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DIREITO CIVIL I 
PROFA. DRA. EDNA RAQUEL HOGEMANN 
SEMANA 3 AULA 5 
 
TÍTULO – PESSOA NATURAL – SEGUNDA PARTE 
O NOME CIVIL. REGISTRO CIVIL. 
 
Para o Direito, existem então as pessoas naturais – seres humanos que, enquanto 
pessoas, têm reconhecida sua personalidade – e as pessoas jurídicas – entes 
formados pela associação de indivíduos ou de patrimônio voltada para determinado 
fim comum a que o Direito ressalva uma personalidade jurídica independente das de 
seus idealizadores. Neste ponto o professor deve focar na pessoa natural. 
 
O registro civil do nascimento da pessoa natural dota de formalidade e publicidade 
aquele fato jurídico que é o nascimento com vida, início da personalidade civil; 
apresenta o indivíduo à sociedade, dando eficácia à sua personalidade. Neste sentido, 
sua natureza é declaratória, afinal, “a pessoa humana dele não precisa para receber a 
sua qualidade de pessoa, [...]. Assim, a personalidade civil começa do nascimento 
com vida [...]”. 
Ao nascer, como ao longo da existência, a pessoa possui determinadas características 
que a qualificam juridicamente. Ao complexo de atributos, com efeitos jurídicos, que 
determina a condição da pessoa perante a sociedade, chamamos estado. Diz-se 
estado civil a posição jurídica que alguém ocupa, em determinado momento, dentro do 
ordenamento jurídico. Segundo o Prof. Francisco Amaral: 
O estado nasce de fatos jurídicos, como o nascimento, a idade, a filiação, a doença; 
de atos jurídicos, como o casamento, a emancipação; de decisões judiciais, como a 
separação, o divorcio, a interdição. Tais circunstancias levam a caracterização de três 
estados: o familiar, o político e o pessoal ou individual. 
Para o direito civil, importa o estado do indivíduo de filho, de solteiro, casado, viúvo, 
separado ou divorciado – tudo isso gera efeitos jurídicos no âmbito do direito de 
família –, como também importa o estado de maior idade, menor idade, emancipação, 
interdição, ausência, sexo masculino ou feminino – gerando efeitos no âmbito dos 
direitos da personalidade. O estado político, de brasileiro ou estrangeiro, importa ao 
direito constitucional. Em relação ao nosso estudo, destaca-se o estado individual, em 
que se enquadra o sexo (status sexual). 
Os estados individuais, em geral, são atributos da personalidade, ou seja, integram-na. 
E, por isso, são protegidos pelos direitos da personalidade. Além disso, “é também 
objeto de um direito subjetivo, o direito de estado, que protege o interesse da pessoa 
no reconhecimento e no gozo desse estado” . Amaral releva, ainda, o fato de constituir 
um direito absoluto, oponível a toda a sociedade, que, portanto, todos devem 
respeitar; e público por ser reconhecido e protegido pelo Estado.( AMARAL, Francisco. 
Direito Civil: introdução. 2ª ed. aum. e atual. Rio de Janeiro: Renovar, 1998) 
O registro gera a presunção relativa do estado da pessoa, vez que é ele que dota de 
