Logo Passei Direto
Buscar
páginas com resultados encontrados.
páginas com resultados encontrados.

Prévia do material em texto

1/70 
 
 
Ética, Direitos Humanos, Cidadania e O Papel dos Profissionais de 
Segurança Pública 
 
 
 
Índice 
 
Apresentação 02 
 
Contextualização 02 
 
Relevância 02 
 
Bibliografia 03 
 
Avaliação 04 
 
Aula 1 – Direito Internacional dos Direitos Humanos / Direitos Humanos – 
Definição e características 05 
 
Aula 2 – Tratados e Instrumentos Globais – Conceituação / Principais 
Tratados e Instrumentos Globais 14 
 
Aula 3 - Direitos humanos e cidadania no Brasil – a construção dos direitos 
civis, políticos e sociais. A Constituição de 1988 21 
 
Aula 4 - Democracia – características /aplicação da lei em países de 
regime democrático 28 
 
Aula 5 - Legislação Internacional e nacional aplicadas ao uso da força 
 e da arma de fogo, à abordagem e busca pessoal 36 
 
Aula 6 - Discriminação etnorracial/ homofobia/ violência doméstica 
 e de gênero/ violência contra crianças, adolescentes e idosos 45 
 
Aula 7 - Procedimentos internacionais e nacionais em caso de violações 
de Direitos Humanos 55 
 
Aula 8: Ética – definição e tipos/ o Código de Conduta para 
os Encarregados de Aplicação da Lei 63 
 
Trabalho final 68 
 
 
 
 
 
 
 
 
2/70 
 
 
 
Apresentação: 
 
É com imensa satisfação que apresentamos a disciplina Ética, Direitos Humanos e 
Cidadania. Temas relevantes para uma mudança social serão apresentados a você. 
Prepare-se para discutir sobre a ética nas relações, sobre o exercício da cidadania e 
estudar os direitos básicos do ser humano. 
Os problemas vividos pela sociedade estão estreitamente relacionados ao 
desconhecimento desses assuntos e à pequena importância atribuída a eles no decorrer 
da história, gerando um nível baixo de discussão a este respeito. 
É vital perceber que os temas a serem estudados não são noções isoladas, mas devem 
permear a conduta de todo ser humano, referendando-se como paradigmas a 
transversalizar as políticas públicas de segurança, gerando um novo modelo que pautará 
a gestão nesta área. 
 
Contextualização: 
 
A disciplina identifica e examina os princípios fundamentais que direcionam o debate 
sobre Ética, Direitos Humanos e Cidadania, examinando seus aspectos históricos, 
jurídicos, políticos e sociais e a importância dos órgãos de segurança na promoção 
desses conceitos. 
 
Relevância: 
 
Reconstituir o processo histórico de luta da humanidade pela ampliação dos conceitos 
estudados, possibilitando ao aluno compreender de forma crítica a realidade atual. 
Compreender essa realidade requer uma reflexão sobre o papel que os agentes públicos 
desempenham no âmbito de suas atuações. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3/70 
 
 
 
Bibliografia: 
 
ÂNGELO, Ubiratan de Oliveira; BARBOSA, Sérgio Antunes. Distúrbios Civis: controle e 
uso da força pela polícia. Coleção: Polícia do Amanhã. Rio de Janeiro: Freitas Bastos 
Editora, 2001. 
BALESTRERI, Ricardo. Direitos Humanos: coisa de polícia. Revista Dhnet, 2004. 
BOBBIO, Norberto. Teoria Geral da Política: a filosofia política e as lições dos clássicos. 
Rio de Janeiro: Campus, 2002. 
BORGES, Maria de Lourdes et AL. O que você precisa saber sobre Ética. Rio de 
Janeiro: DP&A, 2002. 
CARVALHO, José Murilo de. Cidadania no Brasil: o longo caminho. Rio de Janeiro: 
Civilização Brasileira, 2001. 
CERQUEIRA, Carlos Magno Nazareth; DORNELLES, João Ricardo W. (org). A Polícia e os 
Direitos Humanos. Coleção Polícia do Amanhã. Rio de Janeiro: Freitas Bastos Editora, 
1998. 
COMPARATO, Fábio Konder. A afirmação histórica dos Direitos Humanos. 3 Ed. São 
Paulo: Saraiva, 2003. 
HOLLANDA, Cristina Buarque de. Polícia e Direitos Humanos: política de segurança 
pública no primeiro governo Brizola [Rio de Janeiro: 1983 -1986]. Rio de Janeiro: 
Revan, 2005. 
MARSHALL, T. H. Cidadania: classe social e status. Rio de Janeiro: Zahar, 1967. 
MENDONÇA FILHO, Manoel Carlos Mendonça; MARTINS, Maria C; NOBRE, Maria T' Neves, 
Paulo Sérgio da Costa. Polícia, Direitos Humanos e Educação para Cidadania. In: Neves, 
Paulo Sérgio, Rique, Célia; Freitas, Fabio (org.). Polícia e Democracia: desafios à 
educação em Direitos Humanos. Recife: Edições Bagaço, 2002. 
TRINDADE, Antonio Cançado. Direito Internacional e Direito Interno: sua interação 
na proteção dos Direitos Humanos. Instrumentos Internacionais de Proteção aos Direitos 
Humanos. São Paulo: Centro de Estudos da Procuradoria Geral do Estado, 1996. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4/70 
 
 
 
Avaliação 
Em todas as disciplinas da pós-graduação on-line, existem: 
Avaliação formativa 
Não vale ponto, mas é importante para o aprofundamento e fixação do conteúdo: 
 Exercícios de autocorreção (questões de múltipla escolha para a verificação da 
aprendizagem do conteúdo de cada aula); 
 Temas para discussão em fórum. 
Avaliação somativa 
Forma a sua nota final na disciplina: 
 Trabalho final: fichamento do livro “Direitos humanos: coisa de polícia”, de 
Ricardo Balestreri, indicado na bibliografia do curso. O fichamento deverá conter 
as ideias centrais e uma crítica a respeito do livro. (5,0 pontos); 
 Prova presencial (5,0 pontos). 
Orientações sobre a realização do trabalho podem ser obtidas com o professor online no 
Fórum de Discussão , no tópico Orientações do Trabalho. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5/70 
 
 
 
Aula 1: Direito Internacional dos Direitos Humanos / Direitos Humanos – 
Definição e características 
 
Ao final desta aula, você deverá ser capaz de: 
1) Definir a expressão “Direitos Humanos”; 
 
2) Listar as características dos Direitos Humanos; 
 
3) Analisar os momentos históricos e os documentos que contribuíram para a 
evolução dos Direitos Humanos. 
 
Estudo dirigido da aula 
 
1. Assista ao vídeo da mesa-redonda; 
2. Leia o texto condutor da aula; 
3. Participe do fórum de discussão desta aula; 
4. Realize a atividade proposta; 
5. Leia a síntese da sua aula; 
6. Leia a chamada para a aula seguinte; 
7. Realize os exercícios de autocorreção. 
 
Ao escutarmos o termo “Direitos Humanos” no Brasil, é 
comum ouvirmos associações do tipo: “Direitos Humanos 
só protegem bandidos”, “Direitos Humanos ameaçam os 
bons cidadãos”, “Direitos Humanos para humanos 
direitos”. O baixo nível da discussão sobre o tema em 
nosso país em muito tem contribuído para 
desconhecermos o assunto e, por vezes, querer ignorá-lo 
ou fazer um juízo de valor totalmente divorciado da 
verdade. 
 
Apesar da resistência à ideia em vários setores da 
sociedade, é necessário entender a importância de educar 
as pessoas para conhecerem, respeitarem e promoverem 
os tais Direitos Humanos. Se, como Paulo Freire dizia, 
educar é atingir corações, estilos de vida e convicções, sendo uma tarefa de caráter 
ético, pode-se afirmar que os Direitos Humanos constituem-se numa referência 
fundamental para uma educação que objetive novas práticas sociais, democráticas, que 
se baseiem na justiça social e visem à emancipação humana. 
 
 
 
 
 
 
 
 
6/70 
 
 
É importante, para os futuros gestores em 
políticas públicas de segurança, que 
compreendam o verdadeiro conceito da 
expressão “Direitos Humanos”, 
conhecendo sua história no mundo e no 
Brasil, país marcadohistoricamente por 
violações contínuas, onde a distribuição de 
renda é uma das mais injustas do mundo, 
gerando uma exclusão socioeconômica 
perversa. Neste cenário, os funcionários responsáveis pela aplicação da lei1 acabam 
sendo, por vezes, a única ferramenta de controle social. 
 
Direitos Humanos é uma expressão moderna, mas o princípio que invoca é tão antigo 
quanto a própria humanidade. Determinados direitos e liberdades são fundamentais para 
a existência humana. Não se trata de privilégios, tampouco de presentes oferecidos 
conforme o capricho de governantes ou governados. Também não podem ser retirados 
por nenhum poder arbitrário. Não podem ser negados, nem são perdidos se o indivíduo 
cometer algum delito ou violar alguma lei. 
 
De início, esses direitos não tinham base jurídica. Em vez disto, eram considerados como 
afirmações morais. Com o tempo, eles foram formalmente reconhecidos e protegidos 
pela lei. 
 
 
 
 
 
1
 Expressão criada pela Organização das Nações Unidas, quando da formulação do Código de Conduta para os 
Funcionários Responsáveis pela aplicação da Lei, no dia 17 de Dezembro de 1979, através da Resolução 
34/169. O termo “funcionários responsáveis pela aplicação da lei” inclui todos os agentes da lei, quer 
nomeados, quer eleitos, que exerçam poderes policiais, especialmente de detenção ou prisão. Nos países onde 
os poderes policiais são exercidos por autoridades militares, quer em uniforme, quer não, ou por forças de 
segurança do Estado, entende-se que a definição dos funcionários responsáveis pela aplicação da lei incluirá os 
funcionários de tais serviços. PPaarraa uummaa lleeiittuurraa ddaa RReessoolluuççããoo 3344//116699 nnaa íínntteeggrraa ee ccoomm ccoommeennttáárriiooss,, aacceessssee oo 
eennddeerreeççoo ddoo CCoommaannddoo ddee PPoolliicciiaammeennttoo ddaa CCaappiittaall ddaa PPoollíícciiaa MMiilliittaarr ddoo RRiioo GGrraannddee ddoo NNoorrttee:: 
http://www.lgdh.org/Codigo%20de%20Conduta%20para%20os%20Funcionarios%20Responsaveis%20pela%2
0Aplicacao%20da%20Lei.htm. 
 
 
 
 
 
 
 
 
7/70 
 
 
O núcleo do conceito de Direitos Humanos 
encontra-se no reconhecimento da dignidade da pessoa. Essa dignidade, expressa num 
sistema de valores, exerce uma função orientadora sobre a ordem jurídica porquanto 
estabelece “o bom e o justo” para o 
 
homem. A expressão “direitos humanos” é uma forma abreviada de mencionar os 
direitos fundamentais da pessoa. Esses direitos são considerados fundamentais porque, 
sem eles, o homem não consegue existir ou não é capaz de se desenvolver e de 
participar plenamente da vida. Todos os seres humanos devem ter asseguradas, desde o 
nascimento, as mínimas condições necessárias para se tornarem úteis à humanidade, 
como também devem ter a possibilidade de receber os benefícios que a vida em 
sociedade pode proporcionar. A esse conjunto de condições e de possibilidades, 
associada às características naturais dos seres humanos, à capacidade natural de cada 
pessoa poder valer-se como resultado da organização social, é que se dá o nome de 
direitos humanos. 
 
Para entendermos com facilidade o que significam direitos humanos, basta dizer que tais 
direitos correspondem a necessidades essenciais humanas. Trata-se daquelas 
necessidades que são iguais para todos os seres humanos e que devem ser atendidas 
para que a pessoa possa viver com a dignidade que deve ser assegurada a todas as 
pessoas. Assim, por exemplo, a vida é um direito humano fundamental, porque sem ela 
a pessoa não existe. Então a preservação da vida é uma necessidade de todas as 
pessoas. Mas, observando como são e como vivem os seres humanos, vamos 
percebendo a existência de outras necessidades que são também fundamentais, como a 
alimentação, a saúde, a moradia, a educação 
e tantas outras coisas. 
 
OObbsseerrvvaannddoo aa iimmaaggeemm aaoo llaaddoo,, qquuee ttiippooss ddee 
ppoollííttiiccaass ssoocciiaaiiss ppooddeerriiaamm sseerr iimmpplleemmeennttaaddaass 
ppaarraa mmooddiiffiiccaarr eessssaa rreeaalliiddaaddee?? 
 
DDiissccuuttaa ssuuaass iiddeeiiaass nnoo FFóórruumm ddee 
DDiissccuussssããoo .. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
8/70 
 
 
 
Vejamos agora as características dos Direitos Humanos. 
 
A primeira que estudaremos é a imprescritibilidade. Os Direitos Humanos não se perdem 
com o decurso do tempo. Seu exercício ocorre só no fato de existirem reconhecidos na 
 
ordem jurídica. São sempre exercíveis e exercidos. Não há intervalo temporal de não 
exercício que fundamente a perda de sua exigência. 
 
Os Direitos Humanos são inalienáveis, isto é, não se transferem mediante pagamento ou 
de forma gratuita. São inegociáveis porque não são de conteúdo econômico-patrimonial. 
São indisponíveis, ou seja, não se pode desfazer deles. 
 
Outra característica é a irrenunciabilidade. Não se renuncia aos direitos fundamentais. 
Uma pessoa pode até não exercer todos os seus direitos, mas não pode renunciar a eles. 
Não se pode pedir a alguém que renuncie à vida ou à liberdade. 
 
A inviolabilidade, enquanto característica dos Direitos Humanos, implica em que 
nenhuma lei infraconstitucional, nenhuma autoridade, pode desrespeitar os direitos 
fundamentais de outrem, sob pena de responsabilização civil, administrativa e criminal. 
 
Uma característica muito famosa é a da universalidade, pela qual os Direitos Humanos 
aplicam-se a todos os indivíduos, independente de sua nacionalidade, sexo, raça, credo ou 
convicção político-filosófica. 
 
A efetividade dos Direitos Humanos dá-se pelo fato de o poder público ter que atuar de 
modo a garantir a efetivação dos direitos e garantias fundamentais, usando inclusive 
mecanismos coercitivos quando necessário, porque esses direitos não se satisfazem com o 
simples reconhecimento abstrato. 
 
É preciso que as várias previsões constitucionais e infraconstitucionais não se choquem 
com os Direitos Humanos. Pelo contrário, devem relacionar-se de modo a atingir sua 
finalidade – a proteção da dignidade humana. Esta ideia está embutida no conceito de 
interdependência. 
 
 
 
 
 
 
 
 
9/70 
 
 
A última característica que estudaremos dos 
Direitos Humanos é a da complementaridade: os Direitos Humanos não devem ser 
interpretados isoladamente, mas sim de forma conjunta, com a finalidade da sua plena 
realização. 
 
Analisando a evolução histórica dos Direitos Humanos, é possível identificar, na 
Antiguidade e no período medieval, teorias e acontecimentos que se identificam com a 
moderna teoria dos Direitos Humanos. Como deixar de citar a importância da magna carta 
 
inglesa, de 1215, que previa a proporcionalidade entre delito e sanção, a previsão do 
devido processo legal, o livre acesso à Justiça, assim como a liberdade de locomoção e a 
livre entrada e saída do país, lançando as sementes dos Princípios da Legalidade2 e da 
Reserva Legal3? 
 
Muitos entendem que foi na Modernidade Europeia que começaram a se delinear os 
primeiros passos para a afirmação definitiva dos direitos individuais. Isto porque foi nesse 
período histórico que se consolidou um sistema legal de proteção de direitos, sem o qual 
prevalecem condições difusas, geradoras de violência. O vínculo entre a garantia legal e a 
liberdade política baseia-se na limitação do exercício do poder. A solução moderna para 
esse problema requereu um esforço para tornar o poder impessoal ao sujeitar o governo à 
lei. 
 
Na Inglaterra, a rebelião contra a monarquia inglesa fez renascer as ideias republicanase 
democráticas. Como expressão desse movimento, a Petition of Rights (Petição de 
Direitos), de 1628, com a qual o Parlamento objetou às exigências de impostos sem a sua 
 
 
 
 
2 Princípio da Legalidade -- O artigo 5º, II, da Constituição da República, cuida do princípio da legalidade: 
"ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei". Assim, na democracia 
política, os direitos e os deveres do cidadão não constituem mero capricho ou mera concessão dos governantes, 
mas são previstos em lei ou em ato equiparado à lei (lei delegada, medida provisória convertida em lei). 
 
33 Princípio da Reserva Legal ou da Anterioridade - O artigo 5º, XXXIX, da Constituição da República, prevê o 
princípio da reserva legal: "não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal". 
Para complementar tal garantia, o artigo 5º, XL, da Carta Magna, determina que "a lei penal não retroagirá, 
salvo para beneficiar o réu". 
 
 
 
 
 
 
 
 
10/70 
 
 
autorização, demarca importante manifestação 
dessa tendência. A seguir, promulgou-se o Habeas Corpus Act, em 1679, que consistia 
numa garantia judicial, criada para proteger a liberdade de locomoção e que se tornou a 
matriz de todas as que vieram a ser criadas posteriormente, para a proteção de outras 
liberdades fundamentais. O Bill of Rights (Carta de Direitos)4, de 1689, veio fazer eco ao 
movimento de garantias institucionais, estabelecendo uma forma de organização de 
Estado baseada na separação de poderes, 
 
cuja função, em última análise, é proteger os direitos fundamentais da pessoa humana. 
Aliado aos movimentos políticos do século XVII, várias doutrinas filosóficas e movimentos 
culturais fizeram florescer, na Europa, a ideia dos direitos humanos. O humanismo 
perpassou o pensamento moderno e se sustentou em diversas teorias de grandes 
pensadores da época, marcadas, principalmente, por concepções universalistas e 
racionais. A ideia de direito natural, ligado à racionalidade humana e ao mesmo tempo 
desvinculado de influências divinas, estabeleceu-se, decisivamente, na cultura jurídica 
europeia do século XVII. Isto se deveu à consolidação do individualismo, com a afirmação 
do valor em si do ser humano. 
 
