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exemplo de boa fe contratual jugalmento de recurso

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PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
Registro: 2012.0000212856
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº 0148973-
39.2010.8.26.0100, da Comarca de São Paulo, em que são apelantes NORMA AOQUI, 
MARIZA YOKO FUJITA, PAULO BRILHANTE JUNIOR, CARLOS ALBERTO 
PALO MELLO, JOAQUIM ODAIR SICHIERI, ROBERTO PEDRO DE NEGRI, 
JOSE FRANCISCO BOQUEMBUZO, ALBERTINA DE FATIMA VINHA 
GALLINARI, EIJI MOTOKASHI e ARLENE ALVES ROCHA LUCINIO sendo 
apelado COSESP - COMPANHIA DE SEGUROS DO ESTADO DE SÃO PAULO.
ACORDAM, em 35ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São 
Paulo, proferir a seguinte decisão: "Deram provimento ao recurso. V. U.", de 
conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão.
O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores ARTUR 
MARQUES (Presidente sem voto), MELO BUENO E MANOEL JUSTINO BEZERRA 
FILHO.
São Paulo, 14 de maio de 2012. 
Clóvis Castelo
RELATOR
Assinatura Eletrônica
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 PODER JUDICIÁRIO
 Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo
APELAÇÃO SEM REVISÃO Nº 0148973-39.2010.8.26.0100
COMARCA : SÃO PAULO – 12ª VARA CÍVEL 
APELANTES: NORMA AOQUI E OUTROS 
APELADO : COMPANHIA DE SEGUROS DO ESTADO DE SÃO PAULO 
 COSESP 
Ementa:
DIREITO CIVIL SEGURO DE VIDA EM GRUPO 
CANCELAMENTO UNILATERAL CLÁUSULA DE NÃO 
RENOVAÇÃO AUTOMÁTICA ABUSIVIDADE violação 
ao Código de Defesa do Consumidor reconhecimento da 
OBRIGAÇÃO DE INDENIZAR recurso provido. Sendo 
direito do consumidor à renovação da apólice coletiva mantida 
há mais de trinta anos, frustrado pelo cancelamento unilateral 
do segurador ferindo os princípios da cooperação, 
solidariedade, boa-fé objetiva e proteção da confiança não 
apenas durante o desenvolvimento do contrato, justifica-se a 
responsabilidade por dano moral, à medida que frustrou a 
expectativa de direito.
V O T O Nº 21026
Relatório. 
Recorrem os autores contra a sentença que 
reconhecendo a prescrição quinquenal com fulcro no artigo 27 da lei 
consumerista, julgou extinta com apreciação de mérito, a ação de indenização 
por danos morais decorrente de inadimplemento do contrato de seguro de 
vida, uma vez que a seguradora se nega à prorrogação do pacto findo o prazo 
de trinta dias da notificação extrajudicial. Inconformados pleiteiam os 
acionantes a reforma da decisão unipessoal porque o direito à reparação 
nasce do conhecimento do dano efetivo (31/05/2005) assim não restou 
caracterizada a prescrição vez que a lide proposta em 26/05/2010; mencionam 
que a contratação teve início em maio/1973 e fora renovado automaticamente 
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APELAÇÃO SEM REVISÃO Nº 0148973-39.2010.8.26.0100
a cada ano até que o segurador resolveu sem qualquer motivação não mais 
renová-lo; finalmente pugnam pela procedência do pedido e alternativamente 
pela redução da verba honorária de sucumbência porque são aposentados e 
percebem benefícios previdenciários.
O apelado ofertou resposta pela manutenção do julgado 
às fls.442. 
Fundamentos.
