Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original
CURSO ON-LINE CIÊNCIA POLÍTICA PARA MPOG PROFESSOR MARCELO GONÇALVES AULA 1 Conteúdo da Aula: 1. Temas Centrais da Teoria Política Clássica; 2. Política, Classes sociais e economia. 3. Soberania TEMAS CENTRAIS DA TEORIA POLÍTICA CLÁSSICA Introdução Neste tópico, serão analisados os temas clássicos da teoria política, muitas vezes classificados, Teoria Política Moderna. Os desenhos da ordem política vigente hoje têm suas raízes nos postulados elaborados por este conjunto de autores europeus, os quais desenvolveram idéias sobre a constituição e manutenção da ordem pública, o contrato social, demarcação das esferas pública e privada, a separação de poderes etc. Para estudar esses temas, partiremos para uma análise do pensamento dos principais autores de forma individualizada – essa tem sido a maneira como os temas estão sendo cobrados nas provas de gestor – consideraremos, portanto, os seguintes autores: Nicolau Maquiavel (1469-1527), Barão de Montesquieu (1689-1750) Thomas Hobbes (1588-1679), John Locke (1632- 1704), Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), Georg W. Friedrich Hegel (1770- 1831) 1, John S. Mill (1806-1873) 1. Maquiavel Nicolau Maquiavel foi um filósofo italiano que exerceu diversas funções de Estado, entre elas a de diplomata e conselheiro. Sua importância deriva da sua tentativa de elaborar um manual de governo que servisse ao ideal de fortalecer um príncipe, de tal maneira, que ele seria capaz de reconstruir a Itália, que na visão de Maquiavel, estava dominada pela anarquia. 1 Hegel será abordado rapidamente, porque, até hoje, só caiu um único item sobre ele. www.pontodosconcursos.com.br 1 CURSO ON-LINE CIÊNCIA POLÍTICA PARA MPOG PROFESSOR MARCELO GONÇALVES Maquiavel é considerado por muitos o pai da ciência política, devido ao seu esforço de racionalizar a política, afastando-a da religião, da moral e do direito. Seu objetivo era descrer o governo, a política e o Estado como eles são, não como deveriam ser. Provavelmente essa postura seja influência direta em seu pensamento do Renascimento. Movimento do qual, seu livro O Príncipe, sua principal obra política, é exemplo dada a ênfase que o autor dar à secularização, à importância da razão e à busca da construção do conhecimento pela observação e não apenas pela especulação ou divagação teológica. Além disso, Maquiavel também enfatizava a política como uma área de estudo, não apenas autônoma, mas de extrema utilidade, principalmente, por aqueles que se envolvem com os assuntos atinentes ao Estado. Para ele, o conhecimento da política não serviria apenas para erudição, pelo contrario, haveria uma utilidade muito mais relevante. O conhecimento da política, na realidade, era fundamental para agir politicamente. O saber aparece como algo útil, uma ferramenta que serve para ser usada para intervir na realidade. Maquiavel concebia o estudo da política como o caminho para estabelecer uma teoria do governo para arte do governo, a qual consistiria em conjunto de técnicas e procedimentos para conduzir ao sucesso o exercício de poder. Nesse sentido, o modelo de teoria política adotado por Maquiavel diverge fortemente da abordagem clássica em vigor na Idade Média, de cunho prescritivo-normativo e divagador. Nessa época a base do pensamento filosófico propunha que a teoria política deveria dizer qual seria governo (e o governante) ideal para a realização da boa sociedade. Maquiavel abandona essa leitura – e vai ser bastante criticado por isso, principalmente pelos pensadores ligados à igreja católica – e passa a trabalhar a política como um domínio autônomo em relação à moral e a teologia e voltado para a prática efetiva do governo, seja ele justo ou não. Rompendo com a tradição medieval, Maquiavel desenvolve um novo método cientifico para trabalhar a realidade política. Primeiramente, recusa os critérios normativos da política como deveria ser, e adota um “programa” de pesquisa que busca entender o Estado e a política como de fato são (é que ele www.pontodosconcursos.com.br 2 CURSO ON-LINE CIÊNCIA POLÍTICA PARA MPOG PROFESSOR MARCELO GONÇALVES chamou de verità effetuale), sua preocupação é, portanto, com o que é, e não com o dever ser2. A conseqüência direta dessa abordagem foi que Maquiavel se tornou o fundador do pensamento político enquadrado hoje como realismo político (bastante influente nos estudos de relações internacionais). O qual recusa proposições de caráter utópico e parte para uma descrição mais “crua” da realidade política. Essa valorização da racionalidade e da objetividade dá um foco inovador ao seu pensamento, todavia, a valorização da razão – racionalização – o coloca em rota de colisão com o direito divino, o que contribuirá para seu livro figurar no índex de leituras proibidas da igreja católica por bastante tempo3. O empirismo também é um elemento muito importante do método científico maquiavélico. Ou seja, suas proposições são construídas a partir da reflexão critica feita com base na observação de homens da história e seu comportamento. Observando quais comportamentos foram mais adequados ou inadequados para os fins propostos por esses governantes no contexto em que atuavam. A partir da observação empírica, Maquiavel faz uma proposição fundamental de seu pensamento a respeito da sua concepção da natureza humana. Para o autor, a psicologia humana pode ser compreendida e ela aponta para o fato de que todos os homens são naturalmente “ingratos, volúveis, mentirosos, covardes e gananciosos”, além de egoístas e ambiciosos e que só recuam da prática do mal quando coagidos pela força da lei, isto é, pelo governante. Daí a necessidade de o governante ter que ser forte e não se preocupar em ser amado, pois o mais importante é ser temido4. Além disso, 2 Seu pensamento propõe-se a seguir o que hoje chamaríamos de objetividade, em contraposição à normatividade da Idade Média. Não significa que, em seu pensamento, não haja qualquer proposição normativa. Há, todavia, estão baseadas em análise de cunho objetivo. 3 Seus comentários sobre os processos de escolhas do pontífice não o ajudaram muito também. 4 Segundo Maquiavel é melhor que o governante seja amado que odiado, não sendo possível, que seja pelo menos temido. www.pontodosconcursos.com.br 3 CURSO ON-LINE CIÊNCIA POLÍTICA PARA MPOG PROFESSOR MARCELO GONÇALVES Maquiavel afirmava que era da natureza humana precisar de governo, pois o comportamento humano tende a levar à anarquia. O empirismo de Maquiavel leva-o a exaltar a história como um dos instrumentos mais importante para o governante. A importância da história, segundo ele, deriva da proposição segundo a qual, para governar, é fundamental o estudo do passado porque (1) a natureza humana é imutável (homens de hoje são iguais aos homens do passado) e (2) esse estudo possibilita compreender o que sucedeu aos governantes do passado e quais os meios que foram utilizados para enfrentar as diversas situações, dessa maneira, será possível encontrar, por analogia, lições para o presente. A base dessa argumentação repousa numa interpretação cíclica da história. Subentende-se que a história se desenvolve como ciclos que se renovam em movimentos de revolução em torno de si mesmos. Considerando então que os fatos históricos se repetem em linhas mestras, o sucesso de um príncipe conhecer dessas linhas está garantido. 1.2. Conceitos fundamentais Alguns conceitos são caros para o pensamento de Maquiavel. Primeiramente, o conceito de Estado. Não foi Maquiavel quem cunhou o termo – seu autor é desconhecido – mas foi ele o primeiro a utilizar a palavra “Estado” com o significado hodierno, de maneira que a idéia de uma unidade abstrata guiada por um governo soberano, com autoridade sobre um território e uma população é uma concepção de origem maquiavélica. Outro conceito importante para a análise de Maquiavel é o de Virtú que consiste basicamente na a habilidade do príncipe para a arte do poder. É a vontade e a energia do indivíduo voltada para fazer política. Esse conceito está atrelado a outro também bastante importante que é o de Fortuna, o qual representa a sorte do indivíduo (seja ela boa ou má) que dita as circunstâncias em que ele deve atuar. É um fator do acaso, sem controle. Para o autor, o ideal é o príncipe tenha virtú e fortuna, mas ele reconhece que muitas vezes governantes ascendem ao trono sem nenhuma www.pontodosconcursos.com.br 4 CURSO ON-LINE CIÊNCIA POLÍTICA PARA MPOG PROFESSOR MARCELO GONÇALVES habilidade para governar. Igualmente, príncipes habilidosos, muitas vezes, não se perpetuam no governo porque são acometidos por uma série de infortúnios que minam sua autoridade. Todavia, é importante que se diga que o homem de boa fortuna, porém desprovido de virtú cai, mas o que tem virtú pode seduzir a fortuna (uma deusa que se deixa seduzir pelos mais aptos). Por fim o conceito de política. Maquiavel define política como a arte de conquistar e manter o poder, finalidades para as quais são legítimos todos os meios. 1.3. Função do Estado A preocupação principal de Maquiavel é com a construção de um Estado capaz de impor a ordem, pois, na sua visão, a desordem leva os homens à barbárie. Essa preocupação com a ordem é derivada principalmente de sua experiência como italiano. Sua principal pergunta é: em meio a uma Itália perdida em constantes revoluções e reviravolta dos governos, qual seria o Estado capaz de instaurar a ordem de maneira estável? É uma pergunta parcialmente respondida. Segundo ele, o caminho é o trabalho de um príncipe virtuoso que poderia permitir a construção de uma ordem duradoura. Todavia, o próprio Maquiavel reconhece que a natureza da política nunca permitirá, contudo, uma ordem definitiva, pois esta depende sempre da fortuna e, principalmente da virtú do príncipe. 1.4. Os tipos de governo Para Maquiavel haveria dois tipos principais de Estado: repúblicas e principados. As repúblicas seriam típicas de sociedades onde há equilíbrio de poder, a corrupção é controlada e os homens não têm liberdade de buscar inescrupulosamente seus interesses gananciosos. Os homens já tiveram suas inclinações educadas para a prática política. Este seria um estágio que toda sociedade deveria buscar, mas que não estaria ao alcance de todas de www.pontodosconcursos.com.br 5 CURSO ON-LINE CIÊNCIA POLÍTICA PARA MPOG PROFESSOR MARCELO GONÇALVES imediato. De forma que, os países que precisariam evoluir deveriam ser governados por principados. Os principados são: (1) principados hereditários; (2) principados Novos: recém conquistados; (3) principados mistos: não são inteiramente novos, têm características semelhantes às do hereditário também e (4) Principado civil: quando o governante chega ao poder por meio da ajuda dos seus concidadãos. 2. Montesquieu Charles-Louis de Secondat, o barão de Montesquieu, foi um dos grandes pensadores políticos do Iluminismo. Seu principal trabalho foi “O Espírito das Leis” e sua principal contribuição ao desenvolvimento político do ocidente foi a doutrina da repartição ou tripartição dos poderes. Na sua obra prima, Montesquieu trata da teoria da separação dos poderes, da formas de governo e influencia do clima no comportamento humano. O que vai nos interessar aqui é um panorama geral do pensamento seu pensamento e especialmente a doutrina dos três poderes. A busca fundamental de Montesquieu tem caráter de natureza liberal. Para ele, todo governo deve ser baseado em leis. Daí o fundamento de suas noções liberais concernentes à ação do Estado. Todavia, o que as leis seriam fruto de que? Para responder essa questão o Barão mergulha numa pesquisa de quase 30 anos, na qual ele analisa a estrutura e conexão interna dos fatos humanos e tenta formular um esquema rigoroso de interpretação do mundo histórico, social e político. Seu método de construção de conhecimento, como bom iluminista, é baseado no racionalismo, todavia, diferentemente de Maquiavel, não adota um método elaborado no empirismo. Acredita que a razão apenas pode garantir sucesso na sua empreitada filosófica, uma vez que, segundo ele, a lei deve ser vista como a encarnação da razão. Uma característica de Montesquieu, apesar de entender a necessidade de leis, é que o Barão se mostrava bastante cético com as leis em função da imperfeição dos legisladores que as construíam. Portanto, não se deve www.pontodosconcursos.com.br 6 CURSO ON-LINE CIÊNCIA POLÍTICA PARA MPOG PROFESSOR MARCELO GONÇALVES extrapolar a justiça das leis, pois nem sempre refletem a realidade que os cidadãos julgariam a mais justa para eles. Mas e as leis, o que são? Montesquieu assume certo determinismo para tratar dessa questão: para ele, as coisas têm natureza própria e as leis devem ser relações necessárias que derivam dessa natureza intrínseca das coisas, mas não bastam para explicar um país. As leis formam um sistema de relações onde o „espírito das leis‟ consiste nas varias relações que as leis podem ter com outras variáveis (clima, constituição, costumes). Assim as leis de uma sociedade são resultado de sua realidade complexas e sua essência deve ser buscada na natureza das coisas que cercam essa sociedade e que influenciam seus fatos sociais. Todavia, Montesquieu faz uma advertência, para ele, as instituições políticas sempre devem estar em harmonia com condições físicas e sociais das nações a que servem. Do contrário, sofrerão de irremediável fragilidade. Para Montesquieu as leis não devem promover a igualdade absoluta, pois isso não passa de uma utopia. Além disso, para o Barão, o poder não pode cair nas mãos do baixo povo, inapto para exercer o poder político. 