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CCJ0007-WL-LC-Guia Acadêmico de Direito - Direito Penal 01 - Parte Geral 01

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Enviado por Waldeck Lemos de Arruda Junior em

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1. Noções fundamentais: o fato social é sempre o ponto de 
partida na formação da noção do Direito. O Direito surge das 
necessidades fundamentais das sociedades humanas, que 
são reguladas por ele como condição essencial à sua própria 
sobrevivência. É no Direito que encontramos a segurança 
das condições inerentes à vida humana, determinada pelas 
nor mas que formam a ordem jurídica. O fato social que se 
mos tra contrário à norma de direito forja o ilícito jurídico, cuja 
forma mais séria é o ilícito penal, que atenta contra os bens 
mais importantes da vida social. Contra a prática desses fatos 
o Estado estabelece sanções, procurando tornar invioláveis 
os bens que protege. As idéias modernas sobre a natureza 
do crime e as suas causas e a exigência prática de uma luta 
efi caz contra a criminalidade foram desenvolvendo, ao lado da 
velha reação punitiva, uma série de medidas que se dirigem 
não a punir o criminoso, mas a promover a sua recuperação 
social ou a segregá-lo do meio nos casos de desajustamento 
irredutível. São as chamadas medidas de segurança, com o 
objetivo de prevenir ou reprimir a ocorrência de fatos lesivos 
aos bens jurídicos dos cidadãos. A mais severa das sanções 
é a pena, estabelecida para o caso de inobservância de um 
imperativo. Dentre as providências de repressão ou preven ção 
encontramos as medidas de segurança.
2. Função de tutela jurídica: já dizia Carrara que a função 
específi ca do Direito Penal é a tutela jurídica. Visa o Direito 
Penal a proteger os bens jurídicos. Bem é tudo aquilo que pode 
satisfazer as necessidades humanas. Todo valor re conhecido 
pelo Direito torna-se um bem jurídico. O Direito Pe nal visa 
proteger os bens jurídicos mais importantes, intervindo somente 
nos casos de lesão a bens jurídicos re putados fundamentais 
para a vida em sociedade, impondo sanções aos sujeitos que 
praticam delitos.
3. Defi nição: direito Penal é o conjunto de normas jurídicas que 
regulam o exercício do poder punitivo do Estado, ligando o deli-
to, como pressuposto, à pena, como consequência jurí dica.
4. Características do Direito Penal: o Direito Penal regula as 
relações do indivíduo com a sociedade. Por isso, não per tence 
ao Direito Privado, mas, sim, ao Público.
O Direito Penal regula relações jurídicas em que de um lado 
surge o Estado com o jus puniendi, o que lhe confere o caráter 
de Direito Público. Mesmo nos casos em que a ação penal se 
movimenta por iniciativa da parte ofendida (crimes de ação 
privada), não se outorga o jus puniendi ao particular. Este 
exerce apenas o jus persequendi in juditio, não gozando do 
direito de punir o sujeito ativo do crime.
Segundo Magalhães Noronha, o Direito Penal é ciência cultu-
ral porque pertence à classe das ciências do “dever ser”, e 
não à do “ser”. É ciência normativa porque tem a fi nalidade 
de estudar a norma. O objeto da Ciência do Direito Penal é 
o conjunto de preceitos legais que se refere à conduta dos 
cidadãos, bem como às consequências jurídicas advindas do 
não-cumprimento de suas determinações. É também ciência 
valorativa. O direito não empresta às normas o mesmo valor; 
esse, porém, varia, de conformidade com o fato que lhe dá 
conteúdo. Nesse sentido, o Direito valoriza suas normas, que 
são dispostas em escala hierárquica. Incumbe ao Direito Pe-
nal, em regra, tutelar os valores mais elevados ou preciosos, 
ou, querendo, ele atua somente onde há transgressão de 
valores mais importantes ou fundamentais para a sociedade. 
E, ainda, ciência fi nalista, porque atua em defesa da socie-
dade na proteção de bens jurídicos fundamentais, como a 
vida humana, a integridade corporal dos cidadãos, a honra, 
o patrimônio etc. A consciência social eleva esses interesses, 
tendo em vista o seu valor, à categoria de bens jurídicos que 
necessitam de proteção do Direito Penal para a sobrevivência 
da ordem jurídica. O Direito Penal é, por fi m, sancionador, 
pois, por meio da cominação da sanção, protege outra norma 
jurídica de natureza extrapenal. Assim, o Direito Civil regula 
o direito de propriedade, ao passo que o CP, nos preceitos secun-
dários das normas que defi nem os “Crimes contra o Patrimônio”, 
comina sanções àqueles que atentam contra a propriedade alheia. 
É, pois, o Direito Penal, um conjunto complementar e sancionador 
de normas jurídicas.
5. Conteúdo do Direito Penal: o conteúdo do Direito Penal abarca 
o estudo do crime, da pena e do delinquente, que são os seus 
elementos fundamentais, precedidos de uma parte introdutiva. Na 
parte introdutória são estudadas a propedêu tica jurídico-penal e a 
norma penal. É tratada da sua aplicação no tempo e no espaço, 
como também da sua exegese. Acres centam-se partes referentes 
à ação penal, punibilidade e medidas de segurança.
Princípios do
Direito Penal
1. Legalidade ou da reserva legal: constitui uma efetiva limitação 
ao poder punitivo estatal. Embora seja hoje um princípio fundamental 
do Direito Penal, seu reconhecimento constituiu um longo processo, 
com avanços e recuos, não passando, muitas vezes, de simples 
“fachada formal” de determinados Estados Feuerbach, no início 
do século XIX, consagrou o princípio da reserva legal por meio da 
fórmula latina nullum crimen, nulla poena sine lege. O princípio da 
reserva legal é um imperativo que não admite desvios nem exceções 
e representa uma conquista da consciência jurídica que obedece a 
exigências de justiça.
Em termos bem esquemáticos, pode-se dizer que, pelo princípio 
da legalidade, a elaboração de normas incriminadoras é função 
exclusiva da lei, isto é, nenhum fato pode ser considerado crimi-
noso e nenhuma pena criminal pode ser aplicada sem que antes 
da ocorrência desse fato exista uma lei defi nindo-o como crime 
e cominando-lhe a sanção correspondente. A lei deve defi nir com 
precisão e de forma cristalina a conduta proibida.
A Constituição brasileira de 1988, ao proteger os direitos e garan-
tias fundamentais, em seu art. 5º, inc. XXXIX, determina que “não 
haverá crime sem lei anterior que o defi na, nem pena sem prévia 
cominação legal”.
2. Intervenção mínima: o princípio da intervenção mínima, também 
conhecido como “ultima ratio”, orienta e limita o poder incriminador 
do Estado, preconizando que a criminalização de uma conduta só 
se legitima se constituir meio necessário para a proteção de deter-
minado bem jurídico. Se outras formas de sanção ou outros meios 
de controle social revelarem-se sufi cientes para a tutela desse bem, 
a sua criminalização é inadequada e não recomendável. Se para o 
restabelecimento da ordem jurídica violada forem sufi cientes medidas 
civis ou administrativas, são estas que devem ser empregadas e não 
as de natureza penal.
3. Adequação social: segundo Welzel, o Direito Penal somen-te 
tipifi ca condutas que tenham uma certa relevância social; caso 
contrário, não poderiam ser deli tos. Deduz-se, consequentemente, 
que há condutas que, por sua “adequação social”, não podem ser 
consideradas criminosas. Em outros termos, segundo esta teoria, 
as condutas “socialmente adequadas” não podem constituir delitos 
e, por isso, não se revestem de tipicidade.
4. Insignifi cância: o princípio da insignifi cância foi cunhado pela 
primeira vez por Claus Roxin em 1964, que voltou a repeti-lo em 
sua obra Política Criminal y Sistema dei Derecho Penal, partindo do 
velho adágio latino minima non curat praetor.
A tipicidade penal exige uma ofensa de alguma gravidade aos bens 
jurídicos protegidos, pois nem sempre qualquer ofensa a esses bens 
ou interesses é sufi ciente para confi gurar o injusto típico. Segundo 
esse princípio, que Klaus Tiedemann chamou de princípio da baga-
tela, é imperativa uma efetiva proporcionalidade entre a gravidade 
da conduta que se pretende punir e a drasticidade da intervenção 
estatal. Amiúde, condutas que se amoldam a determinado tipo penal, 
sob o ponto de vista formal,
não apresentam nenhuma relevância 
material. Nessas circunstâncias, pode-se afastar liminarmente a 
tipicidade penal porque em verdade o bem jurídico não chegou 
a ser lesado.
A irrelevância ou insignifi cância de determinada conduta deve ser 
aferida não apenas em relação à importância do bem juridicamente 
atingido, mas especialmente em relação ao grau de sua inten-
sidade, isto é, pela extensão da lesão produzida.
A insignifi cância da ofensa afasta a tipicidade. Mas essa in-
signi fi cância só pode ser valorada por meio da consideração 
glo bal da ordem jurídica, como afi rma Zaffaroni.
5. Fragmentariedade: signifi ca que o Direito Penal não deve, 
por conta desse caráter fragmentário, sancionar todas as 
condutas lesivas aos bens jurídicos, mas tão somente aquelas 
condutas mais graves e mais perigosas praticadas contra bens 
mais relevantes.
6. Culpabilidade: não há pena sem culpabilidade, decorren-
do daí três consequências materiais: não há responsabilidade 
objetiva pelo simples resultado; a responsabilidade penal é pelo 
fato e não pelo autor; a culpabilidade é a medida da pena.
7. Humanidade: o poder punitivo estatal não pode aplicar 
sanções que atinjam a dignidade da pessoa humana ou que 
lesionem a constituição físico-psíquica dos condena dos.
8. Irretroatividade da lei penal: durante o período compreen-
dido entre a entrada em vigor de uma lei e a cessação de sua 
vigência todos os atos então praticados são por ela regulados. 
Não serão alcançados, portanto, os fatos ocorridos antes ou 
depois do mencionado período: não retroage tampouco tem 
ultratividade. É o princípio “tempus regit actum”. Contudo, vige 
somente em relação à lei mais severa. Admite-se, no direito 
intertemporal, a aplicação do princípio da retroatividade da lei 
mais favorável - art. 5º, inc. XL, da CF, pois, segundo esse prin-
cípio, a lei nova que for mais favorável ao réu sempre retroage.
