu sentido não se reduz, no entanto, à idéia de que toda ação moral contenha 
princípios e valores, orientando-nos a agir de uma certa maneira. Vamos ver outros exemplos? 
 
Ética e moral: quem é quem? 
Continuando com o exemplo da posição da mulher na sociedade, notamos que em algumas 
sociedades ela ainda é tratada de acordo com normas e costumes ditos “ultrapassados”, e sua 
posição é de inferioridade em relação ao homem. Mas por que isso acontece? Por que ainda 
existe esse comportamento se hoje em dia já sabemos que as mulheres estão em condições de 
igualdade em relação ao homem? Por que o Brasil é tão diferente de outros países em relação 
à mulher na sociedade? 
A ética não é localizada em um determinado momento da história e da humanidade, mas 
sim é atemporal, considerada na sua totalidade, diversidade e variedade: “A ética (...) 
toma como ponto de partida a diversidade de morais no tempo, com seus respectivos 
valores, princípios e normas. Como teoria, não se identifica com os princípios e 
normas de nenhuma moral em particular e tampouco pode adotar uma atitude 
indiferente (...) diante delas. Juntamente com a explicação de suas diferenças, deve 
investigar o princípio que permita compreendê-las no seu movimento e (...) 
desenvolvimento” (Sánchez Vázquez, 2002:21-2). 
Ética: a ciência da moral 
Não se identificando com princípios morais, mas não sendo indiferente a eles, o campo 
ético, conduzindo à compreensão racional de aspectos efetivos, reais, das atitudes 
humanas, não se confunde com a moral propriamente dita. Esta compõe-se de normas 
ou regras de comportamento, não sendo a ética responsável pelo estabelecimento das 
mesmas em sociedade. 
Entendendo o caso a partir da distinção entre ética e moral 
É justamente a elucidação desta diferença que nos leva ao desfecho da análise sobre a 
crise do Tylenol. Vamos ver todas as variantes envolvidas no caso estudado para 
podermos chegar a uma conclusão. 
 
 
 
 
Reação moral e comportamento ético... Encerrando o caso 
Vamos retomar alguns conceitos que você já viu: 
MORAL - sistema de normas, princípios e valores que regula o comportamento individual e social dos 
homens. O domínio moral abrange valores que têm o poder de regular, em qualquer momento da história, 
as ações dos homens em sociedade. 
ÉTICA - explica e investiga uma determinada realidade ao formular conceitos sobre a mesma, para que 
possamos decidir como devemos nos orientar numa situação e justificarmos a decisão tomada 
 
Voltando para o caso da Johnson & Johnson, vemos a presença de um componente 
moral na estratégia assumida pela empresa, pois ela agiu de acordo com o que 
achava correto e digno. Compreendemos também que a empresa agiu eticamente ao 
recolher e relançar o produto, reagregando um valor – CONFIANÇA – ao mesmo. 
Botando o pingo no “i” 
O sujeito moral age bem ou mal na medida em que acata ou transgride a fixidez de 
normas, princípios ou valores morais. Já a ética, em síntese, ocupa-se com a reflexão 
social (circunstancial) desencadeada pelos seres humanos, a respeito das noções e 
princípios que fundamentam a vida moral. 
E é justo este poder reflexivo que transforma a ética em conhecimento científico sobre a 
moral, por abranger as seguintes dimensões: a) psicológica (referida à Psicologia, ciência do 
comportamento); b) sociológica (ligada à Sociologia, ciência das leis que regem o 
desenvolvimento e estrutura das sociedades humanas); c) antropológico-social (pautada pela 
Antropologia Social, ciência que estuda a organização e estrutura sociais); d) jurídica 
(confrontada com o Direito, ciência que estuda o sistema de normas que regula as relações 
sociais); e) econômico-política (vinculada à Economia Política, ciência que
estuda as relações 
de produção). 
Aula 03 
A Ética nos concursos 
Diversos concursos públicos procuram avaliar os conhecimentos do candidato acerca das 
noções gerais sobre Ética, Moral e Filosofia. Por isso propomos a você um desafio: realizar as 
questões relacionadas à disciplina Ética que foram cobradas no concurso público para analista 
judiciário do Tribunal Regional do Trabalho – 19. Região. 
Tentando sobreviver, o ser humano supera a sua natureza natural, instintiva, transformando-a 
em uma dimensão social. Para que a vida em sociedade seja possível, são estabelecidas regras 
que organizam as diversas relações humanas. Sem princípios, normas ou regras que criam o 
mundo moral, torna-se inimaginável a existência de qualquer povo ou cultura. 
Se a moral constituída regula o que os homens realizam socialmente, o seu significado, função 
e validade variam historicamente nas diferentes sociedades. 
O comportamento moral muda de acordo com o tempo e lugar, conforme as condições pelas 
quais diferentes sociedades foram se organizando ao longo da história. E o desenvolvimento 
dessa organização depende de uma mudança da realidade, dirigida por finalidades 
conscientes: o trabalho humano. Por ele, o homem transforma a natureza, aprendendo a 
conhecê-la e adaptando-a às suas necessidades. Ele favorece a convivência, desenvolve 
habilidades, levando os seres humanos a conhecerem as próprias forças e limitações. 
O que quer dizer trabalho para você? Sobre o que estamos falando? 
 