oponibilidade erga omnes as situações jurídicas da pessoa perante a sociedade. 
Contudo, nem sempre a realidade jurídica retrata a realidade fática e, por isso, existem 
as ações de estado, afinal, é muitas vezes necessário “defender seu estado contra 
eventuais atentados aos direitos dele decorrentes” . Elas têm por objetivo criar, 
modificar ou extinguir um estado – e aí, a sentença será constitutiva –; ou reconhecer 
um estado pré-existente o guarnecendo de eficácia jurídica – quando a sentença será 
declaratória. 
A QUESTÃO DO TRANSEXUAL 
Ocorre que, o transexual, quando do seu nascimento, no registro civil, foi classificado 
segundo o seu aspecto sexual anatômico externo como pertencente a um dos sexos, 
ou feminino ou masculino. Este, assentado em registro público, é o sexo civil. Porém, 
ressalvamos, neste momento, que a avaliação da fisionomia não é a única para a 
determinação do sexo de um indivíduo, como explicitado no primeiro capítulo do 
presente estudo. A averiguação do status sexual requer a conjugação dos aspectos 
biológico, psíquico e comportamentais. Somente o conjunto desses aspectos será 
capaz de apontar com maior fidelidade e compromisso a qual dos dois sexos pertence 
a pessoa. A regra, contudo, é que os três aspectos correspondam revelando uma 
identidade sexual, mas esta convergência harmônica pode não ocorrer. 
No caso do transexual operado, que possuía, em primeiro plano aquela inadequação 
corporal com a psiquê, o sexo civil, determinando comportamento na vida civil, na 
esfera jurídica e social em geral, imporá barreira para a realização da identidade 
sexual da pessoa. 
Existe um interesse juridicamente relevante no gozo da identidade sexual. O conteúdo 
de tal interesse da pessoa é representado, essencialmente, no reconhecimento, sob 
todos os aspectos da vida social, privada e pública, como sendo a mesma pertencente 
ao próprio sexo. 
Com o transexual isso não acontece. Nesse segundo momento, então, a principal 
inadequação é a factual com a jurídico-formal. Se o registro tem publicidade, 
autenticidade, eficácia, não existe reconhecimento social da situação daquele 
indivíduo, do seu estado. A identidade sexual transcende o aspecto morfológico, 
encontra-se no campo da identificação psíquica de se pertencer a determinado gênero 
sexual que se externa com o comportamento. 
A identidade sexual integra a identidade pessoal. O Professor Leoni, sobre o direito à 
identidade, citando Lorenzetti, sinaliza que o indivíduo possui identidade estática e 
dinâmica. “A identidade estática ‘compreende o nome, a identificação física, a imagem. 
Isto está protegido pelas leis referentes ao nome, à capacidade e ao estado civil’”. 
Essa é, então, a resguardada pelo direito à identidade. O direito à identidade sexual 
como direito à identidade pessoal, constitui direito da personalidade.( OLIVEIRA, J. M. 
Leoni Lopes de. Direito Civil: teoria geral do direito civil. 2ª ed. atual. e amp. Rio de 
Janeiro: Lumen Juris, 2000). 
 