2.1. Teoria da separação dos poderes: Apesar de a doutrina da separação de poderes ser bastante simples, sua influência no mundo ocidental é enorme e dispensa maiores comentários. Seu fundamento é a idéia dos pesos e contrapesos, a qual consiste na proposição de que o poder, em um sistema político-social, deve ser dividido entre as instituições e que estas devem controlar umas às outras. Assim, um poder controlaria o outro, de forma que se tornaria bastante difícil para qualquer um deles contrariar a lei. Apesar de a divisão que temos hoje em nosso país ser baseada na doutrina de Montesquieu, é preciso observar que, na apresentação original, o autor utiliza termos diversos dos nossos, para ele, os três poderes são: www.pontodosconcursos.com.br 7 CURSO ON-LINE CIÊNCIA POLÍTICA PARA MPOG PROFESSOR MARCELO GONÇALVES 1. Poder legislativo: responsável pela elaboração e correção das leis; 2. Poder executivo das coisas que dependem do direito das gentes: faz paz ou guerra, envia e recebe embaixadas, estabelece a ordem, prevê invasões, etc. (seria o nosso Executivo); 3. Poder executivo das coisas que dependem do direito civil: pune crimes e julga dissídios dos particulares – poder de julgar e de dizer o direito (seria o nosso judiciário). 2.2. Sistema Político e Solução de Conflitos em Montesquieu A preocupação com a solução dos conflitos e a manutenção da estabilidade aparece de forma clara em Montesquieu e pode ser expressa através da noção de moderação como elemento essencial para o funcionamento estável dos governos. A idéia básica da obra de Montesquieu é encontrar elementos capazes de substituir o efeito moderador da nobreza na monarquia. A teoria dos poderes elaborada por ele pressupõe que a equipotência entre os diferentes poderes (forças sociais) seria uma condição de estabilidade porque asseguraria a existência de um equilíbrio entre os poderes através da possibilidade de contraposição mútua entre eles. A divisão dos poderes em Montesquieu não pressupõe uma divisão de funções, e sim, visa estabelecer um cenário em que as diferentes forças da sociedade são capazes de se contraporem umas às outras. As instituições e as leis deveriam evitar que uma força prevalecesse entre as demais e que os conflitos de interesses minassem a estabilidade do governo. A despersonalização da estrutura de poder através da criação de instituições garantiria que o governo fosse menos vulnerável à ação de um indivíduo ou grupo. O modelo de Montesquieu se baseia na monarquia constitucional inglesa e busca através de um regime misto equilibrar as posições da monarquia, da aristocracia e do povo através da representação balanceada dos interesses desses grupos. A criação de instituições capazes de promover esse equilíbrio seria essencial para a manutenção da estabilidade dos governos. www.pontodosconcursos.com.br 8 CURSO ON-LINE CIÊNCIA POLÍTICA PARA MPOG PROFESSOR MARCELO GONÇALVES Em Montesquieu, o povo deveria ser o detentor do poder legislativo. No entanto, como os indivíduos são muitos e, normalmente, não detém o conhecimento sobre os assuntos públicos, a solução seria a eleição de representantes capazes de fazer aquilo que o povo não é capaz de fazer por si mesmo5. Para ele, é preciso que os indivíduos sejam conduzidos por representantes nos quais confiem, o que depende da eleição desses representantes pela escolha do povo. Como representantes do corpo do povo, os deputados devem prestar contas aos representados, elaborar leis e observar se essas leis estão sendo implementadas. A participação popular é restrita à escolha dos representantes através do voto, todos teriam direito a dar seu voto para escolher os representantes, no entanto, Montesquieu exclui o caso em que os cidadãos “sejam de condição tão baixa que se considera que não possuem vontade própria”6. Outra distinção feita por Montesquieu diz respeito à separação do Legislativo em duas casas (representantes do povo e da nobreza) como forma complementar de controle sobre os representantes do povo. A nobreza seria representada por uma casa específica em função da sua participação diferenciada na sociedade e seria um poder „regulador‟ para a promoção do equilíbrio entre os poderes do monarca e do povo. 3. Hobbes O contexto em que Thomas Hobbes desenvolve o seu pensamento é caracterizado pelo início da ascensão do iluminismo e pela forte influência do racionalismo como fundamento das construções filosóficas e científicas. As idéias medievais estavam em franca crise, entre elas a idéia do direito divino dos reis e, conseqüentemente, o absolutismo. O poder absoluto dos reis já não se justificava, ou legitimava, por meio da crença na origem divina do poder real, era preciso encontrar outros fundamentos para justificar o domínio absolutista, tornava-se forçoso 5 “O povo é admirável para escolher aqueles a quem deve confiar parte de sua autoridade. Para deliberar, não dispõe senão de coisas que não pode ignorar e de fato lhe são palpáveis” (ALBUQUERQUE, 1995, 128). 6 ALBUQUERQUE, 1995, 176. www.pontodosconcursos.com.br 9 CURSO ON-LINE CIÊNCIA POLÍTICA PARA MPOG PROFESSOR MARCELO GONÇALVES racionalizar esse sistema de poder. As principais contribuições de Hobbes ao desenvolvimento do pensamento político moderno derivam desse esforço. Entender o pensamento de Hobbes é ter em mente, necessariamente, a sua defesa do absolutismo. A principal obra política de Hobbes é “O Leviatã”. Neste trabalho, ele desenvolve um amplo esforço de racionalização do direito absoluto (absolutismo), valendo-se de uma leitura claramente individualista e de um conceito, então, na moda, o estado de natureza. O individualismo hobbesiano enquadra-se no clima da época, que rechaçava a concepção orgânica de indivíduo e sociedade típica da sociedade medieval. Por concepção orgânica entende-se o conjunto de idéias que descreviam a sociedade como um organismo construído por Deus, no qual cada indivíduo nascia com uma função pré-determinada, de maneira que caberia a cada pessoa saber qual o lugar que nasceu, a qual classe pertence e aceitar esse fato, cumprindo a missão divina que lhe foi passada com o dom da vida. A leitura individualista de Hobbes fica evidente quando ele explica a formação da sociedade civil por meio do contrato e da leitura que o autor faz do indivíduo para justificar a confecção deste contrato. Para Hobbes, o comportamento individual é orientado por apetites, paixões e, conseqüentemente, aversões. Por isso, os homens seriam naturalmente egoístas e violentos, sendo que a sua busca pela realização de seus desejos não pode gerar outra coisa senão a morte. Assim, o Estado de natureza7 seria caótico, anti-social, irracional e não-político. Sua leitura desse estágio de evolução humana é completamente negativo. Seria uma situação em que homem não tem a mínima condição de realizar, construir e prosperar. 7 Estado de natureza: construção teórica utilizada por diversos filósofos – e Hobbes não é o primeiro – para explicar o surgimento da sociedade, a qual será chamada por uns de sociedade civil, outros de sociedade políticas. O estado de natureza não é historicamente determinável, não se trata de uma experiência real e delimitada no tempo. A idéia central é que, antes da sociedade da sociedade, os homens vivem em uma situação livre e sem governo, mas em uma condição pré-social. A porta de saída é do estado de natureza é o contrato social. Também é um artifício teórico. www.pontodosconcursos.com.br 10 CURSO ON-LINE CIÊNCIA POLÍTICA PARA MPOG PROFESSOR MARCELO GONÇALVES É irracional e anti-social porque o homem vive em constante guerra – daí a celebre frase tão repetida pelo Falcão “o homem é o lobo do homem”. Nessa situação, o indivíduo se ver diante de duas opções que ele pode, teoricamente, escolhe e são mutuamente excludentes: A. Pode manter a sua liberdade plena, ou seja, permanecer no estado de natureza e condenar-se a uma vida marcada pelo medo incessante e pelo risco constante de morte; B. Alternativamente, ele pode renunciar de seu poder pessoal em favor de um soberano. Nessa situação, abdicará da liberdade pessoal absoluta, mas ganhará em troca a segurança8 necessária para viver em paz. Na visão de Hobbes, a única escolha racional é a letra B, pois seria irracional permanecer em uma situação em que não se tem paz jamais. É impossível saber o que acontecerá a cada dia, há completa insegurança. A escolha é feita pelo Contrato. Uma vez firmando esse contrato, o estado de natureza é abandonado e é constituída a sociedade política. O contrato social é realizado uma única vez e significa renúncia completa de todo o poder individual. Esse poder é transferido para o soberano, que se torna titular do poder políticos e dos direitos da sociedade. Para Hobbes, existe um único contrato (irrenunciável9) no qual os homens com dois atos contíguos abandonam o estado de natureza. Primeiro, constituem a associação, a coletividade, com indivíduos se reunindo em sociedade e, depois, fazem um pacto de submissão, no qual é firmado um contrato que transfere o poder para um terceiro ou um grupo fora do contrato (o que Locke vai criticar veementemente, para este autor, não faz sentido um grupo de pessoas firmar contrato obrigando terceiros). Por fim, vale ressaltar o que é o leviatã. Na proposição originária de Hobbes, o leviatã é um ente fictício, que pode ser uma pessoa ou vários 8 Saliente-se que segurança é a preocupação central de todo o pensamento de Hobbes. Essa ênfase é resultado, provavelmente, em função do ambiente extremamente turbulento do qual Hobbes foi testemunha na Inglaterra setecentista. 9 Não se reconhece, na visão hobbesiana originária, o direito de insurreição. www.pontodosconcursos.com.br 11 CURSO ON-LINE CIÊNCIA POLÍTICA PARA MPOG PROFESSOR MARCELO GONÇALVES indivíduos. Esse ente é escolhido pelos homens para governá-los e tem como principal função prover segurança para seus súditos. 4. Locke Locke é egresso de família protestante e teve uma educação liberal. Tornou-se um dos pensadores mais importante para o desenvolvimento do pensamento político liberal e crítico ferrenho das proposições absolutistas de Hobbes. Seu pai combateu ao lado do parlamento antes da Restauração (na disputa entre whigs X tories). Inicialmente, não era um filósofo. Estudou no colégio de Westminster foi médico formado por Oxford. Desenvolveu atividade de tutor intelectual de famílias ricas, sendo protegido do conde de Shaftesbury (whigs - liberal) que se exilou na Holanda após desavenças com o rei. Na Holanda, foi apresentado a Guilherme de Orange (que se tornou rei constitucional da Inglaterra em 1688). Em 1689, volta para a Inglaterra no mesmo barco da rainha e, no ano seguinte, publica sua principal obra política o Segundo Tratado sobre o Governo Civil. Dessa curta biografia, é possível extrair aspectos importantes que influenciaram o pensamento de j. Locke. Sua ligação fundamental com o avanço do liberalismo e o constitucionalismo, o estreito vínculo desse tipo de pensamento com a ascensão política e social da burguesia e o anti- absolutismo. O Ponto principal da sua obra, que pode definido por ele como o objetivo que o leva a escrever o Segundo Tratado é o “anti-absolutismo, o violento desejo da autoridade contida, limitada pelo consentimento do povo, pelo direito natural, a fim de eliminar o risco do despotismo, da arbitrariedade – mesmo que isso abra uma brecha para a anarquia”. 