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DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO O direito internacional público é o conjunto de normas que regem uma sociedade formada por Estados, e não por pessoas. As normas que nós estudamos até agora são normas que regem o comportamento de pessoas e é nisso que o direito internacional público se difere do direito lato sensu. No cenário internacional, há também entes que não são Estados, mas que também participam ativamente. A sociedade internacional como existe hoje começou a ser formada na pré-história, mas para fins de direito internacional, a sociedade internacional começa a ser formada após a chamada PAZ DE WESTFALIA. A partir dos tratados de Westfalia, surge a noção de Estado moderno (território, população e soberania). A noção de soberania criada por Jean Bodin significa que o Estado não aceita ninguém superior a ele no âmbito interno ou externo. Com isso, os Estados estariam em patamar de igualdade e isso facilita as relações entre eles a partir do século XVI. É neste momento também que surge a primeira geração dos direitos humanos. O início é na Inglaterra, com a bill of rights limitando os direitos dos monarcas. Esta revolução influenciou as treze colônias, que fizeram sua própria bill of rights. Em seguida, veio a carta dos direitos do homem e do cidadão, decorrente da Revolução Francesa. Esses feitos consagram os direitos individuais. Porém, isso não tinha grande relevância para o direito internacional, uma vez que este se preocupava com as relações interestatais. Dois séculos depois, no século XIX, entram novos atores no cenário internacional. Podemos citar os Estados Unidos, os países independentes da américa latina, a Pérsia, o Japão e a China. Até então, os acordos e tratados internacionais, que eram o vínculo jurídico entre os Estados eram, sobretudo, tratados comerciais e de guerra. A partir do século XIX começam a surgir também os tratados de diplomacia. Mais precisamente na segunda metade do século XIX, surge a preocupação com o reflexo da guerra no indivíduo. Nasce um embrião da Cruz Vermelha e os Estados assumem um compromisso que refletem em benefícios para o indivíduo. Surge a noção de direito internacional humanitário, que é aquele direito aplicado à guerra. No século XX tem as grandes guerras e, mesmo que embrionária, a noção de direito humanitário já é aplicada na primeira guerra. Nesse momento, surge a segunda geração de direitos humanos, de natureza social, trabalhista e cultural. Assim como a bill of rights foi o instrumento da primeira geração, as contituições de Weimar e mexicana foram os instrumentos da segunda geração. Ambas foram influenciadas pelo socialismo. Naquele momento, as constituições não foram de grande importância para o direito internacional, mas é importante registrar que a segunda geração dos direitos humanos (geração vermelha) tiveram início alí. A noção de organização internacional já existia no início do século XX, mas era muito primitiva. No período entre guerras, porém, foi formada a Liga das Nações com o intuiuto de fornecer proteção mútua entre os Estados. Foi formado também a Corte Permanente de Justiça Internacional, cujo objetivo era julgar crimes entre Estados. Ainda no período entre guerras, foi firmado o pacto Kellog-Bryant, que afirmava a guerra não era um instrumento legítimo de solução de controvérsias entre os Estados. O pacto não deu muito certo, tanto que houve a Segunda Guerra, mas foi o embrião para as regras que regulam a guerra hoje. As únicas formas legítimas de ir à guerra é com a autorização do CSNU e com legítima defesa. Nesse período entre guerras há um terceiro fator importante para o direito internacional: a responsabilidade penal pela prática de crimes internacionais. Entendeu-se que há condutas que são tão graves que atingem a sociedade internacional como um todo e deveriam ser julgados internacionalmente. Os crimes de guerra foram os primeiros a ser observados e a primeira tentativa de julgamento foi do Kaiser alemão pelos crimes da Primeira Guerra. A Segunda Guerra foi, de longe, o evento mais importante para