 
 LINK ACADÊMICO 1
Lei Penal e Fontes
da Norma Penal
1. Fonte é o lugar de onde o direito provém.
2. Classifi cação das Fontes
2.1. De produção, material ou substancial: refere-se ao órgão 
incumbido de sua elaboração. Compete à União (CF, art. 22, I).
2.2. Formal, de cognição: refere-se ao modo pelo qual o 
Direito Penal se exterioriza. Subdivide-se em: imediata: a 
lei, composta de preceito primário (descrição da conduta) e 
secundário (sanção); mediata: costume, princípios gerais do 
direito, jurisprudência e doutrina, LICC, art. 4º.
3. Classifi cação da lei penal
a) leis incriminadoras: são as que descrevem crimes e 
cominam penas.
b) leis não incriminadoras: não descrevem crimes, nem 
cominam penas.
c) leis não incriminadoras permissivas: tornam lícitas 
determina das condutas tipifi cadas em leis incriminadoras. 
Exemplo: legítima defesa.
d) leis não incriminadoras fi nais, complementares ou expli-
cativas: esclarecem o conteúdo de outras normas e delimitam 
o âmbito de sua aplicação. Exemplo: arts. 12, 22 e todos os 
demais da Parte Geral do CP, à exceção dos que tratam das 
causas de exclusão da ilicitude.
4. Características das normas penais
a) exclusividade: só elas defi nem crimes e cominam penas;
b) anterioridade: as que descrevem crimes somente têm inci-
dência se já estavam em vigor na data do seu cometimento;
c) imperatividade: impõem-se coativamente a todos, sendo 
obrigatória sua observância;
d) generalidade: têm efi cácia erga omnes, dirigindo-se a todos, 
inclusive inimputáveis;
e) impessoalidade: dirigem-se impessoal e indistintamente a 
todos. Não se concebe a elaboração de uma norma para punir 
especifi camente uma pessoa.
Introdução
DIREITO PENAL
PARTE GERAL I 
2
5. Normas penais em branco (cegas ou abertas): são nor-
mas nas quais o preceito secundário (cominação da pena) 
está completo, permanecendo indeterminado o seu conteúdo. 
Trata -se, portanto, de uma norma cuja descrição da conduta 
está incompleta, necessitando de complementação por outra 
disposição legal ou regulamentar.
6. Fontes formais mediatas
6.1. Costume: consiste no complexo de regras não escritas, 
considera das juridicamente obrigatórias e seguidas de modo 
reiterado e uniforme pela coletividade. Os costumes são 
obedecidos com tamanha frequência que acabam se tornan-
do praticamente regras imperativas, ante a sincera convicção 
social da necessidade de sua observância. Diferente é o hábito, 
onde inexiste a convicção da obrigatoriedade jurídica do ato. 
a) “contra legem”: inaplicabilidade da norma jurídica em 
face do desuso, da inobservância constante e uniforme da lei.
b) “secundum legem”: traça regras sobre a aplicação da 
lei penal.
c) “praeter legem”: preenche lacunas e especifi ca o conteú-
do da norma.
O costume não cria delitos, tampouco comina penas (princípio 
da reserva legal). O costume contra legem não revoga a lei, 
em face do que dispõe o art. 2º, § 1º, da Lei de Introdução ao 
Código Civil (Dec.-Lei 4.657/42), segundo o qual uma lei só 
pode ser revogada por outra lei. O sistema jurídico brasileiro 
não admite que possa uma lei perecer pelo desuso, porquanto, 
assentado no princípio da supremacia da lei escrita (fonte 
principal do direito), sua obrigatoriedade só termina com sua 
revogação por outra lei. Noutros termos, signifi ca que não pode 
ter existência jurídica o costume contra legem.
6.2. Princípios gerais do direito: tratam-se de princípios 
que se fundam em premissas éticas extraídas de material 
legislativo.
6.3. A analogia não é fonte formal mediata do Direito Penal, 
mas método pelo qual se aplica a fonte formal imediata, isto 
é, a lei do caso semelhante. De acordo com o art. 4º da LICC, 
na lacuna do ordenamento jurídico, aplica-se em primeiro 
lugar outra lei (a do caso análogo), por meio da atividade 
conhecida como analogia; na sua ausência, recorrem-se então 
às fontes formais mediatas, que são o costume e os princípios 
gerais do direito.
Interpretação
da Lei Penal
1. Formas de procedimento interpretativo: equidade, dou-
trina e jurisprudência.
2. Conceito: é a atividade que consiste em extrair da norma 
penal seu exato alcance e real signifi cado. A interpretação deve 
buscar a vontade da lei, desconsiderando a de quem a fez. A 
lei terminada independe de seu passado, importando apenas 
o que está contido em seus preceitos.
3. Espécies de interpretação quanto ao resultado
a) declarativa: há perfeita correspondência entre a palavra 
da lei e a sua vontade.
b) restritiva: quando a letra escrita da lei foi além da sua 
vontade (a lei disse mais do que queria, e, por isso, a interpre-
tação vai restringir o seu signifi cado).
c) extensiva: a letra escrita da lei fi cou aquém da sua vontade 
(a lei disse menos do que queria, e, por isso, a interpretação 
vai ampliar o seu signifi cado).
4. O princípio “in dubio pro reo”: para alguns, só se aplica 
no campo da apreciação das provas; para outros, esgotada a 
atividade interpretativa sem que se tenha conseguido extrair 
o signifi cado da norma, esta deverá ser interpretada de modo 
mais favorável ao acusado.
Aplicação
da Lei Penal
1. Lei penal no tempo: o CP adotou a teoria da atividade, 
considerando-se praticado o crime no momento da ação ou 
omissão, ainda que seja outro o momento do resultado (art. 
4º, CP). É o princípio “tempus regit actum”.
1.1. Hipóteses de confl ito de leis penais no tempo: o Código 
Penal procura resolver as situações de confl itos temporais 
que a lei penal apresenta no seu art 2º: a) “abolitio crimi-
nis”: a lei nova deixa de considerar crime fato anteriormente 
tipi fi cado como ilícito penal; b) “novatio legis” incriminadora: 
con sidera crime fato anteriormente não incriminado. É irretroa-
tiva, consoante rezam os arts. 5º, inc. XXXIX, da CF, e 1º, do 
CP; c) “novatio legis in pejus”: a lei posterior que de qualquer 
modo agravar a situação do sujeito não retroagirá (art. 5º, inc. 
XL, da CF); d) “novatio legis in mellius”:
lei nova, mesmo 
sem descriminalizar, dá tratamento mais favorável ao sujeito 
(parágrafo único do art. 2º do CP).
2. Leis temporárias: a vigência vem previamente fi xada 
pelo legislador.
3. Leis excepcionais: são as que vigem durante situações de 
emergência.
Lei Penal
no Espaço
1. Princípios adotados pelo Código Penal: adotou-se, como re gra, 
o princípio da territorialidade temperada; como exce ção, foram 
adotados os seguintes princípios: real ou de pro teção, art. 7º, I, e 
par. 3º do CP; universal ou cosmopolita, art. 7º, II, “a” do CP; nacio-
nalidade ativa, art. 7º, II, “b” do CP; nacionalidade passiva, art. 7º, 
par. 3º do CP; e representação, art. 7º, II, “c” do CP.
2. Lugar do crime: o CP, no que concerne ao lugar do crime, adotou 
a teoria da ubiquidade: reputa-se lugar do crime tanto onde houve 
a conduta, quanto o local onde se deu o resultado (art. 6º, CP).
3. Extraterritorialidade: as situações de aplicação extraterri torial 
da lei penal brasileira estão previstas no art. 7º do CP e constituem 
exceções ao princípio geral da territorialidade, este no art. 5º do CP. 
As hipóteses são as seguintes:
3.1. Extraterritorialidade incondicionada: aplica-se a lei brasileira 
sem qualquer condicionante (art. 7º, I, CP) na hipóteses de crimes 
praticados fora do território nacional, ainda que o agente tenha sido 
julgado no estrangeiro (art. 7º, I, CP), com fundamento nos princípios 
da defesa e da universalidade.
Os casos de extraterritorialidade incondicional referem-se a crimes: 
contra a vida ou a liberdade do Presidente da República; contra o 
patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado, 
Território, Município, empresa pública, sociedade de economia 
mista, autarquia ou fundação instituída pelo poder público; contra a 
administração pública, por quem está a seu serviço; de genocídio, 
quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil.
3.2. Extraterritorialidade condicionada: aplica-se a lei brasileira 
quando satisfeitos certos requisitos, art. 7º, II e parágrafos 2º e 3º, 
CP, com base nos princípios da universidade, da personalidade, da 
bandeira e da defesa.
Lei Penal
em Relação às Pessoas
As imunidades diplomáticas e parlamentares não estão vinculadas 
à pessoa-autora de infração penal, mas às funções eventualmente 
por ela exercidas, não violando, assim, o preceito constitucional da 
igualdade de todos perante a lei.
A imunidade parlamentar, por não constituir um direito do par-
lamentar, mas do próprio Parlamento, é irrenunciável, de cunho 
personalíssimo, podendo ser de duas espécies:
1. Imunidade material ou absoluta: refere-se à inviolabilidade 
dos parlamentares no exercício do mandato, por suas palavras e 
votos - arts. 53, caput; 27, par. 1º; e 29, VIII, da CF.
2. Imunidade formal, relativa ou processual: refere-se à prisão, 
ao processo, a prerrogativas de foro – arts. 53, par. 4º; e 102, I, b, 
do CF. Ao processo e julgamento – art. 53, pará grafos 1º e 3º, do CF.
Contagem
de Prazo
O art. 10 do CP determina que o dia do começo inclui-se no cômputo 
do prazo. Qualquer que seja a fração do primeiro dia, dia do começo, 
é computada como um dia inteiro.
Teoria Geral
do Delito
1. O conceito clássico de delito: fundamentava-se num conceito 
de ação eminentemente naturalístico, que vinculava a conduta ao 
resultado através do nexo de causalidade e man tinha em partes 
absolutamente distintas o aspecto obje tivo, representado pela 
tipicidade e antijuridicidade, e o aspecto subjetivo, representado 
pela culpabilidade.