O povo americano, a despeito de escassas produções filosóficas– ao contrário do que 
ocorreu, amplamente, na França revolucionária–, proclamou sua independência, sob a 
invocação dos inalienáveis direitos do ser humano (à época designado pelo substantivo 
masculino: homem) – a vida, a propriedade e a busca da felicidade. 
 
Observe-se que a problemática da propriedade é mais complexa e envolve outras 
considerações, a tal ponto de que uma forte tradição democrática aceita limitá-la com 
vistas ao atendimento do interesse público. 
 
O poder, contra o qual se pretendia proteger estes direitos, tinha sua fonte nos pactos 
firmados pelo povo norte-americano, aos quais se devotou plena confiança. Para os norte-
americanos, a constituição da liberdade implicava fundar um corpo político suficientemente 
estável para assegurá-la. Daí a decisiva contribuição da teoria da separação dos poderes 
de Montesquieu, segundo a qual o sistema de freios e contrapesos, a limitar os poderes do 
 
 
 
 
44 Para uma leitura dos artigos de tão importante documento, acesse 
http://www.dhnet.org.br/direitos/anthist/decbill.htm 
 
 
 
 
 
 
 
 
11/70 
 
 
Estado, constituía a melhor forma de controlar o 
poder. Daí decorre, para os norte-americanos, a íntima ligação entre a soberania popular e 
o reconhecimento destes direitos inalienáveis. A importância histórica da Declaração da 
Independência5 reside no fato de ser o primeiro documento político que reconhece, a par 
da legitimidade da soberania popular, a existência de direitos inerentes a todo ser 
humano, independentemente das diferenças de sexo, cor, religião, cultura ou posição 
social. 
 
Nas nações da Europa ocidental, a proclamação da legitimidade democrática, com respeito 
aos direitos humanos, somente veio a ocorrer com a Revolução Francesa, em 1789. Até 
 
então, a soberania pertencia legitimamente ao monarca, auxiliado no exercício do reinado 
pelos estratos sociais privilegiados. A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão6, de 
1789, significou a derrocada do Antigo Regime e a matriz fundamental dos projetos 
constitucionais vindouros de muitos povos. Foi o primeiro elemento constitucional do novo 
regime político instaurado, pois se assentou no poder decisório exercido pela Nação, 
representada por uma assembleia, que mais tarde declarou-se a portadora de toda 
soberania. Às declarações de direitos oriundas das Revoluções norte-americana e francesa, 
seguiu-se uma progressiva afirmação de direitos na esfera estatal, em muitos países. O 
incremento de necessidades sociais engendrou o necessário alargamento do conteúdo de 
direitos a novos setores da população – e, já no século XX, a novas esferas da vida social 
e econômica. Às duas fases dos direitos humanos, seguiu-se, a partir do segundo pós-
guerra, a sua fase universalista, com a Declaração Universal dos Direitos Humanos7, de 
1948, da Organização das Nações Unidas (ONU). 
 
Os Direitos Humanos tornam-se um dos aspectos do Direito Internacional, um objeto 
legítimo deste. O respeito aos Direitos Humanos pode ser controlado pela comunidade 
internacional. Assim, faz-se necessário entender o que é Direito Internacional para melhor 
compreender o Direito Internacional dos Direitos Humanos. 
 
 
 
 
 
 
 
5 Diissppoonníívveell nnoo eennddeerreeççoo eelleettrrôônniiccoo www.embaixada-americana.org.br/index.php?action=materia&id= 
6 DDiissppoonníívveell ppaarraa ccoonnssuullttaa nnoo eennddeerreeççoo hhttttpp::////wwwwww..ddhhnneett..oorrgg..bbrr//ddiirreeiittooss//aanntthhiisstt//ddeecc11779933..hhttmm 
7 Diissppoonníívveell nnoo eennddeerreeççoo hhttttpp::////ppoorrttaall..mmjj..ggoovv..bbrr//sseeddhh//cctt//lleeggiiss__iinntteerrnn//ddddhh__bbiibb__iinntteerr__uunniivveerrssaall..hhttmm 
 
 
 
 
 
 
 
12/70 
 
 
Contou-me um renomado professor de Direito 
Penal que foi convidado para dar uma palestra para uma comunidade pobre na Zona 
Norte do Rio de Janeiro. 
 
Quando chegou lá, foi recebido por membros da Associação de Moradores. As pessoas 
reclamavam das ações policiais. Diziam que os agentes da lei eram violentos quando 
realizavam uma abordagem a um cidadão. 
 
O Mestre resolveu que suas palavras seriam a respeito dos direitos das pessoas. Os 
moradores deveriam ser respeitados pela polícia. 
 
Dirigindo-se à plateia, começou seu discurso da seguinte forma: 
 
- Suponhamos que um policial chute e derrube a porta de um barraco aqui no morro. O 
que temos de errado aí? 
 
Um jovem, aparentando ter uns 15 anos, levantou a mão e disse: 
 
- O barraco? 
 
O professor percebeu que havia mais violência no cotidiano daquelas pessoas do que nas 
ações policiais. 
 
Responda: 
 
1) Direitos Humanos e qualidade de vida estão relacionados? 
2) O que mais incomoda as pessoas no seu dia a dia: crimes ou problemas de 
qualidade de vida? 
 
Gabarito: 
1) Sim. Estão relacionados. É comum falarmos de Direitos Humanos atentando para 
as ações que implicam em perda de liberdade, riscos à integridade física ou à 
liberdade. Mas devemos ter em mente que moradia, emprego, educação, salário 
digno, atendimento médico e outros, que pertencem ao rol dosdireitos, também 
são direitos humanos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
13/70 
 
 
2) Segundo Raymond W. Kelly, as pessoas sofrem 
mais com os problemas de qualidade de vida no seu cotidiano. É o buraco na rua, a 
iluminação deficiente, o ônibus que atrasa, o lixo que não é recolhido, o trânsito 
congestionado, dentre outros, que mais influenciariam para incomodar os seres 
humanos. 
 
 
Aproveitando a atividade sugerida, acesse o Fórum de Discussão e debata sobre o 
papel dos órgãos de segurança na promoção dos Direitos Humanos. 
 
 
Assista ao filme Dogville, de Lars von Trier. No filme, veremos de uma 
forma bem elaborada a condição moral humana, que transita facilmente 
entre o bem e o mal. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Nesta aula, você: 
- Compreendeu o significado da expressão “Direitos Humanos”; 
- Relacionou as características dos Direitos Humanos a sua aplicação; 
- Conheceu os momentos e os documentos históricos que contribuíram para a evolução 
da filosofia dos Direitos Humanos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
14/70 
 
 
Na próxima aula, definiremos o que é Direito 
Internacional, listaremos os instrumentos mais comuns para expressar a concordância 
dos países sobre temas internacionais e descreveremos os principais tratados e 
instrumentos globais sobre os Direitos Humanos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
15/70 
 
 
 
Aula 2: Tratados e Instrumentos Globais – Conceituação / Principais 
Tratados e Instrumentos Globais 
 
Ao final desta aula, você deverá ser capaz de: 
1) Definir o que é Direito Internacional; 
 
2) Listar os instrumentos internacionais usados para firmar acordos entre os 
países; 
 
3) Explicar o que significa cada instrumento internacional; 
 
4) Descrever as inserções constitucionais que permitem a internalização destes 
instrumentos; 
 
5) Explicar os aspectos significativos da interação entre o Direito Internacional e o 
Direito Interno. 
 
Estudo dirigido da aula 
 
1. Leia o texto condutor da aula; 
2. Participe do fórum de discussão desta aula; 
3. Realize a atividade proposta; 
4. Leia a síntese da sua aula; 
5. Leia a chamada para a aula seguinte; 
6. Realize os exercícios de autocorreção. 
 
No final da primeira aula, vimos que os Direitos Humanos tornaram-se um dos aspectos 
do Direito Internacional, um objeto legítimo deste, passando a ser controlado pela 
comunidade internacional. 
 
Dando prosseguimento aos nossos estudos, definiremos Direito Internacional e 
entenderemos como os países elaboram documentos que expressam sua concordância 
sobre determinado assunto. 
 
Para o futuro gestor de políticas públicas, é necessário saber dos tratados assinados pelo 
país sobre Direitos Humanos. Afinal, o país se compromete formalmente a cumpri-los, 
submetendo-se ao escrutínio internacional se não o fizer. 
 
Direito Internacional é o conjunto de normas que governam a relação entre os Estados. 
Também compreendem normas relacionadas ao funcionamento de instituições ou 
organizações internacionais, a relação entre elas e a relação delas com Estado e o 
indivíduo (definição dada por C. de Roover, no Manual Para Servir e Proteger, da 
Organização das Nações Unidas, disponível no endereço: 
http://www.dhnet.org.br/dados/manuais/dh/mundo/rover/index.html). 
 
 
 
 
 
 
 
16/70 
 
 
 
O Direito Internacional, entre outros atributos, estabelece normas relativas aos direitos 
territoriais dos Estados (com respeito aos territórios terrestre, marítimo e espacial), a 
proteção internacional do meio ambiente, ao comércio internacional e a relações 
comerciais, ao uso da força pelos Estados, aos direitos humanos e ao direito internacional 
humanitário. 
 
No momento em que se deve julgar uma disputa entre Estados, diante das controvérsias, 
a Corte Internacional de Justiça8 utiliza-se das fontes do Direito Internacional. Para o 
nosso estudo, interessará discutirmos as convenções internacionais (gerais ou 
específicas) e o costume internacional. 
 
Os instrumentos mais comuns para expressar a concordância dos Estados-membros 
sobre temas de interesse internacional são acordos, tratados, convenções, protocolos, 
resoluções e estatutos. 
 
O termo acordo é usado, geralmente, para caracterizar negociações bilaterais de 
natureza política, econômica, comercial, cultural, científica e técnica. Acordos podem ser 
firmados entre países ou entre um país e uma organização internacional. Um exemplo de 
acordo do qual o Brasil é signatário é o Acordo de Extradição entre os Estados-Partes do 
Mercosul, promulgado pelo Decreto nº 4.975, de 30 de janeiro de 2004 (acessível pelo 
endereço: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-
2006/2004/decreto/D4975.htm). 
 
A palavra convenção costuma ser empregada para designar atos multilaterais, oriundos 
de conferências internacionais e que abordem assuntos de interesse geral. O Brasil 
promulgou, dentre outras, a Convenção Internacional para Supressão do Financiamento 
do Terrorismo através do Decreto nº 5.640, de 26 de dezembro de 2005 (disponível no 
endereço http://www010.dataprev.gov.br/sislex/paginas/23/2005/5640.htm). 
 
 
 
 
 
 
8
 Deve ser considerada como a corte internacional mais importante atualmente em existência. É órgão judicial 
das Nações Unidas, estabelecida em 1946 com base no artigo 92 da Carta da ONU. Tem seu foro 
tradicionalmente em Haia. Sua jurisdição relaciona-se à decisão de causas contenciosas e à pronúncia de 
pareceres consultivos sobre todos os casos que forem submetidos à Corte, e todas as matérias especificamente 
fornecidas pela Carta da ONU ou nos tratados e convenções em vigor. Para ler sobre os últimos casos julgados 
pela Corte, acesse http://www.icj-cij.org/. 
 
 
 
 
 
 
 
17/70 
 
 
 
Protocolo designa acordos menos formais que os tratados. O termo é utilizado, ainda, 
para designar a ata final de uma conferência internacional. O exemplo mais famoso de 
protocolo é o de Kyoto, que tem como objetivo firmar acordos e discussões 
internacionais para que os países, conjuntamente, possam estabelecer metas de redução 
na emissão de gases-estufa na atmosfera. 
 
Resoluções são deliberações, seja no âmbito nacional ou internacional. Citamos 
novamente a Resolução 34/169 da ONU (aula 1), que estabelece o Código de Conduta 
para os funcionários responsáveis pela aplicação da Lei. 
 
Estatuto é um tipo de lei que expressa os princípios que regem a organização de um 
Estado, sociedade ou associação. O Brasil promulgou o Estatuto de Roma sobre o 
Tribunal Penal Internacional através do Decreto nº 4.388, de 25 de setembro de 2002 
(disponível para leitura no endereço 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2002/D4388.htm). 
 
Instrumentos Globais podem ser entendidos como um conjunto de orientações gerais 
sobre determinado assunto, podendo ou não ser seguidas pelo Estado-membro da ONU. 
A Declaração Universal dos Direitos Humanos é um Instrumento Global. 
 
Tratados são atos bilaterais ou multilaterais aos quais se deseja atribuir especial 
relevância política. Outra definição seria “acordo internacional firmado entre Estados na 
forma escrita e governado pelo direito internacional, contido em um instrumento único 
ou em dois ou mais instrumentos relacionados e qualquer que seja sua designação 
específica”. Exemplo de Tratado do qual o Brasil é signatário é o Pacto Internacional de 
Direitos Civis e Políticos, promulgado através do Decreto nº 591, de 6 de julho de 1992 
(disponível no endereço:http://www.mpdft.gov.br/sicorde/Leg_FED_DEC_00591_1992.htm) 
 
Todo Estado é capaz de firmar tratados. Para que seja considerado Estado pela ONU são 
necessários alguns requisitos. Além de possuir população permanente, território definido 
e governo, o país deve possuir capacidade de estabelecer relações com outros Estados. A 
ONU examina também se a independência foi alcançada de acordo com o princípio da 
autodeterminação e se o país não está seguindo políticas racistas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
18/70 
 
 
 
É interessante observar que o Brasil, através da Emenda Constitucional nº 45, alterou o 
artigo 5º da Constituição Nacional9, acrescentando ao artigo LXXVIII os parágrafos 3º 
e 4º com a seguinte redação: 
 
“§ 3º - Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem 
aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos 
votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais.” 
“§ 4º - O Brasil se submete à jurisdição de Tribunal Penal Internacional a cuja criação 
tenha manifestado adesão." 
 
A referida emenda também alterou o artigo 109 da magna carta, acrescentando o inciso 
V-A e o parágrafo 5º: 
 
“V-A - As causas relativas a direitos humanos a que se refere o § 5º deste artigo; 
§ 5º - Nas hipóteses de grave violação de direitos humanos, o Procurador-Geral da 
República, com a finalidade de assegurar o cumprimento de obrigações decorrentes de 
tratados internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil seja parte, poderá 
suscitar, perante o Superior Tribunal de Justiça, em qualquer fase do inquérito ou 
processo, incidente de deslocamento de competência para a Justiça Federal.” 
 
Estes novos dispositivos constitucionais, prevendo um tratamento especial ao tema dos 
direitos humanos, constituem um fator que contribui para a internalização dos pactos 
internacionais. Neste novo domínio, não se discute se a norma internacional prevalece 
sobre a norma interna ou vice-versa. O que se aplica, agora, (ou se deveria aplicar) é a 
norma mais favorável à pessoa, seja ela internacional ou interna. 
 
Esta interação entre o direito internacional público e o direito interno tem alguns 
aspectos significativos: 
 
1º) os tratados afirmam a autoridade dos tribunais internos, estabelecendo a 
necessidade de ampla defesa, contraditório etc.; 
 
 
 
 
 
9
 A Constituição encontra-se disponível para leitura no endereço 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm 
 
 
 
 
 
 
 
19/70 
 
 
 
2º) a margem de controvérsias é reduzida à medida que os próprios tratados disponham 
sobre a função e o procedimento dos tribunais internos na aplicação das normas 
internacionais; 
 
3º) os tribunais internacionais de proteção aos direitos humanos não substituem os 
tribunais internos e nem funcionam com uma corte de cassação. 
 
A regra do esgotamento, segundo o qual se devem encerrar as instâncias internas para 
se recorrer à jurisdição internacional, é vista sob uma nova perspectiva. Esta regra 
somente pode ser considerada conforme as obrigações assumidas nos tratados, se, 
efetivamente, houver um sistema interno de proteção aos direitos humanos. 
 
O Brasil tem participado intensamente dos foros internacionais e regionais que tratam da 
matéria, numa posição de defesa da democracia e dos direitos humanos, apesar de, 
internamente, não ter adotado medidas eficazes para conter as violações sistemáticas 
dos mesmos. Na comissão de Direitos Humanos da ONU, o Brasil desempenha papel de 
destaque, apresentando importantes iniciativas, como, por exemplo, a abolição gradual 
da pena de morte, além de contribuir para as diversas atividades normativas em curso. O 
Brasil vem, também, aderindo aos Pactos Internacionais sobre Direitos Humanos10, como 
por exemplo, Convenção sobre tortura e Convenção dos direitos da criança. Algumas 
medidas vêm sendo adotadas, internamente, para dar cumprimento ao Pacto sobre 
Direitos Civis e Políticos, dentre elas: lei de reconhecimento dos desaparecidos; lei da 
tortura; reestruturação do Conselho de Direitos da Pessoa Humana e Programa Nacional 
de Direitos Humanos. 
 
Outras medidas são o aumento de poderes do Ministério Público, a federalização dos 
crimes contra os direitos humanos e a transferência dos julgamentos de policiais para a 
Justiça comum. Estamos nos referindo às alterações no Código Penal Militar e no Código 
de Processo Penal Militar. “Nos crimes dolosos contra a vida, praticados contra civis, a 
Justiça Militar encaminhará os autos do inquérito policial militar à Justiça comum”. - Lei 
 
 
 
 
10
 Para saber de quais tratados o Brasil é signatário na área de Direitos Humanos, acesse a página 
http://www.pge.sp.gov.br/centrodeestudos/bibliotecavirtual/instrumentos/sumario.htm. 
 
