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“Devido aos altos salários”, diz seu discípulo Merivale, “existe nas colônias a procura apaixonada por trabalho mais barato e mais submisso, por uma classe para a qual o capitalista possa ditar as condições, em vez de recebê-las ditadas por ele. Nos países de velha civilização, o trabalhador, embora livre, é depen- dente por uma lei da Natureza do capitalista, nas colônias essa dependência precisa ser criada por meios artificiais.794 Qual é então, segundo Wakefield, a conseqüência dessa calami- dade nas colônias? Um “bárbaro sistema de dispersão” dos produtores e da riqueza nacional.795 A fragmentação dos meios de produção entre inumeráveis proprietários economicamente autônomos elimina, com a centralização do capital, toda a base de trabalho combinado. Todo em- preendimento de grande fôlego, que se estenda por vários anos e exija desembolso de capital fixo, tropeça em obstáculos para sua execução. Na Europa, o capital não hesita um instante, pois a classe trabalhadora constitui seu acessório vivo, sempre superabundante, sempre à dispo- sição. Mas nos países coloniais! Wakefield conta uma anedota extre- mamente dolorosa. Ele conversou com alguns capitalistas do Canadá e do Estado de Nova York, onde, além do mais, as vagas de imigração freqüentemente estancam, deixando um sedimento de trabalhadores “redundantes”. “Nosso capital”, suspira um dos personagens do melodrama, “estava preparado para muitas operações, que exigem um prazo considerável para serem completadas; mas poderíamos começar tais operações com trabalhadores que, sabíamos, logo nos dariam MARX 389 794 MERIVALE. Op. cit., v. II, pp. 235-314 passim. Mesmo o suave Molinari, economista vulgar livre-cambista, diz: ”Nas colônias, em que a escravatura foi abolida sem que o trabalho forçado tenha sido substituído por uma quantidade correspondente de trabalho livre, viu-se operar o contrário daquilo que, entre nós, se passa diariamente sob nossos olhos. Viu-se os trabalhadores simples, por seu lado, explorarem os empresários industriais, ao exigir destes salários que de modo algum estão em proporção com a parte legítima que lhes caberia no produto. Visto que os plantadores não estavam em condições de obter por seu açúcar um preço suficiente para poder cobrir o aumento dos salários, foram obrigados a cobrir a soma excedente, primeiramente, com seus lucros, e depois com seus próprios capitais. Uma porção de plantadores foram assim arruinados, enquanto outros fecharam suas em- presas para fugir da ruína iminente. (...) É sem dúvida melhor ver perecer acumulações de capitais do que gerações de seres humanos" (Quanta generosidade do Sr. Molinari!); “mas não seria melhor se nem uns nem outros perecessem?” (MOLINARI. Op. cit., pp. 51-52.) Senhor Molinari, senhor Molinari! Que será então dos dez mandamentos, de Moisés e dos profetas, da lei da oferta e procura, se na Europa o entrepreneur pode impor ao trabalhador e, nas Índias Ocidentais, o trabalhador ao entrepreneur, a redução de sua part legitime! E qual é, por favor, essa part legitime que, segundo suas próprias declarações, o capitalista na Europa deixa de pagar diariamente? O Sr. Molinari mal consegue refrear a vontade de colocar lá do outro lado, nas colônias, onde os trabalhadores são tão “simples” que “exploram” os capitalistas, a lei da oferta e procura, que em geral funciona automati- camente, nos trilhos, com ajuda da polícia. 795 WAKEFIELD. Op. cit., v. II, p. 52.