 
O trabalho na Idade Média 
Na Idade Média, período de mais ou menos mil anos, comprendido entre o final da 
Idade antiga (ocorrido nos séculos III-IV), com destaque para o ano de 476, em que o 
Império Romano do Ocidente encontra seu final oficial, e os séculos XIII-XIV 
(Renascimento), a arte mecânica ainda é considerada inferior. Nela impera um regime 
de servidão, organizado sob relações de dependências e vassalagens. 
 
 
Riqueza, religião e ética 
Nesse quadro histórico, a medida de riqueza era determinada por um único fator: a 
quantidade de terra. Daí o motivo das disputas contínuas que ela suscitava, deflagrando 
guerras com frequência. Clique nas imagens para saber mais: 
O PAPEL DA IGREJA: E é em torno desse aspecto que compreendemos o papel da 
Igreja. Ela tornou-se a maior proprietária de terras no período feudal. Através de 
doações de fiéis, incluindo nobres e reis, ela passou a possuir quase a metade de todas 
as terras da Europa Ocidental. Bispos e abades detinham os mesmos privilégios que 
condes e duques na estrutura feudal. 
PODER E RIQUEZA: No início do feudalismo, a Igreja assumiu um papel tanto 
dinâmico, ao preservar muito da cultura romana, quanto progressista, pois incentivou a 
educação, ajudou pobres, desamparados e doentes. Enquanto os nobres dividiam suas 
propriedades, atraindo mais simpatizantes, a Igreja tornava-se mais rica, de tal modo 
que suas posses tenderam a superar a sua função espiritual. Segundo alguns 
historiadores, ela não realizou tudo o que sua riqueza permitia. Ao mesmo tempo que 
suplicava ajuda dos que possuíam mais dinheiro, economizava dos seus próprios 
recursos. 
RELIGIAO E ETICA: O clero e a nobreza ocupavam o lugar de classes governantes, 
controlando as terras e o poder que daí provinha, prestando proteção militar. A Igreja 
fornecia auxílio espiritual. Ela se aproveitava do fato da religião garantir ao longo do 
período feudal uma certa unidade social, pois a política dela dependia como instituição 
que defendia a religião, exercendo forte poder espiritual e centralizando integralmente a 
vida intelectual. Justo sob essas circunstâncias, podemos entender de que modo a moral 
concreta, efetiva ou ética, permanece impregnada “de um conteúdo religioso que 
encontramos em todas as manifestações da vida medieval” (SÁNCHEZ 
VÁZQUEZ:2002,275-276). 
Conhecendo o burgos 
 
 
Ainda sobre o sistema fabril 
Sob o sistema fabril, em que a máquina e o capital desalojam das mãos do trabalhador 
sua importância e habilidade, encontramos um segundo exemplo para caracterizar a 
relação moral-história. Transformações de peso na vida social e econômica, como o 
desenvolvimento das técnicas, da experimentação e a ampliação dos mercados, estão na 
base de seu surgimento. 
 
Os instrumentos de produção passam a ser comprados pelo capital acumulado, obrigando os mestres artesãos e os 
ajudantes a venderem sua força de trabalho em troca de um salário para sobreviver. Com o aumento da produção, o 
que é produzido deixa de pertencer aos trabalhadores, sendo oferecido como mercadoria pelo burguês que retém um 
valor não-remunerado: mais-valia ou lucro. Nessas condições, surge a classe econômica dos trabalhadores 
assalariados ou proletariado. 
 
