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Teoria_Geral_do_Processo_2012-1

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Graduação
 2012.1
ROTEIRO DE CURSO
TEORIA GERAL 
DO PROCESSO
AUTORES: JULIANO OLIVEIRA BRANDIS E RODRIGO PEREIRA MARTINS RIBEIRO
REVISÃO: JOSÉ AUGUSTO GARCIA DE SOUSA
Sumário
Teoria Geral do Processo
AULA 1 E 2: APRESENTAÇÃO DO CURSO E NOÇÕES INICIAIS ............................................................................................ 3
AULAS 3 E 4: A JURISDIÇÃO NO ESTADO CONTEMPORÂNEO .......................................................................................... 36
AULAS 5 E 6: A EFETIVIDADE DA TUTELA JURISDICIONAL (PROCESSO X TEMPO) ................................................................ 42
AULAS 7, 8 E 9: COMPETÊNCIA .............................................................................................................................. 54
AULA 10, 11, 12, 13, 14 E 15. PROBLEMÁTICA DA AÇÃO: TEORIAS, CARACTERÍSTICAS, 
CONCEITO, CONDIÇÕES, ELEMENTOS E ESPÉCIES. ...................................................................................................... 78
AULA 16, 17 E 18. PROCESSO, RELAÇÃO JURÍDICA PROCESSUAL E PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS .......................................... 87
AULA 19 E 20. PROCEDIMENTOS: VISÃO PANORÂMICA .............................................................................................. 104
AULAS 21, 22 E 23: ATOS E VÍCIOS PROCESSUAIS ..................................................................................................... 122
AULAS 24 E 25: OS PERSONAGENS DO PROCESSO. O JUIZ. O MEMBRO DO MINISTÉRIO PÚBLICO. 
O ADVOGADO. O DEFENSOR PÚBLICO. O ADVOGADO DO ESTADO. ................................................................................. 129
QUESTÕES DE CONCURSO E GABARITO DAS QUESTÕES DE CONCURSO ........................................................................... 140
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 3
AULA 1 E 2: APRESENTAÇÃO DO CURSO E NOÇÕES INICIAIS
APRESENTAÇÃO GERAL
O principal objetivo do curso é apresentar ao aluno os institutos funda-
mentais da Teoria Geral do Processo mediante a utilização de casos concretos 
julgados em nossos tribunais. No decorrer do curso serão abordadas, gradati-
vamente, as novas tendências do Direito Processual Brasileiro.
MATERIAL DIDÁTICO E METODOLOGIA
O material apresenta aos alunos o roteiro das aulas, casos geradores, in-
dicação bibliográfi ca básica e complementar, jurisprudência e questões de 
concursos sobre os temas estudados em cada aula.
A utilização do presente material didático é obrigatória para que haja um 
aproveitamento satisfatório do curso. Assim, é imprescindível que seja feita a lei-
tura do material antes de cada aula, bem como da bibliografi a básica. Em relação 
aos casos geradores, é importante observar que, sempre que possível, foram esco-
lhidos problemas que comportam duas ou mais soluções. Portanto, nos debates 
feitos em sala de aula, será possível perceber que, na maioria das vezes, o caso 
analisado poderia ter tido outra solução que não a dada por determinada corte.
FORMAS DE AVALIAÇÃO
Os alunos serão avaliados com base em duas provas realizadas em sala de 
aula que abordarão conceitos doutrinários e problemas práticos, sendo facul-
tada a consulta a textos legislativos não comentados ou anotados.
O aluno que não obtiver uma média igual ou superior a 7,0 (sete) nessas 
duas avaliações deverá realizar uma 3ª prova.
ATIVIDADES COMPLEMENTARES
Além das aulas baseadas nos casos referidos nesse material, o curso contará com:
• Realizações de Seminários: onde a turma será divida em grupos, cada 
um com seu tema, para elaboração de trabalho de pesquisa e posterior 
apresentação na forma de seminário.
• Palestras: dependendo dos interesses dos alunos e realizadas de acordo 
com a conveniência dos convidados e da Escola de Direito.
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 4
1 No passado houve quem 
defendesse a utilização da no-
menclatura Direito Judiciário, 
ao invés de Direito processual, 
já que é a função jurisdicional, 
e não o processo, utilizado 
pelo Estado para o exercício 
da Jurisdição, o cerne prin-
cipal desta ciência. É este, 
inclusive, o título da obra do 
grande processualista João 
Mendes de Almeida Júnior: 
Direito Judiciário Brasileiro. 3ª 
Edição. Rio de Janeiro: Freitas 
Bastos, 1940.
2 GRINOVER, Ada Pellegrini; 
DINAMARCO, Cândido R., CIN-
TRA, Antônio Carlos de Araújo. 
Teoria Geral do Processo, 14ª 
edição, 1997, Editora Revista 
dos Tribunais, São Paulo, p. 40.
3 DINAMARCO, Cândido Ran-
gel. Fundamentos do Processo 
Civil Moderno. 3ª edição. São 
Paulo. Editora Malheiros, p. 
727.
4 Simbolicamente, aponta-se 
o ano de 1.868, quando o ju-
rista alemão Oskar von Bülow 
lançou sua obra “Teoria dos 
Pressupostos Processuais e 
das Exceções Dilatórias” (em 
alemão Die Lehre von den 
Processeinreden und die Pro-
cessvorausserzungen) como 
marco de nascimento de uma 
Teoria Geral do Processo.
A — TEXTO DE APRESENTAÇÃO: “UMA BREVE INTRODUÇÃO AO ESTUDO 
DO PROCESSO”
Surge um Novo Direito Processual
O Direito Processual é o ramo do Direito que possui como objeto de estu-
do a função jurisdicional1, exercida pelo Estado. Como se sabe, o Estado De-
mocrático de Direito, no exercício de seu poder soberano, uno e indivisível, 
realiza três funções: legislativa, administrativa e jurisdicional. É justamente 
esta última função que será estudada pela Teoria Geral do Processo.
Desde já, é conveniente destacar que a expressão Direito Processual pode 
se referir à ciência ou norma.
Na primeira dessas acepções, temos o ramo da ciência jurídica que estuda 
e regulamenta o exercício, através do Estado, da função jurisdicional e, no se-
gundo sentido (norma, direito objetivo), o complexo de normas e princípios 
que regem o exercício conjugado da jurisdição pelo Estado-juiz, da ação pelo 
demandante e da defesa pelo demandado2.
A Ciência Processual contemporânea é resultado de inúmeras transforma-
ções que se procederam, ao longo da história, pela atuação dos aplicadores do 
direito e pela incansável colaboração dos estudiosos do direito.
De fato, até o século XIX, não se falava em uma Teoria Geral do Processo, 
haja vista que a ação era concebida como desdobramento do próprio direito 
material e o instituto jurídico do processo como sinônimo de procedimento. 
Naquela época, como se pode perceber, o Direito Processual consistia em 
uma simples parte, mero apêndice, do Direito Privado, sem que fosse atribu-
ída autonomia científi ca àquela matéria3.
No decorrer do século XIX, este quadro começa a se alterar e, gradati-
vamente, são desenvolvidos conceitos e estruturas próprias que resultam na 
autonomia do processo4.
Dessa maneira, a Teoria Geral do Processo ganha conotação científi ca e é 
fortalecida por primorosos estudos sobre o processo, ação e jurisdição que, 
por fi m, conduzem a autonomia deste ramo do Direito.
Na virada do século XIX para o XX, ocorreu uma profunda construção dog-
mática do Processo na Europa Ocidental, onde se destacaram os estudos de Giu-
seppe Chiovenda e Francesco Carnelutti. Contudo, em meados do século XX, 
quando a ciência processual já estava estruturada e contava com seus próprios 
institutos, o Processo passa por um período de crise. De fato, a comunidade 
jurídica começa a perceber que o sistema processual não pode ser destituído de 
conotações éticas e de objetivos a serem cumpridos nos planos social e político.
Em 1950, durante o ato inaugural do Congresso Internacional de Direito 
Processual Civil de Florença, o consagrado professor italiano Piero Calaman-
drei realiza profundas críticas a essa visão demasiadamente abstrata e dog-
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 5
5 Com efeito, as idéias do fes-
tejado jurista reproduzidas no 
texto denominado “Processo e 
Justiça” (Processo e Giustizia), 
já demonstravam profunda 
preocupação com
o objetivo 
maior do processo que é che-
gar a uma decisão justa. CA-
LAMANDREI, Piero (tradução 
de Luiz Abezia e Sandra Drina 
Fernandes Barbery). Processo 
e Justiça. In: Direito Processual 
Civil Vol. III, São Paulo: Book-
seller, 1999.
6 Existe outro livro: “Acesso à 
Justiça”, traduzido para o por-
tuguês pela hoje Ministra Ellen 
Gracie Northfl eet, que pode 
ser considerada uma versão 
“mais condensada” escrita 
pelo posteriormente pelo pro-
fessor Cappelletti em compa-
nhia do professor Bryant Gar-
th, com base em dois volumes 
da obra anteriormente citada: 
CAPPELLETTI, Mauro e GAR-
TH, Bryant. Acesso à Justiça. 
Porto Alegre: Sérgio Antônio 
Fabris Editor. 1988. Tradução 
Ellen Gracie Northfl eet. Títu-
lo original: Acess to Justice: 
The Worldwide Movement to 
Make Rights Eff ective.
7 A) Assistência judiciária para 
os pobres, (B) representação 
dos interesses difusos e (C) 
um novo enfoque de acesso 
à justiça amplo, efetivo, jus-
to e adequado. CAPPELLET-
TI, Mauro e GARTH, Bryant. 
Acesso à Justiça. Porto Alegre: 
Sérgio Antônio Fabris Editor. 
1988.
mática da Ciência Processual, visão esta que não atentava para as verdadeiras 
fi nalidades da atividade jurisdicional:
“O pecado mais grave da ciência processual destes últimos cinqüenta anos 
tem sido, no meu entender, precisamente este: haver separado o processo de sua 
fi nalidade social; haver estudado o processo como um território fechado, como 
um mundo por si mesmo, haver pensado que se podia criar em torno do mesmo 
uma espécie de soberbo isolamento separando-o cada vez de maneira mais pro-
funda de todos os vínculos com o direito substancial, de todos os contatos com 
os problemas de substância, da justiça, em soma.”5
Não obstante, somente alguns anos depois, na década de setenta do século 
passado, é que se pode identifi car o verdadeiro turning point de nossa Ciência. 
Naquela década, o notável jurista peninsular Professor Mauro Cappelletti, basea-
do em profundo trabalho de pesquisa do Instituto de Pesquisas de Florença, e de 
diversas Escolas ao redor do mundo, escreveu a magistral obra de quatro volumes 
denominada Acess to Justice6, em que apresentava relatórios e conclusões de di-
versos anos de pesquisa, além de numerosas sugestões para melhorar o problema 
do acesso à justiça. Esta obra jurídica é considerada o marco de nascimento da 
atual fase instrumentalista ou teleológica da Ciência Processual. No trabalho de 
Cappelletti, estão retratados os diversos obstáculos encontrados em vários países 
do mundo para que se tenha uma justiça efetiva. São também sugeridas possíveis 
soluções para o problema: Cappelletti se referiu a três momentos a serem supera-
dos, aos quais chamou de “ondas renovatórias” do acesso à justiça7.
Estavam, assim, lançadas as premissas de uma nova concepção do processo.
Na atual fase de evolução do Direito Processual, busca-se um efetivo e am-
plo acesso à justiça. O Judiciário idealizado por Cappelletti deve ser acessível 
a todos e a todas as espécies de demandas, individuais e coletivas, contem-
plando o titular de um direito com tudo e exatamente aquilo que o ordena-
mento jurídico lhe assegura. A atividade jurisdicional deve, ainda, produzir 
resultados individuais e socialmente justos.
Assim, o Direito Processual de nossos dias é caracterizado por uma menor 
preocupação com as formalidades processuais e maior com a justiça da de-
cisão e os reflexos desta na sociedade. Deseja-se, assim, formar um processo 
apto a atingir os resultados políticos e sociais que legitimam sua existência.
Pós-Positivismo e Teoria Geral do Processo
É comum nos dias de hoje em nossa comunidade jurídica a afi rmativa 
de que nosso Direito se encontra na fase “pós-positivista”. O signifi cado da 
expressão “pós-positivismo” é de difícil — se não impossível — defi nição.
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 6
8 CALSAMIGLIA, Albert. Post-
positivismo. In: Doxa: Cuader-
nos de Filosofía del Derecho. 
Espanha: Doxa 21-I, 1998, p. 
209-220.
9 MARINONI, Luis Guilherme. 
Teoria Geral do Processo. São 
Paulo, Revista dos Tribunais, 
2006.
Em verdade, ela busca representar o atual momento em que, sem fugir 
do princípio da legalidade, se deseja superar alguns excessos do positivismo 
radical que imperou em nossos tribunais no século XX.
Segundo o jusfi lósofo espanhol ALBERT CALSAMIGLIA8, os adeptos 
do pós-positivismo não defendem um anti-positivismo (ou direito alterna-
tivo). O que ocorre é um deslocamento do enfoque das questões abordadas 
e, em alguns casos, o distanciamento de certas teses sustentadas pela maior 
parte da doutrina positivista.
De forma sintética, segundo o referido autor, são dois os pontos em que o 
pós-positivismo busca dar este novo enfoque:
(a) Os limites do direito. No pós-positivismo, as normas jurídicas não 
possuem somente elementos descritivos para tratar de fatos passa-
dos, mas também elementos prescritivos, com o objetivo de ofere-
cer elementos adequados para resolver problemas práticos. Existe 
uma preocupação relacionada aos elementos de completude do or-
denamento para solucionar hard cases. Uma das tendências mais 
importantes da teoria jurídica contemporânea é sua insistência nos 
problemas relativos à indeterminação do direito, pois as tradicio-
nais fontes normativas não podem resolver todas as questões. Ade-
mais, o pós-positivista coloca o julgamento (a aplicação do direito), 
e não a legislação, como feito pelos positivistas, no centro da análise 
da ciência jurídica.
(b) A relação entre direito e moral. Para o positivista, a moral só tem 
importância na medida em que ela é reconhecida pelo ordenamen-
to jurídico (o direito não perde sua coercitividade por ser injusto). 
Na realidade, ao contrário do que comumente se afi rma, a moral 
possui curial importância para o direito, ora na interpretação de 
conceitos jurídicos indeterminados, de princípios jurídicos, ora em 
outros momentos que o magistrado se encontra diante de lacunas 
do ordenamento.
Assim, conclui CALSAMIGLIA, as ferramentas oferecidas pelo legislador 
são insufi cientes para construir uma forma de julgamento aplicável a todo e 
qualquer caso.
Dentro dessa perspectiva, é natural que seja ultrapassada a antiga concepção 
que a atividade jurisdicional seria uma atividade meramente declaratória de 
direitos. Contudo, até hoje, a maioria dos “cursos de direito processual” ado-
tados no Brasil ainda partem daquela velha premissa, consagrada na lição de 
Montesquieu, de que o Juiz seria a mera boca que pronuncia as palavras da lei.
Recentemente, Luiz Guilherme Marinoni, Professor Titular de Direito 
Processual Civil da Universidade Federal do Paraná, publicou sua obra de 
Teoria Geral do Processo9 em que busca superar a clássica visão apontada no 
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 7
parágrafo anterior. Baseado nas lições de ilustres autores alienígenas — tais 
como Hans Kelsen, Owen Fiss e Mauro Cappelleti —, Marinoni defende a 
possibilidade da construção de novos direitos através da prestação da tutela 
jurisdicional.
Como se sabe, o surgimento de normas jurídicas relacionadas à imple-
mentação de direitos sociais, no decorrer do século XX, acarretou a gradual 
transformação do Welfare State em um imenso Estado administrativo, sobre-
carregado de funções a desempenhar, bem diferente de seu antecessor, o Es-
tado Liberal. A implementação desses direitos sociais exige ações por parte do 
Estado. Nesse passo, importantíssimas implicações são impostas aos juízes. 
O Judiciário de nossos dias não realiza mais apenas a tutela de direitos civis 
e penais relativos ao cidadão, mas, também, o controle dos poderes políticos 
do Estado. À guisa de exemplo, vale apontar as recentes discussões sobre a 
sindicabilidade ou não do ato administrativo pelo Estado-juiz e sobre a pos-
sibilidade ou não do controle jurisdicional
sobre as omissões administrativas.
Ademais, com o reconhecimento da existência de uma terceira geração de 
direitos humanos — os interesses coletivos — restou evidente o caráter de 
discricionariedade existente na atividade jurisdicional, bem como a necessi-
dade de repensar toda a Teoria Geral do Processo.
Tutela Jurisdicional de Interesse disponíveis e indisponíveis. Interesse de Grupo.
Inexiste critério objetivo no direito positivo brasileiro para determinar se 
estamos diante de interesses disponíveis ou indisponíveis.
Nossa doutrina também não chegou a um consenso sobre quais direitos 
são ou não indisponíveis e quais os parâmetros para tal classifi cação. Há ca-
sos, como por exemplo, no direito de família e nos direitos da personalidade, 
em que é difícil apontar se determinado interesse é ou não disponível.
De qualquer modo, há hipóteses em que não encontramos dúvidas de que 
estamos diante de tutela de determinado interesse que não se está na esfera de 
disponibilidade das partes que litigam em juízo.
É o caso, por exemplo, da tutela do meio-ambiente realizada por intermé-
dio de uma ação civil pública. Nessa hipótese, os legitimados pelo art. 5º da 
Lei nº 7.347/84 atuam em nome de toda a sociedade e, por essa razão, não 
podem “abrir mão” de um interesse que não lhes pertence.
A ação civil pública é hoje o principal instrumento de tutela de direitos 
coletivos em nosso País e possui previsão constitucional no artigo 129, in-
ciso III e § 1º, da Constituição Federal, sendo regulamentada pelas Leis nº 
7.347, de 24 de julho de 1985 (Lei da Ação Civil Pública), e nº 8.078, de 11 
de setembro de 1990 (Código de Defesa do Consumidor). Sua criação e de-
senvolvimento são atribuídos à constatação da insufi ciência dos mecanismos 
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 8
processuais existentes para proteger direitos que transcendem o indivíduo, 
seja em razão da difi culdade de identifi car sua titularidade, de dividir seu 
objeto ou, ainda, de tutelá-los de maneira individual.
De fato, é na tutela do interesse de grupo que fi ca mais evidente a ne-
cessidade de repensar a Teoria Geral do Processo para que seus institutos se 
adaptem à chamada Jurisdição Coletiva.
A necessidade de adequar o processo às exigências de uma sociedade mas-
sifi cada, ditada pelos avanços tecnológicos e culturais e, bem assim, por suas 
implicações em diversos setores, tais como o meio ambiente, as relações tra-
balhistas e de consumo, as políticas públicas e os direitos das minorias, trouxe 
à tona o debate acerca da reformulação dos institutos e princípios tradicio-
nais do direito processual, de conotação meramente individualista.
Como se verá ao longo do curso, institutos tradicionais da Teoria Geral do 
Processo, tais como legitimidade e coisa julgada, tiveram que ser adaptados 
para que esse ramo do Direito pudesse tratar, também, de interesses de gru-
po. De igual modo, os princípios constitucionais do processo adquirem uma 
nova dimensão na tutela de direitos indisponíveis.
Breve Conclusão
Conforme ressaltado, são dois os principais motivos que levam à necessi-
dade de reformulação da Teoria Geral do Processo:
(a) superação da clássica concepção da Jurisdição como atividade me-
ramente declaratória de direitos;
(b) necessidade de adaptar seus tradicionais institutos à tutela coletiva 
de direitos.
Acrescente-se a isso o atual estágio de insatisfação do jurisdicionado com a 
prestação da tutela jurisdicional. Assim, é necessário buscar novos meios para 
que se atinja um efetivo e amplo acesso à justiça.
Com efeito, nosso sistema jurídico deve ser acessível a todos e a todas es-
pécies de demandas, individuais e coletivas, contemplando o titular de uma 
posição jurídica de vantagem, em tempo razoável, com exatamente aquilo 
que o ordenamento lhe assegura.
Nesse passo, a atividade jurisdicional deve, ainda, produzir resultados in-
dividuais e socialmente justos.
É dentro dessa perspectiva que deve ser compreendido o curso que agora 
se inicia.
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 9
B — DIREITO PROCESSUAL CIVIL: NOÇÕES INICIAIS
CASO
O legislador, quando da elaboração da norma, pode deixar de prever de-
terminadas situações que no caso concreto terão que ser dirimidas pelo apli-
cador da lei. Para isto, o Código Civil prevê na Lei de Introdução (art. 4º da 
LICC) que em casos de omissão na norma o juiz deverá decidir conforme os 
costumes, a analogia e os princípios gerais do direito.
Com base nesta afi rmativa, refl ita sobre o caso logo abaixo declinado.
Maria propõe ação buscando a exclusão de seu ex-cônjuge da partilha de 
divórcio (sendo o regime da comunhão universal), em razão do fato de o 
mesmo ter matado o pai da autora e esta não querer que o ex-cônjuge desfru-
te de forma indireta da herança que recebeu. Maria fundamenta seu pedido 
no argumento de que, por ter sido o ex-cônjuge o autor do homicídio de seu 
pai e por ser parente do de cujus por afi nidade, estaria excluído do direito 
sucessório. Dispõe o Código Civil:
“Art. 1.595. Cada cônjuge ou companheiro é aliado aos parentes do outro 
pelo vínculo da afi nidade”.
“Art. 1.814. São excluídos da sucessão os herdeiros ou legatários: I — que 
houverem sido autores, coautores ou partícipes de homicídio doloso, ou tenta-
tiva deste, contra a pessoa de cuja sucessão se tratar, seu cônjuge, companheiro, 
ascendente ou descendente”.
Diante do caso e dos dispositivos supracitados, refl ita sobre a pertinência 
da interpretação da norma nos termos invocados por Maria.
NOTA AO ALUNO
1 — EVOLUÇÃO HISTÓRICA
Fixamos nossa volta ao passado no período que se inicia com o descobri-
mento do Brasil. Nesse período, ganhava grande relevo a fi gura do municí-
pio, concebido como núcleo administrativo implantado em território bra-
sileiro. Nele, o exercício da jurisdição era desempenhado através dos juízes 
ordinários ou da terra, cuja nomeação se dava por escolha de “homens bons”, 
numa eleição desvinculada dos interesses da Coroa, que, buscando sua repre-
sentação, nomeava os chamados “juízes de fora”.
Quando da criação das capitanias hereditárias, impunha-se aos donatários 
a incumbência de reger as questões judiciais provenientes de suas terras, po-
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 10
10 BARBOSA MOREIRA, José Carlos. 
Breve noticia sobre la conciliación en 
el proceso civil brasileño. In: Temas de 
direito processual: quinta série. São 
Paulo: Saraiva, 1994, p. 95. Interessante 
transcrevermos aqui os Arts. 161 e 162 
da Constituição do Império, que esta-
beleciam, respectivamente, a tentativa 
prévia de conciliação como pressuposto 
de constituição válida do processo e a 
atribuição de competência ao juiz de 
paz para tentar promovê-la. “Art. 161. 
Sem se fazer constar, que se tem inten-
tado o meio da reconciliação, não se co-
meçará Processo algum. Art. 162. Para 
este fi m haverá juizes de Paz, os quaes 
serão electivos pelo mesmo tempo, e 
maneira, por que se elegem os Verea-
dores das Camaras. Suas attribuições, e 
Districtos serão regulados por Lei”.
der este limitado tanto pelas leis advindas do Reino como pelas então deno-
minadas cartas forais. A autoridade jurisdicional máxima fazia-se presente na 
fi gura do ouvidor-geral.
Durante o período colonial, o Brasil era regido pelas leis processuais por-
tuguesas, como não poderia deixar de ser, visto que Brasil e Portugal for-
mavam um Estado único. Vigoravam, nesta época, as Ordenações Filipinas, 
que dispunham de forma quase completa sobre a administração pública. O 
processo civil foi regulado em seu livro III, composto por 128 capítulos, 
abrangendo os procedimentos de cognição, execução, bem como os recursos.
As Ordenações Filipinas, que permaneceram em vigor mesmo após a in-
dependência brasileira, foram de grande importância para o direito brasilei-
ro. Com uma estrutura
bastante moderna, eram compostas por cinco livros, 
dentre os quais o terceiro tratava da parte processual civil.
Apesar da vigência das Ordenações Filipinas, o Brasil também era regido, 
nesta época, pelas cartas dos donatários, dos governadores e ouvidores e, ain-
da, pelo poder dos senhores de engenho, que faziam sua própria justiça ou 
infl uenciavam a justiça ofi cial, ora pelo prestígio que ostentavam, ora pelo 
parentesco com os magistrados.
Com a proclamação da independência em 07 de setembro de 1822, tor-
nou-se necessária uma reestruturação da ordem jurídica interna, o que foi 
alcançado através da Carta Constitucional de 1824, com a introdução em 
nosso ordenamento de inovações e princípios fundamentais, principalmente 
no campo criminal, em que a necessidade de mudanças se fazia mais eviden-
te, tais como a abolição da tortura e de todas as penas cruéis.
Por outro lado, verifi cou-se a consagração da divisão dos poderes e o esta-
belecimento da harmonia destes com o Poder Moderador, buscando garantir 
os direitos ditados pela Carta Magna, assim como a composição e indepen-
dência do Poder Judiciário. Estipulou-se ainda a necessidade e a obrigatorie-
dade de um juízo conciliatório prévio10.
Todavia, apesar da nova ordem constitucional que surgiu nesse momento, 
as Ordenações Filipinas e demais normas jurídicas de origem portuguesa não 
perderam vigência, pois o Decreto de 20 de outubro de 1823, adotando-as 
como lei brasileira, determinou que só seriam revogadas as disposições con-
trárias à soberania nacional e ao regime brasileiro.
Assim, atendendo às exigências da Carta Constitucional, no campo pro-
cessual penal, tivemos a promulgação do Código de Processo Criminal em 
1832, que, rompendo com a tradição portuguesa, inspirou-se nos modelos 
inglês (acusatório) e francês (inquisitório), fornecendo ao legislador brasileiro 
elementos para a elaboração de um sistema processual penal misto.
Além disso, o novo Código também trazia, em um título único composto por 
vinte e sete artigos, a “disposição provisória acerca da administração da justiça 
civil”, simplifi cando o processo civil ainda regulado pelas Ordenações Filipinas.
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 11
Em 1850, logo após a edição do Código Comercial, entraram em vigor os 
Regulamentos nº 737 (considerado o primeiro diploma processual brasileiro) 
e 738, que disciplinavam, respectivamente, o processo das causas comerciais 
e o funcionamento dos tribunais e juízes do comércio.
O direito processual civil, contudo, permaneceu regulado pelas disposi-
ções das Ordenações e suas posteriores modifi cações, levando o governo a 
promover, em 1876, uma Consolidação das Leis do Processo Civil, com for-
ça de lei, que fi cou conhecida como Consolidação Ribas, em virtude de sua 
elaboração a cargo do Conselheiro Antônio Joaquim Ribas.
Proclamada a República, o Regulamento 737 foi estendido às causas cí-
veis, mantendo-se a aplicação das Ordenações e suas modifi cações aos casos 
de jurisdição voluntária e de processos especiais.
Após o advento da Constituição de 1891, no entanto, conferiu-se aos Esta-
dos a possibilidade de legislar sobre matéria processual, aumentando o espectro 
de competência antes pertencente somente à União Federal, após o que várias 
leis foram promulgadas, regulamentando as mais diversas questões processuais.
Em 1º de janeiro de 1916, foi editado o Código Civil Brasileiro, tratando 
não só das questões de direito material, mas também de algumas processuais. 
No Rio de Janeiro, então Distrito Federal, veio à luz o Código Judiciário de 
1919, promulgado pela Lei nº 1.580 de 20 de janeiro, seguido pelo Código 
de Processo Civil do Distrito Federal, de 31 de dezembro de 1924, e devida-
mente promulgado pelo Decreto nº 16.751.
Finalmente, a Carta de 1934 consagrou a unifi cação processual, atribuin-
do novamente a competência para legislar em matéria processual exclusiva-
mente à União, o que foi mantido pela Constituição de 1937, em seu artigo 
16, inciso XVI, possibilitando assim a edição do Código Brasileiro de Proces-
so Civil, através do Decreto nº 1.608, de 18 de setembro de 1939.
A unifi cação processual se justifi cava pela necessidade de uma normatização 
uniforme ante o grande número de leis existentes em cada Estado, as quais há 
muito se mostravam obsoletas e incapazes de satisfazer o objetivo primordial 
do processo civil, qual seja, o de tutelar efetivamente os direitos subjetivos.
Não obstante, o artigo 1º do Código deixou à apreciação de lei especial 
a regulamentação de algumas matérias específi cas, tais como as desapropria-
ções, as ações trabalhistas e os litígios entre empregados e empregadores.
O Código de 1939 teve o mérito de se inspirar nas mais modernas dou-
trinas européias da época, introduzindo importantes inovações em nosso or-
denamento processual, como o princípio da oralidade e a combinação do 
princípio dispositivo e do princípio do juiz ativo, permitindo uma maior 
agilidade nos procedimentos.
Chegamos, assim, ao atual Código de Processo Civil, introduzido em nosso 
ordenamento jurídico pela Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973, e baseado 
no anteprojeto de autoria de Alfredo Buzaid.
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 12
11 Países como o Brasil, em que as cau-
sas entre particulares e as causas entre 
esses e o Estado estão submetidas aos 
mesmos órgãos jurisdicionais, sendo 
regidas pelas mesmas normas proces-
suais, são chamados países de jurisdi-
ção una. E países em que as causas do 
Estado não estão submetidas a órgãos 
do Poder Judiciário, mas a órgãos de 
julgamento estruturados dentro da 
própria Administração Pública, como 
a França e a Itália, numa concepção 
distinta da separação de poderes, são 
chamados países de dualidade de 
jurisdição. Importante destacar que, 
em países de dualidade de jurisdição, 
o contencioso administrativo, ainda 
que formalmente vinculado de algum 
modo à AP, tem evoluído no sentido 
de adquirir independência em relação 
a ela e de oferecer aos adversários um 
processo revestido das garantias funda-
mentais universalmente reconhecidas, 
como vem ocorrendo na Itália e na 
França.
O CPC de 1973 permanece em vigor até hoje. Contudo, sofreu inúmeras 
alterações, sobretudo a partir do início da década de noventa do século XX. 
Teve início aí a chamada Reforma Processual, processo fragmentado em de-
zenas de pequenas leis que se destinam a fazer mudanças pontuais e ajustes 
“cirúrgicos”.
2 — CONCEITO
Tradicionalmente, e para fi ns meramente didáticos, a doutrina classifi ca o 
Direito, tal como o concebemos, em dois grandes ramos: público e privado.
Classicamente, se conceitua o direito processual como o ramo do direito 
público interno que disciplina os princípios e as regras relativos ao exercício 
da função jurisdicional do Estado.
No entanto, tal conceituação, embora ainda prevaleça na doutrina proces-
sual, não se revela absoluta, pois a função jurisdicional, embora siga sendo 
predominantemente exercida por magistrados e tribunais do Estado11, tam-
bém pode ser exercida por órgãos e sujeitos não estatais, por meio dos meios 
alternativos de solução de confl itos, dentre os quais se destacam a arbitragem 
e a justiça interna das associações.
Logo, a idéia de que o Direito Processual é um ramo do direito público 
interno, nos dias atuais, foi relativizada, pois o fenômeno de privatização do 
processo é crescente, tendente a atende o clamor por maior autonomia dos 
particulares na formação e no desenvolvimento da relação processual.
Enquanto no ramo privado subsistiria uma relação de coordenação entre 
os sujeitos integrantes da relação jurídica — como no direito civil, no direito 
comercial e no direito do trabalho —, no público prevaleceria a supremacia 
estatal face aos demais sujeitos.
Nessa linha de raciocínio, o direito processual — assim como
o constitu-
cional, o administrativo, o penal e o tributário — constituiria ramo do direi-
to público, visto que suas normas, ditadas pelo Estado, são de ordem pública 
e de observação cogente pelos particulares, marcando uma relação de poder e 
sujeição dos interesses dos litigantes ao interesse público.
Essa dicotomia entre público e privado é apenas utilizada para sistema-
tização do estudo, pois, modernamente, entende-se que está superada a de-
nominada summa divisio, tendo em vista que ambos os ramos tendem a se 
fundir em prol da função social perseguida pelo Direito. Assim sendo, fala-
se hoje em constitucionalização do direito.
Dessa forma, abandonada a visão dicotômica, podemos defi nir o direito 
processual como o ramo da ciência jurídica que trata do conjunto de regras e 
princípios que regulamentam o exercício da função jurisdicional do Estado.
Vale ainda dizer que o direito processual quanto às normas de incidência 
classifi ca-se como Direito Internacional ou Direito Interno; o Direito Inter-
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FGV DIREITO RIO 13
no, por sua vez, subdivide-se em espécies de acordo com o direito material 
ora veiculado, estando de um lado o Direito Processual Penal (que compre-
ende regras processuais que veicularão matérias sobre o Direito Penal Militar 
e o Direito Penal Eleitoral) e de outro, o Direito Processual Civil, sendo que 
este último subdivide-se em comum e especial. São consideradas especiali-
dades do Direito Processual Civil o Direito Processual Trabalhista, Direito 
Processual Eleitoral, Direito Processual Administrativo e, por fi m, o Direito 
Processual Previdenciário, cada qual com regras próprias hábeis a viabilizar 
melhor a realização do direito material em questão.
Quadro esquemático:
Direito Processual
Internacional
Interno
Direito Processual 
Civil
Comum
Especial
Direito Processual 
Trabalhista
Direito Processual Eleitoral
Direito Processual 
Penal
Comum
Especial
Direito Processual Militar
Direito Processual Eleitoral
3 — A JURISDIÇÃO
A jurisdição constitui a forma estatal, por excelência, de composição de 
litígios, embora não seja a única. A sociedade desde os tempos longínquos 
convive com divergências que geram os confl itos, as lides. Para solucionar 
esta resistência à negociação, o Estado, que veda a autotutela, manifesta-se 
por meio da jurisdição, cuja regência se operará por meio dos ritos estabele-
cidos pelo legislador.
Importante destacar que a partir do séc. XIV, a jurisdição tornou-se a for-
ma predominante de resolução de confl itos monopolizada pelo Estado, por 
intermédio do Poder Judiciário.
Palavra que vem do latim jurisdictio (que etimologicamente signifi ca “di-
zer o direito”), a jurisdição tem como fi m último a pacifi cação social e con-
siste em um poder e de— ver do Estado, pois, se por um lado corresponde a 
uma manifestação do poder soberano do Estado, impondo suas decisões de 
forma imperativa, por outro corresponde a um dever que o Estado assume de 
dirimir qualquer confl ito que lhe venha a ser apresentado.
Assim, à medida que o Estado, vedando a justiça privada, retira do indi-
víduo a possibilidade de buscar por suas próprias forças a resolução dos con-
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FGV DIREITO RIO 14
fl itos, assume, em contrapartida, o poder-dever de solucioná-los com justiça, 
uma vez que a perpetuação de pretensões insatisfeitas e controvérsias penden-
tes de resolução constituiriam fontes de intensa perturbação da paz social.
Por conseguinte, a função jurisdicional é concebida, segundo Chiovenda, 
como a função do Estado que tem por escopo a atuação da vontade objetiva 
e concreta da lei, mediante a substituição de uma atividade privada por uma 
atividade pública; ou, consoante Carnelutti, como a função estatal de justa 
composição da lide, entendida esta última como o confl ito de interesses qua-
lifi cado pela pretensão de uma parte e resistência de outra.
Pode ser defi nida ainda de acordo com a posição adotada pela doutrina 
brasileira, que procura relacionar os conceitos supracitados, como sendo a 
função de atuar a vontade objetiva da lei, com a fi nalidade de obter a justa 
composição da lide.
Assim, o processo civil traduz-se numa técnica de solução imperativa de 
confl itos, o monopólio estatal em dirimir controvérsias por meio do exercício 
da jurisdição, capitaneada pelo Estado-Juiz, que é quem decide, seguida dos 
auxiliares da Justiça, em que todos exercem o poder estatal. O direito proces-
sual civil, por sua vez, cuidará de estabelecer as regras destinadas a reger como 
se operará este exercício da jurisdição na solução dos confl itos sociais.
Para distinguir as formas de solução de confl itos, a doutrina tradicional-
mente as classifi ca em autodefesa, autocomposição e heterocomposição. Esta 
última poderia ser feita pelo Estado (jurisdição) ou por um particular, em 
certos casos específi cos permitidos pela lei (arbitragem).
A autodefesa (ou autotutela) seria a forma mais primitiva de resolução 
de confl itos. Utilizava-se da força física contra o adversário para vencer sua 
resistência e satisfazer uma pretensão. Remonta ao Código de Hamurabi, que 
consagrou a Lei de Talião — “olho por olho, dente por dente” — que im-
punha o revide na mesma medida que a injustiça praticada, sendo utilizada, 
principalmente, no combate aos criminosos.
Por não garantir a justiça, mas somente a vitória do mais ousado sobre o 
mais tímido, tal prática foi vedada pelos Estados modernos. Nesse sentido, 
um passo muito importante foi a garantia do due process of law, cuja origem 
remonta à Magna Carta (1215), pois esta impedia que qualquer pessoa fosse 
privada de seus bens ou de sua liberdade sem que fosse observado o devido 
processo legal, fi cando proibida, portanto, a autotutela.
Além dessa garantia, hoje prevista em nosso ordenamento jurídico no ar-
tigo 5º, inciso LIV, da Constituição Federal, temos também a regra do artigo 
345 do Código Penal, que caracteriza a autotutela como ilícito penal, ao tipi-
fi car o crime de exercício arbitrário das próprias razões.
Todavia, o Estado permite a autodefesa em situações excepcionais, tais 
como: na legítima defesa no âmbito penal (art. 25, CP); no desforço posses-
sório conferido ao possuidor turbado (art. 1.210, §1º, CC/02); no direito de 
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 15
12 A Lei nº 11.232 de 2005 modifi cou a 
redação do caput do Art. 269, limitan-
do-se a dizer que nos casos elencados 
“haverá resolução do mérito”, pois nem 
sempre o processo se extingue através 
de decisão impositiva. As sentenças 
que resolvem o mérito do processo, 
apreciando o objeto do pedido posto 
em juízo, são denominadas defi nitivas. 
Já as sentenças terminativas são aque-
las em que não há resolução do mérito, 
pois não chegam a apreciar o chamado 
objeto da demanda.
retenção do locatário (art. 578, CC/02) e do depositário (art. 644, CC/02); 
bem como no direito de greve, garantido constitucionalmente (art. 9º, CF) 
no âmbito do direito do trabalho.
A autocomposição está presente de forma residual no direito moderno. 
Representa forma primitiva, porém mais evoluída de composição de litígios 
que a autodefesa. Trata-se de solução parcial (por ato dos sujeitos em confl i-
to) na qual as partes chegam a um acordo quanto à existência ou inexistência 
de um direito, seja pela renúncia, pela transação (concessões recíprocas) ou 
mediante o reconhecimento da pretensão alheia, pondo fi m ao confl ito de 
interesses existente.
Tal método não desapareceu dos ordenamentos jurídicos modernos, sen-
do consentido e até mesmo estimulado em muitas situações (desde que se 
trate de direitos disponíveis ou de refl exos patrimoniais de direitos indispo-
níveis, v.g.: direito a alimentos), embora subsistam críticas quanto à aparente 
espontaneidade do sacrifício próprio, bem como
quanto à desvantagem para 
a parte mais fraca, resultante de disparidades econômicas ou de uma interpre-
tação errônea ou incompleta do direito.
Em nosso ordenamento, a autocomposição pode ocorrer extra ou endo-
processualmente, isto é, antes da instauração do processo ou durante a sua 
pendência, sendo que, na segunda hipótese, os incisos II, III e V do artigo 
269 do CPC12 prevêem a extinção do processo com a resolução do mérito.
O juízo arbitral é uma modalidade de heterocomposição (julgamento do 
litígio por terceiro escolhido consensualmente pelas partes) também voltada 
à fi xação de existência ou inexistência de um direito. Diferencia-se da 
conciliação porquanto esta, além de consistir em meio alternativo de auto-
composição induzida, permite apenas que um terceiro imparcial conduza as 
partes a um acordo, nada mais podendo fazer se isso se mostrar inviável.
Já no caso da arbitragem, não havendo possibilidade de acordo entre as 
partes, caberá ao árbitro impor a sua decisão solucionando a controvérsia, 
tendo em vista terem as partes previamente acordado que se submeteriam 
àquilo que por ele viesse a ser decidido (Lei n° 9.307/96).
3.1 — CORRENTES UNITARISTA E DUALISTA DA CIÊNCIA PROCESSUAL
Distinguem-se, na doutrina, duas correntes acerca da sistematização do 
direito processual: a que acredita na unidade de uma teoria geral do processo 
(unitarista) e a que sustenta a separação entre a ciência processual civil e a pe-
nal, por constituírem ramos dissociados, com institutos peculiares (dualista).
No entanto, a posição mais adequada, a nosso ver, é a que entende pela 
existência de uma única teoria geral do processo, tendo em vista que a ciência 
processual seja penal, civil, ou até mesmo trabalhista, obedece a uma estrutu-
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FGV DIREITO RIO 16
13 Conferir artigos 1º e 33 da Lei nº 
11.340/06.
ra básica, comum a todos os ramos, fundada nos institutos jurídicos da ação, 
da jurisdição e do processo.
Longe de pretender afi rmar a unidade legislativa, a teoria geral do processo 
permite uma condensação científi ca de caráter metodológico, elaborando e 
coordenando os mais importantes conceitos, princípios e estruturas do direi-
to processual.
Importante destacar que novos e modernos diplomas, como a Lei Maria 
da Penha — Lei nº 11.340/06, que visa a prevenir e reprimir a violência 
doméstica, adotam a sistemática de juízos híbridos, sugerindo a criação de 
varas especializadas, com competência civil e criminal, de modo a facilitar o 
acesso à justiça e conferir proteção mais efetiva à vítima de tais situações de 
violência13.
Dessa forma, o estudo da teoria geral do processo é fruto da autonomia 
científi ca alcançada pelo direito processual e tem como enfoque o complexo 
de regras e princípios que regem o exercício conjunto da jurisdição, pelo 
Estado-Juiz; da ação, pelo demandante (e da defesa, pelo demandado); bem 
como os ensinamentos acerca do processo, procedimento e pressupostos.
4 — FONTES DO DIREITO PROCESSUAL BRASILEIRO
As fontes de direito em geral podem ser conceituadas como os meios de 
produção, expressão ou interpretação da norma jurídica. Assim, as normas 
de direito processual emanam das fontes que inspiram este ramo do direito e 
podem ser classifi cadas em formais e materiais.
Fontes formais são aquelas que detêm força vinculante e constituem o pró-
prio direito positivo. A fonte formal do direito processual, por excelência, é a lei 
lato sensu. Em sentido estrito, apontamos, inicialmente, a Constituição Federal 
que consagra os chamados princípios constitucionais processuais, tais como o 
devido processo legal, a ampla defesa e o contraditório, a duração razoável do 
processo, a isonomia e a inadmissibilidade de provas obtidas por meios ilícitos.
Fontes materiais são as que não possuem força vinculante nem caráter 
obrigatório, mas se destinam a revelar e informar o sentido das normas pro-
cessuais. São assim considerados os princípios gerais do direito, o costume, a 
jurisprudência (entendimento dos tribunais) e a doutrina (ensinamentos dos 
autores especializados).
De se registrar que, hoje, a fi gura da súmula vinculante, prevista no artigo 
103-A da Carta de 1988 e regulada pela Lei nº 11.417/06, torna o preceden-
te judicial fonte material do direito nesta hipótese. Trata-se de uma fi gura hí-
brida, com características de norma abstrata, eis que aplicável a todos, porém 
surgida a partir de um caso específi co, e, por isso, também norma concreta 
entre as partes envolvidas naquele litígio.
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São, portanto, fontes do Direito Processual brasileiro:
a) Constituição — Estabelece, em matéria de direito processual, im-
portantes diretrizes e garantias fundamentais:
Art. 5º: isonomia / paridade de armas (caput); segurança jurídica e coisa jul-
gada (inciso XXXVI); inviolabilidade da intimidade e sigilo das correspondên-
cias e comunicações, relacionadas à atividade probatória e cognitiva processual 
(incisos X e XII); direito à informação (inciso XXXIII); tutela jurisdicional efe-
tiva — inafastabilidade do Poder Judiciário (inciso XXXV); juiz natural (incisos 
LIII e XXXVII); devido processo legal (inciso LIV); contraditório e ampla defesa 
(inciso LV); ações constitucionais para a tutela de direitos fundamentais (habeas 
corpus — inciso LXVII; mandado de segurança — inciso LXIX; mandado de 
injunção — inciso LXXI; habeas data — inciso LXXII; ação popular — inciso 
LXXIII); assistência jurídica gratuita (inciso LXXIV); razoável duração do pro-
cesso (inciso LXXVIII).
Em outros dispositivos da Constituição: obrigatoriedade de fundamentação 
das decisões judiciais (art. 93, inciso IX); atividade jurisdicional é ininterrupta 
(art. 93, inciso XII); organização e funcionamento de instituições essenciais à 
administração da justiça (Ministério Público — arts. 127 a 130; advocacia — 
arts. 131 a 135).
Competência legislativa processual defi nida na Constituição:
Art. 22, I, CRFB — privativa da União;
Exceção: art. 24, X e XI — concorrente UF, Estados e DF — juizados especiais e 
procedimentos em matéria processual.
Art. 62, §1º, alínea b (introduzido pela EC 32/2001) — proibição de edição 
de medidas provisórias em matéria processual.
b) Tratados internacionais — podem ter força de emenda constitucio-
nal se versarem sobre direitos humanos e forem aprovados, em cada 
casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por 3/5 dos votos dos 
respectivos membros (art. 5º, §3º). Mesmo assim, nenhum tratado 
poderá alterar qualquer direito ou garantia processual que constitu-
am cláusula pétrea (art. 60, § 4º).
c) Lei complementar — as matérias tratadas por LC não podem ser 
objeto de medida provisória (inserida pela EC 32/2001). Em ma-
téria processual, existem 3 matérias que devem ser tratadas por lei 
complementar: Estatuto da Magistratura (art. 93, caput); organi-
zação e competência da Justiça Eleitoral (art. 121); normas sobre 
direito processual em matéria tributária (art. 146).
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FGV DIREITO RIO 18
14 Art. 543-C, CPC. Art. 285-A, CPC. Art. 
103-A, CF.
15 Equidade: (art. 20, §4º, CPC. Lei 
9.307/96 e art. 127, CPC).
16 Art. 1º do CPC: “A jurisdição civil, con-
tenciosa e voluntária, é exercida pelos 
juízes, em todo o território nacional, 
conforme as disposições que este Códi-
go estabelece.” Art. 1.211: “Este Código 
regerá o processo civil em todo o terri-
tório brasileiro. (...).”
d) Lei ordinária — como regra geral, as normas processuais devem ser 
veiculadas por lei ordinária, ressalvados os casos em que a própria 
Constituição exige lei complementar (vide item anterior). Princi-
pais leis processuais ordinárias vigentes em nosso ordenamento: 
CPC (Lei 5.869/73); Assistência judiciária gratuita (Lei 1.060/50); 
Mandado de segurança (Lei 12.016/2009); Ação Civil Pública (Lei 
7.347/85);
CDC (Lei 8.078/90).
e) Fontes complementares — art. 126, CPC (costumes, analogia, os 
princípios gerais de direito, jurisprudência14 e equidade15, art. 4º, 
Lei de Introdução ao Código Civil — Dec. Lei nº 4.657/42).
5 — NORMA PROCESSUAL
O Estado é o responsável pela determinação das normas jurídicas, que 
estabelecem como deve ser a conduta das pessoas em sociedade. Tais normas 
podem: a) defi nir direitos e obrigações; b) defi nir o modo de exercício desses 
direitos.
As primeiras constituem aquilo que convencionamos chamar de normas 
jurídicas primárias ou materiais. Elas fornecem o critério a ser observado no 
julgamento de um confl ito de interesses. Aplicando-as, o juiz determina a 
prevalência da pretensão do demandante ou da resistência do demandado, 
compondo, desse modo, a lide que envolve as partes.
As segundas, de caráter instrumental, compõem as normas jurídicas se-
cundárias ou processuais, provenientes do direito público, conforme já ressal-
tado. Elas determinam a técnica a ser utilizada no exame do confl ito de inte-
resses, disciplinando a participação dos sujeitos do processo (principalmente 
as partes e o juiz) na construção do procedimento necessário à composição 
jurisdicional da lide.
A efi cácia espacial das normas processuais é determinada pelo princípio da 
territorialidade, conforme expressam os arts. 1º e 1.211, 1ª parte, do CPC16. 
O princípio, com fundamento na soberania nacional determina que a lei 
processual pátria é aplicada em todo o território brasileiro (não sendo proibi-
da a aplicação da lei processual brasileira fora dos limites nacionais), fi cando 
excluída a possibilidade de aplicação de normas processuais estrangeiras dire-
tamente pelo juiz nacional.
Devido ao sistema federativo por nós adotado, compete privativamente à 
União legislar sobre matéria processual, conforme determina o art. 22, I, da 
CF. Não ocorre, pois, como nos EUA, em que as leis processuais divergem 
de um Estado para outro. Não obstante, as normas procedimentais estaduais 
brasileiras podem variar de Estado para Estado, uma vez que o art. 24, XI, da 
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CF, outorgou competência concorrente à União, aos Estados-membros e ao 
Distrito Federal para legislar sobre “procedimentos em matéria processual”.
Além disso, ao lado das normas processuais (art. 22, I, da CF) e das proce-
dimentais (art. 24, XI, da CF), existem as normas de organização judiciária, 
que também podem ser ditadas concorrentemente pela União, pelos Estados 
e pelo Distrito Federal (CF/88, arts. 92 e segs., merecendo especial destaque 
os arts. 96, I, “a”, e 125, § 1.°).
No tocante à efi cácia temporal das normas, aplica-se o art. 1.211, 2ª parte, 
CPC, segundo o qual a lei processual tem aplicação imediata, alcançando os 
atos a serem realizados e sendo vedada a atribuição de efeito retroativo.
No que tange ao início de sua vigência, no entanto, de acordo com o art. 
1º da Lei de Introdução ao Código Civil, a lei processual começa a vigorar 
quarenta e cinco dias após a sua publicação, salvo disposição em contrário 
(na prática, é comum que se estabeleça a vigência imediata), respeitando-se, 
todavia, o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada, em con-
formidade com o art 5º, XXXVI, da Magna Carta e art. 6°, LICC.
Por fi m, quanto à forma de interpretação da norma processual, ou seja, 
determinar seu conteúdo e alcance, há diversos métodos de interpretação da 
norma jurídica que também podem ser estendidos à norma processual.