2. O conceito neoclássico de delito: conceito de ação, com 
concepção puramente naturalística. O tipo, até então pura mente 
descritivo de um processo exterior, passou a ser um instituto pleno 
de sentido, convertendo-se em tipo de injus to, contendo, muitas 
vezes, elementos normativos, e, outras ve zes, elementos subjetivos. 
A antijuridicidade deixou de ser concebida apenas como a simples 
e lógica contradição da conduta com a norma jurídica, num puro 
conceito formal, começando-se a trabalhar um conceito material de 
antijuri dicidade, representado pela danosidade social.
A culpabilidade também foi objeto de transformações nesta fase 
teleológica, recebendo de Frank a “repro vabilidade”, pela formação 
da vontade contrária ao dever.
3. O conceito no fi nalismo: a teoria fi nal da ação tem o mérito de 
eliminar a injustifi cável separação dos aspectos objetivos e subje-
tivos da ação e do próprio injusto, transformando, assim, o injusto 
naturalístico em injusto pessoal.
A contribuição mais marcante do fi nalismo foi a retirada de 
to dos os elementos subjetivos que integravam a culpabili dade, 
nascendo, assim, uma concepção puramente norma tiva.
O fi nalismo deslocou o dolo e a culpa para o injusto, retirando-
os de sua tradicional localização — a culpabilidade, levando, 
dessa forma, a fi nalidade para o centro do injusto. Concentrou 
na culpabilidade somente aquelas circunstâncias que condi-
cionam a reprovabilidade da conduta contrária ao Direito, e o 
objeto da reprovação situa-se no injusto.
4. Conceito de crime: dos quatro sistemas de conceituação do 
crime - formal, material, formal e material, e formal, material e 
sintomático, dois predominam: o formal e o material. O pri meiro 
apreende o elemento dogmático da conduta qualifi cada como 
crime por uma norma penal. O segundo vai além, lançando 
olhar às profundezas das quais o legislador extrai os elementos 
que dão conteúdo e razão de ser ao esquema legal.
Sob o aspecto formal, bipartido, crime é um fato típico e anti-
jurídico. A culpabilidade constitui pressuposto da pena (Capez, 
Damásio). Sustentam esses que a culpabilidade não pode ser 
um elemento externo de valoração exercido sobre o autor do 
crime e, ao mesmo tempo, estar dentro dele. Não existe crime 
culpado, mas autor de crime culpado.
Nosso Código Penal diz:
Quando o fato é atípico, não existe crime (art. 1º do CP).
Quando a ilicitude é excluída, não existe crime (art. 23 do 
CP) – “não há crime”.
Quando a culpabilidade é excluída, o Código diz “é isento de 
pena” (art. 26 do CP).
Fato
Típico
1. Elementos: conduta (ação ou omissão); resultado; nexo 
causal (crimes materiais) e tipicidade.
2. Elementos da conduta: vontade, fi nalidade, exteriorização 
e consciência.
3. Formas de conduta
3.1. Ação: para o fi nalismo, é todo comportamento humano, 
positivo ou negativo, consciente e voluntário, dirigido a uma 
fi nalidade, tendo os seguintes momentos: representação men-
tal do resultado querido; escolha dos meios para alcançar o 
resultado; aceitação dos resultados concomitantes, também 
chamados de efeitos colaterais; realização do projeto, ou seja, 
emprego dos meios escolhidos em busca dos resultados tidos 
como necessários ou prováveis.
3.2. Omissão: comportamento negativo, abstenção de 
movimento.
4. Relevância da omissão: os crimes podem ser:
4.1. Comissivos: quando a ação proibida é positiva, ou seja, 
quando a norma pretende que o sujeito se abstenha de agir 
de forma lesiva a bens jurídicos: “não furte” (art. 155 do CP).
4.2. Omissivos: quando a norma impõe um dever jurídico de 
agir, ou seja, quando a norma ordena que o sujeito impeça um 
determinado risco ou resultado lesivo ao bem jurídico: socorra 
a criança extraviada (art. 135 do CP).
Quanto aos crimes omissivos, eles podem ser classifi cados em:
4.2.1. Omissivos próprios: crimes referidos por tipos 
da parte especial de forma direta (a omissão é narrada 
expressamente no tipo), nos quais há simplesmente o dever 
jurídico de agir. São crimes de mera conduta, pois não 
contêm previsão de resultado naturalístico a ser evitado. 
No instante em que o su-jeito não age como o legislador 
espera e a norma determina, já está consumado o delito 
(omissão de socorro).
4.2.2. Omissivos impróprios: também chamados de 
omissi vos espúrios, impuros ou comissivos por omissão.
Aqueles nos quais a omissão não é narrada de forma direta. 
São crimes, em princípio, comissivos. Exs.: homicídio e 
lesão cor poral, nos quais há previsão da produção de 
resultado natu ralístico. Percebe-se que, em tais casos, o 
sujeito não tem sim plesmente o dever jurídico de agir, mas, 
sim, o dever jurí dico de agir para impedir um resultado.
Podemos dizer que tem o dever de agir para impedir o 
resultado o sujeito que assume a posição de “garante” (art. 
13, § 2º, CP: tenha por lei obrigação de cuidado, proteção 
ou vigilância); de outra forma, assumiu a obrigação de 
impedir o resultado ou, com seu comportamento anterior, 
criou o risco da produção do resultado.
5. Objeto jurídico do crime: é o bem jurídico protegido pela 
norma penal. A vida, o patrimônio, por exemplo.
6. Objeto material do crime: é a pessoa ou a coisa sobre 
a qual recai a conduta.
7. Corpo de delito: é o conjunto de todos os elementos 
sensíveis do fato criminoso, como instrumentos, objetos, 
a própria pessoa etc.
 LINK ACADÊMICO 2
3
8. Do Resultado
8.1. Resultado jurídico: é a afronta à norma penal.
8.2. Resultado naturalístico: é a alteração do mundo físico, 
diversa da própria conduta, mas causada por ela. Os crimes, 
quanto ao resultado, podem ser classifi cados em:
8.2.1. Materiais: o tipo traz a descrição do resultado e o exige 
para a consumação;
8.2.2. Formais: o tipo traz a descrição do resultado, mas não 
o exige para a consumação. O resultado naturalístico, embora 
possível, é irrelevante para a consumação do crime. Como não 
há coincidência entre o que o tipo exige para a consumação 
(conduta) e o que o agente quer (resultado), também são 
chamados de tipos incongruentes; poderíamos ainda dizer 
que no caso dos crimes formais não há perfeita sintonia entre 
a tipicidade objetiva e a subjetiva;
8.2.3. Mera conduta: o tipo sequer traz descrição de resultado. 
Exs.: arts. 158 e 330, CP.
9. Nexo de Causalidade: é o liame entre a conduta e o resul-
tado, necessário (mas não sufi ciente) para que se possa atri buir 
a responsabilidade pelo resultado ao agente.
É adotada no Brasil a teoria da equivalência dos antecedentes, 
considerando causa tudo aquilo que contribui para a geração 
do resultado. Para descobrir se um evento é ou não causa de 
determinado resultado, basta excluí-lo hipoteticamente da ca-
deia causal e verifi car se, idealmente, o resultado persistiria nas 
mesmas circunstâncias. Se o resultado persiste, não é causa, 
pois sem ele o mesmo resultado foi gerado. Se o resultado deixa 
de ocorrer, é causa (critério da eliminação hipotética).
O Brasil não adota tal teoria de forma absoluta, havendo uma 
exceção: a causa superveniente relativamente indepen-
dente rompe o nexo causal, ou melhor, entende-se que na 
superveniência de causa relativamente independente não há 
nexo entre a conduta e o resultado. Assim, quando incide a 
exceção, uma conduta que pelo critério da eliminação hipo-
tética seria considerada causa deixa de ser assim considerada 
para fi ns penais.
As causas podem ser:
9.1. Dependentes: são aquelas que se encontram na linha 
de desdobramento previsível e esperada da conduta. É o que 
costuma acontecer.
9.2. Independentes: são aquelas que não se encontram na 
linha de desdobramento previsível e esperada da conduta. 
Divididas em:
9.2.1. Relativamente independentes: quando precisam da as-
sociação da conduta para que venham a gerar o resultado.
9.2.2. Absolutamente independentes: quando não precisam 
da associação da conduta para que venham a gerar o resulta-
do. Geram o resultado ainda que isoladas.
Se houver causa absolutamente independente, não há nexo 
causal entre a conduta e o resultado, pois, ainda que a conduta 
venha a ser eliminada, o resultado permaneceria (aplicação do 
critério da eliminação hipotética).
Cada uma das categorias enumeradas ainda pode ser classi-
fi cada quanto ao momento em que atua, como: preexistente 
(quando anterior à conduta), concomitante (quando coincide 
no tempo com a conduta) e superveniente (quando posterior 
à conduta).
10. Imputação objetiva: surgiu para conter os excessos 
da teoria da conditio sine qua non, evitando-se, com isso, 
o chamado regressus ad infi nitus. O nexo causal não pode 
ser estabelecido, exclusivamente, de acordo com a relação 
de causa e efeito.
Assim, além do elo naturalístico de causa e efeito, são 
necessários os seguintes requisitos:
a) Criação de um risco proibido e relevante. Ex.: uma mulher 
leva o marido para passear, esperando que ele venha a sofrer 
um acidente e morrer, o que acaba acontecendo. Passear é 
um risco normal, irrelevante;
b) Que o resultado esteja na mesma linha de desdobramento 
causal da conduta, ou seja, dentro do seu âmbito de risco. 
Ex.: um trafi cante vende droga para alguém, que, por impru-
dência, morre por overdose. A morte não pode ser, de forma 
causal, imputada ao vendedor, por se tratar de uma ação de 
risco próprio, fora do âmbito normal de perigo provocado pela 
ação do trafi cante;
c) Que o agente atue fora do sentido de proteção da norma.
11. Classifi cação dos delitos
11.1. Crime comum: pode ser cometido por qualquer pessoa. 
A lei não exige nenhum requisito especial. Exemplo: homicídio, 
furto etc.
11.2. Crime próprio: só pode ser cometido por determinada 
pessoa ou categoria de pessoas, como o infanticídio, no qual 
só a mãe pode ser autora (art. 123, CP).
11.3. Crime de mão própria (de atuação pessoal ou de 
conduta infungível): só pode ser cometido pelo sujeito em 
pessoa, como o delito de falso testemunho (art. 342).
11.4. Crime de dano: exige uma efetiva lesão ao bem jurídico 
protegido para a sua consumação (art. 121, CP).