Aula 04 
Orientação da moral 
Quando uma criança joga o lixo no chão e é repreendida pelos pais, dizemos que os pais 
estão educando-a; mais propriamente, dizemos que os pais estão ensinando o que é certo 
ou errado a se fazer. A aceitação de exigências e prescrições ocorre pela consciência 
que discerne o valor moral de nossos atos. Herdando valores universais sobre o certo e o 
errado (Bem/Mal) recebidos pela tradição e agregando juízos e avaliações estabelecidos 
ao longo da história humana, ela nos permite reconhecer dois grandes planos que 
orientam a moral. Vejamos como Sánchez Vázques os estrutura: 
 
“o normativo, constituído pelas normas ou regras de ação e pelos imperativos que enunciam algo que deve ser; b) o 
fatual, ou plano dos atos morais, constituído por certos atos humanos que se realizam efetivamente, isto é, que são 
independentemente de como pensemos que deveriam ser” (SÁNCHEZ VÁZQUEZ:2002,63). 
No segundo plano, o fatual, encontramos ações concretas: a solidariedade de um amigo 
por outro, a denúncia de uma traição. Neste último plano, não teríamos apenas atos que 
podem ser postos em relação positiva com uma norma. 
Voltando ao que já vimos 
 
Como vimos na primeira aula, o não cumprimento de uma promessa, ocultar a traição de alguém conhecido ou 
omitir informações são comportamentos que violam normas, tendo valores negativos, mas não deixam de pertencer à 
reflexão ética. 
 
E é esta valoração positiva e negativa, orientando e justificando nossas decisões 
em situações como a da estratégia do Tylenol (exemplo de comportamento ético), 
que nos permite compreender a apresentação dos diversos elementos que 
compõem os atos morais, de acordo com Sánchez Vázquez. 
 
Elementos dos atos morais: motivação 
Cintia é uma jovem que mora sozinha em um apartamento no centro da cidade. Ela possui o 
hábito de fumar maconha, e costuma justificar esse ato como sendo uma “válvula de escape”, 
uma forma de relaxar. Milton é vizinho de Cintia. Segundo a visão de Milton, todo consumidor 
equivale a traficante, e deve ser tratado como tal. 
 
Como o cheiro da droga é sentido no corredor do prédio em que moram, Milton resolveu ligar 
para a polícia e denunciar Cintia como traficante de drogas. O ato de Milton produz efeito. A 
polícia foi ao prédio e prendeu Cintia em flagrante, já que ela possuía em sua residência uma 
quantidade considerável daquela droga, ainda que tivesse alegado aos policiais que era para 
consumo próprio. 
Quando denunciamos uma pessoa, por exemplo, podemos estar sendo movidos tanto pela busca 
sincera da verdade, quanto pelo engrandecimento de nossa ação pela comunidade. Um mesmo 
ato realiza-se segundo diversos motivos e, diversamente, o mesmo motivo pode gerar atos e 
finalidades diferentes. Mas, os motivos que induzem os homens a agirem de uma determinada 
maneira não são suficientes para atribuir um significado moral a esta ação, porque quem age 
nem sempre conhece claramente os motivos que o levaram a adotar seu comportamento. 
Elementos dos atos morais: a consciência 
 
Segundo aspecto fundamental
do ato moral: a consciência do fim visado. Você está lembrado do caso Tylenol, que 
vimos nas aulas anteriores? Naquela situação, a preocupação com os clientes estava no centro da política de 
utilização dos serviços da J&J. Voltada para eles, a empresa enfatizava a segurança, qualidade e confiabilidade do 
produto. Em torno desse fim, a empresa decidiu apostar na estratégia de oferecer um medicamento confiável e eficaz 
para os usuários. 
Logo, aos fins propostos pela consciência, consideramos a decisão de alcançá-los: 
justo com a associação destes dois aspectos, entendemos porque o ato moral tem um 
caráter voluntário ou consciente. 
Elementos dos atos morais: os meios 
Gisele é filha de Bernardo, e ambos descobriram que ela havia contraído Aids após uma 
transfusão de sangue durante um acidente de trânsito no qual ela foi vítima de 
atropelamento causado por um motorista bêbado. 
Bernardo, como não poderia deixar de ser, ficou revoltado com o destino imposto a sua 
filha. Porém, como a amava muito, passou a reivindicar o tratamento ao poder público, 
já que os remédios eram caríssimos e ele não tinha condições de pagar pelo tratamento. 
Como os hospitais públicos quase nunca tinham os remédios, Bernardo resolveu tomar 
uma atitude drástica: assaltar uma indústria farmacêutica para garantir o suprimento da 
medicação de sua filha. 
Fins elevados moralmente não são suficientes para justificar o uso de meios torpes, vis, 
como a humilhação, tortura e o suborno de seres humanos. Já o resultado, que 
concretiza o fim almejado, afeta os homens em sociedade pelas conseqüências da ação 
empreendida. Por isto, o sujeito que age moralmente deve ter plena consciência dos 
meios que irá utilizar e dos resultados possíveis que sua ação desencadeará. Estes 
últimos, por estarem ainda relacionados com normas, princípios e valores que implicam 
e regulamentando o comportamento individual e social dos homens, constituem parte 
integrante do que uma comunidade julga significativo e digno: seu código moral. 
A unidade do ato moral 
 