Assim, de maneira resumida, podemos classifi cá-los em: a) literal ou gra-
matical, que, como o próprio nome já diz, leva em consideração o signifi cado 
literal das palavras que formam a norma; b) sistemático, segundo o qual a 
norma é interpretada em conformidade com as demais regras do ordenamen-
to jurídico, que devem compor um sistema lógico e coerente que se estabele-
ce a partir da Constituição; c) histórico, em que a norma é interpretada em 
consonância com os seus antecedentes históricos, resgatando as causas que 
a determinaram; d) teleológico, que objetiva buscar o fi m social da norma, 
a “mens legis”, ou seja, diante de duas interpretações possíveis, o intérprete 
deve optar por aquela que melhor atenda às necessidades da sociedade (art. 
5º, LICC); e e) comparativo, que se baseia na comparação com os ordena-
mentos estrangeiros, buscando no direito comparado subsídios para a inter-
pretação da norma.
Conforme o resultado alcançado, a atividade interpretativa pode ser clas-
sifi cada em: a) declarativa, atribuindo à norma o signifi cado de sua expressão 
literal; b) restritiva, limitando a aplicação da lei a um âmbito mais estrito, 
quando o legislador disse mais do que pretendia; c) extensiva, conferindo-se 
uma interpretação mais ampla que a obtida pelo seu teor literal, hipótese em 
que o legislador expressou menos do que pretendia; d) ab-rogante, quando 
conclui pela inaplicabilidade da norma, em razão de incompatibilidade abso-
luta com outra regra ou princípio geral do ordenamento.
Acerca dos meios de integração, destacamos que, com o advento do Có-
digo Francês de Napoleão, em 1804, institui-se a importante regra de que o 
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 20
17 “Art. 126. O juiz não se exime de sen-
tenciar ou despachar alegando lacuna 
ou obscuridade da lei. No julgamento 
da lide caber-lhe-á aplicar as normas 
legais; não as havendo, recorrerá à 
analogia, aos costumes e aos princípios 
gerais do direito”.
18 Texto extraído de trecho de decisão 
proferida no Tribunal de Justiça do Es-
tado do Rio Grande do Sul ((Apelação 
Cível nº. 70005798004, Sétima Câmara 
Cível, Relator Des. Luiz Felipe Brasil 
Santos, julgado em 09/04/2003).
magistrado não mais poderia se eximir de aplicar o direito, sob o fundamento 
de lacuna na lei. Tal norma foi seguida pela maioria dos códigos modernos, 
sendo também positivada em nosso ordenamento.
Dessa forma, o art. 126, CPC17, preceitua a vedação ao non liquet, isto é, 
proíbe que o juiz alegue lacuna legal como fator de impedimento à prolação 
da decisão.
Para tanto, há de se valer dos meios legais de colmatagem de lacunas, 
previstos no art. 4º, LICC, a saber: a analogia (utiliza-se de regra jurídica 
prevista para hipótese semelhante), os costumes (que são fontes da lei) e os 
princípios gerais do Direito (princípios decorrentes do próprio ordenamento 
jurídico).
Ressalte-se, por fi m, que interpretação e integração têm funções comu-
nicantes e complementares, voltadas à revelação do direito. Ambas possuem 
caráter criador e permitem o contato direto entre as regras de direito e a vida 
social.
MATERIAL DE APOIO JURISPRUDÊNCIA
“Concordo com o eminente Relator quando diz que o Código Civil de 1916 
não previu, entre as hipóteses de exclusão elencadas no art. 1.595, a situação ora 
vertida nos autos, uma vez que excluiu da sucessão, exclusivamente, os herdeiros. 
(...) No entanto, se há omissões na identifi cação das pessoas integrantes do su-
porte fático, de tal omissão não se ressentem os princípios, que devem sempre ser 
identifi cados para serem invocados quando se verifi ca uma lacuna na lei. Assim, 
se há omissão de norma legal, deve sempre que prevalecer o princípio consagra-
do pelo legislador que, indiscutivelmente, é o de não permitir a quem atenta 
contra a vida de outrem possa dele receber alguma coisa, seja como sucessor, seja 
como cônjuge ou companheiro do sucessor. Essa é a intenção do legislador e a 
função da Justiça é exatamente fazer incidir a orientação ditada pela lei. Aliás, 
para isso é que somos juízes, para fazer justiça segundo os princípios que regem o 
sistema jurídico. Não somos, como dizia Montesquieu: la bouche de la loi, juízes 
que simplesmente se limitam a repetir e aplicar a norma contida no elenco legal, 
permitindo que se conviva com a injustiça. Somos Juízes
de Direito, integramos 
um Tribunal de Justiça. (...) Então, é o sentido que adoto, aceitando a tese sus-
tentada da tribuna de que o meeiro não deixa de ser um legatário ex legis; por-
tanto, aplicando-se também a indignidade no caso da sucessão legítima, pode-se 
construir uma nova hipótese de que ali se incluem também outras pessoas que, 
aproveitando-se diretamente do resultado do seu inexplicável gesto, venham a 
matar os autores da herança”18.
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 21
EMENTA: CONSTITUCIONAL. SINDICATO: CRIAÇÃO. C.F., art. 
8º, I e II: LIBERDADE e UNCIDADE SINDICAL. I. — A C.F., art. 8º, I 
e II, estabelece que é livre a associação profi ssional ou sindical, condicionando 
essa liberdade apenas a duas restrições: primeira, a obrigatoriedade do registro 
no órgão competente; segunda, que haverá apenas uma organização representa-
tiva de categoria profi ssional ou econômica na mesma base territorial, que não 
poderá ser inferior à área de um Município, e que a base territorial será defi nida 
pelos trabalhadores ou empregadores interessados. II. — O acórdão recorrido, 
no caso, analisou a alegada ofensa aos princípios da unicidade e da liberdade sin-
dical a partir e tendo em consideração a legislação infraconstitucional, arts. 570 
e 571, CLT, e bem assim a Lei 7.948, de 1986. Assim, para se chegar à questão 
constitucional, seria necessário superar a interpretação das normas infraconstitu-
cionais. III. — Ao Judiciário cabe, no confl ito de interesses, fazer valer a vontade 
concreta da lei, interpretando-a. Se, em tal operação, interpreta razoavelmente 
ou desarrazoadamente a lei, a questão fi ca no campo da legalidade, inocorrendo 
o contencioso constitucional. IV. — Decisão contrária aos interesses da parte 
não confi gura negativa de prestação jurisdicional (CF, art. 5º, XXXV). V. — 
Alegação de ofensa ao devido processo legal: CF, art. 5º, LV: se ofensa tivesse 
havido, seria ela indireta, refl exa, dado que a ofensa direta seria a normas proces-
suais. E a ofensa a preceito constitucional que autoriza a admissão do recurso ex-
traordinário é a ofensa direta, frontal. VI. — Alegação de ofensa ao inciso IX do 
art. 93 da CF: improcedência, porque o que pretende o recorrente, no ponto, é 
impugnar a decisão que lhe é contrária, certo que o acórdão está sufi cientemente 
fundamentado. VII. — A questão constitucional do art. 5º, XXXVI, não foi pre-
questionada. VIII. — Agravo não provido. (STF, 2ª Turma — AI-AgR 524983 
— AI-AgR — AG.REG.NO AGRAVO DE INSTRUMENTO — Relator(a) 
Ministro Carlos Velloso, Data: 23.08.2005)
ADMINISTRATIVO. FGTS. CORREÇÃO MONETÁRIA. ÍNDICES 
APLICÁVEIS. CONTAS ENCERRADAS. LACUNA LEGISLATIVA. ART. 
19-A DA MEDIDA PROVISÓRIA N.º 2.075-38/2001. APLICAÇÃO DO 
ART. 126 DO CPC E 5º DA LICC. PAGAMENTO DOS CRÉDITOS RELA-
TIVOS À CORREÇÃO DO FGTS DIRETAMENTE AOS SEUS TITULA-
RES. 1. A obrigatoriedade do depósito das atualizações dos créditos das contas 
vinculadas do FGTS na “respectiva conta do trabalhador”, conforme o disposto 
no art. 29-A, da Medida Provisória n.º 2.075-38/2001, diz respeito tão-somente 
às contas já existentes, não se referindo, portanto, aos casos de contas já encer-
radas. 2. Não existindo, assim, previsão legal disciplinado o procedimento a ser 
adotado nas hipóteses de encerramento das contas, cumpre ao órgão julgador, 
consoante o disposto no art. 126 do Código de Processo Civil, sanar as omissões 
existentes, afi m de prestar a adequada prestação da tutela jurisdicional reclama-
da. 3. A integração das normas jurídicas deve ser feita sempre com a observância 
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 22
da fi nalidade social desejada pela lei e do atendimento ao bem comum, nos ter-
mos do art. 5º da LICC. 4. O Tribunal a quo adotou entendimento adequado 
para o caso, ao determinar que o pagamento dos valores devidos fossem feitos 
diretamente aos autores, sem necessidade de depósito nas contas vinculadas ao 
FGTS, garantindo, assim, aos trabalhadores uma maior agilidade e menor bu-
rocratização para o recebimento de suas verbas, sem que, com isso, importasse 
em prejuízo à ora recorrente. 5. Recurso especial improvido. (STJ, Segunda Tur-
ma, RESP 200101912884 — RESP — RECURSO ESPECIAL — 394889 — 
Relator(a) LAURITA VAZ — DATA:08/09/2003).
LEITURAS OBRIGATÓRIAS
GRINOVER, Ada Pellegrini. Modernidade do direito processual brasileiro, 
O Processo em Evolução, Rio de Janeiro, Forense Universitária, 1996, 
p. 3-19.
BUENO, Cássio Scarpinella. O “modelo constitucional do direito processual 
civil”: um paradigma necessário de estudo do direito processual civil e 
algumas de suas aplicações, Revista de Processo, nº 161, jul. 2008, p. 
261-270.
PASSOS, J. J. Calmon de. Instrumentalidade e devido processo legal, Revista 
de Processo, nº 102, abr./jun. 2001, p. 55-67 (também publicado na 
Revista Forense, nº 351, p. 107-116).
LEITURAS COMPLEMENTARES
BARROSO, Luís Roberto. Neoconstitucionalismo e constitucionalização do 
direito (O triunfo tardio do direito constitucional no Brasil), Temas de 
Direito Constitucional, tomo IV, Rio de Janeiro, Renovar, 2009, p. 61-
120.
DINAMARCO, Cândido Rangel. Universalizar a tutela jurisdicional, Fun-
damentos do Processo Civil Moderno, tomo II, 4ª ed. São Paulo, Ma-
lheiros, 2001, p. 838-875. MESQUITA, José Ignácio Botelho de. As 
novas tendências do direito processual: uma contribuição para o seu re-
exame, Revista Forense, nº 361, mai/jun 2002, p. 47-72. MOREIRA, 
José Carlos Barbosa. Notas sobre alguns fatores extrajurídicos no julga-
mento colegiado, Temas de Direito Processual: sexta série, São Paulo, 
Saraiva, 1997, p. 145-172.
WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Fungibilidade de “meios”: uma outra di-
mensão do princípio da fungibilidade, in Aspectos Polêmicos e Atuais 
dos Recursos Cíveis e de Outras Formas de Impugnação às Decisões Ju-
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 23
diciais, coordenadores Nelson Nery Jr. e Teresa Arruda Alvim Wambier, 
São Paulo, Revista dos Tribunais, 2001, p. 1.090-1.144.
C — SURGE UM NOVO DIREITO PROCESSUAL. SISTEMAS, CONCEITO E 
PRINCÍPIOS.
INTRODUÇÃO
Os dois primeiros encontros do curso serão destinados a apresentar ao 
aluno uma nova concepção do Direito Processual. Conforme exposto no tex-
to de introdução ao curso, a Teoria Geral do Processo encontra hoje novos 
desafi os a ser enfrentados.
O seu objetivo é demonstrar a maior relevância dada aos princípios cons-
titucionais do processo dentro do atual enfoque da Teoria Geral do Processo. 
Assim, como ocorre em outros ramos do Direito, as normas presentes na 
Constituição da Republica atinge, hoje, uma efi cácia nunca antes vista em 
nosso país.
Antes disso, no início da primeira aula, o professor apresentará os obje-
tivos da disciplina, os métodos de trabalho a serem utilizados, a bibliografi a 
fundamental da disciplina e as formas de avaliação a que os alunos serão 
submetidos.
É importante observar que os casos escolhidos para análise (nessa e em 
outras aulas), na maioria das vezes, comportam diferentes soluções. Desse 
modo, ainda que no material haja uma decisão judicial em determinado sen-
tido, esse fato, por si só, não signifi ca que seja a única ou a melhor solução 
para determinado problema. Sempre que possível, serão trazidas decisões ju-
diciais antagônicas para ilustrar determinado assunto.
LEITURA BÁSICA
GRINOVER, Ada Pellegrini, DINAMARCO, Cândido, CINTRA, An-
tônio Carlos de Araújo. Teoria Geral do Processo. São Paulo: Editora 
Revista dos Tribunais, 1998. Capítulo 4: “Princípios Gerais do Direito 
Processual”.
CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de Direito Processual Civil, vol. I. Rio 
de Janeiro: Lumen Juris, 2005. Cap. IV: “Princípios Constitucionais do 
Direito Processual”.
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 24
LEITURA COMPLEMENTAR
MARINONI, Luis Guilherme. Teoria Geral do Processo. São
Paulo, Revista 
dos Tribunais, 2006. Parte I. Capítulo 2: “A influência dos Valores do 
Estado Liberal de Direito e do Positivismo Jurídico sobre os Conceitos 
Clássicos de Jurisdição”.
CALSAMIGLIA, Albert. Postpositivismo. In: Doxa: Cuadernos de Fi-
losofía del Derecho. Espanha: Doxa 21-I, 1998. Texto disponível 
no sítio jurídico: http://www.cervantesvirtual.com/servlet/SirveO-
bras/23582844322570740087891/cuaderno21/volI/Doxa21_12.pdf.
NERY JR, Nelson. Princípios do Processo Civil na Constituição Federal. São 
Paulo, Saraiva: 2004.
LINS E SILVA, Evandro. O Salão dos Passos Perdidos. Capítulos 3 e 4. Rio 
de Janeiro: Fundação Getulio Vargas, 1997.
EMENTÁRIO DO TEMA
— Novos Desafi os do Poder Judiciário.
— Ativismo Judicial.
— Interesses Disponíveis e Indisponíveis.
— Princípio Dispositivo.
— Princípios Constitucionais do Direito Processual.
NOTA AO ALUNO
O direito processual pátrio foi tradicionalmente norteado pelo princípio 
dispositivo, segundo o qual o juiz, mantendo-se eqüidistante, aguarda a ini-
ciativa das partes no que se refere à afi rmação dos fatos constitutivos de seu 
direito e a respectiva produção de provas. Vale dizer, o juiz decide segundo 
o alegado e provado pelas partes (iudex secundum allegata et probata partium 
iudicare debet).
Contudo, há situações em que o magistrado deve deixar sua posição 
de inércia para, quando necessário, tomar iniciativa na relação processual 
não apenas no que concerne ao regular andamento do feito (como tra-
dicionalmente sempre ocorreu), mas, principalmente, para garantir uma 
decisão justa.
É válido observar que a expressão “ativismo judicial” possui uma dupla 
acepção. Ela tanto pode ser utilizada em um sentido material9 (relativa à 
construção de direitos pelo Poder Judiciário), bem como em um sentido pro-
cessual (e nesse ponto se contrapõe à idéia de princípio dispositivo).
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 25
Em relação ao caráter processual do referido “ativismo”, não se pode dei-
xar de registrar que o grau de intensidade dessa intervenção do magistrado no 
processo será maior ou menor dependendo da natureza do interesse deduzido 
em juízo pelas partes. Assim, estando em jogo interesses indisponíveis, a prin-
cípio, caberá ao magistrado exercer poderes ativos no processo com maior 
freqüência do que em litígio, em que são disputados interesses disponíveis. 
Seria, então, correto afi rmar que os princípios constitucionais que regem a 
atividade jurisdicional irão incidir sempre da mesma forma em todo e qual-
quer processo?
Como se sabe, a CRFB/88, ao restabelecer o Estado Democrático de Di-
reito, assegurou uma série de garantias a todos os litigantes judiciais. Con-
tudo, os princípios constitucionais que regem a atividade jurisdicional irão 
aparecer de forma diversa, dependendo da relação jurídica de direito material 
que esteja sendo objeto de determinado litígio.
Revela-se importante, neste primeiro momento, esclarecer a defi nição de 
alguns conceitos básicos para o estudo do direito processual. O primeiro deles 
é o conceito de jurisdição. Jurisdição é o poder de “dizer o direito” concedido 
a um magistrado, regularmente investido de função judicante, decorrente do 
exercício da soberania estatal.
A jurisdição, por sua vez, é delimitada pela competência jurisdicional, 
sendo tal limitação relevante para uma melhor atuação do magistrado. A 
competência pode ser delimitada pela matéria, pelo território, pelo valor da 
causa, pela função desempenhada pelo magistrado, ou ainda pelo rito proces-
sual adotado para a tramitação de uma determinada demanda.
A fi xação de competência permite ao magistrado o desempenho de suas 
funções com maior efi ciência, celeridade e propicia, por meio da especializa-
ção, a melhoria da qualidade da prestação jurisdicional.
Em comarcas situadas em metrópoles, a competência jurisdicional possi-
bilita uma distribuição de serviço que melhor atenda às necessidades locais, 
tendo em vista o grande número de litigantes existentes naquele território.
Cada localidade apresenta peculiaridades que norteiam a especialização 
das varas e a criação / expansão dos órgãos jurisdicionais, que variam de acor-
do com a dinâmica social e as atividades econômicas ali desenvolvidas.
Por isso é comum constatar em comarcas situadas no interior dos Estados, 
a existência de varas únicas, reunindo o magistrado titular daquela comarca 
todas as competências, pois o número de demandas existentes não justifi caria 
a necessidade de distribuição de serviço a outro magistrado, ao contrário do 
que ocorre em cidades grandes ou em rápido desenvolvimento.
Outra importância dos critérios de fi xação de competência está relaciona-
da à garantia constitucional do juiz natural, tendo em vista a necessidade de 
se conferir a imparcialidade nos julgamentos.
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 26
Veja que a arbitragem, que é um meio alternativo de solução de confl itos 
exercido por um árbitro não investido na função jurisdicional pelo Estado 
(há quem admita que ele seja um juiz não togado), somente poderá ocorrer 
quando o bem da vida em discussão tiver natureza disponível, e, neste caso 
sim, possibilitar-se-á que os interessados elejam o julgador da causa, pois a 
soberania estatal permitiu excepcionalmente que em tais situações, as partes 
resolvam seus confl itos a partir de suas manifestações de vontade, sem a obri-
gatoriedade de uma intervenção ofi cial do Pode Público.
Outro conceito bastante utilizado no estudo do direito processual diz res-
peito ao processo. Processo pode ser defi nido como o instrumento que rea-
liza uma pretensão. Por pretensão entenda-se o bem da vida almejado pelo 
jurisdicionado. O conjunto de atos praticados para a obtenção de um bem da 
vida em juízo confi gura o que chamamos de processo.
O processo tem início com a distribuição da petição inicial e termina com a 
prolação de uma sentença judicial transitada em julgado, ressalvada a possibi-
lidade de ajuizamento de ação rescisória, o que será visto em ponto específi co.
O processo também se divide em várias fases, que variam de acordo com 
o rito processual correspondente para a tutela daquele direito. Em cada fase, 
o magistrado que é o condutor do processo, abre a oportunidade para que as 
partes pratiquem determinados atos processuais. Assim, por exemplo, na fase 
de recebimento da inicial, caberá ao juiz examinar a existência das condições 
da ação e pressupostos de procedibilidade; estando tudo em ordem, ordenará 
a citação do réu para que este apresente a sua defesa; depois, abre vistas para 
a parte autora se manifestar em réplica e abre a instrução probatória; e assim 
por diante.
Para cada fase ou ato processual há um prazo legalmente estipulado. Na 
falta de prazo expresso em lei, caberá ao juiz da causa fi xá-lo. Os prazos pro-
cessuais têm como principal objetivo evitar o perecimento do direito e garan-
tir a efetividade processual, limitando a prática de atos processuais dentro de 
um lapso temporal para que o processo não fi que tramitando eternamente.
A parte que não pratica o ato processual na fase apropriada ou no prazo 
fi xado fi ca impossibilitá-la de fazê-lo intempestivamente. Este fenômeno se 
denomina preclusão. Existem três espécies de preclusão: lógica, temporal e 
consumativa.
1. Sistemas de Direito Processual:
Existem basicamente dois sistemas no estudo do direito processual: 1) 
sistema da civil law, um sistema de tradição romano-germânica, adotado na 
Europa continental e na América do Sul e 2) sistema da common law, que é 
o sistema do direito inglês e dos países que foram suas antigas colônias — 
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 27
19 THEODORO JÚNIOR, Hum-
berto. Curso de Direito Proces-
sual Civil. Vol. I. Editora Foren-
se, 2010. p. 2.
20 DINAMARCO, Cândido Ran-
gel. A instrumentalidade do 
processo.
Malheiros editores. 
2009.
21 “(...) De fato a observância 
da técnica é fundamental 
para que o método estatal de 
solução de controvérsias cum-
pra com êxito sua função. O 
problema está nos exageros. 
Tudo que é levado às últimas 
consequências acaba pro-
duzindo efeitos perversos. A 
técnica processual deixa de 
ser fator de segurança e se 
transforma em fi m, adorando 
a sua própria imagem. Neces-
sário evitar que isso ocorra, 
pois ela está prestes a cair 
no lago” (BEDAQUE, José Roberto 
dos Santos. Efetividade do processo e 
técnica processual. Malheiros Editores, 
2007. p. 82).
EUA, Canadá e Austrália. No quadro a seguir, estão elencadas as principais 
distinções entre ambos sistemas:
CIVIL LAW COMMON LAW
Sistema em que o direito é escrito.
Sistema em que o direito surge dos 
costumes. A força da jurisprudência é 
muito grande, os precedentes judiciais 
possuem um peso bem maior do que 
nos países da civil law.
O Poder Judiciário atua em confor-
midade com a aplicação do direito 
objetivo, ou seja, das normas.
A função preponderante da justiça é a 
pacifi cação dos litigantes.
As decisões do STF no Brasil, mesmo em casos de controle difuso de 
constitucionalidade, tem sido aplicadas pelos juízes e tribunais dos estados, 
o que demonstra que os precedentes vêm ganhando força no Brasil. Ex: Re-
cursos repetitivos no STJ, Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas 
(NCPC) e Súmulas vinculantes: “Art. 103-A. O Supremo Tribunal Federal 
poderá, de ofício ou por provocação, mediante decisão de dois terços dos seus mem-
bros, após reiteradas decisões sobre matéria constitucional, aprovar súmula que, 
a partir de sua publicação na imprensa ofi cial, terá efeito vinculante em relação 
aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e indire-
ta, nas esferas federal, estadual e municipal, bem como proceder à sua revisão ou 
cancelamento, na forma estabelecida em lei”.
2. Conceito de Direito Processual:
“pode ser defi nido como o ramo da ciência jurídica que trata do complexo das 
normas reguladoras do exercício da jurisdição civil”19.
1ª Observação: Caráter instrumental do Direito Processual: O direito 
processual é a ferramenta, é o meio pelo qual o Estado exerce a sua função 
jurisdicional20.
2ª Observação: Comentário de José Roberto dos Santos Bedaque: como 
o processo é mero instrumento do direito material, ele não pode se prestar 
ao fi m narcisista de adorar a sua própria imagem. Ele não é fi m, é apenas o 
meio utilizado pelo Estado para efetivar o direito material. A ferramenta deve 
servir somente para facilitar o alcance do objetivo fi nal, ela jamais deve atra-
palhar, senão, seria melhor não usá-la21.
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 28
22 Instituições de Processo Ci-
vil. Vol. 1. Malheiros Editores, 
2009.
3 — Princípios Processuais em espécie:
A — Devido Processo Legal (art. 5º, LIV, CF/88): é a tradução de uma 
expressão inglesa “due process of Law”. Essa expressão originou-se há 800 
anos. Segundo Cândido Rangel Dinamarco22 essa garantia possui o signifi ca-
do sistemático de fechar o círculo das garantias constitucionais do processo, 
ou seja, o princípio do devido processo legal ressalta a necessidade da indis-
pensabilidade de todas as garantias processuais.
B — Princípio da Efetividade: O princípio da efetividade está conectado 
com a tutela executiva. O Poder Judiciário não pode se preocupar apenas em 
proferir a sentença, mas em criar meios executivos efi cazes para que a senten-
ça seja cumprida. Também pode ser entendido como princípio da máxima 
coincidência possível. Trata-se dos ensinamentos de Giuseppe Chiovenda no 
sentido de que o processo deve dar a quem tenha razão o exato bem da vida a 
que ele teria direito, se não precisasse se valer do processo jurisdicional.
B.1) Solução de litígios na execução: Ex: “Em observância ao 
princípio da efetividade, não se mostra razoável, em situações em que 
não haja comprometimento da manutenção digna do executado, que 
o credor não possa obter a satisfação de seu crédito, sob o argumento 
de que os rendimentos previstos no art. 649, IV, do CPC gozariam de 
impenhorabilidade absoluta”. (Resp 1059781 / DF, Nancy Andrighi, 
Publicado em 14/10/09).
C — Princípio da Igualdade — art. 5º, caput, CF/1988
O princípio da igualdade é garantido em todos os ramos do Direito, e no 
ramo processual ele é recepcionado sob a denominação de princípio da igual-
dade das partes. O conteúdo desse princípio se relaciona com a necessidade 
do juiz trata com igualdade os iguais e desigualmente os desiguais, na medida 
das desigualdades. Exemplo: art. 125, I, CPC que dispõe que o juiz deve 
assegurar às partes a igualdade de tratamento. O CDC quando determina a 
inversão do ônus da prova está dando um tratamento desigual aos desiguais, 
na medida exata de suas diferenças.
Observação: Privilégios do Estado no Processo Civil Brasileiro: 
Ofensa ao princípio da igualdade?
1. Prazos privilegiados à Fazenda Pública e ao Ministério Público: em quá-
druplo para contestar e em dobro para recorrer (art. 188, CPC).
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 29
23 Curso de Direito Processual Civil. Vol 
1. Editora Jus Podivm, 2008. p. 45.
2. Ciência dos atos judiciais pelo MP mediante vista dos autos (art. 236, 
§2º, CPC) e não mediante publicação na imprensa, como é feito com os 
litigantes comuns.
3. Honorários advocatícios arbitrados em níveis inferiores quando a Fa-
zenda Pública é condenada, conforme art. 20, §4º, CPC. Juízes interpretam 
o termo eqüitativo como módico e fi xam os honorários e percentuais mais 
abaixo que o comum.
4. Duplo grau de jurisdição obrigatório (art. 475, incs. II e III, CPC) — 
remessa necessária para as ações que envolvem a Fazenda Pública.
D — Princípio da duração razoável do processo ou celeridade — art. 
5º, LXXVIII, CRFB
A Convenção Americana de Direitos Humanos no seu artigo 8º, I, prevê 
que “Toda pessoa tem o direito a ser ouvida com as devidas garantias e dentro de 
um prazo razoável (...)”.
Para alguns autores, tendo em vista o fato de que art. 5º, §1º, CF, recep-
ciona direitos fundamentais oriundos de tratados internacionais dos quais o 
Brasil faça parte, o direito a um processo sem dilações indevidas já fazia parte 
do ordenamento pátrio. Para outros, ele poderia ser deduzido do princípio 
do devido processo legal, art. 5º, LIV, que, como já vimos, serve como um 
princípio geral no qual estão consagradas todas as garantias processuais.
Esta discussão perdeu o objeto no momento em que a EC nº 45/04 in-
cluiu o inciso LXXVIII ao artigo 5º da Constituição Federal, tornando ex-
presso o princípio da celeridade ou duração razoável do processo.
Como saber se um processo teve uma duração razoável ou não? A Corte Eu-
ropéia de Direitos do Homem fi xa três critérios: a) complexidade do assunto; 
b) comportamento dos litigantes e de seus procuradores ou da acusação e da 
defesa no processo; c) atuação do órgão jurisdicional, tanto no que se refere a 
sua estrutura, quanto no que se refere à atuação do juiz e servidores da justiça.
E — Princípio do Contraditório — art. 5º, LV da CF/88
Segundo Fredie Diddier Jr. “O processo é um instrumento de composição de 
confl ito — pacifi cação social — que se realiza sob o manto do contraditório. O 
contraditório é inerente ao processo. Trata-se de princípio que pode ser decomposto 
em duas garantias: participação (audiência; comunicação; ciência) e possibilida-
de de infl uência na decisão”23 (infl uência da doutrina alemã).
Dessa maneira, a doutrina atual entende o contraditório como a relação: 
ciência, participação e possibilidade de infl uência na decisão do juiz. Não bas-
ta ciência e participação, como defi nia a doutrina clássica, mais que isso, é 
fundamental que as partes tenham a possibilidade de infl uenciar no convenci-
mento
do juiz. Daí a importância do contraditório ser sempre PRÉVIO a de-
cisão que será proferida, salvo quando houver risco de perecimento de direito.
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 30
F — Princípio da ampla defesa — art. 5º, LV da CF/88
É um princípio do processo correlato ao princípio do contraditório, pre-
visto também no artigo 5º, LV, CF/88, ou seja, é por meio do contraditório 
que o juiz possibilita a ampla defesa para as partes, desta maneira, é o contra-
ditório uma espécie de instrumento da ampla defesa.
G — Princípios da imparcialidade do juiz e do juiz natural
De acordo com a Constituição Federal, os agentes estatais têm o dever de 
agir com impessoalidade (art. 37, CF/88), ou seja, sem levar em conta esses 
sentimentos ou interesses e, portanto, com abstração de sua própria pessoa. 
Além do artigo 37, a CF, traz no seu artigo 93, incisos I a III, que garante aos 
magistrados o trinômio: vitaliciedade — inamovibilidade — irredutibilidade 
de subsídios.
Essas três garantias aos magistrados são indispensáveis para a sua indepen-
dência e imparcialidade, e, de certa forma, servem para blindar os juízes de 
pressões externas.
Os artigos 134 e 135 do CPC são aqueles que prevêem as hipóteses de 
impedimento e suspeição do juiz e também possuem como escopo garantir a 
imparcialidade dos juízes.
Quanto ao princípio do juiz natural, esse encontra previsão no art. 5º, 
incisos XXXVII e LIII, e consiste em dizer que o exercício da jurisdição deve 
se dar por juízes investidos e competentes na forma da Constituição e das 
leis. O signifi cado histórico para o princípio do juiz natural se resume em: 
a) julgamento por juiz investido na função jurisdicional; b) preexistência do 
órgão judiciário; c) juiz competente segundo a Constituição e as leis.
H — Princípio da inércia e da demanda:
Consiste na redução do juiz à inércia até que a parte tome iniciativa para 
a formação do processo (art. 2º e 262, CPC).
I — Princípio da lealdade ou da boa-fé objetiva processual:
O princípio da lealdade ou boa-fé objetiva processual é um princípio que 
impõe aos sujeitos da relação jurídica o dever de respeito mútuo, de proteção 
da confi ança, sempre atuando a favor da moralidade da justiça. Para alguns 
doutrinadores, como Menezes Cordeiro, o dever de boa-fé decorre do prin-
cípio da igualdade. Para os civilistas brasileiros o fundamento constitucional 
da boa-fé é a dignidade da pessoa humana.
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 31
ESTUDO DE CASO
Caso 1: A “Associação dos Moradores e Amigos da Praia de Itaguaçu” ajui-
zou ação civil pública, em face da Petrobrás, objetivando a reparação de gra-
ves danos ao meio ambiente causados por essa empresa. Ao receber a petição 
inicial, o magistrado determinou, ex offi cio e antes mesmo do prazo previsto 
para apresentação de defesa pela ré, que fosse realizada prova pericial para de-
terminar a extensão dos prejuízos causados ao meio ambiente. A empresa-ré 
recorreu da decisão do magistrado alegando violação da cláusula due process 
of law, em especial dos princípios da ampla defesa: contraditório, isonomia e 
imparcialidade, haja vista que tal medida, que sequer foi requerida pela au-
tora, deveria ser cumprida antes mesmo da apresentação de sua contestação.
Indaga-se: Agiu corretamente o Magistrado? Providência semelhante po-
deria ter sido tomada por ele em demanda que tratasse de interesse individual 
disponível?
Caso 2: Conhecida emissora de televisão adquiriu, de terceiro, uma gra-
vação telefônica que fora supostamente obtida por meios ilícitos. Um dos 
interlocutores da gravação era o então Governador do Estado que, vislum-
brando ameaça ao seu direito à intimidade, decide interpor medida cautelar 
inominada em face daquela emissora para impedir a veiculação e divulgação 
do teor de suas conversas telefônicas mantidas com terceiros.
Deferida a liminar pleiteada pelo Governador do Estado, a ré (emissora 
de TV) insurge-se contra aquela decisão e recorre ao Tribunal de Justiça. Em 
suas razões, a recorrente alega que a liberdade de imprensa é assegurada pelo 
artigo 220 da Constituição e que o artigo 5°, IX e XIV da CRFB/88,assegura 
a livre expressão e acesso à informação. Aduz ainda que o Judiciário, ao impe-
dir a divulgação de informações de relevância social está, na verdade, atuando 
de forma arbitrária, censurando previamente, sobretudo por ser o recorrido 
fi gura pública de projeção nacional, sujeitando-se à publicidade de seus atos. 
Por fi m, alega que o fato das gravações terem sido obtidas de forma clandes-
tina não é relevante, já que não foram produzidas pela recorrente e nem a seu 
mando.
Considerando a evidente colisão de princípios constitucionais, como de-
cidir a presente hipótese?
Caso 3: Nos capítulos 3 e 4 do livro “O Salão dos Passos Perdidos”, o 
jurista Evandro Lins e Silva11 narra as difi culdades encontradas pelos defen-
sores dativos de presos políticos designados para atuar junto ao Tribunal de 
Segurança Nacional. Como se sabe, Em 11 de setembro de 1936, foi criado 
no Brasil o Tribunal de Segurança Nacional para julgar pessoas envolvidas no 
movimento comunista de novembro de 1935. Com a instituição do “Estado 
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 32
Novo”, em 1937, o Tribunal passou a ser utilizado também para julgar todo 
e qualquer opositor daquela nova ordem. Entre os diversos julgamentos reali-
zados por esse Tribunal, Lins e Silva destaca o de Luís Carlos Prestes e Harry 
Berger, defendidos pelo notável advogado Sobral Pinto que chegou mesmo 
a invocar a lei de proteção aos animais na defesa de seus clientes12. Como se 
sabe, no julgamento de crimes políticos pelo referido tribunal de exceção, 
inexistiu qualquer respeito às liberdades fundamentais. Indaga-se: De que 
modo o respeito aos princípios constitucionais estudados na aula são impor-
tantes para que se tenha um processo justo?
JURISPRUDÊNCIA
Princípio do contraditório e efi cácia horizontal dos direitos funda-
mentais
SOCIEDADE CIVIL SEM FINS LUCRATIVOS. UNIÃO BRASILEIRA 
DE COMPOSITORES. EXCLUSÃO DE SÓCIO SEM GARANTIA DA AM-
PLA DEFESA E DO CONTRADITÓRIO. EFICÁCIA DOS DIREITOS FUN-
DAMENTAIS NAS RELAÇÕES PRIVADAS. RECURSO DESPROVIDO.
I. EFICÁCIA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS NAS RELAÇÕES 
PRIVADAS. As violações a direitos fundamentais não ocorrem somente no 
âmbito das relações entre o cidadão e o Estado, mas igualmente nas relações 
travadas entre pessoas físicas e jurídicas de direito privado. Assim, os direitos 
fundamentais assegurados pela Constituição vinculam diretamente não apenas 
os poderes públicos, estando direcionados também à proteção dos particulares 
em face dos poderes privados.
II. OS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS COMO LIMITES À AUTO-
NOMIA PRIVADA DAS ASSOCIAÇÕES. A ordem jurídico-constitucional bra-
sileira não conferiu a qualquer associação civil a possibilidade de agir à revelia dos 
princípios inscritos nas leis e, em especial, dos postulados que têm por fundamento 
direto o próprio texto da Constituição da República, notadamente em tema de 
proteção às liberdades e garantias fundamentais. O espaço de autonomia privada 
garantido pela Constituição às associações não está imune à incidência dos prin-
cípios constitucionais que asseguram o respeito aos direitos fundamentais de seus 
associados. A autonomia privada, que encontra claras limitações de ordem jurídica, 
não pode ser exercida em detrimento ou com desrespeito aos direitos e garantias de 
terceiros, especialmente aqueles positivados em sede constitucional, pois a autono-
mia da vontade não confere aos particulares, no domínio de sua incidência e atua-
ção, o poder de transgredir ou de ignorar as restrições postas e defi nidas pela própria 
Constituição, cuja efi cácia e força normativa também se impõem, aos particulares, 
no âmbito de suas relações privadas, em tema de liberdades fundamentais.
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 33
III. SOCIEDADE CIVIL SEM FINS LUCRATIVOS. ENTIDADE QUE 
INTEGRA ESPAÇO PÚBLICO, AINDA QUE NÃO-ESTATAL. ATIVIDA-
DE DE CARÁTER PÚBLICO. EXCLUSÃO DE SÓCIO SEM GARANTIA 
DO DEVIDO PROCESSO LEGAL.APLICAÇÃO DIRETA DOS DIREI-
TOS FUNDAMENTAIS À AMPLA DEFESA E AO CONTRADITÓRIO. As 
associações privadas que exercem função predominante em determinado âmbito 
econômico e/ou social, mantendo seus associados em relações de dependência 
econômica e/ou social, integram o que se pode denominar de espaço público, 
ainda que não-estatal. A União Brasileira de Compositores — UBC, socieda-
de civil sem fi ns lucrativos, integra a estrutura do ECAD e, portanto, assume 
posição privilegiada para determinar a extensão do gozo e fruição dos direi-
tos autorais de seus associados. A exclusão de sócio do quadro social da UBC, 
sem qualquer garantia de ampla defesa, do contraditório, ou do devido processo 
constitucional, onera consideravelmente o recorrido, o qual fi ca impossibilitado 
de perceber os direitos autorais relativos à execução de suas obras. A vedação das 
garantias constitucionais do devido processo legal acaba por restringir a pró-
pria liberdade de exercício profi ssional do sócio. O caráter público da atividade 
exercida pela sociedade e a dependência do vínculo associativo para o exercício 
profi ssional de seus sócios legitimam, no caso concreto, a aplicação direta dos 
direitos fundamentais concernentes ao devido processo legal, ao contraditório e 
à ampla defesa (art. 5º, LIV e LV, CF/88).
IV. RECURSO EXTRAORDINÁRIO DESPROVIDO. (RE 201819 RJ. 
Data do julgamento: 10/10/05).
Interceptação telefônica no Processo Civil
Em situações excepcionais, é possível interceptação telefônica em inves-
tigação de natureza civil (fonte: www. stj.jus.br. Acesso em 01/09/2011)
É possível a intercepção telefônica no âmbito civil em situação de extrema ex-
cepcionalidade, quando não houver outra medida que resguarde direitos ameaçados 
e o caso envolver indícios de conduta considerada criminosa. A decisão é da Terceira 
Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ), ao julgar habeas corpus preventivo 
em que o responsável pela execução da quebra de sigilo em uma empresa telefônica 
se recusou a cumprir determinação judicial para apurar incidente de natureza civil.
O Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul (TJMS) julgou correta a deci-
são do juízo de direito de uma vara de família, que expediu ofício para investigar 
o paradeiro de criança levada por um familiar contra determinação judicial. O 
gerente se negou a cumprir a ordem porque a Constituição, regulamentada neste 
ponto pela Lei 9.296/96, permite apenas a interceptação para investigação cri-
minal ou instrução processual penal.
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 34
O TJMS considerou que é possível a interceptação na esfera civil quando ne-
nhuma outra diligência puder ser adotada, como no caso julgado, em que foram 
expedidas, sem êxito, diversas cartas precatórias para busca e apreensão da crian-
ça. O órgão assinalou que o caso põe em confronto, de um lado, o direito à inti-
midade de quem terá o sigilo quebrado e, de outro, vários direitos fundamentais 
do menor, como educação, alimentação, lazer, dignidade e convivência familiar.
Para o tribunal local, as consequências do cumprimento da decisão judicial 
em questão são infi nitamente menos graves do que as que ocorreriam caso o 
estado permanecesse inerte. Segundo o relator no STJ, ministro Sidnei Beneti, 
a situação inspira cuidado e não se trata pura e simplesmente de discussão de 
aplicação do preceito constitucional que garante o sigilo.
Embora a ordem tenha partido de juízo civil, a situação envolve também a 
necessidade de apurar a suposta prática do delito previsto pelo artigo 237 do Es-
tatuto da Criança e do Adolescente (ECA): “Subtrair criança ou adolescente ao 
poder de quem o tem sob sua guarda em virtude de lei ou ordem judicial, com 
o fi m de colocação em lar substituto.”
O ministro destacou que o responsável pela quebra do sigilo não demonstrou 
haver limitação na sua liberdade de ir e vir e não há informação no habeas corpus 
sobre o início de processo contra ele, nem sobre ordem de prisão cautelar. “Não 
toca ao paciente, embora inspirado por razões nobres, discutir a ordem judicial 
alegando direito fundamental que não é seu, mas da parte”, ressaltou o ministro.
“Possibilitar que o destinatário da ordem judicial exponha razões para não 
cumpri-la é inviabilizar a própria atividade jurisdicional, com prejuízo para o 
Estado Democrático de Direito”, afi rmou o ministro. Tendo em vista não haver 
razões para o receio de prisão iminente, a Terceira Turma não conheceu do pedi-
do de habeas corpus impetrado pela defesa.
Promotor Natural
Informativo 511 (Fonte: www.stf.jus.br. Acesso em 29/11/2011)
A Turma indeferiu habeas corpus em que denunciado a partir de investiga-
ções procedidas na denominada “Operação Anaconda” pela suposta prática do 
crime de corrupção ativa (CP, art. 333) pleiteava a nulidade de procedimento 
que tramitara perante o TRF da 3ª Região, sob o argumento de ofensa ao prin-
cípio do promotor natural (CF, artigos 5º, LIII ; 127, § 1º e 128, § 5º, b), bem 
como de violação a regras contidas no Código de Processo Penal e em portarias 
da Procuradoria Regional da República da respectiva região. Inicialmente, asse-
verou-se que, conforme a doutrina, o princípio do promotor natural representa 
a impossibilidade de alguém ser processado senão pelo órgão de atuação do Mi-
nistério Público dotado de amplas garantias pessoais e institucionais, de absoluta 
independência e liberdade de convicção, com atribuições previamente fi xadas e 
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 35
conhecidas. Entretanto, enfatizou-se que o STF, por maioria de votos, refutara a 
tese de sua existência (HC 67759/RJ, DJU de 1º.7.93) no ordenamento jurídico 
brasileiro, orientação essa confi rmada, posteriormente, na apreciação do HC 
84468/ES (DJU de 20.2.2006). Considerou-se que, mesmo que eventualmente 
acolhido o mencionado princípio, no presente caso não teria ocorrido sua trans-
gressão. HC 90277/DF, rel. Min. Ellen Gracie, 17.6.2008. (HC-90277)
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 36
AULAS 3 E 4: A JURISDIÇÃO NO ESTADO CONTEMPORÂNEO
INTRODUÇÃO
Os institutos jurídicos da jurisdição, ação e do processo compõe a cha-
mada “Trilogia Estrutural do Direito Processual”, expressão consagrada pelo 
jurista argentino Ramiro Podetti. Uma correta compreensão desses institutos 
é conditio sine qua non para que tenha um bom aproveitamento em todas as 
disciplinas relacionadas à Teoria Geral do Processo (como, por exemplo: Pro-
cesso Civil, Penal e Trabalhista). De fato, todos os institutos estudados pela 
Ciência Processual estão de alguma maneira relacionados a pelo menos um 
dos três institutos mencionados.
A jurisdição ocupa o centro da teoria processual e por intermédio dela 
se manifesta uma das formas do poder estatal soberano. O direito de ação é 
assegurado a todos. Ao exercer esse direito, o cidadão provoca o exercício da 
atividade jurisdicional. Com feito, o exercício ex offi cio da jurisdição repre-
sentaria um motivo de instabilidade social e comprometeria a imparcialidade 
do órgão julgador. O processo, por sua vez, é o instrumento utilizado pelo 
Estado para prestar jurisdição e se manifesta por uma série de atos concate-
nados para o fi m de obtenção da tutela jurisdicional.
Todos estes institutos foram idealizados com vista ao consumidor da pres-
tação jurisdicional, porque é na sua aceitação que se encontra a legitimida-
de do exercício do poder. Assim, é preciso verifi car se estes institutos estão 
produzindo uma prestação conforme as expectativas dos seus destinatários. 
Como já visto, a participação dos jurisdicionados, assegurada pelo contradi-
tório, é essencial
para que estes possam infl uenciar na decisão a que futura-
mente estarão vinculados.
Nas primeiras aulas do curso, tratamos dos aspectos processuais do fenô-
meno conhecido por “ativismo judicial”, ou seja, dos limites encontrados na 
legislação processual para participação do juiz na busca de uma justa solução 
para o caso que lhe foi submetido. Agora, trataremos dos limites substanciais 
encontrados pelo juiz ao decidir os casos que lhe são submetidos. Será correto 
afi rmar que a jurisdição é uma atividade meramente declaratória de direitos?
LEITURA BÁSICA
GRINOVER, Ada Pellegrini, DINAMARCO, Cândido, CINTRA, Antônio 
Carlos de Araújo. Teoria Geral do Processo. São Paulo: Editora Revista 
dos Tribunais, 1998. Capítulo 11: “Jurisdição: Conceito e Princípios 
Fundamentais”.
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 37
24 CARNELUTTI, Francesco. Teo-
ria Geral do Direito. São Paulo: 
Saraiva & Cia Editores, 1942, p. 
78-82. Tradução A. Rodrigues 
Queirós.
CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de Direito Processual Civil, vol. I. Rio 
de Janeiro: Lumen Juris, 2005. Cap. VI: “Jurisdição”, p. 65-81.
MARINONI, Luis Guilherme. Teoria Geral do Processo. São Paulo, Revista 
dos Tribunais, 2006. Parte I. Capítulo 7: “A Jurisdição no Estado Con-
temporâneo”, p. 89-109.
LEITURA COMPLEMENTAR
ALVIM, J. E. Carreira. Elementos de Teoria Geral do Processo. 10ª ed. Rio 
de Janeiro: Forense. 2005. Capitulo III: “Jurisdição”.
JARDIM, Afrânio Silva. Direito Processual Penal. 8ª ed. Rio de Janeiro: Fo-
rense, 1999. Cap. 1: “Notas sobre a Teoria da Jurisdição”.
CAPPELLETTI, Mauro. Juízes Legisladores? Trad. Carlos Alberto Álvaro de 
Oliveira, Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris Editor, 1999.
EMENTÁRIO DO TEMA
— A trilogia estrutural da ciência processual: jurisdição, ação e processo.
— Formas de composição de conflitos: Da autotutela à jurisdição.
— Jurisdição: conceito e características.
— A importância da atividade jurisdicional na concretização de valores 
públicos: o papel da jurisprudência na construção do ordenamento jurídico.
— Os escopos da Jurisdição.
— Jurisdição Contenciosa e Voluntária.
NOTA AO ALUNO
A idéia de direito, nos dias atuais, está amplamente ligada ao exercício, 
pelo Estado, da função jurisdicional. Seja entre os leigos ou mesmo entre os 
estudiosos do Direito, é difícil dissociar estes dois conceitos. Todavia, num 
estágio menos desenvolvido da sociedade humana, não era isso que ocorria 
e a regra geral era a da autotutela. De fato, em tempos remotos não ocorria 
intromissão do Estado na resolução de conflitos privados entre seus súditos.
Para melhor entender os modos pelos quais os conflitos sociais surgem, e 
são resolvidos, é de bom alvitre recorrer à lição de Carnelutti24.
Segundo esse consagrado autor, existem no mundo pessoas e bens (entes 
capazes de satisfazer a uma necessidade do homem) e, obviamente, há cons-
tante interesse do ser humano em se apropriar deste para satisfazer suas neces-
sidades. Segundo o renomado jurista, “interesse” seria uma posição favorável 
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 38
25 CINTRA, Antônio Carlos de 
Araújo; GRINOVER, Ada Pelle-
grini; DINAMARCO, Cândido 
Rangel. Teoria Geral do Pro-
cesso. 14ª edição. São Paulo: 
Malheiros Editores, 1998, p. 
21-22.
26 CHIOVENDA, Giuseppe. Ins-
tituições de Direito Processual 
Civil, vol II.São Paulo: Saraiva 
& Cia. Editores, 1943, p. 11. 
Tradução J. Guimarães Mene-
gale. Título original: Istituzioni 
di Diritto Processuale Civile.
à satisfação de uma necessidade que se verifi ca em relação a um bem. No en-
tanto, como os bens são limitados (diferentemente do que ocorre em relação 
às ilimitadas necessidades humanas), irão surgir no convívio social conflitos 
de interesses. Caso este conflito não se dilua no meio social, determinado 
membro da sociedade irá desejar que o interesse do outro seja subordinado 
ao seu (esse fenômeno Carnelutti chamou de pretensão). Havendo resistência 
à “pretensão” do titular de um dos interesses por parte de outrem, surgirá a 
denominada “lide” (conflito de interesses).
Para Carnelutti, jurisdição é a atividade estatal em que se busca a justa 
composição da lide.
Este conflito de interesses pode ser resolvido através da atividade dos pró-
prios litigantes, ou através da intervenção de um terceiro. A forma mais primi-
tiva de compor conflitos de interesses é a autotutela. Nos primórdios da huma-
nidade imperava sempre a lei do mais forte e, por intermédio da brutalidade, 
um indivíduo conseguia fazer o seu interesse prevalecer. Sendo este um modo 
desagregador da sociedade, com o passar do tempo, a razão foi assumindo o 
lugar da força bruta, surgindo a chamada autocomposição, onde o conflito é 
resolvido pela atividade das partes em litígio, por meio do consenso, da renún-
cia ao direito litigioso, e até da transação, onde ocorrem concessões recíprocas.
Todavia, algumas vezes, esta autocomposição pode não ocorrer. Além dis-
so, as desigualdades sociais, presentes desde as primeiras formas de organi-
zação social, podem levar à prevalência dos interesses dos mais poderosos. 
Com a evolução social, chega-se a idéia de entregar a resolução deste conflito 
a um terceiro (buscava-se uma decisão imparcial), surgindo o que se chamou 
de arbitragem facultativa, que era exercida, num primeiro momento, pelos 
sacerdotes ou pelos anciãos25 de determinada localidade.