4.1. Os Pressupostos Fundamentais O pensamento político de j. Locke assume alguns pressupostos de conseqüências graves. O primeiro deles assume que os homens são obra e www.pontodosconcursos.com.br 12 CURSO ON-LINE CIÊNCIA POLÍTICA PARA MPOG PROFESSOR MARCELO GONÇALVES propriedade de Deus (“os homens sequer se possuem”), daí todos os homens serem livres e iguais. Logo, acima de um homem só pode está o próprio Deus. Essa postura é uma oposição crítica à Sir Robert Filmer, pensador conservador e absolutista bastante influente na época, o qual argumentava que os direitos absolutos dos reis eram de origem divina e uma continuação dos direitos de Adão e dos Patriarcas bíblicos. Seria a ordem natural das coisas, pois, Deus teria colocado alguns homens acima de outros e esse seria um fato observável desde as relações mais primárias dos homens. Seria assim na família pai sobre o filho, velhos sobre jovens, reis sobre os povos etc. Essa discussão assume um caráter marcadamente teológico e Locke dedica o primeiro tratado sobre governo civil unicamente ao esforço de refutar a tese de Filmer. O segundo pressuposto fundamental de Locke diz respeito à liberdade. Nitidamente criticando Hobbes, Locke afirma que a liberdade é fundamental para a realização da essência humana. Contudo, é preciso observar que ela nunca deve ser absoluta, pois, nem mesmo no estado de natureza ela é – diferentemente de Hobbes que propõe que a liberdade é absoluta no estado de natureza, por isso, surge o caos e anarquia para desespero dos homens! Locke vê de forma diferente, para ele algum tipo de restrição à liberdade individual é sempre fundamental, pois “onde não há leis, não há liberdade”. E no estado de natureza, a lei natural (de)limita a liberdade natural. A lei natural, para Locke, é conhecida no estado de natureza porque é uma expressão da vontade de Deus, que é chega aos homens por meio da razão (a qual é “voz de deus no homem”). Logo, a razão promulga a lei de natureza e, também, faz-nos livres. Isso é acontece ao mesmo tempo em que razão é igual à lei natural, a qual tem soberania sobre as ações humanas (decorrência natural da idéia segundo a qual razão e lei natural são a mesma coisa e, ao mesmo tempo, vontade e voz de Deus nos homens). Uma coisa deves ser ressaltada. Percebe-se, em todo o pensamento de Locke, uma extrema valorização da razão. Para ele, a razão significa a qualidade do ser humano, isto é, a razão é o que define o indivíduo como ser www.pontodosconcursos.com.br 13 CURSO ON-LINE CIÊNCIA POLÍTICA PARA MPOG PROFESSOR MARCELO GONÇALVES humano. Além disso, a razão é o modo de cooperação entre os homens, que nos permite viver junto em sociedade e solidariedade, mesmo no estado de natureza, que inicialmente é bom – novamente diferente de Hobbes. Nesse contexto, a irracionalidade é um perigo que deve ser combatido com todas as forças. Para Locke, o indivíduo que age irracionalmente é um animal e, como tal, deve ser tratado. No sentido político, agir irracionalmente inclui um indivíduo dizer que está acima de alguém sem ser Deus. Neste caso, a pessoa é um animal “selvagem e nocivo” e deve ser tratado com tal. 4.2. Estado de Natureza Sendo todos iguais, livres e racionais não é possível que o estado de natureza seja essencialmente ruim, como pregava Hobbes. Pelo contrário, é bom, porém, está sujeito a alguns inconvenientes que podem ser evitados pela sociedade civil (que é igual à sociedade pactuada por meio do contrato político). Mas o que é o estado de natureza para Locke? É a condição na qual o poder executivo da lei natural ainda está exclusivamente nas mãos dos indivíduos, não se fez comunal. Cada um pode executar a lei natural da maneira que achar mais conveniente/adequada. Assim, no estado de natureza, todos são “magistrados”, isto é, todos têm o “poder executivo” da lei de natureza, se alguém transgredi-la, qualquer pessoa pode puni-lo. Isso ocorre porque, no estado natural, o direito de governar aparece como um direito natural e individual, afinal os homens são livres e iguais em poderes, além disso, todos têm um direito “judicial” que lhes permite proceder à execução da lei natural (da razão). O problema dessa ordem das coisas humanas é que não há nada que diga que a execução da lei é feita da maneira adequada e proporcionalmente correta. As reações ou sansões desproporcionais podem gerar o caos e guerra, degenerando o estado de natureza. O grande problema é que não existem leis escritas, tudo está nas mentes dos indivíduos, os quais são, de certa forma, legisladores e executores www.pontodosconcursos.com.br 14 CURSO ON-LINE CIÊNCIA POLÍTICA PARA MPOG PROFESSOR MARCELO GONÇALVES da lei (o que nós chamaríamos hoje de juízes). Esse fato torna difícil convencer uma pessoa errada de que está indo contra a lei natural. O erro dos indivíduos – que significa a transgressão da lei natural e da razão – pode vir das paixões ou de interesses pessoais que geram incidentes (como a guerra10) indesejáveis no estado de natureza. Para evitar esses inconvenientes, surge o governo comunal, ou a sociedade civil. Os acidentes gerados pelos desejos humanos e os incidentes nos estado de natureza fazem com que, ainda que o estado de natureza seja bom, o surgimento do estado civil seja uma regra para todas as sociedades. É importante observar, todavia, que o estado de natureza já é social e político, o que surge com o contrato social não é a sociedade em si, mas o governo civil, a sociedade civil – que podem ser entendidos como sinônimos. Em todo caso, o que importa é que as sociedades sempre evoluem para o estado civil. Trata-se de um imperativo da razão. Essa afirmação tão categórica é sustentada pela grande inovação conceitual de Locke: o conceito de propriedade. 4.3. Propriedade O direito aos produtos da natureza é concessão divina, os homens possuem-nos como espécie, não como indivíduos. Estaríamos diante de um comunismo original. Porém, cada homem tem uma propriedade em sua própria pessoa11, de modo que, o trabalho de seu corpo e a obra de suas mãos são seus. Daí surge a propriedade privada, da intervenção humana sobre a natureza, por meio do trabalho. Surgimento da propriedade privada: Produto Natural Comunismo Original dado Trabalho e ação humana Propriedade privada 10 por Deus que o estado uma guerra constante. 11 É uma contradição do pensamento de Locke , pois os homens, inicialmente, não seria dono nem de si mesmo. Mas a argumentação caminha nessa direção para justificar a idéia de propriedade privada. A posse sobre si mesmo é necessária porque Deus no concede a possibilidade de tratar de nossa própria existência. www.pontodosconcursos.com.br 15 -8PEDROMARTINSSCHMITT,CPF:007.006.841-07 CURSO ON-LINE CIÊNCIA POLÍTICA PARA MPOG PROFESSOR MARCELO GONÇALVES Uma advertência importante: a propriedade privada, para Locke deve servir ao consumo de família, sem desperdícios, e não pode ser usada para subordinar a outrem. Mas qual a ligação entre propriedade privada e a necessidade do contrato social? Pois bem, a propriedade individual não se originou do consenso, o que levou a comportamentos não cooperativos e irracionais. Esses comportamentos degeneraram o estado de natureza, de maneira que, diante do caos, os homens abandonaram o estado de natureza em busca de uma organização social e política com poder capaz de regulamentar e preservar a propriedade. Por fim, apesar de Locke partir da concepção segundo a qual a propriedade privada é originária do trabalho, para explicar a finalidade da união dos homens em comunidade, ele amplia o conceito de propriedade para abarcar “as vidas, as liberdades e as posses”. Logo, a sociedade civil, ou o governo civil, surge não apenas para proteger a posse de bem materiais. O governo também tem a função de proteger a liberdade e a vida dos indivíduos (outra crítica à Hobbes). 4.4. Constituição do governo civil A constituição do corpo político é feita pela união consensual dos homens. Não é por direito divino12, não é pela sua maioria, não pode ser por conquista13. Apenas o consenso é base de legitimação para a forma de governo. Assim a monarquia absoluta não pode ser legítima, pois não faz sentido homens iguais e livres se colocarem em situação pior que aquela do estado de natureza. 12 Filmer. 13 Hobbes. www.pontodosconcursos.com.br 16 CURSO ON-LINE CIÊNCIA POLÍTICA PARA MPOG PROFESSOR MARCELO GONÇALVES Para instituir o governo civil, os homens precisam abrir mãos de dois poder: o de legislar e o de executar a lei. Mas não transferem esse poder a outro homem, que ficaria acima deles. Esse poder é transferido para o governo civil, o qual tem como instituição mais importante o parlamento. Nesse sentido, o supremo poder é o legislativo, o que torna o parlamento soberano no governo civil. Contudo, o legislador não pode prever nem prover todas as situações, logo, é necessário deixar algumas resoluções para a discrição de quem tem o poder executivo, isto é, deve existir a prerrogativa real, permitindo que o governante (que pode ser um ou vários) tenha capacidade de governar. Além disso, o legislativo não precisa está sempre reunido, a fabricação constante de lei pode levar a edições desnecessárias que poderiam desestabilizar o governo. Todavia, tanto o poder do legislativo quanto a discrição do executivo não podem ultrapassar os limites do bem público e os estabelecidos pela lei natural – que continua em vigor mesmo após a instituição do governo civil. Caso essas instituições fujam do interesse públicos os súditos podem desabilitá-las. Isso porque Locke assume que os detentores do poder são depositários da confiança do povo, caso não cumpram seus mandatos adequadamente, cabe ao povo julgá-los. De forma que, contra a força “sem autoridade” (que Locke aproxima ao conceito de legitimidade), o povo pode empregar a força. É formulado então o direito de insurreição. Inadmissível para Hobbes. Entretanto, o direito à insurreição não pode gerar perpétua anarquia. Aliás, esse perigo nem deve ser tomado seriamente, pois o povo é naturalmente inerte, só se move quando a situação se torna insuportável. Em todo caso, a inércia não deve ser absoluta, tão pouco a sujeição, pois o preço da ordem não pode ser a paz dos cemitérios, a obediência passiva pode levar a males piores que a revolução. Conclusão: como resultado desse conjunto de idéias, Locke aparece como um individualista defensor do liberalismo político, enquanto Hobbes um individualista que propõe o absolutismo. 5. Rousseau www.pontodosconcursos.com.br 17 CURSO ON-LINE CIÊNCIA POLÍTICA PARA MPOG PROFESSOR MARCELO GONÇALVES Para Rousseau, o estado de natureza é essencialmente bom. A imagem que este autor tem desse estágio da humanidade é a de um Jardim do Éden, uma espécie de paraíso no qual o homem vive em um estado amoral, no qual não há bem e nem mal. O homem, no estado de natureza, é uma figura bondosa e pacífica. Essa visão levou Rousseau a formular o que ficou conhecido futuramente como mito do „bom selvagem‟14. Esse mundo pacífico e tranqüilo é degenerado por meio do surgimento da propriedade privada. Segundo Rousseau, no momento que a primeira pessoa cerca um pedaço de terra e diz que esse espaço é propriedade dele, surge o ódio e a ganância, e a paz é corrompida, dando lugar ao medo e ao ódio mutuo. Rousseau defendia que, se esse indivíduo tivesse sido imediatamente desmascarado como um mentiroso corrupto, o mundo ainda viveria em paz. Sendo assim, é a posse da propriedade privada que degenera o estado de natureza (bom e pacífico) para a sociedade civil, naturalmente corrupta. Esse é o estado do homem “hoje" (época de Rousseau!). A formação da sociedade civil – é preciso observar que, para este autor, sociedade civil e sociedade políticas são duas coisas distintas, como veremos adiante – é um golpe contra a humanidade e contra a igualdade entre homens. Representa uma usurpação e uma mentira, contra a qual Rousseau proporá o contrato social. A crítica de Rousseau contra a sociedade civil dirige-se, basicamente, ao seu fundamento: a propriedade privada. E ela a raiz da desigualdade e da exploração entre os homens (em seus últimos texto, Rousseau terá outra visão da propriedade privada, aceitando-a como algo sagrado dentro do contrato social legítimo, mas vamos voltar ao assunto). Como o primeiro contrato, o da sociedade civil, surgiu para proteger uma mentira, a propriedade de quem dela não era dono, este primeiro contrato social é um instrumento de injustiça, feito entre desiguais, para a exploração de um grupo (os “proprietários”) por outro 14 Os homens no estado de natureza viveriam como os índios das Américas, em paz e tranqüilidade, vivendo para comer, dormir e se reproduzir. Nada mais idílico e irreal! www.pontodosconcursos.com.br 18 CURSO ON-LINE CIÊNCIA POLÍTICA PARA MPOG PROFESSOR MARCELO GONÇALVES (quem comeu mosca!). Dessa forma, a sociedade civil não é um acordo entre iguais, mas um golpe dos ricos e poderosos para lhes garantir: – Proteção; – Legitimidade; – E ordem. Ora, se a ordem social é construída sobre essas bases, é natural que o Estado apareça, na obra de Rousseau, como uma obra dos ricos para preservar a desigualdade. O Estado, na sociedade civil, torna-se o símbolo então da desigualdade social e política. 