 
 
 
 
 
 
20/70 
 
 
nº 9.299 de 7 de agosto de 1996, disponível para 
leitura no endereço http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9299.htm. 
 
Todavia, a situação de desrespeito interno dos direitos humanos coloca o Brasil em 
situação delicada perante a sociedade internacional, sendo comum apontar-se, em 
relatórios, ocorrência de execuções sumárias, tortura, falta de proteção às testemunhas 
e de controle das polícias, trabalho escravo etc. 
 
Antes de passarmos para a próxima atividade, assista, no ambiente online, a um trecho 
do seriado "Jornada nas Estrelas". No seriado, acompanhavam-se as viagens da nave 
estelar U.S.S. Enterprise para os mais distantes lugares da galáxia, audaciosamente indo 
onde nenhum homem jamais esteve. Seu capitão, James T. Kirk, procurava seguir a 
doutrina de sua Federação: não interferir na cultura de outros mundos, não importa o 
quão cruel lhe parecesse. 
 
 
 
Na realidade contemporânea global, vemos diferenças significativas entre as culturas dos 
povos, notadamente entre a oriental e a ocidental. 
 
Recentemente, a ONU tem negociado com alguns países do Continente Africano sobre a 
cessação de uma antiga prática: a extirpação de clitóris, utilizando-se de métodos 
arcaicos, com pouca ou nenhuma assepsia e que tem como objetivo evitar que a mulher 
sinta prazer no ato sexual. 
 
Responda: 
 
1) A ONU está certa em interferir na prática mencionada acima? 
2) Há limites para a interferência da ONU? Quais seriam esses limites? 
 
Gabarito: 
 
1) Há que se entender que esta prática é uma questão cultural arraigada. As próprias 
mulheres sentem-se discriminadas e discriminam aquelas que não se submetem a 
esta prática. A ONU já conseguiu discutir a questão da higienização e esterilização do 
ambiente e dos objetos usados na prática da extirpação. Ao discutir o assunto, a ONU 
 
 
 
 
 
 
 
21/70 
 
 
entende que, apesar de ser uma questão 
cultural, há valores mínimos a serem observados em quaisquer lugares do mundo. 
 
2) Sim, há limites. Há limites culturais para não atuar diretamente e há limites 
relacionados ao garantismo dos direitos fundamentais, que impedem a total omissão. 
 
 
Acesse o Fórum de Discussão e discuta sobre os avanços e retrocessos do nosso 
país em relação ao que está estabelecido na Declaração Universal dos Direitos Humanos. 
 
 
Acesse o site da ONU (http://www.onu.org.br/) e examine os documentos produzidos pela 
Organização, sua história, estrutura, seus órgãos e países membros. 
 
 
Nesta aula, você: 
- Compreendeu o que significa “Direito Internacional”; 
- Relacionouos instrumentos internacionais usados para firmar acordos entre países e seu 
significado; 
- Conheceu as alterações legislativas brasileiras que permitem ao país internalizar o conteúdo dos 
instrumentos internacionais. 
 
Na próxima aula, falaremos sobre cidadania no Brasil e sobre a evolução dos Direitos 
Humanos no nosso país, sobre a construção dos direitos civis, políticos e sociais e a 
importância da Constituição Federal de 1988 – a Constituição Cidadã. 
 
 
 
 
 
 
 
22/70 
 
 
 
Aula 3: Direitos humanos e cidadania no Brasil – a construção dos 
direitos civis, políticos e sociais. A Constituição de 1988. 
 
Ao final desta aula, você será capaz de: 
 
1) Definir o que é cidadania; 
 
2) Listar os direitos mais importantes para o exercício da cidadania; 
 
3) Identificar os aspectos históricos da construção da cidadania no Brasil; 
 
4) Analisar a importância da Constituição Federal de 1988; 
 
5) Comparar a legislação sobre os Direitos Humanos com a realidade brasileira. 
 
 
Estudo dirigido da aula 
 
1. Assista ao vídeo do coordenador do curso, Luiz Eduardo Soares; 
2. Leia o texto condutor da aula; 
3. Participe do fórum de discussão desta aula; 
4. Realize a atividade proposta; 
5. Leia a síntese da sua aula; 
6. Leia a chamada para a aula seguinte; 
7. Realize os exercícios de autocorreção. 
 
Quando falamos de cidadania, estamos falando do ser humano e de sua relação com 
outros seres humanos em sociedade. Por isso, nosso estudo se inicia com questões que 
procuram apresentar quais são os fundamentos históricos da cidadania, ou seja, como se 
constitui a relação cidadão/Estado – cidadão/Nação. 
 
Você conhecerá também os momentos históricos de evolução de direitos no nosso país, 
entendendo a formação do cidadão brasileiro. 
 
Finalmente, analisaremos a importância da Constituição Federal de 1988 e seus avanços. 
Faremos o contraste com a realidade do nosso país. 
 
A definição clássica de cidadão é: ser sujeito de direitos e deveres. Aquele que está 
capacitado a participar da vida da cidade, de agir politicamente, transformando a cidade 
e se transformando a partir dela. 
 
 
 
 
 
 
 
23/70 
 
 
 
O exercício de alguns direitos não faz com que outros possam ser automaticamente 
usufruídos. Exercer o direito de votar não garante que o governo vá atender a problemas 
básicos da sociedade. Significa dizer que a cidadania possui várias dimensões e que 
algumas podem existir sem as outras. Uma cidadania plena, que combine liberdade, 
participação e igualdade para todos, pode parecer inatingível, mas deve servir de 
parâmetro para julgar a qualidade de cidadania em cada país. 
 
É comum desdobrarmos a cidadania em direitos civis, políticos e sociais. O cidadão pleno 
seria aquele que exercesse plenamente os três direitos. O não cidadão não exerceria 
qualquer um e o cidadão incompleto exerceria um, mas não o outro. É necessário 
explicar os conceitos. Direitos Civis são fundamentais à vida, à liberdade, à propriedade, 
à igualdade perante a lei. Eles se desdobram na garantia do ir e vir, da liberdade de 
pensamento e manifestação, de reunir-se com outras pessoas, de ter sua casa 
respeitada, de não ser preso em desacordo com as leis. São eles que garantem relações 
civilizadas entre as pessoas. Seu fundamento, pois, é a liberdade individual. 
 
Os direitos políticos dizem respeito à participação do cidadão no governo de seu país. 
Está-se falando aqui do direito a votar e ser votado, de conferir legitimidade à 
organização política da sociedade. 
 
Os direitos sociais baseiam-se na justiça social, na redução das desigualdades produzidas 
pela vida em sociedade. Através do acesso igualitário aos serviços públicos e a uma justa 
distribuição de renda, procura-se garantir o mínimo de bem-estar para todos. 
 
Há uma ordem lógica, segundo T. A. Marshall11, para o desenvolvimento destes direitos. 
Primeiro surgiriam os direitos civis. As pessoas poderiam discutir suas ideias e organizar-
se. Daí, o próximo passo seria exercer os direitos políticos, participando da vida política 
do seu país, onde se lutará por uma sociedade mais justa, que corresponderia à 
realização dos direitos sociais. Este surgimento sequencial sugere que a própria ideia de 
cidadania é um fenômeno histórico. Sua construção tem a ver com a relação das pessoas 
com o Estado. As pessoas se tornam cidadãs à medida que passam a se sentir parte de 
um Estado. 
 
 
 
 
11
 O livro de T. H. Marshall aqui utilizado é “Cidadania, classe social e status”, Rio de Janeiro: Zahar, 1967. – 
Indicado na bibliografia da disciplin. 
 
 
 
 
 
 
 
24/70 
 
 
 
Da cidadania, como a conhecemos, fazem parte a lealdade a um Estado e a identificação 
com a nação. 
 
É comum que a identidade nacional se deva a fatores como religião, língua e, sobretudo, 
lutas e guerras contra inimigos comuns. A lealdade ao Estado depende do grau de 
participação na vida política. 
 
A maneira como se formaram os Estados condiciona a construção da cidadania. No 
Brasil, onde se deu grande importância aos direitos sociais em relação aos outros e onde 
houve alteração na sequência em que os direitos foram adquiridos, vamos ter um 
cidadão diferente do cidadão inglês. Observe que não se trata aqui de dizer que o 
cidadão brasileiro é pior ou melhor do que o cidadão norte-americano, francês ou 
australiano. Trata-se, sim, de dizer que a nossa história produziu um cidadão que não é 
igual ao de outros países. 
 
Por ocasião da independência brasileira, tivemos a outorga de nossa primeira 
Constituição, em 182412. Este documento combinava ideias de constituições europeias, 
estabelecendo os três poderes tradicionais (além do poder moderador, resquício do 
absolutismo) e regulando os direitos políticos. Para os padrões da época, em relação aos 
direitos políticos, a legislação brasileira era muito liberal, no que dizia respeito a quem 
podia votar e ser votado. Em tese, quase toda a população adulta masculina participava 
da formação do governo. O número de pessoas que votavam era grande, se levarmos em 
conta os padrões dos países europeus.13 
 
Mas nossa chaga vergonhosa persistia, limitando os avanços e descaracterizando os 
aspectos liberais: a escravidão, negação extrema de todo tipo de cidadania e da 
dignidade humana, uma vez que reduzia o ser humano a mera mercadoria. 
 
As eleições só eram suspensas em casos excepcionais e em locais específicos (no Rio 
Grande do Sul, durante a Guerra do Paraguai, ou em 1889, por ocasião da proclamação 
da República). 
 
 
 
 
12 Disponível para leitura no endereço: 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao24.htm. 
13 Veja no ambiente online tabela com dados sobre a participação eleitoral por volta de 1870. Os dados 
constam no livro Cidadania no Brasil – o longo caminho, indicado na bibliografia do curso. 
 
 
 
 
 
 
 
25/70 
 
 
 
O lado negativo da cidadania brasileira – vale reiterar e enfatizar – foi a escravidão. Na 
época da independência, numa população de cinco milhões em território nacional, 
incluindo uns 800 mil índios, havia mais de um milhão de escravos. A Constituição de 
1824 não tocou neste assunto. Basicamente, o escravo não era cidadão, não tinha 
direitos civis, podendo ser espancado e até morto, sendo equiparado a um animal ou a 
menos do que isso: simples mercadoria – não é demais repetir. 
 
Em 1930, verificou-se uma grande mudançano avanço dos direitos sociais. O governo 
revolucionário da época cria um Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, trazendo 
vasta legislação trabalhista e previdenciária. Mas há um retrocesso nos direitos políticos. 
Em 1937, Getúlio Vargas, apoiado pelos militares, dá um golpe, inaugurando um período 
ditatorial que durou até 1945. Os direitos civis continuaram progredindo lentamente, 
figurando inclusive na Constituição de 1937. Na prática, muitos deles foram suspensos, 
sobretudo a liberdade de expressão do pensamento e de organização. 
 
Entre 1945 e 1964, o Brasil entrou em uma fase que pode ser descrita como a primeira 
experiência democrática de sua história. Mantiveram-se os direitos sociais conquistados 
até ali e garantiram-se os direitos civis e políticos, ainda que com severas limitações – o 
PCB foi devolvido à clandestinidade e os analfabetos, proibidos de votar. 
 
Em 1964, com a ditadura militar, duro golpe deu- se nos direitos políticos e civis através, 
principalmente, da edição, em 13 de dezembro de 1968, do Ato Institucional nº 514. O 
Congresso foi fechado, passando o Presidente, General Costa e Silva (logo sucedido por 
uma Junta Militar), a governar ditatorialmente. 
 
Entretanto, os governos militares investiam na expansão dos direitos sociais. Criaram o 
Fundo de Garantia por Tempo de Serviço, o Banco Nacional de Habitação (que facilitava 
a compra de casas por trabalhadores de baixa renda) e o Ministério da Previdência e 
Assistência Social. Em 1974, o presidente Ernesto Geisel deu início ao lento processo de 
democratização, restaurando, aos poucos, os direitos civis e políticos. 
Em 1985, com a eleição do primeiro presidente civil, marca-se o fim do ciclo militar. Em 
1988, é promulgada a nova Constituição Federal, expandindo-se os direitos políticos, 
facultando ao analfabeto e ao cidadão que possua entre 16 e 18 anos o direito de votar. 
 
 
 
 
14 Disponível para leitura no endereço http://www.acervoditadura.rs.gov.br/legislacao_6.htm. 
 
 
 
 
 
 
 
26/70 
 
 
 
A legislação sobre a organização e o funcionamento dos partidos é extremamente liberal, 
permitindo o crescimento de seu número. 
 
A Constituição de 1988 ampliou mais do que suas antecedentes os direitos sociais, 
fixando em um salário mínimo o limite inferior para as aposentadorias e pensões, 
ordenando o pagamento de pensão de um salário mínimo a todos os deficientes físicos e 
 
a todos os que possuam mais de 65 anos. Introduziu a licença paternidade e houve 
melhorias nos indicadores básicos de qualidade de vida. Mas ainda assim são grandes as 
desigualdades sociais que caracterizam o país desde a independência. Tomando-se os 
dados da Organização Mundial de Saúde, mais da metade dos brasileiros está abaixo da 
linha da pobreza. 
 
Os direitos civis avançaram. A liberdade de expressão, de imprensa e de organização foi 
recuperada. Criou-se o direito de habeas data15 e o mandado de injunção16. Definiu-se o 
racismo como crime inafiançável e imprescritível, e a tortura como crime inafiançável e 
não anistiável. O Estado passou a ter o dever de proteger o consumidor. 
 
O que se observa, contudo, é a falta de garantias dos direitos civis referentes à 
segurança individual, à integridade física e ao acesso à Justiça. Ainda é possível verificar 
a existência de três classes de cidadãos no nosso país. Os de primeira classe são os que 
estão acima da lei, defendendo seus interesses pelo poder do dinheiro e do prestígio 
social. Os de segunda classe são os que estão sujeitos aos rigores e benefícios da lei. 
Estas pessoas nem sempre têm noção exata dos seus direitos, e quando a têm, carecem 
dos meios necessários para fazê-los valer, como o acesso aos órgãos e autoridades 
competentes, além de recursos para custear demandas judiciais. 
 
Finalmente, há os cidadãos de terceira classe. Na prática, tem seus direitos civis 
ignorados ou sistematicamente desrespeitados por outros cidadãos, pelo governo, pela 
 
 
 
 
15 Constituição Federal, artigo 5º, inciso LXXII - Conceder-se-á "habeas data": a) para assegurar o 
conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante, constantes de registros ou bancos de dados de 
entidades governamentais ou de caráter público; b) para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo 
por processo sigiloso, judicial ou administrativo. 
 
16 Constituição Federal, artigo 5º, inciso LXXI - conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta de 
norma regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas 
inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania. 
 
 
 
 
 
 
 
27/70 
 
 
 
polícia. Não se sentem protegidos pela sociedade e pelas leis. Receiam o contato com 
agentes da lei, pois a experiência lhes ensinou que isto quase sempre resulta em prejuízo 
próprio. Para esses, vale apenas o Código Penal. 
 
É preciso destacar outro fenômeno diretamente ligado ao Capitalismo. O ser humano que 
não deseja ser cidadão, mas apenas consumir. Se o “ter” importa mais do que o “ser”, 
quer-se comprar para se “valorizar” perante os outros. 
 
 
 
 
Assista a Saneamento Básico – o filme, de Jorge Furtado. O filme 
mostra como se priorizam alguns direitos (no caso do filme, direito à 
cultura) em detrimento de outros, considerados mais básicos (no filme, 
direito à saúde). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
28/70 
 
 
 
 
Após assistir a Saneamento Básico – o filme, acesse o Fórum de Discussão e 
discuta os paradoxos da aplicação da verba pública no atendimento aos direitos dos 
cidadãos. 
 
 
Nesta aula, você: 
- Compreendeu o que significa “cidadania”; 
- Relacionou os direitos mais importantes para o exercício da cidadania; 
- Conheceu os momentos históricos nacionais que propiciaram o avanço e o retrocesso 
dos direitos; 
- Deu-se conta do processo de construção do cidadão brasileiro; 
- Avaliou o papel da atual Constituição e a dificuldade de aplicar todos os seus preceitos. 
 
Esperamos que você tenha aprendido um pouco mais sobre o nosso país. Estamos 
preparados para estudar na próxima aula a Democracia, suas características e como a lei 
é aplicada em países de regime democrático. Até breve. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
29/70 
 
 
 
Aula 4: Democracia – características /aplicação da lei em países de 
regime democrático 
Ao final desta aula, você deverá ser capaz de: 
 
1) Listar as características de uma Democracia; 
 
2) Dizer os direitos mais importantes para o exercício da democracia; 
 
3) Descrever o papel dos encarregados de aplicação da lei em um regime 
democrático; 
 
4) Explicar as responsabilidades dos funcionários de aplicação da lei frente à 
sociedade. 
 
 
Estudo dirigido da aula 
 
1. Leia o texto condutor da aula; 
2. Participe do fórum de discussão desta aula; 
3. Realize a atividade proposta; 
4. Leia a síntese da sua aula; 
5. Leia a chamada para a aula seguinte; 
6. Realize os exercícios de autocorreção. 
 
A lei e a ordem, assim como a paz e a segurança, são questões de responsabilidade do 
Estado. A maioria dos Estados escolheu incumbir das responsabilidades operacionais 
desta área uma ou mais organizações de aplicação da lei, sejam elas civis, militares ou 
paramilitares. 
 
Definiremos “democracia”, listando suas características, tendo como embasamento o 
Direito Internacional, para que possamos saber o que a comunidade internacionalentende como um Estado Democrático. 
 
Um aviso importante para o futuro gestor de políticas públicas de segurança: buscaremos 
examinar a função e a posição da aplicação da lei nas sociedades democráticas, assim 
como o papel dos funcionários de aplicação da lei e sua importância na promoção e 
proteção dos direitos humanos. 
 