De facultativa, através da intervenção por parte de um terceiro, se torna 
obrigatória, assumindo o Estado o papel de terceiro (uma vez que se com-
preende que aquele que decide o conflito deve ser mais forte que as partes), e 
caso sua decisão fosse acatada, seria imposta coercitivamente. Considera-se, 
então, o processo (instrumento da jurisdição) como o método mais efi ciente 
para composição de litígios, sendo este o meio através do qual o Estado Mo-
derno presta a função jurisdicional.
Ao elaborar sua Teoria Geral do Processo no início do século XX, Chioven-
da defi niu a jurisdição como “a função do Estado que tem por escopo a atua-
ção da vontade concreta da lei por meio da substituição, pela atividade de ór-
gãos públicos, da atividade de particulares ou de outros órgãos públicos, já no 
afi rmar a existência da vontade da lei, já no torná-la, praticamente, efetiva26.”
Como se nota, a distinção entre as funções legislativa e jurisdicional foi 
feita por Chiovenda de forma bem simples, mediante a utilização do critério 
criação-aplicação do direito. É essa a visão que até hoje tem prevalecido entre 
os processualistas contemporâneos (ao menos em nosso país).
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 39
27 Nesse sentido, THEODORO 
JR., Humberto. Curso de Direi-
to Processual Civil, vol. I. 41ª 
edição. CÂMARA, Alexandre 
Freitas. Lições de Direito Pro-
cessual Civil, vol. I. 13ª ed. Rio 
de Janeiro: Lumen Juris, 2005, 
p. 74. GRINOVER, Ada Pelle-
grini, DINAMARCO, Cândido, 
CINTRA, Antônio Carlos de 
Araújo. Teoria Geral do Pro-
cesso. 14ª edição. São Paulo: 
Editora Revista dos Tribunais, 
1998, p. 38.
28 Foi utilizada como fonte de 
consulta a versão traduzida 
para o português: CAPPELLET-
TI, Mauro. Juízes Legisladores? 
Trad. Carlos Alberto Alvaro De 
Oliveira, Porto Alegre: Sergio 
Antonio Fabris Editor, 1999.
29 CAPPELLETTI, Mauro. Juízes 
Legisladores?, op. cit., p. 21-22.
Nessa perspectiva, a jurisdição seria uma atividade declaratória27 de direi-
tos preexistentes. Segundo os adeptos desse entendimento, o direito, criado 
pelo legislador, seria declarado pelo magistrado ao julgar a pretensão que lhe 
foi submetida.
Entre os principais juristas opositores dessa tradicional concepção, é perti-
nente destacar a doutrina de Mauro Cappelletti, emérito jurista da Universi-
dade de Florença. Na obra denominada “Giudici Legislatori?”28, Cappelletti 
apresenta uma nova visão da jurisdição, não mais caracterizada
como ati-
vidade meramente declaratória de direitos. CAPPELLETTI desenvolve seu 
pensamento partindo da constatação de que interpretação e criação do direi-
to não seriam conceitos opostos, pois ao menos um mínimo de criatividade 
mostra-se inerente a toda atividade interpretativa:
“Em realidade, interpretação signifi ca penetrar os pensamentos, inspirações 
e linguagem de outras pessoas com vistas a compreendê-los e — no caso do 
juiz, não menos que no do musicista, por exemplo — reproduzi-los, “aplicá-los” 
e “realizá-los” em novo e diverso contesto de tempo e lugar. É óbvio que toda 
reprodução e execução varia profundamente, entre outras influências, segundo 
a capacidade do intelecto e estado de alma do intérprete. Quem pretenderia 
comparar a execução musical de Arthur Rubinstein com a do nosso ruidoso 
vizinho? E, na verdade, quem poderia confundir as interpretações geniais de 
Rubinstein, com as também geniais, mas bem diversas, de Cortot, Gieseking ou 
de Horowitz? Por mais que o intérprete se esforce por ser fi el ao seu “texto, ele 
será sempre, por assim dizer, forçado a ser livre — porque não há texto musical 
ou poético, nem tampouco legislativo, que não deixe espaço para variações e nu-
ances, para a criatividade interpretativa. Basta considerar que as palavras, como 
as notas nas músicas, outras coisas não representam senão símbolos convencio-
nais, cujo signifi cado encontra-se inevitavelmente sujeito a mudanças e aberto a 
questões e incertezas.”29
Nos dias de hoje, parece claro que o problema se concentra não mais na 
existência da discricionariedade do magistrado na solução de determinado 
caso, mas sim nos modos, limites e legitimidade da criatividade judicial. As-
sim, qual seria o melhor critério para diferenciar os atos jurisdicionais dos de 
legislativos e jurisdicionais?
Igual difi culdade é encontrada pela doutrina para identifi car, em determi-
nadas hipóteses, a diferença de um ato administrativo de outro jurisdicional.
É o que ocorre com os atos do magistrado na chamada Jurisdição Volun-
tária. Aqui, existe a “eterna” controvérsia entre os autores adeptos das teorias 
clássica (ato administrativo) e revisionista (ato jurisdicional). Indaga-se: O 
que diferencia substancialmente um ato de natureza administrativa de ou-
tro jurisdicional praticado pelo juiz? No procedimento de cumprimento de 
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 40
Testamento (arts. 1.125 — 1.141, CPC) existe atividade substancialmente 
jurisdicional?
São essas questões que devem ser respondidas pela moderna Teoria Geral 
do Processo.
ESTUDO DE CASO
Caso 1: Limites Materiais da Jurisdição
a) Embargos Infringentes 70003967676 TJ/RS; Apelação Cível 
70009550070 TJ/RS (ver julgados em anexo). O Tribunal de Justiça do Rio 
Grande do Sul já teve a oportunidade de reconhecer, em diversos julgados, a 
existência de união estável homoafetiva e de direitos sucessórios daí decorren-
tes, malgrado inexista legislação específi ca sobre o assunto.
(b) Apelação Criminal 70004802740 Relator: Amilton Bueno de Car-
valho. No mesmo Tribunal, são encontradas decisões que consideram como 
inconstitucional o crime de uso de entorpecentes, por ausência de lesão a 
qualquer bem jurídico relevante (Princípio da Lesividade). Embora a matéria 
tenha sido alterada pela Lei nº 11.343/06, o legislador optou, no art. 28, em 
continuar considerando como fato típico o uso de substâncias entorpecentes. 
Amilton Bueno de Carvalho é considerado hoje como um dos principais 
expositores da Escola denominada de “Direito Alternativo”. Em seus votos 
fi ca clara sua visão liberal em relação a determinados delitos, como “uso de 
entorpecentes” e “jogo do bicho” (ver julgados em anexo).
Problema: É correto afi rmar que a jurisdição é uma atividade meramen-
te declaratória de direitos preexistentes? Seria constitucional a “construção” 
de direitos pelo Judiciário? Até onde seria legítimo ao Judiciário considerar 
como juridicamente irrelevantes condutas tipifi cadas pelo legislador?
Caso 2: Jurisdição Voluntária
José e Maria, separados de fato há mais de 5 anos, com fi lho menor im-
púbere, ingressam em juízo requerendo, “amigavelmente”, a dissolução do 
vínculo matrimonial que os une e que seja concedida a guarda compartilhada 
da criança. O ato a ser praticado pelo magistrado possui conteúdo adminis-
trativo ou jurisdicional? É possível ajuizar ação rescisória para atacar julgado 
proferido em sede de jurisdição voluntária?
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 41
Problema: A Lei nº 11.441/2007 trouxe a possibilidade de realização de 
inventário e partilha por escritura pública, em determinadas situações, tra-
tando também da faculdade de adoção de mecanismo semelhante em casos 
de separação consensual e de divórcio consensual quando não houver fi lhos 
menores do casal. Quais as vantagens / desvantagens da adoção desse modelo?
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 42
30 COUTURE, Eduardo. Proyec-
to de Codigo de Procedi-
miento Civil, Monte- video, s/
ed., 1945, p. 37. Apud CRUZ e 
TUCCI, José Rogério. Tempo e 
Proces- so. São Paulo: Revista 
dos Tribunais, 1997, p. 111.
31 il processo deve dare per 
quanto è possibile pratica-
mente a chi há un di- ritto 
tutto quello e proprio quello 
ch’egli há diritto di consegui-
re” (CHIOVENDA, Giuseppe. 
“Dell’azione nascente dal con-
trato preliminare” In: Saggi di 
diritto processuale civile. Mila-
no: Giuff rè, 1993, v. 1, p. 110).
AULAS 5 E 6: A EFETIVIDADE DA TUTELA JURISDICIONAL 
(PROCESSO X TEMPO)
INTRODUÇÃO
“Quien no puede esperar, se sabe de antemano derrotado. Quien especula 
con el tiempo para preparar su insolvencia, para desalentar a su adversario, para 
desinteresar a los jueces, gana en ley de fraude lo que no podría ganar en ley de 
debate”30.
A existência de normas jurídicas (direito objetivo) não é sufi ciente para 
garantir, por si só, o bem estar na sociedade. Muitas vezes, se torna imperiosa 
a atuação do Estado, seja através da tutela administrativa ou da tutela juris-
dicional para a garantia dos direitos assegurados aos membros da sociedade. 
De fato, a atividade jurisdicional do Estado é hoje o mais importante ins-
trumento de tutela do direito, ou melhor, do bem estar social. Devido a sua 
notória importância, a atividade jurisdicional deve se desenvolver da forma 
mais efi caz com o fi m de concretizar o bem comum.
Muito antes da evolução do processo para sua atual missão política e 
social, voltada para a instrumentalidade e a efetividade, CHIOVENDA já 
preconizava que o ideal do processo deveria ser “dar a quem tem direito” o 
quanto possível e, de forma prática, tudo e exatamente aquilo que tivesse 
direito31. Com razão, é de se perceber que o processo, instrumento de reali-
zação dos direitos, somente obtém êxito integral em seu mister quando for 
capaz de gerar, na realidade social, resultados idênticos aos que decorreriam 
do cumprimento natural e espontâneo das normas jurídicas.
Daí dizer que o processo ideal é aquele que dispõe de mecanismos aptos a 
produzir ou a induzir a concretização do direito mediante a entrega da exata 
prestação devida.
Assim, se determinada pessoa é credora de uma obrigação de não-fazer, 
o ordenamento deve dispor de mecanismos hábeis a impedir que o devedor 
descumpra essa obrigação. Eventual conversão em perdas e danos não satis-
faz, por completo, os ideais perseguidos pelo processualista moderno. À guisa 
de exemplo, basta pensar em eventuais danos causados ao meio-ambiente 
(direitos difusos), em que uma tutela preventiva (inibitória) é bem mais efi caz 
do que a tutela pelo equivalente monetário.
Conforme já referido, o Direito Processual, através de suas normas e prin-
cípios, atinge hoje a denominada fase instrumentalista, não podendo mais 
ser visto apenas como ramo meramente técnico para realização do direito 
material, mas
sim como meio efetivo e célere para produzir justiça entre os 
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 43
32 CARNEIRO, Paulo Cezar Pi-
nheiro, Acesso a Justiça: Jui-
zados Especiais Cíveis e Ação 
Civil Pública, 1ª edição. Rio 
de Janeiro, Forense. 1999. Em 
recente trabalho, com o qual 
conquistou a cátedra da disci-
plina Teoria geral do Processo 
na Universidade do Estado do 
Rio de Janeiro, o professor nos 
leciona que: “Após um breve 
balanço histórico, especial-
mente dos movimentos que 
levaram à organização do 
Estado democrático de hoje, 
pode-se verifi car nitidamen-
te que as diversas premissas 
assentadas para garantir um 
efetivo acesso à justiça servi-
ram de base para a elabora-
ção de um novo arcabouço 
jurídico em diversos países de-
mocráticos, independente do 
sistema jurídico a que eles se 
vinculam, romano germânico 
ou da common law.”
33 CRUZ e TUCCI, José Rogério. 
Tempo e Processo. São Paulo: 
Revista dos Tribunais, 1988. 
Realiza importantes observa-
ções sobre as conseqüências 
da lentidão do processo para 
a sociedade.
membros da sociedade. Destarte, considera-se principalmente o modo com 
o que os seus resultados chegam ao jurisdicionado.
É dentro desta perspectiva que surge a questão do acesso à justiça32 (acesso 
a uma ordem jurídica justa), em que se buscam novos instrumentos para que 
maior número de pessoas sejam admitidas a demandar e a defender-se ade-
quadamente, superando obstáculos jurídicos, sociais e econômicos que, por 
ventura, encontre em seu caminho.
Por outro lado, é importante observar que um fator negativo, em espe-
cial, tem sido considerado como obstáculo quase que insuperável para que 
tenhamos um processo efetivo: o fator tempo. A lentidão da justiça traz con-
seqüências danosas para toda a sociedade em todos os seus setores33. Não foi 
à toa que nosso legislador constituinte derivado, recentemente, alçou o prin-
cípio da razoável duração do processo (Emenda Constitucional nº 45/05) à 
categoria de norma constitucional, alterando, assim, o art. 5º da Constitui-
ção da República Federativa do Brasil de 05 de outubro de 1988 e fazendo 
a inclusão no seu inciso LXXVIII à exigência de que todo processo judicial 
tenha um prazo de duração razoável.
LEITURA BÁSICA
CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de Direito Processual Civil, vol. I. Rio 
de Janeiro: Lumen Juris, 2005. Parte I. Cap. VI: “Jurisdição”, p. 82-96.
MARINONI, Luis Guilherme. Teoria Geral do Processo. São Paulo, Revista 
dos Tribunais, 2006. Parte II Capítulo 5: “Da Ação Abstrata e Uniforme 
à Ação Adequada à Tutela do Direito Material e ao Caso Concreto”, p. 
240-265.
LEITURA COMPLEMENTAR
FUX, Luiz. Curso de Direito Processual Civil, 2ª edição. Editora Forense. 
Rio de Janeiro. 2004. Parte II. Cap. I, p. 41-83. “Tutela Jurisdicional. 
Conceito. Espécies”.
DINAMARCO, Cândido Rangel. Tutela Jurisdicional. In: Fundamentos do 
Processo Civil Moderno. 5ª ed. São Paulo: Malheiros, 2002, p. 797-837.
DINAMARCO, Cândido Rangel. Universalizar a Tutela Jurisdicional. In: 
Fundamentos do Processo Civil Moderno. 5ª ed. São Paulo: Malheiros, 
2002, p. 838-875.
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 44
34 DORIA, Rogéria Dotti. A tu-
tela antecipada em relação 
à parte incontroversa da de-
manda. São Paulo: Editora Re-
vista dos Tribunais, 2000.
EMENTÁRIO DO TEMA
— Distinção entre jurisdição e tutela jurisdicional.
— Classifi cação da Tutela Jurisdicional.
— Tutela Jurisdicional Antecipada.
— Tutela Específi ca nas obrigações de fazer, não fazer e entregar coisa.
NOTA AO ALUNO
“Enquanto a efetividade dos direitos exige uma atuação extremamente ágil 
e rápida por parte do Poder Judiciário, a busca da segurança jurídica demanda 
cautela, cuidado e, acima de tudo, tempo.”34
Inúmeras reformas foram feitas em nossa legislação processual com a fi na-
lidade de obter um processo mais efetivo. Dentre as diversas alterações feitas, 
na presente aula, destacamos a introdução, no direito brasileiro, dos institu-
tos da “tutela antecipada” (art. 273, CPC) e da “tutela específi ca” das obriga-
ções de fazer e não fazer (art. 461, CPC), realizadas pela Lei. 8.952/94 (Re-
formas Processual de 1994) e, posteriormente, alteradas pela Lei. 10.444/02 
(Reforma da reforma, que ampliou a incidência da tutela específi ca também 
para as obrigações de dar coisa certa 461-A, CPC).
Como acima referido, o tempo é um dos maiores entraves existentes para 
que se tenha um processo justo. Normalmente, os ônus causados pela mo-
rosidade da justiça recaem sobre o autor do processo, que necessita aguardar 
longos anos — às vezes até décadas — para receber aquilo que lhe está as-
segurado pelo ordenamento jurídico. “Justiça tardia é justiça pela metade” é 
frase constantemente ouvida nos corredores forenses.
Malgrado a reclamação com a lentidão do processo seja quase que unâ-
nime, não se pode deixar de observar que, em quase todo processo, existe 
pelo menos uma parte — muitas vezes o réu — interessada em procrastinar 
a prestação jurisdicional. Assim, a legislação processual possui mecanismos 
para, em determinadas situações, inverter os ônus causados pela morosidade 
da justiça, quando o direito do autor estiver evidenciado no processo.
TUTELA ANTECIPADA
Conceito
A tutela antecipada é uma espécie de tutela sumária, ou seja, aquela que é 
feita sem um grau de cognição de certeza absoluta do direito e sim com base 
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 45
35 Classifi cação atribuída a 
WATANABE, Kazuo. Da Cog-
nição no Processo Civil. 2. ed., 
São Paulo: Centro de Estudos e 
Pesquisas Judiciais, 1999.
no juízo de probabilidade, conforme previsto no art. 273 do CPC. Difere-se 
esta espécie de cognição da exauriente35, realizada na sentença, onde se busca 
um grau de certeza acerca do direito.
A tutela antecipada é uma técnica processual que permite a antecipação 
dos efeitos da tutela defi nitiva. Dessa forma, ela vem dirimir o confl ito exis-
tente entre a tutela do direito e o tempo do processo (direito x tempo). O 
legislador permite que o juiz antecipe os efeitos da decisão de mérito fi nal 
com o intuito de evitar que o decurso do tempo limite ou impossibilite o 
exercício do direito.
Os requisitos da tutela antecipada se dividem em genéricos (sempre de-
vem ser observados) e específi cos (incidem de acordo com o caso concreto).
Requisitos da tutela antecipada
Genéricos Específi cos
Verossimilhança das alegações (art. 
273, caput, CPC)
Haja fundado receio de dano irrepará-
vel ou de difícil reparação (art. 273, I, 
CPC).
Prova inequívoca (art. 273, caput, CPC)
Caracterização do abuso de defesa (art. 
273, I, CPC).
A tutela deve ser reversível (art. 273, 
§2º, CPC), salvo nos casos em que o 
juiz ponderar os direitos envolvidos e 
escolher por deferir a tutela antecipa-
da, ainda que seja irreversível.
Pedido incontroverso (art. 273, §6º, 
CPC)
Legitimidade
Autor, na petição inicial e réu na reconvenção ou na contestação (quando 
se tratar de rito sumário e rito dos Juizados Especiais, já que não cabe recon-
venção, mas apenas o pedido contraposto). O MP também pode pedir se 
estiver atuando como parte, ou quando estiver agindo como fi scal da lei em 
ações que envolvam direitos indisponíveis.
Tutela antecipada x Tutela cautelar
Não se pode confundir o instituto da tutela antecipada com a tutela cau-
telar, que há muito já estava expressamente prevista na legislação processual 
(vide Livro III do CPC / 73).
Contudo, é importante observar que as medidas antecipatórias já existiam 
de forma “camuflada”, “disfarçada” em nosso ordenamento, mesmo antes da 
nova redação do art. 273. Como exemplo, temos as liminares concedidas na 
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 46
ação de despejo, ação possessória, mandado de segurança, ação de alimentos 
e outras medidas
anteriormente chamadas de “cautelares satisfativas”. Assim, 
por não existir expressa previsão de uma antecipação de tutela, doutrina e a 
jurisprudência, para assegurar a efetividade do provimento jurisdicional e o 
acesso à justiça, passaram então a admitir a concessão de “cautelares satisfati-
vas”, normalmente concedidas através das ações cautelares inominadas. Com 
a adoção da tutela antecipada na reforma de 1994, o provimento antecipa-
tório passou a ser admitido em todos os demais procedimentos previstos na 
legislação processual.
Embora relacionadas as situações em que o tempo aparece como grave 
obstáculo à efetividade do processo, tutela antecipada e tutela cautelar pos-
suem fi nalidades diversas. De fato, o escopo da medida cautelar é a efetivi-
dade do processo principal que, sem a mesma, poderá ser inútil (exemplo: 
arresto dos bens de devedor que está dilapidando seu patrimônio). A tutela 
antecipatória, por sua vez, visa proteger o próprio direito, que corre o risco 
de perenir, já que há a antecipação dos efeitos da sentença proferida no fi nal. 
A tutela antecipada é satisfativa; a cautelar, não. As tutelas satisfativas são 
aquelas que permitem a atuação prática do direito material, assegurando o 
bem comum da vida humana protegido pelo processo. Por sua vez, a tutela 
não-satisfativa é aquela que não protege o direito material, mas sim se limita 
a assegurar a utilidade de um outro processo.
É válido observar que nem sempre a tutela antecipada terá como requisito 
o perigo na demora da prestação jurisdicional. Esta é apenas a primeira das 
hipóteses de concessão da tutela antecipada (273, I CPC), podendo, ainda, 
a tutela antecipada ser utilizada em hipótese de abuso de direito de defesa 
do réu (273, II) ou quando um ou mais dos pedidos realizados, ou parte de 
algum desses pedidos, for incontroverso (273, § 6º do CPC).
Em qualquer das três hipóteses, entretanto, deve ser demonstrada pelo 
requerente a probabilidade de existência de seu direito por meio de prova 
inequívoca.
Efetividade da tutela antecipada
A nova redação do art. 461 do CPC, por sua vez, trouxe inovações ex-
pressivas, todas inspiradas no princípio da maior coincidência possível entre 
a prestação devida e a tutela jurisdicional entregue. Até 1994, a alternativa 
que se oferecia ao credor para a impossibilidade de obter tutela específi ca 
era a de converter tal prestação em sucedâneo pecuniário de perdas e danos. 
Hoje, uma nova alternativa é apresentada, podendo se exigir do obrigado o 
estrito cumprimento da omissão ou da ação pela qual se obrigou, em face da 
lei ou do contrato, somente substituindo-se a prestação específi ca por outra 
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 47
36 MARINONI, Luiz Guilherme 
e ARENHART, Sérgio Cruz. Ma-
nual do Processo de Conhe-
cimento, op. cit., p. 579; FUX, 
Luiz. Curso de Direito Proces-
sual Civil, op. cit., p. 478 e 479.
que assegure o resultado prático equivalente ao do adimplemento. Também 
possibilita a aplicação de multa, denominada astreinte,
Tutela inibitória
A tutela específi ca pode ser também referida como tutela inibitória, embo-
ra, comumente, este termo esteja associado a obrigações de não fazer. Tecni-
camente, contudo, ele comporta uma utilização mais ampla, como explicam 
Marinoni e Arenhart:
“A tutela inibitória, contudo, não visa apenas a impedir um fazer, ou seja, um 
ilícito comissivo, mas destina-se a combater qualquer espécie de ilícito, seja ele 
comissivo ou omissivo. O ilícito, conforme a espécie de obrigação violada, pode 
ser comissivo ou omissivo, o que abre oportunidade, por conseqüência, a uma 
tutela inibitória negativa-que imponha um não fazer ou a uma tutela inibitória 
positiva — que imponha um fazer.”36
ESTUDO DE CASO
Caso 1: O Ministério Público ajuizou demanda, com fundamento no 
estatuto do idoso (Lei. 10.741/03), objetivando compelir IRANI XXXX a 
submeter-se a uma transfusão de sangue, procedimento médico essencial 
para restabelecer a saúde do paciente idoso internado em hospital público. 
A família do demandado impedia, por motivos religiosos, que a transfusão 
fosse realizada. Concedida a tutela antecipada determinando a transfusão, 
foi interposto agravo de instrumento por familiar representante do idoso, 
alegando que a decisão recorrida violou uma série de direitos fundamentais, 
tais como liberdade e privacidade e que o provimento seria irreversível (art. 
273, par. 2º do CPC). Como decidir o caso?
Caso 2: Em 1993, Cristiane XXXXXX ajuizou demanda com pedido de 
reparação de danos movida em face do Estado do Rio de Janeiro. Em trágico 
incidente, envolvendo tiroteio entre policiais e meliantes, a autora, com ape-
nas 12 anos de idade na época, foi gravemente atingida, do que resultou lesão 
grave (tetraparalisia motora). Além dos danos materiais e morais, o réu foi 
condenado a obrigação de fornecer cadeira de rodas adaptada às necessidades 
da autora. O acórdão transitou em julgado apenas em 24/02/2000, tendo 
iniciado a execução em nov/00.
Passados mais de 6 anos desde o início da execução, após diversas inti-
mações e manifestações do Estado-Réu, ora esclarecendo que a responsabi-
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 48
lidade pelo fornecimento seria da Secretaria de Estado de Saúde (fls. 342), 
ora pedindo especifi cações sobre a cadeira, o que foi atendido desde 11/03 
(fls.328), pedindo prazo de 60 dias para o cumprimento (maio/04), e — ago-
ra com trinta anos de idade e grávida — ainda não havia recebido sequer a 
referida cadeira de rodas.
Foi, então, determinada nova intimação do réu para o cumprimento da 
decisão (fls. 392), elevando-se a multa diária, que já havia sido fi xada ante-
riormente para o valor de R$ 600,00, sendo mais uma vez descumprida a 
decisão. Assim, a autora apresenta petição na qual relata toda a desídia do réu 
e requer a penhora do numerário sufi ciente para compra de sua cadeira de 
rodas. Considerando que a execução por quantia certa contra a Fazenda Pú-
blica está sujeita a rito especial (art. 730, CPC), com sujeição à ordem de pre-
catórios (art. 100, CRFB/88), seria possível que tal bloqueio em conta fosse 
realizado? Existe fundamento legal para que o requerimento seja acolhido?
JURISPRUDÊNCIA
Limitação na aplicação das astreintes
PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO DE INS-
TRUMENTO. MULTA DIÁRIA. REDUÇÃO. LIMITAÇÃO. OBRIGA-
ÇÃO PRINCIPAL. POSSIBILIDADE. PRECLUSÃO. INEXISTÊNCIA. 
RECURSO ESPECIAL. JUÍZO DE PRELIBAÇÃO. SÚMULA N. 182-STJ. 
INAPLICABILIDADE, NA HIPÓTESE.
I. “É possível a redução das astreintes fi xadas fora dos parâmetros de razoabi-
lidade e proporcionalidade, fi xada a sua limitação ao valor do bem da obrigação 
principal, evitando-se o enriquecimento sem causa.” (4ª Turma, REsp 947466/
PR, Rel. Min. Aldir Passarinho
Junior, DJe 13/10/2009)
II. “Esta Corte já decidiu que o artigo 461, § 6º, do Código de Processo 
Civil permite que o magistrado altere o valor da multa quando este se tornar 
insufi ciente ou excessivo, mesmo depois de transitada em julgado a sentença. 
Aplicável, portanto, à espécie, o óbice da Súmula 83 desta Corte.” (3ª Turma, 
AgRg no Ag 1147543/MG, Rel. Min. Sidnei Beneti, DJe 05/08/2009)
III. Agravo regimental desprovido. (AgRg no Ag 1143766 / SP. Publicado 
em 10/12/2010).
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 49
Referente ao caso nº 1:
DIREITO À VIDA. TRANSFUSÃO DE SANGUE. TESTEMUNHAS 
DE JEOVÁ. DENUNCIAÇÃO DA LIDE INDEFERIDA. LEGITIMIDADE 
PASSIVA DA UNIÃO. LIBERDADE DE CRENÇA RELIGIOSA E DIREI-
TO À VIDA. IMPOSSIBILIDADE DE RECUSA DE TRATAMENTO MÉ-
DICO QUANDO HÁ RISCO DE VIDA DE MENOR. VONTADE DOS 
PAIS SUBSTITUÍDA PELA MANIFESTAÇÃO JUDICIAL. O recurso de 
agravo deve ser improvido porquanto à denunciação da lide se presta para a 
possibilidade de ação regressiva e, no caso, o que se verifi ca é a responsabilidade 
solidária dos entes
federais, em face da competência comum estabelecida no art. 
23 da Constituição federal, nas ações de saúde. A legitimidade passiva da União 
é indiscutível diante do art. 196 da Carta Constitucional. O fato de a autora ter 
omitido que a necessidade da medicação se deu em face da recusa à transfusão de 
sangue, não afasta que esta seja a causa de pedir, principalmente se foi também o 
fundamento da defesa das partes requeridas. A prova produzida demonstrou que 
a medicação cujo fornecimento foi requerido não constitui o meio mais efi caz 
da proteção do direito à vida da requerida, menor hoje constando com dez anos 
de idade. Confl ito no caso concreto dois princípios fundamentais consagrados 
em nosso ordenamento jurídico-constitucional: de um lado o direito à vida e de 
outro, a liberdade de crença religiosa. A liberdade de crença abrange não apenas 
a liberdade de cultos, mas também a possibilidade de o indivíduo orientar-se 
segundo posições religiosas estabelecidas. No caso concreto, a menor autora não 
detém capacidade civil para expressar sua vontade. A menor não possui consci-
ência sufi ciente das implicações e da gravidade da situação pata decidir confor-
me sua vontade. Esta é substituída pela de seus pais que recusam o tratamento 
consistente em transfusões de sangue. Os pais podem ter sua vontade substituída 
em prol de interesses maiores, principalmente em se tratando do próprio direito 
à vida. A restrição à liberdade de crença religiosa encontra amparo no princípio 
da proporcionalidade, porquanto ela é adequada à preservar à saúde da autora: é 
necessária porque em face do risco de vida a transfusão de sangue torna-se exigí-
vel e, por fi m ponderando-se entre vida e liberdade de crença, pesa mais o direito 
à vida, principalmente em se tratando não da vida de fi lha menor impúbere. 
Em conseqüência, somente se admite a prescrição de medicamentos alternativos 
enquanto não houver urgência ou real perigo de morte. Logo, tendo em vista 
o pedido formulado na inicial, limitado ao fornecimento de medicamentos, e 
o princípio da congruência, deve a ação ser julgada improcedente. Contudo, 
ressalva-se o ponto de vista ora exposto, no que tange ao direito à vida da menor. 
(TRF 4ª Região, Terceira Turma. AC 2003.71.020.00155-6 AC — APELA-
ÇÃO CIVEL. Relator(a) VÂNIA HACK DE ALMEIDA. DJ 01/11/2006).
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 50
Referente ao caso nº 2:
Proc.1993.001.040100-3
Autora: Cristiane XXXXXXXX
Réu: Estado do RJ
DECISÃO
(...)
O não-cumprimento da decisão judicial, da qual a autoridade competente 
foi diversas vezes intimada, não só causa perplexidade frente à multa pessoal já 
estabelecida, como caracteriza ato atentatório à dignidade da Justiça, a teor do 
art. 14, parágrafo único do CPC.
A omissão em apreço caracteriza, em tese, crime de prevaricação, autorizan-
do que a referida autoridade seja detida e conduzida à autoridade policial para 
lavratura de termo circunstanciado e demais providência penais.
Tal medida, entretanto, tem se revelado inócua, eis que, por inúmeras vezes, 
foram expedidos mandados de condução em feitos desta natureza, sem que sur-
tissem os frutos objetivados com a medida, qual seja, o cumprimento forçado da 
obrigação de fazer pela autoridade intimada, representante da ré, caracterizando 
afronta não só à dignidade da Justiça, mas também à dignidade da pessoa huma-
na que, no caso em tela, fi ca desprovida da cadeira de rodas de que necessita para 
dar regular prosseguimento à sua vida com autonomia, mormente considerando 
que a autora é atualmente mãe de um bebê, conforme relatado à fl. 371.
Resta, assim, adotar entendimento recente do STJ, no sentido de que, es-
tando em jogo valores constitucionalmente assegurados ao cidadão, como é o 
caso da dignidade da pessoa humana, impõe-se o deferimento do bloqueio, em 
conta corrente, de verba pública sufi ciente para aquisição da cadeira de rodas. 
Primazia, in casu, do princípio da dignidade da pessoa humana, da proteção à 
saúde e à vida, sobre princípios de direito fi nanceiro e administrativo, tal como 
o previsto pelo art. 100 da CF/88.
PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. FORNECIMENTO DE 
MEDICAMENTOS PELO ESTADO. DESCUMPRIMENTO DA DECI-
SÃO JUDICIAL DE ANTECIPAÇÃO DE TUTELA. BLOQUEIO DE VER-
BAS PÚBLICAS. MEDIDA EXECUTIVA. POSSIBILIDADE, IN CASU. 
PEQUENO VALOR. ART. 461, § 5.º, DO CPC. ROL EXEMPLIFICATIVO 
DE MEDIDAS. PROTEÇÃO CONSTITUCIONAL À SAÚDE, À VIDA E À 
DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA. PRIMAZIA SOBRE PRINCÍPIOS 
DE DIREITO FINANCEIRO E ADMINISTRATIVO. NOVEL ENTENDI-
MENTO DA E. PRIMEIRA TURMA.
1. Recurso especial que encerra questão referente à possibilidade de o jul-
gador determinar, em ação que tenha por objeto a obrigação de fornecer me-
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 51
dicamentos a portador hipossufi ciente de Isquemia cerebral crônica, medidas 
executivas assecuratórias ao cumprimento de decisão judicial antecipatória dos 
efeitos da tutela proferida em desfavor de ente estatal que resultem no bloqueio 
ou seqüestro de verbas deste depositadas em conta corrente.
2. Depreende-se do art. 461, § 5º do CPC, que o legislador, ao possibilitar 
ao juiz de ofício ou a requerimento determinar as medidas assecuratórias, como 
a “imposição de multa por tempo de atraso, busca e apreensão, remoção de 
pessoas e coisas, desfazimento de obras e impedimento de atividade nociva, se 
necessário com requisição de força policial”, não o fez de forma taxativa, mas sim 
exemplifi cativa, pelo que, in casu, o seqüestro ou bloqueio da verba necessária à 
aquisição dos medicamentos, objetos da tutela deferida e providência excepcio-
nal adotada em face da urgência e imprescindibilidade da prestação dos mesmos, 
revela-se medida legítima, válida e razoável.
3. Deveras, é lícito ao julgador, à vista das circunstâncias do caso concreto, 
aferir o modo mais adequado para tornar efetiva a tutela, tendo em vista o fi m da 
norma e a impossibilidade de previsão legal de todas as hipóteses fáticas. Máxi-
me diante de situação fática, na qual a desídia do ente estatal, frente ao comando 
judicial emitido, pode resultar em grave lesão à saúde ou mesmo pôr em risco a 
vida do demandante.
4. Os direitos fundamentais à vida e à saúde são subjetivos inalienáveis, cons-
titucionalmente consagrados, cujo primado, em um Estado Democrático de Di-
reito como o nosso, que reserva especial proteção à dignidade da pessoa humana, 
há de superar quaisquer espécies de restrições legais. Não obstante o fundamento 
constitucional, in casu, merece destaque a Lei Estadual nº 9.908/93, do Esta-
do do Rio Grande do Sul, que assim dispõe em seu art. 1º: “O Estado deve 
fornecer, de forma gratuita, medicamentos excepcionais para pessoas que não 
puderem prover as despesas com os referidos medicamentos, sem privarem-se 
dos recursos indispensáveis ao próprio sustento e de sua família. Parágrafo único. 
Consideram-se medicamentos excepcionais aqueles que devem ser usados com 
freqüência e de forma permanente, sendo indispensáveis à vida do paciente.”
5. A Constituição não é ornamental, não se resume a um museu de prin-
cípios, não é meramente um ideário; reclama efetividade real de suas normas. 
Destarte, na aplicação das normas constitucionais, a exegese deve partir dos 
princípios fundamentais para os princípios setoriais. E, sob esse ângulo, merece 
destaque o princípio fundante da República que destina especial proteção a dig-
nidade da pessoa humana.
6. Outrossim, a tutela jurisdicional, para ser efetiva, deve dar ao lesado re-
sultado prático equivalente ao que obteria se a prestação fosse cumprida volun-
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 52
tariamente. O meio de coerção tem validade quando capaz de subjugar a recal-
citrância do devedor. O Poder Judiciário não deve compactuar com o proceder 
do Estado que, condenado pela urgência da situação a
entregar medicamentos 
imprescindíveis proteção da saúde e da vida de cidadão necessitado, revela-se in-
diferente à tutela judicial deferida e aos valores fundamentais por ele eclipsados.
7. In casu, a decisão ora hostilizada pelo recorrente importa na disponibili-
zação em favor do recorrido da quantia de R$ 542,64 (quinhentos e quarenta e 
dois reais e sessenta e quatro centavos), que além de não comprometer as fi nan-
ças do Estado do Rio Grande do Sul, revela-se indispensável à proteção da saúde 
do autor da demanda que originou a presente controvérsia, mercê de consistir 
em medida de apoio da decisão judicial em caráter de sub-rogação.
8. Por fi m, sob o ângulo analógico, as quantias de pequeno valor podem ser 
pagas independentemente de precatório e a fortiori, entregue por ato de império 
do Poder Judiciário.
9. Recurso especial desprovido (...)
(STJ, 1ª Turma, REsp 746781 / RS ; RECURSO ESPECIAL 2005/0072519-
8. Relator(a) Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI (1124). Relator(a) p/ 
Acórdão Ministro LUIZ FUX (1122). Data do Julgamento 18/04/2006)
Jurisprudência em sentido contrário:
PROCESSUAL CIVIL. TUTELA ANTECIPADA. MEIOS DE COER-
ÇÃO AO DEVEDOR (CPC, ARTS. 273, §3º E 461, §5º). FORNECIMEN-
TO DE MEDICAMENTOS PELO ESTADO. BLOQUEIO DE VERBAS 
PÚBLICAS. IMPOSSIBILIDADE.
1. É cabível, inclusive contra a Fazenda Pública, a aplicação de multa diária 
(astreintes) como meio coercitivo para impor o cumprimento de medida anteci-
patória ou de sentença defi nitiva de obrigação de fazer ou entregar coisa, nos ter-
mos dos artigos 461 e 461A do CPC. Nesse sentido é a jurisprudência do STJ, 
como se pode verifi car, por exemplo, nos seguintes precedentes: AgRg no Ag 
646240/RS, 1ª T., Min. José Delgado, DJ de 13.06.2005; RESP 592132/RS, 5ª 
T., Min. José Arnaldo da Fonseca, DJ de 16.05.2005; AgRg no RESP 554776/
SP, 6ª T., Min. Paulo Medina, DJ de 06.10.2003; AgRg no REsp 718011/TO, 
1ª Turma, Min. José Delgado, DJ de 30.05.2005.
2. Todavia, não se pode confundir multa diária (astreintes) com bloqueio ou 
seqüestro de verbas públicas. A multa é meio executivo de coação, não aplicável 
a obrigações de pagar quantia, que atua sobre a vontade do demandado a fi m 
de compeli-lo a satisfazer, ele próprio, a obrigação decorrente da decisão judi-
cial. Já o seqüestro (ou bloqueio) de dinheiro é meio executivo de sub-rogação, 
adequado à obrigação de pagar quantia, por meio do qual o Judiciário obtém 
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 53
diretamente a satisfação da obrigação, independentemente de participação e, 
portanto, da vontade do obrigado.
3. Em se tratando da Fazenda Pública, qualquer obrigação de pagar quantia, 
ainda que decorrente da conversão de obrigação de fazer ou de entregar coisa, 
está sujeita a rito próprio (CPC, art. 730 do CPC e CF, art. 100 da CF), que 
não prevê, salvo excepcionalmente (v.g., desrespeito à ordem de pagamento dos 
precatórios judiciários), a possibilidade de execução direta por expropriação me-
diante seqüestro de dinheiro ou de qualquer outro bem público, que são impe-
nhoráveis. 4. Recurso especial provido.
(STJ, 1ª Turma, REsp 784188 / RS ; RECURSO ESPECIAL 2005/0160317-
2. Relator(a) Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI (1124). Data do Julga-
mento 25/10/2005)
(STF, Tribunal Pleno, Rcl 2363 / PA. Relator(a): Min. GILMAR MENDES. 
Julgamento: 23/10/2003)
E M E N T A: RECLAMAÇÃO. (...) 2. Seqüestro de recursos do Municí-
pio de Capitão Poço. Débitos trabalhistas. 3. Afronta à autoridade da decisão 
proferida na ADI 1662. 4. Admissão de seqüestro de verbas públicas somente 
na hipótese de quebra da ordem cronológica. Não equiparação às situações de 
não-inclusão da despesa no Orçamento. 5. Efeito vinculante das decisões profe-
ridas em ação direta de inconstitucionalidade. 6. Efi cácia que transcende o caso 
singular. 7. Alcance do efeito vinculante que não se limita à parte dispositiva 
da decisão. 8. Aplicação das razões determinantes da decisão proferida na ADI 
1662. 9. Reclamação que se julga procedente.
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 54
37 CÂMARA, Alexandre Freitas. 
Lições de Direito Processual 
Civil, vol. I. Rio de Janeiro: Lu-
men Juris, 2005, p. 98. 
AULAS 7, 8 E 9: COMPETÊNCIA
INTRODUÇÃO
A jurisdição, enquanto função estatal, é essencialmente una. Contudo, 
seu exercício exige que, na prática, ocorra uma divisão de trabalho entre os 
diversos órgãos que compõe nosso Poder Judiciário. Todos os órgãos do Po-
der Judiciário exercem jurisdição, mas, obviamente, nem todos serão compe-
tentes para examinar determinado litígio. Seria, aliás, um contra-senso que 
se criassem numerosos órgãos distribuídos por todo esse vasto e complexo 
sistema que é o aparelho judiciário e, em seguida, a lei facultasse a qualquer 
deles exercer, indistintamente, a jurisdição.
Essa divisão de competência entre diferentes órgãos do Judiciário é reali-
zada por intermédio de um critério racional que busca estabelecer regras para 
facilitar o exercício da Jurisdição.
Em termos técnicos, quando nos referimos a competência, estamos tra-
tando do “conjunto de limites dentro dos quais cada órgão do Judiciário 
pode exercer legitimamente a função jurisdicional37.” Como se nota, a noção 
de competência resulta de uma distribuição de funções, ou melhor, de uma 
limitação de funções. Na medida em que a lei divide e distribui, ela necessa-
riamente limita. Cada órgão do Judiciário recebe a sua parcela de função e, 
desse modo, só está habilitado a exercer as funções contidas nesses limites.
Isso ocorre não porque lhe falta jurisdição, mas sim porque lhe falta com-
petência. Poderíamos, então, dizer que a jurisdição é genérica e a competên-
cia é específi ca. Na medida em que o legislador delimita as atribuições de 
determinado órgão do Judiciário, ele está defi nindo a competência daquele 
órgão para determinadas funções e proibindo-o de exercer outras.
Será visto, mais à frente, que o processo tem como um de seus pressupos-
tos de existência a presença de um órgão investido de jurisdição. De fato, 
isso é o bastante para que o processo exista, mas não para que se desenvolva 
validamente. Entre outros pressupostos processuais de validade, é necessário 
que o órgão investido de jurisdição, mediante o qual se propõe determinada 
demanda, tenha competência para examiná-la.
O objetivo da presente aula é apresentar ao aluno os critérios utilizados 
para que seja fi xada a competência para o julgamento de determinada causa, 
bem como dos modos pelos quais a distribuição de competência é realizada 
na prática. Serão abordados, ainda, outros assuntos afeitos ao tema, como as 
hipóteses de prorrogação, prevenção e conflito de competência.
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 55
38 Não se pode perder de vista 
que num mesmo processo, 
diferentes órgãos do Poder 
Judiciário irão realizar atos 
diversos. Um órgão irá profe-
rir sentença, outro analisar o 
recurso, um terceiro cumprir a 
carta precatória, etc.
NOTA AO ALUNO
Imagine que você esteja formado, logrou êxito em seu exame da OAB e 
se encontra agora em seu escritório de advocacia. Ao receber seu primeiro 
cliente, ele lhe apresenta determinada situação jurídica que dará ensejo à sua 
primeira demanda. Contrato de honorários advocatícios devidamente assina-
do, só resta agora distribuir a petição inicial. Contudo, surge uma dúvida: a 
qual órgão de nosso imenso Poder Judiciário a petição deve ser direcionada?
Em termos práticos, na maioria das vezes, não há maiores difi culdades para 
determinar o juízo competente para determinado caso. Todavia, em determi-
nadas situações, essa será tarefa das mais árduas, em especial devido ao com-
plexo sistema de organização judiciária existente em nosso país. Não basta ao 
advogado conhecer a Constituição da República e a legislação processual.
Inúmeras vezes é preciso ter em mãos o regimento interno
e o código 
de organização judiciária do tribunal onde a demanda será proposta e, em 
outras, saber como a jurisprudência se posiciona sobre determinado assunto. 
Não é à toa que freqüentemente diferentes órgãos de nosso Judiciário discor-
dam sobre a matéria referente à competência jurisdicional e surge, assim, o 
denominado “conflito de competência”.
Diversos critérios de fi xação de competência são utilizados pelo legislador 
ao estabelecer regras genéricas de divisão de competência: em razão da ma-
téria, do valor da causa, da qualidade de uma das partes, critério funcional, 
territorial. Mas será que há um processo lógico para que, praticamente, seja 
determinada a competência para julgar determinada causa, ou melhor, para 
realizar determinado ato processual38?
Assim, o primeiro questionamento que se faz é no plano internacional. É 
preciso saber se cabe à Justiça Brasileira conhecer a causa. No processo civil 
brasileiro, a competência internacional é determinada pelos artigos 88 e 89 
do CPC.
Nas hipóteses do art. 88, temos a chamada competência internacional 
concorrente. Através dela existe a possibilidade de se for o caso, a Justiça de 
outro país poder, também, se considerar competente. Já nos casos do art. 89, 
a competência da Justiça brasileira é exclusiva e, então, nosso ordenamento 
jurídico só reconhece a competência do juiz brasileiro para conhecer a causa.
Nessas situações do art. 89, se a causa for julgada em outro país, não será 
possível que ocorra a homologação da sentença estrangeira no momento em 
que a pessoa pretender dar efeitos dessa sentença no território brasileiro pelo 
Superior Tribunal de Justiça.
Uma vez reconhecida a competência da Justiça brasileira, será necessário 
defi nir a competência constitucional interna. Consultando a Constituição, 
que indica as atribuições das Justiças Especiais, será então verifi cado se es-
tamos diante de hipótese de julgamento de alguma das Justiças Especiais 
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 56
39 Note-se que a competência 
dos Juizados Especiais é esta-
belecida pela CRFB/88 e pelas 
L. 9.099/95 e 10.259/01. Toda-
via, nada impede que outras 
divisões em relação ao valor 
da causa sejam feitas em de-
terminado tribunal, desde que 
respeitadas as regras presen-
tes na Constituição e na legis-
lação processual.
(Eleitoral, Militar e Trabalhista) ou da Justiça Comum (Federal ou Estadual). 
As atribuições da Justiça Estadual não estão enumeradas analiticamente na 
Constituição, mas a elas se chega por exclusão.
Na terceira etapa, serão apresentados os diversos critérios utilizados para 
a fi xação de competência: territorial, objetivo (pessoa, matéria ou valor da 
causa) e funcional irão incidir concomitantemente. Normalmente, o primei-
ro critério a ser observado é o territorial e, assim, deve ser verifi cado em qual 
comarca (Justiça Estadual) ou seção judiciária (Justiça Federal) deve o feito 
ser julgado. Como se sabe, o território brasileiro é dividido em circunscrições 
judiciárias. Aqui é comum encontrar a expressão “foro competente”, que in-
distintamente pode ser utilizado para se referir a comarca ou seção judiciária.
Se no foro competente para julgamento do feito só existir um órgão ju-
risdicional, o que é algo muito raro em nosso Estado, mas ainda pode ser 
encontrado no interior (ex: Comarca de Italva ou Comarca de Natividade), 
o problema está encerrado.
Todavia, normalmente, temos diversos órgãos jurisdicionais na mesma 
comarca ou seção e, então, consultando o código de organização judiciária e 
o regimento interno dos tribunais, poderá fi nalmente ser encontrado qual o 
juízo competente (essa divisão pode ser feita em relação à matéria, qualidade 
das partes, valor da causa39). Havendo mais de um juízo competente para a 
mesma matéria, a fi xação da competência será feita por distribuição.
No estudo das questões relativas à competência, é preciso observar pecu-
liaridades que podem existir nos diversos Tribunais. À guisa de exemplo, no 
Estado do Rio de Janeiro, existe uma divisão territorial especial. Para facilitar 
o acesso à justiça, a Comarca da Capital (e agora também a Comarca de 
Niterói) é subdividida em diversos fóruns regionais. Assim, nesta Comarca, 
temos os fóruns regionais do Méier, Ilha do Governador, Barra da Tijuca, 
entre outros. Fenômeno semelhante ocorre em relação aos Juizados Especiais, 
muito embora a divisão destes não corresponda exatamente àquela feita em 
relação aos fóruns regionais.
A competência para julgamento de determinado feito é determinada no 
momento de ajuizamento da demanda, pelas regras existentes nesse momen-
to, nos termos do art. 87 do CPC, que estabelece a regra da perpetuatio juris-
dicionis. Ainda que haja alguma mudança posterior — como, por exemplo, o 
réu mudar seu domicílio — a competência já estará fi xada.
Esse fenômeno (perpetuatio) não deve ser confundido com o da “prorro-
gação de competência”. Esta irá aparecer nas hipóteses em que determinado 
juízo não é originariamente competente para determinada causa, mas passa 
a ser. Realmente, isso irá ocorrer nos casos de incompetência relativa (nun-
ca se a incompetência for absoluta), quando surgir algumas das hipóteses 
de modifi cação de competência (conexão, continência, inércia ou vontade 
das partes).
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 57
Na presente aula e na seguinte, trataremos ainda do conflito de competên-
cia, previsto no art. 115 do CPC, fenômeno processual que ocorre quando 
dois ou mais juízos se declaram competentes (conflito positivo) ou incom-
petentes (negativo) para julgar determinado feito ou ainda quando existe 
controvérsia entre dois ou mais juízos a respeito da reunião ou separação de 
processos (positivo ou negativo).
Por fi m, será feita, ainda que brevemente, uma distinção entre as hipóteses 
de conflito de competência e de atribuição.
Conceito de competência:
É a quantidade ou medida de poder atribuída a um determinado órgão.
Princípios básicos:
É regida por dois princípios básicos.
A. Indisponibilidade da competência: o órgão não dispõe sobre sua 
competência e cabe ao legislador dar fl exibilidade a estas regras 
(modifi car, alterar, etc.);
B. Tipicidade da competência: via de regra, a competência deve estar 
prevista em normas positivadas (típicas). Contudo, existem compe-
tências implícitas, especialmente pelo fato de que não pode haver 
vácuo de competência (alguém tem que ser competente).
Distribuição da competência:
A distribuição da competência é uma tarefa legislativa. A primeira grande 
distribuição está na CF/88 ao criar as cinco justiças (Justiça Federal Comum, 
Justiça do Trabalho, Justiça Eleitoral, Justiça Militar e Justiça Estadual).
OBS: O juiz sem competência constitucional produz decisões 
nulas ou inexistentes? Ada Pelegrini entende que é inexistente por-
que desrespeita as regras de competência constitucional. A concep-
ção majoritária entende que existe, mas é nula (faz coisa julgada e 
cabe ação rescisória).