11.5. Crime de perigo: para a consumação, basta a possi-
bilidade do dano, ou seja, a exposição do bem a perigo de 
dano (art. 132 do CP). Subdivide-se em:
11.6. Crime material: só se consuma com a produção do resultado 
naturalístico, como a morte, para o homicídio; a subtração, para o 
furto; a destruição, no caso do dano.
11.7. Crime formal: o tipo não exige a produção do resultado para a 
consumação do crime, embora seja possível a sua ocorrência. Assim, 
o resultado naturalístico, embora possível, é irrelevante para que a 
infração penal seja consumada.
11.8. Crime de mera conduta: o resultado naturalístico não é apenas 
irrelevante, mas impossível. É o caso do crime de desobediência ou 
de violação de domicílio, em que não existe absolutamente nenhum 
resultado que provoque modifi cação no mundo concreto.
11.9. Crime comissivo: é o praticado por meio de ação. Homicídio, 
por exemplo.
11.10. Crime omissivo: é o praticado por meio de uma omissão 
(abstenção de comportamento). Exemplo: art. 135 do CP (dei-xar 
de prestar assistência).
11.11. Crime omissivo próprio: não existe o dever jurídico de 
agir; o omitente não responde pelo resultado, mas ape nas por sua 
conduta omissiva (arts. 135 e 269, do CP). Dentro dessa modalidade 
de delito omissivo tem-se o crime de conduta mista, em que o tipo 
legal descreve uma fase inicial ativa e uma fase fi nal omissiva - por 
exemplo, apropriação de coisa achada, art. 169, parágrafo único, II 
do CP. Trata-se de crime omissivo próprio porque só se consuma 
no mo mento em que o agente deixa de restituir a coisa. A fase 
inicial da ação, isto é, de apossamento da coisa, não é sequer ato 
executório do crime.
11.12. Crime omissivo impróprio ou espúrio ou comissivo por 
omissão: o omitente tinha o dever jurídico de evitar o resultado e, 
portanto, por este responderá, cf. art. 13, § 2º, do CP. É o caso da 
mãe que descumpre o dever legal de ama mentar o fi lho, fazendo 
com que ele morra de inanição, ou do salva-vidas que, na posição 
de garantidor, deixa, por negligência, o banhista morrer afogado: 
ambos res pon dem por homicídio culposo, e não por simples 
omissão de socorro.
11.13. Crime doloso: quando o agente quer ou assume o risco de 
produzir
o resultado (art. 18, I, CP).
11.14. Crime culposo: quando o agente dá causa ao resul tado por 
imprudência, negligência ou imperícia (art. 18, II, CP).
11.15. Crime instantâneo: consuma-se em um dado instante, sem 
continuidade no tempo, como, por exemplo, o homicídio.
11.16. Crime permanente: o momento consumativo se protrai no 
tempo, e o bem jurídico é continuamente agredido. A sua caracterís-
tica reside no fato de a cessação da situação ilícita depender apenas 
da vontade do agente. Exemplo: sequestro - art. 148 do CP.
11.17. Crime complexo: resulta da fusão de dois ou mais tipos 
penais (latrocínio = roubo + homicídio; estupro qualifi cado pelo 
resultado morte = estupro + homicídio; extorsão mediante sequestro = 
extorsão + sequestro etc.). Não constituem crime complexo os delitos 
formados por um crime acrescido de elementos que isoladamente 
são penalmente indiferentes, por exemplo, o delito de denunciação 
caluniosa, CP, art. 339, que é formado pelo crime de calúnia e por 
outros elementos que não constituem crimes.
11.18. Crime monoofensivo e pluriofensivo: monoofensivo é o 
que atinge apenas um bem jurídico. O homicídio, por exemplo, no 
qual se tutela tão somente a vida; pluriofensivo é o que ofende 
mais de um bem jurídico, como o latrocínio, que lesa a vida e o 
patrimônio.
11.19. Crime unissubsistente: é o que se perfaz com um úni co ato, 
como a injúria verbal. Não admite a tentativa.
11.20. Crime plurissubsistente: é aquele que exige mais de um ato 
para sua realização, como no caso do estelionato - art. 171, CP.
11.21. Crime de ação múltipla ou conteúdo variado: é aquele em 
que o tipo penal descreve várias modalidades de realização do crime 
(tráfi co de drogas, art. 33 da Lei 11.343/06; instigação, induzimento 
ou auxilio ao suicídio, art. 122 do CP).
11.22. Crime habitual: é o composto pela reiteração de atos que 
revelam um estilo de vida do agente, p. ex.: rufi anismo (art. 230, CP); 
exercício ilegal da medicina, arte dentária ou farmacêutica (art. 282, 
CP). Só se consuma com a habituali dade na conduta. Enquanto no 
crime habitual cada ato isolado constitui fato atípico, pois a tipicidade 
depende da reiteração de um número de atos, no crime continuado 
cada ato isolado, por si só, já constitui crime.
11.23. Crimes conexos: pode ocorrer de o agente praticar vários 
crimes sem que entre eles haja qualquer ligação. Ao contrário, pode 
haver entre eles um liame, uma ligação, um nexo entre os delitos. 
Nesse caso, fala-se em crimes conexos. Assim, o sujeito pode co-
meter uma infração para ocultar outra. Então, temos delitos indepen-
dentes, pois estão ligados por um liame subjetivo. A conexão pode 
ser: a) teleológica: um crime é praticado para assegurar a execução 
de outro. Ex.: o sujeito mata o marido para estuprar a esposa. Há 
dois crimes: homicídio e estupro. O primeiro é denominado crime-
meio; o segundo, crime-fi m; b) consequencial: (ou causal) quando 
um crime é cometido para assegurar a ocultação, a impunida de ou 
vantagem de outro. Ex.: o sujeito, após furtar, incendeia a casa para 
fazer desaparecer qualquer vestígio. O incêndio é cometido para 
assegurar a ocultação do furto; c) ocasional: quando um crime é 
cometido por ocasião da prática de outro. Ex.: subtração de jóias da 
vítima estuprada. O furto é praticado por ocasião do cometimento do 
estupro, não havendo entre eles relação de meio e fi m.
Da Tipicidade
Tipicidade penal é a perfeita adequação entre o fato concreto 
e o tipo incriminador (modelo abstrato). Adotamos atualmente 
a teoria de um tipo penal complexo, com parte objetiva e sub-
jetiva. O juízo de tipicidade comporta, assim, análise objetiva 
e subjetiva. Subjetiva quando se refere ao aspecto interno do 
sujeito (previsão do resultado, consciência da conduta, vontade, 
objetivos etc.). Objetiva quando externo ao sujeito, perceptível 
diretamente pelo observador (o movimento corpóreo, o lugar 
da conduta, o resultado naturalístico etc.).
A tipicidade penal pode ser dolosa, quando presente no tipo 
o elemento subjetivo do tipo dolo. Pode também ser culposa, 
quando necessário tão somente o elemento normativo culpa. 
Sem dolo ou culpa, não há crime, conforme o já estudado prin-
cípio da culpabilidade, que rege o Direito Penal brasileiro.
A adequação típica pode ser: imediata, nos casos em que o fato 
concreto se adapta diretamente à hipótese típica, ou seja, o tipo 
espelha a conduta realizada no mundo exterior; e mediata ou 
indireta, nos casos em que o fato não encontra correspondente 
direto na narrativa típica. Exemplo: não há um tipo que narre 
“tentar matar alguém”. A adequação típica apenas ocorrerá 
de forma mediata, ou seja, será preciso recorrer a uma norma 
de ampliação da adequação típica da tentativa para que o 
homicídio na forma tentada seja considerado típico. O mesmo 
acontece com o concurso de agentes.
1. O tipo penal: o vocábulo tipo é utilizado com o sentido de 
modelo. O tipo penal incriminador seria o modelo de conduta 
proibida, em princípio. Ao invés de descrever a própria proibição 
da conduta (“não matar, sob pena de ...“), o sistema de modelos 
(tipos) traz a descrição da conduta proibida no preceito primário, 
e no secundário, a sanção.
Nos tipos penais podem ser discriminadas: a) elementares: 
são os dados essenciais da fi gura típica, sem os quais ocorre 
atipicidade absoluta ou relativa. Há atipicidade absoluta quan-
do, com a eliminação hipotética do dado, a conduta deixa de 
ser relevante penal (retire hipoteticamente o termo “outrem” do 
crime de lesão corporal e o fato deixa de ter relevância penal, 
pois a autolesão não é, em princípio, punível). Consideramos 
que houve atipicidade relativa quando a exclusão hipotética 
do dado resulta na alteração da classifi cação típica, ou seja, 
o fato passa a ser capitulado em outro tipo (elimine a violência 
ou grave ameaça do roubo e o fato passa a constituir furto); 
b) circunstâncias: são todos os dados acessórios da fi gura 
típica que orbitam as elementares e têm como função infl uir na 
dosagem da pena. São objetivas quando se referem a aspectos 
externos ao sujeito e subjetivas quando tratam do agente.
2. Tipicidade conglobante: fórmula corretiva da tipicidade 
formal desenvolvida por Eugenio Raúl Zaffaroni, para que se 
alcance a verdadeira tipicidade penal. Assim, a tipicidade penal 
seria a soma da tipicidade formal com a tipicidade conglobante. 
Se o juízo de tipicidade implica proibição a priori da conduta, 
não podem ser consideradas sequer proibidas aquelas con-
dutas que não são apenas toleradas (descriminantes), mas, 
sim, fomentadas ou determinadas pelo ordenamento, sendo, 
assim, importante considerar o que a norma queria atingir, o 
que ela quer proibir. Por outro lado, se as excludentes de anti-
juridicidade permitem excepcionalmente o que é em princípio 
proibido, não teria sentido, excepcionalmente, permitir o que em 
tese não era proibido, ou seja, torna-se desnecessário apelar 
para as descriminantes quando a questão deve ser resolvida 
no âmbito da tipicidade.
Assim, as práticas esportivas e as intervenções cirúrgicas não 
seriam sequer fatos típicos a serem desconsiderados pelas 
descriminantes do exercício regular de direito, tampouco 
a invasão sob mandado do oficial de justiça poderia ser 
considerada típica, mas não injusta pelo estrito cumprimento 
do dever legal.