Deflui dos autos que os acionantes, na qualidade de 
funcionários do BANESPA, celebraram através da Caixa Beneficente dos 
funcionários (CABESP), como estipulante, um contrato de seguro de vida em 
grupo com a COSESP em 31/05/73, cuja apólice tem o nº 10 (fls. 61), quitando 
desde então o pagamento dos prêmios ajustados mediante desconto em folha 
de pagamento. Extrai-se, ainda, que em abril de 2005 teriam sido informados 
que a apólice cessaria no dia 31/05/2005 e, por considerar abusiva a atitude da 
seguradora que após 32 anos de vigência da apólice sem qualquer alteração 
do grupo e dos riscos acobertados e quando os segurados já apresentam 
idade avançada, foram surpreendidos com o cancelamento unilateral.
Arreda-se a preliminar de prescrição embasada no artigo 
27 do CDC que prescreve o prazo de cinco anos para a reparação de danos 
causados por fato do produto ou do serviço, iniciando-se a contagem do prazo 
a partir do conhecimento da recusa por parte do segurador. “In casu”, o prazo 
prescricional somente teve início a partir da efetividade do evento danoso, ou 
seja em 31 de maio de 2005 e como a ação foi proposta em 26/05/2010 a 
prescrição não restou caracterizada.
Considerando que esta lide integra inúmeras outras 
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ações da mesma natureza e pedido propostas por ex-funcionários do Banespa 
e da Nossa Caixa que celebraram com a COSESP contratos de seguro de vida 
para os funcionários através das associações CABESP e ECONOMUS na 
qualidade de estipulantes, que aderiram ao mesmo contrato denominado 
“Apólice 10” e considerando que as matérias impugnadas foram discutidas e 
apreciadas, com fundamento nos artigos 515 §2º e 516 da lei processual, 
passa-se ao exame de mérito.
Cediço que o contrato de seguro se conclui com o 
pagamento do prêmio, devendo a apólice esclarecer, além dos riscos 
assumidos, o prazo de validade, o limite de garantia e as condições gerais, em 
consonância com o artigo 765 da atual lei substantiva, “O segurado e o 
segurador são obrigados a guardar na conclusão e na execução do contrato a 
mais estrita boa-fé e veracidade, tanto a respeito do objeto como das 
circunstâncias e declarações a ele concernentes”, ou seja, o mesmo conceito 
de boa-fé exigido para todos os contratos em geral, na dicção do artigo 422 do 
mesmo codex: “Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão 
do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé”.
Baseando-se o contrato de seguro essencialmente na 
boa-fé das partes (C.C. artigo 1443), ensina o preclaro Pontes de Miranda que 
"...o contrato de seguro é "uberrimae fidei"; o segurador tem de admitir a boa-
fé e contar com a boa-fé com que o interessado se manifesta”1. Assim, 
também, leciona Rizzatto Nunes, "...a boa-fé objetiva, que está presente no 
CDC, pode ser definida, grosso modo, como sendo uma regra de conduta, isto 
é, o dever das partes de agir conforme certos parâmetros de honestidade e 
lealdade, a fim de se estabelecer o equilíbrio nas relações de consumo. Não o 
equilíbrio econômico, como pretendem alguns, mas o equilíbrio de posições 
1 Tratado de Direito Privado - Ed. Borsoi - vol. 45 - § 4923 - pp..324/326
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contratuais, ..."2. 
Em razão desses ensinamentos doutrinários a 
jurisprudência desta Corte vem reconhecendo a abusividade da cláusula de 
não renovação automática do contrato de seguro de vida no seu termo, ante a 
violação ao Código de Defesa do Consumidor, conforme arestos3.
Na atualidade a segunda Seção do Superior Tribunal de 
Justiça apreciando casos parelhos decidiu: “é abusiva a negativa de renovação 
do contrato de seguro de vida, mantido sem modificações ao longo dos anos, 
por ofensa aos princípios da boa-fé objetiva, da cooperação, da confiança e da 
lealdade, orientadores da interpretação dos contratos que regulam relações de 
consumo” (AgReg no Ag n. 1219273/MG, REsp n. 1073595, Rel. Min. Nancy 
Andrighi, DJ 29/04/2011, REsp 1172430, Rel. Min. Massami Uyeda, DJ 
12/03/2012, Ag 1400796, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, DJ 
29/11/2011, REsp 1094116, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, DJ 17/11/2011).