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 58
Fixação ou determinação da competência:
É a identifi cação de qual é o órgão que vai julgar a causa, que se dá pela 
aplicação do art. 87 do CPC.
Art. 87. Determina-se a competência no momento em que a ação é proposta. São 
irrelevantes as modifi cações do estado de fato ou de direito ocorridas posteriormente, 
salvo quando suprimirem o órgão judiciário ou alterarem a competência em razão 
da matéria ou da hierarquia.
É a data da propositura que fi xa a competência. O momento da proposi-
tura da ação é a distribuição ou o momento do despacho inicial dos casos em 
que só houver um juiz e um juízo.
Art. 263. Considera-se proposta a ação, tanto que a petição inicial seja despa-
chada pelo juiz, ou simplesmente distribuída, onde houver mais de uma vara. A 
propositura da ação, todavia, só produz, quanto
ao réu, os efeitos mencionados 
no art. 219 depois que for validamente citado).
A segunda parte do artigo 87, CPC, diz que fi xada à competência não im-
porta os fatos supervenientes, pois não alteram a competência já fi xada (regra 
de estabilidade do processo). É a perpetuação da jurisdição.
Estabilização da competência ou Perpetuatio jurisdictionis:
Art. 87. Determina-se a competência no momento em que a ação é proposta. 
São irrelevantes as modifi cações do estado de fato ou de direito ocorridas poste-
riormente, salvo quando suprimirem o órgão judiciário ou alterarem a compe-
tência em razão da matéria ou da hierarquia.
A terceira parte excepciona essa regra da perpetuação em duas hipóteses:
• Quebra da perpetuação quando houver supressão do órgão jurisdicional;
• Quebra da perpetuação quando houver alteração da competência ab-
soluta (matéria e hierarquia).
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 59
Classificação da competência:
A) Absoluta e relativa:
Absoluta Relativa
São regras criadas para atender o inte-
resse público
As regras de competência relativa são 
regras criadas para atender o interesse 
particular e não pode ser conhecida de 
ofício pelo juiz.
A incompetência absoluta determina a 
remessa dos autos para outro juízo e a 
anulação dos atos decisórios.
A relativa somente determina remessa, 
não sendo anulados os atos decisórios.
Inderrogável pelas partes Derrogável pelas partes
*** A incompetência absoluta e a relativa não geram a extinção do proces-
so, mas apenas a remessa dos autos para o juízo competente. Exceções: nos 
Juizados e a incompetência internacional, poderão gerar a extinção
B) Distinção entre competência originária e derivada:
Originária é a competência para conhecer e julgar as causas em primei-
ro lugar. A regra é que os juízos singulares tenham competência originária. 
Contundo, há casos em que os Tribunais possuem competência originária, 
mas são excepcionais. Competência derivada é a competência para julgar os 
recursos (recebe a causa em um segundo momento). A regra é que a compe-
tência derivada seja dos Tribunais.
C — Competência internacional (art. 88 a 90, CPC) e competência interna (art. 91 
ao 124, CPC):
A competência internacional pode ser concorrente (art. 88, CPC) ou 
exclusiva (art. 89, CPC). Competência interna: verifi cando-se a competência 
da justiça brasileira, resta saber qual será o órgão do Poder Judiciário respon-
sável pelo julgamento da causa.
Critérios de fixação da competência:
São três: critério objetivo, funcional ou territorial.
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 60
Objetivo: Parte dos elementos da demanda. São eles: partes, pedido e 
causa de pedir.
1) Competência em razão da pessoa (elemento parte): considera 
uma das partes. Ex: art. 109, I, CF/88. Competência da Justiça 
Federal para julgar as causas de interesse da União ou de pessoa 
jurídica da administração indireta federal.
2) Competência em razão do valor da causa (elemento pedido): o 
valor da causa é determinado pelo pedido (ex: juizados especiais cí-
veis e federais). Juizado Especial Federal, apesar de ser competência 
em razão do valor da causa, esta competência é absoluta.
3) Competência em razão da matéria (elemento causa de pedir): 
pela natureza jurídica da relação de direito material travada no pro-
cesso (ex: família — vara de família; trabalho — vara do trabalho, 
etc.).
OBS: a competência em razão da matéria e da pessoa é absoluta. 
Via de regra, a competência em razão do valor da causa é relativa.
Funcional: Conecta com as funções exercidas pelo órgão jurisdicional 
durante o processo, por exemplo: função de julgar, executar, julgar recurso, 
receber a reconvenção e ação cautelar. Possui duas dimensões:
1) Vertical: entre instâncias, também denominada de hierárquica. Ex: 
Tribunal de Justiça do RJ julga os recursos contra as decisões do juiz 
de primeira instância vinculado a ele.
2) Horizontal: ocorre na mesma instância. Ex: Tribunal do Júri, com 
as fi guras do juiz pronunciante e do júri. No Processo Civil, o mes-
mo juiz competente para o processo cautelar será competente para 
o principal.
Territorial: é aquela que permite identifi car o lugar em que a causa deve 
ser processada, isto é, qual o foro competente. Em regra é relativa.
Existem duas regras gerais de competência territorial:
1) Art. 94 do CPC: domicílio do réu nas pessoais e nas reais mobiliá-
rias (direitos reais sobre móveis).
Art. 94. A ação fundada em direito pessoal e a ação fundada em direito real 
sobre bens móveis serão propostas, em regra, no foro do domicílio do réu.
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 61
§ 1o Tendo mais de um domicílio, o réu será demandado no foro de qualquer 
deles.
§ 2o Sendo incerto ou desconhecido o domicílio do réu, ele será demandado 
onde for encontrado ou no foro do domicílio do autor.
§ 3o Quando o réu não tiver domicílio nem residência no Brasil, a ação será 
proposta no foro do domicílio do autor. Se este também residir fora do Brasil, a 
ação será proposta em qualquer foro.
§ 4o Havendo dois ou mais réus, com diferentes domicílios, serão demanda-
dos no foro de qualquer deles, à escolha do autor.
2) Art. 95 do CPC: Nas ações reais imobiliárias, isto é, aquelas que 
tratam de direitos reais sobre imóveis, competente será o foro da 
situação da coisa.
Art. 95. Nas ações fundadas em direito real sobre imóveis é competente o 
foro da situação da coisa. Pode o autor, entretanto, optar pelo foro do domicílio 
ou de eleição, não recaindo o litígio sobre direito de propriedade, vizinhança, 
servidão, posse, divisão e demarcação de terras e nunciação de obra nova.
Regras especiais:
Artigo 96: domicílio do autor da herança, ou da situação dos 
bens se tiver domicílio incerto, se tiver bens em diversos lugares e 
domicílio incerto, será o local do óbito (crítica: pode obstar o acesso 
à justiça).
Art. 98: Incapaz: domicílio do seu representante.
Art. 100: I (foro da mulher, para ação de separação, divórcio ou 
anulação de casamento; II (do domicílio do alimentando para a ação 
de alimentos), e IV (domicílio da pessoa jurídica. súmula 363, STF) 
e V (lugar do ato ou do fato para ação que envolva reparação de ato 
ilícito); Parágrafo único (acidente de veículos, poderá ser competen-
te o juízo do local onde ocorreu o acidente ou onde reside o autor.
Da modificação da competência (art. 102, CPC):
Enunciado nº 235 da Súmula do STJ (a conexão não determina 
a reunião dos processos, se um deles já foi julgado). Se não pode reunir 
uma das causas será suspensa até o julgamento fi nal da outra.
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 62
Juízo competente: Em qual dos juízos as causas serão reunidas? No juízo 
prevento. Há no CPC duas regras de prevenção:
1) se as causa conexas estiverem na mesma competência territorial (co-
marca): prevento é o juízo do 1º despacho (art. 106, CPC);
2) se as causas conexas estiverem tramitando em comarcas diversas: o 
critério de prevenção é a citação válida (arts. 107 e 219, CPC).
Conflito de Competência:
Percebe-se pela disciplina do CPC, que o incidente de confl ito de com-
petência é de competência originária de Tribunal, mediante provocação das 
partes, do MP ou dos órgãos que estão em confl ito. Ele poderá ser positivo 
(art. 115, I do CPC) ou negativo (art. 115, II do CPC).
Art. 115. Há confl ito de competência:
I — quando dois ou mais juízes se declaram competentes;
II — quando dois ou mais juízes se consideram incompetentes;
III — quando entre dois ou mais juízes surge controvérsia acerca da reunião 
ou separação de processos.
Enunciado nº 59 da Súmula do STJ: Não há confl ito de compe-
tência se já existe sentença com trânsito em julgado, proferida por 
um dos juízos confl itantes.
Enunciado nº 3 da Súmula do STJ — compete ao TRF dirimir
confl ito de competência verifi cado, na respectiva região, entre juiz 
federal e juiz estadual investido de jurisdição federal.
Competência penal
Primeiramente destaque-se que, em matéria penal, a Justiça do Trabalho 
nunca será competente. Até mesmo os crimes contra a organização do traba-
lho são submetidos a julgamento pela Justiça Federal, de acordo com enten-
dimento do Supremo Tribunal Federal.
A justiça eleitoral, por sua vez, é competente para julgar todos os crimes 
eleitorais e crimes conexos.
A Justiça Militar julga os crimes militares, mas não julga os crimes cone-
xos. Também não é competente para julgar crime doloso contra a vida prati-
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 63
cado por militar contra civil, que será submetido a julgamento pelo Tribunal 
do Júri.
A competência penal da Justiça Federal segue a regra geral de competência 
em razão da pessoa, e abrange os crimes praticados contra servidor público 
federal, no exercício da função, crimes políticos e à distância, praticados a 
bordo de navio ou avião, contra o sistema fi nanceiro e contra a organização 
do trabalho.
A competência da Justiça Estadual é residual. A competência originária do 
Superior Tribunal de Justiça e do Supremo Tribunal Federal estão expressa-
mente previstas na Constituição, nos artigos 102 e 105.
LEITURA BÁSICA
GRINOVER, Ada Pellegrini, DINAMARCO, Cândido, CINTRA, Antônio 
Carlos de Araújo. Teoria Geral do Processo. São Paulo: Editora Revista 
dos Tribunais, 1998. Capítulos 25 e 26: “Competência: Conceito, Es-
pécies, Critérios Determinativos” e “Competência Absoluta e Relativa”.
CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de Direito Processual Civil, vol. I. Rio 
de Janeiro: Lumen Juris, 2005. Cap. VI: “Jurisdição”, § 10 Competên-
cia, p. 92— 114.
LEITURA COMPLEMENTAR
ALVIM, J. E. Carreira. Elementos de Teoria Geral do Processo. 10ª ed. Rio 
de Janeiro: Forense. 2005. Capitulo V: “Competência”.
MARCATO, Antonio Carlos. “Breves considerações sobre jurisdição e com-
petência”. Artigo disponível no site: http://jus2.uol.com.br/doutrina/
texto.asp?id=2923 em 12.12.2006.
EMENTÁRIO DO TEMA
— Conceito e Critérios de Fixação
— Distribuição de Competência
— Incompetência Absoluta e Relativa
— Prorrogação de Competência. Causas de Prorrogação. Prevenção
— Declaração de Competência
— Conflito de Competência
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 64
ESTUDO DE CASO
Caso 1: Em um acidente de trânsito ocorrido na cidade de São Paulo, um 
carro da empresa Carioca da Gema LTDA, que transitava em alta velocidade, 
bateu no carro do Sr. Bart. A empresa possuía sede no Rio de Janeiro e Bart 
tem domicílio em Duque de Caxias. Onde poderá ser proposta a ação de 
reparação de danos de Bart em face da empresa Carioca da Gema?
Caso 2: ROBERTO XXXXXX e OUTROS interpuseram Agravo de Ins-
trumento objetivando a reforma de decisão proferida no Juízo de Direito da 
1ª Vara Cível do Foro Regional da Barra da Tijuca da Comarca da Capital, 
que rejeitou a exceção de incompetência interposta nos autos da Ação de 
Cobrança ajuizada pela CONSTRUTORA JÓIA LTDA (agravada) contra 
os ora agravantes.
Com efeito, a CONSTRUTORA JÓIA LTDA ajuizou ação de cobrança 
no foro regional da Barra da Tijuca (domicílio de um dos réus), sem que fosse 
observada cláusula contratual de eleição de foro que fi xava o Foro Central 
da Comarca da Capital como competente para solucionar qualquer litígio 
referente ao contrato existente entre as partes. Os agravantes alegaram ainda 
que o juízo da 4ª Vara Cível da Comarca da Capital (Foro Central) estaria 
prevento, tendo em vista a existência de ação conexa proposta pelos agravan-
tes, objetivando o cumprimento de obrigação de fazer.
Em 1ª instancia, a magistrada entendeu que o foro de eleição fora respeita-
do, porque o Foro Regional da Barra da Tijuca é parte integrante da Comarca 
da Capital, bem como reconheceu sua prevenção para apreciar a demanda, 
pois emitira despacho positivo anteriormente ao exarado na Ação de Obriga-
ção de Fazer, em curso no Juízo de Direito da 4ª Vara Cível da Comarca da 
Capital, envolvendo as mesmas partes.
Nas razões recursais, os agravantes sustentam o desrespeito ao foro de elei-
ção e alegam ter havido erro na informação prestada pelo juízo prevento, 
pugnando pelo reconhecimento da conexão e prevenção do Juízo de Direito 
da 4ª Vara Cível da Comarca da Capital. Além dos documentos exigidos 
pelo art. 525 do CPC, foram juntadas ao recurso a petição inicial da ação de 
obrigação de fazer (4ª Vara Cível) e a contestação da ação de cobrança (1ª 
Vara Cível do Foro da Barra da Tijuca). Como você decidiria o presente caso?
Caso 3: João Luiz suscitou conflito de competência em face dos Juízos 
Federais da 3ª Vara da Seção Judiciária de Cascavel/PR (TRF — 4ª Região) e 
da 7ª Vara da Seção Judiciária de São Paulo/SP (TRF — 3ª Região). O susci-
tante ajuizou no Juízo Federal da 7ª Vara da Seção Judiciária de São Paulo/SP, 
ação anulatória de débito fi scal com pedido de tutela antecipa— da em face 
da União Federal. No decorrer do processamento da ação anulatória, houve 
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 65
ajuizamento de Execução Fiscal pela Fazenda Nacional perante a 3ª Vara da 
Seção Judiciária de Cascavel/PR,em 28/08/2001, objetivando o pagamento 
do débito discutido na ação anulatória proposta anteriormente em São Pau-
lo, local da lavratura do auto de infração. O Suscitante, diante da conexão 
existente entre as referidas ações, bem como da prevenção do Juízo de São 
Paulo, requereu ao Juízo de Cascavel a remessa dos autos da Execução Fiscal 
para São Paulo. O pedido foi indeferido sob o fundamento de inexistência de 
prevenção do juízo e conexão de ações.
Em virtude da demora desta decisão, o autor ofereceu bens à penhora nos 
autos de Execução Fiscal. Os bens oferecidos foram devidamente aceitos, 
tendo a Fazenda Nacional requerido, como garantia, a realização de Praça 
Pública para leilão dos mesmos.
O requerimento da Fazenda Nacional foi deferido, com a designação dos 
dias para os leilões. O autor, a fi m de suspender a exigibilidade do crédito 
tributário discutido nos autos da Ação Anulatória de Débito Fiscal em trâ-
mite na 7ª Vara Federal de São Paulo e exigido em sede de Execução Fiscal 
em trâmite perante a 3ª Vara Federal de Cascavel, ajuizou Medida Cautelar 
com pedido de liminar, indeferida pelo Juízo de São Paulo. Irresignado com 
esta decisão, o autor interpôs agravo de instrumento com pedido de efeito 
suspensivo ativo, deferido para suspender os leilões até posterior decisão que 
torne novamente exigível o débito tributário.
Assim, requereu o Suscitante o reconhecimento da conexão e da preven-
ção existente entre a ação anulatória de débito fi scal que tramita na 7ª Vara 
Federal de São Paulo/SP, e a Execução Fiscal que tramita na 3ª Vara Federal 
de Cascavel/PR, declarando competente o Juízo Federal da 7ª Vara de São 
Paulo/SP, com o sobrestamento da Execução Fiscal até o julgamento fi nal do 
presente Conflito de Competência. Qual o Juízo apto para julgar o conflito 
de competência? Existe conexão entre as duas demandas? Deve o conflito ser 
conhecido? Como deve ser decidido?
JURISPRUDÊNCIA
Referente ao caso nº 1:
Súmula 33 do STJ. Competência relativa não pode ser declarada 
de ofício
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 66
Referente ao caso nº 2:
AGRAVO DE INSTRUMENTO. EXCEÇÃO DE INCOMPETÊNCIA. 
CONEXÃO. AUSÊNCIA DA PETIÇÃO INICIAL IMPEDE APRECIAÇÃO 
DE EVENTUAL IDENTIDADE DA CAUSA DE PEDIR OU PEDIDO. 
FORO DE ELEIÇÃO. VARAS REGIONAIS. COMPETÊNCIA FUNCIO-
NAL-TERRITORIAL. ARTIGO 94, §7º CODJERJ. A conexão é causa de 
modifi cação da competência, devendo ser analisada a eventual identidade entre 
as causas de pedir e / ou pedidos pela apreciação das petições iniciais das de-
mandas ditas conexas. A ausência dessas peças facultativas
prejudica a análise da 
pretensão. O foro de eleição não pode indicar determinada vara regional, mas 
tão somente a comarca para solução dos conflitos, sob pena de ferir o princípio 
do juiz natural. A competência das varas regionais é de natureza absoluta, se-
gundo critério funcional-territorial, não podendo ser derrogada ou modifi cada 
pela escolha das partes. Artigo 94, § 7º, do Código de Organização e Divisão 
Judiciárias do Estado do Rio de Janeiro (CODJERJ). RECURSO CONHE-
CIDO E DESPROVIDO. (Agravo de Instrumento 2005.002.11655 Relator 
DES. FRANCISCO DE ASSIS PESSANHA — Julgamento: 09/05/2006 — 
SEXTA CÂMARA CÍVEL).
Voto:
Em verdade, o cerne da questão é verifi car a aplicação do foro de eleição 
previsto no contrato de promessa de cessão de direitos fi rmado entre agravantes 
e agravada, bem como apreciar eventual conexão entre Ação de Obrigação de 
Fazer e Ação de Cobrança envolvendo as partes.
A conexão é causa de modifi cação da competência, devendo ser analisada a 
eventual identidade entre as causas de pedir e / ou pedidos, a teor do disposto 
no artigo 103, do Código de Processo Civil. Tal análise, na atual fase processual, 
deve ser realizada mediante apreciação das petições iniciais das demandas ditas 
conexas. A ausência dessas peças, apesar de facultativas, prejudica a análise da 
pretensão, eis que não haveria elementos que permitissem verifi car se há risco 
de decisões contraditórias e, evidentemente, a imperiosa necessidade de reunião 
dos processos.
Vê-se que os agravantes juntaram a petição inicial da ação de obrigação de 
fazer proposta por si e em curso no Juízo de Direito da 4ª Vara Cível da Comarca 
da Capital e a contestação oferecida na ação de cobrança proposta pela agravada 
e em curso no Juízo de Direito da 3ª Vara Cível do Foro Regional da Barra da 
Tijuca. Não veio, entretanto, a petição Inicial desta última ação, impedindo a 
apreciação da alegada identidade das causas de pedir e / ou dos pedidos a ensejar 
o eventual risco de decisões conflitantes que propiciaria a reunião dos feitos.
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 67
Torna-se, então, irrelevante para o julgamento deste recurso o equívoco na 
data informada do primeiro despacho positivo. É que a análise da prevenção 
depende da existência de conexão; impossibilitada esta fi ca prejudicada aquela.
O foro de eleição não pode recair em determinada vara regional, mas tão 
somente em comarca eleita para solução de eventual conflito entre as partes 
contratantes, sob pena de ferir o princípio do juiz natural.
Observa-se que, no presente caso, o foro eleito contratualmente pelas partes 
para a solução de eventual lide (fls. 78 — cláusula nona) foi a Comarca da Ca-
pital e, com efeito, a Foro Regional da Barra da Tijuca é integrante da Comarca 
da Capital, conforme discrimina o § 3° do artigo 94, do Código de Organização 
e Divisão Judiciárias do Estado do Rio de Janeiro (CODJERJ).
Em verdade, as varas regionais são juízos de direito de uma mesma comarca, 
criados segundo critério de descentralização e com fi nalidade de facilitar o acesso 
ao Poder Judiciário (artigo 16, alínea “c”, do Código de Organização e Divisão 
Judiciárias do Estado do Rio de Janeiro (CODJERJ)).
Ocorre que a competência das varas regionais é de natureza absoluta, segun-
do critério funcional-territorial, não podendo ser derrogada ou modifi cada pela 
escolha das partes, a teor do disposto no artigo 94, § 7°, do Código de Organi-
zação e Divisão Judiciárias do Estado do Rio de Janeiro (CODJERJ).
Em outras palavras, é lícito às partes elegerem a Comarca da Capital para 
solução de conflitos, mas lhes é vedado modifi car aquele ou este foro regional 
ou central, sob pena de estarem a escolher aquele ou este juízo e, como dito, 
afrontarem o principio do juiz natural.
Defi nida a comarca para tramitação da demanda, o juízo competente será 
defi nido pelas regras de natureza funcional e de caráter absoluto, segundo as nor-
mas de organização judiciária. Portanto, não procede a alegação dos agravantes 
de que o foro de eleição indicaria o Foro Central da Comarca da Capital Aliás, 
os próprios agravantes deduziram este raciocínio na peça inicial (fls 54).
Isto posto, voto no sentido de negar provimento ao recurso.
Referente ao caso nº 2:
CONFLITO DE COMPETÊNCIA Nº 38.973 — SP (2003/0059884-0) 
EMENTA PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. AÇÃO ANULATÓRIA 
DE DÉBITO FISCAL E EXECUÇÃO FISCAL. CONEXÃO. ART. 103 DO 
CPC. REUNIÃO DOS PROCESSOS. REGRA PROCESSUAL QUE EVITA 
A PROLAÇÃO DE DECISÕESINCONCILIÁVEIS. JUÍZOS TERRITO-
RIALMENTE DIVERSOS. PREVENÇÃO. PRECEDENTES DO STJ.
1. Execução fi scal e prévia ação declaratória de nulidade do lançamento. Co-
nexão: Muito embora a ação anulatória não iniba a exigibilidade do crédito 
tributário (art. 585, § 1º do CPC), a conexão impõe a reunião das ações.
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 68
2. Constatada a conexão entre a ação de execução fi scal e a ação anulatória de 
débito fi scal, é imperiosa a reunião dos processos para julgamento simultâneo, 
evitando-, assim, decisões conflitantes.
— ‘O instituto da conexão provém da necessidade de segurança jurídica, bem 
como da aplicação do princípio da economia processual. A sua observância im-
pede a produção de decisões conflitantes entre ações que contenham algum(ns) 
elemento(s)similar(es), mercê da economia processual propicia, evitando que 
vários juízes julguem concomitantemente causas semelhantes. Havendo, ain-
da que remotamente, a possibilidade de serem proferidas decisões conflitantes, 
ou alguma semelhança entre duas demandas, é conveniente que as ações sejam 
reunidas para fi ns de prolação de apenas uma sentença,princípio que se deflui 
do REsp nº 100.435/SP, Relator Ministro Adhemar Maciel, DJ de 01.12.1997.
3. A citação válida determina a prevenção quando as ações tramitarem peran-
te jurisdições territoriais diferentes (CPC, art. 219, caput).
4. Conflito conhecido para declarar competente o Juízo Federal da 7ª Vara 
da Seção Judiciária de São Paulo, o suscitado.
TRECHOS DO VOTO DO RELATOR. MINISTRO LUIZ FUX: Cuida-
se de conflito de competência suscitado por João Luiz Felix em face dos Juízos 
Federais da 3ª Vara da Seção Judiciária de Cascavel / PR e da 7ª Vara da Seção 
Judiciária de São Paulo / SP, com o escopo de que seja declarada a conexão 
e a prevenção existentes entre a ação anulatória de débito, que tramita na Se-
ção Judiciária de São Paulo, e a execução fi scal, ajuizada na Seção Judiciária de 
Cascavel / PR. Na conformidade da norma processual vigente, confi gura-se a 
conexão entre duas ou mais ações quando há entre elas identidade do objeto ou 
da causa de pedir, impondo a reunião das ações para julgamento em unum et 
idem judex, evitando, assim, a prolação de decisões inconciliáveis. Nesse sentido, 
tivemos oportunidade de destacar:
“...é possível que duas ações mantenham em comum exatamente a mesma 
causa petendi,sustentando pedidos diversos. Assim ocorre, v.g., quando Caio 
pede, em face de Tício, numa ação, a rescisão do contrato e,noutra, a imposição 
de perdas e danos por força da infração de uma das cláusulas do contrato lavrado 
entre ambos.
Esse vínculo entre as ações por força da identidade de um de seus elementos 
denomina-se, tecnicamente, de “conexão” e, conforme o elemento de ligação, 
diz-se “conexão subjetiva”, “conexão objetiva “ou conexão causal.”
A conseqüência jurídico-processual mais expressiva da conexão, malgrado 
não lhe seja a única, é a imposição de julgamento simultâneo das causas conexas 
no mesmo processo (simultaneus processus). A razão desta regra deriva do fato de 
que o julgamento, em separado das causas conexas, gera o risco de decisões con-
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 69
traditórias, que acarretam grave desprestígio para o Poder Judiciário. Assim, v.g., 
seria incoerente, sob o prisma lógico, que um juiz
acolhesse a infração contratual 
para efeito de impor perdas e danos e não a acolhesse para o fi m de rescindir o 
contrato, ou ainda, que anulasse a assembléia na ação movida pelo acionista X 
e não fi zesse o mesmo quanto ao acionista Y, sendo idêntica a causa de pedir.
O instituto da conexão tem, assim, como sua maior razão de ser, evitar o 
risco das decisões inconciliáveis.
Por esse motivo, diz-se, também, que são conexas duas ou mais ações quando 
são julgadas separadamente, podendo gerar decisões inconciliáveis sob o ângulo 
lógico e prático.” (Curso de Direito Processual Civil. Rio de Janeiro, Forense, 
2001, p. 188/189).
No caso dos autos, verifi ca-se que a ação anulatória de débito foi ajuizada an-
tes de ser proposta a execução fi scal. Dessa forma, tem-se que se a ação anulatória 
preceder a execução, uma passa a exercer perante a outra inegável influência, 
prejudicial ao recomendar o simultaneus processus, já que são conexas pela pre-
judicialidade, forma expressiva de conexão que força a reunião das ações, como 
expediente apto a evitar decisões inconciliáveis.
Aliás, a conexão por prejudicialidade é uma das formas de liame que impõe a 
reunião das ações para julgamento em unum et idem judex. Ressalte-se a respeito 
os comentários do processualista CELSO AGRÍCOLA BARBI:
“Como já vimos nos comentários aos artigos anteriores, especialmente ao art. 
102, havendo conexão ou continência entre duas ou mais ações, de competência 
de juízos diferentes, elas devem fi car todas com um só juízo, que se tornará o 
único competente. Isto decorre de conveniência de serem decididas em ‘simul-
taneus processus’.
Esse mesmo motivo leva a reunir as várias ações, em que haja conexão ou 
continência, quando tenham sido propostas em separado, mas perante o mesmo 
juízo. Com isto, ele as decidirá harmonicamente, evitando decisões contraditó-
rias.” (in Comentários CPC, 1º vol. 2ª edição, p.465)
Em recentíssimos julgados, decidiu a 1ª Seção:
“PROCESSUAL CIVIL. COMPETÊNCIA. EXECUÇÃO FISCAL E 
AÇÃO ANULATÓRIA. CONEXÃO.
Dispõe a lei processual, como regra geral que é título executivo extrajudicial 
a certidão de dívida ativa da Fazenda Pública da União, Estado, Distrito Federal, 
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 70
Território e Município, correspondente aos créditos inscritos na forma da lei 
(art. 585, VI do CPC).
Acrescenta, por oportuno, que a propositura de qualquer ação relativa ao 
débito constante do título executivo não inibe o credor de promover-lhe a exe-
cução.(§ 1º, do 585, VI do CPC).
A fi nalidade da regra é não impedir a execução calcada em título da dívida 
líquida e certa pelo simples fato da propositura da ação de cognição, cujo escopo 
temerário pode ser o de obstar o processo satisfativo, desmoralizando a força 
executória do título executivo.
À luz do preceito e na sua exegese teleológica, colhe-se que, a recíproca não é 
verdadeira; vale dizer: proposta a execução torna-se despiscienda e, portanto, fa-
lece interesse de agir na propositura de ação declaratória porquanto os embargos 
cumprem os desígnios de eventual ação autônoma.
Conciliando-se os preceitos, tem-se que, precedendo a ação anulatória, a 
execução, aquela passa a exercer perante esta inegável influência prejudicial a 
recomendar o simultaneus processus, posto conexas pela prejudicialidade, forma 
expressiva de conexão a recomendar a reunião das ações como expediente apto a 
evitar decisões inconciliáveis.
O juízo único é o que guarda a mais signifi cativa competência funcional 
para verifi car a verossimilhança do alegado na ação de conhecimento e permitir 
prossiga o processo satisfativo ou se suspenda o mesmo.
Refoge a razoabilidade permitir que a ação anulatória do débito caminhe 
isoladamente da execução calcada na obrigação que se quer nulifi car, por isso 
que, exitosa a ação de conhecimento, o seu resultado pode frustrar-se diante de 
execução já ultimada.
Reunião das ações no juízo suscitante da execução fi scal, competente para o 
julgamento de ambos os feitos. Precedentes do E. STJ, muito embora nalguns 
casos somente se admita a conexão quando opostos embargos na execução e 
depositada a importância discutida.
Conflito conhecido para declarar competente o Juízo Federal da 3ª Vara de 
Execuções Fiscais da Seção Judiciária do Estado do Rio Grande do Sul” (CC 
31.963/RS, Rel. Min. Humberto Gomes de Barros, DJ 05/08/2002) (...)
Com efeito, quando se tratar de ações conexas ajuizadas em comarcas dife-
rentes, torna-se prevento o Juízo que primeiramente realizou a citação válida, 
aplicando-se o disposto no art. 219, caput, do Código de Processo Civil. Nesse 
sentido, o seguinte precedente dessa Corte:
“Na hipótese dos autos, verifi ca-se que a Fazenda Nacional, antes de propor 
a ação de Execução Fiscal no Juízo Federal de Cascavel, contestou a ação anu-
latória de débito fi scal ajuizada pelo suscitante no Juízo Federal de São Paulo, 
tornando-se assim prevento esse Juízo”.
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 71
“Processual Civil. Ação Anulatória de Débito Fiscal. Execução Fiscal. Cone-
xão. Continência. Reunião dos Processos. CPC, artigos 102, 103, 105, 106 e 
585, § 1.º Lei 6.830/80 art. 38. Súmula 112/STJ.
1. Concomitantes as ações anulatórias e de execução fi scal, seja à força da 
conexão ou da continência, devem ser reunidas para apreciação simultânea, 
evitando-se composições judiciais contraditórias. A direção única do processo é 
via favorecedora, principalmente no caso, verifi cando-se que a Justiça Estadual 
tem competência para processar e julgar uma das ações e a Justiça Federal para 
as duas ações em curso.
2. Precedentes jurisprudenciais.
3. Conflito conhecido, declarando a competência do Juízo Federal suscitado.”
(CC n.º 28985/MG, rel. Min. MILTON LUIZ PEREIRA, DJ.: 28/05/2001 
— p. 00145)
“PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. AÇÃO DE EXECUÇÃO FIS-
CAL E AÇÃO ANULATÓRIA DE DÉBITO FISCAL. CONEXÃO. PRECE-
DENTES. RECURSO PROVIDO.
I — O instituto da conexão provém da necessidade de segurança jurídica, 
bem como da aplicação do princípio da economia processual. A sua adoção tem 
a vantagem de impedir decisões conflitantes entre ações que contenham algum 
(ns) elemento (s) similar (es). Isso sem contar na economia processual que gera, 
pois evita que vários juízes julguem concomitantemente causas semelhantes.
Existindo — ainda que remotamente — a possibilidade de serem proferidas 
decisões conflitantes, ou havendo alguma semelhança entre duas demandas, é 
conveniente que as ações sejam reunidas para fi ns de prolação de apenas uma 
sentença.
II — Constatada a conexão entre ação executiva fi scal e ação anulatória de 
débito fi scal ajuizadas em comarcas diferentes, determina-se a reunião dos feitos.
III — Recurso especial conhecido e provido.” (REsp n° 100.435-SP, Rel. 
Ministro ADHEMAR MACIEL, DJ de 01.12.1997).” (...) Isto posto, conheço 
do Conflito e declaro competente o Juízo Federal da 7ª Vara da Seção Judiciária 
de São Paulo/SP. É como voto.
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 72
JURISPRUDÊNCIA. 2ª PARTE. SELEÇÃO DE JULGADOS.
(a) Competência para Julgamento de mandado de segurança impetrado contra juiz 
de juizado especial.
Ementa: PROCESSUAL CIVIL. LOCAÇÃO. MANDADO DE SEGU-
RANÇA CONTRA ATO DE JUIZ DE DIREITO QUE ATUA EM JUIZA-
DO ESPECIAL. COMPETÊNCIA DA TURMA RECURSAL. PRECEDEN-
TES. RECURSO ESPECIAL CONHECIDO E PROVIDO.
1. É pacífi ca a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, segundo a qual 
a competência para processar e julgar ação mandamental impetrada contra ato 
de juizado especial é da respectiva Turma Recursal. Precedentes.
2. Recurso especial conhecido e provido.
(REsp 302143 / MG ; RECURSO ESPECIAL 2001/0010161-5. Re-
lator Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA. STJ. 5ª Turma. Julgado em 
18/04/2006).
(b) Competência para Julgamento de mandado de segurança impetrado
contra juiz 
de Turma Recursal de juizado especial.
Ementa: MANDADO DE SEGURANÇA. AGRAVO REGIMENTAL. 
IMPETRAÇÃO CONTRA DECISÃO PROFERIDA POR COLÉGIO RE-
CURSAL DE JUIZADO ESPECIAL.
— Não possui o Tribunal estadual competência originária, nem recursal, 
para rever as decisões do Colégio Recursal do Juizado Especial. Recurso impro-
vido. (AgRg no RMS 17995 / MG ; AGRAVO REGIMENTAL NO RECUR-
SO EM MANDADO DE SEGURANÇA 2004/0032903-0. Relator Ministro 
Barros Monteiro. Julgado em 02/02/2006).
(c) Ação Popular contra o CNMP. Ilegitimidade. Incompetência do Su— premo Tribu-
nal Federal.
O Tribunal, resolvendo questão de ordem em petição, não conheceu de ação 
popular ajuizada por advogado contra o Conselho Nacional do Ministério Pú-
blico — CNMP, na qual se pretendia a nulidade de decisão, por este proferida 
pela maioria de seus membros, que prorrogara o prazo concedido, pela Reso-
lução 5/2006, aos membros do Ministério Público ocupantes de outro cargo 
público, para que estes retornassem aos órgãos de origem.
Entendeu-se que a alínea r do inciso I do art. 102 da CF (“Art. 102. Compe-
te ao Supremo Tribunal Federal... I — processar e julgar, originariamente:... r) 
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 73
as ações contra o Conselho Nacional do Ministério Público;”), introduzida pela 
EC 45/2004, refere-se a ações contra os respectivos colegiados e não aquelas em 
que se questiona a responsabilidade pessoal de um ou mais conselheiros, caso da 
ação popular. Salientou-se, tendo em conta o que disposto no art. 6º, § 3º, da 
Lei 4.417/65 (Lei da Ação Popular), que o CNMP, por não ser pessoa jurídica, 
mas órgão colegiado da União, nem estaria legitimado a integrar o pólo passivo 
da relação processual da ação popular.
Asseverou-se, no ponto, que, ainda que se considerasse a menção ao CNMP 
como válida à propositura da demanda contra a União, seria imprescindível o 
litisconsórcio passivo de todas as pessoas físicas que, no exercício de suas funções 
no colegiado, tivessem concorrido para a prática do ato, ou seja, os membros que 
compuseram a maioria dos votos da decisão impugnada. Por fi m, ressaltando 
a jurisprudência da Corte no sentido de, tratando-se de ação popular, admitir 
sua competência originária somente no caso de incidência da alínea n do inciso 
I do art. 102, da CF ou de a lide substantivar conflito entre a União e Estado-
membro, concluiu-se que, mesmo que emendada a petição inicial no tocante aos 
sujeitos passivos da lide e do pedido, não seria o caso de competência originária. 
(Pet 3674 QO/DF, rel. Min. Sepúlveda Pertence, 4.10.2006. (Pet — 3674). 
Informativo 443 do STF).
(d) Ação objetiva Demarcação de Terras Indígenas e envolvimernto de interesses de dife-
rentes Pessoas Jurídicas de Direito Público. Competência do STF. Art. 102, I, f da CRFB/88.
O Tribunal, por maioria, julgou procedente pedido formulado em reclama-
ções ajuizadas contra Juízos Federais da 1ª e 2ª Varas da Seção Judiciária do 
Estado de Roraima, que reconheceram sua competência para processar e julgar 
diversas ações — ação popular, ação civil pública e ações possessórias — que têm 
por fi nalidade a declaração de nulidade do Decreto Presidencial de 15 de abril 
de 2005, que homologou a Portaria 534/2005, do Ministério da Justiça, que 
demarcou a área indígena denominada Raposa Serra do Sol.
Na linha de precedentes da Corte, entendeu-se caracterizada a hipótese de 
conflito federativo prevista no art. 102, I, f, da CF (“Art. 102. Compete ao Su-
premo Tribunal Federal. I — processar e julgar, originariamente: f ) as causas e os 
conflitos entre a União e os Estados, a União e o Distrito Federal, ou entre uns 
e outros, inclusive as respectivas entidades da administração indireta;”), já que o 
objeto da citada ação popular, assim como dos feitos processuais dela originados, 
estaria colocando pessoas de estatura federativa, quais sejam, a União e o Estado 
de Roraima, em posições temerariamente antagônicas.
Ressaltou-se que a impugnação da validade jurídica da referida Portaria 
acarretaria uma situação de desconsideração da competência constitucional da 
União para efetuar os procedimentos de demarcação de áreas indígenas (CF, art. 
231), bem como lesão ao princípio da homogeneidade federativa.
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 74
Asseverou-se, ainda, que o fato de a ação popular ter sido proposta por par-
ticulares não descaracterizaria o conflito federativo, tendo em conta orientação 
fi xada pelo Supremo no sentido de que o litígio federativo entre a União e um 
Estado-membro fi ca confi gurado no caso de ação popular em que os autores, 
pretendendo agir no interesse do último, pleiteiam a anulação de decreto pre-
sidencial e, portanto, de ato imputável à União. Por fi m, declarou-se a prejudi-
cialidade dos agravos regimentais interpostos no bojo da reclamatória. Vencido 
o Min. Marco Aurélio, que julgava o pedido improcedente, ao fundamento de 
não se estar diante de hipótese de aplicação do art. 102, I, f, da CF. Precedentes 
citados: ACO 359 QO/SP (DJU 11.3.94); Rcl 424/RJ (DJU de 6.9.96); Rcl 
2833/RR (DJU de 5.8.2005). Rcl 3331/RR e Rcl 3813/RR, rel. Min. Carlos 
Britto, 28.6.2006. (Rcl-3331) (Rcl-3813). Informativo 433 do STF.
(e) Indenização por Danos Decorrentes de Acidente do Trabalho. Competência?
EMENTA: CONSTITUCIONAL. COMPETÊNCIA JUDICANTE EM 
RAZÃO DA MATÉRIA. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MO-
RAIS E PATRIMONIAIS DECORRENTES DE ACIDENTE DO TRABA-
LHO, PROPOSTA PELO EMPREGADO EM FACE DE SEU (EX-) EM-
PREGADOR. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO. ART. 114 
DA MAGNA CARTA. REDAÇÃO ANTERIOR E POSTERIOR À EMEN-
DA CONSTITUCIONAL Nº 45/04. EVOLUÇÃO DA JURISPRUDÊNCIA 
DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. PROCESSOS EM CURSO NA 
JUSTIÇA COMUM DOS ESTADOS. IMPERATIVO DE POLÍTICA JU-
DICIÁRIA.
1. Numa primeira interpretação do inciso I do art. 109 da Carta de Outubro, 
o Supremo Tribunal Federal entendeu que as ações de indenização por danos 
morais e patrimoniais decorrentes de acidente do trabalho, ainda que movidas 
pelo empregado contra seu (ex-) empregador, eram da competência da Justiça 
comum dos Estados-Membros.
2. Revisando a matéria, porém, o Plenário concluiu que a Lei Republicana 
de 1988 conferiu tal competência à Justiça do Trabalho. Seja porque o art. 114, 
já em sua redação originária, assim deixava transparecer, seja porque aquela pri-
meira interpretação do mencionado inciso I do art. 109 estava, em boa verdade, 
influenciada pela jurisprudência que se fi rmou na Corte sob a égide das Cons-
tituições anteriores.
3. Nada obstante, como imperativo de política judiciária — haja vista o 
signifi cativo número de ações que já tramitaram e ainda tramitam nas instâncias 
ordinárias, bem como o relevante interesse social em causa —, o Plenário deci-
diu, por maioria, que o marco temporal da competência da Justiça trabalhista é o 
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 75
advento da EC 45/04, emenda que explicitou a competência da Justiça Laboral 
na matéria em apreço.
4. A nova orientação alcança os processos em trâmite pela Justiça comum 
estadual, desde que pendentes de julgamento de mérito. É dizer: as ações que 
tramitam perante a Justiça comum dos Estados, com sentença de mérito anterior 
à promulgação da EC 45/04, lá continuam até o trânsito em julgado e corres-
pondente execução. Quanto àquelas cujo mérito ainda não foi apreciado, hão de 
ser remetidas à Justiça do Trabalho, no estado em que se encontram, com total 
aproveitamento dos atos praticados até então.
A medida se impõe, em razão das características que distinguem a Justiça 
comum estadual e a Justiça do Trabalho, cujos sistemas recursais, órgãos e ins-
tâncias não guardam exata correlação.
5. O Supremo Tribunal Federal, guardião-mor da Constituição Republicana, 
pode e deve, em prol da segurança jurídica, atribuir efi cácia prospectiva às suas 
decisões,
com a delimitação precisa dos respectivos efeitos, toda vez que proce-
der a revisões de jurisprudência defi nidora de competência ex ratione materiae. 
O escopo é preservar os jurisdicionados de alterações jurisprudenciais que ocor-
ram sem mudança formal do Magno Texto.
6. Aplicação do precedente consubstanciado no julgamento do Inquérito 
687, Sessão Plenária de 25.08.99, ocasião em que foi cancelada a Súmula 394 
do STF, por incompatível com a Constituição de 1988, ressalvadas as decisões 
proferidas na vigência do verbete. 7. Conflito de competência que se resolve, 
no caso, com o retorno dos autos ao Tribunal Superior do Trabalho. (Supremo 
Tribunal Federal. CC 7204/MG. RELATOR: MIN. CARLOS BRITTO. Acór-
dão publicado no DJU de 9.12.2005. O voto do Ministro pode ser obtido nas 
transcrições presentes no informativo 412 do STF).
(f ) Prevenção para julgamento de recurso.
Ementa: CONFLITO POSITIVO DE COMPETÊNCIA ENTRE A 17ª 
E 6ª CÂMARAS CÍVEIS DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO 
RIO DE JANEIRO — PREVENÇÃO — PROCEDÊNCIA DO CONFLI-
TO PARA DECLARAR A COMPETÊNCIA DA CÂMARA CÍVEL QUE 
PRIMEIRO APRECIOU O RECURSO INTERPOSTO NO MESMO PRO-
CESSO A TEOR DO QUE ESTABELECE O ART. 33, § 1º, III DO COD-
JERJ. Ora, se o primeiro recurso processo nº 2002.00203856 —, interposto nos 
autos de medida cautelar preparatória foi distribuído à 17ª Câmara Cível em 
março de 2002, como se vê às fls. 159, a toda evidência, a distribuição do segun-
do recurso, qual seja, o agravo interposto em 16/12/2004 (fls. 105) na exceção 
de incompetência oposta no processo principal — processo nº 2004.002.24222 
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 76
— deveria ter sido feita também a 17ª Câmara Cível, porque preventa, e não 
a 6ª Câmara Cível a teor do que estabelece o art. 33, § 1º, III do CODJERJ. 
De se ressaltar que o erro na distribuição do segundo recurso, não modifi ca a 
regra processual da prevenção, motivo pelo qual, a decisão da 6ª Câmara Cí-
vel no Agravo interposto em 16/12/2004, é nula. Isto posto, de se acolher o 
presente conflito positivo de competência, para declarar a competência da 17ª 
Câmara Cível desse Tribunal de Justiça para o julgamento do Agravo de Instru-
mento interposto nos autos da Ação de Cobrança de Honorários. (Conflito de 
Competência 2005.008.00454. Rel. Des. J. C. Murta Ribeiro — Julgamento: 
06/03/2006 — Órgao Especial do TJ/RJ)
(g) Foro Regional. Momento da fixação da competência.
Ementa: COMPETÊNCIA. VARA REGIONAL. CODJERJ. Se na ocasião 
da distribuição da ação, o réu já residia em área sob jurisdição da Regional da 
Barra da Tijuca, em se tratando de direito pessoal, será naquele foro que deverá 
tramitar o feito. Ademais, na Comarca da Capital há divisão territorial inter-
na pela qual, funcionalmente, as atividades jurisdicionais são determinadas por 
Juízos. É regra de ordem pública, visando melhor organizar e administrar os 
serviços destinados à prestação jurisdicional.
Por isso, o parágrafo 7º do art. 94 do CODJERJ dispõe que a competência 
das Varas Regionais é fi xada pelo critério territorial-funcional e como tal, de na-
tureza absoluta.Recurso manifestamente improcedente, e que nos termos do art. 
557 do Código de Processo Civil, nega-se seguimento. (Agravo de Instrumento 
2006.002.27549 Des. Ricardo Rodrigues Cardozo — 15ª Camara Civel TJ-RJ).
(h) Código de Defesa do Consumidor. Competência Absoluta.
Ementa: AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. 
PREVIDÊNCIA PRIVADA. APLICAÇÃO DO CDC. FORO DE ELEIÇÃO. 
RELAÇÃO DE CONSUMO. COMPETÊNCIA ABSOLUTA. DECLARA-
ÇÃO DE OFÍCIO.
1. Firme a jurisprudência do STJ ao afi rmar que as entidades de previdência 
privada estão sujeitas às normas de proteção do consumidor.
2. A competência do juízo em que reside o consumidor é absoluta, devendo 
ser declarada de ofício pelo juízo.
(STJ. 3ª Turma. AgRg no Ag 644513/RS; Rel. Ministro HUMBERTO GO-
MES DE BARROS. Julgado em 24/08/2006. Publicado no DJ DJ 11.09.2006, 
p. 253).
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 77
(i) Prevenção.
Ementa: COMPETÊNCIA. CONEXAO DE ACOES. DESPACHO LI-
MINAR. DATA DO AJUIZAMENTO DA ACAO. IDENTIDADE. CITA-
CAO. PREVALENCIA. C.P.C. ART. 106. ART. 219 Competência. Ações co-
nexas propostas perante juízos que dispõem da mesma competência territorial. 
Juízos concorrentemente competentes que despacharam as petições iniciais no 
mesmo dia. Determinação da prevenção e fi xação da competência em função 
da prioridade da citação, utilizada como critério de “desempate”. Código de 
Processo Civil. Artigos 106 e 219. Aplicação. Se estão postos em confronto ór-
gãos que dispõem da mesma competência territorial, considera-se prevento o 
juízo que despachou em primeiro lugar. Se vários juízos, que dispõem da mesma 
competência territorial, despacharam no mesmo dia, determina-se a prevenção e 
se fi xa a competência em função da prioridade da citação. Agravo provido. De-
cisão interlocutória reformada. Agravo de Instrumento 1998.002.08664 DES. 
WILSON MARQUES — Julgamento: 09/09/1999 — QUARTA CAMARA 
CIVEL.
(j) Conexão. Reunião de Processos.
Ementa: PROCESSO CIVIL. CONEXÃO. AÇÃO DE BUSCA E APRE-
ENSÃO E AÇÃO REVISIONAL DE CLÁUSULA CONTRATUAL. REU-
NIÃO. CPC, ARTS. 103 E 106. PREJUDICIALIDADE (CPC, ART. 265). 
PRECEDENTES. RECURSO PROVIDO.
I — Nos termos do art. 103, CPC, que deixou de contemplar outras formas 
de conexão, reputam-se conexas duas ou mais ações quando lhes for comum o 
objeto (pedido) ou a causa de pedir, não se exigindo perfeita identidade desses 
elementos, senão a existência de um liame que as faça passíveis de decisão uni-
fi cada.
II — Recomenda-se que, ocorrendo conexão, quando compatíveis as fases de 
processamento em que se encontrem, sejam as ações processadas e julga— das 
no mesmo juízo, a fi m de evitar decisões contraditórias.
III — Havendo conexão entre a ação de busca e apreensão e a ação revisional 
de cláusula contratual, ambas envolvendo o mesmo contrato de alienação fi du-
ciária, justifi ca-se a reunião dos dois processos.
IV — Se as ações conexas tramitam em comarcas diferentes, aplica-se o
art. 219 do Código de Processo Civil, que constitui a regra. Entretanto, se 
correm na mesma comarca, como na espécie, competente é o juiz que despa-
char em primeiro lugar (art. 106). STJ. 4ªTurma. REsp309668/SP. RECUR-
SOESPECIAL. 2001/0029208-9. Julgado em 21/06/2001 publicado no DJ 
10.09.2001 p. 396.
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 78
40 O direito de ação constitucional se-
ria o fundamento do direito de ação 
processual, sendo este último o único 
que interessa ao processo. GRINOVER, 
Ada Pellegrini et alii. Teoria Geral do 
Processo, 18ª ed. São Paulo: Malheiros, 
2002, p. 256.
AULA 10, 11, 12, 13, 14 E 15. PROBLEMÁTICA DA AÇÃO: TEORIAS, 
CARACTERÍSTICAS, CONCEITO, CONDIÇÕES, ELEMENTOS E ESPÉCIES.
CASO
Sabe-se que as “testemunhas de Geová”, com base em uma determinada 
interpretação de textos bíblicos, enxergam como sacrílega a prática médica 
da transfusão de sangue, mesmo em casos de risco de morte. Digamos então 
que, em hospital do interior, uma criança, fi lha de casal que professa o referi-
do credo, esteja entre a vida e a morte, precisando exatamente de uma trans-
fusão de sangue. Ante a resistência dos pais e a tibieza do médico responsável 
e da direção da casa de saúde, resolve uma enfermeira (aproveitando-se do 
fato de ter um irmão que é estagiário de direito) peticionar ao juízo da co-
marca, para que este imponha a realização da transfusão. Pergunta-se: ela tem 
legitimidade para o pleito? E mais: sabendo-se que foi o irmão da enfermeira 
(ainda não formado) que assinou a petição, como fi ca, no caso, o requisito da 
capacidade postulatória?