Tais condutas deveriam ser compreendidas como penalmente 
atípicas, pois o ordenamento desde logo não as proíbe. Estão 
fora do âmbito de alcance da tipicidade conglobante, ainda, 
as lesões insignifi cantes. Acrescentamos aqui, também, as 
criações de risco permitido.
3. Tipicidade dolosa: costuma-se designar dolo como 
intenção, vontade. Há duas importantes teorias acerca dos 
elementos constitutivos do dolo: a) teoria normativa do 
dolo: dolo é consciência, vontade e consciência da ilicitude; 
b) teoria psicológica do dolo: dolo é consciência
e vontade 
de estar concretizando/concretizar os elementos do tipo. 
Aliás, a consciência é o dado essencial, mormente para que 
se compreenda, logo mais, o erro de tipo.
 LINK ACADÊMICO 3
Do Crime
Doloso
Dolo é o elemento psicológico da conduta. Conduta é um dos 
elementos do fato típico. Logo, o dolo é um dos elementos 
do fato típico.
4
1. Conceito de dolo: é a vontade e a consciência de realizar os 
elementos constantes do tipo legal. Mais amplamente é a von-
tade manifestada pela pessoa humana de realizar a conduta.
2. Elementos do dolo: consciência (conhecimento do fato 
que constitui a ação típica) e vontade (elemento volitivo de 
realizar esse fato). Aníbal Bruno inclui dentre os componentes 
do conceito de dolo a consciência da ilicitude do comporta-
mento do agente.
3. Teorias adotadas pelo Código Penal: da análise do 
disposto no art. 18, I, do Código Penal, conclui-se que foram 
adotadas as teorias da vontade e do assentimento. Dolo é 
a vontade de realizar o resultado ou a aceitação dos riscos 
de produzi-lo. A teoria da representação, que confunde culpa 
consciente (ou com previsão) com dolo, não foi adotada.
3.1. Abrangência: a consciência do autor deve se referir a 
todos os componentes do tipo, prevendo ele os dados essen-
ciais dos elementos típicos futuros, em especial o resultado e 
o processo causal. A vontade consiste em resolver executar 
a ação típica, estendendo-se a todos os elementos objetivos 
conhecidos pelo autor que servem de base à sua decisão 
de praticá-la. Ressalte-se que o dolo abrange também os 
meios empregados e as consequências secundárias de sua 
atu ação.
4. Espécies de dolo
4.1. Dolo natural: é o dolo concebido como um elemento pu-
ramente psicológico, desprovido de qualquer juízo de valor. 
Trata-se de um simples querer, independentemente de o objeto 
da vontade ser lícito ou ilícito, certo ou errado. Compõe-se 
apenas de consciência e vontade, sem a necessidade de 
haver também a consciência de que o fato praticado é ilícito, 
injusto ou errado. Dessa forma, qualquer vontade é conside-
rada dolo, tanto a de beber água, andar, estudar, quanto a de 
praticar um crime.
4.2. Dolo direto ou determinado: é a vontade de realizar a 
conduta e produzir o resultado (teoria da vontade). Ocorre 
quando o agente quer diretamente o resultado.
4.3. Dolo indireto ou indeterminado: o agente não quer 
diretamente o resultado, mas aceita a possibilidade de produzi-
lo (dolo eventual), ou não se importa em produzir este ou 
aquele resultado (dolo alternativo). Comporta duas formas: a) 
alternativo: quando o agente deseja qualquer um dos eventos 
possíveis. Por exemplo: pessoa com raiva joga bomba caseira 
entre pessoas, querendo matá-las ou feri-las. Ele quer produzir 
um resultado e não ‘o’ resultado; b) dolo eventual: o sujeito 
prevê o resultado e, embora não o queira propriamente atingi-lo, 
pouco se importa com a sua ocorrência (‘eu não quero, mas, 
se acontecer, para mim tudo bem, não é por causa deste risco 
que vou parar de praticar minha conduta — não quero, mas 
também não me importo com a sua ocorrência’). É o caso do 
motorista que conduz veículo em velocidade incompatível com 
o local e realizando manobras arriscadas.
Nélson Hungria lembra a fórmula de Frank para explicar o 
dolo eventual: “Seja como for, dê no que der, em qualquer 
caso não deixo de agir”.
São também casos de dolo eventual: praticar roleta-russa, 
acionando por vezes o revólver carregado com um só cartucho 
e apontando-o sucessivamente contra outras pessoas, para 
testar sua sorte, e participar de inaceitável disputa automobilísti-
ca realizada em via pública (“racha”), ocasionando morte.
4.4. Dolo de dano: vontade de produzir uma lesão efetiva a 
um bem jurídico (CP, arts. 121, 155 etc.).
4.5. Dolo de perigo: mera vontade de expor o bem a um perigo 
de lesão (CP, arts. 132, 133 etc.).
4.6. Dolo genérico: vontade de realizar a conduta sem um fi m 
especial, ou seja, a mera vontade de praticar o núcleo da ação 
típica (o verbo do tipo), sem qualquer fi nalidade específi ca.
4.7. Dolo específi co: vontade de realizar a conduta visando 
a um fi m especial previsto no tipo. Nos tipos anormais, que 
são aqueles que contêm elementos subjetivos (fi nalidade es-
pecial do agente), o dolo, ou seja, a consciência e a vontade a 
respeito dos elementos objetivos, não basta, pois o tipo exige, 
além da vontade de praticar a conduta, uma fi nalidade especial 
do agente. Nos tipos penais vemos as frases “a fi m de”, “com 
o fi m de”, “para” etc.
Do Crime
Culposo
1. Culpa: é o elemento normativo da conduta. É a quebra 
do dever de cuidado objetivo decorrente da imprudência, da 
negligência ou da imperícia. Imprudência: ação des cuidada. 
Implica sempre um comportamento positivo; negli gência: é a 
inação, inércia e passividade. Decorre de ina tividade material 
(corpórea) ou subjetiva (psíquica). Re duz-se a um comporta-
mento negativo; imperícia: é a de monstração de inaptidão 
técnica em profi ssão ou ati vidade. Consiste na incapacidade, 
na falta de conheci mento ou habilidade para o exercício de 
determinado mister.
Os tipos que defi nem os crimes culposos são, em geral, abertos; 
neles, portanto, não se descreve em que consiste o comportamento 
culposo. O tipo limita-se a dizer: “se o crime é culposo, a pena será 
de...”, não descrevendo como seria a conduta culposa.
A culpa, portanto, não está descrita, nem especifi cada, mas ape-
nas prevista genericamente no tipo. Isso acontece porque seria 
impossível o legislador elencar todas as maneiras de se praticar 
conduta culposa.
2. Elementos
a) conduta (sempre voluntária);
b) resultado involuntário;
c) nexo causal;
d) tipicidade;
e) previsibilidade objetiva. É a possibilidade de qualquer pessoa 
dota da de prudência mediana prever o resultado. Anota Mirabete: 
“a rigor, porém, quase todos os fatos naturais podem ser previstos 
pelo homem, inclusive de uma pessoa poder atirar-se sob as rodas 
do automóvel que está dirigindo. Não se pode confundir o dever de 
prever, fundado na diligência ordinária de um homem qualquer, com 
o poder de previsão”;
f) ausência de previsão (cuidado: na culpa consciente inexiste 
esse elemento);
g) quebra do dever de cuidado objetivo, manifestada por meio da 
imprudência, imperícia ou negligência.
3. Espécies
3.1. Culpa inconsciente: é a culpa sem previsão, em que o agente 
não prevê o que era previsível.
3.2. Culpa consciente ou com previsão: é aquela em que o 
agente prevê o resultado, embora não o aceite. Há no agente a 
representação da possibilidade do resultado, mas ele a afasta, de 
pronto, por entender que o evitará e que sua habilidade impedirá o 
evento lesivo previsto.
3.3. Culpa imprópria, também conhecida como culpa por 
extensão, por equiparação ou por assimilação: é aquela em 
que o agente, por erro de tipo inescusável, supõe estar diante de 
uma causa de justifi cação que lhe permita praticar, licitamente, um 
fato típico. Há uma errônea apreciação da realidade fática, fazendo 
o autor supor que está acobertado por uma causa de exclusão da 
ilicitude. Entretanto, como esse erro poderia ter sido evitado pelo 
emprego de diligência mediana, subsiste o comportamento culposo. 
Exemplo: “A” está em sua casa quando seu irmão entra pela porta 
dos fundos. Pensando tratar-se de um assalto, “A” efetua disparos 
de arma de fogo contra o infortunado parente, certo de que está 
praticando uma ação perfeitamente lícita, amparada pela legítima 
defesa. A ação, em si, é dolosa, mas o agente incorre em erro de tipo 
essencial (pensa estar presentes elementares do tipo permissivo da 
legítima defesa), o que exclui o dolo de sua conduta, subsistindo a 
culpa, em face da evitabilidade do erro.
3.4. Culpa mediata ou indireta: ocorre quando o agente produz 
indiretamente um resultado a título de culpa.
4. Graus de culpa: grave, leve e levíssima.
5. Compensação
de culpas: não existe no Direito Penal. Desse 
modo, a imprudência do pedestre que cruza a via pública em local 
inadequado não afasta a do motorista que, trafegando na contra-
mão, vem a atropelá-lo. A culpa recíproca apenas produz efeitos 
quanto à fi xação da pena, pois o art. 59 faz alusão ao “comportamento 
da vítima” como uma das circunstâncias a serem consideradas. A 
culpa exclusiva da vítima, contudo, exclui a do agente (ora, se ela foi 
exclusiva de um, é porque não houve culpa alguma do outro; logo, se 
não há culpa do agente, não se pode falar em compensação).
6. Concorrência de culpas: ocorre quando dois ou mais agen tes, 
em atuação independente uma da outra, causam resultado lesivo 
por imprudência, negligência ou imperícia. Todos respondem pelos 
eventos lesivos.
7. Excepcionalidade do crime culposo: um cri me só pode ser puni-
do como culposo quando houver expressa previsão legal (CP, art. 18, 
parágrafo único). No silêncio da lei, o crime só é punido como doloso.
Crime
Preterdoloso
É aquele em que a ação causa um resultado mais grave que o 
pretendido pelo agente. É um crime misto, cuja conduta é dolosa 
e culposa. Dolosa por dirigir-se a um fi m típico; culposa, por causar 
outro resultado que não era objeto do crime fundamental, pela 
inobservância do cuidado objetivo. O agente quer um minus e a sua 
conduta produz um majus, de forma que se conjugam a ação dolosa 
(antecedente) e a culpa no resultado (conse quente).