É difícil chegar a uma definição satisfatória de "democracia". A tentativa de definir este 
sistema, provavelmente, levará ao estabelecimento de características de um regime 
democrático que possam ser consideradas denominadores comuns, independente do 
 
 
 
 
 
 
 
 
30/70 
 
 
 
sistema vigente em determinado Estado. Tais características incluem um governo 
democraticamente eleito que represente o povo – e seja responsável perante ele –; a 
existência do Estado de direito17 - e o respeito por ele –; e o respeito pelos direitos 
humanos e liberdades. O artigo 21 da Declaração Universal dos Direitos Humanos18 
(DUDH) estipula que “A vontade do povo é o fundamento da autoridade do 
governo”. Eleições livres e legítimas, realizadas a intervalos regulares, são de 
importância vital ao estabelecimento do governo democrático. É responsabilidade do 
Estado garantir as eleições e assegurar a todas as pessoas seu direito de votar e de ser 
eleito, livres de coerção ou pressão de qualquer natureza19. 
 
Um governo representativo não significa somente a expressão e a canalização adequadas 
da vontade do povo; significa também que o governo, em sua composição, reflete a 
sociedade. A representação igual de homens e mulheres, assim como a representação 
proporcional de minorias, são os meios pelos quais o objetivo do governo representativo 
será alcançado. 
 
A existência do Estado de direito e o respeito por ele origina uma situação onde direitos, 
liberdades, obrigações e deveres estão incorporados na lei para todos, em plena 
igualdade, e com a garantia de que as pessoas serão tratadas equitativamente em 
circunstâncias similares. Um aspecto fundamental deste direito também pode ser 
encontrado no artigo 26 do Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos20, que 
estipula que Todas as pessoas são iguais perante a lei e têm direito, sem 
discriminação, a igual proteção da lei. A existência das leis, neste sentido, serve para 
gerar um sentimento de segurança com relação aos direitos e deveres, já que estes e 
aqueles estão inseridos no direito positivo. 
 
Pode-se dizer que, no momento atual, a maioria dos Estados adotou uma forma de 
regime democrático e concorda, pelo menos em princípio, com as três características 
 
 
 
 
 
17 Significa que nenhum indivíduo, presidente ou cidadão comum, está acima da lei. Os governos democráticos 
exercem a autoridade por meio da lei e estão eles próprios sujeitos aos constrangimentos impostos pela lei. 
18 Disponível para leitura no endereço http://br.humanrights.com/what-are-human-rights/universal-declaration-
of-human-rights/articles-21-30.html. 
19 Vale a pena citar Aristóteles: Se a liberdade e a igualdade são essenciais à democracia, só podem existir em 
sua plenitude se todos os cidadãos gozarem da mais perfeita igualdade política - Aristóteles - Política (Livro IV, 
cap. IV). 
20 Promulgado através do Decreto nº 591, de 6 de julho de 1992 (disponível no endereço 
http://www.mpdft.gov.br/sicorde/Leg_FED_DEC_00591_1992.htm). 
 
 
 
 
 
 
 
31/70 
 
 
 
apresentadas acima - governo representativo e democrático, Estado de direito e respeito 
pelos direitos humanos. 
 
Importante observar que, para que os princípios acima sejam 
implementados, há necessidade de se garantirem certos 
direitos. Assim, em um Estado democrático, é preciso atentar 
para o artigo 18 da DUDH, que se refere ao direito do ser 
humano à liberdade de pensamento, consciência e religião. O 
artigo 19 da citada Declaração dá ao homem a liberdade de opinar e de se expressar. O 
artigo 20 do instrumento internacional garante ao ser humano a liberdade para se reunir 
e se associar (desde que pacificamente). Vamos analisar por que estes direitos são 
importantes para uma democracia. 
 
Para que eu possa questionar o mundo à minha volta, os costumes que nele existem, as 
leis positivadas, enfim, para que eu possa me afirmar no mundo e não me acomodar a 
ele, preciso ter a liberdade de pensar, de escolher quais valores me servem e quais não. 
Depois de pensar, decidindo-me ou não, eu posso querer comunicar minhas opiniões aos 
outros, expressar minhas ideias, comunicar o que eu acho certo ou errado, esmiuçando a 
realidade. Posso querer ir mais além, reunindo-me com outras pessoas para falar e ouvir 
sobre determinados assuntos, traçando cursos de ação, planos, estratégias para que se 
possa ampliar o palco das discussões para grupos maiores. Eis aí, apresentado, o cerne 
do processo democrático. 
 
E qual o papel do funcionário responsável pela lei no contexto apresentado acima? O de 
facilitar o exercício desses direitos. É lógico que existem limitações aos exercícios dos 
direitos por parte de uma pessoa. O adágio “meu direito termina onde começa o seu” é 
válido para ilustrar o necessário respeito aos direitos dos demais. Direitos também são 
limitados, a fim de se satisfazerem as exigências de ordem pública e de bem-estar de 
uma sociedade – ainda que esta limitação não possa revogar direitos elementares, nem 
servir de justificativa para o desrespeito aos princípios constitucionais. Assim, cabe ao 
encarregado de aplicar a lei (EAL)21, equilibrar a ordem pública e o exercício dos direitos. 
 
 
 
 
 
21 São encontradas duas traduções para o nome da Resolução 34/169. A primeira já apresentada – Código de 
Conduta para Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei –, e uma segunda – Código de Conduta para os 
Encarregados de Aplicação da Lei. 
 
 
 
 
 
 
 
32/70 
 
 
 
Para tal, é preciso que o encarregado, em sua atuação, não discrimine e mantenha a 
imparcialidade. 
 
Neste momento, voltamos a abordar a Resolução 34/169 da ONU, o Código de Conduta 
para funcionários responsáveis pela aplicação da lei. Temos no Código, em seu 
preâmbulo, na escrita de seus idealizadores, mecanismos para garantir que o 
encarregado possa cumprir seu papel citado acima. A força de cumprimento da lei deve 
ser representativa de sua comunidade, assumindo, diante dela, responsabilidades 
pertinentes, e correspondendo às suas expectativas. 
 
Um órgão de aplicação da lei representativo é aquele 
que, em sua composição, reflete a sociedade. A 
representação igual de homens, mulheres e 
proporcional de minorias é um meio pelo qual se 
manteria a imparcialidade na atuação dos agentes.22 
 
Ao orientar uma agência da lei para corresponder às 
expectativas das pessoas, responsabilizando-se por elas, o legislador quer determinar 
uma representação qualitativa por parte dessa agência. 
 
 
 
 
 
22 É importante ressaltar que a Constituição Federal, em seu artigo 37, ressalta o princípio de isonomia, de 
igualdade para o acesso aos cargos, empregos e funções públicas. Transcreve abaixo o artigo 37 da 
Constituição e seus incisos I e II: 
“Art. 37 - A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito 
Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e 
eficiência e, também, ao seguinte: 
I - os cargos, empregos e funções públicas são acessíveis aos brasileiros que preenchamos requisitos 
estabelecidos em lei, assim como aos estrangeiros, na forma da lei; 
II - a investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação prévia em concurso público de provas ou 
de provas e títulos, de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na forma prevista em 
lei, ressalvadas as nomeações para cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração.” 
 
 
 
 
 
 
 
 
33/70 
 
 
A maioria dos órgãos de aplicação da lei são sistemas 
fechados, estritamente hierárquicos. Sua estrutura é 
frequentemente quase militar, assim como seu sistema 
de patentes. Operam normalmente obedecendo a uma 
cadeia rígida de comando, com separações estritas de 
poder e autoridade, na qual o processo de tomada de 
decisões é feito de cima para baixo. A capacidade deste 
tipo de organização de aplicação da lei em responder a 
estímulos externos fica limitada a respostas padronizadas, 
demonstrando pouca ou nenhuma antecipação proativa dos desenvolvimentos atuais e 
futuros que não se encaixem no sistema. A organização de aplicação da lei como um 
sistema fechado passará invariavelmente por dificuldades em estabelecer e manter 
relações eficazes com o público. Também terá dificuldades em determinar os desejos, as 
necessidades e as expectativas do público em dado momento. A mudança gradual, 
partindo de um sistema fechado para um sistema mais aberto na área da aplicação da 
lei, é bem recente. O policiamento comunitário tornou-se um slogan reconhecido na 
defesa da descentralização da organização e da redução de níveis funcionais em sua 
estrutura. O objetivo do policiamento comunitário é (re)criar uma proximidade e 
entendimento entre a população e a organização, partindo da premissa fundamental de 
que a responsabilidade pela aplicação da lei não é só da organização, mas compartilhada 
entre o Estado e seus cidadãos. As palavras-chave na aplicação da lei democrática, como 
no próprio regime democrático, são: antecipação e reação, representação e 
responsabilidade. 
 
Internacionalmente, entende-se que uma força policial, perante a comunidade, deve ser 
responsável legal, política e economicamente. 
 
Por responsabilidade legal, entende-se que a agência deverá atuar dentro dos 
parâmetros legais. Sua responsabilização política refere-se ao fato de ela estar 
utilizando-se de estratégias e técnicas que sejam legitimadas pela população. O órgão de 
aplicação da lei deverá também prestar conta dos seus gastos, informando a população 
em quê e como está aplicando seus recursos. 
 
É crucial que os encarregados da aplicação da lei demonstrem sensibilidade com relação 
aos direitos e liberdades individuais, assim como tomem consciência de sua própria 
capacidade (individual) de proteger - ou violar - os direitos humanos e liberdades. A 
 
 
 
 
 
 
 
34/70 
 
 
 
aplicação da lei é um componente visível da prática dos Estados, sendo as ações de seus 
encarregados raramente vistas ou avaliadas como individuais, e, na verdade, muitas 
vezes vistas como um indicador do comportamento da organização como um todo. É 
exatamente por isso que certas ações individuais de aplicação da lei (como o uso 
excessivo de força, corrupção, tortura) podem ter um efeito tão devastador na imagem 
de toda a organização. 
Os encarregados da aplicação da lei devem tomar consciência de sua capacidade 
individual e coletiva de influenciar a percepção pública e a experiência individual dos 
direitos e liberdades humanos. Também devem estar conscientes de como suas ações 
interferem com a organização de aplicação da lei como um todo. A responsabilidade 
individual e a responsabilidade por seus próprios atos devem ser reconhecidas como 
fatores cruciais no estabelecimento de práticas corretas de aplicação da lei. Os 
programas de formação e treinamento devem levar esses fatores em consideração em 
sua abordagem. Os encarregados pela supervisão e revisão e os responsáveis pelo 
comando devem levar esses fatores em consideração, ao desenvolverem sistemas 
voltados à revisão, supervisão e acompanhamento profissional. 
A formação e o treinamento dos encarregados da aplicação da lei é uma responsabilidade 
primordial em nível nacional. No entanto, não pode ser excluída a possibilidade de 
cooperação e assistência internacional nesta área, nem se deve negligenciar o papel 
importante que as organizações internacionais no campo de direitos humanos e/ou 
direito internacional humanitário podem desempenhar ao prestar serviços e assistência 
aos Estados. Esta assistência nunca poderá ser um fim em si mesmo. A finalidade do 
auxílio deve ser a de facilitar os Estados a alcançarem os objetivos claramente definidos, 
e este deve ficar restrito às situações em que o serviço e a assistência necessários não 
são encontrados no Estado que pede auxílio. 
 
 
Durante a aula 4, você foi apresentado aos artigos 18, 19, 20 e 21 da Declaração 
Universal dos Direito Humanos e ao artigo 26 do Pacto Internacional dos Direitos Civis e 
Políticos. Pesquise na Constituição Federal os artigos correspondentes aos citados na 
legislação internacional. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
35/70 
 
 
 
Gabarito: 
Artigos 18 e 19 da DUDH – correlatos: inciso IV do artigo 5º - “é livre a manifestação do 
pensamento, sendo vedado o anonimato”, inciso VI do artigo 5º - “é inviolável a 
liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos 
religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e suas liturgias”, 
inciso VIII do artigo 5º - “ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa 
ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação 
legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei.”, inciso 
IX do artigo 5º - “ é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de 
comunicação, independentemente de censura ou licença.” 
Artigo 20 da DUDH – correlatos: inciso XVI do artigo 5º - “todos podem reunir-se 
pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público, independentemente de 
autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para o 
mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade competente”, inciso XVII 
do artigo 5º - “é plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada a de caráter 
paramilitar.” 
Artigo 21 da DUDH – correlato: artigo 1º, Parágrafo único - “Todo o poder emana do 
povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta 
Constituição.” 
Artigo 26 do Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos - Art. 5º - “Todos são iguais 
perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos 
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à 
igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes (...)” 
 
 
Assista a Obrigado por fumar. O filme questiona se pode haver liberdade 
de escolha em um mundo dominado pela propaganda. A pergunta fica no 
ar o tempo todo. O personagem principal, o lobista Nick Naylor (Aaron 
Eckhart), acredita que sim. Na democracia do consumo, afinal, ninguém 
força ninguém a comprar nada. 
Na hora de eleger um representante político, o que pesa? O jingle ou seu 
passado político? 
 
A partir do questionamento apresentado no filme Obrigado por fumar, participe do 
Fórum de Discussão sobre o tema Temos ou não liberdade de escolha em um 
mundo dominado pela propaganda?. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
36/70 
 
 
 
 
Nesta aula, você: 
- Listou as características de uma democracia;- Relacionou os direitos mais importantes para o exercício da democracia; 
- Conheceu o papel dos EAL em um regime democrático; 
- Analisou as responsabilidades dos EAL perante a sociedade. 
 
 
No nosso próximo encontro, falaremos sobre o uso da força e da arma de fogo pelos 
encarregados de aplicação da lei. Analisaremos as legislações nacional e internacional a 
respeito. Também estudaremos os aspectos legais que fundamentam a abordagem e a 
busca pessoal feita pelo EAL. Até lá. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
37/70 
 
 
 
Aula 5: Legislação internacional e nacional aplicadas ao uso da força e da 
arma de fogo, à abordagem e busca pessoal. 
Ao final desta aula, você deverá ser capaz de: 
 
1) Descrever a legislação nacional e internacional que trata do uso da força e da 
arma de fogo; 
 
2) Definir as atitudes adequadas que justifiquem a abordagem e a busca pessoal, 
bem como os aspectos legais relativos às ações; 
 
3) Listar os princípios que devem ser observados quando da utilização da força e da 
arma de fogo; 
 
4) Explicar as possibilidades de aperfeiçoamento no processo de seleção, 
treinamento, supervisão e revisão dos Encarregados de Aplicação da Lei. 
 
 
Estudo dirigido da aula 
 
1. Leia o texto condutor da aula; 
2. Participe do fórum de discussão desta aula; 
3. Realize a atividade proposta; 
4. Leia a síntese da sua aula; 
5. Leia a chamada para a aula seguinte; 
6. Realize os exercícios de autocorreção. 
 
Os encarregados de aplicação da lei têm um papel fundamental na proteção e promoção 
dos direitos mais fundamentais, sejam individuais e/ou coletivos. Desta forma, a lógica 
de uso da força, para fazer com que os direitos sejam respeitados, é perfeitamente 
compreensível.23 
 
Por esta ótica, o direito à vida deve ter a mais alta prioridade. O uso da força, inclusive o 
uso intencional e letal de armas de fogo, deve ser limitado aos casos que envolvam 
circunstâncias excepcionais. 
 
Necessário se faz que o futuro gestor em políticas públicas de segurança compreenda 
que os encarregados de aplicação da lei devam estar comprometidos com um alto padrão 
de disciplina e desempenho, que reconheça a importância e a delicadeza do trabalho a 
 
 
 
 
23 É importante o aluno relembrar o estudo realizado na aula 1 sobre as características dos Direitos Humanos. O 
que descrevemos neste parágrafo nada mais é do que a Efetividade. 
 
 
 
 
 
 
 
38/70 
 
 
 
ser realizado. Procedimentos adequados relacionados à seleção, treinamento, supervisão 
e revisão servem para garantir a existência de um equilíbrio apropriado entre o poder 
discricionário exercido individualmente pelos EAL e a necessária responsabilidade legal e 
política24 das agências de aplicação da lei como um todo. 
 
Encontra-se proclamado no artigo 3º 25da Declaração Universal dos Direitos Humanos 
(DUDH) que todos têm o direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal. Estes 
direitos são reiterados nos artigos 6.1 e 9.1 do Pacto Internacional sobre os Direitos Civis 
e Políticos (PIDCP).26 
 
O Comitê dos Direitos Humanos 27considera que os Estados deveriam adotar medidas 
não apenas para prevenir e punir a privação da vida por atos criminosos, mas também 
prevenir mortes arbitrárias pelas suas próprias forças de segurança. A privação da vida 
pelas autoridades do Estado é um assunto da mais alta gravidade. Por conseguinte, a lei 
deve, eficientemente, controlar e limitar as circunstâncias nas quais uma pessoa pode 
ser privada da sua vida por tais autoridades. 
 
O Código de Conduta para os Encarregados da Aplicação da Lei (CCEAL)28, mencionado 
na aula 1, busca criar padrões para as práticas de aplicação da lei que estejam de acordo 
com as disposições básicas dos direitos e liberdade humanos. Por meio da criação de 
uma estrutura que apresente diretrizes de alta qualidade ética e legal, procura influenciar 
a atitude e o comportamento prático dos encarregados da aplicação da lei. 
 