NOTA AO ALUNO
1 — CONSIDERAÇÕES INTRODUTÓRIAS
Primeiramente, é mister atentar à multiplicidade de acepções que o ter-
mo “ação” invoca. Ora empregado como direito, ora como poder, também
é 
defi nido como pretensão, como exercício de um direito pré-existente e, não 
raro, é considerado, na prática forense, como sinônimo de processo, proce-
dimento, ou mesmo autos. Há ainda autores que distinguem entre ação de 
direito material e ação de direito processual.
Consoante os ensinamentos de Ada Pellegrini Grinover40, ação seria o di-
reito ao exercício da atividade jurisdicional (ou poder de exigir esse exercí-
cio). Invocar esse direito implica provocar a jurisdição (provocação necessá-
ria, visto que, em regra, ela é inerte), o qual se exerce através de um complexo 
de atos denominado processo.
Trata-se, portanto, de direito à jurisdição — desde que preenchidas algu-
mas condições, como será visto logo adiante — que encontra fundamento 
constitucional na garantia da tutela jurisdicional efetiva (art. 5º, XXXV, CF), 
uma vez que através dela o titular do direito terá acesso à proteção de seu 
direito material. Vista neste sentido, isto é, como direito à jurisdição, a ação 
é um direito tanto do autor, quanto do réu.
Por isso, quando se afi rma que através dela o titular do direito receberá a 
proteção jurisdicional, pretende-se dizer que essa tutela deve ser outorgada 
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 79
àquela parte que a mereça, considerando o direito material aplicável ao caso. 
E, nesse contexto, a ação serve ao interesse público de dar a cada um o que é 
seu, assegurando a convivência pacífi ca e harmoniosa em sociedade.
Não obstante, conforme será analisado, a doutrina traçou longo caminho 
até reconhecer a autonomia do “direito de ação”: inicialmente, identifi cava-o 
com o direito material litigioso; mais tarde, no entanto, surgiu a preocupação 
em elaborar uma disciplina autônoma e independente do direito material 
que permitisse a distinção entre o direito material controvertido e o direito 
de ir a juízo, o que constituiu relevante conquista para a consolidação da 
Ciência Processual.
Nesse contexto, o direito de ação assume também a noção de freio às 
demandas inviáveis de modo a determinar o necessário equilíbrio entre o 
direito de acesso à justiça e a garantia da concreta efi cácia dos direitos.
2 — TEORIAS ACERCA DA NATUREZA JURÍDICA DA AÇÃO
Verifi cado o conceito de ação como um direito, é na natureza jurídica do 
instituto que residem as maiores controvérsias, principalmente em razão da 
autoridade daqueles juristas que formularam as diversas teorias. Desta forma, 
passemos a uma breve análise das construções teóricas que mais se destacaram:
1) Teoria Imanentista, Civilista, ou Clássica: Segundo a clássica propo-
sição romana que vigorou até meados do século XIX, a ação era o próprio 
direito material colocado em movimento, a reagir contra a ameaça ou viola-
ção sofrida. Não havia ação sem direito. Defendia-se a tese da imanência do 
direito de ação ao direito subjetivo material.
2) Teoria do direito concreto de ação (teoria concreta): Em 1885, Adol-
ph Wach, na Alemanha, reconhece em sua obra relativa independência entre 
o direito de ação e o direito subjetivo material. Segundo Wach, a pretensão de 
tutela jurídica — ação — constituiu direito de natureza pública, dirigindo-se 
contra o Estado, o qual teria a obrigação de prestá-la, e contra o demandado, 
que teria que suportar seus efeitos.
Segundo essa concepção, embora distinto do direito material, o direito de 
ação corresponderia a quem tivesse razão, ou seja, só existiria quando a sen-
tença fosse favorável. Nesse sentido, a teoria defendia a existência do direito 
de ação somente quando houvesse uma proteção concreta voltada para um 
direito subjetivo.
Assim, apesar de sua contribuição para demonstrar a autonomia do direito 
de ação, a teoria foi alvo de críticas não apenas em razão de a improcedência 
do pedido restar inexplicável, pois, nessa hipótese, a natureza do direito exer-
cido pelo autor permanecia indefi nida, mas também por caracterizar a ação 
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 80
como o direito a uma sentença favorável, pois, dessa forma, o réu também 
teria direito de ação.
3) Teoria da ação como direito potestativo: Representa uma variante da 
teoria concreta, pois também condicionava a existência do direito de ação à 
obtenção de uma sentença favorável. Por conseguinte, sujeita-se às mesmas 
críticas dirigidas contra referida teoria.
Conforme seu defensor, Chiovenda, a ação pode ser defi nida como o “po-
der jurídico de dar vida à condição para a atuação da vontade da lei”, isto é, 
o direito de obter uma atuação concreta da lei em face de um adversário, sem 
que este possa obstar que a atividade jurisdicional se exerça.
A ação, aqui também entendida como direito autônomo não era tida 
como um direito subjetivo, mas como um direito de poder (direito potes-
tativo), visto que corresponderia ao direito do autor de submeter o réu aos 
efeitos jurídicos pretendidos, ou seja, à atuação da vontade concreta da lei. 
Desse modo, para esta teoria, a ação se dirigia contra o réu e não contra o 
Estado (visão privatista).
4) Teoria da ação como direito abstrato: Formulada pelo alemão De-
genkolb e pelo húngaro Plósz, defi ne o direito de ação como o direito público 
que se exerce contra o Estado e em razão do qual o réu comparece em juízo. 
Não se confunde com o direito privado argüido pelo autor, sendo concebido 
com abstração de qualquer outro direito.
O conteúdo primordial desta teoria foi o mérito de reconhecer a existência 
de um direito público, subjetivo, preexistente ao processo e desvinculado do 
direito material ao permitir que o autor, no exercício de seu direito de ação, 
fi zesse apenas referência a um interesse seu, levando o Estado a proferir uma 
sentença por meio da atividade jurisdicional, ainda que contrária aos interes-
ses autorais.
5) Teoria Eclética: É a adotada pelo nosso ordenamento, conforme se 
depreende da leitura do artigo 5º, XXXV texto constitucional e artigos 3º e 
267, VI, CPC. Foi elaborada por Liebman e tem assento na teoria abstrata, 
porém com a inclusão de uma nova categoria, qual seja, as “condições da 
ação”, ou condições de admissibilidade do provimento sobre a demanda e, 
portanto, preliminar ao exame do mérito.
Para Liebman a ação é o “direito ao processo e ao julgamento do méri-
to”, o qual não representa, porém, a garantia de um resultado favorável ao 
demandante. Segundo Liebman, as condições da ação são os “requisitos de 
existência da ação”. Somente se elas estiverem presentes o juiz estará obrigado 
a julgar o pedido, a fi m de acolhê-lo ou rejeitá-lo.
Assim, considerando tratar-se de um direito abstrato voltado a provocar 
o exercício da jurisdição, a ação é defendida como o direito de obter o julga-
mento do pedido, ou seja, a análise do mérito, independentemente do resul-
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 81
tado da demanda. Trata-se, portanto, de um direito subjetivo instrumental, 
visto que independente do direito subjetivo material, embora conexo a ele.
3 — CARACTERIZAÇÃO DA AÇÃO
a) Direito subjetivo: Segundo a doutrina dominante, a ação seria um di-
reito (como já visto), enquanto para outros ela seria um poder. Os que a 
entendem como poder partem da noção de que direito subjetivo e obrigação 
representam situações jurídicas opostas de vantagem e desvantagem que ge-
rariam um confl ito de interesses. Assim, inexistindo confl ito entre Estado e 
autor, não haveria que se falar em direito subjetivo e sim em poder;
b) Direito público: A ação está sempre situada na órbita do direito pú-
blico, pois o exercício desse direito subjetivo desencadeia o desempenho de 
uma função pública monopolizada pelo Estado (jurisdição). Assim, a ação é 
dirigida apenas contra o Estado, mas, uma vez apreciada pelo juiz, produzirá 
efeitos na esfera jurídica do réu;
c) Garantido constitucionalmente: Como um direito fundamental conti-
do no art. 5º, XXXV, assegura
o direito ao processo com a atuação do Estado, 
o direito ao contraditório e o direito de infl uir sobre a formação do convenci-
mento do juiz através do garantia do devido processo legal (art. 5º, LIV, CF);
d) Instrumental: Tem por fi nalidade solucionar uma pretensão de direito ma-
terial. Em virtude da intensa produção doutrinária, essa característica tem assu-
mido grande importância no cenário jurídico hodierno que privilegia um pro-
cesso civil de resultados e o considera não como um fi m em si mesmo, mas como 
instrumento capaz de garantir a máxima efetividade da tutela jurisdicional.
4 — CONCEITO
Examinadas a natureza jurídica e as características da ação, podemos ago-
ra conceituá-la como um direito autônomo (independente da existência do 
direito material), de natureza abstrata e instrumental, pois visa solucionar 
pretensão de direito material, sendo, portanto, conexo a uma situação jurí-
dica concreta.
5 — CONDIÇÕES DA AÇÃO
A expressão “condições da ação” reveste-se de certa equivocidade. Frise-se, 
contudo, que, neste trabalho, será ela utilizada para designar os requisitos 
indispensáveis ao regular exercício do direito de ação. Afasta-se, desse modo, 
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 82
41 O interesse de agir processual dife-
rencia-se do interesse substancial ou 
material, que diz respeito à relação ju-
rídica de direito material argüida. Além 
disso, é requisito de todos os direitos 
processuais e não apenas da ação.
42 Importante observar que, após a Lei 
nº. 11.280/2006, o art. 489 do CPC pas- 
sou a ter a seguinte redação: “O ajuiza- 
mento da ação rescisória não impede o 
cumprimento da sentença ou acórdão 
rescindendo, ressalvada a concessão, 
caso imprescindíveis e sob os pressu- 
postos previstos em lei, de medidas de 
natureza cautelar ou antecipatória de 
tutela”. A redação anterior do referido 
artigo provocava grande dicotomia en- 
tre Lei e Jurisprudência, na medida em 
que dispunha que a ação rescisória não 
suspendia a execução. A nova redação 
promoveu a reconciliação entre Lei e 
Jurisprudência, seguindo a tendência 
de ampliar o poder do juiz, ainda que se 
trate de demanda ajuizada com o ob- 
jetivo de desconstituir a coisa julgada.
a lição de Liebman, consoante a qual as condições da ação seriam requisitos 
para a existência de referido direito.
5.1 — São condições genéricas:
1) Legitimidade das partes (legitimidade ad causam): Difere da legitimi-
dade ad processum, pois aquela é a legitimidade para agir (refere-se àquele que 
diz ter sofrido a lesão) e esta é a capacidade processual, ou seja, a capacidade 
de estar em juízo.
2) Interesse processual em agir41: Refere-se à necessidade, utilidade e pro-
veito da tutela jurisdicional para que o autor obtenha a satisfação do direito 
pleiteado e justifi ca-se na medida em que não convém ao Estado acionar o 
aparato judicial sem que dessa atividade possa ser extraído algum resultado útil.
Alguns autores entendem que o interesse de agir deve vir representado 
pelo binômio necessidade-adequação do provimento judicial solicitado. Nes-
se sentido, a necessidade decorreria da impossibilidade de obter a satisfação 
do alegado direito sem a atuação do Estado (já que o ordenamento veda a 
autotutela); e a adequação da relação existente entre os meios processuais 
escolhidos e o fi m desejado.
3) Possibilidade jurídica do pedido: Previsibilidade pelo direito objetivo 
da pretensão manifestada pelo autor, ou seja, é a admissibilidade, em abstra-
to, do provimento demandado. Deve ser aferida em dois aspectos, um posi-
tivo (pode-se pedir tudo aquilo que esteja expressamente previsto em lei) e 
outro negativo (só se pode pleitear o que não seja vedado por lei). O silêncio 
da lei é interpretado em favor da parte. Esta é a posição do direito brasileiro.
5.2 — São condições específicas:
Além das mencionadas condições genéricas, que devem estar presentes em 
todas as ações, há que se falar, ainda, nas condições específi cas, previstas para 
determinadas ações, como por exemplo:
• Mandado de Segurança: sua condição específi ca é o ajuizamento da 
ação no prazo máximo de 120 dias, contados da ciência, pelo interes-
sado, do ato impugnado (art. 18, Lei n° 1.533/51).
• Rescisória42 (ação especial utilizada para desconstituir a coisa julgada): 
duas são as condições específi cas neste caso: o depósito de 5% sobre 
o valor da causa pelo seu autor no momento em que ele propõe a 
demanda rescisória (art. 488, II, CPC) e o ajuizamento da demanda 
dentro do prazo de dois anos contados do trânsito em julgado da de-
cisão (art. 495, CPC).
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 83
5.3 — Aferição das condições da ação
É de se ressaltar, afi nal, que as condições da ação devem ser aferidas in sta-
tu assertionis, ou seja, em face da afi rmação constante da petição inicial. Isto 
porque se dos fatos afi rmados pelo autor não puder vir a resultar o acolhi-
mento do pedido, o autor não terá o direito ao exercício da jurisdição sobre 
o caso concreto, devendo ser julgado carecedor de ação.
No entanto, a asserção não é sufi ciente para demonstrar a presença das 
condições da ação. Na verdade, ela deve ser examinada em conjunto com 
as provas que instruem a petição inicial. É necessário um mínimo de provas 
a demonstrar a verossimilhança das asserções formuladas na petição inicial. 
Entendimento contrário permitiria a autolegitimação do exercício da ação 
e criaria a possibilidade de submeter o réu ao ônus de defender-se de uma 
demanda manifestamente inviável.
Contudo, a posição que ainda hoje predomina na jurisprudência é a do 
exame das condições da maneira como estão dispostas na inicial, sem exten-
são probatória, pois, a partir do momento em que o juiz autoriza a produção 
de provas, já estará ingressando no mérito da causa. Não obstante, já se levan-
tam vozes a mitigar a intensidade dessa regra.
Destaque-se que a carência de ação não se confunde com a improcedência 
do pedido, pois esta implica exame do mérito, impedindo a renovação da 
ação, enquanto aquela, uma vez reconhecida, não obsta a que o autor renove 
seu pedido através de um novo processo que preencha tais condições.
Assim, o exame das condições da ação não trata de um juízo de mérito, 
mas de um juízo sobre questões de direito material a partir da situação fática 
e concreta relatada pelo demandante como fundamento de sua pretensão, 
que deve estar acompanhada de um mínimo de verossimilhança e provas que 
evidenciem a possibilidade do acolhimento. Isto porque, da mesma forma 
que é garantido a todos o direito de ação, é também assegurado o direito 
constitucional daquele contra quem a ação é exercida de não ser molestado 
por uma demanda inviável.
6 — ELEMENTOS DA AÇÃO
São elementos da ação as partes, a causa de pedir e o pedido.
As partes são os sujeitos que fi guram respectivamente como autor e como 
réu na relação processual. São aqueles que pedem em relação a quem o provi-
mento jurisdicional é pedido. Além da identifi cação da identidade das partes 
litigantes, é preciso também que se verifi que a qualidade com que a pessoa 
esteja litigando (por exemplo, em nome próprio no interesse próprio, em 
nome próprio no interesse alheio etc.), caso em que, havendo divergência, 
não haverá identidade de parte.
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 84
Numa relação processual podemos encontrar, ainda, os seguintes insti-
tutos do litisconsórcio (pluralidade de partes numa relação processual) e a 
intervenção de terceiros (ampliação subjetiva da relação processual através do 
ingresso de pessoas no feito sob a condição de terceiros quando os mesmos 
demonstrarem interesse jurídico).
Quanto à causa de pedir (ou causa petendi), é o fato jurídico com todas 
as suas circunstâncias que fundamenta a demanda autoral (art. 282, III, do 
CPC). Divide-se em causa de pedir próxima
e remota.
Por fi m, o pedido que é o objeto da jurisdição e se divide em imediato e 
mediato. O pedido, como regra no CPC, deve ser certo e determinado (art. 
286). Entretanto, o próprio legislador admite algumas exceções em hipóteses 
nas quais, quando do início da demanda, tal precisão não puder ser exigida 
do autor, segundo o princípio da razoabilidade.
O princípio da inércia limita que o julgador se atenha ao que consta no 
pedido quando da prolação de sua sentença. Entretanto, os chamados pedi-
dos implícitos (exemplo: os juros legais e a obrigações vincendas em relações 
de trato sucessivo) não estão adstritos àquele princípio.
MATERIAL DE APOIO JURISPRUDÊNCIA
PROCESSUAL CIVIL — INEXISTÊNCIA DE VIOLAÇÃO DO ART. 
535 DO CPC — CONDIÇÕES DA AÇÃO — ILEGITIMIDADE DAS 
PARTES — EXTINÇÃO DO PROCESSO SEM RESOLUÇÃO DO MÉRI-
TO — ART. 267, INCISO VI, DO CPC. 1. Inexiste violação do art. 535 do 
CPC quando a prestação jurisdicional é dada na medida da pretensão deduzida. 
2. O exercício do direito de ação pressupõe o preenchimento das condições da 
ação, quais sejam: a) possibilidade jurídica do pedido; b) interesse de agir; e, 
c) legitimidade das partes. 3. No caso dos autos, ausente a legitimidade ativa 
ad causam, porquanto a recorrida pleiteia a inexistência de débito tributário e 
a conseqüente expedição de certidão negativa de débito ou certidão positiva, 
com efeitos de negativa, em nome de outrem. Violação do art. 6º do CPC. 4. 
Extinção do processo, sem resolução de mérito, nos termos do art. 267, VI, do 
CPC. Recurso especial provido. (STJ, Segunda Turma, RESP 2010.007.2684-
8 RESP — RECURSO ESPECIAL — 1190612 — Relator(a) HUMBERTO 
MARTINS DJE:24/08/2010).
DIREITO PREVIDENCIÁRIO E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO RESCI-
SÓRIA AJUIZADA COM O OBJETIVO DE DESCONSTITUIR ACÓR-
DÃO QUE CONFIRMOU SENTENÇA QUE EXTINGUIU EXECUÇÃO 
DE TÍTULO JUDICIAL. I — A presença das condições da ação, dentre elas 
o interesse jurídico, deve ser verifi cada in statu assertionis (Teoria da Asserção), 
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 85
ou seja, conforme a narrativa feita pela autora em sua petição inicial. II — O 
título judicial objeto da execução reconheceu o direito da segurada ao reajuste 
nos exatos termos do Enunciado n.º 260 da Súmula do Extinto Tribunal Federal 
de Recursos, motivo porque se mostra infundado qualquer argumento da autora 
no sentido da defasagem do valor do benefício em decorrência da não aplicação 
da equivalência salarial. III — Pedido julgado improcedente. (TRF 2ª Região, 
PRIMEIRA SEÇÃO ESPECIALIZADA — AR 200902010182237 — AR — 
AÇÃO RESCISORIA — 3536 — Relator(a) Desembargador Federal ANDRÉ 
FONTES — Data::08/04/2011).
AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO 
DE SEGURANÇA. CONCURSO PÚBLICO. DELEGADO DE POLÍCIA 
DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL. PETIÇÃO INICIAL DO 
MANDADO DE SEGURANÇA INDEFERIDA, LIMINARMENTE. LITIS-
PENDÊNCIA CONFIGURADA. RECURSO ORDINÁRIO EM MANDA-
DO DE SEGURANÇA A QUE SE NEGA SEGUIMENTO. AGRAVO RE-
GIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO. 1. Nos termos do art. 301, 
§ 1º, do Código de Processo Civil, ocorre litispendência quando se reproduz 
ação anteriormente ajuizada. 2. Na análise do requisito de identidade de partes 
para confi guração da litispendência, devem ser considerados os benefi ciários dos 
efeitos da decisão proferida na ação primitiva. Precedentes. 3. A caracterização 
da litispendência reclama a identidade dos elementos da ação, quais sejam, par-
tes, pedido e causa de pedir. 4. No mandado de segurança, a autoridade coatora 
é um fragmento da pessoa jurídica de direito público interessada, e, se dentro 
dela há legitimidade passiva de mais de uma autoridade coatora, logo há iden-
tidade de parte para efeito de caracterizar litispendência e coisa julgada. 5. A 
razão de ser do instituto da litispendência é evitar que a parte ingresse com duas 
ações judiciais buscando o mesmo resultado, o que, em regra, ocorre quando o 
postulante formula, em face do mesmo sujeito processual, idêntico pedido, fun-
dado na mesma causa de pedir. 6. Agravo regimental a que se nega provimento. 
(STJ, Sexta Turma, AROMS 200700802017 — AROMS — AGRAVO REGI-
MENTAL NO RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA — 23935 
— Relator(a) CELSO LIMONGI (DESEMBARGADOR CONVOCADO 
DO TJ/SP) — DATA:06/12/2010).
PROCESSUAL CIVIL. CAUSA EXTINTIVA DO PROCESSO SEM 
RESOLUÇÃO DO MÉRITO. COISA JULGADA. NÃO OCORRÊNCIA. 
INEXISTÊNCIA DA TRÍPLICE IDENTIDADE. CAUSA DE PEDIR E PE-
DIDO DISTINTOS. RETORNO DOS AUTOS À ORIGEM PARA JUL-
GAMENTO DO MÉRITO DA CAUSA. 1. Ocorre violação da coisa julgada 
quando se ajuíza ação idêntica a outra anteriormente julgada por sentença de 
mérito irrecorrível. A identidade entre as ações, por seu turno, pressupõe a igual-
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 86
dade das partes, da causa de pedir — próxima e remota — e do pedido — me-
diato e imediato. (REsp 769.000/RJ, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, Quinta 
Turma, julgado em 18.10.2007, DJ 5.11.2007, p. 348). 2. No caso dos autos, 
não se verifi ca a identidade de causa de pedir entre a anterior demanda e esta — 
uma vez que, na primeira o pedido foi formulado em razão do art. 4º da Lei n. 
6.683/79; e, nesta, em razão do art. 6º, § 3º, da Lei n. 10.559/2002. Por consec-
tário, não há falar em ocorrência da coisa julgada. Agravo regimental improvi-
do. (STJ, Segunda Turma, AARESP 201001163370 — AARESP — AGRAVO 
REGIMENTAL NO AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL 
— 1200591 — Relator(a) HUMBERTO MARTINS — DATA:29/11/2010).
LEITURAS OBRIGATÓRIAS
DIDIER JR., Fredie. Curso de Direito Processual Civil, vol. 1, 9ª edição, 
Salvador, Po— dium, 2008, p. 167-205.
MENDES, Aluisio Gonçalves de Castro. O acesso à Justiça e as condições da 
ação, Revista de Processo, nº 174, ago. 2009, p. 325-338.
LEITURAS COMPLEMENTARES
GRECO, Leonardo. A Teoria da Ação no Processo Civil, São Paulo, Dialéti-
ca, 2003, na íntegra (73 p.).
MARINONI, Luiz Guilherme. Curso de Processo Civil, vol. 1 (Teoria Geral 
do Processo), São Paulo, Revista dos Tribunais, 2006, p. 157-303.
SOUSA, José Augusto Garcia de. A nova Lei 11.448/07, os escopos extra-
jurídicos do processo e a legitimidade da Defensoria Pública para ações 
coletivas, in A Defensoria Pública e os Processos Coletivos, coordenador 
José Augusto Garcia de Sousa, Rio de Janeiro, Lumen Juris, 2008, p. 
189-258.
ANDRADE, André Gustavo Corrêa de. Dano moral e pedido genérico de 
indenização, Revista dos Tribunais, nº 781, nov. 2000, p. 33-50.
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 87
43 Nesse sentido, MARINONI, Luiz 
Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. 
Manual do Processo do Conhecimento, 
1ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 
2001, p. 56 e 77. Ainda segundo os au-
tores, se o processo é um instrumento 
e se para o exercício da jurisdição por 
meio do processo são traçados, pela lei, 
vários procedimentos, o processo pode 
ser defi nido como o procedimento que 
permite que o juiz exerça a função ju-
risdicional.
44 “Nem se confunde a instrumentalida-
de de que aqui se cuida, como parece 
óbvio, com a instrumentalidade das 
formas. Esse princípio, da mais pro-
funda relevância em direito processual, 
contém-se todo ele inteiro na teoria 
do processo, como instituto jurídico 
[...] Como se vê, trata-se de diretriz 
importantíssima, mas ainda mais vi-
sivelmente endosistemática, não se 
confundido com a instrumentalidade 
que é o tema das presentes investiga-
ções”. DINAMARCO, Cândido Rangel. A 
instrumentalidade do processo, 5ª ed. 
São Paulo: Malheiros, 1996, p. 266. 
(grifo acrescentado).
AULA 16, 17 E 18. PROCESSO, RELAÇÃO JURÍDICA PROCESSUAL E 
PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS
CASO
Após um acidente de trânsito, uma única testemunha se encontra interna-
da em estado grave no Hospital Estadual X. Dada a fragilidade de sua saúde, 
a testemunha corre risco de morrer. Existe alguma medida emergencial
que 
você, como advogado, possa buscar judicialmente que vise ao colhimento 
preventivo do depoimento da referida testemunha e assegurar a instrução 
probatória da ação de indenização que será proposta?
NOTA AO ALUNO
1 — CONCEITO E NATUREZA JURÍDICA DO PROCESSO
O processo, indispensável ao exercício da função jurisdicional, pode ser 
defi nido como o instrumento através do qual a jurisdição é exercida ou, como 
o procedimento que, atendendo aos ditames da Constituição da República, 
permite que o juiz exerça sua função jurisdicional43.
Esta, por sua vez, será legítima na medida em que permita a participação 
das partes através do procedimento realizado em contraditório, associada à 
observância da legalidade inerente à garantia do devido processo legal. Nesse 
sentido, o processo só será justo quando o juiz, atento à disciplina legal, pos-
sibilitar a participação adequada e equilibrada dos indivíduos.
No entanto, consoante o entendimento dominante entre nós, não se con-
fundem processo e procedimento, visto que o procedimento é o elemento 
visível do processo; constitui apenas o meio extrínseco pelo qual o processo é 
instaurado e desenvolvido.
Todavia, com a doutrina de Cândido Rangel Dinamarco44, foi sendo de-
senvolvida e reforçada entre nós a teoria da instrumentalidade do processo, 
provocando mudanças importantes no cenário jurídico a partir da introdu-
ção de novos paradigmas na interpretação das leis processuais.
Dessa forma, o processo deve ser concebido não mais como um fi m em 
si mesmo, mas como um meio apto a assegurar um direito invocado (instru-
mentalidade negativa). Isto porque, conforme ressalta Dinamarco, a necessi-
dade de oferecer segurança jurídica deve conviver com o princípio da liber-
dade e a racionalidade no exercício do poder de modo a alcançar o desejável 
equilíbrio entre a legalidade e a liberdade formal.
Em face das diversas teorias que procuram explicar o processo, podemos 
extrair seu conceito e natureza jurídica.
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 88
No tocante ao conceito, podemos defi ni-lo como o conjunto de atos, re-
alizados sob o crivo do contraditório, que cria uma relação jurídica da qual 
surgem deveres, poderes, faculdades, ônus e sujeições para as partes que dela 
participam.
Dessa forma, quanto à natureza jurídica, isto é, ao gênero ao qual pertence 
o instituto em análise, trata-se de uma categoria jurídica autônoma, per si, 
cujas espécies seriam os processos de conhecimento, de execução etc.
Visto isto, é preciso visualizar o processo como garantia para a realização 
da justiça e efetivação dos direitos, já que somente através deste instrumento 
as partes poderão garantir sua participação equilibrada e protegida pelas ga-
rantias do devido processo legal na formação da decisão.
2 — TEORIAS SOBRE A NATUREZA JURÍDICA DO PROCESSO
a) Teorias privatistas:
a.1) Teoria do processo como um contrato: Identifi cava o processo 
como um contrato (litiscontestatio), através do qual as partes se subme-
tiam à decisão que viesse a ser proferida.
a.2) Processo como um quase-contrato: Esta teoria, assim como a 
precedente, teve sua origem na França (século XIX) e foi construída 
sobre fragmentos do direito romano. Baseia-se na constatação de que, 
conquanto o processo não possa ser considerado um contrato, diante 
das contundentes críticas formuladas contra a teoria anterior, dele de-
correm obrigações que vinculam as partes.
b) Teoria da relação jurídica processual: Com a publicação, na Alemanha, 
da obra “Teoria dos pressupostos processuais e das exceções dilatórias”, de 
Oskar von Bülow, em 1868, iniciou-se a sistematização da relação processual, 
distinta da relação de direito material, abrindo espaço para que o direito pro-
cessual lograsse autonomia científi ca. Assim, Bülow identifi cou o processo 
como uma relação jurídica — eis que decorriam para os seus sujeitos direitos 
e obrigações — distinta da relação jurídica material, tendo em vista que am-
bas as relações possuíam sujeitos, objeto e pressupostos distintos. Destacou-se 
das demais teorias não só pela identifi cação dos dois planos de relações, mas 
também pela sistematização ordenadora da conduta dos sujeitos processuais 
em suas relações recíprocas.
c) Teoria do processo como situação jurídica: Segundo o alemão James 
Goldschmidt, a única relação jurídica existente seria a de direito material, 
não havendo direitos processuais, mas meras expectativas de se obter vanta-
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 89
gem. Assim, o processo constituiria uma série de situações jurídicas, concre-
tizando para as partes direitos, deveres, faculdades, poderes, sujeições, ônus 
etc. Tal teoria, entretanto, foi esvaziada por não conseguir afastar a noção de 
relação jurídica processual, contribuindo, contudo, para o enriquecimento 
da ciência processual a partir do desenvolvimento e incorporação na doutrina 
dos conceitos de faculdades, ônus, sujeições, bem como da relação funcional 
de natureza administrativa entre juiz e Estado.
d) Teoria do processo como instituição: Embora desenvolvida por Jaime 
Guasp, esta teoria teve seu principal representante na fi gura de Eduardo J. 
Couture. Consoante ela, o processo seria uma instituição jurídica. A primeira 
e maior difi culdade que dela decorre reside em esclarecer, com precisão, o que 
signifi ca a expressão instituição jurídica. O conceito de instituição possui ori-
gem eminentemente sociológica, e não jurídica, sobre ele havendo se debru-
çado mentes brilhantes do porte de Ihering, Renard e Hauriou, sem que suas 
idéias convergissem para um denominador comum. Para este último, que era 
sociólogo, há duas espécies de instituição: a instituição-pessoal (corresponde 
ao aspecto sociológico da instituição e a instituição-coisa).
A instituição-pessoal, que corresponde ao aspecto sociológico da institui-
ção, seria, segundo Tornaghi um “agrupamento de pessoas reunidas em tôrno 
[sic] de uma idéia, a fi m de realizá-la graças a uma organização permanente”. 
Exemplo de instituição-pessoal seria o sindicato. Já a instituição-coisa pos-
suiria sentido diverso, que abrangeria “aquêles [sic] conjuntos de regras de 
direito que formam um todo único”. O processo, na lição de Couture, seria 
uma instituição desse último tipo.
Esta teoria, conquanto engenhosa, não explica satisfatoriamente a nature-
za jurídica do processo. O caráter impreciso e elástico do conceito de institui-
ção, por si, já recomenda que se evite tal categoria na revelação do que venha 
a ser o processo. Por outro lado, ainda que se adotasse como referencial teó-
rico a lição de Hauriou, atingir-se-ia a conclusão de que o processo não pode 
ser considerado uma instituição-coisa, tampouco uma instituição-pessoal.
Com efeito, ele não pode ser defi nido como um conjunto de regras jurí-
dicas e, por isso, não é uma instituição-coisa. Assim, quando muito, poderia 
considerar-se uma instituição-coisa o direito processual, mas não o processo. 
Além disso, o processo também não seria uma instituição-pessoal, haja vista 
que ele não se personifi ca, tampouco se caracteriza pela permanência.
e) Teoria do processo como procedimento em contraditório: De acordo 
com a doutrina de Elio Fazzalari, o processo seria um procedimento, isto é, 
uma seqüência de normas destinadas a regular determinada conduta, em pre-
sença do contraditório. Esta teoria defende a superação do conceito de relação 
jurídica, o qual considera incapaz de revelar a natureza jurídica do processo.
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 90
Para ela, o processo é uma espécie do gênero procedimento. Mais preci-
samente: o processo é o procedimento que se desenvolve em contraditório. 
O procedimento poderia ser defi nido como uma série de atos e uma série de 
normas que os disciplinam, em conexão entre elas, regendo a seqüência de 
seu desenvolvimento.
Todo procedimento destina-se a preparar um provimento, que, por sua 
vez, é um ato do Estado, de caráter imperativo, produzido pelos seus órgãos 
no âmbito de sua competência, seja um ato administrativo, um ato legislativo 
ou um ato jurisdicional.
O processo seria, portanto, aquela espécie de procedimento em que os 
interessados participariam, em condições de igualdade, interferindo efetiva-
mente na preparação do provimento.
O contraditório seria o elemento que qualifi ca o processo, permitindo 
apartá-lo das demais espécies de procedimento. Esta teoria é criticada por 
procurar eliminar a relação jurídica do conceito de processo. Afi nal, não exis-
te qualquer incompatibilidade entre contraditório e relação jurídica. É por 
meio da relação jurídica processual e das transformações que essa experimen-
ta, à medida que o procedimento avança, que se concretiza a garantia consti-
tucional do contraditório.
Em outras palavras: a participação das partes, assegurada pelo contraditó-
rio, somente se faz efetiva, porque, com as transformações da relação proces-
sual, criam-se para as partes diversos direitos, deveres, ônus, sujeições, enfi m, 
diversas situações subjetivas, cujo surgimento é indissociável da noção de 
relação jurídica.
f ) Teoria do processo como categoria complexa: A referida teoria, destaca-
da por Cândido Rangel Dinamarco, complementaria a de Elio Fazzalari, ao 
sustentar que o processo é uma entidade complexa, ou seja, o processo seria o 
procedimento realizado em contraditório e animado pela relação processual.
Por se tratar de uma categoria complexa, o processo seria composto, basi-
camente, por dois aspectos: o extrínseco, que seria justamente o procedimen-
to realizado em contraditório; e o intrínseco, que, por sua vez, seria a relação 
jurídica processual estabelecida entre as partes, gerando sucessivamente direi-
tos, deveres, faculdades, ônus.
Contestando a teoria do processo como relação jurídica, Dinamarco sus-
tenta sua falha, na medida em que esta não explica como o processo poderia 
ser apenas uma relação processual, sem incluir um procedimento. Ou seja, a 
teoria partiria da errônea percepção de que procedimento e relação jurídica 
processual não coexistem no conceito e na realidade do processo, apesar de 
este não poder ser o que realmente é na ausência de um desses elementos.
Não obstante tal teoria seja bem aceita na doutrina, as críticas remanes-
centes apontam para a contradição existente em dissociar o processo nos pla-
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 91
45 O processo cautelar não se baseia 
em um juízo de certeza (como o de 
conhecimento), bastando que estejam 
presentes os requisitos fumus boni 
iuris (aparência de bom direito) e 
periculum in mora (perigo na de-
mora) para que seja concedida a tutela 
cautelar.
nos interno e externo, pois todo instituto ou entidade deve ser concebido 
como uma unidade.
g) Teoria do processo como categoria jurídica autônoma: Segundo os de-
fensores da teoria, que no Brasil recebe a simpatia de Afrânio Silva Jardim, o 
processo seria uma categoria jurídica autônoma, distinta das demais já consa-
gradas no quadro da Teoria Geral do Direito.
As diversas teorias existentes acerca da natureza jurídica do processo in-
cidem em equívoco metodológico: procuram, em vão e desnecessariamente, 
enquadrar o processo em categorias jurídicas já existentes. Consoante essa 
teoria, “o processo é o processo” e simplesmente isso.
3 — CLASSIFICAÇÃO DOS PROCESSOS
O processo, como meio de prestar tutela jurisdicional, não comporta ne-
nhuma divisão. No entanto, de acordo com seu objetivo podemos classifi cá-
lo de três formas: (i) processo de conhecimento, (ii) processo cautelar e (iii) 
processo de execução.
O Processo de conhecimento, segundo Cândido Rangel Dinamarco, cor-
responde a “uma série de atos interligados e coordenados ao objetivo de pro-
duzir tutela jurisdicional mediante o julgamento da pretensão exposta ao 
juiz”. Trata-se do meio pelo qual se comprova, através da formulação de uma 
norma jurídica concreta, determinado fato ou situação jurídica, a fi m de se 
obter uma determinada prestação, vantagem ou interesse que deverá ser rea-
lizado pela parte contrária.
Também chamado declaratório em sentido amplo, tem por objeto a pre-
tensão ao provimento declaratório, que é a sentença de mérito, isto é, o ato 
em que se expressa a norma jurídica concreta disciplinadora da situação sub-
metida ao órgão jurisdicional.
Com o surgimento de novos direitos e a necessidade de tutela efetiva ins-
pirada na noção de um processo civil de resultados, o processo de conheci-
mento ganhou novas feições em virtude da tutela antecipatória que, condi-
cionada a requisitos específi cos, permite a proteção adequada e tempestiva 
dos direitos em jogo.
O Processo cautelar corresponde a uma manifestação eminentemente ins-
trumental e tem como objetivo assegurar a efi cácia do processo de conheci-
mento e do processo de execução, ou seja, a efetividade da tutela do direito 
material45.
Trata-se de uma atividade auxiliar e subsidiária fundada na hipótese de um 
futuro provimento jurisdicional favorável ao réu (fumus boni iuris) e no peri-
go decorrente do retardamento do remédio jurisdicional (periculum in mora).
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 92
46 Art. 475-I. O cumprimento da sen-
tença far-se-á conforme os arts. 461 
e 461-A desta Lei ou, tratando-se de 
obrigação por quantia certa, por exe-
cução, nos termos dos demais artigos 
deste Capítulo. (Incluído pela Lei nº 
11.232, de 2005)
§ 1o É defi nitiva a execução da 
sentença transitada em julgado e pro-
visória quando se tratar de sentença 
impugnada mediante recurso ao qual 
não foi atribuído efeito suspensivo. 
(Incluído pela Lei nº 11.232, de 2005)
§ 2o Quando na sentença houver 
uma parte líquida e outra ilíquida, ao 
credor é lícito promover simultanea-
mente a execução daquela e, em autos 
apartados, a liquidação desta. (Incluído 
pela Lei nº 11.232, de 2005)
47 Art. 475-N. São títulos executivos 
judiciais: (Incluído pela Lei nº 11.232, 
de 2005)
I – a sentença proferida no processo 
civil que reconheça a existência de obri-
gação de fazer, não fazer, entregar coisa 
ou pagar quantia; (Incluído pela Lei nº 
11.232, de 2005)
II – a sentença penal condenatória 
transitada em julgado; (Incluído pela 
Lei nº 11.232, de 2005)
III – a sentença homologatória de 
conciliação ou de transação, ainda que 
inclua matéria não posta em juízo; (In-
cluído pela Lei nº 11.232, de 2005)
IV – a sentença arbitral; (Incluído 
pela Lei nº 11.232, de 2005)
V – o acordo extrajudicial, de qual-
quer natureza, homologado judicial-
mente; (Incluído pela Lei nº 11.232, 
de 2005)
VI – a sentença estrangeira, homolo-
gada pelo Superior Tribunal de Justiça; 
(Incluído pela Lei nº 11.232, de 2005)
VII – o formal e a certidão de par-
tilha, exclusivamente em relação ao 
inventariante, aos herdeiros e aos su-
cessores a título singular ou universal. 
(Incluído pela Lei nº 11.232, de 2005)
Parágrafo único. Nos casos dos inci-
sos II, IV e VI, o mandado inicial (art. 
475-J) incluirá a ordem de citação do 
devedor, no juízo cível, para liquidação 
ou execução, conforme o caso. (Incluído 
pela Lei nº 11.232, de 2005)
Seu resultado específi co é um provimento acautelatório. Daí se falar que 
no processo cautelar temos uma instrumentalidade ao quadrado, pois ele se-
ria o instrumento do processo principal, que é, por sua vez, instrumento para 
a realização do direito material.
Por fi m, o Processo de execução permite a realização prática do direito no 
mundo dos fatos, sendo utilizado sempre que se quer dar um efeito concreto, 
mesmo contra a vontade do devedor, a um título extrajudicial.
Atualmente, em vistas das reformas legislativas iniciadas pelas Leis n° 
8.952/94 e 10.444/2002, que chegaram
ao seu ponto maior com a Lei nº 
11.232/05, havendo um título judicial, não se deve mais falar em processo 
de execução, mas tão somente em cumprimento de sentença, que se coloca 
como a quinta e última fase do processo de conhecimento, iniciada após o 
trânsito em julgado da sentença (ou acórdão), no caso do cumprimento defi -
nitivo, previsto no artigo 475-I do CPC46.
Com as reformas, verifi ca-se um crescente abandono da noção original de 
execução, representada por um processo autônomo em relação ao processo de 
conhecimento, isto é, uma nova relação jurídica processual distinta da que se 
extinguiu com a sentença de mérito transitada em julgado, com nova petição 
inicial, nova citação etc.
Esse modelo, aos poucos, vem dando lugar à execução imediata, ou seja, 
à execução que se realiza na mesma relação processual em que se formou o 
título executivo exeqüendo. Assim, a execução autônoma fi ca restrita aos tí-
tulos executivos extrajudiciais, bem como a alguns poucos títulos executivos 
judiciais (CPC, art. 475-N, parágrafo único)47. Este é o principal resultado 
das inovações trazidas pela Lei n° 11.232, de 22 de dezembro de 2005.
Conforme a sentença proferida, o processo de conhecimento pode ser 
classifi cado da seguinte forma:
a) Corrente ternária:
a.1) declaratório — visa à declaração da existência ou inexistência 
de determinada relação jurídica ou da autenticidade ou falsidade de 
documento, as quais, uma vez ob— tidas, exaurem o provimento juris-
dicional invocado. Fundamenta-se no fato de que a incerteza jurídica 
gera um confl ito atual ou perigo de confl ito cuja eliminação é escopo 
da jurisdição;
a.2) constitutivo — pretende a modifi cação de uma situação ou re-
lação jurídica e a criação de uma nova. No processo constitutivo, o 
provimento jurisdicional constitui, modifi ca ou extingue a situação ou 
relação jurídica mediante a declaração das condições legais que o auto-
rizam. Nesse sentido, a partir de seu conteúdo, teremos uma sentença 
constitutiva positiva ou, na última hipótese, uma sentença constitu-
tiva negativa ou desconstitutiva. Assim como na hipótese anterior, o 
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 93
processo presta a tutela jurisdicional pleiteada, uma vez que esta, em 
nenhuma das duas hipóteses, dependia de atividades complementares 
que modifi cassem a realidade sensível;
a.3) condenatório: pretende a condenação do réu à determinada 
prestação proveniente de um direito anteriormente violado, possibili-
tando o acesso à execução forçada caso a obrigação não seja cumprida 
espontaneamente pelo devedor. Neste caso, considerando-se a reforma 
no processo de execução que tornou excepcional a execução ex inter-
vallo, teremos, via de regra, o cumprimento da sentença dando conti-
nuidade à fase decisória; tudo dentro do processo de conhecimento.
b) Corrente quinária:
b.1) Mandamental — caracteriza-se por dirigir uma ordem, um co-
mando ao réu que, atuando sobre a sua vontade, obriga-o a cumprir a 
sentença. É o que verifi camos na execução das obrigações de fazer e de 
não fazer;
b.2) Executivo lato sensu — modalidade cuja sentença apresenta ca-
racterísticas cognitivas e executórias, dispensando posterior propositu-
ra de ação de execução. Como exemplo de sentença executiva lato sensu, 
podemos citar a ação de despejo.
Lembremos que é importante destacar o advento da Lei nº. 11.232 de 
2005, que estabeleceu uma nova sistemática de cumprimento de sentença no 
ordenamento pátrio, pelo qual, não mais se faz necessária a propositura de 
demandas executórias para o fi m de cumprimento de decisão judicial.
Para seus defensores, a classifi cação quinária representa a superação do 
modelo liberal de não ingerência do Estado nas relações particulares, justifi -
cando-se em virtude da incapacidade de as sentenças declaratória, constituti-
va e condenatória prestarem tutela preventiva ou tutela adequada aos direitos 
não patrimoniais, já que nenhuma delas permite a inclusão de uma ordem 
judicial.
Nesse sentido, a importância do exercício do imperium repousa no ris-
co de reduzir novamente o magistrado ao que Montesquieu denominou de 
“boca de lei”, noção esta superada pelo surgimento de fi guras como as astrein-
tes, no direito francês, e o contempt power, de origem norte-americana, que 
permitem o exercício criativo da jurisdição.
No entanto, é preciso referir a existência de largo dissenso na doutrina 
acerca do conceito e dos limites de cada uma dessas modalidades, havendo 
necessidade de maior amadurecimento sobre o tema.
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 94
4 — RELAÇÃO JURÍDICA PROCESSUAL
4.1 — Características da Relação Jurídica Processual
Analisados o conceito de processo e sua natureza jurídica, a relação jurí-
dica processual pode ser defi nida como a relação jurídica formada entre au-
tor, réu e juiz, na qual se discute, sob as luzes do contraditório, uma relação 
jurídica de direito material. Lembre-se, uma vez mais, que a relação jurídica 
processual não se confunde com o processo, mas tem nele seu nascedouro. As 
principais características dessa relação são:
a) Autonomia — a relação jurídica de direito processual é distinta da rela-
ção de direito material, já que esta constitui a matéria em debate, e aquela, a 
relação na qual esta se contém;
b) Natureza pública — constitui meio através do qual o juiz, representan-
do o Estado, exerce uma função pública (jurisdicional) em relação à qual as 
partes têm de se sujeitar;
c) Complexidade — dela decorre para os sujeitos do processo, à medida 
que os atos que compõem o procedimento vão sendo praticados, uma série 
de situações jurídicas (direitos, poderes, faculdades, sujeições, ônus), sendo 
natural que a parte que ora assume uma posição de vantagem (ex.: faculdade) 
outras vezes seja colocada pela lei diante de uma posição de desvantagem (ex.: 
dever).
d) Progressividade (dinamismo) — é uma relação dinâmica, em constante 
movimento, resultante das diversas posições jurídicas formadas através de um 
procedimento, diferenciando-se, neste ponto, da relação jurídica de direito 
material, que é estática;
e) Unidade — apesar de sua complexidade, os atos praticados são coorde-
nados formando uma unidade tendente a um objetivo comum, qual seja, a 
emissão do provimento jurisdicional;
f ) Caráter tríplice — é formado por três sujeitos, a saber: Estado, autor 
e réu. Todavia convém ressaltar novamente que não há consenso na doutri-
na quanto à confi guração triangular da relação jurídica processual, havendo 
quem defenda uma formação angular (sem contato direto entre autor e réu, 
que se comprometem exclusivamente perante o Estado — ou Estado-juiz) 
ou mesmo a linear (com exclusão da fi gura do Estado, e de todo inaceitável).
Prevalece, no entanto, a concepção da fi gura triangular, cuja origem re-
monta à formação original da teoria da relação jurídica processual, na qual 
haveria posições jurídicas processuais que interligam autor e Estado, Estado e 
réu, réu e autor, em virtude da existência de dever de lealdade recíproco entre 
as partes, da obrigação de pagamento pela parte vencida das despesas proces-
suais adiantadas pela parte vencedora, da possibilidade de convenção para a 
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 95
suspensão do processo e de transação, quando em jogo direitos disponíveis 
materiais.
Esta é, também, a posição adotada pelo nosso ordenamento, já que, con-
forme estabelece o art. 219, CPC, a coisa só se faz litigiosa a partir da citação 
válida. Há quem chame tal relação de escalonada, pois não se resolve de uma 
só vez. Ela progride em três fases:
1° momento linear: inicia-se quando o autor oferece a petição inicial diri-
gida a um órgão jurisdicional.
2° momento angular: ocorre a citação do réu para que ele vá a juízo se 
manifestar. Esta relação se aprimorou pela citação a partir da qual
o réu terá 
direito a oferecer uma resposta, normalmente representada pela contestação, 
e também a obter uma sentença que leve em consideração a resposta ofertada, 
esperando que tal provimento negue o pedido do autor.
3° momento triangular: a partir do momento em que a relação se comple-
ta, temos uma situação de pendência quanto à pretensão deduzida em juízo, 
ou seja, temos um estado de litispendência que perdurará até a sentença de-
fi nitiva a ser proferida pelo juiz. Durante este estado, as partes poderão fazer 
valer suas razões através de direitos, deveres, ônus e poderes previstos para os 
sujeitos da relação jurídica processual.
4.2. Objeto da relação jurídica processual
Enquanto na relação de direito material (primária) o objeto é o bem da 
vida em confl ito, isto é, uma importância pecuniária reivindicada, uma pres-
tação de fazer etc., na relação jurídica processual (secundária), o objeto cons-
titui, conforme a doutrina alemã, o mérito da causa, ou, em outras palavras, 
a pretensão — intenção de subordinação do interesse alheio ao próprio — 
manifestada pelo demandante, através do pedido.
Assim, se o objeto é, conforme defi nição de Aurélio Buarque de Holanda 
Ferreira, “o ponto de convergência duma atividade”, o objeto do processo 
será o próprio pedido do autor, representando uma manifestação de vontade 
dirigida ao Estado, sobre a qual este exercerá a atividade jurisdicional.
5 — PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS
São os requisitos mínimos necessários para o estabelecimento de uma re-
lação jurídica processual válida e regular (art. 267, IV, CPC). Dizem respeito 
ao processo como um todo ou a determinados atos específi cos, divergindo, 
neste ponto, das condições da ação, que não dizem respeito ao meio e sim à 
possibilidade de atingir o fi m do processo — o exercício da jurisdição.
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 96
48 Vide ponto 6 da aula 2.
49 O STJ chegou a admitir que o nati-
morto tem direito a um nome e a uma 
sepultura. No entanto, com a morte 
perde-se a personalidade, logo, para 
esta corrente, há que se considerar a ul-
tratividade da personalidade civil após 
o óbito. Neste sentido: A proteção que 
o Código confere ao nascituro alcançará 
o natimorto, no que concerne aos 
direitos da personalidade, tais como 
nome, imagem e sepultura (Jornada I 
do STJ, enunciado n° 1).