Consoante reza o art. 19 do Código Penal, o agente somente 
responderá pelo crime qualifi cado pelo resultado quando atuar ao 
menos com culpa em sentido estrito com relação ao evento acrescido 
ao tipo fundamental.
 LINK ACADÊMICO 4
Crime Consumado
Restará consumado o crime quando o tipo estiver inteiramente 
realizado, ou seja, quando o fato concreto se subsumir ao tipo 
abstrato descrito na lei penal. Preenchidos todos os elemen-
tos do tipo objetivo pelo fato natural, opera a consumação. 
Segundo o art. 14, inciso I do CP, diz-se o crime consumado 
“quando nele se reúnem todos os elementos de sua defi nição 
legal”. Consumam-se, assim, o homicídio e o infanticídio com 
a morte da vítima (arts. 121 e 123, respectivamente, ambos 
do CP); a lesão corporal, com a ofensa à integridade corporal 
ou à saúde (art. 129, CP).
Crime
Tentado
As fases do crime costumam ser classifi cadas em quatro: 
cogitação, atos preparatórios, execução e consumação.
Dentre as várias teorias acerca do início da execução, ado-
tamos a conexão de duas: inicia-se a execução no momento 
da primeira ação idônea e inequívoca a atingir o bem jurídico. 
A ação será idônea quando provocar risco relevante para o 
bem, o que normalmente ocorre com o início da realização do 
verbo típico (sub trair, matar, constranger). Será inequívoca 
quando for possível perceber que se dirige a realizar a con-
duta descrita na norma.
Existe o crime tentado quando, iniciada a execução, o sujeito 
não atinge a consumação por circunstâncias alheias à sua 
vontade, art. 14, II, do CP.
Desistência Voluntária e 
Arrependimento Eficaz
Se o sujeito inicia o processo executório, mas desiste de 
prosseguir, evitando a consumação, não há que se falar em 
tentativa, pois não foi preenchido o requisito circunstâncias 
alheias à sua vontade (o que evitou o resultado foi a própria 
vontade do agente). Nesse caso, também não há se falar em 
punição pelo crime consumado, pois este não foi alcançado, 
art. 15 do CP. A medida é não punir, pela ausência de previsão 
legal, além dos limites já alcançados.
O mesmo raciocínio se aplica ao arrependimento efi caz, com a 
diferença de que, nesta fi gura, o sujeito já esgotou o processo 
executório, apenas não tendo ainda atingido a consumação. 
Toma, então, providências para evitar a referida consumação, 
com sucesso.
A voluntariedade do sujeito é compreendida pelo fato de ele 
fi gurar como dono da situação, tendo a liberdade em optar 
entre continuar ou não a sua conduta.
Famosa a distinção “quero, mas não posso (tentativa); posso, 
mas não quero (desistência voluntária)”, atribuída a Frank.
Nos dois casos, apesar da desistência ou do arrependimento 
para evitar a consumação, se esta ocorre, o sujeito responde 
normalmente pelo crime consumado.
Arrependimento
Posterior
Art. 16, CP: “Nos crimes cometidos sem violência ou grave 
ameaça à pessoa, reparado o dano ou restituída a coisa, até 
o recebimento da denúncia ou da queixa, por ato voluntário 
do agente, a pena será reduzida de um a dois terços”.
Não há nenhuma relação estrutural com o arrependimento 
efi caz. Tratamos aqui de uma causa de diminuição de pena para 
os crimes praticados sem violência ou grave ameaça dolosa 
à pessoa, nos quais o prejuízo é reparado até o momento do 
recebimento da denúncia ou queixa. Para ter efi cácia, deve 
ser pessoal, voluntário e completo.
É possível tanto nos crimes dolosos como nos culposos e, 
na sua ocorrência, é uma causa obrigatória de diminuição da 
pena de um a dois terços.
Erro
Jurídico-Penal
Erro de tipo: é o que incide sobre as elementares ou circuns-
tâncias da fi gura típica, sobre os pressupostos de fato de uma 
causa de justifi cação ou dados secundários da norma penal 
in criminadora.
1. Erro essencial sobre elementar de tipo incriminador: é 
o que faz o sujeito supor a ausência de elemento ou circuns-
tância da fi gura típica incriminadora ou a presença de requisi-
tos da norma permissiva.
Pode ser escusável (inevitável) ou inescusável (evitável). Se 
escusável, signifi ca que não foi quebrado qualquer dever geral 
de cuidado na conduta do sujeito, ou seja, não é possível a 
punição a título de culpa.
Afastados o dolo e a culpa, não há tipicidade (princípio da 
culpabilidade).
Se o erro for inescusável, signifi ca que o agente rompeu com 
o cuidado devido, e a tomada das cautelas exigíveis ordina-
riamente teria evitado o resultado. A quebra de dever geral de 
cuidado é a essência do tipo culposo, o que signifi ca que em 
tal hipótese será possível a incriminação do agente na forma 
5
culposa, se prevista.
É o clássico exemplo do caçador que, pensando tratar-se de 
um urso, desfere um tiro que vem a atingir e matar seu amigo 
de caça, que carregava uma pele de urso. O caçador tem a 
equivocada percepção acerca da elementar matar alguém, pois 
pensa que mata algo. Se a consciência é elemento do dolo, 
não há, no caso, dolo, daí a conclusão: o erro sobre elementar 
de tipo incriminador sempre exclui o dolo.
2. Erro sobre circunstância (art. 20, CP):
pode também recair sobre uma circunstância qualifi cadora ou 
agravante genérica, que é o dado acessório da fi gura típica 
que orbita o tipo penal e tem como função infl uir na dosagem 
da pena. Pode recair sobre os pressupostos de fato de uma 
excluden te da ilicitude, como, por exemplo, a legítima defesa 
putativa, em que o sujeito, diante das circunstâncias de fato, 
supõe a existência de uma agressão injusta.
3. Erro sobre descriminante: também chamado de erro sobre 
pressuposto fático de causa excludente de antijuridi cidade, 
descriminante putativa por erro de tipo ou, enfi m, erro de tipo 
permissivo.
Exemplo clássico de erro de tipo permissivo inevitável: João, 
exímio atirador, jura de morte José, acusando-o de traição. 
José compra uma arma para se defender e, tarde da noite, 
depara-se com João em rua isolada. João coloca a mão na 
cintura rapidamente, mas não antes de José, assustado, dispara 
com a certeza de que se defende. Errando sobre a presença 
dos elementos do tipo permissivo, fi ca excluído o dolo. Consi-
derando que não era exigida a cautela de aguardar a provável 
agressão para reagir, concluindo que o erro é inevitável, resta 
excluída também a culpa.
Conforme a teoria limitada da culpabilidade, que, para a dou-
trina brasileira, é a corrente seguida pela legislação pátria, o 
erro sobre tipo permissivo tem a mesma consequên cia
do erro 
sobre elementar de tipo incriminador, ou seja: sempre exclui o 
dolo. Se inevitável, exclui também a punição por crime culposo; 
se evitável, permite a punição por crime culposo, se houver 
previsão nesse sentido. Observação: quan do o crime é punido a 
título de culpa em razão de erro de tipo permissivo inescusável, 
classifi ca-se tal modalidade de culpa como im própria.
4. Erro de tipo acidental: o erro acidental pode ser dividido 
em: a) erro sobre o objeto; b) erro sobre a pessoa; c) erro na 
exe cução (aberratio ictus); d) erro sobre o resultado (aberratio 
delicti); e e) erro sobre o nexo causal (aberratio causae).
4.1. Erro sobre o objeto (error in re): o agente se equivoca 
quanto ao objeto material do crime, que é a própria coisa. 
Exemplo: sujeito furta CD do Led Zepellin em vez do CD do 
Queen, ou vice-versa. Consequência: nenhuma. Não há qual-
quer repercussão típica. Assim, o sujeito responde da mesma 
forma pelo crime praticado.
4.2. Erro sobre a pessoa (error in persona) – art. 20, § 3º, 
CP: Sujeito atinge pessoa diversa da pretendida, confun-
dindo-a com a vítima. Responderá como se tivesse acertado 
quem queria.
4.3. Erro na execução (aberratio ictus) – art. 73, CP: por 
falha na execução (falha de mira, equívoco na seleção dos 
meios), o sujeito vem a acertar pessoa diversa da que queria. 
É a aberração no ataque ou o desvio do golpe. Não exclui 
a tipicidade do fato. A consequência varia de acordo com o 
número de lesões produzidas: se há resultados múltiplos, 
responde pelos resultados produzidos em concurso formal. 
Pela regra do art. 70 do CP, remetida pelo art. 73, 2ª parte do 
CP, se forem desígnios autônomos, aplicar-se-á a regra do 
cúmulo material do art. 69 do CP.
4.4. Erro quanto ao resultado – resultado diverso do pretendi-
do (aberratio criminis) – art. 74, CP: signifi ca desvio do crime. 
Na aberratio ictus – erro de execução -, está presente a fi gura 
persona in personan: quer atingir uma pessoa e ofende outra, 
ou ambas. Na aberratio criminis, há erro na execução do tipo 
persona in rem ou a re in personan: quer atingir um bem jurídico 
e ofende outro, de espécie diversa.
Se o sujeito quer produzir um resultado criminoso, mas vem 
a produzir outro, pela redação do art. 74 do CP, é possível 
que responda apenas pelo resultado produzido, na forma 
culposa, se previsível (resta excluída a punição pela tentativa 
do crime querido).
Se os resultados forem múltiplos, o sujeito responderá por 
todos em concurso formal.
4.5. Erro quanto ao nexo causal (aberratio causae): quando há 
divergência entre os meios e modos que o sujeito queria aperfeiçoar 
para alcançar o resultado e aqueles que realmente provocaram a 
lesão. 
Quando a alteração do curso causal é importante, mas o re-sultado 
é causado pelo sujeito em um “segundo ato”, chama-mos de erro 
sucessivo, tratado na matéria “dolo geral”. É o caso de alguém 
que é alvejado por um tiro, cai na água e morre afogado, e não em 
decorrência dos ferimentos.