5.1. O Contrato Social Diante desse quadro negativo, a experiência concreta vivida pela sociedade, torna-se necessário um novo contrato social. Nesse momento, Rousseau parte para uma especulação filosófica que pretende estabelecer as características de um novo contrato social que permita à sociedade construir um Estado justo e igualitário. Para a consecução desse novo contrato, Rousseau parte de um pressuposto que compartilha com Locke, a idéia de que a fonte do poder reside no povo, o qual renuncia, por meio do contrato social, à sua liberdade em favor de um estado que seja guiado pela vontade geral, conceito central na análise rousseauniana. Importante frisar que a idéia de renúncia de liberdade aqui terá desdobramentos completamente distintos da renúncia em Hobbes. Poder não será transferido para uma entidade toda poderosa (representada por um ou mais indivíduo) que confunde com o Estado, mas para um Estado que deve respeitar a vontade geral, na verdade, deve ser guiado por ela, não por sua própria vontade. Mas o que é, afinal, a vontade geral? A noção de vontade geral que se extrai dos escritos de Rousseau é a de uma vontade que representa a suprema direção da sociedade. Mas que não pode ser confundida como o somatório das vontades individuais. Antes disso, “a vontade geral é aquela que traduz o que há de comum em todas as vontades individuais, ou seja, o „substrato coletivo das consciências‟”. É a www.pontodosconcursos.com.br 19 CURSO ON-LINE CIÊNCIA POLÍTICA PARA MPOG PROFESSOR MARCELO GONÇALVES vontade geral o fator unificador da multiplicidade dos contratantes, representando, dessa forma, o coração da democracia no Contrato social. Na sua apresentação da importância da vontade geral como guia do Estado e da sociedade, Rousseau condena todo o tipo de facções, por deturparem a vontade geral. Segundo ele, a vontade geral não pode ser identificada nas decisões majoritárias que, num contexto só aparentemente democrático, encerram o debate político, logo, as decisões tomadas em clima de facções devem ser desconsideradas. Segundo Rousseau, quando se estabelecem facções, associações parciais a expensas do interesse comum, a vontade de cada uma dessas associações torna-se geral em relação a seus membros, e particulares em relação ao Estado. É preciso salientar ainda que vontade geral e vontade de todos não são a mesma coisa. A vontade geral prende-se somente ao interesse comum, ao passo que a outra, atrela-se ao interesse privado, não passando de uma “soma das vontades particulares”. O objeto da vontade geral é o interesse comum, bastando, porém, que um interesse, por generalizado que seja, se mostre menos geral do que o da sociedade inteira, para deixar de ser o interesse comum. “Assim, o interesse comum não é o interesse de todos, no sentido de uma confluência dos interesses particulares, mas o interesse de todos e de cada um enquanto componentes do corpo coletivo e exclusivamente nesta qualidade, advindo daí o perigo de predominar o interesse da maioria, pois, se é sempre possível conseguir a concordância dos interesses privados de um grande número, nem por isso assim se estará atendendo ao interesse comum”. Só se pode, portanto, falar em vontade geral, quando, apesar das divergências inevitáveis entre os componentes do corpo social e das discussões legítimas que se devem travar entre eles, exista um ou vários elementos comuns capazes de movê-los na mesma direção, de imprimir um impulso positivo ao conjunto da sociedade, devendo-se entender por isso que a vontade geral não é geral por ser de todos mas por ser a mesma o que www.pontodosconcursos.com.br 20 CURSO ON-LINE CIÊNCIA POLÍTICA PARA MPOG PROFESSOR MARCELO GONÇALVES generaliza a vontade é menos o número de votos do que o interesse comum que os une.15 No momento em que é firmando o contrato social que estabelece a sociedade política – organização sócio-política justa, fraterna e igualitária que surge do bom contrato social, para substituir a sociedade civil – o indivíduo perde a liberdade natural, mas ganha a liberdade civil, a qual está calcada na limitação (liberdades positivas e negativas). Outro valor fundamental para o novo Estado é a igualdade. Por representa a Vontade Geral, é natural que o Estado trate todos como iguais, afinal seria parte do substrato das consciências humanas não ter ninguém superior a elas, definindo-lhes a existência. Se todos são iguais, nada mais adequado ao sistema político da sociedade política do que cada homem representar a si mesmo. Apesar de Rousseau tomar firme posição contra o sistema representativo16, o autor não aprofunda o argumento. Todavia, uma questão é fundamental na temática da igualdade. Apesar de todos os homens serem iguais, nem todos os cidadãos são iguais, não existem classes sociais nem classes de pessoas ao nascer, mas existem classes de cidadãos. Essas classes seriam classes abstratas nas quais os homens se colocam por mérito. Pelo seu aprimoramento como cidadão e indivíduo ao longo da vida. Repare que ele fala de classe de cidadãos de modo bastante abstrato, Rousseau evita o que nós chamaríamos de classes econômicas, pois, para eles elas são naturalmente conflituosas. Em relação a elas, o dever do Estado é trabalhar no sentido de evitar o conflito e promover a paz social. Acompanha a idéia de classes de cidadãos e da necessidade de os indivíduos se representarem diretamente um alto valor para educação. O culto rousseauniano à educação será desenvolvido com mais cuidado em sua obra 15 Para uma excelente discussão sobre o conceito de vontade geral ver. Pinto, Márcio Morena. A noção de vontade geral e seu papel no pensamento político de Jean-Jacques Rousseau. Cadernos de Ética e Filosofia Política. 7, 2/2005, p. 83-97.USP.São Paulo. 16 Tenha em mente também o tipo de representatividade que Rousseau conhecia: os estamentos franceses. www.pontodosconcursos.com.br 21 CURSO ON-LINE CIÊNCIA POLÍTICA PARA MPOG PROFESSOR MARCELO GONÇALVES “Émile, ou L‟Educacion”. Segundo ele, não funcionando a educação e a vontade racional geral, a tirania domina. Observe, ainda, que, juntamente com sistema eficiente de educação, deveriam ser criados mecanismo anticorrupção; Voltando à questão da propriedade, na sociedade política, a propriedade privada passa a ser sagrada (não é culpa nossa, reclama com o Rousseau!), mas, para respeitar o pacto social, o Estado deve evitar os extremos de pobreza e riqueza. Regulando, assim, a desigualdade, para promover a igualdade. Dessa forma, a definição de Estado é a de uma entidade interventora. 6. Hegel Primeiro é o primeiro autor a formular o conceito de sociedade civil separado do Estado político, para ele: 1. Sociedade civil = sistema de relações recíprocas que permitem (1) o suprimento das necessidades materiais, ex. mercado, e (2) a administração da justiça e dos interesses antagônicos. 2. Estado político = esfera de interesses públicos e universais na qual os antagonismos estão superados. É o símbolo da unidade social e a mais alta expressão da liberdade e da razão. Nesse sentido, é preciso abstrair até compreender que não há nada realmente político fora do Estado, que é a materialização da razão da vontade universal, portanto, não pode ser uma criação do indivíduo. O Estado é a expressão de um povo (ex. Guerra). O Estado, que mais nos interessa aqui, pode ser compreendido, grosso modo, como o desenvolvimento da razão, de uma idéia racional. Conforme a sociedade/coletividade evolui, o Estado evolui. Esse idealismo e visão “romântica” Estado vão ser objetos de duras críticas de k. Marx, como veremos mais adiante nessa aula. O esforço conceitual de Hegel o aproxima-se de Maquiavel por sua concepção do Estado como uma experiência histórica, todavia, sua leitura www.pontodosconcursos.com.br 22 CURSO ON-LINE CIÊNCIA POLÍTICA PARA MPOG PROFESSOR MARCELO GONÇALVES inova ao percebê-lo como o traço distintivo da evolução civilizatória. Na verdade a forma distintiva da racional existência social do homem. 7. John Stuart Mill (1806-1873) J. S. Mill é um dos pensadores mais importantes para compreender o desenvolvimento do pensamento político clássico (preferiríamos moderno) e do próprio sistema político contemporâneo, principalmente se tivermos como foco da análise o sistema democrático liberal, de democracia formal ou representativa. Mill é contemporâneo do apogeu da Revolução Industrial inglesa, também assistiu de perto o avanço da burguesia industrial e financeira, das primeiras reformas eleitorais na Grã-Bretanha, do movimento operário e do movimento democrático – com destaque para a Primavera dos Povos, em 1848. Suas grandes influências no pensamento filosófico e político são James Mill, seu pai, e Jeremy Bentham, ambos utilitaristas. 7.1. John Stuart Mill, um liberal utilitarista As bases do pensamento de Mill são o individualismo, o liberalismo, o utilitarismo e a democracia, entendida por ele como a representação da evolução do espírito humano. Diferente dos autores anteriores, ele não irá beber na fonte do jusnaturalismo para explicar a estruturação da sociedade, pelo contrário, rejeita a leitura contratualista e parte para uma análise mais “pragmática” da realidade política. Como esses conceitos já devem ser do domínio de vocês. Reter-nos- emos apenas no utilitarismo. Segundo Bentham, o princípio do utilitarismo é aquele que aprova ou desaprova qualquer ação, segundo a tendência que tem de aumentar ou a diminuir a felicidade da pessoa cujo o interesse está em jogo, ou, o que é a mesma coisa em outros termos, segundo a tendência a promover ou a comprometer referida felicidade. A idéia básica é do utilitarismo, ligada ao www.pontodosconcursos.com.br 23 CURSO ON-LINE CIÊNCIA POLÍTICA PARA MPOG PROFESSOR MARCELO GONÇALVES liberalismo e ao individualismo, obviamente, é a de que os indivíduos são capaz de agir em prol de seus interesses, para maximizar sua utilidade. Logo, deve ser-lhes dada a liberdade de realizar essa busca. Com a busca da utilidade individual e seu aumento, a utilidade de toda a sociedade iria aumentar. Entenda a idéia de utilidade como algo semelhante a satisfação, ou felicidade mesmo. No que tange ao liberalismo, Mill entendia que a liberdade individual é a mola propulsora do desenvolvimento, havendo liberdade individual, a sociedade evolui necessariamente, pois é da natureza humana a busca do desenvolvimento. Ou seja, somos remetidos novamente à idéia da busca da realização individual como o caminho para o desenvolvimento da sociedade. A aposta de Mill no individualismo e tal monta que chega a afirmar que a democracia e o liberalismo (vistos pelo prisma do individualismo e do utilitarismo) seriam os caminhos para a promoção de uma sociedade justa e equitativa, pois seriam instrumentos para o aumento da soma das boas qualidades coletivas e individuais. Neste ponto reside a utilidade dos dois fundamentos (democracia e liberalismo). A crença e a defesa desses pressupostos levaram Mill a afirmar que o capitalismo estava reduzindo progressivamente a desigualdade. Esta, por sua vez, era vista essencialmente como algo herdado do período pré-capitalista e um dos principais fatores inibidores da participação de todas as pessoas no sistema político. Diante desse quadro, qual seria o papel do Estado em relação à desigualdade? A resposta de Mill é bastante frustrante. Para ele, é necessário aceitar a desigualdade, trata-se de um fato problemático que só será resolvido gradualmente, pelos mecanismos expostos acima. Portanto, as leis não têm que combater o problema da desigualdade, mas proteger o povo do poder estatal – potencial limitador das capacidades da ação individual. No que diz respeito à inibição da participação, Mill vai mais além. Para ele, essa limitação está relacionada a um problema gravíssimo e ocupa um espaço central em seu pensamento: dada a necessidade de assimilar o povo www.pontodosconcursos.com.br 24 CURSO ON-LINE CIÊNCIA POLÍTICA PARA MPOG PROFESSOR MARCELO GONÇALVES no processo democrático, como fazê-lo sem que os conflitos sociais desagreguem o Estado ou venham a ferir a liberdade individual? Na realidade, Mill demonstra um grande temor em relação ao sufrágio universal. Para ele, as massas poderiam não saber esperar a melhoria gradual do bem-estar de todos por meio do comportamento individual. Assim, Mill nutre um enorme medo das massas, principalmente, no que diz respeito às suas tendências revolucionárias. Abre-se então a questão: como inserir as massas no sistema de representação, sem levá-lo à falência? Nesse momento, conhecemos um Stuart Mill bastante moderado do ponto de vista democrático. 