 
 
 
 
24 Vale a pena o aluno rever a aula 4, onde é descrita a responsabilidade dos EAL perante a comunidade em 
três aspectos: legal, político e econômico. 
25 Na Constituição Federal, encontraremos os citados direitos assegurados no caput do artigo 5º - “Todos são 
iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros 
residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos 
termos seguintes (...)” 
26 Promulgado através do Decreto nº 592, de 6 de julho de 1992 (disponível no endereço 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/D0592.htm) 
27 O Comitê dos Direitos Humanos, estabelecido no artigo 28 do PIDCP, é um órgão fundamentado em um 
tratado, que, entre outras funções, está encarregado de supervisionar a implementação eficaz das normas 
contidas no PIDCP na legislação nacional dos Estados Partes deste Tratado. Para isto, "os Estados Partes ao 
pacto comprometem-se a apresentar relatórios sobre as medidas que houverem tomado e deem efeito aos 
direitos nele consignados e sobre os progressos realizados no gozo destes direitos..." (artigo 40.1 PIDCP) 
28 Formulação no dia 17 de Dezembro de 1979, através da Resolução 34/169 da ONU, o Código não tem força 
de tratado, sendo um instrumento global que objetiva orientar os Estados quando à conduta dos policiais. É um 
código de conduta ética e baseia-se no exercício do policiamento ético e legal. PPaarraa uummaa lleeiittuurraa ddaa RReessoolluuççããoo 
3344//116699 nnaa íínntteeggrraa ee ccoomm ccoommeennttáárriiooss,, aacceessssee oo eennddeerreeççoo ddoo CCoommaannddoo ddee PPoolliicciiaammeennttoo ddaa CCaappiittaall ddaa PPoollíícciiaa 
MMiilliittaarr ddoo RRiioo GGrraannddee ddoo NNoorrttee -- 
http://www.lgdh.org/Codigo%20de%20Conduta%20para%20os%20Funcionarios%20Responsaveis%20pela%2
0Aplicacao%20da%20Lei.htm. 
 
 
 
 
 
 
 
39/70 
 
 
 
 
No artigo 3º do CCEAL29 está estipulado que os encarregados da aplicação da lei só 
podem empregar a força quando estritamente necessária e na medida exigida para o 
cumprimento de seu dever. 
 
As disposições enfatizam que o uso da força pelos encarregados da aplicação da lei deve 
ser excepcional e nunca ultrapassar o nível razoavelmente necessário para se atingir os 
objetivos legítimos de aplicação da lei. O uso da arma de fogo neste sentido deve ser 
visto como uma medida extrema. 
 
O artigo 5º do CCEAL30 estipula a absoluta proibição da tortura ou outro tratamento ou 
pena cruel, desumano ou degradante. Estipula que nenhum encarregado da aplicação da 
 
 
 
 
29 Na legislação nacional, encontramos os correlatos: 
Código Penal 
Artigo 23 – Não há crime quando o agente pratica o fato: 
II – em legítima defesa; 
III - em estrito cumprimento de dever legal. 
Artigo 25 – Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele 
injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem. 
Código de Processo Penal (CPP) 
Art. 284. Não será permitido o emprego de força, salvo a indispensável no caso de resistência ou de tentativa 
de fuga do preso. 
Art. 292. Se houver, ainda que por parte de terceiros, resistência à prisão em flagrante ou à determinada por 
autoridade competente, o executor e as pessoas que o auxiliarem poderão usar dos meios necessários para 
defender-se ou para vencer a resistência, do que tudo se lavrará auto subscritotambém por duas testemunhas. 
Art. 293. Se o executor do mandado verificar, com segurança, que o réu entrou ou se encontra em alguma 
casa, o morador será intimado a entregá-lo, à vista da ordem de prisão. Se não for obedecido imediatamente, o 
executor convocará duas testemunhas e, sendo dia, entrará à força na casa, arrombando as portas, se preciso; 
sendo noite, o executor, depois da intimação ao morador, se não for atendido, fará guardar todas as saídas, 
tornando a casa incomunicável, e, logo que amanheça, arrombará as portas e efetuará a prisão. 
Art. 474 (nova redação dada pela LEI Nº 11.689, DE 9 DE JUNHO DE 2008.) 
§ 3o - Não se permitirá o uso de algemas no acusado durante o período em que permanecer no plenário do 
júri, salvo se absolutamente necessário à ordem dos trabalhos, à segurança das testemunhas ou à garantia da 
integridade física dos presentes. 
Código de Processo Penal Militar (CPPM) 
Art. 234. O emprego de força só é permitido quando indispensável, no caso de desobediência, resistência ou 
tentativa de fuga. Se houver resistência da parte de terceiros, poderão ser usados os meios necessários para 
vencê-la ou para defesa do executor e auxiliares seus, inclusive a prisão do ofensor. De tudo se lavrará auto 
subscrito pelo executor e por duas testemunhas. 
§ 1º - O emprego de algemas deve ser evitado, desde que não haja perigo de fuga ou de agressão da parte do 
preso, e de modo algum será permitido, nos presos a que se refere o art. 242. 
§ 2º - O recurso ao uso de armas só se justifica quando absolutamente necessário para vencer a resistência ou 
proteger a incolumidade do executor da prisão ou a de auxiliar seu. 
Súmula Vinculante 11 do Supremo Tribunal Federal - “Só é lícito o uso de algemas em caso de resistência 
e de fundado receio de fuga ou de perigo à integridade física própria ou alheia, por parte do preso ou de 
terceiros, justificada a excepcionalidade por escrito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do 
agente ou da autoridade e de nulidade da prisão ou do ato processual a que se refere, sem prejuízo da 
responsabilidade civil do Estado". 
 
30 Na legislação nacional, encontramos os correlatos: 
Constituição Federal, no artigo 5º, inciso III – “ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano 
ou degradante;” e no inciso XLIII – “a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a 
 
 
 
 
 
 
 
40/70 
 
 
 
lei pode invocar ordens superiores ou circunstâncias excepcionais como justificativa para 
esses atos. 
 
Finalmente, o artigo 8º do CCEAL estipula que os encarregados da aplicação da lei devem 
respeitar a lei e este Código. Devem, também, na medida das suas possibilidades, evitar 
e opor-se rigorosamente a quaisquer violações da lei e do Código. 
 
O CCEAL exorta os encarregados da aplicação da lei a agir contra as violações do Código: 
“Os encarregados da aplicação da lei que tiverem motivos para acreditar que houve, ou 
que está para haver uma violação deste Código, devem comunicar o fato a seus 
superiores e, se necessário, a outras autoridades adequadas ou órgãos com poderes de 
avaliação e reparação”. 
 
Esses artigos têm por objetivo sensibilizar as organizações de aplicação da lei e seus 
encarregados para a enorme responsabilidade que o Estado lhes outorga. Como um 
instrumento da autoridade do Estado, são investidos de poderes de grande alcance, e a 
natureza de seus deveres coloca-os em situações de corrupção em potencial. O primeiro 
passo para combater efetivamente esses perigos escondidos é o de expô-los 
abertamente. Torná-los assunto de discussão e consideração ativa, torná-los questões na 
responsabilidade interna e externa das organizações de aplicação da lei. As questões 
mencionadas acima carregam alta expectativa com relação aos padrões éticos mantidos 
dentro das organizações. A participação positiva de cada encarregado é essencial neste 
sentido. O comportamento dos encarregados da aplicação da lei tem uma forte relação 
com a imagem e percepção da organização como um todo. Um encarregado corrupto 
pode fazer com que a organização inteira seja designada corrupta, porque o ato 
individual será visto como ato da organização. 
 
 
 
 
 
prática da tortura , o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes 
hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem (...)” 
Decreto nº 40, de 15 de fevereiro de 1991. 
Art. 1° - A Convenção Contra a Tortura e Outros Tratamentos ou penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes, 
apenas por cópia ao presente Decreto, será executada e cumprida tão inteiramente como nela se contém. 
Para ler a Convenção, acesse o endereço http://www.dhnet.org.br/direitos/sip/onu/tortura/lex221.htm. 
LEI 9.455/97 de 7 de abril de 1997 - Define os crimes de tortura e dá outras providências. 
Para ler a lei, acesse http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9455.htm. 
 
 
 
 
 
 
 
 
41/70 
 
 
Outro documento internacional importante 
para nosso estudo são os Princípios Básicos sobre o Uso da Força e Armas de fogo 
(PBUFAF)31. Foram adotados no Oitavo 
 
Congresso das Nações Unidas sobre a Prevenção do Crime e o Tratamento dos 
Infratores, realizado em Havana, Cuba, de 27 de agosto a 7 de setembro de 1990. 
 
Apesar de não ser um tratado, o instrumento tem como objetivo proporcionar normas 
orientadoras aos Estados na tarefa de assegurar e promover o papel adequado dos 
encarregados da aplicação da lei. Os princípios estabelecidos no instrumento devem ser 
levados em consideração e respeitados pelos governos no contexto da legislação e da 
prática nacional e levados ao conhecimento dos encarregados da aplicação da lei, assim 
como de magistrados, promotores, advogados, membros do Executivo e Legislativo e do 
público em geral. 
 
Reportando-se aos pontos principais, os EAL deverão atentar para os princípios da 
Legalidade, Necessidade e Proporcionalidade ao decidirem recorrer à força ou à arma de 
fogo. Deverão ter nos meios não violentos sua primeira alternativa, utilizando-se de 
armas não letais com moderação, reduzindo ao mínimo os danos infringidos e prestando 
imediatamente socorro ao lesionado. Havendo lesão ou morte de uma pessoa, deverá ser 
produzido relatório contendo todas as circunstâncias em que se deu a ação. Nada 
justifica o uso arbitrário ou abusivo da força ou da arma de fogo, não podendo o EAL 
invocar quaisquer condições excepcionais ou ordens superiores para adotar conduta 
incompatível com os princípios citados. Antes de usar a arma de fogo, deverá haver, 
sempre que possível, a comunicação desse uso à pessoa a quem o profissional da 
segurança se dirige. 
 
A seleção dos EAL deve ser feita através de procedimento adequado, atentando para as 
qualidades morais, psicológicas e físicas adequadas. Sua formação deve se pautar pela 
ética, respeito aos direitos humanos, pela ênfase na resolução pacífica de conflitos e na 
utilização de estratégias de persuasão, negociação e mediação. 
 
 
 
 
 
31 Para ler integralmente o documento, acesse o endereço 
http://www.lgdh.org/Codigo%20de%20Conduta%20para%20os%20Funcionarios%20Responsaveis%20pela%2
0Aplicacao%20da%20Lei.htm. 
 
 
 
 
 
 
 
42/70 
 
 
O EAL deverá ter acompanhamento 
psicológico quando utilizar a arma de fogo, havendo a produção de relatório sobre o 
ocorrido com a competente revisão para verificar se os princípiosforam seguidos pelos 
agentes. É preciso que os gerentes entendam sua grande importância na implementação 
das medidas acima. 
 
Outro ponto a ser abordado na nossa aula é o da abordagem e busca pessoal. O 
encarregado de aplicação da lei pode se deparar com uma situação em que as 
circunstâncias o levem a suspeitar da atitude de alguém. Por isso, não há que se falar em 
 
“elemento suspeito”, mas em atitude suspeita. Ao avaliar condições temporais, 
climáticas, de localização e comportamentais, o agente pode decidir que a conduta 
apresentada por uma pessoa está em desacordo com o contexto no qual se encontra. 
Assim, uma pessoa parada em frente a uma instituição financeira por muito tempo, que 
traja um casaco em um dia quente, apresenta uma atitude inusitada. 
 
A legislação nacional contempla a abordagem e a busca pessoal no artigo 244 do Código 
de Processo Penal: “A busca pessoal independerá de mandado, no caso de prisão ou 
quando houver fundada suspeita de que a pessoa esteja de posse de arma proibida ou de 
objetos ou papéis que constituam corpo de delito, ou quando a medida for determinada 
no curso de busca domiciliar”. 
 
O legislador contemplou a condição de gênero no artigo 249 do citado documento: “A 
busca em mulher será feita por outra mulher, se não importar retardamento ou prejuízo 
da diligência”. 
 
É importante ressaltar que há uma interpretação internacional em relação à revista da 
mulher no documento produzido pela ONU chamado Conjunto de Princípios para a 
Proteção de Todas as Pessoas Sujeitas a Qualquer Forma de Detenção ou Prisão32. Ainda 
que o documento não manifeste explicitamente, doutrinadores internacionais concordam 
com a ideia de que a revista em mulheres e em suas roupas seja feita por agentes 
femininas, não havendo exceção para que o homem faça a revista. 
 
 
 
 
 
 
32 Instrumento global. Pode ser lido na íntegra no endereço: 
http://www2.camara.gov.br/comissoes/cdhm/ComBrasDirHumPolExt/ConjPrinProtPesSujQuaForDetPri.html 
 
 
 
 
 
 
 
43/70 
 
 
 
 
Você é consultor da ONU para questões relacionas ao uso da força e da arma de fogo. 
Você trabalha no país fictício chamado Legalândia. Um dia, um cidadão desempregado há 
tempos, e desesperado por conseguir dinheiro, assalta uma loja de eletrônicos e rouba 
uma televisão. Com o televisor debaixo de um braço e com uma grande faca na outra 
mão, sai correndo do estabelecimento ao soar o alarme e ameaça vários transeuntes que 
tentam impedir sua fuga. Ao fugir, percebe que dois policiais se aproximam. Dá meia-
volta, deixa cair a faca ao chão e agarra fortemente a televisão enquanto corre. Um dos 
policiais saca a pistola e dispara contra as costas do fugitivo, matando-o no ato. Ao se 
espalhar a história do incidente, começa a se aglomerar uma multidão nas portas do 
Palácio Presidencial. 
 
Quando você chega ao lugar da manifestação, observa que uns 200 montanheses estão 
protestando iradamente contra o governo e a polícia. A multidão está organizada em 
frente ao Palácio, composta por homens, mulheres e crianças. Uns 15 policiais 
uniformizados e, com fuzis M-16, estão formados de frente para a multidão. 
 
Um jovem manifestante joga uma pedra contra um policial. Três agentes da lei saem da 
formação e perseguem o jovem, imobilizando-o contra uma parede próxima. O jovem 
oferece resistência, xingando e chutando os policiais. Os agentes desferem golpes com a 
coronha dos fuzis, derrubando o jovem no chão. Mesmo caído, o jovem nega-se a 
permanecer quieto. Os policias batem nele com os fuzis, chutam-no e socam-no. O 
jovem recebe 200 golpes na cabeça e no corpo. Depois que o jovem para de se mover, é 
colocado em um carro policial, que permanece estacionado. Os policiais voltam para a 
formação. 
 
A multidão, tendo presenciado o ocorrido, começa a mostrar-se violenta. A polícia 
antidistúrbios chega e cerca os manifestantes. Estes começam a jogar pedras na polícia, 
que aponta fuzis para as pessoas. Alguns manifestantes jogam-se ao chão, agarrados 
aos seus filhos, gritando, em uma situação de pânico geral. Outros se lançam contra a 
polícia. Ao intensificar-se a violência, a polícia abre fogo e vários manifestantes caem ao 
receber os disparos. 
 
Consultando as normas internacionais que regem o uso da força e da arma de fogo, 
determinem que faltas foram cometidas em relação ao seguinte. Referende-se pelo 
CCEAL e pelos PBUFAF: 
 
 
 
 
 
 
 
44/70 
 
 
 
a) O uso de arma de fogo contra o ladrão que roubou a televisão; 
b) O emprego da força contra o jovem manifestante; 
c) O desempenho da polícia antidistúrbios. 
 
 
Gabarito: 
a) Não se atentou para o artigo 3º do CCEAL e para os princípios 4, 5, 9 e 10 dos 
PBUFAF. 
b) Não se atentou para os artigos 3º e 6º do CCEAL e para os princípios 4 e 5 dos 
PBUFAF. 
c) Não se atentou para os artigos 2º e 3º do CCEAL e para os princípios 4, 5, 9, 10, 
12, 13, 14 dos PBUFAF. 
 
 
Acesse o Fórum de Discussão e discuta sobre o papel dos encarregados de aplicação 
da lei na promoção dos Direitos Humanos, através da obediência aos princípios 
apresentados nos documentos internacionais. 
 
 
Leia o instrumento global “Princípios Básicos sobre o uso da força e da arma de fogo”, 
disponível no endereço 
http://www.lgdh.org/Codigo%20de%20Conduta%20para%20os%20Funcionarios%20Responsaveis%20pela%2
0Aplicacao%20da%20Lei.htm. 
 
É importante que você relacione a leitura do texto indicado acima com a leitura do livro 
“Direitos humanos: coisa de polícia”, de Ricardo Balestreri. 
 
 
Nesta aula, você: 
 
 
 
 
 
 
 
 
45/70 
 
 
- Definiu a legislação nacional e internacional que trata 
do uso da força e da arma de fogo; 
- Avaliou a importância de atitudes adequadas que justifiquem a abordagem e a busca 
pessoal, bem como os aspectos legais relativos às ações; 
- Atentou para os princípios que devem ser observados quando da utilização da força e 
da arma de fogo; 
- Deu-se contas das possibilidades de aperfeiçoamento no processo de seleção, 
treinamento, supervisão e revisão dos encarregados de aplicação da lei. 
 
 
 
 
Esperamos que você, futuro gestor, tenha apreendido o conteúdo internacional e 
nacional das orientações normativas e éticas relativas a um assunto tão importante. Na 
próxima aula, trataremos de um tema atualíssimo no cenário mundial: a discriminação 
racial, a homofobia, a violência doméstica e de gênero, a violência contra crianças, 
adolescentes e idosos. 
 
Até breve. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
46/70 
 
 
 
Aula 6: Discriminação etnorracial/ homofobia/ violência doméstica e de 
gênero/ violência contra crianças, adolescentes e idosos 
 
Ao final desta aula, você deverá ser capaz de: 
1. Definir o que e quem são os grupos vulneráveis; 
 
2. Descrever o que é discriminação, preconceito e racismo; 
 
3. Analisar a situação de cada grupo vulnerável no Brasil; 
 
4. Listar as leis nacionais e internacionais que asseguram os direitos dos grupos 
vulneráveis; 
 
5. Definiu o papel a ser desempenhado pelos EAL frente aos grupos vulneráveis. 
 
Estudo dirigido da aula 
 
1. Leia o texto condutor da aula; 
2. Participe do fórum de discussão desta aula; 
3. Realize a atividade proposta; 
4. Leia a síntese da sua aula; 
5. Leia a chamada para a aula seguinte; 
6. Realize os exercícios de autocorreção. 
 