o direito internacional. As consequências desta transformaram o mundo em uma sociedade internacional mais firme a fim de evitar que atrocidades daquele tipo voltassem a acontecer. A ideia de que a guerra é um meio ilegítimo para a solução de controvérsias, por exemplo, é consolidada após a Segunda Guerra. A criação da ONU foi o início disso tudo e influenciou o surgimento de muitas outras. A terceira geração de direitos humanos não é mais de direitos individuais. São os chamados direiros verdes ou direitos fraternais. Podemos exemplificar com os direitos à paz, ao meio ambiente, à proteção do patrimônio histórico mundial, etc. Os instrumentos dos direitos de terceira geração são os tratados afirmando esses direitos e a internacionalização dos direitos de primeira e segunda geração. Isto é, além dos Estados se comprometerem com os direitos verdes, eles se comprometem a respeitar internacionalmente os direitos assegurados pela sua constituição. Desse modo, os Estados não precisavam respeitar apenas internamente os direitos humanos individuais. Com essa internacionalização dos direitos humanos, há um enfraquecimento da soberania à medida que os Estados se responsabilizam mutuamente pela defesa das pessoas. Os Estados queriam abranger o maior número de membros possível na ONU para que o direito internacional tivesse igual abrangência. O seu maior objetivo era assegurar o cumprimento do direito internacional. Para isso, foram criados órgãos específicos, como o Conselho de Segurança, que trata de assuntos que dizem respeito à paz e à segurança mundiais. Muitas pessoas são céticas e não dão a devida credibilidade à Organização das Nações Unidas. É verdade que, até os anos 90, muitas resoluções da ONU não surtiram efeito devido à Guerra Fria. Porém, depois desse momento, percebe-se um crescimento considerável da atuação da organização. Depois da Segunda Guerra, o direito internacional ganha muita força. Isso faz com que sejam criados uma série de organizações internacionais, como a ONU, e com que nasça a necessidade de julgar a responsabilidade individual sobre crimes internacionais. Essa responsabilidade pressupõe que aqueles indivíduos que atentem contra a segurança internacional devem ser jungados em tribunais internacionais. Os crimes internacionais são divididos em três grandes blocos: crimes de guerra, crimes contra a humanidade e genocídio. Dois exemplos disso são o julgamento de Nuremberg e o julgamento de Tóquio. Esses julgamentos influenciam a criação dos tribunais penais de Ruanda e da ex-Iugoslávia e, por fim, do Tribunal Penal Internacional. Além desses tribunais internacionais, há uma série de tribunais de natureza mista (juízes nacionais e internacionais) também com o objetivo de julgar indivíduos que cometam crimes das três origens supracitadas. Além das organizações internacionais, como a ONU, e dos tribunais penais internacionais que julgam crimes de indivíduos, como o TPI, são criados tribunais que julgam crimes entre Estados, como a Corte Internacional de Justiça. Para melhor entender as relações de ordem internacional, é necessário que saibamos quem são os componentes do direito internacional. São estes: Estados Organizações internacionais governamentais Pessoas Organizações internacionais não-governamentais Corporações Questiona-se se as pessoas poderiam ser consideradas componentes das relações de ordem internacional. A princípio, se uma pessoa tivesse os seus direitos humanos violados dentro do território do seu país, ela deve entrar com uma ação na justiça interna do seu país. Se alguém for torturado por um membro do governo federal brasileiro, ela deve esgotar os meios locais de solução da controvérsia, mas, não obtendo a reparação adequada, é possível entrar com uma ação na Corte Interamericana de Direitos Humanos em face do governo Brasileiro. Isso é possível também na Europa, com a Corte Europeia de Direitos Humanos. A Corte Europeia é, inclusive, muito mais eficaz que a interamericana. Devido a isso, alguns autores, como Valério Mazzuoli, acreditam que a pessoa é um sujeito de direito internacional. Porém, como essa participação