7.2. Stuart Mill: Democrata Moderado Na sua maturidade intelectual, Mills defende o liberalismo democrático, incluindo sufrágio universal, e chega a defender políticas sociais para reduzir mazelas da industrialização. Como caminhos para garantir o desenvolvimento, Mill defende que o sistema político deve ser defensor e promotor da liberdade, da diversidade e do conflito moderado e racionalizado. Esses pontos são fundamentais porque são as bases para a evolução da sociedade. O pilar do seu pensamento democrático (que não é radical), contudo, é a participação institucionalizada (representação), por isso, será considerado uns dos principais ideólogos da democracia representativa. Mill defendia que forma de governo ideal seria o governo representativo (sinônimo de democracia formal ou liberal). O qual, para funcionar de verdade deveria frear qualquer possibilidade de haver captura da sociedade política por interesses classistas. Que, em uma situação extrema, representaria a ditadura da maioria. Mas como deveria funcionar esse governo representativo? Concretamente, Mill propõe a adoção de duas instituições fundamentais: 1. O voto proporcional: a idéia desse sistema é garantir a representação de minorias, justamente, evitando a chamada “ditadura da maioria”; 2. Votos com pesos diferentes: Mill acreditava que a elite cultural deveria ser mais valorizada, para ser o fiel da balança na luta de classes. Pois www.pontodosconcursos.com.br 25 CURSO ON-LINE CIÊNCIA POLÍTICA PARA MPOG PROFESSOR MARCELO GONÇALVES quando os pobres fossem assimilados ao sistema político, tenderiam entrar em conflito aberto com as classes proprietárias. A elite cultural, então, mediaria o conflito para evitar a desestabilização do sistema sócio-político. Essas foram as bases do sistema representativo americano por muitas décadas, quando, em vários estados, o voto de um eleitor branco valia vários votos de cidadãos negros, considerados de segunda classe. Ademais, por suas propostas, é possível dizer que Mill é um dos precursores mais importantes do pluralismo. www.pontodosconcursos.com.br 26 CURSO ON-LINE CIÊNCIA POLÍTICA PARA MPOG PROFESSOR MARCELO GONÇALVES POLÍTICA, CLASSES SOCIAIS E ECONOMIA Introdução Trabalhar de forma objetiva e esquemática três conceitos pilares da teoria política e as relações existentes entre eles é um grande desafio e implica simplificar todo um escopo teórico estudado desde o século XIX por inúmeros pensadores e pensadoras. Em teoria política, analisar as classes sociais e suas relações econômicas e políticas requer, necessariamente, uma boa compreensão dos principais conceitos do pensamento de Marx e Engels e de seus seguidores. Para facilitar a compreensão acerca desse debate, essa aula foi dividida em duas partes. Na primeira parte a relação entre classes sociais, política e economia é analisada através de sua principal vertente teórica, o marxismo, uma das principais tradições do pensamento político que balizou as discussões posteriores de forma significativa e marcante, seja através de autores e autoras que criticaram os pressupostos e conclusões marxistas, seja por aqueles que retomaram seus conceitos e análises de forma a demonstrar a atualidade e pertinência do pensamento marxista ao longo do século XX. A segunda parte da aula se dedica a analisar as relações entre economia, política e classes através da perspectiva de autores posteriores a Marx, classificados na teoria política contemporânea como pós-marxistas como Gramsci, Althusser, Milliband, Poulantzas e Offe. Parte I. Política, classes sociais e economia: a análise marxista Karl Marx nasceu em 1818 na Alemanha e presenciou, ao longo de sua vida, importantes acontecimentos do séc. XIX como a emergência da burguesia e do proletariado, o surgimento do capitalismo industrial e a consolidação das www.pontodosconcursos.com.br 27 CURSO ON-LINE CIÊNCIA POLÍTICA PARA MPOG PROFESSOR MARCELO GONÇALVES nações e estados modernos. Influenciado ainda pelo pensamento de Hegel, paradigma dominante no pensamento alemão da época, Marx em parceria com Engels produz obras importantes sobre filosofia, religião, economia e política que influenciaram de forma marcante o pensamento político e social produzido depois deles. A seguir serão apresentadas algumas das idéias que compõem o cerne da teoria marxista. 1. Idéias centrais da teoria marxista 1.1. As relações sociais se impõem aos indivíduos. Isso implica dizer que os indivíduos entram em determinadas relações, necessárias, que são independentes de suas vontades. Dessa forma, para entender a história, é preciso entender as estruturas das sociedades, as formas de produção econômica e social que nos permitem compreender os indivíduos que surgem dessas estruturas e não o contrário, ou seja, entender os indivíduos para só então entender a realidade social. 1.2. Toda sociedade pode ser definida pela existência da infra-estrutura e da superestrutura. A infra-estrutura, ou a base econômica (mercado), é constituída por forças e relações de produção e a superestrutura é composta pelas instituições políticas e jurídicas, assim como as formas de pensar, as ideologias, as religiões e os valores. A infra-estrutura dá origem à base material da sociedade, enquanto a superestrutura abriga as formas ideológicas17 da sociedade. 17 Relação com conceito de ideologia enquanto conjunto de idéias. www.pontodosconcursos.com.br 28 CURSO ON-LINE CIÊNCIA POLÍTICA PARA MPOG PROFESSOR MARCELO GONÇALVES Antes de passarmos para os próximos pontos e compreendermos melhor as discussões que se seguem, é necessário definir alguns conceitos importantes em todo pensamento marxista: - Forças de produção: capacidade de produzir de determinada sociedade, relacionada com conhecimentos tecnológicos e científicos, aparelhos técnicos e organização do trabalho coletivo (divisão social do trabalho). - Relações de produção: são, essencialmente, as relações de propriedade e a forma com que a renda é distribuída entre os membros da sociedade. - Meios de produção – ferramentas, terra, prédios e maquinários que trabalhadores usam para produção dos bens materiais. - Modo de produção – combinação das forças produtivas e relações de produção entre pessoas numa determinada época – socialismo, capitalismo, feudalismo, etc. - Revolução (ou período revolucionário): período de crise em que se chocam as relações e as forças de produção e que provocam rupturas e transformações de alcance global na sociedade. 1.3. O motor da história é a contradição entre forças e relações de produção. Nesse sentido, usando as palavras de Aron (2004) “a dialética da história se constitui pelo movimento das forças produtivas, entrando estas em contradição, em certas épocas revolucionárias, com as relações de produção, isto é, ao mesmo tempo as relações de propriedade e a distribuição das rendas entre os indivíduos ou grupos da coletividade” (ARON, 2004, p. 47). 1.4. A luta de classes é resultado da contradição entre as forças e relações de produção Em momentos revolucionários, uma classe (conservadora) se apega às relações de produção antigas que se tornaram um obstáculo ao desenvolvimento das forças produtivas, enquanto uma outra classe www.pontodosconcursos.com.br 29 CURSO ON-LINE CIÊNCIA POLÍTICA PARA MPOG PROFESSOR MARCELO GONÇALVES (progressista) representa as novas relações de produção que favorecem o crescimento dessas forças produtivas. Aplicando essa fórmula ao capitalismo, para Marx, a burguesia estaria ligada à propriedade privada dos meios de produção e com isso a uma determinada divisão da renda nacional. Enquanto o proletariado, pólo oposto da sociedade, defenderia, por exemplo, uma nova forma de propriedade dos meios de produção. A luta de classes é o tema central do Manifesto Comunista. Segundo Marx: “A história de todas as sociedades, até hoje, tem sido a história das lutas de classes”. Dessa forma, estariam contrapostas duas classes essenciais: a burguesia e o proletariado. A burguesia deteria os meios de produção e exploraria a classe proletária para garantir sua manutenção e o processo de acumulação capitalista. Nesse sentido, a inovação de Marx, segundo ele mesmo, se deu, de forma significativa, em sua teoria das classes sociais. Nas palavras do próprio Marx: “O que eu trouxe de novo foi demonstrar: 1. que a existência das classes só vai unida a determinadas fases históricas de desenvolvimento da produção; 2. que a luta de classes conduz necessariamente, à ditadura do proletariado; 3. que esta ditadura, em si mesma, não é mais do que o trânsito para a abolição de todas as classes e para uma sociedade sem classes.” 1.5. A dialética das forças e relações de produção sugere uma teoria das revoluções As revoluções não seriam „acidentes históricos‟ e sim a expressão de uma necessidade histórica, produzidas quando determinadas condições estão presentes. As relações de produção capitalistas, por exemplo, se desenvolveram dentro da sociedade feudal e de forma semelhante, no interior da sociedade capitalista estariam se formando as relações de produção socialistas. 1.6. Existe uma oposição entre realidade social e consciência www.pontodosconcursos.com.br 30 CURSO ON-LINE CIÊNCIA POLÍTICA PARA MPOG PROFESSOR MARCELO GONÇALVES Além da distinção entre infra-estrutura e superestrutura, Marx também opõe a realidade social e a consciência dos indivíduos. Para ele, não é a consciência dos indivíduos que determina a realidade e sim a realidade social que determina a sua consciência. Nesse sentido, só é possível, em Marx, explicar a maneira de pensar dos indivíduos se analisarmos as relações sociais nas quais eles estão imersos. Através dessa contraposição, Marx se diferencia do pensamento hegeliano e assume que as relações existentes na infra-estrutura (base material) determinam as relações existentes na superestrutura (mundo das idéias) e não o contrário. Em Marx, a existência social é que determina a consciência dos indivíduos e suas formas de perceber o mundo. 1.7. A história da humanidade pode ser dividida em etapas (etapismo) A divisão da sociedade em etapas, para Marx, tem como base os diferentes regimes econômicos já existentes. Marx define, então, quatro modos de produção: asiático, antigo, feudal e burguês. Os quatro modos podem ser divididos, segundo Aron (2004), em dois grupos: A. Etapas da história ocidental: modos de produção antigo, feudal e burguês. Esses três modos de produção se sucederam na história ocidental e se diferenciam através dos tipos de relações existentes entre os indivíduos que trabalhavam, ou seja, dos modos de exploração dos indivíduos pelos indivíduos: ¾ Modo de produção antigo: escravidão ¾ Modo de produção feudal: servidão ¾ Modo de produção burguês: trabalho assalariado www.pontodosconcursos.com.br 31 CURSO ON-LINE CIÊNCIA POLÍTICA PARA MPOG PROFESSOR MARCELO GONÇALVES O modo de produção burguês seria a última formação social antagônica, na teoria de Marx, porque o modo de produção socialista, a próxima etapa, não comportaria mais a „exploração do homem pelo homem‟, nem a subordinação dos trabalhadores manuais a uma classe detentora dos meios de produção e do poder político. B. Etapas da oriental: modo de produção asiático Definido não pela subordinação de escravos, servos ou assalariados e sim pela subordinação de todos os trabalhadores ao Estado. 