DOMICÍLIO CIVIL 
O conceito de Domicílio Civil da pessoa natural é determinado pela combinação dos 
artigos 70 e 71 do NCC. Apenas encontraremos o domicílio civil se preenchermos os 
dois requisitos determinados no artigo 70 do NCC que são: 
Residência - é o objeto do conceito, sendo este palpável. É o elemento externo e 
visível. Ex: uma casa, um prédio, um apartamento. 
Ânimo definitivo - este é o elemento interno do domicílio civil. Sendo evidenciado por 
reflexos do indivíduo que demonstram seu interesse em permanecer em tal domicílio. 
Ex: receber correspondência, receber as contas. 
 Alguns autores determinam que o domicílio civil é constituído por um elemento 
objetivo e outro subjetivo. O elemento Objetivo é o objeto do conceito de residência. O 
elemento Subjetivo é o elemento interno, o ânimo definitivo. 
No modelo brasileiro, reforçado pelo Código Civil, toda pessoa, natural ou jurídica - de 
direito público interno ou de direito privado -, tem domicílio, que representa a fixação 
do lugar em que o sujeito, ativo ou passivo, da relação jurídica será encontrado, o qual 
expressa o centro nevrálgico de onde se irradiam interesses juridicamente relevantes. 
O domicílio significa uma garantia jurídica, haja vista que funciona como cidadela em 
que se guarnecem os interesses sócio-jurídicos das pessoas naturais ou das pessoas 
jurídicas. 
Com o domicílio, desenha-se o perímetro em que se fixa o espaço jurídico dentro do 
qual se enclausura o titular, projetando feixes que se traduzem em direitos e 
obrigações. 
Do enraizamento da residência decorre o domicílio, como fenômeno material e 
psíquico que se projeta no âmbito em que prosperam as relações jurídicas. 
Sem residência, inexiste domicílio ; sem domicílio, fragiliza-se o pleno exercício dos 
direitos civis, do nascimento à morte. 
De tão importante, o domicílio da pessoa natural, mesmo que não tenha residência 
habitual, será o lugar
onde for encontrada. 
Na configuração traçada pelo Código Civil, fala-se em: 
a) domicílio da pessoa natural; 
b) domicílio da pessoa jurídica, de direito público interno ou de direito privado; 
c) domicílio necessário; 
d) domicílio legal; 
e) domicílio eleito. Admite-se a existência de mais de um domicílio tanto para a pessoa 
natural quanto para a pessoa jurídica de direito privado, razão por que se diz que o 
legislador perfilhou a escola que cultiva a pluralidade de domicílio. 
Domicílio da pessoa natural (física) - Em conformidade com a definição legal, o 
domicílio da pessoa natural "é o lugar onde ela estabelece a sua residência com 
ânimo definitivo". 
Dois elementos se exigem para a definição do domicílio da pessoa natural: 
a) a residência; e 
b) o ânimo definitivo. A residência é mais do que um fenômeno material, mediante o 
qual se distingue da moradia, que se traduz na certeza de que é episódica e 
transitória, sem o estaqueamento aprofundado, capaz de fixar a disposição perene ou 
definitiva. 
Ao residir, a pessoa mora com perenidade ou longevidade, fenômenos de cuja 
realidade se extrai a premissa de que há o ânimo de estabelecer o lugar como seu 
domicílio. Releva lembrar que, na hipótese em que a pessoa natural, por vontade ou 
necessidade, tenha mais de uma residência, onde, alternadamente, viva, reputar-se-á 
domicílio qualquer uma delas. 
Considera-se, ainda, domicílio o local em que a pessoa natural desenvolva a sua 
profissão. 
Por conseguinte, pluralizam-se os domicílios da pessoa natural, quando exerce 
atividade profissional, haja vista que passam a ser, pelo menos, dois: 
a) o local em que estabelece a sua residência com ânimo definitivo; e 
b) o local em que pratica a sua atividade profissional. 
Se a profissão for explorada e exercitada em lugares diversos, em que se lhe 
concentram os interesses, cada um deles constituirá domicílio para as relações que 
lhe corresponderem. 
Cabe advertir que não será qualquer emprego ou relação jurídica, por cuja execução 
se produza atividade laboral, que se capacitará a desenhar o local do trabalho como 
se domicílio fosse. 
Domicílio profissional não se confunde com o simples local de trabalho, categorias 
jurídicas que se diferenciam ideológica, social e juridicamente. 
Na identidade do domicílio profissional, impõe-se a presença de elementos em 
conformidade com os quais se caracteriza o exercício da profissão, que granjeia a 
certeza de que se trata de um sinal eloqüente capaz de diferenciá-lo do trabalho 
ordinário e dependente. 
É preciso que se exerça atividade profissional fim, com domínio sobre o comando 
técnico, administrativo e econômico, e não atividade profissional meio, para que se 
possa caracterizar o local, também, como domicílio. 
Com efeito, não se estimula a assertiva de que o empregado comum, com vínculo 
jurídico subordinante e protagonista de uma relação jurídica, cujo desfazimento pode 
se consumar unilateralmente, pelo simples exercício da vontade de seu empregador, 
transforme o local em que presta serviço como extensão de seu domicílio, ainda que lá 
consuma jornada diária. 
Cabe ressaltar que o domicílio profissional não abrange e não argola toda e qualquer 
relação da pessoa natural, mas somente aquela a que estiver conectado por força de 
amarras que concernem à profissão. 
A atração do domicílio, no caso, depende da ligação entre o exercício da profissão e o 
local. Destaque-se que a pessoa natural pode ter: 
a) mais de um domicílio doméstico; 
b) mais de um domicílio profissional; e 
c) domicílio doméstico e domicílio profissional.

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