“Grupos vulneráveis” é a denominação utilizada para qualificaros grupos de pessoas que 
estão inseridos numa minoria que tem sua participação, acesso ou mesmo 
oportunidades, em termos igualitários, proibida ou dificultada quanto aos bens e serviços 
disponibilizados, de maneira geral, para a população. 
 
São grupos excluídos, em razão de motivos raciais, religiosos, orientação sexual, gênero, 
saúde, idade, incapacidade física ou mental, dentre outras e que sofrem os efeitos da 
exclusão sob os aspectos materiais, morais e sociais. Desta forma, sofrem os efeitos da 
desigualdade e consequente preconceito, tendo a afronta ao direito de dignidade como 
grande característica. 
 
O futuro gestor de políticas públicas de segurança deve compreender que a dignidade 
humana é a base para a vida harmoniosa em sociedade, é pressuposto para a 
consecução de melhores condições de vida. Pela ótica dos EAL, o preconceito pode ser 
resumido como ausência de técnica profissional. Daí a importância de estudarmos nesta 
aula o tema da discriminação contra os grupos vulneráveis. 
 
 
 
 
 
 
 
47/70 
 
 
 
 
Destaca-se, então, um fator que, indiscutivelmente, se relaciona à discriminação: o 
preconceito33. O preconceito, na essência, se traduz num comportamento discriminatório 
de comparação de uma pessoa a outra ou de um grupo a outro, gerando a preferência 
por determinado grupo racial ou étnico. O racismo é um dos efeitos do preconceito, cuja 
definição leva em consideração o preconceito racial e étnico. Há diferenças entre ambos, 
sendo necessário distinguir “raça” de “etnia”. 
 
Encontram-se definições de raça referindo-se ao grupo que é definido sob o aspecto 
social a partir de critérios físicos (cor de pele, características faciais, compleição física, 
etc...). De maneira parecida é o de grupo étnico, sendo que, muitas vezes, chega a ser 
confundido com o de raça. Grupo étnico é também definido sob o aspecto social, contudo 
a partir de critérios culturais (tradições etc.), linguísticos, religiosos e de semelhanças 
genéticas. 
 
O racismo34, então, pode ser caracterizado pela preferência ou crença da superioridade 
de determinado grupo racial. De outra forma, etnocentrismo é a preferência ou crença da 
superioridade de determinado grupo étnico. 
 
 
 
 
 
 
33 O termo preconceito (prejudice) deriva do latim praejudicium, de prae que possui o significado de anterior, e 
judicium, que possui o significado de julgamento. Sob o aspecto formal pode-se definir preconceito como “o 
julgamento negativo dos membros de uma raça, uma religião ou dos ocupantes de qualquer outro papel social 
significativo, e mantido apesar de fatos que o contradizem . 
34 A lei 7.716/89 define os crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor. Disponível para leitura no 
endereço http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L7716.htm. 
 
 
 
 
 
 
 
48/70 
 
 
 
O racismo conduz à discriminação, no Brasil, dos representantes da raça negra. Nesta 
questão racial, verifica-se que o Brasil é um país multicolorido, haja vista a ocorrência do 
fenômeno da miscigenação. Assim, contribuíram para a formação da nação brasileira no 
início da colonização o português, o indígena e o negro, e num segundo momento, outros 
povos como o alemão, o espanhol, o japonês, o italiano, dentre outros. 
 
Dados denotam a atual exclusão social vivenciada pelos 
negros. O IBGE35 aponta que, em 2007, quase 70% dos 
analfabetos no Brasil são negros, ou seja, a taxa de 
analfabetismo de pretos e pardos é mais que o dobro da 
dos brancos. Quanto ao acesso ao ensino superior na 
faixa etária entre 18 e 24 anos, 56% eram brancos e 
apenas 22% eram negros. Da mesma forma, levando-se em consideração a faixa etária 
de 25 anos de idade ou mais, o número de brancos eram 78%, o de cor negra era 3,3% 
e os pardos somavam 16,5%. 
 
Em termos absolutos, mais de 12% dos brancos haviam concluído o terceiro grau, 
enquanto que os pretos e pardos não chegavam a 4%. No tocante à questão salarial, os 
dados apontam para o fato de os brancos receberem em média 40% mais do que os 
pretos ou pardos com a mesma escolaridade. 
 
Nessa situação de discriminação, pode-se dizer que uma coisa é certa: todos são 
brasileiros, independente de serem negros36, brancos ou mulatos. 
 
Outra forma discriminatória vivenciada no Brasil é quanto ao gênero, isto é, a 
desigualdade entre homens e mulheres, haja vista a discriminação e opressão sofridas 
por estas. 
 
 
 
 
 
35 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Sua página oficial está no endereço 
http://www.ibge.gov.br/home 
36 Com a intenção de resgate dos valores da cultura africana e sua contribuição para a formação histórica, 
social, econômica e política do país, foi promulgada a lei Nº. 10.639, de 9 de janeiro de 2003, prevendo o dia 
20 de novembro para comemoração do Dia Nacional da Consciência Negra. Esta data foi prevista em razão de 
marcar o dia em que Zumbi, líder do Quilombo dos Palmares, foi morto em uma emboscada depois de liderar 
uma resistência que culminou com o início da destruição do Quilombo Palmares. A lei fala da obrigatoriedade do 
ensino da história e cultura afro-brasileira no ensino fundamental e médio, nos estabelecimentos oficiais e 
particulares. A lei está disponível para leitura no endereço: 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/L10.639.htm. 
 
 
 
 
 
 
 
49/70 
 
 
 
Esta desigualdade é verificada na percepção de salários, sendo inferiores pelas mulheres, 
caso comparado com os dos homens. Da mesma forma, no tocante à sua diminuta 
representatividade política, à moralidade sexual diferenciada, bem como quanto à 
atribuição de afazeres domésticos. Encontram-se fatores para essa desigualdade, muitas 
vezes, relacionados ao conservadorismo demonstrado por determinados setores, haja 
vista as diferenças biológicas existentes entre os sexos. 
 
Pode-se dizer que há crença no sentido de que as diferenças sociais ocorrem de forma 
inevitável, ante essa diferenciação biológica. Contudo, não se deve esquecer que essa 
situação, por si só, não é pressuposto para acarretar as diferenciações sob os aspectos 
sociais. Na verdade, essa situação de desigualdade é fruto de uma cultura histórica e 
política, que sempre colocou as mulheres no papel de submissão. 
 
Assim, se podem considerar as diferenças biológicas, naturais que caracterizam os 
indivíduos componentes de cada sexo, mas não quer dizer que este fator possa ser 
considerado para criar efeitos socialmente desiguais. As desigualdades sociais, muitas 
vezes, resultam de situações de violência 37 e das diversas formas de exclusão social. 
 
O Brasil aderiu ao Estatuto de Roma38, do Tribunal Penal Internacional, que é 
considerado um dos principais diplomas jurídicos fomentadores da justiça de gênero, pois 
estabelece sua definição e normatiza o que deve ser feito para evitar efeitos 
discriminatórios, 
criminalizando, em nível 
internacional, a violência 
sexual e de gênero, além de 
prever os procedimentos 
adequados para o 
tratamento policial e judicial 
desses crimes. Também 
promulgou a Convenção 
 
 
 
 
 
37 Atualmente, vigora a Lei nº 11.340/06, conhecida como Lei Maria da Penha, que estabelece mecanismos 
para coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra a mulher. Veja a lei na íntegra no endereço 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm. 
38 Promulgado pelo Decreto 4.388/02, encontra-se disponível para leitura no endereço 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2002/D4388.htm.50/70 
 
 
 
sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher, através do 
Decreto nº 4.377/0239. Diversos outros documentos internacionais referem-se a esta 
questão. A Constituição, no primeiro inciso do artigo 5º 40, considera homens e mulheres 
iguais em direitos e obrigações. 
 
Continuando nosso estudo, falemos da homofobia. Caracterizada pela violência, tanto 
física quanto moral, traduz-se numa limitação aos direitos humanos do grupo formado 
por gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais, conhecido como população GLBT, 
ou mesmo na negação de reconhecimento à diversidade sexual. Destaca-se que, muito 
embora no Brasil se tenha reunido o maior número de pessoas em paradas de orgulho 
GLBT no mundo (cerca de três milhões de pessoas, no município de São Paulo, em 
2007), a discriminação é forte. 
 
Os principais direitos afrontados se relacionam à liberdade de expressão, de locomoção, 
de associação, à saúde, à segurança, à educação, a questões trabalhistas e de lazer. 
Diferentemente do que ocorre com o preconceito racial, não há legislação específica 
voltada à promoção da cidadania da comunidade GLBT. 
 
Contudo, há um segmento que luta pela aprovação de legislação41, que assegure direitos 
dessa comunidade. É o caso, por exemplo, de projetos de lei prevendo a criminalização 
da homofobia, no intuito de coibir manifestações discriminatórias, ofensivas, ou de 
desprezo, que levam à violência tendo por alvo a população GLBT. Há projetos de lei, 
dentre outros, no sentido de concessão do direito de alteração do primeiro nome de 
pessoas transexuais, que ainda não se submeteram ou não queiram se submeter à 
cirurgia de readequação genital; de proibição de discriminação em planos de saúde e de 
seguros; de permissão de adoção de crianças por casais homoafetivos. 
 
 
 
 
 
39 Disponível para leitura no endereço: 
http://www2.camara.gov.br/internet/legislacao/legin.html/textos/visualizarTexto.html?ideNorma=476386&seq
Texto=1&PalavrasDestaque=. 
40 I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição. 
41 Vários municípios criaram leis multando estabelecimentos que discriminam clientes devido à sua orientação 
sexual. Um exemplo é a Lei 2.475/96 do município do Rio de Janeiro. Acessível para leitura no endereço: 
http://www.ipea.gov.br/portal/. 
 
 
 
 
 
 
 
51/70 
 
 
Enquanto os projetos não são aprovados, destaca-se 
que há decisões judiciais, em determinados casos, 
suprindo a falta de lei específica, principalmente no 
tocante aos direitos de herança e à divisão de bens 
no caso de casais formados por homossexuais, 
seguro previdenciário e à dependência de seguro de 
saúde. Contudo, só a conversão dos projetos em lei não é suficiente. Necessita-se, 
também, difundir uma cultura de respeito aos direitos da comunidade GLBT, caso se 
queira minimizar os efeitos discriminatórios. Com o objetivo de promoção da cidadania e 
da defesa dos direitos humanos da comunidade GLBT, existe, desde o ano de 2004, o 
Programa Brasil Sem Homofobia42, atuando mediante a coibição de atitudes 
discriminatórias. 
 
O Programa se destaca por estabelecer ações voltadas 
a apoiar projetos de fortalecimento de instituições públicas e não governamentais que 
atuem na promoção da cidadania GLBT e/ou no combate à homofobia; a capacitar 
profissionais e representantes do movimento GLBT atuantes na defesa de direitos 
humanos, bem como disseminar informações sobre direitos, de promoção da autoestima 
GLBT e de incentivo às denúncias de violações dos direitos humanos da população GLBT. 
 
Na questão etária, verificam-se discriminações tendo por alvo crianças, adolescentes e 
idosos. 
 
O IPEA43 (2007, p. 234-235) apresenta dados no sentido de que aproximadamente 33% 
da população composta por crianças e adolescentes está em situação de grande 
vulnerabilidade, sendo que cerca de 46% desta reside em domicílios cuja “renda per 
capita é de até ½ salário mínimo. Esta condição de penúria os expõe a uma série de 
riscos, como carência alimentar e moradia em condições precárias, que têm impacto 
direto sobre suas chances de sobrevivência e de desenvolvimento”. 
 
 
 
 
 
 
 
42 Para saber mais sobre o programa, acesse o endereço: 
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/brasil_sem_homofobia.pdf. 
43 Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. A página oficial está no endereço http://www.ipea.gov.br/portal/. 
 
 
 
 
 
 
 
52/70 
 
 
 
As crianças e adolescentes, nesta condição de exclusão social, estão expostos a situações 
que configuram graves violações aos direitos humanos, como no caso também da 
violência sexual e trabalho infantil. 
 
A proteção às crianças e adolescentes se faz, mediante o prisma jurídico, em nível 
nacional e internacional. No plano internacional, a Convenção sobre Direitos da Criança44, 
da ONU, ratificada pelo Brasil no ano de 1990, tem por objetivo incentivar os países 
signatários à implementação do desenvolvimento pleno e harmônico da personalidade 
das crianças, favorecendo o seu crescimento junto à entidade familiar, em clima de 
amor, felicidade e compreensão, de tal forma que lhes possibilite o preparo para viver 
em sociedade e serem educadas em espírito de paz, dignidade, tolerância, liberdade, 
igualdade e solidariedade. 
 
No plano nacional, a atual Constituição Federal estabelece normas que fundamentam a 
proteção aos direitos de dignidade das crianças e adolescentes – cujo dever é do Estado, 
da família e da sociedade –, consubstanciados no artigo 227, §3º 45, principalmente 
quanto aos direitos civis, culturais, econômicos, políticos e sociais. 
 
 
 
 
44 Promulgada no Brasil através do Decreto nº 99.710, de 21 de novembro de 1990. Acessível através do 
endereço http://www2.mre.gov.br/dai/crianca.htm. 
45 Na íntegra: Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com 
absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à 
cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo 
de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. 
§ 1º - O Estado promoverá programas de assistência integral à saúde da criança e do adolescente, 
admitida a participação de entidades não governamentais e obedecendo os seguintes preceitos: 
I - aplicação de percentual dos recursos públicos destinados à saúde na assistência materno-infantil; 
II - criação de programas de prevenção e atendimento especializado para os portadores de deficiência 
física, sensorial ou mental, bem como de integração social do adolescente portador de deficiência, mediante o 
treinamento para o trabalho e a convivência, e a facilitação do acesso aos bens e serviços coletivos, com a 
eliminação de preconceitos e obstáculos arquitetônicos. 
§ 2º - A lei disporá sobre normas de construção dos logradouros e dos edifícios de uso público e de 
fabricação de veículos de transporte coletivo, a fim de garantir acesso adequado às pessoas portadoras de 
deficiência. 
§ 3º - O direito a proteção especial abrangerá os seguintes aspectos: 
I - idade mínima de quatorze anos para admissão ao trabalho, observado o disposto no art. 7º, XXXIII; 
II - garantia de direitos previdenciários e trabalhistas; 
III - garantia de acesso do trabalhador adolescente à escola; 
IV - garantia de pleno e formal conhecimento da atribuição deato infracional, igualdade na relação 
processual e defesa técnica por profissional habilitado, segundo dispuser a legislação tutelar específica; 
V - obediência aos princípios de brevidade, excepcionalidade e respeito à condição peculiar de pessoa em 
desenvolvimento, quando da aplicação de qualquer medida privativa da liberdade; 
VI - estímulo do Poder Público, através de assistência jurídica, incentivos fiscais e subsídios, nos termos da 
lei, ao acolhimento, sob a forma de guarda, de criança ou adolescente órfão ou abandonado; 
VII - programas de prevenção e atendimento especializado à criança e ao adolescente dependente de 
entorpecentes e drogas afins. 
§ 4º - A lei punirá severamente o abuso, a violência e a exploração sexual da criança e do adolescente. 
 
 
 
 
 
 
 
53/70 
 
 
 
Com base na Constituição Federal de 1988 e na Convenção sobre os Direitos da Criança, 
foi promulgado, no ano de 1990, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)46, lei nº. 
8.069, estabelecendo uma série de direitos, destacando-se o acesso à educação, à 
cultura, ao esporte, ao lazer, à profissionalização e à proteção no trabalho. 
 
Outra discriminação quanto à questão etária é a suportada pelos idosos, caracterizada 
pela segregação, tratamento como doentes ou mesmo de menosprezo ao seu potencial 
humano. 
 
Há uma ideia de que a velhice se relaciona intimamente com a improdutividade. Nesse 
aspecto, se fortifica o preconceito e, consequentemente, o desrespeito a essas pessoas, 
que também são detentoras de dignidade. 
 
Verifica-se que, recentemente, está havendo uma maior 
preocupação com os idosos. Neste aspecto, destaca-se que 
somente no ano de 2006 foi realizada a I Conferência 
Nacional dos Direitos do Idoso, com a preocupação voltada 
à sua proteção e defesa, mesmo porque há o crescimento 
da expectativa de vida. Com base nos dados apresentados 
pelo IBGE (2007, p. 6), verifica-se que a população com idade superior a 60 anos 
apresenta sinais de crescimento. Nos anos de 1992, 1997, 2002 e 2007, o percentual era 
de 7.9, 8.6, 9.3 e 10.6, respectivamente. 
 
Sob o aspecto jurídico, destaca-se o Estatuto do Idoso47, Lei nº. 10.741/2003, que prevê, 
além de uma série de direitos, cuja responsabilidade é do Estado, da família e da 
sociedade, a criminalização de determinadas condutas contra o idoso, como a 
 
 
 
 
§ 5º - A adoção será assistida pelo Poder Público, na forma da lei, que estabelecerá casos e condições de 
sua efetivação por parte de estrangeiros. 
§ 6º - Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e 
qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação. 
 
46 Disponível para consulta no endereço http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8069.htm. 
47 Disponível para leitura em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2003/L10.741.htm. 
Alguns direitos destacados: Proibição de discriminação nos planos de saúde pela cobrança de valores 
diferenciados em razão da idade; atendimento prioritário junto a órgãos públicos e privados prestadores de 
serviço à população; gratuidade dos transportes coletivos públicos urbanos e semiurbanos; fornecimento 
gratuito pelo Poder Público de medicamentos, especialmente os de uso continuado, assim como próteses, 
órteses e outros recursos relativos ao tratamento, habilitação ou reabilitação etc. 
 