1.9. Críticas ao capitalismo e a definição de socialismo O capitalismo, para Marx, pode ser definido por duas contradições. Na primeira estão contrapostas forças e relações de produção. A burguesia cria constantemente meios de produção mais poderosos e as relações de distribuição dos bens não acompanha esse processo. Dessa forma, a miséria permanece como condição da maioria a despeito do crescimento da riqueza. Dessa divergência entre riqueza e distribuição resulta a segunda contradição em que ocorrerá, mais cedo ou mais tarde, uma crise revolucionária em função da diferença entre a progressão da riqueza e miséria crescente. Da crise revolucionária, virá a tomada da consciência do proletariado enquanto classe e tomada de poder que transformará as relações de produção com a ascensão do socialismo em que as classes chegarão ao seu fim. Para Marx: “A luta de classes vai se inclinar a uma simplificação. Os diferentes grupos sociais se polarizam, uns em torno da burguesia, outros em torno do proletariado, e é o desenvolvimento das forças produtivas que será o propulsor para o movimento histórico, culminando este, por intermédio da proletarização e da pauperização, na explosão revolucionária, e no surgimento, pela primeira vez na história, de uma sociedade não antagonista” (MARX, K. apud ARON, R., 2004, 53). www.pontodosconcursos.com.br 32 CURSO ON-LINE CIÊNCIA POLÍTICA PARA MPOG PROFESSOR MARCELO GONÇALVES Segundo Aron (2004) alguns pressupostos podem ser observados apontando a análise presente no Manifesto. Em primeiro lugar, as leis econômicas são entendidas como leis históricas que não podem ser expandidas para todos os sistemas econômicos, nem podem ser consideradas como leis gerais. Dessa forma, Marx busca estabelecer leis que sejam válidas para um regime historicamente singular diferentemente da tradição econômica clássica inglesa. O segundo pressuposto apontado por Aron (2004) é de que o capitalismo é uma totalidade histórica e com base nisso precisa ser compreendido como um todo. Em terceiro lugar, a injustiça inerente ao capitalismo é a causa da sua destruição futura. O antagonismo capitalista se configura na exploração incessante dos assalariados e esta será a causa maior da destruição do regime capitalista quando a revolução proletária tiver lugar na luta de classes. A tríade de sustentação do capitalismo poderia, então, ser definida da seguinte forma: 1. Propriedade privada dos meios de produção: a classe burguesa como detentora dos instrumentos de produção. 2. Força de trabalho: os trabalhadores (proletariado), não possuindo nenhum meio de produção, venderiam sua força de trabalho no mercado em troca de um salário. 3. Exploração: a classe burguesa e os lucros obtidos através da propriedade de máquinas, fábricas, e outros meios de produção, é sustentada pela força de trabalho vendida pelos trabalhadores em troca de salários injustos, o que determina as formas através das quais a riqueza será distribuída entre a burguesia e o proletariado nas sociedades. Dessa forma, o capitalismo possuiria um mercado de capital, onde a classe dominante vende e compra recursos (capital) que geram lucros e um mercado de trabalho, onde os dominados vendem sua força de trabalho. 2. A passagem para o socialismo www.pontodosconcursos.com.br 33 CURSO ON-LINE CIÊNCIA POLÍTICA PARA MPOG PROFESSOR MARCELO GONÇALVES Em função das contradições apontadas por Marx e consideradas por ele como inerentes ao capitalismo, o socialismo se apresentaria com a próxima etapa na história do conflito entre classes e entre relações e forças de produção. Com o aumento da pauperização e da proletarização, uma crise se estabeleceria trazendo as condições necessárias para um período revolucionário em que o proletariado tomaria o poder das mãos da burguesia e estabeleceria um novo regime econômico e político, o dos “proprietários associados”, em que a propriedade privada dos meios de produção seria abolida e, conseqüentemente, seriam abolidas as classes sociais e a economia baseada na exploração dos indivíduos pelos indivíduos. A proposta socialista enunciada por Marx gerou muitas críticas e dúvidas em torno da forma assumida pelo Estado, pela sociedade e pelo mercado no socialismo. É preciso ressaltar que Marx não descreveu de forma exaustiva a forma que seria assumida pelo socialismo, entretanto ao longo de suas obras podemos observar alguns aspectos descritos por ele que definiriam o regime socialista. Para Marx, após a revolução, o Estado (a máquina estatal) não seria totalmente destruído (muitos críticos de Marx acreditam, equivocadamente, que ele propunha a total extinção do Estado já nessa fase), muitas das funções administrativas do Estado permaneceriam, agora em poder do proletariado. Nesse sentido, num primeiro momento após a revolução, ao invés de ser enfraquecido o Estado seria fortalecido através da ditadura revolucionária do proletariado, o Estado enquanto Estado de classe desapareceria, mas não enquanto instrumento de poder. Num segundo momento, haveria o estabelecimento de uma sociedade sem classes, em que a sociedade passaria do “reino da necessidade para o reino da liberdade”, haveria a supressão da divisão entre cidade e campo e entre o trabalho intelectual e material de forma a evitar as desigualdades na distribuição da renda, assim como não haveria mais a figura do Estado como aparato da classe dominante para submeter as classes dominadas. 3. Teses da obra “O Capital” www.pontodosconcursos.com.br 34 CURSO ON-LINE CIÊNCIA POLÍTICA PARA MPOG PROFESSOR MARCELO GONÇALVES As reflexões econômicas de Marx relacionam-se claramente com os pressupostos clássicos da economia política inglesa. Seja para criticá-la, estabelecer revisões em prol de análises mais sofisticadas, ou mesmo para convergir com ela em certas questões, o pensamento econômico de Marx foi, em grande medida, influenciado pela produção intelectual dos "economistas burgueses". As análises de classes e os questionamentos referentes à Teoria do Valor, por exemplo, são pontos importantes tanto nos estudos da economia clássica, quanto na obra de Marx. 3.1. Teoria do Valor As reflexões de Marx quanto ao processo de trabalho levam em consideração o caráter transformador dos esforços humanos. O labor humano, orientado a um determinado fim, atua sobre determinados objetos, transformando-os em produtos, mercadorias. O produto final detém valor de uso, derivado da transformação de um material da natureza, então "adaptado às necessidades humanas através da mudança de forma". Neste processo, do qual participa o esforço humano, o trabalho está incluído àquele objeto sobre o qual atuou. As análises de Marx continuam vinculadas às concepções da Teoria do Valor Trabalho, essenciais para a compreensão de sua economia política. Para Marx, a saída de um valor de uso – o próprio produto – do processo de trabalho indica a participação não somente daquilo tradicionalmente identificado como insumos da produção, mas também do trabalho, assim como de outros valores de uso derivados de produtos anteriores, sob a forma de meios de produção. As considerações de Marx alimentam forte aspecto político, salientando a situação tensa entre empregadores e empregados. Neste sentido, o processo de trabalho é analisado também como uma relação de consumo (produtivo) da força de trabalho pelo capitalista. O trabalhador está sob controle de seu contratante, ao qual pertence seu trabalho. O operário, como "produtor imediato", não é www.pontodosconcursos.com.br 35 CURSO ON-LINE CIÊNCIA POLÍTICA PARA MPOG PROFESSOR MARCELO GONÇALVES proprietário do produto de seu labor, o qual pertence àquele que o contratou. Tal observação implica considerações políticas relevantes. Em sua análise sobre a natureza da mercadoria, Marx também faz apontamentos relacionados à natureza e aos diferentes conceitos de valor. Para se determinar o valor de um produto, seria necessário se encontrar algo comum a todas as mercadorias, que não fosse o próprio preço. Seguindo as concepções clássicas, mediante certos ajustes teóricos, Marx indica o trabalho como o único elemento comum e comparável entre todas as mercadorias, determinando seus respectivos valores de troca. A noção de mercadoria, para Marx, seria um importante elemento de entendimento da sociedade capitalista. A produção com o objetivo de troca e a natureza social da mercadoria seriam elementos importantes para a sua conceitualização nas sociedades contemporâneas. Ao buscar refletir sobre a natureza do valor das coisas, Marx defronta-se com os mesmos problemas de seus antecessores. Adam Smith, por exemplo, nunca formulou uma teoria do valor-trabalho com plena coerência, enfrentando problemas lógicos em seus enunciados. As formulações de Marx, visando a solução do problema de como "medir" o trabalho realizado em diferentes atividades, para se determinar valores de troca, também possuem limitações importantes. A sua contraposição entre trabalho útil (trabalho qualificado para se produzir mercadorias determinadas, não sendo passível de comparação) e trabalho abstrato (decomposição do trabalho útil em partículas de trabalho, em horas dedicadas, por meio de unidades de esforço humano) baseia-se em conceitos amplos e pouco operacionais. "Substância criadora de valor", "trabalho humano homogêneo", "condições de produção socialmente normais" e "grau social médio de destreza" são termos apontados – mas não tão bem definidos – por Marx para construir sua teoria do valor. As críticas à Teoria do Valor-Trabalho, em sentido amplo, levarão ao posterior abandono de seus postulados em favor de análises que focalizarão a dinâmica da formação conjuntural dos preços, com base em critérios de Utilidade. Tais formulações encontrarão corpo em autores da chamada escola neoclássica, ainda hoje importante influenciadora do pensamento microeconômico. www.pontodosconcursos.com.br 36 CURSO ON-LINE CIÊNCIA POLÍTICA PARA MPOG PROFESSOR MARCELO GONÇALVES 3.2. Definição de mercadoria A mercadoria, para Marx, é derivada de um processo de trabalho (processo de produzir valor de uso) e, ao mesmo tempo, de um processo de "produzir valor". Neste aspecto, a quantidade necessária à produção da mercadoria é importante para se entender, sob a ótica de Marx, o processo de produção da mais-valia. Mais uma vez, em suas considerações quanto aos esforços humanos e o valor das mercadorias, Marx faz uso de seu conceito de "trabalho social médio". Tal abstração conceitual é importante na produção teórica deste filósofo alemão, uma vez que a noção de quantidade temporal de trabalho invertida vincula-se à idéia do próprio valor das mercadorias. Porém, tal conceito continua pouco preciso, do que Marx se vale quando se trata de explicar que tipo e qual a quantidade de trabalho pode ser considerada como "partícula mínima" de esforço laboral, para fins comparação do valor entre as mercadorias. O caráter de fetiche da mercadoria é outra importante contribuição de Marx ao entendimento do processo de produção em sociedades capitalistas. A interação das trocas nos diversos mercados e o próprio processo de produção contribuiriam para a visão da mercadoria como elemento dotado de propriedades intrínsecas, definidoras de seu valor de troca. Tal dinâmica imporia um "caráter místico" à mercadoria, escondendo a natureza social da mesma, resultante de sucessivos processos de trabalho cristalizado e alienado. 3.3. Definição da mais-valia Elemento importante na produção de Marx se vincula à idéia de remuneração da força de trabalho. A sucessão de esforços humanos é elemento determinante, como visto, para se determinar o valor das mercadorias. Todavia, como também já observado, o processo de produção é fortemente influenciado pelo controle capitalista, responsável pela remuneração do labor. Neste ponto, abre-se a oportunidade de ganhos no processo de www.pontodosconcursos.com.br 37 CURSO ON-LINE CIÊNCIA POLÍTICA PARA MPOG PROFESSOR MARCELO GONÇALVES produção, onde a mais-valia se realiza. A mais-valia seria, portanto, a diferença entre aquele valor que o operário produz e aquele que ele recebe efetivamente, sob a forma de salário. Tal diferença seria apropriada pelo empreendedor capitalista, sob a forma de ganhos no processo produtivo, configurando uma situação interpretada como de exploração. Mais uma vez, os reflexos políticos de tais considerações são notáveis. 