da pessoa no direito internacional depende de um tratado realizado pelo seu Estado, uma outra parte da doutrina defende que não podemos considerá-la um sujeito. Um defensor desse pensamento é Francisco Rezek. As organizações internacionais não-governamentais e as corporações, por sua vez, podem ser considerados atores de direito internacional, mas não sujeitos, uma vez que não possuem direitos e deveres de ordem internacional. DIREITO INTERNACIONAL É DIREITO? Quando começamos a estudar o direito internacional, tendemos a enxergar as relações internacionais como pertencentes a um sistema vertical. Devido a isso, esperamos que haja uma sanção para qualquer ilicitude. Essa nossa visão se dá porque estamos acostumados com o sistema brasileiro de justiça no qual temos um poder legislativo, executivo e judiciário que exercem as suas funções horizontalmente. Nas relações intenacionais, não há poder legislativo, uma vez que os próprios entes submetidos à legislação são aqueles que a criam. Não há poder judiciário, uma vez que os Estados não são obrigados a se submeterem aos tribunais internacionais. Os Estados decidem recorrer ou não a esses tribunais. Também não há poder executivo, já que as organizações internacionais não têm o poder de obrigar o cumprimento de qualquer resolução, apesar de poder fazer pressão política. Também não existe uma polícia internacional, já que a polícia, como os capacetes azuis, é emprestada pelos Estados nacionais. Com isso, começaram a questionar o direito internacional enquanto direito. Foi criada uma corrente de negação do direito internacional que alegava que o mesmo não passava de uma ciência política (teoria negativista de direito internaciona). Isto se relaciona com a pouca eficácia das sanções que envolvem o uso da força. Isto, porém, vem melhorando depois do fim da guerra fria. E mesmo que ainda não seja tão comum a aprovação de resoluções que prevêem sanções militares, há a aprovação de inúmeras sanções não relacionadas ao uso da força, como as sanções econômicas. Mesmo que pouco comuns, também há resoluções relacionadas ao uso da força. Um exemplo delas é a resolução de 1991 que previa uma intervenção militar no Iraque, durante a Guerra do Golfo, quando o Iraque anexou o Ku]wait. Além das sanções aprovadas, há também o cumprimento da grande maioria das regras previstas pelos tratados. Por mais que não haja uma obrigatoriedade, é ruim para um Estado descumprir as regras. Os governos se preocupam em cumprir os compromissos internacionais, pois isso é interessante para ele, uma vez que o não cumprimento implica em um desgaste das suas relações com os demais signatários dos tratados e um desgaste da sua imagem no cenário internacional. Um exemplo disso é a devolução do Sean aos Estados Unidos. O Brasil não necessariamente entende que o menino deve ficar com o pai, mas há um tratado entre Brasil e Estados Unidos que prevê isso. O direito internacional público, por mais que funcione de maneira diferente*, é um ramo do direito. Os negadores do direito internacional afirmam que, por não haver sanções e por se tratarem de relações horizontais, o direito internacional não seria um ramo do direito, mas vimos que existem sanções efetivas. Ainda que não houvesse sanções, percebe-se que as regras são cumpridas de qualquer forma, uma vez que os países querem ser bem vistos nas relações internacionais. Os Estados sabem a imagem que criam ao descumprir um tratado. Existe o medo de criar um estigma na sociedade internacional. *Horizontalmente – os destinatários das normas são aqueles que as criam. “O direito internacional não é obedecido porque a desobediência pode gerar sanções: a desobediência ao direito internacional gera sanções porque normalmente ele é obedecido.” Jonh Dugard Apesar de haver regras de direito internacional e sanções para o descumprimento dessas regras, há também momentos de crise do direito internacional. A invasão dos EUA ao Iraque é um exemplo dessas crises. Os EUA, contrariando a decisão do CSNU sobre a ilicitude da invasão, entraram no Iraque. Depois disso, houve duas outras resoluções sobre o assunto e nestas