 
 
 
 
 
 
 
54/70 
 
 
 
discriminação, o abandono, a exposição a perigo da integridade física ou da saúde, os 
maus tratos e a coação, dentre outras. 
 
Esperamos ter contribuído para a formação do futuro gestor, destacando a importância 
do outro, imagem e semelhança de si mesmo. Não se pode negar que os seres humanos 
diferenciem-se física e socialmente, mas todos pertencem à mesma espécie: a humana. 
 
 
Diz a lenda que um encarregado de aplicar a lei foi chamado por um dono de restaurante 
para intervir na seguinte situação: dois homens estavam se beijando em uma das mesas 
do estabelecimento. 
 
O agente aproxima-se e manda os senhores pararem de se beijar, ou eles seriam presos. 
 
Um dos senhores dirige-se ao agente: 
- Caríssimo encarregado de aplicar a lei, quero que saiba o imenso respeito que sinto por 
vossa Corporação. Todavia, como ninguém é obrigado a fazer ou deixar de fazer 
qualquer coisa, senão em virtude da lei, que argumento legal o senhor está usando para 
mandar que eu pare de beijar meu companheiro no dia do nosso aniversário de namoro? 
Além disso, sou o Doutor Richard, Juiz de Direito da 5ª Vara Criminal. 
 
O agente olhou para os dois homens. Abraçou-os e, voz embargada, declarou: 
- Os senhores me desculpem. Eu acho o amor algo tão lindo! 
 
1) Quando há desconhecimento da lei ou da técnica, um encarregado de aplicação da 
lei pode se valer de seus preconceitos? 
2) O preconceito faz parte da natureza humana? Em caso positivo, como atuaria um 
agente da lei? 
 
Gabarito: 
1) Sem dúvida. Na ausência de conhecimento legal ou técnico, o agente irá valer-se 
de preconceitos. 
2) O preconceito faz parte da natureza humana. O EAL tem seus preconceitos, 
entretanto, enquanto profissional, importa o que fará com esses preconceitos 
quando for atuar, pautando sua conduta dentro da legalidade e da técnica. 
 
 
 
 
 
 
 
 
55/70 
 
 
 
 
 
Assista ao filme Anjos do Sol, produção brasileira de 2006. Inspirado em relatos oficiais 
divulgados por organizações humanistas e reportagens jornalísticas, o filme procura 
trazer reflexões sobre a prostituição infantil e critica a omissão dos órgãos públicos em 
solucionar um problema tão antigo. 
 
 
 
Nesta aula, você: 
- Deu-se conta da existência de grupos vulneráveis no Brasil, entendendo tal conceito e 
os identificando; 
- Tratou de conceitos como discriminação, preconceito e racismo; 
- Atentou para as leis nacionais e internacionais que asseguram os direitos desses grupos 
vulneráveis; 
- Deu-se conta das possibilidades de aperfeiçoamento no processo de seleção, 
treinamento, supervisão e revisão dos Encarregados de Aplicação da Lei. 
 
 
 
Na próxima aula, discutiremos os procedimentos adotados, nacional e 
internacionalmente, em casos de violação dos Direitos Humanos. Até lá. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
56/70 
 
 
 
Aula 7: Procedimentos internacionais e nacionais em caso de violações de 
Direitos Humanos 
 
Ao final desta aula, você deverá ser capaz de: 
 
1) Definir o que são violações de direitos humanos; 
 
2) Descrever os procedimentos internacionais para denúncia entre Estados e 
individuais sobre violações de direitos humanos; 
 
3) Analisar as alterações legislativas e executivas nacionais para violações de direitos 
humanos; 
 
4) Explicar o papel do Estado para evitar violações dos direitos humanos praticadas 
por EAL. 
 
Estudo dirigido da aula 
 
1. Leia o texto condutor da aula; 
2. Participe do fórum de discussão desta aula; 
3. Realize a atividade proposta; 
4. Leia a síntese da sua aula; 
5. Leia a chamada para a aula seguinte; 
6. Realize os exercícios de autocorreção. 
 
 
Nesta que é a nossa penúltima aula, é apropriado tratarmos do problema da violação dos 
Direitos Humanos. Esta aula tem conexões evidentes com as aulas anteriores. 
 
Violações de Direitos Humanos merecem consideração mais extensa que meramente do 
ponto de vista da aplicaçãoda lei. São grandes ameaças para a paz, segurança e 
estabilidade em um país, visto que colocam por terra a credibilidade e a autoridade 
governamentais. 
 
Ao futuro gestor, fica o convite para estudar com vontade o assunto, pois a aplicação da 
lei, como um componente visível da prática do Estado, desempenha um papel crucial na 
promoção e proteção dos direitos. Ao mesmo tempo, os seus encarregados são também 
potenciais violadores dos direitos e liberdades individuais. 
 
Podemos definir “violações de Direitos Humanos” como uma 
violação de leis criminais que vigoram dentro dos Estados 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
57/70 
 
 
 
membros, incluindo aquelas leis que proscrevem criminalmente o abuso de poder48. O 
principal aspecto de tais violações são o dano e sofrimento individual ou coletivo causado 
às pessoas, incluindo dano físico ou mental, sofrimento emocional, prejuízo econômico ou 
dano substancial de seus direitos fundamentais, provocados por atos ou omissões que 
possam ser imputadas ao Estado. 
 
Há várias formas de chamar os Estados a prestar contas, no plano internacional, de suas 
decisões e práticas (ou da falta destas) em relação aos direitos humanos. O 
procedimento exato pelo qual os Estados podem ser considerados responsáveis por 
violações de direitos humanos pode ser encontrado em todas as fontes do direito, 
incluindo decisões de cortes internacionais ou regionais, resoluções da Assembleia Geral 
das Nações Unidas e, naturalmente, nos próprios instrumentos especializados de direitos 
humanos. Existem dois tipos de procedimentos em relação à investigação de violações de 
direitos humanos. São esses os procedimentos de denúncias entre Estados e o de 
comunicações individuais concernentes a violações de direitos humanos. 
 
Há somente três instrumentos especializados de direitos humanos que têm uma 
disposição concernente às denúncias interestatais. São estes: o Pacto Internacional de 
Direitos Civis e Políticos (PIDCP)49, a Convenção contra a Tortura (CCT)50 e a Convenção 
Internacional para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial 51(CIEDR). 
 
De acordo com o PIDCP e a CCT, para submeter tais denúncias, os Estados devem 
declarar seu reconhecimento da competência, respectivamente, do Comitê de Direitos 
Humanos e do Comitê contra a Tortura para receber e considerar comunicações, de 
modo que um Estado pode denunciar outro Estado de não estar cumprindo suas 
obrigações quanto ao Pacto ou a Convenção. O reconhecimento da competência do 
Comitê sobre a Eliminação da Discriminação Racial para lidar com as denúncias entre 
Estados é obrigatório para todos os Estados. Cada um desses instrumentos delimita os 
 
 
 
 
48 No Brasil, temos a lei nº 4.898, de 9 de dezembro de 1965. Disponível para leitura no endereço 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/l4898.htm 
49 Promulgado através do Decreto nº 592, de 6 de julho de 1992 (disponível no endereço 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/D0592.htm). O Brasil reconhece a competência do 
Comitê de Direitos Humanos. 
50 O Brasil promulgou a Convenção reconhecendo a competência do Comitê contra a Tortura, através do 
Decreto nº 40, de 15 de fevereiro de 1991. Disponível para leitura no endereço 
http://portal.mj.gov.br/sedh/ct/legis_intern/conv_contra_tortura.htm. 
51 Promulgada no Brasil através do Decreto nº 65.810, de 8 de dezembro de 1969. Disponível para leitura no 
endereço http://www.mj.gov.br/sedh/ct/legis_intern/conv_int_eliminacao_disc_racial.htm 
 
 
 
 
 
 
 
58/70 
 
 
 
procedimentos para a recepção e consideração de denúncias específicas e para sua 
resolução. O papel genérico de cada um dos supracitados Comitês, no caso de denúncias 
entre Estados, é o de mediação e conciliação, com o propósito de realizar um acordo 
amigável com base no respeito pelas obrigações dispostas no instrumento concernente. 
 
Os procedimentos de denúncias individuais existem somente sob os regimes do PIDCP, 
da CIEDR e a CCT. O procedimento (por meio do qual indivíduos podem denunciar 
violações de obrigações celebradas em tratados cometidas por um Estado) é opcional 
para os Estados. Em situações em que um Estado não aceitou a competência de um 
Comitê para receber e considerar comunicações individuais, tais comunicações são 
inadmissíveis. As comunicações individuais submetidas de acordo com esses 
instrumentos são endereçadas ao Comitê concernente. De acordo com o PIDCP, somente 
comunicações de indivíduos que alegam ser a vítima da violação de disposições do Pacto 
serão consideradas pelo Comitê de Direitos Humanos. Para a CCT, a provisão é 
semelhante, embora a comunicação, endereçada ao Comitê contra a Tortura, possa 
também ser enviada em nome do indivíduo que alega ser vítima de uma violação da 
Convenção. O CIEDR somente admite que comunicações de indivíduos ou grupos de 
indivíduos que alegam ser vítimas de violações da CIEDR sejam recebidas para 
consideração pelo Comitê sobre a Eliminação da Discriminação Racial. 
 
Para a admissibilidade de petições individuais, os três instrumentos estipulam critérios 
específicos: a competência do Comitê precisa ser reconhecida52; esgotamento dos 
recursos internos53; não serão aceitas comunicações anônimas ou com linguagem 
abusiva54; a denúncia deve ser compatível com as disposições do Pacto ou da 
Convenção55; não haver exame em curso da matéria sob outro procedimento 
internacional56; não haver exame passado ou presente da matéria sob outro 
procedimento internacional57 e substância das alegações58. 
 
 
 
 
 
 
52 PIDCP/PO, art. 1; CCT, 22.1; CIEDR, 14.1 
53 PIDCP/PO, arts. 2 e 5.2(a); CCT, 22.5(b); CIEDR, 14.7 
54 PIDCP/PO, art. 3; CCT, 22.2; CIEDR, 14.6 
55 PIDCP/PO, art. 3; CCT, 22.2 
56 PIDCP/PO, art. 5.2 a 
57 CCT, 22.5 a 
58 Deve haver, em um primeiro estudo do caso, a possibilidade de verificar se há base nos argumentos 
apresentados. PIDCP/PO I, art. 2; CCT, 22.1. 
 
 
 
 
 
 
 
59/70 
 
 
 
Quando uma denúncia é considerada admissível, o Comitê 
prosseguirá, levando-a à atenção do Estado concernente. 
Dentro de seis meses59, o Estado que a recebeu deverá 
submeter ao Comitê esclarecimentos por escrito ou 
declarações elucidando a matéria e o recurso, se houver, 
que possa ter sido adotado por aquele Estado. As 
considerações subsequentes do Comitê serão baseadas em informação julgada confiável 
para este pelo peticionário60 e pelo Estado concernente61. Em seguida a essas 
considerações, que são feitas em reuniões confidenciais, o Comitê transmitirá sua visão 
ao Estado concernente e ao indivíduo62. Todos os Comitês devem apresentar um relatório 
anual de suas atividades, de acordo com o Protocolo (PIDCP) ou com a Convenção (CCT 
e CIEDR), à Comissão de Direitos Humanos. 
 
Importante ressaltar que o Conselho de Direitos Humanos e outros organismos da ONU 
que trabalham nesta área podem investigar violações de direitos humanos, sempre e 
quando elas sejam devidamente comprovadas. As denúncias podem ser encaminhadas 
pelo site do Alto Comissariado das Nações Unidas para Direitos Humanos63. 
 
Recomendamos que o aluno acesse os sites acima para que possa ler os relatórios 
produzidos por esse importante órgão das ONU a respeito do nosso país. 
 
O Pacto de San José da Costa Rica 64– que reafirma o propósito dos Estados Americanos 
em consolidar no Continente um regime de liberdade pessoal e de justiça social – prevê 
órgãos competentes para conhecer os assuntos relacionados com o cumprimento dos 
compromissos assumidospelos Estados: a Comissão Interamericana de Direitos 
Humanos e a Corte Interamericana de Direitos Humanos.65 
 
 
 
 
 
59 PIDCP/PO, artigo 4; CIEDR, artigo 14.6(b), mas restrito a três meses; CCT, artigo 22.3 
60 Ou em seu nome, CCT, artigo 22.1 
61 PIDCP/PO, artigo 5.1; CCT, artigo 22.4; CIEDR, artigo 14.7(a) 
62 PIDCP/PO, artigo 5.3 e 5.4; CCT, artigo 22.6 e 22.7; CIEDR, artigo 14.7(a) e (b), não há indicação de que 
reuniões deste Comitê a esse respeito são confidenciais. 
63 Disponível no endereço http://www2.ohchr.org/english/bodies/chr/special/questionnaires.htm. 
64 Conhecido como Convenção Americana sobre Direitos Humanos, foi promulgado no Brasil através do Decreto 
nº 678, de 6 de novembro de 1992. Disponível para leitura no endereço 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D0678.htm. 
65 Para acompanhar os casos investigados, acesse: http://www.oas.org/OASpage/humanrights_esp.htm. 
 
 
 
 
 
 
 
60/70 
 
 
 
Cada um deles está composto por sete membros, nomeados e eleitos pelos Estados na 
Assembleia Geral da Organização dos Estados Americanos 66(OEA). Os membros atuam 
individualmente, isto é, sem nenhuma vinculação com os seus governos, e também não 
representam o país de sua nacionalidade. 
 
A Comissão e a Corte atuam de acordo com as faculdades que lhes foram outorgadas por 
distintos instrumentos legais, no decorrer da evolução do sistema interamericano. Apesar 
das especificidades de cada órgão, em linhas gerais os dois supervisionam o 
cumprimento, por parte dos Estados, dos tratados interamericanos de direitos humanos e 
têm competência para receber denúncias individuais de violação desses tratados. 
 
Isto quer dizer que os órgãos do sistema têm competência para atuar quando um Estado 
for acusado da violação de alguma cláusula contida em um tratado ou convenção. É claro 
que deverão ser cumpridos previamente alguns requisitos formais e substantivos que 
tanto a Corte quanto a Comissão estabelecem para que tal intervenção seja viável. 
 
A Comissão é o primeiro órgão a tomar conhecimento de uma denúncia individual, e só 
em uma segunda etapa a própria Comissão poderá levar a denúncia perante a Corte. 
Órgão judiciário que é, a Corte não relata, propõe ou recomenda, mas profere sentenças, 
que o Pacto aponta como definitivas e inapeláveis, determinando seja o direito violado 
prontamente restaurado, e ordenando, se for o caso, o pagamento de indenização justa à 
parte lesada. 
 
No Brasil, observa-se importante alteração na legislação nacional, com a promulgação da 
Emenda Constitucional nº 45 de 2004. A referida emenda alterou o artigo 109 (define a 
competência dos juízes federais para processar e julgar) da magna carta, acrescentando 
o inciso V-A e o parágrafo 5º: 
 
“V-A as causas relativas a direitos humanos a que se refere o § 5º deste artigo; 
 § 5º Nas hipóteses de grave violação de direitos humanos, o Procurador-Geral da 
República, com a finalidade de assegurar o cumprimento de obrigações decorrentes de 
tratados internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil seja parte, poderá 
 
 
 
 
 
66 Acesse o site oficial: http://www.oas.org/main/portuguese/. 
 
 
 
 
 
 
 
61/70 
 
 
 
suscitar, perante o Superior Tribunal de Justiça, em qualquer fase do inquérito ou 
processo, incidente de deslocamento de competência para a Justiça Federal.” 
 
Analisando o texto constitucional acima, podemos concluir que é necessário que se trate 
de grave violação de direitos humanos. Esta gravidade não se baseia somente no fato, 
nas qualidades da vítima ou do agente, mas sim, em razão de sua repercussão 
internacional, no fato de violar deveres afirmados na comunidade global. Deve-se 
verificar também que está havendo negligência por parte da polícia ou justiça estadual 
para apurar o caso. 
 
Não se pode deixar de mencionar a Secretaria Especial dos Direitos Humanos67, que trata 
da articulação e implementação de políticas públicas voltadas para a promoção e 
proteção dos direitos humanos. A Secretaria também dispõe de uma Ouvidoria68 para 
recebimento de reclamações e denúncias. 
 
Vários Estados brasileiros criaram Secretarias Estaduais com objetivos semelhantes. 
 
É importante destacar que violações de direitos humanos cometidas por encarregados de 
aplicação da lei são danosas à integridade de toda a organização de aplicação da lei. Sua 
existência não pode ser renegada. Não podendo ser prevenida, deverá ser prontamente 
investigada, completa e imparcialmente. Isto requer supervisão interna e revisão de 
procedimentos. Medidas disciplinares adequadas e/ou processo legal devem ser iniciados. 
Atenção deve ser dispensada às necessidades especiais das vítimas de violações de 
direitos humanos. 
 
 
 
 
No dia 27 de novembro de 1998, um grupo de aproximadamente 20 pistoleiros realizou 
uma operação extrajudicial de despejo das famílias de trabalhadores sem terra que 
ocupavam uma fazenda no Município de Querência do Norte, Estado do Paraná. O senhor 
 
 
 
 
67 Um breve histórico está acessível no endereço: 
http://www.direitoshumanos.gov.br/clientes/sedh/sedh/sobre/historico. 
Para ler sobre todas as suas competências, acesse: 
http://ww2.famurs.com.br/cproj/attachments/052_047_Secretaria%20Especial%20dos%20Direitos%20Humanos
.pdf. 
68 Disponível para leitura no endereço http://www.sedh.gov.br/clientes/sedh/sedh/ogc. 
 
 
 
 
 
 
 
62/70 
 
 
 
 
Sétimo Garibaldi foi morto. Os fatos foram denunciados à polícia, sendo instaurada uma 
investigação policial que foi arquivada sem terem sido removidos os obstáculos e 
mecanismos que mantêm a impunidade no caso, nem concedidas as garantias judiciais 
suficientes para diligenciar o processo e sem se conceder uma reparação adequada aos 
familiares do sr. Sétimo Garibaldi - a srª Iracema Garibaldi e os filhos do sr. Sétimo 
Garibaldi. 
 