3.4. O Estado como “escritório da burguesia” Na teoria marxista, a política figura como um dos elementos da superestrutura, e nesse sentido, ela pode ser entendida como um epifenômeno, ou seja, ela é resultado ou reflexo das condições materiais dadas pela economia (infra-estrutura). O Estado, nesse sentido, também emergeria das relações de produção e por isso mesmo estaria associado aos interesses defendidos pela classe detentora dos meios de produção, a burguesia. O Estado serviria assim como instrumento de dominação e de reprodução do sistema capitalista sendo um braço repressivo em defesa dos interesses da burguesia que, além de deter os meios de produção, também teria influência sobre as instituições estatais e jurídicas. O Estado se tornaria instrumento da classe capitalista quando essa classe se organiza politicamente e quando não há oponente igualmente poderoso em outras classes. Para Marx e posteriormente, os teóricos seguidores de Marx, a relação entre Estado e a burguesia fica clara quando são observados os seguintes aspectos: ¾ Origem social dos membros do sistema de Estado: maioria pertence às classes dominantes da sociedade; ¾ O poder econômico global da classe dominante influencia decisões estatais; ¾ Existe uma determinação estrutural quando consideramos que o Estado está inserido no modo capitalista de produção, onde as estruturas previamente construídas limitam a ação do Estado, por exemplo, a não discussão sobre a abolição da propriedade privada. www.pontodosconcursos.com.br 38 CURSO ON-LINE CIÊNCIA POLÍTICA PARA MPOG PROFESSOR MARCELO GONÇALVES Muitas críticas foram feitas à teoria marxista dos primeiros escritos em função da falta de autonomia que caracterizaria o Estado em suas relações com a base material da sociedade. Entretanto para Marx e Engels, em escritos posteriores, existem dois níveis de autonomia do Estado: A. Condição normal de autonomia: - Teoria da abdicação/abstenção – a burguesia tem capacidade e dinheiro para conquistar a exercer o poder de Estado, mas o custo de participação na luta pelo poder político é muito alto, atrapalhando os burgueses individuais em suas atividades econômicas e na maximização de lucros. Nesse sentido, a burguesia crê que seus interesses são mais bem satisfeitos se estiverem fora do Estado, agindo de forma individual. Para isso, a burguesia atribui a tarefa de gerenciar os negócios políticos da sociedade a uma burocracia que está subordinada à sociedade e à produção burguesa e que atua então como agente da burguesia. B. Condição excepcional de autonomia: - Luta de classes congelada pela incapacidade de qualquer classe demonstrar seu poder sobre o Estado. Dessa forma, a burocracia obteria uma autonomia significativa, como observado por Marx em sua obra O 18 Brumário. A burguesia cede, assim, seu poder para manter seu poder econômico e social e aceita a ditadura de uma classe. Mesmo nessa configuração, o Estado ainda serve ao capitalismo porque mantém as estruturas das relações de produção. A essas criticas foram dadas respostas também por vários teóricos pós- marxistas que analisavam as possibilidades de ação do Estado, e conseqüentemente, sua autonomia, ação da burguesia e o papel da burocracia nas sociedades capitalistas, como veremos na segunda parte. Para os pós- marxistas, um Estado autônomo não seria apenas instrumento da burguesia, mas teria suas ações determinadas pelas condições de luta de classe e pela estrutura de uma sociedade de classes. A democracia apareceria então como www.pontodosconcursos.com.br 39 CURSO ON-LINE CIÊNCIA POLÍTICA PARA MPOG PROFESSOR MARCELO GONÇALVES uma forma de reproduzir estruturas e dar idéia de participação às classes dominadas. Parte II. Política, classes sociais e economia: a análise pós-marxista O pensamento marxista tornou-se uma das mais importantes correntes teóricas dos séculos XIX e XX e foi repensada, revisada, analisada e criticada por inúmeros nomes das teorias política, sociológica, econômica, histórica e filosófica. No âmbito da teoria política e sociológica, a discussão sobre o papel do Estado e suas relações com as classes sociais nas sociedades capitalistas foi amplamente revisitada, especialmente pelos autores classificados como pós-marxistas, que retomam os esquemas de análise propostos por Marx reconsiderando alguns de seus aspectos de forma a contextualizar as principais idéias do marxismo aos acontecimentos do século XX. A seguir serão brevemente expostos alguns dos principais representantes do pós- marxismo e as idéias centrais defendidas por eles. 1. Althusser e o estruturalismo marxista Com o intuito de avançar nos estudos sobre teoria do Estado, Louis Althusser (1992) se propõe a analisar os aparelhos ideológicos do Estado (AIE). Estes não são os aparelhos (repressivos) do Estado, mas são instituições distintas e especializadas. Essas instituições seriam as igrejas, escolas, família, partidos, sindicatos, imprensa, o sistema jurídico e cultural. Nesse sentido, a maioria dos Aparelhos Ideológicos do Estado remete ao domínio privado. Tanto o aparelho repressivo do Estado quanto os Aparelhos Ideológicos do Estado funcionam através da violência e da ideologia, o que os distingue é que o aparelho repressivo do Estado faz uso, predominantemente, da repressão e, secundariamente, da ideologia. Já os Aparelhos Ideológicos do Estado, primeiramente, funcionam através da ideologia e depois através da repressão. A classe dominante que detém o poder do Estado e que, portanto, www.pontodosconcursos.com.br 40 CURSO ON-LINE CIÊNCIA POLÍTICA PARA MPOG PROFESSOR MARCELO GONÇALVES possui o aparelho repressivo do Estado, também é ativa nos Aparelhos Ideológicos do Estado. Para Althusser, nenhuma classe detém o poder do Estado sem fazer uso dos aparelhos ideológicos do Estado para exercer sua hegemonia. Com base nisso, o autor afirma que os Aparelhos Ideológicos do Estado são os meios e o lugar da luta de classes. Segundo Althusser, a unidade do aparelho repressivo do Estado está assegurada por sua organização centralizada, enquanto a unidade entre os diferentes aparelhos ideológicos do Estado está assegurada pela ideologia dominante, da classe dominante. A respeito das relações de produção, o autor afirma que o papel do aparelho repressivo do Estado está em garantir, por meio da força, as condições políticas para a reprodução dessas relações de exploração. Além disso, o aparelho repressivo do Estado assegura pela repressão as condições políticas do exercício dos aparelhos ideológicos do Estado. Nesse sentido, é a ideologia dominante que garante a harmonia entre o aparelho repressivo e os aparelhos ideológicos do Estado. No pré-capitalismo, a Igreja era o aparelho ideológico do Estado dominante e o aparelho ideológico escolar surge como instituição capaz de substituir a posição dominante religiosa nas formações capitalistas maduras. Dessa maneira, o antigo aparelho ideológico Igreja-Família deu lugar ao aparelho ideológico Escola-Família. Todos os aparelhos ideológicos do Estado possuem o mesmo fim, ou seja, reproduzir as relações de exploração capitalista. E o aparelho ideológico escolar assume papel dominante no Estado das sociedades capitalistas porque é ela que inculca e transmite desde cedo às crianças, os saberes contidos na ideologia dominante. Apesar de outros aparelhos ideológicos exerceram essa mesma função, como as famílias, igrejas, os meios de comunicação, entre outros, Althusser ressalta a importância da obrigatoriedade exigida pela instituição escolar durante um longo período da vida dos indivíduos. É através da aprendizagem que as relações de produção capitalista se reproduzem, ou seja, perpetua-se a relação de exploração, embora esse mecanismo seja mascarado pela representação da escola como instituição neutra. www.pontodosconcursos.com.br 41 CURSO ON-LINE CIÊNCIA POLÍTICA PARA MPOG PROFESSOR MARCELO GONÇALVES 2. Gramsci e a noção ampliada de Estado O pós-marxismo de Gramsci se caracteriza pela elaboração de uma teoria marxista ampliada do Estado, os elementos inseridos por ele na análise não rejeitam os pressupostos básicos do marxismo, mas, sim, configuram novas determinações. Gramsci distingue na superestrutura duas esferas: a sociedade civil e a sociedade política. A sociedade política seria definida como o “conjunto de aparelhos através dos quais a classe dominante detém e exerce o monopólio legal ou de fato da violência”, trata-se de “aparelhos coercitivos do Estado” em convergência com as análises de Marx. E a sociedade civil seria definida como o “conjunto das relações econômicas capitalistas” ou “base material” ou “infra-estrutura”. A sociedade civil, em Gramsci, designa um momento ou esfera da superestrutura definida como o conjunto das instituições responsáveis pela representação dos interesses dos grupos sociais e pela difusão de valores simbólicos e ideológicos. A combinação entre sociedade política e civil é caracterizada pela combinação entre coerção e hegemonia (COUTINHO, 1996). Gramsci definiu em suas análises o conceito de hegemonia, centrado em uma perspectiva marxista, como o predomínio ideológico dos valores e normas burguesas sobre as classes subalternas na sociedade civil. Deslocando o conceito da perspectiva classista utilizada por Gramsci, é possível entender a hegemonia de forma mais ampla e estendida às mais diversas relações entre os sujeitos sociais como uma ordem na qual determinados modos de vida e pensamentos são dominantes e existe um conceito de realidade que é difundido pela sociedade em suas manifestações institucionais e privadas e que estende sua influência aos comportamentos sociais, costumes, princípios políticos, religiosos e às relações sociais. Entender as relações de poder e a predominância de determinadas normas como eixos orientadores das relações entre os sujeitos como formas hegemônicas possui dois significados intrínsecos à própria noção de hegemonia gramsciana. Um deles é o de que a hegemonia é o processo pelo qual um grupo exerce o controle através de sua liderança moral e intelectual, www.pontodosconcursos.com.br 42 CURSO ON-LINE CIÊNCIA POLÍTICA PARA MPOG PROFESSOR MARCELO GONÇALVES sobre as outras frações da sociedade. O grupo dirigente teria assim, o poder de articular os interesses mesmos de outras frações dominantes e articular suas visões de mundo a princípios hegemônicos que, em nosso caso, podem ser descritos, por exemplo, como a legitimidade da existência de uma hierarquia entre mulheres e homens com base em premissas consideradas „naturais‟. Outro significado estaria ligado às relações entre dominantes e dominados como tentativas do grupo dominante em usar sua liderança como instrumento de „imposição‟ de uma determinada visão de mundo como abrangente, legítima e universal capaz de „moldar‟ os interesses e as necessidades dos grupos subordinados. Para Gramsci: “(...) a força verdadeira do sistema não reside na violência da classe dominante ou no poder coercitivo do seu aparelho de Estado, mas na aceitação por parte dos dominados de uma concepção de mundo que pertence aos dominadores. A filosofia de uma classe dominante atravessa todo o tecido de vulgarizações complexas para aparecer como „senso comum‟: isto é, a filosofia das massas que aceitam a moral, os costumes e o comportamento institucionalizado da sociedade em que vivem. Apesar de haver uma relação de consentimento nas relações entre dominantes e dominados, ela não pode ser caracterizada como estática. Na acepção de Carnoy, em Gramsci, ela se acomoda de forma específica em relação às diferentes circunstâncias históricas e é constituída por contradições e pelo constante conflito. As formas hegemônicas são expressas como um conjunto de instituições, ideologias, práticas e agentes que compreendem a cultura dos valores dominantes. As instituições funcionam assim como instrumentos de exercício de poder e como resultado de determinadas correlações de forças. 3. Milliband e a constituição do Estado Na percepção de Ralph Miliband (1972) o Estado é composto por um número de determinadas instituições que interagem como partes do sistema estatal. Governo e Estado são idéias diferentes. O Governo fala em nome do www.pontodosconcursos.com.br 43 CURSO ON-LINE CIÊNCIA POLÍTICA PARA MPOG PROFESSOR MARCELO GONÇALVES Estado, mas o Governo não é mais forte que outros elementos do sistema estatal. Contudo, a relação entre membros dirigentes, governo e sociedade é importante para determinar o papel do Estado. O processo administrativo é parte do processo político, ou seja, as considerações e atitudes políticas são incorporadas aos problemas da administração. Setores político e administrativo não estão separados. Os militares, as forças de segurança, a polícia, são partes do Estado que se dedicam ao manejo da violência, assim como o Judiciário também é parte do sistema estatal e afeta o exercício do poder estatal. Além disso, outro elemento desse sistema estatal são as unidades de governo subcentral, que funcionam como voz da periferia ou de interesses particulares da periferia. As assembléias legislativas participam do poder estatal por uma função de cooperação e crítica. O Estado é constituído então pelas inter-relações do Governo, da Administração, das forças militares e polícia, Judiciário, governo subcentral e assembléias legislativas. São nessas instituições que se apóia o poder estatal. E a elite estatal é composta por pessoas que ocupam posições dirigentes em cada uma dessas instituições. Na verdade, a elite estatal é encarada como uma entidade distinta e separada. A classe capitalista de fato não governa. Ela vê o Estado como um elemento estranho e hostil. Acreditava-se, segundo Miliband (1972), que o empresariado e os negociantes não possuíam habilidade para assumir funções políticas. Contudo, muitos homens de negócios buscaram poder político e alcançaram, não só no governo, mas também em outras partes do sistema estatal. Houve um predomínio empresarial sobre outros grupos econômicos. E apesar de tudo isso, os empresários constituem uma pequena parcela da elite estatal. Dessa forma, nas sociedades capitalistas avançadas as elites econômicas não são a classe governante. 