50 Há quem defenda que os grandes pri-
matas (chimpanzé, gorila, onobus e 
orangotango) são sujeitos de direito in-
capazes. Importante porque tramita no 
STJ esta discussão, sobre os direitos dos 
primatas. Chama-se teoria do abolicio-
nismo animal. “Em 2007, a 4ª Turma do 
Tribunal Federal da 3ª Região, com sede 
em São Paulo, concedeu HC em favor 
dos chimpanzés Lili e Megh. O colegia-
do mandou soltar os animais do cati-
veiro para que eles fossem devolvidos 
à natureza. Rubens Forte, dono e de-
positário fi el dos animais, recorreu ao 
Superior Tribunal de Justiça, afi rmando 
que os animais têm o constitucional di-
reito à vida, já que são geneticamente 
muito parecidos com os humanos. O 
caso está nas mãos do ministro Herman 
Benjamin, que pediu vista do pedido de 
HC. Dois anos antes, a 9ª Vara Criminal 
de Salvador já havia negado Habeas 
Corpus que pedia a transferência da 
chimpanzé chamada Suíça, que vivia 
em uma jaula no zoológico de Salvador, 
para uma reserva ecológica localizada 
em Sorocaba, interior de São Paulo. 
Com informações da Assessoria de 
Imprensa do TJ-RJ. Processo 0002637-
70.2010.8.19.0000”. (fonte: http://
www.conjur.com.br/2011-abr-19/
tribunal-justica-rio-nao-reconhece-
habeas-corpus-chimpanze).
51 Capacidade postulatória: alguns atos 
processuais exigem uma capacidade 
técnica da parte. Não são todos os 
atos, apenas os atos processuais pos-
tulatórios. A regra é que a capacidade 
postulatória é dos advogados, defen-
sores públicos e Ministério Público. Há 
casos, porém, em que os leigos pos-
suem capacidade postulatória. Os mais 
relevantes são: habeas corpus, 
juizados especiais cíveis até 20 salários 
mínimos em primeira instância, justiça 
do trabalho, governador do Estado para 
a ADI e ADC, se na comarca não houver 
nenhum advogado, se na comarca to-
dos os advogados não aceitarem a cau-
sa (art. 36 do CPC), ação de alimentos 
(para pedir alimentos o leigo tem capa-
cidade postulatória, mas só para pedir, 
para continuar tem que constituir) e a 
lei Maria da Penha (mulher que alega 
sofrer violência domestica pode pedir 
sem advogado, mas daí em diante deve 
constituir um).
Importante atentar para o fato de que, da mesma forma que os elementos 
da ação48, as condições da ação também não devem ser confundidas com os 
pressupostos processuais. Enquanto as condições da ação dizem respeito ao 
exercício do direito de ação, os pressupostos se referem à existência e validade 
da relação processual.
Com isto, presentes estes requisitos, a relação processual é considerada 
viável; caso contrário, teremos a extinção do processo sem julgamento do 
mérito. Porém, observemos que não há consenso em doutrina quanto à clas-
sifi cação dos pressupostos processuais.
A corrente doutrinária clássica divide em duas espécies os pressupostos 
processuais:
a) pressupostos de existência: órgão estatal investido de jurisdição, parte 
e demanda.
a.1) órgão investido de jurisdição; Sentença proferida por um não-
juiz. Relação com o Princípio do Juiz Natural (art. 5º, incisos XXXVII 
e LIII, CF/88).
a.2) capacidade de ser parte: é a aptidão de ser parte em um pro-
cesso, de fi gurar no pólo ativo ou passivo de uma relação processual, 
artigo 1º CC (não se confunde com a capacidade processual, que é a 
capacidade de agir em juízo), isto é, a personalidade processual. É ab-
soluta, ou seja, quem tem, tem sempre. Quem pode ser parte? Pessoas 
físicas, pessoas jurídicas, condomínio, massa falida, espólio, nascituro, 
tribos, nondum conceptus (é a prole eventual — são os fi lhos ainda não 
concebidos de alguém). Todo sujeito de direito tem capacidade de ser 
parte. Não podem possuem capacidade para ser parte os mortos49 e os 
animais50.
a.3) Demanda: ato inicial que instaura o processo perante o órgão 
jurisdicional Elementos da demanda (partes, causa de pedir e pedido). 
Não confundir com a petição inicial que é a instrumentalização física 
da demanda.
b) pressupostos de validade: são requisitos que tornam o processo viável 
e, uma vez ausentes, não permitem a efetivação de eventual sentença de mé-
rito, muito embora o processo tenha existido. São eles: a competência e im-
parcialidade do juiz, capacidade das partes de serem “partes” e para estarem 
em juízo, a capacidade postulatória51, que é a aptidão para a prática de atos 
processuais (ius postulandi) e demanda regularmente ajuizada.
Outra manifestação doutrinária atribui uma classifi cação subjetiva e outra 
objetiva aos pressupostos processuais. São:
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 97
52 Alguns autores estendem que a 
união estável também forma entidade 
familiar e a norma tem por objetivo 
proteger o patrimônio imobiliário da 
família. Outros dizem que é uma união 
informal, não podendo se precisar o dia 
em que ela se iniciou, não sendo possí-
vel controlar a necessidade do consen-
timento. Não há posição majoritária.
a) pressupostos processuais subjetivos: órgão estatal investido de jurisdi-
ção, competente e imparcial; partes com capacidade para ser parte, postular 
em juízo e capacidade processual.
b) pressupostos processuais objetivos: requisitos da demanda, classifi cados 
em extrínsecos, que dizem respeito à inexistência de fatos impeditivos à sua 
constituição (a coisa julgada, a litispendência, a convenção de arbitragem, 
o fato impeditivo ao exercício da ação); e intrínsecos, que são relativos à 
subordinação dos procedimentos às normas legais (citação válida do réu, a 
intimação do Ministério Público, a
regularidade procedimental).
A falta de um pressuposto processual, em regra, impede que o juiz decida 
a lide. No entanto, deve-se considerar o processo como um instrumento para 
a efetivação do direito material e não um fi m em si mesmo. Alcançado o ob-
jetivo da lei, a falta do pressuposto poderá ser convalidada.
A ausência de capacidade processual gera algumas conseqüências previstas 
no art. 13, CPC:
1º — juiz determina a correção do defeito;
2º — se o defeito não for corrigido: a) se a incapacidade processual recair 
sobre o autor o processo será extinto; b) se a incapacidade processual recair 
sobre o réu o processo seguirá a sua revelia e c) se a incapacidade processual 
recair sobre um terceiro, ele será excluído do processo.
Sobre as pessoas casadas, em matéria de capacidade processual, incidem 
algumas regras peculiares:
1º) no pólo ativo: a regra é que as pessoas casadas52 são capazes processu-
almente, mas o caput do art. 10 do CPC estabelece que um cônjuge somente 
pode propor uma ação real imobiliária se o outro consentir. Não precisam 
(não há necessidade) ambos propor conjuntamente a ação, mas um pode 
propor sozinho desde que o outro consinta. Não se trata de litisconsórcio 
ativo necessário. Esta exigência não se aplica aos casos de separação absoluta 
(art. 1.647, do CC). A falta de consentimento pode ser suprida pelo juiz em 
duas situações: se o cônjuge não pode dar o consentimento; e quando a ne-
gativa for injusta (art. 11, do CPC e art. 1.648, do CC).
Questão: Poderia o juiz pode recusar de ofício uma demanda em razão 
da falta de consentimento do cônjuge? Não, pois este é um problema de in-
teresse restrito ao cônjuge preterido (questão de ordem privada) e não uma 
questão de ordem pública, muito embora seja de ordem processual. Desta 
forma, somente o cônjuge poderá requerer a invalidação do ato. Vide art. 
1.650 do Código Civil.
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 98
2º) no pólo passivo:
— § 1º do art. 10 do CPC. Os cônjuges devem ser citados em litisconsórcio 
passivo necessário nos quatro casos previstos no mencionado dispositivo legal. 
Estes quatro casos podem ser divididos em dois grupos: I e IV (seguem a regra 
do caput, pois cuidam de ações reais imobiliárias, ou seja, neste caso, é preciso 
citar ambos) e II e III (cuidam de obrigações solidárias entre os cônjuges, isto 
é, para a cobrança destas obrigações solidárias devem-se citar ambos, mesmo 
que se trate de solidariedade. São: II — as obrigações solidárias decorrentes da 
pratica de ato ilícito; III — combinado com o art. 1.643 e 1.644 do CC que 
estabelecem que a dívida contraída pelo cônjuge obriga ambos solidariamente).
— § 2º do art. 10 do CPC: cuida da capacidade dos cônjuges nas ações 
possessórias. Se aplica tanto ao pólo passivo quando ao pólo ativo. Segue, 
desta forma, o que foi visto no pólo ativo (consentimento) e pólo passivo (li-
tisconsórcio necessário). Mas isso só ocorre em duas espécies de possessórias: 
possessória quando houver composse ou quando se tratar de ato praticado 
por ambos os cônjuges. É um regramento próprio.
Curador especial
O curador especial é o representante de um incapaz processual. É especial 
porque é designado pelo juiz somente para aquele processo, que, quando 
fi ndo, encerra a curatela. Diferente do curador geral (da vara de família) que 
atua em todas as circunstâncias. Possui natureza jurídica de representante 
processual. Ele não é parte (curatelado), mas seu representante. A curatela 
especial hoje é promovida pelo defensor público. Se não houver defensor 
público o juiz pode designar qualquer pessoa capaz para ser curador especial. 
Normalmente designam o advogado.
A curatela especial é um dever. Se ele não praticar os atos de defesa do 
curatelado o juiz pode destituí-lo e designar outro, porque é um múnus pú-
blico (função pública).
O curador especial pode praticar todos os atos em defesa do curatelado. 
Ex: contestar, recorrer, entrar com embargo a execução — Súmula 196 do 
STJ; mandado de segurança, mas não pode reconvir (porque não é defesa, 
mas ataque).
Existem, basicamente, quatro hipóteses previstas no art. 9º do CPC a res-
peito da possibilidade da nomeação de um curador especial:
1º) quando o incapaz não tiver representante legal;
2º) quando o incapaz estiver em confl ito com o seu representante;
3º) ao réu revel citado por edital ou por hora certa;
4º) réu preso.
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 99
A visão moderna do processo impõe visualizá-lo a partir de dois aspectos: 
o técnico e o humano (ou ético). Assim entendido, o processo torna-se fonte 
de descoberta, aprimoramento e interpretação das normas na linha de seus 
escopos jurídicos, sociais e políticos que informam o Estado Democrático de 
Direito, impondo a utilização da técnica a serviço dos fi ns do processo, e não 
o contrário.
MATERIAL DE APOIO JURISPRUDÊNCIA
PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. OMISSÃO 
VERIFICADA. AÇÃO RESCISÓRIA. AUSÊNCIA DE CITAÇÃO DE LI-
TISCONSORTE PASSIVO NECESSÁRIO. HIPÓTESE DE QUERELLA 
NULITATIS. APRECIAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DA FUNGIBILIDADE, 
DA INSTRUMENTALIDADE DAS FORMAS, CELERIDADE E ECONO-
MIA PROCESSUAIS. 1. Ao extinguir a presente ação rescisória sem resolução 
de mérito, o acórdão ora embargado fundou-se no não cabimento de ação res-
cisória para declarar nulidade de julgado por ausência de citação, consideran-
do que a hipótese dos autos não se enquadra no rol taxativo do art. 485 do 
CPC. Decidiu-se, assim, que a desconstituição do acórdão proferido nos autos 
do Recurso Especial n. 8.818/PE somente poderia ser postulada pelo autor por 
meio de ação declaratória de inexistência de citação, denominada querela nulli-
tatis. 2. Verifi cada a omissão do julgado quanto à aplicação dos princípios da 
instrumentalidade das formas, da celeridade e economias processuais. 3. Não 
está autorizada a aplicação dos princípios que norteiam o sistema de nulidades 
no direito brasileiro, em especial os da fungibilidade, da instrumentalidade das 
formas e do aproveitamento racional dos atos processuais, para que a rescisória 
seja convertida em ação declaratória de inexistência de citação, máxime quando 
inexiste competência originária do Superior Tribunal de Justiça para apreciar 
aquela ação cognominada querela nullitatis. Isto porque a Constituição Federal 
apenas autoriza o processamento da inicial diretamente perante esta Corte Su-
perior nas hipóteses expressamente delineadas em seu art. 105, inciso I. 4. Por 
outro lado, é assente a orientação do Superior Tribunal de Justiça no sentido 
de que a competência para apreciar e julgar a denominada querela nullitatis In-
sanabilis pertence ao juízo de primeira instância, pois o que se postula não é a 
desconstituição da coisa julgada, mas apenas o reconhecimento de inexistência 
da relação processual. Neste sentido, são os seguintes julgados: AgRg no REsp 
1199335 / RJ, Primeira Turma, rel. Benedito Gonçalves, DJe 22/03/2011; REsp 
1015133/MT, Segunda Turma, Rel. Ministra Eliana Calmon, Rel. p/ Acórdão 
Ministro Castro Meira, DJe 23/04/2010; REsp 710.599/SP, Primeira Turma, 
Rel. Ministra Denise Arruda, DJ14/02/2008. 5. Embargos de declaração aco-
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 100
lhidos, sem efeitos infringentes. (STJ, EDcl na AR 569 / PE, Relator Ministro 
MAURO CAMPBELL MARQUES — DJe 05/08/2011)
6 — OBJETO DA COGNIÇÃO: QUESTÕES PRÉVIAS E MÉRITO
Questões são o objeto do conhecimento do juiz sobre todos os pontos 
de fato e de direito que possam infl uir na admissibilidade e no conteúdo do 
julgamento do mérito. Uma vez apreciados, o juiz decide se profere uma sen-
tença de mérito de procedência ou improcedência, ou se extingue o processo 
sem resolução do mérito.
6.1 — Questões prévias
As questões prévias são necessariamente examinadas antes da questão 
principal. São divididas em:
a) Questão Prévia
Preliminar, que se trata de verdadeira oposição ao julga-
mento do mérito da causa a ser argüida antes da contestação de mérito, na qual 
se suscita a ausência de algum requisito indispensável para este julgamento. 
Exemplo de defesa preliminar dilatória é a alegação de incompetência absoluta, 
e de defesa preliminar peremptória, a alegação de coisa julgada material;
b) Questão Prévia Prejudicial, que se trata de questão cujo exame deve ante-
ceder, por imposição lógica, a resolução do mérito. Embora não seja capaz de 
impedir o exame do mérito, condiciona o teor da decisão acerca deste. Exem-
plifi camos: quando o réu, em sua contestação, alega a extinção da obrigação 
exigida pelo autor, fundamentando sua defesa na ocorrência de compensação. 
Assim, antes de examinar a pretensão do autor, para condenar ou não o réu ao 
cumprimento da obrigação alegada na petição inicial, o juiz deverá examinar 
se ocorreu ou não o fato jurídico indicado pelo réu, do qual, supostamente, 
decorreria a compensação e, em conseqüência, a extinção da obrigação.
6.2 — Questões principais
São chamadas de pretensão, representam o mérito do processo e são re-
veladas pelo pedido que foi formulado pelo autor na sua petição inicial. Na 
maioria das vezes, a questão preliminar é suscitada em razão da ausência de 
pressupostos processuais e/ou de condições da ação. Neste caso em que o 
autor não preenche um desses requisitos, o juiz não pode examinar o mérito 
da causa. Quase todas as questões preliminares estão previstas no art. 301, 
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 101
53 A Lei nº. 11.232/2005 deu nova 
redação ao caput deste artigo. Andou 
bem o legislador ao substituir a pala-
vra “julgamento” por “resolução”, pois 
nem sempre o processo se extingue 
através de decisão impositiva. Entre-
tanto, Athos Gusmão Carneiro critica a 
manutenção da expressão “extingue-se 
o processo” no art. 267, afi rmando que 
teria sido melhor se o referido artigo 
tivesse sido alterado como foi o art. 
269, que se limitou a dizer que nos ca-
sos elencados não haveria a resolução 
do mérito. CARNEIRO, Athos Gusmão. 
Cumprimento da Sentença Civil. Rio de 
Janeiro: Forense, 2007, p. 122.
54 A Lei nº. 11.232/2005 deu nova reda-
ção ao caput deste artigo. Além de ter 
substituído a palavra “julgamento” por 
“resolução”, limitou-se a dizer que nos 
casos elencados não haveria a resolu-
ção do mérito.
CPC. Elas devem ser apresentadas ao juiz na contestação, por força do art. 
303, CPC, sob pena de responder pelas custas de retardamento.
Não obstante, podem ser conhecidas a qualquer tempo, de ofício, pelo juiz, 
que poderá extinguir o processo sem resolução de mérito, por força do disposto no 
artigo 267, § 3o, CPC, excetuando-se a convenção de arbitragem, como mencio-
nado anteriormente. Assim, sempre que o juiz acolher uma preliminar e for, por 
isso, impedido de examinar o pedido, ele proferirá uma decisão terminativa que 
não resolve o mérito da causa (art. 267, CPC53). O art. 267, VI, CPC, fundamen-
ta a teoria eclética, consoante a qual, para que se possa falar em regular exercício 
do direito de ação, faz-se necessário o preenchimento das respectivas condições.
Nesse sentido, enquanto o acolhimento da questão preliminar dá origem a 
uma decisão terminativa, na qual teremos a extinção do processo sem resolu-
ção do mérito, o exame da questão principal implica uma decisão defi nitiva, 
em que o juiz examina o mérito da causa, acolhendo ou rejeitando o pedido.
A resolução do mérito ocorre nas hipóteses enumeradas no art. 269, CPC54. 
Nos incisos II, III e V, estão previstas as hipóteses de extinção do processo por 
iniciativa das partes, em virtude do acolhimento do pedido pelo réu, de transa-
ção entre as partes ou de renúncia pelo autor do direito em que se funda a ação.
Já nos incisos I e IV o processo é extinto com análise do mérito por ato do 
juiz. É o que teremos quando o juiz acolher ou rejeitar o pedido do autor, bem 
como quando pronunciar a decadência ou a prescrição, que também são questões 
de mérito. Quanto a isto, houve grande controvérsia, pois até a edição do CPC, 
tradicionalmente, elas eram questões preliminares e não principais. No entanto, 
a prescrição e a decadência são consideradas questões preliminares de mérito, em 
oposição a questões relativas aos pressupostos processuais e condições da ação, que 
são chamadas de preliminares ao mérito. Isso porque embora sejam questões preli-
minares, a prescrição e a decadência se relacionam intimamente ao mérito da ação.
A coisa julgada opera-se diversamente de acordo com a natureza da ques-
tão, isto é, se ela é prévia ou principal. Esta é a mais relevante diferença entre 
a decisão defi nitiva e a terminativa, pois, se terminativa, a decisão não impe-
de a propositura de outra ação — eis que o mérito não foi examinado ainda 
—, mas, se defi nitiva, observa-se o efeito preclusivo da coisa julgada material, 
impedindo o ajuizamento de nova demanda.
No que tange à questão prejudicial, esta possui três características:
a) antecedência lógica, que é um antecedente lógico e não cronológico da 
questão principal;
b) superordinação, que signifi ca que a questão prejudicial vai infl uenciar 
no julgamento da principal, podendo esta última questão ser qualifi cada 
como prejudicada ou subordinada;
c) autonomia, cuja questão prejudicial existe independentemente da prin-
cipal, podendo ser suscitada dentro ou fora daquele processo.
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 102
55 O art. 469, III, CPC, dispõe que não faz 
coisa julgada a apreciação da questão 
prejudicial. Todavia, o art. 470 traz pre-
visão em sentido contrário, na hipótese 
de qualquer das partes propor ação 
declaratória incidental.
Há três diferenças básicas entre a questão preliminar e a prejudicial:
1) a preliminar só existe enquanto examinada em conjunto com a princi-
pal; ela está sempre atrelada à principal. Já a prejudicial é autônoma, existin-
do independentemente da principal;
2) a preliminar é, via de regra, uma questão processual, enquanto a preju-
dicial é relativa ao direito material. Logo, esta se refere a uma relação jurídica 
que deve ser primeiramente examinada para depois se examinar a principal;
3) a questão prejudicial determina como o mérito será julgado, enquanto 
a questão preliminar determina se o mérito será julgado. Ex: Questiona-se o 
inadimplemento de obrigação de fazer, mas já questionava o devedor a vali-
dade do contrato. Esta é questão prejudicial.
Quanto à classifi cação, a questão prejudicial se divide em duas: 1) quanto 
ao processo em que esta questão é suscitada: a) interna, que é aquela que 
surge no mesmo processo da ação principal; b) externa, que é aquela discu-
tida em outro processo. Isto é possível em razão de a questão prejudicial ser 
autônoma, referindo-se a uma relação de direito material, subsistindo inde-
pendentemente da principal.
Quanto ao ramo do direito em que surge a questão prejudicial, pode ser: 
1) homogênea, isto é, quando a questão prejudicial e a principal pertencem 
ao mesmo ramo do direito; ou 2) heterogênea: quando a prejudicial pertence 
a ramo diverso da principal. Por exemplo, em um acidente de trânsito, o réu 
é acusado de lesões corporais no juízo criminal e a indenização é cobrada 
perante o juízo civil.
Embora haja controvérsia quanto a saber se o juiz decide apenas a questão 
principal ou também a prejudicial, no direito brasileiro a regra é que o juiz 
não decide a questão prejudicial, apenas a aprecia55.
Todavia, conforme se observa pelos arts. 5º e 325, CPC, no curso do pro-
cesso pode uma ou ambas as partes fazerem um pedido formal e escrito para 
que o juiz se pronuncie sobre a questão prejudicial, visto que ela poderia ser 
apresentada novamente em ação futura, dada sua autonomia.
Neste caso, fundada nos princípios da economia processual e da inércia
jurisdicional, surge a ação declaratória incidental, cujo objetivo é o julgamen-
to, dentro do mesmo processo, da questão prejudicial e da principal, as quais 
constarão da parte dispositiva da mesma sentença, havendo a produção da 
coisa julgada material em relação a ambas.
Isto porque, havendo tal requerimento, o juiz sentenciará principaliter so-
bre a questão prejudicial, que será, desta forma, transformada em causa. Em 
outras palavras: proposta a ação declaratória incidental, ocorre uma amplia-
ção do thema decidendum. Antes ele era composto apenas pela questão prin-
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 103
cipal e, com o exercício da ação declaratória incidental, ele passa a se compor 
também da questão prejudicial.
Assim, não sendo proposta ação declaratória incidental, a questão prejudi-
cial será analisada apenas na fundamentação da sentença, e, por conseguinte, 
não será alcançada pela coisa julgada, que atinge apenas o dispositivo.
LEITURAS OBRIGATÓRIAS
MARINONI, Luiz Guilherme. Da teoria da relação jurídica processual ao 
processo civil do Estado Constitucional, Revista dos Tribunais, nº 852, 
out. 2006, p. 11-37. MOREIRA, José Carlos Barbosa. Sobre pressupos-
tos processuais, Temas de Direito Processual: quarta série, São Paulo, 
Saraiva, 1989, p. 83-93.
MARINONI, Luiz Guilherme. Curso de Processo Civil, vol. 1 (Teoria Geral 
do Processo), São Paulo, Revista dos Tribunais, 2006, p. 387-481.
LEITURAS COMPLEMENTARES
BUENO, Cássio Scarpinella. Curso Sistematizado de Direito Processual Ci-
vil, vol. 1, São Paulo, Saraiva, 2007, p. 368-390.
CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de Direito Processual Civil, vol. 1, 17 
ª edição, Rio de Janeiro, Lumen Juris, 2008, p. 125-152 e p. 204-227.
CARNEIRO, Paulo Cezar Pinheiro. A ética e os personagens do processo, 
Revista Forense, n. 358, p. 347-353.
DIDIER JR., Fredie. Curso de Direito Processual Civil, vol. 1, 9ª edição, 
Salvador, Podium, 2008, p. 207-236 (Os “pressupostos processuais”).
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 104
56 Sobre esta temática, conferir a aula 
sobre o tema “resposta do réu”.
AULA 19 E 20. PROCEDIMENTOS: VISÃO PANORÂMICA
CASO
Caio verifi cou em notícia veiculada na imprensa acerca de uma diferença 
a qual os aposentados e pensionistas pela Previdência Social deveriam receber 
em razão de erro de cálculo dos benefícios concedidos entre agosto de 1999 
e março de 2003. Caio, após consultar um contador particular, propôs uma 
ação de revisão buscando o recebimento das diferenças encontradas e de-
monstradas na planilha que acostou à petição inicial. O valor apurado era de 
cinqüenta salários mínimos na data da propositura da demanda. Caio, por 
seu advogado, propõe a demanda sob o procedimento comum, rito sumário, 
por ser mais rápido e por comportar demandas cujo valor da causa seja de 
até sessenta salários mínimos. Pergunta-se: o rito escolhido foi o adequado? 
Fundamente.
NOTA AO ALUNO
1 — PROCESSO DE CONHECIMENTO (OU MÓDULO PROCESSUAL DE CONHECIMENTO)
O processo de conhecimento (ou processo cognitivo) corresponde a um 
dos meios pelo qual será viabilizada a prestação jurisdicional, mediante a 
formação de atos que embasarão o julgamento que se materializará por meio 
de uma sentença de mérito.
Por meio do processo cognitivo, o demandante poderá expor suas razões 
de fato e de direito. Ao réu, será viabilizado o direito de ofertar sua defesa, 
exercendo assim o contraditório e a ampla defesa, podendo até apresentar re-
convenção (ou “pedido contraposto”, dependendo do rito sob o qual tramita 
a demanda), momento em que poderá deduzir pedidos em relação aos quais 
caberá ao demandante apresentar sua defesa, tal como se réu fosse56.
Assim, verifi ca-se que o processo de conhecimento é formado pelo qua-
drinômio demanda, defesa, cognição e sentença, visto que neste se permite 
a formação da demanda, o contraditório, a instrução dos autos por meio de 
provas (instrução probatória) e o livre convencimento do magistrado que 
prolatará a sentença, pondo termo ao processo.
O processo civil de conhecimento guarda intrinsecamente uma bipola-
ridade alternativa, em que ambas as partes passam a ter direito ao processo. 
Retrato disto é que a manifestação do autor no sentido de desistir da ação, 
purgando pela extinção da mesma, somente poderá ser viável com a anuência 
da parte contrária (ex adverso), ou seja, mesmo que o demandante desista de 
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 105
57 Sobre este tema, conferir em resposta 
do réu (aula 13).
58 “Art. 275. Observar-se-á o procedi-
mento sumário: I — nas causas cujo 
valor não exceda a 60 (sessenta) vezes 
o valor do salário mínimo; II — nas 
causas, qualquer que seja o valor: a) 
de arrendamento rural e de parceria 
agrícola; b) de cobrança ao condômino 
de quaisquer quantias devidas ao con-
domínio; c) de ressarcimento por danos 
em prédio urbano ou rústico; d) de res-
sarcimento por danos causados em aci-
dente de veículo de via terrestre; e) de 
cobrança de seguro, relativamente aos 
danos causados em acidente de veícu-
lo, ressalvados os casos de processo de 
execução; f ) de cobrança de honorários 
dos profi ssionais liberais, ressalvado o 
disposto em legislação especial; g) nos 
demais casos previstos em lei. Parágra-
fo único. Este procedimento não será 
observado nas ações relativas ao estado 
e à capacidade das pessoas”.
prosseguir com a demanda, a extinção desta somente ocorrerá após a mani-
festação da parte contrária, manifestando a sua aceitação ou não pelo pleito 
extintivo processual.
Uma vez provocado o Poder Judiciário a prestar jurisdição, haverá a ex-
posição das controvérsias por meio da manifestação da parte contrária para 
a formação do convencimento do juiz. Serão expostos elementos probantes, 
materiais ou orais (documentos, depoimento pessoais, oitiva de testemunhas, 
perícia técnica etc.). Assim, a atividade judicial poderá decidir a existência ou 
não do direito alegado, dito violado ou ameaçado de sofrer lesão.
2 — PROCEDIMENTOS COMUM E ESPECIAL
Passando à análise dos modelos processuais cognitivos, a primeira divisão 
consiste no procedimento, que pode ser comum ou especial. Quanto ao rito, 
pode ser ordinário, sumário ou sumaríssimo.
O procedimento comum ordinário é o modelo geral do CPC, ou também 
chamado de residual, uma vez que uma demanda que seja excluída de qual-
quer outra das formas previstas por inadequação às suas naturezas peculiares 
será ajuizável sob o rito comum ordinário.
Este rito comporta os procedimentos gerais previstos na Lei Processual, 
competindo a qualquer valor de causa, desde que não seja excluído por ex-
pressa previsão legal, um número defi nível ou indefi nível de demandantes e 
demandados, comporta todo lastro probatório, intervenção de terceiros es-
tranhos à relação processual57 etc.
Em razão desta característica de delonga processual, abraçando inúme-
ros procedi— mentos que podem ocorrer no trâmite processual, este rito é, 
teoricamente, o mais completo do processo civil, mas também o mais de-
morado, já que comporta muitas articulações processuais que por um lado 
resguardam o direito ali em questão, mas que também poderão comprometer 
que a tutela jurisdicional seja conferida em tempo hábil a garantir a efetivi-
dade do provimento fi nal.
Diante deste complicador, nada mais pertinente que o fato de demandas 
menos complexas, que envolvam questões que não exijam um lastro probató-
rio menos expressivo, pudesse ser tutelado sob um rito procedimental menos 
moroso e, teoricamente mais efetivo, visto que conferiria maior agilidade, ce-
leridade da prestação jurisdicional para questões “menores”, quer seja, como 
dito, em razão da complexidade ou mesmo do valor da causa.
O primeiro deste rito menos formal é procedimento comum sumário, 
previsto no artigo 275 do CPC58, em que a competência
poderá ser fi xada em 
razão do valor da causa, ou mesmo em razão da matéria, qual seja, do objeto 
da lide.
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 106
59 Lei nº. 9.099/95 — “Art. 3º O Juizado 
Especial Cível tem competência para 
conciliação, processo e julgamento das 
causas cíveis de menor complexidade, 
assim consideradas: I — as causas cujo 
valor não exceda a quarenta vezes o sa-
lário mínimo; II — as enumeradas no 
art. 275, inciso II, do Código de Processo 
Civil; III — a ação de despejo para uso 
próprio; IV — as ações possessórias so-
bre bens imóveis de valor não exceden-
te ao fi xado no inciso I deste artigo. § 1º 
Compete ao Juizado Especial promover 
a execução: I — dos seus julgados; 
II — dos títulos executivos extrajudi-
ciais, no valor de até quarenta vezes o 
salário mínimo, observado o disposto 
no § 1º do art. 8º desta Lei. § 2º Ficam 
excluídas da competência do Juizado 
Especial as causas de natureza alimen-
tar, falimentar, fi scal e de interesse da 
Fazenda Pública, e também as relativas 
a acidentes de trabalho, a resíduos e ao 
estado e capacidade das pessoas, ainda 
que de cunho patrimonial. § 3º A op-
ção pelo procedimento previsto nesta 
Lei importará em renúncia ao crédito 
excedente ao limite estabeleci- do 
neste artigo, excetuada a hipótese de 
conciliação”.
60 Esta manifestação contrária à vonta-
de das partes decorre do princípio da 
inquisitoriedade.
Os requisitos da petição inicial no procedimento sumário são os mesmos 
do procedimento comum ordinário, acrescidos da necessária apresentação 
imediata do rol de testemunhas, sob pena de preclusão. Por outro lado, tam-
bém deve ser apresentada a formulação de quesitos e da indicação de assisten-
te técnico nas hipóteses de requerimento de prova pericial, hipótese em que a 
não-indicação inicial poderá ser feita em outra oportunidade, até o momento 
da realização da perícia (art. 276 do CPC).
No que diz respeito ao procedimento especial sumaríssimo, da mesma 
forma que o sumário, decorre tanto do valor da causa, como da matéria que 
será julgada. A previsão deste procedimento não esta descrita no texto do 
CPC, mas sim em legislação especial, dita extravagante. A Lei no. 9.099/95 
estabeleceu o teto dos juizados especiais, e as matérias que se processarão sob 
o rito sumaríssimo59.
3 — JURISDIÇÃO CONTENCIOSA E JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA
No que pertine à divisão em razão da jurisdição, destacamos que a ju-
risdição voluntária, também conhecida como integrativa, consagra-se numa 
manifestação da parte ou partes interessadas em obter efeitos de direito a 
determinado objeto que somente será alcançado após reconhecimento desta 
situação de fato e/ou de direito pelo Estado-Juiz.
A manifestação judicante estatal será de conhecimento ou não daquela 
pretensão, sem dirimir confl itos, visto que não há lide. O Estado será inte-
grado daquela situação jurídica para que possa exercer fi scalização e conceda 
ou não aquela situação jurídica pleiteada, podendo inclusive tomar decisões 
contrárias à vontade dos interessados60.
Assim a decisão judicial permitirá a criação de uma situação jurídica nova 
gerando proteção ao interesse de um ou mais sujeitos. Cândido Rangel Dina-
marco afi rma que esta manifestação judicante é uma administração pública 
de interesses privados.
Como todo e qualquer processo cognitivo, os de jurisdição voluntária 
deverão preencher os requisitos de constituição e de validade da demanda, 
assim como deverá haver o devido processo legal, inclusive cabendo recurso.
Por meio da demanda de jurisdição voluntária uma nova relação jurídi-
ca será criada, modifi cada ou extinta, que se processará não através do juiz, 
mas sim com a participação deste. Edward Carlyle assim se manifesta: “Isto 
porque o legislador estabeleceu e enumerou determinadas situações em que 
seria indispensável para a produção dos efeitos desejados pelas partes que elas 
fossem realizadas perante o Poder Judiciário”. Isto porque, inegavelmente, 
efeitos externos surtiram dessa nova situação de direito e deverão estar res-
guardados sob o crivo judicial.
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 107
A doutrina discute acerca da natureza da jurisdição voluntária. Questio-
nam se seria efetivamente uma manifestação jurisdicional ou administrativa. 
Dois entendimentos coexistem na doutrina. O primeiro é a corrente da te-
oria administrativa ou tradicional (majoritária), que assegura que se trata de 
uma atividade administrativa, eis que o juiz não julga mérito e não constitui 
coisa julgada; sua fi nalidade é constitutiva (criação, modifi cação e extinção 
da relação jurídica); trata de questão que, em tese, não apresenta resistência; 
por fi m, não há partes, mas sim interessados ou requerentes.
O segundo entendimento é novel e denominado de teoria revisionista, 
jurisdicional ou jurisdicionalista, que assegura que há atividade jurisdicional, 
já que se trata de uma jurisdição civil; é um exercício do direito de ação; 
existe parte autora na demanda para provocar o exercício da jurisdição, o que 
pode não existir é a fi gura do réu; a sentença faz coisa julgada material já que 
somente poderá ser mudada com respaldo em nova causa de pedir.
4 — OS PROCESSOS COLETIVOS
Em relação aos processos coletivos, vale tecer algumas considerações ini-
ciais acerca da evolução legislativa.
O direito processual brasileiro, originalmente fi liado às tradições dos or-
denamentos de linha romano-germânica, foi concebido em bases eminente-
mente individualistas, refl etindo a mentalidade e as necessidades da socieda-
de daquela época.
A massifi cação das relações interpessoais e sua infl uência no ordenamento 
processual brasileiro, inspirada nos sopros renovadores provenientes do direi-
to norte-americano, somente puderam ser sentidas no início dos anos oitenta 
do século passado, quando surge a efetiva e concreta preocupação com a 
proteção dos interesses coletivos lato sensu.
A forte infl uência do direito norte-americano para o desenvolvimento da 
tutela coletiva no direito brasileiro é inegável em vista da acentuada proteção 
aos direitos coletivos a partir das class actions.
Foi exatamente a partir desta década que, no plano infraconstitucional, 
tivemos a regulamentação da ação civil pública pela Lei nº 7.347, de 24 de 
julho de 1985, seguida pelas Leis nº 7.853, de 24 de outubro de 1989, regu-
lamentando a ação civil pública relativa a interesses coletivos de defi cientes e 
7.913, de 7 de dezembro de 1989, versando acerca da ação civil pública de 
responsabilidade por danos a investidores do mercado de valores mobiliários.
A defesa dos direitos coletivos no direito brasileiro tem origem mais remota e 
está relacionada à criação da Ação Popular, prevista pela primeira vez na Cons-
tituição de 1934, marco do início da passagem do Estado liberal para o Estado 
social, em seu capítulo II, que tratava dos direitos e garantias individuais.
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 108
61 O artigo 5º da Constituição Federal 
de 1988 trata da ação popular e do 
mandado de segurança coletivo: “Art. 
5º — Todos são iguais perante a lei, 
sem distinção de qualquer natureza, 
garantindo-se aos brasileiros e aos 
estrangeiros residentes no País a invio-
labilidade do direito à vida, à liberdade, 
à igualdade, à segurança e à proprieda-
de, nos termos seguintes: (...) LXX — o 
mandado de segurança coletivo pode 
ser impetrado por: a) partido político 
com representação no Congresso Na-
cional; b) organização sindical, entida-
de de classe ou associação legalmente 
constituída e em funcionamento há 
pelo menos um ano, em defesa dos 
interesses de seus membros ou asso-
ciados; (,,,) LXXIII — qualquer cida-
dão é parte legítima para propor ação 
popular que vise a anular ato lesivo ao 
patrimônio público ou de entidade de 
que o Estado participe, à moralidade 
administrativa,
ao meio ambiente e ao 
patrimônio histórico e cultural, fi can-
do o autor, salvo comprovada má-fé, 
isento de custas judiciais e do ônus da 
sucumbência”. A ação civil pública vem 
inserida no capítulo que trata do Minis-
tério Público, como sendo uma de suas 
funções institucionais: “Art. 127 — O 
Ministério Público é instituição perma-
nente, essencial à função jurisdicional 
do Estado, incumbindo-lhe a defesa da 
ordem jurídica, do regime democrático 
e dos interesses sociais e individuais 
indisponíveis. (...) Art. 129 — São fun-
ções institucionais do Ministério Públi-
co: (...) III — promover o inquérito civil 
e a ação civil pública, para a proteção 
do patrimônio público e social, do meio 
ambiente e de outros interesses difusos 
e coletivos”.
Todavia, a ausência de regulamentação específi ca, que perduraria até 
1965, quando seria editada a Lei nº. 4.717, preservava a estrutura clássi-
ca do processo civil, concebido para solucionar situações de confl ito entre 
interesses individuais, tradicionalmente relacionados às questões obrigacio-
nais. Destaque-se ainda que um outro diploma, igualmente anterior à Lei 
nº. 7.347/85, também previu, embora de modo ainda embrionário, a tutela 
de interesses metaindividuais: trata-se da Lei nº. 6.938/81 (que instituiu a 
Política Nacional do Meio Ambiente), dispondo, em seu art. 14, § 1°, in fi ne 
que: “[...] O Ministério Público da União e dos Estados terá legitimidade 
para propor ação de responsabilidade civil e criminal por danos causados ao 
meio ambiente”.
Seguindo a linha cronológica, a Constituição Federal de 1988 regulamen-
tou a tutela dos interesses transindividuais através do mandado de segurança 
coletivo, da ação popular e também da ação civil pública61, que recebeu novos 
matizes a partir do Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei n° 8.069, de 13 
de julho de 1990), ao enfocá-la como valioso instrumento a ser utilizado em 
prol da infância e da juventude.
Em seguida, veio à luz o Código de Defesa do Consumidor (Lei nº 8.078, 
de 11.9.90), introduzindo diversas alterações na Lei da Ação Civil Pública e 
regulamentando no ordenamento pátrio a ação coletiva, através de seus arts. 
91 a 100.
Após o CDC, foram ainda editadas a Lei de Improbidade Administrativa 
(Lei nº 8.429, de 2 de junho de 1992), visando ao combate dos atos ilícitos 
praticados por funcionários públicos no exercício de suas funções e criando 
mecanismos para a repressão a esses atos e para a devolução aos cofres públi-
cos das quantias desviadas de suas fi nalidades originais; e a Lei nº 8.884, de 
11 de junho de 1994, conhecida como Lei Antitruste, visando ao combate 
das infrações contra a ordem econômica.
Em 1º de outubro de 2003, foi editada a Lei nº 10.741, conhecida como Es-
tatuto do Idoso, criando normas protetivas às pessoas maiores de sessenta anos 
e regulamentando o uso da ação civil pública para a defesa de seus interesses.
Por fi m, a Lei Maria da Penha — Lei nº 11.340/06 — que visa a coibir a 
violência doméstica, também contemplou a tutela coletiva em seu artigo 37.
LEITURAS OBRIGATÓRIAS
MOREIRA, José Carlos Barbosa. O futuro da Justiça: alguns mitos, Temas 
de Direito Processual: oitava série, São Paulo, Saraiva, 2004, p. 1-13.
MOREIRA, José Carlos Barbosa. O desafi o da celeridade na prestação ju-
risdicional, Revista da EMERJ — Escola da Magistratura do Estado do 
Rio de Janeiro, nº 36, 2006, p. 70-84.
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 109
62 DINAMARCO, cândido Ran-
gel. A instrumentalidade do 
processo. 10. ed. São Paulo: 
Malheiros, 2002. p. 22.
LEITURAS COMPLEMENTARES
ARAGÃO, E. D. Moniz de. Procedimento, formalismo e burocracia, Revista 
Forense, nº 358, p. 49-58.
BUENO, Cássio Scarpinella. Curso Sistematizado de Direito Processual Ci-
vil, vol. 1, São Paulo, Saraiva, 2007, p. 446-455 e Curso Sistematizado 
de Direito Processual Civil, vol. 2, São Paulo, Saraiva, 2007, p. 1-8.
CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de Direito Processual Civil, vol. 1, 17 ª 
edição, Rio de Janeiro, Lumen Juris, 2008, p. 263-271.
DIDIER JR., Fredie. Curso de Direito Processual Civil, vol. 1, 9ª edição, 
Salvador, Podium, 2008, p. 285-298 (Teoria da cognição judicial).
GONDINHO, André Osório. Técnicas de cognição e efetividade do proces-
so, Revista da EMERJ — Escola da Magistratura do Estado do Rio de 
Janeiro, nº 8, 1999, p. 99-117.
MARINONI, Luiz Guilherme, ARENHART, Sérgio Cruz. Curso de Pro-
cesso Civil, vol. 2, 6ª ed. (em edições anteriores Manual do Processo de 
Conhecimento), São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, p. 54-66.
A INSTRUMENTALIDADE DO PROCESSO
INTRODUÇÃO
“É vaga e pouco acrescenta ao conhecimento do processo a usual afi rma-
ção de que ele é um instrumento, enquanto não acompanhada da indicação 
dos objetivos a serem alcançados mediante o seu emprego. Todo instrumen-
to, como tal, é meio; e todo meio só é tal e se legitima em função dos fi ns a 
que se destina. O raciocínio teleológico há de incluir então, necessariamente, 
a fi xação dos escopos do processo, ou seja, dos propósitos norteadores da sua 
instituição e das condutas dos agentes estatais que o utilizam. Assim é que se 
poderá conferir um conteúdo substancial a essa usual assertiva da doutrina, 
mediante a investigação do escopo, ou escopos em razão dos quais toda or-
dem jurídica inclui um sistema processual”62.
Como reiteradamente visto em nossas aulas, o grande desafi o do operador 
jurídico da atualidade está centrado na construção de uma ciência de resulta-
dos efetivos. Uma vez superada a fase estritamente técnica da ciência proces-
sual, cuja importância consistiu no reconhecimento autônomo do processo 
e de seus institutos face ao direito material, a ciência processual moderna 
precisa encarar novos desafi os. Assim, há de se encarar o fenômeno processual 
sob o prisma da instrumentalidade, haja vista que a autonomia alcançada não 
pode signifi car sua indiferença em relação ao direito material.
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 110
Ao revés, o processo deve ser um instrumento tecnicamente apto a regu-
lamentar as crises surgidas com o descumprimento das normas previstas no 
plano material.
Também vale recordar que, durante muito tempo, o processo era visto, 
unicamente, como meio de aplicação de um direito material, sem qualquer 
conotação ética ou social. Foi o professor Cândido Rangel Dinamarco, da 
Universidade de São Paulo, quem introduziu no direito processual pátrio, a 
idéia de que o processo possui também fi nalidades sociais e políticas, não 
apenas jurídicas. Portanto, o processo deve ser encarado como instrumento de 
que se serve o Estado a fi m de alcançar seus fi ns, e, nesse passo, é que se fala em 
escopos sociais, políticos e jurídicos (instrumentalidade positiva do processo).
De fato, o escopo jurídico do processo está presente na própria atuação da 
vontade concreta do ordenamento jurídico. Por outro lado, dois são os prin-
cipais escopos sociais do processo: pacifi car com justiça e educar a sociedade. 
O processo possui ainda escopos políticos, haja vista que, por intermédio do 
contraditório, o cidadão participa da formação dos atos estatais. Caso haja 
desrespeito a algum direito fundamental — como, por exemplo, a liberdade 
—, o processo será, na maioria das vezes, o instrumento utilizado para prote-
ger esse direito. Ademais, também através do processo, o Estado demonstra 
seu poder soberano, ao impor sanções àqueles que desrespeitam o direito 
positivo.
Hoje, vivenciamos a chamada fase instrumentalista da ciência processual 
e são características marcantes desta fase as questões da efetividade da pres-
tação jurisdicional e da necessidade de um amplo e efetivo acesso à justiça. 
Portanto, é preciso repensar o processo enquanto instrumento da jurisdição, 
de modo que este seja apto a produzir os resultados almejados pela sociedade.
LEITURA BÁSICA
CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de direito processual civil, v. I. Rio de 
Janeiro: Lúmen Juris, 2005. Cap. VIII: “Processo”, § 5º “Escopos do 
Processo” e § 8º “Pressupostos Processuais”, p. 223-4 e 232-40.
GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido; CINTRA, Antônio 
Carlos de Araújo. Teoria geral do processo. São Paulo: Revista dos Tri-
bunais, 1998. Capítulo 30: “Natureza Jurídica do Processo”, p. 275-91.
MARINONI, Luis Guilherme. Teoria geral do processo. São Paulo: Revista 
dos Tribunais, 2006. Parte IV. Capítulo 1 e 4: “Procedimento e Processo 
na Doutrina Clássica” e “O Processo Civil Contemporâneo e os chama-
dos Pressupostos Processuais”, p. 387-94 e 468-81.
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 111
63 Liebman já era um con-
sagrado professor italiano 
quando veio da Europa para 
o Brasil em virtude da Segun-
da Guerra Mundial. Ministrou 
processo civil na Faculdade de 
Direito de São Paulo, e suas 
idéias — avançadas para a 
época - infl uenciaram diver-
sos processualistas brasileiros; 
entre eles, Alfred Buzaid, ex-
aluno de Liebman e autor do 
projeto do código de processo 
de 1973.
64 Como, por exemplo, a ação 
de despejo.
LEITURA COMPLEMENTAR
CALMON DE PASSOS, J. J. Instrumentalidade do processo e devido pro-
cesso legal. REPRO, v. 102, São Paulo, Revista dos Tribunais, abr./jun. 
2001, p. 55-67.
DINAMARCO, Cândido Rangel. A instrumentalidade do processo. 10. Ed. 
São Paulo: Malheiros, 2002.
MARINONI, Luis Guilherme. Teoria geral do processo. São Paulo: Revista 
dos Tribunais, 2006. Parte IV. Capítulo 2 e 3 “Bases...” e “O Processo na 
Perspectiva...”, p. 396-466.
EMENTÁRIO DO TEMA
— O processo: conceito e natureza jurídica.
— O processo. Teorias: apreciação crítica.
— A instrumentalidade do processo. Processo e procedimento.
— Processo de conhecimento, processo de execução e processo cautelar.
— Sincretismo processual.
— Pressupostos processuais de existência e validade.
NOTA AO ALUNO
A prestação jurisdicional não é algo que possa ser oferecido instantanea-
mente. De fato, é necessária a prática de diversos atos relacionados por sua 
fi nalidade comum e se prolongam no tempo até que seja atingido determi-
nado resultado. Ao conjunto desses atos, que se praticam com a fi nalidade da 
prestação da jurisdição, é que se dá o nome de processo. Portanto, o processo 
é o instrumento da jurisdição e, por intermédio dele, o Estado cumpre o seu 
dever de prestar jurisdição.
O Código de Processo Civil de 1973 foi elaborado de acordo com a vi-
são defendida por Liebman63, segundo o qual deveriam existir três espécies 
distintas de processo. Desse modo, dependendo do objetivo almejado pelo 
autor, deve ele se utilizar de um processo de conhecimento, execução ou 
cautelar. Entretanto, é importante observar que essa cisão entre processo de 
conhecimento e execução — que, a bem da verdade, sempre encontrou al-
gumas exceções em nosso ordenamento64 — não pode mais ser considerada 
como regra geral em nosso direito, após a entrada em vigor da Lei 11.232/05. 
A regra geral, agora, é que haja uma fase cognitiva e outra executiva no mes-
mo processo (mesma relação processual), e, por isso, é comum a utilização da 
expressão “processo sincrético” para se referir a essa “fusão” dos processos de 
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 112
65 Não se pode confundir tutela 
antecipada (natureza satis-
fativa) com tutela cautelar 
(não-satisfativa), como visto 
em aulas anteriores.
66 É importante que não se 
confunda a relação jurídica 
que o autor afi rma existir en-
tre ele e o réu no plano mate-
rial com a relação processual 
(autor – juiz – réu).
conhecimento e execução. É válido observar que ainda é possível encontrar 
processo de execução autônomo (como, por exemplo, nos casos das execu-
ções de títulos extrajudiciais).
No Código de Processo Civil em vigor, ainda existe a divisão entre proces-
so de conhecimento, execução e cautelar (Livros I, II e III). Essa separação é 
realizada considerando a natureza das atividades que são, predominantemen-
te, realizadas em cada um desses processos. No processo de conhecimento, 
prevalece a chamada atividade cognitiva do magistrado, que irá regular o 
conflito de interesses (satisfaz a pretensão que lhe foi submetida) formulan-
do uma norma defi nitiva para o caso concreto, através da concretização da 
norma abstrata (ex.: lei) pertinente contida no ordenamento jurídico vigente 
(sentença de mérito). Segundo a visão dominante em nossa doutrina, essa 
sentença de mérito pode ser declaratória, constitutiva ou condenatória.
Ao contrário do processo de conhecimento, o processo de execução nunca 
vai formar uma norma concreta. No processo de execução, prevalecerão atos 
materiais (provimentos executivos) para que possa ser satisfeito o direito do 
credor, de forma que este receba aquilo que lhe é devido, partindo da relação 
jurídica existente com o devedor. A atividade de execução consiste basica-
mente na localização de bens e sua transformação em dinheiro (execução 
direta) ou na utilização de meios de coerção para que o executado cumpra sua 
obrigação (ex: prisão do devedor de alimentos).
Essas duas espécies de processo (conhecimento e execução) podem ser reu-
nidas num gênero, porque ambas visam à satisfação do direito. Ao lado desses 
dois tipos de processo, que podem formar um gênero comum (tutela satisfa-
tiva), há a possibilidade de uma tutela que visa apenas assegurar — e não sa-
tisfazer — determinado direito. Este tipo de tutela secundária, assecuratória, 
será prestada no processo cautelar. Assim, juntamente com o conhecimento 
e a execução, tem-se uma terceira atividade, auxiliar e subsidiária, que busca 
assegurar o êxito das duas primeiras; trata-se da medida cautelar. No proces-
so cautelar, busca-se uma medida efi caz que assegure e proteja determinado 
bem da vida, enquanto se discute qual é a solução do conflito. É, dessa for-
ma, acessório, tendo por fi nalidade assegurar a efi cácia do provimento fi nal. 