Acessando o endereço http://www.cidh.oas.org/demandas/demandasPORT2007.htm, 
você terá acesso ao caso 12.478 da Corte Interamericana de Direitos Humanos, analise o 
caso e responda: 
 
O que a Comissão Interamericana solicitou à Corte que ordenasse ao Estado Brasileiro? 
 
GABARITO: 
 
a) Realizar uma investigação completa, imparcial e eficaz da situação, com o objetivo de 
estabelecer a responsabilidade no tocante aos fatos relacionados com o assassínio de 
Sétimo Garibaldi, punir os responsáveis e determinar os impedimentos que vedaram 
proceder tanto a uma investigação como a um julgamento efetivos; 
 
b) Adotar e implementar as medidas necessárias para uma implementação efetiva da 
disposição constante do artigo 10 do Código Processual Penal Brasileiro referente a toda 
investigação policial, bem como o julgamento dos fatos puníveis que tenham ocorrido 
com relação a despejos forçados em assentamentos de trabalhadores sem terra com 
consequências de morte, de maneira a ajustarem-se aos parâmetros impostos pelo 
Sistema Interamericano; 
 
c) Adotar e implementar as medidas necessárias para que sejam observados os direitos 
humanos nas políticas governamentais que tratam sobre o assunto da ocupação de 
terras, levando em consideração a obrigação que o artigo 28, em relação com o artigo 
1.1 da Convenção Americana, lhe impõe, de acordo com o que determina a Cláusula 
Federal; 
 
d) Adotar e implementar medidas adequadas dirigidas aos funcionários da justiça e da 
polícia, a fim de evitar a proliferação de grupos armados que façam despejos arbitráriose violentos; 
 
e) Reparar plenamente os familiares de Sétimo Garibaldi, incluindo tanto o aspecto moral 
como o material, pelas violações de direitos humanos determinadas no presente caso; 
 
f) Pagar as custas e gastos processuais incorridos na tramitação do caso tanto no nível 
nacional como os oriundos da tramitação deste caso no âmbito do Sistema 
Interamericano. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
63/70 
 
 
 
Ao aluno, indica-se o filme Hotel Ruanda, produção conjunta entre Estados Unidos, Itália 
e África do Sul de 2004. O filme conta a história real do massacre de 800.000 pessoas 
em Ruanda, em 1994. Mostra o esforço heroico de um gerente de hotel que conseguiu 
salvar 1.268 pessoas, abrigando-as e subornando autoridades. Neste filme, você poderá 
observar o ator Nick Nolte desempenhando o papel de Comandante das Forças de Paz da 
ONU. 
 
 
 
Nesta aula, você: 
- Atentou para as violações de direitos humanos; 
- Deu-se conta da legislação nacional e internacional que trata das violações dos direitos 
humanos; 
- Avaliou a importância do papel do Estado no que diz respeito às violações praticadas 
por EAL. 
 
 
 
Esperamos que você tenha uma nova visão sobre o assunto abordado nesta aula. No 
nosso próximo encontro, teremos a oportunidade de falar sobre ética e o Código de 
Conduta para os encarregados de aplicação da lei. É, sem sombra de dúvida, um assunto 
muito importante para o futuro gestor. Até lá. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
64/70 
 
 
 
Aula 8: Ética – definição e tipos/ o Código de Conduta para os 
encarregados de aplicação da lei 
 
Ao final desta aula, você deverá ser capaz de: 
 
1. Definir o que é ética; 
 
2. Listar os níveis éticos; 
 
3. Analisar o Código de Conduta para os encarregados de aplicação da lei; 
 
4. Descrever a legislação nacional que trata da ética no serviço público. 
 
Estudo dirigido da aula 
 
1. Leia o texto condutor da aula; 
2. Participe do fórum de discussão desta aula; 
3. Realize a atividade proposta; 
4. Leia a síntese da sua aula; 
5. Realize o trabalho final; 
6. Realize os exercícios de autocorreção. 
 
 
Na nossa última aula, trataremos da ética. 
Os encarregados de aplicação da lei 
precisam compreender os efeitos que 
exercem sobre a sociedade. Quando estes 
recorrem a práticas que são contra a lei, 
não podem mais ser diferenciados dos 
criminosos. 
 
Os encarregados devem desenvolver atitudes e comportamento pessoais que os façam 
desempenhar suas tarefas da maneira correta. Devem trabalhar coletivamente para 
preservar a imagem da instituição. 
 
Do futuro gestor, exige-se a compreensão de que cada cidadão coloca seu bem-estar nas 
mãos dos encarregados e, portanto, necessita de garantias e proteção para fazê-lo. Daí a 
necessidade de um código de ética profissional para os EAL, que inclua um mecanismo 
ou órgão supervisor. Convidamos nosso aluno para discutirmos e aprendermos sobre tão 
importante assunto. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
65/70 
 
 
 
O termo “Ética” geralmente refere-se à disciplina que lida com o que é “bom” e “mau”, 
com o dever moral e obrigação. Pode-se definir como um conjunto de princípios morais, 
valores ou princípios de conduta que governam um indivíduo ou grupo (profissional). 
 
Podemos falar sobre ética em três níveis diferentes, com consequências distintas. O 
primeiro nível seria o da ética pessoal. Refere-se à moral, valores e crenças do indivíduo. 
É inicialmente a ética pessoal do indivíduo encarregado da aplicação da lei que vai 
decidir o curso e tipo de ação a ser adotado em uma dada situação. Ética pessoal pode 
ser positiva ou negativamente influenciada por experiências, educação e treinamento. A 
pressão do grupo é outro importante instrumento de modelagem para a ética pessoal do 
indivíduo encarregado da aplicação da lei. É importante entender que não basta que esse 
indivíduo saiba que sua ação deve ser legal e não arbitrária. A ética pessoal (as crenças 
pessoais no certo e errado) do indivíduo encarregado da aplicação da lei deve estar de 
acordo com os quesitos legais para que a ação a ser realizada esteja correta. O 
aconselhamento, acompanhamento e revisão de desempenho são instrumentos 
importantes para essa finalidade. 
 
A realidade da aplicação da lei significa trabalhar em grupos, trabalhar com colegas em 
situações às vezes difíceis e/ou perigosas, 24 horas por dia, sete dias por semana. Estes 
fatores podem facilmente levar ao surgimento de comportamento de grupo, padrões 
subculturais (isto é, linguagem grupal, rituais, “nós contra eles” etc.), e a consequente 
pressão sobre membros do grupo (especialmente os novos) para que se conformem à 
cultura do grupo. Assim, o indivíduo, atuando de acordo com sua ética pessoal, pode 
confrontar-se com o segundo nível ético: a ética de grupo, estabelecida e 
possivelmente conflitante, com a pressão subsequente da escolha entre aceitá-la ou 
rejeitá-la. Deve ficar claro que a ética de grupo não é necessariamente de uma qualidade 
moral melhor ou pior do que a ética do indivíduo, ou vice-versa. Sendo assim, os 
responsáveis pela gestão em organizações de aplicação da lei inevitavelmente 
monitorarão não somente as atitudes e comportamentos em termos de éticas pessoais, 
mas também em termos de ética de grupo. A história da aplicação da lei em diferentes 
países fornece uma variedade de exemplos onde éticas de grupo questionáveis levaram 
ao descrédito da organização inteira encarregada da aplicação da lei. Escândalos de 
corrupção endêmica, envolvimento em grande escala no crime organizado, racismo e 
discriminação estão frequentemente abalando as fundações das organizações de 
aplicação da lei ao redor do mundo. Estes exemplos podem ser usados para mostrar que 
 
 
 
 
 
 
 
 
66/70 
 
 
 
as organizações devem almejar níveis de ética entre seus funcionários que efetivamente 
erradiquem esse tipo de comportamento indesejável. 
 
Quando nos consultamos com um médico ou advogado por razões pessoais, geralmente 
não passa por nossas cabeças que estejamos agindo com excessiva confiança. 
Acreditamos e esperamos que nossa privacidade seja respeitada e que nosso caso seja 
tratado confidencialmente. Na verdade, confiamos na existência e no respeito de um 
código de ética profissional, um conjunto de normas codificadas do comportamento 
dos praticantes de uma determinada profissão. Seria o terceiro nível. As profissões 
médicas e legais69, como se sabe, possuem tal código de ética profissional com padrões 
relativamente parecidos em todos os países do mundo. Não se reconhece a profissão de 
aplicação da lei como tendo alcançado uma posição similar em que exista um conjunto 
de normas claramente codificadas e universalmente aceitas. No entanto, junto ao 
sistema das Nações Unidas, desenvolveram-se instrumentos internacionais que tratam 
das questões de conduta ética e legal na aplicação da lei. 
 
De maneira mais destacada, temos o Código de 
Conduta para os encarregados da aplicação da lei70 
(CCEAL), adotado pela Assembleia Geral das Nações 
Unidas, em sua resolução 34/169 de 17 de dezembro 
de 1979. A resolução da Assembleia Geral que adota o 
CCEAL estipula que a natureza das funções dos 
encarregados da aplicação da lei na defesa da ordem 
pública, e a maneira pela qual essas funções são exercidas, possui um impacto direto na 
qualidade de vida dos indivíduos, assim como da sociedade como um todo. Ao mesmo 
tempo, ressalta a importância dastarefas desempenhadas pelos encarregados da 
aplicação da lei, a Assembleia Geral também destaca o potencial para o abuso que o 
cumprimento desses deveres acarreta. 
 
 
 
 
69 Para ler os respectivos códigos éticos, acesse os endereços: 
http://www.portalmedico.org.br/novocodigo/index.asp e 
http://www.oab.org.br/Content/pdf/LegislacaoOab/codigodeetica.pdf. 
70
 PPaarraa uummaa lleeiittuurraa ddaa RReessoolluuççããoo 3344//116699 nnaa íínntteeggrraa ee ccoomm ccoommeennttáárriiooss,, aacceessssee oo eennddeerreeççoo ddoo CCoommaannddoo ddee 
PPoolliicciiaammeennttoo ddaa CCaappiittaall ddaa PPoollíícciiaa MMiilliittaarr ddoo RRiioo GGrraannddee ddoo NNoorrttee -- 
http://www.lgdh.org/Codigo%20de%20Conduta%20para%20os%20Funcionarios%20Responsaveis%20pela%2
0Aplicacao%20da%20Lei.htm. 
 
 
 
 
 
 
 
67/70 
 
 
 
 
O CCEAL consiste em oito artigos. Não é um tratado, mas pertence à categoria dos 
instrumentos que proporcionam normas orientadoras aos governos sobre questões 
relacionadas com direitos humanos e justiça criminal. É importante notar que (como foi 
reconhecido por aqueles que elaboraram o código) esses padrões de conduta deixam de 
ter valor prático a não ser que seu conteúdo e significado, por meio de educação, 
treinamento e acompanhamento, passem a fazer parte da crença de cada indivíduo 
encarregado da aplicação da lei. 
 
O artigo 1º estipula que os encarregados da aplicação da lei devem sempre 
cumprir o dever que a lei lhes impõe (...) No comentário do artigo, o termo EAL é 
definido de maneira a incluir todos os agentes da lei, quer nomeados, quer eleitos, que 
exerçam poderes policiais, especialmente poderes de prisão ou detenção. 
 
O artigo 2º requer que os EAL, no cumprimento do dever, respeitem e protejam a 
dignidade humana, mantenham e defendam os direitos de todas as pessoas. 
 
O artigo 3º limita o emprego da força pelos EAL a situações em que seja estritamente 
necessária e na medida exigida para o cumprimento de seu dever. 
 
O artigo 4º estipula que os assuntos de natureza confidencial em poder dos EAL devem 
ser mantidos confidenciais, a não ser que o cumprimento do dever ou a necessidade de 
justiça exijam estritamente o contrário. 
 
Em relação a esse artigo, é importante reconhecer o fato de que, devido à natureza de 
suas funções, os encarregados da aplicação da lei se veem em uma posição na qual 
podem obter informações relacionadas à vida particular de outras pessoas, as quais 
podem ser prejudiciais aos interesses ou reputação destas. A divulgação dessas 
informações, com outro fim além do de suprir as necessidades da justiça ou o 
cumprimento do dever, é imprópria e os EAL devem abster-se de fazê-lo. 
 
O artigo 5º reitera a proibição da tortura ou outro tratamento ou pena cruel, desumano 
ou degradante. 
 
O artigo 6º diz respeito ao dever de cuidar e proteger a saúde das pessoas privadas de 
sua liberdade. 
 
 
 
 
 
 
 
68/70 
 
 
 
 
O artigo 7º proíbe os EAL de cometer qualquer ato de corrupção. Também devem opor-
se e combater rigorosamente esses atos. 
 
O artigo 8º trata da disposição final, exortando os encarregados da aplicação da lei (mais 
uma vez) a respeitar a lei (e este Código). Os EAL são incitados a prevenir e se opor a 
quaisquer violações da lei e do código. Em casos onde a violação do código é (ou está 
para ser) cometida, devem comunicar o fato a seus superiores e, se necessário, a outras 
autoridades apropriadas ou organismos com poderes de revisão ou reparação. 
 
No Brasil, a partir da Reforma Administrativa levada a cabo pela 
Emenda Constitucional nº 19/9871, tornou-se frequente a 
necessidade de se estudar aspectos relativos à Ética na 
Administração Pública. Os princípios consagrados no art. 37, da 
Constituição da República, estão imbuídos de forte conteúdo ético, 
incrementando a responsabilidade dos agentes públicos de todas as 
esferas e poderes do Estado. Diz o caput desse artigo que “a 
administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, 
do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, 
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência”. A própria Constituição Federal 
introduziu a ética nas relações públicas, ao eleger tais princípios como cânones de 
conduta dos agentes públicos. 
 
Algumas instituições policiais no Brasil adotaram o CCEAL, divulgando seus princípios 
entre seus funcionários. 
 
Encerramos por aqui, agradecendo sua 
atenção e dedicação a tão importante 
disciplina. Gostaríamos de compartilhar a 
opinião de que no cenário atual brasileiro, 
a grande discussão não deva ser mais a de 
fundamentar direitos e garantias, mas de 
protegê-los. Ratificamos nossa convicção de que os Encarregados de Aplicação da Lei são 
muito importantes neste processo, atuando, no dizer de Ricardo Balestreri, como 
pedagogos da cidadania. 
 
 
 
 
 
71 Disponível para leitura no endereço: 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/emendas/emc/emc19.htm. 
 
 
 
 
 
 
 
69/70 
 
 
 
 
 
 
Faça o fichamento do livro “Direitos Humanos: coisa de polícia”, de Ricardo Balestreri, 
indicado na bibliografia do curso e também disponível na Biblioteca da Disciplina, link 
Material de Aula. O fichamento deverá conter as ideias centrais e uma crítica a respeito 
do livro. 
Para enviar seu trabalho, clique em Trabalhos a Concluir . 
 
 
 
 
 
 
 
Ao aluno, indica-se o filme O terminal, produção americana de 
2004, estrelado pelo ganhador do Oscar Tom Hanks. 
 
Viktor Navorski (Tom Hanks) é um cidadão da Europa Oriental que 
viaja rumo a Nova York justamente quando seu país sofre um 
golpe de estado, o que faz com que seu passaporte seja invalidado. 
Ao chegar ao aeroporto, Viktor não consegue autorização para 
entrar nos Estados Unidos, pois, segundo a legislação americana, 
um passageiro sem passaporte e visto válidos não pode entrar no 
país. A autoridade legal, representada pelo diretor em exercício da 
 
 
 
 
 
 
 
70/70 
 
 
administração do aeroporto, dá instruções a um 
funcionário para impedir Viktor de passar pelo 
controle de passaportes e o 
 
 
encaminhar ao escritório da diretoria. Como Viktor não domina o inglês, fracassam as 
tentativas das autoridades americanas de explicar-lhe o motivo da retenção. Sem poder 
retornar à sua terra natal, já que as fronteiras foram fechadas após o golpe, Viktor passa 
a improvisar seus dias e noites no próprio aeroporto, à espera que a situação se resolva, 
sem qualquer colaboração das autoridades locais. Porém, com a situação se arrastando 
por meses, Viktor permanece no aeroporto e passa a descobrir o complexo mundo do 
terminal onde está preso. O filme revela inúmeras situações que contribuem para a 
compreensão da dimensão ética na administração pública. O diretor do aeroporto 
encontrava-se em situação delicada, pois, por um lado, como estava prestes a ser 
promovido, não podia errar em nenhuma decisão e, por isso, atinha-se ao pé da letra da 
lei; por outro, reconhecia a excepcionalidade da situação de Viktor, que, em princípio, 
estava com a documentação em ordem, tinha a passagem de volta marcada e endereço 
em Nova York aonde ir (um bar onde se toca jazz). Dificilmente poderia ser culpado pelo 
golpe ocorrido em sua terra natal, razão pela qual se encontrava “fora da legalidade”, do 
ponto de vista americano, ou seja, “caído em uma fresta dosistema”. 
 
Conclui-se que inúmeras vezes os agentes públicos ver-se-ão diante de situações 
semelhantes, em que recorrer à letra fria da lei não resolverá o problema das pessoas, 
na medida em que a lei é naturalmente incapaz de contemplar todas as situações do 
vida. 
 
 
Acesse o Fórum de Discussão e debata sobre as decisões éticas com as quais o 
EAL se depara no seu dia a dia de trabalho. 
 
 
Nesta aula, você: 
- Debateu o tema da ética; 
- Avaliou os níveis da ética; 
- Deu-se conta da necessidade de um Código Ético para os EAL; 
- Atentou para o CCEAL e para a legislação nacional que trata da ética no funcionalismo 
público.