Motivos, consciência do fim, consciência dos meios e a decisão em alcançar os mesmos, indicam que o ato moral 
possui uma dimensão subjetiva. A ela acrescenta-se, no entanto, um lado objetivo: escolha de meios, projeção de 
resultados e conseqüências possíveis. Agora eu lhe pergunto: por que não condenamos moralmente um médico que 
mutila um paciente (meio) para salvar-lhe a vida (fim)? 
Código moral na sociedade 
 
Encerrando esta aula... 
Diante do que realizamos em cada experiência vivida, devemos considerar a forma de 
nos comportarmos moralmente. Dispomos sempre de um código que nos forneça 
previamente fundamentos para que possamos agir corretamente numa situação; mas, 
devido às peculiaridades do que passamos em cada caso e suas dimensões 
imprevisíveis, em que nos perguntamos: devemos fazer X ou Y? Mergulhamos nossas 
escolhas em problemas que assumem a forma de conflito de deveres, ou casos de 
consciência moral. Não podemos de antemão determinar o que é mais conveniente 
fazermos do ponto de vista de nossa conduta moral. 
Aula 05 
 
Roberto é um jovem bastante ativo na sociedade, ainda que conviva com o preconceito 
pelo fato de ser portador de síndrome de Down. Sua mãe, Rosângela, atribui a Roberto 
uma série de atividades diárias, como fazer a feira, ir ao banco etc. 
Certo dia, ao entrar no supermercado, Roberto se viu diante da sessão de chocolates. 
Como já sabia que sua mãe confere sempre a nota fiscal, bem como sabia que ela não 
permite comprar esse tipo de alimento, Roberto resolveu colocar no bolso da calça uma 
pequena embalagem. 
 
Análise da ação moral 
Devemos destacar cinco momentos na análise das diversas ações morais: (1) 
conhecimento do objeto e do fim; (2) vontade para alcançar a finalidade visada; (3) 
deliberação dos meios que podem realizar o ato; (4) escolha reflexiva; (5) firmeza para 
agir. Em poucas palavras, não se deve ignorar as circunstâncias e as consequências de 
uma ação – agir conscientemente; a causa de um ato deve encontrar-se no agente, não 
em um fator externo, contrariando a sua vontade – é sempre livre a conduta moral. 
 
“(...) tão-somente o conhecimento, de um lado, e a liberdade, de outro, permitem 
falar legitimamente de responsabilidade. Pelo contrário, a ignorância, de uma parte, e 
a falta de liberdade, de outra (entendida aqui como coação), permite eximir o sujeito 
da responsabilidade moral” (VÁZQUEZ: 2002,110). 
Duas condições entram em consideração: consciência versus ignorância, liberdade 
versus coação externa/coação interna. 
Ignorância e responsabilidade moral 
Quem não tem consciência daquilo que faz está isento de qualquer responsabilidade 
moral? Animando as considerações seguidas no livro III, da Ética a Nicômaco, a 
discussão sobre este tema ganha um rumo definitivo, quando Aristóteles afirma (2001, 
III,1,1110ª): 
 
“São consideradas involuntárias aquelas ações que ocorrem sob compulsão ou por 
ignorância; e é compulsório ou forçado aquele ato cujo princípio motor é externo ao 
agente, e para o qual a pessoa que age não contribui de maneira alguma para o ato, 
porém, pelo contrário, é influenciado por ele. Por exemplo, quando uma pessoa é 
levada a alguma parte pelo vento, ou por homens que a têm em seu poder”. 
 
 
 
Coação externa, coação interna e responsabilidade moral 
Segunda condição para alguém ser responsabilizado moralmente: seu comportamento 
ser desencadeado pela sua própria vontade, inexistindo algo ou uma pessoa que o force 
a realizar o ato. Pois, como menciona Aristóteles (2001:III, 1,1110b): 
 
“Que espécies de ações (...) devem ser chamadas forçadas? São aquelas em que, sem 
restrições de nenhum tipo, a causa é externa ao agente, o qual em nada contribui para 
tal ação (...). Os que agem forçados e contra a sua vontade, agem sofrendo, mas 
quem pratica atos por serem agradáveis ou nobres, pratica-os com prazer”. 
Na medida em que a causa do ato forçado está fora do agente, escapando ao seu poder e 
controle, inexiste a liberdade para decidir e agir por conta própria: age-se pressionado por uma 
coação externa.

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