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dutos, isso é feito apenas relativamente à maior abundância do valor de uso. Não se faz a menor alusão ao valor de troca, ao barateamento das mercadorias. Esse ponto de vista do valor de uso domina tanto em Platão680 que faz da divisão do trabalho o fundamento da divisão social dos estamentos, como em Xenofonte,681 que com seu instinto caracteristicamente burguês acerca-se já à divisão do trabalho na oficina. A República de Platão, na medida em que a divisão do tra- balho é desenvolvida nela como princípio formador do Estado, não passa de idealização ateniense do sistema egípcio de castas, sendo o Egito o país industrial modelar também para outros contemporâ- OS ECONOMISTAS 480 680 Platão desenvolve a divisão do trabalho dentro da comunidade a partir da multiplicidade das necessidades e da unilateralidade das capacidades dos indivíduos. O aspecto principal para ele é que o trabalhador deve ajustar-se à obra e não a obra ao trabalhador, como seria inevitável, se ele exercesse diversas artes simultaneamente, portanto uma ou outra delas como ofício secundário. “Pois o trabalho não quer esperar pelo tempo livre daquele que o executa, mas o trabalhador tem de ater-se ao trabalho, todavia não de maneira leviana. — Isto é necessário. — Daí segue que se fabrica mais de tudo, assim como com mais beleza e facilidade, quando cada um faz apenas uma coisa, de acordo com seus talentos naturais, no momento adequado, estando livre de outras ocupações.” (De Republica. Livro Segundo. Cap. 2. Ed. Baiter, Orelli etc.)* Semelhante em Tucídides, op. cit., c. 142: “A navegação é uma arte como qualquer outra, e não pode ser exercida circunstancialmente de maneira acessória senão, pelo contrário, outras ocupações não podem ser exercidas aces- soriamente ao lado dela”. Se a obra, diz Platão, “tem de esperar pelo trabalhador, então, muitas vezes, o momento crítico da produção será perdido e a obra se estraga, ” ’εργου χαιρον διολλυται“** A mesma idéia platônica encontra-se de novo no protesto dos proprietários ingleses de branquearias contra a cláusula da Lei Fabril que estabelece determinada hora para as refeições de todos os trabalhadores. Seu negócio não poderia ajustar-se aos traba- lhadores, pois ”as diferentes operações de aquecer, lavar, clarear, passar, calandrar e tingir não podem, por nenhum momento, ser interrompidas sem perigo de danos. (...) Impor a mesma hora de refeição para todos os trabalhadores pode sujeitar ocasionalmente bens valiosos ao perigo de o processo de trabalho não ser terminado". Le platonisme où va-t-il se nicher! *** * República de Platão — O tipo ideal de um Estado escravagista como o descreveu o filósofo grego Platão em sua obra. O princípio básico dessa forma de Estado deveria ser a rigorosa divisão do trabalho entre os estamentos dos cidadãos livres. A função de governar seria concedida aos filósofos; uma casta de guerreiros, liberados de qualquer dever de trabalhar, estaria encarregada de proteger a vida e a propriedade dos cidadãos, enquanto os campo- neses, artesãos e comerciantes produziriam exclusivamente os bens materiais que eles fariam chegar ao povo. (N. da Ed. Alemã.) ** O tempo correto para o trabalho é perdido. (N. dos T.) *** O platonismo, aonde ele vai se aninhar! (N. dos T.) 681 Xenofonte conta não ser apenas honroso receber alimentos da mesa do rei persa, mas que esses alimentos são muito mais saborosos que os outros. “E isso não é nada milagroso, pois assim como as outras artes adquirem uma perfeição especial nas grandes cidades, as iguarias reais são preparadas de um modo todo particular. Pois nas pequenas cidades o mesmo indivíduo faz cama, porta, arado, mesa; freqüentemente ainda constrói casas e fica satisfeito quando consegue desse modo uma clientela suficiente para manter-se. É impossível que uma pessoa que faz tanta coisa, faça tudo bem. Nas grandes cidades porém, onde cada um encontra muitos compradores, basta um ofício para alimentar um homem. Muitas vezes, nem é necessário um ofício por inteiro, um fazendo sapatos para homem, o outro, sapatos para mulher. Aqui e ali, um vive simplesmente de costurar, o outro de cortar sapatos, um simplesmente corta vestimentas, o outro assenta as partes. É necessário, pois, que o executor do trabalho mais simples o faça indubitavelmente da melhor maneira. Do mesmo modo ocorre com a culinária.” (XENOFONTE. Cirop. Livro Oitavo. Cap. 2.) Acentua-se aqui ex- clusivamente a qualidade a ser atingida pelo valor de uso, embora Xenofonte já saiba que a escala da divisão do trabalho depende da extensão do mercado.