Como não houve renovação automática do seguro de 
vida que vinha sendo renovado há mais de trinta anos, justifica-se a 
responsabilidade do segurador pelo pagamento de danos,
consoante decidido 
anteriormente nesta Câmara: “Em princípio, nos contratos aleatórios como os 
de seguro, o tempo já transcorrido de duração do relacionamento contratual 
passa a assumir relevância, na medida em que o segurado tem a justa 
expectativa de assegurar-se dos riscos presente envolvendo sua própria 
pessoa e os membros de sua família” (AI 908435-0/0, Des. Egídio Giacoia). No 
mesmo sentido o voto vencedor proferido no AI nº 1.103.885-1/7, da 35ª 
2 “in" Curso de Direito do Consumidor, Saraiva, 2ª edição, 2007, p.127.
3 Apelação n. 1128168 0/5 .Des) - Ruy Coppola; Ap. n. 1098961-0/6 (com justificativa) - Des. 
Rocha de Souza (32ª Câm); Ap. 1137738-0/5 .Des. Antonio Nascimento (34ª Câm); Ap. n. 
1016075 0/5 .Des. Eros Piceli (necessário ofertar opção- 33ª Câm.).
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Câmara “D”, do Desembargador Carlos Alberto Garbi, que ressaltou que “os 
argumentos de meus pares me convenceram da ocorrência de violação ao 
princípio da boa-fé objetiva, quando a recusa da seguradora se dá depois de, 
seguidas vezes, renovado automaticamente o contrato. É que, nesses casos, a 
seguradora criou a justa expectativa do segurado em ver renovado o negócio, 
de forma que a sua retirada repentina quebra a boa-fé (art. 422 CC), que deve 
pautar o comportamento das partes antes, durante e depois da execução do 
contrato”.
Como a principal característica do seguro é honrar o 
pagamento do sinistro, em contrapartida do pagamento do prêmio, não 
havendo a ocorrência do sinistro durante a vigência do contrato, o 
cancelamento unilateral por parte do segurador deve corresponder a um 
percentual do valor de cobertura básica para morte natural, conforme vem 
sendo decidido por esta Corte.
Em recente decisão, o STJ ao apreciar o recurso 
especial n° 1.073.595-MG, Rel. Min. NANCY ANDRIGHI, em questão relativa a 
não renovação do contrato de seguro de vida coletivo mantido há anos com os 
segurados, afastou o direito da seguradora a não renovação da apólice, o que 
justifica a reparação dos danos pleiteados na prefacial, uma vez que o apelado 
não mais terá condições de pleitear a renovação ante o decurso de tempo. No 
mesmo sentido o voto do Ministro Relator MASSAMI UYEDA em lide proposta por 
segurado contra a Sul América Seguros Vida e Previdência S/A.
Destarte, há responsabilidade do segurador em pagar 
indenização por danos morais, pois frustrou a expectativa de direito dos 
segurados quanto à possibilidade de serem ressarcidos dos sinistros previstos, 
malferindo o princípio da boa-fé objetiva que deve nortear todos os contratos 
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APELAÇÃO SEM REVISÃO Nº 0148973-39.2010.8.26.0100
“bona fidei negotia”.
Em assim sendo, reforma-se a sentença recorrida, 
condenando a seguradora a pagar a cada um dos segurados a importância 
correspondente a um terço do valor da cobertura básica por morte natural 
constante do contrato, atualizada a partir do ajuizamento, acrescidos de juros 
de 1% a partir da citação, invertendo-se a honorária arbitrada.
Dispositivo.
Ante o exposto, dá-se provimento ao apelo.
DES. CLÓVIS CASTELO
RELATOR
Assinatura Eletrônica

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