não foram previstas sanções para os EUA, apenas foi determinada a forma como os EUA deveriam proceder após a invasão. Alguns disseram que esse episódio foi o sepultamento do direito internacional, entretanto vemos que os EUA tentaram dar uma roupagem lícita à sua atitude. Eles alegaram que a resolução 1441 previa tacitamente a intervenção militar. Porém, determinou-se que uma intervenção militar deve ser expressa. Depois disso, os EUA aplicaram a noção de legítima defesa pré-ordenada ao direito internacional. Assim, vemos que, mesmo em situações de crise, os Estados buscam uma justificativa jurídica para os seus atos. Vemos, portanto, que o direito internacional possui os três fatores que compõem um sistema de direito: entes, sistema de normas e legitimidade para essas normas. Por fim, podemos dizer que a negação do direito internacional enquanto sistema jurídico está sepultada desde a década de 70. CONCEITO DE DIREITO INTERNACIONAL “Conjunto de regras e princípios que regulam relações entre Estados ou entre Estados e outros sujeitos da sociedade internacional em matéria de interesse da sociedade internacional.” Guido “Direito internacional é o conjunto de princípios e regras convencionais e consuetudinárias que disciplinam a conduta da sociedade internacional.” Valério de Oliveira Mazzuoli A definição de Mazzuoli faz menção às duas principais fontes de direito internacional: tratados e costumes. Em um segundo momento, ele cita como o direito internacional tem o poder de disciplinar a conduta dos entes internacionais mesmo quando influencia na soberania dos Estados sobre o seu território e seu povo. DENOMINAÇÕES Direito das gentes – uma analogia da expressão utilizada pelo direito romano, uma vez que este era o direito aplicado aos estrangeiros. Direito internacional – Direito internacional público – essa denominação ocorreu para que haja uma distinção entre o direito internacional público e o direito internacional privado. Este último indica a norma a ser utilizada para resolver uma questão que tenha um componente internacional. Direito internacional público -Direito externo -Tratados e costume -Relações entre sujeitos da sociedade internacional -Resolve a questão Direito internacional privado -Direito interno -Lei de cada país -Relações entre pessoas físicas e jurídicas -Não resolve a questão, apenas indica a norma que vai resolvê-la. PROBLEMA Tratado entre Alvácia e Vladistão Artigo 7º: Os signatários se comprometem a adotar, em suas respectivas legislações, regras consagrando as leis do domicílio do cônjuge varão para regular o matrimônio realizado entre nacionais dos dois países signatários. Isso significa que os países, ao assinar um tratado de direito internacional público, se obrigam a criar uma norma de direito internacional privado. É importante ressaltar que o tratado não cria essa norma. No Brasil seria necessário que fosse encaminhado um projeto de lei para que o congresso nacional. Se o congresso não adota o projeto de lei ou se o STF determina que esta é uma norma inconstitucional, seria necessário que o Brasil denunciasse o tratado. Hipótese: Alvácia não adota a norma em sua legislação interna. Sua legislação civil consagra que “o regime do casamento será sempre regulado pela lei alvaciana, caso o casamento seja celebrado em território alvaciano.” Casam-se, em território alvaciano, uma mulher alvaciana e um homem vladistanês (domiciliado no Vladistão). Algumas semanas depois, os dois se separam e uma questão jurídica, relativa ao regime do casamento, é levada a um tribual alvaciano. Qual a solução? O que deve fazer o juiz alvaciano, reconhecendo que a Alvácia assinou um tratado com o Vladistão? E quanto ao governo vladistanês? Considerando que Alvácia não adotou a norma em sua legislação civil e um tratado não tem força de lei, o juiz deve aplicar a lei alvaciana. O governo vladistanês deve aplicar as sanções previstas em casos de descumprimento do tratado. O governo alvaciano deve, além de cumprir as sanções cabíveis, denunciar o tratado ou levar um projeto de lei à votação do congresso para que o tratado seja cumprido a partir de então.