Existem dois requisitos básicos para a concessão de medida cautelar: o fumus 
boni juris (“fumaça do bom direito” — plausibilidade da tese) e o periculum 
in mora (“perigo na demora” — risco de inefi cácia do provimento fi nal)65.
No processo existe uma relação jurídica que envolve todas as pessoas que 
participam desta atividade processual. O termo “relação jurídica processu-
al”66 designa o vínculo que se forma entre as várias pessoas que participam 
da atividade processual: o magistrado, as partes e, eventualmente, terceiros. 
A relação jurídica processual é dinâmica: a cada ato que se pratica surge uma 
nova situação em que nascem novos direitos e deveres que vão sendo, grada-
tivamente, exercidos.
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 113
Contudo, para que essa relação jurídica processual possa se instaurar é 
necessária a presença de determinados requisitos. Com efeito, para que a 
relação jurídica processual exista, é necessário que determinados requisitos 
estejam presentes.
De modo semelhante, outros requisitos devem estar presentes para que 
a relação processual seja válida. Temos, assim, pressupostos de existência e 
os pressupostos de validade que devem estar presentes sempre que o Estado 
prestar a tutela jurisdicional.
Sem embargo de divergências que podem aparecer na doutrina, prevalece 
entendimento que são três os pressupostos processuais de existência: órgão 
estatal investido de jurisdição, partes e demanda (identifi cada por seus três 
elementos essenciais: partes, causa de pedir e pedido). Conseqüentemente, os 
pressupostos de validade serão também em número de três: competência do 
órgão jurisdicional, capacidade processual (capacidade de ser parte, de estar 
em juízo e postulatória) e regularidade formal da demanda.
ESTUDO DE CASO
Caso nº 1: Em execução por título extrajudicial, foram penhorados os 
seguintes
bens de determinado devedor: televisão, freezer, microondas, má-
quina de lavar e teclado musical. O executado opôs embargos do devedor 
e alegou, preliminarmente, ter havido nulidade dos bens penhorados para 
garantir a execução, haja vista que os objetos penhorados são protegidos pela 
Lei 8.009/90. Após resposta do embargado, o magistrado considerou que, 
entre os bens penhorados, apenas a televisão poderia ser considerada bem de 
família e determinou que a execução deveria prosseguir, tendo o executado 
de nomear bem para substituir a televisão. A questão chegou ao STJ onde foi 
proferido o seguinte acórdão:
PROCESSUAL CIVIL. LEI 8.009/90. BEM DE FAMÍLIA. HERMENÊU-
TICA. FREEZER, MÁQUINA DE LAVAR E SECAR ROUPAS E MICRO-
ONDAS. IMPENHORABILIDADE. TECLADO MUSICAL. ESCOPOS 
POLÍTICO E SOCIAL DO PROCESSO. HERMENÊUTICA. PRECE-
DENTES. RECURSO PROVIDO.
I — Não obstante noticiem os autos não ser ele utilizado como atividade 
profi ssional, mas apenas como instrumento de aprendizagem de uma das fi lhas 
do executado, parece-me mais razoável que, em uma sociedade marcadamente 
violenta como a atual, seja valorizada a conduta dos que se dedicam aos instru-
mentos musicais, sobretudo quando sem o objetivo do lucro, por tudo que a 
música representa, notadamente em um lar e na formação dos fi lhos, a dispensar 
maiores considerações. Ademais, não seria um mero teclado musical que iria 
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 114
contribuir para o equilíbrio das fi nanças de um banco. O processo, como cediço, 
não tem escopo apenas jurídico, mas também político (no seu sentido mais alto) 
e social. (grifei)
II — A Lei 8.009/90, ao dispor que são impenhoráveis os equipamentos que 
guarnecem a residência, inclusive móveis, não abarca tão-somente os indispen-
sáveis à moradia, mas também aqueles que usualmente a integram e que não se 
qualifi cam como objetos de luxo ou adorno.
III — Ao juiz, em sua função de intérprete e aplicador da lei, em aten— ção 
aos fi ns sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum, como admi-
ravelmente adverte o art. 5º, LICC, incumbe dar exegese construtiva e valora-
tiva, que se afeiçoe aos seus fi ns teleológicos, sabido que ela deve refletir não só 
os valores que a inspiraram, mas também as transformações culturais e sócio-
políticas da sociedade a que se destina. (REsp 218.882/SP, Recurso Especial 
1999/0051658-3, rel. Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira (1088), STJ, 4ª 
Turma, j. 02.9.1999, DJ 25.10.1999, p. 92).
Problema: Há quem argumente que decisões como essa incentivam a 
inadimplência de grande parcela da população (aqueles que não possuem 
carro em nome próprio, “bens de luxo”, mais de um imóvel, etc.). Portanto, é 
importante indagar até que ponto é válido deixar a critério do magistrado de-
cidir em cada caso concreto o que é ou não bem de família (art. 1º, parágrafo 
único da Lei 8.009/90). Seria mais conveniente um rol taxativo? Existe segu-
rança jurídica para os envolvidos em casos como esse? É possível afi rmar que 
a decisão, ao dar uma interpretação extensiva aos benefícios da Lei 8.009/90, 
realmente atende aos escopos sociais e políticos do processo? (Considere-se 
que, algumas vezes, o exeqüente pode estar em situação econômica ainda 
mais precária que o executado).
Caso nº 2: O Condomínio X alega estar-lhe sendo cobrado o consumo de 
água com base em estimativa. Não obstante tenha hidrômetro que permita 
aferir o consumo real, ajuizou medida cautelar em face da Companhia Esta-
dual de Águas, para o fi m de ser-lhe autorizado o depósito do valor mensal 
correto enquanto a questão estiver em discussão na ação principal. A ré con-
testou o pedido, trazendo à colação a afi rmativa, embasada por ilustres auto-
res tributaristas, de que tal serviço possui natureza jurídica de preço público 
e, assim, válida é a cobrança vinculada ao consumo estimado. Alega ainda, 
preliminarmente, não ter o condomínio legitimidade, haja vista que condo-
mínio, como se sabe, não possui personalidade jurídica própria. Indaga-se:
a) A preliminar levantada pela CEDAE trata de condição da ação (legiti-
midade ad causam) ou pressuposto processual (legitimidade ad processual)?
b) A preliminar de ilegitimidade deve ser acolhida?
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 115
c) Como deve ser decidido o caso?
d) Em que prazo a “ação principal” deve ser ajuizada? Quais as conseqüên-
cias do não-ajuizamento da “ação principal” no prazo legal?
Caso 3: Um dos pressupostos processuais de validade é a chamada capa-
cidade processual (capacidade de ser parte, de estar em juízo e postulatória). 
A regra geral, em nosso direito, é que o cidadão não possui capacidade para 
postular diretamente em juízo. Contudo, o art. 9º da Lei 9.099/95 permite 
que o cidadão ingresse em juízo, sem assistência de advogado, para pleitear 
direito de valor econômico igual ou maior a 20 salários mínimos, quando a 
causa for de competência dos Juizados.
Em 2003, o Supremo Tribunal Federal julgou improcedente ação dire-
ta de inconstitucionalidade ajuizada pelo Conselho Federal da Ordem dos 
Advogados do Brasil. Na referida ação, argumentava-se que o art. 9º da Lei 
9.099/95 ofendia o art. 133 da CRFB/88. A decisão de STF foi a seguinte:
“EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. 
ACESSO À JUSTIÇA. JUIZADO ESPECIAL. PRESENÇA DO ADVO-
GADO. IMPRESCINDIBILIDADE RELATIVA. PRECEDENTES. LEI 
9099/95. OBSERVÂNCIA DOS PRECEITOS CONSTITUCIONAIS. RA-
ZOABILIDADE DA NORMA. AUSÊNCIA DE ADVOGADO. FACULDA-
DE DA PARTE. CAUSA DE PEQUENO VALOR. DISPENSA DO ADVO-
GADO. POSSIBILIDADE.
1. Juizado Especial. Lei 9099/95, artigo 9º. Faculdade conferida à parte para de-
mandar ou defender-se pessoalmente em juízo, sem assistência de advogado. Ofen-
sa à Constituição Federal. Inexistência. Não é absoluta a assistência do profi ssional 
da advocacia em juízo, podendo a lei prever situações em que é prescindível a indi-
cação de advogado, dados os princípios da oralidade e da informalidade adotados 
pela norma para tornar mais célere e menos oneroso o acesso à justiça. Precedentes.
2. Lei 9099/95. Fixação da competência dos juízos especiais civis tendo 
como parâmetro o valor dado à causa. Razoabilidade da lei, que possibilita o 
acesso do cidadão ao judiciário de forma simples, rápida e efetiva, sem maiores 
despesas e entraves burocráticos. Ação julgada improcedente.”
(ADI 1.539/UF, Rel. Min. Maurício Corrêa, j. 24.4.2003, Tribunal Pleno, 
DJ 05.12.2003, p. 17, Reqte: Conselho Federal da Ordem dos Advogados do 
Brasil, Advdo. (a/s): Marcelo Mello Martins, Reqdo.: Presidente da República e 
Congresso Nacional)
Problema:
a) É legítimo permitir que o cidadão vá a juízo, sem advogado, em si-
tuações em que estamos diante de causa de grande complexidade jurídica 
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 116
(como, por exemplo, discussões sobre direito intertemporal e planos de saú-
de), embora de pequeno valor econômico.
b) Como ter um processo justo e équo quando o cidadão está deman-
dando sem a presença de advogado e, por outro lado, na tutela de interesses 
ligados a grandes corporações, temos advogados associados a renomados es-
critórios de advocacia.
c) De que modo o magistrado deve conduzir a instrução processual em 
hipóteses como essas? Há risco de comprometimento da imparcialidade do 
juiz que tenderá a “auxiliar” o hipossufi ciente?
JURISPRUDÊNCIA
(A) STJ. Processo Cautelar. Requisitos. Possibilidade de utilização de me-
dida cautelar para “destrancar” Recurso Especial.
Ementa:
PROCESSUAL CIVIL. MEDIDA CAUTELAR PARA DESTRANCAR 
RECURSO ESPECIAL. REQUISITOS.
1. A concessão da Medida Cautelar reclama a demonstração do periculum 
in mora, que se traduz na urgência da prestação, bem como, a caracterização do 
fumus boni juris consistente na plausibilidade do direito alegado.
2. In casu, sobressai o preenchimento dos requisitos
autorizativos do deferi-
mento liminar da cautela requerida.
3. O periculum in mora resta consubstanciado no trancamento do Recurso 
Especial e conseqüente prosseguimento do feito o que ocasionará a continuação 
ex integro da Execução Fiscal em curso, o que pode acarretar prejuízos à Reque-
rente, que terá seu patrimônio constrito em extensão superior à utilidade do 
processo, posto a decadência ter atingido parte substancial do crédito.
4. O fumus boni juris assenta-se na jurisprudência desta Corte favorável à 
tese desenvolvida no Recurso Especial, acerca da admissibilidade da exceção de 
pré-executividade para suscitar a decadência (RESP 440.194-MG, Rel. Ministro 
Gomes de Barros, DJ de 16.06.2003).
5. Medida Cautelar deferida para destrancar o Recurso Especial, submeten-
do-o ao respectivo juízo de admissibilidade perante a C. Corte a quo. (STJ, MC 
9.359/SP, Medida Cautelar 2004/0177994-7, rel. Min. Luiz Fux, 1ª Turma, j. 
24.5.2005)
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 117
(B) Medida Cautelar. Instrumentalidade. Caráter não-satisfativo.
Ementa:
AÇÃO CAUTELAR. CARÁTER SATISFATIVO.
Pedido de condenação da requerida a custear tratamento médico que apre-
senta caráter nitidamente satisfativo. Descabimento da ação cautelar, em face da 
inexistência de acessoriedade, provisoriedade, instrumentalidade e autonomia 
da demanda, uma vez que o deferimento do pedido permitiria de imediato, a 
realização do tratamento, suprimindo qualquer utilidade a uma eventual ação de 
conhecimento, que teria o mesmo propósito. Hipótese que melhor se amolda ao 
instituto da antecipação de tutela e não ao da ação cautelar. É inaplicável o arti-
go 273, § 7º, do CPC às ações cautelares, pois isso causaria sua convolação em 
ações de conhecimento, que têm características e procedimento diversos. Sendo 
o único objeto da ação cautelar a obtenção de antecipação de tutela, uma vez 
concedida, não caberia falar em prosseguimento do processo até decisão fi nal de 
mérito, o que viola o artigo 273, parágrafo 5º, do CPC. Sentença que se reforma 
para extinguir o processo, consoante o artigo 267, IV, do CPC.
(TJ/RJ, Proc. 2006.001.43792, Apelação Cível, Des. Maria Augusta Vaz, j. 
26.9.2006, 1ª Câmara Cível)
(C) Cautelar não restritiva de direito. Perda de Efi cácia? Ementa: VESTI-
BULAR. REVISÃO DE PROVA. MEDIDA CAUTELAR. ART. 806. ART. 
808. INAPLICABILIDADE. LEGITIMIDADE PASSIVA. ALEGAÇÃO DE 
ERRO. CONCESSÃO DE LIMINAR. DIREITO DE MATRÍCULA NA 
UNIVERSIDADE.
Ação cautelar. Medida não restritiva de direitos, que não acarreta ofensa à 
esfera jurídica da parte. Ônus de propor a ação principal, no prazo de 30 (trinta) 
dias. Inexistência. Código de Processo Civil. Arts. 806 e 808, I.
Inaplicabilidade. Simpósio de Curitiba. Conclusão n. 66. Se não se trata de 
medida cautelar restritiva de direitos, que acarreta ofensa à esfera jurídica do 
adversário, a parte não tem o ônus de propor a ação principal, no prazo de 30 
(trinta) dias. Descumprimento do ônus de propor a ação principal, no prazo 
legal. Conseqüência. Quando exigível a propositura da ação principal, dentro 
do prazo legal, o desaproveitamento do trintídio acarreta somente a cessação 
da efi cácia da medida liminar, nunca a extinção do processo cautelar ou do de 
conhecimento, sem julgamento do mérito da causa. Exame vestibular. Revisão 
de provas. Alegação de erro humano ou mecânico.
Ação cautelar e de conhecimento. Legitimação passiva para a causa. Defi ni-
ção. Para a ação em que se pede revisão de provas, ao fundamento de que teriam 
sido corrigidas com erro humano ou mecânico, dispõe de legitimação passiva 
para a causa a organizadora do certame, que aplicou as provas, corrigiu-as e 
lhes atribuiu notas ou graus. Matrícula de vestibulandos obtida em virtude de 
liminar concedida há mais de 8 (oito) anos. Ratifi cação da longeva liminar e 
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 118
conversão da matricula provisória em defi nitiva. Providências que atendem aos 
fi ns sociais a que a norma se dirige. Lei de Introdução ao Código Civil. Artigo 
5. Aplicação. Se os vestibulandos obtiveram matrícula em Universidades e em 
Faculdades, graças à medida liminar concedida pelo juízo monocrático, há mais 
de 8 (oito) anos, e se durante esse longo lapso de tempo concluíram, com êxito, 
o curso universitário, atende aos fi ns sociais a que a norma se dirige, a ratifi cação 
da longeva liminar é a conversão da matrícula provisória em defi nitiva. (TJ/RJ, 
Proc. 1996.001.02168, Apelação Cível, preliminares rejeitadas, sentença confi r-
mada, rel. Des. Wilson Marques, j. 10.11.1998, 4ª Câmara Cível)
(D) Nova Execução Civil. Processo em Curso. Lei 11.232/05. Ementa: 
AGRAVO DE INSTRUMENTO. NOVA EXECUÇÃO DE SENTENÇA. 
PROCESSO EM CURSO. VIGÊNCIA DA LEI Nº 11232/05 ANTES DA 
EFETIVAÇÃO DA CITAÇÃO DO DEVEDOR. APLICAÇÃO DA LEI 
NOVA.
1. No caso em exame, não obstante tenha sido instaurada a execução em 
maio de 2005, a citação não foi efetivada, aplicando-se-lhe, por conseguinte, 
as normas atinentes à nova execução de sentença. É a consagração do princípio 
tempus regit actum, o qual não impede que os atos processuais futuros se subsu-
mam aos novos ditames legais. 2. Para o pagamento de quantia certa, na forma 
do art. 475— J exige-se a intimação pessoal do devedor, não podendo fazê-la na 
pessoa de seu advogado, porquanto a fi nalidade de tal comunicação processual é 
o cumprimento de dever jurídico que incumbe àquele e não a este. 3. Agravo a 
que se dá parcial provimento. (TJ/RJ, Proc. 2007.002.02041, Agravo de Instru-
mento, Des. Fernando Fernandy Fernandes, 4ª Câmara Cível).
(E) Nova Execução Civil. Intimação Pessoal do Devedor? Ementa: PRO-
CESSUAL CIVIL. EXECUÇÃO DE SENTENÇA. QUANTIA CERTA. ART 
475-J DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL INTRODUZIDO PELA LEI 
Nº 11.232/2005. INTIMAÇÃO PESSOAL DO DEVEDOR. DESNECES-
SIDADE. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. CABIMENTO APENAS NA 
HIPÓTESE DE RESISTÊNCIA DO DEVEDOR.
A nova sistemática inserida no Código de Processo Civil tem como objetivo 
impedir que a execução, como muitas vezes acontecia, seja mais demorada que 
o próprio processo de conhecimento, trazendo o devedor à discussão matérias já 
decididas, com o intuito de procrastinar o cumprimento de sua obrigação, cau-
sando prejuízos ao credor e abarrotando o Poder Judiciário de execuções quase 
que intermináveis. O prazo para cumprimento voluntário da obrigação pelo 
devedor corre independentemente de citação ou intimação. A sentença conde-
natória líquida, ou a decisão de liquidação da condenação genérica, abrem, por 
si só, o prazo de 15 (quinze) dias para o pagamento do valor da prestação devida.
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 119
Após o advento da Lei nº 11.232/2005, a sentença passou a ser dotada de 
efi cácia executiva, eliminando o processo de execução, autônomo que autorizava 
o arbitramento dos honorários de advogado, que, ao ver deste Relator, somente 
seriam devidos na hipótese de resistência do devedor. Recurso manifestamente 
improcedente, ao qual se nega seguimento, com fulcro no art. 557, do Código 
de Processo Civil. (TJ/RJ, Proc. 2007.002.00486, Agravo de Instrumento, Des. 
Lindolpho Morais Marinho, 13ª Câmara Cível)
[em sentido oposto]
AGRAVO DE INSTRUMENTO. NOVA EXECUÇÃO DE SENTENÇA. 
INTIMAÇÃO PESSOAL DO DEVEDOR. Para o pagamento de quantia cer-
ta, na forma do art. 475-J, exige-se a intimação pessoal do devedor, não podendo 
fazê-la na pessoa de seu advogado, porquanto a fi nalidade de tal comunicação 
processual é o cumprimento de dever jurídico que incumbe àquele e não a este. 
Agravo a que se dá parcial provimento, para tão-somente determinar a intima-
ção pessoal do devedor, para que este cumpra o comando que lhe fora imposto 
na decisão agravada. (TJ/RJ, Proc. 2006.002.26958, Agravo d Instrumento, 
Des. Fernando Fernandy Fernandes, 4ª Câmara Cível).
(F) Capacidade Processual.
Câmara Municipal. Ementa: FALSIDADE 
DOCUMENTAL. ALEGAÇÃO NÃO PROVADA DECLARATÓRIA DE 
FALSIDADE DOCUMENTAL. PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO 
JUNTO À CÂMARA MUNICIPAL. CERTIDÃO EMITIDA. FÉ PÚBLICA. 
PRERROGATIVA INSTITUCIONAL. CAPACIDADE JUDICIÁRIA. JUL-
GAMENTO DE MÉRITO. Detendo a Câmara Municipal capacidade postula-
tória para fi gurar ativa e passivamente em defesa de suas prerrogativas e interesses 
institucionais, se a pretensão veiculada dirige-se contra a fé pública contida em 
certidão de ato praticado em procedimento administrativo de sua competência, 
legitima-se o órgão legislativo no pólo passivo, devendo ser excluído o Municí-
pio por não ser parte da relação jurídica deduzida em juízo. Não tendo desin-
cumbindo-se o autor do ônus de provar a conformidade ideológica que imputa 
conter o documento Impugnado, correta a decisão que julga Improcedente a 
pretensão autoral. Desprovimento do recurso. (TJ/RJ, Proc. 2002.001.29051, 
Apelação Cível, Des. Célia Meliga Pessoa, j. 25.2.2003, 18ª Câmara Cível).
(G) Ausência de Capacidade Postulatória do cidadão comum para ajuizar 
mandado de segurança. Impossibilidade de analogia com o habeas corpus.
Ementa:
Demanda mandamental de segurança em face de Juízo Orfanológico Capitalino, 
deduzido por cidadão, que em suma busca ser protegido quanto a direito por ele re-
putado líquido e certo, jungido a prejuízos patrimoniais continuados, por atitudes le-
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 120
sivas de outros herdeiros no Inventário dos bens de seus fi nados pais, prestigiadas por 
omissões do mesmo Juízo. Gratuidade concedida pelo Relator. Ausência de participa-
ção postulatória de advogado constituído ou dativo, insistindo o Impetrante no agir 
atinente em causa própria, em sendo ele Bacharel em Direito, porém sem a inscrição 
na Ordem dos Advogados do Brasil, Seção deste Estado ou de outra Unidade Federa-
tiva. Tentativas relatoriais, sem nenhum êxito, junto à mesma Ordem e à Defensoria 
Pública, no diapasão de sanar a irregularidade. Vedação evidente do desenvolvimento 
processual válido. Carência do imprescindível pressuposto da capacidade postulatória.
Artigo 36 do CPC, parte fi nal, não recepcionado pela Carta Nacional de 1988, 
que estatui serem os advogados indispensáveis à administração da justiça. Observar de 
que, mesmo se assim não fosse o ditame aludido jamais seria por razoável de ser apli-
cado nesta Capital Fluminense, pois tem pertinência a localidades pouco povoadas 
e de grande distância dos centros urbanos no imenso território brasileiro. Tolerância 
que sobeja de parte que não seja advogada, ou não exerça função paralela, de atuar em 
juízo na causa própria, nas esferas do Registro Civil, dos Juizados Especiais e do habeas 
corpus. Necessidade de o Impetrante pugnar pelo direito que alega em veemência e pe-
las vias corretas, em representação postulatória adequada. Extinção do processo que se 
decreta, nos termos do artigo 267, IV, da Lei de Regência. Isenção do mesmo nas cus-
tas, por força da Lei nº 1060/50. Honorários descabidos. (TJ/RJ, 2003.004.01310, 
Mandado de Segurança, Des. Luiz Felipe Haddad, j. 05.2.2004, 3ª Câmara Cível)
(H) Legitimidade “Ad Processum”.
Procurador da República, que ofi cia em primeiro grau de jurisdição. Ausên-
cia de capacidade postulatória para ajuizar mandado de segurança no Tribunal.
A Seção, por unanimidade, julgou extinto o processo, sem resolução de mé-
rito, nos termos do art. 267, inciso IV, do Código de Processo Civil. PROCES-
SO CIVIL. MANDADO DE SEGURANÇA. MINISTÉRIO PÚBLICO FE-
DERAL. PROCURADOR DA REPÚBLICA. ATUAÇÃO EM TRIBUNAL 
REGIONAL FEDERAL. AUSÊNCIA DE CAPACIDA— DE POSTULATÓ-
RIA. MANDADO DE SEGURANÇA EXTINTO.
1. A atuação do Ministério Público Federal, no âmbito de Tribunal Regional 
Federal, é feita por meio de Procurador Regional da República.
2. Não possui o Procurador da República, que ofi cia em primeiro grau de ju-
risdição, capacidade postulatória para impetrar o presente mandado de segurança, 
que constitui processo de competência originária desta Corte Regional Federal.
3. Aplicação dos arts. 68 e 70 caput e parágrafo único, da Lei Complementar 
nº 75/1993.
4. Mandado de segurança extinto, sem julgamento de mérito.
(Proc. MS 2003.01.00.027546-5/BA, Mandado de Segurança, rel. Desem-
bargador Federal Ítalo Fioravanti Sabo Mendes, 2ª Seção, decisão: 13.9.2006, 
DJ 06.10.2006, p. 3)
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 121
(I) Ausência de citação — “querella nulitatis”.
PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. OMISSÃO 
VERIFICADA. AÇÃO RESCISÓRIA. AUSÊNCIA DE CITAÇÃO DE LI-
TISCONSORTE PASSIVO NECESSÁRIO. HIPÓTESE DE QUERELA 
NULLITATIS. APRECIAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DA FUNGIBILIDADE, 
DA INSTRUMENTALIDADE DAS FORMAS, CELERIDADE E ECONO-
MIA PROCESSUAIS.
Ao extinguir a presente ação rescisória sem resolução de mérito, o acórdão 
ora embargado fundou-se no não cabimento de ação rescisória para declarar nu-
lidade de julgado por ausência de citação, considerando que a hipótese dos autos 
não se enquadra no rol taxativo do art. 485 do CPC.
Decidiu-se, assim, que a desconstituição do acórdão proferido nos autos do 
Recurso Especial n. 8.818/PE somente poderia ser postulada pelo autor por meio 
de ação declaratória de inexistência de citação, denominada querela nullitatis.
2. Verifi cada a omissão do julgado quanto à aplicação dos princípios da ins-
trumentalidade das formas, da celeridade e economias processuais.
3. Não está autorizada a aplicação dos princípios que norteiam o sistema de 
nulidades no direito brasileiro, em especial os da fungibilidade, da instrumenta-
lidade das formas e do aproveitamento racional dos atos processuais, para que a 
rescisória seja convertida em ação declaratória de inexistência de citação, máxi-
me quando inexiste competência originária do Superior Tribunal de Justiça para 
apreciar aquela ação cognominada querela nullitatis. Isto porque a Constitui-
ção Federal apenas autoriza o processamento da inicial diretamente perante esta 
Corte Superior nas hipótese expressamente delineadas em seu art. 105, inciso I.
4. Por outro lado, é assente a orientação do Superior Tribunal de Justiça 
no sentido de que a competência para apreciar e julgar a denominada querela 
nullitatis insanabilis pertence ao juízo de primeira instância, pois o que se pos-
tula não é a desconstituição da coisa julgada, mas apenas o reconhecimento 
de inexistência da relação processual. Neste sentido, são os seguintes julgados: 
AgRg no REsp 1199335 / RJ, Primeira Turma, rel. Benedito Gonçalves, DJe 
22/03/2011; REsp 1015133/MT, Segunda Turma, Rel. Ministra Eliana Cal-
mon, Rel. p/ Acórdão Ministro Castro Meira, DJe 23/04/2010; REsp 710.599/
SP, Primeira Turma, Rel. Ministra Denise Arruda, DJ14/02/2008.
5. Embargos de declaração acolhidos, sem efeitos infringentes.
(STJ — EDcl na AR 569 / PE — Ministro MAURO CAMPBELL MAR-
QUES — DJe 05/08/2011)
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 122
AULAS 21, 22 E 23: ATOS E VÍCIOS PROCESSUAIS
INTRODUÇÃO
No desenvolvimento da relação processual, são realizados diversos atos 
pelas partes, pelo juiz e por todos aqueles que participam do processo. De 
forma sintética, podemos dizer que ato processual é todo aquele praticado na 
cadeia do processo, sendo regido pelo direito processual.
A classifi cação dos atos processuais, como será visto, não difere muito da-
quela feita para os atos jurídicos em geral. Contudo, merece especial enfoque o 
tratamento dado aos vícios dos atos processuais. O regime das nulidades proces-
suais difere daquele existente para outros atos jurídicos e será sempre informado 
pelos princípios da liberdade das formas, do prejuízo e da instrumentalidade das 
formas. De fato, o processo é um instrumento de aplicação do direito, e, assim, 
o mais importante é a fi nalidade do ato e não sua regularidade formal.
Ao longo da aula,
será dada especial atenção aos atos processuais de co-
municação, tema clássico da teoria geral do processo, que, hoje, deve ser es-
tudado sob um novo enfoque em razão dos novos métodos de comunicação 
eletrônica dos atos processuais previstos pela Lei 11.419/06.
LEITURA BÁSICA
CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de direito processual civil, v. I. Rio de 
Janeiro: Lúmen Juris, 2005. Cap. IX: “Atos Processuais”, p. 241-69.
GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido; CINTRA, Antô-
nio Carlos de Araújo. Teoria Geral do Processo. São Paulo: Revista dos 
Tribunais, 1998. Capítulos 34 e 35: “Atos Processuais: Conceito e Clas-
sifi cação” e “Vícios do Ato Processual”; p. 31-45.
LEITURA COMPLEMENTAR
ALVIM, J. E. Carreira. Elementos de teoria geral do processo. 10. ed. Rio 
de Janeiro: Forense, 2005. Capitulo XII: “Dinâmica do Processo”, p. 
215-23.
CALMON DE PASSOS, José Joaquim. Esboço de uma teoria das nulidades 
aplicada às nulidades processuais. Rio de Janeiro: Forense, 2002.
PARREIRA, Antonio Carlos. Breves anotações sobre a lei do processo ele-
trônico (Lei nº 11.419/2006). Disponível em: http://jus2.uol.com.br/
doutrina/texto.asp?id=9309.
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 123
67 A categoria dos negócios ju-
rídicos processuais é negada 
por alguns autores.
68 O princípio da economia 
preconiza o máximo resulta-
do na atuação do direito com 
o mínimo emprego possível de 
atividades processuais.
EMENTÁRIO DO TEMA
— Atos processuais e sua classifi cação
— Forma dos atos processuais e sua instrumentalidade
— Vícios dos atos processuais: planos da existência, validade e efi cácia
— A comunicação dos atos processuais
— A comunicação eletrônica dos atos processuais (Lei 11.419/06)
NOTA AO ALUNO
O ato processual é espécie do gênero ato jurídico, ou seja, atos que pos-
suem relevância para o direito. Não existe consenso doutrinário sobre qual o 
critério utilizado para determinar o que são ato jurídico e ato processual, nem 
sobre de que modo esses atos processuais devem ser classifi cados.
Contudo, a classifi cação comumente encontrada é aquela que, de modo se-
melhante ao que é feito pelo direito civil, estabelece distinção entre fatos pro-
cessuais, atos processuais em sentido estrito e negócios jurídicos processuais67.
Fatos processuais 
(lato sensu)
Fatos processuais (stricto sensu)
Negócios jurídicos 
processuais
Fatos processuais (stricto sensu)
Atos processuais (lato sensu)
Os atos processuais são ainda estudados segundo sua forma, tempo e lu-
gar. No processo civil, a forma dos atos processuais está regulada nos artigos 
154 usque 171 do CPC; o tempo dos atos processuais, nos artigos 172 usque 
176; e o lugar dos atos processuais, no art. 176. O CPC trata ainda dos 
prazos processuais, nos artigos 177 usque 199, e da comunicação dos atos 
processuais, nos artigos 200 usque 242. Houve inovação substancial em re-
lação aos atos processuais pela Lei 11.419, de 19 de dezembro de 2006, que 
disciplina a informatização do processo judicial.
Em relação à forma dos atos processuais, é importante destacar que os 
atos processuais são sempre informados pelos princípios da liberdade e ins-
trumentalidade das formas (arts. 154 e 244 do CPC). De fato, no processo, a 
forma não deve ser encarada como um fi m em si mesmo, mas como um meio 
de proporcionar com celeridade e segurança determinado objetivo. O princí-
pio da instrumentalidade é corolário do princípio da economia processual68, 
haja vista que processo é um instrumento para aplicação do direito.
Os princípios da liberdade e da instrumentalidade das formas são de ob-
servância obrigatória no estudo dos vícios processuais e suas conseqüências 
(nulidades processuais). Também de forma semelhante ao que ocorre com 
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 124
69 CARNEIRO, Paulo Cezar Pi-
nheiro. Acesso à Justiça: Jui-
zados Especiais Cíveis e ação 
civil pública — uma nova 
sistematização da teoria geral 
do processo. 2. ed. Rio de Ja-
neiro: Forense, 2000. p. 75.
os atos jurídicos em geral, os atos processuais devem ser analisados em três 
diferentes planos: existência, nulidade e efi cácia.
Aliás, esse é outro ponto em que se encontra grande divergência na dou-
trina, mas é possível estabelecer uma divisão.
Ato processual inexistente é aquele que não possui elemento constitutivo 
mínimo (como uma sentença sem dispositivo). O ato inválido está em desa-
cordo com o “esquema” previsto, em abstrato, pela lei. O ato processual só 
será considerado nulo ou inválido quando houver pronunciamento judicial 
e, até esse momento, é tido como válido. Prevalece o entendimento de que o 
ato nulo pode ser dividido em três subespécies: nulidade absoluta, nulidade 
relativa e anulabilidade.
Contudo, é no estudo da efi cácia dos atos processuais que a matéria apre-
senta maiores inovações. É possível, e até comum, que o ato nulo produza 
efeitos, desde que respeitados os princípios da instrumentalidade das formas 
e da ausência de prejuízo. A possibilidade de efi cácia de um ato nulo será 
sempre verifi cada pelo magistrado em cada caso concreto. Em certas situa-
ções, a nulidade é tida como irrelevante por não sacrifi car a fi nalidade proces-
sual, nem prejudicar as partes envolvidas.
É essa a lição do Professor Paulo Cezar Pinheiro Carneiro: “É preciso tam-
bém distinguir, em determinadas situações que costumam ocorrer no proces-
so, o problema da efi cácia do ato processual nulo. Parece uma contradição, 
mas não é. Na medida em que o plano da validade do ato processual é dis-
tinto do plano da efi cácia, é perfeitamente possível que um ato válido não 
seja efi caz (por exemplo: a sentença sujeita a recurso com efeito suspensivo) 
ou que, inversamente, um ato inválido seja efi caz, como é o caso da sentença 
nula, sem fundamentação, transitada em julgado.
A partir desse enfoque, da sistematização correta desses planos, uma série 
de mitos do nosso direito processual deixarão de existir, como: ‘o ato conva-
lesceu’, ‘a nulidade foi sanada’, ‘o efeito sanatório da coisa julgada’, etc. O que 
existe, na realidade, é que o ato processual pode ter o vício, pode ser inválido, 
mas efi caz, produzir efeitos — não porque o ato convalesceu, não porque 
a nulidade foi sanada, não porque o efeito da coisa julgada é sanatório... A 
existência ou não do vício seria absolutamente irrelevante69.”
ESTUDO DE CASO
Caso 1:
Maria e Carolina ajuizaram ação reivindicatória contra Carlos e Pedro. 
Efetuada a citação pelo correio, os réus protocolizaram a contestação que, 
diante da alegação dos autores, confi rmada pela certidão da secretaria do car-
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 125
tório, foi considerada intempestiva. Assim, foi decretada a revelia na forma 
do art. 319 do CPC.
Os réus pediram a reconsideração da decisão, alegando que a citação reali-
zada teria sido nula, eis que, não obstante ter sido entregue a correspondência 
no endereço correto, o aviso de recebimento foi assinado por pessoa estranha, 
em desconformidade, portanto, com a norma do art. 223, parágrafo único, 
do Código de Processo Civil.
Segundo os réus, a citação pelo correio, feita de forma irregular, acarreta 
a nulidade absoluta do ato. Sustentaram os réus que “a citação como pres-
suposto processual objetivo intrínseco à relação processual, deve obedecer às 
formalidades legais” e, “uma vez comprovada a ocorrência de nulidade, o ato 
deve ser invalidado, vez que não pode ser convalidado”.
O juiz de direito, por se tratar de matéria de ordem pública, declarou nu-
los os atos decisórios proferidos, em razão do reconhecimento da nulidade da 
citação, o que ensejou a interposição de agravo de instrumento pelos autores. 
O magistrado fundamentou sua decisão da seguinte forma:
“Demonstrado o prejuízo causado aos Recorrentes, deve ser decretada a 
nulidade da citação, mesmo
com o comparecimento espontâneo dos Recor-
rentes na ação principal, visto que a defesa fora desentranhada e decretada à 
revelia dos mesmos, embora eivado de vícios o ato citatório, maculando sua 
efi cácia e validade.”
No agravo de instrumento, o advogado argumenta que a nulidade da ci-
tação não levaria à conseqüência dada pelo juiz, porquanto o ato, mesmo 
realizado de forma irregular, alcançou a sua fi nalidade. Aduz ainda que os re-
corridos tivessem pleno conhecimento da existência da causa e que chegaram 
mesmo a apresentar sua defesa, porém de forma intempestiva.
Como deve o tribunal decidir?
Caso 2:
Conhecida multinacional requereu a devolução do prazo para apelar con-
tra sentença de extinção do processo sem julgamento do mérito pelo seguinte 
motivo: embora constassem da procuração os nomes de vários advogados, há 
nos autos pedido no sentido de que as intimações sejam feitas em nome de 
um especifi camente designado para tal fi m. A publicação, todavia, foi feita 
em nome de outro advogado constante da procuração, não tendo o cartório 
atentado para a indicação anteriormente feita. Assim, a empresa somente teve 
ciência da sentença quando o prazo para apelar já havia se exaurido. O prazo 
deve ser devolvido?
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 126
Caso 3:
Leonardo ajuizou ação de despejo por falta de pagamento em face de Carlos.
Após ter procurado o réu por três vezes em sua residência, ofi cial de justiça 
não o encontrou e, por suspeitar que Carlos estivesse se ocultando, intimou 
sua mulher de que voltaria dois dias depois às 8 horas da manhã. Contudo, 
no dia e hora assinados, o ofi cial de justiça retornou à residência do réu para 
efetuar a citação. Mais uma vez, o réu não foi encontrado. A esposa do ci-
tando, por sua vez, não conseguiu justifi car as razões da ausência. Citado por 
hora certa, o réu não apresentou resposta, e lhe foi dado curador especial, 
que apresentou a defesa. Preliminarmente, o curador argumentou sobre a 
nulidade da citação, haja vista que não havia fi cado devidamente confi gurada 
a certeza da ocultação para ensejar a citação com hora certa. Como a questão 
deve ser decidida pelo juiz da causa?
JURISPRUDÊNCIA
(A) Citação. Instrumentalidade das Formas
PROCESSUAL CIVIL — CITAÇÃO PELO CORREIO — PESSOA FÍ-
SICA — COMPARECIMENTO ESPONTÂNEO — CIÊNCIA INEQUÍ-
VOCA DA DEMANDA RECONHECIDA PELO ARESTO RECORRIDO 
— CONTESTAÇÃO — ALEGAÇÃO POSTERIOR DE NULIDADE DO 
ATO CITATÓRIO — INADMISSIBILIDADE.
I — Afi rmado pelo acórdão recorrido que houve ciência inequívoca da de-
manda, tanto que apresentada defesa, não obstante a irregularidade formal do 
ato citatório, sem que essa assertiva fosse contestada pelos réus, ora recorrentes, 
improsperável o recurso especial.
II — O processo civil moderno orienta-se pelo princípio da instrumentalida-
de das formas. Reputa-se válido o ato que, mesmo realizado de forma diferente, 
cumpriu a sua fi nalidade.
III — Só se conhece de recurso especial pela alínea “c” do permissivo cons-
titucional, se o dissídio estiver comprovado nos moldes exigidos pelos artigos 
541, parágrafo único, do Código de Processo Civil e 255, parágrafos 1.º e 2.º, 
do Regimento Interno do Superior Tribunal de Justiça. Recurso especial não 
conhecido.
(REsp 514.304/MT, Recurso Especial 2003/0029838-4, rel. Min. Castro 
Filho (1119), 3ª Turma, j. 02.12.2003, DJ 19.12.2003, p. 460)
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 127
(B) Intimação. Advogados indicados na petição inicial.
PROCESSO CIVIL. INTIMAÇÃO. ADVOGADOS INDICADOS NA 
INICIAL. NULIDADE.
1. Indicando a parte expressamente que as intimações devem ser realizadas 
em nome de determinados advogados, há nulidade se nas publicações tal reque-
rimento não é atendido. 2. Precedentes jurisprudenciais. 3. Recurso provido.
Voto do Relator Ministro Milton Luiz Pereira:
Da leitura do relatório, depreende-se que a Recorrente se insurgiu contra 
Acórdão que entendeu válida intimação de sentença que extinguiu o processo, 
sem julgamento de mérito, ticando o v. Acórdão resumido nos seguintes termos: 
“Intimação.
Válida a feita em nome de três dos treze advogados procuradores da parte, 
pertencentes ao mesmo escritório. lrrelevância de ter havido pedido para que a 
intimação fosse feita em nome de outros que subscreveram a inicial em razão do 
atendimento anterior, por um deles, a intimação feita nos mesmos moldes que 
a ora impugnada, sem qualquer impugnação. Agravo retido provido. Apelo não 
conhecido.” (fls.91) Aberto o pórtico para o conhecimento (art. 105, IH, a, c, 
CF), cumpre observar que na inicial, às fls. 6, há pedido expresso para “que das 
intimações constem os nomes dos subscritores da presente”, Drs. Dirceu Freitas 
Filho e Ricardo Takahiro Oka. Ao contrário do requerido, todavia, a publicação 
da sentença que extinguiu o processo, sem julgamento do mérito, constante às fls. 
57, foi feita na pessoa dos Drs. Jorge Saeki, Jorge Hachiya Saeki e Sílvio Eiti Ta-
naka, em desconformidade, portanto, com o requerimento inicial. A questão não 
é nova e já por algumas vezes foi enfrentada neste Superior Tribunal, assentando-
se que deve prevalecer o pedido feito pela parte para que as intimações sejam rea-
lizadas na pessoa do advogado indicado, sob pena de nulidade. Essa a orientação 
que se delineou nos seguintes arestos, cujas ementas permito-me transcrever:
PROCESSUAL CIVIL — INTIMAÇÃO PARA SESSÃO DE JULGA-
MENTO DO AGRAVO DE INSTRUMENTO PUBLICAÇÃO EM NOME 
DE ADVOGADO DIVERSO DAQUELE INDICADO PARA TAL FIM. 
NULIDADE — PRECEDENTES STJ.
— Em regra, sendo vários os advogados regularmente constituídos, será vá-
lida a intimação, surtindo os efeitos legais, quando constar da mesma o nome 
de apenas um deles.
— Entretanto, havendo designação prévia e expressa do advogado que re-
ceberá as intimações, o nome desse deverá constar das publicações sob pena de 
nulidade e cerceamento do direito de defesa, ainda que existam outros patronos 
constituídos.
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 128
— Questão de mérito prejudicada.
— Recurso conhecido e provido para que, anulado o v. aresto hostilizado, 
seja efetuada nova intimação.”
(REsp 127.369/SP, rel. Min. Peçanha Martins, DJU 27.3.2000)
PROCESSO CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. EFEITO MO-
DIFICATIVO. POSSIBILIDADE. AUSÊNCIA DE INTIMAÇÃO DO AD-
VOGADO.
1. Comprovada a falta de intimação do advogado da parte, impõe-se o aco-
lhimento dos embargos declaratórios, com efeito modifi cativo, anulando-se o 
julgamento e determinando que se proceda a intimação regular do pa— trono 
da recorrente.
2. Embargos recebidos.
(EDREsp 169.742/MG, reI. Min. Hélio Mosimann, DJU 18.9.2000.)
PROCESSUAL CIVIL. INTIMAÇÃO. ADVOGADO. NULIDADE.
1. Em regra, sendo vários os advogados regularmente constituídos, será váli-
da a intimação, surtindo os efeitos legais, quando constar da mesma o nome de, 
apenas, um deles.
2. Entretanto, havendo designação previa e expressa do advogado que rece-
berá as intimações, o nome deste devera constar das publicações, pena de nuli-
dade e cerceamento do direito de defesa, ainda quando existam outros patronos 
constituídos.
3. Recurso especial conhecido e provido.
(REsp 89.7811SP, rel. Min. Menezes Direito, DJU 03.2.1997)
AGRAVO REGIMENTAL. TEMPESTIVIDADE. RECURSO ESPE-
CIAL. INVIABILIDADE. REEXAME DE PROVA. SÚM. 7/STJ.
1. A intimação da parte deve ser publicada, no órgão ofi cial, em nome do 
advogado expressamente indicado para esse fi m.
2. Tempestivo o agravo regimental, reforma-se a decisão que o julgara ex-
temporâneo.
3. No mérito, o agravo não pode ser acolhido, a despeito dos esforços do seu 
ilustre subscritor.
4. O Acórdão impugnado via recurso especial fundamenta-se, basicamente, na 
falta da prova do dano sofrido peia autora que, inclusive, dispensou a realização da 
perícia, matéria cujo reexame e vedado nesta
instância superior, a teor da Súm. 7/STJ.
5. Agravo regimental improvido. (AGRAGA 81.654/DF, rel. Min. Peçanha 
Marins, DJU 05.5.1997).
Confluente ao exposto, incorporando a fundamentação dos precedentes co-
lacionados, voto dando provimento ao recurso. É o voto. (REsp nº 162.202-SP, 
Recurso Especial 1998/0005297-6)
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 129
70 CARNEIRO, Paulo Cezar Pi-
nheiro. Acesso à Justiça: Jui-
zados Especiais Cíveis e ação 
civil pública — Uma Nova 
sistematização da Teoria Ge-
ral do processo. 2. ed. Rio de 
Janeiro: Forense, 2000. p.70
AULAS 24 E 25: OS PERSONAGENS DO PROCESSO. O JUIZ. O 
MEMBRO DO MINISTÉRIO PÚBLICO. O ADVOGADO. O DEFENSOR 
PÚBLICO. O ADVOGADO DO ESTADO.
INTRODUÇÃO
O termo “personagens do processo”, utilizado no título da aula, trata da-
queles profi ssionais que têm sua atuação diretamente relacionada à ativida-
de jurisdicional. De fato, tecnicamente, os sujeitos da relação processual são 
apenas as partes (autor e réu) e o juiz. Contudo, sob o ponto de vista prático, 
as partes somente têm participação, direta e pessoal, em raras ocasiões: na 
citação, depoimento pessoal, interrogatório ou para, quando possível, realizar 
conciliação. Em verdade, quase todos os atos processuais são realizados por 
intermédio de advogados e, muitas vezes, as partes sequer sabem o que está 
efetivamente ocorrendo. Portanto, a atual preocupação com uma atuação 
mais ética das partes no processo passa, obrigatoriamente, pela necessidade 
de uma nova postura de seus advogados70.
No decorrer da aula serão analisados os principais aspectos relacionados a 
cada um dos personagens citados no título da aula e será visto o modo pelo 
qual cada um deles participa da atividade jurisdicional.
Serão abordadas, ainda, questões polêmicas e atuais referentes ao exercício 
de cada uma das funções desempenhadas por esses profi ssionais e a impor-
tância do correto desempenho desses “papéis” para que se obtenha um efetivo 
acesso à Justiça.
LEITURA BÁSICA
GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido; CINTRA, Antô— 
nio Carlos de Araújo. Teoria geral do processo. São Paulo: Revista dos 
Tribunais, 1998. Capítulos 16, 23 e 24: “A Independência do Poder 
Judiciário e suas Garantias”, “Ministério Público” e “O Advogado”; p. 
161-5; 209-27.
RODRIGUES João Gaspar. O Ministério Público: princípios, atribuições e 
seu posicionamento no ordenamento jurídico brasileiro. Disponível em: 
http://www.humbertodalla.pro.br/colaboradores/artigo_06.htm (dis-
po— nível em 10.02.2007)
CARNEIRO, Paulo Cezar Pinheiro. A ética e os personagens do processo. Re— 
vista do Ministério Público, Rio de Janeiro, n. 13, p. 241-8, jan./jun. 2001; 
ou Revista Forense, Rio de Janeiro, v. 358, p. 347-53, nov./dez. 2001.
HAIDAR, Raul. Advocacia e ética. Disponível em: http://www.neofi to.com. 
br/artigos/art01/etica7.htm.
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 130
71 CALAMANDREI, Piero. Eles, 
os Juízes, vistos por um ad-
vogado. Martins Fontes: São 
Paulo, 2002, p. 67.
LEITURA COMPLEMENTAR
ALVIM, J. E. Carreira. Elementos de Teoria Geral do Processo. 10. Ed. Rio 
de Janeiro: Forense, 2005. Capitulo IV: “Órgãos da Jurisdição. Organi-
zação Judiciária. Ministério Público. Advocacia-Geral da União. Advo-
cacia e Defensoria Pública”.
BARBOSA MOREIRA, José Carlos. Reformas processuais e poderes do Juiz.
Revista da EMERJ, n. 22, p. 58-72, 2003; ou Revista do Ministério Público 
do Estado do Rio de Janeiro, n. 18, p. 83-95, jul. / dez. 2003.
CARNEIRO, Paulo Cezar Pinheiro. O Ministério Público no processo civil 
e penal. Rio de Janeiro: Forense, 1995.
STRECK, Lenio Luiz. A concepção cênica da sala de audiência e o problema 
dos paradoxos. Disponível em: http://www.amperj.org.br.
EMENTÁRIO DO TEMA
— O Juiz e o desenvolvimento da relação processual: Os poderes do magis-
trado, identidade física do juiz e hipóteses de suspeição e impedimento.
— O Ministério Público como órgão agente e órgão interveniente.
— Limites éticos da atuação do Advogado.
— Defensoria Pública e Acesso à Justiça.
— O Advogado do Estado. Prerrogativas Processuais ou Privilégios Odiosos?
— Demais Personagens do Processo: Peritos, Tradutores, Ofi ciais de Justiça.
NOTA AO ALUNO
1. O JUIZ E O DESENVOLVIMENTO DA RELAÇÃO PROCESSUAL: PODERES E DEVERES 
DO MAGISTRADO
“Ainda mais signifi cativo é o caso que me contaram de outro ex-magistrado 
que, depois de manter por toda a sua vida de juiz a honesta convicção de que 
as sentenças são sempre justas, pôs-se a advogar com a mesma fé. Mas perdeu 
a primeira causa que defendeu. Então, ao perceber que aquela sentença que o 
considerava errado parecia-lhe injusta, sentiu seu mundo desabar. — Mas, en-
tão, é verdade mesmo que não há mais justiça? O choque foi tamanho, que ele 
enlouqueceu.”71
Não existe relação processual sem a presença do Estado-juiz. Uma ade-
quada atuação do magistrado é fundamental para o regular desenvolvimento 
do processo. É importante recordar que o juiz não é parte, mas sim sujeito 
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 131
do processo e coloca-se, na relação processual, numa posição eqüidistante 
das partes, para solucionar, com justiça, o conflito de interesses que lhe foi 
submetido. No decorrer da relação processual, o magistrado exerce poderes 
administrativos e jurisdicionais do juiz. Os administrativos (também trata-
dos como poder de polícia) possuem a fi nalidade de evitar que o processo 
sofra perturbações, assegurando-se a ordem e o decoro. Quanto aos poderes 
jurisdicionais, são eles poderes-meios e poderes-fi ns e estão relacionados a 
instrução processual e atos decisórios do magistrado.