Erro determinado por terceiro - art. 20, § 2º, CP: o erro po de ser 
espontâneo ou provocado por terceiro. No caso de erro determinado 
por terceiro, aquele que determina o agente em erro responderá 
pelo resultado atingido. Se a provocação se deu a título de dolo, 
responderá na forma do losa; se a título de culpa, na forma culposa. 
Se o erro é ine vitável, o provocado por nada responderá, pois o 
erro ine vitável afasta o dolo e a culpa. Se o erro for evitável, po derá 
responder por crime culposo, se houver previsão. Se o provocado 
percebe a realidade da situação, deixa de ha ver erro provocado.
 LINK ACADÊMICO 5
Crime Impossível
Apesar de buscar determinado resultado, o sujeito não é punido 
quando o meio escolhido ou o objeto material selecionado não 
permite concluir que houve lesão ou risco de lesão ao bem jurídico 
protegido pela norma penal. É chamado de quase-crime ou tentativa 
inidônea.
1. Inidoneidade absoluta do meio: quando o meio escolhido não 
tiver qualquer possibilidade razoável de lesar o bem jurídico. É o caso 
do agente que quer matar terceiro com o poder da mente. Por mais 
que se concentre, faça força e acredite em seu poder, não poderá ser 
punido por homicídio tentado, simplesmente porque não há qualquer 
chance de atingir o resultado. Como a vida do terceiro não correu 
nenhum risco, não há relevância penal no fato.
2. Impropriedade absoluta do objeto: quando o objeto material não 
reveste o bem jurídico protegido pela norma penal. Ex.: sujeito quer 
matar o vizinho; ao entrar em sua casa, este já está morto. Sem tal 
consciência, desfere vários tiros no corpo. Notem: o objeto material 
(corpo) não reveste o bem jurídico protegido pela norma (vida). Daí 
a inviabilidade da punição, uma vez que o bem jurídico sequer foi 
colocado em risco.
3. Por obra do agente provocador, também chamado de delito 
de ensaio: quando o agente estatal estimula o mecanismo causal 
do fato, após ter tomado as providências que tornem impossível a 
consumação. Se forem tomadas providências para que o bem não 
seja sequer colocado em risco, não há como se falar em crime. É o 
fl agrante preparado ou provocado.
A Súmula 145 do Supremo Tribunal Federal assinala que: “Não há 
crime quando a preparação do fl agrante pela polícia torna impossível 
a sua consumação”.
Antijuridicidade
1. Conceito: é a contradição entre uma conduta e o ordena-
mento jurídico. O fato típico, até prova em contrário, é um fato que, 
ajustando-se ao tipo penal, é antijurídico. Existem, entretanto, na lei 
penal ou no ordenamento jurídico em geral, causas que excluem a 
antijuridicidade do fato típico. Por essa razão, diz-se que a tipicidade 
é o indício da antijuridicidade, que será excluída se houver uma causa 
que elimine sua ilicitude. É um juízo de desvalor que recai sobre a 
conduta típica. É a contradição do fato, eventualmente adequado 
ao modelo legal, com a ordem jurídica, constituindo uma lesão a 
um interesse protegido.
2. Exclusão da antijuridicidade: o Direito prevê causas que excluem 
a antijuridicidade do fato típico (causas excludentes da criminalidade, 
causas excludentes da antijuridicidade, causas justifi cativas, causas 
excludentes da ilicitude, eximen tes ou descriminantes). São normas 
permissivas, também cha madas tipos permissivos, que excluem a 
antijuridicidade por permitirem a prática de um fato típico.
A lei penal brasileira dispõe que “não há crime” quando o agente 
pratica o fato em estado de necessidade, em legítima defesa, em 
estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de 
direito (art. 23 do CP). Além das normas permissivas da Parte 
Geral, existem algumas na Parte Especial, como, por exemplo, 
a possibilidade de o médico praticar aborto se não hou ver outro 
meio de salvar a vida da gestante ou se a gravi dez resultar 
de estupro (art. 128, I e II, do CP); a ofensa irrogada em juízo 
na discussão da causa, pela parte ou por seu procura dor; a 
opinião desfavorável da crítica literária, artística ou cien tífi ca 
e o conceito desfavorável emitido por funcionário público, em 
apreciação ou informação que preste no cumprimento de de ver 
de ofi cio (art. 142, I, II e III, do CP) etc.
Estado de Necessidade -
art. 24, CP
1. Conceito: “Considera-se em estado de necessidade quem 
pratica o fato para salvar de perigo atual, que não provocou por 
sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio 
ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável 
exigir-se.” Segundo o art. 23, I, do CP, não há, nessa hipótese, 
crime; há uma causa excludente da antijuridicidade.
2. Requisitos: a) ameaça a direito próprio ou alheio; b) exis-
tência de um perigo atual e inevitável; c) inexigibilidade do 
sacrifício do bem ameaçado; d) uma situação não provocada 
voluntariamente pelo agente; e) inexistência do dever legal 
de enfrentar o perigo; f) conhecimento da situação
de fato 
justifi cante.
3. Excesso: excedendo-se o agente na conduta de preservar 
o bem jurídico, responderá por ilícito penal se atuou dolosa 
ou culposamente.
4. Exclusão do estado de necessidade: certas pessoas, por 
estarem encarregadas de funções que, normalmente, as co-
locam em perigo, não podem eximir-se da responsabilidade 
pela conduta típica que praticarem numa dessas situações. 
Prevê o § 1º do art. 24 do CP: “Não pode alegar estado de 
ne ces sidade quem tinha o dever legal de enfrentar o perigo”. 
Dever legal é aquele previsto em uma norma jurídica (lei, 
de creto, regulamento etc.), o que inclui a obrigação funcional 
do policial, do soldado, do bombeiro, do médico sanitarista, 
do capitão de navio ou aeronave etc. Responderão eles pelo 
cri me praticado para salvar direito próprio, embora presentes 
os requisitos do estado de necessidade já assinalados, se esti-
verem enfrentando o perigo em decorrência de disposição legal.
Legítima Defesa
1. Conceito: causa de exclusão da ilicitude que consiste em 
repelir injusta agressão, atual ou iminente, a direito próprio ou 
alheio, usando moderadamente os meios necessários. Não 
há, aqui, uma situação de perigo pondo em confl ito dois ou 
mais bens, na qual um deles deverá ser sacrifi cado. Ao con-
trário, ocorre um efetivo ataque ilícito contra o agente ou ter-
ceiro, legitimando a repulsa.
2. Requisitos: a) agressão injusta; b) atual ou iminente; c) a 
direito próprio ou de terceiro (no caso, teremos: legítima defesa 
própria: defesa de direito próprio; legítima defesa de terceiro: defesa 
de direito alheio); d) repulsa com meios necessários; e) uso mo-
derado de tais meios; f) conhecimento da situação justifi cante.
3. Legítima defesa sucessiva: é a repulsa contra o excesso.
4. Legítima defesa putativa: é a errônea suposição da existên-
cia da legítima defesa por erro de tipo ou de proibição. Só existe 
na imaginação do agente, pois o fato é objetivamente ilícito.
5. Legítima defesa subjetiva: é o excesso derivado de erro 
de tipo escusável, que exclui o dolo e a culpa.
6. Legítima defesa e tentativa: é perfeitamente possível, 
pois, se é aplicável aos crimes consumados, incompatibilidade 
alguma haveria com os tentados.
7. Excesso: doloso ou consciente: ocorre quando o agente, 
ao se defender de uma injusta agressão, emprega meio que 
sabe ser desnecessário ou, mesmo tendo consciência de sua 
desproporcionalidade, atua com imoderação. Ex.: após o pri-
meiro tiro, que fere e imobiliza o agressor, prossegue na reação 
até a sua morte. Em tal hipótese, resta caracterizado o excesso 
doloso em virtude de o agente consciente e deliberadamente 
valer-se da situação vantajosa de defesa em que se encontra 
para, desnecessariamente, infl igir ao agressor uma lesão mais 
grave do que a exigida e possível, impelido por motivos alheios 
à legítima defesa.
7.1. Consequência: constatado o excesso doloso, o agente 
 Espécies Conseqüências
Erro
de tipo
Erro de
Proibição
Essencial
Acidental
Sobre elementares
Inescusável
Escusável
Exclui só o dolo
Exclui o dolo e a culpa
Exclui a circunstância
Não traz qualquer conseqüência jurídica e
o sujeito responde pelo fato normalmente
Exclui a culpabilidade 
Não exclui a culpabilidade,
mas reduz a pena (1/6 a 1/3)
Sobre circunstâncias
Sobre o objeto material do crime
(error in persona e error in objeto)
Sobre o modo de execução do crime
(aberratio criminis e aberratio ictus)
Sobre o nexo causal
(aberratio causae ou dolo geral)
Inevitável (ou escusável).
Evitável (ou inescusável)
6
A coleção Guia Acadêmico é o ponto de partida 
dos estudos das disciplinas dos cursos de gradu-
ação, devendo ser complementada com o mate-
rial disponível nos Links e com a leitura de livros 
didáticos.
Penal - Parte Geral I – 2ª edição - 2009
Autor:
Antônio Carlos Lorenzetti, Promotor de Justiça e 
Professor de Direito Penal
A coleção Guia Acadêmico é uma publicação da 
Memes Tecnologia Educacional Ltda. São Paulo-
SP.
Endereço eletrônico: 
www.memesjuridico.com.br
Todos os direitos reservados. É terminantemente 
proibida a reprodução total ou parcial desta pu-
blicação, por qualquer meio ou processo, sem a 
expressa autorização do autor e da editora. A vio-
lação dos direitos autorais caracteriza crime, sem 
prejuízo das sanções civis cabíveis.
res ponde pelo resultado dolosamente. 
8. Hipóteses de cabimento: a) legítima defesa contra 
agres-são injusta de inimputável; b) legítima defesa 
contra agressão acobertada por qualquer outra causa de 
exclusão da culpa-bilidade; c) legítima defesa real contra 
legítima defesa putativa; d) legítima defesa putativa contra 
legítima defesa putativa; e) legítima defesa real contra 
legítima defesa subjetiva; f) legítima defesa putativa contra 
legítima defesa real; g) legítima defesa real contra legítima 
defesa culposa.
9. Hipóteses de não-cabimento da legítima defesa: a) 
legítima defesa real contra legítima defesa real; b) legítima 
defesa real contra estado de necessidade real; c) legítima 
defesa real contra exercício regular de direito; d) legítima 
defesa real contra estrito cumprimento do dever legal. É 
que, em nenhuma dessas hipóteses, havia agressão injusta.