4. Poulantzas e a noção de bloco no poder www.pontodosconcursos.com.br 44 CURSO ON-LINE CIÊNCIA POLÍTICA PARA MPOG PROFESSOR MARCELO GONÇALVES Nicos Poulantzas (1990) se propõe a analisar o Estado com as relações capitalistas de produção e a divisão social do trabalho. Segundo o autor, as transformações do Estado ao longo da história levam a substanciais modificações das relações de produção e da divisão social do trabalho capitalista. Essas transformações sugerem ainda mudanças na constituição e reprodução das classes sociais, de sua luta e da dominação política. Para o autor a principal dificuldade é justamente construir uma teoria do Estado capitalista que explique a sua reprodução em função da luta de classes, a partir das relações de produção e pela própria estrutura de seu objeto. De acordo com Poulantzas, o Estado tem um papel de organização da burguesia ou da classe dominante e representa o interesse político do bloco no poder. O Estado constitui a unidade política das classes dominantes, mas também possui autonomia relativa em relação a tal ou qual fração e componente do bloco e em relação a certos interesses particulares. Existe essa autonomia a fim de assegurar a organização do interesse geral da burguesia. O Estado deve representar o interesse político, de longo prazo, no conjunto da burguesia. Para ele, só o estado pode garantir a reprodução do capitalismo, porque burguesia, enquanto classe, não age racionalmente em conjunto (problema do carona – free rider). Em função disso o Estado unifica os interesses dos capitalistas individuais na manutenção do sistema através da formação de um bloco no poder que agrega as diferentes frações da classe dominante em torno de uma ideologia que legitime seu domínio. O bloco no poder pode ser definido, então, com a expressão política das diferentes frações da classe dominante que traduz a ideologia dominante em ação concreta, como práticas materiais, costumes e valores que agem como cimento das relações sociais, políticas e econômicas. Existiria uma dependência estrutural do estado em relação ao capital e por isso Estado continuaria reproduzindo capitalismo. O Estado, para Poulantzas, deve ser considerado como uma relação, como a condensação material e específica de uma relação de forças entre classes e frações de classe. Esse Estado entendido como uma condensação de uma relação rompe com a concepção instrumentalista de Estado. O Estado www.pontodosconcursos.com.br 45 CURSO ON-LINE CIÊNCIA POLÍTICA PARA MPOG PROFESSOR MARCELO GONÇALVES é agora expressão condensada da luta de classes em desenvolvimento. Mas é importante salientar que o Estado não se reduz a relação de forças, ele apresenta uma opacidade e uma resistência próprias. Segundo o autor, o estabelecimento da política do Estado é o resultado das contradições de classe inseridas na própria estrutura do Estado. Este é constituído-dividido de lado a lado pelas contradições de classe. Ele é então a condensação material de uma relação contraditória. Entender o Estado é entendê-lo como um campo e um processo estratégicos, e como uma unidade de aparelhos. Poulantzas trata ainda da ascensão das massas populares e de suas organizações políticas ao poder, numa perspectiva de transição para o socialismo. O fato de a esquerda estar no poder, não significa que controlam alguns aparelhos do Estado e nem controlam os que detêm papel dominante no Estado. A organização institucional permite à burguesia permutar o papel dominante com a esquerda, fixando assim que o Estado não é um bloco monolítico, mas um campo estratégico. O centro real do poder, além disso, não se situa no cume de sua hierarquia. Ademais, o funcionamento concreto da autonomia do Estado e as suas divisões, não se reduzem às contradições entre as classes e frações do bloco no poder, mas dependem também do papel do Estado frente às classes dominadas. Os aparelhos do Estado organizam e unificam o bloco no poder, e desorganizam e dividem as classes dominadas. Esse papel do Estado não é exterior, mas é intrínseco à sua estrutura organizacional. As lutas populares estão inscritas na trama do Estado. Na verdade, o Estado está imerso nas lutas, e a estrutura material do Estado possui por objetivo manter e reproduzir no Estado essa relação de subordinação-dominação. O autor afirma que a ação das massas populares no seio do Estado é a condição necessária para a sua transformação, mas não é o bastante. As lutas populares estão inscritas na materialidade constitucional do Estado. Poulantzas entende o poder como a capacidade, aplicada às classes sociais, de uma ou de algumas, em conquistar seus interesses específicos e isso designa o campo da luta. O poder político de uma classe depende não www.pontodosconcursos.com.br 46 CURSO ON-LINE CIÊNCIA POLÍTICA PARA MPOG PROFESSOR MARCELO GONÇALVES apenas de sua determinação de classe em relação a outros, mas também de sua posição e estratégia diante delas. 5. Offe e a seletividade das instituições Claus Offe (1984) se propõe a analisar a relação do aparelho estatal e interesses de valorização capitalista introduzindo o conceito do “capitalista global ideal”. Analisa o problema de construir uma teoria marxista do Estado. O autor aponta duas interpretações insuficientes acerca desse tema, são elas: as “teorias da insuficiência” e os “modelos dos fatores limitativos”. A primeira refere-se ao aparelho estatal como um instrumento da classe dominante. Já as “teorias dos fatores limitativos” postula que as limitações estruturais à possibilidade de ação, na falta de soberania das instituições e dos processos políticos, remetem as ineficácia da regulamentação e intervenção. Essa teoria nega que as instituições do sistema político possa ser instrumento na realização de interesses não-capitalistas. Para Offe essas duas linhas são insuficientes para demonstrar o caráter classista do Estado, pois se limitam ao estudo das relações de determinação externo, o que imprime apenas um conteúdo de classe. Essa inadequação refere-se também a confusão que essas teorias fazem entre os grupos de interesses empíricos e o conceito de interesses de classe, além de questionar o caráter mecânico do conceito de influência ou poder. Nem sempre a prática de modelos de influência para a explicação de processos políticos obtém êxito. Muitas vezes impõem-se os interesses de uma classe sem qualquer influência e quando a influência é exercida com sucesso os interesses não podem ser relacionados diretamente. Offe busca conceitualizar o Estado como um sistema de regulamentação seletivo, é um “processo de seleção” e isso implica no caráter classista da dominação estatal. Essa seletividade não exclui indiscriminadamente, mas exclui aquilo que foram chamados de: não-acontecimentos, que podem ser sócio-estruturais, acidentais e “sistêmicos”. www.pontodosconcursos.com.br 47 CURSO ON-LINE CIÊNCIA POLÍTICA PARA MPOG PROFESSOR MARCELO GONÇALVES Se se pretende falar de Estado capitalista é preciso ter em mente que o aparelho estatal deve identificar um “interesse de classe” a partir dos vários interesses estreitos e contraditórios, escolher os interesses compatíveis com os “interesses globais de capital”. A dominação política como dominação de classe articula um interesse de classe como representante da classe capitalista. Além disso, o Estado necessita proteger o capital global contra interesses e conflitos anticapitalistas. Sendo assim, a primeira operação de seleção mencionada tem o efeito de proteger o capital de “si mesmo”, ou seja, de interesses míopes, e a outra operação de seletividade tem função de preservar o capital da ação de interesses anticapitalistas. Segundo o Offe pode-se concluir que seletividade é a “restrição não- aleatória de um espaço de possibilidades”. Os mecanismos de seleção podem ser identificados no nível da estrutura, da ideologia, do processo e da repressão. O nível estrutural refere-se aos limites jurídicos sobre a ação de um Estado e que define o que pode tornar-se objeto da política estatal. A seletividade ideológica é que promove a percepção e articulação seletiva de problemas e conflitos sociais. Seletividade do processo consiste nos procedimentos institucionalizados da formulação e implementação política, ou seja, certos conteúdos políticos possuem maior probabilidade de realização que outros. No entanto, apesar de todas essas operações de seleção identificar um tipo de seletividade das instituições políticas, não se consegue provar uma correspondência com os interesses de classe. Apenas isso não demonstra a dominação política como dominação de classe. Já foi demonstrado, segundo os behavioristas, que os “não-acontecimentos” são tão significativos para os resultados políticos quanto os acontecimentos, mas essa é uma questão difícil de ser resolvida. Para os behavioristas as estruturas de dominação política só devem ser reconstruídas a partir do comportamento observado. A Ciência Política não consegue identificar o caráter de classe de um sistema de dominação política porque metodologicamente incapaz de investigar a seletividade da dominação política. A dificuldade de comprovar o caráter classista da dominação política e sua cumplicidade estrutural com o interesse do capital global é de que essa www.pontodosconcursos.com.br 48 CURSO ON-LINE CIÊNCIA POLÍTICA PARA MPOG PROFESSOR MARCELO GONÇALVES relação não é realizável como teoria. Só a práxis das lutas de classe realiza a aspiração do conhecimento. SOBERANIA Como esse conceito fundamental ficou pendente na aula demonstrativa, façamos uma leitura objetiva dele, portanto. Soberania representa a existência de autoridade suprema em um determinado território e sobre o seu povo. E a expressão da incontestabilidade do domínio estabilizado. A soberania também pode ser compreendida como uma forma de poder político exclusivo e não derivado, que aparece como um conceito jurídico- político que aponta para a não existência, em uma sociedade, de outro poder semelhante ou concorrente. Quando se diz de um Estado que detém soberania nacional, significa que, no seu, espaço não há poder reconhecido maior que ele. E que no sistema internacional, sua inserção se dá de maneira igualitária, estando, no sistema de Estados, entre iguais, ainda que seu poder real seja menor em relação aos demais Estados. O conceito de soberania, segundo Bobbio, pretende ser a racionalização jurídica do poder, no sentido da transformação da força em poder legítimo, do poder de fato em poder de direito. Uma situação em que o poder ganha estabilidade e obediência inconteste. Diferentemente do que foi exposto por Norberto Bobbio, em seu Dicionário, o conceito de cidadania ainda existe e representa uma realidade contemporânea. Prova disso são as recentes pendengas entre Equador e Colômbia. www.pontodosconcursos.com.br 49 CURSO ON-LINE CIÊNCIA POLÍTICA PARA MPOG PROFESSOR MARCELO GONÇALVES BIBLIOGRAFIA: TEMAS CLÁSSICOS CHEVALLIER, Jean-Jacques. As Grandes obras Políticas de Maquiavel a Nossos Dias. Ed. UnB. 1982. LASLETT, Quirino, Celina Galvão e Maria Teresa Sadek R. de Souza. Pensamento Político Clássico. T.A. Queiroz editora. 1980. São Paulo. ALBUQUERQUE, J. A. Guilhon. Montesquieu: sociedade e poder. In: WEEFORT, Francisco (org.). Os Clássicos da Política. Editora Ática, São Paulo, 1995. HELD, David. Models of democracy. Stanford University Press, Stanford, 1996. WEFFORT, Francisco (org.). Os Clássicos da Política. Vols. 1 e2. Editora Ática, São Paulo, 1995. LOCKE, John. Segundo Tratado sobre o Governo Civil. Editora Vozes, Rio de Janeiro, 1994. MAQUIAVEL, Nicolau. O príncipe. MONTESQUIEU. O Espírito das leis. Editora Martin Claret, São Paulo, 2002. Bibliografia: economia, política e classes sociais ALTHUSSER, Louis. Aparelhos ideológicos de Estado: Nota sobre os aparelhos ideológicos de Estado. 6. ed Rio de Janeiro: Graal, 1992. ARON, Raymond. O Marxismo de Marx, 2004. COUTINHO, Carlos. Marxismo e Política: a dualidade de poderes, 1996. CARNOY, Martin. Estado e teoria política, 2004. www.pontodosconcursos.com.br 50 CURSO ON-LINE CIÊNCIA POLÍTICA PARA MPOG PROFESSOR MARCELO GONÇALVES MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. O Capital. Capítulo I – “A Mercadoria” e Capítulo V – “Processo de trabalho e processo de produzir mais-valia” ____________________________. O Manifesto Comunista, várias edições. MILIBAND, Ralph. O Estado na sociedade capitalista. Rio de Janeiro: Zahar, 1972. POULANTZAS, Nicos. O Estado, o poder e o socialismo. 3. ed Rio de Janeiro: Graal, 1990. OFFE, K. Dominação de Classe e Sistema Político. In: Problemas Estruturais do Estado Capitalista, 1984. www.pontodosconcursos.com.br 51