Para chegar a uma solução justa, o juiz deve ter poderes que lhe permitam 
dar prosseguimento ao processo, ou seja, que lhe permitam seguir correta-
mente o rito previsto pelo legislador e zelar para que todos assim o façam. 
Deve ainda possuir poderes que assegurem que suas decisões sejam cum-
pridas. Os poderes conferidos ao juiz são, quase todos, exercidos de ofício, 
evitando morosidade desnecessária da tutela jurisdicional.
A atividade do juiz é tratada pelo CPC nos arts. 125 a 138 e divididos em 
quatro tópicos principais: seus poderes e deveres (arts. 125 a 133), os casos de 
impedimento e de suspeição (arts. 134 a 138). Merecem destaque os artigos 
132 — que trata do princípio da identidade física do juiz —, 134 e 135 — 
que tratam das hipóteses de suspeição e impedimento. O CPP, por sua vez, 
trata da matéria nos arts. 251 a 256.
Problemas
1. A que limites o magistrado está submetido na busca da verdade dos 
fatos que lhe são submetidos?
2. O princípio da identidade física do Juiz é observado no processo 
penal?
3. É possível responsabilizar, pessoalmente, o magistrado por atraso na 
instrução processual que gere grave dano a uma das partes?
4. Pode o magistrado determinar a prisão de advogado ou promotor 
de justiça caso algum deles cometa grave excesso na defesa dos inte-
resses que representa?
5. Que sentido deve ser dado à interpretação “amigo íntimo” prevista 
no art. 135, I, do CPC (hipótese de suspeição)?
6. O fato de um advogado “despachar os memoriais de um recurso” 
diretamente com um desembargador na véspera do julgamento de 
grande importância compromete os princípios constitucionais da 
imparcialidade e do contraditório? (Considere-se que o outro ad— 
vogado não tem ciência das razões colocadas, na forma oral, para o 
desembargador).
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 132
72 O referido art. 45 concede 
ao Ministério público a pos-
sibilidade de aditamento da 
queixa do Ministério Público 
na ação privada (exclusiva da 
vítima). Pensamos que neste 
caso o referido aditamento 
deve ocorrer unicamente nas 
hipóteses em que os fatos nar-
rados e constantes das peças 
de informação que acom-
panham a queixa possam 
também
caracterizar a práti-
ca de crime de ação pública, 
em respeito aos princípios da 
oportunidade e disponibili-
dade que regem esta ação. 
Diferente é o que ocorre na 
ação penal privada subsidiá-
ria da pública, onde, por força 
do art. 29, o Ministério Público 
deve intervir como litisconsor-
te necessário (é caso também 
de litisconsórcio unitário), 
assumindo então a condição 
de órgão agente (CARNEIRO, 
Paulo Cezar Pinheiro. O Minis-
tério Público no processo civil 
e penal: promotor natural. 
atribuição e confl ito. 5ª ed. 
Rio de Janeiro: Forense, 1995. 
p. 20-3). 
73 Art. 6º do CPC: “Ninguém 
poderá pleitear, em nome 
próprio, direito alheio, salvo 
quando autorizado por lei”.
74 Ressalte-se, ainda, que, 
quando atua como órgão 
agente no processo civil, o 
Ministério público tem prazo 
em quádruplo para contestar 
e em dobro para recorrer, nos 
termos do art. 188 do CPC. De 
resto, cabem-lhe os mesmos 
poderes e ônus que a todas as 
partes, não estando sujeito, 
contudo, ao adianta- mento 
das despesas processuais, 
nem à condenação nestas ou 
em honorários advocatícios.
2. O MINISTÉRIO PÚBLICO: ÓRGÃO AGENTE E ÓRGÃO INTERVENIENTE
O Ministério Público exerce função ímpar no sistema jurídico brasileiro, 
participando da relação processual como órgão agente ou órgão intervenien-
te. No processo penal, por ser titular exclusivo da ação penal pública, atuará, 
na grande maioria das vezes, como órgão agente.
Quando não atuar desta maneira, nos casos de ação penal de iniciativa pri-
vada (exclusiva da vítima), deverá haver sua presença obrigatória como custus 
legis, nos termos do art. 45 do Código de Processo Penal72.
Todavia, é o papel do Ministério Público no processo civil que vem ga-
nhando maior relevância nos últimos tempos, principalmente após a Cons-
tituição Federal de 1988. Nossos Códigos Civil e de Processo Civil, assim 
como a legislação extravagante, prevêem diversos casos de atuação do Minis-
tério Público, seja como órgão agente ou interveniente. Como órgão agente, 
o Ministério Público, ao propor a demanda, agirá, conforme o caso, com le-
gitimação ordinária ou extraordinária. A legitimidade ad causam — como já 
visto — corresponde à pertinência subjetiva da ação e será ordinária quando 
exercida pelo titular da relação de direito material deduzida no processo, sen-
do esta a regra geral em nossa ordem jurídica. São exemplos de legitimidade 
ordinária do Ministério Público: a ação de nulidade de casamento e a ação 
direta de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo federal, estadual ou 
municipal (art. 129, IV, da Constituição Federal). Já a legitimidade extraor-
dinária ocorre quando uma norma jurídica autoriza que terceiro (quanto à 
relação de direito material pleiteada) proponha demanda, em nome próprio, 
na defesa de interesse alheio73.
Há casos, então, que o Ministério Público ingressa em juízo, em nome 
próprio, para defender direito de outrem, como é o caso da demanda pro— 
posta em defesa do incapaz na chamada ação de investigação de paternidade, 
prevista na Lei nº 8.560/92, art. 2º, § 4º. Outra hipótese de legitimidade 
extraordinária do parquet prevista em nosso ordenamento seria para propor a 
ação civil ex delictu (art. 68, CPP) quando o titular do direito à reparação do 
dano for pobre. Contudo, parece prevalecer entendimento segundo o qual 
tal artigo não foi recepcionado pela atual Constituição Federal, por ser esta 
considerada, agora, função atípica do Ministério Público74.
O outro modo de participação do Ministério Público no processo civil 
é como órgão interveniente (custus legis). Destarte, o legislador prevê casos 
em que, embora não haja legitimidade para propor a demanda, o MP deve 
intervir no processo para zelar pelo correto cumprimento das normas jurí-
dicas, participando, assim, do procedimento em contraditório na defesa dos 
interesses da sociedade.
O Código de Processo Civil exige a presença do Ministério Público nas 
situações previstas no art. 82. É curial observar que o inciso III do referido 
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 133
artigo prevê uma ampla possibilidade de atuação do Ministério Público no 
processo civil (sem— pre que houver interesse público envolvido). Existem, 
ainda, outras hipóteses de intervenção do Ministério Público previstas no 
Código de Processo Civil — como os casos da participação do MP nos pro-
cedimentos de jurisdição voluntária (art. 1.105) e na ação de usucapião (art. 
944) — e na legislação extravagante (ex.: mandado de segurança; art. 20 da 
Lei nº 1.533/51).
Problemas
1. É necessária a intervenção de órgão do Ministério Público, como 
custus legis, quando outro órgão do Ministério Público houver 
pro— posto a demanda? (Ex.: ação civil pública proposta pelo Mi-
nistério Público tendo no pólo passivo menor impúbere)?
2. Está o membro do Ministério Público obrigado a oferecer recurso 
quando intervier no processo, em razão da presença de incapaz, e a 
sentença foi desfavorável a esse?
3. Que sentido deve ser dado à interpretação “interesse público” pre-
vista no art.82, III, do CPC? Deve, por exemplo, o Ministério Pú-
blico ser “ouvido” em todo processo que existe interesse patrimonial 
da Fazenda Pública? Pode o magistrado obrigar que o membro do 
Ministério Público atue como órgão interveniente quando o pro-
motor já tiver se manifestado pela ausência de interesse público?
4. Pode o Ministério Público desistir de ação de investigação de pater-
nidade em que fi gure como autor (legitimidade extraordinária) se, 
após a instrução probatória, estiver convencido de que o réu não é 
pai do substituído?
5. Pode o Ministério Público (instituição) ser condenado a pagar ho-
norários advocatícios quando, na qualidade de autor da demanda, 
vier a sucumbir? Em caso positivo, quem deve arcar com os referi-
dos honorários?
6. A investigação criminal realizada diretamente pelo Ministério Pú-
blico é permitida em nosso ordenamento? Pode o membro do par-
quet utilizar-se de elementos colhidos em inquérito civil para ofere-
cer ação penal?
7. Que sanções podem ser atribuídas ao membro do Ministério Públi-
co (pessoa física) caso fi que comprovado que ele ajuizou ação civil 
pública infundada para satisfazer interesses pessoais ou de outrem 
(desvio de fi nalidade)?
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 134
75 CALAMANDREI, Piero. Eles, 
os Juízes, vistos por um advo-
gado. Martins Fon- tes: São 
Paulo, 2002. p. 10.
3. LIMITES ÉTICOS DA ATUAÇÃO DO ADVOGADO
“Típico, como exemplo de tais expedientes, o exórdio daquele defensor que, 
ao sustentar certa tese jurídica diante de um tribunal, que já duas vezes havia 
decidido a mesma questão contradizendo-se, começou seu discurso assim:
— A questão que trato só admite duas soluções. Esta Excelentíssima Corte já 
a decidiu duas vezes, a primeira num sentido, a segunda no sentido contrário...
Pausa.
Depois, com uma reverência:
—... e sempre muito bem!”75
Todos aqueles que exercem profi ssões jurídicas estão submetidos a normas 
determinando comportamentos éticos e dignos de membros da instituição 
que representa. Os advogados são considerados pela Constituição Federal 
como indispensáveis para a administração da justiça e, por exercer esse munus 
público, devem ter uma atuação ética condizente com os interesses públicos 
que informam a sua atuação.
Exceções a indispensabilidade do advogado: a) Lei nº 9.099/95 
— até 20 salários mínimos. b) Lei nº 10.259/01 — até 60 salários 
mínimos; c) Justiça do Trabalho. Nessas hipóteses é facultativa a 
presença do advogado.
No desenvolver de suas atividades, o advogado exerce função de grande 
relevância social, viabilizando o alcance do direito pelos cidadãos em geral 
que não podem, diretamente, obter em juízo exercendo. No exercício desse 
mister, não há como fugir da exigência de uma conduta ética do advogado, 
que está submetido
ao Código de Ética e Disciplina da OAB e ao Estatuto 
dos Advogados (Lei 8.906/94). Existem, inclusive, normas que limitam a 
relação profi ssional dos advogados com sues clientes e comportamento do 
advogado em locais públicos.
O Código de Processo Civil, por sua vez, em seus artigos 14 usque 17, tra-
ça diretrizes para o comportamento dos advogados — e também das partes 
e demais participantes do processo — e determina sanções para aqueles que 
litigarem de má-fé ou de forma desleal. Entre as diversas condutas estabeleci-
das pelo art. 14 do CPC, podemos destacar o dever das partes — e também 
daqueles que participam do processo — de expor os fatos de acordo com a 
verdade e de pautar seu comportamento de forma leal e de boa-fé.
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 135
Problemas
1. Haveria um limite ético do advogado na defesa de seu cliente?
2. O advogado deve aceitar a causa mesmo convencido de que seu 
cliente não tem razão?
3. Pode o advogado recomendar que seu cliente ou que uma testemu-
nha afi rme coisas de que ela não tenha certeza?
4. Deve o advogado expor os fatos em juízo conforme a verdade, mes-
mo em prejuízo de seu cliente?
5. É lícito ao advogado, no curso do processo, usar de expedientes 
processuais para ganhar tempo?
6. É possível atribuir responsabilidade civil ou processual (multa por 
litigância de má-fé) aos advogados das partes ou eles estão submeti-
dos, apenas, às sanções impostas pela OAB?
7. Há diferença entre a ética processual do advogado cível (interesses 
patrimoniais) e do advogado criminal?
8. O advogado comete crimes contra a honra por excessos cometidos 
na defesa de seu cliente?
9. Haveria um limite ético para o advogado que atua em causa pró-
pria? Nesses casos, como fazer com o depoimento pessoal das partes 
(quando uma das partes não deve ouvir o depoimento da outra)?
10. Está o advogado obrigado a informar seu cliente que não irá recor-
rer de sentença que considera justa, malgrado a decisão tenha sido 
desfavorável a seu cliente?
4. DEFENSORIA PÚBLICA E ACESSO À JUSTIÇA
A Defensoria Pública também é considerada instituição essencial à função 
jurisdicional do Estado. A CRFB/88 trata da Defensoria nos arts. 5º, LXXIV, 
e 134. A garantia individual e coletiva de assistência jurídica gratuita à po-
pulação necessitada, estabelecida na Constituição Federal, foi uma das con-
quistas sociais resultantes do processo de participação popular que ocorreu na 
Assembléia Nacional Constituinte. Contudo, até hoje, a Defensoria Pública 
não está dignamente aparelhada para prestar adequada assistência jurídica a 
todos hipossufi cientes de nosso imenso país. Em 1995, a Defensoria Pública 
da União foi implantada, em caráter emergencial e provisório, situação que 
permanece até hoje. Apenas em poucos Estados, como o Rio de Janeiro, os 
Defensores Públicos recebem salários dignos da função que realizam e pos-
suem condições mínimas de estrutura de trabalho.
A democratização da Justiça assume importância vital na garantia do va-
lor universal da justiça social. Genericamente, pode-se afi rmar que, para a 
maioria da população brasileira, a justiça é um tabu, algo muito distante e 
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 136
inacessível. De fato, várias questões acabam por levar o cidadão a desacreditar 
na justiça, ou seja, no espaço institucionalizado para dirimir conflitos. Entre 
essas questões, destaca-se que para o cidadão ingressar com ações na Justiça, 
reivindicando direitos ou se defendendo, deve possuir meios fi nanceiros para 
custear um advogado.
Nesse sentido, o movimento de acesso à justiça promovido pela Defenso-
ria Pública tem apresentado uma importante expressão na transformação do 
pensamento jurídico e das reformas normativas e institucionais.
Por outro lado, a realidade sócio-política brasileira apresenta um quadro 
em que faltam recursos fi nanceiros do Poder Público e sobram demandas 
sociais. Como solucionar esse problema no que concerne à necessidade por 
assistência jurídica qualifi cada em uma sociedade em que todos os problemas 
tendem a ser “judicializados”?
Problemas
1. A Defensoria possui prerrogativas processuais? Qual a previsão legal?
2. Qual o sentido da Defensoria Pública no Estado Neoliberal, onde 
a redução do espaço público é cada vez mais acentuada? (Prova 
DPGE/RJ XXVII Concurso).
3. É possível a Defensoria Pública propor ação civil pública?
4. O Defensor Público está obrigado a propor demanda cível mesmo 
quando considerar ínfi ma a chance de êxito?
5. O Defensor Público, no processo penal, está obrigado a sustentar 
a versão de seu assistido, mesmo quando tiver certeza de que este 
está mentindo.
6. É possível vislumbrar outras opções de assistência jurídica gratuita 
— como instituições do terceiro setor ou advogados particulares re-
munerados pelo Estado — para viabilizar um amplo acesso à justiça?
5. O ADVOGADO DO ESTADO. PRERROGATIVAS PROCESSUAIS OU PRIVILÉGIOS 
ODIOSOS?
A expressão “Fazenda Pública”, no sentido dado pela legislação processual, 
refere-se ao Estado, em juízo, defendendo seus interesses. Portanto, compõem 
a Fazenda Pública: a União, os Estados, os Municípios e o Distrito Federal, 
suas respectivas autarquias e fundações instituídas pelo poder público, cujos 
bens estejam submetidos ao regime de direito público. Segundo nosso direito 
positivo, a Fazenda Pública, quando litiga, detém uma gama de privilégios e/ 
ou prerrogativas de ordem processual.
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 137
Alguns exemplos das prerrogativas da Fazenda Pública estão destacados no 
quadro abaixo:
Prerrogativa e/ou privilégio Fundamento legal
Privilégio de foro na Capital do estado 
ou do território quando em litígio
Art. 99 do CPC
Prazo em quádruplo para contestar e 
em dobro para recorrer
Art. 188 do CPC
— Exceções: JEF´s, ritos especiais (man-
dado de segurança, ação cautelar) — 
Lei 9.469/97: estendeu o prazo dilatado 
às autarquias e fundações públicas.
Intimação pessoal do representante 
da União
Lei Complementar 73/93, art. 38
Reexame necessário das sentenças 
contra si proferidas.
Obs: Súmula 45 STJ — No reexame ne-
cessário, é defeso ao Tribunal agravar a 
condenação imposta à Fazenda Pública.
Art. 475, II, do CPC, mitigado pelas alte-
rações introduzidas pela Lei nº 10.352, 
de 26 de dezembro de 2001.
— exceções: par. 1º e par. 2º art. 475 e 
rito dos JEF´s (Lei 10.259/2001).
Fixação diferenciada dos honorários 
advocatícios em caso de sucumbência, 
mediante apreciação eqüitativa do juiz, 
observados o grau de zelo do profi s-
sional, o lugar de prestação do serviço, 
a natureza e importância da causa, o 
trabalho realizado pelo advogado e o 
tempo exigido para o seu serviço.
Art. 20, § 4º do CPC.
Dispensa de depósito prévio para o 
ajuizamento de ação rescisória
Art. 488, parágrafo único, do CPC.
Dispensa de preparo para a interposi-
ção de recurso
Art. 511 do CPC.
— Art. 1º da Lei 9.494/97.
— Súmula 175 STJ — Descabe o 
depósito prévio nas ações rescisórias 
propostas pelo INSS.
Dispensa do adiantamento das despe-
sas dos atos processuais eventualmente 
requeridos, pagos ao fi nal pelo vencido.
Art. 27 do CPC.
— Súmula 178 STJ — O INSS não goza 
de isenção do pagamento de custas e 
emolumentos, nas ações acidentárias 
e de benefícios propostas na Justiça 
Estadual. Súmula 232 — A Fazenda 
Pública, quando parte no processo, fi ca 
sujeita à exigência do depósito prévio 
dos honorários do perito.
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 138
Prerrogativa e/ou privilégio Fundamento legal
Audiência prévia em caso de reque-
rimento de medida liminar em ação 
possessória
Art. 928, parágrafo único, do CPC.
Impenhorabilidade de seus bens (mes-
mo os dominicais)
Arts. 20 da Constituição Federal e 649 
do CPC.
Restrição das hipóteses
de tutela ante-
cipada
Leis nº 8.437/92 e 9.494/97.
Fixação de juros e correção monetária 
especial
Lei nº 9.494/97.
A Fazenda Pública e o MP têm prazo 
em dobro para interpor Agravo Regi-
mental no STJ.
Súmula 116 STJ
Prescrição Qüinqüenal Decreto 20.910/1932 / Decreto-lei 
4.597/1942.
Qualquer pretensão em face da Fazenda 
Pública está sujeita ao prazo prescricional 
de 5 anos. Súmula 107 TFR. — Atenção: A 
prescrição qüinqüenal não se aplica às 
sociedades de economia e empresas 
públicas quando não exercem atividade 
em regime de monopólio — interpre-
tação advinda do teor da Súmula 39 STJ 
c/c precedente jurisprudencial — STF 
RE 220.906 — Informativo nº 213 STF.
Execução especial / Regime de Preca-
tórios
Art. 730 CPC / Art. 100 CRFB.
Em nossa doutrina e jurisprudência, tem prevalecido que as prerrogati-
vas ou privilégios conferidos à Fazenda Pública assentam-se no princípio da 
supremacia dos interesses coletivos sobre os interesses individuais. Ademais, 
no que concerne aos benefícios relativos aos prazos processuais, o volume de 
demandas existentes contra a Fazenda justifi caria a prerrogativa.
Por outro lado, há quem defenda que o Estado possui uma estrutura or-
ganizacional potente e complexa, infi nitamente superior aos recursos do par-
ticular e, portanto, não haveria motivo para tantos privilégios. O professor 
Cândido Rangel Dinamarco52 chega a se referir ao Estado como “superparte” 
do processo e afi rma que os privilégios processuais do Estado são incompa-
tíveis com a idéia de democracia, Estado de Direito e devido processo legal.
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 139
Problemas
1. Os referidos privilégios fazendários são compatíveis com nosso or-
denamento constitucional?
2. A presença de interesse público obriga que a Fazenda recorra até a 
última instância?
3. Os membros da Advocacia Pública gozam de independência fun-
cional?
4. Que medidas podem ser tomadas pelo Judiciário contra Prefeitos, 
Governadores e Secretários de Estado que reiteradamente descum-
prem decisões judiciais?
5. Pode a Fazenda Pública submeter seus interesses ao juízo arbitral?
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 140
QUESTÕES DE CONCURSO E GABARITO DAS QUESTÕES DE 
CONCURSO
AULAS 1 E 2:
1. (TJ/RJ. XX Concurso. Preliminar) Atendendo a que o art. 5º, LV, da 
Constituição Federal assegura aos litigantes, em processo judicial ou admi-
nistrativo, o contraditório e ampla defesa, dizer se no inquérito policial deve-
se observar o contraditório, a partir de 1988.
As garantias do contraditório e da ampla defesa não são asseguradas no 
inquérito policial, conforme entendem a doutrina e a jurisprudência. Segun-
do Alexandre de Moraes, “o contraditório nos procedimentos penais não se 
aplica aos inquéritos policiais, pois a fase investigatória é preparatória da acu-
sação, inexistindo, ainda, acusado, constituindo, pois, mero procedimento 
administrativo, de caráter investigatório, destinado a subsidiar a atuação do 
titular da ação penal, o Ministério Público”.
Em outras palavras, o inquérito não possui natureza jurídica de processo 
administrativo e, portanto, não se encontra abarcado no art. 5º, inciso LV, da 
Constituição Federal. Nesse sentido, Tourinho Filho ensina que a expressão 
“processo administrativo” engloba tão somente processos instaurados pela 
Administração Pública para apurar infrações administrativas, em cujos casos 
é possível a aplicação de uma sanção — o que não ocorre com o inquérito 
policial.
2. (TJ/RJ. XXXIV Concurso. Preliminar) Ante o texto do inciso XXXVIII 
do artigo 5º da Constituição, seria constitucional a lei que cometesse ao Tri-
bunal do Júri a competência para o julgamento dos crimes contra as relações 
de consumo, por exemplo?
A lei que cometesse ao Tribunal do Júri a competência para o julgamento 
dos crimes contra as relações de consumo seria inconstitucional, visto que a 
Constituição Federal, em seu art. 5º, inciso XXXVIII, alínea “d”, estabelece 
de forma clara a competência do Tribunal do Júri para julgar exclusivamente 
“crimes dolosos contra a vida”, dentre os quais não se incluem aqueles pra-
ticados contra as relações de consumo. O Tribunal do Júri é revestido de ca-
racterísticas singulares que permitem o julgamento daqueles que cometeram 
crimes dolosos contra a vida por seus semelhantes, ou seja, trata-se de um 
julgamento feito pela própria sociedade.
3. (MP/RJ. VIII Concurso). O Procurador-Geral de Justiça designou um 
Promotor de Justiça para acompanhar certo inquérito policial e funcionar, 
até fi nal, em qualquer ação penal que com base nele viesse a ser proposta. 
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 141
Oferecida a denúncia, um dos réus impetrou “habeas corpus” colimando o 
trancamento da ação penal, sob o fundamento de que a designação feita seria 
ilegal, por afastar o Promotor do Juízo junto ao qual tem curso a ação penal, 
violando assim, o princípio do Promotor natural. Dê o seu parecer sobre esta 
questão.
O princípio do Promotor natural destina-se, de um lado, a proteger o 
membro do Ministério Público, na medida em que lhe assegura o exercício 
pleno e independente do seu ofício, ou seja, assenta-se nas cláusulas da in-
dependência funcional e da inamovibilidade dos membros da instituição. 
Por outro lado, o princípio visa tutelar a própria coletividade, a quem se 
reconhece o direito de ver atuando, em quaisquer causas, apenas o promotor 
cuja intervenção se justifi que a partir de critérios abstratos e predetermina-
dos, estabelecidos em lei. Logo, no caso em questão, o Procurador Geral 
de Justiça não tem competência para designar um Promotor de Justiça para 
acompanhar certo inquérito policial, sob pena de violação ao princípio do 
Promotor natural.
AULAS 3 E 4:
1. (MP/RJ. XXIV Concurso. Específi ca) Distinguindo a jurisdição con-
tenciosa da jurisdição voluntária, enquadre os processos de inventário e os de 
arrolamento previstos no Capítulo IX, do Título I, do Livro IV, do Código 
de Processo Civil.
A doutrina clássica entende que, nos processos de jurisdição voluntária, 
não há o exercício de função jurisdicional propriamente dita, mas sim mera 
administração de interesses privados. Moacir Amaral Santos, por exemplo, 
que é partidário deste primeiro entendimento, objeta que a lei civil condi-
ciona a validade de alguns atos jurídicos à chancela do Judiciário. Logo, não 
existiria litígio nestes procedimentos e, conseqüentemente, litigantes. Tam-
pouco haveria coisa julgada. Contudo, a doutrina mais atual entende que 
nestes procedimentos também há o exercício de função jurisdicional, com a 
formação de coisa julgada. É a posição, dentre outros, de Alexandre Freitas 
Câmara.
Os processos se inventário e de arrolamento encontram-se classifi cados no 
CPC como procedimentos de jurisdição contenciosa, o que signifi ca que a 
lei concede-lhes determinadas peculiaridades formais da função jurisdicional, 
como o efeito da coisa julgada sobre as sentenças proferidas nestes procedi-
mentos (embora a questão não seja pacífi ca na jurisprudência). Há, contudo, 
quem atribua ao inventário e ao arrolamento consensuais a natureza jurídica 
de jurisdição voluntária.
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 142
2. (TJ/RJ. XXII Concurso) Há, na jurisdição voluntária, somente a admi-
nistração de interesses privados, controvérsia ou litígio, contendores ou liti-
gantes, sucumbência ou vencedor e vencido com condenação em honorários 
e formação de coisa julgada? E qual a razão legal da presença obrigatória do 
Ministério Público? Justifi car.
Quanto às características da jurisdição voluntária, remete-se o leitor à pri-
meira parte da resposta à questão anterior.
O Ministério Público intervém no processo como fi scal da lei sempre 
quando houver interesse público primário, evidenciado pela natureza da lide 
ou pela
qualidade da parte. Assim, nada impede que a própria lei estabeleça 
as hipóteses de intervenção do Parquet, tal como ocorre no art. 1.105, CPC.
AULAS 5 E 6:
1. (TJ/RJ. Prova Preliminar. XLI Concurso) Joaquim, na qualidade de 
vizinho de Auto-Posto Central, foi vencedor em ação de obrigação de fazer, 
cujo pedido era de realização de obras necessárias à segurança da atividade 
do réu. Intimado para o cumprimento, o vencido quedou-se inerte, mesmo 
com a imposição de multa. O Juiz, de ofício, determinou a interdição do es-
tabelecimento, sem que tal medida houvesse sido discutida em qualquer fase 
do processo. Comente a decisão, indicando os dispositivos legais pertinentes.
A decisão do juiz coaduna-se com o disposto no Código de Processo Ci-
vil, que, com as últimas reformas, tem procurado privilegiar a efetividade do 
processo e a tutela específi ca da obrigação. De acordo com o disposto no art. 
461, par. 4º, do CPC, o juiz poderá impor multa diária ao réu, independen-
temente de pedido do autor, desde que compatível com a obrigação, fi xando-
lhe prazo razoável para o cumprimento do preceito. No caso em tela, tendo 
em vista que nem mesmo a imposição de multa, como meio de coerção, foi 
capaz de compelir o réu a realizar as obras a que fora condenado, permite-
se ao juiz que, de ofício, determine as medidas necessárias para assegurar o 
resultado prático equivalente (par. 5º).
2. (OAB/RJ. 8º CONCURSO) O fumus boni iuris e o periculum in mora 
são elementos essenciais à obtenção de:
a. Sentenças defi nitivas mandamentais.
b. Tutela cautelar considerando a urgência.
c. Sentenças declaratórias.
d. Decisão interlocutória.
Solução: letra b.
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 143
76 CAMARA, Alexandre Freitas, 
Lições de Direito Processual 
Civil, 6ª ed., Rio de Janeiro, Lu-
men Juris, p. 311.
3. (MP/RJ. 27º Concurso. Específi ca) Defi na e distinga tutela cautelar, 
tutela antecipatória e julgamento antecipado da lide.
Tutela antecipada e tutela cautelar são espécies de tutela de urgência, me-
diante a qual se permite ao órgão jurisdicional, em alguns casos, desde que 
presentes determinados requisitos exigidos pela lei, independentemente de 
requerimento do credor, a adoção de medidas tendentes a conservar o esta-
do das coisas, de forma a garantir a efetividade do provimento jurisdicional 
fi nal ou mesmo a antecipar algum(ns) dos efeitos da tutela jurisdicional que, 
muito provavelmente, será concedida ao fi nal do processo. Trata-se de formas 
de cognição não exauriente e, por isso, de caráter provisório, passíveis de re-
vogação a qualquer tempo.
A tutela antecipada, regulada pelo art. 273 do CPC consiste na antecipa-
ção dos efeitos da sentença de mérito. Possui, portanto, natureza satisfativa.
São requisitos para a sua concessão: (i) a verossimilhança da alegação, com 
base em prova inequívoca; e (ii) o fundado receio de dano grave e irreparável. 
A antecipação de tutela também pode ser concedida por outro motivo não 
vinculado à tutela de urgência, qual seja, o abuso do direito de defesa do réu 
ou seu manifesto propósito protelatório. Pode-se citar, ainda, um requisito 
negativo, consistente na inexistência de perigo de irreversibilidade do provi-
mento (par. 2º).
A tutela cautelar, por sua vez, não possui natureza satisfativa, limitando-
se a assegurar a efetividade de outro tipo de tutela, que esteja ameaçada de 
tornar-se inefi caz. Para sua concessão, basta a plausibilidade do direito invo-
cado (fumus boni iuris), além do perigo de dano.
Finalmente, o julgamento antecipado da lide encontra respaldo no art. 
330, do CPC. Nesse caso, o prosseguimento do processo se revela despis-
ciendo, pelo fato de que todos os elementos necessários ao julgamento dos 
pedidos já se encontram nos autos. Assim, presentes os requisitos expostos 
no dispositivo mencionado, poderá o juiz proferir sentença defi nitiva, capaz 
de extinguir o processo com resolução do mérito, acolhendo ou rejeitando os 
pedidos do autor.76
Trata-se de juízo de certeza, e não de probabilidade, fundado em cognição 
exauriente.
4. (TJ.RJ XXVI Concurso) Qual o sentido e o alcance dos pressupostos 
de verossimilhança e irreversibilidade em matéria de antecipação de tutela? 
Responda, fundamentadamente, referindo os dispositivos lega is pertinentes.
A verossimilhança da alegação e a inexistência de perigo de irreversibilida-
de do provimento antecipado são requisitos necessários à concessão da tutela 
antecipatória, nos termos do art. 273 do CPC.
A verossimilhança consiste na aparência de verdade dos fatos alegados, ou 
seja, na probabilidade de existência do direito afi rmado pelo demandante. 
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 144
Entende-se que é um juízo mais seguro do que o da mera possibilidade (tra-
duzido, por exemplo, na exigência do ‘fumus boni iuris’ para a concessão da 
tutela cautelar) e menos seguro do que o juízo de certeza, que fundamenta as 
decisões defi nitivas.
Já a irreversibilidade do provimento refere-se à impossibilidade de retorno 
ao ‘status quo ante’, em caso de decisão de mérito contrária aos interesses do 
autor. A existência de perigo de irreversibilidade não pode, todavia, servir 
como óbice à concessão da antecipação da tutela. Presentes os pressupostos 
autorizadores da tutela antecipatória, caso exista perigo de irreversibilidade, 
deverá o juiz, diante da situação concreta, identifi car o interesse mais rele-
vante e provável, valendo-se dos princípios da proporcionalidade, e sacrifi car 
o direito que se demonstra mais improvável, a fi m de garantir a adequada, 
tempestiva e efetiva tutela jurisdicional.
AULAS 7, 8 E 9:
QUESTÕES DE CONCURSO
Questão 1. (CESPE — 2011 — EBC — Analista — Advocacia) Marque 
certo (C) ou errado (E):
( ) Se ocorrer, em ação que tramite perante a justiça estadual, manifesta-
ção expressa de interesse jurídico a ser tutelado e que justifi que, no processo, a 
presença da União, suas autarquias ou empresas públicas, impõe-se o desloca-
mento da competência para a justiça federal, competindo a ela decidir sobre 
a existência, ou não, de interesse das entidades mencionadas em ingressarem 
no feito; a declaração da incompetência do juízo estadual acarreta a nulidade 
dos atos decisórios, mantendo-se hígidos os demais atos do processo.
Gabarito: Certa
Questão 2. (MPE-SP — 2011 — Promotor de Justiça) Na ação fundada em 
direito real sobre imóvel, recaindo o litígio sobre direito de posse de um terreno 
e benfeitorias situado em mais de uma comarca, o foro competente para a ação é
a) do detentor do bem.
b) de eleição das partes contratantes.
c) do domicílio do réu.
d) determinado pela prevenção.
e) do domicílio do autor.
Gabarito: d
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 145
Questão 3. (FCC — 2010 — MPE-SE — Analista) A respeito das modi-
fi cações da competência, é INCORRETO afi rmar:
a) A competência em razão do valor poderá, na forma da lei, modifi car-se 
pela conexão ou continência.
b) A ação acessória será proposta perante o juiz competente para a ação 
principal.
c) Reputam-se conexas duas ou mais ações, quando lhes for comum o 
objeto ou a causa de pedir.
d) O foro contratual obriga os herdeiros e sucessores das partes.
e) A competência em razão do território é inderrogável por convenção das 
partes.
Gabarito: e
Questão 4. (CESPE — 2009 — SEAD-SE (FPH) — Procurador) Mar-
que certo (C) ou errado (E):
( ) A competência ratione materiae é inderrogável e poderá ser declarada 
de ofício ou alegada em qualquer tempo e grau de jurisdição.
Gabarito: Certa
Questão 5. (CESPE — 2011 — TRF — 5ª REGIÃO — Juiz) A respeito 
da competência, assinale a opção correta.
a) A justiça federal é competente para julgar causas que envolvam como 
parte conselho de fi scalização profi ssional de âmbito nacional, cabendo à jus-
tiça estadual o julgamento
das que envolvam os conselhos regionais.
b) A competência da justiça federal é funcional e, por conseqüência, abso-
luta e inderrogável pela vontade das partes, sem qualquer ressalva.
c) O interesse jurídico do ente submetido à competência da justiça federal 
é avaliado pelo juiz federal, podendo o protesto pela preferência de crédito 
apresentado por ente federal em execução que tramite na justiça estadual 
deslocar a competência para a justiça federal, se assim entender o juiz federal.
d) Excluído o ente federal do feito, cessa a razão que tenha justifi cado a de-
clinação da competência para a justiça federal, não precisando o juiz da causa 
suscitar confl ito negativo de competência para devolvê-lo à justiça estadual.
e) A decisão de juiz federal que exclui ente federal da relação processual pode 
ser objeto de reexame na justiça estadual, desde que realizado por tribunal.
Gabarito: d
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 146
6. (MP/RJ. XIII Concurso) Existe conexão entre a ação de alimentos da 
Lei n° 5.478/68 e a ação revisional de modifi cação ou de exoneração? E entre 
a ação de separação judicial e o pedido de conversão em divórcio?
Não há conexão em relação a processo fi ndo, de modo que, extinta a ação 
de alimentos, a revisional deve ser levada à livre distribuição. Isto porque 
constitui pretensão autônoma e que não guarda relação de acessoriedade com 
a ação de alimentos já encerrada (art. 108 do CPC).
A contrario sensu, porém, se estiverem em curso, concomitantemente, 
ações entre as quais haja relação de prejudicialidade e, portanto, possibilidade 
de decisões conflitantes, haverá conexão. Dá-se o mesmo em relação à ação 
de separação judicial e o pedido de conversão em divórcio.
7. (OAB/RJ. 26º Exame) Guilherme, indignado com a constante sujeira 
de sua loja de perfumaria, optou por terceirizar o serviço de limpeza, cele-
brando, em nome próprio, contrato de prestação de serviço com a empresa 
KIKI FAXINAS LTDA. Porém, de nada adiantou. Guilherme passou a ou-
vir freqüentes reclamações não só de seus funcionários, mas, sobretudo, dos 
próprios clientes da loja, fato que o levou a concluir pela impossibilidade de 
manutenção do vínculo contratual. Ao lhe procurar, Guilherme recebeu a 
orientação de notifi car a empresa KIKI FAXINAS LTDA., a fi m de rescindir 
o contrato de prestação de serviços, em fi el cumprimento às regras contratu-
ais que, expressamente, autorizavam a denúncia unilateral por qualquer das 
partes, desde que cientifi cadas com a antecedência mínima de 30 dias. Con-
sumada a resolução do contrato, Guilherme, no trigésimo dia subseqüente 
ao da notifi cação, compareceu à sede da KIKI FAXINAS LTDA. para quitar 
os R$ 10.000,00 (dez mil reais) que, no seu entender, eram devidos pelos 
serviços até então prestados. Quando lá chegou, deparou-se com a recusa da 
empresa, que se negou a receber os valores ao simples argumento de que fazia 
jus, além da quantia ofertada, a uma indenização por lucros cessantes. Na 
qualidade de advogado, adote a providência judicial que melhor atenda aos 
interesses de Guilherme, atentando se para as seguintes informações:
a) Guilherme tem domicílio no Município de São Gonçalo;
b) KIKI FAXINAS LTDA. tem sede no Município de Magé;
c) o local do pagamento das prestações mensais, a teor do contrato, é a 
loja de Guilherme, localizada na cidade do Rio de Janeiro, no bairro de Co-
pacabana;
d) Cristiane, dona da empresa prestadora de serviço, tem domicílio no 
Município de Petrópolis;
e) KIKI FAXINAS LTDA. pretende receber, a título de indenização, o 
valor de R$ 20.000,00 (vinte mil reais).
ADVOGADO: EDMAR LOPES
INSC. Nº: 1.100
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 147
Para atender os interesses de Guilherme, a providência judicial adequada 
será ajuizar uma ação de consignação em pagamento (art. 890 e seguintes, do 
CPC) em face da empresa KIKI FAXINAS LTDA. O foro competente será o 
da sede da pessoa jurídica que fi gura como ré na ação, isto é, o Município de 
Magé, conforme o art. 100, inciso IV, alínea “a” do CPC.
8. (OAB/RJ. 5º CONCURSO) Nos termos da Lei n° 9.099/95, quanto 
aos Juizados Especiais Cíveis, podemos afi rmar:
a. Somente as pessoas físicas podem fi gurar no pólo ativo da relação pro-
cessual, sendo absoluta a competência desse juizado para dirimir causas de 
valor até 40 (quarenta) salários mínimos;
b. A competência não é absoluta, sendo opcional para o autor o proces-
samento e julgamento de referidas causas, podendo fi gurar pessoas jurídicas 
no pólo ativo.
c. A competência é absoluta, cabendo às pessoas jurídicas fazer pedido 
contraposto.
d. A competência não é absoluta, cabendo opção de ingresso somente ao 
autor, pessoa física.
Solução: letra d.
9. (OAB/RJ. 21º CONCURSO) A prevenção, em relação a duas ou mais 
causas conexas que tem curso na mesma comarca, se estabelece pela:
a. Distribuição da ação em primeiro lugar.
b. Pela sentença.
c. Pela audiência de conciliação.
d. Pelo despacho positivo.
Solução: letra d.
10. (OAB/RJ. 19º CONCURSO) Acerca da litispendência, NÃO é cor-
reto dizer que:
a. É motivo de extinção do processo sem julgamento do mérito.
b. É repetição de lide idêntica.
c. É faculdade do juiz reconhecê-la.
d. Exige, para sua confi guração, identidade das partes, pedido e causa
de pedir das demandas.
Solução: letra c.
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 148
11. (OAB/RJ. 4º CONCURSO) A incompetência relativa deve ser ale-
gada:
a. Em preliminar de contestação.
b. A qualquer tempo.
c. 10 (dez) dias após a citação.
d. Por meio de exceção.
Solução: letra d.
12. (TJ/RJ. XXXI Concurso) O que é foro de eleição? Dê exemplo.
Foro de eleição é a faculdade de as partes acordarem o foro competente 
para eventuais litígios futuros. Embora a competência em razão da matéria e 
da hierarquia seja inderrogável por convenção das partes, elas podem modifi -
car a competência em razão do valor e do território, elegendo foro onde serão 
propostas as ações oriundas de direitos e obrigações. O acordo produz efeitos 
apenas quando constar de contrato escrito e aludir expressamente a determi-
nado negócio jurídico, de acordo com o exposto no art. 111, § 1º, do CPC.
AULAS 10, 11, 12, 13, 14 E 15:
1. (MP/RJ. Preliminar. 12º Concurso) Agripina, em nome próprio, na 
qualidade de mãe de nascituro, propôs ação de investigação de paternidade 
em face de Mévio. Este, contestando o pedido, alega preliminar de ilegiti-
mação para a causa, pois a autora não seria titular da pretensão de direito 
material e não lhe socorreria o art. 6° do Código de Processo Civil. Autos 
com vista ao Ministério Público. OPINE, OBJETIVA E JUSTIFICADA-
MENTE, SOBRE A ARGÜIÇÃO PRELIMINAR.
Segundo a doutrina e jurisprudência majoritárias, o nascituro tem perso-
nalidade jurídica e dispõe de legitimidade processual, porquanto titular de 
direitos da personalidade e de direitos potenciais. É, todavia, absolutamente 
incapaz para propor a ação de investigação de paternidade, devendo ser re-
presentado por sua mãe, conforme estabelece o art. 8°, do CPC. Desse modo, 
Agripina não deve propor a ação em nome próprio, senão em nome do nasci-
turo, representando-o legalmente. A tutela jurisdicional do direito subjetivo, 
afi nal, benefi ciará o nascituro, como detentor da relação jurídica afi rmada.
2. (OAB-RJ. 27º Concurso) Guilherme propôs ação em face de Flávio 
cobrando, cumulativamente, duas dívidas, sendo uma decorrente de um con-
trato de compra e venda e a outra oriunda de um contrato de mútuo. Identi-
fi que, nesta hipótese, a espécie de cumulação de pedidos:
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 149
a. Cumulação simples de pedidos.
b. Cumulação alternativa de pedidos.
c. Cumulação sucessiva de pedidos.
d. Por serem contratos distintos, não poderá haver cumulação de pedidos.
Solução: letra a.
3. (OAB/RJ.
22º Concurso) A perempção do direito de demandar é:
a. a improcedência do pedido.
b. o acolhimento do pedido.
c. a perda do direito de demandar após a mesma lide ser extinta por três 
vezes por abandono de causa.
d. a homologação de um acordo.
Solução: letra c.
4. (MP/RJ. 25º Concurso. Específi ca) Conceitue pedido implícito, iden-
tifi cando as hipóteses admitidas pelo ordenamento jurídico brasileiro.
Nas lições de Fredie Didier Jr., o pedido implícito é aquele que, embo-
ra não explicitado na demanda, compõe o objeto do processo por força de 
lei, devendo ser examinado e decidido pelo juiz. São hipóteses de pedido 
implícito os juros legais (arts. 405 e 406 do CC); o ressarcimento das des-
pesas processuais e dos honorários advocatícios (art. 20 do CPC); a correção 
monetária (art. 404 do CC); o pedido relativo a obrigações com prestações 
periódicas (art. 290, CPC).
AULAS 16 A 20:
1. (MP/RJ. 13º Concurso. Preliminar) Qual a natureza jurídica da atri-
buição do órgão de atuação do Ministério Público no processo penal?
O Ministério Público é o órgão estatal legitimado ao ajuizamento da ação 
penal pública, para defesa dos interesses individuais indisponíveis, difusos, 
coletivos e sociais. Diz-se que sua legitimidade é política, pois decorrente de 
preceito constitucional (arts. 127 e 129 da CF), oriundo da vontade popular 
expressa pelos constituintes de conferir-lhe a privatividade da ação penal; e 
processual, no que diz respeito à capacidade de estar em Juízo, em nome do 
Estado, titular do direito material e de ação. Em outras palavras, O Estado 
conferiu ao Ministério Público o encargo do exercício das pretensões puniti-
va e executória estatais.
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 150
2. (OAB/RJ, 14º Concurso) A representação da parte por advogado é:
a. Uma condição ao exercício do direito de ação;
b. Um pressuposto processual subjetivo;
c. Uma matéria de exame de mérito;
d. Um pressuposto processual objetivo.
Solução: letra b.
3. (OAB/RJ, 14º Concurso) Quanto ao processo cautelar, é incorreto afi r-
mar que:
a. Pode, em alguns casos, ter natureza satisfativa;
b. Pode ser ajuizado em caráter preparatório ou incidental;
c. Representa antecipação da providência de mérito da ação principal, em 
situações de urgência e relevância;
d. Pode o juiz, ao deferir liminarmente a cautela pretendida, determinar à 
parte que preste, em contracautela, caução real ou fi dejussória.
Solução: letra c.
4. (OAB/RJ, 7º Concurso) Ocorre a representação processual legal:
a. Sempre que aqueles que têm capacidade para ser parte não possuem 
capacidade processual de estar em juízo;
b. Assim é chamado o mandato conferido ao advogado em razão da capa-
cidade postulatória;
c. Sempre que no instrumento de mandato houver esse tipo de convenção 
entre o outorgante e o outorgado;
d. Nos casos dos incapazes sempre que não tenham curador especial.
Solução: letra a.
5. (OAB/RJ, 6º Concurso) A morte de uma das partes e o indeferimento 
da petição inicial pelo juiz são, respectivamente, casos de:
a. Suspensão do processo / extinção do processo sem julgamento do mérito;
b. Suspensão do processo / extinção do processo com julgamento do mérito;
c. Extinção do processo sem julgamento do mérito / suspensão do processo;
d. Extinção do processo com julgamento do mérito / extinção do processo 
sem julgamento do mérito.
Solução: letra a.
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 151
6. (OAB/RJ, 4º Concurso) Constituem tipos de processo:
a. Sumário, especial e ordinário;
b. Inventário, família e civil;
c. Cautelar, execução e conhecimento;
d. Consignatário, monitório, antecipação de tutela.
Solução: letra c.
AULA 21, 22 E 23:
1. (OAB-RJ, 18º Concurso) A preclusão lógica se revela:
a. Pela prática de ato incompatível com aquele que poderia ser praticado
no prazo legal;
b. Na ultrapassagem do prazo para prática de um ato processual;
c. Pelo exercício de uma faculdade processual;
d. Pela propositura da ação no prazo legalmente previsto.
Solução: letra a.
2. (OAB-RJ, 16º Concurso) A preclusão lógica para prática de um ato
processual deriva:
a. Do escoamento do prazo para prática de um ato processual;
b. Da manifestação expressa da parte no sentido de conformar-se com
o ato ou decisão judicial;
c. Da revelia;
d. Da prática de ato processual incompatível com o ato que poderia
ser praticado.
Solução: letra d.
3. (OAB/RJ, 9º Concurso) As publicações dos atos processuais no Diário
Ofi cial do Poder Judiciário consistem necessariamente em:
a. Proceder as intimações do réu para que venha a juízo se defender;
b. Forma legal pela qual se dá ciência a alguém dos termos do processo;
c. Existem para dar publicidade dos atos judiciais a terceiros;
d. Mera formalidade burocrática, vez que as intimações devem ser feitas
pessoalmente.
Solução: letra b.
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 152
AULAS 23, 24 E 25:
1. (OAB/RJ, 19º Concurso) A gratuidade das custas e honorários advoca-
tícios derivada da Lei nº 1.060/50:
a. Só é concedida se a perícia comprovar a impossibilidade de pagamento 
de tais verbas;
b. Só é cabível em favor do autor da ação;
c. Gera, se vencido for o hipossufi ciente na demanda, condenação em 
honorários e custas que fi ca sobrestada, na forma do artigo 12 da Lei nº 
1060/50;
d. Tem, se não for concedida, como conseqüência a irrecorribilidade da 
decisão.
Solução: letra c.
2. (OAB/RJ, 12º Concurso) É facultado ao advogado renunciar ao man-
dato que lhe foi outorgado, a qualquer tempo, desde que:
a. Já tenha recebido os honorários advocatícios contratados em seu valor 
total ou, proporcionalmente, até a fase em que se encontre o processo;
b. Comprove ter cientifi cado o mandante a fi m de que nomeie substituto, 
ainda que tal ciência tenha sido por meio de carta, comunicação telefônica, 
fac-símile etc., permanecendo, entretanto, por mais 10 dias seguintes após a 
notifi cação, representando-o, desde que necessário para lhe evitar prejuízo;
c. Conste do instrumento do mandato, de forma expressa e clara, a pos-
sibilidade da renúncia a qualquer tempo, de modo que o outorgante já fi que 
ciente de tal direito, no ato da assinatura da procuração;
d. Promova a notifi cação prévia do outorgante, através de procedimento 
específi co, no qual assuma o compromisso de continuar com a representação 
pelo prazo mínimo de 15 dias, de modo a evitar prejuízos para o mesmo.
Solução: letra b.
3. (OAB/RJ, 8º Concurso) O juiz que procede a instrução fi ca vinculado 
à decisão, envolvendo assim os princípios:
a. Do livre convencimento e da bilateralidade da audiência;
b. Da oralidade, da imediatidade, da identidade física do juiz e da con-
centração;
c. Da demanda e da verossimilhança;
d. Da ação, da oralidade e da bilateralidade da audiência.
Solução: letra b.
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 153
4. (OAB/RJ, 8º Concurso) Havendo comprovado receio quanto à não-
imparcialidade do juiz na causa, a parte interessada deverá:
a. Argüir por meio de exceção a incompetência do juiz;
b. Argüir também por exceção o impedimento do juiz;
c. Argüir igualmente por exceção a suspeição do juiz;
d. Argüir, concomitantemente, o impedimento e a suspeição do juiz.
Solução: letra c.
5. (OAB/RJ, 7º Concurso) O princípio regulado pelo artigo 132 do CPC: 
“O juiz, titular ou substituto, que concluir a audiência julgará a lide...” diz 
respeito ao:
a. Princípio da imediatidade, que vincula o juiz da audiência ao sub— se-
qüente julgamento da mesma;
b. Princípio da concentração, face ao liame vinculatório estabelecido pelo 
próprio ato de realização da audiência;
c. Princípio da identidade física do juiz, vez que estará melhor habilitado 
a proferir a sentença aquele que tomou as provas;
d. Princípio da oralidade, que consagra os debates orais em audiência cul-
minando pelo

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