Estrito Cumprimento
de Dever Legal
Quem pratica uma ação em cumprimento de um dever 
imposto por lei não comete crime. Ocorrem situações 
em que a lei im põe determinada conduta, que, embora 
típica, não será ilí cita, ainda que cause lesão a um bem 
juridicamente tutelado. Nessas circunstâncias, isto é, no 
estrito cumprimento de dever legal, não constituem crime 
a ação do carcereiro que encarcera o criminoso, do policial 
que prende o infrator em flagrante delito etc.
Reforçando a licitude de comportamentos semelhantes, 
o Código de Processo Penal estabelece que, se houver 
resistência, poderão os executores usar dos meios neces-
sários para se defenderem ou para vencerem a resistência 
(art. 292 do CPP). No entanto, dois requisitos devem ser 
estritamente observados para configurar a excludente:
1. Estrito cumprimento: somente os atos rigorosamente 
ne-cessários justificam o comportamento permitido;
2. De dever legal: é indispensável que o dever seja legal, 
isto é, decorra de lei, não o caracterizando obrigações de 
na tureza social, moral ou religiosa.
A nor ma da qual emana o dever tem de ser jurídica, e de 
cará-ter geral: lei, decreto, regulamento etc. Se a norma 
tiver caráter particular, de cunho administrativo, poderá 
configurar a obediência hierárquica, art. 22, 2ª parte, do 
CP, mas não o dever legal.
Esta norma permissiva não autoriza, contudo, os agentes 
do Esta do a matar ou ferir pessoas apenas porque são mar-
ginais ou estão delinquindo ou estão sendo legitimamente 
perse-guidas. A própria resistência do eventual infrator não 
autoriza essa excepcional violência oficial.
Se a resistência — ilegítima — constituir-se de violência 
ou grave ameaça ao exercício legal da atividade de au-
toridades públicas, configurada estará uma situação de 
legítima defesa, permitindo a reação dessas autoridades, 
desde que empre-guem moderadamente os meios neces-
sários para impedir ou repelir a agressão. Mas, repita-se, 
a atividade tem de ser legal e a resistência com violência 
tem de ser injusta, além da necessidade da presença dos 
demais requisitos da legítima defesa. Será uma excludente 
dentro de outra.
Exercício Regular
de Direito
O exercício de um direito, desde que regular, não pode 
ser, ao mesmo tempo, proibido pelo Direito. Regular será o 
exercício que se contiver nos limites objetivos e subjetivos, 
formais e materiais impostos pelos próprios fins do Direito.
Fora desses limites, haverá o abuso de direito e estará, 
portan to, excluída essa causa de justificação. O exercício 
regular de um direito jamais poderá ser antijurídico. Deve-se 
ter pre sen te, no entanto,
que a ninguém é permitido fazer 
justiça pe las próprias mãos, salvo quando a lei o permite, 
art. 345 do CP.
Constituem exercício regular de direito as intervenções 
cirúrgicas e médicas, a violência esportiva, quando o 
esporte é exercido dentro dos limites da disciplina que o 
regulamenta, a defesa da posse pelo desforço imediato.
1. Ofendículos: são as defesas predispostas, que, em 
regra, constituem dispositivos ou instrumentos cujo objetivo 
é impedir ou dificultar a ofensa ao bem jurídico protegido 
(patrimônio, domicílio ou qualquer outro bem jurídico).
Há, no entanto, autores que distinguem os ofendículos 
da defesa mecânica predisposta. Os ofendículos seriam 
perce bidos com facilidade pelo agressor, como fragmentos 
de vidro sobre o muro, pontas de lança, grades etc., que 
representam uma resistência normal, natural, prevenindo uma 
violação ao direito protegido.
As defesas mecânicas predispostas, por sua vez, encontrar-
se-iam ocultas, ignoradas pelo suposto agressor, como, por 
exemplo, armas automáticas predispostas ou qualquer tipo 
de armadilha pronta para disparar no momento da agressão.
As offendiculas, segundo Aníbal Bruno, incluem-se na excludente 
do exercício regular de direito. Para Assis Toledo, seguindo a 
orientação de Hungria e Magalhães Noronha, as offendiculas 
localizam-se melhor no instituto da legítima defesa, onde a 
potencialidade lesiva de certos recursos, cães ou engenhos 
será tolerada quando atingir o agressor e censu-rada quando 
o atingido for inocente.
A decisão de instalar os ofendículos constitui exercício regular 
de direito, isto é, exercício do direito de se autoproteger. No 
entanto, quando reage ao ataque esperado, inegavelmente 
estará constituída a legítima defesa preordenada.
 LINK ACADÊMICO 6
Culpabilidade
1. Conceito: é o juízo de censurabilidade e reprovação exercido 
sobre alguém que praticou um crime. A possibilidade de se 
considerar alguém culpado pela prática de ação infracional.
2. Elementos
2.1. Imputabilidade: capacidade de entender o caráter ilícito 
do fato e de ter controle sobre sua vontade. Dois momentos, 
portanto: de intelecção e de vontade.
2.2. Potencial consciência da ilicitude: trata-se do conhe-
cimento de que o fato é proibido. Tem consciência da ilicitude 
quem pratica o fato sabendo que faz coisa errada (proibida). Não 
se confunde com o desconhecimento da lei, que corresponde à 
noção do que diz o texto legal.
2.3. Exigibilidade de conduta diversa: a imposição de pena 
requer que o agente tenha tido condições de atuar de modo 
diverso. Isso não ocorre quando ele é obrigado a praticar o 
fato sob coação moral irresistível ou obediência hierárquica, 
i.e., em cumprimento de ordem de autoridade superior não 
manifestamente ilegal.
3. Excludentes de imputabilidade
a) doença mental ou desenvolvimento mental incompleto 
ou retardado: gera aplicação de medida de segurança (absol-
vição imprópria). Exige-se que o sujeito, ao tempo do fato e por 
influência da doença mental ou do desenvolvimento men tal in-
completo/retardado, tenha suprimida a capacidade de entender o 
caráter ilícito da conduta ou de se controlar. Se tais capacidades 
forem reduzidas, o agente será considerado semi-imputável; b) 
menoridade: aplica-se o ECA (Lei 8.069/90). A idade deve ser 
aferida ao tempo da conduta e não do re sultado; c) embriaguez 
completa e involuntária, em caso for tuito ou força maior: o 
agente será absolvido (absolvição pró pria). Será preciso supres-
são das capacidades de enten di mento e autodeterminação. Se 
houver redução dessas capa cidades, o agente será considerado 
semi-imputável. Quando a embriaguez for voluntária, o agente 
responderá pelo crime, desde que o resultado produzido seja 
considerado previsível (teoria da “actio libera in causae”).
4. Critérios de aferição da imputabilidade
a) sistema biológico: interessa saber se o agente é portador 
de alguma doença mental ou se tem o desenvolvimento mental 
incompleto, caso em que será considerado inimputável, inde-pen-
dentemente de qualquer verificação concreta de essa anomalia 
ter retirado a capacidade de entendimento ou autodeterminação; 
b) sistema psicológico: não se verifica com a existência de 
doença mental, mas apenas se, no momento da infração, ele 
tinha ou não condições de entender o caráter ilícito do fato e 
de ter controle sobre sua vontade; c) sistema biopsicológico: 
é uma combinação dos dois sistemas anteriores, exigindo que 
a causa geradora (doença mental ou desenvolvimento mental 
incompleto) esteja prevista em lei e que atue efetivamente no 
momento do crime, retirando do agente a condição de entender 
o caráter ilícito do fato e de ter controle sobre sua vontade, 
tornando-o inimputável. Esse foi o sistema adotado pelo Código 
Penal no art. 26, “caput”.
Os requisitos da inimputabilidade, segundo o sistema biopsico-
lógico, são causal (doença mental ou desenvolvimento mental 
incompleto), cronológico (atuação ao tempo do crime) e con-
sequencial (perda total da capacidade de entender e desejar o 
crime), havendo inimputabilidade se somente os três elementos 
estiverem presentes, com exceção do sistema biológico, quando 
o agente tem menos de 18 anos de idade.
 LINK ACADÊMICO 7
Concurso de Pessoas
1. Requisitos: a) pluralidade de agentes; b) relevância 
causal da conduta; c) vínculo subjetivo ou concurso de 
propósitos; d) unidade de infração.
2. Regra: todo aquele que concorre para o crime incide nas 
penas a ele cominadas, na medida de sua culpabilidade 
(art. 29, caput, do CP) - teoria monista ou unitária. Há 
casos de adoção da teoria pluralista, em que cada um dos 
concorrentes é enquadrado em dispositivos legais distintos. 
Exs.: aborto (a gestante estará incursa no art. 124 do CP e 
o terceiro, no art. 126 do CP); corrupção (o corrupto pratica 
corrupção passiva e o corruptor, corrupção ativa).
3. Autor: aquele que realiza a conduta nuclear (conceito 
restrito de autor). Partícipe: quem concorre para a conduta 
do autor, auxiliando-o material ou moralmente (mediante 
induzimento ou instigação). Para a teoria do domínio do 
fato, autor é quem tem o controle final do fato (poder de 
decisão quanto ao cometimento do crime), ainda que não 
pratique a conduta nuclear. Aplica-se, sobretudo, aos casos 
de autoria mediata, considerando autor a pessoa que se 
utiliza de terceiro como mero instrumento de sua vontade.
4. Participação de menor importância: aquele que prestar 
colaboração de pouca relevância causal no resultado terá a 
pena reduzida de um sexto a um terço (art. 29, § 1º, do CP).
5. Participação dolosamente distinta: se um dos con-
correntes quis participar de crime menos grave, ser-lhe-á 
imposta essa pena, aumentada até metade, se o resultado 
era previsível (art. 29, § 2.°, do CP).
Comunicabilidade e Inco-
municabilidade de Elemen-
tares e Circunstâncias
1. As circunstâncias subjetivas ou de caráter pessoal 
jamais se comunicam. Exemplo: reincidência.
2. As circunstâncias objetivas comunicam-se, desde 
que o co-autor ou partícipe delas tenha conhecimento.
3. As elementares, objetivas ou subjetivas, se comu-
nicam, desde que o co-autor ou partícipe delas tenha 
conhecimento.
 LINK ACADÊMICO 8

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